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O Prisioneiro Da Torre

Gayle Wilson
Sinopse
Depois de doze longos anos, uma viúva e um conde
cínico foram reunidos contra todas as probabilidades. Mas
quando o passado ameaça destruir sua recém encontrada
felicidade, poderia o amor ser suficiente para salvar esse
homem marcado pela guerra e uma longa vida de solidão?
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Amável leitor,
Eu escrevo a você na esperança de que quando ler a
minha narrativa, você seja gentil em seu julgamento dos meus
atos chocantes. Temo que aqueles que me conheceram nos
últimos doze anos, terão dificuldade em conciliar a Emma
Stanfield que eles conhecem com a protagonista dessa
narrativa. Há momentos que eu mesma tenho dificuldades em
fazer isso.
É claro, eu tenho a vantagem nesse caso. Eu me lembro
da Emma que partiu para Londres doze anos atrás em sua
primeira temporada. Ela era pouco mais que uma criança
dada a fantasias, a qual disseram que seu futuro marido seria
alguém selecionado apenas por sua habilidade em manter sua
família da forma que eles desejavam. Esse aviso não
conseguiu, como devem imaginar, manter a Emma de
dezessete anos de idade longe de sonhar sobre algo, e alguém,
muito diferente.
Essa também é a história dela, veja bem. Um encontro
casual com um belo estranho. Um beijo roubado. Uma
tempestade de neve. Uma noite perfeita, a qual, no decorrer do
tempo, ela veio a acreditar que satisfaria sua sede por
romance pelo resto de sua vida. Felizmente, isso não era para
ser.
Eu não sou mais aquela garota imatura. Ainda assim,
quando outro encontro desperta as memórias daquela noite há

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

muito tempo atrás, eu sei que não devo deixar essa segunda
chance escapar pelos meus dedos.
Aqui, então, se encontra a história de uma mulher que
ficou diante de duas diferentes encruzilhadas em sua vida,
cada uma separada da outra por doze anos, e das escolhas
que ela fez. Quando você tiver lido isso, seja amável para com
ela. E se você não estiver disposto, ela irá lhe perdoar, porque
ela está feliz demais para fazer qualquer outra coisa.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Prólogo
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Essa foi definitivamente a coisa mais ousada que ela fez


em toda a sua vida. E esse foi um comentário triste sobre seus
dezessete anos de existência, Emma pensou, enquanto
caminhava descalça na ponta dos pés, estremecendo com o
frio gélido do chão de madeira.
Quando alcançou a sacada, ela olhou para o jardim
abaixo. Uma espessa camada de neve cobria o terreno gelado,
escondendo as carruagens que conseguiram atravessar a
lama. A galeria fora de moda da estalagem, a qual oferecia o
único abrigo contra a tempestade desse trecho da estrada,
estava a ponto de transbordar de tanta gente.
Tia Sophie nunca teria concordado em passar a noite em
um lugar como esse, se o cocheiro não tivesse insistido.
Somente sua grave advertência de que eles poderiam ser
atingidos pela nevasca e congelar até a morte antes do resgate
chegar, conseguiu persuadi-la.
Tão logo eles desceram da carruagem, tia Sophie colocou
o estabelecimento de pernas para o ar com suas demandas. Os
empregados da estalagem, carregando baldes de carvão e

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panelas aquecedoras para as camas, seguidos por jarros de


vinho e as mais suculentas fatias de assado, saída da enorme
lareira, corriam para cima e para baixo na escadaria externa
para o quarto que Emma e sua tia foram obrigadas a dividir.
Não que isso fosse satisfazer tia Sophie, é claro. Nem a
comida, nem a rapidez do serviço, os lençóis secos, o ajuste
das cordas que seguravam o colchão. Através dessa grande
desordem, Emma tem passado o tempo esperando pela chance
de escapar. Ela tem ouvido pacientemente a torrente de
reclamações de sua tia, até que elas se tornaram um ronco
baixo induzido pelo vinho. Então, ela enrolou o xale de lã
norueguês de sua tia em torno de seus ombros, conseguindo
cobrir a maior parte de seu busto, antes de começar a abrir a
porta de seu quarto.
Apesar da ferocidade da tempestade à tarde, a noite
estava incrivelmente clara. O ar, limpo pela neve recente,
parecia brilhar. Ela respirou profundamente, saboreando sua
pureza, e se recusando a pensar em quanto tempo levaria para
sentir novamente o frescor distinto dos campos ingleses.
Presa pelas regras e convenções da Temporada, pelos
próximos meses ela seria prisioneira das expectativas de sua
família de que ela fosse fazer um bom casamento. Isso foi tudo
o que ela ouviu no ano anterior, até que ela memorizasse isso
como uma oração.
As esperanças de sua família estavam em sua habilidade
de fisgar um nobre rico, que pudesse mantê-los em um estilo
extravagante que eles estavam demasiadamente acostumados.
Sentindo a amargura pelo sacrifício que haviam exigido dela

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atrapalhar a diversão de sua aventura, Emma decidiu não


pensar no que está por vir.
Não essa noite. Essa noite era dela. Essas últimas e
poucas horas de liberdade.
Ela se inclinou sobre o corrimão para olhar para o céu.
As distantes estrelas brilhavam como cristais espalhados em
uma superfície de veludo preto. Esse brilho seria outra coisa
da qual ela sentiria falta, devido ao ar poluído que encobre a
capital.
Um solitário floco de neve desceu até pousar em sua
bochecha. Sorrindo, ela levantou a mão até tocar na gota
úmida. Ao fazer isso, do canto de seus olhos ela notou um
movimento no outro lado da galeria, em frente aos quartos.
Uma figura saiu da área escura onde a escadaria exterior
levava ao jardim. Instintivamente, Emma puxou o xale mais
próximo de seu corpo. Sua camisola bordada de gola alta era
muito mais modesta que os vestidos de noite que ela usaria
em Londres. O frio, entretanto, fez com que ela lembrasse de
sua transparência.
― Quem está aí? ― ela exigiu.
― Um mero viajante. Um que também não consegue
dormir.
Apesar da natureza inofensiva da resposta, seu tom
masculino produziu uma sensação de alarme. Nenhuma jovem
dama poderia não ser consciente do potencial desastre dessa
situação.
― Eu não lhe desejo nenhum mal, ― ele adicionou
rapidamente.

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Suas palavras pareceram a resposta para o seu medo. O


que significava, ela pensou, que ele tem alguma noção de
etiqueta. Um cavalheiro, talvez?
Enquanto esse pensamento desejoso se formava, o
estranho saiu das sombras e começou a se mover em direção a
ela pela galeria. Ela tentou retroceder, mas com o corrimão
nas suas costas, ela não tinha nenhum lugar para ir.
Evidentemente ele notou o seu dilema, porque ele parou
imediatamente. Apesar de seu desconforto, sentiu um
desapontamento momentâneo por não poder distinguir nada
dele, a não ser a sua altura, que era bem acima da média. Não
havia luz suficiente para revelar seus traços. E a longa capa
que ele vestia mascarava seu físico.
― Posso ser de algum serviço, senhora? ― ele perguntou.
Ele deve estar se perguntando porque ela estava na
varanda. Ela tentou produzir alguma razão verossímel para
oferecer, mas ela não conseguiu pensar em nada que
explicaria esse passeio. Nada menos que a verdade, é claro, o
que certamente não pretendia compartilhar com um estranho.
― Eu sai para tomar um pouco de ar fresco ―, ela disse.
Se não fosse pela temperatura congelante dessa noite, a
desculpa teria servido. Mas dizer que ela se aventurou nesse
frio por ar fresco, entretanto, beirava ao absurdo. E ambos
sabiam disso.
― Eu sou de completa confiança, eu juro ―. Sua voz
suavizou de forma conspiratória, e ele deu outro passo
adiante. Sua capa, mais preta do que as sombras atrás dele,

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revelavam seus ombros largos. ― Se você estiver com


problemas...
Não, a menos que você, também, considere preocupante
ser forçada a selecionar um marido baseado apenas em sua
renda.
Ela não disse nada como isso, é claro.
Independentemente de seus sentimentos, há muito tempo se
resignou ao seu destino. Esta noite seria sua única rebelião.
Até a chegada dele, parecia suficientemente inocente.
― Problema? É claro que não. Eu estou viajando a
Londres para a Temporada ―, ela disse, tentado injetar em
suas palavras um entusiasmo que ela não sentia.
― Com um baú cheio de vestidos, sem dúvida, e outro de
expectativas ―. Sua voz profunda soava ainda mais prazerosa
quando tocada pela diversão.
Emma descobriu que ela queria muito ver seu rosto,
mesmo que somente para julgar se ele era tão atraente quanto
sua voz. O estranho tomava cuidado para manter uma certa
distância, apesar disso, ele parecia querer continuar a
conversa. E quanto mais ela prolongá-la, ela percebeu, maior
será a aventura que ela teria para se lembrar. Ela tentou
pensar em uma réplica astuta e, não conseguindo, decidiu
contar a verdade.
― Mais ansiedade do que expectativas, eu receio.
― Ah, mas você nunca deve confessar nenhum dos dois.
O humor que ela ouviu ainda estava presente em seu tom,
mas seu conselho tinha uma nota de seriedade. ― Não importa

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quais sejam as dúvidas que tenha, você deve sempre


aparentar elegância e confiança.
― Você tem alguma experiência com a Temporada,
certamente.
Ele riu, um som rico apesar da leveza de sua voz. E de
alguma forma ele deixou claro que ele, e não sua ingenuidade,
eram o alvo de sua diversão.
― Eu acredito que eu conheça todas as anfitriãs de
Londres que já precisaram de um solteiro extra. Eu lhe
garanto, eu sou apenas isso. Alguém para preencher uma
mesa ou servir de companhia para uma jovem dama, que não
tenha ninguém para acompanhá-la até a mesa de jantar.
Por mais que fosse do interior, até mesmo Emma
entendia o significado da frase “não fisgado”. E sabia que era
um destino a ser evitado a todo custo.
― Então… você não é um bom partido?
― Um filho mais novo ― ele disse rapidamente. ― De uma
família respeitável, eu lhe garanto. Não há esqueletos perdidos
no meu armário.
Enquanto ela o olhava, ele cruzou a galeria e olhou pela
sacada.
― Parece que o tempo está mudando. O céu deve estar
completamente limpo pela manhã.
Se for assim, os seus baús seriam colocados novamente
na carruagem de seu tio, e eles recomeçariam a viagem o mais
rápido possível. E seria como se essa noite nunca tivesse
acontecido.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ele virou a cabeça, olhando para ela ao invés do céu


noturno. Havia bastante luz da lua refletida pela neve abaixo,
para que ela, finalmente, pudesse ver seu rosto.
Seus traços, regulares e agradáveis, estavam
centralizados por um nariz aquilino e um queixo retangular.
Olhos azuis, sob uma testa alta coberta de cachos pretos
caídos, sorriram para os dela.
Seu coração fez algo muito peculiar: parou ou saltou ou
vacilou. E então, como corações costumam fazer, retomou a
sua batida constante, apesar de umas três vezes mais rápido
que antes.
― Você ainda não me disse por que está aqui fora à meia-
noite, ― ele disse.
Já faz muito tempo desde que alguém realmente quis
conhecer seus sentimentos. Emma respirou e soltou a
verdade.
― Como uma alternativa para fugir, eu acredito.
― Da Temporada?
― De tudo isso. Das regras e regulamentos e expectativas.
Do casamento com alguém que eu mal conheceria
― Talvez você possa se apaixonar.
― As pessoas fazem isso em Londres?
― Em algumas ocasiões.
― Mas, veja bem, esse não é o pré-requisito principal
para meu marido.
― E o que seria? ― ele perguntou com bastante seriedade,
apesar de seus olhos azuis ainda estarem sorrindo.
― Uma fortuna.

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― Ah! Você é uma caça dotes. Então, com certeza, você


não irá se casar por amor.
―Não mesmo, eu tenho medo, se eu me apaixonar. ―
Então essa noite… ― ela hesitou, percebendo a delicadeza da
situação que suas palavras a colocaram.
― Essa noite?
― Se torna mais importante, ― ela confessou suavemente.
―Uma última aventura? ― ele sugeriu, parecendo
novamente ler sua mente.
― Como você sabia?
― Porque eu compartilho a tendência.
― De... buscar aventura?
―O resultado de uma desafortunada natureza romântica.
Ela nunca pensou em si mesma nesses termos, mas
talvez ele estivesse certo. Talvez essa tenha sido a raiz de sua
melancholia atual. Ela deveria estar extasiada de felicidade
pelas próximas rodadas de divertimentos. Ao invés disso…
― Desafortunadamente romântico? ― ela repetiu, tendo
assimilado completamente o que ele disse.
― Em uma sociedade governada por todas essas “regras e
expectativas”.
― Não pensei que os homens estivessem sujeitos a elas.
―Então por que você pensa que eles iriam
voluntariamente se casar com uma caça dotes? ― ele
provocou, sorrindo para ela novamente.
― Eu com certeza não sei. Companheirismo? ― ela
sugeriu tentativamente.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Isso eles conseguem de suas... de seus outros


conhecidos, ― ele alterou cuidadosamente.
Ela não era tão caipira como ele acreditava que ela era.
Afinal, seu pai tinha uma amante e sua mãe ainda tinha um
lugar honrado e necessário em sua vida.
― Para gerir a casa ―, ela disse, pensando nas várias
tarefas de sua mãe. ― Para manter tudo funcionando sem
problemas.
― E para ter seus filhos. Filhos adequados e de linhagem
impecável.
― Perdão, ― ela disse, sentindo o sangue esquentar suas
bochechas, apesar do frio. Ela rezou para que a escuridão
encobrisse isso, para que ele não percebesse o quão ingênua
ela realmente era.
― Eu fiz você corar ―, ele disse, jogando sua esperança
pela janela. ― Perdoe-me. Eu esqueci que esta noite está
reservada para noções românticas.
― E crianças não são?
― Dificilmente ―, ele disse. ― Crianças estão envolvidas
com títulos e bens.
― Eu acredito que você é muito cínico, senhor.
― Sem dúvida. E eu estou encantado por você não ser.
Ela corou ainda mais, mas não negou a acusação.
― E essa é a extensão que vai a sua última, grande
aventura? ― ele perguntou, acenando em direção à vista da
sacada.
Seus olhos seguiram o gesto, considerando novamente o
chão congelado e o céu de veludo coberto por estrelas. Até ele

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chegar ela estava bem contente com isso. Agora, vendo através
de seus olhos, sua rebelião parecia maçante e comum.
― Eu temo que isso deva bastar ―, ela disse. ― Ao menos
o ar está limpo, e a noite...
Ela se virou para olhar para ele e o encontrou mais
próximo do que ele estava antes. De fato, parecia que ele
estava se inclinando em sua direção. Antes de poder objetar,
seus lábios voltaram a se inclinar, adicionando a centelha de
beleza masculina que ela havia notado antes em seus traços
agradáveis.
Novamente seu coração respondeu, parando e acelerando
enquanto sua boca continuava se aproximando da dela.
Embora ela estivesse bem ciente de que deveria objetar,
colocar uma mão de advertência em seu peito ou chamar por
ajuda, ela não fez nada disso. Ela simplesmente esperou
enquanto seus lábios desciam sobre os dela.
Eles estavam quentes contra seus lábios frios. Firmes e
hábeis. E bem certos de sua recepção.
Ela não o desapontou. Sua boca se abriu, talvez em
choque, mas se abriram de qualquer forma, para a invasão de
sua língua.
Essa não foi a primeira vez que ela foi beijada. Apesar de
tudo, ela vinha frequentando a vida social no campo há quase
um ano. Havia tido pequenos bailes em grande quantidade. E
cavalheiros em abundância, também.
Nenhum deles a beijou dessa forma. Ele roubou seu ar e
a força de seus joelhos. Então ela vacilou, levando seu corpo
para uma posição mais íntima em relação ao dele.

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Talvez ele tenha tomado isso como um convite. Seus


braços rodearam sua cintura, puxando-a para mais perto de
seu corpo viril.
Ela não resistiu. Sua língua continuou a explorá-la,
devastando seus sentidos. Suas mãos se levantaram, não para
empurrá-lo, mas para deslizá-las para o calor de dentro de sua
capa e para descansá-las no peito largo que ela cobria.
Depois do que pareceu uma eternidade, foi ele quem
terminou o beijo. Ele levantou a cabeça, olhos azuis
luminosos, refletindo a luz do luar enquanto olhavam para
dentro dela. Nenhum traço de riso que ela viu antes estavam
lá agora.
― Me diga seu nome, ― ele pediu suavemente. Ele
levantou suas mãos enluvadas para remover uma mecha de
cabelo molhado, soprado pelo vento, de suas bochechas.
― Emma. Emma Termaine.
― Não permita que eles a destruam, Emma. Rebeldia é
uma coisa boa. O segredo é saber quando se rebelar e quando
não o fazer.
Ela assentiu como se isso fizesse sentido, seus olhos
presos na intensidade fascinante dos dele.
― Uma distinção que eu deveria ter aprendido, eu temo.
Ele a soltou, dando um passo para trás como no final de uma
dança.
Longe do calor do seu abraço, a noite parecia mais fria do
que antes dele tê-la em seus braços.
― Você estará em Londres? ― ela perguntou.

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Não havia lugar para falso orgulho em meio à turbulência


de emoções que ela estava sentindo. Ela precisava
desesperadamente saber se ela o veria novamente.
Mesmo que ele não seja, como ele a assegurou, um “bom
partido”, ele a encorajou a se rebelar. Se a ocasião permitisse.
Certamente, certamente, ela poderia.
― Pela primeira vez em minha vida, eu realmente
desejava estar.
― Mas...
― Tenha certeza de que a fortuna que você busca seja
grande o suficiente para fazê-la feliz, doce Emma.
Ele deu outro passo, aumentando a distância entre eles.
Incapaz de resistir, colocou a mão em seu braço. Estava muito
pálido contra a fina lã preta de sua jaqueta.
Ele colocou os dedos enluvados sobre os dela,
levantando-os e trazendo-os até os seus lábios. Seus olhos
acima de suas mãos unidas observando-a.
E então ele sorriu para ela. O mesmo inclinar de lábios
que ela observou antes. Novamente, isso transformou o seu
rosto em algo extraordinário.
Seus olhos ficaram presos um no outro por uma
eternidade. Finalmente ele libertou seus dedos, e quase na
mesma velocidade virou-se e cruzou a galeria, desaparecendo
como um fantasma nas sombras próximas da escada.
Ela inclinou-se sobre a sacada, com seus olhos
esquadrinhando a área por algum sinal dele. A neve começou
novamente, caindo como um pó fino sobre o jardim vazio.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Não havia nenhum som. Apenas o misterioso movimento


dos flocos de neve dançando de acordo com o vento silencioso.
Nenhum som de arreios. Nenhum trotar de cascos. Nada.
Ela fechou os olhos contra uma pontada de lágrimas.
Depois de um momento, ela forçou seus olhos a se abrirem
novamente, consciente de que ela estava com frio e molhada, e
muito sozinha. Consciente, também, que ela só poderia
resolver um número limitado desses desconfortos.
Ela olhou para baixo, puxando desajeitadamente o xale
de sua tia para mais perto de seu corpo trêmulo. Enquanto ela
segurava o tecido, um solitário floco de neve pousou na macia
lã preta. Por um instante, cada detalhe de seu incomparável
design ficou visível, claro e perfeito, rígido contra a escuridão
do pano. E depois, antes que ela pudesse compreender
completamente sua beleza, ele se foi.
Uma perfeição fugaz, para ser mais apreciada, talvez,
porque não podia e nunca tinha sido destinada a durar.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Capítulo 1
Doze anos depois

― Mas certamente você pretende conhecê-la?


― Se ela for sua escolhida, Jamie, eu prometo que eu
ficarei bem satisfeito.
Houve um breve silêncio. Alex Leighton, o nono Conde de
Greystone, forçou o olhar a permanecer na página impressa
que estava lendo. Ele sabia que seu irmão estava tentando
formular algum pedido, um que não ofenderia, por sua
presença quando as visitas chegassem. Ao longo dos anos,
Greystone tornou-se bastante habilidoso em negá-los, não
importa o quão bem intencionado fosse. Como seria Jamie, é
claro.
― Se ela for se tornar minha esposa…
As palavras de seu irmão se arrastaram para o silêncio.
Dessa vez ele olhou para cima, pacientemente esperando pelo
que ele sabia que estava vindo.
― Se todos nós formos viver na mesma casa…
Novamente suas palavras vacilaram. Alex resolveu ter
piedade de seu irmão, que realmente era o melhor dos irmãos
e que tolerava mais dele do que ele tinha o direito de esperar.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Perdoe-me. Eu pensei ter-lhe dito, ― ele disse. ― Estou


me mudando para Wyckstead.
― Para Wyckstead? ― a voz de Jamie aumentou ao final
do nome, como se seu irmão tivesse anunciado que estava
mudando-se para uma caverna. ― Ela é só um pouco maior
que uma cabana de caça.
― E vai combinar perfeitamente comigo. Os estábulos
estão bons, e há bastante espaço para os meus livros.
― Isso não vai servir. Eu não vou permitir, ― Jamie disse
decididamente. Seu belo rosto ganhou cor como acontecia
quando ele ficava de mau-humor.
― Perdoe-me, ― Greystone disse suavemente, jogando
uma das cartas que ele raramente usava, mas uma que seu
pobre irmão não poderia derrotar. ― Eu descobri que não
tenho vontade de viver aqui com você e sua recente noiva
bonita.
Jamie corou ainda mais forte. Sua boca finamente
moldada se abriu uma vez, mas como não havia nada para ser
dito sobre seu razoável desejo, ele sabiamente não disse nada.
― Quando eles chegam? ― o conde perguntou. Não
porque ele se importava, mas para quebrar o silêncio
constrangedor.
― Essa tarde, ― seu irmão disse rigidamente. ― Se eu
soubesse que você desaprovaria.
― Você me entendeu mal. Eu não tenho nenhuma
objeção para essa festividade. Essa é sua casa, Jamie. Você
pode se divertir nela sempre que desejar. Contanto que você

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

não espere que eu seja o anfitrião. Certamente você me


conhece melhor que isso.
O silêncio que respondeu a esse estratagema igualmente
imperdoável foi, felizmente, mais de teimosia do que
constrangedor.
― Eu pensei que você gostaria de conhecer a mulher com
a qual eu pretendo me casar.
― Eu não posso imaginar por que você deveria, ― Alex
disse, sorrindo para ele levar a picada da repreensão.
― O que eu devo dizer a eles sobre sua ausência?
Foi óbvio pela sua pergunta que Jamie havia cedido.
― Que eu fui para Paris? ― Greystone sugeriu, sorrindo.
Seu irmão levantou uma sobrancelha em um gesto de
“eu-não-estou-me-divertindo”, um que o conde reconheceu
como uma cópia do seu próprio.
― Não? ― ele respondeu. ― Então diga a eles que eu estou
indisposto. Se eles forem mal-educados o suficiente para
questionar isso, talvez você deva repensar sua proposta.
― Eu queria sua aprovação.
― Você a tem desde que eu coloquei você em seu primeiro
pônei e você falhou e caiu. Agora, vá recepcionar suas visitas e
me deixe em paz, por favor.
― Eu venho te ver depois, ― Jamie prometeu, com seu
sorriso restaurado.
― Eu acredito que eu estarei em Paris, ― o Conde de
Greystone disse, voltando sua atenção para o livro em seu
colo.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Seu irmão riu. Então Jamie tocou seu ombro em


despedida, antes de atravessar a porta exterior da sala de
estar do conde, que estava localizada na parte mais antiga da
casa.
Os olhos de Alex continuaram olhando para baixo, até
que o som dos passos de seu irmão desapareceram através do
chão de pedra da casa. Somente então, ele colocou seu livro de
lado e inclinou novamente sua cabeça na cadeira.
Ele nunca ficava confortável quando havia pessoas de
fora em Leighton. Mesmo sem encontrá-los, ele sempre estava
consciente de sua presença. Ter alguém mais em casa
perturbava o calmo curso de seus dias. E a solução seria se
mudar para Wyckstead.
Ele abriu os olhos, olhando em volta para os objetos bem
amados com os quais ele havia preenchido essa sala. Seus
livros e suas armas, as poucas lembranças de amigos e
lugares que ele tinha escolhido manter.
Seu mundo. Um que ele quis, que ele desejou, escolheu
manter inviolado. A propriedade e tudo que contém nela eram
seus e iriam ser até a sua morte.
O que ele disse ao Jamie, entretanto, não era nada além
da verdade. Ele não tinha nenhum desejo de viver aqui com
seu irmão e a esposa dele. Muito melhor uma breve
interrupção do seu ambiente, que uma inveja devagar e
fervorosa da felicidade que tão sinceramente desejava para
eles.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― E não importa o que você faça, Emma, ― seu cunhado


disse pela décima vez, ― não divague.
― Emma nunca fica divagando ―, Georgina negou
lealmente.
Com um pouco mais de dez anos entre elas, Georgie há
muito tempo começou a chamá-la por seu primeiro nome, ao
menos quando elas não estavam em público. Muito para o
aborrecimento de Charles, é claro.
― Sua madrasta tem seus melhores interesses no coração
―, ele disse, ― mas nós estamos aqui para uma visita
particular. Em família, se me permite. E como o objetivo
principal desta visita é dar a vocês dois jovens a oportunidade
de se conhecerem melhor, não há motivo para ela
supervisionar todas as suas ações.
― É claro que não há, ― Emma concordou, calmamente
ignorando o fato de que ela era apenas um ou dois anos mais
velha do que a parte masculina do casal, que acabou de ser
referenciada como “jovens”. ― Georgina sabe muito bem como
se comportar.
― A condessa também desejará passar um tempo sozinha
com você, ― Charles continuou. ― Isso é costumeiro, eu
acredito.
― Para ver se eu passo na inspeção, você quer dizer?
― Georgina, ― seu tio a repreendeu.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Emma mordeu o interior de seus lábios para se conter e


não responder à insinuação de Georgie. Charles não precisava
se preocupar. Apesar dela ter um espírito animado, ela é mais
que perfeitamente capaz de encantar a mãe de Jamie, ao
mesmo tempo em que irá convencê-la de que ela será uma
nora perfeita, assim como uma excelente condessa.
Ela seria, Emma pensou com satisfação, enquanto
avaliava a situação com os cílios baixos.
Aos dezoito, Georgina Stanfield tem triunfantemente
navegado pelos traiçoeiros cardumes em sua primeira
Temporada em Londres. Seu tio já recebeu três propostas
respeitáveis por sua mão. Ele não respondeu nenhuma delas
ainda, na esperança de aceitar aquela que todos acreditavam
resultaria da viagem que eles embarcaram hoje.
― E o conde? ― Emma perguntou.
Ela não podia se lembrar de Jamie Leighton se referir ao
seu pai. Nem Charles tem falado dele, agora que ela pensou
sobre isso, apesar de ele estar bastante apegado ao título e à
nobreza de longa data de sua família.
― Eu acredito que ele seja um inválido, ― seu cunhado
disso. ― É um tanto incerto, portanto, quanto tempo demorará
até Sr. Leighton receber o título. Não posso ajudar nisso, eu
suponho.
― Eu espero que não, ― Emma disse, sob um suspiro.
A risada de Georgie se tornou uma tosse sufocada.
― Eu rogo que você não esteja ficando doente, ― seu tio
se preocupou.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Eu nunca fico doente. Apenas desejosa de nossa


chegada.
Como se em resposta para os seus desejos, a carruagem
começou a desacelerar. Três pares de olhos procuraram a
janela enquanto o cocheiro parava a carruagem na
propriedade de seus anfitriões, a qual parecia em chamas com
a luz do crepúsculo.
A seção mais antiga, uma grande torre quadrada, parecia
ser de construção normanda. Através das gerações deve ter
havido numerosas adições à estrutura original, em uma
mistura de estilos arquitetônicos. O único princípio orientador
para elas parecia ter sido crescer em tamanho e
grandiosidade, o que certamente eles conseguiram.
O lacaio trabalhou rápido e logo abriu a porta da
carruagem para revelar o pretendente de Georgina. Potencial
pretendente, Emma corrigiu, sorrindo para ele. Contanto que,
é claro, nada saia errado durante as duas semanas de sua
visita.
Ela assistiu enquanto Georgina pegava a mão de Jamie,
graciosamente permitindo que ele a ajudasse a sair da
carruagem. O rubor que era de se esperar encontrar no rosto
de uma jovem garota ao ver seu futuro noivo, tingia o dele ao
invés.
Essa tendência a ruborizar era uma das coisas mais
cativante acerca do herdeiro do Conde de Greystone. Era um
sinal aparente do que Emma descobriu ser uma natureza
genuinamente doce e despretensiosa. Jamie poderia herdar,
em breve, o que Charles afirmou ser um dos títulos mais

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

antigos e ricos da Inglaterra, algo que ninguém adivinharia por


sua maneira não afetada.
― Bem-vindos a Leighton, ― ele disse, com a mão
estendida para ajudá-la a descer da carruagem.
Com suas palavras, seu olhar naturalmente levantou-se
novamente para observer a torre antiga e imponente. Ao fazer
isso, ela pegou um pequeno movimento em uma das janelas
do segundo andar.
Apesar de não ter sido nada mais que isso, por alguma
razão os pelos de sua nuca se arrepiaram. Ela manteve seus
olhos focados naquela abertura particular, parte de uma
grande janela, por longas batidas de coração, tentando
entender o que acabara de ver e por que isso a perturbou.
― Há alguma coisa errada? ― Jamie perguntou.
Ela forçou seus olhos de volta ao rosto dele , sentindo-se
tola. Um dos criados, provavelmente, estava dando uma
espiada nos recém-chegados.
― Alguém estava nos olhando da torre.
Os olhos de Jamie foram parar exatamente na mesma
janela que ela viu o movimento, apesar do fato de que ela não
lhe deu nenhuma indicação de qual tinha sido. Quando ele
voltou a olhá-la, seu sorriso parecia tenso, e o rubor em suas
bochechas mais forte.
― Não há ninguém lá agora, ― ele disse vivamente.
Um pouco vivo demais, Emma pensou, agora ainda mais
curiosa. Nesse momento, entretanto, a segunda carruagem de
sua caravana chegou, carregando suas bagagens, a camareira

26
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

que ela e Georgie dividiriam nessa visita e o valete de seu


cunhado.
No meio do fluxo de lacaios, da bagagem e da recepção,
seus olhos novamente se levantaram esquadrinhando o vidro
escuro. Então, Georgina pegou sua mão para subir os degraus
e ela perdeu a janela de vista, enquanto entrava no hall
ancestral da mansão do Conde de Greystone.

Ele finalmente se lembrou de respirar. Quando ele fez


isso, o ar saiu de seus pulmões em uma série de suspiros
trêmulos.
Ele se afastou da vidraça assim que ela levantou os olhos
para a janela, mas ele sabia que não estava engando. Não, a
menos que sua solidão tenha finalmente resultado na perda de
sanidade que sua mãe frequentemente previu.
Ele pensou naquela noite com muita frequência para ter
esquecido suas feições. Apesar das várias tentativas ao longo
dos anos de tentar racionalizar a importância que aquele
encontro alcançou em seu coração, ele não conseguiu.
Emma Termaine tinha sido seu último gosto doce da
Inglaterra e de casa antes de ele embarcar para a Espanha.
Seu rosto poderia ter vivido dentro de sua memória se não
fosse por outro motivo, mas é claro que havia outros fatores,
igualmente válidos.

27
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ele nunca poderia ter imaginado, entretanto, que ele


poderia vê-la novamente. Que ela viria para o único lugar no
mundo em que isso seria possível.
Ele nunca perguntou o nome da amada de Jamie, ele
percebeu. Não que isso significasse algo se ele tivesse.
Doze anos atrás Emma Termaine estava a caminho de
Londres para encontrar um marido adequado. O ritual do
assim chamado mercado de casamento era repetido a cada
primavera. Mesmo que ela não tivesse sido bem sucedida
naquele primeiro ano, ela teria sido, eventualmente. A beleza
clássica daquele rosto em forma de coração rodeada por
castanhos cachos macios, teria assegurado isso.
Apesar de seus olhos incrédulos terem se prendido
imediatamente em Emma, ele estava perifericamente
consciente das pessoas em torno dela. Seu irmão e a garota
que deve ser sua pretendente. E atrás deles…
A fortuna de Emma? Corpulento e corado, careca e velho.
Isso deveria ser um conforto? Ele perguntou-se
amargamente.
Havia pouco conforto para ser encontrado em tudo isso.
Emma estava em sua casa, e se os festejos seguissem o padrão
normal, ela deve ficar aqui por várias semanas. Ele respirou
novamente, tentando conter a inundação de lembranças.
E descobriu que isso era impossível.

28
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― A torre é a parte mais antiga da casa ―, Jamie disse,


depositando o candelabro que ele carregava. ― Foi um torreão
originalmente. Esse nível foi, sem dúvida, o solar.
― Sua linhagem certamente deve ser antiga, ― Georgina
disse, passando os seus longos e elegantes dedos na ponta de
uma das mesas que agraciavam o cômodo de pedra de teto
alto.
― Positivamente decrépito ―, Jamie disse, fingindo uma
hesitação. ― Como esse lugar. Eu não posso imaginar porque
meus ancestrais não destruíram tudo isso e começaram de
novo, ao invés de fazer acréscimos.
― Um senso de história, talvez, ― Emma sugeriu com um
sorriso.
Foi ela que pediu uma excursão pela torre. Ela pensou
por um momento que Jamie recusaria. Ela já estava
torturando seu cérebro por uma maneira graciosa de anular
seu pedido quando ele concordou.
― O que há lá em cima? ― Georgina perguntou,
apontando para uma estreita escadaria no canto.
― As ameias, ― Jamie disse. ― É aberto para o céu.
― Então isso realmente era um forte, ― Emma disse.
― De acordo com a lenda da família, houve até mesmo
um cerco sobre Leighton. Eu presumo que como somos um
bando de teimosos, nós resistimos a isso com sucesso.
― Ele é assombrado? ― Georgina perguntou, olhando em
torno das estruturas de pedra como se esperando que um
espectro aparecesse do meio delas.

29
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Não que eu saiba, ― Jamie disse. ― A menos, é claro,


que nossas convidadas prefiram dessa maneira.
― E se eu quisesse, Sr. Leighton? ― Georgie disse,
sorrindo em resposta à sua provocação.
― Eu poderia provavelmente arranjar um gemido artístico
ou dois, e algum arrastar de correntes para a sua diversão.
― Por favor, não se incomode por mim ―, Emma disse. ―
Eu prefiro uma noite musical mais tradicional.
Ambos, Jamie e Georgina, insistiram para que ela os
acompanhasse em um passeio depois do jantar. Ela agradeceu
a chance de ver um pouco mais da casa. Muito melhor do que
ficar na sala com seu cunhado ou ir para o quarto mais cedo.
Eles não viram ninguém mais além dos empregados e da
condessa de aparência frágil. Ela não estava certa, e não
queria perguntar, se haveria outros convidados se juntando a
eles nos festejos. Charles disse que essa seria uma visita
privada, mas ela nunca antecipou que haveria tão poucas
pessoas.
Talvez isso fosse por causa da saúde de seu anfitrião.
Disseram para eles no jantar que o conde estava indisposto e
não poderia recebê-los pessoalmente. Apesar de nenhuma
outra informação ter sido dada, ela descobriu pela conversa
que o presente conde não era o pai de Jamie, como ela
acreditava, mas seu irmão.
― Sussurros e gemidos soam mais interessantes para
mim ―, Georgina disse, ― Eu tenho aguentado uma temporada
inteira de musicais.
― Incluindo um péssimo soprano italiano ―, Jamie disse.

30
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Na casa de Lady Eldridge. Sim, eu tinha me esquecido


disso, ― Georgina respondeu, rindo.
― Eu não consegui. Como eu poderia? Lá foi onde eu a vi
pela primeira vez.
Georgina tem sido muito aberta sobre sua determinação
em não ficar desapontada se a oferta que eles esperam não se
concretizar. Mas era óbvio pelo seu rápido rubor, entretanto,
que ela ficou satisfeita que Jamie lembrou-se da primeira vez
que eles se encontraram.
Que garota não ficaria? Emma pensou. Especialmente
pelo cumprimento ter sido dado com uma sinceridade óbvia.
Enquanto os dois olhavam nos olhos um do outro, ela
desviou os seus, fingindo examinar a arquitetura. Era óbvio
que, se de fato, tivesse sido um torreão, em algum momento,
sofreu longas reformas.
Apesar de ainda estar conectado com os andares abaixo e
acima por uma escadaria de pedra em espiral, a área central
desse piso em particular, que em tempos medievais poderia
estar aberta, exceto sob ataque, tinha sido dividida em
cômodos, em algum momento. As portas para eles estavam
firmemente fechadas, mas havia luz vindo por debaixo delas,
onde o carvalho maciço não se ajustava com absoluta precisão
contra as pedras esculpidas à mão do chão.
Ela olhou novamente para o casal, que estavam
envolvidos em uma conversa engraçada sobre os eventos da
Temporada. Sentindo pela primeira vez que ela estava
sobrando, Emma virou as costas para eles para cruzar para

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

uma das janelas que davam para a entrada. Isso significava


que a janela que ela viu movimento deve ser…
Seus olhos novamente consideraram a porta trancada.
Talvez o quarto da governanta? Se for, seu interesse nos
convidados que acabaram de chegar teria sido natural.
Esses aposentos isolados talvez tenham sido escolhidos
para providenciar refúgio da agitação normal de uma casa
desse tamanho. Sua própria Senhora Hardy, poderia achar
essa solidão muito atrativa algumas vezes.
― Podemos ir? ― Jamie disse. ― Não existe mais nada de
interesse aqui em cima.
Acordada de suas especulações sobre os ocupantes da
torre, Emma sorriu para ele.
― Eu estava me perguntando se esses eram os aposentos
da governanta.
O olhar de Jamie foi de encontro à porta fechada, aquele
rubor traidor tingindo suas bochechas.
― O quarto da senhora Dobb's é perto do quarto de
minha mãe. Na ala leste. Elas acham isso mais conveniente.
Emma esperou pela explicação que nunca veio.
― É claro ―, ela disse quando a pausa se prolongou. ― Eu
estou de acordo. Georgina, você reparou nesse tapete? Ele é
realmente muito bom.
Ela agradeceu que houvesse algo próximo à mão, para
fornecer uma ponte para um tópico menos desconfortável.
Depois de uma pequena conversa, eles foram para a parte
mais moderna da casa.

32
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Enquanto ela se preparava para dormir naquela noite, o


incidente continuou a importuná-la. Não era tanto porque
quem estava na torre estava interessado em sua chegada, mas
que Jamie, normalmente extrovertido, não tentou explicar
quem vivia lá.
Dada a opulência do resto de Leighton Hall, para alguém
escolher viver naquele torreão úmido, parecia um enigma.
Mais enigmática ainda era a relutância de Jamie em explicar
quem optou por fazê-lo e por quê.

33
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Capítulo 2
O sono de Emma foi inquieto, mas isso não era
surpreendente, já que era a primeira noite que ela passara em
uma casa desconhecida. Ela estava deitada na cama alta,
assistindo o amanhecer entrar no quarto. Depois de alguns
minutos, ela se levantou e caminhou em direção às janelas.
Eles chegaram tarde o suficiente ontem, para que o
campo ao redor da propriedade tivesse sido mascarado pela
noite. Agora, banhado pela pureza do sol da manhã, ele se
mostrava em seu melhor aspecto.
Ela sentou no assento da janela, e então inclinou-se para
frente, apoiando os cotovelos no peitoril e o queixo em suas
mãos. Um panorama com um gramado exuberante e uma
elaborada vista dos jardins, sombreados por carvalhos
imponentes, espalhados por baixo dela.
Inválido ou não, o conde estava bem servido pelos
administradores de sua propriedade. Esperançosamente, eles
teriam a mesma lealdade para com o seu irmão. Ela começou
a se virar, com a intenção de chamar sua camareira, quando
alguma coisa capturou seu olhos, parando seu movimento.
Um cavalo preto voou ao longo da grama de um monte
próximo, cascos espalhando a névoa da manhã. Mesmo a essa

34
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

distância, era óbvio que a montaria e o cavaleiro tinham


alcançado aquela rara união perfeita entre homem e animal.
Enquanto ela assistia, o cavaleiro direcionou o animal pelo
declive e através da terra em direção à propriedade. Jamie
Leighton? Saiu para uma cavalgada pela manhã?
Ontem à noite ele convidou Georgina e seu tio para uma
excursão em torno da propriedade. Apesar de possível, parecia
improvável que ele iria fosse cavalgar duas vezes.
Não é Sr. Leighton, ela decidiu quando o cavaleiro
aproximou-se da casa. Ela usou mais o instinto para chegar a
essa conclusão do que sua capacidade para distinguir as
características que o diferenciava de outros cavaleiros.
O homem sem chapéu montado no cavalo preto era alto e
de ombros largos. Jamie era mais magro. E comum, ela
acrescentou à sua avaliação, quando o cavaleiro se aproximou
o bastante para que ela visse o brilho de seu cabelo comprido.
Ela tinha esperança de poder ter um vislumbre de seu
rosto, mas nisso ela ficou desapontada. Antes de chegar à
entrada, ele direcionou o animal ao redor do corredor, em
direção ao que ela presumiu que eram os estábulos, na parte
de trás.
Enquanto ele sumia, ela sentiu uma estranha sensação
de vazio. Isso deve ser explicado pela beleza do momento. A
união do cavalo com o cavaleiro. A névoa ao longo da colina. O
contraste entre os campos verdes e o céu límpido.
Mas havia alguma coisa sobre o cavaleiro que capturava
seus olhos. Algum elemento de poder ou comando, ou
característica.

35
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Uma explicação extremamente fantasiosa, ela pensou


divertida. Especialmente para alguém que não é dada a
delírios.
Isso com certeza deve ser culpa da companhia de dois
jovens que descobriram que ficam muito bem juntos, apesar
da pressão de fora, para eles fazerem um casamento
“adequado”. A crescente atração entre Jamie Leighton e
Georgina satisfazia todos os envolvidos. Isto certamente lhe
agradou.
Ainda assim, ela estava ciente de um torturante,
inexplicável sentimento de perda. Por que ela estava prestes a
perder Georgie?
Quando ela se casou com Robert Stanfield, Georgina só
tinha seis anos, uma tímida e solitária criança que já tinha
passado tempo demais na companhia dos empregados. Apesar
de que o casamento de Emma não poderia, pelos seus
padrões, ser considerado um sucesso romântico, ela estava
enormemente orgulhosa do que conseguiu realizar, a cura do
coração de uma garotinha perdida.
O objetivo de tudo isso, ela se lembrou, era ajudar
Georgina a se tornar quem ela é hoje, uma equilibrada e
elegante jovem, capaz de tomar o seu lugar de direito na
sociedade. Ela seria uma condessa excepcional, e o fato de que
ela parecia estar se apaixonando pelo futuro conde e ele por
ela, era o que Emma havia pedido a Deus. Por que então ela
estava experimentando essa inquietante sensação de perda?
Inconscientemente seus olhos retornaram para a vista
através da janela, rastreando ao longo do cume por onde o

36
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

cavaleiro varreu a névoa para longe dele. Estava vazio agora,


tão tranquilo como se a magnífica demonstração do cavaleiro
nunca tivesse acontecido.
Talvez esse tenha sido o fantasma de Jamie, sua aparição
arranjada para seu entretenimento. Ela pensou sorrindo.
Ela certificaria-se de agradecê-lo no café da manhã e ver
o que ele irá dizer. Ele pode evitar uma explicação, assim como
ele evitou qualquer identificação do ocupante da torre, mas ao
menos ela daria a ele a oportunidade.
Ainda sorrindo, ela virou-se e tocou o sino para pedir um
chá, se preparando para começar o dia da mesma forma banal
como ela tem feito nos últimos doze anos.

― Porque a madrasta da senhorita Stanfield viu você,


droga, ― Jamie disse, as palavras claramente uma acusação.
― Sua madrasta?
Alex sabia que Emma não poderia ser a mãe da garota,
mas talvez sua pergunta induzisse Jamie a fornecer
informações adicionais, sem que ele precisasse pedir isso
diretamente.
― Lady Barrington. Ela me perguntou no café da manhã
quem estava cavalgando um cavalo preto a grande velocidade
sobre as colinas esta manhã.
― E o que você disse a ela? ― Greystone perguntou, mais
divertido do que alarmado.

37
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Que era eu, é claro. Eu não creio que ela tenha


acreditado em mim, mas… Eu desejava que você tivesse me
avisado que você pretendia cavalgar. Talvez eu estivesse
melhor preparado para suas perguntas.
― Sinto muito se minha aparição foi inconveniente para
você, ― Alex disse. ― Se eu tivesse alguma ideia que suas
visitas de Londres acordariam ao amanhecer, eu te garanto
que eu não teria me aventurado lá fora.
― Eu não quis dizer isso, e você sabe. Foi você quem
insistiu em não encontrá-los. Isso faz com que seja
diabolicamente estranho ter que explicar quem diabos é você.
― Por que explicar alguma coisa? Parece-me que essa
mulher é detestavelmente impertinente para uma visita.
Ela deveria ser, ele pensou com uma ridícula onda de
satisfação. Aparentemente ninguém conseguiu tirar dela seus
traços de rebeldia juvenil. Embora seu marido com cara de
pudim parecesse ter prazer em tentar. Pobre Emma.
― Na excursão pela torre na noite passada, ela perguntou
sobre os seus aposentos. Ela queria saber se eles pertenciam à
governanta.
― Bom Deus, Jamie. Você não é obrigado a explicar a
disposição da casa para ela.
― Eu sei disso, droga. Mas ela fala de um jeito que parece
uma pergunta perfeitamente natural. Foi somente mais tarde
que eu me perguntei o por quê.
― E ela é a madrasta da senhorita Stanfield, você disse?
― Por uns doze anos. Ela se casou com o visconde logo
depois que a mãe dela morreu. Georgina gosta muito dela. E

38
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

eu também, é claro, mas ela é muito esperta para ser colocada


de lado com sim e evasivas. Eventualmente, ela vai me
atrapalhar.
― O que importa se isso acontecer? Eu dificilmente penso
que é seu lugar questionar como fazemos as coisas em
Leighton, não importa como elas pareçam estranhas.
― E se ela pensar que há algo fora do comum
acontecendo aqui? E se eles pegarem a senhorita Stanfield e
forem embora?
Greystone riu, apesar de perceber que seu irmão estava
realmente preocupado com a possibilidade.
― Você é um bom partido, meu querido Jamie. Um
absolutamente perfeito para a filha de um visconde com muito
pouco para trazer à mesa. É improvável, eu te garanto, que
eles vão a algum lugar. Não até que eles consigam o que eles
vieram fazer aqui.
― Temo que eu não possa me arriscar.
A mandíbula de Jamie estava posicionada de um jeito
que dizia que ele ainda tinha coisas a dizer sobre o caso.
Parecia que seu coração já estava comprometido, o que era
exatamente o que Alex desejava, é claro. Exceto nesse caso…
Ele colocou seus braços em torno dos ombros de Jamie,
puxando-o para um rápido abraço fraternal.
― Eu farei o meu melhor para ficar fora do caminho do
amor verdadeiro, eu te prometo. Sem mais cavalgadas. A
menos que a mulher faça um cerco na torre, isso será seguro o
suficiente.

39
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Existe outra solução. ― Jamie sugeriu, seus olhos


subitamente sérios. Quase implorantes.
Alex poderia até levar em consideração o apelo, se não
fosse pelo encontro de doze anos atrás.
― Muito melhor deixá-los imaginar que há algo
acontecendo, do que dar provas de que isso é verdade, ― ele
disse, sorrindo.
Com a recusa, Jamie baixou os olhos, mas não antes de
Alex ter visto o que havia dentro deles. Quando eles se
levantaram novamente, felizmente aquela emoção já havia ido
embora, deliberadamente substituida por uma luz
provocadora.
― Eu acho que talvez eu deveria levar o Sultão para dar
uma volta amanhã, somente para adicionar veracidade à
declaração de que era eu esta manhã.
― Tente isso, ― o conde disse rindo, ― e ele adicionará
veracidade ao seu traseiro, seu frangote.

Ele sabia que o passeio desta manhã era um erro mesmo


antes do aviso de Jamie. Parecia que ele já sabia disso quando
estava indo montar o cavalo. Mesmo assim, ele não foi capaz
de parar. O desespero de saber que Emma estava sobre o
mesmo teto que ele, e de que isso não faria nenhuma diferença
em sua vida, o tirou de seu refúgio.

40
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Quando ele estava montado sobre Sultão, cavalgando na


vasta área cultivada que abrangia a propriedade, ele podia
sentir-se completamente livre. Depois da descoberta da noite
passada, de como ele era prisioneiro de seu próprio medo, ele
precisou desesperadamente da sensação de controle, bem
como da libertação que a cavalgada deu-lhe.
Esse desejo de liberdade era parte da razão pela qual ele
agora estava subindo as escadas sinuosas até o topo da torre.
Depois de aguentar um dia interminável confinado em seus
aposentos, perguntando-se com demasiada frequência o que
Emma poderia estar fazendo, ele finalmente cedeu a esse
impulse.
Empurrando os livros da propriedade para longe, ele
apagou as velas e jogou o casaco sobre seus ombros. Então ele
ficou na escuridão um momento, ouvindo a presença de
qualquer intruso em seu território. Não ouvindo nada, ele saiu
da sala de estar, fechando a porta silenciosamente atrás dele.
Quando ele se aproximou do topo da escada, ele tentou
afastar sua tensão respirando o ar fresco e cheio de chuva
para seus pulmões. Esta escada para o telhado era uma das
razões pelas quais, apesar das desvantagens óbvias da idade,
do frio e da umidade, ele escolheu habitar o lugar.
Ele estava seguro aqui, dos olhos inquisitivos tanto dos
criados quanto dos convidados ocasionais da família. É claro
que isso poderia ter sido efetuado em qualquer uma das alas
menos utilizadas da casa. O fácil acesso para as ameias
antigas oferecido pela torre, tinha sido uma atração que ele
não conseguiu resistir.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ele saiu para o terraço, automaticamente levantando os


olhos para o céu. Não havia nenhuma estrela essa noite. As
nuvens que estavam se formando o dia inteiro obscureceu
ambos, ele e a lua nova. Estava tão escuro como ele poderia
desejar. Ele começou a cruzar a passagem, com os saltos das
botas ecoando contra as pedras.
― Quem está aí? ― A voz, claramente feminina e que veio
de cima dele, o deteve em seu caminho.
Nenhum dos criados, a não ser o lacaio que cuidava de
suas necessidades, já veio aqui, embora ele nunca tenha tido
certeza de quais histórias foram contadas sobre ele, que os
impediu de se aventurarem na torre. Uma vez uma camareira,
perdida ou agindo em um desafio, tinha ficado cara a cara com
ele na escada. Ela encolheu-se como se tivesse encontrado o
diabo, e depois correu.
Sua mãe nunca teria coragem de subir, especialmente
não até a passagem estreita que dava para o parapeito. E as
únicas outras ocupantes da casa…
― Perdoe-me, ― ele disse calmamente, apesar do
aumento de sua pulsação. ― Eu não tinha ideia que alguém
estava aqui.
Seu primeiro instinto foi o de fugir sem responder ao
desafio. Apesar de suas numerosas falhas, ele nunca foi um
covarde. Além disso, ela obviamente o escutou. Jamie não era
criativo o suficiente para continuar a dar explicações
plausíveis para aparições inesperadas.

42
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Eu acredito que deva ser eu a pedir perdão, ― Emma


disse. ― Hóspedes errantes são certamente repudiados em
qualquer lar civilizado.
Sua voz ficou mais profunda com a maturidade, mas não
havia dúvida de com quem ele estava falando. Enquanto Alex
reconhecia isso, ela se moveu, a palidez de seu vestido puxou
os seus olhos para a sua localização. Ela estava parada
próxima aos degraus que davam para a passagem estreita,
quase na metade do caminho de onde ele estava no terraço.
― Eu confesso que tenho estado curiosa sobre a vista
daqui, desde que o Sr Leighton apontou os degraus noite
passada, ― ela continuou. ― Espero que você não se importe
com a minha invasão.
Isso era obviamente uma armadilha. Se ele desse a ela
permissão para circular, ela confirmaria que ele tinha
autoridade para fazer isso. Uma forma muito inteligente de
verificar sua identidade.
Se ele continuasse a fazer um mistério de sua presença,
entretanto, ela talvez, como Jamie temia, convenceria o pai da
garota que Leighton mantinha um maluco. Eles teriam a
fedelha empacotada e em direção a Londres pela manhã.
Enquanto ele tentava decidir se ele sacrificava sua privacidade
ou a felicidade de seu irmão, ela falou novamente.
― Eu suponho que os quartos no andar de baixo são
seus.
Como a escada que sobe do segundo piso era o único
acesso ao terraço, ela deve ter passado pelos seus aposentos
em seu caminho até aqui, ele percebeu. Ele não a ouviu como

43
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

tinha ouvido Jamie na noite anterior. É claro, o barulho


produzido pelo seu irmão tinha a intenção de alertá-lo de que
seus domínios haviam sido invadidos. Ele pensou, tolamente,
que aquilo seria o fim das excursões.
― Obviamente, você está desejando mandar-me para o
diabo ―, ela disse para o seu contínuo silêncio. ― A única
coisa pior do que visitas errantes são as curiosas.
Sua voz era tocada com humor, ao invés da petulância
que outra mulher poderia ter usado para obter o que queria.
Seu método era muito mais efetivo. Apesar de tudo, ele não
poderia continuar parado como um palerma, se recusando a
responder.
― Eu sou Greystone, ― ele disse. ― Os aposentos abaixo
são meus.
Sua quietude depois de seu pronunciamento parece ter
durado tanto quanto a dele antes. Quando ela falou, a risada
havia desaparecido de sua voz; Perversamente, ele notou que
sentiu falta disso.
― Temo que eu tenha feito um mistério de você.
― Eu peço o seu perdão.
― Nós entendemos que você estava… indisposto.
Ele examinou suas palavras, procurando por algum sinal
de zombaria, e não encontrou nenhum. Havia preocupação.
Uma centelha de contestação. O que fez com que ele se
perguntasse o que Jamie disse exatamente para as visitas.
― Um ataque de febre ―, ele mentiu.
― Um recorrente? Que inconveniente. Eu estou contente
que você está recuperado.

44
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Isso soou sincero. Jamie estava certo. Ela tornava muito


difícil ser rude.
Ele se perguntou se ela se lembrava de seu encontro há
muito tempo. E por que ela deveria? Ele zombou de sua
própria ilusão. Uma garota a caminho dos prazeres de sua
primeira Temporada. Seu encontro deve ter sido muito menos
memorável, do que dezenas de outros que ela deve ter
desfrutado naquela primavera.
Na verdade, ele sempre soube que seu significado para
ele tinha sido desproporcional para a realidade. Esse foi um
argumento que ele havia feito mais de uma vez durante as
intermináveis horas da noite passada. Não teve mais impacto
do que agora.
― Eu sou Emma Stanfield. Georgina, como você deve
saber, é minha enteada.
Ela começou a se mexer, descendo alguns degraus, talvez
para oferecer a sua mão. Apesar da escuridão que o escondeu,
seu estômago apertou.
― Por favor, fique ―, ele disse rapidamente, novamente
lutando contra esse desejo ridículo de virar e correr. ― Eu não
tinha a intenção de perturbar as suas fantasias.
Ela riu, um som baixo e prazeroso. Quase musical.
Pequenos calafrios de emoção serpentearam dentro de seu
estômago.
― Dificilmente uma fantasia. Confesso que eu estou
escapando de muito tempo em família, ― ela disse, diversão
ainda presente em suas palavras. O seu avanço parou, graças
a Deus.

45
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Minha ou sua? ― de alguma forma, apesar de sua


longa ausência na sociedade, ele voltou facilmente às
respostas prontas que a situação demandava.
― As crianças estão jogando varetas, sua mãe está
ocupada com seu bordado, e Charles está lendo o Gazzette. Eu
acredito que a edição é de vários dias atrás, mas ele não
parece se importar.
Havia uma pitada de crítica complacente em suas
palavras, como, para ser justo, havia na descrição dos outros.
Ela não parecia encantada com todos os atos de seu marido, o
que provavelmente deveria agradá-lo. É claro, como alguém
que era bem aberta ao falar sobre sua necessidade de casar-se
por dinheiro, dificilmente poderia esperar que Emma fingisse
ter casado por amor.
― As crianças? ― somente quando ele repetiu isso, ele
percebeu o quão adequada era a palavra quando aplicada a
Jamie. Nem mesmo nove anos os separavam, mas ele
frequentemente se sentia tão velho como Matusalém, em
comparação.
― Meu cunhado prefere o termo “jovens”. Mas para mim
eles parecem muito jovens, especialmente esta noite. E muito
apaixonados. Eu espero que você não tenha nenhuma objeção
a isso.
Sua franqueza beirava à insolência. Uma vez que ele
chegou à mesma conclusão sobre os sentimentos de Jamie, ele
dificilmente poderia culpá-la por apresentar isso como um fato
consumado.
― Essa decisão é de Jamie.

46
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Para ser feita com sua aprovação, certamente, ― ela


disse, soando surpresa que possa ser de outra maneira.
― Você exigiu que Georgina busque a sua?
― Ela a tem. Não que eu acredite que a teria dissuadido
se eu não tivesse conseguido aprovar sua escolha. Por sorte
que posso, e de todo o coração. Eu gosto muito do Sr.
Leighton.
― Obrigado. Assim como eu.
― E meu cunhado está tão enamorado dele como
Georgina, mas penso que deve ter algo a ver com suas
perspectivas―. Uma fagulha de risada estava de volta em sua
voz.
Essa foi a segunda referência que ela tinha feito a seu
cunhado, e essa finalmente teve um impacto. Enquanto ele
considerava as possibilidades, aquela emoção desconhecida
vibrou novamente.
― Seu… cunhado?
― Charles. O visconde Barrington.
― É seu cunhado?
Não havia razão para o aumento súbito das batidas de
seu coração. Era absurdo. E inegável.
― O pai de Georgina morreu oito anos atrás. De uma só
vez, Charles herdou o título e a responsabilidade sobre nós
duas. Tenho certeza de que ele ficará encantado em tirar-nos
das suas mãos.
Isso poderia significar que ela pretendia viver com sua
enteada? Aqui em Leighton?

47
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ele planejou se exilar quando Jamie se casasse, mas ele


nunca pretendeu desligar-se totalmente da família. Somente
agora, confrontado com a perspectiva de que ele poderia ser
forçado a fazer, ele entendeu os longos anos de solidão que o
aguardavam.
― Oh! Querido Deus ―, ela disse. ― Eu acabei de perceber
como isso deve ter soado. Eu não planejo invadir Leighton, eu
lhe garanto.
Ele deveria dizer algo que desse a entender que a decisão
era entre ela e “as crianças”, como ela os chamou. Em vez
disso, ele se viu mais uma vez sem palavras.
― Minha governanta tem um chalé, veja bem... ― suas
palavras se perderam. ― Eu ainda não disse nada a Georgina.
Posso pedir que você guarde o meu segredo, pelo menos até eu
poder contar a ela pessoalmente.
― É claro ―, ele disse. ― Mas... o chalé de uma
governanta?
― Isso vai combinar perfeitamente comigo, eu lhe
asseguro.
Isso soou muito parecido com seu aviso a Jamie sobre
Wyckstead. Ele se perguntou se ela via a próxima ruptura de
sua vida com a mesma inquietação que ele sentia.
― Mas... longe da sociedade. ― ele não formulou isso
como uma pergunta, mas ela o respondeu.
― Ambos, meu marido e meu cunhado divertiram-se
extensivamente. Eu confesso que será um alívio não ter que
bancar a anfitriã.
― Ainda...

48
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Essa escolha é tão diferente da sua? ― ela perguntou.


― Escolha? ― ele repetiu a palavra com uma pontada de
amargura e percebeu que ela o pegou de novo.
― Então... não é por escolha que você mora nessa torre?
― Você está imaginando que eu estou aqui como
prisioneiro?
― Você está? ― novamente, ela soou quase divertida.
― Eu penso nisso como meu refúgio.
Houve um pequeno silêncio, muito parecido com os que
pontuaram a primeira parte da conversa.
― E eu me intrometi ―, ela disse. ― Mais uma vez, eu
peço o seu perdão.
A delicadeza social exigia que ele a dê . E se ele fizesse?
Ela entenderia isso como se ela fosse bem-vinda a invadir seu
espaço novamente?
― Eles devem estar se perguntando agora, onde eu fui ―,
ela disse. ― Se eu não voltar logo, você terá todos os criados
espiando através de seu “refúgio”, procurando por mim.
Havia muito pouco perigo disso acontecer, mas ele não
objetou. Essa parecia uma desculpa aceitável para terminar o
seu encontro. Ela provavelmente estava tão aliviada quanto
ele.
― É claro ―, ele disse. Ele afastou-se das escadas, e
movimentou-se em direção ao lado oposto da torre.
Ele deu apenas alguns passos quando ela disse,
― Você não irá juntar-se a nós? Agora que você se
recuperou de sua... febre.

49
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Você é hospede de meu irmão, Lady Barrington. E eu


acredito que outros juntarão-se aos festejos em um dia ou
dois. Eu não desejo me intrometer.
― É claro. Eu entendo completamente. Eu também não
desejo me intrometer, eu te garanto ―, Emma disse. ― Boa
noite, Lorde Greystone. Foi um prazer conhecê-lo.
Ele curvou-se, apesar do fato de que ela não poderia ver o
seu gesto. E então, enquanto ela descia a escadaria que a
levaria para longe dos limites de seu mundo, ele cruzou o
terraço e foi em direção de onde ela esteve durante todo o
encontro deles.
Uma vez lá, ele olhou em direção ao parapeito dentro da
escuridão. E demorou muito tempo até que ele se mexesse
novamente.

50
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Capítulo 3
― A seda azul, então?
Foi só com o silêncio de espera que Emma percebeu que
não tinha a menor ideia do que a sua enteada tinha acabado
de perguntar. ― Me perdoe. Uma distração, eu receio.
― Você parece estar fazendo muito disso ultimamente ―.
Georgina disse, jogando o vestido de jantar que ela estava
segurando para a aprovação de Emma, no colchão de sua
cama.
― Como sua madrasta, há várias coisas que eu preciso
pensar agora ―, Emma disse, estendendo a mão. ― Eu
acredito que o seu Sr Leighton fará uma proposta.
Ela foi recompensada pelo sorriso de Georgina enquanto
os seus dedos apertaram os dela.
― Você realmente pensa assim?
― Eu não vejo como pode haver qualquer dúvida disso.
Ele olha para você de um jeito...
― Ele olha, não olha? Algumas vezes eu olho para ele e
percebo seus olhos sobre mim, e isso rouba meu ar.
― Você o ama, Georgie? Ainda não é muito tarde, você
sabe. Não importa o que o seu tio diga.

51
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Eu não posso imaginar o que ele diria se o futuro


Conde de Greystone pedisse minha mão e eu tentasse recusá-
lo. Eu acredito que ele teria uma convulsão.
Elas riram juntas, imaginando o rosto já corado de
Charles, vermelho de indignação, se ela desse para trás nesse
momento. Seu temperamento era um fenômeno que elas viram
mais de uma vez nos últimos anos.
― Não ―, Georgina continuou, ― não há nenhuma dúvida
da minha parte sobre a qual estou preocupada.
― Então de quem? Obviamente não de seu tio. Nem
minha, é claro. Que vocês dois poderiam se gostar tanto foi
tudo o que eu desejei.
― E a família de Jamie? E os desejos deles?
― A condessa lhe adora, ― Emma disse, esfregando os
dedos de sua enteada. ― Certamente você sabe disso.
― E o conde? Nós já estamos aqui há três dias e ainda
não vimos nem sinal dele. E se isso for por que ele se opõe ao
casamento?
― Mas ele não se opõe. ― Emma disse rapidamente,
satisfeita por poder diminuir sua ansiedade.
Os olhos de Georgina se arregalaram.
― Como é possível que você saiba disso?
― Porque eu o encontrei noite passada, ― Emma disse.
― O conde? Por que na Terra você não me disse?
― Foi um encontro acidental. Um que nenhum de nós
planejou.
― Mas... Eu não entendo. Eu pensei que ele era inválido.

52
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Isso foi algo que Emma considerou, durante as várias


horas sem dormir, depois de seu encontro. Nem indisposto,
nem inválido pareciam se encaixar com o homem que ela
encontrou nas ameias. Além disso, ela estava convencida,
baseada apenas em sua altura e na largura de seus ombros,
que ele era o cavaleiro que ela viu na manhã de ontem.
Onde Charles originalmente ouviu esses rumores,
especialmente sobre um homem que era obviamente vigoroso,
ela não tinha ideia. Não mais do que ela podia explicar por que
alguém que possui uma propriedade como Leighton, iria optar
por exilar-se em sua parte menos atraente. Ainda a mensagem
foi bem clara noite passada. Greystone não tinha nenhuma
intenção de deixar sua torre para tornar-se o anfitrião dessa
festa de casa.
― Pelo menos não ao ponto que isso impediria sua subida
até o topo da torre ou de cavalgar ―, ela disse. ― Muito
imprudentemente, também.
― Jamie disse que ele é um estudioso.
― Estudioso? ― Emma repetiu incrédula.
A descrição de estudante não se enquadra com a
demonstração de equitação que ela assistiu. Nem com a
impressão que teve do conde na noite passada.
― Atualmente, o que ele disse foi que seu irmão era
bastante estudioso. Ele não chamou seu irmão de recluso,
exatamente, mas ele disse que ele se ajusta mais com o
mundo intelectual do que com o social.
Obviamente essas eram as palavras exatas de Jamie.
Elas não eram palavras que Georgie usaria para descrever

53
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

alguém. Embora Emma não tivesse razão para duvidar do


intelecto do conde ou de sua relutância em se juntar aos
convidados de seu irmão, ela achou isso incompatível com a
impressão que teve.
Ou talvez tenha gostado demais da sugestão de mistério
sobre Greystone, para querer desistir. Sua notória propensão
para ideias românticas. Jamie certamente conhecia seu irmão
melhor do que ela.
― Ah! ― ela disse em voz alta. ― Isso explica ele não
aparecer, eu suponho. Talvez sua relutância em ser sociável
resultou nos rumores que Charles ouviu.
― Mas ele disse que não tinha objeções ao casamento?
― Ele disse que era decisão do Jamie. Eu o questionei
bem claramente sobre isso, eu lhe garanto ―, Emma disse,
com os lábios se curvando um pouco enquanto ela se
lembrava.
― Se ele não se importa com quem Jamie vai se casar,
então talvez ele não tenha intenção de tornar Jamie seu
herdeiro, depois de tudo.
Essa não era uma possibilidade que Emma considerara,
embora pareça estranho que o conde tenha tão pouco
interesse na futura esposa de seu irmão.
― A propriedade é certamente vinculada. Eu duvido que
essa decisão é algo que ele possa tomar.
― Não tenho certeza de que isso seja importante. A
convicção do tio de que o conde não pretende se casar e
produzir um herdeiro, está baseada na sua crença de que ele
está muito perto de bater as botas.

54
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ela estava certa. Emma percebeu com um sentimento de


desânimo.
A informação com a qual Charles estava contando era
obviamente errada. E se não havia nenhum título ou herança
indo para Jamie, Charles, sem dúvida, aceitaria uma das
outras propostas que Georgina recebeu. Estava claro, pelo seu
olhar, que ela havia seguido a mesma linha assustadora de
pensamento, até a sua conclusão inevitável.
Esse namoro tinha ido muito longe para ser dispensado
tão facilmente. O coração de Georgina estava comprometido.
Se alguma coisa acontecesse para impedir o casamento, ela
ficaria devastada.
― No acordo matrimonial, Tio Charles pedirá alguma
garantia de que Jamie será o herdeiro do conde, ― Georgina
disse. ― Se o seu homem de negócios não puder fazer um...
― Não vamos procurar problemas ―, Emma a acalmou. ―
Afinal de contas, o conde não se casou. Deve haver alguma
razão para isso.
― E se ele simplesmente ainda não encontrou a mulher
certa? Tio Charles nunca irá concordar com o casamento sem
mais garantias.
Ele não iria, Emma admitiu. Ao menos um dos outros
pedidos que Georgina recebeu era bem respeitável. Um jovem
com um título e uma fortuna, nada comparado com os de
Greystone, é claro. Se houvesse alguma dúvida de que Jamie
seria o herdeiro de seu irmão, entretanto, Charles era muito
capaz de escolher o pássaro na mão.

55
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

E quanto mais eles ficassem aqui, mais enamorada sua


enteada se tornaria do homem que era bonito e encantador, e
lisongeiro. Jamie Leighton parecia a realização dos sonhos de
toda jovem garota.
― Eu me permiti colocar muita esperança nessa
perspectiva. ― Os olhos azuis de Georgina, de repente
brilharam com lágrimas. ― Eu não acho que eu posso
suportar, se não der em nada.
Todos a encorajaram a ter esperança. A própria Emma
tentou fazê-lo com suas garantias essa noite.
― Talvez você pudesse perguntar ao senhor Leighton. ―
ela começou, apenas para ser rapidamente cortada.
― O que ele iria pensar se eu perguntasse isso? Que eu
apenas estou interessada nele se ele se tornar o conde?
Isso seria verdade para Charles, mas não para Georgina.
Simplesmente perguntar isso poderia, entretanto, colocar
dúvidas na cabeça de Jamie sobre os motivos dela.
― Além disso, é o irmão dele, ― Georgina continuou. ―
Seria muito estranho perguntar se o conde tem intenção de se
casar. Talvez o próprio Jamie não saiba. Ele fala pouco sobre
ele e somente para responder uma questão direta.
O que era outro mistério, Emma pensou. Nem a
condessa, nem o seu irmão mencionaram Greystone, não
desde a explicação inicial de Jamie sobre sua ausência. Isso
não parecia mais normal do que o proprietário de Leighton
Hall viver uma existência solitária na parte mais primitiva
deste lugar.

56
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Porque eles ficaram tão encantados com Jamie em


Londres, tanto como pessoa como quanto um noivo promissor,
eles aceitaram a explicação sobre a ausência do conde. Agora,
parecia que havia muitas questões não respondidas sobre toda
essa situação.
Perguntas que Charles não poderia fazer diretamente até
a proposta ser feita. Questões que Georgina estava relutante
em fazer para não criar dúvidas na cabeça de Jamie. Questões
que apenas uma pessoa poderia responder.
― Então talvez, ― Emma disse, ― nós deveríamos
perguntar ao Greystone.
― Se ele pretende se casar? O choque de Georgina era
claro.
― Por que não? Ele é, afinal de contas, a única pessoa
que pode nos dizer isso com certeza.

Abordar Greystone pareceu uma boa ideia até ela


começar a subir as escadas que davam para os seus
aposentos. Ela estava positivamente ansiosa para o término do
jantar, apesar da companhia ter sido mais animada pela
chegada de mais convidados.
Ao longo da refeição houve uma alegria quase
desesperada nas maneiras de Georgina, certamente fruto de
sua conversa e das preocupações que isso levantou. Assim que

57
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

pode, Emma alegou uma dor de cabeça, fingindo retirar-se


para o seu quarto. Ao invés disso ela foi direto para a torre.
Agora ela estava diante da porta de carvalho maciça,
juntando coragem para o futuro confronto. Respirando
profundamente, ela bateu e depois esperou através de um
profundo silêncio. Não houve resposta, nem para a sua batida
mais forte, embora um fio de luz revelador fosse claramente
visível ao longo da parte inferior da porta.
Se o conde não estava em seus aposentos, ela acreditava
saber onde ele poderia ser encontrado. Segurando a saia do
seu vestido de jantar com uma mão, ela atravessou o chão de
pedra para onde a escada subia para o terraço.
Ela subiu devagar, seu tremor pelo encontro que estava
por vir aumentando. Sua primeira invasão em sua privacidade
tinha sido por acidente. Essa, porém, era uma investida
deliberada, e ela sabia que ele não daria boas-vindas nem a
ela, nem às suas perguntas.
Enquanto ela alcançava o topo das escadas, demorou um
tempo até seus olhos se ajustarem. Havia um pouco mais de
luz do que a noite passada.
Olhando para cima, ela notou que as nuvens estavam
intermitentemente à deriva sobre uma lasca de lua, a qual
percorria alta no céu. Assim como ela antecipou, bloqueando
uma parte do céu estava uma cabeça arrogantemente erguida
sobre um par de ombros impossivelmente largos.
O conde estava na passarela estreita onde ela tinha
estado noite passada, olhando sobre as ameias. Enquanto ela

58
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

hesitava, perguntando-se como apresentar o propósito de sua


missão, ele virou-se abruptamente, olhando para ela.
― Perdoe-me ―, ela disse.
― Eu acredito que nós já tivemos essa conversa, Lady
Barrington.
― Então, eu vou tentar abrir novos caminhos.
― Tão gentil. Eu presumo que eu possa ser de alguma
utilidade para você.
Apesar das palavras serem cortês o suficiente, seu tom
era frio. Emma respirou fundo, tentando pensar em como
formar a explicação sobre sua missão de forma a não ofendê-
lo. E foi forçada a reconhecer que não deveria haver nenhum
jeito de fazer isso.
― Eu gostaria de lhe contar uma história ―, ela disse,
empreendendo uma tática indireta em vez de um ataque
frontal, que era muito mais de sua natureza.
Houve um imperdoável e longo silêncio em resposta.
― Eu serei rápida, prometo ―, ela adicionou, quando
parecia que ele realmente pudesse dizer não.
Intelectual em vez de social, de fato.
― Então, como eu poderia recusar? ― ele disse
finalmente, sua voz resignada.
― É sobre uma garota a caminho de sua primeira
Temporada.
Ela estava consciente de que houve uma reação no
homem em pé acima dela. Um movimento sutil. Talvez
endireitando o seu corpo. Ou uma tensão adicional.

59
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Isso não é sobre Georgie, ― ela esclareceu, usando o


apelido sem pensar, porque ela estava muito concentrada em
fazê-lo entender. ― Apesar da situação ser de alguma forma
similar, eu acho.
Ela estava tornando isso um exemplo. Desenhando a
situação até que ele parasse de ouvir de puro tédio.
― Veja bem, a garota encontrou um homem. Antes dela
chegar em Londres. Foi apenas uma noite. Uma conversa
rápida. Um beijo. Tudo isso deveria não ter tido importância. O
tipo de flerte que toda jovem pode ser perdoada uma ou outra
vez.
Ela parou, convidando um comentário. Concordância ou
entendimento, ela esperava. Ele não deu nenhum dos dois. Ele
simplesmente ficou parado, sua silhueta contra o céu, tão
parado como se ele dependesse de cada uma de suas palavras.
Dando a ela nenhum escolha a não ser continuar.
― Ela nunca descobriu o seu nome, mas para ela, ele foi
a essência de… do que apaixonar-se poderia ser, ― ela
admitiu, sabendo exatamente o que aquele homem significou
para ela. ― A aventura. O excitamento. Ela experimentou isso
durante alguns breves minutos, mas eles mudaram sua vida
para sempre.
― E eles viveram felizes para sempre.
Ela pensou que sua voz estava fria antes, mas isso não
foi nada em comparação com o desprezo que ela ouviu em sua
voz agora.

60
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Não. É claro que não. Eu lhe disse. Uma noite. Um


beijo. Ela nunca o viu novamente, mas ela nunca o esqueceu.
Encontrá-lo coloriu o resto de sua vida.
Silêncio. O que era melhor que sua zombaria, ela supôs.
Ela não havia previsto como seria dolorido expor suas mais
estimadas memórias para alguém que zombaria delas.
― Se existir um provérbio ou uma lição, eu temo que eu
perdi o significado, ― ele disse, depois do que pareceu um
longo tempo.
― Eu não tenho certeza se isso tem um, ― ela disse,
verdadeiramente. ― Ela apaixonou-se, talvez mais pelo
momento do que pelo homem. Alguém poderia argumentar
sobre isso, e acredite em mim, ela o tem feito. Mas o que quer
que tenha acontecido naquela noite, o encontro veio
representar para ela o que se apaixonar deve ser. E quando ela
nunca mais sentiu-se daquela maneira… ela nunca se
apaixonou novamente.
Outro silêncio interminável. Porque ela não estava certa
sobre o que dizer a ele, ela permitiu que isso se alongasse até
que ele quebrou o silêncio.
― Por que você está me contando isso, Lady Barrington?
― Porque eu estou preocupada com Georgina.
― Você não disse que ela não era a garota de sua
história?
― Não é, mas como aquela garota, ela tem, eu temo,
desenvolvido um grande carinho pelo seu irmão. Porque ela é
jovem, talvez você pense que isso é apenas uma paixão
inofensiva que poderá rapidamente se extinguir. Ela não leva

61
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

seus sentimentos de maneira leve, entretanto. Eu acredito que


ela realmente o ama.
― Mas você teme por isso? Eu pensei que esse era o
propósito dessa visita.
― O que eu temo é que seu coração seja partido.
― As intenções de meu irmão são honradas, eu lhe
asseguro, ― ele disse, a frieza novamente em sua voz.
― Eu não duvido disso. Eu fico satisfeita em pensar que
ele gosta dela tanto quanto ela dele.
― Então… Me perdoe madame. Eu não tenho ideia de
quais seriam as suas preocupações.
― Você perguntou se eles viveram felizes para sempre. A
garota e o homem em minha história. Eles não o fizeram, é
claro. Ela não estava livre para se casar com o homem pela
qual ela havia se apaixonado. Ela tinha a obrigação de se
casar bem. Uma obrigação com sua família.
― Ela era uma caça dotes.
Essas eram as mesmas palavras usadas pelo homem que
a beijou naquela noite na estalagem. Suas palavras estavam
cheias de provocação calorosa, enquanto essas…
― Ela não tinha escolha, ― ela disse, defendendo a
criança que ela foi um dia. ― Ela só tinha dezessete anos e
estava na palma da mão de seu guardião.
― Eu estou começando a ver a semelhança. Você teme
que a fortuna de Jamie não seja suficiente para satisfazer a
ambição de sua família.
Essa era a interpretação mais bruta possível, mas uma
que ela não poderia negar completamente.

62
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Charles estava disposto a aprovar o casamento,


baseado no que ele acreditava que seriam as projeções de
Jamie.
― E você, como a intrometida incorrigível que é,
descobriu que, inconvenientemente, eu não estou a ponto de
bater as botas. Que desapontamento para todos vocês.
― Você se engana, senhor, se você acredita que eu deseje
sua morte.
― Mas você admite que isso adiantaria a aprovação de
Charles ao plano das crianças.
Frio, zombador e cruel. E verdadeiro também.
― Eles estão apaixonados. Eu pensei que se você
entendesse a situação, pelo bem de seu irmão, você poderia...
― É claro, ― ele disparou, como se ele tivesse acabado de
entender as suas intenções. ― O que você sugere, Lady
Barrington? Pular do parapeito? Um extrato de veneno? Ou
você veio preparada?
― Ninguém deseja a sua morte, ― ela disse, com seu
temperamento começando a inflamar. Ele estava sendo
deliberadamente obtuso, e ambos sabiam disso. ― Você está
muito enganado a respeito do problema.
― Eu não acho, mas eu não tirarei a oportunidade de
você explicar-me o que no mundo você quer dizer. O que é
isso que você quer tanto, para vir aqui com a sua bela história
e seu não-tão-sutil pedido?
― Antes de concordar com o noivado, Charles precisará
de uma garantia de que seu irmão é, de fato, o seu herdeiro, ―
ela disse calmamente.

63
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Se ela se permitir ficar irritada, ela perderia. E isso era


muito importante.
― Então meus advogados cuidarão disso, ― o conde
disse. ― Há mais alguma coisa?
Capitulando. Era hora de agradecê-lo educadamente,
virar-se e partir. Sendo Emma, ela não fez nada disso. A
abertura que ele deu a ela era muito difícil de resistir.
― Uma razão, se você não se importa?
― Perdoe-me?...
― Você é um homem jovem e vigoroso. Como você pode
ter tanta certeza que você nunca irá querer ter seu próprio
filho?
― Meus contatos sociais são, por escolha, um tanto
limitados. A menos, é claro, que você esteja oferecendo os seus
serviços? ― a sentença se tornou uma pergunta no final.
Serviços. Havia apenas uma interpretação para isso.
― Como se atreve? ― Emma cuspiu com raiva. ― Eu lhe
garanto que eu não tenho nenhum desejo…
Suas palavras vacilaram. Até ela, conhecida por falar
demais, não podia dizer em voz alta o que ela acreditava que
ele estava sugerindo.
― Ou talvez eu, também, tenha tido um breve encontro
em uma tempestade de neve.
― E apaixonou-se? ― a zombaria dessa vez veio dela.
― Você poderia aceitar isso como razão suficiente?
― Para trancar-se longe do mundo?
― Como isso é diferente de seu chalé de governanta, Lady
Barrington?

64
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Eu não estarei me escondendo, ― ela disse, contrariada


por ele usar algo que disse em confidência, contra ela.
― Todos nós temos esconderijos. Agora se você me der
licença, eu gostaria de voltar ao meu. Eu cresci acostumado à
minha solidão e a guardo com ciúmes. Seu cunhado terá sua
garantia sobre o futuro de Jamie, e Georgie terá o seu
romance. Há mais alguma coisa que eu possa fazer por você
antes de partir?
― Isso é o bastante, obrigada, ― ela disse, lutando contra
uma onda de fúria que a assustou.
― Esse é o mínimo que eu poderia fazer por uma visita
que foi tão cavalheiramente negligenciada. Perdoe-me se você
está entediada.
― Eu lhe garanto, senhor, eu não estou. Existem coisas
demais em Leighton para desvendar. Eu deveria alertá-lo que
eu sou muito boa com adivinhações.
Isso teve o efeito que ela pretendeu. Não houve nenhuma
réplica rápida. E pareceu que seu corpo ficou paralisado
novamente.
― Esqueça isso, ― ele a alertou levemente. ― Você
somente prejudicará aqueles que não merecem isso.
A voz profunda estava preenchida com algo que ela não
percebeu lá, antes. Nem diversão, nem desdém ou frieza. Ao
invés disso, parecia ressoar com remorso.
Você somente prejudicará aqueles que não merecem isso.
Georgie ou Jamie? Sua mãe? Ou era possível que ele estivesse
falando de si mesmo?

65
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Você não deveria jogar a luva para uma intrometida,


Lorde Greystone. Nós nunca resistimos a um desafio.
Ela virou-se e andou em direção à escadaria. Não foi até
que estivesse na metade da descida que ela percebeu que
estava tremendo.
Homem desprezível e enfurecedor. Ela não podia lembrar-
se qual foi a última vez em que ela se sentiu tão viva.

66
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Capítulo 4
― Meu Lorde, você precisa entender que uma declaração
dessa não tem nenhuma força legal, ― o advogado do conde
protestou. ― Os direitos foram criados de tal forma que mesmo
se você e seu irmão concordarem com uma cláusula como
essa, você não pode mudar os termos da herança.
― Eu entendo perfeitamente, ― Greystone disse. ― Eu
apenas estou tentando colocar o Visconde Barrington mais à
vontade no que concerne aos arranjos do casamento.
― Eu gostaria que você não fizesse isso, ― Jamie disse.
― Eu fui informado por uma fonte confiável, que uma
garantia como essa será necessária antes de Barrington
concordar com o casamento. Ou eu estou errado sobre você
querer que ele concorde, Jamie?
― Você sabe que eu quero.
― Então isso está decidido. Isso é muito barulho por
nada, Senhor Shackleton. Você incluirá na linguagem legal, a
garantia de minha determinação em não me casar.
― Eu preciso protestar, meu Lorde, ― a interrupção de
Shackleton foi muito mais forçada do que antes. ― Isso
simplesmente não é sábio, mesmo que não tenha força legal.

67
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Um acordo de cavalheiros, se você quiser, ― Alex disse.


― Coloque isso.
No silêncio que seguiu o comando, um inconscientemente
dado no tom que ele usara muitas vezes no campo de batalha
e raramente desde então, o conde caminhou até a janela. A
mesma da qual ele assistiu à chegada da carruagem de Emma.
Um pouco mais de uma semana atrás, ele percebeu.
Parecia que ele estava consciente da passagem de cada hora
que eles passaram sobre o mesmo teto. E o tópico do encontro
de hoje não estava, é claro, fazendo a sua presença na casa
mais fácil de esquecer.
― Eu preciso persuadi-lo a reconsiderar, meu Lorde, ―
Shackleton disse, cuidadosamente mudando seu tom para
algo mais conciliatório. ― Você ainda é jovem. Não há
nenhuma razão... ― O argumento que ele estava prestes a dar
foi cortado abruptamente. Abruptamente demais.
― Exatamente, ― Greystone disse suavemente. Ele
apertou as mãos atrás de suas costas para conter seu tremor
idiota, e manteve os olhos presos no painel de vidro diante
dele.
― Isso é ridículo, ― Jamie disse. ― Eu não me importo
com o que Barrington quer. Para o inferno com ele. A
senhorita Stanfield não se importa com o título. Ela é a única
que importa nisso.
― Quão infantilmente romântico, ― Alex disse. ― Esse
sentimento, entretanto, não tem semelhança com o modo
como o mundo funciona. As mulheres de nossa classe se

68
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

casam na direção em que os homens de sua família decidem,


Jamie. Você deve saber disso.
Se casam na direção em que os homens de sua família
decidem. Como ela tinha feito.
Novamente, como ele fazia todas as noites desde que
Emma estava aqui, ele tirou da mente a imagem dela deitada
nos braços de outro homem.
― Nós poderíamos fugir.
Greystone finalmente virou a cabeça para aquela ponta
de bravata, olhando diretamente para Jamie pela primeira vez.
A boca de seu irmão estava obstinada de uma maneira que ele
reconheceu. Jamie pode ser muito fácil, mas uma vez que ele
decidiu algo, ele era quase impermeável ao argumento.
― Fugir? ― ele disse, levantando uma sobrancelha
escura. ― E desse modo arruinar Miss Stanfield? É isso o que
você está sugerindo?
― Eventualmente…
― Oh sim, é claro. Eventualmente. Como ela parece ser
tão romântica quanto você, ela realmente pode estar disposta
a sofrer esses meses ou anos de censura e isolamento. A
questão é ― Você está disposto a vê-la passar por isso?
Como ele pretendia, ele conseguiu colocar um fim em
qualquer solução deste tipo. Jamie nunca suportaria ver
alguém sofrer, especialmente alguém que ele amava. Não
haveria mais sugestões de fugir para a fronteira, graças a
Deus.
― Talvez se pedirmos à madrasta de Georgina para falar
em nosso favor…

69
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Pode interessar-lhe saber que foi ela quem urgiu essa


declaração, ― Alex disse.
― Lady Barrington?
―Ela está convencida de que seu cunhado nunca dará
seu consentimento ao casamento, sem alguma garantia de que
você será meu herdeiro.
― Então assegure-os de que você não tem nenhuma
intenção de se casar, meu Lorde, ― Shackleton ofereceu.
― Eu acredito que é o que eu acabei de instruir que você
faça, ― Greystone disse, com uma arrogância quase esquecida.
― Dizer que você nunca vai se casar e que você não
pretende se casar são duas coisas muito diferentes, meu
Lorde.
Normalmente elas eram, Alex reconheceu. Só não nesse
caso.
― Não estou certo de que essa redação satisfaça o tio de
Miss Stanfield.
― E eu tenho certeza de que nenhuma outra satisfaça a
corte, meu Lorde. Além disso, ― Shackleton continuou
rapidamente, ― você pode mudar de ideia em algum ponto no
futuro. ― Ele ignorou a risada de Greystone para continuar
com o seu argumento. ― Nesse caso, eu não desejo que você
fique preso pela honra de semelhante juramento.
Especialmente quando ele não é necessário para atingir seus
objetivos.
― E se ele recusar?

70
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

―Então nós seremos forçados a considerar outra


linguagem. Não até lá, se você quiser. Como seu conselheiro, é
claro, meu Lorde, ― seu advogado adicionou com respeito.
Houve outro silêncio, esse claramente de espera. Durante
isso, Alex novamente fingiu contemplar a chuva caindo,
imaginando o rosto da mulher que o olhava, enquanto a
observava dessa mesma janela. Ele forçou seus olhos a seguir
o lento deslizamento descendente de uma gota, que pousou no
topo do painel, antes de falar novamente.
― Jamie?
― Se isso precisa ser dito, que seja nessa linguagem, ―
seu irmão disse prontamente. ― Esse é o único jeito que eu irei
concordar com a adição dessa declaração.
A pausa após o pronunciamento de seu irmão se
prolongou, até que Alex virou-se da janela para encará-lo.
― Quem pode saber o que vai acontecer no futuro? ―
Jamie adicionou, seu queixo levantado em desafio. ― Não
importa o que você pretende agora.
― Faça isso, Sr. Shackleton, ― Alex instruiu, interferindo
antes que seu irmão pudesse terminar sua declaração. ―
Faça-me esse favor, ― ele terminou, cuidadosamente
regulando o seu tom.
― É claro ―, o empregado falou, soando aliviado que o
problema tenha sido resolvido satisfatoriamente para ele e
para a lei. Ele juntou os papéis que estavam diante dele e os
empilhou, em uma demonstração de eficiência. ― Se não há
mais nada, meu Lorde…

71
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Isso é tudo. Se você pudesse ter tudo elaborado para o


início da próxima semana, eu ficarei agradecido.
― Eu colocarei os funcionários nisso assim que eu voltar
para a cidade.
― Então eu desejo um bom dia, senhor.
― Meu Lorde, ― Shackleton levantou e inclinou-se
levemente em sua direção. ― Sr. Leighton.
― Obrigado, Shackleton, ― Jamie disse. ― Eu estou certo
de que você fará disso sua prioridade.
― Nós devemos tentar, senhor.
― Eu o acompanharei, ― Jamie ofereceu.
― Não é necessário. Eu conheço o caminho. ― Depois que
ele abriu a porta da sala de estar, ele se virou para adicionar,
― Você tomou a decisão certa, meu Lorde. Uma que você não
irá se arrepender depois. Esse é sempre o curso mais sábio.
Greystone continuou fingindo contemplar a chuva. Ele
quase podia ver a troca de olhares entre os dois, às suas
costas.
Deixe-os comemorar, ele pensou. A vitória que eles
conquistaram não tem significado algum, o que Jamie deveria,
pelo menos, entender. E se as palavras do acordo adicionarem
força para a sua legalidade, bem, isso era exatamente o que ele
pagou ao Shackleton para garantir.
Quando as portas se fecharam atrás do velho homem, ele
novamente esperou, desta vez para o que sabia que seria a
continuação de Jamie do discurso de Shackleton. Foi um que
seu irmão fez inúmeras vezes ao longo dos anos.
― Obrigado, ― Jamie disse ao invés.

72
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Alex virou-se para encontrar seu irmão olhando para ele


com uma expressão que parecia, suspeitosamente, compaixão.
Uma emoção que ele recusava-se a reconhecer.
― O seu agradecimento não é necessário. O que eu
adicionei nesses documentos não é nada além da verdade.
― Eu não quis dizer sobre isso, apesar de que eu ficarei
muito agradecido se isso conquistar o tio de Georgina.
― Então pelo que você me agradeceu?
― Por me livrar da culpa.
― Perdão.
Ele tinha uma suspeita doentia de que Jamie estava
referindo-se à culpa por ter encontrado alguém com quem
compartilhar sua vida, quando era óbvio que seu irmão não o
faria. Embora ele estivesse ciente de que o pensamento deveria
ter atravessado a mente do garoto em algum momento ― de
fato, ele mesmo tem anunciado isso, em sua declaração sobre
a mudança para Wyckstead ― Alex não queria ouví-lo
expressar.
― Livre da culpa se você se apaixonar em uma data
futura. Eu não quero ser o responsável por forçá-lo a escolher
entre a honra e a mulher que ama.
― Você está sendo tão ridículo quanto Shackleton.
O riso em resposta de Jamie foi baixo e livre de zoação.
Quando ele falou, entretanto, sua voz estava mortalmente
séria.
― Isso não importaria para uma mulher que o amasse,
você sabe.

73
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Você tem noções romanticamente absurdas do mundo,


não tem? Influência de mamãe, eu presumo.
― E a sua é notavelmente cínica, ― seu irmão replicou.
― Eu acredito que a palavra correta seja realista. Deixe
isso para lá, Jamie. Nada mudou.
― Exceto que agora eu entendo melhor o que você está
perdendo.
Alex deu as costas a isso, lutando contra a raiva ridícula
que o comentário inexplicavelmente evocou. Isso foi algo com o
qual ele havia feito a paz há muito tempo. Ou era o que
pensava.
― Eu deveria agradecê-lo pelo lembrete?
― O meu desejo mais profundo seria que um dia você o
fizesse.
― Eu já lhe disse.
― Sim, eu sei. Você colocou na cabeça que isso é
impossível. Você é, entretanto, o único que acredita nisso. Por
favor, permita que o resto do mundo, como Shackleton e eu,
que não somos de forma alguma, idiotas, discordar.
Ele manteve o olhar de Jamie, esperando seu irmão
desistir como ele sempre fazia quando confrontado pelo seu
desagrado. Ao invés disso, seus olhos azuis permaneceram
calmos e inflexíveis.
Foi ele que finalmente rompeu o olhar, virando
novamente para a janela. Para a entrada abaixo. E para as
memórias.

74
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Você é, entretanto, o único que acredita nisso. E pela


primeira vez em mais de uma década, ele se perguntou se isso
poderia ser verdade.

― Apenas pense, Georgie. Um dia você poderá estar


pendurada aqui. Talvez parecendo tão satisfeita consigo
mesma como ela está.
Emma estava olhando para um quadro em tamanho real
de uma mulher em um enorme trono Elizabetano. O quadro
ornamentado que rodeava a imagem, era a configuração
apropriada para a riqueza de seu vestido de veludo com rubis
e pérolas que o adornavam.
― Shh! ― Georgina a advertiu, tentando não rir. ― A
condessa vai lhe ouvir.
― Oh! com certeza ela aprovará sua adição. Talvez ela vai
querer você e Jamie pintados lado a lado.
O rápido sorriso de Georgina moveu o canto de seus
lábios, mas seus olhos continuaram respeitosamente virados
para a condessa. Apoiando-se em uma bengala de topo
dourado, Lady Greystone estava guiando a procissão de suas
visitas femininas ao longo da galeria de quadros, que era
compreensivelmente famosa no distrito. Geração após geração
da família Leighton, faziam linhas na parede do corredor
central da grande ala oeste, olhando para elas enquanto elas

75
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

caminhavam à velocidade de lesma que a enfermidade da


condessa demandava.
― Eu me pergunto se Jamie já foi pintado, ― Georgina
disse, seus olhos examinando os jovens cavalheiros nos
quadros pelos quais elas estavam passando. ― Esse parece
que mal saiu da sala de aula. Ele é certamente mais jovem que
Jamie.
― Eles morriam muito cedo naquela época, ― Emma
disse em voz baixa. ― Era necessário pintá-los mais cedo.
― Emma, ― Georgina protestou tentando não rir.
Elas estavam suficientemente longe no grupo que
perderam a maioria dos comentários da condessa, o que não
incomodou nenhuma das duas. Ao menos a caminhada ao
longo do corredor era uma espécie de exercício. A chuva de
hoje tinha negado qualquer outro. Não apenas elas estavam
acostumadas às longas caminhadas no campo, mas essa tarde
em particular, elas precisavam desesperadamente de algo para
ocupar suas mentes.
De acordo com Charles, Jamie estava reunido com o
conde e seu advogado, o que queria dizer que algo importante
estava por vir. Essa informação somente adicionou mais
tensão, para a que Georgina já estava sentindo nos últimos
dias.
Seu nervosismo óbvio foi uma das razões para as
brincadeiras de Emma sobre os retratos. Apesar de suas
repetidas garantias de que o conde havia prometido fazer a
estipulação que elas acreditavam que Charles exigiria,
Georgina temia que algo nas negociações desse errado.

76
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Parece que nós estamos chegando na ala mais


moderna, ― Emma disse, enquanto elas se aproximavam das
pinturas da atual geração de Leightons.
O primeiro quadro era da condessa e seu marido, o
antigo conde. Na juventude, a mãe de Jamie tinha uma
notável semelhança com seu filho mais novo. Sua cor delicada
veio dela, assim como sua pequena estatura. Seu pai era uma
figura muito mais imponente, com cabelos pretos, ombros
largos, e olhos azuis impressionantes.
Emma quase não conseguia tirar os olhos de sua figura.
E ela sabia porque, é claro. Se o atual conde tiver puxado suas
características faciais assim como seu físico e cor, ele seria um
homem muito atraente.
― Esse é Jamie, ― Georgina disse, pronunciando o nome
de seu amado em uma voz quase reverente.
Sua enteada continuou pela galeria, enquanto Emma
estava perdida em contemplação do conde anterior. Agora
Georgina estava há vários passos de distância, olhando para
cima com cara de apaixonada.
Emma apressadamente diminuiu a distância entre elas.
Enquanto seus olhos seguiam os de Georgina, ela encontrou-a
olhando para o retrato do caçula dos Leighton. A expressão
que Jamie tinha adotado para o retrato, era muito solene para
capturar o doce charme que era uma parte tão atraente de sua
natureza. Ainda assim, era uma semelhança muito boa,
mesmo a indicação de rubor nas suas bochechas.

77
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― E esses devem ser seus irmãos, ― Georgina disse,


virando em direção às grandes pinturas a óleo penduradas
entre a de Jamie e de seus pais.
― Irmãos? ― Emma questionou enquanto seus olhos
examinavam o primeiro deles.
Então, esse era o conde. Depois de seus encontros
clandestinos, ele tornou-se tanto objeto de suas fantasias
como o homem que conheceu anos atrás naquela estalagem.
― Esse deve ser Simon, ― Georgina disse, indicando a
pintura que Emma estava olhando. ― Ele era o primogênito,
mas ele morreu pouco depois de herdar o título. Uma doença
do coração. Jamie diz que ele estava sempre doente, mesmo
quando criança. Por causa da sua saúde, houve conversas na
família sobre não comprarem uma comissão para Alexander…
A narrativa parou abruptamente. É claro, Emma só
estava ciente do som das palavras e pouco do seu sentido por
vários segundos, agora. Tão logo Georgie disse as palavras “ele
morreu”, seu olhar foi transferido para o próximo quadro.
Um cone de silêncio se abateu sobre ela, bloqueando
tudo de sua consciência exceto a aparência do segundo filho
Leighton. Ele foi pintado de farda. Tão atraente quanto sua
jaqueta vermelha de detalhes dourados, seus calções brancos
e botas altas eram, no entanto, eles não eram o que tinha
detido sua atenção.
Era o sorriso dele. Aquele que ela pensou transformou
seu rosto em algo extraordinário. Como fazia agora.

78
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Emma? ― Georgina exclamou, colocando uma mão


firme embaixo de seu cotovelo. ― Você parece como se tivesse
visto um fantasma.
Um fantasma. Isso foi exatamente o que ela pensou na
noite que ele desapareceu nas sombras. Que ele tinha sumido
como um fantasma. Ou que era fruto de sua imaginação.
― Alexander? ― Ela sussurrou a pergunta.
― O conde de Greystone. Jamie o chama de Alex.
Emma balançou a cabeça, fechou a boca e pressionou os
lábios juntos. Havia uma ferroada na parte de trás de seus
olhos, mas ela ignorou, concentrando-se nos traços atraentes
que ela nunca esqueceu.
O mundo que eles habitavam pela virtude de seus
nascimentos era incrivelmente pequeno. Todos da ton¹
conheciam todos os outros, como também suas conexões
familiares. Afinal, eles frequentavam os mesmos clubes e
casas de diversão praticamente as mesmas vezes, todos os
anos.
Ela sempre procurou por ele, não importa onde ela
estivesse. Mesmo depois que ela se casou com Robert, seu
olhar continuava a cruzar qualquer cômodo que ela entrasse,
procurando por cachos pretos. Então eles se concentrariam no
rosto abaixo, rezando para encontrar esse sorriso particular e
aqueles olhos azuis. Ela sempre ficou desapontada.
Foi somente muito depois que ela se permitiu pensar o
impensável, e sua busca por ele havia ficado mais e mais
desesperada. E mais sem esperança.

79
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Algumas vezes, no curso desses longos anos solitários,


ela veio a aceitar que ela nunca iria vê-lo novamente. Ela não
conseguia nem mesmo saber quando isso aconteceu. Ela
nunca, conscientemente, pensou nele como morto, mas o
lugar que ele tinha mantido em sua memória, uma vez tão
forte e vibrante, tornou-se pouco mais do que um santuário
sagrado. E vazio.
― Emma? ― Georgina disse. ― O que foi? O que há de
errado?
― Eu o encontrei.
― O conde?
Ela assentiu, acenando com a cabeça, incapaz de afastar
os olhos da pintura.
― É claro que você o fez, ― Georgina disse. ― Você
conversou com ele sobre o título. Sobre dar garantias ao tio
Charles.
Emma virou para encará-la.
― Antes. Eu o encontrei antes de virmos aqui.
Os olhos de sua enteada se ergueram para o retrato e
então voltaram rapidamente para ela.
― Mas… Jamie disse que ele nunca sai da propriedade.
― Muito antes. Mesmo… Isso foi antes de eu me casar
com o seu pai.
Houve uma hesitação intrigante.
― Então… você não sabia? Antes de virmos, você não
sabia que era ele?

80
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Eu nunca soube seu nome. Nós nos encontramos e ele


foi embora. E aqui… estava escuro. Eu nunca vi o seu rosto.
Eu não tinha ideia.
Georgina olhou para o longo corredor, para o grupo de
mulheres ainda olhando os retratos. Ela estava preocupada, é
claro, que alguém reparasse que ela não estava mais com eles.
Se notarem, Emma pensou, não havia nada que ela
pudesse fazer. Talvez as convidadas colocassem sua
concentração nesse agrupamento, em razão do obvio afeto do
Sr. Leighton por Georgina. Afinal, seu retrato pendia ao lado
de seu irmão.
Seu irmão. Alexander. Alex.
― Eu entendo que, ― Georgina disse cuidadosamente, ―
esse não foi um encontro casual.
― Você se lembra da primeira vez que viu Jamie?
― Mas se assim fosse… ― Georgina deixou a pergunta se
arrastar.
― Eu pensei que nunca o veria novamente. Depois de
todos esses anos, eu havia perdido as esperanças.
― Você não deveria, ― Georgina disse com uma simples
convicção juvenil. ― Não se você o amava.
Ainda não tinha ocorrido a Georgina, que Emma apegar-
se a essa esperança teria sido uma traição para com seu
próprio pai, uma emocional, se não física.
― Eu finalmente decidi que ele devia estar morto.
― E agora que você sabe que ele não está?
Ela não fazia ideia, ela percebeu. Se era o conde que
estava assistindo da janela quando eles chegaram, então ele

81
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

sempre soube quem ela era. Mesmo que ele não a tivesse
reconhecido por causa da passagem do tempo, ele não teria
dúvida sobre sua identidade depois da história que ela o
contou.
Sem dúvida. E ainda não havia dito nada sobre isso. Por
que isso não significou nada? Por que isso foi apenas uma
fantasia sua? Foi apenas uma ilusão de sua parte, que o beijo
que eles trocaram afetou tanto a ele quanto a ela?
Ele mesmo admitiu que era um homem muito popular na
cidade. Ele provavelmente já beijou centenas de garotas,
muitas delas tão inexperientes quanto ela.
Ou talvez ele não tivesse dito nada, porque temia o que
ela faria se soubesse. Algo que ele acharia uma invasão muito
mais irritante do que suas repetidas intrusões em sua solidão.

82
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Capítulo 5
― Eu deveria ter me lembrado de como ela se sente sobre
exibir a galeria. Eu fiquei tão preocupado com a logística das
festividades, que nem sequer pensei sobre sua afeição por
organizar excursões por Leighton.
― Eu não me preocuparia, ― Alex disse distraidamente.
Seus olhos desviaram-se, ansiosamente, de volta para os
registros espalhados na sua frente. ― Depois de tudo, isso é
algo bom.
Ele estava imerso na contabilidade das propriedades
quando seu irmão chegou. E ele ainda não estava certo sobre o
propósito dessa visita tão tarde da noite. A conversa de seu
irmão até esse ponto tinha sido vaga e desanimada. O último
tópico pareceu uma tentativa de conquistar a simpatia pela
exibição da mãe de seu retrato para as convidadas, essa tarde.
― Você me lisonjeia, ― Jamie disse, sua voz deprimida o
suficiente para o conde olhar novamente para o seu rosto.
― Tenho certeza de que Miss Stanfield estava encantada.
― Alex disse, tentando fingir um interesse, por senso de
obrigação fraternal. ― Ela provavelmente está ocupada
pensando em qual cor poderia ser seu vestido, para quando
pintarem um quadro dela para colocar ao lado do seu.

83
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Seus comentários foram extremamente educados, ―


Jamie disse. ― É claro, está em sua natureza.
Houve uma estranha pausa. Incerto se a conversa havia
acabado, mas cheio de vontade de fazer seu irmão sair se
estiver, Alex trouxe um dos livros de registro para mais perto e
correu os dedos pelas linhas como se para verificá-las.
― Ela expressou satisfação em ver o resto da família
também.
― Bom. ― Alex disse, sua atenção obviamente fixa nos
livros de contas.
― Ela mencionou que elas gostaram de ver especialmente
a atual geração.
Havia algo no tom de Jamie que fez com que ele o
olhasse. Aquele rubor, que sempre manchava as bochechas de
seu irmão quando ele estava triste ou envergonhado, estava lá,
agora. Seus olhos azuis encontraram os seus com firmeza,
mas a expressão de Jamie era muito mais séria do que a
situação exigia.
Alex mentalmente reviu a ponta da conversa, a qual ele
,admitidamente, estava dando apenas metade da atenção.
Quando ele chegou na última frase que seu irmão pronunciou,
um calafrio perpassou sua espinha, fazendo os pelos de sua
nuca levantarem.
Ela mencionou que elas gostaram de ver especialmente a
atual geração, o que só podia significar…
Ele não se importou em colocar a pergunta em palavras
porque ele podia ver a resposta pela expressão de Jamie. Ao

84
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

invés disso, ele empurrou sua cadeira, ficando em pé para


encarar seu irmão.
― Eu ordenei que ele fosse retirado, ― ele disse, forçando-
se a se acalmar através de um esforço hercúleo.
― E foi. Assim que você pediu, mas… Mamãe me disse há
um tempo que ela não gostava do espaço vazio. Eu deveria ter
colocado algo lá para substituir o quadro antes dos convidados
chegarem. É claro, um substituto teria desconcertado o grupo,
o que a entristeceria ainda mais.
― O que ela fez, Jamie?
― Nada tão terrível. E isso já está sendo resolvido. Eu
nem teria sabido nada sobre isso, exceto que no jantar dessa
noite, Georgina… quer dizer, Miss Stanfiel...
― Eu lhe fiz uma pergunta, maldição. O que ela fez?
Outra pausa, menor, mas que dizia muito mais.
― Ela fez com que pendurassem-no de volta ontem de
manhã.
― Maldita seja, ― Alex rangeu.
― Eu sei que você é sensível a …
― Eu sabia que algo assim poderia acontecer. Se você
tivesse convidados, por que no inferno...
― Nenhum mal foi feito, ― seu irmão interrompeu
suavemente. ― Atualmente, não ter o seu retrato lá poderia ter
causado ainda mais...
― Lady Barrington estava com Miss Stanfield? ― Alex
exigiu, antes que seu irmão terminasse de tentar desculpar o
desastre.

85
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Eu não sei. ― Jamie quase gaguejou em resposta à


severidade de seu tom. ― Georgina não a mencionou, mas eu
presumo que sim, já que todas as damas do grupo foram
convidadas. Você sabe como mamãe adora guiar os
convidados pelos...
― Maldição! ― o conde disse novamente, socando a mesa
em frente dele com ambos os punhos. ― Puta merda!
― Ninguém tem razão alguma...
Antes que pudesse sair mais uma palavra ridiculamente
apaziguadora da boca de Jamie, com um único movimento,
Alex empurrou a pilha de livros para longe. Eles e tudo mais
na superficie da mesa voou, e foram parar aos pés de seu
irmão.
Quieto pelo choque, Jamie assistiu enquanto eles caíam.
Sua boca ainda aberta pela atípica mostra de raiva, ele olhou
para o rosto de seu irmão.
― O que houve? O que você tem?
― Saia!
A fúria que o preencheu fez com que ele quisesse bater
em alguém. E como Jamie era o único por perto e têm, além
disso, confessado ser parcialmente responsável pelo fiasco, as
probabilidades de ser ele eram excelentes.
― Isso não deveria importar... ― Jamie ridiculamente
começou.
Somente quando Alex começou a rodear a mesa, seu
irmão retrocedeu. Ele o perseguiu pela sala, batendo a porta
na sua cara tão logo Jamie deu um passo para o corredor.

86
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Então, com as mãos ainda na maçaneta, o Conde de


Greystone inclinou a cabeça, fechando os olhos contra as
imagens indesejadas que o bombardearam. Aquele quadro,
que foi pintado logo antes de sua partida para a Espanha,
estava exatamente como Emma se lembrava dele. E era como
ela deveria esperar encontrá-lo agora. O mesmo homem que a
beijou naquela noite.
Antes de ela vir para Leighton, ele rezava que se ela
chegasse a pensar nele, que fosse acreditando que estivesse
morto. Agora ela sabia que ele não estava.
E não havia dúvidas em sua mente, depois que ela lhe
contou a história de seu beijo roubado, de que ele sabia quem
ela era. Sendo Emma, ela eventualmente apareceria aqui
demandando saber porque ele permaneceu em silêncio sobre
sua identidade.
Sua lembrança daquele breve interlúdio, permaneceu
inviolável durante todos esses anos. Como a dele. Para ambos,
parece ter atingido muito mais importancia do que deveria.
O encontro veio a representar para ela o mesmo que se
apaixonar. E quando ela nunca mais se sentiu assim… ela
nunca mais se apaixonou.
Esse conhecimento era um peso que nenhum homem
deveria carregar. Ao invés de criar um fardo ainda maior, no
entanto, desta vez um para ela suportar, ele se mantivera em
silêncio.
Todos os sonhos que ele já teve de se apaixonar, casar
com uma mulher que o amava, ter filhos, se despedaçou há
muito tempo. Parecia possível que a capacidade de sonhar de

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Emma tivesse sobrevivido à lenta passagem dos anos. E agora,


se forçasse outro encontro entre eles, a dela, também, irá se
tornar pó.
― Maldito! ― ele sussurrou, sua cabeça ainda abaixada.
Ele não tinha certeza, mesmo quando falava as palavras, para
quem ou para o que, elas estavam endereçadas.

Depois que ela despiu-se para dormir, Emma foi para a


janela de seu quarto e viu o crepúsculo se aprofundar até o
anoitecer, e depois a noite mais profunda. Ainda assim, ficou
ali, lembrando-se do que havia acontecido naquela estalagem.
E tudo o que aconteceu nos anos intermediários.
Então, ela examinou cuidadosamente cada palavra que
trocou com o Conde de Greystone, desde sua chegada em
Leighton. Tentando entender por que ele não reconheceu que
ele era o homem na história que ela havia contado a ele.
Perguntando o que ela teria feito, se ele tivesse.
Depois de horas, durante as quais ela não encontrou
nenhuma resposta satisfatória para nenhuma dessas
questões, ela decidiu que seu único curso de ação seria fazer o
mesmo que havia feito antes. Ela tinha ido encontrar a única
pessoa que podia respondê-las.

88
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Quando ela subiu os degraus da escada, ela descobriu


que essa noite não havia nenhuma luz no segundo piso da
torre, nem mesmo um fio de luz vindo de debaixo da porta. A
única vela que ela carregava iluminava muito pouco o
ambiente cavernoso, quase não iluminando as sombras diante
dela, enquanto ela cruzava o chão de pedra.
Por alguma razão, ela sentiu a mesma agitação que ela
experimentou enquanto olhava para a janela da torre na noite
em que eles chegaram. Apesar da sensação ter sido vaga e
indefinida, ela sabia que isso significava que alguma coisa
estava muito errada.
Se ela fosse de uma natureza menos resoluta ou menos
determinada a chegar na raiz do comportamento de Greystone,
ela talvez tivesse fugido, atribuindo a inquietação que sentiu
aos fantasmas imaginários de Jamie. Ao invés disso, sendo
quem ela era, assim que ela chegou à porta do quarto do
conde, ela levantou a mão e bateu.
O barulho, ecoando pelas paredes de pedra, parecia
artificial na quietude de antes do alvorecer. Ela esperou,
prendendo a respiração em antecipação. Embora ela esticasse
para ouvir acima da batida de seu coração, não houve
resposta. Talvez ele tenha sono pesado, ou talvez…

89
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ela olhou através da torre, para o canto onde a escada


levava ao terraço. Apertando seu xale mais próximo do corpo,
ela caminhou para lá.
Apesar de sua configuração, ficando no fundo da escada,
ela podia ver o céu, que estava muito mais claro do que em
suas visitas anteriores. Ela colocou a vela em um dos degraus
mais baixos e começou a subir, ainda incerta, depois de todas
aquelas horas, do que dizer a ele.
Ficou óbvio tão logo ela pisou no último degrau,
entretanto, que ele não estava lá. As ameias, reveladas pela luz
fraca do amanhecer próximo, estava vazia. Cada parte
alinhada como dentes de dragão contra o céu.
O que você sugere Lady Barrington? Pular do parapeito?
Ela lutou contra uma forte inclinação de subir pela
passarela e olhar para baixo. Uma noção notoriamente
ridícula, nascida da ansiedade e não da lógica.
Não havia nenhuma razão no mundo para ficar
assustada por não tê-lo encontrado. Ele estava dormindo. Ele
não a ouviu bater. Ou, mais provavelmente, ele escolheu
ignorá-la. Não importa o que ela tenha dito a si mesma, esse
sentimento inquietante de que algo estava errado, o qual ela
tinha sentido desde que ela entrou na torre, persistia.
O céu estava começando a clarear perceptivelmente
agora. Os empregados iriam levantar em poucos minutos para
começar suas numerosas tarefas, envolvendo o bem-estar dos
convidados do conde. Se ela não voltar para o seu quarto logo,
ela seria pega rondando a casa em trajes de dormir.

90
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Dando uma última olhada em torno do terraço, ela


apressadamente desceu para a escuridão do andar mais baixo.
Ela parou para pegar sua vela ainda acesa, pretendendo
iluminar o caminho para o outro conjunto de escadas.
Na metade do caminho, entretanto, a tentação provou-se
muito grande. Ela parou em frente à porta de madeira,
levantando o punho para bater novamente. Ela parou o ato em
pleno ar, sua mão fechando-se sobre a maçaneta ao invés,
parecendo não ter consciência do ato.
Ela lentamente empurrou a porta maciça e deu um passo
para dentro. Mesmo com a pouca iluminação provida pela
única vela, foi imediatamente claro que ela estava entrando em
domínios totalmente masculinos.
Vários volumes de livros encadernados em couro,
arrumados em estantes alinhadas em duas paredes. As letras
em dourado de seus títulos brilhavam à luz fraca da vela. Na
terceira parede, colocada acima da lareira, havia uma
exposição de armas, incluindo armas de fogo e espadas
antigas, em sua maioria.
Duas cadeiras estavam colocadas convidativamente em
frente à lareira, mas as cinzas dentro dela estavam frias e sem
cor. Ao lado de uma das cadeiras havia uma pequena mesa,
na qual estavam colocados um copo vazio e um decantador
meio cheio.
O outro lado da sala estava dominado por uma maciça
mesa de jacarandá. Ela estava posicionada na frente de uma
janela saliente, agora tocada pelos primeiros raios do sol
nascente.

91
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Não foi até ela andar até o centro da sala e tropeçar sobre
eles, que ela descobriu os objetos na frente da mesa. Livros e
papéis estavam jogados atrapalhadamente sobre o chão de
pedra. Um pote de tinta quebrado estava lá também, a piscina
de líquido preto em torno dele refletia a chama de sua vela.
Sem pensar, ela agachou-se para pegar o livro mais
próximo da poça antes que suas páginas ficassem arruinadas.
Somente quando ela estava com o volume em suas mãos, ela
percebeu que o que ela segurava era um livro de finanças. Ela
o fechou, sentindo-se como uma bisbilhoteira, e o colocou
cuidadosamente sobre a mesa.
Essa destruição não poderia ter sido o resultado de um
acidente. Era óbvio que alguém empurrou tudo o que estava
na mesa sobre o chão.
Que emoção o causou? ela se perguntou. E onde estava o
homem que fez isso?
As portas dos outros quartos estavam abertas. Envolvida
pelo contínuo silêncio e pela crescente sensação de que ela
estava completamente sozinha ali, ela cruzou o chão frio para
espiar dentro deles.
Na crescente luz, ela pode ver que eles estavam tão
desertos quanto a sala de estar e o terraço. A cama nem
mesmo estava bagunçada.
O sentimento de pavor que a assombrou desde sua
chegada, se tornou um doentio fluxo de ansiedade. Estava
quase amanhecendo, e estava claro que o conde passou a
noite em outro lugar. Com outra pessoa?

92
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Foi por isso que ele mantivera silêncio depois de sua


confissão sentimental? Ele ficou com vergonha, ou pior,
enojado, pelo seu óbvio afeto por um homem que ela
encontrou por poucos minutos há doze anos?
Isso não explicava por que ele havia feito um mistério de
sua existência desde sua chegada. E ele fez. Desde o momento
que eles chegaram e ela o descobriu os assistindo.
Lembrando, seus olhos foram para as janelas do quarto,
procurando pelo terreno além da estrada e dos jardins. Lá,
como naquele primeiro amanhecer, estava o cavalo preto e seu
cavaleiro. Apesar de parecer quase impossível, a velocidade em
que estavam correndo ao longo do gramado das Colinas,
parecia ainda mais imprudente do que antes.
Naquele dia, ela tentou desesperadamente capturar um
vislumbre de seu rosto. Ela falhou porque ela continuou a
olhar de uma posição desvantajosa, enquanto ele direcionava
a sua montaria em direção aos estábulos.
Eventualmente, ele chegaria no mesmo destino hoje, ela
percebeu, saindo rapidamente da janela. Dessa vez ela estaria
esperando por ele.

Logo depois da partida de Jamie, o Conde de Greystone,


ainda vestido com sua camisa de manga e colete, jogou o
casaco em torno dos ombros e saiu da torre. Em cada passo

93
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

que dava, esperava encontrar Emma se aproximando. Graças


a Deus, isso não aconteceu.
Ele entendeu que, fugindo de seus aposentos, adiou o
inevitável confronto entre eles. Ele decidiu, entretanto, que
isso seria no seu tempo e na maneira que ele escolhesse.
Afinal, ele tinha pouca escolha sobre qualquer outra coisa.
Ele passou as últimas horas da noite entre o cheiro
reconfortante do feno, de cavalos e de couro tratado. Enrolado
em seu casaco, ele não tentou dormir. Em vez disso, ele
permitiu que as emoções, que ele tinha lutado por tanto
tempo, se expressassem completamente.
Fúria e desespero. Medo. Até autopiedade que ele
desprezava. Esta noite ele não negou nenhum deles.
No primeiro raio de luz sob o horizonte, ele levantou-se,
encontrou um dos cavalariços dormindo ao lado de uma
fogueira e cutucou-o com a ponta da bota até que ele
acordasse. Sonolento e desorientado, o garoto tinha
cambaleado de bom grado, da sua enxerga.
Sentindo o humor do conde, talvez, ele não fez nenhuma
pergunta. Ele simplesmente trouxe Sultão selado e arreado,
em menos de 5 minutos.
Privado de seu galope matutino por quase uma semana,
o cavalo estava desacostumado a galopar no escuro, mas
nenhum dos dois hesitou. Alex cavou seus calcanhares,
levando Sultão para fora dos estábulos numa corrida suicida.
Isso foi há quase uma hora. Agora eles estavam de volta,
ambos encharcados de suor. O cavalo, mal utilizado numa

94
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

tentativa de exorcizar os demônios de seu mestre, tremia de


exaustão.
Greystone nunca tinha abusado de um animal em sua
vida, e a corrida sem sentido que ele estabeleceu foi não
somente perigosa, mas também infrutífera. Ele não escapou de
nada do qual ele estivesse fugindo.
Houve um momento nessa corrida selvagem em que ele
puxou sua montaria, controlando o animal ansioso através da
força de vontade, enquanto ele contemplava uma bifurcação
na estrada.
Se ele tivesse cuidado de Sultão no caminho, tendo
paradas frequentes e andando parte do caminho, ele poderia
estar em Wyckstead em poucas horas.
A tentação foi grande o suficiente para fazer com que ele,
realmente, incentivasse o cavalo naquela direção, antes de o
puxar de novo, admitindo o que seu coração sabia o tempo
todo. Era tarde demais. Ele devia a Emma uma explicação.
Uma que estava atrasada em mais de dez anos.
Depois que ele entregou o animal para o cavalariço, que
estava claramente chocado pelo estado em que os dois se
encontravam, ele descartou a capa, jogando-a em cima de seu
braço, enquanto fazia seu caminho em direção à parte traseira
da casa. Enquanto ele andava, seus dedos trabalhavam no nó
de sua gravata, até que estivesse suficientemente solto para
poder arrancá-la.
Ele virava a cabeça lentamente de um lado para o outro,
tentando diminuir a tensão que oprimia os músculos de seus
ombros e pescoço. Enquanto ele aproximava-se da entrada da

95
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

cozinha, quase alheio a seus arredores, alguém saiu das


sombras ao lado da entrada.
Em menos tempo do que levou seu coração para parar e
voltar a bater, ele reconheceu a figura. Emma estava vestida
com um fino vestido de algodão, sobre o qual ela jogou um
xale de lã. Exceto por sua cor, branco como sua pele, parecia
idêntico ao que ela usou naquela noite.
Seu cabelo estava confinado em uma longa trança, que
descansava sobre seu ombro. Era o único toque de cor sobre
sua figura esbelta. Isso e seus olhos azuis, que se alargaram
quando ele se aproximou.
Se a luz estivesse mais fraca, ele teria se convencido que
ela era uma fantasia. Um fragmento de seu pensamento
desordenado, que a tinha imaginado exatamente assim.
Vestida para dormir e esperando por ele.
Tão logo ele a reconheceu, seu progresso tornou-se mais
lento. Não havia nada a ganhar, entretanto, com o atraso. O
que deve ser feito deve ser concluído de forma rápida e limpa,
como uma cirurgia destinada a extirpar uma ferida supurada.
Ele respirou fundo, forçando seus pés a se moverem. Um
passo de cada vez, aproximando-o cada vez mais da mulher
que não o tinha visto em uma dúzia de anos.
Ele pensou que ela estava pálida antes, mas enquanto ele
se aproximava, o sangue literalmente foi drenado de seu rosto,
deixando-o transparente igual a camisola que ela vestia. Seus
olhos não eram mais azuis. Suas pupilas dilataram-se,
engolindo o aro de cor ao seu redor.

96
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Quando menos de cinco passos os separavam, ele parou.


Nenhum deles disse uma palavra enquanto os olhos dela
escaneavam a sua face, examinando cada traço como se ela
nunca os tivesse visto antes. E ela não os tinha, é claro. Não
desse jeito.
Ele não tinha ideia do que ele espera que ela fizesse ou
diria. Talvez nada. Talvez, como a camareira, ela faria o sinal
da cruz e fugiria. Ou talvez ela gritaria.
Essas foram as piores variações que brincaram em sua
imaginação na noite passada. Parecia que na quietude da
manhã, ele podia ouvir o som, ecoando de novo e de novo
pelas paredes de pedra da prisão que ele mesmo se colocou.
Ela não fez nada das coisas que ele temia. E nada que ele
poderia ter antecipado. Enquanto ele compeliu seu olhar a
manter-se em seu rosto, os olhos dela encheram-se de
lágrimas. Observando-as, os seus queimaram.
Ela piscou, tentando conter as lágrimas, mas uma
escapou, descendo pela curva de sua bochecha, até chegar aos
seus lábios abertos e trêmulos. Seus ombros levantaram-se
com a força de sua respiração. Eles estremeceram
internamente, do mesmo jeito que os dele fizeram no dia em
que ele a viu descendo da carruagem.
Depois de uma eternidade sem som algum, ela fechou a
boca, piscando novamente para conter as lágrimas. Ela deu
um passo à frente. E depois outro. Aproximando-se mais e
mais da luz solar implacável. Quando ela parou, ela estava tão
perto que o fraco e doce aroma de água de rosas o engoliu.

97
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ela era alta para uma mulher, mas sua altura a forçou a
inclinar a cabeça. E novamente seus olhos escanearam seu
rosto. Apesar de não ter, por sua vontade, nenhum espelho em
seus aposentos, ele estava intimamente familiarizado com
cada centímetro do dano, a imagem queimando em sua
memória desde a primeira vez que ele, inadvertidamente, viu
seu reflexo no vidro. O sabre cortou sua face, deixando-a
aberta da testa ao queixo. Arranjada no campo de batalha, a
cicatriz saltava de sua pele, distorcendo a linha de seus lábios
e a pálpebra, que deveria cobrir seu olho agora cego.
Enquanto seu exame continuava, Alex forçou-se a não se
afastar disso. Para não indicar, de forma alguma, o quão
doloroso era ficar exposto dessa forma.
Novamente ela o surpreendeu. Ela levantou a mão,
aproximando-a de seu rosto, como se fosse tocar a evidência
da deformidade. Com os rápidos reflexos que o serviram em
combate, seus dedos fecharam-se em volta de seu pulso, antes
que ela o fizesse.
― Não, ― ele disse suavemente.
Foi como se as palavras quebrassem um feitiço. Seus
olhos focaram-se novamente nos seus, evitando o seu
semblante devastado. Ela balançou a cabeça, o movimento
apertado e pequeno, e seus lábios abriram-se como se ela
estivesse pronta para falar.
Ele esperou muito tempo, uma parte dele com esperança
de que ela encontrasse as palavras certas para dizer. Já que
ele não sabia o que poderia ser, ele não ficou surpreso quando
ela não foi capaz de formulá-las.

98
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ele soltou seu pulso, e deu a volta por ela, caminhando a


passos largos, rapidamente, em direção ao hall de entrada,
dirigido novamente pela mesma necessidade que fez com que
ele estimulasse Sultão, após a resistencia do animal. E embora
ele ouvisse, esperando tolamente, Emma nunca o chamou.

99
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Capítulo 6
― Lady Barrington, eu não tenho nenhuma intenção de
discutir meu irmão com você, ― Jamie Leighton disse. ―
Simplesmente não é possível. Não só seria uma invasão de sua
privacidade, mas sua amizade e apoio são muito valiosos para
eu arriscar.
― Você se lembra da primeira vez que viu Georgina? ―
Emma o interrompeu calmamente.
O único sinal aparente de seu nervosismo, era que os
dedos da mão esquerda enrolavam o laço na ponta do lenço
que ela segurava na mão direita. Logo que ela tomou
consciência disso, o movimento parou.
Ela levou quase a manhã inteira para decidir o que fazer
para corrigir o imperdoável erro de julgamento que ela
cometeu. A primeira parte da campanha que ela arquitetou, foi
pedir um encontro com o irmão mais novo do conde, o qual
Jamie aceitou rapidamente. Se ele tivesse sabido qual era o
assunto sobre o qual era queria conversar, ele provavelmente
teria recusado.
― É claro que eu me lembro, ― ele disse.
A cor de suas bochechas tinha estado acentuada desde
sua primeira menção ao conde. Ela aumentou subitamente.

100
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ela notou que Jamie estava lidando com suas próprias


ansiedades. Se isso não fosse tão importante, Emma poderia
ter sentido pena dele, pego entre a determinação dela e a forte
intenção do irmão de isolar-se do mundo.
― Eu também tive um encontro como esse, ― ela disse. ―
Muito antes de casar-me com o pai de Georgina.
― De fato, ― Jamie disse fracamente. Ele provavelmente
estava se perguntando por que ela imaginava que ele poderia
se preocupar com suas aventuras românticas.
― Apesar de nunca ter sabido seu nome, aquele rápido
encontro me impressionou tanto que eu nunca o esqueci. Ou
ele. ― Então ela adicionou, sua voz deliberadamente suave
para o grande impacto, ― Esse homem foi seu irmão, Sr.
Leighton. Esse encontro aconteceu há mais de doze anos.
Ela observou enquanto a significância do período de
tempo, despontou em sua audiência.
― Antes de ir para a Espanha, ― Jamie disse.
Espanha, ela pensou. Junto com a evidência dada pelo
retrato, isso explicava muito.
― E então eu o encontrei aqui, ― ela disse.
O silêncio dessa vez foi mais prolongado. O resultado
óbvio, de que ele não tinha ideia do que dizer a ela.
― Devo confessar que não estava totalmente
despreparada para vê-lo novamente, ― ela continuou, já que
parecia que ela o tinha deixado sem fala. ― Na verdade, eu fui
a instigadora desse encontro. Eu tinha notado seu retrato na
galeria.

101
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Houve uma reação inesperada a isso. Jamie endireitou-se


para longe da cornija contra a qual ele estava inclinado, sua
boca abrindo e depois fechando. Tudo que ele estava prestes a
dizer, ele aparentemente pensou melhor nisso.
― Entretanto, ele deve ter sido pintado antes da partida
do conde para a Espanha…
Ela hesitou, sua garganta fechando-se com a emoção que
ela havia lutado toda a manhã. Uma emoção que ela sabia,
instintivamente, que Greystone odiaria acima de qualquer
outra que ela pudesse sentir por ele.
― Eu não estava preparada, ― ela forçou-se a continuar,
― para as mudanças que aconteceram nesse tempo. Eu reagi
mal.
Ela recusou-se a deixar seus olhos baixarem diante da
onda de raiva de Jamie.
― Quão ruim? ― ele perguntou, sua voz dura.
―Eu chorei, ― ela admitiu. ― Estou bastante
envergonhada disso, asseguro-lhe. Eu amei uma imagem dele
por tanto tempo, veja bem, fui… pega desprevenida.
A severa linha nos lábios de Jamie suavizaram-se.
― Como Alex reagiu?
Alex. Alexander.
Ele nunca teria usado o nome de batismo de seu irmão,
se não fosse pela tensão do momento. Apesar de Emma ter
sussurrado isso como uma colegial desde que ela havia
aprendido, ela não conseguiu repetir isso agora.
― Não muito bem, ― disse, lembrando o que tinha estado
em seus olhos quando pegou seu pulso e o segurou, esperando

102
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

obviamente, que ela dissesse algo a ele. Foi somente depois


que ele desapareceu, entretanto, que ela reparou isso. Ela
disse a si mesma que, talvez, foi melhor não ter dito nada
naquele momento. Ela precisava de tempo para entender seus
sentimentos, e ela não podia fazer isso com ele tão perto.
― Você deseja que eu ofereça a ele suas desculpas?
― É claro que não, ― ela disse cortante.
― Então… desculpe-me, Lady Barrington. Eu não sei por
que queria falar comigo.
― Eu quero saber o que aconteceu com ele.
― Você deve endereçar esse interrogatório ao meu irmão.
Eu disse-lhe que eu não o discuto com…
― Estranhos? ― ela terminou por ele, quando ele hesitou.
― Com qualquer um.
― Eu acredito que você deva fazer uma exceção, ― ela
disse suavemente.
― Eu não tenho intenção.
― Eu estou apaixonada por ele, Sr. Leighton. Eu tenho
estado por anos.
Ela o pegou de guarda baixa. E, verdade seja dita, a ela
também. Agora que ela fez essa confissão em voz alta, não
parecia tão estranho para ela, como para alguém que
conhecesse seu encontro único e muito breve.
― Apaixonada por ele, ― Jamie repetiu em descrença.
Como ele também pode. ― Por anos, ― ela disse. ― E
ainda.

103
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Me perdoe Lady Barrington. Eu não desejo ser mal-


educado, mas… se meu irmão estivesse apaixonado por você,
eu acredito que eu teria consciência disso.
― Eu não disse que ele estava apaixonado por mim, Sr.
Leighton.
Ela queria acreditar que ele talvez estivesse, é claro, mas
Greystone deu-lhe poucas esperanças. A única coisa que
sugeriu tal possibilidade, foi algo que ela não tinha apanhado
no momento. Somente durante a tentativa de refazer sua
conversa noite passada, que ela percebeu seu significado e
sentiu-se muito idiota por ter deixado isso passar.
Ou talvez eu, também, tive um breve encontro em uma
tempestade de neve, ele havia dito, zombando da história que
ela lhe contou. Ela estava certa de nunca ter mencionado uma
tempestade. Que ele lembrou que estava nevando, era um fio
tênue para pendurar tantas esperanças, mas era tudo o que
ela tinha. E então, ela se apegou a isso.
― Ele poderia estar. ― Ela corrigiu sua negação,
vacilando pela primeira vez sob a intensidade do olhar de
Jamie. ― Isso é algo que eu ainda tenho que descobrir. Mas
primeiro… Você não poderia me dizer, por favor, o que
aconteceu com ele?
A relutância de Jamie em discutir seu irmão tinha sido
tão forte apenas um momento atrás, tinha sido quase
palpável. Agora, ela podia dizer por seus olhos, ele estava
vacilando, e uma vez que ele começou, a história veio como um
ataque.

104
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Meu irmão era um soldado, como você sabe desde que


viu o retrato. Ele recebeu aquele corte em seu rosto salvando a
vida de seu comandante. Ele nunca vai lhe contar isso. Ele
não me disse, mas o incidente foi mencionado nos despachos.
Quando pareceu que Jamie havia terminado, Emma
levantou-se.
― Obrigada pelo seu tempo, Sr. Leighton. E pela
informação.
― Logo depois que eles tiraram as bandagens, ― Jamie
continuou como se ela não tivesse dito nada, ― a filha da
mulher que alojava os feridos viu seu rosto. Ela fugiu gritando.
Infelizmente, Alex sabia espanhol suficiente para saber o que
ela estava dizendo.
Novamente sua garganta se fechou, mas Emma
rigidamente controlou qualquer reação aparente. Lágrimas
eram um erro que ela não cometeria novamente. A história era
horrível, mas, pelo menos, explicava o que ela viu em seus
olhos essa manhã. Um desespero velado, como o de um
cachorro que sabe que está a ponto de apanhar.
― Obrigado por isso, também, ― ela disse sinceramente.
― Eu confio que você não revelará minha confidência para o
seu irmão. Você pode estar certo em sua suspeita de que o que
eu sinto não é recíproco. Eu gostaria, entretanto, de uma
chance de confirmar isso por mim mesma.
― Então… É melhor você se apressar, Lady Barrington.
Ele está partindo para Wyckstead.
― Hoje?

105
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

―Eu não ficaria surpreso, ― Jamie disse, não


maliciosamente. ― Os criados estão empacotando as coisas a
maior parte da manhã.

Conforme ela subia uma vez mais as escadas da torre, ela


reconheceu a dívida de gratidão que ela devia ao pobre Jamie.
Se ele não tivesse tido pena dela, ela quase certamente teria
esperado até o anoitecer para confrontar Greystone.
E então teria sido tarde demais. Dessa forma, ela teria
algumas respostas, mesmo que não fossem as que ela queria.
― Perdoe-me, minha senhora.
Sobressaltada, ela olhou para cima para encontrar um
criado descendo as escadas, sobrecarregado com uma maleta
e uma caixa grande, amarradas com pesadas fitas de couro.
Apesar de ter apertado-se contra a parede, a escadaria era
estreita o suficiente para ser difícil ela passar.
― O conde está lá em cima?
Seus olhos se arregalaram. Antes de responder, eles
moveram-se para o topo das escadas. Quando voltaram para
encontrar com os dela, ele inclinou-se para frente, abaixando a
voz como um conspirador.
― Em seu quarto, ― disse. ― A porta está aberta.
Ela deslizou passando pelo homem, dizendo
sinceramente,
― Obrigada.

106
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Quando chegou ao topo da escada, ela descobriu que a


porta para os aposentos do conde estava, de fato,
escancarada. Ridiculamente, ela quase atravessou o chão de
pedra na ponta dos pés. Então ela parou, e respirou fundo
antes de passar pela porta. A sala de estar parecia muito
menos depressive, com a luz do sol da tarde entrando pela
janela. Alguém pegou os livros que estiveram espalhados na
frente da mesa. O pote de tinta quebrado não estava em
nenhum lugar à vista, mas a mancha que seu conteúdo deixou
era visível na pedra cinza clara.
O livro de finanças que ela colocou no canto da mesa
ainda estava lá, apesar de muitos dos volumes que
preenchiam as estantes estarem faltando. Empacotados em
caixas e amarrados em tiras de couro, talvez?
Sem pensar, ela caminhou em direção à mesa e tocou o
livro de contas. Talvez tenha sido o som de seus passos ou
talvez, muito acostumado a uma atmosfera de solidão, ele
simplesmente sentiu que não estava mais sozinho ali. Como
Ela se virou, a ponta dos dedos ainda descansando sobre
o livro, e o encontrou parado na entrada do quarto. Olhando-a.
A inclinação da luz do sol da tarde era mais cruel para
com o seu rosto marcado por cicatrizes, do que o sol da manhã
tinha sido, mas isso também revelou o olho azul intacto
encontrando os dela sem vacilar, isso não mudou. Nem tinha
mudado o nariz finamente moldado, quase fora do lugar agora
naquele rosto devastado. A covinha no centro de seu queixo foi
dividida e quase obliterada pelo corte irregular.

107
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Nenhum dos dois disse nada por um momento, seus


olhos presos um no outro. Porque foi ela que procurou o
encontro, ela finalmente rompeu o silêncio.
― Eu procurei por você.
Sua cabeça fez uma leve inclinação. Questionando.
― Todos os lugares que eu fui. Por um longo tempo.
Mesmo depois que eu me casei, Deus me perdoe, eu procurei
por você.
― Emma, ― ele disse e depois mais nada.
― Eu fiquei pensando que um dia eu olharia através de
um salão de baile ou uma mesa de jantar, e você estaria lá. Ou
eu teria virado uma esquina ou olhado distraidamente para
dentro de uma carruagem de passagem, e eu o veria. E então,
depois de um longo tempo, anos e anos, eu parei de procurar.
Parei de esperar. Parei de ter esperanças.
Ele não disse nada, seus olhos caindo sobre a caixa que
ele segurava em ambas as mãos.
― Essa manhã… ― sua garganta se fechou sobre suas
palavras.
― Não. ― a palavra dessa vez não foi um comando, mas
uma imploração.
― Eu sei que eu me comportei mal, mas isso não foi ― Ela
hesitou e depois se forçou a continuar. ― Foi o choque de
encontrá-lo depois de todo esse tempo. No último lugar que eu
poderia esperar.
― Meu irmão me disse que você viu o retrato.
Maldito seja, Jamie.

108
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Por causa disso, ― ele continuou, sua voz


perfeitamente estável, ― Eu pensei que você poderia ter
confundido. Essa manhã eu soube que você não tinha.
― Meus poderes de dedução não são, aparentemente, tão
bons quanto eu tinha suposto, ― ela disse, tentando algo mais
leve do que os tons quase trágicos que eles estavam usando.
Surpreendentemente, havia uma pequena inclinação nos
cantos de sua boca. Encorajada, ela sorriu para ele.
O esforço foi levemente trêmulo, e vendo isso, seus lábios
franziram. Então ele deu um passo à frente, colocando a caixa
que ele segurava na mesa que flanqueava a porta.
― Você está indo a algum lugar? ― ela perguntou,
permitindo seu olhar tocar as estantes vazias.
― Como parece que o pedido de Jamie está para ser
aceito, eu decidi que era hora de passar a propriedade para
ele.
― Eu não sabia que ele havia pedido, ― ela disse
verdadeiramente.
Ela tinha estado ciente de quase nada, exceto suas
próprias esperanças, memórias e medos, nas últimas vinte e
quatro horas. Pobre Georgina, deixada sem seu apoio em um
momento tão importante em sua vida.
― Ele não pediu. Não oficialmente. Eu acredito que está
previsto para esta tarde. Se ela aceitar, o anúncio do noivado
será feito no jantar esta noite. Parece que Miss Stanfield teve
sucesso em sua busca. Minhas felicitações.

109
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ele estava recuperando seu equilíbrio, ela percebeu. O


último comentário foi tão cínico quanto as conversas
anteriores.
― Se nós estamos reconhecendo o sucesso de Georgina
em alguma coisa, eu acredito que deve ser se apaixonar por
um homen que retribui seu amor, ― Emma disse. ― Nem todos
nós somos tão afortunados.
Houve um pequeno silêncio.
― Ele era muito parecido com seu irmão?
Ele quis dizer Robert. Em sua mente ela imaginou ele e
Charles juntos. Tão parecidos como duas ervilhas na mesma
vagem.
― Muito, ― disse. ― Exceto que ele esteve doente por
quase todo o nosso casamento. Uma terrível doença
devastadora.
― Então por que ele se casou?
― Ele queria um filho.
Ele esperou, e ela adicionou o resto. Ainda doloroso.
― E nisso eu falhei com ele.
― Ou ele falhou com você.
Isso seria reconfortante para acreditar. Muitas vezes, ela
se perguntava se ela, uma mulher jovem e saudável, não havia
concebido porque não o amava. Um castigo por não apagar,
completamente, a lembrança do beijo desse homem de seu
coração?
Em vez de sofrer por algo que não poderia ter, ela
esbanjou todo seu amor com Georgina. E agora…
― Você acredita em destino? ― ela perguntou.

110
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Alguma força que predetermina o que acontecerá


conosco?
― Sim.
― Eu conheci homens que acreditavam. Eles acreditaram
que iriam morrer, e então eles morreram. Outros acreditavam
que estavam protegidos da morte e agiram como se
estivessem.
― Eles estavam? Protegidos, quero dizer?
― Eles morreram com a mesma frequência daqueles que
pensavam que estavam destinados.
Uma batida de coração em silêncio.
― É nisso que você acredita, Emma? Que nós estávamos
destinados a nos encontrar aqui?
― Aqui e agora, ― ela disse. ― Nesse tempo e lugar.
― Para que propósito? ― ele soou quase divertido pela
ideia.
Pobre, fantasiosa Emma.
― Porque nós estamos em outra encruzilhada.
― Outra?
― Quando nos encontramos antes, nossas vidas estavam
prestes a mudar. Eu estava partindo para Londres e para a
Temporada, e você ... ― ela parou abruptamente.
― Eu estava com destino à Espanha.
Espanha e guerra, e tudo o que lhe custou. Muito mais
do que a morte lenta de seus sonhos que seu casamento lhe
custou.
― Nossas vidas mudaram para sempre naquela noite, ―
ela disse. ― O que já sabíamos antes não era mais. Agora,

111
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

novamente, enfrentamos o fim das vidas que conhecemos há


mais de doze anos. E incrivelmente, nessa encruzilhada
particular, nos encontramos uma vez mais.
― Uma noção altamente romântica, Emma. ― Sua voz
profunda ainda estava tocada com divertimento, mas não com
zombaria.
― Talvez. Você admitirá, no entanto, que estamos ambos
aqui, e que ambos estamos prestes a embarcar em uma fase
diferente de nossas vidas.
― E você acha que o destino, portanto, nos jogou juntos
novamente?
― Apesar de você preferir outro termo, não posso deixar
de acreditar que há algum propósito nisso.
― E você acredita saber que propósito é esse?
Não era uma pergunta. O fio de raiva suave que tinha
ouvido antes tinha desaparecido. Seu rosto estava sério como
tinha acontecido quando ela se virou, e achou que ele a
observava.
Este era o momento crítico, e ela sabia disso. Sua boca
ficou seca, e suas mãos começaram a tremer, embora ela as
tivesse juntado, inconscientemente, durante a conversa.
Ela lembrou a si mesma que não tinha nada a perder,
porque ela não tinha nada. Somente um pobre, desvanecente
sonho. Se ela não encontrar a coragem de dizer-lhe o que
queria, é isso que sempre permaneceria. Um sonho. Quando
ela queria muito mais.
― Leve-me com você, ― ela disse. ― Leve-me para
Wyckstead, em vez de ir lá sozinho.

112
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Capítulo 7
Ela não tinha certeza da reação que estava esperando.
Choque. Descrença. Talvez até escarnio.
Afinal, ela não fez nenhuma condição ou demanda.
Somente a única que ela mais apropriadamente teria feito doze
anos atrás, quando ela tinha sido uma criança fantasiosa.
Leve-me com você.
― Como o quê? ― ele foi direto para o coração do que o
ofereceu.
― O que você quiser, ― ela disse simplesmente.
― Minha amante? ― ele zombou. ― É isso que você quer?
― Eu quero o que eu nunca tive. Estar com o homem que
eu amo. Isso é tão errado?
― O homem que ama? Nos encontramos uma vez por
alguns minutos anos atrás, e pouco mais do que aqui.
― Eu não sabia que o tempo de conhecimento tinha algo
a ver com se apaixonar.
― Você não está apaixonada por mim, Emma. Você
admitiu isso. Você está apaixonada pela memória daquela
noite. E com a memória do homem que você encontrou lá.
― E agora. ― ela insistiu com teimosia.

113
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Exceto que aquele homem não existe mais, ― ele


continuou implacavelmente, ignorando sua declaração. ― Nós
não somos mais aquelas mesmas pessoas.
― Nós poderíamos ser.
― Está além dos meus poderes de autoengano, eu temo.
― E sobre mim?
Ela podia ver que ele estava pensando, assim como ela
estava, sobre o que ela lhe contou sobre seus planos. Apenas
poucos dias atrás aquilo parecia um futuro a ser apreciado.
Confortável e sereno. E agora…
― Eu não posso ser o que você quer, ― ele disse.
― Como você sabe o que eu quero?
― Você quer o homem que a beijou naquela noite. Eu lhe
disse. Ele não existe.
― Ele existe para mim.
― Emma.
― Eu talvez seja a única pessoa no mundo para quem ele
ainda existe. Isso não significa nada para você?
Ela não estava certa se aquele argumento iria convencê-
lo ou levá-lo para longe, mas ela podia dizer que estava
perdendo. E ela não aguentaria isso.
― Eu não estou lhe pedindo nada, ― ela continuou. ―
Nada além de uma chance. Não vale a pena uma chance?
Ele não disse nada por muito tempo. Ela prendeu a
respiração, dificilmente se atrevendo a ter esperança. E então
ele atravessou a sala com o mesmo passo decisivo com o qual
partiu naquela noite.

114
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ele parou diante dela, examinando seu rosto tão


intensamente quanto ela o examinou esta manhã. Ela não se
permitiu vacilar, determinada a não olhar para a cicatriz
brutal.
Eventualmente, a linha dentro da qual seus lábios
estavam, relaxaram. Ele deu o passo remanescente que
acabaria com a distância entre eles, e colocou o braço em
torno de sua cintura, puxando-a para ele com uma pressão
que ela poderia facilmente ter resistido.
Ela nunca sequer chegou a pensar nisso. Conforme ela
olhava para ele, seus lábios se abriram, da mesma forma que
fizeram na primeira vez que ele a beijou. Esperando.
Querendo.
Ele deu a ela tempo para protestar. Ela não o fez, é claro.
Não havia nenhum pensamento em sua cabeça que se referia
a protestar.
Quando sua cabeça começou a descer, inclinando para
facilitar o beijo, seu alívio foi tão grande que seus joelhos
ficaram fracos. Suas mãos encontraram seus ombros, ligando-
se à sua força sólida, enquanto sua boca reivindicava a dela. O
primeiro toque doce de seus lábios, tão quente e experiente
quanto se lembrou deles, fez do apoio que ela buscou uma
necessidade.
Sua língua respondeu à dele, uma lenta, primitiva dança
de avançar e retroceder. Nada mudou sobre isso. Nada, exceto
a profundidade da necessidade dela.
O abraço inicial dele foi experimental. Com sua resposta,
ele a puxou implacavelmente contra a parede dura de seu

115
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

peito, e pela primeira vez ela ficou consciente de sua


necessidade.
Qualquer que seja a dúvida que ele tenha expressado
sobre a sabedoria disso, seu corpo negava todas elas. Ele a
queria. Ao menos fisicamente.
Ela não era inocente como tinha sido então. Ela sabia
como suavizar essa necessidade e dar-lhe prazer. Aquelas
eram lições que tinha aprendido em uma escola dificil, mas
tudo valia a pena se conseguisse convencê-lo a não deixá-la
para trás.
Sua mão encontrou a parte de trás de sua cabeça, os
dedos enrolados nos longos fios de seda. Ele aprofundou o
beijo, a palma da mão apalpando possessivamente abaixo dos
seios fartos, enquanto o polegar brincava, indo e vindo, sobre
a ponta. Apesar da dupla camada de tecido, vestido e blusa,
que o cobria, o mamilo esticava-se com prazer.
Dentro de seu corpo, a antecipação agitou-se, quente,
doce e faminta. Uma fome que ela sabia que era forte o
suficiente, para combinar com sua crescente excitação. E
responder a ela.
Seus lábios deixaram os dela, arrastando lentamente um
calor molhado por sua garganta. Ela gemeu, apenas um som
de uma respiração, quando eles chegaram à curva de seus
seios, expostos pelo decote baixo de seu vestido. Seus dedos
afastaram o tecido fino de seu corpete para lhe permitir um
maior acesso, enquanto sua língua explorava dentro do vale
sombreado.
― Emma?

116
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

O som de seu nome foi enfraquecido. Distante.


Problemático. Ela estava tão presa no que estava acontecendo
entre eles, no entanto, que por alguns segundos ela não queria
pensar quem poderia estar chamando por ela.
― Emma? Você está aí em cima?
Greystone foi o primeiro a reagir. Suas mãos fecharam
em torno de seus ombros, afastando-a dele. Boca aberta, a
umidade de seus beijos ainda em seus lábios, garganta e seios,
ela olhou para ele em choque, questionando seu abandono.
― Emma?
Georgie. E o som de sua voz parecia ainda mais perto
agora. Quase como se ela estivesse no mesmo cômodo.
― Vá até ela, ― ele ordenou duramente.
Ela balançou a cabeça, seus olhos nos dele.
― Faça isso agora. Antes que ela venha até aqui.
Certamente ela tinha tanto direito à felicidade quanto
Georgina. E ele tanto quanto Jamie.
― Isso não importa. ― ela começou.
― Isso importa para mim, maldição. Agora vá.
― Eu não me importo se ela nos encontrar juntos.
― Eu me importo.
― Se for por causa disso. ― Ela levantou a mão para tocar
seu perfil marcado.
Ele afastou a cabeça para trás, evitando seus dedos.
Então, usando os ombros dela, ele a virou e a empurrou em
direção à porta que levava para fora de seu quarto. Ainda
drogada pelo sensual feitiço do beijo, ela cambaleou sob a
força com que ele a empurrou para longe dele.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Assim que recuperou o equilíbrio, ela se virou, perplexa


pela rapidez do que acabava de acontecer. A porta do quarto
foi fechada com força entre eles, com uma ferocidade que a fez
pular.
― Emma? Eu tenho uma coisa maravilhosa para lhe
contar.
O noivado. Ela esqueceu completamente do noivado.
Ela colocou as costas de seus dedos contra seus lábios,
como se ela pudesse limpar a evidência de seu beijo. Para
alguém que a conhecia tão bem como Georgie, certamente
seria obvio que algo tinha acontecido.
Ela nunca seria capaz de imaginar, entretanto, que sua
madrasta tinha audaciosamente se oferecido para um homem
que ela viu apenas algumas vezes no curso dos últimos doze
anos. Ninguém que a conhecia poderia imaginar isso.
― Emma?
― Indo, ― ela gritou.
Sua voz soava estranha para seus próprios ouvidos, mas
essa era a última de suas preocupações. Ela olhou para baixo,
alisando com as mãos a roupa amarrotada.
Então, ela deu uma última olhada em direção ao quarto
onde Alex tinha desaparecido. Quando ela se virou novamente,
Georgina estava parada na porta aberta para a sala de estar.
― O que você está fazendo aqui em cima? ― Uma
pequena ruga formou-se entre suas finas sobrancelhas,
conforme ela examinava o quarto.
― Livros, ― Emma disse, um pouco sem ar. ― Jamie me
disse que eu poderia pegar algum emprestado.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Georgina examinou as estantes meio vazias.


― Parece que alguém mais teve a mesma ideia. Que lugar
é esse?
― A biblioteca do conde. Jamie disse que ele era
estudioso.
― Parece que alguém estava empacotando-os. ― Georgina
andou até uma caixa parcialmente preenchida com livros.
― Eu acredito que ele está planejando mudar-se para
outra de suas propriedades. Depois do casamento, é claro.
― Você sabe, ― Georgina acusou. Ela cruzou a sala,
levantando as mãos, as quais Emma rapidamente segurou
com as dela. ― Jamie lhe disse? Eu queria que você fosse a
primeira a ouvir, mas eu não conseguia lhe achar. Eu a
procurei na casa inteira.
― Eu entendo que isso é oficial, ― Emma disse, puxando-
a para perto e deu um beijo em sua bochecha.
Ela tinha medo de que George conseguisse discernir sua
desordem emocional. Perdida na euforia do momento, sua
enteada parecia alheia a qualquer outra coisa a não ser sua
própria felicidade.
O que estava certo. Nada poderia ser permitido diminuir
sua felicidade nesse dia.
― O anúncio será feito no jantar. Jamie disse que haverá
uma celebração mais formal em um futuro próximo, para
informar as pessoas do distrito, mas sim, é oficial.
― Eu não poderia estar mais feliz.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Então venha e ajude-me a escolher o que vestir. Eu


quero parecer o meu melhor. Você acha que, como é o noivado
de seu próprio irmão, o conde pode se juntar a nós?
― Eu não esperaria isso, ― Emma disse. ― Ele deu sua
aprovação para o enlace e, presumidamente, sua benção. Isso
é provavelmente tudo o que você pode contar.
Tudo o que você pode contar. As palavras pareciam
proféticas, apesar de que por um breve momento…
Um breve momento. Parecia que isso era tudo o que eles
teriam. Dois beijos separados por doze anos de solidão. E tudo
o que está na frente deles…
― Eu acho que deve ser o prateado, ― Georgina disse,
puxando-a em direção à porta por suas mãos unidas, ― apesar
de Jamie tê-lo visto pelo menos umas três vezes.
― Ele não se lembrará de nada, a não ser de como ele fica
lindo em você, ― Emma disse, lançando uma última e longa
olhada na porta do quarto fechada.
― Há algo errado? Você não está triste por me perder,
está? Você sabe que eu quero que você venha viver aqui
conosco. A condessa iria acolher sua companhia, como você
sabe que eu iria.
― Querida bobinha, ― Emma disse, esfregando os seus
dedos. ― Meus planos estão bastante firmes. Você sabe que eu
não estou triste, especialmente porque Jamie parece estar
completamente apaixonado por você e você por ele. O que mais
qualquer mãe poderia pedir?
― Então me deseja felicidade? ― Georgina brincou com
um sorriso.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Com todo o meu coração, ― Emma disse


verdadeiramente, conforme ela fechava a porta da sala de
estar do conde atrás delas.
Ela não cobiçaria a felicidade de Georgina, mesmo se ela
invejasse. E em reconhecimento a isso, ela entendia mais que
nunca a decisão de Greystone de recolher-se para Wyckstead.

Isso não seria digno de uma chance?


Por um momento pelo menos, ele acreditou que poderia
ser. E então o mundo, na forma de Georgina Stanfield, invadiu
aquela ridícula fantasia.
Fantasia? Emma se ofereceu sem nenhuma condição. Ela
se derreteu em seus braços, sua boca ansiosa para aceitar seu
beijo. Por que, então, essa chance que ela falou seria uma
fantasia?
Porque eles mal se conheciam. E ele estava muito
acostumado à sua solidão. Ao seu isolamento. Onde ele estava
a salvo de crianças gritando e camareiras se benzendo.
Ela não fez nenhum dos dois. Ela lhe beijou. Não como se
você fosse um monstro, mas um homem.
Eu talvez seja a única pessoa no mundo para quem esse
homem ainda existe. Palavras de Emma. Exceto que ele sabia,
se ela não, o quão longe ele estava de ser aquele homem.
E você pode continuar sendo exatamente quem você é
agora. Um exilado da sociedade por vontade própria, ou…

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Ou o que? Um homem que não foi forçado a enfrentar um


futuro solitário, um que era o reflexo de um passado
igualmente solitário? Era possível?
Isso não é digno de uma chance?
A própria ideia era ridícula, ele se lembrou, enquanto se
virava para refazer o caminho para o quarto. Foi tudo que ele
fez desde que ela partiu. Do armário de um lado, para a janela
larga e curvada do outro. De um lado para o outro, à medida
que as memórias e as promessas batalhavam em seu cérebro.
Eles dificilmente conheciam um ao outro.
Eu não sabia que o tempo de conhecimento tinha algo a
ver com se apaixonar.
Que tipo de vida ela poderia ter com ele? Um prisioneiro
de seus medos. Uma coisa era ele escolher se isolar, mas que
tipo de vida seria para Emma?
Minha governanta tem um chalé, veja bem…
Qualquer coisa seria melhor que isso para uma pessoa
tão viva quanto Emma. Tão sensual. Mesmo enquanto seu
cérebro formava as palavras, sua virilha apertou com desejo
por ela.
Isso não é digno de uma chance?
Por que não? Ela poderia sempre partir. Sem amarras
para nenhum dos dois. E se isso não funcionar...
Então ela estaria arruinada. Seu bom nome e reputação
deixados em ruínas. Esse não era um papel a qual ele a
condenaria.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Nem a ele mesmo, ele percebeu. Ele tinha sido criado


com uma tradição de honra. De proteger as mulheres. De
guardar suas reputações em vez de destruí-las.
Ele não podia fazer de Emma sua amante, não importava
o que ela oferecesse. Tampouco poderia fazê-la sua esposa e
condená-la durante toda a vida a se esconder.
E foi o que ele fez durante todos esses anos, ele
reconheceu. Ele se escondeu.
Por que uma criança reagiu como uma criança? Ou por
que, no fundo, você é um covarde?
Muito mais fácil avançar na batalha, do que enfrentar a
repulsa nos olhos de um estranho. Muito mais fácil se enterrar
em um livro. Filosofia. História. Qualquer coisa além de vida.
Algo não tão doloroso.
Exceto que aparentemente isso não precisa ser assim.
Não com Emma.
Isso não é digno de uma chance?
Isso era? Poderia ser?
Não havia espelhos em seus aposentos. Havia,
entretanto, uma alternativa a eles. Uma que ele normalmente
evitava.
Agora, ele deu os dois passos que o levariam para a
janela com vista para a entrada de Leighton Hall. Quando ele
parou ao lado dela, observando os convidados de seu irmão
chegar, era o resultado de uma ociosa curiosidade. Esta foi
uma ação deliberada e calculada. E uma necessária.
A entrada e os degraus abaixo estavam desertos, contudo
os criados, antecipando a chegada daqueles que foram

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

convidados para se juntar à celebração do noivado, tinham


colocado tochas nos candeeiros de ambos os lados do portal de
entrada. Além dessa luz, a noite caiu com a rapidez do verão
após o longo crepúsculo.
O vidro da janela seria suficientemente escuro para o seu
propósito. Lentamente, ele ergueu os olhos até que eles
focassem em seu próprio reflexo. Através de um vidro,
sombriamente. A imagem estava longe de ser clara, mas
bastava.
Uma massa indisciplinada de cabelos longos e não
cortados. Um buraco de olho vazio. A distorção da cicatriz do
músculo e da pele. Um monstro e não um homem.
Você quer o homem que beijou você naquela noite, ele
tinha dito. Eu lhe disse. Ele não existe.
O reflexo que ele estava vendo era dolorosamente óbvio.
Talvez eu seja a única pessoa no mundo para quem ele
ainda existe. Isso não significa nada para você?
Somente que a presente realidade nunca poderia ser
comparada à memória que ela amou todos esses anos.
Perdoe-me, Emma.
Não havia como eles pudessem voltar. E mesmo que
pudessem, seria sábio?
Eles tinham sido dois estranhos buscando abrigo de uma
tempestade, e encontraram em vez disso, um momento breve e
perfeito juntos. Agora eles eram os únicos sobreviventes de
outros tipos de tempestades, buscando não perfeição ou
fantasias românticas, mas segurança.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Muito antes de Emma ter chegado a Leighton, ambos


haviam decidido onde estariam . E não seria um com o outro.
Isso não é digno de uma chance?
O Conde de Greystone inclinou-se para a frente,
colocando a testa contra o vidro frio da janela, enquanto a
frase que o assombrou toda a tarde repetia uma e outra vez na
cabeça dele.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Capítulo 8
No final, Georgina decidiu usar o vestido cinza. Emma
pensou que nunca esteve tão linda.
Ela seria uma condessa magnífica. Mais importante, ao
menos na perspectiva de Emma, que foi aumentada por sua
própria situação, Georgie faria um casamento por amor.
― À noiva e o noivo ― Charles brindou. Ele estava,
obviamente, muito satisfeito consigo mesmo.
O número de pessoas no jantar foi aumentado, por
convites enviados a alguns poucos selecionados na sociedade
local. Taças foram levantadas ao redor da mesa, enquanto o
brinde de Charles ecoava por um coro de vozes. O rubor da
futura noiva, desta vez, foi tão pronunciado como o de seu
prometido.
Os convidados começaram a beber o vinho com o qual o
brinde foi feito, quando as portas duplas da sala de jantar
foram abertas. Apesar de haver inúmeras velas de cera no
candelabro, bem como ao longo da parede e na própria mesa,
levou alguns segundos para a presença do recém-chegado ser
notada por todos na longa mesa.
Conforme isso foi acontecendo, seguiu-se o silêncio,
movendo-se entre os convidados que conversavam, como
geada em um jardim. Em menos de um minuto não havia nem

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

mesmo um suspiro na sala. Cada olho estava preso ao homem


que estava na entrada.
― Damas e cavalheiros, ― Jamie disse, levantando-se de
seu lugar na cabeceira da mesa, ― eu gostaria de apresentar
meu irmão, o Conde de Greystone.
Alex estava impecavelmente vestido, mas não em um
vestuário próprio para uma festa de jantar. Um casaco da
marinha superfino esticado sobre os ombros, que Emma
admirou desde a primeira vez que ela os viu. Calças justas,
perfeitamente apertadas sobre a barriga plana, enfatizaram as
coxas musculosas de cavaleiro. A gravata branca em seu
pescoço, amarrada de forma simples, mas elegante, realçava
sua coloração escura. Mesmo os seus fartos cabelos pretos
foram bem aparados.
Ele parecia, em cada pedacinho, um Lorde inglês. Exceto
pela cicatriz e o tapa-olho meia-noite que ele usava sobre o
olho danificado. Eles deram-lhe um ar libertino de pirata. Pela
suave agitação em torno da mesa, isso não foi perdido pela
parte feminina do grupo.
― Nós estávamos brindando ao noivado desses belos
jovens, ― Charles informou, como se ele fosse o anfitrião. ―
Junte-se a nós, Greystone.
Emma se perguntou se seu cunhado já havia percebido
as implicações da aparição do conde, em sua cuidadosa
negociação dos arranjos do casamento. Certamente, deve ser
obvio para ele agora que, apesar do que ele foi levado a
acreditar, Greystone era bastante capaz de fazer seus próprios

127
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

filhos. O pensamento enviou um arrepio de excitação pelo seu


corpo.
― Obrigado, mas não, ― Alex disse, seu olhar nunca
deixando o rosto de Emma. ― Meu irmão sabe que eu desejo a
ele toda felicidade.
Seu coração começou a se comportar de uma maneira
extraordinária. Ela chegou à conclusão, a única que parecia
corresponder aos parâmetros da situação, que ele poderia ter
vindo ali por ela.
― Miss Stanfield, ― o conde continuou, liberando Emma
da intensidade de seu olhar por tempo suficiente para inclinar
a cabeça na direção de Georgina. ― À sua felicidade.
― Obrigada, senhor. ― A voz de Georgie estava
perfeitamente modulada, apesar de seus olhos terem se
arregalado. ― Vindo do irmão de Jamie, isso significa muito.
― Por favor, junte-se a nós, ― seu noivo insistiu,
indicando a cadeira em que ele estava sentado na cabeceira da
mesa. ― Esse lugar é seu por direito.
Os cantos da boca de Alex se inclinaram para cima
enquanto olhava para o irmão. Ele colocou a mão no ombro do
homem mais novo.
― Eu lhe desejo toda felicidade, Jamie. Temo que essa
noite, entretanto, eu tenho meus próprios negócios a tratar.
Eu imploro que você me perdoe por não me unir à sua
celebração.
― É claro, ― Jamie balbuciou.
―Mãe, damas e cavalheiros, peço perdão pela intrusão no
jantar. Eu vim por Lady Barrington.

128
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Os olhares fascinados que estavam presos a Alex desde


sua chegada agora se viraram, com a precisão de brinquedos
mecânicos, em sua direção.
― Se ela ainda estiver disposta a vir comigo, ― ele
adicionou.
― Que diabos é isso? Emma? ― Charles exigiu. Não
recebendo resposta, ele voltou para o conde. ― Ir com você? ―
ele repetiu como se tivesse acabado de perceber o significado
disso. ― Ir com você aonde?
― Para a Escócia. Se ela quiser.
Embora seus joelhos estivessem tão fracos quanto eles
tiveram essa tarde, Emma forçou-se a levantar, seus olhos
ainda presos nos dele.
― Para a Escócia? Você não quer dizer... Olhe aqui,
Greystone .
― Sim, ― Emma disse.
A palavra não traiu nada do que ela sentia. Parecia tão
calma e firme como qualquer acordo que ela já tenha feito na
vida. Ou comum.
― Para a Escócia? ― Jamie ecoou, soando tão
desconcertado pelo rumo dos acontecimentos como seu
cunhado. ― Você não está querendo dizer...
― Exatamente, ― Alex disse decisivamente. ― Nós
estamos em uma encruzilhada, veja bem. Escolhas precisam
ser feitas.
― Você está louco, ― Charles vociferou.
–- Muito, ― Alex concordou calmamente.
― Emma, eu a proíbo de ir com esse homem.

129
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Me desculpe, Charles, ― ela disse, caminhando ao lado


da mesa antes que Greystone pudesse mudar de ideia. Ela
parou tempo suficiente para inclinar e beijar Georgie na
bochecha. ― Me prometa que você será incrivelmente feliz.
― Somente se você me prometer o mesmo, ― Georgina
disse.
― Você não pode fazer isso, ― Charles disse novamente.
― Eu não posso fazer nenhuma outra coisa, ― Emma
assegurou-lhe enquanto passava atrás de sua cadeira.
Ela levantou as mãos para Alex. Ele a pegou na sua,
dedos fortes apertando-se em torno dos dela com uma firmeza
tranquilizante. Por um instante, ela temeu que ele pretendesse
puxá-la para seus braços na frente dos convidados. Por sorte,
ele pareceu recuperar o juízo, simplesmente segurando suas
mãos firmemente, enquanto se curvava para sua mãe e depois
para o cunhado dela.
― Perdoe-me, mas isso era para ser, veja bem. Eu tenho
na melhor autoridade que nós estávamos destinados a ficar
juntos. Eu cuidarei muito bem dela, eu lhe prometo.
― O diabo você diz. ― Charles começou novamente.
Nesse momento, Alex já tinha corrido com ela pela portas
duplas e para o corredor. Seus pés quase sem tocar o chão,
conforme, ainda de mãos dadas, eles o atravessaram como
duas crianças liberadas das lições.
Ele não parou até que estivessem lá fora, o ar limpo pela
chuva estava tão fresco que parecia brilhar na luz das tochas
de cada lado da entrada. Uma carruagem conduzida por uma

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

parelha de quatro cavalos combinando, estava parada em


baixo.
Em vez de descer os degraus para a carruagem à espera,
Alex pegou-a em seus braços, colocando suas bochechas
contra as dela enquanto a abraçava. Seja por desígnio ou
acidente, era o perfil não marcado. Embora ele estivesse
recém-barbeado, havia uma leve abrasividade masculina que
era sensual e excitante.
Depois de um momento, ele levantou a cabeça, olhando
para os seus olhos.
― Eu sou uma desculpa maldita para um Lochinvar1.
― Está tudo bem. Eu não era a noiva.
― Você será.
― Sim, eu sei, ― disse, ficando na ponta dos pés para
tocar os lábios dele com os seus. ― Mas… há um longo
caminho para a fronteira. Uma jornada que pode ser feita com
mais segurança à luz do dia. E desde que eu tenho muita
certeza que Charles não pretende pegar suas pistolas e nos
seguir…
― O que você está sugerindo, minha querida,
manipuladora Emma?
― Você tem uma casa, eu acredito.
― Wyckstead. Dificilmente adequado para uma ... ― ele
parou abruptamente, aparentemente sem vontade de

1 Lochinvar – herói romântico de ficção da balada “Marmion” (1808) de Sir Walter Scott.
Lochinvar é um Cavaleiro valente que chega sem aviso prévio no banquete nupcial de
Ellen, sua amada, que está prestes a se casar com um mulherengo galanteador e
covarde na Guerra. Ele, então, reivindica uma dança com a noiva, e através da dança a
leva para a porta, puxando-a para cima em seu cavalo, e eles viajam juntos rumo ao
desconhecido.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

empregar qualquer uma das terminologias atuais para o que


ela estava sugerindo.
― Para uma lua de mel? ― ela forneceu ao invés.
― Na verdade, é ideal para uma lua de mel. Pequeno,
isolado, e vazio, exceto pelo zelador, que vive em um chalé
naquelas terras.
― Perfeito, ― Emma disse.
Ela sabia que seria. Afinal, estava destinado.

Quaisquer dúvidas que Alex teve uma vez, parecia ter


desaparecido. Ele tomou a decisão de voltar para Leighton e se
oferecer a ela. Não apenas isso, ele colocou qualquer
ponderação a respeito atrás dele. Até a sugestão de que eles
passem a noite em Wyckstead não evocou nenhum argumento.
Perdido por um, perdido por mil, Emma pensou,
seguindo-o através da escuridão da pequena casa. Isso
também deve ter se tornado seu lema, já que ela deixou
Leighton com nada além das roupas do corpo e alguns sonhos
empoeirados.
― Aqui, ― Alex disse. ― Olhe por onde pisa.
Na escuridão iluminada pela lua, ela podia ver a mão que
ele esticou para ela, mas pouco mais. Seus dedos se fecharam
nos dela, oferecidos confiantemente para guiá-la através dos
obstáculos no caminho. Assim que eles estavam dentro do

132
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

aposento, ele a soltou. Ela esperou, seguindo seus movimentos


apenas pelo som, enquanto ele acendia as velas.
Provida com iluminação, ela teve seu primeiro vislumbre
de sua nova casa. Teria sido óbvio, mesmo ela não sabendo,
que ele ainda estava no processo de mudança.
Caixas estavam colocadas ao acaso ao longo das quatro
paredes do cômodo, mas sua característica dominante, uma
grande cama com antiquados pendentes carmesins, estava
convidativamente vazia. O pequeno e estranho silêncio depois
que ele terminou de acender as velas, era quase certamente o
resultado de sua consciência mútua sobre isso.
― Você tem certeza...? ― ele começou.
Emma o interrompeu antes que suas dúvidas pudessem
ressurgir.
― Completamente. E mesmo se você não está, é muito
tarde para voltar atrás agora. Você me pediu na frente de um
grande número de pessoas. Você não tem escolha a não ser
fazer de mim uma mulher honesta. Só não essa noite, se não
se importa.
― Se não casamento, então, o que você tem em mente
para essa noite?
A diversão que uma vez a encantou, estava de volta em
sua voz profunda. E ela prometeu que, pelo tempo que ele a
permitisse, ela iria mantê-lo genuíno.
― Compensação por todas aquelas outras noites, ― ela
disse bravamente.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Anos de noites vazias. Embora ela não tivesse tido a


coragem de especular antes, ela se perguntou agora se as dele
tinham sido igualmente solitárias.
― Eu não posso acreditar que você está aqui, ― ele disse.
― Eu continuo pensando que vou acordar e tudo isso não
passará de um sonho.
Sorrindo, ela levantou as mãos para ele.
― Carne e osso. Bastante substancial. E eu não tenho
intenção de ir a lugar algum.
Ele fechou a distância entre eles, pegando os dedos dela
nos seus uma vez mais. Ele os levou aos lábios, seus olhos
prendendo os dela acima de suas mãos unidas.
― O tempo todo em que eu estava me vestindo essa noite,
eu tentei imaginar o que eu faria se você dissesse não.
― Eu preferiria muito mais que você se concentrasse no
que você vai fazer, agora que eu disse sim.
― Nunca existiu, ― ele disse suavemente, ― nenhuma
dúvida quanto a isso.

Ele a despiu à luz das velas, divertido ao descobrir que


ele não esqueceu as intrincâncias das vestes femininas. E
mais que um pouco surpreso, por descobrir que os fechos dos
ganchos e laços não mudaram, sensivelmente, durante os
últimos doze anos.

134
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

E ainda era um milagre para ele que, apesar dele ter


estado vigilante para detectar qualquer pequena relutância da
parte dela, Emma não achou seu toque repugnante. Bem o
oposto, na realidade.
Em uma noite de neve, ele se apaixonou por uma virgem
de dezessete anos. Por alguma razão, ele esperava que as
respostas de Emma fossem as mesmas, como se ela ainda
fosse aquela garota inexperiente. Ele ficou encantado de
descobrir que elas não eram.
Afinal, ela foi casada por muitos anos. Não haveria
nenhuma revelação desprazerosa sobre o que estava prestes a
acontecer entre eles. Somente prazerosas, ele suplicou.
Por fim ele se ajoelhou para tirar suas meias, segurando
o pé estreito e alto em sua mão, um momento depois que ele
tirou o fio de seda que o cobria. Então, seu olhar viajou
vagarosamente para cima. As chamas das velas douravam a
pele lisa e branca, pintando-a com luminescência enquanto
enfatizavam curvas esbeltas e escureciam misteriosamente os
lugares sombreados de seu corpo.
Na luz fraca, ela parecia a Vênus de Botticelli, saindo do
mar ao amanhecer, nua e perfeita. Parecia um sacrilégio que
ela poderia pertencer a alguém como ele.
― Você é tão linda, ― ele sussurrou, sua garganta
ardendo com emoção.
― A beleza está nos olhos de quem vê. Você me olha com
amor, e isso faz você me achar bonita.
― Não está à altura dos padrões habituais, Emma.
― Perdão?

135
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Esse sermão dificilmente é sutil o suficiente para você.


― Você acreditaria em mim se eu dissesse que você é
bonito?
Ele riu, soltando o pé e levantando-se para encará-la.
― Você é para mim. ― Seus olhos, azul-escuros na meia
luz, não ecoou sua risada. ― Isso, ― ela disse, colocando os
dedos da mão esquerda contra a parte sem dano de seu rosto.
― E isso. ― sua outra mão tocou a bochecha marcada,
moldando seu queixo entre elas.
Ele fez força para não se afastar, mas depois de um
momento, sentindo seu desconforto, ela o soltou. Ela colocou
os braços em torno do pescoço dele, apoiando sua bochecha
contra o peito. Incapaz de resistir, ele a acolheu contra si,
segurando-a ao lado de seu coração.
― Não importa se você não acreditar em mim, ― ela disse.
― Eu tenho anos para lhe convencer. Eventualmente...
Antes que ela pudesse completar sua promessa, ele se
inclinou, deslizando os braços debaixo de seus joelhos para
tirá-la do chão. E quando ele a deitou no centro da cama alta,
ele nem sequer pensou em puxar as cortinas carmesins para
esconder-se da luz.

Ela sabia desde o início que essa não seria uma cópula
apressada como aquelas que ela já suportou uma vez. Com
suas mãos, lábios e língua, Alex venerou seu corpo,

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

explorando cada sensitivo, vale secreto. Reivindicando-os para


si.
― Aqui. ― Sua respiração, quente e úmida, provocava
arrepios contra a sua garganta. ― E agora, ― ele disse,
posicionando seus joelhos entre os dela.
Como se eles possuíssem vontade própria, suas pernas
se abriram sem querer. Sobrecarregada por sentimentos que
ela nunca experimentou antes, ela estava além da resistência.
Além de qualquer pensamento de negá-lo qualquer coisa.
Não que ela quisesse. Suas mãos, duras e masculinas,
acariciaram sua pele conhecedoramente conforme sua boca
arrastava um calor úmido sobre a maioria das partes íntimas
de seu corpo. Ela não pronunciou nenhuma só palavra de
protesto. Nem iria agora.
Algo estava sendo erguido dentro dela, algo para o qual
ela não tinha nome. Nem qualquer quadro de referência.
Sensação pura, tornava-se mais exigente conforme ele
continuava a tocá-la. Cada esfregar de seus dedos, cada
chicotada deliberada de sua língua, aumentou a pressão por
uma liberação que ela ainda não podia imaginar, mas sabia
que queria.
― Sim, ― ela implorou suavemente, sem o menor
entendimento sobre o que era isso que ela estava pedindo. Ela
sabia que somente ele poderia prover isso.
Conforme ele se movia sobre o seu corpo na escuridão à
luz de velas, ela olhou para o seu rosto. Por um instante, o
perfil que continha a cicatriz foi encoberto por sombras,
escondido por um acidente da iluminação, de modo que ele

137
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

voltou a parecer o jovem soldado que ela encontrou há muito


tempo atrás.
Com sua primeira estocada para baixo, infalível e
poderosa, tudo o que experimentara entre aquela noite e isso
caiu. Ela era novamente a garota que ficou parada na varanda
varrida de neve e sonhou. Com isso. Com ele.
Então, em resposta aos movimentos rítmicos dos seus
quadris, a sensação que tremia dentro da parte de baixo de
seu corpo começou a se espalhar. Como o ouro derretido, ele
correu, queimando nervos recém-despertados, cauterizando
músculos e ossos.
Seus quadris começaram a se mover em resposta aos
dele. Tentado trazê-lo para mais perto. Para prendê-lo a ela.
Conforme o seu corpo respondia, sua mente espiralava
para longe dentro da escuridão. Incapaz de pensamentos
coerentes. Incapaz de qualquer coisa além de reagir às
implacáveis demandas que ele estava fazendo.
― Agora, ― ele disse novamente, as palavras roucas e
ofegantes.
Ele fechou os olhos e colocou sua testa contra a dela,
apoiando o peso de sua parte superior do corpo nos cotovelos.
O movimento de seus quadris nunca diminuiu. Dirigindo.
Exigente. Até parecer que ele estava batendo na entrada
contra as paredes de sua alma.
Por uma fração de segundo ela teve medo do que estava
acontecendo. E então, como se uma represa tivesse rompido, a
força do que estava crescendo dentro dela se liberou em um
fluxo branco quente.

138
O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

Isso a lavou, onda após onda de sensações, tão


implacáveis, tão inexoráveis, como os impulsos que criaram. A
boca dela se abriu, mas ela não reconheceu o grito sem
palavras que emergiu como vindo de seus lábios.
Bem no meio de sua extremidade, o corpo dele parecia
explodir dentro dela. Convulsão após convulsão estremeceu
através de seu corpo. Capturada em seu próprio redemoinho
de sensações, ela estava sem poder fazer nada, além de
abraçá-lo, as unhas cavavam nos ombros largos que se
esticavam acima dela.
Seu grito de resposta, quando chegou, era pura
exaltação. Ele ergueu a cabeça, jogando-a para trás, então
uma esteira de tendões ficaram expostos.
Nesse momento, a tensão que a agarrou, fazendo-a sem
razão, começou a suavizar. Ela podia respirar de novo. E ela
podia pensar.
Sua mão encontrou a parte de trás da cabeça dele, os
dedos emaranhados nos cabelos recém-cortados.
Impulsionando-o a descer.
Ele obedeceu, sua boca se fechando sobre a dela com
uma possessão frenética. O beijo a devastou, reivindicando
seus lábios como ele acabou de reivindicar seu corpo.
Marcando-os como ele a marcou.
Gradualmente a intensidade diminuiu, tornando-se
finalmente uma série de toques leves como pluma. Cílios.
Têmpora. O vazio na garganta, pulsando com as
consequências do que tinham compartilhado.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

O último desses beijos foi colocado gentilmente na ponta


do nariz. Ele se levantou, mais uma vez, olhando para os
olhos dela. Ela sorriu para ele, sabendo que qualquer
argumento que ele pudesse ter feito sobre eles ficarem juntos,
seria sempre sujeito a contestação.
O que acabou de acontecer entre eles foi tão certo, tão
perfeito, tinha que ter apagado qualquer dúvida que ele
abrigasse sobre seus sentimentos por ele. Ou dele por ela.
― Eu acho que prefiro você como uma atrevida.
― Em oposição a uma mulher honesta? ― ela perguntou,
seu sorriso aumentando.
― Em oposição a uma garota a caminho de sua primeira
Temporada.
― Há centenas de anos atrás.
― Dificilmente isso. Somente uma vida.
― Ou duas.
― Está tudo bem. Nessa vida nós podemos ter certeza, ao
menos, que fizemos as escolhas certas.
― Você se lembra do que me chamou naquela noite?
― Na estalagem? ― uma ruga se formou entre suas
sobrancelhas.
Ela a amaciou com seu dedo e depois corajosamente
traçou uma linha ao longo do laço que segurava o tapa olho no
lugar.
― Você disse que eu era uma caça dotes.
Ele riu.
― E eu não tinha nenhum para lhe oferecer. Um soldado
sem dinheiro a caminho da guerra.

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O Prisioneiro da Torre – Gayle Wilson

― Sem dinheiro?
― Praticamente. Um filho mais novo. Eu acredito que eu
confessei tudo isso.
― E agora você tem a fortuna que eu precisava naquela
época.
― É sua, ― ele disse imediatamente.
― Eu já tenho minha fortuna, obrigada. Uma que não
tem nada a ver com títulos ou propriedades, e muito com um
homem bravo o suficiente para enfrentar um jantar social em
ordem de fugir com uma viúva idosa.
Sua gargalhada foi sem restrições. E ela sorriu ao ouvi-la.
Era assim que deveria ser sempre. Do jeito que ele estava
naquela noite. Jovem e despreocupado e não marcado por
tudo o que estava por vir.
― Pobre Charles, ― ela disse. ― Ele ficará tão
desapontado, que ele talvez entre em declínio.
― Charles? Por que Charles ficaria desapontado?
― Ele acredita que garantiu um condado para Georgina.
E agora, eu temo… ― ela pausou delicadamente.
― E agora? ― ele solicitou, sorrindo.
― Eu acredito que o Conde de Greystone tem planos de
produzir um sucessor de seu título por conta própria.
― Como você me conhece bem, ― Alex disse. ― E com tão
pouco tempo de conhecimento.
― O tempo de conhecimento…
― Não tem nada a ver com se apaixonar, ― ele terminou
por ela.

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Então seus lábios desceram, cobrindo os dela. E mesmo


a formidável Lady Barrington ficou sem nada para dizer.

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