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Dois marxismos?

por Greg Godels

O Google sabe que tenho um interesse permanente no


marxismo. Consequentemente, recebo links frequentes para
artigos que os algoritmos do Google seleccionam como
populares ou influentes. Sistematicamente, no topo da lista,
estão artigos de ou sobre o irreprimível Slavoj Žižek. Žižek
dominou os truques de um intelectual público – divertido,
pomposo, escandaloso, calculadamente obscuro e
amaneirado. A pose desalinhada e a barba desgrenhada
somam-se a uma quase caricatura do professor europeu, a
presentear o mundo com grandes ideias profundamente
embebidas em camadas de obscurantismo – uma maneira
infalível de parecer profundo. E uma maneira infalível de
promover o valor comercial do entretenimento.

Seguidores
próximos do
"mestre" até
postam vídeos
de Žižek a
devorar hot
dogs – um em
cada mão ! Ele
está
actualmente a
ganhar dinheiro
com um debate
público com um
congénere de
direita que é um
saco vazio, o
qual supostamente torna obscenos os preços dos ingressos.
O marxismo como empreendedorismo.
Žižek é uma das mais recentes repetições de uma longa
linhagem de académicos em grande parte europeus que
constroem uma modesta celebridade pública a partir de uma
identificação com o marxismo ou a tradição marxista. De
Sartre e o existencialismo até o estruturalismo, pós-
modernismo, pós-essencialismo, pós-fordismo e política
identitária, académicos apropriaram-se de partes da tradição
marxista e afirmaram repensar aquela tradição, enquanto
mantinham uma distância segura e bem medida em relação
a qualquer movimento marxista. Eles são marxistas quando
isso lhes traz uma audiência, mas raramente respondem ao
chamado à acção.

O curioso sobre este marxismo intelectual, de salão de


conversa, o marxismo diletante, é que nunca é completo; é
marxismo com reservas sérias. O marxismo é bom se for o
do Marx "primitivo", do Marx "humanista", do Marx
"hegeliano", do Marx dos Grundrisse, do Marx sem Engels,
do Marx sem a classe trabalhadora, do Marx antes do
bolchevismo, ou antes do comunismo. Compreensivelmente,
se quiser ser o próximo grande domador de Marx, deve
separar-se da manada, deve repensar o marxismo,
redescobrir o Marx "real", mostrar onde Marx errou.

Gerações anteriores de estudantes universitários bem-


intencionados, mas com confusão de classe, foram
seduzidas por pensadores "radicais" que oferecem um
gostinho de rebeldia num pacote académico sexy.
Estudantes carregam montes de livros não lidos, mas livros
de autores na moda como Marcuse, Althusser, Lacan,
Deleuze, Laclau, Mouffe, Foucault, Derrida, Negri e Hardt –
autores que compartilhavam características comuns com
livros de títulos exóticos e provocativos e prosa
impenetrável. Livros que prometiam muito, mas entregavam
trevas.
Com uma nova geração de jovens de mentalidade radical
em busca de alternativas ao capitalismo e curiosos acerca
do socialismo, é inevitável que muitos estejam a olhar para
Marx. E para onde se voltam?

Um professor de Yale desavergonhadamente apresenta na


badalada Jacobin Magazine uma cartilha para iniciantes
intitulada Como ser um marxista . O professor Samuel Moyn
actualmente exerce na cadeira Henry R. Luce [1] de
jurisprudência. Aparentemente, Moyn não se sente
desconfortável em possuir uma cadeira dotada por um dos
mais notórios editores anti-comunistas e anti-marxistas do
país quando apresenta o seu guia para o marxismo.

A pretensão de Moyn de guiar os que não têm conhecimento


do marxismo não se justifica nem se explica. No entanto, ele
sente-se confiante para recomendar dois académicos
recentemente falecidos, Moishe Postone e Erik Olin Wright
(juntamente com o ainda vivo Perry Anderson), como
representando os últimos da "…geração de grandes
intelectuais cujas experiências da década de 1960 levaram-
nos a dedicar a vida inteira a recuperar e re-imaginar o
marxismo".

Confesso que a sua escolha de Moishe Postone deixou-me


desconcertado. Deveria eu ficar embaraçado por dizer que
nunca conheci o trabalho do professor Postone ou que não o
conheci como marxista? Quando encontrei no YouTube uma
entrevista com o estimado Professor Postone, descobri
rapidamente que ele enfaticamente e sem reservas nega ser
marxista. Além disso, Postone pretende que a maior parte do
que chamamos de marxismo foi escrita por Frederick Engels.
Postone admite que Engels era "realmente um bom rapaz",
mas que Engels nunca entendeu Marx adequadamente.
Postone, por outro lado, sim. E o seu Marx não "glorifica" a
classe trabalhadora industrial.
Estou no entanto familiarizado com o outro alegado
exemplar de uma devoção de "grande intelectual" ao
marxismo, Erik Olin Wright. Wright foi um membro
consagrado e proeminente da chamada escola do "Marxismo
Analítico". Wright, como os demais membros desse
movimento intelectual, tentou colocar o marxismo numa base
"legítima", onde a legitimidade era obtida submetendo o
marxismo aos rigores da ciência social anglo-americana
convencional. O conceito de que a ciência social anglo-
americana é sem viézes ou que nada tem a aprender com o
método de Marx jamais é questionado com essa gente. Mas,
para crédito de Wright, ele lutou com unhas e dentes para
apreender o conceito de classe social.

A fim de "salvar a esquerda de se meter em vários becos


sem saída", o professor Moyn oferece o último livro de seu
"colega brilhante", Martin Hägglund. Moyn assegura-nos que
"This Life: Secular Faith and Spiritual Freedom" ("Esta vida:
Fé laica e libertação espiritual") é excelente para começar
por aqueles que querem estimular a teoria do socialismo, ou
mesmo construir a sua própria teoria de uma variante
marxista dela".

Basta apenas um breve momento para verificar que Martin


Hägglund e seu admirável colega estão a levar-nos a outros
becos sem saída, alguns pisados por muitas gerações
anteriores. A jornada de Hägglund revisitaria o
existencialismo, Hegel e as tradições cristãs em busca do
evasivo "sentido da vida". Embora muitos de nós pensassem
que Marx oferecia uma análise profundamente informada da
mudança social e da justiça social, Moyn / Hägglund,
seguindo Postone, avançam com "as perguntas finais que
todos devem fazer: que trabalho deveria eu fazer? Como
deveria gastar meu tempo finito?" Acumular capital
contrapõe-se, sugerem eles, a "maximizar... o tempo livre
individual a despendê-lo como lhe agradar..."
Assim, a luta pela emancipação, neste repensar do
marxismo, não é a emancipação da classe trabalhadora,
mas o arrebatar de tempo livremente descartável das garras
do trabalho. Os professores admitem que esta luta é muito
mais fácil para académicos do que para os "miseráveis da
terra".

"E finalmente", conclui Moyn, "há a proposta de Hägglund de


que os marxistas podem abandonar o comunismo – que, em
qualquer caso, Marx descreveu vagamente – em favor da
democracia. Não está totalmente claro o que Hägglund quer
dizer com democracia, algo que nem o próprio Marx nem
muitos marxistas optaram por investigar teoricamente.
Assim, Hägglund destila "marxismo" numa rejeição do
comunismo e num abraço de uma vaga "democracia". Eu
teria de concordar com Moyn quando ele diz: "Na verdade, é
notável quão poucas pessoas pensaram que a teoria
marxista tornara-se a tentativa de Hägglund de recomeçá-la
no nosso tempo". Aparentemente, o segredo agora revelado
de se tornar um marxista é descartar Marx

Tal como muitos auto-proclamados "marxistas", que


antecederam Postone, Hägglund e Moyn, a intenção dos
mesmos parece ser mais a de defraudar o marxismo do que
a de promovê-lo.

Ideias perigosas

A verdade nua e crua é que o marxismo – desde a época da


censura de Marx e das suas múltiplas expulsões de
diferentes países – é uma ideia perigosa. A incapacidade de
Marx de assegurar nomeações académicas e a sua
constante vigilância e perseguição por parte das autoridades
provou ser um precursor do destino de quase todos os
intelectuais marxistas autênticos. O capitalismo não dá
àqueles que defendem a destruição do capitalismo honra
académica ou celebridade. E aqueles "marxistas" que se
tornam aclamados por académicos, que obtêm lucrativos
negócios de livros, que desfrutam de exposição nos media,
raramente representam grande ameaça ao sistema.

É um facto revelador que, embora a história tenha produzido


muitos marxistas "orgânicos", marxistas com raízes na
classe trabalhadora e em movimentos que desafiam o
capitalismo, suas contribuições raramente povoam as
bibliografias de professores universitários, a menos que
sejam para ridicularizá-las. O emprego universitário
raramente está disponível para fornecedores de ideias
perigosas ou para a defesa de uma versão de Marx que
apele a mudanças revolucionárias.

Um historiador marxista como o falecido Herbert Aptheker –


que fez mais do que qualquer outro intelectual para desafiar
a representação distorcida, em Nascimento de uma nação /
E tudo o vento levou, de um Sul benévolo e da sua heróica
defesa de um nobre estilo de vida – não conseguiu encontrar
trabalho em universidades dos EUA. Na verdade, até foi
preciso um movimento pela liberdade de expressão para que
lhe fosse permitido falar nos campi dos EUA. Seus livros
desapareceram da circulação e poucos estudantes de
história afro-americana têm acesso às suas contribuições.

Ninguém elaborou uma história do movimento trabalhista


americano que rivalizasse com a do falecido marxita Phillip
Foner , os 10 volumes de History of the Labor Movement. Os
cinco volume de The Life and Writings of Frederick Douglass
, também de Foner, restabeleceram Douglasse como uma
figura proeminente na abolição da escravatura nos EUA.
Uma universidade historicamente negra, a Lincoln University,
corajosamente contratou Foner após anos de listas negras.
Infelizmente, hoje, suas obras são amplamente ignoradas
nos campos em que foi pioneiro.

As sérias contribuições de muitos outros intelectuais


marxistas dos EUA podem ser encontradas em edições
antigas de publicações como Science and Society , Political
Affairs, Masses, Masses and Mainstream e Freedomways a
descansarem em prateleiras recônditas e poeirentas,
diminuídas pelo macarthismo, pelas listas negras, pela
covardia académica e pelo anticomunismo grosseiro.

As portas e o discurso público da academia e dos mass


media foram igualmente fechados aos marxistas da classe
trabalhadora (a menos que renunciassem aos seus pontos
de vista!). Apesar de sua liderança dos movimentos da
classe trabalhadora e de escrever prolificamente, os
trabalhos marxistas de William Z. Foster sobre organização,
estratégia e tácticas trabalhistas e economia política estão
em grande medida esquecidos, a menos que reapareçam
como o pensamento de outra pessoa. A outras importantes
figuras marxistas responsáveis por alguns dos melhores
momentos da força de trabalho e pela sua interpretação,
como Len De Caux e Wyndham Mortimer, é-lhes negada a
entrada no clube.

Analogamente, pioneiros marxistas nos movimentos de


igualdade dos negros e das mulheres, como Benjamin Davis,
William Patterson e Claudia Jones, não são nem louvados
como tais nem são apresentados como exemplos de "Como
ser um marxista".

A obra do economista político marxista Victor Perlo na


identificação dos limites superiores do capital financeiro e da
teoria económica do racismo estão curiosamente ausentes
de qualquer conversação académica relevante.

O que todos esses marxistas compartilham é uma vida


política activista no Partido Comunista dos EUA, um
distintivo orgulhoso, mas denegrido pela maior parte dos
intelectuais americanos.
Os melhores escritos da venerável Monthly Review sofrem a
mesma marginalização. Seus fundadores foram ameaçados
o suficiente para serem vitimizados pelo Red scare . E o seu
co-fundador Paul Sweezy, um sério economista político
marxista, nunca foi entusiasticamente recebido nos círculos
académicos.

Hoje, Michael Parenti é o mais perigoso intelectual marxista


nos EUA. Sei disto porque apesar de incontáveis livros,
vídeos e palestras, apesar de um compromisso intransigente
com uma interpretação marxista da história e dos
acontecimentos actuais, apesar de um profundo, mas
fundamentado ódio ao capitalismo, e apesar de um estilo
admiravelmente acessível e com grandes ideias, ele não tem
emprego em universidades e é-lhe negado acesso a todos
os media, excepto os mais à esquerda ou marginais.

Outro impressionante estudioso marxista dos EUA, Gerald


Horne , embora desfrutando de estabilidade académica,
merece ser estudado por todos os "esquerdistas" nos EUA
pela integridade, acessibilidade e qualidade do seu trabalho.

O marxismo autêntico, em oposição ao marxismo da moda,


do modismo, ou do marxismo caprichoso, é implacável,
agressivo e inspirador de acção. Ele disseca diligentemente
o funcionamento interno do sistema capitalista. É implacável
e impiedoso na sua rejeição ao capitalismo. Ele desafia o
pensamento convencional, fazendo poucos amigos na
imprensa capitalista e abalando a gentileza e a colegialidade
do liberalismo tranquilo da academia. O marxismo não é um
avanço de carreira, mas um compromisso ingrato.

Os marxistas reais são necessariamente anómalos (outliers).


Até as condições para mudanças revolucionárias
amadurecerem, eles são frequentemente sujeitos a
cepticismo, desinteresse, até escárnio e hostilidade. Os que
posam como marxistas são alérgicos a organizações
políticas, activismo e risco intelectual, ao passo que
marxistas comprometidos são obrigados a buscar e unir
movimentos pela mudança. Eles são levados a servir a muito
citada tese de Marx e raramente atendida na décima
primeira tese sobre Feurbach: "Os filósofos só interpretaram
o mundo de várias maneiras; a questão no entanto é mudá-
lo".

30/Abril/2019
[1] Magnata da imprensa, en.wikipedia.org/wiki/Henry_Luce

O original encontra-se em https://mltoday.com/two-


marxisms/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .


24/Mai/19

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