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Resenha:

LAJOLO, Marisa & ZILBERMAN, Regina. Das tábuas da lei à tela do computador: a leitura
em seus discursos. São Paulo: Editora Ática, 2009. 176 p.

Itinerário da leitura
Michelle Mittelstedt Devides*

decorrentes da oralidade, como os


repentes nordestinos e simples
conversas e trocas de mensagem no
MSN ou no Orkut.
Composta por dez capítulos reúne
importantes reflexões sobre incursões
possíveis da leitura, na oralidade, na
escrita, na escola, enfim, inerente à
linguagem. O prefácio escrito por
Carlos Vogt (Quem conta a ata a leitura
desata) compara Lajolo e Zilberman a
uma das personagens de Cortazar, como
perseguidoras da essência evanescente;
Diante de perseguem a leitura e o autor-leitor.
inúmeras publicações que estão Manifesta aqui o interesse e o trabalho
disponíveis sobre o tema Leitura, uma árduo das autoras em busca de traçar
das mais recentes e significativas é a novos caminhos, estabelecer discussões
obra escrita por Marisa Lajolo e Regina e reflexões que possam nortear e
Zilberman1 – Das tábuas da lei à tela aprofundar estudos sobre o tema.
do computador. As escritoras possuem O primeiro capítulo intitulado “A
um arcabouço teórico imenso devido arqueologia da leitura” propõe uma
aos estudos realizados durante muitos reflexão mais teórica retomando alguns
anos sobre leitura, o que contribui para aspectos importantes sobre a
a publicação de uma obra singular. “arqueologia do saber”, baseando-se em
A obra inédita, publicada neste em M. Foucault. Tais aspectos destacam
2009, retrata alguns caminhos possíveis que a leitura e a informação atualmente
que a leitura percorre, desde os estão em evidência, e há preocupação
primeiros relatos escritos da em relação a isso em diferentes esferas
humanidade até as práticas corriqueiras (política, educacional e acadêmica). Ao
falarem de informação, constituem a
1
ideias de troca de mensagem,
Marisa Lajolo, doutora em Letras pela comunicação e linguagem. Assim
Universidade de São Paulo, e Regina
Zilberman, doutora em Romanística pela
introduzem uma questão importante que
Universidade de Heidelberg, Alemanha, são é a pluralidade de línguas e as várias
professoras universitárias, pesquisadoras maneiras que a humanidade transmite
reconhecidas nacional e internacionalmente e informações, ou seja, a diversidade,
pioneiras nos estudos brasileiros que lidam com tanto na escrita quanto na oralidade. A
a história literária a partir de livros e leitura.

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relação estabelecida entre a escrita, páginas na internet de um jornal on-line,
oralidade e leitura torna-se evidente na por exemplo. Além disso, desde o
seguinte passagem “A modalidade oral surgimento da escrita às transformações
está disseminada entre todos os grupos que as práticas de leitura estão sujeitas
humanos, e é à imagem dela que a pela ação de diversos fatores entre eles
escrita procura construir-se e instituir- o tempo e a modificações dos suportes,
se. Na outra ponta, localiza-se a leitura, enfatiza-se que “a leitura sempre
que enquanto recepção, é igualmente dependeu do olhar de um leitor” (p.30).
audição, de todo modo de interação Neste capítulo é abordado um aspecto
entre sujeitos falantes.” (p.19) importante, de que a leitura não corre
risco com a inserção da tecnologia e o
Complementando essas ideias inicias
computador não precisa ser visto como
que serão discutidas, enfatizam que “a
um antagonista, pois o acesso à rede
leitura intromete-se nos discursos da
oralidade, recupera a vitalidade da virtual depende do domínio da leitura.
No entanto, ao mudar para um novo
escrita e concretiza o propósito da
suporte, alterações na escrita vão
linguagem verbal e das demais
ocorrer, pois esta tenta acompanhar a
linguagens, ao absorver e confirmar a
fala, como no Orkut, por exemplo, o
informação.” (p.21)
que as autoras chamam de um novo
Para as autoras, que retomam Foucault, processo de diálogo.
os discursos se impõem a todos os
É interessante apontar o que as autoras
indivíduos, “a leitura constitui um
colocam em relação a essa
discurso que se revela em textos, em
transformação “a escrita, no meio
emblemas, em problemas, em tomadas
digital, produziu seu próprio código,
de decisões, em políticas. Ela dispõe de
não transferível automaticamente para
antigas e novas tecnologias (...) Ela – a
outros contextos, e que seus usuários –
leitura – invade modos de comunicação
como poliglotas usuários de diferentes
públicos e privados (...) Manifesta-se
linguagens – sabem bem distinguir entre
em gêneros da oralidade e produtos
os diferentes gêneros de escrita,
impressos” (p.21). A leitura, portanto,
aplicando cada um deles em
possui um caráter discursivo.
conformidade com as situações
Este capítulo foi escrito de forma práticas.” (p.34)
esclarecedora e evidencia a importância
Nos capítulos 3 e 4, intitulados “A
da leitura para retomar tanto a oralidade
oralidade visita a escrita” e
quanto a escrita, articulou muito bem e
“Folheteiros, cordelistas, escritores,
de maneira mais profunda a ideia de que
repentistas”, resgatam as manifestações
a linguagem, informação e leitura
da literatura popular, na maioria oral,
necessitam uma da outra.
que alguns autores retomam em suas
Após uma reflexão mais teórica, inicia- obras, como Guimarães Rosa; assim
se o itinerário com exemplos da relação também há uma mescla nas
já estabelecida pelas autoras. O capítulo apropriações tanto de alguns autores
2 “Das entrelinhas do texto ao quanto produções de cordel e repentes.
hipertexto on-line” preocupa-se com a
Os capítulos subsequentes “Cartas de
noção do tempo, a leitura em tempo
amor são ridículas”, “Páginas
real, os fatores da transmissão e
impudicas” e “Leitora: substantivo
simultaneidade dos acontecimentos,
feminino, singular” abordam desde a
como ocorrem atualmente com as
importância da leitura da carta que se

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modificou de uma leitura coletiva, para linguagem, tanto exemplos da oralidade,
muitos, até uma leitura individual, ao como ‘a Torre de Babel’, como também
qual é atribuído uma forte marca da escrita, que é justamente a passagem
feminina; passando pela “leitura de Moisés e os mandamentos,
feminina”, seus aspectos históricos e documento fundador de religiões.
culturais até chegar a busca da
A relação que as autoras estabelecem
compreensão da identidade da leitora.
neste último capítulo é a possibilidade
Neste último capítulo citado, cabe
de transformações que a escrita e a
ressaltar que a leitura está presente na
oralidade podem sofrer, e o quanto a
construção de um novo papel social da
leitura é importante para constituir os
mulher.
sentidos de ambas. “Algo em comum
Já chegando ao final do trajeto, faltando (descontinuidades, instabilidades e
apenas três paradas, o capítulo 8 revela hermenêuticas que atravessam e
a preocupação com a leitura na escola, acompanham o discurso bíblico (...) tem
voltando-se para a formação do leitor. algo em comum com o hipertexto
Mas aponta um problema em relação ao contemporâneo.)” (p.168).
incentivo da leitura, tanto pelos
O itinerário é concluído e dá
programas nacionais como pela mídia,
possibilidades para que outros percursos
como alvo de intenções voltadas
sejam explorados, oferecendo caminhos
excessivamente ao consumo, a venda de
de reflexões e estudos, não apenas para
mais um produto. Esse capítulo recebe o
profissionais e pesquisadores das áreas
nome de “Campanhas, instituições,
de Educação ou de Letras, mas para
eventos”.
todos que têm a intenção de conhecer
Ainda referindo-se a campanhas, informações importantes sobre os
voltam-se ao suporte jornal, no capítulo modos de ler através da história,
subsequente, “A intermediação do descritos de maneira objetiva e
jornal”, no qual algumas campanhas analítica.
publicitárias podem dar certo quando os
As autoras possibilitam ao leitor uma
livros tornam-se agregadores de
inserção num grande espaço de tempo
qualidade a outros produtos ou quando
através de uma linguagem
eventos são divulgados de maneira
contemporânea, mesmo recorrendo a
festiva, mas atribuindo ao discurso
exemplos e fatos antigos para sustentar
jornalístico uma posição de aliado na
os seus apontamentos sobre as práticas
função de educar e aprimorar o gosto
de leitura, relacionando-os aos
pela leitura.
exemplos mais atuais provenientes das
Na última parada, retomando essa facilidades da informática presentes
função de educar, apresentam o último cada vez mais na vida de qualquer
capítulo, “A letra da lei no Livro dos pessoa, elementos que tornam a obra
livros”, no qual citam a Bíblia como o uma excelente noção de retomada
livro mais vendido no mundo, algumas histórica sobre as práticas de leitura.
passagens importantes do uso da

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MICHELLE MITTELSTEDT DEVIDES é Mestranda em Educação na UNESP/Rio Claro.

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