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Crédito e
Financiamento
à Infraestrutura
no Brasil
Frederico A. Turolla
Márcio F. Gabrielli
Igor J. C. Gondim
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Resumo
Uma janela de oportunidades se abriu para um salto
nos investimentos em infraestrutura, após os eventos da eco-
nomia brasileira nos anos 90 e 2000. Nesse período, principal-
mente na década de 90, o país assistiu a uma ampla reformu-
lação de elementos chave de seu ambiente institucional.
As amplas reformas endereçaram temas de impacto
transversal, como a estabilização de preços, a introdução de
mecanismos mais modernos de defesa da concorrência, a re-
visão da legislação sobre falência e recuperação de empresas
e a reestruturação das finanças públicas dos governos de to-
dos os níveis. Incluíram, também, importantes componentes
setoriais, com novos marcos regulatórios e mudanças nos mo-
delos de negócios de operação de infraestrutura, incluindo
mecanismos de concessão, desestatização e reestruturação
de entidades estatais.
Palavras-chave: Ativos de Infraestrutura, Riscos de Fi-
nanciamento, Assimetria Informacional.
mento, que operam com fundos estaduais em função das grandes empresas estatais
e com repasses do próprio BNDES. que predominaram no cenário operacional
Podem ser ainda adicionadas as por décadas.
fontes de fomento internacional, notada- Nesse contexto, a geração de re-
mente os organismos multilaterais, que cursos próprios foi um instrumento impor-
são, principalmente, o Banco Mundial, o tante de financiamento dos investimen-
braço International Finance Corporation tos, assim como se verificou nos diversos
(IFC), o Inter-American Development Bank setores da economia em um ambiente de
(IADB), a Corporación Andina de Fomento alta instabilidade macroeconômica e baixo
(CAF), entre outros. desenvolvimento do mercado de capitais.
Dada a importância da infraes- No âmbito do sistema Planasa, do sanea-
trutura no desenvolvimento econômico e mento básico, por exemplo, o financiamen-
o volume de recursos envolvido nos pro- to público foi oferecido pelo Banco Nacio-
jetos, os governos tipicamente se envol- nal da Habitação (BNH), juntamente com
vem diretamente no processo de financia- os governos estaduais controladores das
mento. Em muitos casos, entretanto, não companhias, prevendo que estas se torna-
se faz uma pergunta básica: em que me- riam capazes de se tornar autossustentá-
dida os produtos de crédito de fomento e veis, passando a gerar os recursos que fi-
do mercado de capitais são bens substi- nanciariam sua expansão e operação futu-
tutos ou complementares? Em outras pa- ras. Entretanto, nos anos 70 e 80, em vários
lavras, quando os governos participam di- segmentos da infraestrutura, as tarifas de
retamente do processo de financiamento, serviços públicos passaram a ser utiliza-
estão apenas deslocando o financiamento das como instrumentos de política macro-
privado e, assim, transferindo desneces- econômica, com o objetivo de conter a es-
sariamente os riscos e eventuais subsídios calada inflacionária, sacrificando o finan-
ao contribuinte? Esta é uma pergunta que, ciamento via recursos próprios.
embora tenha alta relevância econômica e Mais recentemente, o desenvolvi-
social, é de resposta igualmente difícil. mento institucional do mercado brasileiro
e os novos instrumentos legais de parceria
O Mercado Financeiro público privada das últimas décadas vêm
e de Capitais incrementando o papel do financiamento
O mercado financeiro e de capitais de projetos. Mesmo grandes operadores
financia projetos de infraestrutura de vá- de infraestrutura vêm engajando em es-
rias formas, tanto com dívida quanto com quemas de financiamento via SPE.
equity. Os ambientes de financiamento in- Um importante programa diz res-
cluem o financiamento corporativo, que peito ao desenvolvimento de Debêntures
cria passivos diretamente no balanço das de Infraestrutura e Fundos de Investimento
organizações operadoras dos serviços, e em Direitos Creditórios (FIDC), Fundos de
o project finance, voltado para as Socieda- Debêntures Incentivadas e Fundos de In-
des de Propósito Específico (SPE). A mo- vestimentos em Participação em Infraes-
dalidade corporativa é a mais tradicional trutura (FIP-IE), contando com incentivos
na infraestrutura brasileira, especialmente fiscais.
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veis com fluxos financeiros oriundos de ta- caso brasileiro, tome-se o Gráfico 1 abaixo,
rifas, enquanto a lei que ficou conhecida que apresenta uma carteira hipotética de
como “lei das PPP” atende a projetos onde projetos de infraestrutura. No eixo vertical,
é necessário o aporte de recursos públi- foi representada a taxa de retorno privado
cos. Some-se a isto o regime jurídico geral, dos projetos. No eixo horizontal, a taxa de
havendo ainda a discussão sobre a tradi- retorno social dos projetos, que represen-
ção jurídica e o mercado de capitais, além ta o volume de externalidades geradas por
de um grande número de aspectos relacio- unidade de investimento. Cada esfera re-
nados ao mercado de crédito e às leis so- presenta um projeto, sendo que o volume
bre falência. da esfera pode ser tomado como o tama-
No caso brasileiro, na prática, a nho relativo do empreendimento.
disciplina contratual público-pública e pú- Os melhores projetos são os que
blico-privada vem permitindo um aumento estão mais a nordeste no primeiro quadran-
significativo do leque de possibilidades re- te, pois apresentam uma feliz combinação
lacionadas à prestação e ao financiamen- entre alto retorno privado e alto retorno so-
to dos serviços de infraestrutura, viabili- cial. Infelizmente, estes projetos, que não
zando novas formas de cooperação entre demandam recursos públicos, mas trazem
uma grande variedade de agentes públi- grandes benefícios à coletividade, são pou-
cos e privados. co numerosos. Estes projetos são candida-
Ainda como exemplo destas ins- tos à operação por concessão comum, da
tituições de parceria e financiamento no lei 8.987/95, ou lei das concessões.
político em manter decisões de alto valor efeitos indesejáveis sobre a economia. As-
econômico e eleitoral sob o controle direto sim, vale rediscutir o fomento de maneira
do Poder Executivo e de ministros politica- integrada, assim como o papel do crédito
mente indicados. bancário e do mercado de capitais no fi-
Houve também uma importante nanciamento da infraestrutura brasileira.
evolução, principalmente no ambiente es- Em terceiro lugar, destaca-se a ob-
tadual, com relação aos projetos com parti- tenção de uma maior alavancagem dos
cipação privada, sob as leis de concessões projetos, ou seja, uma maior participação
e de parceria público-privada (PPP). Entre do crédito em relação ao capital próprio
os desdobramentos importantes, podem nos projetos de infraestrutura. Tipicamen-
ser mencionadas as matrizes de risco nas te, isto envolve uma intensificação do uso
concessões, que vêm dando conta de ris- de instrumentos relacionados ao project fi-
cos importantes que ficam mais claramen- nance, incluindo as concessões e parcerias
te estabelecidos nos projetos. público-privadas. O país já experimentou
um grande avanço legislativo nesse senti-
Os Desafios do do, mas ainda há muito por fazer.
Financiamento Em quarto lugar, é preciso rediscu-
à Infraestrutura tir o ambiente institucional no que toca aos
Com base na discussão realizada riscos setoriais mais relevantes, particular-
neste artigo, sobressaem alguns desafios mente quanto à estabilidade e a introdução
relevantes para a expansão do financia- de concorrência. O ambiente macroeconô-
mento à infraestrutura no Brasil. Estes são mico mais estável a partir do final dos anos
apontados a seguir, sem a pretensão de es- 90, que se mostrou francamente favorável
gotar o assunto. aos investimentos, está se esvaindo com
Em primeiro lugar, é preciso ava- políticas mais discricionárias e voltadas ao
liar a relação custo-benefício envolvida na curto prazo. Da mesma forma, o ambiente
assunção de grandes riscos fiscais a partir de regulação setorial está crescentemen-
dos mecanismos de financiamento público te sujeito a intervenções, muitas delas des-
hoje disponíveis. A sustentabilidade do se- conectadas de um planejamento de lon-
tor público é um desafio global go prazo, chegando obedecer a uma agen-
Em segundo lugar, é preciso ava- da eleitoral. A promoção da concorrência,
liar se as linhas de financiamento públicas onde possível, seguindo os melhores ele-
e privadas são bens substitutos ou comple- mentos da experiência internacional, per-
mentares. É possível que o fomento efeti- mitiria avanços seguros em benefício dos
vamente desloque o capital privado, como usuários.
propõem alguns, o que demanda estudos Estes são desafios complexos e in-
aprofundados, de urgência evidente. Natu- ter-relacionados, mas que encerram res-
ralmente, quando se tratam de bens subs- postas fundamentais para o desenvolvi-
titutos, criam riscos fiscais e provocam mento brasileiro.
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Autores
Igor J. C. Gondim
Igor J. C. Gondim é Doutorando em Finanças pela FGV e consultor da Pezco Microanalysis- e-mail igor@pezco.com.br
Referências
SABBATINI, Rodrigo. Financiamento do investimento no setor de energia elétrica. In: IPEA. Infraestrutura e Plane-
jamento no Brasil: Coordenação estatal da regulação dos incentivos em prol do investimento - o caso do setor elétrico.
IPEA, Relatório de Pesquisa, 2012.
TUROLLA, Frederico A. Financiamentos e garantias. Revista Conjuntura da Infraestrutura (FGV e ABDIB). Março de
2010.
VALENTE, Paulo Gurgel. Financiamento de longo prazo: um roteiro prático para o BNDES, IFC, FINEP e outras
instituições. Rio de Janeiro: Campus Elsevier, 2012.