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RESUMOS

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)


Campo Grande/MS, Brasil
28 a 31 de maio de 2019
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Reitor
Marcelo Augusto Santos Turine
Vice-Reitora
Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Nalvo Franco de Almeida Junior
Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Esporte
Marcelo Fernandes Pereira
Diretora da Faculdade de Artes,
Letras e Comunicação
Vera Lúcia Penzo Fernandes
Coordenador do Curso de Música
Licenciatura
Gustavo Rodrigues Penha

Comissão Organizadora SIMCAM 14


Coordenação Geral
Luis Felipe Oliveira
Coordenação Artística
William Teixeira
Coordenação Executiva
Gustavo Rodrigues Penha
Mariana de Araújo Stocchero

Monitores
Adriana Souza da Silva
André Luiz Terêncio Ramão
Evelyn Nayara Verga de Lima
Gabriela Simões Lima
Gilberto Pereira Rodrigues
Giulia Leal Reis Pinho
Leticia Maria Nunes Lechuga
Natália Santos Almeida
Vanessa Araújo da Silva
Vinícius Alves Maciel
Victoria Talamini Rojas
(auxílio diagramação)

Como citar este livreto (How to cite this booklet):


Nogueira, M., Dos Santos, R. A. T., Oliveira, L. F. (Eds., 2019). XIV Simpósio
Internacional de Cognição e Artes Musicais - SIMCAM 14: Caderno de Resumos (eletrônico).
Curitiba, Brasil: Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais (ABCM).
Caderno de Resumos e Programação

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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

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Caderno de Resumos e Programação

É com imensa alegria que apresentamos à comunidade acadêmica o Caderno de


Resumos do XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais, o nosso
SIMCAM 14. Neste ano de 2019, a realização do simpósio reveste-se de um caráter
especial pelos desafios adicionais que se colocaram diante de todos os que estiveram
envolvidos com a sua produção. Apesar das dificuldades, a sensível atuação das pessoas
— afinal, as instituições nada são sem as pessoas que as constituem — da Associação
Brasileira de Cognição e Artes Musicais (ABCM) e da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS) foi o que as tornou vencíveis em tempos de tamanhas
incertezas. Para além das ações, não se faz um evento científico sem recursos, e devemos
um louvável agradecimento ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e à Pró-reitoria de Extensão, Cultura e Esporte (PROECE) da
UFMS, através do Edital PROFE 2019, assim como ao Serviço Social do Comércio
(SESC). Devemos externar nossa profunda gratidão aos pesquisadores brasileiros e
estrangeiros que aceitaram o convite para compor as inúmeras atividades acadêmicas
que constituem a programação do SIMCAM 14, especialmente porque na época em
que os convites foram feitos não sabíamos nem se conseguiríamos sequer emitir os
bilhetes aéreos. Por fim, mas não menos importante, manifestamos nosso
agradecimento aos pesquisadores associados que com seu trabalho e sua contribuição
mantém ativa a ABCM e suas atividades — é para vocês que o SIMCAM 14 foi
concebido e é uma honra tê-los em Campo Grande, MS.

It is with immense gladness that we present to the academic community the Abstract
Book of 14th International Symposium on Cognition and Musical Arts, our SIMCAM
14. In this year of 2019, the symposium accomplishment is overlaid with a special
character due to the additional challenges that have stood in front of all which were
involved with its production. Notwithstanding difficulties, the sentient action of
people — in the end, institutions are nothing more than the people that constitute them
— from the Brazilian Association of Cognition and Musical Arts (ABCM) and Federal
University of Mato Grosso do Sul (UFMS) was what make possible to overcome them,
especially in times of great uncertainty. Beyond the actions, a scientific event is not
possible without funds and in this sense we own to praiseworthily acknowledge the
National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) and the
UFMS Office for Extension, Culture and Sports (PROECE), by means of the 2019
PROFE Public Call, and the Social Service of the Commerce (SESC). We shall express
our deep gratitude for the Brazilian and foreigner researchers that have accepted the
invitation to partake in the numerous academic activities which constitute SIMCAM
14 programme, especially because in the time the invitations were made we did not
know whether we could afford even for the air fares. Last, but not least, we manifest
out acknowledgment to all associated researchers that, with their work and
contributions, keep ABCM alive — SIMCAM 14 was conceived for you all, and it is
an honor to have you in Campo Grande, MS, Brazil.

Luis Felipe Oliveira


Coordenador Geral do SIMCAM 14
SIMCAM 14 Chair
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

6 (ABCM)
Sejam bem-vindo(a)s ao SIMCAM 14!
Em nome da diretoria da Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais (ABCM) quero
dar as boas vindas a todos os conferencistas brasileiros e estrangeiros, pesquisadores, professores,
alunos e colaboradores de tantas instituições do Brasil e do exterior, que vieram participar desta
edição do Simpósio, contribuindo significativamente para a ampliação do conhecimento na
área da cognição musical. O SIMCAM retorna à região Centro-Oeste, onde já esteve em três
edições, sinalizando um claro avanço da área, particularmente no Brasil, tendo recebido a
submissão de mais de 110 trabalhos. Isto ocorre num momento em que a Associação vem se
preparando para colaborar ainda mais efetivamente no agenciamento da interação entre os
pesquisadores dedicados à cognição musical, a partir da consolidação de variados serviços via
website. A aproximação das ações entre os pesquisadores é nossa prioridade e para isto
procuramos desenhar um simpósio mais produtivo em termos de debates e trocas, visando
modelos cada vez mais semivirtuais e multicentros para as próximas edições do evento.
Gostaríamos de agradecer o empenho de toda a comissão organizadora do SIMCAM 14, em
especial do coordenador geral do evento, Dr. Luis Felipe Oliveira, que conduziu da melhor
forma a parceria da ABCM com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), assim
como a relação com as instituições de apoio como o CNPq e o SESC/MS. E da mesma forma
agradecemos à diretora científica do Simpósio, Dra. Regina Antunes Teixeira dos Santos, e aos
diretores de avaliação e pareceristas pelo trabalho enriquecedor que ofereceram, assim como a
todos os pesquisadores convidados e autores de trabalhos, performers, alunos monitores, enfim,
a todos que possibilitaram a realização exitosa de mais um SIMCAM.
Saudações e um ótimo simpósio a todos!

Welcome to SIMCAM 14!


On behalf of the board of directors of the Brazilian Association of Cognition and Musical Arts
(ABCM), I would like to welcome all Brazilian and foreign keynote speakers, researchers,
professors, students and collaborators, active and passive participants, from so many institutions
in Brazil and abroad, who are participating in this edition of Symposium, contributing
significantly to the expansion of knowledge in the area of musical cognition. SIMCAM returns
to the Midwest, where it has been in three editions, signaling a definite advance in the area,
particularly in Brazil, having received the submission of more than 110 papers. This authors
interest occurs at a time when the Association has been preparing to collaborate even more
effectively in the agency of interactions between researchers devoted to musical cognition,
from the consolidation of various services through its website. The approximation of actions
among researchers is our priority, and for this we seek to design a more productive symposium
in terms of debates and exchanges, aiming at increasingly more semi-virtual and multi-hub
models for the next SIMCAM editions. We want to thank the efforts of the entire SIMCAM
14 organizing committee, in particular, its general coordinator, Dr. Luis Felipe Oliveira, who
conducted the ABCM partnership with the Federal University of Mato Grosso do Sul (UFMS)
as well as the relationship with supporting institutions such as CNPq and SESC / MS. And, in
the same way, we thank the Symposium scientific director, Dr. Regina Antunes Teixeira dos
Santos, and the evaluation directors and members of review committee for the enriching job
they offered, as well as all researchers and authors, performers, student-monitors, ultimately, to
all those who made possible the successful accomplishment of this SIMCAM.
Greetings and an excellent symposium for all!

Marcos Nogueira
Diretor Presidente
ABCM President
Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais
Caderno de Resumos e Programação

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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

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PROGRAMAÇÃO
GENERAL SCHEDULE
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 28 | May 28
CONFERÊNCIA
LECTURE 1
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SALA MULTIUSO, 19h

Coordenador da sessão | Session Chair: Gustavo Rodrigues Penha (UFMS)

La invención musical infantil, de las exploraciones sonora de la


primera infancia a la composición
François Delalande

Todos lo saben: desde la edad más joven, los niños se complacen en producir sonidos,
primero con la boca, luego con los objetos que les caen en las manos. Para prolongar su
hallazgo, repiten el gesto: es lo que se llama una « reacción circular». Alrededor de ocho
meses, modifican el gesto para modificar el sonido, es decir producen variaciones.
Lo que se sabe menos, es que estas exploraciones senso-motoras son a la vez el germen del
gesto musical y el punto de partida de la invención. De hecho, tal conducta de exploración
empírica de fuentes sonoras e instrumentos se ha desarrollado en favor de las músicas
concretas, electroacústicas e instrumentales recientes que enfocan la investigación sobre el
sonido. Las "ideas musicales" que desarrollan no son tanto melodías y fórmulas rítmicas como
"singularidades sonoras".
Si disfrute de un entorno favorable, estimulado por "dispositivos" elegidos, el niño mismo
enriquecerá sus búsquedas sonoras hasta llegar a las preocupaciones del compositor o del
intérprete contemporáneo, hasta la composición, eventualmente con la computadora. A menos
que sean los músicos contemporáneos — compositores, instrumentistas, improvisadores — quienes
hubieran recobrado esta curiosidad para el sonoro que se manifiesta desde el primer año de la vida.

L'invention musicale des enfants, des explorations sonores de la petite enfance à la


composition
Tout le monde le sait : dès le plus jeune âge, les enfants prennent plaisir à produire des sons,
d’abord avec leur bouche, puis avec les objets qui leur tombent sous la main. Pour prolonger
leur trouvaille, ils répètent le geste: c’est ce qu’on appelle une «réaction circulaire». Vers huit
mois, ils modifient le geste pour modifier le son, c’est-à-dire produisent des variations.
Ce qu’on sait moins, c’est que ces explorations sensori-motrices sont à la fois le germe du geste
musical et le point de départ de l’invention. En effet, une telle conduite d’exploration
empirique des sources sonores et des instruments s’est développée à la faveur des musiques
concrètes, électroacoustiques et instrumentales récentes qui centrent la recherche sur le son.
Les «idées musicales» qu’elles développent ne sont plus tant des mélodies et des formules
rythmiques que des «singularités sonores».
Pour peu qu’il bénéficie d’un environnement favorable, stimulé par des «dispositifs» choisis,
l’enfant enrichira de lui-même ses recherches sonores jusqu’à rejoindre les préoccupations
du compositeur ou de l’interprète contemporain. À moins que ce soient les musiciens
contemporains — compositeurs, instrumentistes, improvisateurs — qui aient retrouvé cette
curiosité pour le sonore qui se manifeste dès la première année de la vie.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

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Caderno de Resumos e Programação

MAIO 29 | May 29
MESA REDONDA 1 13

SALA MULTIUSO, 10h

A inserção da cognição musical nas graduações em música


Mediadora:
Rosane Cardoso de Araújo
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Debatedores:
Graça Boal Palheiros
Escola Superior de Educação do Porto (Portugal)
Genoveva Salazar
Universidad Distrital Francisco José de Caldas (Colômbia)
Marcos Nogueira
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

O desenvolvimento da Psicologia da Música em Portugal


Graça Boal-Palheiros
Esta comunicação apresentará um breve historial da inserção e do desenvolvimento da investigação
nas áreas da psicologia da música e educação musical nas instituições de ensino superior em
Portugal. Um dos impulsionadores deste desenvolvimento terá sido a criação, pela primeira vez,
em 1980, de cursos superiores conferindo graus académicos (licenciaturas, mestrados e
doutoramentos) em Ciências Musicais. Um segundo fator será certamente, a formação pós-
graduada adquirida pelos docentes das áreas de ensino da música em universidades estrangeiras, em
particular, no Reino Unido e nos Estados Unidos.
Em Portugal, no final da década de 1980, a Psicologia da Música era praticamente desconhecida
nas instituições superiores de ensino de música e as Faculdades de Psicologia não ofereciam estudos
neste domínio. A Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto (ESE/P.Porto), a par da
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL) foram
pioneiras neste domínio, tendo criado respetivamente, o CIPEM – Centro de Investigação em
Psicologia da Música e Educação Musical, em 1998, e o LAMCI – Laboratório de Música e
Comunicação na Infância. Nestas instituições, foram mais tarde oferecidos o Mestrado em
Psicologia da Música no Porto, em 2003, e o Doutoramento em Ciências Musicais, Especialidade
Ensino e Psicologia da Música, em Lisboa. Atualmente, a disciplina de Psicologia da Música
encontra-se nos currículos das licenciaturas em Educação Musical, na ESE/P.Porto, e em Música,
na ESMAE/P.Porto (Escola Superior de Música e das Artes do Espetáculo).

Experiencias pedagógicas e investigativas con referentes


conceptuales en la cognición musical en el
Proyecto Curricular de Artes Musicales (PCAM)
Genoveva Salazar
En el PCAM, el aprendizaje de la lectoescritura y el desarrollo de habilidades auditivas
musicales abordados en la asignatura Formación Auditiva han sido foco de preguntas
permanentes que han derivado en proyectos de investigación. Adicional al aporte pedagógico
y teórico musical, se ha visto la necesidad acudir a estudios y conceptos de campos como la
psicologia de la música y las ciencias cognitivas a fin de ampliar la comprensión sobre los
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

procesos de aprendizaje abordados en la asignatura y buscar estrategias que posibiliten cualificar


la práctica pedagógica. El objetivo es presentar experiencias académicas e investigativas en el
PCAM en la cuales el campo de la cognición musical ha aportado referentes conceptuales
14 relevantes en la comprensión de procesos y escenarios de aprendizaje musical. Para esto se
exponen estrategias que han permitido ampliar los referentes conceptuales respecto de la
cognición musical.
Son varias las investigaciones orientadas a comprender procesos cognitivos involucrados en
habilidades de lectura y audición musical, a entender estas como modos de conocimiento
musical y a aportar insumos para elaborar materiales didácticos (Salazar, 2003; Salazar et al.
2005; Salazar et al. 2015; Salazar 2016 y Salazar, 2018). Algunas de estas investigaciones han
propuesto seminarios para la fundamentación teórica en cognición musical, como base para
la formulación de categorías de análisis e interpretación, y el aporte a las reflexiones sobre
nuestras prácticas pedagógicas y musicales. Para esto, han sido fundamentales los trabajos de
autores como Sloboda, (1985); Johnson (1987); Zbikowski (2002); Clarke (2005); Martínez
(2005); Cox (2011) y Shifres (2013), entre otros.
Las investigaciones surgidas desde el área Formación Auditiva han incidido en la práctica
pedagógica de la asignatura. De igual forma, han propiciado que docentes y estudiantes
amplíen sus referentes conceptuales sobre la cognición musical y generen preguntas en relación
con sus prácticas.

Enfim a emergência da psicologia da música como método


Marcos Nogueira
Gostaria de iniciar a discussão retomando o que Hugo Riemann (1905, 1914–15) denominou
teoria da imaginação tonal, no período final de sua produção teórica—campo este que, no
entanto, não teve tempo de desenvolver. Ele começava a se aproximar da emergente
psicologia experimental e aderia, já no seu artigo de 1905, à teoria do filósofo e psicólogo Carl
Stumpf (que publicara, de 1883 a 1890, os dois volumes de sua Psicologia do tom). Riemann
pretendia desenvolver uma investigação da percepção no ato de entendimento musical e
construir uma teoria da representação mental do som, que começou a esboçar sob o título Ideias
para um estudo sobre a imaginação tonal. Neste trabalho Riemann observou que desde seu
projeto seminal, a tese intitulada Lógica musical (1873), entendeu a escuta dos efeitos sonoros
da música não como um processo passivo, mas como manifestação das funções lógicas da
mente. No entanto, salientava que as deficiências de uma teoria acústica para explicar a
problemática da escuta musical, propriamente, o impediram de alcançar uma solução
satisfatória para o problema.
Neste novo paradigma teórico que tentava desenvolver Riemann passa a rejeitar a tradição
teórica que explicara a harmonia usando tanto o fenômeno acústico quanto qualquer recurso
proveniente de sua observação. Isto impôs-lhe o compromisso de desenvolver um novo modelo
teórico para o entendimento musical, que o levaria a romper com a física como principal campo
de fundamentação do processo de percepção e interpretação musical. Em seus últimos trabalhos,
portanto, a busca por uma “lógica” da escuta musical não fazia mais parte de seu
empreendimento. Seu interesse deslocara-se da pesquisa por uma realidade própria do som da
música, para as imagens mentais das relações percebidas na experiência da música no ato
imaginativo da escuta. Riemann assim passa a afirmar que uma teoria baseada na investigação
dos elementos sonoros da música, enquanto entidades autônomas—eventos sonoros “no
mundo”—, em vez de se apoiar no exame dos eventos musicais tais como imaginados pelo
ouvinte, inevitavelmente fracassaria.
A obra final de Riemann anunciava, pois, de modo original e precursor sua descrença na
acústica e na fisiologia como referenciais para uma teoria da essência da música, assim como
qualquer abordagem analítica que partisse da observação da música como mero conjunto de
entidades sonoras autônomas a serem compreendidas pelo observador. Pretendo advertir que
somente nas últimas três décadas o novo programa vislumbrado por Riemann passou a se
tornar realidade em nossas escolas de formação acadêmica em música, não como nova área de
conhecimento musical, mas como novo método de investigação para todas as subáreas da
musicologia.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 29 | May 29
SESSÃO L1
Comunicações Orais | Oral Presentations
15

SALA 1, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair:: Regina Antunes T. dos Santos

14:00
Estudos quantitativos na área da cognição musical:
Uma abordagem psicométrica
Nayana Di Giuseppe Germano, Hugo Cogo-Moreira, Graziela Bortz

14:30
Leitura à primeira vista no piano em grupo:
Avaliação cognitiva por meio de uma escala psicométrica
Sérgio Inácio Torres, Graziela Bortz

15:00
Um panorama dos estudos de significação musical
nos anais do SIMCAM
Tailine Rocha Reginato, Rael Bertarelli Gimenes Toffolo
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Estudos quantitativos na área da cognição musical:


uma abordagem psicométrica
16
Nayana Di Giuseppe Germano (nayanager@hotmail.com)
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Hugo Cogo-Moreira (hugocogobr@gmail.com)
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Graziela Bortz (g_bortz@hotmail.com)
Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Problema/questão
Trabalhos dedicados ao estudo de fenômenos musicais cognitivos vêm crescendo nas últimas décadas e,
juntamente com esse aumento, pesquisas que se utilizam de métodos experimentais para extrair
resultados de um certo grupo de sujeitos foram igualmente expandidas (por exemplo Miyazaki, 1995;
Bermudez & Zatorre, 2005). Os métodos utilizados para a avaliação de trabalhos experimentais
quantitativos são diversos, sendo muitas vezes escolhidos sem o devido cuidado em atender o objetivo
central da questão preconizada. Neste sentido, a escolha de um método errôneo para avaliar determinado
experimento pode gerar resultados espúrios, resultando até mesmo na completa invalidação da pesquisa.
A Psicometria é uma ciência que estuda fenômenos psicológicos, ou seja, fenômenos não mensuráveis
diretamente, de cunho predominantemente comportamental que se utiliza largamente da estatística para
demonstrar seus resultados (Urbina, 2007; Pasquali, 2013). Há uma série de fatores envolvidos no uso da
Psicometria que podem enriquecer pesquisas na área da Cognição Musical, proporcionando resultados
mais consistentes e confiáveis partindo do conceito de validade de constructo.
Objetivos
O objetivo central desse trabalho é delinear apontamentos sobre como a Psicometria pode ser utilizada
em trabalhos musicais que buscam estudar aspectos cognitivos, experimentais e quantitativos. Serão
brevemente abordados o Modelo de Equação Estrutural (MEE) e a Teoria de Resposta ao Item (TRI)
como ponto de partida para explicações fundamentais. Será também enfatizada a importância da
validação de constructo nesse tipo de abordagem, especialmente em trabalhos quantitativos.
Principais contribuições
A visão interdisciplinar dessa rica área do saber, a Psicometria, poderá auxiliar diversos pesquisadores
da área da Cognição Musical a realizar trabalhos quantitativos e experimentais de uma maneira mais
sólida, além de expor diversos recursos e ferramentas estatísticas que, normalmente, fogem do
conhecimento geral do músico.
Implicações
Ferramentas psicométricas aplicadas em trabalhos cognitivos musicais contêm vastas implicações em
pesquisas de cunho experimental quantitativo, uma vez que pesquisadores que buscam analisar
populações de sujeitos em determinada capacidade latente podem se valer dessa ferramenta, que já é
utilizada largamente em áreas médicas e que alcançou resultados muito interessantes em trabalhos
musicais (Osborne & Kenny, 2005; Bortz et al., 2018; Cogo-Moreira et al., 2013). Com isso, resultados
mais consistentes podem ser encontrados, explorados e discutidos globalmente, contribuindo para a
ciência universal.
Palavras-chave
Psicometria, Teoria de Resposta ao Item, Modelo de Equação Estrutural, Validade de Constructo,
Cognição Musical
Referências
Bortz, G., Germano, N. G., & Cogo-Moreira, H. (2018). (Dis) agreement on sight-singing assessment of
undergraduate musicians. Frontiers in psychology, 9.
Cogo-Moreira, H., de Avila, C. R. B., Ploubidis, G. B., & de Jesus Mari, J. (2013). Effectiveness of music
education for the improvement of reading skills and academic achievement in young poor readers:
a pragmatic cluster-randomized, controlled clinical trial. PloS one, 8(3), e59984.
Bermudez, P., & Zatorre, R. J. (2005). Conditional associative memory for musical stimuli in
nonmusicians: implications for absolute pitch. Journal of Neuroscience, 25(34), 7718-7723.
Miyazaki, K. I. (1995). Perception of relative pitch with different references: Some absolute-pitch listeners
can’t tell musical interval names. Perception & Psychophysics, 57(7), 962-970.
Osborne, M. S., & Kenny, D. T. (2005). Development and validation of a music performance anxiety
inventory for gifted adolescent musicians. Journal of Anxiety Disorders, 19(7), 725-751.
Pasquali, L. (2013). Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. Editora Vozes Limitada. 5 edição.
Urbina, S. (2007). Fundamentos da testagem psicológica. Artmed Editora.
Caderno de Resumos e Programação

Leitura à primeira vista no piano em grupo:


avaliação cognitiva por meio de uma escala psicométrica
17
Sérgio Inácio Torres (pianista@oi.com.br)
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Graziela Bortz (g_bortz@hotmail.com)
Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Problema
O piano em grupo no Brasil teve um crescimento expressivo nos cursos de licenciatura em música na
última década, porém, sua consolidação não se deu como nos Estados Unidos, pela falta de formação
dos professores e infraestrutura (Goreti, 2016; Santos, 2013). Justifica-se a investigação devido a esse
aumento de demanda nas universidades, acrescido da falta de profissionais qualificados. Nesta pesquisa
em andamento, empregaremos ferramentas da Cognição Musical (Ilari, 2009) para refletir, explicar e
contribuir com o desenvolvimento dessa práxis. Para tanto, será empregado o Inventário de Estilos de
Pensamento-Revisado (Sternberg, Wagner & Zhang, 2007) e a partir dessa escala será desenvolvido
um novo instrumento, com o qual, caso validado, pretende responder à seguinte pergunta:- É possível
mensurar objetivamente, pelo viés cognitivo, a leitura à primeira vista de estudantes de piano em
grupo?
Objetivos
O objetivo geral é compreender cognitivamente a avaliação da leitura à primeira vista no piano em
grupo, tendo como objetivos específicos: a) Levantar as estratégias empregadas pré-leitura à primeira
vista; b) Identificar os “Estilos Intelectuais” dos estudantes; c) Investigar por meio dos Estilos
Intelectuais subsídios para a criação de uma escala psicométrica específica de avaliação.
Método
Esta é uma pesquisa quantitativa com aproximadamente 400 alunos, licenciandos em música de
universidades paranaenses. Por meio do teste “Inventário de Estilos de Pensamento-Revisado II/TSI-
R2” serão elencado os padrões cognitivos de processamento dos discentes e suas preferências
intelectuais. Após a análise e tratamento dos elementos, teremos um panorama de como os estudantes
se comportam cognitivamente. Isso fornecerá suporte para elaboração e posterior validação de uma
escala psicométrica para avaliação da leitura à primeira vista no piano em grupo.
Resultados
A pesquisa está em andamento e ainda não possui resultados parciais ou finais. As questões aqui
apontadas serão testadas e analisadas com embasamento psicométrico (Cronbach, 1996) e estatístico.
Conclusões
Até o momento não há conclusões.
Palavras-chave
Cognição musical, piano em grupo, avaliação musical, leitura à primeira vista, psicometria.
Referências
Cronbach, L. (1996). Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artes Médicas.
Goreti, S. M. (2016, Janeiro/Junho). A presença do piano em grupo em instituições de ensino
Superior no Brasil. Revista Orfeu, 1(1), 134-155
Ilari, B. S., & Araújo, R. C. (Orgs.) (2009). Mentes em música. Curitiba: Editora da UFPR.
Santos, R. L. (2013). Uma proposta de método para ensino de piano em grupo destinado ao curso de piano
complementar nas universidades brasileiras. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2013.
Sternberg, R. J., Wagner, R. K., & Zhang, L. F. (2007). Thinking styles inventory-revised II. Bethesda:
Tufts University.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Um panorama dos estudos de significação musical


nos anais do SIMCAM
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Tailine Rocha Reginato (tailinereginato@gmail.com)
Rael Bertarelli Gimenes Toffolo (rbgtoffolo@uem.br)
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Problema
No Brasil, a Cognição Musical é representada pela Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais
(ABCM) e os estudos de Significação Musical estão fortemente presente nos trabalhos da Associação. A
Cognição Musical é um campo de estudos plural e composto por diversas linhas que são embasadas em
referenciais teóricos diversos, muitas vezes, antagônicos. A compreensão do fenômeno musical e da
prática musical por meio dos estudos de cognição deve considerar suas diferenças teóricas, pois, o uso de
conceitos originários de áreas ou vertentes diferentes, quando aplicados sem a compreensão de suas bases
epistemológicas pode acarretar em problemas metodológicos. Nesse sentido, o conceito de Significação
ou Significado Musical, sofre dos mesmos problemas quando considerado pela área da Cognição.
A área da Cognição, em geral, se estrutura em três vertentes de acordo com Varela et al. (2003):
Cognitivismo Clássico, Conexionismo e Ciência Cognitiva Dinâmica.
Objetivos
O objetivo da pesquisa foi o de verificar como tais vertentes se encontram representados na área de
Cognição Musical dos anais do SIMCAM (https://www.abcogmus.org), principalmente nos artigos de
Significação Musical e seus desdobramentos.
Método
Para tal, foi feito um levantamento de todos os artigos do SIMCAM que abordam de alguma forma a
Significação Musical (69 de um total de 552 artigos dos anais). A partir da descrição das vertentes da
cognição tal qual Varela et al (2003), os artigos foram considerados como CC (Cognitivismo Clássico),
CX (Conexionismo), CD (Cognição Dinâmica) e MIX (artigos que misturam as vertentes).
Resultados
Há uma proeminência de artigos relacionados à CD, ainda que essa seja a vertente mais recente e em
desenvolvimento, a despeito de na maior parte do mundo os pesquisadores centrarem-se no CC,
vertente mais bem estabelecida. No SIMCAM, o CC ficou em segundo lugar com 15 artigos,
distanciando-se fortemente do CX, mas mantendo-se estático ao longo dos anos, indicando sua
possível superação. Sete artigos apresentam vertentes múltiplas.
Conclusões
Após a análise conclui-se parcialmente que a mistura de referenciais pode ser resultado de uma busca
por respostas que as vezes uma única vertente não é capaz de oferecer, ou ainda pelo fato de que as
vertentes ainda não sejam tão claras para alguns pesquisadores. Mesmo dentro dos artigos classificados
como Cognição Dinâmica, vemos casos em que as vertentes não necessariamente se misturam mas,
alguns conceitos das vertentes Conexionista e do Cognitivismo são reutilizados, como: representação,
processamento mental, entre outros. Estudos futuros podem ser realizados replicando a metodologia
deste trabalho para que se verifique se as tendências apontadas aqui se confirmam em outras áreas da
Cognição Musical.
Palavras-chave
Significação Musical, SIMCAM, Cognição Musical
Referências
Reginato, T. R. (2018). Um Panorama sobre os estudos de Significação Musical nos anais do SIMCAM.
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – Universidade Estadual de Maringá.
Varela, F. J. (2003). A Mente Incorporada: Ciências Cognitivas e Experiência Humana. Porto Alegre, RS:
Editora ARTMED.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 29 | May 29
SESSÃO L2
Comunicações Orais | Oral Presentations
19

SALA 2, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair: Marcos Nogueira

14:00
Memória gestual e pantomimas do cotidiano no ensino do
contrabaixo para iniciantes
Sonia Ray

14:30
Construindo a performance musical
Carlos André Weidt Mendes

15:00
Metáforas e recursos imaginativos em estratégias
pedagógicas musicais
Isadora Scheer Casari
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Memória gestual e pantomimas do cotidiano


no ensino do contrabaixo para iniciantes
20
Sonia Ray (soniaraybrasil@gmail.com)
Universidade Federal de Goiás (UFG)
PPG Música Universidade Estadual Paulista (UNESP)
PPG Música Universidade de Brasília (UnB)

Problema/questão
A importância da memória no processo de aprendizagem musical foi destacada em recente revisão
bibliográfica sobre textos publicados entre 2006 e 2016 no maior evento dedicado a cognição e música o
Brasil, o SIMCAM (Silva et al., 2017, p.520). Na revisão fica evidente a constante preocupação entre
estudiosos do ensino do instrumento na relação intrı́nseca entre memória muscular e aprendizado. Porém,
quando se propõe aqui a associar pantomimas do cotidiano e memória gestual à questão da memória
muscular é otimizada por já estar associada ao cotidiano do indivı́duo sendo este é capaz reproduzir gestos
memorizados como uma pantomima do cotidiano. Será preciso, contudo, reajustar o contexto da ação
para que a ideia possa ser aplicada na execução do instrumento, no caso, o contrabaixo acústico.
Abordar a iniciação ao contrabaixo a partir da associação de um processo cognitivo, memória gestual
e pantomima, encontra fundamento pela pedagogia da performance musical. Neste sentido, registrar
e fundamentar práticas do ensino da performance musical, como aqui proposto, é ação necessária para
o desenvolvimento de novas ferramentas didáticas na área. Uma grande parte dos estudos sobre gesto
e memória é associada à expressão musical ou à execução musical sem uso de partitura a exemplo das
pesquisas de Davidson (2015), Borém (2016), Chaffin, Imreh, Crawford (2012), Williamon e Goebl
(2013), Santiago (2015), entre outros.
Objetivos
Oferecer alternativa para expansão da visão pedagógica sobre o ensino-aprendizado do instrumento
musical, particularmente do contrabaixo acústico, via expansão da aplicação da memória gestual
associada a pantomimas do cotidiano.
Principais contribuições
O texto oferece o benefı́cio de ser aplicável em iniciantes em qualquer faixa etária ao lidar com
pantomima gestual inerente a hábitos comuns em comunidades ocidentais e motivação por utilizar
gestos conhecidos e dominados do cotidiano. A proposta ora apresentada pode ser concebida como um
modelo com potencial de ampliação em sua aplicação para outros tópicos na iniciação ao contrabaixo
que podem ser desenvolvidos a partir do mesmo princı́pio aqui apresentado.
Implicações
O texto registrou e fundamentou uma prática do ensino do contrabaixo acústico dentro do conceito
de Pedagogia da Performance Musical. A ideia de associar a memória gestual e pantomimas do
cotidiano na introdução ao contrabaixo acústico é apresentada, fundamentada e exemplificada, ficando
registrado seu potencial didático no ensino de técnicas básicas de execução do contrabaixo acústico.
Palavras-chave
Memória gestual e pantomimas, pedagogia da performance musical, ensino de contrabaixo.
Referências
Chaffin, Roger; Imreh, Gabriela; Crawford, Mary. (2012). Practicing Perfection: Memory and Piano
Performance. New York: Psychology Press.
Davidson, Jane. (2015). Exploring the Pianist’s Face. In: Anais do XI Simpósio Internacional de Cognição
e Artes Musicais. Pirenópolis: UFG.
Santiago, Diana (2015). Vestı́gios da Música no Tempo: pesquisas em memória e performance musical.
In: Anais do XI Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais. Pirenópolis: UFG.
Webster, Peter. (2016). Seven big ideas in music teaching and learning: Implications for cognitive
research and practice. In: Anais do XII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais. Porto
Alegre: UFRGS.
Williamon, A.; Goebl, Werner (Eds). (2013). Techniques for memorizing performance. In: Proceedings
of International Conference of Performance Sciences, 1. Viena: Universidade de Viena.
Caderno de Resumos e Programação

Construindo a performance musical


Carlos André Weidt Mendes (carlosweidt@gmail.com) 21
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Problema/questão
Palmer (1997) afirma que a performance musical fornece rico domínio para estudar habilidades
cognitivas. Abordo neste estudo aspectos que podem ajudar o instrumentista a expressar ideias musicais
de maneira objetiva. O paradigma enacionista (Varela, Thompson & Rosch, 1991) esclarecera como
uma ação material pode se refletir em estado mental através de ações perceptivamente guiadas para o
reconhecimento de padrões sensório-motores recorrentes. Essa abordagem é capaz de explicar a
relação entre um sujeito e um objeto musical de maneira pré-conceitual e pré-linguística, junto à
motricidade humana (Matyja & Schiavio, 2013). Assim sendo, a teoria da Autopoiesis (Varela, 1979)
propôs que uma ação material se torne “incorporada” — para usar o termo enacionista — em um
organismo vivo, devido a uma sequência de procedimentos organizados para a manutenção de
determinada atividade que permanece apenas em certas condições, externas a ela.
Objetivos
Objetivar os processos de produção de sentido musical por mapeamento sensório-motor dos padrões
gestuais envolvidos na performance instrumental, visando à otimização da resolução de problemas
técnico-interpretativos e expressivos identificados por violinistas como padrões básicos da execução no
instrumento.
Principais contribuições
Chaffin e Lisboa (2008) afirmam que os instrumentistas possuem um “mapa” mental das obras
executadas, organizado em performing cues estruturais (forma e elaboração da obra), expressivos
(sentimentos transmitidos à audiência), interpretativos (fraseados, dinâmicas, alterações no andamento,
etc.) e básicos (relativos à técnica instrumental). Palmer (1997) menciona que um dos objetivos da
interpretação musical é transmitir o sentido da música, relacionado à sua estrutura formal, estados
emocionais evocados e movimentos físicos do executante. Esses elementos se agrupam numa máquina
de Autopoiesis musical, cujos movimentos físicos do intérprete se tornam suas “engrenagens” visíveis.
Implicações
Acredito que os trabalhos de Palmer (1999) e Chaffin e Lisboa (2008) oferecem visões complementares
sobre a performance musical. O primeiro apresenta uma estratégia num âmbito “macro”, discutindo
diversos aspectos gerais da interpretação, planejamento conceitual e realização de movimentos físicos.
O segundo, em âmbito “micro”, oferece elementos específicos como os performing cues. É importante
que o executante conheça a estrutura formal da obra musical abordada, domine procedimentos
técnicos de seu instrumento e estabeleça naturalmente os “cues” em seu “mapa” para transmitir o
sentido musical desejado. Esses questionamentos não comprometem a “integridade” da máquina de
Autopoiesis musical, pois ela permite diversas possibilidades de experimentação sem prejudicar seu
funcionamento (Varela, 1979).
Palavras-chave
Preparação da Performance Musical, Autopoiesis, Enacionismo.
Referências
Chaffin, R., & Lisboa, T. (2008). Practicing Perfection: How Concert Soloists Prepare for
Performance [Praticando a Perfeição: Como Solistas se Preparam para a Performance]. Ictus, 9,
115-142.
Matyja, J. & Schiavio, A. (2013). Enactive Music Cognition: Background and Research Themes
[Cognição Musical Enacionista: Panorama e Temas de Pesquisa]. Constructivist Foundations, 8(3),
351-355. http://www.univie.ac.at/constructivism/journal/8/3/351.matyja
Palmer, C. (1997). Music Performance [Performance Musical]. Annual Review of Psychology, 48, 155-
138.
Varela, F. (1979). Principles of biological autonomy [Principios de Autonomia Biológica]. New York,
NY: Elsevier North Holland.
Varela, F., Thompson, E., & Rosch, E. (1991). The embodied mind [A Mente Incorporada].
Cambridge, MA: MIT Press.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Metáforas e recursos imaginativos em estratégias


pedagógicas musicais
22
Isadora Scheer Casari (isadorascheer@hotmail.com)
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Problema/questão
Os sentidos experimentados com o corpo são relevantes em toda a área de investigação que tenha o
gesto como elemento crucial. O processo de construção e objetificação do gesto pressupõe sentidos
incorporados como equilíbrio, trajetória e apoio. As ações corporais que permitem a produção
sonora—particularmente na experiência da música—são construı́das a partir de entendimentos que
emergem da própria experiência corporal com o movimento, com o deslocamento de peso, com a
perda e a manutenção do equilı́brio, com a realização de trajetórias e com a percepção das forças que
atuam no movimento. Na performance musical, entendimentos que são produzidos pelo corpo em
ação são estruturados e comunicados em processos de ensino-aprendizagem. Por sua vez, as imagens
(visuais, cinestésicas) que construı́mos mentalmente a fim de objetivar conhecimentos incorporados
não estão disponı́veis a terceiros. Entendemos que a “metáfora conceitual” e os recursos imaginativos
e imagéticos são potentes comunicadores da experiência subjetiva e incorporada e desempenham um
papel importante nos processos de ensino-aprendizagem da performance musical.
Objetivos
Propor uma categorização das estratégias de objetivação do conhecimento incorporado empregados
por dois professores experts na construção do gesto nos processos de ensino- aprendizagem do violino
e da viola
Método
Os dados em questão foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas que visaram enfocar as
expressões linguı́sticas que possibilitam aos sujeitos objetificar suas reflexões subjetivas sobre seu
conhecimento prático. Os dados foram compilados, decompostos e recompostos para análise (Yin,
2016). Apoiamo-nos em procedimentos de codificação propostos por Strauss e Corbin (2008) e de tais
procedimentos emergiram nossas principais categorias analı́ticas.
Resultados
Na elaboração de estratégias narrativas de objetificação do conhecimento gestual, observamos o emprego
sistemático da imaginação metafórica. Os recursos imaginativos implicados foram categorizados em
imaginação: de trajetórias, de distâncias e do apoio. Os recursos metafóricos foram categorizados em
metáforas: da percepção do corpo, da sensação do gesto na produção sonora e de interpretação.
Conclusões
Ambos os professores têm a preocupação em desenvolver uma linguagem que permita a comunicação
do conhecimento incorporado. Esta linguagem explora sobretudo procedimentos imagéticos e
metafóricos, a fim de objetivar o conhecimento e a competência gestual na performance, corroborando
nossa hipótese de que os recursos imagéticos, imaginativos e metafóricos têm um papel central tanto na
objetivação do conhecimento incorporado quanto em seus processos de comunicação em situações de
ensino-aprendizagem. O emprego de imagens visa sobretudo sugerir sensações ao estudante com o
objetivo de intervir em sua elaboração gestual. Ao funcionarem como domı́nio fonte para a objetivação
do gesto na performance, as imagens são um recurso metafórico que intervém na percepção do próprio
corpo, na emergência da sensação do gesto na produção sonora, no resultado sonoro, assim como na
interpretação.
Palavras-chave
Metáfora, Imaginação, Pedagogia da Performance, Cognição Incorporada
Referências
Yin, R. (2016). Pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre: Penso.
Strauss. A., & Cordin, J. (2008). Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de
teoria fundamentada. Porto Alegre: Artmed.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 29 | May 29
SESSÃO L3
Comunicações Orais | Oral Presentations
23

SALA 3, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair:: Ricardo Dourado Freire

14:00
Contribuições da neurociência para o estudo da plasticidade
cerebral induzida pelo treinamento musical
Maria Clotilde Henriques Tavares, Ricardo Dourado Freire

14:30
Análise musical por descritores de áudio baseados em
modelos psicoacústicos
Micael Antunes Silva, Tales Eduardo Pelison Botechia, Danilo
Augusto de Albuquerque Rossetti, Jônatas Manzolli

15:00
Improvisação ao piano com o uso do software
MIROR-Impro: Um estudo exploratório com
alunos de bacharelado em piano no Brasil
Luciana Fernandes Hamond, Anna Rita Addessi, Viviane Beineke
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Contribuições da neurociência para o estudo da


plasticidade cerebral induzida pelo treinamento musical
24
Maria Clotilde Henriques Tavares (mchtavares@gmail.com)
Ricardo Dourado Freire (freireri@gmail.com)
Universidade de Brasília (UnB)

Problema/questão
A compreensão sobre como o cérebro interage com a música tem aumentado dramaticamente
(Cheever et al. 2018) na medida em que suas conexões neurais se entrelaçam de forma multifacetada
com diversos aspectos da cognição humana. Assim, o papel da música tem sido investigado por vários
ramos das ciências cognitivas (Pearce & Rohrmeier, 2012). Ouvir ou produzir música promovem a
plasticidade do cérebro, favorece sua conectividade e modula múltiplas áreas e sistemas. Todo o
processamento cerebral envolve fatores associados à emoção, a funções cognitivas de ordem superior,
articula redes multissensoriais e atividades motoras que se sobrepõem (Wan & Sclaugh, 2010; Herohl
& Zatorre, 2012; Brown et al., 2015). Conquanto as interações entre a música e o cérebro sejam
variadas (e.g. tocar um instrumento, escutar ou imaginar imagens musicais), todas são complexas e
influenciadas por fatores diversos (e.g. treinamento, exposição, preferência pessoal, etc.) que refletem o
background cultural e o repertório biológico individual (Reybrouck et al., 2018).
Objetivos
Revisar a literatura pertinente à plasticidade cerebral induzida pelo treinamento musical, identificar e
apontar as respectivas modificações no sistema nervoso, e descrever os efeitos (ativos versus passivos, e
duradouros versus transitórios) da música sobre o sistema nervoso.
Principais contribuições
As circunstâncias específicas relacionadas ao treinamento musical desempenham um importante papel
nas adaptações plásticas do sistema nervoso que ocorrem em escalas de tempo variável, assim como
mudanças comportamentais nos indivíduos expostos ao treinamento (Altenmüller, 2016; Dala Bella,
2016). Estudos sugerem que esse treinamento produz alterações estruturais e funcionais do cérebro de
modo incomparável a qualquer outra atividade conhecida.
Implicações
O potencial da música para alterar a organização cerebral e aumentar a sua conectividade tem
implicações amplas para a performance musical e prática musical continuada além de aspectos
educacionais e clı́nicos que requerem a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento.
Palavras-chave
Cérebro, cognição, prática musical, neuroimagem
Referências
Altenmüller, E. (2016). Music as a driver for brain plasticity. Clinical Neurophysiology, 127 (22).
Brown, R.M.; Zatorre, R. J.; Penhun, V. B. (2015). Expert music performance: cognitive, neural, and
developmental bases. Progress in Brain Research, 217 (57-86).
Dalla Bella, S. (2016). Music and brain plasticity. In: S. Hallam, I. Cross, & M. Thaut (Eds). The
Oxford Handbook of Music Psychology, (pp. 325-341) 2nd Ed. New York, NY: Oxford
University Press.
Cheever, T. et al. (2018). NIH/Kennedy Center Workshop on Music and the Brain: Finding
Harmony. Neuron, 97 (1214-1218).
Pearce, M., & Rohrmeier, M. (2012). Music cognition and cognitive sciences. Topics in Cognitive
Sciences. 4 (468-484).
Reybrouck, M., Vuust, P. & Brattico, E. (2018). Music and brain plasticity: how sounds trigger
neurogenerative adaptations. In: Neuroplasticity - Insights of Neural Reorganization. Retrieved
from: http://dx.doi.org/10.5772/intechopen.73318.
Herholz, S.C.; Zatorre, R.J. (2012). Musical training as a framework for brain plasticity: behavior,
function, and structure. Neuron, 76 (486-502).
Wan, C.Y; Schlaug, G. (2010). Music making as a tool for promoting brain plasticity across the life
span. Neuroscientist, 16(5): 566–577.
Caderno de Resumos e Programação

Análise musical por descritores de áudio


baseados em modelos psicoacústicos
25
Micael Antunes da Silva (micael.silva@nics.unicamp.br)
Tales Botechia (tales.botechia@nics.unicamp.br)
Danilo Rossetti (danilo.rossetti@nics.unicamp.br)
Jônatas Manzolli (jonatas@nics.unicamp.br)
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Problema/questão
A composição musical, com as expansões tecnológicas no último século, encontrou nos fenômenos
perceptivos uma interface para criação e análise. Suportes computacionais têm contribuı́do nesse
caminho, abrindo espaço para ferramentas analı́ticas como os descritores de áudio (Peeters, 2004).
Dentro de diferentes abordagens, alguns descritores foram desenvolvidos baseados em modelos
psicoacústicos, como o sharpness (Falst; Zwicker, 2013), relacionado à sensação de agradabilidade e
densidade de um som. O modelo de bandas crı́ticas (baseado na escala bark), representa o espectro de
frequências audı́veis divididas com base no processamento de alturas na membrana basilar (ibidem).
Destacamos ainda o descritor de irregularidade espectral, que se relaciona com a variação de magnitude
das frequências do espectro (Simurra, 2018) e se relaciona com a percepção de rugosidade.
Objetivos
-Realizar uma análise do desenvolvimento formal das peças Asperezas (Silva, 2018) e Utopia (Botechia,
2018) utilizando os descritores de áudio de irregularidade espectral, bark coefficients e sharpness.
-Investigar detalhadamente suas evoluções espectrais, relacionando seu comportamento com a forma
musical percebida.
-Contribuir para o campo da análise musical, utilizando medidas psicoacústicas.
Método
A partir da descrição de irregularidade espectral, bark coefficients e do modelo de sharpness, procede-se uma
análise formal e comparativa das peças. Observa-se a possibilidade de encontrar similaridades sobre a
forma descrita, considerando os processos composicionais nas suas singularidades. As medidas desses
descritores são calculadas pelo software Sonic Visualiser (Cannam; Landone; Sandler, 2010).
Principais contribuições
Os cálculo obtidos a partir dos descritores citados apontam para semelhanças entre as peças, embora o
material trabalhado em cada uma tenha diferenças espectrais. Embora as peças tenham particularidades
do ponto de vista microestrutural, quando comparamos a representação desse descritor, observamos
certas semelhanças na macroforma. Tal resultado contribui para um melhor entendimento da
percepção musical da forma.
Implicações
A utilização de descritores de áudio baseados em modelos psicoacústicos voltada à análise musical
contribui para aprofundar os estudos do comportamento de certas caracterı́sticas perceptivas sobre
estruturas sonoras recorrentes. No artigo completo, apresentaremos curvas de evolução dos descritores
de irregularidade espectral, bark coefficients e sharpness, comparando semelhanças e diferenças entre as
peças.
Palavras-chave
análise musical, música acusmática, irregularidade espectral, sharpness, escala bark.
Referências
Botechia, T. (2018). Utopia. Acesso em 26 Abril, 2019, disponı́vel em https://soundcloud.com/tales-
botechia/utopia-revisada-2018
Cannam, C., Landone, C., & Sandler, M. (2010). Sonic visualiser: An open source application for
viewing, analysing, and annotating music audio files. In Proceedings of the 18th ACM
international conference on Multimedia, 1467-1468.
Peeters, G. (2004). A Large Set of Audio Features for Sound Description (Similarity and
Classification) in the CUIDADO Project (Cuidado Project Report). Paris: Ircam.
Silva, M. .A. (2018). Asperezas. Acesso em 25 Abril, 2019, disponı́vel em
https://soundcloud.com/micaelantunes/asperezas-binaural
Simurra, I. E. (2018). Análise Musical Assistida por Descritores de Áudio: um estudo de caso da obra
Reflexões de Jônatas Manzolli. Musica Theorica 3(1), 33-67.
Zwicker, E., & Fastl, H. (2013). Psychoacoustics: Facts and models. Berlim: Springer Science & Business
Media.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Improvisação ao piano com o uso do software


MIROR-Impro: um estudo exploratório com alunos de
26
Bacharelado em Piano no Brasil
Luciana Fernandes Hamond (luhamond@yahoo.com)
Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC)
Anna Rita Addessi (annaritaaddessi@unibo.it)
Universidade de Bologna, Itália
Viviane Beineke (vivibk@gmail.com)
Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC)
Problema/questão
Estudos de pesquisa recentes forneceram evidências sobre os benefı́cios do uso de tecnologia no
contexto de aulas individuais. A aplicação de tecnologia pode gerar tipos de feedback adicionais ao
provido pelo professor comumente encontrado em aulas individuais. A improvisação é uma prática
comum entre os licenciandos pois é uma das habilidades funcionais essenciais para a atuação com
professores na escola básica. No entanto, a improvisação pode ser um desafio para os bacharelandos que
têm o piano como instrumento principal em aulas individuais em que o foco está na interpretação
pianı́stica de repertório solo de diferentes perı́odos. No campo das práticas criativas com crianças, a
improvisação pode beneficiar o desenvolvimento de habilidades musicais e promover a interação
reflexiva com o uso do software MIROR-Impro. Apesar de esta tecnologia ter mostrado benefı́cios no
desenvolvimento de improvisação com crianças, a plataforma MIROR foi criada, originalmente, para
atender jovens adultos músicos no desenvolvimento de improvisações.
Objetivo
O objetivo desta pesquisa é investigar o desenvolvimento da improvisação com alunos do curso de
Bacharelado em Piano com o uso do software MIROR.
Método
A pesquisa é um estudo exploratório de natureza qualitativa. Os recursos tecnológicos utilizados no estudo
foram: piano digital, interface MIDI, computador portátil rodando o software MIROR-Impro e um monitor
de computador. A metodologia envolveu a observação de duas sessões com tecnologia registradas em vı́deo,
duas entrevistas com os alunos, e grupo focal com os alunos e o respectivo professor. O uso do software
MIROR-Impro possibilita gravações das improvisações via MIDI e piano digital, e, consequentemente, a
reprodução das improvisações em várias modalidades (eco, similar, diferente, muito diferente).
Resultados
Esta pesquisa apresenta resultados parciais, a partir de relatos de dois participantes coletados de
entrevistas semiestruturadas realizadas sobre o uso da tecnologia. O feedback visual gerado pela
tecnologia parece aumentar a consciência de improvisações, principalmente, em relação à textura. Os
relatos dos bacharelandos auxiliam na compreensão sobre a possı́vel aplicação desta tecnologia,
destacando os benefı́cios e limitações quanto ao uso do software MIROR-Impro com alunos de
bacharelado em piano, no desenvolvimento de improvisação em instrumentos de teclado.
Conclusões
Os resultados desta pesquisa ajudam a uma compreensão sobre os pedagógicos de tecnologias digitais
na aula individual de piano de nı́vel superior, visando a elaboração de fundamentos teóricos e
metodológicos para o desenvolvimento de improvisação ao piano.
Palavras-chave
Improvisação. Pedagogia do Piano. Feedback. Educação Musical e Tecnologias Digitais
Referências
Addessi, A. R.; Anelli, F.; Benghi, D.; Friberg, A. (2017). Child–Computer Interaction at the
Beginner Stage of Music Learning: Effects of Reflexive Interaction on Children’s Musical
Improvisation. Frontiers in Psychology, 8 (65), 1-21. doi: 10.3389/fpsyg.2017.00065
Beineke, V. (2011). Compor, apresentar e criticar música: o ciclo da aprendizagem criativa em um
estudo de caso na educação musical escolar. Anais do VII Simpósio Internacional de Cognição de
Artes Musicais, 231-242.
Hamond, L. F. (2017). The pedagogical use of technology-mediated feedback in a higher education piano
studio: an exploratory action case study. (PhD) UCL Institute of Education, University College
London, London, UK.
Welch, G. F.; Howard, D. M.; Himonides, E.; Brereton, J. (2005). Real-time feedback in the singing
studio: an innovatory action-research project using new voice technology. Music Education
Research, 7(2), 225-249. doi: 10.1080/14613800500169779
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 29 | May 29
SESSÃO L4
Comunicações Orais | Oral Presentations
27

SALA 4, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair: Danilo Ramos

14:00
Forças musicais: composição, cognição e cultura
compondo entendimentos
Guilherme Bertissolo

14:30
Respostas emocionais ao ritmo musical
Eunice Dias da Rocha Rodrigues, José Eugênio de Matos Feitosa,
Maria Clotilde Henriques Tavares

15:00
Criação musical e solfejo: entre lógica e percepção
Gustavo Rodrigues Penha
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Forças musicais: composição, cognição e cultura


compondo entendimentos
28
Guilherme Bertissolo (guilhermebertissolo@gmail.com)
Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Problema/questão
Experimentamos o movimento em música na experiência musical em diversos níveis (Bertissolo 2013).
Ouvimos o movimento na música e imaginamos a música no movimento (Nogueira 2009; Spitzer
2004). Esse artigo aborda a relação entre música e movimento e sua consequente tematização de forças
musicais no domínio do entendimento (Larson, 2012; Brower, 2000).
A principal questão desse artigo é: como as noções de inércia, gravidade e magnetismo em música,
propostas por Larson (2012), aqui consideradas na perspectiva dos esquemas musicais de Brower
(2000), podem ser articuladas com uma semântica cultural através de exemplos de compositores da
Bahia?
A abordagem aqui parte da noção de mente incorporada e pelas noções de metáfora conceitual e esquema
de imagem (Lakoff & Johnson, 1999, 2003; Johnson, 1990). Essas ideias estão fundadas principalmente
na corrente enacionista/atuacionista das ciências cognitivas contemporâneas, e compõem um leque de
alternativas a antigas dicotomias tais como mente-corpo.
Objetivos
Pretende-se com esse artigo discutir como as forças musicais propostas por Larson (inércia, gravidade
e magnetismo) atuam no entendimento e propor uma possível imbricação entre a semântica cognitiva
e a semântica cultural, através de três exemplos de obras de compositores da Bahia.
Principais contribuições
Nossa principal contribuição é a articulação entre os esquemas de Brower (2000) e as forças musicais
de Larson (2012), com a apresentação de exemplos de forças musicais (inércia, gravidade e
magnetismo) em obras de compositores da Bahia. É importante mencionar que o sentido que
buscamos desvelar essas forças estão na perspectiva de uma semântica cultural (Jay, 1998).
Implicações
As teorias cognitivas do sentido musical podem nos ajudar a entender as forças musicais, mas seu
potencial pode ser multiplicado em relação à imbricação entre composição e cultura. Além disso, é
necessário que se estabeleça uma incursão pelos exemplos contemporâneos, já que grande parte dos
exemplos nessa literatura são da prática comum tonal.
Palavras-chave
Forças musicais, semântica cognitiva, semântica cultural
Referências
Bertissolo, G. (2013). Composição e Capoeira: dinâmicas do compor entre música e movimento. Tese de
Doutorado. Salvador: Programa de Pós-Graduação em Música/Universidade Federal da Bahia.
Brower, Candace. (2000). A Cognitive Theory of Musical Meaning. Journal of Music Theory 44 (2):
323–379.
Jay, Martin. (1998). Cultural Semantics: Keywords of Our Time. Amherst: University of Massachusetts
Press.
Johnson, Mark. (1990). The Body in the Mind: The bodily Basis of Meaning, Imagination, and Reason.
Chicago: University of Chicago Press.
Lakoff, George, e Mark Johnson. (1999). Philosophy in the Flesh : The Embodied Mind and Its
Challenge to Western Thought. New York: Basic Books.
Lakoff, George, e Mark Johnson. (2003). Metaphors we live by. Chicago/London: University of
Chicago Press.
Larson, Steve. (2012). Musical Forces: Motion, Metaphor, and Meaning in Music. Bloomington: Indiana
University Press.
Nogueira, Marcos. (2009). A semântica do entendimento musical. In Mentes em música, editado por
Beatriz Ilari; Rosane C. Araújo. Deartes-UFPR.
Snyder, Bob. (2000). Music and Memory: an introduction. Cambrigde/London: The MIT Press.
Spitzer, Michael. (2004). Metaphor and Musical Thought. Chicado/London: University of Chicago
Press.
Caderno de Resumos e Programação

Respostas emocionais ao ritmo musical


Eunice Dias da Rocha Rodrigues (eunicerr70@gmail.com) 29
José Eugênio de Matos Feitosa (ematos33@gmail.com)
Maria Clotilde Henriques Tavares (mchtavares@gmail.com)
Universidade de Brasília (UnB)

Problema/questão
A música é conhecida por seu poderoso impacto emocional (Miendlarzewska & Trost, 2014), sendo o
arrastamento rítmico - rhythm entrainment - responsável por sincronizar os ritmos auditivos aos
osciladores fisiológicos, considerado um mecanismo explicativo provável para a indução de emoções
(Trost & Vuillemie, 2013). Esse mecanismo, um fenômeno universal observado em sistemas físicos e
biológicos, possibilita a adaptação de ritmos corporais internos (por exemplo, frequência cardíaca,
respiração) ao ritmo externo da música, recrutando diferentes respostas fisiológicas do organismo em
níveis sensório-motor, perceptuais e comportamentais (Miendlarzewska & Trost, 2014; Thaut et. al.,
2014; Trost & Vuillemie, 2013). Considerando tais pressupostos, o presente trabalho aborda, por meio
de revisão bibliográfica, a resposta emocional ao ritmo da música, tendo como referencial o conceito
de rhythm entrainment. As questões norteadoras do tema são: 1) Que tipos de emoções são geradas a
partir da exposição rítmico-musical? 2) Que áreas cerebrais/corticais estão envolvidas/ativadas no
processamento do ritmo?
Objetivos
Compreender a participação do ritmo na produção de emoções. Especificamente, buscou-se identificar
os tipos de emoções geradas a partir da exposição a determinados ritmos e detectar as áreas cerebrais
responsáveis por seu processamento.
Principais contribuições
Constatou-se a capacidade do ritmo na indução de emoções como: alegria, medo, tristeza, indiferença
e nojo. Ritmos rápidos parecem estar relacionados à excitação, medo e irreverência. Ritmos lentos
apontam para estados de calma, serenidade e paz (Gabrielsson, 2016). Destaca-se a participação dos
gânglios da base, do cerebelo e do córtex pré-frontal na expressão de emoções a partir do ritmo musical
(Thaut, Trimarchi & Parsons, 2014; Cameron & Grahn, 2016).
Implicações
Embora os mecanismos precisos de interação no processamento de emoções e ritmo ainda permaneçam
obscuros e o rhythm entrainment seja um conceito relativamente recente, as pesquisas mostram que o
envolvimento rítmico musical parece estar relacionado ao surgimento de estados emocionais específicos,
onde estruturas rítmicas e a atividade fisiológica desempenham papel relevante. Considerando a
complexidade do tema, pretende-se contribuir para o entendimento da literatura relacionada ao assunto.
Palavras-chave
Emoção, arrastamento rítmico, “rhythm entrainment”, processamento, cérebro.
Referências
Cameron, D. & Grahn, J. (2016). Neuroscientific investigations of musical rhythm. In Hallan. S. &
Thaut, M. (Eds). The Oxford Handbook of Music Psychology (pp. 357-368). Oxford University
Press.
Gabrielsson. A. (2016) The relationship between musical structure and perceived expression. In
Hallan. S. & Thaut, M. (Eds). The Oxford Handbook of Music Psychology (pp. 215-222). Oxford
University Press.
Miendlarzewska, E. & Trost, W. (2014). How musical training affects cognitive development: rhythm,
reward and other modulating variables. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3957486/
Thaut M.H., McIntosh G.C & Hoemberg V. (2015). Neurobiological foundations of neurologic music
therapy: rhythmic entrainment and the motor syste. Disponível em:
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2014.01185/fullB
Trost, W. & Vuilleumier, P. (2013). Rhythmic entrainment as a mechanism for emotion induction by
music: a neurophysicological perspective. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/280292405_Rhythmic_entrainment_as_a_mechanism
_for_emotion_induction_by_music
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Criação musical e solfejo: entre lógica e percepção


30 Gustavo Rodrigues Penha (penha.gustavo@gmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema/questão
A prática musical calcada no paradigma da escrita (Delalande, 2007) tem o solfejo como um operador
de grande importância. Em sua concepção mais comum, o solfejo é tido como um processo de
decodificação de informações notadas em partituras ou tablaturas, com sua subsequente enunciação
sonora acústica ou mental. O solfejo é também compreendido também como uma disciplina do ensino
musical formal, que tem como objeto justamente o ensino dos códigos de notação e de seus modos de
decodificação. Entretanto, a partir do século XX, com a proposta de Pierre Schaeffer (1998[1967]) de
um Solfejo do objeto sonoro, o solfejo se abre a novos campos de experiência musicais, e pode finalmente
ser compreendido de novas maneiras.
Objetivos
Potencializar o conceito de solfejo, não limitando-o às suas concepções mais tradicionais, para
compreende-lo também como um operador musical que: 1) funciona como um filtro seletivo de linhas
expressivas durante um processo atual de percepção (a partir da concepção de percepção de Henri
Bergon (1999[1896]); 2) estabelece uma relação estrita entre determinada lógica musical e a
subsequente produção de tais ou quais efeitos perceptivos na escuta.
Principais contribuições
As principais contribuições que a presente pesquisa traz é a expansão do campo de atuação do conceito
de solfejo.
Implicações
Do ponto de vista perceptivo, ao funcionar como um filtro seletivo na escuta, o solfejo é o que faz com
que uma escuta selecione, em função da motivação implicada no ato da escuta, tais ou quais linhas
expressivas em detrimento de outras. É nesse sentido que a análise musical se serve de diferentes tipos
de solfejos: um solfejo formal, fraseológico, das relações harmônicas, das relações métricas e rı́tmicas,
etc. Já do ponto de vista em que é considerado uma relação entre uma lógica do fazer musical e os
subsequentes efeitos perceptivos na escuta produzidos por tal lógica, o solfejo é efetivamente criador,
de modo contı́nuo, de novas maneiras de perceber e de sentir. É a partir dessa concepção que se pode
considerar que toda invenção musical ocorre principalmente por processos de experimentação que
resultaram em novos solfejos, tais como, no século XX: solfejo concreto, solfejo espectral, solfejo
concreto instrumental, solfejo de texturas e massas, etc.
Assim, o solfejo apresenta-se não mais como uma disciplina do ensino musical, mas antes como um
operador musical em constante transformação, expandindo seus meios de atuação com o
desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias e, eventualmente, criando novos modos de perceber
e de sentir musicais.
Palavras-chave
Criação musical, análise musical, escuta, percepção, solfejo.
Referências
Bergson, Henri. (1999[1896]). Matéria e memória, tr. br. Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes.
Delalande, François. (2007). De uma tecnologia a outra: cinco aspectos de uma mutação da música e
suas consequências estéticas, sociais e pedagógicas. In: Valente, Heloı́sa de A. Duarte (Org.).
Música e mídia: novas abordagens sobre a canção. São Paulo: Via Lettera.
Schaeffer, Pierre. (1998[1967]). Solfège de l'objet sonore. Paris: INA GRM.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 29 | May 29
SESSÃO C1
Comunicações Orais | Oral Presentations
31

SALA 5, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair:: William Teixeira

14:00
Sistematização do processo heurístico do oboísta para a
caracterização do timbre e da articulação através de parâmetros
acústicos e psicoacústicos
Ravi Shankar Magno Viana Domingues, Mauricio Freire Garcia,
Davi Mota,
14:10
Análise fenomenológico interpretativa: possibilidades de utilização
no campo de estudos da aprendizagem da composição musical
Igor Mendes Krüger, Veridiana de Lima Gomes Krüger, Lourdes Maria
Bragagnolo Frison

14:20
O Efeito Kiki-Bouba como referência para investigações
multissensoriais em música
Cristiane Nogueira, Helena Rodrigues

14:30
Análise de métodos biomecânicos para controle e dinâmica do
instrumento bateria
Sandro Moreno, William Teixeira

14:40
Treinamento musical, ouvido absoluto e memória verbal:
um estudo sobre possíveis correlações
Priscila Satomi Acamine, Patricia Vanzella

14:50
Música interfere na apreciação estética em museu de arte
contemporânea
Bruna de Oliveira, Giulia Ventorim, Claudia Feitosa-Santana, Patricia
Vanzella

15:00
As manipulações do trato vocal na emissão das notas do registro
agudo e superagudo do clarinete baixo
Elaine Cristina Rodrigues Oliveira, Ricardo Dourado Freire

15:10
Arnold Jacobs e proposta musicopedagógica CDG:
sobre formação de professores de instrumento de metal
Michele Girardi, Helena Müller de Souza Nunes
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Sistematização do processo heurístico do oboísta


para a caracterização do timbre e da articulação
32
através de parâmetros acústicos e psicoacústicos
Ravi Shankar Magno Viana Domingues (ravishankaroboe@hotmail.com)
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Mauricio Freire Garcia (m.garcia@ufmg.br)
Davi Mota (davialvesmota@gmail.com)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Problema
Durante seu processo de formação, o instrumentista desenvolve uma série de habilidades cognitivas e
metacognitivas que contribuem para o refinamento e aperfeiçoamento da manipulação de parâmetros
musicais para a construção de uma performance (Neto et al., 2016). Considerando-se que o oboísta
realiza grande parte desta manipulação através da palheta, é fundamental que ele aprenda a perceber,
refletir e desenvolver estratégias para a produção de palhetas que lhe permitam alcançar de maneira
eficiente seus objetivos musicais.
O conceito de “formação” é complexo e abrange uma profusão de significados. Segundo Virgínio
(2009) é um processo dinâmico, inacabado e em aberto, que busca proporcionar uma forma com base
em um modelo específico, adequado ao contexto cultural, social e econômico onde um diversificado
vocabulário de palavras e imagens como heurísticas são apresentados e desenvolvidos (Leech-
Wilkinson & Prior, 2014).
Se por um lado tais conceitos são fundamentais para a transmissão de uma determinada cultura sonora,
o uso descontextualizado de tais expressões, pouco contribui para o processo de desenvolvimento de
uma boa palheta e das habilidades técnicas dos oboístas, pois limitam a experimentação de novas
possibilidades que otimizem a expressão musical do instrumentista.
Objetivos
Compreender o processo heurístico do oboísta relacionado às metáforas utilizadas para a caracterização
do timbre e da articulação.
Método
Realizou-se um estudo descritivo do tipo transversal entre setembro e dezembro de 2017, cuja coleta
de dados consistiu da aplicação de um questionário, a 21 oboístas profissionais, brasileiros e estrangeiros,
que gravaram dois excertos musicais contrastantes e da realização de um teste subjetivo de percepção
em 73 músicos. As gravações foram analisadas segundo descritores acústicos (Campolina et al., 2009) e
posterior tratamento estatístico. Contrapôs-se os dados acústicos, extraídos através dos descritores, com
os dados coletados no questionário e no teste subjetivo de percepção.
Resultados
Observou-se a relação entre alguns descritores acústicos e a classificação subjetiva realizada pelos
músicos o que contribuiu para a sistematização do processo heurístico dos oboístas para caracterizar o
timbre e a articulação.
Conclusões
Nota-se que apesar das diferenças entre os parâmetros físicos das palhetas, a cultura sonora é a
principal influência no processo heurístico do oboísta conduzindo sua compreensão dos conceitos
subjetivos e sua percepção dos parâmetros acústicos e psicoacústicos.
Palavras-chave
Oboé, articulação, timbre, heurística, descritores acústicos.
Referências
Campolina, T., Loureiro, M., Mota, D. (2009). Expan: a tool for musical expressiveness analysis.
Proceedings of the 2nd International Conference of Students of Systematic Musicology, Ghent, Bélgica.
Leech-Wilkinson, D., & Prior, H. M. (2014). Heuristics for expressive performance. In D. Fabian, R.
Timmers, & E. Schubert (Eds.), Expressiveness in music performance: Empirical approaches across
styles and cultures (pp. 34-57). New York, NY, US: Oxford University Press.
Neto, A. B. d. O. et al. (2016, maio). Ferramentas de análise empírica e metacognição no processo de
interpretação musical. Anais do XII Simpósio de Cognição e Artes Musicais, Porto Alegre, RS,
Brasil.
Virgínio, M. H. S. (2009). Análise dos conceitos de formação docente no contexto educativo-formativo
brasileiro. Tese de doutorado, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.
Caderno de Resumos e Programação

Análise fenomenológico interpretativa:


possibilidades de utilização no campo de estudos da
33
aprendizagem da composição musical
Igor Mendes Krüger (igorkruger@unipampa.edu.br)
Universidade Federal do Pampa(Unipampa)/Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Veridiana de Lima Gomes Krüger (limaveridiana@yahoo.com.br)
Lourdes Maria Bragagnolo Frison (frisonlourdes@gmail.com)
Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Problema/questão
Ultimamente temos nos ocupado em investigar os processos autorregulatórios e criativos da
aprendizagem da composição musical. Para tanto, buscamos aporte teórico na obra de Bandura (1986)
no que se refere ao entendimento de indivíduo aprendente e criador. Dado o nosso entendimento de
que as abordagens metodológicas recorrentes no campo da autorregulação da aprendizagem parecem
pouco sensíveis às especificidades de nosso objeto de investigação, propomos, com este trabalho,
algumas reflexões acerca das possibilidades oferecidas pela Análise fenomenológica interpretativa,
doravante IPA, para a compreensão do fenômeno abordado.
Objetivos
Este trabalho, de caráter teórico, tem por objetivo apresentar algumas reflexões a respeito das
possibilidades de utilização da IPA enquanto recurso metodológico para a compreensão de processos
autorregulatórios e criativos da aprendizagem da composição musical em contexto universitário.
Principais contribuições
Dada sua matriz epistemológica, ao articular fenomenologia e hermenêutica filosófica, mas
especificamente no que tange aos pensamentos de Heidegger e Gadamer, a IPA ocupa-se do “exame
detalhado da experiência individual vivida, e das formas como os indivíduos dão sentido a essa
experiência” (Eatough, Smith, 2008, 179). A IPA parte do pressuposto de que nada é mais importante
do que a experiência do humano e de que essas se constituem dentro dos limites da facticidade do
homem em sua relação com o mundo, atentando “a todos os aspectos dessa experiência vivida, desde
os desejos, sentimentos, motivações, sistemas de crenças do indivíduo até como eles se manifestam, ou
não, no comportamento e na ação” (idem. p.181). A maneira com que cada indivíduo compreende e
explica tais experiências está sempre embasada em vivências anteriores e, consequentemente, em seus
preconceitos.
Outro aspecto que merece destaque na abordagem IPA é a valoração dos estudos de caráter idiográfico,
uma vez que esses propiciam a compreensão das idiossincrasias dos indivíduos partícipes da
investigação.
Implicações
Ao partirmos da perspectiva de Bandura para pensarmos o indivíduo que aprende e cria, entendemos
ser necessária a assunção do papel da interpretação nas transações agênticas do indivíduo com/no
universo. As diferentes formas de interpretação, representação e simbolização do vivido implicam nos
modos como as pessoas conectam o pensamento à ação (autorregulação). Assim, entendemos que a IPA
oferece subsídios metodológicos pertinentes à compreensão dos processos criativos e autorregulatórios
de estudantes de composição musical por valorizar a interpretação do indivíduo em relação aos sentidos
atribuídos à experiência.
Palavras-chave
Autorregulação, criatividade, composição musical, metodologia, análise fenomenológico
interpretativa
Referências
Bandura, A. (1986). Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Englewood Cliffs,
NJ: Prentice-Hall.
Eatough, V; Smith, J. (2008). Interpretative Phenomenological Analisys. In: Willig,C; Stainton-
Rogers, W. The Sage Handbook of Qualitative Research in Psychology. (pp. 179-194). Los Angeles:
SAGE Publications.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

O Efeito Kiki-Bouba como referência


para investigações multissensoriais em Música
34
Cristiane Nogueira (cristianemagdan@gmail.com)
Helena Rodrigues (helenarodrigues@musicateatral.com)
Universidade Nova de Lisboa (Portugal)

Problema/questão
O Efeito Kiki-Bouba (EKB) refere-se a um dos primeiros testes envolvendo a correspondência entre
sentidos, evidenciando uma conexão entre estı́mulos linguı́sticos/sonoros e visuais, a partir da relação
entre as palavras sem sentido “Kiki” e “Bouba” e duas imagens de formas distintas, uma de contornos
pontiagudos e outra de contornos arredondados, respectivamente. Inserido nos estudos sobre
correspondências intermodais, o EKB tem suscitado questões relativas ao modo como diferentes
modalidades sensoriais se inter-relacionam. Considerando a natureza multissensorial da música,
questiona- se se o EKB poderá constituir um paradigma relevante para o estudo do fenômeno musical.
Objetivos
Este trabalho pretende verificar se existem contribuições do paradigma do EKB para compreender
correspondências intermodais no âmbito musical e de que modo a conexão não- arbitrária entre os
sentidos auditivo e visual observada no EKB se estende - ou não - a estı́mulos de natureza musical.
Metodologia
Foi efetuada uma revisão de literatura em 24 publicações, selecionadas de 04 bases de dados online,
como a PsycNET/ APA, as plataformas Eric e Sage Journal e o Google Scholar. Os critérios de escolha
dos artigos foram a ênfase no tema do EKB numa perspectiva empı́rica, preferencialmente, e a
disponibilidade online.
Principais contribuições
O EKB tem fomentado debates no âmbito da linguagem, do simbolismo sonoro, da percepção e da
sinestesia, sendo alargado às diversas modalidades perceptivas, como paladar e olfato e, no campo da
visão, ao âmbito das cores. Outros estudos apontam a relação do EKB com gêneros e emoções, palavras
reais, expressões faciais reais e movimentos corporais. No entanto, as investigações que relacionam o
EKB com a experiência musical são escassas, resumindo-se à relação do fenômeno com caracterı́sticas
sonoro/musicais isoladas e obras musicais especı́ficas.
Implicações
A revisão de literatura revelou uma parca produção cientı́fica relativa a possı́veis extensões do EKB ao
domı́nio musical. Entretanto, ao considerar a natureza multissensorial da música, é pertinente desenhar
estudos em que se analise a relação entre estı́mulos musicais e os diversos domı́nios perceptivos, como
por exemplo, o cinestésico. Tal como sucede com a música, há evidências que permitem compreender
o EKB como uma capacidade inata e universal (ainda que culturalmente influenciada), o que confere
outro argumento a favor da realização de estudos aplicando o paradigma do EKB ao contexto musical.
Palavras-chave
Efeito kiki-bouba, música, correspondência intermodal, sinestesia
Referências
Adeli, M. Rouat, J., & Molotchnikoff, S. (2014). Audiovisual correspondence between musical
timbres and visual shapes. Frontiers in Human Neuroscience, 8, 1–12.
Barilari, M. Heering, A. Crollen, V. Collignon, O.; & Bottini, R. (2018). Is red heavier than yellow
even for blind? i-Perception, 1–4.
Blazhenkova, O., & Kumar, M. M. (2018). Angular versus curved shapes: Correspondences and
emotional processing. Perception, 47(1), 67–89.
Köhler, W. (1947). Psicologia da gestalt. Belo Horizonte: Editora Itatiaia.
Koppensteiner, M., Stephan, P., & Jäschke, J. P. M. (2016). Shaking takete and flowing
maluma: non-sense words are associated with motions patterns. Plos One, 11(3), 1–13.
Murari, M. Schubert, E. Rodá, A. Da Pos, O., & De Poli, G. (2017). How ˃:( is Bizet? Icon ratings of
music. Pscychology of music, 1, 1–12.
Ramachandran, V. S., & Hubbard, E. M. (2001). Synaesthesia – a window into perception, thought
and language. Journal of Consciousness Studies, 8(12), 3-34.
Woods, A. T. Spence, C. Butcher, N. Deroy, O. (2013). Fast lemons and sour boulders: testing
crossmodal correspondences using an internet-based testing methodology. i-Perception, 3, 365– 379.
Caderno de Resumos e Programação

Análise de métodos biomecânicos para


controle e dinâmica do instrumento bateria
35
Sandro Moreno (sandromorenobatera@yahoo.com.br)
William Teixeira (teixeiradasilva.william@gmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema
O estudo da bateria envolve muitas variáveis, entre elas a precisão técnica visando uma dinâmica com
eficaz controle do volume pelo instrumentista, algo de extrema complexidade. Ao serem percutidos, os
tambores produzem naturalmente grande amplitude sonora e, por essa razão, a investigação proposta
aqui busca as melhores opções de manejo técnico e gestual para obtenção de dinâmicas baixas, não
somente em caráter artístico-musical mas também com abordagem científica ao buscar na Física
conceitos de Mecânica e Ondulatória que embasem técnicas de moderação do som.
O conhecimento em Acústica será basilar para este processo, antecedendo a abordagem técnica para
que seja possível a apuração sobre a escolha das baquetas, analisando a qualidade sonora produzida
levando-se em conta a massa, dureza e a forma.
Na pesquisa das habilidades, averiguamos a sistemática proposta por três relevantes educadores e
performers, George Lawrence Stone (1886-1967), Gladstone (1892-1961) e Sanford A. Moeller (1869-
1961). Destaca-se também a importância da escolha correta do fulcro (o ponto de apoio de uma
alavanca).
Por ser a bateria um instrumento ainda recente na história da música, tendo seu surgimento na virada
do século XIX para o século XX, tem-se um amplo caminho para diferentes abordagens de execução.
A pesquisa aqui deteve-se a encontrar a melhor trajetória para performance em baixa amplitude sonora.
Objetivos
Este trabalho tem como intento a exposição das técnicas de manejo e os gestos corporais envolvidos na
produção de uma sonoridade de baixa amplitude durante a prática da bateria.
Método
Uma análise multidisciplinar que explane conceitos musicais e da performance tendo como base a
Biomecânica, Ergonomia, princípios da Mecânica, Ondulatória e Acústica.
Resultados
Produção de um texto com registro das técnicas apresentadas no trabalho, posterior publicação em
formato de artigo científico.
Conclusões
O controle dinâmico sem a perda do fluxo musical é de extrema dificuldade para o performer deste
instrumento, a pesquisa efetuada ajuda o músico a encontrar este autodomínio, sobretudo a partir da
ênfase no fulcro.
Palavras-chave
Bateria, técnica, dinâmica, performance
Referências
Berendt, J. Ernest., Huesmann Günther. (2009). The jazz book. (7th ed.). Chicago: Lawrence Hill
Books.
Chapin, Jim.(1948). Advanced techniques for the modern drummer. (1 ed.). New York: Jim Chapin.
Chester, Gary. (1995). The new breed. (5th ed.). USA: Modern Drummer Publications.
Henrique, Luis L.(2011). Acústica musical. (4a ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Logozzo, Derrick. (1992). Systems of natural drumming: Stone, Gladstone, Moeller. Percussive Notes. (86-
92).
Moeller, Sanford.(1956). The Moeller Book: The art of snare drumming. Cleveland: Ludwig DrumCo.
Nussenzveig, Herch Moysés. (2002). Curso de física básica. (4a ed.). São Paulo: Edgard Blucher.
Okuno, Emico. (1982). Física para ciências biológicas e biomédicas. (1 ed.). São Paulo: Harper & Row do
Brasil.
Reed, Ted. (1958). Progressive steps to syncopation for the modern drummer. (1 ed.). USA: Alfred
Publishing.
Stone, Lawrence George. (1935). Stick control. (1 ed.). Boston: G. Lawrence Stone.
Teixeira, William. (2017) Por uma performance retórica da música contemporânea. (Tese de doutorado).
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. Recuperado
de http://www.teses.usp.br.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Treinamento musical, ouvido absoluto e memória verbal:


um estudo sobre possíveis correlações
36
Priscila Satomi Acamine (priscilaacamine@hotmail.com)
Patricia Vanzella (p.vanzella@ufabc.edu.br)
Universidade Federal do ABC (UFABC)

Problema/questão
O ouvido absoluto (OA) é um traço cognitivo caracterizado pela capacidade de identificar e/ou entoar
uma altura específica sem o auxílio de referência externa. Estudos sugerem que portadores de OA,
quando comparados a músicos não portadores e não-músicos, tendem a apresentar uma acentuada
assimetria hemisférica (em favor do lado esquerdo) no Planum Temporale (Keenan et al., 2001). Caso
isso seja resultado de uma mudança na organização cortical, o lobo temporal esquerdo nesses
indivíduos pode ter uma função cognitiva melhor desenvolvida (Chan, Ho & Cheung, 1998). Como
a memória verbal é mediada principalmente nessa área (Sidhu et al., 2015), é possível que portadores
de OA apresentem melhor memória verbal que não portadores.
Objetivos
O objetivo deste trabalho é avaliar o desempenho de portadores de OA em um teste de memória verbal
e comparar aos de não-músicos e músicos sem OA para verificar a existência de relações entre
treinamento musical, ouvido absoluto e memória auditiva verbal.
Método
Foram estudados 36 estudantes de graduação, dos quais 21 declararam ter pelo menos quatro anos
consecutivos de estudo formal em música (grupo “músicos”) enquanto os outros 15 declararam ter
recebido pouco ou nenhum treinamento musical (grupo “não-músicos”). Os participantes realizaram
um teste de identificação de tons (Vanzella & Schellenberg, 2010), para classificação de portadores e
não portadores de OA, e o Rey Auditory-Verbal Learning Test (RAVLT), que consiste em uma tarefa de
aprendizado de lista de substantivos com posterior reconhecimento das palavras aprendidas.
Resultados
Resultados do teste de OA indicaram que 11 dos 21 músicos eram portadores de OA. Foi encontrada
uma associação entre treinamento musical e performance no teste de memória. Músicos aprenderam
(t=2,393(34); p=0,022) e reconheceram posteriormente (t=2,203(24,074); p=0,037) significativamente
mais palavras que os não-músicos. Entretanto, quando os músicos foram analisados separadamente em
subgrupos de portadores e não portadores de OA e comparados com os não-músicos, a diferença na
performance deixou de existir.
Conclusões
Verificou-se que o treinamento musical está relacionado a uma melhor performance no teste de
memória verbal. Não foi encontrada diferença de performances no teste de memória entre os
subgrupos de músicos portadores e não portadores de OA e não-músicos. Mais estudos são necessários
com amostras maiores de músicos com OA para que conclusões mais robustas possam ser alcançadas
sobre a relação entre essa rara habilidade cognitiva e outros aspectos cognitivos não musicais.
Palavras-chave
Ouvido absoluto, memória, treinamento musical.
Referências
Chan, A. S., Ho, Y. C., & Cheung, M. C. (1988). Music training improves verbal memory. Nature
396(6707), 128.
Keenan, J. P., Thangaraj, V., Halpern, A. R., & Schlaug, G. (2001). Absolute pitch and planum
temporale. Neuroimage, 14(6), 1402-1408.
Sidhu, M. K., Stretton, J., Winston, G. P., Symms, M., Thompson, P. J., Koepp, M. J., & Duncan, J.
S. (2015). Memory fMRI predicts verbal memory decline after anterior temporal lobe resection.
Neurology, 84(15), 1512-1519.
Vanzella, P., & Schellenberg, E. G. (2010). Absolute pitch: Effects of timbre on note-naming ability.
PloS one, 5(11), e15449.
Caderno de Resumos e Programação

Música interfere na apreciação estética


em museu de arte contemporânea
37
Bruna de Oliveira (bruna.v.c.oliveira@hotmail.com)
Giulia Ventorim (giuliaventorim@gmail.com)
Universidade Federal do ABC (UFABC)
Claudia Feitosa Santana (claudia@feitosa-santana.com)
Fundação Dom Cabral
Patricia Vanzella (pvanzella@yahoo.com)
Universidade Federal do ABC (UFABC)

Problema/questão
Música evoca emoções, alterando a ativação de estruturas cerebrais a estas relacionadas (Koelsh, 2014).
Há evidências, também, que a presença de música de fundo pode influenciar na apreciação de obras de
arte (Pavlou & Athanasiou, 2014). Entretanto, pouco é conhecido sobre as características musicais que
podem causar este efeito. Dois possíveis fatores são a valência e o grau de excitabilidade (arousal) da
emoção relacionada à música, variáveis que descrevem emoção de acordo com a teoria do Modelo
Circumplexo (Posner, Russell, & Peterson, 2005). Não há estudos, entretanto, que tenham investigado
se estes elementos poderiam explicar a influência da música na apreciação de arte.
Objetivos
Pretendeu-se verificar se a presença de diferentes músicas de fundo poderia influenciar a apreciação de
uma obra de arte exibida em um museu de arte contemporânea. Mais especificamente, procurou-se
avaliar se a apreciação da obra seria modulada pelas diferentes características emocionais dos trechos
musicais selecionados, relacionadas a cada um dos quatro quadrantes do Modelo Circumplexo.
Método
Foram selecionados quatro trechos musicais, cada um com cerca de 60 segundos. Todos esses excertos
haviam sido previamente avaliados (Andrade et al., 2017) como correspondentes a cada um dos
quadrantes do Modelo Circumplexo de emoção. Participaram do presente estudo 142 visitantes do
Museu de Arte Contemporânea de São Paulo. Todos os participantes observaram a mesma obra
(“Composição Clara”, 1942, de Wassily Kandinsky) enquanto escutavam em fones de ouvido um dos
4 trechos musicais ou em silêncio, resultando em 4 grupos experimentais e 1 grupo controle. Um
desenho inter-sujeitos foi adotado. Durante os primeiros 40 segundos, os participantes ouviam
instruções sobre o experimento enquanto o trecho era tocado ao fundo. Repetia-se o trecho musical
durante o período de observação, até que o participante decidisse parar de observar a obra. Um
questionário foi preenchido imediatamente após a apreciação.
Resultados
Foi encontrada uma relação entre valência da emoção da obra de arte e condição experimental. Grupos
que ouviram música de valência positiva, mas não negativa, demonstraram resposta de valência mais
positiva quanto à obra de arte comparados ao grupo controle.
Conclusões
Os resultados deste estudo sugerem que a emoção relacionada à música impacta a experiência estética
de uma obra de arte visual. Especificamente, emoções positivas associadas à música podem influenciar
a apreciação estética. Este resultado contribui com discussões no campo da neuroestética e áreas
relacionadas.
Palavras-chave
Música, apreciação estética, emoção, neuroestética
Referências
Andrade, P. E., Vanzella, P., Andrade, O. V., & Schellenberg, E. G. (2017). Associating emotions
with Wagner’s music: A developmental perspective. Psychology of Music, 45(5), 752-760.
Koelsch, S. (2014). Brain correlates of music-evoked emotions. Nature Reviews Neuroscience, 15(3),
170.
Pavlou, V., & Athansiou, G. (2014). An Interdisciplinary Approach for Understanding Artworks:
The Role of Music in Visual Arts Education. International Journal of Education & the Arts, 15(11),
n11.
Posner, J., Russell, J. A., & Peterson, B. S. (2005). The circumplex model of affect: An integrative
approach to affective neuroscience, cognitive development, and psychopathology. Development
and psychopathology, 17(3), 715-734.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

As manipulações do trato vocal na emissão do


registro agudo e superagudo do clarinete baixo
38
Elaine Cristina Rodrigues Oliveira (elaineclarineta@hotmail.com)
Ricardo Dourado Freire (ricardo.dourado.freire@gmail.com)
Universidade de Brasília (UnB)

Problema
O clarinete baixo é um instrumento versátil e de grandes possibilidades técnicas. Uma das principais
distinções quanto a técnica do clarinete baixo em relação ao clarinete soprano são as peculiaridades na
emissão do registro agudo e superagudo. Devido a riqueza de harmônicos do clarinete baixo, o limite
do registro superagudo é sempre estabelecido pelo intérprete (Queirós, 2012). Além das digitações
serem específicas para o instrumento, no registro superagudo a emissão é feita praticamente por notas
de “overblowing”, ou seja, de embocadura (Sparnaay, 2011). Muitas peças para clarinete baixo exploram
técnicas estendidas, que exigem uma manipulação correta de procedimentos físico-musculares que
ocorrem no trato vocal.
São encontrados na literatura específica diversos trabalhos que tratam sobre a influência do trato vocal
no som emitido pela clarineta. Apesar dos experimentos científicos sobre o tema, existe uma lacuna de
estudos que abordem a aplicação das configurações do trato vocal no aprimoramento da performance
na clarineta (González & Payri, 2016), e mais especificamente no clarinete baixo.
Objetivos
Investigar as manipulações que ocorrem no trato vocal de claronistas profissionais, quando executam
o registro agudo e superagudo de maneira satisfatória. Identificar as estratégias utilizadas para a
aquisição de um controle eficaz do trato vocal, transformando o conhecimento tácito adquirido em um
conhecimento explícito.
Método
Esta é uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório e o instrumento utilizado para a coleta de dados
será a entrevista semiestruturada. Os participantes serão estimulados a comentar sobre seus processos
de estudo e verbalizar sobre suas ações musicais. Os sujeitos serão claronistas profissionais que possuam
experiência como solistas.
Principais contribuições
A revisão de literatura e o referencial teórico desta pesquisa tratam acerca do trato vocal, suas
manipulações na execução da clarineta, memória muscular, conhecimento tácito e explícito, e clarinete
baixo. Pode-se destacar que a relação do controle da emissão do som com a capacidade de expressão
musical para músicos de sopro é uma questão determinante. O contexto que envolve a embocadura e
o manuseio do trato vocal impactam a performance como um todo (Alves, 2013).
Conclusões
Com a revisão de literatura realizada, pode-se inferir que inúmeros procedimentos físico-musculares
ocorridos no interior do trato vocal de claronistas são desconhecidos e permanecem apoiados em bases
tácitas. Espera-se que a pesquisa possa explicitar fenômenos ressonantais do trato vocal e conceitos
importantes sobre o tema.
Palavras-chave
Trato vocal, clarinete baixo, claronistas, performance musical.
Referências
Alves, C. S. (2013). O processo de emissão do som na clarineta: proposição e validação de um plano de
instrução. (Tese de doutorado, Instituto de Artes, Universidade de Campinas). Recuperado de
www.repositorio.unicamp.br
Gonzalez, Q. D. M., & Payri, L. B. G. (2016). La embocadura interior: configuraciones del tracto
vocal en la pedagogía del clarinete. Revista Electronica de LEEME, 37:20-37. Recuperado de:
http://hdl.handle.net/10251/82521
Queirós, H.M.D. (2012). Música portuguesa para clarinete baixo solo. (Dissertação de mestrado,
Instituto Politécnico do Porto). Recuperado de: http://hdl.handle.net/10400.22/9613
Sparnaay, H. (2011). The Bass Clarinet: a personal history (p.56). Barcelona, Periferia Sheet Music.
Caderno de Resumos e Programação

Arnold Jacobs e proposta musicopedagógica CDG:


sobre formação de professores de instrumento de metal
39
Michele Girardi (michelegirardi1986@gmail.com)
Helena Müller de Souza Nunes (helena.souza.nunes@gmail.com)
Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Problema/questão
O instrumento musical é apenas um acessório que o músico utiliza para “contar histórias”,
compartilhando com outros aquilo que ele é. Com base nas próprias experiências, utiliza-se de seu
instrumento para promover essências de si mesmo e daqueles que o escutam. Estudos sobre
Representações Mentais e Imagética Musical (Ferigato & Loureiro, 2017; Marangoni & Freire, 2016;
Shagalimova, 2015; Alves, 2012; Chaves, 2011) demonstram que prática musical não se reduz a
questões técnico-mecânicas, nem precisa provocar sofrimento; importam, então, estratégias de
performance simples e naturais, cujo desafio é ensinar instrumento, obtendo o maior rendimento, com
o mínimo de esforço.
Objetivos
Discutir estratégias de ensino de instrumento de metal, que incluam conhecimento e aproveitamento
de habilidades cognitivas do aluno, conduzindo-o a um jeito simples e natural de tocar, com foco no
controle mental do próprio Ser, ao invés de unicamente na prática mecânica e repetitiva.
Principais contribuições
A proposta integra fundamentos didático-pedagógicos de Arnold Jacobs (1915-1998) – em linha com
pesquisas de Psicologia, Cognição Musical e Neurociência inerentes à Representação Mental e à
Imagética Musical –, com fundamentos teóricos da Proposta Musicopedagógica Cante e Dance com a
Gente (CDG), cujo foco é formação de professores para o desenvolvimento integral do aluno, por
meio da prática musical. A performance musical é atividade psicomotora que envolve habilidades
físicas controladas pelo cérebro, implicando movimentos da essência interior de cada um. Reconhecer
esses aspectos, racional e espiritual, de modo equilibrado, favorece: qualidade e afinação do som,
controle do instrumento em si, e interpretação acessível e comunicativa da partitura. Sobretudo,
possibilita estratégias de estudo com e sem instrumento.
Implicações
A continuidade deste trabalho poderá resultar em desenvolvimento de materiais didáticos, formulação
de princípios pedagógicos e sugestões de procedimentos práticos, que envolvam efetivo proveito de
capacidades cognitivas.
Palavras-chave
Arnold Jacobs, Proposta Musicopedagógica CDG, Imagética Musical, Formação de Professores.
Referências
Alves, A.C. (2012, novembro). Representações mentais e performance musical na clarineta. Anais do
Simpósio Brasileiro de Pós-Graduandos em Música, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2.
Chaves, R.P. (2011). Imagética musical: aspectos cognitivos da prática musical. Estudos e Pesquisas em
Psicologia, 11(3), 1050-1057.
Ferigato, A., & Loureiro, M. A. (2017, maio). Imagética musical e metáfora como recurso
ativador/indutor do gesto corporal na interpretação e na performance musical. Anais do
Simpósio Internacional de Cognição e Arte Musicais, Curitiba, PR, Brasil, 13.
Frederiksen, B. (1996). Arnold Jacobs: Song and Wind. USA: WindSong Press Limited.
Leite, J.C. (2017). Caminhos do repertório na formação de professores de Música: um estudo sobre o
PROLICENMUS. (Tese de Doutorado). Universidade Federal da Bahia, Salvador/BA, Brasil.
Marangoni, H. M., & Freire, R. D. (2016). Uma discussão entre os conceitos de ouvido interno,
pepresentação mental, imagética, audiação e prática mental e suas implicações para a Cognição
Musical. Anais do XII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais, Porto Alegre/RS,
Brasil.
Shagalimova, T. (2015). A imagética no ensino de piano. Tese de Mestrado, Universidade de Aveiro,
Aveiro, Portugal.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

MAIO 29 | May 29
40
MESA REDONDA 2
SALA MULTIUSO, 16h

Cognição musical e performance


Mediador:
William Teixeira da Silva
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Debatedores:
Ricardo Dourado Freire
Universidade de Brasília (UnB)
Patricia Vanzella
Universidade Federal do ABC (UFABC)
Danilo Ramos
Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Articulações entre memória operacional e leitura na performance


musical
Ricardo Dourado Freire
O termo memória operacional foi adotado pela psicologia cognitiva para “cobrir o sistema ou
sistemas envolvidos na manutenção temporária e na manipulação de informações.” (Baddeley,
2001) Barrouillet e Camos (2015) consideram que o processamento e o armazenamento não
competem entre si pelo espaço mental ou pela energia mental, que são limitados, e observam
que a memória operacional pode ser uma séria de alternâncias entre a manutenção da
informação e sua transformação, sendo que o fator tempo pode ser considerado como o seu
principal aspecto de funcionamento. Estudo experimental com exemplos musicais, realizado
no Brasil, chegou a conclusão que o processamento do “material melódico tem características
diferentes do material verbal, pois a manipulação de sequências melódicas na memória
operacional parecer ser mais difícil do que a manipulação de sequências verbais.” (Werke,
2008) Baddeley (2001) realizou várias versões para o modelo teórico de representação da
memória operacional, sendo que o modelo de 2000 estabelece a relação entre um sistema
executivo central que gerencia três sistemas auxiliares: alça fonológica, esboço visual e retentor
episódico, sendo que os sistemas auxiliares estão articulados com a memória de longo prazo.
O último modelo apresentado por Baddeley (2012) apresenta uma visão dos complexos e
múltiplos vínculos que existem entre memória operacional, memória de longo prazo e ação
em tempo real. Os modelos de Baddeley serviram de inspiração para a elaboração de atividades
de leitura musical nas aulas de Linguagem e Estruturação Musical da Universidade de Brasília,
disciplina que aborda de maneira integrada o estudo de teoria musical, solfejo, leitura rítmica
e percepção musical. O objetivo de pesquisa é observar como uma abordagem centrada no
processamento múltiplo de informações contribui para a performance musical dos estudantes
em atividades de leitura rítmica e melódica. A proposta de sílabas de solfejo métrico (Freire,
2003) oferece o elemento semântico que necessita ser recuperado na memória de longo prazo,
enquanto a memória operacional gerencia a leitura em sincronia com um exemplo musical.
Neste contexto, o processo de leitura musical envolve vários sistemas sensoriais incluindo
aspectos auditivos, visuais e motores que articulam informações anteriores e experiências novas
em tempo real. Os modelos de representação da memória operacional permitem a revisão de
padrões tradicionais de ensino e oferecem novas possibilidades exploratórias para o processo
de aprendizagem da leitura e da performance musical.
Caderno de Resumos e Programação

Substratos neurais da performance musical


Patricia Vanzella
41
Algumas de nossas habilidades musicais são inatas e outras são adquiridas através da exposição
e do engajamento. Tocar um instrumento (ou cantar) com fluência técnica e expressividade
requer uma prática extensiva que, ao longo de anos, acaba por modelar a forma e o tamanho
de nossas redes neurais. Por esse motivo, a performance musical tem sido considerada um
ótimo modelo para estudar a plasticidade do cérebro humano. Nesta palestra serão apresentados
alguns estudos na área da neurociência cognitiva da música que revelam substratos neurais
relacionados à performance musical, bem como os resultados de uma pesquisa realizada pelo
grupo “Neurociência e Música na UFABC” (Universidade Federal do ABC) na qual investigou-
se se seria possível identificar, do ponto de vista neural, os papéis de líder e de seguidor em
conjuntos musicais.

Feedback cognitivo como estratégia de ensino para a


comunicação de emoções entre pianista e ouvinte no ato da
performance musical: resultados preliminares
Danilo Ramos
O termo emoção refere-se a uma reação afetiva breve e intensa despertada a partir de um estímulo
externo e que costuma durar de alguns minutos a algumas horas. Emoções musicais são as
emoções despertadas pela música. Proposto por Patrik Juslin, o modelo BRECVEMA leva em
conta a existência de oito mecanismos subjacentes pelos quais as emoções são ativadas em
ouvintes em situações de escuta musical: reflexo do tronco encefálico, condicionamento avaliativo,
contágio emocional, imagens visuais, memória episódica, expectativa musical, pareamento rítmico
e julgamento estético. Este modelo compõe a estrutura conceitual da Teoria Unificada das
Emoções Musicais, referencial teórico escolhido para este estudo. A literatura científica aponta
que o ensino da comunicação de emoções durante uma performance musical é uma habilidade que
costuma ser negligenciada por professores de piano tanto no Brasil quanto no exterior. O
feedback cognitivo é uma ferramenta utilizada para auxiliar o estudante de música a comunicar
emoções a seus ouvintes no ato de sua performance musical. Nesta palestra teórico-vivencial,
apresentarei os objetivos, os procedimentos metodológicos e os resultados preliminares de meu
projeto de pesquisa intitulado Feedback cognitivo como estratégia de ensino para a comunicação
de emoções entre pianista e ouvinte, desenvolvido no LEME – Laboratório de Estudos sobre
Música e Emoção junto ao GRUME – Grupo de Pesquisa Música e Emoção da Universidade
Federal do Paraná.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

MAIO 29 | May 29
42
CONFERÊNCIA
LECTURE 2
2
SALA MULTIUSO, 19h

Coordenador da sessão | Session Chair: Josemar de Campos Maciel (UCDB)

Musical meaning: an ecological perspective


Eric Clarke
The question of what music’s meanings might be, and whether music has meaning at all, goes
back to some of the earliest writings on music. The question has been tackled from a great
variety of disciplinary perspectives — including musicology, philosophy, religion, psychology,
semiotics, anthropology, and sociology — together constituting a huge body of thought.
Starting with a brief consideration of approaches based on language, semiotics, and
expectation, I argue for the value of perceptual approach based on ecological theory. Ecological
theory is based on an understanding of the reciprocity of perceivers and their environments;
on the importance of understanding an organism’s world in terms of perception and action
relationships; on adaptation and perceptual learning; and on what the psychologist James
Gibson called the affordances of the environment — what the environment offers in terms of
opportunities and risks. Music — or to use Christopher Small’s term ‘musicking’ — is a
particular kind of environment that affords a huge range of experiences, and I use this talk to
explore some of them, and how they might be productively understood within that ecological
perspective. My emphasis is on recognizing the number and diversity of ‘ways of listening’ (the
title of my own book published in 2005), and thus the many meanings of music. It may be
therefore be less appropriate to ask what music means (since it means many different things to
different people) and rather to ask how music means.

O sentido musical: uma perspectiva ecológica


A questão de quais sentidos da música poderiam ser, e se a música tem algum significado,
remonta a alguns dos primeiros escritos sobre música. A questão foi abordada a partir de uma
grande variedade de perspectivas disciplinares — incluindo musicologia, filosofia, religião,
psicologia, semiótica, antropologia e sociologia — em conjunto, constituindo um enorme corpo
de pensamento. Começando com uma breve consideração de abordagens baseadas na
linguagem, semiótica e expectativa, defendo o valor da abordagem perceptiva baseada na teoria
ecológica. A teoria ecológica baseia-se no entendimento da reciprocidade de perceptores e seus
ambientes; sobre a importância de entender o mundo de um organismo em termos de relações
de percepção e ação; na adaptação e aprendizagem perceptiva; e sobre o que o psicólogo James
Gibson chamou de affordances do meio — o que o ambiente oferece em termos de oportunidades
e riscos. Música — ou para usar o termo musicking de Christopher Small — é um tipo particular
de ambiente que oferece uma enorme variedade de experiências, e uso esta fala para explorar
algumas delas, e como elas podem ser produtivamente entendidas dentro dessa perspectiva
ecológica. Minha ênfase está em reconhecer a quantidade e a diversidade de "maneiras de
escutar" (título do meu próprio livro, Ways of listening, publicado em 2005) e, portanto, nos
muitos sentidos da música. Pode ser, portanto, menos apropriado perguntar o que a música
significa (já que significa muitas coisas diferentes para diferentes pessoas) do que perguntar como
a música significa.
Caderno de Resumos e Programação

43
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

44
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 30 | May 30
SESSÃO L5
Comunicações Orais | Oral Presentations
45

SALA 1, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Sonia Ray

14:00
Performance musical e o corpo: entendendo o repertório gestual
que suporta a prática instrumental
João Gabriel Caldeira Pires Ferrari

14:30
Espacialidade e sentido musical incorporado:
a mediação da linguagem
Marcos Nogueira

15:00
Converse: criação colaborativa
Guilherme Bertissolo, Lia Gunther Sfoggia, Luciane Cardassi
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Performance musical e o corpo: entendendo o repertório


gestual que suporta a prática instrumental
46
João Gabriel Caldeira Pires Ferrari (joaogabriel3006@terra.com.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Problema/questão
O trabalho enfoca os diferentes conceitos de “gesto” que suporta a prática interpretativa, relacionando-
os com os conceitos “movimento”, “técnica instrumental” e “gesto corporal” (Madeira & Scarduelli,
2014), tendo como conceito primordial as affordances de Gibson (1979), aplicado à prática instrumental
por Gimenes e Manzolli (2006), para então discutir a tipologia do gesto como embasamento para um
modelo de análise musical cognitiva (Ben-Tal, 2012; Zbikowski, 2011, Madeira & Scarduelli, 2015).
Objetivos
O artigo pretende discutir a ideia de que os gestos fı́sicos que constituem a performance musical
contém informações a respeito da expressão musical (Leman, 2012; Davidson, 2012), relacionando
esses conceitos para explicar de que modo a interação instrumento-performer determina o
entendimento do músico e o resultado da produção artı́stica. O gestual do performer será abordado
através da cognição incorporada (Johnson, 1987) e o instrumento pela abordagem ecológica como
discutida por Windsor e Bézenac (2012).
Principais contribuições
A revisão referida pretendeu relacionar conceitos a fim de clarificar o “gesto” em performance musical.
O conceito de má-combinação/mismatch de Goldin-Meadow e Wagner (2005), embora observado
em gestos não-musicais, pode ser examinado na comunicação não-verbal que ocorre na performance,
contribuindo assim com novos recursos para a pedagogia da performance musical.
Implicações
A presente pesquisa reconhece o gesto como ação de caráter expressivo do performer, ao mesmo tempo
codificador e resultado de processos cognitivos. O trabalho considera que, na pesquisa atual, há uma
valorização do gestual diretamente envolvido na produção sonora e uma negligência no estudo do
gesto “acompanhante”. A hipótese central do trabalho é a importância desse gesto acompanhante/
expressivo na prática instrumental, que revela informações únicas a respeito do discurso musical.
Palavras-chave
Cognição incorporada, performance musical, gesto expressivo, violão
Referências
Ben-Tal, O. (2012). Characterising musical gestures. Musicae Scientiae, 16(3), 247-261.
Davidson, J.W. (2012). Bodily movement and facial actions in expressive musical performance.
Psychology of Music, 40 (5), 595-633.
Gibson, J.J. (1979). The Ecological Approach to Visual Perception. Boston: Houghton Mifflin.
Gimenes, M. & Manzolli, J. (2006). Técnicas e “affordances” instrumentais. XVI Congresso da
ANPPOM. Brasil: ANPPOM, 288-293.
Goldin-Meadow S. & Wagner, S. M. (2005). How our hands help us learn. TRENDS in Cognitive
Sciences, 9(5), 234-241.
Johnson, M. (1987). The Body in the Mind. Chicago: University of Chicago Press.
Leman, M. (2012). Musical Gestures and Embodied Cognition. Proceedings (pp. 5-7). In Journées
d’informatique musicale (JIM - 2012), Mons: Journées d’informatique musicale, Université de
Mons.
Madeira, B. & Scarduelli, F. (2014). O gesto corporal na performance musical. Opus, 20 (2), 11-38.
Madeira, B. & Scarduelli, F. (2015). Tipologias do gesto corporal. XXV Congresso da ANPPOM,
Vitória: UFES. Retrieved from
http://www.anppom.com.br/congressos/index.php/25anppom/Vitoria2015/paper/view/3401.
Windsor, W. L. & de Bézenac, C. (2012). Music and affordances. Musicae Scientiae, 16(1), 102-120.
Zbikowski, L. M. (2011). Musical Gesture and Musical Grammar: a Cognitive Approach. In A.
Gritten & E. King (Ed.). New perspective on music and gesture (1a ed, 83-98). Reino Unido:
Ashgate Publishing.
Caderno de Resumos e Programação

Espacialidade e sentido musical incorporado:


a mediação da linguagem
47
Marcos Nogueira (marcosnogueira@musica.ufrj.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Problema/questão
A partir do advento das pesquisas experimentais em cognição incorporada, foi possı́vel verificar
empiricamente que os processos sensório-motores, quais sejam a orientação e a prontidão do corpo
para agir no espaço, condicionam e regulam os modos de conexão dos conteúdos cognitivos,
permitindo assim que a mente transcenda o espaço (Fauconnier, 1985; Glenberg & Kaschak, 2005;
Lakoff & Johnson, 1980; Yu & Ballard, 2005). É desse modo que o pensamento abstrato é
inelutavelmente conectado às funções sensório-motoras e, assim, à estrutura espacial das interações do
corpo no mundo. Cumpre advertir para a anterioridade das experiências de “ocupação” do
espaço—sensório-motoras—em relação às experiências de “conceituação” do espaço—simbólicas. O
presente trabalho está fundamentado na hipótese de que a hegemonia espacial em nosso sistema
perceptivo e cognitivo está ancorada no fato de que o indivı́duo retém e prioriza os sentidos
espaciais—descartando a formação de outros sentidos—, porque a objetividade espacial oferece à
memória um desempenho mais rápido e preciso (Spivey, 2007).
Objetivos
Parece que as estratégias cognitivas dos indivı́duos ao usarem esquemas de memória espaciais para
entender o mundo são estratégias sistemáticas de redução da complexidade descritiva do seu ambiente.
O presente estudo visa à construção de um modelo de abordagem da descrição do sentido musical
circunscrito por três dimensões coexistentes e interagentes de produção imaginativa: a) a categorização
de eventos sonoros distintivos, entendidos como “movimentos”; b) o reconhecimento de relações
“formais” estilı́sticas, resultantes de invariâncias, recorrências e contrastes de padrões; e c) a percepção
de dinâmicas de tensão, relacionadas a aspectos inconscientes ou conscientes de diversas funções
mentais.
Principais contribuições
O presente estudo sinaliza que para atribuirmos “materialidade” aos objetos musicais e assim
construirmos os sentidos incorporados da música, é preciso, antes, reduzir a densidade do meio sonoro,
possibilitando a apreensão de diversas modalidades de coerência configurativa.
Implicações
Se aceitarmos que o processo cognitivo combina, numa rede de conexões, affordances (Gibson, 1977),
conhecimentos e intenções, que podem ser evidenciados na investigação do uso da linguagem,
podemos admitir que isto também se dê na aquisição e no uso de nossas competências musicais.
Palavras-chave
Cognição incorporada, espacialidade, sentido musical
Referências
Fauconnier, G. (1985). Mental Spaces: Aspects of Meaning Construction in Natural Language.
Cambridge: MIT Press.
Gibson, J. J. (1977). The Theory of Affordances. In: Robert Shaw and John Bransford (Eds.),
Perceiving, Acting, and Knowing: Towards an Ecological Psychology. New Jersey: Lawrence
Erlbaum Associates, 67-82.
Glenberg, A. M., & Kaschak, M. P. (2005). Language is Grounded in Action. In Laura Carlson and
Emile van der Zee (Eds.), Functional Features in Language and Space: Insights from Perception,
Categorization, and Development. New York: Oxford University Press, 235-255.
Lakoff, G., & Johnson, M. (1980). Metaphors we Live by. Chicago: University of Chicago Press.
Spivey, M. J. (2007). The Continuity of Mind. New York: Oxford University Press.
Yu, C., Ballard, D. H., & Aslin, R. N. (2005). The Role of Embodied Intention in Early Lexical
Acquisition. Cognitive Science, 29, 961-1005.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Converse: criação colaborativa


48 Guilherme Bertissolo (guilhermebertissolo@gmail.com)
Lia Gunther Sfoggia (liasfoggia@gmail.com)
Luciane Cardassi (luciane.cardassi@gmail.com)
Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Problema/questão
Converse é uma obra colaborativa para piano, eletrônica em tempo real e dois vídeos processados em
tempo real acompanhados de performance de movimento. Foi composta conjuntamente pelos autores.
A ideia inicial desse trabalho partiu do conceito de Estado de Prontidão, oriundo de uma pesquisa
artística (Haseman, 2006, 2015; Bacon, Midgelow 2014, 2015), realizada em âmbito formal por Lia
Sfoggia no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade
Federal da Bahia (Sfoggia, 2019).
Estado de Prontidão é um dos conceitos inferidos no contexto da capoeira (Nenel, 2018; Sodré, 2002;
Bertissolo 2013) e se refere à necessidade do capoeira manter-se alerta e disponível, e como esse
comportamento influencia no modo de se mover. A ideia de imprevisibilidade em relação ao futuro, o
fato de nunca sabermos o que pode acontecer no instante seguinte, a possibilidade de sofrer uma ataque
a qualquer momento, a desconfiança. Tudo isso propicia a necessidade de manter-se num constante
estado corporal de prontidão para agir.
Objetivos
O principal objetivo do trabalho foi desenvolver um trabalho colaborativo a partir da noção de estado
de prontidão, envolvendo piano, eletrônica em tempo real, vídeo e performance de movimento.
Método
Essa obra foi composta em um processo colaborativo de pesquisa artística, que envolveu reuniões
presenciais entre os autores, inicialmente semanais, e, posteriormente, duas e três vezes por semana. As
sessões de trabalho envolviam sempre laboratórios criativos, registrados em vídeo e fotografia, que
acabaram sendo incorporadas no conteúdo audiovisual da obra.
Links
Gravação em áudio: https://www.dropbox.com/s/1svs9yzx0fz417y/converse.wav
Registro em vídeo da estreia: https://youtu.be/1hinbVS8DWI
Palavras-chave
Colaboração, capoeira, estado de prontidão
Referências
Bacon, J. M.; Midgelow, V. L. (2014). Creative articulations process. Choreographic Practices, v. 5, n.
1, p. 7–31.
Bacon, J. M.; Midgelow, V. L. (2015). Processo de articulações criativas (pac). In: Silva, C. R.et al.
(Ed.). Resumos do 5 o Seminário de Pesquisas em Andamento PPGAC/USP. (Tradução de Eduardo
Augusto Rosa Santana, revisão de Pedro de Senna). São Paulo: PPGAC/ECA-USP, v. 3.1. .
Bertissolo, G. (2013). Composição e Capoeira: dinâmicas do compor entre música e movimento. Tese de
Doutorado. Salvador: Programa de Pós-Graduação em Música/Universidade Federal da Bahia.
Haseman, B. (2006). A manifesto for performative research. International Australia Incorporating
Culture and Policy, theme issue Practice-led Research, v. 118, p. 98–106.
Haseman, B. (2015). Manifesto para a investigação performativa. In: Silva, C. R. et al. (Ed.). Resumos
do 5 o Seminário de Pesquisas em Andamento PPGAC/USP. (Tradução de Marcello Amalfi). São
Paulo: PPGAC/ECA-USP, v. 3.1.
Mestre Nenel, M. N. (2018). Bimba: um século da Capoeira Regional. Salvador: EDUFBA.
Sfoggia, L. (2019). Corpos que são: a Capoeira Regional reverberada em processos criativos em arte. (Tese
de Doutorado). Salvador: Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e
Sociedade/Universidade Federal da Bahia.
Sodré, M. (2002). Mestre Bimba: corpo de mandinga. Rio de Janeiro: Manati.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 30 | May 30
SESSÃO L6
Comunicações Orais | Oral Presentations
49

SALA 2, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Patricia Vanzella

14:00
A esquizofrenia e o ensino do canto e do teclado: uma pesquisa
sobre possíveis estratégias didáticas
Helena Karavassilakis Uzun

14:30
A música e o cérebro executivo no processo de desenvolvimento
infantil
Maria Clotilde Henriques Tavares, Sandra Ferraz de Castillo Dourado Freire

15:00
Mapeamento de amusia em grupo de adultos por meio de testes de
cognição e de processamento auditivo
Luciane da Costa Cuervo, Laura Uberti Mallmann, Gabriela Peretti Wagner,
Márcia Salgado Machado, Graham Frederick Welch, Marcelo de Oliveira
Dias
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

A esquizofrenia e o ensino do canto e do teclado:


uma pesquisa sobre possíveis estratégias didáticas
50
Helena Karavassilakis Uzun (helenakms@hotmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema/questão
A inclusão social das pessoas que possuem algum distúrbio mental tem provocado discussões e dado
origem a uma serie de abordagens e teorias nas áreas da Psicologia e da Pedagogia, mas na área de
Música, este tema ainda parece ser pouco explorado. Neste artigo, discorremos sobre o processo de
aprendizagem musical em aulas de canto e teclado de uma aluna esquizofrênica e apresentamos alguns
resultados obtidos. Procuramos mostrar como a música contribui de forma significativa para o bem-
estar da pessoa diagnosticada como esquizofrênica, podendo mesmo oportunizar aquisições e
aprendizagens artísticas, que geralmente são tidas como inatingíveis.
Objetivos
Este estudo consistiu em apurar se, ao ter acesso a uma educação musical, poderiam ser verificados
benefícios para a pessoa portadora de distúrbio mental. Pretendeu –se aferir resultados que pudessem
ser comparáveis no que concerne à prática de diferentes metodologias e estratégias pedagógicas no
ensino da música para com uma aluna com esquizofrenia e sua relação com o aprendizado musical no
canto e no teclado.
Método
A abordagem da pesquisa é qualitativa, onde se revelam aspectos da prática pedagógico-musical. Como
metodologia, realizamos pesquisa bibliográfica buscando a intersecção entre os campos da educação
musical e da musicoterapia, no que diz respeito à esquizofrenia – e encontramos poucos referenciais
nesses termos. Já nas aulas práticas de teclado e canto, foi utilizado um roteiro de observação sistemática
(diário de campo) durante 3 meses (setembro a novembro de 2017), com o apoio de gravações de áudio
e vídeos, analisados posteriormente. Durante este processo, a pesquisa teve o acompanhamento do
Grupo de Pesquisa em Educação e Prática Musical (GPEP) da UFMS, que orientou a coleta de dados
de forma estruturada e contribuiu para a fundamentação da análise desses dados.
Resultados
Pela análise das aulas realizadas, pôde-se perceber a importância da aprendizagem pelo viés da
afetividade. Segundo Morin, “o desenvolvimento da inteligência é inseparável do mundo da afetividade,
isto é, da curiosidade, da paixão, que, por sua vez, são a mola da pesquisa filosófica ou científica (2002,
p.20).
Segundo Oliveira Pinto (2007, p.163), “a música pode produzir sujeitos, ampliar intensidades, provocar
fluxos de sensibilidade”, considerando a amplitude do fazer musical: cantar, tocar, escutar, dançar, chorar,
dar gargalhada, compor. Nesse sentido, o objetivo das aulas não foi somente o aprendizado técnico-
interpretativo do canto e do teclado, mas a possibilidade de oportunizar uma experiência prazerosa e
significativa para o bem-estar do aluno.
Conclusões
A partir da análise das aulas de canto e teclado realizadas, pudemos verificar que o diferencial no
processo de ensino-aprendizagem, no caso do aluno com distúrbios mentais, parece ser realmente
a atitude do professor: foi imprescindível a atitude afetiva, indicando calma, tolerância, paciência e
compreensão. Esperamos que este artigo venha contribuir para futuros estudos sobre o estudante de
música com esquizofrenia e venha ainda somar para um melhor desempenho dessa parcela da
população, despertando o seu lado artístico e musical.
Palavras chave
Esquizofrenia, Educação Musical especial, musicoterapia.
Referências
Pinto, M. C. O. (2007). Processos de subjetivação na música e na musicoterapia. (Tese de doutorado). Rio
de Janeiro (RJ): UFRJ/IP.
Morin, E. (2002). Os sete saberes necessários à e ducação do f uturo. Brasília (DF): Cortez.
Caderno de Resumos e Programação

A música e o cérebro executivo no processo


de desenvolvimento infantil
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Maria Clotilde Henriques Tavares (mchtavares@gmail.com)
Sandra Ferraz de Castillo Dourado Freire (sandra.ferraz@gmail.com)
Universidade de Brasília (UnB)

Problema/questão
A aprendizagem musical beneficia o desenvolvimento de competências cognitivas em crianças
(Bowmer et al, 2018), entretanto, não está claro se ele promove o incremento das habilidades
cognitivas necessárias ao funcionamento executivo do cérebro ou o quanto dessa relação depende de
fatores diversos (Okada & Slevc, in press). Esse funcionamento é mediado por um conjunto complexo
de processos cognitivos denominado de funções executivas (FEs) que promovem a integração de
pensamentos, emoções e ações e são consideradas um indicador de saúde e regulação emocional na
infância. Elas são crı́ticas para o planejamento, atenção seletiva, autocontrole, memória operacional,
flexibilidade cognitiva, resolução de problemas e raciocı́nio (Diamond, 2013), dentre outras
competências altamente requeridas na vida cotidiana e fundamentais para o desenvolvimento infantil.
Contudo, apresentam um processo de maturação lento que vai da infância à adolescência e algumas
habilidades só estão plenamente desenvolvidas na vida adulta. Na medida em que a aprendizagem
musical requer a participação dos principais elementos das FEs (memória operacional, flexibilidade
cognitiva e controle inibitório), presume-se que a estimulação precoce das FEs por meio da
aprendizagem musical possa fortalecer essas habilidades (Dumont et al., 2017).
Objetivos
Apresentar uma análise crı́tica de estudos publicados nos últimos seis anos sobre a relação entre o
aprendizado musical e as funções executivas e discutir a sua importância e implicações para o
desenvolvimento infantil.
Principais contribuições
Existem evidências de efeitos gerados pela aprendizagem musical em termos do incremento das FEs e de
transferência para o mesmo domı́nio cognitivo e para domı́nios distantes. Porém, limitações
metodológicas nos estudos impedem o estabelecimento de relações de causalidade e estudos longitudinais
e com grupos-controle pareados são necessários para a identificação de quais domı́nios cognitivos são
diretamente beneficiados e como isto pode ocorrer em prol do processo de desenvolvimento infantil.
Implicações
A estimulação precoce para o desenvolvimento das funções executivas é reconhecidamente importante e
deve ser promovida na medida em que pode colaborar com o processo de desenvolvimento infantil. Nessa
perspectiva, estudos de neuroimagem tem apontado o aprendizado musical durante a infância como uma
ferramenta promissora para fundamentar diversas habilidades necessárias para o desenvolvimento
cognitivo, promover o funcionamento executivo, e fornecer uma experiência multissensorial e integrada,
mediada pela emoção e motivação, capaz de recrutar simultaneamente diversas áreas e sistemas cerebrais.
Palavras-chave
Cognição, funções executivas, desenvolvimento, infância, aprendizado musical
Referências
Bowmer, A., Mason, K., Knight J. & Welch, G. (2018). Investigating the impact of musical
intervention on preschool children’s executive function. Frontiers in Psychology. 9, 1-16.
Diamond, A. (2013). Executive functions. Annual Review of Psychology, 64, 135-168.
Dumnont, E., Syurina, E., Feron, F.J.M. & van Hooren, S. (2017). Music interventions and child
development: a critical review and further directions. Frontiers in Psychology. 8: 1-20.
Okada, B. M., Slevc, R. (in press). Musical training: contributions to executive function. In: M.
Bunting, J. Novick, M. Dougherty, & R. W. Eggle (Eds). An Integrative Approach to Cognitive
and Working Memory Training: Perspectives from Psychology. Neuroscience, and Human Development.
(pp. 1-16). New York, NY: Oxford University Press.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Mapeamento de amusia em um grupo de adultos


por meio de testes de cognição e de processamento auditivo
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Luciane Cuervo (luciane.cuervo@gmail.com)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Laura Uberti Mallmann (lauraum90@gmail.com)
Gabriela Peretti Wagner (gabrielapwagner@gmail.com)
Márcia Salgado Machado (marciasm@ufcspa)
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
Marcelo de Oliveira Dias (diasmusiarte@gmail.com)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Graham Frederick Welch (g.welch@ioe.ac.uk)
University College London

Problema
Este trabalho apresenta um recorte de um projeto de pesquisa maior, relativo ao contexto de práticas
musicais de pessoas com amusia, cuja implementação envolve pesquisadores das áreas de música,
psicologia e fonoaudiologia de duas universidades brasileiras e uma britânica. O foco desta exposição
concentra-se no detalhamento de pré-testes de cognição e de processamento auditivo central que
antecedem uma oficina de música para indivı́duos adultos.
A amusia consiste em uma disfunção ligada ao processamento musical no cérebro, aos aspectos da
percepção do ritmo ou da melodia ou execução musical e, com menos frequência, somados a
dificuldades de leitura ou grafia musical. Pode ser adquirida por lesão ou de ser natureza congênita, e
manifestar-se nos aspectos perceptivos ou receptivos, assim como na combinação deles (Perezt et al,
2002). Para sua identificação, foi elencada a Montreal Battery of Evaluation of Amusia - MBEA (Perezt
et al, 2002), uma bateria de testes integrada pela análise de seis componentes: escala, contorno,
intervalo, o ritmo, métrica e memória musical. Neste projeto está prevista sua versão reduzida e
adaptada ao contexto brasileiro (Nunes-Silva et al., 2012).
Objetivos
(i) delinear um conjunto de procedimentos de identificação de elementos da cognição musical da
amusia; (ii) aplicar testes auditivos da função periférica e central.
Método
(i) realização da MBEA (Peretz et al., 2002) em sua versão reduzida e adaptada ao contexto brasileiro
(Nunes-Silva et al, 2012).; (ii) realização de testes auditivos da função periférica e central; (iii) realização
de testes de memória de trabalho, semântica e temporal; (iv) levantamento de fatores orgânicos e sócio-
ambientais.
Posteriormente aos testes será realizada uma oficina de música ministrada por especialistas durante
quatro meses, direcionada a adultos, fundamentada no trabalho de Anderson e colaboradores (2012).
Resultados
Busca-se um conjunto vasto de dados coletados entre os sujeitos, permitindo um delineamento
detalhado de alguns processos cognitivos, processamento auditivo periférico e central, bem como do
perfil orgânico e sócio-ambiental dos indivı́duos participantes.
Conclusões
A avaliação proposta será de extrema importância para entender o impacto das práticas musicais de
curto prazo (4 meses) no grupo de intervenção. Além dos fatores expostos, o projeto oferece um
atendimento gratuito à comunidade atendida, proporcionando acesso a uma oficina ministrada por
especialistas.
Palavras-chave
Cognição musical; psicologia da música; práticas musicais
Referências
Anderson S., Himonides, E.; Wisec, K. Welch, G.; Stewarta, L. (2012). Congenital amusia: is there
potential for learning?: A study of the effects of singing interventions on pitch production and
perception of those with congenital amusia. Annals of the New York Academy of Sciences,
New York, n. 1252, p. 345-353.
Nunes-Silva, M., Haase, V. G. (2012). Montreal Battery of Evaluation of Amusia: validity evidence
and norms for adolescents in Belo Horizonte. Dement Neuropsychol, 6(4), p. 244-252.
Peretz, I.; Ayotte, J.; Zatorre, Rj.; Mehler, J.; Ahad, P.; Penhune Vb.; Jutras, B. (2002). Congenital amusia:
a disorder of fine-grained pitch discrimination. Neuron, Cambridge, Mass., v. 33, p. 185-191.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 30 | May 30
SESSÃO L7
Comunicações Orais | Oral Presentations
53

SALA 3, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Regina Antunes T. dos Santos

14:00
Leitura musical e sua relação com pensamento simbólico e
metacognição
Deyse Dayane Schultz, Guilherme Ballande Romanelli

14:30
A iniciação musical da criança pelo ensino coletivo de piano:
considerações psicopedagógicas
Ana Lucia Iara Gaborim-Moreira, Vanessa Araújo da Silva, Luciana
Cavalcanti Borges Mendes, Patrícia Kettenhuber de Lima

15:00
Ensino coletivo de flauta doce:
Registros de uma experiência no Projeto Muca
Amarandes Rodrigues Junior
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Leitura musical e sua relação com


pensamento simbólico e metacognição
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Deyse Dayane Schultz (deyse.d.schultz@gmail.com)
Guilherme Ballande Romanelli (guilhermeromanelli@ufpr.br)
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Problema
Este estudo bibliográfico trata do ensino da leitura musical e sua relação com pensamento simbólico e os
estudos em metacognição. Parte-se da ideia de que a notação musical é um sistema de sı́mbolos que sub-
rogam objetos sonoros (Fortes, 2009) e podem demonstrar relações entre o designado unicamente
através dos signos. Contudo, a leitura musical não se resume a decodificação de signos (Gudmundsdottir,
2010; Sloboda, 2008), mas entende-se como um processo complexo que envolve planejamento,
monitoramento e avaliação dos processos cognitivos, em outras palavras, trata-se de metacognição
(Schraw, 1998; Flavell, 1979; Jou & Sperb, 2005). Sendo assim, a questão que permeia este estudo
bibliográfico é: qual a relação entre leitura musical, sistema simbólico e metacognição e quais as
implicações para a área da educação musical?
Objetivos
O objetivo desta pesquisa foi promover a discussão e demonstrar a relação entre leitura musical e
conceitos oriundos de três áreas distintas: Musicologia, Filosofia e Psicologia, a fim de que o resultado
de tal discussão gerasse reflexões para o ensino da leitura musical, estando essas três áreas a serviço da
Educação Musical, logo, objetiva-se, indiretamente, a investigação de como aprimorar questões
relacionadas à escrita e leitura musical, uma vez que se entende que são formas emancipatórias de se
relacionar com a música.
Principais contribuições
Notou-se que as três áreas mencionadas, embora aparentemente distantes, interagem de maneira
bastante frutı́fera quando envolve a música. Ainda que a leitura e escrita sejam temas de ordem primária
em educação musical, poucos foram os estudos encontrados a respeito, podendo-se afirmar que esta
pesquisa na área é pioneira. A contribuição deste estudo se dá pela promoção da reflexão de que a
relação com os signos musicais é parte constituinte da educação musical e não mero objeto de registro, e
entender que o desenvolvimento de uma consciência metacognitiva somada à compreensão da notação
musical como sistema simbólico — facilitador da cognição — podem engendrar estratégias de ensino da
leitura musical.
Implicações
Portanto, incitar o aluno a se perceber como indivı́duo autônomo em relação aos seus processos de
aprendizagem através da reflexão do próprio pensamento, além de fazê-lo relacionar-se de forma
independente com a música pela apropriação do código musical, desenvolvem sua autonomia,
resultando no desejo de todo educador musical. Constatou-se que a visão interdisciplinar para assuntos
relacionados à música geram resultados eficazes para alunos e educadores. Por se tratar de um recorte,
não foi possı́vel apresentar todos os desdobramentos factı́veis desta pesquisa, mas a proposta revela um
possı́vel olhar para as práticas pedagógicas e obviamente uma relação com métodos altamente difundidos
na área.
Palavras-chave
Leitura musical, metacognição, sistema simbólico, educação musical
Referências
Flavell, J. (1979). Metacognition and cognitive monitoring A new área of cognitive-developmental
Inquiry. American Psychologist, 906-911.
Fortes, F. (2009). Pensamento simbólico e notação musical [Dissertação de Mestrado em Filosofia]. Santa
Maria: Universidade Federal de Santa Maria.
Gudmundsdottir, H. (2010). Advances in music reading research. Music education research. University
of Iceland, School of Education ( pp. 1-16). Reykjavik: Iceland.
Jou, G., & Sperb, T. (2005). A metacognição como estratégia reguladora da aprendizagem. Psicologia:
Reflexão e Crítica. pp. 177-185.
Schraw, G. (1998). Promoting general metacognitive awareness. Instructional Science, 113-125 .
Sloboda, J. (2008). A mente musical: a psicologia cognitiva da música. [Trad. de Beatriz Ilari e Rodolfo
Ilari]. Londrina: Eduel.
Caderno de Resumos e Programação

A iniciação musical da criança pelo ensino coletivo de


piano: considerações psicopedagógicas
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Ana Lucia Iara Gaborim-Moreira (anaemarcelo440@gmail.com)
Vanessa Araújo da Silva (vanessaeducadoramusical@gmail.com)
Luciana Cavalcanti Borges Mendes (lubmend@yahoo.com.br)
Patrícia Kettenhuber de Lima (patricia.kettenhuber@hotmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema/questão
O ensino de piano no Brasil atualmente tem sido um campo de ressignificações e reencaminhamentos.
Dentro dos desafios que envolvem esse ensino, percebemos que é cada vez mais difícil manter as
crianças motivadas nos estudos e incentivá-las a dedicar parte do seu tempo à prática constante, com a
devida atenção e concentração. Nessa perspectiva, o trabalho em grupo tem sido um elemento
motivador, pois estimula o compartilhamento dos saberes em um contexto cooperativo de interação
musical. Neste artigo, relatamos a experiência realizada no programa de extensão “Escola de Música da
UFMS”, onde as aulas de piano em grupo foram aplicadas como forma de iniciação musical e
posteriormente analisadas, à luz de referenciais teóricos das áreas de Pedagogia Pianística e Psicologia.
A proposta deste artigo, portanto, visa contribuir “para o despertar da nossa consciência quanto à
posição e ao valor que o ensino coletivo de instrumentos musicais, especialmente de Piano em Grupo,
ocupa na sociedade brasileira, contemporaneamente” (Machado, 2018, p.153).
Objetivos
Buscamos, com este trabalho, analisar a dinâmica das aulas realizadas no projeto e apresentar a
metodologia proposta, com a compreensão dos processos de aprendizagem da criança aliada ao
conhecimento de importantes conceitos que envolvem o processo da interação interpessoal – como a
mediação e a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) – contribuindo para uma atuação mais
consciente do professor e consequentemente, para um melhor aprendizado dos alunos.
Métodos e resultados
Nossa pesquisa-ação parte de um levantamento bibliográfico, tendo como principais referenciais:
Vygotsky (1989); Clark, Goss e Holland (2000); Gonçalves (1986) e Machado (2016). Esse levantamento
fundamentou a metodologia utilizada nas aulas e orientou o registro das mesmas, de forma descritiva e
ao mesmo tempo, objetiva, conduzindo sua posterior análise. Tivemos, então, coleta de dados durante
todo o processo e a análise desses dados ao final das aulas, o que nos possibilitou chegar à conclusão de
que os resultados de pesquisa qualitativa foram positivos, à luz dos referenciais.
Conclusões
A hipótese de que o ensino coletivo do instrumento traria menor evasão ao curso de piano e estimularia
a continuidade dos estudos musicais, de forma sistemática e contínua, pôde ser autenticada no decorrer
do processo de aprendizagem. As crianças mantiveram-se motivadas, tanto para as aulas quanto para o
estudo individual (em casa). Apesar das dificuldades e aptidões individuais, o aprendizado fluiu de forma
equilibrada, sendo que todos alcançaram o objetivo proposto em um mesmo nível de aprendizado.
Palavras-chave
Ensino coletivo de instrumento, pedagogia pianística, iniciação musical
Referências
Clark, F.; Goss, L.; Holland, S. (2000). The music tree: a plan for musical growth at the piano - time to
begin. Miami: Summy-Bichard.
Gonçalves, Maria de Lourdes J. (1985). Educação Musical Através do Teclado – etapa de musicalização.
1º volume. Brasília: Ed. Musimed.
Machado, Simone G. (2016). A presença do piano em grupo em instituições de ensino superior no
Brasil. Revista Orfeu (ano 1,n 1, pp.132-155). Florianópolis: UDESC.
Vygotsky, Lev S. (1989). Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Ensino coletivo de flauta doce:


registros de uma experiência no Projeto Muca
56
Amarandes Rodrigues Oliveira Júnior (amarandesjunior@hotmail.com)
Faculdade Novoeste

Problema
A presente investigação tem por objetivo apresentar o trabalho desenvolvido no Projeto MUCA
(Música para Crianças e Adolescentes). Este projeto teve sua primeira edição entre junho e dezembro
de 2017, que por vez esteve presente e vinculado em algumas congregações da ADM (Assembleia de
Deus Missões) em Campo Grande/MS. Será abordado aqui principalmente as aulas ministradas no setor
vinte e um, setor no qual estive ministrando as aulas de flauta doce como professor.
Objetivo
Contextualizar de forma sucinta a literatura sobre a história da flauta doce e os resultados obtidos
durante o processo de musicalização no Projeto Muca.
Método e resultados
A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica onde encontra-se autores que abordam o ensino
coletivo de flauta doce como Paoliello (2007), Silva (2011), Blazina (2013), e Cruvinel (2003)
pesquisadora do ensino coletivo de instrumentos musicais entre outros autores. Os resultados obtidos
garantem uma aprendizagem musical significativa no contexto religioso, perfazendo assim, um
ambiente propício em apreciar, refletir e produzir musicalmente mediante as diversas manifestações
contidas no campo contemplativo.
Conclusões
Conclui-se observando a importância da igreja no educar musical, bem como os interesses de seus
agentes que variam entre louvar mediante suas crenças, fazer parte de grupos musicais existentes nesse
meio e etc., facilitando assim o acesso a música enquanto um campo informal de ensino.
Palavras-chave
Muca, Ensino coletivo de Flauta doce, Relato de experiência, Assembleia de Deus Missões
Referências
Bennett, R. (1988). Uma breve história da música. (Trad. Maria Teresa Resende Costa). Rio de Janeiro:
Zahar.
Blazina, F. M. R. (2013). O ensino e a aprendizagem musical na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em
Portal Alegre. Monografia em Especialização em Pedagogia da Arte. Porto Alegre.
Cruvinel, F. M. (2003). Efeitos do ensino coletivo na iniciação instrumental de cordas: a educação musical
como meio de transformação social. (Dissertação em Música na Contemporaneidade), Goiânia.
Golçalves, W. J. (2017). Fundamentos do TCC: Teoria e prática. Academia de Letras Jurídicas do
Estado de Mato Grosso do Sul. Campo Grande/MS.
Paoliello, N. O. (2007). A Flauta Doce e sua Dupla Função como Instrumento Artístico e de Iniciação
Musical. Monografia (Licenciatura Plena em Educação Artística – Habilitação em Música) –
Instituto Villa-Lobos, Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro.
Silva, A. R. (2011). A flauta doce como recurso de musicalização e inclusão na banda de cruzeta.
(Monografia). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Escola de Música, Curso de
Licenciatura em Música. Natal/RN.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 30 | May 30
SESSÃO L8
Comunicações Orais | Oral Presentations
57

SALA 4, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Rosane Cardoso de Araujo

14:00
O papel de cantar na vida quotidiana dos adolescentes
Graça Boal-Palheiros, Ana Bertão

14:30
Estudio exploratório Brasil-Colombia. Auto-percepciones de
eficacia en pruebas orales de lectura musical: material estudiado vs.
primera vista
Pedro Omar Baracaldo

15:00
Coro infanto juvenil: contribuições para o desenvolvimento
cognitivo e psicossocial
Ana Lucia Iara Gaborim-Moreira, Keyla Lima Brito e Silva, Vanessa
Araújo da Silva
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

O papel de cantar na vida quotidiana dos adolescentes


58 Graça Boal-Palheiros (gbpalheiros@ese.ipp.pt)
Ana Bertão (anabertao@ese.ipp.pt)
Escola Superior de Educação, Politécnico do Porto (Portugal)

Problema/questão
Os contributos da música para o desenvolvimento identitário e emocional dos adolescentes têm sido
realçados em diversos estudos que enfatizam a importância da prática musical (ouvir, cantar, tocar) nas
relações interpessoais e na gestão dos estados emocionais (Hargreaves & North, 1999) durante a
adolescência, facilitando a comunicação intra e interpessoal (Welch, 2011). Embora possa ser
vivenciada como uma experiência negativa em contextos muito competitivos (Mito & Boal-Palheiros,
2013; 2017), a atividade de cantar, geralmente, traduz-se numa vivência catártica, com impactos
positivos para os adolescentes.
A adolescência é um período marcado por grandes transformações (físicas, emocionais, cognitivas e
sociais) que se expressam no modo como os adolescentes se sentem, se relacionam, vivem e olham o
mundo. O grupo de amigos qualifica-se como um espaço real privilegiado de identificação, enquanto
a família é questionada na luta contra a dependência infantil (Blos, 1985; Fleming, 2005; Matos, 2002).
Neste período, a música ganha novos significados como elo de ligação interna e externa, como meio
de acesso aos outros e a si próprio, como possibilidade de identificação aos modelos idealizados. A
música e, especificamente, a letra e a melodia de uma canção, no ato de cantar, parecem poder
constituir-se como uma bússola para os adolescentes.
Objetivos
Este estudo sobre o papel de cantar na vida dos adolescentes investigou as percepções dos adolescentes
sobre a prática de cantar na vida quotidiana e o papel do canto na construção da identidade.
Método
Participaram vinte adolescentes de 13 e 14 anos de idade, de ambos os sexos, a frequentarem escolas
públicas. A metodologia utilizada foi a entrevista semi-estruturada, com perguntas abertas sobre as
razões e o significado de cantar, e as experiências de canto. As entrevistas foram gravadas e transcritas
na íntegra. O tratamento dos dados foi feito através da análise de conteúdo (Bardin, 2011). A definição
das categorias e subcategorias foi, primeiro, realizada por cada investigadora separadamente, e a grelha
final foi construída pelas categorias comuns às duas investigadoras, mantendo-se um espaço em aberto,
para permitir o registo de observações entendidas como pertinentes para o estudo.
Resultados
Os resultados revelam que a maioria dos adolescentes desfrutam do prazer de cantar, sozinhos ou com
amigos, tendo começado a cantar ainda em crianças, junto das suas famílias. Mesmo que alguns
revelem uma perceção negativa das suas capacidades vocais, para a maioria deles cantar é muito
importante porque, entre outras razões: proporciona companhia, prazer e felicidade; permite aprender
as letras de canções estrangeiras (inglesas) e a respetiva língua; e mantém a tradição, reforça a identidade
coletiva, e o sentimento de pertença a um país.
Conclusões
Em suma, os adolescentes reconhecem os benefícios de cantar para lidar com estados emocionais, na
comunicação intrapessoal e nas relações interpessoais, e como experiência de aprendizagem.
Palavras-chave
Adolescentes, cantar, identidade, vida quotidiana.
Referências
Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70.
Blos, P. (1985). Adolescência. Uma interpretação psicanalítica. Rio de Janeiro: Martins Fontes.
Fleming, M. (2005). Adolescent autonomy: Desire, achievement and disobeying parents between
early and late adolescence. Australian Journal of Education and Developmental Psychology, 5, 1-16.
Hargreaves, D.J. & North, A. (1999). The functions of music in everyday life: redefining the social in
music psychology. Psychology of Music, 27, 71-83.
Matos, A C. (2002). A adolescência: o triunfo do pensamento e a descoberta do amor. Lisboa: Climepsi.
Mito, H., & Boal-Palheiros, G. (2013). Why do young people sing differently in everyday life
scenarios and at school?. The Phenomenon of Singing, 9, 172-178.
Mito, H., & Boal-Palheiros, G. (2017). Factors affecting the formation of adolescents’ singing style: A
study on Japanese and Portuguese adolescents. International Journal of Creativity in Music
Education, 5, 114-144.
Welch, G.F. (2011). The benefits of singing for adolescents. Sing Up The Secondary Singing
Handbook: The benefits of singing. London: Sing Up.
Caderno de Resumos e Programação

Estudio exploratório Brasil-Colombia.


Auto-percepciones de eficacia en pruebas orales de
lectura musical: material estudiado vs. primera vista 59

Pedro Omar Baracaldo (pbaracal@uniandes.edu.co)


Universidad de los Andes (Colômbia)

Problema
Los estudiantes de primer año a nivel superior necesitan el desarrollo de herramientas de aprendizaje
eficientes. La auto-percepción de la eficacia en procesos de enseñanza-aprendizaje es indispensable
para la creación de estas herramientas (Sáiz y Alonso, 2008; Pérez et. al., 2010). Los cursos de
entrenamento auditivo les proponen unas metas para las que aun no están preparados, sobretodo si
traen escasa formación teórica (Sobreira, 2013). Es aquí donde deben comenzar a construir dichas
herramientas. Se propone usar sus auto-percepciones para comprender mejor el estado de este
aprendizaje.
Objetivos
Uso de auto-percepciones de eficacia para la comprensión del estado de preparación del estudiante en
la presentación de pruebas orales de lectura musical con materiales conocidos y desconocidos, en
estudiantes de primer año de un programa de música a nivel superior.
Método
Antes de que 41 estudiantes brasileros de la UFPR y 24 colombianos de Uniandes, de un primer curso
de entrenamiento auditivo, presentaran una prueba oral, se les aplicó una encuesta de 15 items. Se
probó la confiabilidad del instrumento aplicando el coeficiente de Crombach (Wessa, 2017): UFPR
0.9417, UNIANDES 0.8715. Se homologaron las escalas de los datos para permitir un análisis de los
promedios entre auto-percepciones y calificaciones.
Resultados
Se observa una tendencia en los estudiantes a asignar menores valores a las auto-percepciones. Los
valores de los grupos de la UFPR son mas dispersos y mas homogéneos en UNIANDES, posiblemente
por la ausencia de una prueba musical de ingreso en la UFPR. También se observa que los valores son
mas bajos en primera vista que en el material estudiado. Un posible reto es encontrar formas de acortar
esta diferencia de desempeño.
Conclusiones
El Alpha de Crombach respalda el instrumento (Miranda y Santos, 2017) para evaluar auto-percepciones
de estudiantes en pruebas orales de lectura musical. Los datos permiten afirmar que los estudiantes ya han
construído auto-percepciones que se alinean con los resultados que buscan los maestros, ya que, en
general, no se encuentran dispersos. Las auto-percepciones pueden ser muy útiles en aquellos casos
donde difieren notablemente de las valoraciones del maestro. Este modelo está mas enfocado a contextos
de seguimiento individual del aprendizaje.
Palabras clave
Auto-percepciones, educación musical, entrenamiento auditivo, pruebas orales, primera vista.
Referencias
Miranda, R. y Santos, M. (2017). Avaliação da confiabilidade dos questionários sobre a análise de
desempenho de uma escola pública: uma aplicação do alfa de Cronbach. Revista Produção
Industrial & Serviços, 3(2), 50-61. doi:10.4025/revistapis.v3i2.260
Pérez C, Parra P, Ortiz L, Fasce (2010). Variables personales y académicas asociadas al aprendizaje
autodirigido en la educación médica. Rev Educ Cienc Salud. 2010;7(2):152-9.
Sáiz, M. C., y Alonso, P. (2008). Análisis de tareas como estrategia cognitiva de evaluación En M. C.
Sáiz, A. Cantero, J. L. Casillas, y J. Velasco (Eds.). IV 170 M. C. Sáiz-Manzanares y R. J. Payo-
Hernanz. Revista Iberoamericana de Psicología y Salud, 2012, 3(2): 159-174 Encuentro Nacional
de Orientadores: La orientación como recurso educativo y social (pp. 1-15). Burgos: Servicio de
Publicaciones de la Universidad de Burgos.
Sobreira, L. (2013) Um estudo sobre crenças de autoeficácia de alunos de percepção musical. (Tesis
de Maestría). UFPR.
Wessa P. (2017), Cronbach alpha (v1.0.5) in Free Statistics Software (v1.2.1), Office for Research
Development and Education, URL https://www.wessa.net/rwasp_cronbach.wasp/.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Coro infantojuvenil: contribuições para o


desenvolvimento cognitivo e psicossocial
60
Ana Lucia Iara Gaborim-Moreira (anaemarcelo440@gmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Keyla Lima Brito e Silva (keylalb20@gmail.com)
SESC
Vanessa Araújo da Silva(vanessaeducadoramusical@gmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema/questão
Participar de um coro durante o período da infância e/ou adolescência pode ser, em potencial, um meio
de se desenvolver habilidades e competências humanas, além de ser uma forma eficaz de aprendizagem
musical. Isso se verifica principalmente de forma empírica e subjetiva, e pelo que pudemos constatar,
existem poucos referenciais teóricos que evidenciem resultados obtidos em um coro infantojuvenil
acerca do desenvolvimento cognitivo e psicossocial de seus participantes.
Objetivos
Procuramos investigar os benefícios trazidos pela prática do coro infantojuvenil, apresentando e
analisando atividades específicas da rotina de um coro (abrangendo ensaios e apresentações) que
contribuem positivamente no processo de desenvolvimento de crianças e adolescentes, apontando
elementos que promovem o aprendizado cultural, artístico e musical.
Método
Partimos da análise de questionários estruturados, respondidos por pais/responsáveis dos coralistas e de
entrevistas realizadas com as próprias crianças e adolescentes (de seis a dezesseis anos) que participaram
de dois projetos corais em 2018: o PCIU! (Projeto Coral Infantojuvenil da UFMS) e o Coro
infantojuvenil do SESC (Serviço Social do Comércio) – unidade Lageado/MS. Identificamos e
relacionamos fatores positivos de crescimento na área cognitiva e psicossocial - como a autoestima, o
autocontrole, as relações interpessoais, a expressividade, a comunicação, a desenvoltura dos participantes,
entre outros aspectos que influenciaram no fazer musical.
A pesquisa tem como principal referencial teórico a teoria psicogenética de Wallon, considerando que
o ser humano é simultaneamente biológico e social, isto é, “sua estrutura orgânica supõe a intervenção
da cultura para se atualizar” (Dantas, 1992, p.36). Outros teóricos - sobretudo, pesquisadores da área da
Regência Coral - embasam nossa investigação, apontando que “cantar em um coro tem promovido
benefícios emocionais, sociais, intelectuais, criativos e físicos” (Judd; Pooley, 2014, p. 270).
Resultados e conclusões
A análise dos dados indica que todas as crianças (50 coralistas em cada coro) participam espontaneamente
- o que já constitui um fator de motivação para o aprendizado. Em termos musicais, constatamos
mudanças no gosto musical (ampliação do repertório conhecido), a identificação de elementos da
linguagem musical (solfejo), melhora na afinação vocal e o refinamento da percepção musical dos
participantes. Em termos de desenvolvimento cognitivo e psicossocial, constatamos que a possibilidade
de participação no coro contribuiu para o estabelecimento de novas amizades, desinibição em
apresentações públicas, melhora da postura corporal, conscientização do processo respiratório para a voz,
favorecimento da comunicação (em termos de expressão de ideias, dicção e linguagem), estímulo à
criatividade, convívio saudável em um contexto de respeito às diferenças pessoais, e até mesmo interferiu
positivamente no desempenho escolar. Sendo assim, podemos afirmar que cantar em um coro é um
meio de aprendizado musical que certamente contribui para o desenvolvimento cognitivo e psicossocial
infantojuvenil.
Palavras-chave
Coro infantojuvenil; aprendizagem musical; desenvolvimento cognitivo; desenvolvimento
psicossocial.
Referências
Dantas, H. (1992). A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In La Taille,
Yves de (org.). Piaget, Vigotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. (pp. 35-46). São
Paulo: Summus.
Judd, M.; Pooley, J. A. (2014). The psychological benefits of participating in group singing for
members of the general public. Psychology of Music (vol. 42-2, pp.269-283). London: Sage
Publications.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 30 | May 30
SESSÃO C2
Comunicações Orais | Oral Presentations
61

SALA 5, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair:: Gustavo Rodrigues Penha

14:00
Uma música imersa no instante: as contingências na criação
improvisada segundo percepções e concepções de tempo
Manuel Falleiros

14:10
Metáforas do entendimento de harmonia
Mauro Orsini Windholz

14:20
Musicografia Braille: um recurso para compreensão musical da
pessoa cega
Vinicius Alves Maciel

14:30
A prática mental como estratégia de estudos para a construção da
performance musical
Sthevan dos Santos Nunes, Luciane da Costa Cuervo

14:40
Perspectivas de deliberação na prática de um pianista expert
Michele Rosita Mantovani, André da Silveira Loss, Regina Antunes Teixeira
dos Santos

14:50
Possibilidades de categorização para o real e o imaginário na
prática pianística
Renan Moreira Madeira, Regina Antunes Teixeira dos Santos

15:00
Percepção de cadências por graduandos e extensionistas de curso
de Música à luz da teoria ITPRA
Marcelo Ratzkowski, Rafael Puchalski, Regina Antunes Teixeira dos Santos

15:10
A manipulação do andamento na comunicação de emoção no
Ponteio nº 6 de Camargo Guarnieri
Andrei Liquer de Abreu, Regina Antunes Teixeira dos Santos
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Uma música imersa no instante:


as contingências na criação improvisada
62 segundo percepções e concepções de tempo
Manuel Falleiros (mfall@unicamp.br)
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Problema/questão
No geral, improvisação musical tende a ser entendida como sinônimo imediato de “composição
instantânea” ou “música espontânea” (Lathan, 2008) (Nettl, 1974). Esta noção tem sido comumente
como chave de compreensão tanto para uma prática quanto para a pesquisa sobre ela. Assim, o tempo
é comumente enunciado pelo ritmo (Tan, S. et al., 2010) e suas adjacências imediatas, que inclinam a
observação para a identificação dos gêneros musicais. Pretendo fomentar uma noção do instante e
observar como as concepções envolvidas estão mais de acordo com práticas criativas contemporâneas
em improvisação (Canonne, 2016).
Para o improvisador é criativamente determinante o embate que o instante proporciona entre o tempo
de khrónos: inexorável, impassível, devorador da existência; e o tempo de kairós: ação, decisão e ímpeto
(Puentes, 2012). Entendendo o instante a partir dos estudos sobre a consciência de tempo (Specious
Present), é possível circunscrever com maior rigor a área de atuação criativa do improvisador, que
reside em suas micro-decisões (momento-a-momento) (Iyer, 2014). Para Varela (1999), a partir da
concepção fenomenológica de Husserl, vem esclarecer sobre as bases biológicas da retenção,
identificação e articulação entre os momentos que o experienciamos um fenômeno considerado
baseado no instante.
Objetivos
Investigar como a concepção de tempo dada pela literatura sobre improvisação pode influenciar
processos criativos em contraste com noções de instante para o improvisador.
Método
Revisão de literatura, apontamentos críticos e observação participante.
Principais contribuições
Pesquisas que envolvam o instante como constritor criativo na prática da improvisação ainda são
incipientes. O aprofundamento pretende fornecer novas chaves de entendimento mais de acordo com
a prática contemporânea.
Implicações
A partir de uma observação sobre os subterfúgios artísticos do improvisador, esperamos vislumbrar
soluções que colaborem para o desenvolvimento de estratégias criativas e também contribuir com os
estudos de alta performance.
Palavras-chave
Improvisação, Tempo, Percepção, Criatividade.
Referências
Canonne, C. (2016). Du concept d’improvisation à la pratique de l’improvisation libre. International
Review of the Aesthetics and Sociology of Music, v. 47, n. 1.
Iyer, V. (2014). Improvisation, Action Understanding, and Music Cognition with and without Bodies.
Oxford: The Oxford Handbook of Critical Improvisation Studies.
Lathan, A. (2008). Diccionario enciclopédico de la música. México: Fondo de Cultura Económico.
Nettl, B. (1974). Thoughts on Improvisation: A Comparative Approach. The Musical Quarterly, Vol.
60, No. 1. Oxford: Oxford University Press.
Puente. F. (2012). Ensaios sobre o tempo na filosofia antiga. Coimbra: Universidade de Coimbra.
Tan, S.; Pfordresher, P.; Harré, R. (2010). Psychology of Music: From sound to significance. East Sussex:
Psychology Press.
Varela, F. (1999). The Specious Present: A Neurophenomenology of Time Consciousness. Naturalizing
Phenomenology: Issues in Contemporary Phenomenology and Cognitive Science Edited by Jean,
Petitot, Francisco J. Varela, Bernard Pachoud abd Jean-Michel Roy Stanford University Press,
Stanford Chapter 9, pp. 266-329.
Caderno de Resumos e Programação

Metáforas do entendimento de harmonia


Mauro Orsini Windholz (maurowindholz@gmail.com) 63
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Problema/questão
Uma das principais abordagens dos estudos recentes da expressão/evocação de afeto/sentido em
música, no campo da cognição musical, considera a investigação de expectativa e tensão musicais. A
ideia de que “o aumentar e decair de tensão é fundamental para a experiência da música e pode
contribuir para a resposta emocional”— the rising and falling of tension is fundamental to the experience of
music and may contribute to the emotional response (Krumhansl & Cuddy, 2012, p. 76)— é muito comum
em pesquisas da área e motivou diversas investigações sobre como materiais musicais, especificamente
materiais harmônicos, provocam tensão (tais como Bigand, Parncutt & Lerdahl, 1996 e Farbood, 2016,
entre outros). Entretanto, apesar de suas contribuições significativas, não está inteiramente claro, a
partir desta literatura, como expectativas e tensões contribuem exatamente para o que podem ser
chamados de “sentidos expressivos”— expressive meanings (Larson, 2012)— dos objetos musicais.
Objetivos
Neste trabalho pretendo apontar algumas limitações desta explicação tradicional dos sentidos expressivos
dos recursos harmônicos (tais como acordes, progressões de acordes, tonalidades, etc.), e sugerir outras
abordagens para investigações futuras. Tomando por base conceitos derivados das ciências cognitivas
incorporadas, destaco que a abordagem tradicional se baseia na metáfora conceitual HARMONIA É
TENSÃO E RELAXAMENTO. Procuro mostrar que esta metáfora se presta principalmente à estruturação
dos aspectos mais sintáticos da experiência harmônica, em detrimento de outros aspectos mais
semânticos. Sugiro então outras metáforas para o entendimento da harmonia (a saber: harmonia como
cores, forças e gestos) que podem ser úteis para esclarecer outros aspectos da experiência harmônica.
Ilustro sua operação no entendimento da harmonia de uma pequena peça coral de minha autoria. Dessa
forma, pretendo sugerir vias de investigação promissoras para pesquisas futuras a respeito da expressividade
de materiais harmônico-musicais.
Implicações
Esta sugestão implica em uma mudança de foco da pesquisa do fenômeno harmônico sob a ótica da
cognição musical, a partir de outras metáforas que permitam uma maior compreensão do processo pelo
qual materiais harmônicos são associados a sentidos e afetos.
Palavras-chave
Metáfora conceitual, harmonia, sentido musical, afeto.
Referências
Bigand, E., Parncutt, R., Lerdahl, F. (1996). Perception of musical tension in short chord sequences:
The influence of harmonic function, sensory dissonance, horizontal motion, and musical
training. Perception & Psychophysics, 58 (1), 125-141.
Farbood, M. M. (2016). Memory of a Tonal Center After Modulation. Music Perception: An
Interdisciplinary Journal, 34 (5), 71-93.
Krumhansl, C. L., Cuddy, L. L. (2010). A Theory of Tonal Hierarchies in Music. In M. R. Jones, R.
R. Fay, A. N. Popper (Eds.), Music Perception (pp. 51-87). New York: Springer.Larson, S.
(2012). Musical Forces: Motion, Metaphor and Meaning in Music. Bloomington and Indianapolis:
Indiana University Press.
Lakoff, G., Johnson, M. (1980). Metaphors we Live By. Chicago and London: University of Chicago
Press.
Lakoff, G., Johnson, M. (1999). Philosophy in the Flesh. New York: Basic Books.
Meyer, L. B. (1956). Emotion and Meaning in Music. Chicago: University of Chicago Press.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Musicografia Braille:
um recurso para compreensão musical da pessoa cega
64
Vinicius Alves Maciel (pequenomusico1331@gmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema/questão
A figura do “músico cego” faz parte do imaginário social desde a Antiguidade, atravessando tempos e
espaços. Segundo Oliveira e Reily (2014), no seu estudo de representações de cegueira na história da
arte, o argumento que sustenta o mito da habilidade musical do cego é o de que a ausência do sentido
da visão incrementaria a sensibilidade auditiva, facilitando assim a aprendizagem da música para a
pessoa cega. No entanto, tal afirmativa, para ser considerada assertiva, precisa de embasamento
cognitivo. Não há muitas publicações no sobre o ensino musical para alunos cegos e a respeito da
representação mental para a compreensão musical. Contudo começam a surgir literatura e dissertações
e teses sobre educação musical no contexto da educação inclusiva, contemplando alunos com
deficiência fı́sica (Louro, 2003), surdez (Finck, 2009), deficiência visual (Melo, 2011), entre outros.
Bonilha (2010), discute em sua tese o ensino da musicografia braile para alunos cegos, discutindo o
aprendizado da notação musical e avaliando ferramentas que auxiliam no ensino da música.
Objetivos
Desta forma, a pesquisa em andamento tem por objetivo investigar a respeito da aprendizagem musical
através da musicografia Braille e suas correlações com a noção de significação musical e das questões
relacionadas à representação mental musical.
Principais contribuições
O trabalho pretende oferecer uma revisão bibliográfica da literatura existente, de forma a possibilitar
a construção de uma base sólida para futuras investigações.
Implicações
A pesquisa em tela tem implicações na área de cognição musical, ao tratar das questões sobre
significação musical e sobre representações mentais que se supõem necessárias nos processos de escuta
e de performance musicais. Ainda, a área da educação musical e da educação especial encontram-se
igualmente implicadas pois tal investigação fornece bases teóricas e empı́ricas para o desenvolvimento
e avaliação de métodos de ensino e de práticas educacionais para músicos cegos.
Palavras-chave
Cognição musical, musicografia Braille, representação mental, significação musical
Referências
Bonilha, F. G. (2010). Do toque ao som: O ensino da musicografia Braille como um caminho para a
educação musical inclusiva. 2010. 280f. (Tese de Doutorado em Música). Instituto de Artes,
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo.
Finck, R. (2010). Ensinando a música ao aluno surdo: perspectivas para a ação pedagógica inclusiva. 2009.
(Tese Doutorado em Educação, p.234). Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre.
Louro, V. S. (2003). As adaptações a favor da inclusão do portador de deficiência física na educação musical:
um estudo de caso. 2003. (Dissertação Mestrado em Música, p. 208). Instituto de Artes,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São Paulo.
Melo, I.SC. (2011). Um estudante cego no curso de licenciatura em música da UFRN: questões de
acessibilidade curricular e física. 2011. (Dissertação Mestrado em Educação, p. 127). Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal.
Oliveira, L.A.C., & Reily, L.H. (2014). Relatos de Músicos Cegos: Subsı́dio para o Ensino de Música
para Alunos com Deficiência Visual. Revista Brasileira de Educação Especial. Ed. Esp., Marilia,
v.20, n. 3, p.405 – 420, Jul. – Set.
Caderno de Resumos e Programação

A prática mental como estratégia de estudos para


a construção da performance musical
65
Sthevan dos Santos Nunes (sthevank@outlook.com)
Luciane Cuervo (luciane.cuervo@gmail.com)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Problema
A prática mental constitui-se de uma série de estratégias que podem ser utilizadas na aquisição de
habilidades necessárias à performance, as quais envolvem o uso da imaginação deliberada em oposição
à ação motora presente na prática física. O presente trabalho se expressa como um subprojeto,
vinculado ao projeto de pesquisa “Estudos Interdisciplinares sobre a Mente Musical” e se propõe a
investigar de que forma essa prática pode ser útil na construção da performance musical. Aplicada sobre
o repertório orquestral da flauta transversal (instrumento do autor/performer) a investigação consiste em
revisão bibliográfica sobre o tema e em avaliação qualitativa sobre a experimentação pessoal, apoiando-
se na autoetnografia como metodologia de registro e análise. Inicialmente o documento discorre sobre
os paradigmas que envolvem a prática musical e de que forma esta se relaciona com a cognição e a
aprendizagem, recorrendo frequentemente a pesquisas interdisciplinares nas áreas da neurociência,
psicologia e performance musical. Fundamentado pela revisão bibliográfica, o trabalho se propõe a
descrever o percurso construído na prática mental como procedimento primário de estudo em
oposição à prática física, abordando as estratégias e desafios envolvidos neste processo.
Objetivos
(i) investigar como a prática mental pode contribuir para a construção da performance musical; (ii)
elencar procedimentos práticos que possibilitem sua implementação; (iii) mensurar a potencialidade da
autoetnografia como método de investigação artística associada à performance musical.
Método
(i) revisão bibliográfica sobre o tema; (ii) introdução e aplicação da autoetnografia na prática e na
performance; (iii) planejamento das habilidades e do repertório trabalhados; (iv) análise e avaliação
qualitativa dos registros video-fonográficos coletados.
Resultados
A pesquisa ainda se encontra em desenvolvimento, mas já expõe achados significantes na literatura
científica do tema. Uma revisão inicial e multidisciplinar atesta os benefícios da prática mental (Mielke,
2017) e sugere que músicos sejam os modelos ideais para estudar seus efeitos, dada a complexidade de
elementos cognitivos envolvidos na prática musical (Altenmüller, 2009, p. 333). Tanto a performance
quanto a prática mental (sem o instrumento) estão sendo registradas, possibilitando analisar as
habilidades enfatizadas e modelar as estratégias de cada sessão.
Conclusões
A revisão inicial revela carência de informações acerca dos procedimentos e das possibilidades para
implementação da prática mental no planejamento de estudos, assim como uma lacuna de produção
científica em língua portuguesa, específica sobre o tema na área da música. Os estudos sobre prática
mental atrelada à performance musical ainda podem ser enriquecidos com aplicações práticas que
evidenciem seus benefícios, oportunizando ampliar a compreensão e o papel desempenhado por cada
modalidade sensorial na prática musical.
Palavras-chave
Prática mental. Performance musical. Cognição musical
Referências
Altenmüller, E., Schneider, S. (2009). Planning and performance. In Hallam, S. Cross, I. Thaut, M.
(Eds.). The Oxford handbook of Music Psychology (p. 332-343). New York: Oxford University
Press
Mielke, S; Comeau, G. (2017). Developing a literature-based glossary and taxonomy for the study of
mental practice in music performance. Musicae Scientiae 1-16.
doi:doi.org/10.1177/1029864917715062
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Perspectivas de deliberação
66 na prática de um pianista expert
Michele Rosita Mantovani (mantovani.michele@gmail.com)
André da Silveira Loss (andreloss.ufrgs@gmail.com)
Regina Antunes Teixeira dos Santos (regina.teixeira@ufrgs.br)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Problema/questão
A prática do músico expert é tida como deliberada: altamente estruturada, com metas, resolução de erros,
energia/concentração e tarefas para superar limites e melhorar o desempenho (Ericsson, et al, 1993). Contudo,
discussões sobre perspectivas de deliberação têm se limitado às descrições generalizadas que negligenciam a
natureza dos procedimentos e limites da atenção (Bourne et al., 2014; Ullén et al., 2015; Gobet, 2016). De que
maneira as perspectivas de deliberação se apresentariam na prática de um pianista expert?
Objetivo
Investigar as perspectivas de deliberação na prática de um pianista expert.
Método
Quatro casos em níveis distintos de expertise gravaram uma sessão de prática de duas peças para piano de
seus repertórios. Os dados analisados (métodos mistos) resultaram em nove Categorias Psicossensoriais
que englobaram aspectos de natureza psicológica e sensorial da prática. Os resultados aqui discutidos
correspondem à prática do profissional (P17).
Resultados
Categorias psicossensoriais envolvem comportamentos, ações e desvios que ocorrem na prática pianística
independentemente do nível de expertise: (1)Testar: simulação da performance (trecho ou peça na
íntegra); (2)Repetir: repetição de um fragmento; (3)Isolar: subtrair qualquer elemento musical para focar-
se em aspectos isolados; (4)Alternar: variação deliberada de qualquer elemento; (5)Explorar: abordagem
criativa de um aspecto para refinar a sonoridade; (6)Ajustar: modificação/correção percebida no produto;
(7)Parar: interrupção relacionada ou não à prática; (8)Dispersão: distração com fatores externos; (9)Lapso:
desatenção momentânea com retorno à ação. Os procedimentos apresentaram-se em padrões conforme
o tempo despendido: em unidades de menor tempo (Peça 1, A e D) repete-se mais e isola-se menos, e o
contrário ocorre naquelas de maior tempo (Peça 1, B, C; Peça 2, A); em ambas peças, alternar e explorar
se agrupam às essas duas em menor intensidade e proporcionalmente. A intensificação dessas quatro
categorias (Peça 1, C; Peça 2, A) sugeriu maior investimento de esforços/energia. A eficácia desses
procedimentos é vista na relação de ajustar x lapso. ajustes mais incidentes que lapsos na metade das
unidades da Peça 1 se comparada à Peça 2; isso sugere que uma alta estruturação nem sempre assegura
sucesso e que tal perspectiva de deliberação não ocorre a todo tempo. Parar (ao alongar, anotar), lapsos e
dispersões ocorreram randomicamente, sugerindo variações da atenção distintas entre as sessões.
Conclusões
Deliberação é uma perspectiva dinâmica que ocorre a cada unidade de prática por procedimentos
estruturados e interveniência das variações da atenção.
Palavras-chave
Prática pianística, deliberação, expert, procedimentos, atenção
Referências
Bourne Jr, L. E; Kole, J. A.; Healy, A. F. (2014). Expertise: Defined, Described, Explained. Frontiers
in Psychology, Frontier, v. 5, mar. 2014. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pmc/articles/PMC3941081/pdf/fpsyg-05-00186.pdf>. Acesso em: 2 fev. 2018.
Ericsson, A. K.; Krampe, R. Th.; Tesch-Römer, C. (1993). The Role of Deliberate Practice in the
Acquisition of Expert Performance. Psychological Review, [s.l.], v. 100, n. 3, p. 363-406.
Disponível em: <http://graphics8.nytimes.com/images/blogs/freakonomics/pdf/
DeliberatePractice (PsychologicalReview).pdf>. Acesso em: 7 jun. 2015.
Gobet, F. (2016). Understanding Expertise: A Multidisciplinary Approach. London: Palgrave. p. 1-10.
n. 17, p. 95-109. Disponível em: <http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/
0305735689172001>. Acesso em: 20 abr. 2017.
Ullén, F.; Hambrick, D.; Mosing, M. (2015). Rethinking Expertise: A Multifactorial Gere-
Environment Interaction Model of Expert Performance. Psychological Bulletin. Disponível em:
<http://scottbarrykaufman.com/wp-content/uploads/2016/03/Ullen2015PsycholBull.pdf>.
Acesso em: 20 mai. 2017.
Caderno de Resumos e Programação

Possibilidades de categorização para o real e o


imaginário na prática pianística
67
Renan Moreira Madeira (renan.moreira@ufrgs.br)
Regina Antunes Teixeira dos Santos (regina.teixeira@ufrgs.br)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Problema/questão
O presente manuscrito visa estabelecer um diálogo entre uma pesquisa de Doutorado em andamento
e o trabalho de Mantovani (2018). Mantovani, ao observar a prática de quatro pianistas que praticaram
peças em condições de estudo habituais, propõe a sistematização da prática pianística em nove
categorias, as quais recebem o nome de categorias psicossensoriais, a saber: testar, repetir, isolar, ajustar,
alternar, parar, explorar, dispersão e lapso. No recorte de pesquisa de doutorado em andamento quatro
participantes praticaram peças para piano em diferentes condições de privações sensoriais, que os
forçaram a imaginar certos aspectos da execução musical, como o resultado sonoro de seus movimentos
sobre o teclado ou seus próprios movimentos fora do teclado do piano. No escopo da Tese em
andamento, análises preliminares dos registros de prática propiciaram uma sistematização dos
comportamentos de prática observados em dez categorias.. O contato com o trabalho de Mantovani
(2018) e a constatação da similaridade do objeto estudado – a prática pianística – levaram à indagação
da possibilidade de aplicação das categorias psicossensoriais à prática com privações sensoriais.
Objetivo
Investigar a possibilidade de aplicação das categorias psicossensoriais de Mantovani (2018) na prática de
piano em situações de privação sensorial.
Método
Os dados do recorte de Tese em andamento foram analisados em três etapas: descrição na íntegra das
ações observadas, sistematização dessas ações em categorias e agrupamento das categorias em blocos
maiores, de acordo com a organização temporal da prática dos participantes, partindo das inferências
de suas metas para com os materiais praticados. Em um segundo momento, as categorias propostas no
escopo da Tese foram submetidas a comparação com as categorias de Mantovani (2018), que tiveram
avaliada sua viabilidade de aplicação na prática com privações sensoriais.
Resultados
Os resultados quanto à comparação apontaram quatro grupos de categorias: (a) as aplicáveis apenas à
prática em condições habituais; (b) categorias aplicáveis apenas à prática com privação sensorial; (c)
categorias semelhantes em ambas as formas de prática, mas com especificidades que justificam
diferenças quanto à nomenclatura e (d) categorias observadas na prática com privação que poderiam se
integrar às categorias psicossensoriais.
Conclusões
Resultados preliminares apontam para semelhanças quanto ao conteúdo das categorias nas duas
propostas de sistematização, revelando, contudo, a impossibilidade de se aplicarem integralmente as
categorias psicossensoriais na prática com privações sensoriais dadas as especificidades desta última.
Palavras-chave
Prática pianística, privações sensoriais, categorias psicossensoriais.
Referências
Halpern, A. (2001). Cerebral substrates of musical imagery. Annals of the New York Academy of
Sciences. Vol. 930, pp. 179-193.
Keller, P. (2012). Mental imagery in music performance: underlying mechanisms and potential
benefits. Annals of the New York Academy of Sciences. Issue: The neurosciences and music IV:
learning and memory. Vol. 1252, pp. 206-213.
Mantovani, M. R. (2018). Perspectivas de deliberação do fenômeno da prática pianística em diferentes níveis
de expertise (Tese de Doutorado). Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/173570
Repp, B. (1999). Effects of auditory feedback deprivation on expressive piano performance. Music
Perception: An Interdisciplinary Journal. Califórnia, n. 4. Disponível em:
https://www.jstor.org/stable/40285802
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Percepção de cadências por graduandos e extensionistas


68 de curso de Música à luz da teoria ITPRA
Marcelo Ratzkowski (marcelo.ratzkowski@gmail.com)
Rafael Puchalski (guilhermeromanelli@ufpr.br)
Regina Antunes Teixeira dos Santos (regina.teixeira@ufrgs.br)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Problema/questão
Estudos de percepção de cadências (Sears et al., 2014; Puchalski; Dos Santos, 2016) apontam que
músicos treinados percebem com maior facilidade a harmonia latente de uma frase musical, enquanto
não-músicos têm maior dificuldade de identificar os modelos harmônicos de cadência e prestam maior
atenção apenas na linha melódica. A teoria ITPRA (Imaginação, Tensão, Previsão, Reação e Avaliação)
de Huron (2006) considera que as unidades perceptivas da música - como ritmo, melodia e harmonia
- manipulam as expectativas de um ouvinte, influenciando a percepção de uma determinada cadência.
Objetivo
Analisar a percepção de cadências musicais por estudantes de graduação e de extensão em Música sob
os princı́pios da teoria ITPRA.
Métodos
Estudantes de graduação (N = 38) e de extensão (N = 40) foram submetidos a estı́mulos (10) de cadência
perfeita, plagal, à dominante e deceptiva, respondendo um questionário no qual atribuı́am o grau de
conclusão ou de suspensão (escala de Lickert) para cada estı́mulo. As cadências foram analisadas em
termos de construção rı́tmico-melódica e comparadas com os graus atribuı́dos pela amostra.
Resultados
Estudantes de Graduação reagiram frente aos distintos modelos harmônicos de cadência com sensações
que vão de acordo com os pressupostos do funcionamento das funções harmônicas em despertar
qualias. A sensibilidade dessa população a uma hierarquia tonal pode ser atribuída ao aprendizado
estatı́stico acerca dos padrões de probabilidade de sucessões no estı́mulo (Huron, 2006), (Krumhansl,
2010).
Com relação aos estudantes de Extensão, os desvios nas respostas em comparação à graduação foram
grandes nas cadências plagais, deceptiva e à dominante. Mesmo a percepção de melodias familiares não
foi precisa. Efetuou-se uma análise dos estı́mulos para procurar possı́veis fatores de distração. Entre os
possı́veis fatores, encontram-se expectativas sobre melodia, duração dos estı́mulos, forma, ritmo
harmônico e textura. É possível especular como as peculiaridades dos estı́mulos nesses quesitos
resultaram em menor sensibilidade à hierarquia tonal pelos participantes da Extensão, mas apenas um
novo experimento seria capaz de tentar quantificar as influências desses fatores na sensação de
fechamento em cadências. Além disso, a teoria ITPRA é capaz de compreender, pelos princı́pios de
aprendizado estatı́stico e darwinismo neural, explicações sobre a variação na percepção musical em
populações com diferentes contextos de educação musical.
Conclusões
As implicações rı́tmico-melódicas parecem estar afetando a percepção da amostra frente à sensação das
implicações puramente harmônicas. A teoria ITPRA fornece fundamentação para análise estrutural dos
estı́mulos, e correlacioná-los com os resultados empı́ricos.
Palavras-chave
Percepção de cadências, Psicologia Cognitiva, ITPRA.
Referências
Huron, D. (2006). Sweet Anticipation. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press.
Sears, D., Caplin, W. & McAdams, S. (2014). Perceiving the Classical Cadence. Music Perception: An
Interdisciplinary Journal, 31(5), pp.397-417.
Puchalski, R., & Dos Santos, R. A. T. (2016). A percepção de cadências musicais sob a óptica cognitiva:
Um estudo exploratório. In Anais do XII Simpósio de Cogniç˜so e Artes Musicais. Porto Alegre:
Disponı́vel em: https://www.abcogmus.org/documents/SIMCAM12.pdf. Acesso em: 10 mar.
2019.
Krumhansl, C. L. (2010). A Theory of Tonal Hierarchies in Music. In: Jones, Mari Riess et al. A
Theory of Tonal Hierarchies in Music. Music Perception (Springer Handbook of Auditory
Research): Riess Jones, Mari, Fay, Richard R., Popper, Arthur N, 2010.
Caderno de Resumos e Programação

A manipulação do andamento na comunicação de emoção


no Ponteio nº 6 de Camargo Guarnieri 69
Andrei Liquer de Abreu (andrei.liquer@hotmail.com)
Regina Antunes Teixeira dos Santos (regina.teixeira@ufrgs.br)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Problema/questão
A comunicação da emoção por intérpretes é objeto de investigação na literatura. Dentro do universo
de emoções, pesquisas envolvendo emoções denominadas básicas são descritas na literatura. Camargo
Guarnieri (1907-1993) em seus Ponteios explicita a indicação de expressão (caráter) na partitura. A
comunicação de emoção de seus Ponteios vem sendo estudada na literatura brasileira. Em continuidade
a estudos anteriores, no presente manuscrito descrevemos o efeito da manipulação do andamento na
percepção de uma plateia de ouvintes músicos e diletantes.
Objetivos
Investigar o grau de comunicabilidade emocional no Ponteio nº 6 de Guarnieri a partir dos da
comparação de duas versões de uma mesma interpretação, com manipulação do andamento.
Método
O delineamento envolveu questionário de escolha-forçada, e cada participante [N=100, Músicos (M) e
Dilentantes (D)] escolheu dois entre nove termos emocionais expostos, a partir da escuta dos estímulos.
Esses termos contemplaram, dentre outros, a indicação expressiva indicada por Guarnieri e o termo
escolhido pelo intérprete a partir da tipologia das emoções básicas proposta pela Teoria dos Protótipos
de Shaver e colaboradores (1987).
As estratégias metodológicas envolveram a apresentação de duas versões em áudio de uma mesma
performance, sendo a primeira denominada versão genuína, e a segunda manipulada, onde o intérprete
manipulou o parâmetro andamento da obra, ainda que visando não fugir demasiadamente do texto
musical. A hipótese levantada foi que a disponibilização de duas versões aos ouvintes serviria como
opções a serem comparadas e escolhidas, possibilitando assim maior possibilidade de apresentar uma
melhor comunicabilidade da(s) emoção(ões) previamente pretendidas a serem comunicadas.
Para esta comunicação, serão apresentados os resultados obtidos sobre o Ponteio n° 6. O caráter descrito
pelo compositor neste ponteio indicava o termo apaixonado; o intérprete, por sua vez, entendia e
pretendia comunicar a emoção desesperado, além de apaixonado.
Resultados
Os resultados indicaram que houve comunicação dos termos pretendidos, para os participantes músicos
(M = 50), uma vez que escolheram as emoções apaixonado (48%) e desesperado (32%); Diletantes (D;
N= 50) perceberam 38% e 30% dessas indicações respectivamente. No que se refere à preferência pelas
versões, para o grupo M, 54% dos ouvintes indicou a versão genuína para a emoção apaixonado e 75%
para desesperado. Já para o grupo D, 64% dos ouvintes indicou a versão manipulada para a emoção
desesperado, enquanto apaixonado apresentou o mesmo número de incidências (50% dos ouvintes para
ambas as versões).
Conclusões
A partir dos resultados, pode-se observar que houve comunicação de emoção por parte dos ouvintes
participantes desta pesquisa sobre a interpretação do autor do Ponteio nº 6 de Guarnieri. No que se
refere à comparação das versões genuína e manipulada, os dois grupos de ouvintes apresentaram-se
diferenças de percentual na escolha de desesperado, mas semelhantes quanto à emoção apaixonado. O
fato de ter atribuído dois termos expressivos para a comunicação de emoção de um dado Ponteio,
acabou sugerindo que a escolha do termo pelo interprete acabou sendo melhor comunicada que aquela
indicada pelo compositor. Esse resultado aponta que indícios de que o interprete tende a fazer escolhas
mais direcionadas quando concebe sua própria indicação expressiva a ser comunicada.
Palavras-chave:
Comunicação de emoção, percepção, performance, amor, Guarnieri
Referências
De Abreu, A. L. S. (2017). Perspectivas do amor em três Ponteios de Camargo Guarnieri: um estudo sobre
comunicação de emoção. Dissertação (Mestrado em Música). Universidade Federal do Rio Grande
do Sul.
Shaver, P. R., Schwartz, J., Kirson, D., & O'Connor, C. (1987). Emotional Knowledge: Further
Exploration of a Prototype Approach. In G. Parrott (Eds.) Emotions in Social Psychology:
Essential Readings (pp. 26–56). Psychology Press: Philadelphia.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

MAIO 30 | May 30
70
MESA REDONDA 3
SALA MULTIUSO, 16h

Cognição musical e análise


Mediador:
Gustavo Rodrigues Penha
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Debatedores:
Tatiana Catanzaro
Universidade de Brasília (UnB)
Marcos Mesquita
Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Rael Toffolo
Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Paradigmas tecnológicos musicais face às diferentes eras


da racionalidade humana
Tatiana Catanzaro
A partir da constatação de que a racionalidade musical em particular e a humana em geral é
condicionada, ao mesmo tempo que a influencia de forma dialética, pela evolução tecnológica de
cada período histórico, confrontamos duas diferentes classificações concernindo racionalidade e
tecnologia propostas pelo musicólogo francês François Delalande e pelo filósofo francês Pierre
Lévy. Tecemos considerações sobre as razões que levam ambos os pesquisadores a chegar a
diferentes conclusões concernindo as mudanças paradigmáticas da tecnologia no século XX,
analisando o desenvolvimento histórico da música nos períodos moderno e contemporâneo. Essa
metodologia nos permite, por conseguinte, erigir os pilares que permitiram a instauração da
“música baseada no som” e de definir as particularidades dessa nova gramatologia extraída do
cerne da própria matéria sonora.

Reflexões sobre parâmetros e temporalidades musicais


Marcos Mesquita
O termo parâmetro, ao qual o título faz menção, não se refere àqueles que são ensinados
tradicionalmente pela acústica – duração, altura, timbre e intensidade (Gunther, 2012) –, mas
sim a algo mais abrangente, mais genérico: “elemento variável (característica ou dado) que
entra na elaboração de um conjunto, o qual constitui um todo” (Houaiss, 2001).
O conceito de parâmetro discutido aqui está próximo do conceito de atributo. Para compreendê-lo,
devemos passar pelo conceito de categorização que Lawrence Zbikowski (2002) adaptou para a
música a partir especialmente dos escritos dos psicólogos Eleanor Rosch e Lawrence Barsalou. Para
Zbikowski, estes dois psicólogos, entre outros autores, desenvolveram uma nova visão sobre
categorização focada em dois tópicos: “O primeiro diz respeito à relação entre o processo de
categorização e as estruturas taxonômicas, as quais ele origina. O segundo diz respeito à estrutura
interna das categorias – isto é, como os membros de uma categoria se relacionam entre si”
(Zbikowski, 2002, p. 30-31). Categorização e mapeamento entre domínios (cross-domain mapping)
– que seria uma estruturação de nossa compreensão de um domínio pouco familiar ou abstrato a
partir de termos de outro domínio mais familiar ou concreto “fornecem a base para asserções
ontológicas sobre materiais musicais” e, em uma etapa posterior, estabelecem modelos conceituais
Caderno de Resumos e Programação

“que agem como guias para o raciocínio e inferência. Em sua forma mais simples, modelos
conceituais consistem de conceitos em relações específicas que pertencem a um domínio específico
do conhecimento” (Zbikowski, 2002, p. 14-15).
71
O conceito de atributo é útil, sem dúvida, para se estabelecer uma categoria concreta ou abstrata
para se chegar àquilo que Zbikowski chama de “modelo conceitual”. Mas o termo atributo está
muito mais próximo de característica ou qualidade e, em princípio, não se presta ao
estabelecimento de uma escala de classificação com diferentes variáveis. O conceito de parâmetro,
entretanto, definido como “elemento variável” constitutivo de um conjunto, pode estabelecer
coerentemente uma escala de variabilidade aplicável, de maneira efetiva, à análise de obras
musicais de vários séculos, se levarmos em consideração o que definiremos como variabilidade
dentro de cada estilo ou de cada tendência criativa individual. Se o termo atributo tem um quê de
estático, o termo parâmetro, por designar algo variável, estabelece uma escala de possibilidades
que, quando devidamente identificada pela análise musical, pode estabelecer relações entre
eventos sonoros que se encontram dentro de uma faixa de variabilidade perceptivamente coerente.
Em textos anteriores (Mesquita, 2010 e 2017), eu enfatizei o fato de a música ser uma arte
multiparamétrica e é inserido nesse contexto que o termo parâmetro deve ser compreendido aqui.
Neste contexto, relembro o que Arnold Schoenberg disse sobre variação: “Eu defino variação como
alterar um número de características de uma unidade, enquanto que preservando outras”
(Schoenberg, 1948/1975, p. 287). Em minha opinião o conceito multiparamétrico está implícito
nesta definição: dizer que a “unidade” musical é constituída por diferentes “características” é uma
nuance linguística de dizer que a unidade musical é constituída por diferentes parâmetros e que
alguns podem ser transformados, enquanto outros permanecem idênticos ou estáveis.
Tais ideias são discutidas à luz de dois exemplos musicais:
1) O trecho inicial (c. 1-12) do 1º movimento, Allegro di molto, do Quarteto de Cordas op. 20,
nº 4, de Joseph Haydn;
2) O trecho um trecho entre os compassos 180 e 184 do 2º movimento do Trio de cordas op. 20
de Anton Webern.
A temporalidade musical é discutida a partir de dois conceitos. Um que estabelece que “o tempo do
som não se manifesta no tempo (como se o tempo já existisse antes e independente do som), mas sim
como tempo (quando o som em si o instaura). O som não precisa do, ou requer, tempo, como se
necessitasse ou preenchesse este como algo dado de antemão, mas sim institui tempo, quando ele é
tempo em si como ressoar” (Eggebrecht, 2001, p. 21, itálicos no texto original). E outro que institui
uma perspectiva psicológica para o tempo musical: “Enquanto a música é estruturada no tempo,
temporalidade também é o tempo que a música significa” (Monelle, 2000, p. 84). Porque o contexto
da reflexão de Monelle é semiótico-social, uma paráfrase da frase deste autor é proposta. Tal
paráfrase se situa mais em um contexto cognitivo-musical, mas que não exclui o complexo processo
de enculturação: enquanto a música estrutura o seu tempo, a temporalidade é o significado do tempo
que a música instaurou para o ouvinte atento. Ou seja, ela leva em consideração que o som “institui
tempo”, que é o som que molda durações de inumeráveis maneiras (Mesquita, 2013). E, além disto,
ela considera a temporalidade como um aspecto da vivência, por parte de uma consciência, dos
eventos sonoros que instituíram um tempo musical. Como existem inúmeras consciências, com suas
respectivas histórias culturais, psicológicas, familiares etc., existem tantas temporalidades quanto
consciências – obviamente, existem interseções conceituais mais ou menos amplas, conforme o grau
de compartilhamento cultural entre consciências.
Após as discussões conceituais em torno dos termos parâmetro e temporalidade musicais, chega-
se à discussão sobre a validade cognitiva dos conceitos apresentados e aplicados aos trechos
musicais mencionados acima. Os focos da discussão agora são dois aspectos da memória:
1) A memória auditivo-sensorial que “desempenha ambas as importantes funções de integrar
temporalmente informação acústica que chega e mantê-la disponível por alguns segundos. [...]
a integração temporal é necessária, para se reconhecer elementos relacionados na informação
contínua do fluxo acústico” (Koelsch; Schröger, 2008, p. 395);
2) A memória de longo prazo cuja bipartição estabelece “uma distinção entre memórias de
situações e eventos específicos (memória episódica ou autobiográfica), e conhecimento geral
conceitual (memória semântica), sendo a última mais abstrata e se desenvolvendo
frequentemente por episódios similares repetidos [...]” (Snyder, 2016, p. 169).
Os estudos interdisciplinares entre cognição e análise musical apresentam claramente uma herança
dos estudos de teorias musicais praticados desde pelo menos o início do século XIX. Ainda ocorre,
hoje em dia, uma reavaliação desta herança com o auxílio dos testes disponíveis, especialmente
aqueles que se valem de psicometria ou do assim chamado imageamento cerebral.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

O conceito de parâmetro aplicado à análise musical pode ser uma ferramenta útil para um claro
delineamento dos elementos constitutivos de um evento sonoro, seja de características temáticas,
como na música tonal de tradição europeia, seja de características tímbricas ou texturais, como
72 em diversas correntes das músicas dos séculos XX e XXI. Além disto, a constatação do aspecto
multiparamétrico do evento sonoro revela diferentes perspectivas analíticas aplicáveis a este
último e auxilia na compreensão da vivência temporal por parte do ouvinte – que foi designado
aqui como temporalidade.

Os desafios da análise musical no contexto da naturalização da


estética
Rael Toffolo
No contexto da ciência cognitiva dinâmica e seus desdobramentos para o campo da arte
temos passado por um processo de investigação que pressupõe a naturalização da estética e
por consequência da naturalização da estética musical (cf. Couchot, 2012, Michaud, 2004).
Tal processo de naturalização é recente e ainda permeado de dúvidas e repleto de lacunas a
serem preenchidas pelos pesquisadores da Cognição e de todas as suas áreas inter-
relacionadas. No Contexto da Cognição Musical, a Análise Musical, como era de se esperar,
tem se dedicado à construção de um corpus de informações que visam a elaboração de seus
modelos explicativos. Inúmeros são os desdobramentos da Análise Musical que superam os
estudos de relação entre forma e conteúdo musical como: a análise de dados a cerca do
comportamento motor dos instrumentistas, análise de dados estatísticos relacionados à
fruição da música por públicos diferenciados, entre tantos outros (cf. Anais do SIMCAM).
Nesse contexto é necessário estarmos atentos para alguns questionamentos que podem
contribuir para a compreensão de qual papel a Análise Musical pode desempenhar no
contexto da Cognição Musical no âmbito de uma Estética Naturalizada e que são as
propostas a serem discutidas nesta mesa: o que já sabemos para podermos propor uma
naturalização da estética musical? Quais as lacunas que podem ser preenchidas e que
invariavelmente podem ser preenchidas pela análise musical? Quais são os problemas que
devemos enfrentar quando apontamos para uma naturalização da estética musical? e por fim,
o que podemos fazer para fortalecer essa agenda de pesquisa?
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 30 | May 30
CONFERÊNCIA
LECTURE 3
3 73

SALA MULTIUSO, 19h

Coordenador da sessão | Session Chair: Gustavo Rodrigues Penha (UFMS)

La construcción de un sentido en la escucha musical


François Delalande
La escucha musical es una conducta que responde a una expectativa, lo que determina una
estrategia mediante la cual, sin su conocimiento, el auditor selecciona rasgos y «construye» el
objeto percibido. El sentido que el oyente atribuye a la música escuchada o las sensaciones que
provoca en él dependen de la conducta que adopte. Se mostrará sobre la base de un análisis de
la recepción de un preludio de Debussy, La terrasse des Audiences du clair de lune.
La escucha actual de dicho oyente, ese día, en tales circunstancias es muy variable, pero puede
analizarse como una combinación de orientaciones recurrentes. Bajo ciertas condiciones, estos
tipos de escucha son lo suficientemente estables como para poder cruzar los testimonios
recogidos después de escuchar y obtener constantes. En cuanto a las respuestas emocionales,
aparecen como eventos en el curso de la escucha actual.

La construction d’un sens dans l’écoute musicale


L’écoute musicale est une conduite qui répond à une attente, ce qui détermine une stratégie par
laquelle, à son insu, l’auditeur sélectionne des traits et «construit» l’objet perçu. Le sens que
l’auditeur attribue à la musique écoutée ou les sensations qu’elle provoque en lui sont fonction
de la conduite qu’il adopte. On le montrera en nous appuyant sur une analyse de la réception
d’un prélude de Debussy, La terrasse des Audiences du clair de lune.
L’écoute actuelle de tel auditeur, tel jour, dans telles circonstances est très variable mais peut
s’analyser comme une combinaison d’orientations récurrentes. Dans certaines conditions, ces
écoutes types sont suffisamment stables pour qu’on puisse croiser des témoignages recueillis
après écoute et dégager des constantes. Quant aux réponses émotionnelles, elles apparaissent
comme des événements dans le cours de l’écoute actuelle.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

76
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 31 | May 31
SESSÃO L9
Comunicações Orais | Oral Presentations
77

SALA 1, 10h
Coordenador da sessão | Session Chair: Marcos Mesquita

10:00
Treinamento auditivo: relações entre métodos de rítmica e
processos cognitivos da percepção musical
Leticia Dias de Lima

10:30
Las habilidades auditivas musicales: prácticas, concepciones y
valoraciones en estudiantes de interpretación instrumental
Genoveva Salazar Hakim

11:00
O conceito de estrutura fundamental na análise schenkeriana e
suas bases cognitivas
Luis Felipe Oliveira
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Treinamento auditivo: relações entre métodos de rítmica


78 e processos cognitivos da percepção musical
Letícia Dias de Lima (leticiadiaspiano@gmail.com)
Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Questão
No ensino superior, a disciplina de Percepção Musical costuma seguir a chamada "abordagem
tradicional", que enfatiza o ditado e o solfejo como ferramentas principais e o treinamento como suporte
do ensino (Otutumi, 2013). Este treinamento não parece corresponder ao dia-a-dia profissional do
músico (Covington & Lord, 1994). O campo da cognição musical tem sido pouco relacionado a
pesquisas em educação musical e atividades pedagógicas de treinamento auditivo. Além disso,
observamos que o ritmo é pouco pesquisado na área da cognição musical. Tomando estes problemas
como ponto de partida, apresentamos a principal questão discutida neste trabalho: como as pesquisas em
cognição musical sobre a percepção rítmica se relacionam com os métodos utilizados no treinamento
auditivo?
Objetivos
Investigamos relações entre a percepção do ritmo musical e alguns dos métodos de treinamento
auditivo utilizados na graduação em música das universidades estaduais de São Paulo, sendo eles: Starer
(1969), Hindemith (1988), Hall (2005) e Gramani (2013). À luz de teorias e experimentos na área da
cognição musical, avaliamos de que forma os autores dos métodos trabalham elementos musicais e
discutimos tais abordagens dentro do contexto da disciplina de Percepção Musical.
Principais contribuições
Utilizamos as formulações de cada autor para investigar as concepções que fundamentam suas
propostas. A organização e estruturação dos métodos, bem como o conteúdo dos exercícios, também
foram detalhados (cf. Lima, 2018), demonstrando de que forma os métodos trabalham elementos
rítmicos.
Implicações
As avaliações realizadas demonstram que os métodos selecionados não trabalham a percepção rítmica
diretamente, pois não levam o aluno a desenvolver os processos perceptivos da forma como eles
ocorrem na escuta e prática interpretativa real da música. Em seu dia-a-dia, o músico tem sua
percepção desafiada no âmbito de questões teóricas, conceituais, expressivas, estilísticas e também
organológicas. Questões, estas, virtualmente ignoradas pelos métodos. A função dos métodos é
fornecer materiais para um treinamento auditivo, baseado especialmente no solfejo de padrões
rítmicos. Entendemos que um desenvolvimento mais amplo da percepção musical fica limitado se
estiver restrito à execução dos exercícios da forma como estes são apresentados.
Palavras-chave
Percepção musical, cognição, ritmo, treinamento auditivo.
Referências
Covington, K., & Lord, C. H. (1994). Epistemology and Procedure in Aural Training: In Search of a
Unification of Music Cognitive Theory with Its Applications. Music Theory Spectrum, v. 16 (2),
p. 159-170.
Gramani, J. E. (2013). Rítmica. 1. reimpr. da 4. ed. São Paulo: Perspectiva.
Hall, A. C. (2005). Studying Rhythm. 3. ed. Nova Jersey: Prentice-Hall.
Hindemith, P. (1988). Treinamento Elementar para músicos. 4. ed. São Paulo: Ricordi.
Lima, L. D. (2018). Percepção musical e cognição: abordagem de aspectos rítmicos no treinamento
auditivo. 131 p. Dissertação (Mestrado em Música) – Instituto de Artes, Universidade Estadual
Paulista "Júlio de Mesquita Filho", São Paulo.
Otutumi, C. H. V. (2013). Percepção musical e a escola tradicional no Brasil: reflexões sobre o ensino e
propostas para melhoria no contexto universitário. 344 p. Tese (Doutorado em Música) –
Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Starer, R. (1969). Rhythmic Training. Milwaukee: Hal-Leonard.
Caderno de Resumos e Programação

Las habilidades auditivas musicales:


prácticas, concepciones y valoraciones en estudiantes de
79
interpretación instrumental
Genoveva Salazar Hakim (salazar_genoveva@yahoo.com)
Universidad Distrital Francisco José de Caldas (Colômbia)

Problema
La audición musical, como modo de aprendizaje perceptual y de conocimiento, se va afinando en la
interacción dentro prácticas musicales en escenarios informales y formales de aprendizaje (Clarke,
2005, Green, 2002). Además del recorrido en asignaturas que propenden por el desarrollo de la
audición estructural en la carrera de música, es de suponer que los estudiantes de interpretación
instrumental desarrollan habilidades auditivas relacionadas con las prácticas musicales en las que
participan. ¿Cómo caracterizan, valoran y articulan sus habilidades auditivas? y ¿en qué aprendizajes y
prácticas musicales consideran que las han desarrollado? Como antecedentes, se tienen resultados de un
estudio exploratorio con estudiantes de Composición y Arreglos (Salazar, 2017).
Objetivo
Indagar sobre prácticas, concepciones y valoraciones de desarrollo auditivo musical de estudiantes de
Interpretación Instrumental, a partir de sus relatos en el contexto de aprendizajes previos a la carrera y
durante esta.
Método
El estudio es exploratorio, con metodologı́a cualitativa. La información es recolectada en entrevistas
semiestructuradas aplicadas a estudiantes de formación profesional en Interpretación Instrumental.
Resultados
Previamente a la carrera, el aprendizaje instrumental se focaliza por un tiempo extendido, en el
montaje de repertorios en grupo, con o sin la orientación de un profesor. Predomina la concepción de
audición estructural como sinónimo de desarrollo auditivo, en preparatorio y carrera. Su aprendizaje
se apoya, en varios casos, en la imaginación sonora vinculada a la mı́mica de la ejecución instrumental,
facilitándose la identificación de estructuraciones según su similitud con los roles del instrumento. El
desarrollo auditivo igualmente se refleja en la capacidad de emocionarse al escuchar repertorios y en
habilidades como imitar, tocar de oı́do, identificar estilos musicales, cualificar la producción sonora y
en la comunicación intergrupal en el ensamble.
Conclusiones
Las prácticas de aprendizaje musical instrumental, previo al ingreso a la carrera y durante esta, aportan
significados relevantes para desarrollo de la audición estructural y el conocimiento de aspectos
expresivos y estilı́sticos de las músicas. Los conocimientos no proposicionales (Johnson 1987) que se
gestan durante la práctica instrumental sirven de base a los proposicionales contemplados en este tipo
de audición. Las imitaciones inter y transmodales (Cox, 2011), manifiestas con gestos, cuyas fuentes
proceden de la imaginación sonora y motriz vinculada a la ejecución instrumental, contribuyen a la
asignación de significados a eventos sonoros y aportan al desarrollo de la audición estructural.
Palabras-claves
Habilidades auditivas, percepción auditiva, significado musical
Referencias
Clarke, E. F. (2005). Ways of listening: an ecological approach to the perception of musical meaning.
Oxford; New York: Oxford University Press.
Cox, A. (2011). Embodying music: principles of the mimetic hypothesis. Music Theory Online, 17(2),
1-24.
Green, L. (2002). How popular musicians learn: a way ahead for music education. Aldershot, Hants;
Burlington, VT: Ashgate.
Johnson, M. (1987).The Body in the Mind: The Bodily Basis of Meaning, Imagination, and Reason.
Chicago: TheUniversity of Chicago Press.
Salazar, G. (2017). Desarrollo de la audición musical en prácticas curriculares y extracurriculares de
estudiantes de Composición y Arreglos. Bogotá: Editorial UD.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

O conceito de estrutura fundamental


na análise schenkeriana e suas bases cognitivas
80
Luis Felipe Oliveira (oliveira.lf@gmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema/questão
O que se entende por análise schenkeriana é um método analı́tico desenvolvido por Heinrich Schenker
em diversos textos, sintetizado na obra Der freie Satz, publicada postumamente em 1935 (em inglês foi
publicada em 1979 com tradução de Ernest Oster). Essa metodologia, bastante difundida desde então,
apoia-se sobre a compreensão de Schenker sobre a estrutura tonal e as suas formas de organização
multidimensionais. É importante ressaltar que apesar de muitos conceitos schenkerianos se
correlacionarem a aspectos psicológicos e filosóficos da música, o próprio autor não faz grandes
incursões a esses domı́nios – especialmente em Die freie Satz, o texto é construı́do de maneira quase
aforı́stica. Entretanto, teorias surgidas posteriormente dentro do domı́nio da cognição musical parecem
oferecer justificativas interessantes para diversos conceitos analı́ticos schenkerianos em suas correlações
com processos de escuta estrutural (Salzer, 1962) e de significação musical (Oliveira, 2010). Uma das
noções mais importantes desenvolvidas pelo referido musicólogo foi o de Ursatz, ou estrutura
fundamental. Dentro da concepção schenkeriana de que, analiticamente, uma obra musical constitui-
se em diversos nı́veis estruturais simultâneos, desde aqueles mais abstratos – o nı́vel profundo ou
estrutura fundamental – até os mais concretos, i.e., próximos à própria constituição da obra musical
como tal – o nı́vel superficial –, podendo ainda existir um ou mais nı́veis intermediários, que variam
em função da extensão e da complexidade da obra. O que garantiria a coerência (tonal) da obra seria
justamente a manifestação da estrutura profunda (Ursatz), praticamente invariável no corpus
repertorial da prática comum, na estrutura superficial.
Objetivos
Tendo em mente a tese de que as noções schenkerianas possuem correlações com aspectos cognitivos
da escuta e da significação musicais, o presente trabalho busca analisar um desses conceitos, a saber, a
ideia de estrutura fundamental (Ursatz), a partir da teoria da teoria da expectativa musical (Huron,
2006; Meyer, 1956) e de um modelo peirceano de significação musical (Oliveira, 2010).
Principais contribuições
Partindo do modelo geral de significação musical desenvolvido sobre a teoria da expectativa musical e
da abordagem lógico-fenomenológica peirceana, assume-se a ideia de que os conceitos schenkerianos
mostram-se como casos particulares dentro dessa teoria geral. Este trabalho busca verificar se, de fato,
essa hipótese se sustenta teoricamente.
Implicações
Este trabalho apresenta, em primeiro lugar, implicações na área de cognição musical, especialmente
nos estudos de significação musical e de escuta estrutural; em segundo lugar, há implicações para as
pesquisas em análise musical, especialmente dentro da teoria schenkeriana da música tonal, a partir da
correlação de seus conceitos com aspectos cognitivos.
Palavras-chave
Análise schenkeriana, cognição musical, expectativa musical, significação musical
Referências
Huron, D. (2006). Sweet anticipation: music and the psychology of expectation. The MIT Press,
Cambridge, MA.
Meyer, L. B. (1956). Emotion and meaning in music. Chicago University Press, Chicago.
Oliveira, L. F. (2010). A emergência do significado em música. (Tese de Doutorado em música - área de
concentração em fundamentos teóricos). Programa de Pós-graduação em Música, Instituto de
Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Salzer, F. (1962). Structural hearing: tonal coherence in music. Dover, New York.
Schenker, H. (1979). Free Composition. Longman, New York.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 31 | May 31
SESSÃO L10
Comunicações Orais | Oral Presentations
81

SALA 2, 10h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Claudia Zanini

10:00
Tomada de consciência e conhecimento social:
noções de compositor, intérprete e professor de música
Leandro Augusto dos Reis, Francismara Neves de Oliveira

10:30
A manifestação artística dos Slams de poesia: impactos na
constituição da identidade
Camila de Oliveira Pinto

11:00
Musicoterapia e inteligências múltiplas:
um olhar para o desenvolvimento da criança com
Síndrome de Down participante do Coro Terapêutico
Tonia Gonzaga Belotti, Claudia Zanini
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Tomada de consciência e conhecimento social:


noções de compositor, intérprete e professor de música
82
Leandro Augusto dos Reis (ars_leandro@uel.br)
Francismara Neves de Oliveira (francis.uel@gmail.com)
Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Problema/questão
O momento atual na educação brasileira, somado aos estudos sobre desenvolvimento e cognição
musical, sugerem, dentre outras, a discussão acerca dos processos de conhecimento social e da tomada
de consciência revelados no fazer e compreender música. Uma vez que estas condutas, sejam no
contexto pedagógico ou artístico, não estão relacionadas apenas com a música e seus conteúdos, mas,
também, com os processos e mecanismos cognitivos dos sujeitos nela envolvidos e com suas
compreensões do mundo social de forma mais ampla.
Assim, problematizamos neste estudo as seguintes questões: 1) como os licenciandos de Música
significam os papéis de compositor, intéprete e professor?; 2) quais os mecanismos cognitivos
envolvidos nos processos de construção dessas noções sociais?; 3) como se relacionam nas produções
musicais o fazer e o compreender? Participam da pesquisa 4 licenciandos em Música de uma
universidade pública do estado do Paraná. Pautamos nosso estudo na perspectiva piagetiana como
suporte à compreensão da construção do conhecimento social em seus diferentes níveis de
desenvolvimento (Delval, 1989) e do processo da Tomada de Consciência (Piaget, 1977).
Objetivos
Investigar os processos da construção do conhecimento social em licenciandos de Música, no que
concerne às noções de compositor, intérprete e professor, visando estabelecer relações entre o processo
de tomada de consciência e os níveis de explicação das noções sociais.
Método
De abordagem qualitativa, embasa-se no método clínico-crítico piagetiano (Delval, 2002). As
intervenções ocorrerão por meio de um protocolo procedimental que criamos com intuito de provocar
elementos desencadeadores de conflitos cognitivos no contexto das intervenções: prova operatória,
produções musicais e significações das noções sociais.
Resultados
Esta pesquisa encontra-se na fase de coleta de dados e esperamos que seus resultados apontem para a
importância da compreensão dos mecanismos cognitivos da tomada de consciência e do conhecimento
social em música, para dela declinarmos reflexões acerca do papel e formação do professor de música.
Conclusões
Ampliar a compreensão e tomar consciência do mundo social exige, por parte dos sujeitos, inúmeros
questionamentos que o capacitam a passar de um nível de conhecimento elementar para um patamar
mais elaborado de compreensão. Sendo a universidade um espaço privilegiado para a criação e a difusão
do saber, a mesma exerce um papel fundamental na formação sociopolítica dos sujeitos. O que exige,
em contrapartida, dos músicos e professores de música em formação, constante autocrítica e honesta
reflexão, não somente para uma melhor compreensão da música e suas pedagogias, mas para formar
cidadãos conscientes e críticos, capazes de interagirem em um mundo cada dia mais complexo.
Palavras-chave
Conhecimento social, tomada de consciência, epistemologia genética, ensino superior
Referências
Delval, J. (2002). Introdução à prática do método clínico: descobrindo o pensamento das crianças. Porto
Alegre: Artmed.
Delval, J. (1989). La representación infantil del mundo social. In: Turiel, E. & Enesco, I. & Linaza, J.
El mundo social em la mente del niño. Madrid: Alianza, p. 245-328.
Piaget, J. (1977). A tomada de consciência. Trad. Edson Braga de Souza. São Paulo: Melhoramentos.
Caderno de Resumos e Programação

A manifestação artística dos Slams de poesia:


impactos na constituição da identidade 83
Camila de Oliveira Pinto (camilaolip@gmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema/questão
O presente trabalho se constitui como uma pesquisa bibliográfica que embasa a pesquisa empírica em
andamento no Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia. A referida pesquisa
tem como tema os slams poéticos e a sua hipótese é a possibilidade de estes terem funções sociais e
psíquicas que promovam o desenvolvimento das consciências dos seus participantes. Seu fundamento
teórico é a teoria psicológica Sócio Histórica, que nos oferece suporte para o estudo da psicologia da
arte. O slam poético se constitui como uma competição de poesia falada que traz em suas origens a
contribuição de movimentos artísticos como o reading dos poetas beatniks, o spoken word de poetas
negros, a prática de declamação de poesias que acompanhavam as emulações jazzísticas, bem como
uma profunda associação com a cultura hip hop e o rap. (Somers-Willett, 2009) As publicações
científicas referentes ao tema versam sobre determinados elementos presentes na performance poética
como a movimentação do corpo, a voz, o jogo interativo com o público, a métrica dos versos, as
rimas, o ritmo e o teor ritualístico das apresentações, associados à música. Constatou-se ainda
resultados quanto aos efeitos psicossociais relativos à identidade e autorepresentação possibilitadas pela
performance nos slams poéticos. (D’alva, 2011) Pretende-se neste trabalho discutir os processos
identitários apresentados pelas produções científicas analisadas, considerando-os efeitos advindos
desta manifestação artística, traçando um contraponto entre as explicações teóricas da cognição
musical quanto aos impactos da criação e performance nos processos identitários e a concepção da
construção da identidade a partir da teoria psicológica sócio-histórica.
Objetivos
- Discutir os processos identitários presentes nas manifestações artísticas dos slams poéticos;
- Possibilitar contrapontos entre as abordagens cognitiva e sócio-histórica no que se refere aos
impactos da arte musical na constituição da identidade;
- Subsidiar o aprofundamento dos estudos quanto aos efeitos psicossociais da prática dos slams poéticos;
Principais contribuições
A ampliação de estudos sobre o tema potencializa a produção teórico-científica relativa à práxis
artística, revelando a função social do slam poético para a coletividade como instrumento de
conscientização. A pesquisa também contribui para o desenvolvimento da produção científica quanto
à psicologia da arte.
Implicações
As contribuições dos estudos até então desenvolvidos nesta temática implicam na proposição de que
diversificadas manifestações artísticas apresentam como parte de sua constituição a arte musical. Faz-se
necessária, a partir de tais constatações, avaliação dos impactos da música para o psiquismo e seus
desdobramentos para a coletividade.
Palavras-chave
Slam poético; Música; Identidade; Consciência.
Referências
Somers-Willett, S. B. A. (2009). The cultural politics of slam poetry. Ann Arbor: University of
Michigan Press.
D’alva, R. E. (2011). Um microfone na mão e uma ideia na cabeça – o poetry slam entra em cena.
Synergies Brésil, 9, 119-126.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Musicoterapia e Inteligências Múltiplas:


um olhar para o desenvolvimento da criança com
84
Síndrome de Down participante do Coro Terapêutico
Tonia Gonzaga Belotti (tgonzaga_@hotmail.com)
Claudia Regina de Oliveira Zanini (mtclaudiazanini@gmail.com)
Universidade Federal de Goiás (UFG)

Problema
A Sı́ndrome de Down é uma anomalia genética que incide em uma parcela significativa da população.
A criança com Sı́ndrome de Down (CSD) apresenta várias limitações e dificuldades, sendo que estas se
manifestam no desenvolvimento motor, no cognitivo e na comunicação, em diferentes nı́veis,
principalmente no tocante à fala. Ajudar a CSD a conquistar o seu espaço na sociedade, pode estimulá-
la na satisfação de, por alguma forma, estar sendo útil, ampliando ainda mais a sua coexistência. As
crianças com essa sı́ndrome podem apresentar melhor desempenho quando aqueles que as cercam
reconhecem que elas têm as suas limitações, mas também seus potenciais e habilidades. O
musicoterapeuta, utilizando a música de diversas formas, pode estimular as funções cognitivas do ser
humano, observando suas caracterı́sticas, necessidades e potencialidades. A partir desse contexto, foram
feitos os seguintes questionamentos: o Coro Terapêutico, conduzido por um musicoterapeuta, poderia
auxiliar no desenvolvimento das inteligências múltiplas? Quais seriam as inteligências mais trabalhadas
no decorrer de um processo musicoterapêutico?
Objetivos
Compreender se a Musicoterapia, por meio do Coro Terapêutico (Zanini, 2002), poderia contribuir
para o desenvolvimento de crianças com Sı́ndrome de Down, ao valorizar toda e qualquer habilidade
apresentada por cada criança e ao tomar como direcionamento a Teoria das Inteligências Múltiplas de
Gardner (2001).
Método
A pesquisa, realizada em um Programa de Pós-Graduação em Música (Mestrado), teve caráter
qualitativo e a atuação da pesquisadora musicoterapeuta foi pautada na Fenomenologia Existencial. A
coleta de dados foi realizada através da atuação da pesquisadora principal na instituição designada como
Associação Down de Goiás (ASDOWN), sendo que os atendimentos foram realizados, inicialmente,
com um grupo de seis participantes, finalizando com quatro crianças, em um perı́odo de quatro meses,
com frequência semanal e duração de cinquenta minutos. Como instrumentos de coleta de dados
foram utilizados: fichas musicoterapêuticas, gravações audiovisuais dos atendimentos, relatórios
descritivos, observações sobre comportamentos dos participantes, entrevista com os responsáveis pelas
CSD e com profissionais que trabalhavam diretamente com algumas crianças, seja no meio terapêutico
ou no educacional. As análises de todos os dados qualitativos foram realizadas com o respaldo da revisão
teórica, que englobou a Musicoterapia, o Coro Terapêutico e as Inteligências Múltiplas.
Resultados
Constatou-se que, ao final do processo musicoterapêutico, houve a ampliação das habilidades
especı́ficas inseridas nas Inteligências Múltiplas, principalmente nas seguintes inteligências:
cinestésico-corporal, linguı́stica, musical, inter e intrapessoal.
Conclusões
O Coro Terapêutico, por meio das experiências re-criativas, das experiências receptivas e de atividades
complementares, pode estimular o desenvolvimento da Criança com Sı́ndrome de Down,
proporcionando evoluções no processo de aquisições cognitivas.
Palavras-chave
Musicoterapia, Coro Terapêutico, Sı́ndrome de Down, Inteligências Múltiplas.
Referências
Gardner, H. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001.
Zanini, C.R.O. Coro Terapêutico: um olhar do musicoterapeuta para o idoso no novo milênio. (Dissertação
de Mestrado em Música). Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2002.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 31 | May 31
SESSÃO L11
Comunicações Orais | Oral Presentations
85

SALA 3, 10h
Coordenadora da sessão | Session Chair: William Teixeira

10:00
A música e a consciência na perspectiva da neurociência
cognitiva
Rejane Pacheco Carvalho

10:30
Avaliação em diferentes contextos da performance musical
Sonia Ray

11:00
Preparação para a performance do cantor: movimento e
gestualidade
Daniele Briguente, Sonia Ray
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

A música e a consciência na perspectiva da


neurociência cognitiva
86
Rejane Pacheco Carvalho (rejane@reciclandosons.org.br)
Universidade de Brasília (UnB)
Instituto Reclicando Sons

Problema/questão
A tomada da consciência em situações de vivências musicais envolve o mecanismo de plasticidade
cerebral a partir das reações neurais produzidas pela música. A música é derivada de sinais emocionais
e nesse contexto, a emoção atua como um grande indutor dos processamentos de discriminação
inconscientes dos estados afetivos que utiliza imagens cerebrais mentais dos selfs que contribuem
subjetivamente para a formação de uma consciência social e individual. A formação da consciência por
sua vez, otimiza as respostas às condições do ambiente e aos tipos de processamento neurais dos selfs de
imagens cognitivas que induzem o raciocı́nio em nı́vel não-consciente e são representadas no cérebro
em forma de mapas e de estruturas mapeadoras neurais.
Objetivos
Realizar uma reflexão crı́tica segundo a visão de diferentes autores sobre o impacto da música na
cognição humana para a formação da consciência.
Principais contribuições
Em termos de referencial teórico a música: a) é apontada como uma caracterı́stica humana fundamental
dados os seus papéis na evolução e no desenvolvimento humanos (Pearce & Rohrmeier, 2012); b)
desencadeia o envolvimento em funções sociais e está diretamente relacionada ao cumprimento de
necessidades humanas básicas como contato e comunicação com outros seres humanos, cooperação,
coesão social e apego social (Koelsch, 2014); c) é influenciada pelo inconsciente genético assim como
ocorre com outras artes (e.g. pintura, poesia) na medida em que influenciou a estruturação inicial do
espaço social, incluindo as convenções e regras sociais (Damasio, 2011); d) é responsável por promover
o uso mais eficiente dos neurônios, (o que ocorre sempre que nos tornamos proficientes em uma
habilidade como o treino musical) (Doidge, 2012) e maior conectividade entre redes neurais (REF),
além de ativar inconscientemente a discriminação de estados afetivos por meio de representações
mentais ou imagens cerebrais; e) exerce impacto emocional por meio do mecanismo de arrastamento
rı́tmico em que uma emoção é evocada por uma música porque um poderoso ritmo externo na música
influencia algum ritmo corporal interno do ouvinte (Juslin et al., 2008).
Implicações
O processamento neural da música está intimamente interligado ao vı́nculo de informações
emocionais. A relação entre música e emoção contribui para modificações estruturais e relacionais da
cognição e da ampliação um inconsciente/consciente global e subjetivo.
Palavras-chave
Neurociência cognitiva, consciência, self, subjetividade, música
Referências
Damásio, Antónı́o R. (2011). E o cérebro criou o Homem/António R. Damásio; tradução*++Laura
Teixeira Motta - São Paulo: Companhia das Letras.
Doidge, Norman (2016). O cérebro que se transforma [recurso eletrônico] / Norman Doidge (Trad.
Ryta Vinagre]. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Record.
Pearce, M.; Rohrmeier, M. (2012). Music cognition and the cognitive sciences. Topics in cognitive
science 4, 468–484.
Snowdon, C.T., Zimmermann, E., Eckart Altenmüller, E. (2015). Music evolution and neuroscience
(Chapter 2), Editor(s): Eckart Altenmüller, Stanley Finger, François Boller, Progress in Brain
Research, Elsevier, Volume 217.
Caderno de Resumos e Programação

Avaliação em diferentes contextos da


performance musical
87
Sonia Ray (soniaraybrasil@gmail.com)
Universidade Federal de Goiás (UFG)
PPG Música UNESP e UnB

Problema/questão
O presente texto trata de aspectos da percepção na avaliação da performance musical (Ray, 2005, 2015).
A avaliação é um dos aspectos mais controversos e complexos da prática profissional PM. As
controvérsias ficam por conta das múltiplas percepções que os profissionais da área têm de como o
processo deve ocorrer e a complexidade concentra-se na amplitude de conceitos que este processo
envolve. A percepção aqui tem duas abordagens centrais que se influenciam mutuamente: o aspecto
cultural e o contexto no qual se dá a audição. Os conceitos estão diretamente relacionados aos métodos
de avaliação e sua falta de padronização mı́nima na prática avaliativa no Brasil. Visões de dois
pesquisadores brasileiros servem de base para a o inı́cio da discussão: “Música é uma construção mental
e a mente é inerentemente incorporada. O entendimento é algo composto pelas estruturas imaginárias
que surgem da nossa experiência perceptiva e que a estruturam” (Nogueira, 2009); O conhecimento
supervisor proposto por Elliot (1995), está relacionado a capacidade de monitorar, administrar, ajustar
e regular pensamentos próprios... Combina julgamentos musicais pessoais, compreensão das
obrigações ou mesmo éticas musicais de uma dada prática... (Santos & Gerling, 2013). Assim,
somando-se à essas visões aspectos do funcionamento da „recepção‟ e „julgamento‟ do som pelo
cérebro (Elliot, 1995, como citado em Santos & Gerling, 2015) o critério de avaliação da performance
musical é questionado ao longo da discussão.
Objetivos
O principal objetivo da discussão apresentada é propor uma reflexão sobre possı́veis caminhos para
ampliar a compreensão do papel do avaliador na prática de atividades de bancas, concursos e provas de
performance musical.
Principais contribuições
A abordagem proposta é conceitual e sedimentada na literatura da psicologia da performance musical,
sobretudo nos aspectos tocantes a preparação para a performance. Apresenta-se também um estudo de
caso através do qual pretende-se exemplificar a questão complexa da avaliação da performance musical
e assim contribuir para melhor compreensão desta atividade indispensável na vida profissional do
performer.
Implicações
A principal conclusão é que, ainda que se padronize os critérios de avaliação da performance musical,
inconsistências continuarão a existir, pois o principal problema está na crença que o avaliador parece
ter de que seus critérios subjetivos são mais eficientes que o critério definido por seus pares.
Palavras-chave
Avaliação na performance musical, psicologia da performance musical, pedagogia da performance
musical
Referências
Nogueira, M. (2009). O mapeamento da metáfora conceitual e o esquematismo. In: Anais do V
Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais. Goiânia: UFG.
Santos, R. A., Gerling, C. C., (2013). Cultura e memória: considerações sobre a recepção musical. In:
Anais do IX Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais. Belém: UFPA.
Ray, S. (2015). Pedagogia da Performance Musical. (Tese de Pós-doutoramento). Goiânia: UFG.
Ray, S. (2005). Os conceitos de EPM, potencial e interferência inseridos numa proposta de
mapeamento de estudos sobre performance musical. In: S. Ray (Org.), Performance musical e suas
interfaces. Goiânia: Vieira/Irokun.
Santiago, D. (2015). Vestı́gios da música no tempo: pesquisas em memória e performance musical.
In: Anais do XI Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais. Pirenópolis: UFG.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Preparação para a performance do cantor:


88 movimento e gestualidade
Daniele Briguente (cantando.voz@gmail.com)
Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Sonia Ray (soniaraybrasil@gmail.com)
Universidade Federal de Goiás (UFG)
PPG Música UNESP

Problema/questão
Este trabalho traça uma reflexão sobre o processo de preparação da performance do cantor, particularmente
no que se refere as escolhas sobre gestualidade e movimentos executados na realização da performance.
Parte-se da premissa de que o público, com base em suas memórias advindas de experiências vividas, atribui
significados a todos os movimentos e gestos do cantor. Desse modo, todos os elementos que constituem a
expressão corporal da performance vocal devem ser resultado de escolhas conscientes durante o processo
de preparação da performance, muitas vezes mediado pelo professor de canto. A metodologia foi
constituída em revisão bibliográfica na qual foram discutidos trabalhos que destacam o potencial expressivo
do corpo do cantor, bem como conceitos presentes nos escritos sobre psicologia da performance. Para
fundamentar a discussão foram considerados estudos de Clark (2002). O autor defende que o intérprete
tem a responsabilidade de dar vida à notação musical, transformando ideias musicais em ações físicas.
Davidson (1999 e 2002) que traz evidências advindas de estudos empíricos, destacando a contribuição da
expressão corporal na comunicação da mensagem musical, durante a performance. A autora afirma que há
relação entre as experiências corporais vividas pelo intérprete e suas respostas físicas à música no momento
da performance. O método de atuação para o canto de Ostwald (2005), demonstra, por sua vez, o potencial
expressivo do corpo do cantor, oferecendo approach para a integração das habilidades de cantar e atuar, bem
como para o ensino do canto. O artigo discute, inicialmente o corpo e a movimentação do intérprete,
destacando as habilidades cognitivas envolvidas na preparação e no momento a performance musical. Em
seguida, concentra-se na performance do cantor, particularmente no corpo como fonte de recursos
expressivos. Da mesma forma, destaca as intencionalidades presentes nas ações do intérprete.
Objetivos
Defender a importância do corpo do cantor como potencial expressivo a ser explorado no processo de
preparação para a performance.
Principais contribuições
Pode-se considerar que a escolha consciente dos gestos e movimentação utilizada pelo cantor, melhora
a comunicação da mensagem contida na estrutura musical, bem como na estrutura verbal das obras
apresentadas. Além disso, oferece fundamentação teórica para o ensino do canto.
Implicações
A discussão apresenta evidências de que a abordagem teórica advinda da psicologia da performance é
imprescindível à preparação da performance vocal, devendo ser considerada, tanto por intérpretes
como por professores de canto.
Palavras-chave
Psicologia da performance musical, preparação para performance musical, performance vocal,
expressão corporal
Referências
Clarke, E. (2002). Understanding the psychology of performance. In: J. Rink (Ed.). Musical
performance: a guide to understanding (pp. 59-72). New York: Cambridge University Press.
Davidson, J. (2002). Communicating with the body in performance. In: J. Rink (Ed.). Musical
performance: a guide to understanding (pp. 144-152). New York: Cambridge University Press.
Davidson, J. (1999). O Corpo na interpretação musical. In: Cipem (N. 1, pp. 79-89). Porto.
Recuperado em 18 setembro, 2016, de http://cipem.files.wordpress.com/2007/03/artigo-7.pdf
Ostwald, D. F. (2005). Acting for singers: creating believable singing characters. New York: Oxford
University Press.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 31 | May 31
SESSÃO C3
Comunicações Orais | Oral Presentations
89

SALA 5, 10h
Coordenador da sessão | Session Chair: Rael Toffolo

10:00
Estudo da literatura metacognitiva musical na demência
semântica
Cybelle Veiga Loureiro

10:10
Tecnologias digitais e suas conexões com o aprendizado e a
cognição musical de adultos no canto coral
Sandra Regina Cielavin, Adriana do Nascimento Araújo Mendes

10:20
Educação musical inclusiva: relato de experiência em uma turma
de ensino coletivo de violino em Belém-Pará
Aline da Silva Pedrosa, Jessica Caroline Pantoja Peniche, Dione Colares de
Souza

10:30
Categorização e esquemas de imagem em música:
críticas às formas de se realizar a pesquisa experimental
Nilo Rafael Baptista de Mello

10:40
Musicoterapia no tratamento de bebês prematuros:
revisão bibliográfica
Rhainara Lima Celestino Ferreira

10:50
Tecnologias na educação musical: aplicativos e softwares como
ferramenta de auxílio na aprendizagem musical
Leonardo Gomes Martins

11:00
Tecnologia musical e Transtorno do Espectro Autista:
possibilidades e potencialidades na aula de música
Camila Fernandes Figueiredo, Valéria Lüders, Marlon Vidal da Silva

11:10
Desenvolvimento da criatividade musical: propostas didáticas e
concepções de alunos de licenciatura em música
Aline Paula dos Santos, Rosane Cardoso de Araújo
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Estudo da literatura metacognitiva musical


90 na demência semântica
Cybelle Veiga Loureiro (cybelleveigaloureiro@gmail.com)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Background
Estudos na demência semântica (DS) tem demostrando diferentes aspectos dos processos que refletem
os déficits e também as habilidades cognitivas dessa população. Pesquisas nessa área tem nos motivado
a buscar por um aprofundamento no estudo da literatura e investigar também os vários aspectos
cognitivos musicais preservados em pessoas com DS (Loureiro. C 2018). O conceito de metacognição
compreende uma diversidade de processos envolvendo autoconhecimento, automonitoramento e
autorregulação que contribuem para o nosso comportamento adaptativo em ambientes complexos e
mutáveis (Eslinger.J, Dennis.K, Moore.P, Antani.S, Hauck.R, Grossman.M, 2005). Esses processos são
armazenados na memória de longo prazo e podem ser recuperados quando alguém executa uma tarefa
(Flavell 1976; Lai, 2011). A DS é uma doença neurodegenerativa, caracterizada por perda progressiva
de memória semântica, tanto nos aspectos verbais como nos não verbais prejudicando vários aspectos
de seu julgamento interior da realidade.
Objetivos
Realizar uma revisão narrativa buscando identificar nos principais portais eletrônicos o "estado da arte"
da literatura em metacognição musical e demência semântica. Buscar por pesquisas especificas em
metacognição musical na demência semântica.
Método
Através do uso das principais bases de dados eletrônicas (Medline, Cochrane, Lilacs, SciElo e Google
Acadêmico) buscamos identificar estudos especı́ficos relacionados com modelos metacognitivos e
metacognição musical que estivessem correlacionados com demência semântica.
Resultados
Foram identificados um numero escasso de estudos em metacognição na DS e metacognição musical,
mas se observamos que se trata de uma área de estudo em grande desenvolvimento e especificidade
esses trabalhos são os pioneiros de muitos. Nenhum estudo especifico correlacionado metacognição
musical à DS foi identificado.
Palavras-chave
Metacognição, demência semântica, semântica musical
Referências
Eslinger, P. J., Dennis, K., Moore, P., Antani, S., Hauck, R., & Grossman, M. (2005). Metacognitive
deficits in frontotemporal dementia. Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, 76(12),
1630–1635.
Flavell, J. H. (1976). Metacognitive aspects of problem solving. The Nature of Intelligence, 231–235.
Lai, E. R. (2011). Collaboration: A literature review. Pearson Research Report, 2, 1–48.
Loureiro, C. M. V. (2018). Memória Musical Preservada na Demência Semântica: Um Estudo
Preliminar. In XXVIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música
(pp. 1–7).
Caderno de Resumos e Programação

Tecnologias digitais e suas conexões com o aprendizado


e a cognição musical de adultos no canto coral 91
Sandra Regina Cielavin (cielavsandra@gmail.com)
Adriana N. A. Mendes (aamend65@gmail.com)
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Problema/questão
A prática coral permite a aprendizagem de diferentes conceitos musicais. Do ponto de vista da
educação musical os participantes podem ser recebidos sem teste vocal. Indivíduos adultos sem
vivências musicais prévias podem apresentar diferentes dificuldades que abrangem desde os aspectos
rítmicos até a habilidade de manutenção de sua linha vocal. Outra questão está relacionada ao
hipertexto, que é um conjunto de informações apresentadas em forma de textos, sons e imagens.
Pessoas nascidas na era digital tendem a desenvolver mentes hipertexto, onde as estruturas cognitivas
são paralelas, e não sequenciais (Prensky, 2001). Por outro lado, o fenômeno da neuroplasticidade é a
reorganização e a adaptação do cérebro e pode ocorrer em crianças e adultos.
Objetivos
Investigar tecnologias digitais que sirvam de suporte ao regente, que contribuam com a sua formação
e com o desenvolvimento da prática coral de adultos na perspectiva da educação musical. Fazer um
levantamento e propor a utilização de tecnologias digitais com foco na prática coral.
Método
Um estudo de métodos mistos através de uma pesquisa-ação realizada com 18 indivíduos de um coro
adulto no período de 3 meses. No desenvolvimento do estudo foi realizada a instalação de softwares no
laboratório de informática, a aplicação de atividades com tecnologias digitais nos ensaios presenciais e
no ambiente virtual e foi efetuado o registro de dados através de um diário de campo e da aplicação de
um questionário em dois momentos: no início e no final da coleta de dados. O referencial teórico de
utilização das tecnologias digitais foi o modelo TPACK (Mishra & Koehler 2006).
Resultados
Os questionários finais apontaram que após o uso das tecnologias digitais, os integrantes ampliaram a
compreensão de que o coral, além de ser um ambiente de interação, pode ser um espaço de
aprendizagem musical. No item relacionado a diferentes dificuldades musicais, os integrantes indicaram
que após o estudo, entenderam a importância do desenvolvimento da percepção musical e da
colaboração com o grupo.
Conclusões
O uso de softwares musicais pode melhorar a percepção musical, facilitar a aprendizagem de novas
canções, bem como promover a reflexão dos integrantes na prática coral. No processo de
aprendizagem musical do canto coral, jovens com mente hipertexto podem contribuir com
participantes adultos mais velhos que não possuam familiaridade com tecnologias digitais. Por outro
lado, os adultos têm a seu favor o fenômeno da neuroplasticidade.
Palavras-chave
Cognição musical, canto coral, tecnologia da informação e comunicação, conhecimento e
aprendizagem.
Referências
Bauer, W. I. (2014). Music Learning Today: Digital Pedagogy, Performing and Responding Music. New
York: Oxford University Press.
Leman, M. (2008). Embodied music cognition and mediation technology. Mit Press.
Mishra, P., & Koehler, M. J. (2006). Technological pedagogical content knowledge: A framework
for teacher knowledge. Teachers college record, v. 108, n. 6, p. 1017.
Prensky, M. (2001). Digital Natives, Digital Immigrants, Part II: Do They Really Think Differently?
On the Horizon, vol. 9, n. 6. Recuperado de: http://matt-
koehler.com/OtherPages/Courses/CEP_995_SP07/Readings/Prensky2001b.pdf
Sloboda, J.A. (2008). A mente musical: psicologia cognitiva da música. (B. Ilari & R. Ilari, Trad.)
Londrina: Eduel.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Educação musical inclusiva:


relato de experiência em uma turma de
92 ensino coletivo de violino em Belém-Pará
Aline da Silva Pedrosa (alinespedrosa@gmail.com)
Jessica Caroline Pantoja Peniche (jessicacarolinepp@gmail.com)
Dione Colares de Souza (dione_colares@hotmail.com)
Universidade do Estado do Pará (UEPA)

Problema/questão
Este resumo relata a vivência em um projeto de extensão de uma escola pública de ensino especializado
em música na cidade de Belém/Pará, durante o período de Estágio Curricular. A turma escolhida para
esta comunicação possui dez alunos, sendo uma aluna com deficiência visual. Constatou-se que a referida
aluna, por se tratar de pessoa que adquiriu a cegueira ao longo da vida e ainda se encontra em processo
de alfabetização no código Braile, não pôde ser introduzida na musicografia Braile durante o período
observado. A linguagem musical aplicada ao processo de ensino-aprendizagem do violino, pautou-se
nos sentidos da audição e do tato, bem como na movimentação corporal elaborada a partir da apreciação
sonora. “A paisagem sonora é uma composição indeterminada, sobre a qual não temos controle, ou seremos nós,
os seu compositores e executantes encarregados de dar-lhe forma e beleza?” (Schafer, 2001, p.18).
Objetivos
Investigou-se o processo de ensino musical inclusivo e os métodos utilizados para o desenvolvimento
do aprendizado de uma aluna com deficiência visual, integrada a uma classe de alunos sem deficiência,
destacando as dificuldades enfrentadas neste processo e o desenvolvimento da aluna no instrumento.
Método
O presente relato baseou-se na coleta de dados em diário de bordo e elaboração de relatórios contendo
anotações descritivas do processo ativo de ensino-aprendizagem do violino durante o período
observado em estágio.
Resultados
Nas atividades desenvolvidas em classe, de ensino coletivo do violino, observaram-se possibilidades de
desenvolver repertórios relacionados à motivação dos alunos para tornar dinâmico o processo
educacional. Destarte, as ações de ensino-aprendizagem pautaram-se na ludicidade, com ênfase
também nos estímulos sensoriais da audição e do tato, o que permitiu a integração e a aprendizagem
de todos em sala.
Conclusões
Pôde-se intuir que o processo criativo é fundamental no processo de inclusão, com adaptações
pedagógicas voltadas ao ensino que envolve pessoas com deficiência visual, além de uma disponibilidade
de romper fronteiras em sala de aula (Tudissaki, 2015, p. 59).
A partir deste relato percebeu-se que existem construções e reconstruções de um mesmo ambiente
sonoro, a partir da dinâmica e do olhar do educador frente às experiências com alunos que possuem ou
não algum tipo de deficiência.
Palavras-chave
Educação Musical; Inclusão; Deficiência Visual; Violino.
Referências
Fonterrada, M. (2008). De tramas e fios – Um ensaio sobre a música e educação. 2 ed. São Paulo: Editora
Unesp.
Louro, V S. (2018). Educação musical e deficiência: quebrando os preconceitos. Recuperado em 18 de
dezembro, 2018 de https://musicaeinclusao.files.wordpress.com/2016/06/louro-viviane-
mc3basica-e-inclusc3a3o_uma-breve-reflexc3a3o-sobre-processo-pedagc3b3gico-musical-e-a-
pessoa-com-deficic3aancia.pdf
Louro, V S. (2012). Fundamentos da aprendizagem musical da pessoa com deficiência. 1ª edição. São
Paulo: Editora Som.
Schafer, M. (2001). A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual
estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. São Paulo: Editora
Unesp.
Suzuki, S. (2008). Educação é amor: método clássico de educação do talento. Santa Maria: Palloti.
Tudissaki, S. (2015). Ensino de música para pessoas com deficiência visual. São Paulo: Editora Cultura
Acadêmica.
Caderno de Resumos e Programação

Categorização e esquemas de imagem em música:


críticas às formas de se realizar a pesquisa experimental 93
Nilo Rafael Baptista de Mello (nilomell@gmail.com)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Problema
A problemática que versa sobre o modo de apreensão do fluxo musical pelo ouvinte suscita uma série
de estudos no âmbito da pesquisa em cognição incorporada. O caráter abstrato da música enseja
questionamentos acerca do modo de apreensão desse fluxo pelos ouvintes, por meio da utilização de
sentidos desenvolvidos pelos seres humanos através da atuação corporal reiterada destes na percepção
e entendimento de mundo. Não é senão através da pesquisa que busca entender os mecanismos e
ferramentas utilizados pela mente, para apreender o fluxo musical, conferindo-lhe sentido, que se pode
compreender com maior exatidão a forma por meio da qual entendemos música. O presente artigo visa
discutir a forma de aplicação do protocolo de experimento que objetivou investigar os modos de
entendimento do fluxo musical, tendo por base a produção de músicas inéditas, com sua audição e
análise por ouvintes, em sistemática que buscou perscrutar de que forma se dá a categorização do fluxo
musical (Brower, 2000; Zbikowsky, 2002) nestes últimos. Partindo-se da ideia de que na base de toda
categorização se encontram os esquemas de imagem (Johnson, 1987), entendidos estes como
arquétipos do entendimento humano que congregam sensações reiteradamente experimentadas pelo
indivı́duo, o protocolo de pesquisa desenvolvido buscou acessar o entendimento imediato dos ouvintes
acerca das músicas ouvidas, buscando, tanto quanto possı́vel, atingir seu entendimento em um nı́vel
inconsciente. Nesse sentido, as descrições dos participantes acerca do fluxo musical escutado
determinava a aproximação ou afastamento dos esquemas de imagem mais comumente utilizados na
construção de entendimento do fluxo musical. Finda a aplicação do protocolo e analisados os dados
obtidos, surgiram questões acerca do modus operandi conforme o qual se deu todo o experimento,
como: a) até que ponto o conhecimento prévio das perguntas do questionário aplicado pode influir na
resposta do ouvinte?; b) em que medida a ordem de apresentação das músicas pode determinar uma
maior ou menor predisposição (motivação) do ouvinte à realizar o experimento?; c) até que ponto o
recorte de ouvintes músicos representa com fidelidade o gênero mais abrangente “ouvintes”? Aos
discutir essas questões, o presente artigo contribui para o aperfeiçoamento da realização da pesquisa
experimental, com implicações no modo de desenvolvimento e aplicação do protocolo desenvolvido
em futura pesquisa mais abrangente, na problemática da construção do entendimento musical
Objetivos
O presente trabalho visa discutir a forma de aplicação do protocolo de pesquisa experimental.
Principais contribuições
Repensar a maneira de aplicação de protocolo de pesquisa cognitiva experimental.
Implicações
Modificação e adequação do protocolo de pesquisa experimental.
Palavras-chave
Leitura musical, metacognição, sistema simbólico, educação musical
Referências
Brower, Candace. (2000). A cognitive theory of musical meaning. Journal of Music Theory, Vol. 44, No.
2, pp. 323-379, Duke University Press, Yale University Department of Music.
Johnson, Mark. (1987). The Body in the Mind: The Bodily Basis of Meaning, Imagination, and
Reason. Chicago, IL: The University of Chicago Press.
Zbikowski, Lawrence M. (2002). Conceptualizing music: cognitive structure, theory, and analysis.
Oxford, NY: The Oxford University Press
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Musicoterapia no tratamento de bebês prematuros:


revisão bibliográfica
94
Rhainara Lima Celestino Ferreira (rhainara_lc@hotmail.com)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Problema/questão
Muito tem se estudado sobre como auxiliar e intervir nos problemas de desenvolvimento de bebês
prematuros tentando frear a alta taxa de mortalidade entre eles. A Musicoterapia, que consegue unir arte
e saúde, tem realizado esforço em pesquisa longitudinal no estudo dos efeitos da utilização desta terapia
específica nessa população (Loureiro, Freitas, 2018; Pereira, Silveira, Cerqueira, Loureiro, 2014). Este
trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado em andamento que pretende validar um protocolo de
avaliação comportamental de bebês prematuros frente a estímulos sonoros. A questão apresentada
busca, através de uma revisão bibliográfica sistemática, identificar pesquisas em Musicoterapia na
prematuridade que sirvam de referência teórica e metodológica para o trabalho.
Objetivo
Tem-se como objetivo buscar na literatura e portais de busca artigos que contemplem a utilização da
Musicoterapia dentro da neonatologia com bebês nascidos antes da 37ª semana de gestação.
Método
Para a busca dos artigos foram utilizados os portais de busca: Portal CAPES; MEDLINE; Scopus;
SciELO; PubMed e Cochrane. Também se pesquisou na Revista Brasileira de Musicoterapia. Foram
utilizados os descritores: “Musicoterapia”; “bebê prematuro”; “music therapy”; “preterm baby”;
“premature baby”. Foram incluídos artigos escritos em português, inglês e/ou espanhol que
relacionassem o uso especifico da Musicoterapia com bebês prematuros. Artigos não disponíveis para
leitura gratuita e que não apresentassem resultados foram excluídos.
Resultados
Foram identificados 560 artigos e, depois de diversas filtragens, foram selecionados 21 artigos
relevantes para a revisão. Estes artigos apresentam como resultados do uso da Musicoterapia a
diminuição do tempo de internação, melhora da sucção, diminuição do estresse e ansiedade e melhorias
em aspectos atencionais. Além disso, os estudos apontam que a Musicoterapia pode estimular o
desenvolvimento da atenção, do aprendizado da linguagem, das funções executivas e influenciar
estados fisiológicos como o sono-vigília.
Conclusões
Através da revisão realizada, pôde-se notar que a Musicoterapia pode ser uma grande aliada no processo
de desenvolvimento do bebê prematuro hospitalizado e pode estimular o desenvolvimento saudável
tanto de funções neurológicas e cognitivas como de funções sensório-motoras, além de influenciar no
sono, na ansiedade e no estresse. Apesar disso, pouco foi encontrado sobre protocolos e avaliações
musicoterapêuticas que pudessem auxiliar no monitoramento e acompanhamento do desenvolvimento
do bebê ao longo do processo. Os resultados apontam que ainda há muitas pesquisas a serem realizadas
neste campo, mas que a Musicoterapia tem efeitos positivos no tratamento de neonatos prematuros.
Palavras-chave
Musicoterapia, bebês prematuros, revisão bibliográfica.
Referências
Freitas, M. R., & Loureiro, C. M. V. (2018, julho). Musicoterapia e protocolo de avaliação no
atendimento à mãe e bebê de risco através de videogravações. Anais da Reunião Anual da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Maceió, AL, Brasil, 70.
Pereira, M. N. ; Silveira, W. R. M. ; Cerqueira, P. M. ; Loureiro, c. M. V. (2014) . Respostas
Comportamentais do Prematuro de Risco à Musicoterapia. In: Sofia Cristina Dreher, Graziela
Carla Trindade Mayer. (Org.) A Clínica na Musicoterapia: Avanços e Perspectivas. (1ed., v. 1) (p.
131-139) São Leopoldo - RGS: Faculdades EST.
Caderno de Resumos e Programação

Tecnologias na educação musical: aplicativos e softwares


como ferramenta de auxílio na aprendizagem musical 95
Leonardo Gomes Martins (leonardo.professor.musica@gmail.com)
Universidade de Brasília (UnB)

Questão
Esta pesquisa é fruto dos primeiros diálogos com a literatura relacionada às tecnologias musicais,
dispositivos móveis, softwares, aplicativos musicais e sua utilização na educação musical. A temática
emergiu nas reflexões e provocações durante as aulas do mestrado acadêmico em andamento na
Universidade de Brasília.
Objetivos
Este estudo tem a finalidade de: I) Apresentar a listagem de publicações produzidas na literatura
brasileira com a temática proposta. II) Analisar as produções revelando objetos e enfoques do material
inventariado.
Método
A metodologia utilizada foi a pesquisa catalográfica com enfoque qualitativo, sendo realizada buscas
em bancos de dados da CAPES, BDBTD e ABEM, com recorte temporal entre 2007 e 2018.
A questão que norteou essa busca foi: “O que foi estudado no campo acerca do uso de softwares e
aplicativos na educação musical?” Os descritores utilizados foram:
-“Aplicativos musicais”.
-“Softwares na educação musical”.
-“Dispositivos móveis” AND “educação musical”.
-“Tecnologias musicais”.
Principais contribuições
No Banco de teses e dissertações da CAPES e BDTD, foram encontrados oito trabalhos. Dentre estes
é importante destacar alguns dados:
1.Um trabalho trata do uso das tecnologias na educação a distância, tais como planejamento e
implementação de ambiente virtual de aprendizagem (SOUZA, 2017).
2.Dois trabalhos abordam a questão da aprendizagem da linguagem musical utilizando softwares
(ARAÚJO, 2009; SALVADORI, 2016) e um trabalho aborda a melhora da performance utilizando
aplicativos (COTA ,2016).
3.Quatro trabalhos tratam da tecnologia como ferramenta da atuação docente e discente. Rosas (2013)
elenca ferramentas digitais gratuitas que o docente pode utilizar para as suas aulas. Domenciano (2015)
aborda experiências na UFSCAR, que mostram que os alunos e docentes têm utilizado as tecnologias
móveis de forma adaptada, não explorando o seu potencial e por último, Santos Júnior (2017) buscou
investigar como é a utilização das TICs no planejamento da aula de Música.
Implicações
A pesquisa mostra que o campo é promissor aos pesquisadores na área de tecnologia aplicada à
educação musical.
Existe uma escassez de material na literatura relacionada aos dispositivos móveis, provavelmente, isso
se dá pelo fato desses dispositivos serem “novos” aos pesquisadores. Importante destacar que a pesquisa
foi realizada apenas em banco de dados em língua portuguesa.
Palavras-chave
Tecnologia musical; Softwares musicais; Aplicativos musicais.
Referências
Araújo, R. R. (2009). Informática educativa e educação musical: possibilidades pedagógicas do software finale
no ensino do solfejo. Universidade de Brasília.
Cota, D. M. (2016). Aplicativos musicais: uma reflexão sobre a inovação da educação musical. Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Rosas, F. W. (2013). Competências para o contexto tecnológico-musical: um foco nas tecnologias digitais
online para a educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Santos Júnior, J. B. (2017). A utilização das TIC no planejamento da aula de música dos egressos do curso
de licenciatura em Música a distância da UnB. Universidade de Brasília.
Souza, T. T. (2017). Laboratório Online de Música e Tecnologia: Planejando e Implementando um MOOC
para o Ensino de Música Online. Universidade de Brasília.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Tecnologia musical e transtorno do espectro autista:


96 possibilidades e potencialidades na aula de música
Camila Fernandes Figueiredo (camilapiano@gmail.com)
Valéria Lüders (valeria.luders@gmail.com)
Marlon Vidal da Silva (marlon.vidal@hotmail.com.br)
Universidade Federal do Paraná (FPR)

Problema
A literatura aponta que os computadores podem auxiliar a pessoa com transtorno do espectro autista
(TEA) em suas dificuldades de interação social, habilitando novas formas de comunicação e
aprendizagem. Este estudo em andamento, tem como fundamentação de sua prática a teoria histórico-
cultural de Vigotski e a pedagogia da interação reflexiva de Addessi (2015). Neste sentido, a
constituição do sujeito é determinada por fatores socioculturais e seu desenvolvimento e aprendizagem
estão relacionados ao acesso da cultura mediada pelo outro. A interação reflexiva, presente na interação
da criança com a plataforma miror-impro estimula a criatividade e a expressividade musical favorecendo
os processos de aprendizagem musical. Optou-se pela metodologia qualitativa, com abordagem em
estudo de caso, que segundo Creswel (2014) é uma abordagem na qual o investigador explora um caso
ou múltiplos casos ao longo do tempo, por meio da coleta de dados detalhada em profundidade
envolvendo múltiplas fontes de informação e relata uma descrição do caso e temas do caso.
Objetivos
Compreender de que forma a tecnologia musical, neste caso a plataforma miror-impro pode auxiliar o
estudante com TEA na aula de música na perspectiva de Vigotski e Addessi.
Principais contribuições
Com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência em vigor, faz- se necessário mais estudos
científicos na área das deficiências e da aprendizagem musical.
De acordo com Solomon (2011), "a tecnologia ajuda a realizar as potencialidades da criança com TEA
como seres humanos, com ricas subjetividades, intenções comunicativas, habilidades: ajuda a construir
formas diferentes de ser” (p.13).
Cada vez mais cedo as crianças começam a interagir com a tecnologia por meio de celulares, tablets,
formando seu cotidiano musical. Esta vivência tecnológica contribui com um resultado satisfatório.
Considerando a perspectiva pedagógica, espera-se que este estudo possa auxiliar os professores de
música que atuam em contextos inclusivos.
Implicações
A plataforma miror-impro é um sistema musical interativo reflexivo (SMIR). Neste sistema, o usuário
pode interagir com uma cópia virtual de si próprio e uma resposta no mesmo estilo que o usuário tocou
anteriormente é produzida. O objetivo deste software é ajudar a criança a improvisar com sons,
educando e reforçando suas habilidades de percepção auditiva e criativas. Ferrari e Addessi (2016)
elencam as potencialidades de se utilizar o sistema interativo reflexivo na inclusão.
Palavras-chave
Tecnologia musical, autismo, aula de música
Referências
Creswell, J.W. (2014). Investigação qualitativa e projeto de pesquisa: escolhendo entre cinco abordagens. (trad.
Sandra Mallmann da Rosa). 3. ed. Porto Alegre: Penso.
Ferrari, L., Addessi, A.R. (2016). Suonando con il miror-impro potenzialità incusive nei sistemi
musicali interattivi riflessivi. In E. Emili (ed.) L'aula possibile. Libri Liberi: Firenze.
Solomon, O. (2011). The uses of technology for and with children with autism spectrum disorders. In:
L. Abate (org.) Handbook of technology in psychology, psychiatry and neurology: theory, research, and
practice. Nova Science Publishers: New York.
Vigotsky, L.S. (2009). A construção do pensamento e da linguagem. (Bezerra, P. trad.) (2a ed.). São Paulo,
Martins Fontes.
Caderno de Resumos e Programação

Desenvolvimento da criatividade musical:


propostas didáticas e concepções de alunos de
97
licenciatura em música
Aline Paula dos Santos (alipaula.st@gmail.com)
Rosane Cardoso de Araújo (rosane_caraujo@yahoo.com.br)
Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Problema/questão
Na literatura há inúmeras definições para a criatividade, mas, segundo Sternberg (2008) muitos
investigadores a definem como o processo de produzir algo original e de valor. Para este autor, no
entanto, existem diversos enfoques para tratar da criatividade, como o enfoque Cognitivo,
Psicométrico, Histórico/social, entre outros. Portanto muito se fala em criatividade, seus processos, suas
características e sua importância, mas como desenvolvê-la no contexto da educação musical? Barret
(2000) destaca que a criatividade musical não é território apenas dos prodigiosamente dotados e não é
evidenciada unicamente nos processos generativos de composição e improvisação. Neste sentido o
foco deste estudo está centrado nas perspectivas de licenciandos em música sobre as possibilidades do
desenvolvimento da criatividade musical.
Objetivos
Investigar as possibilidades de desenvolvimento da criatividade musical, sob a perspectiva dos
licenciandos em música.
Método
Para a realização desta pesquisa foi utilizado como método o estudo de levantamento (ou survey). Foi
elaborado um questionário com questões fechadas, de múltipla escolha, dependentes e abertas. O
questionário foi testado em um estudo piloto para análise da confiabilidade e coerência interna das
questões. Após o estudo piloto o questionário foi aplicado para os alunos de licenciatura em música que
frequentam diferentes períodos. Por fim, os dados foram quantificados por meio do programa Excel e
também por meio de uma análise léxica para organização de categorias de respostas sobre criatividade
musical.
Resultados
Participaram deste estudo 20 estudantes com faixa etária entre 18 e 25 anos de idade, que cursavam
diferentes períodos do curso de Música (licenciatura). Nas questões acerca da criatividade musical,
95% dos estudantes acreditavam ser possível desenvolver a criatividade do aluno de música; no geral, a
improvisação e a composição foram bastante citadas, no entanto, muitas das respostas partiram de uma
perspectiva mais ampla, explorando questões sobre o uso da criatividade como forma de proporcionar
maior envolvimento do aluno com a música, gerando emoção e motivação. Ao serem questionados
sobre atividades que poderiam desenvolver a criatividade os participantes trouxeram a improvisação e
a composição novamente, contudo, de maneiras diversificadas, através de atividades rítmicas, desenhos
melódicos, jogos da memória, mapas sonoros, entre outros. Alguns licenciandos apontaram ainda a
possibilidade do desenvolvimento criativo musical em atividades de execução de repertórios.
Conclusões
Os estudantes participantes deste estudo possuíam, em sua maioria, uma concepção clara sobre a
possibilidade do desenvolvimento da criatividade musical, seguindo em direção às indicações de Barret
(2000) e Sternberg (2008). Eles souberam indicar inúmeras atividades que, em suas opiniões,
proporcionariam o desenvolvimento criativo musical dos alunos, e se mostraram atentos ao uso da
criatividade nas aulas de música e ao potencial do professor para motivar e propiciar atividades criativas.
Palavras-chave
Criatividade, Criatividade Musical, Educação Musical
Referências
Barrett, M. (2000). O Conto de um Elefante: Explorando o Quê, o Quando, o Onde, o Como, e o
Porquê da criatividade. Música, Psicologia e Educação, N°2, 31-46. Porto: CIPEM.
Sternberg, R. (2008). Psicologia Cognitiva (4a ed.). Porto Alegre: Artmed.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

MAIO 31 | May 31
98
SESSÃO L12
Comunicações Orais | Oral Presentations
SALA 1, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair: Marcos Nogueira

14:00
O ensino instrumental e a performance:
aspectos para a aquisição de habilidades musicais
Maria Isabel Veiga

14:30
Indeterminação musical e gesto:
Processos criativos na construção da performance
Tatiana Dumas Macedo

15:00
Estudo n. 1 para violão de Camargo Guarnieri: soluções de um
compositor não violonista para os limites polifônicos impostos
pelo instrumento
Marcelo Fernandes Pereira
Caderno de Resumos e Programação

O ensino instrumental e a performance:


aspectos para a aquisição de habilidades musicais
99
Maria Isabel Veiga (mariaisabel_veiga2006@hotmail.com)
Universidade Federal do Pará (UFPA)

Problema/questão
A pesquisa tem como base as etapas de performance de acordo com os Elementos da Performance
Musical – EPM apresentados por Sonia Ray (2005), onde divide o estudo da performance em seis
etapas: 1) Conhecimento do conteúdo; 2) Aspectos técnicos; 3) Aspectos Anato-Fisiológicos; 4)
Aspectos Psicológicos; 5) Aspectos Neurológicos; 6) Musicalidade e Expressividade.
A pesquisa é norteada pela seguinte pergunta: De que forma podemos preparar o estudante de música
para uma boa performance no palco?
Objetivos
Este trabalho propõe como objetivo geral investigar, segundo Swanwick (2014), Sloboda (2008) e
Sonia Ray (2005), como os estudantes de instrumento podem ser preparados para alcançarem um nı́vel
satisfatório na performance.
A partir deste objetivo geral, pretende-se descrever, baseados em registros bibliográficos, o trabalho
realizado para o desenvolvimento de um instrumentista para a performance e identificar meios que
adotem habilidades que trabalhem o controle corpo e mente.
Método
Foi utilizada a técnica de levantamento de dados aplicados em questionários com estudantes e
professores do Conservatório Carlos Gomes em Belém do Pará nos cursos técnico/bacharelado.
Nos dados dos alunos 16 responderam o questionário com 16 perguntas, sendo 9 com justificativas.
Nos dados dos professores, 14 responderam o questionário com 9 perguntas sendo 7 perguntas
justificadas.
Resultados
A pesquisa pôde contemplar os objetivos propostos e se estendeu com outras considerações, como
instigar a reflexão da importância do planejamento no estudo como o auto ensino e de forma
consciente.
Em relação aos alunos, foi possı́vel observar dois momentos importantes, antes e depois da aplicação.
Refletindo em mudanças de qualidade de estudo, é possı́vel observar na oitava questão sobre as formas
de preparação antes da apresentação 22% responderam que importa o estudo, a concentração e o
relaxamento dialogando com os aspectos neurológicos de Ray trazendo o equilı́brio emocional para a
construção.
Com os professores pôde constatar o uso da metodologia tradicional a técnicas avançadas, conscientes
ou não, que objetivam a qualidade de estudo e controle emocional no palco. Na sexta questão,
perguntados se faziam algum exercı́cio especı́fico para a pré-apresentação 43% acreditam que o ensaio
é o recurso mais utilizado, porém há uma crescente com 29% dando prioridade nos exercı́cios de
alongamento e respiração, elementos dos aspectos músculos-esqueléticos.
Conclusões
A pesquisa trouxe a reflexão das práticas instrumentais visando o fazer artı́stico e o bem estar. Permitiu
refletir sobre a formação do professor, influência e transmissão e a qualidade de estudo consciente dos
alunos visando a performance.
Palavras-chave
Performance, Habilidades musicais, Ensino Instrumental
Referências
Ray, S. (2005). Os conceitos de EPM, potencial e interferência inseridos numa proposta de
mapeamento de estudos sobre performance musical. In: Ray (org.). Performance musical e suas
interfaces. Goiânia: Editora Vieira, p.39-64.
Sloboda, John. (2008). A mente musical: a psicologia cognitiva da música. (Tradução Beatriz Ilari e
Rodolfo Ilari). Londrina: EDUEL.
Swanwick, Keith. (2014). Música, mente e educação. (Tradução Marcell Silva Steuernagel). 1a edição.
Belo Horizonte. Autentica Editora.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Indeterminação musical e gesto:


100 Processos criativos na construção da performance
Tatiana Dumas Macedo (tatianadumas@gmail.com)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Problema/questão
A maneira como o intérprete estrutura sua performance, quais elementos busca salientar para expressar o
que percebeu e as estratégias para a realização sonora de seus projetos refletem o modo como escuta a
música e determina sua performance (Mannis, 2012). A questão de fundo da interpretação do performer de
música está, pois, na constituição das imagens sonoras que produz, no reconhecimento de um “gesto”
metafórico com o qual idealiza a música e na determinação do gesto musical com o qual a tornará
perceptı́vel ao público, dentro de uma rede de interações que conferem algum tipo de estrutura à
correlação desses gestos (Hatten, 2004; Godøy & Leman, 2010). A tensão entre essas duas dimensões
gestuais é exacerbada em obras musicais de caráter “aberto”, pois, em obras com elevado ı́ndice de
indeterminação, não há uma relação direta entre notação e realização sonora. Esta situação suscita uma
atuação mais “livre” do intérprete, dada a sua interação com os objetos indeterminados, que constituirão
o fluxo musical, e com o acaso, que relacionará às suas estratégias sonoras e pretensões expressivas. Este
quadro enfatiza a relevância do intérprete contemporâneo na elaboração de performances comprometidas
com um resultado sonoro condizente com as representações de eventos musicais e instruções do
compositor.
Objetivos
Este estudo tem como objetivo problematizar situações contemporâneas de performance que ainda
vêm desafiando a pesquisa acadêmica em performance musical, sobretudo relacionadas aos processos
cognitivos e, em particular, ao gesto do performer e às condições gestuais que determinam a realização
do repertório acadêmico contemporâneo para piano.
Principais contribuições
Os desafios postos pelo repertório contemporâneo, que avivam o processo de aquisição das
competências interpretativas, enfatizados nesta pesquisa, contribuem sobremaneira para a
discussão da pedagogia da performance musical. Isto implica novos aportes teóricos e
metodológicos para o reconhecimento do papel do gesto musical e da competência interpretativa
do performer contemporâneo diante do indeterminado, diferentes daqueles para os quais a
formação tradicional preparou este intérprete.
Implicações
Ao adquirir uma habilidade, o intérprete tende a recordar as instruções e executá-las para recuperar as
informações fornecidas, realizando conexões entre sentidos experimentados em domı́nios diversos. O
desafio, diante de um repertório contemporâneo que não se insere na perspectiva de uma tradição
interpretativa, é desvelar os procedimentos que resultarão na obtenção de instruções e intenções ocultas
na partitura, de modo que o intérprete possa adquirir a capacidade de reconhecê-las e de aplicá-las à
construção de sua interpretação.
Palavras-chave
Música contemporânea brasileira, interpretação musical, construção interpretativa, indeterminação
musical, gesto
Referências
Godøy, R. I., & Leman, M. (2010). Why study musical gesture? In: R. I. Godøy, & M. Leman,
Musical gestures; sound, movement, and meaning (pp. 3-11). New York: Routledge.
Hatten, R. S. (2004). Interpreting musical gestures, topics, and tropes: Mozart, Beethoven, Schubert. (R. S.
Hatten, Ed.) Bloomington: Indiana University Press.
Mannis, J. A. (2012). Processo criativo: do material à concretização, compreendendo interpretação-
performance. Teoria crítica e música na atualidade (Série Simpósio Internacional de Músicologia da
UFRJ), 2, 231-242.
Caderno de Resumos e Programação

Estudo n. 1 para violão de Camargo Guarnieri:


soluções de um compositor não violonista para os limites
101
polifônicos impostos pelo instrumento
Marcelo Fernandes Pereira (marcelo.proece@gmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema
O violão é um meio de expressão para acompanhamento rı́tmico-harmônico e para obras polifônicas,
contudo, suas possibilidades polifônicas são consideravelmente mais restritas do que as dos instrumentos
de teclas ou harpa. Sendo pianista e um exı́mio contrapontista, o compositor Camargo Guarnieri (1907
– 1993), ao escrever seu primeiro estudo para violão, buscou solucionar esse problema, diluindo sua
polifonia em uma escrita linear com diversos planos - uma melodia composta, em termos schenkerianos
(Forte; Gilbert, 1982). Esse tipo de escrita exige considerável esforço ou treinamento, da parte do ouvinte
e do intérprete, para que a obra seja entendida. Esse esforço é intensificado na obra, pela irregularidade
da sucessão dos planos polifônicos e por uma escrita pretensamente tonal que se expande até os limites
do sistema.
Objetivos
Este trabalho pretende mostrar as soluções idiomático-instrumentais de Guarnieri em termos de
melodia composta e harmonia tonal expandida e indicar possibilidades de abordagem interpretativa
dessa escrita. Para tanto, consideraremos também o aspecto perceptivo. Para compreendermos a escrita
de Guarnieri utilizaremos a teoria schenkeriana (Forte;Gilbert, 1982) e para tratarmos da percepção
dessa escrita, teremos o aporte de Meyer (1956/1961) e Sloboda (2008).
Principais contribuições
Este trabalho pode servir como arquétipo para a compreensão de outras obras do repertório nacionalista
brasileiro, considerando que esse tipo de escrita foi utilizado por muitos compositores dessa escola,
especialmente os compositores ligados a Guarnieri, como Oswaldo Lacerda e Lina Pires de Campos.
Conclusões /Implicações
Esse tipo de escrita constitui uma opção prática e eficaz para compositores não violonistas produzirem
obras polifônicas para o instrumento, mesmo sem terem consciência plena dos movimentos que estão
requerendo dos intérpretes. Contudo, as indicações de dinâmica do autor – com impossı́veis três “F”s
- e a dificuldade técnica imposta ao intérprete – com aberturas e saltos extremos para a mão esquerda
- demonstram os limites desse tipo de solução. Essas impossibilidades/dificuldades na execução do
discurso musical impactam negativamente a performance, demandando do ouvinte, maior atenção e
certa proficiência na escuta polifônica ao violão. Mesmo assim, trata-se de uma obra incomum no
repertório violonı́stico, pela complexidade intrı́nseca, que merece ter seu conteúdo esmiuçado, afim de
termos uma performance consciente e academicamente embasada.
Palavras-chave
Melodia Composta, Escrita Contrapontı́stica para Violão, Idiomatismo Instrumental
Referências
Forte, A.; Gilbert, S. (1982). Introduction to Schenkerian Analysis. New York: Norton. MEYER, L.B.
(1956/1961). Emotion and meaning in music. Chicago: Chicago University press.
Pereira, M.F. (2011). A contribuição de Camargo Guarnieri para o repertório violonístico brasileiro.
Dissertação. (Doutorado) – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São
Paulo.
Sloboda, J. A. (2008). A mente musical: psicologia cognitiva da música; tradução de Beatriz Ilari e
Rodolfo Ilari. Londrina: Eduel.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

MAIO 31 | May 31
102
SESSÃO L13
Comunicações Orais | Oral Presentations
SALA 2, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair: Rael Toffolo

14:00
Expectativas musicais relacionadas à harmonia como gatilho para
emoções
José Eugênio Matos, Eunice Dias da Rocha Rodrigues, Maria Clotilde
Henriques Tavares

14:30
Cognição musical infantil: uma revisão bibliográfica
José Benedito Pimenta, William Teixeira

15:00
Um estudo exploratório sobre a psicologia da música
Marçal Pereira Machado
Caderno de Resumos e Programação

Expectativas musicais relacionadas à harmonia


como gatilho para emoções 103
José Eugênio Matos (ematos33@gmail.com)
Eunice Dias da Rocha Rodrigues (eunicerr70@gmail.com)
Maria Clotilde Henriques Tavares (mchtavares@gmail.com)
Universidade de Brasília (UnB)

Problema/questão
No âmbito da experiência musical, em sua dimensão harmônica, busca-se explicar os mecanismos que
dão origem às respostas emocionais em humanos e sugere-se que a harmonia, em seu aspecto vertical,
isolado, pode provocar emoções positivas ou negativas, dependendo das notas utilizadas na construção
dos acordes, e que existe uma relação direta entre expectativas – tendências de resposta – e emoções.
Objetivos
Apresentar os principais estudos que contribuem para o entendimento dos efeitos emocionais sobre o
ser humano, causados por expectativas com respeito aos acordes musicais.
Principais contribuições
A Teoria das “Expectativas Musicais”, idealizada por Leonard B. Meyer (1956), exerceu influência
significativa sobre as pesquisas da psicologia da música e da cognição musical e tem balizado a
investigação sobre as relações entre música e emoção (e.g. Parncutt, 1989; Sloboda, 1991; Eberlein,
1994; Huron, 2006; Cook & Fujisawa, 2006; Stevens & Byron, 2016; e Juslin, 2018).
Implicações
Na música tonal ocidental, as expectativas estão relacionadas, entre outros fatores, às estruturas tonais e
harmônicas (Stevens & Byron, 2016). Assim, afetos ou emoções são despertados quando uma expectativa,
entendida como tendência de resposta, que é ativada pelo estímulo musical, é atendida ou violada.
Estudos apontam que nossas expectativas baseiam-se nas regras da teoria musical independentemente da
consciência explícita dessas regras através do treinamento musical formal (Tillmann e Lebrun-Guillaud,
2006). Assim, a expectativa é uma habilidade que evoca estados emocionais (Huron, 2006), propicia a
antecipação de eventos futuros e possui vantagens evolutivas óbvias. Respostas fisiológicas à avaliação de
eventos musicais e à formação de expectativas no córtex auditivo e em regiões sub-corticais fornecem
um ponto de partida para a compreensão da base neurológica das expectativas e previsão no
processamento musical (Trainor e Zatorre, 2016).
Palavras-chave
Expectativa musical, emoção, harmonia, cognição, neurociência
Referências
Cook, N. D., & Fujisawa, T. X. (2006). The psychophysics of harmony perception: Harmony is a
three-tone phenomenon. Empirical Musicology Review, 1, 106-126.
Eberlein, R. (1994). Die Entstehung der tonalen Klangsyntax [The emergence of the syntax of tonal
harmony]. Frankfurt: Lang.
Huron, D. (2018, November 20). Sweet Anticipation: Music and the Psychology of Expectation.
Cambridge, MA: MIT Press. Recuperado de
https://www.researchgate.net/publication/209436188_Sweet_Anticipation_Music_and_the_Psyc
hology_of_Expectation.
Juslin, P.N. (2018, November 30)). From everyday emotions to aesthetic emotions: Towards a unified
theory of musical emotions. Recuperado de
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1571064513000638.
Parncutt, R. (1989). Harmony: A psychoacoustical approach. Berlin: Springer.
Sloboda, J. (1991). Music structure and emotional response: some empirical findings. Psychol. Music 19,
110–120.
Stevens, C.J., Byron, T. (2016). Universals in music processing: Entrainment, acquiring expectations,
and learning. In: The Oxford handbook of music psychology. Hallan, Susan; Cross, Ian; Thaut,
Michael. p.19-33. Oxford: Oxford University Press, 2nd ed.
Tillmann, B. & Lebrun-Guillaud, G. (2006). Influence of tonal and temporal expectations on chord
processing and on completion judgments of chord sequences. Psychological Research, 70, 345–358.
Trainor, L. J., Zatorre, R.J. (2016). The neurobiology of musical expectations form perception to emotion.
In: Hallam, S., Cross, I., Thaut, M. The oxford handbook of music psychology. 2nd Ed. Oxford
University Press, New York.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Cognição musical infantil:


104 uma revisão bibliográfica
José Benedito Pimenta (jbpimenta@hotmail.com)
William Teixeira (teixeiradasilva.william@gmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema/questão
Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica de cunho teórico que faz uma análise sobre a
cognição musical infantil com ênfase no aprendizado nos primeiros anos de vida. Em um primeiro
momento, faz-se uma exposição linear das abordagens desses estudos, enfatizando os aspectos mais
importantes concernentes ao tema aqui escolhido. A seguir, ao confrontar essas pesquisas, expõe-se
considerações de pontos comuns e distintos entre elas, propondo uma reflexão sobre os rumos das
atuais posições da pesquisa na área de cognição musical infantil. Este trabalho, portanto, procura
oferecer uma visão de síntese sobre o pensamento de cada autor acerca do processo cognitivo da
música. Desse modo, empreende um esforço para responder a pergunta: o que diferencia uma
abordagem cognitiva da infância daquela conduzida com sujeitos adultos? Por meio desta revisão,
portanto, se pretende propor uma sistematização de discussões atuais a partir dos seguintes tópicos:
percepção da melodia, percepção da harmonia, percepção rítmica, percepção do timbre, percepção das
estruturas formais, concluindo com uma exposição das habilidades musicais infantis. O trabalho
também elege enquanto referencial dois eixos principais; um primeiro baseado nos resultados
compilados no Oxford Handbook of Music Psychology (OUP, 2016) e um segundo a partir dos postulados
de François Delalande em Las conductas musicales (2013).
Objetivo
Sistematizar criticamente as pesquisas mais atuais em cognição musical com foco na infância.
Principais contribuições
-Levantamento bibliográfico da literatura atual em cognição musical infantil
-Revisão crítica com análise comparada entre os trabalhos estudados
-Aprofundamento a partir da consulta às fontes empíricas
Implicações
Além da própria revisão sistemática, fértil em sua possibilidade de prover subsídios teóricos para
pesquisas de outrem, este trabalho oferece referencial adequado para pesquisas que empreendem a
busca por possibilidades pedagógicas de se aplicar os conceitos em contextos educacionais.
Palavras-chave
Cognição musical; Infância; Primeira infância; Revisão bibliográfica
Referências
Dalla Bella, Simone. (2016). Music and Brain Plasticity In: Hallam, S. et al (ed.), Oxford Handbook of
Music Psychology (pp. 325-431). Oxford, UK: Oxford University Press.
Delalande, François. (2013). Las conductas musicales. Santander: Editorial de la Universidad de
Cantabria.
Juslin, Patrik N. (2016). Emotional Reactions to Music In: Hallam, S. et al (ed.), Oxford Handbook of
Music Psychology (pp. 197-214). Oxford, UK: Oxford University Press.
Lamont, Alexandra. (2016). Musical development from the early years onwards In: Hallam, S. et al
(ed.), Oxford Handbook of Music Psychology (pp. 399-414). Oxford, UK: Oxford University
Press.
Schmuckler, Mark A. (2016). Tonality and Contour in Melodic Processing In: Hallam, S. et al (ed.),
Oxford Handbook of Music Psychology (pp. 143-166). Oxford, UK: Oxford University Press.
Caderno de Resumos e Programação

Um estudo exploratório sobre a psicologia da música


Marçal Pereira Machado (marcalpm85@hotmail.com) 105
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema/questão
Esta Comunicação Oral visa apresentar os resultados parciais da minha pesquisa bibliográfica de
dissertação de mestrado em andamento para o Programa de Mestrado em Psicologia da UFMS. Nosso
objetivo é discutirmos com a concepção epistemológica de ser humano e de música que embasam as
pesquisas em Psicologia da Música e as implicações destas na análise das consequências psicológicas da
reação estética suscitada pela música. Isto porque tais interpretações teóricas podem ter resultados
completamente distintos e opostos, a depender da base epistemológica das teorias que são utilizadas.
Ou seja, buscamos através dessa pesquisa, discutir sobre o papel social da música, investigando não
apenas as diferenças teóricas dadas por diferentes perspectivas epistemológicas, mas além disso, buscar
compreender um pouco mais a importância dessa atividade para humanidade e sua relação especial com
o psiquismo, ou seja, sua capacidade de elaborar as emoções e ampliar a consciência dos indivíduos,
possibilitando assim formas criativas e transformadoras de modificarmos nossa realidade social e
histórica. Dentre os vários materiais encontrados, encontramos como uma importante referência para
a Psicologia da Música a Teoria Gerativa da Música Tonal de Lerdahl e Jackendoff (1983), na qual a
música é tratada como uma forma específica de linguagem inata e universal, de acordo com a Teoria
Gerativa de Noan Chomsky (2009). E, dentro de outra perspectiva teórica-epistemológica, na Teoria
Psicológica Sócio Histórica abordamos a teoria de Vigotski (2001) e Luria (1987) sobre arte e
linguagem como fundamento para nossa análise crítica. Constatamos, então, que no Cognitivismo os
Processos Psicológicos Superiores, que nos caracterizam propriamente como seres humanos, são
essencialmente concebidos como naturais, inatos e universais. No entanto, consideramos a música
como um conteúdo cultural inserido em um contexto social, histórico, econômico e político, capaz de
suscitar emoções que, por sua vez, são mediadoras de outros Processos Psicológicos Superiores.
Objetivos
A partir desta pesquisa, temos o objetivo de apresentar diversas pesquisas em Psicologia da Música e
analisar os fundamentos teóricos-epistemológicos que as embasam, em especial as concepções de ser
humano e de música, e quais as implicações destas para o estudo da Psicologia da Música.
Principais contribuições
Analisar criticamente as teorias psicológicas do campo de pesquisa da Psicologia da Música.
Implicações
Discutir criticamente os Processos Psicológicos Superiores que estão implicados na experiência estética
suscitada pela música – seja na composição, na execução ou na escuta – a partir do estudo da linguagem
musical, considerando a música como um conteúdo cultural inserido em um contexto social, histórico,
econômico e político, capaz de suscitar emoções que, por sua vez, são mediadoras de outros Processos
Psicológicos Superiores.
Palavras-chave
Psicologia da Música, Linguagem Musical, Papel Social da Música
Referências
Chomsky, N. (2009). Linguagem e Mente. São Paulo: ed. UNESP.
Lerdahl, F. & Jackendoff, R. (1983). A generative theory of tonal music. Estados Unidos: Cambridge,
MA: MIT Press.
Luria, A. R. (1987). Pensamento e Linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre: Ed. Artes
Médicas.
Vigotski, L.S. (2001). Psicologia da Arte. São Paulo: Martins Fontes.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

MAIO 31 | May 31
106
SESSÃO C4
Comunicações Orais | Oral Presentations
SALA 5, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Regina Antunes T. dos Santos

14:00
Autorregulação e aprendizagem musical:
uma revisão sistemática da produção do último triênio
Veridiana de Lima Gomes Kruger, Igor Mendes Kruger, Lourdes Maria
Bragagnolo Frison

14:10
Musical phrasing: shaping analysis by general timing of melodic
lines based on Meyer’s theory of syntax
Samuel Henrique Cianbroni, Gilles Comeau, Regina Antunes Teixeira dos Santos

14:20
Tradições de ensino pianístico: um estudo com professores
eminentes
Rebecca Silva Rodrigues, Regina Antunes Teixeira dos Santos

14:30
A criatividade e a imaginação na infância:
perspectiva vigotskiana e a educação musical
Teresa Cristina Trizzolini Piekarski, Valéria Lüders

14:40
A aprendizagem da gaita-ponto sob a ótica da teoria da
autodeterminação
Paulo Cardoso, Liane Hentschke, Regina Antunes Teixeira dos Santos

14:50
Tradução e validação das Escalas Nordoff Robbins:
“Relação criança terapeuta na experiência musical coativa” e
“Musicabilidade, formas de atividade, estágios e qualidades de
engajamento”
Aline Moreira Brandão André, Cristiano Mauro Assis Gomes, Cybelle
Maria Veiga Loureiro

15:00
A música instrumental brasileira no ensino básico a partir do
repertório do choro
Camile Tatiane de Oliveira Pinto, Ana Paula Peters
Caderno de Resumos e Programação

Autorregulação e aprendizagem musical:


uma revisão sistemática da produção do último triênio 107
Veridiana de Lima Gomes Kruger (limaveridiana@yahoo.com.br)
Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Igor Mendes Kruger (igormendeskruger@yahoo.com.br)
Universidade Federal do Pampa(Unipampa)/Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Lourdes Maria Bragagnolo Frison (frisonlourdes@gmail.com)
Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

Problema/questão
O campo da educação musical tem investido em discussões e debates a respeito da autorregulação da
aprendizagem no domínio musical. É crescente o número de pesquisas que têm sido produzidas sob
essa perspectiva. Tais estudos, ancorados em autores como Zimmerman (2000), buscam ampliar os
horizontes compreensivos da aprendizagem musical tomando como referência a acepção do indivíduo
aprendente enquanto agente de seu percurso formativo. Dado à virada no foco investigativo, que
temos observado nos últimos anos, entendemos ser oportuno um mapeamento das produções mais
recentes ancoradas nessa acepção de humano.
Objetivos
A partir de um mapeamento dos escritos produzidos pelo campo musical, sob o arcabouço teórico da
autorregulação da aprendizagem, no espaço temporal do último triênio (2016-2018), este estudo teve
por objetivo primeiro identificar o foco investigativo empreendido em tais produções. Como objetivo
último, o presente trabalho destaca as implicações dos achados para o campo de estudos da
aprendizagem musical.
Principais contribuições
A revisão foi realizada a partir das bases de dados: Scopus, Web of Science, RILM, Wiley Online Library,
PsycINFO, Academic Search Ultimate, ERIC, Emerald, ScienceDirect, Taylor & Francis, SAGE, Scielo
e Word Scientific. Utilizamos os cruzamentos dos descritores: music, musicians, musical, self-regulation,
self-regulatory, self-regulated. Emergiram da análise das 38 produções selecionadas cinco eixos
tipológicos como foco investigativo, cada qual com suas subcategorias, a saber: 1) mensuração; 2)
constituição da agência autorregulatória; 3) estratégias; 4) desdobramentos teóricos; 5) implicações da
autorregulação para a educação musical.
Implicações
Desde o eixo mensuração, encontramos estudos que oferecem subsídios metodológicos para aferição
de estratégias e a incidência de comportamentos autorregulatórios. Desse eixo destacamos a técnica de
microanálise enquanto recurso sensível para capturar processos autorregulatórios e, também, informar
práticas educativas. As intenções empreendidas pelos estudos do eixo dois voltam-se à constituição do
self agêntico. Desses emergem contribuições para pensarmos os modos pelos quais os indivíduos
regulam-se, ou não, durante práticas musicais, tanto em âmbito individual, caracterizando a
autorregulação de processos de aprendizagem, quanto em âmbito coletivo, implicando em uma
abertura do campo teórico à compreensão da regulação socialmente compartilhada, como postulada
por Hadwin, Järvelä e Miller (2011). Ainda, no eixo dois, vê-se a preocupação dos autores com práticas
educativas que fomentem a construção de uma atuação autorregulatória. Tais estudos, de caráter
interventivo, exploram práticas pedagógicas ancoradas em estratégias autorregulatórias, programas de
treinamento e suporte tecnológico. Do eixo três pode-se extrair uma série de estratégias utilizadas por
estudantes durante seus percursos formativos. Desde o eixo quatro, articulação entre autorregulação e
teoria do fluxo, há indícios empíricos de que a autorregulação possa ser preditora de disposição para
experiências de fluxo. Por fim, o eixo cinco, que abrange escritos de natureza teórica, e/ou de revisão,
aponta as contribuições de se pensar a aprendizagem musical ancorada na autorregulação.
Palavras-chave
Aprendizagem musical, autorregulação, revisão sistemática, último triênio
Referências
Hadwin, A. F., Järvelä, S., Miller, M. (2011). Self-regulated, Co-regulated, and Socially Shared
Regulation of Learning. In: Zimmerman, B., Schunk, D. (Eds). Handbook of Self-regulation of
Learning and Performance. (pp.65–84). New York: Routledge.
Zimmerman, B. J. (2000). Attaining self-regulation: A social cognitive perspective. In: Boekaerts, M;
Pintrich, P.; Zeidner, M. (Eds.), Handbook of self-regulation. (pp.13-39). New York: Academic
Press.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Musical phrasing: shaping analysis by general timing of


108 melodic lines based on Meyer’s theory of syntax
Samuel Henrique da Silva Cianbroni (samcianbroni@hotmail.com)
Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS)
Gilles Comeau (gcomeau@uottawa.ca)
University of Ottawa (Canada)
Regina Antunes Teixeira dos Santos (regina.teixeira@ufrgs.br)
Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS)

Problem/Question
Musical phrasing can be performed in several ways depending on the musician’s knowledge of
composers and styles as well as performance traditions. In his theory of style, Meyer (1989) understands
music as language that has a syntactic structure for making sense. Therefore, it embraces the
manipulation of aspects of this structure, like the shaping of phrases for instance, which is important
for music performance because it communicates the language of each composer and highlights style
features. For Hewitt (2009), styles have musical and extramusical aspects according to communities of
musical practice. Such an argument implies that different ways of playing are based not only on
creativity, but also on rules/conventions from several knowledge sources, among them, commercial
recordings. This study reports on ways of phrasing the melodic line of pieces from different periods
and styles by graduate students in a preliminary reading.
Aims
This research aims to compare the different choices made by three piano graduate students regarding
the phrase phrasing of melodic lines belonging to different musical styles.
Method
The study used a quasi-experimental approach: three advanced students separately learned three
different pieces (dances) by three distinct composers (Haydn, Chopin and Bartók) in three practice
sessions, each divided into two parts. In the first session, they practiced each piece for 30 minutes using
the score and then recorded one performance. In the second session, for which the procedure was the
same, some commercial recordings were available for consultation. Data were analyzed based on
Meyer’s style theory, considering the manipulation of timing in shaping a phrase as a way to
understand and perform a type of language (syntax of music), based on the students’ own choices, and
how they perform within stylistic performance traditions.
Results
The results demonstrated a considerable increase in the general tempo of the performances in the
second sessions, with more fluency in the melodic line. These performances also seemed to show an
imitation of the phrasing in the commercial recordings, reflecting some influence beyond the students’
creativity. From the perspective of Meyer’s style theory, the results show how different ways of
phrasing a melodic line seem related to the composer’s language, and the performers’ understanding
of the composers’ styles and performance traditions. Results also suggest that the students had a
tendency to maintain familiar performance traditions, primarily in relation to composers with whom
they had some familiarity (information provided through preliminary questionnaire before data
collecting).
Conclusions
The study showed that phrase shaping is manipulated through the timing, as well as the direction of
the melodic line, and both are based on stylistic features known by participants. In addition, recordings
seem to have an important role and some influence upon interpretive choices in a preliminary reading.
The stylistic knowledge of the participants seems to corroborate Meyer’s thesis: it is tacit, and absorbed
mainly by listening and performance experiences.
Keywords
Musical phrasing, performance traditions, musical knowledge, music styles
Referências
Hewitt, Allan. Musical styles as communities of practice: Challenges for learning, teaching and assessment of
music in higher education. Arts and Humanities in Higher Education, 8 (3). pp. 329-337.
University of Strathclyde: Glasgow (UK), 2009.
Meyer, Leonard B. Style and Music. Theory, History and Ideology. Originally published 1989 by the
University of Pennsylvania Press in the series Studies in the Criticism and Theory of Music.
The University of Chicago Press, 1996.
Caderno de Resumos e Programação

Tradições de ensino pianístico:


um estudo com professores eminentes
109
Rebecca Silva Rodrigues (rebes_rodrigues@yahoo.com.br)
Regina Antunes Teixeira dos Santos (regina.teixeira@ufrgs.br)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Problema/questão
A performance musical cultivada em uma aula individual, entre aluno e professor, permite o
desenvolvimento de conteúdo personalizado (Schön, 2000), porém, os conhecimentos envolvidos na
aquisição de habilidades e ferramentas musicais podem se tornar invisı́veis para os que estão do lado de
fora. A necessidade de aprofundar ainda mais o conhecimento sobre o trabalho de instrumentistas
profissionais para auxiliar na formação de futuros professores foi destacada por alguns pesquisadores
(Colprit, 2000). Embora muitos dos estudos que enfocam o ensino e a aprendizagem instrumental
busquem as visões dos professores sobre o que acontece nas aulas individuais, é relativamente raro que
suas origens sejam investigadas (Burdwell, 2012). Tendo isso em vista, o intuito deste artigo é
apresentar as ideias principais de uma pesquisa de doutorado em andamento cujo objetivo é investigar,
através da observação, análise de vı́deos e entrevistas, as diferentes tradições de ensino usadas pelos
professores de piano cujo ensino tem se destacado no cenário nacional e acadêmico os mesmos estariam
conduzindo seus alunos a construir a performance de uma dada obra. Três casos representativos foram
selecionados e analisados em profundidade até o momento da pesquisa. Durante a análise de dados
surgiram potenciais conceitos de ações realizadas por professores durante as aulas de piano e como essas
ações evidenciam a complexidade do ensino durante uma aula individual entre aluno e professor.
Objetivos
O objetivo da geral é investigar as diferentes tradições de ensino usadas pelos professores de piano cujo
ensino tem se destacado no cenário nacional e acadêmico. Como objetivos especı́ficos, o trabalho
investigará a visão de professores de piano sobre como construir um caminho de formação, através do
preparo da performance de uma dada obra.
Método
O delineamento deste trabalho se configurou em uma abordagem de natureza qualitativa no qual a
metodologia escolhida foi o estudo multicasos, e as técnicas de pesquisa utilizadas foram a de
observação e entrevista semiestruturada. A amostra caracteriza-se por seis professores de piano que
atuam ou já atuaram em universidades brasileiras, e dez alunos de graduação e pós-graduação em
piano.
Resultados
Análise das aulas observadas permitiu identificar categorias, dependentes do professor, do nı́vel do
estudante e das peculiaridades do repertório. Foi possı́vel categorizar atividades de simulação de
performance e formas de instrução (tipos de demonstração, correção, sugestão, questionamento,
processo de deliberação, processo de implementação, treinamento, monitoramento e reflexão). As
categorias são trabalhadas por princı́pios de construção e aperfeiçoamento, visando a formatação de
alicerces para o embasamento e o direcionamento para a prática posterior dos estudantes no contexto
observado.
Palavras-chave
Tradição, piano, ensino, professor
Referências
Burdwell, K. (2012). Studio-based instrumental learning. Farnham: Ashgate, 2012.
Colprit, Elaine. (2000). Observation and Analysis of Suzuki String Teaching. Journal of Research in
Music Education, v.48, n.3, p.206-221, 2000.
Schön, Donald. (2000). Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem.
Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

A criatividade e a imaginação na infância:


110 perspectiva vigotskiana e a educação musical
Teresa Cristina Trizzolini Piekarski (teresapiekarski@yahoo.com.br)
Valéria Lüders (valeria.luders@gmail.com)
Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Problema/questão
O problema proposto para esta pesquisa refere-se à abordagem da criatividade e imaginação na proposta
da psicologia histórico-cultural de Lev S. Vigotski, estabelecendo relações com criação musical no
contexto escolar. Vigotski (1899-1934) se refere a atividade criativa como própria do ser humano, que
pode ser a representação de um objeto do mundo exterior (Vigotski, 2014). As ações reprodutiva e
combinatória, que são criadas, estão presentes no comportamento humano. Nesse sentido, o professor
de música pode oportunizar vivências em que a criança combine elementos da música, estimulando
comportamento reprodutivo, considerando as variações possíveis, e também incentivando a atividade
combinatória desses elementos, por meio de atividades que envolvam imaginação e ludicidade. O
mecanismo psicológico da imaginação e da sua relação com a atividade criativa deve ser compreendido
considerando a clareza da conexão entre a fantasia e a realidade, presentes no comportamento humano.
Elementos elaborados e modificados da realidade, acrescidos de experiências acumuladas resultam em
formas mais complexas da imaginação. Vigotski (2014) afirma que a criatividade é característica de todo
ser humano, presente em diferentes intensidades nas diferentes pessoas, “[...] e que ela é companheira
habitual e permanente do desenvolvimento infantil” (Vigotski, 2014, p .43). Ele refuta a ideia de que a
criatividade seja um atributo de poucas pessoas, devendo, portanto, ser incentivada e desenvolvida na
educação musical infantil.
Objetivos
Compreender relações entre a criação musical infantil e a abordagem da criatividade e imaginação na
proposta da psicologia histórico-cultural Lev S. Vigotski.
Principais contribuições
Obras de Vigotski têm interessado a pesquisadores como Freire (2012), Hargreaves, Marshall e North
(2003), referindo-se à aprendizagem e desenvolvimento musical (Piekarski & Lüders, 2013).
Nesse sentido, este artigo vem contribuir com o entendimento da concepção vigotskiana sobre
imaginação e criatividade e sua relação com a educação musical infantil.
Implicações
Este estudo na área da educação musical infantil, subsidiado na proposta da psicologia histórico-
cultural de Vigotski, dá suporte teórico para a compreensão da criação musical infantil e seu
desenvolvimento no contexto escolar.
Palavras-chave
Educação musical, imaginação, criatividade, infância, psicologia histórico-cultural, Vigotski
Referências
Freire, R. D. (2012, July). Inspiring parents in order to children during early childhood music classes.
Anais do International Society for Music Education: Early Childhood Commission Seminar. Passing
on the Flame:Making the World a Better Place Through Music, Corfu, Greece. Recuperado em 01
de março de 2019 de https://www.isme.org/sites/default/files/documents/ecme-
proceedings_2012_final.pdf
Hargreaves, D., Marshall, N. & North, A. (2003). Music Education in the twenty-first century: a
psychological perspective. British Journal of Music Education, 20:2, 147–163. B. J. Music Ed.
Recuperado em 03 de março de 2019 de https://www.cambridge.org/core/services/aop-
cambridge-core/content/view/C68516AF0E3A646B0AAE176F73AC2738/
S0265051703005357a.pdf/music_education_in_the_twentyfirst_century_a_psychological_persp
ective.pdf
Piekarski, T. C. T., Lüders, V. (2013). Conceitos vigotskianos e a aprendizagem musical no contexto
escolar. Anais do XXI Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical Ciência,
tecnologia e inovação: perspectivas para pesquisa e ações em educação musical, Pirenópolis, GO, 644-
652.
Vigotski, L. S. (2014). Imaginação e criatividade na infância. (Tradução de João Pedro Fróis). São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes.
Caderno de Resumos e Programação

A aprendizagem da gaita-ponto sob a ótica da


teoria da autodeterminação
111
Paulo Cardoso (paulinhocardoso@hotmail.com)
Liane Hentschke (lianeh2013@gmail.com)
Regina Antunes Teixeira dos Santos (regina.teixeira@ufrgs.br)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Problema/questão
A questão do interesse em aprender um instrumento tem sido objeto de estudo na literatura
(McPherson, 2015). O lócus de aprendizado, o suporte dos pais e professores assim como dificuldades
impostas pelo instrumento no inı́cio do aprendizado podem tanto fortalecer o interesse como também
desestimular a criança em seu aprendizado. Outro aspecto que vem sendo investigado na literatura é a
manutenção do interesse que certos alunos apresentam em querer persistir nos desafios de aprender um
dado instrumento. No Rio Grande do Sul, a gaita-ponto é um instrumento que atrai muitas crianças e
jovens principalmente em função das tradições culturais. Um lócus potencial de aprendizagem da
gaita-ponto no RS, é o projeto fábrica de Gaiteiros, situada na cidade de Barra do Ribeiro à 60 km de
Porto-Alegre (RS).
Objetivos
Esta pesquisa teve como objetivo geral investigar a motivação dos alunos para estudar gaita-ponto, no
contexto da fábrica de gaiteiros, sob a perspectiva da Teoria da Autodeterminação (Reeve, 2001, 2011),
considerando questões relativas ao senso de autonomia, senso de competência e de relacionamento.
Método
A metodologia da pesquisa seguiu uma abordagem qualitativa, através de entrevistas semiestruturadas
a alunos participantes do projeto Fábrica de Gaiteiros. Foram entrevistados 8 alunos vinculados à sede
do projeto no municı́pio de Barra do Ribeiro RS, com idade entre 10 e 15 anos com no mı́nimo de
dois anos de permanência no projeto e que no momento da coleta de dados estivessem matriculados ao
ensino fundamental. Os dados foram reduzidos baseados nas questões de pesquisa e analisados sob a
perspectiva da Teoria da Autodeterminação.
Resultados
Os resultados demonstraram que os alunos tendem a ser autônomos na administração do tempo e prática
no instrumento, indicando uma relação intrı́nseca com a vontade de aprender a tocar músicas na gaita-
ponto. Os alunos apresentaram competência e segurança relativo a execução do repertório o que
proporcionou satisfação e prazer pessoal, que por sua vez está relacionada com a capacidade do indivı́duo
interagir satisfatoriamente com o ambiente. Relativo à necessidade psicológica de relacionamento, os
alunos demostraram sentir-se pertencentes e integrados ao ambiente ao relatarem um ótimo
relacionamento com os colegas, professor e com o contexto do projeto.
Conclusões
A partir dos resultados apresentados pode-se aferir que os alunos demonstraram satisfação de suas
necessidades psicológicas básicas de autonomia, competência e relacionamento, apresentando
autodeterminação para aprender gaita-ponto, bem como o ambiente do projeto, atua como suporte
promovendo o bem-estar dos alunos.
Palavras-chave:
Motivação, Teoria da Autodeterminação, Aprendizado de Instrumento Musical
Referências
McPherson, G. E. (2015). The Child as Musician A handbook of musical development. 2 Ed. Oxford:
Oxford university press.
Reeve, J. (2002). Self-determination theory applied to educational settings. In E. L. Deci & R. M.
Ryan (Eds.), Handbook of self-determination research, pp. 183-203.
Reeve, J. (2011). Motivação e Emoção. Tradução de Luiz Antônio Fajardo Pontes e Stella Machado.
4a Ed. Rio de Janeiro: LTC.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Tradução e validação das Escalas Nordoff Robbins:


“Relação criança terapeuta na experiência musical coativa”
112
e “Musicabilidade, formas de atividade, estágios e
qualidades de engajamento”
Aline Moreira Brandão André (aline.musicasax@gmail.com)
Cristiano Mauro Assis Gomes (cristianomaurogomes@gmail.com)
Cybelle Maria Veiga Loureiro (cybelleveigaloureiro@gmail.com)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Problema/questão
No Brasil, a pequena quantidade de meios de avaliação em Musicoterapia traz a necessidade de estudos
em validação e criação de novos testes (Gattino, 2012). As Escalas Nordoff Robbins de Relação Criança
Terapeuta na Experiência Musical Coativa, de Comunicabilidade Musical e de Musicabilidade, Formas
de Atividade, Estágios e Qualidades de Engajamentos são utilizadas como meio de avaliação
musicoterapêutico desde a década de 1960 nos EUA. A Escala de Comunicabilidade Musical já foi
validada para o contexto brasileiro por André (2017). Em nossa pesquisa, contribuiremos com estudos de
verificação de indícios de validade em duas escalas para o contexto brasileiro.
Objetivos
Os objetivos dessa pesquisa consistem em traduzir e validar para o português brasileiro as Escalas
Nordoff Robbins de Relação Criança Terapeuta na Experiência Musical Coativa e de Musicabilidade,
Formas de Atividade, Estágios e Qualidades de Engajamento para avaliação de pessoas com
Transtornos do Neurodesenvolvimento.
Método
O método a ser utilizado para validar as escalas foi desenvolvido por Herdman, Fox-Rushby e Badia
(1998 e consiste em um modelo universalista composto de seis (6) equivalências utilizadas para
validação e adaptação cultural de testes na área da saúde: equivalências conceitual, de itens, semântica,
operacional, de mensuração e funcional. Este método já foi utilizado no Brasil para validação e
adaptação de uma bateria de testes na área da música e apresentou resultado positivo, conforme
demonstram os estudos deNunes et al. (2010), Gattino (2012) e André (2017).
Resultados esperados
De acordo com os resultados apresentados por André (2017) é possível observar que a Escala Nordoff
Robbins de Comunicabilidade Musical obedeceu aos critérios de validação para avaliação de pessoas
com Transtornos do Neurodesenvolvimento em atendimentos musicoterapêuticos no contexto
brasileiro apresentando boa equivalência em todos os contextos e boa confiabilidade interexaminadores
em todos os domínios da escala com correlações (Spearman) moderadas e fortes.
Acredita-se que as Escalas Nordoff Robbins de Relação Criança Terapeuta na Experiência Musical
Coativa e de Musicabilidade, Formas de Atividade, Estágios e Qualidades de Engajamento poderão
contribuir para a avaliação de comportamentos derivados de estímulos musicais de pessoas com
Transtornos do Neurodesenvolvimento no contexto brasileiro e possivelmente apresentarão resultados
positivos, assim como a Escala de Comunicabilidade Musical.
Palavras-chave
Musicoterapia, Escala Nordoff Robbins, Transtornos do Neurodesenvolvimento
Referências
André, A. M. B. (2017). Tradução e validação da Escala Nordoff Robbins de Comunicabilidade Musical.
Universidade Federal de Minas Gerais.
Gattino, G. S. (2012). Comunicação não verbal de crianças com Transtornos Do Espectro Autista : revisão
sistemática e estudo de validação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Herdman, M., Fox-Rushby, J., & Badia, X. (1998). A model of equivalence in the cultural adaptation
of HRQoL instruments: the universalist approach. Quality of Life Research, 7(4), 323–335.
Nunes, M., Loureiro, C. M. V., Loureiro, M. A., & Haase, V. G. (2010). Tradução e validação de
conteúdo de uma bateria de testes para avaliação de Amusia. Avaliação Psicológica, 9(2), 211–232.
Caderno de Resumos e Programação

A música instrumental brasileira no ensino básico


a partir do repertório do choro 113
Camile Tatiane de Oliveira Pinto (camiletatiane@gmail.com)
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Ana Paula Peters (anapaula.peters@gmail.com)
Universidade Estadual do Paraná (Unespar)

Problema/questão
Entre os desafios do ensino de música no contexto brasileiro está o de explorar o potencial da música
popular brasileira na educação básica. Assim, esta pesquisa de mestrado em andamento analisa e propõe
o repertório do choro como protagonista na construção do conhecimento musical na educação básica.
Entre os primeiros gêneros da música popular brasileira que apareceram no final do século XIX, o
choro surgiu a partir de influências da música europeia e africana na prática dos instrumentistas que
atuavam no espaço urbano daquela época. Nos dias atuais, o choro avança por outros espaços além das
ruas e ambientes acadêmicos. Entretanto, o choro carece de maior oportunidade na sala de aula, e a falta
de hábito de escuta da música instrumental torna-se uma realidade para a maioria das crianças, que
deixam de vivenciar este tipo de discurso sonoro (Almeida; Levy, 2010, p. 26). Fucci-Amato (2012, p.
117) concorda que “A própria música popular brasileira, em sentido amplo, ainda não é explorada em
toda a sua potencialidade pedagógica.”.
Objetivos
Deste modo, o objetivo desta pesquisa é promover o aprendizado musical a partir da apreciação do
repertório do choro, evidenciando as possibilidades pedagógico-musicais deste repertório. Entendida
como uma das principais atividades musicais, a apreciação musical (Silva e Cunha, 2003, p. 64) permite
que todos os envolvidos participem ativamente desta “rede complexa de pessoas, processos, produtos e
contextos” que constitui o fazer musical (Elliot, 1995, p. 51).
Método
Para isso, será realizada uma pesquisa-ação durante um trimestre em uma escola da rede municipal da
cidade de Curitiba, Paraná, tendo o choro como o repertório principal das aulas, e a apreciação como
a modalidade central – mas não exclusiva – das aulas de música. Os dados serão coletados por meio de
entrevistas, instrumento de avaliação e gravações em vı́deo das aulas. O instrumento de avaliação,
fundamentado nas concepções de Swanwick, adaptado por Silva e Grossi (2001), será composto pelas
seguintes categorias de análise de apreciação: a) caráter expressivo, b) relações estruturais e c) materiais
do som.
Resultados
Entre os resultados esperados, estão a possibilidade da construção do conhecimento musical a partir da
aproximação do aluno com o repertório brasileiro e o desenvolvimento de um discurso simbólico por
meio do repertório do choro.
Conclusões
A música instrumental brasileira pode contribuir na experiência estética e no aprendizado musical dos
alunos do ensino básico, e a sua presença na sala de aula pode ser ampliada e explorada.
Palavras-chave
Choro, educação básica, apreciação musical, música instrumental brasileira
Referências
Almeida, B., & Levy, G. (2010). Livro de Brincadeiras Musicais da Palavra Cantada–Livro do
Professor. São Paulo: Editora Melhoramentos.
Elliot, D. J. (1995). Music matters: a new philosophy of music education. Oxford: University Press.
Fucci-Amato, R. (2016). Escola e educação musical: (des)caminhos históricos e horizontes.
Campinas: Papirus Editora.
Fucci-Amato, R. (2016). Escola e educação musical: (des)caminhos históricos e horizontes. Campinas:
Papirus Editora.
Grossi, C. D. S. (2001). Avaliação da percepção musical na perspectiva das dimensões da experiência
musical. Revista da ABEM, 6, 49-58.
Silva e Cunha, E. (2002). A avaliação da apreciação musical. In. L. Hentschke, & J. Souza (Orgs.).
Avaliação em música: reflexões e práticas. São Paulo, SP: Moderna.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

MAIO 31 | May 31
114
CONFERÊNCIA
LECTURE 4
4
SALA MULTIUSO, 16h30

Coordenador da sessão | Session Chair: Josemar de Campos Maciel (UCDB)

Music, empathy and intersubjective consciousness


Eric Clarke
There is increasing interest in music and empathy, and with the ways in which music can
draw listeners and active participants into forms of engagement with one another. The idea
of empathy originally arose in the context of visual art, to account for the ways in which
observers can be drawn into the world of a work of art, but quickly developed into a powerful
and more general psychological concept. This paper explores the ways in which a broad
concept of empathy might provide a fruitful way to understand how listeners engage with
one another and with the ‘virtual worlds’ that music affords — and thus with the collective or
intersubjective quality of musical consciousness. Touching upon broader and narrower
conceptions of empathy, I consider the ways in which musical objects and processes, as well
as people, can afford empathic engagement. Referring to empirical evidence for musically
mediated empathy, I offer a more speculative attempt to understand people’s ‘strong
experiences with music’ in terms of empathic musical consciousness — with a particular focus
on the role of the human voice. Recordings of vocal performances by Janis Joplin and Chet
Baker illustrate what it is about their voices that may afford empathic engagement and a sense
of intersubjective musical consciousness. But empathy is not without its problems, and can
paradoxically be both divisive and coercive. I end my talk by considering this ‘dark side’ of
empathy in relation to its brighter and more emancipatory potential.

Música, empatia e consciência intersubjetiva


Há um interesse crescente em música e empatia, e com as maneiras pelas quais a música pode atrair
ouvintes e participantes ativos na forma de interação uns com os outros. A ideia de empatia surgiu
originalmente no contexto da arte visual, para explicar as maneiras pelas quais os observadores
podem ser atraídos para o mundo de uma obra de arte, mas rapidamente se transformou num
conceito psicológico poderoso e mais geral. Esta fala explora as maneiras pelas quais um amplo
conceito de empatia pode fornecer uma maneira proveitosa de entender como os ouvintes se
envolvem uns com os outros e com os "mundos virtuais" que a música oferece — e assim com a
qualidade coletiva ou intersubjetiva da consciência musical. Ao abordar concepções mais amplas
e mais estreitas de empatia, considero as maneiras pelas quais objetos e processos musicais, bem
como as pessoas, podem ter um engajamento empático. Referindo-se à evidência empírica de
empatia musicalmente mediada, ofereço uma tentativa mais especulativa de entender as "fortes
experiências com a música" em termos de consciência musical empática — com um foco
particular no papel da voz humana. Gravações de performances vocais de Janis Joplin e Chet
Baker ilustram o que, em relação às suas vozes, pode proporcionar engajamento empático e senso
de consciência musical intersubjetiva. Mas a empatia não é isenta de seus problemas e pode,
paradoxalmente, ser tanto divisiva quanto coercitiva. Termino minha fala considerando esse "lado
escuro" da empatia em relação ao seu potencial mais brilhante e emancipatório.
Caderno de Resumos e Programação

115
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

116
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 29-31 | May 29-31


WORKSHOP 1 117

SALA 1, 8h30

Composição e o paradigma dinâmico da Cognição


Rael Toffolo (UEM)
1 – Definição do Paradigma dinâmico no contexto da Ciência Cognitiva
2 – A concepção do paradigma dinâmico na composição
2.1 A virada para a “pós-modernidade” ou o conceito de Arte após o fim da arte
2.2 A notação e a representação
3 – Procedimentos criativos no contexto do Paradigma Dinâmico da Cognição

MAIO 29-31 | May 29-31


WORKSHOP 2
SALA 2, 8h30

Neurociências e Performance Musical


Luciane Cuervo (UFRGS)
O objetivo deste GE consiste em fomentar a reflexão e o debate acerca das contribuições de
conhecimentos neurocientíficos relevantes na construção da performance musical. Busca-se
contemplar a complexidade da manifestação musical, articulando saberes e práticas
interdisciplinares intrínsecos ao desenvolvimento cognitivo e o contexto sociocultural.
As duas últimas décadas foram marcadas por avanços extraordinários no que concerne às
possibilidades investigativas do engajamento neural no comportamento musical. É possível
afirmar que o fazer musical, manifestado por meio da audição, percepção, visão (leitura),
gesto, memória, movimento, linguagem, criação, dentre outras ações, engloba diversas
regiões e funções cerebrais, dos dois hemisférios, de forma dinâmica e complexa. Apesar
disso, ainda são difundidos mitos acerca do cérebro, como a percentagem reduzida de
utilização da massa encefálica, a lateralidade e dominância cerebral, genialidade/dom na
expertise, entre outros.
Para Tokuhama-Espinosa (2012), o primeiro passo necessário para a difusão de conhecimentos
neurocientíficos é justamente a desconstrução de mitos sobre o cérebro. Suas investigações
apontam que há quatro principais categorias de saberes, sendo predominante a categoria
“Mitos” entre os sujeitos investigados:
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

1)Estabelecido – conhecimentos comprovados por pesquisas neurocientíficas. Ex.


Plasticidade neuronal.
2)Provável - tendem a ser comprovados pela neurociência. Ex. Etapas sensíveis.
118 3)Especulação inteligente – articulação de ideias que não foram desmentidas por campos
diversos da neurociência. Ex. Diferenças entre os gêneros.
4)Mitos – concepções do senso comum que não possuem comprovação científica. Ex.
Cérebro direito e esquerdo.
Conhecimentos neurocientíficos têm muito a enriquecer a pedagogia da Performance.
Expressar-se através da música inclui a capacidade de poder interpretar ou criar a sua versão
para uma obra, imprimindo um caráter pessoal e transmitindo algo de si mesmo ao ouvinte.
Da produção à recepção, existe um longo caminho, cujo objetivo principal, conscientemente
ou não, é a aquisição de técnica em busca da expressividade refletida no fenômeno
performático. É sabido que a prática deliberada é parte fundamental na concepção da
performance, porém, o que se defende, é que essa prática evite a repetição mecanicista e
inexpressiva, tão comuns no estudo do instrumento e da voz.
A plasticidade cerebral reage a estímulos de diversas naturezas, sejam eles motores, sejam
puramente mentais. Processos mentais de audição, de leitura à primeira vista, de leitura
silenciosa, de estudo técnico e expressivo, regulação das emoções, controle da ansiedade, entre
outros podem ser fortemente qualificados quando aliados a resultados de investigações das
Neurociências. Termos como consolidação do aprendizado, neuroplasticidade, sistema de
recompensa e o conhecimento de regiões específicas do cérebro envolvidas mais intensamente
no fazer musical vão ao encontro de uma tomada de consciência acerca de atitudes e
pensamentos que aperfeiçoam o processo de construção da performance.
O que se constata hoje é que a diversificação de estratégias metodológicas de estudo, o respeito
às condições de consolidação do aprendizado e a capacidade de adiamento de gratificação do
sistema de recompensa são elementos que exemplificam contribuições de conhecimentos
neurocientíficos ao processo de concepção da performance musical. Um dos principais tributos
que a música fornece ao cérebro é a regulação das emoções, uma das habilidades mais
importantes dentre as quais se fazem necessárias durante uma apresentação musical e toda a
trajetória prévia inerente a ela.

MAIO 29-31 | May 29-31


WORKSHOP 3
SALA 3, 8h30

Música, cognição, saúde e musicoterapia


Clara Piazzetta (Unespar) e Claudia Zanini (UFG)
Integrar conhecimentos sobre Música, Cognição, Saúde e Musicoterapia é o principal objetivo
desse workshop. As experiências musicais de audição, composição, recriação e improvisação
(Bruscia, 2000) serão utilizadas como estratégia para impulsionar discussões sobre conceitos
presentes na Musicoterapia, na Cognição Musical, na Neurociência da Música e na Educação
Especial. Considera-se o princípio de que cada uma dessas experiências envolve processos
cognitivos específicos, dependendo do contexto de sua aplicação, dentro da integração de
música, saúde, educação e inclusão. Espera-se ampliar diálogos e experiências colaborativas
entre os profissionais ligados às diferentes subáreas da música, em virtude da capacidade de
reconhecer processos e estudos envolvendo a cognição musical, considerando a importância
do convívio com a música, uma vez que esta é uma experiência multimodal, que faz parte de
todo o viver humano.
Caderno de Resumos e Programação

MAIO 29-30 | May 29-30


WORKSHOP 4 119

SALA 4, 8h30

Escuta musical ativa


Graça Boal Palheiros (Escola Superior de Educação do Porto - Portugal)
Esta atividade objetiva oferecer aos estudantes e profissionais das áreas de música e educação,
bem como demais interessados, um Workshop sobre "Escuta Musical Ativa". A profa. Graça
possui ampla experiência na área de Educação Musical, com foco nas temáticas "audição musical
e canto das crianças", "formação de professores de música" e "inclusão social". Possui 17 livros
publicados, dentre os quais estão cinco volumes do livro "Pedagogia Musical" e dois volumes
do livro "Escuta Musical Ativa", produzido em conjunto com Jos Wuytack. Tem vários artigos
publicados em revistas especializadas e em anais de Congresso. A professora orientou mais de
80 pesquisas acadêmicas ao longo de quase 30 anos de docência. O encontro terá duração de 3
horas, no qual serão expostos os fundamentos do seu trabalho e vivenciadas práticas vinculadas
à escuta musical ativa.

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