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Acórdão: 0020248-06.2018.5.04.

0103 (ROPS)
Redator: MANUEL CID JARDON
Órgão julgador: 1ª Turma
Data: 09/08/2018

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO

Identificação
PROCESSO nº 0020248-06.2018.5.04.0103 (ROPS)
RECORRENTE: EDILEUSA DE JESUS MOURA
RECORRIDO: EMPRESA BRASILEIRA DE SERVICOS HOSPITALARES - EBSERH
RELATOR: MANUEL CID JARDON

EMENTA

PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

ACORDAM os Magistrados integrantes da 1ª Turma do Tribunal Regional do


Trabalho da 4ª Região: por unanimidade, DAR PROVIMENTO AO RECURSO DA
RECLAMANTE, EDILEUSA DE JESUS MOURA, para determinar, em antecipação de
tutela, a sua remoção para filial do Hospital Universitário do Piauí (HU/UFPI/EBSERH), no
cargo de Técnico em Enfermagem. Expeça a Secretaria o competente mandado.
Custas de R$ 100, 00 sobre o valor de R$ 5.000,00 dado à causa, do qual fica a
reclamada dispensada pela razões expostas na fundamentação.

Intime-se.

Porto Alegre, 08 de agosto de 2018 (quarta-feira).

RELATÓRIO

PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE


TRANSFERÊNCIA DEFINITIVA

A sentença julgou improcedente o pedido de transferência da reclamante para a filial do


Hospital Universitário do Piauí (HU/UFPI/EBSERH), no cargo de Técnico em
Enfermagem, sob o fundamento de que o Poder Judiciário não pode se sobrepor às
normas estipuladas pela parte quando da contratação. Ainda, em relação à aplicação
analógica da Lei 8.112/90, artigo 36, inciso b, consignou que a reclamante não prova que
a mãe e ou o irmão são seus dependentes.

A reclamante não se conforma. Sustenta que o princípio da isonomia, consagrado


constitucionalmente, clama por interpretar o conceito de servidor público de forma mais
abrangente, de sorte a abarcar os empregados de empresas públicas (seu caso) e de
sociedades de economia mista. Diz que a situação de agravamento da saúde e
desamparo dos seus familiares é superveniente ao seu ingresso na reclamada, de forma
que não sabia que em um futuro próximo seu irmão e mãe reclamariam cuidados
básicos. Menciona que a cláusula 4ª do contrato de trabalho firmado entre as partes
ressalta a possibilidade de o empregado trabalhar em qualquer unidade da federação em
que a EBSERH tenha sede, filial ou subsidiária, como é o caso de Teresina. Refere que
embora a reclamada possua normativo interno disciplinando a matéria de movimentação
de pessoal, tais regramentos internos não preveem remoção/transferência por motivo de
saúde do empregado, cônjuge/companheiro ou dependente, que se enquadraria em uma
situação igualmente excepcional. Destaca que a movimentação em caráter excepcional
prescinde dos requisitos da existência de vaga e da abertura de concurso de remoção,
pois não faz sentido submeter uma pessoa que está em necessidade imperiosa de
transferência, por motivo de saúde, própria ou em pessoa da família, aguardar a abertura
de procedimento a depender da vontade da empresa - condição puramente potestativa.
Invoca a existência de proteção especial à família, conforme artigos 226, § 8º, 229 e 230
da CF e à saúde, bem como, no caso, de seu irmão, o Estatuto da Pessoa com
Deficiência - Lei nº 13.146/2015. Aduz estarem preenchidos os requisitos exigidos no
artigo 36, inciso III, letra "b", da Lei 8.112/90. Assevera que em casos semelhantes o STJ
já se pronunciou no sentido de que a "proteção constitucional à família se encontra acima
do interesse da Administração". Salienta que a presente situação exige um tratamento
jurídico diferenciado e solidário, que assegure a sua dignidade, nos termos do art. 1º,
inciso III, da CF. Menciona entendimentos jurisprudenciais no sentido de que não se
pode, em prol do interesse da Administração, desagregar a família, base da sociedade.
Sinala que o Direito do Trabalho não é regido somente pela CF, CLT, regulamentos de
empresa e normas coletivas, mas também por normas como tratados e convenções
internacionais e, nesse sentido, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos dispõe
que a família é o elemento natural e fundamental da sociedade e deve ser protegida pela
sociedade e pelo Estado. Reitera que sua mãe é uma idosa com grave problema
psiquiátrico e seu irmão um adulto com problema mental irreversível, não se afigurando
razoável a desagregação do núcleo familiar causada pela vontade de seu empregador,
cujo poder potestativo não é absoluto. Colaciona subsídios jurisprudenciais. Ressalta que
sua mãe e irmã constam no seu assentamento funcional na qualidade de seus
dependentes econômicos (fl. 66). Aduz que por atrair fato impeditivo do direito da
recorrente, a reclamada atraiu para si o ônus da prova, do qual não se desincumbiu, pois
somente foram anexados Regulamento de Pessoal (fls. 249/268) e a Norma Operacional
(fls. 269/282).

Examina-se.

A reclamante é empregada da empresa pública da Empresa Brasileira de Serviços


Hospitalares - EBSERH desde 04/03/2016, admitida por meio de concurso público ao
cargo de Técnico em Enfermagem exercido no Hospital Escola da Universidade Federal
de Pelotas - RS (contrato de trabalho, Id d154168). Afirma ter protocolado requerimento
administrativo tombado sob o nº 23762.000032/2017-45, no qual pleiteou sua
transferência definitiva para o Hospital Universitário de Teresina/Piauí, em razão da
avançada idade de seus genitores e das doenças psiquiátricas de seu irmão. Diz que
após o falecimento de seu pai, passou a cuidar diariamente de seu irmão, que necessita
de medicamentos e cuidados especiais em virtude do seu quadro de saúde. Alega que a
reclamada negou seu pedido de transferência sob o frágil argumento de que as
transferências ocorreriam por meio de concurso de movimentação, cujo edital seria
publicado em março de 2017, mas que de fato nunca foi lançado. Invoca a aplicação da
norma prevista no artigo 36, inciso III, alínea "b" da Lei 8.112/90 e a cláusula 4ª do seu
contrato de trabalho, que possibilita o empregado trabalhar em qualquer unidade da
federação em que a EBSERH tenha sede, filial ou subsidiária, como é o caso de
Teresina. Salienta que a situação de agravamento da saúde e desamparo dos seus
familiares é posterior ao seu ingresso na reclamada. Destaca que a movimentação em
caráter excepcional prescinde dos requisitos da existência de vaga e da abertura de
concurso de remoção. Pretende seja a reclamada condenada em obrigação de fazer
consistente em lhe transferir definitivamente para a filial do Hospital Universitário do Piauí
(HU/UFPI/EBSERH), no cargo de Técnico em Enfermagem. Requer a antecipação
provisória dos efeitos da tutela definitiva.

Em defesa, a reclamada transcreve os critérios e procedimentos específicos previstos na


Norma Operacional (NO) nº 01/2017, norma que regulamenta a movimentação dos
empregados públicos no âmbito da EBSERH. Destaca a inexistência de dispositivo legal
ou negocial a estabelecer a possibilidade de remoção para acompanhar tratamento de
saúde de dependente. Diz que quando a reclamante se inscreveu para o Concurso
Público 08/2015 - EBSERH/HE-UFPEL, Edital Nº 03 - Área Assistencial tinha
conhecimento prévio do local de sua lotação e das condições de saúde de sua família,
anteriores à prestação do concurso. Destaca que não há nos autos indicação de que
efetivamente exista a vaga na filial do Piauí para a qual a reclamante pretende ser
transferida, exigência esta descrita no item 3.2., "d", da NO 01/2017, tampouco
preenchimento dos demais requisitos previstos na norma.

Foram anexados aos autos diversos documentos que instruíram o processo


administrativo instaurado pela reclamante no âmbito interno da reclamada para a
concessão da transferência em questão (Ids 4930929 - Pág. 2 a 7d668ce - Pág. 17) e
normas internas da reclamada que regulam os pedidos de transferência e remoção dos
empregados públicos (Ids b9c99c9 e a53826d).

No que tange às normas internas da reclamada que regulam o pedido de transferência,


estabelece o Regulamento de Pessoal da reclamada que (Id b9c99c9 - Pág. 17):

"Capítulo XVII

Da Transferência e Remoção

Art. 48 Considera-se transferência a movimentação do empregado,


profissional cedido à EBSERH ou contratado exclusivamente para o
exercício de Cargo em Comissão, da sede para filial ou congênere e vice-
versa, desde que haja mudança obrigatória de domicílio.

Art.49 Considera-se a remoção a movimentação do empregado,


profissional cedido à EBSERH e contratado exclusivamente para o
exercício de Cargo em Comissão, no âmbito da sede para filial ou
congênere e vice-versa, que não caracterize necessidade de mudança de
domicílio e não gere despesas para a EBSERH.

Art. 50 A Transferência ou Remoção ocorrerá em decorrência de:

I - alteração regimental;

II - alteração no quadro de lotação;


III - mudança de unidade organizacional;

IV - desligamentos; e

V - cessões ou requisições.

Art. 51 A Transferência ou a Remoção, em caráter definitivo ou provisório,


da sede para filial ou congênere e vice-versa, deverá ser formalizada
conforme norma específica, e será autorizada quando atendidas as
seguintes condições:

I - existência de vaga no local de destino;

II - preenchimento, pelo empregado, dos requisitos mínimos exigidos para o


exercício de suas atividades na nova lotação;

III - prévia aprovação em exame médico ocupacional, quando necessário;

e,

IV - prévia autorização da chefia imediata d define os o local de origem e do


local de destino.

Também a norma operacional DGP Nº 01/2017 define critérios e procedimentos a serem


aplicados para a movimentação de pessoal no âmbito da Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares - EBSERH e dispõe, no item 3.2, que (Id a53826d - Pág. 5 e 6):

"3.2 MOVIMENTAÇÃO A PEDIDO DO EMPREGADO

A movimentação, por transferência ou remoção, a pedido do empregado


ocorrerá em caráter definitivo, na modalidade permuta ou individual e
deverá atender aos seguintes requisitos cumulativos:

a) Possuir 01 (um) ano de efetivo exercício;

b) Ter obtido no mínimo 75 (setenta e cinco) pontos no resultado de metas


na Avaliação de Desempenho de Competências - RMC/RMCE do ano
anterior. Para empregados contratados no período de 1º agosto a 31 de
dezembro do ano anterior, será utilizada a pontuação final do resultado da
Avaliação do Período de Experiência;

c) Não ter sido beneficiado, nos dois anos anteriores à data do


requerimento, com movimentação a pedido nas modalidades individual ou
permuta;

d) Não seja ocupante de cargo em comissão ou função gratificada na data


da publicação da portaria de autorização da movimentação;

e) Para modalidade individual: Existência de vaga, na Sede/Unidade


descentralizada de destino, para o emprego público idêntico;

f) Para modalidade permuta: existência de empregados com empregos


públicos idênticos que tenham interesse na movimentação por permuta.
(...)

3.2.2 Movimentação a Pedido do Empregado na Modalidade Individual

A movimentação, por transferência ou remoção, a pedido do empregado na


modalidade individual se dará sempre em caráter definitivo, no mínimo
anualmente, por meio de concurso de movimentação realizado nos
seguintes casos:

a) Antes da publicação do edital de abertura de concurso público, a fim de


oportunizar a mudança de unidade organizacional dos empregados em
atividade para as vagas disponíveis e dimensionadas ou redimensionadas
para Sede e/ou unidades descentralizadas;

b) Após a homologação de concurso público, se houver vaga disponível e


desde que todos os candidatos aprovados dentro do número de vagas
previstas no Edital do Concurso já tenham sido admitidos.

c) Não ocorrendo nenhuma das hipóteses acima, a movimentação


acontecerá apenas por permuta.

Verifica-se que no Parecer datado de 07/03/2017, ao indeferir o pedido de transferência


da reclamante, a empresa reclamada justificou que a norma interna n. 01/2017
estabelece que a movimentação, por transferência individual a pedido do empregado,
dar-se-á por meio de concurso de movimentação, com edital a ser publicado no mês de
março de 2017 (id d3518a7 - Pág. 8). No entanto, não há prova nos autos de que tenha
sido realizado o referido edital posteriormente, no ano de 2017, a fim de que a reclamante
pudesse solicitar o seu pedido de transferência na forma indicada pela reclamada.
Quanto aos requisitos previstos nas normas acima transcritas, destaca-se que a
reclamada não comprovou que a reclamante não tenha preenchido os requisitos
necessários para obter sua transferência nos moldes da normatização interna. Tampouco
a reclamada comprovou a inexistência de vaga para Teresina/Piauí, localidade para onde
a reclamante pretende ser transferida.

Vigora no processo do trabalho o princípio da melhor aptidão para prova, de modo que
cabia à reclamada comprovar que a reclamante não preenchia os requisitos necessários
para obter a transferência solicitada, ônus do qual não se desincumbiu.

Em relação à possibilidade de transferência por motivo de saúde em pessoa dependente


que viva às suas expensas e conste do seu assentamento funcional, ainda que tal
modalidade não esteja prevista nas normas internas da reclamada - empresa pública
vinculada ao Ministério da Educação, em razão da lacuna da lei e da semelhança de
situações aplica-se de forma analógica a Lei 8.112/90 que, em seu artigo 36, inciso III,
alínea "b", prevê tal hipótese na modalidade de remoção do servidor público, nos
seguintes termos:

"Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no


âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de sede.

Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por


modalidades de remoção:

I - de ofício, no interesse da Administração;

II - a pedido, a critério da Administração;

III - a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da


Administração:

a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil


ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, que foi deslocado no interesse da Administração;

b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou dependente


que viva às suas expensas e conste do seu assentamento funcional,
condicionada à comprovação por junta médica oficial;

c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em que o


número de interessados for superior ao número de vagas, de acordo com
normas preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que aqueles estejam
lotados. "

A aplicação analógica das disposições sobre remoção previstas na Lei 8.112/90 justifica-
se pela ausência na CLT e nas normas internas da reclamada da modalidade de
transferência pretendida pela reclamante, em razão de doença em pessoa da família que
seja dependente de seus cuidados e recursos financeiros. Ademais, deve ser atribuída
uma interpretação ampliativa ao conceito de servidor público para alcançar não apenas
os que se vinculam à Administração Direta, como também os que exercem suas
atividades nas entidades da Administração Indireta, caso da reclamante, em consonância
com as normas e valores nos quais a Constituição fundamenta-se, especialmente em seu
artigo 226. Nesse sentido, o Poder Público deve velar pela proteção à unidade familiar.
Assim, deve ser ressaltada a ampliação do conceito de servidor público realizada pelo
STJ:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


LICENÇA PARA ACOMPANHAR CÔNJUGE. EMPREGADO DE
EMPRESA PÚBLICA FEDERAL. POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO
AMPLIATIVA DO CONCEITO DE SERVIDOR PÚBLICO.

2. Deve ser atribuída uma interpretação ampliativa ao conceito de servidor


público para alcançar não apenas os que se vinculam à Administração
direta, como também os que exercem suas atividades nas entidades da
Administração indireta. Precedentes: REsp 1.438.841/CE, Relator. Ministro
Sérgio Kukina, DJe de 9/12/2015; REsp 1.511.736/CE, Rel. Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 30/3/2015; EREsp 779.369/PB,
Relator Teori Albino Zavascki, Relator p/ acórdão Ministro Castro Meira,
Primeira Seção, DJ de 4/12/2006; MS 14.195/DF, Rel. Ministro Sebastião
Reis Júnior, Terceira Seção, DJe de 19/3/2013 . Precedente STF: MS
23.058/DF, Tribunal Pleno, Min. Rel. Carlos Britto, DJU 14/11/2008.

3. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1.408.930/PE, Rel.


Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, DJe 28/03/2016)

Diante disso, considerando que a reclamante faz jus à aplicação da regras da Lei
8.112/90, exsurge a necessidade de verificar se a situação se amolda à hipótese de
incidência da norma em questão.

Para que a reclamada tenha direito à remoção para a filial do Hospital Universitário do
Piauí (HU/UFPI/EBSERH) no mesmo cargo, independentemente de interesse da
Administração, faz-se necessária a comprovação de que possui pessoa dependente em
situação de doença, a tornar imprescindível a sua proximidade para prestar assistência.

No caso, em que pese a mãe e o irmão da reclamante não tenham sido submetidos à
junta médica oficial da reclamada, foram anexados atestados médicos, declarações e
receituários que revelam o seu precário estado de saúde. De acordo com o laudo médico
de Id 8abcef1 - Pág. 12, o irmão da reclamante possui retardo mental, síndrome epilética,
de modo que precisa de acompanhamento contínuo para necessidades diárias. Em razão
disso, ele recebe benefício assistencial à pessoal com deficiência (LOAS). Quanto à mãe
da reclamante, na declaração médica de Id 8abcef1 - Pág. 13 consta que possui doença
inflamatória crônica progressiva, com comprometimento principalmente de mãos e
punhos e de doença degenerativa crônica que afeta principalmente joelhos e tornozelos,
apresentando ainda limitação funcional. Além disso, também consta nos autos laudo
psiquiátrico no sentido de que a mãe da reclamante é portadora da enfermidade
especializada F33.3 da CID - 10, com quadro de humor deprimido, tristeza vital, anedonia
e, por conseguinte, está sem condições de tratar atos da vida civil (Id d3518a7 - Pág. 13).
Verifica-se ainda que no processo administrativo anexado aos autos (Id 4930929) a
reclamante explicou que depende de seus tios, também idosos, para auxiliar sua mãe
nos cuidados de seu irmão. E para agravar o quadro, o pai da reclamante faleceu em
novembro de 2016 após o ingresso da reclamante na empresa pública reclamada
(certidão de óbito de Id 8abcef1 - Pág. 15), o que complicou os cuidados da sua genitora
em relação ao seu irmão com deficiência.
Constata-se que embora algumas patologias, especialmente a deficiência do irmão da
reclamante, já existissem anteriormente ao contrato de trabalho da demandante, após o
falecimento de seu pai o quadro de saúde da genitora se agravou, que também passou a
cuidar sozinha de seu filho com deficiência. Assim, o fato de a mãe da reclamante ser
pessoa com diversos problemas de saúde, o que ficou comprovado pelos diversos
atestados, laudos e receituários anexados aos autos, e ainda prestar cuidados ao irmão
da reclamante de forma isolada, em razão do falecimento de seu marido, evidencia a
extrema gravidade do quadro e a necessidade de a reclamante estar próxima para
prestar auxílio ao seu núcleo familiar.

Registra-se que o irmão e a mãe da reclamante constam nos seus assentamentos


funcionais como seus dependentes econômicos (Id d3518a7 - Pág. 17). Ademais, o
quadro de saúde de seus familiares revela a dependência nos cuidados por meio de
assistência pessoal, e não apenas financeira.

Trata-se, em realidade, de compatibilizar a lei ao disposto nos artigos 229 e 230 da


Constituição Federal. Com efeito, a Constituição estabelece que é dever dos filhos ajudar
e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade, sendo notadamente este o caso
dos autos. Nesse passo, há que se conferir uma interpretação ampliativa ao disposto na
lei diante das peculiaridades do caso concreto, a fim de que também o conceito de
dependência abranja a situação posta na inicial.

Consigna-se que o direito do servidor à sua remoção para cuidar de familiar enfermo e,
no caso, como deficiência, não tutela apenas interesse do servidor, mas também da
própria Administração Pública, que passa a ter seus serviços desempenhados de forma
mais eficiente.

Quanto à tutela de urgência antecipada (artigos 294, 300 do CPC/2015), o perigo de


dano está evidenciado pelo efetivo prejuízo advindo do fato de a reclamante estar
impossibilitada de prestar assistência a sua mãe e irmão, agravado pela separação
geográfica de sua família. Assim, a verossimilhança das alegações da reclamante
recomendam a sua remoção imediata.

Neste contexto, dá-se provimento ao recurso da reclamante para determinar, em


antecipação de tutela, a sua remoção para filial do Hospital Universitário do Piauí
(HU/UFPI/EBSERH), no cargo de Técnico em Enfermagem. Expeça a Secretaria o
comptetente mandado.
Prerrogativas da Fazenda Pública:

Adota-se entendimento manifestado em julgamento desta Turma do qual participei, em


processo ajuizado contra a reclamada, com acórdão da Desembargadora Rosane
Serafini Casa Nova:

"EQUIPARAÇÃO DA RECLAMADA À FAZENDA PÚBLICA. EMPRESA


BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES - EBSERH. Faz jus a
reclamada a tratamento equiparado à Fazenda Pública, considerando que
a finalidade da empresa pública demandada é a prestação de serviços
públicos de saúde, com atendimento integral e exclusivo pelo SUS,
consistente em serviços gratuitos de assistência médico-hospitalar,
ambulatorial e de apoio diagnóstico e terapêutico à comunidade, assim
como a prestação às instituições públicas federais de ensino ou instituições
congêneres de serviços de apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão, ao
ensino-aprendizagem e à formação de pessoas no campo da saúde
pública. Desprovido o apelo.(1ª Turma do TRT da 4ª Região, 0020539-
40.2017.5.04.0103 (RO), julgado em 15/03/2018)

Diante do exposto, dispensa-se a reclamada do pagamento das custas processuais e da


realização do depósito recursal.

MANUEL CID JARDON

Relator

VOTOS

PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:

DESEMBARGADOR MANUEL CID JARDON (RELATOR)

DESEMBARGADOR FABIANO HOLZ BESERRA

DESEMBARGADORA ROSANE SERAFINI CASA NOVA

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