Sei sulla pagina 1di 11

Sobre a doutrina católica do

pecado original
5 anos ago
0 comentários
by Católico Porque...
768 Views
Navegando recentemente em algumas redes sociais, por acaso deparei-me com
um grupo de formação católica que discutia sobre a doutrina da Imaculada
Conceição, e que por sua vez acabou caindo no tema do pecado original. O que
me deixou preocupado não foi apenas ter encontrado um participante expondo
ideias equivocadas, mas também perceber que a grande maioria dos
participantes dessa comunidade não sabia distinguir os erros que eram
apresentados nessas exposições.

Entre algumas expressões preocupantes que li estavam aquelas que assumiam


que o pecado original é apenas uma “concepção latina”, uma “tese agostiniana”,
ou que os “latinos” creem que o pecado original “foi herdado” mas que isso não
queria dizer que toda a Cristandade assim acreditava também; portanto, “a
concepção latina não pode ser imposta a toda confissão cristã, já que a tese
agostiniana é alheia ao mundo ortodoxo”.

O erro mais grave em toda essa argumentação era, talvez, assumir que a
doutrina do pecado original é apenas “uma concepção latina”. Não estamos
falando de uma mera “tese agostiniana”, mas de um dogma de fé, para o qual
a “Donum Veritatis” ensina (nº 22):

– “Quando o Magistério da Igreja se pronuncia de modo infalível, declarando


solenemente que uma doutrina encontra-se contida na Revelação, a adesão
que se requer é a da fé teologal. Esta adesão estende-se ao ensinamento do
Magistério ordinário e universal quando este propõe para crer uma doutrina de
fé como sendo de Revelação divina”.

Referidos dogmas de fé são verdades reveladas não a um rito em particular,


mas à Igreja Universal, que é católica, porque ainda que na Igreja existam mais
de 20 ritos, não apenas os latinos, mas também os orientais (bizantinos,
antioquenos e alexandrinos), todos, em comunhão plena com a Sé Apostólica e
com o Papa, todos e cada um dos cristãos, de qualquer rito que seja, devem
abraçar com fé divina e católica cada um desses dogmas; e isso inclui a
doutrina do pecado original.
As igrejas ortodoxas, ainda que na verdade sejam igrejas particulares, não
estão em plena comunhão com a Sé Apostólica. Os cristãos dessas igrejas
possuem a obrigação moral de abraçar a verdadeira religião, que é a Católica, e
suas igrejas particulares devem retornar à plena comunhão com ela. Devemos
ainda dizer que o fato de seu desenvolvimento teológico teR se paralisado em
razão do cisma do Oriente e não professarem adesão a todos os dogmas da fé
católica nem aos últimos Concílios Ecumênicos, isto não faz com que os dogmas
sejam verdades menos reveladas; e o mesmo se diga acerca do fato de
existirem outros cristãos que não os professem.

Para deixar claro qual é a doutrina católica a respeito do tema do pecado


original, quero compartilhar um extrato do “Manual de Teologia Dogmática”, de
Ludwig Ott, págs. 180 a 191. Espero que seja útil para eles.

O HOMEM E A SUA QUEDA


§20. O pecado pessoal dos nossos primeiros Pais ou pecado original
originante
1. O ato pecaminoso
Nossos primeiros pais pecaram gravemente no Paraíso, transgredindo o
preceito divino que Deus lhes havia imposto para provar-lhes (de fé, por ser
doutrina do Magistério ordinário e universal da Igreja).
O Concílio de Trento ensina que Adão perdeu a justiça e a santidade por
transgredir o preceito divino (Dz 788). Como a magnitude do castigo tem por
norma a magnitude da culpa, por um castigo tão grave se percebe que o
pecado de Adão também foi grave ou mortal.
A Sagrada Escritura faz referência, em Gênesis 2,17 e 3,1ss, ao pecado dos
nossos primeiros pais. Como o pecado de Adão constitui a base dos dogmas do
pecado original e da redenção do gênero humano, devem ser admitidos, em
seus pontos essenciais, a historicidade do relato bíblico. Segundo a resposta da
Comissão Bíblica, datada do ano de 1909, não é lícito duvidar do sentido literal
e histórico acerca dos fatos que mencionamos a seguir:
a) Que ao primeiro homem foi imposto um preceito por Deus a fim de provar a
sua obediência;
b) Que transgrediu este preceito divino por insinuação do diabo, apresentado
sob a forma de uma serpente;
c) Que nossos primeiros pais se viram privados do primitivo estado de inocência
(Dz 2123).
Os livros mais recentes da Sagrada Escritura confirmam este sentido literal e
histórico: “Pela mulher teve princípio o pecado e por ela todos morremos”
(Eclesiástico 25,33); “Pela inveja do diabo, a morte entrou no mundo”
(Sabedoria 2,24); “Porém, eu temo que, assim como a serpente enganou Eva
com sua astúcia, também corrompa os vossos pensamentos, afastando-os da
sincera entrega a Cristo” (2Coríntios 2,3); cf. 1Timóteo 2,14; Romanos
5,12ss; João 8,44. Devem ser descartadas a interpretação mitológica e a
puramente alegórica (dos alexandrinos).
O pecado dos nossos primeiros pais foi, em sua índole moral, um pecado de
desobediência; cf. Romanos 5,19: “Pela desobediência de um, muitos foram
feitos pecadores”. A raiz de tal desobediência foi a soberba; cf. Tobias 4,14:
“Toda perdição tem o seu princípio no orgulho”; Eclesiástico 10,15: “O princípio
de todo pecado é a soberba”. O contexto bíblico descarta a hipótese de que o
pecado fôra de índole sexual, como sustentaram Clemente Alexandrino e Santo
Ambrósio. A gravidade do pecado resulta do objetivo que o preceito divino
buscava e das circunstâncias que o rodeavam. Santo Agostinho considera o
pecado de Adão como “inefavelmente grande” (=”ineffabiliter grande
peccatum”; Op. Imperf. c. Jul. 1,105).
2. As consequências do pecado
a) Os protopais perderam, pelo pecado, a graça santificante e atraíram sobre si
a cólera e a raiva de Deus (de fé; Dz 788)
A Sagrada Escritura nos aponta a perda da graça santificante ao apontar que
nossos primeiros pais foram excluídos da relação familiar que tinham com
Deus; Gênesis 3,10.23. Deus Se apresenta como juiz e lança contra eles o
veredito condenatório; Gênesis 3,16ss.
O desagrado divino finalmente se traduz na reprovação eterna. De fato,
Taciano ensinou que Adão perdeu a salvação eterna. Santo Ireneu (Adv. Haer.
3,23,8), Tertuliano (De Poenit. 12) e Santo Hipólito (Philos. 8,16) distanciavam-
se dessa teoria. Segundo afirmam, é doutrina universal de todos os Padres,
baseada em uma passagem do livro da Sabedoria (10,2: “ela (=a Sabedoria) o
salvou em sua queda”), que os nossos primeiros pais fizeram penitência e,
“pelo Sangue do Senhor”, viram-se salvos da perdição eterna; cf. Santo
Agostinho, De Peccat. Mer. et Rem 2,34,55.
b) Os Protopais ficaram sujeitos à morte e ao senhorio do diabo (de fé; Dz 788)
A morte e todo o mal a ela relacionado têm a sua raiz na perda dos dons de
integridade. Segundo Gênesis 3,16ss, como castigo pelo pecado Deus nos
impôs os sofrimentos e a morte. O senhorio do diabo é indicado em Gênesis
3,15 e expressamente ensinado em João 12,31; 14,30; 2Coríntios 4,4; Hebreus
2,14; 2Pedro 2,19.
§21. Existência do Pecado Original
1. Doutrinas heréticas contraditórias
O pecado original foi indiretamente negado pelos gnósticos e maniqueus, que
atribuíam a corrupção moral do homem a um princípio eterno do mal: a matéria.
Também o negavam indiretamente os origenistas e priscilianistas, os quais
explicavam a inclinação do homem para o mal em razão de um pecado
cometido pela alma antes da sua união com o corpo.
Os pelagianos negaram diretamente a doutrina do pecado original, ensinando
que:
a) O pecado de Adão não se transmitia por herança aos seus descendentes,
mas que estes imitavam o mau exemplo daquele (“imitatione, non
propagatione”).
b) A morte, os sofrimentos e a concupiscência não são castigos pelo pecado,
mas efeitos do estado de natureza pura.
c) O batismo das crianças não se administra para a remissão dos pecados, mas
para que estas sejam recebidas na comunidade da Igreja e alcancem o “reino
dos céus” (que é um grau de felicidade superior ao “da vida eterna”).
Veja também Conversando com amigos evangélicos sobre o tema
“ Salvação”

A heresia pelagiana foi combatida principalmente por Santo Agostinho e


condenada pelo Magistério da Igreja nos sínodos de Mileve (416), Cartago
(418), Orange (529) e, mais recentemente, pelo Concílio de Trento (1546); Dz
102, 174s; 787ss.
O pelagianismo sobreviveu no racionalismo desde a Idade Moderna até os
tempos atuais (socinianismo, racionalismo do tempo da “Ilustração”, teologia
protestante liberal, incredulidade moderna).
Na Idade Média, o sínodo de Sens (1141) condenou a seguinte proposição de
Pedro Abelardo: “Quod non contraximus culpam ex Adam, sed poenam tantum”
(Dz 376).
Os reformadores, baianistas e jansenistas conservaram a crença no pecado
original, porém desfiguraram a sua essência e os seus efeitos, fazendo-o
consistir na concupiscência e considerando-o como uma total corrupção da
natureza humana (cf. Conf. Aug., art. 2).
2. Doutrina da Igreja
O pecado de Adão se propaga a todos os seus descendentes por geração, não
por imitação (de fé).
A doutrina da Igreja sobre o pecado original acha-se contida no “Decretum
super peccato originali”, do Concílio de Trento (Sess. V, 1546), que às vezes
segue literalmente as definições dos sínodos de Cartago e Orange. O Tridentino
condena a doutrina de que Adão perdeu apenas para si e não também para nós
a justiça e santidade que havia recebido de Deus; e [condena] aquela outra
[doutrina] de que Adão transmitiu aos seus descendentes apenas a morte e os
sofrimentos corporais, mas não a culpa do pecado. Ensina positivamente que o
pecado, que é a morte da alma, se propaga de Adão para todos os seus
descendentes por geração e não por imitação; e que é inerente a cada
indivíduo. Tal pecado é apagado pelos méritos da redenção de Jesus Cristo, os
quais se aplicam ordinariamente tanto aos adultos quanto às crianças através
do sacramento do Batismo. Por isso, até mesmo as crianças recém-nascidas
recebem o batismo para a remissão dos pecados (Dz 789-791).
3. Prova obtida das fontes de Revelação
a) Prova da Escritura
O Antigo Testamento somente contém insinuações sobre o pecado original; cf.
particularmente o Salmo 50,7: “Eis que nasci na culpa e em pecado me
concebeu a minha mãe”; Jó 14,4 (segundo a Vulgata): “Quem poderá nascer
puro se foi concebido de uma semente imunda?” (Massorético: “Quem poderá
fazer de um imundo uma pessoa limpa?”). Em ambos os lugares fala-se de uma
pecaminosidade inata ao homem, quer se entenda no sentido de pecado
habitual, quer no de mera inclinação ao pecado, porém sem relacioná-la
causalmente ao pecado de Adão. Porém, o Antigo Testamento claramente
conheceu o nexo causal que existe entre a morte de todos os homens e o
pecado dos nossos primeiros pais (a herança da morte); cf. Eclesiástico 25,33;
Sabedoria 2,24. A prova clássica da Escritura é a de Romanos 5,12-21. Nesta
passagem, o Apóstolo estabelece um paralelo entre o primeiro Adão – que
transmitiu o pecado e a morte a todos os homens – e Cristo – o segundo Adão,
que difundiu sobre todos a justiça e a vida; versículo 12: “Assim, portanto, por
um homem o pecado entrou no mundo; e, pelo pecado, a morte; e assim a
morte passou para todos os homens, já que todos haviam pecado (=’in quo
omnes peccaverunt’)”… Versículo 19: “Portanto, como pela desobediência de
um muitos foram feitos pecadores, assim também pela obediência de um
muitos serão feitos justos”.
?) O vocábulo “pecado” (tomado aqui no seu sentido mais amplo e
personificado) engloba também o pecado original. Pretende-se expressar a
culpa do pecado, não as suas consequências. Faz-se distinção explícita entre o
pecado e a morte, a qual é considerada como consequência do pecado. Resta
bem claro que São Paulo, ao falar do pecado, não se refere à concupiscência
porque, segundo ele (versículo 18s), nos vemos livres do pecado pela graça
redentora de Cristo, de modo que a experiência nos diz que, apesar de tudo, a
concupiscência continua em nós.
?) As palavras “in quo” (versículo 12d) foram interpretadas em sentido relativo
por Santo Agostinho e por toda a Idade Média, fazendo referência a “unum
hominem”: “Por um homem… no qual todos pecaram”. Desde Erasmo de
Roterdã foi se impondo cada vez mais a interpretação conjuncional, muito
melhor fundada linguisticamente e que já foi sustentada por numerosos Santos
Padres, sobretudo gregos: “já que todos temos pecado” ou “visto que todos
temos pecado” (ver as passagens paralelas de 2Coríntios 5,4; Filipenses 3,12;
4,10; Romanos 8,3). Como aqueles que não têm pecados pessoais também
morrem (as crianças que não fazem uso da razão), a causa da morte corporal
não pode ser nenhuma culpa pessoal, mas a culpa herdada de Adão. Cf. os
versículos 13s e 19, onde se diz expressamente que o pecado de Adão é a
razão de que muitos foram feitos pecadores. A interpretação conjuncional, que
hoje é a que encontra aceitação geral, coincide com a ideia da interpretação de
Santo Agostinho: “Todos pecaram em Adão e por causa disto todos morrem”.
?) As palavras “Muitos foram feitos pecadores” (versículo 19a) não restringem a
universalidade do pecado original, pois a expressão “muitos” (em contraste com
um só Adão ou com um só Cristo) é paralela a “todos”, empregada nos
versículos 12d e 18a.
b) Prova da Tradição
Santo Agostinho invoca contra o bispo pelagiano Juliano de Eclana a Tradição
eclesiástica: “Não fui eu que inventei o pecado original, pois a Fé Católica crê
nele desde a antiguidade; mas tu, que o negas, és, sem dúvida, um novo
herege” (De Nupt. et Concup. 11 12, 25). Santo Agostinho, na sua obra Contra
Iulianum (1,1.11) apresenta desde logo uma verdadeira prova da Tradição
citando Ireneu, Cipriano, Retício de Autún, Olímpio, Hilário, Ambrósio,
Inocêncio I, Gregório de Nanzianzo, João Crisóstomo, Basílio e Jerônimo como
testemunhas da doutrina católica. Muitas expressões dos Padres gregos, que
parecem insistir bastante que o pecado é uma culpa pessoal e que parecem
prescindir totalmente do pecado original, são facilmente entendidas se
considerarmos que foram escritas para combater o dualismo dos gnósticos e
maniqueus, e contra o preexistencialismo origenista. Santo Agostinho desde
logo defendeu a doutrina de Crisóstomo para preservá-la das deturpadas
interpretações dadas pelos pelagianos: “vobis nondum litigantibus securius
loquebatur” (Contra Iul. 1,6,22).
Uma prova positiva e que não admite contestação de quão convencida a Igreja
Primitiva estava da realidade do pecado original é a prática de batizar as
crianças “para a remissão dos pecados” (cf. São Cipriano, Ep. 64,5).
4. O dogma e a razão
A razão natural não é capaz de apresentar um argumento contundente a favor
da existência do pecado original, mas unicamente o infere por probabilidade,
com base em certos indícios: “Peccati originalis in humano genere probabiliter
quaedam signa apparent” (S.C.G. IV,52). Tais indícios são as espantosas
aberrações morais da humanidade e a apostasia da fé no verdadeiro Deus
(politeísmo, ateísmo).
§22. Essência do pecado original
1. Opiniões errôneas
a) O pecado original, contra o que pensava Pedro Abelardo, não consiste na
dívida da pena eterna, isto é, no castigo condenatório a que os descendentes
de Adão teriam herdado deste, que era a cabeça do gênero humano (pena
original e não culpa original). Segundo a doutrina do Concílio de Trento, o
pecado original é verdadeiro e estrito pecado, isto é, dívida da culpa (cf. Dz 376,
789, 792). São Paulo nos fala de verdadeiro pecado; Romanos 5,12:
“…porquanto todos temos pecado” (cf. Romanos 5,19).
b) O pecado original, contra o que ensinaram os reformadores, baianistas e
jansenistas, não consiste tampouco na má concupiscência habitual (isto é, na
habitual inclinação para o pecado), que persistiria ainda nos batizados como
verdadeiro e estrito pecado, ainda que neste caso não se lhes sejam imputados
os efeitos do castigo. O Concílio de Trento ensina que pelo sacramento do
Batismo é apagado tudo o que é verdadeiro e estrito pecado e que a
concupiscência (que permanece após o batismo como prova moral) apenas
pode ser considerada como pecado em sentido impróprio (Dz 792).

Veja também Conversando com amigos evangélicos sobre o


Purgatório

É incompatível com a doutrina de São Paulo (que considerava a justificação


como uma transformação e renovação internas) aquela [doutrina] em que o
pecado permanece no homem, ainda que não lhe sejam imputados os efeitos
do castigo. Quem foi justificado encontra-se livre do perigo da reprovação
porque tem distante de si a razão da reprovação, que é o pecado; Romanos
8,1: “Portanto, já não há condenação alguma para os que são de Cristo Jesus”.
Como a natureza humana é composta por corpo e espírito, a concupiscência
existiria também no estado de natureza pura como um mal natural e, portanto,
não pode ser por si mesma considerada como pecaminosa, porque Deus fez
tudo bom (Dz 428).
c) O pecado original, contra o que ensinaram Alberto Pighio († 1542) e
Ambrósio Catarino, OP († 1553), não consiste em uma imputação meramente
extrínseca do pecado atual de Adão (teoria da imputação). Segundo a doutrina
do Concílio de Trento, o pecado de Adão se propaga por herança a todos os
seus descendentes e é inerente a cada um deles como pecado próprio seu:
“propagatione, non imitatione transfusum ómnibus, inest unicuique proprium”
(Dz 790); cf. Dz 795: “propriam iniustitiam contrahunt”. O efeito do Batismo,
segundo a doutrina do mesmo Concílio, é realmente apagar o pecado e não
obter tão somente que não nos seja imputada uma culpa estranha (Dz 792; cf.
5, 12 e 19).
2. Solução positiva
O pecado original consiste no estado de privação da graça que, por ter sua
causa no voluntário pecado atual de Adão, cabeça do gênero humano, é
culpável (sentido comum).
a) O Concílio de Trento chama o pecado original de “morte da alma” (=”mors
animae”; Dz 789). A morte da alma é a falta da vida sobrenatural, isto é, da
graça santificante. No Batismo o pecado original é apagado através da infusão
da graça santificante (Dz 792). Disto se segue que o pecado original é um
estado de privação da graça. Isto mesmo se deduz do paralelo que São Paulo
estabelece entre o pecado que procede de Adão e a justiça que procede de
Cristo (Romanos 5,19). Como a justiça que Cristo nos confere consiste
formalmente na graça santificante (Dz 799), o pecado herdado de Adão
consistirá formalmente na falta dessa graça santificante. E a falta dessa graça,
que por vontade de Deus tinha que haver na alma, tem caráter de culpa, já que
se trata do distanciamento de Deus.
Como o conceito de pecado em sentido formal inclui o ser voluntário (=”ratio
voluntarii), isto é, a incorrência voluntária no mesmo, e as crianças, antes de
chegar ao uso da razão, não podem praticar atos voluntários pessoais, deve-se
explicar, portanto, que a nota de voluntariedade no pecado original tem
conexão com o voluntário pecado atual de Adão. Adão era o representante de
todo o gênero humano. Da sua livre decisão dependia que se conservassem ou
se perdessem os dons sobrenaturais que não foram concedidos pessoalmente a
ele, mas a toda a natureza humana; dons que, pela voluntária transgressão de
Adão ao preceito divino, foram perdidos não somente por ele, mas também
para toda a linhagem humana que se formaria da sua descendência.
Pio V condenou a proposição de Baio que afirmava que o pecado original possui
em si mesmo o caráter de pecado sem relação alguma com a vontade da qual
teve origem o referido pecado (Dz 1047). Cf. Santo Agostinho, Retract.
1,12(13),5; [São Tomás de Aquino], S.th. 1,2,81,1.
b) Segundo a doutrina de São Tomás, o pecado original consiste formalmente
na ausência da justiça original e, materialmente, na concupiscência
desordenada. São Tomás distingue em todo pecado um elemento formal e
outro material, o distanciamento de Deus (=”aversio a Deo”) e a conversão à
criatura (=”conversio ad creaturam”). Como a conversão à criatura se
manifesta principalmente na má concupiscência, São Tomás, juntamente com
Santo Agostinho, enxerga na concupiscência – a qual é em si mesma uma
consequência do pecado original -, o elemento material do referido pecado:
“peccatum originale materialiter quidem est concupiscentia, formaliter vero est
defectus originalis iustitiae” (S.th. 1,11,82,3). Essa doutrina de São Tomás
encontra-se em parte sob a influência de Santo Anselmo de Canterbury, que
coloca a essência do pecado original exclusivamente na privação da justiça
primitiva e, em outra parte, sob a influência de Santo Agostinho, o qual define
o pecado original como a concupiscência com sua dívida de culpa
(=”concupiscentia cum suo reatu”) e comenta que a dívida de culpa é eliminada
pelo Batismo, enquanto que a concupiscência continua em nós como um mal,
não como um pecado, para nos fazer exercitar na luta moral (=”ad agonem”);
cf. Op. Imperf. c. Jul. 1,71.
A maioria dos teólogos pós-tridentinos não considera a concupiscência como
elemento constitutivo do pecado original, mas como consequência do mesmo.
§23. Propagação do pecado original
O pecado original se propaga por geração natural (de fé).
O Concílio de Trento diz: “propagatione, non imitatione transfusum omnibus”
(Dz 790). Ao batizar uma criança, resta apagado pela regeneração aquilo que
havia incorrido pela geração (Dz 791).
Como o pecado original é “peccatum naturae”, propaga-se do mesmo modo
que a natureza humana: pelo ato natural da geração. Mesmo quando tal
pecado em sua origem seja apenas um (Dz 790) – a saber, o pecado do nosso
primeiro pai (o pecado de Eva não é a causa do pecado original) – multiplica-se
tantas vezes quantas ocorrer a geração de um novo filho de Adão. Em cada
geração se transmite a natureza humana desnudada da graça original.
A causa principal (“causa efficiens principalis”) do pecado original é apenas o
pecado de Adão. A causa instrumental (=”causa efficiens instrumentalis”) é o
ato natural da geração, pelo qual se estabelece a conexão moral do indivíduo
com Adão, cabeça do gênero humano. A concupiscência atual vinculada ao ato
gerador (o prazer sexual, a libido), contra o que opina Santo Agostinho (De
nuptiis et concup. 1,23,25; 1,24,27), não é causa eficiente nem condição
indispensável para a propagação do pecado original. Nada mais é que um
fenômeno concomitante do ato gerador, ato que, considerado em si mesmo,
não é senão a causa instrumental da propagação do pecado original (cf. S.th.
1,2,82,4 ad 3).
Objeções: Da doutrina católica sobre a transmissão do pecado original não se
segue – como garantiam os pelagianos – que Deus seja a causa do pecado. A
alma que Deus cria é boa, considerada no seu aspecto natural. O estado de
pecado original significa a falta de uma excelência sobrenatural para a qual a
criatura não pode apresentar título algum. Portanto, Deus não está obrigado a
criar a alma com o ornamento sobrenatural da graça santificante. Ademais,
Deus não tem culpa de que se recusem os dons sobrenaturais à alma que
acaba de ser criada; a culpa disto foi do homem, que fez mal uso da sua
liberdade. Da doutrina católica não se segue tampouco que o matrimônio em si
seja algo mau. O ato conjugal da procriação é em si bom, porque
objetivamente (isto é, segundo a sua finalidade natural) e subjetivamente (isto
é, segundo a intenção dos progenitores) tende a alcançar um bem, que é a
propagação do gênero humano, conforme a ordem de Deus.
§24. Consequências do pecado original
Os teólogo escolásticos, inspirando-se em Lucas 10,30, resumiram as
consequências do pecado original no seguinte axioma: O homem foi, pelo
pecado de Adão, despojado dos seus bens sobrenaturais e ferido nos bens
naturais (“spoliatus gratuitis, vulneratus in naturalibus”). Tenha-se em conta
que o conceito de “gratuita de ordinario” estende-se apenas aos dons
absolutamente sobrenaturais e que no conceito de “naturalia” se inclui o dom
da integridade de que estavam dotadas as disposições e forças naturais do
homem antes da Queda (=”naturalia integra”); cf. São Tomas, Sent. 2,29,1,2;
S.th. 1,2,85,1.

Veja também O homem no Paraíso e a Queda

1. Perda dos dons sobrenaturais


No estado de pecado original, o homem encontra-se privado da graça
santificante e de todas as suas sequelas, assim como também dos dons
preternaturais de integridade (de fé no que diz respeito à graça santificante e
ao dom da imortalidade; Dz 788s).
A falta da graça santificante, considerada como decorrência de o homem ter se
afastado de Deus, tem caráter de culpa; considerada como decorrência de Deus
ter se afastado do homem, tem caráter de castigo. A falta dos dons de
integridade traz como consequência que o homem se encontre submetido à
concupiscência, aos sofrimentos e à morte. Tais consequências persistem ainda
depois de o pecado original ter sido apagado [pelo Batismo], mas a partir daí já
não são consideradas como castigo, mas como penalidades, isto é, como meios
para se praticar a virtude e oferecer prova da própria moralidade. Aquele que
se encontra no pecado original está na servidão e sob cativeiro do demônio, a
quem Jesus chamou de “príncipe deste mundo” (João 12,31; 14,30); e São
Paulo o chama de “deus deste mundo” (2Coríntios 4,4); cf. Hebreus
2,14; 2Pedro 2,19.
2. Vulnerabilidade da natureza
A ferida que o pecado original abriu na natureza não deve ser concebida como
uma total corrupção da natureza humana, como pensam os reformadores e
jansenistas. O homem, ainda que se encontre no estado de pecado original,
continua possuindo a faculdade para conhecer as verdades religiosas naturais e
realizar ações moralmente boas na ordem natural. O Concílio do Vaticano
ensina que o homem pode conhecer com certeza a existência de Deus apenas
com as forças da sua razão natural (Dz 1785, 1806). O Concílio Tridentino
ensina que pelo pecado de Adão o livre arbítrio não foi perdido nem se
extinguiu (Dz 815).
A ferida aberta na natureza interessa ao corpo e à alma. O Concílio de Orange
II (529) declarou: “totum, i. e. secundum corpus et animam, in deterius
hominem commutatum (esse)” (Dz 174; cf. Dz 181, 199, 793). Além da
sensibilidade ao sofrimento (=”passibilitas” e da sujeição à morte
(=”mortalitas”) – as duas feridas que afetam o corpo – os teólogos, seguindo
São Tomás (S.th. 1,2,85,3), enumeram quatro feridas da alma, opostas
respectivamente às quatro virtudes cardeais:
a) A ignorância – isto é, a dificuldade para conhecer a verdade (opõe-se à
prudência);
b) A malícia – isto é, a debilidade da nossa vontade (opõe-se à justiça);
c) A fragilidade (=”infirmitas”) – isto é, a covardia diante das dificuldades que
encontramos para tender ao bem (opõe-se à fortaleza);
d) A concupiscência em sentido estrito – isto é, o apetite desordenado para
satisfazer aos sentidos que são contrários às normas da razão (opõe-se à
temperança).
A ferida do corpo tem o seu fundamento na perda dos dons preternaturais da
impassibilidade e imortalidade; a ferida da alma, na perda do dom preternatural
da imunidade da concupiscência.
É objeto de controvérsia se a ferida aberta na natureza consiste exclusivamente
na perda dos dons preternaturais ou se a natureza humana sofre também, de
modo acidental, de uma debilidade intrínseca. Os que seguem a primeira
sentença (São Tomás e a maior parte dos teólogos) afirmam que a natureza foi
ferida apenas relativamente, isto é, se quando comparada com o estado
primitivo de justiça original. Os defensores da segunda sentença concebem a
ferida da natureza em sentido absoluto, isto é, como situação inferior em
relação ao estado de natureza pura.
Conforme a primeira sentença, em relação ao homem em estado de natureza
pura, o homem em pecado original é uma pessoa que foi despojada das suas
vestes (desnudada) enquanto que aquele é uma pessoa que nunca se cobriu
com quaisquer vestes (desnuda; “nudatus ad nudum”). Conforme a segunda
sentença, a relação que existe entre ambos é como aquela que existe entre um
doente e uma pessoa sã (“aegrotus ad samtm”).
Sem dúvida, deve-se preferir a primeira opinião, pois o pecado atual de Adão –
uma ação singular – não pôde criar na sua própria natureza, nem na dos seus
descendentes, qualquer mau hábito, e, portanto, nem a consequente
debilitação das forças naturais (cf. S.th. 1,2,85,1). Porém, deve-se conceder
que a natureza humana decaída, pelos extravios dos indivíduos e das
coletividades, tem experimentado certa corrupção ulterior, de modo que se
encontra atualmente em uma situação concreta inferior à do estado de
natureza pura.
§25. A sorte das criaças que morrem em pecado original
As almas que deixam esta vida em estado de pecado original estão excluídas da
visão beatífica de Deus (de fé).
O Concílio Ecumênico de Lião II (1274) e o Concílio de Florença (1438-45)
declararam: “Illorum animas, qui in actuali mortali peccato vel solo originali
decedunt, mox in infernum descenderé, poenis tamen disparibus puniendas”
(Dz 464,693; cf. 493a).
Este dogma fundamenta-se nas palavras do Senhor: “Se alguém não renascer
da água e do Espírito Santo [através do Batismo], não poderá entrar no reino
dos céus” (João 3,5).
Todavia, os que não chegaram ao uso da razão podem obter a regeneração de
maneira extrassacramental graças ao batismo de sangue (recorde-se a matança
dos Santos Inocentes). Em atenção à vontade universal salvífica de Deus
(1Timóteo 2,4), muitos teólogos modernos, especialmente os contemporâneos,
admitem substitutos do Batismo para as crianças que morrem sem o Batismo
sacramental, tais como as orações e o desejo dos pais ou da Igreja (batismo de
desejo representativo, cf. Caetano); ou a concessão do uso da razão no
momento da morte, de forma que a criança agonizante possa decidir-se a favor
ou contra Deus (batismo de desejo, cf. H. Klee); ou que os sofrimentos e a
morte da criança sirvam como um quase-sacramento (batismo de dor, cf. H.
Schell). Estes e outros substitutos para o Batismo são certamente possíveis,
mas nada se pode provar pelas fontes de Revelação sobre a existência dos
mesmos (cf. Dz 712; AAS 50 [1958], 114).
Os teólogos, ao falar das penas do inferno, fazem distinção entre pena de dano
(que consiste na exclusão da visão beatífica) e pena de sentido (produzida por
meios extrínsecos e que, após a ressurreição do corpo, será experimentada
também pelos sentidos). Enquanto Santo Agostinho e muitos Padres latinos
opinam que as crianças que morrem em pecado original devem suportar
também uma pena de sentido, ainda que bastante benigna (“mitissima omnium
poena”; Enchir. 93), os Padres gregos (p.ex., São Gregório de Nanzianzo, Or.
40,23) e a maioria dos teólogos escolásticos e modernos ensinam que não
sofrem nada além da pena de dano. Em favor desta doutrina está a explicação
do Papa Inocêncio III: “Poena originalis peccati est carencia visionis Dei (poena
damni), actualis vero poena peccati est gehennae perpetuae cruciatus (poena
sensus)” (Dz 410). Um estado de felicidade natural é, com efeito, compatível
com a pena de dano (cf. São Tomás, De malo, Sent. 2,33,2,2).
Os teólogos costumam a admitir que existe um lugar especial para onde vão as
crianças que morrem sem o Batismo, ao qual dão o nome de “limbo das
crianças”. Pio VI defendeu esta doutrina diante da interpretação pelagiana dos
jansenistas, que falsamente queriam explicá-lo como um estado intermediário
entre a condenação e o reino de Deus (Dz 1526)

Potrebbero piacerti anche