Sei sulla pagina 1di 10

FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ - FASGO

MILENE QUIRINO DE CARVALHO

RESUMO:

PARA ALÉM DO PRINCIPIO DO PRAZER


GOIÂNIA-GOIÁS
2019

Além do Princípio do Prazer

Na teoria psicanalítica, os processos psíquicos são regulados automaticamente pelo


princípio de prazer. Cada vez que uma tensão desprazerosa de acumula, ela
desencadeia processos psíquicos que tomam um determinado curso, que termina
em uma diminuição da tensão, evitando o desprazer ou produzindo prazer.

Não há necessidade de definir até que ponto nossa formulação se aproxima a algum
sistema filosófico, pois chegamos a essas hipóteses sobre o prazer e o desprazer ao
tentarmos fazer uma descrição e prestar contas dos fatos cotidianos observáveis em
nosso campo. Em psicanálise relacionamos prazer e desprazer com a quantidade de
excitação presente na vida psíquica, de modo que nessa relação o desprazer
corresponderia a um aumento, e o prazer, a uma diminuição.

O princípio de prazer na vida psíquica também remonta à suposição de que o


aparelho psíquico teria uma tendência a manter a quantidade de excitação nele
presente tão baixa quanto possível, ou pelo menos constante. Então, tudo aquilo
que for suscetível de aumentá-la será sentido como adverso ao funcionamento do
aparelho, isto é, como desprazeroso.

Somos obrigados a admitir que existe na psique uma forte tendência ao princípio de
prazer, mas que certas outras forças ou circunstâncias se opõem a essa tendência,
de modo que o resultado final nem sempre poderá corresponder à tendência ao
prazer.

Ao longo do desenvolvimento, as pulsões de autoconservação do Eu acabam


conseguindo que o prazer seja substituído pelo princípio de realidade, que não
abandona o propósito de obtenção final de prazer, mas exige e consegue impor ao
prazer um longo desvio que implica a postergação de uma satisfação imediata, a
renúncia às diversas possibilidades de consegui-la e a tolerância provisória ao
desprazer.

Outra fonte de liberação de desprazer origina-se dos conflitos e clivagens próprios


ao processo de desenvolvimento do Eu em direção a organizações psíquicas mais
complexas. Os detalhes do processo pelo qual o recalque transforma uma
possibilidade de prazer em uma fonte de desprazer ainda não foram bem
compreendidos, mas não há dúvidas de que todo desprazer neurótico é um prazer
que não pode ser sentido como tal.

II

Neurose traumática é um estado psíquico que se segue após graves choques


mecânicos, colisões de trens e outros acidentes que envolvem risco de vida. O
quadro clínico desse estado aproxima-se do da histeria pela sua riqueza em
sintomas motores semelhantes, mas supera-a pelos fortes indícios de sofrimento
subjetivo que apresenta. Podemos partir de dois traços para refletir sobre a neurose
traumática: o primeiro, que o peso principal da causação parece recair sobre o fator
surpresa, o susto; e o segundo, que um ferimento ou ferida concomitante geralmente
impede o aparecimento da neurose. . Susto (Schreck), receio (Furcht), medo (Angst)
são usados injustamente como expressões sinônimas. Medo denomina um certo
estado, como o de expectativa diante do perigo e preparação para ele, mesmo que
ele seja desconhecido; receio requer um objeto determinado do qual se tem medo;
susto nomeia o estado em que se entra quando se corre perigo sem se estar
preparado para ele, e acentua o fator da surpresa. O medo não pode provocar uma
neurose traumática; no medo há algo que protege contra o susto e, portanto,
também contra a neurose traumática.

Um recurso para ser confiável para pesquisar os processos psíquicos profundos é o


estudo dos sonhos. A vida onírica da neurose traumática apresenta a característica
de sempre reconduzir o doente de volta à situação de seu acidente, da qual ele
desperta com um novo susto. Acredita-se que isto seja uma evidência da
intensidade da impressão causada pela vivência traumática, que sempre volta a
impor-se ao doente, até mesmo no sono. O doente estaria psiquicamente fixado no
trauma. Porém, no estado de vigília, os que sofrem de neurose traumática não se
ocupam muito da lembrança de seu acidente. No estado do trauma, a função do
sonho também teria sido abalada e desviada de seus propósitos.

O modo como o parelho psíquico opera em uma das atividades mais habituai ao
início de seu desenvolvimento é a brincadeira infantil. As teorias sobre brincadeira
infantil foram reunidas e apreciadas do ponto de vista analítico de S. Pfeifer em um
artigo na Imago (vol. 4, 1919), e empenham-se em descobrir os motivos do brincar
das crianças. Foi observada a primeira brincadeira de um garotinho de um ano e
meio, criada por ele mesmo.

A criança falava apenas algumas palavras compreensíveis e dispunha só de alguns


sons significativos que eram entendidos por aqueles à sua volta. Tinha uma boa
relação com os pais e a empregada da casa, não perturbava os pais a noite,
obedecia às proibições de tocar em certos objetos, e nunca chorava quando a mão o
deixava por horas. Ele começou a apresentar o hábito de atirar para longe todos os
objetos pequenos que conseguia pegar. Com uma expressão de interesse e
satisfação, emitia um sonoro e prolongado “o-o-o-o”. Um dia, a criança estava
segurando um carretel de madeira enrolado com um cordão, ele o atirava para o
alto, de modo que caísse por cima da beirada de seu berço, desaparecendo de sua
visão, pronunciando seu som significativo; depois, puxada o carretel pelo cordão
para fora da cama e o saudava com um alegre “da”. Essa era a brincadeira
completa: desaparecimento e retorno.

A interpretação da brincadeira estava clara. Relacionava-se com uma grande


aquisição cultural dessa criança: a renúncia pulsional que ela conseguiu efetuar por
permitir a partida da mãe sem manifestar oposição. Ao considerar esse caso isolado,
temos a impressão de que a criança foi atingida pela vivência e se engaja em um
papel ativo repetindo-a como brincadeira, apesar de ter sido desprazerosa. Atirar o
objeto para que ele desapareça poderia ser a satisfação de um impulso de vingança
(Racheimpuls) dirigido contra a mãe e reprimido (unterdrückt) ao longo da vida, por
ter deixado a criança. O garoto só poderia estar repetindo uma vivência
desagradável na forma de brincadeira porque um ganho de prazer de outra ordem
se vincula a essa repetição.
Somos persuadidos de que, mesmo sob o domínio do princípio de prazer, existem
meios e caminhos suficientes para transformar o que é em si desprazeroso em
objeto de recordação e de processamento psíquico.

III

As metas de imediatas da técnica psicanalítica são agora, muito diferentes do que


eram no início. A psicanálise era, antes de tudo, uma arte de interpretação
(Deutungskunst). Mas como não se lograva atingir o objetivo terapêutico dessa
maneira, recorreu-se logo a outro meio, que consistia em levar o doente a confirmar
a construção revelada pelo trabalho analítico. Esse novo processo deslocou a
ênfase do tratamento para as resistências do doente.

Ficou cada vez mais evidente que o objetivo de tornar consciente o inconsciente
também não poderia ser plenamente alcançado por essa via. Pois pode ocorrer que
o doente não se lembre de tudo o que nele está recalcado e que aquilo que lhe
escape seja justamente o mais importante. Na verdade, ele se vê mais forçado a
repetir o recalcado como se fosse uma vivência do presente do que a recordá-lo
como sendo um fragmento do passado. O médico não pode poupar o analisando
dessa fase do tratamento; é preciso deixa-lo reviver um certo fragmento de sua vida
esquecida e cuidar para que ele conserve algum discernimento que lhe permita
distinguir entre aquilo que parece ser realidade e o que, de fato, é apenas reflexo de
um passado esquecido.

O inconsciente não opõe nenhuma resistência aos esforços do tratamento, ele


apenas se esforça para livrar-se do peso que o oprime e tenta forçar passagem em
direção à consciência ou busca escoamento (Abfuhr) através de uma ação real.
Percebemos de imediato que a compulsão só possa manifestar-se depois que o
trabalho terapêutico tenha conseguido chegar ao recalque e afrouxá-lo.

Quase tudo que a compulsão à repetição consegue fazer o paciente reviver outra
vez causa muito desprazer ao Eu, pois nesse processo as atividades de moções
pulsionais recalcadas são expostas. Mas trata-se de um desprazer que não
contradiz o princípio de prazer, pois é ao mesmo tempo desprazer para um sistema
e prazer para outro. A compulsão à repetição também faz retornar certas
experiências do passado que não incluem nenhuma possibilidade de prazer e que,
de fato, em nenhum momento teriam proporcionado satisfações prazerosas, nem
mesmo para moções pulsionais recalcadas naquela ocasião do passado.

IV

Tratando-se de uma especulação psicanalítica, nosso ponto de partida é a


constatação de que a consciência poderia não ser o atributo mais universal dos
processos psíquicos, mas apenas uma função deles. Todos os processos de
excitação que ocorrem nos outros sistemas deixam atrás de si traços duradouros
que constituem o fundamento da memória. Esses traços são restos de lembranças
que nada tem a ver com o tornar-se consciente.

Se levarmos em conta quão pouco se sabe por outras fontes de pesquisa sobre a
origem da consciência, até que podemos considerar que nossa proposição de que a
consciência surge no lugar do traço de memória bastante precisa.

Se imaginarmos o organismo vivo em sua versão mais simplificada, por exemplo,


como sendo uma vesícula indiferenciada de substância excitável, poderíamos
pensar que a superfície voltada para o mundo exterior estaria diferenciada das
outras partes, tendo também a função de órgão receptor de estímulos. O fragmento
de substância viva flutua em meio a um mundo exterior que está carregado de
energias de grande intensidade, se não possuísse um escudo protetor contra
estímulos, não tardaria a ser aniquilado pela ação desses estímulos. O escudo faz
com que as energias do mundo exterior só possam transmitir às próximas camadas
situadas logo abaixo – e que continuam vivas – apenas uma pequena parcela de
sua intensidade. Chamemos de traumáticas as excitações externas que possuírem
força suficiente para romper o escudo protetor.

Um acontecimento como o trauma exterior provoca uma grave perturbação na


economia energética do organismo, além de acionar todos os mecanismos de
defesa, e o princípio de prazer é colocado fora de ação. É convocada a energia de
investimento para que a área afetada receba uma carga de energia com uma
intensidade equivalente à da invasão, produzindo assim, um “contra-investimento”
de grande envergadura à custa do empobrecimento de todos os outros sistemas
psíquicos, que sofrem uma extensa paralisia, ou à custa de uma forte redução de
qualquer outra função psíquica.

A neurose traumática comum é a consequência de uma extensa ruptura do escudo


protetor, valorizando a teoria do choque, em oposição a uma teoria posterior e de
maiores pretensões psicológicas, para a qual a importância etiológica não se deve à
ação da violenta força mecânica, mas ao susto e à ameaça à vida. O susto é
importante para nós porque caracteriza a ausência de prontidão para o medo,
implicando a existência de um sobreinvestimento de camadas de energia depositado
nos sistemas que receberão antes dos outros os afluxos de estímulos.

Os sonhos nas neuroses traumáticas remetem os doentes de volta à situação do


acidente. Esses sonhos nos mostram uma função do aparelho psíquico que, sem
estar em contradição com o princípio de prazer, ocorre de modo independente deste
e provavelmente é anterior ao propósito de obter prazer e evitar o desprazer.

A camada cortical receptora de estímulos não possui uma proteção capaz de


resguardá-la contra os afluxos de excitações oriundas do interior do organismo.
Portanto, essas transmissões de estímulos internos acabarão por assumir o papel
de importância econômica maior. Quanto às fontes da excitação de origem interna,
as principais e mais abundantes são constituídas pelas chamadas pulsões (Triebe)
do organismo. Elas são as representantes de todas as ações das forças que brotam
no interior do corpo e que são transmitidas para o aparelho psíquico.

O “processo psíquico primário” é o gênero de processo que se encontra em ação no


inconsciente, e o processo psíquico secundário vigora em nossa vida normal de
vigília. A tarefa das camadas superiores do aparelho psíquico seria enlaçar e atar a
excitação das pulsões que chegam ao processo primário. No caso de fracasso
desse enlaçamento provocar-se-ia uma perturbação análoga à da neurose
traumática.
As manifestações da compulsão à repetição descrevidas como típicas das primeiras
atividades da vida psíquica infantil e do curso dos tratamentos psicanalíticos, não só
exibem um caráter altamente pulsional, como também apresentam até mesmo um
caráter demoníaco. A repetição, no sentido de reencontrar a identidade, constitui por
si mesma uma fonte de prazer. O doente age de maneira completamente infantil e
assim nos revela que os traços recalcados das lembranças de suas primeiras
experiências psíquicas não estão disponíveis em estado de enlaçamento e fixados;
assim, até certo ponto, esses traços estão incapacitados a operar no processo
secundário.

Uma pulsão seria, portanto, uma força impelente interna ao organismo vivo que visa
restabelecer um estado anterior que o ser vivo precisou abandonar devido à
influência de forças perturbadoras externas. Se todas as pulsões orgânicas são
conservadoras, foram historicamente adquiridas e direcionam-se à regressão e ao
restabelecimento de um estado anterior, então é preciso pensar que a evolução
orgânica se deve à ação de forças externas perturbadoras e desviantes. Se
pudermos admitir como um fato sem exceção que todo ser vivo morre, ou seja,
retorna ao estado inorgânico devido a razões internas, então podemos dizer que: O
objetivo de toda vida é a morte, e remontando ao passado: O inanimado já existia
antes do vivo.

À luz dessa hipótese sobre a morte, desaparece a importância teórica tanto das
pulsões de autoconservação como das pulsões de apoderamento e de auto-
afirmação. Todas elas são apenas pulsões parciais cuja função é assegurar ao
organismo seu próprio caminho para a morte e afastá-lo de qualquer possibilidade
de retornar ao inorgânico. Deriva-se também daí que o organismo não queira morrer
por outras causas que suas próprias leis internas. Ele quer morrer à sua própria
maneira.

Pulsões sexuais é o conjunto de todas aquelas pulsões que zelam pelos destinos
desses organismos elementares sobreviventes e que emanam do ser individual.
Esse grupo de pulsões é tão conservador quanto as outras pulsões, pois visam à
volta a estados arcaicos da substância viva. Além disso, também são conservadoras
em um sentido bem mais amplo, na medida em que preservam a vida por períodos
mais longos. Ainda que no início da vida não tenha existido uma sexualdae e
tampouco diferença entre sexos, é possível pensarmos que essas pulsões tenham
entrado em ação desde o início, em vez de só terem começado seu trabalho contra
as “pulsões do Eu” em um momento mais tardio.

VI

Há uma forte oposição entre as “pulsões do Eu”, que impelem em direção à morte, e
as pulsões sexuais, que impelem para a continuidade da vida. As pulsões do Eu
originam-se de uma vivificação da matéria inanimada e visam a restaurar de novo o
estado inanimado, então em rigor, somente a essas pulsões poderíamos atribuir o
caráter conservador à repetição inerente a todas as pulsões. No que tange às
pulsões sexuais, observa-se que elas reproduzem os estados primitivos dos seres
vivos, e a meta que almejam alcançar por todos os meios é a fusão de duas células
germinativas já diferenciadas entre si em determinados aspectos. Portanto, somente
sob a condição de que essa união ocorra é que a função sexual pode prolongar a
vida conferir-lhe a aparência da imortalidade.

Mesmo a crença na determinação interna e natural para a morte é mais uma das
ilusões que inventamos para “suportar o fardo da existência”. Do ponto de vista
biológico, o fato de haver um determinado tempo médio de vida naturalmente pode
ser invocado a favor da hipótese de que se morre devido a uma causalidade interna.
As forças pulsionais que conduzem a vida para a morte também poderiam estar
operando nos protozoários desde o início e seu efeito poderia estar tão encoberto
pelas forças conservadoras da vida que seria muito difícil prova-lo diretamente.

Partindo da oposição entre pulsões de vida e pulsões de morte, há uma segunda


polaridade desse gênero que merece nossa atenção: o amor objetal, o qual nos
revela a polaridade entre o amor (ternura) e o ódio (agressão). Reconhecemos a
existência de um componente sádico na pulsão sexual e sabemos que ele pode
assumir a forma de perversão, tornar-se independente e dominar a totalidade do
empenho sexual da pessoa. Podemos então derivar e Eros, cuja meta é conservar
a vida, uma pulsão sádica que visa a prejudicar o objeto. Podemos dizer que foi o
sadismo anteriormente expulso do Eu que indicou aos componentes libidinais da
pulsão sexual o caminho em direção ao objeto. Só depois disso é que esses
componentes poderiam seguir em direção ao objeto. Nos casos de sadismo original
não foi mitigado ou fusionado a outros elementos, veremos instaurar-se na vida
amorosa a conhecida ambivalência amor-ódio.

Devemos admitir que o fator essencial ao qual, as pulsões sexuais visam é a fusão
de dois corpos celulares. É somente através da fusão que se garante a imortalidade
da substância viva nos seres vivos superiores.

VII

Se realmente o esforço por estabelecer um estado anterior for um caráter universal


das pulsões, não devemos nos surpreender de que haja na vida psíquica tantos
processos ocorrendo à revelia do princípio de prazer. Esse caráter universal seria
transmitido a cada uma das pulsões parciais, que por sua vez buscariam retornar a
um determinado estágio do curso evolutivo.

O princípio de prazer é uma tendência que está a serviço de uma função, a de tornar
o parelho psíquico inteiramente livre da excitação, ou de manter a quantidade de
excitação constante, ou ainda, de mantê-la tão baixa quanto possível. A captura do
enlaçamento da moção pulsional é uma função preparatória que visa a providenciar
a eliminação definitiva da excitação no fluxo do prazer durante o processo de
escoamento dos estímulos acumulados. As sensações de prazer e desprazer podem
ser produzidas do mesmo modo tanto pelos processos de excitação capturados e
enlaçados quanto pelos não capturados e não enlaçados. O anseio por prazer
manifesta-se com muito mais intensidade no início da vida psíquica do que
posteriormente, mas, por não ter meios para evitar frequentes interrupções, ele só
ocorre de forma limitada.

As pulsões de vida mobilizam muito mais nossa percepção interna, enquanto as


pulsões de morte parecem realizar seu trabalho de uma maneira bem mais discreta.
O princípio de prazer parece estar a serviço das pulsões de morte.

Potrebbero piacerti anche