Síntese do livro “O que faz o brasil, Brasil?” , R.
da Matta
Texto atualíssimo que mostra de forma simples e
objetiva como a identidade brasileira foi construída ao longo da história. Nossas peculiaridades que nos caracteriza tão bem, tanto para o bem quanto para o mal, aquilo que nos define como povo brasileiro, nossa cosmovisão peculiar e particular de construir e perceber a realidade. O país do carnaval, do futebol, das belezas naturais, de um povo trabalhador, de religiosidade sincrética, de um esta do laico, multifacetado, rico e cordial; mas também o eterno “país do futuro”, impregnado em seu DNA do “jeitinho brasileiro”, da malandragem, da intolerância e violência contra os diferentes (tudo o que foge aos padrões estabelecidos de uma visão moldada na família tradicional - daquelas que aparecem e m propagandas de margarina), da violência, da corrupção (seja nas pequenas atitudes, como p. ex., em dar propina para o guarda ou policial não multar; tirar cola na prova, etc.; seja nas grandes e mais eviden tes, como os grandes desvios de dinheiro público feitos pelas altas autoridades desse país, ou quando essas são coniventes com a corrupção ), das incríveis desigualdades soc iais que parecem nunca ter fim, etc.
O autor sustenta que só conseguiremos entender tudo
aquilo que nos constitui e nos definem como povo a partir de uma análise que inclui essas “duas faces de uma mesma moeda”, nossas contradições e dualidades , perceptíveis em nossas relações interpessoais, sincréticas por natureza. Olhando para o retrovisor do passado, mas também com os olhos fitos no horizonte que se apresenta enquanto seguimos adiante. Sendo assim, Da Matta apresenta alguns temas, tais como, universos diferentes como lar (não apenas uma casa) e rua, onde as perspectivas são opostas, mas ao mesmo tempo, complementares. Estas são muito mais do que espaços físicos, a primeira é onde se encontra o acolhimento das pessoas que a uma família pertencem (com seus códigos morais, discurso conservador, onde há uma hierarquia, onde os homens e os mais velhos defendem e transmitem toda essa tradição); a segunda é a “selva de pedra”, onde há hostilidade, violência e medo. São opostas porque onde procuramos na rua o que não encontramos em casa, e vice -e- versa. Uma sociedade brasileira miscigenada e ao mesmo tempo racista e preconceituosa com aquele que é diferente; onde não há uma raça pura e superior, mas onde existem pessoas que realmente acreditam que não deve existir mistura de “raças”, espécies diferentes de gentes; onde cada um tem que ficar “na sua”, segundo a lógica preconceituosa de quem abomina as misturas e o contato íntimo dos mais capazes intelectualmente com aquelas ditas espécies inferiores. No livro ele explica historicamente as razões para tais pensamentos. Roberto Da Matta cita vári os teóricos do racismo que contribuíram para que esse entendimento excludente influenciasse de forma negativa nossa sociedade ao percebê-la e defender, com suas teses, “um medo da mistura e trataram a nossa população como um todo potencialmente degenerado de híbridos incapazes de criarem alguma coisa forte ou positiva.” (p. 26)
Da Matta defende que por aqui as coisas não são tão
simples, nossos dualismos não são excludentes e tão evidentes assim. Ele cita , por exemplo, como o racismo no Brasil é bem diferente dos sistemas encontrados entre os norte-americanos, anglo -saxões e sul-africanos. Aqui tudo é velado, uma forma bem mais eficaz de discriminar pessoas “de cor” com o propósito de “que elas fiquem no seu devido lugar e ‘saibam’ qual ele é” (p. 31), portanto muito difícil de ser combatido, posto que variável, amplo e invisível. Tudo isso é fruto de nossa colonização portuguesa, preconceituosa e discriminatória por natureza e que por aqui se potencializou e mascarou um problema que parece não ter soluç ão: a mistura de raças foi uma maneira bem pensada de ocultar injustiças sociais contra os índios, mulatos e negros transformando-nos numa sociedade hierarquizada, que funciona e admite a superioridade do branco sobre o negro pobre através de uma série de critérios de classificação.
Em todos os capítulos, com assuntos e particularidades
diversas, fica evidente, de como nossa cultura é bem diferente das culturas estrangeiras, nas palavras do próprio autor, que “tudo que é contrário lá fora aqui dentro fica combinado”. (p. 43) A leitura é cativante, leve, engraçada, de fácil entendimento e fascinante. Altamente recomendada para todos os brasileiros que querem entender porque somos o que somos e fazemos o que fazemos. DaMatta escreve de uma forma bem objetiva e simples, um escritor que vale a pena ser lido, escreve de uma forma inteligível, de modo que qualquer um pode entender o conteúdo de suas obras.