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Gisele Leite
Gisele Leite
Advogada e Pedagoga; Professora Universitária;
Doutora em Direito (USP); Mestre em Direito (UFRJ)
e Mestre em Filosofia (UFF); Pesquisadora-Chefe do
Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas; Professora
de diversas instituições de ensino privadas; Consultora
do Instituto de Pesquisas e Administração Escolar - IPAE;
Colunista e Articulista de diversos sites e revistas jurídicas;
possui o total de 18 obras jurídicas
Acredita-se que o processo coletivo 1 seja um espaço democrático de composição das lides e
deve adotar tutelas distintas voltadas para uma cidadania plural ou coletiva, buscando tutelar
interesses e direitos difusos, direitos coletivos e individuais homogêneos.
É possível haver o diálogo entre a Lei da Ação Civil Pública e novo codex. Sendo aplicável tanto
a tutela antecipada incidental como a tutela cautelar antecedente ou incidental que possuem
aderência com a Lei 7.437/85, porém o mesmo não ocorre com a tutela antecipada requerida
em caráter antecedente, considerando os bens da vida tutelados na ação coletiva que sempre
reclamam um pronunciamento judicial definitivo.
Evidentemente desse mar de crise, o processo não escapa ileso, tanto assim que se propõe a
rediscutir alguns institutos processuais, trazendo para o processo uma reordenação e uma
nova dinâmica própria do pensamento jurídico contemporâneo.
É verdade que tamanha discussão não deixa de afetar o processo tanto enquanto
procedimento ou rito como também como o agir de todos aqueles que nele intervêm (onde
transitam poderes, deveres, ônus, faculdades e responsabilidades) atuando como autênticos
agentes e não como meros sujeitos, como peões no tabuleiro de xadrez.
Lembremos que a tradicional doutrina sempre tratou as partes, o juiz e os demais
intervenientes da relação processual, enxergando o processo enquanto função da jurisdição e
de seu produto maior, a prestação jurisdicional responsável pela composição das lides
(sentença e suas eficácias) e de tantos outros aspectos e intervenções que o processo autoriza
e legitima.
Já no processo subjetivo individual o tempo já representa um óbice a ser superado, por certo
também na tutela coletiva 3, diante das necessidades da cidadania coletiva, a batalha ganha
ares de guerra. E, vencer a moda jurisdicional encontra no Código Fux uma rediscussão de
paradigmas das tutelas de urgência e da tutela cautelar, ofertando-se como parcela da solução
a construção sistêmica de uma prestação jurisdicional provisória como boa alternativa a uma
prestação jurisdicional definitiva.
Apesar de ser parcial a resposta legislativa ao problema da mora jurisdicional, tendo sido
construído para o processo individual, sua transformação para o processo coletivo requer
reflexão e crítica.
1. conflito individual coletivo tão conhecido pela cultura jurídica, até porque as pessoas desde
sempre, relacionam-se entre si a partir do mais diversos interesses, sobre eles controvertendo-
se, a exigir a intervenção da ordem jurídica. É milenar a tradição do Direito Processual, sendo
irrelevante se o sistema adota o common law ou civil law;
2. conflito coletivo que é fenômeno que emergiu da sociedade a partir das novas ondas de
direitos que a revolução industrial, a revolução do conhecimento, das ciências e tecnologia
passaram a produzir, arquitetando uma dinâmica célere, fazendo com que os sistemas jurídicos
se preocupassem a incluir no rol de suas proteções e garantias os direitos coletivos, assim
compreendidos como direitos transindividuais e de natureza indivisível, podendo se
caracterizar como difuso (pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato),
estabelecendo uma relação metaindividual ou pela característica de integrarem os respectivos
titulares de um grupo, ainda que indeterminado, ligados por circunstâncias de fato.
Há dilemas, pois nem sempre o possível substituto processual é capaz de provocar a devida
prestação jurisdicional pretendida e bem definida ou mesmo o legitimado pelo ordenamento
jurídico para atuar em juízo.
No Brasil, por muito tempo, se discutiu sobre a Defensoria Pública, como órgão público ligado
ao Poder Executivo, se de fato, estaria legitimado pela lei para atuar em juízo, principalmente
na promoção da ação civil pública em favor de um grupo de consumidores de determinado
produto ou serviço, até que a legislação veio a contemplar e pacificar a questão.
Por outro viés, tais tipos de conflitos repetitivos ensejam, porque não há manifesta vedação a
propositura de ações individuais, principal responsável pelo fenômeno da litigiosidade em
massa que tanto causa a morosidade na prestação jurisdicional e não permite a duração
razoáveldo processo.
O Código de Processo Civil de 1973 esforçou-se arduamente por meio de suas sucessivas
reformas para vencer a mora jurisdicional, construindo soluções processuais tais como o
processo cautelar e a tutela antecipada, além de outros procedimentos como o monitório.
Com a Lei 13.105/2015 veio inovar também, revisitando as tutelas de urgência e a tutela
cautelar, a partir de uma nova concepção que tem como objetivo a realização da efetividade e
a tempestividade da prestação jurisdicional, sob o valor constitucional do processo
democrático.
No capítulo "Dos deveres das Partes e seus Procuradores", o art. 77, VI estabelece: não praticar
inovação no estado de fato dobem ou direito litigioso, compondo, por outra via, hipótese típica
da ação de atentado, até então regulada pelos artigos 879 a 881 do CPC/73.
O paradigma do processo civil brasileiro sempre foi voltado à composição definitiva da lide, o
que não sofreu alterações, em sua substância, no CPC/2015. Vários são os institutos
processuais destinados a afirmar a segurança jurídica que deve conformar a atuação
jurisdicional, tanto no sentido de limitá-la como de afirma-la, cuja origem remonta às
influências racionalistas que tanto capitanearam a modernidade.
É sabido que uma das agudas críticas realizadas ao paradigma da ordinariedade que é
vinculado à segurança jurídica e à definitividade das decisões é o divórcio existente entre o
processo e o mundo dos fatos, pela superação do interesse público, no sentido da juris dictio
sobre as contingências do conflito individual.
Porém, cumpre distinguir a sumarização formal da sumarização material posto que acarretem
diferentes resultados processuais. É possível diante da sumarização formal, haver a produção
da coisa julgada. Enquanto que a sumarização material, poderá apenas prover a estabilização
da medida concedida que não se confunde a coisa julgada.
Convém frisar que a técnica de sumariedade tanto pode ocorrer na fase inicial do processo
instaurado, remetendo para outra subsequente a ordinariedade, ou ainda se esgotar
isoladamente num procedimento não exauriente. Tais procedimentos são dotados de forte
carga decisional e significativa redução do julgamento.
O Código Fux construiu, organizou e solidificou a jurisdição provisória, dando corpo próprio e,
prescreveu técnica capaz de permitir a tutela provisória a qualquer processo ou procedimento
e, igualmente, a qualquer grau de jurisdição.
Cumpre destacar que o conceito de provisoriedade esclarecido pela doutrina que aponta sua
intervenção para o enfrentamento de lides, quando tais proposições serão postas à prática com
a construção da jurisprudência.
O artigo 294 do CPC/2015 superou a infértil discussão em relação à distinção entre cautelares e
antecipatórias, e conciliou as espécies e subespécies na mais geral categoria de tutelas de
urgência.
Reconheçamos que a mora jurisdicional é mesmo inevitável. E nem existe uma organização
judiciária absolutamente isenta ao custo temporal que, por vezes, é inerente a outros valores
tutelados no âmbito da jurisdição, como acesso à justiça, o contraditório e a ampla defesa.
Porém, o sistema processual, tanto quanto possível vacinar-se contra a mora jurisdicional,
minimizando a seu nefasto reflexo sobre a efetiva prestação jurisdicional.
O CPC de 2015 inovou também revisitando as tutelas de urgência e a tutela cautelar a partir de
nova concepção que enfatiza a concretização da efetividade e a tempestividade da prestação
jurisdicional, sob um vetor constitucional de processo democrático.
O Código Fux conseguiu não apenas regulamentar com base na doutrina e na jurisprudência o
tema, como também inovou, agregando tanto o passado como o presente, impondo uma nova
perspectiva e extraindo a máxima otimização. Mas, é preciso enxergar o novo com os olhos do
novo, ou seja, o novo processo civil brasileiro.
Destaque-se que diante da renovação da legislação processual sobre o processo coletivo, que
tradicionalmente tem se utilizado ou da figura da antecipação de tutela ou da ação cautelar
para atender os casos de urgência em sede de ação civil pública, e por isso mesmo, que o
NCPC, ao revogar o processo cautelar, não deixou de contemplar as respectivas pretensões,
conforme o seu art. 301, que cuidou de ajustá-la, senão todas, as que efetivamente possuem
natureza acautelatória, à tutela provisória cautelar.
O paradigma do processo civil brasileiro sempre foi direcionado para a composição definitiva
da lide, o que não sofreu alterações, em sua substância, no CPC de 2015. São inúmeros os
institutos processuais preocupados em afirmar a segurança jurídica que deve conformar a
atuação jurisdicional, tanto no sentido de limitá-la como também de afirmá-la, cuja origem
remonta às influências racionalistas que conduziram a modernidade.
De certa maneira, tanto as tutelas definitivas como as provisórias estão comprometidas com a
substancialização do processo, embora que a prestação jurisdicional advinda do processo de
conhecimento plenário esteja muito mais sujeitos aos riscos do divórcio do direito material e,
mais precisamente, dos fatos que causaram o conflito, contaminando-se pela abstração e perla
virtualização do pronunciamento judicial.
Ao contrário dessa doutrina, entendemos que pode haver decisões provisórias sobre a lide,
tomadas com base num juízo de verossimilhança sobre a existência do direito, as quais, sendo
provisórias, não vinculam o juiz da sentença final, podendo ser por este revogadas livremente.
Talvez, este seja o ponto crucial para diferenciar a provisoriedade de definitividade: nas
decisões provisórias o juiz, independentemente da intervenção de órgão jurisdicional recursal,
pode, a qualquer tempo antes da sentença, modificar a sua decisão, pautada, até então, na
sumariedade dos juízos fundados na verossimilhança.
Esse traço definidor se fazia presente tanto nas ações cautelares sob a égide do CPC/73 como
nas providências antecipatórias previstas nos artigos 273 e 461, como nos casos dos
procedimentos especiais, a exemplo da liminar em sede de ação possessória, art. 928 do
CPC/73.
Para os casos de medidas cautelares, o lugar para rever a decisão, pelo mesmo grau de
jurisdição que a concedeu, seria ou o próprio processo cautelar (liminar versus sentença), ou
ainda, o processo principal quando do julgamento final e definitivo. Como resultado, a
sentença que resolvia o processo cautelar não se resguardava da coisa julgada material.
O comando provisório, portanto, contava expressa previsão temporal de validade e o que mais
revela de vigência. Ainda assim, o comando de concretização, de efetividade, de realização do
direito submetido à apreciação judicial.
O CPC de 2015 optou por destacar o caráter de provisoriedade para construir uma jurisdição
diferenciada, divorciada da jurisdição relacionada ao processo de conhecimento, seja pelo rito
do procedimento comum, seja pelos procedimentos especiais, e à definitividade das decisões
judiciais.
Com tal escolha, desviou o foco das tutelas satisfativas e cautelares, que deu tanta margem à
discussão no modelo de 1973, e nas reformas subsequentes, para as tutelas provisórias,
distinguindo em seu âmbito aquelas que seriam de urgência e as que se qualificariam pela
evidência.
Nessa opção, o CPC/2015 mostra-se que o codex renunciou, por absolta incoerência e
incompatibilidade lógica, aos rigores do processo de conhecimento e da prestação jurisdicional
definitiva quando da concessão da tutela provisória com soluções próprias como a do art. 297
e seu parágrafo único.
Mas há, também, a hipótese de que o provisório se esgote em si mesmo, sem que perca os
efeitos produzidossobre a relação do direito material, senão em todos,pelo menos em alguns
casos precisos, que precisam ser cirurgicamente tratados, sob pena de esvaziamento da
proposta e, o que é mais grave, ofensa ao devido processo legal.
Há a expressa menção no parágrafo único do art. 294 do CPC/2015 que dispõe que a tutela
provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou
incidental. Inova, no ponto, o CPC/2015 criando a figura da tutela antecipada requerida em
caráter antecedente, que vem regulada nos artigos 303 e 304.
Resumindo, pode-se concluir que: 1. a tutela antecipatória pode ser concedida antes do
processo definitivo ou em seu curso; 2. a tutela cautelar também pode ser concedida antes do
processo definitivo ou principal ou em seu curso.
O que revela uma nítida aproximação entre as duas tutelas(a antecipatória satisfativa e a
cautelar) no que tange ao tempo do processo.
A ação cautelar por sua vez poderia ser promovida de forma antecedente ou incidental ao
processo principal, mas deste sempre dependente, conforme os arts. 796, 801, inciso III e art.
806 do CPC/73.
Quanto à tutela antecipatória incidental, apesar de o Código Fux não tenha um título específico
apenas regulando expressamente a tutela requerida e concedida em caráter antecedente, não
há qualquer dúvida sobre sua previsão, que decorre tanto do parágrafo único do art. 294
conforme as disposições gerais estabelecidas no art. 300.
Registre-se que tal previsão, a exemplo da tutela antecipada requerida em caráter antecedente
e da tutela cautelar se aplica a qualquer procedimento comum ouespecial, a qualquer processo
ou qualquer grau de jurisdição, desde que a regra especial não conte com a previsão expressa
para prover as tutelas de urgência.
Uma vez instaurado o processo como demanda contenciosa, sendo apta a petição inicial,
cumprirá ao juiz, ao recebê-la, apreciar o pedido de provimentoantecipatório e então decidir
desde logo sobre seu deferimento ou não, citando-se o réu para a audiência de conciliação ou
mediação, se for o caso, aplicando-se o art. 334 do CPC/2015.
De sorte que provisória é a decisão que defere ou não o pedido antecipatório, liberando o
próprio juízo de alterá-la no todo ou em parte no curso do processo, ou, especialmente,
quando proferida a sentença definitiva.
Nesse sentido, o disposto no art. 296: a tutela provisória conserva sua eficácia na pendência do
processo, mas pode, a qualquer tempo, serrevogada ou modificada.
O Código Fux inovou ao criar a figura da tutela de urgência antecipada requerida em caráter
antecedente. Trata-se, portanto, dedecisão judicial provisória prevista para um momento
anterior ao processo definitivo, ainda que dele não se afaste.
A tutela antecipada está regulado nos artigos 303 e 304, já no art. 303 estão previstos o seu
cabimento, conversão em processo definitivo. E, há a nova figura da estabilização da decisão
provisória e o agir do réu.
É curial que a urgência deva ser exposta e fundamentada e estar atrelada ao perigo de dano ou
do risco ao resultado útil do processo. Cláusula em aberto, que somente a concretude de cada
caso poderá bem definir.
Para tais hipóteses, o CPC/2015 autoriza que o autor, provocando o Judiciário se limite a expor
os fundamentos necessários para descrição do quadro geral, com indicação do pedido principal
e exposição da lide, requerendo, base na urgência, a tutela antecipada, esta sim, especificada
até porque gerará, em caso de deferimento, conforme o art. 297, comandos compulsórios e
adjudicatórios, execuções, ordens, com a interferência direta no mundo fenomênico.
Se o juiz concluir que não existem elementos para a concessão da medida antecipatória, o
autor deverá ser intimado para no prazo de cinco dias emendar a petição inicial, sob pena de
ser indeferida a tutela provisória e extinto o processo.
A rigor, o indeferimento da petição inicial até porque se mostrará este inepto para instaura
processo pleno e definitivo.
A diminuição do prazo de quinze dias para cinco dias úteis represente um freio certeiro para a
prática do abuso do direito.
Verifica-se que a pretensão deduzida em caráter provisório tende e, mais, nasce com a vocação
para se transformar em um processo definitivo, voltado para prolação da decisão definitiva,
que possa qualificar-se pela coisa julgada material e estabilizar-se não apenas no seio do
processo, mais precisamente no endoprocessual, em que fora prolatada, mas estendendo-se
para os possíveis futuros processos, vinculando não só as partes, mas especialmente os juízes,
que não poderão decidir de forma contrária ao que ficou decidido no processo de origem.
Assim, com base no § 5º do art. 303, o autor indicará na exordial, ainda, se pretende valer-se
do benefício previsto no caput deste artigo, a doutrina vem defendendo que o art. 303 oferece,
em verdade, dois caminhos distintos, a saber:
2. o autor requer a tutela antecipada e indica qual a lide principal e a tutela final a qual está
vinculada a pretensão antecipatória que deverá tempestivamente declinar.
A tanto se afirma pela interpretação dada ao art. 304 e à necessidade de o réu recorrer da
decisão antecipatória, pois do contrário, irá se configurar a estabilidade do provimento
antecipatório.
Elaine Harzheim Macedo defende interpretação distinta. Não está o autor, ao fazer uso da
tutela antecedente e do procedimento estabelecido pelo art. 303, dispensado de preencher os
demais requisitos desse dispositivo, quais sejam: o de indicar o pedido da tutela final; de expor
a lide principal e de indicar o direito subjetivo que busca finalmente realizar.
O autor conta no novo sistema processual com duas opções, ou desde logo, ele promove o
processo principal, porque está apto a fazê-lo, e requer a tutela provisória satisfativa
incidentalmente, que atende a tradição no processo civil.
Tudo em uma única petição, o que afasta da vinculação aos arts. 303 ou 304, ou desdobra os
seus pedidos, requerendo em caráter antecedente, em um primeiro momento, a tutela
provisória satisfativa e, declinando os fundamentos do processo principal, se vale da dilação
temporal para emendar a petição inicial na forma do § 1º, inciso I do art. 303, em um segundo
momento, quando deduz a pretensão definitiva.
Trata-se de um processo com vocação para o processo definitivo, mas permite que
preambularmente se limite a pretensão e a tutela a ser concedida (provisória) a uma fase
preparatória, antecedente, mas que está ou deve estar apta a prosseguir com a segunda fase,
qual seja a definitiva.
Tanto é assim que o não atendimento ao aditamento da petição inicial leva à extinção do
processo, conforme o § 2º do predito dispositivo, sem qualquer exceção.
São inúmeros os dispositivos que sustenta essa orientação: a extinção do processo por falta de
emenda (§ 2º); a extinção do processo quando o juiz entender que nãohá elementos para a
concessão de tutela antecipada e a emenda da petição inicial não for apresentada (§ 6º); o
aditamento que ocorre nos mesmos autos e não se submete a novas custas processuais (§ 3º);
o valor da causa a ser indicado na primeira petição que deverá levar em conta o pedido de
tutela final.
Justifica-se no direito brasileiro, pois não há órgãos distintos para atender demandas de
urgência e demandas ordinárias e definitivas: o juiz que detém competência para apreciar a
tutela antecedente, seja satisfativa seja cautelar, é o mesmo que decidirá a pretensão
definitiva, ressalvadas competências recursais, mas que, no caso, se limitarão ao reexame do
decidido.
De sorte que o disposto do quinto parágrafo do art. 303 não tem a extensão pretendida, como
se fosse dado ao autor promover, desde logo, um pedido de tutela provisória em caráter
antecedente destinado a se esgotar nessa única pretensão e um procedimento encurtado de
suas fases cognitivas, embora nada impeça que essa consequência, eventualmente, seja
alcançada.
De fato, o disposto no referido parágrafo agrega-se ao caput e, não cria uma segunda
alternativa.
O que se quer com o quinto parágrafo é afirmar que o autor deve definir, em nome inclusive do
princípio da cooperação e do diálogo processual, se está promovendo a ação definitiva
mediante a cumulação de pedido antecipatório incidental, porque entende deter todos os
elementos necessários para tanto, ou se está promovendo o pedido antecipatório de caráter
antecedente, com base na urgência e requerendo o benefício do tempo de aditamento.
Trata-se de dever imposto ao demandante, deixando evidenciado que sua demanda, com
vocação para decisão definitiva, deve primeiramente ser enfrentada pela via da provisoriedade.
É o provisório com aptidão para se tornar definitivo.
Noutras palavras, não existe no capítulo dos artigos 303 e 304, duas postulações de urgência,
uma provisória voltada a ser definitiva e outra apenas provisória, porém sem qualquer
pretensão de definitividade.
O quinto parágrafo não tem, por si só, o poder de criar uma outra opção procedimental ao
demandante que não a referente ao caputdo art. 303, agregado dos demais parágrafos. A
pretensão inicial provisória, mas culmina por tornar-se definitiva.
Quanto ao agir do réu, ai sim, o Código prevê uma opção distinta, a saber:
Verifica-se uma nítida a influência do direito francês de da figura réfere, a tutela provisória está
intimamente comprometida com a urgência e a sumariedade, afirmando Jânia Maria Lopes
Saldanha apud Elaine Harzeheim Macedo.
Afigura do réferé 5, desde logo, envolve questão interessante, a justiça não teria por missão
proferir decisões definitivas ao processo quando provocada?
Mas não é um fato que os juízes ordenam medidas provisórias para evitar que o cidadão sofra
os prejuízos da espera?
Em princípio parece coerente afirmar que, ao conceder uma medida provisória, como nos
provimentos antecipatórios da tutela, ou ao conceder uma medida temporária como ocorre
nas ações cautelares, o juiz não analisa o mérito do litígio em oposição às decisões que "dizem
odireito" e, por ter sua decisão efeito limitado no tempo, não produz coisajulgada.
E, prossegue:
Mas é justamente esta uma das principais características da jurisdiction des réferés. Tal
provisoriedade repousa menos em sua limitação no tempo do que na possibilidade de que a
ordem réferé seja revisada por uma decisão contrária de competência de outro órgão
jurisdicional de composição colegiada que, teoricamente, não está ligado ao juízo
anteriormente realizado.
A experiência francesa mostra que essa segunda provocação pouco ocorre. Essa abstenção da
parte interessada gerou uma autoridade de fato do réferé sobre ojulgamento de mérito e
evidencia o apreço a esse tipo de jurisdição.
O CPC de 2015 em seu art. 304 trouxe a estabilização da decisão concessiva, não da lide, que
encontra, como se vê, alguma afinidade com réferé 6 francês, mas que também muito se
aproxima da técnica de monitorização da demanda, sem embargo de guardar peculiaridades
próprias, distinguindo-se naturalmente daquelas.
Nos procedimentos monitórios, há uma forte verossimilhança dos fatos alegados pelo autor,
pautada em geral em prova documental, dispensada o requisito da urgência, ao efeito de
autorizar uma ordem de pagamento ou cumprimento (monir) que tanto pode, em tese, se
estender àobrigação de pagar ou entregar coisa, como às obrigações de fazer ou não fazer,
ficando as opções de prosseguimento a critério do réu:
Assim, tomando ciência da tutela concedida, o réu poderá recorrer, provocando junto à
instância recursal, o reexame da decisão interlocutória concessiva, sem prejuízo de sua defesa
plena e ampla no processo que se instaura conforme o art. 303, ganhando a controvérsia foro
de ordinariedade e definitividade.
Mas pode também, apenas render-se ao pedido do autor e ao comando judicial exarado, o que
implicará na extinção do processo e a estabilização da decisão provisória, o que não significa
que ela se torne definitiva, enquanto julgamento do conflito.
Adiante os parágrafos do art. 304 permite que qualquer das partes, poderá demandar a parte
adversa com o intuito de rever, inclusive para ampliar os seus efeitos, no interesse do autor,
reformar para mais ou para menos, conforme interesse do autor ou do réu ou para invalidar a
decisão de mérito concedida em caráter sumário e provisório (no interesse do réu).
Para tanto, os autos ficarão à disposição da parte que vir a demandar, sendo desarquivados
com fito de instruir a petição inicial.
Nessa provocação ou segunda demanda, a jurisdição a ser exercida será plenária e definitiva.
Estas não contam com os elementos necessários para sua eternização. Por outro lado, não há
que se cogitar em decadência ou prescrição, porque institutos de natureza de direito material,
regrados que são pelas leis de direito material.
Remanesce, porém, o comando impositivo da lei processual: a ação para discutir o direito
subjetivo que foi atendido, em caráter sumário e por decisão provisória, se esgota no prazo de
dois anos.
Trata-se, no nosso sentir, de hipótese de perempção, o que exige, porém, aprofundamento que
o presente texto não autoriza.
Outrossim, de lege ferenda, algumas ponderações sejam deduzidas sobre eventual proposta de
um Código de Processo Coletivo. No particular, a Lei da Ação Civil Pública limita-se a tratar da
tutela de urgência em seu art. 4º:
Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive, evitar o dano ao
meioambiente, ao consumidor, à ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor artísticos,
estéticos, históricos, turísticos e paisagísticos.
É cediço que a Lei da Ação Civil Pública remonta ao ano de 1985, muito antes do CPC então
vigente, o de 1973, trabalhar, por força de sucessivas reformas que os anos noventa e o
primeiro decêndio de dois mil produziram com as tutelas antecipatórias genéricas, só inseridas
no processo civil brasileiro por força de reformas a partir de 1994.
De qualquer sorte, o art. 12 da Lei da Ação Civil Pública, dispõe expressamente: Poderá o juiz
conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.
Com advento do CPC/2015, não há mais que se cogitar, no direito brasileiro, em ação cautelar.
Trata-se de figura processual definitivamente revogada.
Cumpre, pois, ao intérprete promover o diálogo das fontes do CPC, que regulamenta de forma
sistêmica o instituto da tutela provisória, e a lei de regência do processo coletivo, no caso, a Lei
da Ação Civil Pública.
De maneira que, em sede de ação civil pública, poderá o autor, devidamente legitimado a
promovê-la, requerer, de forma incidental, ou a antecipação de tutela de efeitos da sentença
(natureza satisfativa), ou, ainda conforme a pretensão deduzida, cumular tutela cautelar
liminar, considerando os requisitos previstos no art. 300 do estatuto processual, sujeitando-se
às exigências ali expostas:
No processo coletivo, ao contrário, todo o conflito nele vertido ganha feição de extrema
complexidade, envolvendo uma cidadania coletiva, com repercussão erga omnes, que não
pode ser reduzido a uma decisão sumária e de natureza provisória, que só alcança a
estabilidade pela omissão do réu em ofertar resistência.
Por outro lado, regra ínsita à tutela de urgência, é a indenização pelos danos ou pelos prejuízos
que sua efetivação pode causar à parte adversa, prevendo o CPC de 2015 uma
responsabilidade objetiva no caso de: sentença desfavorável ao autor; negligência do autor em
fornecer os meios necessários para a citação do requerido quando obtida a tutela cautelar
antecedente, no prazo de cinco dias; cessação da eficáciada medida em qualquer hipótese
legal; reconhecimento, pelo juiz, da decadência ou da prescrição da pretensão do autor.
Em sede de ação civil pública, o que pertine ao processo coletivo, o art. 18 da Lei 7.347/95
prevêque não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer
outras despesas, nem condenação da parte autora a honorários advocatícios ou quaisquer
outras despesas, salvo comprovada má-fé.
Ora, a regra goza de fundamento principiológico: acesso à justiça o mais amplo e irrestrito
possível pela via do processo coletivo, com vistas aos interesses e aos direitos da cidadania
coletiva. Apenas a litigância de má-fé autoriza tais condenações, o que deve ser estendido à
ideia de qualquer outra reparação.
Obviamente não se está defendendo a ausência de reparação por eventuais prejuízos, mas
exigindo-se que está só seja reconhecida e aplicada pela via da responsabilidade subjetiva, na
medida em que se está frente um processo coletivo.
Referências:
MACEDO, Elaine Harzheim. Tutela Provisória no Processo Coletivo: Um Diálogo entre o Novo
Código de Processo e a Lei da Ação Civil Pública. Revista Opin. Jur., Fortaleza, ano 13, nº17, p.
157-183, jan./dez. 2015.
MONTENEGRO FILHO, Misael. Novo Código de Processo Civil Comentado. 2ª edição. São Paulo:
Atlas, 2016.
HARTMANN, Rodolfo Kronemberg. Novo Código de Processo Civil. Niterói- RJ: Impetus, 2016.
CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2016.
FLEXA, Alexandre; MACEDO, Daniel; BASTOS, Fabrício. Novo Código de Processo Civil. 2ª edição
Salvador: JUSPODIVM, 2016.
CARREIRA ALVIM, José Eduardo. Teoria Geral do Processo. 19ª edição. Rio de Janeiro: Forense,
2016.
BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e de
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