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https://jus.com.br/artigos/35344/novas-regras-para-alienacao-fiduciaria-e-a-acao-de-busca-e-apreensao-a-luz-da-lei-13-043-2014-e-das-recentes-decisoes
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOSALIENAÇÃO FIDUCIÁRIAJURISPRUDÊNCIA POR
ÓRGÃOJURISPRUDÊNCIA DO STJ
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A Lei 13.043/2014 dá mais celeridade aos processos de retomadas de bens financiados com
cláusula de alienação fiduciária em garantia, conforme as mais recentes decisões do Superior
Tribunal de Justiça (STJ).
1 - OBJETIVO
Este trabalho visa tecer algumas considerações acerca das principais mudanças na lei que trata
dos contratos de Alienação Fiduciária e da Ação de Busca e Apreensão, fazendo os
comparativos entre a Lei 13.043/2014 e texto antigo, bem como trazendo recentes decisões do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) acerca dos temais mais controversos.
No mais, é válido frisar ao destinatário deste pequeno trabalho que o autor serve-se do presente
apenas para trazer as primeiras impressões auferidas da Lei.
2 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Recentemente, entrou em vigor a Lei 13.043/2014, que alterou significativamente o Decreto Lei
911/69, no tocante aos procedimentos aplicáveis aos contratos de alienação fiduciária e a
respectiva Ação de Busca e Apreensão.
De início, é mister observar o conceito de alienação fiduciária que o Dec. 911/69 traz:
Art 1º O artigo 66, da Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, passa a ter a seguinte redação:
"Art. 66. A alienação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse
indireta da coisa móvel alienada, independentemente da tradição efetiva do bem, tornando-se
o alienante ou devedor em possuidor direto e depositário com todas as responsabilidades e
encargos que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal.
O próprio termo “fidúcia” é sinônimo de algo que é “confiado” a alguém[1]. Assim, em linhas
claras, a alienação fiduciária é a previsão contratual expressa, em que uma instituição financeira
“libera” um financiamento a uma pessoa “confiando” que esta irá pagar as parcelas contratadas,
mas exige também, como prova dessa “confiança”, que o financiado garanta a liquidação total
do valor financiado através do próprio bem objeto do contrato de financiamento.
É, portanto, uma obrigação acessória, do campo dos direitos reais (posse e propriedade), haja
vista que o credor fiduciário (Instituição Financeira) tem a propriedade e posse indireta do bem
financiado, quando, de outro lado, o devedor fiduciante figura como depositário do bem e tem a
posse direta do mesmo (usa) até que a obrigação principal seja integralmente liquidada, qual
seja: a quitação do contrato. Daí o por quê do termo “domínio resolúvel”, pois o contrato já
nasce prevendo a condição de extinção desse domínio (propriedade).
Percebe-se uma alteração sucinta do texto legal, mas não menos importante, uma vez que
reforça que, na hipótese de inadimplemento do devedor fiduciante, o credor fiduciário poderá se
utilizar plenamente do seu direito de propriedade, mais especificamente quanto a venda do bem
dado em garantia a fim de saldar a dívida, mas deixa expresso o dever de prestar contas com o
devedor, a fim de que seja apurado se sobrou saldo positivo ou negativo ao mesmo.
Por sinal, esse primeiro dispositivo traz à tona um tema pouco entendido em matéria de
alienação fiduciária: o chamado saldo remanescente ou saldo negativo. De forma bem objetiva,
ocorre saldo remanescente quando o valor de venda do bem dado em garantia para liquidação
do contrato é insuficiente para quitar integralmente a dívida contratual. E é possível que isso
ocorra, haja vista que, via de regra, o bem financiado sofre depreciação de preço de mercado,
quando, de outro lado, o valor do financiamento é estanque, salvo quando há quitação
antecipada do contrato ou dependendo de negociação com a instituição financeira.
Outro dispositivo que sofreu alteração considerável foi o parágrafo 2º do art. 2º, do Dec 911/69,
conforme disposto abaixo:
A alteração colocou uma verdadeira “pá de cal” num dos temas mais controvertidos em matéria
de Ação de Busca e Apreensão de bens gravados com cláusula de Alienação Fiduciária: a
notificação extrajudicial.
Basicamente, dois pontos sempre foram muito discutidos: a competência para realização da
notificação extrajudicial e a forma de entrega do documento notificatório.
Já quanto a forma de entrega da notificação, novamente a alteração legal trazida pela Lei
13.043/2014 só veio ao encontro daquilo que E. STJ vinha decidindo sobre o tema, qual seja: a
validade da notificação mesmo quando não recebida pessoalmente pelo devedor.[3] Em
verdade, verifica-se que a referida alteração visa reduzir os custos das notificações extrajudiciais
e, como consequência, tornar cada vez mais célere e fácil o procedimento da recuperação do
crédito, seja ele pela via judicial ou extrajudicial.
Portanto, doravante, a notificação extrajudicial pode ser enviada pelo próprio credor, através de
carta registrada com aviso de recebimento, bem como basta que a mesma seja entregue no
domicílio do devedor, podendo ser recebida por qualquer um que ali habite ou esteja.
O texto legal sofreu alterações, mas a sua essência continuou a mesma, salvo com a inclusão
do termo “podendo ser apreciada em plantão judiciário” que veio a ratificar o entendimento
doutrinário e jurisprudências de que os processos de Busca e Apreensão devem ser
processados pelo Judiciário com a maior celeridade possível.
Nesse cotejo, o Juiz plantonista, verificando a existência da inadimplência e comprovação da
mora do devedor fiduciante, deverá apreciar a Ação de Busca e Apreensão e, caso preenchidos
os requisitos legais, conceder a respectiva tutela de urgência.
Nova §9. Ao decretar a busca e apreensão de veículo, o juiz, caso tenha acesso à
Previsão base de dados do Registro Nacional de Veículos Automotores – RENAVAM,
inserirá diretamente a restrição judicial na base de dados do Renavam, bem
(Lei como retirará tal restrição após a apreensão.
13.043/2014)
§10. Caso o juiz não tenha acesso à base de dados prevista no § 9o, deverá
oficiar ao departamento de trânsito competente para que:
Mais uma inovação, trazida pela Lei 13.043/2014, foi a possibilidade de o Juiz inserir a restrição
judicial do bem no sistema RENAVAM, logo então decretada a Busca e Apreensão do Bem, seja
através do sistema RENAJUD ou, na falta deste, a requerimento ao departamento do transito
(DETRAN).
Tal medida já era utilizada, mas somente quando o mandado de busca e apreensão não podia
ser cumprido pelo fato de o bem não ter sido encontrado. Doravante, a medida restritiva do
veículo deve ser realizada desde a concessão do mandado de busca e apreensão, mais uma vez
com vista a garantir efetividade e celeridade ao processo.
O dispositivo acima foi uma das mais importantes inserções legais trazidas com a Lei
13.043/2014. Ao intentar a Ação de Busca e Apreensão, é corriqueiro o credor fiduciário se
deparar com situações, em que o bem não é encontrado no endereço do domicílio do devedor
fiduciante, seja porque este mudou de endereço sem informar o credor, ou seja porque o bem
encontra-se sob a posse de terceiros.
Com vistas nisso, o legislador possibilitou ao credor fiduciário a Apreensão do bem em qualquer
comarca em que se tenha a notícia da localização do bem, sem que para isso seja necessário
redistribuir o feito ou expedir carta precatória.
Assim, verificada a localização do bem em comarca distinta daquela onde tramita a ação de
busca e apreensão, basta que o Requerente peticione perante o Juízo da comarca onde
encontra-se o bem, juntando cópia da petição inicial da ação e, quando for o caso, a cópia do
despacho que concedeu a busca e apreensão do veículo.
Um trecho do dispositivo que traz certa dúvida é quando diz que “e, quando for o caso, a cópia
do despacho que concedeu a busca e apreensão do veículo”. Isso dá margem à interpretação de
que seria possível a distribuição dessa “petição”, mesmo sem que o Juízo da Ação de Busca e
Apreensão já tenha concedido o respectivo mandado?
Em que pese a verdadeira dúvida que traz o texto, acredita-se que a prévia concessão da Busca
e Apreensão seja condição sine qua non para a distribuição da petição noutro juízo onde esteja
localizado o bem, uma vez que, do contrário, estar-se-ia possibilitando que dois juízes façam
análise de duas ações com mesmas partes, causa de pedir e pedido – caracterizando, assim, a
litispendência.
Resta, por ora, o entendimento de que o meio mais acertado para distribuição dessa “petição”
seja através de uma espécie de Ação Cautelar Incidental.
O dispositivo acima não sofreu nenhuma alteração, mas merece atenção, pois traz um dos
temas mais discutidos em sede Ação de Busca e Apreensão com base no Dec. 911/69.
Ocorre que, durante muito tempo, permeou o instituto da “purgação da mora”. Este instituto,
pautado na antiga redação do §1º do art. 3º e por força da súmula 284-STJ, dava a possibilidade
ao devedor fiduciante, no prazo de três dias após a execução da liminar de Busca e Apreensão
do bem e, desde que já tivesse pago pelo menos 40% (quarenta por cento) do preço financiado,
de pagar tão somente as parcelas atrasadas com os devidos encargos.
Note-se que a referida previsão legal só veio a coadunar com aquilo que o próprio Dec. 911/69 já
previa, conforme disposto no §3º do art. 2º, in verbis:
Mesmo assim, verificava-se uma série de interpretações divergentes dos Tribunais quanto ao
instituto em comento, o que fomentava o prolongamento das discussões judiciais e, por via de
consequência, a interposição de uma série de Recursos dirigidos aos Tribunais. Este fato
acabara por forçar o Superior Tribunal de Justiça a dar uma decisão no fito de unificar o
entendimento, através do Julgamento do Recurso Repetitivo, conforme disposto abaixo:
Aliás, a decisão, apesar de ter sido acertada, trouxe, data maxima venia, uma certa incoerência
quanto à aplicabilidade da exigência do pagamento da integralidade da dívida. Diz-se isso, pois a
decisão traz em sua ementa a redação de que “Nos contratos firmados na vigência da Lei n.
10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a execução da liminar na
ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida (...)”.
Diz-se isso, pois, salvo melhor juízo, entende-se que o Dec. 911/69 e alterações, principalmente
no tocante ao seu art. 3º e §§, traz regras de cunho evidentemente processuais. Nesse cotejo,
em via do princípio da aplicação imediata da norma processual, a regra do §1º do art. 3º deveria
ser aplicada a qualquer Ação de Busca e Apreensão, mesmo aquelas que versem sobre contrato
firmado antes da entrada em vigor da Lei 10.391/2004, do contrário, também seria necessário
aplicar os efeitos da Lei 13.043/2014 somente aos contratos firmados a partir de então, o que é
inconcebível.
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Autor
BRAGA, Carlos Gondim Neves. Novas regras para alienação fiduciária e a ação de busca e apreensão, à luz da Lei 13.043/2014 e
das recentes decisões do STJ. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 21, n. 4773, 26 jul. 2016. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/35344>. Acesso em: 13 jun. 2018.
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