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industrial no Brasil (Portugal e Garcia, 1997), Pretende-se estabelecer a relação entre estas
sobretudo nas grandes empresas (GE) o que categorias e apresentar elementos que
é compensado, parcialmente, por um possibilitem verificar o papel das
incremento de emprego na pequena e média cooperativas de trabalho nesta questão. Elas,
empresa (PME). No entanto, parte desses sendo formas de flexibilização do trabalho,
empregos (Dedecca, 1997) não estão podem oferecer uma boa qualidade de vida a
protegidos pela legislação trabalhista e a seus associados e proporcionar-lhes
perda da importância do emprego na GE condições de empregabilidade?
enfraquece o mercado de trabalho com Para levantar a situação das
proteção social e negociações coletivas. cooperativas do Porto Alegre é que foi
Há uma tendência à informalização, realizado o levantamento seguindo a
isso é inegável, mas em vários casos, seja metodologia a seguir descrita.
por iniciativa empresarial, seja por parte dos
sindicatos ou dos próprios trabalhadores
certas atividades são o “escoadouro” e a
alternativa para o desemprego: como as 3. O ESTUDO
cooperativas de trabalho. O desemprego é o
grande desafio e a primeira grande causa das Neste artigo buscou-se identificar as
dificuldades da organização sindical, cooperativas de trabalho existentes em Porto
independente da categoria. Por outro lado, há Alegre o que entendem que representam em
empresas que mantém uma mão-de-obra termos de oportunidade de trabalho, de
estável e oferecem aos funcionários a flexibilização do trabalho e seus reflexos na
possibilidade de uma qualificação que lhes dê qualidade de vida de seus associados.
condições de “empregabilidade”. Nesta ótica, Apresenta-se aqui a primeira etapa
a questão de emprego não é mais vista (ou da pesquisa (exploratória), onde foi realizado
possível) no modelo tradicional de empresa, o levantamento do "estado da arte" sobre o
além disso aumentam as exigências em tema, bem como a coleta de dados primários
termos de profissionalismo/qualificação. O e secundários. Os dados primários consistiam
empregado precisa cada vez mais ser um em, após identificar as cooperativas de
empreendedor, buscar o auto trabalho de Porto Alegre, aplicar os
desenvolvimento. questionários com seus representantes para
Leite (1997) observa que o conceito obter resposta a essas questões. Os dados
de empregabilidade entendido como a secundários foram coletados através de
capacidade da mão-de-obra se manter jornais, literatura referente ao assunto e
empregada ou encontrar novo emprego estatutos das cooperativas
quando demitida, tem por trás do conceito a Foram entrevistados representantes
idéia de que a mão-de-obra está da Organização das Cooperativas do Estado
desempregada devido à sua inadequação do Rio Grande do Sul-OCERGS, da Federação
diante de um mercado cada vez mais das Cooperativas de Trabalho-FETRABALHO.
exigente. Isto é, trabalhador está A partir das informações obtidas, foi
desempregado, não porque falta empregos, desenvolvida a segunda parte da pesquisa
mas porque seu perfil de qualificação não se (descritiva), por meio da realização de seis
adecua aos novos conceitos de produção. A estudos de caso comparativos que serão
educação não resolve o problema de ser cada objeto de outro artigo .
vez mais constante o uso de tecnologias que A OCERGS forneceu a relação de
eliminam os postos de trabalho e as relações cinqüenta e uma (51) cooperativas de
de trabalho estão centradas no autoritarismo, trabalho de Porto Alegre. Para confirmar essa
na busca acentuada do lucro e na relação e estabelecer um primeiro contato
concentração do capital. Atribui-se à recorreu-se à central de informações
evolução tecnológica o aumento do telefônicas,iii onde constatou-se que, das 51
desemprego, mas a base técnica em si não é cooperativas 10 não existiam (ou já tinham
a responsável pelo desemprego, mas o uso sido extintas), o endereço não confirmava ou
que dela se faz. Mais do que discutir era proibida a divulgação do telefone pela
“empregabilidade”, precisa ser lembrado: o central.
poder da empresa de decidir jornada de Ao tentar agendar as entrevistas, 17
trabalho, admissão e demissão de pessoal, a afirmaram estar em férias, ou o telefone
organização e as condições de trabalho que estava fora de serviço. Restaram, portanto,
as levam a valorizar extremamente os vinte e quatro (24) cooperativas, com as
equipamentos poupadores de mão-de-obra. quais foram aplicados os questionários
(Leite, 1997:65). pessoalmente, ou enviados por fax ou e-mail,
Parece então, da máxima relevância por solicitação das mesmas. Desses 24
a relação que vai se estabelecer entre as três questionários retornaram treze (13),
categorias: flexibilização do trabalho, eqüivalendo a 54% do total enviado.
qualidade de vida do trabalhador e emprego.
de trabalho são tão diferenciadas que não ocupação. Duas (2) cooperativas não
permitem concluir se a mesma apresenta responderam essa questão.
bons resultados financeiros ou não. Ao Nos períodos de baixa ou nenhuma
mesmo tempo que constata-se a existência ocupação, algumas cooperativas oferecem
de cooperativas com mais de 2000 cursos de aperfeiçoamento aos associados
associados operando em vários ramos, para que se mantenham atualizados ou
menos qualificados, outras contam com um aprendam novas funções buscando, por
número reduzido de cooperados oferecendo vezes, verbas no Fundo de Amparo ao
serviços técnicos muito especializados. Trabalhador-FAT para essas atividades;
Questionados sobre o uso de mão- outras buscam novos contratos, ou
de-obra terceirizada, duas disseram utilizar transferem os associados para outras
entre 1 e 10 trabalhadores. Neste caso o atividades; mas grande parte ainda não está
fazem para atividades meio, como: estruturada para enfrentar estes períodos, e,
secretários, médicos, contadores, advogados. os cooperados tiram férias não remuneradas
Outras cooperativas têm funcionários ou ou atuam na economia informal.
colaboradores exercendo tais funções. Como Todos os associados recebem com
a estrutura contábil e jurídica de uma base na produção e adiantamento de sobras
cooperativa é diferente de qualquer outra e os gerentes, em sua maioria, têm pró-
empresa e muitas vezes os cooperados em labore (8) ou recebem o mesmo que os
função gerencial não possuem a qualificação demais cooperados (2), dependendo muito
necessária, buscam ajuda de algum do setor de atuação, do tempo do gerente
especialista na área. para desempenhar outras atividades na
Todas as cooperativas tiveram cooperativa, do número de cooperados e das
alteração no número de associados, tanto determinações do estatuto da cooperativa.
pela adesão de novos sócios, quanto pela Esses ganhos são bastante variadosiv, sendo
desistência de outros que não se adaptaram influenciados pelo setor em que opera a
ao ideário cooperativista e voltaram para o cooperativa, as atividades que
trabalho com vínculo empregatício ou desempenham, o grau de qualificação ou até
partiram para a economia informal. mesmo o contrato a que estão vinculado,
A forma de administração das mas de modo geral não é inferior a 2 salários
cooperativas foi considerada participativa por (para o contrato de 8 horas diárias). Na
onze (11) dos dirigentes, sendo que apenas maioria das cooperativas (8) há meses em
duas (2), que faziam parte do setor de que o cooperado não recebe e naquelas onde
Serviços Diversos, consideraram a ele recebe sempre (5), isto ocorre pela
cooperativa como participativa, mas ao continuidade do contrato ou algum fundo
mesmo tempo centralizadora. estipulado entre os cooperados nas
A demanda pelos serviços das assembléias ou está previsto no estatuto da
cooperativas cai bastante nos meses do cooperativa. Da mesma forma este valor não
verão, pois grande parte da população da é fixo devido a diferenciação de contratos,
capital desloca-se para o litoral. Com isso, divisão de sobras, entre outros.
algumas paralisam suas atividades voltando a As decisões são tomadas
operar quando ressurge a demanda. As que predominantemente através de reuniões dos
continuam operando são as que têm conselhos administrativos e fiscais das
contratos que não são afetados pela cooperativas, sendo que em nenhuma das
sazonalidade ou que conseguem redirecionar entrevistas foi apontada a resposta “reunião
suas atividades para o litoral continuam a com todos”. Questionados sobre como eram
operar. tomadas as decisões mais importantes, a
Quanto à média de ocupação dos maior parte das respostas foi “Assembléia –
cooperados, dentre os treze dirigentes todos os presentes têm direito ao voto”,
entrevistados, um (1) afirmou que era de até (10} e Assembléias gerais e extraordinárias
20%, quatro (4) entre 21% e 40% de (4).
trabalhadores em atividade, um (1) declarou O quadro abaixo ilustra as formas
ter entre 41% e 60%, um (1) entre 61% e utilizadas para tomar as decisões mais
80%, dois (2) afirmaram ter entre 81% e importantes.
99% e dois (2) afirmaram ter 100% de
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declararam não oferecer meios para melhorar deixarem um contrato formal de emprego
a qualidade de vida do associado uma para prestarem serviço como cooperativas de
pertence ao setor Turismo e Eventos e outra trabalho. Ela se apresenta , portanto, como
ao setor de Telecomunicações (esta oferece uma estratégia de sobrevivência dos
apenas de forma parcial). Têm planos para trabalhadores, pelo menos aquelas que
implementar benefícios no futuro, mas adotam, verdadeiramente, o ideário
alegam que ainda estão num momento difícil cooperativista.
pois não conseguiram atingir ainda seus
principais objetivos, pois a cooperativa está
iniciando e os ganhos são pouco
significativos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Segundo os entrevistados, a maior
parte dos cooperados vê a cooperativa como
sendo donos (10) ou como uma forma de
ABREU, R. e SORJ, B. (orgs.). Trabalho a
desenvolver-se profissionalmente (7),
domicílio nas sociedades contemporâneas:
evidenciando que o ideário cooperativista
uma revisão da literatura recente. In: O
está sendo buscado. Uma minoria considera a
trabalho invisível: estudo sobre o trabalho
cooperativa como uma atividade temporária
a domicílio no Brasil. Rio de Janeiro: Fundo
até voltarem ao trabalho formal.
Editora, p.11-24, 1994.
ANDRADE, D. G. Cooperativas de
Trabalho. Doutrina. 17/05/1999.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ANTUNES, R. Sindicato e Sociedade:
projetos em questão. Mesa Redonda, UFSC,
Florianópolis, 29 de abril de 1994.
O levantamento junto às cooperativas BRASIL. Constituição, 1988. Constituição
de trabalho foi feito no intuito de saber as da República Federativa Brasil de 05 de
razões pelas quais os associados optaram outubro de 1988. Brasília: Senado.
por este sistema , se eles percebiam as BOYER, R.. Flexibilité du travail: des
cooperativas como forma de flexibilidade, formes contrastées des effets mal connus.
sobretudo de baratear o custo do trabalho, e Les Cahiers Économiques de Bruxelles, n.
se mesmo neste caso as cooperativas 113, p. 207-245, 1º trimestre 1987.
conseguiam, ou tentavam proporcionar uma CAMARGO, J. M. (orgs.). Flexibilidade do
boa qualidade de vida a seus associados. A mercado de trabalho no Brasil Rio de Janeiro:
análise foi limitada a 13 cooperativas através Fundação Getúlio Vargas, 1996. 243 p.
de questionário e/ou entrevistas com CAMPOS, V. F. Controle da qualidade
dirigentes e que representam uma parcela total: no estilo japonês. Belo Horizonte:
significativa das organizações desse tipo Fundação Cristiano Ottoni, 1992.
existentes em Porto Alegre. CARLEIAL, L. e VALLE, R. (orgs.).
Observa-se que aparentemente as Reestruturação Produtiva e Mercado de
cooperativas que responderam ao Trabalho no Brasil. São Paulo: Hucitec-
questionário buscam cumprir com o ideário Abet, 1997.
cooperativista , dizendo-se preocupadas com CARVALHO, R. C. e BERNARDES, R.
a qualidade de vida de seus associados Reestruturação Produtiva e Qualificação:
deparam-se com limitações de ordem reflexões sobre a experiência brasileira. São
sobretudo financeira, para oferecer aqueles Paulo em Perspectiva. 10 (1). 1996 p. 63-
benefícios que são mais correntes em 75.
empresas estruturadas de outras formas. Cooperativas de trabalho – manual de
Mesmo aceitando a necessidade de organização. s.d.
serem flexíveis percebem que são DEDECCA, C. Reestruturação produtiva e
dependentes de uma ordem econômica que novos padrões nas relações capital-trabalho.
não controlam. Resta saber, também, se a Cadernos de Pesquisa CEBRAP 25 anos,
experiência em atividades cooperativadas n.1, p. 61, Jun. 1994,.
possibilita ampliar sua capacidade de ___________. Desregulação e Desemprego
"empregabilidade". Aparentemente, não, uma no Capitalismo Avançado. São Paulo em
vez que raramente as cooperativas podem Perspectiva. São Paulo, Fundação Seade,
oferecer oportunidades de qualificação a seus 10(1): 13-20, jan-mar.1996.
membros e quando o fazem é em quantidade FREYSSINET, J. Le paradigme de la
e qualidade inferior às das empresas fléxibilité et des conditions d’émérgence
tradicionalmente inseridas no mercado. d’un nouveau rapport salarial, Séminaire
No entanto, provavelmente muitos d’Économie du Travali, Grenoble, 1987.
dos associados estariam fora do mercado de GAZIER, B. Les stratégies des resources
trabalho por suas escassas qualificações ou humaines. Paris: La Découverte, 1993.
porque são empurrados pelas empresas a