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Instituto de História
Disciplina: A história e a escrita da história
Professora: Silvia Patuzzi
Aluno: Matheus de Oliveira Vieira
15 de dezembro de 2017
Jean-Claude Schmitt é um dos autores que nas últimas décadas têm rechaçado
– a partir da leitura de um longo debate que passa pela Escola dos Annales e pelos
autores vinculados ao Instituto Warburg – a categoria de “arte” como objeto de estudo
histórico em prol de uma mais ampla, a de “imagem”. Em resumo, trata-se de negar a
análise puramente morfológica e estética, características da História da Arte alemã do
século XIX, para fazer perguntas mais amplas sobre os usos sociais das imagens,
entendidas agora em sentido amplo, não somente imagens físicas/materiais. As
reflexões expostas no verbete que será aqui analisado, publicado originalmente em 1999
no Dicionário Temático do Ocidente Medieval, foram pensadas para um período
específico da História, conforme atesta o título da obra.1 No entanto, elas podem ser
aproveitadas, a partir de um olhar que tente captar o método do autor, para pensar, de
modo mais amplo, as implicações de trabalhar imagens como fontes históricas. Não se
trata de pretender extrair generalizações absolutas nesse sentido, mas de tentar
extrapolar o objeto do autor, pensando nas possibilidades e limites em relação a outros
recortes.
1
SCHMITT, Jean-Claude, Imagens. In: LE GOFF, Jacques & SCHMITT, Jean-Claude (org.). Dicionário
temático do Ocidente Medieval. São Paulo: Edusc, 2002, pp. 591-605.
material, no qual o termo se refere a objetos como retábulos, vitrais e miniaturas. O
segundo sentido diz respeito ao discurso, referindo-se a um sistema de linguagem
figurada majoritariamente usado nos sermões como parte de uma estrutura retórica de
pregação. O terceiro sentido apontado pelo autor é o bíblico, que não é material nem
discursivo, mas a expressão própria da natureza humana, definida como imagem e
semelhança de deus. Por fim, o último sentido apontado no texto é o mental, quando se
mobiliza naquela cultura a imaginação e a memória, a capacidade de projetar e de
meditar, ou nos sonhos e nas profecias. O autor inicia o texto, por tanto, após se
posicionar em relação ao debate sobre o estudo histórico das imagens, identificando na
cultura da sociedade que pretende analisar os sentidos do termo, adotando a partir disto
o termo “original” no latim. No caso, trata-se da cultura medieval, extremamente visual
em sentido amplo, não meramente ilustrativo, e fundamentalmente cristã, pois o
cristianismo lhe legou o repertório iconográfico e as finalidades de uso e produção, além
do embasamento teórico.
No tópico “O valor indicial das imagens cristãs”, Schmitt chama a atenção para
a necessidade de se atentar para a especificidade da imagem a ser analisada. Em outras
palavras, é necessário notar suas características de composição (física, se for o caso) e
de funcionamento. Neste caso, ele diz que as imagens medievais, ao contrário das
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atuais, eram fixas, o que colocava de forma bastante concreta o problema da
representação do movimento, do tempo e de histórias. Sendo a maioria das imagens
narrativas, há muitas vezes repetição de uma mesma personagem, não devendo ser vista
como várias e como acontecimentos simultâneos, mas como a descrição de um
processo. Outra característica é a ausência de perspectiva. Para mostrar o que está
distante, ou antes, ou mais próximo, é utilizada a técnica “em folhado”, onde há
sobreposições de uma mesma figura, como ocorre nas iluminuras. Schmitt também
chama a atenção para a impossibilidade de reduzir a imagem medieval à representação
da realidade sensível. Como exemplo, a iluminura não é uma ilustração, mas uma
produção que tem como função específica presentificar, dar corpo, ao que não é visível,
como deus, a graça, etc. Além disso, o autor afirma que a imagem medieval deve ser
lida sincronicamente para captar o sentido, o que não é exatamente uma especificidade
medieval. A questão é que esta sincronia tem uma estrutura própria de funcionamento,
um código visual culturalmente determinado e conhecido pelo produtor e pelo
“consumidor”. Para a tradição medieval, a ordem de leitura é: de trás para frente e do
centro para a periferia.
Por fim, o autor sugere que se evite identificar uma única e unívoca função da
imagem, visto que a imagem não é um todo em si, mas um elemento a ser combinado a
outros para produzir sentido. O que quer dizer que, as mesmas imagens, combinadas de
maneiras diferentes, podem produzir diferentes significados. Nesse sentido,
considerados os diversos sentidos da Imago, o olhar do historiador deve estar atento a
relação entre eles, e não ao estudo dos casos isolados. Olhando apenas para uma
imagem e ignorando as operações realizadas por Schmitt, facilmente pode-se cair em
leituras orientadas pelo que a imagem parece representar e ilustrar a priori, esquecendo-
se que, no caso da Idade Média ocidental, as funções são diferentes.
Contribuições instrumentais
Retomando alguns pontos das operações realizadas por Schmitt para construir
o verbete, é possível extrair ferramentas analíticas para investigar os usos sociais das
imagens e seus modos de funcionamento para além do período medieval. Pode-se
formular estas ferramentas como posturas interrogativas, sendo cinco ao todo. Vale
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apresenta-las não na ordem em que aparecem no texto, mas em uma ordem que seja
mais esquemática, embora esta ordem sirva apenas para organizar a apresentação, visto
que no uso prático estas posturas se complementam, não havendo precedência.
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serem buscadas seriam bem diferentes, mas existentes e fundamentais para a
compreensão do funcionamento e da importância das imagens nesses contextos.
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Considerações finais