Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
INTRODUÇÃO
Ao fundar a análise bioenergética, há meio século atrás, Lowen iniciou um movimento de grande
amplitude. Muito se deve ao seu carisma pessoal. Ele também se beneficiou de um amplo
movimento sociológico ocidental que buscava corpo, expressão e liberdade. É o período hippie;
é Easalen, a psicologia humanista, uma orientação “vitalista” da psicoterapia. A análise
bioenergética conheceu, então, uma expansão internacional. Ela é concebida como psicoterapia,
mas também como profilaxia e higiene de vida, especialmente com os “exercícios
bioenergéticos”.
Tudo isso pede que, no alvorecer deste século XXI, realizemos um ajuste nos nossos paradigmas,
uma renovação dos modelos da análise da bioenergética. Trata-se da nossa credibilidade, nossa
legibilidade, nossa eficácia. Mas trata-se, antes de tudo, da identidade da análise bioenergética a
partir da qual nós, terapeutas bioenergéticos, podemos nos reconhecer e fundamentar nossa
identidade comum, devolvendo um sentido comum ao Instituto Internacional de Análise
Bioenergética.
© Guy TONELLA
3
2) O aspecto defensivo é : cuando a energia é bloqueada, isso ocorre através de dois mecanismos
funcionalmente idênticos: a contração muscular e a rejeição das representações psíquicas
incômodas;
© Guy TONELLA
4
É a análise do caráter, método que oferece um processo cruzado entre o verbal e o corpo:
1) processo corporal a fim de liberar as tensões musculares,
2) processo verbal a fim de compreender a significação das representações na origem do conflito.
© Guy TONELLA
5
© Guy TONELLA
6
PARADIGMA I
O SELF, UMA CONTINUIDADE PSICO-CORPORAL
1 – O Self interface
O Self é interface entre o biológico e o social. Constrói-se na interseção dos processos biológicos
que o substancializam com os processos interpessoais que o subjetivam. É o lugar de
convergência fenomenológica entre os fenômenos instintivos e os socioculturais.
Por exemplo: a regulação do sono no bebê, como da sua alimentação e da sua expressão física e
emocional, estám imediatamente sujeitas, por um lado, aos mecanismos neurobiológicos
herdados e, por outro, às normas sociais subjetivas dos seus pais. Tais laços com o ambiente
humano subjetivam o soma e o transformam em corpo próprio, base da emergência da
consciência subjetivada e da intencionalidade.
© Guy TONELLA
7
Blake (2002) mostra que, em troca, essas primeiras modelagens sociais modificam os processos
neurobiológicos somáticos: causam mudanças estruturais e funcionais nas conexões entre
neurônios. Por exemplo, as experiências emocionais modificam as células do hipocampo, que
são as mais sensíveis às experiências emocionais, e melhoram a eficácia das sinapses. Por outro
lado, as vivências de apego modificam os circuitos límbicos frontais envolvidos na modelagem
da “sensibilidade”. Jeannerod (2005) mostra que daí emergem comportamentos novos. Para
Kandel (2001), isto constitui o permanente processo dialético de intercambio entre soma e
socius, stimulando a “plasticidade” neuronal, ella misma transformadora do Self.
É ao corpo próprio do paciente que nós, terapeutas bioenergéticos, nos dirigimos. Este corpo
próprio, reservatório energético, lugar de transformação dos instintos em pulsões reguladas e
socializadas, fontes de motilidade.
2 – As funções do Self
O Self se define como um todo funcional feito da co-integração de cinco funções: a função
energética, a função sensorial, a função motora, a função emocional e a função de
percepção/representação.
Cada função do Self serve de apoio para a seguinte e é apoiada pela anterior. As variações que
ocorrem em uma das funções causam variações no conjunto das funções, como uma onda que se
desloca. Por exemplo, “enquanto percorrem o corpo, dizia Lowen, as ondas respiratórias ativam
todo o sistema muscular”.
© Guy TONELLA
8
A função motora, através dos ajustes no tônus postural, propicia ao Self a sensação de “invólucro
tônico” ou fronteira consciente; por intermédio dos ajustes no seu tônus muscular desempenha o
papel de preparadora do Self para a ação e a expressão. Ela dá suporte à construção de padrões de
ação e padrões posturais adequados e configurados nas trocas interpessoais.
Cada uma dessas funções participa da auto-consciência, desde o nível mais elementar (a sensação
vital de existir fisicamente) ao nível mais complexo (a consciência de ter um espírito próprio).
Entretanto, a integração do Self depende das conexões que se constroem entre estas funções.
A primeira metade do século XX abriu um vasto campo que tornou mais precisa a especificidade
de cada uma das ligações entre cada função e seu processo de subjetivação: Freud para a ligação
afeto/representação, Reich e Wallon para a ligação emoção/motricidade, Piaget para a ligação
motricidade/sensação e Lowen para a ligação energia/sensação.
© Guy TONELLA
9
As ligações emoção (ou afeto) – representação teorizadas por Freud manifestam-se por
representações cognitivas (próximas da percepção) e por representações fantasmáticas (frutos do
trabalho da imaginação). Tais representações coexistem consciente ou inconscientemente, e
constituem os conteúdos de pensamento. São o objeto do processo analítico verbal.
© Guy TONELLA
10
PARADIGMA II
A MOTILIDADE ADAPTATIVA E SEUS PADRÕES
O Self tem a obrigação constante, ao longo de toda a vida, de adaptar-se à realidade externa e
suas mudanças. Para tanto, ele se apóia nos instintos de conservação como ressaltado por Freud e
depois por Lowen. No contato com o ambiente familiar, cultural e ecológico, esses instintos
passam a constituir a motilidade adaptativa do Self.
N.T. Iniciais da expressão em inglês: Operational Internal Models.
© Guy TONELLA
11
Esses diversos padrões são adaptativos porque ativam continuamente, de modo regular e
homeostático, a motilidade, a motricidade, a expressividade e a reflexão, alimentando o que
Damásio chama de “o próprio sentimento de si” (The Feeling of What Happens) (1999) .
N.T. Em português, o livro foi lançado pela Editora Europa-América, Lisboa, 2000, com o título: O sentimento de
si. O corpo, a emoção e a neurobiologia da consciência.
© Guy TONELLA
12
PARADIGMA III
A MOTILIDADE SEXUAL E SEUS PADRÕES
Nós estamos familiarizados com um modelo de sexualidade em análise bioenergética e, portanto,
serei breve. Nesse domínio, Lowen foi herdeiro de Freud e, depois, de Reich. É comum que se
descreva a motilidade sexual em termos de pulsões orais, anais, fálicas e genitais infantis e,
depois, adultas.
Em seguida a Reich, Lowen mostrou como cada tipo de função operava no nível corporal: sua
dinâmica energética em uma zona corporal específica transformada em “zona erógena”.
Não é inútil assinalar que, na criança, a ativação das zonas erógenas está muito ligada às
interações mãe-bebê e, portanto, à relação de apego mútuo. Uma falta ou um excesso de
erogenização do corpo próprio da criança tem conseqüências diretas para a organização de sua
sexualidade presente e futura. Nisso, pode acontecer continuidade ou ruptura entre erogenização
e erotização. Por exemplo, uma estrutura esquizóide cujo corpo foi pouco erogenizado pode
procurar permanentemente a erotização porque sempre frustrante. Deste ponto de vista, a
experiência de apego durante a infância determina os padrões sexuais adultos. Ao contrário, a
experiência terapêutica de apego pode incidir diretamente sobre a transformação dos padrões
sexuais adultos.
© Guy TONELLA
13
PARADIGMA IV
A MOTILIDADE DE APEGO E SEUS PADRÕES
A segunda metade do século XX abriu um amplo campo que elaborou os laços de apego e de
interação essenciais à construção do Self. Se D. W. Winnicott e M. Mahler foram precursores,
citem-se os primeiros teóricos do apego: Bowlby, Ainsworth, Main, bem como os trabalhos de
Wolf, Emde, Anders, Sander e Stern. Cada um deles contribuiu para mostrar que o Self enquanto
identidade subjetiva em construção, não se faz sem laços, e que esses laços são obra de dois
parceiros: seu apego mútuo e sua interatividade. Acredito ser isso verdade para a construção dos
laços mãe-bebê e igualmente verdade para a construção dos laços terapeuta-paciente.
Os laços de apego e de interação podem ser enunciados em quatro tipos que emergem,
progressivamente, do encontro com a pessoa que cuida do bebê, geralmente a mãe.
© Guy TONELLA
14
O laço discursivo participa da emergência da reflexão sobre o Self, sobre a relação com o seu
mundo interior e exterior e suas objetivações. Fundamenta-se na capacidade de compartilhar
significados a partir de um sistema de comunicação verbal. O laço discursivo promove uma
continuidade coerente entre o que é vivido e o que é pensado.
© Guy TONELLA
15
Psicopatologia do apego
© Guy TONELLA
16
Neurobiologia do apego
A perda da figura de apego por parte de uma criança pequena que não consegue estabelecer laços
de apego substituto é sinônimo de extinção do mundo sensorial, afetivo e perceptivo que a
envolvia e estimulava seu cérebro límbico. Evrard (1999) mostra que o circuito límbico se apaga,
o que explica a atrofia cerebral pela ausência de estimulações, atrofia dos neurônios do
hipocampo que desempenham um importante papel nos circuitos da memória e na aquisição das
aptidões emocionais. A não ser em casos extremos, o processo é reversível.
Depois da morte do ditador romeno Ceausescu, Ionescu (Ionescu et al., 2001) escreveu um
relatório onde mostra que, em quarenta instituições, crianças que se viram abandonadas à força e
desprovidas de qualquer laço de apego sofriam de sérias alterações biológicas, emocionais e
comportamentais irreversíveis.
Para o adulto, o desaparecimento do ser amado pode causar uma ruptura traumática tão grave
como a do bebê que perde a mãe. A biologia do luto nos adultos estudada por Parkes (Parkes et
al., 1993) mostra que, nos meses que se seguem à morte de um parceiro ao qual se é apegado de
maneira ansiosa, observa-se um pico de doenças cardíacas, câncer, diabetes, doenças
pulmonares e confusão mental.
Conclusões clínicas
Vemos que os traumas do apego estão na origem de patologias específicas que podem afetar
profundamente o Self, sua construção e motilidade. Enquanto o conflito tem conseqüências
funcionais, o trauma tem conseqüências funcionais e estruturais. Devemos afirmar e defender
a existência de duas metodologias diferentes na análise bioenergética:
2) A metodologia para trabalhar os traumas, e que é bem diferente. Muitos dos nossos colegas
terapeutas bioenergéticos contribuíram para desenvolvê-la: Bob Lewis, Maryanna Heckberg,
Helen Resneck-Sannes, Michael Maley, David Finlay, David Berceli. Devo estar esquecendo
alguns de vocês e peço desculpas...
© Guy TONELLA
17
PARADGMA V
UM MODELO METODOLÓGICO PARA O TRAUMA
Além do modelo de análise do caráter reservado às problemáticas de conflito, temos hoje, em
análise bioenergética, modelos de compreensão e práticas terapêuticas relativos ao trauma.
Com o seu conceito de “choque cefálico”, Bob Lewis propõe um modelo para a compreensão do
trauma do desenvolvimento (1976, 1984, 1986, 1998) que passo a resumir. Ele tem como origem
um funcionamento materno dissonante e não empático durante os cuidados (handling) e o
holding. O acúmulo desses estados de choque repetitivos constitui a experiência traumática:
- o bebê desenvolve fortes tensões musculares na nuca, na base do crânio: a percepção da
cabeça torna-se dissociada da percepção do corpo;
- precisando compensar pela mãe inadequada, o bebê sustentando prematuramente a cabeça,
desenvolvendo prematuramente um estado de vigilância e uma percepção antecipatória
desenvolve prematuramente sua atividade mental.
Desse modo, o Self cresce a partir de um núcleo mental dissociado das experiências sensoriais e
emocionais. É um Self localizado no espírito, no pensamento, e dissociado do corpo próprio.
Esta criança ao se tornar adulta, vive na e por sua cabeça, tanto no sentido literal como
figurado.
O processo terapêutico visa restabelecer uma relação terapêutica segura de apego, permitindo ao
paciente relaxar a cabeça e a nuca dissociadas do corpo, atravessar as angústias primitivas para
se liberar delas e construir um Self seguro.
Maryanna Eckberg (1999), terapeuta bioenergética que trabalhou com torturados políticos,
descreveu sua própria metodologia de tratamento do choque traumático inspirando-se na
abordagem de Peter Levine. Levine (1997) propôs um modelo geral do traumatismo. Descreve
três tipos de respostas defensivas possíveis diante de uma agressão traumática: 1) tentativa de
enfrentar o agressor (luta); 2) tentativa de fugir do agressor (fuga); 3) diante do fracasso, o
organismo congela (congelamento).
Nesse último caso, a intensa energia produzida pelo perigo no nível somático não pode ser nem
liberada nem metabolizada. Uma brecha abriu-se no invólucro do Self e funciona como o
N.T.: Grifos nossos
© Guy TONELLA
18
“vórtice traumático”: atrai toda a energia disponível do Self que é para ali sugada. Os padrões
somato-sensoriais habituais não funcionam mais, as sensações e percepções não recebem mais
nenhum significado. É a confrontação com o pavor corporal e com o psíquico irrepresentável.
Levine levanta a hipótese de que um “contra-vórtice curativo”, de sentido oposto, possa ser
desenvolvido, contrabalançando o vórtice traumático e lhes permitindo uma co-integração
flexível.
Em um artigo publicado em 2003, Bob Lewis discutiu a abordagem de Levine. Ele considera que
o modelo é incompleto para compreender e tratar os traumatismos do desenvolvimento porque
não integra ao seu método os ensinamentos da teoria do apego.
Berceli (2003), terapeuta bioenergético, desenvolveu uma abordagem para grandes grupos
baseado na sua experiência com populações traumatizadas pelas guerras, massacres, estupros e
atentados, por ocasião de missões que lhe foram confiadas por ONGs. Focalizou seu trabalho no
acesso aos tremores do corpo todo, permitindo a liberação de uma enorme quantidade de energia
gerada pelo evento traumático.
Todos os autores insistem em três aspectos: 1) a quantidade excessiva de energia mobilizada pela
situação traumatogênica não pôde ser liberada e metabolizada; 2) os padrões somato-sensoriais e
tônico-emocionais habituais não funcionam mais; 3) as representações da situação
traumatogênica não são passíveis de expressão.
© Guy TONELLA
19
Essa metodologia para trabalhar o trauma mostra-se hoje uma ferramenta terapêutica
indispensável:
1) em resposta aos traumas de desenvolvimento que não param de aumentar e que têm por
origem a evolução sócio-cultural: mães engajadas em ocupações profissionais, o clima familiar
marcado pela pobreza, pelo desemprego e angústia, a violência urbana, o desenraizamento, o
isolamento etc...
2) em resposta aos traumas factuais que estão em constante crescimento, devido à delinqüência,
à violência, estupros, atentados, etc...
Finalmente, a análise do caráter mostra-se pertinente para o tratamento dos conflitos genitais e
das regressões a posições pré-genitais que elas podem acarretar, gerados pelo Ego e o Super-
Ego, enquanto a psicoterapia dos choques traumáticos mostra-se pertinente para o tratamento dos
traumas do desenvolvimento relacionados a todas as estruturas pré-genitais e gerados por uma
deficiência estrutural ou funcional do Self.
N.T. Aspas nossas. O termo em francês é “décorticage”.
© Guy TONELLA
20
PARADIGMA VI
UM MODELO CLÍNICO PARA A INTERVENÇÃO
TERAPÊUTICA : A RELAÇÃO INTERSUBJETIVA
A entonamento intersubjetivo
Empatia somato-sensorial
Schore (2001) ressalta afinações ainda mais precoces, de natureza somato-sensorial. Através da
imagery cerebral, ele mostra que a regulação somato-sensorial e afetiva da criança efetuada pela
mãe se organiza através de um sistema de comunicação corporal registrada em uma troca direta e
inconsciente, de hemisfério direito para hemisfério direito.
© Guy TONELLA
21
Neurologia da empatia
© Guy TONELLA
22
Este ano, Rizzolati, Fogassi, Gallese (2007) revelaram que, no autista, faltam os neurônios-
espelho. Este fato deu início a uma nova abordagem terapêutica fundada na imitação mútua entre
autista e psicoterapeuta, a imitação sustentando o desenvolvimento da capacidade de empatia.
Evrard, Marret, Gressens (1997) mostram que os circuitos límbicos frontais estão envolvidos na
configuração da “sensibilidade” desde os primeiros anos de vida, mas que podem ser
posteriormente aperfeiçoados, fazendo desenvolver marcadores biológicos de stress. Esta
evolução repousa na possibilidade de reconstruir apegos seguros e confiáveis. A psicoterapia
deve integrar este parâmetro ao seu setting, oferecendo ao paciente a oportunidade de renovar
um apego terapêutico seguro e descontextualizável.
Ainsworth (1978, 1979) descreveu os critérios de competência da mãe para que ela ofereça ao
filho(a) um apego seguro que lhe permita desenvolver um Self seguro. Parece que esses mesmos
critérios qualificam um terapeuta permitindo ao paciente desenvolver um Self seguro. Isso fica
confirmado pelas pesquisas atuais em neurobiologia do apego. Relembro tais critérios:
© Guy TONELLA
23
O adulto doente, no que se refere ao laço de apego, esconde uma criancinha que ainda espera que
alguém se doe a ela para que possa recuperar a confiança na sua própria existência e valor.
Possuir e ser possuída, é disso que as crianças brincam para que possam adquirir a íntima
convicção de que são amadas e capazes de amar. É por esse motivo que, na terapia, faz todo
sentido “dar um abraço bem apertado”. Essa necessidade, que nunca prescreve, vem de muito
longe, de uma época em que, como diz Winnicott, “o amor só pode ser demonstrado em termos
de cuidados corporais”. Acredito que seja essa a experiência pela qual muitos pacientes
secretamente esperam.
Muitos entre nós já enfatizamos a importância do laço intersubjetivo, abordando-o sob diferentes
ângulos: R. Lewis, 1976, 1986, 1998; R. Hilton, 1988/89; D. Campbell, 1991,1995; Mr.
Eckberg, 1999; D. Finlay, 1999, 2001; Heinrich, 1999; Tonella, 2000; Resneck-Sannes, 2002;
Mr. Doess, 2004. Certamente, estou esquecendo alguns de vocês.
© Guy TONELLA
24
PARADIGMA VII
UM MODELO CLINICO GENERALIZADO
Podemos agora reunir os diversos paradigmas e seus modelos até aqui enunciados, a fim de
termos uma visão de conjunto sobre a teoria e a prática bioenergéticas.
Self
Motilidade
de Apego
Motilidade Motilidade
Adaptativa Sexual
© Guy TONELLA
25
2 - UM MODELO DE DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento do Self, com suas adaptações, sua sexualidade e seus apegos, pode ser
descrito segundo quatro fases :
© Guy TONELLA
26
3 - MODELO METODOLÓGICO
Este modelo pode ter a vantagem de deixar clara a estratégia terapêutica específica para cada
paciente:
– dando ênfase à motilidade de apego e à construção de um laço de apego seguro,
quando o padrão de apego inseguro funcionar como grande resistência diante de
qualquer intervenção terapêutica (confusão, pavor, paralisia)
– dando ênfase à motilidade de adaptação (energização, movimento, expressividade
emocional), quando a vitalidade do Self for deficitária
– dando ênfase à motilidade sexual e à resolução dos conflitos sexuais, quando estes
estiverem inibindo a vitalidade e a expressividade do Self.
– dando ênfase à reinicialização do conjunto dos padrões do Self, quando o trauma
os tiver danificado ou destruído.
© Guy TONELLA
27
4 - MODELO RELACIONAL
Nosso modelo relacional é marcado pela intersubjetividade, quer dizer, pela interatividade entre
terapeuta e paciente. O processo terapêutico é uma co-criação entre essas duas pessoas. Dele
participam vários sistemas de comunicação interativa.
© Guy TONELLA
28
PARADIGMA VIII
UM MODELO SOCIOLÓGICO BASEADO NO PRINCÍPIO DE
“VITALIDADE COMPARTILHADA”
A Bioenergética que foi pioneira em apostar nos processos de vitalidade, pode voltar a sê-lo?
Isto é possível se pudermos levar em conta a evolução sociológica atual e a necessidade
subjacente de uma “vitalidade compartilhada”, em um “mundo compartilhado”.
Uma nova criatividade emerge, particularmente no Brasil: novas aplicações já vêm sendo
desenvolvidas por muitos de vocês:
o na saúde pública, devido ao estilo de vida sedentário, aos compostos alimentares, aos
choques traumáticos que desorientam o Self; o corpo próprio perturbado nos seus
referenciais, seus funcionamentos, suas fronteiras, gerando disfunções somáticas e
relacionais; a terceira idade é estimulada a ocupar seu corpo e sua vitalidade com atividades
físicas;
o na micro-sociologia dos pequenos grupos, principalmente as minorias esquecidas que
enfrentam a pobreza, as desigualdades, as rupturas afetivas que causam, por vezes, a
violência, exatamente onde a vitalidade não é compartilhada;
o nas empresas confrontadas com os problemas de comunicação, de estresse, de perda dos
laços humanos, de robotização.
© Guy TONELLA
29
Devemos nos tornar “lisíveis e visíveis”, identificados como profissionais competentes em todos
esses campos. Sofremos de confidencialidade das nossas reflexões, das nossas metodologias e da
nossa experiência. Publicamos pouco, estamos ausentes nas livrarias, nas revistas especializadas,
nos congressos regionais ou internacionais. Nossa abordagem não é ensinada nas universidades
onde é ignorada pela maioria dos docentes. Nossa criatividade é às vezes roubada ou copiada. Se
permanecermos na sombra, desapareceremos como aqueles animais pré-históricos que não se
adaptaram às mudanças do meio, com essa imagem arcaica que mencionei na Introdução: “A
Bioenergética é gritar, chorar, e bater em um colchão”. Em conseqüência, temos dificuldade em
preencher nossos grupos de formação, pelo menos nos Estados Unidos e na Europa.
Temos respostas pertinentes e, hoje, a ciência nos ajuda a comprová-las. Temos competência
para abraçar certos desafios que o mundo atual nos lança. É difícil abraçar isoladamente desafios
dessa natureza, mas se uma comunidade é viva, ela consegue; se ela própria cultiva esta
vitalidade por meio de seus encontros, trocas e produções coletivas. É por esse motivo que
estamos aqui e que devemos preservar esses encontros internacionais, para além da barreira dos
idiomas e das distâncias.
CONCLUSÃO
© Guy TONELLA
30
BIBLIOGRAFIA
NOSSA HERANÇA: OS PARADIGMAS FUNDADORES DA ANÁLISE BIOENERGÉTICA
Lowen A.: (1958), The language of the body, Grusse and Stratton, New York, 1977, trad. fr. Le Langage du Corps,
Tchou, Paris.
Lowen A.: (1968), Expression of the self, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1985), Narcissism, denial of the true self, Macmillan Publishing Company, New York, 1987,
trad. fr. Gagner à en mourir, une civilisation narcissique, Hommes et Groupes, Paris.
Lowen A.: (1965), Breathing, movement and feeling, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1975), Bioenergetics, Coward, Mc Geogham Inc, New York, trad. Fr. (1976) La Bioénergie, Tchou,
Paris
Blake D.T., Byl N.N., Merzenich M.: (2002), Representation of the hand in the cerebral cortex, Behaviour Brain
Research, 135, PP. 179-184
Jeannerod, M.: (2005), Le cerveau intime, Odile Jacob, Paris.
Kandel E.R. : (2001), The molecular biology of memory storage : a dialogue between genes and synapses,
Science, 294, pp.1030-1038
Freud, S.: (1887-1902), Aus den Anfängen der Psychoanalyse, 1954, trad. angl. The origins of Psychoanalysis,
London, Imago, 1956, trad. fr. La naissance de la Psychanalyse, Paris, PUF
Freud S. : (1915), Die Verdrängung, 1952, trad. fr.,Le Refoulement, in Métapsychologie, Paris, Galimard, pp.67-
90
Freud S. : (1915), Das Unbewusste, 1952, trad . fr., LûInconscient, in Métapsychologie, Paris, Gallimard, pp.91-
161
Freud S. : (1926), Hemmung, Symptom und Angst, 1965, Inhibition, Symptome et Angoisse, Paris, PUF
Reich W.: (1933), Charakteranalyse, 1949, Caracter Analysis, Wilhelm Reich infant Trust fund. 1971, L'Analyse
Caractérielle, Payot, Paris.
Wallon H.: (1934), Les origines du caractère chez l’enfant, (1949) PUF, Paris
Piaget J.: (1936), La naissance de l’intelligence chez l’enfant, Delachaux et Niestlé, Paris
Lowen A.: (1958), The language of the body, Grusse and Stratton, New York, 1977, trad. fr. Le Langage du Corps,
Tchou, Paris.
Lowen A.: (1968), Expression of the self, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1985), Narcissism, denial of the true self, Macmillan Publishing Company, New York, 1987,
trad. fr. Gagner à en mourir, une civilisation narcissique, Hommes et Groupes, Paris.
Lowen A.: (1965), Breathing, movement and feeling, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1975), Bioenergetics, Coward, Mc Geogham Inc, New York, trad. Fr. (1976) La Bioénergie, Tchou,
Paris
Bowlby J. : (1969), Attachment and Loss, Vol. I, Attachment, The Tavistock Institute of Human Relations, 1978
trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. I, Attachement, Paris, PUF
Bowlby J. : (1973), Attachment and Loss, Vol. II, Anxiety and Anger, The Hogarth Press and the Institute of
Psychoanalysis, 1978 trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. II, La Séparation, Angoisse et Colère, Paris, PUF
Bowlby J. : (1980), Attachment and Loss, Vol. III, Anxiety and Anger, The Hogarth Press and the Institute of
Psychoanalysis, 1978 trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. II, La Perte, Tristesse et Dépression, Paris, PUF
Wallon H.: (1934), Les origines du caractère chez l’enfant, (1949) PUF, Paris
Reich W.: (1933), Charakteranalyse, 1949, Character Analysis, Wilhelm Reich infant Trust fund. 1971, L'Analyse
Caractérielle, Payot, Paris.
Ainsworth M.D.S., Blehar M.C., Waters E. et Walls S.: (1978), Patterns of attachment : a psychological study of
the strange situation. Hillsdale, New Jersey, Erlbaum.
Damasio A.: (1999) The feeling of what happens, body and emotions in the making of consciousness, Harcourt
Brace and Company, New York, trad. Fr. (1999) Le sentiment même de soi, corps, émotion, conscience, Odile
Jacob, Paris.
© Guy TONELLA
31
Freud S. : (1905), Drei Abhandlungen zur sexualtheorie, 1962 trad. Fr., Trois Essais sur la Théorie de la Sexualité,
Paris Gallimard
Reich W.: (1933), Charakteranalyse, 1949, Caracter Analysis, Wilhelm Reich infant Trust fund. 1971, L'Analyse
Caractérielle, Payot, Paris.
Reich W.: (1940) The function of the orgasm, Orgone Institute Press, New York, (1952) trad. Fr. La function de
l’orgasme, LûArche, Paris.
Lowen A.: (1958), The language of the body, Grusse and Stratton, New York, 1977, trad. fr. Le Langage du Corps,
Tchou, Paris.
Lowen A.: (1965), Breathing, movement and feeling, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1968), Expression of the self, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1975), Bioenergetics, Coward, Mc Geogham Inc, New York, trad. Fr. (1976) La Bioénergie, Tchou,
Paris
Lowen A.: (1985), Narcissism, denial of the true self, Macmillan Publishing Company, New York, 1987,
trad. fr. Gagner à en mourir, une civilisation narcissique, Hommes et Groupes, Paris.
Lowen A ;: (1989), Présentation du séminaire sur “Grounding in sexuality and love”, A. Lowen, F. Hladky
Lowen A.: (1990), The spirituality of the body, McMillan, New York, (1993) trad. Fr., La spiritualité du corps, Ed.
Dangles, St-Jean-de-Brayes.
Lowen A.: (2004), Honouring the Body, Bioenergetic Press, Alachua, Florida.
Bowlby J. : (1969), Attachment and Loss, Vol. I, Attachment, The Tavistock Institute of Human Relations, 1978
trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. I, Attachement, Paris, PUF
Bowlby J. : (1973), Attachment and Loss, Vol. II, Anxiety and Anger, The Hogarth Press and the Institute of
Psychoanalysis, 1978 trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. II, La Séparation, Angoisse et Colère, Paris, PUF
Bowlby J. : (1980), Attachment and Loss, Vol. III, Anxiety and Anger, The Hogarth Press and the Institute of
Psychoanalysis, 1978 trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. II, La Perte, Tristesse et Dépression, Paris, PUF
Evrard P. : (1999), Stimulation et développement du système nerveux, in J. Cohen-Solal, B. Golse, Au début de la
vie psychique. Le développement du petit enfant, Paris, Odile Jacob
Ionescu S., Jourdan-Ionescu C. : (2001), La résilience des enfants roumains abandonnés, institutionnalisés et
infectés par le virus du sida, in Manciaux (dir.), La résilience. Résister et construire, Genève, Médecine et Hygiène
Beaurepère R. de: (2003), Aspects biologiques des états de stress post-traumatiques, in J6M Turin, N. Baumann,
Stress, pathologies et immunité, Paris, Flammarion, Médecine-Sciences ; PP.135-153
Labard K.S., LeDoux J.E., Soencer D.D., Phelps E.A., : (1995), Impaired fear conditioning following unilateral
temporal lobectomy in humans, Journal of Neuroscience, 15, pp. 6846-6855
Schacter D.L., Wagner A.D. : (1999), Medial temporal lobe activation, in FRMRI and PET, Studies of episodic
encoding and retrieval hippocampus, 9, 1999, pp.7-24
Tiberghien G.: (1997), La mémoire oubliée, Margada, Spimont
Parkes C.M., Weiss R.S. : (1993), Recovery from Bereavement, New Yok, Basic Books
Frool T., Meisenzalh E.M., Zetzche T.: (2004), Hippocampol and amygdalo changes in patients with major
depressive disorder and healthy control during 1-year follow up, Journal of Clinical Psychiatry, 65, pp.492-499
Lewis, R.: 1976, Infancy and the head: The psychosomatic basis of premature ego development, Energy and
character, Vol. 7, n°3.
Lewis R.: (1984), Cephalic shock as a somatic link to the false self personality, Comprehensive Psychotherapy, 4,
1984, Trad. fr. 1996, Le choc céphalique, une réaction somatique sous-tendant le faux "self", Les Lieux du corps,
n°3, Ed. Morisset, Paris, 39-55.
Lewis R.: (1986), Getting the head to really sit on oneûs shoulders : a first step in grounding the false self, The
Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.2, n°1, 56-77.
Lewis R.: (1998), The trauma of cephalic shock: clinical case study, The Clinical Journal for Bioenergetic
Analysis, Vol.9, n°1, 1-18.
Eckberg M. : (1999), Treatment of shock trauma: a somatic perspective, Clinical Journal of the International
Institute for Bioenergetic Analysis, 10 (1), pp.73-96
Levine P.: (1997), Waking the tiger; healing trauma, Berkeley, CA: North Atlantic Books, trad. fr, 2004, Réveiller
le tigre. Guérir le traumatisme, Socrate Ed. Promex.
Berceli D.: (2003), Trauma Releasing Exercices, AZ, TRAPS
Lewis R.: (2003), Human trauma, Energy and Character, vol.3, pp.32-40
© Guy TONELLA
32
Stern D.: (1985), The interpersonal world of the infant, Basic books, Inc., Publishers, New-York, 1989, Le monde
interpersonnel du nourrisson, PUF, Paris.
Fonagy P.: (1994), Mental representation from an intergenerational cognitive science perspective, Infant Mental
Health Journal, 15, 57-68.
Fonagy P., Steele M., Steele H., Kennedy R., Matton G., Target M,: (2000), Attachment, the refletive self, and
borderlines states, in Goldberg S., Muir R., Keer J., Attachment theory, Social development and Clinical
perspectives, London, the Analytic Press.
Schore N. A.: (2001), The effects of a secure attachment relationship on right brain development, affect regulation
and infant health, Infant Mental Health Journal, 22, 7-66
Tonella G., Jacomini V., Girard F., Granier F., et Escande M. : (1989), Lûémergence de la douleur/souffrance
en psychothérapie corporelle à médiation corporelle chez le psychotique, Psychologie Médicale, Vol.21, n°6, 698-
700.
Tonella G.: (2006), Körperpsychotherapie und psychose, in Marlock G., Weiss H. (Eds), Handbuch der
körperpsychotherapie, Stuttgart, New York, Schattauer, 734-740.
Green M.J.: (2004), La persécution (ressentie) : un évitement actif, Neuroscience Biobehaviour Revue, 28 (3),
PP.333-342
Gallese V., Fadiga L., Fogassi L., Rizzolati G.: (1996), Action recognition in the premotor cortex, Brain,
vol.119, n°2, pp. 593-609
Rizzolati G., Fogassi L., Gallese V. : (2007) Les neurones miroirs, Science, janvier 2007
Evrard P., Marret S., Gressens P. : (1997), « Genetic and environnemental determinants of neocortical
development : clinical applications, in A.M. Galaburda, Y. Christen, Normal and abnormal development of the
cortex, Berlin, Ipsen Foundation, p.165-178
Grézes J., Costes N., Decety J.: (1998), Top-down effect of strategiy of the perception of human
biological motion: a PET investigation, Cognitive Neuropsychology, 15, pp.553-582
Ainsworth M.D.S., Blehar M.C., Waters E. et Walls S.: (1978), Patterns of attachment : a psychological study of
the strange situation. Hillsdale, New Jersey, Erlbaum.
Ainsworth M.D.S.: (1979), Infant-mother attachment, American psychologist, oct.1979, Vol 34, 10, pp. 932-937,
(1986), trad. fr. l'attachement mère-enfant, in R. Zazzo (Ed.), La première année de la vie, Paris, PUF, 17-27.
Lewis, R.: (1976), Infancy and the head : The psychosomatic basis of premature ego development, Energy and
caracter, Vol 7, n°3.
Lewis R.: (1986), Getting the head to really sit on oneûs shoulders : a first step in grounding the false self, The
Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.2, n°1, 56-77.
Lewis R.: (1998), The trauma of cephalic shock: clinical case study, The Clinical Journal for Bioenergetic
Analysis, Vol.9, n°1, 1-18.
Hilton R.: (1988-89), Narcissism and the therapistûs resistance to working with the body, The Clinical Journal for
Bioenergetic Analysis, Vol.3, n°2, 45-74
Campbell D.: (1991), The word made flesh, The Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.4, n°2, 57-63.
Campbell D.: (1995), It takes two to tango, The Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.6, n°1, 9-15).
Eckberg M. : (1999), Treatment of shock trauma: a somatic perspective, Clinical Journal of the International
Institute for Bioenergetic Analysis, 10 (1), pp.73-96
Finlay D.: (1999), A relational approach to Bioenergetics, The Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.10,
n°2, 35-52.
Finlay D.: (2001), Notes on intimate connections, The Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.12, n°1, 9-
28.
Heinrich V.: (1999), Physical phenomena of countertransference : the therapist as a resonance body, The Clinical
Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.10, n°2, 19-31.
Tonella G. : (2000), The interactive self – Le self interactif, The Clinical Journal for Bioenergetic Analysis,
Vol.11, n°2, 25-59.
Resneck-Sannes H.: (2002), Psychobiology of affects: implications for a somatic psychotherapy, The Clinical
Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.13, n°1, 111-122.
Doess, M.: (2004), Physical contact and construction of a therapeutic intersubjective bond, The Clinical Journal for
Bioenergetic Analysis, Vol.14, n°1, pp. 01-18
© Guy TONELLA