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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS COMUNICAÇÃO E ARTES - ICHCA


HISTÓRIA LICENCIATURA
TÓPICOS ESPECIAIS EM HISTÓRIA SOCIAL
JONATHAN VIEIRA DA SILVA

POR UMA HISTÓRIA INDÍGENA: UMA BREVE ANÁLISE SOBRE A


RELAÇÃO ENTRE HISTÓRIA E CULTURA NO BRASIL

MACEIÓ-AL
MARÇO DE 2019
JONATHAN VIEIRA DA SILVA

RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DA DISCIPLINA DE TÓPICOS ESPECIAIS


EM HISTÓRIA SOCIAL

Relatório final apresentado à disciplina de tópicos especiais em História social, como


exigência parcial para a aprovação, sob orientação da Profa. Dra. ANA PAULA
PALAMARTCHUK.

MACEIÓ-AL
ABRIL DE 2019

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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 4
OS REFLEXOS DA HISTÓRIA NÃO CONTADA ................................................................ 6
A HISTÓRIA CULTURAL BRASILEIRA DO SÉCULO XX............................................... 9
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................... 13

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INTRODUÇÃO

Assim como o conceito de História vem sendo mudado com o tempo, os tipos
de fontes são revisitadas e dotadas de novos significados, esses processos, ocorrem desde
a metade do século XIV - que é o período em que a História se firma como disciplina
acadêmica, com isso trazendo um cunho científico - como toda ciência, eram necessários
rígidos parâmetros metodológicos, que orientava os documentos considerados históricos.
Esses documentos, teriam a função de reconstituir os acontecimentos passados, e ser
dotados de total veracidade sobre as suas afirmações, como diz Janotti:
[...] A concepção dominante na historiografia era de que a comparação de
documentos permitia reconstituir os acontecimentos do passado, desde que
encadeados numa correlação explicativa de causas e consequências.
Concomitantemente, os filósofos buscaram dar sentido ao desenvolvimento
histórico das sociedades ocidentais e, convictos dos princípios do
racionalismo, concluíram que a evolução e progresso presidiam os destinos dos
povos. (JANOTTI, 2006 p. 11)
Com a concepção de causas e consequências, a historiografia do século XIX é
marcada pela visão positivista, advinda dos ideias iluministas francesas, cuja base é a
ascensão do liberalismo e os períodos pós revolução. O ideal positivista ultrapassa a
história, indo para o campus da filosofia, sociologia e jurídico, para o enfoque do tema,
irei abordar somente o campus da história.
Com isso, a historiografia positivista é marcada por Leopold Van Ranke (1795 -
1886), considerado o pai da “História Positivista”. Um dos pioneiros a levar a história ao
status de ciência histórica, pelo uso da razão e da sua metodologia na análise documental.
Para Ranke, o documento era o principal, o protagonista da história, nos dias atuais,
associamos os documentos à história de modo quase automático, porém esse pensamento
foi advindo do modo de análise Rankeana, no comentário de Arno Wehling a respeito da
primeira obra de Ranke, notamos a importância do documento, em a História dos Povos
Romanos e Teutônicos (1824):
Na verdade, esta foi a primeira vez que as fontes históricas passaram a integrar
uma obra, no sentido que entendemos hoje: nem mero arrolamento de
documentos, nem História invertebrada, opinativa, com a consulta eventual às
fontes para que confirmassem a tese do autor (WEHLING, 1973, p. 182).

Segundo Bourdé (1983, p. 114) “a escola francesa tira da escola alemã uma
doutrina cientista que funda uma prática histórica, sem ousar assinalar suas origens”.
Nessa perspectiva, Bourdé afirma que o pensamento histórico francês do séc. XIX tem
como base os preceitos rankeanos, que em síntese, consiste em cinco postulados teóricos:
1ª regra: Incumbe ao historiador não julgar o passado nem instruir seus
contemporâneos mas simplesmente dar conta do que realmente se passou.

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2ª regra: Não há nenhuma interdependência entre o sujeito conhecedor (que é
o historiador) e o objeto do conhecimento (que é o fato histórico); por hipótese,
o historiador escapa a qualquer condicionamento social, o que lhe permite ser
imparcial na percepção dos acontecimentos.
3ª regra: A História existe em si, objetivamente, tem mesmo uma dada forma,
uma estrutura definida que é diretamente acessível ao conhecimento.
4ª regra: A relação cognitiva é conforme a um modelo mecanicista. O
historiador registra o fato histórico de maneira passiva, como o espelho reflete
a imagem do objeto, como o aparelho fotográfico fixa a o aspecto de uma cena
ou paisagem.
5ª regra: a tarefa do historiador consiste em reunir um número suficiente de
dados, assente em documentos seguros; a partir destes fatos, por si só, o
registro histórico organiza-se e deixa-se interpretar. (BOURDÉ, 1983, p. 114)

Segunda as regras sintetizadas por Bourdé, para se ter história é necessário o uso
de fontes documentais “seguras”, a “imparcialidade” do historiador, nenhuma ligação
social do historiador com a história produzida, sendo produzida análises mecânicas sobre
o fato. Então, a raiz epistemológica do positivismo exclui as comunidades que não
“produzem” documentos, e demais tipos de análises que fujam a razão e o progresso.
Essas regras não representam a totalidade de se “fazer história” no mundo, pois
não existe essa homogeneização na historiografia, não se trata de um bloco monolítico de
pensamento. Porém, ressalto o positivismo, pois seus reflexos chegaram na historiografia
brasileira:
Esta “história tradicional”, história “rankeana” ou simplesmente “história
positivista” é que se tornará hegemônica na historiografia européia do século
XIX, mormente na Alemanha e na França. Pode-se dizer que o ápice de seu
prestígio ocorreu entre 1880 e 1930, ao menos na França. Mas seus reflexos
no Brasil também foram significativos, e são sentidos até hoje. (FONSECA,
2009, p, 155)

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OS REFLEXOS DA HISTÓRIA NÃO CONTADA

Enquanto a Europa estava discutindo no século XIX os preceitos da História, no


Brasil, estávamos começando a definir a “identidade brasileira” e um dos marcos mais
importantes é a criação do IHGB. O instituto é de suma importância para a História
indígena, tanto pelo esquecimento dos índios, quanto por sua visão sobre os povos
originários.
O século XIX, no Brasil, é marcado por intensas movimentações políticas, visto
que estávamos na efervescência da “independência” que ocorreu em 1822. Vale ressaltar,
que a movimentação em torno da independência, traz um aspecto não emancipatório, isso
significa que as raízes são portuguesas, o Imperador é português, os elementos culturais
da elite são portugueses e o aparato administrativo segue o modelo de Portugal.
Em 1824 foi promulgada a primeira constituição do Brasil, e em 1834 o ato que
modifica a constituição. Entre 1824 e 1834 o Brasil sofreu mudanças drásticas, entre elas
temos a abdicação do trono de D. Pedro I em 1831, deixando o seu filho de 5 anos (D.
Pedro II) no poder. Que de acordo com a constituição, não poderia assumir por não ter
idade suficiente, sendo criado uma regência provisória. Revoltas explodem em todo o
território brasileiro, e visões distintas de governança lutam pelo poder, nas províncias
tínhamos dois programas políticos antagônicos. Como cita schwarcz:
O sentimento autonomista era, porém, forte nas províncias: desfeita a unidade
do império luso-brasileiro como consequência da ruptura com Lisboa, o debate
girava ao redor de dois programas políticos decididamente antagônicos: o
centralismo da corte, de um lado, e o autogoverno provincial, de outro.
(SCHWARCZ, 2015)
Nessa divisão de pontos de vistas antagônicos, tínhamos os indígenas lutando de
diversas maneiras por todo o território. Destacarei duas revoltas como exemplificação da
luta dos indígenas, a participação na Guerra dos Cabanos e na Insurreição Praieira, que
ocorreram nas províncias de Pernambuco e Alagoas. Sobre o envolvimento, Dantas
afirma que “na maioria das vezes, estava relacionado à defesa dos territórios coletivos das
aldeias e à rede de relacionamentos construída com não índios nas localidades em que
viviam.”
Na Guerra dos Cabanos, os indígenas lutaram ao lado das elites locais, porém com
seus interesses próprios, “Indígenas da aldeia de Jacuípe e alguns da aldeia de Barreiros
entraram nos conflitos armados ao lado dos cabanos em função das alianças locais
estabelecidas com não índios.”(DANTAS, 2014). Na Insurreição Praieira também houve
participação dos Indígenas de Jacuípe e de Barreiros:

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O contexto de eclosão da insurreição também estava relacionada às mudanças
da política imperial e a novo movimento da “gangorra política” na qual liberais
eram despojados de seus cargos após o seu período de governo em Pernambuco
conhecido como “Quinquênio Liberal” (1844-1848). Em 1848, vários
proprietários praieiros (como os liberais eram chamados em Pernambuco)
resistiram a cumprir a ordem de entregar seus cargos públicos e suas armas.
Com isso, os conflitos armados iniciaram na Zona da Mata sul de Pernambuco
e norte de Alagoas, nos quais novamente índios das aldeias de Jacuípe e
Barreiros se envolveram. Dessa vez, os de Barreiros foram liderados por Bento
Duarte, que ascendeu na aldeia depois da morte de Agostinho, conseguindo
realizar sua própria rede de alianças e apoios mútuos com os políticos não
índios da localidade. Em Jacuípe, os índios foram comandados por Maurício,
nova liderança consolidada na situação de conflito. (DANTAS, 2014)
O cenário da criação do Instituto, em um panorama geral, é de delimitação e
função da História no âmbito internacional. No Brasil, mudanças políticas e revoltas nas
províncias com pontos de vista antagônicos lutando pelo poder. E em 21 de outubro de
1838 é inaugurado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, financiado por Dom
Pedro II, e que representa o começo da construção de uma memória, e qual memória o
IHGB irá formar sobre os indígenas, qual o tipo de história será escrita dentro do edifício?
Segundo Reis (2007) e Guimarães (2001) o IHGB, financiado pelo próprio
imperador D. Pedro II, enviou inúmeros estudiosos ao exterior a fim de reunir
documentos relevantes que tratavam da América Portuguesa para que se
pudesse conhecer e escrever, enfim, a história e geografia do Brasil, tendo os
sócios-pesquisadores, posteriormente, a pedido do monarca, começado a
priorizar os fatos políticos e militares referentes aos sucessos do governo.
(ALVES; OLIVEIRA; CORREA, 2015)
Na Europa, vimos que as discussões sobre o conceito de História estavam
acirradas, os ideais iluministas significavam o progresso. No Brasil, temos os mesmo
ideais, advindo da coroa e da elite de intelectuais, a missão brasileira era formar uma
identidade própria, uma identidade única para um país homogêneo. As dificuldades eram
imensas, como alertava José Bonifácio em 1813, “(…) amalgamação muito difícil será a
liga de tanto metal heterogêneo. como brancos, mulatos, pretos livres e escravos, índios
etc. etc. etc., em um corpo sólido e político". E segundo Guimarães:
E, portanto, à tarefa de pensar o Brasil segundo os postulados próprios de uma
história comprometida com o desvendamento do processo de gênese da Nação
que se entregam os letrados reunidos em tomo do IHGB. A fisionomia
esboçada para a Nação brasileira e que a historiografia do lHGB cuidará de
reforçar visa a produzir uma homogeneização da visão de Brasil no interior das
elites brasileiras. E de novo uma certa postura iluminista - O esclarecimento,
em primeiro lugar, daqueles que ocupam o topo da pirâmide social, que por
sua vez encarregar-se-ão do esclarecimento do resto da sociedade - que preside
o pensar a questão da Nação no espaço brasileiro. (GUIMARÃES, 1988, p. 06)
A missão do IHGB era a construção de uma identidade brasileira, e para a
concretização desse objetivo, foi lançado em 1840 um prêmio plano de escrita da história,
e o ganhador foi o botânico alemão Karl Philipp von Martius.
O ganhador foi o botânico alemão Karl Philipp von Martius que vai ressaltar a
identidade brasileira na mistura de raças, exaltando o português, colocando o
indígena em segundo plano e abordando apenas superficialmente o negro. Ele

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propunha em seu plano que aquele ao qual fosse designada a missão de
escrever a história do Brasil deveria antes conhecer suas províncias, visitando-
as a fim de encontrar entre as mesmas, pontos em comum, já que as
divergências entre as mesmas eram bastante explícitas e o que se desejava
nesse momento era unificar o império e não seria exaltando as diferenças que
isso seria conquistado.(GUIMARÃES, 1988, p. 10)
Adolfo de Varnhagem foi o executor desse plano, com formação advinda de
“Portugal, onde se formou engenheiro militar em 1834. Ali o jovem rapaz teve contato
com as temáticas da história e da literatura.” (MARINHO; RIBEIRO, 2016, p. 31) Uma
história advinda dos moldes europeus, tendo como raiz o iluminismo e o liberalismo. O
historiador Michel de Certeau em seu livro “a escrita da História” formulou uma
interpretação de como a história foi escrita ao longo do tempo, para ele, a História é
realizada através de três pressupostos, O lugar social (nesse caso, o IHGB), as práticas
(concepção, metodologia e eleição de fontes) presentes na escrita varnhageniana (o ideal
de identidade nacional e a visão do indígena).
Então a partir da visão de Certeau, da historiografia do século XIX, fica nítido
que os documentos utilizados pelos historiadores buscavam transmitir a ideia de verdade,
pelo modelo de pesquisa imposto, advinha de uma necessidade do império de criar uma
identidade nacional, identidade que coloca a posição do indígena como:
O instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), fundado em 1838 com a
intenção de criar uma história do Brasil que unificasse a população do novo
estado em torno de uma memória histórica comum e heroica, iria reservar aos
indios um lugar muito especial: o passado. Nessa história, on índios apareciam
na hora do confronto, como inimigos a serem combatidos ou como heróis que
auxiliavam os portugueses. Os índios vivos e presentes no território nacional,
no século XIX, não eram incluídos. Para eles, dirigiam-se as políticas de
assimilação que, desde meados do século XVIII, tinham objetivo de integra-
los acabando com as distinções entre eles e os não índios. (ALMEIDA, 2010,
p. 17)
Do século XIX a metade do XX, o Brasil sofre vários processos de mudança, a
república chegou, o SPI foi criado, governo de Vargas, em todos os processos, a história
só irá lembrar dos indígenas quando houver a mudança de significados de cultura,
tradição e nação, e assim deixar de ser escrita no viés de desaparecimento e ganhar o
protagonismo do movimento. Em todo esse período, destacarei as mudanças nas
representações dos historiadores sobre estes termos.

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A HISTÓRIA CULTURAL BRASILEIRA DO SÉCULO XX

O conceito de cultura é problemático e emblemático, pois o seu significado é


utilizado por entidades, intelectuais e demais setores da população para exclusão,
marginalização e retirada de direitos, sendo ele essencial para as tomadas de decisões do
governo (federal e estadual) e todas as formas de política pública aplicada aos povos
indígenas. Com isso, irei analisar os tipos de significados adquiridos no decorrer do século
XX.
Para essa análise, destacarei a obra de Roberto Cardoso de Oliveira, denominado
“Do Índio ao Bugre”. Roberto (11 de julho de 1928 - 21 de julho de 2006) foi doutor em
sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), Etnólogo do Museu do Índio, o qual
trabalhou com Darcy Ribeiro e seu trabalho foi revisado por Florestan Fernandes. Então,
a partir dessa obra, busco compreender a noção de cultura na década de 1950 - 1976, pois
o livro foi escrito entre fins de 1958 - 1959 e sua segunda edição saiu em 1976.
O livro relata a experiência de assimilação, que segundo o autor é “O
“processus” pelo qual um grupo étnico se incorpora noutro, perdendo sua (a)
peculiaridade cultural e (b) sua identificação étnica anterior.” (OLIVEIRA, 1976, p. 103)
do grupo indígena Terêna, localizado no sul do Mato Grosso do Sul, do tronco Guaná, de
língua Aruák. Esse conceito vem sendo utilizado em todo o livro, juntamente com o termo
“aculturação”. As vezes em um sentido estático e às vezes dinâmico, segundo o autor:
Enquanto a primeira consequência, (a), seria o equivalente do processo de
aculturação, a segunda, (b) teria também um conteúdo psicológico embora se
caracterizasse em ser um fenômeno sócio-cultural, sobretudo por ser o grupo
a unidade considerada; aqui, a assimilação individual seria posta de lado ou,
quando muito, utilizada num sentido comparativo. Por outro lado, a
assimilação, como a aculturação, poderão significar, também, “condição”
opondo-se a “processo”; neste caso, o próprio texto em que aparecerem será o
suficiente para explicita-lós como uma categoria dinâmica (processo) ou
estática (condição) (OLIVEIRA, 1976, p. 103)
O conceito de aculturação e assimilação permeia toda a sociedade, entender o
dinamismo da cultura, da etnicidade e da formação das narrativas é de essencial
importância para compreender a formação de políticas públicas, e a conjuntura da
realização do relatório figueiredo. O artigo da Antropóloga Clarice Cohn, sobre “culturas
em transformação, os índios e a civilização” traz uma luz sobre o desenvolvimento do
termo e seu uso para a exclusão dos indígenas:
Na antropologia americana, cultura passa a ser definida como um conjunto de
traços que podem ser perdidos ou tomados de empréstimo de populações
vizinhas, enquanto a antropologia britânica a pensa como um sistema de partes
articuladas entre si, cuja lógica própria deve ser entendida. Porém, essa visão
de “traços culturais” que podem ser perdidos acaba por levar à noção de

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aculturação, ou seja, de um processo regressivo de perda cultural, a que os
povos nativos (não-ocidentais, “primitivos”) de todo o mundo estariam
especialmente sujeitos.
É exatamente essa tendência americana adotada por antropólogos e
pesquisadores brasileiros, no livro “Do índio ao Bugre”, o autor enfatiza o uso do
documento memorandum escrito por Redfield, Linton e Herskovitz todos da
Universidade de Chigago nos EUA. Nesse documento, segundo o autor, segue o
significado definitivo do conceito de aculturação, que é:
Nesse documento a aculturação foi definida como “uma mudança cultural
iniciada pela conjunção de dois ou mais sistemas culturais”. Em termos
causais, acrescenta o documento, “a mudança aculturativa pode ser a
consequencia de transmissão cultural direta; pode ser derivada de causas não-
culturais, tais como modificações ecológicas e demográficas induzidas por um
choque cultural; pode ser retardada por ajustamentos internos, seguindo-se
uma aceitação de traços ou padrões alienígenas; ou pode ser uma adaptação
em reação dos modos de aculturação na medida em que ele tem se revelado
útil à compreensão das consequencias, na esfera da cultura, dos mecanismos
de interação social, interétnica e tribal. Na base disto, é claro, está implicito
uma critica às teorias de aculturação, pelo fato de tenderem a considerar os
sistemas culturais em si mesmo, perdendo de vista, muitas vezes, a população
ou o grupo social portador. (OLIVEIRA, 1976, p. 104)
O conceito de aculturação e assimilação tinham bases americanas, em uma visão
macro, estávamos na década de 50 -76, durante o período de guerra fria, então a influência
americana estava explícita em torno da formulação de conceitos dentro da sociedade
brasileira, o viés era o progresso em benefício do grande capital, gerando assim uma
dicotomia na cultura indígena, o que eles são, e o que eles podem ser. São indígenas,
porém podem ser trabalhadores e sendo trabalhadores, não são mais indígenas. Para
compreender como se daria o processo de aculturação, continuarei utilizando o grupo
Terêna, que para Darcy Ribeiro que prefaciou a primeira edição:
“Através dos últimos 150 anos de interação com a nossa sociedade, os
diversos grupos Guána vieram fundir-se, restando, em nossos dias, um apenas,
os Terêna, que passaram a reunir todos os sobreviventes da tribo. Hoje vivem
como índios-de-aldeia, índios-de-fazenda, índios-de-cidade, integrados na
vida regional como lavradores, como trabalhadores urbanos, às vezes
reservistas e até eleitores. Cada vez menos índios. Cada vez mais abrasileirados
e, como tal, a braços com os mesmos problemas sociais com que se defrontam
as massas rurais e as populações urbanas mais pobres que se defrontam as
massas e as populações urbanas mais pobres do Mato Grosso. Diferenciados,
porém, do sertanejo e do citadino comum por enfrentar problemas especificos
de ajustamento que decorrem principalmente da consciência de uma origem
tribal comum, das lealdades que os solidarizam uns com os outros e da
consciência permanentemente apicaçada pela população regional de que eles
são diferentes” (RIBEIRO apud OLIVEIRA, 1976, p. 15)
Nas palavras de Darcy, destacam-se alguns termos, como: “até eleitores. Cada
vez menos índios. Cada vez mais abrasileirados” legitimando duas proposições, a
primeira concordando com o processo de assimilação, visto que estão se tornando “cada
vez menos índios” e a segundo a diferenciação entre índios e brasileiro. Com isso,

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notamos que a identidade brasileira para os integrantes do SPI não incluia os indígenas,
porém eles poderiam ser “abrasileirados” e se tornarem parte da “nação brasileira.”
A divisão estrutural do livro, é realizada da seguinte maneira: oito capítulos, os
quatro primeiro (I- “Os Terêna, subgrupo Guaná”, II - “O caráter da interação intertribal”,
III “Perfil da cultura tradicional” IV - “História das relações interétnicas” ) são baseados
pesquisas bibliográficas e os quatro últimos sendo a situação atual do grupo, que são os
capítulos: V - “Configuração atual dos grupos locais Terêna” VI Variações sócio-
culturais entre as comunidades Terêna”, VII - “Aculturação e mobilidade”, VIII - “Os
mecanismos da assimilação”
Destacarei esses dois últimos capítulos por serem teórico, e assim compreender
o processo que era denominado de “aculturação”, no capítulo VII o autor analisa como
os Terêna saíram de suas aldeias e foram para a cidade, e como a pesquisa do etnólogo
tornou-se difícil, pois mesmo na cidades esses grupos se reuniram e continuaram com a
sua identidade tribal, e dois fatores foram importantes para manter o “estado” de Índio:
O parentesco e o compadrio.
Como um defensor do conceito de assimilação, o pesquisador, demonstra que o
caso Terêna, é uma variável de difícil explicação, porém o processo iria ocorrer de uma
forma ou de outra, e para isso ele utilizou da tese de Daniel Glasser, que sistematiza o
processo da seguinte maneira:
A assimilação é mais viável, progressivamente, a partir das gerações
subsequentes àquela que se fixou na cidade. E como corolário, teríamos então:
As famílias que se teriam organizado (ou formado) nas aldeias e,
posteriormente, se mudado para as cidades, teriam menos possibilidades de
verem seus membros assimilados à sociedade brasileira local do que aqueles
formados em fazendas ou nas próprias cidades. Enquanto aqueles manteriam
maior estabilidade e permaneceriam mais ligadas às comunidades de onde
vieram ou onde nasceram, estas entrariam mais facilmente em processo de
desorganização, permitindo maior marginalização de seus membros,
notadamente das gerações mais novas, e abrindo caminho para a
“dessegregação” e, em consequência facilitando a assimilação. (OLIVEIRA,
1976, P. 112)
Pesquisas atuais, demonstram que os Terêna a partir da década de 70, começaram
a se fortalecer politicamente, através do movimento indígena bem como das associações
internas e externas, com indígenas e não-indígenas. E em quantidades maiores como
demonstra os pesquisadores Rosalvo Ivarra Ortiz e Noêmia dos Santos Pereira Moura:
Os Terena acompanham passo a passo o trabalho dos peritos, desde sua
chegada até sua saída da área indígena. Indígenas esses que, na primeira
metade do século passado, estavam fadados a desaparecer, segundo seus
estudiosos e protetores. Chegaram à segunda metade em número cada vez mais
crescente quantitativa e politicamente. Apropriaram-se dos saberes nos
âmbitos das instituições políticas, da legislação e dos espaços sociais
produzidos pela sociedade brasileira relativos à educação, a saúde, ao trabalho,

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à segurança e ao lazer, nos quais passaram a circular e intervir. Aprenderam a
transitar nos espaços da sociedade brasileira, porém continuam reproduzindo
seus códigos de civilidade interna e externamente às suas aldeias. (ORTIZ;
MOURA, 2017, P. 82)
Apesar do grupo ter expandido seu número e ter se fortalecido na década 70, os
anos de 30 a 70 foram repletas de políticas de exclusão e extermínio. Políticas orientadas
por visões assimilacionista, visando o progresso e o desenvolvimento. Como citei
anteriormente, as bases do pensamento brasileiro sobre cultura, advinha das escolas norte
americana, e para auxiliar na compreensão sobre as escolas antropológicas, a professora
da Universidade Federal de Alagoas, Irineia M. Franco dos Santos, cria uma tabela
(imagem 1) que auxilia na visualização do desenvolvimento da antropologia, que a partir
dos anos 30, se desenvolve da seguinte maneira:

Imagem 1

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