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Publicação mensal da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES - Abril e Maio de 2019 ISSN 2177-9988
BRUNA HOMRICH
A luta
é na 15 de maio: 10 mil pessoas foram às ruas em Santa Maria
PAI NEL
64º Conad bate à porta será publicada em nosso site e redes sociais.
Com o tema “Em defesa da educação pública, dos direitos sociais e das FREDERI CO WESTPHALEN PALMEI RA DAS MI SSÕES
liberdades democráticas”, o 64º Conselho do ANDES-SN (Conad) ocorre 11 de julho 11 de julho
de 11 a 14 de julho, em Brasília (DF). O evento tem o objetivo de atualizar Local: Centro de Convivência. Local: sala 206 (prédio 1).
o plano de luta geral do Sindicato Nacional e os planos dos setores, Horário: 9h às 11h30. Horário: 13h30 às 16h.
ambos aprovados durante o Congresso, que ocorre no início de todo o 8 de agosto 8 de agosto
ano. Outra atribuição do Conad é discutir e deliberar sobre as finanças do Local: Centro de Convivência. Local: sala 206 (prédio 1).
ANDES-SN. Nos próximos dias, a Sedufsm realizará assembleia para Horário: 9h às 11h30. Horário: 13h30 às 16h.
definir quais professores/ as representarão a seção sindical no evento.
Cultura na Sedufsm
Local: anexo B (sala de vidro) quintas-feiras, das 14h às 16h, no anexo
do Prédio 17. B (sala de vidro) do prédio 17. Contudo,
Horário: 14h às 16h. desde às 8h da manhã (com intervalo
“A greve dos caminhonei-
RAFAEL BALBUENO A partir das 8h da manhã uma entre 11h30 e 13h) uma funcionária do
ros e da Educação na cons- funcionária do sindicato estará sindicato está na sala a fim de dar infor-
trução da Greve Geral” foi o na sala para informações ou mações ou resolver pendências trazidas
tema do debate organizado resoluções de pendências dos/ as pelos/ as filiados/ as.
pela Sedufsm na Câmara de filiados/ as.
Vereadores de Santa Maria
em 13 de maio. Participa-
ram do evento a ex-dirigen-
te do CPERS e membro da Na sede também tem?
CSP-Conlutas, Rejane de Tem sim. Para os/ as professores/ as que
Oliveira (à esquerda na preferem atendimento no centro de Santa SEDE DA SEDUFSM
foto), e o dirigente do Sindi- Maria, a Sedufsm disponibiliza plantão Terças-feiras
cato dos Transportadores jurídico todas as terças-feiras, das 9h às Local: André Marques, 665.
Autônomos (SI NDI TAC-I juí), Carlos Alberto Dahmer (à direita na foto). A 12h, na sede (André Marques, 665). Horário: 9h às 12h.
mediação foi do presidente da Sedufsm, Júlio Quevedo (meio da foto).
JURÍ DI CO
EXPEDI ENTE
A diretoria da SEDUFSM é composta por: Presidente: Júlio Ricardo Quevedo dos Santos; Vice-Presidente: João Carlos Gilli Martins; Secretária-Geral: Maristela da Silva Souza ; Primeira
Secretária: Leila Regina Wolff ; Tesoureiro-Geral: Gihad Mohamad; Primeiro Tesoureiro: Carlos Alberto da Fonseca Pires; Primeira Suplente: Valeska Fortes de Oliveira ; Segunda
Suplente: Adriana Graciela Desire Zecca ; Terceira Suplente: Roselene Moreira Gomes Pommer .
Jornalista responsável: Bruna Homrich Vasconcellos (MTb nº 17487) Equipe jornalismo: Fritz R. Nunes, I van Lautert e Rafael Balbueno Estagiário de jornalismo: Lucas Reinehr
Equipe de Relações Públicas: Fernanda Brusius e Vilma Ochoa Demais funcionários: Dirleia Balensiefer , Vinícius Heinz e Rossana Siega
Diagramação e projeto gráfico: J. Adams Propaganda I lustração: Rafael Balbueno I mpressão: Gráfica Pale , Vera Cruz (RS). Tiragem: 1.600 exemplares.
Obs: As opiniões contidas neste jornal são da inteira responsabilidade de quem as assina. Sugestões, críticas e opiniões podem ser enviadas via fone (55) 3222-5765 ou pelo email
sedufsm@terra.com.br
I nformações também podem ser buscadas no site do sindicato: w w w .sedufsm.org.br A SEDUFSM funciona na André Marques, 665, cep 97010-041, em Santa Maria (RS).
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES ABRI L E MAI O DE 2019 03
SEDUFSM
14 DE JUNHO:
Gre ve Ge ra l no Bra sil IVAN LAUTERT
No dia 14 de junho, trabalhadores/ as numa condição de dependência em
do país inteiro devem paralisar as ativi- relação aos países imperialistas.
dades a fim de protestar contra as refor-
mas maldosas do governo Bolsonaro. (Entretítulo)
BrasilBrasilcolônia
colônia
Com foco central no combate ao projeto
de Reforma da Previdência, a Greve Com o sucateamento da Educação e o
Geral também trará o repúdio aos cortes empobrecimento do povo brasileiro, o
no orçamento da educação pública e aos Brasil ocuparia um papel bem específico
diversos outros ataques desferidos aos na nova divisão mundial do trabalho: o de
direitos trabalhistas e sociais da classe exportar alimentos, minérios, pedras e
trabalhadora e população pobre do país. metais preciosos.
O último 15 de maio, que reuniu cerca de “Todos estes ataques têm um objetivo
10 mil pessoas nas ruas de Santa Maria e bem claro: reconduzir o Brasil à condição
15
milhões Brasil a fora, serviu como termô- de colônia. Se pensarmos que as univer-
metro para medir a capacidade de luta sidades públicas brasileiras são respon- Na manhã do dia 15, segmentos fizeram
da juventude e classe trabalhadora sáveis por mais de 90% de ciência, 'trancaço' no arco da UFSM para dialogar
brasileiras. tecnologia e humanidades produzidas no com a população sobre a importância da
país, a privatização dessas universidades universidade
Não
( Ent ret ít ulo) é Não
reforma,
é reform a, é levaria ao fim dessa produção. Com isso,
destruiçãoé destruição ficaríamos dependentes em ciência e Greve Nacional
tecnologia dos países ricos, e tal depen-
em Defesa da
Para o vice-presidente da Sedufsm,
João Carlos Gilli Martins, o projeto
apresentado pelo governo não visa re-
dência está na base da nossa recondução
à condição de colônia”, aponta Gilli. DE MAI O Educação Pública
30
Foto divulgação
DE MAI O
A Previdência, diz Gilli, pertence ao uma grande Greve Geral para impedir
tripé da Seguridade Social [ Saúde, que passe a Reforma da Previdência”, diz
Previdência e Assistência Social] e, ao Gilli. Ainda antes do dia 14, nova
contrário do que dizem governo e grande mobilização em defesa da Educação está
Mobilização Nacional pela Educação,
mídia, não é deficitária. O que vem ocor- marcada para o dia 30 de maio, em todo o
rendo é uma queda de arrecadação país. convocada inicialmente pelos estudantes
devido a dois motivos centrais: “aumen- Em Santa Maria, os três segmentos da e abraçada pelos sindicatos
to do desemprego e retirada de dinheiro UFSM (estudantes, docentes e técnico-
da Previdência para pagamento dos administrativos em educação) têm se
14
Foto divulgação
DE JUNHO
Educação, a Reforma da Previdência mentos sociais de fora da universidade e
ilustra, na avaliação de Gilli, um projeto debate, também semanalmente, na sede
que tem por objetivo minimizar os da Sedufsm, os encaminhamentos da
efeitos da crise estrutural e crônica do luta. Greve Geral da classe trabalhadora contra a
sistema capitalista. Para tal, é preciso, Quem quiser participar das reuniões,
Reforma da Previdência e os ataques de Bolsonaro
por um lado, privatizar, e por outro, im- fique de olho no site e redes sociais da
pedir o desenvolvimento nacional de Sedufsm que lá divulgamos os dias e
ciência e tecnologia, colocando o Brasil horários.
04 ABRI L E MAI O DE 2019 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES ABRI L E MAI O DE 2019 05
REPORTAGEM ESPECI AL
LUCAS REINEHR
saiu há pouco da licença-materni- algo muito errado. Estar com o turas”. para o meio dia ou entre quatro e cinco e meia da tarde,
dade, vai concorrer a uma bolsa, tem contabilizada sua filho e estar fazendo outra coisa ao mesmo tempo, não horário em que os/ as responsáveis pelas crianças têm
produção dos dois últimos anos. Milena destaca que é estar com o filho. E se eu não optar por estar com eles
Mudanças sensíveis
(Entretítulo) Mudanças sensíveis de sair do campus de Camobi para chegar a tempo de
recentemente a Universidade Federal Fluminense (UFF) (especialmente a Nina, de dois anos) e viver as Marta se emociona ao contar. Há algum tempo, pegá-las na creche (para aqueles/ as que residem no
adotou uma medida no sentido de reduzir esse abismo descobertas junto com eles, essa fase não vai voltar”, quando era coordenadora do curso de Química, acom- centro).
de produtividade entre mulheres mães e homens ou diz Milena. panhou de perto uma estudante grávida. A menina, de “Se tu disser que tem de sair porque precisa pegar tua
mulheres não mães. A medida foi o alargamento, às Para Marta, a lógica de avaliação produtivista família muito humilde e não residente em Santa Maria, filha, as pessoas não te olham de maneira agradável. A
docentes mães, do período de produtividade a ser ava- também carrega uma questão de gênero. “A forma teve sua gravidez rejeitada pelo companheiro, que não maternidade tem uma função social muito significativa,
liado, passando de dois para quatro anos. O motivo é a como é medido teu trabalho, tua produção, exige de ti queria assumir a criança. Foi então que, aos prantos, afinal, a gente gera vida. É claro que você não vai chegar
natural queda de produtividade observada nos currí- uma dedicação inteira. A publicação de artigos, as ligou para Marta avisando que largaria o curso. nas reuniões e colocar seus lamentos, mas existem im-
culos das professoras pesquisadoras até no mínimo dois orientações. Aí tu sobrecarrega teus orientandos. Tu “Eu disse que ela não ia largar. Que chance ela teria na peditivos que vêm da vida pessoal. E nós somos pes-
anos após o nascimento, visto que neste período a cria um círculo de pressão, em que as próprias mu- vida se largasse a faculdade?”, relembra a docente, para soas, acho que temos que começar a humanizar esse
criança necessita quase que inteiramente dos cuidados lheres que não botam a cabeça para fora e veem esse quem a situação das estudantes mães é ainda mais lugar”, reflete Milena, ressaltando que, por ser servidora
maternos. Ao promover mudanças nos editais, alargan- sistema, reproduzem isso. E outra, perguntam: 'como complicada que das mães docentes, visto que muitas pública, ainda tem uma possibilidade maior de flexibi-
do o período temporal a ser considerado em termos de uma mulher com quatro filhos vai produzir?' Ora, esses não têm condições financeiras, apoio do companheiro lizar os horários. “Mas e quem trabalha no setor privado,
produção científica, as instituições de ensino poderiam filhos vão crescer, é apenas uma fase!”, diz a docente. ou da família, nem amparo institucional. das 8h às 18h? Como faz pra apanhar o/ a/ filho/ a ou
oportunizar às mulheres mães de crianças bebês um Quando seu marido faleceu, Marta era uma jovem “Algumas professoras (somente as mulheres), mais a quando ele/ a fica doente?”, questiona.
pouco mais de equidade na concorrência. professora com 35 anos e quatro filhos. Optou por adiar funcionária da coordenação do curso, ajudaram durante Um dos caminhos encontrados por Milena é começar
o ingresso na pós-graduação, pois queria ver mais de toda a gravidez. Fizemos enxoval, levamos ela para o a, realmente, colocar as questões na mesa. Quebrar o
Produt
(Entretítulo) ivismo
Produtivismo acelerado
acelerado perto o crescimento de seus pequenos. Ao retomar os hospital. Quando a criança nasceu, ela a levava para a silêncio. Tornar natural. Então, quando alguém propõe
estudos, tinha entre 40 e 42 anos. “Eu me sentia um faculdade e nos revezávamos para cuidar. Ela se formou, uma reunião para muito cedo, por exemplo, ela diz que,
Mudanças em editais e na própria legislação que pouco constrangida, porque me achava velha. Todo hoje o filho já está moço. Eu não sei se todos precisam para sair mais cedo, a trabalhadora que a ajuda em casa
concede licença paternidade de apenas 5 dias, por mundo dizia que o auge da carreira era entre os 25 e os fazer isso que eu fiz. Mas fiquei imaginando uma filha também terá de sair mais cedo de casa. E para esta tra-
exemplo, são questões que, para Milena, podem ser 35 anos. E não é verdade. Tanto que fiquei muito minha. Como tu não vai dar apoio? Todo mundo fecha os balhadora sair mais cedo, alguém precisa cuidar da sua
conquistadas a médio prazo. Mas existe, na avaliação da surpresa com meu envelhecer produtivo”, comenta. olhos, vira as costas”, comenta Marta. própria filha, também pequena. “É uma corrente: quan-
professora, um problema de fundo mais difícil de Em sua avaliação, a universidade tem uma estrutura Para Milena, o ambiente universitário ainda é muito do uma mãe se ausenta, é outra mulher que toma conta.
resolver e que demanda alterações mais sensíveis por “que desconsidera as pessoas. É uma engrenagem fria masculinista e relega a maternidade a uma questão indi- Mas essa mulher também tem filho, e alguém toma con-
parte das pessoas que constroem, cotidianamente, a que te engessa e te impõe comportamentos e pos- vidual. Exemplos trazidos por ela são reuniões marcadas ta, e esse alguém geralmente é uma mulher”, conclui.
Milena Freire, Tomás (10 anos) e Nina (2 anos)
Você sabia que O Parent in Science é um movimento que Mulheres no O projeto de Reforma da Previdência, menina dos olhos do governo Bolsonaro e terror dos trabalhadores/ as brasileiros, coloca as mulheres como alvo central das maldades.
reúne cientistas e pesquisadores com o Um dos maiores ataques refere-se ao aumento da idade necessária para requerer a aposentadoria: de 55 para 62 anos (mulheres da cidade); de 55 para 60 anos (mulheres do
já existe gente objetivo de discutir questões relativas à centro da campo).
discutindo isso? maternidade e paternidade no ambiente Reforma Com isso, o governo desconsidera que, dada a divisão sexual do trabalho, as mulheres, além de trabalharem fora, ainda são as principais responsáveis pelo cuidado com o lar e
acadêmico e científico brasileiro. Em setembro os filhos. Segundo dados divulgados pelo I nstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (I BGE), as mulheres dedicam, em média, 21,3 horas semanais a afazeres domésticos e
de 2018, eles realizaram uma palestra na cuidados com parentes, ao passo que homens dedicam apenas 10,9 horas nesse tipo de tarefa.
UFSM, que lotou o auditório do I NPE, mostrando que há espaço e pessoas Além do aumento da idade, o governo também quer obrigar os/ as trabalhadores/ as a trabalharem 40 anos se quiserem receber aposentadoria integral (100% da média salarial, porém limitado ao teto do
interessadas em discutir a temática na universidade. Quem quiser saber mais Regime Geral de Previdência Social). Outros ataques previstos na reforma, como os direcionados à Pensão por Morte e ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), também penalizam frontalmente as
sobre o projeto, acesse o site www.parentinscience.com. trabalhadoras.
06 ABRI L E MAI O DE 2019 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
COM A PALAVRA
GI LVAN DOCKHORN
De volta
Não fizemos como Argentina, Uruguai que defende um caldo comum de
ou Espanha. Nós t ivemos uma cultura da classe media conservadora.
ditadura que foi abrandada ao longo I sso não foi novidade. O assustador
do tempo, houve um silêncio obse- desse processo é que ele aconteceu
ao medievo
quioso, fruto dessa conciliação. A justamente no momento em que uma
impunidade, o não julgamento dos parte da academia e dos setores
culpados por crimes de lesa-humani- organizados da sociedade julgavam que
dade, o não reconhecimento da face teríamos avançado em relação aos
mais explicitamente terrorista do grandes perigos que a democracia
Estado nesse processo também fize- sofria.
ram com que o silêncio se abatesse Esse setor conservador e autoritário da
sobre esse período. Há também a sociedade, que renunciou à disputa pela
questão das gerações. Passados 55 memória da ditadura, deixando que as
anos do golpe de 64, as gerações já narrativas ligadas à esquerda predomi-
criadas dentro do regime democrático nassem, volta à tona 50 anos depois.
relativizam muito os ganhos e a liber- Alguns chamam de pós-moderno o
dade. momento em que vivemos. O que eu
Mas esse processo também é acom- percebo é uma situação de pré-moder-
panhado pelas crises dos projetos nidade, quase medieval, com o reforço
coletivos de mudança, pelos equívo- de crenças vinculadas ao poder religio-
cos dos governos de esquerda, por um so, desconfiguração dos princípios libe-
novo processo de revisão das conquis- rais democráticos, crítica da razão,
tas sociais, pelo empoderamento de afronta a princípios modernos.
segmentos (movimento negro, femi-
nista, LGBTQ+ , povos originários) que
assustou uma classe media extrema-
mente conservadora no Brasil.
IVAN LAUTERT
EDUCAÇÃO
PERFI L CULTURA
BRUNA HOMRICH
A usurpação do direito humano de viver com autonomia, a ausência do
controle do próprio corpo, a dominação política de um Estado
teocrático, baseado em rígido código fundamentalista religioso
combinado com uma organização social baseada no “Patriarcado”,
formam a essência do romance distópico de O Conto da Aia (título
original The Handmaid's Tale). O livro da escritora canadense Margaret
Atwood, lançado em 1985, foi adaptado para filme, ópera e mais
recentemente para série de TV, com duas temporadas disponíveis por
assinatura (Netflix).
Por que é atual abordar os temas que atravessam esta obra depois de
trinta anos? Qual é a possível relação entre a ficção e a realidade? O que
se pode dizer de inédito sobre o seriado, depois da repercussão na
mídia?
Estas perguntas guiam nossa reflexão sobre “O Conto da Aia” e, sem
querer encerrá-las ou respondê-las de forma absoluta, dividimos
impressões a respeito da relação orgânica entre política, religião e
gênero que unem o enredo da obra. A atualidade do seriado está
diretamente representada na realidade do contexto político, na
opressão das mulheres, na intolerância à diversidade de orientação
sexual e identidade de gênero, no fundamentalismo religioso e no
extremismo das ideologias conservadoras, que contaminam os Estados-
nações mundo afora.
O Conto da Aia retrata, em certo grau mais, em certo grau menos,
conjunturas e estruturas de dominação, opressão e exploração em
países diversos: Brunei, Paquistão, Arábia Saudita, EUA, Brasil, Rússia,
muitos outros. De modo oficial e dentro do marco legal, como em
Brunei, ou na negligência e a arrepio da lei, como no Brasil. A violência
contra o pensamento e a vida diversa é a matéria-prima do produto
político, cultural, social e econômico que emerge destas conjunturas e
Liane de Souza Weber é docente na consiste em encontros de mulheres estruturas. Assim, há identificação entre realidade e ficção, há também
UFSM desde 1998, porém apenas que praticam dança circular como for- representação social do extremismo político, ideológico, sexista e
recentemente decidiu se filiar ao ma de se conectar com sua ancestra- religioso. O mais assustador na obra é justamente a sua proximidade
sindicato. O motivo? A curva ascen- lidade; a segunda, num grupo de com o que tememos, e/ ou reproduzimos: a violência política do Estado
dente de ódio e medo que, se foram voluntariado; e a terceira, no sindicato. não-laico, penetrando o tecido social para além do poder político no
alçados ao patamar máximo durante Retornar às bases, para Liana, é, âmbito público, invadindo vidas e determinando necessidades humanas
as últimas eleições presidenciais brasi- também, pensar em estratégias de básicas. Um conjunto de extrema violência para manter “a ordem
leiras, não tiveram no pleito seu ponto comunicação que, a partir da cultura, dominante”, onde as relações sociais de sexo são relações sociais de
de início, nem encerraram nele sua consigam inst igar as pessoas à dominação e violência de gênero. Ou seja, não estamos mais a falar de
atuação. Pelo contrário, vêm permean- reflexão e à superação de seus medos. 1985.
do cada vez mais aspectos da vida em Afinal, para ela, o medo encerra a
sociedade. Para a docente do departa- janela de comunicação. Um dos exem-
mento de Engenharia Rural, a escalada plos de mobilização cultural citados
destes sentimentos não demanda pela docente foi o último carnaval, em
grandes e tediosas explicações, mas que as festas e enredos das escolas de
uma causa aparentemente simples: o samba abordaram temas políticos de
afastamento das organizações políti- forma leve e criativa. “Tem pessoas
cas e coletivas em relação às bases. que estão numa fase diferente de ama-
“Sempre acreditei no coletivo e na durecimento político. Por isso as
representatividade. Sou daquelas que manifestações culturais são importan-
vota e acompanha o trabalho que os tes”, opina.
candidatos fazem durante o mandato. Hoje, Liana vê-se em uma fase de
Acredito que nossa responsabilidade reflexão sobre sua prática docente.
na escolha de representantes, seja Atualmente lecionando a disciplina de
dentro do Executivo, Legislativo ou Geoprocessamento, que consiste na
mesmo em entidades de representa- utilização de softwares e aplicativos
ção de classe, não é só ir lá votar”, diz alimentados com dados sobre a super-
Liane. fície terrestre, ela se questiona sobre
Nascida em 1968, ano de edição do os formatos verticalizados de ensino e
Ato I nstitucional (AI ) nº 5, ela nunca aprendizagem, responsáveis por im-
pensou que, meia década depois, veria por ao professor a imagem do 'grande
emergir discursos e práticas aparen- sábio' e aos alunos a posição de
temente soterrados pela volta do recebedores passivos do conhecimen-
regime democrático. Angustiada com to acumulado. “É um desafio impor-
este cenário, a docente passou a en- tante porque me faz sair da zona de
saiar seu próprio retorno às bases a conforto”, conclui a docente.
partir de três iniciativas: a primeira