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LEVÍTICO 10.

1-11: O ERRO DE NADABE E ABIÚ

Caio Peres1
caiovintage@hotmail.com

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INTRODUÇÃO
Não é nenhuma surpresa que Levítico não seja um dos livros bíblicos mais lidos entre
cristãos. O leitor atento precisa, literalmente, ter estômago forte para encarar trechos que
falam sobre o abatimento de animais, aspersão de sangue, separação de entranhas e feridas
purulentas. E ainda, no meio desse conteúdo para maiores de 18 anos, aparece a narrativa da
morte fulminante de Nadabe e Abiú. Neste livro com imagens tão fortes e gráficas, tal morte
sob juízo divino não poderia ser amena: os irmãos são feridos por fogo que sai da presença
de Javé. É por isso que a grande pergunta sobre esse texto é: o que Nadabe e Abiú fizeram
para merecer uma morte tão horrível, um juízo tão cruel? Existem muitas outras perguntas
sobre esse texto. Por exemplo, por que Misael e Elzafã, primos de Nadabe e Abiú, tiveram que
retirar os corpos e não Eleazar e Itamar, os outros dois filhos de Arão (10.4, 6)? Por que Arão e
seus filhos vivos não podiam ficar de luto (10.6), nem sair do Tabernáculo, caso contrário
morreriam (10.7)? Mais adiante, por que Moisés insistiu que Arão e seus filhos vivos
comessem da “oferta pelo pecado” (‫ה ַח ָטּאת‬,ַ 10.12-18), mas Arão o convenceu de que isso não
era apropriado (10.19-20)? Nesta breve apresentação, me concentrarei na primeira pergunta
com algumas implicações para algumas das outras perguntas.

CINCO RESPOSTAS
Nosso questionamento sobre o que Nadabe e Abiú fizeram de tão errado não é novo.2 Na
tradição rabínica, por exemplo, são oferecidos nada menos do que 12 explicações para o erro

1 Master of Divinity, Seminário Teológico Servo de Cristo, São Paulo (2009-2012); Master of Arts em Estudos
Bíblicos, Universidade Livre de Amsterdã (2016-2018). Bolsista por Vrije Universiteit Fellowship Program (VUFP)
e Holland Scholarship Program (HSP). Colaborador exegético da Bíblia Brasileira de Estudos (BBE, 2016, Editora
Hagnos); autor de verbetes na Enciclopédia do Protestantismo (2016, Editora Hagnos); e tradutor de diversos
títulos pela Editora Vida Nova. Desde 2006 é missionário integral na área de assistência social para crianças e
adolescentes em situação de risco, fazendo parte da Associação Brasileira Beneficente Aslan (ABBA), em São
Paulo. Esposo de Dorothee, e pai de Mikael e Ruth.
2 James W. Watts, Ritual and Rhetoric in Leviticus: From Sacrifice to Scripture (Cambridge: Cambridge University
Press, 2007), 100-1.
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de Nadabe e Abiú.3 Algumas das explicações são mais plausíveis do que outras. Quero citar
aqui as principais e mais plausíveis.
Por ordem de aparição no texto, a primeira explicação seria a de que Nadabe e Abiú
estavam utilizando seus próprios incensários (‫אישׁ ַמ ְח ָתּתוֹ‬,ִ v. 1), e não no altar ou nos
incensários “oficiais” do Tabernáculo. A expressão exata aparece também em Números
16.17-18 e poderia ter conotação negativa, já que trata-se de Coré e seu grupo rebelde que
estavam com “seus próprios incensários.” O problema desta proposta é que em outros textos
sacerdotais, incensários individuais podem ser utilizados no culto (Lv 16.12-13; Nm 17.6-15).4
A segunda explicação seria a qualificação “fogo não autorizado” (‫אשׁ זָ ָרה‬,ֵ v. 1). É
comum explicar a qualificação pela origem do fogo como não proveniente do altar, como o
requerido em Levítico 16.2 e Números 17.11.5 Isso tem respaldo no fato de que se o fogo tivesse
proveniência no altar, o texto qualificaria o fogo dos incensários como sendo “do fogo” (‫מיִ ן‬
‫)ה ֵאשׁ‬.ַ 6 Mas se esse fosse o caso, esperaríamos que logo no início fosse dito que Nadabe e
Abiú pegaram cada um seu incensário, pondo neles fogo “não autorizado”.7 Além disso, a
qualificação poderia facilmente ser uma derivação de vários motivos. Por exemplo, o fogo
pode ser “não autorizado” porque foi trazido de outro lugar que não o altar, ou porque os
incensários eram propriedade de Nadabe e Abiú e não do Tabernáculo, ou qualquer outro
motivo que vamos considerar mais para frente.
A terceira explicação mais comum é que o incenso não estava em conformidade
com a legislação de Êxodo ou, uma derivação dessa explicação, que a apresentação do
incenso não estava de acordo com os horários determinados. Essa explicação é interessante
por dois motivos: ao descrever o tipo de incenso a ser oferecido duas vezes ao dia, Êxodo 30.7
o descreve como “incenso perfumado” (‫)קט ֶֹרת ַס ִמּים‬, ְ e em Levítico 10.1 Nadabe e Abiú
oferecem somente “incenso” (‫;)קט ֶֹרת‬ ְ ambos os contextos também fazem uso da qualificação
‫זָ ָרה‬. Para Êxodo 30.9, trata-se de “incenso não autorizado” (‫)קט ֶֹרת זָ ָרה‬,
ְ e aqui em Levítico
10.1 de “fogo não autorizado” (‫)אשׁ זָ ָרה‬.
ֵ Com o respaldo de Êxodo 30, podemos dizer que
8

Nadabe e Abiú se dispuseram a fazer uma oferta diferente, fora dos horários previstos e sem
o uso do incenso específico.9 Mas isso está ligado a um problema ainda maior, como
veremos, que esclarece o erro de Nadabe e Abiú com mais precisão.

3 Christophe Nihan,  From Priestly Torah to Pentateuch: A Study in the Composition of the Book of Leviticus.
(Tübingen: Mohr Siebeck, 2007), 580; Samuel E. Balentine, Leviticus. Interpretation (Louisville: Westminster
John Knox Press, 2002), 84.
4 Nihan, From Priestly Torah to Pentateuch, 581.

5Ver Gordon J. Wenham, The Book of Leviticus. New International Commentary on the Old Testament (Grand
Rapids: Eerdmans, 1979), 155; Balentine, Leviticus, 84.
6Jacob Milgrom, Leviticus 1-16: A New Translation with Introduction and Commentary. Anchor Bible (New York:
Doubleday, 1991), 597.
7Nathan MacDonald. “Nadab and Abihu’s Ritual Innovation (Leviticus 10)”. Artigo apresentado no encontro
anual da Society of Biblical Literature, 2018, Denver.
8 Ver Milgrom, Leviticus 1-16, 597, 598.

9 Cf. Raz Kletter e Irit Ziffer, “Incense-burning Rituals: From Philistine Fire Pans at Yavneh to the Improper Fire
of Korah”. Israel Exploration Journal (2010): 180.

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A quarta explicação, que faz uso de alguns elementos das explicações prévias, é a de
que Nadabe e Abiú, em sua “oferta diferente”, estavam seguindo modelos de culto pagão. 10
Essa explicação é promissora diante do uso popular de incenso em diversos rituais cúlticos, e
da proibição de Números 16.11 Uma comparação interessante foi feita por Richard Hess.12 Em
sua análise de um ritual de consagração de uma sacerdotisa (NIN.DINGIR) do deus Addu,13
Hess percebe a conclusão do ritual com uma a entrada da sacerdotisa no templo com ofertas
e uma “tocha”. Em combinação com sua observação de que a raiz da palavra ‫ זָ ָרה‬se refere a
pessoas fora da nação de Israel (Is 1.7; Jr 30.8; Ez 7.21; Os 7.9) e divindades que não Javé (Is
43.12; Jr 2.25; Sl 81.10), Hess acredita que esse ritual pagão pode estar por trás do erro de
Nadabe e Abiú.14 A explicação a partir da comparação com cultos pagãos parece
interessante, especialmente por causa do caráter pagão do erro do pai de Nadabe e Abiú,
Arão, em Êxodo 32. No entanto, é uma proposta frágil, pois depende de alusões ou
implicações nada claras para o leitor. 15 Além disso, a comparação feita por Hess com o ritual
de consagração da sacerdotisa de Addu apresenta um detalhe importante para a explicação
que darei abaixo, respondendo a evidências mais claras e mais fundamentais em nosso texto.
Por fim, a quinta explicação, uma queridinha de leitores mais piedosos, é a de que
Nadabe e Abiú estavam embriagados. O motivo dessa explicação é o que aparece no v. 9,
uma ordem para que Arão e seus filhos não bebam “vinho” (‫ )יַ יִ ן‬nem “bebida forte” (‫)שׁ ָכר‬ ֵ
“para que não morram” (‫)וְ לֹא ָת ֻמתוּ‬. A ocasião da proibição, “quando entrarem na Tenda da
Revelação” (‫מוֹﬠד‬ֵ ‫)בּב ֲֹא ֶכם ֶאל־א ֶֹהך‬
ְ parece ligar a proibição ao caso específico de Nadabe e
16
Abiú. Essa explicação, como no caso da anterior, contém um detalhe importante para a
explicação que darei como definitiva. Mas a proibição de bebidas alcoólicas parece ser mais
generalizada em Levítico, que nunca as inclui nos ingredientes para os sacrifícios, como o faz
Deuteronômio (14.26), algo notável, pois o culto de sacrifício, que também culminava com
uma refeição compartilhada entre sacerdotes, ofertantes e convidados, sempre incluía
bebidas alcoólicas (Dt 32.38).17 Assim, a proibição de bebidas alcoólicas é parte da
explicação, mas é secundária. Um exemplo disso aparece em Isaías 28.7, em que o uso de
“bebida forte” e “vinho” por profetas e sacerdotes os faz “errar nas visões e tropeçar nos

10 Ver Raz Kletter e Irit Ziffer, “Incense-burning Rituals”.

11 Ver Watts, Ritual and Rhetoric in Leviticus, 126.

12 Richard S. Hess, “Leviticus 10: 1 Strange Fire and an Odd Name”. Bulletin for Biblical Research 12 (2002): 187-198.

13 O texto em questão é Emar 369, que faz parte dos textos de Emar, na Síria, um achado arqueológico
importantíssimo, com tabletes escritos em cuneiforme datados entre os séculos XIV e XII a.C. Para uma
introdução ao assunto, ver Bryan C. Babcock, Sacred Ritual: A Study of the West Semitic Ritual Calendars in
Leviticus 23 and the Akkadian Text Emar 446 (Winona Lake: Eisenbrauns, 2014), 141-150.
14 Ver Hess, “Leviticus 10: 1 Strange Fire and an Odd Name”. 189, 190, 193-5. 

15 Nihan, From Priestly Torah to Pentateuch, 581.

16 Hess, “Leviticus 10: 1 Strange Fire and an Odd Name”, 197.

17Hess cita o uso de “vinho” e “cerveja” no ritual do texto de Emar 369, linhas 67 e 73. Ver Hess, “Leviticus 10: 1
Strange Fire and an Odd Name”, 197. O motive para Deuteronômio citar explicitamente, até com entusiasmo, a
possibilidade do uso de “bebida forte” e “vinho” no culto é sua caracterização do culto como celebração festiva.
Já Levítico apresenta uma imagem muito mais sóbria e serena do culto. Ainda que não tenha pesquisado a
fundo o assunto, minha sugestão é a de que Levítico tende a enfatizar, como temos no texto presente, a
seriedade de se ter a presença de Javé no meio do povo. Sendo assim, toda precaução é pouca, pois as
consequências podem ser drásticas.

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julgamentos”.18 Portanto, não se trata do uso de “bebida forte” e de “vinho” em si, mas seus
efeitos que atrapalham o serviço sacerdotal, como veremos.

O ERRO FUNDAMENTAL DE NADABE E ABIÚ


O ponto central para chegarmos numa explicação definitiva é lembrar que estamos diante
de um evento muito importante com consequências trágicas. O autor certamente não quer
que o mesmo erro ocorra, então sua explicação deve estar bem clara no texto.19 Portanto,
buscar alguma explicação escondida no texto é contraproducente quando, de fato, o texto é
bem explícito. O que o texto diz é simples: ‫“( ֲא ֵשׁר לֹא ִצוָּ ח א ָֹתם‬que não foi ordenado a eles
por Javé”, v. 1). Trata-se da explicação mais simples e explícita do texto. Felizmente alguns
bons intérpretes chegam a essa conclusão.20 O que acontece em Levítico 10 é uma ruptura
forte do que vinha acontecendo até então, na inauguração do serviço cúltico do Tabernáculo.
Desde Êxodo 25, a narrativa vem relatando as ordens de Javé e o cumprimento adequado das
ordens por Israel. Por exemplo, em Êxodo 40, ao término da obra do Tabernáculo, é dito que
“Moisés fez conforme tudo o que Javé lhe havia ordenado; assim o fez (‫משׁה ְכּכֹל ֲא ֶשׁר‬ ֶ ‫וַ יַּ ַﬠשׂ‬
‫צוָּ ה יְ הוָֹ ה אֹתוֹ ֵכּן ָﬠ ָשׂה‬,ִ Êx 40.16). Na verdade, nessa recapitulação da obra, a fórmula
“conforme Javé havia ordenado” (‫)כּ ֲא ֶשׁר ִצוָּ ה יְ הוָֹ ה‬
ַ aparece sete vezes (40.19, 21, 23, 25, 27, 29,
32), completando oito com a versão levemente diferente em 40.16. Após a construção do
Tabernáculo, vem uma série de prescrições cúlticas em Levítico 1-7, que começa a ser
colocada em prática nos capítulos 8 e 9. Não é à toa, então, que em Levítico 8-9, essa fórmula,
com leves diferenças, reaparece nada menos do que 12 vezes (8.4, 5, 9, 13, 17, 21, 29, 34, 36; 9.6,
7, 10).21 Por isso, quando a fórmula é invertida, sendo usada na forma negativa, o leitor ou
ouvinte atento iria perceber o problema imediatamente.22 Por isso, então, a melhor tradução
da qualificação ‫זָ ָרה‬, em nosso texto é “não autorizado”. O que torna o fogo, o incenso e a ação
de Nadabe e Abiú ‫ זָ ָרה‬é que eles fizeram o que Javé não ordenou. Assim, a qualificação do
fogo como “não autorizado” é a explicação básica do erro de Nadabe e Abiú.
Como afirmei acima, ao avaliar as cinco respostas que rejeitei, a qualificação do fogo
“não autorizado” não é explicada pela propriedade individual do incensário, a origem do
fogo, nem o tipo de incenso usado. Então, o que Nadabe e Abiú estavam fazendo que não foi
ordenado por Javé? O fato de estarem fazendo uma oferta de incenso, o local de onde o fogo
sai para consumi-los, assim como o local onde seus corpos ficam, apontam para a tentativa
de entrarem no Santo dos Santos. Vamos dar uma olhada nesses detalhes.
Ao lermos Levítico 1-9, não há nenhuma orientação sobre ofertas de incenso no culto
público. A oferta de incenso diária, estabelecida em Êxodo 30.6-8, não faz parte do culto
público e nem mesmo é de competência de qualquer sacerdote, mas somente de Arão, o

18 Ver Balentine, Leviticus, 85.

19 MacDonald. “Nadab and Abihu’s Ritual Innovation (Leviticus 10)”.

20Mais notadamente Nihan, From Priestly Torah to Pentateuch, 582, 602; Watts, Ritual and Rhetoric in Leviticus,
104-7; L. Michael Morales, Who Shall Ascend the Mountain of the Lord? A Biblical Theology of the Book of Leviticus
(Downers Grove: InterVarsity Press, 2015), 146; Wenham, The Book of Leviticus, 154.
21 Ver Watts, Ritual and Rhetoric in Leviticus, 103, que acrescenta Lv 10.15, completando treze repetições.

22 Watts, Ritual and Rhetoric in Leviticus, 106. Cf.

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sumo-sacerdote. 23 Como apontei acima, a questão de um horário não determinado poderia


ser útil em nossa resposta. Assim, certamente Nadabe e Abiú estavam fazendo uma oferta
que não foi ordenada anteriormente em Levítico 1-9.24 No entanto, essa explicação é mais
profunda e complexa do que isso,pois para piorar a situação, Nadabe e Abiú não estavam
simplesmente fazendo uma oferta de incenso, eles estavam tentando entrar no Lugar
Santíssimo. De fato, Nadabe e Abiú não chegam nem a entrar no Tabernáculo em si. O fogo
que os “consome” (‫אכל‬ ַ ֹ ‫ )תּ‬sai da “presença de Javé” (‫ל ְפנֵ י יְ הוָ ה‬,ִ v. 2), como em 9.24 na
inauguração do culto, em que o fogo sai do Lugar Santíssimo em direção do pátio do
Tabernáculo onde fica o altar dos holocaustos. A mesma situação aparece em Números 16.18,
35, em que o povo leva incenso e fica “em frente à Tenda da Revelação” (‫מוֹﬠד‬ ֵ ‫פּ ַתח א ֶֹהל‬,ֶ 18) e
“sai fogo da parte de Javé e consome” (‫אכל‬ ַ ֹ ‫וְ ֵאשׁ יָ ְצ ָאה ֵמ ֵאת יְ הוָ ה וַ תּ‬, v. 35) os duzentos e
cinqüenta homens. 25

Ainda que não tenham nem entrado no Tabernáculo, duas evidências apontam para
a intenção de Nadabe e Abiú de entrar no Lugar Santíssimo. A primeira delas é que Javé fala
sobre “aqueles que se aproximam de mim” (‫בּ ְקר ַֹבי‬,ִ v. 3). Essa expressão é importante.
Levítico estabelece o culto como um “aproximar-se” de Javé. Isso fica claro em Levítico 1.2 e o
uso da raiz ‫קרב‬: “Quando alguém ‘aproximar’ (‫ )יַ ְק ִריב‬uma oferta (‫)ק ְר ָבן‬ ָ para Javé, você
deverá ‘aproximar’ (‫)תּ ְק ִריבוּ‬ ַ sua oferta (‫)ק ְר ַבּנְ ֶכם‬
ָ […]”. Na verdade, ‫ ָק ְר ָבן‬é o termo comum
usado nos textos sacerdotais para descrever uma oferta.26 No entanto, neste contexto de
Levítico 10 e 16, como veremos logo, a ação é mais especializada e reservada para o sumo-
sacerdote. “Aqueles que se aproximam”, aqui, pode qualificar a ocasião específica de entrada
no Lugar Santíssimo, já que a única pessoa que pode se aproximar de Javé dessa forma é o
sumo-sacerdote no Dia da Expiação.27
Para entender melhor isso, vamos à segunda evidência: a relação entre Levítico 10 e
16. Os dois primeiros versículos de Levítico 16 servem como uma ponte literária com o
capítulo 10. Nesses versículos, há uma referência à morte de Nadabe e Abiú “quando se
aproximaram” (‫בּ ָק ְר ָב ָתם‬,ְ v. 1) “da presença de Javé”, seguida por uma importante exortação:
“não entre a qualquer hora no Lugar Santíssimo… para que não morra” (‫וְ לֹא יָמוּת …וְ ַאל־יָבֹא‬
‫ל־הקּ ֶֹדשׁ‬
ַ ‫ל־ﬠת ֵא‬
ֵ ‫בכ‬,
ָ v. 2).28 Ao colocar o episódio de Nadabe e Abiú como introdução para a
legislação sobre o Dia da Expiação, único dia do ano em que era permitida a entrada no
Lugar Santíssimo, e somente pelo sumo-sacerdote, nos é apontado que o “aproximar” de

23 Na disputa sobre a liderança sacerdotal do povo em Números 16-17, a posição de Arão é confirmada por fazer
uma oferta de incenso “entre mortos e vivos” (16.48), fazendo expiação pelo povo e dando um fim à praga que
afligira o povo. A conclusão do povo, então, é que quem se aproxima do Tabernáculo morrerá (17.13). Ver Nihan,
From Priestly Torah to Pentateuch, 583.
24 Nihan, From Priestly Torah to Pentateuch, 582; Watts, Ritual and Rhetoric in Leviticus, 105.

25 Milgrom defende convincentemente que Nadabe e Abiú permanecem no pátio do Tabernáculo. Ver Milgrom,
Leviticus 1-16, 599-600, 606.
26 Christian A. Eberhart, “Sacrifice? Holy Smokes! Reflections on Cult Terminologyfor Understanding Sacrifice
in the Hebrew Bible”, in Ritual and Metaphor: Sacrifice in the Bible, editado por Christian A. Eberhart, 17-32
(Leiden: Brill, 2012), 23.
27 Watts, Ritual and Rhetoric in Leviticus, 103.

28Somente no capítulo 16 de Levítico (vv. 2, 3, 16, 17, 20, 23, 27) o Lugar Santíssimo é chamado de ‫הקּ ֶֹדשׁ‬.ַ
Sabemos de que se trata doLugar Santíssimo, por causa da qualificação ) ‫“מ ֵבּית ַל ָפּר ֶֹכת‬após
ִ o véu”). Ver
Milgrom, Leviticus 1-16, 1013.

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Nadabe e Abiú tinha o Lugar Santíssimo como destino.29 Isso não somente faz sentido diante
do texto que temos, mas também podemos pensar nas práticas rituais de outras culturas.
Hess fez uso do texto de Emar 369 para falar da origem pagã do uso de incenso na
inauguração do ofício sacerdotal, como vimos. Mas ele não percebeu que o uso da “tocha”,
que seria o equivalente ao incenso no caso de Levítico 10, se dá no contexto em que a
sacerdotisa “entra em seu novo lar no templo”.30 A ação de Nadabe e Abiú acontece como
parte da inauguração do culto, pois o fim do capítulo 9 e início do capítulo 10 correspondem
ao mesmo dia (cf. 10.19). Portanto, Nadabe e Abiú, como a sacerdotisa de Addu, tomaram
para si a prerrogativa de entrar no Tabernáculo como seu “novo lar”. 31

A GRAVIDADE DO ERRO DE NADABE E ABIÚ


Mas, então, para concluir, por que a ação de Nadabe e Abiú, tentando entrar no Lugar
Santíssimo foi um erro tão grave que justificou uma ação punitiva imediata da parte de Javé?
Alguns intérpretes veem nisso uma mera aleatoriedade para manter a transcendência e a
liberdade de Javé intacta,32 ou uma questão de observância legal e sua interpretação,33 ou
ainda uma forma de manter o culto como algo misterioso e perigoso a fim de asseverar a
autoridade sacerdotal diante do povo.34 Cada um desses pontos é bastante justificável e
razoável. Mas eu gostaria de construir minha resposta a partir do último ponto.
Edward L. Greenstein diz o seguinte:

Deus bagunça com a ordem do sistema cúltico. Ainda que as regulações


cúlticas estabeleçam recompensa e punição como um consequência direta de
obediência ou violação das ordenanças divinas, Deus não explicou todas as
coisas. O sistema tem alguns segredos perniciosos; YHWH pode atacar sem
aviso prévio… A fim de não tornar Deus totalmente manipulável pelo culto, a
história de Nadabe e Abiú, eu sugiro, subverte a ordem implicada nos rituais
ao asseverar a autonomia e imprevisibilidade de YHWH, a total
transcendência de YHWH.35

29Morales, Who Shall Ascend the Mountain of the Lord?, 147; Jay Sklar, Leviticus. Tyndale Old Testament
Commentaries (Downers Grove: Intervarsity Press, 2013), 156.
30 Hess, “Leviticus 10: 1 Strange Fire and an Odd Name”, 197.

31Não será possível, aqui, falar sobre as consequências de se ter dois cadáveres na entrada do Tabernáculo, já
que se trata de uma contaminação grave. Mas vale mencionar que é muito possível que foi exatamente a morte
de Nadabe e Abiú que suscitou a necessidade de um ritual de purificação profunda no Tabernáculo, uma vez ao
ano, pelas diversas ofertas do sumo-sacerdote, que adentra o Lugar Santíssimo com o seu incenso. Ver Morales,
Who Shall Ascend the Mountain of the Lord?, 148-9; Nihan, From Priestly Torah to Pentateuch, 585-6; Milgrom,
Leviticus 1-16, 607-8. A presença de cadáveres também ajuda a explicar o motive de Arão se recusar a comer sua
porção do sacrifício pelo pecado (Lv 10.16-20), pois com a presença de cadáveres à entrada do Tabernáculo, tal
porção havia se tornado impura.
32 MacDonald. “Nadab and Abihu’s Ritual Innovation (Leviticus 10)”.

33 Nihan, From Priestly Torah to Pentateuch, 603.

34 Watts, Ritual and Rhetoric in Leviticus, 113-6, 124-8.

35 “Deconstruction and Biblical Narrative”. Prooftexts 9.1 (1989): 63-4.

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LEVÍTICO 10:1-11: O ERRO DE NADABE E ABIÚ

Por tudo o que vimos sobre a importância da sequência de cumprimento de ordens


exatamente como Deus ordenou por toda a narrativa da construção do Tabernáculo e da
legislação sacrificial, não é possível concordar com a primeira parte do argumento de
Greenstein. No entanto, ele está apontando na direção correta quando fala sobre a
autonomia de Javé e sua transcendência, impedindo sua manipulação pelo sistema do culto.
E aqui está a nossa resposta para o grande erro de Nadabe e Abiú. Essa é a resposta para a
gravidade de sua ação: imaginar que seguindo certas partes das ordenanças de Javé e dos
rituais prescritos eles podem, então, manipular a presença de Javé, sua “glória” (‫)כּבֹד‬.
ָ
Quero, então, concluir com um argumento em favor dessa resposta. As instruções
divinas sobre o Tabernáculo servem de a conclusão para a teofania no Monte Sinai em Êxodo
19-24. A relação entre a experiência da presença divina no evento do Sinai e no Tabernáculo
se torna clara pelo fato de a “glória” (‫)כּבֹד‬
ָ de Javé, no momento em que o Tabernáculo fica
pronto, ser transferida, por assim dizer, do Sinai para o Tabernáculo (Êx 40.34-35). Quando
há, então, a inauguração do culto, em Levítico 9.23-24, nós temos a “glória” de Javé
aparecendo para todo o povo na forma de fogo, num paralelo ao que aconteceu no evento do
Sinai (Êx 19.18. 24.17). A melhor forma de descrever o propósito do Tabernáculo e do culto é
“encontro com a glória de Javé”. O que nós temos com a construção do Tabernáculo e a
legislação cúltica é a rotinização da teofonia e da inauguração de um caminho seguro para
experimentar a comunhão com Javé.36 Por mais importante e necessário que esse fenômeno
seja para a vida de Israel em sua relação com Javé, isso traz implicações sérias sobre a
transcendência de Javé, sua liberdade e autonomia. Em primeiro lugar, toda essa legislação
burocrática para o culto, ao mesmo tempo em que torna a presença de Javé acessível,
também cria certa distância entre o adorador e a divindade. O culto cria um canal de acesso
à presença de Javé, mas existem limites e critérios que não podem ser ultrapassados e sim
observados atentamente.37 A melhor forma de entender como o texto bíblico mantém essa
distância, a fim de preservar a transcendência de Javé, é pelo uso do termo “aproximar-
se” (‫)ק ְר ָבן‬.
ָ Por mais que estejamos falando da experiência de acesso à presença divina e
comunhão com o próprio Deus, ainda trata-se somente de um “aproximar-se”.38
O que Nadabe e Abiú fazem é perder a noção da transcendência divina, achando que
por meio do Tabernáculo, as legislações cúlticas e seu status sacerdotal, eles poderiam
manipular a presença divina, a “glória” de Javé. Aqui entra uma questão importante. A
habitação de Javé no meio do povo é, sem dúvida, algo que traz diversos benefícios para todo
o povo. A melhor forma de falar disso é dizendo que a presença divina garante a vida do

36Ver Gary A. Anderson, “Sacrifice and Sacrificial Offerings (Old Testament)”, in The Anchor Bible Dictionary,
vol. 5, editado por David Noel Freedman (New York: Doubleday, 1992), 877; Joshua Berman, The Temple: Its
Symbolism and Meaning Then and Now (Eugene: Wipf and Stock, 2010), 35-38; Brevard S. Childs, The Book of
Exodus. Old Testament Library (Louisville: Westminster John Knox Press, 1974), 507; Thomas B. Dozeman, God
on the Mountain: A Study of Redaction, Theology, and Canon in Exodus 19-24 (Atlanta: Scholars Press, 1989), 115-6;
Michael B. Hundley, Keeping Heaven on Earth: Safeguarding the Divine Presence in the Priestly Tabernacle
(Tübingen: Mohr Siebeck, 2011), 90; Bernard B. Robinson, “The Theophany and Meal of Exodus 24”.
Scandinavian Journal of the Old Testament 25.2 (2011):157, 168.
37 Cf. Morales, Who Shall Ascend the Mountain of the Lord?, 149-50.

38 Alfred Marx, “The Theology ofthe Sacrifice According to Leviticus 1–7”, in The Book of Leviticus: Composition
and Reception, editado por Rolf Rendtorff e Robert A. Kugler, 103–20 (Leiden: Brill, 2003), 112. A questão da
transcendência e imanência de Deus nos textos sacerdotais é bastante complexa. Em diversos momentos, em
conformidade com Êxodo 24.9-11, ainda que o texto afirme a acessibilidade de Javé, há também uma
preocupação em manter sua presença na esfera celestial, ainda que ela também esteja no Tabernáculo e no
culto.

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LEVÍTICO 10:1-11: O ERRO DE NADABE E ABIÚ

povo. A construção do Tabernáculo e as legislações cúlticas tinham a intenção de levar vida


ao povo. É por isso que, na inauguração do culto em Levítico 9.23-24, é dito que a “glória” de
Javé “apareceu a todo o povo” (‫ל־ה ָﬠם‬ָ ‫כּ‬-‫ל‬ָ ‫)וַ יִּ ָרא… ֶא‬, que “gritou de alegria” (‫ל־ה ָﬠם וַ יָּ רנּוּ‬ ָ ‫)כּ‬. ָ Em
um profundo contraste com a inauguração do Tabernáculo em que a “glória” de Javé aparece,
mas Moisés não pode entrar ali (Êx 40.35). Quando Nadabe a Abiú tentam manipular a
“glória” de Javé, em sua tentativa frustrada de entrar no Santo dos Santos, eles desejam fazer
uso do acesso à “glória” de Javé um benefício para eles mesmos. Isso também contrasta
fortemente com o ofício sacerdotal que encontramos em nosso texto. Em outras culturas do
antigo Oriente Próximo, os rituais cúlticos e ordenanças divinas a seu respeito eram
prerrogativas exclusivas dos sacerdotes.39 De forma geral, o texto sacerdotal que temos a
partir de Êxodo 25 até o fim de Levítico torna o culto muito mais participativo por parte de
Israel. Todas as ordenanças de Javé sobre o culto em Levítico 1-7 são endereçadas a todo o
povo.40 Assim, o israelita comum está tão envolvido no culto quanto esteve na construção do
Tabernáculo em Êxodo 25-40. Não há dependência total dos sacerdotes.41 Milgrom chega a
dizer que Levítico 1-7 é um “livro de instruções” para todo israelita exercer o seu sacerdócio.42
Isso explica o que temos em Levítico 10.10-11, logo após a instrução sobre a proibição de os
sacerdotes beberem “bebida forte” e “vinho” quando estiverem exercendo sua função.43 Ali, a
função dos sacerdotes é uma combinação de discernimento entre o que é “santo e
profano” (‫)הקּ ֶֹדשׁ ַהחֹל‬
ַ e o que é “puro e impuro” (‫הטּהוֹר‬ ָ ‫)ה ָטּ ֵמא‬,
ַ e ter certeza de que a
instrução de Javé se torne pública, ou seja, eles precisam “ensinar aos israelitas todos os
estatutos que Javé tem dado” (‫יהם‬ ֶ ‫ל־ה ֻח ִקּים ֲא ֶשׁר ִדּ ֶבּר יְ הוָֹ ה ֲא ֵל‬
ַ ‫ת־בּנֵ י יִ ְשׂ ָר ֵאל ֵאת ָכּ‬
ְ ‫)וּלהוֹר ֹת ֶא‬.
ְ 44
Assim, se torna impossível, completamente contraditório, o uso da função sacerdotal para
benefício do próprio sacerdote e não para o benefício do povo.
Por isso, Javé, em sua transcendência e liberdade, não pode deixar que sua “glória”
seja usada dessa forma. Assim, quando Javé consome Nadabe e Abiú, ele o faz para que “por
aqueles que se aproximam de mim eu seja santificado, e diante de todo o povo eu seja
glorificado” (Lv 10.3).45 A presença de Javé não deve ser vista em segredo, para alguns
privilegiados, mas por todo o povo.46 Da mesma forma que Javé “consome” (‫אכל‬ ַ ֹ ‫ )תּ‬os
sacrifícios na inauguração do culto em 9.24, assim ele também “consome” Nadabe e Abiú

39 Balentine, Leviticus, 87.

40 John E. Hartley, Leviticus. Word Biblical Commentary (Dallas: Word, Incorporated , 1998), 4.

41 See Hartley, Leviticus, 5.

42 Milgrom, Leviticus 1-16, 144. Cf. Marx, “The Theology of the Sacrifice According to Leviticus 1–7,” 119.
43 O aspecto secundário, enfim, pode ser visto aqui. Assim como em Is 27.8, a “bebida forte” e o “vinho” podem
atrapalhar as funções sacerdotais. Ver Sklar, Leviticus, 159-60.
44 Ver Balentine, Leviticus, 87.

45 Ver Nihan, From Priestly Torah to Pentateuch, 586-7. Milgrom demonstra que “aqueles que se aproximam de
mim” (‫)בּ ְקר ַֹבי‬
ִ é um termo técnico para descrever oficiais que têm acesso direto ao rei (Ez 23.12; Et 1.14). Isso
ajuda bastante a entender a relação entre sacerdotes e Javé, assim como sacerdotes e povo. Quebrar o protocolo
para entrar na presença do rei era um erro grave de falta de respeito e sujeição, resultando em julgamento (cf.
Et 4.11). Um oficial que faz uso de sua posição para o próprio benefício não entendeu sua posição de mediação
benéfica entre o rei e o povo. Ver Milgrom, Leviticus 1-16, 600-1; Sklar, Leviticus, 157.
46 Sklar, Leviticus, 157.

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LEVÍTICO 10:1-11: O ERRO DE NADABE E ABIÚ

(10.2).47 Na tentativa de utilizar a “glória” de Deus para o seu próprio benefício, Nadabe e
Abiú são consumidos pela “glória” de Javé para acertar as contas, ou seja, para ser glorificado
diante de todo o povo.48 Com isso, Javé mantém sua posição diante respeito diante do povo e
assevera o propósito de sua presença em seu meio.49 Dessa forma Javé não deixa de ser
“glorificado”, mas diante do erro de Nadabe e Abiú, essa “glorificação” é motivo de silêncio
(10.3), em vez da alegria do povo (9.24). Se a transcendência de Javé for respeitada e sua
“glória” for experimentada no Tabernáculo e no culto da forma como deve, ou seja, para o
benefício da vida de todo o povo, então sua “glorificação” será motivo de alegria para todos e
sua presença será abençoadora; do contrário, se houver a tentativa de manipular sua “glória”
para o benefício daqueles que detém privilégios diante do povo, como os sacerdotes Nadabe
e Abiú tinham, então a “glorificação” de Javé se dará por uma clara demonstração de sua
transcendência, liberdade e periculosidade.50 Ao buscar seu próprio benefício, então, Nadabe
e Abiú negam seu ofício sacerdotal de garantia da bênção divina a todo o povo, e acabam
atraindo para si mesmos a maldição divina.51

47 Ver Morales, Who Shall Ascend the Mountain of the Lord?, 146.

48 Nihan demonstra como essa “glorificação” pode ser encontrada em outro contexto sacerdotal, em Ezekiel
28.22; 38.16, 33, aqui uma ação contra seus inimigos. Nihan, From Priestly Torah to Pentateuch, 588.
49 Ver Milgrom, Leviticus 1-16, 601-2.

50A presença de Javé em meio ao povo resulta em bênçãos, mas também implica em grande perigo. Ver
Morales, Who Shall Ascend the Mountain of the Lord?, 146; Nihan, From Priestly Torah to Pentateuch, 588.
51 Cf. Balentine, Leviticus, 84.

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