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e ·renov~çao . -
. Contra o que pretendem htterpret~ções sim~listas·, ~~~
sustentar-sé-á aqui a_· tese de que a renovação do marxismo não é
algo que se inicia num momento - no fim da segunda guerra mun-
dial, por oc..sião da mort~ de Stalin, etc. -, depois ele ~ longo -perío-
do de fossilização, mas sim·que_as tendê~das ql;Je haviam ·de enri-
quecer e de empobrecer, respectivamente, o, marxismo coexistiram
neJe desde a morte de Engels. O terreno da história permite perce-
ber perfeitamente esse fato.-
·As duas primeiras obras que abrem perspectivas de renova-
ção na historiografia marxista aparçcem muito 'cedó, concebid~ ·
pouco depois da morte de Engels.As duas são de certa maneira-atí- .
picas - a primeira por ter-sido pensada mais·comó.investigaçã~ de
economia que de história; a segunda por conceber-se nas frontei- •
· ras do materialismo histórico -, poré_m, de_ve:se ~ar aqw das-duas,
pelas conseqüências que terão. A primeira_ é_O desenl!()lvtmento ·
do capitalismo na (lússia, de Lênin ( l 87~ 1923), escrita no dester-
ro da Sibéria e publicada em 1899, tomo: l}Dl argumento··p ara a luta.
política contra o populismo.'Ainda·que. não seja_exatamente um li-
vro de história, o m_odo como Lênin analisava os ptocessos; como •
· a desintegração do ca·m pesinato tradicional ou a formação do -m~r- .
cado na~ional, serviram de lição para os":hi~toriado~s marxistas
posteriores.'
A segunda pertence ao sociaUsta_francês Jean Jaurês ( 1859- .
19 J 4), professdr de filosofia e bom conhecedor do pensamento
alemão, que chegaria ao socialismo moderado a partir do f:Cpubli- ..
canismó burguês. Enfrentaria os grupos mais radicais e manteria

233
-
o marxismo no século XX. li: desenvolvimento e renovação
C'apílltlo 13 •-• - •v- - -- - • - ••-· -

1 - fr.lncesa • A obra de Labrousse não ~ serviu


uma postura ambígua diante do pensamento marxista, ainda que _ eclosão da Revo uçao . . - bém trouxe um con-
para iluminar a gênese da Rcvoluçao, como tam
isso deva entender-se antes de tudo como um distanciamento
junto e!.: i~strumentos com ~ qt_JaiS os Wstoriadorcs p~d~ pas-
com relação aos presumidos herdeiros de Marx, com os quais te-
ria de conviver. Em 1894, Jauri:s pronunciou em Paris, diante do
• 1 ' 1 sar de eJtudo dos dados básicos da economia - p ~ ~ o e preço:
Grupo- de estudantes coletivistas, uma conferência sobre Idealis-
.... . ao das rcpen:~ que a sua ~utuação tem. nas diversas ~lasse
. ,
mo e materlalísmo na concepção da blst6rla, onde manifesta que integram a sociedade. N""ao havera . · r COf\!iCguin-
. ~tranhar,, po
' ' que .
uma atitude eclética, admitindo que as forças econômicas são o te, que Labro~ tenha'influído-~ Pfcrre Vilar, situado já incqwv<:
motor da mudança histórica, porém que a direção cm que se efe- camente •dentro do território do mandsmo, · e que, por ~ canu-
tua essa mudança vem determinada pela aspiração permanente do nho a corrente iniciada por:Ja~s. herdeira da tradição do socialis-
homem à justiça, que é o que explica que exista um progresso, de mo francês, tenha acabado rctoin~o ao leito do materialismo Ws--
modo que não podem reduzir-se a mero crescimento econômico. tórico.-'
O argumento é trivial, porém não se entende se não se leva em Depois da primeira guerra mundial, a resistência"à de~natura-
cont.,, ao mesmo tempo, a resposta "ortodoxa" que lhe daria Paul lização "econ'omicista" e "cientificistà" do marxismo, que se estava
l..afargue, num'a ·réplica pronunciada, em janeiro de 1895, e que produzindo tanto na social-<.lemocracia alemã como na Rússia sovié-
cairia no cconomicismo mais elementar, ao fazer afirmações como _tica, ainda que de m~neira distinta, inspirou o t~balho inicial do
esta, de claro sabor reformista: "Somos comunistas porque esta- Instituto de lnvestiçação Social de Frankfurt, fundado em 1923,
mos convencidos de que as forças econômicas da produçã<, eapi- como um centro para a investigação marxista (e'mbora, posterior-
falista levam fatalmente a socieda~e para o comunismo", e dar por mente, e nas mãos de Horkheirner, derivou para os terrenos da cha-
suposto que bastaria a nacionalização dos meios de produção, mada "sociologia crítica", mais acadêmicos e nada comprometidos
para que "a paz e a felicidade voltem a florescer na terra". Quando politicamente), assim como a obra de três pensadores marxistas:
do terreno <la teoria passamos ao da prática historiográfica, a Hts- Gcorg Lukács (1885-1971), ~ I Korsh (1886-1961) e Antoajo
t6,-/a socialista da revolução francesa, de Jaures, apresenta-se a Gamsci (1891 -1937).As posturas dos dois primeiros foram conheci-
nós como uma obra excepcional, que analisa o pano de fundo eco- das logo cedo, com a publicação, em 1923, da História e con.sdên-
nômico e o relaciona com os enfrentamentos de classe com uma .,..... cia de classe, de Lukács,e do Manismo efilofofta, ~ Korsch .A de
. ·~·1 :
sagacidade que não se encontrará, em múitos anos, na historiogra- Gramsci, em troca, não seria conhecida senão ~uito mais tatde,
fia marxista mais ortodoxa.'
Porém, a melhor forma de entender o que significava a con-
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.:'t. ~ como teremos ocasião de ver. Lukács explic,o u assim o seu trabalho:

. ~-~-
. 1 ' "Nos_ano~ vinte, Korsch, Gramsci e eu tratamos, cada um a seu
.·,
tribuição de Jaures é examinar í1 sua ~fluência. D_iscípulo seu e par- .• 1,. .'•
ticipante de posturas de uma ambigüidade semelhante ao· do mes-
tre será Ernest Labrousse. Só que,quan<lo olhamos a sua obra de in-
:,
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. ' .., - - • ' O _esboço ~movimento dos lucros no ~ o XVJU aprcscnu-sc cm seu
coniunto com as seguintes canctcristicas: alta de longa duraçio do salário,
vestigador além das propostas sobre uma espécie de te~ceira via, en- ,·. ',í. ;·: acunullação da renda nwn setor da sociedade, com maiorlntcnsidade no
feudal, porém também cm nüos dos outros proprietários vendedores, pau-
tre a "história materialista" e a "idealista", as coisas se aclaram. Na sua ,41 í_
pcriµção <la m:issa da nação ( ...)A granck aristocracia proprietária (. .. ) sa-
Esqutsse du .mouvement des prlx et des ll!.venus en Fmnce au borc'ia :as suas últimas horas ignorante e apnúvd. Muito próiimo <leia. os
XVII/e si~cle (l 933), partiu do estudo dos preços e dos lucros com proprietários burgueses e uma pequena pane dos- proprktirios campone-
o objetivo.de investigar "a história da condição das pessoas no sé- . ses bcncllci:uu«, ainda que cm menor medida, da mesma con-cntc. Portm
uma corrente oposu distancia cada dia mais dessas margens afortWladas à
culo XVIU, n~ medida em que esta dependê: do movimento do salá- m:tss:i dos culti\';idorcs, à massa dos tnb.llhadorc:s.Tormcntas ciclic-as, cada
rio e da renda". As SU<!S conclusões ilustr.un a forma na qual se pro- vez mais violentas, os assaltam. É por ocasíào de uma delas, quando o mo-
duz o enriquecimento de alguns setores sociais à custa da ·pauperi- vimento de longa duração dos preços dos cernis alcança o sc:u máximo
zação de outros, e no que se nutrem as tensões que conduziram à ( ... ), quando eclode .1 rc:voluçio• (E. labruussc, RuhUJdorws N:Vnómlcas
e historia soctal,Tcc00$~Madrid, 1962. pp. 318-319).

234
• 235
capítulo 13

modo, de enfrentarmos o problema da necessidade social e da inter-


-- o marxi<m10 no século XX. li: desenvolvimento e renovação°

marxismo refere-se às variações "orgânicas",duradouras e profundas,


pretação mecanicista, que era a herança da Segunda Internacional.
que têm conseqüências importantes para á luta de classes, e nãq às
Herdamos esse problema, porém, nenhum de nós . nem sequer razões econômicas imediatas e conjunturais da luta de ~pos ou de
1-<
Gramsci,que era_talvez o melllor de todos - o resolveu". Porém a ver- indivíduos, cujÓ estudo cai dentro do te(R:no da história política tra-
. --~- 1
dade é que o seu combate contra a fossilização marxista acabaria , '· 1
dicional. Só a respeito das primeiras pode ter sentido a afumação ~
1 : ~,
exercendo_uma forte, ainda que tardia, influência. Desse ·p onto de .• l· Marx, segundo a qual, os homer,s ,t omam consciência dos conflitos
partida, Lukács derivaria, cm boa medida por causa da sua infortlÍ- ·•. que se manifestam na estrutura econômica no plano ~ ideologia.
nada e complexa história política, a ocupar-se de questões mais es- Essa estrutura não é, para Gramsci; um simples conceito es-
tritamente ftlosófi_cas e culturais. Desvinculado de toda militãncia, peculativo, mas algo conçreto e real, que pode analisac-5e com os
Korsch manteria a_luta contra Kautsky cm O mate,-ialismo históri- métodos das ciências nat~. Só que o seu estudo ~ pode fazer-
co (1929), tentaria uma lúcidà revalorização da vertente revolucio- se em separado, já que "a estruturá e as superestruturas formam um
nária do pensamento de Marx, no seu Karl Ma,-x (1938), e conti- bloco histórico, isto é: o conjunto complc:xo, contraditório e discor-
nuaria delineando os pressupostos de um marxismo revolucion:i- dante das superestruturas é o refl(:Xo do conjunt_o das relações so-
rio, cm escritos como J7vr que sou marxista (1935). A morte sur- ciais de produção". Sabe, além disso, que a evolução de uma socie-
preendeu-o trabalh.--mdo numa tentativa de atualização do pensa- dade não é uniforme: "A vida não se desenvolve homogeneamente;
mento marxista, pelo duplo caminho da sua extensão do âmbito eu- desenvolve-se por avanços parciais, de ponta; desenvol~-5C, por as-
ropeu ao mundial e da necessidade de adaptá-lo às mudanças· ocor- sim dizer, de forma piramidal'. Se o conjunto das relações sociais
ridas na sociedade capitalista e ao avanço das ciências. "O seu texto é contraditório, o será também a consciência dos homens, e essa
inacabado, Manuscrito de abolições, é uma tentativa de desenvol- conu·.1dição "manifesta-se na totalidade do corpo social, com ;1 exis-
ver um,J teoria marxista do desenvolvimento histérico, em termos tência de consciências históricas de grupo (com a existência de cs-
da abolição futura das divisões que constituem nossa sociedade · trati.(icações correspondentes a diversas fases do desenvolvimento
tais como a divisão entre classes distintas, entre campo e cidade, en- lústórico da civilização e com a antítese entre os grupos que corres-
tre trabalho físico e intelectual".• pondem. a um mesmo nível histórico), e manifesta-se nos indivíduos
Antonio Gramsci, dirigente do partido comunista italiano, foi isolados, co"mo reflexo dessa desagregação vertical. e hortzoniar.
encarcerado, em 19l5, pelo regime fascista e viu conftrmada a sua Esse mesmo sentido da complexi~ da evolução social,quc subs-
scntença,em 1928;devido a instâncias de um fiscal que desejava "im- .... . titui a linearidade elementar de tantas proposições mandstas esco-
' lásticas, o leva a dizer: •A realidade é rica nas combinações mais es-
pedir que esse cérebro funcione durante os próximos vinte anos".
Porém se a prisão acelerou a suá morte, que se deu ~m 1937, não só tranhas, e é o teórico quem est.í obrigado a buscar a prova decism
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não o impediu de pensar, como também estimulou a reflexão que da sua teoria nessa mesma estranheza, a traduzir em linguagem teó-
havia de cristalizar-se nos seus Cad~os do cárcere, publicados pos- rica os el~mentos da vida histórica, e ·não vice-versa, a realidade que
tumamente, de 1948 a 1951 . O ponto de partida das suas reflexões ·tem de apresentar-se segundo o esquema abstrato•.•
é a recusa do economicismo, do mecanicismo vulgar que busca uma
explicação imediata de todos os fatos políticos e ideológicos em cau- • Gramsci deu unia das sws m e ~ dclinições da história, na carta cscnu
sas econômicas. Gramsci assinala a necessidáde de distinguir entre ao seu filho Détio, pouco :1n1cs de morra: Ncb de lhe dirá: "Qucridwimo
aquelas modificações econômicas que afetam profundamente a es- ... .J, •; 13 Délio: Sinto-me um pouco Clll5ado e não posso 6 < ~ muko. Tu n<.·~ -
mc sempre e de tudo o que te inceressa na csc;ola. Eu creio que a história 1e
trututa mesma, que são "relativamente permanentes" e que têm ré- 1,; .. 1
agr.ada, como me agratbva quando cu tinha a naa kbdc, porque ocupa-se doll
eª"
percussões sobre os interesses de classes sociais inteiras, que são homens vivos, e nKlo o que se ~ aos homens, :ao makx l'IÚnkru ~
simples variações ocasionais (conjunturais)-, que não modificam a es- '·. . ,.J ;,• de homens, :a todos os homens do mundo enquanco se unan CnlJT li cm so
trutura de maneira decis~va e não afetam mais que aos interesses de '\'i ~ cic:dadc e tnbalhanv,fucam e se mdhor.un a si me5m05, não p<Xk dciur de
\-.•. 1 -t agr.idar mais que qualquer oucn cui&a. Purán, é :l51im? Abnço«. Antonio"
pequenos grupos da sociedade. O detenp.inismo postulado pelo ' . ~ (A. Gram.sci, J.etterc dai cc,~, f.inaudà, lurim. 1968, p . 895)

., 236 .... 237


capítulo 13 , :_l\ o marxismo no século XX. ll: desenvolvimento e renovação
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- oc·, dente não houve grande coisa mais que aquilo de que
Uma das contribuições mais interessantes de Gramsci ê a sua e que no . -r-• - ,._
Luk.ács Korsch e Gramsc1 ..... atltu'-K-,
reflexão sobre os mecanismos pelos quais uma classe pode exercer falamos: a escola d e Frankfurt. , ' _
a dominação sobre as outras,'estabelecendo a sua hegemonia não só
..\ q ue deriva de uma injustificada identificaçao cntff' ~endot o
marxista e filosofia (no senti.d o matS. es pccialaado- r: 2 ::adcnuco
pela coerção, como també~ mediante o consenso, transformando a ..,~~- ' -
sua ideologia de grupo num conjlll!to de verdades que se supõem ~ ' (' termo), chega a ser racionalizada por Pcrry Anderson, que ~gura
válidas para todos e que as classes subalternas aceitaram. Isso até
! ·)'!:
\-- · <, que a burocracia dos partidos comunlstaS ccscrvou-sc Q dll'C1to ~
que chegue o momento em que, t~do mudado as condições, a he- opinar sobre os grandes pr:oblcinas políticos e econômicos, e que
gemonia trinca-se, as classes subalternas adquirem consciência dos iSso explica porque o marxismo "ocidental" abandonou ~esses ~~
.i: . .:~ . t -oarao e
seus interesses particulares e das contradições que as opçem aos tais problemas, para concentr:Ír-sc na filosofia . .,_.,sa li\ erp.-_......
.-,
grupos que dominam o aparato de Estado, e formulam novos prin- inadimlssível. Não se pode, na União Soviética, reduzir o pano~a
cípios que permitirão avançar até uma nova etapa de crescimento, ao dogmatismo dos catecismos teóricos e ao oportunismo das his-
com Óutra situação de hegemonia e novas relações de produção. A tórias da revolução e do partido. De outro modo não há maneira de
fim de estabelecer um programa de análise para a investigação des- explicar -obras de tanta valia, como as de Victor Dalin, Boris
ses _processos, empenham-se algumas ·das páginas mais interessan-· Pórshnev, Lublinskaya ou Ado, para citar alfPJns exemplos. E, pelo
tes dos cadernos gramscianos.' que se refere ao marxismo chantado "ocidental", é impossível fazer
A influência,do pensamento de Gramsci foi decisiva para o a sua história omitindo a referência a ccon!)mistaS de tanto valor,
aparecimento e desenvolvimento na Itália, ao término da segunda como Michal · Kalecki (1899-1976), Oskar Langc (1904-1965),
guerra mundiai, de algumas correntes de historiografia marxista vi- Maurice Dobb (i900-1976) e Joan Robinson, ou a hist(!riadores
vas e abertas, nada dogmáticas, que contrastam co,11 a vacuidade do como Gordon Childe.'
marxismo escolástico: Reexatninando os temas em que se havia dei- Vere Gordon Childe (1892-1957 ) tratou de pôr sentido numa
xado melhor sentir a lição de Gramsci, Renato Zangheri assinala o arqueologia reduzida _a um positivismo vergonhoso. Diz-se dele que
esforço por "repensar criticamente a formação da sociedade moder- 1' "pode considerar-se como o primeiro arqueólogo que empregou
na e do Estado unitário", o que se manifestou numa fecunda recon- conjuntamente uma metodológia explícita e uma teoria histórica e
sideração das relações entre o norte e o sul, e conduziu ao estudo social claramente definida", e ele mesmo reconheceria, pouco antes
dó ,Rtso.rglmento com uma nova ótica·ou a analisar as bases do fas- ·1
da sua morte, que a sua maior contribuição à arqua>logia não ~i- -
clsm_o .A influência, porém, vai muito mais além do estritamente te- ·i·~,..:t
., ' dia nos dados novos ou nos esquemas cronok>gicos q~ tivessé po-
mático; da experiência desses anos de pós-guerra . .,. .,, .. '
dklo trazer, "mas sim sobretudo nos_conceitos intcpretativos e mé-
•• 1 '
-,1~,' . todos de explicação". Childe propôs uma imagem global do dc:scn-
sai consolidada a idéia gramsciana da História como instrumento
de análise e de compreensão do ·presente, como instrument~ da
-;;1 ' volvimento da humanidade primitiva, considerado como uma as-
, construção de uma prospectiva para as forças que atuam no pre- ._~. l. censão até a revolução neolítica, um estágio que via como •muitq
sente a favor dei uma transformação socialista. Assim a críticado ~ r· '
diferente em cada caso", porém, com alguns traços comuns: •em to-
passado converte-se numa superação d9 passado. Não é a contem- ,' i das ~ partes significou a aglomeração de grandes populações em
poraneidade croclana, tautológica, da história, nem uma unidade ~:~•t·. ' ~
cidades; a diferenciação no seio destas de produtores primários
dogmática do· pensamento e do fazer que sempre subordinou o
pensar, à qianeira,stalinista, ao fazer cotidiano. Um grande empe- (pesçadores, agricultores etc.), ãrtesàos especialistas com plena
nl10-rcvolucionário requer um grande arejamento histórico e cul- dedicação, mercadores, funcionários, sacerdotes e governantes; uma
tural: nutre-se dele, tira dele o rigor e a perspectiva.• concentração efetiva de poder econô mico e político; o uso de sím-
bolos convencionais (a escrita) para registrar e transmitir a infiomr.l-
As Histórias do pensamento marxista cos~umam contentar: ção e igualmente de padrões conve11cionais de pesos e medidas de
se, ao falar do período entre 1920 e 1939, em dar por suposto que tempo e espaço que conduziram à ciê ncia matemática• . Deu-nos, as-
na União Soviética t1,1do ficou. a!ifixiádo pelo dogmatismo stalinista s~m. uma imagem rica e sugestiva da forma na qual produziU--5C a

-• 238 239

L
capítulo 13
. ---- :i!J o marxismo n~- ~ ~ul_o,~ . 11: de~!1v~~n~~~ e renovação
passagem da pré-história à história, a ascensão da barbárie â civiliza-
produção, poré m, não que hajam de ser um ou outro cm particular,
ção, no marco geográfico do Oriente próximo e da Europa. livros.
nem talvez tampouco predeterminados na onlcm de sucessão" • o
como ~an makes bimself (1936) e Wbat bappened tn bl$tory
que conduziu a iniciar uma série de fecundas discussõc:s, que foram
(1942) tiveram uma influência universal e contribuíram ,,ara esta!-
belecer úina determinada visão da história humana, de awrdo co~
multo mais além de livrar o marxismo do cinto de ferro dos cinco
modos d<; produção. Explicam'SC, nesse contexto.Jatos como a reto-
?.marxismo tradicional. Só que rios últimos anos da sua vida, Chil- mada do debate sobre o modo de produção asiático, aet qual já nos
de, que havia rompi<lo com a visão dogmáticã da pré~ist9ria_sovié- · referimos antcriomÍente, a proposta de ÍUJ!damcntat uma antropolo-
tica, orientou-5e na direção que estavam tomando aqueles que dese- gia marxista ou a discussão sobre o conceltó de "formação econômi-
javam a renovação do marxismo e reviu as suas concepções de pro- · co-social", com o propósito de ~cupcrar uma categoria teórica que
gresso• num ~ntido que é necessário levar em coiita para ter-uma liberasse o materiallsÍm:i histórico da sua dcpendcncia des5es mode-
imagem cabal do seu pensamento.• los abstratos que representam os modos de produção.•
Um dos futos que mais ajudou a combater o dogmatismo es- ,, Entretanto, um dos deitos mais estimulantes da publicação
colástico foi a publicação de novos textos de Marx, e cm especial a i.,t dos·Grundrlsse foi o de colocar os marxistas ante um pensal!'ento
dos seus
rascunhos dos anos de 1857-58 · Linhas fundamentais da .,;~; em pleno fazer-se:, não cristalizado, com dúvidas e contradições,
onde os termos são empregados cm cenas ocasiões c~m impreci-
critica da economia polfttca ou Grundrlsse ·, que·aparcccram 'pela ,.,:••.
primeira vez cm Moscou em 1939-40, porém, permaneceram prati- são. O que se tinha q>nvcrtido numa revelação indiscutível, voltava
camente ignorados até a edição berlinense de 195 3 . Fôi sobretudo a a ser agora, como quis Marx, num método para investigar o passado
publicação, em 1964, do fragmento dedicado às f<;>rmações econô~i- ·•:' ...,. , e o presente, onde nada estava resolvido de antemão pela mera ope-
ração da t~oria, e nenhum resultado era definitivo. Os efeitos dessa
cas pré-capitalistas, com uma aguda e provocativa introdução de Eric
Hobsbawm . que chegava a afirmar que ~a teoria.do materialismo his- ... libert:tção do dogma estenderam-se também à investigação que se
realizava naqueles pa,íses que tinham o marxismo como ideologia
tórico requer unicamente a existência de uina sucessão de modos de .
1 oficial do F.<itado, como 1)9de ver-se: no caso de alguns historiadores
;~,':'j soviitié:os, ou na fórma em que, por exemplo, se produzia a investi-
.': . . gação em torno das revoluções burguesas na República Dcmocráti-
•'·
.~ ~.~ : .- -1.. • Criticando a_afirmação ~k Barradough , de que a b~IIÍa do progi:csso ha-
via estourado, Chifde dirá: "Porém :r bolha qu,: estourov é me~ntc-ulna ~ ca-Akmã. 1º
concepção supcrfkial do progresso, subjetiva e apriori,stka. É·o':progtcS' ·. Desde 1945, os grandes avanços metodológicos no terreno
so• visto como uma simples aproximação linear de um objetivo prcconcc•
bido e prçdeterminado, a um "bem" que constitui uma norma absoluta, à da história marxista surgem cm torno dos debates coletivos sobre
luz da qual dçvcm julgar-5C os acontcclmentos históricos. Hegel e Bury, temas fundamentais, muito mais que como conseqüência da elabo-
Wclls e algWlS marxistas usaram a · história para documentar uma firme ração abstrata de alguns princípios:são um resultado da investiga-
aproximação a tal objetivo prccOf)CCbido. Esse objetivo mo5trava-5C-lhcs, ção histórica concreta e não da especulação filosófica. O mais im-
0

se não à vista, p clo menos a um fácil alcance da sua imaginação • a monar-


!)Ortante desses debates é;seguramente, o que se refere ao trânsito
quia constitucional, a démocracia plutocritica, o estado de bem-estar, o sta-
linisnlo. O próprio Marx escapou a esse prejuízo, não wito por ter deixa- do feudalismo ao capitalismo, recolocado, cm 1946, por Mauricc
do muito al;>strato e atenuado o conteúdo do "comunismo", como por ter Dobb, nos seus F.studos soml! o desenvolvimento do capttallsmo.
afirmado pmdcntcmcnte que a _sua consecução marcaria o fuu, ·não da ·Dobb justificava a sua•incursão nesse terreno pela sua crença de
história, mas sim "do estágio pré-histórico da sociedade humana". Foram
que a "análJse e~onômica só tem sentido, e só pode render frutos,
concepções dessa índole as que estouraram cm 1946 e 1956, e com elas
deveria dcstcrrar-5C a idéia mesma da história como um processo predeter- se vai unida a um estudo do desenvolvimento histórico": era neces-
minado que conduz inevitavelmente a Ull\ fim j:í fümdo. A tarefa .cio histo- sário estudar as origens do capitalismo para compreender melhor a
riador não consiste em imaginar um valor absoluto e chamar "progresso• à sua natureza real e poder atuar sobrc ele. Combatia a interpreação
aproximação ao IJIC5ffl0, mas sim, melhor, cm descobrir na história valores habitual que via o feudalismo como um si~tcma de ecvnomia óatu-
aos que o processo está se aproximando" ("Thc P:lsl, the Prcscnt and thc
Futurc", ln Past and present, nº 10, novembro de 1956, p. 4). ral, fechado e estável, que se trincavacomo cooscqücnda do CJ'C$-

- 240
241
capítulo 13 ~ m~•".".' "º "''.'~-"": ''. _00,"vol~~lo'.'..re~ \
cimento do comércio e da ascensão paralela da burguesia. Rechaça- deve ser vista como o cenário da luta entre duas formações sociais
va algumas definições <lc feudalismo e capitalismo baseadas na es- puras, feudalismo e capitalismo, mas sim com<;> uina etapa com ca-
fera da circulação - economia natural contra economia monetária -, racterísticas próprias, no curso da qual, ao mesmo t~po em que o
para propor outras, baseadas nas relações de produção, que contra- capitalismo ,,rcsce no •sei,o d? velha socieda<Jc, produze~ uns
. {}
punha um sistema caracterizado por um campesinato dependente • ·, t conflitos sociais que áÍiment,un a formação de àlgurrui$ consciên-
1 ' -~:
· a outro com predomínio do trabalho assalariado. Passava-se, assim, cias de tlasse e preparnm o -tcrrenó pata o· triunfo _d a n o v a ~
'i
·". ' de. "A revolução burguesa e o grau de màturidltde de classe próprio
de uma concepção fundada no crescimento das forças produtivas
para outra, que col9Cava o acento na luta de classes e considerava ºi:~
dela não surgem do nada: vêm-seprep;uando durante séculos"." ·
a
que o motor fundamental tinha sido pugna dos· campones~s con- O debate estendeu,sc também à crise do século XJY, ãs con-
tra a exploração feudal, que havia tomado inviável o sistema. Q es- seqüências dela (transformação _do feu~mo no Ocidente euro-
túnulo proporcionado por essas -idéias - e pela interessante discus- peu, refcudaJização do Leste) e à expansão de fins ·do século XV e
são entre Dobb e Sweezy, com intervenção de _Hilton,Takahashi etc . começos do século XVI. A historiografia acadêmica · Postan, Lé Roy
- abriu novos cariJpos de investigação. Em 1954, Eric Hobsbawm Ladurie etc. - utilizava explicações malthusianas triviais- crescimen-
abordava o tema da "crise geral do século XVII". O que se tratava, na to da população;esgotamento dos recursos, peste_etc. -, ou aplicava
· verdade, era de se averiguar o seguinte: "Por que a expansão de fins receitas do manual neo-clássico de economia - j\fisklmin,Abcl -, es-
do século XV e do século XVI não conduziu dire tamente à época da peculando com a evolução dos preços e os movimentos da procu-
revolução industrial dos séculos XVIII e XCX? Quais foram , em ou- ra e da oferta. O mesmo esquema, por conta da demanda crescente
tras palavras, o~ obstáculos no_caminho da expansão capitalista?" A da Europa ocidental, ·pretendia explicar a refeudallzaçio do Leste
sua resposta era que tais obstáculos haviam surgido da flexão da de- como uma simples conseqüência de uma maior comercialização do
manda, causada, por sua vez, por resistências no marco da socieda- trigo exportado pelo Báltico. Os que primeiro se opuseram a esses
de feudal Só que, ao favorecer a concentração do poder econônii- , esquemas de um economicismo vulgar foram seguramente os histo-
co, a própria crise ajudou a criar as condiçôes que liquidariam o feu- .~ riadores checos - Çraus, Kalivoda, Macek -, a quem a complexa
dalismo em alguns lugares, através do processo de uma revolução experiência da revolução hussita ensinou a colocar a questão em
burguesa. O tema foi amplamente debatido e ·1evou a um acordo termos de "primeira crise_do feudalismo" . Porém os seus trabalhos
q ~ unânime sobre a existência dessa crise geral da economia eu- não foram divulgados suficientemente, e o tópicQ malthusiano con-
\ 'i i ! 1
ropéia do seiscentos - que algumas elucubrações recentes quiseram tinua em .plena vigência. Em 1976, Guy Bois limita-se a ·modificá-lo
estender a um âmbito mundial; o que lhe tiraria todo o sentido "so- - dando um papel predominante à produtividade - no lugar do volu-
cial;, e obrigaria a relacioná-la com-fatores climáticos - e da sua trans- ' me de produção - e pretende "socializar" o esquema, introd~ a
cendência para explicar _a lentidão com que o capitalismo nasceu "taxa de desvio" do produto. camponês por parte da c'3sse feudal.
no seio de um feudalismo em decomposição;11 ! ,. Numa fase de expansão aumenta a população, também o produto,
Em 1965, entretanto, a historiadora russa A. D. Lublinskaya ·:; l abaixa a produtividade, aumenta o volume de desvio, porém abaixa
submetià a uma severa critica o conjunto de evidências em que se .:, '
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a sua tftxa; quando a produtividade chega a um ponto tão baixo que
apoiava a hipótçse da crise geral -·crítica a Qlie se somaria, de ma- ... não _permite a reprodução súnples, inicia-se uma rase de contr:lção
neira _m arcante e com menos matizes, a ·do dínamarquês Niels e o sentido de todos esses índices se invcne. Mais interessante é um
Steensgaard . e, sobretudo, a concepção mesma de que tivessem
sido alguns "obstáculos" o que havia impedido uma ·eclosão mais
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artigo de Roben Brenner, publicac!Q no mesmo ano, sobre a estrutu-
ra da classe agrária e o desenvolvimento econômico na Europa pré-
cedo do capitalismo desenvolvido. O que havia que fazer era estu: industrial, onde se propôc uma rcinterprctaçlio de todo o ~ .
dar a sociedade do absolutismo, tratar de compreender a natureza incluindo as duas crises dos sécuios XIV e XVII, a rckudalização da
das relações de classe que se estabelecem nela e as regras econômi- Europa oriental e os distintos ritmos de avanço ao ~ cm
cas peculiares do seu funcionamento. A era do absolutismo não diversos países (França e Inglaterra), situando num lupr ccntr.11 a

.. 242
243 .
capítulo -13 ·O marxismo 110 século X.X. li: desenvolvimento e renovação

cscrutur.:t de classes e filtrando através dela os fatores "objetivos" "nova C;S<JUerda", novas correntes de •historiografia macx..ista. Uma
(demográficos, comerciais etc.).Têm sido muitas as criticas dirigidas delas, o populismo socialista do grupo que publica a revista Hlstory
a Bcenner, e não poucas são plenamente justificáveis, porém nãq há ·Workshop, tende a uma desmittticação do trabalho acadêmico e à
dúvida de que o seu enfoque conduz mais alér-: que o do circulacio- busca de uma nova aproximação do movimento operário de um pú-
nismo vulgar de Gúnder Frank_eWallcr$tein,com a sua supercstlma- blico popular. Outra, sobre a qual a figura de Raymond Williams tem
ção do papel do comércio exterior, em _épocas em que só uma pe- exercido.uma poderosa influência, tem como nome mais destacado
quena fração do ·produto das economias in1plicadas corria por seu o de E.P. Thompson, que, com o seu 7be maklng of tbe englisb
leito. Porque, como disse Marx, "a verdadeira ciência ~ -ecoRoinJa worklng class (196-3), converter-se-ia num modelo, ao mesmo
política começa ali onde o estudo teórico se desloca do processo tempo !JUrn elemento desencadeador de mudanças para os jovens
de circulação ao processo de produção". Tem sido uma lástima que historiadores progressistas do mundo inteiro."
os historiadc:>res que participaram desses debates não tenh~ reco- Sem entrar aqui nos muitos traços renovadores que podem
lhido as sugestões que, a partir de uma perspectiva nco-ricardiana, éncontrar-se na obra de Thompson - seu esforço por recolocar a no-
fez E.}. Nell,em 1967, não só pelo que pudesse ter"de útil a sua pro- ção de classe como u~1a relação ou o seu interesse pelos mecanis-
posta de um modelo interpretativo das relações entre campo e ·ci- mos de formação de uma consciência coletiva, em que se rctlçte a
dade no processo da crise.do feudalismo; como também por suas influência de Gramsci, transmitida em parte por Raymond Williams
valiosas propostas metodolpgicas que poderiam ter evitado a reite- - há que se assinalar, sob_c etudo, a recusa de um macx..ismo entendi-
ração de explicações lineares triviais de causa-efeito.u do como "um corpo auto-suficiente de doutrina completa, interna-
A Grã-Bretanha teve, depois <!a segunda guerra mundial, uma : ~· / mente consisten.te e plenamente realizado num conjunto de textos
valiosa h..istociografia marxista, na qual se há de apontar, além do escritos", onde a citação acaba _substituindo a análise da realidade.
nome já citado de Gordon Childe, os de·Christopher HiU, Rodney Miséria da teoria leva mais adiante ainda essa colocação. O
Hilton ou Eric J. Hobsbawm. Em todos eles coincide o caráter aber- ponto de partkL, e o fio condutor do livro é uma critica minuciosa
to da sua obra, um certo desinteresse pelo econômico - Hobsbawm .·'i; i . e devastadora de Althusser e de algumas formas de "estruturalismo
dirá que "o interesse dos historiadores marxistas está mais na rela- •J'.._;

1 - marxista" aparcntadás com ele, que se faz extensiva ao idealismo


ção entre base e superestrutura que nas leis econômicas do desen- } ; anti<omuni!ita de Popper e ao dogmatismo stalinista. Porém
volvimento ~ base" - e uma preocupação pelo rigor científico, agu-
'*t·'-,:·_ Thompson não se lim..ita à critica, já que o seu propósito ao desmon-
dizada ·pela coação de que foram objeto desde os anos ·d a guerra fria
- quando, na palavras do próprio Hobsbawrn, tinham a sensação de -._.~-1 :~>-
_. ). ;1· ..
tar essa versão adulterada do marxismo é o ~e propor uma recons-
trução muito distinta.A operação inicia-se com o estudo de alguns
que "estão te vigiando e procuram te surpreender" •, que acabaria problemas fundamentais, co·mo o da lógica da história, qu(: o leva a
transformando-se posteriormente em aberta perseguição.• A ~cise .·\,trAi.~ defender uma concepção segun~o ~ quaJ: "O discurso da demons-
política de 1956, entretanto, engendrou, ao mesmo lempo·que uma _.·( 1f:~·
, ""~
:\/·> .: '
tração da d!sciplina histórica consiste num diálogo entre o cottcei-
. to e o dado empírico, diálogo conduzido por hipóteses sucessivas
f--:·um ; di;~~al da revisia History.Worksbop ('EI ataque", nº.4,outono 1977, , • • t

pp. 14) dava notícias da campanha desencadeada cm p_rincípló por uma


instituição dirigida por Brian Crozicr (biógrafo de franco e acusado cm
t ·-c; ~ ; ; ;npo à "boa causa·, acusando-o do crime de haver introduzido
mais de: uma ocasião de ser um ass:ilariado da CIA nort<Xlmc:ricana) có ntra ,
os intelectuais "marxistas radicaisº e o seu>tiabalho no ensino superior. O "propósitos morais e sociais" na História. Tudo isso rcvda a falta de altecna-
ataque foi aclamado pela in1prensa "respeitável" e: secundado por insigncs tivas de um sistema que Já não dispõe nem sequer de Tawneys que possam
mediocridades acadêmicas, como Hcxtcr, com violentas invectivas contra oferecer ~aídas respeitáveis e tem de recorrer ao triste espetáculo das 'll'e·
historiadores como Christopher Hill ou Rodncy Hilton, a quem se acusava lhas 'll'eslats que acusam de politização aos que não com~..,.,_ _ _. __
·d ' las li ' ,-,= ... ,.....,,sua~
de ºu-a.ir" a di/l'11dadc do olkio, ao tomar explícitas algumas idéias políticas 1 e
h po• t1cas, como se os seus pres••n;,..,
~~
maJ adq··'-'-'-· -
uuJUU>.ca1cos~p-
contrárias às da ordem cstabckdda. Elton cl1c:gou a desenterrar o cadáver n_ os, nao ~pendessem da sua cega fidelidade a um sistema que 05 man-
intelectual de Taw ncy, sem respeito pelos serviços que este havia prcsiado tcm co~10 cacs de guarda. que se a p = a ladrar quando c~m chci.r.tr
um pengo. ·

~ 244
245
'
,, - -- -
capítulo 13

por um lado, e investigação empírica;por outro" .Ao mesino tempo,


~:\~\,
iif..
~
"-i:I
o marxismo 110 século XX. li: clcsenvolvime nto e renovação

número dos homens, da demografia; prossegue com o da produção


de bens, considerada como resultado de alguns fatores e, por sua
Thompson examina o desenvolvimento do pensamento de Marx, .•j.., i vez, como causa de bcin-estar individual ou de de~nvolvimento co-
para mostrar-nos ql.e acabou preso na penosa tarefa de fom\Ular a.
letivo. O terceiro plano colocado cm jogo é o do movimento das
critica da economh .,olítica do c;lpitalismo - de escrever O capital
rendas (salário, ganho el]lpresarial, juros, renda da terra etc.), averi-
e os Grundrlsse - e se viu obrigado a deixar descartado o projeto ·-rJ guando o papel que a estrutura social e institucional desempenha
mais ambicioso de consti:yir o materialis~o histórico, cuja finalida- ' +•~ ·
I!
de não é a de dar conta do funcionamento de uma economía, mas
sim de uma sociedade- inteira. E uma sociedade
¾:_\:
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na sua distribuição e os eféitos que os movimentos das ren~ e as
suas disparidades têm "sobre a própria economia e sobre o movi-

~~ i
mento social". O guarto plano apresenta o balanço dos intercâm-
compreende muitas atividades e relações ( de poder, de consciên- · bios, com uma concepção que "ultrapassa em muito à do ·comér-
cia, sexuais, culturais, nom1atlvas) que não concernem à eco~mia .. ~
' ·'- cio", para incluir capitais e rendas, migrações de força de trabalho e
política e para as quais esta não tem nem sequer o léxico necessá-
- ..1 técnicos etc. O quinto e último estrato, "equilíbrio social e poderio
rio para a sua análise. Po1· conseguinte, a- economia política não
pode mostrar o capitalismo como "o cãpital na totalidade das suas
·! -1
·! 1
político", propõe a análise dos movimentos e tensões que surgem
relações"; não tem r:iem sequer a linguagem e os termos para fa~- das contradições originadas pelo próprio crescimento econômico,
lo. Só um materialismo histórico que pudesse pôr to<L'ls as ativi-
'1 1
sejam conflitos de interesses de pequenos grupos ou fenômenos de
1
dades e relações dentro de uma visão coerente poderia fazê-lo. maior amplitude, de luta de classes, e examina, em último lugar, a
1
unid.ide e o poderio dos grupos nacionais.
Um materialismo histórico que não só deve servir p.ira uma :·.1 Nessa primeira formul;tção, os componentes estão já clara-
1
melhor investigação do passado, como també111 para assentar as ba- . ! •. mente estabelecidos, porém, a forma na qual devem reunir-se resul-
1
ses de um novo socialismo." ta ainda imprecisa.Vilar insistiria em que essa "história total" não de-
Por caminhos distintos, Pierre Vilar formulou também essa 1 •
veria confundir-se "com uma literatura vaga que trataria de fata"r de
exigência de uma História marxista que fosse uma visão global <la .... '1 · tudo a propósito de tudo", e nos diria que falta ainda elaborar "o mo-
1
sociedade, tendo a economia como peça fundamental - diferente- 1 delo IJistórico eficiente, que não só leva em conta o econômico,
mente_do esquecimento em que costumam deixá-la os marxistas . . .. t ' como também o psico-social, as seqüelas do passado, as reações do
britânicos -,porém de Qtodo algum como·única: "A reflexão sobre a ,~: presente e a criação de homens novos a partir de realidades novas".
,'·ti•.•' '
_ Wstória permite distinguir o núcleo, que reside na economia. A ela- Ao fim, entretanto, essa reflexão desembocará. numa proposta mais
. boração teórica, porém, deve permitir•nos voltar à realidade lustóri-_ .,:_[.•
} i·. . precisa e integrada,' em relação ao qual se estabelece uma concep-
ca. E essa realidade nunca é o econômico 'puro'", A natureza das ela- .......~·t...:~ ;. ção,da investigação histórica como
borações teóricas de Vilar pode explicar-se a partir da sua própria \ •~ ..
obra de investígador. Historiador da economia, dedicado a analisar • Valha, como exc:mplo da vis.'ío global <la histó ria que propõe Vilar. esta defi-
o surgim~nto do capitali~mo na catalunha, iniciou a sua tarefa com nição Sl~: •o objeto da ciência históri~ ~ a d/11,bnlcn das sodtdadrs bum,-1-
uma ótica que descartava a tentação do economicismo, já que•o seu
objetivo era·o de averiguar os fundamentos que tinham permitido
-<·:\(, • 1
,., 1 •., . .
11t1S. A niatérla blstórlca a constituem os ttpos d~ fatos que: é necessário es-
tudar p.U-A dominar cientificamente esse objeto. OassiflqltetnlHOS rapidamen-
te: 1) Os fatos de 111asS<1s: massa dos ,,;,mms (demografia). massa dos bens
que surgisse uma consciência nacional. Isso pode -ajudar-nos a en- (economia). massa dos pensamentos e das rnmça.s (ímômenos de •mmcw-
d.'ldes", lentos e pesado5; fenômenos de •opin6o·, mais fupz.cs). 2) Os fotos
_tender como a sua obra viu-se livre do garro!eamento dogmático e
lnstltudonnls, m,'lis supcrficbis. pón:m mais rigidos,que tc:ndcm afixar as ~ -
tenha podido formular um programa globàlizador para a investiga- lações humanas dc:ntro dos marcos existentes: ~ito civil, constiruiçôa po-
ção histórica. Os seus primeiros delineamentos foram expostos, cm lítlos. tratados internacionais etc.; fatos lmporuntes porém tüo eternos. sub-
1960, no "Crescimento econômico e análise histórica" , onde definia metidos ao dcst;;istc e ao auquc das contr.ldiçôc:s socbis Internas. ~) Os acun-
ted111e1úos: aparição e desaparecimento dt personalidades. de g,upos (cro-
um programa para uma história total, centrado em torrio do estudo nômi(.-os, políticos). que tom.~m medidas, decisões, dcsenc:adeiam ai;õcs. mo-
do crescimento econômico. O programa inicia-se com o exame do

247
~46
, c:srudo dos mc:1:anismos que vinculam a dinâmica das estruturas
capítulo 13 J_
.íl
o 111arx.is1110 no séc_ulo XX. li: d1;sc11volviment.o e renovação

te, do progresso hum;mo -, qut: acaba restringindo os fundamentos


7~,
...
_' quCI" dizc:r, as modificações espontâneas dos fatos sociais de: mas-
mesmos do projeto de 'ru111ro que se pretende renovar. O último_ca-
sas . à sucessão dos acontecimentos • nos quais intervêm os indhrí·
duos e o azar, porém com 1.111a eficácia que dc:pcnde semprc,,a . pítulo deste livro será dedicado, ·preclsamcntc, à nc:cc:ssidadc de se
mais ou menos longo prazn, ia adequação enlrc c:sses impac1ps repensar nossas anáJisC?s do passado para que possamos construir so-
descontínuos e as 1endências dos fatos de: m:issas." bre elas um novo projeto socialista. 17

Assim chegamos ao término, até esta data, de um p~csso de


renovação do marxismo • ou, mais exatamente, de recuperação do
programa global do materialismo histórico, descaracterizado por ai-·
gumas deformações empobrcccdoras - e poderia parecer que alcan-
çamos, com isso, o, final lógico de uma cxposÍção sobre ; teoria da
; j}'.Yf·Jl-
história, que partiu das origens e chega até os nossos dias. E.-.se seria
o final previsível para um livro de história da História acomodado ao
modelo habitual de exposição, que se ajusta~ pautas do suposto de- ;;_,:,-.
senvolvimento linear _e progresslvo da humanidade:. Ocorre, porém,
que:: este livro não foi escrito para expor um progresso, mas sim para
ajudar a desentranhar uma crise - a de um modelo de crescimento
marxista - da que se costuma falar hoje cm t<1rmos de ~enúncia do
industrialismo ·socialista, e de fracasso dos sistemas políticos estabe- -1
leci.dos na União Sovié1ica e nos países do Leste europeu, e que tem ·'·1
levado a procurar as respostas nos tex10s de Marx, tratando de en-
•,i
contrar neles os fundamentos de uma nova teoria das necessidades .>; / .. .
humanas, com algumas proposições que costumam estar lastreadas '
por uma inadequada compreensão da história" - e, consequcntc:men-

vimcnlOS de opirtião, que: oc-"5ionam "btÓs pcedsos": modif~s dos govcr-


n<lll, a diplomacia, mudanças pacíficas ou violentas, p,:o(undas ou superficiais.
A lústória não pode: ser um simples 1-efáóulo das instirulçõcs, nem llm sim-
ples relato dos acontccimc:mos, porém não pode desinteressar-se~ átos
que: vinc.·ul:µn ~ vida <.'Olidian:& dos lwmc:ns à dirwni<..a <las soc.icda<lcs de que
fomwn partc".A esses álOS cotrcspondcm alt,"Umas témicas e csw "só adqui-
rem sentido dentro do marco ele wru teorlt1 gtobar (Pic.m: V dar, IHlcúlCfón "'
vocobuk,rlo dei anállsts htstórlw, Critica, Barcelona, 1980, pp. 4}44).
• Em Harich,por exemplo, não é difkil pc.r cehci a incocrénci:i de algumas po-
si(,,õcs históricas que vão dc:sdc ecos dos p ion:s mcc.. anidsmos n:formislas -
os condicionamentos ma1crtiis ecológicos e econômicos que empurram para
a América do Nom: os Eslados da CEE e o Japão c:m dirc:çiio a soluções <.-omu-
nistas' (p. 163) - a mostras de ídc-.dismos tão dcsconcc:rtantc:s como: •o senti-
do da história mwidw, caso tc:ruu algum, consiste na rc:alização progrcssiv.1
do princípio da igualdade: de: todos os homens• (p. 193). (Citações de: W. Ha--
rich, Comu11/s11w sem cresclmerllo?, Matcrialcs, &reclona, 1978). C,usta com-
preender como se: prc:tcndc cstabdccc:r prc:visõt:s de: futuro sob,.;, a b:isc: dc:
uma vi.são do passado r.io carcn1e de rigor.

2~
249

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