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Recepção e Horizontes

Algumas considerações do grupo:

I
 Reconhecemos a essencialidade da apropriação da linguagem escrita, sabemos
da importância da literatura e confiamos em seu papel formador. Nessa ordem
de ideias, entendemos o direito que tem todo o ser humano (criança, jovem,
adulto) à leitura e à compreensão de bons textos literários.
 Falar de leitura hoje, implica reconhecer que o mundo contemporâneo demanda
semioses múltiplas, e, por conseguinte, entende-se leitura como ato fenomênico;
perspectiva que entende que somos também leitores de formas, sons, cores, luz,
volumes, estruturas, gestos, silêncios, etc.
 A designação que atribuímos ao leitor já alcança outras esferas e diferentes
palavras concorrem para nomear aquele que lê: receptor, telespectador, leitor,
narratário, destinatário, intérprete, ouvinte, espectador, interlocutor, arquileitor,
leitor-modelo, leitor-ideal, leitor implícito, leitor explicito, internauta, leitor
ubíquo etc etc.

 A discussão foi realizada a partir da excelente síntese apresentada por Avani, da


leitura da Introdução do livro traduzido e organizado por Luiz Costa Lima A
Literatura e o Leitor: textos de estética da recepção, e do fichamento do livro de
Regina Zilberman enviado por Ligia. As reflexões mobilizaram pontos
polêmicos e importantes.
 Pensar em teoria da recepção, parece implicar necessariamente em pensar em
Teoria Literária, uma vez que o que se conhece por este nome está ligado à essa
área. Para proceder a análises e comparações devemos nos voltar a questões
específicas para focalizar a recepção, em especial, no que se refere a qualidade
dos textos literários, para, posteriormente, pensarmos na recepção de textos
visuais e/ou em outras linguagens.
 Outro ponto é o de, independentemente da denominação, o leitor está inserido
num processo de comunicação e de semioses múltiplas. Daí, não se pode
esquecer que a recepção é um fato cultural e social.
 Consideramos o fato de que não se pretende elaborar uma teoria da recepção, o
que seria complexo demais e inviável. O que se pretende, minimamente, é obter
um corpo teórico, uma estrutura de hipóteses gerais que mobilizem testagem e
comprovação, e a seleção de objeto(s), que permitam agenciar conceitos para as
análises críticas e testagens, bem como, possamosencontrar alguns nortes para o
efetivo trabalho que se faz nas práticas de formação de leitores literários.
 As obras atuais, que compreendem na produção outras formas de arte, propõem
a complexidade, o acaso e a indeterminação em seu próprio construto, não se
pode falar em leitura errada ou certa, nem em leitor modelo ou ideal, uma vez
que os signos (mais gerais que o interprete têm a capacidade de gerar
interpretantes). Há uma exacerbação da distração, como previa Benjamin,
semioses muito criativas, uma vez que há potencialidades inesperadas de
códigos já existentes. O desafio, nesse sentido, para os que trabalham com a
formação de leitores, em especial de leitores literários, tem se intensificado.

II

1
Síntese

A chamada Estética de Recepção - liderada por Hans Robert Jauss e Wolfgang


Iser, cujo propósito era fundar uma nova História da Literatura na dialética receptor e
história, sabe-seinsuficiente para dar conta da complexidade da questão da leitura, da
recepção, e em especial, do acesso ao mundo da literatura e da formação do leitor
literário.Vale considerar,contudo, não ser possível minimizar a contribuição desses teóricos da
Escola de Konstanz (Hans Robert Jauss, Wolfgang Iser, Hans Ulrich Gumbrecht, Karlheinz
Stierle), entre outros, para a análise crítica dos estudos da recepção, uma vez que retomam a
maioria das teorias da literatura do século XX, além de apontarem para a importância da
figura do leitor na cadeia comunicativa da escritura.
Hans Robert Jauss
Jauss, que partia de uma crítica à teoria formalista, dizia que ela “alçou a literatura à
condição de um objeto autônomo de investigação, na medida em que desvinculou a obra
literária de todas as condicionantes históricas” (Jauss.1994:22). Tanto o método marxista
quanto o formalista, em seu entender, encerravam, no círculo fechado da estética da produção
e da representação, o papel do leitor. Enfatizava que ambos os métodos ignoravam o leitor em
seu papel imprescindível: “ o papel do destinatário a quem a obra literária,
primordialmente, visa” (ibidem, 1994:23).
A partir dessas afirmações, a polêmica da aula inaugural de Jauss se firmou em sete
teses: as quatro primeiras tinham o caráter de premissa e as três últimas, o caráter
metodológico, das sete, destacamos os seguintes aspectos:
I. “A história da literatura não repousa numa conexão de fatos literários estabelecida
post festum mas na experiência dinâmica da obra literária por parte dos seus leitores. (...)” A
obra literária é uma partitura voltada para a ressonância sempre renovada da literatura.
(Jauss.1944:25).
II. “A obra que surge não se apresenta como novidade absoluta num espaço vazio,
mas, por intermédio de avisos, sinais visíveis e invisíveis, traços familiares ou indicações
implícitas, predispões seu público para recebê-la de uma maneia bem definida. Ela desperta a
lembrança do já lido, (...) conduz o leitor a determinada postura emocional.” (1944:28)
III. A distância entre o horizonte de expectativa e a obra, entre o já conhecido da
experiência estética e a mudança de horizonte exigida pela acolhida à nova obra determina, do
ponto de vista da estética da recepção, o caráter artístico de uma obra literária. (1944:31).
IV. Só se pode entender um texto quando se compreendeu a pergunta para a qual
ele constitui uma resposta (Hermenêutica da pergunta e da resposta). “O entendimento não é
um processo apenas reprodutivo, mas produtivo também. ” (1944:44)
V. “O caráter artístico de uma obra não tem que ser sempre e necessariamente
perceptível de imediato (...) a resistência que a obra nova opõe à expectativa de seu público

1
Esta síntese corresponde a leituras e fichamentos que realizei para meus estudos e cursos.
inicial pode ser tão grande que um longo processo de recepção faz-se necessário para que se
alcance aquilo que, no horizonte inicial, revelou-se inesperado e inacessível. ” (1944:44)
VI. Propõe a visão sincrônica como forma de mostrar o sistema de relações da
literatura de uma dada época e a sucessão desses sistemas.
VII. Invertendo a posição marxista da literatura como reflexo da sociedade, Jauss
enfatiza que a literatura pré-forma a compreensão de mundo do leitor, repercutindo então em
seu comportamento social.

Segundo Terry Eagleton (1944:89), Jauss objetivava produzir um novo tipo de


história da Literatura centralizada não os autores, mas interpretada por vários momentos de
recepção histórica. Para Jauss, as obras literárias se modificam tanto quanto suas
interpretações e de acordo com os vários horizontes históricos nos quais elas são recebidas.

O conceito de horizonte, Jauss retirou dos escritos de H. G. Gadamer que reiterava “que
só pode entender um texto quando se compreendeu a pergunta para a qual ele constitui uma
resposta”.

Para Gadamer, “a pergunta reconstruída não pode mais inserir-se em um horizonte


original, pois esse horizonte histórico é sempre abarcado por aquele de nosso presente” (apud
Jauss.1944:37). Esta inserção em épocas distintas revela que “um texto não é objeto dado,
mas uma frase na realização de um processo de entendimento” (Gadamer, 1944:33).
Gadamer também influenciou Jauss na reflexão sobre o papel social do leitor:

Cada leitor pode reagir individualmente a um texto, mas a recepção é


um fato social – uma medida comum localizada entre essas reações
particulares; este é o horizonte que maca os limites dentro dos quais
uma obra é compreendida em seu tempo e que sendo ‘trans-subjetivo’,
condiciona a ação do texto (apud Zilberman 1989:34).

Para Jauss, então, a compreensão primeira é individual e a recepção é coletiva.

Wolfgang Iser

Iser, na mesma época, propunha uma orientação diferente -a Estética do Efeito.É


possível sinalizar a diferença entre recepção (rezeptio) e efeito (wirkung) da seguinte forma: a
primeira diz que a obra passa por um processo histórico sendo, ao longo do tempo, recebida e
interpretada de maneiras diferentes; a segunda diz que, ao ser consumida, a obra provoca um
determinado efeito sobre o destinatário (Zilberman, 1989:64). Assim, se Jauss falava na
efetiva recepção histórico-literária das obras, Iser, por sua vez, alinha-se a duas questões:

o Em que medida o texto literário se deixa apreender como um


acontecimento?
o Até que ponto as elaborações provocadas pelo texto são previamente
estruturadas por ele?
Estas questões ele procurou responder observando que, “como atividade comandada
pelo texto, a leitura une o processamento do texto ao efeito sobre o leitor. Essa influência
recíproca é descrita como interação (Iser, 1979:83).
Para W Iser, “uma interpretação da literatura, orientada pela estética do efeito, visa: à
função que os textos desempenham em contextos; à comunicação, por meio da qual os textos
transmitem experiências que, apesar de não-familiares, são, contudo, compreensíveis e à
assimilação, por meio da qual se evidenciam a “prefiguração da recepção” do texto, bem
como as faculdades e competências do leitor por ela estimuladas” (Iser, W.1996:13) ⁴.
Terry Eagleton (1944:85) ressalta que “a teoria de Iser baseia-se, de fato, em uma
ideologia liberal humanista: na convicção de que na leitura devemos ser flexíveis e ter a
mente aberta, preparados para questionar nossas crenças e deixar que sejam modificadas (...)”
mas não muito, “pois um leitor com fortes compromissos ideológicos provavelmente será um
leitor inadequado já que tem menos probabilidade de estar aberto aos poderes (...) das obras
literárias.
Apelando para Ingarden “para quem o mundo imaginário representado numa obra
mostra-se de modo esquematizado, portanto, incompleto e com pontos de indeterminação ou
lacunas, tem condições de confirmar um dos principais postulados da estética da recepção: a
obra literária é comunicativa desde sua estrutura; logo depende do leitor para a
constituição de seu sentindo” (apud Zilberman, 1989:64) W. Iser retoma e reformula o
conceito de indeterminação dizendo que “as estruturas centrais de indetermediação no texto
são seus vazios e suas negações. Eles são as condições para a comunicação, pois acionam a
interação entre texto e leitor a até certo nível a regulam. ” (Iser, 1979:106). Iser considera que
esses vazios jogam o leitor dentro dos acontecimentos e provocam-no para que tome como
pensado o que não foi dito (ibidem:90).
Hans Ulrich Gumbrecht
Gumbrecht propõe uma Teoria da Ação a partir da Estética da recepção de Jauss. Seu
propósito é alicerçar a teses de Jauss e transformá-las em uma ciência da literatura “teorético-
acional”, ou seja, dar uma roupagem de teoria científica para aquela que estava começando
como uma proposta ainda sujeita a mudanças e estimulada pela discussão acadêmica –
científica do momento. Metodologicamente ela teria este perfil:

Infere-se daí uma primeira (e provisória) determinação do campo da ciência da


literatura da estética da recepção: que deseja apreender as condições de
diferentes constituições do sentido sobre um texto deve pesquisar as interações
entre um autor e seus leitores, pois a ação social do autor é tanto condição para
a compreensão do texto pelo leitor, como a ação social, provável dos leitores,
age como premissa, para a produção textual do autor (Gumbrecht, 1979:192).

Mais tarde, Gumbecht enfatiza a importância da obra O Ato de Leitura, de W. Iser,


com qual se identifica mais.
OUROS AUTORES
Aristóteles,com sua teoria da Katharsis, mostrou o efeito que a tragédia provocava em
público, uma vez que, para Jauss, ela é “aquele prazer dos afetos provocados pelo discurso ou
pela poesia, capaz de conduzir o ouvinte e o espectador tato à transformação de suas
convicções, quanto à libertação de psique” (Jauss, 1979:80). Isto faz de Aristóteles um dos
precursores da estética da recepção.
Hermenêutica– chamada arte da interpretação - faz a ponte para o estudo sobre a
interpretação. Esses estudos, iniciados como uma atividade de mediação entre os deuses e os
mortais, vêm desde a época clássica ateniense interpretado textos da epopeia aos textos
sagrados, depois textos teológicos, filosófico e jurídicos, até chegar ao século XX com a obra
de Heidegger (Lima, 1983:57) e de seu discípulo Hans Georg Gadamer que, como já vimos,
foi um dos autores que influenciou H.R. Jauss
Para Gadamer, “o significado de uma obra literária não se esgota nunca pelas intenções
do seu autor; quando a obra passa de um contexto histórico para outro, novos significados
podem ser extraídos, e é provável que eles nunca tenham sido imaginados pelo seu autor ou
pelo público contemporâneo” (apud Eagleton, 1994:77). Essa ideia é facilmente entendida
quando percebemos o quanto as vanguardas modernistas auxiliam na compreensão do
barroco, Jauss cita a releitura de Gôngora feita por Haroldo de Campos e Augusto de Campos.
Outro autor que também influenciou os estudos da recepção foi Roman Ingarden
(Iser). De seus estudos aflora a ideia de schemata (ou direções gerais):
Os esquemas predeterminados dos aspectos são durante a leitura
sempre completados e preenchidos por diversos pormenores que
propriamente não lhes pertencem e que o leitor tira dos conteúdos de
outros aspectos concretos outrora vividos. [...]. Por conseguinte, é
inteiramente impossível que o leitor atualize exatamente os mesmos
aspectos que o autor quis previamente determinar através da
estruturação da obra. (Ingarden, 1965:289)

Depois de Gadamer e Ingarden, outro autor que também influenciou indiretamente os


estudos de recepção foi Victor Chklovski. Apesar das críticas que o grupo de Konsanz fazia
aos formalistas, houve interesse em seus escritos e a noção de estranhamento é a que mais se
destaca:

E eis que para desenvolver a sensação de vida, para sentir os objetos,


para provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte. O objetivo
da arte é dar a sensação do objeto como visão e não como
reconhecimento; o procedimento da arte é o procedimento da
singularização dos objetos e o procedimento que consiste em
obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a duração da percepção.
(Chklovski, 1976:45)

A crítica de Iser a Chklovski está ligada ao fato de, para ele, a arte obscurecer e
aumentar a dificuldade e a duração da percepção. Para Iser (1979:112), “não se pode dizer que
a arte complica a percepção do objeto, mas sim que, por seus graus de complexidade, dificulta
a constituição do sentindo, consequentemente a ideação pelo leitor”. Com essa observação,
ele transforma o conceito de estranhamento em dificuldade de ideação e nos compele a
abandonar as imagens já formadas e criar imagens que não seriam concebíveis habitualmente.
Para a crítica que Jauss fazia aos formalistas, sobre a ausência de condicionantes
históricas, Roman Jakobson (1983:490) esclarece que: a pesquisa formalista demonstrou
claramente que o desvio e as modificações não são meramente dados históricos (primeiro
havia A, depois A1 apareceu em seu lugar), mas sim que o desvio é também um fenômeno
sincrônico de experiência direta, um valor artístico altamente relevante”.
Para Jakobson, a importância dos estudos formalistas refere-se também ao fato de que

o leitor de um poema eu quem contempla um quadro tem vividamente


em seu espírito a presença de duas ordens: o cânone tradicional e a
novidade artística que é um desvio em relação a ele. É contra a base de
tal tradição que se concebe a renovação. Os estudos formalistas
trouxeram à luz o fato de que este simultâneo manter a tradição e fugir
dela compõem a essência de todo novo trabalho artístico.(JAKOBSON,
1983:490)

A crítica que se faz aos estudos desses teóricos é que o recebedor (como quer
Mukarovsky) “é reduzido a um papel passivo, encarado como espaço onde se realizam de
modo surpreendente os artifícios artísticos não familiares” (Zilberman, 1989:20).
Na esteira dessas teorias, outras também apontam o leitor como um elemento
importante para a recepção: a sociologia da leitura, liderada por Goldman, Lukács, Escarpit
que, não teorizando metodologicamente sobre os problemas da recepção, não traz uma
contribuição específica para a teoria da recepção. Mesmo assim teve um papel importante ao
permitir a compreensão do fato literário, como bem de circulação e consumo.
Jauss considera¹¹ que a concepção marxista de Literatura, que norteou os estudos da
Sociologia da Literatura até Lukács se restringiu à teoria do reflexo e, daí, ao ideal da mimesis
do realismo burguês, só a partir de Brecht pode-se falar de uma consideração do efeito da
Literatura.

Outros autores, nas últimas décadas, defenderam outras ideias e tiveram papel
importante, não como teóricos da recepção, mas pesquisadores que marcaram os estudos
teóricos tanto da literatura quanto da comunicação e, de alguma forma, acabaram discutindo o
papel do leitor.
Do estruturalismo francês, merece destaque Roland Barthes. A publicação de seu
livro Le degré zero de l’écriture, em Paris, 1953 (anterior às obras dos teóricos alemães),
coloca em cena o conceito de écriture que, para ele, “é uma realidade ambígua: por um lado,
ela nasce incontestavelmente de uma confrontação do escritor coma sociedade; por outro lado,
ela remete o escritor, por uma espécie de transferência trágica, às fontes instrumentais de sua
criação.” (apud Perrone-Moisés 1978:35).
Vinte anos mais tarde (1973), ele publicou Le plaisir Du texte. Nesta obra, a relação
exto / leitor recebe um tratamento novo, uma visão hedonista da leitura. Segundo Jauss
(1979:73), Bathes empenhou-se na reabilitação do prazer estético. Dirigindo-se contra a
suspeita panideológica de que todo prazer estético não passa de um instrumento da classe
dominante, e acabou radicalizando a questão, transformando o ato de leitura num ato de
prazer, pleno de sensualidade, mas comandado pelo texto. Barthes queria delinear uma
estética moderna para examinar a fundo o prazer do consumidor, daí oferece a dicotomia
prazer (plaisir) e gozo (jouissance):
Texto de prazer: aquele que contenta, preenche, dá euforia; aquele que vem da
cultura, não rompe com ela, está ligado a uma prática confortável da leitura. Texto de
fruição: aquele que coloca em estado de perda, que desconforta (talvez até um certo
enfado), faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas, do leitor, a
consistência de seus gestos, de seus valores e suas lembranças, faz em crise sua
relação com linguagem. (Barthes, 1973:22)
Uma parte da crítica marxista e os próprios teóricos da recepção foram duros com o
autor. Tery Eagleton (1944:88) afirma que “assim a literatura parece um laboratório e mais
um boudoir. (...) Barthes nos apresenta uma experiência privada, a social, essencialmente
anárquica”. Jauss (idem: 74), ao se referir ao prazer estético, também critica Barthes dizendo
que ele ressalta unilateralmente o ‘caráter insular’ da situação de leitura comunicativa”. Desta
forma, Jauss acrescenta, ainda, que Le plaisir Du texte vai tão longe que a primazia ontológica
do texto, de início abandona, retorna, podendo tornar-se até mesmo um objet-fétiche
(1979:74).Assim, finaliza Jauss: “Cabem neste reparo as teorias da chamada semiótica
parisiense e do grupo TEL QUEL, contra as quais se levantou a conhecida e até hoje não
rebatida censura de Sarte: absolutizam a abra como écriture, afastam o leitor e, com isso,
esquecem que a literatura é comunicação” (Jauss, 1979:53).
Um leitor mais atento percebe que Barthes fez o que pretendia: “o prazer do texto”, e
não, o prazer da leitura. Para ele, o leitor é o contra-herói e coloca mais explicitamente que
“não é a pessoa do outro que me é necessária, é o espaço: possibilidade de uma dialética do
desejo, de uma imprevisão do desfrute: que os dados não estejam lançados, que haja um jogo”
(Barthes, 1973:9). Nessa medida, que governa o leitor é o texto e, com isso, retorna a visão
imanentista (que os professores de Konstanz tanto criticavam), mas numa roupagem
escritural.
Na mesma década dos alemães, outro autor começou a se destacar: Umberto Eco. Em
1962, publicou Obra Aberta, marco inicial de seus estudos sobre a interpretação. Nesse livro,
procura defender a ideia de que a obra de arte (não só a literatura) é um objeto produzido por
um autor que organiza uma seção de efeitos comunicativos de modo cada possível fruidor
possa re-compreender (através do jogo de respostas à configuração de efeitos sentida como
estimulo pela sensibilidade e pela inteligência) a mencionada obra, a forma originária
imaginada pelo autor. Para Eco, o autor produz uma obra acabada, mas cada fruidor traz uma
situação existencial concreta, uma sensibilidade, (...), gostos, preconceitos pessoais, e de
modo que a compreensão da forma organizada se verifica segundo uma determinada
perspectiva individual. (Eco, 1971:40).
A grande contribuição da Obra Aberta (1971:48) tenha sido talvez considerar a obra de
arte em geral, não só a literatura, e perceber que a estética contemporânea, principalmente
pintura, musica, em lugar de sujeitar-se à “abertura” com fator inevitável, erige-a em
programa produtivo. É o caso de “Finnegans Wake, de James Joyce. Obra em que “ todo
acontecimento, toda palavra, encontra-se numa relação possível com todos os outros e é da
escolha semântica efetuada em presença de um termo que depende o modo de entender todos
os demais. Isso não significa que a obra não tenha um sentido(...), mas esse sentido tem a
riqueza do cosmo”. Quanto ao fruidor, Eco (1971:93) destaca que:
As poéticas contemporâneas, ao propor estruturas artísticas que exigem do
fruidor em empenho autônomo especial, frequentemente uma reconstrução,
sempre variável, do material proposto, refletem uma tendência geral de nossa
cultura em direção àqueles processos em que, ao invés de sequência unívoca a
necessária de eventos, se estabelece como um campo de probabilidades, uma
ambiguidade de situação capaz de estimular escolhas operativas ou
interpretativas sempre diferentes.

Ele próprio faz a crítica ao seu trabalho dizendo que: “Nesse livro eu defendia o papel
ativo do intérprete na leitura de textos dotados de valor estético. [...] em outras palavras, eu
estava estudando a dialética entre os direitos dos textos e os direitos de seus intérpretes.
Tenho a impressão de que, nas últimas décadas, os diretos dos intérpretes foram
exagerados”. (Eco, 1993:23).Em seus escritos mais recentes, U. Eco (1993:29) recoloca as
questões já levantadas no anteriores e adiciona um terceiro elemento. “Sugeri que entre a
intenção do autor (muito difícil de descobrir e frequentemente irrelevante para a interpretação
de um texto) e a intenção do intérprete que (para citar Richard Rorty) simplesmente “desbasta
o texto até chegar a uma forma que sirva a seu propósito” existe uma terceira possibilidade.
Existe a intenção do texto”.
Essa intentio operis significa que a uma intenção transparente do texto, que invalida
uma interpretação insustentável.
“A intenção do texto não é revelada pela superfície textual. Ou, se for revelada, ela o é
apenas no sentindo da letra sonegada. É preciso querer “vê-la”. Nesse ponto as ideias de Eco
vão ao encontro das de W.Iser (1979:89) quando este se refere às correções que o texto
impões: “mas a complexidade da estrutura do texto dificulta a ocupação completa desta
situação pelas representações do leitor”. Dessa forma, “os vazios do texto e das negações nele
contidas, a atividade de constituição decorrente da assimetria entre texto e leitor adquire uma
estrutura determinada, que controla o processo de interação”.De qualquer forma, a intentio
operis é uma forma de conter aos “vôos delirantes”. Mais tarde, Eco fez uma conferência na
qual ele coloca os limites para o leitor paranoico que procura pistas onde não há índices
suficientes. Superinterpretação é, para Eco, uma literatura suspeita.
Não há muita diferença entre o que Eco propõe e o chamado círculo hermenêutico, pois
ele concorda com os teóricos alemães e diz que, “desse modo, mais do que um parâmetro a
ser utilizado com a finalidade de validar a interpretação, o texto é um objeto que a
interpretação constrói no decorrer do esforço circular de valorizar-se com base no que acaba
sendo o seu resultado. Não tenho vergonha de admitir que estou definindo assim o antigo a
ainda válido círculo hermenêutico”.
Nos Estados Unidos, com o New Criticism, a discussão se dá em torno do mesmo
problema – a imanência do texto. A contrapartida veio com Reader – Response Criticism,
W.Iser também chegou a fazer parte desse grupo, liderado por Stanley Fish, Gerald Prince,
entre outros. A proposta colocou em cheque o texto e assumiu radicalmente a defesa do leitor.
A crítica acusou-o de estar propondo uma anarquia da leitura, porém para se libertar
deste embaraço, ele “recorre a certas estratégias de interpretação que os leitores têm em
comum e que governarão suas reações pessoais”. Essas estratégias são formadas nas
academias o que impede grande divergência de leitura, e são as “Interpretative Communities”
as responsáveis pela estabilidade das interpretações. Fish reafirma “que o sentido é um
evento, isto é, um processo a ocorrer durante a leitura, subordinado às transformações por que
passam as operações mentais do leitor. O texto confunde-se à experiência que proporciona e a
que o leitor carrega consigo, perdendo toda objetividade. A objetividade do texto é uma
ilusão” (apud Zilberman, 1989:27).

Simultaneamente a essa visão nasce, na Escola de Yale, a Desconstrução ou


Desconstrutivismo, liderado por Paul de Man, J. Hillis Miller, J. Derrida e, em alguns
momentos, por Harold Bloom. Para Paul de Man, diz T. Eagleaton (1994:156), toda
linguagem é inevitavelmente metafórica, seja ela jurídica, política, filosófica. Ele nega
radicalmente o sentido literal do texto.Todas as manifestações de linguagem são tão
figurativas e ambíguas como a literatura, o que ocorre é que a literatura assume essa
característica e as outras não. Ou seja, para De Man “a metáfora que estrutura a linguagem e
afirma que todo discurso e retórico inclusive o filosófico” (Hansen, 1997:7).

J.Hillis Miller (1995:134) define desconstrução como “uma consciência metódica do


poder demolidor que as figuras de linguagem exercem sobre o sentido “gramatical” simples,
de um lado, e o aparente rigor da argumentação lógica do outro”. Para esse crítico, todos os
bons leitores, como todos os bons autores sempre foram desconstrutivistas.

Vale lembrar que “desconstrução” não é algo que o leitor pode fazer com um texto;
trata-se de algo que o texto já faz a si mesmo. Assim, é o texto que faz algo ao leitor,
na medida em que este é levado a reconhecer a possibilidade de duas ou mais leituras,
rigorosamente defensáveis, igualmente justificáveis, mas logicamente incompatíveis”
(Ibidem)

Outras vozes agregam-se:

Na Alemanha: Walter Benjamim.

Haroldo de Campos (1989:88) encontra nos estudos benjaminianos, principalmente em


“A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” (1935:36), uma suspensão do caráter
comunicativo da obra e na obra “ A tarefa do Tradutor! Uma teoria de leitura:

Ao distrair-se do significado (assim desvalorizando-o do seu valor de culto, reverencial,


sacralizado na teoria da servil), Benjamin muda a ênfase do processo translatício para a
essência, para o modo de intencionar da obra. Assim a recepção distraída (Rezeption in der
Zerstreuung), disseminada, do tradutor-transcriador quanto ao significado (que a própria obra
original já pré-ordenou, exonerando-o da fadiga de ocupar-se com esse aspecto
comunicacional), prefigura, num outro nível, aquela do espectador de cinema, enquanto
examinador distraído.

Benjamim não está interessado num público determinado, para esse autor, o fato de a
obra entrar ou não um receptor ideal, ou um tradutor que lhe seja comensurado, que
corresponda à sua demanda, não impede que a traduzibilidade dela seja vista, apoditicamente,
como algo que lhe é ontologicamente inerente (Campos, 1989:84). Nesse sentido, o trabalho
de Benjamin encontra eco na obra de Pierce (no que se refere ao conceito de signo).Esta
proposta de Benjamin do tradutor como leitor-autor autoriza-nos a colocá-lo neste elenco de
possíveis nomes que mereceriam uma releitura sob a ótica da recepção.
Na América Latina: Jorge Luis Borges

Deixar de citá-lo seria imperdoável. Como poeta, novelista, crítico, tradutor pensa a
relação texto / autor /leitor em quase todos os seus escritos. Creio haver “uma possível teoria
de recepção borgiana”.Borges faz da leitura um movimento de descoberta e invenção. Para
ele, a palavra inventar equivalia etimologicamente a descobrir, ou seja, a um exercício de
leitura como vivência inauguradora da interpretação.

E no Brasil - Manifesto de Recepção - elaborado por Oswald de Andrade chamou-se


MANIFESTO ANTROPÓFAGO, que nos ajudou a conviver com nossa herança de
colonizado.Embora não seja uma proposta de teoria, apresenta o sabor da junção das que
existiam e das que viriam a existir. Uma deglutição intelectual. Haroldo de Campos (1977:17)
comenta que esse manifesto caminha para uma visão brasileira de mundo sob a espécie de
devoração, para uma assimilação crítica da experiência estrangeira e sua reelaboração em
termos e circunstâncias nacionais e, alegorizando, nesse o canibalismo de nossos selvagens.

Leyla Perrone-Moisés (1990:98) completa a metodologia oswaldiana: “só a


Antropofagia nos salva desses enganos e dessa má consciência, por assumir alegremente a
escolha e a transformação do velho em novo, do alheio em próprio, do déjà vu em original.
Por reconhecer que a originalidade nunca é mais do que uma questão de arranjo novo”.

As conclusões não podem ser compreendidas de forma homogênea. Mas, com exceção
do desconstrutivismo, acabam focalizando a recepção do texto literário ou, mais amplamente,
o texto artístico, quando o leitor está num momento privilegiando-o da leitura de um texto
especial. Vale considerar que leitor e texto, implica ainda: instituição literária, editores,
organizadores, críticos especialistas ou não, jornais, estratégias de marketing, academias, que
acabam determinando quem vai ler o que, e quando.

1.Propostas de trabalho
a) Estudar Coleção Vaga-lume como proposto por Iannace.
b) Estudar como os clássicos estão sendo lidos pela via da arte sequencial -
HQ
c) A relação palavra e imagem no livro infantil. Os textos que recebem
ilustração comportam recepção específica? Como o livro ilustrado lê os clássicos?
Ex: Inês, Cântico dos Cânticos...
d) Estudo dos livros premiados

Para 6ª feira
2. Leitura de K Varga, como proposto pela Prá, que fará alguma discussão e atividade.
3. Lembrete de Convites aos orientandos e autores

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