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Portanto, uma vez que lhe tenha chegado à notícia que certo
preso se ache em adiantado (não terminal somente) estágio da atroz
moléstia, dê o Juiz, com a maior brevidade que couber no possível, as
providências necessárias para removê-lo ao pé de seus familiares. É
que, havendo-se declarado impotente a Medicina para conjurar o mal,
fora de preceito que o Estado (que mais se conhece por ente sem
entranhas) relaxasse o preso aos desvelos de sua família, a qual,
unicamente, lhe poderia acudir com o remédio que serve de atenuar
ao mesmo tempo os achaques do corpo e os da alma: o amor.
Tanto que diagnosticada a doença gravíssima, a direção
do presídio, firme em parecer médico oficial, comunicá-la-ia
espontaneamente ao Juiz de Direito corregedor. Este, com o arbítrio
do varão prudente, e sem fazer caso nem cabedal da pena imposta
ao recluso, enviá-lo-ia aos seus, num preito sublime à piedade,
considerando apenas no grande alcance do benefício (acaso o último),
cuja concessão não encontra as regras do bom-senso nem faz rosto a
seu amplo poder discricionário.
Mais que aconselhável, seria verdadeira obra de misericórdia
isso de o Magistrado, para melhor aferir as condições físicas do
enfermo, proceder a uma inspeção ocular e, de seguida, num generoso
impulso de consciência reta, sensível sempre às tragédias humanas,
transferi-lo para o domicílio, onde familiares o pudessem assistir até o
doloroso momento em que ao curto dia de sua vida sucedesse a noite
eterna.
Ato será esse que não desacreditará o Judiciário nem
recomendará mal o Juiz; bem ao revés, concordará com aquilo do
desafortunado Humberto de Campos: “A Justiça tem na mão uma espada,
quando devia ter, no lugar desta, um coração”(3).
Notas
(2) Evandro Lins e Silva, A Defesa tem a Palavra, 1980, p. 265. Outro
tanto in Revista Forense: “A repressão pela expiação no cárcere não traz
cura. Amontoa desespero sobre desespero” (vol. 155, p. 414).
(3) Sombras que Sofrem, 1954, p. 12.
Carlos Biasotti
Desembargador aposentado do TJSP e ex-presidente da Acrimesp