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DOCÊNCIA EM

SAÚDE
AUDIOLOGIA INFANTIL
 
 

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Triagem Organização LTDA ME
Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167
Portal Educação

P842a Audiologia infantil / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2013.

160p. : il.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-824-6

1. Audiologia - Crianças. I. Portal Educação. II. Título.

CDD 573.89

 
 

SUMÁRIO

1 LINGUAGEM E AUDIÇÃO .........................................................................................................4

2 DESENVOLVIMENTO HUMANO..............................................................................................11

2.1 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ....................................................................11

2.2 AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO NORMAL DA LINGUAGEM ..........................................13

2.3 ORIENTAÇÕES AOS PAIS E CRIANÇAS COM ATRASO DE LINGUAGEM ...........................22

3 MECANISMO AUDITIVO ..........................................................................................................25

3.1 AS VIAS AUDITIVAS ................................................................................................................38

3.2 A FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO ....................................................................................................40

3.3 PROCESSO PERCEPTUAL AUDITIVO....................................................................................41

4 A DEFICIÊNCIA AUDITIVA NA INFÂNCIA ..............................................................................43

4.1 IDENTIFICAÇÃO DE CRIANÇAS COM DIFICULDADES AUDITIVAS .....................................46

4.2 CLASSIFICAÇÃO DA PERDA AUDITIVA NA INFÂNCIA ..........................................................53

4.3 ETIOLOGIA DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA NA INFÂNCIA .........................................................57

5 AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA ...................................................................................................72

5.1 AVALIANDO CRIANÇAS DE ZERO A SEIS ANOS ..................................................................93

5.2 AVALIANDO BEBÊS DE ZERO A QUATRO MESES ...............................................................95

5.3 AVALIANDO AS CRIANÇAS DE QUATRO A VINTE QUATRO MESES ..................................97

5.4 TESTE DE BOEL .....................................................................................................................102

5.5 AUDIOMETRIA CONDICIONADA ............................................................................................104

5.6 TESTES OBJETIVOS...............................................................................................................106

 
 

5.7 PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL ............................................................................107

6 (RE) HABILITAÇÃO DA CRIANÇA COM DIFICULDADES AUDITIVAS ................................109

6.1 ORALISMO...............................................................................................................................114

6.2 COMUNICAÇÃO TOTAL ..........................................................................................................116



6.3 BIMODALISMO ........................................................................................................................118

6.4 BILINGUISMO ..........................................................................................................................120

6.5 LIBRAS – LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS ...........................................................................123

6.6 MÉTODO VERBOTONAL ........................................................................................................125

6.7 MÉTODO LING ........................................................................................................................128

6.8 MÉTODO AUDIO + VISUAL DE LINGUAGEM ORAL ..............................................................130

6.9 MÉTODO PERDONCINI ..........................................................................................................130

7 FAMÍLIA, CRIANÇA E SOCIEDADE .......................................................................................131

8 AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL ................................................................................137

8.1 CUIDADOS E MANUTENÇÃO DO APARELHO AUDITIVO ....................................................142

9 IMPLANTE COCLEAR.............................................................................................................145

10 INCLUSÃO ESCOLAR ............................................................................................................153

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................157

 
 

1 LINGUAGEM E AUDIÇÃO

A linguagem é um código usado para transmitir ideias sobre o mundo que nos cerca; é
um sistema de comunicação natural ou artificial, humano ou não. Refere-se a qualquer meio de
comunicação, como a linguagem corporal, as expressões faciais, a maneira de nos vestirmos, as 4 
reações de nosso organismo ou a linguagem de outros animais; os sinais de trânsito, a música, a
pintura, enfim, todos os meios de comunicação, sejam cognitivos (internos), socioculturais
(relativos ao meio) ou da natureza, como um todo.
A comunicação satisfaz a necessidade básica do ser humano, isto é, o saber. É um
dos mais penetrantes, complexos e importantes aglomerados de seu comportamento social. O
cotidiano é afetado seriamente pelas nossas comunicações com os outros. Segundo estudiosos,
a linguagem é ao mesmo tempo uma função e um aprendizado. É função no sentido de que todo
o ser humano normal fala e a linguagem constitui um instrumento necessário para ele; e é um
aprendizado porque o sistema simbólico linguístico, que a criança deve assimilar, é adquirido
progressivamente pelo contato com o meio.

Linguagem Comunicação Ser humano

A linguagem está diretamente relacionada à elaboração e simbolização do pensamento


humano; é por seu intermédio que o homem estabelece contato com os seus semelhantes,
compartilha experiências, pensamentos, ideais e desejos, na busca de novas experiências e
conhecimentos. A comunicação se desenvolve por meio das formas pré-verbais,
correspondendo a uma série de comportamentos usados com finalidade comunicativa, mas que
incluem o uso das palavras. A comunicação almeja garantir a interação criança/adulto,
caracterizando uma função social – se a comunicação evolui, começam a ser incorporadas
condutas verbais ou linguísticas nas formas pré-verbais, tendo início as palavras para a
comunicação.

 
 

De acordo com Vygotsky (1989), a linguagem tem inicialmente uma função


comunicativa, ela começa a ser utilizada, gradual e crescentemente, orientada em parte e para si
mesma; opera como uma espécie organizadora e avaliadora da própria ação ou da resolução de
situações problemáticas.

Verbal
Não verbal

Portanto, a linguagem pode ser tanto verbal quanto não verbal. Ela é verbal quando
expressada oralmente (intermédio da fala); essa fala é exteriorizada pelo pensamento abstrato,
feita por meio do uso do sistema simbólico ou palavras contidas no código da língua. O código é
o conjunto de representações concretas da linguagem humana, constituído por instrumentos
convencionais, tais como: signos, sinais e símbolos ordenados a fim de formarem determinada
língua. A linguagem não verbal é aquela que envolve o uso de gestos indicativos e/ou
representativos, expressão corporal e facial, paralinguagem, manifestada por intermédio de
qualidades e características vocais específicas.
A capacidade de aquisição da linguagem é notável por sua universalidade em toda a
raça humana, sendo uniforme e específica desta. Nos primeiros anos de vida uma criança é
capaz de dominar um sistema linguístico idêntico àquele empregado pelas pessoas que o
cercam, mas para tanto ele deve ser estimulada pelos sons da língua, aprender que os objetos e
pessoas têm nomes que são constituídos de sons específicos que seguem uma sequência.
O sistema auditivo faz parte de um sistema amplo e complexo que é a linguagem,
tendo em vista que é necessária a integridade da audição como um todo, partindo da detecção
até a memória auditiva para que haja o desenvolvimento da comunicação. A aquisição da
linguagem pela audição é uma função que depende do tempo e está relacionada a períodos de
maturação precoce, que são denominados períodos críticos para o desenvolvimento das funções

 
 

biológicas, as quais são responsáveis pela aquisição da linguagem em tempo certo.

Linguagem

Audição

A audição e a linguagem são funções diretamente relacionadas, interdependentes, que


estabelecem o contato do homem com o meio ambiente, promovendo a sua integração
intelectual e social. São funções essenciais à intercomunicação oral dos seres humanos. A
necessidade de se ouvir bem torna indispensável à prevenção e à reabilitação dos problemas
auditivos em crianças. Em especial a prevenção da deficiência auditiva na criança oferece o seu
direito fundamental e essencial ao ser humano, o desenvolvimento da linguagem para a
comunicação e a vida em sociedade.
Para o desenvolvimento da linguagem falada é de suma importância a sequência a
seguir:

 
 

Desenvolver a capacidade de receber,


reconhecer, identificar, discriminar e
manipular as características e processos
do mundo que nos cerca.

Desenvolver a capacidade de compreender,


decodificar, associar a linguagem falada, ou
seja, a interpretação dos sons linguísticos
que a criança ouve em seu ambiente.

Desenvolver a capacidade de
produzir os sons da fala, emitir.

Para manipular as características e os processos do mundo que nos cerca, a audição,


portanto, desempenha um papel decisivo, pois esta primeira etapa é a fase de recepção dos
estímulos sensoriais (auditivos, visuais e cinestésicos) sob o comando do Sistema Nervoso
Central (SNC). O desenvolvimento da linguagem falada é feita tanto em nível periférico como
central. A audição nos mantém informado sobre as atividades que estão ocorrendo a distância,
funcionando como mecanismo de alerta e defesa contra o perigo. A integridade das vias
auditivas (veremos no tópico Mecanismo Auditivo) favorece a localização da fonte sonora, porém
a aquisição da linguagem pela audição requer tempo de maturação e treino auditivo.

 
 

Localização, 
fonte 
Sistema  sonora e 
Nervoso  Linguagem
Central 8 

Sistema Nervoso 
Periférico
Estímulos 
sensoriais

No entanto, na segunda fase, que é o desenvolvimento da capacidade de


compreensão, decodificação e associação da língua, funciona como uma função mental
(interpretando os sons) onde os centros de associação do SNC devem estar íntegros para que
processos com memória, organização e motivação funcionem corretamente junto das
experiências emocionais.

Compreensão Decodificação Associação

A terceira etapa, que é exatamente o desenvolvimento da capacidade de produzir os


sons da fala, enfim, de emitir a mensagem sonora, envolve uma atividade motora, onde o SNC
comanda a habilidade fonoarticulatória para a produção dos sons da fala. Com a fala podemos
externar o pensamento, desejos por meio da linguagem verbal, mas, para tanto, é necessário
que a criança necessite e deseje se comunicar. Para que a criança fale é preciso separar a ideia
principal, colocá-la em simbologia verbal adequada, depois em forma gramatical e vocalizar de
forma adequada e correta (acionando os órgãos fonoarticulatórios - OFAs).

 
 

Emitir a 
Fala


Produzir 
os sons

Externar o 
pensamento

A linguagem oral para ser realizada necessita de órgãos periféricos e de um sistema


nervoso apropriado. A criança quando nasce é envolvida por estímulos linguísticos e nem por
isso ela começa a falar assim que nasce, pois precisa do amadurecimento e desenvolvimento de
certos potenciais orgânicos. É muito importante o “período crítico”, porém ótimo período para o
aprendizado e desenvolvimento de habilidades como a linguagem; no entanto, esse período tem
início e fim. A atividade verbal prepara a criança para o aprendizado linguístico, que passa por
estágios característicos (sons guturais, balbucios, holofrases).
É de suma importância a integridade do sistema nervoso central. O cérebro possui
funções específicas para o desenvolvimento da linguagem oral, daí a importância da atenção da
família, cuidadores e terapeutas em relação à:
Atenção: a capacidade de demonstrar interesse numa atividade, objeto ou pessoa.
Concentração: a capacidade de manter a atenção por algum tempo numa
determinada atividade sem que haja desvios ou perda de interesse.
Cognição: fazer descobertas por meio de etapas elaboradas (raciocínio indutivo,
dedutivo, avaliativo), ter consciência da descoberta feita e depois ter possibilidade de reconhecer
o que foi descoberto (respeitando as etapas do desenvolvimento).
Julgamento das relações: usar o conhecimento adquirido para comparar e avaliar

 
 

dentro de certos critérios como: correto, igual, útil, certo, errado etc.
Organização simbólica: capacidade de catalogar o material concreto recebido de
forma abstrata.
Percepção: reconhecer os estímulos seja ele auditivo, visual, tátil ou gustativo.
Raciocínio indutivo: capacidade de gerar alternativas lógicas a partir de um
determinado fato. 10 
Raciocínio dedutivo: capacidade de gerar conclusões lógicas a partir dos dados
recebidos.
Controle dos impulsos: capacidade de saber selecionar e controlar reações a
determinados estímulos de forma apropriada.
Memória: capacidade de inserir e armazenar dados.
Retenção: capacidade de reter na memória os estímulos recebidos para futuro
reconhecimento.
As funções supracitadas são indispensáveis para o desenvolvimento da linguagem e
consequentemente para a oralidade, porém etapas no desenvolvimento devem ser respeitadas,
como vamos ver mais adiante com os estágios de Piaget, em que a criança no seu
relacionamento com o meio passa por quatro períodos no processo evolutivo da espécie
humana.
A criança possui uma estrutura biológica que possibilita o desenvolvimento mental a
partir da interação do sujeito com o objeto a conhecer. O envolvimento da criança com o mundo
ao seu redor faz com que ela tenha condição suficiente para o desenvolvimento cognitivo e oral,
mas para desenvolver a oralidade os estímulos mais importantes para a construção da fala são
os sonoros.

 
 

2 DESENVOLVIMENTO HUMANO

2.1 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

11 
O processo de transformação e desenvolvimento da criança vai depender de como ela
elabora e assimila as suas interações com o meio, isso porque a visada conquista do equilíbrio
do organismo (a maturação do organismo, a experiência com objetos, a vivência social e o
exercício do raciocínio) reflete as elaborações possibilitadas pelos níveis de desenvolvimento
cognitivo que o organismo detém em diversos estágios da sua vida. Piaget considera quatro
períodos no processo evolutivo da espécie humana que são caracterizados “por aquilo que o
indivíduo consegue fazer melhor” no decorrer das diversas faixas etárias ao longo do seu
processo de desenvolvimento.

1º Período ‐ Sensório‐motor (0 a 2 anos)

2º Período ‐ Pré‐operatório ( 2 a 7 anos)

3º Período : Operações Concretas ( 7 a 11 ou 12 anos)

4º Período : Operações Formais (11 a 12 anos em diante)

Cada período é caracterizado por formas diferentes de organização mental que


possibilitam as diferentes maneiras do indivíduo relacionar-se com a realidade que o rodeia. A
seguir os períodos detalhados:
Período Sensório-motor: no recém-nascido as funções mentais limitam-se ao
exercício dos aparelhos reflexos inatos, assim sendo, o universo que circunda a criança é
conquistado mediante a percepção e os movimentos (como a sucção, o movimento dos olhos e

 
 

etc.). Com o passar do tempo à criança vai aperfeiçoando os movimentos reflexos e adquirindo
habilidade, e chega ao final do período sensório-motor já se concebendo dentro de um “universo”
(com objetos, tempo, espaço, causalidade, objetividade, comunidade), agindo e interagindo.
Período Pré-operatório: o aparecimento da função simbólica é o que inicia este
período. Nessa concepção, o cognitivo é anterior à linguagem; na linha piagetiana, a linguagem
é considerada como condição necessária, mas não suficiente ao desenvolvimento, pois existe 12 
um trabalho de reorganização da ação cognitiva que não é dado pela linguagem, enfim, a
linguagem depende do desenvolvimento intelectual. Nesse período a criança tem a capacidade
de atuar de forma lógica e coerente, sendo o egocentrismo social e intelectual característico
desta fase.
Período das Operações Concretas: nesta fase a criança estabelece relações e
coordena pontos de vista diferentes, integrando-os de modo lógico e coerente. Outro ponto
importante é a capacidade da criança internalizar as ações, ou seja, ela começa a realizar
operações mentalmente e não mais apenas por meio de ações físicas típicas da inteligência
sensório-motora. Contudo, a criança consegue raciocinar de forma coerente, tanto os esquemas
conceituais como as ações executadas mentalmente se referem, nesta fase, a objetos ou
situações passíveis de serem manipuladas ou imaginadas de forma concreta.
Período das Operações Formais: a criança amplia as capacidades conquistadas na
fase anterior, onde consegue raciocinar sobre hipóteses na medida em que ela é capaz de
formar esquemas conceituais abstratos e por meio deles executar operações mentais dentro de
princípios da lógica formal. Ao atingir essa fase, o indivíduo adquire a sua forma final de
equilíbrio, ele consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta.
Portanto, com o estudo das etapas de Jean Piaget, podemos concluir que, a princípio,
o desenvolvimento da linguagem necessita dos aspectos cognitivos, porém alcançado o segundo
estágio a linguagem mostra o seu valor, ficando questionável o que seria mais importante:
linguagem ou cognição.

Aquisição Desenvolvimento Linguagem Cognição

 
 

2.2 AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO NORMAL DA LINGUAGEM

A aquisição da linguagem amplia noções de tempo, espaço, capacidade de raciocínio,


planejamento e avaliação de ações realizadas. Para tanto, durante o primeiro ano de vida as
crianças precisam estar expostas a um mínimo de input linguístico (informações e experiências 13 
linguísticas que a criança recebe de seu meio social). O ambiente linguístico da criança é
considerado como aspecto de muita importância na aquisição da linguagem.
A linguagem é considerada a primeira forma de socialização da criança e, na maioria
das vezes, é efetuada pelos pais por meio de instruções verbais durante atividades diárias,
assim como por intermédio de histórias que expressam valores culturais. A linguagem oral
corresponde ainda a uma habilidade especial dos seres humanos compreendida como um
sistema de duas faces: SIGNIFICANTE e SIGNIFICADO. O “significante” refere-se ao aspecto
formal da linguagem e é constituído pela junção hierárquica dos elementos fonemas, palavras,
orações e discurso. O “significado” refere-se ao aspecto funcional da linguagem, considerado
como responsável pela comunicação no meio social.

Significante
Significado

As frases são as unidades básicas para a comunicação de uma ideia e para adquirir à
linguagem a criança precisa dominar vários subsistemas da língua, que inclui o sistema
fonêmico, o sistema semântico, a sintaxe e a pragmática.
Sistema Fonêmico – está relacionado aos sons de forma geral (sua combinação

 
 

vogal/consoante).
Sistema Semântico – pode ser presenciado em torno do primeiro aniversário,
quando a maior parte das crianças começa a dizer os primeiros sons com significado, ao usar
palavras isoladas, que representam na maioria das vezes coisas ou pessoas.
Sintaxe – aparece aproximadamente na metade do segundo ano; as crianças
dominam os morfemas gramaticais de suas línguas. 14 
Pragmática – vai além de significados e regras gramaticais, enfatizando os fatores
comunicativos da linguagem, pois relaciona a linguagem com o contexto da fala. O estudo da
pragmática relaciona os aspectos fonológicos, semânticos e sintáticos da fala.
Os fonemas são os sons básicos que quando combinados formam palavras. Esses
sons são as primeiras emissões vocais do primeiro ano de vida, podendo ser chamados de
lalação. Durante as primeiras semanas, são apenas gritos – futuramente esses gritos começam
a diferenciar-se por sua tonalidade e ritmo. Alguns gritos correspondem à sensação de mal-estar
e outros à sensação de prazer. Para Newcombe (1999), os bebês de primeiro mês são capazes
de discriminar fonemas, mas incapazes de produzi-los. Somente no terceiro mês de vida é que
os bebês começam a arrulhar e a fazer sons vocálicos.
De acordo com as fases de Piaget o cérebro funciona com material simbólico; os
sistemas supracitados e as habilidades mentais comentadas anteriormente necessitam de outras
habilidades para funcionar. O cérebro usa informações e associações específicas que são
basicamente de quatro tipos:
Figurativas: as informações concretas percebidas na forma de imagem.
Simbólicas: as informações em forma de sinais denotativos (letras, números e etc.).
Semânticas: as informações em forma de construções mentais ligadas a palavras.
Comportamentais: informações figurativas e não verbais que surgem na interação
com o outro (atitudes, desejos, intenções e etc.).
Além de todas as habilidades citadas que são importantes para o desenvolvimento da
linguagem, não podemos nos esquecer de falar do adequado funcionamento do sistema auditivo
e da estabilidade emocional. A audição subentende algumas habilidades imprescindíveis para
aquisição da linguagem oral como:
Consciência auditiva: capacidade de reagir ao estímulo sonoro, ter a sensação do
som.
Identificação sonora: saber de onde veio o som, associar corretamente o barulho à

 
 

fonte; isso requer que a criança atribua um significado ao som, necessitando enfim de memória
auditiva.
Localização sonora: habilidade em determinar de que direção está vindo o som.
Discriminação sonora: capacidade de poder diferenciar um som do outro.
Atenção auditiva: habilidade em poder concentrar a atividade psíquica num
determinado estímulo sonoro. 15 
Memória auditiva: capacidade de reter, reproduzir e reconhecer os estímulos
auditivos anteriores apresentados.
Sequenciação: capacidade em perceber e repetir a ordem em que os sons são
produzidos.
Análise e síntese: capacidade em identificar e separar as características individuais
de um som inserido num contexto e depois ser capaz de reunir tais características novamente
para formar um todo.
A necessidade da estabilidade emocional é de suma importância para o
desenvolvimento do ser como um todo. Uma criança pode ser considerada equilibrada
emocionalmente se estiver em harmonia com o meio e consigo mesma. Observe o esquema
abaixo:

Material, eventos,  Necessidade e 
Pessoas
assuntos vontade

Para que a criança fale, tem que existir a quem falar (pessoas), de que falar (eventos,
assuntos, enfim, material) e, por último, deve haver “porque falar” (a criança tem que ter a
necessidade da expressão oral, ela tem que ter vontade). A estimulação do ambiente é peça-
chave: a interação “mãe e filho” influencia no desenvolvimento da linguagem, a criança procura a
figura que lhe oferece conforto e segurança, passando a necessidade de se comunicar com ela.
As influências externas (do meio) vão fornecer um modelo linguístico, o tipo de estímulo e a
exposição ao material linguístico. A mãe é modelo da linguagem e a criança vai seguir
inconscientemente desde o primeiro dia de nascida. Por isso, o modelo que a criança tem em
casa pode ajudar muito no planejamento de uma possível habilitação ou reabilitação de uma

 
 

criança, ou simplesmente nortear uma simples orientação, prática comum em consultório e na


escola.

16 
Mãe é  A criança vai seguir 
inconscientemente 
modelo da  desde o primeiro dia 
linguagem de nascida

É necessário termos em mente o desenvolvimento da linguagem nos dois primeiros


anos de vida – isso fornecerá suporte para irmos além na hora de orientar, avaliar e planejar a
terapia fonoaudiológica. Sabemos que desde o seu primeiro minuto de vida o bebê já começa a
se comunicar e essa comunicação é feita por meio do choro, que com o passar dos tempos
passa de indiferenciado para diferenciado (fome, dor, medo).
O choro é uma efetiva forma de comunicação e interação da criança com o mundo ao
seu redor, e neste momento ninguém melhor do que a mãe para entender o que o bebê está
“querendo”. O choro do bebê é marcado por diferentes padrões entoacionais, intensidades e
ritmos, essa interação ocorre também durante a amamentação, onde inicia o diálogo mãe e filho.
A criança de zero a seis meses entra no estágio de desenvolvimento pré-linguístico,
período marcado pelo início de tudo: o choro; à medida que os dias avançam os bebês começam
a esboçar vocalizações não linguísticas biologicamente condicionadas.
Nos primeiros dias de vida o aspecto produtivo não é influência da língua-mãe e sim
caracterizado por reações determinadas por uma organização nervosa reflexa, pois o bebê mais
reage ao mundo do que age sobre ele. Nesta fase inicial de desenvolvimento da linguagem o
bebê ainda não é capaz de fazer uma diferenciação entre ele mesmo e os outros que o cercam;
ele ainda não se constitui como sujeito.
O bebê olha, movimenta o corpo, mostra interesse pelas pessoas e objetos, procura

 
 

seguir trajetórias, vocaliza, chora, agarra objetos que são colocados em sua mão, reage a sons e
a vozes familiares e assim por diante. Há emissão de sons reflexos e gritos segundo o prazer ou
o desconforto.
Com dois meses emite sons não mais reflexos – mais intencionais; cada dia se torna
mais ativo, fica consciente do som e tem prazer das repetições que faz. Aos poucos vai
percebendo a sua expressividade vocal e corporal. A partir do quarto mês o bebê se torna cada 17 
vez mais capaz de organizar procedimentos para explorar o mundo ao seu redor.
As coordenações sensório-motoras (mão/boca), coordenação visão/audição e
principalmente a coordenação manual com a atividade visual demonstram claramente o
interesse crescente em tudo que está ao seu alcance. A voz da mãe é reconhecida com
tranquilidade e esperada em momentos propícios, acalmando o bebê.
Antes o bebê só reagia aos sons de 80 e 90 dB; o final desta fase já mostra a reação
deles a um limiar mais baixo, em torno de 40 dB. É uma fase de transição, mas é neste momento
que a criança está receptiva para o mundo e quer experimentá-lo, atuar sobre ele de todas as
formas.
É neste momento que pessoas e coisas tornam-se fontes de exploração, pois o
progresso de ordem motora (virar o corpo, permanecer sentado, deslocar-se pelo chão e etc.)
favorece a busca pelo ambiente. É uma fase que, apesar das limitações, fica mais fácil para o
adulto atribuir valores comunicativos aos comportamentos gerados pelos bebês.

 
 

Choro (indiferenciado/diferenciado);

Vocalizações não linguísticas;

18 
Sons reflexos e gritos;

Consciente do som e tem prazer nas 
suas repetições;
Sorri aos sons, tenta mover a cabeça em 
direção à fonte sonora.

De seis a nove meses inicia a intenção do bebê com relação ao mundo externo de
forma bem sólida e ativa; as vocalizações começam a adquirir características de linguagem oral
propriamente dita, pois percebe entoações, ritmo e tons diferentes. Nessa fase o balbucio
espontâneo se torna mais denso, a combinação de consoantes e vogais fica nítida para os
ouvidos dos que cercam o bebê; neste caso, o balbucio soa como fala de verdade devido às
entonações ascendentes e descendentes.
O início da comunicação oral sugere maturação cerebral e o amadurecimento do
sistema vocal; lembrando que o balbucio em si não prediz quão cedo ou quão tarde as crianças
normais vão começar a falar palavras nem o tamanho de seu vocabulário quando entram na
escola. O balbucio condiz com o grau de excitabilidade da criança e sua tendência para
expressar excitação mediante os sons. Neste período emitem sons guturais bem prolongados
em respostas ao rosto da mãe quando está à sua frente; vocalizando uma variedade de vogais
reage à voz humana a 40 dB ou menos, reconhecendo a voz da mãe e de pessoas do seu
convívio.
Com nove meses os comportamentos intencionais comunicativos estão bem
desenvolvidos, tem a noção de que pode usar para interagir com o meio. Segundo Jakubovicz
(1999), esta é a fase da pré-conversação; a criança vocaliza mais durante os intervalos, quando
é deixada livre pelo adulto.

 
 

Procura espaçar e encurtar as vocalizações para dar lugar às respostas do adulto,


deixando bem claro a importância da interação, da troca de ideias e da participação do adulto
nesta fase.

Vocalizações características de 
linguagem; 19 

Entonações, ritmos e tons diferentes;

Início do balbucio;

Repetições intencionais;

Aprende logo a reproduzir os sons.

Por volta do primeiro aniversário, a maioria das crianças começa a falar suas primeiras
palavras com significado, geralmente na forma de vocábulos isolados. Esta é a fase da pré-
conversação: ela começa a vocalizar mais nos intervalos que é deixada livre pelo adulto. Amplia
rapidamente sua compreensão da linguagem falada ao seu redor e a linguagem que se associa
a gestos e situações vividas lhe dão sentido. Palavras familiares são vocalizadas com mais
precisão, além de melhor controladas quanto à altura tonal e intensidade.
Agrupam sons e sílabas repetidas à vontade, começam a nomear as coisas, o
surgimento das palavras funcionais facilita o seu convívio com os familiares e “estranhos”. Nesta
fase a criança tende a generalizar, fazendo com que haja um prolongamento semântico
(exemplo: cachorro para todos os animais). É uma fase confusa, cheia de aprendizado e
experiências a serem vivenciadas; muitas crianças têm crises de choro, birra, são raivosas,
chegando a morder e bater quando não são compreendidas ou quando não conseguem se
expressar; a pouca tolerância leva a frustrações. Neste período os pais necessitam de
orientação com relação às emoções da criança, como lidar com crises e anseios.

 
 

No segundo ano de vida da criança acontece o controle voluntário completo sobre os


OFAs, todo o aparelho fonador começa a se organizar, outros elementos da comunicação
permitem que a criança expresse um bom número de informações, como:
Circunstâncias familiares: lar equilibrado, organização econômica, além de estímulo
suficiente para o desenvolvimento da linguagem desde o nascimento.
Atitude dos pais: como é realizada a interação, pais equilibrados emocionalmente. 20 
O que é e será cobrado da criança com relação à linguagem e aspectos cognitivos.
Começa o surgimento das palavras associadas das frases, aparecendo frases de dois
ou três elementos. O que antes era um falar monossílabo passa a ser mais próximo à fala adulta,
junto com as flexões (plurais); as frases negativas são utilizadas por meio de um simples NÃO
isolado ou colocado no sempre no final (exemplo: comer NÃO). Com relação às interrogativas,
essas são as mais primitivas, pois a criança verbaliza as suas necessidades, compreendendo
algumas ordens.
Com o passar do tempo o vocabulário amplia-se rapidamente. Para tanto, o papel da
imitação é de suma importância no desenvolvimento da linguagem, as crianças penetram na via
da linguagem falada pelos adultos que as cercam e esta linguagem constitui-se como modelo e
referência. A imitação é a criança internalizando o que é “imposto” inconscientemente pelos
outros. A experiência proporciona um processo ativo de trocas mentais, pois a criança dirige
comportamentos intencionais a outras pessoas; isso mostra que ela tem a noção de que pode
usar a linguagem a seu favor para atuar sobre as coisas, assim deixa bem claro a necessidade
de citarmos as funções da linguagem, que são:
Função regulatória: a criança objetiva alguma coisa ou a satisfação de uma
necessidade, então solicita algo ou quando encerra uma ação.
Função social: atrair a atenção do outro, sobre si mesma, obter atenção, fazer parte
do diálogo, fazer participar.
Função conjunta: garantir uma experiência compartilhada, chamando e prendendo
a atenção das outras pessoas.
É interessante frisarmos que a linguagem é instrumental, reguladora, interacional,
pessoal, heurística, imaginativa e informativa. Tanto para as crianças como para os adultos,
essas são as necessidades básicas que suprimos quando se trata de comunicação e linguagem
falada.

 
 

Instrumental Pessoal

Reguladora 21 

Heurística
Interacional

Imaginativa

INFORMATIVA

Para as crianças, todas as funções servem para a maior parte das necessidades
interativas. Segundo Boone (1994), a função instrumental informa o uso da linguagem de
maneira geral e a necessidade da criança (exemplo: eu preciso); a reguladora, a criança procura
controlar o mundo ao seu redor (exemplo: pegue); a função interacional vai tratar das relações
com o mundo a sua volta (exemplo: como vai você?); a função pessoal trata das suas próprias
necessidades e funciona apenas para satisfazê-la (exemplo: estou com fome); a função
heurística (exemplo: onde); a função imaginativa, a criança começa a trabalhar as possibilidades
e hipóteses (exemplo: por que nós não...); e por último, a informativa, que circunda todas as
outras de forma inconsciente (exemplo: você sabe que...).
Com três anos de idade a criança começa a internalizar o mundo, consegue
reconhecer lugares que esteve antes, entende ordens duplas simples (exemplo: fecha a gaveta e
me dá o livro); tem noção espacial, é capaz de responder perguntas do tipo: o que você usa para
sentar?; o que você faz quando está com fome?.
A partir dos quatro anos de idade a criança já executa ordens de três itens, já é capaz
de dar seu nome completo e nome dos pais; se lermos alguma história simples, é capaz de

 
 

responder perguntas. A seguir, uma ilustração sobre a importância da audição para o


desenvolvimento e aquisição da linguagem.

Linguagem Audição
22 

No entanto, temos que ter em mente que há crianças que vão estar mais adiantadas
na compreensão da linguagem e não corresponderem a idade devida na expressão oral. O que
foi explicado acima serve de parâmetros para iniciar uma estimulação. Se for o caso, serve para
orientar pais e cuidadores sem a preocupação de etiquetar diagnósticos.

2.3 ORIENTAÇÕES AOS PAIS E CRIANÇAS COM ATRASO DE LINGUAGEM

A melhor maneira de uma criança desenvolver a linguagem oral é interagir com a


língua, com o mundo que a cerca. No entanto, por inúmeros motivos algumas crianças, mesmo
tendo estimulação, não conseguem desenvolver a comunicação de forma efetiva; então, a
criança necessita de ajuda, sendo crucial um apoio para os pais. Alguns pontos são importantes
frisarmos, quais sejam:
AUDIÇÃO: fale o tempo todo com a criança, mesmo que ela não fale; não

 
 

demonstre interesse, isso não exclui a possibilidade dela escutar e depois se interessar. Fale
coisas concretas e frases curtas; comente sempre o que está acontecendo ao seu redor. Induza
a criança a aprender a prestar atenção aos sons ambientes e a se concentrar ouvindo músicas
infantis. Aponte para o céu e faça-o ouvir o avião ou aponte para uma sirene de ambulância;
imite os sons (bichos, coisas), faça seu filho localizar a fonte sonora.
VISÃO: mostre ao seu filho aquilo que você está fazendo; deixe seu filho explorar o 23 
ambiente. Quando estiver fora de casa aponte os pássaros, os carros, as árvores, etc., as coisas
têm que ser nomeadas de forma clara e tranquila.
TATO: dê ao seu filho muita oportunidade de tocar e sentir as coisas; se a criança
for bebê, a deixe colocar os objetos na boca, senti-los. As crianças maiores devem brincar com
areia, sentir texturas diferentes. Enquanto a criança vai explorando o mundo, o adulto deve
nomear as ações. As crianças devem sentir contornos em curvas ou algo reto, superfície lisa e
uma áspera etc. Ensine as diferentes sensações.
PALADAR: deixe a criança usar a boca e nariz para explorar o mundo, e,
consequentemente, ela estará aprendendo (doce, amargo, salgado, bom, ruim etc.).
ODOR: ensine a criança a cheirar e vá nomeando aquilo que ela cheira; faça
distinguir cheiros bons e desagradáveis.
AÇÕES: ensine a criança a sacudir objetos em vez de jogar no chão; ajude-a a
explorar o máximo um objeto, fazendo com que o interesse no objeto passe de uma simples
olhada.

 
 

AUDIÇÃO

PALADAR VISÃO

24 

ODOR TATO

AÇÕES

Pais e cuidadores bem orientados e dispostos é um passo à frente na estimulação da


linguagem oral, porém é de suma importância que os profissionais da área da linguagem sejam
atentos e solícitos, levando em consideração o SER, tendo uma visão holística da criança,
analisando as suas possibilidades e não suas dificuldades. Segundo Katz (1999), a aquisição da
linguagem pela audição é uma função que depende do tempo e dos períodos de maturação para
o desenvolvimento de funções biológicas, as quais são responsáveis pela aquisição da
linguagem em tempo certo.

 
 

3 MECANISMO AUDITIVO

A audição permite o processamento de eventos acústicos, como a fala, tornando


possível a comunicação como expressão do pensamento, além de permitir a separação dos
sons da fala na presença de ruídos, analisando seletivamente sons que ocorrem ao mesmo 25 
tempo. Antes de iniciarmos a anatomia e fisiologia da audição, é importante a noção da
embriologia básica da audição. Northern e Downs (1989) verificam que um dos primeiros
desenvolvimentos organizacionais do embrião é a diferenciação das células em três placas
sobrepostas; são as camadas germinativas (ectoderma, mesoderma e endoderma).

FIGURA 1 - VISTA INICIAL DE UM EMBRIÃO

FONTE: NORTHERN & DOWNS: Audição em crianças, 1989.

É depois da terceira semana de desenvolvimento embrionário que aparecem os


placoides auditivos (espaços na superfície ectodérmica de cada lado do disco nervoso). Esses
placoides começam a aprofundar-se, formando os buracos auditivos. Em seguida, começa o
desenvolvimento do recesso tubotimpânico; ao final do primeiro mês de gestação, quando o
buraco auditivo se fecha, surge a vesícula auditiva ou otócito (acontecem dobras, invaginações,
alongamentos para formar o utrículo, sáculo e tubo endolinfático).
No final da sexta semana iniciam-se as formações de arcos, que se tornarão os canais
semicirculares; encontra-se formado o meato acústico primário, evidenciam-se as seis saliências

 
 

e começa a formação das cartilagens. No final da sétima semana, a porção do sáculo se alonga
para completar a primeira volta da cóclea; começa o desenvolvimento das células sensoriais no
utrículo e no sáculo, o pavilhão auricular começa a movimentar-se no sentido dorsolateral. Na
oitava semana é o inicio da formação dos ossículos do ouvido médio e a membrana timpânica.

26 
FIGURA 2 - DESENVOLVIMENTO INICIAL DO OUVIDO INTERNO DE UM EMBRIÃO HUMANO

FONTE: NORTHERN & DOWNS: Audição em crianças, 1989.

No quinto mês de gestação, o ouvido interno atinge maturação e tamanho adulto; o


pavilhão auricular alcança a forma adulta, embora continue a crescer até os nove anos de idade.

 
 

Nos dois últimos meses de gestação, completa-se a ossificação do martelo e da bigorna; as


células aéreas da mastoide desenvolvem-se; existe a pneumatização do antro, o estribo continua
a desenvolver-se até a idade adulta e a membrana timpânica muda de posição relativa durante
os dois primeiros anos de vida da criança.

27 
FIGURA 3 - DESENVOLVIMENTO ESQUEMÁTICO DAS PORÇÕES INTERNA E MÉDIA DO
MECANISMO AUDITIVO

FONTE: NORTHERN & DOWNS: Audição em crianças, 1989.

 
 

FIGURA 4 - DESENVOLVIMENTO ESQUEMÁTICO DO PAVILHÃO AURICULAR DA 3ª E 4ª


SEMANA

28 

FONTE: NORTHERN & DOWNS: Audição em crianças, 1989.

O feto reage a estímulos sonoros após o quinto mês, pois as etapas de respostas a
sons seguem um padrão de maturação. Ao nascer o ser humano apresenta apenas audição do
tipo reflexa; em seguida começa o processo de aprendizagem e novas respostas ao som
passam a ser desenvolvidas. A seguir, uma tabela com o resumo da embriologia do ouvido:

 
 

SEMANA DE OUVIDO EXTERNO OUVIDO MÉDIO OUVIDO INTERNO


GESTAÇÃO
3ª. - Recesso Placoide auditivo;
tubotimpânico. Buraco auditivo.
4ª. Espessamento de - Vesícula auditiva e
tecidos. divisão 29 
cocleovestibular.
5ª. Início do meato - -
auditivo primário
6ª. Seis saliências e - Utrículo e Sáculo;
formação das Início dos canais
cartilagens. semicirculares.
7ª. Movimento - Uma volta coclear e
dorsolateral dos células sensoriais no
pavilhões auriculares. utrículo e no sáculo.
8ª. Terço cartilaginoso Presença Presença do ducto de
externo está formado. cartilaginosa da União e Células
bigorna e martelo; sensoriais nos canais
Formação da metade semicirculares.
inferior da cavidade
timpânica.
9ª. - Presença das três -
camadas de tecido na
membrana timpânica.
11ª. - - Presença de 2,5 voltas
cocleares e o oitavo
nervo liga-se ao ducto
coclear.
12ª. - - Células sensoriais na
cóclea.
15ª. - Estribo cartilaginoso -

 
 

está formado.
16ª. - Ossificação do -
Martelo e Bigorna.
18ª. - Ossificação do -
Estribo.
20ª. Pavilhão auricular 30 
atinge a forma adulta,
continua a crescer até
os nove anos.
21ª. - - O plugue meatal
desintegra-se,
expondo a membrana
timpânica.
30ª. Canal Auditivo Pneumatização do -
externo continua a tímpano.
amadurecer até sete
anos de idade.
32ª. - Completa-se a -
ossificação do martelo
e bigorna.
34ª. - Desenvolvem-se as -
células aéreas
mastoides.
35ª. - Pneumatização do -
antro.
37ª. - Pneumatização do
epitímpano, estribo
continua a
desenvolver-se e a
Membrana Timpânica
muda de posição

 
 

relativa durante os
dois primeiros anos
de vida.

Além da embriologia do ouvido, é de suma importância ter em mente a variedade de


respostas comportamentais do recém-nascido a sons, para que possamos enfatizar a maneira 31 
de observar e orientar. As principais respostas do recém-nascido são:
Piscar de olhos ou atividade de pálpebras – ocorre desde um pequeno e rápido
estreitamento até um grande fechamento, incluindo a contração das sobrancelhas. O reflexo
cócleo-palpebral consiste num piscar ou fechamento de olhos.
Reflexo de Moro – na maioria dos casos os braços se separam, os dedos se abrem,
as pernas são esticadas e a cabeça volta-se para trás. É uma reação de sobressalto, um
movimento abrupto de todo o corpo, sendo braços e pernas esticados e afastados da linha
média do corpo.
Startle susto e sobressalto – um pequeno pulo do corpo do recém-nascido, logo
após ter sido estimulado acusticamente. É uma reação de susto, alerta ou alarme, que pode ou
não acompanhar o reflexo de Moro.
Cessação de atividade – momento em que o bebê está acordado, chorando e se
movimentando, e para de fazê-lo durante a apresentação do som.
Caretas – o rosto enruga-se como se quisesse protestar contra o som, pode ocorrer
contração das sobrancelhas, além, de abertura e fechamento dos olhos.
Sucção – leve retração do lábio inferior, o bebê pode parar de sugar ou aumentar o
ritmo de sucção.
Início de movimentos generalizados – quer o bebê esteja dormindo calmamente,
quer esteja acordado, mas quieto, os olhos se abrem e isto é acompanhado por leves
movimentos corporais, seguidos de tremor leve do corpo.
Arregalar os olhos – ao despertar, abre os olhos demasiadamente.
Mudança na respiração – o ritmo respiratório pode ser interrompido ou acelerado.
Riso e/ou choro – o bebê tanto pode cessar quanto iniciar estes comportamentos.

No entanto, uma das respostas mais seguras e concretas de um recém-nascido é o


despertar do sono. Os primeiros anos de vida de uma criança são repletos de aprendizagem. É

 
 

neste período que ela adquire todos os tipos de habilidades motoras e uma enorme quantidade
de informações que provêm dos sentidos especiais, tais como: visão, olfato, tato, gustação e
audição. Segue abaixo a maturação das respostas auditivas em crianças de zero a dois anos.

Recém-nascido Despertar do sono, respostas reflexas.


3 a 4 meses Esforços rudimentares para virar a cabeça 32 
inicia a inibição das respostas reflexas.
4 a 7 meses Localização da fonte sonora somente para o
lado coincide com a fase de sustentar e virar a
cabeça.
7 a 9 meses Localiza a fonte sonora para o lado
indiretamente para baixo.
9 a 13 meses Localiza a fonte sonora diretamente para o lado
e para baixo.
13 a 16 meses Localiza a fonte sonora diretamente para o
lado, para baixo e indiretamente para cima.
16 a 21 meses Localiza diretamente os sons para o lado, para
baixo e para cima.
21 a 24 meses Localiza diretamente os sons em qualquer
ângulo.

A localização sonora é um marco importante que auxilia a criança a manter um contato


estável com seu ambiente e associar os sons com as fontes. No entanto, existem três fatos
importantes que surgem entre o nascimento e os quatros meses de vida, que são:
Conscientização do som;
Discriminação entre presença e ausência do som;
Capacidade de efetuar respostas corretas na procura do som.
Para que a criança tenha um bom desempenho na fala além de tudo que citamos
acima, ela precisa da anatomia e fisiologia da audição em harmonia.
Vamos descrever agora sobre o sistema auditivo, que em sua maior parte está contido
no osso temporal e tem como funções principais a audição e o equilíbrio.

 
 

Tanto uma função como a outra são de vital importância para a criança em
desenvolvimento. É um sistema formado pela orelha externa, média e interna, com diferentes
características estruturais e funcionais.
A orelha externa é constituída de pavilhão auricular, conduto auditivo externo e a face
externa da membrana do tímpano. A função do pavilhão auricular é coletar as ondas sonoras e
dirigi-las para o meato acústico externo, que funciona como um condutor do som até a 33 
membrana timpânica, além de proteger e fornecer ressonância sonora. A cera produzida por
glândulas ceruminosas da pele do meato forma uma película sobre o conduto,
impermeabilizando-o e protegendo o ouvido da ação de micro-organismos, devido a seus
constituintes e a sua acidez.
A membrana timpânica é fixada à parede do conduto auditivo por um anel de tecido
fibroso denominado anel timpânico e dividida em duas partes: parte tensa (ocupa maior parte da
área) e parte flácida, que ocupa a porção superior da membrana. E a sua função é a separação
da orelha externa da orelha média, além de facilitar a amplificação sonora.

Membrana
Conduto
Pavilhão Timpânica
auditivo
Auricular (face
externo
externa)

A orelha média é constituída de caixa timpânica, ossículos, músculos e ligamentos,


tuba auditiva, adito, antro e células mastoides. Está localizada dentro da porção petrosa do osso
temporal e é preenchida por ar. Tem formato irregular e mede, aproximadamente, no seu
diâmetro vertical, 15mm, e no seu diâmetro horizontal, 6mm.
Apresenta seis paredes que são praticamente paralelas entre si, dando a esta
cavidade um formato de cubo alongado. Ele é um transformador de impedância eficiente, que
possibilita a transmissão das vibrações aéreas aos líquidos labirínticos. A tuba auditiva é o canal
que comunica a rinofaringe com a orelha média, facilitando a entrada de ar nessa cavidade, e
tem a função de igualar as pressões que atuam do lado externo e interno da membrana
timpânica, deixando-a livre para vibrar.

 
 

A cadeia ossicular é constituída por três ossículos: martelo, bigorna e estribo,


encontrando-se suspensos dentro da caixa timpânica. Estão mantidos articulados devido a uma
série de ligamentos muito delgados e por dois músculos: o músculo tensor do tímpano (inervado
pelo trigêmeo, o V par craniano) e o músculo estapédio (inervado pelo facial VII par craniano).
O tensor do tímpano está ligado ao cabo do martelo e quando se contrai puxa o
ossículo para dentro da orelha média. O estapédio está ligado à cabeça do estribo e quando se 34 
contrai puxa-o na direção da janela do vestíbulo. Quando ocorrem sons altos esse sistema de
“segurança” é acionado, com a contração desses músculos, aumentando a resistência à
transmissão de sons com frequências menores que 1.800 Hz, havendo uma diminuição de 30 dB
na intensidade devido à rigidez da cadeia ossicular.
Esse circuito inicia-se com a transmissão do impulso por meio da orelha externa,
orelha média e estruturas sensoriais da orelha interna e nervo coclear, que ao atingir o tronco
cerebral, um sinal de alerta é acionado e o circuito passa a ativar seu mecanismo de proteção,
que ocorre com a estimulação do nervo facial, que vai provocar a contração do músculo
estapédio, indo alterar o padrão vibratório do estribo sobre a janela oval, prevenindo lesões das
estruturas do ouvido interno.
Veja na figura a seguir uma visão esquemática da orelha externa, orelha média e
interna.

FIGURA 5 - 1. PAVILHÃO; 2. MEATO ACÚSTICO EXTERNO; 3. MEMBRANA TIMPÂNICA; 4.


MARTELO; 5. BIGORNA; 6. ESTRIBO; 7. TUBA AUDITIVA; 8. VESTÍBULO; 9. CÓCLEA; 10.
CANAIS SEMICIRCULARES; 11. NERVO VESTÍBULO COCLEAR.

FONTE: MUNHOZ et al: Audiologia clínica, 2000.

 
 

O sistema tímpano-ossicular é um transformador de energia que iguala as impedâncias


da orelha média e interna para uma transmissão sonora efetiva por meio de dois mecanismos: o
de alavanca e o hidráulico. Esses dois mecanismos aumentam 22 vezes a pressão sonora, o
que equivale a uma amplificação de cerca de 30 dB, evitando assim perda de energia sonora.
A orelha interna é localizada na porção petrosa do osso temporal, contendo órgãos
sensoriais da audição e do equilíbrio corporal. É constituída de três partes, sendo dois labirintos 35 
(canais e passagens do osso): labirinto ósseo ou perinlinfático e labirinto membranáceo ou
endolinfático e a cápsula ótica ou labiríntica (camada dura de osso que circunda o labirinto).
O labirinto ósseo é composto de três partes: vestíbulo, cóclea, canais semicirculares
(são três canais), e contém um líquido (a perilinfa), que envolve todo o labirinto membranáceo.
No labirinto ósseo encontramos uma série de ductos membranosos onde estão alojadas as
estruturas sensoriais de recepção dos estímulos auditivos e posturais. Segue adiante a figura do
labirinto ósseo e particularidades:

FIGURA 6 - LABIRINTO ÓSSEO DIREITO, VISTA ANTEROLATERAL

FONTE: NETTER: Atlas de anatomia humana, 2000.

O labirinto membranáceo é um sistema de vesículas e ductos contendo um líquido


chamado endolinfa. É um sistema fechado, mas que se comunica entre si. Sendo assim, os

 
 

ductos abrem-se no utrículo e este no sáculo. Estruturas sensórias localizadas no vestíbulo são
responsáveis pela função do equilíbrio e estão dispostas na ampola de cada ducto semicircular,
nas cristas ampulares, no utrículo e mácula utricular e no sáculo.
A cóclea lembra uma concha de caracol e consiste em um canal em forma de espiral,
medindo 32mm de extensão, com duas voltas e meia ou duas voltas e três quartos, chamadas
giros. O primeiro giro é o basal, ele está sob o promontório, na parede labiríntica da cavidade 36 
timpânica. A base da cóclea é a parte do fundo do meato acústico interno correspondente à área
crivosa coclear, o trato espiral foraminoso, que é zona perfurada com vários orifícios pelos quais
os filetes do gânglio espiral chegam à parte coclear do nervo vestibulococlear.
O canal espiralado enrola-se em um eixo ósseo central cônico, o modíolo; dele sai uma
lâmina que divide o canal de forma incompleta, de onde fibras nervosas entram e saem da
cóclea, atingindo o modíolo e depois o meato acústico interno. A cóclea está dividida em três
espaços pela lâmina espiral, que são: escala vestibular, escala média ou canal coclear (contém o
órgão de Corti) e a escala timpânica (limita-se com a orelha média pela janela coclear). O
helicotrema faz a comunicação das escalas vestibular e timpânica por meio de um orifício no
ápice da cóclea. A cóclea recebe energia fornecida pela estria vascular, que mantém a
composição dos líquidos cocleares.
O órgão de Corti, estrutura sensorial do sistema auditivo, localiza-se na membrana
basilar e desempenha um importante papel na propagação da vibração das ondas sonoras. O
deslocamento da perilinfa faz com que a membrana basilar entre em movimento, alcançando sua
amplitude máxima no local da membrana correspondente à frequência do som que foi
transmitido (os sons agudos localizam-se na base e os sons graves no ápice).
Logo a seguir, a imagem do Órgão de Corti irá ajudar na visualização do mecanismo
de transmissão das mensagens sonoras. Perceba a diferença de estruturas entre as células de
sustentação, células ciliadas externas e células ciliadas internas.

 
 

FIGUARA 7 - ÓRGÃO DE CORTI

37 

FONTE: RUSSO & SANTOS: A prática da audiologia clínica, 1993.

A estrutura receptora auditiva é formada de células de sustentação e células ciliadas,


que estão sobre a membrana basilar. Cobrindo o órgão de Corti está a estrutura gelatinosa com
filamentos de proteína, a membrana tectória, onde estão imersos e fixos os cílios das células
ciliadas externas. As células ciliadas internas e externas constituem os receptores auditivos
primários. As bases dessas células entram em contato com botões sinápticos das terminações
nervosas de fibras do ramo coclear do VII par craniano.
Existe uma única fileira de células ciliadas internas sobre a membrana na basilar. Os
cílios estão ligados entre si por filamentos e não tocam a membrana tectória quando não são
estimulados, por isso pode ser afirmado que essas células são transdutores sensoriais,
transformando a mensagem sonora, codificando-a em mensagem elétrica. As células ciliadas
externas são em torno de 120 e estão dispostas em três fileiras com o formato de um “W”, cuja
abertura é voltada para o modíolo.
As fibras nervosas que entram e saem da escala média, recebendo impulso nervoso
gerado pelas células sensoriais, têm seu primeiro núcleo de ação dentro do modíolo, ocorrendo

 
 

no gânglio espiral (I neurônio).

3.1 AS VIAS AUDITIVAS

38 
As vias ascendentes e descendentes constituem o sistema auditivo central. O órgão de
Corti é a primeira estação da via auditiva e tem a função primária de responder de forma pouco
sutil a diferentes frequências sonoras. O ponto-chave na neuroanatomia da audição é a
tonotopia frequencial coclear (encontrada em todas as estações auditivas centrais).

Via Ascendente

Via Descendente

A via ascendente começa com a saída de fibras nervosas da cóclea para os núcleos
cocleares (II neurônio), conduzindo estímulo nervoso pra o tronco encefálico. Cada fibra do
nervo auditivo entra em contato com 75 a 100 células dos núcleos cocleares, enquanto que cada
neurônio dos núcleos cocleares estabelece contato sináptico com muitas fibras do nervo coclear.
Quando o núcleo coclear é atingido, as fibras tomam caminhos diferentes; algumas cruzam para
o outro lado e atingem o complexo olivar superior homolateral.
O complexo olivar tem a função de localização de fonte sonora e na audição binaural.
Uma lesão nesta área dificulta a localização da fonte sonora. As fibras continuam a subir,
chegando ao lemnisco lateral, todas as fibras aferentes alcançam o colículo inferior (III neurônio),

 
 

um complexo formado de diversos núcleos. As fibras projetam-se para o corpo geniculado


medial (IV neurônio), havendo as sinapses para depois as vias seguirem seu trajeto para o lobo
temporal (V neurônio), onde acontecem os processos neurológicos sofisticados.
As vias descendentes possibilitam o controle dos centros superiores sobre o órgão
sensorial periférico. Do córtex auditivo descem fibras separadamente para o corpo geniculado
medial (via corticogeniculada) e para o colículo inferior (via corticocolicular). Esse último envia 39 
fibras descendentes para o complexo olivar superior e para os núcleos cocleares. Ainda do
complexo olivar superior descem fibras via nervo vestibular, que irão diretamente para as células
ciliadas do órgão de Corti.

FIGURA 8 - NÚCLEOS E VIAS VESTIBULARES

FONTE: MACHADO: Neuroanatomia Funcional, 2002.

 
 

3.2 A FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO

O pavilhão auricular capta as ondas sonoras e as conduz para o meato acústico


externo. Essas ondas são direcionadas para a membrana timpânica, fazendo com que ela vibre
com o mesmo padrão vibratório da fonte sonora. No entanto, a saída da membrana timpânica da 40 
sua posição de equilíbrio faz com que ocorra a movimentação da cadeia ossicular. É nesse
momento que a energia é perdida, devido a fatores como a resistência da membrana
inicialmente; a colisão das moléculas e a viscosidade do sistema tímpano-ossicular são
compensadas pelo sistema de amplificação devido ao sistema de alavanca dos ossículos
articulados, recuperando toda a energia sonora perdida pelo processo de reflexão existente no
conduto auditivo externo e membrana timpânica.

Captadas pelo Conduz para o Ondas


Ondas
Pavilhão meato acústico direcionadas
sonoras
Auricular externo para a M T

A movimentação da cadeia ossicular faz com que a vibração seja transmitida pela
platina do estribo sobre a janela oval, que está em contato direto com a perilinfa da orelha
interna. Neste momento há deslocamento de ondas mecânicas dentro dos líquidos, provocando
a movimentação do ducto coclear.
O órgão de Corti, localizado na membrana basilar, é estimulado pela movimentação da
membrana tectória. As células ciliadas saem de suas posições de repouso, fazendo com que os
botões sinápticos sejam acionados, ocorrendo mudança de carga elétrica, provocando o disparo
do impulso nervoso para as fibras nervosas que vão posteriormente formar o nervo
vestibulococlear.

 
 

M T sai da sua Movimentação Deslocamento


Movimentação
posição de da cadeia de ondas
do ducto coclear
equilíbrio ossicular mecânicas
41 

Movimentação Células ciliadas Disparando os


Estimula o
da membrana estimulam botões impulsos
Órgão de Corti
tectória sinápticos nervosos

Em suma, a transmissão do estímulo sonoro é feita por meio dos mecanismos de


condução aérea e mecanismos de condução óssea, que é compressão e descompressão do
crânio, inércia da cadeia ossicular e mecanismos da mandíbula. É muito importante ter em
mente os meios que o estímulo sonoro atinge para chegar ao córtex cerebral; isso facilita na
prática terapêutica e na hora de realizar as orientações para a família e cuidadores.

3.3 PROCESSO PERCEPTUAL AUDITIVO

A percepção auditiva envolve a recepção e a interpretação dos estímulos sonoros por


meio do sentido da audição. Esse processo é complexo e elaborado; desenvolve-se a partir da
representação interna do objeto ou acontecimento percebido nos centros auditivos do cérebro.
São componentes da percepção auditiva:

 
 

Detecção – “Existiu o som?”


Sensação – “Como era o som?”
Discriminação – “O som se modificou?” ou “Em que este som é diferente daquele
outro?”
Localização – “Onde está a fonte que produziu o som?”
Reconhecimento – “Qual foi o evento que causou o som?” 42 
Compreensão – “Por que razão o evento ocorreu?”
Atenção – “Que estímulo sonoro me interessa mais?”
Memória – “O que ficou retido e pode ser evocado daquele som”?
Seguem abaixo as seguintes categorias para as respostas comportamentais aos
estímulos auditivos:
Atenção Auditiva – capacidade do indivíduo de apresentar uma resposta voluntária
a um estímulo sonoro.
Consciência auditiva – capacidade do indivíduo de perceber a presença e ausência
do som.
Localização sonora – capacidade do indivíduo em reconhecer de onde a fonte
sonora partiu.
Discriminação dos sons – processo de detectar diferenças e semelhanças nos sons
que percebemos, para isso, inicialmente a criança deve perceber um som isolado para depois
compará-lo a outro.
Seleção figura/fundo – habilidade de selecionar um estímulo sonoro significativo
dentro de uma gama de sons apresentados simultaneamente.
Associação dos sons com a fonte sonora – etapa final de todo o processo
perceptual, pois se o indivíduo não a consegue, sabemos que poderá apresentar alterações na
sua linguagem; demanda integridade das habilidades cognitivas.
A percepção auditiva é a parte do processamento auditivo que envolve uma análise
complexa do sinal acústico, integrando a informação em modelos auditivos; é um processo
adaptável, modificável e influenciado pela aprendizagem.
O sistema auditivo analisa os sons da fala identificando-os acusticamente e
reconhecendo-os como os fonemas da língua a que está exposta. Para que o processo
perceptual aconteça é necessário que possa ser detectado e sentido o som, para que
posteriormente as etapas responsáveis pela transmissão e recepção dos estímulos auditivos

 
 

estejam funcionando em integridade, que o ouvido externo, médio e interno apresente


integridade morfofisiológica.
Para que uma mensagem seja decodificada e codificada de forma efetiva, é necessário
que não haja falhas em nenhuma das etapas de transmissão (do estímulo sonoro); o
comportamento auditivo inclui todas as reações a sons manifestados primordialmente por
reações motoras. Segue abaixo um quadro esquemático do processo de comunicação por meio 43 
da linguagem falada.

1ª. ETAPA 2ª. ETAPA 3ª. ETAPA

RECEPÇÃO INTERPRETAÇÃO EMISSÃO

OUVIDO SNC OFA

SENSORIAL MENTAL MOTORA

AFERÊNCIA ASSOCIAÇÃO EFERÊNICA

É importante frisarmos a estreita relação que existe entre a audição e o


desenvolvimento da linguagem na criança, além da importância do diagnóstico precoce das
deficiências auditivas. A prevenção da perda auditiva na criança é uma forma de proteger e
impedir que a criança sofra os efeitos nocivos provocados pela falta de estimulação auditiva
sobre a função.

4 A DEFICIÊNCIA AUDITIVA NA INFÂNCIA

É importante que o homem estabeleça contato com o mundo exterior, receba estímulos
e impressões que configuram a experiência e promovam a integração psicológica e social; para
tanto, ele necessita primordialmente dos seus sentidos. A deficiência auditiva é um tipo de
privação sensorial, é uma das mais significativas limitações da oportunidade de crescimento do
indivíduo. No entanto, hoje, o deficiente auditivo batalha pelos seus direitos e sua inclusão, numa
sociedade preconceituosa. A consequência maior em ser um deficiente auditivo é a
impossibilidade por meios naturais de aprender o principal veículo de comunicação humana, que

 
 

é a fala. A privação sensorial age negativamente no relacionamento mãe/filho. Caso estes pais
não sejam orientados, pode favorecer uma quebra nas relações interpessoais futuras, uma
lacuna nos processos psicológicos de integração de experiência, afetando o equilíbrio e a
capacidade normal do indivíduo.

44 

limitação privação Deficiência


orgânica sensorial Auditiva

O deficiente auditivo, em decorrência da diminuição da audição, fica restrito pela


carência de informações necessárias à plenitude das operações cognitivas. Enfim, a deficiência
auditiva consiste na perda maior ou menor da percepção normal dos sons; verifica-se a
existência de vários tipos de pessoas com déficit auditivo, com diferentes graus de perda da
audição. Portanto, vale salientar que a prevenção da perda auditiva na criança é uma forma de
proteger e impedir que ela sofra os efeitos nocivos provocados pela falta de estimulação auditiva
sobre a função da linguagem.
Segundo Rinaldi (1997), a criança com perda auditiva pode ser considerada como
parcialmente surda ou surda.
Parcialmente surda (surdez leve) – a criança que apresenta perda auditiva de até
40 dBs. Essa perda impede que o indivíduo perceba igualmente todos os fonemas das palavras.
A voz fraca ou distante não é ouvida. Crianças parcialmente surdas são consideradas
desatentas, porém é uma perda que não impede a aquisição normal da linguagem oral, mas
poderá ser a causa de algum problema articulatório, na leitura e/ou na escrita.
Parcialmente surda (surdez moderada) – a criança apresenta perda auditiva entre
40 e 70 dBs; esses limites se encontram no nível da percepção da palavra, sendo necessária
uma voz de certa intensidade para que seja convenientemente percebida. É bastante
significativa a presença de atraso de linguagem e as alterações articulatórias, havendo, em
alguns casos, maiores problemas linguísticas, alguma criança tem maior dificuldade de

 
 

discriminação auditiva em ambientes ruidosos. Em geral, a criança identifica as palavras mais


significativas, tendo dificuldades em compreender certos termos de relação e/ou formas
gramaticais complexas; sua compreensão verbal está intimamente ligada à sua aptidão para a
percepção visual.
Surda (surdez severa) – crianças que apresentam perda auditiva entre 70 e 90 dBs.
Este tipo de perda vai permitir que ela identifique alguns ruídos familiares e poderá perceber 45 
apenas a voz forte, podendo chegar até aos quatro ou cinco anos sem aprender a falar. No
entanto, com a família bem orientada pela equipe multidisciplinar, incluindo os profissionais da
área de educação, a criança poderá chegar a adquirir linguagem oral. A compreensão verbal vai
depender, em grande parte, de sua aptidão para utilizar a percepção visual e para observar o
contexto das situações.
Surda (surdez profunda) – a criança apresenta perda auditiva superior a 90 dBs e a
gravidade dessa perda é tal que o priva das informações auditivas necessárias para perceber e
identificar a voz humana, impedindo-o de adquirir a língua oral. As perturbações das funções
auditivas estão ligadas tanto à estrutura acústica quanto à identificação simbólica da linguagem.

• Surdez leve
Parcialmente  • Surdez moderada
Surda

• Surdez severa
Surda • Surdez profunda

De acordo com Jakubovicz (2002), o termo deficiência auditiva compreende a criança


totalmente surda e parcialmente surda, sendo diferenciada pelas suas condições e por meio da
aplicação dos métodos e técnicas aplicadas na (re) habilitação.
Northern & Downs (1989) dizem que a definição de deficiência auditiva inclui todas

 
 

aquelas crianças com perda auditiva de tal extensão que alguma forma especial de educação é
necessária. Corrêa (2001) afirma que a terminologia é ampla quando se trata de alguém que não
ouve. Ele prefere se referir como “criança com perda auditiva”; no entanto, afirma que ao
utilizarmos os termos “criança surda” ou “deficiente auditivo” está diagnosticando somente a
deficiência, sem analisar a criança como um ser social, onde além das suas necessidades, há
possibilidades de desenvolver um grande potencial. 46 
Russo e Santos (1994) afirmam que a prevenção da perda auditiva na criança é uma
forma de proteger e impedir que a criança sofra os efeitos funestos provocados pela falta de
estimulação auditiva sobre a função da linguagem.

4.1 IDENTIFICAÇÃO DE CRIANÇAS COM DIFICULDADES AUDITIVAS

A princípio temos que ter em mente que a língua materna é adquirida naturalmente no
contexto familiar e social, onde a criança é imersa no ambiente linguístico e a escola sistematiza
o conhecimento. As alternativas de atendimento para as crianças com perda auditiva estão
intimamente relacionadas às condições individuais, o diagnóstico precoce, às escolhas da
família, além de grau e o tipo da perda auditiva.
É essencial terapeutas, cuidadores e familiares ficarem atentos aos sinais que auxiliem
na identificação precoce da surdez, para que seja realizado o diagnóstico diferencial.

DO NASCIMENTO AOS 3 MESES DE IDADE
O recém‐nascido 
Não reage a um forte bater  desenvolve‐se 
O recém‐nascido não reage 
de palmas numa distância  normalmente nas áreas 
a sons fortes .
de 30cm. que não envolvam a 
audição.

 
 

DOS 3 MESES AOS 6 MESES
Não procura com os  A criança só interage 
Não responde a fala 
olhos de onde vem um  com os pais se a 
dos pais.
determinado som. abordagem for visual.
47 

DOS 6 MESES ASO 10 MESES
A criança não atende  Não atende a 
Não entende frases 
quando é chamada  campanhia da porta 
simples.
pelo nome. ou a voz de alguém.

DOS 10 MESES AOS 15 MESES DE IDADE
A criança 
compreende quando 
Não aponta objetos  Não imita sons e palavras 
é interrogada por 
familiares ou pessoas. simples.
gestos ou língua de 
sinais.

DOS 15 MESES AOS 18 MESES
A criança obedece 
Não obedece a  As primeiras 
instruções dadas em 
instruções faladas,  palavras não se 
língua de sinais ou 
por mais simples. desenvolvem.
por meio de gestos. 

 
 

Até um ano e meio a criança não diagnosticada precocemente perde a estimulação


ambiental e os laços feitos pela audição não são realizados. A não estimulação faz com que a
criança entre no mundo sem a sensação sonora ou pistas do mundo que a cerca. É uma fase
decisiva na aquisição da linguagem oral, mas não quer dizer que não se pode fazer mais nada.
O diagnóstico e tratamento precoce oferecem para a criança e para os pais e/ou familiares uma
vida de inclusão garantida, além da tranquilidade do conhecimento sobre o assunto. 48 

DOS 18 MESES AOS 3 ANOS E MEIO DE IDADE
A criança gesticula  Observa 
Não há aumento  para manisfestar  intensamente os 
do vocabulário . necessidades e  rostos dos pais 
vontades. enquanto falam.

DOS 18 MESES AOS 3 ANOS E MEIO DE IDADE
Histórico de dores de 
Adquire a língua de  Aparentemente 
cabeça e infecções do 
sinais comunicando  desobediente quando 
ouvido, além de não 
seus desejos e  as ordens são feitas 
gostar de ouvir 
necessidades. por meio da fala.
histórias.

 
 

DOS 3 ANOS E MEIO AOS CINCO ANOS DE IDADE
A fala da criança é 
Não consegue  Não consegue 
difícil de se entender; 
localizar a origem do  entender nem usar 
a criança usa gestos 49 
som. palavras simples. 
para funções sociais.

A CRIANÇA COM MAIS DE 5 ANOS DE IDADE 
Dificuldades em 
Não responde  Confunde direções 
prestar atenção à 
quando é chamada  ou não consegue 
fala, tornando‐se 
oralmente. compreender.
dispersa.

A CRIANÇA COM MAIS DE 5 ANOS DE IDADE 
Expressa‐se confusa 
Dá respostas erradas  Não se desenvolve 
quando recebe 
às perguntas  bem na escola, onde 
ordem ou quando lhe 
formuladas  não há apoio para o 
perguntam alguma 
oralmente. deficiente auditivo.
coisa oralmente.

 
 

A CRIANÇA COM MAIS DE 5 ANOS DE IDADE 
Está sempre indisposta, 
Substitui e omite sons,  Evita pessoas, brinca  parece inquieta ou tensa 
apresenta qualidade  sozinha, parece  quando o ambiente  50 
vocal pobre. ressentida ou irritada.  linguístico não lhe é 
conhecido. 

Identificar a deficiência auditiva tão tarde soa impossível, mas infelizmente muitas
crianças começam o tratamento muito tarde, no entanto não podemos subestimar a capacidade
e a rapidez das crianças de aprender. Por isso, o início do tratamento é muito importante; as
orientações à família, para que no âmbito domiciliar a estimulação seja efetiva. A perda auditiva
em uma criança tem necessidades muito maiores do que em qualquer adulto, pois para aprender
a língua materna é preciso primeiro identificar acusticamente os fonemas que ela contém. Os
profissionais, ao receberem crianças com dificuldade na audição, devem realizar
encaminhamentos para um diagnóstico e tratamento efetivo, além de desenvolver estratégias
que permitam que os sinais sonoros cheguem até a criança.
Skinner (1978) enumerou uma série de alterações no aprendizado da linguagem que
uma criança pode apresentar se for portadora de deficiência auditiva leve:
1. Perda da constância das pistas auditivas quando a informação acústica flutua.
2. Confusão dos parâmetros acústicos em situações de fala rápida.
3. Confusão na segmentação e na prosódia.
4. Mascaramento em ambiente ruidoso, onde a relação ideal deveria ser de +30 dB e
na vida real temos de +12 dB.
5. Quebra da habilidade precoce de perceber a acústica dos sons da fala.
6. Quebra na habilidade de aprender significados.
7. Abstração errônea das regras gramaticais. Em nossa língua a sílaba final de cada
palavra apresenta baixa intensidade e algumas marcas de gênero e número estão exatamente
nesta sílaba, que passa a ser inaudível para a criança.
8. Perda dos padrões de entonação subliminares, representado pelo conteúdo

 
 

emocional que se dá a cada emissão.


Várias são as repercussões da surdez infantil, iremos falar um pouco sobre cada uma
delas, pois para compensar as dificuldades na aquisição da linguagem é preciso que pais,
familiares, cuidadores e terapeutas estejam embasados teoricamente para o dia a dia da criança
com dificuldades auditivas:
Voz e fala – a criança reproduz o que ela ouve, a voz do deficiente auditivo é 51 
mascarada pela falta de agudos em seu timbre, o som emitido pela laringe, frequentemente, é
mais elevado do que deveria. As alterações nas frequências agudas ocasionam uma voz com
timbre rouco, lúgubre e dificulta a articulação das consoantes fricativas. Alterações nas
frequências médias perturbam a qualidade vocal, pois a percepção de graves e agudos está
alterada. Na surdez profunda, a criança não aprendeu a falar, a voz tem uma altura normal
(desde que a educação da fala tenha sido realizada), o som laríngeo varia consideravelmente.
Frequentemente a voz é hipernasal, pois a criança com alterações consideráveis na audição
controla mal acusticamente os estímulos ao seu redor. As frases das crianças surdas têm um
ritmo anormal, há extrema dificuldade no controle de intensidade e entonação. No entanto, é de
suma importância que os métodos pedagógicos e terapêuticos estejam de acordo com a
necessidade de cada criança.
Linguagem – uma deficiência auditiva pode levar uma criança a ter atraso no
desenvolvimento da linguagem, porém o paralelismo entre curva tonal e a linguagem é muito
relativo, pois as possibilidades espontâneas (psicofisiológicas) que cada criança apresenta
podem facilitar o desenvolvimento da linguagem oral. A relação entre linguagem escrita e
audição também é bastante estreita, pois as confusões fonéticas/fonológicas são bastante
evidentes. Aprender a ler consiste em confrontar a imagem gráfica com a representação sonora,
identificar um sinal escrito com o timbre percebido; quando a estrutura do fonema é mal definida,
onde a percepção é inconsistente, a oposição do timbre dos fonemas é mal construída e a
criança não pode estabelecer esta identificação corretamente. A perturbação auditiva pode
ocasionar uma dificuldade no aprendizado da leitura, a menos que sejam ministrados métodos
especiais. Vale salientar que a linguagem é um problema primordial na criança surda, pois o
desenvolvimento da linguagem oral necessita de recursos fisiológicos; o som da língua e o
mundo sonoro são a chave para esta aquisição. A criança necessita de contato auditivo, da
comunicação oral para aquisição da fala, porém ela pode desenvolver comunicação alternativa.
Estado psicológico – são compreensíveis os problemas psicológicos que podem

 
 

aflorar em uma criança com dificuldades auditivas, pois não compreender o mundo ao seu redor
ou não ser compreendida pode alterar seu estado de “espírito”. Quando e como apareceu o
problema da surdez é de suma importância, pois ter adquirido a linguagem e perdê-la é muito
diferente de quem nunca teve contato com o mundo dos sons. Contudo, sabemos que ouvir não
é a única maneira para que possamos desenvolver a linguagem, pois a audição estrutura o
tempo enquanto o espaço estrutura pelo mundo visual, assim a criança terá uma estrutura 52 
tempo-espacial alterada, desequilibrada. Geralmente, a queixa de pais e professores de crianças
surdas é com relação à atenção e concentração (elas apresentam dificuldades significativas);
estão sempre na defensiva (proteção inconsciente); às vezes demonstram sinais de
agressividade, que é resultado da falta de comunicação com o mundo externo – isso pode
facilitar o desenvolvimento de distúrbios de personalidade. No entanto, os cuidadores têm que
compreender a criança como um todo e principalmente suas necessidades de comunicação;
devem ter um olhar holístico, que com certeza facilitará no desenvolvimento geral da criança e
na aquisição da linguagem.

Voz e fala

Linguagem

Estado Psicológico

A pirâmide acima nos oferece uma ideia visual de como o estado psicológico é
importante para a criança de forma geral, pois as crianças com dificuldades auditivas podem
apresentar um quadro psicológico que dificulte o tratamento e a sua rotina no âmbito familiar ou
escolar.

 
 

4.2 CLASSIFICAÇÃO DA PERDA AUDITIVA NA INFÂNCIA

As perdas auditivas podem ser classificadas de diversas formas: quanto ao local e


grau, momento da lesão e origem do problema. De acordo com Russo e Santos (1994),
dependendo do local da lesão podemos classificar as perdas auditivas em: 53 
1. Perda Auditiva Condutiva – são perdas originadas por qualquer tipo de interferência
na transmissão do som no canal auditivo externo para o ouvido interno. Sendo assim, o ouvido
interno está normal, mas a vibração sonora só consegue estimular a cóclea se o caminho do
som não estiver obstruído. Nesse caso, no audiograma, encontramos limiares por via óssea
preservados (normais) e limiares por via aérea rebaixados, sugerindo prejuízo na condução do
som. As patologias que causam perdas condutivas podem variar desde a presença de corpo
estranho no conduto auditivo externo até a completa malformação de todo o sistema de
transmissão (pavilhão auricular, conduto auditivo externo, membrana timpânica e cadeia
ossicular). Segue abaixo uma ilustração da perda auditiva condutiva.

FIGURA 9 - GRÁFICO DA PERDA AUDITIVA CONDUTIVA

FONTE: MUNHOZ et al. Audiologia clínica, 2000.

 
 

2. Perda Auditiva Neurossensorial – ocorre diminuição auditiva quando os órgãos


sensoriais terminais ou células ciliadas da cóclea sofrem danos, ou quando há alteração no
nervo auditivo. Os limiares por via óssea e via aérea estão rebaixados (os limiares tonais
encontram-se praticamente juntos); atualmente, com o advento de técnicas eletrofisiológicas
sofisticadas, é possível estabelecer o local exato da lesão de forma objetiva e muitas vezes
precisa. No entanto, é interessante frisarmos que crianças podem ter achados audiométricos 54 
dentro dos padrões de normalidade e, mesmo assim, ter dificuldades para reconhecer ou
interpretar a fala. Logo em seguida você encontrará um gráfico com uma perda auditiva
neurossensorial.

FIGURA 10 - GRÁFICO DA PERDA AUDITIVA NEUROSSENSSORIAL

FONTE: MUNHOZ et al.: Audiologia clínica, 2000.

3. Perda Auditiva Mista – é uma combinação das perdas condutivas e


neurossensoriais, em que os limiares auditivos por via óssea estão rebaixados, mas os limiares
por via aérea estão mais rebaixados ainda, conferindo ao mesmo tempo um caráter
neurossensorial e condutivo. A seguir uma ilustração da perda auditiva mista.

 
 

FIGURA 11 - GRÁFICO DA PERDA AUDITIVA CONDUTIVA

55 

FONTE: MUNHOZ et al.: Audiologia clínica, 2000.

Outra forma de analisar as perdas auditivas é por meio do critério de grau da perda: o
método baseia-se na obtenção da média tritonal, nas frequências de 500 Hz, 1000 Hz e 2000
Hz. Seguem abaixo as tabelas de classificação com relação às perdas auditivas em adultos e
crianças respectivamente:

FIGURA 12 - REFERÊNCIAS PARA ADULTOS


CLASSIFICAÇÃO MÉDIA (500, 1000 e 2000)
NORMAL 0 – 25 dB NA
LEVE 26 – 40 dB NA
MODERADA 41 – 70 dB NA
SEVERA 71 – 90 dB NA
PROFUNDA > 90 dB NA
FONTE: Autor.

 
 

FIGURA 13 - REFERÊNCIAS PARA CRIANÇAS


CLASSIFICAÇÃO MÉDIA (500, 1000 e 2000)
NORMAL 0 – 15 dB NA
DISCRETA 16 – 25 dB NA
LEVE 26 – 40 dB NA
MODERADA 41 – 70 dB NA 56 
SEVERA 71 – 90 dB NA
PROFUNDA > 91 dB NA
FONTE: Autor.

A classificação da perda auditiva com relação ao grau em uma criança torna-se


fundamental para o desenvolvimento ou não da linguagem oral. Portanto, além de sabermos do
tipo e o grau, é importante classificar o momento em que ocorrem as deficiências auditivas, ou
seja, se problema que provocou a perda auditiva aconteceu antes, durante ou depois do
nascimento. As deficiências auditivas podem ser: congênitas ou adquiridas.
Do ponto de vista do desenvolvimento da linguagem, são consideradas deficiências
auditivas congênitas aquelas que ocorrem no período que antecede o aparecimento da primeira
palavra. A origem do problema das perdas auditivas é essencial para a obtenção do diagnóstico
e a espera de um bom prognóstico. As causas da deficiência auditiva podem ser estudadas com
a associação dos aspectos que levam em conta o momento em que a patologia ocorre e a
origem do problema.
É vital saber a causa e qual tipo de problema tem cada indivíduo, para que possa
saber o que fazer em casa caso. Sabendo o local, o grau, o momento em que ocorreu e a origem
do problema, pode se esquematizar melhor todo o trabalho que virá a seguir. O diagnóstico
preciso da causa da deficiência auditiva é de suma importância, tanto para a prevenção como
para a adequação dos métodos fonoaudiológicos e educacionais que deverão ser utilizados.

 
 

Congênitas Adquiridas
57 

Sabendo que existem deficiências congênitas e adquiridas, o que podemos fazer para
prevenir este tipo de dificuldade? Há várias formas de se evitar a deficiência auditiva. A mulher
deve sempre estar com a vacina contra a rubéola em dia, de preferência na adolescência, para
que durante a gravidez ela consiga proteger o bebê que está sendo gerado, pois caso a mãe não
esteja protegida e nos primeiros meses de gestação tiver contato com a rubéola, o bebê pode
nascer com alterações na audição.
Portanto, é importante que a criança receba todas as vacinas contra as doenças
infantis para prevenir possíveis deficiências. Devem ser evitados objetos utilizados para “limpar”
os ouvidos (grampos, palitos ou outros pontiagudos; os pais e cuidadores devem estar atentos
para que as crianças não introduzam nada nos ouvidos, correndo-se o risco de causar lesões no
aparelho auditivo), caso isto ocorra, o objeto não deve ser retirado em casa, o responsável deve
procurar atendimento médico.

4.3 ETIOLOGIA DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA NA INFÂNCIA

As causas pré-natais desencadeiam a perda auditiva de forma significativa, devido a


desordens genéticas ou hereditárias. A consanguinidade, a relação do fator Rh, as doenças
infectocontagiosas, drogas ototóxicas, exposição à radiação ou qualquer outro problema que
esteja relacionado diretamente com a saúde geral da mãe, podem levar um bebê a nascer com
alterações auditivas.
As causas perinatais podem estar associadas à pré e pós-maturidade, intercorrências

 
 

na hora do parto e/ou infecção hospitalar. As causas pós-natais podem estar ligadas a doenças,
a drogas ototóxicas, exposição contínua a ruído ou sons muito altos e a traumatismo craniano. A
seguir, uma ilustração da classificação das deficiências auditivas quanto ao local da lesão.

FIGURA 14 - DEFICIÊNCIAS AUDITIVAS QUANTO AO LOCAL DA LESÃO 58 

FONTE: RUSSO & SANTOS: Audiologia Infantil, 1994.

Vamos separar as causas da perda auditiva por etapas, partindo do princípio do


caminho natural do som. Não podemos esquecer os distúrbios auditivos centrais, pois nem
sempre o atraso no desenvolvimento da linguagem é decorrente de deficiência auditiva
periférica; o problema pode estar mais à frente e se manifesta por meio do comportamento
auditivo. A seguir, patologias que ocorrem no ouvido externo que podem alterar a sensibilidade
aos sons:
Atresia – completo fechamento do conduto auditivo externo.
Estenose do conduto – estreitamento da luz do conduto auditivo externo.
Rolha de cera – é a cera do ouvido, localizada no canal auditivo, podendo ser seca

 
 

ou úmida – na maioria a produção está excessiva ou inadequada; o mecanismo de autolimpeza.


Corpos estranhos – objetos estranhos no ouvido.
Crescimento ósseo – crescimento ósseo no canal auditivo, que podem ser múltiplos
ou simples e são os nódulos (lisos, duros e recobertos de pele).
Otite externa.
Pericondrite. 59 
Furunculose.
Condições inflamatórias – são as três patologias acima decorrentes da inflamação
por fungo ou bactéria.
Tanto a atresia como a estenose do conduto podem ter como causa fatores pré ou
pós-natais, ou seja, a criança pode nascer com esta malformação ou pode adquiri-la por meio de
processos traumáticos, tais como fraturas ou queimaduras. As malformações de conduto externo
podem aparecer isoladas ou acompanhadas por malformação do pavilhão auricular e/ou
alterações faciais, fissuras palatais e ou labiais. Os achados audiológicos em crianças com estes
tipos de alterações são característica de perdas condutivas, onde a via aérea está rebaixada e a
via óssea normal.
As patologias do ouvido médio que podem levar à perda auditiva são:
Otite média;
Disfunção tubária;
Perfuração da membrana timpânica;
Rigidez da membrana timpânica;
Agentes infecciosos;
Agentes alérgicos;
Mastoidite.
As otites podem ser classificadas em: otite média com efusão, otite média aguda
supurativa e otite média crônica supurativa. A otite média com efusão é uma condição na qual o
espaço do ouvido médio está preenchido por qualquer tipo de fluido não contaminado. A otite
média aguda supurativa é uma condição na qual o espaço da cavidade timpânica está
preenchido por pus, no qual aparece e desaparece repentinamente, acompanhada de febre e
dor. A otite média crônica supurativa é um quadro crônico, no qual o ouvido médio e a mastoide
com intervalos regulares são preenchidos com pus por um longo período; a instalação é lenta,
leva a complicações como meningites, mastoidite, labirintite, timpanosclerose, paralisia facial,

 
 

abscesso subdural, abscesso cerebral e trombose do seio lateral. A causa dessas otites são as
mais diversas, seguem abaixo algumas:
Disfunção mecânica da tuba auditiva;
Fissura palatina;
Hipertrofia de adenoide;
Tumores nasofaríngeos; 60 
Barotrauma;
Desvio do septo nasal;
Cicatrizes traumáticas do orifício peritubal devido à terapia por radiação;
Tamanho e posição da tuba auditiva.

A disfunção da tuba auditiva é considerada um fator significativo no desenvolvimento


da otite média. A função da tuba auditiva é ventilar o espaço do ouvido médio e equilibrar as
pressões (interna e externa). Quando a tuba auditiva apresenta problemas de causa mecânica
ou funcional, o ar preso na cavidade do ouvido médio é absorvido, criando uma pressão negativa
no ouvido médio, e, por fim, derramamento defluido na cavidade. Esta função é menos eficiente
nas crianças pequenas do que nas crianças mais velhas, porque a parede da tuba auditiva nas
crianças é mais frouxa, suscetível à queda, criando uma obstrução funcional.
A ruptura do tímpano (perfuração) pode ser causada por uma pressão contra a
membrana, exercida por um instrumento pontiagudo (cotonete, grampo, palito) ou pela pressão
anormal de um jato de água ou de ar para dentro do canal do ouvido. Em seguida você
encontrará uma ilustração de perfuração da membrana timpânica.

 
 

FIGURA 15 - PERFURAÇÃO DA MEMBRANA AUDITIVA

61 

FONTE: Disponível em: <http://www.lookfordiagnosis.com>. Acesso em: 15 março 2010.

FIGURA 16 - PERFURAÇÃO DA MEMBRANA AUDITIVA

FONTE: Disponível em: <http://www.lookfordiagnosis.com>. Acesso em: 15 março 2010.

Uma infecção no ouvido médio com acúmulo progressivo de secreção purulenta


também pode causar ruptura da membrana timpânica. A perfuração do tímpano leva à
diminuição da audição e dor, podendo haver zumbido e sangramento pelo canal do ouvido. O
diagnóstico é feito por meio da história do paciente e do exame da membrana timpânica com

 
 

aparelhagem especial, o otoscópio e/ou microscópio. O grau de perda auditiva é avaliado pela
audiometria. Tanto os agentes infecciosos como os agentes alérgicos podem desencadear uma
otite, pois o material infeccioso pode ter dificuldade para ser drenado para fora do ouvido e
dessa forma há probabilidade de uma infecção crônica.
A mastoidite pode ter estágios agudo e crônicos; é uma inflamação da mucosa ciliada
do antro com a presença de edema ou drenagem insuficiente da mucosa mastoide, cria-se uma 62 
pressão dentro das células aéreas, causando desconforto e os sintomas são os seguintes:
Sensação de estiramento;
Otalgia;
Otite média aguda;
Hipersensibilidade;
Edema;
Perda auditiva condutiva.
Nos casos de mastoidite podem ocorrer destruição da membrana timpânica e a
estrutura óssea frequentemente é atingida pela infecção. Em geral, está associada a uma
história de otite média.
É importante frisarmos das deficiências auditivas de origem genética no qual levam a
alterações no ouvido externo e médio, segue abaixo as mais conhecidas:

1. Síndrome de Treacher Collins – caracterizada por malformações do primeiro arco


branquial. Os achados audiológicos indicam de forma geral perda auditiva condutiva de grau
moderado (60 dB NA), horizontal e bilateral. No entanto, não é descartado as malformações do
ouvido interno, motivo o qual os achados podem sugerir também perda auditiva neurossensorial.
Segundo Northern e Downs (1984), esta síndrome é um defeito congênito que leva a anomalias
congênitas múltiplas; são genes autossômicos dominantes com penetração incompleta e
variável. As manifestações são as seguintes:
Fissuras palpebrais inferiores “caídas”;
Ossos malares não protuberantes (afundados);
Pavilhão auricular malformado e com implantação mais baixa do que o padrão
comum;
Micrognatia;
Boca grande e com frequentes anormalidades dentárias;

 
 

Malformações e/ou atresia do conduto auditivo externo e da cadeia ossicular;


Fissura palatal.

2. Síndrome de Goldenhar – Os portadores desta síndrome apresentam malformações


orais, musculoesqueléticas e oculares. Sugere uma perda auditiva condutiva, sua etiologia está
relacionada a anomalias no suprimento sanguíneo para o pescoço e cabeça, não existindo 63 
evidência de padrão hereditário para esta síndrome. As anomalias podem ser:
Hipoplasia unilateral do ramo facial e do côndilo;
Palato com arco alto;
Mordida aberta;
Língua e úvula bífidas; fissura palatina e labial;
Malformações dos pavilhões auriculares;
Pavilhão auricular localizado mais posteriormente, em um dos lados da cabeça;
Microtia unilateral;
Atresia do conduto auditivo externo em 40% dos casos;
Defeitos dos músculos extraoculares;
Dermoides epibulbares;
Anoftalmia, microftalmia, microcórnea, atrofia da íris;
Alterações na fissura ocular ou na pálpebra superior.

3. Síndrome de Apert – está ligada à transmissão autossômica dominante e é


caracterizada pelas seguintes manifestações:
Deficiência mental;
Sindactilia óssea e/ou cutânea;
Palato estreito e arqueado;
Hipoplasia dos ossos malares;
Nariz pequeno;
Espinha bífida;
Perda auditiva do tipo condutiva e horizontalizada.

4. Síndrome de Pierre-Robin – apresenta malformações do esqueleto craniofacial, a


transmissão é dominante. O quadro audiológico é de perda auditiva condutiva e/ou

 
 

neurossensorial. Os portadores desta síndrome podem apresentar as seguintes características –


além de anomalias do esterno, espinha bífida, hidrocefalia e microcefalia:
Fissura de palato;
Hipodesenvolvimento do queixo e maxila;
Língua retraída ou deslocada para baixo;
Pavilhão auricular com implantação baixa; 64 
Deficiência mental em 20% dos casos.

5. Síndrome de Down (trissomia 21) – supõe que as crianças portadoras desta


síndrome são mais susceptíveis a infecções do trato respiratório superior por causa do
desenvolvimento característico da nasofaringe e da tuba auditiva, que pode afetar a drenagem
dos espaços paranasais e do ouvido médio. Conforme seja o laudo audiométrico sugere perda
auditiva condutiva. As alterações pode ser as seguintes:
Orelha pequena;
Canal auditivo externo estreito;
Configuração anormal do ouvido externo;
É de suma importância o momento da vida embrionária, pois falhas nestes períodos
podem deixar sequelas para o resto da vida de uma criança, encaminhando para traumas e
dificuldades em geral.
Serão descritas a seguir patologias, síndromes e malformações que resultam em
deficiências auditivas neurossensoriais. Iniciaremos com as malformações de ouvido interno:
Aplasia de Michel – caracteriza-se pela ausência do ouvido interno e nervo auditivo.
Displasia de Mondini - caracteriza-se por apresentar a cóclea com desenvolvimento
incompleto e de aparência achatada, envolvendo o nervo auditivo e os canais semicirculares.
Aplasia de Scheibe – caracteriza-se pelo mau desenvolvimento da porção
membranosa da cóclea e do sáculo. Geralmente encontrada em portadores das Síndromes de
Waarderburg, Jervell-Lange-Nielsen, Usher, Refsun e na rubéola materna. É possível ter audição
residual nas frequências baixas; a lesão maior está na porção basal da cóclea.
A seguir, as síndromes ou patologias que geram uma deficiência auditiva congênita em
associação a outras anormalidades:
1. Síndrome de Waanderburg – descrita na Holanda, por Waanderburg, em 1951, com
incidência de 1,4% nos casos de surdez congênita, é caracterizada pelas seguintes

 
 

manifestações:
Deslocamento lateral dos cantos internos dos olhos;
Base do nariz larga e alta;
Mecha branca no cabelo, na região frontal;
Deficiência auditiva;
Fissura labial e palatina, malformação cardíaca e nos membros. 65 
O achado audiológico confere uma perda auditiva neurossensorial, podendo variar de
leve a severa e está presente em mais de 50% dos pacientes; pode ser unilateral ou bilateral
e/ou progressiva.
2. Síndrome de Pendred – caracteriza-se por distúrbios metabólicos e
endocrinológicos, associada à deficiência auditiva e disfunção tireoidiana. Os achados
audiológicos podem revelar perda auditiva neurossensorial de grau moderado a profundo.
3. Síndrome de Klippel-Feil – a deficiência auditiva nestes pacientes pode ser
condutiva ou neurossensorial, variando de grau leve a profundo e apresenta as seguintes
alterações:
Fusão das vértebras cervicais;
Deficiência auditiva;
Escoliose;
Pescoço curto com mobilidade reduzida;
Fissura de palato, pé torto;
Distúrbios neurológicos.
4. Síndrome de Jervell-Lange-Nielsen – nesta síndrome foi estabelecida uma relação
de defeitos cardíacos e deficiência auditiva. É caracterizada por:
Deficiência auditiva do tipo neurossensorial, bilateral, profunda e congênita;
Anormalidades eletrocardiográficas (que na infância podem levar a morte súbita).
5. Síndrome da disostose cleidocraniana – o nome dado a esta síndrome refere-se
apenas a uma parte das anomalias do desenvolvimento encontradas nos portadores. As
manifestações mais significativas que caracterizam os portadores são as seguintes:
Crescimento diminuído;
Desenvolvimento tardio ou incompleto dos seios paranasais e das células da
mastoide;
Nariz em sela;

 
 

Palato em ogiva;
Erupção tardia dos dentes com anomalias diversas;
Agenesia parcial ou total das clavículas;
Caixa torácica pequena;
Ossificação irregular;
Aumento do espaço entre os olhos (hipertelorismo); 66 
Deficiência auditiva condutiva ou neurossensorial progressiva.
6. Síndrome do Bócio – é caracterizado por distúrbio metabólico e endocrinológico, e
associado à deficiência auditiva congênita, apresenta as seguintes manifestações:
Hiperatividade da tireoide;
Deficiência auditiva neurossensorial, profunda e congênita;
Face com forma de pássaro;
“Peito de pombo”;
Omoplatas pontudas em forma de “asa” ou em “posição de asa”.
7. Síndrome da mão e audição – anomalia dos músculos das mãos associada à
deficiência auditiva.
Não podemos esquecer as perdas auditivas causadas por drogas ototóxicas. A
administração de algumas drogas e medicamentos pode causar danos à cóclea ou à porção
vestibular do ouvido interno, levando a uma perda auditiva neurossensorial (permanente). Uma
droga ingerida pela mãe no período gestacional pode lesar o órgão auditivo e trazer transtornos
à criança – isto ocorre no primeiro trimestre.
As drogas consideradas tóxicas para a audição mais devastadoras são a kanamicina e
a neomicina, não podendo esquecer os produtos químicos que podem levar a diminuição
auditiva como: monóxido de carbono, mercúrio, ouro, arsênico e álcool, se ingeridos durante a
gestação no período crítico. Porém, diversos antibióticos, diuréticos e anti-inflamatórios podem
ser encontrados na lista das substâncias ototóxicas. Em seguida, alguns nomes de
medicamentos considerados tóxicos para a audição:
Antibióticos aminoglucosídeos – aminoglicosídeos, eritromicina, vancomicina;
Slicilatos – aspirina e produtos que contenham aspirina;
Diuréticos de alça - Lasix, Endecrin, Bumex;
Agentes Quimioterápicos - cisplatina, mostarda nitrogenada, vincristina;
Quinino - aralen, atabrine (para tratamento da malária), Legatrin, Q-Vel relaxante

 
 

muscular.
Antidepressivos - Prozac, Zoloft, Paxil, Celexa e o Luvox.
As doenças de origem não genética, mas que causam deficiência auditiva congênita
são:
Infecções por vírus e bactérias – o período pré-natal é um grande problema para
gestantes que não estejam realizando acompanhamento, porém mesmo que a gestante seja 67 
assistida, corre o risco de adquirir algumas das doenças que pode levar a deficiências na
audição. A rubéola materna é o exemplo mais comum, pois um grande número de crianças com
problemas na audição é decorrente da rubéola. Ela pode apresentar uma variedade de
manifestações, as principais são as seguintes:
Baixo peso ao nascer;
Icterícia;
Deficiência auditiva;
Problemas cardíacos;
Catarata ou glaucoma;
Retardo mental ou psicomotor;
Problemas comportamentais.
Os achados audiológicos mostram uma perda auditiva neurossensorial de grau severo
a profundo, com curva horizontal e uma discreta queda nas frequências altas. Em seguida um
gráfico com a visualização da perda auditiva causada por rubéola.

FIGURA 17 - PERDA AUDITIVA NEUROSSENSORIAL CAUSADA POR RUBÉOLA MATERNA

FONTE: RUSSO & SANTOS: Audiologia Infantil, 1994.

 
 

Eritroblastose fetal – incompatibilidade do fator Rh do sangue materno (Rh-) com o


do feto (Rh+), os sintomas clínicos são:
Níveis elevados de bilirrubina no sangue;
Icterícia;
Possível lesão cerebral. 68 
Os achados audiológicos mostram perda auditiva neurossenssorial bilateral, de grau
leve a profundo, com resíduos melhores nas frequências baixas e altas.

FIGURA 18 - PERDA AUDITIVA NEUROSSENSSORIAL CAUSADA POR ERISTROBLASTOSE


FETAL

FONTE: RUSSO & SANTOS: Audiologia Infantil, 1994.

Distúrbios metabólicos;
Radiação;
Prematuridade;
Trauma perinatal;
Anoxia;
Alterações no desenvolvimento;
Distúrbios neurológicos.

Porém, citaremos a seguir algumas patologias que podem levar à deficiência auditiva

 
 

tardia, caracterizando alterações na audição e que se manifestam de forma isolada ou associada


a outras anormalidades. Essas patologias podem ser de origem genética ou não e são as
seguintes:
Síndrome de Cockayne – caracterizada por atraso no crescimento, deficiência
mental, fraqueza muscular e deficiências auditivas (perda auditiva neurossensorial progressiva
de instalação tardia e de grau moderado a severo). 69 
Síndrome de Refsum – caracteriza-se pela associação a distúrbios visuais e
deficiência auditiva.
Síndrome da distrofia muscular infantil – esta síndrome está associada à nefrite
hereditária e deficiência auditiva neurossensorial.
Síndrome de Hunter e Síndrome de Hurler – é caracterizada por retardo no
crescimento, retardo mental acentuado e progressivo, secreção nasal crônica, rigidez articular e
deficiência auditiva progressiva.
Síndrome de Van der Hoeve - caracteriza-se por fragilidade óssea com grande
facilidade de fraturas, articulações fracas, deficiência condutiva.
Síndrome de Marshal – é caracterizada por apresentar miopia severa, catarata
congênita e deficiência auditiva neurossensorial progressiva de grau moderado.
Não podemos esquecer os distúrbios inflamatórios que podem ocasionar perdas no
ouvido interno como, por exemplo: meningite, sarampo e parotidite (caxumba).

FIGURA 19 - PERDA AUDITIVA CAUSADA POR MENINGITE BACTERIANA

FONTE: RUSSO & SANTOS: Audiologia Infantil, 1994.

 
 

A meningite bacteriana tendo o agente etiológico Haemophillus influenzae pode trazer


sérios problemas na audição, com perdas auditivas bem acentuadas. O agente infeccioso
penetra no ducto coclear por meio do aqueduto coclear, ao longo dos vasos e nervos do meato
acústico interno, lembrando que este quadro de infecção pode levar a uma labirintite ossificante.
O diagnóstico precoce da meningite e suas complicações pode amenizar os efeitos
terríveis que esta patologia pode causar e, uma vez instalada a deficiência auditiva, é 70 
interessante que a perda auditiva seja identificada e o paciente seja encaminhado para
reabilitação e adaptação.

FIGURA 20 - PERDA AUDITIVA CAUSADA POR SARAMPO

FONTE: RUSSO & SANTOS: Audiologia Infantil, 1994.

Além de perda auditiva, o sarampo pode ser causador de otite média supurativa
necrosante, podendo chegar até uma labirintite purulenta (destruindo todo o ouvido interno). Os
achados audiológicos tanto podem ser de perda auditiva neurossensorial como de condutiva, de
grau moderado a profundo.
Conferir o quadro acima, onde a orelha esquerda (x) apresenta uma perda condutiva e
a orelha direita (o) uma perda auditiva neurossensorial. Vale salientar que o tratamento é crucial,
pois alivia os sintomas (tosse, febre, diminuição da irritação na pele), além de combater
possíveis complicações.
A prevenção continua sendo o melhor remédio, a vacina contra o sarampo pode ser
aplicada na criança com 12 meses, 1º reforço 4 - 6 anos; e 2º reforço com 12 anos.

 
 

FIGURA 21 - PERDA AUDITIVA CAUSADA POR CAXUMBA

71 

FONTE: RUSSO & SANTOS: Audiologia Infantil, 1994.

A parotidite ou caxumba é altamente infecciosa, seu contágio é feito por meio de


espirros e tosses, respiração em ambiente fechado e contato direto. O vírus pode ser transmitido
até dois meses após da infecção. O sintoma que caracteriza esta patologia é o aumento não
supurativo de uma ou ambas as glândulas salivares (parótidas), sendo outros órgãos também
acometidos. A febre, cefaleia e dor na garganta também têm grande destaque entre os sintomas.
O diagnóstico depende do quadro clínico e da complementação laboratorial, porém a
prevenção pode ser realizada no primeiro ano de vida da criança, com a vacina ‘tríplice viral’. A
caxumba não tem tratamento, o próprio organismo se encarrega de resolver a infecção, o
tratamento em si é voltado para o alívio dos sintomas. A caxumba é a causa mais comum de
perdas auditivas unilaterais. A curva audiométrica pode mostrar perdas neurossensoriais
profundas, com audição residual nas frequências baixas.
É importante ficarmos atentos às lesões traumáticas que podem levar a um trauma
coclear causado por fraturas cranianas que envolvem o osso temporal, desencadeando perda
auditiva neurossensorial. Uma pancada na cabeça cria uma onda de pressão no crânio que se
transmite por via óssea para a cóclea com o mesmo tipo de condução mecânica de uma onda de
pressão no ar, e o dano pode ser atribuído à intensa estimulação acústica.
Os distúrbios metabólicos podem acarretar problemas auditivos de forma silenciosa.

 
 

Desequilíbrios hormonais não diagnosticados precocemente mascaram a causa de uma


deficiência auditiva. Temos que estar atentos, pois patologias consideradas “de adulto” também
atingem uma boa parte das crianças. Tais patologias podem levar a dificuldades auditivas,
ocasionando o atraso no desenvolvimento, atingindo o bem-estar psicossocial da criança, motivo
pelo qual todos os envolvidos (médicos, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, família,
professores e cuidadores) são responsáveis pela inserção da criança na sociedade, cabendo a 72 
todos uma inclusão responsável.

5 AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA

Os módulos anteriores tinham como objetivo explicitar a importância da audição no


desenvolvimento da linguagem. Os primeiros anos de vida de uma criança são primordiais para
a formação do “futuro adulto” e a linguagem ajudará esta criança no seu dia a dia. A privação,
ausência de estímulos sonoros pode acarretar sérios problemas ao longo da vida, motivo pelo
qual é importante um diagnóstico precoce, que identifique qualquer alteração, até mesmo a mais
simples, pois a intervenção adequada será feita o quanto antes for diagnosticada a alteração.
O sinônimo de avaliar é estimar, examinar, contar, ponderar, medir; por isso tem que
ter muito cuidado quando formos avaliar uma criança, pois tal “proeza” requer habilidade,
conhecimento, bom-senso, perícia e trabalho especializado. O trabalho multidisciplinar é
indispensável na hora de avaliar a criança com suspeita de alterações auditivas. Então, podemos
enfatizar e ter como guia que avaliação é a análise, a apreciação; é o exame em si, é a
estimativa que temos de algo.

Portanto, avaliação audiológica é detectar perdas auditivas ou alterações que

 
 

envolvam desde a captação sonora até lesões cerebrais localizadas no lobo temporal e
organização do córtex auditivo. É na avaliação audiológica que podemos estabelecer diagnóstico
diferencial tanto para perdas auditivas como para outros quadros patológicos. Na avaliação
audiológica infantil temos suporte para quantificar e qualificar a deficiência auditiva
precocemente, propondo auxílio no processo de (re) habilitação.
A avaliação audiológica infantil diferencia-se da do adulto. É necessário que o 73 
profissional tenha conhecimento do desenvolvimento infantil, experiência clínica e habilidade
para conduzir qualquer teste com crianças, sem esquecer que cada uma tem o seu jeito
individual de “SER” e de “AGIR”. Por isso é muito perigoso generalizar os atendimentos. O
processo de avaliação audiológico deve se adequado para cada caso, às vezes uma técnica
serve para a maioria das crianças, porém pode não se adequar a uma determinada criança.
De acordo com Russo e Santos (1994), avaliação audiológica é a observação das
respostas comportamentais da criança a estímulos acústicos em situação controlada. Para que a
avaliação seja validada, algumas exigências são feitas com relação ao profissional e são as
seguintes:
Experiência em realizar avaliação audiológica em adultos.
Experiência em observar respostas comportamentais globais e específicas a
estímulos acústicos.
Habilidade em manipular os instrumentos geradores de estímulos sonoros ou
equipamentos.
Reconhecer reações negativas e/ou positivas ao estímulo sonoro.
Aplicar diferentes técnicas de avaliação da audição em bebês e crianças pequenas.
Saber reconhecer o limite de cada criança.
Gostar verdadeiramente de criança.

Alguns fatores podem agir e prejudicar diretamente a avaliação caso o profissional


responsável pela avaliação audiológica não seja sensível ao ponto de respeitar as necessidades
e limites da criança. Na maior parte das técnicas a criança ativa e participativa é muito
importante para o resultado, pois se a criança está indisposta, não demonstra interesse ou
fornece pistas de que não está bem (está com fome, cansada, com sono, com sede, ou até
mesmo doente), os avaliadores devem ter bom-senso para que a avaliação seja remarcada, pois
caso contrário o profissional estará colocando em risco a veracidade dos resultados.

 
 

CRIANÇA ATIVA E PARTICIPATIVA

+
74 
HABILIDADE PROFISSIONAL = RESULTADO PRECISO

Para que as respostas não sejam interpretadas de maneira errônea é interessante


traçar um perfil do profissional que atua diretamente na avaliação audiológica – lembrando que
falaremos do audiologista, porém, este profissional é o fonoaudiólogo especialista em audiologia.
Este profissional em especial atua na identificação, avaliação e no manejo dos pacientes com
desordens auditivas e na prevenção da deficiência auditiva.

PROFISSIONAL CRIANÇA AVALIAÇÃO

Os fonoaudiólogos e/ou audiologistas irão utilizar seus conhecimentos para entender


os efeitos na comunicação, prepara o paciente para fazer mudanças na sua “vida”, “rotina”,
altera noções erradas e ensina novas habilidades de comunicação. O fonoaudiólogo que se
envolve diretamente com avaliação auditiva está diretamente ligado ao aconselhamento de
pacientes e familiares com relação ao que foi detectado na avaliação, além de poder estar à
frente da adaptação de próteses ou qualquer outra forma de reabilitação.
Ao iniciarmos a avaliação auditiva infantil, temos que nos ater em primeira-mão aos
pais. O início de tudo é questionar os pais sobre o porquê de estarem no consultório, enfim,
investigar os anseios da família (principalmente os familiares que estão diretamente envolvidos

 
 

com a criança a ser avaliada).


O profissional tem que estar ciente que a avaliação não é somente a realização do
procedimento, mensurar a audição ou localizar possíveis lesões. É de suma importância o
levantamento da história clínica (o valor da anamnese advém da formação e filosofia clínica do
profissional). Por isso, o fonoaudiólogo/audiologista, ou profissional que estiver realizando a
entrevista/conversa inicial com a família e criança, deve ter em mente que este primeiro contato 75 
é crucial para que avaliação audiológica tenha êxito e seja realizada com tranquilidade para
todos.

A American Speech-Language-Hearing Association e a Academia Brasileira de


Audiologia (ABA) atribuem ao audiologista a tarefa de atender às necessidades do ser humano
que apresenta uma perda auditiva real ou em potencial. A criança a ser avaliada tem que ser
vista de forma holística e não apenas suas orelhas, pois o conhecimento sobre seu passado, sua
história, seu comportamento social e suas atitudes, a preocupação dos pais são essenciais.
Para realizar uma boa anamnese friso ser essencial três pontos, que são:

Envolvimento dos pais – é necessário envolver ativamente os pais, fazer com que
eles se sintam importante no processo de avaliação, pois os pais são capazes de contribuir com
suas observações para o quadro global, além de que eles estando envolvidos, facilita na

 
 

aceitação dos achados e cooperação para possíveis tratamentos.


As técnicas escolhidas – a anamnese irá “sugerir” quais técnicas serão mais
apropriadas a cada caso.
Tempo – o tempo designado varia de acordo com as necessidades clínicas,
experiência e critério do serviço.
No entanto, existem várias maneiras de se conduzir uma anamnese, a sua aplicação 76 
irá depender do profissional, da instituição e dos procedimentos que foram estabelecidos para
cada centro ou clínica. Porém, não é recomendada para iniciar uma avaliação audiológica infantil
a modalidade PERGUNTA/RESPOSTA, onde o profissional não tem tempo de olhar nos olhos
do paciente/família (em alguns casos o paciente ainda está respondendo a primeira pergunta e o
profissional já passa para a segunda). Iniciar assim torna a avaliação fria e mecânica, levando à
possibilidade de respostas superficiais e à diminuição de respostas sinceras e verdadeiras.
Friso que o profissional deve entender profundamente o assunto, a fim de obter as
informações que o levarão a traçar a abordagem clínica mais adequada a cada caso
individualmente. A anamnese deve estar inserida no contexto emocional e psíquico que
possibilite o profissional angariar a confiança da família e da criança.
É interessante que a anamnese não seja guiada pelo questionário, onde o profissional
lê as perguntas para o paciente, pois isso torna o momento formal, podendo soar inabilidade do
profissional. O essencial é que o profissional saiba o que perguntar para a família (pais e
cuidadores), mesmo que antes ele tenha que memorizar, para tornar o momento informal e
“descontraído”.

Atenção 
Manter o 
Guia clínico sempre na 
foco
criança

Ser fiel ao guia clínico é peça chave para manter o foco sempre centrado nos
interesses da avaliação audiológica; assuntos alheios devem ser deixados de lado, cabendo ao
profissional manter o assunto focado, além de estar com a atenção voltada para a criança –

 
 

durante a entrevista a criança pode fornecer pistas do seu comportamento auditivo. Basicamente
as questões que o profissional deve abordar neste primeiro contato são:
Queixas atuais;
História médica, genética, da gestação ao parto;
História do desenvolvimento motor e dos aspectos sociais/educacional;
Descrição minuciosa da audição, fala e linguagem. 77 
A queixa é o principal ponto. A família irá relatar as suas preocupações, o seu real
motivo para a avaliação auditiva. A compreensão da queixa por parte do profissional é essencial,
as preocupações expostas pelos familiares têm que ser mutuamente compreendidas. Alguns
pais são capazes de verbalizar seus anseios de forma direta e objetiva, porém, há pessoas que
têm maior dificuldade de expor, motivo o qual devemos de forma sutil ter acesso a todas as
informações.
COLETAS DE DADOS
QUEIXAS

Em suma, o profissional irá iniciar colhendo os dados e/ou acrescentando os que


identifiquem o paciente; colocar exatamente o nome da pessoa que respondeu às perguntas na
entrevista inicial (informar a relação com a criança: tio/tia, irmã, babá, acompanhante, professora
e etc.), além dos seus anseios.

Seguem abaixo ilustrações com as informações necessárias:

 
 

FIGURA 22 – FORMULÁRIO DE ANAMNESE

78 

FONTE: THE CHILDREN’S HOSPITAL, Denver, USA; INES, Rio de Janeiro.

 
 

Após o primeiro contato colhendo dados, o profissional começa a realizar perguntas


sobre a história médica, que vai desde a gestação até o momento atual, dando ênfase às
doenças infecciosas, os medicamentos e antecedentes familiares. A história genética clínica da
gestação e parto fornece os dados que podem ser indicadores de problemas de audição, visão,
inteligência, linguagem e função motora.
79 
COLETA DE DADOS
HISTÓRIA MÉDICA

No módulo anterior foram descritas várias patologias que podem desencadear uma
deficiência auditiva. No momento da entrevista com a família, o profissional deve ter em mente
as patologias que potencializam uma perda auditiva, isso facilitará o desenvolvimento da
conversa, além de mantê-la objetiva. Logo em seguida você encontrará uma tabela com
indicadores de alto risco para a deficiência auditiva na infância:

NEONATOS 0 – 28 DIAS BEBÊS 29 DIAS – 2 ANOS CRIANÇAS PEQUENAS


História familiar de perda Atraso na linguagem e fala. História familiar de perda
auditiva. auditiva.
Rubéola, sífilis citomegalovírus, Ignora estímulos sonoros. Sífilis, citomegalovírus,
herpes e toxoplasmose. herpes, toxoplasmose e
rubéola
Anormalidade craniofacial. Meningite bacteriana. Neurofribromatose.
< 1500 gramas. Quedas, pancadas e traumas na Otite média recorrente.
cabeça.
Hiperbilirrubinemia. Sinais de síndromes. Deformidades anatômicas.
Medicamentos ototóxicos. Medicamento otótoxicos. Desordens neurovegetativas.
Meningite bacteriana. Otite média. X
Asfixia severa. Agentes quimioterapêuticos X
APGAR 0 – 4 (1ºm) e Infecções associadas à perda X
0 -6 (2ºm). auditiva.
Ventilação mecânica. X X

 
 

Síndromes associadas à X X
deficiência.

Na coleta de dados da história médica é importante perguntar sobre a família, se


alguém apresenta alterações na audição, fala, linguagem ou tem dificuldades de aprendizado. É
interessante que o examinador pergunte se os pais têm algum grau de parentesco ou se na 80 
família tem alguma criança com dificuldades no desenvolvimento da linguagem. Logo em
seguida você pode ver como podemos registrar na hora da entrevista.

COLETA DE DADOS
HISTÓRIA FAMILIAR

FIGURA 23 – COLETA DE DADOS

FONTE: THE CHILDREN’S HOSPITAL, Denver, USA; INES, Rio de Janeiro.

 
 

Como os dados da família em mãos, o profissional irá atentar-se à história da


gestação. É interessante perguntar se a mãe tem histórico de abortos (em que momento
aconteceu e quantos); se tem histórico familiar de natimorto.

FIGURA 24 – HISTÓRIA DE GESTAÇÃO E PARTO 81 

FONTE: THE CHILDREN’S HOSPITAL, Denver, USA; INES, Rio de Janeiro.

 
 

É interessante que a mãe relate as duas primeiras semanas de vida da criança, se em


algum momento houve algum dos seguintes problemas:
Icterícia ao nascimento;
Icterícia depois de dois ou três dias de vida;
UTI neonatal;
Dificuldades respiratórias; 82 
Convulsões;
Incubadora ou isolette;
Transfusão;
Alimentação por sonda;
Hemorragia;
Infecções;
Dificuldades de alimentação;
Choro (forte/fraco/alto);
Oxigênio;
Administração de líquidos;
Via intravenosa;
Medicamentos (quais?);
A criança ficou no berçário? Quanto tempo? Qual hospital?
É muito importante que o examinador pergunte aos pais se querem acrescentar algo
sobre a mãe ou a criança que possa auxiliar na realização da avaliação auditiva.

COLETA DE DADOS
HISTÓRIA CLÍNICA

Na coleta de dados da história clínica, em primeiro lugar devemos perguntar aos pais
se a criança teve alguma doença incomum, que não foi diagnóstica, ou se ela já esteve
hospitalizada (por quanto tempo, qual foi o motivo do internamento e quantas vezes). É
importante obter informações sobre possíveis intervenções cirúrgicas (qual procedimento,
quando, nome do médico e qual hospital).
No segundo momento perguntar se a criança já teve problemas de visão, ou se a
criança já foi avaliada e por qual médico, e qual foi o resultado desta avaliação visual? Frisar se

 
 

já houve avaliação auditiva anteriormente, quando e onde foi realizada. Nunca se esquecer de
registrar os nomes dos médicos que realizaram algum procedimento na criança e as datas (ao
menos o ano que foi realizado).

FIGURA 25 – HISTÓRIA CLÍNICA 83 

 
 

84 

FONTE: THE CHILDREN’S HOSPITAL, Denver, USA; INES, Rio de Janeiro.

Vida da  Informações  Indicação de 


criança consistentes riscos

Para melhor compreensão da perda auditiva é necessário um histórico simples da vida


da criança que forneça dados suficientes para revelar aspectos que indiquem o risco que a
criança correu ou venha a correr para desenvolver uma perda auditiva.
Na história médica podemos ficar atentos às patologias que forem diretamente ligadas
à deficiência auditiva, como a otite média, que é muito comum em crianças pequenas. Frisar
otalgia, prurido e secreções que possam ser da orelha média, pois a criança relata ao adulto de
forma imediata quando sente algum desses sintomas. O desenvolvimento motor da criança,
envolvendo as habilidades finas ou não, nos apoia na hora de elaborar a estrutura básica da
avaliação audiológica infantil.

 
 

COLETA DE DADOS
HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO MOTOR

Caso a criança apresente alguma deficiência física ou dificuldade motora, os exames,


assim como as técnicas e a condução da avaliação devem ser de acordo com as possibilidades
da criança. É importante citar os níveis de resposta que cada exame deve utilizar, pois 85 
dependemos de cada uma das reações abaixo para uma boa avaliação:
1. TRÊS PRIMEIROS MESES – reações corporais básicas, reação de startle (reflexo
de susto), contrações, despertar, parada temporária ou alterações do padrão respiratório regular,
alteração da frequência cardíaca ou de sucção.
2. TRÊS A SETE MESES – respostas corporais espontâneas e específicas, mudança
de direção do olhar, arregalar dos olhos, rotação de cabeça, aquietar-se e postura de quem
escuta.
3. 8 A 24 MESES – respostas simples aprendidas, virar em direção a uma luz
intermitente quando um som associado é apresentado (reflexo de orientação condicionada) ou
receber um reforço sempre que acerta a localização do estímulo (em geral um boneco que se
acende ou se movimenta, encontrado nas audiometrias de reforço visual).
4. DOIS A CINCO ANOS – respostas aprendidas elaboradas, colocar pinos no
encaixe (audiometria lúdica), apertar botões que ativam variedades de luzes e sons (painéis de
sons e luzes, aplicação de atividades auditivas no computador).
5. ACIMA DE CINCO ANOS – respostas adultas aprendidas, responde verbalmente
ou com movimento de mão (levantar a mão ou apertar o botão de resposta – pera/resposta).
Qualquer indício de distúrbio mental, visual, motor ou emocional deve levar o
profissional a adaptar a estruturação da avaliação; tanto as técnicas como o material devem ser
adequadas à criança, levando em conta suas habilidades motoras e intelectuais. O resultado do
exame está diretamente ligado à aplicação da técnica, por isso é importante conhecer sobre o
desenvolvimento da criança de forma geral.

 
 

FIGURA 26 – HISTORIA CLÍNICA

86 

FONTE: THE CHILDREN’S HOSPITAL, Denver, USA; INES, Rio de Janeiro.

Nos módulos anteriores foram descritos sobre audição, fala e linguagem para fosse
identificado os processos de aquisição da linguagem e houvesse entendimento claro e simples
sobre a importância da audição para o desenvolvimento da linguagem oral.

 
 

COLETA DE DADOS
HISTÓRIA DA FALA, LINGUAGEM E AUDIÇÃO

Obter dados sobre fala, audição e linguagem servem para enriquecer e confirmar o
exame formal. Os marcos do desenvolvimento da linguagem ou a ausência desses marcos pode
gerar informações cruciais para fechamento de diagnóstico. É interessante não subestimar 87 
nenhuma informação, pois todos os dados são interessantes.

FIGURA 27 – HISTÓRIA CLÍNICA

 
 

88 

FONTE: THE CHILDREN’S HOSPITAL, Denver, USA; INES, Rio de Janeiro.

Perguntar aos pais sobre a audição do seu filho ajuda-os a (re) pensar sobre a própria,
e isso pode ajudar tanto na hora de explicar e falar sobre os resultados da avaliação auditiva. Na
entrevista devemos incluir perguntas abertas e perguntas específicas, no qual as observações e
as impressões dos entrevistados sejam trazidas à tona e sejam aproveitadas.

 
 

COLETA DE DADOS
HISTÓRIA SOCIAL, COMPORTAMENTAL E EDUCACIONAL

Coletar dados sobre o comportamento social e educacional da criança nos fornece


dados sobre o ambiente familiar. Podemos obter informações de situações que nos faz pensar e
criar ideias de como é e foi a estimulação que a criança recebeu; se a família é atenta ao 89 
comportamento da criança.

FIGURA 28 – HISTÓRIA CLÍNICA

 
 

90 

FONTE: THE CHILDREN’S HOSPITAL, Denver, USA; INES, Rio de Janeiro.

 
 

Um ambiente familiar rico em estimulações leva ao profissional tomar outra posição na


hora de realizar alguma orientação. As condições do âmbito familiar apresentam impacto
significativo no desenvolvimento da criança. O nível escolar materno e paterno correlaciona o
desenvolvimento intelectual da criança e é normalmente utilizado como índice do padrão
socioeconômico.
As informações sobre o LAR e a ROTINA da criança facilitam a identificação da 91 
necessidade de programas de apoio (ajuda psicológica para família ou somente para criança,
apoio educacional especial como desenvolvimento da LIBRAS, uma assistência social e/ou
outros encaminhamentos).
Portanto, a história social deve fornecer pistas de comportamentos indesejados que a
criança possa ter no seu cotidiano e que possam de alguma forma impedir sua adaptação na
sociedade, além de ajudar no planejamento da (re) habilitação caso seja necessária. Logo em
seguida encontrará alguns pontos importantes sobre a história social, comportamental e
educacional da criança na hora de avaliar a audição da criança.
De acordo com Russo e Santos (1994), os princípios básicos que regem uma boa
avaliação audiológica infantil são:
Simplicidade – o método mais simples e que obtiver as respostas necessárias é o
melhor.
Flexibilidade – o examinador não deve ser o defensor desta ou daquela técnica
específica, mas deve ser o defensor da melhor técnica para cada criança que está sendo
avaliada.
Adequação – usar o recurso e/ou técnica adequada para cada criança, em função
de sua faixa etária, de seu desenvolvimento intelectual, suas possibilidades motoras e visuais.
O trabalho realizado só alcançará sucesso se o profissional criar um clima de
confiança, amizade e cordialidade, onde a criança se sentirá segura, relaxada e disposta a
colaborar. O momento da entrevista gera uma aproximação entre o examinador e a criança, pois
as crianças que já têm certo entendimento podem ver que o local não se caracteriza como
“hospital”, assim, a tensão vai embora e a facilidade aparece.
Existem dados que o profissional deve ficar atento, pois facilitará na organização e
gerenciamento do atendimento. Abaixo citamos os seguintes pontos:
Idade cronológica da criança – Isso permite a seleção do material, além de
estabelecer um fator de comparação entre as respostas fornecidas pela criança.

 
 

Idade mental – primordial observar se a idade cronológica da criança é compatível


com a idade mental.
Estado neurológico – o desenvolvimento motor e perceptual deve ser analisado,
pois se deve ter muito cuidado na hora de propor atividades à criança; ter o cuidado para que a
avaliação não deixe a criança frustrada e desestimulada.
Motivação – motivar é essencial para que se consiga qualquer coisa de uma 92 
criança, o interesse dela em participar facilita a aplicação de qualquer técnica.
Estado fisiológico – ser sensível para perceber as condições de saúde da criança e
necessidades básicas (sono, fome e etc.).
Estado psicológico – a criança insegura, assustada, pressionada e traumatizada por
experiências anteriores, pode dificultar na realização dos testes, fazendo com que o examinador
não tenha resultados confiáveis, motivo pelo qual é importante a presença da mãe para servir
como ponto de apoio e proteção para a criança.
Falamos anteriormente sobre a aplicação da entrevista com os pais e/ou familiares,
vimos que o primeiro contato com família irá criar um vínculo entre examinador, criança e família.
A anamnese fornece dados específicos ou não da criança que auxilia nas condutas posteriores,
por isso é interessante citar alguns pontos importantes na hora da aplicação dos exames, veja :
Equipamento – para avaliação auditiva audiológica infantil o profissional deve estar
equipado com instrumentos musicais (frequência baixa, média e alta, que facilitem a intensidade
fraca, média e forte), audiômetro, caixas acústicas (campo livre), fones/vibrador ósseo,
imitanciômetro, emissões fotoacústicas e Bera. Os dois últimos servem para diagnóstico
diferencial.
Material lúdico – objetos que sirvam de reforço para a criança, bonecas, carrinhos,
jogos, encaixes, lápis de cor e etc.
Ambiente de teste – a sala deve ser acusticamente tratada, ampla, clara, sem
estímulos visuais que possam chamar atenção da criança. As pessoas que estiverem na sala,
que irão atuar na avaliação da criança, não devem estar de branco.
Reforço – recompensar a criança é uma forma positiva, expressões do tipo “você foi
muito bem”; “você está ótima”; “puxa, como você é esperto” podem ajudar muito. Sorrir, realizar
gestos de afirmação também incentivam a criança. No final da avaliação pode-se premiar a
criança com bombons, pirulitos ou mesmo uma etiqueta adesiva que indique que ele fez um bom
trabalho.

 
 

Estímulo acústico – necessita do domínio do examinador, pois é essencial o


conhecimento do espectro acústico do estímulo sonoro que será usado.

Criança 93 

Pais Examinador

Avaliação 
Auditiva 
Infantil

5.1 AVALIANDO CRIANÇAS DE ZERO A SEIS ANOS

Vale salientar que nenhuma das técnicas, ou dos recursos existentes e utilizáveis, é
considerada melhor que outra. O segredo para o sucesso nos resultados da avaliação
audiológica infantil será sempre a experiência do examinador, além do uso de vários métodos.
Segundo Dows & Northern (1985), não existe substituto para a experiência de se testar crianças;
é fundamental que o examinador tenha sempre em mente que só com a observação repetida
das diferentes técnicas, nas diferentes crianças, é que a experiência é adquirida.
É de extrema importância para o bom desempenho da avaliação auditiva
comportamental:
Relacionamento cordial com a mãe, além da sua presença na sala de teste;
Inserir a criança no contexto, perguntar se ela quer participar e dizer o que ela deve
fazer;
ACREDITAR NA RESPOSTA DA CRIANÇA.

 
 

Crianças difíceis necessitam de maior atenção, conforto e amor, pois a avaliação


audiológica em bebês e crianças pequenas provavelmente é o primeiro momento em que os pais
se deparam com a possibilidade do filho apresentar alguma alteração, que se não for diagnóstica
e tratada pode levar a criança a ter sérias dificuldades; isso deixa os pais ansiosos e com
receios.
Os testes que podem ser aplicados para esta faixa etária são os seguintes: 94 
Audiometria de observação do comportamento;
Teste de BOEL;
Audiometria Condicionada;
Audiometria Lúdica.
Foi descrito pela primeira vez por Sir Alexandre e Lady Ewing, em 1944, em
Manchester na Inglaterra, um teste os quais eram usados objetos/instrumentos sonoros para
obter resposta de orientação nas crianças. As respostas que serão analisadas são as seguintes:
movimentos dos olhos e rotação de cabeça em direção ao som.
A audiometria de observação do comportamento é baseada primordialmente na
observação das respostas do comportamento da criança ao estímulo sonoro. As respostas
reflexas mais comuns são:

Reflexo 
Reflexo 
cocleopal
pebral de moro

Despertar 
do sono

Temos que ter muito cuidado com os reflexos de susto e de acordar, pois eles tendem
a desaparecer à medida que se repete o estímulo sonoro. A avaliação comportamental é um
teste escolhido para crianças de zero a dois anos, pois evidencia a produção de uma resposta

 
 

de orientação/localização ao som, usando objetos/instrumentos sonoros. Segue abaixo como


proceder na aplicação do teste:
No caso de ausência de resposta, o examinador deve repetir o estímulo até que o
observador tenha certeza de que o fracasso da resposta é real.
Duas repetições devem ser suficientes.
Reflexo cocleopalpebral ausente sugere um intervalo de 30 minutos entre as 95 
apresentações; a repetição deve ser feita em estado de alerta.
O fracasso da criança em localizar o som nem sempre é porque ela não ouviu.
Levar em conta o desinteresse da criança de algum som em particular.
Muito cuidado nos bebês de três e quatro meses: eles costumam fixar o olhar em
determinados pontos ou faces e não reagem ao estímulo – sugestão: quebrar o “encantamento
visual”.
Os critérios para julgamento dos resultados é individual.
A ausência de resposta não significa uma perda auditiva, sugere apenas que o seu
comportamento auditivo não está normal (verificar a razão).
O fracasso nas respostas deve referenciar a criança para uma avaliação
audiológica completa.

5.2 AVALIANDO BEBÊS DE ZERO A QUATRO MESES

Os neonatos devem ser colocados em posição facilitadora, de forma que o bebê seja
elevado aproximadamente 20 graus em supino, com a cabeça na linha média, apoiada pela mão
do examinador, livre para girar. É essencial que o estado de vigília, no qual os olhos dos bebês
estejam totalmente abertos e brilhantes, a movimentação corporal seja reduzida e toda a
atenção deve estar canalizada para “ver e ouvir”.
A apresentação do estímulo deve ser aleatória, à esquerda ou à direita da cabeça do
bebê, a uma distância de 7 cm, num ângulo de 90 graus fora do campo de visão periférica do
neonato. Os estímulos devem ser apresentados na ordem crescente de intensidade. Os
instrumentos de intensidade fraca/média devem ser expostos de forma contínua e com longa
duração (mínima de 6 e máxima de 20 segundos). Os sons fortes devem ser apresentados de

 
 

forma súbita com outra duração; nos casos de ausência de resposta à primeira apresentação, os
estímulos devem ser repetidos por mais duas vezes. O intervalo dos estímulos varia de acordo
com as condições do bebê, retorne sempre a cabeça do bebê à linha média.
Não apresente estímulo quando a criança estiver agitada, chorando, bocejando ou
realizando algum movimento.
96 

IMPORTANTE
Estado de vigília;
Movimentação corporal reduzida;
Apresentação do estímulo aleatória;
Intervalo de apresentação do estímulo;
Não apresente estímulo se a criança realizar algum movimento.

Os critérios de respostas devem ser registrados independente do lado ou número de


apresentações (máximo de três tentativas). Para cada objeto apresentado será anotada somente
uma resposta.

IMPORTANTE
Registrar somente respostas nítidas e claras;
Respostas duvidosas devem ser registradas com ausência de resposta;
Na dúvida, descarte a resposta.

De acordo com Russo & Santos (1994), o recém-nascido deverá estar alimentado,
limpo, vestindo pouca roupa ou aquela que lhe permita ampla movimentação, a fim de que os
observadores possam avaliar adequadamente suas respostas, excluindo as movimentações ao
acaso. Nos neonatos, a testagem deve acontecer no próprio berçário para garantir as condições
de temperatura e higiene, além do mínimo de ruído.

 
 

5.3 AVALIANDO AS CRIANÇAS DE QUATRO A VINTE QUATRO MESES

A criança deve estar sentada no colo da mãe, afastado do seu peito, a fim de que haja
um espaço entre ela e as costas do bebê. O examinador deve se posicionar a 90 graus da linha
média (ao lado da criança) com um objeto em uma das mãos, a fim de atrair sua atenção para 97 
frente, passando a outra mão através do espaço atrás do bebê e realizando a emissão do lado
oposto onde se encontra.
A criança deve estar em estado de vigília, os estímulos devem ser apresentados de
foram crescente de intensidade, de forma aleatória, a uma distância de 7 cm e máxima de 15 cm
do pavilhão auricular (a distância vai variar de acordo com o autor que o examinador preferir).
Os estímulos de fraca e média intensidade devem ser apresentados iguais ao período
dos neonatos, podendo diminuir a duração. Os estímulos de forte intensidade continuam a ser
apresentados de forma súbita e de curta duração. Os intervalos entre as apresentações sonoras
são maiores em crianças menores. No sexto mês em diante as apresentações devem ser em
sequência rápida, o intervalo será apenas para que o examinador troque de instrumento ou
recobre a atenção da criança para nova apresentação, levando em média cinco segundos.
Para verificar a rapidez e exatidão das respostas, pode ser aplicada a técnica de
apresentação “pingue-pongue”, de modo que o examinador manipula dois emissores em pontos
diferentes, com o intervalo de meio segundo da apresentação entre eles. Para tanto, é
necessário que ele tenha em cada uma das mãos, previamente, os objetos.
As respostas devem ser registradas independentemente do lado ou número de
apresentações; deve ser observada sempre a primeira reação ao estímulo. As respostas de
localização ao som podem ser consideradas positivas em virtude de uma movimentação
completa da cabeça em direção à fonte sonora, sem esquecer que o critério é qualitativo.
É importante lembrar que nesta técnica você obterá apenas uma estimativa da
resposta da melhor orelha, não sendo possível individualizar os limiares mínimos de audibilidade
para cada orelha. Apesar desta limitação, podemos de forma eficiente diferenciar entre o normal
e o patológico.

 
 

IMPORTANTE

A criança deve estar sentada no colo da mãe;


O examinador deve estar ao lado da criança;
A criança deve estar em estado de vigília; 98 
As respostas são registradas independentes do lado ou número de apresentações.

Entre o primeiro e o terceiro mês pode ser mais difícil ver uma resposta auditiva do que
logo após o nascimento, desta forma, este período deve ser evitado. Alguns autores sugerem o
período de regressão das condutas automáticas presentes ao nascimento, como as respostas de
orientação ao som, com início da atividade cortical, até o aparecimento da função de localização
em torno dos quatros meses.

4º  6º 
mês mês Respostas de 
localizações 
Giro  precisas;
rudimentar da 
cabeça em 
direção aos  Respostas 
estímulos. reflexas 
diminuem.

9º  12º 
mês Obtenção  mês
de 
respostas  Rapidez e 
rápidas  exatidão em 
para todos  todos os 
os  estímulos.
estímulos.

 
 

É essencial que o examinador, ao final da avaliação, encaminhe a criança para um


serviço especializado de Audiologia Infantil, caso seja identificado qualquer desvio.

IMPORTANTE NOS BEBÊS DE 2 A 3 MESES


99 
Observar se sorri como resposta quando alguém fala ou sorri para ele;
Faz contato direto com os olhos quando alguém se refere a ele prazerosamente.

IMPORTANTE NOS BEBÊS DE 4 A 9 MESES

Deve ser capaz de seguir visualmente um objeto colorido quando ele se move de um lado para o
outro.

IMPORTANTE NA CRIANÇA A PARTIR DOS 10 MESES

Deve ter medo de ir ao colo de estranhos.

O uso clínico de brinquedos sonoros, instrumentos musicais ou ruído ambiente tem


grande valor em uma etapa inicial de um processo de avaliação audiológica, porém, cuidados
devem ser tomados na hora da aplicação do teste, pois a força e a distância do instrumento em
relação ao ouvido da criança é peça-chave na observação comportamental. Aconselha-se o uso
de um decibelímetro para auxiliar o monitoramento do nível de intensidade gerado pela fonte.
O registro das respostas observadas é realizado em formulário específico, para que
depois o profissional elabore um relatório final de avaliação audiológica. É interessante que o
profissional conheça os espectros sonoros e o material que pode ser usado na avaliação. Veja
ilustrações abaixo:

 
 

FIGURA 29 - ESPECTROS SONOROS

100 

FONTE: RUSSO & SANTOS: Audiologia Infantil, 1994.

FIGURA 30 - KIT AUDITIVO

FONTE: RUSSO & SANTOS: Audiologia Infantil, 1994.

 
 

FIGURA 31 - MATERIAL DE USO CLÍNICO

101 

FONTE: RUSSO & SANTOS: Audiologia Infantil, 1994.

Para finalizar é feito um relatório completo da avaliação comportamental; o examinador


documentará todo o processo de avaliação explicitando o comportamento auditivo, a atuação da
criança no momento do teste (se foi participativa ou não), os procedimentos usados na testagem
e no desenvolvimento global da criança; além de constar possíveis distúrbios
motores/fala/linguagem/conduta/compreensão que a criança possua ou tenha apresentado
durante o exame. É de suma importância que no relatório seja citado sobre a capacidade de
concentração da criança, sobre as relações sociais (como foi estabelecida?), como é a
comunicação da criança (oral e/ou gestual?). Portanto, o relatório será uma descrição fiel da
criança e de como usa a audição.

 
 

Vale salientar que a criança que falhar nos testes comportamentais deve ser
encaminhada para avaliação por meio de métodos objetivos. O fonoaudiólogo/audiologista é
responsável pelo diagnóstico e deve garantir o acesso do paciente (pais e familiares) ao
diagnóstico médico realizado pelo ORL (otorrinolaringologista) e pelo pediatra.

102 
5.4 TESTE DE BOEL

O teste de BOEL foi preparado por Karin Stensland Junker, cuja sigla significa “o olhar
guiado pelo som”. Tal teste consiste em um equipamento especializado que serve não apenas
para avaliar a audição, mas o desenvolvimento perceptual, motor, visual, além de criar uma
atmosfera entre o examinador e a criança. A testagem é feita em bebês de 7 a 10 meses de
idade; ele irá avaliar a capacidade de atenção ou do reflexo de orientação (capacidade de
escolher e focalizar sua atenção de um estímulo para outro).
Avaliar

Avaliar

Avaliar

Audição Percepção Atenção e 


Orientação

O material utilizado para realizar o teste de BOEL é basicamente um bastão vermelho


de madeira, quatro pequenas fontes sonoras (dois sinos, dois guizos de prata presos em anéis)
e um móbile de prata. A seguir, uma figura ilustrando o material:

 
 

FIGURA 32 - MATERIAL USADO PARA O TESTE DE BOEL

103 

FONTE: RUSSO & SANTOS: Audiologia Infantil, 1994.

IMPORTANTE PARA AVALIAÇÃO


INSTRUMENTO DECIBEIS DISTÂNCIA

PEQUENO SINO 45 – 55 dB NPS 20 cm

PEQUENO GUIZO 35 – 45 dB NPS 20 cm

Para aplicação e o bom desempenho do teste de BOEL temos que ter na teoria e na
prática pontos fundamentais para que a criança colabore e o exame tenha validade. Seguem
abaixo pontos interessantes para a realização do exame:
Informações gerais e específicas sobre o bebê; os pais devem relatar de forma
“precisa” o desenvolvimento da função visual e auditiva (anamnese/entrevista minuciosa).
O teste só deverá começar com o contato de olho estabelecido; o examinador
movimentará o bastão de madeira vermelho (para frente e para trás, depois horizontalmente e
verticalmente)
A capacidade de a criança orientar-se para a fonte sonora; o examinador deve
apresentar um dos estímulos sonoros (de forma discreta e a 20 cm atrás da orelha da criança).

 
 

O movimento de cabeça para a fonte sonora deverá ser bastante claro (sem
dúvidas) para que seja considerado positivo.
As respostas deverão ser anotadas para cada som isoladamente e para cada lado.
Deve ter cuidado para que o contato visual não seja perdido.

O critério final para que seja considerado o exame positivo é que a criança deve virar a 104 
cabeça para quatro dos cinco sons apresentados. Se a criança responde a menos de quatro
estimulações ou simplesmente não responde, a avaliação será negativa.

5.5 AUDIOMETRIA CONDICIONADA

A técnica mais conhecida é a de dois pesquisadores japoneses: Suzuki e Ogiba


elaboraram a técnica de condicionamento do reflexo de orientação (COR – Conditioned
Orientation Reflex). Baseia-se na apresentação de um estímulo visual estranho à criança; ela
tende a procurar a fonte ou a origem do estímulo (reflexo não condicionado) – associamos este
reflexo a um tom puro. A criança irá procurar a fonte sonora (o som) sem depender da
estimulação visual apresentada. Seguem abaixo pontos importantes para a realização da
audiometria condicionada:
Equipamentos – duas caixas acústicas, duas bonecas de vinil iluminadas ou
qualquer estímulo visual iluminado.
Um dispositivo de controle (controlar a saída do som e luz do boneco).
Audiômetro convencional com saída para as caixas acústicas.
A criança deve estar sentada no colo da mãe a uma distância de aproximadamente
50 cm do equipamento de teste.
O estímulo sonoro (tom de frequência média ou grave – 500Hz ou 1000Hz) a 30 ou
40 dBs.
O tom apresentado deve durar cinco segundos, seguido de intervalo de um
segundo, então é apresentado o estímulo visual.
O estímulo visual e sonoro deve ser apresentado alternando os lados, até que a
criança procure a fonte sonora antes mesmo que o boneco acenda.

 
 

O estímulo visual é retirado quando a criança localiza a fonte sonora sem a sua
ajuda, então pode iniciar a pesquisa do mínimo de audição para a frequência.
A cada quatro ou cinco estímulos sonoros apresentados, ou para uma nova
frequência, deve ser apresentada a combinação luz/tom (reforçar o comportamento da criança).
A sala onde acontecerá o teste tem que estar de acordo com as necessidades
propostas pela técnica; uma sala ampla, com os equipamentos bem localizados. Deverá haver 105 
uma janela para que o examinador, durante o exame, possa monitorar e orientar caso seja
preciso. A seguir será mostrada uma ilustração da disposição de equipamentos, profissional e
paciente.

FIGURA 33 - SALA DE EXAME PARA O BOM DESEMPENHO DA AUDIOMETRIA


CONDICIONADA

FONTE: Autor Desconhecido.

As respostas são levadas em consideração quando a criança movimenta a cabeça em


direção à fonte de estimulação. Esta técnica permite que o examinador tenha respostas mais
rápidas, além da obtenção do nível mínimo de resposta a tom puro (em campo livre)
representando a audição do ouvido melhor.
Porém, podemos usar fones de ouvido (dependendo da criança, sua aceitação) e
manter a relação luz/tom (apresentações alternadas), assim será obtido o nível mínimo de
resposta para cada ouvido (pesquisa separada).

 
 

O sucesso da avaliação irá depender diretamente de um profissional que respeite o


tempo de atenção e concentração da criança e que seja capaz de convencê-la a continuar
brincando de maneira lúdica e passiva. Avaliar crianças não é fácil, o profissional deve estar bem
preparado, ser paciente e ter cautela na hora de escolher as técnicas, mesmo a criança tendo
idade cronológica e mental compatível e seja capaz de realizar uma audiometria lúdica, mas se
ela não está a fim de colaborar, o examinador deve, se precisar começar do “zero”, iniciar uma 106 
avaliação comportamental, depois campo livre e assim por diante.
O importante é que se consiga avaliar estas crianças o quanto antes, para detectar
possíveis alterações e realizar os encaminhamentos.

5.6 TESTES OBJETIVOS

Os testes objetivos não requerem nenhuma resposta comportamental por parte do


paciente, sendo rápido e fácil de aplicar. No entanto, os exames têm que estar ajustados para
crianças. Geralmente, crianças que não cooperam para a realização de exames
comportamentais, que necessitem deles diretamente, irão se beneficiar com os exames
objetivos.
A imitanciometria é um exame objetivo, de fácil aplicação e tem como função medir a
integridade do sistema tímpano-ossicular e a via do reflexo do estapédio. A aplicação da
imitanciometria em crianças é para medir objetivamente a mobilidade da membrana timpânica, a
pressão do ouvido médio; identifica perfurações da membrana timpânica, confirma desobstrução
dos tubos de ventilação na membrana timpânica, além de calcular a complacência estática
(diferencia a fixação do ouvido médio da desarticulação).
É neste teste que temos a oportunidade de testar e medir objetivamente patologias
cocleares e perdas auditivas condutivas. Vale salientar que a pesquisa da via do reflexo
estapédio é muito importante para um diagnóstico diferencial, pois ele abrange estruturas que
vão desde a orelha média até o tronco encefálico.
Existem crianças que apresentam audição normal a avaliações audiológicas
(comportamental, audiometria tonal/vocal), mas os pais, professores e até mesmos as próprias
crianças relatam não compreenderem o que as pessoas falam. Alguns pacientes relatam não

 
 

entender quando estão em lugares ruidosos ou manter a atenção auditiva (algumas crianças são
estigmatizadas por serem preguiçosas, desinteressadas, etc.). No entanto, tais crianças podem
estar com dificuldades no processamento da audição, motivo pelo qual devemos estar atentos a
casos que aparentemente considera-se não ser “nada”, ou está “está tudo normal”.
As otoemissões acústicas são testes que não precisam da participação da criança;
caracterizados pelos sons de baixa intensidade gerados pela cóclea e transmitidos para a orelha 107 
média e canal auditivo. É um teste de aplicação recente que vem despertando o interesse de
vários profissionais, informa sobre o funcionamento do órgão de Corti e do sistema eferente
auditivo.
É um exame muito útil no procedimento de triagem auditiva, pois quando está presente
indica o ouvido ou ouvidos em que a função coclear é normal, e quando está ausente indica que
a função coclear não é normal, embora não determine o grau do comprometimento auditivo. O
BERA, audiometria de tronco encefálico, não é caracterizado como um teste de audição, porém
tem grande importância no contexto do diagnóstico clínico neurológico e audiológico, aferindo os
limiares auditivos de forma objetiva (sem a participação da criança).
É um procedimento rápido, não invasivo e é um método de avaliação funcional. Nas
aplicações auditivas o BERA é indicado para estimar limiares auditivos sem a colaboração do
paciente; é o exame eletrofisiológico mais consagrado para aferir a audição objetivamente, mas
possui limitações (mensurar a audição nas frequências entre 2000 Hz e 4000 Hz).
Vale ressaltar que o BERA é um exame confiável, seguro, rápido, não invasivo, muito
útil quando integrado a outros testes audiológicos.

5.7 PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL

O processamento auditivo central são os mecanismos e processos do sistema auditivo


responsáveis por:
Localização e lateralização do som;
Discriminação auditiva;
Reconhecimento de padrões auditivos;
Aspectos temporais da audição;

 
 

Mascaramento, integração e ordenação temporal;


Performance auditiva com sinais acústicos competitivos;
Performance auditiva com sinais acústicos degradados.

Portanto, conceituamos o Processamento Auditivo Central (PAC) como o conjunto de


habilidades específicas das quais o indivíduo depende para interpretar o que ouve. 108 

Atenção Discriminação Associação

Organização 
Integração
da saída

Os distúrbios do Processamento Auditivo Central (DPAC) podem afetar a criança no


seu meio social, na linguagem e na audição. A criança fornece pistas, manifestações
comportamentais que indicam sua presença; as principais são as seguintes:
Distúrbio articulatório;
Erros de concordância;
Dificuldade na aprendizagem da leitura e escrita;
Distúrbios na aquisição da linguagem;
Dificuldade em manter a atenção a estímulos puramente auditivos;
Solicita constantemente que se repita o que foi falado;
Dificuldades em compreender conceitos verbais e relacioná-los a conceitos visuais
e/ou ideias;
Discriminação dos sons da fala prejudicada;
Falha de memorização das mensagens ouvidas;
Dificuldades na organização e sequencialização de estímulos verbais e não verbais;
Aprendizagem insuficiente quando restrita ao canal auditivo.

 
 

Os objetivos de avaliar o processamento auditivo central são determinar a presença ou


não de distúrbios; descrever o parâmetro e extensão desses distúrbios; avaliar os efeitos da
maturação do sistema nervoso auditivo central; detectar e identificar o local da disfunção auditiva
central; ressaltar as habilidades preferenciais para aprendizagem; e estabelecer diretrizes e
critérios para a elaboração do programa de reabilitação.
Para participar de um teste de processamento auditivo central a criança tem que 109 
apresentar média tonal até 40 dB NA, com simetria dos limiares entre as orelhas; o índice de
reconhecimento de fala (IPRF) é de no mínimo 70% (a diferença entre os índices não pode
ultrapassar 20%). A criança dever ser capaz de compreender as instruções dadas pelo
examinador no momento do teste, além da habilidade de linguagem receptiva e emissiva e a
faixa etária (cada teste tem dados normativos para determinada faixa etária).
As condições básicas para a realização deste exame são: audiômetro de dois canais,
que permita a saída ipsilateral dos estímulos acústicos, calibração periódica do equipamento, um
reprodutor de CD, calibração diária dos CDs utilizados e qualidade acústica do CD. Neste
módulo o objetivo foi caracterizar a avaliação auditiva, porém é um tema bastante vasto,
complexo e minucioso. Foram citados testes subjetivos e objetivos, porém o mais importante é
você tenha em mente que identificar somente a presença ou não de perda auditiva ou de algum
distúrbio não é suficiente, é necessário que se faça encaminhamentos e que seja fechado
diagnóstico, pois AVALIAR É APONTAR CAMINHOS E SOLUÇÕES.

6 (RE) HABILITAÇÃO DA CRIANÇA COM DIFICULDADES AUDITIVAS

Com o avanço da tecnologia e da ciência, pesquisas revelam com mais firmeza e


clareza que crianças com perdas auditivas ou alguma dificuldade na audição podem adquirir
habilidades de linguagem similar às crianças com audição normal, se o diagnóstico e a
intervenção forem feitas até os seis anos de idade. De acordo com Almeida (2001), uma criança
com deficiência auditiva pode ter um desenvolvimento da linguagem e do aprendizado
semelhante ao do ouvinte, desde que seja devidamente estimulado; por outro lado, a reabilitação
inadequada, insuficiente ou tardia pode representar déficits irreversíveis.

 
 

(Re) 
Habilitação

110 

Criança Linguagem

O diagnóstico das deficiências de audição é realizado a partir da avaliação médica e


audiológica; a obtenção do diagnóstico é resultado de uma cooperação de vários especialistas. A
primeira suspeita, às vezes, se dá na triagem neonatal; quando isso não acontece a família
começa observar a ausência de algumas respostas no comportamento auditivo (a criança é
muito quieta, não responde e/ou se assusta com sons intensos, dorme muito, mesmo em
ambiente com muito ruído) à medida que vai crescendo. Pais atentos percebem logo que há algo
errado, porém muitos só procuram atendimento quando a criança já está com mais idade e não
desenvolve a linguagem de forma satisfatória.
Em suma, a busca pelo diagnóstico também poderá ser originada a partir dos
programas de prevenção das deficiências auditivas na infância, como o registro de fatores de
risco e triagens auditivas. É muito importante que a criança mesmo antes de sair da maternidade
tenha sua audição avaliada, pois a luta contra o tempo começa no momento da alta hospitalar,
para que o prognóstico e a terapia se realizem o quanto antes. O pediatra é o médico que terá o
primeiro contato com a criança, ele encaminhará a criança ao otorrinolaringologista, onde o
processo de avaliação se intensifica e a busca pelo diagnóstico acontece.
De acordo com Katz (1999), a intervenção precoce contribui para resultados positivos
no desenvolvimento da linguagem; as crianças que são diagnosticadas antes de um ano de vida
apresentam mais habilidades verbais e um vocabulário satisfatório aos cinco anos de idade, do
que crianças que não foram diagnosticadas tardiamente. No entanto, antes de iniciarmos no
assunto reabilitação, frisamos um fator que contribui significativamente na intervenção
audiológica: “o grau de envolvimento dos pais” (fator decisivo e muito importante, principalmente

 
 

quando o diagnóstico/intervenção é realizado quando a criança já está com idade avançada).


Avaliar, diagnosticar e intervir são tão importantes quanto oferecer suporte familiar
precoce; o atendimento multidisciplinar faz valer as necessidades de todos os envolvidos quando
se trata de deficiência auditiva. O acompanhamento deve ser integral para que a intervenção
tenha êxito. Realizada a avaliação auditiva, o fonoaudiólogo tem em suas mãos o diagnóstico, o
primeiro passo para uma intervenção. Jakubovicz (2002) afirma que ao longo dos tempos o 111 
tratamento da criança deficiente auditivo vem sofrendo enormes modificações. De acordo com
Northern & Downs (1985), não existe um único método, técnica ou caminho terapêutico ou
educacional que seja uniformemente aplicável para todos os deficientes auditivos.
O terapeuta deve ser imparcial na direção do método ou filosofia, deve considerar
somente aquilo que melhor assegure o máximo de desenvolvimento da criança. As abordagens
terapêuticas não devem converter a criança surda em uma criança que tem audição, mas
convertê-la numa criança inserida no mundo social, uma criança ajustada, capaz de manobrar as
limitações sem controvérsias.

Criança 

Meio 
Social
Para que a criança consiga equilíbrio e inserir-se no meio social, Lacerda (2000) afirma
que é essencial a transparência aos modelos de atendimentos terapêuticos oferecidos à criança

 
 

surda, à concepção de linguagem que permeia cada um deles e às consequências trazidas pela
opção de uso de cada uma das abordagens disponíveis. No entanto, os pais e familiares devem
ter conhecimento sobre os métodos abordados na reabilitação do deficiente auditivo, podendo a
família, como em qualquer outro atendimento na área de saúde, optar ou não pelo tratamento
segundo o método escolhido pelo profissional.
Os métodos existentes são muitos e cada um com suas peculiaridades, porém serão 112 
abordadas as formas de trabalho, filosofias, propostas pedagógicas, métodos e técnicas mais
utilizadas:
ORALISMO PURO – não é permitido gestos. O objetivo é chegar à oralidade, expor
a criança ao máximo à língua falada.
ESTIMULAÇÃO AUDITIVA – a criança surda deve ser exposta à língua falada e
usar sempre aparelho de amplificação sonora, além do treinamento auditivo. O primeiro passo é
o treinamento de atenção para a leitura orofacial e inclui elementos sonoros isolados,
combinações de sons (ba, be, pa, e etc.), palavras e finalmente a fala. Os pais são encorajados
para dar continuidade ao tratamento em casa, por isso a família é inserida no planejamento
terapêutico, dentro das orientações e participação da terapia. Não é permitido o uso de gestos.
MÉTODO MULTISSENSORIAL/UNIDADE SILÁBICA – é realizado de forma
semelhante ao anterior, acrescentando a leitura e a escrita das formas ortográficas da língua.
Neste método há estimulação intensa da audição, visão e tato (combinado a determinados
sons), não sendo permitido o uso de gestos. O aparelho auditivo tem que ser colocado antes de
iniciar o tratamento (ou ser providenciado, o quanto antes).
MÉTODO UNISENSORIAL OU ABORDAGEM AURAL – um programa de
reabilitação que envolve a família e enfatiza o treinamento auditivo sem nenhum ensino formal
de leitura orofacial ou uso de gestos. Esta abordagem depende de diagnóstico, orientação
familiar, indicação e adaptação de amplificação sonora individual o mais cedo possível, assim
como da exposição total à estimulação da linguagem oral. Enfatiza os restos auditivos e baseia-
se no desenvolvimento de uma capacidade muito prejudicada; o deficiente auditivo não é visto
dentro de suas possibilidades e de sua diferença, mas no que lhe falta e que deve ser corrigido
de qualquer forma para que ele possa se integrar e ser “normal”.
MÉTODO GESTUAL – neste método temos duas correntes, o método combinado e
o simultâneo. Uso do alfabeto manual combinado a gestos para a comunicação e o uso dos
gestos em combinação com a linguagem oral, a leitura labial e o aparelho auditivo.

 
 

COMUNICAÇÃO TOTAL – como o nome já diz, o importante é se comunicar, não


importa como. A comunicação não é apenas uma escola, mas uma filosofia educacional que tem
como principal preocupação os processos comunicativos entre surdos e surdos, surdos e
ouvintes.
MÉTODO LING – é um método que alterna o nível fonético com o fonológico. O
encadeamento fonético deve permitir que aquele que escuta a mensagem possa decodificá-la, 113 
para que o processo de comunicação se estabeleça.
BILINGUISMO – proposta pedagógica que propõe tornar acessível à criança duas
línguas no contexto escolar.
MÉTODO VERBOTONAL – método oral multissensorial de habilitação da criança e
adultos com deficiência auditiva, de grau variado, visando à aquisição da linguagem

TERAPIA FONOAUDIÓLOGICA

REABILITAÇÃO

Agora falaremos um pouco sobre os métodos e técnicas que foram citados


anteriormente, além da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). No entanto, quando se fala em
comunicação gestual é essencial sermos capazes de distinguir os diferentes sistemas existentes.
A seguir uma breve definição dos sistemas mais importantes:
Língua de Sinais – são sistemas de sinais independentes da língua falada; é uma
língua de dimensão espacial e corporal.
Linguagem Sinalizada – utilizam um léxico gestual, emprestando a organização
gramatical das linguagens orais correspondentes. Exemplo: Português Sinalizado. Os sistemas
são criados artificialmente, exploram menos possibilidades que as línguas gestuais que se
desenvolvem com base nas dimensões espaciais e corporais.

 
 

Alfabeto Manual – é um sistema gestual em que cada letra do alfabeto escrito


corresponde a uma configuração particular da mão e dos dedos. Utiliza-se de uma escrita no
espaço.
Sistemas de Auxilio à Leitura Orofacial – dentro de sistemas de sinais com a
LIBRAS e o Português Sinalizado, os gestos correspondem a conceitos próprios ou palavras da
língua oral. 114 
Em suma, as abordagens terapêuticas são inúmeras, existem vários métodos, técnicas
e propostas pedagógicas que o profissional pode tomar de base para um tratamento satisfatório;
basta que o profissional tenha consciência do que está fazendo e que seja sensível para
escolher o método de acordo com as necessidades da criança, pois todo o método tem o seu
valor e só colocando em prática para sabermos qual realmente utilizar.

Auxílio à 
Língua de  Linguagem  Alfabeto 
Leitura 
Sinais Sinalizada Manual
Orofacial

6.1 ORALISMO

Segundo Goldfeld (1997), foi há muito tempo que o método oral começou a ganhar
força e diversos profissionais começaram a investir no aprendizado da língua oral para os
surdos. O defensor do Oralismo, Alexander Granham Bell, contribui no resultado da votação para
oficializar a proibição do uso de língua de sinais, no Congresso Internacional de Educadores de
Surdos, realizado em Milão, no ano de 1880. Motivo pelo qual a oralização passou a ser objetivo
principal na educação das crianças surdas. O Oralismo dominou o mundo até a década de 60. O
que temos que ter em mente é que não podemos ser radicais ao ponto de perdermos o

 
 

discernimento entre o que é bom e o que é ruim para os pacientes deficientes auditivos em
terapia fonoaudiológica.

ORALISMO EDUCAÇÃO SURDOS 115 

A educação oral requer um esforço total por parte da criança, da família e da escola.
De acordo com os seus defensores, para que se tenha sucesso na terapia e bom resultado
social, é necessário:
Envolvimento e dedicação das pessoas que convivem com a criança no trabalho de
reabilitação todas as horas do dia e todos os dias do ano.
Início da reabilitação o mais precocemente possível, ou seja, deve começar quando
a criança nasce ou quando se descobre a deficiência.
Não oferecer qualquer meio de comunicação que não seja a modalidade oral.
A educação oral começa no lar e, portanto, requer a participação ativa da família,
especialmente da mãe.
A educação oral requer participação de profissionais especializados, como
fonoaudiólogos e pedagogos especializados para atender sistematicamente o aluno e sua
família.
A educação oral requer equipamentos especializados, como o aparelho de
amplificação sonora individual.
Lacerda (1976) relata que tanto no contexto educacional como nos espaços terapêuticos,
vários insucessos foram enfrentados pelos surdos que foram submetidos ao Oralismo puro. A
fonoaudiologia, buscando acompanhar tendências educacionais e as necessidades do paciente,
contempla o uso dos sinais e gestos. Devido à insatisfação com os resultados do trabalho de
reabilitação dos surdos numa linha oralista, várias pesquisas foram realizadas para questionar o

 
 

trabalho feito e como poderiam solucionar a questão. Surgem então novas escolas, filosofias,
método e técnicas para suprirem as reais necessidades dessas crianças.

6.2 COMUNICAÇÃO TOTAL


116 

A Comunicação Total tida como uma escola é vista também como uma filosofia de
educação, em que o princípio básico é se comunicar. Chegou ao Brasil no final da década de 70.
A criança é exposta desde cedo à:
Linguagem oral;
Leitura labial;
Gestos e alfabeto manual;
Amplificação sonora;
Leitura e escrita.
Os profissionais que seguem a Comunicação Total percebem o deficiente auditivo de
forma diferente dos oralistas. A Comunicação Total, em oposição ao Oralismo, acredita que
somente o aprendizado da língua oral não assegura pleno desenvolvimento da criança. A
Comunicação Total valoriza a comunicação e a interação, e não apenas a língua; seu objetivo
não se restringe ao aprendizado de um língua. Outro aspecto bem interessante nesta filosofia é
que a família é respeitada e valorizada, além de mostrar o papel da família na hora de
compartilhar valores e significados.
A Comunicação Total defende a utilização de qualquer recurso linguístico, seja a língua
de sinais, a linguagem oral ou códigos manuais, para facilitar a comunicação com as pessoas. A
ideia é usar aquilo que fornece um vocabulário e um meio de comunicação eficiente. Esta
filosofia recomenda o uso destes códigos manuais com a língua oral. Dentro da filosofia da
Comunicação Total não há obrigatoriedade da participação de adultos surdos na educação da
criança com deficiência auditiva.

 
 

IMPORTANTE 117 

Comunicação total é o oposto do oralismo;


Utilização de qualquer recurso linguístico;
Uso de amplificação sonora individual;
Não é um método, é uma filosofia educacional;
Procura a comunicação eficiente;
Uso de códigos manuais com a língua oral.
 

O foco do trabalho não está centrado nos processos de aquisição da linguagem, mas
no funcionamento da linguagem, apoiada pelos pressupostos da Teoria da Comunicação (as
relações entre interlocutores consideram a existência de um emissor, que pretende veicular uma
mensagem, um receptor que é alvo dessa mensagem e a mensagem, para que ambos os
interlocutores compartilhem um código comum; sendo assim, a mensagem codificada pelo
emissor é decodificada pelo receptor); para esta teoria, a linguagem é concebida como um
código que propicia um reservatório de mensagens possíveis.

 
 

Teoria da Comunicação

Emissor  118 

Receptor

Mensagem compartilhada

Esta filosofia pretende que o deficiente auditivo fosse aceito de forma que não
houvesse discriminação por a criança surda não dominar a oralidade. No entanto, há ainda certa
resistência, pois a oralidade continua a ser o objetivo principal de trabalho em muitas sessões de
terapia, pois a visão de muitos profissionais, pais e educadores seguem uma instituição maior,
que é quem estabelece as regras e formas de trabalho. Apesar das políticas públicas estarem
investindo e estabelecendo modelos que valorizem o surdo na sua totalidade, mas ainda pode se
afirmar que é muito pouco. Partindo deste pressuposto, dentro da Comunicação Total surge o
Bimodalismo.

6.3 BIMODALISMO

É uma técnica para facilitar o desenvolvimento da fala. A aplicação é desenvolver


códigos manuais que obedeçam à estrutura gramatical da língua oral, para que ela seja utilizada
simultaneamente como recurso para o processo de aquisição da linguagem.

 
 

Existem autores que consideram o Bimodalismo inadequado, tendo em vista que ele
desconsidera a língua de sinais (LIBRAS) e sua riqueza estrutural, acabando por desestruturar
também a nossa língua portuguesa. Para suprir as necessidades tanto no desenvolvimento da
linguagem oral, quanto na leitura e escrita (nos conteúdos escolares) surge uma nova proposta,
o Bilinguismo.
119 

IMPORTANTE

É uma técnica que aplica códigos manuais que seguem a estrutura


da língua oral;
Desestrutura a língua brasileira de sinais (LIBRAS);
Forma pela qual a língua é apresentada à criança;
Aproveitamento de restos auditivos.

Vale salientar que a diferença entre a Comunicação Total e o Bimodalismo é que a


Comunicação Total não é uma técnica específica (muitas formas de trabalho podem ser
adotadas), mas uma filosofia (um estilo) de trabalho que na concepção original privilegia a
criança surda nas suas necessidades e aceita qualquer forma de comunicação. Enquanto o
Bimodalismo se refere à forma pela qual a língua é apresentada à criança; é por meio da língua
oral acompanhada com sinais que se espera que a criança venha a desenvolver suas
habilidades linguísticas, sendo feito todo um trabalho de aproveitamento de restos auditivos e de
fala.

 
 

6.4 BILINGUISMO

O pressuposto básico é que a criança surda seja bilíngue. O Bilinguismo trata-se de


uma proposta pedagógica que propõe tornar acessível à criança duas línguas no contexto
escolar. O mais importante no bilinguismo é que o surdo faz parte de uma comunidade (com 120 
cultura e língua própria) – o grande mérito é a divulgação de uma língua assegurada por lei (Lei
nº 10.436, de 24 de abril de 2002 e seu decreto nº 5.626), a LIBRAS (Língua Brasileira de
Sinais).

Lei nº 
10.436

LIBRAS
Decreto 
nº 
5.626

O termo Bilinguismo passou a ser conhecido na Fonoaudiologia já faz algum tempo e


tem crescido amplamente nos últimos dois anos, sem que muitas vezes se tivesse uma
compreensão real da ideologia que o originou, nem as formas de trabalho possíveis. Os pilares
que erguem o Bilinguismo é o direito e a necessidade dos surdos adquirirem a Língua de Sinais
como primeira língua, por meio do contato com surdos adultos usuários da LIBRAS, para que
depois possa aprender a segunda língua (oral ou escrita).
É importante ter em mente que para a prática clínica e escolar é fundamental a
interação professor e fonoaudiólogo. As trocas de informações e experiências fazem com que

 
 

todos comecem a repensar em uma política educacional, pois o Bilinguismo não trata apenas de
questões linguísticas, mas sociais e culturais, além de valorizar a identidade do deficiente
auditivo (surdo). É chegada a hora de fonoaudiólogos, assim como todos os profissionais da
área de saúde, abandonarem certas práticas e começarem a valorizar o SER, pois muitas vezes
apenas a classificação audiológica (grau e perda) das crianças com deficiência auditiva não são
suficientes para elaborarmos um plano terapêutico (que muitas vezes visa somente à linguagem 121 
oral); olhar o SER isoladamente não é viável, temos quer entender estas crianças dentro do seu
grupo e na sociedade.

LIBRAS ORALIDADE ESCRITA

A proposta Bilíngue não privilegia uma língua, mas quer dar o direito e condições ao
indivíduo surdo de poder utilizar duas línguas. Em suma, quando uma criança é diagnosticada e
encaminhada à clínica fonoaudiológica, o profissional que tem o conhecimento do Bilinguismo
como um todo deve ter uma postura inicial de discutir com os pais sobre a LIBRAS. Muitos
familiares se mostram ansiosos para o desenvolvimento da fala propriamente dita (na sociedade
ainda há muito preconceito), motivo o qual deve ser esclarecido que a língua de sinais não
impede o desenvolvimento da linguagem oral (a LIBRAS serve de suporte para a fala). É
necessário que a criança envolvida neste processo tenha um meio eficaz de comunicação para
que o seu desenvolvimento seja assegurado e seja o mais próximo possível da criança ouvinte.

A oralidade se torna vazia se não estiver


assentada sobre uma base linguística verdadeira.

 
 

A Língua de Sinais permite o restabelecimento da comunicação efetiva, que é a base


do desenvolvimento da linguagem da criança. O real objetivo é oferecer à criança a possibilidade
de sucesso nas trocas verbais, tendo a chance de compreender e de se fazer compreender de
uma maneira eficaz por meio da LIBRAS.

122 

LIBRAS
Criança

Fala

BILINGUISMO

A partir da primeira experiência linguística por meio da Língua de Sinais (onde a


criança utiliza a língua de maneira adequada), é possível simultaneamente auxiliar a criança a
utilizar suas potencialidades auditivas residuais por meio de aparelho de amplificação sonora
individual para uma aprendizagem da fala que é essencialmente pragmática, visando a uma
melhor integração do futuro adulto no mundo acústico dos ouvintes.
A aprendizagem da leitura se realiza por intermédio da mediação da Língua de Sinais.
As estratégias de trabalho incluem:
Leitura orofacial;
Desenvolvimento das habilidades auditivas;
Trabalho específico com voz, fala e aquisição da linguagem escrita (trabalhado pelo
fonoaudiólogo e não o pedagogo, pois o objetivo é na área linguística e não escolar).
Dentro da perspectiva Bilíngue, o surdo é visto como um indivíduo diferente e não
como um deficiente. As suas potencialidades podem ser facilmente desenvolvidas se

 
 

trabalhadas. No entanto, a visão realista que se tem do Bilinguismo é que este modelo não é
fácil de ser implantado (desenvolvido), pois ainda se tem uma tradição oralista na educação e
nos modelos terapêuticos. A necessidade de oralizar “ainda” é uma realidade na vida do
deficiente auditivo, principalmente quando pensamos em Ensino Superior, inserção social e
colocação profissional.
123 

6.5 LIBRAS – LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Com o surgimento da proposta Bilíngue, que favorece o uso das duas línguas (língua
de sinais e língua oral e/ou escrita), fez com que houvesse um aumento na valorização da língua
brasileira de sinais. A LIBRAS é uma língua regulamentada por lei; reconhecida como meio legal
de comunicação e expressão; tem sistema linguístico (transmite ideias, opiniões e fatos), próprio
de natureza visual motora, com estrutura gramatical.
A LIBRAS ganhou status de língua porque é composta por níveis linguísticos: o
fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. O que diferencia a LIBRAS das demais
línguas é a sua modalidade, que é visual-motora. A Língua Brasileira de Sinais tem sua origem
na Língua de Sinais Francesa – lembrando que as línguas de sinais não são universais, cada
uma tem suas particularidades de acordo com as influências da cultura nacional (o regionalismo
fornece uma diferença de expressões de região para região).
Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e
do ponto no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos. Os parâmetros que formarão os
sinais são os seguintes:
Configuração das mãos – são formas das mãos que podem ser da datilologia
(alfabeto manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros ou
esquerda para os canhotos) ou pelas duas mãos.
Ponto de articulação – é o lugar onde incide a mão predominante configurada, ou
seja, local onde é feito o sinal, podendo tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço
neutro.
Movimento – os sinais podem ter um movimento ou não.

 
 

Expressão facial e/ou corporal – as expressões faciais/corporais são de


fundamental importância para o entendimento real do sinal, sendo que a entonação em Língua
de Sinais é feita pela expressão facial.
Orientação/Direção – os sinais têm uma direção com relação aos parâmetros
acima.
Os parâmetros supracitados deixam bem clara a complexidade desta língua, que é 124 
garantida por parte do poder público em geral como meio de comunicação objetivo e de
utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.

Configuração 
das mãos

Orientação e  Expressão 
Direção facial/corporal

LIBRAS
Ponto de 
Movimento
articulação

De acordo com o art.4º da Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, o sistema educacional


federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a
inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em
seus níveis médio e superior, do ensino da LIBRAS como parte integrante dos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCNs.

 
 

Para regulamentar esta lei, no decreto de nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005,


considera-se pessoa surda àquela que tem perda auditiva (compreende e interage com o mundo
por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Libras).
Enfim, com tanta riqueza de detalhes, a Libras deveria receber mais atenção por parte dos
profissionais na área de educação e saúde, principalmente, pois muitos surdos que usam a
Libras para se comunicar não o fazem porque o ouvinte não conhece o seu real valor, colocando 125 
assim em risco a comunicação entre ouvintes e não ouvintes.

6.6 MÉTODO VERBOTONAL

É um método oral multissensorial de habilitação ou reabilitação de crianças e adultos


com deficiência auditiva, de grau variado, visando à aquisição da linguagem. Foi desenvolvido na
Universidade de Zagreb, na Croácia em 1950, pelo Prof. Peter Guberina, que aprofundou nos
estudos do ouvido patológico, nascendo, assim, o “Método Verbotonal de reeducação dos
problemas da audição de da fala”.
O sistema Verbotonal analisa os sons da fala na forma em que eles são percebidos, ou
seja, a maneira que suas qualidades físicas (acústicas) agem na percepção da palavra. De
acordo com Northern & Downs (1985), o estudo da fala compreende a análise dos diferentes
elementos que os compõem: frequência, intensidade e tempo, para entender como os sons são
percebidos.
Este estudo (método Verbotonal) procura quais estruturas sonoras são mais eficazes
do ponto de vista da percepção, ou seja, quais são as que permitem a melhor percepção dos
seus sons e oferecem o máximo de audibilidade.
O método verbotonal visa à reabilitação da audiocomunicação por meio de movimentos
corporais. A base do método é o treino do cérebro para o uso de mensagens acústicas para a
percepção da fala, usando as áreas sensíveis da audição. Os objetivos do método Verbotonal
são:
Desenvolver as habilidades de audição e fala.
Treinar o cérebro para usar mensagens acústicas com áreas mais sensíveis da
audição.

 
 

Ênfase à entonação e ritmo.


Proporcionar o desenvolvimento da fala o mais próximo do normal por meio dos
valores da fala (ritmo, entonação, pausa, afetividade, tensão, presença/ausência de som e etc.).
Controle auditivo e vibrátil associado à terapia do movimento.
Explorar resíduo auditivo por meio de treinamento auditivo diário e
acompanhamento do desenvolvimento da linguagem. 126 

TREINAR CÉREBRO MENSAGEM

PERCEPÇÃO AUDIÇÃO

O esquema acima mostra o objetivo básico do método, que é treinar o cérebro para
utilizar até mesmo mensagem acústica distorcida para a percepção da fala, aproveitando áreas
mais sensitivas da audição. Os princípios do método são baseados em que toda a pessoa com
lesão auditiva possui um campo “optimal” a ser explorado, na ênfase das frequências baixas, nas
dicas vibratórias para a percepção da fala, uso da progressiva fonética e uso de padrões de
ritmo, entonação e terapia do movimento (fonética rítmica, ritmo corporal e musical, expressão
corporal e facial contextualizada), além do uso de amplificação sonora.
O método verbotonal necessita do uso de aparelhos de amplificação especializados
para a terapia. São aparelhos SUVAG (Sistema Universal Verbotonal de Audição Guberina) de
amplificação e filtragem de som (SUVAG I, SUVAG II, SUVAG CT10, SUVAG IT2,MINI-SUVAG)
e seus acessórios (fones de ouvido, microfones, distribuidores e vibradores SUVAG), que junto
às técnicas, também por ele (Prof. Guberina) desenvolvidas, vieram a permitir a aplicação prática
de suas descobertas e propiciar o desenvolvimento da fala por meio da estimulação e do
controle auditivo em pessoas surdas.
O método Verbotonal é composto de cinco técnicas, que são:

 
 

Audiovisual – que tem como objetivo estimular a audição, introduzir o diálogo entre
as crianças e introduzir temas habituais de linguagem.
Conjunto – uma técnica baseada no diálogo direcionado, objetivando ampliar o
desenvolvimento linguístico/cognitivo da criança, trabalhando em nível semântico. Os objetivos
desta técnica são: colocar as crianças em contato com os outros do grupo, solicitar a sua
participação (estimulando a comunicação oral sob um ponto de vista polissensorial), reviver 127 
atividades de vida diária, da noção de tempo, esquema corporal; e estimular a necessidade de
comunicação, aquisição e amplificação de léxico, conceitos, compreensão e abstração, além do
desenvolvimento da leitura orofacial.
Individual – é uma das partes mais importante do Método Verbotonal, pois é neste
momento que o terapeuta encontra-se sozinho com a criança, que vai trabalhar as dificuldades e
capacidades da mesma. Para tanto, é necessário que se pesquise e conheça o paciente quanto
ao grau, local, época e causa da lesão auditiva e quais as suas limitações e capacidades. É o
momento de realizar uma avaliação (triagem) da articulação, frequência, registro, entonação,
tempo, intensidade e tensão da voz da criança. É nesta triagem que o profissional tem o primeiro
campo optimal do paciente (será o guia para iniciar o trabalho individual). O objetivo desta
técnica é a adaptação de AASI e estimulação do canal auditivo, trabalhar os fonemas, palavras e
frases, trabalhar a qualidade vocal, fixação do material trabalhado nas aulas de grupo
(audiovisual), trabalhar a atenção e concentração, além de possibilitar o desabrochar da criança
como um todo, investindo no aspecto criativo e independente do indivíduo.
Rítmica musical – esta técnica tem como foco o aspecto suprassegmental da fala.
Estimula a percepção dos valores suprassegmentais como ritmo, entonação, tensão, pausa, etc.;
e usa o corpo como facilitador rítmico, criando condições para que a criança surda possa se
apropriar destes elementos tão ricos em informações e usá-los na sua fala espontânea.
Rítmica corporal – tem como foco o aspecto fonético-fonológico da língua,
explorando todas as possibilidades que o corpo tem como agente receptor (percepção de
vibrações rítmicas da fala) e produtor (gestos, mímicas e movimentos facilitadores da emissão
de sons) de linguagem. Movimentos corporais amplos são estimulados em consonância com as
características de micromovimentos articulatórios responsáveis pela emissão de determinados
fonemas, promovendo desta forma uma condição facilitadora à produção de determinado som,
assim como distribuindo por todo o corpo a “energia responsável” à fala.

 
 

Rítmica  Rítmica 
Audiovisual Individual Conjunto
musical corporal
128 

É muito importante o conhecimento e aplicação de todas as técnicas na terapia


fonoaudiólogica, pois só a integração de todas no seu momento adequado pode garantir o
sucesso da terapia e o desenvolvimento da criança.

6.7 MÉTODO LING

É um modelo de educação da criança surda proposto pelo o Dr. Daniel Ling, da


Universidade Mc Gill em Montreal. De acordo com Jakubovicz (2002), ele segue uma linha da
psicolinguística e descreve técnicas em somente dois níveis: nível fonético (onde os esforços
estão concentrados apenas no padrão articulatório) e nível fonológico (os esforços serão no
sentido do uso desses sons com um significado, sem preocupação com o contexto sintático,
onde ele ocorre).

Nível  Nível 
Fonético
MÉTODO Fonológico
LING

 
 

O encadeamento fonético deve permitir que aquele que escuta a mensagem possa
decodificá-la para que o processo de comunicação se estabeleça. Para tanto, é importante a
progressão a seguir:
Aprendizagem do som – plano fonético.
Incorporação sistemática do som aprendido em palavras com significado – plano
fonológico. 129 
Aprendizagem da função de palavras em frases – plano semântico.
Construção de frases segundo as regras morfossintáticas – plano sintático.
Aquisição do vocabulário – plano lexical.

De acordo com Daniel Ling, na educação da criança com deficiência auditiva deve
haver três tipos de informações bem definidas:
1. Diferenciar os diversos sons que a própria criança produz.
2. Como chegar ao significado interpretando os sons que as outras pessoas
produzem.
3. Como tomar consciência de até onde sua fala corresponde à fala dos outros.

Vale salientar que a criança tem problemas significativos em cada uma dessas áreas
supracitadas. O fonoaudiólogo terá que realizar uma avaliação para saber quais os sons estão
presentes no repertório fonético da criança, como também quais os sons que ela usa na sua fala
com significado, no nível fonológico. Ling enfatiza que como a produção fonética excede a
capacidade fonológica, enquanto não houver um domínio muito grande em nível fonético não
deve haver transição para o fonológico. A razão para que Dr. Ling enfatize essa questão é
enquanto a atenção consciente da criança estiver focalizada na articulação e outros aspectos da
produção oral, essa mesma atenção consciente não estará livre para tarefas mais altas, como os
de nível simbólico.
Em suma, é importante saber que o deficiente auditivo, assim como a criança ouvinte,
deve aprender por imitação dos atos motores da fala, assim como uma parte do seu vocabulário;
mas a imitação não deve estender-se a frases “feitas”, para que a criança não perca a iniciativa
de construir sua própria linguagem.

 
 

6.8 MÉTODO ÁUDIO + VISUAL DE LINGUAGEM ORAL

A filosofia deste método é baseada na percepção de que o êxito do tratamento


independe da gravidade da perda auditiva, contudo, é necessária a integração de quatro fatores
distintos para que a reabilitação tenha sucesso: 130 
A criança ter apenas perda auditiva e iniciar o tratamento a partir da estimulação
precoce (0 a 3 anos).
Fazer uso contínuo do aparelho auditivo adequado ao seu quadro.
Participação da família no tratamento.
Realizar o atendimento fonoaudiológico integrado.
Este método tem como objetivo melhorar a qualidade de vida da criança com perda
auditiva, proporcionando suporte familiar para inserção da criança na sociedade de forma
branda; estimular a criança e conscientizar a família sobre os estágios do método. O método é
dividido em três estágios:
Estágio “A” – estimulação precoce (0 a 3 anos de idade).
Estágio “B” – pré-escolar (3 a 6 anos de idade).
Estágio “C” – alfabetização (a partir dos 6 anos de idade).
Estágio “D” – da leitura à interpretação (crianças após a alfabetização).
Os estágios “A” e “B” abrangem o desenvolvimento infantil e os estágios “C” e “D” o
desenvolvimento escolar, portanto, todos os estágios do método têm sua importância, não
podendo a família optar por um ou outro, tratando-se de etapas a serem cumpridas.

6.9 MÉTODO PERDONCINI

O método Perdoncini foi criado por Guy Perdoncini, de nacionalidade francesa e tem a
audiofonatória como metodologia. A capacidade residual do deficiente auditivo deve ser bem-
trabalhada, porém este trabalho proporcionará um maior rendimento à aprendizagem e
desenvolvimento da linguagem, melhorando a qualidade acústica da voz.

 
 

Desenvolvimento
Resíduo auditivo Audiofonatória
da Linguagem

Perdoncini, no seu método pedagógico, procura oferecer um ritmo e uma melodia 131 
comparável à voz normal; afirmava com convicção que quando a compreensão das palavras e a
discriminação dos sons pelo ouvido não se tornam possíveis, é importante recorrer a formas
musicais da linguagem como ritmo e melodia.
É um método que enfatiza o desenvolvimento da fala, buscando a estruturação da
mesma. Para o alcance dos objetivos, o método é completado com Organograma da Linguagem,
o qual é uma estratégia visual da sequência lógica básica da língua, que leva o deficiente
auditivo a uma estruturação do pensamento, até chegar à emissão da fala (palavras e frases
contextualizadas).

7 FAMÍLIA, CRIANÇA E SOCIEDADE

A família é a primeira instituição que uma pessoa entra em contato em sua vida,
portanto, as relações básicas de uma sociedade irão influenciar, direta ou indiretamente, a
estrutura familiar. A Constituição Federal, art. 226, revela que a família é a base da sociedade e
tem especial proteção do Estado. Entende-se como entidade familiar a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes.

 
 

Família Relações

132 

Sociedade

Podemos pensar numa família como um sistema muito complexo e articulado, de tal
forma que seus membros tecem uma rede de interdependências e mútuas influências. É o
alicerce para a construção do indivíduo, deve ser parte essencial para o processo de cura ou
melhora da qualidade de vida do paciente.

Família

Indivíduo
Influências

Inter
dependência

Um dos aspectos mais difíceis na prática com famílias é a questão de que nem sempre
a comunicação é efetiva, pelo fato de que a interação profissional, geralmente, baseia-se nos

 
 

valores do profissional, em contraste com a visão de mundo da família; o que gera problemas,
levando o profissional a utilizar estas relações problemáticas como base para o julgamento do
comportamento da família. A dificuldade reside basicamente nos conflitos de valores, que podem
ser entendidos, numa perspectiva mais conceitual, como no processo de definição da situação,
que é realizado ativamente por cada um dos elementos envolvidos na situação.
133 

IMPORTANTE

Comunicação efetiva (pais e profissionais);


Não pré-julgar o comportamento familiar;
Evitar conflitos de valores.

A família, como chave-mestra do tratamento, é obrigada a estabelecer contato e


interesse na reabilitação de crianças com deficiência auditiva, em virtude da gravidade e
complexidade da patologia. O início do tratamento deve estar bem claro para os profissionais
que atuam com o paciente, para a família e para o paciente (deve-se trabalhar a razão da
criança estar em tratamento), o motivo pelo qual está em tratamento, a concordância do
profissional/família às condutas, e procedimentos que serão planejados pelos profissionais da
área de saúde, garantindo a ética do atendimento e evitando frustrações.

 
 

Família

Profissional 134 

Concordância
no tratamento

Os familiares são elementos importantes na reabilitação. É conveniente inseri-los


totalmente no processo de reabilitação para que forneçam informações e estimule o paciente,
reforçando seus progressos. Deve-se evitar qualquer atitude de familiares ou de pessoas da
convivência que gere tensões ou fadiga para o paciente. As explicações para a família deverão
ser informativas, mas sem excesso de dados técnicos ou pedidos que os desoriente ou
angustiem.
No entanto, fica claro que o tratamento de crianças com deficiência auditiva está
apoiado no tripé (paciente, família e equipe multidisciplinar), no qual a família e a criança têm
que estar atentos ao tratamento e se esforçarem para que o paciente tenha qualidade de vida.
Para tanto, é necessário que as orientações sejam seguidas, pois o tratamento irá além do
momento da terapia.
Com o início do programa de reabilitação de deficientes auditivos, os profissionais
inseridos recebem as crianças e seus familiares com todo o desgaste do diagnóstico e uma
gama de dúvidas, incertezas e medos. A família, no primeiro momento, frente à deficiência
auditiva, tem receio de criar uma criança que não escuta. No entanto, eles (familiares), neste
instante, ainda não perceberam que esta criança com dificuldades irá apenas precisar de
cuidados diferenciados, amor e dedicação, porém, não pode haver superproteção ou mesmo
isolamento e desprezo por partes dos familiares. É neste momento que o profissional tem como
objetivo primordial envolver todos que estão próximos da criança e entender a dinâmica familiar,
para inserir a criança com deficiência auditiva dentro da família e posteriormente se preocupar
com o mundo que a cerca.

 
 

Medo
Dedicação
135 

Dificuldades psicológicas que a criança encontra e não consegue superar podem trazer
transtorno para o seu desenvolvimento social. A grande preocupação de familiares e
profissionais que atuam nesta área é proporcionar qualidade de vida, ou seja, a inserção da
criança no mundo ouvinte. Correa (2001) divide as responsabilidades na reabilitação da criança
com deficiência auditiva em porcentagens iguais, são fatores contribuintes para um resultado
satisfatório do tratamento:
Criança;
Família;
Amplificação Sonora Individual;
Fonoaudiólogo.

 
 

25% 
25% 
Amplificação 
Fonoaudiólogo
Sonora

136 

25% Criança 25% Família
Reabilitação
100%

Correa ainda atribui pesos iguais de porcentagem (25%) para cada um, por isso o
profissional deve deixar bem claro para a família que o desenvolvimento da criança não depende
exclusivamente do profissional e da terapia fonoaudiológica, mas de uma parceria criada com
amor e interesse de todos os envolvidos.
Crianças com problemas auditivos, geralmente, apresentam problemas psicológicos
que podem ser: reflexo dos problemas familiares, desequilíbrio emocional, dentre outros. A
percepção auditiva é a via essencial para a percepção dos sinais de alerta, é o estado constante
de alerta do ouvinte, que mantém o meio sob controle. A presença de uma surdez altera toda
uma organização perceptiva do meio, modificando consideravelmente a reação em relação às
circunstâncias exteriores, ou seja, o comportamento social (relacionamento com o outro e com o
meio em que vive).

 
 

8 AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL

O aparelho auditivo, com o passar dos anos, vem sofrendo mudanças significativas. As
possibilidades de aplicação aumentaram com a qualidade e a evolução da informática. A
diminuição do tamanho, do peso e o aumento do conforto fazem com que os usuários comecem 137 
a aceitar de forma mais tranquila o uso da amplificação sonora individual.

APARELHO 
EVOLUÇÃO TECNOLOGIA
AUDITIVO

O princípio básico é proporcionar amplificação útil, aproveitando o resíduo auditivo. A


razão principal para a indicação de amplificação sonora individual é capacitar a criança para a
comunicação e inclusão no mundo ouvinte. Autores revelam que existem quatro fatores básicos
para a indicação e adaptação bem-sucedida em crianças, que são:
Avaliação básica da audição e o histórico da criança, além de cuidados para
qualificar a candidatura à amplificação.
O método de seleção do aparelho auditivo (nenhum método específico proporciona
informações exatas).
A escolha do modelo de aparelho (necessidades e capacidades do paciente).
Modificações e/ou adaptações no sistema do aparelho.

 
 

Avaliação

138 

Histórico AMPLIFICAÇÃO Modelo

Método

O benefício fornecido pelo uso da amplificação tem sido definido como a diferença
entre o desempenho do indivíduo com e sem prótese auditiva. No processo de adaptação de
aparelhos deve-se ter como objetivo o alcance de alguns pontos específicos, que são:
Diminuição da incapacidade auditiva;
Diminuição do handicap auditivo;
Uso da prótese propriamente dito;
Satisfação do paciente.
A diminuição da incapacidade está relacionada com o aumento da audibilidade para os
sons ambientais e melhor inteligibilidade de fala em diferentes situações. Segundo a OMS
(Organização Mundial de Saúde), a deficiência auditiva vem acompanhada de incapacidade
auditiva e do handicap. É importante que o profissional que fará a adaptação do aparelho
auditivo esteja atento para identificar problemas emocionais e situações específicas que possam
comprometer a funcionalidade da reabilitação.

 
 

Incapacidade 
Auditiva Handicap
139 

Os aparelhos de amplificação sonora individual captam o som ambiente, amplificam e


tratam o sinal acústico, direcionando o sinal amplificado e tratado para a orelha (via conduto
auditivo externo). Em 1940, surgiram as primeiras próteses auditivas portáteis de caixa, também
chamadas de convencionais. Os circuitos eletrônicos localizam-se numa caixinha, que pode ser
carregada no bolso da vestimenta do indivíduo e o som amplificado e transportado até os
ouvidos por meio de dois cabos.
Logo depois surgiram os retroauriculares, onde os circuitos ficam num compartimento
menor, adaptado atrás do pavilhão auricular, sendo o som transmitido por meio do “molde
auricular”. Com o passar do tempo, as tecnologias ficaram mais sofisticadas, dando passagem
para os aparelhos intra-aurais, onde todo o equipamento está contido numa cápsula. Ele é
adaptado dentro da concha do pavilhão auricular ou no meato acústico externo. Por último, as
próteses intracanais e microcanais são próteses mais discretas e por isso preferida por alguns
pacientes.
Não podemos esquecer-nos da prótese por estimulação óssea, que é acoplada a
hastes dos óculos. Os aparelhos podem ser digitais e analógicos, os analógicos vêm sendo
comercializados há muito tempo, e ainda persistem no mercado.
Analógica – tecnologia analógica, baixo custo, eletrônica convencional para
converter o sinal elétrico, baixo consumo de energia (gasta menos bateria), limitação na
programação, ajustes manuais.
Digital – tecnologia digital, digitalmente programável, torna o trabalho de adaptação
mais individual, alto custo.
Híbridos – mesclado de tecnologia digital e analógica.

 
 

Avanços tecnológicos das próteses favoreceram a sua adaptação e conforto para o


paciente, pois a flexibilidade da moldagem das frequências torna a adaptação mais individual e
efetiva, melhorando a compreensão da fala. A seguir, alguns modelos de Aparelhos de
Amplificação Sonora Individual que podem ser encontrados no mercado brasileiro:

140 
FIGURAS 34 – MODELOS DE APARELHOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA

FONTE: Windex Brasil. Disponível em: <http://www.widex.com.br/>. Acesso em: 25 set. 2014

No momento da adaptação, os moldes são peças-chaves para o bom desempenho do


aparelho auditivo. Alguns pacientes (principalmente crianças) relatam desconforto ao usar o
aparelho, muitas vezes. O mais indicado para crianças é o retroauricular. Atualmente, algumas
marcas estão disponibilizando moldes com tecnologia digital ou híbrida.

 
 

MANIPULANDO O APARELHO AUDITIVO

INSERÇÃO E REMOÇÃO

Desligar o aparelho antes de colocar ou removê-lo da orelha; 141 

Não utilizar o tubo plástico para retirar ou colocar o aparelho;

Segure a prótese auditiva lateralmente; em seguida, retire-a ou a coloque na


orelha, segurando no próprio aparelho.

CHAVES LIGA/DESLIGA

Geralmente, os aparelhos auditivos usados em crianças possuem chave


liga/desliga/telefone;

Alguns aparelhos ligam e desligam apenas quando a bateria é retirada ou


colocada em seu compartimento;

O controle de volume é representado por uma pequena roda com números, que
será ajustada de acordo com a necessidade do paciente;

Não deverá ser usado no volume máximo, pois pode haver distorção do som
amplificado causando desconforto.

 
 

COMPARTIMENTO DA PILHA

Gire a gaveta para fora do aparelho para facilitar a colocação ou retirada da


pilha;

A pilha só deve ser adquirida em lugares especializados; 142 

Para cada tipo de aparelho existe um tipo de pilha.

8.1 CUIDADOS E MANUTENÇÃO DO APARELHO AUDITIVO

Não exponha desnecessariamente seu aparelho auditivo à poeira, ao calor, à umidade


ou a qualquer produto químico. Em hipótese alguma molhe o aparelho auditivo. Ao molhar o
cabelo da criança, seque-o antes de colocar a prótese. É essencial cuidados como:
Não deixar cair no chão. Quando for colocá-lo ou retirá-lo, pedir para criança sentar-
se na cama ou no sofá.
Lavar sempre as mãos para manusear o aparelho; use um pano macio e seco para
limpá-lo regularmente.
Remova a bateria se o aparelho ficar fora de uso por um longo período.
As pilhas devem ser trocadas semanalmente, dependendo do uso.
Ao colocar ou retirar o aparelho, é importante desligá-lo para evitar microfonia, além
de realizar revisões e checagens eletrônicas periodicamente.
Suspender temporariamente o uso do aparelho se ocorrer coceira intensa,
secreção, sangramento, dor ou traumatismo no conduto (procurar o médico imediatamente).
O molde deverá ser trocado com o passar do tempo, pois o mesmo ficará velho e
folgado (criança de até 5 anos: 3 a 6 meses).
Lavar o molde com água morna e sabão neutro; não se esquecer de desconectá-lo
do aparelho (para a limpeza não utilizar álcool ou qualquer produto).

 
 

Trocar o tubo plástico (dependendo do modelo do aparelho auditivo), quando ele


estiver ressecado e amarelado.
O tubo não deve ficar torcido, pois dificulta a saída do som do aparelho; e não retire
o aparelho puxando pelo tubo plástico, que deverá estar limpo e seco.

De acordo com o modelo do aparelho auditivo os cuidados e o manuseio mudam, 143 


porém, deve sempre orientar a criança (se tiver entendimento) e os pais que no dispositivo
existem componentes eletrônicos que devem ser preservados para o bom funcionamento do
aparelho de amplificação sonora individual. Segue abaixo um roteiro para instruções para
adaptação:

INSTRUÇÕES PARA ADAPTAÇÃO

1ª SEMANA (USAR DE 10 A 30 MINUTOS O APARELHO POR DIA)


Iniciar o uso em lugares silenciosos com a presença de sons simples;
Colocar no volume mínimo, aumentando gradualmente até o volume indicado;
Usar preferencialmente durante as refeições;
Desligar o aparelho e removê-lo antes que a criança reclame.

2ª SEMANA (USAR POR 1 HORA POR PERÍODO)


Começar a circular por lugares com sons do ambiente da criança: cozinha (liquidificador),
banheiro (barulho da água da torneira), sala (televisão, telefone);
Fazer passeios pela casa para identificação de sons.

3ª SEMANA (USAR POR 2 A 3 HORAS POR PERÍODO)


Participar de passeios em parques, cinemas, festas e reuniões familiares (importante adequar o
volume);
Frequentar a escola normalmente (as crianças que já estão no colégio), lembrando que no
horário do recreio o volume terá que ser diminuído neste período de adaptação.

 
 

4ª SEMANA
Retirar apenas para tomar banho e dormir.

FIGURA 35 – AMPLIFICADOR AURICULAR 144 

FONTE: Universidade de Brasília. Disponível em: <http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=984>


Acesso em: 27 set. 2014.

Os pais devem ser bem orientados quanto ao funcionamento do aparelho auditivo, pois
existem “problemas” que podem ser solucionados em casa ou serem identificados para
encaminhar a prótese para o técnico avaliar. Segue abaixo uma tabela com alguns problemas, a
causa e a solução para Aparelhos de Amplificação Sonora Individual:

Problema Causa Solução


Sem amplificação Pilha gasta. 1. Trocar.
Pilha mal colocada. 2. Inserir corretamente.
Pilha vazando. 3. Trocar.
Pilha errada. 4. Trocar.
Chave no t. 5. Colocar a chave no m.
Cerume no molde. 6. Limpar.
Água no tubo plástico. 7. Secar.

 
 

Som fraco 1. Pilha gasta. 1. Trocar.


2. Molde sujo. 2. Limpar.
3. Erro no diâmetro do tubo plástico. 3. Trocar o tubo.
4. Gotículas de água no tubo plástico. 4. Secar o tubo.
5. Conexões soltas. 5. Assistência técnica.
Som intermitente 1. Sujeira nos contatos da pilha. 1. Limpar contatos. 145 
2. Pilha vazando. 2. Trocar.
3. Tubo plástico torcido. 3. Trocar.
4. Conexões soltas. 4. Assistência técnica.
Microfonia 1. Controle de volume alto. 1. Regular volume.
2. Molde folgado. 2. Trocar.
3. Molde inadequado. 3. Trocar.
4. Molde sujo. 4. Limpar.
5. Diâmetro amplo de ventilação. 5. Diminuir ventilação.
6. Microfonia interna. 6. Assistência técnica.
7. Acúmulo de cerume no meato. 7. Consultar ORL para
limpeza.
Problemas de 1. Molde machucando. 1. Ajustar ou trocar o molde.
molde 2. Alergia ao material do molde. 2. Trocar o tipo de material.
3. Molde difícil de encaixar. 3. Ajustar ou trocar o molde.

Adaptações de aparelhos auditivos em crianças irão depender do desempenho dos


pais em casa em fornecer conforto e disciplina no período de adaptação, e profissionais bem
treinados para orientar e reabilitar.

9 IMPLANTE COCLEAR

O avanço tecnológico na área de Audiologia resultou no implante coclear, que em


alguns casos proporciona a aquisição da linguagem oral na surdez. É uma tecnologia nova que

 
 

vem a cada dia se aperfeiçoando e ganhando aliados. Estudos revelam que a plasticidade
auditiva aumenta as possibilidades de desenvolvimento da linguagem.
O implante coclear é um dispositivo eletrônico de alta tecnologia. É conhecido
popularmente como ouvido biônico. Este dispositivo estimula eletricamente fibras nervosas
permitindo a transmissão do sinal elétrico para o nervo auditivo, a fim de ser decodificado pelo
córtex cerebral. Este implante tem sido utilizado para restaurar a função da audição nos 146 
pacientes portadores de surdez profunda que não se beneficiam do uso de próteses auditivas
convencionais.

Eletrônico

Sinal 
Eletrodos
elétrico
IMPLANTE
COCLEAR

Tecnologia Dispositivo

O funcionamento do implante coclear é diferente do Aparelho de Amplificação Sonora


Individual (AASI). A prótese auditiva apenas amplifica o som e o implante coclear fornece
impulsos elétricos para estimulação das fibras neurais remanescentes em diferentes regiões da
cóclea, possibilitando ao usuário a capacidade de perceber o som. Abaixo uma ilustração dos
eletrodos partindo da unidade interna até a cóclea.

 
 

FIGURA 36 - ELETRODOS DENTRO DA CÓCLEA

147 

FONTE: Disponível em: <http://www.cochlear.com/>. Acesso em: 12 mar. 2010.

O implante coclear é composto por duas partes: uma unidade interna e externa.

A unidade interna é inserida no ouvido interno por meio de um procedimento


cirúrgico. Esta unidade possui feixe de eletrodos que será posicionado dentro da cóclea (órgão
da audição com formato de caracol); o feixe de eletrodos conecta a um receptor (decodificador)
que ficará localizado na região atrás da orelha, que será implantado por debaixo da pele; junto
ao receptor ficam a antena e o ímã, que servem para fixar a unidade externa e captar os sinais
elétricos.
A unidade externa é composta por um microfone direcional, um processador de
fala, uma antena transmissora e dois cabos. Esta unidade do implante fica aparente e pode ser
de dois tipos: retroauricular ou tipo caixa. A antena transmissora possui um ímã que serve para
fixá-lo magneticamente junto à antena da unidade interna. O microfone capta o som do ambiente
e o transmite ao processador de fala, que seleciona e analisa os elementos sonoros,
principalmente os elementos da fala –, e os codifica em impulsos elétricos que serão
transmitidos por meio de um cabo até a antena transmissora. A partir da antena transmissora o
sinal é conduzido através da pele por meio de radiofrequência e chega até a unidade interna.

 
 

FIGURA 37 - ELETRODOS DENTRO DA CÓCLEA

148 

FONTE: Disponível em: <www.implantecoclear.com.br>. Acesso em: 12 mar. 2010.

Na unidade interna, o receptor estimulador interno, que está sob a pele, contém um
chip que converte os códigos em sinais eletrônicos e libera os impulsos elétricos para os
eletrodos intracocleares, estimulando diretamente as fibras no nervo auditivo; esta estimulação é
percebida pelo cérebro como som, então o paciente recupera parte da audição e pode voltar a
se comunicar com as pessoas. Após a interpretação da informação no cérebro, o usuário de
implantes coclear é capaz de experimentar a sensação de audição – lembrando que quanto
maior o número de eletrodos implantados, melhores serão as possibilidades de percepção dos
sons.
Para a realização de um implante coclear em crianças é necessário que seja
preenchido alguns requisitos, assim, a realização da seleção dos candidatos segue questões
indispensáveis descritas a seguir:
Possuir perda auditiva neurossensorial de grau severo a profundo, bilateral.
Não foi beneficiado com o uso de amplificação sonora individual.
Reabilitação fonoaudiólogica efetiva há pelo menos três meses ou desde a
realização do diagnóstico.
Indica o implante preferencialmente em deficiente pré-lingual até os seis anos de
idade (a idade ideal é a partir de um ano de idade).

 
 

Reabilitação prévia de prótese auditiva.


Ter família adequada e motivada para o uso de Implante Coclear.
É importante dividirmos a classe de pacientes em pré-lingual (pacientes surdos desde
o nascimento ou que perderam a audição muito cedo, antes mesmo de aprenderem a falar) e
pós-lingual (pacientes que ouviam e por algum motivo perderam a audição). Vimos acima alguns
pontos importantes para que uma criança seja beneficiada e candidata ao uso do Implante 149 
Coclear.
Existem etapas que devem ser seguidas para que seja realizado o ato cirúrgico para a
colocação do Implante Coclear. O processo é complexo e exige a atuação conjunta de uma
equipe multidisciplinar para que se alcance o sucesso. A equipe é composta de: médicos (ORL),
fonoaudiólogos e psicólogos (todos especialistas em implante coclear). As etapas do processo
são:
Avaliação médica – o paciente é avaliado pelo otorrinolaringologista, pois é
importante pesquisar a causa que levou à surdez; é estudada com cautela a existência de outras
doenças. Enfim, o paciente é avaliado como um todo e não somente a audição.
Avaliação fonoaudiológica – realização de uma série de testes auditivos e de
linguagem. É avaliado em especial o grau da perda auditiva (ter a certeza se é profunda); avaliar
a prótese auditiva e sua funcionalidade para a criança (ter a certeza de que ela não se
beneficiará mais apenas com a prótese auditiva); avaliar a linguagem (fala, uso de língua de
sinais e escrita). Avaliar o nível da leitura orofacial.
Avaliação psicológica – avaliar a criança e as pessoas que convivem com ela; a
família é muito importante no processo de recuperação e estimulação. Avaliar a motivação
(paciente/família), a expectativa de ambos e da consciência do resultado que podem ser
atingidos.
O sucesso do processo cirúrgico está numa seleção precisa e confiança mútua
(paciente, família e profissionais). Alguns exames são realizados para oferecer suporte para os
profissionais e são os seguintes:
Audiometria completa;
Audiometria em campo com uso de AASI;
BERA;
Emissões Otoacústicas;
Tomografia computadorizada;

 
 

Ressonância magnética.

O procedimento cirúrgico tem duração de aproximadamente duas horas para a


colocação da unidade interna, e é realizado sob anestesia geral, onde o paciente é entubado e
inconsciente – não sentirá nada durante todo o procedimento. É realizado um pequeno corte
atrás da orelha de aproximadamente 4 cm, onde é feita uma abertura na cóclea e os eletrodos 150 
são inseridos dentro dela fazendo uma volta completa no seu interior.
Após a colocação dos eletrodos, inicia-se a fixação do processador interno, que é
colocado embaixo do couro cabeludo, atrás da orelha (o paciente sentirá uma pequena elevação
no local). Para finalizar a cirurgia a pele é fechada com pontos e é realizado um curativo.
Geralmente, o pós-operatório é bem tranquilo, o paciente recebe alta hospitalar em 24
horas e os pontos serão retirados em duas semanas. A ativação do implante coclear ocorre em
torno de 30 a 40 dias após a sua colocação, onde inicia o processo de programação e adaptação
do paciente ao implante com consultas regulares ao fonoaudiólogo. Alguns cuidados importantes
no pós-operatório devem ser respeitados, que são:
Manter repouso no leito com a cabeça elevada a 30º nas primeiras 24 horas.
Não molhar o curativo, não se lavar a cabeça nas duas primeiras semanas e
quando lavá-la colocar um tampão; o ouvido operado não deverá ser molhado.
Se tiver necessidade de espirrar, fazê-lo de boca aberta e assuar delicadamente o
nariz usando soro fisiológico para a limpeza do mesmo.
Dormir com o ouvido operado para o lado de cima por 15 dias.
Não realizar esforço físico ou tomar sol por 30 dias.
Tomar corretamente a medicação prescrita pelo médico e comparecer aos retornos
aos profissionais.
Se fizer uso de prótese auditiva no outro ouvido, pode colocá-la no primeiro dia
após a cirurgia.
Tomar cuidado com o implante coclear, para que ele não seja danificado.
O paciente implantado não deve praticar esportes violentos.

 
 

RECOMENDAÇÕES PARA QUEM TEM IMPLANTES COCLEARES


Proibido realizar exame de ressonância magnética ou chegar perto da sala do exame;
Manter o aparelho desligado no pouso e decolagem de aeronaves;
Proibido o uso de bisturi elétrico. 151 

O implante coclear é composto de um metal que pode ser atraído pelo aparelho de
ressonância magnética podendo haver complicações graves, motivo pelo qual o paciente e seus
familiares devem permanecer sempre alertas em momentos que podem comprometer o
implante. Em viagens de avião, o paciente implantado deve desligá-lo, pois ele funciona como
qualquer aparelho eletrônico e pode interferir no controle da aeronave. Nos casos em que o
paciente necessite de procedimentos que envolvam o bisturi elétrico, o paciente ou familiares
devem enfatizar o uso do implante, pois o bisturi elétrico pode queimar a unidade interna.

PODEM ALTERAR O FUNCIONAMENTO DO IMPLANTE COCLEAR


Sistemas de detectores de metal;
Radiação eletromagnética;
Sistemas de vigilância de lojas.

DE ACORDO COM A PORTARIA Nº 1.278/GM, DE 20/10/1999

CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO PARA CRIANÇAS


Implantes para menores de 18 anos;
Experiência com prótese auditiva, durante pelo menos três meses;
Incapacidade de reconhecimento de palavras;
Família adequada e motivada para o uso do implante coclear;

 
 

Condições adequadas de reabilitação na cidade de origem.

CRITÉRIOS PARA CONTRAINDICAÇÃO


Surdez pré-lingual em adolescentes e adultos não reabilitados por método oral;
Pacientes com agenesia coclear ou do nervo coclear;
Contraindicações clínicas. 152 

Entre as complicações cirúrgicas, descritas pela literatura científica, em pacientes


submetidos à cirurgia para inserção do Implante Coclear incluem-se:
Paralisia facial;
Necrose tecidual no leito cirúrgico;
Extrusão dos eletrodos;
Mau posicionamento dos eletrodos;
Presença de zumbido;
Alterações vestibulares na primeira semana do pós-operatório;
Defeito no componente interno.

 
 

FIGURA 38 – IMPLANTE COCLEAR

153 

FONTE: Disponível em: <http://www.implantecoclearbauru.com.br/site/implante.html>. Acesso em: 12 mar.


2010.

Vale salientar que apesar de ser um sucesso e beneficiar a maior parte dos
implantados, não podemos nos esquecer do paciente que não obteve sucesso depois da
implantação dos eletrodos, motivo pelo qual a avaliação e orientação correta são fundamentais
para um bom prognóstico.

10 INCLUSÃO ESCOLAR

Inclusão escolar significa responsabilidade governamental (secretários de educação,


diretores de escola, professores etc.), bem como significa em especial a reestruturação da

 
 

escola dos dias atuais, para que ela se torne apta a oferecer respostas às necessidades
educacionais especiais de todos seus alunos, inclusive os deficientes auditivos. Não podemos
aceitar que escola nenhuma possa excluir um aluno com a desculpa de não saber com ele atuar
ou não ter professores capacitados. Toda a escola (regular ou especial) deve organizar-se para
oferecer educação de qualidade para todos.
154 

Inclusão  Resposabilidade 
Escolar Governamental

Reestruturação Escolar

É importante que os profissionais que estão envolvidos na educação, em especial os


fonoaudiólogos, devem estar conscientes de que uma criança com deficiência auditiva, ao
matricular-se na escola, deve ter como primeira providência que a direção da mesma
comunique-se com a Secretaria de Educação (no caso das escolas municipais e estaduais) e
solicite a capacitação de seus professores e os demais elementos da comunidade escolar. A
rede de ensino privada deve procurar capacitar seus professores pedindo auxílio à Secretaria de
Educação ou arcar com as despesas de capacitação para seus professores, o que não pode
acontecer é o aluno ser excluído.
Infelizmente, sabemos que a realidade da educação brasileira é complicada, mas
devemos ter em mente que a construção de um sistema educacional inclusivo está acontecendo
(bem devagar), porém é válido o esforço de todos para a melhoria da educação.

 
 

De acordo com a “Declaração de Salamanca” (1994), a existência de um compromisso


para com a Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e urgência de providenciar uma
educação inclusiva para crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais
dentro do sistema regular de ensino. É importante levantarmos a bandeira da Educação para
Todos – isso gera automaticamente a inclusão, por isso ressaltamos a seguir pontos que
devemos fixar: 155 
Toda criança tem direito fundamental à educação e deve ser dada a oportunidade
de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem.
Toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de
aprendizagem que são únicas.
Sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais
deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais
características e necessidades.
Aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola
regular, que deveria acomodá-los dentro de uma pedagogia centrada na criança capaz de
satisfazer a tais necessidades.
Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais
eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo
uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos.
A construção de uma educação inclusiva requer uma mudança de paradigma na
percepção do que é EDUCAÇÃO. O papel fundamental da educação é a formação de cidadãos,
compreendendo a dinâmica de que todos são cidadãos não podemos excluir, nem discriminar,
pois a escola desempenha uma função social, que objetiva o saber e transformar o homem.

Respeitar as diferenças;
Aprender a conviver com o diferente;
Ver a pessoa como um todo;
Todos são diferentes.

 
 

No entanto, não basta apenas incluir a criança na sala de aula; é de suma importância
oferecer uma educação que permita o desenvolvimento integral do indivíduo, de forma que
desenvolva suas potencialidades. Frisamos que a criança surda pode ter acesso a duas línguas
(língua portuguesa - oral e/ou escrita e a Libras) – o sistema educacional deve estar pronto para
tal oferta. Para tanto, é necessário que a formação de professores para atuarem na educação
especial deva ocorrer preferencialmente em cursos de nível superior, ou posteriormente, que o 156 
professor faça uma pós-graduação ou participe de cursos de capacitação, formação ou de
qualificação profissional, sobre temas que envolvam a educação especial.

 
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, A. M. V. S. As metas terapêuticas na habilitação da criança deficiente auditiva


usuária do implante coclear. 2002. 137 f. Dissertação (mestrado em Fonoaudiologia), Pontifícia
Universidade Católica - PUC, São Paulo, 2002.

BEVILACQUA, M. C.; COSTA, O. A. Audiologia Atual. Collectanea Symposium. Série Medicina 157 
e Saúde. São Paulo: Frôntis, 1998. v. 1 e 2.

BEVILACQUA, M. C.; FORMIGONI, G. M. P. Audiologia educacional: uma opção terapêutica


para a criança deficiente auditiva. São Paulo: Pró-Fono, 1997.

BEVILACQUA, M. C.; MORET, A. L. M. Reabilitação e implante coclear. In: LOPES FILHO, O.


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FIM DO CURSO!

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