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REFORMA TRABALHISTA
Principais Aspectos da Mudança da Lei do Trabalho no Brasil
BELO HORIZONTE
2019
JOSÉ ORLANDO DE ARAÚJO
REFORMA TRABALHISTA
Principais Aspectos da Mudança da Lei do Trabalho no Brasil
BELO HORIZONTE
2019
ARAÚJO, José Orlando. Reforma Trabalhista Principais Aspectos da Mudança da
Lei do Trabalho no Brasil. Belo Horizonte: Faculdade Nova Ateneu/IPEMIG, 2019.
Especialização em Direito Trabalho.
RESUMO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 7
2. REFORMA TRABALHISTA – PRINCIPAIS ASPECTOS MATERIAIS E
PROCESSUAIS .......................................................................................................... 9
3. AS PRINCIPAIS MUDANÇAS NA LEI ............................................................... 17
4. PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO LABORAL ................................... 25
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 34
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1 INTRODUÇÃO
Após anos de ensaio chega enfim a tão aguardada reconstrução dos dispositi-
vos legais que regem o sistema trabalhista no Brasil, a chamada reforma trabalhista.
Com a promulgação da Lei 13.467/2017 que passa a viger a partir de novembro de
2017 muitas alterações deverão integrar agora o campo do direito do trabalho. Além
da alteração de mais de 100 artigos da CLT substancialmente, também houveram
mudanças em súmulas, na lei 6.019/74 que versa sobre o trabalho temporário, a lei
8.036/90 do FGTS e lei 8.212/91 que dispõe sobre o Plano de Custeio Previdenciário.
A reforma trabalhista veio suprir uma demanda há muito apontada no sistema
brasileiro que cuida da relação de trabalho entre empregado e empregador, bem como
sindicatos e o próprio governo. Em tempos de crises política e econômica a reforma
chega em um momento turbulento. O objetivo desse trabalho é explanar, porém não
exaurir dada a sua complexidade, as principais mudanças na legislação e como isso
afetará diretamente o mercado brasileiro de trabalho.
O presente estudo visa primeiramente discorrer sobre a reforma trabalhista no
que diz aspectos às transformações materiais e processuais da lei, dado que com o
advento do novo dispositivo houveram mudanças nos dois aspectos.
No terceiro capítulo o trabalho dispõe sobre as principais mudanças, com
exemplos de artigos que foram modificados. Neste ponto se busca demonstrar como
as alterações influenciarão no contexto da relação laboral.
O quarto e último capítulo dispõe sobre os princípios norteadores do Direito do
Trabalho no Brasil e visa associar tais direitos às modificações da reforma, no intuito
de apontar se existem ou não desconstituição do direito do trabalhador. Após a expla-
nação teórica, busca-se na conclusão apontar os principais pontos de discussão en-
contrados.
A importância em entender os principais dispositivos acompanha a quantidade
de demandas trabalhistas que ocupam o judiciário brasileiro semanalmente. Segundo
estatísticas do Tribunal Superior do Trabalho – TST 1 no Brasil estão em andamento
hoje cerca de 2,5 milhões de processos trabalhistas em tramitação, sendo que só no
ano de 2016 foram recebidos mais de 3,9 milhões de novas demandas. Uma frase
1 www.tst.jus.br
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polêmica foi usada e reusada durante o processo da reforma política, por aliados da
frente governista para justificar a não exploração de alguns temas de forma intensa e
a colocação de pontos polêmicos na legislação, que para muitos beneficiavam mais a
parte do empregador do que a do empregado. A frase afirmava que em uma palestra
no Reino Unido o ministro Luis Roberto Barroso (2016) havia dito que “Uma brevís-
sima referência, para encerrar, à reforma trabalhista. De novo, a gente na vida tem
que trabalhar com fatos e não com escolhas ideológicas prévias. O Brasil, sozinho,
tem 98% das reclamações trabalhistas do mundo”.2 Os dados, no entanto não são
confirmados por nenhuma instituição da área.
Através de um levantamento bibliográfico, com ênfase na nova lei e suas apli-
cações, busca-se elucidar as principais alterações e seu poder de modificar a relação
de trabalho, especialmente no que se diz respeito a autonomia que foi conferida ao
empregado na nova legislação. A metodologia é baseada em levantamento e revisão
bibliográfica e estudo da lei. Como trata-se de um novo tema e, ainda sem casos
concretos de aplicação, trabalhar-se-á com a perspectiva da mudança e a real aplica-
ção no sistema jurídico brasileiro.
A reforma trabalhista já é amplamente discutida por juristas e por aqueles que
praticam o direito diariamente. Com a aplicação real no cotidiano dos processos é que
se há de saber quais os benefícios realmente pautearão a nova construção legislativa
do labor.
2 https://noticias.uol.com.br/confere/ultimas-noticias/2017/06/27/brasil-e-campeao-de-acoes-trabalhis-
tas-no-mundo-
6
Nesta linha podemos salientar que todas as relações foram afetadas pela le-
gislação atual. E que, direitos e deveres foram acrescidos. Não só o trabalhador sen-
tirá a diferença, mas também a pessoa jurídica polo da relação e os sindicatos.
Tais modificações já eram esperadas na legislação atual, especialmente com o
advento de uma Constituição moderna como a que foi promulgada em 1988, que dei-
xava muitos dos dispositivos aplicados com caráter ultrapassado e sem sentido. As
relações de trabalho são as que movem a economia e o progresso de um país e,
portanto, fazia-se necessárias as inovações propostas pela nova lei.
Em um momento de transformações sociais e políticas o país também atra-
vessa por uma transformação financeira e agora, trabalhista. Esse novo momento virá
8
acompanhado de uma legislação inovadora que trouxe em seu contexto aspectos que
até então não haviam sido testados de maneira efetiva. Desse modo, a nova legisla-
ção trabalhista implica a conceituação das noções de “flexibilização”, “desregulamen-
tação” e “precarização” no Direito do Trabalho (MENEZES, 2017), na consideração
de que os argumentos favoráveis e negativos da mudança envolvem a utilização des-
sas noções como justificativa. Além de que, podem ser concebidos enquanto “formas
de materialização da reforma trabalhista” (MENEZES, 2002, p. 20).
A flexibilização no campo trabalhista pode ser definida enquanto “intra-em-
presa” ou “extra-empresa”, onde, na primeira há a modificação de regulamentos inter-
nos do local de trabalho, dos sistemas de remuneração e recompensa; e a segunda
implica na modificação da regulamentação trabalhista, da legislação sindical, entre
outras questões exteriores ao ambiente local de trabalho (MOLINA, 2009).
No entanto, a doutrina expõe determinados benefícios da terceirização, que
impactam diretamente nas dinâmicas internas das empresas, com o aumento da pro-
dução na empresa a que se destina o serviço terceirizado; através da diminuição de
gastos com o aparato necessário a elaboração do serviço e inerentes a organização
laboral, como refeitórios, maquinários, vez que os gastos estarão redistribuídos a em-
presa prestadora do serviço e detentora da mão de obra terceirizada. Além de que,
diminui os níveis hierárquicos da estrutura da empresa; diminui a necessidade de ma-
nutenção e reciclagem; bem como, reduz a competitividade agressiva (BRASIL,
1993).
Segundo dispõe Vogel (2010) a flexibilização no cenário brasileiro encontra am-
paro desde os anos de 1990, a partir da influência das organizações patronais, e no
que complementa Molin (2011) no decorrer do governo de Fernando Henrique Car-
doso (1995-2002), com as medidas oriundas do “Plano Diretor da Reforma do Apare-
lho do Estado” e as diretrizes de mudança da legislação trabalhista, onde se incenti-
vava “a negociação coletiva por empresa e impedir que os conflitos entre patrões e
empregados cheguem à Justiça do Trabalho, privilegiando os acordos individuais en-
tre as partes” (MOLIN, 2011, p. 155).
Nesse sentido, Martins (2010), ao analisar o fenômeno, preconiza a existência
da possibilidade de flexibilização das relações de trabalho já instituídas no contexto
da Constituição Federal de 1988.
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dois aspectos a lei foi afetada com a reforma trabalhista. As mudanças não se ative-
ram a direitos já estabelecidos, mas transformaram todo o ambiente trabalhista no
Brasil.
O que vemos com isso é uma mudança tanto material como processual num
sistema que afetará toda a sociedade e, que trará novas concepções a serem estuda-
das e desenvolvidas. Um discurso sempre presente na fase legislativa é que não ha-
veria perda de direitos por parte dos trabalhadores, o que já começa a ser discutido
por alguns estudiosos da área.
Um ponto que diz respeito ao direito material por exemplo é o tópico que aborda
horas in itinere, aquelas que estão inseridas no contexto do período laboral e que
contam como horas de trabalho para fins de remuneração. Anteriormente a nova lei o
período de condução do trabalhador ao local de trabalho, que ocorresse por meios
fornecidos pelo empregador, geralmente por ser fora da zona comum, não mais inte-
grará a contagem como hora de trabalho. Tais horas eram tidas como jornadas extra-
ordinárias e sua remuneração era de acordo com tal, cerca de 50 % do adicional. Isso
não ocorrerá mais e o trabalhador perderá o direito ao adicional por esse período. O
novo texto da lei agora versa da seguinte maneira:
Art. 58, § 2º O tempo despendido pelo empregado desde a sua residência até
a efetiva ocupação do posto de trabalho e para o seu retorno, caminhando ou
por qualquer meio de transporte, inclusive o fornecido pelo empregador, não
será computado na jornada de trabalho, por não ser tempo à disposição do
empregador.
Não obstante esse exemplo, outras modificações formais foram feitas e serão
exemplificadas a seguir. O aspecto processual também sofreu abundantes modifica-
ções e teve pontos relevantes alterados com o advento da nova lei.
Quando se fala em processo vale-se da premissa que é o instrumento pelo qual
se quer fazer valer o direito material. O próprio Código de Processo Civil o qualifica
dessa forma. Neste âmbito, as modificações tendem a alterar quase todo o processo
trabalhista, na requisição de direitos e deveres. Mudanças foram feitas desde a peti-
ção inicial, que é aquela que inicia o processo desde a fase de execução, passando
inclusive ao que diz respeito aos honorários advocatícios.
A Justiça do Trabalho recebe uma considerável demanda diária de novos pro-
cessos. Um dos principais aspectos processuais que foram modificados foi a possibi-
lidade de homologação de um acordo extrajudicial que resolva as pendencias entre
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3 http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/LEGIS/CLT/TITULOVIII.html
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linhar a preservação de direitos fundamentais do empregado, sem que com isso, des-
caracterize as modificações impostas pela nova lei. Ao contrário, o dever institucional
do Estado e a obrigação legal do empregador em seguir com os parâmetros de prote-
ção do trabalhador, possibilitando segurança, os meios condignos de exercício labo-
ral, assim como a preservação de sua integridade psicofísica funcionam como o limite
e o fundamento para o texto renovado da CLT.
Podemos constatar que tanto o direito como a própria forma de exercê-lo foram
modificados, em alguns aspectos na sua própria raiz e seus efeitos jurídicos e sociais
poderão ser avaliados com o passar de sua aplicabilidade.
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Ademais, importa salientar que o conceito das verbas há muito se fazia sedi-
mentada na legislação, doutrina e entendimento dos tribunais, com a alteração subs-
tancial, sumulas serão canceladas como por exemplo a 372, Inciso I, TST, que ver-
sava sobre o tema. As verbas agora passam a ter seu conceito reduzindo, excluindo-
se prêmios e abonos.
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O artigo já causa certa polemica, pois, alguns juristas entendem que, por se
tratar de direito não poderá ser renunciado de tal forma, porém alguns julgados já
adotavam tais entendimentos, como por exemplo o RE 590.415 do STF. 4
O direito sindical também foi afetado diretamente, a partir da nova lei a contri-
buição não será de caráter obrigatória. Os sindicatos tinham chancela constitucional
que cuidava da sua receita. Com o advento da nova lei, essas condições serão alte-
radas no que diz respeito especialmente aos valores obtidos. Versa a lei, dando-lhe a
seguinte redação:
Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à autorização
prévia e expressa dos que participem de uma determinada categoria econô-
mica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato repre-
sentativo da mesma categoria.
4 www.stf.jus.br
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Um outro ponto muito discutido e que vale salientar é no que se diz respeito
aos honorários sucumbenciais. O artigo 791- A ressalta que a instituição dos honorá-
rios de sucumbência deverá ser fixada entre no mínimo 5% e no máximo 15%, sobre
o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não
5 http://zna.adv.br/reuniao-ordinaria-de-sociosassembleia-geral-ordinaria-2/
6 www.stf.jus.br
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sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa. Também ficou claro
que não haverá compensação de honorários sucumbenciais.
A implementação desse novo dispositivo já vem enraizada na modificação da
forma do processo, mais especificamente na petição inicial que agora terá obrigatori-
amente que conter pedido certo e determinado com a indicação de valor (art. 840 CLT
– alterado).
Ainda, importa dispor a modificação no Art. 4º, § 2º do novo texto legal, onde
as atividades que transcorram no local de trabalho e ultrapasse a jornada de trabalho
não podem mais ser contabilizadas como hora extras. No escopo dessas atividades,
a nova redação, estipula algumas hipóteses, não exaustivas, como prática religiosas,
descanso, lazer, estudo, alimentação, de relacionamento social, higienização pessoal
e trocas de roupa e uniformes. O texto deixa entendido a possibilidade de que outras
atividades, compatíveis as elencadas, também não podem ser consideradas período
extraordinário a jornada de trabalho, ainda que não esteja elencada nas alíneas da
Lei.
Vale asseverar que, no conjunto das normas mais controversas da Lei nº
13.467, está a possibilidade do contratado em organizar o seu período de trabalho
através de negociação com o empregador, na formulação dos horários de entrada,
repouso e saída. A estipulação se encontra nos arts. 443 e 444 da lei, onde, por meio
da prévia combinação legal e afirmação contratual junto ao empregador, tornar-se
possível alternar o exercício da atividade de trabalho com períodos de inatividade.
Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou ex-
pressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou indeter-
minado, ou para prestação de trabalho intermitente. [...] § 3o Considera-se
como intermitente o contrato de trabalho no qual a prestação de serviços,
com subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternância de períodos
de prestação de serviços e de inatividade, determinados em horas, dias ou
meses, independentemente do tipo de atividade do empregado e do empre-
gador, exceto para os aeronautas, regidos por legislação própria.
Art. 444. [...] Parágrafo único. A livre estipulação a que se refere o ca-
put deste artigo aplica-se às hipóteses previstas no art. 611-A desta Consoli-
dação, com a mesma eficácia legal e preponderância sobre os instrumentos
coletivos, no caso de empregado portador de diploma de nível superior e que
perceba salário mensal igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
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Importa salientar os aspectos do art. 8º, § 3º que estipula uma atuação jurisdi-
cional mínima do Estado, no qual oferece prevalência a vontade coletiva e a autono-
mia das partes. Onde, diante da análise de convenções e acordos de trabalho, o Poder
Judiciário deverá pautar-se, exclusivamente, nos elementos específicos do negócio
jurídico estipulado pelas partes. A autonomia privada, representa, nesse sentido um
conceito associado a civilista brasileira, que demanda a incidência da liberdade de
contratar ofertadas pelo ordenamento jurídico às partes, que no caso das aplicações
ao Direito do Trabalho reside na liberdade e gerência dos indivíduos no que será a
atividade principal de seu cotidiano, qual seja, a atividade laboral.
Assim, deve-se salientar as aproximações possíveis entre a doutrina civilística
pátria e as novas formulações e dimensões do Direito do Trabalho a partir das estipu-
lações de livre negociação e autonomia da vontade do empregado e do empregador
na elaboração do contrato de trabalho.
O conceito de liberdade de contratar abrange os poderes de auto regência de
interesses, de livre discussão das condições contratuais e, por fim, de escolha
do tipo de contrato conveniente à atuação da vontade. Manifesta-se, por con-
seguinte, sob tríplice aspecto: a) liberdade de contratar propriamente dita; b)
liberdade de estipular o contrato; c) liberdade de estipular o conteúdo do con-
trato. Caio Mário da Silva Pereira, nos ensina que o princípio da liberdade de
contratar exerce e se concretiza em quatro momentos fundamentais, que no-
mina de faculdade de contratar ou de não contratar; escolha da pessoa com
quem fazê-lo, bem como o tipo de negócio a efetuar; o poder de fixar o con-
teúdo do contrato; e a constituição de fonte formal do direito, uma vez con-
cluído o contrato. (BARROS, et al, 2002, p. 319)
É possível compreender que essa aura da lei, que impõe a prevalência da von-
tade privado no Direito do Trabalho representa uma guinada a um Direito do Trabalho
que estaria mais propenso a seara privada, onde a vontade das partes reina sobre as
estipulações estatais. Acontecimento este, que representa uma mudança de para-
digma no direito, visto que desde os ensinamentos de Arnaldo Sussekind, aponta Co-
elho (2009), a doutrina jurídica compreendia a preeminência da vontade estatal sobre
as estipulações das partes.
As transformações instituídas pela nova lei demonstram a mutabilidade do texto
legal, e o seu poder de adequação ao tempo presente.
Nesse sentindo esse e outros dispositivos foram alterados, alguns de forma a
modificar todo o sistema em que opera, outros somente para sedimentar o que era
aplicado. De qualquer forma a mudança virá e colocará em vigor uma nova maneira
de ver o direito trabalhista. Os juristas e estudiosos já começam a posicionar-se contra
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A evolução do direito trabalhista traz em seu âmbito uma relação sempre deli-
cada entre as partes envolvidas. A transformação do cenário que sucedeu a Revolu-
ção Industrial é o marco da obtenção dos primeiros direitos do trabalhador. A partir do
surgimento dos primeiros contratos de trabalho e também, dos primeiros sindicatos,
uma nova visão formou-se através da necessidade de respaldar aquele que faria a
máquina econômica funcionar.
A primeira Constituição a discorrer sobre o tema foi a de 1934, que versava
especialmente sobre direitos materiais e jornada de trabalho. Com base em alguns
pontos já elencados surgiria a CLT em 1943, que como o próprio nome já explica, viria
como uma consolidação de leis esparsas de tutela trabalhista. A Carta Magna de 1988
então, somente veio a acrescentar direitos e versar sobre valores fundamentais a se-
rem respeitados sobre o tema.
Sabendo-se da aplicação de forças distintas na relação entre empregador e
empregado, criou-se mecanismos que pudessem conferir equilíbrio a mesma. Neste
sentido o princípio protetor do direito do trabalho vem a satisfazer a necessidade do
polo mais fraco em detrimento do polo mais forte. Para Rodriguez (2015, p. 35), por
exemplo, o princípio é definido como:
[...] linhas diretrizes que informam algumas normas e inspiram diretamente
ou indiretamente uma série de soluções, pelo que podem servir para promo-
ver e embasar a aprovação de novas normas, orientar a interpretação das
existentes e resolver os casos não previstos.
fundamento com que o indivíduo pode exercer a sua função laborativa certo de que
estará resguardado pela égide estatal na consecução do sustento de si e de sua fa-
mília (DEMORI, 2017).
A reforma trabalhista, portanto, estabelece a confrontação direta entre o prin-
cípio da autonomia privada – seja individual ou coletiva – frente ao princípio
protetor, típico da tradicional doutrina do direito do trabalho. Alternativas livres
de regulamentação estatal, ou flexíveis diante da lei, traduzem, sem sobra da
dúvida, o avanço da ideia eminentemente contratual, civilista, portanto, sobre
a essência correta de desigualdades fáticas que costuma caracterizar o di-
reito trabalhista. Identificamos, no presente momento histórico, a convergên-
cia de tais iniciativas reformistas da estrutura principiológica do direito do tra-
balho, com a pretensão de alterar os seus rumos. Por isso sustentamos a
pertinência da noção de reforma trabalhista, como a síntese das mudanças
afinadas com tal sentido desregulamentador e flexibilizantes, permitindo-nos
teorizar a respeito dela. (MENEZES, 2002, p. 186)
Considerações Finais
A nova lei trabalhista veio com o intuito de modificar e atualizar todo um sistema
arcaico que se baseava em uma realidade da década de 40 do século passado. A
intenção dos legisladores foi adequar as leis a nova realidade econômica e social do
país, bem como sedimentar entendimentos que já ocorriam por parte dos tribunais em
seus julgados.
A relação trabalhista é em si a base da economia de um país, haja vista a sua
complexidade e importância no sistema e por isso merece atenção especial as suas
novas disposições inseridas pela reforma.
Pode-se analisar através do trabalho algumas das principais mudanças na ma-
téria, tanto em face do direito como em face da fase processual. O assunto não pode-
ria exaurir-se num só trabalho, dada a sua complexidade, foram alterados artigos e
disposições importantes que agregaram e subtraíram algumas diretrizes que balizam
a área.
Com as alterações indicada se percebe que o trabalhador de certa forma ganha
e perde alguma coisa. Ganha no aspecto de autonomia e perde com alguns benefícios
que já eram concedidos na lei de 43 e que não foram repassadas a legislação nova.
Essas perdas e ganhos poderão ser melhor avaliados com o passar do tempo e sua
real aplicação no cotidiano de trabalho e na necessidade de pleitear seu direito diante
aos juízos cabíveis.
Advogados e sindicatos também tiveram em suas áreas alterações significati-
vas e que serão discutidas com o discorrer da aplicação das mesmas.
Entende-se que a mudança traz riscos em si e pode desagradar a muitos e
confundir a outros. Mas a mudança deve sempre ser bem-vinda quando se pretende
uma nova remodelação do sistema em busca da adequação de vontades. O que não
poderá ser admitido é seguramente um retrocesso de direitos já adquiridos e inerentes
aos trabalhadores.
As empresas também terão que se adequar a muitos dispositivos contidos na
nova lei, especialmente para sanar e preencher lacunas que eram pouco levadas em
consideração. A pessoa do sócio também foi mencionada e suas responsabilidades
cabíveis na obrigação com o empregado, especialmente no que se diz respeito a dé-
bitos trabalhistas.
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