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ISSN 1679-1827

Volume 1, Número 1, Janeiro/Junho 2003

FLEXIBILIZAÇÃO, QUALIDADE DE VIDA E EMPREGABILIDADE: O CASO


DAS COOPERATIVAS DE TRABALHO DE PORTO ALEGRE

Valmiria Carolina Piccinini


Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA/EA/UFRGS)

Sidinei Rocha de Oliveira


Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA/EA/UFRGS)

Sumário: 1. Introdução; 2. Relações Flexíveis de Trabalho, qualidade de vida e cooperativismo; 3. O Estudo;


4. Resultados do levantamento; 5. As cooperativas e a flexibilização; 6. As cooperativas e a Qualidade de Vida;
7. Considerações finais.

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


Flexibilização, Qualidade de Vida e Empregabilidade: o caso das Cooperativas de Trabalho de Porto Alegre

identified on the part of the leaders the


RESUMO valorization of the ideal cooperativists and
A precarização das condições de the concern with the quality of life of those
trabalho decorrentes da reestruturação cooperated. The cooperatives, however,
produtiva no Brasil reflete-se no aumento nos struggled with difficulties, as a consequence
níveis de desemprego, má distribuição da of the “facade” cooperatives, of the
renda e conseqüente exclusão social. As legislation considered restrictive and of the
associações de trabalhadores apresentam-se fact of the contracting parties of their
como alternativa para geração de renda e de services they look for the smallest costs, that
trabalho e, neste cenário, as Cooperativas de implies working in conditions that
Trabalho como uma nova forma de compromises the cooperated quality of life.
organização dos trabalhadores e uma
alternativa para o desemprego estrutural. Key-words: flexibility; quality of life;
Porém, por uma série de questões de ordem employability; work cooperatives.
econômica, social, cultural e jurídicas podem,
também levar à precarização do trabalho.
Partindo-se dessa reflexão foi desenvolvida
uma pesquisa questionando-se quanto a 1. INTRODUÇÃO
flexibilização do trabalho reflete-se nas das
condições e das relações de trabalho e
qualidade de vida nas Cooperativas de O fenômeno da terceirização vem se
Trabalho de Porto Alegre. Foram difundindo de uma forma cada vez mais
entrevistados especialistas no assunto e expressiva em todos os setores econômicos
dirigentes de 13 cooperativas. Identificou-se, (agrícola, industrial e de serviços). Grande
por parte dos dirigentes a valorização dos parte dessas atividades é desenvolvida
ideais cooperativistas e a preocupação com a através das cooperativas de trabalho que,
qualidade de vida dos cooperados. Essas por possuírem legislação própria,
cooperativas, no entanto, lutam com teoricamente têm mais agilidade e
dificuldades, decorrentes da concorrência das flexibilidade para atender à demanda.
cooperativas de “fachada”, da legislação No Rio Grande do Sul estão
considerada restritiva e do fato dos registradas 674 cooperativas, federações e
contratantes de seus serviços buscarem o centrais, organizadas em nove ramos de
menor custo, o que as obriga a trabalhar em atividades (agropecuário, crédito, saúde,
condições que comprometem a qualidade de trabalho, consumo, educacional,
vida dos cooperados. eletrificações e telefonia, habitacional e
produção), reunindo aproximadamente 639
Palavras-chave: flexibilização; qualidade de mil associadosi, que somados a seus
vida; empregabilidade; cooperativas de dependentes representa que três milhões de
trabalho. pessoas de alguma forma estão inseridas no
sistema. Calcula-se, ainda, que mais de duas
centenas de cooperativas não estão
ABSTRACT registradas, embora a lei determine tal
The degradation of work conditions obrigatoriedade. Por conseqüência, o número
as a result of the productive restructuring in exato de filiados é desconhecido. Neste artigo
Brazil is reflected in the increasing buscou-se identificar as cooperativas de
unemployment levels, bad incomes trabalho existentes em Porto Alegre o que
distribution, and consequent social exclusion. representam em termos de oportunidade de
The worker’s associations present themselves trabalho, de flexibilização do trabalho e seus
as an alternative to generate income and reflexos na qualidade de vida de seus
work, and in this context, it is shown that the associados.
Work Cooperatives are a new form of
worker’s organization and an alternative for
the structural unemployment. However, for a
certain number of issues - economical, social, 2. RELAÇÕES FLEXÍVEIS DE TRABALHO,
cultural and juridical - Work Cooperatives can QUALIDADE DE VIDA E COOPERATIVISMO.
also lead to the degradation of the work.
Considering that reflection, a research was
developed questioning how the flexibilization 2.1. O cooperativismo no Brasil
of work is reflected in the conditions and O movimento cooperativista no Brasil
work relationships, and life quality in the inicia-se em com o médico francês Jean
Cooperatives of Work from Porto Alegre. Maurice Faivre, que adepto das idéias
Experts in the subject and leaders of 13 reformadoras de Charles Fourier, fundou,
cooperatives were interviewed. It was com um grupo de europeus, nos sertões do
Paraná, a colônia Tereza Cristina, organizada

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em bases cooperativas. Essa organização, não atuam dentro do ideário cooperativista,


apesar de sua breve existência, representa o servindo de “fachada” para burlar a lei. Por
elemento formador do cooperativismo outro lado, verdadeiras cooperativas de
brasileiro. trabalho lutam com dificuldades para se
Segundo Oliveira (1996), a legislação manterem no mercado diante da
das cooperativas de trabalho no Brasil se concorrência das falsas cooperativas.
consolidou pelo art.24 do. Decreto- Lei n.º
22.232, de 19/12/32: 2.2. As Falsas Cooperativas
“ São Cooperativas de trabalho A finalidade do trabalho cooperativo é
aquelas que constituídas entre operários de o de aperfeiçoar as relações de trabalho
uma determinada profissão ou oficio ou de buscando a solução de problemas sociais
ofícios vários de uma mesma classe, têm graves, gerados pelo contexto de
como finalidade primordial melhorar salários desemprego, e no caso brasileiro, em
e as condições de trabalho pessoal de seus particular, é básico para a sobrevivência de
associados e, dispensando a intervenção de uma parcela expressiva da população. No
um patrão ou empresário, se propõem entanto, de um tipo de organização que
contratar obras, tarefas, trabalhos ou deveria amenizar problemas sociais, acaba
serviços públicos ou particulares, servindo para baratear os custos de
coletivamente por todos ou por grupos de produção, para desviar a aplicação dos
alguns direitos trabalhistas, pois funcionam como
As cooperativas de trabalho surgem prestadoras de serviços a terceiros, em
como forma de reverter o quadro de alguns casos utilizando uma mão-de-obra
desemprego da sociedade atual, a reunião de desqualificada e sem instrução. Melo (1997)
trabalhadores com o fim de fazer uma exemplifica a fraude escancarada das
conexão entre o mercado e o trabalhador. cooperativas de garis no Rio de Janeiro em
Segundo Irion (1997), o cooperativismo que os cooperados só têm em comum o fato
deverá ter por base a posse privada dos de serem explorados. Outro exemplo
meios de produção, um planejamento apontado é o dos bóia-frias. Os trabalhadores
descentralizado e individualizado centrado na são “apanhados” pelos chamados “gatos” de
cooperativa e no cooperado. É conforme sua manhã cedo e levados a trabalhar cerca de
conceituação: doze horas diariamente. Estas cooperativas
“... uma associação autônoma de são, na realidade, formas de trabalho escravo
pessoas que se uniram voluntariamente para com exploração, também, de crianças.
fazer frente às necessidades e aspirações Segundo Andrade (1999), apesar
econômicas, sociais e culturais comuns por destes problemas existirem, não se pode
meio de uma empresa de propriedade negar que as cooperativas de trabalho
conjunta e democraticamente controlada.” trouxeram a muitos trabalhadores a
(Irion, 1997, p. 47). possibilidade de subsistência e de gerirem
Foi a partir de 1988 que o governo um negócio como se fosse o seu. Mas , se
fomentou o cooperativismo, garantindo a sua não se identifica uma relação de associação e
autogestão. A legislação que apoia a sim de emprego é um flagrante atentado à
formação do cooperativismo está no artigo legislação.
174 da Constituição Federal... Par.2º - Lei Uma verdadeira cooperativa de
5.764/71. trabalho deve apresentar as seguintes
As cooperativas de trabalho têm um características:
fim social, são criadas para servir, fornecer 1. Oferecer trabalho ao associado e,
serviço confiável e de boa qualidade. Seu também, serviços, como saúde, aquisição de
estatuto deve conter a forma como o equipamentos e alimentos a baixo custo,
associado participará desta, com suas etc.;
obrigações e direitos, esta não deve visar o 2. oferecer a oportunidade ao
lucro, deve ter o objetivo de eliminar a associado de auferir ganho superior àquele
intermediação entre o associado e o tomador. que teria se ofertasse sua força de trabalho
A ACI (Aliança Cooperativista de forma isolada;
Internacional), sediada em Brasília, registra 3. estar ausentes a subordinação,
cerca de 750 milhões de pessoas ligadas ao pessoalidade e eventualidade. Observar se o
cooperativismo no mundo. No Brasil, a OCB trabalhador está sujeito a horário,
(Organização das Cooperativas do Brasil) regulamentos de empresa, se já foi
registra a existência de 5652 cooperativas advertido, se o serviço pode ser prestado por
envolvendo 5.014.016 associados (OCERGS.- qualquer cooperado, se a atividade
1999). desempenhada está relacionada com a
Em 1980, no Rio Grande do Sul, atividade principal da tomadora, etc;
existiam 60 cooperativas de trabalho,
número esse que passou para 82 em 1990 e
para 285 até junho de 2000. Muitas delas

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Flexibilização, Qualidade de Vida e Empregabilidade: o caso das Cooperativas de Trabalho de Porto Alegre

4. fixar valor razoável às quotas- nos países da OCDE, 30 milhões de


partes, pois, caso contrário, ficaria desempregados em 1993. (Dedecca, 1994)
impossibilitada a assistência aos cooperados. A flexibilização do trabalho vem
Segundo a Constituição, o sendo exaustivamente discutida. Trata-se de
cooperativismo deve ser incentivado pelo um assunto polêmico, cuja
Estado e de acordo com a CLT, o trabalhador multidimensionalidade e efeitos a longo prazo
deve ser protegido pelo Estado. No entanto, ainda não foram suficientemente
o Ministério do Trabalho ao fiscalizar as esclarecidos. Há que se proceder uma
cooperativas, considera-as fraudulentas na avaliação profunda dos diferentes níveis de
sua totalidade, desestimulando a formação implicações associados, quais sejam: o
de novas cooperativas e o desenvolvimento jurídico, o econômico, o social e o cultural e
das que são, realmente, autogeridas. das repercussões diretas e indiretas sobre a
qualidade de vida e o (des)emprego.
2.3. Flexibilização das relações de A necessidade de ser flexível está
trabalho e cooperativismo relacionada a uma situação de crise, e a cada
Partindo-se da constatação de que situação de crise as empresas se
até os anos 70, boa parte das economias reestruturam e mudam a natureza do
desenvolvidas apresentavam um mercado de processo de destruição e criação de
trabalho bem estruturado, razoável empregos.
distribuição de renda, baixo nível de Obter uma organização “flexível”
desemprego e de inflação. Essa estabilidade suscetível de se adaptar rapidamente às
foi rompida pelo esgotamento desse padrão variações do mercado é o objetivo mais
de crescimento e marcada pela procurado pelos industriais, que lançam
internacionalização e interpenetração dos continuamente novos produtos, mesmo
mercados e, em decorrência desses dois quando estas variações são de pequena
fatores, uma instabilidade crescente no modo amplitude. Além disso, em caso de crises em
de produção. setores determinados, ocasionadas pelo
As empresas, para defenderem-se, acirramento da concorrência, tanto interna
passam a aumentar a concorrência entre si, como externa, a busca da flexibilidade se
adotando novas tecnologias e novos métodos amplia.
organizacionais buscando adaptar-se a essa Essas reflexões levam a concluir que
situação de instabilidade e crise. Buscam, a idéia de flexibilidade está primeiramente
então, adequar a demanda de trabalho às ligada às exigências de organização da força
flutuações econômicas que nestes últimos de trabalho no processo de produção e
anos têm sido cada vez mais rápidas. São engloba o conjunto de práticas tendentes a
tomadas medidas como: desverticalização e fazer coincidir progresso técnico,
externalização do processo produtivo através produtividade e adaptabilidade da força de
da terceirização ou subcontratação, trabalho face às incertezas da demanda e à
contratação de mão-de-obra em tempo concorrência, tanto ao nível nacional quanto
parcial, o trabalho fora do sistema de internacional. (Piccinini, 1997)
seguridade social e a flexibilização da jornada Ramalho (1995) constata que, nos
de trabalho, evitando o controle sindical e países subdesenvolvidos, as formas de
buscando romper com os contratos coletivos flexibilização do trabalho aumentaram o
de trabalho. Outra estratégia é a de fechar e mercado informal e o desemprego. Diante de
reinstalar as plantas produtivas em regiões um mercado de trabalho que se restringe e
com fraco movimento dos trabalhadores e com grande disponibilidade de mão-de-obra a
baixos níveis salariais de modo que se criem economia de custos tem efeitos devastadores
novas relações de trabalho, distintas das sobre a oferta de empregos e sobre os que
anteriormente vigentes. (Gazier, 1993; dependem desse mercado para sobreviver.
Piccinini,1996) Constata-se, então, que, como
Em conseqüência, verifica-se um alternativas ao desemprego associado à
crescimento da heterogeneidade do mercado flexibilização das relações de trabalho surgem
de trabalho nos países desenvolvidos através a terceirização e quarteirização; as
da precarização das relações de trabalho, cooperativas de trabalho; as cooperativas
pela polarização e pela informalização e uma comunitárias, o emprego domiciliar; o
tendência à des-sindicalização e emprego virtual; o contrato temporário de
ii
desorganização dos sindicatos (Antunes, trabalho; o banco de horas .
1994). O movimento de flexibilização, que já No Brasil, assiste-se à reforma
era conseqüência da crise econômica, é da Previdência Social onde uma das
legitimado e alimentado pelas políticas que a bandeiras é a mudança na legislação
maioria dos países adotou visando superar trabalhista. Exemplo disto é o contrato
esta crise e que tiveram como conseqüência, temporário de trabalho aprovado pela
Comissão de Constituição e Justiça do

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Senado, que prevê o contrato de trabalho A gravidade da questão é indiscutível,


pelo prazo de 2 anos com redução de direitos mais ainda se acrescentarmos uma avaliação
trabalhistas e a Medida Provisória 1595, que que envolva não só o nível de emprego, mas
possibilitará a demissão de 33 mil servidores em quanto a flexibilização do trabalho se
federais não estáveis. Recentemente, uma reflete sobre a qualidade de vida do
mudança introduzida na legislação, por trabalhador e suas condições de
iniciativa do Governo Federal, permite empregabilidade.
aumentar também o prazo de compensação
das horas trabalhadas além da jornada 2.4.Qualidade de vida do trabalhador e a
normal, passando de uma semana, como era empregabilidade nas Cooperativas de
até então, para até um ano. Trabalho
Segundo Jageriii (2001) o uso A expressão qualidade de vida
indiscriminado das horas extras (banco de (Guimarães, 1995), presta-se a diferentes
horas) pelas empresas já se constitui numa interpretações: ora no sentido de que está
forma de tornar mais flexível a mão-de-obra havendo uma ampliação nos níveis de
das empresas, ajustando a quantidade de qualidade de vida a partir da introdução de
horas trabalhadas às necessidades de inovações - especialmente a literatura de
produção. Isto acontece também com as cunho gerencialista, que defende os modelos
cooperativas de trabalho que por falta de de gestão japonesa (Campos, 1992; Juran,
uma legislação específica, induzem os 1992; Ishikawa, 1993) - ora, estudos mais
cooperados a trabalhar muitas horas por dia críticos sinalizam para uma redução dos
sem direitos a descanso semanais e níveis de qualidade de vida a partir da
tampouco a faltarem por motivos de doenças introdução de inovações organizacionais
já que não são protegidos pela CLT. Assim, (Guimarães, 1995; Vieira, 1996; Leite,
um cooperado que se ausenta por motivo de 1993).
doença é forçado a recuperar as horas que Busca-se, aqui, uma interpretação
faltou para manter o rendimento previsto mais abrangente de QVT que se identifique
pela atividade cooperativa. com uma verdadeira “qualidade de vida”
As cooperativas de trabalho, tanto ou relacionada não apenas às melhorias no
mais que outros tipos de organização lidam projeto e delineamento de cargos “defendido
com grandes dificuldades, dependendo de por Davis ou com o enriquecimento de cargos
contratos com empresas que procuram proposto por Herzberg (cfe. Orstman, 1984),
baratear custos utilizando seus serviços. Isto ou relacionando-a a aspectos físico–
tem reflexos diretos na qualidade de vida dos ambientais, ou ergonômicos do projeto
cooperados. Para se manterem no mercado funcional ou mesmo aos aspectos
aceitam contratos "leoninos", que os obrigam comportamentais (Neri, 1991). A proposta é
a trabalhar além do que seria permitido pela de ampliar estas abordagens, buscando
legislação. Como a compensação é verificar a repercussão desses fenômenos
diretamente ligada à produção, muitas destas também na questão do emprego e da
têm jornadas superiores às 8 horas habituais empregabilidade.
de trabalho. A QVT apresenta-se de formas
Em outubro de 1999 Governo diferentes em relação aos estilos de gestão:
instituiu o PIS e a COFFINS para todas as se democrático ou autoritário. No primeiro
cooperativas de trabalho, com o intuito de caso acentua o interesse pelas relações
extinguir as chamadas "cooperativas de sociais e políticas de trabalho, tomada de
fachada" ou "fantasmas" montadas com a decisão em equipe, interdependência e
intenção de burlar o fisco. No entanto essa liberdade, enquanto que o segundo enfatiza a
medida teve repercussões também entre as tarefa, o uso excessivo do poder na gestão e
"verdadeiras cooperativas" pois onerou os o comando autoritário. Então, entre estes
seus custos e dificultou a sua manutenção no dois estilos há diferentes graus de gestão,
mercado. desde o extremamente autoritário até o
Outro fator inibidor para as democrático. Dentro deste conceito a
cooperativas de trabalho foi a instituição organização vai assumir posições
pelo Governo Federal, em março de 2000, do diferenciadas quanto a manter o seu pessoal
pagamento, por parte do contratante, de ou dispensá-lo a qualquer indicativo de crise
15% de INSS sobre o faturamento. Na com reflexos no emprego e na
renegociação dos contratos, a maior parte empregabilidade.
dos contratantes não aceitou o aumento A partir da reestruturação produtiva
forçando as cooperativas a absorver a implantada pelas grandes empresas
imposto. Como conseqüência, as que reduzindo seu quadro de pessoal, mantendo
cederam a pressão tiveram uma redução do os mais qualificados, o mercado de trabalho
faturamento e as demais perderam grande vai se precarizando e perdendo a capacidade
parte dos contratos. de geração de novos empregos. A partir do
final da década de 90 aumenta o desemprego

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Flexibilização, Qualidade de Vida e Empregabilidade: o caso das Cooperativas de Trabalho de Porto Alegre

industrial no Brasil (Portugal e Garcia, 1997), Pretende-se estabelecer a relação entre estas
sobretudo nas grandes empresas (GE) o que categorias e apresentar elementos que
é compensado, parcialmente, por um possibilitem verificar o papel das
incremento de emprego na pequena e média cooperativas de trabalho nesta questão. Elas,
empresa (PME). No entanto, parte desses sendo formas de flexibilização do trabalho,
empregos (Dedecca, 1997) não estão podem oferecer uma boa qualidade de vida a
protegidos pela legislação trabalhista e a seus associados e proporcionar-lhes
perda da importância do emprego na GE condições de empregabilidade?
enfraquece o mercado de trabalho com Para levantar a situação das
proteção social e negociações coletivas. cooperativas do Porto Alegre é que foi
Há uma tendência à informalização, realizado o levantamento seguindo a
isso é inegável, mas em vários casos, seja metodologia a seguir descrita.
por iniciativa empresarial, seja por parte dos
sindicatos ou dos próprios trabalhadores
certas atividades são o “escoadouro” e a
alternativa para o desemprego: como as 3. O ESTUDO
cooperativas de trabalho. O desemprego é o
grande desafio e a primeira grande causa das Neste artigo buscou-se identificar as
dificuldades da organização sindical, cooperativas de trabalho existentes em Porto
independente da categoria. Por outro lado, há Alegre o que entendem que representam em
empresas que mantém uma mão-de-obra termos de oportunidade de trabalho, de
estável e oferecem aos funcionários a flexibilização do trabalho e seus reflexos na
possibilidade de uma qualificação que lhes dê qualidade de vida de seus associados.
condições de “empregabilidade”. Nesta ótica, Apresenta-se aqui a primeira etapa
a questão de emprego não é mais vista (ou da pesquisa (exploratória), onde foi realizado
possível) no modelo tradicional de empresa, o levantamento do "estado da arte" sobre o
além disso aumentam as exigências em tema, bem como a coleta de dados primários
termos de profissionalismo/qualificação. O e secundários. Os dados primários consistiam
empregado precisa cada vez mais ser um em, após identificar as cooperativas de
empreendedor, buscar o auto trabalho de Porto Alegre, aplicar os
desenvolvimento. questionários com seus representantes para
Leite (1997) observa que o conceito obter resposta a essas questões. Os dados
de empregabilidade entendido como a secundários foram coletados através de
capacidade da mão-de-obra se manter jornais, literatura referente ao assunto e
empregada ou encontrar novo emprego estatutos das cooperativas
quando demitida, tem por trás do conceito a Foram entrevistados representantes
idéia de que a mão-de-obra está da Organização das Cooperativas do Estado
desempregada devido à sua inadequação do Rio Grande do Sul-OCERGS, da Federação
diante de um mercado cada vez mais das Cooperativas de Trabalho-FETRABALHO.
exigente. Isto é, trabalhador está A partir das informações obtidas, foi
desempregado, não porque falta empregos, desenvolvida a segunda parte da pesquisa
mas porque seu perfil de qualificação não se (descritiva), por meio da realização de seis
adecua aos novos conceitos de produção. A estudos de caso comparativos que serão
educação não resolve o problema de ser cada objeto de outro artigo .
vez mais constante o uso de tecnologias que A OCERGS forneceu a relação de
eliminam os postos de trabalho e as relações cinqüenta e uma (51) cooperativas de
de trabalho estão centradas no autoritarismo, trabalho de Porto Alegre. Para confirmar essa
na busca acentuada do lucro e na relação e estabelecer um primeiro contato
concentração do capital. Atribui-se à recorreu-se à central de informações
evolução tecnológica o aumento do telefônicas,iii onde constatou-se que, das 51
desemprego, mas a base técnica em si não é cooperativas 10 não existiam (ou já tinham
a responsável pelo desemprego, mas o uso sido extintas), o endereço não confirmava ou
que dela se faz. Mais do que discutir era proibida a divulgação do telefone pela
“empregabilidade”, precisa ser lembrado: o central.
poder da empresa de decidir jornada de Ao tentar agendar as entrevistas, 17
trabalho, admissão e demissão de pessoal, a afirmaram estar em férias, ou o telefone
organização e as condições de trabalho que estava fora de serviço. Restaram, portanto,
as levam a valorizar extremamente os vinte e quatro (24) cooperativas, com as
equipamentos poupadores de mão-de-obra. quais foram aplicados os questionários
(Leite, 1997:65). pessoalmente, ou enviados por fax ou e-mail,
Parece então, da máxima relevância por solicitação das mesmas. Desses 24
a relação que vai se estabelecer entre as três questionários retornaram treze (13),
categorias: flexibilização do trabalho, eqüivalendo a 54% do total enviado.
qualidade de vida do trabalhador e emprego.

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Valmiria Carolina Piccinini e Sidinei Rocha de Oliveira

Os questionários foram respondidos


por um representante em situação de 4. RESULTADOS DO LEVANTAMENTO
liderança na entidade: nove (9) presidentes e
(2) coordenadores (nestas cooperativas não Pelo levantamento constatou-se que
havia presidente de acordo com sua quatro(4) das treze(13) cooperativas, atuam
distribuição hierárquica, sendo o responsável no setor de serviços técnicos especializados,
principal chamado coordenador), uma (1) quatro(4) em serviços diversos, duas(2) no
secretária e um (1) diretor administrativo. setor de saúde e as outras três (3)
Apesar de ser uma amostra reduzida, pertencem aos setores de serviço de
os dados coletados foram lançados no informática, telecomunicações e turismo e
software estatístico Sphinx e realizados eventos. O quadro abaixo relaciona os
vários cruzamentos, para facilitar a análise setores das cooperativas com suas áreas de
dos mesmos. atuação.

Quadro 1 - Setores e área de Atuação

Setor Área de atuação


Serviços Técnicos Seguros
Marketing
Metalúrgica (soldadores)
Informática
Saúde Psicologia
Medicina do trabalho
Serviços Gerais Limpeza urbana
Telefonia e lavanderia hospitalar
Artesanato
Serviços diversos
Serviços diversos
Telecomunicações 1. Serviços de telefonia ligados a CRT
Turismo e eventos 1. Festas e eventos

Das treze cooperativas, três (3) nas despesas, regularização da situação da


foram fundadas antes de 1994, sete (7) entre entidade, entre outros.
1996 e 1997 e três (3) entre os anos de 1998 Assim, pode-se afirmar que a maioria
e 1999. Constata-se que houve um aumento das cooperativas nasce da necessidade de
no número de cooperativas nos anos recolocação no mercado de profissionais que
1996/1997, comprovando o grande de outra forma dele estariam alijados ou
crescimento no período lembrado pelo diretor atuando na economia informal. Entretanto,
da OCERGS e com o coordenador da dois (2) dos entrevistados afirmaram que a
FETRABALHO. Além disso, os próprios sua cooperativa surgiu da necessidade de
dirigentes declararam que um dos principais regularizar a situação da entidade, que vinha
motivos da sua criação foi a busca de uma operando informalmente, vinculadas a
alternativa ao desemprego. algumas empresas através de contratos que
Os clientes atendidos por essas não ofereciam nenhuma segurança aos
cooperativas são empresas públicas, privadas sócios. A associação cooperativa surgiu como
e clientes particulares, diretamente alternativa para regularizar a situação.
relacionados com o ramo de atuação e os As treze cooperativas são de
serviços que oferecem. É significativo o constituição limitada e possuem, em sua
número de entidades governamentais maioria até 50 sócios. Apenas duas
(empresas públicas (5) além de prefeituras e cooperativas contam mais de 2000 sócios.
outras entidades governamentais (2) que Quando comparado o número de sócios com
utilizam dos serviços oferecidos pelas aqueles que estão ativos e inativos percebe-
cooperativas; tal fato ocorre, segundo alguns se que não há relação direta entre o número
entrevistados, devido à qualidade e ao preço de sócios e a sua posição no mercado.
dos serviços, inferiores aos ofertados por Algumas, com alto número de cooperados
outras organizações. conseguem colocação para todos enquanto
Os principais motivos para o outras, com poucos associados, não
surgimento das cooperativas foram conseguem. A relação entre número de
identificação com o mercado, alternativa ao cooperados/ocupação vincula-se a outras
desemprego, geração de postos de trabalho, variáveis, com setor de atuação e clientes.
redução de custos e obtenção de vantagens O número de cooperados e tipos de
atividades desenvolvidas pelas cooperativas

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Flexibilização, Qualidade de Vida e Empregabilidade: o caso das Cooperativas de Trabalho de Porto Alegre

de trabalho são tão diferenciadas que não ocupação. Duas (2) cooperativas não
permitem concluir se a mesma apresenta responderam essa questão.
bons resultados financeiros ou não. Ao Nos períodos de baixa ou nenhuma
mesmo tempo que constata-se a existência ocupação, algumas cooperativas oferecem
de cooperativas com mais de 2000 cursos de aperfeiçoamento aos associados
associados operando em vários ramos, para que se mantenham atualizados ou
menos qualificados, outras contam com um aprendam novas funções buscando, por
número reduzido de cooperados oferecendo vezes, verbas no Fundo de Amparo ao
serviços técnicos muito especializados. Trabalhador-FAT para essas atividades;
Questionados sobre o uso de mão- outras buscam novos contratos, ou
de-obra terceirizada, duas disseram utilizar transferem os associados para outras
entre 1 e 10 trabalhadores. Neste caso o atividades; mas grande parte ainda não está
fazem para atividades meio, como: estruturada para enfrentar estes períodos, e,
secretários, médicos, contadores, advogados. os cooperados tiram férias não remuneradas
Outras cooperativas têm funcionários ou ou atuam na economia informal.
colaboradores exercendo tais funções. Como Todos os associados recebem com
a estrutura contábil e jurídica de uma base na produção e adiantamento de sobras
cooperativa é diferente de qualquer outra e os gerentes, em sua maioria, têm pró-
empresa e muitas vezes os cooperados em labore (8) ou recebem o mesmo que os
função gerencial não possuem a qualificação demais cooperados (2), dependendo muito
necessária, buscam ajuda de algum do setor de atuação, do tempo do gerente
especialista na área. para desempenhar outras atividades na
Todas as cooperativas tiveram cooperativa, do número de cooperados e das
alteração no número de associados, tanto determinações do estatuto da cooperativa.
pela adesão de novos sócios, quanto pela Esses ganhos são bastante variadosiv, sendo
desistência de outros que não se adaptaram influenciados pelo setor em que opera a
ao ideário cooperativista e voltaram para o cooperativa, as atividades que
trabalho com vínculo empregatício ou desempenham, o grau de qualificação ou até
partiram para a economia informal. mesmo o contrato a que estão vinculado,
A forma de administração das mas de modo geral não é inferior a 2 salários
cooperativas foi considerada participativa por (para o contrato de 8 horas diárias). Na
onze (11) dos dirigentes, sendo que apenas maioria das cooperativas (8) há meses em
duas (2), que faziam parte do setor de que o cooperado não recebe e naquelas onde
Serviços Diversos, consideraram a ele recebe sempre (5), isto ocorre pela
cooperativa como participativa, mas ao continuidade do contrato ou algum fundo
mesmo tempo centralizadora. estipulado entre os cooperados nas
A demanda pelos serviços das assembléias ou está previsto no estatuto da
cooperativas cai bastante nos meses do cooperativa. Da mesma forma este valor não
verão, pois grande parte da população da é fixo devido a diferenciação de contratos,
capital desloca-se para o litoral. Com isso, divisão de sobras, entre outros.
algumas paralisam suas atividades voltando a As decisões são tomadas
operar quando ressurge a demanda. As que predominantemente através de reuniões dos
continuam operando são as que têm conselhos administrativos e fiscais das
contratos que não são afetados pela cooperativas, sendo que em nenhuma das
sazonalidade ou que conseguem redirecionar entrevistas foi apontada a resposta “reunião
suas atividades para o litoral continuam a com todos”. Questionados sobre como eram
operar. tomadas as decisões mais importantes, a
Quanto à média de ocupação dos maior parte das respostas foi “Assembléia –
cooperados, dentre os treze dirigentes todos os presentes têm direito ao voto”,
entrevistados, um (1) afirmou que era de até (10} e Assembléias gerais e extraordinárias
20%, quatro (4) entre 21% e 40% de (4).
trabalhadores em atividade, um (1) declarou O quadro abaixo ilustra as formas
ter entre 41% e 60%, um (1) entre 61% e utilizadas para tomar as decisões mais
80%, dois (2) afirmaram ter entre 81% e importantes.
99% e dois (2) afirmaram ter 100% de

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Valmiria Carolina Piccinini e Sidinei Rocha de Oliveira

Quadro 2 - Forma para tomada de decisões importantes

Tomada de Decisões No. cit.


Assembléia - todos os presentes têm direito ao voto 10
Reunião com os cooperados através de um conselho 0
Diretoria e alguns sócios 1
Conselho de administração 1
Sócios eleitos através de um conselho 0
Reunião com os interessados 2
Assembléias gerais e extraordinárias 4
Presidentes e diretores 0
Outros 0
TOTAL OBS. 13
Obs.: O número de citações é superior ao número de observações devido às respostas múltiplas (5
no máximo).

Das treze(13) cooperativas trabalho.” – Cooperativa do Setor de


questionadas, cinco(5) afirmaram que ocorria Serviços
rotatividade nas funções gerenciais, cinco(5) “... Readequação às novas
que esta rotatividade era parcial, enquanto realidades (necessidades) impostas
as demais afirmaram que não ocorria, isso pelo mercado.” - Cooperativa do
porque a divisão destes postos é feita de Setor de Serviços Técnicos
acordo com as necessidades, disposição e “...tirar o “gesso” da relação capital
preparo dos cooperados para atuar na trabalho.” – Cooperativa de Serviços
função, ficando geralmente alguém que já Múltiplos.
tem experiência ou mais qualificação, sendo Assim, a opinião que os entrevistados
que a indicação para os cargos é feita em têm sobre flexibilização é sobretudo positiva
assembléia geral onde todos votam. e relaciona-se com a “adequação das
trabalhadores às necessidades do mercado”,
possibilitando a estes o gerenciamento de
seu trabalho através de contratos e jornada
5. AS COOPERATIVAS E A FLEXIBILIZAÇÃO flexíveis e do aperfeiçoamento e
aprendizagem de novas tarefas. Entretanto
Questionados sobre como a para alguns (a minoria) a flexibilização é uma
flexibilização do trabalho se reflete nas maneira informal de execução do trabalho e
atividades da organização e como é sobrevivência no mercado. De acordo com
entendida por eles, as respostas foram esta visão, afirmaram que a sua cooperativa
variadas, mas a flexibilização, de modo geral, usa alguma forma de flexibilização com os
é avaliada de forma positiva: cooperados ou com os terceiros, sendo que
“...carga horária flexível, apontaram com maior significância a jornada
independência financeira, cooperado flexível, o pró-labore variável, contratos
sem subordinação e como dono da diferenciados, distribuição de clientes de
cooperativa.”– Cooperativa do Setor acordo com as disponibilidades do cooperado
Prestação de Serviços e o enriquecimento de suas funções através
“...estamos em uma época que o da aprendizagem de novas tarefas, o que
empresário não resiste à carga propicia resultados positivos como a redução
tributária sobre a folha que pode do tempo ocioso, melhora na qualificação,
chegar a 120% e como conseqüência maior participação, motivação e satisfação
desempregar o funcionário que só associada com o seu trabalho, crescimento
obtém dos encargos 27% do da cooperativa e reconhecimento dos clientes
retorno.” – Cooperativa do Setor de pela qualidade dos serviços prestados.
Serviços Diversos A seguir apresentam-se às
“Modo pelo qual está sendo cooperativas por setores e as formas de
encontrado a melhor forma de flexibilização adotadas:
entendimento entre capital e

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Flexibilização, Qualidade de Vida e Empregabilidade: o caso das Cooperativas de Trabalho de Porto Alegre

Gráfico 1 - Setores e Formas de Flexibilização

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Segundo onze (11) dos treze (13) flexibilização favorecem ao desenvolvimento


entrevistados, os resultados obtidos com a profissional.
flexibilização têm sido positivos, sendo que a
adoção da jornada flexível de trabalho foi
apontada por cinco deles como uma das
formas mais positivas de flexibilização. 6. AS COOPERATIVAS E A QUALIDADE DE
Apenas um dos entrevistados não respondeu VIDA
essa questão e outro afirmou que os
resultados são apenas parciais.
“Redução do tempo ocioso do Questionados, sobre o que entendiam
associado, qualificação dos por qualidade de vida e se tinham condições
associados.” – Cooperativa do Setor de assegurá-la a seus associados as
de Telecomunicações respostas foram as seguintes: das treze
“Maior participação dos cooperados cooperativas a maior parte delas (10)
nas decisões” – Cooperativa de afirmam preocupar-se com a qualidade de
Prestação de Serviços vida dos cooperados, oferecendo algum
“As pessoas trabalham com maior benefício como: convênios com planos de
satisfação e rendem mais, têm maior saúde (7), seguro de vida (4), bom ambiente
produtividade” - Cooperativa do Setor de trabalho (2). Algumas informaram que
de Serviços Diversos oferecer um ambiente de trabalho agradável
“Pouca evasão de cooperados e não é fácil para uma cooperativa, visto que
satisfação de quem trabalha” - esta trabalha com muitos contratos e muitas
Cooperativa do Setor de Serviços vezes sua representação é de apenas um
“Minimização de perdas, redução dos cooperado dentro de outra empresa ou algum
valores de saída e reordenação de outro benefício (8) – cesta básica,
investimentos” – Cooperativa do equipamento de segurança e treinamento
setor de serviços Técnicos e para o uso, cursos de capacitação, grupos de
especializados estudo, seguro renda temporária, fundo de
“Porque permite maior amplitude de reserva para emergências, reuniões sociais
negociação com o mercado.” – entre os cooperados, estudos de ergonomia
Cooperativa de Serviços Múltiplos. ou convênio farmácia.
Nas cooperativas que adotam a Pôde ser observado, que quase
jornada flexível de trabalho e o contrato todas as cooperativas oferecem um ou dois
flexível de trabalho os cooperados (leia-se benefícios para os cooperados. Declaram
dirigentes) sentem-se donos da cooperativa e planejar ou estar em fase de implementação
também acreditam que essas formas de outras formas de benefícios. Entre as que

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Valmiria Carolina Piccinini e Sidinei Rocha de Oliveira

declararam não oferecer meios para melhorar deixarem um contrato formal de emprego
a qualidade de vida do associado uma para prestarem serviço como cooperativas de
pertence ao setor Turismo e Eventos e outra trabalho. Ela se apresenta , portanto, como
ao setor de Telecomunicações (esta oferece uma estratégia de sobrevivência dos
apenas de forma parcial). Têm planos para trabalhadores, pelo menos aquelas que
implementar benefícios no futuro, mas adotam, verdadeiramente, o ideário
alegam que ainda estão num momento difícil cooperativista.
pois não conseguiram atingir ainda seus
principais objetivos, pois a cooperativa está
iniciando e os ganhos são pouco
significativos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Segundo os entrevistados, a maior
parte dos cooperados vê a cooperativa como
sendo donos (10) ou como uma forma de
ABREU, R. e SORJ, B. (orgs.). Trabalho a
desenvolver-se profissionalmente (7),
domicílio nas sociedades contemporâneas:
evidenciando que o ideário cooperativista
uma revisão da literatura recente. In: O
está sendo buscado. Uma minoria considera a
trabalho invisível: estudo sobre o trabalho
cooperativa como uma atividade temporária
a domicílio no Brasil. Rio de Janeiro: Fundo
até voltarem ao trabalho formal.
Editora, p.11-24, 1994.
ANDRADE, D. G. Cooperativas de
Trabalho. Doutrina. 17/05/1999.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ANTUNES, R. Sindicato e Sociedade:
projetos em questão. Mesa Redonda, UFSC,
Florianópolis, 29 de abril de 1994.
O levantamento junto às cooperativas BRASIL. Constituição, 1988. Constituição
de trabalho foi feito no intuito de saber as da República Federativa Brasil de 05 de
razões pelas quais os associados optaram outubro de 1988. Brasília: Senado.
por este sistema , se eles percebiam as BOYER, R.. Flexibilité du travail: des
cooperativas como forma de flexibilidade, formes contrastées des effets mal connus.
sobretudo de baratear o custo do trabalho, e Les Cahiers Économiques de Bruxelles, n.
se mesmo neste caso as cooperativas 113, p. 207-245, 1º trimestre 1987.
conseguiam, ou tentavam proporcionar uma CAMARGO, J. M. (orgs.). Flexibilidade do
boa qualidade de vida a seus associados. A mercado de trabalho no Brasil Rio de Janeiro:
análise foi limitada a 13 cooperativas através Fundação Getúlio Vargas, 1996. 243 p.
de questionário e/ou entrevistas com CAMPOS, V. F. Controle da qualidade
dirigentes e que representam uma parcela total: no estilo japonês. Belo Horizonte:
significativa das organizações desse tipo Fundação Cristiano Ottoni, 1992.
existentes em Porto Alegre. CARLEIAL, L. e VALLE, R. (orgs.).
Observa-se que aparentemente as Reestruturação Produtiva e Mercado de
cooperativas que responderam ao Trabalho no Brasil. São Paulo: Hucitec-
questionário buscam cumprir com o ideário Abet, 1997.
cooperativista , dizendo-se preocupadas com CARVALHO, R. C. e BERNARDES, R.
a qualidade de vida de seus associados Reestruturação Produtiva e Qualificação:
deparam-se com limitações de ordem reflexões sobre a experiência brasileira. São
sobretudo financeira, para oferecer aqueles Paulo em Perspectiva. 10 (1). 1996 p. 63-
benefícios que são mais correntes em 75.
empresas estruturadas de outras formas. Cooperativas de trabalho – manual de
Mesmo aceitando a necessidade de organização. s.d.
serem flexíveis percebem que são DEDECCA, C. Reestruturação produtiva e
dependentes de uma ordem econômica que novos padrões nas relações capital-trabalho.
não controlam. Resta saber, também, se a Cadernos de Pesquisa CEBRAP 25 anos,
experiência em atividades cooperativadas n.1, p. 61, Jun. 1994,.
possibilita ampliar sua capacidade de ___________. Desregulação e Desemprego
"empregabilidade". Aparentemente, não, uma no Capitalismo Avançado. São Paulo em
vez que raramente as cooperativas podem Perspectiva. São Paulo, Fundação Seade,
oferecer oportunidades de qualificação a seus 10(1): 13-20, jan-mar.1996.
membros e quando o fazem é em quantidade FREYSSINET, J. Le paradigme de la
e qualidade inferior às das empresas fléxibilité et des conditions d’émérgence
tradicionalmente inseridas no mercado. d’un nouveau rapport salarial, Séminaire
No entanto, provavelmente muitos d’Économie du Travali, Grenoble, 1987.
dos associados estariam fora do mercado de GAZIER, B. Les stratégies des resources
trabalho por suas escassas qualificações ou humaines. Paris: La Découverte, 1993.
porque são empurrados pelas empresas a

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Flexibilização, Qualidade de Vida e Empregabilidade: o caso das Cooperativas de Trabalho de Porto Alegre

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Valmiria Carolina Piccinini e Sidinei Rocha de Oliveira

NOTAS Valmiria Carolina Piccinini


i
Doutora em Economia do Trabalho e da
Dados Relatório da OCERGS (Organização das
Produção na Université de Sciences Sociales
Cooperativas do Rio grande do Sul) de 2001.
ii
Empresas como Multibrase Ambraco assinaram
de Grenoble II – França. Pós-doutorado na
um acordo em Santa Catarina e o banco de horas École de Hautes Etude Commerciales (HEC) –
já está em vigor em outras empresas no Estado de Montreal – Canadá. Professora Adjunta do
São Paulo como Scania, Wolkswagem, Ford, Programa de Pós-Graduação em
Mercedes... Administração da Universidade Federal do Rio
ii JAGER, P. DIEESE/RJ. Documento da Internet Grande do Sul (PPGA/EA/UFRGS).
(http://correiosindical.org.br/MATERIAS.htm). E-mail: vpiccinini@adm.ufrgs.br
iii
Para se obter os telefones das cooperativas,
Rua Washington Luís, 855, sala 422 – Centro
recorreu-se a central de informações telefônicas,
uma vez que a OCERGS alegou não poder fornecer
– CEP. 90010460 - Porto Alegre/RS – Brasil.
os números pois os mesmos eram confidenciais
não podendo constar na relação sobre cooperativas
que nos fornecera.
iv
Em duas (2) cooperativas a compensação dos Sidinei Rocha de Oliveira
cooperados ativos varia entre R$ 137,00 a R$ Mestrando do Programa de Pós-Graduação
272,00; em três (3) cooperativas varia entre em Administração da Universidade federal do
R$273,00 a 500,00; em três (3) delas varia de R$
Rio Grande do Sul (PPGA/EA/UFRGS).
501,00 a R$ 800,00 e em apenas duas (2)
cooperativas a compensação é acima de R$
E-mail: sroliveira@ea.ufrgs.br
800,00. As duas (2) cooperativas que fazem parte Rua Washington Luís, 855, sala 422 – Centro
do setor de saúde não responderam essa questão e – CEP. 90010460 - Porto Alegre/RS – Brasil.
uma (1) cooperativa de serviços diversos afirmou
que os cooperados recebem de acordo com o piso
de sua categoria, porém devido a ampla variedade
de serviços oferecidos era difícil informar a média
recebida por estes.

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