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Língua portuguesa vira campo de batalha

ideológica
Adoção de novas palavras - e exclusão de antigas - buscam
refletir mudanças na sociedade
por Emiliano Urbim

28/04/2018 4:30 / Atualizado 28/04/2018 8:43

Novas palavras para novos tempos - André Mello / Agência O Globo

RIO — Não chega a ser como no futebol, em que o Brasil tem “200 milhões de técnicos”. Mas, de
uns tempos para cá, há um novíssimo time de dicionaristas emergindo por aí. São militantes de
várias causas que estão indo a campo defender a inclusão de novas palavras — assim como a
exclusão de antigos termos — na língua portuguesa. Resultado: sobram bandeiras e dúvidas. Vale o
gênero neutro de “alunxs” testado no Colégio Pedro II? Pode o neologismo periférico de “rolézim”?
Cai “mulata” por seu histórico racista?

Nossa língua é uma metamorfose ambulante — celebrada, aliás, no próximo sábado, 5 de maio, Dia
Internacional da Língua Portuguesa. Mas quem vai dizer se esse empurrão ideológico altera a
marcha natural do idioma? Você — o usuário dele.

LEIA MAIS: Artigo: "Uso da língua dobra os manuais"


Um dos mais respeitados linguistas do país, Sírio Possenti lembra que o idioma é “um campo de
disputa”. Professor da Unicamp, ele explica que é natural que grupos levem suas reivindicações
para o campo semântico: é a luta identitária nos dicionários.

— Todo grupo escolhe palavras para si — diz Possenti. — Quando o Movimento Sem Terra entra
em uma fazenda, diz que é “ocupação”. Para o fazendeiro, é “invasão”.

O linguista, também autor de “Por que (não) ensinar gramática na escola”, defende o que chama de
descriminalização do português falado:

— Quando o apresentador de telejornal lê a notícia, ele diz: “os juros vão subir”, pronunciando bem
o R. Logo depois, informalmente, como se costuma falar, pergunta à moça do tempo: “vai chovê?”.
Como se não houvesse R, porque o R do infinitivo caiu faz tempo, deveria ser a regra.

MILITÂNCIA TAMBÉM VOCABULAR

Quando o assunto é militância, há mais questões envolvidas, naturalmente. Stephanie Ribeiro,


ativista negra e autora do texto “Tire o racismo do seu vocabulário”, postado no site “Modefica” e
viralizado pelas redes sociais, defende mudanças nas palavras por uma questão de
“posicionamento” e refuta críticos que chamam o movimento de “ditadura linguística”:

— Se você não é da minoria atingida, é comum que ache exagero. As pessoas estranham quando
peço que não me chamem de “mulata” ou “morena”, e sim pelo meu nome. Muita gente não está
pronta para rever esse vocabulário.

O embate não se restringe ao português. Mesmo no inglês, em que palavras não têm artigo que
sublinhe gênero (um lápis é a pencil; uma caneta, a pen), alguns substantivos masculinos e
femininos foram para a berlinda.

Há tempos, a stewardess virou flight attendant, termo usado tanto para aeromoças quanto para
comissários de bordo. Agora, a campanha está no palcos: quase nenhuma atriz quer ser chamada de
actress. O manual de redação do jornal britânico “The Guardian”, por exemplo, recomenda usar
sempre actor. Amelia Hodson, editora do manual, explica:

LEIA MAIS: Museu da Língua Portuguesa festeja o idioma com programação cultural

— Adotamos esse termo motivados pelas declarações de jovens profissionais, mas aplicamos para
todas as idades. Hoje, um ator do sexo feminino (female actor, no original) não vê por que seu
ofício deva ser designado de forma diferente dependendo do gênero de quem o exercita. Com
medicina não é assim (diz-se doctor para homens e mulheres).

Na França, a luta é pela “écriture inclusive” (“escrita inclusiva”), que prevê a igualdade de gêneros,
ainda que na base de palavras hermafroditas com pontos no meio, como citoyen·ne·s
(“cidadãos(ãs)”). O filósofo Luc Ferry, ex-ministro da Educação francês, esbravejou no Twitter no
ano passado: “quem é o cretino ou a cretina que inventou uma #ÉcritureInclusive impronunciável?”.
Está até hoje ouvindo respostas.

Aqui no Brasil, o escritor e pesquisador do assunto Sérgio Rodrigues, autor de “Viva a língua
brasileira”, considera todas as lutas linguísticas válidas. E faz uma autocrítica:

— No mínimo, isso chama atenção para uma causa: todos têm opinião sobre como as pessoas
falam. Quando comecei a escrever sobre língua, cheguei a dizer que era inócuo lutar contra o termo
“homossexualismo” por remeter à doença. Eu estava errado. O ativismo nos convenceu de que
“homossexualidade” é o certo. Ótimo.

Novas palavras para novos


tempos - André Mello

POETA X POETISA

Rodrigues acha que nossos dicionários demoram um pouco para perceber essas mudanças.
Exemplo: no “Aurélio”, no “Houaiss” e no “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”,
“poeta” aparece como substantivo masculino, mesmo que hoje seja usado para todos os gêneros —
e “poetisa” seja até encarado como uma palavra depreciativa.

Diretor do Instituto Antônio Houaiss e coautor do dicionário, Mauro Villar explica que novas
palavras chegam ao dicionário a partir da leitura de obras de ficção, jornais, revistas, teses
acadêmicas e “até bulas de remédio, tudo o que se possa ler e anotar”.

— Mais tarde, julgamos o que deverá ser incluído e o que vai para a “geladeira” — diz Villar. —
Jogamos também com o acaso, tentando imaginar se tal expressão passará a fazer parte da língua ou
desaparecerá.

LEIA MAIS: Confira a programação completa do Dia Internacional da Língua Portuguesa

Veja o exemplo da palavra “terno”. Derivada de três, referia-se a um trio: colete, paletó e calça.
Hoje, serve só para os últimos dois. Ao mesmo tempo, o próprio paletó foi perdendo espaço para o
inglês blazer. Quem acompanhou essa discussão de perto foi o professor, gramático e filólogo
Evanildo Bechara, imortal da Academia Brasileira de Letras e chefe de equipe de lexicografia da
casa. Aos 90 anos, Bechara conta que viu muitas palavras virem e irem. E discorda de quem acha a
ABL conservadora:

— A academia não impede mudanças. Só repetimos o que a língua diz de si. Se houver registro,
será incorporado. Vale tudo, até letra de música.

Podem ir parar no dicionário, então, a linguagem da favela incorporada pelo escritor Geovani
Martins? Ou as rimas de Rico Dalasam, rapper gay, negro e vindo da periferia de São Paulo que
incorpora todas essas referências? Em uma mesma letra de Dalasam cruzam-se “bi”, “busão”, “sou
fina” e palavras com pro-núncia afrancesada.

— A novidade não vem da academia — defende o rapper. — Colho expressões na rua, onde a
linguagem se renova, e as incorporo. Não há pretensão de militância. Mas, “se militar”, melhor. E
que chegue ao dicionário.

'MAN' E 'WOMAN' SÃO 'PERSON'

No mundo anglófono, o lobby do politicamente correto já levou vários substantivos que antes eram
masculinos e femininos a serem usados com gênero neutro — principalmente em se tratando de
profissões. Palavras como “businessman” e “businesswoman”, por exemplo, caíram em desuso:
hoje o termo recomendado é “businessperson”.

E A 'BICHA' VIROU 'FILA'

Evanildo Bechara, lexicógrafo e membro da Academia Brasileira de Letras, dá um exemplo de


como o português brasileiro modificou o lusitano. “Os portugueses chamavam ‘fila’ de ‘bicha’.
Quando o país foi invadido por nossas novelas, souberam que ‘bicha’ era gíria brasileira para gay.
Hoje, em Portugal, muita gente só chama fila de fila mesmo.”

O 'X' ANTES DA QUESTÃO

Em 2015, chamou atenção pelo Brasil a notícia de que o tradicional colégio Pedro II, do Rio de
Janeiro, estaria adotando o gênero neutro: a palavra “alunX” tinha sido usada no cabeçalho de
algumas provas. A assessoria do colégio esclarece que isso nunca foi uma convenção, mas uma
iniciativa pessoal de um professor, por ora descartada.
HOUAISS DA INFOGRAFIA

Em 2012, o Ministério Público Federal de Minas Gerais pediu que o “Dicionário Houaiss” fosse
retirado de circulação. Motivo: uma das definições da palavra “cigano” era “aquele que trapaceia,
velhaco, burlador”. Em 2014, o juiz Marcelo Aguiar Machado julgou a ação improcedente, por estar
clara “a indicação de significado pejorativo”.

https://oglobo.globo.com/cultura/lingua-portuguesa-vira-campo-de-batalha-ideologica-
22636508#ixzz5ECVIn0CH

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