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Técnicas de BD Lição 4
Os Materiais
Como vê a audácia do criador não tem limites, mas será melhor, por enquanto,
não correr muito, o caminho é acidentado. Especialize-se numa técnica e tente
aperfeiçoar até ao limite.
Ao contrario do que se possa pensar o pincel não só serve para pintar mas, em
BD e ilustração ele se utiliza, também, para desenhar. Com o pincel
conseguem-se linhas finas ou grossas e até ambas ao mesmo tempo sem
levantar a ponta da superfície do papel; conseguem-se amplas zonas negras e,
com pouca tinta, quase seco, manchas cinzentas.
Além da tinta da china como principal meio para a banda desenhada, existe
outro material do qual não nos podemos esquecer: o guache branco.
A banda desenhada, tal como possa parecer, não é só negro sobre branco, ela
é também branco sobre negro. Efectivamente se quiser-mos pintar um céu
estrelado ou uma mancha negra com pequenos brilhos brancos torna-se-nos
quase impossível reservar esses brancos na altura em que se pintou o negro.
O mais aconselhável seria, portanto, pintar o negro do fundo e, em seguida,
proceder ao desenho dos brancos com o guache.
Observe a figura 52. Nesse céu estrelado seria impossível reservar os brancos
das estrelas na altura em que se pintou a vinheta de negro. Procedi então à
sua realização sobre a cor escura do fundo salpicando com a escova de dentes
a tinta branca.
Ainda na figura 52 veja essa nave espacial: ela foi desenhada em papel à
parte, recortada e colada sobre a ilustração já então terminada, poupando-me
assim trabalho na altura em que pintei a vinheta de negro.
Para poder pintar esse céu mais à vontade sem a preocupação de não passar
dos limites da vinheta pintei então sobre um outro papel uma mancha escura,
maior que as medidas, cortando-a depois pelas medidas desejadas e colando-
a em seguida sobre a prancha onde teria de ficar. O resultado é esse.
O Guache Branco serve também, por ser uma tinta opaca, para tapar alguma
parte do desenho que nos tenha saído mal. Se essa zona for demasiado
grande o mais aconselhável seria então cortar um bocado de papel branco e
cola-lo sobre a zona que pretendemos eliminar.
As Tramas
Veja para o efeito como os realizaram Enki Bilal, Jean Giraud, Serpieri,
Palacios, entre outros, verdadeiros mestres na técnica da BD.
Tramado Mecânico
Os tramas mecânicos hoje em dia estão em declínio e pode até dizer-se que a
sua vida foi ou será muito breve. As Tramas mecânicas são vendidas no
mercado em folhas auto-adesivas chamadas de Graftint e a sua apresentação
é como poderemos ver na figura 57.
Tramado Directo
Este será de todos o sistema mais trabalhoso e, por sua vez, o mais caro no
que respeita à impressão. A sua técnica requer um grande profissionalismo e a
sua apresentação pode assemelhar-se a uma fotografia a branco e negro.
Jesus Blasco, um dos melhores ilustradores espanhóis, entre muitos outros,
conseguiu isso; Hugo Pratt também a utilizou, e nós, por quanto nos compete,
iremos ver como se procede para a sua realização.
O tramado Directo não é mais que o que conhecemos por AGUADA e é
fabricado por nós juntando água destilada ou fervida à tinta da china. Quanto
mais água, mais clara é a cor e por sua vez mais deixa transparecer o branco
do papel.
Na aguada, tal como na aguarela, começa-se por pintar as cores mais claras,
as quase brancas do desenho, aumentando progressivamente de intensidade,
ao fim, aplica-se então o negro intenso onde o desenho o requeira assim como
alguns toques de guache branco puro para os brilhos. Para um desenho a
tramado directo o papel onde se irá trabalhar necessita de um tratamento
prévio; caso contrário ficaria ondulado pelo efeito da água e é isso que iremos
aprender de seguida.
Note que se começar por pintar as ilustrações sem o tratamento prévio do
papel as vinhetas ficarão onduladas persistindo essa ondulação, o que faria
com que todo o trabalho de desenho e pintura fosse por água abaixo, o que
seria uma pena. É, pois, imprescindível o tratamento do papel para uma pintura
a aguada.
Molha-se toda a superfície do papel com uma esponja com bastante água. O
papel ficará então ondulado já que as suas fibras se dilatam com o efeito da
água, mas não se preocupe, é normal.
O papel está de novo seco, repare que voltou a ficar liso e isso porque foi
molhado em toda a sua superfície ao mesmo tempo.
Agora já pode desenhar. Faça-o com lápis macio para não deixar sulcos
profundos no papel e proceda depois ao sombreado do desenho, também a
lápis.
E já pode começar a pintar. Comece por pintar toda a ilustração com o tom
mais claro e vá subindo gradualmente com os tons mais escuros estudados
anteriormente quando sombreou a lápis. Por último aplique o negro puro e
alguns toques de brancos com o guache.
Notará que a vinheta ficou ondulada pelo efeito da humidade, mas essa
ondulação desaparece logo que o papel seque, isso porque foi tratado
previamente.
A História a Lápis
Uma história desenhada a grafite não pode ser impressa em qualquer tipo de
papel pois o seu resultado seria desastroso. Temos pois de saber se o papel
da revista onde iremos publicar a história é ou não o ideal para a reprodução a
lápis. O material de que necessitamos são os lápis de grafite HB, B e 2B,
dois esfuminhos números 4 e 6 e fixador em spray, além de borracha, réguas e
esquadros.
Da minha parte no que respeita aos materiais e técnicas para uma BD a branco
e negro será tudo mas para si não porque você vai agora ter de passar algum
tempo a praticar o que aqui foi dito e de se familiarizar com os materiais; depois
escolha o que mais lhe convenha, especialize-se trabalhando até à exaustão.
Isto é como um casamento, há que conhecer a noiva, só depois se assume, ou
não, uma vida a dois. Os grandes profissionais que conhecemos dominam bem
uma ou duas técnicas mas não todas, ser BOM em tudo é difícil e requer
muitos, muitos anos de prática.
Guião
Lição 4
Os Textos
Textos Narrativos
Os textos narrativos servem para reforçar as imagens naquilo que nelas não se
possa ver. Servem também para contar, no inicio de uma história, aquilo que se
passou anteriormente e no que irá ficar baseada toda a narração futura; serve,
além disso, também para tapar os cortes existentes entre sequências sendo
para isso os mais utilizados os textos narrativos de tempo e lugar.
Texto de Introdução
Texto de Reforço
Pois há casos em que um tempo longo tem de ser contado em menos vinhetas
como, por exemplo, a longa caminhada de uma personagem através de um
deserto. Não seria correcto representar essa caminhada ao longo de uma
página pois resultaria cansativo. Então, aqui teremos de recorrer aos textos
narrativos de reforço poupando, assim, imagens.
Tempo e Lugar
Quem não viu já alguma vez ao desfolhar um álbum de BD aqueles textos que
dizem:
- Na manhã seguinte.
Estes são textos de tempo e lugar e sem eles aconteceria que o leitor a um
dado momento perderia o fio à meada sem conseguir acompanhar os saltos na
narração. Estes textos ligam perfeitamente duas sequências que
aparentemente nada tinham a ver uma com a outra.
Protagonista Narrador
Acabámos de ver os textos narrativos. Recorde que não deve abusar deles
pois as imagens devem falar por si sós. Aplique-os, portanto, somente onde o
desenho não consiga transmitir o desejado ou para contar algo que não se
possa ver na vinheta, à excepção do protagonista narrador ou Flash-Back.
Os Diálogos
Eles são diálogos que representam a voz de uma personagem vinda de fora do
quadro da vinheta; portanto, que não está presente na ilustração. Este texto é
excelente para ligar duas sequências assim como para criar suspense. São
textos em Off também aqueles que vêm do interior de uma casa, por exemplo,
e cujos locutores não estão presentes, fisicamente, na vinheta, onde somente
se ouve a sua voz.
Os Pensamentos
As Onomatopeias
Quero deixar presente que as onomatopeias variam de país para país e temos
como exemplo uma gargalhada que em português se representa: Ah! Ah! Ah!
Em espanhol seria Ja! Ja! Ja!
Existem para o efeito 3 tipos de textos de enlace, que são: Textos narrativos,
diálogos e onomatopeias de enlace. Vejamo-los.
Narração de Enlace
Pode dizer-se que quase todos os textos narrativos são textos de enlace pois a
sua função é a de explicar por palavras as acções que não se vejam nas
sequências.
Vejamos um exemplo na figura 64.
Como poderá ver na terceira vinheta esse texto narrativo enlaça esta acção
com a anterior onde uma personagem morre nos braços de Pedro Seringueiro.
Sem esse texto narrativo de enlace, essas acções dificilmente estariam ligadas,
é como se fossem histórias independentes.
Diálogos de Enlace
Os diálogos de enlace também são muito úteis para enlaçar certas sequências
causando também uma certa dose de suspense. Uma vinheta onde apareça
um primeiro plano de uma personagem que grita CUIDADO!! Enlaça
perfeitamente com uma próxima vinheta ou sequência que represente uma
avalancha de neve.
Onomatopeias de Enlace
Em relação a este ponto creio que pouco mais há a dizer. A figura 66 mostra-
nos bem como duas vinhetas ou acções podem ser enlaçadas através das
onomatopeias de enlace.
A BD é uma arte, uma bonita arte que pouco a pouco nos vamos dando conta
que sem algumas regras seria impossível fazer uma boa obra.