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Waldyr Hoffmann
Vivemos num país pluricultural com as suas especificidades em cada região, do Norte ao Sul.
Os valores do povo são resgatados nas manifestações culturais, levando-se em conta a sua história. É
evidente que, neste ínterim, muitas modificações “enxertadas” acabam até desvirtuando a forma
original de alguns aspectos culturais. Por isso, refletir sobre este assunto passa a ser um desafio
constante também para a Igreja, tendo em vista não se perder a identidade cultural dos seus membros.
Viver neste país tão diverso nas suas culturas é um grande desafio, especialmente pelo
aprendizado que cada um vai adquirindo. Cada estado, cada povo com sua história desde
descendentes afros, índios e imigrantes europeus. Em meio a tudo isso está a Igreja, também a IELB,
com sua forma de expressar a sua teologia aos mais distintos recantos deste país. De que maneira
posicionar-se diante das diferentes formas de expressão cultural passa a ser um grande desafio,
especialmente porque a Igreja quer ter um perfil missionário. Onde, portanto, cultura e Igreja se
(des)encontram?
Identidade cultural
Por um lado, como vivemos num mundo globalizado, os meios de comunicação circulam e
interagem com o seu meio, e acabam contribuindo, forçosamente, com a imposição de novos valores e
traços culturais ao povo brasileiro, através de programas de TV, rádio, revistas e internet. Este é o
preço da modernização e, como os avanços nesta área são rápidos, nem sempre é possível fazer uma
análise mais apurada dos seus benefícios ou malefícios.
A adesão ou abertura da sociedade como um todo, sem apurar os fatos, aos meios de
comunicação em massa trará grandes prejuízos a ela própria, entre elas a perda de sua identidade
cultural. Precisará, em curto prazo, fazer uma ponte entre a sua formação cultural e o movimento de
comunicação. A nova geração, se não for alertada, não herdará nada da identidade cultural de seus
pais, ocasionando uma perda irreparável para ela mesma.
Como a Igreja, então, poderia fazer o caminho inverso, levando a mensagem e, ao mesmo
tempo, contribuindo no resgate da identidade cultural de cada um? Também aqui não é fácil porque
muitas igrejas, com as suas prédicas e práticas, eliminam os aspectos culturais adquiridos pelo
indivíduo em sua história de vida, valores esses que vêm de geração em geração. Muitas
manifestações culturais acabam morrendo, sob a responsabilidade da Igreja, dando lugar aos novos
“elementos de cultura”, estereotipados, sem vida ou profundidade.
Desafio
Chama a atenção o fato de muitas vezes a Igreja atropelar a cultura sob pretexto de pureza do
Evangelho, numa suposta “santidade”. É preciso, no entanto, interagir com as pessoas, respeitando-as
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dentro dos seus traços culturais adquiridos ao longo dos anos. Este também é o desafio da Igreja. Em
algumas circunstâncias é salutar para a Igreja estar na contramão dos meios de comunicação.
O compêndio O Evangelho e a Cultura, compilado a partir do Congresso Internacional de
Evangelização, realizado em 1974 em Lousanne, Suíça, nos traz algumas dicas muito interessantes
sobre esse assunto: “O processo de comunicação do Evangelho não pode ser isolado da cultura
humana de que procede, nem daquela em que deve ser proclamado [...]. A cultura dá um sentido de
segurança, de identidade, de dignidade, de ser parte de um todo maior e de partilhar a vida de
gerações anteriores e também das expectativas da sociedade com respeito ao seu próprio futuro [...].
Nenhuma testemunha cristã pode ter esperanças de comunicar o Evangelho se ignorar o fator cultural
[...]. A conversão não deve ‘desculturalizar’ o convertido.”
Construção de pontes
Muitas igrejas têm dificuldade em trabalhar as questões culturais do povo. Para muitos a
cultura é profana e o recém-convertido deverá adquirir os valores do Cristianismo, eliminando por
completo toda a sua tradição cultural adquirida até então. Um exemplo está nos seus festejos, entre os
quais a festa junina. Para algumas igrejas isso é do diabo. Outras, tentando minimizar, trocam o nome
para “festa de São João com Jesus” ou “festa do milho”. Há a idéia de que o crente não é mais do
mundo e não pode ser dominado por ele. Assim, inverdades acabam sendo aceitas como tese
doutrinária e teológica.
A Igreja necessita de uma sensibilidade histórica ou olhar antropológico para não correr o risco
de não proporcionar às futuras gerações as suas raízes culturais. A Igreja, por isso, com o seu poder de
persuasão sobre os seus fiéis, deveria ajudar na construção de pontes entre o passado e o presente,
resgatando os valores perdidos e projetando um novo momento para a vida do indivíduo. Fazer
seminários, palestras, “escavar” o passado cultural são algumas possibilidades que poderiam ser
trabalhadas.
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