Sei sulla pagina 1di 32

Paradigmas

para a Análise Bioenergética


no Alvorecer do Século XXI

GUY TONELLA Seville, 2007


© Guy TONELLA
2

INTRODUÇÃO

Ao fundar a análise bioenergética, há meio século atrás, Lowen iniciou um movimento de grande
amplitude. Muito se deve ao seu carisma pessoal. Ele também se beneficiou de um amplo
movimento sociológico ocidental que buscava corpo, expressão e liberdade. É o período hippie;
é Easalen, a psicologia humanista, uma orientação “vitalista” da psicoterapia. A análise
bioenergética conheceu, então, uma expansão internacional. Ela é concebida como psicoterapia,
mas também como profilaxia e higiene de vida, especialmente com os “exercícios
bioenergéticos”.

O que acontece hoje?

A necessidade de “vitalidade” ainda está viva. Moldou-se em métodos que dispõem de um


marketing planejado, com freqüência “primos da Bioenergética” mas, ao contrário de nós, na sua
maioria eles comprovaram sua importância “cientificamente”. Nós nunca o fizemos; Lowen não
era favorável à pesquisa científica. Ele me escreveu (“Não há necessidade de comprovar: bastam
as provas clínicas”).
No mundo contemporâneo, quando a imagery cerebral escrutina a realidade dos processos
saudáveis ou patológicos, nós, terapeutas bioenergéticos, devemos comprovar os sólidos
fundamentos de nossas práticas. A análise bioenergética é marcada pela imagen simplista:
“Chorar, bater, gritar”. Ela é muito mais do que isso e devemos construir a partir da herança que
seu criador nos legou:
– devemos modernizar ou atualizar os conceitos de referência da análise bioenergética,
levando em conta pasquisas atuais na neurobiologia e na psicofisiologia;
– devemos integrar a nossas reflexões e práticas, as teorias do desenvolvimento da
criança e do adulto clinica e experimentalmente confirmadas;
– devemos considerar a evolução da psicopatologia e das novas metodologias
terapêuticas que daí decorrem;
– devemos levar em conta a evolução das necessidades da população em matéria de
saúde pública, sabendo que os contextos sociológico e geopolitico marcados pela
violência e por desigualdades crescentes obrigam-nos a ser criativos e talvez sair de
nossos consultórios. O Brasil nos propõe modelos estimulantes.

Tudo isso pede que, no alvorecer deste século XXI, realizemos um ajuste nos nossos paradigmas,
uma renovação dos modelos da análise da bioenergética. Trata-se da nossa credibilidade, nossa
legibilidade, nossa eficácia. Mas trata-se, antes de tudo, da identidade da análise bioenergética a
partir da qual nós, terapeutas bioenergéticos, podemos nos reconhecer e fundamentar nossa
identidade comum, devolvendo um sentido comum ao Instituto Internacional de Análise
Bioenergética.

© Guy TONELLA
3

NOSSA HERANÇA: OS PARADIGMAS FUNDADORES DA


ANÁLISE BIOENERGÉTICA

Lowen nos legou um modelo de análise bioenergética cujos


paradigmas essenciais eu gostaria de ressaltar. São os principais
conceitos (teoria) que definiram os modelos clínicos (prática
terapêutica). São os que me foram ensinados durante minha
formação (1978-1981).

Paradigma 1: identidade psicossomática funcional

Desde 1958, em “A linguagem do corpo”, Lowen reafirma o paradigma da “identidade


psicossomática funcional” enunciado por Reich:

1) O aspecto biologico é : a energia biológica é o denominador comum funcional para psiquê e


soma;

2) O aspecto defensivo é : cuando a energia é bloqueada, isso ocorre através de dois mecanismos
funcionalmente idênticos: a contração muscular e a rejeição das representações psíquicas
incômodas;

3) O especto clinico é : esses dois mecanismos juntos inibem funcionalmente a expressão


emocional.

© Guy TONELLA
4

Paradigma 2: o Self é uma continuidade psico-corporal

Em seus primeiros trabalhos Lowen utiliza o conceito


de Self e, em 1985, ele o retoma em O Narcisismo. O
Self é definido enquanto continuidade psico-corporal:
inclui as experiências corporais (sensações, emoções,
movimentos) e as experiências psíquicas (percepções,
imagens, representações). Diz simplesmente: “temos
uma dupla relação com o nosso corpo. Podemos ter
dele uma experiência direta através das nossas
sensações/emoções ou podemos ter uma imagem
dele” (pp. 29-30).

Paradigma 3: a finalidade do Self é a expressividade espontânea

Lowen baseou a prática da análise bioenergética no


despertar da auto-consciência: através da motilidade, da
mobilidade e da expressividade. Em um de seus
primeiros trabalhos (1965), Lowen a define desse
modo: “A auto-consciência significa (...) sentir a
corrente de sensações que acompanha a respiração. Ao
percorrerem o corpo, as ondas respiratórias ativam todo
o sistema muscular (...). Estar totalmente vivo significa
respirar profundamente, mover-se livremente e sentir
integralmente”. A expressividade de uma pessoa é
função do seu grau de vitalidade.

Paradigma 4: o modelo terapêutico é a análise do caráter

O processo espontâneo pode ser bloqueado. Em


Bioenergética (1975), Lowen explicita o esquema
patogênico: “Dirigir-se ao prazer 
privação/fustração  angústia  reação
defensiva”. Acrescenta: “É um esquema geral que
permite explicar todos os problemas de
personalidade” (p.120). É estabelecida a etiologia
sexual dos problemas de personalidade assim
como o método terapêutico: liberar os instintos
sexuais reprimidos que se opõem à vitalidade, à
expressividade e ao prazer, soltando as tensões
musculares que estão na sua origem.

É a análise do caráter, método que oferece um processo cruzado entre o verbal e o corpo:
1) processo corporal a fim de liberar as tensões musculares,
2) processo verbal a fim de compreender a significação das representações na origem do conflito.

© Guy TONELLA
5

Reformulação dos paradigmas e novos paradigmas

Eu gostaria de reformular os paradigmas fundadores da análise bioenergética, acrescentando os


paradigmas atualmente necessários à sua evolução, em uma linguagem compreensível não
apenas para nossa comunidade bioenergética, mas que seja igualmente compreensível e atraente
para nossos colegas oriundos de outras abordagens analíticas ou psicoterapêuticas, para nossos
colegas universitários bem como para os pesquisadores. Acredito que tal esforço seja necessário
se visamos uma nova expansão da análise bioenergética no despertar do século XXI :

1) Reformulação do conceito de Self: esse conceito mantém-se pertinente e comum ao conjunto


das abordagens psicoterapêuticas.

2) Reformulação da dinâmica energética do Self: sua motilidade adaptativa, sua motilidade


sexual e sua motilidade de apego.

3) Formulação da metodologia de trabalho com os traumas é distinta da metodologia de análise


do caráter.

4) Formaulação de um modelo de relação terapêutica que confere um espaço central à


implicação intersubjetiva do psicoterapeuta.

5) Finalmente, proporei um paradigma sociológico para a análise bioenergética baseado no


princípio de vitalidade compartilhada por um mundo compartilhado.

© Guy TONELLA
6

PARADIGMA I
O SELF, UMA CONTINUIDADE PSICO-CORPORAL
1 – O Self interface

O Self é interface entre o biológico e o social. Constrói-se na interseção dos processos biológicos
que o substancializam com os processos interpessoais que o subjetivam. É o lugar de
convergência fenomenológica entre os fenômenos instintivos e os socioculturais.

O corpo próprio é a primeira manifestação do Self emergente. É a primeira realidade subjetiva


do Self, e a base para o seu desenvolvimento.

Por exemplo: a regulação do sono no bebê, como da sua alimentação e da sua expressão física e
emocional, estám imediatamente sujeitas, por um lado, aos mecanismos neurobiológicos
herdados e, por outro, às normas sociais subjetivas dos seus pais. Tais laços com o ambiente
humano subjetivam o soma e o transformam em corpo próprio, base da emergência da
consciência subjetivada e da intencionalidade.

© Guy TONELLA
7

Blake (2002) mostra que, em troca, essas primeiras modelagens sociais modificam os processos
neurobiológicos somáticos: causam mudanças estruturais e funcionais nas conexões entre
neurônios. Por exemplo, as experiências emocionais modificam as células do hipocampo, que
são as mais sensíveis às experiências emocionais, e melhoram a eficácia das sinapses. Por outro
lado, as vivências de apego modificam os circuitos límbicos frontais envolvidos na modelagem
da “sensibilidade”. Jeannerod (2005) mostra que daí emergem comportamentos novos. Para
Kandel (2001), isto constitui o permanente processo dialético de intercambio entre soma e
socius, stimulando a “plasticidade” neuronal, ella misma transformadora do Self.

É ao corpo próprio do paciente que nós, terapeutas bioenergéticos, nos dirigimos. Este corpo
próprio, reservatório energético, lugar de transformação dos instintos em pulsões reguladas e
socializadas, fontes de motilidade.

2 – As funções do Self

O Self se define como um todo funcional feito da co-integração de cinco funções: a função
energética, a função sensorial, a função motora, a função emocional e a função de
percepção/representação.

Cada função do Self serve de apoio para a seguinte e é apoiada pela anterior. As variações que
ocorrem em uma das funções causam variações no conjunto das funções, como uma onda que se
desloca. Por exemplo, “enquanto percorrem o corpo, dizia Lowen, as ondas respiratórias ativam
todo o sistema muscular”.

A função energética é a sede de variações quantitativas da excitação. Elas estimulam a


motilidade e a vitalidade do Self através de pulsações e vibrações. A modulação das correntes
energéticas produz fenômenos de ativação/desativação que são regulados pelas necessidades
biológicas e configurados pelo ambiente familiar.

A função sensorial, por suas manifestações qualitativas, desempenha o papel de consciência


primitiva do Self. Sua expressão é regulada e configurada pelo ambiente familiar: o par
elementar dor/prazer é, desde o início, submetido a uma regulação expressiva,
aprovadora/desaprovadora.

© Guy TONELLA
8

A função motora, através dos ajustes no tônus postural, propicia ao Self a sensação de “invólucro
tônico” ou fronteira consciente; por intermédio dos ajustes no seu tônus muscular desempenha o
papel de preparadora do Self para a ação e a expressão. Ela dá suporte à construção de padrões de
ação e padrões posturais adequados e configurados nas trocas interpessoais.

A função emocional desempenha um papel de expressão e de comunicação subjetiva com o


ambiente social. Através de suas manifestações emotivas corporais, desempenha um papel
catártico de regulação do Self; através de seus afetos, assume um papel de elaboração psíquica da
informação cognitiva.

A função de representação, através do seu sistema de imagens e signos lingüísticos, confere


significação às experiências energéticas, sensoriais, motoras e emocionais. Ela as codifica,
simboliza e as torna verbalmente comunicáveis. Assegura ao Self a capacidade de refletir sobre si
mesmo e sobre o mundo.

Cada uma dessas funções participa da auto-consciência, desde o nível mais elementar (a sensação
vital de existir fisicamente) ao nível mais complexo (a consciência de ter um espírito próprio).
Entretanto, a integração do Self depende das conexões que se constroem entre estas funções.

3 – As ligações entre funções do Self

A primeira metade do século XX abriu um vasto campo que tornou mais precisa a especificidade
de cada uma das ligações entre cada função e seu processo de subjetivação: Freud para a ligação
afeto/representação, Reich e Wallon para a ligação emoção/motricidade, Piaget para a ligação
motricidade/sensação e Lowen para a ligação energia/sensação.

A ligação Self–chão constitui um sistema primitivo que participa da regulação do


funcionamento energético do organismo humano. É o princípio de “grounding” desenvolvido
por Lowen (1958). Entretanto, antes que o bebê encontre o chão sobre o qual se apoiará e com o
qual estará conectado, é no corpo de sua mãe que ele encontrará seu primeiro enraizamento.

As ligações energético-sensoriais manifestam-se pelos afetos de vitalidade. Esta foi a


contribuição teórica e metodológica fundamental de Lowen no decorrer deste século XX. Está
centrada na motilidade do Self, a circulação energética, o despertar sensorial. O trabalho com a
respiração tem aí um lugar muito importante.

© Guy TONELLA
9

As ligações sensório-motoras manifestam-se, como mostrou Piaget, pela construção de


esquemas sensório-motores. Um grande número de “exercícios bioenergéticos” propostos por
Lowen mobilizam a construção de esquemas sensório-motores que favorecem a auto afirmação
através da ação regulada e coordenada.

As ligações emoção-motricidade manifestam-se por padrões posturais e de comportamento


conforme mostraram, na mesma época, Reich e Wallon, um em relação ao adulto e o outro em
relação à criança. Lowen desenvolveu outros “exercícios bioenergéticos” que favorecem a
expressividade do Self, sobretudo através do movimento e da expressão emocional.

As ligações emoção (ou afeto) – representação teorizadas por Freud manifestam-se por
representações cognitivas (próximas da percepção) e por representações fantasmáticas (frutos do
trabalho da imaginação). Tais representações coexistem consciente ou inconscientemente, e
constituem os conteúdos de pensamento. São o objeto do processo analítico verbal.

Essas ligações entre as diferentes funções do Self conduzem à integração do Self.

Motilidade e integração do Self exprimem-se em três níveis:

– no nível da motilidade adaptativa


– no nível da motilidade sexual
– no nível da motilidade dos apegos afetivos.

De modo progressivo e, essencialmente a partir de dois anos,


o Eu terá como tarefa a co-integração e co-regulação das
motilidades adaptativa, sexual e de apego.

© Guy TONELLA
10

PARADIGMA II
A MOTILIDADE ADAPTATIVA E SEUS PADRÕES
O Self tem a obrigação constante, ao longo de toda a vida, de adaptar-se à realidade externa e
suas mudanças. Para tanto, ele se apóia nos instintos de conservação como ressaltado por Freud e
depois por Lowen. No contato com o ambiente familiar, cultural e ecológico, esses instintos
passam a constituir a motilidade adaptativa do Self.

A função da motilidade adaptativa é a de manter o Self em um estado de vitalidade homeostática


(uma vitalidade energeticamente regulada) e de consciência perceptiva (de si e do ambiente).
Progressivamente, ela se organiza em padrões adaptativos:

Os padrões somato-sensoriais organizam e regulam a motilidade do Self: padrões de


vigília/sono, ativação/desativação, prazer/dor, atividade/passividade, expressão/inibição, assim
como muitas outras configurações da expressão vital. Eles se configuram sob a influência do
meio familiar. São essencialmente codificados na memória de procedimento mas podem ser
recuperados no contexto terapêutico, quando se enfatizam os procedimentos corporais tal como
acontece quando se trabalha com a respiração ou com o despertar sensorial. Tais padrões
asseguram a permanência regulada da existência vital do Self.

Os padrões sensório-motores se constroem a partir dos esquemas sensório-motores habituais e


organizam a motricidade do Self. Muito rapidamente, eles são impregnados de afetividade e se
constituem, segundo a expressão de Bowlby, em Modelos Internos Operacionais (MIO)
organizando os comportamentos de apego e de interação. Os MIO estão codificados nas
memórias de procedimento e de episódio e são suscetíveis de serem recuperados em contextos
terapêuticos que facilitem sua evocação. Quanto mais pré-simbólicos forem os MIO, mais a sua
recuperação vai exigir um contexto próximo ao da codificação, isto é, uma participação de
funções sensoriais, emocionais e motoras. Os MIO garantem a permanência regulada da
interação.

Os padrões posturais tônico-emocionais se constroem a partir das trocas expressivas


interpessoais e organizam a expressão do Self. Para Wallon, eles possuem um valor socializante:
comunicam ao ambiente as experiências afetivas do Self. Para Reich, têm uma função biológica
– exprimem o prazer/desprazer de natureza pulsional/sexual. Finalmente, para Ainsworth, eles


N.T. Iniciais da expressão em inglês: Operational Internal Models.

© Guy TONELLA
11

sustentam uma função comportamental manifestando-se como “padrões de apego”


seguro/inseguro. Em todos esses casos, os padrões tônico-emocionais desempenham o papel de
invariantes da expressão afetiva do Self.

Os padrões cognitivos se constroem a partir das imagens perceptivas de si e do mundo


circundante, físico e humano. Envolvem processos de pensamento e processos afetivos que
facilitam a adaptação ao ambiente. Desempenham o papel de invariantes semiotizados no interior
do Self.

Esses diversos padrões são adaptativos porque ativam continuamente, de modo regular e
homeostático, a motilidade, a motricidade, a expressividade e a reflexão, alimentando o que
Damásio chama de “o próprio sentimento de si” (The Feeling of What Happens) (1999) .


N.T. Em português, o livro foi lançado pela Editora Europa-América, Lisboa, 2000, com o título: O sentimento de
si. O corpo, a emoção e a neurobiologia da consciência.

© Guy TONELLA
12

PARADIGMA III
A MOTILIDADE SEXUAL E SEUS PADRÕES
Nós estamos familiarizados com um modelo de sexualidade em análise bioenergética e, portanto,
serei breve. Nesse domínio, Lowen foi herdeiro de Freud e, depois, de Reich. É comum que se
descreva a motilidade sexual em termos de pulsões orais, anais, fálicas e genitais infantis e,
depois, adultas.

Em seguida a Reich, Lowen mostrou como cada tipo de função operava no nível corporal: sua
dinâmica energética em uma zona corporal específica transformada em “zona erógena”.

Não é inútil assinalar que, na criança, a ativação das zonas erógenas está muito ligada às
interações mãe-bebê e, portanto, à relação de apego mútuo. Uma falta ou um excesso de
erogenização do corpo próprio da criança tem conseqüências diretas para a organização de sua
sexualidade presente e futura. Nisso, pode acontecer continuidade ou ruptura entre erogenização
e erotização. Por exemplo, uma estrutura esquizóide cujo corpo foi pouco erogenizado pode
procurar permanentemente a erotização porque sempre frustrante. Deste ponto de vista, a
experiência de apego durante a infância determina os padrões sexuais adultos. Ao contrário, a
experiência terapêutica de apego pode incidir diretamente sobre a transformação dos padrões
sexuais adultos.

© Guy TONELLA
13

PARADIGMA IV
A MOTILIDADE DE APEGO E SEUS PADRÕES

Como descendente de Freud e Reich, desde


1958 Lowen faz do institnto sexual e da
sexualidade o eixo de referência para a
prática bioenergética. Nesta mesma época,
Bowlby (1969) enuncia sua teoria do apego.

A expressão emocional assume, portanto,


dois significados possíveis na criança: pode
ser um sinal de prazer/desprazer (Lowen) ou
de segurança/desamparo (Bowlby).

A análise bioenergética contemporânea


enriqueceu-se com esta segunda perspectiva
ao reconhecer que o instinto de apego é tão
presente e estruturante, desde o início da
vida, quanto o instinto sexual.

A segunda metade do século XX abriu um amplo campo que elaborou os laços de apego e de
interação essenciais à construção do Self. Se D. W. Winnicott e M. Mahler foram precursores,
citem-se os primeiros teóricos do apego: Bowlby, Ainsworth, Main, bem como os trabalhos de
Wolf, Emde, Anders, Sander e Stern. Cada um deles contribuiu para mostrar que o Self enquanto
identidade subjetiva em construção, não se faz sem laços, e que esses laços são obra de dois
parceiros: seu apego mútuo e sua interatividade. Acredito ser isso verdade para a construção dos
laços mãe-bebê e igualmente verdade para a construção dos laços terapeuta-paciente.

Os laços de apego e de interação podem ser enunciados em quatro tipos que emergem,
progressivamente, do encontro com a pessoa que cuida do bebê, geralmente a mãe.

© Guy TONELLA
14

O laço existencial participa da emergência do núcleo existencial do Self, da construção e,


depois, da reprodução segura de seus invariantes somato-sensoriais. Ele se afirma no primeiro
olhar e se confirma nas trocas mãe-bebê, contendo a excitação orgânica da criança e orientando
sua vitalidade e suas necessidades de contato. O laço existencial promove e valida, ao longo da
vida, a base fenomenológica do estar-lá-vivo.

O laço interacional participa da emergência dos invariantes sensório-motores que tornam en


Modelos Internos Operativos (MIO). Essos modelos som inicialmente ativado pelas necessidades
de apego e de exploração do ambiente. A regulação das ações envolvidas leva à estimulação ou
à inibição dos MIO sensório-motores, de acordo com as necessidades adaptativas. O laço
interacional garante a reprodução segura dos Modelos Iinternos Operativos sensorio-motores.

O laço intersubjetivo facilita a emergência dos estados subjetivos pessoais e a tomada de


conciencia que som diferentes dos estados subjetivos do outro, mas que podem ser expressos e
compartilhados com o outro. Fundamenta-se na capacidade de entonamento. O laço
intersubjetivo promove a possibilidade de expressar e compartilhar seus estados subjetivos
com o otro.

O laço discursivo participa da emergência da reflexão sobre o Self, sobre a relação com o seu
mundo interior e exterior e suas objetivações. Fundamenta-se na capacidade de compartilhar
significados a partir de um sistema de comunicação verbal. O laço discursivo promove uma
continuidade coerente entre o que é vivido e o que é pensado.

Quando esses laços de apego não


preenchem sua função organizadora e
reguladora, a criança sente angústia.
Ainsworth (1978), Main e Solomon
(1988) mostram que a criança se protege
da angústia adotando três grandes tipos
de estratégias de apego: torna-se
“ansiosa-evitadora”, “ansiosa-
ambivalente” ou “desorientada-
desorganizada”.

Podemos estabelecer paralelos entre essas


estratégias de apego e as estruturas de
personalidade que definimos na análise
bioenergética: entre o adulto
“desconectado” e a “estrutura esquizóide”,
entre o adulto “preocupado” e a “estrutura
narcísica”, entre o adulto “desorientado-
desorganizado” e a “personalidade
borderline” (estado limite).

© Guy TONELLA
15

Se a criança ou o adolescente não tem a


oportunidade de evoluir e de construir
um padrão mais seguro, ela conservará o
padrão infantil. Torna-se um adulto
“desconectado”, um adulto “preocupado”
ou um adulto “desorientado-
desorganizado”.

Estas articulações permitem diferenciar, no processos psicoterapêutico:


1) diversos tipos de patologias (conflitual, deficitária, traumática),
2) diversos tipos de estratégia de apego transferencial, bem como de suas respostas contra-
transferenciais.

Psicopatologia do apego

Precisamos as relaçaoes entre psicopatologia e vinculo de apego :

1) A teoria do apego enfatiza que a etiologia das estruturas pré-genitais


não é sexual, mas deficitária e traumática.
2) A resposta comportamental ao deficit e ao trauma coloca em
funcionamento uma organização defensiva implicando, também, tensões
musculares crônicas. Mas, se as tensões corporais de origem deficitária e
traumática, e as tensões corporais originadas de um conflito sexual
misturam-se e às vezes se confundem, suas funções não são idênticas.
Elas se expressarão na transferência de modo significativamente diferente.
3) As problemáticas sexuais que decorrem do trauma do desenvolvimento
são a expressão de um apego traumático e não de um conflito sexual. Se o
objetivo da análise do caráter é desfazer as reações defensivas diante da
angústia sexual, o objetivo da terapia do trauma é renegociar a atividade
funcional, as ligações integrativas entre as funções do Self e os laços de
apego com o ambiente humano.

© Guy TONELLA
16

Neurobiologia do apego

A psicopatologia do vinculo de apego segura hoy sobre as investigaçaoes em neurociencias.


Algumos exemplos :

Beaurepère (2003) mostra que, basta que um bebê


maltratado perceba o seu agressor, para que seu
hemisfério direito coloque-se de prontidão. Se a
situação se repete, ela inscreve-se na sua memória
implícita, configura um hábito emocional e
determina um estilo de apego. Desde então, bastará
que o bebê perceba essa figura de apego inseguro
para que segregue hormônios de estresse. A longo
prazo, secreções repetidas modificam o
desenvolvimento somático: redução do volume do
hipocampo e aumento do volume do giro temporal.

A perda da figura de apego por parte de uma criança pequena que não consegue estabelecer laços
de apego substituto é sinônimo de extinção do mundo sensorial, afetivo e perceptivo que a
envolvia e estimulava seu cérebro límbico. Evrard (1999) mostra que o circuito límbico se apaga,
o que explica a atrofia cerebral pela ausência de estimulações, atrofia dos neurônios do
hipocampo que desempenham um importante papel nos circuitos da memória e na aquisição das
aptidões emocionais. A não ser em casos extremos, o processo é reversível.

Depois da morte do ditador romeno Ceausescu, Ionescu (Ionescu et al., 2001) escreveu um
relatório onde mostra que, em quarenta instituições, crianças que se viram abandonadas à força e
desprovidas de qualquer laço de apego sofriam de sérias alterações biológicas, emocionais e
comportamentais irreversíveis.

Para o adulto, o desaparecimento do ser amado pode causar uma ruptura traumática tão grave
como a do bebê que perde a mãe. A biologia do luto nos adultos estudada por Parkes (Parkes et
al., 1993) mostra que, nos meses que se seguem à morte de um parceiro ao qual se é apegado de
maneira ansiosa, observa-se um pico de doenças cardíacas, câncer, diabetes, doenças
pulmonares e confusão mental.

Conclusões clínicas

Vemos que os traumas do apego estão na origem de patologias específicas que podem afetar
profundamente o Self, sua construção e motilidade. Enquanto o conflito tem conseqüências
funcionais, o trauma tem conseqüências funcionais e estruturais. Devemos afirmar e defender
a existência de duas metodologias diferentes na análise bioenergética:

1) A metodologia para trabalhar os conflitos através da análise do caráter;

2) A metodologia para trabalhar os traumas, e que é bem diferente. Muitos dos nossos colegas
terapeutas bioenergéticos contribuíram para desenvolvê-la: Bob Lewis, Maryanna Heckberg,
Helen Resneck-Sannes, Michael Maley, David Finlay, David Berceli. Devo estar esquecendo
alguns de vocês e peço desculpas...

© Guy TONELLA
17

PARADGMA V
UM MODELO METODOLÓGICO PARA O TRAUMA
Além do modelo de análise do caráter reservado às problemáticas de conflito, temos hoje, em
análise bioenergética, modelos de compreensão e práticas terapêuticas relativos ao trauma.

1 – Os modelos terapêuticos relativos ao trauma

Com o seu conceito de “choque cefálico”, Bob Lewis propõe um modelo para a compreensão do
trauma do desenvolvimento (1976, 1984, 1986, 1998) que passo a resumir. Ele tem como origem
um funcionamento materno dissonante e não empático durante os cuidados (handling) e o
holding. O acúmulo desses estados de choque repetitivos constitui a experiência traumática:
- o bebê desenvolve fortes tensões musculares na nuca, na base do crânio: a percepção da
cabeça torna-se dissociada da percepção do corpo;
- precisando compensar pela mãe inadequada, o bebê  sustentando prematuramente a cabeça,
desenvolvendo prematuramente um estado de vigilância e uma percepção antecipatória 
desenvolve prematuramente sua atividade mental.

Desse modo, o Self cresce a partir de um núcleo mental dissociado das experiências sensoriais e
emocionais. É um Self localizado no espírito, no pensamento, e dissociado do corpo próprio.
Esta criança ao se tornar adulta, vive na e por sua cabeça, tanto no sentido literal como
figurado.

O processo terapêutico visa restabelecer uma relação terapêutica segura de apego, permitindo ao
paciente relaxar a cabeça e a nuca dissociadas do corpo, atravessar as angústias primitivas para
se liberar delas e construir um Self seguro.

Maryanna Eckberg (1999), terapeuta bioenergética que trabalhou com torturados políticos,
descreveu sua própria metodologia de tratamento do choque traumático inspirando-se na
abordagem de Peter Levine. Levine (1997) propôs um modelo geral do traumatismo. Descreve
três tipos de respostas defensivas possíveis diante de uma agressão traumática: 1) tentativa de
enfrentar o agressor (luta); 2) tentativa de fugir do agressor (fuga); 3) diante do fracasso, o
organismo congela (congelamento).
Nesse último caso, a intensa energia produzida pelo perigo no nível somático não pode ser nem
liberada nem metabolizada. Uma brecha abriu-se no invólucro do Self e funciona como o

N.T.: Grifos nossos

© Guy TONELLA
18

“vórtice traumático”: atrai toda a energia disponível do Self que é para ali sugada. Os padrões
somato-sensoriais habituais não funcionam mais, as sensações e percepções não recebem mais
nenhum significado. É a confrontação com o pavor corporal e com o psíquico irrepresentável.
Levine levanta a hipótese de que um “contra-vórtice curativo”, de sentido oposto, possa ser
desenvolvido, contrabalançando o vórtice traumático e lhes permitindo uma co-integração
flexível.

Nascimento de um vórtice traumático

Nascimento de um (contra) vórtice curativo

Em um artigo publicado em 2003, Bob Lewis discutiu a abordagem de Levine. Ele considera que
o modelo é incompleto para compreender e tratar os traumatismos do desenvolvimento porque
não integra ao seu método os ensinamentos da teoria do apego.

Berceli (2003), terapeuta bioenergético, desenvolveu uma abordagem para grandes grupos
baseado na sua experiência com populações traumatizadas pelas guerras, massacres, estupros e
atentados, por ocasião de missões que lhe foram confiadas por ONGs. Focalizou seu trabalho no
acesso aos tremores do corpo todo, permitindo a liberação de uma enorme quantidade de energia
gerada pelo evento traumático.

2 – Abordagem corporal do trauma: uma metodologia específica

Todos os autores insistem em três aspectos: 1) a quantidade excessiva de energia mobilizada pela
situação traumatogênica não pôde ser liberada e metabolizada; 2) os padrões somato-sensoriais e
tônico-emocionais habituais não funcionam mais; 3) as representações da situação
traumatogênica não são passíveis de expressão.

© Guy TONELLA
19

A metodologia empregada é, portanto, quase diametralmente oposta à da análise do caráter:

1) no nível da “titulação” em oposição a catarse:


Titulação, noção tomada emprestada da química, consiste em regular meticulosamente a
quantidade de energia liberada a cada momento, a fim de controlar o retorno da experiência
traumatogênica e de não substituir uma renegociação da experiência traumática por uma
repetição catártica traumatizante.

2) no nível da “janela de tolerância” em oposição à intensidade máxima:


Seigel (1999) define uma janela de tolerância propícia ao despertar sensorial, permitindo
modular o retorno das informações sensoriais (paralisia, entorpecimento, rigidez, super-agitação,
irritabilidade, perturbação da vigília/sono), sem despertar o terror associado à experiência
traumática.

3) no nível dos “micro-movimentos” em oposição aos movimentos amplos e intensos:


O trabalho lento permite tomar consciência, explorar, desembaraçar, reconhecer, integrar,
associar. A lentidão do trabalho comporta o “descascamento” de cada sentimento, imagem ou
afeto vivenciado. Tal trabalho possibilita abandonar a resposta de imobilização e de
congelamento das estruturas profundas do organismo para reengajar-se progressivamente em
respostas de defesa e de orientação.

4) no nível da contenção em oposição ao “deixar fluir”:


A função de contenção do terapeuta é essencial porque as próprias capacidades do paciente de
contenção do sentimento, pensamento e ação foram excedidas durante a experiência traumática.
Este trabalho visa reconstituir uma membrana tônica flexível percebida como uma fronteira
envolvente e protetora do ser. Ela se prolonga como uma fronteira psíquica envolvente para
percepções, imagens e representações.

5) no nível da re-inicialização das defesas em oposição ao relaxamento das defesas:


O objetivo é ajudar o paciente a remobilizar as respostas suspensas por ocasião da situação
traumatogênica, a reconectar-se com as respostas de defesa e de orientação que não puderam ser
adotadas e permitir que elas sejam bem sucedidas.

Essa metodologia para trabalhar o trauma mostra-se hoje uma ferramenta terapêutica
indispensável:

1) em resposta aos traumas de desenvolvimento que não param de aumentar e que têm por
origem a evolução sócio-cultural: mães engajadas em ocupações profissionais, o clima familiar
marcado pela pobreza, pelo desemprego e angústia, a violência urbana, o desenraizamento, o
isolamento etc...
2) em resposta aos traumas factuais que estão em constante crescimento, devido à delinqüência,
à violência, estupros, atentados, etc...

Finalmente, a análise do caráter mostra-se pertinente para o tratamento dos conflitos genitais e
das regressões a posições pré-genitais que elas podem acarretar, gerados pelo Ego e o Super-
Ego, enquanto a psicoterapia dos choques traumáticos mostra-se pertinente para o tratamento dos
traumas do desenvolvimento relacionados a todas as estruturas pré-genitais e gerados por uma
deficiência  estrutural ou funcional  do Self.


N.T. Aspas nossas. O termo em francês é “décorticage”.

© Guy TONELLA
20

PARADIGMA VI
UM MODELO CLÍNICO PARA A INTERVENÇÃO
TERAPÊUTICA : A RELAÇÃO INTERSUBJETIVA
A entonamento intersubjetivo

Em 1985, Stern salienta a relação de “entonamento” entre a


mãe e seu filho. Essa afinação regula os estados subjetivos da
criança e lhe permite compreender que sua mãe tem um
“espírito” diferente do seu.

Fonagy (Fonagy, 2000, 2003) operacionalizou essa dimensão


intersubjetiva dentro do campo terapêutico. É o Self do
terapeuta que é terapêutico, ao conter, sentir, pensar e se
expressar subjetivamente e é ele que o paciente interioriza. O
terapeuta empático sente e imagina os estados interiores do
seu paciente e lhe transmite isso através de respostas verbais e
não verbais. Ao “se encontrar no outro” o paciente desenvolve
suas capacidades de sentir, conter e elaborar seus próprios
estados subjetivos. Cada um sentindo-se experienciado e
pensado pelo outro, experiencia e pensa por si próprio.

Lembro-me da primeira sessão de terapia com Rafael: ele


senta-se à minha frente, olha-me sem me ver, fixo,
congelado, respirando com dificuldade, creio que
aterrorizado. Eu o fito com calma e afetuosamente.
Pergunto-lhe o que se passa dentro dele, mas ele não me
ouve ou não pode me responder. Ao fim de um longo
momento de silêncio, digo-lhe de maneira gentil, porém
triste: “Sinto-me sozinho ... E você?” Ele me olha
espantado, quieto, algumas lágrimas escorrendo dos olhos.
Então me diz com voz triste: “Eu também ...”. Muito mais
tarde ele me revelaria que, naquele momento, sentira que
eu era humano, que eu tinha tido acesso ao sentimento de
solidão e podia compreendê-lo. Certamente esse
sentimento não me era estranho, minha criança interior
preservara essa memória que acabava de encontrar em
Rafael um companheiro e a havia transmitido para ele.

Empatia somato-sensorial

Schore (2001) ressalta afinações ainda mais precoces, de natureza somato-sensorial. Através da
imagery cerebral, ele mostra que a regulação somato-sensorial e afetiva da criança efetuada pela
mãe se organiza através de um sistema de comunicação corporal registrada em uma troca direta e
inconsciente, de hemisfério direito para hemisfério direito.

© Guy TONELLA
21

Schore amplia essa descoberta


para a relação terapeuta-
paciente, organizada em torno
dos sinais somato-sensoriais
emitidos pelo paciente, sinais
que o terapeuta empático
interpreta a partir do seu
próprio sistema somato-
sensorial e aos quais responde
através de uma intervenção
adequada.

Lembro-me de um contexto hospitalar em que uma


jovem esquizofrênica segurava-me pelas mãos e
experienciava uma angústia, difícil de imaginar,
porque não conseguia perceber onde minhas mãos
“começavam” e onde “acabavam” as suas. Ela
oscilava entre o terror diante do contato e o desejo
incontido de contato. Sua angústia psicótica baseava-
se na ausência de padrões somato-sensoriais que lhe
dessem segurança de uma existência física separada
(Tonella et al, 1989; Tonella, 2006)

Todas as estruturas pré-verbais enfrentam problemas de empatia. No plano neurológico, Green


(2004) descobriu que elas exprimiam um déficit de ativação da amígdala. Somos ativadores da
amígdala. Sendo empáticos, inscrevemos nossos pacientes em um mundo de humanidade
compartilhada.

Neurologia da empatia

Mais do que um conceito clínico, a empatia tornou-se uma realidade neurológica.

Em 1996, Gallese, Fadiga, Fogassi, Rizzolati chamam a


atenção para a existência, no cérebro das pessoas, de
“neurônios espelho” responsáveis pela empatia. A área
occipital do terapeuta  a que trata das imagens  envia a
informação percebida pelo córtex frontal-temporal  o que
prepara a ação  colocando em alerta os neurônios-
espelho. Desse modo, sem agir, mas percebendo e
sentindo, o terapeuta pode prever o estado emocional e
subjetivo do seu paciente.

© Guy TONELLA
22

Nesta imagem cerebral, a linha vermelha mostra os


neurônios ativados em alguém que vive uma
experiência (o paciente). A cor amarela envolve os
neurônios ativados naquele que observa/acompanha
o primeiro (o terapeuta). Podemos ver que as
mesmas zonas são ativadas em ambos, no interior do
sistema límbico (zona verde). Os neurônios-espelho
do terapeuta (em amarelo) lhe permitem
“reconstruir” e experienciar o que o paciente
vivencia.

Este ano, Rizzolati, Fogassi, Gallese (2007) revelaram que, no autista, faltam os neurônios-
espelho. Este fato deu início a uma nova abordagem terapêutica fundada na imitação mútua entre
autista e psicoterapeuta, a imitação sustentando o desenvolvimento da capacidade de empatia.

Neurologia da transferência – contratransferência

Entretanto, o que será que nos impede sistematicamente


de reagir pela ação, quando os nossos neurônios-espelho
nos informam a respeito do estado de perturbação e
sofrimento no paciente? Grèzes (1998) mostra que,
embora a região temporo-frontal seja ativada para agir, a
área pré-frontal responsável pela inibição da ação também
é ativada. Esta dupla mensagem ativa uma área frontal
ascendente esquerda do córtex e que é a base da
linguagem. Desse modo, a resposta do terapeuta pode ser
dada por meio de palavras. Temos aí um primeiro esboço
neurológico da transferência-contratransferência. Alguns
terapeutas poderiam aprender como desinibir sua
capacidade de responder corporalmente, enquanto outros
poderiam aprender a conter seus impulsos corporais e
transformá-los em linguagem verbal.

Processo terapêutico e resiliência

Evrard, Marret, Gressens (1997) mostram que os circuitos límbicos frontais estão envolvidos na
configuração da “sensibilidade” desde os primeiros anos de vida, mas que podem ser
posteriormente aperfeiçoados, fazendo desenvolver marcadores biológicos de stress. Esta
evolução repousa na possibilidade de reconstruir apegos seguros e confiáveis. A psicoterapia
deve integrar este parâmetro ao seu setting, oferecendo ao paciente a oportunidade de renovar
um apego terapêutico seguro e descontextualizável.

Critérios de competência de um terapeuta

Ainsworth (1978, 1979) descreveu os critérios de competência da mãe para que ela ofereça ao
filho(a) um apego seguro que lhe permita desenvolver um Self seguro. Parece que esses mesmos
critérios qualificam um terapeuta permitindo ao paciente desenvolver um Self seguro. Isso fica
confirmado pelas pesquisas atuais em neurobiologia do apego. Relembro tais critérios:

© Guy TONELLA
23

a) o desenvolvimento da auto segurança requer três critérios de competência do terapeuta: 1


– um terapeuta apegado a seu paciente de forma não ansiosa; 2 – um terapeuta disponível
aos sinais do paciente; 3 – um terapeuta que responde ao paciente de forma adequada;
b) o desenvolvimento da auto confiança supõe: 1 – um terapeuta que se deixe usar pelo
paciente  de forma que este consiga fazê-lo  quando o paciente tenta reproduzir algo
que descobriu; 2 – uma díade terapeuta-paciente em que as mesmas causas produzam as
mesmas conseqüências, de tal forma que características de constância e permanência
organizem as relações de troca;
c) o desenvolvimento da auto estima requer que o terapeuta confirme ao seu paciente que
suas novas possibilidades de ação, expressão, apego e interação têm valor. Isso favorece
a assimilação reprodutiva.

O adulto doente, no que se refere ao laço de apego, esconde uma criancinha que ainda espera que
alguém se doe a ela para que possa recuperar a confiança na sua própria existência e valor.
Possuir e ser possuída, é disso que as crianças brincam para que possam adquirir a íntima
convicção de que são amadas e capazes de amar. É por esse motivo que, na terapia, faz todo
sentido “dar um abraço bem apertado”. Essa necessidade, que nunca prescreve, vem de muito
longe, de uma época em que, como diz Winnicott, “o amor só pode ser demonstrado em termos
de cuidados corporais”. Acredito que seja essa a experiência pela qual muitos pacientes
secretamente esperam.

Muitos entre nós já enfatizamos a importância do laço intersubjetivo, abordando-o sob diferentes
ângulos: R. Lewis, 1976, 1986, 1998; R. Hilton, 1988/89; D. Campbell, 1991,1995; Mr.
Eckberg, 1999; D. Finlay, 1999, 2001; Heinrich, 1999; Tonella, 2000; Resneck-Sannes, 2002;
Mr. Doess, 2004. Certamente, estou esquecendo alguns de vocês.

Finalmente, as funções terapêuticas que possibilitam o crescimento de um Self suficientemente


seguro são:

© Guy TONELLA
24

PARADIGMA VII
UM MODELO CLINICO GENERALIZADO
Podemos agora reunir os diversos paradigmas e seus modelos até aqui enunciados, a fim de
termos uma visão de conjunto sobre a teoria e a prática bioenergéticas.

1 – UM MODELO TEÓRICO DO CONJUNTO

Este modelo dá uma imagem da vida do Self:


– orientado para a adaptação com a motilidade adaptativa
– orientado para a relação interpessoal com a motilidade de apego
– orientado para a sexualidade (ou sua sublimação) com a motilidade sexual.
Cada uma dessas atividades do Self organiza-se, desde o início da vida, em padrões estruturantes
e permanentes, suscetíveis de evolução segundo as circunstâncias da vida, das quais faz parte a
psicoterapia.

Self

Motilidade
de Apego

Motilidade Motilidade
Adaptativa Sexual

© Guy TONELLA
25

2 - UM MODELO DE DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento do Self, com suas adaptações, sua sexualidade e seus apegos, pode ser
descrito segundo quatro fases :

1- Fase oral de apego simbiótico 2 - Fase intermediária de apego individualizado

3 – Fase genital infantil de apego recíproco 4 – Fase adolescente de apego independente

© Guy TONELLA
26

3 - MODELO METODOLÓGICO

Este modelo pode ter a vantagem de deixar clara a estratégia terapêutica específica para cada
paciente:
– dando ênfase à motilidade de apego e à construção de um laço de apego seguro,
quando o padrão de apego inseguro funcionar como grande resistência diante de
qualquer intervenção terapêutica (confusão, pavor, paralisia)
– dando ênfase à motilidade de adaptação (energização, movimento, expressividade
emocional), quando a vitalidade do Self for deficitária
– dando ênfase à motilidade sexual e à resolução dos conflitos sexuais, quando estes
estiverem inibindo a vitalidade e a expressividade do Self.
– dando ênfase à reinicialização do conjunto dos padrões do Self, quando o trauma
os tiver danificado ou destruído.

Evidentemente, um processo terapêutico envolve a totalidade do Self mas podemos imaginar


que certas pessoas não conseguem trabalhar consigo mesmas sem terem, antes, construído um
vínculo terapêutico suficientemente seguro, e isso leva tempo. Podemos igualmente imaginar que
certos conflitos sexuais não são mais do que a expressão de um apego ansioso (evitador,
ambivalente ou desorganizado) e que a evolução do padrão de apego vivenciado na terapia possa
resolver totalmente o em parte a problemática sexual.

© Guy TONELLA
27

4 - MODELO RELACIONAL

Nosso modelo relacional é marcado pela intersubjetividade, quer dizer, pela interatividade entre
terapeuta e paciente. O processo terapêutico é uma co-criação entre essas duas pessoas. Dele
participam vários sistemas de comunicação interativa.

Cada um desses sistemas favorece, em registros específicos:

– o contato interpessoal entre dois Selfs subjetivos


– o acesso a informações de naturezas diferentes (sensoriais, emocionais, tônicas,
cognitivas...)
– a ativação de memórias diferentes contendo essas informações (de procedimento,
episódica, semântica)
– a regulação do Self que é, ao mesmo tempo, auto-regulação e regulação
interperssoal
– a elaboração desses estados subjetivos, a fim de que assumam um sentido e
enriqueçam o Self.

Chegou o momento de reconciliar definitivamente a experiência individual e a experiência


interpessoal no seio do processo terapêutico. Esclarecendo-se, entretanto, que a experiência
interpessoal não significa “estar em relação” mas sim “estar pessoalmente envolvido em uma
relação subjetiva mutuamente compartilhada e falada”.

© Guy TONELLA
28

PARADIGMA VIII
UM MODELO SOCIOLÓGICO BASEADO NO PRINCÍPIO DE
“VITALIDADE COMPARTILHADA”

A Bioenergética que foi pioneira em apostar nos processos de vitalidade, pode voltar a sê-lo?
Isto é possível se pudermos levar em conta a evolução sociológica atual e a necessidade
subjacente de uma “vitalidade compartilhada”, em um “mundo compartilhado”.

Uma nova criatividade emerge, particularmente no Brasil: novas aplicações já vêm sendo
desenvolvidas por muitos de vocês:

o na saúde pública, devido ao estilo de vida sedentário, aos compostos alimentares, aos
choques traumáticos que desorientam o Self; o corpo próprio perturbado nos seus
referenciais, seus funcionamentos, suas fronteiras, gerando disfunções somáticas e
relacionais; a terceira idade é estimulada a ocupar seu corpo e sua vitalidade com atividades
físicas;
o na micro-sociologia dos pequenos grupos, principalmente as minorias esquecidas que
enfrentam a pobreza, as desigualdades, as rupturas afetivas que causam, por vezes, a
violência, exatamente onde a vitalidade não é compartilhada;
o nas empresas confrontadas com os problemas de comunicação, de estresse, de perda dos
laços humanos, de robotização.

© Guy TONELLA
29

Devemos nos tornar “lisíveis e visíveis”, identificados como profissionais competentes em todos
esses campos. Sofremos de confidencialidade das nossas reflexões, das nossas metodologias e da
nossa experiência. Publicamos pouco, estamos ausentes nas livrarias, nas revistas especializadas,
nos congressos regionais ou internacionais. Nossa abordagem não é ensinada nas universidades
onde é ignorada pela maioria dos docentes. Nossa criatividade é às vezes roubada ou copiada. Se
permanecermos na sombra, desapareceremos como aqueles animais pré-históricos que não se
adaptaram às mudanças do meio, com essa imagem arcaica que mencionei na Introdução: “A
Bioenergética é gritar, chorar, e bater em um colchão”. Em conseqüência, temos dificuldade em
preencher nossos grupos de formação, pelo menos nos Estados Unidos e na Europa.

Temos respostas pertinentes e, hoje, a ciência nos ajuda a comprová-las. Temos competência
para abraçar certos desafios que o mundo atual nos lança. É difícil abraçar isoladamente desafios
dessa natureza, mas se uma comunidade é viva, ela consegue; se ela própria cultiva esta
vitalidade por meio de seus encontros, trocas e produções coletivas. É por esse motivo que
estamos aqui e que devemos preservar esses encontros internacionais, para além da barreira dos
idiomas e das distâncias.

CONCLUSÃO

Falando do indivíduo, Alexander Lowen falava


freqüentemente da importância do coração. Uma instituição
também tem um coração que bate. Desejo que nós, IIBA,
preservemos nossos valores de solidariedade, fraternidade
e cooperação mútua. Mais do que nunca, precisamos desses
três paradigmas institucionais, em um momento em que o
mundo se despedaça e enfrenta um tempo de “rupturas”.

© Guy TONELLA
30

BIBLIOGRAFIA
NOSSA HERANÇA: OS PARADIGMAS FUNDADORES DA ANÁLISE BIOENERGÉTICA

Lowen A.: (1958), The language of the body, Grusse and Stratton, New York, 1977, trad. fr. Le Langage du Corps,
Tchou, Paris.
Lowen A.: (1968), Expression of the self, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1985), Narcissism, denial of the true self, Macmillan Publishing Company, New York, 1987,
trad. fr. Gagner à en mourir, une civilisation narcissique, Hommes et Groupes, Paris.
Lowen A.: (1965), Breathing, movement and feeling, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1975), Bioenergetics, Coward, Mc Geogham Inc, New York, trad. Fr. (1976) La Bioénergie, Tchou,
Paris

PARADIGMA I – O SELF, UMA CONTINUIDADE PSICO-CORPORAL

Blake D.T., Byl N.N., Merzenich M.: (2002), Representation of the hand in the cerebral cortex, Behaviour Brain
Research, 135, PP. 179-184
Jeannerod, M.: (2005), Le cerveau intime, Odile Jacob, Paris.
Kandel E.R. : (2001), The molecular biology of memory storage : a dialogue between genes and synapses,
Science, 294, pp.1030-1038
Freud, S.: (1887-1902), Aus den Anfängen der Psychoanalyse, 1954, trad. angl. The origins of Psychoanalysis,
London, Imago, 1956, trad. fr. La naissance de la Psychanalyse, Paris, PUF
Freud S. : (1915), Die Verdrängung, 1952, trad. fr.,Le Refoulement, in Métapsychologie, Paris, Galimard, pp.67-
90
Freud S. : (1915), Das Unbewusste, 1952, trad . fr., LûInconscient, in Métapsychologie, Paris, Gallimard, pp.91-
161
Freud S. : (1926), Hemmung, Symptom und Angst, 1965, Inhibition, Symptome et Angoisse, Paris, PUF
Reich W.: (1933), Charakteranalyse, 1949, Caracter Analysis, Wilhelm Reich infant Trust fund. 1971, L'Analyse
Caractérielle, Payot, Paris.
Wallon H.: (1934), Les origines du caractère chez l’enfant, (1949) PUF, Paris
Piaget J.: (1936), La naissance de l’intelligence chez l’enfant, Delachaux et Niestlé, Paris
Lowen A.: (1958), The language of the body, Grusse and Stratton, New York, 1977, trad. fr. Le Langage du Corps,
Tchou, Paris.
Lowen A.: (1968), Expression of the self, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1985), Narcissism, denial of the true self, Macmillan Publishing Company, New York, 1987,
trad. fr. Gagner à en mourir, une civilisation narcissique, Hommes et Groupes, Paris.
Lowen A.: (1965), Breathing, movement and feeling, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1975), Bioenergetics, Coward, Mc Geogham Inc, New York, trad. Fr. (1976) La Bioénergie, Tchou,
Paris

PARADIGMA II – A MOTILIDADE ADAPTATIVA E SEUS PADRÕES

Bowlby J. : (1969), Attachment and Loss, Vol. I, Attachment, The Tavistock Institute of Human Relations, 1978
trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. I, Attachement, Paris, PUF
Bowlby J. : (1973), Attachment and Loss, Vol. II, Anxiety and Anger, The Hogarth Press and the Institute of
Psychoanalysis, 1978 trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. II, La Séparation, Angoisse et Colère, Paris, PUF
Bowlby J. : (1980), Attachment and Loss, Vol. III, Anxiety and Anger, The Hogarth Press and the Institute of
Psychoanalysis, 1978 trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. II, La Perte, Tristesse et Dépression, Paris, PUF
Wallon H.: (1934), Les origines du caractère chez l’enfant, (1949) PUF, Paris
Reich W.: (1933), Charakteranalyse, 1949, Character Analysis, Wilhelm Reich infant Trust fund. 1971, L'Analyse
Caractérielle, Payot, Paris.
Ainsworth M.D.S., Blehar M.C., Waters E. et Walls S.: (1978), Patterns of attachment : a psychological study of
the strange situation. Hillsdale, New Jersey, Erlbaum.
Damasio A.: (1999) The feeling of what happens, body and emotions in the making of consciousness, Harcourt
Brace and Company, New York, trad. Fr. (1999) Le sentiment même de soi, corps, émotion, conscience, Odile
Jacob, Paris.

© Guy TONELLA
31

PARADIGMA III – A MOTILIDADE SEXUAL E SEUS PADRÕES

Freud S. : (1905), Drei Abhandlungen zur sexualtheorie, 1962 trad. Fr., Trois Essais sur la Théorie de la Sexualité,
Paris Gallimard
Reich W.: (1933), Charakteranalyse, 1949, Caracter Analysis, Wilhelm Reich infant Trust fund. 1971, L'Analyse
Caractérielle, Payot, Paris.
Reich W.: (1940) The function of the orgasm, Orgone Institute Press, New York, (1952) trad. Fr. La function de
l’orgasme, LûArche, Paris.
Lowen A.: (1958), The language of the body, Grusse and Stratton, New York, 1977, trad. fr. Le Langage du Corps,
Tchou, Paris.
Lowen A.: (1965), Breathing, movement and feeling, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1968), Expression of the self, Monograph, Institute for Bioenergetic Analysis, New York
Lowen A.: (1975), Bioenergetics, Coward, Mc Geogham Inc, New York, trad. Fr. (1976) La Bioénergie, Tchou,
Paris
Lowen A.: (1985), Narcissism, denial of the true self, Macmillan Publishing Company, New York, 1987,
trad. fr. Gagner à en mourir, une civilisation narcissique, Hommes et Groupes, Paris.
Lowen A ;: (1989), Présentation du séminaire sur “Grounding in sexuality and love”, A. Lowen, F. Hladky
Lowen A.: (1990), The spirituality of the body, McMillan, New York, (1993) trad. Fr., La spiritualité du corps, Ed.
Dangles, St-Jean-de-Brayes.
Lowen A.: (2004), Honouring the Body, Bioenergetic Press, Alachua, Florida.

PARADIGMA IV – A MOTILIDADE DE APEGO E SEUS PADRÕES

Bowlby J. : (1969), Attachment and Loss, Vol. I, Attachment, The Tavistock Institute of Human Relations, 1978
trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. I, Attachement, Paris, PUF
Bowlby J. : (1973), Attachment and Loss, Vol. II, Anxiety and Anger, The Hogarth Press and the Institute of
Psychoanalysis, 1978 trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. II, La Séparation, Angoisse et Colère, Paris, PUF
Bowlby J. : (1980), Attachment and Loss, Vol. III, Anxiety and Anger, The Hogarth Press and the Institute of
Psychoanalysis, 1978 trad. Fr., Attachement et Perte, Vol. II, La Perte, Tristesse et Dépression, Paris, PUF
Evrard P. : (1999), Stimulation et développement du système nerveux, in J. Cohen-Solal, B. Golse, Au début de la
vie psychique. Le développement du petit enfant, Paris, Odile Jacob
Ionescu S., Jourdan-Ionescu C. : (2001), La résilience des enfants roumains abandonnés, institutionnalisés et
infectés par le virus du sida, in Manciaux (dir.), La résilience. Résister et construire, Genève, Médecine et Hygiène
Beaurepère R. de: (2003), Aspects biologiques des états de stress post-traumatiques, in J6M Turin, N. Baumann,
Stress, pathologies et immunité, Paris, Flammarion, Médecine-Sciences ; PP.135-153
Labard K.S., LeDoux J.E., Soencer D.D., Phelps E.A., : (1995), Impaired fear conditioning following unilateral
temporal lobectomy in humans, Journal of Neuroscience, 15, pp. 6846-6855
Schacter D.L., Wagner A.D. : (1999), Medial temporal lobe activation, in FRMRI and PET, Studies of episodic
encoding and retrieval hippocampus, 9, 1999, pp.7-24
Tiberghien G.: (1997), La mémoire oubliée, Margada, Spimont
Parkes C.M., Weiss R.S. : (1993), Recovery from Bereavement, New Yok, Basic Books
Frool T., Meisenzalh E.M., Zetzche T.: (2004), Hippocampol and amygdalo changes in patients with major
depressive disorder and healthy control during 1-year follow up, Journal of Clinical Psychiatry, 65, pp.492-499

PARADIGMA V – UM MODELO METODOLÓGICO PARA O TRAUMA

Lewis, R.: 1976, Infancy and the head: The psychosomatic basis of premature ego development, Energy and
character, Vol. 7, n°3.
Lewis R.: (1984), Cephalic shock as a somatic link to the false self personality, Comprehensive Psychotherapy, 4,
1984, Trad. fr. 1996, Le choc céphalique, une réaction somatique sous-tendant le faux "self", Les Lieux du corps,
n°3, Ed. Morisset, Paris, 39-55.
Lewis R.: (1986), Getting the head to really sit on oneûs shoulders : a first step in grounding the false self, The
Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.2, n°1, 56-77.
Lewis R.: (1998), The trauma of cephalic shock: clinical case study, The Clinical Journal for Bioenergetic
Analysis, Vol.9, n°1, 1-18.
Eckberg M. : (1999), Treatment of shock trauma: a somatic perspective, Clinical Journal of the International
Institute for Bioenergetic Analysis, 10 (1), pp.73-96
Levine P.: (1997), Waking the tiger; healing trauma, Berkeley, CA: North Atlantic Books, trad. fr, 2004, Réveiller
le tigre. Guérir le traumatisme, Socrate Ed. Promex.
Berceli D.: (2003), Trauma Releasing Exercices, AZ, TRAPS
Lewis R.: (2003), Human trauma, Energy and Character, vol.3, pp.32-40

© Guy TONELLA
32

PARADIGMA VI – UM MODELO CLÍNICO PARA A INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA : A


RELAÇÃO INTERSUBJETIVA

Stern D.: (1985), The interpersonal world of the infant, Basic books, Inc., Publishers, New-York, 1989, Le monde
interpersonnel du nourrisson, PUF, Paris.
Fonagy P.: (1994), Mental representation from an intergenerational cognitive science perspective, Infant Mental
Health Journal, 15, 57-68.
Fonagy P., Steele M., Steele H., Kennedy R., Matton G., Target M,: (2000), Attachment, the refletive self, and
borderlines states, in Goldberg S., Muir R., Keer J., Attachment theory, Social development and Clinical
perspectives, London, the Analytic Press.
Schore N. A.: (2001), The effects of a secure attachment relationship on right brain development, affect regulation
and infant health, Infant Mental Health Journal, 22, 7-66
Tonella G., Jacomini V., Girard F., Granier F., et Escande M. : (1989), Lûémergence de la douleur/souffrance
en psychothérapie corporelle à médiation corporelle chez le psychotique, Psychologie Médicale, Vol.21, n°6, 698-
700.
Tonella G.: (2006), Körperpsychotherapie und psychose, in Marlock G., Weiss H. (Eds), Handbuch der
körperpsychotherapie, Stuttgart, New York, Schattauer, 734-740.
Green M.J.: (2004), La persécution (ressentie) : un évitement actif, Neuroscience Biobehaviour Revue, 28 (3),
PP.333-342
Gallese V., Fadiga L., Fogassi L., Rizzolati G.: (1996), Action recognition in the premotor cortex, Brain,
vol.119, n°2, pp. 593-609
Rizzolati G., Fogassi L., Gallese V. : (2007) Les neurones miroirs, Science, janvier 2007
Evrard P., Marret S., Gressens P. : (1997), « Genetic and environnemental determinants of neocortical
development : clinical applications, in A.M. Galaburda, Y. Christen, Normal and abnormal development of the
cortex, Berlin, Ipsen Foundation, p.165-178
Grézes J., Costes N., Decety J.: (1998), Top-down effect of strategiy of the perception of human
biological motion: a PET investigation, Cognitive Neuropsychology, 15, pp.553-582
Ainsworth M.D.S., Blehar M.C., Waters E. et Walls S.: (1978), Patterns of attachment : a psychological study of
the strange situation. Hillsdale, New Jersey, Erlbaum.
Ainsworth M.D.S.: (1979), Infant-mother attachment, American psychologist, oct.1979, Vol 34, 10, pp. 932-937,
(1986), trad. fr. l'attachement mère-enfant, in R. Zazzo (Ed.), La première année de la vie, Paris, PUF, 17-27.
Lewis, R.: (1976), Infancy and the head : The psychosomatic basis of premature ego development, Energy and
caracter, Vol 7, n°3.
Lewis R.: (1986), Getting the head to really sit on oneûs shoulders : a first step in grounding the false self, The
Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.2, n°1, 56-77.
Lewis R.: (1998), The trauma of cephalic shock: clinical case study, The Clinical Journal for Bioenergetic
Analysis, Vol.9, n°1, 1-18.
Hilton R.: (1988-89), Narcissism and the therapistûs resistance to working with the body, The Clinical Journal for
Bioenergetic Analysis, Vol.3, n°2, 45-74
Campbell D.: (1991), The word made flesh, The Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.4, n°2, 57-63.
Campbell D.: (1995), It takes two to tango, The Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.6, n°1, 9-15).
Eckberg M. : (1999), Treatment of shock trauma: a somatic perspective, Clinical Journal of the International
Institute for Bioenergetic Analysis, 10 (1), pp.73-96
Finlay D.: (1999), A relational approach to Bioenergetics, The Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.10,
n°2, 35-52.
Finlay D.: (2001), Notes on intimate connections, The Clinical Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.12, n°1, 9-
28.
Heinrich V.: (1999), Physical phenomena of countertransference : the therapist as a resonance body, The Clinical
Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.10, n°2, 19-31.
Tonella G. : (2000), The interactive self – Le self interactif, The Clinical Journal for Bioenergetic Analysis,
Vol.11, n°2, 25-59.
Resneck-Sannes H.: (2002), Psychobiology of affects: implications for a somatic psychotherapy, The Clinical
Journal for Bioenergetic Analysis, Vol.13, n°1, 111-122.
Doess, M.: (2004), Physical contact and construction of a therapeutic intersubjective bond, The Clinical Journal for
Bioenergetic Analysis, Vol.14, n°1, pp. 01-18

© Guy TONELLA

Potrebbero piacerti anche