Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
RELAÇÃO INTERTEXTUAL
OS LUSÍADAS - CANTO I – DEDICATÓRIA MENSAGEM - “BRASÃO” – “D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL”
Camões dedica a sua obra a D. Sebastião. Pessoa evoca, na sua obra, o mito sebastianista, apresentando
O poeta caracteriza o Rei em tom laudatório para o enaltecer. o rei como “O Desejado”.
(“Vós, poderoso Rei, cujo alto império / O Sol, logo em ascendo, Simultaneamente, dá cumprimento à aglutinação mítica que se
vê primeiro” - est. 8) encontra na origem do mito português como “O Encoberto”.
Para o poeta o rei, senhor de um vasto império, significa a No poema “D. Sebastião, Rei de Portugal” – o rei surge como
segurança e a garantia da independência do país.(Est.8) uma figura arquetipal do esforço e da grandeza do herói
D. Sebastião surge como aquele a quem cabe uma missão, no português – a sua loucura associa-se à capacidade de sonhar e
cumprimento da vontade de Deus – alargar a fé cristã.(Est.6) à esperança que caracterizam o herói (capaz de superar “a
[De facto, D. sebastião viria a contribuir para a perda da besta”.
independência com o seu desaparecimento na batalha de O sujeito poético, cuja voz se identifica com a de D. Sebastião,
Alcácer Quibir, o que constituiu a motivação para a criação do dirige um apelo aos portugueses, estabelecendo a união entre o
mito sebastianista, de fundo messiânico, expressão da tentativa passado e o presente da nossa história.(2-vv.6 e 7).
desesperada de reconquista da identidade perdida e da Para Pessoa, a “loucura” de D. Sebastião, deveria constituir-se
restauração da nacionalidade.] como o sonho que permitiria ao homem português do século XX
a renovação do país e a construção de um futuro promissor, i.e.,
o renascimento de Portugal.
1 Na terceira parte de Os Lusiadas (tendo em conta a estrutura da epopeia), Camões dedica o poema a D. Sebastião, que considerava o garante da
independência da nação.
2 Nesta Primeira parte da Mensagem - Brasão, Pessoa apresenta-nos D. Sebastião como Rei de Portugal, ou seja, é retratada a Figura do rei, príncipe
mártir, traído pela sua ambição, mas o quinto mártir, e por isso ungido de sagrado significado futuro,
3 Fontes: Jacinto, C. e Lança G. (2007), Análise das obras “Os Lusíadas” de Luís de Camões e “Mensagem” de Fernando Pessoa, Porto Ed.
2.OS LUSÍADAS - CANTO III E MENSAGEM – 1ª PARTE – “BRASÃO” BLOCO I – “OS CAMPOS”
CANTO III 21 O DOS CASTELLOS4
17 "Esta é a ditosa pátria minha amada, A Europa jaz, posta nos cotovellos:
"Eis aqui se descobre a nobre Espanha, A qual se o Céu me dá que eu sem perigo De Oriente a Occidente jaz, fitando,
Como cabeça ali de Europa toda, (…) Torne, com esta empresa já acabada, E toldam-lhe românticos cabellos
Acabe-se esta luz ali comigo. Olhos gregos, lembrando.
20 Esta foi Lusitânia, derivada
"Eis aqui, quase cume da cabeça De Luso, ou Lisa, que de Baco antigo O cotovello esquerdo é recuado;
De Europa toda, o Reino Lusitano, Filhos foram, parece, ou companheiros, O direito é em ângulo disposto.
Onde a terra se acaba e o mar começa, E nela então os Íncolas primeiros. Aquelle diz Itália onde é pousado;
E onde Febo repousa no Oceano. Este diz Inglaterra onde, afastado,
Este quis o Céu justo que floresça A mão sustenta, em que se appoia o rosto.
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora, e lá na ardente Fita, com olhar sphyngico e fatal,
África estar quieto o não consente. O Occidente, futuro do passado.
(08 / 12 / 1928)
RELAÇÃO INTERTEXTUAL
OS LUSÍADAS - CANTO III MENSAGEM - “BRASÃO” – “O DOS CASTELLOS”
Tanto Camões como Pessoa enfatizam, nas suas obras, a localização de Portugal e a sua importância no contexto geográfico da Europa.
O poeta, pela voz de Vasco da Gama, dá a entender que A Europa aguarda, numa atitude passiva, a ação regeneradora
Portugal assume uma dimensão primordial na cristianização dos de Portugal para recuperar a glória perdida. No poema “O dos
povos, realizando a vontade divina. Castellos”, surge personificada numa figura feminina, que se
Para Camões, a cristianização efetua-se enquanto expressão da encontra em posição de espera e de vigília.
vontade divina. Pessoa apresenta as linhas vectoriais que em “O Infante” (2ª
Para Camões, é em nome do Amor (a Deus, que conduz ao Parte – “Mar Portuguez”), surgem como a expressão da vontade de
desejo de expansão da fé cristã), que a se realiza a viagem. Deus, após o sonho e a realização da obra humana.
Cabia ao povo português a responsabilidade de propagar a fé Pessoa apresenta reminiscências do passado histórico para
cristã. enfatizar a herança cultural e o lugar de Portugal na nova epopeia.
Cabe a Portugal a missão de reencontrar a identidade europeia e
reconquistar a glória do passado através da construção do Quinto
Império, a ocidente.
O Quinto Império não seria material, mas espiritual –
corresponderia a uma era de fraternidade entre todos os povos,
depois de um aperfeiçoamento da interioridade de cada ser humano,
com vista à espiritualização da humanidade.
4Trata-se do primeiro poema da primeira parte – o Brasão – da Mensagem. Nesta primeira parte da obra aborda-se a origem, a fundação o princípio de
Portugal. O título “O dos Castelos” remete-nos de imediato para os sete castelos que passaram a proteger Portugal a leste e a sul após a conquista do Algarve
aos Mouros, levada a cabo por D. Afonso III.
RELAÇÃO INTERTEXTUAL
OS LUSÍADAS - CANTO III MENSAGEM - “BRASÃO” – “D.DINIZ”
Para ambos os poetas, a figura de D. dinis simboliza o criador da alma portuguesa, ao nível dos valores espirituais que a enformam.
Em Camões, a figura real remete para o construtor da Em Pessoa D. Diniz corporiza essa mesma alma que, de noite,
mentalidade e da cultura do jovem país. escreve o “seu Cantar de Amigo” – A noite surge como um período
D. Dinis é referido na sua vertente cultural, uma vez que a obra de gestação de um império a construir num tempo futuro, na época
enfatiza a sua responsabilidade na construção da Universidade de dos Descobrimentos (“mar futuro”) que encontrará a sua realização
Coimbra (est. 97) num futuro mais longínquo – Império espiritual de fraternidade
Camões recorre a elementos associados à história nacional para universal – Quinto Império.
valorizar o papel do Rei – poeta, plantador. elementos histórico-culturais – a poesia e o pinhal de Leiria que
permitiu ao Infante D. Henrique a construção das naus, para
desvendar os mares e cuja ação se virá a ligar à construção do
Quinto Império.
Pessoa enfatiza a associação entre a criação poética e a criação
de uma nação.(”Arroio, esse cantar jovem e puro / Busca o oceano
por achar”).
D. Dinis tem, para Pessoa, o valor simbólico enquanto elemento
fecundador do futuro (“O plantador de naus a haver”) – Portugal e
Humanidade.
RELAÇÃO INTERTEXTUAL
OS LUSÍADAS - CANTO V MENSAGEM - “MAR PORTUGUÊS” – “O INFANTE”
Camões apresenta a missão dos Portugueses na conquista do Pessoa, no poema “O Infante”, exalta o valor do sonho humano
Oriente como um Fado já traçado (Os Lusíadas – Canto I – Est. 28 – como expressão da vontade divina que conduz à realização da obra
Consílio dos Deuses – “Prometido lhe está o Fado eterno, / Cuja – “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
alta lei não pode ser quebrada, / Que tenham longos tempos o Para Pessoa, os Descobrimentos portugueses não são apenas
governo / Do mar que vê do Sol a roxa entrada.”) uma fora de conquista de espaços físicos e de alcançar o
A epopeia de Camões, apresenta-nos os factos, a conquista real conhecimento até então vedado ao Homem. Significaram também a
que os portugueses realizaram: união entre os povos – imagem circular do planeta (1ª estrofe)
o contactando com novas terras e novas gentes, A ação do ser humano é interpretada como uma realização da
o espalhando a fé cristã vontade de Deus, pelo que os Descobrimentos portugueses
o adquirindo um conhecimento intrinsecamente ligado ao representam, para o poeta, a manifestação de algo (vontade divina)
valor da experiência. que transcende o próprio povo português. A demanda apresenta um
carácter esotérico.
A expansão marítima portuguesa faz parte de um objetivo oculto
que ainda não foi cumprido. É esta crença que leva o sujeito poético
RELAÇÃO INTERTEXTUAL
OS LUSÍADAS - CANTO V MENSAGEM - “MAR PORTUGUEZ” – “O MOSTRENGO”
Ambos os textos enfatizam a figura monstruosa que, simbolicamente, apresenta os receios que dominam o inconsciente humano face ao
desconhecido. Vencer o monstro significa a superação do medo e da inibição que paralisa. Com Pessoa, a ação é associada à verbalização.
Em Os Lusíadas, a descrição física do monstro caracteriza-se Mensagem, por sua vez, apresenta um carácter encantatório,
pelo valor enfático da adjetivação, que realça a feição hedionda da dinâmico, ao qual também não é alheio o carácter monstruosos do
figura apresentada e que, numa primeira fase, provoca o medo que animal alado - ” O mostrengo que está no fim do mar / Na noite de
domina os nautas. (est. 39) breu ergueu-se a voar;”
Para Camões, esta figura representa, de forma dicotómica, a O misto de animal e monstro desta figura corporiza a oposição
segurança terrena e o apelo do mar, o que merece a crítica do entre a natureza hostil e a coragem indómita dos portugueses, que se
gigante num discurso que acaba por funcionar como uma forma de liga a um ritual de passagem - para que ultrapassem a sua condição
enaltecer os feitos do povo luso, que se atreveram a penetrar “os humana e conquistem a dimensão olímpica, têm de superar os seus
vedados términos”, navegando os “longos mares”, espaço físico medos, conotados com a noite e com o mistério – “ noite de breu” e
associado ao Adamastor. “fim do mar”. Só esta atitude os pode conduzir a um conhecimento
O Adamastor, criado por Camões, surge numa reminiscência dos progressivo do universo e à condição de um ser interior harmónico, a
titãs da Mitologia clássica. partir do caos inicial – representado pelo monstro / mostrengo.
65 91
Assi lho aconselhara a mestra experta: Não eram senão prémios que reparte,
Que andassem pelos campos espalhadas; Por feitos imortais e soberanos,
Que, vista dos barões a presa incerta, O mundo cos barões que esforço e arte
Se fizessem primeiro desejadas. Divinos os fizeram, sendo humanos;
Algûas que da forma descoberta Que Júpiter, Mercúrio Febo e Marte,
Do belo corpo estavam confiadas, Eneias e Quirino e os dous Tebanos,
Posta a artificiosa fermosura, Ceres, Palas e Juno com Diana,
Nuas lavar-se deixam na água pura. (…) Todos foram de fraca carne humana.
RELAÇÃO INTERTEXTUAL
OS LUSÍADAS - CANTO IX MENSAGEM - “MAR PORTUGUEZ” – “HORIZONTE”
Ambos os poetas escolhem uma ilha, fora do espaço e do tempo para, simbolicamente, representar o regresso da Humanidade ao Paraíso
perdido e a um período idílico em que o homem vivia em comunhão com a Natureza.
Em Os Lusíadas, o prémio merecido é conquistado através do Na Mensagem, a criação do mundo, metonimicamente ligado ao
amor que permite aos deuses descer ao “vil terreno”, humanizando- império, faz-se através da água, num princípio gerador de unidade.
se, e aos homens “subir ao Céu sereno”, divinizando-se.5 Concretizam-se no poema os desígnios de Deus, previamente
Simbolicamente ligada ao Paraíso terrestre, a Ilha dos Amores 6 anunciados em “O Infante” – “Deus quis que a terra fosse toda uma /
representa o acesso ao conhecimento e à plena realização das Que o mar unisse, já não separasse.”
potencialidades humanas – visão renascentista. A conquista do “mar novo” faz-se através da apóstrofe ao mar de
O episódio situa-se no Canto IX – simbolicamente o número 9 Ulisses ou de Eneias – “Ó Mar anterior a nós, teus medos / Tinham
está ligado à fertilidade e à gestação. Assim, o renascimento dos coral e praias e arvoredos” – navegado posteriormente pelos
portugueses realiza-se através da união / casamento sagrado entre portugueses que cumpriram a vontade de Deus.
os homens e os deuses. O mar representa o universo espiritual a que os portugueses têm
Há uma representação do Paraíso / Éden onde os humanos que aceder por predestinação divina, numa alusão clara a um
renascem numa dimensão olímpica, heroica, reconhecidos pelas percurso iniciático que visa a obtenção do conhecimento – “(…) com
deusas – conceção clássica da Ilha dos Bem-Aventurados. sensíveis movimentos da esp’rança e da vontade, / (…) Os beijos
O espaço da ilha remete também para o final do percurso que, merecidos da Verdade”
para o herói, se traduz no conhecimento supremo da divindade À sagração dos nautas lusos, presente em “O Infante”, alia-se o
criadora do seu universo, alegoricamente representado pela união da desvendar dos mares – demanda associada à esperança e à vontade
entidade física – Portugal, corporizado em Vasco da Gama – coma do ser humano de se ultrapassar a si mesmo e de atingir uma outra
divindade – Thetys, representando o Amor e a Sabedoria. dimensão, alcançando a verdade.
Nota-se a idealização da pátria a que regressam os navegadores, Conquistada a terra e conquistado o mar, realiza-se a união
após a conquista dos mares - ligação que se estabelece através do mística entre Portugal e o mar, por vontade de Deus.
clima e da vegetação.