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Carla Baute
Graduanda em História
carlabaute@gmail.com
Resumo
Abstract
This paper proposes a discussion about the similarities in the theoretical approaches of
the authors Alain Guerreau and Reinhart Koselleck. It intended to establish a few
connections between the critiques and path of understanding presented by the French
historian and the contribution of the interrelation of the conceptual analysis with the
social history for the studies about the past defended by the German thinker.
Ambos os textos tiveram seu lançamento na mesma década, mas até o momento
esta investigação não conseguiu nenhum tipo de evidência de que esses autores tiveram
contato com os respectivos trabalhos aqui selecionados. Há que se notar, no entanto,
que na bibliografia de Feudalismo: um horizonte teórico de Guerreau aparece outra
obra de Koselleck, de autoria conjunta com Mommsen e Rüsen intitulada Objetividade
e parcialidade na história, lançada no ano de 1977.
1
Em tradução livre: depois disso, logo causado por isso.
Feudal. E, por último, dos séculos XIII ao XVIII, denominado como “segundo período
do feudalismo”, a anarquia local dava espaço a organizações estatais, organizações essas
que foram substituindo a igreja de maneira muito lenta e progressiva.
Um segundo ponto de coesão entre essas propostas teóricas diz respeito ao papel
da linguagem na investigação histórica. A medida que Guerreau procura, em suas
palavras: “do lado das ciências sociais ensinamentos um pouco mais abstractos que
permitissem determinar melhor o valor (ou a fraqueza) de diversos conceitos”.
(GUERREAU, 1980: 215). No decorrer do texto ainda realiza “observações lexicais”
com o recurso a dicionários de latim e de francês arcaico, bem como a estudos de
filólogos e juristas. Destaca termos como dominium e suas variações, Potestas e
variações, senioratus/senioraticus e variações, para citar somente alguns.
A primeira dessas fraturas diz respeito à noção de Ecclesia. A partir dos séculos
XVII e XVIII, um panorama intelectual iluminista aliado a profundas mudanças sociais
que se pautavam no “combate da burguesia contra o obscurantismo” (GUERREAU,
1999: 439) transformaram de maneira incisiva o modo como se entende o lugar da
Igreja e da religião na vida cotidiana. Instaurou-se a noção em que religião se igualava a
opinião, que faz desaparecer o sentido medieval de Ecclesia.
Vale a pena nos determos mais no que Guerreau entende como Ecclesia e
também no que sua proposta se difere da posição de herança iluminista. “Nenhuma
dominação foi tão geral e contínua” (GUERREAU, 1980: 245), e o sentido
contemporâneo de poder, que é entendido como um poder estatal, não consegue abarcar
as descrições do que a Igreja na Europa feudal desempenhou. Para compreender de
maneira mais clara a dominação da Igreja, o autor enumera diversos tipos de controle
exercidos por ela, são eles: 1- bens; 2- controle do tempo (exemplos: missa e sinos); 3 -
âmbitos espaciais (organização dos espaços em torno das dioceses); 4 - parentesco
(natural e artificial); 5 - ensino (aliado à confissão); 6-assistência e hospitais; 7 - poder
divino (exemplo: sagração). Sintetizando as ideias desenvolvidas no descrever dos itens
acima, pontua: “A Igreja (clero) está, assim, ancorada simultaneamente no tempo e na
eternidade, reconhecida e proclamada como detentora do saber sagrado e intermediária
necessária entre Deus e os homens” (GUERREAU, 1980: 252). A partir desses
argumentos apresenta o que seria a “tripla oposição” que está na raiz do feudalismo:
profano/sagrado, fiéis/clero e servidores/senhor.
Guerreau aponta que a primeira fratura, da Ecclesia, não deixou rastros, mas a
segunda, a fratura do Dominium causou controvérsias e debates. No século XIX, o
“evolucionismo” de Augusto Comte prosperou, e se instaurou uma noção que muito
assombra os estudiosos atuais do medievo, consiste na defesa de que o feudalismo foi
só uma “fase”. Para o autor, os medievalistas ocidentais do século XX, apesar das
críticas ao positivismo, não conseguiram escapar de sua lógica, produzindo um
empirismo sem síntese (GUERREAU, 1999: 443).
A visão de Koselleck, por sua vez, pode ser percebida em sua resposta a uma
questão a respeito do trabalho do historiador, que tem de um lado, a ênfase historicista
e, de outro, a preocupação de estruturar os conhecimentos:
o historiador atual não costuma dirigir seu olhar nessa direção, e, muitas vezes,
essas semelhanças de base, essas estruturas comuns, lhes passam
desapercebidas. O historiador comum costuma deixar de lado esses temas,
pensando que são assuntos para teólogos e sociólogos, e que ele deve dedicar-se
simplesmente a estudar os acontecimentos concretos, singulares, a partir de
fontes não menos singulares, como as que está acostumado a utilizar
(KOSELLECK, 2006 b: 138-139).
Referências Bibliográficas
_____. “The Eighteenth century as the beginning of modernity’. In: The practice of
conceptual history: timing history, spacing concepts. Trad. Todd Pressner. Stanford:
Stanford University Press, 2002.
_____. “Uma história dos conceitos: problemas teóricos e práticos”. Trad. Manuel Luis
Salgado Guimarães. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, V. 5, n. 10, p. 134-146,1992.
JASMIN, Marcelo G; FERES Jr., João (orgs.). História dos conceitos: debates e
perspectivas. Ed. Loyola, 2006.