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Florianópolis, SC
2018
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do
Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.
Inclui referências.
This thesis analyses the history of Maria Zélia Prison, a political prison
which existed in the city of São Paulo between 1935 and 1937. This
prison, which contained hundreds of political prisoners, functioned in an
improvised structure located inside an old textiles factory, and was the
scene of torture and murder following an attempted break-out in April
1937. This analysis presents the story of some of the prisoners, giving a
voice to those who witnessed the massacre and the constant abuses
committed inside the prison, and analyses their individual trajectories as
they faced a system intent on suppressing their political convictions.
This piece of research establishes links between the history of the prison
and the contemporary political scene in Brazil, analysing both the
legislation that was in force at the time and the history of the prison and
policing systems in the country. There is a focus on the power
relationships that were established throughout the 1930s, with particular
attention given to the political game of alternate approximation and
distancing which took place between the national government and the
state government of São Paulo, these represented respectively by
Getúlio Vargas and Armando de Salles Oliveira. In this way, the thesis
presents a study of the complex period known as Constitutional
Government (Governo Constitucional). This government was
inaugurated with the 1934 Constitution which briefly reinstated
democracy in Brazil. This democracy lost ground just a few months
later when the institution of repressive measures began, first with the
National Security Law and the National Security Tribunal, and then
finally, after the Uprisings of November 1935, with the state of
exception, which led to the opening of Maria Zélia Prison.
INTRODUÇÃO......................................................................................19
1.GOVERNO VARGAS E SUAS FERRAMENTAS DE
OPRESSÃO............................................................................................29
1.1 TENENTISMO ............................................................................... 29
1.2 REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA .................................... 36
1.3 A AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA E A ALIANÇA
NACIONAL LIBERTADORA ............................................................. 38
1.4 LEVANTES DE NOVEMBRO 1935 ............................................. 42
1.5 LEI DE SEGURANÇA NACIONAL ............................................. 46
1.5.1 Lei de Segurança Nacional: a institucionalização da perseguição
política no governo de Getúlio Vargas. .. ...............................................46
1.5.2 Oposição ao projeto de Lei na Câmara de Deputados .. ................52
1.5.3 Lei de Segurança Nacional na imprensa....................................... 53
1.5.4 A Lei de Segurança Nacional ....................................................... 56
1.6 O PROJETO NACIONALISTA E CENTRALIZADOR DO
GOVERNO ........................................................................................... 64
2. O PRESÍDIO MARIA ZÉLIA ..........................................................74
2.1 O SISTEMA PENAL NO BRASIL ................................................ 74
2.1.1 O sistema policial no Brasil.......................................................... 86
2.2 A HISTÓRIA DO MARIA ZÉLIA ................................................. 93
2.2.1 O surgimento e a estrutura............................................................ 93
2.2.2 A Universidade Popular e o Teatro Maria Zélia........................... 98
2.3 A VIOLÊNCIA DENTRO DO PRESÍDIO MARIA ZÉLIA ........ 102
2.3.1 As fugas e os levantes ................................................................ 110
2.3.2 Os assassinatos ........................................................................... 113
3. ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA E GETÚLIO VARGAS:
JOGO POLÍTICO DE APROXIMAÇÕES E AFASTAMENTOS ..141
3.1 A TRAJETÓRIA DE ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA ..... 141
3.2 A CONSTITUINTE ...................................................................... 152
3.3 OS DIÁRIOS E OS DISCURSOS: RASTROS PARA
COMPREENDER OS PENSAMENTOS POLÍTICOS DE GETÚLIO
VARGAS E ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA ......................... 159
4. OS PRESOS DO PRESÍDIO MARIA ZÉLIA................................193
4.1 O JORNALISTA .......................................................................... 195
4.2 O MÉDICO ................................................................................... 198
4.3 O PROFESSOR ............................................................................ 205
4.4 O CABO........................................................................................ 209
4.5 O DESENHISTA .......................................................................... 214
4.6 O BANCÁRIO POETA ................................................................ 217
4.7 O MILITAR .................................................................................. 219
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................225
FONTES...............................................................................................231
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................241
ANEXO I – ICONOGRAFIA..............................................................255
ANEXO II – POEMA “BRASIL” DO PRESO ANTÔNIO
BALOTA..............................................................................................261
ANEXO III – CARTA DOS PRESOS DO MARIA ZÉLIA AO
JORNAL O IMPARCIAL....................................................................262
ANEXO IV - TEXTOS ENCONTRADOS NOS BOLSOS DE
NAURÍCIO MENDES.........................................................................266
19
INTRODUÇÃO
Esta tese tem como objeto o Presídio Maria Zélia, que foi
estabelecido na década de 1930, em uma antiga fábrica têxtil, que
possuía em anexo uma vila operária paulistana de mesmo nome. Meu
interesse pelo tema surgiu durante a graduação em História, quando eu
fazia o trajeto diário entre casa-trabalho-faculdade, percorrendo as
estações de trem da Mooca, em São Paulo, até Santo André. Repleto de
antigas fábricas abandonadas, esse cenário me levava a imaginar como
deveria ter sido o mundo daqueles operários que ali trabalharam no
começo do século XX, suas rotinas e a vida política da época.
Logo descobri que, em São Paulo, eram comuns as vilas operárias
anexas a fábricas. No bairro do Belenzinho, por exemplo, há uma vila
operária tombada como patrimônio histórico, que perdurou juntamente
com o conjunto arquitetônico da fábrica que lhe deu origem. Manteve-se
como moradia dos funcionários da fábrica e, depois, dos seus
descendentes, mesmo quando a fábrica foi fechada no início da década
de 1930, durante o Governo Constitucional, para servir de presídio
político. Intrigada, em uma busca por mais informações na internet, me
deparei com um texto sobre o presídio, cujo autor fornecia seu e-mail.
Tratava-se de Dainis Karepovs, historiador de quem eu desconhecia o
trabalho à época. Muito gentilmente, ele indicou caminhos para a minha
pesquisa, alertando sobre a pouca quantidade de trabalhos
historiográficos sobre o tema e recomendando que eu iniciasse minha
busca no Centro de Documentação e Memória da UNESP – CEDEM.
Na ingenuidade de principiante em pesquisa histórica, levei um
susto ao me deparar com caixas de papelão espalhadas pelo chão de uma
sala num prédio na Praça da Sé, centro de São Paulo. Havia fotocópias
de atas de reuniões da Assembleia Legislativa de São Paulo, jornais da
década de 1930, assim como muito material recolhido pelo próprio
Dainis Karepovs. Após esse primeiro sobressalto, voltei muitas tardes ao
local, em busca de informações.
No Arquivo do Estado de São Paulo, busquei nomes de pessoas
presas no Maria Zélia, a partir de fichas do Departamento Estadual de
Ordem Política e Social – DEOPS. Foi um momento de comoção
durante o trabalho de pesquisa, pois me deparei com fichas, fotografias,
cartas trocadas entre os presos e seus familiares, relatórios feitos por
investigadores sobre a rotina desses presos, entre outros. Eram
documentos que davam humanidade, nomes e fisionomias aos objetos
20
1
Os Levantes de novembro de 1935 são indicados nos livros didáticos como
Intentona Comunista. A expressão, cunhada de forma pejorativa após os
eventos, não aparece em nenhuma das fontes desta pesquisa.
29
1.1 TENENTISMO
2
Bombardeio por aviões e canhões de 75, 105 e 155 mm. A ação é tipificada como
crime de guerra pela Convenção de Haia de 1917.
33
3
Isidoro Dias Lopes foi enviado para a Argentina para coordenar os exilados.
34
ocorreu, pois a Frente Única Paulista (FUP) lançou a Chapa Única por
São Paulo Unido e obteve ampla vitória nas eleições para a constituinte.
O então interventor, general Valdomiro Lima, foi substituído por
Armando de Salles Oliveira em agosto de 1933. E em 1935, Armando
de Salles Oliveira foi indiretamente eleito como governador
constitucional de São Paulo, pela Assembleia Constituinte Estadual.
4
Membros da ANL – Aliança Nacional Libertadora, que abarcava militares
dissidentes das revoltas tenentistas de 1922 e 1924 que não eram
necessariamente ligados ao Partido Comunista no Brasil.
45
5
Escritor gaúcho que, em 1945, publicou o livro Getúlio Vargas, o orador e
escritor, foi o único autor a assinar suas matérias, entre todos os três jornais
aqui analisados.
54
6
Embora no período do Governo Constitucional o jornal O Imparcial
apresentasse criticas ao governo Vargas, posteriormente seu criador José Soares
Maciel Filho se aproximou do governo e da figura do Getúlio Vargas, inclusive
sendo seu ghost writer, demonstrando assim uma posição ambígua.
57
7
A pena de morte foi restabelecida nos períodos de ditadura no Brasil, pela
Constituição de 1937, sendo abolida pela Constituição de 1946. Retornou na
Emenda Constitucional n. 1 de 1969, complementada pelo Decreto-Lei n. 898,
sendo abolida com a Emenda Constitucional n. 11 de 1978. O Código Penal
Militar brasileiro, de 1969 e ainda vigente, prevê pena de morte em períodos de
guerra.
76
em vez das punições com intenção de castigá-los apenas. Este código foi
um marco legislativo da República, serviu de modelo para a
padronização dos presídios nas primeiras décadas do século XX e
rompeu com o modelo de leis penais do Império, marco do período
escravocrata, que previa execuções e castigos físicos.
Com a nova ênfase na prisão celular, foram construídos diversos
presídios no século XX visando a reabilitação social pelo isolamento.
Mesmo assim, o Código de 1890 era criticado por representar um
modelo de justiça que não era universal, mas que atendia aos interesses
da elite para um controle social, com punições para “vadiagem” e
prática de capoeira, por exemplo. Ainda que trazendo à luz a punição
criminal, antes praticada em obscuros porões, havia em seu texto
lacunas e omissões, sendo complementado por diversas emendas até
1932, quando, por meio de um decreto, passou a vigorar como Código
Penal Brasileiro, completado com as Leis Modificadoras em Vigor.
Assim, as mesmas leis utilizadas como parâmetro para a perseguição de
capoeiristas e “vadios” na virada do século XIX para o século XX,
também abarcaram os crimes das décadas de 1920 e 1930, inclusive nos
julgamentos de presos políticos, até 1940, quando foi criado o terceiro e
atual Código Penal brasileiro. A criação de instituições que
aprisionaram os considerados inimigos do Estado durante o Governo
Constitucional, sobretudo os comunistas, se deu sob a vigência das leis
penais do século XIX, incluindo a adaptação de locais inesperados em
prisões, como o objeto de estudo desta tese, o Presídio Maria Zélia.
Em Os Signos da Opressão (2003), Regina Célia Pedroso
trabalha com o relatório da Comissão das Prisões do Distrito Federal, de
1900. Este aponta e classifica as condições prisionais como dramáticas,
com problemas graves de higiene, superlotação, péssimas condições
alimentares e com segregação entre os presos abastados e os proletários.
Segundo a autora, não houve mudanças com o advento da República,
pois era útil ao Estado “a manutenção desses lugares excludentes, para
que os encarcerados servissem de exemplo e aprendessem com esse
exemplo: construiu-se uma pedagogia do medo”. (PEDROSO, 2003, p.
204)
A LSN, de 1935, também contribuiu nas configurações prisionais
no Brasil:
A Lei de Segurança Nacional seria o grande
suporte jurídico-criminal para a condenação de
atividades repressivas, contra grupos considerados
subversivos, ao longo daqueles próximos anos,
tendo sofrido adaptações que mais tarde iriam
77
8
Sobre sua própria prisão, Antônio Vieira cita-a em uma nota de rodapé. Relata
que, dias depois de sua prisão, em 1936, seu irmão José Vieira de Farias
também foi detido, pois a polícia queria verificar se havia ligação entre ambos.
José Vieira disse que não sabia por que o irmão havia sido preso, e, após onze
horas de interrogatório, foi solto. Antônio Vieira afirma ter pago propina a dois
agentes, por dois anos. Ainda assim, a polícia investigou sua casa e a de seus
parentes; como muitos trabalhavam na Light, emitiu-se a comunicação
informando que se tratava de elementos perigosos, que não deveriam ascender
em seus cargos na empresa.
9
Embora o termo prontuário seja comumente utilizado para designar arquivos
pessoais, no arquivo do DEOPS-SP, o arquivo do Presídio Maria Zélia recebe
essa denominação.
95
10
No períodico O Jornal do Rio de Janeiro, no dia 25 de fevereiro de 1937, na
página 4, publicou a matéria “Os presos políticos em São Paulo”, na qual
informava que desde os levantes de novembro de 1935 haviam sido detidos 743
presos políticos, sendo sua fonte a Secretaria de Segurança Pública.
96
Não encontrei outras fontes sobre esta ala feminina, nem menção
ao setor nos documentos oficiais no DEOPS ou sequer o nome de
alguma das mulheres que esteve presa.
Na rotina diária, os presos se ocupavam trabalhando: professores
lecionavam na chamada “Universidade Maria Zélia”, jornalistas,
escritores e teatrólogos redigiam materiais, artesãos confeccionavam
diversos materiais como canetas, chapéus, cintos, bolsas e objetos
artísticos.
O presídio encaixava-se no conceito de instituição total, definido
por Erving Goffman como “um local de residência e trabalho, onde um
grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da
sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam uma
vida fechada e formalmente administrada”. (1974, p.11). Além da rotina
formalmente administrada pela direção do presídio, havia a rotina
98
11
Todas as citações foram atualizadas de acordo com as normas ortográficas
atualmente vigentes.
104
12
O cabo chamado Adalberto, que teria enlouquecido dentro do presídio, é
citado por Vieira (1957) apenas pelo primeiro nome. Assim, não foi
possível identificar se era o mesmo cabo que apresentou sinais de
insanidade depois de solto.
105
13
Não foi possível verificar se o citado na reportagem é o mesmo Antônio
Vieira autor do livro Maria Zélia (1957), pois foram encontrados diversos
prontuários com este mesmo nome no DEOPS-SP.
109
2.3.2 Os assassinatos
14
Laudelino de Abreu foi delegado da DOS, conhecido por torturar os presos
em seus interrogatórios, a sua delegacia localizada no bairro do Cambuci. Esta
foi apelidada de “Bastilha do Cambuci”, por conta das atrocidades ali
cometidas.
116
15
No prontuario do Nauricio Maciel Mendes encontramos uma lista com os
nomes dos presos feridos: João Raimondi, José Freire, Fernando Costa, José
Jorge Oliveira, Fredeico Debelack, Sebastião Francisco Branco, Sebastião
Feliciano Ferreira, Gines Rodrigues, João Caminha Netto, Jocelyn Alves
Cardoso, Cassiano Pereira de Carvalho, Elisiolino Santana, Davino Francisco
dos Santos, Vicente da Paixão Vieira, Jacob Benajamin Leipz, Antonio José
Silva, Celso Nogueira Rosa e Nauricio Mendes. Nos nomes dos mortors
constam: João Varlota, Augusto Pinto e Jose Constancio da Costa.
16
Pedro Kaufman era inspetor da Superintendência de Ordem Política e Social,
nomeado pelo governador Armando de Salles Oliveira.
120
17
A grafia na ata da Assembleia aparece como Hear Leite, posteriormente, na
mesma sessão, na página 923 da ata, a grafia aparece como Ilkar Leite, podendo
se tratar de Hilcar Leite, militante trotskista, entrevistado por Ângela Castro
Gomes em 1984. Na entrevista, publicada no libro Velhos Militantes, Leite
alegou que esteve preso no Maria Zélia e que, quando solto, foi obrigado a sair
de São Paulo, por ordens policiais.
128
18
Gros bonnet é uma expressão francesa para denominar líderes em um sentido
pejorativo, semelhante ao uso, em português, das expressões “chefão” e
“manda-chuva”. Peceísmo é o termo que diversos periódicos do período
utilizavam para referirem-se ao Partido Constitucionalista.
133
19
Encontrei uma notícia no Correio Paulistano, do dia 20 de abril de 1941, com
o título Desvio de mercadorias do presídio Maria Zélia, sobre um comerciante
processado como cúmplice de peculato, por ter adquirido mercadorias, em
novembro de 1937, de funcionários do Presídio Maria Zélia. Foi absolvido, pois
o juiz considerou que o acusado desconhecia a procedência dos artigos que
comprara. A nota não especifica que tipo de artigos foram adquiridos nem que
tipo de comércio o acusado possuía. Levanto a hipótese de que, por conta do
esvaziamento do presídio, conforme nota da Assembleia Legislativa de São
Paulo, com a permanência de apenas sete presos no local em novembro de
1937, os funcionários do presídio talvez tenham se aproveitado para vender
itens do Maria Zélia, em seu desmanche.
20
Gregório Kovalenko aparece em todas as fontes com a grafia com “K”,
apenas no inquérito a grafia foi mudada. O fato não passou despercebido pelo
deputado Alfredo Ellis Jr, que afirmou ter sido a grafia do nome
propositalmente modificada, na tentativa de esconder que se tratava de um russo
no comando da guarda.
135
21
O jornal O Estado de São Paulo, que pertencia a familia Mesquita e tinha
Armando de Salles Oliveira em sua direção, por ter se casado com a filha de seu
fundador, não divulgava notícias sobre o Presídio Maria Zélia.
139
seus quadros muitos profissionais liberais e fosse visto por muitos como
um partido da classe média, os líderes do partido buscaram a adesão de
fazendeiros, contando com os votos de cabresto impostos pelos
coronéis. Nesse sentido o PD, não foi um partido progressista
modernizante, que representava o ideal liberal da classe média paulista.
Isso se confirmou no autoritarismo, também adotado por Armando de
Salles Oliveira, de diversas medidas repressoras.
N’O Estado de São Paulo, encontram-se traços desse apoio ao
autoritarismo, sobretudo na defesa da Lei de Segurança Nacional:
3.2 A CONSTITUINTE
22
As quarenta vagas dos deputados classistas foram escolhidos por delegados
eleitos pelos sindicatos, em uma Convenção Nacional no Distrito Federal.
23
A Chapa Única por São Paulo Unido, era formada pelo PRP, PD, Liga
Eleitoral Católica- LEC, Federação dos Voluntários e Associação Comercial de
São Paulo.
24
A Frente Única Gaúcha era formada pelo Partido Republicano Rio-Grandense
e pelo Partido Libertador.
155
Ele deixava claro que, embora o Brasil fosse uma unidade, e que
todos brasileiros devessem amor à pátria, o país possuía uma
diversidade em suas regiões, o que não garantia uma uniformidade.
Nota-se um esforço para destacar que o estado de São Paulo era único,
com aspectos de grandeza exclusivos, ao mesmo tempo em que pregava
a necessidade de uma união nacional para combater a ameaça
comunista.
Todos nós, brasileiros, guardamos na alma um único modo de
ser, uma mesma religião, um mesmo instinto de pátria. Pois, foi tudo
isto que quiseram romper e extinguir há dois meses. Uma horda brutal,
conduzida por agitados e agitadores sem pátria, tentou apoderar-se do
Brasil, do Brasil livre, do Brasil democrático, Brasil cristão.
25
Miguel Couto alegava que os japoneses não contribuiriam para o processo de
“branqueamento” dos brasileiros e ainda representavam uma ameaça à
Segurança Nacional, por conta da expansão do império japonês.
176
26
Em 1931, Miguel Costa ocupava os cargos de comandante da Força
Pública Paulista e de secretário de Segurança do Estado.
181
1933, Vargas pontuou em seu diário que teve uma longa reunião com
Armando de Salles Oliveira, um dos nomes indicados para a
interventoria de São Paulo.
Julho foi um mês intenso para Vargas. Em busca de um nome
para a interventoria de São Paulo, recebeu visitas de Benedito
Montenegro, Cantídio de Mouros Campos, Francisco Machado de
Campos e Cintra Gordinho. No dia 11 de julho de 1933, recebeu
novamente Armando de Salles Oliveira:
27
Durante o governo de Valdomiro Castilho de Lima foi instaurada uma
sindicância para apurar irregularidades no Instituto do Café de São Paulo;
Getúlio Vargas preferiu nomear um interventor interino até o fim desta, para
depois nomear Salles Oliveira.
183
4.1 O JORNALISTA
4.2 O MÉDICO
pobres que não podiam pagar consultas – nasceu daí a acusação de ser
ele um médico do Socorro Vermelho Internacional.
Declarou que não pertencia ao Partido Comunista, que não tinha
ideologia comunista e que nem mesmo tinha uma noção nítida de como
era a doutrina e que era inteiramente falsa a acusação de que tivesse
distribuído boletins comunistas; dissera ter sido preso em 1933 sob a
mesma acusação, sendo logo imediatamente solto, pois se provou não
haver fundamento. Sobre esta primeira detenção, consta em seu
prontuário, de 5 de agosto de 1932, uma declaração feita na 8 ª
Subdelegacia pelo subdelegado João Elisiário da Cunha, que se dirigiu
ao delegado da 2ª Delegacia de Polícia, relatando:
4.3 O PROFESSOR
28
Embora não conste em seu prontuário nenhuma declaração sobre o assunto,
está anexada a sua ficha uma carteira de filiação ao Partido Socialista Brasileiro
de São Paulo, de 1934, sendo o filiado nº 217.
208
4.4 O CABO
cabelos tão louros que lhe renderam o apelido de “Loirinho”, tinha olhos
verdes, estatura média, era solteiro e com formação primaria. Aos 21
anos, quando foi fichado pela polícia, servia o exército no 4° RI.
Seus problemas começaram em 20 de novembro de 1936, quando
foi detido na DOS e transferido 20 dias depois para o Presídio Maria
Zélia. Em 4 de março de 1937, foi emitido um Boletim de Informações a
seu respeito, informando que ele figurava no Registro Geral do Gabinete
de Investigações, com a ordem para que a DOS o processasse por
atividades subversivas. Também em seu prontuário, consta um relatório,
sem data e nem indicação de origem, que o descreve como ex-cabo do
Exército Nacional, funcionário do Partido Comunista, ligado ao
indiciado Waldemar Schultz, responsável por seu pagamento. Fazia
distribuição de boletins subversivos nos quartéis e vias públicas,
procurando doutrinar outros elementos para a causa comunista.
Há informações de que Costa convidou seu companheiro de
quarto, Naurício Maciel Mendes, para aderir à causa comunista dentro
da Força Pública. Naurício Mendes chegou a auxiliar o Partido,
emprestando a importância de 500.000 réis a João Raimondi e escreveu
um manifesto de propaganda subversiva dirigido aos colegas da 2ª
Formação de Intendência. Na residência de Costa e Mendes foram
apreendidos muitos boletins comunistas e escritos subversivos, livros de
“credo marxista”, como A Conquista do Pão e O Extremismo, doença
infantil do Comunismo. Interrogados, ambos confessaram suas
atividades delituosas. José Constâncio declarou:
4.5 O DESENHISTA
29
A Lei n. 38/1935 estabelece crimes nos quais se enquadrariam José
Constâncio Costa: “São crimes contra a ordem política, além de outros
definidos em lei. Art. 1º: Tentar diretamente e por facto, mudar, por meios
violentos, a Constituição da República, no todo ou em parte, ou a forma de
governo por ela estabelecida; [...] Art. 4º: Será punido com as mesmas penas
dos artigos anteriores, menos a terça parte, em cada um dos graus, aquele que,
para a realização de qualquer dos crimes definidos nos mesmos artigos, praticar
algum destes atos: aliciar ou articular pessoas; organizar planos e plantas de
execução; aparelhar meios ou recursos para esta; formar juntas ou comissões
para direção, articulação ou realização daqueles planos; instalar ou fazer
funcionar clandestinamente estações radiotransmissoras ou receptoras; dar ou
transmitir, por qualquer meio, ordens ou instruções para a execução do crime”
(BRASIL, 1935).
215
4.7 O MILITAR
30
O nome completo do livro era Rússia: impressões de viagem, de 1931, escrito
por Maurício Campos de Medeiros, deputado do Rio de Janeiro que teve o
mandato interrompido pela Revolução de 1930. Passou um mês na União
Soviética e, ao retornar, escreveu o livro. Foi acusado de ser simpático ao
sistema comunista e preso pelo chefe da polícia, João Batista Luzardo.
222
CONSIDERAÇÕES FINAIS
31
Segundo Cancelli (1999), Vargas se reuniu com a chefia policial inúmeras
vezes e criou verbas suplementares para a ampliação do aparato de repressão ao
comunismo, chegando a contratar consultorias internacionais.
228
FONTES
Decretos e Leis
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19482-
12-dezembro-1930-503018-republicacao-82423-pe.html. Acesso em:
12/10/2015
1939/decreto-21402-14-maio-1932-518100-publi cacaooriginal-1-
pe.html. Acesso em: 10 de janeiro de 2017.
Jornais
Prontuários
Outros
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Bruno Rotta. Cem anos de prisão: uma análise comparativa
da população carcerária da casa de correção e do presídio central de
Porto Alegre no intervalo de um século. 2011. 243f. Dissertação
(Mestrado em Direito) - Programa de Pós-Graduação em Ciências
Criminais da Faculdade de Direito, PUC- RS, Porto Alegre.
MOTTA, Marly Silva da. O relato biográfico como fonte para a história.
Vidya, Santa Maria (RS), n.34, p.101-122, jul./dez. 2000
_______________________.
Revolucionários de 35: sonho e realidade. São Paulo, Editora Schwarcz,
1992.
ANEXO I - ICONOGRAFIA
Figura 1
Imagem da Cela “G”
Figura 2
Imagem do piso superior
Figura 3
Imagem da Cela “C”
Figura 4
Imagem da Cela “D”
Figura 5
Capa da Revista Juventude de abril de 1937
Figura 6
Revista Juventude novembro de 1936
BRASIL
Quarenta e quatro milhões de ignorantes, sem higiene, nem luz,
sem instrução;
Quarenta e três milhões agonisantes; disseminados por um vasto
chão.
Um milhão de famintos retirantes Desfalecendo por inanição, a
bradar, a gemer horripilantes a nós pedindo um pouco dágua e pão.
Febre, maleita, fome e opilação!
Pelo vício da pinga embrutecidos Três quartos da total
população...
Tudo coberto por um céu de anil tanta miséria e males
recolhidos...
— Essa é a grande riquesa do Brasil!”
(Antônio Balota)
262
Diário de São Paulo fez em sua seção esportiva. Diz esse jornal que “As
bandeiras, as saudações o ambiente em geral, denunciavam antes de
mais nada a preocupação de exaltar as vantagens da disciplina e
organização alemã?”
Desse modo através das exibições esportivas nazistas de São
Paulo procuram instaurar aqui a torpe deturpação do esporte que Hitler
há quatro anos adota na Alemanha escravizada transformando-a numa
propaganda da guerra e do regime de força.
Mas não parou ali a insolência dos nazistas do Clube Germania.
Vejamos o que diz o mesmo jornal sobre o caráter imoral que os
dirigentes dessa Associação imprimiram à competição “Uma das provas
dos indesejáveis propósitos que animam os promotores do certame está
no fato de não terem sido aceitos nas competições, vários nadadores do
Tietê, cuja inscrição entretanto, estava perfeitamente dentro do
regulamento. É que tais elementos de valor sabidamente reconhecidos,
iriam com certeza ameaçar seriamente a vitória das escolas e dos
grêmios cuja pretensa superioridade em matéria de educação física a
Olimpíada Infantil tem por feito pôr em evidencia custe o que custar”
Isso é o cumulo! Esses fascistas insistem em afirmar que sua
saúde é superior. E vejam como eles o provam, sabendo muito bem que
os “moleques” brasileiros iam “dar na cabeça”, deixar na rabeira os
alemães, lançaram mão de métodos os mais desleais para impedi-los de
concorrer.
Esses fatos não trazem novidade, temos o exemplo recente e de
escala mundial das Olimpíadas de Berlim.
A nota esportiva em questão termina dizendo que “diante destes
fatos o boicote às Olimpíadas Intantis se torna obrigatória”.
Encorajados pelos métodos reacionários do governo os nazistas
no Brasil incentivam sua propaganda e não somente através do esporte,
a propaganda hitlerista se exerce no país e cedendo a um plano geral de
norte a sul e com as boas graças dos traidores nacionais.
O governo popular não permitirá a continuação de três abusos, o
esporte será facilitado à grande massa, que haja não pode pratica-lo na
sua orientação será no sentido de paz e cultura e não de guerra e
destruição como o utilizam os fascistas