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O Ano da Morte de Ricardo Reis

Capítulo 1
Representações do Relativamente ao espaço, identificamos neste 1º capítulo:
século XX:
o espaço da cidade  O cais de Alcântara onde atraca o barco que transporta Ricardo Reis, recém-chegado do
Brasil, lisboeta, seguido de uma descrição breve da cidade obscura, marcada pela
presença do rio e da chuva (o “mau tempo” atmosférico surge como metáfora do tempo
histórico);

“Chove sobre a cidade pálida, as águas do rio correm turvas de barro, há cheia nas
lezírias” (p.7); "cidade sombria" e "cidade silenciosa", "cidade cinzenta", "ar carregado".

 A presença de barcos de guerra junto ao cais;


 Um cenário semelhante ao de outrora, o de 16 anos atrás (descrito por Ricardo Reis,
após a entrada num táxi que o transporta até ao hotel Bragança.

«A avenida por onde seguia coincidia, no geral, com a memória (...) e único teto cor de
chumbo» (p.14).
«Poucos automóveis passavam, raros carros elétricos (...) a dar a volta ao largo» (p.15).

 Descrição do hotel na rua do Alecrim;


 O ressoar do besouro elétrico ao abrir a porta dos vários quartos pelos quais passa;
 Descrição do gerente e das criadas;
 Descrição do quarto, a casa temporária de Reis (p. 16 a 23).
 Observações sobre a sala de jantar e dos restantes hóspedes do hotel e funcionários (os
criados, uma família de cinco e da hierarquia presente nesta ‘tribo’, um homem pesado,
de corrente de oiro sobre o peito e finalmente a de um homem de meia idade,
acompanhado por uma rapariga de 20 anos, cujo braço esquerdo está paralisado);
 Notícias nacionais através de um jornal, desde a possibilidade de uma cheia, a um
concurso de beleza infantil, o aumento da ceia nos asilos e as mais recentes inovações
nas vias de comunicação, através da leitura dos jornais por Ricardo Reis, já no seu
quarto.
 Contraste social entre a burguesia e a classe mais pobre (verificada através das
descrições do bodo nos jornais e da descrição do hotel);
 O estado da política nacional e internacional (tanto nas descrições da paisagem
portuguesa, semelhante à de outrora, até às descrições presentes nos jornais);
 Um Portugal estagnado, sem reação aos acontecimentos internacionais;
 A menção ao braço esquerdo paralisado da rapariga é também uma menção ao partido
de esquerda e à sua paralisação completa em Portugal.

Representações do  Lisboa simboliza a ditadura de Salazar imposta naquela altura;


século XX:  A ação decorre entre 29 de dezembro de 1935 e 8 de setembro de 1936 e, por isso, a
o tempo histórico e cidade é descrita desta forma deprimente, de modo a frisar o caráter opressor e
os acontecimentos repressivo do regime político em vigor.
políticos  Na primeira noite em Lisboa, Ricardo Reis recolhe ao quarto, após o jantar, levando o
jornal, para saber “as notícias da minha terra natal” (p.27).
 A enumeração é o processo utilizado para inventariar os acontecimentos noticiados,
sendo a ordem absolutamente arbitrária: não existe seletividade na leitura (e/ou na
própria organização do jornal); as notícias nacionais misturam-se com as internacionais
e os fait-divers têm o mesmo relevo dos eventos sociais e políticos importantes.
 A enumeração das notícias lidas vai sendo intercalada com comentários de Ricardo Reis,
caracterizados pela ligeireza e displicência. Esta atitude está de acordo com o
heterónimo Reis, aquele que afirma “Sábio é o que se contenta com o espetáculo do
mundo”. O discurso tem um ritmo vivo, de acordo com a enumeração, unindo a
expressão dos pensamentos da personagem e a reprodução dos segmentos textuais
lidos.
 O narrador utiliza a leitura das notícias para satirizar e criticar o estado do país e do
mundo naquela altura.
 Algumas das notícias enumeradas neste jornal são as seguintes (p. 28 a 31):
-O chefe de Estado inaugura uma exposição;
-Há perigos de inundações no ribatejo;
-Avanço das tropas italianas na Etiópia;
-Francesas desembarcam em Port-Said, no Egito;
-Varíola em Lebução e Fatela, gripe em Portalegre, febre tifoide em Valbom;
-Propaganda a vários bodos que ocorrem por todo o país.
Deambulação  A narrativa começa com a chegada de Ricardo Reis a Lisboa trazido pelo Highland
geográfica e Brigade. Ricardo Reis tem o primeiro contacto com Lisboa com a viagem que faz de táxi
viagem literária até ao hotel.

“(…) começa a cidade sombria, recolhida em frontarias e muros, por enquanto ainda
defendida da chuva, acaso movendo uma cortina triste e bordada, olhando para fora com
olhos vagos, ouvindo gorgolhar a água dos telhados (…)” (p.9).
“Perto do rio só se for o Bragança, ao princípio da Rua do Alecrim” (p.14)
“A avenida por onde seguiam coincidia, no geral, com a memória dela, só as árvores
estavam mais altas, (…)” (p.14)

 Há uma deambulação e descrição da cidade semelhante à de Cesário Verde e de


Bernardo Soares.

“Passa devagar o comboio de Cascais, travando preguiçoso, ainda vinha com velocidade
bastante para ultrapassar o táxi, mas fica para trás” (p. 15).

 Vão iniciar-se as digressões pelo espaço labiríntico da cidade e do “eu”.

Representações do Representações do amor:


amor;  No Hotel Bragança Ricardo Reis sente um fascínio por uma jovem tímida que possuí
uma mão inerte, acompanhada por seu pai.
Caracterização das  Na primeira noite em Portugal, ao jantar, no Hotel Bragança, Ricardo Reis vê uma jovem
personagens que, com o seu pai, vem regularmente a Lisboa para consultar o médico.
 O nome da jovem é Marcenda, nome retirado de uma ode de Ricardo Reis e que
significa "a que irá murchar". Está condenada a ser prisioneira desse membro inútil.
 A atenção de Reis é despertada e desenvolve-se em três momentos: a chegada da
jovem e do pai; o modo como a jovem se comporta à mesa; o movimento de Marcenda
quando Reis se levanta. Reis fica “fascinado” pela jovem, “sente um arrepio”, quando
descobre a sua deficiência física.
 Marcenda é caracterizada em termos gerais, idade e corpo (“rapariga de uns vinte
anos… magra…”), mas o seu traço distintivo é inútil: mão que surge personificada
(através de adjetivos e verbos como estando morta, tivesse uma existência própria). A
comparação (“a sua mão direita vai afagar, como um animalzinho doméstico, a mão
esquerda que descansa no colo”) e a metáfora (“cristal…”) evidenciam a importância
desse traço físico, símbolo do caráter incompleto e sem realização da mulher a que
pertence.
 A sua mão esquerda simboliza a morte dos partidos de esquerda na Europa com a
ascensão do fascismo e nazismo.
 Marcenda irá simbolizar o amor enquadrado na sociedade, entre pessoas da mesma
classe social;

Caracterização das personagens:


Ricardo Reis: “um homem grisalho, seco de carnes”, médico de profissão;
Pimenta: moço do hotel que carrega as malas de Ricardo Reis;
Salvador: responsável do hotel, atencioso com Reis;
Marcenda: 20 anos, magra, hóspede habitual, oprimida pelo pai e com a mão esquerda
paralisada
Intertextualidade  “The god of labyrinth” de Herbert Quain, (p. 21), livro que acompanhará Ricardo Reis ao
longo da obra, sendo metáfora da vida como um labirinto do qual não há saída;
 Poesia de Ricardo Reis:
“Mestre, são plácidas todas as horas” p. 22;
 Imitação criativa de verso de Fernando Pessoa:
“Do lar que nunca terei “ “…do lar que não tenho, se o terei…”” p. 28-29;
 Imitação criativa de Camões:
"Aqui o mar acaba e a terra principia" p. 1
"…mas tão indiferentes à grande molha que o universo espantam", p.9
 Imitação criativa de provérbio popular:
"...mão morta mão morta que não irás bater àquela porta." p.26
 Eça de Queirós, “A Cidade e as Serras” :
“…e já o hóspede poderia chamar-se Jacinto e ser dono de uma quinta em Tormes” p. 17;
 "Divina Comédia" de Dante, p. 30;
 Obra de Camilo Castelo Branco “Maria, não me mates que sou tua mãe”, em
"Ugolina, não me mates que sou teu filho" (Ugolina representa o fascismo, nazismo e a
guerra civil de Espanha. p. 30).

Linguagem, estilo e Estrutura externa da obra: dezanove capítulos sem numeração;


estrutura Estrutura interna:
 Chegada de Ricardo Reis a Lisboa;
 Alojamento no hotel Bragança;
 Primeiro contacto visual com Marcenda.
Tom oralizante e a pontuação:
 Narrador oralizante, cuja escrita flui como a voz que fala para ser ouvida;
 Ausência dois pontos, travessão e de verbos introdutores do discurso direto;
 Separação dos enunciadores, marcada apenas pela maiúscula inicial da palavra que
surge depois da vírgula.
 Utilização da vírgula e ponto final em substituição dos outros sinais de pontuação

Reprodução do discurso no discurso:


 Presença do discurso direto, do discurso indireto e do discurso indireto livre.

Recursos expressivos:
 Antítese - "Aqui o mar acaba e a terra principia." (p.7).
 Comparação - "O vapor é inglês, da Mala Real, usam-no para atravessar o Atlântico,…
como uma lançadeira nos caminhos do mar, para lá, para cá..." (p. 7).
 Enumeração - "...é o Tejo, o Dão, o Lima, o Vouga, o Tâmega..." (p. 13).
 Ironia - "...que bem tratados são em Portugal os macróbios, bem tratada a infância
desvalida, florinhas da rua, ..." (p.29).
 Metáfora - "...miragem criada pela movediça cortina das águas que descem de céu
fechado..." (p.8).
 Onomatopeia – “...teria havido uma sineta, derlim derlim ..." (p.16).

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