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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ORIENTADOR: PROFESSOR CELSO FERNANDES CAMPILONGO
JOSÉ GLADSTON VIANA CORREIA
SÃO PAULO
2013
i
RESUMO
CORREIA, José Gladston Viana. Sociologia dos Direitos Sociais: Escassez, Justiça e
Legitimidade. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo: São Paulo, 2013.
ii
ZUSAMMENFASSUNG
Nach der Verkündung der Verfassung von 1988 entstanden in den brasilianischen
Gerichten neue Arten von Forderungen, die sich auf Leistungen durch den Staat als Folge
der Sozialrechte beziehen. Die Positivierung dieser Rechte in der Verfassung erlaubte, in
der Justiz die Anpassung der öffentlichen Richtlinien an die verfassungsrechtliche Normen
durchzusetzen. Das sorgte für riesige Kontroversen in juristischer Dogmatik und in
gerichtlichen Entscheidungen. Das Ziel der vorliegenden Arbeit ist es, die Gerichtsbarkeit
der Sozialrechte aus der soziologischen Perspektive der Systemtheorie zu untersuchen.
Ausgehend von der Form System/Umwelt wird die Komplexität der Einklagbarkeit der
Sozialrechte analysiert, um die Möglichkeiten und Grenzen des Rechtssystems vor anderen
sozialen Subsystemen, insbesondere der Wirtschaft und Politik, zu skizzieren.
iii
INTRODUÇÃO
1
direitos. Afinal, se a Constituição garante direitos sociais, qualquer decisão política sobre
eles deve ser considerada lícita apenas por provir de representantes do povo? E nos casos
em que se considere insatisfatória a implementação dos mandamentos constitucionais pelo
Legislativo e Executivo?
Não tardou a que o espaço de disputa aberto pela Constituição nos tribunais
fosse preenchido por variados tipos de demanda. Se a política não é capaz de garantir
acesso a serviços adequados de saúde e educação ou a moradias dignas, o direito poderia
ser a última esperança. Como resultado, cresceram em número e em repercussão as ações
judiciais que pleiteavam prestações estatais consideradas decorrentes dos direitos sociais.
Passou-se a postular por medicamentos não distribuídos voluntariamente pelos entes
públicos, a se requerer a abertura de vagas em creches e escolas infantis, enfim, a se
pretender obrigar o poder público, pela via judicial, a tornar eficazes os comandos
constitucionais. As modificações sociais desde então ocorridas não são desprezíveis.
Problemas antigos como a pobreza, a legitimação política e o espaço destinado ao
Judiciário na tripartição de Poderes ganham novas dimensões.
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O enfoque escolhido para este estudo é o da teoria dos sistemas. Os motivos
para tanto são vários. Em primeiro lugar, trata-se de teoria que mostra com clareza e sem
simplismos as relações entre os âmbitos da sociedade moderna – de modo especial, direito,
política e economia. Considerar estas relações sob olhar sistêmico pode afastar as
discussões sobre direitos sociais do senso comum, daí advindo ganhos explicativos para a
ciência. Ademais, a teoria dos sistemas justifica e possibilita a observação externa dos
problemas jurídicos. Permite tratar da judicialização dos direitos sociais sem adotar como
distinções-bases as diferenças lícito/ilícito, ter/não ter e governo/oposição. Desta maneira,
evita-se a tomada de posições internas ao direito, à política ou à economia. Esta é uma
autolimitação da teoria dos sistemas que lhe permite, paradoxalmente, ampliar os seus
horizontes. Desvinculado da necessidade de chegar a conclusões jurídicas, políticas ou
econômicas, o estudo sistêmico pode se dedicar à análise da inserção dos direitos sociais
prestacionais na sociedade moderna, com seus múltiplos pontos de vista, seus potenciais
conflitos e sua incomensurável complexidade.
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No terceiro capítulo, as atenções serão centradas no direito. Será investigado o
modo como abstrações do sistema jurídico – dogmática e teoria do direito – reagem diante
da complexidade que emerge com a judicialização dos direitos sociais prestacionais. Como
questões de fundo, figurarão as seguintes indagações: o direito desempenha sua função
quando direitos sociais são levados aos tribunais? A dogmática e a teoria do direito
auxiliam nesta tarefa?
4
CONCLUSÃO
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possibilidades, desde observar a escassez como uma contradição ilícita até considerar
ilegais algumas alocações específicas de recursos estatais escassos.
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se à lógica política. A depender dos arranjos políticos num dado momento, permanece
inerte frente aos problemas de inclusão social. Defrontado com esta situação, o sistema
jurídico não consegue incluir economicamente nem substituir o Estado na adoção de
políticas públicas que implementem direitos sociais. Suas restrições operativas permitem
apenas que ele generalize expectativas acerca dos outros subsistemas sociais. Aí está sua
peculiaridade e sua importância na sociedade moderna. Ao generalizar expectativas sobre a
atuação estatal, o direito torna necessária a decisão política. Não decidir sobre a
implementação de direitos sociais passa a significar decidir não os implementar. A pressão
exercida sobre o sistema político é enorme.
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programantes das operações jurídicas, tradicionalmente advindas da política no estado de
direito, são precisamente as que o direito considera insuficientes. Onde, então, pode o
sistema jurídico encontrar material normativo que sirva como ponto de partida para a
generalização de expectativas normativas sobre as políticas públicas? Para a análise
sistêmica, a única alternativa parece ser a valorização da jurisprudência como fonte de
regras a serem interpretadas, trabalhadas e reaplicadas ou superadas em decisões jurídicas
posteriores. Trata-se de um caminho aberto pela dinâmica atual do próprio sistema
jurídico, que considera os precedentes cada vez mais como parâmetros normativos.
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