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Abstract
Building facades are exposed to the climatic phenomena of the region where they
are located. The lack of adequate understanding of the interaction between
temperature and humidity and the facade renderings contributes to their
degradation. In this context, the monitoring and the study of the effects of these
physical aspects are desirable in order to guarantee the durability of the facades.
Juliana Gomes de Freitas In other countries, infrared thermography is being used as a nondestructive
Universidade Federal de Goiás technique to evaluate problems in buildings. This study focuses on the application
Goiânia - GO - Brasil of thermography in the evaluation of pathologies related to temperature in facade
renderings of buildings in the city of Goiania, Brazil. In order to do that, thermal
Helena Carasek images were made using a thermal camera at different times of the day in the dry
Universidade Federal de Goiás season and in the rainy season. In addition, the surface temperature in parts of the
Goiânia – GO - Brasil facades in the four directions was measured. Finally, the degradation of the
facades was mapped with the aid of a computer program. The results
Oswaldo Cascudo
Universidade Federal de Goiás
demonstrated that some of the cracks mapped were shown in the thermal images.
Goiânia – GO - Brasil Also, significant differences in surface temperature were observed during the dry
season and in the afternoon, resulting in clearer isothermals, making it possible to
obtain images that revealed some of the problems mapped.
Recebido em 20/01/13
Aceito em 14/12/13 Keywords: Facade. Rendering. Temperature. Infrared thermography. Cracks.
FREITAS, J. G. DE; CARASEK, H.; CASCUDO, O. Utilização de termografia infravermelha para avaliação de fissuras em 57
fachadas com revestimento de argamassa e pintura. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 14, n. 1, p. 57-73,
jan./mar. 2014.
ISSN 1678-8621 Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 14, n. 1, p. 57-73, jan./mar. 2014.
Introdução
A durabilidade dos revestimentos de fachada está Revisão da literatura
relacionada a sua interação com fenômenos
climáticos. Chuva, vento, insolação e material A termografia infravermelha é uma técnica não
particulado em suspensão no ar são exemplos de destrutiva de imagens de sensoriamento remoto
elementos da natureza e do processo de que vem sendo utilizada para detectar falhas em
urbanização que, por sua agressividade, colocam equipamentos elétricos, bem como alterações em
os edifícios em situações desfavoráveis, reduzindo diferentes partes do edifício, como a cobertura, os
a vida útil das construções, em virtude da falta de sistemas estruturais, os sistemas de vedação em
compreensão sistêmica desses fatores no ato de alvenaria e os revestimentos. Uma dessas
projetar. alterações refere-se à detecção de excessos de
umidade e temperatura, altamente responsáveis por
As manifestações patológicas em fachadas danos nos materiais, com reflexos na saúde dos
resultantes da influência dos fenômenos usuários (LIMA; MAGNANI; NUNES, 2006;
atmosféricos vão desde um comprometimento CORTIZO, 2007; LERMA; CABRELLES;
estético sem maiores riscos, passando por fissuras, PORTALÉS, 2011).
infiltrações e manchamentos mais acentuados,
chegando até aos casos mais críticos de Apesar da escassez de literatura relacionada à
descolamentos e desplacamentos dos termografia no Brasil, vários são os estudos
revestimentos. Nesse contexto, entende-se que o internacionais encontrados que possuem razoável
monitoramento da temperatura é essencial para se amplitude de finalidades no campo dos materiais
produzirem subsídios que retroalimentem novos de construção. No entanto, certa ênfase é dada ao
projetos e a especificação de materiais voltados ao comportamento dos revestimentos de fachadas e
correto desempenho dos revestimentos, garantindo, dos monumentos históricos (MOROPOULOU;
assim, a durabilidade requerida para os edifícios, o AVDELIDIS; KOUI, 2000; BARREIRA;
conforto e a satisfação dos usuários. FREITAS, 2005; BARREIRA; FREITAS, 2007;
ALBATICI; TONELLI, 2010; LERMA;
Os ensaios destrutivos aplicados em materiais, CABRELLES; PORTALÉS, 2011; CERDEIRA et
componentes ou sistemas construtivos tornam-se al., 2011).
indesejáveis quando se trata de diagnóstico de
problemas no contexto das edificações em uso. Lerma, Cabrelles e Portalés (2011) procederam ao
Com efeito, o desenvolvimento de técnicas não monitoramento e a ações de conservação de um
destrutivas que visem ao diagnóstico de edifício histórico localizado na região de Leuven,
deteriorações nas construções, de forma geral, vem na Bélgica. Por meio de um mapeamento
sendo objeto de estudo de muitas pesquisas. qualitativo, conseguiram localizar a distribuição de
umidade nas fachadas. As imagens foram captadas
Entre essas técnicas, pode-se destacar a em quatro horários diferentes durante 24 h. A
termografia infravermelha, que produz uma análise das imagens possibilitou aos autores
imagem térmica, em que cada cor representa um constatar que:
nível de temperatura superficial dos objetos. Por
meio da análise da figura obtida pelo equipamento, (a) massas úmidas eram mais frias pela manhã em
é possível identificar a existência de focos de comparação às massas secas;
umidade, anomalias, elementos ocultos, entre (b) durante o dia, as massas úmidas aumentaram
outros (GRINZATO et al., 2011). sua temperatura mais devagar que as massas secas;
Segundo Cortizo, Barbosa e Souza (2011), apesar e
de a técnica ser bastante difundida nos países (c) durante a noite, massas úmidas se resfriaram
europeus, graças ao grande acervo histórico, no mais lentamente que as massas secas.
Brasil sua utilização é relativamente nova, seja
pelo alto custo dos equipamentos de análise, seja Barreira e Freitas (2007) realizaram pesquisa
por sua dificuldade de aplicação prática. experimental na qual blocos de concreto celular
autoclavado foram parcialmente imersos em água.
Nesse sentido, o presente trabalho visa verificar a Eles concluíram que, durante o período de
aplicabilidade da termografia infravermelha na absorção das amostras, o nível de água foi
avaliação de fissuras relacionadas à temperatura visualmente observado e termograficamente
em revestimento de argamassa de fachadas, detectado por sua variação superficial de
aspecto ainda pouco explorado com a técnica em temperatura. A temperatura variou devido à
questão. evaporação superficial, que, sendo uma reação
endotérmica, induziu ao resfriamento local.
Utilização de termografia infravermelha para avaliação de fissuras em fachadas com revestimento de argamassa e 59
pintura
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 14, n. 1, p. 57-73, jan./mar. 2014.
Para Mendonça (2005), medições em estruturas ou medições de temperatura nas superfícies das
superfícies de concreto podem ser realizadas fachadas de um edifício público com dois
durante o dia ou à noite. Se a inspeção for pavimentos na cidade de Goiânia, GO.
realizada à noite, a maior parte das anomalias no
concreto produzirá superfícies cujas temperaturas Metodologia
terão valores entre 0,01 ºC e 5 ºC abaixo da
temperatura das superfícies sãs envolventes. Uma Para o presente estudo, foram selecionados os
inspeção diurna irá reverter os resultados, ou seja, Blocos A e B das Escolas de Engenharia da
as superfícies correspondentes às anomalias Universidade Federal de Goiás (UFG), vistos nas
estarão mais quentes do que as superfícies Figuras 1 e 2. A escolha aconteceu pelas
correspondentes sem defeitos. O referido autor se características dos blocos, que são semelhantes,
reporta às anomalias como problemas patológicos pelos detalhes arquitetônicos, que são específicos e
no concreto decorrentes da corrosão das armaduras se repetem ao longo das fachadas, pela detecção de
ou decorrentes de falhas de adensamento (ninhos manifestações patológicas relacionadas aos ciclos
de concretagem), além dos problemas gerais de temperatura (fissuração) e pela facilidade de
associados à infiltração de água. acesso nos vários horários do dia, o que não
ocorreria em uma edificação privada.
Desta revisão apresentada, tem-se uma noção da
aplicabilidade da termografia no contexto da A construção dos Blocos A e B das Escolas de
avaliação de edificações e das pesquisas em Engenharia ocorreu em 1961, tendo sofrido duas
materiais e componentes de construção, bem como reformas, uma em 1985 e outra em 2005. Ambas
de sua potencialidade como instrumento auxiliar não contaram com grandes intervenções físicas,
em termos da análise e diagnóstico de problemas somente pinturas e instalação de equipamentos (ar-
em edifícios e obras de arte. condicionado e elevador). O sistema construtivo
utilizado emprega estrutura em concreto armado
Objetivos moldado in loco, alvenaria de vedação em bloco
cerâmico, revestimento de argamassa e
O objetivo geral do presente trabalho é aplicar a acabamento decorativo em pintura acrílica
termografia infravermelha na avaliação de fissuras texturizada. No que tange às dimensões e aos
relacionadas à temperatura em revestimentos de elementos construtivos, como esquadrias,
fachadas, bem como identificar o horário do dia e elementos de proteção solar e estéticos, entre
o período do ano mais adequados para as inspeções outros, ambos os blocos possuem características
com o termovisor. Espera-se também, de modo semelhantes. As dimensões em planta dos Blocos
específico, encontrar relação entre as imagens A e B são, respectivamente, 66,60 m x 8,75 m e
termográficas e os mapeamentos das fissuras e 70,80 m x 8,75 m.
Figura 1 – Localização dos edifícios das Escolas de Engenharia da Universidade Federal de Goiás, no
Setor Leste Universitário, em Goiânia, GO
(a) (b)
A metodologia da presente pesquisa estruturou o fachadas). Para as fachadas leste e oeste dos dois
trabalho em três etapas. Na primeira, realizou-se edifícios, que possuem pequena extensão, não foi
uma inspeção dos paramentos externos, calcada necessária essa subdivisão, sendo feitas 4
em análise visual, a fim de quantificar as fotografias no total (2 fotos para cada edifício,
manifestações patológicas existentes 1 . A segunda sendo uma para a fachada leste e outra para a
refere-se a medições de temperatura superficial em fachada oeste, totalizando assim 4 fotografias para
alguns pontos das fachadas dos edifícios. Na os dois blocos). Ao todo, foram produzidas 68
terceira etapa, procedeu-se à obtenção de imagens fotografias das fachadas dos dois edifícios.
termográficas das fachadas.
A distância para a obtenção das imagens foi fixada
em 10 m, alterando-se para 5 m quando
Etapa de inspeção contendo um eventualmente obstáculos impediam esse padrão.
mapeamento das fissuras incidentes nas O levantamento fotográfico buscou oferecer
fachadas suporte e esclarecer possíveis dúvidas durante a
A fim de quantificar as fissuras existentes, análise e interpretação dos mapeamentos. Os danos
realizou-se uma inspeção nos paramentos externos visíveis foram registrados em croquis, com os
dos Blocos A e B das Escolas de Engenharia da esquemas das áreas (no caso das manchas de
UFG, que foi baseada na metodologia utilizada por sujidade e fantômes) ou comprimentos (no caso
Antunes (2010), do Laboratório de Ensaio de das fissuras) em questão desenhados a mão no
Materiais da UnB. Para tanto, empregaram-se local, onde se anotavam os problemas detectados
procedimentos de análise visual, apoiados no uso por meio de siglas. Depois, realizaram-se os
de máquina fotográfica com resolução mapeamentos das manifestações patológicas das
conveniente. fachadas com o auxílio de programa de desenho
gráfico sobrepondo as fotografias, observando-se
Devido à horizontalidade das edificações e à também os croquis feitos in loco, como ilustrado
dificuldade de se obterem fotografias completas na Figura 4.
das fachadas norte 2 e sul dos dois blocos sem
distorções importantes e sem interferências de As fissuras observadas foram delineadas,
obstáculos, como a vegetação e veículos do permitindo a quantificação de sua extensão. Foi
estacionamento, as vistas foram divididas. também determinado o índice de fissuração, o qual
Utilizaram-se como referência para a divisão os foi calculado pela relação comprimento total das
elementos estruturais das fachadas. Para cada fissuras/área de fachada (m/m²), excluindo-se a
bloco foram necessárias 16 áreas por fachada área das esquadrias da área da fachada.
(norte e sul), conforme exemplificado na Figura 3,
resultando em 64 fotografias para essas fachadas Medição de temperatura superficial em
(para a totalidade dos dois blocos – 16 vezes 4 fachadas
As medições de temperatura superficial foram
1
A pesquisa como um todo (FREITAS, 2012) envolveu o realizadas em vários pontos da superfície do
mapeamento das manifestações patológicas existentes nos revestimento das quatro fachadas dos edifícios em
edifícios, quais sejam: manchas de sujidade, fantômes e
fissuras. Contudo, este artigo aborda exclusivamente as
estudo, a saber: sobre detalhes arquitetônicos de
manifestações de fissuras, tendo em vista sua relação direta com proteção das janelas, sobre a estrutura e sobre a
os ciclos de temperatura ocasionados pela insolação. alvenaria, conforme destaca a Figura 5. Essas
2
Para facilitar a descrição das orientações das fachadas, a partir medidas aconteceram no período seco em Goiânia,
deste momento elas serão denominadas apenas norte, sul, leste
e oeste, apesar de, na realidade, haver uma distorção de 15°. A
durante o mês de setembro de 2011, e no período
título de esclarecimento, a fachada norte tem azimute 105°. chuvoso, no mês de janeiro de 2012.
Utilização de termografia infravermelha para avaliação de fissuras em fachadas com revestimento de argamassa e 61
pintura
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Figura 3 – Exemplo da subdivisão das fachadas em áreas do Bloco A para a obtenção das fotografias
Figura 4 – Exemplo da confecção dos mapeamentos das manifestações patológicas da fachada sul do
Bloco A
Figura 5 – Exemplo da localização da nomenclatura utilizada para fazer referência aos pontos onde
foram realizadas as medições de temperatura superficial
O equipamento utilizado foi um termômetro digital levantadas. Tais locais foram adaptados da
infravermelho (sem contato) modelo InfraTerm, metodologia de Gaspar e Brito (2005).
fabricado pela IncoTerm. A duração da coleta foi
de 2 meses, ocorrendo medições durante 5 dias Termografia infravermelha
aleatórios em cada período climático. Durante tais
dias foram realizadas medições em três horários: A termografia infravermelha foi utilizada para
às 8h, 15h e 21h. Esses horários foram definidos caracterizar o comportamento higrotérmico das
de maneira a serem viáveis e sensíveis à amplitude fachadas dos edifícios do presente estudo. A
térmica diária. No total, foram 1.770 dados captura das imagens foi conduzida seguindo-se os
coletados de temperatura superficial das fachadas. mesmos procedimentos gerais e critérios adotados
para as fotografias por ocasião da inspeção nas
Os locais das coletas foram definidos após a fachadas. Contudo, foi necessário subdividir as
realização da inspeção nas fachadas, nas regiões áreas descritas em três (verticalmente), resultando,
que se encontravam mais deterioradas e que assim, em 48 imagens para cada fachada norte e
melhor representaram as manifestações patológicas sul dos blocos (16 vezes 3). O distanciamento
padronizado de 10 m foi mantido.
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Figura 8 – Incidência solar nas orientações norte e sul durante período seco e chuvoso em Goiânia
3
Os resultados completos são encontrados em Freitas (2012).
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0,6 0,56
Aberturas
0,5 0,43
0,4 Bloco A
0,1
0
Norte Sul Leste Oeste
Figura 12 – Índice de fissuração da parte “cega” e da parte com aberturas da fachada norte do Bloco A
1,20 1,13
Índice de fissuração (m/m²)
1,00
0,80
0,60
0,40
0,24
0,20
0,00
Norte "cega" Norte aberturas
Figura 13 – Valores médios da temperatura nos detalhes arquitetônicos do Bloco B nos períodos seco e
chuvoso (fachada norte)
60,0
Temperatura superficial (°C)
50,5
50,0 43,8 42,3
40,4
40,0 31,6 31,6
34,3
28,4 28,8 30,9
30,0 28,1 26,1 27,7 26,1
23,0 21,7 23,3 23,0 22,2
19,618,4 21,9 18,2 21,6 18,5 19,6 20,5
18,1 18,7 18,5
20,0
10,0
0,0
Seco
Seco
Seco
Seco
Seco
Seco
Seco
Seco
Seco
Seco
Seco
Seco
Seco
Seco
Seco
8h 15h 21h 8h 15h 21h 8h 15h 21h 8h 15h 21h 8h 15h 21h
Frontal Lateral inferior Lateral direita Lateral Frontal Vertical
Horizontal esquerda
Figura 14 – Valores médios da temperatura superficial nos pontos sobre estrutura do Bloco A nos
períodos seco e chuvoso
50,0
45,3
45,0
Temperatura superificial (°C)
40,0
35,0
30,0 Seco 8h
25,0 22,9 Seco 15h
20,0 Seco 21h
15,0 19,4
Chuvoso 8h
10,0
5,0 Chuvoso 15h
0,0 Chuvoso 21h
Pilar Viga Pilar Viga Pilar Pilar Viga
N S L O
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Bloco A
Norte
janela
central
janela
inferior
Nota: as fissuras horizontais foram delineadas com linhas azuis, pois a fotografia não permitiu resolução para sua
visualização.
Bloco A
Norte
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A respeito da fachada oeste do Bloco A, puderam- da viga superior (estrutura da laje de cobertura),
se identificar pontos com fissuras que possuíam enquanto na viga inferior (estrutura da laje de piso
temperaturas inferiores (em torno de 36,3 ºC) em do último pavimento) ela se manifestou na parte
relação aos pontos do revestimento sem defeitos acima da viga. Já em relação ao pilar na região
(em torno de 37,9 ºC), conforme mostra a Figura central, a fissura ocorreu do lado direito, conforme
22a. Quanto às fissuras de interface entre alvenaria mostra a Figura 22b.
e estrutura, observou-se que a fissura estava abaixo
Figura 22 – Imagem termográfica da fachada oeste do Bloco A às 15h (a) e o mapeamento das
manifestações patológicas do mesmo local (b)
Bloco A
Oeste
Legenda:
Fissuras
Manchas
Fantômes
Estrutura
(a) (b)
Uma vez observada nas imagens termográficas a através da parede, nos pontos com e sem fissuras,
existência de uma variação de temperatura entre a uma vez que o ar atua como camada de isolamento
região sem fissura e com fissura de e dificulta a transferência de energia térmica
aproximadamente 1 oC, decidiu-se por fazer um através da parede.
intenso processamento das termografias visando
Observou-se também uma leve tendência de haver
comprovar essa variação. Foram analisadas então
maiores diferenças de temperatura (entre as regiões
120 imagens do Bloco A e aferidos nessas imagens com e sem fissuras) nas fachadas mais aquecidas,
362 pontos (com e sem defeito em regiões de assim como se verificou maior dispersão dessas
alvenaria bem próximas), compreendendo as
variações medidas para as fachadas mais quentes.
fachadas norte e sul, que possuíam o maior número
A Figura 23 ilustra esse comportamento.
de termografias. A Tabela 1 apresenta a
compilação dos resultados dessa análise, após a
retirada de espúrios (por comparação com valores Conclusões
extremos de uma distribuição normal, O mapeamento das manifestações patológicas
considerando um nível de significância de 5%). possibilitou o cálculo do índice de fissuração para
Na Tabela 1 observa-se que as médias das as quatro orientações dos edifícios em estudo.
diferenças de temperatura encontradas nas duas Relacionando-o às medições de temperatura
fachadas são praticamente iguais superficial, verificaram-se altos níveis de
(aproximadamente 1 oC). Além disso, as medianas fissuração para a fachada norte, onde ocorreram os
são exatamente iguais (0,8 oC), o que confirma de maiores ciclos de temperatura. Esse fato é
forma estatística a tendência anteriormente explicado pela insolação recebida por esta fachada,
observada de existir uma pequena diferença de durante quase todo o dia, nos dois períodos de
temperatura entre pontos sem e com fissuras na medição (seco e chuvoso). Ao contrário,
alvenaria, apesar do alto coeficiente de variação, verificaram-se níveis de fissuração mais baixos,
principalmente na fachada norte. Essa diferença de bem como de ciclos de temperatura, na fachada
temperatura aproximada de 1 oC é explicada pela sul.
desigual transferência de calor por condução
Tabela 1 - Diferença de temperatura em pontos sem defeitos e em locais com fissuras, nos
revestimentos sobre a alvenaria das fachadas Norte e Sul do Bloco A
Norte Sul
Tamanho da amostra (n) 111 70
Média da diferença de temperatura (oC) 0,99 0,97
Desvio padrão (oC) 1,06 0,63
Coeficiente de variação (%) 107 65
Mediana (oC) 0,80 0,80
Espúrios 3 valores 1 valor
Figura 23 – Relação entre a temperatura da parede (em áreas sem fissura) e a diferença de
temperatura observada entre os pontos sem fissura e com fissura
6,0
Variação de temperatura
5,0
medida (oC)
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0
Temperatura nas áreas sem fissuras (oC)
Utilização de termografia infravermelha para avaliação de fissuras em fachadas com revestimento de argamassa e 71
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As fachadas voltadas para leste e oeste de ambos nos paramentos, associados às questões térmicas e
os blocos apresentaram níveis de temperatura higroscópicas, faz dessa técnica um instrumento
superficiais quase sempre semelhantes. Os maiores agregador no campo dos novos projetos e da
níveis de fissuração foram medidos nestas especificação de materiais e componentes voltados
orientações. Contudo, deve-se ressaltar que são aos sistemas de vedação em alvenaria e de
“fachadas cegas”, possuindo comportamento revestimento. Um caminho promissor, portanto, se
diferenciado das demais. A predominância do tipo apresenta como contribuição ao desempenho
de fissuração é relacionada à movimentação sistêmico dos revestimentos de fachada em
térmica e, provavelmente, à deficiência ou mesmo edificações.
ausência dos conectores de ancoragem entre a
alvenaria e a estrutura. Referências
Os altos níveis de temperatura atingidos nos
ALBATICI, R.; TONELLI, A. M. Infrared
detalhes arquitetônicos são explicados pela
Thermovision Technique for the Assessment of
insolação direta (sem nebulosidade) recebida pela
Thermal Transmittance Value of Opaque Building
fachada norte durante todo o dia no período seco e
Elements on Site. Energy and Buildings, v. 42, n.
a cor da tinta utilizada na pintura desses elementos,
11, p. 2177-2183, 2010.
que é o azul-escuro, representando maior
absortividade. O maior valor médio de temperatura ANTUNES, G. R. Estudo de Manifestações
superficial ocorrido atingiu 50,5 ºC. Contudo, Patológicas em Revestimento de Fachada em
ressalta-se que a temperatura máxima chegou a Brasília: sistematização da incidência de casos.
65,5 ºC nos valores individuais de medição, o que Brasília, 2010. 166 f. Dissertação (Mestrado em
compromete a utilização desse tipo de detalhe Engenharia Civil) – Departamento de Engenharia
arquitetônico em edifícios, notadamente com a Civil e Ambiental, Universidade de Brasília,
coloração escura. Brasília, 2010.
A utilização da termografia para o diagnóstico de AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND
manifestações patológicas em revestimentos de MATERIALS. ASTM C 1060-11a: standard
argamassa de fachadas nos edifícios em estudo practice for thermographic inspection of insulation
permitiu as conclusões a seguir. As medições no installations in envelope cavities of frame
horário da tarde (15h) e na estação climática seca buildings. In: ANNUAL BOOK OF
possibilitaram a identificação de fissuras, STANDARDS, Philadelphia, 2011. v. 04.06.
traduzindo, assim, as condições mais favoráveis ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
para as inspeções com o termovisor. Houve, TÉCNICAS. NBR 15220-2: desempenho térmico
portanto, uma boa correlação do mapeamento de edificações: parte 2: métodos de cálculo da
realizado, assim como das medições de transmitância térmica, da capacidade térmica, do
temperatura feitas nas superfícies das fachadas, atraso térmico e do fator solar de elementos e
com as imagens termográficas produzidas. componentes de edificações. Rio de Janeiro, 2005.
Contudo, nem todas as manifestações patológicas
mapeadas foram visualizadas nas imagens BARREIRA, E.; FREITAS, V. P. Evaluation of
termográficas. Utilizando-se o programa Building Materials Using Infrared Thermography.
computacional da câmera termográfica, puderam- Construction and Building Materials, v. 21, n. 1,
se identificar os pontos com manifestações p. 218-224, 2007.
patológicas não visualizados por meio da escala de BARREIRA, E.; FREITAS, V. P. Importance of
cores da termografia. Isso porque o recurso Thermography in the Study of ETICS Finishing
possibilita a sobreposição das imagens térmica e Coatings Degradation Due to Algae and Mildew
digital, bem como a aferição da temperatura Growth. In: DBMC INTERNATIONAL
superficial em pontos de interesse de análise. CONFERENCE ON DURABILITY OF
Dessa forma, verificou-se que o revestimento BUILDING MATERIALS AND COMPONENTS,
fissurado possui temperatura cerca de 1 ºC inferior Lyon, 10., Proceedings… Lyon, 2005.
ao revestimento sem defeitos.
CERDEIRA, F. et al. Applicability of Infrared
Pelos resultados deste trabalho e experiência Thermography to the Study of the Behaviour of
adquirida na pesquisa, pode-se afirmar que a Stone Panels as Building Envelopes. Energy and
termografia infravermelha se apresenta como uma Buildings, v. 43, n. 8. p. 1845-1851, ago. 2011.
ferramenta de elevado potencial a serviço das
atividades de inspeção, avaliação e diagnóstico de CORTIZO, E. C.; BARBOSA, M. P.; SOUZA, L.
problemas em revestimentos, em especial nas A. C. Estado da Arte da Termografia. Ambiente
fachadas de edifícios. A possibilidade de melhor Construído e Patrimônio Sustentável, v. 2, n. 2,
compreensão dos fenômenos e eventos incidentes p. 158-193, 2011.
Helena Carasek
Escola de Engenharia Civil | Universidade Federal de Goiás | Email: hcarasek@gmail.com
Oswaldo Cascudo
Escola de Engenharia Civil | Universidade Federal de Goiás | Email: ocascudo@gmail.com
Utilização de termografia infravermelha para avaliação de fissuras em fachadas com revestimento de argamassa e 73
pintura