Sei sulla pagina 1di 1

Artigo anterior Próximo artigo

Posição do artigo  16 fev 2017 Folha De S.Paulo


LAURA CARVALHO COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre
Schwartsman; quinta: Laura Carvalho; sexta: João Manoel Pinho de Mello; sábado: Marcos Sawaya Jank;

Decifra­me ou te devoro
Nem toda inflação tem como causa os mesmos fatores; olhar as particularidades é essencial para arejar o debate

EM ENTREVISTA à revista “Época” sobre o debate suscitado por seus textos sobre a alta taxa de juros
brasileira, o economista André Lara Resende —um dos pais do Plano Real— nos alertou para o que chamou de
conservadorismo intelectual histórico. “Rudiger Dornbusch, meu professor do MIT, sempre questionou o que ele
considerava minha insistência em dar atenção a argumentos não convencionais sobre inflação”, contou.
Noves fora os interesses que permeiam o tema dos juros e a eventual patrulha apontada por Elio Gaspari
(folha.com/no1856724), a natureza dos diversos processos inflacionários, além de ter causado grandes
mudanças de paradigma, ainda parece ser um dos maiores entraves ao diálogo entre economistas.
A estagflação dos anos 1970 nos EUA, por exemplo, levou ao enfraquecimento temporário das teorias
baseadas na chamada Curva de Phillips, que estabelecem uma relação negativa entre taxa de desemprego e de
inflação. O monetarismo de Milton Friedman, que disse certa vezque“ainflaçãoésempreeemtoda parte um
fenômeno monetário”, ganhou espaço naquele contexto.
Já em decadência há algumas décadas, o monetarismo em sua versão extrema vive hoje um recorde de baixa
popularidade: a expansão monetária realizada pelos bancos centrais de países ricos após a crise de 2008, e as
baixas taxas de inflação que ainda vigoram por lá, se encarregaram de enterrá­lo.
Na Teoria Fiscal do Nível de Preços resgatada por André Lara, a inflação responde não à quantidade de moeda
em circulação, mas ao estoque de endividamento público. Se o governo gasta mais do que arrecada, a taxa de
inflação sobe, de modo a manter a dívida pública constante em termos reais. Assim, uma elevação de juros que
aumente a dívida pública poderia ter efeitos inflacionários.
A elegância da teoria e a conexão —sempre interessante— entre os efeitos das políticas fiscal e monetária não
escondem a falta de evidência empírica em seu favor. Afinal, os mesmos países que expandiram muito o estoque
de moeda no pós­crise sem nenhum efeito inflacionário passaram por um forte aumento da dívida pública.
Nem toda inflação é igual ou causada pelos mesmos fatores. Olhar para os dados e para as nossas
particularidades é fundamental para arejar o debate.
Após um período de alta inflação de serviços, devido à queda do desemprego e ao crescimento acelerado dos
salários —o custo mais relevante para esses setores—, evoluímos para uma inflação puxada sobretudo pelos
preços administrados, que subiram mais de 18% em 2015. Sofremos também, em algumas ocasiões, outros
choques de custos: por exemplo, altas do dólar, que encarecem insumos importados, e altas de preços de
alimentos.
O traço comum é a forte inércia, que foi objeto nos anos 1980 de estudos do próprio André Lara e de demais
economistas que ajudaram a formular o Plano Real. Em um país que nunca se livrou totalmente da alta memória
inflacionária e da indexação de contratos, choques e elevações localizadas de preço tendem a contaminar os
demais preços e a persistir no tempo.
O combate exclusivo via taxa de juros, que mesmo após o fim do câmbio fixo, em 1999, continuou atuando
sobretudo pelo canal de câmbio, via atração de capital estrangeiro e valorização do real, parece de fato uma
escolha demasiado custosa. Nesse debate, medidas de desindexação de contratos, de estímulo à produtividade e
de redução da volatilidade no mercado cambial, por exemplo, merecem um lugar ao sol. LAURA CARVALHO,
Impresso e distribuído por NewpaperDirect | www.newspaperdirect.com, EUA/Can: 1.877.980. 4040, Intern: 800.6364.6364 | Direitos de Autor e protegido
por lei.

Artigo anterior Próximo artigo

Potrebbero piacerti anche