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Alain Guerreau e a Begriffsgeschichte: um horizonte teórico?

Carla Baute

Graduanda em História

Universidade Federal de São Paulo

carlabaute@gmail.com

Resumo

Essa comunicação discutirá algumas possíveis aproximações entre ideias apresentadas


pelos autores Alain Guerreau e Reinhart Koselleck. Pretende-se estabelecer conexões
entre as críticas e caminhos propostos pelo historiador francês e a contribuição da
interligação da análise conceitual com a história social para a reflexão acerca do
passado defendida pelo pensador alemão.

Palavras chave: Feudalismo; Guerreau; Koselleck; História da Historiografia; História


dos conceitos.

Abstract

This paper proposes a discussion about the similarities in the theoretical approaches of
the authors Alain Guerreau and Reinhart Koselleck. It intended to establish a few
connections between the critiques and path of understanding presented by the French
historian and the contribution of the interrelation of the conceptual analysis with the
social history for the studies about the past defended by the German thinker.

Keywords: Feudalism; Guerreau; Koselleck; History of Historiography; Conceptual


History.

A presente comunicação pretende explorar diferentes aspectos das contribuições


do historiador francês Alain Guerreau a partir de sua contraposição à perspectiva
teórica de Reinhart Koselleck, historiador alemão e um dos maiores divulgadores da
Begriffschichte – a história dos conceitos alemã. Pretende-se, assim, realçar certos
pontos de suas obras que parecem convergir em propostas metodológicas exemplares
para uma reflexão acerca dos desdobramentos da historiografia dos últimos quarenta
anos.

Uma das obras aqui selecionadas é Feudalismo: um horizonte teórico, de


Guerreau. Publicada em 1979, ganhou notoriedade pelo seu conteúdo inovador e
também por suas críticas pontuais aos métodos que até então predominavam nos
estudos medievais. De suas investidas não escaparam nem mesmo algumas das ditas
“vacas sagradas” da historiografia, como Marc Bloch, Maurice Dobb e os marxistas
ingleses, Wallerstein, entre tantos outros. E justamente em seu caráter contestador se
encontra uma importante característica que instiga uma investigação da história da
historiografia: denuncia a inquietação de seu autor diante da nova gama de problemas
metodológicos que se revelaram em seu contexto de produção.

Na Alemanha, alguns anos antes do lançamento do livro de Guerreau, em 1972,


Koselleck publicava o artigo intitulado “História dos conceitos e história social”. Nesse
texto procurou articular e fortalecer a relação entre as duas áreas referenciadas e, ao
expor a metodologia da história conceitual, postulou como tais reflexões poderiam
contribuir para uma análise profunda e estrutural dentro do campo da história social.
(cf. KOSELLECK, 2006 a: 118).

Ambos os textos tiveram seu lançamento na mesma década, mas até o momento
esta investigação não conseguiu nenhum tipo de evidência de que esses autores tiveram
contato com os respectivos trabalhos aqui selecionados. Há que se notar, no entanto,
que na bibliografia de Feudalismo: um horizonte teórico de Guerreau aparece outra
obra de Koselleck, de autoria conjunta com Mommsen e Rüsen intitulada Objetividade
e parcialidade na história, lançada no ano de 1977.

Destarte, se faz necessária uma breve exposição de algumas noções gerais


presentes em Feudalismo: um horizonte teórico de Guerreau. Conforme mencionado, o
autor faz uma longa exposição de estudiosos que trataram do tema feudalismo, de suas
diferentes áreas, objetos e metodologias. Ao longo dos capítulos é possível perceber
como, a partir das críticas e comentários que profere, nuances de sua proposta
metodológica se fazem presentes. Todavia, é no capítulo final da obra, de título “Para
uma teoria do feudalismo” que o autor centraliza a apresentação de sua proposta, ao
afirmar a pretensão de “cabe-me propor um esquema racional do fundamento-evolução
da Europa Feudal”. (GUERREAU, 1980: 215).

Nessa passagem, expõe os quatro eixos centrais de seu esquema: a relação de


dominium, o parentesco artificial, o sistema feudal como ecossistema e, por fim, a
dominação da Igreja. Tal proposta deve ser entendida, de acordo com orientação do
próprio autor, de maneira estrutural, enfatizando-se que os quatro eixos de análise não
correspondem a nenhuma hierarquia ou proeminência de quaisquer dos itens em relação
aos outros. Sua meta, assim, é o abandono da “doce ilusão” da narrativa histórica bem
como da “aparência enganosa” da cronologia. Como se pode perceber no trecho a
seguir:

Os historiadores julgaram durante muito tempo escapar a esta dificuldade [a


problemática de se atribuir continuidade aos desenvolvimentos históricos]
refugiando-se atrás da ordem cronológica: já há, no entanto, muito tempo que
se mostrou perfeitamente a aparência enganosa de todo o “raciocínio” fundada
na relação post hoc, ergo propter hoc.1 (GUERREAU, 1980: 216).

A partir dessa assertiva, a crítica à cronologia, uma primeira aproximação com o


autor alemão pode ser feita. No prefácio da obra Futuro Passado, Koselleck, quando
trata do tempo histórico, escreve que a datação é somente um pressuposto e não uma
determinação da natureza, e de forma final “será estranho à investigação da co-
incidência entre história e tempo” (KOSELLECK, 2006 a: 13).

É interessante pontuar como, no decorrer dos quatro pontos de sua análise,


Guerreau defende como seu estudo estrutural e não hierárquico fornece subsídios para a
sua crítica máxima, a cronologia atribuída à Idade Média. Sua proposta consiste, de
maneira superficial, da seguinte datação: do século V ao XIII o poder fragmentado da
aristocracia da terra desencadeou inúmeras guerras internas e externas, o poder da igreja
se fortaleceu cada vez mais, chegando a seu apogeu no século XII. O cenário do
florescimento das cidades dos séculos XI e XII, passando à aproximação da aristocracia
com os comerciantes citadinos no decorrer do período que vai do século XIII ao XVIII,
diz respeito ao que o autor aponta como o nascimento e fortalecimento do Estado

1
Em tradução livre: depois disso, logo causado por isso.
Feudal. E, por último, dos séculos XIII ao XVIII, denominado como “segundo período
do feudalismo”, a anarquia local dava espaço a organizações estatais, organizações essas
que foram substituindo a igreja de maneira muito lenta e progressiva.

Um segundo ponto de coesão entre essas propostas teóricas diz respeito ao papel
da linguagem na investigação histórica. A medida que Guerreau procura, em suas
palavras: “do lado das ciências sociais ensinamentos um pouco mais abstractos que
permitissem determinar melhor o valor (ou a fraqueza) de diversos conceitos”.
(GUERREAU, 1980: 215). No decorrer do texto ainda realiza “observações lexicais”
com o recurso a dicionários de latim e de francês arcaico, bem como a estudos de
filólogos e juristas. Destaca termos como dominium e suas variações, Potestas e
variações, senioratus/senioraticus e variações, para citar somente alguns.

Novamente, tais opções metodológicas de Guerreau parecem encontrar eco na


definição de História dos conceitos proferida por Koselleck, conforme trecho que segue:

os conceitos são separados de seu contexto situacional e seus significados


lexicais investigados ao longo de uma sequência temporal, para serem depois
ordenados uns em relação aos outros, de modo que as análises históricas de
cada conceito isolado agregam-se a uma história do conceito. (KOSELLECK,
2006 a: 105).

Nesse sentido, vale também destacar o verbete “Feudalismo” contribuição de


Guerreau ao Dicionário Temático do Ocidente Medieval, organizado por Jacques Le
Goff e Jean-Claude Schmitt, publicado em 1999. Neste texto, de acordo com a
investigação aqui empreendida, parece haver uma retomada da teoria exposta em
Feudalismo: um horizonte teórico e, para além disso, novos rumos e proposições mais
bem definidos. O autor desenvolve o que aqui é entendido como o ponto central de seu
argumento: “a dupla fratura” ocorrida no século XVIII. Essa ideia é estruturante de toda
sua tese, pois dela derivam suas ressalvas quanto ao tratamento dado por estudiosos às
fontes da Europa Medieval.

A primeira dessas fraturas diz respeito à noção de Ecclesia. A partir dos séculos
XVII e XVIII, um panorama intelectual iluminista aliado a profundas mudanças sociais
que se pautavam no “combate da burguesia contra o obscurantismo” (GUERREAU,
1999: 439) transformaram de maneira incisiva o modo como se entende o lugar da
Igreja e da religião na vida cotidiana. Instaurou-se a noção em que religião se igualava a
opinião, que faz desaparecer o sentido medieval de Ecclesia.

Vale a pena nos determos mais no que Guerreau entende como Ecclesia e
também no que sua proposta se difere da posição de herança iluminista. “Nenhuma
dominação foi tão geral e contínua” (GUERREAU, 1980: 245), e o sentido
contemporâneo de poder, que é entendido como um poder estatal, não consegue abarcar
as descrições do que a Igreja na Europa feudal desempenhou. Para compreender de
maneira mais clara a dominação da Igreja, o autor enumera diversos tipos de controle
exercidos por ela, são eles: 1- bens; 2- controle do tempo (exemplos: missa e sinos); 3 -
âmbitos espaciais (organização dos espaços em torno das dioceses); 4 - parentesco
(natural e artificial); 5 - ensino (aliado à confissão); 6-assistência e hospitais; 7 - poder
divino (exemplo: sagração). Sintetizando as ideias desenvolvidas no descrever dos itens
acima, pontua: “A Igreja (clero) está, assim, ancorada simultaneamente no tempo e na
eternidade, reconhecida e proclamada como detentora do saber sagrado e intermediária
necessária entre Deus e os homens” (GUERREAU, 1980: 252). A partir desses
argumentos apresenta o que seria a “tripla oposição” que está na raiz do feudalismo:
profano/sagrado, fiéis/clero e servidores/senhor.

De acordo com o francês, a complexidade do modo como a Igreja conseguia


englobar todos os itens acima mencionados foi reduzida a uma chave interpretativa
simplória por pensadores ancorados na noção moderna de Estado.

A segunda fratura trata da noção de Dominium. No século XVIII, o liberalismo


alterou de maneira profunda a maneira como as lógicas sociais são compreendidas.
Fruto de seu momento histórico, todo o entendimento da sociedade partia da ideia de
privilegiar o mundo material. Um mundo material que se pautava no cenário pós-
revolução francesa, onde a noção de poder estatal, de posse jurídica e a “lógica de
mercado” colocaram barreiras nos estudos das dinâmicas da sociedade europeia no
período feudal.

Guerreau aponta que a primeira fratura, da Ecclesia, não deixou rastros, mas a
segunda, a fratura do Dominium causou controvérsias e debates. No século XIX, o
“evolucionismo” de Augusto Comte prosperou, e se instaurou uma noção que muito
assombra os estudiosos atuais do medievo, consiste na defesa de que o feudalismo foi
só uma “fase”. Para o autor, os medievalistas ocidentais do século XX, apesar das
críticas ao positivismo, não conseguiram escapar de sua lógica, produzindo um
empirismo sem síntese (GUERREAU, 1999: 443).

É interessante levar em consideração a proposta do projeto no qual o texto se


insere: um dicionário. Uma vez que a escrita de um verbete pode ser compreendida, por
si só, como um esforço de investigação conceitual. Como os organizadores da obra
escreveram no prefácio a respeito de suas intenções, e das contribuições dos autores.
Destaco: a Idade média foi no século XX o terreno privilegiado de uma renovação
metodológica que associa rigor científico e imaginação, que interroga o passado por
meio do presente, mas sem cair no anacronismo. (LE GOFF E SCHMITT, 1999: 11).

O prefácio ainda pontua, em diversos momentos, as profundas renovações pelas


quais os estudos medievais foram submetidos nos últimos anos. Desta maneira, é
possível notar que a historiografia francesa, da qual Guerreau é parte integrante,
reconhece e reflete essas mudanças.

Poucos anos antes do lançamento do Dicionário Temático do Ocidente


Medieval, somente alguns anos antes, Koselleck escreveu um artigo sobre a
metodologia da História dos conceitos alemã. Em uma explicação ancorada em cinco
pontos, apresenta, logo no primeiro deles, sua problemática central: a investigação dos
processos de teorização dos conceitos – questão que também parece ser a preocupação
central de Guerreau. De maneira ainda mais enfática, Koselleck segue sua
argumentação e a aproximação com o autor francês se torna ainda mais clara, como se
pode notar no seguinte trecho: “Todo conceito não é apenas efetivo enquanto fenômeno
linguístico; ele é também imediatamente indicativo de algo que se situa para além da
língua” (KOSELLECK, 1992: 136).

Um ensaio de Koselleck do ano de 2002, intitulado (em tradução livre) “O


século XVIII como o começo da modernidade” parece condensar os dois pontos de
convergência anteriormente mencionados: críticas à cronologia e a importância do
estudo da linguagem. Ao questionar a datação comumente aceita como o começo da
modernidade, entre o fina, do século XV e o início do XVI, afirma que é no iluminismo
do século XVIII que a modernidade tem seu início, período que pode ser identificado
como “porta-bandeira” de um novo tempo. No mesmo ensaio trata também de conceitos
cunhados na modernidade e que tratam de compreender épocas passadas, e assim como
Guerreau, reflete a respeito da atribuição de significado ao termo “feudalismo” na
segunda metade do século XIX (cf. KOSELLECK, 2002: 156-160 e 164). Conforme já
mencionado, noções de economia, política e religião, características da modernidade
são, de certa forma, tidas como critério e aplicadas a períodos longínquos como a Idade
Média, por exemplo.

Partindo para as conclusões finais, acredito que as abordagens de Guerreau e


Koselleck parecem convergir, e assim se apresentam como aspectos metodológicos
centrais dos estudos desses dois historiadores.

Na teia do mundo contemporâneo, para o que aparenta ser um emaranhado de


fenômenos com o qual a história social tem que lidar, o recurso da semântica fornece
uma valiosa chave de compreensão. Mas o que não se pode perder de vista é que os
estudos lexicais tem que partir de preocupações sociais e políticas, que buscam, por
meio da interpretação dos usos da linguagem, uma compreensão mais ampla. E desta
maneira, como o autor alemão escreve: “a história dos conceitos torna-se parte
integrante da história social”. (KOSELLECK, 2006 a: 103)

Um aspecto metodológico preponderante consiste na importância que os dois


autores dão à reflexão historiográfica em termos estruturais. É o que se nota, por
exemplo, na seguinte passagem de Guerreau acerca do estudo da estrutura da Europa
feudal:

Se pensamos que o historiador deve examinar minuciosamente cada grande


forma de sociedade ou de civilização para tentar encontrar as articulações
específicas, de maneira a explicitar seu modo de funcionamento original e poder
expor assim sua dinâmica própria, não se pode omitir uma fase de crítica radical
deste sistema de senso comum. (GUERREAU, 1999: 444).

A visão de Koselleck, por sua vez, pode ser percebida em sua resposta a uma
questão a respeito do trabalho do historiador, que tem de um lado, a ênfase historicista
e, de outro, a preocupação de estruturar os conhecimentos:
o historiador atual não costuma dirigir seu olhar nessa direção, e, muitas vezes,
essas semelhanças de base, essas estruturas comuns, lhes passam
desapercebidas. O historiador comum costuma deixar de lado esses temas,
pensando que são assuntos para teólogos e sociólogos, e que ele deve dedicar-se
simplesmente a estudar os acontecimentos concretos, singulares, a partir de
fontes não menos singulares, como as que está acostumado a utilizar
(KOSELLECK, 2006 b: 138-139).

É enfim, em uma chave de integração da História dos conceitos com a História


social, que a análise aqui apresentada compreende a teoria do feudalismo de Guerreau.
Se, por um lado temos Koselleck proferindo que a História dos conceitos “induz,
portanto, questões estruturais que a história social tem de responder” (KOSELLECK,
2006 a: 116), Guerreau, por outro, propõe uma esquematização da “feudalidade”. E não
de outra maneira poderia terminar sua obra senão concluindo: “a reflexão teórica é uma
condição absoluta da actividade científica”. (GUERREAU, 1980: 257).

Referências Bibliográficas

KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos


históricos. Trads. Wilma Patrícia Maas e Carlos Almeida Pereira. Rio de Janeiro:
Contraponto: Ed. Contraponto/ Ed. PUC-Rio, 2006.

_____. “The Eighteenth century as the beginning of modernity’. In: The practice of
conceptual history: timing history, spacing concepts. Trad. Todd Pressner. Stanford:
Stanford University Press, 2002.

_____. “Uma história dos conceitos: problemas teóricos e práticos”. Trad. Manuel Luis
Salgado Guimarães. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, V. 5, n. 10, p. 134-146,1992.

GUERREAU, Alain. Feudalismo, um horizonte teórico. Trad. Antônio José Pinto


Ribeiro. Lisboa: Ed. 70, 1980.

_____. “Feudalismo”. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jacques (orgs.) Dicionário


temático do Ocidente Medieval. Trad. Eliana Magnani. Bauru: Sagrado Coração, p. 437-
455, 2002.

JASMIN, Marcelo G; FERES Jr., João (orgs.). História dos conceitos: debates e
perspectivas. Ed. Loyola, 2006.

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