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Introdução ao Estudo do

Direito

1.º Ano de Solicitadoria

1
Conceito e problemas fundamentais do
Direito
Conceito de Direito
Castro Mendes define direito como “o sistema de normas de
conduta social, assistido de proteção coativa”

O Direito decorre de duas premissas:

Ubi homo, ibi societas: o homem tem uma natureza


eminentemente social

Ubi societas, ibi ius: o homem vive em sociedade, em


convivência com os outros homens, pelo que é o Direito que vai
“promover a solidariedade de interesses e resolver o conflito de
interesses”, surgindo como uma ordem normativa

2
Ubi homo, ibi societas

A necessidade de o Homem viver em sociedade funda-se em


diversas causas:

É uma necessidade vital e psicológica;

É uma necessidade de segurança;

É uma necessidade económica;

É uma necessidade de defesa militar;

É uma necessidade política.

3
Ubi societas, ibi ius
Com o fito de obstar à anarquia e ao caos, existe na vida em sociedade
uma autoridade social, que recebe o poder diretivo destinado a:
Estabelecer regras de conduta para todos os membros do grupo
(poder normativo);
Tomar decisões concretas em relação a cada problema do dia a dia
(poder decisório);
Impor, com autoridade, as regras de conduta e as decisões
concretas aos respetivos destinatários e, caso as não cumpram,
aplicar-lhes as correspondentes sanções (poder sancionatório).

Compete à autoridade social conciliar, harmonizar os interesses de cada


um, fixando a esfera de faculdades, responsabilidades, deveres e
ónus de cada um, mediante a criação de regras ou normas de
conduta, isto é, mediante a criação de uma ordem normativa. Por
outro lado, a autoridade toma as decisões que forem necessárias
em nome de todos. E, finalmente, impõe o respeito por aquelas
regras e por estas decisões.

4
E como seria a vida dos homens em
sociedade sem uma autoridade social?

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)

Thomas Hobbes (1588-1679)

John Locke (1632-1704)

5
Jean-Jacques Rousseau
Para este autor, todos os homens nasciam livres e iguais,
vivendo em contacto com a natureza e segundo os ditames
desta.
O progresso material trouxe a civilização e com ela a corrupção.
O desenvolvimento das atividades económicas gera sentimentos
de conflitualidade e comportamentos agressivos como resposta
aos problemas de uma sociedade marcada pela desigualdade no
que respeita à posse da terra e à propriedade de outros bens.
No status naturalis, os homens tornam-se egoístas e a
insegurança insuportável.
Para restabelecer a felicidade perdida, havia que imaginar um
contrato social que oferecia um mínimo de segurança e bem-
estar. Para este autor, no contrato social, “os homens obrigaram-
se a submeterem-se à volonté générale que, traduzindo as suas
vontades, implica a sujeição de cada indivíduo à sua própria
vontade”.
6
Thomas Hobbes
Para este autor, o homem, profundamente egoísta, procura obter
vantagens só para si à custa dos outros, lançando todos em
guerra contra todos, sedento do poder individual.
No status naturalis, os homens viviam em guerra contínua,
portando-se como lobos de si próprios (homo homini lupus).
Para por fim a este status, “os homens constituíram , através de
um pactum de sujeição, o Estado, ao qual cederam os seus
direitos para obterem a segurança e o fim da luta”. Com a
celebração do contrato social, cada homem renuncia à sua
liberdade e submete-se à autoridade absoluta do Estado em
troca de proteção. O vontade do Estado é o único critério de
justiça.

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John Locke
Para este autor, em cada homem há aspetos bons e aspetos
maus, tendências para a prática do bem e tendências para a
prática do mal, o que pode ser determinado pelo temperamento,
pela educação ou pelas circunstâncias da vida.
No status naturalis, a maioria respeita as leis da natureza, mas
há sempre uma minoria de indivíduos que são delinquentes. No
estado de natureza, todo o indivíduo tem dois direitos
fundamentais: o direito de preservar tudo o que lhe pertence e o
direito de julgar os outros e de puni-los.
Por isso, os homens compreendem que não lhes é útil continuar
a viver em estado de natureza, apesar das suas vantagens, e
decidem passar ao estado de sociedade, mediante a celebração
de um contrato social e a consequente criação de uma
autoridade social com poder de governar a comunidade. No
entanto, este contrato limita a intervenção da sociedade política à
garantia da liberdade individual e da propriedade privada e
impõe-lhe o respeito pela vida privada, económica ou familiar.
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Outros sentidos do termo
Direito objetivo e direito subjetivo
Conjunto de normas jurídicas de Vantagens, faculdades, poderes
conduta social com proteção coativa; que, por aplicação das regras de
conjunto de regras de conduta que se direito objetivo, são atribuídos a
impõem a todos os homens, pessoas determinadas, uma vez
estabelecidas objetivamente e a que verificados certos eventos previstos
todos devem obediência. naquelas mesmas regras.
V.g., Direito Civil V.g., direito de propriedade

Norma de agir Faculdade de agir

Direitos Reais, Ciência do Direito e Ordem


Jurídica

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Direito e Estado
Estado (Estado-sociedade)
Povo (conjunto de pessoas submetidas à ordem jurídica
estatal)
Território (elemento material, espacial ou físico do Estado,
marcado por fronteiras, que podem ser naturais ou
Elementos artificiais, e que compreende a superfície do solo que o
Estado ocupa, o espaço fluvial, marítimo, lacustre e aéreo)
Poder político (organização necessária ao exercício do
poder político)
Função política – definição e prossecução pelos órgãos do poder político
dos interesses essenciais da coletividade
Função legislativa – prática de atos legislativos pelos órgãos
constitucionalmente competentes
Funções Função jurisdicional – julgamento de litígios suscitados por conflitos entre
interesses privados e públicos e privados
Função administrativa – satisfação das necessidades coletivas que, por
virtude de prévia opção política ou legislativa, se entende que incumbe ao
Estado prosseguir

Relação Estado-Direito
O Estado só pode ser de Direito.
Direito supra-estadual e infra-estadual 10
O direito entre as ordens normativas
Norma jurídica Norma da natureza ou lei física
Dirigem-se com caráter imperativo à vontade do Referem-se explicativamente aos fenómenos naturais,
homem, podendo ser violadas não tendo sentido falar-se em obediência

Norma jurídica Normas morais


Intersubjectividade (regula as relações entre os homens) Intrasubjetividade (respeita à conduta isolada do
/ “eu social”. O Direito é bilateral. homem) / “eu pessoal”. A Moral é unilateral
Tem relevância exterior, ou seja, pressupõe sempre uma Tem relevância interior (basta o simples pensar)
exteriorização Finalidades: aperfeiçoamento individual; realização do
Finalidades: estabelecimento de regras essenciais de bem
uma sociedade, visando a convivência harmoniosa. Essência: consciência ética / pessoa consigo mesma
Essência: compatibilizar interesses conflituantes Coercibilidade psíquica (remorso)
Coercibilidade material

Norma jurídica Norma religiosa


Criada pelos homens Criadas por Ser transcendente.
Regula relações entre os homens, para assegurar o Regula as relações entre os crentes e Deus, bem como
respeito pela justiça, pela segurança e pelos direitos as relações entre os crentes.
humanos Não é coercível materialmente: obrigam apenas os
Coercibilidade material: obrigam todos os cidadãos, sob crentes e são dotadas de sanções espirituais ou
a ameaça de sanções temporais ou terrenas intraindividuais (castigo supraterreno)

Norma jurídica Norma de trato social


Estabelece regras essenciais para o convívio social Aperfeiçoa o convívio social, tornando-o mais ameno e
Coercibilidade material cordial
Não é coercível materialmente (reprovação social)
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Relações entre a ordem jurídica e as
demais ordens normativas
a) Assume e jurisdiciza algumas ordens normativas,
incorporando-as na ordem jurídica (relações de
coincidência);
b) Coloca-se numa posição neutra ou de indiferença
em relação à maior parte das normas de outras
ordens (relações de indiferença), nomeadamente,
no que toca à ordem religiosa e de cortesia;
c) Normalmente, mantém relações próximas com as
normas morais;
d) Pode ter relações de conflito.

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Direito Natural e Direito Positivo
Direito Positivo é o o ius civitate positum, isto é, o direito "posto na
sociedade", nela inserido com algo tangível. Assim, o conjunto de
normas jurídicas reguladoras da convivência humana que neste
momento estão em vigor em Portugal ou que alguma vez vigoraram
numa comunidade, expressas nos códigos e em leis avulsas, formam o
Direito Positivo. O Direito Positivo é obra humana e é contingente, é
tangível e varia de época para época e de país para país.

Direito Natural é definido como o direito que devia vigorar, porque


assenta na dignidade da pessoa humana e representa o reflexo
imediato da Justiça. Trata-se, portanto, de regras fundadas na
essência humana e, por conseguinte, não localizadas nem no tempo,
nem no espaço; não estão vertidas em nenhum código, nem foram
gizadas pela mão humana.

O Direito Natural deve nortear o Direito Positivo.

Jusnaturalismo / Positivismo jurídico

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Jusnaturalismo e Positivismo Jurídico
Direito Natural existe, e é superior Direito Natural não é direito porque:
ao Direito Positivo, condicionando- não pode ter origem divina, já que Deus
o. não existe;
Doutrina jurídica dominante desde não é promulgado por nenhuma
o séc. V a.C. até ao séc. XVI d.C. autoridade social legitimada e
reconhecida para o fazer;
Séc. XVII várias correntes de o seu conteúdo é desconhecido e não há
pensamento contestaram a qualquer consenso;
existência do Direito Natural,
chamando a atenção para o ponto não é uma lei eterna e universal, válida e
imutável em todas as épocas e em todos
fraco de um Direito Natural eterno os lugares, uma vez que a experiência
e universal mostra que as leis e os costumes variam
Contestação nos séculos XIX e de época para época e de lugar para
XX, com o movimento filosófico do lugar;
positivismo jurídico a violação das suas regras não acarreta a
imposição de quaisquer sanções

Debate permanece, mas os defensores de ambas as correntes não aceitam,


passivamente, como cidadãos, qualquer direito positivo.
A divergência encontra-se no ponto de saber se as leis, porque contrárias ao
Direito Natural, são inválidas (lex injusta non est lex), pelo que não se lhes
deve obediência.
Ver art. 8.º, n.º 2, CC (dura lex sed lex)
Lei injusta? Violação da Constituição da República Portuguesa 14
Os fins do Direito

Justiça

Segurança

Declarações dos
Direitos
Humanos

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Os fins do Direito
Justiça
Primeiro e principal fim do Direito
Deve ser, “para o Direito, uma bússola e um farol”
Iustitia est constans et perpetua voluntas ius suum cuique tribuere
Noção: a justiça é um conjunto de valores que se impõem quer ao
Estado, quer aos cidadãos no sentido de dar a cada um o que lhe é
devido, e o critério geral acerca do que, em nome da justiça, é ou não
devido a cada um, deve ser definido em função da dignidade da pessoa
humana
Comutativa – visa corrigir os desequilíbrios que se
Modalidades: verifiquem nas relações contratuais e nos atos
involuntários ilícitos interpessoais
Equidade Distributiva – rege a repartição dos bens comuns
pelos membros da sociedade, segundo o critério de
Forma de solução de igualdade proporcional que atende à finalidade da
conflitos jurídicos que distribuição.
assenta na aplicação Geral ou legal – rege a participação dos membros
da Justiça conforme as da sociedade nos encargos comuns, segundo
circunstâncias critérios de igualdade proporcional
específicas de cada
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caso. Ver art. 4.º CC
Os fins do Direito
Segurança
A segurança internacional, sem a qual não haverá paz entre os povos;

A segurança pública interna, sem a qual ficam perturbadas a ordem e


tranquilidade públicas;

A segurança individual, que as autoridades e a polícia devem garantir


para prevenir a prática de crimes contra a vida, a liberdade ou a
propriedade das pessoas;

A segurança sócio-económica, que se consegue através do estímulo à


poupança individual e do recurso às companhias de seguros, etc.

A segurança jurídica, que impõe a criação de mecanismos capazes de


contribuir para a certeza do Direito

Exemplos
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Os fins do Direito
Declarações dos Direitos Humanos
Ideia jusnaturalista que se vem afirmando desde o séc. XVIII:
declaração dos direitos subjectivos que devem ser reconhecidos
em toda a parte a todo o homem, por derivarem da natureza
deste

1215: Magna Charta Libertatum

1776: Bill of rights

1789: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

1948: Declaração Universal dos Direitos do Homem

1950: Convenção Europeia dos Direitos do Homem

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Elementos do conceito de Direito

Considerando a definição de Direito como o sistema de


normas de conduta social, assistido de proteção
coativa, podemos concluir que tal noção assenta em
três ideias fundamentais:

1. Sistema;

2. Norma;

3. Proteção coativa.

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O Direito como sistema
O Direito é um sistema normativo, ou seja, é um conjunto articulado e
coerente de normas jurídicas ditadas por princípios e orientadas para
certos fins.

Porque
1. o conjunto de regras ou normas se encontra articulado em termos de
coerência, em torno de uma ideia central – a ideia de Direito
2. as suas regras objetivas têm de ser interpretadas de acordo com certos
critérios lógicos e técnicos, em harmonia com a sua função num dado
conjunto
3. os casos omissos têm de ser resolvidos de harmonia com determinados
métodos integradores, que em última análise se reconduzam à descoberta
e aplicação do “espírito do sistema” (art. 10.º, n.º 3, do CC).
4. o conjunto das normas que o compõem está organizado, enquadrado e
enformado por princípios gerais
5. preocupa-se em assegurar, tanto quanto possível, “uma interpretação e
aplicação uniformes do direito” (art. 8.º, n.º3, do CC), estando previstos
diversos modos de garantir a uniformização da jurisprudência
6. nele vigora o princípio da plenitude da ordem jurídica (arts. 10.º e 8.º, n.º 1,
do CC e 20.º da CRP),

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Carateres e aspetos do sistema jurídico
Coercibilidade
O direito atua:
a)Ao impor condutas
Âmbito de aplicação (positivas ou negativas)
b)Ao permitir (autonomia da
Equidade vontade)

Princípio da plenitude da ordem jurídica


Dos princípios que enformam o sistema jurídico, dada a sua
generalidade, podem extrair-se as soluções para a maioria das
questões jurídicas não previstas positivamente.
É possível resolver os casos não previstos directamente na lei,
através da integração de lacunas, nos termos do art. 10º do CC.
V. art. 8.º, n.º1, do CC.
V. art. 20.º da CRP.

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Conceito e estrutura da norma jurídica em
sentido estrito
Noção: em sentido estrito, a norma é um elemento do conceito de
Direito e traduz-se na “ligação de uma estatuição à previsão de um
evento ou situação”.

Estrutura:

a) Previsão – tal como refere Eduardo Norte Santos Silva, a previsão é "o desenho
abstracto de uma situação futura e incerta, à qual, se, e quando, vier a concretizar-
se (a passar do campo da hipótese possível, para o campo do realmente
acontecido) há-de ser aplicado um comando determinando uma conduta, um
comportamento, ou um resultado jurídico“, ou seja, é a representação da vida social
que se pretende regular;

b) Estatuição – segundo o mesmo autor, corresponde "quer a conduta que há-de


obrigatoriamente ser prosseguida quando, e se, a hipótese apresentada na previsão
se concretizar, quer os efeitos jurídicos que são imputados a um evento, efeitos que
se vão traduzir na atribuição de poderes ou faculdades ou na imposição de
deveres";

c) Sanção – nas palavras do mesmo autor, "é o resultado onerativo para o agente
destinatário da norma que lhe advém de ter tido um comportamento diverso daquele
que se contém na estatuição, daquele que é imposto pelo comando normativo“, ou
seja, é a consequência da violação da estatuição.
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Carateres da norma jurídica em sentido
estrito
1. Hipoticidade: os efeitos jurídicos que estatui só se
produzem se se verificarem os factos previstos.

2. Generalidade: a norma jurídica aplica-se a uma categoria


abstrata de pessoas. as normas aplicam-se simultaneamente a todos os
que estão em certa situação
Generalidade vertical
as normas, enquanto definem as competências
Generalidade horizontal de um cargo ou officium, dirigem-se a uma
categoria de pessoas
3. Abstração: a norma jurídica aplica-se não a um caso
concreto, mas a um número indeterminado de situações
subsumíveis à categoria prevista.

4. Outros apontados pela doutrina: imperatividade,


violabilidade, bilateralidade/alteridade, coercibilidade.
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Norma em sentido lato

Norma em sentido estrito ou stricto sensu é o


elemento da ordem jurídica referido na definição de
direito apresentada: sistema de normas de conduta
social assistido de proteção coativa. O conteúdo do
sistema jurídico é formado por normas em sentido
estrito.

Norma em sentido lato ou lato sensu corresponde


ao elemento autónomo da forma por que nos
aparece a ordem jurídica, designadamente os
textos legais.

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Classificação da norma jurídica lato sensu
Normas éticas Normas técnicas
Em face de determinada Dada uma determinada previsão, a
conduta é um meio de realizar certo
situação deve seguir-se uma fim.
certa conduta. Não se trata de um dever mas de um
Existe um dever. ónus.
O acto contrário é ilícito e O acto contrário não é ilícito mas
acarreta apenas uma sanção em
implica uma sanção. sentido impróprio do termo (uma
Ex.: art. 483º CC. desvantagem)
Ex.: art. 413º CC.

Normas de estatuição Normas de estatuição


material jurídica
Projetam o seu comando sobre Normas cujo conteúdo se esgota no
a vida social, ou seja, a sua plano jurídico.
estatuição reporta-se a actos Estatui-se algo, mas sob a forma de
dessa vida. consequência jurídica.
Ex. art. 1323º CC. Ex.: art. 130º CC.
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Normas imperativas Normas permissivas
Impõem um dever, uma conduta. Permitem ou autorizam certos
comportamentos.
Subclassificam-se em:
Normas facultativas – permitem
ou facultam certos comportamentos,
Normas Normas reconhecendo determinados poderes
ou faculdades e deixando ao arbítrio
do indivíduo praticar ou não esses
precetivas proibitivas actos.
Permissão pura. Ex.: art. 1036º CC.
Concessão de autonomia da vontade.
Ex. art. 223º do CC.
Quando a conduta Quando a conduta Normas supletivas – só se
que impõem é uma que impõem é uma aplicam aos negócios jurídicos se as
ação, um facere. partes não tiverem excluído a sua
omissão, um non aplicação ou não tiverem previsto o
Ex. art. 1320, n.º2 facere. regime a aplicar. Ex.: art. 772º CC.
CC. Normas interpretativas –
Ex. art. 1347º CC. esclarecem o sentido do trecho com
valor jurídico
Normas interp. da lei ( Ex. art. 349º CC)
Normas interp. de neg. j. (Ex. art. 2227º)

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Normas de diretas Normas indiretas
São aquelas cujos destinatários
são aqueles que pretendem
São aquelas cujos destinatários aplicar normas jurídicas e
são intervenientes na vida resolver problemas de direito.
social. Ex. art. 939º CC.
Ex. art. 406º do CC.

Normas remissivas Normas de Normas de


Remissão aplicação das Direito
explícita leis no tempo
Internacional
Remissão
implícita
Privado

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Normas autónomas Normas não autónomas
Podem produzir efeitos só por si Para produzir efeitos jurídicos,
e contêm em si valoração têm que se ligar a outras
jurídica, imperativa ou normas.
permissiva.
Ex.: normas interpretativas,
Ex.: art. 1323º CC. normas remissivas.

Normas gerais Normas especiais Normas


São as que, em termos de excepcionais
concordância com as normas
São aquelas que São as que, em
gerais, regulam, de forma
constituem o regime regra contradição com as
particular, uma espécie de
aplicável à generalidade normas gerais,
situações ou relações
das situações ou relações disciplinam, um setor
jurídicas, tendo exatamente
jurídicas de um restrito de relações
em conta particularidades
determinado tipo. jurídicas
que tipifiquem tais relações.
Ex.: art. 219º CC. Ex.: art. 875º CC.
Ex.: normas de direito
comercial Vide art. 11º CC.

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Outras classificações da norma lato sensu
Normas universais, normas regionais e normas
locais são as que se aplicam apenas
são as que se aplicam
apenas a uma certa
são aquelas que se a uma certa fracção do
fracção do território do
aplicam a todo o território território do Estado, em certa
Estado, em certa
de um Estado região
localidade

Normas de interesse e ordem pública e normas de


interesse e ordem privada
regulam os altos interesses sociais que se regulam interesses dos particulares e, por
confundem com o Bem Comum e, portanto, conseguinte, podem ser afastadas pela
não podem ver a sua aplicação afastada vontade dos seus destinatários
pela vontade dos destinatários dela

Norma perfeita, norma imperfeita, norma mais e


menos que perfeita
Nulidade, Não tem Nulidade Sanção mas não
sem pena sanção mais pena a nulidade 29
Proteção coativa
A coercibilidade consiste na possibilidade ou suscetibilidade de
aplicar sanções, pela força se necessário for, assegurada pelo
aparelho estadual

A proteção coativa, isto é, os meios adotados em defesa da ordem


jurídica podem ser, fundamentalmente, de duas espécies:
Tais meios podem atuar antes de ocorrer a conduta que viola a
estatuição da norma jurídica, com o escopo de evitar essa
violação Proteção preventiva
Como podem igualmente esses meios actuar após a violação da
norma, tendo então por principal fim repor a situação como existia
antes da violação e reprimir o agente violador (que, porque é
livre, é responsável); mas visando também, genericamente, os
comportamentos contrários aos comandos normativos
Proteção repressiva Sanção coativa

30
Proteção repressiva: a sanção
A sanção é, tal como define Oliveira Ascensão,
uma consequência desfavorável normativamente
prevista para o caso de violação de uma regra, e
pela qual se reforça a imperatividade desta

Espécies
a) sanções materiais – o aspecto mais relevante é a
alteração da situação da vida social
b) sanções jurídicas – o aspecto mais relevante é a
consequência imposta pela ordem jurídica; projeta-se
sempre primariamente no plano jurídico

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Sanções materiais
a) Sanções compulsórias
Sanção pecuniária compulsória (art. 829.º-A)
Direito de retenção (arts.754.º e ss.)
Cumprimento coativo (art. 828.º)

b) Reintegração ou sanções reconstitutivas


Sanção material reintegradora por reconstituição natural
Execução específica
Sanção material reintegradora por equivalente ou sucedâneo
pecuniário.

c) Reparação ou sanções compensatórias


Compensação por danos morais também designados por danos não
patrimoniais (cfr. art. 496º do CC)

d) Sanções punitivas
Criminais
Civis
Disciplinares
Contraordenacionais
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Sanções jurídicas
a) Inexistência jurídica: ocorre quando nem sequer
aparentemente se verifica qualquer materialidade de certo ato
jurídico e neste caso nem sequer produz quaisquer efeitos,
não havendo sequer necessidade de um reconhecimento da
sua invalidade.

b) Invalidade: o ato existe materialmente, mas sofre de um vício


que conduz a que não produza os efeitos jurídicos a que
tende.
Nulidade
Anulabilidade

c) Ineficácia em sentido estrito: supõe que o ato não possui,


segundo a lei, qualquer vício intrínseco, mas não obedece a
um requisito extrínseco, a algo exterior ao ato em si, tal como
a lei o configura, mas de que depende a sua eficácia. Nesse
caso, o ato pode não produzir quaisquer efeitos ou apenas
parte dos seus efeitos jurídicos.
33
Nulidade (art. 286.º) Anulabilidade (art. 287.º)
Opera ipso iure Tutela o interesse particular
Tutela o interesse público O negócio anulável produz
O negócio nulo não produz efeitos, embora precariamente,
efeitos ab initio pois podem ser
É arguível por qualquer retroativamente destruídos se
interessado for invocada a anulabilidade
A todo o tempo Para declarar a anulabilidade
é necessário recorrer a uma
Pode ser oficiosamente ação
declarada pelo tribunal
Por quem tenha legitimidade
Não é confirmável
No prazo de um ano
Art. 289.º
É confirmável (art. 288.º)
É consequência dos seguintes
vícios: Art. 289.º
Vícios de forma Decorre dos seguintes fatores:
Vícios do objeto Incapacidade do agente
Falta de vontade Vícios da vontade
Contrariedade à lei
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Proteção preventiva

a) Medidas de segurança (arts. 91.º e ss. e 104.º e


ss. do CP)

b) Procedimentos cautelares (arts. 362.º e ss. do


CPC)

c) Medidas de coação (arts. 196.º e ss. do CPP)

d) Inabilitação de autor de um determinado delito


para o exercício de certa atividade ou profissão

35
Meios de tutela jurídica: justiça pública e
justiça privada
Consoante a qualidade do seu agente protetor, a proteção coativa ou a
tutela dos direitos pode ser:

Justiça Pública, "heterotutela" ou tutela pública do direito – a


garantia direta opera pela força pública do Estado, através dos
tribunais, a isso solicitados por acto de um interessado (demanda), que
dá origem a um processo, no exercício do direito de ação (justiça
pública)

Regra (art.1.º, 1.ª parte, CPC)

Justiça Privada, "autotutela" ou tutela privada do direito também


designada por autodefesa, autotutela, “justiça pelas próprias mãos” – a
garantia opera por ação do próprio titular do direito ameaçado,
ofendido ou violado que reage por sua força e autoridade contra tal
ameaça, ofensa ou violação (autodefesa, vindicta privata)

Exceção (art.1.º, 2.ª parte, CPC)

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Justiça Privada, Autotutela ou Tutela
Privada do Direito (cfr. art. 1º, 2ª parte, do CPC)
a) Ação direta (art. 336.º do CC)
A ação direta é legítima quando ocorrerem os seguintes pressupostos:

1. Se destine a realizar ou assegurar o próprio direito;


2. Seja impossível recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais;
3. Seja indispensável para evitar a inutilização prática desse direito;
4. O agente não pode exceder o necessário para evitar o prejuízo, ou
seja, deve haver racionalidade de meios;
5. Não pode sacrificar interesses superiores aos que o agente visa
assegurar ou realizar.

37
b) Legítima defesa (art. 337.º do CC)
A defesa é legítima quando concorrem os seguintes pressupostos:
1. Agressão ilegal, injusta ou ilícita - é a ilegalidade desta que justifica
que o agredido, defendendo-se, agrida por sua vez, com o fim de obstar
a que o mal se consume;
2. Em execução ou iminente/atualidade - se é agressão passada, não se
justifica a reação; se é futura, poderá recorrer-se aos meios coercitivos;
não há agressão apenas nos casos em que o agente ameaça de
qualquer forma a integridade física do ofendido;
3. Contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro - a agressão
pode-se dirigir contra a pessoa ou o património do defendente ou de
terceiro;
4. Impossível recorrer à força pública - só é admitida quando não for
possível recorrer à autoridade pública;
5. Existir racionalidade dos meios empregues - o prejuízo causado pelo
ato não deve ser manifestamente superior ao que resultar da agressão

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c) Erro acerca dos respetivos pressupostos (art. 338.º do
CC)
d) Estado de necessidade (art. 339.º do CC)
Caraterística do estado de necessidade é a reação sobre a esfera jurídica
de outrem por quem está ameaçado por um perigo que não resulta de
agressão alheia. Com isso se distingue da legítima defesa, que é
necessariamente a reacção contra a agressão alheia, atual e iminente.
O estado de necessidade difere da ação direta porque esta visa a
conservação prática de um direito, enquanto naquele se procura evitar a
consumação ou ampliação de um dano.
e) Consentimento do lesado (art. 340.º do CC)
f) Direito de resistência (art. 21.º da CRP)
g) Defesa da posse (art. 1277.º do CC)
h) Defesa da propriedade (art. 1314.º do CC)
i) Direitos reais (art. 1315.º do CC)
j) Tribunais arbitrais (art. 209.º, n.º2, da CRP)
l) Segurança Privada
39
Fontes do direito

40
Sentidos da expressão “fonte do direito”
Sentido filosófico – é empregue como significando o
fundamento da obrigatoriedade das normas jurídicas.
Sentido sociológico – atende ao factor que determinou
o aparecimento da norma e condicionou o seu
conteúdo.
Sentido político ou orgânico – traduz os órgãos
encarregados de emanar ou produzir as normas
jurídicas.
Sentido instrumental – significa a sede material, o
texto ou diploma legislativo que contem normas
jurídicas.
Sentido técnico-jurídico ou formal – fontes do direito
são os modos de formação e de revelação das normas
jurídicas.
41
Em sentido técnico-jurídico, as fontes do direito
podem ser:

Fontes iuris essendi, Fontes iuris cognoscendi,


fontes diretas ou fontes indiretas ou
imediatas mediatas

Geram dinamicamente Dão a conhecer


normas jurídicas estaticamente normas
jurídicas
Lei
Costume Jurisprudência
Doutrina
42
Tipos de fontes do direito

43
Lei

É a norma jurídica decidida e imposta por


uma autoridade com poder para o fazer na
sociedade política, constituindo, desse modo,
uma norma jurídica de criação deliberada.

44
Costume

Traduz-se na norma jurídica criada através


da prática repetida e habitual de uma
conduta, quando chega a ser encarada como
obrigatória pela generalidade dos seus
membros.

45
Jurisprudência

É o conjunto das orientações que, em


matéria de determinação e aplicação da lei,
decorrem da actividade prática de aplicação
do direito pelos órgãos da sociedade com
competência para o efeito.

46
Doutrina

É a atividade de estudo teórico ou dogmático


do direito reveladora de normas jurídicas.

47
Lei: aspeto estático
V. art. 1.º, n.º1, do CC

A expressão lei pode entendida com vários sentidos,


nomeadamente:
Por vezes, a expressão lei é entendida como o conjunto dos
princípios que regem todos os seres humanos;
Em sentido latíssimo, a expressão lei identifica-se com o Direito, ou
seja, é toda e qualquer regra jurídica;
Em sentido lato, a expressão lei é entendida como norma jurídica
criada de certa forma, nomeadamente por decisão e imposição de
uma autoridade com poder para o efeito, por oposição ao costume;
Em sentido intermédio, a expressão lei é entendida enquanto
oposta a regulamentos;
Em sentido estrito, reconduz-se apenas às leis emanadas da
Assembleia da República por oposição aos decretos-leis emanados
do Governo.

48
Lei: aspeto estático (cont.)
O que caracteriza a lei como fonte de Direito Positivo?
1. Origem: a lei deriva direta e unilateralmente – é um ato jurídico unilateral
– do Estado, é a sua criação, emanação dos órgãos estatais / poder
legislativo
2. Fim: destina-se a produzir Direito; é uma fonte voluntária, consciente,
refletida; é um ato intencionalmente dirigido a esse objetivo
3. Forma escrita
4. Forma solene

Lei material e lei formal


Lei material é aquela que possui um conteúdo normativo (isto é, que contém
uma ou mais normas gerais e abstratas), seja qual for a sua forma
externa
Lei formal é a que se reveste das formas destinadas por excelência ao
exercício da função legislativa do Estado, ou seja, a atividade exercida
pelos órgãos aos quais a Constituição atribui o poder legislativo, que são
três:
1. Assembleia da República Leis V. art. 112.º CRP
2. Governo Decretos-Leis
3. Assembleias Legislativas Regionais Decretos Legislativos Regionais
49
Hierarquia das Leis

CRP

Direito Internacional, Geral, Convencional e decorrente da UE

Leis e Decretos-Leis

Decretos Legislativos Regionais

Decretos Regulamentares

Decretos Regulamentares Regionais

Portarias

Regulamentos das Autarquias Locais

50
Lei: aspeto dinâmico
O processo legislativo, ou seja, o processo de elaboração de leis
comporta diversas fases ou momentos fundamentais:
1. Elaboração (art. 167.º CRP)

2. Aprovação (art. 168.º CRP)

3. Promulgação (art. 134.º, al b) ou veto (art. 136.º CRP) /


Referenda (art. 140.º, n.º 1)

4. Publicação (art. 119.º CRP; art. 5.º, n.º 2, CC e art. 1.º Lei
n.º74/98, de 11 de novembro)

5. Entrada em vigor (art. 5.º, n.º 2, CC e Lei n.º74/98, de 11 de


novembro) Vacatio legis
51
Esquema do processo legislativo comum
Deputados Governo
Grupos parlamentares Ass. Leg. Regionais

Projeto de Lei Proposta de Lei

Registo , admissão, anúncio


e envio à Comissão

Apreciação preliminar

Debate na generalidade
Votação

Debate na especialidade
Votação

(Eventual) Veto do PR
Promulgação Votação final global
Reapreciação pela AR

Redação do
Referenda ministerial Decreto da AR

Envio do Decreto pelo Pres.


Publicação no DR Da AR ao PR 52
Cessação da vigência das leis
a) Caducidade: há um limite Decurso do tempo – do conteúdo da lei
temporal ínsito na própria consta, seja a indicação do período de
tempo durante o qual estará em vigor, seja
norma: de maneira direta ou a determinação de uma data limite para a
indireta, ela mesma marca o sua vigência Leis temporárias
período da sua vigência, de
modo que, decorrido esse
período, perde valor, morre, Impossibilidade fatual da situação
abstrata desenhada na previsão
sem que o legislador nada Leis transitórias
diga (art. 7.º, n.º 1, 1.ª p., CC)
Revogação expressa - um preceito da nova lei
b) Revogação: traduz-se no designa uma lei anterior e a declara revogada
afastamento da lei por outra (art. 7.º, n.º 2, 1.ª p., CC)
lei posterior, de valor Revogação tácita - não há revogação expressa,
hierárquico igual ou superior mas as normas da lei posterior são
(art. 7.º, n.º 1, 2.ª p., CC) incompatíveis com as da anterior (art. 7.º, n.º 2,
2.ª p., CC)
A ordem de prioridade não se Revogação de sistema - tem lugar quando o
define pela entrada em vigor mas legislador pretende que um determinado diploma
sim pela publicação legal seja o único diploma legal incidente sobre
determinada matéria (art. 7.º, n.º 2, 3.ª p., CC)
V. art. 7.º, nos 3 e 4, CC 53
Costume
Noção: é a observância geral, constante e
uniforme de uma regra de conduta social,
acompanhada da convicção da sua
obrigatoriedade por parte da opinião comum.

Elemento material ou
uso
Requisitos do costume

Elemento Psicológico
ou convicção de
obrigatoriedade
54
Classificações do costume
Costume secundum legem
Costume praeter legem
Costume contra legem

O costume na ordem jurídica portuguesa atual


Art. 348.º CC – Aplicação do direito consuetudinário
Art. 8.º, n.º1, CRP – Direito Internacional Consuetudinário
Art. 3.º, n.º1, CC – “Os usos que não forem contrários ao
princípio da boa fé são juridicamente atendíveis quando a lei
determine.”
Art. 218.º CC
Art. 763.º CC
Art. 885.º, n.º2, CC
Usos podem contribuir para a correta aplicação dos critérios legais
de interpretação e integração dos negócios jurídicos, mesmo que
a lei não lhe faça referência.
55
Jurisprudência
Noção: “conjunto das orientações que resultam da aplicação do direito a
um caso concreto pelos órgãos com competência para o efeito”

Freitas do Amaral considera que, em certos casos, jurisprudência pode


ser considerada fonte iuris essendi:

a) Nas decisões judiciais com força obrigatória geral que declarem a


inconstitucionalidade ou a ilegalidade de uma norma em vigor - fonte iuris
essendi. V. art. 282.º, n.º1, da CRP.
b) Nas decisões judiciais com força obrigatória geral que uniformizem o modo de
interpretação de uma norma vigente, optando entre duas ou mais
interpretações possíveis - fonte iuris cognoscendi
c) Nas decisões judiciais com força obrigatória geral que uniformizem o modo de
integração de uma lacuna do ordenamento - fonte iuris essendi.
d) O mesmo se deve dizer das correntes jurisprudenciais uniformes: se forem
meramente interpretativas, serão fontes iuris cognoscendi; se forem
integradoras, serão fontes iuris essendi

Assentos

56
Jurisprudência
Os “acórdãos com força obrigatória geral” (art. 119º, n.º1, al. g), da
CRP)
a) A cargo do Tribunal Constitucional:
Pronúncia de inconstitucionalidade com força obrigatória geral, em processos
de fiscalização abstracta preventiva (v. arts. 278.º, 279.º, da CRP);
Declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral, em processos
de fiscalização abstracta sucessiva (v. art. 281, n.º1, al. a), da CRP);
Declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral, de qualquer
norma que tenha sido julgada inconstitucional, pelo próprio Tribunal
Constitucional, em pelo menos três casos concretos (art. 281.º, n.º3, da CRP);
Declaração de ilegalidade, com força obrigatória geral, em processos de
fiscalização abstracta sucessiva da legalidade de normas (v. arts. 281.º, n.º1,
als. b), c) e d);
Declaração de ilegalidade, com força obrigatória geral, de qualquer norma que
tenha sido julgada inconstitucional, pelo próprio Tribunal Constitucional, em
pelo menos três casos concretos (art. 281.º, n.º3, da CRP).

b) A cargo do Supremo Tribunal Administrativo:


Declaração de ilegalidade, com força obrigatória geral, de qualquer norma
violadora de disposições genéricas de Direito Administrativo, em processo
administrativo de impugnação de normas instaurado pelo MP (arts. 72.º, 73.º,
n.º3, e 76.º do CPTA);
Declaração de ilegalidade, com força obrigatória geral, de qualquer norma
violadora de disposições genéricas de Direito Administrativo, em processo
administrativo de impugnação de normas anteriormente julgadas ilegais, por
qualquer tribunal, em pelo menos três casos concretos (arts. 72.º, 73.º, n.ºs 1 57
e
4, e 76.º do CPTA)
Jurisprudência
Os “acórdãos uniformizadores de jurisprudência”
Em 1987, o recurso para uniformização de jurisprudência em processo
penal (arts. 437.º e ss. do CPP);
Na mesma data, a figura do recurso obrigatório do MP de decisões
judiciais proferidas contra jurisprudência fixada pelo STJ (art. 446.º do
CPP);
O recurso no interesse da unidade do Direito, destinado a atualizar,
sempre que necessário, jurisprudência já fixada (art. 447.º do CPP);
Em 1995, as figuras da revista ampliada, que consistem
fundamentalmente no julgamento de uma questão de direito, em recurso
interposto para o Supremo Tribunal de Justiça, se fazer com intervenção
do plenário das secções cíveis, por tal se revelar necessário para
assegurar a uniformização de jurisprudência (arts. 686.º e 687.º do CPC);
O recurso para uniformização de jurisprudência em processo civil (arts.
688.º e ss. do CPC);
Em 2002, a criação de um autêntico recurso para uniformização de
jurisprudência no âmbito do processo contencioso administrativo (art.
152.º do CPTA).

58
Doutrina
Noção: “conjunto das noções, teorias e opiniões, formuladas por
escrito pelos teóricos da Ciência do Direito (“jusperitos”, que são
os professores de Direito, que ensinam, os escritores de Direito,
que investigam e publicam os resultados do seu estudo, e os
jurisconsultos, que em pareceres técnicos se pronunciam sobre a
aplicação do Direito aos casos concretos da vida real), que dão a
conhecer aos juristas práticos (designadamente, os técnicos
jurídicos da Administração Pública, os profissionais do foro, os
notários, conservadores, juristas de empresas, solicitadores, etc.),
aos estudantes e aos cidadãos comuns o conteúdo e significado
de um certo ordenamento jurídico (neste caso, a doutrina
“transmite e informa” sobre o Direito vigente), e influenciam os
Poderes legislativo (doutrina é ouvida na maior parte das
reformas legislativas) e judicial (doutrina pronuncia-se sobre a
melhor forma de aplicar o Direito aos casos concretos) no
exercício das respectivas funções”

59
Doutrina
É fonte iuris cognoscendi. No entanto, Freitas do Amaral aponta
três situações em que a doutrina funciona como fonte iuris
essendi:

a) A elaboração de “princípios gerais de Direito”

b) A decisão legislativa ou judicial-normativa tomada por uma mera


remissão para um texto doutrinal

c) A doutrina, ou Ciência do Direito, como fonte integradora de


conceitos utilizados pela lei, mas não definidos por ela
(integração de conceitos jurídicos puros)

60
Relação jurídica
é toda a relação da vida social disciplinada pelo direito e que consiste na atribuição a
um sujeito de um direito subjetivo e na adstrição de outro sujeito a uma vinculação
jurídica

Lado ativo Lado passivo

Direito subjetivo propriamente dito Dever jurídico (norma cria uma


necessidade de realizar certa
conduta ativa ou passiva)

• Direitos relativos (direitos de Dever jurídico


crédito)
• Direitos absolutos (direitos reais Obrigação passiva universal
e direitos de personalidade)

Direito potestativo Sujeição (submissão às


alterações que a vontade do sujeito
ativo haja produzido na esfera
jurídica o sujeito passivo)
61
Elementos da relação jurídica
Personalidade jurídica traduz-se na aptidão para ser titular autónomo,
Ativos / Passivos ser sujeito, de relações jurídicas. qualidade
Capacidade de Gozo de Direitos é a medida de direitos e vinculações
1. Sujeitos de que a pessoa é suscetível de ser titular (cfr. art. 67º).
Capacidade de Exercício de Direitos é a medida dos direitos e
titularidade

vinculações que a pessoa pode exercer por si, pessoal e livremente.


Pessoas Pessoas exercício
singulares coletivas
Objeto imediato é o que dá origem à relação jurídica, ou seja, é o nexo
formado pelo direito subjetivo, por um lado, e pela vinculação, por outro
2. Objeto Objeto mediato corresponde à realidade sobre que recai o poder do
sujeito ativo, realidade essa que pode ser uma coisa, uma prestação,
uma pessoa, ou um direito

3. Facto jurídico: é o acontecimento, o evento a que o Direito confere


um efeito, uma consequência jurídica: constituir uma
relação jurídica, ou modificá-la, ou extingui-la
4. Garantia

62
Alcance da Direito subjetivo propriamente dito traduz-se no poder de
alternativa – exigir ou pretender de outrem um determinado comportamento
obrigações positivo ou negativo. Contrapõe-se-lhe um dever jurídico da
naturais
contraparte, de facere ou non facere.
Direitos de crédito – o dever jurídico impende
sobre pessoas determinadas – daí que lhes
chamem direitos relativos
Direito
subjetivo em Direitos reais e direitos de personalidade –
sentido contrapõe-se-lhes uma obrigação passiva
amplo universal ou dever geral de abstenção que recai
sobre todas as outras pessoas – daí que se
denominem direitos absolutos

Depende unicamente
Direitos potestativos são os poderes jurídicos de por um ato
da vontade do titular de livre vontade, só de per si ou integrado numa decisão
desse direito judicial, produzir efeitos jurídicos que se impõem
Não são direitos necessariamente à outra parte. Corresponde-lhe a sujeição,
subjetivos os a situação em que está a contraparte de ver produzir-se
poderes-deveres ou
poderes funcionais,
necessariamente uma consequência na sua esfera jurídica
nem as faculdades em virtude do mero exercício de um direito pelo seu titular.

63
Ramos do Direito
Direito Internacional - é o direito que regula as relações inter-estaduais,
isto é, entre Estados e/ou outras entidades equiparadas a Estados
Direito objetivo
Direito interno - é o direito que regula as relações intraestaduais, isto
é, dentro de um Estado.

Direito Constitucional
Direito Administrativo
Público Direito Financeiro
Direito Fiscal
Direito Penal
Direito interno Direito Processual
Direito das Obrigações
Comum - Direito Civil Direito das Coisas
Direito da Família
Privado Direito das Sucessões

Direito Comercial
Especial
Direito do Trabalho

64
Direito Público e Direito Privado
(Genericamente)
Respeita às relações estabelecidas entre Respeita às relações entre particulares,
os particulares e o Estado ou outros entes fundadas na igualdade jurídica, na
públicos, sendo igualmente o direito interno liberdade ou autonomia.
do Estado, da sua orgânica, em que são
dominantes os interesses públicos, e que
se fundam em relações de autoridade, de
disparidade e de heteronomia.

Critérios distintivos
1. Critério ou teoria dos interesses

Serão normas de Direito Público as normas Serão normas de Direito Privado aquelas
que tutelam ou prosseguem um interesse que visam tutelar ou satisfazer interesses
público. individuais.

Crítica: todo o direito, público e privado, visa proteger simultaneamente interesses


públicos e interesses particulares.

65
Direito Público e Direito Privado (cont.)
2. Critério da posição de supraordenação (supremacia) e infraordenação
(subordinação) ou da natureza do sujeito da relação jurídica
Direito Público disciplinaria as relações entre Direito Privado regularia as relações entre
entidades que estão numa posição de entidades numa posição relativa de
supremacia e subordinação, ou seja, tratar- igualdade ou equivalência, ou seja, as
se-ia das normas dirigidas ao Estado ou a normas que visassem os particulares.
outras pessoas a ele equiparadas.

Crítica: por vezes, o Direito Público regula relações entre entidades numa relação de
equivalência ou igualdade; por outra via, o Direito Privado regula situações onde
existem posições relativas de supraordenação e infraordenação.

3. Critério ou teoria dos sujeitos ou da qualidade dos sujeitos da relação


jurídica
o Direito Público é constituído pelas normas Direito Privado é o que regula as relações
que estruturam o Estado ou outros entes estabelecidas entre particulares ou entre
públicos dotadas de prerrogativas de particulares e o Estado ou outros entes
autoridade ou disciplinam as relações públicos, mas intervindo o Estado ou outros
desses entes munidos de ius imperii entre si entes públicos em veste de particular, isto é,
ou com os particulares. desprovidos de ius imperii, de poder
soberano ou poder de autoridade.
66
Direito Público e Direito Privado (cont.)
Mas qual o interesse prático da distinção entre Direito Público e Direito Privado?

Interesse de ordem científica na sistematização e no lógico agrupamento


de normas jurídicas

interesse no próprio plano da aplicação do direito; por exemplo:

Em determinadas situações, determina as vias judiciais a que o particular lesado pelo Estado
deve recorrer ou vice-versa, isto é, determina o tribunal competente, em razão da matéria,
para apreciar a lide (tribunais judiciais/tribunais administrativos).

Por outro lado, a responsabilidade civil decorrente de uma atividade de órgãos, agentes ou
representantes do Estado está sujeita a um regime diverso, consoante os danos sejam
causados no exercício de uma atividade de gestão pública ou de uma atividade de gestão
privada. Se os danos resultam de uma atividade de gestão pública, os pedidos de
indemnização são apreciados por um tribunal administrativo e o regime de responsabilidade
está previsto em lei especial (Lei n.º 67/2007, de 31 de Dezembro). Se os danos resultarem
de uma atividade de gestão privada, será o pedido apresentado nos tribunais judiciais e o
regime está previsto nos arts. 501.º e 500.º do CC.

67
Interpretação da lei
Noção - é a investigação intelectual para determinação ou fixação do exato sentido
e alcance da lei, com vista à sua aplicação (art. 9.º do CC).

Classificações da interpretação

Classificação quanto ao agente ou quanto à sua Fonte e Valor


1. Interpretação legal – feita pelo legislador, mediante a chamada “lei
interpretativa”. V. art. 13.º CC.
a) Interpretação autêntica – realizada por uma lei interpretativa de valor
hierárquico igual ou superior à lei interpretada; tem força obrigatória geral.
b) Interpretação oficial – realizada por lei interpretativa de inferior valor
hierárquico; tem valor vinculativo restrito à cadeia hierárquica subordinada
ao órgão criador da lei interpretativa.
2. Interpretação judicial, prática ou jurisprudencial – realizada por entidade
com funções judiciais, que aplica a lei aos casos concretos para tal efeito
submetidos à sua apreciação; força vinculativa circunscreve-se ao caso
concreto a que a lei se aplicou.
3. Interpretação doutrinal, teórica ou particular – aquela cujo agente não é
legislador nem actua no decurso de função judicial; tem mero valor persuasivo.

68
Interpretação da lei (Cont.)
Classificação quanto aos elementos da interpretação

1. Interpretação literal, gramatical ou filológica – debruça-se


sobre a letra da lei para encontrar o espírito da lei.

2. Interpretação lógica, racional ou teleológica – procura


conhecer a ratio legis, ou seja, a razão de ser da lei.

3. Interpretação histórica – reporta-se aos antecedentes da lei


interpretanda (leis anteriores, trabalhos preparatórios,
occasio legis).

4. Interpretação sistemática – interpreta a lei com


conhecimento das grandes linhas que caracterizam o Direito
em que se insere.

69
Interpretação da lei (Cont.)
Classificação quanto aos resultados

1. Interpretação declarativa – conduz à constatação de


coincidência entre a letra e o espírito da lei

2. Interpretação extensiva – conduz à conclusão de que a letra


se situa aquém do espírito da lei

3. Interpretação restritiva – conclui que a letra da lei foi além do


espírito da lei

4. Interpretação revogatória ou abrogante – conclui que a lei


mais recente revogou a lei interpretanda.

5. Interpretação enunciativa – o intérprete extrai certas ilações,


que não se encontram expressas na lei mas que, ao abrigo de
princípios lógicos fundamentais, hão-de nela estar implícitas.

70
Interpretação da lei (Cont.)
Outras classificações

1. Interpretação subjetivista – visa perceber o sentido e alcance


da lei que se interpreta pela reconstituição do pensamento
concreto do legislador; busca descortinar a mens legislatoris.

2. Interpretação objetivista – visa fixar o sentido e alcance da lei


desligando-a do seu agente criador, ou seja, procura a mens
legis.

3. lnterpretação histórica – procura reconstituir o sentido e o


alcance que a lei coerentemente teria no momento histórico da
sua elaboração e entrada em vigor, face aos circunstancialismos
então existentes.

4. Interpretação atualista – pretende captar o sentido e alcance


que a lei tem no momento da sua aplicação a cada caso
concreto.

71
Integração de Lacunas da lei (art. 10.º do CC)
a) Analogia - “há analogia sempre que no caso omisso procedam as
razões justificativas da regulamentação do caso previsto na lei” (art.
10º, n.º3, CC), ou seja, sempre que a razão de decidir no caso
omisso e no caso previsto seja a mesma.
A analogia da lei (analogia legis) e a analogia do direito (analogia iuris)
Extensão analógica e interpretação extensiva (art. 11.º CC)
Lacunas rebeldes à analogia – a norma que regule caso contemplado, semelhante
ao omisso, não poderá ser tipificada como norma de direito excecional, ou norma
de direito penal incriminadora (art. 11.º CC, art. 29.º CRP e art. 1.º, n.º3, CP)

b) Criação de um preceito conforme ao sistema – se o método


analógico não for possível “a situação é resolvida segundo a norma
que o próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro do
espírito do sistema” (art. 10.º, n.º3). Assim, são estabelecidas balizas
à iniciativa criadora do julgador:
O julgador criará o preceito como se fora legislador, ou seja, abdicará da
sua plena subjetividade na valoração do caso omisso, no delineamento da
finalidade do preceito que vai criar;
O preceito criado deverá ser conforme ao sistema.

72
Aplicação da lei
I. Aplicação da lei no tempo
É possível suceder que duas ou mais leis concorram na sua aplicabilidade a um caso
concreto (uma lei encontrava-se em vigor no momento em que o caso acontece,
no tempo em que o fato foi praticado, e foi entretanto revogada ou caducou;
outra lei está em vigor no instante em que o julgador decide), pelo que se coloca
a questão de saber qual das leis deverá ser aplicada.
a) Por vezes, o legislador prescreve expressamente as regras que vão regular a
aplicação temporal da nova lei (direito ou disposições transitórias).
b) Podem igualmente aplicar-se regras gerais que constituem critérios
próprios de certos ramos do direito (v.g. direito processual e direito penal)
c) Art. 12.º, n.º1, CC – a “lei nova só dispõe para o futuro; ainda que lhe seja
atribuída eficácia retroactiva, presume-se que ficam ressalvados os efeitos já
produzidos pelos factos que a lei se destine regular” - Princípio da não
retroatividade da lei
d) Art. 12.º, n.º2, CC
i. A lei que se destina a regular as condições de validade substancial ou formal de
quaisquer fatos ou sobre os seus efeitos só se aplica aos novos fatos, ou seja, aos fatos
que venham a ocorrer após a sua entrada em vigor.
ii. A lei que se refere diretamente ao conteúdo de certas relações jurídicas, isto é,
reguladora de direitos e deveres de que são titulares os respetivos sujeitos aplica-se não
só às relações jurídicas que depois se constituam, mas também às relações já
constituídas.

e) Art. 13.º CCl

II. Aplicação da lei no espaço 73

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