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(Prezadas e Prezados,
Espero ter conseguido compilar todo o conteúdo da p1, que conjuntamente com o resumo
que fiz para vocês à p2, procurei prover a melhor preparação à prova substitutiva que
pude fazer a vocês. Desejo-lhes todo o sucesso nesta prova e na vida. Foi um privilégio e
um prazer ser seu monitor até aqui. Um grande abraço,
VFPM)
O Brasil teve seu limite expandido ao longo do século XVII e XVIII devido a vários fatores,
como as bandeiras, a pecuária, a mineração, etc. Isto levou ao problema de limitação
imposto ainda pelo Tratado de Tordesilhas em 1494 e revisto, sobretudo a partir da
fundação da Colônia do Santíssimo Sacramento em 1680, pelos portugueses, no sul do
atual Uruguai, que acarretou em uma invasão espanhola vinda de Buenos Aires (fundada
na outra margem do Rio da Prata ainda em 1536). Vários conflitos envolveram as Coroas
de Portugal e Espanha e seus súditos na América no século XVIII e vários tratados foram
feitos redefinindo o território brasileiro.. Em 1680 os portugueses criaram a Colônia do
Santíssimo Sacramento, no atual Uruguai, que na época era território espanhol. A intenção
da Colônia do Sacramento era fazer o comércio e tirar proveito da boa economia
mineradora de prata na região. Sacramento constituía-se, portanto, numa área de
contrabando originado da parceria Portugal-Inglaterra e tornou-se uma espécie de
“território da discórdia” entre Portugal e Espanha, que iriam disputá-lo por mais de um
século. Outro problema era que na margem oposta a Sacramento estava Buenos Aires,
fundando nas primeiras décadas do século XVI.
- Os tratados
1) Tratado de Lisboa (1681): A
Espanha reconhece a Colônia de
Sacramento (parte do atual
Uruguai) como território
português. Após a criação da
colônia em 1680 ocorreu uma
invasão espanhola à Sacramento,
mas também houve forte pressão
inglesa sobre a Espanha.
Conforme o mapa [ao lado] —————>
podemos perceber que, de forma
geral, a Linha de Tordesilhas
ainda permanecia.
# TÓPICO 2 - INDEPENDÊNCIA DO
BRASIL (1808-1825)
Antecedentes
Existia uma dependência histórica de Portugal com a Inglaterra. Desde a segunda metade do século
XVII, Portugal pegava empréstimos e navios emprestados com a Inglaterra. O Tratado de
Metthuen ilustrava essa dependência.
Com o bloqueio continental, Napoleão determinou que ninguém poderia fazer comércio com a
Inglaterra sob pena de invasão. Dom João manteve o comércio com a Inglaterra. Napoleão deu um
ultimato. Dom João optou por ficar com seu aliado secular.
O primeiro a falar sobre transmigração da Corte foi Padre Antônio Vieira. Marquês de Pombal e
Dom Rodrigo Coutinho também falaram sobre tal ideia. O Brasil era a colônia portuguesa mais
lucrativa. Diante da invasão franco-espanhola (Tratado de Fontaine-bleau), Dom João colocou em
prática o projeto da transmigração. Portugal ficou sendo administrado por um regente inglês. A
Família Real foi escoltada por três navios ingleses. Em 1808, a Família Real chegou ao Brasil.
O Rio de Janeiro passou a ser a metrópole, a capital do reino português.
Abertura dos povos as nações amigas foi feita logo após a chegada, sendo que a principal nação
beneficiada foi a Inglaterra. Esse foi o marco do fim do pacto (exclusivo) colonial.
Dom João revogou o Alvará de 1875 e permitiu a instalação de manufaturas no Brasil.
Em 1810, após sofrer pressões inglesas, Dom João aceitou os Tratados Desiguais (de aliança e amizade,
e de comércio e navegação):
* os comerciantes ingleses que frequentavam o Brasil passaram a ter o direito à tolerância religiosa;
* os ingleses ganharam direito a cláusula de extraterritorialidade;
* conseguiram diminuir a tarifa alfandegária para 15% (valor menor que o de portugueses);
* Dom João aceitou o fim do tráfico atlântico de escravos.
Felizberto, o maior traficante de escravos, estava construindo uma casa e cedeu-a para Dom João
morar. Foi criada uma imprensa. O primeiro jornal foi a Gazeta do Rio de Janeiro com informes
oficiais.
Foram feitas uma série de reformas joaninas como a casa da pólvora, o Banco do Brasil, a Real
Academia Militar, o teatro do Brasil, a biblioteca real, o real horto (atual jardim botânico).
Política Externa
Logo no início, Dom João decidiu invadir a França na América em resposta à invasão francesa a
Portugal. Em 1809, os luso-brasileiros tomaram Caiena. Carlota Joaquina queria conquistar a
Banda Oriental para ser ‘la reina del sur’. José Artigas foi considerado o herói nacional uruguaio. Ele
liderou uma resistência na Banda Oriental e conseguiu expulsar os luso-brasileiros entre 1810-11.
Artigas tinha um projeto popular nacional e planejava a reforma agrária. A própria elite uruguaia
voltou-se contra Artigas. Dom João promoveu, então, uma segunda invasão a Banda Oriental e
conseguiu anexá-la chamando-a de província Cisplatina.
Com o Congresso de Viena, todos os reis teriam seus territórios devolvidos desde que estivessem no
território, mas Dom João não estava e não queria voltar para Portugal. Havia pressões dos
portugueses enraizados (aqueles que vieram com a família real e já tinham-se fixado e enriquecido
aqui) e, além disso, temia-se uma revolução liberal em Lisboa.
Então, o Brasil foi elevado a Reino Unido de Portugal e Algarve, assim, Brasil e Portugal tornaram-
se a mesma coisa. A partir desse momento, o Brasil deixou de ser colônia (1815).
Nossa situação era completamente diferente da América Espanhola. Dom João foi um rei europeu
coroado no Brasil.
Segundo Evaldo, as revoltas de Pernambuco no século XIX tiveram origem na Insurreição
Pernambucana. Os pernambucanos expulsaram os holandeses sozinhos e devolveram o território
para Portugal, entretanto eles não receberam prestígio. A cana e o algodão estavam em decadência
enquanto aumentava-se impostos em todo o país e só no sudeste, sobretudo no Rio, as reformas
eram feitas. Os comerciantes também estavam insatisfeitos devido ao privilégio aos comerciantes
reinóis. O Seminário de Olinda tinha uma influência muito grande do iluminismo. A Revolução
Pernambucana de 1817, também foi conhecida como Revolta dos Padres, devido ao envolvimento
de clérigos como Frei Caneca. Eles expulsaram o governador de Pernambuco, instituíram um
governo provisório, diminuíram os impostos, estabeleceram a liberdade de imprensa, a igualdade
entre portugueses e brasileiros e a igualdade jurídica. Os latifundiários, temerosos de a igualdade
jurídica fosse o primeiro passo para a abolição, saíram do movimento provocando um racha. Dom
João aproveitou para fazer uma forte repressão.
Em 1820, aconteceu a Revolução Liberal do Porto. A elite portuguesa liderou uma revolta
demandando:
Aqui do Brasil, Dom João afirmou aceitar o movimento e a constituição, e voltou para Portugal.
Dom Pedro ficou no Brasil como príncipe regente.
Em Portugal, foram instaladas as Cortes constituintes e isso deu força ao processo de independência
brasileiro porque iniciou um conflito de interesses entre as cortes portuguesas e os brasileiros. As
Cortes queriam a volta do pacto colonial e os brasileiros1 queriam a manutenção do Reino Unido.
As Cortes eram formadas por 180 deputados: 100 de Portugal, 30 de Algavere e 50 brasileiros.
A defesa da manutenção do Reino Unido ganhou um aliado de peso: Dom Pedro. Houve uma série
de atritos entre os brasileiros e Dom Pedro, e as Cortes.
As Cortes portuguesas começaram a perceberem que Dom Pedro estava defendendo demais os
interesses brasileiros. As Cortes exigiram sua volta a Portugal e no dia 9 de janeiro de 1822, houve o
Dia do Fico: Dom Pedro rompia com as Cortes decidindo ficar no Brasil. Em março do mesmo ano,
ele criou a Lei do Cumpra-se: qualquer ordem vinda de Portugal só poderia ser cumprida depois da
autorização de Dom Pedro. A partir de meados desse ano, começaram a acontecer uma serie de
revoltas pela independência.
Em São Paulo, Dom Pedro recebeu duas cartas: um das Cortes (dizendo que caso ele não voltasse,
as Cortes invadiriam o Brasil) e outra da Princesa Leopoldina. ‘Laços fora’, o grito da independência
havia sido dado.
O primeiro obstáculo a ser superado para a efetivação da independência foi fazer com que todos os
brasileiros concordassem com a Independência, sobretudo as elites periféricas. Essas lutas ficaram
chamadas de Guerras de Independência. Na América espanhola, as guerras eram entre colonos e
metrópole. Aqui no Brasil foi diferente. No Rio, houve três dias de conflito.
Guerra da Cisplatina
Levante dos 33 orientales: a elite uruguaia comprometeu-se a lutar pela independência. As Províncias Unidas do
Rio da Prata comprometeram-se a ajudar o Uruguai.
O Brasil queria ter hegemonia nas Províncias do Prata. A Marinha Brasileira era forte, mas a cavalaria
uruguaia era superior. Havia um impasse.
Após de três anos de desgaste, começaram as negociações entre Brasil e Argentina. A Inglaterra foi
convocada para intermediar. Ela apoiou a criação de um país independente, o Uruguai - o algodão entre dois
cristas.
Economia
O Brasil do Primeiro Reinado não tinha dinheiro. A crise brasileira ocorreu devido à decadência da
cana-de-açúcar e do algodão. Estávamos concorrendo com o açúcar de beterraba feito na própria
Europa e o algodão brasileiro era volátil: só ganhávamos dinheiro quando o algodão americano
estava ruim. Houve a falência do Banco do Brasil.
Bernardo de Vasconcelos tentou implementar a monarquia representativa, ele era um liberal (até
certo momento). Ele criou a Lei Bernardo Pereira de Vasconcelos que estabelecia em 15% a tarifa para
todos. Na prática, isso baixou a arrecadação do governo. A dívida externa era crescente.
Em 1826, Dom João morreu em Portugal. O herdeiro do trono português era Dom Pedro, mas ele
estava em meio à Guerra da Cisplatina, então ele abdicou ao trono português em favor de sua filha,
Dona Maria da Glória, que era uma criança. O tio dela, Dom Miguel, aproveitou para usurpar o
trono. Dom Miguel não se conformava com o liberalismo de Portugal, ele já tinha tentado dar dois
golpes.
Com ele, Portugal viveu um retorno ao absolutismo. As forças liberais chamaram Dom Pedro e ele
bancou as tropas para lutarem em Portugal mantendo os interesses de Maria da Glória (Crise
Sucessória Portuguesa). Além de aumentar os gastos, politicamente isso também foi ruim, porque os
brasileiros começaram a achar que Dom Pedro era mais português do que brasileiro.
Os brasileiros foram muito influenciados por um evento que aconteceu na Franca chamado de Os 3
gloriosos que foi a Revolução Francesa de 1830. Esse episódio pôs fim a uma monarquia absolutista e
iniciou uma monarquia constitucional regida pelo Rei Burguês.
Cresceu no Brasil um sentimento contra Dom Pedro. Leopoldina, que era amada pelo povo,
faleceu. As crises aumentaram. Libero Badaró, um jornalista que era o principal opositor de Dom
Pedro, foi assassinado.
Houve três dias de conflito entre portugueses e brasileiros no centro do Rio de Janeiro. Esse evento
foi chamado de A Noite das Garrafadas (porque os portugueses arremessaram garrafas pelas janelas das
casas nos brasileiros). Dom Pedro resolveu demitir todos os brasileiros que estavam no ministério,
então. O ministério formado ficou conhecido como o Ministério dos Marqueses.
A pressão para a renúncia de Dom Pedro era tão grande que chegaram a colocar uma esquadra na
Baía de Guanabara. Em Portugal, ele era bem visto, como um salvador do liberalismo. Ele decidiu
ir para Portugal e deixou o trono brasileiro para seu filho. José Bonifácio foi indicado como tutor de
Dom Pedro II. Em 7 de abril de 1831, Dom Pedro abdicou. A partir desse momento, o Brasil tinha
um monarca brasileiro (Dom Pedro II tinha 5 anos). Devido sua tenra idade, o Brasil passou a ser
governado por regentes - uma espécie de experiência republicana.
Em 1831, por ocasião da abdicação do imperador em 7 de abril, tivemos a Regência Trina Provisória.
Ele abdicou em um momento de recesso parlamentar sendo que era o parlamento que teria de
decidir quem seria o regente. Em 1831, quando o congresso voltou a funcionar em sua segunda
legislatura (a primeira foi de 1826-31), transformou-se a Regência Trina Provisória em Permanente (de
1831-35).
Em 1835, pela primeira vez, houve eleição geral para um chefe de Estado (para governar por 4
anos) devido a uma emenda constitucional. Alguns historiadores chamam isso de experiência
republicana. O Ato Adicional de 1834 previa a eleição para regente. Em 1835, passamos a ter a
Regência Uma; quem venceu foi o ministro da justiça da Regência Trina Permanente, Padre Feijó (que
tinha renunciado após ser acusado de golpe de Estado).
No final do período colonial, houve uma ampla mobilização do clero, era um clero iluminista com
feição mais revolucionária. Padre Feijó era o líder do partido (facção) liberal.
Em 1837, Feijó renunciou a regência após problemas políticos sobretudo por conta de revoltas
coloniais (Cabanagem e Farroupilha). Araújo Lima, o Marquês de Olinda, assumiu o governo
(Regência Una de Olinda). Ele tinha uma tendência mais conservadora. Os partidos do Segundo
Reinado são os partidos formados nas regências.
No Primeiro Reinado, tínhamos dois grupos políticos o partido português e partido brasileiro. Nas
regências, o partido português virou restauradores. A monarquia era popular enquanto o
movimento republicano era de elite. O grupo dos restauradores perdeu a relevância após 1834 -
quando Dom Pedro I morreu, uma vez que eles queriam a volta do imperador.
O partido brasileiro deu origem aos liberais. Ao chegar ao poder, eles auto intitularam-se de liberais
moderados. A revolução feita por esse grupo foi simplesmente tirar o imperador. Os restauradores
podem ser chamados de caramurus, corcundas, pés de chumbo ou marotos.
Os liberais queriam conservar a escravidão, o regime de latifúndio, a monarquia, a unidade
territorial, o voto censitário. Todos os que queriam mudar qualquer outra coisa eram chamados de
liberais exaltados. Em suma, os moderados queriam a manutenção da ordem.
Ao optar por uma regência trina, o poder executivo era descentralizado. A Lei dos Regentes, aprovada
em 1831, enfraqueceu o poder do executivo ao tirar os poderes do regente: ele não poderia dissolver
a assembleia, nem declarar guerra, nem ratificar tratados internacionais. Feijó implementou uma
agenda de descentralização.
Com o Primeiro Reinado, o juiz de paz seria um juiz local (o juiz de paz era eleito). Em 1831, foi
criado um código penal. Isso aumentou o poder das provinciais.
Um dos grupos que mais participava das rebeliões eram os militares - a maior parte dos de baixa
patente eram negros. Essas rebeliões ficaram conhecidas como rebeliões de tropa e povo. Feijó criou,
então, a guarda nacional que era organizada por latifundiários locais (só livres de nascença podiam
participar dessa guarda). Em outras palavras, Feijó descentralizou o exército entregando o poder
militar às elites.
O avanço liberal teve como objetivo enfraquecer o executivo e descentralizar a política. Os liberais
eram chamados de chimangos e os exaltados eram chamados de farroupilhas ou jurujubas.
A figura chave do avanço liberal foi o ministro Feijó. O cerne do absolutismo brasileiro era o poder
moderador e o conselho de Estado (órgão de consulta vitalício). Em 1831, houve um projeto que
queria acabar com o senado vitalício (sem passar pelo senado). Em 1832, esse golpe parlamentar foi
impedido por Carneiro Leão que afirmava que o poder moderador era inaceitável, mas que a
constituição precisava ser respeitada. O Ato Adicional de 1834 foi a consequência da tentativa de
golpe. Ele instituiu o fim do conselho de Estado, a descentralização legislativa por meio da criação
de assembleias legislativas em cada uma das provinciais, a criação do município neutro (Rio de
Janeiro) e a transferência da capital da província para Niterói.
Rebeliões Regênciais
O período regencial é objeto de debate historiográfico. Para alguns autores, o Ato Adicional era um
acordo entre centralização e descentralização.
Como não havia um exército confiável, não tínhamos como controlar a soberania. Todos os
elementos que garantiam a estabilidade da política externa tinham sido fragilizados: não havia
orçamento, exército e marinha estavam enfraquecidos, e o conselho de Estado havia sido extinto.
Amado Cervo chama essa postura de imobilismo, sobretudo em relação ao Prata em um momento no
qual Rosas estava em ascensão na Argentina (1835). Na região do Pirara, houve ameaça europeia.
Os ingleses exigiam a proibição do tráfico de escravos.
Houve também tensões com a Igreja. O chefe de Estado era o chefe da Igreja, mas o chefe de
Estado era um padre - um padre que nomeava bispos. Feijó apoiava um candidato a bispo que era
contra o celibato. A Igreja não quis reconhecer. Ficar sem bispo era um problema burocrático para
o Estado. O Rio ficou sem bispo por muito tempo.
O primeiro presidente foi Marquês de Olinda, um liberal. A partir daí, começou um sistema de
gabinete.
A partir de 1837, depois de um longo período de crise econômica, o açúcar começou a ser
superado. No momento em que o regresso conversador chegou ao poder, o café tornou-se o
principal produto.
Os conservadores mais poderosos eram aqueles do Vale do Paraíba.
O Tempo Saquarema foi o período no qual os conservadores conseguiram convencer os liberais de que
adotar medidas centralizadoras e conservadoras era melhor para o país. A matriz ideológica tanto
dos liberais quanto dos conservadores era a mesma: a conservadora.
Em 1853, os conservadores saíram do poder para outro gabinete conservador ser formado.
Carneiro Leão compôs seu gabinete com quatro ministros conservadores e dois liberais. Esse
gabinete ficou conhecido como Gabinete da Conciliação.
Em 1860, os liberais ganharam 20% das cadeiras, esse ano foi conhecido como o renascer liberal. Em
1862, o Gabinete Progressista misturava liberais com conservadores.
Dos 39 gabinetes, 20 foram liberais e 19 conservadores. Dos 49 anos, 29 foram de conservadores.
Em outras palavras, os gabinetes liberais duravam menos tempo que os conservadores. Esses últimos
eram mais homogêneos e estáveis.
As Lei Eusébio de Queirós, Lei 28 de Setembro (ou Do Vente Livre), Lei Saraiva de Cotegipe (ou
Do Sexagenário) e Lei Áurea foram todas aprovadas em gabinetes conservadores.
A Lei Alves Branco em 1844 para Amado Cervo simboliza o embrião da industrialização brasileira.
Ela foi uma vitória da facção industrialista e aumentava a arrecadação pondo fim aos Tratados
Desiguais. A tarifa dobrou para 30% e se houvesse similar nacional, a tarifa seria 60%. Esse
protecionismo contribuiu para o fim da Farroupilha. Entretanto, o espírito de 44 não durou muito
tempo. A partir da década de 50 não havia mais clareza tarifária. Amado Cervo elega que a política
tarifária passou a ser errática não permitindo que o empresariado se organizasse. O sucesso do café
também inibiu a industrialização no primeiro momento.
O SEGUNDO IMPÉRIO
Saquarema é um termo usado para se referir aos conservadores do Rio de Janeiro por conta do
Visconde de Itaboraí, dono de uma fazenda em Saquarema na qual reunia os conservadores. Dos
seis ministros do Gabinete Saquarema, três eram do Rio de Janeiro - a Trindade Saquarema.
O Gabinete da Conciliação tinha alguns liberais e começou a declinar após a morte de Marquês do
Paraná.
Gabinete Saquarema
Durante esse período, houve a primazia do Rio de Janeiro, sobretudo do Vale do Paraíba e a
repressão à Praieira1.
Paulino José Soares de Souza se tornou ministro das relações exteriores. Durante sua gestão foi
aprovada a Lei Eusébio de Queirós (que instituía o fim do tráfico de escravos), houve o retorno ao
intervencionismo platino (após mais de 10 anos de imobilismo) e a questão das fronteiras (com a
pressão norte-americana para que o Brasil abrisse a livre navegação na Amazônia).
Reformas Eleitorais
• Lei dos círculos (1855): criou o voto distrital, o que levou a uma ascensão progressiva dos liberais.
Vários caciques não foram eleitos e um grande número de desconhecidos chegou ao poder –
notabilidades de paroquia;
• Segunda Lei dos Círculos (1860): modificou o voto distrital para que o círculo aumentasse, o círculo
passou de 1 para 3 deputados;
• Lei do Terço (1873): um dos três deputados tinha de ser da oposição;
• Lei Saraiva (1881): acabou com o sistema indireto de votos. Para votar, bastava ser alfabetizado e ter
200 mil réis.
Gabinete Progressista
Esse gabinete tinha alguns conservadores moderados. Nele foram propostas várias medidas, mas
nenhuma delas foi implementada.
Nesse período, o Brasil rompeu com a Inglaterra (Questão Christie) e a Guerra do Paraguai começou.
Caxias era um membro do partido conservador; ele teve que lutar como general sob um governo
liberal. Caxias foi nomeado ministro da guerra, mas foi boicotado pelos jornais e imprensa. Dom
Pedro II percebeu que isso estava atrapalhando a guerra, uma decisão havia de ser feita: Caxias ou
Zacarias. Zacarias se demitiu (1868) e Caxias assumiu. O gabinete foi escolhido para dar suporte a
guerra. A queda do Gabinete Zacarias foi a caixa de Pandora do Império – anos depois, o partido
republicano foi fundado.
Depois da Guerra do Paraguai, começou a crise do Império.
Entre 1871 e 1875, o gabinete Rio Branco fez uma série de reformas como a Lei do Ventre Livre, uma
reforma educacional, a Lei do Terço. Ele reformou a Guarda Nacional, fez o primeiro censo
brasileiro, ligou o Brasil à Europa por telégrafos, fez uma escola de engenharia, prendeu os bispos
que seguiram a bula papal e ignoraram as ordens do imperador.
No governo liberal de 1878, a instabilidade foi oriunda das pressões abolicionistas. Quando os
conservadores voltaram ao poder, eles começaram a reprimir os abolicionistas. A questão militar
surgiu nos gabinetes liberais.
Entre 1845 e 1851, houve um debate no parlamento sobre a manutenção do imobilismo ou não.
Devido a pressões gaúchas, o Brasil decidiu invadir o Uruguai para derrubar o governo dos blancos.
Rosas declarou guerra ao Brasil (Guerra contra Oribe e Rosas). Antes de enviar tropas, diplomatas
brasileiros foram enviados para conseguir apoio local (dos colorados no Uruguai e de Urquiza na
Argentina).
A queda do Rosas levou a uma conflagração interna na Argentina. Buenos Aires não assinou a
Constituição liberal federalista de 1853. A disputa entre Buenos Aires e províncias perdurou por
toda a década de 1850. Isso possibilitou que o Brasil conseguisse a hegemonia platina.
Mitre era um liberal e na década de 1860 o grupo em ascensão no Brasil era a Liga Progressista
formada por liberais. Para Doratioto, essa convergência ideológica facilitou a aproximação entre as
duas nações. Foi nesse contexto que a Tríplice Aliança se formou (1865).
Em 1851, houve a Missão Paraná no Uruguai na qual foram assinados seis tratados. O título Visconde
do Uruguai concedido ao ministro das relações exteriores é uma síntese da hegemônica brasileira na
região.
Tráfico de Escravos
Em 1807, a Inglaterra aboliu o tráfico de escravos. Em 1815, no Congresso de Viena ficou proibido o
tráfico de escravos acima da Linha do Equador.
Em 1810 e em 1817, Portugal fez acordos bilaterais prometendo acabar com o tráfico no futuro.
Em 1825/27, o tratado previa que o tráfico acabaria em três anos.
Em 1831, foi feita a Lei Feijó ( a “lei para inglês ver”) que não foi seguida. Em 1845, a Bill Aberdeen,
resposta à Lei Alves Branco, equiparou o tráfico a pirataria. Para burlar a determinação britânica, os
traficantes passaram a usar a bandeira norte-americana nos navios, a deixar que um navio fosse
capturado para passar com os outros e a subornar os tribunais ingleses. O tráfico de escravos
aumentou absurdamente. Os navios ingleses começaram a bombardear os navios brasileiros. O
governo do Brasil decidiu abolir o tráfico de escravo.
Para Amado Cervo, a proibição do tráfico negreiro foi uma decisão brasileira, soberana, fruto de
um Estado nacional consolidado. Eusébio de Queirós teve de defender essa lei diante de um
parlamento conservador. Ele afirmou que a Inglaterra atrapalhava a abolição do tráfico porque a
ação repressiva aumentava o preço do escravo e isso fazia com que os traficantes se tornassem
inimigos: poucos controlavam todo o tráfico de escravos e os senhores de terra se endividaram.
Além disso, ele afirmou se tratar de uma questão de saúde pública e, sobretudo, de segurança tendo
em vista que em algumas regiões o número de escravos excedia a quantidade de pessoas livres –
medo de uma haitização.
Depois da Lei Eusébio passou a existir o tráfico interprovincial: os escravos passaram a ser enviados
para o sudeste.
Fronteiras
Duarte da Ponte Ribeiro reinseriu o conceito do uti possidetis no Brasil.
Durante as regências, Ponte Ribeiro representou o Brasil no Peru. Lá, ele assinou um tratado (que o
governo brasileiro não tinha autorizado), mas esse nunca foi ratificado pelo Congresso.
Paulino José Soares de Sousa deu sustento a opinião de Ponte Ribeiro. O gabinete de Paulino teve
alguns focos importantes. Suas principais diretrizes eram:
• buscar negociações bilaterais;
• uti possidetis de facto;
• usar fronteiras naturais;
• conceder direito de navegação.
OCASO DO IMPERIO
Joaquim Nabuco argumentava que os militares que lutaram na Guerra do Paraguai tinham tido
contato com as ideias republicanas, mas do ponto de vista historiográfico esse argumento não se
sustenta mais.
Boris Fausto e José Murilo de Carvalho enfatizam o papel do exército. Para Boris Fausto, só os
militares poderiam proclamar a república sendo que o movimento republicano era extremamente
fragmentado e estava concentrado sobretudo no sul do país. Silva Jardim não conseguia fazer
comícios republicanos no norte, ele era impedido pela população. Só o exército estava presente em
todo país, qualquer outra forma de proclamação da república não seria nacional. Mas essa teoria
não responde por que a república foi proclamada.
Alguns autores identificam que a escravidão era tão necessária à monarquia que uma vez abolida, a
monarquia não se sustentou.
F. Costa dizia que a monarquia perdeu o apoio do clero devido à questão religiosa em 1874 (quando
os bispos de Belém e de Olinda foram presos).
José Murilo de Carvalho argumenta que uma pequena parcela dos militares (jovens que tinham tido
contato com as ideias positivistas e iluministas) proclamou a república. Deodoro ia derrubar o
governo liberal do Ouro Preto (os militares simpatizavam com os conservadores), mas devido ao
boato de que Silveira Martins, um liberal que não se dava com Deodoro, assumiria; a república foi
proclamada.
Todas as questões (diferentes visões historiográficas) surgiram após a Guerra do Paraguai. O
positivismo formou uma proto-homogeneidade, teve a mesma função de Coimbra.
A hipótese de Ângela Alonso mais do que explica como o exército estava ganhando
homogeneidade, ela explica como os bacharéis estavam perdendo-a. Ela menciona a década do
renascer liberal que deu origem a liga progressista que entrou em colapso quando o imperador teve
que escolher entre Caxias e Zacarias. Os conservadores assumiram o poder - os liberais entenderam
aquilo como golpe de Estado. Durante os dez anos de governo dos conservadores, formou-se uma
nova categoria, uma nova classe social. Os liberais ficaram alijados do poder. A geração de 1870 não
participou do governo, não conseguiu emprego e não conseguiu criticar o governo porque a agenda
liberal havia sido sequestrada pelos conservadores. Essa geração precisava se reinventar. Surgiu um
bando de ideias novas: positivismo, federalismo, republicanismo, abolicionismo, novas estratégias
para difundir ideias. Essas ideias eram heterogêneas.
A Guerra do Paraguai
As forças que explicam a Guerra do Paraguai têm a ver com o processo de formação dos Estados
nacionais que herdaram os conflitos platinos dos impérios ibéricos.
A formação da Tríplice Aliança foi favorecida pela coesão liberal.
O fim do isolamento paraguaio se deu após a mudança de governo: Gaspar Rodrigues morreu e
Solano Lopez assumiu. Em um primeiro momento, ele fez um esforço para romper o isolamento se
aproximando do Brasil. O Brasil, na década de 1940, reconheceu a independência do Paraguai.
Em 1851, tomamos o Uruguai e colocamos Urquiza no governo argentino. O Paraguai começou a
temer a questão da livre navegação e redirecionou sua estratégia aproximando-se da Argentina,
mas logo percebeu que qualquer hegemonia colocava a livre navegação em risco. Então, Solano
Lopez tentou conseguir acesso ao mar. O Paraguai começou a buscar autonomia.
O governo uruguaio tentou se aproximar do Paraguai. Argentina e Brasil se juntaram para intervir
no Uruguai derrubando o governo em 1863. O Solano Lopez deu um ultimato ao Brasil. No
mesmo ano, o governo paraguaio capturou navios brasileiros, invadiu o Mato Grosso e algumas
cidades argentinas. Em 1865, o Brasil assinou o tratado da Tríplice Alianca (Argentina, Brasil e
Uruguai). Esse tratado sofreu críticas porque os conservadores temiam que a Argentina ampliasse a
fronteira com o Brasil.
A Guerra do Paraguai começou em um gabinete liberal. No primeiro momento, houve um
entusiasmo gigantesco sobre a guerra - há historiadores que indicam que o nacionalismo surgiu aí.
Mas conforme a guerra se prolongava, o entusiasmo foi diminuindo.
O exército brasileiro estava comando por Bartolomeu Mitre. Quando Caxias assumiu o comando,
os liberais começaram a criticar. Em 1868, um governo foi feito para se adequar ao general. Isso foi
fundamental para a guerra - em menos de um ano depois, Caxias já tinha conquistado Assunção.
Ele foi o único duque do império que não pertencia à família real.
Em 1869, os governos de Argentina e Brasil tinham mudado. Não havia mais identidade política.
Visconde do Rio Branco, ministro das relações exteriores, ficou um ano no Paraguai fazendo uma
espécie de statebuilding. Assinamos, então, um tratado com o Paraguai, mas segundo a Tríplice
Aliança isso não poderia acontecer. O Brasil manteve as tropas no Paraguai até que o governo
Paraguai decidiu fazer arbitragem com a Argentina (o Paraguai ganhou o território).
Em 1866, o Brasil abriu a livre navegação amazônica. A Inglaterra estava neutra no conflito, mas
conseguiu acesso ao tratado da Tríplice Aliança que falava em tomada de território e o fez público
(além disso, fez empréstimos ao Brasil financiando cerca de 20% a 30% da guerra).
Dentre as consequências podemos apontar a queda da popularidade do Mitre (houve rebeliões para
derrubá-los) e o assassinato do presidente uruguaio. No Brasil, houve rebeliões de mulheres contra a
guerra. Uma parte do efetivo foi de escravos ao quais prometeu-lhes a alforria. Essa insatisfação
levou ao descontentamento do parlamento.
Do ponto de vista econômico, o endividamento aumentou. Entre 65% a 80% da arrecadação estava
no setor externo da economia (o império arrecadava com as importações e as províncias
arrecadavam com as exportações). O império brasileiro não tinha capilaridade na arrecadação de
impostos. O orçamento imperial sempre foi deficitário devido a essa má arrecadação. Para diminuir
o déficit, o governo fazia empréstimos. (Após a Lei Alves Branco que aumentou a arrecadação,
conseguimos ficar 8 anos sem empréstimos.).
#TÓPICO 5 - PRIMEIRA REPÚBLICA E O BARÃO
Entre 1889-94 tivemos a Primeira República. Deodoro venceu como presidente, mas Floriano (da
oposição) venceu como vice. Floriano chegou a presidência após a renúncia de Deodoro. Em caso
de renúncia deveria haver novas eleições, mas Floriano permaneceu no poder. Foi um período
autoritário.
Em 1894, Floriano fez um acordo e se retirou do poder e uma eleição geral foi realizada. Houve
uma pequena participação popular.
De 1894 a 1930, tivemos a República Oligárquica. Nessa segunda fase, houve a predominância dos
civis, sobretudo da elite cafeicultora. Mas entre 1910-14, houve o governo de Marechal Hermes.
Segundo José Murilo de Carvalho, a república foi proclamada porque os militares acabaram
construindo uma certa homogeneidade. Os militares defendiam uma visão de ordem e progresso,
uma visão centralizadora. O federalismo era a antítese dessa tese. Para os militares, a República
precisava ser salva de si mesma. Na constituição da República, os militares tinham que obedecer ao
poder constituído dentro dos marcos constitucionais da legalidade. Na Primeira República, o
exército é o poder desestabilizador.
O marco da estabilização se deu a partir do governo de Campos Sales quando ele criou a política dos
governadores.
O governo Artur Bernardes (1923-27) viveu quase todo o período em estado de sítio. Porém, o
governo mais instável foi de Hermes da Fonseca. Houve várias rebeliões.
Política das salvações era quando o exército fazia intervenções a fim de salvar a República.
A República da Espada pode ser dividida em três momentos:
▪ governo provisório (1889-91);
O Governo Provisório foi de 1930 a 1934. Houve uma oposição entre os tenentes e os ressequidos
(FUP + oligarquias dissidentes). Visando a centralização, Vargas nomeou interventores para todos
os estados – o que aumentou as tensões entre tenentes e a alta cúpula. Nesse período, o ministério
da justiça ficou com Oswaldo Aranha e a Delegacia Regional do Nordeste ficou com Juarez Távora.
Vargas fez intervenção na cafeicultura.
Houve várias crises entre os tenentes e as forças conservadores. Uma delas foi o empastelamento do
Jornal Carioca, que gerou uma demissão coletiva dos ministros gaúchos devido à não punição dos
tenentes que empastelaram o jornal. Outra crise foi a Dos Rabanetes X Picolés. Ao longo da década
de 1920, vários militares foram expulsos devido às revoltas fracassadas. Na década de 1930, após a
vitória, parte desses militares expulsos foram reintegrados (os chamados picolés). Os rabanetes eram
os grupos que se opunham aos picolés. Esse conflito levou a queda do ministro da guerra. Vargas
demorou meses para decidir e no final optou por Espirito Santo Cardoso.
As demandas paulistas redundaram na Revolução Constitucionalista de 1932. Os paulistas
reivindicavam um interventor civil e paulista. Como Vargas necessitava de São Paulo, ele assim o
fez. Os paulistas também reclamavam uma constituinte. Essa foi a única constituinte
que teve o voto classista – dezoito de sindicatos de trabalhadores, dezessete de sindicatos de patrões
e cinco de funcionários públicos. Isso garantia o enfraquecimento das oligarquias. Vargas convocou
a eleição para a constituinte, mas ainda assim os paulistas se revoltaram.
Essa foi uma luta pela constitucionalização do país, mas todas as concessões que ela demandava já
haviam sido feitas. Foi uma tentativa de coordenação das forças conservadoras contrárias à Revolução
de 30. As forças estaduais de Minas Gerais e Rio Grande do Sul não estavam dispostas a tirar o
governo, apesar de não estarem satisfeitas com o governo de Vargas. Por isso, São Paulo ficou
sozinho na Revolução. O governo brasileiro usou a aviação para bombardear São Paulo. Houve
expurgos no exército e maior controle das forças armadas após a derrota de São Paulo. Essa foi a
única guerra civil brasileira do século XX. Os revoltosos foram anistiados.
Tentou-se a criação de um partido dos tenentes – o Clube 3 de outubro. Essa foi a última tentativa de
homogeneizar os tenentes. Houve uma fragmentação do tenentismo: a maior parte foi cooptada
pelo regime Varguista (que cooptou suas bandeiras), outros ingressaram na Ação Integralista
Brasileira, alguns viraram comunistas (prestistas) e outros viraram liberais.
O interventor do Rio de Janeiro foi Pedro Ernesto – fez hospitais e escolas em zonas pobres da
cidade. Vargas iniciou um processo de centralização.
Celso Furtado acredita que o processo de industrialização estava ligado ao café. Havia
industrialização no final do Império e na Primeira Republica, porém só houve um projeto de
industrialização na Era Vargas.
Nos anos iniciais, Vargas tomou medidas para resolver a crise, mas ao longo do tempo ele percebeu
que estava industrializando o país e isso passou a ser um projeto. Furtado chamou isso de
keynesianismo avant la lettre.
Ao longo da Primeira República, tivemos várias intervenções no café. Em 1906, houve uma crise de
superprodução e, consequentemente, uma política de valorização do café. Os cafeicultores usaram o
dinheiro para plantar mais café e para consumir mediante importação. Em 1913, houve outra crise
de superprodução e houve outra política de valorização do café. Anos depois, em 1922, ocorreu a
mesma coisa. O governo federal decidiu não fazer mais essas ações. São Paulo fundou, então, o
Comitê Permanente de Defesa do Café. Em 1929, houve outra supersafra e o preço havia caído
muito. Nessa época, o café representava 72% da pauta de exportação brasileira. Em 1931, Vargas
criou o Conselho Nacional do Café; em 1932, ele alterou o nome para Departamento Nacional do
Café. Vargas passou a comprar sacas de café por meio de emissionismo. A virada foi essa: ele
comprou o café com mil-réis, isso desestimulava a importação e como os cafeicultores haviam quase
quebrado, eles pararam de investir muito em café. O Brasil começava a se industrializar, sobretudo
São Paulo. Não havia conflito entre o setor agrário e industrial [de São Paulo] porque eram as
mesmas pessoas.
Vargas queimou 78 milhões de sacas de café – o suficiente para a população mundial inteira
consumir por 3 anos. O Estado passou a fomentar indireta e diretamente a industrialização.
Na constituinte de 1932, que deu origem à Constituição de 1934, muitas correntes políticas
estavam representadas. Foi nessa época que surgiram os partidos de massa: com a presença de
inúmeros extratos sociais de todos os estados.
O Partido Comunista conseguiu fazer uma aliança com setores liberais e moderados da economia.
A classe média começou a se aproximar dele [do Partido].
Em suma, a constituição de 1934 foi feita com a ampla presença dos mais diversos extratos da
sociedade. Ela foi uma síntese do projeto industrializante do Estado e da visão liberal sobre a
industrialização. Ela ficou polarizada entre os tenentes (que defendiam o protagonismo estatal na
promoção do desenvolvimento) e os liberais (que defendiam o papel limitado do Estado na
promoção do desenvolvimento). Ela estabeleceu eleições diretas para governador e a eleição indireta
para presidente. Foi incorporado o voto feminino, voto classista, voto secreto e criada a justiça
eleitoral.
Em 1932, havia a crença de que a industrialização só aconteceria se houvesse uma intensa
intervenção estatal.
Quando a constituição foi promulgada, houve eleições imediatas para governadores – os
interventores ganharam na maioria dos casos. A Constituição de 1934 foi muito inspirada na Carta
de Weimer. Ela ficou em vigor de 1934 a 1937.
O governo constitucional (1934-37) foi o ápice da polarização entre os partidos de massa. A AIB era
fascista, de inspiração italiana; ela teve mais de 100 mil adeptos em todo o país e defendia a
miscigenação. A ANL era uma frente de centro-esquerda que congregava vários partidos políticos e
era liderada pelos comunistas que escolheram Prestes para ser seu presidente de honra. Carlos
Lacerda leu a carta de Prestes na abertura da ANL. Ela estava se tornando o partido mais forte do
país. Ela durou apenas 4 meses – Vargas mandou fechá-la.
Prestes organizou, então, o Levante Comunista de 1935 que foi fortemente reprimido. Vários
revoltosos foram presos. Eles estavam acostumados a se revoltar e a serem anistiados, porém dessa
vez isso não aconteceu: muitos foram torturados, mortos. Houve um forte sentimento
anticomunista.
A partir de 1935, Vargas decretou estado de sítio. Um capitão que era integralista fez um plano de
contingência em caso de revolução comunista. Olimpio Mourão Filho fez um documento
alardeando o medo comunista e publicou no Jornal como o Plano Cohen. Essa foi a desculpa que
Vargas precisava para fechar o Congresso e começar o Estado Novo. Houve um amplo apoio para
seu estabelecimento.
Vargas fez uma oposição entre tudo que veio antes como velho e a partir dele como novo – daí o
nome Estado Novo.
O Brasil tinha escassez de divisas porque elas eram oriundas da venda de café que estava com o
preço baixo. Vargas congelou do serviço dívida a um patamar para conseguir economizar dólares,
isso causou uma tensão com o EUA. Nesse momento, era difícil conseguir dinheiro emprestado.
Para Gerson Moura, os países que conseguiram empréstimos na depressão de 30 foram países que
conseguiram negociar politicamente.
Começamos a negociar tratados comerciais – foram assinados mais de 30; mas eles não deram certo
pois não era o melhor momento para se fazer acordos liberais porque o sistema internacional estava
protecionista por conta da crise. Todos os acordos foram denunciados.
Vargas tentou se aproximar da Argentina, Uruguai e Paraguai. Um conflito entre Bolívia e Paraguai
levou a Guerra do Chaco; o Brasil conseguiu negociar juntamente com a Argentina. A Questão Letícia
entre Peru e Colômbia não chegou à guerra, mas teve alguns confrontos. Esse território era fronteira
entre o Brasil e o Peru e passou a ser entre Brasil e Colômbia (Tratado de Salomon-Lozano).
A política externa no geral, não era uma prioridade nos anos 30; só os temas econômicos eram.
Tentou-se evitar o reconhecimento da beligerância de São Paulo evocando a Convenção de
Havana. (Houve um afastamento da França que era simpática aos paulistas.)
Vargas nomeou Benedito Valadares para ser interventor de Minas. Ele [Vargas] afirmou que havia
pressões de todos os lados e que ele não poderia curvar-se a elas. Afrânio de Melo Franco pediu
demissão por conta disso.
A partir de 1933, os EUA começaram a pressionar o Brasil a abrir sua economia. Se Vargas
aceitasse, a industrialização entraria em crise; se ele não aceitasse, o país quebraria.
Nessa época, a Alemanha estava com problema para ter divisas. O ministro da economia do Hitler
precisava fazer comércio sem uso de moeda estrangeira. Começamos, então, a fazer comércio
compensado – uma espécie de escambo. Em 1936, esse tipo de comércio foi formalizado por um
acordo comercial; e em 1938, a Alemanha ultrapassou os EUA em comércio com o Brasil.
Os produtos norte-americanos serviram de insumos para o parque industrial brasileiro.
Conseguimos autonomia. A equidistância pragmática é um conceito de política externa de Gerson
Moura (divido em equilíbrio possível, difícil e rompido) que foi uma resposta ao conceito de
diplomacia pendular: a política externa brasileira não era errática, ela tinha um projeto.