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ISSN 1413-389X Trends in Psychology / Temas em Psicologia – Dezembro 2017, Vol.

25, nº 4, 1637-1651
DOI: 10.9788/TP2017.4-08

O Olhar de Crianças do CAPSi sobre as Relações


do Cuidar e do Brincar

Eloína Ariana Ribeiro Damasceno Silva1, *


Maria Iracema de Sousa Araújo1
Marcelo Silva de Souza Ribeiro1
Melina de Carvalho Pereira1
1
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina, PE, Brasil

Resumo
Este estudo buscou compreender as relações do cuidar e do brincar em um Centro de Atenção Psicosso-
cial Infantil (CAPSi) do Vale do São Francisco na perspectiva das crianças usuárias. Tendo como orien-
tação a multirreferencialidade metodológica, que concebe a integração de perspectivas epistemológicas
da pesquisa, esta investigação baseou-se na fenomenologia e inspirou-se na etnografia. Treze crianças,
com idade entre 7 a 11 anos, que frequentavam a instituição semanalmente, participaram da pesquisa
que resultou nesse relato. Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram: observação via diário
de campo e atividades lúdicas (brincadeiras, entrevistas informais, recursos fotográficos e massa de
modelar). Os dados foram analisados a partir da técnica de triangulação, que visa cruzar as informações,
conteúdos e temas, apreendendo possíveis sentidos e significados. Por fim, através da redução feno-
menológica, os temas emergentes foram identificados e organizados em categorias nomeadas como: O
cuidado como comida/ necessidades básicas; O cuidado como afeto; Retribuindo o cuidado; Ambiência:
fator de cuidado?; CAPSi como lugar de brincar; Prazer e envolvimento com o lúdico. Os resultados
contribuíram para os estudos na área de saúde mental em geral, fomentando as discussões que valorizam
o protagonismo da criança através de um trabalho dinâmico e flexível.
Palavras-chave: Crianças, brincar, cuidar, CAPSi, Fenomenologia.

The Perspective of Children Attending CAPSi


on the Relationship between Care and Play

Abstract
This study sought to understand the relationship between care and play in a Children’s Psychosocial Care
Center (CAPSi as per its acronym in Portuguese) in the São Francisco Valley area from the perspective
of child users. Using methodological multireferentiality as a reference, which allows the integration
of epistemological research perspectives, this study was based on phenomenology and was inspired
by ethnography. Thirteen children from 7 to 11 years of age, and attending the institution weekly,
participated in the research, which resulted in this report. The instruments used were: observation
via field diaries and play activities (games, informal interviews, photography and, play dough). Data
was analyzed using the triangulation technique, which aims to cross information, content and themes,
extracting possible senses and meanings. Finally, phenomenological reduction allowed the identification
of emerging themes, which were organized in categories named as: Care as food / basic necessities; Care

1
Endereço para correspondência: Av. José de Sá Maniçoba, s/n – Centro, Petrolina, PE, Brasil 56304-917
(Colegiado Acadêmico de Psicologia). Fone (+55) 87 2101-6868.
1638 Silva, E. A. R. D., Araújo, M. I. S., Ribeiro, M. S. S., Pereira, M. C.

and affection; Reciprocating care; Ambience: is it a care factor?; CAPSi as a place for play; Pleasure
and involvement with play. Results contributed to studies on mental health in general, also promoting
further discussions, which can value the child’s protagonism through dynamic and flexible work.
Keywords: Children, play, care, CAPSi, Phenomenology.

Una Perspectiva de los Niños del CAPSi sobre las Relaciones


entre el Cuidar y el Juego

Resumen
Este estudio buscó comprender las relaciones del cuidar y el jugar en un Centro de Atención Psicosocial
Infantil (CAPSi) del Valle del San Francisco en la perspectiva de los niños usuarios. Teniendo como
orientación la multirreferencialidad metodológica, que concibe la integración de perspectivas epistemo-
lógicas de la investigación, este estudio se basó en la fenomenología y se inspiró en la etnografía. Trece
niños, con edad entre 7 y 11 años, que frecuentaban la institución semanalmente, participaron de la in-
vestigación. Los instrumentos utilizados para colectar datos fueron: observación via diario de campo y
actividades lúdicas (juegos, entrevistas informales, recursos fotográficos y plastilina). Los datos fueron
analizados utilizando técnica de triangulación, que visa cruzar las informaciones, contenidos y temas,
aprehendiendo posibles sentidos y significados. Por fin, a través de la reducción fenomenológica, los
temas emergentes fueron identificados y organizados en categorías nominadas como: El cuidado como
comida/ necesidades básicas; El cuidado como afecto; Retribuyendo el cuidado; Ambiente ¿factor de
cuidado?; CAPSi como lugar de jugar; Placer y envolvimiento con lo lúdico. Los resultados contribuirán
para los estudios en el área de salud mental, fomentando las discusiones que valoran el protagonismo del
niño a través de un trabajo dinámico y flexible.
Palabras clave: Niños, jugar, cuidar, CAPSi, Fenomenología.

Ao abordar a temática da infância dentro fância e da família, relata que, à medida que a
do contexto de saúde mental, faz-se necessário criança era capaz de realizar atividades sem au-
debruçar-se sobre a história. Isso significa reco- xílio da mãe ou ama, era introduzida na socieda-
nhecer a construção social da infância e, junta- de, de maneira que realizava os mesmos afazeres
mente com ela, lançar um novo olhar para a con- e responsabilidades adultas, inclusive, vestindo-
quista de direitos, que perpassam pela educação, -se de modo semelhante.
assistência e saúde. Essa concepção de infância A própria palavra infância, que vem do la-
reverbera atualmente no desafio de dar continui- tim infantia ou enfante, significando aquele que
dade às ações que valorizem a criança enquanto não fala, que ainda não foi alcançado pela lin-
sujeito e que priorizem atitudes condizentes nos guagem, remete ao modo como as crianças eram
serviços de atendimento em geral. criadas: desconsideradas em suas especificidades
Parte-se do consenso de que nem sempre o e sem valor para sociedade da época. A criança
sentimento de infância existiu, embora a crian- era vista como propriedade do adulto; só passava
ça em todos os tempos dependa do cuidado de a existir quando podia se misturar e participar da
outro, sendo incapaz de desenvolver-se sozi- vida adulta (Ariès, 1914/2011; Sarmento, 2005).
nha (Rossetti-Ferreira, Amorim & Silva, 2004; Houve um longo processo de construção de
Vygotsky, 1984; Wallon, 1959/1986). Compre- saberes e confronto de paradigmas para que esta
ende-se que, na história ocidental, antes da mo- criança, que anteriormente não era considerada
dernidade, não havia distinção entre o mundo até passar pelos testes de sobrevivência e poder
adulto e o mundo infantil. Ariès (1914/2011), ser produtiva, começasse a ser percebida e apre-
em seus estudos sobre a construção social da in- endida pelo olhar disciplinador das instituições
O Olhar de Crianças do CAPSi sobre as Relações do Cuidar e do Brincar. 1639

família, escola e religião, como também da me- gligência, discriminação, exploração, violência,
dicina, com a intenção de estabelecer a ordem, crueldade e opressão”, conforme descrito no ar-
preparando, classificando e ditando modelos de tigo 227 da Carta Magna (Constituição, 1988).
desenvolvimento sadios e inadequados, aptos O Estatuto da Criança e do Adolescente
e inaptos para a sociedade em vigor (Ribeiro, (ECA), na promulgação da Lei n.º 8.069 (1990),
2006). também foi outra conquista que permitiu a vi-
De acordo com Vorcaro (2011, p. 220), “a sibilidade da situação infantojuvenil, negando a
infância tornou-se objeto de disputa de poderes”. condição de criança como objeto, para a legiti-
Sobre isso, Foucault (2006) pontua que: mação de criança e adolescente como sujeito de
a vigilância da criança tornou-se uma vigi- direitos, numa tentativa de assegurar o cuidado e
lância em forma de decisão sobre o normal a singularidade dessa fase.
e o anormal; começou-se a vigiar seu com- Todos esses avanços obtidos em forma de
portamento, seu caráter, sua sexualidade; e lei foram essenciais para que as crianças e os
é então que vemos emergir toda essa psico- adolescentes fossem inclusos, posteriormente,
logização da criança no interior da própria nas discussões dos serviços de saúde mental
família. (p. 154) e fizessem parte das idealizações da Reforma
Dessa forma, havia forte interesse na doci- Psiquiátrica, regulamentada em 2001 com a
lização dos corpos, adestramento e domínio dos Lei Paulo Delgado (Lei nº 10.216, 2001). Mas,
instintos para que a população, seja de adultos somente com muita militância do movimento
ou crianças, compactuasse das normas civili- antimanicomial é que estes, finalmente, tiveram
zatórias (Foucault, 2000). Aqueles que fugiam acesso aos modelos de atenção disponibilizados
do que era posto como regra sofriam as conse- pelo Sistema Único de Saúde (SUS), principal
quências através da segregação. Logo, o senti- responsável pela concretização dos dispositivos
mento de infância como dócil, frágil e carente de saúde públicos que rompem com o modelo
de cuidados não aconteceu da mesma maneira asilar hospitalocêntrico (Ministério da Saúde,
para todas as crianças, de modo que aquelas que 2005).
viviam marcadas pela condição social e padrões Assim, os CAPS – Centro de Atenção Psi-
de comportamentos diferenciados passaram a ser cossocial – surgem com a proposta de garantir
estigmatizadas de menores infratores, trazendo uma assistência psiquiátrica hospitalar compatí-
em si a ideia de periculosidade e associação com vel com as normas do SUS, através de uma rede
o patológico. Essas crianças também foram víti- de cuidados que ofereça tratamento digno às
mas do grande enclausuramento e dos rótulos as- pessoas com sofrimento mental, proporcionando
sociados à marginalidade, sendo esquecidas por a não ruptura dos laços sociais e assistindo o su-
um bom tempo na história e tratadas de modo jeito de forma integral. Igualmente,
indiferente à sua condição de puerícia (Ribeiro, os serviços de saúde mental infanto-juve-
2006). nil, dentro da perspectiva que hoje rege as
No Brasil, somente com o amplo movimento políticas de saúde mental no setor, devem
de redemocratização das políticas é que surgem assumir uma função social que extrapola o
algumas tentativas de dar conta do cuidado que afazer meramente técnico do tratar, e que
foi negado à criança ou realizado de forma ina- se traduz em ações, tais como acolher, es-
dequada (Ministério da Saúde, 2005). Um exem- cutar, cuidar, possibilitar ações emancipató-
plo disso é a Constituição de 1988, que garante rias, melhorar a qualidade de vida da pessoa
a condição de cidadã a crianças e adolescentes, portadora de sofrimento mental, tendo-a
e consequentemente, “o direito à vida, à saúde, como um ser integral com direito à plena
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissio- participação e inclusão em sua comunidade,
nalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à partindo de uma rede de cuidados que leve
liberdade e à convivência familiar e comunitária, em conta as singularidades de cada um e as
além de colocá-los a salvo de toda forma de ne- construções que cada sujeito faz a partir de
1640 Silva, E. A. R. D., Araújo, M. I. S., Ribeiro, M. S. S., Pereira, M. C.

seu quadro. (Ministério da Saúde, 2005, p. Assim, nota-se que a brincadeira se torna
14). uma forma poderosa de cuidado nos serviços
Nesse contexto, um grande desafio ainda é que atendem crianças. Afinal, se a base do cuida-
reconhecer que a brincadeira perpassa o huma- do humano é compreender como ajudar o outro a
no como uma necessidade, que se presentifica de se desenvolver como ser humano, cuidar signifi-
diversas formas e em diferentes culturas, sendo ca valorizar e ajudar a desenvolver capacidades.
um elemento universal carregado de diversida- Sobre isso, a Rede Nacional Primeira Infância
des (Bichara, Lordelo, Carvalho & Otta, 2009; (RNPI, 2010) pontua que “o resgate da dimensão
Huizinga, 2000). Segundo Carvalho, Pedrosa e lúdica torna o adulto mais sensível aos processos
Rossetti-Ferreira (2012, p. 203) a brincadeira “é de desenvolvimento da criança” (p. 52).
condição propiciadora de saúde e de qualidade Para Boff (2004, p. 33) “cuidar é mais que
de vida em qualquer idade”, portanto, uma práti- um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais
ca de fundamental importância em ambientes de que um momento de atenção, de zelo e de des-
cuidado, como é o caso do CAPSi. velo. Representa uma atitude de ocupação, pre-
Para Huizinga (2000) o jogo é mais antigo ocupação, de responsabilização e de envolvi-
do que a cultura; isso pode ser evidenciado pelo mento afetivo um com o outro”. Diante disso,
fato de os animais brincarem assim como os ho- é importante compreender o cuidado de uma
mens. Ele ainda discorre que o jogo/brincar pode forma abrangente, podendo dizer que a todo o
ser considerado mais do que um fenômeno fisio- momento o ser humano está propício ao cuidar.
lógico ou um reflexo psicológico. Ele contém Para o mesmo autor, “o cuidado como modo de
um determinado sentido, seja qual for o tipo de ser, perpassa toda a existência humana e possui
jogo. O jogo implica a presença de um elemento ressonâncias em diversas atitudes importantes”
não material (sentimentos) em sua essência, já (p. 56).
que nele está implícito um sentido. Diante do que foi apresentado, observa-se
Muitos autores como Bichara et al. (2009), que a proposta de atenção à saúde mental infan-
Carvalho et al. (2012), Leontiev (1978), Pia- tojuvenil é relativamente nova, tendo ainda inú-
get (1973), Rocha (2005), Vygotsky (1984) e meros desafios a serem alcançados, tais como:
Wallon (1966) enfatizam o jogo e a brincadeira a desmistificação da loucura, a abertura para
como fundamentais para o desenvolvimento da os diferentes modos de infância, valorizando
criança, pois possibilitam a reprodução do mun- suas singularidades e formas de existência, bem
do que lhes cerca, assim como desempenho de como o fortalecimento de ações engajadas na
papéis exigidos pela sociedade. Ambos promo- emancipação desses sujeitos. Além disso, Ron-
vem o desenvolvimento da imaginação e da cria- chi e Avellar (2013) pontuam a importância de
tividade, destacando que a imaginação é impor- uma ambiência segura e adequada às necessida-
tante para o conhecimento da realidade (Pacheco des das crianças.
& Garcez, 2012). Nesse estudo, considera-se que fenômenos
Costa, Cadore, Lewis e Perrone (2013), em instituídos socialmente possuem raízes comple-
um trabalho feito com oficinas terapêuticas de xas, levando certo tempo para criação e aceita-
contos infantis em um CAPSi, relatam como re- ção de novos modos de subjetivação. Portanto, o
sultado observável a mudança das crianças em trabalho que originou este artigo partiu do reco-
relação à socialização e à possibilidade de sim- nhecimento da necessidade de estudos na área da
bolização. Cervo (2010) explica que a criança infância que questionem e problematizem a con-
nesses espaços pode ser muitas coisas a depen- dição atual da criança, permitindo seu protago-
der da condição de possibilidade do momento; nismo e a expressão das vozes que foram silen-
elas podem experimentar outros papéis, poden- ciadas durante grande parte da história (Oliveira,
do ser criança-experimento, criança-resistência, Muylaert, & Reis, 2012), além de redimensionar
criança-defesa, criança-rejeição, criança-potên- os aspectos relacionados ao cuidado, garantindo
cia e criança-invenção. a cada criança o direito a ser criança.
O Olhar de Crianças do CAPSi sobre as Relações do Cuidar e do Brincar. 1641

O estudo teve como objetivo compreender do São Francisco, que atende em média 150
as relações entre o cuidar e o brincar em um Cen- usuários por mês. O dispositivo oferece serviço
tro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) do ambulatorial de atenção diária a crianças e ado-
Vale do São Francisco na perspectiva das pró- lescentes, dos 5 aos 17 anos, com transtornos
prias crianças usuárias. Mais especificadamente, mentais e transtornos decorrentes do uso abusi-
buscou-se identificar a concepção que as crian- vo de substâncias psicoativas, como álcool e ou-
ças usuárias do CAPSi possuem sobre o cuidar e tras drogas. Nesse serviço, a rotina seguida pelos
o brincar; descrever como as crianças percebem usuários consiste em: acolhimento (brincadeira
o cuidado e a brincadeira no espaço/ambiente livre), atividade proposta pelos profissionais
do CAPSi; e conhecer como as crianças veem o (como desenhos, pinturas, recortes e colagens)
cuidado e a brincadeira dispensada pelos profis- e lanche.
sionais a elas. O CAPSi funciona, desde a fundação em
2010, numa casa de moradia adaptada. As insta-
Método lações físicas são compostas por uma sala de re-
cepção, uma sala de coordenação, duas salas de
O presente relato de experiência envolve atendimentos (os grupos de família e de crianças
um estudo interpretativo que se baseia no pres- e adolescentes), uma cozinha, uma área de servi-
suposto de que o conhecimento é uma atividade ço, banheiros e área externa de entrada.
humana comprometida, um processo dinâmico, A equipe da instituição é formada pelos
um movimento, em que não há uma busca de seguintes profissionais qualificados na área da
ajustamentos de verdades a realidades (Clareto, saúde: 01 médico psiquiatra, 02 psicólogas (uma
2005). exercendo a função de coordenadora), 01 assis-
Tendo como orientação a multirreferenciali- tente social, 01 enfermeiro, 01 técnico de enfer-
dade metodológica (Macedo, 2000), que conce- magem, além do porteiro, auxiliares de serviços
be a integração de perspectivas epistemológicas gerais, técnica administrativa e 02 estagiários de
da pesquisa, este trabalho teve como base me- psicologia.
todológica a fenomenologia, da inspiração etno-
gráfica (Corsaro, 1997/2011) e se utilizou da ob- Participantes
servação participante como estratégia de campo. Foram convidadas a participar da pesquisa
A pesquisa foi ainda considerada implicativa, as crianças usuárias do CAPSi de ambos os se-
no sentido de contemplar os atores envolvidos xos, com idade entre 7 e 11 anos, que frequen-
como produtores de conhecimentos (Macedo, tam a instituição um turno por semana. Para fins
2012). de pesquisa, foram utilizados apenas os dados
Para Husserl, a fenomenologia é uma volta referentes a 13 crianças (10 meninos e 3 meni-
ao que foi vivido, ao que foi experienciado, o nas), que são identificadas por nomes fictícios.
ponto de partida de todas as ciências. A preocu- Foram excluídas as crianças que frequentaram
pação da fenomenologia é com a descrição do apenas um encontro durante o período em que
fenômeno, retornando às coisas mesmas como as pesquisadoras estavam na instituição. A esco-
elas se apresentam. Ou seja, levar em conta lha desse público foi feita em razão da dinâmica
que, antes de uma realidade objetiva, há um su- do CAPSi, que se organiza em grupos etários,
jeito que vivencia e que, antes da objetividade, subdividindo-os em grupos menores nos turnos
há uma realidade pré-data e, anteriormente ao matutino e vespertino, de maneira que reforça a
conhecimento, existe uma vida que o originou permanência da criança na escola.
(Martins, Boemer, & Ferraz, 1990). A opção por essa faixa etária teve como fun-
damento o estágio de desenvolvimento em que
A Instituição estão esses participantes, quando já conseguem
A pesquisa foi realizada num Centro de se diferenciar do outro, explorar mentalmente o
Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) do Vale espaço físico, se vincular com mais estabilida-
1642 Silva, E. A. R. D., Araújo, M. I. S., Ribeiro, M. S. S., Pereira, M. C.

de com os adultos e expressar sua afetividade, o que foi observado, o que foi desenvolvido e
classificando e ordenando suas vivências, sem os sentidos atribuídos. Essas anotações foram
desvalorizar a brincadeira como fator essencial fundamentais para análise de dados que ocorreu
para sua aprendizagem (Galvão, 1995). posteriormente à coleta. Para Minayo “é exata-
mente esse acervo de impressões e notas sobre
Procedimentos as diferenciações entre falas, comportamentos
A pesquisa está de acordo com as normas e relações que podem tornar mais verdadeira a
da Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional pesquisa de campo” (2007, p. 295).
de Saúde (CNS), que regulamenta a pesquisa
com seres humanos no Brasil. Foi submetida Atividades Lúdicas
ao Comitê de Ética da universidade em que as Após a criação de vínculo com as crianças,
pesquisadoras estão vinculadas e, após parecer que ocorreu durante quatro encontros, foi dado
favorável (Nº 978.030), foi apresentado aos pais início às atividades lúdicas. Nesse período, as
ou responsáveis pela criança o Termo de Con- pesquisadoras propunham as atividades. Para
sentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com a Pompéia e Sapienza (2004, p. 21): “Todas as
intenção de expor os objetivos da pesquisa. Em coisas falam para o homem através da fala do
seguida, as crianças também foram esclarecidas homem. Mas a obra de arte apresenta um falar
quanto aos objetivos e procedimentos, deixando- especial”, assim, o objetivo dessas atividades foi
permitir que as crianças se expressassem sobre o
-as livres para a decisão de participarem, com a
tema proposto.
apresentação do Termo de Assentimento. Por
Nesse momento, a Caixa Surpresa foi apre-
fim, a inserção em campo e a coleta de dados
sentada às crianças com o objetivo de trazer o
aconteceram em sete encontros semanais, perfa-
atrativo do dia, sinalizando que haveria novida-
zendo um total de 18 horas.
des. Dentre os atrativos utilizados estavam: buzi-
na, óculos coloridos, massa de modelar caseira,
Instrumentos
brinquedo de bolas de sabão. Essa etapa con-
Observação tou também com várias brincadeiras, como por
A observação foi do tipo participante, pro- exemplo: vivo e morto; contação de história com
cesso no qual o pesquisador não é apenas es- movimentos; adivinhação das mímicas e dobra-
pectador, mas parte integrante dos fenômenos duras de papel. O uso da massa de modelar, den-
observados (Richardson, 1999), permitindo tre as atividades lúdicas, além da interação das
uma vivência mais ampla e detalhada da reali- crianças com as pesquisadoras, teve como obje-
dade pesquisada. Segundo Queiroz, Vall, Souza tivo permitir que os infantes apontassem o que
e Vieira (2007, p. 281), a observação “consis- tinha no CAPSi, sendo motivadas a modelarem
te em colocar-se sob o ponto de vista do grupo aquilo que era mais relevante para elas no dis-
pesquisado, com respeito, empatia e inserção a positivo. Outras atividades desenvolvidas nessa
mais íntima possível”. Essa etapa caracterizou- etapa foram: As entrevistas informais/rodas de
-se como uma forma das pesquisadoras estarem conversas e o recurso fotográfico.
em campo e se relacionarem com os atores en- A finalidade das entrevistas informais foi
volvidos, visando à construção de um ambiente explorar o conhecimento das crianças sobre o
facilitador e, teve ainda como foco perceber as cuidar e o brincar. Para Gil (2008), a entrevista
formas e os momentos de cuidado, bem como as informal é uma técnica eficiente e relevante para
brincadeiras desenvolvidas na rotina de ativida- a obtenção de dados em profundidade acerca
des das crianças usuárias do CAPSi. do comportamento humano, não exigindo que a
A escrita dos diários de campo foi uma pessoa entrevistada saiba ler e escrever, também
constante durante o processo de realização da possibilitando a obtenção de maior número de
pesquisa. Através deles, as pesquisadoras pude- respostas, oferecendo uma flexibilidade maior,
ram remeter-se à experiência vivida, revisitando pois o entrevistador pode esclarecer os signi-
O Olhar de Crianças do CAPSi sobre as Relações do Cuidar e do Brincar. 1643

ficados das perguntas e adaptá-las ao nível de da descrição do início ao fim com a finalidade
entendimento do entrevistado. As entrevistas/ de buscar um sentido geral do que está descri-
conversas lúdicas foram constantes. No último to; releitura na busca de perceber as unidades de
encontro, a fim de dinamizar a entrevista, uma significado focalizando o fenômeno; apreciação
câmera foi confeccionada e um microfone de do sentido contido nelas; e por fim, síntese das
madeira pintado para uma atividade que consis- unidades de significado e sentido encontrados.
tia num Programa de entrevista na TV, na qual Assim, esse trabalho teve como fenômeno
elas poderiam assumir o papel do filmador, do a maneira como as crianças se posicionaram
entrevistador e do entrevistado. nas vivências do CAPSi, sinalizando, através da
O recurso fotográfico teve o intuito de brincadeira e do vínculo com alguns profissio-
captar a percepção das crianças sobre o brincar nais, o sentido que a instituição tem para suas
e cuidar na instituição em questão. “A fotografia vidas e como este está atrelado ao brincar e cui-
é um testemunho segundo um filtro cultural e dar. A escolha dos instrumentos utilizados foi de
ao mesmo tempo uma criação a partir de um fundamental importância para que as crianças se
visível fotográfico. Toda fotografia representa implicassem, revelando seus anseios e sentimen-
o testemunho de uma criação e sempre tos que perpassam pela instituição.
representará a criação de um testemunho” Após a coleta dos dados e o registro dos
(Kossoy, 2001, p. 50). Mediante a entrega de mesmos, estes foram organizados por instru-
uma câmera fotográfica, a criança era solicitada mentos: da observação via diário de campo e
a fotografar o que ela mais gostava no CAPSi. das atividades lúdicas (brincadeiras, fotografias,
As crianças saíam de duas em duas para tirarem entrevistas e massa de modelar). Em seguida,
as fotografias. Esse momento ocorreu em uma os dados foram analisados com base na técnica
das atividades lúdicas. de triangulação, que visa cruzar as informações,
conteúdos e temas, apreendendo possíveis senti-
Análise dos Dados dos e significados. Por fim, foram identificados
A análise fenomenológica inicia com uma os temas emergentes (Paillé, 2012) que, nessa
descrição, uma circunstância vivida no cotidia- perspectiva, foi considerado tema aquilo que os
no. O inquiridor obtém declarações sobre o que participantes apontaram como sendo relevante.
está ali diante dos seus olhos, assim como apare- Os temas emergentes, via a redução fenomeno-
ce. O que é descrito nos depoimentos é a presen- lógica, foram organizados de acordo com suas
ça do dado, não a sua existência. Nesse momen- “visadas” (sentidos e significados), sendo eles:
to, torna-se importante a atitude fenomenológica O Cuidado como Comida/ Necessidades Bási-
por parte do pesquisador, que vai ao encontro cas; O Cuidado como Afeto; Retribuindo o Cui-
da experiência com abertura, se despojando de dado; Ambiência: Fator de Cuidado?; CAPSi
qualquer pensamento predicativo, julgamentos e como Lugar de Brincar; Prazer e Envolvimento
concepções de que possam causar interferência com o Lúdico.
na sua abertura para a descrição do fenômeno.
Ao trabalhar a descrição do fenômeno, busca-se Resultados
a sua essência, o elemento invariante da experi-
ência, assim como ele está situado no contexto O Cuidado como Comida/ Necessida-
(Sadala, 2004). des Básicas
A redução fenomenológica é o meio funda- Através das entrevistas informais, as crian-
mental para a descrição do fenômeno, já que põe ças tentaram expressar sua concepção de cui-
em evidência só o essencial do fenômeno em es- dado. Embora, a maioria não tenha conseguido
tudo, fazendo uma análise individual das descri- descrever o que significava, souberam dar exem-
ções na busca das convergências ou invariantes. plos de como esse cuidado acontece. A família
Martins et al. (1990) propõem quatro momentos apareceu como a responsável por exercer essa
para a análise das descrições, sendo elas: leitura função, quando uma criança disse que sua mãe
1644 Silva, E. A. R. D., Araújo, M. I. S., Ribeiro, M. S. S., Pereira, M. C.

cuida dele, dando-lhe banho, comida, roupa para antebraço das crianças. Em um dos momentos
vestir, botando-lhe para dormir e, ainda, com- de observação, uma menina (Lara, 9 anos) dan-
prando brinquedo (Afonso, 9 anos). çou com ele que, pacientemente, se entregou ao
Nas fotografias, as cenas que remetem à momento vivido por aquela criança. Algo fre-
cantina do CAPSi estiveram presentes nos regis- quente é a demonstração de afeto pelas crianças,
tros de quase todas as crianças para falar sobre o seja através de abraços ou ao se pendurar em seu
que mais gostavam na instituição. Este fato tam- pescoço. Uma mãe relatou que a filha (Tereza, 8
bém apareceu na modelagem da massa: alguns anos) somente reconhece pelo nome esse funcio-
tipos de alimentos estiveram presentes, como nário no CAPSi.
pastéis, bolinhos e biscoitos. Uma criança exi- O porteiro também era quem acolhia as
biu um biscoito peta (comida regional) moldado, queixas trazidas pelos pais e crianças, oferecen-
com a massinha e disse: “minha mãe faz assim e do inclusive escuta. Uma das crianças (Lara, 9
frita” (Marlon, 8 anos). anos), ao se chatear na sala de atividades, cor-
Ao retornar aos diários de campo, percebeu- reu até ele para desabafar e dizer o quanto estava
-se que a hora do lanche era sempre a mais es- cansada de desenhos, “Todo dia é só desenho,
perada. Uma das crianças já chegava ao serviço desenho!”, disse ela em tom de desapontamento.
perguntando: “Ei, que horas é o lanche?” (Ítalo, O porteiro era tão presente no cotidiano do
10 anos), ou ainda pedindo comida em horário CAPSi que, quando faltou ao serviço, sua ausên-
adverso “Ei, me dá uma laranja”. Outra dizia cia foi sentida por todos. Isso ocorreu durante a
que uma das coisas que mais gostava no CAPSi execução da pesquisa, quando este foi lembrado
era o lanche: “Nescau e beiju” (Afonso, 9 anos). várias vezes. As crianças assim comentavam:
Episódios como esses colaboram para compre- “Cadê Joaquim? Ele não vem hoje?” No mo-
ender que as crianças se sentiam cuidadas, já mento em que a campainha tocava, todos cor-
que, para elas, a alimentação aparece como pri- riam para porta com muita alegria, como de cos-
meiro item de cuidado. tume, mas ouvia-se um deles dizer: “Será que é
Joaquim?” (Miguel, 9 anos).
O Cuidado como Afeto No registro fotográfico, quase todas as
Uma criança (Arthur, 11 anos) relatou que crianças fotografaram o porteiro, demonstrando
cuidado é carinho, atenção, compreensão e amor, ser ele um dos elementos de que eles mais gos-
identificando os vínculos afetivos como necessá- tam na instituição. Uma delas (Olavo, 8 anos)
rios para que alguém se sinta cuidado. Foi ob- perguntou à pesquisadora: “Eu posso tirar de
servado que aqueles profissionais que dedicam Joaquim?” Ela respondeu: “Você gosta dele?” A
mais atenção às crianças, gastando seu tempo criança diz que sim e vai caminhando até onde
com elas, participando das brincadeiras e ten- ele se encontra, fazendo um pedido: “Joaquim,
tando diálogo, conseguem mais rapidamente es- faz um legal aí!”, sinalizando com o dedo pole-
tabelecer vínculo, de maneira que são incluídos gar e, em seguida, tirando a foto.
também como cuidadores. Isso ocorreu inclusive Outros profissionais apareceram nas fotos,
com as pesquisadoras, devido ao tempo de per- mas em menor número. Uma criança relatou que:
manência delas no espaço, mas, principalmente, “As pessoas do CAPSi são legais” (Arthur, 11
através da condição de abertura e envolvimento anos). Também foram incluídas nas fotografias
com as crianças, fator possibilitado pelo modo as pesquisadoras, sendo uma forma de expres-
de estar em campo, a observação participante. sar o cuidado recebido nesse espaço de tempo.
Dentre os profissionais da instituição, du- Percebeu-se que, ao longo do percurso de coleta,
rante o período de coleta, o porteiro foi aquele algumas crianças abraçavam as pesquisadoras na
que esteve mais disponível ao cuidado, sendo hora de irem embora. Os registros dos colegas
ele quem recebia as crianças e, quem permanecia é outro fator relevante, pontuando a importân-
durante todo o horário do acolhimento brincando cia da interação que existe entre eles. Quando
com elas de bola, luta e de girar, segurando pelo um colega chega ao serviço, por exemplo, eles
O Olhar de Crianças do CAPSi sobre as Relações do Cuidar e do Brincar. 1645

costumam se cumprimentar e, escutou-se, em da encantam essas crianças que pegam alguns ou


um dos momentos observados, um deles dizen- partes deles, para brincar fora dali. A sala onde
do: “Chegou o meu parceiro!” (Miguel, 9 anos). se realizam as atividades com as crianças não
Ocorrências como essas fornecem a compreen- tem iluminação natural, o espaço é pequeno e
são de que a construção dos vínculos é, para as frio (ar condicionado). A sala contém apenas um
crianças, um modo de demonstrar cuidado. armário, uma mesa e cadeiras empilhadas, e, nas
paredes, são expostas as produções das crianças.
Retribuindo Cuidado Na entrevista informal, perceberam-se sen-
Ao retornar aos diários de campo, notou-se timentos ambivalentes de pertença e envolvi-
que durante o período de observação acontece- mento com o serviço. Uma criança relata: “Eu
ram alguns conflitos entre as crianças e quebra gosto de tudo aqui. Dos brinquedos, das ativi-
de material escolar. Contudo, no período em que dades. Em casa, eu não tenho brinquedos, tenho
as pesquisadoras realizaram as atividades lúdi- um irmão que só briga comigo” (Marlon, 8 anos)
cas, os conflitos diminuíram. As crianças parti- e, ainda, pontua com pesar o fato de sua mãe não
ciparam ativamente das atividades, utilizando-se o levar toda semana. Mas, há também crianças
da criatividade, rejeitando o que não queriam que chegam ao CAPSi demonstrando tristeza.
naquele momento e propondo o que gostariam Uma delas (Arthur, 11 anos), ao ser questionada
de realizar. Elas demonstraram respeito e cui- o motivo, diz que não queria ter ido. Essa criança
dado com todos os objetos utilizados, sempre resiste à entrada na sala de atividades e diz que
preocupados em manter a integridade dos ma- não quer participar, menciona em outro dia que
teriais, tais como: papel, lápis de cor, giz de não gosta de brincar na instituição porque lá não
cera e outros, bem como guardar os objetos na tem brinquedos.
caixa de surpresa ao terminar as atividades. No As descrições acima suscitam a compreen-
momento da fotografia, por exemplo, uma das são de que o CAPSi, sendo um lugar específi-
crianças (Olavo, 8 anos) demonstrou sua preo- co para crianças, carece ainda de investimentos
cupação em pegar na câmera fotográfica com as em sua infraestrutura. O que poderia tornar esse
mãos sujas de farinha, devido à atividade desen- ambiente aconchegante e estimulador para esse
volvida anteriormente com a massa de modelar, público?
pedindo auxílio da pesquisadora para limpá-las.
Isso parece indicar que as crianças, à medida que CAPSi como Lugar de Brincar
se sentiram cuidadas, retribuíram esse cuidado A brincadeira ocupa o primeiro lugar na
através do zelo. preferência das crianças como atividade desen-
volvida no CAPSi, principalmente a bola. É tam-
Ambiência: Fator de Cuidado? bém a primeira atividade que eles desenvolvem
Dentro da instituição, os espaços mais uti- ao chegar à instituição, quando se dirigem ime-
lizados pelas crianças são a área externa, a re- diatamente até a caixa dos brinquedos e intera-
cepção e a sala de atividades. É na área exter- gem com os colegas e porteiro. Esse momento
na que as crianças ficam no primeiro momento, de brincadeira livre tem duração de aproximada-
quando chegam e interagem com os colegas. mente uma hora, quando, em seguida, as crian-
Não há nenhum elemento/brinquedo nesse local, ças são direcionadas para sala de atividades.
apenas cadeiras. É comum as crianças brincarem Em um desses momentos livres, observou-
de bola nesse espaço e de brincadeiras turbulen- -se que uma criança, ao chegar à instituição, co-
tas (lutas). Na sala de recepção, além das me- meçou a brincar de carrinho. Após ir até a cai-
sas, cadeiras e televisor, há um espaço pequeno, xa de brinquedos, retirava dela os objetos e era
que anteriormente era uma área de sol e, agora, constantemente reprendido pela mãe, que dizia
é usado para colocar brinquedos dentro de uma para ele ficar quieto e guardar. Quando ele se
caixa de papelão. Embora os brinquedos se en- distanciou da caixa, ela guardou todos os brin-
contrem em um estado bastante desgastado, ain- quedos. O menino retorna e procura um brinque-
1646 Silva, E. A. R. D., Araújo, M. I. S., Ribeiro, M. S. S., Pereira, M. C.

do tirando todos da caixa novamente, ele diz: “E ria com movimentos, a adesão foi total. Somen-
agora, mãe?” A mãe, pouco paciente, responde: te ao final, quando sentiram sede, é que ficaram
“Você vai guardar tudinho, eu não vou guardar dispersos, por conta do calor excessivo, já que
mais não...” Além da mãe, notou-se que um dos essa atividade foi realizada na área externa. Aos
funcionários do serviço, volta e meia, organiza- poucos, foram voltando e retomando a brinca-
va a caixa, empurrando-a para perto da parede e deira. Foi um momento de muito envolvimento
colocando os brinquedos que estavam fora para e entrega, tanto que, quando eles foram consul-
dentro. tados em que momento a história parou, relem-
A área de entrada é o local preferido das braram rapidamente, permitindo a continuidade.
crianças, apesar de ser muito quente. Lá elas Logo após essa atividade, entrou em cena a
correm, brincam, inventam e reinventam com as “Caixa Surpresa” que trazia alguns objetos para
poucas opções disponíveis no CAPSi, tendo em a brincadeira da “Mímica”. As crianças, senta-
vista que os brinquedos já se encontram em um das no chão ao redor das pesquisadoras, quan-
estado bastante desgastado. Nota-se que nesse do viram a caixa, ficaram agitadas, encostando
espaço de tempo que seria o acolhimento, eles mais perto das pesquisadoras, querendo tocar na
se sentem livres e soltam a imaginação e a cria- caixa. Algumas delas ficaram falantes e se ex-
tividade. Um pedaço de um carro de brinquedo pressavam com gritos e movimentos corporais.
vira uma arma e é utilizado também como avião; A caixa causou um impacto grande nas crianças,
crianças brincam de moço e bandido. O brinque- pois aguçou a curiosidade delas, além de extra-
do criado vai ganhando novos significados con- vasar suas emoções com o uso da buzina e ob-
forme a necessidade do garoto. jetos coloridos (óculos, pulseiras e enfeites) que
havia dentro dela.
Prazer e Envolvimento com o Lúdico Houve a tentativa de realizar desenho com
No período de observação, percebeu-se as crianças nesse dia, pedindo que desenhassem
que as brincadeiras se restringiram ao primeiro o que tinha no CAPSi, mas eles não aceitaram
momento, quando as crianças chegavam à ins- fazer os desenhos. Retornando aos registros do
tituição e aguardavam a entrada na sala de ati- diário de campo, é possível apreender que, no
vidades. Contudo, mesmo no período mediado período de observação, o uso de desenhos foi
pelo profissional do serviço, as crianças encon- constante nas atividades desenvolvidas pelo ser-
tram meios de driblarem a programação do dia, viço e que as crianças pareciam expressar certo
através da criatividade e posicionamento lúdico, saturamento. Diante da recusa das crianças, as
a exemplo do dia em que o projetor multimídia pesquisadoras lançaram mão de dobraduras de
estava montado para exibição de um vídeo e as papel para fechar as atividades do dia, tendo uma
crianças o utilizavam para fazer sombras de ani- boa aceitação e participação deles.
mais, uma produção rica e ativa, demonstrando Na segunda semana de atividades lúdicas,
como a brincadeira está intrínseca à cultura in- a caixa surpresa voltou a mediar o contato das
fantil. pesquisadoras com as crianças. Ao perguntarem
As atividades lúdicas propostas pelas pes- o que teria ali dentro, um deles (Afonso, 9 anos)
quisadoras ocorreram no momento destinado às respondeu sorrindo: “Brinquedo!” Todos, junta-
atividades em sala, permitindo que as crianças mente com ele, queriam abrir, tocar e explorar
continuassem tendo o período de brincadeira li- aquelas novidades. Ao verem que se tratava de
vre. Na primeira semana de atividades lúdicas uma grande quantidade de massa de modelar,
desenvolvidas, uma das brincadeiras proposta, ficaram extasiados. Foram disponibilizadas tam-
por nome “Vivo ou Morto”, teve pouca aderên- bém tintas para que eles pintassem da cor que
cia das crianças. Uma delas (Arthur, 11 anos), ao desejassem e farinha para a melhor modelagem.
assistir os que brincavam, falou: “Vocês são bes- Não demorou muito para que houvesse tinta e
tas!” e permaneceu sentado no seu canto, apenas farinha espalhadas, as crianças experimentavam
observando. No momento da contação da histó- as cores e criavam suas obras, se divertiam jun-
O Olhar de Crianças do CAPSi sobre as Relações do Cuidar e do Brincar. 1647

tas. Algo bastante relevante foi o fato de não ha- tentando pegá-las. Episódios como esses colabo-
ver nesse dia conflito entre eles. A bola foi um ram para o entendimento que, ao trabalhar com
elemento que apareceu em suas produções e, in- crianças, o lúdico é um grande aliado, proporcio-
clusive, tentaram utilizar de modo convencional, nando uma participação maior e sentimentos de
atirando-a na parede. satisfação e prazer.
Nessa semana também foi realizado o regis-
tro fotográfico, que trouxe com maior frequência Discussão
os elementos que na instituição remetem à infân-
cia e ao lúdico, tais como: mural e cartazes na Os resultados obtidos no presente estudo
parede, criações artísticas feitas pelas crianças e sugerem que, para o universo infantil, o cuidado
os locais onde ocorre a brincadeira livre. Tanto está muito atrelado a uma figura lúdica, sendo
os cartazes quanto as criações das crianças pos- ambos, cuidado e brincadeira, indispensáveis
suem cores alegres e enfeitam o ambiente. para o desenvolvimento. Rossetti-Ferreira et
Na terceira e última semana das atividades al. (2004) relatam que a sobrevivência do bebê
lúdicas, uma das crianças ao ver as pesquisado- humano só é possível diante de uma rede de
ras foi logo perguntando: “Vai ter caixa surpre- cuidado, estabelecida através da relação com
sa?” (Luiza, 10 anos), apontando seu interesse o outro, que funciona como mediador para
em que houvesse algo diferente nesse dia. As o mundo. Bichara et al. (2009) apresentam a
pesquisadoras perguntaram o que era necessário brincadeira como uma maneira de a espécie
para uma entrevista e elas responderam: “Fil- humana se adaptar ao mundo, experimentando
madora, microfone...”, então logo depois foram novos repertórios, desenvolvendo habilidades e
apresentados uma filmadora e um microfone, estabelecendo relações sociais.
ambos de brinquedo, para que se desse início à O vínculo estabelecido entre as crianças e o
brincadeira de entrevistar. Elas gritavam e todas Joaquim é muito forte. Embora ele seja “apenas”
queriam pegar e usar, havendo um movimento o porteiro, as crianças o elegeram como o pro-
de interesse comum em todas elas, mas não teve fissional de referência, e isso é evidente quando,
conflito, de maneira que souberam compartilhar diante de sua falta, o simples toque da campainha
os objetos. deixa-as eufóricas com a possibilidade da sua
A brincadeira foi bastante proveitosa, as chegada. Ronchi e Avellar (2013), ao falar de
crianças entrevistaram, filmaram, dançaram e uma ambiência adequada à promoção de saúde
cantaram. Elas ouviam o que as outras diziam e mental, enfatizam a importância da presença de
até complementavam, respondendo às perguntas uma equipe formada por diversos profissionais
feitas. Houve também um momento de despe- que transitam pelo serviço priorizando um traba-
dida, introduzido pela psicóloga do serviço. Ela lho integrado, bem como da relação estabelecida
indagou para as crianças o que as pesquisado- entre eles com os usuários e entre profissionais.
ras fizeram lá e estas prontamente respondem: A preparação dos profissionais para traba-
“brincaram”. Depois ela pergunta: “O que vocês lhar com crianças é algo que deve ser levado em
queriam que tivesse aqui?” e algumas crianças consideração ao falar de profissionais de CAPSi,
disseram simultaneamente: “brinquedo!” inclusive a RNPI (2010) traz que: “A formação
Logo depois, um deles (Afonso, 9 anos) dos profissionais que atuam diretamente com a
inseriu a psicóloga do serviço na brincadeira, criança precisa ser revista na perspectiva de am-
oferecendo-lhe o microfone para que falasse, pliar e aprofundar sua base de conhecimentos,
utilizando-o e adentrando no universo simbóli- aperfeiçoar qualidades e habilidades e desenvol-
co compartilhado naquele momento. Ao final, ver sua prática” (p. 86). Nota-se que, em se tra-
a Caixa Surpresa apareceu, trazendo para as tando de uma instituição voltada para infância, é
crianças brinquedos de fazer bola de sabão. Eles necessário que os profissionais estejam mais dis-
se alegraram bastante e, imediatamente, come- poníveis para participarem do mundo do faz de
çaram a fazê-las, vendo quem faria a maior e conta, da criatividade, da imaginação, ou seja, da
1648 Silva, E. A. R. D., Araújo, M. I. S., Ribeiro, M. S. S., Pereira, M. C.

brincadeira. Esse convite é feito pelas próprias ram rejeitando o que não queriam. Em relação a
crianças do serviço, a exemplo de quando uma isso, Cervo (2010) menciona que a cada encon-
delas ofereceu o microfone à psicóloga do servi- tro com as crianças abrem-se possibilidades de
ço, demonstrando querer que ela também parti- invenções e afetações, que exigem dos profissio-
cipasse daquele momento de fantasia. nais sensibilidade para intervir e acolher. Sendo
A instituição que recebe os participantes o brincar também fundamental para reequilíbrio
da pesquisa não contempla um ambiente segu- e reciclagem das emoções (Pacheco & Garcez,
ro e adequado às necessidades das crianças por 2012).
apresentar em suas instalações aspectos em dis- A brincadeira foi algo evidente em todos os
sonância com um ambiente promotor de saúde, momentos durante a realização da pesquisa, des-
tais como: área de entrada sem adereços infantis, de as brincadeiras livres que ocorrem no espaço
espaço pequeno e quente; sala de atividade mui- de tempo destinado ao acolhimento quanto às
to pequena, refrigerada e sem luz solar; poucos dirigidas pelas pesquisadoras durante o horário
brinquedos, em sua maioria deteriorada, assim destinado às atividades. Houve vários momentos
como poucas brincadeiras nas atividades pro- de intensa entrega das crianças às atividades pro-
gramadas. Sobre isso, Ronchi e Avellar (2013) postas em que não havia brechas para conflitos
pontuam que, para garantir um lugar seguro e e desavenças, e sim socializar e dividir aqueles
adequado às necessidades das crianças e ado- momentos com os colegas, diferentemente do
lescentes, é indispensável estar atento à disponi- que foi presenciado durante a observação, em
bilidade dos objetos no espaço e ao manejo das que as crianças demonstravam descontentamen-
atividades desenvolvidas nesses ambientes. to e conflitavam com os colegas. Será que in-
No que diz respeito à alimentação, as crian- serindo a brincadeira variada como experiência
ças sinalizam a importância de tê-la na institui- contínua nos serviços infantis não haveria me-
ção, inclusive identificando-a como um fator de lhora na qualidade, participação e relações esta-
cuidado. Isso também foi percebido nos estudos belecidas?
de Ronchi e Avellar (2013), que mencionam o Pacheco e Garcez (2012) trazem que, atra-
lanche como sendo uma rotina no CAPSi, de- vés do jogo e do brincar, houve uma ampliação
monstrando ser esse uma motivação para fre- das possibilidades de interação, o aumento da
quentar o serviço. autoestima, do sentimento de pertencimento e o
A preocupação dos familiares e de alguns compartilhamento de saberes. Portanto, o brin-
dos profissionais em manter tudo “organizado”, car é riquíssimo para o desenvolvimento físico,
como é o caso da caixa de brinquedos, suscita cognitivo, emocional e de valores culturais, bem
um poder disciplinar operando sobre as crianças, como para o aumento das capacidades sociais
ainda que de maneira sutil, o que Michel Fou- e da convivência familiar das crianças (RNPI,
cault denominou de fabricação de corpos dóceis. 2010).
“É dócil um corpo que pode ser submetido, que As pesquisadoras firmaram um vínculo sus-
pode ser utilizado, que pode ser transformado e tentável com as crianças durante o período ob-
aperfeiçoado” (2000, pp. 117-118). Enquanto o servacional, fato que se evidencia nas inúmeras
corpo da criança se modifica, modela, se torna vezes em que as crianças se dirigiam a elas para
hábil e obedece, talvez seu direito de ser crian- conversarem e brincarem, como também ao de-
ça e de viver sua infância da maneira desejada e cidirem registrar a passagem das pesquisadoras
reclamada por elas, que é brincando, está sendo pela instituição através da fotografia. Isso ocor-
roubado. reu também no trabalho realizado por Costa et
As crianças em questão se aventuraram a al. (2013), no qual foram percebidas evoluções
experimentar aquele novo que despontava a sua nas trocas interativas em grupo e na relação com
frente com as atividades propostas pelas pesqui- as estagiárias, criando novos sentidos para as
sadoras, mas também resistiram, e se defende- singularidades das crianças.
O Olhar de Crianças do CAPSi sobre as Relações do Cuidar e do Brincar. 1649

A pesquisa com as crianças no CAPSi pos- Referências


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Vygotsky, L. S. (1984). A formação social da mente. 2ª revisão: 08/07/2016
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