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Cristiano Chaves

uDIREITO CIVIL – PONTO 05

Contratos   em   geral:   Teoria   geral   dos   contratos.   Princípios.   Elementos   constitutivos.


Pressupostos de validade. Revisão. Extinção.

 
 
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

 01.      
   NOÇÕES GERAIS SOBRE OS CONTRATOS

O conceito histórico dos contratos é de “espécie de negócio jurídico”  para o ajuste de
interesses privados patrimoniais.  Portanto, os contratos sempre se predispuseram para o ajuste de
interesses patrimoniais. 

Vitor Kümpel conceitua o contrato dizendo que “é  a fonte das obrigações estabelecida
pela convergência de duas ou mais vontades (elemento fundamental), de acordo com a lei, auto
regulamentando interesses entre as partes contratantes (elemento estrutural), e cuja finalidade é
adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial”. 

Ocorre que esse conceito começou a ser revisto justamente por conta da incidência dos
direitos   e   garantias   fundamentais   nas   relações   privadas   (STF,   RE   201.819/RJ   –   eficácia
horizontal dos direitos fundamentais).   

Então, houve uma constitucionalização do direito civil brasileiro, que  passou a conviver
não apenas  com valores patrimoniais, mas também com valores existenciais. Sendo assim, o
conceito histórico de contrato precisou ser revisto. Todavia o contrato continua sendo o ajuste
de interesses privados, mas não só para fins patrimoniais, como também, para a promoção da
dignidade humana, a solidariedade social e a igualdade substancial. 

O ajuste de interesses privados/particulares não pode prejudicar os direitos e garantias
fundamentais e os direitos e garantias sociais dos contratantes, bem como a tutela jurídica
de   terceiros   e   da   coletividade.   Em   outras   palavras,   o   contrato   não   pode   violar   os   direitos
fundamentais dos próprios contratantes, bem como a tutela jurídica dos terceiros. 

Repare como mudou o conceito de contrato através de 03 exemplos:
a) Contrato de cessão de imagem. Aqui não há finalidade patrimonial.

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b) Contratos de direito de família, a exemplo do pacto antenupcial. Hoje o marido e a mulher
podem dispensar a convivência sob o mesmo teto, desde que previsto no contrato (no
pacto antenupcial). 
c) Contratos ‘relacionais’ ou ‘cativos’ ou ‘de longa duração’, que são aqueles contratos que
se mantêm pela vida da pessoa indeterminadamente, indefinidamente, como por exemplo:
contrato de plano de saúde, de TV a Cabo, de energia elétrica etc. Nesses contratos, haverá
uma mitigação da autonomia da vontade, já que a pessoa necessidade daquele contrato
pelo longo de sua vida. 

Portanto,   esses   são   03   exemplos   de   novos   contratos,   que   demonstram   a   evolução   dos
contratos, deixando de ser apenas um interesse privado para fins patrimoniais. 

Veja que a evolução do conceito dos contratos decorre daquilo que os constitucionalistas
chamam   de  mutação   constitucional.   O   STF,   no   HC   86.009/DF­QO,   decidiu   que   mutação
constitucional seria dar nova interpretação à Constituição, mas sem haver, propriamente dito,
alteração no texto fundamental. A norma não mudou, mas sim, a interpretação sobre o significado
da norma.

E   é   justamente   isso  que   está   acontecendo   com   os   contratos:   o  que   está   mudando  é   a
compreensão sobre o verdadeiro significado dos contratos. Antes se dizia “ajuste de interesses
particulares   patrimoniais”.   Hoje,   além   disso,   o   contrato   deve   ser   entendido   como   ajuste   de
interesses privados para fins patrimoniais, para a promoção da dignidade humana, solidariedade
social e igualdade substancial. 

o DO PARADIGMA FORMALISTA passou­se à Materialização dos contratos –
expressão   usada   por   ROSENVALD   para   expressar   a   nova   concepçãoo   do
contrato   em   que  em   lugar   da   abstraçãoo   de   formas   universais   assume   o
PARTICUALRISMO   DIFERENCIADOR,   qu   epropõe   identificar   razões   de
inferioridade entre as partes e determinar quais são juridicamente relevantes.

Atenção:  Não   confundir   a   Constitucionalização   do   Direito   Civil   (ou   Direito   Civil


Constitucional) com a “Publicização do Direito Civil”. (Questão dissertativa da prova para DPU).

 Constitucionalização   do   Direito   Civil:  é   a   interpretação   dos   clássicos   institutos   do


Direito  Civil   conforme   os   valores   constitucionais.  Ex.   eficácia  horizontal  dos   direitos
fundamentais.

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 Publicização   do   Direito   Civil:  é   o   dirigismo   contratual.  É   a   intervenção   concreta,


específica do Estado em uma relação privada, com o fim de assegurar a igualdade entre
as partes. Ex. As agências reguladoras intervindo nas empresas prestadoras de serviço
para manter o equilíbrio contratual.  

Não é raro encontrar os dois fenômenos juntos, principalmente no direito do consumidor e
no direito do trabalho. Exemplo: o Estado interfere no valor do reajuste dos planos de saúde (isso
é Publicização, dirigismo), bem como o Estado, através do STJ, estabelece que não poderá haver
limitação do número de dias de internação do paciente com plano de saúde (proteção dos direitos
fundamentais – constitucionalização). 

 02.       
   DA AUTONOMIA DA VONTADE À AUTONOMIA PRIVADA

Historicamente, o direito contratual esteve assentado na autonomia da vontade. Autonomia
da vontade, nada mais é, do que liberdade contratual, que surgiu com a Revolução Francesa. O
equilíbrio negocial era resultado automático das partes terem livremente convencionado as
cláusulas.  Justiça  era   decorrência   direta   da   pactuação   de   interesses   entre   pessoas   livres   e
formalmente iguais – daí o impedimento da intervençãoo estatal.

O que representava essa liberdade era a expressão “pacta sunt servanda”, isto é, o contrato
faz lei entre as partes, consequência natural da liberdade de contratar.

Ocorre que essa liberdade contratual trouxe consigo alguns efeitos nefastos. O pacta sunt
servanda trazia a impossibilidade de interferência do Poder Judiciário para corrigir desiquilíbrios
contratuais, já que o contrato fazia lei entre as partes. Então, perceba que o conceito de autonomia
da vontade era absoluto, isto porque, para combater o absolutismo estatal, a liberdade contratual
acabou sendo concebida de forma absoluta. A consequência disso era justamente o  pacta sunt
servanda. 

Hodiernamente, com o movimento de Constitucionalização, as coisas se modificaram. Isso
porque, agora nós temos a função social e a boa­fé objetiva, previstos expressamente no próprio
Código   Civil,   bem   como   os   direitos   e   garantias   fundamentais   e   sociais,   previstos
constitucionalmente. 

Portanto, hoje há nitidamente uma nova dimensão da autonomia da vontade, que deixa de
ser absoluta, passando a ser chamada de  autonomia privada,  que consiste no  instrumento de
circulação   de   riquezas,   respeitados   os   valores   constitucionais,   como   a   dignidade   humana   e
solidariedade social, permitindo o livre desenvolvimento da pessoa humana. Em outras palavras,
a autonomia é sinônimo de livre iniciativa. 

A livre iniciativa, no entanto, não significa uma liberdade absoluta. Todos somos livres
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para contratar, mas, uma vez contratando, deve­se respeitar alguns limites, como, por exemplo,
respeitar a dignidade da pessoa humana, a boa­fé objetiva, a função social do contrato etc. 

Sem asfixiar a liberdade humana, o movimento de constitucionalização do direito civil e a
eventual Publicização do Direito Civil, estabelecem limites à contratação. Exemplo: enunciado
23, das Jornadas de Direito Civil: 
Enunciado 23 ­ Art. 421: a função social do contrato, prevista no art.
421   do   novo   Código   Civil,   não   elimina   o   princípio   da   autonomia
contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando
presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à
dignidade da pessoa humana. 

A concepção atual de contrato, em razão da incidência dos valores constitucionais, da boa­
fé e da função social, é no sentido de garantir a liberdade de iniciativa com respeito a valores
humanos e sociais. Não se quer sacrificar interesses privados ou creditícios, mas condicioná­los a
uma perspectiva garantista. 

 03.      
   DIREITO INTERTEMPORAL DOS CONTRATOS
A previsão está no art. 2.035 c/c art. 5º, XXVI, da CF

Art.   2.035.  A  VALIDADE  dos   negócios   e   demais   atos   jurídicos,


constituídos   antes   da   entrada   em   vigor   deste   Código,   obedece   ao
 disposto  nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, 

mas os seus EFEITOS, produzidos após a vigência deste Código, aos
preceitos   dele   se   subordinam,   salvo   se   houver   sido   prevista   pelas
partes determinada forma de execução.
Art. 5º, XXXVI ­  a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada; 

Como toda relação de trato sucessivo, o contrato poderá se submeter a diferentes normas
jurídicas. Assim, é possível que ele se submeta a uma determinada norma, mas com o passar do
tempo, venha a se submeter a outra norma. Exemplo: contrato de trato sucessivo realizado antes
do CC/02. Após o advento deste novo Código, o contrato continua em vigor. Outro exemplo:
Casamento também é contrato, e se realizado antes de 2002, também está submetido a diferentes
normas. 

Fórmula do art. 2.035 do Código Civil para relações jurídicas continuativas submetidas a

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diferentes normas:  a  existência e validade  de uma relação jurídica ficam submetidas à norma


vigente na data de sua celebração; já a eficácia submete­se à norma atualmente em vigor. 

 Existência e validade do contrato = submetidas à norma vigente na data da celebração;
 Eficácia do contrato = norma atualmente em vigor.

Exemplos:
a) Mudança   do   regime   de   bens   do   casamento   (art.   1639,   CC).   O   casamento   é   contrato.
Pergunta:   se as pessoas se casaram antes do CC/02, podem mudar de regime de bens,
lembrando que o CC/16 não admitia a alteração do regime de bens? A mudança do regime
de bens está no plano da eficácia. Sendo assim, é perfeitamente possível a alteração do
regime de bens, já que será a lei nova a aplicável. (STJ, REsp. 730.546/MG).

b) Art. 977, do CC: proibição de contrato de sociedade entre pessoas casadas no regime de
comunhão   universal   ou   separação   obrigatória   de   bens.   O   CC/02   proíbe   que   marido   e
mulher sejam sócios se estiverem casados nesses regimes de bens. Mas antes do CC/02,
não havia essa proibição, sendo que haviam casais que eram sócios. E agora? Se a lei
proibiu, estamos diante do plano da validade. Se é plano da validade, não se aplica a lei
atual, mas sim, a lei vigente na época da sua celebração. Ver, a respeito, o enunciado 205
das Jornadas de Direito Civil.

En. 205 – Art. 977: Adotar as seguintes interpretações ao art. 977: (1)
a vedação à participação de cônjuges casados nas condições previstas
no artigo refere­se unicamente a uma mesma sociedade; (2) o artigo
abrange tanto a participação originária (na constituição da sociedade)
quanto a derivada, isto é, fica vedado o ingresso de sócio casado em
sociedade de que já participa o outro cônjuge.

c) Multa Condominial: o NCC reduziu a multa condominial de 20% para apenas 02%. Mas é
certo que já existiam condomínios que aplicavam multa de 20% antes no CC/02. Ele deve
respeitara lei nova ou a lei antiga?  A multa está no plano da eficácia. Sendo assim, não
deve respeitar a lei velha, mas sim, a lei nova. (STJ, REsp. 722.904/RS – o STJ entendeu
que o novo percentual de multa alcança, inclusive, os condomínios constituídos antes da
vigência do NCC, isto porque, a multa está no plano da eficácia).

 04.       
   ELEMENTOS DE VALIDADE DOS CONTRATOS
Os   elementos   de   validade   dos   contratos   são  os   mesmos   de   qualquer  negócio  jurídico.
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Estão previstos no art. 104 do CC:
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I ­ agente capaz;
II ­ objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III ­ forma prescrita ou não defesa em lei.

Além   desses   elementos,   temos   ainda   a   vontade  livre   e   desembaraçada.   Portanto,   são
elementos de validade dos contratos:
1) Agente capaz.
2) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável.
3) Forma prescrita ou não defesa em lei.
4) Vontade livre e desembaraçada. 

4.1. CAPACIDADE DO AGENTE
O contrato exige que o agente seja capaz, isto é, tenha capacidade de direito, sob pena de
invalidade.   Se   a   incapacidade   for   absoluta,   gera   nulidade.   Entretanto,  se   a   incapacidade   for
relativa, gera anulabilidade. 
Não confundir a capacidade com personalidade do agente. Justamente por isso, os entes
despersonalizados   podem   realizar   contratos,   pois   apesar   de   não   terem   personalidade,   têm
capacidade. 

Além   disso,   para   determinadas   contratações,   o   CC   pode   exigir   além   da   capacidade,   a


legitimação. E o que  é legitimação?  Legitimação – capacidade específica para a prática de
determinados   atos   ­  serve   para   a   prática   de   atos   de   direito   material.   Trata­se   de   requisito
específico,   para   a   prática   de   ato   contratual   específico.   Nos   dizeres   de   Orlando   Gomes,   a
legitimação é um plus na capacidade, ou seja, requisito extra que se exige das pessoas capazes
para determinados contratos. 

Exemplo: pessoa casada e capaz, pode perfeitamente celebrar contrato. No entanto, se o
contrato for de venda de bem imóvel, necessitará de um requisito extra além da capacidade, que é
a outorga do cônjuge (vênia conjugal: outorga marital – marido; outorga uxória – esposa). Então,
a vênia conjugal é um bom exemplo de legitimação. 

Outro exemplo: para a  venda de bens imóveis pertencentes a incapazes, somente poderá
ser realizada se houver a autorização do juiz. Trata­se de outro exemplo de legitimação: requisito
especifico para contrato específico. 

Obs.  Senatusconsulto macedoniano  (arts. 588 e 589 do CC), que nada mais é do que o


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mútuo feito ao menor (empréstimo de dinheiro feito a menor).  Assim,   quem   empresta


dinheiro ao menor, não pode cobrar de volta. Ou seja, o contrato, em regra,  é inválido.   No
entanto, se ficar provado que esse empréstimo reverteu em favor do menor, ou de que o menor
omitiu dolosamente a sua idade, o CC permite a cobrança do mútuo feito ao menor. 

Obs.2.  Contratos   difusos   e   coletivos:  O   agente   que   celebra   o   contrato   pode   ser   a
coletividade, que são os contratos difusos e coletivos. Exemplo: o TAC – Termo de Ajustamento
de   Conduta;   e   a   Convenção   Coletiva   de   Trabalho.   Estes   são   dois   exemplos   de   contratos
celebrados pela coletividade. 

4.2. LICITUDE, POSSIBILIDADE e DETERMINABILIDADE DO OBJETO

O objeto do contrato deve ser lícito, possível, determinado ou determinável. 

Por outra via, significa que a ilicitude, a impossibilidade ou a indeterminabilidade absoluta
geram nulidade do contrato. Exemplo: art. 426, do CC: proibição de ‘pacto sucessório’ (‘pacta
corvina’), em que se considera nulo o contrato que tenha por objeto a herança de pessoa viva.

Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva

Obs. Existe uma exceção muito polêmica: art. 2.018 do CC, que trata da partilha em vida,
quando todos os herdeiros forem maiores e capazes. 

Art. 2.018.  É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre
vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima
dos herdeiros necessários.

Será   que   esse   artigo   não   trata   de   herança   de   pessoa   viva?   Carlos   Roberto   Gonçalves
entende que sim. Mas, outros autores entendem que não se trata de herança de pessoa viva.
Cristiano Chaves entende que se trata de doação, feita a todos os herdeiros necessários. 

Continuando. Se a indeterminação do objeto for relativa, não invalida o negócio. Portanto,
se a impossibilidade inicial do objeto de um contrato for inicial, só o invalida se for absoluta (mas
se for relativa, não o invalida).
Art.   106.  A  IMPOSSIBILIDADE    INICIAL  do   objeto  NÃO
INVALIDA  O NEGÓCIO JURÍDICO  SE FOR RELATIVA,  ou se
cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado.

Outra   questão   interessante   em   relação   à   este   artigo,   diz   respeito   à   expressão

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“impossibilidade   inicial”.   Perceba,   portanto,   que  se   a   impossibilidade   for   posterior,


superveniente, não invalidará o contrato nunca (nem mesmo se for absoluta), mas somente a
impossibilidade inicial. Isso porque a impossibilidade superveniente alcança apenas o plano
da eficácia, mas não da validade. 
• Obs. Venda a non domino: é a venda de objeto que ainda não é seu. O CC/02 permite que
haja contratos a non domino, como ocorre com a compra e venda, a troca etc. Nesse caso,
o código civil não ataca a validade, mas sim, a eficácia do contrato, que fica condicionada
à aquisição superveniente da coisa. 

4.3. FORMALIDADE QUANDO PREVISTA EM LEI
O terceiro elemento dos contratos é a formalidade, desde que prevista em lei.

A regra no direito brasileiro, é que os contratos são consensuais (solo consenso ou somente
pelo consenso). Isso significa que os contratos se formam, basicamente, pela vontade das partes. 

Assim,  as   formalidades   nos  contratos  somente  serão  necessárias  se  houver   expressa
disposição de lei ou vontade das partes. Consequentemente, os contratos somente serão formais
quando houver disposição normativa ou contratual. 

Ocorre que a combinação do art. 109 com o art. 166, diz que,  QUANDO HOUVER
EXPRESSA   FORMALIDADE,   ELA   INTEGRA   A   SUBSTÂNCIA   DO   ATO,   E   SE
FALTAR,   GERARÁ   NULIDADE.   Portanto,   quando   o   contrato   for   solene,   ele   precisa
necessariamente ser cumprido, sob pena de gerar nulidade. Exemplo: contratos imobiliários –
devem ser celebrados por escritura pública, com registro no CRI.

Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer
sem instrumento público, este é da substância do ato.
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
IV ­ não revestir a forma prescrita em lei;

Repare que o art. 108 do Código Civil dispensa a escritura pública quando o valor do
imóvel não exceder a 30 salários mínimos. 
Art.   108.  Não   dispondo   a   lei   em   contrário,   a   escritura   pública   é
essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência,   modificação   ou   renúncia   de   direitos   reais   sobre
imóveis   de   valor   superior   a   trinta   vezes   o   maior   salário   mínimo
vigente no País.

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Registro da alienação de imóvel


Para fins do art. 108, deve-se adotar o preço dado pelas partes ou o valor calculado pelo Fisco?

O valor calculado pelo Fisco – STJ

Atenção: não confundir formalidade contratual com prova do contrato. 

Formalidade integra a substância do ato, devendo ser cumprida sob pena de nulidade do
ato (art.109).

A prova do contrato, por sua vez, é apenas e tão­somente a demonstração do contrato. Ela
está prevista no art. 227 do CC e 401 do CPC. 

Art.   227.   Salvo   os   casos   expressos,   a   prova   exclusivamente


testemunhal   só   se   admite   nos   negócios   jurídicos   cujo   valor   não
ultrapasse  o  décuplo  do maior  salário mínimo  vigente   no País  ao
tempo em que foram celebrados.
Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a
prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da
prova por escrito.

Art. 401.  A   prova   exclusivamente   testemunhal   só   se   admite   nos


contratos cujo valor não exceda o décuplo do maior salário mínimo
vigente no país, ao tempo em que foram celebrados.

Pergunta:   todo   contrato  que   exceder  a   10  salários   mínimos,   automaticamente   se   torna
formal?   Não.   A   incidência   do  art.   401  do  CPC,   bem  como  o  art.   227  do  CC,   não  torna   os
contratos   em   formais.   O   STJ   vai   flexibilizando   esses   dois   artigos   para   estabelecer   que,   não
necessariamente, proíbe­se a prova testemunhal. SEGUNDO O STJ, ALGUNS CONTRATOS,
PELA SUA NATUREZA, SÃO VERBAIS, MESMO QUE ULTRAPASSEM 10 SALÁRIOS
MÍNIMOS.   Justamente   por   isso,   é   que   admite­se   a   prova   exclusivamente   testemunhal,   a
exemplo de um contrato de prestação de serviço de pintura de uma casa. (REsp. 10807/PI). 

Em   provas,   tomar   cuidado   para   não   confundir:   no   processo   civil,   pelo   princípio   da
instrumentalidade das formas, a formalidade somente viciará o ato se não alcançar o ato e causar
prejuízo.   Portanto,   para   o   processo   civil,   a   forma   tem   um   valor   reduzido.  Já   para   o   direito
contratual, a forma é muito importante quando for exigida, quando houver previsão legal, uma
vez que a forma acaba integrando a substância do ato.  

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PGE/RJ e MP/BA: Contrato com violação de forma, ADMITE RATIFICAÇÃO? NÃO ­
Segundo o art. 172, do CC, a convalidação somente serve para os contratos anuláveis. 
Então,  para os contratos nulos pelo vício de forma, o CC disponibiliza o INSTITUTO DA
CONVERSÃO SUBSTANCIAL, que não tem a ver com a ratificação. 

Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo
direito de terceiro.
Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de
outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir
supor   que   o   teriam   querido,   se   houvessem   previsto   a   nulidade.
(conversão substancial)

Conversão substancial ocorre por ato judicial (ato do juiz), a requerimento do interessado.
Conversão   substancial,   também   chamada   de  “transinterpretação   com   recategorização”  é   o
 
aproveitamento, por ato judicial, da VONTADE     VÁLIDA manifestada em um CONTRATO
 NULO , por 
   VICIO
      DE   FORMA.

Ex. 1: imagine um testamento público, nulo pela forma: o beneficiário poderá receber a
herança ou legado? Não! Mas a vontade do falecido era que a herança ficasse para aquela pessoa.
Então, essa pessoa pede ao juiz e esse o que faz? O juiz pega o testamento publico e o converte
em testamento particular. 

Ex.2.  Título de crédito nulo por vicio de forma, que não gera execução, mas que pode
servir como confissão de dívida, podendo gerar a propositura de ação monitória. 

Segundo o enunciado 13 das jornadas de direito civil, são REQUISITOS para a conversão
substancial: 
1) elemento subjetivo: VONTADE VÁLIDA e;
2) elemento   objetivo:  EXISTÊNCIA   DE   OUTRA   CATEGORIA   APTA   PARA
RECEBER A VONTADE VÁLIDA. 
En.   13   ­    Art.   170.   O   aspecto   objetivo   da   convenção   requer   a
existência de suporte fático no negócio a converter­se.
 

4.4. VONTADE LIVRE E DESEMBARAÇADA

A vontade não pode ser viciada. Eventual vício sobre a vontade conduz à anulabilidade do
contrato, como ocorre, por exemplo, por erro, dolo, coação etc. 

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Cristiano Chaves

O silêncio pode ser interpretado como manifestação de vontade? Segundo o art. 111 do CC, é
perfeitamente possível que se interprete o silencio como manifestação da vontade, quando não
houver forma prevista em lei, bem como, quando os usos e circunstancias autorizem. 

Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou
os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade
expressa.

Exemplo: a aceitação da doação pode se dar pelo silêncio. Mas, a realização da doação,
por sua vez, jamais poderá ser realizada pelo silêncio. 

 05.       
   REGRAS DE INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS

Efetivamente, os contratos precisam ser interpretados. O motivo é bastante simples: o que
funda o contrato é a vontade humana, sendo que nem sempre é muito clara. Mas é certo que a
vontade humana reclama interpretação.

Interpretar, como se sabe, é buscar o sentido e o alcance e, portanto, todo contrato exige
interpretação. Bem por isso, o Código Civil estabeleceu regras de interpretação dos contratos,
dividindo­as em duas categorias Vamos estuda­las:

Teoria SUBJETIVA ou voluntarista: o interprete deve buscar a vontade real dos contratantes,
podendo valer-se de elementos estranhos ao contrato para descobrir essa vontade.

Teoria objetiva ou da declaração: o interprete deve atentar-se ao sentido das palavras


consignadas no contrato, desconsiderando-se a vontade interna dos contratantes.

Teoria Intermediária ou ECLÉTICA: o interprete deve buscar a intenção dos


contratantes, mas apenas com base naquilo que está consubstanciado no contrato.
Não pode valer-se de elementos estranhos ao contrato. Essa é a teoria adotada pelo
código civil.

5.1. Regra Principal ou “Regra de Ouro”
A regra principal estará presente em todo e qualquer contrato, ou seja, toda e qualquer
cláusula contratual será interpretada segundo a regra principal. 

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A   regra   principal,   ou   seja,   a   regra   de   ouro   de   interpretação   dos   contratos   é   a  boa­fé


objetiva (eticidade).
Lembre­se   que   o   código   Civil   de   2002   têm   três   princípios   norteadores:   socialidade,
eticidade e operabilidade. 
A boa­fé objetiva é o sentimento ético que se espera dos contratantes. 
• Exemplo: Cheque é ordem de pagamento a vista, mas é comum no comércio aceitar­se um
cheque pós­datado. Se ele for apresentado antes da data combinada, nitidamente ele estará
ferindo a boa­fé objetiva, pois uma parte confiava na eticidade da outra parte. Bem por
isso,   o  STJ   editou  a   Súm.   388,   que   diz   que   a   simples   devolução  indevida   de   cheque
caracteriza dano moral. Além disso, o STJ entendeu que a apresentação antecipada de
cheque, gera dano moral. 

5.2. Regras acessórias combinantes
As regras acessórias se acoplam às regras principais. São elas:

• INTERPRETAÇÃO   DE   AMBIGUIDADES   –  caso   o   contrato   seja   de  ADESÃO  –


deverá haver interpretação em favor do DEVEDOR
Em contrato paritários a interpretação deve se orientar pela boa­fé e a função social.

• INTERPRETAÇÃO AMPLIATIVA – VEDADA nos negócios jurídicos benéficos a renúncia


que interpretam-se estritamente.

5.2.1. Interpretação dos contratos com reserva mental
Reserva mental é o propósito secreto de não cumprir aquilo que se está declarando. Assim,
aquele que tem reserva mental diz uma coisa, mas na verdade, vai fazer outra. 

Se um dos contratantes tiver a reserva mental, segundo o art.110 do CC:

Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor
haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se
dela o destinatário tinha conhecimento.

Assim,   se   a   reserva   mental  FOR   DESCONHECIDA  da   outra   parte,   o   contrato  valerá


regularmente, sendo que o prejuízo sofrido pelo contratante de boa­fé gera perdas e danos. 

Porém,  se a reserva mental é conhecida  da outra parte, gera apenas a  SIMULAÇÃO, sendo o


contrato considerado nulo. 
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Exemplo:   imóvel   alugado,   sem   motivo   algum   de   despejar   o   inquilino.   O   proprietário


chama um amigo e finge que está fazendo a venda do imóvel à este amigo. Trata­se de contrato
nulo, pois simulado. Se ela for conhecida da parte contrária, o contrato será nulo.

5.2.2. Interpretação da vontade
Está previsto no art. 112 do CC. Para se interpretar a vontade dos contratos, mais interessa
a intenção do que o sentido literal da linguagem. Cáio Mario dava o exemplo: a pessoa quer fazer
doação ao bombeiro Joao que salvou o seu filho, mas o bombeiro que salvou foi José. Quem
recebe? José, mesmo que conste João no contrato.

Art. 112.  Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção
nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

5.2.3. Interpretação restritiva
São   as   cláusulas   contratuais   benéficas,   sancionatórias,   a   renúncia,   fiança   e   o   aval.
Exemplo: súmula 214 do STJ, que trata da fiança locatícia:
Súm. 214. O fiador na locação não responde por obrigações 
resultantes de aditamento ao qual não anuiu.

Obs. A lei 8.245/ 91 estabelece que essa súmula não se aplica quando disser respeito à
extensão temporal da fiança, já que o fiador fica atrelado ao contrato até a devolução definitiva
das chaves. Então,  se o contrato prorrogar automaticamente, o fiador continuará vinculado ao
contrato. 

5.2.4. Interpretação do autocontrato ou contrato consigo mesmo

Art. 117.  Salvo se o permitir a lei ou o representado,  é anulável o


negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de
outrem, celebrar consigo mesmo.
Caracteriza­se   o   autocontrato  quando   uma   pessoa   figura   em   ambos   os   polos   de   uma
relação contratual, em um deles em nome próprio e, no outro, em nome alheio, por forca de uma
representação privada. 

Segundo o art. 117, do CC, o autocontrato será anulável se for celebrado com prejuízo
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para o representado. Assim, se o representante compra o objeto abaixo do preço justo, o contrato
será anulável. Mas se o contrato for com preço justo, o contrato será válido.

Se o contrato for de adesão ou de consumo, a consequência será a nulidade do contrato.
Exemplo: 

Súm. 60:  É nula a obrigação cambial assumida por procurador do
mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.

 06.       
   PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS CONTRATOS

6.1. Generalidade sobre os princípios
São três os princípios fundamentais dos contratos:

1) Boa­fé objetiva.
2) Função social do contrato
3) Equilíbrio econômico­financeiro.

Canotilho apresentou a seguinte regra:  Norma Jurídica = Norma Princípio + Norma
Regra. 

Segundo   ele,   os   princípios   também   possuem   força   normativa,   ou   seja,   eles   também
obrigam, vinculam. Assim, a principiologia, no direito contemporâneo, ganha especial relevância,
pois agora a norma jurídica não é feita somente de regra, mas também de princípios.

Portanto, os princípios antigamente eram apenas regras de desempate (art. 4º, da LIDB),
mas hoje, eles possuem força cogente, força normativa. Hoje, portanto, os princípios passaram a
ser vinculantes (normativos) .

Diferença entre princípio e regra
Princípios Regras
1. Grau de abstração  Princípio é abstrato. Regra é regulatória.
2.Grau   de   prévia O   princípio   precisa   ser A   regra   já   se   sabe   como
determinabilidade de aplicação construído   para   aplicar   ao será   aplicada   ao   caso
ao caso concreto.  caso concreto.  concreto. 
3. Mandamentos  Princípios são mandamentos Regra   são   mandamentos
de otimização.  de definição direta. 
4. Relatos Relatos valorativos.  Relatos descritivos.
5. Conteúdo Princípio   é   norma   de Regra   é   norma   de
conteúdo aberto conteúdo fechado

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Soluções para os conflitos normativos:

 Regras X Princípios: se uma regra conflitar com o princípio, qual prevalece? Depende.
Deve­se preocupar, em primeiro lugar, com o critério hierárquico. 
Se o critério hierárquico não resolver, aquela regra, naquele determinado caso, está em
harmonia com o princípio? Se estiver em harmonia, aplica­se a regra. Agora, a regra será
afastada para aplicação do princípio se ela estiver em rota de colisão com um valor. 

Exemplo: art. 422, que trata da boa­fé objetiva (que é princípio). E o art. 448, que trata da
evicção (regra).
Agora   imagine   que   fulano   esta   vendendo   um   terreno.   Quando   eles   vão   fazer   o   contrato,   o
vendedor pergunta ao comprador se ele quer fazer o contrato com direito à evicção (que custará
mais caro) ou sem o direito à evicção (mais barato). Se eles optarem por não colocar o direito à
evicção, eventualmente um terceiro exercendo o direito à evicção, o princípio da boa­fé objetiva
deverá prevalecer sobre a regra do art. 448, que permite os contratantes de excluir o direito  à
evicção. 

O   afastamento   da   regra   será   episódico   e   casuístico,   não   podendo   se   promover   o


afastamento de regra em definitivo. 
Portanto, quando houver conflito entre regras e princípios, a solução se resolve em favor
dos princípios, respeitada a hierarquia e a especificidade. 

 Princípio X Princípio: aqui a solução se dará com a ‘ponderação de interesses’. 
Cuidado por achar que a ponderação de interesses é aplicar sempre a proporcionalidade. 

Proporcionalidade pode se apresentar com duas faces: 
a) Como princípio interpretativo: a proporcionalidade ganha o nome de razoabilidade. 
b) Como técnica de solução de conflitos: ganha o nome de ponderação de interesses. 

Então, toda a ponderação implica em uso de proporcionalidade (como técnica de solução
de conflitos). Mas, nem toda proporcionalidade é ponderação, já que a proporcionalidade traz
consigo também a razoabilidade. 

Ex.   O   STJ   diz   que   as   convenções   de   condomínio   devem   ser   interpretadas


proporcionalmente,   no   tocante   aos   animais.   Exemplo:   se   a   convenção   proíbe   animais   no
condomínio, eu posso ter peixinho no aquário? Neste caso, deve­se utilizar a proporcionalidade
como razoabilidade, pois neste caso interpreta­se a cláusula da convenção. Um peixe no aquário
não tem problema, mas um cachorro bravo fica proibido.

 Regra X Regra: a solução será a utilização dos métodos hermenêuticos. E quais são eles?
Hierarquia, anterioridade e especialidade.
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Observe que não cabe ponderação de interesses entre regras, pois elas não são valorativas,
mas sim, descritivas. É o que Dwörkin fala: regra do ‘tudo ou nada’. Ou ela se aplica ou ela não
se aplica. 

Humberto Ávila trouxe para o Brasil a expressão criada no direito germânico, superando
para   o   modelo   do   tudo   ou   nada,   a  defeasibility¸  que   ganho   o   nome   em   português   de
derrotabilidade das regras (ou superabilidade, por Humberto Ávila).

Se os princípios tem a ponderação, as regras tem a derrotabilidade,  que corresponde à
possiblidade de não aplicação de uma regra em um caso concreto com pouca probabilidade de
repetição ou com repetição limitada, para garantir sua própria finalidade.

Exemplo: Decreto Federal que regulamenta o conceito de pessoa com deficiência (é uma
regra). Ao dizer o conceito de pessoa com deficiência, qual a finalidade dele? Incluir ou excluir
pessoas? Se a pessoa não tem um membro, ou que lhe falta um sentido, ela é deficiente. Agora
surge o problema: pessoa com visão monocular, é deficiente ou não? Ela deveria estar abrangida,
mas não está. Pela regra do Dwörkin, do tudo ou nada, a pessoa com visão monocular não entra
no   conceito   de   pessoa   com   deficiência.   Já   para   a   derrotabilidade,   a   regra   será   derrotada
episodicamente, salvaguardando a regra e aplicando­a à pessoa com deficiência. 

6.2. BOA­FÉ OBJETIVA

Boa­fé objetiva é a eticidade que se espera das partes de um contrato.  É aquilo que se
espera de outrem, por um simples senso ético (mínimo ético que se espera de alguém). 

Eticidade (boa­fé objetiva) decorrem da palavra: “Treu und Glauben”.

Não confundir a ética com a moral: a diferença entre elas é simples: ética é sentimento
coletivo, social. Já a moral, é sentimento individual. 
No Brasil, temos a boa­fé objetiva e subjetiva. Essa diferença surgiu dos Alemães: Boa­fé
subjetiva: é conhecimento. Boa­fé objetiva é comportamento. 

 Boa­fé subjetiva é estado psicológico (conheço ou não conheço, sei ou não sei). Já a boa­
fé objetiva é a confiança que se tem como um todo (comportamento que se espera de todos). 

Em síntese, a boa­fé objetiva é princípio, mas a boa­fé subjetiva é regra. 
A boa­fé objetiva é princípio que implanta o valor confiança nas relações contratuais. 

Boa­fé objetiva: é a eticidade mínima que se espera dos contratantes; com a função de
flexibilizar o sistema, a partir de disposição abstrata (norma princípio). 
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A boa­fé objetiva não tem a intenção de servir como instrumento de correção de posições
de inferioridade e insuficiência contratual. A boa­fé objetiva não é aplicável apenas para a parte
mais fraca, mas sim, para a ética que se espera dos contratantes. Portanto, ambas as partes (credor
e devedor) precisam cumprir a boa­fé objetiva. 

6.2.1. Variação da boa­fé objetiva

a) Duty to mitigate the own loss (REsp. 758.518/PR e En. 169, da II Jornada de Direito
Civil). 
Duty to mitigate the own loss é o dever de mitigar suas próprias perdas, sendo aplicável a
ambos (credor e devedor). Exemplo: Súm. 309, do STJ:

Súm.   309:  O   débito   alimentar   que   autoriza   a   prisão   civil   do


alimentante   é   o   que   compreende   as   três   prestações   anteriores   ao
ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo

Essa súmula quer dizer que o credor de alimentos não pode deixar de tomar providências,
agravando a dívida. Se ele faz isso, estará violando a boa­fé objetiva. 

Outro exemplo do Duty to mitigate the own loss  é o  “superendividamento”. Exemplo:


Credor contribuindo para o prejuízo do devedor (devedor vai até o banco para renegociar a dívida
e o gerente oferece ainda mais dinheiro para o devedor). 

Exemplo 3: Execução das astreintes (multa diária). Todas as vezes que  as astreintes se
avolumam por inércia do credor, elas se torna abusiva, sendo que nesse caso deverá o juiz reduzi­
la de ofício. (REsp. 1.075.142/RJ). 

6.2.2. Tríplice função da boa­fé objetiva

a)  Função  interpretativa
    :  toda e qualquer cláusula contratual deve ter o seu sentido e
alcance definidos pelo seu sentido ético (eticidade).  Exemplo: contrato de locação traz
a cláusula que o imóvel deve ser restituído pintado. No RJ, o locatário deixou o imóvel
sem pintar. O locador ingressou em juízo e o juiz determinou que o locatário pintasse o
imóvel.  O  que   ele   fez?   Pintou  de  preto,  pois   não  dizia  qual  a  cor que   deveria   ser
pintada. Então, pela função interpretativa da boa­fé objetiva dos contratos, o locatário
deveria devolver o imóvel pintado com a mesma cor da qual ele recebeu.

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b) Função   integrativa:  estabelecer  DEVERES   ANEXOS  à   relação   processual.


Exemplos: dever de informação, lealdade, segurança etc. A responsabilidade civil do
médico por violação do dever de informação (o médico deixa de informar eventuais
intercorrências médicas). Outro exemplo é o Zeca Pagodinho, no contrato de cerveja de
uma determinada marca e que depois fez outra propaganda para a marca concorrente.
Era dever de boa­fé objetiva dele respeitar a  exclusividade, mas não o fez. 

A  violação   positiva   de   contrato  (REsp.   988.595/SP)  é   um   novo   modelo   de


inadimplemento obrigacional,  decorrente do descumprimento dos deveres anexos, mesmo que,
eventualmente, os deveres contratuais sejam cumpridos. 
Exemplos:  uma transportadora foi contratada para levar um cavalo de corrida, só que a
temperatura foi mal regulada e o cavalo chegou gripado, não podendo participar da corrida. Nesse
caso, a empresa cumpriu o contrato de transporte, mas violou os deveres anexo. 

Os deveres anexos são devidos desde antes até depois da contratação. Justamente por isso,
os deveres anexos nos apresentam dois novos conceitos: responsabilidade civil pré­contratual e
pós­contratual, que são espécies de responsabilidade civil aquiliana (extracontratual), implicando
dizer que ela não estará limitada ao valor do contrato. exemplo: o prestador de serviços que
depois de meses sai da empresa e revela segredos empresariais, violando deveres anexos. Neste
caso, ele pode ter causado um prejuízo à empresa muito maior do que o próprio valor do contrato.
Então, a responsabilidade será aquiliana.  

c) Função limitadora, restritiva ou de controle:  é a antítese da segunda.  Ela impede o


exercício de direitos  contratuais, ou não,  que  se  mostrem abusivos, por violarem a
eticidade.   Essa   função   tem   íntima   relação   com   o   abuso   do   direito.   Exemplo:
anatocismo – o STJ vem entendendo que é possível o controle de juros pelo juiz (STJ,
REsp. 1.112.870/PR). O juiz pode controlar a abusividade nas taxas de juros. 

Outro   instituto   é   o  “substancial   performance”   ou   adimplemento   substancial   ou


inadimplemento mínimo  (REsp. 272.739/MG). O art. 475 do CC estabelece que o contratante
poderá requerer a resolução do contrato quando outro descumprir a obrigação.  Contudo, o STJ
diz que, se o inadimplemento foi mínimo (ou seja, se o contrato foi substancialmente cumprido),
requerer a resolução do contrato se mostra abusivo. Exemplo: financiamento de 24 meses. Pagou
22. Se o contratante requerer a resolução do contrato, nitidamente haverá abuso de requerer a
resolução do contrato. 

6.2.3. Figuras parcelares da boa­fé objetiva

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Cristiano Chaves

A   boa­fé   objetiva   termina   por   se   apresentar   por   um   caráter   plástico,   já   que   ganha
diferentes   feições   em   cada   caso.   Ela   é   comissiva   e   omissiva   (comportamento   e   abstenção).
Consequentemente, foram descobertas algumas figuras parcelares: 

a)  Venire contra factum proprium  (proibição de comportamento contraditório). 
Trata­se de uma sequência composta por dois comportamentos:
1º ­ comissivo ou omissivo (tanto faz); 
2º ­ comissivo. 

Estes  comportamentos,  vistos  isoladamente,  se  mostram  lícitos.   Só  que,  na  verdade,  o
segundo   comportamento   se   mostra   abusivo   em   razão   da   confiança   despertado   pelo
primeiro. Trata­se de “criação de expectativa desleais”: o primeiro comportamento despertou a
confiança de que o segundo não viria. 

O enunciado 362, trata do tema, além dos leading case no STF (RE 86.787/RS) e no STJ
(REsp. 95.539/SP), bem como o venire no âmbito do direito administrativo (REsp. 524.811/CE)

b)  Supressio (Verwirkung) e Surrectio (Erwirkung)    

A supressio configura-se quando há a supressão, por renúncia tácita, de um


direito, em virtude do seu não exercício. A surrectio, por sua vez, ocorre nos casos
em que o decurso do tempo implica o surgimento de uma posição jurídica pela
regra da boa-fé.

Assim, tanto a “supressio” como a “surrectio” consagram formas perda e


aquisição de direito pelo decurso do tempo. O exemplo clássico citado pela
doutrina é o do devedor que efetua, reiteradamente o pagamento da
prestação em lugar diverso do estipulado no negócio jurídico. Nesse caso há
uma presunção “juris tantum” (relativa) de que o credor a ele renunciou,
baseado no princípio da boa-fé objetiva. Assim, se o devedor efetuar o
pagamento em local diverso do previsto no contrato, de forma reiterada,
surge o direito subjetivo de assim continuar fazendo (“surrectio”) – e o
credor não poderá contrariá-lo, pois houve a perda do direito (“supressio”).

A supressio e a surrectio constituem uma variação do venire contra factum proprium. Há
uma variação de dois comportamentos:
1º ­ omissivo.
2º ­ comissivo.

Aqui o elemento não é a confiança, mas sim,  o decurso do tempo gerando confiança de
que o segundo comportamento não adviria. É o tempo qualificado, despertando expectativas.
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Cristiano Chaves

(STJ REsp. 214.680/SP e REsp. 356.821/RJ). O melhor exemplo de supressio e surrectio é o art.
330, do CC:

Art.   330.  O   pagamento   reiteradamente   feito   em   outro   local   faz


presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.

Mas repare que não é qualquer omissão do contratante, mas sim, aquela omissão reiterada. 

O STJ tem aplicado muito a supressio e a surrectio no caso de usucapião de área comum
de condomínio. 
É proibido usucapir a área comum do condomínio, mas é muito comum que um dos condôminos
utilize   por   muitos   anos   aquela   área   comum.  O   STJ   entende,   então,   que   não   há   direito   ao
usucapião, mas sim, houve supressio e surrectio à aquele condômino.

c) Tu quoque (ou cláusula de Estoppel)

O tu quoque significa uma surpresa. 

A locução significa "tu também" e representa as situações nas


quais a parte vem a exigir algo que também foi por ela
descumprido ou negligenciado.
Em síntese, a parte não pode exigir de outrem comportamento que ela
própria não observou. Exemplo do instituto está no artigo 150 do
Código Civil.

Aqui também há sequencia de dois comportamentos:
1º ­ ilícito.
2º ­ lícito. 
O segundo comportamento, malgrado seja licito, se tornará ilícito em razão da sequência
em  relação  ao  primeiro.  Trata­se   de   uma   contaminação  do  segundo  em  relação  ao  primeiro.
Exemplos: 

 Cláusula da “exception non adimplenti contractus”. 
 Art. 589, do CC: “senatus consulto macedoniano” ­  Mútuo feito ao menor (empréstimo
de dinheiro feito a menor). Assim, quem empresta dinheiro ao menor, não pode cobrar de
volta. Ou seja, o contrato, em regra, é inválido.   No entanto, se ficar provado que esse
empréstimo reverteu em favor do menor, ou de que o menor omitiu dolosamente a sua
idade, o CC permite a cobrança do mútuo feito ao menor. 

6.3. FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS
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Cristiano Chaves

Função social é um instituto que surge a partir de duas obras literárias:

1. Década de 70 – Norberto Bobbio: Da estrutura à função. Neste livro, Bobbio afirma
que o que sempre se estudou foi a estrutura do direito (o que é o direito). Segundo ele,
o direito é apenas a norma. Só que, mais relevante do que o estudo do direito,  é o
estudo da função do direito (qual a função do direito, para que serve o direito). 

2. Exposição de motivos do Código Civil – Miguel Reale afirma que todos os institutos
precisam cumprir a “socialidade”, que nada mais é do que a expressão “para que
serve”. Então, estudar função social é estudar: para que serve o contrato, para que
serve a propriedade etc. 

Portanto,  função social do contrato é a socialidade aplicável aos contratos, de forma
que, o exercício de direitos contratuais não cause influência negativa no meio social ou sobre
terceiros. 

O enunciado n.23 diz que a função social do contrato não aniquila a autonomia privada.
Poderá gerar, no entanto, uma redução quando houver interessa social. 

6.3.1. Tríplice função da função social do contrato
São elas:

a) O contrato entre duas partes não pode prejudicar terceiros.
b) O contrato entre duas partes não pode prejudicar a coletividade
c) Terceiros não devem prejudicar os contratos alheios. 

Perceba que as letras ‘a’ e ‘b’ trazem o conceito de terceiro ofendido ou terceiro lesado. Já
a letra ‘c’ traz o conceito de terceiro ofensor, ou terceiro lesante ou cúmplice. 

Exemplos: Súmula 308 do STJ – o contrato de hipoteca entre a construtora e o banco não
pode prejudicar os terceiros adquirentes (que são os terceiros lesados). 

Súm. 308: A hipoteca firmada entre a construtora e o agente 
financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de 
compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.

Exemplo   2:   art.   608   –   cuida   do   aliciamento   do   prestador   de   serviços.   (se   encaixa


perfeitamente à Brahma, que aliciou o Zeca Pagodinho quando fazia propaganda para a Nova
Skin). 

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Cristiano Chaves

Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a
prestar   serviço   a   outrem   pagará   a   este   a   importância   que   ao
prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante
dois anos.
Duas consequências:
A relação contratual ganha uma tutela externa. 
Terceiros  passam a  ter  legitimidade  para  requerer  ação de  revisão ou de  resolução de
contratos do qual sequer fazer parte. Então, se o terceiro for ofendido, ele poderá propor ação de
revisão ou resolução contratual. Se o terceiro for a coletividade, a legitimidade será do Ministério
Público. 
6.3.2. Eficácia Interna da Função Social do Contrato

Tudo que foi visto acima corresponde à eficácia externa da função social. E qual seria a
eficácia interna da função social do contrato? Está prevista no enunciado 360 das Jornadas de
direito civil:

Eficácia interna é a correlação com a dignidade da pessoa humana. Portanto, violará a
função social em sua eficácia interna a cláusula contratual que desrespeitar a dignidade humana. 

Súm. 302: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que 
limita no tempo a internação hospitalar do segurado.

6.4. EQUILÍBRIO ECONÔMICO­FINANCEIRO

O terceiro e último princípio fundamental, equilíbrio econômico­financeiro, nada mais é
do que a formação de base contratual harmônica entre as partes. 

Historicamente,  os  contratos  se  baseavam  no  pacta sunt  servanda.  Só que,  no ano de


1.918, na França, se reconheceu através da  Lei Faillot,  a cláusula “Rebus Sic Stantibus”, que
previu   a   possibilidade   de   intervenção   judicial   nos   contratos.   Ela   corresponde   à   teoria   da
imprevisão. 

Requisitos da teoria da imprevisão:

1. Contrato de trato sucessivo;
2. Onerosidade excessiva (desequilíbrio entre prestação e contraprestação);
3. Álea extraordinária (evento imprevisível e extraordinário);
4. Inexistência de culpada das partes. 

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Cristiano Chaves

O   CC/16   não   tratava   da   teoria   da   imprevisão,   mas   se   baseava   apenas   no  pacta   sunt
servanda. Somente nas décadas de 40 e 50 a teoria da imprevisão chegou ao Brasil. O primeiro a
escrever   sobre   o   tema   foi   Arnoldo   Medeiros   da   Fonseca,   que   escreveu   o   livro   “Teoria   da
Imprevisão  e  Caso  Fortuito”.  Perceba  que,  pelo nome   do livro,   ele  entendia  que  a   teoria  da
imprevisão somente seria admitida em casos fortuitos, permanecendo como regra o pacta sunt
servanda. 

Já na década de 70, 80, a jurisprudência asfixiou a teoria da imprevisão.

Na  década  de  90,  sobrevindo  o  Código  de  Defesa  do Consumidor,  este  abraçou  outra
teoria,   chamada   de   “teoria   objetiva   do   contrato”   (ou   teoria   da   onerosidade   excessiva   pura),
concebida   por   Karl   Larenz.   Para   esta   teoria,   a   revisão   do   contrato   está   baseada   somente   na
onerosidade excessiva, pouco importando se o evento era ou não imprevisível. 

Inclusive,   em   1999,   o   STJ   confirmou   que   o   elemento   imprevisibilidade   é   estranho   à


onerosidade excessiva. 

Em 2002, sobrevém o Código Civil. Todos esperavam que o CC/02 adotasse a mesma
teoria do CDC, mas, não. O CC/02 acabou adotando a teoria da imprevisão, mas não a teoria da
imprevisão   pura,   mas   sim,   qualificada.   Ou   seja,   o   CC/02   criou   um   quinto   requisito:
correspondência entre a onerosidade excessiva de uma parte e a vantagem obtida pela outra. (o
CC/02 dificultou mais do que nunca a teoria da imprevisão). 

Então, hoje, a teoria da imprevisão tem 05 REQUISITOs:

1. execução continuada  (Contrato de trato sucessivo) ou diferida;
2. Onerosidade excessiva (desequilíbrio entre prestação e contraprestação);
3. Álea extraordinária (evento imprevisível E extraordinário);
4. Inexistência de culpada das partes. 
5. Correspondência  ENTRE  A   ONEROSIDADE  excessiva   de   uma   parte  E   A
VANTAGEM obtida pela outra. 

Da Resolução por Onerosidade Excessiva
Art.  478.  Nos  contratos  de  execução  continuada  ou  diferida,  se  a
prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com
extrema   vantagem   para   a   outra,   em   virtude   de   acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução
do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data
da citação.

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Cristiano Chaves

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção
manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua
execução, poderá o juiz corrigi­lo, a pedido da parte, de modo que
assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

Os   autores   modernos   estão   tentando   salvar   essa   teoria   da   imprevisão,   dizendo   que   a
imprevisibilidade estaria não na causa, mas sim, na consequência (ou seja, imprevisíveis seriam
os efeitos e não a causa).

O art. 479 diz que se o réu se oferecer para modificar as condições do contrato, o contrato
não terá resolução por onerosidade excessiva. E ele poderá fazer tanto por reconvenção quanto
por contestação. 
Art.   479.  A   resolução   poderá   ser   evitada,   oferecendo­se   o   réu   a
modificar equitativamente as condições do contrato.
O   STJ   também   vem   entendo   que  o   juiz   somente   deverá   decretar   a   resolução   por
onerosidade se não for possível aplicar o princípio do aproveitamento do contrato, fazendo a
revisão deste. De qualquer maneira, tanto a resolução quanto à revisão do contrato retroagem à
data da citação. 

Obs.  A   onerosidade   excessiva   que   estamos   estudando  é   superveniente,   posterior   ao


contrato.   Mas   repare   que,  SE   A   ONEROSIDADE   EXCESSIVA   ESTIVER   PRESENTE   NA
FORMAÇÃO DO CONTRATO, NÃO É CASO DE TEORIA DA IMPREVISÃO. 
Isso porque não se afetou o plano da eficácia, mas sim, da validade, gerando a nulidade (se
for contrato de consumo) ou anulabilidade (contrato civil). 

Portanto,   para   que   se   justifique   a   teoria   da   imprevisão   é   preciso   que   a   onerosidade


excessiva seja superveniente. 

RESPOSTA Segundo entendimento do STJ, “A teoria da imprevisão, via de regra, é


inaplicável a contrato de venda antecipada de safra agrícola, porquanto ao contratarem as
partes assumem riscos conhecidos e inerentes ao negócio jurídico, tais como a oscilação do
preço de mercado do produto e a queda da produtividade, tendo sido tais elementos
considerados no momento da fixação do preço da avença” (REsp 887.716/MG). Certa.

Os efeitos da sentença que extinguir o contrato RETROAGIRÃO À DATA DA


CITAÇÃO, E NÃO À DATA DO EVENTO IMPREVISÍVEL que tiver dado causa à
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Cristiano Chaves

extinção do contrato.

 07.       
   INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NOS CONTRATOS

São três institutos que o CC/02 contemplou com a intervenção de terceiros nos contratos.
Esses institutos temperam a clássica ideia de que os contratos produzem efeitos somente entre às
partes. Mas, atualmente, não é bem assim. 

Somente a função social do contrato já teria o condão de relativizar essa assertiva. Mais do
que isso, hoje se tem institutos de intervenção de terceiros que relativizam essa ideia de que o
contrato só produz efeitos entre as partes, produzindo direitos e obrigações para além das partes.
São eles:

7.1. Promessa de Fato de Terceiro
Trata­se de obrigação de fazer consistente  em obter a anuência de um terceiro para
prestar outra obrigação. Perceba: uma pessoa se obriga a obter o consentimento de outra pessoa
para o cumprimento de determinada obrigação. 

Quem prestará a obrigação será o prometido. O promitente não presta a obrigação, mas
apenas promete que alguém irá fazê­lo. Ou seja, na verdade, o promitente assume a obrigação que
será satisfeita por outra pessoa. 
Exemplo: alguém promete que o artista famoso irá se apresentar na pequena cidade. Quem
prestará a obrigação (o show) é o artista, mas quem se comprometeu em trazê­lo foi o empresário.

Descumprimento:  se  a  obrigação  for  descumprida,   quem terá   responsabilidade  será  o


promitente (e não o prometido). Essa responsabilidade é objetiva, ou seja, ele responderá mesmo
que ausente a culpa. Só não responderá o promitente se houver caso fortuito ou força maior. 
Promessa de Fato de Terceiro
Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por
perdas e danos, quando este o não executar.
Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for
o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser
praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de
algum modo, venha a recair sobre os seus bens.

Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por
outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação.

Há  DUAS   HIPÓTESES  em   que  A   RESPONSABILIDADE   RECAIRÁ

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Cristiano Chaves

DIRETAMENTE SOBRE O PROMETIDO. São elas:
a) O prometido tiver anuído a obrigação.
b) Quando o promitente for o seu representante. (neste caso, tecnicamente não há nem que
se falar sobre responsabilidade sobre fato de terceiro, mas sim, sobre responsabilidade for
fato próprio). 

No caso da promessa de fato de terceiro,  não cumprida a obrigação – OU SEJA, NÃO
ANUINDO O TERCEIRO À OBRIGAÇÃO ­ , a única coisa que resta é a conversão em perdas e
danos, ou seja, não há qualquer hipótese de tutela específica, mas somente a conversão em perdas
e   danos  (STJ,   REsp.   249.008/RJ:   neste   recurso   especial,   que   envolve   o   ‘Clube   dos   13’,
celebraram contrato com uma rede de TV. O contrato dizia que os clubes de futebol associados ao
Clube dos 13 transmitiriam seus jogos por esta emissora. Só que os clubes, individualmente,
começaram a celebrar contratos com outras emissoras. A TV acionou o Clube dos 13, que  é
justamente quem terá responsabilidade, convertendo­se em perdas e danos).

7.2. Estipulações em Favor de Terceiro.
Nas estipulações em favor de terceiro, duas pessoas celebram contrato para que os seus
efeitos benéficos se produzam em relação à um terceiro.

Repare que o terceiro não é parte no contrato. Justamente por isso, o terceiro não precisa
ser capaz e nem ser solvente, já que ele não é parte, mas apenas, terceiro beneficiado. O grande
detalhe é que, apesar dele não ser parte, ele possui sim legitimidade para executar o contrato. 

Sujeitos: nas estipulações em favor de terceiro temos três sujeitos. São eles:
 Estipulante: é aquele contratante que indicou o terceiro beneficiário. 
 Outro contratante: é a parte contrária, que assumiu a obrigação que irá cumprir.
 Estipulado: é o terceiro beneficiário do contrato. 

O  ESTIPULADO  será indicado livremente pelo estipulante. Exatamente por isso, é que
ele  PODERÁ   SER   SUBSTITUÍDO   A   QUALQUER   TEMPO,   pela   simples   vontade   do
estipulante, independentemente da anuência do outro contratante.

Mas há uma EXCEÇÃO: o estipulado não poderá ser substituído se ele já executou o
contrato. 
São   exemplos   de   estipulação   em   favor   de   terceiro:  seguro   de   vida;   nos   divórcios
consensuais, é comum que marido e mulher transfiram seu patrimônio em favor dos filhos; no
direito administrativo, quando poder público celebra contratos em favor de terceiros. 

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O contrato estipulado entre as duas partes não poderá prejudicar o terceiro beneficiário. Ou
seja, o estipulante NÃO PODERÁ EXONERAR O CONTRATANTE, POIS SE ELE FIZER
ISSO,   ELE   ESTARÁ   PREJUDICANDO   O   TERCEIRO   BENEFICIÁRIO.   Nitidamente,
trata­se de regra que garante a função social do contrato. 

Estipulação em Favor de Terceiro
Art.   436.  O   que   estipula   em   favor   de   terceiro   pode   exigir   o
cumprimento da obrigação.
Parágrafo   único.  Ao   terceiro,   em   favor   de   quem   se   estipulou   a
obrigação, também é permitido exigi­la, ficando, todavia, sujeito às
condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o
inovar nos termos do art. 438.

Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar
o   direito   de   reclamar­lhe   a   execução,  não   poderá   o   estipulante
exonerar   o   devedor   –   CUMPRIDAS   AS   CONDIÇÕES   QUE
AUTORIZAM A EXIGIBILIDADE DO CONTRATADO

Art.   438.  O   estipulante   pode   reservar­se   o   direito   de   substituir   o


terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e
da do outro contratante.
Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou
por disposição de última vontade.

7.3. Contrato com Pessoa a Declarar
É   a   relação   jurídica   contratual   estabelecida   entre   duas   partes,   com   cláusula   expressa,
prevendo que um ou ambos os contratantes reserva à si o direito de, dentro de determinado prazo,
indicar a pessoa que passará a figurar na sua posição contratual. 

Art.   467.  No   momento   da   conclusão   do   contrato,   pode   uma   das


partes reservar­se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir
os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes.

Perceba que a cláusula deve ser expressa, não sendo admitido contrato com pessoa a
declarar por cláusula tácita. 

Prazo: o prazo será de 05 dias, salvo se houver disposição contrária:

Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo
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de   cinco   dias   da   conclusão   do   contrato,   se   outro   não   tiver   sido


estipulado.

O  TERCEIRO   SERÁ   PARTE  na   relação   contratual.   Justamente   por   ser   parte,  ele
precisará ser solvente e também capaz, já que deverá assumir as obrigações decorrentes do
contrato, titularizando os direitos retroativamente à data da celebração do contrato. 

Se o terceiro for incapaz, insolvente ou não aceitar a posição que lhe está sendo atribuída,
o  contrato   permanecerá   válido   e   eficaz   entre   as   partes   originárias.  Isto   é,   o   contrato
continuará produzindo efeitos entre as partes que o celebraram. Portanto, trata­se de aceitação
retroativa à data da celebração do contrato. 
Art. 469. A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire os direitos e assume as
obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado.

Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários:


I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la;
II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação.

Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá seus
efeitos entre os contratantes originários.

O   Código   Civil   impõe   que   a   aceitação   do   terceiro   deve   ocorrer   do   mesmo   modo   da
declaração de vontade das partes. Então, se o contrato é formal, solene, a aceitação do terceiro
também deverá ser. É o fenômeno denominado de expromissão. É o que diz o parágrafo único do
art. 468:

Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se
não   se   revestir   da   mesma   forma  que   as   partes   usaram   para   o
contrato.

A cessão de contato jamais servirá de exemplo de contrato com pessoa a declarar. Isso
porque,  O TERCEIRO ASSUME A POSIÇÃO RETROATIVAMENTE.  O terceiro é parte
no contrato desde a sua celebração. 

Exemplos: a compra e venda – David atua no campo imobiliário (investidor imobiliário ­
compra e revende). No campo tributário, a responsabilidade tributária recai sobre aquele que
adquire   o   imóvel.   David   adquire   um   imóvel   perto   da   praia;   ele   coloca   no   contrato   com   a
imobiliária o terceiro que participará da relação contratual, prevendo o prazo de 90 dias para
indicar   o   terceiro.   Dentro   desse   prazo,   ele   vende   o   imóvel   à   Carla.   Neste   caso,   quem   terá
responsabilidade tributária quando ele indicar o terceiro? Será do terceiro, isto é, a Carla, pois é
parte no contrato. A escritura pública também será lavrada em nome dela.

Se fosse uma cessão contratual, a responsabilidade tributária e a escritura pública seriam
do David e não do terceiro. 
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Cristiano Chaves

Obs. Não cabe contrato com pessoa a declarar nos casos de obrigação personalíssima.

Contrato com Pessoa a Declarar
Art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes
reservar­se   a   faculdade   de   indicar   a   pessoa   que   deve   adquirir   os
direitos e assumir as obrigações dele decorrentes.

Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo
de   cinco   dias   da   conclusão   do   contrato,   se   outro   não   tiver   sido
estipulado.
Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se
não   se   revestir   da   mesma   forma   que   as   partes   usaram   para   o
contrato.

Art.   469.  A   pessoa,   nomeada   de   conformidade   com   os   artigos


antecedentes, adquire os direitos e assume as obrigações decorrentes
do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado.

Art.   470.  O   contrato   será   eficaz   somente   entre   os   contratantes


originários:
I ­ se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a
aceitá­la;
II  ­   se   a   pessoa   nomeada   era   insolvente,   e   a   outra   pessoa   o
desconhecia no momento da indicação.

Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento
da nomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes
originários.

 08.       
   FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

Há 03 fases na formação dos contratos. São elas: negociações preliminares, proposta e
aceitação. 

Ocorre que o Código Civil prevê que pode existir contrato preliminar,  que antecede a
formação  do  contrato,   mas   que   não  é   uma   fase   da   formação  dos   contratos.   Por   isso,   vamos
estuda­los separadamente agora, para depois estudar as três fases na formação do contrato.

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Contrato preliminar (ou pré­contrato ou promessa de contrato)
É  OBRIGAÇÃO   DE   FAZER,   CONSISTENTE   EM  CELEBRAR   OUTRO
CONTRATO.  Trata­se de obrigação de fazer assumida pelas partes de celebrar outro contrato.
Exemplo: promessa de compra e venda; promessa de doação; promessa de comodato. 

O contrato preliminar (ou promessa de contrato) não é acessório do contrato prometido.
Por isso  não há relação de dependência entre ele e o futuro contrato, sendo dois contratos
autônomos entre si (contrato preliminar e contrato prometido). 
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter
 todos os requisitos essenciais  ao contrato a ser celebrado.

p.ex.  se exigindo a outorga uxória de contraentes casados, pois, no


contrato provisório, se perquire a aptidão para validamente
alienar.

Essa parte sublinhada (exceto quanto à forma), demonstra que o contrato preliminar não precisa
conter a mesma forma do contrato futuro. Se o artigo exigisse a mesma forma, ai sim estaríamos
diante de um contrato acessório ao contrato principal. 

Exemplo:  promessa de compra  e venda não precisa de escritura pública registrada em


cartório. É o que dispõe a súmula 239 do STJ, que apenas confirma o art. 462 do CC: 

Súmula 239: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona
ao   registro   do   compromisso   de   compra   e   venda   no   cartório   de
imóveis.

Exemplo 2: promessa de contrato de comodato: promete­se que emprestará o apartamento
durante o carnaval. Se não emprestar o imóvel, a parte poderá optar pela execução específica ou
perdas e danos. 

Contrato Preliminar
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter
todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.

Art.   463.  Concluído   o   contrato   preliminar,   com   observância   do


disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula
de arrependimento, qualquer das partes  terá o direito de exigir a
celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive.

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Cristiano Chaves

Parágrafo único. O contrato preliminar  DEVERÁ SER LEVADO
AO REGISTRO COMPETENTE.

TODAVIA  CONFORME SÚMULA 239 DO STJTRATANDO-SE
DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL, O
ADQUIRENTE \PODERÁ PROPOR AÇÃO DE
ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA DO BEM REGISTRADO
EM NOME DO PROMITENTE VENDEDOR AINDA QUE
SEM OCORRER O PRÉVIO REGISTRO DO PACTO
PRELIMINAR.

Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado,
suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo
ao   contrato   preliminar,   salvo   se   a   isto   se   opuser   a   natureza   da
obrigação.

Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar,
poderá a outra parte considerá­lo desfeito, e pedir perdas e danos.

Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena
de   ficar   a   mesma   sem   efeito,   deverá   manifestar­se   no   prazo   nela
previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado
pelo devedor.

8.1. Negociações preliminares (tratativas ou puntuações)
Negociações preliminares, tratativas ou pontuação, constituem os ajustes prévios, estudos
sobre o interesse em celebrar o contrato. Exemplo: minutas. 

Nesta   fase,   não   há   obrigações   contratuais,   justamente   por   que   não   há   contrato.
Consequentemente,   não   há   responsabilidade   civil   contratual.  Mas   há,   por   outro   lado,   a
responsabilidade civil pré­contratual 

8.2. Proposta (policitação)
Proposta ou policitação é o anúncio, a declaração unilateral da vontade de contratar. O
CC/02   estabelece   que  a   proposta   vincula  tanto   o   proponente  QUANTO   O   SEUS
SUCESSORES, salvo se o contrário resultar de expressa advertência ou de sua natureza. 

Exemplo: no supermercado, quando se anuncia que a promoção perdurará por apenas 10
31
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minutos. 

 A oferta feita ao público vincula o proponente nos mesmos termos da proposta individual.
(ex. outdoor, TV, internet etc.). 
A tutela jurídica da proposta poderá ser por execução específica ou por perdas e danos.
Exemplo:   execução   específica   quando   a   outra   parte   ainda   tenha   interesse   na   execução   da
proposta. Caso contrario, perdas e danos. 

8.3. Aceitação (oblação)
Aceitação ou oblação é a adesão à proposta formulada. 

Se a proposta vincula o proponente, a aceitação também deve ser plena e integral, não
podendo  estar   submetida   a   elementos   externos.   Por   isso,   o  art.   431  do  CC   estabelece   que   a
aceitação   com   adição,   com   restrição,   com   modificação  ou   feita   fora   do   prazo   é   nula   (não   é
aceitação, mas sim, nova proposta):
Art.   431.  A  aceitação  fora   do   prazo,   com  adições,  restrições,   ou
modificações, importará nova proposta.

A aceitação é a formação do contrato entre pessoas presentes. (Equivale a contrato entre
presentes, o contrato realizado pelo telefone).

Entre ausentes (pessoa que não estão na mesma situação de tempo e espaço), o contrato se
forma,  pela  TEORIA DA COGNIÇÃO,  quando chegar ao conhecimento do proponente a
aceitação. 
Mas o CC/02 adotou a teoria da agnição por EXPEDIÇÃO, ou seja, entre ausentes, o contrato
se forma quando o aceitante EXPEDE A ACEITAÇÃO, independentemente de ter chegado
ao conhecimento do proponente. Exemplo: no contrato eletrônico se forma  no momento em
que o aceitante clica em ‘enviar’. Essa teoria traz um certo risco, pois nem sempre a aceitação
chega ao conhecimento do proponente. 

8.4. Lugar do contrato

Segundo o art. 435, o lugar do contrato é onde foi realizada a proposta:

REGRA ­ Art. 435. Reputar­se­á celebrado o contrato no lugar em
que foi proposto.
O art. 9º, § 2º, da LINDB estabelece que o lugar do contrato é a residência do proponente. 

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Então surge a dúvida: qual é lugar do contrato? Há um aparente conflito entre as normas,
mas ambas estão em pleno vigor e são compatíveis entre si. 

• Isso porque, nos contratos INTERNOS, o lugar será o da proposta.

• Já   nos   contratos  INTERNACIONAIS,   o  lugar   do   contrato   é   o   da   residência   do


proponente. 

Obs. Não confundir o lugar do contrato com o foro de eleição. O foro de eleição é o lugar
onde eventuais conflitos decorrentes do contrato serão resolvidos. Mas o lugar do contrato é o
lugar onde o contrato será cumprido. 

NCPC: Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e


do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e
obrigações.
§ 1o A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento
escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico.
§ 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes.
§ 3o ANTES DA CITAÇÃO, a cláusula de eleição de foro, se abusiva,
pode ser REPUTADA INEFICAZ DE OFÍCIO PELO JUIZ, que determinará a
remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu.
§ 4o CITADO, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de
foro na contestação, sob pena de preclusão.

Da Formação dos Contratos
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário
não   resultar   dos   termos   dela,   da   natureza   do   negócio,   ou   das
circunstâncias do caso.

Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I  ­   se,   feita  sem   prazo   a   pessoa   presente,  não   foi   imediatamente
aceita.   Considera­se  também   presente   a   pessoa   que   contrata   por
telefone ou por meio de comunicação semelhante;
II  ­   se,   feita  sem   prazo   a   pessoa   ausente,  tiver   decorrido   tempo
suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente;
III  ­ se, feita a pessoa ausente,  não tiver sido expedida a resposta
dentro do prazo dado;
IV ­ se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da
outra parte A RETRATAÇÃO DO PROPONENTE.

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Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os
requisitos essenciais ao contrato,  salvo se o contrário resultar das
circunstâncias ou dos usos.
Parágrafo único. Pode revogar­se a oferta pela mesma via de sua
divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.

Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde
ao conhecimento do proponente,  este comunicá­lo­á imediatamente
ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.

Art.   431.  A   aceitação   fora   do   prazo,   com   adições,   restrições,   ou


modificações, importará nova proposta.

Art.   432.  Se   o   negócio  for   daqueles   em   que   não   seja   costume   a
aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar­se­á
concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.

Art. 433. Considera­se inexistente a aceitação, se antes dela ou com
ela chegar ao proponente a retratação do aceitante.

Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam­se perfeitos desde que a
aceitação é expedida, exceto:
I ­ no caso do artigo antecedente;
II ­ se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III ­ se ela não chegar no prazo convencionado.

Art.   435.  Reputar­se­á   celebrado   o   contrato   no   lugar   em   que   foi


proposto.

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 09.       
   VÍCIOS REDIBITÓRIOS

São DEFEITOS ESTRUTURAIS NA COISA ADQUIRIDA onerosamente, tornando­a
imprópria para o uso ou diminuindo o seu valor econômico.  Exemplo: sujeito adquire um touro
reprodutor, mas que é estéril. 

9.1. Requisitos

a) ONEROSIDADE do contrato. 
EXCEÇÃO: doação para casamento e doação remuneratória, excepcionalmente, admitem
a vício redibitório.
Doação   remuneratória   é   a   contraprestação   voluntária   para   uma   obrigação   sem
exigibilidade jurídica. Exemplo: doação ao guardador de carros na rua. 

b) Existência de um DEFEITO que torne a coisa imprópria para o uso ou subtrai valor
econômico

c) Existência do defeito ao tempo da tradição;

d) Descoberta do defeito somente depois da tradição. 

e) Inexistência de cláusula excludente da garantia.
As partes podem, por cláusula expressa, excluir a garantia por vícios redibitórios. Mas
repare que essa cláusula  será nula nos contratos de consumo ou de adesão.  Portanto,
somente os contratos paritários admitem a utilização da clausula excludente da garantia
por vícios redibitórios.

f) Reclamação do vício por meio das ações edilícias

As ações edilícias são as reclamações para os vícios redibitórios. Se subdividem:

a) Ação redibitória; (é a ação utilizada para rejeitar a coisa viciada). 

b) Ação estimatória ou quanti minoris (é a ação utilizada para o abatimento do preço).

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c) Ação “Ex Empto”  (é ação para complementação de área quando o vício redibitório
decorrer da falta de medida, de extensão da área). Ex. Se o sujeito compra o imóvel de
100 ha, mas ele tem 90 ha. 

Atenção: A ação ex empto somente será admissível se for possível a complementação da 
área. Então, quando se pensa em uma fazenda, é até possível imaginar a complementação de área,
mas se for um apartamento, fica absolutamente impossível complementar a área. 

O art. 500, §1º do CC estabelece uma margem de tolerância para os vícios redibitórios 
por falta de extensão: então, quando a diferença encontrada for de 5% (ou 1/20 da área total 
enunciada), não caracterizará o vício redibitório, mas repare que caberá a responsabilidade 
civil para indenizar o comprador. 
§   1o  Presume­se   que   a   referência   às   dimensões   foi   simplesmente
enunciativa,   quando   a   diferença   encontrada   não   exceder   de   um
vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito
de provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio.
Obs.  Se   a   relação   for   de  consumo,   além   das   três   ações   acima,  haverá   a   ação   para
substituição do produto ou do serviço. 

A ação edilícia precisa ser proposta no prazo decadência previsto em lei. 

PRAZOS DECADENCIAIS PARA AÇÕES EDILÍCIAS:

1. Vício redibitório de FÁCIL constatação: 
 30 dias se móvel; 
 01 ano se imóvel, contados da tradição.

Se for de fácil constatação e já estiver na posse conta­se da alienação e reduzido
à metade.

2. Vício redibitório de DIFÍCIL constatação: 
 180 dias, se móvel; 
 01 ano se imóvel

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Este é o tempo para que o vício apareça – os prazos prescricionais seguem sendo de 30
dias e 01 ano ­ contados da descoberta do vício.  

TRATA-SE DE PRAZO PARA QUE O VÍCIO SE REVELE


Em verdade o prazo decadência na hipótese continua sendo de 30 dias,
contudo, fluindo a partir do conhecimento do defeito e desde que os vícios
se revelem no prazo de 180 dias. Sobre o tema, o Enunciado no 174 do CJF.
“Art. 445: Em se tratando de vício oculto, o adquirente tem os prazos do caput do
art. 445 para obter redibição ou abatimento de preço, desde que os vícios se
revelem nos prazos estabelecidos no § 1o, fluindo, entretanto, a partir do
conhecimento do defeito.

O mesmo no caso de bens imóveis.

3. Vício   redibitório   sobre   animais:  prazo   previsto   em   lei   especial.   Se   não   houver   lei
especial,  aplica­se os usos e costumes locais.  Se também não houver, o prazo será o
mesmo dos vícios de difícil constatação.

Obs.   Nada   impede   que   as   partes   estabeleçam  prazos   decadenciais   para   a  garantia   dos
eventuais vícios redibitórios. Havendo estipulação contratual de prazo de garantia, enquanto não
fluir a garantia convencional, não começa a correr a garantia legal. 

4. Vícios  no  CDC:  será   de   30 dias  para   produtos  não duráveis;  e  90 dias  para   produtos
duráveis. 

Diálogo das fontes: é a utilização de uma norma mais favorável do que outra. Exemplo: o
prazo   do   CC   é   mais   favorável   do   que   o   prazo   do   CDC.   Exemplo:   em   se   tratando   de   vício
redibitório de difícil constatação, o Código Civil se mostra mais favorável do que o CDC.  

Desde que as coisas não formem um todo inseparável, só as que forem


defeituosas serão restituídas e o seu valor deduzido do preço.

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Cristiano Chaves

Dos Vícios Redibitórios prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de
Art.   441.  A   coisa   recebida   em   virtude   de um   ano   se   for   imóvel,   contado   da   entrega
contrato  comutativo  pode   ser   enjeitada   por efetiva;  SE  JÁ   ESTAVA   NA   POSSE,   O
vícios   ou   defeitos   ocultos,   que   a   tornem PRAZO  CONTA­SE   DA   ALIENAÇÃO,
imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe REDUZIDO À METADE.
diminuam o valor.
Parágrafo   único.  É   aplicável   a   disposição §   1o  Quando   o   vício,   por   sua   natureza,   só
deste artigo às doações onerosas. puder   ser   conhecido   mais   tarde,   o   prazo
contar­se­á   do   momento   em   que   dele   tiver
Art.   442.  Em   vez   de   rejeitar   a   coisa, ciência,   até   o   prazo   máximo   de   cento   e
redibindo   o   contrato   (art.   441),   pode   o oitenta dias, em se tratando de bens móveis;
adquirente reclamar abatimento no preço. e de um ano, para os imóveis.

Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou §   2o  Tratando­se   de   venda   de   animais,   os


defeito da coisa, restituirá o que recebeu com prazos de garantia por vícios ocultos serão
perdas   e   danos;   se   o   não   conhecia,   tão­ os estabelecidos em lei especial, ou, na falta
somente restituirá o valor recebido, mais as desta,   pelos   usos   locais,   aplicando­se   o
despesas do contrato. disposto   no   parágrafo   antecedente   se   não
houver regras disciplinando a matéria.
Art.   444.  A   responsabilidade   do   alienante
subsiste  ainda que a coisa pereça em poder Art. 446.  Não correrão os prazos do artigo
do alienatário,  SE PERECER POR VÍCIO antecedente   na   constância   de   cláusula   de
OCULTO, já existente ao tempo da tradição. garantia;  mas   o   adquirente  deve
DENUNCIAR   O   DEFEITO   AO
Art. 445.  O adquirente decai do direito de ALIENANTE   NOS   TRINTA   DIAS
SEGUINTES  ao   seu   descobrimento,   sob
obter a redibição ou abatimento no preço no
pena de decadência.

 10.       
   EVICÇÃO

É   a  perda   da   coisa   adquirida   onerosamente   por   força   de  decisão   judicial  ou


administrativa, que a conferiu no todo ou em parte ao terceiro. Trata­se, portanto, da perda da
coisa adquirida.

38
Cristiano Chaves

10.1. Sujeitos envolvidos na evicção: 
 Evicto (ou evencido): é aquele que comprou e perdeu.
 Evictor (ou evincente): é o terceiro a quem a coisa foi atribuída. 
 Alienante: é aquele que vendeu a coisa que não era sua. Ele poderá estar de boa ou má­fé. 

10.2. Requisitos da evicção

a) Onerosidade do contrato
Exceções: doações remuneratórias e contemplativas de casamento;

b) Perda da posse ou propriedade da coisa adquirida, no todo ou em parte.

c) Decisão judicial ou administrativa conferindo a coisa a um terceiro.

d) Inexistência de cláusula excludente da garantia da evicção. 
Segundo o art. 448 do CC, é possível as partes ampliar, reduzir ou excluir as garantias da
evicção. 

Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir
ou excluir a responsabilidade pela evicção,

Se   o  contrato  for   de   consumo   ou  de   adesão,   essa  cláusula   é  nula.  Mas   repare   que,
mesmo nos contratos paritários, a cláusula de exclusão da responsabilidade pela evicção somente
terá validade se a parte for expressamente advertida dos riscos e ASSUMI­LO. 

Art.  449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a
evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que
pagou pela coisa evicta,  se não soube do risco da evicção, ou, dele
informado, não o assumiu.

e) Denunciação da lide.
Durante muito tempo se disse que a denunciação da lide era requisito para a evicção. Os
mais tradicionais dizem que esse é o único caso de denunciação da lide obrigatória no direito
brasileiro. Exemplo: A vende um terreno para B. C ajuíza ação contra B reivindicando o terreno.
Neste caso, B estaria obrigado a denunciar a lide à A, para garantir o direito que da evicção lhe
resulta. 

Denunciação per saltum: é a possiblidade da denunciação da lide não só ao alienante, mas
de todos que conste da cadeia sucessória do bem.  Assim, seria possível denunciar a lide não
apenas à quem vendeu, mas os seus antecessores. Veja que o fundamento da denunciação per
saltum é a função social do contrato, ou seja, o contrato não pode prejudicar terceiros. (procurar
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Cristiano Chaves

artigo do Alexandre Câmara sobre este tema na internet).

Embora os autores digam que a denunciação da lide é obrigatória, o melhor é entende­la
como facultativa. Até porque, ele poderá propor ação autônoma para discutir o tema. Veja, por
exemplo, que se for nos juizados especiais, não seria possível a denunciação da lide. O STJ, no
Ag. 917.314/PR, já admitiu o regresso autônomo pelo evicto, acolhendo a doutrina moderna. 

Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a


procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer
contestação, ou usar de recursos.

10.3. Extensão da Garantia da Evicção
A garantia da evicção abrange
a) Restituição do valor da coisa;
b) Despesas decorrentes da aquisição (ex. o registro). 
c) Indenização pelas benfeitorias;
d) Juros e correção;
e) Honorários e custas processuais;
f) Perdas e danos. 

Obs. Em todos os casos, salvo no caso das perdas e danos, a responsabilidade é objetiva.
Mas,  no   caso   das  PERDAS   E   DANOS,   o   alientante   somente   responderá   se   atuou
CULPOSAMENTE. 

Obs. 2. Poderá ocorrer a evicção MESMO QUANDO SE TRATAR DE AQUISIÇÃO
EM HASTA PÚBLICA. 
expressa,   reforçar,   diminuir   ou   excluir   a
Da Evicção responsabilidade pela evicção.
Art.   447.   Nos   contratos   onerosos,   o
alienante   responde   pela   evicção.   Subsiste Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui
esta garantia ainda que a aquisição se tenha a garantia contra a evicção, se esta se der,
realizado em hasta pública. tem   direito  o  evicto  a  receber   o  preço  que
pagou   pela   coisa   evicta,   se   não   soube   do
Art.   448.   Podem   as   partes,   por   cláusula risco da evicção, ou, dele informado, não o
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Cristiano Chaves

assumiu. Art.   453.   As  benfeitorias  necessárias  ou


úteis, não abonadas ao que sofreu a evicção,
Art.   450.  Salvo   estipulação   em   contrário, SERÃO PAGAS PELO ALIENANTE.
tem  direito  o   evicto,  além   da   restituição
integral do preço ou das quantias que pagou: Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que
I ­ à indenização dos FRUTOS que tiver sido sofreu   a   evicção   tiverem   sido   feitas   pelo
obrigado a restituir; alienante, o valor delas será levado em conta
II  ­   à   indenização   pelas  DESPESAS   DOS na restituição devida.
CONTRATOS  e   pelos  PREJUÍZOS   QUE
DIRETAMENTE   RESULTAREM  da Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a
evicção; evicção,   poderá   o   evicto  OPTAR  entre   a
III  ­   às  CUSTAS   JUDICIAIS  e   aos rescisão do contrato e a restituição da parte
honorários do advogado por ele constituído. do   preço   correspondente   ao   desfalque
sofrido.  Se   não   for   considerável,   caberá
somente direito a indenização.
Parágrafo   único.  O   preço,   seja   a   evicção
total ou parcial, será o do valor da coisa, na
Art. 456. Para poder exercitar o direito que
época em que se evenceu, e proporcional ao
desfalque   sofrido,   no   caso   de   evicção da   evicção   lhe   resulta,   o   adquirente
parcial. notificará do litígio o alienante imediato, ou
Art.   451.   Subsiste   para   o   alienante   esta qualquer dos anteriores, quando e como lhe
obrigação,  AINDA   QUE   A   COISA determinarem as leis do processo.
ALIENADA   ESTEJA  DETERIORADA, Parágrafo único. Não atendendo o alienante
exceto havendo dolo do adquirente. à denunciação da lide,  e sendo manifesta a
procedência   da   evicção,   pode   o   adquirente
Art.   452.   Se   o   adquirente  tiver   auferido deixar   de   oferecer   contestação,   ou   usar   de
vantagens das deteriorações, e não tiver sido recursos.
condenado   a   indenizá­las,   o    valor   das
vantagens será deduzido  da quantia que lhe Art. 457. Não pode o adquirente demandar
houver de dar o alienante. pela evicção, se sabia que a coisa era alheia
ou litigiosa.

41
 11.       
   EXTINÇÃO DOS CONTRATOS

EXTINÇÃO DOS CONTRATOS

É quando um contrato deixa de existir. A extinção normal do contrato se dá com o termo


do contrato, ou seja, quanto ele atinge a sua finalidade (pagamento).

*pagamento não é só dinheiro, é o modo voluntário de cumprir a prestação devida


(entrega de um carro, de um quadro, prestação de um serviço)

Extinção anormal é quando o contrato não cumpre a sua finalidade, ou seja, quando não
houve o pagamento nos termos da lei ou nos termos do contrato. As causas de extinção
anormal são as seguintes:

- nulidade/anulabilidade
- resolução
- resilição
- morte do contratante no contrato personalíssimo

O termo rescisão contratual é o gênero que abrange duas espécies: (i) resolução e (ii)
resilição.

1. Nulidade absoluta

Ocorre quando o contrato nasce violando a lei nos seguintes aspectos:

d) agente absolutamente incapaz


e) objeto ilícito, impossível ou indeterminado
f) se o motivo for ilícito e comum a ambas as partes
g) violação da forma prevista em lei
h) violação de alguma solenidade que a lei considere essencial (ex.: falta de
autorização do cônjuge para alienar imóveis)
I) NEGÓCIO COM A INTENÇÃO DE FRAUDAR A LEI
j) simulação
k) quando a lei diz expressamente que tal negócio é nulo
l) quando a lei proíbe o ato mas não diz que é nulo. Nesse caso, se for lei de
ordem pública a nulidade é absoluta. Já se for uma lei dispositiva (de interesse
particular) a nulidade é relativa.
A nulidade absoluta é decretada de ofício pelo juiz, salvo a nulidade de casamento.

A sentença que decreta a nulidade é meramente declaratória, pois o ato é nulo por
força de lei, e não em razão da sentença, tanto é verdade que é ato que não se convalida
(imprescritível). Portanto, na nulidade absoluta o ato é inválido e ineficaz, ou seja, não
produz efeitos.

NULIDADE ABSOLUTA – EX TUNC - A sentença tem eficácia ex tunc (retroativa),


portanto, o negócio é desfeito desde a sua formação – NÃO DEPENDE DA SENTENÇA

Ações declaratórias não se sujeitam a prazo decadencial

2. Anulabilidade ou nulidade relativa

“De acordo com o art. 172 do CC, o negócio anulável pode ser confirmado pelas partes,
salvo direito de terceiro, valorização, mais uma vez, da boa-fé objetiva. Trata-se da
chamada convalidação livre da anulabilidade.”

Trecho de: Flávio Tartuce. “Manual de Direito Civil – Volume Único, 6.ª edição.” iBooks.

“Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia
de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a
alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade”.”

Trecho de: Flávio Tartuce. “Manual de Direito Civil – Volume Único, 6.ª edição.” iBooks.

“art. 182 da atual codificação, pelo qual “Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as
partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão
indenizadas com o equivalente”.”

Trecho de: Flávio Tartuce. “Manual de Direito Civil – Volume Único, 6.ª edição.” iBooks.

Ocorre quando o contrato se forma com os seguintes defeitos:

m) Uma ou ambas as partes é relativamente incapaz e contrata sem assistência


n) Erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo e fraude contra credores

• Na nulidade, seja absoluta ou relativa, o contrato já nasce defeituosamente, desta


forma, o contrato já nasce nulo ou anulável (não se torna). Portanto, pode-se
dizer que é vício anterior ou concomitante ao nascimento da obrigação.

• NULIDADE RELATIVA – EX TUNC – mas DEPENDE DA SENTENÇA - A nulidade


relativa nunca poderá ser decretada de ofício pelo juiz, sendo necessária uma ação
judicial específica. A natureza dessa sentença é desconstitutiva negativa, pois a
sentença é necessária para o desfazimento do contrato, logo, o contrato é inválido
porém eficaz até a sentença.

Quanto aos efeitos da sentença que decreta a nulidade relativa , duas são as visões

a) visão clássica - Maria Helena Diniz entende que tem efeito ex nunc, ou seja, o
contrato é desfeito apenas a partir da sentença.

b) Antunes Varella e ZENO VELOSO entendem que a sentença TEM EFICÁCIA EX


TUNC, salvo em matéria de casamento, quando o efeito é ex nunc. (é a majoritária)

O código prevê expressamente que nos vícios de consentimento e nos vícios sociais o
negócio é desfeito desde a sua celebração, portanto, a sentença possui efeito retroativo.
Ademais, seja absoluta ou relativa, o efeito da nulidade é o mesmo (as partes voltam a
situação anterior).

P.: É possível ato válido ineficaz, isto é, que não produz efeitos?
R.: Sim, tal como o ato sob termo ou sob condição, que só produzem efeitos quando
ocorre o termo ou condição.

3. Conversão do contrato nulo

É a transformação do contrato nulo em outro contrato válido, de efeitos diferentes


(conversão própria) ou de efeitos idênticos (conversão imprópria). São dois os requisitos
da conversão:

(i) requisito subjetivo: consiste na intenção das partes que era de celebrar o
outro contrato.

(ii) requisito objetivo: o contrato nulo deve preencher os requisitos legais de um


outro contrato válido.

VÍCIO DE FORMA

Ex1.: venda de uma casa por R$ 1,00, por escritura pública. Essa venda é nula, pois o
preço é fictício.

Ex2.: venda de um bem que o comprador pagará o preço que quiser. A venda é nula, pois
essa condição é potestativa (fica ao arbítrio exclusivo de uma das partes)

Nesses exemplos, se a vontade era de doar os bens, será possível convertê-los em


doação (conversão própria).
Ex.1.: venda de uma fazenda por instrumento particular, a venda é nula, pois é preciso
escritura pública. Porém, pode se converter essa venda em compromisso de compra e
venda, pois no compromisso basta a escritura particular (conversão imprópria).

Seção I
Do Distrato
Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera
mediante denúncia notificada à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos
consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de
transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

4. Resolução

É o inadimplemento contratual. São três as hipóteses:

- resolução por inexecução voluntária do contrato


- resolução por inexecução involuntária do contrato
– resolução por onerosidade excessiva

4.1. Resolução por INEXECUÇÃO VOLUNTÁRIA do contrato:

Seção II
Da Cláusula Resolutiva
Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial.

Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-
lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.

É o desfazimento retroativo do contrato, isto é, o contrato é desfeito desde o seu


nascimento, logo o efeito é ex tunc
É o inadimplemento doloso ou culposo. É um direito potestativo, isto é, o outro
contratante extingue o contrato se quiser, pois presente a opção pela resolução do
contrato ou por exigir o seu cumprimento (EM AMBOS OS CASOS CABE PERDAS E
DANOS).

P.: Qual o pressuposto para requerer a resolução do contrato?


R.: O pressuposto para requerer a resolução do contrato é que a parte esteja em
condição de devolver a prestação recebida, salvo se a prestação pereceu por culpa do
outro contratante. Ex.: o cavalo que eu comprei morreu por culpa do vendedor.

 Diferenças e Semelhanças entre a resolução por inadimplência culposa e anulação


do contrato

(i) Semelhanças:

Em ambas há um DIREITO POTESTATIVO de se pedir a extinção do contrato, pois o


contratante tem também a opção de exigir o cumprimento do contrato. Em ambos o
contrato é desfeito retroativamente, desde o nascimento, as partes devolvem as
prestações recebidas e o registro de imóvel é cancelado, retorna-se ao status quo
ante, o que se não existisse o negócio.

*nos contratos de prestações sucessivas ou continuadas, por exemplo, locação,


em ambos a sentença é ex nunc, isto é, o negócio é desfeito a partir da sentença.

(ii) Diferenças:

Só pode pleitear a resolução do contrato a parte que puder devolver a mesma prestação
recebida, logo se já alienou o bem a terceiro não cabe a resolução.

Na anulação a parte que alienou o bem de boa-fé pode pleitear a anulação, devolvendo
uma prestação equivalente (artigo 182 1). Já se a parte vende o bem a terceiro sabendo
que o negócio anterior era anulável, ela não poderá pleitear a anulação, pois esse ato
implica em ratificação tácita do negócio anterior (venire contra factum proprium non
potest).

As causas de anulação são anteriores ou concomitante a formação do contrato, isto é, o


contrato já nasce inválido, com defeitos. Portanto, a nulidade absoluta ou relativa existe
ao tempo do nascimento do contrato, nunca é superveniente, o ato nunca se torna nulo ou
anulável, ele sempre nasce nulo ou anulável. (nulidade é vício de origem).

Na resolução por inadimplência o contrato é válido, a extinção se dá por um fato


1
Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo
possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.
posterior, isto é, pela inadimplência culposa.

P.: O que é a teoria da resolução por inadimplemento antecipado?


R.: Ocorre quando um dos contratantes revela de antemão, por atos ou palavras, a
intenção de não cumprir o contrato, ou então, não reúne condições financeiras ou
técnicas para cumprir a obrigação. Nesse caso, o contratante, não precisa esperar o
prazo avençado, ele pode desde já pedir a resolução do contrato, mais perdas e danos
se o outro teve culpa. Tal teoria fundamenta-se no princípio da boa-fé objetiva e equidade.

P.: O que é a teoria do adimplemento substancial?


R.: É a que proíbe a resolução do contrato quando a outra parte cumpriu quase que na
integra as suas obrigações. Nesse caso, resta à outra parte exigir o cumprimento do que
resta mais perdas e danos. Fundamenta-se na boa-fé objetiva e na equidade, função
social do contrato.

P.: Qual a diferença entre a cláusula resolutiva expressa e a tácita?


R.: Em todo contrato bilateral está implícita a cláusula resolutiva tácita, que é o poder
de pleitear a rescisão do contrato por inadimplência culposa ou dolosa. A cláusula
resolutiva expressa (ou pacto comissório) é o poder de o alienante rescindir o contrato
por inadimplência culposa, AINDA QUE A COISA JÁ TENHA SIDO ENTREGUE, ELE
PODE REAVER O BEM.

Enquanto não há a entrega do bem, ambas as cláusulas surtem o mesmo efeito: o


contrato pode ser rescindido por inadimplência. Uma vez entregue o bem, isto é, feita a
tradição, se a cláusula resolutiva for tácita não é cabível mais a rescisão do
contrato, significa que o vendedor se contentou em apenas cobrar o preço. Já na
cláusula resolutiva expressa, se houver inadimplência ele pode rescindir o contrato,
reavendo o bem. (direito pessoal com garantia real).

Na cláusula resolutiva expressa a mora é ex re, ou seja, a mora se configura com o


simples vencimento da obrigação, independentemente de notificação. Na cláusula
resolutiva tácita a mora é ex persona, assim, para que se configure exige o vencimento
mais a notificação do vendedor e, no caso, a notificação deve ser judicial (art. 474). Se
mover a ação judicial sem esta notificação o processo é extinto sem resolução do mérito.

Em três contratos a mora é ex persona ainda que haja cláusula resolutiva expressa e
nessas 03 hipóteses a notificação pode ser extrajudicial:

(i) compromisso de compra e venda


(ii) alienação fiduciária em garantia
(iii) arrendamento mercantil (leasing)

Na cláusula resolutiva expressa a sentença que rescinde o contrato é meramente


declaratória, pois a resolução decorre do inadimplemento e não dá sentença. De outro
lado, na cláusula resolutiva tácita uma corrente diz que a sentença é
desconstitutiva (WBM), outra diz que é declaratória, isso porque o que provoca a
extinção é o inadimplemento e não a sentença. É pacífico que ambas as cláusulas
tem efeito ex tunc, isto é, desde o inadimplemento.

P.: Qual a diferença entre cláusula resolutiva e condição resolutiva?


R.: Na cláusula resolutiva o contratante tem opção de pleitear a extinção ou o
cumprimento do contrato, logo a extinção depende da vontade dele (direito potestativo).
Já a condição resolutiva é um fato futuro e incerto que provoca a extinção automática do
negócio, independentemente da vontade da parte Ex.: doação com cláusula de reversão,
isto é, que diz que o bem volta para o doador se o donatário morrer primeiro, com a
morte, neste caso, extingue-se automaticamente a doação (art. 547).

4.2. Resolução por inexecução involuntária do contrato

É a extinção do contrato em razão de caso fortuito ou força maior, que são


acontecimentos extraordinários, supervenientes, inevitáveis, que impedem o cumprimento
da obrigação. O caso fortuito ou força maior pode gerar três situações no contrato:

(i) suspensão do contrato: ocorre quando a impossibilidade de se cumprir a


obrigação é apenas temporária. Ex.: enchente inunda a cidade, assim o contrato
de fornecimento de mercadorias fica suspenso.

(ii) direito potestativo: pode gerar um direito potestativo de pleitear a extinção ou


o cumprimento do contrato. Ocorre quando há deterioração da prestação. Ex.: o
caso fortuito danificou parcialmente o carro que eu deveria entregar. Nesse caso o
adquirente tem a opção de extinguir o contrato ou aceitar o bem deteriorado com
abatimento do preço, sem indenização (art. 235).

(iii) extinção do contrato: ocorre quando o acontecimento gera a


impossibilidade total e definitiva de se cumprir o contrato. O contrato é extinto
retroativamente ex tunc, desde a sua celebração, e as partes devem devolver
eventuais adiantamentos recebidos. A sentença é meramente declaratória, porque
o que extingue o contrato não é a sentença, mas sim o caso fortuito ou força maior.
Ex.: um raio que destruiu o carro que eu vendi.

Nos contratos de prestações sucessivas (ex.: locação) são devidas as


prestações até antes do caso fortuito ou força maior.

Em regra, a extinção do contrato por caso fortuito ou força maior não gera direito de
indenização pelas perdas e danos, SALVO em 03 situações:
a) quando houver cláusula expressa em que uma das partes se responsabiliza em
indenizar os danos oriundos de caso fortuito ou força maior
b) se o devedor já estava em MORA. Ex.:devia entregar o carro no dia 10, porém
não entregou e no dia 11 o raio destruiu o carro. Como estava em mora terá que
indenizar.

*o devedor em mora não responde por caso fortuito ou força maior se ele provar que o dano
ocorreria do mesmo jeito se ele tivesse cumprido a obrigação no prazo.

c) quando houver previsão legal. Ex.: se caindo em risco a coisa emprestada o


comodatário deixar de salvar esta para salvar coisa própria, responderá por caso
fortuito ou força maior (art. 583).

Seção III
DA EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode
exigir o implemento da do outro.

Não pode ser alegada pelo condômino para deixar de pagar o condomíino.

Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição
em seu patrimônio capaz de COMPROMETER OU TORNAR DUVIDOSA A PRESTAÇÃO pela qual
se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe
compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.

4.3. Resolução por onerosidade excessiva

Em todo contrato bilateral comutativo de execução sucessiva/periódica/continuada ou de


execução diferida/futura está presente a cláusula rebus sic stantibus, que significa que o
contrato deve ser cumprido enquanto a situação originária permanecer a mesma.

 Contrato de execução sucessiva/periódica/de duração são aqueles em que as


prestações se prolongam no tempo, são contínuas, bem como aqueles em que a
prestação não são cumpridas ao mesmo tempo.

 Contrato de execução diferida/futura é aquele em que a prestação de uma ou


ambas as partes são cumpridas num momento posterior. Ex.: compra e venda em
que o pagamento e a entrega é para daqui 30 dias; pagamento imediato para
receber depois de 30 dias (ex.: devo entregar café nos EUA, porém eles entram em
guerra, de modo que o transporte agora está 100 vezes mais caro).

Essa cláusula, rebus sic stantibus, inspirou a criação de 03 teorias:

(i) Teoria da pressuposição: se a situação fática for alterada de forma radical o


contrato pode ser extinto.
(ii) Teoria da base objetiva do negócio: permite a revisão judicial do contrato se
o fato for superveniente. Tal fato, contudo, não precisa ser imprevisível, nem
extraordinário, mas apenas deve onerar excessivamente uma das partes (é a teoria
adotada pelo Código De Defesa do Consumidor).

(iii) Teoria da imprevisão: permite a resolução ou revisão judicial do contrato em


razão de um acontecimento superveniente, extraordinário e imprevisível que altere
radicalmente a situação originária do contrato, onerando excessivamente uma das
partes e gerando benefício exagerado para outra. É a teoria adotada no Código
Civil (artigos 478 a 480).

No CDC basta o acontecimento ser superveniente e onerar excessivamente o


consumidor, não exige mais nenhum outro requisito. Já a teoria da imprevisão exige uma
série de requisitos, inclusive a imprevisibilidade.

Aplica-se essa teoria a contratos unilaterais onerosos que sejam de longa duração, ou
seja, prolongados no tempo. Ex.: mútuo feneráticio.
(16/09)
 Requisitos da teoria da imprevisão:

a) Vigência de um contrato comutativo, de execução sucessiva ou contrato


de execução diferida no futuro;

Essa teoria não se aplica aos contratos gratuitos, nem aos contratos aleatórios (pois em
regra o risco é inerente ao contrato aleatório). Se, porém, o fato superveniente atingir
aspectos estranhos ao risco normal do contrato aleatório, aplica-se a teoria da imprevisão.

Também, essa teoria não é aplicada aos contratos de execução instantânea (as
prestações são cumpridas no ato, imediatamente).

Aplica-se essa teoria a contratos unilaterais onerosos, que sejam de duração, isto é,
prolongados no tempo (mutuo federativo – com juros)

b) Alteração Radical da situação econômica que existia ao tempo do contrato

Ex.: chuva de granizo destruiu a lavoura dificultando o cumprimento do contrato; guerra.

c) Onerosidade excessiva para um dos contratantes e benefício exagerado


para o outro

Ex.: cláusula permite que durante 03 anos o inquilino tem a opção de comprar o imóvel
por R$100mil. O poder público resolve reformar o bairro e agora aquele imóvel vale
R$500mil. Este requisito é o do desequilíbrio contratual, desproporção das prestações.
Há quebra do sinalagma.
*a situação financeira de uma das partes é irrelevante, compara-se objetivamente
as prestações.
d) Nexo causal entre o fato superveniente e onerosidade excessiva

e) O fato superveniente deve ser extraordinário e imprevisível.

Se o fato existe antes do contrato ou surge após o fim dele não se aplica a teoria da
imprevisão, pois ele deve ser superveniente.

*Fato extraordinário é aquele anormal, que não costuma acontecer.


*Fato imprevisível é aquele em que o homem médio, diligente, não poderia
imaginar que iria ocorrer. Se o fato por previsível ao homem médio não se aplica a
teoria da imprevisão.

A jurisprudência, nas décadas de 80 e 90, não aceitou a teoria da imprevisão em razão do


estouro da inflação por considerar que o aumento inflacionário era previsível. Hoje, o
estouro da inflação poderia ser considerado um fato imprevisível, isto porque a moeda já
está estável há quase 20 anos.

O fato extraordinário e imprevisível é aquele que não está coberto pelo risco normal do
negócio (Enunciado 366 CJF/STJ).

A extraordinariedade e a imprevisibilidade do fato pode ser:

a) quanto ao fato em si: isto é, o fato em si é anormal e imprevisível;

b) quanto aos efeitos: o fato era previsível e normal, mas os seus efeitos é que
foram imprevisíveis ou anormais (Enunciado 17 e 175 do CJF/STJ).

P.: Se o fato em si é previsível é possível invocar a teoria da imprevisão?


R.: Sim, desde que os efeitos sejam imprevisíveis. Em suma, o fato extraordinário
imprevisível é analisado em si mesmo ou quanto aos efeitos, basta uma dessas
imprevisibilidades.

P.: A ausência de mora é requisito para invocar a teoria da previsão?


R.: O CC é omisso. O artigo 399 diz “quem está em mora responde por caso fortuito ou
força maior”, salvo se provar que o dano ocorreria da mesma forma se tivesse cumprida a
obrigação no prazo”. Conclusão: por analogia, quem está em mora não pode alegar a
teoria da imprevisão SE O FATO SUPERVENIENTE SURGIU APÓS A MORA. (Já que
não pode alegar caso fortuito ou força maior também não pode alegar imprevisão).

P.: Presentes estes requisitos, a parte que alega a teoria da imprevisão, requer o que?
R.: A resposta é dividida em duas partes:
(i) se nenhuma das partes ainda cumpriu sua obrigação, a parte lesada pode mover
APENAS A AÇÃO DE RESOLUÇÃO DO CONTRATO, não pode pedir a revisão do
contrato. O réu, porém, tem a opção de pedir a revisão judicial e equitativa do
contrato, isto é, pedir para o juiz modificar as cláusulas do contrato.
Quanto ao momento de realização desse pedido, uma primeira corrente diz que o réu tem
que formular o pedido de revisão em reconvenção e outra corrente sustenta que o artigo
479 do CC prevê um caso de pedido contraposto, isto é, o réu poderia pedir na própria
contestação.

O juiz, na sentença, se houver pedido de revisão deve dar prioridade a ela, ao invés da
resolução, por força do princípio da preservação dos contratos.

(ii) Se a parte beneficiada já cumpriu sua obrigação e a parte lesada ainda não, esta
tem as opções de: pleitear a resolução do contrato ou a revisão judicial. Ex.: vendi
café e já recebi. Entretanto, estoura uma guerra no Brasil e para entregá-lo está 100
vezes mais caro. Posso pedir a resolução do contrato e devolvo o dinheiro ou, então, a
revisão.

P.: Se a parte lesada pelo fato não move ação alguma e nem cumpre obrigação. Ela pode
alegar a teoria da imprevisão na contestação da ação que exige o cumprimento do
contrato?
R.: Sim, é possível alegá-la em defesa, porém esse comportamento viola o princípio da
boa-fé objetiva e o juiz ao julgar levará em conta essa torpeza.

P.: É válida cláusula contratual em que a parte renuncia o direito de alegar a teoria da
imprevisão?
R.: Depende, se a cláusula INFORMA O RISCO ESPECÍFICO em que fica vedada a
alegação da teoria a renúncia é VÁLIDA, pois o fato se torna previsível. Se, porém
NÃO INFORMOU o risco a cláusula é nula, porque viola a ampla defesa e o princípio da
função social do contrato.

NOS DE ADESÃO E CONSUMO SÃO NULAS

P.: Qual a diferença entre a teoria da imprevisão e caso fortuito ou força maior?
R.: Em ambos o fato é superveniente, extraordinário e imprevisível. A diferença é que se o
fato tornar impossível o cumprimento do contrato é caso fortuito ou força maior. Se o fato
APENAS DIFICULTA o cumprimento do contrato onerando excessivamente uma das
partes, é teoria da imprevisão.

Ademais, o caso fortuito ou força maior são casos de resolução do contrato, enquanto na
teoria da imprevisão é possível tanto a resolução do contrato quanto a revisão judicial.

5. Resilição
É A EXTINÇÃO DO CONTRATO POR ACORDO entre as partes ou pela manifestação
de vontade de apenas uma delas, portanto, a resilição pode ser bilateral ou unilateral.
Em ambas o efeito é ex nunc, isto é, o contrato é extinto a partir da resilição, não
produzindo efeitos retroativos.

a) Resilição bilateral ou distrato

É a extinção do contrato por acordo entre as partes. Todo contrato, sem exceção, admite
o distrato. É possível distratar tanto o contrato por tempo indeterminado quanto por tempo
determinado, sendo que este último desde que antes do termo final.

Se o contrato já foi extinto, seja pelo termo final, seja pelo cumprimento das obrigações,
não há falar-se em distrato. Só se distrata contrato que ainda não se extinguiu.

Ex.: compra e venda de imóvel. O comprador tem a obrigação de pagar o preço e o


vendedor de transferir a propriedade. Foi lavrada e registrada escritura pública e o
vendedor já recebeu o preço. Depois disso eles lavram “escritura de retrato” ou “distrato”
da compra e venda. Apesar do nome, isso não é distrato, pois o contrato já estava extinto
pelo cumprimento das obrigações.

Na prática, se fosse distrato não teria imposto inter vivos de transmissão, se cancelaria
ainda o registro anterior, mediante mera averbação. Como não é distrato, tem imposto
inter vivos e essa escritura é registrada (não é averbada à outra) como se fosse uma nova
compra e venda.

O distrato deve ser feito da mesma forma que a lei prevê para o contrato, e não a forma
do contrato (art. 472, CC). Ex.: locação por escrito, o distrato pode ser verbal, tácito
(entrega da chave), pois a lei prevê a forma livre para este contrato.

*se o contrato é de forma livre, mas foi celebrado por escrito o distrato pode ser
feito de forma livre, não precisa ser por escrito.

P.: Compromisso de compra e venda feito por escritura pública, o distrato exige escritura
pública?
R.: Não, pois o contrato de compromisso pode ser por instrumento particular, logo, o
distrato pode ser por instrumento particular (forma esta prevista pela Lei).

b) Resilição unilateral

É a extinção do contrato por vontade exclusiva de uma das partes. É um direito


potestativo, portanto, a parte exerce seu direito se quiser e o outro contratante não pode
se opor à resilição, salvo se ele fez investimentos consideráveis para a execução do
contrato. Nesse caso, a resilição só produzirá efeitos depois de transcorrido prazo
compatível com a natureza e o vulto dos investimentos (art. 473, §único 2 - controle do
direito potestativo tendo em vista a boa-fé objetiva, a função social do contrato e a
conservação do negócio jurídico).

A resilição se opera independentemente de decisão judicial.

 Hipóteses de Resilição unilateral

(i) Contrato por prazo indeterminado

A qualquer tempo, qualquer das partes pode extinguir este contrato, mediante notificação
ou denúncia. O fundamento consubstancia-se na presunção de que ninguém quer
contrato perpétuo.

Esta notificação é um ato unilateral receptício, isto é, o contrato é extinto a partir do


momento em que a outra parte toma ciência da notificação. Assim, se a parte se recusa a
desocupar o bem, por exemplo, a eventual sentença será declaratória da extinção do
contrato, uma vez que a extinção se dá com a notificação, não com a sentença.

A denúncia, em regra, é vazia ou discricionária, ou seja, não precisa ser fundamentada.

*denúncia cheia ou vinculada ocorre quando a resilição do contrato só é possível


mediante fundamentação, no entanto, ela só é vinculada se o contrato ou a lei
exigir uma fundamentação.

P.: Extinto o contrato por resilição a outra parte tem direito à indenização por perdas e
danos?
R.: Não, pois resilir é um direito, salvo se a resilição for injusta, após ter induzida a outra
parte a fazer despesas.

ATENÇÃO: contrato por prazo determinado não admite resilição, salvo no artigo 8º da Lei
de Locação, se o imóvel for alienado, motivo pelo qual o adquirente poderá denunciar
(resilir) o contrato. Se o contrato de locação por tempo determinado tiver cláusula de
vigência em caso de alienação e, estiver averbado na matrícula do imóvel, não caberá a
resilição.

(ii) Direito de arrependimento

Se constar esse direito no contrato, poderá ser exercido até o prazo previsto para tanto.
Porém, se constar no contrato direito de arrependimento, mas não constar a data em que
ele pode ser exercido, nesse caso, o prazo será até o do início do cumprimento da
2
Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia
notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para
a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o
vulto dos investimentos.
obrigação. Ex.: pagou a 1ª prestação, implica em renúncia tácita ao direito de
arrependimento, logo, tem que se arrepender antes de cumprir qualquer obrigação.
(23/09)
P.: E se o contrato é omisso, é possível direito de arrependimento?
R.: Se o contrato não prevê o direito de arrependimento a posição dominante é que não é
possível se arrepender, por força do princípio da obrigatoriedade dos contratos.

Porém, MHD diz que nos contratos solenes antes de ser reduzido a escrito é possível se
arrepender, pois o contrato ainda não preenchia os requisitos de validade.

Quem se arrepende tem que indenizar a outra parte, geralmente a questão é resolvida por
meio de arras ou sinal (se o arrependido é o que deu o sinal ele perde o sinal; se é o que
recebeu ele devolve o sinal mais o equivalente).

6. Morte de um dos contratantes


Em regra, a morte não extingue contrato, pois as obrigações se transferem aos
herdeiros (até as forças da herança). A morte só extingue contrato personalíssimo, e a
extinção é ex nunc.
SUSPENSÃO DO CONTRATO

É a paralisação temporária do contrato. A suspensão é total quando todas as prestações


deixam de ser cumpridas e parcial quando apenas algumas prestações deixam de ser
cumpridas.

As causas de suspensão do contrato são:

(i) acordo entre as partes


(ii) caso fortuito ou força maior que impossibilite temporariamente o cumprimento
das obrigações
(ii) execptio non adimpleti contractus

No tocante ao tema, a jurisprudência do STJ é no sentido de que “não ostentando a


Convenção de Condomínio natureza puramente contratual, inadmissível é ao
condômino invocar a exceção de contrato não cumprido para escusar-se ao
pagamento das cotas condominiais” (REsp 195.450/SP).

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