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Luiz Signates

Estudo sobre o conceito de


mediação

“Uma opinião nova conta como ‘verdadeira’ na medida em que gratifica o desejo
do indivíduo de assimilar o novo na sua experiência às suas crenças em stock
O nosso conhecimento cresce às manchas (...) e, tal como manchas de gordura,
alastra. Mas nós deixamos que alastre o menos possível: mantemos sem alteração
tanto quanto podemos do conhecimento velho, dos velhos preconceitos e crenças
(...) acontece raramente que um novo fato é acrescentado em cru. Mais
freqüentemente é misturado e cozido no molho do velho — William James (In
Santos, 1990, p. 101)
1. Introdução O objetivo deste trabalho é,
Apenas a abundância de pois, dentro das possibilidades de uma
citações e usos do verbo mediar e categoria teórica tão complexa e, até
dos termos mediação e mediador nos certo ponto, obscura, contribuir para
textos referentes aos estudos recentes um entendimento mais claro de sua
de recepção na América Latina já seria história, suas possibilidades e seus
suficiente para demonstrar a impor­ limites. Sem a ingênua pretensão de
tância desse conceito na reflexão exaustividade, fundamos as conside­
contemporânea sobre essa relevante rações que o enfeixam em três autores
área da pesquisa em comunicação. fundamentais, todos vinculados ao
Devido a esse uso continuado, seria campo dos estudos culturais:
de se esperar que a palavra mediação Williams, Martín-Barbero e Orozco
remetesse a um significado claro, Gómez. O primeiro, por ser a fonte
consensualizado entre os diversos comum onde foram beber os princi­
autores e pesquisadores, e a opera­ pais autores que hoje influenciam os
dores metodológicos cujas possibili­ estudos de recepção, pela linha da
dades e limites fossem minimamente sociologia da cultura, na América
conhecidos. Por incrível que possa Latina e, mais especificamente, no
parecer, não é isso o que acontece. O Brasil. E, os demais, por serem os que
próprio Martín-Barbero, em sua obra mais densa e copiosamente têm
principal, De los medios a las medi- produzido trabalhos a respeito.
aciones (1987), apesar de utilizá-lo no 2. Esboço histórico do conceito
próprio título, não o define claramen­ A palavra mediação, confor­ Luiz Signates é jornalista e professor
te, nem o historia. As contribuições me Lalande (1993, p. 656), procede assistente da Faculdade de
nesse sentido são esparsas, e, entre do adjetivo inglês mediate (embora se Comunicação e Biblioteconomia da
elas, é digno de menção o esforço de admita também vinculação com o Universidade Federal de Goiás.
Orozco Gómez (1994) em procurar francês mediat e, em seguida, Especialista em Políticas Públicas
não apenas definir o conceito, como médiation) do qual se originou o pela UFG, Mestre em Comunicação
avaliar suas possibilidades descritivas substantivo médiation e seus deriva­ pela UNB, cursa o doutorado no
de forma a categorizá-lo em seus dos, como intermediation. Em ale­ Departamento de Cinema, Rádio e TV
múltiplos aspectos. mão, Vermittelung, se faz presente da ECA/USP.
sobretudo na filosofia de Hegel. de oferecer uma descrição completa
O conceito de mediação pro­ do mundo.
cede principalmente de duas vertentes Na herança marxista, é Ben-
filosóficas: a idealista, de origem jamin o pioneiro a teorizar a mediação
cristã, e a hegeliana, bem como a fundamental que permite pensar a
tradição marxista. Tais vertentes são, relação da transformação nas condi­
obviamente distintas, a primeira ções de produção com as mudanças
ligando-se sobretudo à herança teoló­ no espaço da cultura (transformações
gica (mediação do Cristo entre Deus do sensorium dos modos de percep­
e o mundo; mediação dos santos entre ção, da experiência social). Outra
os pecadores e Deus) e, em seguida, preocupação, no entanto, animava os
tomando-se corrente no existencia- estudiosos do marxismo, a da relação
lismo, e a segunda, numa preocupação entre infra-estrutura e superestrutura,
específica de explicar os vínculos dando origem a uma noção que
dialéticos entre categorias separadas. antecede a de mediação: a noção de
Ambas as orientações, contudo, às reflexo.
vezes se tocam, como parece ser o Segundo Williams (1979, p.
caso do quase insuperável problema 98), a conseqüência habitual da
do dualismo, que o conceito implica. fórmula infra-estrutura/superestru-
O significado mais corrente de tura é conceber a arte e o pensamento
mediação vincula-se à idéia do como reflexos. A arte seria, pois,
intermediário. Como tal é a noção uti­ reflexo do mundo real ou da realidade
lizada num contexto da epistemologia por trás das aparências (natureza inte­
behaviorista, como “elos interme­ rior do mundo, ou formas constitu­
diários” entre o estímulo inicial e a tivas), ou, ainda, reflexo do mundo
resposta, gerando “ao mesmo tempo, tal como é visto pela mente do artista.
as respostas aos estímulos que os Tal noção pode levar ao conceito de
precedem e, por sua vez, estímulos falso reflexo ou reflexo deformado,
para os elos que seguem” (Dubois, no qual algo (metafísica, ideologia)
1997, p. 405). Na verdade, a impede o verdadeiro reflexo. Duas
apropriação filosófica do conceito não versões desse materialismo tomaram-
se restringe a esse sentido, podendo, se dominantes no pensamento mar­
sem perder o significado de interme­ xista: a interpretação da consciência
diação, não se aplicar ao próprio como “reflexos, ecos, fantasmas, su-
elemento intermediador, mas “... blimações” e como “verdade cientí­
àquele que se liga ao primeiro (ou dele fica”, alternativa que deixou a arte
deriva) por intermédio do segundo” relativamente negligenciada, pois
(Lalande, idem, ibidem). Pode, embutida numa teoria positivista, para
também, adquirir uma feição mais a qual a atividade artística deveria
processual ou ligada à idéia de refletir a realidade (realismo ou
movimento “...entre um termo ou um naturalismo) e, se não o fizesse, seria
ser do qual se parte e um termo ou falsa ou sem importância. Para essa
um ser ao qual se chega, sendo esta concepção, a realidade é a produção
ação produtora do segundo, ou pelo e a reprodução da vida real, a infra-
menos condição de sua produção” estrutura, sendo a arte parte da
(Lalande, idem, ibidem), e nesse “superestrutura”. Tanto naturalismo
sentido aparece na dialética hegeliana, quanto realismo vinculam-se a uma
como todo e qualquer termo, exceto redução da realização artística a uma
o primeiro e o último, que se preste a doutrina estática, objetivista.
operador indispensável a uma propo­ Williams (idem, p. 99) cita a
sição teórica que assuma a pretensão distinção radical entre materialismo
mecânico (ver o mundo como objeto (1992, p. 21), nesse caso, “a media­
e excluir a atividade) e materialismo ção pode referir-se primordialmente
histórico (ver o processo da vida aos processos de composição neces­
material como atividade humana), para sários, em um determinado meio;
afirmar que as mais simples teorias como tal, indica as relações práticas
do reflexo baseavam-se no materia­ entre formas sociais e artísticas. Em
lismo mecânico. Mas, uma visão seus usos mais comuns, porém, refe­
diferente seria a de ver o “mundo re-se a um modo indireto de relação
real”, em lugar de ser isolado como entre a experiência e sua composi­
um objeto, ser um processo social ção”. O problema subjacente é óbvio:
material com certas qualidades e se a realidade e o falar a realidade são
tendências inerentes. A arte seria, pois, tomados como categoricamente
reflexo não de objetos separados e distintos, conceitos como “reflexo”
eventos superficiais, mas como e “mediação” são inevitáveis.
forças e movimentos essenciais a ele Williams, porém, abandona o
subjacentes. Houve ampliações conceito de mediação, por considerar
precipitadas desse modo de pensar: quase insuperável o problema que, de
artes progressista/reacionária e forma menos sofisticada, já existia
socialista /burguesa; e não arte, mas nas chamadas “teorias do reflexo”:
cultura de massa; etc. Foi decisiva uma subjacente e pressuposta visão
essa teoria da arte como reflexo não dualista do mundo, em que a realidade
de objetos, mas de processos e o falar a realidade são tomados como
históricos. categoricamente distintos. O proble­
Para Williams, o erro dessa ma é diferente, porém, se percebida
abordagem foi não ser suficiente­ a linguagem e a significação como
mente materialista. Dessa necessidade elementos indissolúveis do próprio
surgiu a idéia de mediação, concebida processo social. Entretanto, ainda
como um processo ativo, um ato de assim Williams considera um estorvo
intercessão, reconciliação ou interpre­ descrever o processo geral de signifi­
tação entre adversários ou estranhos. cação e comunicação como media­
Na filosofia idealista, o termo já se ção, porquanto a metáfora “nos leva
estabelecera como conciliação entre de volta ao conceito mesmo do ‘inter­
opostos, dentro de uma totalidade. Ou, mediário’, que, na melhor das hipóte­
num sentido mais neutro, interação ses, esse sentido constitutivo e cons-
entre forças separadas. Ou, ainda, tituidor rejeita” (Williams, 1979, p.
conexão indireta, uma agência, entre 103).
tipos separados de ato. Williams No esforço que este autor de­
percebe que o termo é atrativo para a senvolve para adequar ou superar o
compreensão do processo de relação conceito de mediação, ele faz uma ex­
entre “sociedade” e “arte”, ou entre tensa análise das noções de tipifica­
“infra-estrutura” e “superestrutura”. ção e homologia, passando por cate­
Reformulado, indicaria não mais gorias muito utilizadas pelos teóricos
realidades refletidas, e sim realidades de Frankfurt, como correspondência
que passam por um processo de e imagem dialética. Ao fim e ao cabo,
“mediação”, no qual o seu conteúdo Williams conclui que (1979, p. 110)
original é modificado. “nenhuma das teorias dualistas,
É, pois, conforme Williams, expressa como reflexo ou mediação,
quando a análise social da arte se e nenhuma das teorias formalista e
estende às relações sociais, que a estruturalista, expressa em variantes
noção de reflexo é substituída pela de correspondência ou homologia,
idéia de mediação. Segundo esse autor pode ser plenamente levada à prática
contemporânea, já que de modos entre as fissuras das autonomizadas
diferentes todas elas dependem de racionalidades estético-expressiva,
uma história conhecida, de uma moral-prática e cognitivo-instru-
estrutura conhecida, de produtos mental), chamar tais instituições de
conhecidos” (grifos do autor citado). “meios de comunicação” não implica
Uma abordagem alternativa para de forma alguma afirmá-las como
Williams passa a ser o conceito em “mediações”. Este talvez seja o mais
evolução de “hegemonia”. caro preço que se paga pela tentativa
Será, contudo, Martín-Barbe­ de um uso consistente desse
ro quem, na década de 1980, retomará conceito, pois trata-se de uma negação
a abordagem da hegemonia, aplicada a um uso que, em português, seria
à cultura, e recuperará com extraor­ comum, sem que se obtenha, em
dinária ênfase a idéia de mediação, contrapartida, alguma afirmação que
tomada de posição que terminará pareça suficientemente clara.
influenciando durante toda a década Mas, as críticas ao que seria
de 1990, na América Latina e, espe­ talvez o seu uso óbvio são consis­
cialmente no Brasil, os ainda raros tentes; referem-se sobretudo ao fato
estudos de recepção em comuni­ de que a idéia de intermediação é
cação. diretamente dependente de um modo
Que sentido, a partir de então, positivista de ver a realidade, que
adquirirá o conceito de mediação? separa as suas categorias em partes
Terão as novas abordagens, nessa tidas por preexistentes e independentes
retomada, se libertado dos problemas entre si e que, por isso mesmo, neces­
que levaram o sociólogo inglês a sitam de outras categorias, externas
abandoná-lo? Eis a indagação que a cada uma delas, para cumprir o
passaremos a estudar. papel de intermediárias e garantir as
3. Fronteiras de um mapa concei­ ligações que as tornam interdepen­
tual: o que não é mediação dentes. A esse modo de pensar Wil­
Comecemos a tentativa de um liams denominou (1979, p. 102) “dua­
mapa conceitual pelas bordas, ou seja, lismo básico”, afirmando, no entanto,
pelos limites: definindo o que a me­ que “é quase impossível manter a
diação não é, em seu uso orientado à metáfora da ‘mediação’ ( Vermittlung)
sociologia da cultura e em especial ao sem um certo senso de áreas separa­
campo da comunicação. Claro que das e preexistentes, ou ordens de
esse jogo de significados na verdade realidade”, e denunciou sua presença
explicita posicionamentos teóricos tanto na filosofia idealista, quanto em
nessas áreas do conhecimento, não importantes vertentes do marxismo.
se tratando de uma mera discussão Mediação não é tampouco
semântica, daí a razão pela qual a “filtro”. O uso metafórico dos termos
abordagem negativa ao conceito “filtro” e “filtragem” em estudos de
procurará, senão desfazer, ao menos comunicação pode ser encontrado em
dispensar significados consagrados abordagens psicológico-experimen-
por dicionaristas e etimólogos. tais, como a dos filtros de seletividade
Mediação não é intermediação. (exposição, percepção e memorização
Mesmo que permaneçamos na hoje seletivas), e empírica de campo,
discutível “função” das instituições de como nos estudos de fluxo
comunicação como intermediários comunicativo que utilizaram a
entre grupos e instituições sociais ou metáfora da filtragem para descrever
mesmo entre racionalidades distintas o papel dos opinion leaders (Wolf,
(uma abordagem weberiana poderia 1987, p. 28 e seg. e 49). Como parece
admiti-los fazendo a ponte discursiva evidente, a idéia de filtragem remete
especificamente à seleção de meios para a investigação das culturas
conteúdos e pressupõe um enfoque populares, os modos de comunicação
condutivista ou informacional de desses setores e a relação entre o que
comunicação, dentro da linha das se passa nos meios com o que se
chamadas teorias “administrativas”, passa nos bairros, nas ruas. Estabele­
conforme a tipologia adotada por Wolf cendo uma nova relação entre culturas
(1987). O conceito de mediação não populares e cultura massiva, o autor
cabe nesse reducionismo teórico. faz uma análise das mediações
Mediação também não é inter­ acontecidas nos meios de literatura de
venção no processo comunicativo, o cordel, no século XVI na Espanha,
que significa que o termo deve ser até os meios massivos, como rádio,
usado com cuidado, ao se referir às cinema e televisão, na América Latina
diversas formas de controle social da contemporânea”.
informação. Um ato de censura ou de O conceito de mediação é
modificação de um fragmento de citado 37 vezes, dentro da obra. Des­
informação não significa uma media­ sas citações, em 21 oportunidades o
ção, malgrado esteja havendo interfe­ autor o utiliza como categoria vincula-
rências no processo de significação e nte de dicotomias específicas e, em
mesmo que haja mediações envolvidas maioria, antinômicas (vide tabela nas
na produção desses significados. páginas 42/43). Nas demais, efetua
4. Marcas e caminhos: o que pode simples citações, sem um comprome­
ser mediação timento explícito com sua definição.
Dessa extração, avaliamos as
4.1 Martín-Barbero: dos meios às
seguintes possibilidades de definição
mediações
para o conceito de mediação1:
Parece sintomático que um dos a) Como construto ou categoria
principais autores responsáveis pela teórica: Categoria teórica explicativa
revivescência da figura das mediações de uma relação entre antinomias ou
na pesquisa latino-americana não modo de apropriação que toma possí­
tenha trabalhado rigorosamente na sua vel a relação com o possível ou o radi­
delimitação conceitual. Essa critica é calmente outro. Temporalidade espe­
tranqüilamente feita mesmo por cífica que toma possível a comuni­
estudiosos que se baseiam nele, como cação entre diferentes durações.
é o caso de Orozco Gómez (1994, p. b) Como discursividade especifica:
74), que afirma, sem rodeios, que “sin Discursividade específica que absor­
embargo, Martín-Barbero no há ela­ ve formas diversas de apresentação
borado el concepto de mediación en ou que vincula diferentes tempo-
términos más concretos”. ralidades ou socialidades.
A admissão dessa lacuna não c) Como estruturas, formas e práticas
implica reduzir a importância de vinculatórias: Prática social vincu-
Martín-Barbero para o pensamento latória de estruturas categoricamente
latino-americano, razão pela qual a sua diferenciadas. Estruturas, formas ou
obra de maior repercussão, publicada práticas que vinculam diferentes
em 1987 (e sobre a qual este trabalho racionalidades, ou que sustentam
se detém), deve ser entendida dentro diferentes lógicas ou diferentes
do percurso intelectual desse autor. temporalidades, num mesmo proces­
Segundo Rabelo (1998, p. 6), o livro so. Processo ou estrutura que permite (1) Onde não se citou o endereço
De los medios a las mediaciones: chegar a um ordenamento temporal bibliográfico, é que a conclusão foi
comunicación, cultura y hegemonia sem sair completamente do anterior. livremente tirada pelo autor deste
“... faz a passagem da preocupação Práticas de produção, distribuição e trabalho, a partir de menções
inicial com a análise do discurso dos consumo (econômicas, portanto), diversas na obra em foco.
possibilitando simultaneidade e acordo cultural (por exemplo, o escritor). quais provêm as constrições que
entre sentidos opostos, antinômicos, d) Como instituição ou local delimitam e configuram a materialida­
ou ainda um deslocamento de modos geográfico: Instituição cuja prática de social e a expressividade cultural
de produção e suportes, que resulta relaciona sentidos, modos de vida e da TV. Tais lugares são: a cotidianida-
em formato discursivo específico instituições (simulação e desativação de familiar, a temporalidade social e a
(como, por exemplo, o folhetim). dessas relações significa abandono da “competência” cultural.
Prática cultural que absorve diferentes condição mediadora). Lugar de e) Como dispositivo de viabilização
discursividades. Relação institucional vivência de sentidos ambíguos ou e legitimação da hegemonia ou
e/ou econômica, cujos modo e perio­ sintetizadores (como o bairro). resolução imaginária da luta de
dicidade reorientam a intencionalidade Martín-Barbero (p. 233) fala também classes no âmbito da cultura: Ofício
artística de um tipo de produtor em mediações como lugares dos da cultura, de cobrir diferenças e

pg Categoria 1 Mediação/mediador Categoria 2 Relação


113 Linguagens Cordel - Religiosidades Prática Cultural que absorve
Linguagem “alta” - Linguagem “baixa” diferentes discursividades
114 Tradição Culta Trabalhadores da Imprensa Tradição oral Seletores de conteúdos e formas
de diferentes procedências
131 Folclore das férias Melodrama Espetáculo popular- Discursividade específica que
urbano (massivo) absorve formas diversas de
apresentação
139 Livro Técnicas de escrita jornalística e Imprensa Deslocamento de modos de
aparato tecnológico produção e suportes que resulta
em formato específico (folhetim)
140 Escritor Relação assalariada Texto Relação Institucional e
econômica, cujos modo e
peridiocidade reorientam a
itencionalidade artística do
escritor
141 Exigências do - Estrutura tipográfica Formas da cultura Práticas de produção,
mercado (fórmula - Composição e fragmentação (demanda cultural) distribuição e consumo,
comercial) do relato possibilitando acordo e
- Ritmo da entrega semanal simultaneidade entre sentidos
- Forma de pagamento opostos, antinômicos
143 Estruturas da Leitura (como atividade Estruturas do texto Prática social vinculatória de
sociedade constituinte) estruturas diferenciadas
categoricamente
146 Tempo do ciclo Periodicidade da narração Tempo linear do progresso Processo ou estrutura que
popular e sua estrutura permite chegar a um
ordenamento temporal sem sair
por inteiro do anterior
148 Mito (espaço do Herói do folhetim Novela (espaço da Personagem de tipo híbrido,
sobrenatural) descricão do real) ligando sentidos
160 Espectador Indistinção entre ator e Mito Categoria teórica explicativa de
personagem (dispositivo uma relação entre antinomias
específico: primeiro plano)
195 - Estado Meios de comunicação de - Massas Instituição cuja prática relaciona
- Rural massa - Urbano sentidos, modos de vida e
- Tradições - Modernidade instituições (simulação e
desativação dessas relações
significam abandono da
condição mediadora)
197 Racionalidade infor­ Especificidades tecno- Mentalidade expressivo- Estruturas e práticas que
mativo-instrumental discursivas do rádio simbólica do mundo vinculam diferentes
da modernidade popular racionalidades
Memória Objetos sagrados e ritos Utopia Modo de apropriação que toma
possível a relação com o
radicalmente outro
214 Experiências de Ativistas, quadros do partido Experiências do mundo Construtores de nexo em
setores populares socialista, pequenos intelectual e das esquerdas instituições dentro de um bairro
comerciantes e profissionais do
bairro
217 Universo privado da Bairro Mundo público da cidade Lugar de vivência de sentidos
casa ambíguos ou sintetizadores
237 Tempo do capital Série e gêneros Tempo da cotidianeidade Formas ou práticas discursivas
para sustentação de diferentes
temporalidades
239 Lógicas do sistema Gêneros Lógicas do sistema de Formas ou práticas discursivas
produtivo consumo para a sustentação de diferentes
lógicas, em um processo
239 Lógicas do formato Gêneros Lógicas dos modos de ler, Idem
241 dos usos
244 Tempo da história Tempo familiar (a partir do qual Tempo da vida Temporalidade específica que
o homem - como parente - se viabiliza comunicação entre
pensa social) diferentes durações
245 Tempo da vida (so­ Melodrama (por via de um senti­ Tempo do relato (que afir­ Discursividade típica que vincula
cialidade negada, do de anacronia, como transfor­ ma a socialidade negada e diferentes temporalidades ou
economicamente
desvalorizada e mação capitalista do trabalho e toma possível às classes socialidades
politicamente do ócio, abolindo a socialidade populares se
desconhecida) popular) reconhecerem nela)

reconciliar gostos, cobrindo o conflito sentido do trabalho e a vida da comuni­ específico da literatura folhetinesca,
de classes pela produção de uma dade. Tal mediação é realizada por uma para compreender o herói, um
resolução no imaginário que assegure dupla operação: desconexão (separa­ personagem literário de tipo híbrido,
o consentimento ativo dos domina­ ção do indivíduo de sua comunidade ligando sentidos diversos.
dos, o que culminou na inversão da e dissolução do sentido social de seu Em diversos outros pontos da
cultura popular em cultura de massa, trabalho) e recomposição (integração obra, menciona-se abaixo onde a
evitando que se tomasse uma cultura dos fragmentos em tipicidades que mediação é apenas citada, sem condi­
de classe (p. 135). revertem do nacional e do transna- ções claras de análise conceitual.
Dentro desse processo hege­ cional sobre as comunidades, em for­ Deixamos de indicar tais menções por
mônico, a mediação é também a mu­ mas de condutas ou necessidades de serem desnecessárias.
tação da materialidade técnica em objetos industriais sem os quais a vida 4.2 Orozco Gómez: as mediações
potencialidade socialmente comunica­ já é praticamente impossível). Nesse múltiplas
tiva, processo de transformação cul­ deslocamento de relações entre obje­ A busca de Orozco Gómez2
tural que viabiliza as modalidades de tos e usos, entre tempos e práticas, foi desenvolver um marco conceptual
comunicação, revelado pelas inova­ aquilo que as comunidades produzem que não se sustentasse em dicotomias
ções tecnológicas. Tal é o sentido de e seus modos de produzir se conver­ (macro-micro, emissores-receptores,
situar os meios no âmbito das media­ tem em veículos mediadores da etc.) e uma estrutura epistemológica
ções (p. 153-4). A mediação é, assim, desagregação. que desse conta da intermediação de
definida como processo pelo qual os Em duas circunstâncias (p. diversos elementos, níveis e regras
meios de comunicação adquirem 148 e 214), Martín-Barbero faz uso que assumem os membros da
materialidade institucional e espessura do termo “mediador” e do verbo “me­ audiência, ao interagir com as
cultural, abordagem que supera os diar” para indicar agentes que atuam mensagens da TV. Para superar o
estudos sobre estrutura econômica e como seletores de conteúdos e for­ primeiro problema e escapar de uma
conteúdo ideológico (p. 177). mas de diferentes procedências ou co­ racionalidade dualista entre contextos
A mediação é ainda situada (p. mo construtores de nexo em institui­ sociais macro e micro, ele sugere
207) como dispositivo pelo qual a ções dentro de um lugar social defini­ adotá-los como fontes de mediação.
hegemonia transforma, de dentro, o do (como um bairro), ou no caso E, por fim, sua busca epistemológica
é por um enfoque integral da recepção, como sujeito social, membro de uma
capaz de reunir em função da recepção cultura. A “agência” do sujeito se
televisiva a teoria da estruturação de desenvolve em diferentes cenários. A
Giddens, a teorização da mediação mediação cognoscitiva (resultado
cultural de Martín-Barbero e sua derivado da estrutura mental por meio
própria conceituação de recepção e da qual o sujeito conhece) é a princi­
mediações como processo. pal mediação individual. Suas fontes
Para isso, desenvolve a pers­ são “esquemas mentais” (psicologia),
pectiva da múltipla mediação, repertórios ou textos (estudos cultu­
partindo do pressuposto de que a rais e literários) ou scripts (recepção
interação TV-audiência emerge de um televisiva). Os scripts definem
processo complexo, multidimensional seqüências específicas de ações e
e multidirecional, que abarca vários discursos, proporcionando ao sujeito
momentos, cenários e negociações diretrizes para atuar de acordo com
que transcendem a tela da TV. Orozco uma representação generalizada
Gómez trabalha com diferentes daquilo que se espera dele, ou ao que
categorias de mediação. Inicialmente, se pensa ser adequado que ele faça
define as mediações como “processos em um cenário específico. Determi­
de estruturação derivados de ações nados social e culturalmente, os
concretas ou intervenções no scripts são aprendidos por meio da
processo de recepção televisiva”, para, interação social, embora nem sempre
em seguida, distinguir entre media­ requeiram um ensino explícito, e
ções e fontes de mediação, sendo signifiquem pelas instituições sociais
estes os lugares onde se originam ou pela agência do sujeito, adquirindo
esses processos estruturantes. Assim, sentido em significações específicas,
a mediação se manifesta por meio de bem como podem ser transformados
ações e do discurso, mas nenhuma pela agência do sujeito e pela mediação
ação singular ou significado particular múltipla que os sujeitos enfrentam no
a constitui enquanto tal. É, portanto, processo da recepção. Outras fontes
um processo complexo e difuso, de mediação são o gênero, a idade e a
diferente da soma de seus com­ etnia. Todas as mediações individuais
ponentes, não devendo ser entendido devem ser entendidas dentro de meios
como um objeto de observação, e sim culturais concretos.
como algo similar à classe social. A mediação situacional é a que
As fontes de mediação são tem como fonte a situação da intera­
várias: cultura, política, economia, ção, entendida como algo que trans­
classe social, gênero, idade, etnicida- cende o simples momento do contato
de, os meios, as condições situacionais direto com a TV e se multiplica
e contextuais, as instituições e os mo­ conforme os diferentes cenários nos
(2) O trabalho em que esse vimentos sociais. Também se origina quais a interação se desenrola. São
pesquisador tenta situar e fazer na mente do sujeito, em suas emoções cenários os lugares onde são produzi­
avançar o conceito de mediação, e e suas experiências. Cada uma dessas das as negociações e as apropriações
sobre o qual este texto se detém, é instâncias é fonte de mediações e pode da TV, razão pela qual fatores como
intitulado Recepción televisiva y também mediar outras fontes. o tamanho e o nível de diferenciação
mediaciones: la construción de Para Orozco Gómez, as me­ da habitação ou o estar só ou acompa­
estrategias por la audiência. diações, em seu caráter múltiplo, se nhado constituem mediações situacio­
Publicado originalmente em inglês dividem em quatro grupos: individual, nais, pois implicam possibilidades e
em 1992, foi vertido para o situacional, institucional e vídeo- limitações para o processo de recep­
espanhol e divulgado pela tecnológica. ção televisiva. As mediações situacio­
Universidad Autónoma de A mediação individual é a que nais procedem também dos cenários
Barcelona em 1993. surge do sujeito, como indivíduo ou específicos onde os membros da au-
diência interagem usualmente (escola, formas culturais da TV, e sim à
bairro, lugar de trabalho, etc.), sendo circunscrição dessas formas cultu­
que alguns são mais relevantes do que rais. Isto é, a mediação própria da TV
outros como fontes de mediação. não é um processo estruturador
A mediação institucional se faz derivado somente das características
presente quando as instituições sociais videotecnológicas gerais do meio,
mediam a agência do sujeito. A mas de um processo muito específico
audiência não é audiência só quando que se origina principalmente dos
interage com a TV. A audiência são gêneros televisivos por meio dos quais
muitas coisas ao mesmo tempo e a TV efetua uma vinculação concreta
participa de diversas instituições de sua audiência. Assim, gêneros,
sociais, de forma que a identificação graus de verossimilhança e possibili­
dos sujeitos receptores não apaga as dades de representação reforçam a
outras identidades. As instituições eficácia da mediação tecnológica.
utilizam diversos recursos para A noção de mediação múltipla
implementar sua mediação, como o implica supor que a interação TV-
poder, as regras, os procedimentos audiência compreende combinações
de negociação, as condições materiais específicas de mediações, num pro­
e espaciais, a autoridade moral e cesso altamente sociocultural que
acadêmica, e, principalmente, a cons­ segue alguns padrões ou combinações
trução de identidades e o desenvol­ preferenciais de mediação, as quais
vimento de classificações que são sempre dinâmicas, nunca estáti­
outorguem sentido ao mundo. As cas. Como afirmara Hall, “interatua-
instituições se diferenciam entre si mos criativamente com a TV sob
pelo acúmulo de poder, autoridade, condições que não são inteiramente
recursos e mecanismos de mediação, de nosso domínio”. Esse dinamismo
e podem mesmo competir entre si, pode ser explicado pelas mudanças
podendo ser percebidas pelos sujeitos concretas nas relações de poder
como contraditórias ou mutuamente (“dialética de controle”, conforme
neutralizantes. Por isso, não se deve Giddens, pela qual nem todos os
entender a mediação institucional sujeitos participam do contexto com
como um processo estruturador os mesmos recursos e possibilidades
monolítico. de influenciar os demais).
A mediação tecnológica é a que A operacionalização sugerida
parte do pressuposto que a TV, como para o jogo da mediação é a das
instituição social, não reproduz “comunidades interpretativas”. O
simplesmente as outras mediações processo de recepção teria diferentes
institucionais. Ao contrário, produz tipos de comunidades: comunidade
sua própria mediação e utiliza recursos televidente, de apropriação e de rea-
para impô-la sobre sua audiência. propriação, sendo que todas possui­
Como meio eletrônico, a TV tem riam em comum a função de dar
especificidades, para incorporar “o significação à interação TV-audiência.
que está fora”, dentre as quais uma Entretanto, só a “comunidade inter-
muito importante é o gênero, definido pretativa”, compreendida como com­
como combinação específica de binação particular de outras comuni­
códigos que resultam em modos dades, define finalmente o sentido da
particulares tanto da estruturação do interação. Por comunidade interpreta-
discurso quanto da televidência. Isso tiva, Orozco Gómez entende um
chama a atenção para o fato de que a grupo de sujeitos sociais unidos por
abordagem múltipla da mediação não um conjunto particular de práticas
se refere apenas à existência de comunicativas. Por exemplo: a família
é a comunidade televidente mais que a necessidade de uma discussão
freqüente, mas não é necessariamente teórica mais profunda ainda é presen­
sua comunidade interpretativa. te; as fissuras talvez ainda sejam mais
Apesar do predomínio de aparentes do que as definições.
algumas comunidades interpretativas, É que o campo de indefinições
a audiência não é uma entidade extrapola a simples reflexão concei­
monolítica, nem um sujeito passivo, tual. O próprio interesse pelo uso da
nem uma categoria a priori (a noção de mediação sugere isso. A
audiência não nasce audiência, mas comunicação é uma área de estudos
se faz e se vai transformando). A demasiadamente imprecisa, a ponto
interação, pois, não deve ser tida de ser difícil afirmarmos com segu­
como conjunto único de ações, e sim rança a natureza específica de seu
como uma prática comunicativa, na objeto teórico. Estudar comunicação
qual se dão combinações específicas é como fazer retrato do movimento:
de mediação e da qual derivam o que resulta é sempre uma figura
resultados particulares. A agência dos estática cuja imagem em si já começa
membros da audiência e suas práticas negando o que se propôs retratar, e
de recepção têm um propósito e são talvez seja isso que nos obrigue a
seletivas, desenvolvendo ao longo de pensá-la a partir de categorias que lhe
cenários socioculturais específicos e são externas.
se traduzindo por estratégias de O valor epistêmico do olhar
recepção televisiva. Uma estratégia de sobre as mediações culturais parece
recepção é uma “concretização da repetir esse talvez insuperável deslo­
agência” do sujeito em relação à TV. camento, que toma a comunicação
Nesse sentido, é ilustrativa a teori- um objeto oblíquo, apenas possível
zação de Martín-Barbero sobre a “prá­ de ser vislumbrado - embora jamais
tica de comunicação”, composta de visto - de um ponto de vista que parta
socialidade (conjunto de interações de uma epistemologia mais consa­
estruturadas pelo auditório em sua grada, ora a das ciências matemáticas
luta por apropriar-se criativamente da e físicas, quando a abordagem se
ordem social, transcendendo a sim­ prende às conexões da tecnologia, ora
ples ordem de racionalidade institu­ a das ciências sociais e da linguagem,
cional, o que inclui as negociações sempre que se busca uma compre­
cotidianas entre os membros da ensão dos modos e processos como
audiência e o poder institucional), os homens se relacionam. Nesse
ritualidade (resultado das interações sentido, a perspectiva das mediações
específicas repetidas na prática da desloca o olhar da comunicação para
audiência) e tecnicidade (o “organi­ os sentidos que a transcendem,
zador perceptivo”, pelo qual a inovação vinculados à cultura e suas matrizes
e o discurso se articulam de modo de significação complexa e múltipla.
significativo e intencional, sendo que Certamente, esse é o traço de
cada meio tem sua tecnicidade especí­ um tempo em que a comunicação se
fica e que a percepção do sujeito me­ autonomizou em estruturas institucio­
dia ao organizar sua negociação de nais de discursividade específica
significados com a TV). (Ribeiro, 1996) e cujas redes se
5. Conclusão constituíram em materialidade
Ao final deste estudo, ainda tecnológica da própria circulação do
permanece de certa forma a dúvida capital (Bucci, 1997; Signates, 1998),
inicial, sobre o grau de precisão teórica e que talvez até já possam ser
e de aplicabilidade empírica do caracterizadas pela construção de uma
conceito de mediação. Parece claro racionalidade específica (Signates e
Lima, 1998) mas que, como já em sua utilização, chegando a colocá-
afirmara Habermas (1996, p. 390) lo, como é o caso de Barbero, como
não são capazes de se autonomizar um conceito central em sua
completamente, porquanto seguem importante obra.
dependendo da linguagem para realizar A justificativa mais óbvia é,
a necessária conexão entre os subsis- sem dúvida, a busca de saídas para o
temas sociais e o mundo da vida. entendimento de um quadro complexo
É possível, no entanto, que a como o da recepção, sem cair nos
tão decantada fragilidade epistemoló- velhos problemas das chamadas
gica da comunicação seja seu principal “teorias fundadoras”, seja nas preocu­
valor heurístico. Talvez não haja cam­ pações instrumentais das teorias
po mais propício, pelas próprias administrativas, por um lado, seja, por
possibilidades que suas indefinições outro, nas aporias da vertente crítica.
deixam em aberto, para o desenho Ou mesmo para evitar as novas arma­
possível da metáfora com que Martín- dilhas teóricas, como as que denun­
Barbero trabalha - a do mapa noturno ciou recentemente Martín-Barbero
(numa referência não explícita à fase (1990), como o comunicacionismo
noturna de Bachelard). E, nesse caso, (tendência a ontologizar a comunica­
a complexidade e a rede de possi­ ção, como o lugar de onde se desvela­
bilidades implicada nas indefinições do ria a secreta essência da humanidade),
conceito de mediação seriam o mediacentrismo (identificação da
justamente os operadores teóricos da comunicação com os “meios” ou ins­
abertura, e o cerne deste texto seja tituições) e o marginalismo alternati-
uma lamentação de tipo diurno... vista (crença metafísica em uma “au­
Alguma luz, contudo, é sempre têntica” comunicação, fora da conta­
necessária. Afinal, se a noção de minação tecno-mercantil, ou também
mediação se tomar um conceito do o populismo nostálgico da fórmula
tipo guarda-chuva, que permita levar essencial e originária, horizontal e
até à mais simplória das totalizações participativa da comunicação identi­
- tudo é mediação (logo, nada o é) - ficada com o mundo popular).
todo o valor heurístico propiciado pela Para essa busca, a noção de
abertura de suas possibilidades pode mediação parece atrativa, pois insere
redundar apenas em generalizações a comunicação em sentidos sociais
sem qualquer utilidade teórica. Daí mais amplos, mantendo o viés alta­
porque uma abordagem consistente mente crítico, embora livre, graças à
não precisa necessariamente implicar orientação típica dos cultural studies,
uma exigência de rigor positivista, mas de abordagens aporéticas ou econo-
deve ser estruturada conceitualmente micistas. Além disso, o conceito é
dentro de certos limites epistemoló- altamente permeável ao método dia­
gicos traçados com um mínimo de lético, favorecendo a manutenção de
clareza. perspectivas socio-históricas e polí­
É nesse sentido que toma-se ticas, entranhadas na vivência cultural.
preciso admitir, após essa varredura Há, entretanto, problemas que
conceitual, que o uso da noção de permanecem. A abordagem de Mar-
mediação tem sido problemático, tín-Barbero, por exemplo, é clara­
denotando alguma razão de ser, na mente dualista, deixando de evitar a
atitude de Williams em desistir dele. principal crítica feita por Williams ao
Assim, parece correto indagar, a esta uso do conceito. Orozco Gómez,
altura, pelas prováveis razões que contudo, ao propor a multiplicidade
levaram teóricos do porte de Martín- das mediações, desenvolve uma
Barbero e Orozco Gómez a insistirem interessante linha de superação,
embora sua categorização pareça um (representações) e dos tempos
tanto restritiva, razão pela qual talvez passados diante do aparelho
mereça um tratamento mais sofisti­ (comportamento) deve ser comple­
cado. tada pelo estudo daquilo que o
Porém, mesmo com o tra­ consumidor cultural “fabrica” durante
tamento que este autor dá ao conceito, essas horas e com essas imagens”.
a segunda dificuldade mencionada por Insere-se também o conceito
Williams se mantém: a mediação, de prática discursiva, como uma
mesmo admitida sua multiplicidade, variante ou um redimensionamento
somente se estabelece como operador metodológico da noção foucaultiana
útil no tratamento de realidades ou de formação discursiva, na
estruturas conhecidas. Essa restrição, perspectiva de estudos pragmáticos
claro, não toma o conceito proibitivo, da linguagem, com a finalidade de dar
não invalida a sua utilização, até conta do axioma teórico dessa linha
porque, frente a categorias de análise de estudos, cuja afirmação básica é
que possam ser admitidas como definir o discurso como uma forma
pressupostas ao estudo que se quer de ação social (Maingueneau, 1997,
fazer, tratá-las a partir das mediações p.82). A inserção da linguagem e, por
pode significar um ganho meto­ conseguinte, da comunicação, a partir
dológico relevante, porquanto permite de um prisma sócio-interacionista,
fazê-lo de forma dialética. A como fundamento de uma teoria
mediação, nesse sentido, pode ser sociológica da ação foi o trabalho que
compreendida como aquilo que Habermas buscou empreender, em
permite a presença simultânea ou sua teoria da ação comunicativa.
processual de antinomias, como A análise crítica do discurso,
condição de emergência do novo nas desenvolvida por Norman Fairclough
mudanças sociais. (1994), da Lancaster University (UK),
Uma última dúvida é saber se utiliza claramente o conceito de
há alternativas ao conceito de media­ prática discursiva, definido como
ção, que possam suprir sua relativa modos específicos de produção,
obscuridade semântica e seus proble­ distribuição e consumo de textos,
mas de aplicabilidade metodológica, como lugar de mediação, cuja
sem perder a abertura à dialética e à apropriação teórico-metodológica
heurística no tratamento teórico. permite vincular significados discursi­
Nesse sentido, talvez seja profícuo vos e sentidos sociais sem
desenvolver estudos dirigidos à noção dicotomizá-los ou pressupô-los
de práticas, como lugares de imediatamente. Se tal possibilidade for
mediação, tal como já entreviram os de fato efetiva, talvez seja interessante
próprios Martín-Barbero e Orozco investir nela, a fim de construir uma
Gómez. Tal noção já tem uma história, noção mais apropriada de prática
ao que saibamos ainda não abordada comunicacional, que, aproveitando-
por esses autores, no campo da se do valor heurístico e metodológico
análise do discurso, especialmente a da noção de prática social como lugar
vertente britânica. das mediações, possa fazer retomar
Uma noção interessante é a de o olhar sobre a comunicação para a
Michel de Certeau (1994, p. 39), para própria comunicação, tentando, uma
quem os usos práticos são meios de vez mais, apreender um objeto que já
reapropriação. Este autor, inclusive, se revelou tão fugidio.
apontando para as leituras de
recepção, recomenda que “a análise
das imagens difundidas pela televisão
Bibliografia do Artigo
• Bucci, Eugênio - Alguns amigos que eu tenho (e de como o capital
aprendeu a falar). Praga, n.3, 1997.

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