Sei sulla pagina 1di 12

15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

ENTREVISTA ESPECIAL: THIAGO SANTA ROSA

Pesquisador estuda o
universo da pichação e da
grafitagem no Recife
Por: Marcionila Teixeira - Diário de Pernambuco
Publicado em: 19/10/2015 07:00 Atualizado em: 19/10/2015 08:53

Ao decidir estudar o
universo da pichação e
da grafitagem no
Recife durante o
mestrado em geografia
da Universidade
Federal de
Pernambuco, Thiago
Santa Rosa sabia que
estava enveredando
por um universo pouco
analisado. Durante a
pesquisa, Santa Rosa
ouviu depoimentos do
pessoal atuante na
década de 80, além
dos mais novos,
conheceu histórias,
regras e fez amigos. “A
realização do que hoje
chamamos de grafite
ou pichações sempre
se manteve presente
na história, assim como podemos observar na cidade de Pompéia durante o império Romano,
nos muralismos mexicanos, na Paris de 1968 e na Nova York dos anos 1970 e 1980 em

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da­... 1/12
15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

diante”, historia. Para Santa Rosa, são muito claros os motivos das intervenções não serem
aceitas pelo cidadão comum. “Vivemos numa sociedade capitalista e que ainda reproduz o
racismo em muitas de suas práticas sociais. Uma expressão estética praticada
principalmente por jovens pobres e, em sua maioria, pardos e negros, dificilmente será bem-
vinda nesta sociedade”, reflete. Santa Rosa entende que, em sua essência, a pichação é um
enfrentamento à produção do espaço urbano sob o domínio de quem pode possuir esse
espaço. “Para os pichadores, a pichação só é pichação quando não é autorizada”, completa. A
dissertação Pixadores, grafiteiros e suas territorialidades: apropriações socioespaciais na
cidade do Recife foi apresentada em agosto do ano passado, sob orientação de Bertrand
Roger Cozic.

Como você aborda o tema pichação na sua dissertação?

Foi um esforço de pesquisa na área da geografia na busca de


construir conhecimentos sobre as diferentes relações e
dinâmicas de apropriação do espaço urbano entre pichadores e
grafiteiros para a produção de seus territórios e
territorialidades na cidade do Recife. Para isso, busquei as
origens dessas manifestações em diferentes momentos
históricos e em diferentes partes do mundo, compreendendo,
assim, as ações de pichadores e grafiteiros de Recife como
criações que, além da criatividade individual de cada artista, é
uma herança dessas manifestações em diferentes tempos e
espaços.

O que caracteriza pichadores e grafiteiros?


Se pensarmos nas características que dão identidade ao ato de
pichar e o de grafitar, veremos que ambos os segmentos se
comunicam muito mais do que se imagina ou que,
intencionalmente, por meio de alguns veículos de comunicação
e poder (parte da mídia e estado), se faz acreditar. A prática de
pintar e escrever em paredes está presente na história da
humanidade desde a chamada pré-história. De lá para cá, essa
prática esteve inserida e foi influenciada por diferentes
contextos históricos, culturais e geográficos. Vivemos ainda
hoje num contexto de uma sociedade capitalista que impõe a
uma grande parcela da população a situação de carência em
diferentes aspectos. Muito nos chama a atenção a carência de
recursos econômicos, mas, atrelada a ela, está a carência de
bens simbólicos, de produção de representações e cultura. Os
graffites e pichações atuais nascem da necessidade humana da
produção de representações que lhes é negada. Essa é uma
característica comum a ambos e que leva a outras inevitáveis.
São elas a transgressão - o grafite e as pichações devem
transgredir o espaço urbano em sua estética e forma de
organização e, assim, devem ser realizados sem autorização.
Serem públicos - as pichações e os grafites têm que estar em
público, por isso são feitos nas ruas, apropriando-se de

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da­... 2/12
15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

qualquer suporte que a cidade ofereça. Isso ocorre pelo


objetivo de proporcionar o acesso à arte ao maior número de
pessoas, independentemente de etnia, gênero ou classe social.
Também pela necessidade que os pichadores e os grafiteiros
têm de serem vistos, serem reconhecidos pelo seu meio social e
pela sociedade como um todo, ainda que, em alguns casos, de
forma negativa, sanando assim, em partes, a invisibilidade a que
muitas vezes estão submetidos por pertencerem, em geral, às
camadas economicamente mais pobres da sociedade.
Efemeridade - grafite e pichações, por ocuparem as ruas, os
muros, estão sujeitos a todos os tipos de intervenção que se
faça no mesmo espaço. Assim, são manifestações que tendem a
permanecer pouco tempo onde estão. Para além disso, se nos
aproximarmos ainda mais dos pichadores e grafiteiros, se nos
dermos o trabalho de conversar com eles, veremos que muitos
grafiteiros são também pichadores e vice-versa. Veremos que a
própria estética dos grafites em muitos casos é semelhante a
das pichações como no caso das categorias de grafite em que se
pintam letras, como é o caso dos Bomb, Throw up e Wild Style,
ou no caso do Grapixo, categoria que é a mescla das letras da
pichação com os sombreamentos e outras técnicas de grafite.
Veremos também que a assinatura de quase todo grafiteiro é
uma tag, ou seja, tem a mesma estética das letras da pichação.
Sendo assim, acreditar que grafite e pichação ou que a ação de
pichadores e grafiteiros é algo muito diferente ou totalmente
dicotômico significa observar esses atores e suas ações com
superficialidade. O que em geral os próprios pichadores e
grafiteiros explicam como diferença entre pichação e grafite é
que no primeiro a criação estética se dá apenas com letras, na
maioria das vezes feitas com apenas uma cor. E no segundo a
expressão se dá também através de desenhos que podem
representar o que o artista quiser, um rosto, um animal, um
robô, uma palavra e etc. Mas os objetivos, em geral, são
praticamente os mesmos: transgredir o espaço urbano em sua
estética, em suas normas e em sua organização. Proporcionar
acesso a uma criação artística a todos e todas e ser visto e
reconhecido pelo seu meio social e pela sociedade. Apropriar-
se da cidade e empoderar-se de representações e identidade.
Existe uma regra sim que é seguida por todos os que fazem
pichação e/ou grafite. Uma vez o espaço apropriado por um
pichador ou por um grafiteiro com sua tag ou seu trampo,
nenhum pichador ou grafiteiro pode queimar (passar por cima,
riscar) aquele trampo ou aquela tag. Os trampos de grafite ou as
tags da pichação, além de uma forma de expressão, são a
manifestação da apropriação dos espaços da cidade por
grafiteiros e pichadores, ou seja, uma vez pintado ou assinado
um muro, aquele se torna o espaço do pichador ou do grafiteiro.
Pintar, riscar ou assinar por cima é considerado uma grande
ofensa entre eles. No contexto dos bailes funk dos anos 90 e
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da­... 3/12
15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

início dos anos 2000, muitos pichadores chegaram a ser mortos


por conta dessas disputas por territórios, por ter queimado o
nome de alguém.

Como você percebe ambos os movimentos? A sociedade os criminaliza. E você?


A pichação e os grafites em Recife, salvo algumas divergências
internas, são movimentos que caminham juntos, que se
respeitam. Diferentemente do que pensa a maioria da
população, em muito influenciada por informações equivocadas
ou manipuladas pela grande mídia e pelo governo, os grafiteiros
reconhecem a importância que os pichadores têm para a sua
expressão como artistas e os pichadores fazem o mesmo com
os grafiteiros. Na verdade, o que chamamos de pichação hoje
no Brasil em muito foi influenciada pelas tags provenientes dos
subúrbios de Nova York. Foi incrementando com mais cores,
sombreamentos, tamanho e formas essas letras que surgiu esse
tipo de grafite que é mais presente nas ruas de Recife hoje, o
chamado estilo americano, como afirma o artista Celso Gitahy
em seu livro O que é graffiti. Então, a pichação é irmã do grafite.
São manifestações que se comunicam, que se inter-relacionam,
que não existem separadamente como muitos acreditam ou
querem acreditar. No início do mês passado, por exemplo,
estive num evento maravilhoso no bairro do Pina chamado Pão e
tinta que, inclusive, teve o apoio da Secretaria de Enfrentamento
ao Crack e Outras Drogas da Prefeitura do Recife, onde os
organizadores do evento disponibilizaram muros para a
expressão dos pichadores. Durante minha pesquisa, pude
acompanhar os chamados Encontros das tintas, eventos promovidos
pela Secretaria de Direitos Humanos da Prefeitura do Recife na
gestão anterior onde, tanto grafiteiros como pichadores,
tinham espaço para se expressar. Como eu também já disse,
muitos pichadores são grafiteiros e talentosíssimos em ambos
os segmentos de expressão urbana. Conheço inclusive um ex-
pichador que hoje é um artista reconhecido
internacionalmente: Galo de Souza. A discussão sobre a
criminalização ou não é algo que deve ser alvo de uma
discussão aprofundada, não só sobre as pichações, mas sobre
como a própria sociedade e o espaço por ela produzido se
organizam. Acho que é importante lembrar que vivemos numa
sociedade capitalista e que ainda reproduz o racismo em muitas
de suas práticas sociais. Uma expressão estética praticada
principalmente por jovens pobres e, em sua maioria, pardos e
negros, dificilmente será bem-vinda nesta sociedade. Um
interessante comparativo que podemos fazer aqui é com o caso
da capoeira que, durante muito tempo, tinha a sua prática como
crime, sendo fortemente reprimida neste período pelo estado e
seu aparelho repressor, a polícia. Tomando a cidade do Recife
como exemplo, posso citar duas ações que modificaram
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da­... 4/12
15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

profundamente a configuração espacial da cidade e mais uma


que certamente fará o mesmo. Uma delas foi a Liga Social
Contra o Mucambo, seguida do Serviço Social Contra o
Mucambo, organizações que nas décadas de 1930 e 1940
uniam agentes públicos e privados para a destruição das
habitações, mocambos, e construção de casas populares para
seus moradores seguindo alguns critérios como a atividade
profissional, estado civil, dentre outros. Parte dos moradores
dos mocambos foi beneficiada com casas, mas a maioria, os que
não se enquadravam nesses critérios, foi desalojada sem direito
a moradia. Os espaços ocupados antes por esses mocambos são
os mesmos onde hoje se encontram muitos dos prédios do
Centro do Recife que são alvo dos pichadores que são
provenientes das áreas mais pobres da cidade. Nos últimos
anos, temos acompanhado o processo de disputa entre o poder
público local junto a grandes empreiteiras e movimentos sociais
pela área do Cais José Estelita. Numa cidade com um enorme
déficit habitacional e pobre em áreas de uso comum como é a
cidade do Recife, a opção de uso daquele espaço que vem
prevalecendo, inclusive passando por cima de trâmites legais
necessários à sua implementação, é a da construção de torres
de luxo para uma pequena parcela da população que pode
pagar por elas. Mas se um garoto pega um spray e coloca uma
assinatura ou um desenho num muro do Cais, está sujeito a ser
detido e punido pela lei.

O perfil dos pichadores mudou?


Aqui é importante se fazer um parênteses sobre o tipo de
pichação de que estamos falando. Isso porque existem
diferentes formas de se expressar em público nas paredes da
cidade com o uso de tinta e letras. Falo aqui do tipo de pichação
onde um indivíduo se apropria do espaço urbano com uma
assinatura que o identifica, identifica sua galera e faz ele se
identificar com este espaço. A principal mudança na prática da
pichação no Recife nos últimos anos foi o fim dos bailes funk e
dos confrontos violentos entre as galeras ou comandos que
representavam as diferentes comunidades do Recife. Algumas
dessas comunidades colavam com outras formando alianças e
não colavam com outras. As disputas entre elas se davam
através das invasões, quando integrantes de uma galera rival
invadiam a ré (bairro, comunidade) de outra galera usando a
pichação como arma simbólica, demonstrando que tomaram
território inimigo com suas tags. As divergências eram levadas
pros bailes funk, onde essas galeras se batiam separadas por
um corredor de seguranças. Muitas vezes essas divergências
resultavam em assassinatos. Esse contexto teve fim e hoje,
principalmente organizados em torno da Relíquias da Pixação (RDP),
organizada pelo pichador Sola, os pichadores de maior

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da­... 5/12
15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

destaque da época, alguns inclusive antigos rivais, se


encontram pra se divertir, beber, falar sobre o picho e dar
conselhos aos mais jovens, tudo num clima de muita
tranquilidade. Quanto à idade, geralmente começam muito
jovens e isso já ocorria antes. Existem pichadores de todas as
idades. Os mais antigos, por terem formado família, terem
trabalho e outros motivos, geralmente são mais cuidadosos e
não saem com a mesma frequência de antes. Outros preferem
parar. A grande maioria dos pichadores vem das camadas mais
pobres da sociedade. As ações buscam os espaços de maior
visibilidade na cidade, como o Centro da cidade e as principais
avenidas.

O que é considerado conquista para um pichador? O que o torna destaque entre os demais?

Pintar em pontos altos e praticamente inacessíveis seria ponto a favor?

Existem muitas características que fazem um pichador ser


considerado, respeitado no meio da pichação. O primeiro deles
é a humildade: por mais que um pichador se destaque ele tem
que se mostrar humilde, não deve menosprezar nenhum outro,
saber se comunicar, ensinar aos mais novos sobre como agir e
botar os nomes. O pichador tem que ter muitos nomes pela
cidade: quanto mais um pichador for visto mais ele vai ser
respeitado e isso inclui o grau de dificuldade que apresenta
algum suporte da cidade e o quão visto pode ser o nome desse
pichador neste suporte. Assim, se um prédio é muito alto e pode
ser visto de longe e o nome do pichador está no topo deste
prédio, esse cara ganha respeito. O pichador tem que ser
original e para isso ele precisa se esforçar durante muito tempo
num processo de criação de sua assinatura que envolve a
observação das paisagens pichadas da cidade, o contato com
pichadores mais experientes e a observação de suas tags bem
como seu esforço individual para criar uma assinatura com
letras que tenham uma estética só sua. Este processo, por
envolver esforço criativo dentro de um contexto sociocultural e
histórico, na minha interpretação pode definir a pichação como
uma manifestação artística.

Você contabiliza pelo menos quantos pichadores no Recife e Região Metropolitana do

Recife? O movimento tem aumentado? Quem são os nomes de destaque hoje no cenário?

Não me arrisco a contabilizar quantos. O movimento tem sim


aumentado. Posso citar alguns nomes que se destacaram no
passado e são ainda lembrados pelos pichadores e alguns que
são mais jovens e estão na ativa. Antigos: Cano e Well
(trouxeram a pichação do Rio de Janeiro pra cá), Danger, Galo
(Galo de Souza), o Líder Pus, Anêmico, Danadão, Duende, A
Morte, Tiné, Skate or Die. Mais Recentes: Sola, Bidu, Menor,
Shell, Stilo, Bidu, Fiel, Bubu, Lerdo, China, Net. Esses são
alguns... mas tem muitos outros que se destacam, mas que não
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da­... 6/12
15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

lembro agora.

Como se dá a participação das meninas?

Da mesma forma que a dos meninos. Seguem as mesmas regras


de comportamento e de apropriação do espaço urbano. A
diferença é que elas são minoria, o que é um campo muito
interessante para pesquisas sobre gênero e sexualidade, o que
não é o meu campo de estudos.

Como eles conseguem atingir pontos praticamente inacessíveis?

Subindo... rsrsrs... Olha... eles encontram um jeito. Depende do


local. Na maioria das vezes eles escalam os prédios por fora
mesmo, é o que eles chamam de escalada. Essa prática é muito
mais realizada em São Paulo e foi trazida pra cá pelo ex-
pichador e hoje empresário e rapper na Sem peneira pra suco
sujo, Anêmico. Outras vezes, conseguem ter acesso ao prédio
por dentro mesmo, sobem as escadas até ter acesso à parte
exterior em um ponto alto. Mas geralmente eles escalam o
prédio por fora mesmo.

Quanto um pichador investe por mês na atividade?

Muito dificil de responder essa pergunta, pois isso depende do


pichador e de sua disposição. Essa pergunta é mais adequada a
eles e aconselho que acrescente à mesma mais uma pergunta:
Quanto tempo da semana você dedica à pichação e em quais
horários vc sai?

Por que a sociedade sente tanta repulsa por eles?

A resposta desta pergunta é parte da resposta da pergunta três.


Você pode mesclar ambas. Principalmente porque questiona
um dos pilares de sustentação da sociedade e do espaço
capitalistas: a propriedade privada. O conjunto de valores e
práticas que constroem a moral dominante perpassa
diretamente pelo consenso socialmente construído e reforçado
pelos principais agentes de poder e seus porta-vozes, a grande
mídia, de que ela, a propriedade privada, não pode ser tocada,
ameaçada, pintada. Assim, do grande empresário ao morador
de um bairro pobre do Recife que não teve contato com outra
forma de compreensão destas manifestações, nunca aceitará
ver seu muro, que protege sua propriedade, que é seu,
modificado por outra pessoa que ele nem conhece. Para os
pichadores, a pichação só é pichação quando não é autorizada.
É, assim, em sua essência, um enfrentamento à produção do
espaço urbano sob o domínio de quem pode possuir este
espaço.

Qual o crime previsto no caso de flagrante deles? Você acha que essa punição deveria

mudar?

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da­... 7/12
15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

A pichação é considerada crime ambiental pelo artigo 65 da Lei


de Crimes Ambientais. O mesmo artigo considera também os
grafites como crime, pois proibe o grafite que não seja
autorizado por proprietário ou órgão responsável pelo suporte
que será pintado. Existem pinturas com técnicas de grafite em
várias partes da cidade e em galerias de arte. Mas, segundo os
próprios grafiteiros, o grafite tem como uma de suas principais
características o ser feito sem autorização. Visto por este
ponto, pichações e grafites se igualam para a lei e em sua
aplicação nas ruas. Pouco importa se é uma assinatura ou um
painel multicolorido que está sendo pintado. Se não foi
autorizado pelo proprietário, se está transgredindo a
propriedade privada, quem o faz está passível a pena de
detenção de três meses a um ano e multa. Durante a pesquisa,
fui detido com mais um grupo de cerca de 12 pichadores que
faziam, não uma pichação, mas um grafite em homenagem a um
amigo, também pichador, que morreu em um acidente de
trabalho, o Torre. Era um grafite e estava sendo feito em plena
luz do dia, no bairro de Boa Viagem, ao lado do Dona Lindu.
Uma viatura parou, os policiais mandaram que parassem de
pintar e perguntaram se a pintura estava autorizada. Os
meninos disseram que sim e a viatura foi verificar na portaria
do prédio, que confirmou o contrário. Em menos de cinco
minutos, mais três viaturas pararam e levaram as quase quinze
pessoas para a Delegacia de Boa Viagem, todos detidos para
averiguação. Depois de algumas horas, todos foram liberados,
eu um pouco mais cedo, mas não sem antes e só na delegacia,
ser solicitado para mostrar meus registros fotográficos a um
dos policiais para que ele constatasse: isso é grafite!
Entretanto, registrei nas entrevistas que fiz pra minha pesquisa
relatos de grafiteiros que afirmaram que o tratamento com eles
é mais brando que com os pichadores. Entre esses últimos,
dificilmente se encontra algum que não tenha passado por
alguma situação de violência proporcionada pela polícia nas
ruas. Mas ambos contam sobre serem encaminhados a
delegacias, responderem TCO's ou pagarem penas alternativas
por conta de suas ações. Acredito que o que deve mudar é a
forma como essas ações são vistas e interpretadas. A punição
pelas vias da lei já se mostrou uma solução falida visto que as
ações não pararam por conta dela. Na verdade, a proibição só
contribuiu para reforçar o caráter transgressor dessas ações. O
momento agora é deve ser o de promover uma maior
disposição da sociedade para expandir sua compreensão sobre
o assunto e se colocar disposta a dialogar sobre ele e com os
próprios pichadores. Ainda assim, acredito que estaremos
longe de um consenso. Uma convivência tranquila entre os
pichadores e demais parcelas da sociedade, na minha opinião,
só seria possível na existência de uma outra sociedade, menos
monetária e mais humana.
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da­... 8/12
15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

TAGS:

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do
autor da mensagem.

1 comentário

Adicionar um comentário...

Fx Rafael ·
Universidade Federal de Pernambuco
É uma pena haver tão pouco interesse acadêmico acerca do assunto, quase nenhuma
nenhum artigo publicado, isso em paradoxo com uma intensa produção artística dentro
pernambucana que ultimamente vem amadurecendo seus próprios discursos internos,
valores engajados politicamente.

Isto porque não é interessante a difusão do discurso pixador, pois é marginal e emanci

Há quase dois anos foi produzido o filme "Pichadores" em SP, ainda sem licença da ce

Muitissímo Obrigado Pela Pesquisa!!!
Curtir · Responder ·  2 · 23 de janeiro de 2016 20:24

Facebook Comments Plugin

FORÇA SINDICAL

Temer se encontrará com centrais para discutir previdência

Construtoras MERCADO
apelam para Construtoras apelam para descontos e
descontos e brindes
brindes (Gil

ANÁLISE RESISTÊNCIA

PT pretende ser mais
Mendonça terá de priorizar
do que oposição (Peu
PNE e dialogar Ricardo/Esp. DP)

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da­... 9/12
15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

Mendonça terá de PT pretende ser mais do que


priorizar PNE e oposição
dialogar (Camara dos
Deputados/Divulgacao

Metrô sem GREVE
funcionar a Metrô sem funcionar a partir da meia-noite
partir da meia­
noite (Malu

Primeiras­damasPRESÍDIO
do PCC chegamPrimeiras-damas do PCC chegam de carros
de carros novosnovos
(Reprodução/Uol)

Aplicativo ajudaDIREITOS HUMANOS
homossexuais Aplicativo ajuda homossexuais expulsos de
expulsos de casacasa
(Polícia

Corpo de criança morta por bala perdida é liberado no IML

19:51
Grupos pró e contra impeachment se enfrentam em frente à
sede da Fiesp
19:43
Iraniano é condenado por maus tratos a cachorro
19:37
Ministro de Minas e Energia se reúne em Brasília com
representantes do setor
19:26
Mendonça Filho terá de dialogar e priorizar PNE, dizem
especialistas em educação
19:12
Para Republicanos, Trump está mudando a forma como
campanha é conduzida
19:01
PT será mais do que oposição. Quer ficar na resistência
18:46
Fintechs: novas formas de contabilizar dinheiro e realizar
transferências e pagamentos
18:30
Do desemprego ao negócio próprio

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da... 10/12
15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

Diario de Pernambuco Aqui PE

Diario de Pernambuco Tweetar

46 mil

Curtir

1.549

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da... 11/12
15/05/2016 Pesquisador estuda o universo da pichação e da grafitagem no Recife | Local: Diario de Pernambuco

     

© Copyright Jornal Diario de Pernambuco - 2014. todos os direitos reservados.

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida­urbana/2015/10/19/interna_vidaurbana,604348/pesquisador­estuda­o­universo­da­pichacao­e­da... 12/12

Potrebbero piacerti anche