Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
SAÚDE
AUDIOLOGIA INFANTIL
P842a Audiologia infantil / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2013.
160p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-824-6
CDD 573.89
SUMÁRIO
2 DESENVOLVIMENTO HUMANO..............................................................................................11
2
2.1 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ....................................................................11
6.1 ORALISMO...............................................................................................................................114
9 IMPLANTE COCLEAR.............................................................................................................145
1 LINGUAGEM E AUDIÇÃO
A linguagem é um código usado para transmitir ideias sobre o mundo que nos cerca; é
um sistema de comunicação natural ou artificial, humano ou não. Refere-se a qualquer meio de
comunicação, como a linguagem corporal, as expressões faciais, a maneira de nos vestirmos, as 4
reações de nosso organismo ou a linguagem de outros animais; os sinais de trânsito, a música, a
pintura, enfim, todos os meios de comunicação, sejam cognitivos (internos), socioculturais
(relativos ao meio) ou da natureza, como um todo.
A comunicação satisfaz a necessidade básica do ser humano, isto é, o saber. É um
dos mais penetrantes, complexos e importantes aglomerados de seu comportamento social. O
cotidiano é afetado seriamente pelas nossas comunicações com os outros. Segundo estudiosos,
a linguagem é ao mesmo tempo uma função e um aprendizado. É função no sentido de que todo
o ser humano normal fala e a linguagem constitui um instrumento necessário para ele; e é um
aprendizado porque o sistema simbólico linguístico, que a criança deve assimilar, é adquirido
progressivamente pelo contato com o meio.
5
Verbal
Não verbal
Portanto, a linguagem pode ser tanto verbal quanto não verbal. Ela é verbal quando
expressada oralmente (intermédio da fala); essa fala é exteriorizada pelo pensamento abstrato,
feita por meio do uso do sistema simbólico ou palavras contidas no código da língua. O código é
o conjunto de representações concretas da linguagem humana, constituído por instrumentos
convencionais, tais como: signos, sinais e símbolos ordenados a fim de formarem determinada
língua. A linguagem não verbal é aquela que envolve o uso de gestos indicativos e/ou
representativos, expressão corporal e facial, paralinguagem, manifestada por intermédio de
qualidades e características vocais específicas.
A capacidade de aquisição da linguagem é notável por sua universalidade em toda a
raça humana, sendo uniforme e específica desta. Nos primeiros anos de vida uma criança é
capaz de dominar um sistema linguístico idêntico àquele empregado pelas pessoas que o
cercam, mas para tanto ele deve ser estimulada pelos sons da língua, aprender que os objetos e
pessoas têm nomes que são constituídos de sons específicos que seguem uma sequência.
O sistema auditivo faz parte de um sistema amplo e complexo que é a linguagem,
tendo em vista que é necessária a integridade da audição como um todo, partindo da detecção
até a memória auditiva para que haja o desenvolvimento da comunicação. A aquisição da
linguagem pela audição é uma função que depende do tempo e está relacionada a períodos de
maturação precoce, que são denominados períodos críticos para o desenvolvimento das funções
Linguagem
6
Audição
7
Desenvolver a capacidade de
produzir os sons da fala, emitir.
Localização,
fonte
Sistema sonora e
Nervoso Linguagem
Central 8
Sistema Nervoso
Periférico
Estímulos
sensoriais
Emitir a
Fala
9
Produzir
os sons
Externar o
pensamento
dentro de certos critérios como: correto, igual, útil, certo, errado etc.
Organização simbólica: capacidade de catalogar o material concreto recebido de
forma abstrata.
Percepção: reconhecer os estímulos seja ele auditivo, visual, tátil ou gustativo.
Raciocínio indutivo: capacidade de gerar alternativas lógicas a partir de um
determinado fato. 10
Raciocínio dedutivo: capacidade de gerar conclusões lógicas a partir dos dados
recebidos.
Controle dos impulsos: capacidade de saber selecionar e controlar reações a
determinados estímulos de forma apropriada.
Memória: capacidade de inserir e armazenar dados.
Retenção: capacidade de reter na memória os estímulos recebidos para futuro
reconhecimento.
As funções supracitadas são indispensáveis para o desenvolvimento da linguagem e
consequentemente para a oralidade, porém etapas no desenvolvimento devem ser respeitadas,
como vamos ver mais adiante com os estágios de Piaget, em que a criança no seu
relacionamento com o meio passa por quatro períodos no processo evolutivo da espécie
humana.
A criança possui uma estrutura biológica que possibilita o desenvolvimento mental a
partir da interação do sujeito com o objeto a conhecer. O envolvimento da criança com o mundo
ao seu redor faz com que ela tenha condição suficiente para o desenvolvimento cognitivo e oral,
mas para desenvolver a oralidade os estímulos mais importantes para a construção da fala são
os sonoros.
2 DESENVOLVIMENTO HUMANO
11
O processo de transformação e desenvolvimento da criança vai depender de como ela
elabora e assimila as suas interações com o meio, isso porque a visada conquista do equilíbrio
do organismo (a maturação do organismo, a experiência com objetos, a vivência social e o
exercício do raciocínio) reflete as elaborações possibilitadas pelos níveis de desenvolvimento
cognitivo que o organismo detém em diversos estágios da sua vida. Piaget considera quatro
períodos no processo evolutivo da espécie humana que são caracterizados “por aquilo que o
indivíduo consegue fazer melhor” no decorrer das diversas faixas etárias ao longo do seu
processo de desenvolvimento.
1º Período ‐ Sensório‐motor (0 a 2 anos)
2º Período ‐ Pré‐operatório ( 2 a 7 anos)
3º Período : Operações Concretas ( 7 a 11 ou 12 anos)
4º Período : Operações Formais (11 a 12 anos em diante)
etc.). Com o passar do tempo à criança vai aperfeiçoando os movimentos reflexos e adquirindo
habilidade, e chega ao final do período sensório-motor já se concebendo dentro de um “universo”
(com objetos, tempo, espaço, causalidade, objetividade, comunidade), agindo e interagindo.
Período Pré-operatório: o aparecimento da função simbólica é o que inicia este
período. Nessa concepção, o cognitivo é anterior à linguagem; na linha piagetiana, a linguagem
é considerada como condição necessária, mas não suficiente ao desenvolvimento, pois existe 12
um trabalho de reorganização da ação cognitiva que não é dado pela linguagem, enfim, a
linguagem depende do desenvolvimento intelectual. Nesse período a criança tem a capacidade
de atuar de forma lógica e coerente, sendo o egocentrismo social e intelectual característico
desta fase.
Período das Operações Concretas: nesta fase a criança estabelece relações e
coordena pontos de vista diferentes, integrando-os de modo lógico e coerente. Outro ponto
importante é a capacidade da criança internalizar as ações, ou seja, ela começa a realizar
operações mentalmente e não mais apenas por meio de ações físicas típicas da inteligência
sensório-motora. Contudo, a criança consegue raciocinar de forma coerente, tanto os esquemas
conceituais como as ações executadas mentalmente se referem, nesta fase, a objetos ou
situações passíveis de serem manipuladas ou imaginadas de forma concreta.
Período das Operações Formais: a criança amplia as capacidades conquistadas na
fase anterior, onde consegue raciocinar sobre hipóteses na medida em que ela é capaz de
formar esquemas conceituais abstratos e por meio deles executar operações mentais dentro de
princípios da lógica formal. Ao atingir essa fase, o indivíduo adquire a sua forma final de
equilíbrio, ele consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta.
Portanto, com o estudo das etapas de Jean Piaget, podemos concluir que, a princípio,
o desenvolvimento da linguagem necessita dos aspectos cognitivos, porém alcançado o segundo
estágio a linguagem mostra o seu valor, ficando questionável o que seria mais importante:
linguagem ou cognição.
Significante
Significado
As frases são as unidades básicas para a comunicação de uma ideia e para adquirir à
linguagem a criança precisa dominar vários subsistemas da língua, que inclui o sistema
fonêmico, o sistema semântico, a sintaxe e a pragmática.
Sistema Fonêmico – está relacionado aos sons de forma geral (sua combinação
vogal/consoante).
Sistema Semântico – pode ser presenciado em torno do primeiro aniversário,
quando a maior parte das crianças começa a dizer os primeiros sons com significado, ao usar
palavras isoladas, que representam na maioria das vezes coisas ou pessoas.
Sintaxe – aparece aproximadamente na metade do segundo ano; as crianças
dominam os morfemas gramaticais de suas línguas. 14
Pragmática – vai além de significados e regras gramaticais, enfatizando os fatores
comunicativos da linguagem, pois relaciona a linguagem com o contexto da fala. O estudo da
pragmática relaciona os aspectos fonológicos, semânticos e sintáticos da fala.
Os fonemas são os sons básicos que quando combinados formam palavras. Esses
sons são as primeiras emissões vocais do primeiro ano de vida, podendo ser chamados de
lalação. Durante as primeiras semanas, são apenas gritos – futuramente esses gritos começam
a diferenciar-se por sua tonalidade e ritmo. Alguns gritos correspondem à sensação de mal-estar
e outros à sensação de prazer. Para Newcombe (1999), os bebês de primeiro mês são capazes
de discriminar fonemas, mas incapazes de produzi-los. Somente no terceiro mês de vida é que
os bebês começam a arrulhar e a fazer sons vocálicos.
De acordo com as fases de Piaget o cérebro funciona com material simbólico; os
sistemas supracitados e as habilidades mentais comentadas anteriormente necessitam de outras
habilidades para funcionar. O cérebro usa informações e associações específicas que são
basicamente de quatro tipos:
Figurativas: as informações concretas percebidas na forma de imagem.
Simbólicas: as informações em forma de sinais denotativos (letras, números e etc.).
Semânticas: as informações em forma de construções mentais ligadas a palavras.
Comportamentais: informações figurativas e não verbais que surgem na interação
com o outro (atitudes, desejos, intenções e etc.).
Além de todas as habilidades citadas que são importantes para o desenvolvimento da
linguagem, não podemos nos esquecer de falar do adequado funcionamento do sistema auditivo
e da estabilidade emocional. A audição subentende algumas habilidades imprescindíveis para
aquisição da linguagem oral como:
Consciência auditiva: capacidade de reagir ao estímulo sonoro, ter a sensação do
som.
Identificação sonora: saber de onde veio o som, associar corretamente o barulho à
fonte; isso requer que a criança atribua um significado ao som, necessitando enfim de memória
auditiva.
Localização sonora: habilidade em determinar de que direção está vindo o som.
Discriminação sonora: capacidade de poder diferenciar um som do outro.
Atenção auditiva: habilidade em poder concentrar a atividade psíquica num
determinado estímulo sonoro. 15
Memória auditiva: capacidade de reter, reproduzir e reconhecer os estímulos
auditivos anteriores apresentados.
Sequenciação: capacidade em perceber e repetir a ordem em que os sons são
produzidos.
Análise e síntese: capacidade em identificar e separar as características individuais
de um som inserido num contexto e depois ser capaz de reunir tais características novamente
para formar um todo.
A necessidade da estabilidade emocional é de suma importância para o
desenvolvimento do ser como um todo. Uma criança pode ser considerada equilibrada
emocionalmente se estiver em harmonia com o meio e consigo mesma. Observe o esquema
abaixo:
Material, eventos, Necessidade e
Pessoas
assuntos vontade
Para que a criança fale, tem que existir a quem falar (pessoas), de que falar (eventos,
assuntos, enfim, material) e, por último, deve haver “porque falar” (a criança tem que ter a
necessidade da expressão oral, ela tem que ter vontade). A estimulação do ambiente é peça-
chave: a interação “mãe e filho” influencia no desenvolvimento da linguagem, a criança procura a
figura que lhe oferece conforto e segurança, passando a necessidade de se comunicar com ela.
As influências externas (do meio) vão fornecer um modelo linguístico, o tipo de estímulo e a
exposição ao material linguístico. A mãe é modelo da linguagem e a criança vai seguir
inconscientemente desde o primeiro dia de nascida. Por isso, o modelo que a criança tem em
casa pode ajudar muito no planejamento de uma possível habilitação ou reabilitação de uma
16
Mãe é A criança vai seguir
inconscientemente
modelo da desde o primeiro dia
linguagem de nascida
seguir trajetórias, vocaliza, chora, agarra objetos que são colocados em sua mão, reage a sons e
a vozes familiares e assim por diante. Há emissão de sons reflexos e gritos segundo o prazer ou
o desconforto.
Com dois meses emite sons não mais reflexos – mais intencionais; cada dia se torna
mais ativo, fica consciente do som e tem prazer das repetições que faz. Aos poucos vai
percebendo a sua expressividade vocal e corporal. A partir do quarto mês o bebê se torna cada 17
vez mais capaz de organizar procedimentos para explorar o mundo ao seu redor.
As coordenações sensório-motoras (mão/boca), coordenação visão/audição e
principalmente a coordenação manual com a atividade visual demonstram claramente o
interesse crescente em tudo que está ao seu alcance. A voz da mãe é reconhecida com
tranquilidade e esperada em momentos propícios, acalmando o bebê.
Antes o bebê só reagia aos sons de 80 e 90 dB; o final desta fase já mostra a reação
deles a um limiar mais baixo, em torno de 40 dB. É uma fase de transição, mas é neste momento
que a criança está receptiva para o mundo e quer experimentá-lo, atuar sobre ele de todas as
formas.
É neste momento que pessoas e coisas tornam-se fontes de exploração, pois o
progresso de ordem motora (virar o corpo, permanecer sentado, deslocar-se pelo chão e etc.)
favorece a busca pelo ambiente. É uma fase que, apesar das limitações, fica mais fácil para o
adulto atribuir valores comunicativos aos comportamentos gerados pelos bebês.
Choro (indiferenciado/diferenciado);
Vocalizações não linguísticas;
18
Sons reflexos e gritos;
Consciente do som e tem prazer nas
suas repetições;
Sorri aos sons, tenta mover a cabeça em
direção à fonte sonora.
De seis a nove meses inicia a intenção do bebê com relação ao mundo externo de
forma bem sólida e ativa; as vocalizações começam a adquirir características de linguagem oral
propriamente dita, pois percebe entoações, ritmo e tons diferentes. Nessa fase o balbucio
espontâneo se torna mais denso, a combinação de consoantes e vogais fica nítida para os
ouvidos dos que cercam o bebê; neste caso, o balbucio soa como fala de verdade devido às
entonações ascendentes e descendentes.
O início da comunicação oral sugere maturação cerebral e o amadurecimento do
sistema vocal; lembrando que o balbucio em si não prediz quão cedo ou quão tarde as crianças
normais vão começar a falar palavras nem o tamanho de seu vocabulário quando entram na
escola. O balbucio condiz com o grau de excitabilidade da criança e sua tendência para
expressar excitação mediante os sons. Neste período emitem sons guturais bem prolongados
em respostas ao rosto da mãe quando está à sua frente; vocalizando uma variedade de vogais
reage à voz humana a 40 dB ou menos, reconhecendo a voz da mãe e de pessoas do seu
convívio.
Com nove meses os comportamentos intencionais comunicativos estão bem
desenvolvidos, tem a noção de que pode usar para interagir com o meio. Segundo Jakubovicz
(1999), esta é a fase da pré-conversação; a criança vocaliza mais durante os intervalos, quando
é deixada livre pelo adulto.
Vocalizações características de
linguagem; 19
Entonações, ritmos e tons diferentes;
Início do balbucio;
Repetições intencionais;
Aprende logo a reproduzir os sons.
Por volta do primeiro aniversário, a maioria das crianças começa a falar suas primeiras
palavras com significado, geralmente na forma de vocábulos isolados. Esta é a fase da pré-
conversação: ela começa a vocalizar mais nos intervalos que é deixada livre pelo adulto. Amplia
rapidamente sua compreensão da linguagem falada ao seu redor e a linguagem que se associa
a gestos e situações vividas lhe dão sentido. Palavras familiares são vocalizadas com mais
precisão, além de melhor controladas quanto à altura tonal e intensidade.
Agrupam sons e sílabas repetidas à vontade, começam a nomear as coisas, o
surgimento das palavras funcionais facilita o seu convívio com os familiares e “estranhos”. Nesta
fase a criança tende a generalizar, fazendo com que haja um prolongamento semântico
(exemplo: cachorro para todos os animais). É uma fase confusa, cheia de aprendizado e
experiências a serem vivenciadas; muitas crianças têm crises de choro, birra, são raivosas,
chegando a morder e bater quando não são compreendidas ou quando não conseguem se
expressar; a pouca tolerância leva a frustrações. Neste período os pais necessitam de
orientação com relação às emoções da criança, como lidar com crises e anseios.
Instrumental Pessoal
Reguladora 21
Heurística
Interacional
Imaginativa
INFORMATIVA
Para as crianças, todas as funções servem para a maior parte das necessidades
interativas. Segundo Boone (1994), a função instrumental informa o uso da linguagem de
maneira geral e a necessidade da criança (exemplo: eu preciso); a reguladora, a criança procura
controlar o mundo ao seu redor (exemplo: pegue); a função interacional vai tratar das relações
com o mundo a sua volta (exemplo: como vai você?); a função pessoal trata das suas próprias
necessidades e funciona apenas para satisfazê-la (exemplo: estou com fome); a função
heurística (exemplo: onde); a função imaginativa, a criança começa a trabalhar as possibilidades
e hipóteses (exemplo: por que nós não...); e por último, a informativa, que circunda todas as
outras de forma inconsciente (exemplo: você sabe que...).
Com três anos de idade a criança começa a internalizar o mundo, consegue
reconhecer lugares que esteve antes, entende ordens duplas simples (exemplo: fecha a gaveta e
me dá o livro); tem noção espacial, é capaz de responder perguntas do tipo: o que você usa para
sentar?; o que você faz quando está com fome?.
A partir dos quatro anos de idade a criança já executa ordens de três itens, já é capaz
de dar seu nome completo e nome dos pais; se lermos alguma história simples, é capaz de
Linguagem Audição
22
No entanto, temos que ter em mente que há crianças que vão estar mais adiantadas
na compreensão da linguagem e não corresponderem a idade devida na expressão oral. O que
foi explicado acima serve de parâmetros para iniciar uma estimulação. Se for o caso, serve para
orientar pais e cuidadores sem a preocupação de etiquetar diagnósticos.
demonstre interesse, isso não exclui a possibilidade dela escutar e depois se interessar. Fale
coisas concretas e frases curtas; comente sempre o que está acontecendo ao seu redor. Induza
a criança a aprender a prestar atenção aos sons ambientes e a se concentrar ouvindo músicas
infantis. Aponte para o céu e faça-o ouvir o avião ou aponte para uma sirene de ambulância;
imite os sons (bichos, coisas), faça seu filho localizar a fonte sonora.
VISÃO: mostre ao seu filho aquilo que você está fazendo; deixe seu filho explorar o 23
ambiente. Quando estiver fora de casa aponte os pássaros, os carros, as árvores, etc., as coisas
têm que ser nomeadas de forma clara e tranquila.
TATO: dê ao seu filho muita oportunidade de tocar e sentir as coisas; se a criança
for bebê, a deixe colocar os objetos na boca, senti-los. As crianças maiores devem brincar com
areia, sentir texturas diferentes. Enquanto a criança vai explorando o mundo, o adulto deve
nomear as ações. As crianças devem sentir contornos em curvas ou algo reto, superfície lisa e
uma áspera etc. Ensine as diferentes sensações.
PALADAR: deixe a criança usar a boca e nariz para explorar o mundo, e,
consequentemente, ela estará aprendendo (doce, amargo, salgado, bom, ruim etc.).
ODOR: ensine a criança a cheirar e vá nomeando aquilo que ela cheira; faça
distinguir cheiros bons e desagradáveis.
AÇÕES: ensine a criança a sacudir objetos em vez de jogar no chão; ajude-a a
explorar o máximo um objeto, fazendo com que o interesse no objeto passe de uma simples
olhada.
AUDIÇÃO
PALADAR VISÃO
24
ODOR TATO
AÇÕES
3 MECANISMO AUDITIVO
e começa a formação das cartilagens. No final da sétima semana, a porção do sáculo se alonga
para completar a primeira volta da cóclea; começa o desenvolvimento das células sensoriais no
utrículo e no sáculo, o pavilhão auricular começa a movimentar-se no sentido dorsolateral. Na
oitava semana é o inicio da formação dos ossículos do ouvido médio e a membrana timpânica.
26
FIGURA 2 - DESENVOLVIMENTO INICIAL DO OUVIDO INTERNO DE UM EMBRIÃO HUMANO
27
FIGURA 3 - DESENVOLVIMENTO ESQUEMÁTICO DAS PORÇÕES INTERNA E MÉDIA DO
MECANISMO AUDITIVO
28
O feto reage a estímulos sonoros após o quinto mês, pois as etapas de respostas a
sons seguem um padrão de maturação. Ao nascer o ser humano apresenta apenas audição do
tipo reflexa; em seguida começa o processo de aprendizagem e novas respostas ao som
passam a ser desenvolvidas. A seguir, uma tabela com o resumo da embriologia do ouvido:
está formado.
16ª. - Ossificação do -
Martelo e Bigorna.
18ª. - Ossificação do -
Estribo.
20ª. Pavilhão auricular 30
atinge a forma adulta,
continua a crescer até
os nove anos.
21ª. - - O plugue meatal
desintegra-se,
expondo a membrana
timpânica.
30ª. Canal Auditivo Pneumatização do -
externo continua a tímpano.
amadurecer até sete
anos de idade.
32ª. - Completa-se a -
ossificação do martelo
e bigorna.
34ª. - Desenvolvem-se as -
células aéreas
mastoides.
35ª. - Pneumatização do -
antro.
37ª. - Pneumatização do
epitímpano, estribo
continua a
desenvolver-se e a
Membrana Timpânica
muda de posição
relativa durante os
dois primeiros anos
de vida.
neste período que ela adquire todos os tipos de habilidades motoras e uma enorme quantidade
de informações que provêm dos sentidos especiais, tais como: visão, olfato, tato, gustação e
audição. Segue abaixo a maturação das respostas auditivas em crianças de zero a dois anos.
Tanto uma função como a outra são de vital importância para a criança em
desenvolvimento. É um sistema formado pela orelha externa, média e interna, com diferentes
características estruturais e funcionais.
A orelha externa é constituída de pavilhão auricular, conduto auditivo externo e a face
externa da membrana do tímpano. A função do pavilhão auricular é coletar as ondas sonoras e
dirigi-las para o meato acústico externo, que funciona como um condutor do som até a 33
membrana timpânica, além de proteger e fornecer ressonância sonora. A cera produzida por
glândulas ceruminosas da pele do meato forma uma película sobre o conduto,
impermeabilizando-o e protegendo o ouvido da ação de micro-organismos, devido a seus
constituintes e a sua acidez.
A membrana timpânica é fixada à parede do conduto auditivo por um anel de tecido
fibroso denominado anel timpânico e dividida em duas partes: parte tensa (ocupa maior parte da
área) e parte flácida, que ocupa a porção superior da membrana. E a sua função é a separação
da orelha externa da orelha média, além de facilitar a amplificação sonora.
Membrana
Conduto
Pavilhão Timpânica
auditivo
Auricular (face
externo
externa)
ductos abrem-se no utrículo e este no sáculo. Estruturas sensórias localizadas no vestíbulo são
responsáveis pela função do equilíbrio e estão dispostas na ampola de cada ducto semicircular,
nas cristas ampulares, no utrículo e mácula utricular e no sáculo.
A cóclea lembra uma concha de caracol e consiste em um canal em forma de espiral,
medindo 32mm de extensão, com duas voltas e meia ou duas voltas e três quartos, chamadas
giros. O primeiro giro é o basal, ele está sob o promontório, na parede labiríntica da cavidade 36
timpânica. A base da cóclea é a parte do fundo do meato acústico interno correspondente à área
crivosa coclear, o trato espiral foraminoso, que é zona perfurada com vários orifícios pelos quais
os filetes do gânglio espiral chegam à parte coclear do nervo vestibulococlear.
O canal espiralado enrola-se em um eixo ósseo central cônico, o modíolo; dele sai uma
lâmina que divide o canal de forma incompleta, de onde fibras nervosas entram e saem da
cóclea, atingindo o modíolo e depois o meato acústico interno. A cóclea está dividida em três
espaços pela lâmina espiral, que são: escala vestibular, escala média ou canal coclear (contém o
órgão de Corti) e a escala timpânica (limita-se com a orelha média pela janela coclear). O
helicotrema faz a comunicação das escalas vestibular e timpânica por meio de um orifício no
ápice da cóclea. A cóclea recebe energia fornecida pela estria vascular, que mantém a
composição dos líquidos cocleares.
O órgão de Corti, estrutura sensorial do sistema auditivo, localiza-se na membrana
basilar e desempenha um importante papel na propagação da vibração das ondas sonoras. O
deslocamento da perilinfa faz com que a membrana basilar entre em movimento, alcançando sua
amplitude máxima no local da membrana correspondente à frequência do som que foi
transmitido (os sons agudos localizam-se na base e os sons graves no ápice).
Logo a seguir, a imagem do Órgão de Corti irá ajudar na visualização do mecanismo
de transmissão das mensagens sonoras. Perceba a diferença de estruturas entre as células de
sustentação, células ciliadas externas e células ciliadas internas.
37
38
As vias ascendentes e descendentes constituem o sistema auditivo central. O órgão de
Corti é a primeira estação da via auditiva e tem a função primária de responder de forma pouco
sutil a diferentes frequências sonoras. O ponto-chave na neuroanatomia da audição é a
tonotopia frequencial coclear (encontrada em todas as estações auditivas centrais).
Via Ascendente
Via Descendente
A via ascendente começa com a saída de fibras nervosas da cóclea para os núcleos
cocleares (II neurônio), conduzindo estímulo nervoso pra o tronco encefálico. Cada fibra do
nervo auditivo entra em contato com 75 a 100 células dos núcleos cocleares, enquanto que cada
neurônio dos núcleos cocleares estabelece contato sináptico com muitas fibras do nervo coclear.
Quando o núcleo coclear é atingido, as fibras tomam caminhos diferentes; algumas cruzam para
o outro lado e atingem o complexo olivar superior homolateral.
O complexo olivar tem a função de localização de fonte sonora e na audição binaural.
Uma lesão nesta área dificulta a localização da fonte sonora. As fibras continuam a subir,
chegando ao lemnisco lateral, todas as fibras aferentes alcançam o colículo inferior (III neurônio),
A movimentação da cadeia ossicular faz com que a vibração seja transmitida pela
platina do estribo sobre a janela oval, que está em contato direto com a perilinfa da orelha
interna. Neste momento há deslocamento de ondas mecânicas dentro dos líquidos, provocando
a movimentação do ducto coclear.
O órgão de Corti, localizado na membrana basilar, é estimulado pela movimentação da
membrana tectória. As células ciliadas saem de suas posições de repouso, fazendo com que os
botões sinápticos sejam acionados, ocorrendo mudança de carga elétrica, provocando o disparo
do impulso nervoso para as fibras nervosas que vão posteriormente formar o nervo
vestibulococlear.
É importante que o homem estabeleça contato com o mundo exterior, receba estímulos
e impressões que configuram a experiência e promovam a integração psicológica e social; para
tanto, ele necessita primordialmente dos seus sentidos. A deficiência auditiva é um tipo de
privação sensorial, é uma das mais significativas limitações da oportunidade de crescimento do
indivíduo. No entanto, hoje, o deficiente auditivo batalha pelos seus direitos e sua inclusão, numa
sociedade preconceituosa. A consequência maior em ser um deficiente auditivo é a
impossibilidade por meios naturais de aprender o principal veículo de comunicação humana, que
é a fala. A privação sensorial age negativamente no relacionamento mãe/filho. Caso estes pais
não sejam orientados, pode favorecer uma quebra nas relações interpessoais futuras, uma
lacuna nos processos psicológicos de integração de experiência, afetando o equilíbrio e a
capacidade normal do indivíduo.
44
• Surdez leve
Parcialmente • Surdez moderada
Surda
• Surdez severa
Surda • Surdez profunda
aquelas crianças com perda auditiva de tal extensão que alguma forma especial de educação é
necessária. Corrêa (2001) afirma que a terminologia é ampla quando se trata de alguém que não
ouve. Ele prefere se referir como “criança com perda auditiva”; no entanto, afirma que ao
utilizarmos os termos “criança surda” ou “deficiente auditivo” está diagnosticando somente a
deficiência, sem analisar a criança como um ser social, onde além das suas necessidades, há
possibilidades de desenvolver um grande potencial. 46
Russo e Santos (1994) afirmam que a prevenção da perda auditiva na criança é uma
forma de proteger e impedir que a criança sofra os efeitos funestos provocados pela falta de
estimulação auditiva sobre a função da linguagem.
A princípio temos que ter em mente que a língua materna é adquirida naturalmente no
contexto familiar e social, onde a criança é imersa no ambiente linguístico e a escola sistematiza
o conhecimento. As alternativas de atendimento para as crianças com perda auditiva estão
intimamente relacionadas às condições individuais, o diagnóstico precoce, às escolhas da
família, além de grau e o tipo da perda auditiva.
É essencial terapeutas, cuidadores e familiares ficarem atentos aos sinais que auxiliem
na identificação precoce da surdez, para que seja realizado o diagnóstico diferencial.
DO NASCIMENTO AOS 3 MESES DE IDADE
O recém‐nascido
Não reage a um forte bater desenvolve‐se
O recém‐nascido não reage
de palmas numa distância normalmente nas áreas
a sons fortes .
de 30cm. que não envolvam a
audição.
DOS 3 MESES AOS 6 MESES
Não procura com os A criança só interage
Não responde a fala
olhos de onde vem um com os pais se a
dos pais.
determinado som. abordagem for visual.
47
DOS 6 MESES ASO 10 MESES
A criança não atende Não atende a
Não entende frases
quando é chamada campanhia da porta
simples.
pelo nome. ou a voz de alguém.
DOS 10 MESES AOS 15 MESES DE IDADE
A criança
compreende quando
Não aponta objetos Não imita sons e palavras
é interrogada por
familiares ou pessoas. simples.
gestos ou língua de
sinais.
DOS 15 MESES AOS 18 MESES
A criança obedece
Não obedece a As primeiras
instruções dadas em
instruções faladas, palavras não se
língua de sinais ou
por mais simples. desenvolvem.
por meio de gestos.
DOS 18 MESES AOS 3 ANOS E MEIO DE IDADE
A criança gesticula Observa
Não há aumento para manisfestar intensamente os
do vocabulário . necessidades e rostos dos pais
vontades. enquanto falam.
DOS 18 MESES AOS 3 ANOS E MEIO DE IDADE
Histórico de dores de
Adquire a língua de Aparentemente
cabeça e infecções do
sinais comunicando desobediente quando
ouvido, além de não
seus desejos e as ordens são feitas
gostar de ouvir
necessidades. por meio da fala.
histórias.
DOS 3 ANOS E MEIO AOS CINCO ANOS DE IDADE
A fala da criança é
Não consegue Não consegue
difícil de se entender;
localizar a origem do entender nem usar
a criança usa gestos 49
som. palavras simples.
para funções sociais.
A CRIANÇA COM MAIS DE 5 ANOS DE IDADE
Dificuldades em
Não responde Confunde direções
prestar atenção à
quando é chamada ou não consegue
fala, tornando‐se
oralmente. compreender.
dispersa.
A CRIANÇA COM MAIS DE 5 ANOS DE IDADE
Expressa‐se confusa
Dá respostas erradas Não se desenvolve
quando recebe
às perguntas bem na escola, onde
ordem ou quando lhe
formuladas não há apoio para o
perguntam alguma
oralmente. deficiente auditivo.
coisa oralmente.
A CRIANÇA COM MAIS DE 5 ANOS DE IDADE
Está sempre indisposta,
Substitui e omite sons, Evita pessoas, brinca parece inquieta ou tensa
apresenta qualidade sozinha, parece quando o ambiente 50
vocal pobre. ressentida ou irritada. linguístico não lhe é
conhecido.
Identificar a deficiência auditiva tão tarde soa impossível, mas infelizmente muitas
crianças começam o tratamento muito tarde, no entanto não podemos subestimar a capacidade
e a rapidez das crianças de aprender. Por isso, o início do tratamento é muito importante; as
orientações à família, para que no âmbito domiciliar a estimulação seja efetiva. A perda auditiva
em uma criança tem necessidades muito maiores do que em qualquer adulto, pois para aprender
a língua materna é preciso primeiro identificar acusticamente os fonemas que ela contém. Os
profissionais, ao receberem crianças com dificuldade na audição, devem realizar
encaminhamentos para um diagnóstico e tratamento efetivo, além de desenvolver estratégias
que permitam que os sinais sonoros cheguem até a criança.
Skinner (1978) enumerou uma série de alterações no aprendizado da linguagem que
uma criança pode apresentar se for portadora de deficiência auditiva leve:
1. Perda da constância das pistas auditivas quando a informação acústica flutua.
2. Confusão dos parâmetros acústicos em situações de fala rápida.
3. Confusão na segmentação e na prosódia.
4. Mascaramento em ambiente ruidoso, onde a relação ideal deveria ser de +30 dB e
na vida real temos de +12 dB.
5. Quebra da habilidade precoce de perceber a acústica dos sons da fala.
6. Quebra na habilidade de aprender significados.
7. Abstração errônea das regras gramaticais. Em nossa língua a sílaba final de cada
palavra apresenta baixa intensidade e algumas marcas de gênero e número estão exatamente
nesta sílaba, que passa a ser inaudível para a criança.
8. Perda dos padrões de entonação subliminares, representado pelo conteúdo
aflorar em uma criança com dificuldades auditivas, pois não compreender o mundo ao seu redor
ou não ser compreendida pode alterar seu estado de “espírito”. Quando e como apareceu o
problema da surdez é de suma importância, pois ter adquirido a linguagem e perdê-la é muito
diferente de quem nunca teve contato com o mundo dos sons. Contudo, sabemos que ouvir não
é a única maneira para que possamos desenvolver a linguagem, pois a audição estrutura o
tempo enquanto o espaço estrutura pelo mundo visual, assim a criança terá uma estrutura 52
tempo-espacial alterada, desequilibrada. Geralmente, a queixa de pais e professores de crianças
surdas é com relação à atenção e concentração (elas apresentam dificuldades significativas);
estão sempre na defensiva (proteção inconsciente); às vezes demonstram sinais de
agressividade, que é resultado da falta de comunicação com o mundo externo – isso pode
facilitar o desenvolvimento de distúrbios de personalidade. No entanto, os cuidadores têm que
compreender a criança como um todo e principalmente suas necessidades de comunicação;
devem ter um olhar holístico, que com certeza facilitará no desenvolvimento geral da criança e
na aquisição da linguagem.
Voz e fala
Linguagem
Estado Psicológico
A pirâmide acima nos oferece uma ideia visual de como o estado psicológico é
importante para a criança de forma geral, pois as crianças com dificuldades auditivas podem
apresentar um quadro psicológico que dificulte o tratamento e a sua rotina no âmbito familiar ou
escolar.
55
Outra forma de analisar as perdas auditivas é por meio do critério de grau da perda: o
método baseia-se na obtenção da média tritonal, nas frequências de 500 Hz, 1000 Hz e 2000
Hz. Seguem abaixo as tabelas de classificação com relação às perdas auditivas em adultos e
crianças respectivamente:
Congênitas Adquiridas
57
Sabendo que existem deficiências congênitas e adquiridas, o que podemos fazer para
prevenir este tipo de dificuldade? Há várias formas de se evitar a deficiência auditiva. A mulher
deve sempre estar com a vacina contra a rubéola em dia, de preferência na adolescência, para
que durante a gravidez ela consiga proteger o bebê que está sendo gerado, pois caso a mãe não
esteja protegida e nos primeiros meses de gestação tiver contato com a rubéola, o bebê pode
nascer com alterações na audição.
Portanto, é importante que a criança receba todas as vacinas contra as doenças
infantis para prevenir possíveis deficiências. Devem ser evitados objetos utilizados para “limpar”
os ouvidos (grampos, palitos ou outros pontiagudos; os pais e cuidadores devem estar atentos
para que as crianças não introduzam nada nos ouvidos, correndo-se o risco de causar lesões no
aparelho auditivo), caso isto ocorra, o objeto não deve ser retirado em casa, o responsável deve
procurar atendimento médico.
na hora do parto e/ou infecção hospitalar. As causas pós-natais podem estar ligadas a doenças,
a drogas ototóxicas, exposição contínua a ruído ou sons muito altos e a traumatismo craniano. A
seguir, uma ilustração da classificação das deficiências auditivas quanto ao local da lesão.
abscesso subdural, abscesso cerebral e trombose do seio lateral. A causa dessas otites são as
mais diversas, seguem abaixo algumas:
Disfunção mecânica da tuba auditiva;
Fissura palatina;
Hipertrofia de adenoide;
Tumores nasofaríngeos; 60
Barotrauma;
Desvio do septo nasal;
Cicatrizes traumáticas do orifício peritubal devido à terapia por radiação;
Tamanho e posição da tuba auditiva.
61
aparelhagem especial, o otoscópio e/ou microscópio. O grau de perda auditiva é avaliado pela
audiometria. Tanto os agentes infecciosos como os agentes alérgicos podem desencadear uma
otite, pois o material infeccioso pode ter dificuldade para ser drenado para fora do ouvido e
dessa forma há probabilidade de uma infecção crônica.
A mastoidite pode ter estágios agudo e crônicos; é uma inflamação da mucosa ciliada
do antro com a presença de edema ou drenagem insuficiente da mucosa mastoide, cria-se uma 62
pressão dentro das células aéreas, causando desconforto e os sintomas são os seguintes:
Sensação de estiramento;
Otalgia;
Otite média aguda;
Hipersensibilidade;
Edema;
Perda auditiva condutiva.
Nos casos de mastoidite podem ocorrer destruição da membrana timpânica e a
estrutura óssea frequentemente é atingida pela infecção. Em geral, está associada a uma
história de otite média.
É importante frisarmos das deficiências auditivas de origem genética no qual levam a
alterações no ouvido externo e médio, segue abaixo as mais conhecidas:
manifestações:
Deslocamento lateral dos cantos internos dos olhos;
Base do nariz larga e alta;
Mecha branca no cabelo, na região frontal;
Deficiência auditiva;
Fissura labial e palatina, malformação cardíaca e nos membros. 65
O achado audiológico confere uma perda auditiva neurossensorial, podendo variar de
leve a severa e está presente em mais de 50% dos pacientes; pode ser unilateral ou bilateral
e/ou progressiva.
2. Síndrome de Pendred – caracteriza-se por distúrbios metabólicos e
endocrinológicos, associada à deficiência auditiva e disfunção tireoidiana. Os achados
audiológicos podem revelar perda auditiva neurossensorial de grau moderado a profundo.
3. Síndrome de Klippel-Feil – a deficiência auditiva nestes pacientes pode ser
condutiva ou neurossensorial, variando de grau leve a profundo e apresenta as seguintes
alterações:
Fusão das vértebras cervicais;
Deficiência auditiva;
Escoliose;
Pescoço curto com mobilidade reduzida;
Fissura de palato, pé torto;
Distúrbios neurológicos.
4. Síndrome de Jervell-Lange-Nielsen – nesta síndrome foi estabelecida uma relação
de defeitos cardíacos e deficiência auditiva. É caracterizada por:
Deficiência auditiva do tipo neurossensorial, bilateral, profunda e congênita;
Anormalidades eletrocardiográficas (que na infância podem levar a morte súbita).
5. Síndrome da disostose cleidocraniana – o nome dado a esta síndrome refere-se
apenas a uma parte das anomalias do desenvolvimento encontradas nos portadores. As
manifestações mais significativas que caracterizam os portadores são as seguintes:
Crescimento diminuído;
Desenvolvimento tardio ou incompleto dos seios paranasais e das células da
mastoide;
Nariz em sela;
Palato em ogiva;
Erupção tardia dos dentes com anomalias diversas;
Agenesia parcial ou total das clavículas;
Caixa torácica pequena;
Ossificação irregular;
Aumento do espaço entre os olhos (hipertelorismo); 66
Deficiência auditiva condutiva ou neurossensorial progressiva.
6. Síndrome do Bócio – é caracterizado por distúrbio metabólico e endocrinológico, e
associado à deficiência auditiva congênita, apresenta as seguintes manifestações:
Hiperatividade da tireoide;
Deficiência auditiva neurossensorial, profunda e congênita;
Face com forma de pássaro;
“Peito de pombo”;
Omoplatas pontudas em forma de “asa” ou em “posição de asa”.
7. Síndrome da mão e audição – anomalia dos músculos das mãos associada à
deficiência auditiva.
Não podemos esquecer as perdas auditivas causadas por drogas ototóxicas. A
administração de algumas drogas e medicamentos pode causar danos à cóclea ou à porção
vestibular do ouvido interno, levando a uma perda auditiva neurossensorial (permanente). Uma
droga ingerida pela mãe no período gestacional pode lesar o órgão auditivo e trazer transtornos
à criança – isto ocorre no primeiro trimestre.
As drogas consideradas tóxicas para a audição mais devastadoras são a kanamicina e
a neomicina, não podendo esquecer os produtos químicos que podem levar a diminuição
auditiva como: monóxido de carbono, mercúrio, ouro, arsênico e álcool, se ingeridos durante a
gestação no período crítico. Porém, diversos antibióticos, diuréticos e anti-inflamatórios podem
ser encontrados na lista das substâncias ototóxicas. Em seguida, alguns nomes de
medicamentos considerados tóxicos para a audição:
Antibióticos aminoglucosídeos – aminoglicosídeos, eritromicina, vancomicina;
Slicilatos – aspirina e produtos que contenham aspirina;
Diuréticos de alça - Lasix, Endecrin, Bumex;
Agentes Quimioterápicos - cisplatina, mostarda nitrogenada, vincristina;
Quinino - aralen, atabrine (para tratamento da malária), Legatrin, Q-Vel relaxante
muscular.
Antidepressivos - Prozac, Zoloft, Paxil, Celexa e o Luvox.
As doenças de origem não genética, mas que causam deficiência auditiva congênita
são:
Infecções por vírus e bactérias – o período pré-natal é um grande problema para
gestantes que não estejam realizando acompanhamento, porém mesmo que a gestante seja 67
assistida, corre o risco de adquirir algumas das doenças que pode levar a deficiências na
audição. A rubéola materna é o exemplo mais comum, pois um grande número de crianças com
problemas na audição é decorrente da rubéola. Ela pode apresentar uma variedade de
manifestações, as principais são as seguintes:
Baixo peso ao nascer;
Icterícia;
Deficiência auditiva;
Problemas cardíacos;
Catarata ou glaucoma;
Retardo mental ou psicomotor;
Problemas comportamentais.
Os achados audiológicos mostram uma perda auditiva neurossensorial de grau severo
a profundo, com curva horizontal e uma discreta queda nas frequências altas. Em seguida um
gráfico com a visualização da perda auditiva causada por rubéola.
Distúrbios metabólicos;
Radiação;
Prematuridade;
Trauma perinatal;
Anoxia;
Alterações no desenvolvimento;
Distúrbios neurológicos.
Porém, citaremos a seguir algumas patologias que podem levar à deficiência auditiva
Além de perda auditiva, o sarampo pode ser causador de otite média supurativa
necrosante, podendo chegar até uma labirintite purulenta (destruindo todo o ouvido interno). Os
achados audiológicos tanto podem ser de perda auditiva neurossensorial como de condutiva, de
grau moderado a profundo.
Conferir o quadro acima, onde a orelha esquerda (x) apresenta uma perda condutiva e
a orelha direita (o) uma perda auditiva neurossensorial. Vale salientar que o tratamento é crucial,
pois alivia os sintomas (tosse, febre, diminuição da irritação na pele), além de combater
possíveis complicações.
A prevenção continua sendo o melhor remédio, a vacina contra o sarampo pode ser
aplicada na criança com 12 meses, 1º reforço 4 - 6 anos; e 2º reforço com 12 anos.
71
5 AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA
envolvam desde a captação sonora até lesões cerebrais localizadas no lobo temporal e
organização do córtex auditivo. É na avaliação audiológica que podemos estabelecer diagnóstico
diferencial tanto para perdas auditivas como para outros quadros patológicos. Na avaliação
audiológica infantil temos suporte para quantificar e qualificar a deficiência auditiva
precocemente, propondo auxílio no processo de (re) habilitação.
A avaliação audiológica infantil diferencia-se da do adulto. É necessário que o 73
profissional tenha conhecimento do desenvolvimento infantil, experiência clínica e habilidade
para conduzir qualquer teste com crianças, sem esquecer que cada uma tem o seu jeito
individual de “SER” e de “AGIR”. Por isso é muito perigoso generalizar os atendimentos. O
processo de avaliação audiológico deve se adequado para cada caso, às vezes uma técnica
serve para a maioria das crianças, porém pode não se adequar a uma determinada criança.
De acordo com Russo e Santos (1994), avaliação audiológica é a observação das
respostas comportamentais da criança a estímulos acústicos em situação controlada. Para que a
avaliação seja validada, algumas exigências são feitas com relação ao profissional e são as
seguintes:
Experiência em realizar avaliação audiológica em adultos.
Experiência em observar respostas comportamentais globais e específicas a
estímulos acústicos.
Habilidade em manipular os instrumentos geradores de estímulos sonoros ou
equipamentos.
Reconhecer reações negativas e/ou positivas ao estímulo sonoro.
Aplicar diferentes técnicas de avaliação da audição em bebês e crianças pequenas.
Saber reconhecer o limite de cada criança.
Gostar verdadeiramente de criança.
+
74
HABILIDADE PROFISSIONAL = RESULTADO PRECISO
Envolvimento dos pais – é necessário envolver ativamente os pais, fazer com que
eles se sintam importante no processo de avaliação, pois os pais são capazes de contribuir com
suas observações para o quadro global, além de que eles estando envolvidos, facilita na
Atenção
Manter o
Guia clínico sempre na
foco
criança
Ser fiel ao guia clínico é peça chave para manter o foco sempre centrado nos
interesses da avaliação audiológica; assuntos alheios devem ser deixados de lado, cabendo ao
profissional manter o assunto focado, além de estar com a atenção voltada para a criança –
durante a entrevista a criança pode fornecer pistas do seu comportamento auditivo. Basicamente
as questões que o profissional deve abordar neste primeiro contato são:
Queixas atuais;
História médica, genética, da gestação ao parto;
História do desenvolvimento motor e dos aspectos sociais/educacional;
Descrição minuciosa da audição, fala e linguagem. 77
A queixa é o principal ponto. A família irá relatar as suas preocupações, o seu real
motivo para a avaliação auditiva. A compreensão da queixa por parte do profissional é essencial,
as preocupações expostas pelos familiares têm que ser mutuamente compreendidas. Alguns
pais são capazes de verbalizar seus anseios de forma direta e objetiva, porém, há pessoas que
têm maior dificuldade de expor, motivo o qual devemos de forma sutil ter acesso a todas as
informações.
COLETAS DE DADOS
QUEIXAS
78
No módulo anterior foram descritas várias patologias que podem desencadear uma
deficiência auditiva. No momento da entrevista com a família, o profissional deve ter em mente
as patologias que potencializam uma perda auditiva, isso facilitará o desenvolvimento da
conversa, além de mantê-la objetiva. Logo em seguida você encontrará uma tabela com
indicadores de alto risco para a deficiência auditiva na infância:
Síndromes associadas à X X
deficiência.
COLETA DE DADOS
HISTÓRIA FAMILIAR
COLETA DE DADOS
HISTÓRIA CLÍNICA
Na coleta de dados da história clínica, em primeiro lugar devemos perguntar aos pais
se a criança teve alguma doença incomum, que não foi diagnóstica, ou se ela já esteve
hospitalizada (por quanto tempo, qual foi o motivo do internamento e quantas vezes). É
importante obter informações sobre possíveis intervenções cirúrgicas (qual procedimento,
quando, nome do médico e qual hospital).
No segundo momento perguntar se a criança já teve problemas de visão, ou se a
criança já foi avaliada e por qual médico, e qual foi o resultado desta avaliação visual? Frisar se
já houve avaliação auditiva anteriormente, quando e onde foi realizada. Nunca se esquecer de
registrar os nomes dos médicos que realizaram algum procedimento na criança e as datas (ao
menos o ano que foi realizado).
84
COLETA DE DADOS
HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO MOTOR
86
Nos módulos anteriores foram descritos sobre audição, fala e linguagem para fosse
identificado os processos de aquisição da linguagem e houvesse entendimento claro e simples
sobre a importância da audição para o desenvolvimento da linguagem oral.
COLETA DE DADOS
HISTÓRIA DA FALA, LINGUAGEM E AUDIÇÃO
Obter dados sobre fala, audição e linguagem servem para enriquecer e confirmar o
exame formal. Os marcos do desenvolvimento da linguagem ou a ausência desses marcos pode
gerar informações cruciais para fechamento de diagnóstico. É interessante não subestimar 87
nenhuma informação, pois todos os dados são interessantes.
88
Perguntar aos pais sobre a audição do seu filho ajuda-os a (re) pensar sobre a própria,
e isso pode ajudar tanto na hora de explicar e falar sobre os resultados da avaliação auditiva. Na
entrevista devemos incluir perguntas abertas e perguntas específicas, no qual as observações e
as impressões dos entrevistados sejam trazidas à tona e sejam aproveitadas.
COLETA DE DADOS
HISTÓRIA SOCIAL, COMPORTAMENTAL E EDUCACIONAL
90
Criança 93
Pais Examinador
Avaliação
Auditiva
Infantil
Vale salientar que nenhuma das técnicas, ou dos recursos existentes e utilizáveis, é
considerada melhor que outra. O segredo para o sucesso nos resultados da avaliação
audiológica infantil será sempre a experiência do examinador, além do uso de vários métodos.
Segundo Dows & Northern (1985), não existe substituto para a experiência de se testar crianças;
é fundamental que o examinador tenha sempre em mente que só com a observação repetida
das diferentes técnicas, nas diferentes crianças, é que a experiência é adquirida.
É de extrema importância para o bom desempenho da avaliação auditiva
comportamental:
Relacionamento cordial com a mãe, além da sua presença na sala de teste;
Inserir a criança no contexto, perguntar se ela quer participar e dizer o que ela deve
fazer;
ACREDITAR NA RESPOSTA DA CRIANÇA.
Reflexo
Reflexo
cocleopal
pebral de moro
Despertar
do sono
Temos que ter muito cuidado com os reflexos de susto e de acordar, pois eles tendem
a desaparecer à medida que se repete o estímulo sonoro. A avaliação comportamental é um
teste escolhido para crianças de zero a dois anos, pois evidencia a produção de uma resposta
Os neonatos devem ser colocados em posição facilitadora, de forma que o bebê seja
elevado aproximadamente 20 graus em supino, com a cabeça na linha média, apoiada pela mão
do examinador, livre para girar. É essencial que o estado de vigília, no qual os olhos dos bebês
estejam totalmente abertos e brilhantes, a movimentação corporal seja reduzida e toda a
atenção deve estar canalizada para “ver e ouvir”.
A apresentação do estímulo deve ser aleatória, à esquerda ou à direita da cabeça do
bebê, a uma distância de 7 cm, num ângulo de 90 graus fora do campo de visão periférica do
neonato. Os estímulos devem ser apresentados na ordem crescente de intensidade. Os
instrumentos de intensidade fraca/média devem ser expostos de forma contínua e com longa
duração (mínima de 6 e máxima de 20 segundos). Os sons fortes devem ser apresentados de
forma súbita com outra duração; nos casos de ausência de resposta à primeira apresentação, os
estímulos devem ser repetidos por mais duas vezes. O intervalo dos estímulos varia de acordo
com as condições do bebê, retorne sempre a cabeça do bebê à linha média.
Não apresente estímulo quando a criança estiver agitada, chorando, bocejando ou
realizando algum movimento.
96
IMPORTANTE
Estado de vigília;
Movimentação corporal reduzida;
Apresentação do estímulo aleatória;
Intervalo de apresentação do estímulo;
Não apresente estímulo se a criança realizar algum movimento.
IMPORTANTE
Registrar somente respostas nítidas e claras;
Respostas duvidosas devem ser registradas com ausência de resposta;
Na dúvida, descarte a resposta.
De acordo com Russo & Santos (1994), o recém-nascido deverá estar alimentado,
limpo, vestindo pouca roupa ou aquela que lhe permita ampla movimentação, a fim de que os
observadores possam avaliar adequadamente suas respostas, excluindo as movimentações ao
acaso. Nos neonatos, a testagem deve acontecer no próprio berçário para garantir as condições
de temperatura e higiene, além do mínimo de ruído.
A criança deve estar sentada no colo da mãe, afastado do seu peito, a fim de que haja
um espaço entre ela e as costas do bebê. O examinador deve se posicionar a 90 graus da linha
média (ao lado da criança) com um objeto em uma das mãos, a fim de atrair sua atenção para 97
frente, passando a outra mão através do espaço atrás do bebê e realizando a emissão do lado
oposto onde se encontra.
A criança deve estar em estado de vigília, os estímulos devem ser apresentados de
foram crescente de intensidade, de forma aleatória, a uma distância de 7 cm e máxima de 15 cm
do pavilhão auricular (a distância vai variar de acordo com o autor que o examinador preferir).
Os estímulos de fraca e média intensidade devem ser apresentados iguais ao período
dos neonatos, podendo diminuir a duração. Os estímulos de forte intensidade continuam a ser
apresentados de forma súbita e de curta duração. Os intervalos entre as apresentações sonoras
são maiores em crianças menores. No sexto mês em diante as apresentações devem ser em
sequência rápida, o intervalo será apenas para que o examinador troque de instrumento ou
recobre a atenção da criança para nova apresentação, levando em média cinco segundos.
Para verificar a rapidez e exatidão das respostas, pode ser aplicada a técnica de
apresentação “pingue-pongue”, de modo que o examinador manipula dois emissores em pontos
diferentes, com o intervalo de meio segundo da apresentação entre eles. Para tanto, é
necessário que ele tenha em cada uma das mãos, previamente, os objetos.
As respostas devem ser registradas independentemente do lado ou número de
apresentações; deve ser observada sempre a primeira reação ao estímulo. As respostas de
localização ao som podem ser consideradas positivas em virtude de uma movimentação
completa da cabeça em direção à fonte sonora, sem esquecer que o critério é qualitativo.
É importante lembrar que nesta técnica você obterá apenas uma estimativa da
resposta da melhor orelha, não sendo possível individualizar os limiares mínimos de audibilidade
para cada orelha. Apesar desta limitação, podemos de forma eficiente diferenciar entre o normal
e o patológico.
IMPORTANTE
Entre o primeiro e o terceiro mês pode ser mais difícil ver uma resposta auditiva do que
logo após o nascimento, desta forma, este período deve ser evitado. Alguns autores sugerem o
período de regressão das condutas automáticas presentes ao nascimento, como as respostas de
orientação ao som, com início da atividade cortical, até o aparecimento da função de localização
em torno dos quatros meses.
4º 6º
mês mês Respostas de
localizações
Giro precisas;
rudimentar da
cabeça em
direção aos Respostas
estímulos. reflexas
diminuem.
9º 12º
mês Obtenção mês
de
respostas Rapidez e
rápidas exatidão em
para todos todos os
os estímulos.
estímulos.
Deve ser capaz de seguir visualmente um objeto colorido quando ele se move de um lado para o
outro.
100
101
Vale salientar que a criança que falhar nos testes comportamentais deve ser
encaminhada para avaliação por meio de métodos objetivos. O fonoaudiólogo/audiologista é
responsável pelo diagnóstico e deve garantir o acesso do paciente (pais e familiares) ao
diagnóstico médico realizado pelo ORL (otorrinolaringologista) e pelo pediatra.
102
5.4 TESTE DE BOEL
O teste de BOEL foi preparado por Karin Stensland Junker, cuja sigla significa “o olhar
guiado pelo som”. Tal teste consiste em um equipamento especializado que serve não apenas
para avaliar a audição, mas o desenvolvimento perceptual, motor, visual, além de criar uma
atmosfera entre o examinador e a criança. A testagem é feita em bebês de 7 a 10 meses de
idade; ele irá avaliar a capacidade de atenção ou do reflexo de orientação (capacidade de
escolher e focalizar sua atenção de um estímulo para outro).
Avaliar
Avaliar
Avaliar
103
Para aplicação e o bom desempenho do teste de BOEL temos que ter na teoria e na
prática pontos fundamentais para que a criança colabore e o exame tenha validade. Seguem
abaixo pontos interessantes para a realização do exame:
Informações gerais e específicas sobre o bebê; os pais devem relatar de forma
“precisa” o desenvolvimento da função visual e auditiva (anamnese/entrevista minuciosa).
O teste só deverá começar com o contato de olho estabelecido; o examinador
movimentará o bastão de madeira vermelho (para frente e para trás, depois horizontalmente e
verticalmente)
A capacidade de a criança orientar-se para a fonte sonora; o examinador deve
apresentar um dos estímulos sonoros (de forma discreta e a 20 cm atrás da orelha da criança).
O movimento de cabeça para a fonte sonora deverá ser bastante claro (sem
dúvidas) para que seja considerado positivo.
As respostas deverão ser anotadas para cada som isoladamente e para cada lado.
Deve ter cuidado para que o contato visual não seja perdido.
O critério final para que seja considerado o exame positivo é que a criança deve virar a 104
cabeça para quatro dos cinco sons apresentados. Se a criança responde a menos de quatro
estimulações ou simplesmente não responde, a avaliação será negativa.
O estímulo visual é retirado quando a criança localiza a fonte sonora sem a sua
ajuda, então pode iniciar a pesquisa do mínimo de audição para a frequência.
A cada quatro ou cinco estímulos sonoros apresentados, ou para uma nova
frequência, deve ser apresentada a combinação luz/tom (reforçar o comportamento da criança).
A sala onde acontecerá o teste tem que estar de acordo com as necessidades
propostas pela técnica; uma sala ampla, com os equipamentos bem localizados. Deverá haver 105
uma janela para que o examinador, durante o exame, possa monitorar e orientar caso seja
preciso. A seguir será mostrada uma ilustração da disposição de equipamentos, profissional e
paciente.
entender quando estão em lugares ruidosos ou manter a atenção auditiva (algumas crianças são
estigmatizadas por serem preguiçosas, desinteressadas, etc.). No entanto, tais crianças podem
estar com dificuldades no processamento da audição, motivo pelo qual devemos estar atentos a
casos que aparentemente considera-se não ser “nada”, ou está “está tudo normal”.
As otoemissões acústicas são testes que não precisam da participação da criança;
caracterizados pelos sons de baixa intensidade gerados pela cóclea e transmitidos para a orelha 107
média e canal auditivo. É um teste de aplicação recente que vem despertando o interesse de
vários profissionais, informa sobre o funcionamento do órgão de Corti e do sistema eferente
auditivo.
É um exame muito útil no procedimento de triagem auditiva, pois quando está presente
indica o ouvido ou ouvidos em que a função coclear é normal, e quando está ausente indica que
a função coclear não é normal, embora não determine o grau do comprometimento auditivo. O
BERA, audiometria de tronco encefálico, não é caracterizado como um teste de audição, porém
tem grande importância no contexto do diagnóstico clínico neurológico e audiológico, aferindo os
limiares auditivos de forma objetiva (sem a participação da criança).
É um procedimento rápido, não invasivo e é um método de avaliação funcional. Nas
aplicações auditivas o BERA é indicado para estimar limiares auditivos sem a colaboração do
paciente; é o exame eletrofisiológico mais consagrado para aferir a audição objetivamente, mas
possui limitações (mensurar a audição nas frequências entre 2000 Hz e 4000 Hz).
Vale ressaltar que o BERA é um exame confiável, seguro, rápido, não invasivo, muito
útil quando integrado a outros testes audiológicos.
Organização
Integração
da saída
(Re)
Habilitação
110
Criança Linguagem
Criança
Meio
Social
Para que a criança consiga equilíbrio e inserir-se no meio social, Lacerda (2000) afirma
que é essencial a transparência aos modelos de atendimentos terapêuticos oferecidos à criança
surda, à concepção de linguagem que permeia cada um deles e às consequências trazidas pela
opção de uso de cada uma das abordagens disponíveis. No entanto, os pais e familiares devem
ter conhecimento sobre os métodos abordados na reabilitação do deficiente auditivo, podendo a
família, como em qualquer outro atendimento na área de saúde, optar ou não pelo tratamento
segundo o método escolhido pelo profissional.
Os métodos existentes são muitos e cada um com suas peculiaridades, porém serão 112
abordadas as formas de trabalho, filosofias, propostas pedagógicas, métodos e técnicas mais
utilizadas:
ORALISMO PURO – não é permitido gestos. O objetivo é chegar à oralidade, expor
a criança ao máximo à língua falada.
ESTIMULAÇÃO AUDITIVA – a criança surda deve ser exposta à língua falada e
usar sempre aparelho de amplificação sonora, além do treinamento auditivo. O primeiro passo é
o treinamento de atenção para a leitura orofacial e inclui elementos sonoros isolados,
combinações de sons (ba, be, pa, e etc.), palavras e finalmente a fala. Os pais são encorajados
para dar continuidade ao tratamento em casa, por isso a família é inserida no planejamento
terapêutico, dentro das orientações e participação da terapia. Não é permitido o uso de gestos.
MÉTODO MULTISSENSORIAL/UNIDADE SILÁBICA – é realizado de forma
semelhante ao anterior, acrescentando a leitura e a escrita das formas ortográficas da língua.
Neste método há estimulação intensa da audição, visão e tato (combinado a determinados
sons), não sendo permitido o uso de gestos. O aparelho auditivo tem que ser colocado antes de
iniciar o tratamento (ou ser providenciado, o quanto antes).
MÉTODO UNISENSORIAL OU ABORDAGEM AURAL – um programa de
reabilitação que envolve a família e enfatiza o treinamento auditivo sem nenhum ensino formal
de leitura orofacial ou uso de gestos. Esta abordagem depende de diagnóstico, orientação
familiar, indicação e adaptação de amplificação sonora individual o mais cedo possível, assim
como da exposição total à estimulação da linguagem oral. Enfatiza os restos auditivos e baseia-
se no desenvolvimento de uma capacidade muito prejudicada; o deficiente auditivo não é visto
dentro de suas possibilidades e de sua diferença, mas no que lhe falta e que deve ser corrigido
de qualquer forma para que ele possa se integrar e ser “normal”.
MÉTODO GESTUAL – neste método temos duas correntes, o método combinado e
o simultâneo. Uso do alfabeto manual combinado a gestos para a comunicação e o uso dos
gestos em combinação com a linguagem oral, a leitura labial e o aparelho auditivo.
TERAPIA FONOAUDIÓLOGICA
REABILITAÇÃO
Auxílio à
Língua de Linguagem Alfabeto
Leitura
Sinais Sinalizada Manual
Orofacial
6.1 ORALISMO
Segundo Goldfeld (1997), foi há muito tempo que o método oral começou a ganhar
força e diversos profissionais começaram a investir no aprendizado da língua oral para os
surdos. O defensor do Oralismo, Alexander Granham Bell, contribui no resultado da votação para
oficializar a proibição do uso de língua de sinais, no Congresso Internacional de Educadores de
Surdos, realizado em Milão, no ano de 1880. Motivo pelo qual a oralização passou a ser objetivo
principal na educação das crianças surdas. O Oralismo dominou o mundo até a década de 60. O
que temos que ter em mente é que não podemos ser radicais ao ponto de perdermos o
discernimento entre o que é bom e o que é ruim para os pacientes deficientes auditivos em
terapia fonoaudiológica.
A educação oral requer um esforço total por parte da criança, da família e da escola.
De acordo com os seus defensores, para que se tenha sucesso na terapia e bom resultado
social, é necessário:
Envolvimento e dedicação das pessoas que convivem com a criança no trabalho de
reabilitação todas as horas do dia e todos os dias do ano.
Início da reabilitação o mais precocemente possível, ou seja, deve começar quando
a criança nasce ou quando se descobre a deficiência.
Não oferecer qualquer meio de comunicação que não seja a modalidade oral.
A educação oral começa no lar e, portanto, requer a participação ativa da família,
especialmente da mãe.
A educação oral requer participação de profissionais especializados, como
fonoaudiólogos e pedagogos especializados para atender sistematicamente o aluno e sua
família.
A educação oral requer equipamentos especializados, como o aparelho de
amplificação sonora individual.
Lacerda (1976) relata que tanto no contexto educacional como nos espaços terapêuticos,
vários insucessos foram enfrentados pelos surdos que foram submetidos ao Oralismo puro. A
fonoaudiologia, buscando acompanhar tendências educacionais e as necessidades do paciente,
contempla o uso dos sinais e gestos. Devido à insatisfação com os resultados do trabalho de
reabilitação dos surdos numa linha oralista, várias pesquisas foram realizadas para questionar o
trabalho feito e como poderiam solucionar a questão. Surgem então novas escolas, filosofias,
método e técnicas para suprirem as reais necessidades dessas crianças.
A Comunicação Total tida como uma escola é vista também como uma filosofia de
educação, em que o princípio básico é se comunicar. Chegou ao Brasil no final da década de 70.
A criança é exposta desde cedo à:
Linguagem oral;
Leitura labial;
Gestos e alfabeto manual;
Amplificação sonora;
Leitura e escrita.
Os profissionais que seguem a Comunicação Total percebem o deficiente auditivo de
forma diferente dos oralistas. A Comunicação Total, em oposição ao Oralismo, acredita que
somente o aprendizado da língua oral não assegura pleno desenvolvimento da criança. A
Comunicação Total valoriza a comunicação e a interação, e não apenas a língua; seu objetivo
não se restringe ao aprendizado de um língua. Outro aspecto bem interessante nesta filosofia é
que a família é respeitada e valorizada, além de mostrar o papel da família na hora de
compartilhar valores e significados.
A Comunicação Total defende a utilização de qualquer recurso linguístico, seja a língua
de sinais, a linguagem oral ou códigos manuais, para facilitar a comunicação com as pessoas. A
ideia é usar aquilo que fornece um vocabulário e um meio de comunicação eficiente. Esta
filosofia recomenda o uso destes códigos manuais com a língua oral. Dentro da filosofia da
Comunicação Total não há obrigatoriedade da participação de adultos surdos na educação da
criança com deficiência auditiva.
IMPORTANTE 117
O foco do trabalho não está centrado nos processos de aquisição da linguagem, mas
no funcionamento da linguagem, apoiada pelos pressupostos da Teoria da Comunicação (as
relações entre interlocutores consideram a existência de um emissor, que pretende veicular uma
mensagem, um receptor que é alvo dessa mensagem e a mensagem, para que ambos os
interlocutores compartilhem um código comum; sendo assim, a mensagem codificada pelo
emissor é decodificada pelo receptor); para esta teoria, a linguagem é concebida como um
código que propicia um reservatório de mensagens possíveis.
Teoria da Comunicação
Emissor 118
Receptor
Mensagem compartilhada
Esta filosofia pretende que o deficiente auditivo fosse aceito de forma que não
houvesse discriminação por a criança surda não dominar a oralidade. No entanto, há ainda certa
resistência, pois a oralidade continua a ser o objetivo principal de trabalho em muitas sessões de
terapia, pois a visão de muitos profissionais, pais e educadores seguem uma instituição maior,
que é quem estabelece as regras e formas de trabalho. Apesar das políticas públicas estarem
investindo e estabelecendo modelos que valorizem o surdo na sua totalidade, mas ainda pode se
afirmar que é muito pouco. Partindo deste pressuposto, dentro da Comunicação Total surge o
Bimodalismo.
6.3 BIMODALISMO
Existem autores que consideram o Bimodalismo inadequado, tendo em vista que ele
desconsidera a língua de sinais (LIBRAS) e sua riqueza estrutural, acabando por desestruturar
também a nossa língua portuguesa. Para suprir as necessidades tanto no desenvolvimento da
linguagem oral, quanto na leitura e escrita (nos conteúdos escolares) surge uma nova proposta,
o Bilinguismo.
119
IMPORTANTE
6.4 BILINGUISMO
Lei nº
10.436
LIBRAS
Decreto
nº
5.626
todos comecem a repensar em uma política educacional, pois o Bilinguismo não trata apenas de
questões linguísticas, mas sociais e culturais, além de valorizar a identidade do deficiente
auditivo (surdo). É chegada a hora de fonoaudiólogos, assim como todos os profissionais da
área de saúde, abandonarem certas práticas e começarem a valorizar o SER, pois muitas vezes
apenas a classificação audiológica (grau e perda) das crianças com deficiência auditiva não são
suficientes para elaborarmos um plano terapêutico (que muitas vezes visa somente à linguagem 121
oral); olhar o SER isoladamente não é viável, temos quer entender estas crianças dentro do seu
grupo e na sociedade.
A proposta Bilíngue não privilegia uma língua, mas quer dar o direito e condições ao
indivíduo surdo de poder utilizar duas línguas. Em suma, quando uma criança é diagnosticada e
encaminhada à clínica fonoaudiológica, o profissional que tem o conhecimento do Bilinguismo
como um todo deve ter uma postura inicial de discutir com os pais sobre a LIBRAS. Muitos
familiares se mostram ansiosos para o desenvolvimento da fala propriamente dita (na sociedade
ainda há muito preconceito), motivo o qual deve ser esclarecido que a língua de sinais não
impede o desenvolvimento da linguagem oral (a LIBRAS serve de suporte para a fala). É
necessário que a criança envolvida neste processo tenha um meio eficaz de comunicação para
que o seu desenvolvimento seja assegurado e seja o mais próximo possível da criança ouvinte.
122
LIBRAS
Criança
Fala
BILINGUISMO
trabalhadas. No entanto, a visão realista que se tem do Bilinguismo é que este modelo não é
fácil de ser implantado (desenvolvido), pois ainda se tem uma tradição oralista na educação e
nos modelos terapêuticos. A necessidade de oralizar “ainda” é uma realidade na vida do
deficiente auditivo, principalmente quando pensamos em Ensino Superior, inserção social e
colocação profissional.
123
Com o surgimento da proposta Bilíngue, que favorece o uso das duas línguas (língua
de sinais e língua oral e/ou escrita), fez com que houvesse um aumento na valorização da língua
brasileira de sinais. A LIBRAS é uma língua regulamentada por lei; reconhecida como meio legal
de comunicação e expressão; tem sistema linguístico (transmite ideias, opiniões e fatos), próprio
de natureza visual motora, com estrutura gramatical.
A LIBRAS ganhou status de língua porque é composta por níveis linguísticos: o
fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. O que diferencia a LIBRAS das demais
línguas é a sua modalidade, que é visual-motora. A Língua Brasileira de Sinais tem sua origem
na Língua de Sinais Francesa – lembrando que as línguas de sinais não são universais, cada
uma tem suas particularidades de acordo com as influências da cultura nacional (o regionalismo
fornece uma diferença de expressões de região para região).
Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e
do ponto no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos. Os parâmetros que formarão os
sinais são os seguintes:
Configuração das mãos – são formas das mãos que podem ser da datilologia
(alfabeto manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros ou
esquerda para os canhotos) ou pelas duas mãos.
Ponto de articulação – é o lugar onde incide a mão predominante configurada, ou
seja, local onde é feito o sinal, podendo tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço
neutro.
Movimento – os sinais podem ter um movimento ou não.
Configuração
das mãos
Orientação e Expressão
Direção facial/corporal
LIBRAS
Ponto de
Movimento
articulação
PERCEPÇÃO AUDIÇÃO
O esquema acima mostra o objetivo básico do método, que é treinar o cérebro para
utilizar até mesmo mensagem acústica distorcida para a percepção da fala, aproveitando áreas
mais sensitivas da audição. Os princípios do método são baseados em que toda a pessoa com
lesão auditiva possui um campo “optimal” a ser explorado, na ênfase das frequências baixas, nas
dicas vibratórias para a percepção da fala, uso da progressiva fonética e uso de padrões de
ritmo, entonação e terapia do movimento (fonética rítmica, ritmo corporal e musical, expressão
corporal e facial contextualizada), além do uso de amplificação sonora.
O método verbotonal necessita do uso de aparelhos de amplificação especializados
para a terapia. São aparelhos SUVAG (Sistema Universal Verbotonal de Audição Guberina) de
amplificação e filtragem de som (SUVAG I, SUVAG II, SUVAG CT10, SUVAG IT2,MINI-SUVAG)
e seus acessórios (fones de ouvido, microfones, distribuidores e vibradores SUVAG), que junto
às técnicas, também por ele (Prof. Guberina) desenvolvidas, vieram a permitir a aplicação prática
de suas descobertas e propiciar o desenvolvimento da fala por meio da estimulação e do
controle auditivo em pessoas surdas.
O método Verbotonal é composto de cinco técnicas, que são:
Audiovisual – que tem como objetivo estimular a audição, introduzir o diálogo entre
as crianças e introduzir temas habituais de linguagem.
Conjunto – uma técnica baseada no diálogo direcionado, objetivando ampliar o
desenvolvimento linguístico/cognitivo da criança, trabalhando em nível semântico. Os objetivos
desta técnica são: colocar as crianças em contato com os outros do grupo, solicitar a sua
participação (estimulando a comunicação oral sob um ponto de vista polissensorial), reviver 127
atividades de vida diária, da noção de tempo, esquema corporal; e estimular a necessidade de
comunicação, aquisição e amplificação de léxico, conceitos, compreensão e abstração, além do
desenvolvimento da leitura orofacial.
Individual – é uma das partes mais importante do Método Verbotonal, pois é neste
momento que o terapeuta encontra-se sozinho com a criança, que vai trabalhar as dificuldades e
capacidades da mesma. Para tanto, é necessário que se pesquise e conheça o paciente quanto
ao grau, local, época e causa da lesão auditiva e quais as suas limitações e capacidades. É o
momento de realizar uma avaliação (triagem) da articulação, frequência, registro, entonação,
tempo, intensidade e tensão da voz da criança. É nesta triagem que o profissional tem o primeiro
campo optimal do paciente (será o guia para iniciar o trabalho individual). O objetivo desta
técnica é a adaptação de AASI e estimulação do canal auditivo, trabalhar os fonemas, palavras e
frases, trabalhar a qualidade vocal, fixação do material trabalhado nas aulas de grupo
(audiovisual), trabalhar a atenção e concentração, além de possibilitar o desabrochar da criança
como um todo, investindo no aspecto criativo e independente do indivíduo.
Rítmica musical – esta técnica tem como foco o aspecto suprassegmental da fala.
Estimula a percepção dos valores suprassegmentais como ritmo, entonação, tensão, pausa, etc.;
e usa o corpo como facilitador rítmico, criando condições para que a criança surda possa se
apropriar destes elementos tão ricos em informações e usá-los na sua fala espontânea.
Rítmica corporal – tem como foco o aspecto fonético-fonológico da língua,
explorando todas as possibilidades que o corpo tem como agente receptor (percepção de
vibrações rítmicas da fala) e produtor (gestos, mímicas e movimentos facilitadores da emissão
de sons) de linguagem. Movimentos corporais amplos são estimulados em consonância com as
características de micromovimentos articulatórios responsáveis pela emissão de determinados
fonemas, promovendo desta forma uma condição facilitadora à produção de determinado som,
assim como distribuindo por todo o corpo a “energia responsável” à fala.
Rítmica Rítmica
Audiovisual Individual Conjunto
musical corporal
128
Nível Nível
Fonético
MÉTODO Fonológico
LING
O encadeamento fonético deve permitir que aquele que escuta a mensagem possa
decodificá-la para que o processo de comunicação se estabeleça. Para tanto, é importante a
progressão a seguir:
Aprendizagem do som – plano fonético.
Incorporação sistemática do som aprendido em palavras com significado – plano
fonológico. 129
Aprendizagem da função de palavras em frases – plano semântico.
Construção de frases segundo as regras morfossintáticas – plano sintático.
Aquisição do vocabulário – plano lexical.
De acordo com Daniel Ling, na educação da criança com deficiência auditiva deve
haver três tipos de informações bem definidas:
1. Diferenciar os diversos sons que a própria criança produz.
2. Como chegar ao significado interpretando os sons que as outras pessoas
produzem.
3. Como tomar consciência de até onde sua fala corresponde à fala dos outros.
Vale salientar que a criança tem problemas significativos em cada uma dessas áreas
supracitadas. O fonoaudiólogo terá que realizar uma avaliação para saber quais os sons estão
presentes no repertório fonético da criança, como também quais os sons que ela usa na sua fala
com significado, no nível fonológico. Ling enfatiza que como a produção fonética excede a
capacidade fonológica, enquanto não houver um domínio muito grande em nível fonético não
deve haver transição para o fonológico. A razão para que Dr. Ling enfatize essa questão é
enquanto a atenção consciente da criança estiver focalizada na articulação e outros aspectos da
produção oral, essa mesma atenção consciente não estará livre para tarefas mais altas, como os
de nível simbólico.
Em suma, é importante saber que o deficiente auditivo, assim como a criança ouvinte,
deve aprender por imitação dos atos motores da fala, assim como uma parte do seu vocabulário;
mas a imitação não deve estender-se a frases “feitas”, para que a criança não perca a iniciativa
de construir sua própria linguagem.
O método Perdoncini foi criado por Guy Perdoncini, de nacionalidade francesa e tem a
audiofonatória como metodologia. A capacidade residual do deficiente auditivo deve ser bem-
trabalhada, porém este trabalho proporcionará um maior rendimento à aprendizagem e
desenvolvimento da linguagem, melhorando a qualidade acústica da voz.
Desenvolvimento
Resíduo auditivo Audiofonatória
da Linguagem
Perdoncini, no seu método pedagógico, procura oferecer um ritmo e uma melodia 131
comparável à voz normal; afirmava com convicção que quando a compreensão das palavras e a
discriminação dos sons pelo ouvido não se tornam possíveis, é importante recorrer a formas
musicais da linguagem como ritmo e melodia.
É um método que enfatiza o desenvolvimento da fala, buscando a estruturação da
mesma. Para o alcance dos objetivos, o método é completado com Organograma da Linguagem,
o qual é uma estratégia visual da sequência lógica básica da língua, que leva o deficiente
auditivo a uma estruturação do pensamento, até chegar à emissão da fala (palavras e frases
contextualizadas).
A família é a primeira instituição que uma pessoa entra em contato em sua vida,
portanto, as relações básicas de uma sociedade irão influenciar, direta ou indiretamente, a
estrutura familiar. A Constituição Federal, art. 226, revela que a família é a base da sociedade e
tem especial proteção do Estado. Entende-se como entidade familiar a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes.
Família Relações
132
Sociedade
Podemos pensar numa família como um sistema muito complexo e articulado, de tal
forma que seus membros tecem uma rede de interdependências e mútuas influências. É o
alicerce para a construção do indivíduo, deve ser parte essencial para o processo de cura ou
melhora da qualidade de vida do paciente.
Família
Indivíduo
Influências
e
Inter
dependência
Um dos aspectos mais difíceis na prática com famílias é a questão de que nem sempre
a comunicação é efetiva, pelo fato de que a interação profissional, geralmente, baseia-se nos
valores do profissional, em contraste com a visão de mundo da família; o que gera problemas,
levando o profissional a utilizar estas relações problemáticas como base para o julgamento do
comportamento da família. A dificuldade reside basicamente nos conflitos de valores, que podem
ser entendidos, numa perspectiva mais conceitual, como no processo de definição da situação,
que é realizado ativamente por cada um dos elementos envolvidos na situação.
133
IMPORTANTE
Família
Profissional 134
Concordância
no tratamento
Medo
Dedicação
135
Dificuldades psicológicas que a criança encontra e não consegue superar podem trazer
transtorno para o seu desenvolvimento social. A grande preocupação de familiares e
profissionais que atuam nesta área é proporcionar qualidade de vida, ou seja, a inserção da
criança no mundo ouvinte. Correa (2001) divide as responsabilidades na reabilitação da criança
com deficiência auditiva em porcentagens iguais, são fatores contribuintes para um resultado
satisfatório do tratamento:
Criança;
Família;
Amplificação Sonora Individual;
Fonoaudiólogo.
25%
25%
Amplificação
Fonoaudiólogo
Sonora
136
25% Criança 25% Família
Reabilitação
100%
Correa ainda atribui pesos iguais de porcentagem (25%) para cada um, por isso o
profissional deve deixar bem claro para a família que o desenvolvimento da criança não depende
exclusivamente do profissional e da terapia fonoaudiológica, mas de uma parceria criada com
amor e interesse de todos os envolvidos.
Crianças com problemas auditivos, geralmente, apresentam problemas psicológicos
que podem ser: reflexo dos problemas familiares, desequilíbrio emocional, dentre outros. A
percepção auditiva é a via essencial para a percepção dos sinais de alerta, é o estado constante
de alerta do ouvinte, que mantém o meio sob controle. A presença de uma surdez altera toda
uma organização perceptiva do meio, modificando consideravelmente a reação em relação às
circunstâncias exteriores, ou seja, o comportamento social (relacionamento com o outro e com o
meio em que vive).
O aparelho auditivo, com o passar dos anos, vem sofrendo mudanças significativas. As
possibilidades de aplicação aumentaram com a qualidade e a evolução da informática. A
diminuição do tamanho, do peso e o aumento do conforto fazem com que os usuários comecem 137
a aceitar de forma mais tranquila o uso da amplificação sonora individual.
APARELHO
EVOLUÇÃO TECNOLOGIA
AUDITIVO
Avaliação
138
Método
O benefício fornecido pelo uso da amplificação tem sido definido como a diferença
entre o desempenho do indivíduo com e sem prótese auditiva. No processo de adaptação de
aparelhos deve-se ter como objetivo o alcance de alguns pontos específicos, que são:
Diminuição da incapacidade auditiva;
Diminuição do handicap auditivo;
Uso da prótese propriamente dito;
Satisfação do paciente.
A diminuição da incapacidade está relacionada com o aumento da audibilidade para os
sons ambientais e melhor inteligibilidade de fala em diferentes situações. Segundo a OMS
(Organização Mundial de Saúde), a deficiência auditiva vem acompanhada de incapacidade
auditiva e do handicap. É importante que o profissional que fará a adaptação do aparelho
auditivo esteja atento para identificar problemas emocionais e situações específicas que possam
comprometer a funcionalidade da reabilitação.
Incapacidade
Auditiva Handicap
139
140
FIGURAS 34 – MODELOS DE APARELHOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA
FONTE: Windex Brasil. Disponível em: <http://www.widex.com.br/>. Acesso em: 25 set. 2014
INSERÇÃO E REMOÇÃO
CHAVES LIGA/DESLIGA
O controle de volume é representado por uma pequena roda com números, que
será ajustada de acordo com a necessidade do paciente;
Não deverá ser usado no volume máximo, pois pode haver distorção do som
amplificado causando desconforto.
COMPARTIMENTO DA PILHA
4ª SEMANA
Retirar apenas para tomar banho e dormir.
Os pais devem ser bem orientados quanto ao funcionamento do aparelho auditivo, pois
existem “problemas” que podem ser solucionados em casa ou serem identificados para
encaminhar a prótese para o técnico avaliar. Segue abaixo uma tabela com alguns problemas, a
causa e a solução para Aparelhos de Amplificação Sonora Individual:
9 IMPLANTE COCLEAR
vem a cada dia se aperfeiçoando e ganhando aliados. Estudos revelam que a plasticidade
auditiva aumenta as possibilidades de desenvolvimento da linguagem.
O implante coclear é um dispositivo eletrônico de alta tecnologia. É conhecido
popularmente como ouvido biônico. Este dispositivo estimula eletricamente fibras nervosas
permitindo a transmissão do sinal elétrico para o nervo auditivo, a fim de ser decodificado pelo
córtex cerebral. Este implante tem sido utilizado para restaurar a função da audição nos 146
pacientes portadores de surdez profunda que não se beneficiam do uso de próteses auditivas
convencionais.
Eletrônico
Sinal
Eletrodos
elétrico
IMPLANTE
COCLEAR
Tecnologia Dispositivo
147
O implante coclear é composto por duas partes: uma unidade interna e externa.
148
Na unidade interna, o receptor estimulador interno, que está sob a pele, contém um
chip que converte os códigos em sinais eletrônicos e libera os impulsos elétricos para os
eletrodos intracocleares, estimulando diretamente as fibras no nervo auditivo; esta estimulação é
percebida pelo cérebro como som, então o paciente recupera parte da audição e pode voltar a
se comunicar com as pessoas. Após a interpretação da informação no cérebro, o usuário de
implantes coclear é capaz de experimentar a sensação de audição – lembrando que quanto
maior o número de eletrodos implantados, melhores serão as possibilidades de percepção dos
sons.
Para a realização de um implante coclear em crianças é necessário que seja
preenchido alguns requisitos, assim, a realização da seleção dos candidatos segue questões
indispensáveis descritas a seguir:
Possuir perda auditiva neurossensorial de grau severo a profundo, bilateral.
Não foi beneficiado com o uso de amplificação sonora individual.
Reabilitação fonoaudiólogica efetiva há pelo menos três meses ou desde a
realização do diagnóstico.
Indica o implante preferencialmente em deficiente pré-lingual até os seis anos de
idade (a idade ideal é a partir de um ano de idade).
Ressonância magnética.
O implante coclear é composto de um metal que pode ser atraído pelo aparelho de
ressonância magnética podendo haver complicações graves, motivo pelo qual o paciente e seus
familiares devem permanecer sempre alertas em momentos que podem comprometer o
implante. Em viagens de avião, o paciente implantado deve desligá-lo, pois ele funciona como
qualquer aparelho eletrônico e pode interferir no controle da aeronave. Nos casos em que o
paciente necessite de procedimentos que envolvam o bisturi elétrico, o paciente ou familiares
devem enfatizar o uso do implante, pois o bisturi elétrico pode queimar a unidade interna.
153
Vale salientar que apesar de ser um sucesso e beneficiar a maior parte dos
implantados, não podemos nos esquecer do paciente que não obteve sucesso depois da
implantação dos eletrodos, motivo pelo qual a avaliação e orientação correta são fundamentais
para um bom prognóstico.
10 INCLUSÃO ESCOLAR
escola dos dias atuais, para que ela se torne apta a oferecer respostas às necessidades
educacionais especiais de todos seus alunos, inclusive os deficientes auditivos. Não podemos
aceitar que escola nenhuma possa excluir um aluno com a desculpa de não saber com ele atuar
ou não ter professores capacitados. Toda a escola (regular ou especial) deve organizar-se para
oferecer educação de qualidade para todos.
154
Inclusão Resposabilidade
Escolar Governamental
Reestruturação Escolar
Respeitar as diferenças;
Aprender a conviver com o diferente;
Ver a pessoa como um todo;
Todos são diferentes.
No entanto, não basta apenas incluir a criança na sala de aula; é de suma importância
oferecer uma educação que permita o desenvolvimento integral do indivíduo, de forma que
desenvolva suas potencialidades. Frisamos que a criança surda pode ter acesso a duas línguas
(língua portuguesa - oral e/ou escrita e a Libras) – o sistema educacional deve estar pronto para
tal oferta. Para tanto, é necessário que a formação de professores para atuarem na educação
especial deva ocorrer preferencialmente em cursos de nível superior, ou posteriormente, que o 156
professor faça uma pós-graduação ou participe de cursos de capacitação, formação ou de
qualificação profissional, sobre temas que envolvam a educação especial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEVILACQUA, M. C.; COSTA, O. A. Audiologia Atual. Collectanea Symposium. Série Medicina 157
e Saúde. São Paulo: Frôntis, 1998. v. 1 e 2.
BEVILACQUA, M. C.; MORET, A. L. M.; COSTA FILHO, O. A.; NASCIMENTO, L. T.; BANHARA,
M. R. Implantes cocleares em crianças portadoras de deficiência auditiva decorrente de
meningite. Rev. Bras. Otorrinolaringol., v. 69, n. 6, p. 760-764, set./out., 2003.
BOONE, Daniel R. e PLANTE, Helena. Comunicação Humana e seus distúrbios. 2. ed. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994.
MOR, R. (org.) Avaliação auditiva básica. São José dos Campos: Pulso, 2003.
FIM DO CURSO!