Sei sulla pagina 1di 88

A ORAÇÃO QUE FUNCIONA

Um cristão anônimo

Editora Betânia SC
1981
3ª edição.
ISBN 978-85-358-0

1
Índice

Introdução ............................................................................... 03
Prefácio ................................................................................... 04
1 A Grande Necessidade de Deus ................................................. 05
2 Promessas Quase Incríveis ........................................................ 10
3 “Pede-me, e Eu te darei” .......................................................... 16
4 Pedindo Sinais .......................................................................... 25
5 O Que é Oração? ...................................................................... 33
6 Como Devo Orar? ..................................................................... 41
7 É Preciso Agonizar? .................................................................. 49
8 Deus Sempre Responde às Orações? ......................................... 60
9 Respostas de Oração ................................................................ 66
10 Como Deus Atende às Orações .................................................. 70
11 Empecilhos à Oração ................................................................ 76
12 Quem Pode Orar? ..................................................................... 83

2
Introdução

Corria o ano de 1937. eu fazia minha primeira viagem como vendedor ao


longo da costa ocidental dos Estados Unidos, representando a Editora
Zondervan, e fui visitar um livreiro na cidade de Seattle.
Durante a palestra que mantive com aquele homem, ele me falou de um
livro publicado na Inglaterra, de autor inglês, e que fora uma grande bênção
para ele. Era minha primeira informação acerca de A Oração que Funciona, de
escritor anônimo. O conteúdo dessa obra representara uma grande bênção
para aquele livreiro.
Por causa de meu interesse pela oração, não demorou muito e eu me
lançava à leitura dele. Percebi logo que o autor escrevera em estilo simples,
expressando-se de forma concisa, mas eficiente, usando ilustrações de fácil
compreensão, que tornavam as verdades ensinadas bem claras e simples de
aplicar.
Pouco depois, a Editora Zondervan conseguiu dos publicadores britânicos
a permissão de distribuir A Oração que Funciona à sua clientela, na América.
Mais tarde, devido à escassez de papel e material tipográfico na
Inglaterra, durante a Segunda Grande Guerra, os editores ingleses tiveram que
deixar esta valiosa e preciosa obra esgotar-se.
Então, conseguimos os direitos para imprimir e publicar este livro nos
Estados Unidos. De 1945 para cá, fizemos e distribuímos vinte e quatro edições
dele (antes dessa data, não há registros do número de impressões), com a
circulação de mais de 100.000 exemplares encadernados, sendo que a edição
em brochura foi ainda maior.
Agora, é nosso privilégio colocar este clássico sobre a oração em
acessível formato de bolso, esperando alcançar um público ainda maior. Peço a
Deus que este volume se torne uma bênção para cada leitor, como o foi para
mim e milhares de outras pessoas por todo o mundo.
P. J. Zondervan

3
Prefácio

Uma pessoa que viajava pela China, há alguns anos, visitou um templo
pagão em dia de grande festividade. Havia ali muitos adoradores perante o
medonho ídolo encerrado no relicário sagrado. O visitante notou que a maioria
dos fiéis trazia consigo pedacinhos de papel, onde estavam escritas ou
impressas suas petições. Enrolavam as preces em bolinhas de lama semi-
endurecida, que atiravam ao ídolo. Indagando a razão daquele estranho ritual,
foi informado de que, se a lama se apegasse ao ídolo, a petição seria atendida,
com toda a certeza; mas se a bolinha de lama caísse ao chão, a petição fora
rejeitada pela deidade.
É possível que sintamos vontade de rir diante de uma forma tão singular
de se testar a aceitabilidade de uma oração. Mas também não é verdade que a
maioria dos cristãos que oram a um Deus vivo, sabem muito pouco acerca da
oração que prevalece? E, no entanto, a oração é a chave que destranca a porta
da caixa-forte de Deus.
Este livro foi escrito em atenção a alguns pedidos, porém, não sem certa
hesitação. É distribuído com muita oração.
E, que aquele Homem que disse que temos “o dever de orar sempre e
nunca esmorecer”, possa “ensinar-nos a orar”.

4
1

A Grande Necessidade de Deus

“Deus estantou-se!” é uma idéia muito impressionante. A própria audácia


dessa afirmação deve chamar a atenção de todo crente fervoroso, homem,
mulher ou criança. Um Deus que se espanta. E muito mais abismados
poderemos ficar quando constatarmos qual é a causa do “espanto” divino.
Podemos achar que ela é, aparentemente, insignificante. Porém, se estivermos
dispostos a considerar o assunto cuidadosamente, veremos que é questão da
maior importância para todo crente em nosso Senhor Jesus Cristo. Nenhuma
outra questão é tão relevante – tão vital – para o nosso bem-estar espiritual.
Deus “maravilhou-se de que não houvesse um intercessor” (Is 59.16) –
“nada que se interpusesse” – como diz um comentário de margem em outra
versão. Mas isto foi nos dias do passado, antes da vinda do Senhor Jesus
Cristo, “cheio de graça e de verdade”; antes do derramamento do Espírito
Santo, que “nos assiste em nossas enfermidades”, que “intercede por nós” (Rm
8.26). sim, e bem antes de recebermos as maravilhosas promessas do
Salvador, com respeito à oração; antes de os homens saberem muita coisa, que
hoje sabem, seobre a oração; nos dias em que os holocaustos pelos próprios
pecados tinham maior dimensão do que a intercessão em favor de outros
pecadores.
Ah, mas como deve ser enorme o espanto de Deus hoje! Pois como são
poucos os que, dentre nós, sabem realmente o que significa a oração que
prevalece. Todos nós confessamos que cremos em oração; todavia, quantos
verdadeiramente crêem no poder da oração? Agora, antes de prosseguirmos,
este escritor deseja solicitar veementemente ao leitor que não leia
apressadamente o conteúdo destes capítulos. Muita coisa – muita coisa mesmo
– está na dependência da maneira como cada leitor irá receber o que aqui vai
registrado. Pois tudo depende da oração.
Por que tantos crentes são derrotados frequentemente? Porque oram
muito pouco. Por que tantos obreiros se desanimam e ficam desalentados
tantas vezes? Porque oram pouco.
Por que a maioria dos homens vêem tão poucos pecadores serem
conduzidos “das trevas para a luz” através de seu ministério? Porque oram
muito pouco.
Por que nossas igrejas não estão abrasadas de amor a Deus? Porque
existe muito pouca oração verdadeira.
O Senhor Jesus ainda é tão poderoso hoje, como sempre o foi. E ainda
está tão ansioso para que os homens sejam salvos, como sempre o esteve. Seu
braço não está encolhido, para que não possa salvar; mas ele não pode
estende-lo, a não ser que oremos mais – e oremos de verdade.

5
Podemos estar certos de uma coisa – a causa de todo fracasso é a falta
de oração em segredo.
Se Deus se espantou nos dias de Isaías, não devemos nos surpreender
se, nos dias de sua carne, o Senhor “maravilhou-se”. Ele se admirou da
incredulidade de alguns – incredulidade que, aliás, impediu que ele realizasse
milagres nas cidades deles (Mc 6.6).
Mas devemos lembrar-nos de que aqueles que se acharam culpados de
incredulidade não viram beleza alguma nele, para que o desejassem ou
cressem nele. Como então não será maior o seu espanto hoje, ao ver entre
nós, que realmente o amamos e adoramos, tão poucos que “se despertem”, e
“te detenham” (Is 64.7). Certamente não existe nada de tão espantoso como
um crente que não ora. Os dias atuais são momentosos e terríveis. Na verdade,
existem muitas evidências de que estes são os “últimos dias”, nos quais Deus
prometeu derramar seu Espírito – o Espírito de súplicas – sobre toda a carne (Jl
2.28). Contudo, a grande maioria dos cristãos professos mal sabe o que seja
“súplica”; e muitas de nossas igrejas não somente não realizam reuniões de
oração, mas também, sem nenhum constrangimento, consideram tais reuniões
desnecessárias, e até as ridicularizam.
A Igreja da Inglaterra, reconhecendo a importância da adoração e da
oração, determina que seus ministros leiam orações na Igreja todos os dias,
pela manhã e à tarde.
Mas quando isto é feito, muitas vezes, não é para uma igreja vazia? E
não são estas orações, em muitos casos, feitas apressadamente, num ritmo que
não conduz à adoração? E as orações do “Livro das Preces” muitas vezes têm
que ser bastantes vagas e indefinidas.
E quanto àquelas igrejas que mantêm uma reunião de oração semanal?
Talvez “semimorta” seja o termo mais indicado para defini-las. Spurgeon teve a
satisfação de poder dizer que dirigia uma reunião de oração todas as segundas-
feiras à noite, “onde o número de presentes raramente era inferior a mil ou mil
e duzentas pessoas”.
Irmãos, será que deixamos de crer na oração? Se você ainda mantém
sua reunião semanal de oração, não é verdade que a grande maioria dos
membros da igreja nunca aparecem? É; e nem ao menos pensam em
comparecer. Por que este estado de coisas? De quem é a culpa?
“É apenas uma reunião de oração” – quantas vezes ouvimos essa
declaração? Quantas das pessoas que lêem estas palavras realmente apreciam
uma reunião de oração? Ela representa uma satisfação ou um dever? Por favor,
perdoem-me por fazer-lhes tantas perguntas e apontar essa falha lamentável
de nossas igrejas, uma falha que nos parece tão perigosa. Não estamos aqui
para criticar – e muito menos para condenar. Qualquer um pode agir assim.
Nosso mais ardente desejo é levar os crentes a “deterem” a Deus, como nunca
o fizeram. Desejamos incentivar, encorajar, inspirar.
Nunca ocupamos posição mais elevada, como quando estamos de
joelhos.

6
Críticas? Quem se atreve a criticar outrem? Quando olhamos para trás,
para o passado, e vemos quanta falta de oração tem havido em nossa vida, as
palavras de crítica dirigidas a outros morrem em nossos lábios.
Mas cremos que chegou o momento em que precisamos soar os clarins e
chamar os crentes e a Igreja – chamar para a oração.
Ora, será que temos coragem de encarar a questão da oração? Esta
pergunta parece ligeiramente tola, pois não é a oração um elemento presente
em todas as religiões? Porém, arriscamo-nos a pedir aos leitores que examinem
e encarem esta questão com mente aberta. Será que realmente cremos que a
oração seja uma força? Ela é a maior força que há sobre a terra ou não? Será
que ela realmente “move a mão que move o mundo”?
Será que os mandamentos de Deus com relação à oração referem-se a
nós? As promessas divinas acerca da oração ainda são válidas? E nós
respondemos: “Sim, sim, sim”, à medida que vamos lendo cada uma destas
perguntas. Não nos atrevemos a dizer “Não” a nenhuma delas. Porém...
Já ocorreu ao leitor que Deus nunca teria dado um mandamento
desnecessário ou optativo? Será que realmente cremos que o Senhor nunca fez
uma promessa que não pudesse ou não desejasse cumprir? Os três grandes
mandamentos do Senhor para uma ação definida foram:
Orai!
Fazei!
Ide!
Será que os estamos obedecendo? Quantas vezes a ordem: “Fazei” é
repetida pelos pregadores da atualidade! Chega-se até a pensar que foi o único
mandamento que ele deu. Muito raramente é que nos recordam de sua ordem:
“Orai!” ou “Ide!”. E, no entanto, se não obedecermos ao Orai! Pouco ou nada
nos adiantará obedecer ao Fazei! Ou ao Ide!
Na verdade, será fácil demonstrar que toda a nossa falta de sucesso e os
fracassos na vida espiritual e no serviço cristão são devidos à falta de oração ou
à deficiência dela. A menos que oremos acertadamente, não podemos viver e
servir corretamente. Isto pode parecer, a princípio, uma afirmação exagerada,
mas quanto mais a examinarmos à luz do ensino bíblico a respeito do assunto,
mais convencidos ficaremos da verdade desta afirmação.
Depois, quando começarmos uma vez mais a estudar o que a Bíblia diz
sobre este maravilhoso e misterioso assunto, procuraremos ler algumas das
promessas do Senhor, como se nunca as tivéssemos visto antes. Qual será o
resultado disso?
Cerca de vinte anos atrás, este escritor estudava num seminário
teológico. Certo dia, cedo de manhã, um colega – que hoje é um dos mais
proeminentes missionários da Inglaterra – irrompeu no quarto, tendo nas mãos
uma Bíblia aberta. Embora estivesse se preparando para a ordenação, ele ainda
era, naquela época, um jovem recém-convertido.

7
Ele entrara para a universidade, completamente desinteressado das
coisas concernentes ao reino de Deus. Popular, inteligente, atleta – já
conquistara um lugar no grupo dos melhores alunos, quando Cristo pediu-lhe
sua vida. Ele aceitou o Senhor Jesus como seu Salvador pessoal, e tornou-se
um zeloso seguidor do Mestre. A Bíblia era, para ele, um livro relativamente
novo, e, por causa disso, estava sempre fazendo novas “descobertas”. Naquele
memorável dia em que invadiu a tranquilidade do meu quarto, ele gritou
empolgado – o rosto brilhante, animado por um misto de alegria e surpresa:
“Você acredita nisto aqui? Será que isso é verdade mesmo?”
“Acredito em quê?” perguntei, olhando para a Bíblia aberta com espanto.
“Ora, nisto aqui...” e leu num tom de voz ansioso o texto de Mateus
21.21,22: “Se tiverdes fé e não duvidares... tudo quanto pedirdes em oração,
crendo, recebereis.” Você acredita nisso? É verdade mesmo?”
“É”, respondi, sentindo-me surpreso com o entusiasmo dele; “é lógico
que é verdade; é lógico que creio nisso.”
Entretanto, pela minha mente passaram vários pensamentos.
“Bem, é uma promessa maravilhosa”, disse ele. “Parece-me totalmente
ilimitável. Por que não oramos mais do que agimos?” E ele se afastou,
deixando-me a meditar. Eu nunca olhara aqueles versos daquela maneira. E
quando a parta se fechou às costas daquele jovem e fervoroso seguidor do
Mestre, tive uma visão do Salvador, de seu amor e poder, como nunca tivera
antes. Tive uma visão de uma vida de oração e, também, de um poder
“ilimitável”, que, como percebi, dependiam de apenas duas coisas: fé e oração.
E naquele momento senti-me vibrar de entusiasmo. Caí de joelhos e, ao inclinar
a cabeça perante o Senhor, que pensamentos me atravessavam a mente, e que
esperanças e aspirações inundaram-me a alma! Deus me falava de modo
extraordinário. Apresentava-me uma grande chamada para interceder. Mas –
devo confessar – não atendi ao chamado.
Onde foi que falhei? A verdade é que orei um pouco mais que
anteriormente, mas nada pareceu melhorar. Por quê? Seria porque não
enxergara os altos padrões de vida interior que o Salvador requer daqueles que
desejam obter sucesso na oração?
Ou seria porque não ajustara minha vida ao “perfeito amor”, tão
belamente descrito no capítulo 13 de 1 Coríntios?
Afinal de contas, a oração não é apenas pôr em ação nosso intento de
“orar”? Como Davi, precisamos clamar: “Cria em mim, ó Deus, um coração
puro” (Sl 51), antes de podermos orar corretamente. E as inspiradas palavras
do apóstolo do amor precisam ser observadas hoje como sempre: “Amados, se
o coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus; e (então) aquilo
que pedirmos, dele recebemos” (1 Jo 3.21,22).
“É verdade, creio nisso”. Realmente é uma promessa ilimitada e, no
entanto, quão fracamente compreendemos isso e como é pouco o que pedimos
a Cristo. E o Senhor “se maravilha” com nossa incredulidade. Mas se
pudéssemos ler os Evangelhos pela primeira vez, que livros extraordinários eles

8
nos pareceriam. Será que não devíamos nos “maravilhar” e “espantar”? E hoje
transmito ao leitor este apelo. Será que Você irá atender a ele? Irá receber as
vantagens que decorrem da obediência a ele? Ou ele cairá em ouvidos surdos,
e você continuará a não orar?
Irmãos, despertemos! O diabo está vendando nossos olhos. Está-se
esforçando ao máximo para impedir que examinemos esta questão da oração.
Estas páginas estão sendo escritas em atenção a um pedido especial. Mas já se
passaram muitos meses desde que me veio este pedido. Todas as tentativas de
iniciar o livro estavam sendo frustradas, e mesmo agora estamos conscientes
de uma certa relutância em faze-lo. Parece haver uma força misteriosa retendo
a mão. Será que compreendemos que não existe nada que o diabo receie mais
que a oração? Sua grande preocupação é impedir-nos de orar. Ele gosta de ver
que “estamos até aqui” de serviço – desde que não oremos. Ele não teme o
fato de sermos fervorosos e zelosos estudiosos da Bíblia, desde que oremos
pouco. Alguém já disse, como bastante sabedoria: “Satanás se ri de nosso zelo
no serviço; zomba de nossa sabedoria, mas treme quando oramos”. Tudo isso
já é bem conhecido de todos nós – mas, será que oramos de verdade? Se não,
então o fracasso deve acompanhar nossos passos, mesmo que existam muitos
sinais de aparente sucesso.
Não nos esqueçamos de que a maior coisa que podemos fazer para Deus
é orar. Pois conseguiremos realizar muito mais através da oração do que de
nosso trabalho. A oração é onipotente; ela pode fazer qualquer coisa que Deus
pode fazer. Quando oramos, Deus opera! Toda a frutificação em serviço é
resultado de oração – tanto do obreiro, como daqueles que estão levantando
mãos santas em favor dele. Nós todos sabemos orar, mas talvez muitos de nós
precisemos clamar como os discípulos: “Senhor, ensina-nos a orar!”
Ó Senhor, através de quem chegamos a Deus
Tu és a vida, a verdade e o caminho
Tu trilhaste o caminho da oração
Senhor, ensina-nos a orar!

9
2

Promessas Quase Incríveis

“Quando estivermos com Cristo na glória, contemplando a história de


nossa vida terminada”, veremos que o traço mais decisivo dessa vida foi a
ausência de oração.
Ficaremos pasmados ao ver que dedicamos tão pouco tempo à
verdadeira oração. Ali será nossa vez de nos “maravilharmos”.
No último sermão do Senhor aos seus amados, pouco antes da mais
extraordinária de todas as orações, o Mestre várias vezes estendeu, por assim
dizer, o seu cetro de ouro, e perguntou-lhes: “Qual é o pedido de vocês? Ele
lhes será concedido, ainda que seja todo o meu reino”.
Será que cremos nisso? Temos que crer, se é que acreditamos na Bíblia.
Leiamos outra vez, tranquilamente e em meditação, uma das promessas do
Senhor, tantas vezes reiteradas. Se nunca a houvéssemos lido antes, iríamos
arregalar os olhos, espantados, pois estas promessas são quase incríveis. Mas é
o Senhor dos céus e da terra quem está falando, e está falando no momento
mais solene de sua vida – na véspera de sua paixão e morte. É uma mensagem
de despedida. Agora escute:
“E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai
seja glorificado no Filho. S me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei”
(Jo 14.13,14). Podem haver palavras mais claras e explícitas que estas? Será
que outra promessa pode ser maior ou mais importante? Existe outra pessoa,
em qualquer lugar, em outra ocasião que tenha oferecido tanto?
Como aqueles discípulos devem ter ficado espantados! Com certeza, mal
podiam crer no que ouviam. Mas a verdade é que esta promessa é feita
também a mim e a você.
E para que não houvesse nenhum engano da parte deles, e não haja da
nossa, o Senhor a repete alguns momentos depois. E o Espírito Santo inspirou
João para que registrasse essas palavras novamente: “Se permanecerdes em
mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e
vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos
tornareis meus discípulos” (Jo 15.7,8).
Estas palavras são de tanta importância e têm tamanha significação, que
o Salvador do mundo não se contenta com uma terceira enunciação delas. Ele
insta com os discípulos a que obedeçam seu mandamento de “pedir”. Aliás, ele
lhes diz que uma das evidências de que eles eram amigos dele seria justamente
a obediência aos seus mandamentos em tudo (n. 14). E depois, uma vez mais,
ele repete as instruções: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo
contrário, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e deis

10
frutos, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai
em meu nome, ele vos conceda” (Jo 15.16).
Pensaríamos que agora o Senhor havia deixado bem claro que desejava
que eles orassem e que precisava das orações deles, e que, sem a oração, não
iriam realizar nada. Mas, para nossa grande surpresa, ele volta novamente ao
mesmo assunto, repetindo quase que os mesmos termos.
“Naquele dia nada me perguntareis. Em verdade, em verdade, vos digo,
se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vô-la concederá em meu nome. Até agora
nada tendes pedido em meu nome; pedi, e recebereis, para que a vossa alegria
seja completa” (Jo 16.23,24).
O Senhor nunca dera tanta ênfase a uma promessa ou mandamento
antes – nunca. Esta promessa verdadeiramente maravilhosa é-nos dada seis
vezes. Por seis vezes, quase que num só fôlego, o Salvador ordena que
peçamos o que quisermos. Esta é a maior – e mais maravilhosa – promessa já
feita ao homem. Contudo, a maioria das pessoas – e pessoas crentes –
praticamente a ignoram. Não é verdade?
A excepcional grandeza dessa promessa parece arrebatar-nos.
Entretanto, sabemos que ele “é poderoso para fazer infinitamente mais do que
tudo quanto pedimos, ou pensamos” (Ef 3.20).
Então, nosso bendito Mestre dá sua exortação final, antes de ser preso,
amarrado e chicoteado, antes que seus maravilhosos lábios sejam silenciados
na cruz: “Naquele dia pedireis em meu nome... Porque o próprio Pai vos ama”
(vv. 26, 27). Muitas vezes gastamos tempo meditando nas sete palavras da
cruz, e está certo que assim façamos. Mas será que já passamos uma hora que
seja meditando nestes sete convites à oração, que nos são feitos pelo
Salvador?
Hoje, ele está assentado em seu trono, na majestade nas alturas, e nos
estende o cetro de seu poder. Será que tocaremos nele e lhe falaremos de
nossos anseios? Ele nos ordena que recorramos aos seus tesouros. Está ansioso
para conceder-nos nossos pedidos “segundo as riquezas de sua glória”. Ele diz
que nossa força e produtividade dependem da oração. Ele nos relembra que
nossa própria alegria depende das respostas que recebemos para nossas
orações (Jo 14.24).
E, no entanto, permitimos que o diabo nos convença a negligenciar a
oração. Ele nos faz crer que podemos realizar mais por nossos próprios
esforços, do que com orações – realizar mais por meio da comunicação com os
homens do que pela intercessão junto a Deus. É difícil compreender por que
tão pouca atenção é dada aos sete convites do Senhor – a estes sete
mandamentos e promessas. Como nos atrevemos a trabalhar para Cristo sem
passar muito tempo de joelhos?
Recentemente, um fervoroso obreiro cristão – um professor de escola
dominical – escreveu-me dizendo: “Nunca recebi uma só resposta de oração em
toda a minha vida”. Mas por quê? Será que Deus é mentiroso? Deus não
merece crédito? Suas promessas não valem nada? Será que ele não é sincero
no que diz? Sem dúvida existem muitos que estão lendo estas linhas e estão

11
dizendo no coração o mesmo que disse aquele obreiro cristão. Payson tem
razão – quando diz – e tem base escriturística também: “Se quisermos fazer
muita coisa para Deus, temos que pedir muita coisa a ele: precisamos ser
homens de oração”. Se nossas orações não são respondidas – elas sempre são
respondidas, mas não necessariamente atendidas – o erro deve estar
totalmente em nós, e nunca em Deus. Deus tem prazer em responder às
nossas orações; e Ele nos deu sua palavra de que deseja responde-las.
Colegas de trabalho na vinha, está bem claro que o Mestre deseja que
peçamos, que peçamos bastante. Ele nos diz que, quando assim fazemos,
glorificamos a Deus. Nada está fora do alcance da oração, se não estiver fora
dos limites da vontade de Deus, e não desejamos sair desses limites.
Não ousamos dizer que as palavras do Senhor não são verdadeiras.
Contudo, de uma forma ou de outra, são poucos os crentes que parecem crer
realmente nelas. O que nos retém? O que está selando nossos lábios? O que
nos impede de utilizarmos ao máximo o poder da oração? Será que duvidamos
de seu amor? Nunca! Ele deu sua vida por nós e para nós. Então duvidamos do
amor do Pai? Não. “O próprio Pai vos ama” disse Cristo, quando instava com os
discípulos a que orassem.
Será que duvidamos do seu poder? Nem por um momento. Não disse
ele: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. E eis que estou
convosco todos os dia” (Mt 28.18-20)? Será que duvidamos de sua sabedoria?
Ou desconfiamos das escolhas que faz por nós? Nem por um momento. E, no
entanto, tão poucos de seus seguidores dão valor à oração. Naturalmente, eles
negariam isso – mas as ações falam mais alto que as palavras. Será que temos
medo de fazer prova de Deus? Ele disse que poderíamos faze-lo: “Trazei todos
os dízimos à casa do tesouro... e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos,
se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós benção sem
medida” (Ml 3.10). Sempre que Deus nos fizer uma promessa, respondamos
corajosamente como fez o apóstolo Paulo: “Creio em Deus” (At 27.25) e
confiemos em que ele cumprirá sua palavra.
Se ainda não somos homens de oração, comecemos hoje a sê-lo. Não
adiemos a decisão até uma época mais conveniente. Deus quer que eu ore. O
querido Salvador quer que eu ore. Ele precisa de minhas orações. Há muita
coisa que depende da oração. Na verdade, tudo depende dela. Como podemos
atrever-nos a deixar de orar? Que cada um de nós, de joelhos, faça esta
pergunta: “Se ninguém na terra orar pela salvação dos pecadores com mais
fervor ou maior freqüência do que eu, quantos se converterão a Deus, pela
oração”?
Será que passamos dez minutos por dia em oração? Será que a
consideramos suficientemente importante para fazer isso?
Dez minutos diários, de joelhos, em oração – quando o reino dos céus
está ao nosso alcance, bastando que peçamos.
Dez minutos? Parece uma parcela inadequada de tempo, para passarmos
buscando a Deus (Is 64.7).

12
E estamos realmente orando, quando o fazemos, ou estamos
simplesmente repetindo algumas frases que se tornaram praticamente sem
significado, enquanto nosso pensamento vagueia de um assunto para outro?
Se Deus fosse responder às palavras que repetimos de joelhos esta
manhã, saberíamos reconhecer a resposta? Será que lembramos o que foi que
pedimos? Ele realmente responde. Já deu sua palavra a esse respeito. Deus
sempre responde às verdadeiras orações de fé.
Veremos o que a Bíblia tem a dizer acerca disso, em outro capítulo.
Agora estamos tratando do tempo que passamos em oração.
“Com que freqüência você ora”? foi a pergunta feita a uma senhora
crente. “Três vezes por dia, e o dia todo”, foi sua pronta resposta. Mas quantas
pessoas são assim? A oração é para mim um dever ou um privilégio; um prazer,
uma verdadeira alegria, uma necessidade?
Tenhamos uma nova visão de Cristo em toda a sua glória e façamos um
novo exame das “riquezas da sua glória”, que ele coloca ao nosso dispor, e de
todo o poder que foi dado a ele. Depois, tenhamos uma nova visão do mundo e
sua necessidade (E o mundo nunca esteve tão necessitado quanto agora).
Ora, o mais estranho não é que oremos tão pouco, mas que ainda
possamos nos erguer dos joelhos, depois de compreender nossa grande
necessidade, os problemas de nossos lares e de nossos queridos, as
dificuldades e problemas do pastor e da Igreja, as carências, de todos os tipos,
de nossa comunidade e de país, dos pagãos, do mundo maometano. Todas
essas necessidades podem ser atendidas pelas riquezas de Deus em Cristo
Jesus. São Paulo não teve nenhuma dúvida a respeito – nem nós a temos. “E o
meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus cada
uma de vossas necessidades” (Fp 4.19). Mas, para participarmos de suas
riquezas, temos que orar, pois o mesmo Senhor é rico para com todos os que o
invocam (Rm 10.12).
Tão grande é a importância da oração, que Deus já se antecipou a
responder todas as desculpas ou objeções que possamos apresentar.
Os homens falam de fraquezas ou enfermidades, ou declaram não saber
orar. Deus previu todas essas dificuldades há muito tempo e inspirou o apóstolo
Paulo a dizer o seguinte: “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste
em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo
Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele
que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a
vontade de Deus é que ele intercede pelos santos” (Rm 8.26,27).
Sim. Todas as provisões já foram feitas. Mas somente o Espírito Santo
pode nos “despertar” para “determos” a Deus. E se quiséssemos nos render aos
impulsos do Espírito, com toda a certeza seguiríamos o exemplo dos antigos
apóstolos, que se “consagraram” à oração (At 6.4).
Podemos estar certos de um fato – a influência que qualquer pessoa
exerce neste mundo poderá ser avaliada apenas pelas suas orações – e nunca

13
pela eloqüência, zelo, ortodoxia ou energia. E eu vou mais além, e afirmo que
nenhum homem pode viver corretamente se não orar corretamente.
Podemos trabalhar para Cristo de manhã à noite; podemos passar
longas horas em estudo bíblico; podemos ser fervorosos, fiéis, ortodoxos em
nossas pregações e no trato individual, mas nada disto será verdadeiramente
valioso a menos que oremos muito. Estaremos apenas cheios de boas obras,
mas não “frutificando em toda boa obra” (Cl 1.10). Ser deficiente na oração
implica em ser deficiente na obra de Deus. Muita oração secreta resulta em
muito poder em público. Contudo, não é verdade que embora nossa capacidade
de organização seja quase perfeita, nosso empenho na intercessão é quase
nulo?
Os homens estão-se indagando por que o avivamento tarda tanto. Existe
somente um fator que pode retarda-lo – a ausência de oração. Todos os
avivamentos da História resultaram de muita oração. Alguém pode, às vezes,
desejar ouvir a voz de um arcanjo, mas de que nos vale isto, se a voz do
próprio Cristo não nos impulsiona à oração? Parece quase impertinência que
um homem se ponha a clamar quando o Salvador já nos deu suas “ilimitadas”
promessas. Porém, sentimos que algo deve ser feito, e cremos que o Espírito
Santo está inspirando os homens a relembrarem, a si próprios e a outros, das
palavras de Cristo e do seu poder. Nenhuma palavra que eu diga pode
comunicar a alguém a idéia do valor da oração, da sua necessidade e
onipotência.
Mas esta mensagem é entregue em oração para que Deus Espírito Santo
possa convencer os crentes do pecado de se negligenciar a oração, e venha a
impulsiona-los a se ajoelharem e clamarem a Deus, dia e noite, numa
intercessão fervorosa, confiante, perseverante. O Senhor Jesus, que agora se
encontra nos lugares celestiais, chama-nos a dobrar os joelhos e reivindicar as
riquezas de sua graça.
Nenhum homem ousaria determinar para outro o tempo em que este
deveria passar em oração, nem queremos sugerir que as pessoas façam votos
de orar tantos minutos ou horas por dia. Naturalmente, o mandamento bíblico é
“Orai sem cessar”. Isto, evidentemente, refere-se a uma atitude de oração –
uma atitude que adotamos para nós mesmos.
Falamos aqui de momentos definidos de oração. Você já marcou o
tempo de duração de suas orações? Cremos que a maioria dos leitores ficaria
espantada e perplexa, se fizesse isto.
Alguns anos atrás, este escritor defrontou-se com essa questão. Sentiu
que, para ele, o tempo mínimo que deveria passar em oração era uma hora.
Começou a fazer um registro cuidadoso de suas orações. Algum tempo depois,
conheceu um obreiro que estava sendo grandemente usado por Deus.
Indagando-lhe a que atribuía este sucesso, o homem replicou: “Bem, eu
não poderia passar sem duas horas diárias de oração particular”.
Depois, cruzou meu caminho um missionário, homem cheio do Espírito
Santo, que me contou humildemente das maravilhas que Deus estava operando
através de seu ministério. (E durante toda a conversa percebia-se que o Senhor

14
recebia todo louvor e toda a glória.) “Tenho necessidade, muitas vezes, de
passar até quatro horas por dia em oração”, explicou o missionário.
E sabemos como o Grande Missionário passava noites inteiras em
oração. Por quê? Nosso bendito Salvador não orou simplesmente para nos dar
um exemplo; ele nunca fazia nada apenas para dar um exemplo. Orava porque
precisava orar. Sendo Homem perfeito, a oração era uma necessidade para ele.
Então, quanto mais nós, temos necessidade dela?
“Quatro horas por dia em oração”! exclamou um homem que dedicou a
vida ao trabalho de Deus como médico missionário. “Quatro horas? Dêem-me
dez minutos, e para mim, basta”! Foi uma confissão sincera e corajosa – apesar
de triste. Contudo, se alguns de nós fizerem confissões sinceras...
Bem, não foi por acaso que encontrei esses homens. Deus estava-me
falando por meio deles. Era apenas outro “chamado à oração”, proveniente do
“Deus de paciência e consolação” (Rm 15.5), e depois que a mensagem deles
já calara fundo em meu coração, veio-me às mãos, “por acaso” – como se diz
por aí – um livro. Era O Homem que Orava, que de forma simples e concisa
narra a história de João Hyde, ou o “Hyde que ora”, como ficou conhecido. E,
assim como Deus enviou João Batista para preparar o caminho do Senhor, na
sua primeira vinda, assim também, nestes últimos dias, enviou este João que
ora, para endireitar os caminhos dos homens, antes do seu retorno. E quando
lemos a maravilhosa biografia dessa vida de oração, começamos a indagar:
“Será que já orei alguma vez”?
Descobri que outras pessoas estavam fazendo a mesma indagação. Uma
senhora, que é conhecida pela sua notável intercessão, escreveu-me nos
seguintes termos: “Quando acabei de ler esse livro, comecei a pensar que eu
nunca orara, em toda a minha vida”.
Mas, nesse ponto, temos que mudar de assunto. Caiamos de joelhos
perante Deus, e permitamos que o Espírito Santo nos sonde completamente.
Somos sinceros? Desejamos realmente fazer a vontade de Deus? Cremos
realmente em suas promessas? Se assim for, será que tais anseios não nos
levarão a passar mais tempo de joelhos perante o Senhor? Não faça o voto de
orar por determinado período de tempo, por dia. Decida-se a orar muito. A
oração, para ter valor, precisa ser espontânea, e não feita por constrangimento.
Mas precisamos conservar em mente que a simples resolução de
passarmos mais tempo em oração, ou de vencer o desinteresse de orar, não
durará muito, se não houver uma total e absoluta rendição ao Senhor Jesus
Cristo. Se ainda não demos este passo, precisamos dá-lo agora, se é que
desejamos ser homens de oração.
Mas de uma coisa estou certo: Deus deseja que eu ore, e que você ore.
A questão é: estamos dispostos a orar?
Bendito Salvador, derrama sobre nós a plenitude do Espírito Santo, para
que realmente possamos tornar-nos cristãos ajoelhados.
Apresenta a Deus tuas carências
Numa oração rápida.

15
Ore sempre; ore sem desanimar.
Ore! Ore sem cessar.

16
3

“Pede-me, e Eu Te Darei”

Deus quer que eu peça, que eu ore muito – pois todo o nosso sucesso
no trabalho espiritual depende da oração.
Um pregador que ora pouco, poderá obter alguns resultados em seu
labor, mas, se os obtém, é porque outra pessoa, em algum lugar, está orando
por ele. O “fruto” será de quem orar, e não de quem pregar. Que surpresas não
teremos, alguns de nós que somos pregadores, naquele dia, em que o Senhor
recompensará a “cada um segundo a sua obra”! “Senhor, mas esses aí são
meus convertidos! Era eu quem dirigia aquele ponto de pregação, onde tantas
dessas pessoas foram conduzidas ao aprisco”. Ah, sim – fui eu quem pregou,
apelou e persuadiu; mas, fui “eu” quem orou?
Cada conversão que ocorre é resultado da operação do Espírito no
coração de uma pessoa, em resposta às orações de algum crente.
Ó Deus, concede que essa surpresa não seja nossa. Senhor, ensina-nos
a orar!
Tivemos a visão de Deus apelando, solicitando a oração de seus filhos.
Como estou encarando este apelo? Será que posso dizer como Paulo: “Não sou
desobediente à visão celestial”? outra vez repetimos, se houver algum
arrependimento no céu, o maior deles será o de havermos dedicado tão pouco
tempo à verdadeira intercessão, enquanto estávamos na Terra.
Pensemos na imensa amplitude da oração. “Pede-me, e eu te darei as
nações por herança, e as extremidades da terra por tua possessão” (Sl 2.8).
Contudo, muitas pessoas não se dão ao trabalho de levar a Deus, em oração,
nem os pequenos detalhes de sua vida. E, de dez crentes, nove nunca pensam
em orar pelos não-convertidos.
É de espantar o desinteresse dos cristãos pela oração. Talvez isto se
deva ao fato de nunca haverem experimentado ou ouvido falar de verdadeiras
respostas de oração.
Neste capítulo, estamos nos dispondo a realizar o impossível. E o que é
isso? Desejamos levar ao coração e consciência de cada leitor a realidade do
poder da oração. Nós nos aventuramos a qualificar isto de “impossível”. Pois se
os homens não crêem, nem agem simplesmente pelas promessas e
mandamentos do Senhor, como posso esperar que sejam persuadidos por uma
pobre exortação humana?
Mas, lembra-se de como o Senhor, falando aos discípulos, pediu-lhes
que cressem que ele estava no Pai e o Pai nele? E depois acrescentou: “Crede
ao menos por causa das mesmas obras” (Jo 14.11). Foi como se estivesse
dizendo: “Se minha pessoa, minha vida santificada e minhas maravilhosas
palavras, nada disso os leva a crer em mim, então contemplem as minhas

17
obras. Certamente elas são suficientes para compeli-los à fé. Creiam em mim,
em razão do que realizo”.
Depois, ele continuou apresentando a promessa de que se cressem,
fariam maiores obras que aquelas. E foi após esta palavra, que ele deu a
primeira daquelas seis promessas maravilhosas com respeito à oração.
Certamente, podemos inferir que estas “obras maiores” são resultado de
oração.
Portanto, será que o discípulo pode seguir o método do Mestre? Colega
obreiro, se você não se apropriar destas espantosas promessas do Senhor
relativas à oração, se não confiar nelas, será que não pode crer pelo menos
“por causa das obras”? Isto é, por causa daquelas “obras maiores” que muitos
estão realizando hoje – ou antes, as obras que o Senhor está realizando através
deles e suas orações?
A que é que nos consagramos realmente? Qual é nosso verdadeiro
objetivo na vida? Certamente, nosso maior desejo é sermos abundantemente
produtivos no serviço do Mestre. Não buscamos posição, nem proeminência,
nem poder. Mas desejamos ser servos produtivos. Então, temos que orar
muito. Deus pode realizar maiores obras por meio de nossas orações do que
através de nossas pregações. A. J. Gordon disse: “Depois de orarmos, podemos
fazer mais que orar; mas, enquanto não orarmos, não podemos fazer nada”. Se
nós acreditássemos nisso!
Certa missionária estava desanimada por causa de seu fracasso na obra
e em sua vida particular. Era uma missionária consagrada, mas, por alguma
razão, não havia conversões em seu posto de trabalho.
O Espírito Santo parecia dizer-lhe: “Ore mais”! Mas ela resistiu aos
apelos do Espírito Santo durante algum tempo. “Por fim”, disse ela, “comecei a
dedicar muito tempo à oração. Mas fi-lo com certo temor de que meus colegas
obreiros se queixassem de que eu estava negligenciando o trabalho. Após
algumas semanas, comecei a ver homens e mulheres aceitando a Cristo como
Salvador. Além disso, toda a comunidade experimentou um grande
despertamento, e o trabalho de todos os outros missionários foi mais
abençoado do que nunca. Deus realizou mais em seis meses, do que eu
conseguira em seis anos. E além disso”, concluiu ela, “ninguém me acusou de
negligenciar meu trabalho”. Outra missionária sentiu a mesma necessidade.
Passou a dedicar mais tempo à oração. Não recebeu nenhuma oposição de
fora, mas começou a recebe-la de dentro. Mas ela perseverou, e, em dois anos,
o número de conversos batizados aumentou em seis vezes.
Deus prometeu que iria derramar o “Espírito de graça e súplica sobre
toda a carne” (Jl 2.28). Quanto deste Espírito de súplicas temos nós?
Certamente, precisamos obtê-lo a todo custo. Todavia, se não estivermos
dispostos a empregar tempo em “súplicas”, Deus terá que reter o seu Espírito,
e seremos contados entre aqueles que estão “resistindo ao Espírito” e talvez até
“extinguindo” o Espírito. E o Senhor não prometeu conceder o Espírito àqueles
que lho pedissem? (Lc 11.13).
E não estão os próprios conversos do paganismo a envergonhar-nos?

18
Alguns anos atrás, quando me encontrava na Índia, tive a grande
satisfação de conhecer parte do trabalho de Pandita Pamabai. Ela possuía uma
escola-internato, com cerca de 1500 moças indianas. Certo dia, algumas
daquelas moças procuraram uma das missionárias, trazendo uma Bíblia aberta,
e perguntaram-lhe o que significava o texto de Lucas 12.49. “Eu vim para
lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder”. A missionária
tentou responder-lhes com uma explicação meio evasiva, pois não tinha muita
certeza do que significavam aquelas palavras. Mas as moças não ficaram
satisfeitas e resolveram orar, pedindo este fogo. Depois que oraram – e porque
oraram – o fogo dos céus desceu sobre sua alma. Foi-lhes concedido um
verdadeiro Pentecostes do alto. Não admira que houvessem continuado orando.
Um grupo dessas moças sobre as quais Deus derramara o Espírito de
súplicas, chegou a uma casa da missão onde eu estava passando alguns dias.
“Podemos ficar aqui neste povoado, e orar pela obra aqui”? indagaram. O
missionário não acolheu a idéia com muito entusiasmo. Achava que elas
deveriam estar na escola, e não “perambulando” pela região. Mas elas apenas
pediram uma sala ou um celeiro onde pudessem orar; e todos nós apreciamos
as orações que são feitas em nosso favor. Então, o pedido delas foi atendido, e
o bom homem sentou-se para jantar, pensativamente. Depois de algumas
horas, um pastor indiano apareceu. Estava completamente quebrantado.
Explicou, com lágrimas a escorrer-lhe pelo rosto, que o Espírito de Deus o
convencera de pecado, e que se sentira compelido a vir até ali e confessar seu
erro. Pouco depois, apareceu outro crente, e mais outro, e vários, todos sob
convicção de pecado.
Foi um notável dia de bênçãos. Vários crentes afastados foram
restaurados à comunhão e à fé; outros foram santificados e incrédulos foram
conduzidos ao aprisco de Deus – tudo porque algumas mocinhas estavam
orando.
Deus não faz acepção de pessoas. Se alguém estiver disposto a
submeter-se às suas condições, ele, de sua parte, certamente, cumprirá suas
promessas. Será que nosso coração não “arde” quando ouvimos acerca do
maravilhoso poder de Deus? E este poder é nosso: basta-nos solicita-lo. Sei que
existem “condições”. Mas eu e você podemos cumpri-las em Cristo. E aqueles
que não tiveram o privilégio de servir a Deus na Índia ou em qualquer outra
missão no exterior, podem assim mesmo, tomar parte na tarefa de fazer descer
sobre o mundo uma benção semelhante.
Quando o avivamento de Gales encontrava-se no ponto máximo, um
missionário galês escreveu à sua pátria pedindo ao povo que orasse para que a
Índia experimentasse um avivamento igual ao que eles estavam
experimentando. Então, aqueles mineiros de carvão passaram a reunir-se todos
os dias, na entrada da mina, meia hora antes do alvorecer, a fim de orar por
aquele conterrâneo que se encontrava trabalhando no estrangeiro. Algumas
semanas depois, chegou a alegre notícia: “A benção veio”.
Não é maravilhoso saber que, pelas nossas orações, podemos trazer
chuvas de bênçãos sobre a Índia, África ou China, com a mesma presteza que

19
podemos obter as poucas gotas de que precisamos para nosso “pedacinho de
chão”?
Muitos ainda se recordam das maravilhas que Deus operou na Coréia,
alguns anos atrás, inteiramente em resposta à oração. Alguns missionários
resolveram reunir-se para orar todos os dias, ao meio-dia. Ao fim de um mês,
um dos irmãos propôs que, como nada houvesse acontecido, interrompessem
as reuniões de oração. “Cada um continue orando em sua própria casa, da
maneira que achar mais conveniente”, disse ele. Os outros, porém, protestaram
dizendo que, pelo contrário, deviam dedicar mais tempo à oração, diariamente.
E continuaram com esse programa de oração por mais quatro meses. Então, de
repente, a benção começou a ser derramada. Em toda parte, os cultos das
igrejas eram interrompidos por pessoas quebrantadas que choravam e
confessavam seus pecados. Por fim, um poderoso avivamento brotou entre
eles. Em certo lugar, durante um culto noturno de domingo, o principal homem
da igreja levantou-se e confessou que roubara 100 dólares, ao administrar os
bens de uma viúva. Imediatamente, a convicção de pecados dominou o
ambiente. E aquele culto somente veio a encerrar-se às duas horas da manhã
da segunda-feira. O maravilhoso poder de Deus foi sentido como nunca o fora
antes. E depois que a igreja foi purificada, muitos pecadores encontraram a
salvação.
Multidões se encaminhavam para as igrejas, levadas pela curiosidade.
Alguns vinham para zombar, mas o temor de Deus os dominava, e ficavam
para orar. Entre os “curiosos” estava o chefe de um bando, líder de um grupo
de ladrões. Ele foi convencido de seus pecados e se converteu. Dirigiu-se ao
juiz local, e entregou-se à lei. “Você não tem acusador”, disse o atônito
magistrado, “contudo, você próprio se acusa. Aqui na Coréia não existe uma lei
que discipline um caso como o seu”. E o mandou embora.
Um dos missionários declarou: “Valeu a pena passarmos todos aqueles
meses em oração, pois quando Deus nos deu o Espírito Santo, ele realizou, em
meio dia, mais do que todos os missionários juntos haviam realizado em meio
ano”. Em menos de dois meses, mais de 2000 incrédulos haviam se convertido.
O zelo ardente daqueles convertidos tornou-se proverbial. Alguns deram tudo
que possuíam para edificar uma igreja, e depois choraram porque não tinham
nada mais par dar. Desnecessário é dizer que haviam compreendido o poder da
oração. Aqueles crentes foram batizados com o “Espírito de súplicas”. Em certa
igreja, foi anunciado que realizariam uma reunião de oração, todos os dias, às
4:30 da manhã. No primeiro dia, compareceram 400 pessoas, chegando bem
antes da hora marcada – ansiosos que estavam para orar! E nos outros dias,
este número cresceu rapidamente para 600. em Seul, a freqüência média na
reunião de oração semanal era de 1.100.
Os não-crentes também apareceram para ver o que estava acontecendo.
E exclamavam admirados: “O Deus vivo está entre vocês”! Aqueles pobres
incrédulos haviam enxergado o que muitos crentes não conseguem ver. Cristo
disse: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou
no meio deles” (Mt 18.20). O que foi possível acontecer na Coréia, pode

20
acontecer aqui também. Deus não faz acepção de nações. Ele está ansioso para
nos abençoar, e derramar seu Espírito sobre nós.
Ora, se nós que vivemos neste país considerado cristão – realmente
acreditássemos na oração, isto é, nas preciosas promessas do Senhor, será que
perderíamos as reuniões de oração? Se tivéssemos um interesse genuíno pela
situação de milhares de perdidos em nossa terra e nas terras pagãs, será que
reteríamos nossas orações? Certamente não pensamos muito, senão oraríamos
mais. “Pede-me e eu te darei”, diz o Deus todo-poderoso, que é todo amor, e
nós mal damos atenção às suas palavras.
Na verdade, os conversos das terra idólatras estão-nos envergonhando.
Em minhas viagens, cheguei a Rawal Pindi, na Índia. O que pensam que
aconteceu ali? Algumas jovens da escola de Pandita Ramabai foram a um
acampamento nesse lugar. Pouco tempo antes disso, Pandita havia dito a elas:
“Se houver alguma bênção para a Índia, nós podemos obtê-la. Peçamos a Deus
que nos mostre o que devemos fazer a fim de recebermos esta bênção”.
Enquanto lia a Bíblia, ela parou a meditar no seguinte texto: “...
determinou-lhes que... esperassem a promessa do Pai... e recebereis poder ao
descer sobre vós o Espírito Santo” (At 1.4-8). “Esperar! Ora, nunca fizemos
isso!” exclamou ela. “Já oramos, mas nunca esperamos nenhuma bênção maior
do que as que já recebemos”. E como oraram! Uma de suas reuniões durou
seis horas. E que maravilhosa bênção Deus derramou em resposta àquelas
orações!
Enquanto algumas daquelas moças estavam em Rawal Pindi, certa noite,
uma missionária, ao olhar para fora já perto de meia-noite, ficou surpresa ao
ver uma luz acesa na barraca de uma das moças, o que era contrário às regras
do acampamento. Foi até lá para repreender a jovem, mas encontrou-a, a mais
nova delas – uma garota de 15 anos – ajoelhada no cantinho mais remoto da
tenda, segurando numa das mãos uma vela de sebo, e na outra uma lista para
intercessão. Desta lista constavam 500 nomes – quinhentas das 1500 alunas da
escola de Pandita Ramabai. E ela estava ali, durante todas aquelas horas,
apresentando todos os nomes perante Deus. Não admira que a bênção de Deus
fosse derramada onde quer que aquelas moças apareciam, e sobre as pessoas
a favor de quem elas oravam!
O Pastor Ding Li Mei, da China, tem cerca de 1000 nomes de estudantes
em sua lista de oração. Centenas deles foram ganhos para Cristo através de
suas orações. E suas conversões são tão genuínas, que muitos entraram para o
ministério cristão.
Seria fácil narrar muitas outras admiráveis e inspirativas histórias acerca
da oração. Mas não há necessidade de fazê-lo. Sei que Deus quer que eu ore.
Sei que ele quer que você também ore.
“Se há alguma bênção para nossa pátria, podemos obtê-la”. Não – mais
que isso, se há alguma bênção em Cristo, podemos obtê-la. “Bendito o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de
bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Fp 1.3). Os “armazéns” de
Deus estão repletos de bênçãos. Somente a oração pode destrancá-los. Ela é a

21
chave, e a fé é a energia que gira a chave, abre a porta e reivindica a benção.
Bem-aventurados os puros de coração, pois eles verão a Deus. E vê-lo é orar
corretamente.
Escute. Chegamos – eu e você – uma vez mais a uma encruzilhada.
Todos os fracassos passados, toda a nossa ineficiência e insuficiência, a nossa
falha de frutos na obra, tudo isso pode ser reparado agora, de uma vez por
todas, se apenas dermos à oração o seu lugar de direito. Faça isto hoje. Não
espere uma ocasião mais conveniente.
Tudo que vale a pena depende da decisão que fazemos.
Verdadeiramente Deus é maravilhoso. E um dos fatos mais maravilhosos é que
ele coloca tudo que tem ao alcance da oração da fé. A oração confiante, de um
coração inteiramente purificado, nunca falha. Deus nos deu sua palavra a esse
respeito. Contudo, ainda mais surpreendente é o fato de que os crentes não
crêem na palavra de Deus, ou não a põem à prova.
Quando cristo é “tudo em todos” – quando ele é Senhor, Salvador e rei
de todo o meu ser, então é ele quem ora por mim. Nesse caso podemos, com
verdade, alterar uma palavra de um versículo bem conhecido, e dizer que o
Senhor vive para fazer intercessão por nós. Ah, se pudéssemos fazer o Senhor
Jesus “maravilhar-se” não com a nossa incredulidade, mas com a nossa fé!
Quando o Senhor se maravilhar novamente e disser a nosso respeito: “Em
verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta” (Mt 8.10),
então realmente a paralisia – a imobilidade – se transformará em poder.
O Senhor não veio justamente para lançar fogo sobre nós? Será que já
estamos “ardendo”? será que ele não pode usar-nos como usou aquelas moças
simples da Índia? Deus não faz acepção de pessoas. Se pudéssemos dizer,
humilde e sinceramente: “Para mim o viver é Cristo” (Fp 1.21), será que ele
não manifestaria seu poder em nós?
Algumas pessoas gostam de ler a biografia de João Hyde. Realmente, a
intercessão daquele homem modificou muitas coisas. Alguns dos que o
conheceram relatam que se sentiam comovidos quando ele orava. Eram
tocados até o fundo da alma, quando o escutavam clamar pelo nome de Jesus:
“Jesus! Jesus! Jesus!” e um batismo de amor e poder vinha sobre todos.
Mas não era João Hyde, era o Espírito Santo de Deus que aquele homem
consagrado e cheio dele fazia descer sobre todos os que o rodeavam. Será que
todos nós podemos nos tornar “homens que oram”? Você talvez diga: “Não! Ele
possuía um dom especial de intercessão”. Está bem – e como ele o obteve? No
início, ele era um crente comum, como qualquer um de nós.
Você sabe que, humanamente falando, ele devia esta vida de oração às
orações de um amigo de seu pai? Agora, entenda bem isto, pois é da maior
importância e pode afetar profundamente toda a sua personalidade. Talvez eu
deva contar a história toda, pois muita coisa depende disto. Transcrevemos as
palavras do próprio João Hyde. Ele se achava a bordo de um navio, em viagem
para a Índia, para onde se dirigia como missionário. Ele conta: “Meu pai tinha
um amigo que desejara grandemente ser missionário no estrangeiro, mas não
pudera ir. Este amigo escreveu-me uma carta aos cuidados do navio. Recebi-a

22
poucas horas depois de partirmos do porto de Nova York. As palavras não eram
muitas, mas o sentido geral era o seguinte: “Não cessarei de orar por você,
prezado João, enquanto não estiver cheio do Espírito Santo”. Quando li aquilo,
amassei a carta, irritado, e atirei-a ao chão. Será que aquele amigo pensava
que eu não recebera o batismo do Espírito Santo, ou que eu pensaria em ir
para a Índia sem esta capacitação de poder? Eu estava indignado. Mas, depois,
o bom senso prevaleceu, apanhei a carta e lia-a novamente. Provavelmente eu
necessitava de algo que ainda não recebera. Fiquei a caminhar de um lado para
outro, no tombadilho, enquanto uma batalha se travava em meu interior.
Sentia-me incomodado. Eu gostava daquele homem; sabia que ele levava uma
vida santa e, bem no fundo do meu coração, havia uma certeza de que ele
estava com a razão, que eu não estava preparado para ser missionário. Isto
durou uns dois ou três dias, até que por fim já me sentia profundamente
infeliz... Afinal, numa espécie de desespero, pedi ao Senhor que me enchesse
com seu Espírito e, no momento em que o fiz... comecei a ver como meu
interesse era egoístico”.
Mas ele não recebeu a bênção que buscava. Aportou na Índia, e foi com
um colega missionário para um culto ao ar-livre. “O missionário pregou”, relata
João Hyde, “e ele estava apresentando a Cristo como aquele que
verdadeiramente nos salva de todos os pecados. Depois que terminou, um
homem de aparência respeitável, falando em bom inglês, perguntou-se se ele
próprio fora salvo assim. A pergunta veio diretamente ao meu coração. Se ele a
tivesse dirigido a mim, eu teria que confessar que Cristo não me salvara
completamente, pois sabia existir em meu coração um pecado que ainda não
fora afastado. Compreendi que desonra aquilo representava par o nome de
Cristo, isto é, eu ter que confessar que pregava um Cristo que não me libertava
do pecado, embora eu estivesse proclamando aos outros que ele era um
Salvador perfeito. Fui para o meu quarto, fechei a porta e disse ao Senhor que,
de duas coisas, uma teria que acontecer: ou ele me dava a vitória sobre todos
os pecados, e principalmente sobre aquele que mais me assediava, ou eu teria
que retornar para a América e arranjar outro tipo de trabalho. Disse-lhe que
não poderia levantar-me para pregar o evangelho enquanto não pudesse dar
testemunho de seu poder em minha vida. Compreendi que aquele pedido era
justo, e o Senhor assegurou-me de que ele era capaz, e estava desejoso de
libertar-me de todo o pecado. E ele me libertou. Desde então, nunca duvidei
disso”.
Foi então – e somente então – que Hyde se tornou “O homem que
orava”. Somente com uma rendição completa, um pedido definido para sermos
libertos do poder do pecado em nossa vida, poderemos ser homens de oração,
de oração que prevalece. Contudo, o ponto que desejo enfatizar é o que já
mencionei antes. Um homem relativamente desconhecido, ora por João Hyde,
que também era um desconhecido para o mundo, e, por suas orações, faz
descer tanta bênção sobre ele, que todos hoje o conhecem como “o homem
que orava”. Será que você disse em seu coração, prezado leitor, alguns
instantes atrás que nunca poderia ser como Hyde? Naturalmente, nem todos
podem dedicar tanto tempo à oração. Por razões físicas ou outras quaisquer,
podemos ser impedidos de permanecer em oração durante longo tempo. Mas

23
todos nós podemos ter esse espírito de oração. E será que não podemos fazer
pelos outros o que este amigo anônimo fez por Hyde?
Será que não podemos orar para que outros recebam esta bênção –
como por exemplo, nosso pastor? Ou um amigo? Nossa família? Que ministério
podemos ter, se apenas resolvermos entrar nele! Mas para isso, temos que
fazer a mesma consagração total que fez João Hyde. Já fizemos isso? O
fracasso na oração é devido às falhas do coração. Somente os puros de coração
podem ver a Deus. E somente aqueles que “de coração puro, invocam o
Senhor” podem pedir respostas para suas orações, com toda a confiança.
Que avivamento não surgiria, que bênção poderosa não viria até nós, se
todos que lêem estas linhas clamassem agora pela plenitude do Espírito Santo!
Está vendo por que Deus deseja que oremos? Vê por que tudo que vale
a pena termos depende da oração? Existem várias razões, mas uma se destaca
vividamente e com toda a clareza, depois que lemos este capítulo. É a
seguintes: se pedirmos a Deus alguma coisa e ele não no-la conceder, o erro
está em nós. Toda oração não respondida é uma chamada clara a uma
sondagem do coração, para examinar e ver o que está errado nele; pois a
promessa de Deus é bastante clara: “Se me pedirdes alguma coisa em meu
nome, eu o farei” (Jo 14.14).
Verdadeiramente, todo aquele que ora, põe à prova, não Deus, mas sua
própria vida espiritual.
Que eu me aproxime de ti, Jesus,
Mais e mais perto, a cada dia.
Que eu descanse totalmente em ti, Jesus,
Sim: total e completamente.

24
4

Pedindo Sinais

“Deus realmente responde às orações?” é uma pergunta que


frequentemente está nos lábios das pessoas, e muitas vezes no fundo do
coração também. “Será que a oração tem alguma serventia?” Por alguma
razão, não podemos deixar de orar; e até mesmo os pagãos clama a alguém ou
a alguma coisa, que os socorra em tempos de calamidades, perigos e
problemas.
E aqueles que crêem na oração, mais cedo ou mais tarde se defrontam
com outra questão: “Será certo pôr Deus à prova?” e, além disso, outro
pensamento passa por nossa mente: “Podemos atrever-nos a pôr Deus à
prova?” Pois quase não resta dúvida de que o fracasso na oração, muitas vezes
– ou sempre? – decorre de falhas em nossa vida espiritual. Muitas pessoas
abrigam incredulidade no coração com respeito ao valor efetivo da oração; e,
sem fé, a oração é nula.
Pedir sinais? Pôr Deus à prova? Prouvera Deus que pudéssemos
persuadir os crentes a que assim fizessem. Pois, que teste isto não seria de
nossa própria fé em Deus, e de nossa santidade de vida. A oração é a pedra de
toque da verdadeira santidade. Deus pede que oremos; ele valoriza as nossas
orações e precisa delas. E se estas fracassam, temos que culpar apenas a nós
mesmos. Não queremos dizer com isto que a oração eficaz sempre recebe
aquilo que pede. A Bíblia ensina que temos permissão de colocar Deus à prova.
O exemplo de Gideão, no Velho Testamento, é suficiente para demonstrar que
Deus respeita nossa fé, mesmo quando ela é vacilante. Ele permite que o
provemos, mesmo depois de recebermos uma promessa definida dele. Isto é de
grande conforto para nós.
Gideão disse a Deus: “Se hás de livrar a Israel por meu intermédio,
como disseste, eis que porei uma porção de lã na eira – se o orvalho estiver
somente nela... então conhecerei que hás de livrar a Israel por meu intermédio,
como disseste”. Entretanto, embora houvesse espremido a lã e retirado dela
uma taça cheia de água, aquilo não satisfez a Gideão. Ele se atreveu a colocar
Deus à prova uma segunda vez, e, na noite seguinte, pediu-lhe que a lã ficasse
seca, em vez de molhada. “E Deus assim o fez naquela noite” (Jz 6.40).
Foi muito maravilhoso que o Deus todo-poderoso tivesse feito o que
aquele homem hesitante lhe pedira. Ficamos até boquiabertos, admirados, mal
sabendo o que nos espanta mais – se a coragem do homem ou a
condescendência de Deus. Naturalmente, existem muitas outras lições nesta
história, além da que está à vista. Sem dúvida, Gideão pensou que a lã
representava ele próprio, Gideão.
Se Deus realmente o enchesse com seu Santo Espírito, a salvação estaria
assegurada. Mas quando torceu o pedaço de lã, começou a comparar-se com o

25
pano molhado. “Como sou diferente desta lã. Deus promete libertação, mas
não me sinto cheio do Espírito Santo. Nenhum influxo do Espírito parece ter
vindo sobre mim. Estou mesmo preparado para tão grande feito?” Não! Mas
isto também significa: “Não eu, mas Deus” Ó Deus, que a lã esteja seca – será
que ainda podes operar? Mesmo que eu não esteja cônscio de nenhum poder
sobrenatural, nem da plenitude da bênção espiritual em meu interior; mesmo
que esteja me sentindo ressequido como esta lã, será que ainda podes libertar
a Israel pelo meu braço?” (Não admira que ele tenha iniciado esta petição com
as palavras: “Não se acenda contra mim a tua ira”. “E Deus assim o fez naquela
noite: pois só a lã estava seca, e sobre a terra ao redor havia orvalho” (v. 40).
É verdade; esta história contém outras lições, além da que aparece à
primeira vista. E não será assim em nosso caso também? O diabo nos afirma
tantas vezes que nossas orações não podem esperar uma resposta, por causa
da sequidão de nossa alma. As respostas de oração, contudo, não dependem
de nosso sentimento, mas da integridade daquele que prometeu.
Não estamos insistindo em que esta atitude de Gideão deva ser um
curso de ação normal, pra nós ou qualquer outra pessoa. Ela parece revelar
muita hesitação por parte do crente, para acreditar em Deus. Na verdade,
parece revelar uma grande dúvida com relação a Deus. E certamente Deus se
entristece quando demonstramos apenas uma fé parcial.
A melhor e mais elevada maneira de agir, e também a mais segura, é
“pedir com fé, não duvidando”. Mas é muito reconfortante saber que Deus
permitiu que Gideão o pusesse à prova; e isso nos dá um certo senso de
segurança. Além disso, este não é o único caso mencionado nas Escrituras. O
mais surpreendente exemplo de um homem provando a Deus ocorreu na
Galiléia. O apóstolo Pedro pôs o Senhor à prova: “Se és tu, Senhor”, sendo que
o Senhor já havia dito: “Sou eu”. “Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo,
por sobre as águas”. E o Senhor disse: “Vem!” E Pedro “andou por sobre as
águas” (Mt 14.28,29). Mas essa “fé que prova”, e que Pedro possuía, logo o
abandonou. A “pequena fé” (v. 31) muitas vezes se transforma em dúvida.
Lembremo-nos de que Cristo o reprimiu não por ter querido ir ao seu encontro.
O Senhor não disse: “Por que vieste?” Mas sim: “Por que duvidaste?”.
No final das contas, pôr Deus à prova não é o melhor método. Ele nos
deu tantas promessas associadas à oração da fé, e tantas vezes provou seu
poder e desejo de responder às nossa petições, que deveríamos, na verdade,
hesitar antes de lhe pedirmos sinais e maravilhas.
Mas alguém pode indagar: “Não é o próprio Deus todo-poderoso que nos
chama a prova-lo? Ele não disse: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro...
e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do
céu, e não derramar sobre vós bênção sem medida” (Ml 3.10)?
É; isto é verdade – Deus realmente diz: “Provai-me nisto”. Mas na
verdade somos nós os testados. Se as janelas dos céus não se abrirem quando
orarmos, e esta bênção de plenitude transbordante não for derramada, isto
acontece porque não somos dizimistas. Quando estamos de fato inteiramente
rendidos a Deus – quando trazemos todos os dízimos à casa do tesouro –

26
recebemos uma bênção tal, que não precisamos pôr Deus à prova. Trataremos
desta questão, quando examinarmos o problema da oração que não é
respondida.
Mas antes queremos que cada crente indague: “Já provei minhas
orações com toda a justiça?”. Quanto tempo faz que você orou fazendo um
pedido definido? As pessoas em geral oram pedindo “uma bênção” para certa
pessoa ou reunião, ou para uma missão; e certamente, eles recebem uma
bênção, pois há outros que também estão orando a Deus a respeito da mesma
questão. Pedimos alívio para uma dor ou cura de uma enfermidade; e,
acontece às vezes que pessoas que não temem a Deus e em favor das quais
ninguém parece estar orando, são curadas, em alguns casos, de forma
miraculosa. E nós achamos que ficaríamos curados de qualquer maneira,
mesmo que ninguém estivesse orando em nosso favor. Parece-me que há
muitas pessoas que não sabem indicar um caso em que receberam uma
resposta de oração realmente definida e conclusiva para a sua vida. A maioria
dos crentes não dá a Deus a oportunidade de demonstrar seu prazer em
atender as petições de seus filhos, pois seus pedidos são muito vagos e
indefinidos. E se assim é, não devemos nos surpreender de que a oração seja,
muitas vezes, uma mera formalidade – uma repetição quase mecânica de
certas frases, dia após dia; apenas um “exercício”, de alguns minutos, pela
manhã e à noite.
E depois existe outro ponto. Você já passou pela experiência de, durante
a oração, receber um testemunho interior de que ela já foi respondida? Aqueles
que conhecem a vida particular dos homens de oração, muitas vezes, se
admiram da certeza absoluta que eles demonstram em certo momento, quando
sua oração é respondida, antes mesmo que estejam de posse da bênção
solicitada. Um dos guerreiros da oração disse: “Senti grande paz em minha
alma. Tive a certeza de que meu pedido fora atendido”. E depois apenas
agradeceu a Deus pela bênção, que, tinha absoluta certeza, Deus já lhe
concedera. E esta certeza provou-se, mais tarde, plenamente fundada.
O próprio Senhor sempre tinha esta certeza e devemos conservar em
mente que, embora ele fosse Deus, teve uma vida terrena, como um homem
perfeito, que dependia inteiramente do Espírito Santo de Deus.
Quando se postou perante o túmulo de Lázaro, antes de chama-lo de
entre os mortos, disse: “Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia
que sempre me ouves”. Então, por que ele agradeceu? “Por causa da multidão
presente, para que creiam que tu me enviaste” (Jo 11.41,42). Se Cristo habita
pela fé em nosso coração, se o Espírito Santo está sussurrando em nós nossas
petições, e oramos “no Espírito Santo”, será que não devemos saber que o Pai
“nos ouve”? E aqueles que estão perto de nós começarão a reconhecer que
também somos enviados por Deus.
Homens e mulheres de oração agonizam diante de Deus em oração por
alguma bênção que sabem estar de acordo com a vontade dele, por causa de
algumas promessas definidas encontradas nas páginas das escrituras. Oram
durante horas e horas, ou mesmo durante dias, quando, repentinamente, o
Espírito Santo lhes revela, de maneira clara e absoluta, que Deus já lhes

27
concedeu o que pediam; sentem-se confiantes de que não precisam mais
enviar petições a Deus acerca daquela questão. É como se Deus houvesse dito,
com toda clareza: “Tua oração foi ouvida, e já atendi ao desejo de teu
coração”. E esta experiência não é de apenas um homem, mas a maioria
daquels que fazem da oração os fundamentos de sua vida poderá dar
testemunho do mesmo fato. Também não é uma experiência única em suas
vidas: ela ocorre várias e várias vezes.
Depois, a oração deve ser seguida de ação. Deus disse a Moisés o
seguinte: “Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem” (Ex
14.15).
Não nos surpreendemos ao ouvir que o Dr. Goforth, um missionário que
Deus usou muito na China, muitas vezes recebeu esta certeza de que suas
petições haviam sido concedidas. “Eu sabia que Deus respondera. Recebera
uma certeza definida de que ele abriria o caminho”. Mas por que deveria
alguém surpreender-se com isso? O Senhor Jesus disse: “Vós sois meus amigos
se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não
sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos” (Jo 15.14,15).
Será tão surpreendente que o Senhor permita que nós, seus amigos,
conheçamos algo de seus planos e objetivos?
Então surge a pergunta: será que a intenção de Deus era que isto fosse
experimentado apenas por uns poucos santos escolhidos, ou ele deseja que
todos os crentes exercitem uma fé semelhante e tenham a certeza de que suas
orações foram respondidas?
Sabemos que ele não faz acepções de pessoas, e, portanto, sabemos
que qualquer crente verdadeiro pode participar de sua mente e vontade. Somos
seus amigos se fizermos o que ele nos ordena. Uma dessas coisas é orar. O
Salvador pediu aos discípulos para terem “fé em Deus” (a tradução literal seria
ter “fé de Deus”). Então, depois, podemos dizer a uma montanha: “Ergue-te e
lança-te no mar”, e, se crermos sem duvidar, isso acontecerá. Depois então ele
fez a promessa: “Por isso vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede
que recebestes (isto é, no céu), e será assim convosco (na terra)” (Mc 11.24).
Esta é exatamente a experiência de que estamos falando. É exatamente isto
que os verdadeiros homens de oração fazem. Tais coisas, naturalmente,
acham-se acima da compreensão dos incrédulos. Elas são surpreendentes para
os meio-crentes. O Senhor, porém, deseja que os homens saibam que somos
seus discípulos, enviados como ele o foi (Jo 17.18 e 20.21). E eles saberão
disso se nos amarmos uns aos outros (Jo13.15). Mas existe uma outra prova, a
seguinte: se nós soubermos e se eles virem que Deus nos “ouve” (Jo 11.42).
Alguns imediatamente se lembram da admirável vida de Jorge Muller.
Certa ocasião, quando estava para viajar de Quebec para Liverpool, ele orava
para que uma cadeira que mandara pedir em Nova York chegasse antes do
embarque no navio, e teve a certeza de que Deus atendera seu pedido. Cerca
de meia hora antes do momento em que a chalupa deveria levar os passageiros
para o navio, os agentes o informaram de que a cadeira não havia chegado, e
que não havia meios de ela chegar a tempo para embarcar no grande vapor.
Mas, a Sra. Muller sofria de fortes enjôos, e era muito importante que

28
dispusesse daquela cadeira. Entretanto, nada convencia Jorge Muller a comprar
outra, numa das lojas das proximidades. “Fizemos uma petição especial a nosso
Pai celeste para que se agradasse de consegui-la para nós, e confiamos em que
ele o fará”, foi a resposta dele, e seguiu para bordo, absolutamente certo de
que sua confiança não fora mal aplicada e na falharia. Poucos instantes antes
de a chalupa partir, apareceu um veículo de carga e, bem no alto da carga,
vinha a cadeira da Sra. Muller. Ela foi levada para a embarcação rapidamente, e
entregue nas mãos do mesmo homem que havia insistido com Jorge Muller
para comprar outra. Quando ele a deu ao Sr. Muller, este não demonstrou
nenhuma surpresa, mas, tranquilamente, retirou o chapéu e agradeceu ao Pai
celestial. Para este homem de Deus, esta resposta de oração não constituía
nenhum espanto, era uma coisa natural. E não é possível que Deus tenha
permitido que a cadeira fosse retida até o último instante para ensinar uma
lição aos amigos de Jorge Muller – e a nós? Se não tivesse havido aquele
atraso, nunca teríamos ouvido falar desse incidente.
Deus faz tudo o que pode para convencer-nos a orar e confiar, todavia
somos tão lentos para agir. Ah, quanto não perdemos por causa de nossa falta
de fé e oração! Ninguém pode ter uma comunhão real e profunda com Deus, se
não souber orar de forma a receber as respostas de suas petições.
Se alguém tem alguma dúvida a respeito do fato de que Deus deseja ser
posto à prova, deve ler um livro de Amy Carmichael: Nor Scrip. Nele, Amy
conta como “provou a Deus” várias e várias vezes. Tem-se a impressão, ao ler
o livro, de que não foi por mero acaso que ela se sentiu induzida a agir assim.
Na certa, a mão de Deus estava em tudo. Por exemplo, para livrar uma criança
hindu de uma vida de vergonha “religiosa”, era necessário pagar cerca de cem
rúpias. Será que ela estaria certa em fazer aquilo? Ela poderia, com essa
mesma quantia, ajudar muitas meninas; será que ela deveria empregar todo
aquele dinheiro em uma só? Sentiu-se impelida a orar a Deus para que ele lhe
enviasse a quantia exata de cem rúpias – nem mais e nem menos – se fosse de
sua vontade que o dinheiro fosse gasto daquela forma. E o dinheiro veio – a
quantia exata – e a pessoa que o enviara explicou que se sentara para
preencher o cheque tendo em mente uma quantia fracionada, mas depois fora
impelida a arredondar para cem rúpias.
Isso aconteceu há mais de quinze anos, e, depois disso, aquela
missionária já pôs Deus à prova várias e várias vezes, e ele nunca a
decepcionou. Ela diz o seguinte: “Nesses quinze anos, nem uma só conta
deixou de ser paga; e nunca dissemos a ninguém que tínhamos necessidade de
auxílio; e nunca passamos falta de nada. Certa vez, apenas para provar que
isso poderia acontecer, caso fosse necessário, recebemos 825 libras esterlina
por telegrama. Às vezes, uma pessoa surgia de repente, de entre a multidão
reunida numa estação de trem, e nos enfiava na mão um presente em dinheiro,
e desaparecia entre o povo, antes que pudéssemos identifica-la”.
Não é maravilhoso? Maravilhoso! O que o apóstolo João nos diz, falando
por inspiração do Espírito Santo? “E esta é a confiança que temos para com ele,
que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se
sabemos que ele nos ouve, quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que

29
obtemos os pedidos que lhe temos feito” (1Jo 5.14, 15). Será que nós já
exercitamos esta “confiança”? E se não, por que não?
Chamar isto de maravilhoso demonstra nossa falta de fé. Para Deus, é
um ato natural de responder à oração, um ato normal, não extraordinário. A
verdade é que – sejamos sinceros e francos – a verdade é que muitos de nós
não crêem em Deus. Acho que devemos ser honestos nesta questão. Se não
amamos a Deus, devemos orar, porque ele deseja que oremos e ordena que o
façamos. Se cremos em Deus, oremos porque não podemos deixar de faze-lo;
não podemos passar sem ela. Amigo crente, você crê em Deus e confia nele (Jo
3.16), mas será que já cresceu na vida cristã o suficiente para acreditar nele,
isto é, acreditar no que ele fala e em tudo o que ele diz? Não parece blasfêmia
perguntar isto a um crente? Todavia, como são poucos os crentes que
acreditam em Deus! Que Deus nos perdoe! Será que o leitor já percebeu que
confiamos na palavra de um amigo mais facilmente que na palavra de Deus? E,
no entanto, quando um homem realmente acredita em Deus, que milagres da
graça de Deus opera nele e por ele! Nenhuma pessoa nesse mundo foi mais
honrada e admirada do que aquele homem acerca do qual o Novo Testamento
nos fala três vezes: “Abraão creu em Deus” (Rm 4.3; Gl 3.16; Tg 2.23). Sim,
“Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado por justiça” (Rm 4.3). E, hoje
em dia, há crentes em todo o mundo que parecem competir uns com os outros
no sentido de honrar este homem. Imploramos a cada crente em Jesus Cristo
que nunca descanse enquanto não puder dizer: “Creio em Deus” (At 27.25).
Muitas vezes, Amy teve a tentação de comentar com outros a respeito
de alguma necessidade especial. Mas sempre lhe vinha a convicção interior,
pela voz do Senhor, que dizia: “Eu sei, e isto basta!” E, naturalmente, Deus era
glorificado. Durante os terríveis anos da guerra, até mesmo os incrédulos
costumavam dizer: “O Deus deles os alimenta”. “É notório por todo o país”,
disse um não-crente, “que o Deus deles ouve as orações”.
Ah, que glória Deus recebeu por causa da fé deles! Por que não
acreditamos em Deus? Por que não aceitamos a palavra dele? Será que os
crentes e não-crentes podem dizer de nós: “Sabemos que suas orações são
respondidas”? Missionários de todo o mundo, escutem! (Ah, se estas palavras
pudessem entrar em todos os ouvidos e despertar os corações!) O Desejo mais
ardente de Deus – de nosso amoroso Salvador Jesus Cristo – é que cada um
tenha a mesma fé poderosa daquela devota missionária de que falamos.
O querido Pai celeste não deseja que nenhum de seus filhos viva um só
momento de aflição ou tenha uma necessidade não atendida. Não importam as
proporções de nosso problema ou dificuldade; não importa o número de nossos
pedidos; se apenas o “provarmos” da forma colo ele nos orienta, nunca
teremos espaço para guardar as bênçãos que ele nos dará (Ml 3.10).
Oh, que paz perdemos sempre
Oh, que dor no coração;
Só porque nós não levamos
Tudo a Deus em oração

30
Ou porque, quando levamos, não acreditamos na sua palavra. Por que é
tão difícil confiar nele? Ele já nos decepcionou? Ele já não disse várias e várias
vezes que nos concederá todos os pedidos feitos com coração puro, em seu
nome? “Pede-me”, “Orai!” “Provai-me nisto!” A Bíblia está cheia de respostas de
oração – maravilhosas e miraculosas; e, no entanto, nossa fé fracassa e
desonramos a Deus, duvidando dele.
Se nossa fé fosse mais simples
Aceitaríamos a palavra de Deus
E nossa vida seria um dia ensolarado
Pelas bênçãos do Senhor.
Mas, para nossa fé ser simples e nosso corpo “luminoso”, nossos olhos
têm que ser bons (Mt 6.22). Cristo deve ser o único Senhor de nossa vida. Não
podemos esperar estar livres de aflições, se estivermos servindo a Deus e a
Mamon (Mt 6.24,25). Nesse caso, também, seremos conduzidos à vida
vitoriosa. Quando realmente apresentarmos nosso corpo “em sacrifício vivo,
santo e agradável a Deus” (Rm 12.1), quando apresentarmos nossos membros
“para servirem à justiça para santificação” (Rm 6.19), então ele se apresentará
a nós e nos encherá com a plenitude de Deus (Ef 3.19).
Conservemos sempre em mente que a fé verdadeira não apenas crê que
Deus pode atender a oração, mas que ele a atende. É possível que sejamos
descuidados na oração, mas não retarda o Senhor a sua promessa (2Pe 3.9).
não é maravilhosa esta expressão?
Talvez a mais extraordinária prova de Deus de que aqu8ela missionária
nos fala, seja a seguinte. Levantou-se a questão de adquirirem uma casa de
férias numa das colinas próximas. Seria acertado faze-lo? Somente Deus
poderia decidir. Fizeram-se muitas orações. Por fim, fizeram a petição de que,
se era da vontade de Deus que a casa fosse comprada, que recebessem a
quantia exata de 100 libras esterlinas. A quantia chegou imediatamente.
Contudo, ainda hesitaram. Dois meses depois, pediram a Deus que lhes desse o
mesmo sinal, revelando assim sua aprovação para a aquisição da casa. No
mesmo dia, outro cheque de 100 libras chegou. Ainda assim, não quiseram dar
andamento ao negócio. Poucos dias depois, porém, chegou outra oferta de
exatamente 100 libras esterlinas, com a indicação de que se destinava à
compra da casa. Nosso coração não transborda de alegria ao pensar como
nosso maravilhoso Salvador é bondoso? É Lucas, o médico, que nos diz que
Deus é bom (Lc 6.35). O amor é sempre bondoso (1Co 13.4), e Deus é amor.
Pense nisto quando orar. Nosso Senhor é “bondoso”. Isto nos ajudará em
nossas intercessões. Ele é tão paciente conosco, quando nossa fé vacila. “Como
é preciosa, ó Deus, a tua benignidade!” (Sl 36.7) “Porque a tua graça é melhor
do que a vida” (Sl 63.3).
Há, porém, o perigo de lermos acerca de uma fé tão simples em oração
e dizermos: “Que maravilha!” e nos esquecermos completamente que Deus
deseja que todos tenhamos esta mesma fé. Ele não tem predileções por
ninguém. Ele deseja que eu ore e que você ore. Ele permite que aconteçam
coisas como as que descrevemos acima, e faz com que cheguem ao nosso

31
conhecimento, não para nos surpreender, mas para que nos sintamos
estimulados. Às vezes, desejamos que os crentes se esqueçam das regras
criadas pelos homens, e com as quais cercamos a oração. Sejamos mais
simples. Sejamos naturais. Aceitemos a palavra de Deus. Lembremo-nos de que
“se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com
os homens” (Tt 3.4). Deus, por vezes, conduz os homens a uma vida de
oração. Outras vezes, porém, ele tem que nos empurrar a ela.
E quando olhamos para trás e examinamos nossa vida relativamente
vazia de oração, que sensação de gozo e admiração nos domina ao
constatarmos a bondade e “constância de Crist” (2Ts 3.5). Onde estaríamos se
não fosse pela bondade dele? Nós o decepcionamos, mas – bendito seja o seja
o seu nome – ele não nos decepciona, e nunca o fará. Duvidamos dele,
desconfiamos de seu amor, providência e orientação; “desmaiamos pelo
caminho”; murmuramos por causa do caminho; e, no entanto, o tempo todo ele
está-nos abençoando e esperando para derramar sobre nós uma bênção
tamanha que não tenhamos espaço que possa conte-la.
A promessa de Cristo ainda é valida: “Se me pedirdes alguma coisa em
meu nome, eu o farei” (Jo 14.14).
A oração muda tudo – e contudo somos cegos
E lentos em provar e ver
A ventura daquels que confiam
Confiam plenamente em ti
Mas, daqui por diante, cremos em Deus.

32
5

O que é Oração?

Certa vez, Moody falava a um grande grupo de crianças, em Edimburgo,


na Escócia. Para motivar os ouvintes, iniciou a mensagem com uma pergunta:
“O que é oração?” – não esperando uma resposta, mas pensando em dá-la ele
mesmo.
Para surpresa sua, dezenas de mãozinhas se ergueram por todo o salão.
Pediu a um rapazinho que respondesse, e a resposta veio prontamente, clara e
correta: “Oração é a apresentação de nossas petições a Deus, solicitando-lhe
coisas que estejam de acordo com sua vontade, em nome de Cristo, com a
confissão de nossos peados, agradecendo e reconhecendo suas misericórdias”.
O comentário satisfeito de Moody foi: “Dê graças a Deus, meu rapaz, de haver
nascido na Escócia”. Mas isso se passou há muito tempo. Que resposta
receberia ele hoje? Quantas crianças em nossos dias saberiam dar a definição
de oração? Pense um instante, e procure ver que resposta você daria.
O que queremos dizer com oração? Creio que a grande maioria dos
crentes responderia: “Orar é pedir bênçãos a Deus”. Mas, certamente, orar não
é apenas conseguir que “Deus nos preste alguns serviços”, como já explicou
alguém. É uma posição muito mais elevada que simplesmente a de um
mendigo batendo à porta de um homem rico.
O vocábulo “oração” realmente significa “uma palavra dirigida a alguém”,
isto é, a Deus. Tudo que a verdadeira oração almeja é o próprio Deus, pois,
com ele, recebemos tudo de que precisamos. Orar é “voltar a alma para Deus”.
Davi descreve-a como um erguimento da alma viva para um Deus vivo. “A ti,
Senhor, elevo a minha alma” (Sl 25.1). Que bela descrição da oração! Quando
desejamos que o Senhor Jesus contemple nossa alma, também desejamos que
a beleza da santidade repouse sobre nós. Quando elevamos a alma para Deus
em oração, isto dá a ele a oportunidade de fazer aquilo que deseja, em nós e
conosco. Isto significa nos colocarmos à disposição dele. Deus está sempre do
mesmo lado, mas nós nem sempre estamos do seu lado. Quando o homem ora,
Deus tem oportunidade de operar. Um poeta disse:
A oração é o desejo sincero da alma
Expresso ou não,
O movimento de uma chama escondida
Que tremula no coração.
“A oração”, disse um velho místico judeu, “é o momento em que os céus
e a terra se beijam”.,
A oração, então, não é absolutamente um método de persuação dirigido
a Deus, para leva-lo a fazer o que queremos. Não é um recurso para se

33
procurar dobrar a vontade de um Deus relutante. Ela não modifica o propósito
dele, embora possa liberar seu poder. “Não devemos pensar na oração como
uma forma de vencer a relutância de Deus”, diz o Arcebispo Trench, “mas como
uma apropriação de sua mais elevada boa-vontade”.
O propósito de Deus é sempre nosso bem maior. Nem mesmo a oração
feita na ignorância ou na cegueira apode dissuadi-lo disto. Quando oramos
persistentemente por algo prejudicial, nossa força de vontade pode realizar o
desejo, mas nós sofremos por isto. “Concedeu-lhes o que pediram”, diz o
Salmista, “mas fez definhar-lhes a alma” (Sl 106.15). Eles próprios atraíram
para si aquele “definhar”. Foram “amaldiçoados com o peso de uma oração
respondida”.
Na mente de algumas pessoas a oração é algo de que se lança mão nas
horas de emergência. Quando o perigo ameaça, quando vêm as desgraças,
quando sofrem falta de alguma coisa, quando surgem as dificuldades, então
eles oram. Como aconteceu com um mineiro de carvão, incrédulo, que
começou a orar desesperadamente quando o teto da mina começou a desabar.
Um velho crente que se achava por perto observou: “Ah, nada como uns
pedaços de carvão par fazer um homem orar!”.
Entretanto, orar não é meramente fazer pedidos a Deus, embora isto
seja um importante aspecto da oração, quando nada, porque nos fala de nossa
total dependência dele. Mas ela é também comunhão com Deus – um
intercurso pessoal com o Senhor – uma conversa com Deus, (e não apenas o
ato de falar-lhe). Ficamos conhecendo melhor as pessoas conversando com
elas. Conhecemos a Deus da mesma maneira. A mais elevada conseqüência da
oração não é ficarmos livres do mal, nem obtermos aquilo que desejamos, mas
conhecermos a Deus. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único
Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). É; a oração nos
revela mais de Deus, e nessa é a grande descoberta da alma. Os homens ainda
clamam: “Ah, se eu soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria ao seu
tribunal” (Jó 23.3).
O cristão ajoelhado sempre o “acha”, e é achado por ele. A visão
celestial do Senhor Jesus cegou os olhos de Saulo de Tarso, em sua queda,
mas ele nos conta, tempos depois, que, quando se encontrava orando no
tempo em Jerusalém, foi arrebatado e viu a Jesus. “E vi aquele...” Foi então
que Cristo lhe deu a grande comissão de ir aos gentios. Uma visão é sempre
um precursor de uma vocação e de uma ida. Foi assim com Isaías. “Eu vi o
Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes
enchiam o templo” (Is 6.1). Evidentemente, o profeta achava-se orando o
santuário, quando isto se deu. Esta visão foi um prelúdio de uma chamada ao
serviço: “Ide...” Ora, não podemos receber uma visão de Deus a menos que
oremos. E onde não há visão, as almas perecem.
Uma visão de Deus! O conhecido Frei Lourenço disse: “A oração é nada
mais que um senso da presença de Deus” – e isso é apenas a prática da
presença de Deus.

34
Um amigo de Horace Bushnell estava presente certa vez quando esse
homem de Deus orava. Sobreveio-lhe um maravilhoso senso da presença de
Deus. Ele disse: “Quando Horace Bushnell abaixava o rosto entre as mãos, e
orava, eu não estenderia o braço no escuro, com receio de tocar em Deus”. É
possível que o salmista tivesse experimentado a mesma sensação, quando
clamou: “Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa” (Sl 62.5). Creio
que grande parte de nossos fracassos é devida ao fato de que não temos
examinado a seguinte pergunta: o que é oração? É bom estar consciente de
que sempre nos achamos na presença de Deus. É melhor fitá-lo em adoração.
Mas melhor ainda é ter comunhão com ele, como um amigo – e isso é oração.
A oração, em seu melhor e mais elevado aspecto, revela uma alma
sedenta de Deus – e Deus somente. A verdadeira oração brota dos lábios
daqueles cujas afeições estão concentradas nas coisas lá do alto. Que homem
de oração era Zinzendorff? Por quê? Porque ele buscava antes o Doador que
sua dádiva. Ele disse: “Tenho apenas um grande anelo: ele e ele somente”. Até
mesmo Maomé expressa um pensamento semelhante: Ele diz que há três
níveis de oração. O mais inferior é o da oração expressa pelos lábios. O
segundo ocorre quando, por um esforço da vontade, conseguimos fixar o
pensamento nas coisas divinas. O terceiro é aquele em que a alma tem
dificuldade em afastar-se de Deus. Naturalmente, sabemos que Deus ordena
que peçamos. E todos nós lhe obedecemos nesse ponto; e podemos estar
certos de que a oração agrada a Deus e é o veículo para suprimento de nossas
necessidades. Mas o filho que só vai à presença de seu pai quando necessita de
um presente dele, é muito estranho. E não desejamos todos nós alcançar um
estágio de oração que esteja acima dos simples planos de petição? Como se
pode fazer isso?
Parece-me que são necessários apenas dois passos – ou seria melhor
dizermos dois pensamentos? Precisa haver primeiramente uma compreensão da
glória de Deus, e depois da graça de Deus. Às vezes cantamos aquele hino que
diz:
Graça e glória descem de ti
Derrama, ó derrama-as, Senhor, em mim,
E esse desejo é realmente sincero, embora alguém possa indagar o que
a glória de Deus tem a ver com a oração.
Mas devemos lembrar-nos a quem estamos orando. Existe muita lógica
no velho poema:
Estais chegando perante um Rei;
Grandes petições convosco trazei.
Será que algum de nós já parou a fim de meditar a respeito da imensa
glória de Deus, ou para maravilhar-se dele? Será que podemos compreender o
pleno significado da palavra “graça”? Não são nossas orações, muitas vezes,
improdutivas e fracas – e, por vezes, até nem são orações – porque entramos
apressadamente na presença de Deus, sem pensar e sem estar preparados,
não compreendendo a majestade da glória de Deus a quem estamo-nos

35
apresentando, e sem refletir nas imensas riquezas de sua glória em Cristo
Jesus, das quais desejamos receber? Precisamos “pensar em Deus com
magnificência”.
Quero sugerir, então, que antes de apresentarmos nossas petições
perante Deus, paremos primeiramente para meditar acerca de sua graça – pois
ele nos oferece ambas. Temos que elevar a alma a Deus. Coloquemo-nos na
presença de Deus, e dirijamos nossa oração ao Rei dos reis, e Senhor dos
senhores, “o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível... a
ele honra e poder eterno” (1Tm 6.16). E depois então demos-lhe adoração e
louvor, por causa de sua excelsa glória. Consagração não é suficiente.
Precisamos dar-lhe também adoração.
“Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos”, clamam os serafins.
“Toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3). “Glória a Deus nas maiores
alturas”, clama a “multidão da milícia celestial”. E, no entanto, alguns de nós
tentamos entrar em comunhão com Deus sem “tirar os sapatos” (Ex 3.5).
Os lábios clamam: “Deus, sê misericordioso!”
E nunca dizem: “Deus, seja louvado!”
Ó vinde e adoremos!
E podemos aproximar-nos de sua glória com toda a coragem. O Senhor
não orou pedindo que seus discípulos pudessem contemplar sua glória (Jo
17.24)? Por quê? E por que a “terra está cheia da sua glória”? O telescópio
revela sua infinita glória. O microscópio, sua suprema glória. Mesmo a olho nu,
podemos contemplar sua glória surpreendente na paisagem, no brilho do sol,
no mar e no céu. O que significa tudo isto? Estas coisas são apenas uma
revelação parcial da glória de Deus. Não foi um desejo de auto-exibição que
levou o Senhor a orar da seguinte maneira: “Glorifica a teu Filho... Glorifica-me,
ó Pai” (Jo 17.1,5). O Senhor deseja que compreendamos sua infinita fidelidade
e poder ilimitado, para que possamos nos aproximar dele com fé e confiança
simples.
Ao falar da vinda de Cristo, o profeta declarou que “a glória do Senhor
se manifestará, e toda a carne a verá” (Is 40.5). Precisamos, primeiro, ter uma
visão desta glória, mesmo que pequena, antes de podermos orar de maneira
acertada. E o Senhor nos diz: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso que estás
nos céus, santificado seja o teu nome”. Não há nada como uma visão da glória
de Deus para banir todo o temor e dúvida. Antes de apresentarmos a ele
nossas petições, não seria melhor apresentar-lhe nossa adoração, como fizeram
alguns dos santos do passado? Algumas pessoas talvez não precisem dessa
prática. Conta-se que S. Francisco de Assis passava uma ou duas horas em
oração no alto do monte Averno, e a única palavra que saía de seus lábios era:
“Deus! Deus!” que ele repetia a intervalos. Ele começava com adoração – e
muitas vezes ficava só nisso.
Mas nós precisamos de algum tipo de auxílio para entender a glória do
Deus invisível, antes de podermos louva-lo e adora-lo de maneira adequada.
Como disse William Law: “Quando começarmos a orar, digamos expressões dos
atributos de Deus que nos tornem mais cônscios de sua grandeza e poder”.

36
Este ponto é de tanta importância que nos arriscamos a mencionar ao
leitor algumas destas expressões. Alguns iniciam suas orações erguendo os
olhos para os céus, e dizendo: “Glória seja ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”.
A oração “Ó Senhor Deus santíssimo, ó Senhor poderoso, ó santo e
misericordioso Salvador” muitas vezes basta para estabelecer um clima de
solene reverência e um espírito de adoração sobre a alma. O “Gloria in
Excelsis”, do culto da santa comunhão, também é excelente para elevar a alma:
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra... Louvamos-te, bendizemos-te,
adoramos-te, glorificamos-te; damos-te graças por tua excelsa glória, ó Senhor
Deus, rei dos céus, Deus, o Pai todo-poderoso”. Quem de nós pode expressar,
de todo coração, um louvor assim, e ainda permanecer insensível, inconsciente
da presença e majestade do Senhor Deus todo-poderoso? Uma estrofe de um
hino pode servir ao mesmo propósito:
Meu Deus, quão maravilhoso és!
Quão grandiosa é tua majestade!
Nas profundezas da luz ardente!
Quão belo e maravilhoso
Deve ser o contemplar-te.
Tua infinita sabedoria, teu poder ilimitado
E tua grandiosa pureza!
E o seguinte leva-nos aos lugares celestiais!
Santo, santo, santo Deus onipotente!
Tuas obras louvam teu nome com fervor.
Precisamos proclamar e dizer muitas vezes: “A minha engrandece ao
Senhor e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (Lc 1.46,47). Será
que podemos ter o mesmo espírito que o salmista e cantar: “Bendize, ó minha
alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome” (Sl
103.1), “Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Senhor, Deus meu, como tu és
magnificente” (Sl 104.1)? Quando aprenderemos que “no seu templo tudo diz:
Glória” (Sl 29.9)?
Este louvor, esta adoração a Deus, esta ação de graças não somente nos
colocam em espírito de oração, mas de forma misteriosa fazem Deus operar em
nosso favor. Lembre-se das maravilhosas palavras: “O que me oferece sacrifício
de ações de graça, esse me glorificará; e ao que prepara o seu caminho, dar-
lhe-ei que veja a salvação de Deus” (Sl 50.23)? O louvor e a adoração não
somente abrem as portas do céu para que nos cheguemos a Deus, mas
também “preparam o caminho” para que ele nos abençoe. O apóstolo Paulo
diz: “Regozijai-vos sempre” antes de dizer: “Orai sem cessar”. Portanto, nosso
louvor, assim como nossas orações, deve ser incessante.
No momento da ressurreição de Lázaro, a oração de nosso Senhor
iniciou-se com uma palavra de ação de graças: “Pai, graças te dou porque me

37
ouviste” (Jo 11.41). Ele disse isto para que os que estavam perto pudessem
ouvir. Sim, e também para nós ouvirmos.
Talvez você esteja indagando por que devemos dar graças a Deus
principalmente pela sua grande glória, quando nos ajoelhamos para orar; e por
que deveríamos meditar sobre Deus e contemplar sua glória. Mas, não é ele o
Rei da glória? Tudo o que ele faz é glória. Sua santidade é “gloriosa” (Ex
15.11). Seu nome é glorioso (Dt 28.58). Sua obra é “gloriosa” (Sl 111.5). Seu
poder é glorioso (Cl 1.11). Sua voz é gloriosa (Is 30.30).
Todas as coisas belas e maravilhosas
Todas as criaturas, pequenas e grandes
Todas as coisas, sábias e majestosas,
O Senhor criou a todas
para a sua glória.
“Porque dele e por meio dele e para ele são todas as cousas. A ele, pois,
a glória eternamente” (Rm 11.36). E este é o Deus que nos chama para irmos
ao seu encontro em oração. Ele é o nosso Deus, e tem “dádivas para os
homens” (Sl 68.18). Ele diz que todo aquele que é chamado pelo seu nome foi
criado para sua glória (Is 43.7). Sua Igreja deve ser gloriosa – santa e sem
mácula (Ef 5.27). Você já entendeu plenamente que o Senhor Jesus deseja
partilhar conosco da glória que vemos nele. Esta é sua grande dádiva para nós,
os seus redimidos. Creia-me, quanto mais da glória de Deus tivermos, menos
buscaremos as suas dádivas. Não é somente naquele dia, “quando vier para ser
glorificado nos seus santos” (1Ts 1.10), que haverá glória para nós, mas hoje
mesmo, no presente, ele deseja que sejamos participantes da sua glória. Não
foi o Senhor quem o disse? “Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens
dado”, afirma ele (Jo 17.22). Qual é o mandamento de Deus? “Dispõe-te,
resplandece, porque vem a tua luz e a glória do Senhor nasce sobre ti”. E não
apenas isto, mas também: “A sua glória se vê sobre ti”, disse o inspirado
profeta (Is 60.1,2).
Deus gostaria que o mundo disse de nós aquilo que Pedro disse dos
discípulos de antigamente: “Sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus”
(1Pe 4.14). Não seria isto uma resposta para muitas das nossas orações?
Poderíamos pedir coisa melhor? Como podemos obter esta glória? Como vamos
refleti-la? Somente como resultado da oração. É quando oramos que o Espírito
Santo nos revela as coisas de Cristo (Jo 16.15).
Quando Moisés orou: “Rogo-te que me mostres a tua glória”, ele não
apenas viu uma parte dela, mas também participou dessa glória, pois o seu
rosto brilho com grande luz (Ex 33.18 e 34.29). E quando nós, também,
contemplamos a “glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6), não apenas
temos um vislumbre desta glória, mas também obtemos uma parte dela.
Ora, essa é a oração de mais elevado alcance. E não existe outra forma
de conseguir esta glória, para que Deus seja glorificado em nós (Is 60.21).

38
Meditemos com freqüência sobre a glória de Cristo – contemplemos esta
glória, e assim nós a refletiremos e a receberemos. Foi o que aconteceu com os
primeiros discípulos de Jesus. Eles exclamaram admirados: “Contemplamos a
sua glória!”. Sim, mas o que foi que se seguiu? Alguns pescadores simples,
iletrados, obscuros, andaram com Cristo durante algum tempo, vendo a sua
glória, e eis que eles próprios passaram a possuir um pouco dessa glória. E
então os outros se maravilharam e “reconheceram que haviam eles estado com
Jesus” (At 4.13).
Quando pudermos afirmar como o apóstolo João: “Ora, a nossa
comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (1Jo 1.3), o povo irá dizer
o mesmo a nosso respeito: “Eles estiveram com Jesus”.
Quando elevamos a alma em oração ao Deus vivo, adquirimos a beleza
da santidade, tão certamente quanto uma flor exposta à luz do sol adquire
beleza. O Senhor não foi transfigurado quando orava? Até a “aparência” de
nosso rosto se modificará, e teremos o nosso monte da transfiguração, quando
a oração ocupar seu lugar de direito em nossa vida. E os homens verão em
nosso rosto “o sinal exterior visível de uma graça espiritual interior”. Nosso
valor para Deus e para o homem está na proporção direta da extensão em que
revelamos a sua glória para outros.
Já nos demoramos bastante a falar sobre a glória daquele a quem
oramos, e agora devemos falar de sua graça.
O que é oração? É um sinal de vida espiritual. É muito mais provável
encontrar vida em um homem morto, que vida espiritual em uma alma que não
ora. Nossa espiritualidade e produtividade na obra estão sempre em proporção
direta à consistência de nossas orações. Portanto, se alguém afastou-se do
caminho certo nesta questão da oração, que hoje tome a seguinte decisão:
“Levantar-me-ei e irei ter com me Pai e lhe direi”.
A esta altura, larguei minha caneta e, na primeira folha que peguei para
ler, vi as seguintes palavras: A razão de nosso fracasso é que vemos os homens
antes que a Deus. A Igreja Romana tremeu quando Martinho Lutero viu a Deus.
O “grande despertamento” começou quando Jonathan Edwards viu a Deus. O
mundo tornou-se a paróquia de um homem quando João Wesley viu a Deus.
Multidões foram salvas quando Whitefield viu a Deus. Milhares de órfãos foram
alimentados quando Jorge Muller viu a Deus. E ele é o mesmo “ontem, hoje e
sempre”.
Já é tempo de termos uma nova visão de Deus – de Deus em toda a sua
glória. Quem pode prever o que irá acontecer quando a Igreja vir a Deus? Mas
não fiquemos a esperar uns p elos outros. Que cada um por si, de rosto
descoberto e coração imaculado, possa obter uma visão da glória de Deus.
“Bem-aventurados os limpos de coração porque verão a Deus” (Mt 5.8).
Nenhum dos missionários que tive a alegria de conhecer impressionou-me mais
que o Dr. Wilbur Chapman. Ele escreveu a um amigo: “Aprendi várias lições a
respeito da oração. Em um de nossos pontos de pregação, na Inglaterra, a
freqüência era muito pequena. Mas recebi um bilhete informando que um
missionário americano... iria orar para que Deus abençoasse o trabalho. Ele era

39
conhecido como “Hyde, o homem que ora”. Quase que instantaneamente a
maré mudou. O salão ficava lotado, e no primeiro apelo que fiz, cinqüenta
homens aceitaram a Cristo como Salvador. Quando estávamos saindo, disse:
“Sr. Hyde, quero que ore por mim”. Ele veio ao meu quarto, girou a chave na
porta, caiu de joelhos e passou cinco minutos ali, sem que uma só sílaba saísse
de seus lábios. Eu ouvia meu coração bater e o dele também. Senti lágrimas
ardentes escorrerem-me pelo rosto. Reconheci que me achava na presença de
Deus. Foi então que, com o rosto voltado para o alto e lágrimas rolando de
seus olhos, ele disse: “Ó Deus!”. A seguir, ficou em silêncio por mais cinco
minutos; depois, quando compreendeu que já falava com Deus... brotaram do
fundo de seu coração petições que eu nunca havia ouvido antes. Quando me
ergui, aprendera o que era a verdadeira oração. Cremos que a oração é
poderosa, e cremos nisso de uma forma nunca experimentada antes”.
O Dr. Chapman costumava dizer: “Foi em certa época, em que orei com
João Hyde várias vezes, que passei a entender o que era a verdadeira oração.
Devo a ele mais do que devo a qualquer outro homem, por haver-me mostrado
como deve ser nossa comunhão com Deus, e o que significa uma vida
consagrada. Jesus Cristo tornou-se para mim um novo ideal, e tive uma
compreensão melhor da comunhão com ele; senti o desejo de ser um
verdadeiro homem de oração, desejo esse que continua até hoje”.
E que Deus, o Espírito Santo, nos ensine o mesmo.
Ó vós que suspirais e desfaleceis
E lamentais vossa falta de poder
Ouvi este suave murmurar:
“Será que nem por uma hora podíeis vigiar?”

Para o trabalho e para a bênção


Não há caminho fácil;
O poder para o serviço santo
É ter comunhão com Deus.

40
6

Como Devo Orar?

Como devo orar? Será que existe outra pergunta mais importante para o
crente? Como me aproximarei do Rei da glória?
Quando lemos as promessas de Cristo concernentes à oração, somos
tentados a pensar que ele coloca em nossas mãos um poder demasiadamente
grande – a não ser que, na verdade, concluímos precipitadamente, lhe seja
impossível operar de acordo com suas promessas. Ele diz: “tudo quanto
pedirdes” e “alguma coisa”, “qualquer coisa” – vos será feito.
Mas depois ele acrescenta uma expressão mais restritiva. Diz que temos
que pedir em seu nome. Esta é a condição, e a única, embora, como
relembraremos mais tarde, ela seja por vezes apresentada em outros termos.
Portanto, se pedirmos e não recebermos, só pode ser porque não
estamos preenchendo as condições. Se somos verdadeiramente seus discípulos
– se somos sinceros – faremos todo o possível e o impossível, se preciso for,
para descobrir o que significa pedir em seu nome – e não ficaremos contentes
enquanto não preenchermos esta condição. Leiamos novamente essa promessa
para termos certeza absoluta do que ela diz: “E tudo quanto pedirdes em meu
nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes
alguma coisa em meu nome, eu o farei” (Jo 14.13,14).
Isso foi algo de novo, pois o Senhor assim o afirmou: “Até agora nada
tendes pedido em meu nome”, mas agora “pedi e recebereis para que a vossa
alegria seja completa” (Jo 16.24).
O Senhor repete esta simples condição cinco vezes: “Em meu nome”: Jo
14.13,14; 15.16; 16.23, 24, 26. Evidentemente, existe algo de muito
importante implicado nessa questão. Isto é mais que uma condição – é também
uma promessa, um incentivo, pois os mandamentos do Senhor também são sua
capacitação.
O que então significaria pedir em seu nome? Precisamos saber isso a
todo custo, pois esse é o segredo do poder na oração. É possível fazer-se um
emprego errado dessas palavras. O senhor disse: “Porque virão muitos em meu
nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos” (Mt 24.5). Ele poderia
ter dito também: “E muitos pensarão estar orando ao Pai, em meu nome,
quando realmente estão enganando a si mesmos”.
Será que orar no nome dele significa apenas acrescentar, no final da
oração, a expressão: “Tudo isso te peço no nome de Cristo”?
Aparentemente, muitas pessoas pensam que é assim, mas você já ouviu
– ou fez – orações cheias de petições egoísticas que foram encerradas deste
modo: “Por amor de Cristo, amém”?

41
Deus não poderia atender à orações que Tiago condena em sua epístola
apenas porque os que as fazem terminam desta forma: “Pedimos estas coisas
no nome do Senhor Jesus Cristo”. Aqueles cristãos estavam pedindo “mal” (Tg
4.3). Uma oração errada não fica automaticamente consertada pela adição de
uma expressão mística.
E uma oração correta não fracassa somente porque tais palavras foram
omitidas. Não! Não se trata de uma questão de palavras. O Senhor estava
referindo-se a fé e fatos, mais que a qualquer fórmula mágica. O principal
objetivo da oração é glorificar o Senhor Jesus. Temos que pedir em nome de
Cristo, “a fim de que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14.13). Escute! Não
devemos buscar riquezas ou saúde, prosperidade ou sucesso, tranqüilidade e
conforto, espiritualidade e poder no serviço simplesmente para nosso próprio
deleite, progresso pessoal ou popularidade, mas somente por causa de Cristo –
para sua glória. Verifiquemos três pontos dessa questão, para compreendermos
melhor estas importantes palavras: “Em meu nome”.
(1) Existe um sentido em que algumas coisas são feitas apenas “por
causa de Cristo” – por causa de morte expiatória na cruz. Aqueles que não
crêem na morte vicária de Cristo não podem orar “em seu nome”. Podem
pronunciar estas palavras, mas elas não terão nenhum efeito. Pois somos
“justificados pelo seu sangue” (Ef 1.7; Cl 1.14). Nos dias atuais, quando o
Unitarianismo, sob o rótulo de modernismo, invadiu todas as seitas, é da maior
importância que nos lembremos do valor e da função do sangue derramado por
Cristo, senão a oração – ou o que assim chamamos – se tornará uma ilusão e
uma armadilha para nós.
Vamos ilustrar este ponto relatando uma experiência que aconteceu a
Moody, bem no início de seu ministério. A esposa de um juiz não crente –
homem de grandes dotes intelectuais – suplicou a Moody que falasse ao seu
marido. Mas este hesitou um pouco em discutir com tal homem, e disse isso a
ele, com toda a sinceridade. “Mas”, acrescentou, “se um dia se converter, por
favor, comunique-me”! O juiz riu cinicamente, e respondeu: “Ah, pois não, se
eu me converter mandarei dizer-lhe imediatamente”. E Moody seguiu seu
caminhou, confiando apenas em suas orações. O juiz converteu-se um ano
depois. E cumpriu sua promessa, informando a Moody como acontecera. “Certa
noite, quando minha esposa se encontrava em uma reunião de oração, comecei
a ficar muito inquieto e a sentir-me infeliz. Fui deitar-me antes que ela voltasse.
Mas não consegui dormir durante toda a noite. Na manhã seguinte, levantei-me
bem cedo, e disse a ela que eu não ia tomar o desjejum, e saí para o escritório.
Disse a meus auxiliares que poderiam tirar o dia de folga e tranquei-me no
gabinete. Mas eu me sentia cada vez mais deprimido. Por fim, caí de joelhos e
pedi a Deus que perdoasse meus pecados, mas não queria dizer: “Por amor a
Cristo”, pois sendo unitariano não cria no sacrifício expiatório de Cristo. Em
agonia de mente, continuei a orar. “Ó Deus, perdoa meus pecados”, mas a
resposta não vinha. Afinal, desesperado, clamei: “Ó Deus, por amor a Cristo,
perdoa meus pecados”. Foi então que encontrei paz imediatamente”.
Aquele juiz não teve acesso à presença de Deus enquanto não o buscou
em nome de Jesus Cristo. Quando foi a Deus em nome de Cristo, foi logo

42
ouvido e perdoado. Sim, orar “em nome” do Senhor é pedir bênçãos que nos
são concedidas – ou foram “compradas” – pelo sangue de Jesus. Temos
“intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus” (Hb 10.19).
Não existe outro meio de ali entrarmos.
Mas não é apenas isso que as palavras “em meu nome” significam.
(2) A mais conhecida ilustração de ir a Deus “em nome de Cristo” é a da
retirada de dinheiro de um banco por meio de um cheque. Posso sacar de meu
depósito apenas até o total de meu saldo. Em meu próprio nome, não posso ir
além disso. Não tenho nenhum saldo no Banco da Inglaterra e, portanto, não
posso retirar nada dali. Mas suponhamos que um homem muito rico, que tem
uma grande conta num banco, me dê um cheque em branco, já assinado, e me
diga que posso preenche-lo com a quantia que eu desejar. Ele é meu amigo. O
que farei? Vou retirar apenas o que preciso para o momento, ou vou retirar o
máximo que puder? Certamente, não irei fazer nada que venha magoar meu
amigo, ou fazer-me perder sua estima.
Bem, dizem-nos que o céu é nosso banco. Deus é o Grande Banqueiro,
pois “toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá do alto, descendo do Pai das
luzes” (Tg 1.17). Precisamos de um cheque com o qual retirarmos “dinheiro”
deste tesouro iluminado. O Senhor Jesus nos dá um cheque em branco e diz:
“Preencha-o com a quantia que desejar. Peça qualquer coisa, o que quiser, e
você o terá. Apresente este cheque em meu nome, e seu pedido será
atendido”. Deixem-me colocar isto nas palavras de um conhecido evangelista:
“Isto é o que acontece quando vou ao banco dos céus – quando me dirijo a
Deus em oração. Não tenho nada depositado ali; não tenho crédito, e se for em
meu próprio nome, não receberei absolutamente nada. Mas Jesus tem crédito
ilimitado no céu, e ele me concedeu o privilégio de dirigir-me ao céu, com seu
nome, em meus cheques, e quando ajo assim, minhas orações são atendidas,
qualquer que seja o pedido”.
Então, orar em nome de Jesus é orar não apoiado em meu próprio
crédito, mas no dele.
Isto é maravilhoso e, num certo sentido, muito verdadeiro.
Se este cheque fosse descontado de uma conta do governo ou de uma
empresa rica, nossa tendência seria retirar o máximo permitido. Mas,
lembremo-nos de que estamo-nos dirigindo a um Pai amoroso, a quem
devemos tudo, a quem amamos de todo o coração e a quem voltaremos
repetidamente. Ao descontar nossos cheques no banco dos céus, nosso
objetivo principal é honrar e glorificar a ele. Desejamos fazer apenas aquilo que
for agradável aos seus olhos. O desconto de alguns de nossos cheques – isto é,
a resposta de algumas petições – pode implicar em desonra para o nome dele,
e descrédito e desconforto para nós. É verdade que seus recursos são
ilimitados; mas sua honra é vulnerável.
Contudo, a própria experiência torna desnecessários quaisquer
argumentos. Prezado leitor, não é verdade que nós – todos nós – muitas vezes
tentamos utilizar este método e fracassamos?

43
Quantos de nós se atrevem a dizer que nunca saem do banco sem terem
recebido aquilo que pediram, embora, aparentemente, tenham feito o pedido
“em nome de Cristo”? Onde falhamos? Será porque não buscamos a vontade
de Deus para nós? Não devemos tentar ultrapassar a vontade dele.
Permitam-me narrar uma experiência pessoal que nunca contei em
público, e que provavelmente é bastante singular. Ocorreu há mais de trinta
anos, e agora entendo por quê. Ela é uma ilustração maravilhosa do que
estamos procurando ensinar acerca da oração.
Um amigo rico, pessoa extremamente ocupada, desejava dar-me uma
libra esterlina para auxiliar na aquisição de certo objeto. Convidou-me a passar
por seu escritório e, apressadamente, fez um cheque e entregou-o a mim, com
as seguintes palavras: “Não vou cruza-lo. Você pode fazer o favor de desconta-
lo no banco?” Chegando ao banco, olhei de relance para meu nome escrito no
cheque sem me dar ao trabalho de verificar a quantia, endossei-o e estendi ao
caixa. “É uma quantia muito grande para ser descontada aqui no guichê”, disse
ele, fitando-me meio de lado. “É”, respondi rindo, “uma libra”. “Não”, replicou o
homem, “o cheque é de 1000 libras”.
E era mesmo. Acostumado a fazer cheques de quantias vultosas, aquele
meu amigo realmente escrevera 1000, ao invés de “uma” libra. Agora, qual era
minha verdadeira posição? O cheque fora mesmo feito em nome dele. A
assinatura era legal. Meu endosso também estava correto. Não poderia eu pedir
as $ 1000 libras, se houvesse tal quantia em depósito? O cheque fora feito livre
e deliberadamente – embora às pressas – para mim: por que não poderia eu
pegar este presente? Por que não?
Por outro lado, tratava-se de um amigo – um amigo generoso a quem eu
devia muitos favores. Ele revelara sua intenção para mim. Eu sabia qual fora
seu desejo e intenção.
Sua intenção fora dar-me apenas uma libra e nada mais. Eu conhecia
seu desejo, sua “mente” e, imediatamente, levei-lhe de volta o cheque
excessivamente generoso e, no momento devido, recebi a quantia de uma libra,
que fora sua intenção dar-me. Se aquele homem tivesse me dado um cheque
em branco, o resultado teria sido o mesmo. Ele teria esperado que eu
escrevesse nele uma libra, e minha palavra de honra estaria em jogo, ao
preencher o cheque. Precisamos fazer a aplicação? Deus tem uma intenção
para cada um de nós, e, ao menos que procuremos conhecer essa vontade, é
provável que peçamos “1000”, quando ele sabe que “uma” será melhor para
nós.
Em nossas orações, estamos nos dirigindo a um amigo – um Pai
amoroso. Devemos-lhe tudo. Ele nos convida a irmos a ele sempre que
quisermos, para pedir-lhe aquilo de que precisamos. Seu saldo é ilimitado.
Mas ele pede que nos lembremos de que devemos pedir apenas as
coisas que estejam de acordo com a sua vontade – somente aquilo que venha
trazer glória ao seu nome. João diz: “Se pedirmos alguma coisa segundo a sua
vontade, ele nos ouve” (1Jo 5.14). Então, nosso Amigo nos dá um cheque em
branco, e deixa que o preenchamos com “qualquer” coisa; mas ele sabe que, se

44
o amamos de verdade, nunca preencheremos aquele cheque com coisas que
ele não deseja conceder-nos, porque poderiam ser perniciosas para nós.
Talvez, para a maioria das pessoas, o problema esteja em outro ponto.
Deus nos entrega um cheque em branco e diz: “Peça uma libra”, e nós pedimos
dez centavos. Meu amigo teria ficado insultado se eu houvesse agido assim.
Será que pedimos o suficiente? Temos coragem de pedir “segundo a sua
riqueza em glória”?
O ponto que queremos enfatizar, então, é o seguinte: não podemos ter
certeza de que estamos orando em seu nome, a menos que procuremos saber
qual é sua vontade para nós.
(3) Mas, mesmo assim, ainda não esgotamos todo o significado destas
palavras: “em meu nome”. Todos sabemos o que seja pedir algo “em nome” de
outra pessoa. Temos o cuidado de permitir que usem nosso nome apenas às
pessoas em quem confiamos, e que sabemos não abusarão dessa confiança e
não irão trazer-nos descrédito. Geazi, o servo de Eliseu, em quem este
confiava, usou o nome do profeta desonestamente, quando foi atrás de Naamã.
Em nome de Eliseu, ele obteve riquezas, mas também herdou uma maldição
por seu erro.
Um empregado de confiança, muitas vezes, usa o nome do patrão e
trabalha com grandes somas de dinheiro, como se fossem dele. Mas só pode
fazer isto enquanto for considerado digno dessa confiança. E ele usa o dinheiro
em benefício de seu chefe, e nunca em seu próprio benefício. Todo dinheiro
que ganhamos pertence ao nosso mestre, Cristo Jesus. Podemos suplicar
bênçãos a Deus, em seu nome, apenas se empregarmos tudo que obtivermos
para a glória dele.
Quando vou ao banco descontar um cheque feito em meu nome, o
encarregado deseja saber apenas se a assinatura de seu cliente é verdadeira, e
se eu sou realmente a pessoa autorizada a recolher o numerário. Ele não pede
referências a meu respeito. Não tem nenhum direito de inquirir acerca da
minha pessoa, se sou ou não merecedor de receber aquele dinheiro, ou se
podem confiar em mim para gasta-lo corretamente. O mesmo não acontece
com o Banco dos Céus. E este ponto é de grande importância. Procuraremos
examinar sem pressa esta questão quando me dirijo ao banco dos céus, no
nome do Senhor Jesus, com um cheque que deve ser descontado da conta
ilimitada de Cristo, Deus exige que eu seja merecedor daquilo que recebo. Não
“merecedor” no sentido em que mereço ou faço jus a qualquer coisa de um
Deus santo – mas merecedor no sentido em que estou buscando aquela dádiva
não para minha própria glória ou interesse próprio, mas para a glória do
Senhor.
De outro modo, estou sujeito a pedir e não receber. “Pedis, e não
recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tg 4.3).
O grande Banqueiro celestial não descontará cheques para nós, se
nossos motivos não forem corretos. Não é exatamente por isso que muitos
fracassam na oração? O nome de Cristo é a revelação de seu caráter.

45
Orar “em seu nome” é orar de acordo com seu caráter, como
representante enviado por ele; é orar através do seu Espírito Santo, segundo a
sua vontade; é ter sua aprovação para o que pedimos, é buscar o que ele
busca; é pedir seu auxílio para fazer o que ele próprio gostaria de fazer; e
desejar aquilo não para nossa própria glória, mas para sua glória somente. Para
orarmos em seu nome, devemos ter com ele identidade de propósitos e
interesses. O eu com seus objetivos próprios e seus desejos deve ser
totalmente controlado pelo Espírito Santo de Deus, para que nossa vontade
esteja em perfeita harmonia com a vontade de Cristo.
Devemos ter a mesma atitude de Santo Agostinho quando clamou: “Ó
Senhor, concede que eu possa fazer tua vontade como se fosse a minha, para
que possas fazer minha vontade, como se fosse a tua”.
Filho de Deus, será que tudo isto está dando a impressão de que é muito
difícil orar “em seu nome”? Não era esta a intenção do Senhor. Ele não zomba
de nós. Falando do Espírito Santo, o Senhor afirmou: “o Consolador... a quem o
Pai enviará em meu nome” (Jo 14.2b). Ora, nosso Salvador quer que sejamos
dirigidos pelo Espírito Santo para atuarmos em nome de Cristo. “Pois todos os
que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8.14). E
somente os filhos podem dizer: “Pai Nosso”.
O Senhor disse o seguinte acerca de Saulo de Tarso: “... porque este é
para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios
e reis, bem como perante os filhos de Israel” (At 9.15). Não para eles, mas
“perante” eles. E o apóstolo Paulo afirma: “Pela sua graça, aprouve revelar seu
Filho em mim”. Não podemos orar em nome de Cristo a menos que levantemos
este nome diante das pessoas. E isto só é possível se permanecermos nele e
sua palavra permanecer em nós. Então, a conclusão a que chegamos é a
seguinte: se o coração não for reto, a oração deve estar errada.
Cristo disse: “Se permanecerdes em mim e as minhas palavras
permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15.7).
Estas três promessas são, na verdade, idênticas – expressam o mesmo
pensamento em palavras diferentes. Vamos examina-las.
Peçam qualquer coisa em meu nome e eu o farei (Jo 14.13,14).
Peçam o que quiserem (se permanecerem em im e as minhas palavras
permanecerem em vocês) e será feito (Jo 15.7).
Peçam qualquer coisa segundo a sua vontade, e receberão as petições
(1Jo 5.14).
E podemos resumir tudo com as palavras do apóstolo João: “E aquilo
que pedimos, dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos, e
fazemos o que lhe é agradável” (1Jo 3.22). Quando fazemos o que ele nos
ordena, ele faz aquilo que pedimos. Ouça a Deus e ele ouvirá você. Assim, o
Senhor nos concede “procuração” para atuarmos em seu reino, o reino dos
céus, se apenas cumprirmos a condição de permanecer nele.
Ah, que maravilha é isto! Com que prontidão e ansiedade deveríamos
procurar conhecer sua “mente”, desejo e vontade. Como é surpreendente que

46
alguém possa perder riqueza tão infinita apenas para buscar satisfazer seu ego.
Sabemos que a vontade de Deus é o melhor para nós; sabemos que ele deseja
abençoar-nos e tornar-nos uma benção; sabemos que, se seguirmos nossa
própria inclinação, certamente seremos prejudicados e magoados, assim como
aqueles a quem amamos. Sabemos que afastar de sua vontade, para nós
poderia significar verdadeiro desastre. Ó filho de Deus, por que não confia nele
plena e completamente? Aqui estamos novamente face a face com uma vida de
santidade. Vemos com a maior clareza que o chamado de nosso Salvador é
simplesmente um apelo à santidade. “Sede santos!” pois sem santificação
ninguém verá a Deus, e a oração não pode ser eficaz.
Quando confessamos que nunca obtemos respostas para nossas
orações, estamos contestando não a Deus, nem suas promessas, nem o poder
da oração, mas a nós próprios. Não existe maior teste de espiritualidade que a
oração. O homem que tenta orar descobre a que distância de Deus se
encontra.
A menos que vivamos a vida vitoriosa não podemos realmente orar “em
nome” de Cristo, e nossa cominhão com Deus deve ser fraca, irregular e
infrutífera.
E “em seu nome” deve ser também “segundo a sua vontade”. Mas
podemos conhecer sua vontade? É certo que podemos. O apóstolo Paulo não
apenas diz: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus...” (Fp 2.5); mas também declara: “Nós, porém, temos a mente de
Cristo” (1Co 2.16). Como, então, podemos chegar a conhecer a vontade de
Deus?
Lembremo-nos de que “a intimidade do Senhor é para os que o temem”
(Sl 25.14).
Em primeiro lugar, não esperemos que Deus nos revele sua vontade, a
menos que desejemos conhecer esta vontade e tencionemos obedece-la. O
conhecimento da vontade de Deus e a sua observância estão sempre juntos.
Costumamos desejar conhecer a vontade de Deus para depois resolver se a
obedeceremos ou não. Essa atitude é desastrosa. “Se alguém quiser fazer a
vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo
por mim” (Jo 7.17).
A vontade de Deus é revelada em sua Palavra, nas Escrituras Sagradas.
O que ele promete em sua Palavra, posso ter certeza de que está em harmonia
com sua vontade.
Posso, por exemplo, pedir sabedoria com toda a confiança, pois a Bíblia
nos diz: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus... e
ser-lhe-á concedida” (Tg 1.5). Não podemos nos tornar pessoas de oração a
menos que estudemos a Palavra de Deus para saber qual é a sua vontade para
nós.
O Espírito Santo de Deus é nosso grande ajudador na oração Leiamos
novamente estes maravilhosos textos de Paulo: “Também o Espírito,
semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar
como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com

47
gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do
Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos”
(Rm 8.26,27).
Que palavras reconfortantes! Nosso desconhecimento e total desamparo
na oração são na verdade uma grande bênção quando lançados sobre o
Espírito Santo. Bendito seja o nome do Senhor! Não temos nenhuma desculpa!
Temos que orar e podemos orar.
Lembremos que o Pai celestial jurou dar o Espírito Santo àqueles que o
pedissem (Lc 11.13), e qualquer outra “boa coisa também” (Mt 7.11).
Filho de Deus, você tem orado muitas vezes, e tem, sem dúvida alguma,
lamentado sua fraqueza e desinteresse pela oração. Mas você realmente já
orou “em nome” dele?
É para o caso de falarmos, ou não sabermos que oração fazer ou de que
modo orar, que o Espírito Santo nos é prometido, como nosso ajudador na
oração.
Não vale a pena estar completamente e de todo o coração rendidos a
Cristo? O cristão meio-a-meio não tem valor nem para Deus nem para os
homens. Deus não pode usa-lo, e o homem muito menos, pois o considera um
hipócrita. Se permitirmos um pecado em nossa vida anulamos imediatamente
nosso gozo e a capacidade de sermos usados para Deus, e nossa oração perde
todo o poder.
Amados, temos recebido uma nova visão da graça e da glória do Senhor
Jesus Cristo. Ele está esperando querendo e para partilhar conosco tanto sua
glória como sua graça. Ele está desejoso de transformar-nos em vasos de
bênçãos. Vamos adora-lo em sinceridade e verdade, e clamar ansiosamente:
“Que farei, Senhor?” (At 22.10). E depois, na força do seu poder, façamos o
que ele nos disser.
O apóstolo Paulo enviou aquela pergunta aos céus: “Que farei?” E que
resposta ele recebeu? Ouça, ele nos conta, em seu conselho aos crentes de
todas as partes, o que isto significa para ele e os que deve significar para nós
também. “Revesti-vos... de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de
humildade, de mansidão, de longanimidade... acima de tudo isto, porém, esteja
o amor... Seja a paz de Cristo o árbitro em vossos corações... Habite ricamente
em vós a palavra de Cristo... em toda sabedoria... E tudo o que fizerdes, seja
em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele
graças a Deus Pai” (Cl 3.12-17). Somente quando fazemos tudo em nome do
Senhor é que ele fará tudo o que pedirmos em seu nome.

48
7

É Preciso Agonizar?

A oração é avaliada não em termos de tempo, mas de intensidade.


Algumas pessoas devotadas, que lêem livros como “O Homem que Orava”
ficam perguntando ansiosamente: “Será que tenho que orar como ele?
Estas pessoas ouvem falar de outros que ficam de joelhos o dia inteiro e
a noite inteira, recusando alimentar-se, desdenhando o sono, apenas orando,
orando, orando. E essas pessoas indagam: “Será que temos que fazer o
mesmo? Todos nós temos que seguir este exemplo?”. Devemos lembrar que
estes homens de oração não oram pelo relógio. Permanecem todo este tempo
em oração, porque não conseguem orar menos.
Alguém pode pensar que, pelo que eu disse nos capítulos anteriores, dei
a entender que todos devemos seguir o exemplo deles. Filho de Deus, não
permita que esse pensamento – ou temor – o perturbe. Apenas disponha-se a
fazdr tudo aquilo que o Senhor quiser que você faça – o que ele o inspira a
fazer. Pense nisso; ore a respeito do assunto. Nós somos chamados pelo
Senhor Jesus para orar ao Pai celestial. Às vezes, cantamos o hino: “Ah, como
ele me ama!” E realmente nada pode medir esse amor.
A oração não nos é dada como um fardo que temos de carregar, ou
como uma tarefa cansativa que temos de cumprir, mas deve constituir um gozo
e poder ilimitados. Ela nos é concedida para “acharmos graça para socorro em
ocasião oportuna” (Hb 4.16). E toda hora é ocasião oportuna. “Orai” é um
convite a ser aceito antes que um mandamento para ser obedecido. Quando
uma criança vai a seu pai a fim de pedir-lhe alguma coisa, isto é um fardo?
Como o pai ama o filho! E ele busca o seu supremo bem. Como ele protege
aquele pequenino de qualquer sofrimento e dor! Nosso Pai celeste nos ama
infinitamente mais que qualquer pai terreno. Que Deus me perdoe, se alguma
de minhas palavras acerca de assunto tão precioso quanto a oração feriu o
coração e a consciência daqueles que estão desejosos de conhecer melhor a
questão: “Vosso Pai celeste sabe”, disse o Senhor Jesus; e se ele sabe,
podemos confiar plenamente e não temer nada.
Um professor pode repreender um aluno por não ter feito as tarefas de
casa, ou por haver-se atrasado ou faltado demasiadamente, mas o pai
amoroso, em casa, tem conhecimento de tudo. Ele sabe do serviço dedicado
que o rapaz presta no lar, onde a doença ou a pobreza colocam tantas
ocupações em seu caminho. Nosso querido e amoroso Pai celestial sabe tudo a
nosso respeito. Ele vê tudo. Sabe que alguns de nós não têm muito tempo livre
e não podem entregar-se a prolongados períodos de oração.
Para alguns de nós, Deus cria esta folga. Ele nos faz deitar (Sl 23.2) para
obrigar-nos a olhar par cima. E mesmo então, a fraqueza do organismo não
permite que tenhamos prolongados períodos de oração. Contudo, duvido que

49
nós, embora nossas desculpas possam ser plausíveis, pensemos bastante
acerca de nossas orações. Alguns de nós são obrigados a dedicar-se muito à
oração. Nosso trabalho exige isso. É possível que sejamos considerados líderes
espirituais; é possível que tenhamos o encargo espiritual de instruir outros.
Permita Deus que não pequemos contra o Senhor deixando de orar por eles
(1Sm 12.23). Sim; para alguns, orar é sua própria tarefa, quase missão.
Outros...
Possuem amigos que lhes causam sofrimento.
Contudo, não buscaram nEle alento.
E tais pessoas não podem deixar de orar por esses amigos. Se sentirmos
o peso das almas no coração, nunca iremos perguntar: “Quanto tempo devo
orar?”
Mas sabemos muito bem das dificuldades que cercam as orações de
muitos. Diante de mim, enquanto escrevo, está uma pequena pilha de cartas.
Todas estão cheias de desculpas e protestos de amizade e argumentos – isto é
verdade. Mas teria sido por causa disto que foram escritas? Não! Não!
Absolutamente! Em cada uma delas percebe-se um desejo profundo de
conhecer a vontade de Deus, e obedecer ao seu chamado à oração, em meio
aos inúmeros clamores da vida.
Essas cartas falam de muitas pessoas que não sabem afastar-se de
outros para observarem momentos de oração; de pessoas que dormem no
mesmo quarto; de mãoes atarefadas; de empregadas; de donas de casa que
mal conseguem dar conta das intermináveis tarefas de lavar, cozinhar, costurar,
limpar e fazer compras e visitas; de operários que estão por demais cansados
para orar após a jornada de trabalho.
Filho de Deus, o Pai celestial sabe de tudo isso. Ele não é um feitor. É
nosso Pai. Se você não tem tempo para orar, ou não te oportunidade de orar a
sós, diga-lhe isto – e descobrirá que já está orando.
E para aqueles que parecem não conseguir um lugar secreto e nem
mesmo podem entrar em uma igreja tranqüila por uns momentos, talvez
possamos apresentar o exemplo de Paulo. Já pensou o leitor que ele estava na
prisão quando escreveu a maioria das preciosas orações que conhecemos?
Imagine-o. estava acorrentado a um soldado romano, dia e noite, e nunca era
deixado a sós, nem por um momento. Epafras esteve com ele parte do tempo,
e “foi contagiado” pelo fervor em oração demonstrado por seu mestre. É
possível que Lucas tenha estado com ele também. Que reuniões de oração
devem ter sido aquelas. Não havia a mínima possibilidade de orarem em
secreto. Não! Mas quanto devemos às orações dessas mãos acorrentadas que
se erguiam para o alto. É possível que nunca possamos estar realmente a sós –
ou quando pudermos, talvez sejam raras as vezes – mas nossas mãos não
estão atadas em corrente, n em nosso coração, e nem nossos lábios tampouco.
Podemos arranjar tempo para orar? Posso estar enganado, mas creio
firmemente que não é da vontade de Deus que a maioria das pessoas – talvez
que todas as pessoas – passem tanto tempo em oração, a ponto de prejudicar
a saúde, por insuficiência de sono ou alimentação. Para muitos é impossível –

50
por causa de debilidade física – permanecer longo tempo no espírito de oração
intensa.
A posição que tomamos para orar é irrelevante. Deus nos ouvirá quer
oremos ajoelhados, de pé, assentados, caminhando ou trabalhando.
Estou bem ciente de que alguns testificam que Deus, às vezes, concede
forças especiais àqueles que sacrificam horas de repouso a fim de orar mais.
Em certa época, este escritor tentou levantar mais cedo, pela manhã, para
oração e comunhão com Deus. Depois de algum tempo, percebeu que o
trabalho diário estava perdendo em intensidade e eficiência, e também que
tinha dificuldade em manter-se desperto, nas primeiras horas da noite.
Mas será que oramos tanto quanto podemos orar? Carrego comigo a
tristeza de haver deixado passar os anos da juventude e vigor, sem ter dado
maior importância às primeiras horas da manhã.
Ora, o mandamento inspirado é bastante claro: “Orai sem cessar” (1Ts
5.17). O senhor disse que os homens devem orar sempre e nunca esmorecer –
“nunca desanimar” (Lc 18.1).
Naturalmente, isto não deve significar que temos de estar sempre de
joelhos. Estou convencido de que Deus não deseja que negligenciemos nosso
trabalho a fim de orar. Mas é igualmente certo que trabalhamos melhor e mais,
se dedicarmos mais tempo à oração e menos tempo ao trabalho.
Temos que trabalhar bem. Não devemos ser “remissos” (Rm 12.11). O
apóstolo Paulo diz: “Contudo, vos exortamos, irmãos, a progredirdes cada vez
mais, e a... cuidar do que é vosso, e trabalhar com as próprias mãos... de modo
que vos porteis com dignidade... e de nada venhais a precisar (1Ts 4.10-12)
“Se alguém não quer trabalhar, também, não coma” (2Ts 3.10).
Mas não existem inúmeras oportunidades, durante o dia, de elevar
“mãos santas”, ou, pelo menos, corações santos – em oração ao Pai? Todas as
manhãs, quando abrimos os olhos para um novo dia, aproveitamos a
oportunidade de louvar e bendizer nosso Redentor? Todos os dias são dia de
Páscoa para o crente. Podemos orar enquanto nos vestimos. Mas sem um
lembrete, muitas vezes nos esquecemos. Pregue no canto do espelho um
pedacinho de papel com as palavras: “Orais sem cessar!” Experimente fazer
isto! Podemos orar quando passamos de um trabalho para outro. Muitas vezes
podemos orar até durante o trabalho. A lavagem de roupa, a costura, o cuidado
dos filhos, a limpeza e o preparo dos alimentos serão mais bem feitos por causa
disso.
Não é verdade que as crianças, tanto as pequeninas como as mais
velhas, trabalham ou brincam melhor quando há uma pessoa amada a observa-
las? E não será de grande auxílio lembrarmos que o Senhor Jesus Cristo está
sempre conosco, a observar-nos? E também a ajudar-nos? A própria certeza de
que seus olhos estão sobre nós, dá-nos consciência de seu poder em nós.
Não crê o leitor que o apóstolo Paulo tinha em mente este hábito de
andar em oração, quando disse: “Perto está o Senhor”? “Não andeis ansioso de
coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas

51
petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Fp 4.5,6). Esta
expressão “em tudo” sugere que à medida que as coisas nos sobrevêm, a cada
momento, devemos naquele mesmo instante e lugar fazer daquilo um objeto de
oração e louvor ao Senhor que está perto. Por que deveríamos interpretar esta
“proximidade” apenas como uma referencia à segunda vinda de Cristo?
Que maravilhoso pensamento! Nossa oração é dirigida a um Deus que
está perto. Quando o Senhor enviou os discípulos a trabalhar, ele disse: “Eis
que estou convosco todos os dias!”.
Sir Thomas Browne, o conhecido médico, entendeu isso. Ele fez um voto
de “orar em todo lugar onde a quietude fosse convidativa; em qualquer casa,
estrada ou rua; e não deixar rua nesta cidade que não fosse testemunha do
fato de que não me esqueci de meu Deus e Salvador; e nem cidade, nem
paróquia que não saiba o mesmo. E todas as vezes que passar por uma igreja,
aproveitar o ensejo para orar. Orar diariamente, e em particular por meus
pacientes, e por todos os enfermos que estivessem aos cuidados de quem quer
que fosse. E dizer, ao entrar na casa de qualquer enfermo: “A paz e a
misericórdia de Deus estejam sobre esta casa”. Depois de cada sermão, orar
pelo pregador e pedir bênçãos para ele”.
Mas duvidamos que esta comunhão contínua com o Senhor seja
possível, sem que observemos períodos definidos de oração – sejam eles
breves ou longos. E o que dizer destes períodos de oração? Já mencionamos
antes que a oração é simples como o pedido de uma criancinha que se dirige
ao pai. E esta observação não exigiria nenhuma explicação se não fosse pela
existência do maligno.
Não há duvida de que o inimigo se opões a uma aproximação nossa com
Deus, em oração e faz tudo que pode para evitar a oração da fé. Seu principal
método de impedir-nos é tentar fazer nossa mente concentrar-se em nossas
necessidades, para que não se ocupe de Deus, o Pai amoroso a quem oramos.
Ele nos leva a pensar mais na dádiva do que no Doador. O espírito Santo nos
inspira a orar por determinado irmão. E nós dizemos: “Ó Deus, abençoa este
irmão!, e paramos aí; nosso pensamento se desvia para o irmão, seus
problemas, dificuldades, esperanças, temores, e lá se vai nossa oração.
Como o diabo dificulta a concentração do pensamento em Deus! É por
isso que insistimos com as pessoas para que obtenham uma visão melhor da
glória de Deus, do seu poder e da presença divina, antes de lhe apresentarem
suas petições. Se não existisse o diabo, não haveria dificuldades na oração,
mas o principal objetivo do maligno é tornar impossíveis nossas orações. É por
isso também que a maioria das pessoas têm dificuldades em compreender
aqueles que condenam o que costumam chamar de “vãs repetições” e “muito
falar” em oração – citando as palavras do Senhor no Sermão do Monte.
Um proeminente pastor de Londres afirmou recentemente: “Deus não
deseja que desperdicemos nem o seu tempo, nem o nosso, com orações
longas. Temos que ter uma atitude mais prática em nosso relacionamento com
Deus, dizer-lhe claramente e de maneira breve, aquilo que desejamos, e deixar
as coisas assim”. Mas será que este amigo pensa que orar é apenas colocar

52
Deus a par de nossas necessidades? Se isto é tudo que a oração representa,
não existe necessidade de orar – “Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes
necessidade, antes que lho peçais”, disse o Senhor quando instou com os
discípulos a que orassem.
Sabemos perfeitamente que Cristo condenou algumas “orações longas”
(Mt 23.14). Mas eram orações longas feitas com o objetivo de “justificar-se”,
um pretexto para exibir-se (Lc 20.47). Prezado crente que ora, creia-me, o
Senhor condenará igualmente muitas das “orações longas” que são feitas em
algumas de nossas reuniões de oração – orações que matam as reuniões e são
encerradas com um pedido a Deus par que atenda “esses fracos sussuros”, ou
“humilde súplica”.
Mas ele nunca condena as orações longas que são sinceras. Não nos
esqueçamos de que o Senhor às vezes passava longas noites em oração.
Somos informados acerca de uma delas – não sabemos a freqüência com que
ele o fazia (Lc 6.12). Por vezes, ele se levantava “alta madrugada” e ia a um
lugar solitário a fim de orar (Mc 1.31). O Homem perfeito passou mais tempo
em oração do que nós passamos. Parece-nos que devia ser fato indubitável
para os santos de Deus, de todas as épocas, que após noites em comunhão
com Deus, deveriam seguir-se dias de poder diante dos homens.
E o Senhor também não encontrou desculpas para não orar – como ele
poderia ter feito, pensamos nós em nossa ignorância. Ele poderia ter feito – por
causa da pressão constante de seu ministério e das infinitas oportunidades de
serviço. Após um de seus dias mais cheios, numa ocasião em que sua
popularidades estava no auge, ele deu as costas a todos, e retirou-se para um
monte, a fim de orar (Mt 14.23).
A Bíblia nos diz que certa vez “Grandes multidões afluíam para ouvi-lo e
serem curadas de suas enfermidades”. E depois vem a informação: “Ele,
porém, se retirava para lugares solitários, e orava” (Lc 5.15,16). Por quê?
Porque sabia que naquele instante a oração seria mais poderosa que o serviço.
Às vezes, dizemos que estamos ocupados demais para orar. Mas o
Senhor, quanto mais ocupado se achava, mais ele orava. Houve ocasião em
que não teve folga nem para comer (Mc 3.20); outras, ele não teve
tranqüilidade para o necessário sono e repouso (Mc 6.31). No entanto, sempre
achava tempo para orar. E se o Senhor teve necessidade de orar
frequentemente, e por vezes durante horas, será que nós não temos
necessidade disso?
Não estou escrevendo para persuadir as pessoas a que concordem
comigo; isto é de somenos importância. Queremos apenas saber a verdade.
Spurgeon disse certa vez: “Não é preciso que usemos de rodeios com o Senhor,
antes de dizermos claramente a ele aquilo que almejamos. Nem é necessário
que tentemos usar linguagem refinada; mas peçamos a Deus as coisas de que
precisamos de maneira simples e direta... Acredito em orações práticas. Isto é,
orações em que apresentamos a Deus uma promessa que ele nos deu em sua
Palavra, e esperamos que seja cumprida, com a mesma certeza com que
esperamos receber uma certa quantia em dinheiro quando vamos ao banco

53
descontar um cheque. Não pensaríamos em ir ao banco, e ficar a andar pelos
guichês, conversando com os caixas a respeito de tudo, menos do motivo que
nos levou ali, e depois regressar sem o dinheiro de que precisávamos. Em vez
disso, apresentamos ao caixa a promessa de pagamento de determinada
quantia ao portador, e lhe dizemos como queremos o dinheiro; conferimos as
notas e depois saímos dali para atender aos nossos interesses. Isto é uma
ilustração do método pelo qual deveríamos sacar suprimentos do Banco dos
céus!” Maravilhoso!
Mas...? Por favor, sejamos bem definidos em nossas orações, e
certamente deixemos de lado a eloqüência – se é que temos alguma! Por favor,
evitemos “conversas desnecessárias”, e cheguemos a Deus em fé, esperando
receber.
Mas será que o caixa me entregaria o dinheiro com a mesma prontidão,
se visse, ao meu lado, um bandido forte, bem armado e de má catadura, em
que reconhecera um terrível criminoso, esperando para arrebatar-me o dinheiro
antes mesmo que minhas mãos o segurasse? Será que ele não esperaria até
que o bandido se fosse? E isto não é um quadro imaginário. A Bíblia ensina
que, de uma forma ou de outra, Satanás pode impedir nossas orações e atrasar
a resposta. O apóstolo Pedro não menciona aos cristãos coisas que podem
“interromper” suas orações? (1Pe 3.7). Nossas orações podem ser
interrompidas. “A todos os que ouvem a palavra do reino, e não a
compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração”
(Mt 13.19).
As escrituras nos dão um exemplo – provavelmente um entre muitos –
de uma situação em que o diabo reteve – atrasou – durante três semanas uma
resposta de oração. Mencionaremos isto apenas para mostrar a necessidade da
oração repetida, da perseverança em oração, e também para chamar a atenção
para o extraordinário poder que Satanás possui. Referimo-nos a Daniel
10.12,13: “Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia, em que aplicaste o
coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as
tuas palavras; e por causa das tuas palavras é que eu vim. Mas o príncipe do
reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém, Miguel, um dos
primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da
Pérsia”.
Não podemos subestimar esta oposição satânica, nem a sua
interferência em nossas orações. Se o certo fosse pedir a Deus apenas uma vez
uma promessa, ou bênção que cremos ser-nos necessária, estes capítulos
nunca teriam sido escritos. Será que não devemos repetir nenhuma petição?
Por exemplo, sei que Deus não deseja a morte do pecador. Portanto, dirijo-me
abertamente a ele e lhe peço: “Senhor, salva meu amigo!”. Devo orar
novamente pela conversão desse amigo? Jorge Muller orou diariamente – e
mais de uma vez por dia – durante sessenta anos, pela conversão de um amigo
seu. Mas que esclarecimentos a Bíblia nos dá acerca das orações práticas? O
senhor narrou duas parábolas para ensinar a persistência e a perseverança na
oração. Um homem foi à casa de um amigo, à meia-noite, e pediu-lhe três
pães, e recebeu o quanto precisava por causa de sua importunação – ou

54
persistência, isto é, seu “desacanhamento”, que é o significado literal da
palavra (Lc 11.8). A viúva que importunou o juiz iníquo, com suas contínuas
idas à sua presença, conseguiu, por fim, a reparação solicitada. E o Senhor
acrescenta: “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e
noite, embora pareça demorado em defende-los?” (Lc 18.7).
E como o Senhor Jesus se agradou da pobre mulher siro-fenícia que não
queria aceitar suas recusas e réplicas como resposta final. Por causa de sua
contínua petição, ele disse: “Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como
quere” (*Mt 15.28). Nosso querido Senhor, em sua agonia no Getsêmani,
achou necessário repetir sua oração. “Deixando-os novamente, foi orar pela
terceira vez, repetindo as mesmas palavras” (Mt 26.44). E o apóstolo Paulo,
também, o apóstolo da oração, pediu a Deus várias vezes para remover o
espinho na carne. “Por causa disso três vezes pedi ao Senhor que o afastasse
de mim” (2Co 12.8).
Nem sempre Deus pode atender às nossas orações imediatamente. Às
vezes, não estamos preparados para receber aquela dádiva. Por vezes ele nos
diz: “Não”, a fim de dar-nos algo infinitamente melhor. Lembremo-nos também
da ocasião quando Pedro estava na prisão. Se um filho seu estivesse
injustamente preso, esperando ser executado a qualquer momento, você
conseguiria contentar-se em orar apenas uma vez, fazer uma oração prática:
“Ó Deus, livra meu filho!”? Não é verdade que você se dedicaria à oração com
muito fervor?
Foi assim que a igreja orou por Pedro. “Havia oração incessante a Deus
por aprte da igreja a favor dele” (At 12.7). Algumas versões estrangeiras dão
“oração fervorosa”. O Dr. Torrey afirma que nenhuma delas tem a mesma força
que a expressão grega. A palavra empregada significa literalmente:
“extensivamente”. Ela descreve a alma num esforço de intenso e fervoroso
desejo. Orações intensas foram feitas em favor do apóstolo Pedro. O mesmo
vocábulo foi usado pelo Senhor no Getsêmani: “E, estando em agonia, orava
mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de
sangue caindo sobre a terra” (Lc 22.44).
Ah, havia intensidade e até agonia em sua oração. Mas, e as nossas
orações? Será que também somos chamados a agonizar em oração? Muitos dos
prezados santos de Deus responderão: Não! Eles crêem que tal agonia, em nós,
seria demonstração de falta de fé. Contudo, a maioria das experiências por que
o Senhor passou devem ser vividas por nós. Fomos crucificados com Cristo, e
ressuscitamos com ele. Não devemos também labutar pelas almas?
Voltemos à experiência humana. Podemos deixar de agonizar por um
filho amado que está vivendo em pecado? Duvido que algum crente possa ter
um grande peso pelas almas – uma paixão mesmo – e não agonizar em oração.
Podemos deixar de clamar como João Knox: “Ó Deus, dá-me a Escócia,
ou eu morro”? Nesse caso também a Bíblia pode orientar-nos. Pois não houve
sofrimento de alma e agonia na oração de Moisés, quando clamou: “Ora, o
povo cometeu grande pecado, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois,

55
perdoa-lhe o pecado, ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste”
(Ex 32.31,32).
E não houve agonia de coração em Paulo quando disse: “Porque eu
mesmo desejaria (outra versão diz “pediria”) ser anátema, separado de Cristo,
por amor de meus irmãos, meus compatriotas segundo a carne” (Rm 9.3).
Mas, seja como for, podemos estar perfeitamente certos de que o
Senhor, que chorou sobre Jerusalém e que “tendo oferecido, com forte clamor
e lágrimas, orações e súplicas”, não se entristecerá se nos vir chorando pelos
pecadores. Antes, é possível que seu coração se alegre ao ver que agonizamos
por causa do mesmo pecado que o entristeceu. Na verdade, é provável que o
baixo número de conversões seja devido justamente à falta de agonia em
oração.
Somos informados de que “Sião, antes que lhe viessem as dores, deu à
luz seus filhos”. Não teria sido justamente meditando nesta passagem que o
apóstolo Paulo escreveu aos Gálatas: “Meus filhos, por quem de novo sofro as
dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gl 4.19)? E isto não se aplica
verdadeiramente a filhos espirituais? Ah, como nosso coração às vezes é frio!
Como nos entristecemos pouco pelos perdidos! E ainda nos atrevemos a criticar
aqueles que agonizam por causa deles. Que Deus tal não permita! Não;
realmente existe o que se chama lutar em oração. Não porque Deus não esteja
desejoso de atender, mas por causa da oposição dos “dominadores deste
mundo tenebroso” (Ef 6.12).
A palavra usada no sentido de “luta” em oração significa “combate”. Este
combate não é travado entre nós e Deus, pois ele está em harmonia com
nossos desejos. O combate é contra o maligno, embora este já seja um inimigo
derrotado (1Jo 3.8). Ele deseja frustrar nossas orações.
“Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os
principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso,
contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12). Nós também
nos encontramos nestas “regiões celestes em Cristo” (Ef 1.3); e é somente em
Cristo que podemos obter a vitória. Nossa luta pode ser na esfera do
pensamento, para evitar que aceitemos as sugestões mentais de Satanás, e
para mantermos nossos pensamentos fixados em Cristo, o Salvador – isto é,
vigiando e orando (Ef 6.18), “vigiando em oração”.
Somos confortados pelo fato de que o “Espírito, semelhantemente, nos
assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém” (Rm
8.26). Como ele nos assiste e nos ensina, se não pelo exemplo e por preceitos?
Como é que ele “ora”? O mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com
gemidos inexprimíveis (Rm 8.26). Então o Espírito agoniza em oração, como o
Filho fez, no Getsêmani.
Se o Espírito ora em nós, será que não participaremos de seus
“gemidos”? E se nossa agonia em oração enfraquece nosso corpo num certo
momento, será que os anjos não poderão vir fortalecer-nos como fizeram ao
senhor? (Lc 22.43). É possível que, talvez, como Neemias, choremos e
lamentemos e jejuemos perante Deus (Ne 1.4). “Mas”, pergunta alguém, “será

56
que o arrependimento pelo pecado e o ardente desejo pela salvação de outros
não os induzirá a uma agonia desnecessária que pode desonrar a Deus?”.
Será que isso não revela uma profunda falta de fé nas promessas de
Deus? Talvez sim. Mas não há dúvida de que o apóstolo Paulo considerava a
oração, pelo menos em alguns casos, como sendo um conflito (Rm 15.30).
Escrevendo aos colossenses, ele disse: “Gostaria, pois, que saibais quão grande
luta venho mantendo por vós... por quantos não me viram face a face; para
que os seus corações sejam confortados” (Cl 2.1,2). Sem dúvida alguma, ele se
refere às suas orações em favor deles.
Além disso, ele menciona Epafras como sendo um homem que “se
esforça sobremaneira, continuamente, por vós, nas orações, para que vos
conserveis perfeitos e plenamente convictos em toda a vontade de Deus” (Cl
4.12).
A palavra “esforça” tem o mesmo sentido que a palavra “agoniza”, o
mesmo vocábulo empregado para descrever Jesus em agonia, quando orava
(Lc 22.44).
O apóstolo diz também que Epafras “lutou muito por vós”, isto é, em
oração. E Paulo viu-o orando, ali na prisão, e presenciou sua luta intensa,
quando se entregava a um esforço longo e infatigável em favor dos
colossenses. Como aquele soldado pretoriano, a quem Paulo estava
acorrentado, deve ter-se admirado – e também deve ter ficado profundamente
tocado – ao ver aqueles homens entregues à oração. A agitação deles, suas
lágrimas, as súplicas fervorosas que faziam erguendo as mãos acorrentadas,
deve ter constituído uma revelação para ele. E o que ele pensaria de nossas
orações hoje?
Sem dúvida, Paulo falava de um hábito seu, quando instou com os
crentes de Éfeso e com outras a “se colocarem” em “oração e súplica, orando
em todo o tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda perseverança e
súplica por todos os santos, e também por mim... embaixador em cadeias “ (Ef
6.28). Podemos estar certos de que isto era uma descrição de sua própria
forma de orar.
Então, a oração encontra obstáculos, que podem ser afastados pela
persistência. É isto que algumas pessoas querem dizer quando falam em orar
até o fim. Temos que lutar contra as maquinações de Satanás. Pode ser o
cansaço físico ou a dor, ou os insistentes apelos de outros pensamentos,
dúvidas ou ataques diretos das hostes satânicas da maldade. Para nós, como
para o apóstolo Paulo, a oração é um “conflito”, uma “luta”, pelo menos em
algumas ocasiões, que nos impele a nos “despertarmos” e “determos” a Deus
(Is 64.6). Será que estaríamos errados em sugerir que são muito poucas as
pessoas que lutam em oração? Nós lutamos? Mas nunca duvidamos do poder
do Senhor nem das riquezas de sua graça.
A autora do livro O Segredo de Uma Vida Feliz relatou em um círculo de
amigos, pouco antes de seu falecimento, um incidente ocorrido com ela. Talvez
eu possa divulga-lo aqui. Uma amiga que a visitara ocasionalmente,
permanecendo dois ou três dias com ela, constituía sempre uma provação para

57
ela, num teste para seus nervos e paciência. Cada uma de suas visitas requeria
muito preparo em oração. Houve uma ocasião em que esta “cristã
problemática” tencionava passar ali toda uma semana. Ela sentiu que precisaria
de nada menos que uma noite de oração para fortalecer-se para aquela grande
prova. Assim, com um prato de biscoitos, retirou-se cedo para o seu quarto a
fim de passar a noite de joelhos perante Deus, rogando-lhe que lhe concedesse
graça para manter-se calma e tranqüila durante a visita iminente. Mal se
ajoelhara junto ao leito, quando por sua mente passaram as palavras de
Filipenses 4.19: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir,
em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades”. Seus temores se
desvaneceram completamente. Ela disse: “Quando compreendi aquilo, agradeci
a Deus e o louvei por sua bondade. Depois, deitei-me e dormi a noite toda.
Minha hóspede chegou no dia seguinte, e apreciei imensamente a visita dela”.
Ninguém pode estabelecer regras rígidas de oração, nem para si mesmo.
Somente o Espírito Santo de Deus pode orientar-nos, momento a momento. E
aqui devemos deixar a questão nestes termos. Deus é nosso juiz e guia. Mas
lembremo-nos de que a oração possui muitas facetas. Como afirmou o Bispo
Moule: “A oração pode ser feita sob as mais diversas e inúmeras
circunstâncias”. Muitas vezes
A oração tem o peso de um suspiro
É o escorrer de uma lágrima,
Um rápido erguer dos olhos,
Quando ninguém, a não ser Deus, está perto.
Ela pode também ser apenas um ato no sentido de tornar “conhecidas
diante de Deus as vossas petições” (Fl 4.6). Não devemos pensar que a oração
tem que ser sempre um conflito ou uma luta. Se assim fosse, muitos de nós
logo ficariam fisicamente exauridos ou sofreriam um esgotamento nervoso,
tendo morte prematura.
E, para muitos, é impossível permanecer por longo tempo em posição de
oração. O Dr. Moule diz: “A oração genuína e vitoriosa é feita continuamente,
sem o menor esforço físico ou perturbação. Muitas vezes é na mais profunda
quietude de alma e corpo que ela tem seu maior alcance. Mas existe outro lado
nesta questão. A oração nunca deve ser indolentemente fácil, por mais simples
e confiante que seja. Ela deve ser uma importante comunicação entre o homem
e Deus. e, portanto, muitas vezes... tem que ser considerada como um
verdadeiro labor, persistência, um conflito, para ser oração de verdade”.
Ninguém pode fazer regras para os outros. Cada um deve persuadir-se a
orar, e o Espírito Santo nos inspirará a todos, e orientará acerca do tempo que
devemos orar. E também devemos sempre estar tão cheios de amor por Deus e
nosso Salvador, que a oração, em todo tempo e lugar, seja um gozo para nós,
assim como um meio de graça.
Pastor divino, nosso anseio atende
Que neste dia, e a cada dia

58
A todos os teus seguidores concedas
O poder de vigiar e orar.
Dá-nos fé para suplicar
O espírito da graça intercessora
Para lutarmos até que vejamos teu rosto,
E conheçamos teu nome oculto.

59
8

Deus Sempre Responde às Orações?

Chegamos a uma das mais importantes perguntas que uma pessoa pode
fazer. Muita coisa depende dessa resposta. Não nos esquivemos a um
confronto justo e franco com esta questão. Deus sempre responde às orações?
Naturalmente, todos reconhecemos que ele responde à oração – responde
algumas orações, algumas vezes. Mas ele responde à oração verdadeira.
Algumas chamadas orações ele não responde, porque não as ouve! Quando seu
povo se rebelou, ele disse: “Quando multiplicais as vossas orações, não as
ouço” (Is 1.15).
Mas o filho de Deus deve esperar resposta para suas orações. É intenção
de Deus que toda oração seja respondida; e nem uma oração verdadeira deixa
de causar seu efeito no céu.
Todavia, aquela maravilhosa declaração de Paulo: “Tudo é vosso, e vós
de Cristo” (1Co 3.22,23), parece tão clara e tragicamente falsa para a maioria
dos crentes. Contudo, não deveria ser assim. Tudo é nosso, mas muitos de nós
não tomam posse de seus bens. Os proprietários do monte Morgan, na
Austrália, trabalharam arduamente no terreno durante anos, conseguindo que
aquele solo estéril produzisse apenas o suficiente para levarem uma existência
miserável, sem saber que, sob seus pés, havia uma das maiores minas de ouro
do mundo. Ali estava uma riqueza imensa, nunca sonhada, nunca imaginada.
Era “deles”, todavia, não entraram na posse dela.
O crente, porém, conhece as riquezas de Deus em glória, em Cristo
Jesus, mas não parece saber como poderá obtê-las.
O Senhor nos diz que elas estão lá para serem solicitadas. Que ele nos
dê a todos uma compreensão certa das leis da oração. Quando dizemos que
nenhuma oração verdadeira fica sem resposta, não estamos afirmando que
Deus sempre nos concede aquilo que pedimos. Já viu o leitor um pai que seja
tão insensato a ponto de agir assim com um filho? Não entregamos a nosso
filho um ferra incandescente, se ele nos pedir. As pessoas ricas devem ser
muito cautelosas e não permitirem que seus filhos tenham muito dinheiro no
bolso.
Ora, se Deus nos desse tudo que pedimos, seríamos nós quem
governaríamos o mundo, e não ele. E certamente devemos confessar que não
temos capacidade para tal. Além do mais, é absoltamente impossível que o
mundo tenha mais de um governante.
A resposta de Deus para nossa oração pode ser “Sim” ou “Não”. E
também pode ser “Espere”, pois é possível que ele esteja tencionando dar-nos
uma bênção muito maior do que imaginamos, uma resposta que afetará outras
pessoas além de nós.

60
Às vezes, a resposta de Deus é “Não”. Mas isto não significa
necessariamente que exista pecado conhecido e voluntário na vida da pessoa,
embora possa haver sinais de ignorância. Ele disse “Não” ao apóstolo Paulo
algumas vezes (2Co 8.9). Na maioria dos casos, este Não é ocasionado por
nossa ignorância ou egoísmo ao fazer o pedido. “Porque não sabemos orar
como convém” (Rm 8.26). Foi esse o erro que cometeu a mãe dos filhos de
Zebedeu. Ela aproximou-se do Senhor e o adorou. A seguir, apresentou seu
pedido. Prontamente, ele respondeu: “Não sabeis o que pedis” (Mt 20.22).
Elias, que foi um grande homem de oração, às vezes recebia uma “Não” como
resposta. Mas será que, ao ser arrebatado para a glória numa carruagem de
fogo, ele lamentou a negativa de Deus quando ele clamou: “Ó Senhor, tira a
minha vida”?
A resposta de Deus, por vezes, é “Espere”. E é possível que ele atrase o
envio da resposta porque não estamos ainda preparados para receber a dádiva
que desejamos – como aconteceu com Jacó, em sua luta com o anjo. Lembra-
se da famosa oração de Santo Agostinho: “Ó Deus, torna-me puro, mas não
agora”? Será que nossas orações, por vezes, não são assim também? Será que
estamos sempre dispostos a “beber o cálice” – a pagar o preço da oração
respondida? E há casos em que ele demora a responder para que maior glória
seja dada a ele.
Mas, as demoras de Deus não são negações. Não sabemos por que ele
às vezes demora na resposta e outras vezes responde “antes que clamemos”
(Is 65.24). Jorge Muller, um dos maiores homens de oração de todos os
tempos, teve que orar por um período de mais de sessenta e três anos pela
conversão de um amigo. Quem saberia explicar isto? “A grande questão é
nunca desistir enquanto não receber a resposta”, disse Muller. “Orei durante
sessenta e três anos e oito meses, pedindo a Deus a conversão de um amigo.
Ele ainda não se converteu, mas se converterá. Não pode ser de outra forma.
Existe uma promessa imutável de Jeová, e é nela que descanso”. Seia aquela
demora devido a um impedimento constante por parte do diabo? (Dn 10.3).
Seria um forte e prolongado esforço de Satanás para abalar ou abater a fé de
Muller? Pois mal falecera Muller e seu amigo se converteu – antes mesmo de
ele ser sepultado.
Sua oração foi atendida, embora a resposta houvesse demorado tanto
em chegar. Tantas das orações de Jorge Muller foram atendidas, que não é de
admirar que ele tenha exclamado certa vez: “Como é bom, terno, cheio de
graça e condescendente aquele com quem temos de tratar! Sou apenas um
pobre homem, frágil e pecador, mas ele atendeu às minhas orações, dez mil
vezes”.
Talvez alguém esteja indagando: “Como posso saber se a resposta de
Deus é “Não” ou “Espere? Podemos estar certos de que ele não permitirá que
oremos sessenta e três anos para receber uma “Não”. A oração de Muller,
tantas vezes repetida, estava baseada na certeza de que Deus “não deseja a
morte do pecador”; “deseja que todos os homens sejam salvos” (2Tm 2.4).
Enquanto escrevo, o correio entrega-me uma ilustração desta verdade.
Veio-me uma carta de uma pessoa que raramente me escreve, e que nem ao

61
menos sabe meu endereço – seu nome é conhecido de todos os obreiros
cristãos da Inglaterra. Uma pessoa amada foi acometida de certa enfermidade.
Será que ele deveria continuar orando para que ela se curasse? A resposta de
Deus é “Não”? Ou pode ser: “Continue orando e espere”. Meu amigo escreve:
“Recebi uma orientação divina clara com relação a esta pessoa... que era da
vontade de Deus que ela fosse levada... e achei consolo na rendição e
submissão à sua vontade. Tenho muitos motivos para louvar a Deus!” Horas
depois, Deus levou aquele ente querido para estar consigo em sua glória.
Mas, uma vez mais, instamos com os leitores para que se apeguem a
esta verdade: a verdadeira oração nunca fica sem resposta.
Se examinássemos mais nossas orações, poderíamos orar com mais
sabedoria. Isto pode parecer um mero chavão. Mas estamos dizendo, porque
alguns crentes parecem por de lado o bom-senso e o raciocínio, quando oram.
Um pouco de reflexão nos mostrará que Deus não pode atender algumas
orações. Durante a guerra, todas as nações oravam pedindo a vitória. Contudo,
é perfeitamente óbvio que nem todos os países poderiam ser vitoriosos. Duas
pessoas que vivem juntas podem orar, uma pedindo chuva e outra pedindo
tempo bom. Deus não pode conceder ambas as coisas, ao mesmo tempo e no
mesmo local.
Mas a fidelidade de Deus está em jogo nesta questão da oração. Temos
estado a ler novamente estas maravilhosas promessas do Senhor, e quase nos
maravilhamos com elas – com a amplitude de seu objetivo, com a plenitude de
seu intento, a dimensão da expressão “Tudo aquilo”. Muito bem! “Seja Deus
verdadeiro!” (Rm 3.4). E ele sempre será “verdadeiro”.
Não pare para perguntar se deus atendeu a todas as minhas petições.
Ele não atendeu. Se tivesse dito “Sim” a algumas delas, isto teria significado
maldição, ao invés de bênção. E se houvesse respondido a outras, infelizmente,
teria ocorrido uma impossibilidade espiritual – eu7 não era digno das dádivas
que buscava. Se Deus houvesse atendido a algumas de minhas petições, eu
teria abrigado orgulho espiritual e auto-satisfação. Como estas coisas estão
claras agora, à luz do Espírito Santo de Deus!
Quando olhamos para trás e comparamos nossa oração fervorosa e
ardente com o serviço pobre e indigno que realizamos, e a nossa falta de
verdadeira espiritualidade, é que enxergamos como era impossível para Deus
conceder-nos todas as coisas que ele gostaria de conceder-nos. Muitas vezes,
era como pedir a Deus que colocasse o oceano de seu amor num coração do
tamanho de um dedal. E, no entanto, Deus deseja abençoar-nos com todas as
bênçãos espirituais! Como o querido Salvador deve clamar muitas vezes:
“Quantas vezes quis eu... e vós não o quiseste!” (Mt 23.37). E o mais
lamentável em tudo isso é que muitas vezes pedimos e não recebemos por
causa de nosso demérito – e depois nos queixamos de que Deus não responde
às nossas orações. O Senhor Jesus declarou que Deus nos concede o seu
Espírito Santo – o qual nos ensina a orar – com a mesma prontidão com que
um pai terrenos dá boas dádivas a seus filhos. Mas nenhuma dádiva será “boa”
se o filho não estiver preparado para fazer uso dela. Deus nunca nos dá algo
que não podemos ou não queremos utilizar para sua glória (e não estou-me

62
referindo a talentos, pois podemos malbarata-los ou “enterra-los”, mas aos
dons espirituais).
Você já viu algum pai dar a um filho uma lâmina de barbear, se este lhe
pedir uma, na esperança de que ele cresça e aprenda a usa-la bem? Não é
verdade que o pai diz ao filho: “Espere até que você esteja mais velho, ou
maior, ou mais sábio, ou mais forte”? Que nosso Pai celeste também nos diga
“Espere”. Mas, por causa de nossa ignorância e cegueira, certamente, muitas
vezes devemos dizer:
Por teu amor, recusa, Senhor
Aquilo que tu vires
Que minha fraqueza ira malbaratar
Tenhamos certeza, também, de que Deus nunca nos dará hoje a dádiva
de amanhã. Não que ele não deseja dar ou tenha carência de bênçãos. Seus
recursos são infinitos, e seus caminhos incontáveis. Foi logo depois de haver
ordenado aos discípulos que orassem, que o Senhor fez sugestões quanto aos
seus recursos. “Observai as aves do céu... contudo vosso Pai celeste as
sustenta” (Mt 6.26). como parece simples! Mas você já pensou que nenhum
milionário, em todos o mundo, é suficientemente rico para alimentar todos os
pássaros do céu, mesmo que seja por um dia só? Nosso Pai celestial as
alimenta, todos os dias, e nem por isso fica mais pobre. E não será que, com
muito mais certeza ele alimentará, vestirá e cuidará de você?
Ah, confiemos mais no poder da oração! Sabemos que ele é
“galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6). O óleo do Espírito Santo nunca
cessará de fluir enquanto houver recipientes vazios para recebe-lo (1Rs 4.6).
Sempre que a obra do Espírito Santo se interromper, somos nós os culpados.
Deus não pode confiar a certos obreiros resultados definidos em seu trabalho,
pois teriam orgulho e vanglória. Não! Não afirmamos que Deus atende a todos
os pedidos de todos os crentes.
Como já vimos em um dos capítulos anteriores, deve haver pureza de
coração, de motivos e de desejos, se quisermos orar em seu nome. Deus é
maior que suas promessas, e muitas vezes nos dá mais do que pedimos ou
merecemos – mas ele nem sempre age assim. Então, se certa petição não é
atendida, podemos estar certos de que Deus está-nos chamando a examinar o
coração. Pois ele tomou a si atender todas as petições que forem feitas em seu
nome. Vamos repetir suas palavras mais uma vez – nunca será demais repeti-
las muitas vezes – “E tudo quanto pedirdes em seu nome, isso farei, a fim de
que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome,
eu o farei” (Jo 14.13,14).
Lembremo-nos de que era impossível para Cristo fazer uma oração que
não seja atendida. Ele era Deus – conhecia a mente de Deus – ele tinha a
mente do Espírito Santo.
Ele disse certa vez: “Pai, se é possível...”, ajoelhado no jardim do
Getsêmani, em agonia, derramando clamores e lágrimas; e ele foi “ouvido por
causa da sua piedade” (Hb 5.7). Certamente, não foi a “agonia”, mas o temor

63
filial que obteve a resposta. Nossas orações são atendidas não tanto porque
sejam importantes, mas porque são petições de filhos.
Irmão, não sabemos entender plenamente aquela cena de terríveis
circunstâncias. Mas de uma coisa sabemos – o senhor nunca fez uma promessa
que não possa cumprir ou que não tenha intenção de cumprir. O Espírito Santo
intercede por nós (Rm 8.26) e Deus não pode dizer-lhe “Não”. O Senhor Jesus
faz intercessão por nós (Hb 7.25) e Deus não pode dizer-lhe “Não”. Suas
orações valem por mil das nossas, mas é ele quem nos manda orar.
“Mas”, o leitor poderá dizer, “o apóstolo Paulo não era cheio do Espírito
Santo, e não disse que temos a mente de Cristo? Contudo, ele pediu a Deus,
três vezes, que removesse aquele espinho na carne – porém, Deus respondeu-
lhe claramente que não o faria”.
É bastante singular, também, que a única petição de Paulo em seu
próprio favor, e que está registrada nas Escrituras, tenha sido recusada.
Entretanto, a dificuldade é a seguinte: por que o apóstolo Paulo, que tinha a
mente de Cristo, pediu uma coisa que logo descobriu ser contrária à vontade de
Deus? Sem dúvida, existem muitos crentes totalmente consagrados a Deus
lendo estas linhas, que devem estar perplexos por não haver Deus lhes
concedido coisas que lhe pediram em oração.
Devemos lembrar-nos de que podemos ser cheios do Espírito Santo e
ainda assim cometer erros de julgamento e vontade. Temos que lembrar
também que não somos cheios do Espírito Santo de uma vez por todas. O
maligno está sempre vigilante, pronto para instilar-nos seus pensamentos, a fim
de ferir a Deus, através de nós. A qualquer momento podemos tornar-nos
desobedientes ou incrédulos, ou podemos ser levados a ter algum pensamento
ou cometer algum ato contrário ao Espírito de amor.
Temos um espantoso exemplo disso na vida de Pedro. Num certo
momento, sob a influência do Espírito Santo, ele clama: “Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo”. E o Senhor se volta para ele com palavras de algo elogio, e lhe
diz: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, poruqe não foi carne e sangue quem
to revelou, mas meu Pai que está nos céus” (Mt 16.16,17). Contudo, pouco
depois, o diabo penetra em sua mente, e o Senhor tem que dirigir-se a ele
outra vez, mas nos seguintes termos: “Arreda, Sataná!” (v. 23). Desta vez,
Pedro falara em nome de Satanás. E Satanás ainda deseja possuir-nos.
São Paulo foi tentado a pensar que poderia fazer um trabalho melhor
para o Mestre amado se aquele “espinho” fosse removido. Mas Deus sabia que
Paulo seria um homem melhor com o espinho do que sem ele.
Não é reconfortante sabermos que podemos glorificar melhor o nome de
Deus sofrendo em alguma situação que talvez consideremos como um entrave
ou uma desvantagem, do que se o fator indesejado fosse removido? “A minha
graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.9).
Lembremo-nos de que
Deus nada faz nem deixa que se faça
Que você próprio não faria,

64
Se pudesse ver o fim de tudo
Tão bem quanto ele vê.
O apóstolo Paulo não era infalível – tampouco o eram Pedro e João; nem
o é o Papa, nem qualquer outro homem. Podemos fazer orações erradas – e as
fazemos. A mais elevada forma de oração não é: “Tua vontade faze ó Deus, e
não a minha”, mas “Minha vontade, ó Deus, é a tua”. Aprendemos que não
devemos dizer: “Modifica a tua vontade”, mas, sim, “Seja feita a tua vontade”.
Permitam-me, em conclusão, dar o testemunho de duas pessoas que
descobriram que podiam confiar plenamente em Deus.
H. M. Stanley, o grande explorador, escreveu: “Eu, por exemplo, não me
atreveria a dizer que a oração é ineficaz. Todas as vezes que orei com fervor fui
atendido. Sempre que orava pedindo orientação a Deus, a fim de guiar meus
seguidores com sabedoria, por entre os perigos que os ameaçavam, um raio de
luz iluminava-me a mente confusa, e um caminho de libertação era claramente
indicado. Podemos saber quando a oração foi atendida, pelo brilho de
contentamento que sobrevém àquele que confiou sua casa a Deus, quando o
Senhor se ergue. Tenho provas, satisfatórias para mim, de que as orações são
respondidas”.
Perguntaram certa vez a Maria Slessor, cujas experiências na África
Ocidental têm emocionado a todos nós, o que a oração significava para ela. Ao
que ela respondeu: “Minha vida tem sido uma longa e diária lista de orações
respondidas. Orações em favor de saúde física, de repouso mental, de
orientação recebida de modo miraculoso, de erros e perigos que foram
desviado de mim, de oposições ao evangelho que foram sobrepujadas, de
alimentos que chegaram exatamente na hora em que dele necessitava, de tudo
que se compõe a vida, e meu humilde serviço. Sei que Deus atende às nossas
orações”.

65
9

Respostas de Oração

A mera natureza humana escolheria um título mais pomposo para este


capítulo. Notáveis respostas de oração – Maravilhosas respostas – Admiráveis
respostas! Mas devemos permitir que Deus nos ensine que é tão natural para
ele responder às orações, como é para nós o pedir. Como ele tem prazer em
ouvir nossas petições, e como gosta de responde-las! Quando ouvimos falar de
uma pessoa rica que resolveu distribuir alguns presentes entre os pobres, ou
pagar um déficit arrasadorde alguma junta missionária, exclamamos: “Que
coisa boa é ter-se a possibilidade de fazer uma coisa destas!”. Bem, se é
verdade que Deus nos ama – e sabemos que é verdade – você não acha que
ele terá grande prazer em dar-nos aquilo que pedimos? Portanto, devemos
contar um ou dois exemplos de respostas de oração, para que tenhamos maior
incentivo para chegar ao trono da graça. Deus realmente salva as pessoas por
quem oramos. Experimente.
Conversando sobre esse assunto com um homem de oração algum
tempo atrás, ele indagou-me de repente: “Você conhece a igreja Tal?”.
“Conheço muito bem. Já estive lá várias vezes”.
“Deixe-me contar-lhe algo que se passou quando eu morava naquele
lugar. Realizávamos uma reunião de oração todos os domingos, antes do culto
das 8:00 horas. Certo dia, quando nos erguíamos dos joelhos, um dos
presentes disse: “Pastor, gostaria que orassem por meu filho. Ele já tem vinte e
um anos, e há muito tempo não vem à igreja”. O pastor respondeu: “Creio que
podemos ficar mais uns cinco minutos”. Todos se ajoelharam novamente e
fizeram uma oração fervorosa em favor do rapaz. Embora ninguém tivesse
mencionado nada a ele, o moço compareceu ao culto naquela mesma noite.
Houve algo no sermão que falou ao seu coração e o convenceu de pecado. Ele
foi ao altar quebrantado e aceitou a Jesus como Salvador”.
Na segunda-feira, pela manhã, esse amigo, que servia naquela paróquia,
achava-se presente à reunião semanal da diretoria. Disse ao ministro: “Aquela
conversão de ontem à noite constitui um desafio à oração – um desafio de
Deus. Vamos aceita-lo?”. “O que quer dizer com isso?”, indagou o pastor.
“Bem”, respondeu o outro, “vamos procurar o pior homem desta paróquia e
orar por ele”. Por unanimidade, concluíram que um certo homem lá era a pior
pessoa que conheciam. Então, entraram num acordo de orar pela conversão
dele. Ao final daquela semana, quando realizavam uma reunião de oração no
sábado, no salão da missão, e enquanto o nome daquele homem era
pronunciado por eles, a porta se abriu e aquela pessoa entrou cambaleando,
muito embriagado. Nunca estivera naquele salão antes. E sem ao menos pensar
em retirar o chapéu da cabeça, caiu derreado num dos bancos, perto da porta,
e escondeu o rosto entre as mãos. A reunião transformou-se num culto

66
evangelístico. Mesmo como estava – completamente bêbedo – ele buscou o
Senhor que o buscava. E nunca mais voltou atrás em sua decisão. Hoje ele é
um dos melhores obreiros da região.
Por que não oramos pelos amigos não convertidos? É possível que não
nos dêem atenção, quando instamos para que se convertam mas não poderão
impedir-nos de orar por eles. Se dois ou três se unirem em oração pela
salvação da pior pessoa, verão o que Deus fará. Fale com Deus, e depois confie
nele. O Senhor opera de forma maravilhosa, como também realiza suas
maravilhas de modos misteriosos.
Dan Crawford contou-nos recentemente que quando regressava ao
campo missionário após um período de férias, tinha bastante pressa de chegar
ali. Em certo lugar, porém, precisavam atravessar um rio que estava cheio
demais, e transbordando. Nenhum barco tinha condições de faze-lo. Então, ele
e seu grupo acamparam por perto, e começaram a orar. Um incrédulo que os
visse poderia até zombar deles. Como poderia Deus transporta-los para o outro
lado do rio? Mas enquanto oravam, uma imensa árvore que sempre resistira à
força daquela correnteza, começou a balançar e caiu. Tombou atravessada de
largo, cruzando-a de um lado para outro. Como explicou o Sr. Crawford: “Os
engenheiros celestes construíram uma ponte flutuante para os servos de Deus”.
É possível que muitos jovens estejam lendo estas experiências acerca da
oração. Devemos lembrar-lhes que Deus ouve as petições dos jovens – e das
mocinhas também (Gn 21.17). Por causa deles vamos inserir a seguinte
história, no desejo de que a oração seja sua herança, isto é, sua própria forma
de viver; e que a oração respondida seja uma experiência constante para eles.
Algum tempo já, um rapazinho chinês de doze anos, de nome Ma-Na-Si,
que estudava num internato missionário de Chefoo, foi passar as férias em
casa. Ele é filho de um pastor do interior.
Certo dia, quando se achava diante da porta de sua casa, viu um homem
que se aproximava a cavalo, galopando. Esse homem, que era incrédulo e
mostrava-se grandemente perturbado, nervosamente indagou acerca do
“homem de Jesus”, o pastor. O rapazinho respondeu-lhe que o pai não estava
em casa. O pobre homem ficou muito transtornado, e apressadamente explicou
a causa de sua visita. Viera de uma aldeia não crente, a alguns quilômetros
dali, a fim de buscar o “homem santo” para que expulsasse um demônio da
nora de um amigo seu, também incrédulo. Narrou a triste história da jovem,
que estava atacada por demônios, berrando, gritando palavrões, arrancando os
cabelos, arranhando o rosto, rasgando as roupas, quebrando a mobília da casa,
e atirando longe pratos de comida. Falou acerca de um espírito sacrílego, de
impiedade imensa, e blasfêmias horríveis, e de como tais explosões de maldade
eram acompanhadas de boca espumejante e grande exaustão física e mental.
“Mas meu pai não está em casa”, dizia o rapaz reiteradamente. Por fim, o
homem pareceu compreender. De repente, ele caiu de joelhos, e estendendo
as mãos em desespero, suplicou: “Você também é um “homem de Deus”. Será
que não pode vir comigo?”.

67
Imagina só! Um rapazinho de doze anos! Mas mesmo um adolescente,
quando está completamente rendido ao Salvador, não teme ser usado por ele.
Houve apenas um momento de surpresa, seguido por um instante de hesitação,
e depois o rapazinho colocou-se inteiramente à disposição do Mestre. Como o
pequeno Samuel do passado, ele se dispôs a obedecer a Deus em tudo,
considerou aquele apelo insistente como sendo um chamado do Senhor. O
desconhecido saltou para a cela do animal, e, colocando o rapaz à garupa,
partiu a galope.
Ma-Na-Si começou a ponderar as circunstâncias. Aceitara o apelo para ir
expelir um demônio em nome de Cristo Jesus. Mas, seria ele digno de ser
usado por Deus daquela forma? Seria seu coração puro e sua fé forte?
Enquanto galopavam estrada afora, começou a sondar seu coração, à procura
dos pecados de que não se arrependera e não confessara. Depois pediu a
orientação de Deus quanto ao que deveria fazer e como deveria agir,
procurando relembrar passagens bíblicas relativas à possessão demoníaca, para
ver como eram tratadas. Depois, simples e humildemente, entregou-se ao Deus
de poder e misericórdia, pedindo seu auxílio, para a glória do Senhor Jesus
Cristo. Ao chegarem à casa, viram que algumas pessoas da família estavam
segurando a infeliz mulher numa cama. Embora não lhe houvessem dito que
um mensageiro fora em busca do pastor, logo que ouviu os passos no quintal,
ela gritou: “Saiam do meu caminho, depressa, para que eu possa fugir. Tenho
que fugir! Um homem de Jesus vem aí. Não poderei suporta-lo. O nome dele é
Ma-Na-Si”.
Ma-Na-Si entrou no aposento, e após cumprimenta-los com uma
inclinação de cabeça, ajoelhou-se e começou a orar. A seguir, em nome de
Jesus ressuscitado, glorificado e onipotente, ele ordenou ao demônio que saísse
da mulher. Imediatamente, ela ficou calma, embora prostrada de fraqueza. E,
daquele dia em diante, esteve sempre perfeitamente sadia. Mostrou-se
grandemente surpresa, quando lhe disseram que havia pronunciado o nome do
rapazinho crente, pois nunca ouvira nem lera aquele nome, já que toda a
povoação era composta de incrédulos. Mas aquele dia constituiu realmente um
“começo dos dias” para aquelas pessoas, pois a partir daí a Palavra de Deus
teve livre curso ali, e passou a ser respeitada por eles.
Prezado leitor, não sei como esta narrativa o afeta, mas quanto a mim,
fico comovido até o fundo da alma. Parece-me que a maioria dos crentes
conhece tão pouco o poder de Deus – tão pouco de seu amor irresistível e
transbordante. Ah, que amor é o de Deus! Todas as vezes que oramos, esse
amor nos envolve de uma forma toda especial.
Se realmente amássemos nosso bendito Salvador, não procuraríamos
manter comunhão mais freqüente com ele em oração? Não será justamente
porque oramos pouco, irmão, que criticamos tanto? Lembremo-nos de que,
assim como o Senhor Jesus, nós também não fomos enviados ao mundo para
condenar, nem julgar o mundo “mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo
3.17).
Alguma crítica, ou palavra impensada, fará com que alguém se aproxime
mais de Cristo? Será que esta crítica levará aquele que a expressa a ser mais

68
semelhante a seu Mestre? Ponhamos de lado todo o espírito de crítica, de
julgamento, de apontar o dedo, de depreciação dos outros ou de seu trabalho.
Será que o apóstolo Paulo não diria a todos nós “Tais fostes alguns de vós; mas
vós vos lavastes” (1Co 6.11)?
Já percebeu onde queremos chegar? Todas as inclinações más e as
falhas que descobrimos nos outros são causadas pelo diabo. É a presença do
maligno no coração da pessoa que causa as palavras e atos que estamos
sempre tão prontos a condenar e exagerar. A possessão demoníaca não é
muito conhecida na Inglaterra, mas talvez aqui ela tome uma forma diferente.
Com certeza, nossos amigos e conhecidos, tão bondosos e cordiais, muitas
vezes podem estar amarrados e amordaçados por alguns pecados constantes –
“a quem Satanás trazia presa há dezoito anos”.
Podemos suplicar-lhes, mas de nada adiantará. Podemos adverti-los,
mas será em vão. A cortesia e a caridade – assim como nossos erros e falhas –
impedirão que nos imponhamos a eles, como fez Ma-Na-Si, e expulsemos o
espírito maligno. Mas, será que já experimentamos orar – uma oração sempre
apoiada no amor, o qual “nunca falha” (1Co 13.5)?
Deus atende às orações de velhos e crianças, quando feita por um
coração puro, uma vida santa e uma fé simples. Deus atende às orações.
Somos servos fracos e falhos. E embora possamos ser sinceros, oramos
erradamente. Mas Deus que prometeu é fiel, e ele nos guardará do perigo e
suprirá todas as nossas necessidades.
Poderei eu obter tudo que peço?
Deus sabe o que é melhor.
Ele é mais sábio que seus filhos.
Posso ficar descansado.
“Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus;
e aquilo que pedimos, dele recebemos, porque guardamos os seus
mandamentos, e fazemos diante dele o que lhe é agradável” (1Jo 3.21,22).

69
10

Como Deus Atende às Orações

É totalmente impossível para o homem compreender perfeitamente a


Derus e sua maneira de lidar conosco. “Ó profundidade da riqueza, tanto da
sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos
e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11.33). É verdade, mas não
precisamos criar dificuldades onde não existe nenhuma. Se Deus tem todo o
poder e todo o conhecimento, certamente que a oração não deve encontrar
dificuldades, embora, vez por outra, possamos sentir-nos perplexos diante de
certos fatos. Não podemos descobrir o método de Deus operar, mas sabemos
algumas coisas acerca de sua maneira de responder às orações.
Porém, antes de seguirmos em frente, gostaria de relembrar como
conhecemos pouco acerca das questões mais comuns. Edison, cujo
conhecimento era bastante profundo, escreveu, em agosto de 1921, o
seguinte: “Não sabemos nem a milionésima parte de um por cento de qualquer
coisa. Não sabemos o que é a gravitação. Não sabemos o que nos capacita a
pôr-nos de pé nos mantermos eretos. Não sabemos o que é a eletricidade. Não
sabemos o que é o calor. Não sabemos nada acerca do magnetismo. Possuímos
uma porção de hipóteses, mas não passam de hipóteses”. Todavia, não
permitimos que nossa ignorância acerca dessas coisas nos impeçam de utiliza-
las. Não sabemos muita coisa acerca da oração, mas isto certamente não nos
impede de orar. Sabemos o que o Senhor nos ensinou a respeito da oração. E
sabemos que ele enviou o Espírito Santo para nos ensinar todas as coisas (Jo
16.26). Então, como Deus atende às orações?
Ele revela sua mente àqueles que oram. Seu espírito Santo coloca idéias
novas no pensamento das pessoas que oram. Estamos certos de que o diabo e
seus anjos estão bem ativos, instilando maus pensamentos em nossa mente.
Certamente, então, Deus e seus santos anjos também podem dar-nos bons
pensamentos. Até mesmo os homens comuns, pobres e fracos pecadores,
podem colocar pensamentos bons na mente de outrem. É o que tentamos fazer
ao publicarmos livros. Não paramos para pensar como é maravilhoso que essas
pequeninas formas pretas no papel branco sirvam para inspirar e edificar as
pessoas, ou então para deprimi-las e abate-las, ou até mesmo convence-las de
pecado. Mas, para um selvagem iletrado, isto é um milagre espantoso. Além do
mais, podemos muitas vezes ler o pensamento ou desejo das pessoas por um
olhar ou expressão facial. Até mesmo a telepatia entre duas pessoas já é
comum hoje em dia. E Deus pode comunicar seu pensamento a nós de muitas
maneiras. Um notável exemplo disso foi relatado por um pregador, no ano
passado, em Northfield. Há três ou quatro anos atrás, ele conheceu o capitão
de um baleeiro, que lhe narrou o seguinte fato:
“Há vários anos, navegávamos pelas águas desertas ao largo do Cabo
Horn, à procura de baleias. Certo dia, seguíamos na direção sul, indo de

70
encontro a um vento fortíssimo. Ficamos lutando a manhã toda, tentando de
um modo ou de outro, mas conseguindo muito pouco progresso. Cerca de
11:00 da manhã, achava-me no leme, quando me ocorreu o seguinte
pensamento: por que ficar forçando o barco contra estas ondas?
Provavelmente, a mesma quantidade de baleias que há para o sul, há também
para o norte. Talvez fosse bom navegarmos com o vento, ao invés de contra
ele”. Ante esta idéia súbita, mudei o curso do barco, e passei a dirigir-me para
o norte. Uma hora depois, ao meio-dia, o vigia que se achava no topo do
mastro, gritou: “Botes à vista!”. E pouco depois chegávamos junto de quatro
botes salva-vidas, nos quais estavam quatorze marinheiros, únicos
sobreviventes de um navio que se incendiara totalmente, havia dez dias.
Aqueles homens haviam estado à deriva em seus botes desde então, orando
desesperadamente para que Deus lhes enviasse socorro; chegamos bem a
tempo de salva-los. Eles não teriam sobrevivido nem mais um dia”.
E depois o velho baleeiro acrescentou: “Não sei se você acredita em
religião ou não, mas eu sou crente. E todos os dias pela manhã faço uma
oração a Deus para que me use no sentido de auxiliar alguém, e estou certo de
que naquele dia foi Deus quem colocou em minha mente a idéia de mudar o
curso do barco. Aquela idéia salvou quatorze vidas”.
Deus tem muitas coisas a dizer-nos. Há muita coisa que ele deseja
colocar em nossa mente. Mas estamos sempre tão ocupados em sua obra que
não paramos para ouvir sua Palavra. A oração concede a Deus a oportunidade
de falar-nos e revelar-nos sua vontade. Que nossa atitude possa ser: “Fala,
Senhor, que teu servo ouve!”.
Deus responde nossas orações em favor de outras pessoas, introduzindo
novos pensamentos em suas mentes. Em uma série de conferências acerca da
vida vitoriosa, este escritor, numa tarde, instou com os ouvintes a que
acertassem seus desentendimentos, se é que desejavam realmente uma vida
santa. Uma senhora foi diretamente para casa, e após um período de oração
fervorosa, escreveu à irmã com quem não falava havia vinte anos, por causa de
uma briga. A irmã morava numa localidade a cerca de quarenta e oito
quilômetros. Na manhã seguinte, aquela senhora recebeu uma carta dessa
irmã, pedindo perdão e buscando uma reconciliação. As duas cartas haviam se
cruzado no caminho. Enquanto esta primeira irmã estava orando pela outra,
Deus estivera falando à outra, colocando em sua mente o desejo de uma
reconciliação.
Alguém pode indagar: “E por que Deus não colocou este desejo no
coração delas antes?”. É possível que ele tenha visto que não adiantaria esta
irmã distante escrever pedindo perdão, enquanto a outra não estivesse também
disposta a perdoar. Mas permanece o fato de que quando oramos por outros,
de uma forma ou de outra, isto abre o caminho para que Deus influencie
aqueles por quem oramos. Deus precisa de nossas orações, senão não pediria
que orássemos.
Algum tempo atrás, no fim de uma reunião de oração semanal, uma
mulher crente pediu aos presentes que orassem por seu marido incrédulo, que
não desejava nem aproximar-se um salão de cultos. O dirigente sugeriu que

71
orassem ali mesmo, naquele instante. Então, algumas orações fervorosas foram
feitas a Deus. Ora, aquele homem era muito dedicado à esposa, e, por vezes, ia
à igreja espera-la à saída. E foi o que aconteceu naquela noite, chegando ao
salão, quando a reunião ainda prosseguia. Deus colocou em seu pensamento a
idéia de entrar e esperar dentro da igreja – coisa que nunca fizera antes.
Sentou-se numa cadeira perto da porta, e inclinou a cabeça, ficando a escutar
as orações fervorosas. Enquanto caminhavam de volta para casa, perguntou à
esposa: “Mulher, quem era o homem por quem estavam orando hoje à noite?”.
“Ah”, replicou ela, “é o marido de uma de nossas obreiras”. “Tenho certeza de
que ele será salvo”, comentou ele. “Deus tem que atender orações assim”. Um
pouco mais tarde, ele voltou e perguntou: “Quem era o homem por quem
estavam orando?”. Ela respondeu nos mesmos termos de antes. Quando foram
deitar-se, ele não conseguiu dormir. Achava-se sob profunda convicção de
pecados. Despertando a esposa, rogou-lhe que orasse por ele.
Este exemplo mostra claramente que, quando oramos, Deus pode
operar. Ele poderia ter inspirado aquele homem para entrar na igreja em
qualquer outro dia. Mas se o tivesse feito, será que haveria algum proveito
nisso? Mas exatamente no dia em que aquelas orações fervorosas e tocantes
eram feitas em favor dele, Deus viu que elas poderiam ter uma influência
poderosa sobre aquele pobre homem.
É quando oramos que Deus pode nos auxiliar no trabalho e fortalecer
nossas decisões. Podemos responder a muitas de nossas próprias orações.
Durante um invernos muito rigoroso, um fazendeiro rico orou a Deus em favor
de um vizinho, para que Deus não o deixasse morrer de fome. Certo dia,
quando a família encerrava suas orações, o filhinho dele disse: “Papai, acho
que eu não importunaria a Deus com um pedido destes!”. “Por que não?”
indagou o pai. “Porque seria fácil para o senhor mesmo cuidar para que eles
não morram de fome”. Não existe a mínima dúvida de que, quando oramos por
outros, também devemos procurar ajuda-los.
Um jovem recém-convertido pediu ao pastor que lhe desse algum
trabalho para fazer. “Você tem um amigo?” perguntou o pastor. “Sim”, replicou
o rapaz. “Ele é crente?” “Não; e mostra-se tão desinteressado quanto eu era”.
“Então, vá a ele e peça-lhe para aceitar a Cristo como Salvador”. “Ah, não”,
respondeu o jovem, “eu nunca poderia fazer isso. Dê-me qualquer trabalho,
menos este”. “Bem”, disse o pastor; “então, prometa-me duas coisas: que você
não falará com ele acerca da condição de sua alma, e que orará a Deus duas
vezes por dia, em favor da conversão dele”. “Perfeitamente, farei isto de bom
grado”, respondeu o moço. Antes que se passassem duas semanas, ele correu
à casa do pastor: “Quero que me desobrigue da promessa. Tenho que falar ao
meu amigo!” suplicou ele. Depois que começara a orar, Deus lhe dera forças
para testemunhar. É essencial que tenhamos comunhão com Deus antes de
podermos ter comunhão com nosso próximo. Creio firmemente que as pessoas
em geral raramente falam a outros acerca da sua condição espiritual, porque
intercedem pouco.
Este escritor nunca se esquece de como sua fé foi fortalecida em oração,
certa vez, quando tinha treze anos e pediu a Deus que o auxiliasse a conseguir

72
vinte novos contribuintes para certa missão no estrangeiro. E exatamente vinte
pessoas foram conseguidas antes do cair da noite. A certeza de que Deus iria
atender aquela oração era um incentivo a um esforço dedicado, e deu-lhe
coragem desusada para abordar as pessoas.
Certo pastor da Inglaterra sugeriu aos seus membros que orassem
diariamente pelo pior homem que conhecessem, e depois fossem falar-lhe
acerca de Jesus. Apenas seis concordaram em fazer a experiência. Ao chegar
em casa, o pastor começou a orar. Depois, pensou: “Não posso deixar isto
apenas a cargo de minhas ovelhas. Tenho que faze-lo eu mesmo. Não conheço
pessoas ruins; terei que sair para indagar”. Aproximou-se um homem com ar
de valentão, que encontrou na rua, e perguntou: “Você é o pior homem deste
bairro?” “Não; não sou”. “Importaria de dizer-me quem é ele?”. “Não me
importo. Você o encontrará naquela rua, casa n° 7”.
O pastor bateu à porta da casa 7 e entrou. “Estou procurando o pior
homem de minha paróquia. Disseram-me que ele poderia ser o senhor”. “Quem
lhe disse isso? Traga-o aqui e lhe direi quem é o pior homem”. “Então, quem é
pior do que o senhor?” “Todo mundo o conhece. Mora na última casa, naquela
quadra. É o pior homem daqui”. O pastor dirigiu-se à casa indicada e bateu à
porta. Uma voz irritada gritou: “Entre!”.
Ali estava um casal. “Espero que me desculpem. Mas sou o pastor da
igreja ali adiante. Estou procurando o pior homem das redondezas, porque
tenho algo a dizer-lhe. É você este homem?” O outro voltou-se para a esposa e
disse: “Mulher, conte a ele o que lhe falei à cinco minutos”. “Não; conte você
mesmo”. “O que está dizendo?” indagou o pastor. “Bem, estou bebendo sem
parar há três meses. Já tive deliriu tremens, e empenhei tudo que podia
empenhar dessa casa. Há cinco minutos atrás eu disse à minha esposa:
“Mulher, isso precisa terminar. Se isso não parar, eu paro – vou afogar-me”. Foi
quando o senhor bateu à porta. É verdade, senhor; sou o pior homem do
bairro. O que tem a dizer-me?” “Estou aqui para dizer-lhe que Jesus Cristo é o
maior Salvador, e que ele pode transformar o pior homem do mundo num dos
melhores. Ele fez isso comigo e fará com você”. “O senhor crê que ele pode
fazer isso comigo?” “Tenho certeza que sim! Ajoelhe-se e peça-lhe isto”.
E não somente aquele pobre bêbedo foi salvo de seus pecados, como
também hoje é um crente feliz, que leva outros bêbedos ao Senhor Jesus
Cristo.
Certamente, nenhum de nós tem dificuldades em crer que Deus pode,
em resposta à oração, curar doentes, enviar chuva ou bom tempo, dispersar
nevoeiros ou evitar calamidades.
Estamos lidando com um Deus cujo conhecimento é infinito. Ele pode
colocar na mente de um médico uma orientação para receitar certo remédio,
regime alimentar ou um determinado tratamento. Todo conhecimento médico
vem de Deus. “Ele conhece nossa estrutura” – pois foi ele quem a criou. Ele a
conhece melhor que o mais sábio médico da Terra. Ele criou e pode restaurar.
Cremos que Deus deseja que utilizemos os conhecimentos médicos, mas
cremos também que ele, com seu maravilhoso conhecimento, pode curar, e às

73
vezes cura, sem a cooperação humana. E Deus deve ter liberdade de operar a
seu modo. Temos uma acentuada tendência de limitar a atuação de Deus ao
método que aprovamos. O objetivo dele é glorificar seu nome, respondendo às
nossas orações. Por vezes, ele vê que o nosso desejo é correto, mas nossa
petição é errada. O apóstolo Paulo pensava que poderia trazer mais glória para
o nome de Deus somente se o espinho que havia em sua carne fosse removido.
Mas Deus sabia que ele seria melhor, e faria melhor trabalho com o espinho, do
que sem ele. Portanto, Deus disse: Não! Não! Não! À sua petição, e depois
explicou por quê.
O mesmo aconteceu a Mônica que orou muitos anos em favor de seu
filho Agostinho, que era um homem licencioso. Quando este resolveu
abandonar o lar e cruzou o mar em direção a Roma, a mãe orou
fervorosamente, e com desespero, para que Deus mantivesse o filho junto dela,
e sob sua influência. Dirigiu-se a uma pequena igreja próxima da praia, a fim
de passar ali a noite, em oração, perto do lugar onde o navio estava ancorado.
Mas o dia nasceu, e ela descobriu que o navio partira, enquanto ela orava. Seu
pedido fora recusado, mas seu verdadeiro desejo fora atendido. Pois foi em
Roma que Agostinho conheceu Santo Ambrósio, que o conduziu a Cristo. Como
é confortador saber que Deus sabe o que é melhor para nós!
Entretanto não devemos achar absurdo que Deus permita que certas
coisas dependam de nossas orações. Algumas pessoas dizem que, se Deus
realmente nos ama, ele nos dará o que é melhor para nós, quer peçamos ou
não. O Dr. Forsdick observou, com muito acerto, que Deus já tomou a seu
cargo muitas coisas. Ele nos prometeu as estações de plantio e colheita.
Entretanto, o homem tem que preparar o solo, semear, capinar e colher, para
que Deus faça sua parte. Deus nos dá o alimento e a bebida. Mas ele deixa a
nosso cargo pegar, comer e beber. Existem coisas que Deus não pode, ou pelo
menos não quer fazer sem a nossa cooperação. Ele não pode fazer certas
coisas a menos que exercitemos nossa mente. Ele nunca inscreve suas
verdades nos céus. As leis da ciência sempre estiveram aí. Mas temos que
pensar, experimentar, pensar outra vez, se quisermos utilizar estas leis para o
nosso bem e para a glória de Deus.
Deus não pode realizar certas coisas a menos que trabalhemos. Ele
depositou o mármore nas colinas, mas nunca construiu uma catedral. Encheu
as montanhas de minério de ferro, mas ele próprio nunca fabrica uma agulha
ou uma locomotiva. Ele deixa isso a nosso cargo. Temos que trabalhar.
Então, se Deus deixou algumas coisas para o homem realizar com seu
trabalho e raciocínio, por que não deixaria algumas também para realizarmos
com a oração? E foi o que ele fez. “Pede e receberás”. E existem bênçãos que
Deus não nos dará a não ser que peçamos. A oração é um dos três meios pelos
quais o homem coopera com Deus – o maior deles.
Os homens de poder são, sem exceção, homens de oração. Deus
derrama o Espírito Santo em plenitude apenas sobre as pessoas de oração. É
pela operação do Espírito Santo que vêm as respostas de oração. Todo crente
tem o Espírito de Cristo habitando nele. Pois, “se alguém não tem o Espírito de

74
Cristo, esse tal não é dele”. Mas o homem que persiste em oração deve ser
cheio do Espírito de Cristo.
Uma missionária nos escreveu, recentemente, que se dizia de João Hyde
que ele nunca conversava com um homem não convertido sem que este se
convertesse. Mas se Hyde falhasse na primeira tentativa, não conseguindo
tocar o coração da pessoa, voltava ao quarto, e lutava em oração até descobrir
o que havia em si mesmo que o estava impedindo de ser usado por Deus.
Quando somos cheios do Espírito de Deus, não podemos deixar de influenciar
outros para irem ao Senhor. Mas, para possuirmos poder entre os homens,
precisamos primeiramente ter poder com Deus.
Contudo, a pergunta que deve preocupar-nos mais não é: “Como Deus
atende às orações?”, mas, sim, “Será que oro realmente?”. Que maravilhoso
poder Deus coloca ao nosso dispor! Será que pensamos que vale a pena
agarrar-nos a qualquer coisa que desagrada a Deus? Amigo, confie em Cristo
completamente, e verá que ele é totalmente fiel.

75
11

Empecilhos à Oração

Disse um poeta – e nós cantamos frequentemente:


Que variados obstáculos encontramos
Para chegar ao trono da graça.
E, na verdade, eles são vários. Mas, nesse caso também, muitos desses
obstáculos são criados por nós mesmos.
Deus quer que oremos. O diabo não quer, e faz tudo no sentido de
impedir-nos. Ele sabe que realizamos mais através de orações do que de
trabalho. Ele preferiria que fizéssemos qualquer coisa, em vez de orar.
Já mencionamos esta oposição de Satanás às nossas orações.
Estes anjos que se opõem à nossa marcha
E ainda nos superam em forças,
São nossos inimigos secretos, implacáveis, incansáveis,
Inumeráveis, invisíveis.
Mas não precisamos teme-los, nem dar-lhes atenção, se tivermos os
olhos sempre voltados para o Senhor. Os anjos santos são mais fortes que os
anjos caídos, e podemos deixar as hostes celestiais nos protegerem. Cremos
que podemos creditar às hostes malignas o fato de termos extravios de
pensamento, que destroem nossas orações. Mal nos ajoelhamos e nos
“lembramos” de algo que deveríamos ter feito, ou de outra coisa de que
devemos cuidar imediatamente.
Estes pensamentos procedem de fora, e certamente são inspirados por
espíritos malignos. O único remédio para esta invasão de pensamento é fixar a
mente em Deus. Sem dúvida, o pior inimigo do homem é ele mesmo. A oração
é privilégio dos filhos de Deus – e quem está vivendo como filho de Deus deve
orar.
Mas, a grande questão é: será que estou abrigando inimigos em meu
coração? Existem traidores em meu coração? Deus não pode dar-nos suas
melhores bênçãos espirituais a não ser que preenchamos certas condições:
confiar, obedecer e trabalhar. Não é verdade que muitas vezes pedimos os mais
elevados dons espirituais, sem pensarmos ao menos em satisfazer as
exigências necessárias? Não é verdade também que muitas vezes solicitamos
bênçãos que não estamos preparados para receber? Teremos coragem de ser
honestos com nós mesmos, a sós, na presença de Deus? Será que podemos
dizer sinceramente: “Sonda-me ó Deus, e vê...”? Existe em mim qualquer coisa
que esteja impedindo a bênção de Deus para mim e para outros, através de
mim? Discutimos o “problema da oração”, mas nós somos o problema que

76
requer discussão e dissecação. A oração não contém problemas. Não existe
nenhum problema nela, para o coração que está ancorado em Cristo.
Não citaremos os textos bíblicos mais comuns que mostram como a
oração pode ser frustrada. Simplesmente, desejamos que cada um tenha uma
visão de seu próprio coração. Nenhum pecado é pequeno demais, que não
possa por obstáculos à oração, e talvez até transforma-la em pecado, se não
estivermos dispostos a renunciar a ele. Os muçulmanos da África Ocidental têm
um ditado que diz: “Se não houver pureza, não pode haver oração; se não
houver oração, não se beberá da água dos céus”. Esta verdade é claramente
ensinada nas Escrituras, e é de admirar que as pessoas queiram conservar
ambos – o pecado e a oração. No entanto, muitos agem assim. Mas até Davi
clamou: “Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria
ouvido” (Sl 66.18).
E Isaías 59.2: “Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o
vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós”. Certamente,
todos concordamos em que é o pecado que existe em nós, e não uma possível
má-vontade da parte de Cristo em atender às nossas orações, o que impede as
respostas. Em geral, é sempre um dos chamados “pequenos pecados” que
prejudicam e maculam nossa comunhão com Deus. Esses podem ser:
(1) Dúvida – a incredulidade é, possivelmente, o maior empecilho à
oração. O Senhor disse: que o Espírito Santo convenceria o mundo “do pecado,
porque não crêem em mim” (Jo 16.9). Não somos do mundo, contudo não
existe bastante incredulidade em muitos de nós? Escrevendo aos crentes em
geral, Tiago diz o seguinte: “Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o
que duvida... Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma
coisa” (1.6,7). Alguns de nós não têm, porque não pedem. Outros, porque não
crêem. Achou o leitor estranho o fato de falarmos em louvor e adoração antes
de entrarmos propriamente na questão da “petição”? Mas, certamente, se
tivermos uma boa visão da glória e majestade do Senhor e das maravilhas de
sua graça e amor, a incredulidade e a dúvida se desvanecerão, como a neblina
se desfaz ao nascer do sol. Não foi essa exatamente a razão por que Abraão
“não vacilou” e “não duvidou da promessa de Deus, por incredulidade”, isto é,
por ter dado a Deus a glória devida ao seu nome, foi “plenamente convicto de
que ele era poderoso para cumprir o que prometera” (Rm 4.20,21).
Conhecendo o que conhecemos acerca do maravilhoso amor de Deus, não é de
se admirar que ainda duvidemos?
(2) A seguir vem o nosso ego – a raiz de todo o pecado. Como tendemos
a ser egoístas, mesmo ao praticar boas obras! Como hesitamos em largar mão
de qualquer coisa que o “ego” deseje. Contudo, sabemos que a mão que já
está cheia, não pode receber as bênçãos de Cristo. Seria por isso que o
Salvador, na primeira oração que ensinou aos discípulos, mencionou tudo na
primeira pessoa do plural? “Pai nosso... dá-nos... perdoa-nos... livra-nos...”.
O orgulho é um empecilho à oração, pois ela é um gesto de auto-
humilhação. Como o orgulho deve ser odioso para Deus! É ele quem nos dá
todas as coisas para desfrutarmos. “Que tens tu que não tenhas recebido?”
pergunta o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 4.7. Certamente, não iremos permitir

77
que o orgulho e sua odiosa e terrível irmã, a inveja, destruam nossa comunhão
com Deus. O Senhor não pode fazer grandes coisas que nos alegrem, se elas
vão nos “subir à cabeça”. Ah, como somos tolos, às vezes! Em algumas
situações, quando insistimos, Deus nos concede aquilo que pedimos, às custas
de nossa santidade. “Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a
alma” (Sl 106.15). Ó Deus, livra-nos disso” Livra-nos do ego” Também existe a
auto-afirmação, que alimentamos ao criticar os outros. Que este pensamento se
grave a fogo em nossa memória – quanto mais uma pessoa se aproxima da
semelhança de Jesus Cristo, menos ela julga aos outros. Isso é um teste
infalível. Aqueles que estão sempre criticando os outros, já se afastaram de
Cristo. Podem ainda pertencer-lhe, mas perderam seu espírito de amor.
Prezado leitor, se você tem uma natureza crítica, permita que ela se volte para
você e o analise, e não ao seu próximo. Você fará uma aplicação ampla dela, e
nunca ficará sem uso. Será esta afirmação por demais dura? Revelaria ela uma
tendência de cometer o pecado – pois que é pecado – que está condenado? Tal
seria se fosse dirigido a uma só pessoa. Mas o objetivo dessa afirmação é
atravessar uma armadura que parece invulnerável. E qualquer pessoa que,
durante um mês, consiga impedir que sua língua “roube” a reputação de outras
pessoas, nunca desejará voltar à prática do “mexerico”. “O amor é paciente e
benigno” (1Co 13.4). Será que agimos assim? Estamos agindo assim?
E não somos melhores simplesmente por pintarmos os outros com cores
mais carregadas. Mas, estranhamente, aumentamos nosso gozo espiritual e
nosso testemunho vivo em favor de Cristo, quando nos recusamos a passar
adiante informações negativas a respeito de outrem, ou nos abstemos de julgar
a obra ou os atos das pessoas. Pode ser difícil, a princípio, mas logo nos trará
imensa alegria. Ademais, essa atitude é recompensada com o amor de todos
que nos cercam. É mais difícil manter silêncio em face das “heresias” modernas.
E não somos exortados a batalhar “diligentemente pela fé que uma vez por
todas foi entregue aos santos” (Jd 3)? Em algumas situações devemos falar –
mas sempre em espírito de amor. “É preferível deixar viver o erro, que matar o
amor”.
Mesmo em nossas orações particulares devemos evitar citar erros dos
outros. Creia-me, um espírito de crítica, mais que qualquer outra coisa, destrói
a nossa santidade de vida, pois é um pecado quase “respeitável”, e nos apanha
em suas malhas com grande facilidade. Creio ser quase desnecessário
acrescentar que o crente cheio do Espírito de Cristo – ou seja, cheio de amor –
nunca falará a outros acerca das práticas não cristãs que ele observa em seus
amigos. “Ele foi muito rude comigo”; ou “Ele é muito orgulhoso”; “Não suporto
aquele homem”, e observações semelhantes certamente são maldosas,
desnecessárias e muitas vezes inverdadeiras.
O Senhor Jesus sofreu oposição de pecadores contra si mesmo mas
nunca reclamou nem procurou divulgar esses atos. Por que deveríamos nós agir
assim? O ego deve ser destronado para que Cristo possa reinar soberanamente.
Não deve existir nenhum ídolo em nosso coração. Lembra-se do que Deus falou
acerca de alguns líderes religiosos? “Estes homens levantaram seus ídolos
dentro em seu coração... acaso permitirei que eles me interroguem?” (Ez 14.3).

78
Quando nosso objetivo máximo é sempre a glória de Deus, então o
Senhor pode atender nossas orações. Nosso anseio deve ser pelo próprio
Cristo, antes que por suas dádivas. “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará aos
desejos do teu coração” (Sl 37.4).
“Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus;
e aquilo que pedimos, dele recebemos, porque guardamos os sues
mandamentos, e fazemos diante dele o que lhe é agradável” (1Jo 3.21,22).
Hoje, como nos primeiros dias do cristianismo, é verdade que os homens
pedem, mas não recebem, porque pedem mal, para gastarem em seus próprios
deleites – isto é, para si mesmos (Tg 4.3).
(3) A ausência de amor no coração talvez seja o maior empecilho à
oração. Um espírito de amor é condição básica para uma oração confiante. Não
podemos agir erradamente para com o homem, e estar certos perante Deus. O
espírito de oração é essencialmente um espírito de amor. A intercessão nada
mais é que o amor em oração.
Ora melhor, quem ama melhor
A todas as coisas, grandes e pequenas,
Pois o grande Deus que nos ama,
A todas criou, e as ama.
Será que nos atrevemos a odiar ou não gostar daqueles a quem Deus
ama? E se o fizermos, será que realmente possuímos o Espírito de Cristo?
Temos que encarar estes fatos elementares de nossa fé, se quisermos que
nossa oração não seja apenas mera formalidade. O Senhor diz: “Amai os vossos
inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos de vosso
Pai celeste” (Mt 5.44,45).
Estamos propensos a achar que um grande número de cristãos nunca
examinou esta questão. Quando ouvimos alguns obreiros cristãos – e alguns
até bem proeminentes – referirem-se aos que discordam deles, temos que
supor, em amor, que nunca ouviram este mandamento do Senhor.
Nossa vida diária neste mundo é a melhor prova de nosso poder na
oração. Deus acata minhas orações não com base no espírito e no tom de voz
que demonstro ao orar em público ou em particular, mas com o espírito que
demonstro em minha vida diária.
As pessoas de mau gênio só podem ser frias na oração. Se não
obedecermos ao mandamento do Senhor de amarmos uns aos outros, nossas
orações são totalmente sem valor. Se temos um espírito de ressentimento, orar
é quase um desperdício de tempo. E, no entanto, um proeminente líder de uma
de nossas catedrais, recentemente, teria dito que existem pessoas a quem
nunca podemos perdoar. Se assim é, esperamos que ele use uma versão
abreviada do Pai Nosso. Cristo ensinou-nos a dizer: “Perdoa-nos... assim como
nós perdoamos”. E vai mais além. Ele declara: “Se, porém, não perdoardes aos
homens, tão pouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mt 6.15). Que
possamos revelar sempre o Espírito de Cristo, e não prejudicar o perdão de que

79
tanto necessitamos. Quantos de nossos leitores, que não têm a menor inteção
de perdoar seus inimigos, e nem mesmo os amigos que os ofendem, recitariam
o Pai Nosso hoje?
Muitos crentes nunca deram uma dimensão correta à oração. Não por
uma insinceridade consciente, mas por falta de raciocínio. A culpa disso está
com aqueles que ensinam e pregam. Temos a tendência de ensinar doutrinas
ao invés de atos. A maioria das pessoas deseja fazer o que é certo, mas
pensam antes nas grandes coisas e não nas pequeninas falhas na vida de
amor.
O Senhor chega até a dizer que nem mesmo nossas ofertas devem ser
dadas a Deus se nos lembrarmos de que nosso irmão “tem alguma coisa contra
ti” (Mt 5.23). E se ele não aceita nossa oferta, seria provável que atendesse
nossas petições? Foi somente quando Jó cessou de contender com seus
inimigos que a Bíblia chama de amigos) que o Senhor “mudou... a sorte” dele,
e deu-lhe em dobro tudo que ele possuíra antes (Jó 42.10).
Como somos lentos – e como somos reticentes – em entender que nosso
modo de viver impede nossas orações! E como relutamos em nos orientarmos
pelas leis do amor! Desejamos “ganhar almas!. E o Senhor nos mostra uma
forma de faze-lo: não divulgar os erros das pessoas. Temos que falar-lhes em
particular, e “ganhaste teu irmão” (Mt 18.15). A maioria das pessoas tem
magoado seus irmãos.
Até mesmo a vida no lar pode interromper nossa comunhão. Veja o que
Pedro diz acerca do assunto, e como devemos viver no lar para que não se
“interrompam” nossas orações (1Pe 3.1-10). Gostaríamos de insistir com cada
leitor para que peça a Deus para sondar seu coração e mostrar-lhe onde há raiz
de amargura, com relação a qualquer pessoa. Todos desejamos fazer o que é
agradável a Deus. Seria de imensa vantagem para nossa vida espiritual, se
resolvêssemos não voltar a orar, enquanto não fizéssemos tudo ao nosso
alcance para estabelecer paz e harmonia entre nós e qualquer pessoa com
quem possamos ter desentendimentos. Enquanto não fizermos isso, no que
depende de nós, nossas orações serão apenas desperdício de fôlego.
Sentimentos inamistosos para com outras pessoas impedem que Deus nos
abençoe da maneira como ele deseja.
Uma vida de amor é condição essencial para a oração confiante. Deus
nos desafia hoje, novamente, a nos tornarmos pessoas preparadas para
receber suas abundantes bênçãos. Muitos de nós terão que escolher entre um
coração amargurado e ressentido, ou as ternas misericórdias e amor do Senhor
Jesus Cristo. Não é estranho que uma pessoa possa ficar indecisa entre essas
duas opções? Pois a amargura prejudica mais à própria pessoa que a qualquer
outro.
“E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém,
perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas” (Mc 11.25).
Foi o que disse o bendito Mestre. Não devemos, então, ou perdoar ou parar de
orar? De que adiantará a uma pessoa passar o dia todo orando se abrigar a

80
falta de amor no coração, o que impede a verdadeira oração? Como o diabo se
ri de nós, por não enxergarmos esta verdade!
Temos a mensagem de Deus de que nem a eloqüência, nem os
conhecimentos, nem a fé, nem a liberalidade e nem mesmo a morte valem de
nada para o homem – entendam bem isto – não valem nada, se o coração não
estiver cheio de amor (1Co 13). “Portanto, dá-nos amor”.
(4) Uma recusa em fazer nossa parte pode impedir que Deus responda
nossas orações. O amor gera compaixão e trabalho, em face do pecado e
sofrimento humanos, tanto na pátria como no estrangeiro. Foi o que sucedeu
ao apóstolo Paulo, cujo coração “se revoltava” dentro dele, ao contemplar a
cidade cheia de ídolos (At 17.16). Não podemos ser sinceros quando oramos
“Venha o teu reino”, mas não fazemos tudo ao nosso alcance para a vinda
deste reino – com nossas ofertas, orações e serviço.
Não podemos estar sendo totalmente sinceros ao orar pelos incrédulos a
menos que estejamos dispostos a dar uma palavra a alguém, escrever uma
carta, ou fazer qualquer coisa para alcança-los, com o evangelho. Antes de
Moody realizar uma de suas grandes campanhas, ele esteve presente em uma
reunião de oração, a fim de pedir as bênçãos de Deus sobre o trabalho.
Estavam ali também vários homens ricos. Um deles começou a pedir que Deus
enviasse fundos suficientes para as despesas. Moody interrompeu-o
imediatamente. “Não precisamos incomodar a Deus com esta questão”, disse
ele tranquilamente, “nós mesmos podemos responder esta petição”.
(5) orar somente em particular pode ser um empecilho. Os filhos não
devem ter contato com os pais somente em separado. É importante pensar
com que freqüência o Senhor se refere à oração em grupo – comunhão em
oração. “Se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer
coisa que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida... Porque onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.19,20).
Temos certeza de que a fraqueza espiritual de muitas igrejas decorre do
fato de suas reuniões de oração serem fracas, ou de não existirem. As reuniões
matutinas e os cultos vespertinos não podem, nem mesmo se realizados com
toda a reverência e sem a pressa que parece caracteriza-los frequentemente,
tomar o lugar de reuniões de oração mais elaboradas, onde todos participem.
Não podemos fazer de nossas reuniões semanais um culto mais vivo e uma
verdadeira força espiritual?
(6) O louvor é tão importante quanto a oração. Temos que entrar em
suas protas com ações de graças e em seus átrios com hinos, e dar-lhe graças
e bendizer seu nome (Sl 100.4). Em certa época de sua vida, João Hyde sentiu-
se inspirado a pedir a Deus quatro almas por dia para o seu rebanho, por seu
intermédio. Quando não atingi a o número desejado, sentia o coração pesado e
dorido. Não conseguia comer nem dormir. Então, orava a Deus pedindo-lhe que
mostrasse qual fora o obstáculo. E em alguns casos, veio a descobrir que fora a
falta de louvor. Ele dizia que, quando louvava a Deus, era procurado por
pessoas desejosas de obterem a salvação. Não devemos depreender disso que
nós também devemos limitar a Deus apresentando-lhe números definidos ou

81
determinados métodos de trabalho; mas temos que clamar: “Glória ao Senhor!
Glória a Deus!” de coração, mente e alma.
Não é por acaso que tantas vezes recebemos a ordem: “Regozijai-vos no
Senhor!” Deus não nos quer ver infelizes; e nenhum de seus filhos tem motivos
para sê-lo. O apóstolo Paulo, o mais perseguido dos homens, era uma pessoa
que cantava louvores. Hinos brotavam de seus lábios na prisão e fora dela;
louvava ao Salvador dia e noite. Até mesmo a ordem que ele apresenta em sua
exortação é relevante: “Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo daí
graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1Ts
5.16-18).
É a vontade de Deus. Mantenhamos em mente este pensamento. Isto
não é uma questão optativa.
REGOZIJAI. ORAI. DAI GRAÇAS.
De acordo com a vontade de Deus, esta é a ordem dos fatos para nós.
Nada agrada mais a Deus do que nosso louvor – e nada é de maior bênção
para o homem que ora, do que o louvor que ele dedica a Deus. “Agrada-te do
Senhor, e ele satisfará aos desejos do teu coração” (Sl 37.4).
Certo missionário, que recebera notícias tristes de casa, achava-se
completamente arrasado. Orou, mas aquela oração nada adiantou, no sentido
de dissipar as sombras de sua alma. Foi ver outro missionário, naturalmente em
busca de conforto. E ali, na parede, viu um quadrinho com as palavras:
“Experimente dar graças!”. E ele o fez; no mesmo instante, as sombras se
dissiparam, para nunca mais retornarem.
Será que louvamos ao senhor o suficiente para que nossas orações
sejam respondidas? Se realmente confiamos nele, sempre o louvaremos. Pois
Deus nada faz, nem deixa que se faça
Que você próprio não faria
Se pudesse ver o fim de tudo
Tão bem quanto ele vê.
Certa pessoa, que ouvia Lutero orando, disse: “Deus bendito! Que
espírito e que fé há em suas expressões! Ele dirige a Deus suas petições com
uma reverência, como quem está na presença de Deus, mas com a firmeza
com que se dirige a seu pai ou a um amigo”. Aquele filho de Deus não parecia
preocupado com o fato de que existem “empecilhos à oração”.
Depois do que dissemos, vemos que tudo pode ser resumido num único
ponto. Todos os empecilhos à oração resultam de nossa ignorância sobre os
ensinos da Santa Palavra de Deus, a respeito da vida de santidade que ele
tencionava que todos os seus filhos levassem, ou de uma relutância de nossa
parte em nos consagrarmos totalmente a ele.
Podemos verdadeiramente dizer a nosso Pai: “Tudo que tenho é teu”, e
então ele poderá dizer-nos: “E tudo que é meu é teu”.

82
12

Quem Pode Orar?

Faz apenas dois séculos que seis alunos da Universidade de Oxford


foram expulsos simplesmente por se reunirem nos quartos uns dos outros, fora
de hora, a fim de orarem. Por causa disso, George Whitefield escreveu ao vice-
diretor nos seguintes termos: “É de se esperar que, como alguns alunos foram
expulsos pelo fato de orarem fora de hora, fiquemos sabendo que outros serão
expulsos pelo emprego de palavrões, fora de hora”. Hoje – graças a Deus! –
nenhum homem, em nenhuma terra pode ser impedido de orar. Qualquer
pessoa pode orar – mas será que qualquer um tem o direito de orar? Será que
Deus ouve a todos?
Quem pode orar? Será a oração um privilégio – um direito – de todos os
homens? Nem todo mundo pode reivindicar a si o direito de aproximar-se de
nosso rei terreno. Mas existem pessoas ou entidades que gozam do privilégio
de um acesso imediato ao nosso soberano. O primeiro-ministro tem este
privilégio. A augusta câmara municipal da cidade de Londres pode, a qualquer
hora que desejar, depositar sua petição aos pés do rei. Os embaixadores de
quaisquer potências estrangeiras podem fazer o mesmo. Tudo que precisam
fazer é apresentar-se na entrada do palácio, e ninguém poderá interpor-se
entre eles e o monarca. Essas personalidades podem chegar imediatamente à
presença do rei, e apresentar-lhe suas petições. Mas nenhuma delas tem
acesso mais fácil nem recepção mais amorosa, que o filho do próprio rei.
Mas, quanto ao Rei dos reis – o Deus e Pai de todos nós, quem pode
entrar em sua presença? Quem pode desfrutar tal privilégio – sim, quem tem
este direito – diante de Deus? Diz-se que até mesmo no mais cético dos
homens, a oração encontra-se quase à superfície, apenas aguardando o
momento de manifestar-se. E há muita verdade nisso. Será que ela tem o
direito de manifestar-se a qualquer hora? Em algumas religiões, ela tem que
esperar. Dentre os milhões de indianos que vivem sob a escravidão do
hinduísmo, apenas os brâmanes podem orar. Um negociante rico de qualquer
outra casta, por exemplo, é obrigado a pedir a um brâmane (que pode ser até
um garoto) que faça suas preces por ele.
Os maometanos não podem orar, a menos que haja decorado algumas
frases em árabe, pois seu “deus” somente ouve orações que são feitas na
língua que crêem ser o idioma sagrado. Mas, glória a Deus! Não existem
quaisquer restrições de língua ou casta entre nós e nosso Deus. Então, todo
homem pode orar?
Sim, responderá o leitor; qualquer pessoa pode. Mas não é o que a Bíblia
diz. Somente o filho de Deus pode verdadeiramente orar a Deus. Somente os
filhos podem entrar em sua presença. É verdade – uma gloriosa verdade – que
qualquer pessoa pode clamar por seu auxílio, perdão e misericórdia. Mas isso

83
não é realmente oração. Oração é mais que isso. Orar é penetrar no
“esconderijo do Altíssimo” e habitar “à sombra do Onipotente” (Sl 91.1). Orar é
colocar Deus a par de nossas necessidades e desejos, e estender a mão da fé
para receber suas dádivas. A oração é uma decorrência da habitação do Espírito
Santo em nós. É comunhão com Deus. Ora, é quase impossível exigir uma
relação de comunhão entre um Rei e um rebelde. Que comunhão pode haver
entre as trevas e a luz (2Co 6.14)? Por nós mesmos, não temos nenhum direito
de orar. Temos acesso a Deus apenas pela mediação do Senhor Jesus Cristo (Ef
3.18; 2.12).
A oração não é apenas o clamor de um homem que se afoga – de um
homem que está afundando no redemoinho do pecado, e grita: “Senhor, salva-
me! Estou perdido! Estou destruído! Redime-me, Senhor! Salva-me!”. Qualquer
um pode fazer isso, e essa petição nunca é desatendida, e sua resposta nunca
tarda, quando feita em sinceridade. Mas isso não é oração, na verdadeira
acepção bíblica. Até mesmo os leões, quando rugem à procura de sua presa,
buscam alimento de Deus; mas isso não é oração.
Sabemos que o Senhor disse: “Todo o que pede receber” (Mt 7.8). E ele
o disse de fato. Mas a quem se dirigia? Falava aos discípulos (Mt 5.1,2). Sim; a
oração é comunhão com Deus; a “vida” da alma, como já disse alguém. E
duvido muito que possamos ter comunhão com ele, a menos que o Espírito
Santo habite em nosso coração, e tenhamos “recebido” o Filho, tendo,
portanto, o direito de sermos chamados “filhos de Deus” (Jo 1.12).
A oração é prerrogativa dos filhos. Somente eles podem reivindicar do
Pai celestial as bênçãos que ele tem preparado para aqueles que o amam. O
Senhor disse que, em oração, devemos dirigir-nos a Deus como “Pai nosso”.
Certamente, apenas os filhos podem empregar esse tratamento. Paulo diz: “E,
porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho,
que clama: Aba, Pai” (Gl 4.6). Seria nisto que Deus estava pensando quando,
falando aos “consoladores” de Jó, lhes disse: “O meu servo Jó orará por vós;
porque dele aceitarei a intercessão” (Jo 42.8)? Ao que parecia, a oração deles
não seria aceita. Mas logo que nos tornamos filhos de Deus, precisamos entrar
na “escola da oração”. “Ele está orando”, disse o Senhor a respeito de um
homem que acabara de converter-se (At 9.11). Os convertidos não apenas
podem, mas devem orar – cada homem por si mesmo, e, naturalmente, pelos
outros também. Mas, a menos que possamos verdadeiramente chamar Deus de
Pai, e enquanto não pudermos, não temos nenhum direito de ser tratados
como filhos – “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” – não temos o
mínimo direito. Você acha essa condição severa demais? Não; pelo contrário, é
um fato natural. Será que um “filho” não tem privilégios?
Mas não me interpretem mal. Isto não exclui ninguém do reino dos céus.
Qualquer pessoa, em qualquer lugar pode clamar: “Ó Deus, tem misericórdia de
mim, pecador!”. Qualquer homem que se encontre fora do aprisco de Cristo,
fora da família de Deus, por pior que seja, ou por melhor que creia ser, pode,
neste mesmo instante, tornar-se filho de Deus, enquanto lê estas linhas.
Apenas um olhar para Cristo, em fé, basta. “Olhai e vivei!”. Deus não diz: Vê –
ele diz apenas: Olhe! Volte seu rosto para Deus!

84
Como foi que os gálatas se tornaram “filhos de Deus”? Pela fé em Cristo.
“Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl 3.26).
Cristo torna filho de Deus, pela adoção e pela graça, qualquer homem que se
voltar para ele em arrependimento sincero e com fé. Mas ninguém tem nenhum
direito nem mesmo à providência divina, a menos que seja filho de Deus. Não
podemos dizer, com confiança e certeza: “Nada me faltará”, a não ser que
possamos afirmar, com confiança e certeza: “O Senhor é o meu pastor”.
Um filho, porém, tem direito ao cuidado, amor, proteção e provisão do
pai. Ora, uma criança só pode pertencer a certa família se nascer nela. Nós nos
tornamos filhos de Deus, nascendo “de novo”, nascendo “do alto” (Jo 3.5). Isto
é, crendo no Senhor Jesus Cristo (Jo 3.16).
Tendo dito isso à guisa de advertência e talvez como uma explicação da
razão por que algumas pessoas fracassam completamente na oração,
apressamo-nos a acrescentar que Deus muitas vezes ouve e atende as orações
daqueles que não são seus “filhos” e possivelmente até neguem que ele exista.
Os Evangelhos nos falam de não poucos incrédulos que buscaram a Cristo
pedindo-lhe cura de uma enfermidade, e ele nunca despediu ninguém sem a
bênção desejada – nunca. Vinham como “mendigos”, e não como “filhos”. E
embora seja necessário que “primeiro... se fartem os filhos”, esses outros
receberam “migalhas”, e, por vezes, mais que migalhas, dadas liberalmente.
E hoje também muitas vezes Deus ouve o clamor dos incrédulos que lhe
pedem bênçãos temporais. Um exemplo disso, que conhecemos bem, poderá
servir de ilustração. Um amigo meu relatou-me que fora ateu durante muitos
anos. Embora incrédulo, cantava no coro de certa igreja havia quarenta anos,
pois gostava muito de música. Seu velho pai adoeceu, alguns anos atrás,
sofrendo fortes dores. Os médicos nada podiam fazer para aliviar seu
sofrimento. Desesperado pelo estado do pai, este corista incrédulo caiu de
joelhos e clamou: “´Deus, se existe um Deus, mostra teu poder, aliviando as
dores de meu pai!”. Deus ouviu o clamor daquele homem e removeu as dores
imediatamente. O “ateu” louvou a Deus e correu ao pastor para indagar acerca
da sua salvação. Hoje ele é um homem totalmente consagrado a Deus,
dedicando todo o seu tempo ao Salvador recém-encontrado. Sim; Deus é
superior às suas promessas, e está mais disposto a atender nossa petição do
que nós a orarmos.
Talvez a mais extraordinária de todas as “orações” de um incrédulo seja
a que está registrada no livro de Carolyne Fry Christ Our Example (Cristo, nosso
exemplo). Embora possuísse beleza, riqueza, posição e amigos, ela descobriu
que nenhuma destas coisas satisfazia realmente seus anseios, e, por fim, em
total desespero, clamou a Deus. Entretanto, sua primeira oração foi de plena
rebeldia e ódio para com ele. Note-se bem: esta não é a oração de um “filho”.
“Ó Deus, se tu és Deus, não te amo; não te quero, não creio que exista
felicidade em ti, mas do jeito que me encontro, estou infeliz também. Dá-me o
que não procuro; dá-me o que não quero. Se puderes, torna-me feliz. Sou
muito infeliz, assim como sou. Estou cansada deste mundo, se existe alguma
coisa melhor do que isso, dá-me”.

85
Que “oração”! Contudo, Deus a ouviu e atendeu. Ele perdoou aquela
alma errante, tornou-a imensamente feliz e gloriosamente produtiva em sua
obra.
Mesmo em peitos selvagens
Existem anseios, lutas, inclinações
Em direção a um bem que eles mesmos não entendem.
E suas fracas e desvalidas mãos
Tateando cegamente em trevas densas
Tocam a destra de Deus na escuridão
E são erguidas e fortalecidas.
Modifiquemos então nossa pergunta um pouco, e indaguemos: “quem
tem direito de orar?”. Somente os filhos de Deus em quem habita o Espírito
Santo. Mas, mesmo nesse caso, devemos lembrar que ninguém pode
aproximar-se do Pai celestial sem constrangimento e com toda a confiança, a
menos que esteja vivendo como deve viver um filho de Deus. Não podemos
esperar que um pai derrame seus favores sobre um filho transviado. Somente
um filho fiel, santificado pode orar no Espírito e com entendimento também
(1Co 14.15).
Mas, se somos filhos de Deus, nada pode impedir nossas orações, a não
ser o pecado. Nós, seus filhos, temos o direito de acesso a Deus a qualquer
momento, em qualquer lugar. E ele entende qualquer forma de oração. É
possível que tenhamos o maravilhoso dom da oratória, e saibamos derramar
nossas palavras de ações de graças, petição e louvor numa torrente abundante,
como o apóstolo Paulo, ou podemos ser como o apóstolo João e ter uma
comunhão mais tranqüila e profunda, uma comunhão semelhante à dos
enamorados. Tanto um brilhante teólogo como João Wesley, ou um humilde
sapateiro como Guilherme Carey são recebidos no trono da graça. O status de
qualquer pessoa no reino dos céus não depende de nascimento, brilhantismo
pessoal ou capacidade de realização, mas, sim, de uma confiança humilde e
total no Filho de Deus.
Moody atribuiu todo o seu sucesso às orações de uma obscura mulher
inválida, quase desconhecida. E é verdade que os santos inválidos da Inglaterra
poderia suscitar um avivamento com grande rapidez, como suas orações. Ah,
se todos os que estão acamados quisessem erguer suas orações!
Será que não erramos em supor que algumas pessoas possuem o “dom”
da oração? Uma brilhante aluna da Universidade de Cambridge perguntou-me
certa vez se uma vida de oração não seria um dom possuído por apenas uns
poucos. Ela levantava a hipótese de que, assim como nem todas as pessoas são
dotadas musicalmente, assim também, não se espera que todas saibam orar
bem. Jorge Muller era excepcional, não porque tivesse o dom de oração, mas
porque orava. Aqueles que não sabem falar bem – como Arão sabia, segundo
declaração de Deus – podem servir ao Senhor pela intercessão em particular,
em favor daqueles que pregam a Palavra. Temos que possuir grande fé, se

86
quisermos ter poder perante Deus, em oração, embora ele seja tão cheio de
graça que, por vezes, opera a despeito de nossa falta de fé.
Henry Martin era um homem de oração, contudo sua fé não equivalia às
suas orações. Certa vez, ele declarou que “esperaria antes ver um morto
ressuscitar do que um brâmane converter-se a Cristo”. Tiago diz: “Não suponha
esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa” (1.7). Ora, sucedeu que
Henry Martins morreu sem ver um brâmane aceitar a Cristo como seu Salvador.
Ele costumava dirigir-se, diariamente, a um pagode abandonado para orar.
Contudo, não tinha fé para ver a conversão de um brâmane. Algum tempo
atrás, alguns brâmanes e maometanos, vindos de todas as partes da Índia,
Birmânia e Ceilão, agora todos irmãos em Cristo, reuniram neste mesmo
pagode e se ajoelharam. Outras pessoas haviam orado com mais fé que Martin.
Quem pode orar? Nós podemos; mas será que oramos? O Senhor pode
contemplar-nos com mais sentimentos e ternura do que olhou os discípulos no
momento em que disse as palavras seguintes, e dirigi-las a nós: “Até agora
nada tendes pedido em meu nome; pedi, e recebereis, para que a vossa alegria
seja completa” (Jo 16.24)? Se o nosso Mestre precisava orar para tornar
poderosas as obras que realizava, quanto mais nós? Às vezes, ele orava com
“forte clamor e lágrimas” (Hb 5.7). Será que fazemos o mesmo? Alguma vez já
vertemos sequer uma lágrima em oração? Faremos bem em clamar: “Vivifica-
nos, e invocaremos o teu nome” (Sl 80.18).
Talvez a exortação de Paulo a Timóteo possa ser dirigida a nós: “Por
esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus, que há em ti”.
(2Tm 1.6). Pois o Espírito Santo é nosso grande auxílio em oração. Sozinhos,
somos incapazes de expressar na oração nossas verdadeiras carências. O
Espírito Santo faz isto por nós. Não sabemos pedir como devemos. O Espírito
Santo pede por nós. É possível que um homem sem o auxílio dele peça algo
que seja para o mal. O Espírito passa tudo no crivo. Uma mão fraca e trêmula
não ousaria mover um grande peso. Será que eu posso – eu não ouso – mover
a mão que move o Universo. Não! A não ser que o Espírito Santo tenha
controle sobre mim.
Sim, precisamos do auxílio divino na oração – e nós o temos. Como toda
a Trindade se compraz em nossas orações! Deus, o Pai, ouve; o Espírito Santo
dita; o Filho eterno apresenta a petição – e ele próprio intercede; e assim a
resposta chega até nós.
Creia-me: a oração é o nosso mais alto privilégio, nossa responsabilidade
mais séria, o maior poder que Deus colocou em nossas mãos. A verdadeira
oração é o mais nobre, o mais sublime, o mais estupendo ato que qualquer
criatura de Deus pode praticar.
Ela é, como declarou Coleridge, o mais elevado tipo de energia que a
natureza humana é capaz de produzir. Orar de todo o coração e forças – é a
suprema, a maior realização do combate do cristão nesta terra.
“SENHOR, ENSINA-NOS A ORAR!”

87
88

Potrebbero piacerti anche