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Crédito e
Financiamento
à Infraestrutura
no Brasil

Frederico A. Turolla
Márcio F. Gabrielli
Igor J. C. Gondim
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Resumo
Uma janela de oportunidades se abriu para um salto
nos investimentos em infraestrutura, após os eventos da eco-
nomia brasileira nos anos 90 e 2000. Nesse período, principal-
mente na década de 90, o país assistiu a uma ampla reformu-
lação de elementos chave de seu ambiente institucional.
As amplas reformas endereçaram temas de impacto
transversal, como a estabilização de preços, a introdução de
mecanismos mais modernos de defesa da concorrência, a re-
visão da legislação sobre falência e recuperação de empresas
e a reestruturação das finanças públicas dos governos de to-
dos os níveis. Incluíram, também, importantes componentes
setoriais, com novos marcos regulatórios e mudanças nos mo-
delos de negócios de operação de infraestrutura, incluindo
mecanismos de concessão, desestatização e reestruturação
de entidades estatais.
Palavras-chave: Ativos de Infraestrutura, Riscos de Fi-
nanciamento, Assimetria Informacional.

A estabilização de preços em 1994 brilhante crescimento mundial, com per-


e a transição política de 2002 tiveram papel cepção de risco relativamente baixa em
essencial nas transformações da economia todo o mundo. Após a crise financeira nor-
brasileira. A primeira eliminou a principal te-americana de 2008 e a subsequente cri-
fonte de imprevisibilidade de longo prazo se europeia, a política monetária expansio-
da economia. Com a segunda, foram sensi- nista em países desenvolvidos teve como
velmente reduzidos os riscos políticos que, efeito colateral o vazamento de fundos
anteriormente, inibiam os financiamentos para o mundo emergente, um movimento
de longo prazo ou encareciam significati- que se refletiu na apreciação generalizada
vamente a sua realização. Pelo menos no das moedas que operavam em regimes de
campo macroeconômico, foram mantidos, câmbio flexível. O Brasil foi um importante
por quase dez anos, os pilares que assegu- beneficiário desse fluxo de fundos, por es-
ravam a estabilidade da economia e a conti- tar, no período, sob um grande destaque
nuidade das políticas, ainda que com algu- global devido às já mencionadas amplas
ma deterioração, a partir de 2003, quanto à reformas realizadas no período anterior e à
independência regulatória e a promoção da transição política suave.
competição nos ambientes setoriais. Esse conjunto de mudanças ins-
É relevante para a infraestrutu- titucionais e o ambiente global elevaram
ra que o mundo vivenciou um período de sensivelmente não apenas o potencial de
ampla oferta de fundos para investimentos investimentos na infraestrutura brasilei-
em países emergentes, em diferentes mo- ra, mas também a oferta de crédito e fi-
mentos. Primeiro, os anos 2000 foram de nanciamento privado, doméstico e inter-
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nacional, a este conjunto de setores. Mes- mento e mercado, fortemente relacionada


mo com a abertura desta extraordinária ja- ao papel do BNDES e de outras instituições
nela de oportunidades e com o anúncio de que, historicamente, concentram a oferta
um grande programa federal, a infraestru- de fundos a este setor. Após, são apresen-
tura brasileira não decolou como se pode- tados comentários sobre o mercado finan-
ria esperar. As oportunidades ficaram, as- ceiro e de capitais. Avaliam-se os riscos no
sim, subaproveitadas. financiamento da infraestrutura e a seção
Há, pelo menos, dois motivos para final pontua alguns dos mais importantes
que este desempenho se mostrasse insufi- desafios remanescentes nessa área.
ciente em um ambiente tão propício. O pri-
meiro está relacionado à própria nature- Características dos Ativos
za dos ativos de infraestrutura: os projetos de Infraestrutura
nesta área requerem grandes volumes de De maneira geral, os ativos de in-
capital e enfrentam, em qualquer país, de- fraestrutura têm características específi-
safios significativos para seu financiamen- cas, que variam significativamente confor-
to que são potencializados no ambiente de me o setor – energia, transportes, sanea-
uma economia como a brasileira. O segun- mento e telecomunicações – e também
do diz respeito ao aumento do risco políti- dentro de cada setor. Dependendo da po-
co desde a última década, devido à maior sição de uma atividade na cadeia setorial,
intervenção política nas decisões técnicas, as características podem variar sensivel-
novamente encarecendo o financiamento mente. Na cadeia da energia elétrica, por
dos projetos e reduzindo a propensão dos exemplo, os segmentos de fio (transmis-
investidores a aceitá-los. são e distribuição) têm fortes característi-
Este artigo discute o ambiente do cas de monopólio natural que demanda re-
financiamento à infraestrutura no Brasil, gulação estrita, enquanto os segmentos de
assim como seus principais desafios. A pri- energia (geração e comercialização) ope-
meira seção aborda as características típi- ram em ambiente mais competitivo.
cas dos ativos de infraestrutura, que são re- As características dos setores de
levantes para o seu financiamento. Em se- infraestrutura são sumarizadas na tabela 1
guida, é focada a velha dicotomia entre fo- a seguir.

■ Tabela 1: Características dos setores de infraestrutura

Consequência Resposta típica


Alto custo fixo Problemas de monopólio natural Operação pública ou concessões; regulação
Ativos específicos Desincentivo ao investimento Contratos longos
Externalidades
Características de política pública Políticas de acesso e universalização
positivas
Processos de escolha, renovação
Longa vida Questões na troca de operadores
e substituição de operadores
Demanda estável Ativos defensivos -
Fonte: elaboração própria
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Uma das respostas típicas a estas alienação fiduciária, o penhor e a caução),


características é o elevado peso da opera- ou pessoais (aval e fiança), sendo frequen-
ção pelo setor público e, mesmo no caso te a acumulação destas. A dificuldade ou
de operação privada ou em parceria, o fi- o custo envolvido na obtenção dessas ga-
nanciamento dos projetos de infraestrutu- rantias pode fazer com que empresas com
ra tem elevada concentração no setor pú- projetos rentáveis e com disposição para o
blico, em todo o mundo. A operação públi- repagamento dos financiamentos possam
ca vem sendo crescentemente substituí- não ter acesso a eles. O próprio BNDES,
da pelo incremento de variadas formas de em suas operações, exige garantias eleva-
participação privada, que no Brasil podem das. Neste contexto, as garantias se tor-
ser identificadas, principalmente, com os nam um importante fator inibidor da com-
contratos da lei das Concessões (lei 8.987 petitividade de vários setores importantes,
de 1995) e da lei das Parcerias Público Pri- assim como um inibidor dos investimentos
vadas (lei 11.079 de 2004), entre outros me- em direção à universalização em setores
canismos. de infraestrutura.
Nas últimas décadas, assistiu-se
a uma forte tendência mundial em relação Fomento versus Mercado:
à implantação de mecanismos institucio- a Velha Discussão
nais de redução de risco, como a regula- O crédito à infraestrutura, no Bra-
ção independente e o planejamento de lon- sil e em vários países, é altamente concen-
go prazo. Estes permitem encorajar signi- trado em fontes de fomento. Por exemplo,
ficativamente não apenas o investimento no caso do setor elétrico, conforme Sabat-
privado, mas também o financiamento de tini (2012, p. 121), as instituições de fomen-
projetos de infraestrutura pelo setor priva- to, particularmente BNDES e o Banco do
do. O Brasil também avançou significativa- Brasil, são os principais credores indivi-
mente nesta direção, com a definição de duais da maior parte dos principais grupos
marcos regulatórios setoriais, com entida- atuantes em energia elétrica no Brasil. No
des reguladoras relativamente autônomas, setor de saneamento, a Caixa Econômica
todas elas enfrentando o duplo desafio Federal, sucedendo o antigo Banco Nacio-
de estarem na primeira fase da curva de nal da Habitação, representa uma parcela
aprendizagem institucional e de se situa- significativa dos recursos onerosos dispo-
rem sob ataque constante de políticos in- nibilizados ao setor.
teressados em decisões de alto valor eco- As fontes de fomento ou institui-
nômico e eleitoral. ções oficiais que operam no Brasil com fi-
Além das questões institucionais, nanciamento à infraestrutura são diver-
há diversos aspectos próprios do sistema sas e podem ser identificadas: Banco Na-
de financiamentos. Por exemplo, em pre- cional de Desenvolvimento Econômico e
sença de forte assimetria informacional na Social (BNDES), Caixa Econômica Fede-
concessão de financiamentos, uma defesa ral (CEF), Banco do Brasil (BB), Banco do
comum dos agentes financiadores costu- Nordeste do Brasil (BNB), Banco da Ama-
ma vir na forma de exigência de garantias, zônia (BASA), Financiadora de Estudos e
que podem ser reais (como a hipoteca, Projetos (FINEP), agências estaduais de fo-
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mento, que operam com fundos estaduais em função das grandes empresas estatais
e com repasses do próprio BNDES. que predominaram no cenário operacional
Podem ser ainda adicionadas as por décadas.
fontes de fomento internacional, notada- Nesse contexto, a geração de re-
mente os organismos multilaterais, que cursos próprios foi um instrumento impor-
são, principalmente, o Banco Mundial, o tante de financiamento dos investimen-
braço International Finance Corporation tos, assim como se verificou nos diversos
(IFC), o Inter-American Development Bank setores da economia em um ambiente de
(IADB), a Corporación Andina de Fomento alta instabilidade macroeconômica e baixo
(CAF), entre outros. desenvolvimento do mercado de capitais.
Dada a importância da infraes- No âmbito do sistema Planasa, do sanea-
trutura no desenvolvimento econômico e mento básico, por exemplo, o financiamen-
o volume de recursos envolvido nos pro- to público foi oferecido pelo Banco Nacio-
jetos, os governos tipicamente se envol- nal da Habitação (BNH), juntamente com
vem diretamente no processo de financia- os governos estaduais controladores das
mento. Em muitos casos, entretanto, não companhias, prevendo que estas se torna-
se faz uma pergunta básica: em que me- riam capazes de se tornar autossustentá-
dida os produtos de crédito de fomento e veis, passando a gerar os recursos que fi-
do mercado de capitais são bens substi- nanciariam sua expansão e operação futu-
tutos ou complementares? Em outras pa- ras. Entretanto, nos anos 70 e 80, em vários
lavras, quando os governos participam di- segmentos da infraestrutura, as tarifas de
retamente do processo de financiamento, serviços públicos passaram a ser utiliza-
estão apenas deslocando o financiamento das como instrumentos de política macro-
privado e, assim, transferindo desneces- econômica, com o objetivo de conter a es-
sariamente os riscos e eventuais subsídios calada inflacionária, sacrificando o finan-
ao contribuinte? Esta é uma pergunta que, ciamento via recursos próprios.
embora tenha alta relevância econômica e Mais recentemente, o desenvolvi-
social, é de resposta igualmente difícil. mento institucional do mercado brasileiro
e os novos instrumentos legais de parceria
O Mercado Financeiro público privada das últimas décadas vêm
e de Capitais incrementando o papel do financiamento
O mercado financeiro e de capitais de projetos. Mesmo grandes operadores
financia projetos de infraestrutura de vá- de infraestrutura vêm engajando em es-
rias formas, tanto com dívida quanto com quemas de financiamento via SPE.
equity. Os ambientes de financiamento in- Um importante programa diz res-
cluem o financiamento corporativo, que peito ao desenvolvimento de Debêntures
cria passivos diretamente no balanço das de Infraestrutura e Fundos de Investimento
organizações operadoras dos serviços, e em Direitos Creditórios (FIDC), Fundos de
o project finance, voltado para as Socieda- Debêntures Incentivadas e Fundos de In-
des de Propósito Específico (SPE). A mo- vestimentos em Participação em Infraes-
dalidade corporativa é a mais tradicional trutura (FIP-IE), contando com incentivos
na infraestrutura brasileira, especialmente fiscais.
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Frequentemente se menciona a in- em si. E buscar oportunidades de turnaround,


dústria de private equity e de venture capital quando o investimento inicial já foi realizado
(PE/VC) como um potencial investidor em mas, em algum momento, a empresa se endi-
infraestrutura. Porém, há diferentes opini- vidou e teve de ser vendida pelo investidor ori-
ões com relação à viabilização desses in- ginal. Ou então privatizações. Aliás, com essa
vestimentos através dessa fonte. Por um mudança na tarifa do setor elétrico, vejo uma
lado, argumenta-se que o ciclo do investi- nova rodada de investimentos pronta para
mento típico em PE/VC – com saída em 3 ocorrer em breve. Ainda sobre o setor elétrico,
a 5 anos – descasa dos longos prazos de esse é talvez o segmento com maior oportu-
retorno dos projetos típicos de infraestru- nidade de investimentos de private equity di-
tura. retamente em projetos. Afinal, é possível ven-
Os mesmos críticos à participação der energia no longo prazo pela PPAs e obter
dos fundos de private equity e de venture ca- credito para construção dos empreendimen-
pital mencionam que os retornos dos proje- tos, o que alavanca bastante o retorno do equi-
tos de infraestrutura tendem a ser contro- ty. Também é possível explorar variações de
lados, pelo menos ex-ante, pelo setor públi- preço na energia (assinar PPAs no momento
co na modelagem dos processos de con- de alta de preços e comprar energia no merca-
cessão. Para a obtenção de retornos mais do a preço menor) embora isso tenha causa-
elevados, o investidor costuma procurar do a quebra de pelo menos uma empresa. En-
ambientes com menor segurança institu- fim, em energia há a questão do risco ambien-
cional, o que pode elevar os riscos mais tal. E é possível usar equity para desenvolver
que proporcionalmente, reduzindo a atra- um projeto e vendê-lo após obter as licenças”
tividade. (Sr. Leonardo de Lima Ribeiro, depoimento exclusivo
Contudo, pode-se argumentar que para elaboração deste artigo, em 19 de abril de 2013).
essas características não significam uma
incompatibilidade natural dos fundos de O Financiamento no
PE/VC com o setor de infraestrutura, nem Ambiente de Parcerias
limitam severamente o tipo de projetos que A parceria entre o setor público e
essa indústria se dispõe a financiar no con- o setor privado é um dos mais importan-
texto da infraestrutura. tes veículos de viabilização de novos in-
Neste sentido, o especialista em vestimentos em infraestrutura, particular-
private equity e venture capital, Leonardo de mente no ambiente de restrições fiscais e
Lima Ribeiro, comentou recentemente que orçamentárias. No Brasil, a legislação re-
alguns dos melhores investimentos em PE/ lativa às parcerias público-privadas inclui
VC na América Latina foram realizados categorias que podem ser identificadas
justamente nos setores de infraestrutura como concessão comum, administrativa
ou relacionados, como: Mills, Cemar, Ga- ou patrocinada. No primeiro caso, é regi-
sAtacama, CPFL, Gol, ALL, entre outros. da pela lei 8.987 de 1995, e nos demais pela
Para ele: lei 11.079 de 2004. Essas duas se somam e
“o segredo é investir principalmen- são complementadas pela Lei das Licita-
te em empresas que desenvolvem projetos ções (8.666/93). Em termos gerais, as pri-
no setor e não necessariamente nos projetos meiras atendem a projetos autossustentá-
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veis com fluxos financeiros oriundos de ta- caso brasileiro, tome-se o Gráfico 1 abaixo,
rifas, enquanto a lei que ficou conhecida que apresenta uma carteira hipotética de
como “lei das PPP” atende a projetos onde projetos de infraestrutura. No eixo vertical,
é necessário o aporte de recursos públi- foi representada a taxa de retorno privado
cos. Some-se a isto o regime jurídico geral, dos projetos. No eixo horizontal, a taxa de
havendo ainda a discussão sobre a tradi- retorno social dos projetos, que represen-
ção jurídica e o mercado de capitais, além ta o volume de externalidades geradas por
de um grande número de aspectos relacio- unidade de investimento. Cada esfera re-
nados ao mercado de crédito e às leis so- presenta um projeto, sendo que o volume
bre falência. da esfera pode ser tomado como o tama-
No caso brasileiro, na prática, a nho relativo do empreendimento.
disciplina contratual público-pública e pú- Os melhores projetos são os que
blico-privada vem permitindo um aumento estão mais a nordeste no primeiro quadran-
significativo do leque de possibilidades re- te, pois apresentam uma feliz combinação
lacionadas à prestação e ao financiamen- entre alto retorno privado e alto retorno so-
to dos serviços de infraestrutura, viabili- cial. Infelizmente, estes projetos, que não
zando novas formas de cooperação entre demandam recursos públicos, mas trazem
uma grande variedade de agentes públi- grandes benefícios à coletividade, são pou-
cos e privados. co numerosos. Estes projetos são candida-
Ainda como exemplo destas ins- tos à operação por concessão comum, da
tituições de parceria e financiamento no lei 8.987/95, ou lei das concessões.

■ Gráfico 1: Uma carteira hipotética de projetos de infraestrutura.

Fonte: elaboração própria


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Os projetos próximos do eixo hori- ticas locais, idiossincráticas, de governos e


zontal mas localizados bem a leste do eixo de ambientes políticos subnacionais.
vertical, são projetos de bom retorno so- Os riscos do setor de infraestrutu-
cial mas com baixo retorno privado. Para ra estão diretamente relacionados ao am-
estes, o instrumento típico tende a ser a biente institucional subjacente, tanto ma-
lei 11.079/04, das Parcerias Público-Priva- cro – nacional e local – quanto microeconô-
das. Estes contratos também podem ope- mico. Em termos do ambiente macroeco-
rar com subsídio público, tendo em vista nômico nacional, houve melhora sensível
que, embora de interesse social, não apre- para projetos de infraestrutura nas últimas
sentam retorno privado suficiente para es- duas décadas. Entre elas, esteve o equa-
timular a execução autônoma do projeto cionamento das necessidades de financia-
por investidores particulares. mento do setor público, no fim dos anos
A lei 12.766 de 2012, resultante da noventa, através de um conjunto de refor-
conversão da Medida Provisória 575, trouxe mas que incluiu, entre outras iniciativas, o
as mais recentes novidades quanto às PPP, refinanciamento das dívidas subnacionais,
criando a figura do aporte público nos pro- o Programa de Estabilidade Fiscal e a Lei
jetos, o que é relevante no financiamento do de Responsabilidade Fiscal; a consolida-
projeto, pois evita a necessidade de obten- ção da estabilidade de preços, após testes
ção de financiamento para os investimen- severos em crises de países emergentes; e
tos. A lei foi regulamentada pela Instrução a redução do risco político, como uma con-
Normativa 1.342 da Receita Federal, que dá sequência importante da manutenção do
tratamento tributário especial aos investi- regime de política econômica na transição
mentos feitos por entes públicos em PPP. de governos de 2002. A obtenção do grau
de investimento esteve associada a esses
Riscos no Crédito fatores, que trouxeram não apenas uma re-
à Infraestrutura dução das necessidades de financiamen-
É importante notar, contudo, que to públicas e externas, mas também uma
os tipos de riscos assumidos na área de in- maior segurança no seu financiamento,
fraestrutura podem ser diferentes dos ris- com a redução da percepção sobre a pro-
cos tradicionalmente assumidos em negó- babilidade de crises de solvência.
cios comerciais de áreas mais tradicionais. Os aspectos regulatórios também
Por exemplo, o risco do setor público cos- experimentaram melhora sensível no am-
tuma ser mais elevado, sujeito a decisões biente brasileiro nas últimas décadas, par-
adversas sobre regulação, tarifas, padrões ticularmente na segunda metade dos anos
técnicos, entre outros. Essas característi- 90 e na primeira metade dos anos 2000. A
cas podem requerer uma estrutura de re- criação de marcos regulatórios baseados
search mais especializada e uma maior in- em entidades com governança própria,
tensidade em consultoria jurídica para a fundamentada em mandatos independen-
proteção dos riscos, por exemplo, através tes, constitui verdadeira quebra estrutu-
da análise do programa de seguros e ga- ral em relação às práticas do período pre-
rantias das concessões, ou uma maior in- cedente. Contudo, esta independência se
tensidade de conhecimento de caracterís- revelou frágil na prática, dado o interesse
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político em manter decisões de alto valor efeitos indesejáveis sobre a economia. As-
econômico e eleitoral sob o controle direto sim, vale rediscutir o fomento de maneira
do Poder Executivo e de ministros politica- integrada, assim como o papel do crédito
mente indicados. bancário e do mercado de capitais no fi-
Houve também uma importante nanciamento da infraestrutura brasileira.
evolução, principalmente no ambiente es- Em terceiro lugar, destaca-se a ob-
tadual, com relação aos projetos com parti- tenção de uma maior alavancagem dos
cipação privada, sob as leis de concessões projetos, ou seja, uma maior participação
e de parceria público-privada (PPP). Entre do crédito em relação ao capital próprio
os desdobramentos importantes, podem nos projetos de infraestrutura. Tipicamen-
ser mencionadas as matrizes de risco nas te, isto envolve uma intensificação do uso
concessões, que vêm dando conta de ris- de instrumentos relacionados ao project fi-
cos importantes que ficam mais claramen- nance, incluindo as concessões e parcerias
te estabelecidos nos projetos. público-privadas. O país já experimentou
um grande avanço legislativo nesse senti-
Os Desafios do do, mas ainda há muito por fazer.
Financiamento Em quarto lugar, é preciso rediscu-
à Infraestrutura tir o ambiente institucional no que toca aos
Com base na discussão realizada riscos setoriais mais relevantes, particular-
neste artigo, sobressaem alguns desafios mente quanto à estabilidade e a introdução
relevantes para a expansão do financia- de concorrência. O ambiente macroeconô-
mento à infraestrutura no Brasil. Estes são mico mais estável a partir do final dos anos
apontados a seguir, sem a pretensão de es- 90, que se mostrou francamente favorável
gotar o assunto. aos investimentos, está se esvaindo com
Em primeiro lugar, é preciso ava- políticas mais discricionárias e voltadas ao
liar a relação custo-benefício envolvida na curto prazo. Da mesma forma, o ambiente
assunção de grandes riscos fiscais a partir de regulação setorial está crescentemen-
dos mecanismos de financiamento público te sujeito a intervenções, muitas delas des-
hoje disponíveis. A sustentabilidade do se- conectadas de um planejamento de lon-
tor público é um desafio global go prazo, chegando obedecer a uma agen-
Em segundo lugar, é preciso ava- da eleitoral. A promoção da concorrência,
liar se as linhas de financiamento públicas onde possível, seguindo os melhores ele-
e privadas são bens substitutos ou comple- mentos da experiência internacional, per-
mentares. É possível que o fomento efeti- mitiria avanços seguros em benefício dos
vamente desloque o capital privado, como usuários.
propõem alguns, o que demanda estudos Estes são desafios complexos e in-
aprofundados, de urgência evidente. Natu- ter-relacionados, mas que encerram res-
ralmente, quando se tratam de bens subs- postas fundamentais para o desenvolvi-
titutos, criam riscos fiscais e provocam mento brasileiro.
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Autores

Frederico Araujo Turolla


Frederico Araujo Turolla é Doutor em Economia de Empresas, Professor do Mestrado em Gestão Internacional da

ESPM e sócio da Pezco Microanalysis - e-mail fredturolla@pezco.com.br

Márcio Fernandes Gabrielli


Márcio Fernandes Gabrielli é Mestre em Administração de Empresas com ênfase em Finanças, Professor de Finanças

da FGV e da ESPM e associado da Pezco Microanalysis – e-mail marciogabrielli@pezco.com.br

Igor J. C. Gondim
Igor J. C. Gondim é Doutorando em Finanças pela FGV e consultor da Pezco Microanalysis- e-mail igor@pezco.com.br
Referências

SABBATINI, Rodrigo. Financiamento do investimento no setor de energia elétrica. In: IPEA. Infraestrutura e Plane-
jamento no Brasil: Coordenação estatal da regulação dos incentivos em prol do investimento - o caso do setor elétrico.
IPEA, Relatório de Pesquisa, 2012.

TUROLLA, Frederico A. Financiamentos e garantias. Revista Conjuntura da Infraestrutura (FGV e ABDIB). Março de
2010.

VALENTE, Paulo Gurgel. Financiamento de longo prazo: um roteiro prático para o BNDES, IFC, FINEP e outras
instituições. Rio de Janeiro: Campus Elsevier, 2012.

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