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Eneus Trindade, Clotilde Perez e Lívia Souza (organizadores). São Paulo: INMOD /
ABP2 / PPGCOM-ECA-USP, 2016. Número de Páginas: 1635
Vários autores
ISBN 978-85-5514-022-8
1. Artigos acadêmicos 2. Propaganda 3. Publicidade 4. Marketing I. Trindade, Eneus. II.
Perez, Clotilde. III. Souza, Lívia.
I. Título
CDU 659.1
13-0069
CDD 659.1
ORGANIZAÇÃO
Conselho Fiscal
Prof. Ms. Walter Freoa (Faculdade Cásper Líbero)
Prof. Dr. Guilherme Nery Atem (UFF-RJ)
Comitê Regional
Região Norte - Prof. Dr. Luiz Cézar S. dos Santos (UFPA)
Região Nordeste – Prof. Dr. Aryovaldo de Castro Azevedo Junior (UFRN)
Região Centro-Oeste – Prof. Dr. Asdrúbal Borges Formiga Sobrinho (UNB)
Região Sudeste – Prof. Dr. João Luiz Anzanello Carrascoza (ESPM e ECA/USP)
Região Sul – Profa. Dra. Maria Berenice da Costa Machado (UFRGS)
Coordenação/organização do Evento:
Prof. Dr. Eneus Trindade Barreto Filho (Coordenador)
Profa. Dra. Maria Clotilde Perez (Coordenadora)
Prof. Dr. Leandro Leonardo Batista (Vice-coordenador)
Secretaria Executiva
1º Secretário - Prof. Dr. Bruno Pompeu Marques Filho (IED)
2° Secretário Discente de Pós-Graduação – Doutoranda Jose Fogaça
3° Secretário Discente de Pós-Graduação – Doutorando Silvio K. Sato
4º Secretário Acadêmico – Idalina Recio
5º Secretário Discente de Pós-Graduação – Mestranda Cinira Baader
6º Secretário Discente de Pós-Graudação – Doutoranda Lívia Silva de Souza
7° Secretário Discente de Pós-Graduação – Doutoranda Alhen Rubens Damasceno
8º Secretária Discente de Pós Graduação – Mestrando Sílvio Nunes Augusto Junior
9º Secretária Discente de Pós-Graduação – Doutoranda Maria Cristina Dias Alves
10º. Secretária Discente de Pós-Graduação – Doutoranda Janiene Santos Silva
11º. Secretário Discente de Pós-Graduação – Doutorando Nicolás Llano Linares
12º. Secretário Discente de Graduação – Doutorando Diogo Kawano
13º. Secretário Discente de Graduação – Ricardo Kuba
14º Secretário Discente de Graduação – Julia Lupiacci
15º Secretário Discente de Graduação – André Machado
16º Secretário Discente de Graduação – Lucas Zanardo Milanez
17º Secretário Discente de Graduação – Márcia Naomi Shimabokuro
Divulgação
Prof. Dr. Dirceu Tavares de Carvalho Lima Filho
Prof. Dr. Rodrigo Stefani Correa
SUMÁRIO
Apresentação...............................................................................................................................17
Programação...............................................................................................................................22
III Colóquio de Graduação em Publicidade: dilemas e perspectivas....................................26
Questões do Ensino em Publicidade e Propaganda
Princípio, Processo e Produto Criativo: as faces do trabalho em criação
publicitária
Prof. Dr. Rodrigo Stéfani Correa (Universidade Federal de Pernambuco)....................26
Emoções em processos criativos: um estudo empírico no ensino de criatividade em
publicidade
Prof. Dr. Asdrúbal Borges Formiga Sobrinho (Universidade de Brasília, DF)..............38
A institucionalização dos papéis masculino e feminino no trabalho de criação
publicitária
Prof. Dr. Fábio Hansen (Universidade Federal do Paraná)............................................50
CONFERÊNCIAS
Le spectacle des marques, une culture publicitaire ? (O espetáculo das marcas, uma cultura
publicitária?)
Profa. Dra. Karine Berthelot-Guiet (CELSA - Université de Paris-Sorbonne - França) …...70
Marca e sentido: uma proposta de articulação associativa das semióticas greimasiana e
peirciana à luz do paradigma da autopoiese (Biologia do conhecer/Biologia cultural)
Prof. Dr. Jean Charles Jacques Zozzoli (UFAL)..........................................................................88
La entrada del valor en la comunicación
Prof. Dr. Juan Benavides (Universidad Complutense de Madrid-
ES)………………………………………………………………………………………….….117
MESAS
Mesa 1 – Marcas em múltiplas perspectivas -
O diferencial do humor na construção de marcas publicitárias.
Prof. Dr. Dirceu Tavares de Carvalho Lima Filho
Ms. Gabriela Bezerra
Lima............................................................................................................................................139
Chanel n.5 e a Construção da Mulher
Celso Figueiredo Neto – Universidade Presbiteriana Mackenzie
Maria de Lourdes Bacha - Universidade Presbiteriana Mackenzie.......................................... 154
Aspectos das difusões de tendências do consumo alimentar: Mediação e midiatização das
marcas de alimentos.
Prof. Dr. Eneus Trindade, Mestrando Sílvio Augusto Jr. (USP)................................................175
Mesa 2 – Publicidade, representações e consumo –
Literatura, Jogos, Personagens e Marcas: tatuagens no corpo midiático
Maria Ângela Pavan (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).................................... 197
Publicidad gráfica inmobiliaria: de la promesa (de la oferta) a la apropiación (del
consumidor)
Profa. Dra. Gómez e Prof. Claudio Racciatti (Facultad de Comunicaciones, Pontificia
Universidad Católica de Chile)..................................................................................................211
O espírito empreendedor social incorporado em estratégias de publicização
Prof. Dr. Vander Casaqui - (Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Consumo –
ESPM)........................................................................................................................................224
As representações sociais do desvio na publicidade
Profa. Dra. Cláudia Pereira (PUC-RJ)........................................................................................237
Mesa 3 – Publicidade: criatividade, inovação e questões do digital
Publicidade Multiplataforma – processos de digitalização e configurações contemporâneas
da atividade publicitária brasileira.
GRUPOS DE TRABALHO
GT1 – PROPAGANDA E LINGUAGENS
MESA 1 - COORDENAÇÃO: PROF. DR. GOIAMERICO F. DOS SANTOS
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS)
COMUNICAÇÃO, CONSUMO E MEMÓRIA: UMA ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO
DIEGÉTICA DA MARCA FACEBOOK NO FILME A REDE SOCIAL
Beatriz Braga BEZERRA
Escola Superior de Propaganda e Marketing, São Paulo, SP...................................................433
MORTE E JOGOS: O BRASIL ANTES DA COPA DO MUNDO
Cecília ANDREUCCI
Universidade de São Paulo........................................................................................................447
PUBLICIDADE-ENTRETENIMENTO COMO GÊNERO DO CONSUMO: PROPOSTA
DE UMA TIPOLOGIA PARA O FORMATO NO BRASIL
Pablo Moreno Fernandes Viana
Universidade de São Paulo
Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais...................................................................464
Sandra SOUZA
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP...............................................................................797
UMA ANÁLISE DA VESTIMENTA FEMININA DURANTE SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL ATRAVÉS DO SERIADO BOMB GIRLS
Antônia Sabrina Bezerra da SILVA
Marcília Luzia Gomes da COSTA
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, RN..............................................813
A PUBLICIDADE E A PERIODIZAÇÃO DA VIDA: A RECOMPOSIÇÃO DA
MATURIDADE ADULTA EM MEIO AO JUVENISMO
Maria Ogécia DRIGO
Bruno MARTINS
Universidade de Sorocaba (Uniso), Sorocaba, SP....................................................................825
GT 2 – PROPAGANDA E TENDÊNCIAS
MESA 1 - COORDENAÇÃO: PROFA. DRA. MARIA LILIA DIAS DE CASTRO
(UFSM)
PROCESSOS CRIATIVOS DA PUBLICIDADE MIDIATIZADA: OBSERVAÇÃO
PARTICIPANTE E AUTOETNOGRAFIA, PRESSUPOSTOS PARA A PESQUISA
EMPÍRICA
Maria Cristina Dias ALVES
Universidade de São Paulo........................................................................................................838
NARRATIVAS PUBLICITÁRIAS EM CONTEXTOS MERCADOLÓGICOS
CONTEMPORÂNEOS
Adriana Lima de OLIVEIRA
Daniel AFANADOR
ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing, São Paulo, SP.....................................849
A MIDIATIZAÇÃO E SUAS CARACTERIZAÇÕES: COMENTÁRIOS SOBRE A
TEORIA E SEUS ENCONTROS TRANSNACIONAIS
Nicolás Llano Linares
Escola de Comunicações e Artes – Universidade de São Paulo................................................864
A PEDAGOGIA DAS CARTILHAS: ENSINANDO AO CONSUMIDOR A ETIQUETA
TECNOLÓGICA
Tatiana SICILIANO
Miguel MENDES
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.................................................................881
PUBLICIDADE, ENUNCIAÇÃO E REALIDADE AUMENTADA:
DESDOBRAMENTOS DA CATEGORIA DE PESSOA NA ERA DIGITAL
Sandro Tôrres de AZEVEDO
Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ
Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, RJ
Faculdades Integradas Hélio Alonso, Rio de Janeiro, RJ.........................................................894
AUDIOVISUALIDADES PUBLICITÁRIAS NA WEB: APORTES INICIAIS
Lúcio Siqueira Amaral Filho
Unisinos, São Leopoldo, RS, Univates, Lajeado, RS e UNISC, Santa Cruz do Sul,
RS................................................................................................................................................909
SIGNOS DO ZEITGEIST NA PUBLICIDADE DE MODA
Janiene dos Santos e SILVA
Clotide PEREZ
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP...............................................................................923
METODOLOGIA DE ANÁLISE DA IMAGEM REPUTACIONAL DAS
INSTIRUIÇÕES SOB A PERSPECTIVA DO PUBLIC FEELING
Lawrence Chung KOO
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP
Clotilde PEREZ
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP...............................................................................924
A CULTURA DA CONVERGÊNCIA NA ERA DIGITAL: A TRANSMÍDIA COMO
10
TENDÊNCIA CINEMATOGRÁFICA
Filipe PEREZ
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP..................................................................925
GT 2 – PROPAGANDA E TENDÊNCIAS
MESA 2 - COORDENAÇÃO: PROFA. DRA. CLOTILDE PEREZ (ECA USP)
O TWITTER E A MÍDIA TRADICIONAL: UM ESTUDO DE INTERMEDIA AGENDA-
SETTING
João Vicente SENO OZAWA
Marcelo OLIVEIRA COUTINHO DE LIMA
Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, SP..................................................................................926
BRANDED APPS: AMBIÊNCIA, ENTRETENIMENTO E MULTISSENSORIALIDADE
NA EXPERIÊNCIA COM A MARCA
Daniele de Castro Alves
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ................................................939
NOVOS ESPAÇOS DE COMUNICAÇÃO ENTRE MARCAS E CLIENTES: ESTILOS
DE ABORDAGEM PUBLICITÁRIA NO INSTAGRAM
Renata Alves de Albuquerque OTHON
Maria das Graças Pinto COELHO
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN.......................................................949
ESTRATÉGIAS DE PUBLICIZAÇÃO DE STARTUPS NO SITE DE INVESTIMENTO
COLETIVO CATARSE.ME
Eduardo Manente BATISTA
Walfredo Ribeiro de CAMPOS JUNIOR
Escola Superior de Propaganda e Marketing, São Paulo, SP...................................................963
FANDOM: A PROSSUMERIZAÇÃO ARTICULADA PELOS FÃS
Bruna Seibert Motta
Ramon Queiroz Marlet
Universidade de São Paulo........................................................................................................973
GT 2 – PROPAGANDA E TERNDÊNCIAS
MESA 3 - COORDENAÇÃO: PROF. DR. ENEUS TRINDADE (ECA USP)
A PROMESSA DE CO-AUTORIA: A INTEGRAÇÃO DE CONTEÚDO GERADO POR
USUÁRIOS COMO ESTRATÉGIA DE ENGAJAMENTO E CIRCULAÇÃO NO
AMBIENTE DIGITAL
André Bomfim dos SANTOS
Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA..........................................................................985
ARMADILHAS DE MARCAS: MANIFESTAÇÕES DA MARCA, PROSUMERS E AS
MEDIAÇÕES NA CONTEMPORANEIDADE
Lucimara RETT
Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ.............................................................................999
ANÁLISE DA PEÇA PUBLICITÁRIA JOURNEY, LOUIS VUITTON, COM
CATHERINE DENEUVE, SOB O PRISMA DA SEMIÓTICA
Carolina Boari CARACIOLA...................................................................................................1011
PUBLICIDADE E INFÂNCIA: DESAFIOS DE UMA PESQUISA
Danuta LEÃO
Universidade da Amazônia e Faculdade de Estudos Avançados do Pará, Belém, PA............1026
MORALIZAÇÃO DOS ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS NO BRASIL? CULTURA E
REPRESENTAÇÃO NA SOCIEDADE
Caroline De Franceschi Brum
Centro Universitário Franciscano...........................................................................................1039
A MÍDIA E O IMPACTO DOS PERSONAGENS INFANTIS: AS CRIANÇAS NA
ORDEM DO CONSUMO.
Kátia Balduíno de Souza
Magno Medeiros
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.............................................................................1053
11
12
Victor Aquino
Universidade de São Paulo......................................................................................................1203
A ADOÇÃO DE PRÁTICAS INOVADORAS EM METODOLOGIA DO ENSINO DE
PUBLICIDADE E PROPAGANDA
João Antônio GOMES PEREIRA
Universidade Federal do Pampa, São Borja, RS.....................................................................1210
MAPEAMENTO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DOS ENCONTROS ANUAIS DA
PROPESQ-PP (2010 A 2014)
Sergio dos Santos CLEMENTE JÚNIOR
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.............................................................................1225
SUSTENTABILIDADE E PRÁTICAS NO ENSINO DA PROPAGANDA: EDUCANDO
PARA A ECONOMA CRIATIVA, SUSTENTÁVEL E DE FORTES LEGISLAÇÕES
Decio Ferreira FORNI
Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, São Paulo, SP..........................................1241
O EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA NO CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA:
DESAFIOS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO
Isabela Wippich Jorge NOCETTI
Universidade Católica de Santos, Santos, SP..........................................................................1254
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DO PUBLICITÁRIO
Iris Tomita
UNICENTRO – Universidade Estadual do Centro-Oeste.......................................................1267
GT 5 – PROPAGANDA E MERCADO
MESA 1 - COORDENAÇÃO: PROF. DR. SILVIO KOITI SATO (FAAP)
A MARCA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO
Alhen Rubens Silveira Damasceno
Universidade de São Paulo......................................................................................................1277
PUBLICIDADE TRADICIONAL E ALTERNATIVA: UMA PROPOSTA DE
COMPREENSÃO A PARTIR DO CONTEXTO
Camila Pereira MORALES
Centro Universitário Uniritter, Porto Alegre, RS....................................................................1286
DIAGNÓSTICO DA COMUNICAÇÃO MERCADOLÓGICA TRANSCULTURAL DE
EMPRESAS BRASILEIRAS INTERNACIONALIZADAS: AS APLICAÇÕES DE UM
BANCO DE DADOS
Renato Rodrigues Martins
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR.................................................................1300
A COR NOS ELEMENTOS DE IDENTIDADE DE MARCA: APRENDIZADOS SOBRE
A UTILIZAÇÃO DE CORES NO DESIGN DE MARCAS BRASILEIRAS
Flavia Igliori GONSALES
Escola de Comunicação e Artes – Universidade de São Paulo, São Paulo
Sandra SOUZA
Escola de Comunicação e Artes – Universidade de São Paulo, São Paulo............................1315
PLANEJAMENTO EFICAZ DE COMUNICAÇÃO DE MARKETING NO AMBIENTE
DIGITAL
Eliseu Vieira Machado Júnior
Gabriel Bomtempo dos Reis
Marina Roriz Rizzo Lousa da Cunha
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás.....................................................................1330
PUBLICIDADE DE MARCAS DE TELEFONIA MÓVEL: ENCANTAMENTO,
APRENDIZAGEM E NATURALIZAÇÃO
Silvio Koiti SATO
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.............................................................................1345
RELIGIOSIDADE E GERAÇÃO DE SENTIDO: UM ESTUDO SOBRE AS
FOTOGRAFIAS DA CAMPANHA STOP DREAMING DA HARLEY DAVIDSON
Rosana Aparecida Reineri UNFRIED
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APRESENTAÇÃO
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sessões simultâneas dos Gts. Fica evidente o crescimento do evento. Ver (PEREZ e
TRINDADE, 2012).
Em 2013 (22 a 24 de maio), no IV Pró-Pesq PP, o evento obteve o
reconhecimento institucional com financiamento do CAPES, da FAPESP e da Pró-
Reitoria de Cultura e Extensão da USP, mostrando-se forte e demarcando no campo
comunicacional do Brasil o seu espaço como lugar privilegiado das reflexões acerca da
comunicação publicitária, propaganda, mídias e consumo, atraindo a presença de
pesquisadores doutores de todas as regiões do país. O evento ainda contou com
representantes da Espanha, Portugal, Chile, Colômbia e Argentina. Foram 153 inscritos
de todas as regiões do País. Os Estados representados foram: PA, CE, RN, PE, GO, DF,
MG, ES, RJ, SP, PR, SC, RS. Entre autores e coautores dos trabalhos, não
necessariamente inscritos no evento, registramos: 141 autores ou coautores
(doutorandos, mestres, mestrandos, especialistas, graduados e graduandos) e 92
trabalhos com autores ou coautores doutores. Isso institui o caráter de encontro que
valoriza a pesquisa na área. A publicação em e-book conta com 149 trabalhos. Trata-se
da maior publicação nacional de trabalhos na área publicitária. Ver (PEREZ e
TRINDADE, 2013).
No V Pró-Pesq PP (21 a 23/05/2014), resgistramos que o evento conquistou
maturidade e regularidade, oferecendo tempo para discussão qualificada dos trabalhos
em todas as suas atividades. A 5ª edição do evento foi executada com apoios CAPES,
FAPESP e Cultura e Extensão da USP também fica evidente que o evento existe para
discutir pesquisas, uma vez que, praticamente todos os seus participantes apresentam
algum trabalho, fruto de uma pesquisa. No Pré-Evento tivemos o II Colóquio de
Graduação em Publicidade: dilemas e perspectivas com a discussão - Por uma
epistemologia do Currículo em Publicidade e Propaganda com 4 trabalhos. Ainda no
Pré-evento – tivemos uma homenagem ao Centenário da Morte de Charles Sanders
Peirce: a semiótica e suas possibilidades à investigação da Comunicação Públicitária
com 3 trabalhos com importantes pesquisadores especialistas no autor (Lúcia Santaella,
Júlio Pinto e Maria Ogécia Drigo). Durante o evento em si, como sempre, houve as
conferências internacionais principais: 02 - uma do Canadá e uma de Portugal.
Realizamos o lançamento de 06 títulos de livros de autores ou co-autores participantes
do evento. Também realizamos o II Colóquio de pesquisadores em Publicidade e
Propaganda com 5 mesas, 26 trabalhos e de 30 dos principais pesquisadores da área de
publicidade, com representantes todas as regiões do país e docentes estrangeiros do
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Chile, Portugal e Espanha. Foram 10 trabalhos exibidos como pôsteres de trabalhos com
alunos de graduação; 12 sessões e 81 trabalhos de GTs. Números de autores: 185;
Número de inscritos: 156; número de pesquisadores participantes 40; 99 Pós-
graduandos e profissionais participantes; 17 alunos graduação participantes.
Por fim, em 2015, na busca de atender as decisões das reuniões dos sócios da
ABP2 em 2012 e 2013, o Evento VI Pró-Pesq PP (27 a 29/05 de 2015) manteve seu
formato (Pré –evento - III Colóquio de Graduação em Publicidade e Propaganda:
dilemas e perspectivas; Conferênicas de abertura e encerramento – ao menos
uma internacional e outra nacional; III Colóquio de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda com 5 mesas, apresentações de trabalhos com até 12 sessões de 5 GTs e
apresentações em Pôster para trabalhos com alunos de graduação ). Foram 2 as
conferêncais internacionais – com a participação da Profa. Dra. Karine Berthelot-Guiet
da CELSA, Université de Paris-Sorbonne, França e do Prof. Dr. Juan Benavides da
Universidad Complutense de Madrid, Epanha – e conferências 4 nacionais. Ao todo
foram 82 trabalhos apresentados em GTs e 18 pôsteres. Todos os trabalhos de GTs,
pôsteres e conferências estão publicados na íntegra no e-book do evento. A conferência
de encerramento contou com a presença do diretor de comunicação da Globo, Sérgio
Valente, vislumbrando a perspectiva de um profissional de mercado na proposta
acadêmica do evento.
Entre os principais objetivos alcançados com a realização das seis edições do
evento registramos: O fato de o que o encontro contribui para a consolidação da
Associação Brasileira de Pesquisadores em Publicidade (ABP2); Colocou a ECA/USP
como instituição aglutinadora de pesquisadores de referência na área da Comunicação
em Propaganda e Publicidade: mercado e consumo; Discute a formação de
pesquisadores e os campos de atuação desses profissionais no cenário acadêmico
Brasileiro; Valoriza institucionalmente as ações de pesquisa na área da Comunicação
em Propaganda e Publicidade, mercado e consumo; Promove a discussão científica em
torno da Comunicação em Propaganda e Publicidade, mercado e consumo; Conquista
conquista de estabilização das dimensões do evento, garantindo a qualidade na seleção
dos trabalhos.
O evento, agora na sua sexta edição, tem correspondido a um desejo coletivo de
seus participantes que consiste na criação e consolidação da ABP2. Pode-se afirmar que
esta iniciativa foi um marco na história do campo comunicacional, com foco nos
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Os organizadores.
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Referências
Os e-books do Pró-Pesq PP – Encontro Nacional de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda 2010 e 2011, 2012, 2013, 2014 site www.eca.usp.br/propesq.
BARBOSA,I.S; TRINDADE, E. Momento crítico da publicidade e Propaganda:
avanços, retrocessos e perspectivas. In Anais. Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação – INTERCOM. Belo Horizonte: PUC- Minas Gerais. 2003. NP –
Publicidade e Propaganda.
TRINDADE, E. Caminhos para pensar a formação docente em Publicidade e
Propaganda. In AQUINO, V. A USP e a invenção da propaganda. 40 anos depois. São
Paulo: FUNDAC. 2010. P. 105-118.
BOURDIEU, P. O campo científico. In ORTIZ, R. (org). Pierre Bourdieu. São Paulo.
Ática. 1983.p.137.
ROGERS. E. Diffusion of innovations. New York: Free Press. 1962.
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PROGRAMAÇÃO
27/05/2015
(Pré-Evento) III Colóquio de Graduação em Publicidade: dilemas e perspectivas
10h
14h
16h30 - Debates
17h - Encerramento
28/05/2015
VI Pró-Pesq PP - Encontro Nacional de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda - Sala Paulo Emílio - 2º andar prédio Principal da ECA/USP
8h - Credenciamento
9h - Abertura
9h30 le spectacle des marques, une culture publicitaire ? (O espetáculo das marcas,
uma cultura publicitária?)
Profa. Dra. Karine Berthelot-Guiet (CELSA - Université de Paris-Sorbonne -
França)
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12h Debates
12h30 Almoço
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18h - Reunião Anual da ABP2 - Sala Lupe Cotrim - 1º andar prédio Principal da
ECA/USP
Dia 29/05/2015
Exibição de pôsteres (todo o dia) no Prédio 3 CRP/ECA/USP
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12h30 - Almoço
18h - Encerramento
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INTRODUÇÃO
Os trabalhos que repercutem o grupo de pesquisa CNPq - Ensino Superior de Propaganda, no
qual corresponde à ampliação das pesquisas iniciais levantadas por Hansen (2010) foram fundamentais
para as reflexões teóricas que se desenvolvem nesse artigo. Com vistas a entender e qualificar algumas
experiências pedagógicas no ensino de criação publicitária; em particular, esse trabalho é decorrente de
um extenso processo de revisão metodológicas apropriadas também pela experiência do autor, na sua
maneira de pensar, planejar e ensinar criação publicitária.
Em linhas gerais, o reflexo desta pesquisa trás como objetivo central apresentar alguns níveis de
complexidade que englobam as práticas pedagógicas no ensino de criação publicitária e que perpassam
pela experiência como docente, na orientação, acompanhamento e articulação pedagógica frente às
diferentes faces do ensino, quer seja na sala de aula, ou no campo de observação pelo contato com outros
professores e profissionais de criação.
Nesse contexto, o corpus deste trabalho, além de analisar criticamente as práticas pedagógicas
busca apresentar uma revisão de literatura sob o qual se projeta algumas percepções teóricas que parecem
ser relevantes para o ensino de criação; onde se ancora os preceitos descritos por Santrock (2004), John
Dacey (1999) e Sternberg e Lubart (1999), que são igualmente importantes para repensar a base da
formação docente para a área de criação.
Na tentativa de apontar alguns processos metodológicos inovadores e provavelmente adaptáveis
às condições atuais do ensino superior em publicidade, busca-se revisitar algumas proposições práticas
referentes ao ensino de criação, como prescrevem (PETERMANN, HANSEN, CORREA, 2013), no
1 Trabalho apresentado no III Colóquio de Graduação em Publicidade: dilemas e perspectivas - Questões
do Ensino em Publicidade e Propaganda. VI PROPESQ: Encontro Nacional de Pesquisadores em
Publicidade
2
Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, professor do Departamento de Comunicação Social
da UFPE e docente nas disciplinas de Criação Publicitária I e II do Curso de Publicidade e Propaganda.
Email: rodrigocorrea.ufpe@gmail.com
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sentido que pensar o ensino é rever as metodologias que organizam as práticas em sala de aula, os modos
de estruturação das aulas e os papéis que ali se estabelecem obedecendo aos lugares de
institucionalização.
Parte desse estudo ressalta as reflexões destacadas por Roque do Vale (2010), na sua pesquisa
sobre o desenvolvimento criativo dos alunos em artes visuais, que pela proximidade de campo, coloca em
perspectiva o ensino e a criatividade bem como o papel do professor amparado pelos teóricos do estudo
da criatividade. É importante ressaltar, sobretudo, que o tencionamento do aporte teórico, de partida, teve
como predisposição encontrar novas implicações sobre trabalhos de professores que não são da área de
publicidade, mas que se encontram no mesmo campo criativo e possivelmente com a mesma missão de
orientar estudantes para o ‘fazer criativo’.
Complementar aos ensinamentos das artes visuais destaca-se alguns apontamentos curiosos,
apresentados por Rui Weiner (2010) no que confere o processo criativo e sua relação análoga ao
movimento orgânico e cíclico, constantemente num estado transitório que se altera entre o estado da
ordem e o caos, a convergência e a divergência, o conforto e o desconforto. Por fim, considero
igualmente importante destacar algumas inclinações teóricas que coincidem com que foi posto,
descortinados por Oliveira & Oliveira (2009) em seu ensaio sobre ‘criatividade na visão do professor’,
sob a luz das teorias mais recentes de criatividade e pela abordagem de Sternberg e Lubart (1999), para os
quais a criatividade provém de seis fatores distintos que se inter-relacionam e não podem ser vistos
isoladamente (inteligência, estilos intelectuais, conhecimento, personalidade, motivação e contexto
ambiental).
27
Roberto Menna Barreto (2004) incita essa problemática criticando os procedimentos teóricos em sua
inutilidade e perigo que representam para quem quer realmente trabalhar como criativo, nas agências de
propaganda.
28
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31
algo novo, original e que seja útil ao indivíduo ou à sociedade, por este motivo tem de
estar sempre na mente de um designer (apud WEINER, p.18). Ao que compete o ensino
em publicidade, Sternber e Lubart (1999) ressaltam a importância de trabalhar a
criatividade em nível individual, tencionando o esforço criativo para a “resolução de
problemas no trabalho e do dia-a-dia”. A discussão teórica nos aproxima da necessidade
de pensarmos estratégias pedagógicas que busquem trabalhar em determinados
momentos da disciplina, a qualidade individual do discente, na perspectiva que ele
demonstre suas fragilidades e que o ensino atue a partir dessas fragilidades.
A construção do saber criativo, nesse contexto, transborda para o nível social e
permite novas descobertas científicas, novos movimentos na arte, a novas invenções e a
novos produtos publicitários. Quando o aluno é individualmente encorajado a criar, a
medida que comete seus primeiros erros passa a entender melhor suas limitações
cognitivas e daí, inicia-se um trabalho muito importante para a revisão dos seus próprios
conceitos e para o planejamento de suas competências.
Sternberg (1998) enfatiza ainda que o estudante deve entender que a criatividade é
uma tarefa que transborda para sua qualidade social, porque só assim ele vai ter real
interesse pelas competências criativas, uma vez que será capaz enxergar a qualidade
criativa muito além de um exercício publicitário. Esse pensamento é extremamente
coerente para o campo publicitário, porque muitas vezes há uma pequena porcentagem
de alunos que demonstram pretensão em trabalhar com criação publicitária, de modo
que a grande maioria se vê desmotivada em trabalhar essas competências criativas,
considerando que não se enxergam atuando nessa função.
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4. ASPECTOS CONCLUSIVOS
O princípio criativo e sua relação com que foi produzido neste artigo nos
colocam sob uma condição crítica para rever o papel na formação docente no ensino
superior de criação publicitária, especialmente porque o tema criatividade permitiu ser
trabalhado em níveis distintos, para que sejam minimamente analisados na sua
articulação com o conhecimento e para melhor convívio com os discentes. Ao que tudo
indica isso exige aplicação de métodos e técnicas que operacionalizem a utilização do
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REFERÊNCIAS
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RESUMO
Este texto apresenta uma análise da influência de emoções no processo criativo. O
estudo empírico está baseado na abordagem sistêmica da criatividade e considera como
a interação entre indivíduos e ambiente influencia a produção criativa. Foi realizado
com estudantes de uma faculdade privada, sendo esta etapa focada no curso de
Publicidade. Consiste numa tarefa de uso incomum de um objeto, usualmente aplicada
para tratar do pensamento divergente. Era esperado que os resultados mais criativos
envolvessem aspectos emocionais expressos por imagens e fossem motivadores.
1 – INTRODUÇÃO
Além de buscar conceituar criatividade ou mesmo compreender diferentes
conceituações, é importante tratar dos processos de criação, os quais envolvem
pensamentos e ações geradores de produções, ao mesmo tempo, novas e adaptadas
(LUBART, 2007). A abordagem desses processos pode permitir avanços nos estudos de
criatividade aplicados em domínios variáveis entre ensino, terapias e diferentes práticas
profissionais. Este texto tem como foco uma reflexão sobre a criatividade no ensino
superior, mais especificamente, de publicidade e propaganda, baseando-se na literatura
sobre criatividade aplicada à realização e à análise de um estudo empírico.
Principalmente na área de Psicologia vem se desenvolvendo a pesquisa em
criatividade, estando em constante aprimoramento ou adaptação os métodos
empregados para se ter acesso à criatividade individual e também os critérios para
julgamento de produções criativas (STORME et al, 2009). As pesquisas são comumente
baseadas em estudos pautados pela apresentação de uma tarefa a um grupo, com o
intuito de verificar a forma como cada sujeito elabora a solução para o problema
apresentado, assim como o produto final da solução. O resultado alcançado pode
expressar o pensamento divergente, entendido como “um processo que permite
pesquisar de uma maneira pluridimensional as numerosas ideias ou respostas a partir de
4
Trabalho a ser apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27/05/2013 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
5
Doutor em Psicologia pela UnB (2009), mestre em Comunicação Social pela UnB (2001) e bacharel em
Publicidade e Propaganda pela UnB (1997). Professor adjunto da Faculdade de Comunicação e do
Programa de Pós-graduação em Comunicação da UnB. Pesquisa sobre comunicação e criatividade.
asdru_bal@uol.com.br
38
39
2 – DETALHAMENTO
Partimos do pressuposto de que o processo criativo envolve um conjunto de
pensamentos e ações que levam a uma produção ao mesmo tempo nova e adaptada a um
determinado contexto (LUBART, 2007). Muito já foi discutido a respeito do mesmo,
desde o clássico modelo de 4 etapas, divididas em preparação, incubação, iluminação e
40
41
3 – MÉTODO
3.1 – PARTICIPANTES
A amostra era integrada por estudantes dos cursos de Arquitetura, Desenho
Industrial, Moda, Cinema e Publicidade da FAAP. Inicialmente, totalizava 200
estudantes, mas como a turma de Arquitetura foi desconsiderada, por razões
mencionadas a seguir, este total passou para 160. A idade média deles era 18,1 anos,
matriculados no primeiro semestre de cada curso e divididos em turmas de
aproximadamente 40 integrantes, cada uma conduzida durante um dia da semana,
conforme a sequência de cursos mencionada, de segunda a sexta-feira. Da amostra total,
todos participaram da atividade proposta em sala de aula, mas apenas 34 se dispuseram
a participar da pesquisa e destes, 31 responderam aos instrumentos, sendo 08 alunos do
curso de Publicidade. A participação era voluntária e o projeto foi aprovado pelo
Comitê de Ética na Pesquisa – CEP, sob o protocolo de número 32630014.7.0000.5540.
3.2 – MATERIAIS
Foi necessário adquirir sacos de papel pardo e folhas de papel em branco para
desenho, sendo que lápis de cor e materiais similares para desenhar e colorir estavam
disponíveis nas salas de aula e eram levados pelos estudantes. Ao final da atividade,
também foi necessário entregar para cada um uma pasta plástica com a explicação da
42
3.3 – PROCEDIMENTO
Os 5 minutos iniciais do horário da aula ministrada no curso de Publicidade, que
começava às 13h50 e terminava às 15h30, foram ocupados pela apresentação do
professor Asdrúbal Borges, acompanhada por uma conversa entre a professora Stela
Maris e os alunos, com o intuito de envolvê-los e sensibilizá-los, e também com a
realização de uma articulação entre o conteúdo da disciplina e a atividade do dia.
Os 20 minutos seguintes foram ocupados pela proposição da tarefa, que
começava com a distribuição dos sacos vazios e ainda planos, seguida pela pergunta: “O
que você guardaria neste saco?”. Aos poucos, ocorria um direcionamento para a geração
de ideias e, caso possível, agrupamento das mesmas em categorias, para depois haver
seleção e apresentação das mais originais. Durante esta parte do processo, além de
indicar, por exemplo, que a solução não precisa caber no saco, é importante responder
às perguntas dos alunos, procurando incentivá-los a enfrentar inibidores. As perguntas
contemplavam desde o tipo de elemento a ser guardado e à finalidade de guardar algum
escolhido até a transformação do saco.
Os 30 minutos seguintes foram ocupados pela segunda etapa da atividade,
iniciada pela proposta de transformar o saco em algo capaz de guardar o que foi
escolhido por cada um. Esta etapa, portanto, é focada também em elaboração e sua
avaliação deve considerar, entre outros fatores, o diferencial e, de certo modo, a
viabilidade da ideia. No decorrer dela perguntas também eram respondidas, pois na
tentativa de transformar o saco em outro recipiente, surgiam dúvidas relacionadas, por
exemplo, com a originalidade do novo recipiente. Diante das questões, cada professor
tentava, individualmente ou interagindo com o colega, direcionar o trabalho do
participante por meio de um diálogo, cabendo considerarmos que nem sempre o
resultado imediato é favorável. Muitas vezes, é necessário fazer uma série de perguntas
para o aluno refletir sobre o encaminhamento da própria produção entre o jogo da
novidade – considerando o que a invenção tem de original e pode contribuir para a
43
4 – RESULTADOS
Das respostas para a 1ª etapa, na turma de Publicidade, destacamos “casquinha
para guardar churros” como aquela que apresenta um grau mínimo de inovação
decorrente de uma pequena mudança na forma, na função e no nome do objeto inicial,
assim como da inclusão de pauzinhos para manter o doce em pé. Já “saúde”, “risadas” e
“infinito” poderiam ser destacados como aqueles que apresentariam um grau elevado de
inovação se considerarmos o elemento a ser guardado e a complexidade de selecionar
imagens suficientemente dotadas de comunicabilidade para representar alguns.
Entretanto, o grau de inovação foi intermediário, pois os autores das respostas pouco
avançaram na transformação do saco em outro produto ou mesmo na criação de um
mecanismo capaz de guardar o elemento abstrato escolhido. Tal abstração tem um nível
elevadíssimo quando se trata de “infinito” como conceito, entretanto, o potencial caráter
inovador não foi conduzido até o fim do processo de criação relacionado com a tarefa.
No desenho apresentado, a participante demonstra querer guardar muitas coisas, o que a
tornaria divergente diante dos colegas que escolheram uma única, mas ela fugiu dos
propósitos da tarefa. Cabe apenas destacarmos o fato de a maioria das muitas coisas ser
positiva ou relacionada com emoções positivas e de, entre elas, encontrarem-se as
línguas portuguesa, inglesa e alemã, respostas originais – mas difusas e também
complexas no sentido de se buscar imagens correspondentes – não apenas no contexto
da turma de Publicidade. Também constam muitos números e sinais indicativos de
operações matemáticas, mas estes não fazem muito sentido para o leitor e, desta forma,
caracterizam a falta de comunicabilidade da ideia. Portanto, o potencial de abstração de
44
5 – DISCUSSÃO
Nesta seção, tratamos especificamente das respostas “amizades” e “sonhos”, que
apresentam um grau elevado de inovação.
Uma participante da turma optou por guardar amizades. Depois transformou o
saco numa sala cujo controle remoto abriria portas para compartimentos onde as
lembranças de cada amizade estariam guardadas, sendo que cada porta representaria
uma amizade. A sala, bem descrita verbalmente e representada por imagens facilmente
codificáveis, poderia existir no mundo mental ou no físico e apenas o “dono” destas
amizades teria acesso a elas. Possivelmente, a presença de um controle remoto –
desenhado na folha de respostas – está relacionada com o contexto do curso de
Publicidade e da área de Comunicação Social, em geral, ao apontar para a televisão ou
para aparelhos correlacionados, e também ao pressupor escolha e interatividade. Porém,
o controle remoto foi empregado com um fim bastante simbólico também em outro
sentido, pois capaz de tornar viável escolhas motivadas por fatores de âmbito
predominantemente afetivos.
Outra participante optou por guardar sonhos, tendo transformado o saco num
concretizador de sonhos, uma máquina com dispositivo ligado ao cérebro para ler o
sonho das pessoas e produzi-lo. Até esta etapa do processo de criação a participante
pensou apenas em sonhos físicos, em produtos concretos traduzido em imagens literais,
escolha capaz de indicar o estilo cognitivo e de personalidade da participante ou talvez a
forma como ela – ainda no primeiro semestre – percebe a atividade publicitária. Porém,
como não é possível afirmar que isso faz parte da biografia dela, também é possível que
a produção seja fruto de um estado emocional momentâneo.
Em síntese, a sala criada para se ter acesso a amizades e o mecanismo criado
para se concretizar sonhos são mediadores de novos significados determinados pelo que
é lembrado – memória – e pelo que é emocionalmente marcado pelo menos no
momento, inicialmente, para as participantes e, em seguida, para os juízes – professores
45
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre os estudantes de Publicidade, foi recorrente tanto a expressão de emoções
dos autores, integrante de respostas que contemplam amizades e sonhos, totalizando
duas de 8; quanto a chance de o usuário expressar suas emoções ao utilizar os produtos
e, muitas vezes, poder compartilhar – ainda que consigo ou com um autor desconhecido
– escolhas relacionadas com amizades e sonhos. Trata-se, portanto, de produtos
emocionalmente customizados ou customizáveis, caracterizando flexibilidade e
adaptação dos produtos criados para além de um único padrão e, possivelmente,
denotando características de estudantes de Publicidade no que diz respeito à importância
do julgamento e das escolhas do consumidor. Além disso, pudemos observar uma
chance de atuação criadora ou criativa do próprio usuário do produto. Este processo de
usufruto se assemelha ao do software livre, que se torna atraente para o usuário não
apenas por ser gratuito, mas por permitir que ele adapte o produto às suas necessidades
e nele possa interferir, sendo a chance de atuação cocriadora um importante motivador
para os usuários.
Diante da referida interação mediada pelo produto, podemos afirmar que, após
transformar o familiar em não familiar ou divergir para escolher o que guardar no saco,
o criador pode ser motivado pela expressão ou partilha de suas emoções para criar um
novo produto, na etapa seguinte. Nesta, seu processo criativo trabalhará no sentido
inverso, ou seja, de transformar o não familiar em familiar ou convergir, pois, mais
ainda do que na primeira etapa, ele deve se preocupar com a comunicabilidade da ideia
e a aceitação do produto. Como apenas alguns dos jovens pesquisados se preocuparam
mais com a “mágica” que o produto pudesse fazer do que com a tecnologia que a
propiciasse, é possível afirmarmos, com base em Henessey e Amabile (2011 [1989]),
46
que o exercício da imaginação não foi percebido positivamente entre muitos dos
estudantes de Publicidade e, consequentemente, a tarefa pode não ter sido motivadora
para eles.
Entretanto, com exceção de Desenho Industrial, ainda não sabemos quais são as
particularidades dos demais cursos, ficando a comparação e o trabalho com a variável
curso, de uma forma geral, para uma etapa posterior. O mesmo se aplica à variável
gênero, sobre a qual não é possível tecer conclusões, pois dos 8 pesquisados, apenas 1
era homem, duas mulheres apresentaram uma resposta relevante e nenhum respondeu
ao diário. Se no caso dos estudantes de Desenho Industrial seria possível supor que
mulheres se interessam mais pelo diário, principalmente em se tratando de expressão de
sentimentos ou emoções, no caso do curso de Publicidade nem mesmo elas se
interessaram pela etapa referente ao diário. De qualquer forma, ainda falta analisar os
resultados dos cursos de Cinema e Moda e comparar a produção de toda a amostra para
tecer uma conclusão preliminar sobre a forma como o gênero pode determinar a
resposta.
Os resultados desta etapa, portanto, podem contribuir para o ensino de
Criatividade em Publicidade ao considerar formas como professores podem conduzir
atividades em sala de aula e tentar motivar os estudantes a lidar com inibidores; e
também formas de interação entre diferentes professores, ao conduzirem juntos
atividades. As contribuições podem ser importantes principalmente num contexto em
que tecnologias da informação e da comunicação – TICs contribuíram para a
modificação das relações entre professores e alunos, e para a adoção de um modelo
colaborativo de trabalho pelo menos em determinados momentos do ensino presencial,
e não apenas na disciplina Criatividade. Certamente, determinadas práticas já eram
adotadas, mas, no contexto tecnológico atual, elas passam a ser mais demandadas e
podem contribuir para a renovação do uso da sala de aula e para a motivação de ser
professor.
Talvez elaborações mais criteriosas como a do mecanismo para tornar possível
guardar elementos abstratos não tenham sido possíveis por falta de recursos como
acesso à internet – disponível apenas no computador do professor e nos dispositivos
móveis de muitos alunos, mas não de todos e nem todos que possuíam estavam
utilizando – e também por falta de mais tempo para pesquisar. Entretanto, isso seria
possível durante o período de aprimoramento do resultado da segunda etapa.
47
48
REFERÊNCIAS
49
RESUMO
Neste texto investigamos o fato de haver uma significativa discrepância entre o número
de homens e mulheres nos departamentos de criação de agências de publicidade. A
partir da hipótese da institucionalização do lugar do masculino e do feminino no mundo
do trabalho, especialmente nas agências, tal dado entra em rota de colisão com outro: a
distribuição paritária de homens e mulheres nas salas de aula do curso de graduação em
Publicidade e Propaganda. O eixo central da nossa proposta está na identificação de
mecanismos comunicativos, no âmbito do mercado publicitário e nas Instituições de
Ensino Superior, que legitimam a criação publicitária como espaço de atuação
masculino, configurando a divisão do trabalho por gênero e a reprodução da dominação
masculina no universo publicitário.
INTRODUÇÃO
Após a acusação de fazer apologia ao estupro em campanha de carnaval da Skol9,
a Ambev alterou as peças da polêmica campanha publicitária. Campanha da Risqué10
para promover a coleção de esmaltes denominada “homens que amamos” é criticada por
ser sexista ao abordar certas atitudes dos homens em relação às mulheres. Grupo de
Planejamento e Atendimento do Paraná (GPAPR) promoveu no dia 19 de março de
2015 o evento “Vamos falar sobre gênero na publicidade?”11. Na premiação do Oscar
2015, figuras públicas do sexo feminino, como as atrizes Emma Watson e Patricia
6
Trabalho apresentado no III Colóquio de Graduação em Publicidade: dilemas e perspectivas. Questões
do Ensino em Publicidade e Propaganda. VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em
Publicidade e Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
7
Docente no Departamento de Comunicação Social e no PPGCom da UFPR, e -mail:
fabiohansen@yahoo.com
8
Docente na ESPM Sul, e-mail:catiaschuhw@gmail.com
9
Skol irá trocar campanha após acusação de ‘apologia ao estupro’. Disponível em
<http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2015/02/acusada-de-apologia-ao-estupro-skol-
ira-trocar-frases-de-campanha.html>. Acesso em 17 de abril de 2015.
10
A Risqué e a falta de bom senso no marketing. Disponível em <http://exame.abril.com.br/rede-de-
blogs/branding-consumo-negocios/2015/03/25/a-risque-e-a-falta-de-bom-senso-no-marketing/>. Acesso
em 17 de abril de 2015.
11
Mais Mercado GPAPR. Vamos falar sobre gênero na Publicidade? Disponível em
<https://www.facebook.com/events/392828084224070>. Acesso em 21 de abril de 2015.
50
Arquette, se posicionaram sobre a pesquisa12 da New York Film Academy que mostra a
dominação masculina em todas as áreas do cinema, ressaltando o fato de existir poucas
mulheres na direção, no roteiro, na produção, na interpretação, ou seja, nas atividades
associadas à criatividade.
Essas são apenas algumas passagens recentes - todas de 2015 - que confirmam a
efervescência das questões de gênero na publicidade. Contudo, o enfoque ainda está
mais voltado à publicidade machista, quando o que nos importa, nos mobiliza e nos
ocupa nessa temática, desde 201313, é a perspectiva da institucionalização do trabalho
em criação publicitária como reduto masculino. Na academia a conjetura do machismo
na publicidade vem de mais tempo. Em 2009 a pesquisa14 “A mulher publicitária,
preconceito e espaço profissional: estudo sobre a atuação de mulheres na área de criação
em agências de comunicação em Curitiba” foi publicada nos Anais do XXXII
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
Todavia, a amplificação do debate aparenta ter alcançado o seu apogeu graças à
repercussão do projeto 65|1015 que discute o papel da mulher na publicidade, e a
visibilidade conquistada via divulgação pela Agência Pública da reportagem 16
“Machismo é a regra da casa”. Sinceramente, esperamos que esta não seja tão somente
mais uma pauta transitória, fruto da teoria do agendamento, mais conhecida como
agenda setting.
O projeto 65|10 é explicado nas palavras de sua idealizadora, Thaís Fabris17: “O
‘65’ vem do dado de uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão que aponta que 65% das
mulheres brasileiras não se identificam com a publicidade e com a forma com que são
retratadas pela publicidade. O número ‘10’ é de uma pesquisa que nós fizemos que
mostrou que apenas 10% dos criativos dentro das agências brasileiras são mulheres”.
Como professores da área de criação do curso de Publicidade e Propaganda, tais
percentuais nos inquietam muito. Observamos que ao ingressar na faculdade parte
significativa dos estudantes parece seduzida pela área de criação. Entretanto, no
12
Mulheres ainda são minoria em Hollywood à frente e atrás das câmeras, diz estudo. Disponível em
<http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-104632>. Acesso em 20 de abril de 2015.
13
WEIZENMANN, C. S.; HANSEN, F.
14
MACHADO, C. M.; PERIPOLLI, J. C.; MARQUES, M. E. F.
15
Comunidade 65|10. Disponível em <https://www.facebook.com/meiacincodez>. Acesso em 20 de abril
de 2015.
16
Machismo é a regra da casa. Disponível em <http://apublica.org/2015/03/machismo-e-a-regra-da-casa>.
Acesso em 20 de abril de 2015.
17
Machismo é a regra da casa. Disponível em <http://apublica.org/2015/03/machismo-e-a-regra-da-casa>.
Acesso em 20 de abril de 2015.
51
decorrer dos semestres, esse interesse perde intensidade, especialmente entre o público
feminino, que se torna minoria nas disciplinas do campo de criação publicitária – na
ESPM Sul, instituição de ensino pesquisada, o estudante, na metade do curso, pode
optar pela linha de estudo que quer seguir, voltada à criação ou à gestão. Este dado é
ratificado pelo mercado, quando meios especializados apontam que as mulheres
respondem por apenas 3% das vagas ligadas ao departamento de criação no mundo todo
(RIBEIRO, 2011).
Embora a literatura sobre o papel feminino contemporâneo aviste uma igualdade
de gênero, outra vertente significativa da literatura sustenta uma forma hegemônica de
dominação nas questões de gênero, não identificando efetivamente equidade entre as
condições do homem e as condições da mulher. Sob este ângulo, não causa estranheza a
mulher ser colocada à margem das práticas publicitárias criativas. Ambicionamos, em
um ambiente de profundos questionamentos, oferecer elementos que auxiliem na
compreensão dos porquês da reprodução da superioridade e da dominação masculina no
mundo do trabalho publicitário, em especial no trabalho em criação publicitária.
Para tanto, é fundamental tratar de maneira relacional o masculino e o feminino,
denunciando o erro que é determinar os sujeitos pelo sexo. A fim de investigar as
dinâmicas das relações de gênero, apoiamo-nos em uma análise bibliográfica e
documental, respaldada, sobretudo, por dados empíricos. Nesse trabalho de campo,
coletamos informações junto a ESPM Sul que refletem o ingresso de estudantes em um
período de quatro anos (2009-2012). Outra parte resulta de um questionário aplicado a
dezoito agências18 de Porto Alegre para mapear o número de profissionais de suas
principais áreas (atendimento, criação e mídia). Esta pesquisa ocorreu no segundo
semestre de 2013. Conseguimos contemplar agências tradicionais no mercado
publicitário gaúcho, alcançando as mais relevantes agências de publicidade da capital
do estado do Rio Grande do Sul. O resultado da pesquisa, articulado com a teoria, tem
por objetivo verificar a distribuição por gênero na criação publicitária, para tentar
compreender a divisão desigual entres eles. Em síntese, pretendemos examinar como se
configura a institucionalização da criação publicitária, no âmbito das agências e também
das Instituições de Ensino Superior, analisando possíveis causas do afastamento das
mulheres da área que corresponde à essência da atividade publicitária.
18
Preservaremos a identidade das agências consultadas, respeitando os princípios de anonimato,
veracidade e responsabilidade científica.
52
53
O projeto Pink & Blue evidencia a esmagadora presença de objetos de cor rosa
para as meninas e de cor azul para os meninos, auxiliando no esclarecimento dos modos
de construir uma representação normativa de gênero. A ditadura do azul e a ditadura do
rosa reforçam a noção - engessada - de que homens e mulheres são determinados no
nascimento, tendo seus modos de agir programados socialmente a partir da definição
biológica do sexo. Sem dúvida, a publicidade contribui no estabelecimento de um
código de conduta para o corpo entendido como masculino ou como feminino a partir
da escolha de cores. É como se as crianças nascessem codificadas para associar azul
para meninos e rosa para as meninas.
Um exemplo recente, da Páscoa de 2015, é o da Lacta (figura 2). A marca decidiu,
por meio das universalmente populares Barbie e Hello Kitty, que brincar de boneca é
unicamente para meninas, impondo, por extensão, que só meninos podem gostar de
carrinhos e super-heróis. Atos como este podem formar uma sociedade, tendo como
consequência uma “formação estereotipada das representações de gênero, para a qual,
homens precisam usar a cor azul na infância e quando adultos precisam responder a um
conjunto de responsabilidades ditas masculinas, ligadas à autoridade” (KELLER;
CASTILHOS DE ARAÚJO, 2014, p. 7).
54
Foto: Patrícia Paiva. Quartinho da Dany. Post divulgado no Facebook em 14 de março de 2015.
Disponível em <https://www.facebook.com/quartinhodadany>. Acesso em 21 de abril de 2015.
Isso se revela também nas práticas e relações cotidianas nas quais nos
abastecemos de significações. O tratamento destinado pelos familiares (pais, avós,
padrinhos, tios etc) às crianças é uma dessas situações. Basta observar, por alguns
instantes, o tom de voz. Às meninas impera o diminutivo (“queridinha do papai”, a
“lindinha da mamãe”), com uma inflexão meiga e delicada. Aos meninos prevalece o
superlativo (“o amigão do papai”, “o bonitão da mamãe”), com uma entonação forte,
rude, bruta. A mesma desigualdade é notada no tipo de brincadeira. Aos meninos é
permitido brincar na rua, com bola e carrinho. Ou mesmo sem brinquedo algum,
deixando por conta da imaginação a criação de amigos fictícios e de brinquedos
“fabricados” com algum artefato disponível no ambiente público. Já as meninas
brincam de casinha e com bonecas na esfera privada, na segurança do lar. Por outras
palavras, notamos que o discurso social de que as mulheres não servem para
determinadas profissões “por serem muito frágeis e fracas, é típico da construção
hierárquica desigual da sociedade, que surge de seus tempos mais remotos”
(MACHADO; PERIPOLLI; MARQUES, 2009, p. 12).
Naturalmente, o processo de padronização exclui a pluralidade, real ou simbólica.
No entanto, a promoção de uma quebra a essa regularidade, rompendo com um cenário
cultural uniforme, ocorre sim, ainda que não seja a regra. Reportagem19 publicada pela
revista Exame (2014) destaca a tentativa sueca de combate aos estereótipos de gênero.
19
Marca sueca cria brinquedos que quebram estereótipos. Disponível em
<http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/marca-sueca-cria-brinquedos-que-desafiam-estereotipos>.
Acesso em 18 de abril de 2015.
55
Disponível em <http://www.hypeness.com.br/2014/02/para-acabar-com-estereotipos-cadeia-de-
brinquedos-sueca-cria-catalogos-de-genero-neutro>. Acesso em 18 de abril de 2015.
20
Em webfilme, Klin chama atenção para a questão das mulheres no trabalho. Disponível em
<http://www.proxxima.com.br/home/criacao/2015/03/09/Em-webfilme-Klin-chama-aten--o-para-a-
questao-das-mulheres-no-trabalho.html>. Acesso em 18 de abril de 2015.
56
57
58
Essa breve explanação em torno dos conceitos nos auxilia na abordagem dos
mecanismos de institucionalização e legitimação da criação publicitária como espaço
masculino de atuação, podendo nos ajudar no entendimento de qual o espaço destinado
ao feminino. Desta forma, começamos a conjecturar que a academia é uma das
estruturas e dos ambientes institucionalizados que sustentam as práticas e igualmente
são responsáveis pelo gênero.
A partir da sentença de Bourdieu (2007) de que as estruturas orientam as práticas,
pressupomos que os modos de fazer na atividade publicitária se perpetuam via academia.
Por isso, os números levantados junto à graduação em Publicidade e Propaganda na
ESPM Sul confirmaram a nossa suposição ao mostrar que nos anos 2011 e 2012, 39%
das alunas optaram pela área de criação – como dito anteriormente, na ESPM os
estudantes optam pela linha de gestão ou de criação a partir da metade do curso. Esse
percentual já foi menor: apenas 20% em 2009 e 2010. Não devemos ignorar essa
diferença, embora pequena, nos números. Quem sabe localizamos aqui um alento que,
somado ao fato de a brasileira Joanna Monteiro, vice-presidente de criação da agência
FCB Brasil, ter sido eleita21 em 2014 a mulher mais criativa do mundo no ramo da
publicidade, aponte, ainda que timidamente, para um movimento de transformação e
não conformação aos papéis sociais predeterminados, trazendo, a reboque, mais
mulheres à criação.
Os dados coletados na ESPM Sul - as universitárias representaram 50% das
estudantes de Publicidade e Propaganda entre 2009 e 2012 - comprovam que as
mulheres aderem à profissão de publicitárias. As informações trazidas por Carla
Purcino22, gerente de planejamento, convergem com a proporção por nós apresentada:
“Quando a gente olha para a representatividade feminina na publicidade percebe que é
praticamente 50%. Mas a distribuição dentro dos departamentos é muito diferente.
Entende-se que a criação é um reduto masculino e que a mulher é mais adequada para o
departamento de atendimento”.
Na hora do aprimoramento – ou seja, da ratificação da escolha da área de atuação
– os números se repetem: em pesquisa junto a Escola de Criação da ESPM Sul (curso de
aperfeiçoamento com duração de dois anos), apenas 32% dos matriculados entre os
21
Brasileira é eleita a mulher mais criativa do mundo no ramo da publicidade. Disponível em
<http://oglobo.globo.com/sociedade/midia/brasileira-eleita-mulher-mais-criativa-do-mundo-no-ramo-da-
publicidade-13604508#ixzz3Xr6r8H6Q>. Acesso em 19 de abril de 2015.
22
Machismo é a regra da casa. Disponível em <http://apublica.org/2015/03/machismo-e-a-regra-da-casa>.
Acesso em 20 de abril de 2015.
59
anos de 2009 a 2012 são mulheres. Estes números transcendem a esfera acadêmica,
perpetuando-se nos espaços das agências, como veremos mais à frente.
Sobre a instituição escolar, é o próprio Bourdieu (2007) quem afirma que ela tem
a função de transmitir aos sujeitos esquemas que são internalizados; isto é, se na
academia os homens dominam o espaço da criação, esta percepção - tanto para eles
quanto para elas – se refletirá na escolha da atividade profissional. Assim a partir da
sinergia entre os dados coletados na ESPM Sul e em agências de Porto Alegre,
revelamos que a opção pela trilha profissional feita pelos jovens estudantes repercute no
mundo profissional, mas não deixa de derivar deste mesmo mundo – é uma estrutura
circular. Senão vejamos: se há menos mulheres na área de criação das agências de
publicidade, naturalmente isso reflete nas jovens estudantes que, possivelmente, não se
sentem estimuladas a ir para essa área, sustentando assim os números que mostram
haver poucas representantes femininas na criação publicitária. Dito de outra forma, a
academia se constitui em um dos mecanismos responsáveis pela institucionalização da
hegemonia masculina na criação publicitária.
Petermann (2011, p. 134) vem em nosso auxílio quando diz que “a academia se
mostra como lugar que constitui o habitus científico dos profissionais da criação [...] ali
o que se trata de ensinar é um modos operandi“, como diz Bourdieu (1998),
compartilhando e promovendo o modo de ser publicitário. Como o ensino em
publicidade surgiu após a implantação das práticas (PETERMANN, 2011), as
Instituições de Ensino Superior responsáveis pela formação dos profissionais da criação
publicitária parecem ser um lugar de manutenção das práticas vigentes no mundo do
trabalho publicitário. Na ordem cronológica apresentada por Petermann (2011), surgem
as práticas, os profissionais de propaganda, as agências como espaços demarcados, as
teorizações e as instituições de ensino.
É sobre os referenciais teóricos que cabe nos debruçarmos por um instante. As
teorias constituem modos de institucionalização de determinadas práticas, segundo o
conceito de institucionalização de Berger & Luckmann (2008). Petermann (2011, p.
136) observa ainda que “a linguagem, enquanto força de legitimação, atua de modo
definitivo quando se materializa em livros acadêmicos, constituindo assim um
referencial teórico, como um conjunto de sedimentações coletivas provenientes de um
determinado campo”, passíveis de serem transmitidas às gerações.
Diante disso, notamos, com base nas nossas leituras e vivência no magistério
superior, em especial na disciplina de Redação Publicitária, que os referenciais teóricos
60
61
depoimentos, reportagens especiais, redes sociais, livros. Desse modo, “os bastidores
são alçados ao primeiro plano – constituindo assim o espetáculo no qual o valor desse
trabalho se ritualiza, se mitifica no palco midiático” (CASAQUI; RIEGEL; BUDAG,
2011, p. 33).
Além dos autores dos livros que tratam de criação publicitária e que acabam
sendo utilizados como “bíblias” nos cursos de graduação (PETERMANN, 2011), não
podemos perder de vista os grandes e clássicos nomes da criação publicitária brasileira.
Na nossa concepção eles contribuem na institucionalização do trabalho em criação
publicitária como atividade masculina. Geralmente os profissionais mais conhecidos e
badalados são Nizan Guanaes, Washington Olivetto, Marcello Serpa, Fábio Fernandes,
Roberto Duailibi, Francesc Petit, José Zaragoza, Eugênio Mohalem, Celso Loducca,
Erh Ray entre outros. Para não dizer que não falamos de flores, vale referir Adriana
Cury, Christina Carvalho Pinto e Joanna Monteiro. Atentamos, uma vez mais, para o
fato de que parte significativa dos profissionais de criação publicitária reconhecidos por
seus pares são homens. Tantos vestígios nos fazem crer na probabilidade da formação
de um grupo mais ou menos homogêneo, bem como de modos de agir relativamente
homogeneizados. Bourdieu (1983) trata justamente da temática da homogeneidade e
harmonização que rege as práticas como resultado de uma incorporação histórica que
confere regularidade e tende a reproduzir sistemas de disposições semelhantes.
Trabalhamos ainda com a hipótese, no circuito estudantil, de um movimento
projetivo, no qual os iniciantes na profissão olham e se projetam a partir da
identificação com profissionais consolidados no mercado, isto é, seguem os passos dos
homens de sucesso. Neste caso, as mulheres encontram dificuldade para se espelhar em
uma referência feminina, dada a raridade deste gênero na criação publicitária.
Nas palavras de Casaqui; Riegel; Budag (2011, p. 72), “mídia e educação formal
se imbricam na formação do conhecimento sobre a profissão escolhida”, impactando na
“maneira como os sujeitos projetam-se e imaginam o futuro”. Ambas se configuram em
mecanismos de legitimação. Vale aqui evocar a figura do professor, produtor e
transmissor de significados às novas gerações. Um dos significados está estreitamente
vinculado ao eixo do nosso debate: gênero no mundo do trabalho publicitário, mais
particularmente a atuação feminina e masculina na atividade de criação publicitária.
Quando o estudante percebe que nas disciplinas de criação, redação publicitária e
direção de arte da ESPM Sul há cinco professores e somente uma professora,
possivelmente isso provocará nele algum efeito de sentido.
62
63
melhores profissionais do setor é habitada muito mais por homens: mais de 75% das
vagas de criação em agências de Porto Alegre/RS. Os números reunidos pela pesquisa23
realizada pelo projeto 65|10 são ainda mais alarmantes: apenas 10% dos profissionais
que trabalham nos departamentos de criação das agências brasileiras são mulheres.
É imperativo destacar que, mesmo com potenciais mudanças nas metodologias de
trabalho, reinventando procedimentos e provocando alterações nos modelos de agência,
a criação permanece como o elemento central da produção de valor na publicidade.
Petermann (2011, p. 180) confirma que o departamento de criação ocupa, no âmbito das
agências de publicidade, um espaço de destaque. “É como se esse espaço fosse o centro
em torno do qual orbitam os demais departamentos”. Os profissionais de outras áreas
como planejamento, atendimento e mídia não alcançam a mesma notoriedade dos
profissionais da criação. Desse modo, os profissionais de criação assumem um lugar de
alta relevância no fazer publicitário.
Ao elencar características do profissional da publicidade definidas a partir de
relatos dos próprios publicitários, Knoploch (1980, p. 44) menciona a criatividade e a
sensibilidade. Considerando especialmente os profissionais de criação, Petermann
(2011) acrescenta que eles necessitam possuir uma afinidade necessária com as questões
artísticas, além de possuir sensibilidade estética, comumente designada como “bom
gosto”.
Tomando por base os raciocínios dos autores supracitados, poderíamos presumir
que a mulher é o gênero adequado para o desempenho das atividades criativas na
publicidade, uma vez que sua imagem está ligada a sensibilidade ou aquilo que é
habitualmente chamado de intuição feminina (WITTER E CHEN, 2009). No entanto,
conforme demonstram os números, esta não é a realidade, pois apesar de comporem
52% do quadro de funcionários nas agências de Porto Alegre pesquisadas, apenas 24%
delas estão na criação.
Em rumo semelhante, outra pesquisa24 do projeto 65|10, desta feita com 100
alunos de uma das maiores escolas de publicidade de São Paulo, descobre que a relação
dos que dizem querer trabalhar na criação ao se formar é de 50% mulheres, 50%
homens. Então, interrogam as idealizadoras do projeto, “por que quando chegamos no
mercado de trabalho, o número vira 10%? Por que mulheres desistem ou não são
23
65|10. Post divulgado no Facebook em 12 de março de 2015. Disponível em
<https://www.facebook.com/meiacincodez>. Acesso em 20 de abril de 2015.
24
65|10. Post divulgado no Facebook em 12 de março de 2015. Disponível em
<https://www.facebook.com/meiacincodez>. Acesso em 20 de abril de 2015.
64
contratadas para o departamento de criação? Por que a criação tem poucas mulheres?”
No nosso entendimento, a despeito da discrepância indicada pelas pesquisas, das
características que avizinham o sexo feminino da criatividade e das artes, e de a mulher
ser de fato e literalmente a grande criadora, geradora e fértil, algumas circunstâncias
explicam o afastamento da criação publicitária.
Claramente, configura-se uma separação entre cada área de atuação: o
atendimento, a mídia, a criação. Knoploch (1980, p. 35) apresenta um depoimento de
um jovem publicitário que confirma a demarcação entre áreas de atuação: “Existe entre
nós uma formação de castas: o pessoal do atendimento [...] é separado do pessoal da
criação e arte, que é separada do pessoal da mídia”. Diante disso, cada área define
regras próprias de conduta, incorpora posições corporais, vestuários, dissemina modos
de fala que se tornam o cartão de visitas para a entrada e a possibilidade de conservação
naquele lugar (PETERMANN, 2011).
A fim de tornar mais concreto o nosso pensamento, recorremos a Machado;
Peripolli; Marques (2009, p. 10). Quanto ao discurso verbal, estes autores relatam que
“os assuntos e o vocabulário recheado de palavrões, além das brincadeiras, fazem com
que a mulher se veja obrigada a incorporar algumas maneiras masculinas para se
adaptar ao ambiente de trabalho”. Thaís Fabris25, diretora de criação e idealizadora do
projeto 65|10, diz que para se sentirem aceitas pelo grupo de trabalho muitas mulheres
também acabam se masculinizando. “É a maneira que encontram de preservar suas
carreiras. Emudecem e não questionam ou entram na lógica e reproduzem”, consentindo
com a própria submissão à dominação masculina na medida em que se conformam com
os valores da cultura patriarcal e machista da sociedade. Percebe-se, diante disso, que a
discriminação por parte do gênero masculino em relação ao feminino está tão enraizada
na profissão, que acaba sendo acatada como uma manifestação sociocultural natural
para as mulheres que trabalham dentro desses ambientes extremamente machistas.
Assim, as próprias mulheres reproduzem a dominação masculina. Simone de
Beauvoir já alertava para o fato de as mulheres “serem cúmplices de sua própria
opressão” (CHANTER, 2011, p. 17), proliferando, portanto, o poder simbólico, um
“poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não
querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem” (BOURDIEU, 1998, p.
7). Ao mencionar a cumplicidade, Bourdieu faz referência ao fato de o poder simbólico
25
Machismo é a regra da casa. Disponível em <http://apublica.org/2015/03/machismo-e-a-regra-da-casa>.
Acesso em 20 de abril de 2015.
65
ser velado, soando como algo inerente ao desenvolvimento social. E o poder simbólico,
ao edificar uma concepção homogênea do mundo, resulta no que Bourdieu (1989)
denomina de violência simbólica, um instrumento de dominação exercido pelas classes
dominantes com o objetivo de manter a ordem social e seus privilégios, além de fazer a
classe dominada aceitar e reconhecer como legítima a ideologia que lhe é imposta.
Aventamos, igualmente, que a dificuldade para encontrar mais mulheres na
criação em publicidade se deve a “percepção de rotinas profissionais que exigem a
produção em ritmo acelerado e a adaptação a certa precariedade ‘naturalizada’ das
condições de trabalho” (CASAQUI; RIEGEL; BUDAG, 2011, p. 48). O ritmo de
trabalho dos profissionais de criação associado à pressa e à falta de tempo, uma vez que
o trabalho em criação é marcado por pedidos urgentes e por prazos de entrega limitados,
auxilia na construção do estereótipo de sujeitos demasiadamente ocupados, com vida
profissional atribulada e repleta de tarefas, extrapolando as rotinas tradicionais a ponto
de passar as noites em claro e ainda assim não dar conta de executar todas as demandas,
tendo que levar trabalho para casa (PETERMANN, 2011). Em entrevista, a diretora de
criação da Y&R, Laura Esteves, chega a afirmar que o problema é o tempo que a função
exige: “a carga horária da criação assusta e isto dificulta a contratação de profissionais
do sexo feminino” (VALERIO, 2012, p. 23). O que estaria também de acordo com os
apontamentos de Machado; Peripolli; Marques (2009) que indicam como principais
fatores do número inferior de mulheres na área de criação a rotina estressante, a falta de
horários, a dificuldade de conciliar maternidade com o trabalho, o ritmo exaustivo que a
área impõe aos profissionais.
Madrugadas perdidas dentro da agência, falta de horário fixo de saída, stress,
prazos curtos, clientes nervosos, gravidez, respostas negativas constantes,
ambiente masculinizado e com brincadeiras de mau gosto fazem com que as
mulheres busquem outros setores das agências ao invés da criação
(MACHADO; PERIPOLLI; MARQUES, 2009, p. 11).
66
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os números levantados pela investigação empírica, somados aos dados
divulgados por periódicos (RIBEIRO, 2011) e pesquisas análogas, como a do mercado
publicitário de Curitiba (MACHADO; PERIPOLLI, MARQUES, 2009) e a do projeto
65|10 comprovam que a criação publicitária é dominada por homens. Se a atual situação
serve de espelho para as próximas gerações de publicitários, assim continuará sendo.
Em parte, como já referido, porque a criação ganha uma aura masculina. E em parte
também porque as rotinas intensas, exigentes e os horários estendidos da criação não
favorecem o dia-a-dia da mulher, que, como esposa, mãe ou dona de casa, desempenha
funções ligadas ao lar e o andamento da casa. Há ainda dados que abordam as
características do ambiente masculino que se forma na criação publicitária e que
supostamente afastariam as mulheres desta área: palavrões, gírias, agressividade,
incitação à pornografia (MACHADO; PERIPOLLI, MARQUES, 2009).
A hegemonia masculina na criação estabelece um ambiente favorável à reiteração
deste fato, à medida que o modelo masculino se conserva aceito no meio publicitário
socialmente estruturado, efeito de uma incorporação histórica. Por conseguinte, é
razoável que continue se repetindo, preservando cada gênero em seu papel social
estereotipado. Na institucionalização destes papéis, a universidade, enquanto lugar de
ensino e aprendizagem sobre a profissão, é uma das estruturas e dos ambientes
institucionalizados que legitimam a supremacia dos homens na criação publicitária.
Somamos a isso o fato de o campo da publicidade ser dominado por nomes masculinos
– autores, personalidades, personagens. Ou seja, de forma não deliberada, os cursos de
graduação em publicidade e propaganda consagram o imaginário do criativo-homem.
67
Consideramos que as circunstâncias suscitadas até aqui dão pistas para explicar o
afastamento feminino da área de criação publicitária. Por isso, agora que comprovamos
com dados empíricos que desde a graduação elas são minoria na criação publicitária,
queremos avançar, radiografando a dominação e as sutilezas da inter-relação entre os
gêneros para desvendar como se desenha a hierarquia e a decorrente subordinação. Para
tanto, é preciso compreender contextos e sujeitos, investindo em duas frentes, uma na
instância do sujeito e outra na instância institucional: 1) trajetórias discentes em
Publicidade - monitorar estudantes durante toda a graduação, acompanhando o seu
processo de formação por intermédio de relatos das histórias de vida que facultem a
construção de enunciados sobre suas formas de ser e estar no mundo e sobre suas
práticas sociais; 2) mirar nas agências, haja vista que uma parte chave do estudo das
masculinidades é estudar não somente os sujeitos, mas instituições nas quais as
masculinidades se encontram enraizadas.
Finalmente, alertamos que este texto não teve pretensão de expor soluções que
resolvam os problemas encontrados. Ao expandir o estudo da desigualdade de gênero
na criação publicitária para o espaço social, examinamos o entorno das práticas que a
(re)produzem, pois a prática não está descolada do mundo social. A institucionalização
da criação como espaço masculino é construída no decorrer do tempo, de forma
dinâmica, ou seja, não é imutável. Detectamos ao longo do texto iniciativas organizadas
para as mulheres deixarem de reproduzir a dominação masculina, rompendo com as
práticas sociais excludentes e com a perspectiva normativa que discorre sobre a
masculinidade como uma norma social. Em paralelo, localizamos ações que relativizam
e flexibilizam os papéis normativos de masculino e feminino, em uma constante
negociação com a ordem vigente. Dessa maneira, o intento foi revelar as contestações
ao atual cenário publicitário. Caso essa argumentação provoque novos debates, ela terá
cumprido nossa tarefa de pesquisar a ação e aquilo que realmente gera transformação na
vida das pessoas.
REFERÊNCIAS
BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. São Paulo: Vozes, 2008.
BOURDIEU, P. Sociologia. São Paulo: Ática, 1983.
____________. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
____________. Para uma sociologia da ciência. São Paulo: Edições 70, 2004.
____________. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva. 2007.
CHANTER, T. Gênero: conceitos-chave em filosofia. Porto Alegre: Armed, 2011
68
69
PALESTRAS DE ABERTURA
26
2005, Caroline de Montety, Magazines de marque : métamorphoses d’une promesse.
Thèse pour l’obtention du Doctorat, exemplaire dactylographié disponible à la bibliothèque du CELSA
70
ensuite par les deux autres chercheurs, est définie comme suit : tactique des annonceurs
qui vise à se démarquer des formes les plus reconnaissables de la publicité pour lui
substituer des formes de communication censées être plus discrètes : immixtion dans
des productions médiatiques préexistantes (parrainage télévisuel, placement de produits
au cinéma, à la télévision ou dans le jeu vidéo, etc.) ; imitation des formes médiatiques
27
néologisme datant de 2004, suite à l’analyse de l’adaptation des médias à la « pensée publicitaire » dans
la thèse de doctorat, Pour un contrat de lecture global, 2000, Celsa Paris-Sorbonne
28
2005, Caroline de Montety, Magazines de marque : métamorphoses d’une promesse.
Thèse pour l’obtention du Doctorat, exemplaire dactylographié disponible à la bibliothèque du Celsa,
position de thèse.
71
instituées (magazine de marque, programme court, web TV, série de marque, , etc.) ;
production de formes culturelles (film, livre de marque, jeu vidéo, musée, exposition,
etc.) ; mise en place de dispositifs communicationnels émergents, reposant sur une
apparente redistribution des rôles (réseaux sociaux, blogs, co-création, espaces
conversationnels, etc.). La dépublicitarisation est une adaptation aux évolutions de la
réception sociale de la publicité (mise à distance, suspicion voire rejet des
consommateurs) et aux transformations des représentations et pratiques professionnelles
des acteurs de la communication et du marketing (doutes sur l’efficacité et la qualité de
la publicité classique, saturation des espaces médiatiques, recherche de leviers de
croissance économique).
Le concept de dépublicitarisation est en tension avec celui
d’hyperpublicitarisation. Cette dernière, mise en place par Karine Berthelot-Guiet et
Caroline de Montety rend compte de phénomènes concomitants, parallèles ou opposés
29
29
2008 Karine Berthelot-Guiet et Caroline de Montety
"Hyperpublicitarisation et dépublicitarisation : métamorphoses du discours des marques et gestion
sémiotique" in Y. Lebtahi et F.Minot coord., La publicité d’aujourd’hui. Discours, formes et pratique ,
Revue du CIRCAV, Paris, L’harmattan, pp.63-78
72
les médias se revendiquent et se construisent de plus en plus en marques tandis que les
marques s’inscrivent de plus en plus dans des logiques de divertissement et
d’information attribuables traditionnellement aux médias. L’hybridité s’entend comme
le produit de stratégies d’acteurs : le croisement entre marques et médias n’est pas un
fruit hasardeux, il est délibéré et tendanciel. Il est moteur de transformation des formes
médiatiques et permet de comprendre certaines des métamorphoses contemporaines
dans le champ des prises de parole des marques.
Nous observons les forces diverses qui traversent les formes sémiotiques. Nous
appréhendons ces formes sémiotiques en tant que dispositifs de communication. La
notion de dispositif implique la compréhension d’un contexte, qui s’analyse tout à la
fois dans sa globalité et dans ses différentes composantes. Un dispositif est caractérisé
par des conditions techniques et matérielles, il produit ou du moins propose un certain
type d’usages, il est inscrit dans une logique socio-culturelle voire politique, il résulte
de logiques économiques, il est organisé par des acteurs mus par une intention. Notre
approche consiste en un va-et-vient entre l’analyse de formes, formats et contenus et
l’analyse du contexte dont ces formes procèdent.
30
Berthelot-Guiet (Karine), de Montety (Caroline), Patrin Leclère (Valérie), « Hybridations des médias-
marques », actes du 4ème colloque international EUTIC 2008, Lisbonne.
73
74
31
Chantal Stoman dans Marianne n° 636, 27 juin 2009, p. 59
75
disponible » , est emblématique de cette brèche offerte à des marques disculpées par
32
accentue le phénomène : la marque a tout intérêt à proposer à son tour des formes de
productions culturelles.
Les marques sont confrontées à une montée de la suspicion et de la saturation
des consommateurs vis-à-vis du marketing en général et des discours promotionnels en
particulier. Cela se traduit par une résistance à l’égard des formes publicitaires
traditionnelles, corrélée à la bonne connaissance qu’ont les consommateurs des
tactiques du discours commercial. Les formes les plus récentes de la communication des
marques sont à comprendre en relation avec ce contexte défavorable, parfois même
hostile. Les entreprises présentes commercialement se trouvent soumises à des
impératifs souvent paradoxaux : elles doivent en même temps assurer leur rentabilité
financière, dans un contexte concurrentiel complexifié, et montrer un comportement dit
socialement responsable. Elles cherchent, pour se différencier, à investir des espaces où
leurs messages seront susceptibles d'être perçus.
Les marques montent donc en puissance en même temps que certaines de leurs
formes d’expression se font plus discrètes. Elles produisent et mettent en avant des
formes de communication qui tentent de s'éloigner du publicitaire tout en les faisant
cohabiter avec la publicité au sens habituel du terme : blogs de marque, magazines de
marques, brochures informatives, programming, parrainage, rémunération de blogs de
particuliers par les marques, production de films de marque ou de séries de marque,
32
voir Patrin-Leclère (Valérie), « Médias et publicité, l'impossible débat ? Les leçons de l'affaire
Le Lay et de son « temps de cerveau disponible », 2005, Communication & Langages n°143
33
voir Berthelot-Guiet (Karine) et de Montety (Caroline), « Hyperpublicitarisation et
dépublicitarisation : métamorphoses du discours des marques et gestion sémiotique », 2009, Revue du
CIRCAV, n°20, Paris, L'Harmattan, pp.63-78.
76
magazine est investie par la marque pour informer et distraire. Le genre magazine en
soi, couplé à un type particulier de presse (la famille presse féminine, la famille presse
décoration, etc.) constitue une pré-forme susceptible d’ancrer la marque dans un horizon
34
Les jeux vidéo sont très appréciés par les marques en raison du temps d’exposition, des
mécanismes de répétition et de la concentration des utilisateurs. Au « placement de produit » classique
vient s’ajouter le « plot placement », qui héroïse le produit en rendant le joueur plus puissant. Ce média
ludique permet de substituer au cadre commercial une relation fondée sur le plaisir et le divertissement.
35
Voir Montety (de) Caroline. 2005, « Magazines de marque : entre gestion sémiotique et cuisine du
sens », Communication & langages n° 143, pp 35-48.
77
78
propriétés médiatiques mobilisées, c’est bien l’efficacité des discours et des genres qui
est mobilisée.
79
comme un « lieu hors lieu » joue sur ses propres contradictions, neutralise les tensions
des discours de sa marque.
Le public se trouve converti en audience et c’est sur sa démarche volontaire et
son adhésion que repose le système de captation et d’information de la marque. La
marque, sans quitter tout à fait le champ du commerce, oscille entre la présentation de
son offre et sa mise en culture.
38
Marin (Louis). Utopiques : Jeux d’espace. Minuit, 1973. 360 p., p 24.
80
81
82
83
besoins et aux désirs des individus qui en retour doivent s’intégrer socialement.
Cependant, cette réciprocité est fausse. Il en va de même dans les productions
participatives des marques : en échange d’une participation somme toute minime et
minimisée, les consommateurs intériorisent le discours des marques et leurs normes ;
mais en retour, ils n’obtiennent des marques qu’un renforcement de leurs discours. Ils
se sont adaptés à elles, ils sont jugés et choisis par elles. Mais se sont-elles adaptées en
retour ?
Si le public se trouve converti en audience par le musée de marque, il connaît ici
des mutations multiples et assiste la démultiplication des places communicationnelles
qui lui sont proposées : producteur, diffuseur, support, etc. Là encore, le système repose
sur des démarches volontaires d’adhésion et de participation au système. Il s’agit d’une
véritable dynamique sémiotique qui fait fonctionner marques, médias et consommateurs
en système en convoquant la force des imaginaires. La marque propose une apparente
« mise en communauté » de ses prises de paroles qui non seulement constitue une mise
en culture mais aussi une mise en interrelation étroite. Cependant, au-delà de la
participation, c’est bien à une aliénation d’autant plus forte que les marques incitent
leurs consommateurs. En choisissant ces formes communicationnelles, les marques
41
Baudrillard (Jean). Le système des objets, 1968, p.244-246
84
acceptent une énonciation polyphonique dans laquelle elles n'occupent pas toujours, en
apparence, la première place. Elles construisent des propositions communicationnelles
acceptables dans le contexte que nous avons présenté. Si le processus qui mène à ce
type de choix communicationnel semble relativement clair, il n’en est pas de même
lorsqu’il s’agit de déterminer avec exactitude la place que les marques tiennent dans ces
communications. La question de la qualification de cette place, écartelée entre le
discours produit et le discours d’escorte, n’est pas évidente. Et c’est peut-être aussi une
question plus profonde qui est soulevée : que deviennent les marques, dans ces
nouvelles reconfigurations ?
85
le cadre élargi des productions communicationnelles des marques, que leur forme soit
42
Pierre Fresnault-Deruelle, pour sa part, restreint le propos à la fois à l'image et à l'approche sémiotique
quand il écrit : "nous sentons bien que, relativement aux images, quelque chose peut être isolé qui aurait
pour nom « publicitarité » (comme on parlerait de litttérarité)". Il indique que la publicitarité, pour
86
l'image, constitue une sorte de "message d'appartenance au genre" qui se caractériserait au moins par
quatre traits principaux : la remise à jour ou redistribution des composants de l'image, un aspect
surnuméraire et un fonctionnement en signal, la dimension totalitaire du discours publicitaire et enfin
l'aspect idéographique.
Fresnault-Deruelle Pierre "Peut-on parler d'une rhétorique de l'image publicitaire ?", EIDOS L'image
réfléchie. Sémiotique et marketing, 1998, L'Harmattan, Paris, pp.35-40.
87
RESUMO
Ao apreender a fenomenologia dos seres vivos em geral e dos seres humanos em
particular, a partir da Biologia do conhecer, considera-se o emergir da marca em geral
como manifestação humana, na linguagem, de delimitações de entidades em relação ao
seu meio circundante. Dentro desse quadro de reflexão e com base nos conceitos
de estrutura e organização próprios a esse paradigma, formula-se uma proposta unitária
de significância, que tem como estrutura a teoria geral dos signos (Peirce) e como
organização a estrutura elementar da significação (Greimas).
88
(ZOZZOLI, 2006), a partir de reflexões mais extensas a esse respeito por mim
elaboradas no início dos anos 2.000 (ZOZZOLI, 2002). Num segundo momento,
convocando paradigmas bem assentados, com a plasticidade e a flexibilidade
dissertativas que reclama este ensaio (e que talvez firam ortodoxias puristas),
desenvolverei reflexões ligadas à significância, trabalhando com os conceitos basilares
de “estrutura” e “organização” da Teoria da Autopoiese. Ao tratar essa questão, ao
tempo em que aprofundarei a discussão, argumentarei em defesa de relacionar a Teoria
geral dos signos (PEIRCE) com estrutura e a Estrutura elementar da significação da
semiótica greimasiana com organização, para finalmente, num terceiro momento, tecer
uma proposição de conclusões sobre como esses corolários se relacionam com aquilo
que é a marca.
1 Da autopoiese
A concepção dos neurobiólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco
Varela sobre como conhecemos o mundo constitui um marco no domínio das
investigações que concernem os fenômenos ligados à vida, mas também à cultura e à
sociedade. Essa abordagem nos convida a compreender o conhecer. Leva em conta
nossa experiência cotidiana como seres biológicos que vivem e convivem na linguagem,
bem como todas as implicações decorrentes desta teoria no que concerne a nossa
compreensão do que costumamos chamar conhecer e agir no mundo.
A Biologia do conhecer, inicialmente conhecida como Teoria da Autopoiese, é,
pois, um modo de apreender a fenomenologia dos seres vivos em geral e dos seres
humanos em particular no qual o observador encontra-se como fonte de toda realidade
através de suas operações de distinção em sua práxis do viver. Essa concepção abre uma
perspectiva ampla e múltipla, que inclui várias disciplinas, em especial a Biologia, a
Sociologia, a Antropologia, a Epistemologia e a Ética, como também a Comunicação, a
Psicologia e os Estudos da Linguagem e da Aprendizagem, aos quais contribui com
muita fecundidade, no quadro surpreendente de um novo paradigma. No modo de ver
da Biologia do conhecer, a autonomia e a identidade dos seres vivos constituem,
portanto, a base do modelo. Ambos são vistos como resultantes do modo de
organização peculiar aos seres vivos: a autopoiese, isto é, um sistema organizado
autossuficiente que produz e recicla seus próprios componentes diferenciando-se do
mundo exterior, sendo operacionalmente fechado à informação ou instruções desse meio,
89
46
Como sistema autopoiético, o ser humano é ao mesmo tempo produtor e produto, autônomo e
dependente ao recorrer a recursos do meio; paradoxos para o pensamento linear, mas não para a dinâmica
das relações sistêmicas.
47
E principalmente (mesmo se Luhmann tomou emprestado de Maturana e Varela a noção de autopoiese
associada à de acoplamento estrutural, alargando-a do sistema dos seres vivos para os sistemas psíquico e
social) pelo fato de ser a comunicação o elemento central da Teoria dos sistemas. Vale esclarecer que,
para esse Autor, não são os indivíduos que constituem os sistemas sociais e, portanto, a sociedade, mas é
a comunicação. Os indivíduos (seja como corpos, seja como sistemas psíquicos ou consciências) fazem
parte do meio, isto é, do ambiente circundante desses sistemas que respectivamente se autoproduzem pela
vida (sistemas vivos), pela consciência (sistemas psíquicos) e pela comunicação (sistemas sociais): “um
sistema social surge quando a comunicação desenvolve mais comunicação, a partir da própria
comunicação” (LUHMANN, 2009, p. 90).
90
48
Expresso em De máquinas e Seres Vivos (MATURANA ; VARELA, 1997) e na referência, de âmbito
multidisciplinar e internacional, que é a Árvore do Conhecimento (MATURANA ; VARELA, 1995).
49
Esse conceito será definido e discutido a seguir.
50
Compreensão de como quem percebe algo ou alguém consegue organizar suas ações num contexto
sempre peculiar e nunca totalmente previsível.
91
51
Por exemplo, para a Biologia do conhecer, tem-se um sistema social “cada vez que os membros de um
conjunto de seres vivos constituem com sua conduta, uma rede de interações que opera para eles como
um meio no qual eles se realizam como seres vivos, e no qual eles, portanto, conservam sua organização e
adaptação, e existem em uma co-deriva contingente com sua participação em tal rede de interações”.
(MATURANA, 1999, p. 199).
Como mencionado anteriormente, quando se escolheu apresentar reflexões desenvolvidas durante os anos
de 2.000 a 2.002, idealizadas sem contatos e conhecimentos com o potencial que a Teoria dos sistemas
sociais proporciona, o presente ensaio tem como base a teoria da Autopoiese ou Biologia do conhecer.
Observa-se que não se trata aqui de comparar essas duas abordagens do social, discutindo escolhas
terminológicas, discrepâncias ou uma possível complementaridade. Para isso, ser-me-ia necessário um
conhecimento mais profundo da obra de Luhmann.
Todavia, mesmo sem esse aprofundamento, pode-se avançar que, apesar da concepção sistêmica
luhmanniana de sistema social colocar o ser humano no meio circundante desse mesmo sistema, pelo fato
de se produzir constantemente, realizando a diferença sistema/meio, esse sistema, como auto-observador,
determina aquilo que o meio é, e, portanto, leva em consideração, mesmo que não seja nele mesmo, mas
apenas na operação de diferenciação, o ser humano, sendo sensível às informações que podem ser
autoproduzidas, nele mesmo como sistema, a partir das irritações decorrentes dos elementos percebidos e
entendidos, canalizados do meio até ele. “A distinção sistema/meio faz referência ao fato de que o sistema
já contém a forma meio” (LUHMANN, 2009, p. 128). Paralelamente, o fato da Biologia do conhecer
interessar-se em redes de interações realizadas pelos sistemas autopoiéticos vivos, em específico pelo
viver do individuo, como ser individual e social, na linguagem, os aproxima das considerações da Teoria
dos sistemas que considera que a linguagem pode ser empregada como comunicação e ser um veículo
para a consciência, isto é, para os sistemas psíquicos, para a fixação do sentido. “Consciência e
comunicação se pressupõem e se tornam possíveis, com suas respectivas complexidades, sem que possam
transformar os detalhes específicos da operação. O conceito de interpenetração se refere precisamente à
complexidade dessa manifestação” (Luhmann, 2009, p. 273).
Verifica-se, pois, que os sistemas psíquicos e sociais fazem respectivamente parte do meio circundante
um do outro (Teoria dos sistemas) ou integrem-se (Biologia do conhecer). Na primeira alternativa teórica,
como foi comentado, o meio circundante do sistema evidencia nenhum conceito residual. Sua
importância é similar àquela dos elementos do sistema. Na segunda alternativa teórica, ocorre um mútuo
pertencimento. Em ambos os casos, pode-se constatar ocorrer acoplamentos estruturais.
Deve-se ainda esclarecer que, neste ensaio, dentro do paradigma da Biologia do conhecer, o tratamento da
informação é individual por mais social que seja a convivência dos seres humanos e gregária, midiática
ou eletrônica que sejam a transmissão e o contexto das mensagens.
Assim, uma vez que se reflete sobre o sentido como potencialidades e diferença entre meio e forma,
conferido por seres humanos, mas também pela sociedade, dar-se-á atenção ao viver cultural humano nas
presentes reflexões.
Finalmente, mesmo que o presente ensaio não reflita sobre o fato de a marca poder ser entendida como
um suporte genérico que torna possível a comunicação (medium de comunicação), admite-se que, apesar
das considerações terem sido tecidas com base nos preceitos das Biologia do conhecer, possam interessar
a uma constituição do sentido também para a Teoria dos sistemas (evidentemente com os devidos ajustes),
uma vez que essa leitura concerne o meio circundante mas também os componentes indissociáveis que
92
em sua síntese caracterizam para Luhmann a comunicação: a informação, o ato de comunicar e a arte de
entender ou não entender.
52
Trecho de entrevista de Maturana a Cristina Magro e Ricardo Santamaria (in Maturana, 1999, p. 33-34).
53
Entendida como fenômeno de deriva estrutural sob contínua seleção filogênica, na qual não há
progresso nem otimização do uso do meio, mas apenas conservação da adaptação e da autopoiese, num
processo em que o organismo e o meio continuam em contínuo acoplamento estrutural. (Cf.
MATURANA; VARELA, 1995, p. 147)
93
aquelas relações que precisam existir ou ocorrer para que esse algo exista.
Para que eu julgue este objeto como uma cadeira, preciso reconhecer uma
certa relação entre as partes que chamo de pernas, encosto e assento, de
forma que torne o sentar possível. Se é feita de madeira e pregos, ou de
plástico e parafusos, é totalmente irrelevante para que eu a qualifique ou
classifique como uma cadeira. Essa situação, em que reconhecemos
implícita ou explicitamente a organização de um objeto, quando o indicamos
ou distinguimos, é universal por ser algo que fazemos constantemente: um
ato cognitivo básico, que consiste em simplesmente gerar nada mais, nada
menos do que classes de qualquer tipo (MATURANA; VARELA, 1995, p
83-84).
Entendem–se, então, por organização, as relações que devem existir entre os
componentes de um sistema para que este seja reconhecido como membro de uma
classe específica. Entendem-se, pois, por estrutura, os componentes presentes e as
relações efetivas que constituem concretamente uma determinada unidade e realizam
sua organização. O conjunto das relações que necessariamente se dão para caracterizar a
organização de um sistema é totalmente independente dos componentes que o
constituem. Dito de outra forma, Os componentes desse sistema interagem sem que a
organização mude. Assim, a organização de um sistema, ou unidade, pode se efetivar a
partir de muitas estruturas diferentes.
As condições que determinam uma unidade definem sua fenomenologia, e a
história de sua transformação constitui sua ontogenia. Quatro domínios ou classes são
especificados pela estrutura de uma unidade: i) domínio de mudanças de estado: todas
as mudanças estruturais que uma unidade possa sofrer mantendo sua unidade de classe
(isto é, sem que sua organização se modifique); ii) domínio de mudanças destrutivas:
todas as mudanças estruturais que causam a perda da organização da unidade que
portanto desaparece como unidade de uma certa classe; iii) domínio de perturbações:
todas as interações que desencadeiam mudança de estado; iv) domínio de interações
destrutivas: todas as interações que resultam numa mudança destrutiva. Assim um
observador vê simultaneamente a entidade que ele considera e o universo no qual ela
está inserida. Nos sistemas viventes, as condições que determinam uma unidade,
dependem de sua organização autopoética.
Para entender a autonomia dos seres vivos, deve-se compreender a organização
que os define como unidade. É justamente nesta organização que simultaneamente se
realizam e se especificam. Em suma, se demarcam, ou melhor: marcam e se marcam.
Por reconhecer sua impossibilidade em estabelecer uma lista exaustiva das
características do ser vivo, a autopoiese propõe um sistema, que ao operar, gera toda a
sua fenomenologia. “O ser e o fazer de uma unidade autopoiética são inseparáveis, e
94
95
isto é, compatibilidade dos organismos entre si com esse meio56. Logo, no que toca a
história de transformação de uma unidade, afirma-se, sem embargo, que a ontogenia de
um individuo é uma deriva de mudanças estruturais com conservação de organização e
adaptação (MATURANA; VARELA, 1995, p. 137). A experiência é algo próprio à vida
cotidiana. Varela (1998) explica que o organismo deve “fazer corpo” com seu meio, isto
é, “encarna-lo”, de alguma maneira “contê-lo em si” para satisfazer a seu desempenho
vital. O seu mundo emerge com seus atos. É um mundo enactado.
A linguagem humana é percebida como domínio de coordenações de
coordenações de ações, - em outros termos, conforme uma expressão recorrente na
literatura maturaniana: um modo de viver juntos num fluir de coordenação consensual de
coordenações consensuais de comportamentos. É por meio da linguagem e na linguagem
(como domínio linguístico na acepção particular adotada pela Biologia do conhecer57)
que, em nosso operar, possibilitamos, articulamos e estabelecemos os critérios de
validação dos diferentes tipos de conhecimento, gerando-os e conciliando-os em sua
estruturação a partir e com as emoções que sentimos. Assim a linguagem, não é vista
como simples mediadora simbólica ou um código que espelhe regularidades cognitivas ou
da realidade, mas como uma atividade recorrente, recursiva e consensual entre seres que
têm um modo de vida centrado na cooperação e no entrelaçamento do linguajar e do
emocionar-se, no qual trazem à mão distintos domínios de realidade (MAGRO in
MATURANA, 1999, p. 12). Numa abertura epistemológica, torna-se evidente que,
enquanto operam distinções na linguagem, os seres humanos agem como observadores.
Do domínio comunicativo
Toda vez que ocorre a formação de um acoplamento de terceira ordem, isto é,
um fenômeno social, constitui-se um acoplamento estrutural entre indivíduos. Os
Autores denominam comunicação as condutas coordenadas entre os membros de uma
unidade social, que são mutuamente desencadeadas. Detalhando esse raciocínio,
Maturana designa como comunicativas as condutas que ocorrem num acoplamento
social e que podem ser descritas por um observador e explicita que comunicação é a
56
Ocorre perda de sua adaptação pelo ser vivo quando suas interações com seu meio se tornam
destrutivas, desintegrando-o ao interromper sua autopoiese. A adaptação, portanto, constitui uma
consequência forçosa do acoplamento estrutural da unidade com o meio.
57
Uma discussão poderia iniciar-se aqui sobre a escolha da palavra “linguística” para tudo o que se refere
à linguagem. Sem dúvida, aceitaria ser substituída pelo neologismo “linguageiro” uma vez que sua
acepção se refere a todas as formas de linguagem, abalando o monopólio da língua que caracteriza a
Linguística - como tive a oportunidade de mostrar em Zozzoli (1994, p. 45-49 ; 230-254).
96
3 A origem da marca
Entre 2000 e 2002, desenvolvi considerações a respeito do aparecimento da
marca, a partir das noções de saliências e pregnâncias propostas por Thom (1990, p. 55-
56, 92-99 ; 1980, p. 153-160) e de re-vivificação do corpo por Bucher (1989, p. 49 e
seg.) quando trata das condições de gênese do universo do sentido, que analisei
/reformulei dentro do paradigma da Biologia do conhecer e que apresentei em 2006,
com o título: Da emergência da marca à marca como minicultura: marcas humanas
versus signo(s) e marcas de produtos, no GP de Publicidade e Propaganda da Intercom,
É pela re-vivificação do corpo que Bucher trata das condições de gênese do
universo do sentido, emergindo no momento em que se considera a irrupção sempre
renovada da experiência paroxística vivida frente à manifestação da morte pelos
humanos. O homem dissolvido pelo defunto – na análise de Bucher – traz os conceitos
58
Como foi comentado supra, aquilo que o vocábulo comunicação recobre no paradigma da Biologia do
conhecer é bem diferente daquilo que essa mesma palavra significa na perspectiva conceitual da Teoria
dos sistemas.
97
Da geração da unidade
A marca surge por meio da vida, lá onde aparece a morte. Fisiologicamente
ocorre o fim da autopoiese de um corpo que se desintegrará, porém permanecem
acoplamentos sociais na linguagem, a partir das relíquias mortais de quem desapareceu,
sejam elas visíveis ou invisíveis, corpóreas ou imateriais, tangíveis ou virtuais.
59
Que utilizam sandálias com a inscrição “segue-me” em sua sola, em relevo e de maneira invertida, para
proporcionar, com os rastros que seu caminhar produzia no chão, a leitura e a divulgação de seu ofício
por seus clientes em potencial.
98
Comunicação Mercado
MARCÁRIA DA MARCA
62
Nesse diagrama, esses aspectos não se mostram como sequenciais, mas como
60
Na acepção da Biologia do conhecer. O domínio linguístico corresponde às condutas (ou mudanças de
postura ou posição operadas ontogenicamente por um ser vivo e descritas em termos semânticos por um
observado) na linguagem. Sem dúvida o adjetivo “lingüístico” escolhido pelos Autores da Teoria da
Autopoiese ganharia em clareza ao ser substituído pelo neologismo” linguageiro” (cf. ZOZZOLI, 2002, p.
155).
61
Os componentes de uma unidade podem ser diferenciados quando se aplica recursivamente a operação
de distinção sobre a unidade, sendo nesse caso considerada como composta. São dois, portanto, os modos
de observar uma unidade: apontá-la como unidade simples, ao descrevê-la num espaço definido através
das propriedades que a caracterizam como unidade; apontá-la como unidade composta, ao descrevê-la no
espaço que seus componentes determinam, por meio das propriedades de seus componentes.
62
A expressão comunicação marcária aplica-se à marca em cada um de domínios onde esta se manifesta
(geral, heráldico, folclórico, de trânsito etc.), sendo o domínio da comunicação no e para o mercado um
caso específico.
99
100
proponho seu uso distinto numa semiótica que dá conta de um observador como sujeito
da descrição vivenciada, reservando portanto assinalação para a operação do sujeito na
enunciação no polo da emissão, e assinalamento para a operação do sujeito da
enunciação no polo da recepção66.
Da organização da significância
Parece-me, portanto, que, no sistema da significância, é possível dizer que o
quadrado semiótico que se apresenta como:
a estrutura elementar da significação, quando definida – num primeiro
momento – como uma relação entre aos menos dois termos, repousa apenas
sobre uma distinção de oposição que caracteriza o eixo paradigmático da
linguagem” (GREIMAS ; COURTÉS, 1982, p. 364)
pode ser considerado como sua organização, ao passo que a teoria dos signos
concebida por Peirce, que retraça logicamente os componentes que constituem a
66
Ambos os sujeitos da enunciação, tanto no polo da emissão quanto no polo da recepção, por serem
seres humanos de fato ou seres humanos por trás de um sujeito virtual, tal uma marca comercial e/ou
institucional, por exemplo, são sistemas autopoiéticos (isto é, sistemas fechados, com todas as
implicações que isso desencadeia nos níveis da percepção, do entendimento, da enunciação e da
veiculação/circulação das mensagens e de seu conteúdo).
101
102
Da estrutura da significância
Conforme demonstrado a seguir, parece lícito entender que a “Teoria lógica e
social” do signo constitui a69 estrutura do sistema da significância.
Peirce (2000, p. 46) define o signo como sendo constituído por três elementos
correlatos, ordenados numa relação triádica:
Um signo ou representamen é aquilo que, sob certo aspecto ou modo,
representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria na mente dessa
pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao
signo assim criado, denomino interpretante do primeiro signo. O signo
representa alguma coisa, seu objeto. Representa esse objeto não em todos os
seus aspectos, mas com referência a um tipo de ideia que eu, por vezes,
denominei fundamento do representamem (2.228)70.
No que diz respeito aos elementos que constituem essa estrutura, as asseverações
e o vocabulário de diversos estudiosos convergem. Pois, na esteira de Peirce, são vários
os autores que caracterizam sua natureza, suas propriedades e as relações existentes na
construção desse tecido sígnico.
Deledalle, por exemplo, em seu comentário "mínimo elucidativo", destaca as
propriedades desses componentes que constroem essa estrutura, valendo-se das próprias
palavras de Peirce: "o signo é 'tudo o que comunica uma noção definida de um objeto', o
representamem é o tudo ao qual se aplica a análise quando se quer descobrir o que é
essencialmente o signo (1.540)" (DELEDALLE, 1978, p. 216). Quanto ao interpretante,
é na concepção de Peirce o "próprio significado" do signo (DELEDALLE, 1978, p. 218).
O interpretante não é intérprete, isto é, não é sujeito. Nem é o objeto do signo (pois, nesse
caso, a teoria peirceana não seria triádica). Escreve Deledalle, citando Peirce:
O que diz Peirce, com efeito, é que o signo é “um veículo que comunica ao
espírito alguma coisa do exterior. Aquilo pelo qual é colocado chama-se seu
objeto; o que comunica: sua significação; e a ideia que ele origina, seu
interpretante” (1.339). A relação do signo, do interpretante e da significação
encontra-se, pois, invertida. Um signo tem uma significação que só pode ser
apreendida por meio de um outro signo que é o signo interpretante. Esse
último tem uma significação como o signo primitivo, mas só se compreende
69
Isto é, mantendo o rigor da nota 25, uma configuração contemporânea constitucional de rede relacional
que institui propriedades que servem de determinações para aquilo que é percebido ou pensado e, ao
fundamentar a diferença entre valores em sua relação ao outro, propícia que seja cognoscível.
70
Peirce acrescenta que ideia deve ser entendida em um sentido platônico, isto é, em sua acepção
corriqueira, na linguagem do cotidiano.
103
104
Devo esclarecer que a noção de estrutura que concebo aqui, não poderia nem ser
física, nem se relacionar como a representação estática de uma trama triangular dada.
Ao contrário, há de ser entendida como um tecido virtual que se constitui de forma
conectiva; uma rede que liga e une, numa sucessão de instantes “presentes71”, os
diversos estados sígnicos de seus componentes, prontos potencialmente. Como bem
expressou João de São Tomás (Poinsot):
[...] o signo deve necessariamente expressar uma ordenação para uma
potência; e porque representar é presentificar um objeto para uma
potência, portanto, se um signo é um veículo e um substituto do
significado na representação, ele necessariamente envolve uma
ordenação para aquilo para o qual ele representa ou torna presente”
(Apud DEELY, 1990, p. 53-54. Grifo meu).
A ação dos signos é puramente objetiva, mediada, sempre ao mesmo tempo
envolvendo e excedendo a ação das coisas, que é puramente subjetiva, isto é, física ou
psíquica e restrita à ordem do que existe aqui e agora72. Assim, quando o futuro tem
alguma influência sobre evento no presente, temos a semiose. “Nunca confinada àquilo
que foi ou é, a semiose emerge na fronteira entre o que é e o que pode ser, ou o que
poderia ter sido”. (DEELY, 1990, p. 46)
Assim Deely vê também uma função de potencialidade para o signo e seus
correlatos, que, aliás, Santaella destaca como sendo o fundamento do signo.
Peirce afirmou explicitamente (2.92) que “o signo está relacionado como o
objeto com respeito a uma Qualidade...”. Assim sendo, algo é significante de
seu objeto, algo possui potencialidade sígnica ou qualidade de acordo com
três modos: qualidade interna, qualidade relativa e qualidade imputada
(1.558). É evidente que estamos aqui diante do nascimento (ano de 1867, no
texto “Sobre uma nova lista de categorias”) da divisão básica dos signos em
ícones, índices e símbolos. Ou seja, algo é significante de seu objeto,
possuindo potencialidades sígnicas de qualidade, desacordo com três
modalidades: 1) quando a relação com seu objeto está numa mera
comunidade de alguma qualidade (semelhança ou ícone); 2) quando a
relação com seu objeto consiste numa correspondência de fato ou relação
existencial (índice); e 3) quando o fundamento da relação com o objeto
depende de um caráter imputado, convencional ou de lei (símbolo)
(SANTAELLA, 1995, p. 33-34).
71
No sentido de sucessivas imobilizações que se realizam no instante premente do atual. Dito de outra
maneira: da ação que se dá no ato fulgural do signo.
72
Se consideradas separadamente, em vez de constituir o signo, como fazem quando juntas, as relações
signo-significado e signo-interpretante simplesmente se dão respectivamente como relação de causa e
efeito e sujeito/objeto conhecedor (DEELY, 1990, p. 53-54).
105
73
Os signos são genuínos ou degenerados. Signos genuínos têm a ver com as relações existenciais entre
corpos interagentes e necessitam de um interpretante para realizarem-se inteiramente como signos, pois a
relação tríadica é uma relação de semelhança dependente da mente de que participam o objeto da relação
existencial e a própria relação existencial como, objeto do interpretante. Relações sígnicas degeneradas de
primeiro grau têm a ver com relações existenciais entre corpos interagentes, mas não exigem um
interpretante para se realizar inteiramente como signo. Relações sígnicas de segundo grau são relações
dependentes da mente especificadas pelas possibilidades intrínsecas dos objetos com os quais estão
envolvidas.
74
Everaert-Desmedt (1990, p. 92) fornece uma recapitulação sucinta da rede semântica constituída por
essas três categorias, sumária em face de seu valor, porém elucidativa. A primeiridade é da ordem da
qualidade, logo da totalidade, do atemporal (quali-signo), só pode conter a si mesmo. Independente de
qualquer materialização, é mera potencialidade (representamem), possibilidade (rema), hipótese
(abdução). A única relação que pode suscitar é a similaridade (ícone). A segundidade é da ordem do
individual, do evento situado num contexto particular (sin-signo). Faz referência a algo diferente de si:
um segundo (objeto) que indica (índice) com o qual tem uma relação na realidade (dici-signo ou dicente).
Apoia-se sobre fatos reais (indução). Vale lembrar que para Peirce, a realidade é o lugar lógico do objeto
manifestado através da mediação dos signos. A terceiridade é da ordem da lei, do sistema (legi-signo), da
relação entre um primeiro e um segundo (interpretante). Fornece a regra dessa relação (argumento), que
se aplica necessariamente (dedução), por hábito ou convenção (símbolo).
106
107
OBJETO
"real, imaginável ou inimaginável"
(ex.: a cidade de Granada)
REPRESENTAMEM INTERPRETANTE
imagem sonora ou visual imagem "mental" associada
de uma palavra ("Granada") com ou sem palavra ("cidade")
* Nota Bene do Autor do esquema: o signo interpretante remete ele mesmo sintaticamente a um signo
interpretante em uma série infinita de interpretantes (como simbolizado abaixo), que é interrompida
pragmaticamente e provisoriamente, conforme as situações existenciais, pelo último interpretante
lógico: o hábito. A significação recebida aparece para muitos conceitos (científicos particularmente)
em consequência de uma confrontação de símbolos-significações da qual decorre literalmente, uma
vez que o jogo dos símbolos-significações é dedutivo.
108
O O
R I I
109
76
Epistemologicamente, Maturana distingue dois caminhos explicativos mutuamente exclusivos daquilo
que se percebe e, portanto, se conhece. No caminho da “objetividade sem parênteses” ou simplesmente
“caminho da objetividade”, a compreensão assume uma realidade e uma verdade absolutas, instituídas
por uma ou várias autoridades transcendentes, sem que se considere o observador. No caminho da
“objetividade entre parênteses”, o caminho das ontologias constitutivas próprio da Biologia do conhecer,
a realidade depende do observador que está inserido no processo de compreensão em função tanto do seu
viver como daquilo que para ele é válido. Por ter, nesse caso, vários observadores pode-se ter vários
dominós explicativos e, portanto, muitas realidades e verdades a eles correlacionadas (MATURANA,
1999, p. 248 e seg.).
77
Que pode ser o mesmo indivíduo em momento diferente e sob perspectivas diferentes.
78
Maiores considerações a esse respeito, bases dessa exposição, podem ser encontradas em Zozzoli
(2002), principalmente na parte III Da emergência da marca (p. 187-230) e em especial no capitulo 5
desta mesma parte Marcas humanas x marcas de produto (p. 214-230).
110
111
112
80
Ligada à articulação categorial “marcado/não marcado” por mim estudada e que apresentei em outras
ocasiões.
81
Vale salientar que, mesmo que o pensamento ou o raciocínio, para poderem se realizar, convoquem
sempre e em qualquer momento de processamento de ideias, esta modalidade de inferência que é a
abdução para que, a cada etapa, se houver, se chegue a uma conclusão antes de prosseguir, esse percurso
evidenciado não se encontra interrompido, mas reiniciado a cada passo. Constitui um sistema mínimo,
indivisível em sua aplicação de constituição/emergência do sentido.
82
Neste caso, presumindo do um pressuposto e suficiente potencial de conhecimentos para a
determinação daquilo sobre o qual se pensa; potencial expresso na posição relativo ao ôntico “está
sendo/é (sem que se pense a respeito)” no esquema suporte desta reflexão.
113
MARCA DE PRODUTO
(bem, serviço, ideia... entidade: isto é, empresa, pessoa, organização...)
NA LINGUAGEM
DOMÍNIO DA: DOMÍNIO DA: DOMÍNIO DA:
Definição tecnológica Acepção na linguagem
Descrição no quadro do viver
no que diz respeito, além do mercado biológicossocial, no emergir do
dos bens e serviços, também ao mercado
das trocas semânticas/semióticas acontecer
Arquissigno, Todo o aparato verbal e Transdução de uma, várias ou do
composto de extraverbal de algo conjunto de perturbações
diversos elementos assinalado, distinguido e ocasionadas por acoplamentos
(em particular caracterizado, a ser estruturais de terceira ordem entre os
verbais, visuais, trocado/compartilhado tanto diversos intervenientes nas
relacionais , nos 83
mercadologicamente quanto operações de produção, divulgação,
quais deve se socioculturamente, tanto no troca e consumo, que propiciam no
acrescentar contexto (isto é, mercado) organismo a ação de distinguir e
discursivos) que desse produto quanto identificar algo que diz respeito a
assinala um produto linguageiramente nos diversos um elemento (concreto e/ou
enquanto o discursos verbais e abstrato) do meio circundante (nesse
distingue e identifica, extraverbais, por simples caso algo que socialmente é
criando, presença ôntica ou por meio conhecido como produto) com toda
voluntariamente ou de operações voluntárias de a carga emocional que subjaz a essa
não, uma imagem linguagem e signagem ação.
desse produto na (resultado das políticas de (Neste nível, tanto as palavras como
mente dos diversos fabricação, outros signos são produtos, porque
atores presentes no legitimação,valoração e resultado de uma fabricação
mercado difusão na ótica da humana, correlata à fabricação
Comunicação global - o que humana da realidade. Porém, se,
engloba venda e qualquer tanto objetivamente como
outra forma de promoção). subjetivamente, aceitamos a
Esse conjunto de signos condição dos objetos fabricados
83
Que abrangem domínios tão distintos como o Direito, a Distribuição, o Marketing, etc. levando-se em
conta a composição semiótica e não somente jurídica da marca (cf. ZOZZOLI, 1994).
114
84
Na acepção de síntese do discurso da marca e não como bloco marca verbal + marca símbolo + base
line (cf. ZOZZOLI, 1994, p. 106, 253).
85
Cf. Zozzoli (1994, cap. 9).
115
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da Comunicação, 2006, Brasília. INTERCOM 2006: Anais... São Paulo: INTERCOM -
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2006.
116
1. Palabras preliminares
A lo largo de cinco artículos (J. Benavides 2013, 2015 a, b y c) he venido
explicando lo que entiendo esta siendo la base social, metodológica y epistemológica, -
cultural quizá,- de la comunicación de los valores de las marcas y las organizaciones
con el indudable papel protagonista que tiene la propia tecnología en el desarrollo de
estos procesos y la dificultad que tienen estos mismos procesos para ser transparentes y
bien comprendidos en el ámbito de la sociedad. En la actualidad el ciudadano vive y
experimenta en muchos y diferentes niveles una profunda crisis de confianza y
credibilidad frente a las organizaciones e instituciones, frente a la política y la economía
y en general frente al poder mismo. Una desconfianza que no solo tiene su origen en la
crisis de 2008, sino que ha derivado en una crisis de naturaleza sistémica que afecta a la
sociedad en su conjunto. Aprovechando estos magníficos encuentros con investigadores
que organiza la Asociación Brasileira de Investigación con sede en la USP de Sao Paulo,
desarrollo algunos de los contenidos presentes en los artículos citados y en cierto modo
ofrezco unas primeras conclusiones.
A mi modo de ver, esta situación de crisis y desconfianza está abocando a una
percepción de vivir el final de una época; una percepción profunda de no saber lo que
nos espera y al tiempo una experiencia de inseguridad, mareo y vértigo comunicativo
con la consiguiente y desagradable sensación de pérdida de enfoque sobre la realidad.
Es cierto que se ha escrito mucho sobre lo que nos sucede. No hay día en que no
aparezcan nuevas reflexiones y preguntas sobre la sociedad de la información o del
conocimiento o sobre la nueva cultura de la tecnología..., ¿qué es lo está detrás de una
persona que se pasa las horas muertas raspando la pantalla de su móvil, chateando sin
parar, visualizando videos, votando por esto y aquello y al tiempo discutiendo de
política y la orientación educativa de sus hijos?... ¿qué decir de una persona que dice
tener su vida guardada en el pequeño dispositivo de su móvil y en su trabajo o en su
domicilio consume las horas del día navegando por internet? ¿Con qué contenidos y
valores explica su vida y orienta la de los demás si tiene responsabilidades en la gestión
o la comunicación? ... ¿qué cabe esperar de esa autorreflexividad, -ó si se prefiere
117
autodidactismo-, del ciudadano que habla de todo y participa de todo sin muchas veces
saber los contenidos de los que habla?...
Se discute sobre los problemas de la sociedad líquida o la escritura que se está
construyendo sobre nuestra complicada vida cotidiana. Se ha dicho y escrito tanto que
el discurso parece ya saturado del todo. Sin embargo, a mi modo de ver, quedan todavía
muchos cabos sueltos y, lo que es si cabe más importante, faltan ideas suficientemente
sólidas que sirvan de armazón y marco en el encuentro de soluciones. Hace muy poco
se acaba de publicar un texto en castellano de la conocida historiadora de las religiones
Karen Amstrong y al final del mismo, aún hablando de cosas diferentes, llega a
conclusiones muy similares: Nuestro mundo moral, -escribe-, está determinado por El
Rey Lear, Moby Dick y Madame Bovary, así como por la Biblia. Es raro que
asimilemos los textos como un todo: imágenes aisladas, frases y fragmentos viven en
nuestras mentes en miríadas y agrupamientos fluidos, actuando y reaccionando los
unos con los otros. Del mismo modo, la Biblia no existe intacta y en su totalidad en
nuestras mentes, sino que lo hace de forma fragmentaria. Creamos "nuestro propio
canon dentro del canon" y tenemos que asegurarnos deliberadamente de que nuestra
selección sea una colección de textos benéficos (K. Amstrong, 2015, p. 216)
Frente a estas circunstancias, la investigación en comunicación y nuevas
tecnologías lleva tiempo acuñando nociones y conceptos, aunque la mayoría de ellos
quedan al final en simples palabras por este abuso que sufren nuestras disciplinas de
traducir e inventar palabrejas con el convencimiento de que lo que no tienen en
contenido lo tienen en novedad o rareza. Pero, a mi modo de ver, aquellas antiguos
conceptos, a los que tanto tiempo hemos dedicado, de hiperrealidad, simulacro,
constructo icónico, cultura de la imagen, digitalización de la realidad ..., o alguno más
reciente, -eso sí, también más aplicado a aspectos parciales del sistema comunicativo-,
como el de macroestructura imaginaria (A. Caro, 2015, p. 39) hacen referencia, en el
fondo, a lo mismo con diferencias de matices: la realidad cotidiana que percibe el sujeto
es el resultado de un proceso de construcción social mediada por la tecnología y los
medios, y por ende, con un resultado artificial y cambiante; y, lo más importante, la
realidad que vivimos parece que no es real en sentido estricto, es un construido
artificio, pero es lo único que tenemos; la realidad es un concepto equívoco que se
refiere a lo que no parece existir de modo permanente; y ello porque la realidad se
expresa a través de nuevos dispositivos y formatos con unas imágenes y lenguajes
relajados sin referencia posible o al menos permanente. La cuestión de fondo a debatir
118
es qué hacemos con esa realidad que nos precipita en un contexto progresivamente
técnico y personalizado, -individual y egoísta-, de incertidumbre, indiferencia y cambio
(Schirrmacher, 2014) y cuáles son las bases epistemológicas que pueden arbitrarse para
comprenderla en su verdadera dimensión; no es una cuestión de sistema, sino de
percepción del mundo, porque no hay un único sistema sino una mezcla de ellos del
mismo modo que no hay una cultura sino una mezcla de ellas; o como viene a resumir, -
hablando de la modernidad en lugar de la globalización-, V. Verdú (2003, pp. 33 y ss.):
a través de la industria de la comunicación y el entretenimiento las viejas señas
nacionales se superponen con decenas de etnias y religiones y se produce un
enfrentamiento contra el fanatismo de la identidad haciendo de la realidad una especie
de collage a base de superposiciones y combinaciones. En efecto, nos hemos quedado
sin aquello que para J. Gaos (1973, pp.5-14) era fundamental: tener una idea del mundo;
en la actualidad los ciudadanos no tenemos una idea del mundo que proporcione un
sentido global y un suelo coherente a nuestra conducta y a nuestros sistemas de
creencias. Esa es la cuestión, ese es el tema fundamental de nuestro tiempo, ese es
verdaderamente nuestro problema.
A mayor abundamiento, parece que las antiguas exigencias del conocimiento
científico positivo no sirven ya para enfocar soluciones porque la riqueza de la realidad
humana ha superado con creces los enormes límites de aquel conocimiento que se ha
quedado en lo que debía quedarse constreñido por los propios límites de la observación
y verificación, -y ya no vale el ejemplo de Wittgenstein de tirar la escalera (Tractatus,
1918, 6.54 y 7) -. El enfoque epistemológico del neopositivismo lógico y el derivado
pragmatista del marketing, tan utilizado en comunicación ya tiene poco más que decir, -
a pesar de la novedad del neuromarketing-, porque los problemas exigen otros
planteamientos de cuyo conocimiento no somos todavía capaces de dar razón.
Lo ciertamente curioso es que en el centro de este panorama tan complejo, y
especialmente como eje de reflexión el universo corporativo, surge la preocupación por
los valores. Parece una paradoja que frente al caos y la supuestas y permanentes
contradicciones sean los valores la cuestión estrella para gestores de empresas e
instituciones a la hora de gestionar comunicación, procurar confianza y generar
seguridad en el entorno. Incluso entre los ciudadanos aparecen los valores como fuente
de opinión y análisis; y son los valores los que intervienen en la evaluación de los
medios de comunicación, la economía, la política o incluso la sociedad en general...;
siempre la referencia son los valores: libertad, igualdad, justicia, democracia, limpieza,
119
120
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122
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124
125
sistémica y horizontal, evitando en todo caso una separación arbitraria, como se observa
en algunas personas cuando, por ejemplo, defienden los valores de la religión como
algo reducido al ámbito privado o los valores de la ciencia como el único conocimiento
verdadero; errores en todo caso producidos por la ignorancia o la mala fe, porque si hay
algo importante en la vivencia religiosa es su experiencia pública y en la investigación
del conocimiento la riqueza de enfoques y metodologías. A mi modo de ver, para un
estudio más profundo y completo de los valores, se deben poner en conexión ambos
planos y no atendiendo a una supuesta y única escala , -que limita la posición y
legitimidad del valor en cada caso-, sino atendiendo al complejo conjunto de relaciones
que cabe establecer entre ambos universos de significado.
Pues bien; como ya he indicado los valores expresados por la racionalidad
publicitaria, -de acuerdo a como la he definido en párrafos anteriores-, se circunscriben
y limitan al primer nivel o plano y desde ahí el valor no sólo relativiza la propia realidad
sino que reduce a la persona a una progresiva y vertiginosa percepción del mundo que
sólo está produciendo una visión muy fragmentada de la realidad y pérdida de sentido
de lo que significa el mundo y su futuro.
Como ya he adelantado, en la época clásica el valor se asociaba a la ética y ésta en
origen a la idea de bien o la felicidad, incluso, a la de verdad, teñida de innegables
resonancias cristianas y filosóficas (especialmente platónicas).Sin embargo a partir de
los planteamientos de la modernidad (Koyre, 1957 pp.5-7) donde la finitud y el orden
dio paso a la infinitud y al cierto desorden de un universo sin centro, se abre un período
de creciente protagonismo del sujeto y de su autonomía moral. Esa ruptura rompe el
esquema previsto y abre una brecha que es la que en la actualidad, a mi juicio, debe
cuestionarse y define, en el fondo, la quiebra de la modernidad; una cuestión de
naturaleza epistemológica que afecta a la propia noción de valor y a las metodologías
que lo han definido. En efecto, el valor publicitario como categoría significante plural
de estructura de significados queda reducido al primer plano o nivel (Ver Esquema 3) y
no se puede pedir en este contexto lo que este contexto no está en condiciones de
ofrecer porque es sólo construcción y cambio histórico y cultural. Quizá por ello, en la
actualidad la ética se reduce tan sólo a comportamientos supuestamente morales, porque,
en el fondo, la ética no tiene vigencia posible, simplemente no puede existir dada la
propia incertidumbre y la falta de perdurabilidad frente al cambio permanentemente
experimentado. El emotivismo es una buena expresión, entre otras, del nicho que ha
venido a ocupar la racionalidad publicitaria en el ámbito de las tradiciones, costumbres,
126
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131
incluso compulsivos. Puedo poner el ejemplo de la imagen de tirar una piedra en una
laguna y la generación de ondas expansivas, cuantas más piedras tires más ondas
expansivas encontramos...; pues bien, las piedras son los diferentes sistemas funcionales
sociales que emergen continuamente: familia, política, movimientos ciudadanos, etc. Y
todo ello lo que hace es multiplicar opciones y discusiones que van desde la naturaleza
del sistema hasta el tamaño o importancia del mismo; y esto último es ya una cuestión
ética que probablemente no cabe discutir desde el primer plano sino acaso desde el
segundo plano ya planteado (Ver Esquema 3).
El nuevo proceso de los valores publicitarios explica el por qué la sociedad no
está cohesionada moralmente y aceptando al tiempo que los valores de los diferentes
sistemas funcionales de las instituciones (por ejemplo, en el ámbito de la familia, la
política o la economía, etc.) no son realmente valores morales sino estructuras de
significado sin apenas fundamento y continuidad.
Pero de aquí se deriva una importante consecuencia que es la divergencia en la
forma de comprender el comportamiento de las personas e instituciones de sus
verdaderos fundamentos éticos. En efecto, de acuerdo al esquema 5, la ética deja de ser
algo moralmente bueno o deseable, -se separa en su camino del valor-, en la medida en
que la deontología aplica literalmente la norma, nada más. La ética se confunde, incluso
hipócritamente, con la deontología; y frente a la economía social, -concepto todavía
poco definido-, cada cual juzga y evalúa en función de lo que considera mejor para sí
mismo.
132
133
5.1. Exigencias.
Todo este conjunto de cuestiones me llevan a reclamar ciertas responsabilidades
incumplidas por parte de los líderes sociales, empresarios y políticos, así como de los
134
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136
sobre los gestores de los medios de comunicación y los propios líderes sociales. Quiero
hacer estos comentarios porque la culpa, -si es que es correcto utilizar esta palabra-, no
la tiene una industria o un sistema político o económico, sino las personas y los gestores
que en momentos puntales utilizan irresponsablemente formatos, herramientas y
estrategias sin darse cuenta de su alcance y posibilidades. Este es en definitiva el reto
que la comunicación de valor está realmente poniendo sobre la mesa y que, a mi modo
de ver, debe atender con seriedad y rigor, -no el publicitario que ya tiene bastante con
comprender los nuevos retos con los que se enfrenta en el ámbito del mercado y la
innovación-, sino el educador, el político y el gestor corporativo (empresas e
instituciones) a la hora de hacer comunicación en el nuevo escenario mediático en el
que todos participamos.
Referencias Bibliográficas
ÁLVAREZ YAGÜEZ, J. (2015), Una ética del pensamiento, Introducción a la obra de M.
Foucault, La ética del pensamiento. Para una crítica de lo que somos, Biblioteca Nueva,
Madrid, pp. 11-74.
AMSTRONG, K., (2015), Historia de la Biblia, Debate, Barcelona.
BALMARY, M., (2011), El monje y el psicoanalista. Ed. Fragmenta, Barcelona.
BARTHES, R., (1971), Los signos en rotación y otros ensayos, Alianza, Madrid.
BENAVIDES, J.,
BECK, J., (2003), La vida tal como es, Gaia Ed., Madrid.
BLUMENBERG, h., (2013), Teoría del mundo de la vida, F.C.E., Buenos Aires.
BOFF., L., (2013), Francisco de Roma y Francisco de Asis. Trotta, Madrid.
BOGHOSSIAN, P. (2006), El miedo al conocimiento. Contra el relativismo y el
constructivismo,
137
138
RESUMO
Analisamos o emprego do humor do “homem cordial” (HOLANDA, 1999) associado
ao conceito de identidade nacional brasileira, como uma explicação para o êxito, em
pouco tempo, de marcas publicitárias. Acreditamos que a Epistemologia Publicitária
deve conceber os conceitos de formação da identidade nacional de Gilberto Freyre
(1954) e de Buarque de Holanda (1999), como uma possível explicação para a
construção das identidades de marcas brasileiras. Defendemos que uma construção de
marcas eficazes deve ser ordenada pelo conceito de identidade de projeção
(BURGUELIN, 1970; JUNG, 1940; FRANZ, 1981), em detrimento do conceito de
identidade social e que o humor “cordial” que debocha das minorias deve ser
modificado pelo humor dos “filósofos da felicidade”.
Introdução
Os alunos, professores e pesquisadores brasileiros acreditam saber qual é o
principal conceito para explicar o que torna uma publicidade eficaz. Consideram que
um anúncio que explicite a nossa identidade social conseguirá chamar a atenção dos
consumidores e estimulará o seu desejo de compra.
Desconhecemos publicações que ponham em dúvida que a identidade social seja
o conceito essencial para promover a eficácia publicitária. Se o conceito de identidade é
tão importante por que não encontramos publicações mostrando como os publicitários o
utilizam no seu trabalho diário? Nós não conhecemos um manual sequer que ensine
como fazer redação e direção de arte a partir da nossa identidade social.
Perguntando aos alunos qual conceito explicaria como uma publicidade pode ser
eficaz, após momentos de dúvida eles citam a identidade social como o nosso santo
graal. Ao pedirmos que listem as melhores publicidades brasileiras, normalmente citam
86
Trabalho apresentado no V Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 23 a 25/05/2015. CRP/ECA/USP.
87
Mestre pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade São Paulo, doutor pela Universidade
Autônoma de Barcelona, e coordenador do Curso de Publicidade em Comunicação Social da
Universidade Federal de Pernambuco, dirceutavaresufpe@gmail.com.
88
Mestra e doutoranda pelo PPGCOM da UFPE.
139
“garoto da Bombril ”. Porém, não conseguem responder a nossa pergunta sobre como a
92
geram uma identidade pessoal e exclusiva para uma marca. As marcas de sabão em pó,
perfume ou automóvel, dificilmente poderão usar clichês da nacionalidade pátria, pois
fariam com que todas as marcas ficassem parecidas e, portanto, sem identidade própria.
89
90
https://www.youtube.com/watch?v=sBWu7ibZDVg acessado 14 de 02 de 2015
91
https://www.youtube.com/watch?v=yQGGrDjdFuM acessado 14 de 02 de 2015
92
https://www.youtube.com/watch?v=Sk48VxcjIyw acessado 14 de 02 de 2015
https://www.youtube.com/watch?v=I6ThVIRUNxc acessado 14 de 02 de 2015
93
É a estratégia de chamar a atenção para uma marca, através de artifícios formais que não fazem parte do
valor da marca, como atores com pernas de pau distribuindo uma marca de chocolate
140
Figura 1 – Alegorias da identidade nacional da Petrobras, bandeira do Brasil, baia da Guanabara, jacaré e caju como
símbolo da natureza brasileira.
uso excessivo pode estar mantendo os brasileiros cegos diante das suas tragédias
históricas.
Veremos adiante a hipótese de que os signos publicitários que geram identidade
no Brasil tendem a ser expressões de perversão psíquica disfarçadas por expressões de
95
humor. A massa de maltratados pela nossa colonização perversa tende a rir quando
escutam piadas que os humilham, possivelmente uma reação de defesa e de pretensa
auto estima diante dos seus algozes. Ainda sobrevive a criação de audiência no
jornalismo, novela, programas de humor e publicidade, pelo uso do humor perverso que
humilha mulheres, negros, ameríndios e deficientes físicos.
A seguir detalharemos o que entendemos por identidade social e defenderemos
que a identidade social não basta para a criação publicitária, pois o planejamento
publicitário eficaz deve empregar o conceito de “projeção identitária”.
94
O mito fundador brasileiro seria o de um português pobre que deseja comprar um título de nobre com o
capital gerado por uma nação moderna, pelo ideal do não trabalho explorando indígenas, africanos e
riquezas naturais. Uma herança trágica, por que ser nobre não é algo que um novo rico possa comprar e a
modernidade não se consolida mantendo os valores da escravidão e da destruição da natureza.
95
Pela piscanálise o personagem perverso é recalcado pelo confronto com as diferenças de sexo, por ter
certeza que perderá o seu objeto de desejo que é a mãe e o pênis ao ser castrado. Reage pela negação ao
diálogo e a aceitação das regras civilizadas, enfrentando os conflitos sociais usando violência conta os
que são diferentes de si mesmo. Aprende a ser violento sem ser punido, por exemplo, tornando-se um
policial, professor severo ou um comediante que disfarça a sua violência perversa contra os demais
através do humor.
141
Figura 2.1, 2.2 – Personagens do anúncio Mãe, da Vitarella, não possuem identidade étnica com a média do
consumidor pernambucano da (Fig. 2.3) e sim com o modelo étnico idealizado pela dominação europeia (Fig. 2.4).
142
autora: “[...] a realidade para, onde toca o desconhecido, ele projeta uma imagem de
arquétipo”. O dilema existencial de um personagem, gera a tensão que estimula a
projetar fantasias arquetípicas originárias dos heróis mitológicos.
Figura 3 – Clark Kent evidencia a Identidade Social do leitor médio versus o Super Homem que corresponde ao
conceito de Identidade Projetiva ao refletir os nossos desejos oníricos de onipotência
Mickey retirante da seca, rejeitando que os nordestinos se fantasiem nos castelos dos
contos de fadas. Desconhecendo que a identidade fotográfica da miséria da seca tem
apelo emotivo, porém negativo para a auto imagem do nordestino.
Figura 4.1 – Wall Disney hibridizou o Mickey com a identidade pictórica da xilogravura da seca nordestina. Que é
quase antagônica a do Mickey (Fig. 4.2) como é idealizado em todo o mundo, inclusive no Nordeste do Brasil.
96 http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/zoeira/mickey-mouse-em-ritmo-nordestino-1.316645 visitado
em 11 de 03 de 2014
143
Figura 5 – A identidade franciscana com personagens da “ingenuidade nativa” é representada pelo moço da Bombril,
Teobaldo do Guaraná Antarctica, mamíferos da Parmalat, menina do chocolate Batom e o mascote das Casas Bahia
consumidores num mesmo grupo social, ao sentir pena por personagens inocentes, bom
moços, que transmitem a alegria da “ingenuidade nativa brasileira98”.
Definimos a identidade publicitária jesuítica como a que motiva um processo de
dominação pela “distinção social” dos consumidores por sentirem que fazem parte do
grupo social que ascende na hierarquia social da modernidade. A identidade de
consumo jesuítica normalmente é empregada na publicidade institucional de grandes
empresas, como Embraer, Vale do Rio Doce, Votorantim e Pão de Açúcar, voltadas
para um público alvo segmentado na “elite social” e nos formadores de opinião. A
publicidade jesuítica não possui o “gosto popular” dos franciscanos, sendo formais,
sérias, propositivas e reflexivas.
Fig. 6 – Embraer, Vale do Rio Doce, Votorantim e Pão de Açúcar representam os valores que classificamos como
identidade publicitária jesuíta, pelo apego aos valores da racionalidade instrumental e avesso ao jeitinho brasileiro.
97
Dominação social está sendo empregado a partir deste conceito em Weber, que na publicidade desvela
seu
98
caráter aparentemente inocente, mas que manipula emoções para grandes ganhos econômicos.
Inocência nativa é um termo cunhado por Greimas para as pueris identidades provincianas.
145
146
transformada pelo humor cordial como algo divertido. O texto manifesto do humor
transmite alegria, que encobre no texto latente sua agressão contra quem está sendo
debochado. Assim as minorias sociais são desvalorizadas sem acarretar a perda de
simpatia pela marca que patrocina esta agressão cordial.
No Brasil ao final do século XX, as marcas publicitárias encenada pela
cordialidade de um personagem malandro, que debocha das minorias sociais,
rapidamente ganha notoriedade entre os consumidores brasileiros. Atestado pelas
marcas do conhaque Dreher, da cerveja Brahma, “não é uma Brastemp” e dos postos
Ipiranga (Fig. 6). Que denuncia o gosto generalizado do público brasileiro pelos
narrativas com valores da perversão, possivelmente por herança da nossa história de
colonização pela escravidão e genocídio das minorias sociais.
Figura 7 – Publicidade sob o arquétipo do malandro para as marcas Dreher, Brahma, “não é uma Brastemp” e Postos
Ipiranga, com um personagem cordial realizando com jeitinho malandro perversões contra os outros.
Podemos ver exemplos de êxito das marcas sob a lógica da cordialidade, nos
anúncios dos machões da Dreher (Fig. 7), com slogan “deu duro, tome um Dreher”, que
debocham dos amigos em situação de dificuldade. A marca de cerveja Brahma debocha
de estrangeiros (anúncio Duelo99) e das mulheres vista como objeto sexual. A campanha
“não é uma Brastemp” debocha dos maridos simplórios que não compram uma
Brastemp mais cara e sim um produto concorrente mais barato. A marca Ipiranga, com
o slogan “apaixonados por carro como todo brasileiro”, no anúncio “marido” , 100
apresenta um homem que lembra de todas as placas dos carros que possuiu, mas
debocha ao não se lembrar do nome da sua esposa.
Segundo Bergson (1983) o humor pode ter como uma função fazer crítica de
costumes para desmerecer um personagem com um excessivo orgulho. O humor
publicitário tende a apontar um out-group , um grupo social considerado inferior e
101
risível para o estilo de vida do público alvo de uma marca. Os out-groups apontados por
essas publicidades seriam o amigo que não souber usar o jeitinho do malandro (fig. 7.1),
a estrangeiro do primeiro mundo que não sabe usar o jeitinho brasileiro (Fig. 7.2), o
99
100
https://www.youtube.com/watch?v=SGRGpC__0h4 acessado em 27 de novembro de 2014
101
https://www.youtube.com/watch?v=1UP22L8jmrM acessado em 21 de março de 2014
Pessoas que são consideradas diferentes de um grupo social de referência, estão fora de um grupo
social, por serem considerados diferentes e em geral inferiores ou estrangeiros.
147
marido econômico e simplório sem traquejo urbano (Fig. 7.3) e a esposa que ao
contrário do marido não é apaixonada por carro (Fig. 7.4).
No início do século XXI, todas as marcas descritas acima modificaram seus
posicionamentos se adaptando ao processo de modernidade da globalização. A
globalização capitalista visa o consumismo crescente, tentando impedir que humilhem a
massa de consumidores advindos das minorias sociais. A concepção do politicamente
correto, apesar de seus exageros puritanos, generaliza no Brasil a censura ao humor de
deboche pela atuação das leis e é incentivada pelas redes sociais digitais.
Figuras – 8.1 Marido se lembra das placas de todos seus carros e debocha por não lembrar o nome da esposa. 8.2 –
Padre e frentista do posto Ipiranga benzem o posto concorrente que tem gasolina “batizada”. 8.3 – Um caminhoneiro
moderno ironiza artesão “matuto” que não possui os serviços modernos dos postos Ipiranga.
A marca postos Ipiranga102 (Fig. 8.2), por exemplo, deixa de debochar dos parentes
do personagem malandro cordial e passa a gozar o outro posto que adultera gasolina. Agora
goza do Brasil da malandragem cordial, do malandro que adultera gasolina no posto da
concorrência. Essa estratégia perde densidade narrativa por não poder mostrar o posto rival.
Já no século XXI a marca postos Ipiranga103 (Fig. 8.3) dá um “passo atrás” e volta a
debochar de um personagem minoritário, só que não defendido pelo politicamente correto,
o out-group agora é o camponês tradicional da lógica franciscana.
Figura 9.1 – Machão da Dreher relativiza a diversidade de gênero e étnica. 9.2 - Brastemp valoriza a cooperação entre
marido e mulher. 9.3 - Brahma aperfeiçoa aspectos da identidade nacional como os campos de futebol e bares.
102
https://www.youtube.com/watch?v=qhijIEIGMAE acesso 04/ 02/ 2014
103
https://www.youtube.com/watch?v=zd2HGegk0vU acesso 04/ 02/ 2014
148
104
http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/noticias/2012/08/16/Dreher-e-DPZ-miram-
o-novo-macho.html acessado 23 de 02 de 2014.
105
https://www.youtube.com/watch?v=tyk3mArtB0E acessado 23 de 02 de 2014.
106106
https://www.youtube.com/watch?v=sazKaqGxMNw acessado 23 de 02 de 2014.
149
Figura 10 – Publicidade Argentina Instructores107, ensina aos homens sem grande atrativo físico que não devem fazer
curso de dança para atrair mulheres belíssimas e sim ter ousadia na dança graças ao álcool da “Brahma buena onda”.
A Brastemp (Fig. 7.3), que possuía forte personalidade de marca com humor
perverso contra maridos econômico-simplórios, no século XXI apresenta casais unidos
para aprender a dominar as novas tecnologias da Brastemp (Fig. 9.2) sob slogan:
“transformações que inspiram” , porém sem um apelo emocional expressivo, a não ser
108
uma aguada convivência franciscana entre marido e mulher. Dessa forma dissolveu-se
no ar o que era “sólido”, a tensão entre homem e mulher da era do “não é
umaBrastemp” (Fig. 7.3). Brahma e a Brastemp, ao nosso ver, cometem o erro ao
eliminar o humor cordial, sem emocionar com uma nova “projeção identitária”.
Acreditamos que a evolução histórica da civilização tornará crescente as
exigências do politicamente correto, o que obriga que os planejadores da criação
publicitária sejam cada vez mais competentes para fazer humor publicitário sem o apelo
fácil do deboche às minorias sociais.
150
Figuras 11.1 – Demóstenes idealiza a felicidade por uma vida simples como no slogan think small. 11.2 - Epicuro
idealiza trabalhar no que você gosta. 11.3 - Gandhi idealiza amor e não violência para assimilar grupos minoritários.
5. Conclusão
Na introdução apresentamos o que consideramos fundamental no ensino
universitário: perguntas que façam o aluno ter dúvidas e refletir sobre as verdades
absolutas da teoria da comunicação. E relativizar a crença de que somos um povo feliz,
divertido e criativo. Técnicos tem certezas, acadêmicos tem dúvidas.
109 Gandhi está classificado como filósofo por expressar um pensamento amplo, racional e sistemático,
para explicar o sentido da vida em termos universais.
110 Tropos são os lugares de partida para a criação retórica.
151
152
provocar o sorriso sem debochar das minorias sociais. Em sala de aula deve-se analisar
as referências da literatura, mídia e publicidade com ironia reflexiva.
Consideramos que são quatro as vantagens em empregar humor na construção
de uma marca publicitária:
REFERÊNCIAS
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BERGSON, H. O Riso. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1983.
BONNER, S. La educación en la Roma antigua. Herder, Barcelona, 1984.
BURGUELIN, Olivier. A comunicação social. Lisboa, Edições 70. 1970.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Rio de Janeiro, José Olympio, 1954.
FREUD, S. Introdução ao narcisismo. Rio de Janeiro, Imago (1914-1916)
HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio,1999. OGILVY,
D. Confissões de um publicitário. Rio de Janeiro: Bertand Brasil. 2001.
QUINTILIANO, Marco Fabio. Instituiciones oratorias.
Dhttp://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/24616141101038942754491/index.htm
JUNG, C G. A psicologia da transferência. (Vol 8). Londres: Routledge e Kegan Paul, 1946.
FRANZ, Marie Louise von. A Interpretação dos Contos de Fada. Paulus, São Paulo, 1981.
153
RESUMO
O universo do luxo é território fértil para elaborações conceituais sobre produtos físicos.
Com 94 anos de existência a fragrância Chanel Nº5 se notabilizou por criar e reter
imagem de luxo e sofisticação. O objetivo do presente artigo é analisar a evolução da
construção do imaginário feminino comparando dois filmes publicitários da marca
ambos dirigidos pelo cineasta de Baz Luhrmann: “Nº5: The film” (2004) com Nicole
Kidman e Rodrigo Santoro e o mais recente “The One That I Want” (2014) com Gisele
Bündchen. Se desde sempre Chanel se notabilizou pela busca de um comportamento
“novo”, cabe investigar o que marca projetou há 10 anos e projeta hoje para o
comportamento feminino.
INTRODUÇÃO
Desde a Antiguidade, cheiros e perfumes têm sido associados com sensações e
sentimentos, além de exercerem papel significativo nas relações sociais. Desde os
primórdios, o homem já utilizava fragrâncias na vida cotidiana, seja por motivos
religiosos, no embalsamamento de corpos ou na estética em que determinados odores
exerciam papel na hierarquia social. Da Grécia e Roma antigas chegaram os primeiros
relatos sobre o uso de perfumes. Os perfumes eram oferecidos aos convidados nos
banquetes, as paredes das casas eram perfumadas como também os espaços públicos
exalavam perfumes (RAMOS, 2006).
Na sociedade atual, observa-se a industrialização e a produção de perfumes em
larga escala, a ditadura da moda com relação às fragrâncias, o perfume se tornou
símbolo de status, faz parte do imaginário inerente às mulheres. Observa-se também o
jogo de sedução dos anúncios dirigidos às consumidoras potenciais para despertar nelas
o desejo de consumo ou compra, as sensações que os anúncios despertam nas prováveis
consumidoras remetem à personalidade da marca, posição social, entre outros
elementos, “os anúncios de perfumes femininos, ao traduzirem um cheiro e as sensações
que se querem passar, são representações de mulheres” (RAMOS, 2006, p. 7).
São, portanto, projeções aspiracionais. A publicidade de fragrâncias especializou-se em
construir mundos ideais e desejáveis em que mulheres perfeitas habitam. Essa ideia de
111
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e ,
opaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
112
Doutorado em Comunicação e Semiótica, PUC SP, e-mail: kekofig@gmail.com
113
Pós-doutorado em Comunicação e Semiótica, PUC SP, e-mail: mlbacha@gmail.com
154
perfeição varia conforme a personalidade das marcas ou ao papel cultural esperado das
mulheres.
O perfume pode evocar fortes respostas emocionais: as pessoas conseguem se
lembrar de fases inteiras de suas vidas simplesmente ao sentir um perfume. Um perfume
pode trazer lembranças de momentos diferentes, de histórias vividas ao transportar o/a
usuário para diferentes lugares. Pode-se dizer que o perfume vai muito além do frasco e
da fragrância, por conta do significado que assume. “Ao folhear as páginas de qualquer
revista feminina, nos deparamos com inúmeras imagens e textos que nos falam sobre o
feminino — vivido, imaginado ou desejado. Entre esses discursos, chamam a atenção os
da publicidade de perfume” (PETRELLE, 2005, p.11).
No início do século XX havia acentuada diferença entre o “cheiro de uma
cortesã e o de uma boa moça”. Alguns aromas como jasmim, almíscar, patchuli e
angélica, davam à mulher um cheiro fragrantemente sexual. Moças respeitáveis usavam
delicadas fragrâncias odores florais de rosas e violetas. A fragrância de uma mulher
evidenciava sua sexualidade, e, “durante boa parte da história da humanidade, as
conexões entre perfume e prostituição foram quase inseparáveis”. Assim, desde o início
da sua história o perfume tem estado associado à sensualidade da mulher (MAZZEO,
2011, p. 36).
O artigo tem como justificativas tanto a importância da marc, como o
crescimento e importância do mercado de luxo no Brasil. A consultoria Bain &
Company estima que o mercado de luxo no Brasil tenha movimentado 3 bilhões em
2013, aumento de 11% ante 2012 (ESTADAO, 2014).
Vale enfatizar também que o Brasil é o terceiro maior mercado mundial de
beleza e higiene pessoal (atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão) e conseguiu, há
quatro anos se tornar o maior consumidor de perfumes do globo, embora ainda seja o
10º do mundo em fragrâncias internacionais premium). Hoje, o Brasil ainda é um país
que consome prioritariamente colônias, uma das explicações, além do clima e da
preferência por itens de alto frescor, é a tributação. No Brasil há de fato uma forte
concentração de água de toillete e água de colônia pelo fato de que a alíquota de IPI
desses itens é de 12%, enquanto na perfumaria é de 42%.
O presente artigo visa investigar a representação da mulher por meio da
publicidade do mais famoso perfume do mundo: Chanel Nº5. Esse produto mítico
catalisa a imagem da mulher no século XX, se reinventa e mantém seu frescor e
relevância nesse início de XXI, é sinônimo de sofisticação, sensualidade e luxo para
155
156
guarda roupa às novas formas de vida, no que Chanel teve papel preponderante, como
mulher independente, bem sucedida, com personalidade e estilo (NOBRE, 2012).114
Em 1916, Coco já chefiava 300 funcionários e, em 1921, fixou-se no Nº. 31 da
Rue Cambon, endereço da loja Chanel em Paris até hoje. Seu estilo minimalista libertou
as mulheres das faixas e corpetes apertados e saias cheias de babados, ela visava à
elegância confortável e prática, com cortes retos e elegantes. Chanel também inovou a
perfumaria, sendo a primeira estilista a assinar uma fragrância com seu nome.
Segundo Mazzeo (2011, pp.55-57) teria sido por volta de 1911, que Gabrielle
começou a imaginar seu perfume. Perfume era o assunto do momento, as fragrâncias
haviam tornado Coty um dos homens mais ricos da França. As décadas 1920 e 1930 são
conhecidas como a era de outro da perfumaria francesa. A fantástica história da
ascensão do perfume francês durante o início do século XX estava ligada ao mercado
americano e a paixão dos americanos por fragrâncias francesas.
Coty foi um inspirador para Gabrielle, embora mais tarde se tornassem rivais,
mas foi em conversas com ele, que começou a estudar perfumes a sério, “uma vez
interessada em perfumaria, ela quis aprender tudo - as suas fórmulas, a fabricação e
outras coisas mais. Naturalmente, ela procurava os melhores conselhos” (MAZZEO,
2011, p. 64-65).
O perfume que muitas mulheres usam não é misterioso... Mulheres
não são flores. Por que desejariam cheirar como flores? [...] eu quero
dar às mulheres um perfume artificial, sim, estou dizendo artificial,
como um vestido, algo que precisa ser feito. Não quero uma rosa ou
lírio do vale, quero um perfume que seja uma composição. [...] uma
mulher deve cheirar como uma mulher, não como uma flor”
(CHANEL, apud Mazzeo, 2011, p. 64-65)
Gabrielle queria um perfume sexy, provocante, ela pretendia ser estonteante. O
perfume Chanel Nº5, considerado o mais famoso do mundo, foi criado em 1920, pelo
perfumista Ernest Beaux, com o objetivo de ser ardente e inesquecível, com os aromas
mais luxuosos e tradicionais da perfumaria, se tornou muito mais que um simples
perfume, é um produto de história que atualmente serve como referência cultural. Beaux
se interessava pelas descobertas que estavam recriando o mundo dos aromas no início
do século XX, possuía também grande talento e obteve sua fragrância abstrata ao
misturar mais de 80 componentes (SILVA, 2006).
114
Entre as inovações lançadas por Chanel, podem-se considerar: jérsei de malha, tecido xadrez e moda
escocesa, com blusas de malha fina, calças boca-de-sino, jaquetas curtas e casacos cruzados na frente em
estilo militar; laços e paetês como os únicos enfeites, não impediam que as mulheres se movimentassem
com rapidez; vestido preto, simples, "pretinho básico", jaqueta de corte reto e saia simples.
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Figura 5 Imagem capturadas dos comerciais de CHANEL N°5: The One That I Want
Fonte: youtube 3
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Figura 6 imagens capturadas dos comerciais de CHANEL N°5: The One That I Want
Fonte: youtube 3
Figura 7 Imagens capturadas dos comerciais de CHANEL N°5: The One That I Want
Fonte: youtube3
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década de 1920, deixando o perfume mais fresco e suave para usar no dia-a-dia, mas
sem perder sua essência original. (MAZZEO, 2011, p. 229).
Segundo Mazzeo (2011, pp. 15-16), uma das crenças quase universal sobre
Chanel Nº5, seria que sua propaganda criativa e persistente criou a fama internacional
do perfume. No entanto, apesar desta tão divulgada convicção, “a verdade é mais
estranha e a história, bem mais atraente e complicada: durante os primeiros quarenta
anos da sua fama, o marketing era medíocre e muito sem inspiração”. Para o autor, a
estatística revelada sobre a venda de um frasco do perfume a cada 30 segundos, seria
desconcertante, porque embora não estivesse entre os ícones de Wharhol, na década de
1960, o perfume adquiriu vida própria e exala significado como um símbolo. Mas o
autor pergunta: por que Chanel Nº5 é o perfume mais sensual do mundo, mas o que o
faz assim?
Nesse contexto não se pode esquecer um episódio na década de 1950, em uma
entrevista, em que ao ser questionada sobre o que vestia para dormir, Marilyn Monroe
(que continua sendo uma das maiores sex symbols da história) respondeu: “apenas
algumas gotas de Chanel Nº5”. Esta resposta sedutora eternizou o perfume. O
depoimento da atriz, que nunca foi garota-propaganda do perfume, recriou um universo
de “prazer e satisfação”, num uso mais erotizado do perfume, como demonstram as
figuras a seguir:
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Mazzeo (2011, p. 22-23) argumenta que o Chanel Nº5 lembra tudo que é rico e
encantador, mas surpreendentemente ele começou em um lugar que seria a antítese do
que mais tarde viria a defini-lo. Quando pequena, em companhia de outras duas irmãs,
Gabrielle Chanel foi deixada pelo pai no convento de uma abadia conhecida como
Aubazine, orfanato para meninas dirigido por freiras, local de deserção e abandono que
formaria um “registro emocional que moldaria a história do perfume mais famoso do
mundo e do relacionamento muitas vezes complicado de Coco com ele”.
Dessa forma, estaria no cerne da estética de Chanel, a pureza, a simplicidade e o
minimalismo. Aubazine por fora é uma construção imponente de granite e calcário, mas
dentro é um contraste de brancura e sombras. Além disso, por toda parte havia aromas e
símbolos (o fundador São Bernardo de Claraval, encorajava seus monges a dar ao
perfume e à unção um papel central nas orações e rituais de purificação), com as
plantações de jasmim, lavanda e das rosas locais. Dessa forma durante séculos, os
aromas fizeram parte de Aubazine, como também fizeram parte da infância de Gabrielle.
“Aubazine era um código secreto de aromas e, no futuro, estaria na essência de tudo que
ela achasse belo” (MAZZEO, 2011, p. 26).
Por outro lado, o número 5 em Aubazine sempre foi considerado especial pelos
monges que fundaram a abadia, para eles o pentágono era central. Gabrielle sempre
acreditou profundamente no número 5, o número da quintessência, a personificação
pura e perfeita da essência de algo. O número 5 seria seu fetiche desde a infância. Mas
não se pode esquecer a camélia branca dos jardins de Aubazine, que Gabrielle usaria
como um símbolo pessoal preferido, a forma de infinitas possibilidades, às vezes
retratada com cinco pétalas.
O cheiro de algo ao mesmo tempo limpo e sensual, essa era a combinação que
Gabrielle admirava. Para Mazzeo (2011, p. 34), a breve carreira de Gabrielle como
corista também levaria indiretamente à criação do perfume, não apenas a criação, mas
também ao próprio aroma que ele iria capturar. Os perfumes da época tinham frascos
marcados e nomes românticos (Sonho de uma noite, Feixe de felicidade...). Pela sua
singularidade, o Chanel Nº5 carregou o cheiro Chanel e através dele, a marca fica
registrada na memória das sociedades ocidentais (RAMOS, 2006).
O perfume provocou uma ruptura em relação aos paradigmas vigentes, se for
considerado que a perfumaria não era, então, explorada pelos estilistas ou pela moda.
Hoje, perfumaria e moda se apresentam articuladas, quase todas as marcas de luxo têm
perfumes em seus portfólios. O perfume foi carro chefe e quando a Maison ficou
162
fechada por vinte anos, o único produto que manteve a marca na mente dos
consumidores foi o Chanel Nº5.
Na estrutura dos negócios das grandes maisons o perfume ocupa lugar central.
Naturalmente são poucas as mulheres que podem vestir-se de alta costura. Mesmo o
pret a porter linha menos cara das marcas de moda, costuma ser ainda excessivamente
pesado na composição do guarda-roupas da mulher. Assim, a fragrância surge como
uma solução para as aspirações por luxo das mulheres. Um frasco de perfume é
acessível para grande parte da população. Assim a mulher pode “vestir” Chanel – é bom
lembrar que o verbo utilizado para “usar” perfume na língua inglesa é wear, vestir.
Portanto, mesmo que não tenha meios para comprar os vestidos da marca, a mulher
pode vesti-los por meio do perfume. Essa estratégia possibilitou duplo ganho: de um
lado as marcas preservaram sua aura de exclusividade vendendo suas criações a poucas
privilegiadas. Por outro construiu uma ampla base de consumidoras que vestem o
perfume.
Referencial teórico
O referencial teórico deste artigo está alicerçado no uso da sedução em
propagandas de perfume e nas características do mercado de luxo.
A beleza na era moderna, conforme Lipovetsky (2000) personifica a sedução. A
sedução feminina liga-se aos aspectos físicos, à beleza plástica, que com o apoio da
indústria da beleza, dos cosméticos, do vestuário, teve expressivo crescimento e
representatividade na era contemporânea (SILVA, 2006, p. 19).
Para Bueno (2012), a sensualidade é um conceito que muda no decorrer do
tempo, aparecendo na forma visual, gestual, verbal, e, sobretudo na postura corporal de
um indivíduo perante o olhar do doutro; é um jogo de imagens marcado pelo contraste
de mostrar e esconder o corpo ao mesmo tempo; pode estar relacionado a sensações
(como um cheiro) ou objetos (uma roupa atrativa). Esse é o sentido usado neste texto.
Com relação à sexualidade, esta se encontra no plano sexual diretamente ligado ao ato,
preferências e práticas ou também construção de afetividade e sensibilidade cotidianas,
além dos discursos sobre o sexo. Diferentemente da sensualidade, que está no plano
mais visual e da representação e tematização. Resumindo, a sensualidade é a ponte que
liga a associação do corpo com nudez, no eterno jogo de esconde e mostra o corpo
feminino (BUENO, 2008).
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Assim o são as mulheres dos anúncios vistos por nós. Estão definitivamente
acima de uma natureza de finitude e temporalidade humana — adornam-se para serem
adoradas; propõe-se, quase sem nenhum pudor, como objeto maior de desejo e
realização do prazer. As palavras de Baudelaire parecem prenunciar um dos argumentos
mais presentes nas publicidades femininas do século XX. O “fazer-se irresistível” é o
principal apelo dos anúncios de perfumes de que falamos e, talvez, o maior anseio das
nossas informantes-consumidoras. Elas nos dizem que gostariam de ser tão sensuais
quanto as personagens publicitárias — que conhecem bem os códigos de conquista e
sabem manipular os signos. Perfumes “especiais”, roupas decotadas, mistérios, atitudes
(TAYLOR, 2001).
Na composição da cena de amor, as narrativas míticas da publicidade e do
consumo modernos oferecem signos “prontos” de sedução. Porque o princípio do mito é
justamente transformar história em natureza. “Para o leitor do mito (...), tudo se passa
como se a imagem provocasse naturalmente o conceito e o significante criasse o
significado” (BARTHES, 2003, p.221).
É direito e dever da mulher baudelairiana, e também das dos anúncios
publicitários, fazer-se bela e desejável para o mundo — ela “naturalmente” gosta de se
sentir desejada. Uma informante nos diz que “as mulheres estão se atropelando hoje.
Todo homem gosta de mulher assim [sensual, atrativa]. Então, quem se sair melhor...
leva”. Ao menos na publicidade, não há dúvidas: “elas existem primeiro pelo, e para, o
olhar dos outros, ou seja, enquanto objetos receptivos, atraentes, disponíveis”
(BOURDIEU, 1999, p. 82.). Em contrapartida, segundo Baudrillard, “o modelo
masculino é o da exigência e da escolha. O homem de qualidade é essencialmente
exigente!” (BAUDRILLARD, 1996, p. 97).
Assim, os personagens do mundo-do-anúncio dialogam entre si e com todo o —
imenso — universo de produtos e estilos vendidos na publicidade. Um perfume para
ocasiões especiais, adocicado, pede toda uma indumentária própria para comunicar, ao
homem-exigente, as intenções de conquista da usuária do produto anunciado. Mais do
que isso: “o consumo é, no mundo burguês, o palco das diferenças. O que consumimos
são marcas. Objetos que fazem a presença e/ou ausência de identidade, visões de
mundo, estilos de vida” (ROCHA, 1995a, p. 67). Neste sentido, a publicidade parece
oferecer uma infindável gama de possibilidades de um ser mulher — todas, no entanto,
atendendo a certos padrões simbólicos e até funcionais de consumo. Se os produtos são
perfeitamente humanizados pela publicidade em suas atribuições simbólicas — deixam
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Voltando a atenção para o mercado de luxo, a palavra luxo vem do latim luxus e
pode ser relacionada a brilho, à elegância, a equilíbrio entre o parecer e o ser, entre
aparência e essência (CASTARÉDE. 2005). Na revisão da literatura verifica-se que são
características dos produtos de luxo: comunicação seletiva (ALLÉRÈS, 2006;
STREHLAU, 2008); distinção social, elegância, marca de notoriedade, preços mais
elevados (ALLÉRÈS, 2006); distribuição restrita (ALLÉRÈS, 2006; STREHLAU,
2008); emoção (LIPOVETSKY; ROUX, 2005). Pianaro e Marcondes (2010) concluem
que as características ligadas ao luxo como marca forte, exclusividade, qualidade
excelente, tradição, sofisticação fazem com que a definição de um produto de luxo se
confunda com os atributos de sua marca.
O conceito de luxo é amplo, rico de significados culturais, e geralmente,
associado ao consumo de marcas que conferem prestígio aos que as utilizam. A renda
elevada do consumidor pode induzir à aquisição de produtos de luxo, mas a cultura
desempenha papel semelhante, porque triplica o consumo independentemente do nível
de rendimentos. É impossível predizer o perfil cultural a partir do nível de renda e vice-
versa (DUBOIS; DUQUESNE, 1993, p.38). O mercado de luxo é um segmento
tradicional ligado a valores históricos e familiares. Com a globalização e as novas
tecnologias este mercado se viu diante de um novo cenário, de um lado a raridade
necessária para manter a aura de mistério e fantasia de outro a massificação, tornando-o
acessível até mesmo pela Internet (VALENTE, 2009).
De acordo com Castarède (2005), a raridade, a escassez, constitui um fenômeno
subjetivo que justifica o diferencial de preço. A noção de luxo tem na interação social
seu lado mais importante, pois o produto de luxo como objeto de desejo de muitos, pode
receber reconhecimento social. Para Kapferer (2003), as marcas de luxo constituem
parâmetros tangíveis do gosto de uma época naquilo que há de mais elevado, sugerindo
mais do que objetos, um “habitus”, que na expressão de Bourdieu (1994) considera que
marca de luxo seria definida pela visão de mundo e pelo sistema de gosto que ela
promove.
O produto de luxo pode ficar restrito ao próprio indivíduo, permanecendo na
esfera do consumo privado, ou pode ser consumido com grande visibilidade. Insinua-se
assim a posse de certo grau de prestígio social, geralmente atrelado a uma marca: o
logotipo Chanel ou Louis Vuitton, por exemplo, fica do lado externo do produto, de
modo a poder ser visto e reconhecido facilmente. Ser reconhecido implica estar presente
como um símbolo, ser reconhecido por um grupo de pessoas.
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independente protagonista de sua vida, senhora das suas decisões. Mesmo que essa
decisão envolva abandonar o trabalho. Em 2004 ela foge, em 2014 ela abandona. Em
2004, ela é vítima, em 2014, é predadora. Em 2004, é uma atriz em crise, uma
sequência da personagem vivida por Nicole em Moulin Rouge, uma corista admirada e
desejada por muitos, objeto de competição entre os donos do poder. Em 2014, Gisele
personifica a mulher poderosa, atlética, bem sucedida. A linda presa personificada por
Nicole é uma mulher que habita o mundo dos sonhos, o universo onírico cheio de
referências ao Fin de Siècle parisiense embora o cenário remeta à Nova Iorque.
Amorosa e delirante a personagem de Nicole é vítima, ainda que célebre e cultuada. Na
versão recente a personagem é autossuficiente, ela concede seu amor sem abrir mão do
resto de sua vida, seu esporte, sua filha, seu trabalho.
Outra diferença significativa entre os dois comerciais é que em The Film, há
diálogos, ainda que raros, mas fundamentais para a compreensão da trama. Também é
utilizado o recurso de narração em off, feita pelo personagem de Santoro que conta a
história que vai sendo apresentada na tela com pequenas interrupções para diálogos
entre os personagens. Todo em inglês, o texto do comercial é por isso, limitado e
limitante, contaminado de sentidos da língua inglesa e dos milhares de tramas narradas
naquela língua. The One I Want não tem diálogos ou narrações em off. Todo o
comercial tem como trilha sonora uma versão lenta e cool, proposta por Lo Fang, de um
dos clássicos trash dos anos 70, Grease, conhecido no Brasil como “Nos tempos da
brilhantina” estrelado por John Travolta e Olivia Newton John. A letra da canção diz 115
“you better shape up/cause I need a man/ to my heart I must be true” e representa,
também, uma mulher poderosa estabelecendo padrões esperados do homem que ela
deseja. Se nos tempos da brilhantina You Better Shape Up era uma mulher em
libertação, em The One That I Want é uma mulher que dá as cartas no relacionamento.
Mesmo no momento em que ela larga o set para correr para seu homem, ao encontra-lo
ela é investida de poder, é forte e determinada. Ela chega e de uma posição superior,
beija seu par.
Considerações finais
A construção da mulher, em ambos os casos analisados, é um retrato
aspiracional das mulheres desse século. Beleza, sensualidade, poder, glamour e amor,
esse desejo eterno que veste novos costumes a cada geração, mas é essencial na busca
115
Para a letra completa da canção, http://www.vagalume.com.br/debbie-gibson/youre-the-one-that-i-
want.html:
172
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174
RESUMO
A centralidade dos processos comunicacionais como mediadores constitutivos do tecido
social (mediação) e mecanismos operacionais, via dispositivos de mídia, para
construção da opinião pública e institucionalização da lógica-mídia no modo de vida
(midiatização), são dois conceitos e processos que estão sendo amplamente discutidos
nas áreas de Ciências Sociais, como parte de estudos de mídia. Neste artigo, propomos
aprofundamentos da compreensão das definições de mediações culturais e midiatização
referentes aos fenômenos do consumo alimentar. Consideramos que as megatendências
do consumo alimentar, dadas em (MADI et al, 2010), funcionam como uma espécie de
agenda setting, cujos temas/valores são geradores ou atuam na criação de filtros que
pela evidência da circulação midiática, digital sobretudo, mostrando novas articulações
dos conceitos de gatekeeping e gatewatching aplicados ao consumo, como forma de
modelizar e instituir a lógica midiatizadora das marcas de alimentos, enquandradas em
tais tendências. Como resultado da reflexão empreendida, apresentamos caminhos
metodológicos que aproximam abordagens qualitativas e quantitativas para a
compreensão desses fenômenos.
Introdução
A centralidade dos processos comunicacionais como mediadores constitutivos
do tecido social (mediação), identificadas na leitura de autores como Martín-Barbero
(2001) e Miège (2009), e dos mecanismos operacionais, via dispositivos de mídia, para
construção da opinião pública e institucionalização da lógica-mídia nos modos de vida
(midiatização), abordados em Hjarvard (2013) e Couldry e Hepp (2013) entre outros
autores, são dois conceitos e processos que estão sendo amplamente discutidos nas
áreas de Ciências Sociais, como parte de estudos de mídia.
Aqui, entendemos a marca em sua função midiática, isto é, como dispositivo do
sistema publicitário que conecta e difunde entre as pessoas valores sociais atrelados aos
processos de consumo. Essa difusão e circulação de valores pelas expressões
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Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP-Encontro Nacional de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. Realizado na ECA/USP no período de 27 a 29 de maio de 2015.
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Professor Associado da ECA/USP, atuando na graduação no Curso de Publicidade e Propaganda e no
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da USP, Líder do GESC3 – Grupo de Estudos
Semióticos em Comunicação, Cultura e Consumo, Bolsista Produtividade PQ2 do CNPq.
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Mestrando do PPGCOM/USP, membro do GESC3 – Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação,
Cultura e Consumo.
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midiatizadas pelas marcas, aqui entendidas tanto como dispositivos, quanto pelas
lógicas promocionais que instituem aos sentidos da vida social via rituais de consumo.
A alimentação, como prática cultural, não está alheia aos processos mencionados
no parágrafo anterior, possuindo rituais diversos das marcas de produtos e serviços
alimentares que vão desde a busca (considerando o cultivo, origem de matéria-prima,
qualidade e confiabilidade da marca), compra (espaços e lógicas de espaços de compra)
e usos (formas de preparo, formas de servir à mesa e de comer, situações sociais e
espaciais da alimentação - festas, cerimônias, trabalho, restaurantes, vida doméstica,
bem como o descarte de alimentos).
Todos esses aspectos dos rituais alimentares vistos em Llano e Trindade (2011)
funcionam como lugares da cultura para a articulações de temas e filtros em que as
megatendências do consumo alimentar identificadas por Madi (et al, 2010) manifestam
de modo geral as seguintes ideias, já comentadas em outra oportunidade em Trindade e
Perez (2013, p. 256-259) e que aqui serão brevemente resgatadas:
a) Sensorialidade e prazer trata-se de uma tendência que é representada em três
situações específicas: valorização da gastronomia em amplo espectro (desde a cozinha
regional à inovação conceitual na cozinha contemporânea), inovação na estética de
produtos gourmet, premium, com alta agregação de valor, trabalho de food design, isto
é, existe um trabalho de estetização da mercadoria alimentar que apresenta o alimento
como indulgência, experiência de prazer, sem culpa (MADI et al, 2010, p. 73). Os
profissionais desse setor funcionam como elementos midiatizadores e formadores da
opinião pública de consumo sobre as mercadorias nesta tendência e seus conjuntos de
valores agregados;
b) Conveniência e praticidade trata-se de uma tendência em que as refeições são
“prontas e semiprontas, fácil preparo, embalagens miniaturizadas de fácil abertura,
fechamento e possibilidade de descarte rápido, destaque para produtos para o preparo
em forno de microondas, além de serviços e produtos de delivery” (MADI et al, 2010,
p. 43). Esta tendência parece se aplacar sobre as demais, pois é possível encontrar coisas
especiais ligadas a outras tendências em serviços e produtos “prontos para o consumo”,
de forma prática e conveniente. As embalagens e a forma portátil do produto
alimentício é um fator difusor desta tendência que ressalta o processo de
individualização, o valor da escolha pessoal na criação de novos produtos, a evolução
das embalagens e porções de apresentação da comida que indicam condições
características da sociedade atual, encorajada nos valores da rapidez, simultaneidade e
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Outro aspecto a destacar é que foi no próprio contexto dos estudos sobre
alimentação que emergiu utilização do termo gatekeeping, quando Lewin (1943)
sugeriu que o processo de selecionar os alimentos que seriam dispostos à mesa (criação
de cardápios) receberia este nome. Entretanto, foi na década seguinte que White (1950)
aplicou esta teoria à comunicação, tendo em vista o processo de seleção de notícias que
seriam veiculadas pela imprensa (MOTTA e BATISTA, 2014, p.3099).
Se por um lado o processo de gatekeeping trata da seleção, o processo de
gatewatching procura lidar com o processo de circulação midiática (Cf. FAUSTO
NETO, 2010), no sentido de que existe um embate nos processos de produção e
recepção, pois não se trata apenas de uma formação de opinião unilateral que parte dos
veículos ou dos jornalistas formadores de opinião, pelo contrário, já que as novas
lógicas interacionais propiciadas pelos smartphones e redes sociais (processo de
midiatização direta) contribuem para a avaliação e mediação das informações,
demarcando assim a distinção entre a formação de opinião na Era dos Meios Massivos e
na Era das Sociedades Midiatizadas. Tais processos (gatekeeping e gatewatching),
portanto, possuem naturezas distintas e devem ser compreendidas de forma
complementar, não restringindo sua atuação às particularidades do jornalismo e sendo
aplicáveis às mediações do sistema publicitário em suas estratégias de midiatização do
consumo.
Observamos a natureza do gatekeeping nos discursos de marcas que estão
presentes nas cinco categorias de macrotendências alimentares propostas por Madi et al
(2010), pautando e sugerindo quais são os possíveis estilos de vida que os seus
consumidores podem adotar ou, ainda, podem encontrar pela natureza e disposição do
alimento em si, isto é, se um determinado consumidor quiser recorrer à lógica da
conveniência e praticidade, pode comprar alimentos congelados ou de rápido preparo,
como hambúrgueres, lasanhas entre outros exemplos de frituras ou massas. Caso ele
esteja interessado na experiência gastronômica associada à socialização, cozinhar para
visitas ou amigos, pode recorrer a alimentos que promovam este tipo de ambiência e
que sugerem vínculos de sentido específico, dada a natureza dos alimentos para tal
finalidade, como é o caso dos alimentos da Figura 1 :
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direta da forma de tomar um táxi, antes só possível na rua ou em pontos fixos, pois
proporcionaram uma transformação do sistema de transporte no que diz respeito ao uso
dos smartphones para chamar um táxi: os pontos de táxi passam a não ter mais sentido,
pois é a partir da geo-referenciação e das opções de escolha (pagamento no débito,
crédito, carro com ou sem bagageiro, etc) que o usuário opta pelo serviço. Os usuários,
por sua vez, não precisam necessariamente correr ou combinar viagens antecipadas,
pois o aplicativo opera conforme a disponibilidade dos taxistas que se colocam à
disposição: quanto maior o número de taxistas utilizando o aplicativo, maior o número
de usuários utilizando o aplicativo, o que, por consequência, gera maior demanda e
serviço - ao menos é o que se observa na cidade de São Paulo e em outras cidades mais
urbanizadas pelo Brasil.
O aplicativo Uber, com finalidade semelhante, todavia destinado à obtenção de
caronas foi além, especulando a prática de um serviço que possui, por natureza, a
ilegalidade no seu processo de identificação, pois quem cobra por uma viagem precisa
de autorização de funcionamento: no contexto brasileiro estamos falando de táxis e
ônibus. Motoristas particulares ou motoristas em geral, quem quer que seja, se não estão
enquadrados legalmente no sistema de transportes são, por lei, considerados ilegais,
sujeitos às punições e repreensões por parte dos órgãos fiscalizadores. Nesse sentido, o
aplicativo despertou um paradigma contemporâneo, que se materializa no conflito entre
as antigas formas de prestação de serviço, que no caso em questão são os pontos de táxi,
com as novas lógicas institucionalizadas pela participação e colaboração dos usuários
que, online, compartilham de tudo com todos, conflito este que é passível de se
observar, em certa medida, na indústria musical, e que nos servem de inspiração para
pensar questões do consumo alimentar em suas manifestações de megatendências.
A primeira macrotendência a ser discutida aqui, referente a sensorialidade e ao
prazer, estaria diretamente ligada a variáveis tais como o aumento da escolaridade,
acesso a informacão e renda, entre outras citadas por Madi et al (2010, p. 43). A priori
nos interessa observar que o incremento da renda, associada ao acesso a pesquisas
online e programas culinários diversos, segundo argumento do autor, possibilita o
acesso aos produtos classificados como premium ou gourmet, descrição obtida pelo
custo elevado e utilização de condimentos valorizados pelos formadores de opinião.
Mas o relatório de Madi (2010) também destaca outro grupo de novos consumidores, os
foodies, pessoas que são estimuladas pelas novidades e, também, pelos alimentos que
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Figura 2 - mensagens publicadas pela blogueira Gabriela Pugliese na rede social Instagram
Fonte: ego.globo.com
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desde a busca de produtos e marcas até o seu descarte é posto com pertinência pelo
antropólogo do consumo McCracken (2003, p.99-101). Sua perspectiva, no lugar da
antropologia, aponta para óbvia perspectiva interdisciplinar da articulação
comunicação/consumo como mediação constitutiva de processos midiatizadores, que
em seus contextos e temporalidades precisam ser conhecidos, observados nas
consequências das mudanças sociais pelas suas ocorrências e recorrências, o que nos
leva a entender que as mediações e midiatizações do consumo precisam ser estudadas
na sinergia de aspectos qualitativos e quantitativos como demonstraremos a seguir.
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que desmistifique a estatística como é vista por muitos, senão pela maioria dos
pesquisadores em comunicação como uma ciência meramente quantitativa, determinista
ou de pesquisadores centrados em abordagens qualitativas que percebem a
comunicação unicamente pelo viés da construção de estudos de arquitetura exploratória,
que se restringem à configuração teórica e delineamentos do objeto, que não avançam
para a perspectiva de validação dessas proposições teóricas, sendo este segundo caso,
o mais comum no campo comunicacional brasileiro, embora seja importante considerar
novamente que se trata de uma impressão, mas que se coaduna com publicações
recentes que tratam da autorreflexão do campo que ainda se vê às voltas em
perseguir seu objeto, a exemplo das discussões em Braga et al (2013) que traz questões
sobre a produção do conhecimento em comunicação.
Para dar conta das tensões e transformações do século XXI será necessário
discutir e debater velhos paradigmas, recuperando algumas discussões e uma base na
literatura psicométrica não para reproduzir antigos modelos e perpetuar a
funcionalidade ou determinismos equivocados: a proposta discutida aqui procura pela
apropriação dos conceitos já explorados e consolidados em outros campos,
identificando critérios de pertinência para sua utilização e difusão no campo da
comunicação. Assim, colocamos esta discussão teórica na perspectiva propositiva de
seus desdobramentos de aplicações e na verificação de relações causais e hipóteses
sobre os constructos ligados às megatendências do consumo alimentar no contexto
cultural da cidade de São Paulo.
REFERÊNCIAS
AUGUSTO JR., Silvio Nunes. Contribuições do Mixed Method Research para
comunicação: perspectivas para as midiatizacões do consumo alimentar. Projeto de
mestrado em andamento. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola
de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). 2015.
BRAGA, José Luiz; FERREIRA, Jairo; FAUSTO NETO, Antonio; GOMES, Pedro Gilberto
(Orgs.). 10 Perguntas para a produção do conhecimento em comunicação. São Leopoldo:
Editora UNISINOS, 2013.
BRAGA, José Luiz. Circuito versus campos sociais. In JIANOTTI JR, J.; MATTOS, M. A.;
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____. Interection as Context of Communication. Matrizes. Revista do
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da USP. São Paulo:
ECA/USP. v. 6. n. 1 jul-dez.2012b p.25-42.
http://www.matrizes.usp.br/index.php/matrizes/article/view/345/pdf_1 Acesso em
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COULDRY, Nick e HEPP, Andreas. (2013). conceptualizing mediatization: contexts,
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http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/comt.12019/pdf Acesso em 10/02/2014.
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196
Introdução
Escolher as imagens de personagens do cinema, dos jogos, da literatura ou
mesmo marcas e decidir tatuar estas imagens na pele, este é a jornada trilhada por
muitos jovens. Desde quando começamos a refletir sobre estas novas performances na
contemporaneidade pensamos, será que um dia se arrependerão destas marcas? Como
fixar algo permanente debaixo da pele se há uma transformação nos gostos e na nossa
forma de entender e sentir o mundo. Neste artigo entrevistamos e reentrevistamos
alguns jovens com símbolos midiáticos que foram escolhidos para serem tatuados em
sua pele. Continuamos na tarefa de observar, fotografar e ouvir atentamente estes
jovens. Muitos já estão sendo revisitados para compreender se o tempo e o espaço
percorrido faz com que mudem a imagem tatuada através da técnica do cover-up. Até
o momento, nenhum dos entrevistados e reentrevistados121 mudaram sua forma de afeto
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Trabalho apresentado do VI Pró-Pesq PP - Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 27 a 29/05/2015 CRP/ECA/USP.
120
Professora do Departamento de Comunicação Social e da Pós Graduação em Estudos da Mídia da
UFRN. Este artigo faz parte da pesquisa de pós doutoramento na USP sob supervisão do Prof. Dr. Eneus
Trindade no CRP/ECA/USP. email: mapavan@cchla.ufrn.br
121
Parte das entrevistas foram realizadas por Ana Paula de Barros Ferreira durante a Iniciação Científica
197
na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
122
Entrevistas realizadas no período de pós doutoramento no CRP/ECA/USP sob orientação do Prof. Dr.
Eneus Trindade, entre julho de 2014 a julho de 2015.
123
SODRÉ, Muniz. As Estratégias Sensíveis: Afeto, Mídia e Política. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006, p. 12-
15.
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grupos existentes na teia social em que tais sujeitos se inserem. O método utilizado são
as narrativas orais coletadas e também fotos e depoimentos gravados vídeo que estão
agora disponíveis124 como resultado do Pós Doutoramento sobre a supervisão do Prof.
Dr. Eneus Trindade na Universidade de São Paulo.
Adotamos o seguinte procedimento: num primeiro encontro, gravamos as
narrativas em áudio e as transcrevemos; num segundo momento, gravamos em vídeo no
estúdio, onde o silêncio e a presença de poucas pessoas propiciaram o surgimento de
informações mais intimistas e com mais possibilidade de análise qualitativa de conteúdo,
como sugere o método da história oral125. No trabalho mais avançado ao longo desta
pesquisa, escolhemos entrar também em algumas residências e quartos. Para verificar
etnograficamente se as escolhas que trazem para seus corpos também penetravam no
espaço íntimo. Usar o vídeo confessional e suas potencialidades como nos incentiva
Renov (2004) pode ser um caminho neste período histórico que estamos imersos. Pois
como disse a psicanalista Miriam Chnaiderman (2009, p. 10) que sempre produz
documentários utilizando o método da “história de vida” em São Paulo "a fala se torna
politizada (...) a pessoas vira parte da comunidade. Há uma pertinência ao mundo que se
instaura quando você fala para uma câmera."
Estamos utilizando o depoimento diante da câmera nesta pesquisa, uma técnica
que nos ajuda o resgate das memórias individuais e das experiências sensíveis de
sujeitos no mundo do consumo. Um esforço no sentido de um estudo de recepção
específico, ou seja, da produção de sentido pelo receptor a partir da pertinência de
influências midiáticas em seu cotidiano "os vínculos de sentidos marcários"
(TRINDADE, 2012, p.79). Neste caso, buscamos o levantamento de uma tipologia dos
vínculos sensíveis que caracterizam as manifestações cotidianas desse receptor em
relação aos produtos midiáticos e, para tanto, recorremos a Muniz Sodré (2006).
Nos últimos dois anos além do vídeo, depois da primeira conversa, visitamos as
residências e o lugar íntimo entrevistados. Pensamos em observar se havia uma
extensão das imagens da pele para o espaço / lugar de moradia. E conseguimos ver que
no ambiente íntimo há o espalhamento das preferências e gosto, encontramos muitas
imagens semelhantes a que tatuaram na pele.
Se tudo o que há no nosso entorno são linguagens. Nossas escolhas também
estão inseridas na lógica da linguagem. Entendemos o corpo como linguagem, um corpo
que é cultural e social, além de físico. Esta experiência que nos fornece a existência é,
antes de tudo, corporal. Esse movimento na percepção imaginária do espaço midiático
124
link: https://pesquisacorpomidiatico.wordpress.com
125
Cf. QUEIROZ (1991).
199
traz "a percepção dos inúmeros estímulos que o corpo consegue recolher a cada instante
é função do pertencimento social do ator e de seu modo particular de inserção cultural"
(LE BRETON, 2006, p. 56).
Os símbolos que os sujeitos usam sobre os seus corpos e em suas peles são a
expressão de vivências que se dão na esfera da linguagem e da cultura; do mesmo modo
que testemunham essas vivências, os símbolos indicam uma experimentação singular do
mundo. E o corpo “e suas múltiplas facetas e talvez mesmo de maneira abusiva,
encontra-se no centro das práticas de consumo pós modernas.” (SEMPRINI, 2006, p.
63)
Na sociedade contemporânea, a cultura está cada vez mais imbricada às fruições
midiáticas, que ocorrem como experimentações de consumo, um consumo que é
também apropriação de valores, identificação e diferenciação, que serve tanto para
confirmar quanto para negar. Segundo Mc Cracken (2003, p.108) "imagens visuais e
material verbal parecem assumir uma relação muito particular neste processo de
transferência". Mc Cracken cita Goffman para nos alertar que é necessário olhar o
mundo como fundidos na categoria social e também dos bens de consumo.
Os jovens nos mostra através de suas falas esta fusão harmônica de ser e estar
no mundo social e cultural no convívio com os símbolos da indústria cultural. Existe no
entorno destes jovens a comunidade imaginada e outras formas de inclusão da vida
social. E o corpo vira dispositivo midiático, e é resultante da forma de circulação da
marca fora do espaço midiático – que cria outro espaço mediático e transforma o corpo
em corpo-mídia.
(...) não é o produto que circula – mas encontra um sistema de circulação
no qual se viabiliza e qual alimenta. O produto, entretanto, é um
momento particularmente auspicioso da circulação – justamente por que,
consolidado em sua forma que permanece (e que se multiplica, na
sociedade em midiatização), pode continuar circulando e repercutindo em
outros espaços. (...) Os processos e as consequências desse modo
preferencial da circulação, próprio da sociedade em midiatização, devem
ser estudados. (BRAGA, 2012, p.41)
Trindade e Perez (2014) sugerem o estudo dos rituais para compreender o
comportamento do consumo na vida das pessoas. E nos orientam a procurar
compreender a circulação de sentidos das marcas no ambiente social. Apontam que os
olhares devem estar voltados não apenas para o sistema macro produtivo e sim para o
sistema micro da vida cotidiana.
Diante de tantas mudanças na sociedade, onde até seus mais
consequentes observadores e analistas apresentam dificuldade em
conceituá-la, só um olhar oblíquo, fluido e sincrético é capaz de captar
tais transformação em todos os parâmetros da vida, inclusive os
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minha vida que eu passei, eu estava junto com Jack Daniel’s. (L.A.F. 30
anos)
A maneira como L.A.F narra da marca Jack Daniel's é como se a marca tivesse
uma identidade e está com ela sempre. Ela dá uma identidade e um valor que transcende
a marca.
Abaixo colocamos o depoimento E.J.A (41 anos, empresário) que foi um dos
primeiros entrevistados da pesquisa em 2008. Na nova entrevista disse com o mesmo
entusiasmo das novas tatuagens e de suas antigas. Reafirmou seu afeto pelas tatuagens
de marcas de skate e outras do universo da indústria cultural.
R.O. (21 anos, estudante) demorou em decidir o que tatuar, refletiu muito,
queria colocar algo que representasse sua vida e seus sentimentos. R.O. apesar de
jovem, vinte e um anos, se identificou com Harry Haller, um outsider angustiado de
cinquenta anos, no livro O Lobo da Estepe de Hermann Hesse escrito em 1927. Não
imaginava quem era Hermann Hesse procurou imagem na internet tatuou a primeira, a
mesma foto que Andy Warhol personalizou. Uma imagem do Hesse de óculos, sorrindo
e fumando seu cachimbo e soltando a fumaça. R. O. tatuou a fumaça amarela e ocupa
bastante o espaço do seu peito direito. Hesse está desenhado de lado, e colocou cores na
fumaça - amarela, na cabeça um pouco do rosa, e delimitou o pescoço de vermelho.
Eu sempre divagava (...)“Que tatuagem eu faria?” (...)quando vi um amigo
sendo tatuado foi o verdadeiro estopim (...) Senti uma enorme vontade de
levar aquelas agulhadas. Assim que ele terminou a sessão, agendei uma data
(...)Foi um tempo de muita reflexão. Existem muitas pessoas que fazem
tatuagem com significados meramente estéticos, mas fiz questão de pensar
em algo profundo que fizesse muito sentido pra mim. Então fiz um
levantamento de todas as coisas que mudaram a minha vida, de obras que me
tocaram e que exerceram e exercem influência sobre mim até hoje. Para isso,
consultei a música e o cinema, mas minha verdadeira escolha estava mesmo
na literatura e acabei elegendo a imagem desse querido autor para a
tatuagem - Hermann Hesse (...) Lobo da estepe significa um Fragmento. É
um fragmento de mim, da minha história (...) O livro me mostrou muitas
ousadias e novas indagações sobre a vida e reforçou meus laços com a
205
R.O. já foi iniciado ao mundo da tatuagem, pensa muito antes de tatuar, agora
escolheu outra marca da indústria cultural e marcará sua pele no dia seguinte de nossa
entrevista.
A.C.M (38 anos, jornalista) como R.O escolheu o mundo da literatura para
realizar sua tatuagem. Ela tem um carinho muito especial por Edgar Alan Poe.
Entramos em sua casa e descobrimos que tem vários símbolos referentes ao suspense, o
gênero de Edgar Alan Poe.
(...)Escolhi Edgar Alan Poe, ele escrevia contos góticos, de suspense e tem
um poema dele que eu acho belíssimo que é "O Corvo"... eu sou uma leitora
desde meus seis anos de idade, eu leio muito...gostei muito dele e comecei a
procurar imagens sobre esse poema e achei essa aqui e adaptei, pedi pro
tatuador adaptar e colocar mas alguns elementos, escrever a palavra em
baixo never more que é o que o corvo fica sempre repetindo... foi isso.
C. M. (32 anos, advogada) tem uma grande paixão pelo jogo de videogame Street
Fighter. Resolveu tatuar o Akuma em seu antebraço para dar proteção. Os dois entrevistados de
jogos tatuaram os personagens de videogame para sentir-se protegidos por eles - A.C.M e
M.G.A.N.
Gosto do universo do jogo Street Fighter, (...) Assisti ao longo da vida
animes, filmes, li a respeito da história dos personagens(...)Akuma como se
diz na língua japonesa é um demônio, envolvido em trevas, sem sentimentos
humanos, e tudo o que ele busca é derrotar cruelmente seus oponentes,
apenas para provar sua força e superioridade. O ideograma que tatuei em
meu antebraço esquerdo aparece em suas costas, grande e luminoso como
labaredas, a cada vez que ele vence um adversário no jogo. Ironicamente, o
significado desse kanji, chamado “ten”, é “céu” ou “paraíso”. Foi o
ideograma que Gouki, antes de se tornar Akuma, recebeu de sua amada
assim que abandonou o dojo do qual foi expulso por seu mestre, por praticar
o Satsui no Hado sem sua permissão.
Outro símbolo de um jogo foi tatuado nas costas toda de M.G.A.N (32, anos,
barman e ator) que considera a tatuagem um poderoso protetor.
O “War Craft” é um jogo que foi evoluindo, ele começou no computador,
hoje já tem em videogames mais avançados, é um personagem que ele
começou como humano e de acordo com o que ele foi passando, é um RPG
na verdade, ele começou a passar em batalhas e foi evoluindo de formas.
Hoje muita gente considera o “Night Elf” um minotauro, mas ele não é um
minotauro, ele é uma espécie de monstro, devorador de demônios, então
como ele consome os demônios pra ele, ele vai tomando a forma deles, por
isso ele vai se transformando numa criatura tão feia... os demônios, sempre
tem aquela história de bem e mal, o War Craft, o guerreiro Night Elf, ele
vem pra acabar com o mal, os outros vem pra destruir.
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C. T. (28 anos, empresária) tatuou acima da coxa direita a cena onde Alex,
personagem do filme Laranja Mecânica, está preso em uma cadeira, com os olhos
presos e abertos, para ver as cenas que cometeu ao longo de sua vida. Estamos falando
do livro de Antony Burgess de 1962, e filmado por Stanley Kubrick em 1971.
Considera sua tatuagem muito importante pois ela significa que precisamos rever,
observar o que fazemos. Diz que a tatuagem faz parte da identidade dela.
Eu vi o filme antes do livro. Então você primeiro vê as imagens, e depois
você lê o livro e quando você lê, você imagina ainda mais .. você associa
algumas coisas, as imagens que você já viu no filme, mas você
desenvolve outras. Aí eu fiquei fissurada nisso e comecei a entender que
não era só uma lavagem cerebral, era o Alex, o sem lei, enxergando ele
mesmo. No momento em que ele é obrigado a ver cenas do que ele fazia...
As pessoas se desesperam quando olham o que fazem...Minha
interpretação... é porque realmente, essa ação de você olhar sempre pra
você e pras suas ações, é importante, entendeu? Essa reavaliação do que
você faz. Então tipo essa cena meio que marca isso pra mim e eu quis
perpetuar... a cena é forte, a fotografia é forte e como eu sou uma pessoa
muito visual, tipo aquela imagem ficou marcada....eu vou marcar isso no
meu corpo então! Acho que você tem que ler, ver, assistir e catar um
pouco pra você. Tirar um pouco daí e interpretar algumas coisas e aderir
ao que vale a pena. ... A gente deveria ser obrigado, por nós mesmo,
todos os dias a parar um pouquinho e pensar assim. o que você fez? Eu
acho que as oportunidades das nossas ações tá na hora que a gente para e
pensa nelas. A gente faz um fechamento. Tipo... acho que na verdade,
você a partir do momento que você faz a tatuagem, você... eu sou a Clara
que tem o Alex tatuado na perna, entendeu? Tipo, já é, já agreguei a mim,
entendeu? Não é uma coisa assim, ai, minha tatuagem, minha tatuagem,
não, pô. É uma parte de mim assim, é uma parte desenhada que eu tenho
na pele, como um sinal, uma coisa assim. Aderi já. Então você não tem
como você se arrepender, já faz parte de você.
A.F. (26 anos, chef de cozinha) tem três grandes tatuagens de Amy Winehouse,
uma nas costas e as outras duas na lateral dos braços, e quer tatuar ainda mais. Criou o
fã clube da cantora no Brasil e tem uma identificação com a música e com a imagem da
cantora. Em seu quarto há várias fotos da cantora nas paredes,. Outros itens decoram o
quarto como as almofadas de sua cama e bonecas da cantora.
Em 2006 conheci o trabalho de Amy através do Myspace de um amigo
americano...e fiquei impressionado com a potência da voz, porque ela era
uma jovenzinha. (...) Comecei a baixar música e tava vendo algumas
traduções dela e as letras dela são... impacto mesmo... tipo... The Frank
(álbum de Amy Winehouse) era bem... bem.. forte as letras (...) ela era bem
verdadeira nesse sentido. Isso me chamou a atenção. O fã-club veio mais
tarde, em 2008. Em 2007 eu já tinha tentado fundar, só que as pessoas, muita
gente me dizia ah, isso é besteira, não precisa, é... as pessoas estão muito em
comunidade na internet não vai querer saber disso. Em 2008 e um amigo de
São Paulo criamos o fã-club, lançamos o primeiro numa comunidade no
Orkut e só tinha 15 pessoas e foi crescendo e foi crescendo, surgiu o
facebook, a gente entrou no facebook construiu uma página e hoje a gente
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Palestra intitulada A inquietude do futuro: o tempo hiper-moderno no Café Filosófico no Espaço
Cultural CPFL em Campinas/SP, em 26/08/2004. Disponível em DVD (CulturaMarcas, 2006) com
curadoria de Jorge Forbes.
208
209
REFERÊNCIAS
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17.
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Maria Ângela Mattos, Jeder Janotti Junior e Nilda Jacks. Salvador: ed. EDUFBA, Brasília,
Compós - 2012
CHNAIDERMAN, Miriam. Travessias. Revista Ocas: saindo das ruas nº 66 julho/agosto, 2009
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210
RESUMEN
Este trabajo profundiza en aspectos surgidos en el análisis de la publicidad de casas y
departamentos en Chile, efectuado en 2013 y 2014. Entonces advertimos cómo esta
comunicación comercial adquiría desde los anunciantes un carácter unidireccional,
distante de la diversidad de imaginarios que pueblan las nociones de casa y hogar, de las
significaciones sociales que las personas construyen en torno a los espacios y de las
posibilidades de apropiación que ofrecen los propios entornos. Este artículo explora en
la materia, evidenciando a través de ello algunas de las brechas que se observan entre la
promesa que la oferta construye y las formas en que la demanda los hace suyos, influida
por fuerzas sociales, biográficas y culturales subjetivas.
Introducción
Reflexionar sobre la publicidad inmobiliaria, sus formas de (re)presentación,
contenidos e instrumentos de generación de sentido, constituye una manera de
preguntarse sobre los modos en que las sociedades y comunidades construyen la ciudad,
habitan sus espacios y se relacionan con el entorno, con los demás y con el conjunto de
bienes y servicios disponibles en un determinado momento.
Desde una lectura interpretativa de estos dispositivos es también posible
interrogarse sobre los significados sociales con que los diversos espacios son poblados
(VALERA, 1996; VIDAL, POL, 2005) y por el conjunto de cualidades y valores
socioculturales a los que ellos remiten, como referentes para la construcción de la
identidad social de sus moradores.
Tradicionalmente la vivienda ha desempeñado un importante papel simbólico en
la vida de las personas, en virtud de la carga emotiva que ostenta la casa, al constituir
ese lugar de lo íntimo, del cobijo, de los afectos y secretos, contenido en el concepto de
hogar (MIGUEL, 2002; GÓMEZ, RACCIATTI, 2014). No obstante esta dimensión
privada, la vivienda constituye también un espacio de identidad y posicionamiento
128
Trabajo presentado en el VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
129
Profesora asociada de la Facultad de Comunicaciones de la Pontificia Universidad Católica de Chile,
e-mail: mpgomezl@uc.cl.
130
Profesor del Magister en Comunicación Estratégica de la Facultad de Comunicaciones de la Pontificia
Universidad Católica de Chile y socio de 3Consultores, e-mail: cracciatti@3consultores.cl.
211
social, en la medida en que los espacios urbanos en que éstas se localizan alcanzan
determinados significados y grados de reconocimiento tanto por parte de las
comunidades que las habitan como de la sociedad, de un modo más amplio (VALERA,
POL 1994; VALERA,1996).
En un escenario de sociedad de consumo y de continuos cambios en lo
económico, tecnológico y sociocultural, la manera de vivir y los espacios en que hoy se
propone hacerlo están sujetos a permanentes ampliaciones, adaptaciones y renovaciones,
muchas de las cuales se vinculan con los impactos del desarrollo sobre las personas y la
ciudad, y con los nuevos imaginarios que se despliegan a partir de ello.
Al ser el mercado de la construcción y venta de viviendas un sector de
confluencia y articulación de diversos campos de conocimiento, intereses y prácticas
sociales (financiero, urbanístico, de política pública, legal, tecnológico, arquitectónico,
demográfico, social y estético, entre otras) (MIGUEL, 2002), tanto los proyectos
inmobiliarios como sus propuestas de comunicación constituyen (debieran constituir)
un espacio significativo de expresión de los nuevos imaginarios y de las posibilidades
de encuentro entre los diferentes modos de vida que emergen como efecto de estas
transformaciones (GÓMEZ, RACCIATTI, 2014).
No obstante ello, la exploración de esta publicidad evidencia diversas brechas en
las representaciones funcionales y simbólicas que se efectúan, las cuales dan cuenta de
fisuras a nivel de las promesas que la oferta construye respecto de cómo habitar, de las
posibilidades que los entornos proveen para hacerlo y de los modos específicos en que
los sujetos y comunidades llevan a cabo su apropiación.
El presente trabajo se orienta a ahondar en estos aspectos, incorporando
antecedentes que forman parte de investigación mayor, cuyo objetivo es caracterizar la
publicidad gráfica chilena del sector inmobiliario y a ahondar en sus propuestas de
sentido, a partir de las lógicas que articulan los discursos y de los recursos utilizados en
la elaboración de los mensajes.
Esta comunicación constituye así una ampliación de resultados abordados en
Gómez y Racciatti 2013 y 2014, en los cuales se analizaron de manera exploratoria y
utilizando métodos cuantitativos (análisis de contenido) y cualitativos (sociosemióticos),
anuncios referidos a la oferta de departamentos y de casas en el Área Metropolitana
(Gran Santiago), publicados durante 2012 y 2013 en las revistas Vivienda y Decoración
y Más Deco, correspondientes a los dos principales periódicos de referencia locales, El
Mercurio y La Tercera, respectivamente.
212
213
convirtiéndose de este modo en “una categoría social más de las diversas que utilizamos
para definir nuestra identidad social”.
2009b)- un discurso simbólico, orientado a conferir a las viviendas y a sus entornos una
identidad y una diferenciación que los distinga y dote de sentido frente al comprador.
Esta mediación -estratégica para la venta- tiene lugar a través de la atribución a
los proyectos de una serie de cualidades que se configuran tanto por medio de la
asignación de un nombre y de una marca que los identifica y busca vincularlos a ciertos
atributos y valores sociales, como mediante textos e imágenes que se orientan a poner
en relación las propuestas con imaginarios relativos a terminados estilos de vida, estatus
social u otros.
No obstante estas tendencias, dadas las características de los productos que
promociona, las dimensiones funcionales de los proyectos juegan un rol relevante en la
comunicación. Conforme a ello, la publicidad del sector se articula alrededor de
diferentes ejes espaciales, cuyo propósito es localizar y demarcar la oferta, es decir,
ubicar los proyectos dentro del mapa de la ciudad; circunscribir el terreno en venta y los
metros construidos para habitar; deslindar los límites físicos de la propiedad individual
y de aquella comunitaria; enumerar y distinguir los tipos de ambientes disponibles y su
131
En el caso de Chile, más de un 80% de la oferta de departamentos tiene un plazo superior a los trece
meses. Para las casas, en un 65% el periodo de espera excede los diez meses (GFK ADIMARK, 2014).
132
La traducción es de los autores.
214
distribución; precisar los precios en razón de los metros cuadrados a adquirir; y dar
cuenta de la distancia que separa a la zona de lugares de referencia, como el transporte,
colegios, supermercados, y centros comerciales, entre otros.
Esta referencia físico-funcional, en distintos grados siempre presente en los
avisos (en particular en textos e imágenes secundarias), comparte escena con otra de
orden simbólico y social, exhibida en los anuncios orientados a revestir a las ofertas con
una carga conceptual, que permita no sólo identificar y distinguir comercialmente las
diferentes propuestas, sino también sintonizar con los deseos, expectativas y códigos de
recepción de las audiencias a las que se dirigen.
Si bien en el caso chileno los resultados anteriormente expuestos (GOMEZ,
RACCIATTI, 2013; 2014) no nos permiten dar cuenta de la existencia de una efectiva
narrativa verbo-visual en torno a los productos inmobiliarios, que articule el sentido de
los proyectos y los ponga en relación con sus entornos y sus específicas identidades,
dentro de la comunicación difundida apreciamos que es a nivel de los textos lingüísticos
(nombres de los proyectos y llamados principales, principalmente) donde es posible
encontrar elementos que se orientan a proveer de mayor simbolismo a las ofertas,
aunque con cierta timidez.
En el ámbito de estos mensajes, una característica recurrente en los anuncios es
la relevancia que se otorga a la ubicación de los proyectos. En el caso de la promoción
de departamentos, esta relevancia se percibe tanto a nivel del rol que la localización
desempeña en la definición de los nombres de los edificios como en la selección de los
atributos que se predican. Como expusimos en 2013, un setenta y cinco por ciento de
las denominaciones con que se identifican los edificios corresponde al nombre de la
calle, sector o comuna en que se sitúan o hacen referencia a un lugar reconocido en las
proximidades. Ejemplo de ello son los edificios Lyon, Padre Correa, Santo Domingo
(calles), Ñuñoa Capital, Panorama Florida (comuna) y Plaza D´Halmar (plaza pública).
Al interior de esta tendencia existen dos variantes, como son la incorporación de
la numeración, cuando las designaciones remiten a una calle: La Cabaña 80, Biarritz
1945, San José de la Sierra 050, Condominio Gamero 1421. Y la inclusión de números
romanos, cuando la oferta refiere a diferentes etapas dentro de un proyecto: Kennedy I,
Kennedy II, San Isidro II, Tabancura III. Estos nombres corresponden en algunos casos
a avenidas de referencia para la población, con alguna referencia simbólica que no es
sin embargo desarrollada por otros medios en los anuncios, mientras que en otros
remiten a vías menores, cuya mención opera exclusivamente como localizador.
215
Asimismo, entre las designaciones expuestas cabe distinguir entre aquellas que
incorporan solo la denominación de la calle y las que anteponen a ésta designaciones
como parque, cumbres, valle, plaza, vista (Parques de Riesco, Parque Salesiano, Plaza
San Isidro 337, Plaza Las Lilas, Jardín del Alto La Florida, Vista Gamero, Cumbres de
La Dehesa, Alto San Carlos), que conllevan ciertas connotaciones sobre las que
ahondaremos poco más adelante.
A nivel de atributos relativos a la ubicación apreciamos en los textos principales
y secundarios cuatro tendencias: (i) a identificar ciertos sectores como los mejores o
exclusivos, dejando implícitas las variables que sustentan esta definición: mejor sector
de…, lo más top de…, exclusivo (una determinada comuna, por ejemplo); (ii) a
caracterizar ciertos barrios a partir de la asignación de alguna cualidad vinculada al
entorno, respecto de la cual tampoco existe mayor desarrollo: barrio tradicional, barrio
consolidado, barrio único, sector consolidado; (iii) a destacar solo el nombre de la calle
o comuna, dando por conocido su valor: En Providencia, En La Dehesa, En Vitacura,
En Manquehue; y (iv) a resaltar la conectividad a secas o respecto de ciertos referentes:
Vive en un barrio cercano, conectado y central; Vivir en equilibro: tranquilidad y
conectividad; Conectado a todo lo que te gusta: parques, restaurantes, pubs, museo,
fiestas, amigos, la panadería de la esquina.
En el caso de la publicidad de casas, la mayor parte de la comunicación
corresponde a subsectores dentro de barrios nuevos, creados a partir de la saturación de
la ciudad y a sus posibilidades de expansión hacia los sectores norte, sur y oeste. Esto
explica que una porción significativa de los proyectos tengan no sólo un nombre sino
también un logotipo, que se suma a las denominaciones y logos de los nuevos barrios o
áreas urbanas, desarrollo que no se observa en los avisos de propuestas situadas en
sectores antiguos, donde las comunas y subzonas se identifican solo con su nombre.
Este hecho, que vuelve más compleja la comunicación, explica la incorporación de un
promedio de casi dos marcas por anuncio.
Las designaciones de ambos (proyecto-barrio/sector, en algunos casos
indistinguibles para el lector si no conoce el área) se configuran de manera preferente a
partir de los nombre de calles y barrios, predominando el empleo de referencias
espaciales relacionadas con el medio ambiente.
Estas referencias pueden ordenarse en tres categorías principales: (i) aquellas de
orden geográfico, que recrean ciertas características geográfico-estructurales del
territorio del valle central de Chile, que constituyen un referente en la narrativa de la
216
identidad nacional (cumbres, sierra, valle, lomas, peñón); (ii) las que, aun manteniendo
su foco en el paisaje natural, denotan una mayor apropiación de los lugares por parte del
hombre (mirador, sendero); y (iii) las que remiten a un medio ambiente intervenido
(parque, jardín). Ejemplos de estas designaciones son Cumbres de la Viña, Cumbres de
Buin, La Sierra de Chicureo, Valle Araucarias, Valle del Alba, Lomas de Lo Aguirre,
Lomas del Carmen, , Hacienda El Peñón, Entre Montañas, Alto Mirador de Chamisero,
Sendero de La Dehesa, Altos del Parque, Jardín del Canto, Jardines de Santa María.
A diferencia de la comunicación de departamentos, a nivel de la predicación de
atributos la ubicación ocupa en los textos principales el segundo lugar. No obstante, en
los secundarios vuelve a ser el más destacado. Los aspectos que relevan estos mensajes
son coincidentes con algunos de los vistos en el análisis de departamentos, existiendo a
la vez distinciones significativas.
Las principales predicaciones que aquí se identifican pueden agruparse en: (i)
aquellas que definen la propuesta como excelente, la mejor y de carácter exclusivo, sin
mención a los elementos que fundamentan estas cualificaciones: Excelentes terrenos;
Vuelve a vivir la exclusividad en Piedra Roja; Bienvenido a lo mejor de Chicureo;
Exclusivas casas, una selección con lo mejor de Cousiño Macul; Cuando piensas en tus
hijos piensas en el mejor lugar para que crezcan; El megaproyecto más impactante del
sur de Santiago; No dejes pasar la oportunidad de vivir en lo mejor de Maipú; (ii) las
que relevan la conectividad, entendida en cuanto acceso a la ciudad y a servicios como
colegios y supermercados, factores que se destacan en gran parte de la comunicación de
los proyectos nuevos situados en las afueras de la ciudad: Conectividad y calidad de
vida a sólo 30 minutos de Santiago; Ubicada a pocos minutos de lo que necesitas; A 8
minutos de Vitacura; A 20 minutos de Providencia; (iii) las que hacen mención sólo al
nombre de la calle o comuna, apostando por el reconocimiento del valor simbólico
asociado a vivir en el sector: En La Dehesa; (iv) aquellas cuyo mensaje destaca ciertas
características del entorno natural, entendido éste desde su estructura física y por tanto
resaltado en su calidad de paisaje (vistas) y enunciado en ciertos casos como calidad de
vida (vida al aire libre, y lo que ello signifique en la medida en que no se efectúa un
mayor desarrollo del concepto): Vista privilegiada; Diseño, naturaleza, conectividad;
Entornos que inspiran; Un gran barrio con casas emplazadas en un entorno natural;
Ven a vivir rodeado de naturaleza; Aquí tu ciudad es un parque; Imagina tu casa con
un parque privado; Vivir mejor; y (v) aquellas cuyo foco está en la vida de barrio,
respecto de lo cual profundizaremos posteriormente: En Chicauma, puedes disfrutar de
217
lo que siempre quisiste: tranquila vida de barrio, grandes áreas verdes…; Chicureo,
confianza en la tranquilidad de nuestros barrios; Un proyecto paisajístico que rescata
el concepto de microbarrio, lo que permitirá que tus niños jueguen con tranquilidad.
Modelos de representación
Al ahondar en los resultados del estudio de los mensajes lingüísticos relativos a
la denominación y promesa de las empresas (explorados junto a las imágenes al
momento de examinar su sentido) y ponerlos en relación con los postulados de la
sicología ambiental respecto del valor del entorno (a partir de las interacciones que
tienen lugar en él y a sus posibilidades de significación para quienes las habitan),
observamos desde las propuestas una excesiva carga funcional, que no se hace cargo del
rol de los espacios-interacciones en la configuración de la identidad social más allá de
ciertas aspiraciones asociadas al estatus y al standing.
En este sentido, dentro del conjunto de anuncios es posible identificar dos tipos
preponderantes de representación: aquella de casas y departamentos ubicados en el
Santiago tradicional y aquellos correspondientes a los nuevos desarrollos inmobiliarios
situados en las afueras de lo que ha sido la ciudad hasta fines del siglo pasado.
Respecto de estos últimos, enclavados en terrenos rurales hasta su adquisición
por parte de constructoras e inmobiliarias y según cada caso con mayor o menor vínculo
con los pueblos y las comunidades aledañas, se aprecia que su representación prescinde
de toda referencia a la historia, tradiciones, ritos, interacciones sociales y estilo de vida
que entraña ese pasado agrario y que perdura en algunas de esas localidades. El espacio
natural que acoge a estos emplazamientos es el único abordado en la comunicación, y se
lo presenta fundamentalmente como un paisaje, es decir, un escenario físico cuyas
características emergen interpretadas a partir de la percepción de sus propias
particularidades geográficas, observables por cierto desde una mirada urbana del mismo.
El simbolismo que se ofrece en esta publicidad es, desde esta perspectiva,
precario, si bien consonante con la promesa que se promueve y que responde al foco
desde el cual se han desarrollado los proyectos: vida de ciudad (“como la de Santiago”)
pero al aire libre o con “grandes áreas verdes”, como señala uno de los avisos.
La asimilación que aquí se construye es siempre en referencia y dirección a la
vida urbana, a la ciudad de la que la oferta propone huir como si tuviera la certeza que
ése es el sentido de la vivienda. Los proyectos miran permanentemente Santiago,
buscando replicar gran parte de sus elementos configurantes. De ahí que resulten
218
219
Esta representación conlleva una visión unidimensional de los públicos objetivo, toda
vez que la diversidad de estilos de vida, intereses, expectativas e incluso sueños
vinculados a las formas de habitar quedan asemejados ante la falta de variedad en la
exposición de los modelos propuestos.
En este sentido, la teoría sobre la publicidad define a los avisos como espacios
de co-creación o “empatía compartida” (MARTIN, ALVARADO, 2007, p. 9) entre
emisores y destinatarios, en la medida en que la comunicación es (debiera ser) tanto
manifestación de los intereses y valores que sostienen las audiencias como de las
nuevas tendencias y cambios que están teniendo lugar en la sociedad.
En este caso, no se aprecian distinciones significativas en las enunciaciones de la
oferta que se hagan cargo en lo simbólico de la expansión horizontal y vertical que ha
tenido la ciudad, de los impactos de la mayor densidad territorial y de las oportunidades
de apropiación, recuperación y reelaboración de los modos de vida y de su sentido que
existen a partir de la ocupación de nuevos territorios, de la renovación de barrios
antiguos y de las modificaciones que se han introducidos en sectores más tradicionales.
La comunicación se organiza de modo más bien unidireccional, actuando desde
la oferta hacia la demanda y abstrayéndose, en distintos grados, de las significaciones
subjetivas, socioafectivas, moduladas por aspectos sociales y culturales, y también por
el deseo, la emoción y el sentido que las personas otorgan a la experiencia de un
“habitar-ahí-así”, con los cuales debieran conectar las promesas como factor incluso de
mera impulsión comercial.
El énfasis predominante está en los aspectos funcionales de los proyectos, sin
duda resultan relevantes para la compra de una vivienda. No obstante, a ese conjunto de
elementos físicos y visibles que conforman una casa (lo construido y el suelo que lo
asienta), la publicidad agrega también en este caso pertenencias que son funcionales,
como lo es la simple cercanía a ciertos servicios. La “conectividad social” que se
propone se configura en la superficie de la relación, articulando vínculos “líquidos”
(BAUMAN, 2002) con las personas y sus entornos. Las relaciones emocionales que se
sugieren tienden a ser vagas y a no abarcar el desarrollo de acciones, experiencias e
interacciones más complejas.
Esto es posible de visualizar en la propuesta que se hace en torno a la noción de
barrio, una de las cuatro tipologías de anuncios que se reconoció al estudiar
cualitativamente la muestra de casas (GÓMEZ, RACCIATTI, 2014). La idea que
emerge en los nuevos desarrollos inmobiliarios no refiere a la vida comunitaria y a
muchas de las particularidades que han definido a estos espacios, como es la apertura a
otros, ajenos al sector. Aquellos que se ofrecen se presentan como espacios cerrados,
220
Conclusiones
Los significados que los espacios representan para las personas y comunidades
se configuran fundamentalmente a partir de las interacciones que éstas sostienen entre sí,
con los demás y con el propio entorno, a lo largo de un proceso de apropiación que
influye en la formación de la identidad social de sus habitantes y en su propia
individuación.
La progresiva saturación del espacio habitable en el Gran Santiago –la ciudad de
Santiago y sus alrededores– ha derivado en un aumento de las construcciones en altura
así como en el desarrollo de nuevos barrios en las afueras de la ciudad, ocupando los
valles del sector norte, sur y oeste que se abren en medio de los numerosos cerros que
pueblan la zona central de Chile. El desarrollo de estos proyectos inmobiliarios está
reconfigurado sectores de tierras agrícolas así como barrios antaño formados por casas,
cuyos nuevos edificios han aumentado explosivamente la densidad poblacional de estos
territorios.
En este contexto, la publicidad del sector vivienda en Chile, referida tanto a
departamentos como a casas, carga conceptualmente propuestas inexistentes al
momento de la promoción, por medio de las denominaciones de los proyectos, la puesta
221
222
REFERENCIAS
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RESUMO
Este artigo tem por objetivo analisar a comunicação de marcas contemporâneas, em sua
relação com o espírito empreendedor social. Essa relação se dá pela via do discurso
sobre o bem comum, conforme Boltanski e Chiapello (2009), ou seja: as lógicas de
justificação do capitalismo, utilizadas em estratégias de publicização. Nesse processo de
legitimação, grandes corporações capitalistas, voltadas à obtenção de lucro em suas
operações, revestem o consumo do ethos da ação pública, do trabalho cooperativo, da
transformação social, por vezes tangenciando o discurso do terceiro setor. Como é o
caso da comunicação do uísque Chivas e sua apropriação e ressignificação do conceito
de empreendedorismo social, na campanha global Win the right way. A mídia digital é o
suporte dos discursos analisados, na perspectiva crítica de Fairclough (2001).
Introdução
“Vença do jeito certo”. Em tom de convocação, o slogan da campanha mundial
da marca de uísque Chivas caracteriza a incorporação da imagem do empreendedor
social à retórica capitalista. A recente visibilidade desse agente em nossa sociedade,
bem como a sua presença no discurso publicitário - o que pressupõe o valor agregado
em sua imagem que ultrapassa o sentido do “social” -, são sinalizadores da configuração
do espírito do capitalismo contemporâneo, conforme discutem Boltanski e Chiapello
(2009).
O objeto deste trabalho é o processo de assimilação do espírito empreendedor
social pela retórica publicitária; esse fenômeno permite discutir sobre o cenário atual,
visto pela ótica da cultura empreendedora, da produção e do consumo. A metodologia
adotada é baseada na análise crítica de discurso de Fairclough (2001): nessa abordagem,
textos, ações e discursos se entrelaçam, são indissociáveis. A atividade do
empreendedor social, observada como fenômeno comunicacional, é vista neste trabalho
em sua constituição discursiva, retroalimentada por um conjunto de textos culturais, que
133
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro Nacional de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
134
Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM, desde
2007. Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2005), com Pós-
doutoramento pela FCSH – Universidade Nova de Lisboa (2013), email: vcasaqui@yahoo.com.br.
224
oscilam entre a narrativização das práticas desse agente e a atribuição de sentido a essas
ações, na estratégia discursiva de legitimação de um campo identificado com as técnicas
e tecnologias do mercado neoliberal. A noção de mudança social, contemplada na obra
de Fairclough, é um tema recorrente no campo do empreendedorismo social, como
podemos perceber nos textos selecionados para este estudo. Visto como agente de
mudança, o empreendedor social é resultado de uma construção social, da produção de
mundos possíveis (LAZZARATO, 2006) imaginados sob sua liderança visionária e
messiânica.
Em termos históricos, a discussão sobre o espírito do capitalismo remonta a
Weber (1994) e sua análise da ética protestante nas origens e consolidação do modo de
produção capitalista. A releitura dessa clássica contribuição de Weber, ou a teoria do
novo espírito do capitalismo de Boltanski e Chiapello (2009), compreende os modos de
renovação retórica que, ciclicamente, recolocam o sistema capitalista em alinhamento
com as lógicas que permeiam o seu tempo, com as demandas sociais. De maneira mais
específica, o espírito do capitalismo é baseado nas lógicas de justificação desse sistema,
capaz de promover engajamento dos sujeitos em seus modos de produção e consumo,
bem como fazer frente às críticas que lhes são direcionadas pela sociedade.
A noção de engajamento não deve ser vista de forma superficial, como sinônimo
de conquista de audiência, na forma utilizada no jargão mercadológico, também
presente em parte dos estudos de recepção midiática. No contexto do novo espírito do
capitalismo, o engajamento é relacionado à motivação, a mobilização dos sujeitos a
investirem, de corpo e alma, seus esforços e suas trajetórias de vida em função de um
ideal, de um “sonho”, de um desejo amplo de fazer parte de um modo de conceber a
atividade laboral, identificada com o modo de produção capitalista. Nesse sentido, o
terceiro espírito do capitalismo, que corresponde ao contexto atual, é aquele em que o
empreendedor se torna modelo de cultura, o tipo ideal de nosso tempo (cf.
EHRENBERG, 2010). O desejo de se tornar empreendedor é algo estimulado por
múltiplas esferas de mediação, como o ambiente universitário – cada vez mais voltado à
formação empreendedora – e os discursos eufóricos difundidos pela cena midiática em
torno de sua imagem. Atributos morais como resiliência, autonomia e criatividade,
competências técnicas advindas da expertise do mercado, traços heroicos e mitificações,
compõem o perfil do empreendedor, ambicionado e adotado por inúmeros jovens para o
transcurso de suas vidas em relação com o mundo do trabalho. A publicidade, como
discurso arraigado no espírito de seu tempo, não se isenta da associação a esse
225
226
227
com o terceiro setor: “os historiadores da economia do futuro vão olhar para esta
geração de líderes e serem gratos. Eles assumiram o risco e transformaram o modelo
vigente. Eles ajudaram a criar um mundo que enriqueceu a muitos e não apenas a
alguns” (SCHWAB FOUNDATION, 2013, p.5, tradução nossa).
Na perspectiva do mencionado relatório da Schwab, quebrar o binarismo é
compreender ser possível unir coisas dialeticamente opostas, encontrar um ponto
intermediário entre interesses conflitantes - como a conciliação entre “maximizar
rendimentos ou realizar donativos filantrópicos” (idem). Essa ideia de encontrar um
caminho para o capitalismo que una o “social” com o lucro, o objetivo fundamental das
organizações privadas, posicionaria, em tese, o Segundo Setor como o principal vetor
da gestão comunitária da sociedade. É importante lembrar, nesse aspecto, as reflexões
de Foucault na obra Nascimento da biopolítica (2008), baseada em curso realizado no
Collège de France entre os anos de 1978 e 1979. Em sua reflexão sobre a natureza da
sociedade civil e a racionalidade econômica, identificada pela imagem do homo
oeconomicus, Foucault discute os conflitos entre os vínculos baseados nos “interesses
desinteressados” (relacionados com o caráter comunitário da sociedade civil) e o
vínculo econômico. Em suas palavras:
(...) o vínculo econômico vai desempenhar, no interior dessa sociedade civil
em que ele pode se instalar, um papel muito curioso, já que, de um lado, ele
vai vincular os indivíduos entre si pela convergência espontânea dos
interesses, mas vai ser, ao mesmo tempo, princípio de dissociação. Princípio
de dissociação na medida em que, em relação aos vínculos ativos que serão
os da compaixão, da benevolência, do amor ao próximo, do sentimento de
comunidade dos indivíduos uns em relação aos outros, o vínculo econômico
tenderá – de certo modo marcando, acentuando, tornando mais incisivo o
interesse egoísta dos indivíduos – a desfazer perpetuamente o que o vínculo
espontâneo da sociedade civil terá ligado (FOUCAULT, 2008, p.411).
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com a lógica de bem comum promovida pela marca Chivas, cujo slogan é Live with
chivalry (viva com cavalheirismo). Essa ideia de haver um “propósito” nas ações dos
cavalheiros de Chivas é acomodada ao princípio de preservação do mundo onde há os
“vencedores”, que implica, necessariamente, a existência dos “perdedores”. A “maneira
correta” de vencer legitima as conquistas pessoais como ganhos para a sociedade. Há
algo da ética protestante discutida por Weber (1994) nessa retórica, obviamente
redesenhada para os tempos atuais, em que o novo espírito do capitalismo e a sociedade
midiatizada alimentam a moral empreendedora de novos significados.
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São Paulo tem um novo lugar para happy hour e networking: o Chivas
Spirit, no shopping JK Iguatemi. É claro que um bom Chivas é a
especialidade da casa, mas nossas noites têm uma dose de conteúdo a
mais para oferecer.
A partir do dia 7 de maio, às quintas, sextas e sábados, acontecerão
talks com convidados que estão transformando o mundo com suas
ideias, além de shows e Djs incríveis.
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Considerações finais
A estratégia de publicização de Chivas Regal utiliza recursos tão diversos
quanto um relatório de pesquisa sobre empreendedorismo social no mundo,
devidamente chancelado por uma organização global; campanha publicitária para mídia
tradicional; a narrativização da vida de empreendedores sociais modelares, ideais, de
acordo com sua forma de redefinição desse agente; um bar para promover encontros
“produtivos” - no sentido da mercantilização associada ao mundo conexionista descrito
por Boltanski e Chiapello (2009) -, o lugar ideal para compartilhamento de ideias e
consumo do uísque da marca. Nessa multiplicidade de estímulos, podemos perceber
como a retórica capitalista incorpora e vampiriza a figura do empreendedor social,
esvazia seu objetivo de resolução de problemas sociais e o equipara ao homo
oeconomicus, legitimado em sua ambição pelo lucro por meio de uma retórica de ação
com um “propósito”. Nesse sentido, diante de um cenário social cada vez mais
identificado com a sociedade de risco analisada por Beck (2010) - ou seja, um sistema
137
Disponível em: < http://www.chivalryclub.com.br/lifestyle/chivas-spirit-o-novo-bar-de-chivas-que-
nao-e-so-um-bar>. Acesso em: 1 maio 2015.
235
de produção que escapa ao controle ambicionado pelo homem e passa a produzir riscos
e catástrofes em larga escala -, chama a atenção o tom tranquilizador da retórica de
transformação do mundo promovida por Chivas. A urgência e a gravidade dos
problemas sociais dão lugar ao antídoto da celebração, em forma de consumo distintivo,
dos “cavalheiros” e suas preocupações com o outro, sem abrir mão de seus “interesses
egoístas”, como diz Foucault (2008).
REFERÊNCIAS
236
RESUMO
Esta comunicação parte da premissa de que, como campo da Comunicação, a
Publicidade e sua narrativa atuam na elaboração cotidiana das representações sociais,
dos significados circulantes que constituem o imaginário de uma sociedade, e sobre as
quais, por consequência, se impõem determinados valores morais vigentes. Como a
publicidade lida com o que não é bonito ou “normal”, dentro dos padrões normativos e
hegemônicos presentes na mídia? Quais são os limites simbólicos de uma narrativa
baseada em representações de um “mundo perfeito”, do “final feliz” e da beleza? Para
tanto, tomaremos, como objeto de estudo, a publicidade que parece construir
representações sociais das contraculturas e subculturas juvenis, a partir do movimento
punk. Os principais conceitos que sustentam esta discussão são a Teoria das
Representações Sociais de Serge Moscovici, e também de importantes autores das
Ciências Sociais, como Mary Douglas, Erving Goffman e Howard Becker, que
respectivamente lidam com as noções de impureza, estigma e desvio.
Desde 2011, venho me dedicando a uma pesquisa que tem como objetivo mais
amplo explorar as diferentes representações midiáticas da juventude na publicidade,
desde os anos 1960 até hoje. Acredito que esta é uma forma de ter acesso ao processo
de construção social da juventude, numa perspectiva histórica e sociológica.
Se, de um lado, a complexidade deste objetivo acaba impondo a necessidade de
um recorte bastante delimitado do objeto de pesquisa, o que nem sempre é tão simples
de fazer, por outro, a variedade de temas correlacionados ao universo juvenil permite
diversas possibilidades de análise, apresentando, ainda, muitas questões interessantes
para serem pensadas. Algumas delas, por exemplo, são o corpo jovem idealizado, o
consumo e seus desdobramentos na experiência geracional, os usos da tecnologia, as
relações com a política, entre outros. Neste momento, a questão que mais me vem
interessando observar são as maneiras pelas quais determinada subcultura juvenil é
apropriada pela publicidade, tornando-se uma representação midiática de fácil
compreensão pelo senso comum.
A Publicidade é um importante espaço de representação social na
contemporaneidade. Afinal, se vivemos numa “sociedade do consumo”, a publicidade
é a sua mais importante narrativa. Através dela, é possível compreender os valores
hegemônicos da vida social contemporânea, os mesmos que guiam a vida cotidiana e a
interação que se estabelece no senso comum. Ademais, sendo pública e coletiva, a
237
238
239
poder. Se, de um lado, os rituais servem para marcar os lugares do puro e do impuro, da
higiene e da poluição, da ordem e da desordem, do outro, tais marcações são exercidas
pelos que detêm o poder. Os “perigos” a que se refere Douglas são as sanções que se
impõem sobre os transgressores das regras sociais, necessários para a manutenção da
ordem, ainda que pela ameaça que oferecem; ameaça, aliás, que ocupa um lugar
fronteiriço que separa a ordem da desordem. A “anomalia” e a “ambiguidade”, por
analogia à impureza e à desordem, são, para a antropóloga, repositório de perigo para
qualquer sociedade. Em algumas tribos estudadas pela autora, os animais rastejantes, ou
detentores de algum tipo de deformação física, eram evitados e constituíam tabu.
Simbolicamente, pensando da perspectiva das representações sociais midiáticas, o
mesmo efeito parece persistir, principalmente se tomarmos de empréstimo a clareza e
objetividade da publicidade: nada que é ambíguo cabe em sua narrativa, muito menos o
que cause aversão ou repulsa. A ambiguidade e a anomalia representam perigo porque
desafiam a forma, dentro das noções de forma e de ausência de forma de uma sociedade.
Isto será útil para pensar as representações do punk. Em suma, o nosso comportamento
face à poluição consiste em condenar qualquer objeto ou qualquer ideia suscetível de
lançar confusão ou de contradizer as nossas preciosas classificações (DOUGLAS, 1991,
p, 51).
O terceiro conceito é desenvolvido por Erving Goffman para quem os estudos
sobre os estigmas – defeitos físicos, marcas corporais, ou qualquer outra situação que
torna o indivíduo incapacitado para a aceitação social plena – permitem a compreensão
de determinados aspectos relacionados à interação e ao controle social. Goffman
distingue os “normais” dos “estigmatizados”. Nesta relação, o autor aponta uma série de
nuances, dependendo do contexto a ser considerado. Há, por exemplo, o fator de
“crédito” ou “descrédito” atribuído aos indivíduos socialmente; ou os estigmas que são
visíveis e que determinam a condição do “desacreditado”, ou os que não são visíveis, o
que determina a condição do “desacreditável”; ou, ainda, a “manipulação” ou a
“encobrimento” do estigma, dependendo das perdas e dos ganhos contextuais do
estigmatizado. Das teorias de Goffman, o ponto que mais nos interessa aqui é o que o
autor denomina de “símbolos”. Seriam três tipos: os “símbolos de estigma”, em
oposição aos “símbolos de prestígio”. Por “símbolos de estigma”, o autor define
“símbolos que são especialmente efetivos para despertar atenção sobre uma degradante
discrepância da identidade que quebra o que poderia, de outra forma, ser um retrato
global coerente” (GOFFMAN, 1988, p. 53). O terceiro tipo são os signos
“desindetificadores”, ou seja, aqueles que promovem a quebra de expectativas com
relação a uma informação social, o que é usado pelo indivíduo de forma positiva.
240
241
REFERÊNCIAS
242
RESUMO
O estudo compõe um projeto maior que investiga a história da publicidade brasileira. A
etapa do estudo apresentada neste texto parte da percepção de que, entre os elementos
do macroambiente que interferem na configuração da atividade publicitária nessa
contemporaneidade, a tecnologia, a partir dos processos de digitalização, tem
condicionado tanto os modos de produção publicitária quanto seus produtos. Procura-se
oferecer análise, a partir de pesquisa bibliográfica e documental, sobre configurações
contemporâneas e alterações de formas tradicionais da comunicação publicitária perante
desafios que alternativas digitais oferecem à publicidade na etapa denominada para fins
de estudo de multiplataforma.
1. Introdução
A partir de levantamento bibliográfico e documental sobre elementos que
configuram um conjunto de práticas no campo da produção publicitária caracterizadas
pelo impacto da digitalização de processos, espera-se identificar características de uma
fase contemporânea da atividade publicitária. Muitos vocábulos como multiplataforma,
multitela, engajamento, narrativa transmídia, entre outros vêm desafiando o
entendimento do que significam as alterações nas rotinas da publicidade se pensada
diacronicamente.
Partindo do pressuposto de que outras fases da publicidade foram se
configurando em sua trajetória brasileira, ao longo do século XX (RODRIGUES;
TOALDO, 2013), está-se diante de um novo momento que requer definição. Portanto,
especula-se que muitos termos identificados no levantamento indicam duas
possibilidades: reafirmam práticas já consolidadas nas fases anteriores, contudo
138
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
139
Professor Adjunto da Fabico/UFRGS, Vice-Diretor Fabico/UFRGS – iribure@ufrgs.br
140
Professora Adjunta da Fabico/UFRGS – mariangela.toaldo@ufrgs.br
141
Esse trabalho contou com a colaboração da bolsista de Iniciação Científica Mariana da Rosa de
Oliveira, aluna do Curso de Publicidade e Propaganda da UFRGS.
243
244
245
Deixa-se de ser mero receptor para protagonizar um papel ativo nas relações de
produção e consumo de mídia numa interação que ocorre de maneira imprevisível. Isso
acontece num cenário no qual os meios de comunicação convergem para as plataformas
digitais, não se excluindo, mas colidindo em uma interface única. Tal convergência
midiática propicia linguagens e relações híbridas em uma “transversalidade inscrita nos
meios, hoje, muito nitidamente dirigida por concepções abertas de construção e,
sobretudo, a partir de bases heterogêneas e mutantes (ARENDT; AZAMBUJA, 2009,
p.148).
Em busca de acompanhar esse movimento junto com o consumidor, o
investimento publicitário em internet vem passando por uma significativa variação,
tendo obtido a cifra de R$ 776 milhões e crescimento de 23,75% no ano de 2014.
Apesar de ainda ser um percentual baixo de participação do montante publicitário,
4,49%, muito aquém da TV aberta que participa com 22,09%, percebe-se uma mudança
se comparada aos meios com taxas negativas como jornal e revista, conforme dados do
Projeto Inter-Meios . A pesquisa F/Radar (F/NAZCA SAATCHI & SAATCHI, 2014)
143
aponta algumas pistas dessa alteração, ao identificar que 58% dos internautas têm o
hábito de buscar informações de produtos antes de sua aquisição e um entre cada quatro
internautas costumam dar sua opinião na internet sobre produtos comprados, com
destaque para as redes sociais – arena tanto para elogios quanto críticas.
As mudanças no meio comunicativo implicam adaptações do modo de fazer
publicitário, que devem buscar formas consoantes às novas experiências com as mídias.
O foco passa a ser a participação ativa do consumidor na comunicação da marca, nesse
caso priorizando o meio online, de forma que, além de consumir produtos, engaje-se na
campanha e sirva como propagador dessa mensagem. As redes sociais ganham
importância no planejamento de empresas para atender os objetivos da marca e oferecer
um relacionamento que seja correspondente à dinâmica do novo perfil de consumidor,
mais ativo, ávido por informações, consciente não só da sua realidade, mas de uma
visão de mundo integrada (ROCHA; ALVES, 2010).
“Como os usuários mudaram para novas telas de conteúdo e informação,
publicidade e marketing precisarão mudar também. É mais importante que nunca
143
O Projeto Inter-Meios é um relatório de investimento em mídia no País tabulado pela empresa de
auditoria PricewaterhouseCoopers com exclusividade para o Meio & Mensagem.
Leia Mais: http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/noticias/2014/09/08/Inter-Meios-aponta-
crescimento-de-18--.html#ixzz3Ybyr1xdd
246
encontrar consumidores onde eles querem, quando eles querem e como eles querem”
(BERMAN et al, 2009, p. 36).
144
Para maiores informações ver em http://www.abradi.com.br/ , disponível em abril de 2015.
247
2.3 Mensuração
Os anunciantes precisam de mensurações mais personalizadas e baseadas no
envolvimento do consumidor com a marca em contraponto ao modelo de marketing de
massa. Nesse sentido são mais eficazes modos de comunicação publicitária que
invistam mais em impactar o receptor da marca que em impressioná-lo (BERMAN et al,
2009).
A disponibilidade de tecnologia e as demandas dos anunciantes por
segmentação, prestação de contas e ROI145 estão promovendo mudanças no sistema de
mensuração. Com o aumento da segmentação do consumidor nos diferentes
dispositivos, canais e plataformas, a mensuração precisa abordar os segmentos mais
finos e os consumidores individuais. “Nós prevemos que o indivíduo e o microtargeting
prevalecem em todos os formatos de mídia” (BERMAN et al, 2009, p.40). Esse tipo de
publicidade mais focada requer um aumento (variações) de peças criativas para alcançar
público de nicho com mensagens especializadas.
A empresa de tecnologia da informação da agência digital GhFly, de Curitiba
(PR), por exemplo, oferece ferramenta capaz de acompanhar indicadores de
performance online em tempo real. “O sistema serve de apoio à logística, porque não só
monitora, mas também informa. Se a empresa não atingir a meta, por exemplo, ele avisa.
O cliente pode, inclusive, mudar uma oferta que está sendo feita na internet”, segundo
Gustavo Hana, sócio-diretor da empresa GhFly (MARTINS, 2014). A ferramenta
permite controlar informações como taxa de conversão, ticket médio, produtos mais
vendidos e retorno de mídias (MARTINS, 2014).
145
Sigla para Return on Investment, cuja tradução literal é Retorno sobre Investimento. É a taxa de lucro
de uma transação, a diferença entre o investimento e o retorno.
248
Twiter, Facebook, Google, YouTube – pauta suas métricas nos seguintes aspectos: os
rankings de Número de Fãs (Number of Local Fans); de Engajamento (Average Post
Engagement Rate) e de Devoção (Average Response Rate). O Número de Fãs
corresponde à quantidade de usuários que curtem a página da marca no Facebook, ou no
caso do Twitter, o número de seguidores e no Youtube, número de inscritos. O
Engajamento especificamente mede o quanto os indivíduos curtem, compartilham e
comentam o conteúdo disponibilizado pelos responsáveis pela página, e o aspecto de
Devoção mede a frequência com que os indivíduos obtêm respostas para os seus
comentários na página.
As necessidades de mensuração requerem uma proximidade entre marca e
consumidor por meio da comunicação permanente entre ambos, de forma que este
último seja reconhecido como interagente.
249
149
Para maiores informações ver http://br.idclatin.com/default.aspx , disponível em abril de 2015.
250
Este modelo vem apresentando impacto de tal forma que começa a ser testado na
TV por Assinatura, funcionando de forma muito semelhante ao formato original na
internet, sendo realizada por meio dos decodificadores das operadoras de TV paga, que
captam os dados dos usuários. Há exemplos de anunciantes como a Kraft & Foods que
vem apostando neste tipo de comercialização na TV, o que coloca empresas de
marketing global com esta expertise, como a Turn e Admore, a aumentarem a oferta de
venda programática no meio TV nos Estados Unidos (NÒS queremos, 2014).
251
150
espaço horizontal em uma página web pago pelo anunciante que pode ser horizontal, estático ou
hipertextual, situado no topo ou no fim do suporte (texto, que, por meio de links, dá acesso a outros
conjuntos de informações textuais, sonoras ou imagéticas).
151
janelas intrusivas que surgem no website por cima do conteúdo (pop-up) ou por trás dele (pop-under).
152
parecida com o banner, porém em disposição vertical e de maior tamanho.
252
253
supera criatividade nos comerciais de TV”. Nesse sentido, para os autores, “emissoras
deveriam entregar programas integrados de publicidade e multiplataforma vinculados a
sua programação ativa” (idem, p. 47).
Outra estratégia congruente à publicidade online interativa é o marketing viral,
que constitui no envolvimento do consumidor com o conteúdo a ponto de ele servir
como disseminador e defensor da marca. Para isso, o conteúdo deve constituir-se de
entretenimento, humor, curiosidades, ou informações que o público considere relevantes
e úteis para o compartilhamento. O marketing viral, dessa forma, baseia-se no
hibridismo entre conteúdo e entretenimento (BRAGA; COVALESKI, 2013).
Um exemplo de publicidade que investe na interação e, especialmente, na
experiência são as realidades virtuais 3D, em que o público pode interagir com a marca
e não apenas ser exposto a ela. A Realidade Aumentada (RA), segundo Okada e Souza
(2011), é um recurso tecnológico que reúne elementos do mundo real com elementos
virtuais em 3D através de óculos, capacetes ou monitores, que permitem a recepção
direta do real e projetem, ao mesmo tempo, elementos virtuais nesse ambiente,
estimulando que o usuário interaja em tempo real com ambos os elementos. O recurso
“ficou em evidência com a veiculação de campanhas e peças publicitárias, para
melhorar o apelo visual e a quantidade de informações agregadas à apresentação de
produtos e serviços” (OKADA; SOUZA, 2011, p. 66), embora no Brasil , ainda não se 153
153
Conforme estimativas da empresa MarketsandMarkets, até 2018, fabricantes de hardware de realidade
virtual e realidade aumentada irão gerar uma receita global de US$ 1,06 bilhão. Um exemplo de
utilização dessa tecnologia ocorreu durante a Copa do Mundo de 2014, onde a Coca-Cola promoveu uma
experiência em que os participantes entravam em uma réplica do vestiário do Estádio do Maracanã e ao
colocarem os Óculos Rift, eles eram “transportados” para o campo, podendo jogar uma partida de futebol
diretamente de suas cadeiras no vestiário. Leia mais em:
http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/noticias/2014/08/15/Realidade-virtual-ganha-
espaco-com-as-marcas.html
254
255
REFERÊNCIAS
256
257
RESUMO
Tendo em vista o reconhecido predomínio da televisão privada no país, em canal aberto,
o objetivo do presente trabalho é investigar as relações entre essa mídia e os elementos
de caráter econômico e tecnológico nela imperantes, analisando seus efeitos na
especificidade da produção discursiva televisual, sobretudo aquela de caráter
promocional. Para tanto, discute as propriedades da televisão no país, influência dos
fatores econômico e tecnológico, relação entre tecnologia e discurso televisual, e o
exame dessas repercussões em um programa da emissora.
Considerações preliminares
O surgimento da televisão no continente europeu, na década de 1950,
representou, inequivocamente, uma verdadeira revolução na comunicação, sobretudo
pela incorporação da imagem que sempre auxiliou o telespectador a melhor
compreender o mundo a sua volta, outorgando a essa mídia a inigualável condição de
janela para o mundo. A exploração da imagem permitiu ainda o acesso mais fácil a
novas realidades, transformando a televisão, como bem ressalta Wolton, em um dos
principais instrumentos de comunicação, tanto pelas informações que traz, como pela
possibilidade de proporcionar que as pessoas falem sobre isso, estimulando a
conversação.
Além disso, por ser acessível a todos, gratuita e com um leque de mensagens de
todas as naturezas, a televisão desde sempre se constituiu como natural instrumento de
emancipação, possibilitando, para a sociedade como um todo, avanços significativos no
plano social, cultural e político.
Nesse percurso, a televisão, impulsionada pelos avanços tecnológicos e pela
ameaça das novas plataformas que chegaram para subverter as lógicas entre produtores
e receptores, foi-se voltando menos para os fatos externos, os acontecimentos do mundo,
e mais para o próprio fazer, a fala de si, o que ocasionou a predominância de discursos
154
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda,
de 27 a 29/05/2005, CRP/ECA/USP.
155
Pós-doutora do PPGCOM da UFSM, e-mail: mlilia@terra.com.br
258
259
260
261
262
plataformas, o que permite que muitos nela reconheçam uma tendência de caráter
tecnologicista.
Essa confluência de novas mídias caracteriza o fenômeno da convergência,
entendida, por Jenkins, como o fluxo de conteúdos por meio de distintas plataformas
(JENKINS, 2009), o que tem implicado a recorrência “a um conjunto de dispositivos e
suportes tecnológicos advindos de outras mídias (ou plataformas), mobilizados para a
realização, veiculação e consumo dos programas televisuais” (DUARTE; CASTRO,
2010, p.14). Esse fenômeno acaba atingindo tanto os meios, na forma não linear de
apresentação e exposição de conteúdos, como os próprios consumidores das mídias, na
forma não sequencial como passam a acessar os conteúdos. A televisão busca
incorporar cada inovação, trazida pelos tempos atuais, a fim de acompanhar avanços e
usufruir benefícios.
Em linhas gerais, é como se os conglomerados de comunicação, hoje, buscassem
controlar toda uma indústria de entretenimento, mostrando que “os antigos limites entre
mídia, suporte e conteúdo tornam-se difusos e confusos e neles imagem, texto e áudio
não apenas trafegam juntos, como se completam entregando ao usuário um conteúdo
multimídia” (PATRIOTA, 2000, p. 115)
A decorrência natural de toda essa inovação, ou dessa meta tecnologicista,
presentifica-se na popularização dos sites de redes sociais, na liberdade de expressão e
circulação de informações na rede, na simplificação das ferramentas de produção e no
quase apagamento das fronteiras entre produção e consumo (PRIMO, 2010).
Além disso, também se reconhecem novos desafios a produtores e receptores, na
medida em que são incentivados a procurar outras informações e a fazer conexões com
o uso de mídias dispersas. O receptor é convidado a assumir seu papel de protagonista e
a tentar as múltiplas possibilidades de acesso. Essa nova realidade, à disposição dos
consumidores, tem gerado um inusitado fluxo de conteúdos, um conjunto variado de
manifestações e diversificados recursos de exibição.
Dessa forma, pode-se dizer que a convergência abre “possibilidades para novos
modos de interação com os receptores que, pouco a pouco, vão deixando a condição de
meros telespectadores para se tornarem usuários e produtores” (DUARTE; CASTRO,
2010, p.14).
Dessa forma, a cada dia que passa, a mídia televisual está enormemente marcada
por um movimento reconhecido pelo caráter predominantemente economicista e o
tecnologicista. Isso acarreta novas formas de interatividade que, então, interferem na
263
264
Assim, na interação que se estabelece entre texto televisual e outras plataformas, esses
movimentos mostram-se sob duas variantes: a inerência, que põe em jogo a
condensação, diz respeito à interiorização da articulação entre o produto e a(s)
plataforma(s) apropriada(s), nos limites do texto televisual; a aderência, que põe em
jogo a exteriorização da articulação entre o produto e as plataformas apropriadas, está
relacionada aos transbordamentos dos limites do texto televisual em direção a outras
mídias.
Entre as formas de inerência, podem-se ressaltar as seguintes possibilidades: (1)
simples transposição de conteúdo de uma mídia a outra, como, por exemplo, a da tira de
jornal “Aventura da família Brasil”, convertida em narrativa televisual com mesmo
nome; (2) convocação de outras mídias para tomarem parte no relato, como, por
exemplo, o da internet, na telenovela Viver a vida, com função explícita na própria
narrativa; (3) inserção de mídias que possibilitam a interferência do receptor no
desenrolar da trama, como, por exemplo, a atuação do telespectador, via telefonia ou
internet, no interior dos programas (DUARTE; CASTRO, 2010, p.17), como é o caso
de Big Brother, SuperStar, The Voice Brasil, entre outros.
A aderência decorre da expansão do texto televisual para outras plataformas e/ou
outras mídias, como, por exemplo, jornais, revistas, quadrinhos, internet, outras
plataformas, com seus blogs, twitters e outros. O objetivo é fornecer informações sobre
determinado programa e/ou personagens, sob o comando da instituição, ou para permitir
a interferência do público, de acordo com o engajamento dos telespectadores
(DUARTE; CASTRO, 2010).
2 Análise da emissão
No âmbito deste trabalho, a convergência é pensada como diálogo entre as
teorias do discurso e a tecnologia, para reconhecer as estratégias empregadas por uma
produção televisual: quando convoca para seu interior outros programas da emissora ou
da concorrência (inerência), ou quando desdobra a produção em outras mídias ou
plataformas (aderência).
Na sequência, busca-se, em perspectiva paratextual, explicitar a situação da
emissora, no contexto atual e caracterizar o programa de humor Tá no ar: a TV na TV
na sua grade; e, em perspectiva intra e intertextual, examinar alguns dados constitutivos
do programa e sua relação com outras emissões, da própria emissora e, quando for o
265
266
vibração (em verde), com os jornalistas Tiago Leifert, Galvão Bueno e Fernanda Gentil,
anunciou as realizações do ano no terreno dos esportes; o segmento diversão (em
amarelo), com Fernanda Lima, Pedro Bial, Marcelo Adnet, Leandro Hassum, Ana
Maria Braga e Fátima Bernardes, divulgou os programas de entretenimento mais
representativos da emissora.
- projeto Luz, Câmera 50 anos
O projeto Luz, câmera 50 anos, parceria entre as áreas de Programação e de
Entretenimento, resumiu-se na exibição de 12 longas-metragens elaborados a partir de
séries, minisséries e seriados, exibidos na televisão entre 1982 e 2014. Cada telefilme,
com duração de 80 a 130 minutos, constituiu uma releitura das obras mais emblemáticas
da emissora, com vistas a oferecer ao público sucessos representativos da produção
global, ressaltar a memória da teledramaturgia nacional, além de consolidar e expandir a
produção da emissora.
- novos lançamentos
Outra iniciativa de divulgação foi o lançamento de novos programas, como os
filmes especiais, as microsséries, a 15ª. temporada do Big Brother Brasil, o Planeta
Extremo, e a segunda temporada de ficção científica norte-americana; e de novas
telenovelas, como a novela das seis (Sete vidas), a das nove (Babilônia), além da reprise
de O rei do gado. A divulgação dos novos lançamentos é a maneira de a emissora
fortalecer o segmento da teledramaturgia, ressaltar ao público as novidades da grade,
diferenciar-se da concorrência e também consolidar a própria posição no cenário
nacional.
b) programa Tá no ar: a TV na TV
O programa semanal de humor Tá no ar: a TV na TV, escrito e protagonizado
por Marcius Melhem e Marcelo Adnet, com direção de núcleo de Maurício Farias, foi
criado para ser um programa de humor, exibido às quintas-feiras, em torno de 23h. No
entendimento dos autores, teve como proposta, pautada nos programas e nos atores da
emissora, tratar de forma crítica e bem humorada todos os acontecimentos que cercam o
fazer televisual (CASTRO, 2014, p.8), misturando conteúdo temático com intervalo
comercial, informação com crítica social, brincadeira com denúncia, gozação com
apelação.
Desde o lançamento, o programa estreou em esquema de temporada: a primeira
foi de abril a junho de 2014 (com nove episódios); a segunda, de fevereiro a abril de
267
2015 (com 10 episódios), e teve sua última emissão veiculada em pleno mês de
aniversário da emissora, mais precisamente em 16 de abril de 2015.
Na sua estrutura, o programa combinou pequenas cenas de programas de maior
representatividade, nas áreas que envolvem informação, emoção, vibração e diversão;
paródias de programas já veiculados, com versão divertida de algum episódio, e com
ambientação no aqui e no agora; referência a ações da concorrência; ênfase na exibição
de quadros consagrados, como galinha preta pintadinha, jardim urgente e militante
revoltado.
268
269
alto, gesticula, denuncia, dirige-se aos telespectadores, mostra sua revolta, manifesta
sua inconformidade diante de algum problema, posicionando-se sempre com paixão e
emoção na crítica que faz de todas as instâncias de poder no país. Essa postura
contrapõe-se, de certa forma, àquela assumida pelos âncoras e repórteres da Globo,
reconhecida pela atitude aparentemente imparcial e comedida de seus profissionais de
jornalismo. As vozes dos dois universos jornalísticos, diametralmente opostos, expõem
as críticas existentes sobre a imparcialidade jornalística e sobre a forma de
comportamento do profissional diante dos fatos, convocando o telespectador para um
posicionamento efetivo diante dessas situações, além de reforçar o tom apaixonado e, de
certa forma, ridicularizar a posição exaltada.
- Militante revoltado – o outro quadro traz um ator de sotaque pernambucano
que assume o papel de crítico e faz denúncias contra a Rede Globo, acusando-a de
possuir símbolo satanista, de ter relação estreita com o período da ditadura militar, de
possuir vínculo com o imperialismo norte-americano, além de enfatizar o quanto ela
valoriza seus fazeres e promove suas novelas. São acusações explícitas e diretas que
muito se assemelham às posições assumidas por aquelas pessoas que, frequentemente,
criticam o poder e a influência exercida pela emissora.
A formulação explícita de uma crítica antecipada funciona, assim, como uma
maneira de desqualificar qualquer eventual comentário que a emissora possa sofrer,
evitando assim quaisquer apreciações negativas futuras. Tudo que se possa dizer em
relação à emissora (como frequentemente o fazem os críticos mais severos) é
denunciado e, ao mesmo tempo, banalizado.
Em síntese, no que se refere à inerência, o programa, inspirado em tudo que se
faz na televisão, estrutura-se em torno de uma sequência de quadros que parodiam
situações extraídas da própria programação e, até, da concorrência, além de remeter aos
contumazes críticos da emissora que não poupam palavras para combater o poderio da
Globo. Não obstante, os quadros são mostrados sob outra angulação, capaz de provocar
impacto, admiração e surpresa, subvertendo a ordem conhecida, habitual, e levando o
telespectador a manifestar algum tipo de reação frente ao inusitado.
b) Aderência: ordem da expansão
- desdobramento do programa em outras mídias
A expansão em outras mídias compreende jornais, revistas, quadrinhos, internet,
ainda que nem sempre haja participação direta da emissora, para anunciar ao público
angulações possíveis. Sobretudo em se tratando e telenovelas, essas mídias alimentam-
270
271
Considerações finais
A proposta deste estudo foi, a partir da articulação entre mídia televisual,
discurso promocional e novas tecnologias, examinar as repercussões e as interferências
dos avanços tecnológicos na construção do texto televisual de natureza promocional,
buscando reconhecer as estratégias empregadas pela produção televisual, seja da ordem
da condensação (inerência), seja da ordem da expansão (aderência).
Assim, utilizando como pano de fundo a Globo e a emissão do programa Tá no
ar; a TV na TV, do dia 16 de abril de 2015, a ideia é reconhecer os movimentos
estratégicos, presentes no seu discurso, que reforçam essa fala capitaneada pela
emissora.
O programa, no seu todo, assemelha-se a uma revisão bem-humorada da própria
televisão, através de um conjunto de quadros, que misturam programas da emissora, da
concorrência, e até situações criadas com supostos críticos da emissora. Assim fazendo,
o programa consegue desnudar discursos, discutir com a sociedade as coisas que estão
aí, além de propor uma crítica antecipada a tudo o que nela se faz. É, no fundo, uma
grande paródia da própria televisão e, nesse sentido, parece ter atingido sua meta. A
emissão analisada não apenas veio marcada de experimentação, novidade e ousadia,
como mobilizou toda a empresa, exigindo-lhe redobrada atenção para o êxito do
empreendimento.
No detalhamento das estratégias de condensação (inerência) e de expansão
(aderência), percebe-se que, principalmente com o advento da televisão digital e das
constantes inovações tecnológicas, o discurso televisual vem buscando formas de se
adaptar a essas mudanças, sobretudo no movimento de aderência, ao espalhar para
outras plataformas informações adicionais que envolvem profissionais envolvidos,
bastidores de gravação e, mesmo, especulações paralelas. Tudo é feito para acompanhar
os novos tempos e buscar estratégias diferenciadas de convocação do público.
Acima de tudo, não se pode negar o caráter inovador que o programa traz,
procurando “zoar de tudo” o que se faz em televisão. Mais do que nunca, no programa,
a fala de si mesma confere à emissora esse valor de recorrência ao próprio fazer, e de
convocação do telespectador que se vê forçado ao envolvimento. Com isso, a intenção é
272
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
273
A ESTÉTICA DA CIBERPUBLICIDADE156
Guilherme Nery ATEM157
Universidade Federal Fluminense, RJ
RESUMO
Nosso Grupo de Pesquisa – “ReC: Retórica do Consumo” – vem trabalhando o conceito
de Ciberpublicidade nos últimos anos, e atualmente estamos trabalhando as questões
estéticas envolvidas na Ciberpublicidade. Tomamos a Estética em seu sentido
originário: o de estudo das sensações, do prazer sensível, das sensorialidades, para
buscarmos o entendimento das novas táticas ciberpublicitárias, em suas abordagens dos
prossumidores. Para tanto, recorremos a diferentes pesquisas teóricas – da Filosofia à
multissensorialidade das marcas – e a exemplificação com cases recentes.
Introdução
“Ao tocar o produto pela linguagem publicitária,
os homens lhe dão sentido e transformam assim
o seu simples uso em experiência do espírito.”
(Roland Barthes)
Este artigo tem um duplo objetivo: por um lado, dar um panorama geral e
resumido da pesquisa atual do Grupo de Pesquisa ReC: Retórica do Consumo, que é
sobre os aspectos estéticos da Ciberpublicidade; por outro lado, dissertar sobre o meu
modo particular de pesquisar e pensar este tema.
Sendo assim, dentro do espaço limitado de um artigo, buscarei delimitar alguns
dos aspectos que permitam ao leitor ter uma visão clara a respeito de como esta
pesquisa vem se desenvolvendo, e como ela pode contribuir, ao seu modo, para o debate
sobre a atualidade da nossa área. Para isto, dividi este artigo nas seguintes partes:
1- Delimitando o conceito de Estética: em que, a partir do mapeamento que fiz das
teorias estéticas tradicionais e contemporâneas – que se desdobraram em parte da
disciplina de Graduação “Semiologia da Imagem I” –, delimito o conceito de
Estética para aplicação na pesquisa sobre a Ciberpublicidade.
156
Este texto é a base da minha apresentação, como convidado, na Mesa 3: Publicidade: criatividade,
inovação e questões do digital, do VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
157
Professor Adjunto 4 do PPG em Mídia e Cotidiano e do Departamento de Comunicação Social da
Universidade Federal Fluminense. Doutor em Comunicação e Cultura (UFRJ), Pós-Doutor em
Letras/Linguística (UERJ) e Líder do Grupo de Pesquisa ReC: Retórica do Consumo (UFF/CNPq).
Pesquisador Colaborador da Casa Semio. E-mail: gui.nery@globo.com .
274
275
(SOURIAU, 1973, p.19). Para Aristóteles, o belo e a razão humana seriam a mesma
coisa: “O belo consiste na ordem e na grandeza” (HUISMAN, 1955, p.23).
Simetria, unidade, medida, ordenação, proporção – a verossimilhança interna –
são seus conceitos fundamentais, e inclusive pautariam mais tarde as concepções
medievais (desde Santo Agostinho, e sua concepção do belo como regularidade
geométrica até o Renascimento, com suas concepções laicas e radicalmente fundadas na
arte). O belo aristotélico, via produção criativa (poiésis) melhoraria a realidade.
Formalmente, contudo, como conceito, a Estética foi criada em 1750 por
Alexander Baumgarten, com a publicação de seu livro “Estética: lógica da arte e do
poema” (1993). Ali, ele a definia como derivada do conceito grego de aisthésis: prazer
sensível; sensibilidade; sensorialidade. Portanto, podemos dizer que, pelo menos desde
Baumgarten, formulador deste conceito, a Estética se refere mais originariamente a tudo
o que diz respeito à percepção e à afecção, antes mesmo de se desdobrar em uma
racionalidade conceitual. Baumgarten fez a passagem da Estética tradicional para a
romântica e elevou as chamadas “faculdades inferiores do espírito” à mais alta potência.
É claro que mesmo depois de Baumgarten a Estética permaneceu se referindo ao
arcabouço teórico que visava construir conceitos racionais a partir do mundo sensível
que nos rodeia. Terry Eagleton (1993) diz que a Estética teria nascido como um
discurso sobre o corpo, sobre as percepções e sensibilidades humanas, em contraste com
o império da Razão, que se pretendia totalitário. “Para Baumgarten, a cognição estética
é mediadora entre as generalidades da razão e os particulares dos sentidos”
(EAGLETON, 1993, p.18).
Após este rápido panorama, é preciso explicitar a concepção de Estética adotada
por este artigo. Seguimos a concepção teórica inaugurada por Baumgarten e que se
estende até hoje, tratando menos das diferentes artes e mais da relação do homem com o
mundo, por meio de seu corpo, com suas capacidades de percepção e de afecção como
experiências primeiras na construção do conhecimento. Não se trata aqui de negar a
importância da racionalidade. Apenas intencionamos dissertar sobre a complexidade do
processo perceptivo-cognitivo que está na base mesma do pensamento comum e
cotidiano. Para isto, pensamos ser a Ciberpublicidade uma excepcional “máquina
estética”, o que evidencia ou exemplifica esta discussão, que, no fundo, é sobre a
relação entre a Publicidade atual e a cultura contemporânea – mas isto virá mais adiante.
Há toda uma tradição de pesquisas dentro daquilo que Featherstone (1995)
chamou de “Consumindo sonhos, imagens e prazeres”: Georg Simmel; Escola de
276
Chicago; Walter Benjamin; Escola de Palo Alto; Marshall McLuhan; Todd Gitlin (ver
ATEM, 2011). Tal perspectiva nos dá um olhar mais afinado quanto às questões da
expressividade estético-semiótica.
Quanto à materialidade informacional, ou seja, quanto aos suportes físicos dessa
estética contemporânea que transcende as obras-de-arte, temos a dita revolução
informacional da segunda metade do século XX, que nos instalou na fronteira entre o
massivo e o hiper-segmentado. Nem concreto puro, nem virtual puro, mas o pervasivo –
que forja novas potências (e impotências) de existir, de se expressar, de perceber, de
sentir, de agir, de pensar. E por que não dizer, de consumir?
A Estética kantiana, apesar de se debruçar sobre o juízo estético e não sobre a
estetização generalizada da cultura, se adequa bem ao contemporâneo: é inócuo um
conhecimento sem uma contrapartida sensível. “O que me parece estar em jogo é a
possibilidade do homem recriar as condições de habitação do mundo, tão desprezadas
pelo ‘universalismo’ da razão científica moderna” (OSÓRIO, 1999, p.237).
As experiências estéticas contemporâneas provocam desorientações, descobertas
sem parar, para que a própria arte fique indefinida. Desnaturalização e dessacralização
da experiência estética. A contemporaneidade operou uma estetização generalizada da
vida cotidiana. Fragmentação da estesia generalizada e ausência de conceitos universais
(como em Kant).
Na Teoria Estética contemporânea, Mario Perniola propõe uma “estetologia”
(1993), para além do “belo artístico”. Para ele, desde os anos 1960/1970 vivemos a
época em que a socialização seria realizada mais pelo sentir do que pela ideologia.
Seríamos uma “era sensológica”, que apontaria mais para o já-sentido (clichês;
estereótipos) do que para o novo radical.
As mídias massivas teriam promovido, segundo Perniola (1993), um
empobrecimento da experiência, uma miséria afetiva. Sua “estetologia” é menos
artística e mais cognitiva. A subjetividade atual está sempre pronta para ser afetada,
tocada, emocionada, reconfigurada, redefinida... Sentir é poder, no Capitalismo
Semiótico (imaterial e cognitivo). Na contemporaneidade estetizada e estetizante, o
sujeito deve (e deseja) “entregar-se ao abraço do silencioso mundo das coisas”
(PERNIOLA, 1993, p.29).
Essa estetização generalizada e seus signos que correm desembestados não se
limitam a “representar” a realidade do mundo. Eles não apenas “indicam” (como índices
semióticos), elas de fato “são” (GITLIN, 2003, p.20).
277
Da estética ao empirismo
“(...) o corpo, antes mesmo de chegar a pensar, é sempre um
organismo sensivelmente experimentador (...) O conhecimento
científico de uma realidade objetiva é sempre já fundado nesta
pré-doação intuitiva das coisas ao corpo perceptivo, na
forma física primordial de nosso ser-no-mundo.”
(Terry Eagleton).
278
são como “átomos” e as associações mentais são como “forças” que os unem e os
separam. Gilles Deleuze cita Gabriel Tarde para explicar o pensamento comum a Hume
e a Leibniz sobre a percepção: “É próprio da percepção pulverizar o mundo, mas
também espiritualizar a poeira” (Tarde apud DELEUZE, 2000, p.149). Assim, tudo o
que se dá a conhecer se apresenta sob 2 modos:
a) Impressões (dados fornecidos pelos sentidos, através da experiência sensível; podem
ser Internas [a percepção de um estado de alegria ou tristeza] ou Externas [a visão de
um objeto]); e
b) Ideias (representações mentais da memória e da imaginação, que resultam das
Impressões como suas “cópias modificadas”; podem se associar por Semelhança, por
Causalidade ou por Contigüidade).
As relações – entre Impressões e Ideias, ou entre Ideias e Ideias – são sempre
exteriores aos seus termos. Ou seja: são convencionais, frutos do hábito e do costume.
A probabilidade é tomada aqui como crença (“A primeira aparição de um evento não
nos permite inferir nada sobre o efeito que resultará dele”, dizia Hume). A crença e a
imaginação estão na base mesma do conhecimento.
Na construção do conhecimento, primeiro se dá a percepção dos dados brutos,
chamada de impressões. Depois, se dá em nós a afecção/sensação, derivação e efeito da
percepção. Em seguida, a ação, a resposta, o retorno, o comportamento, a ideia que
poderá ser manifesta. E mais do que isto: para Hume, as impressões são sempre
anteriores e mais fortes do que as ideias – inclusive porque determinam estas. A Ideia
mais viva é sempre inferior à Impressão mais pobre. O exemplo do beijo: nenhuma
ideia do beijo dado é superior ou tão viva quanto a Impressão do próprio beijo,
enquanto ele é dado.
O Empirismo inglês deu origem ao Sensualismo de Edmund Burke (1729-1797):
os “particulares livres”, ou impressões e sensações isoladas, matéria bruta dos sentidos,
que devem ser analisadas pela “razão estética”. O corpo, antes de pensar, experimenta.
Terry Eagleton (1993) diz que a Estética é o protótipo secreto da subjetividade
na sociedade capitalista moderna, e nisto antecipa a Colin Campbell (2001); mas
também, diz que ela é uma visão radical das potências libertárias humanas, rebelando-se
contra o império da Razão.
(...) a totalidade da nossa vida sensível – o movimento de nossos afetos e
aversões, de como o mundo atinge o corpo em suas superfícies sensoriais,
tudo aquilo enfim que se enraíza no olhar e nas vísceras e tudo o que emerge
de nossa mais banal inserção biológica no mundo (EAGLETON, 1993, p.17).
279
Entretanto, sua novidade são as táticas para executar tais estratégias: pesquisas
constantes (inclusive via redes sociais), planejamentos iterativos (a cada passo se refaz
ou se adéqua os próximos passos), criações que se indiferenciam cada vez mais do
trabalho dos mídias, avaliações a cada modulação do target, etc. A Ciberpublicidade
criou e mantém um diálogo frenético com seus prossumidores, fazendo destes seus
“representantes”, seus “sósias exaltados” . 159
158
Ver campanhas como: “Ajude o Selton” (http://www.youtube.com/watch?v=XuITiHIIr_k);
“Supersong” (http://www.youtube.com/watch?v=IQvHf5evAOk); e “Clipe do passinho, todo mundo
aperta o play” (https://www.youtube.com/watch?v=0drKsIhIE9k).
159
Exemplo: “Fantastic Delites” (http://www.youtube.com/watch?v=R8RIqJLUYSE).
280
160
Exemplos: “Petronas” (http://www.youtube.com/watch?v=3fo3WJ1orvk); “Zona Incerta”
(http://www.youtube.com/watch?v=lzGm3KfcnDY); “Tic Tac France”
(http://www.youtube.com/watch?v=yFW9AT3Ujuc).
281
282
283
284
forma, o que as marcas querem é ser amadas, veneradas, idolatradas, seguidas (ver
Roberts, 2005). O bom prossumidor é um vendedor da imagem das marcas de sua
preferência. Ele se torna seu pregador, seu evangelizador.
167
Exemplos: “Coke Hug Machine” (http://www.youtube.com/watch?v=A45sjUX7mp0); “Coke Friendly
Twist” (http://www.youtube.com/watch?v=t9cmoT_wb0A).
285
REFERÊNCIAS
286
287
RESUMO
Nos últimos anos encontramos inúmeras referências teóricas no sentido de entender a
publicidade como um revelador privilegiado dos valores sociais. Desde Gilberto Freyre
(2003), com a visão abolicionista da publicidade, passando por DaMatta (2004),
McCracken (2003), Rocha (2006), mas também nas reflexões de Canevacci (2008,
2013), Lipovetsky (2008, 2013) e, em certa medida, em Barthes (1980), Eco (1976,
2000), Greimás (1973,1991) e Floch (1981, 1993), precursores da semiótica publicitária,
a publicidade não se limita às dimensões tático-operacionais circunscritas à persuasão,
mas transcende essas fronteiras emergindo como importante manifestação do espírito do
tempo (zeitgeist) nas sociedades contemporâneas. A partir de reflexões anteriores
(PEREZ 2004, 2005; PEREZ & BARBOSA, 2007; PEREZ, TRINDADE, HELLIN,
LENCASTRE & BATISTA, 2010) e de importante pesquisa empírica é possível
constatar que a publicidade, como hoje se apresenta, muito mais no sentido de um eco-
sistema publicitário, não apenas reflete os “humores” sociais, como também é capaz de
induzir comportamentos, hábitos, gostos, valores etc., que se espraiam esteticamente no
cotidiano do visual merchandising do comércio popular e de luxo, no design de
produtos e embalagens, nas temáticas editoriais, na gastronomia, na moda, na TV etc.
Por meio de monitoramento publicitário (Banco de Imagens Publicitárias da ECA USP),
e de imersões etnográficas (com registro fotoetnográfico) em São Paulo, Rio de Janeiro,
Recife, Paris, Milão, Madrid, Porto, Lisboa, São Francisco, Nova York, Cidade do
México, Londres, Sofia, Praga e Viena (2014 e parte de 2015), foi possível identificar a
recorrência de conceitos que, tanto são reflexos do zeitgeist, quanto induzem e
constroem esses valores em uma semiose contínua. Esses conceitos se manifestam
esteticamente por meio da redundância e são sistematizados de modo a oferecer a
melhor compreensão. A partir das recorrências foi possível conciliar o entendimento
com as reflexões teóricas sobre a sociedade atual em uma perspectiva macro, o que
inclui a constatação de um cenário de poucas expectativas positivas, e um “peso
grande”, tanto decorrente do “rescaldo” da crise econômico-cultural mundial (início
midiático em 2008), quanto dos últimos acontecimentos em várias esferas da vida, tais
como segurança, religião, instituições, política, saúde, etc. Nesse sentido, os conceitos
publicitários são ícones do tempo, e também indiciam caminhos possíveis construindo
novas perspectivas, quase que como resposta às angústias vividas na
contemporaneidade.
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292
“Você que lê/vê a revista Caras pode ser como eles - ricos, famosos, bonitos,
inteligentes, satisfeitos, felizes...”. Enfim, completos. Exatamente o que previa
Fernando Pessoa de maneira primorosa no Poema em Linha Reta, "Toda a gente que eu
conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida". Em Caras são/somos todos
príncipes na vida. O poeta, como não era de se estranhar, enxergava além. Isto talvez
explique porque a revista Caras abriga o maior volume publicitário da mídia impressa
brasileira.
Muitas vezes, principalmente quando se pretende comunicar um objeto ou
serviço de luxo, e que envolve características como beleza, elegância, refinamento,
sedução, e distinção, a publicidade procura trazer a conotação de afetividade entre o
objeto/marca e uma personalidade da mídia, ligada a emissoras de televisão, cinema e,
mais recentemente, da internet (caso típico das blogueiras que viraram celebridades).
Exemplos como as campanhas publicitárias de Lux Luxo, marca relançada no
Brasil em 2005 pela Unilever, que eram protagonizadas nos anos 50 e 60 por Rita
Hayworth (1918-1987), pelas atrizes Catherine Deneuve e Michele Pfifer nos anos 70 e
80, ou mesmo por Ana Paula Arosio em finais dos 90. Elisabeth Taylor para Lancôme,
Gisele Bündchen para Colcci ou ainda as campanhas publicitárias da Rolex, com a atriz
Cindy Crawford nos anos 90, reforçam esta prática. Essas personalidades são a
iconicidade maior da completude, possuem uma aura mítica, bela e sedutora sempre
desejável, afinal a beleza pode ser um prenúncio de felicidade e, de certo modo, é
garantia de aceitação em boa parte das circunstâncias do mundo da vida cotidiana. São
ícones no melhor sentido peirceano do termo porque se revelam e se mostram como a
expressão máxima da semelhança possível entre objeto/marca e personalidade: Michele
Pfifer é Lux Luxo. Como afirma Lipovetsky (2007, p. 313) sobre a associação de
personalidades ao consumo contemporâneo, “superconsome-se o espetáculo hiperbólico
da felicidade de personagens celebróides”.
As imagens simbólicas utilizadas na publicidade tentam criar uma associação
entre os produtos oferecidos e certas características socialmente desejáveis e
significativas, a fim de produzir a impressão de que é possível vir a ser certo tipo de
pessoa (por exemplo, um homem de verdade ou mesmo uma estrela refinada e
glamuroza) comprando aquele produto (cigarros Marlboro ou cremes Lancôme). A
formação de sistemas textuais com componentes básicos inter-relacionados agem de tal
maneira que o produto e a marca surgem sob vibrantes luzes sempre positivas.
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Considerações finais
Como vimos, não apenas o consumo, mas a vida cotidiana é vivida em meio a
uma profusão estética, quer por meio das sugestões imaginárias ou estímulos à emoção,
quer pelas formas hipersensíveis que estimulam nossos sentidos. E as manifestações do
eco-sistema publicitário, associadas à expansão e espraiamento das mídias, tornaram-se
fenômenos privilegiados para e identificação e reflexão dos valores sociais
compartilhados, revelando e construindo o zeitgeist.
Diante desta reflexão-evidência, construímos o projeto “estéticas do consumo”,
com o objetivo específico de entender as recorrências estéticas e conceituais das
manifestações de produtos e marcas, por meio do recolhimento, organização, análise e
monitoramento das expressões do eco-sistema publicitário. Conciliando a reflexão
teórica sobre publicidade, consumo e estética e a pesquisa empírica, chegamos a eixos
300
REFERÊNCIAS
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302
La semiótica es una mirada sobre la superficie de las cosas en las que encuentra
signos y marcas de una realidad exterior. Es la huella en la playa que se encuentra
Robinson Crusoe, el olor en una habitación que detecta Sherlock Holmes, es el signo
lógico que Charles S. Peirce encuentra en un texto o la confusión de los conquistadores
españoles con el ornitorrinco al no saber nombrar al animal que es descrito por Umberto
Eco (Kant y el ornitorrinco, 1999). Todos estos ejemplos continúan con la tradición
kantiana reconocen una realidad exterior al hombre que nace de la acción de la
observación de un espectador. La Modernidad supone todavía pensar que la
subjetividad, aquello que interpreta el resultado de la observación, se origina desde el
interior del sujeto. Con el cogito ergo sum (“pienso, luego existo”) de René Descartes,
la racionalidad occidental aparta la metafísica para crear una ciencia en la que lo real es
lo que hace al sujeto, y lo que hace el sujeto sobre la realidad es la subjetividad. El
mundo no es externo al hombre, sino que comienza con él. Este espíritu cartesiano
parece sobrevivir hasta que Nietzsche desplaza la consciencia del mundo, yendo más
allá de sí mismo, haciéndonos pensar que ya no nace de la interioridad del sujeto.
Considerando esta última premisa, el objetivo de la semiótica será buscar signos,
símbolos e indicios de la presencia de los otros en el mundo; ofrecerá desde un marco
filosófico otro modo de estudiarnos a nosotros mismos desde el lenguaje con un sentido
analítico y pragmático. El mismo lenguaje que nace del yo deíctico o del ego
psicoanalítico, nos apartará de otras direcciones que no sea la exclusiva de nuestra
misma consciencia.
Tras la obra de Roland Barthes, la semiótica no rebusca tanto entre la textualidad
del verbo las huellas de la humanidad. Por el contrario, la cartografía de la vida del
hombre se abre en un mapa de signos ampliado a las imágenes y en general, a la vasta
objetualidad de la cultura. La identidad es así algo desapercibido para nosotros, pero
303
que no por ello, no descubren los otros en nosotros y en nuestras cosas. El lenguaje
externaliza el mundo desde la consciencia de los individuos.
Durante el siglo XX la hermenéutica destacó la importancia del lenguaje en el
pensamiento occidental. Fue Hans G. Gadamer (Dutt 1998) quien sostuvo la
importancia de la estructura lingüística en la tradición, así como de la textualidad de la
cultura escrita. Por mediación de la hermenéutica comprenderemos e interpretaremos el
pasado, el presente y perpetuaremos la continuidad de la cultura en el futuro. El hombre
del siglo XX será considerado concretamente un “animal simbólico” que autointerpreta
el mundo, la historia y la misma simbolización. Sin embargo, esta modernidad
hermenéutica condena también al hombre a una actividad sin descanso. La
interpretación ya nunca será definitiva, y la búsqueda de sentido será interminable. Para
Hottois (1999, p.386), la transcendencia del hombre solo se expresa simbólicamente y
mantiene indefinidamente su finitud.
La Posmodernidad abrirá otros caminos en el bosque a la exploración semiótica.
Ya adelantábamos en nuestra conferencia de Sofia (Contreras y Hellín, 2014), que la
humanidad se asomará con una mirada hermenéutica distinta que escrudiñará la relación
entre el sujeto y el mundo (dasein). El lenguaje continuará siendo una cuestión central
en el debate filosófico posmoderno. A través del lenguaje, entienden entre otros Michel
Foucault, se articula el poder ya que condiciona el formato del saber. Es la sociedad de
los medios la que despierta al espectador y toma conciencia de que el mundo va más
allá de sí mismo, y que ya no nace de la interioridad del sujeto (como ocurrió en las
sociedades míticas o religiosas). Atrapados en la perspectiva hermenéutica de
Heidegger, aceptamos que existen cosas fuera de nosotros con las que el hombre se
proyecta hacia el futuro.
No pensamos que están ahí y ahora sólo porque le atribuimos la categoría de
existencia desde nuestra subjetividad. Nuestra tesis sobre la lógica de la
creación de lo visual en la posmodernidad comienza en la intencionalidad.
Fue Husserl quien pensaba que la conciencia es intencional. El hombre le
pone intención a las cosas externas, incluidas las imágenes. (Contreras y
Hellín, 2014)
304
futuro, es decir, una posibilidad, “algo por llegar”. Mientras que el mundo se
desenvuelve en su quietud en el pensamiento moderno, inmerso en el ciclo de
continuidad y ruptura, la posmodernidad concibe el mundo como un fluido líquido, un
proceso inacabado que vuelve condenado al eterno retorno. El sentido en el lenguaje se
rehace continuamente, no quedando ningún valor absoluto en los textos e intentando
esquivar con este relativismo la canalización del poder en reconocidos discursos.
A partir de Heidegger la cuestión del ser abandona las estructuras sólidas de la
existencia humana para ocupar la temporalidad el centro de la cuestión. La atención se
dirigirá hacia la evolución del ser a lo largo del devenir histórico. La existencia del ser
será como el agua que fluye en el arroyo, lo que se desvela en el momento en que la
observamos y lo que se olvida cuando el agua lo mueve y lo hace desaparecer de
nuestra mirada. Frente al vacío que provoca el movimiento de las cosas que no deja
nada fijo delante de nuestra percepción, sólo nos queda la sensación de lo efímero, lo
volátil, de lo fluido en el recuerdo169. El tiempo pone todo en su lugar; así el ser se
confunde con formas materiales, efímeras, que desaparecen de la percepción que acaban
olvidándose. Por el contrario, las formas esenciales, las ideas, se caracterizan por su
visibilidad y la permanencia. Las ideas son intemporales. Se conservan en la memoria
por el espíritu racional que las representa con claridad (y el saber teórico se ocupará de
su estudio). La existencia es temporal, y por tanto, finita. La existencia del hombre es
una sucesión de acciones que solo puede asumir como sujeto y cuya consciencia sólo
puede admitir desde el límite de su vida, la muerte. La existencia del hombre es un
proyecto que se desarrolla en el tiempo y al tiempo, es un proyecto finito.
Enfrentarse a su finitud, dar sentido como hombre a nuestra proyección en el
futuro, es decir, decidir en la vida anticipándose al final irremediable de la muerte,
inevitablemente nos conduce a una existencia simbólica. El simbolismo será aquello
que nos distinga como humano, y además, la consciencia simbólica sólo puede partir de
nuestra propia existencia, como no podemos pedirles a otros que mueran por nosotros.
Desde entonces, la ciencia es objetiva cuando coloca el objeto de estudio delante de él;
y así también es objetiva la semiótica, frente a los objetos que percibe directamente y de
los que está seguro. En cambio, la filosofía moderna será subjetiva, y dará un giro
antropocéntrico en la que la interpretación del hombre estará sumida en el devenir y en
la base del mundo de las ideas.
169
Como presumimos lo entenderían Gilles Lipovestky o el mismo Zygmunt Bauman.
305
Entre otras cosas, la subjetividad es una actividad verbal. Las concepciones del
mundo tienen su lugar en el lenguaje. Apropiándonos del pensamiento de Heidegger, el
lenguaje es la técnica que permite la descripción o la representación. Con el lenguaje
hacemos copias de lo real; además, el hombre es el productor de esas copias. La verdad
será el ajuste entre el hecho y el enunciado, es decir, lo bien que reproduce el hombre lo
real en su modelo lingüístico (lo verbal) o extralingüístico (las cosas). Hay también otro
punto importante a considerar sobre el lenguaje y es que solo puede ser descrito por
otros metalenguajes como la lógica, la gramática o la semiótica.
La semiótica cumple una función comunicativa, ya entendida como
metalenguaje. Entre las palabras (lo lingüístico) y las cosas (lo extralingüístico)
encontramos el ser; hemos dicho antes, aquello que fluye en el devenir, que se muestra
y que se oculta. Es en el lenguaje donde se establece un diálogo entre el hombre y los
otros, pero también concretamente con el mismo lenguaje. Heidegger nos conduce hacia
el deber de escuchar al lenguaje. En este sentido hemos entendido nuestras irradiaciones,
como un diálogo sobre las cosas que no se dirige a otro mudo, y sobre todo, no hacia
textos mudos. Las irradiaciones son los textos que nos hieren; aquellos con los que nos
comunicamos con otros, aquellos que vienen y desaparecen en el devenir histórico. En
este contexto irradiador el ser del hombre y el ser del lenguaje (de sus discursos y de sus
306
307
lenguaje. Lucrecio decía: finita potestas denique cuique, (toda cosa tiene un poder
limitado) y en la misma dirección, Carlo Michelstaedter dice:
Pero el hombre quiere de las otras cosas en el tiempo futuro aquello que le
falta en sí: la posesión de sí mismo: mas, por lo que quiere y por estar
ocupado con el futuro, huye de sí mismo en todo presente.
Así se mueve, a diferencia de las cosas distintas de él, distinto él mismo de sí
mismo: continuando en el tiempo. Lo que quiere está dado en él, y queriendo
la vida se aleja de sí mismo: él no sabe lo que quiere. Su fin no es un fin, no
sabe por qué hace lo que hace: su actuar consiste en ser pasivo: porque no se
posee a sí mismo: mientras viva en él, irreductible, oscura, el hambre de la
vida. La persuasión no vive en quien no vive sólo de sí mismo: sino que es
hijo y padre, y esclavo y señor de lo que está alrededor de él, de lo que era
antes, de lo que vendrá después: cosa entre las cosas. (Michelstaedter 2009,
p.53)
308
309
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REFERENCIAS
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RESUMO
Como ponto de partida na reflexão sobre o uso de lendas e mitos nas narrativas
publicitárias como forma de “vender” ideias e produtos, buscamos, com este artigo,
discutir a mitomiadiatização pela atividade publicitária do potencial mercadológico que
o imaginário amazônico exerce sobre diversos públicos-alvo com relação às lendas, os
mitos e as “histórias” contadas sobre a região amazônica.
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Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
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Professor Doutor do curso de Comunicação – Publicidade e Propaganda – Facom/ILC/UFPA. Diretor
Norte da Associação Brasileira dos Pesquisadores em Publicidade – ABP2. E-mail: lzcezar@ufpa.br
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casal chamado Taíra e Naiara e que tinha o sonho de ter um filho. Um belo dia, Tupã,
uma das principais divindades da mitologia tupi-guarani, atendeu ao pedido do casal.
Alupá era um menino bom e inteligente, que estava sempre ocupado com
alguma coisa. Ajudava a mãe na plantação e ia pescar e caçar com o pai e os
outros homens da aldeia, apesar de acharq ue não se devia matar bicho
nenhum. Gostava de nadar no rio, de brincar com as outras crianças e de
ouvir as histórias que os velhos tinham para contar. (SALERNO, 2006, p.
28).
Ainda de acordo com o folclore amazônico, por ser tão bonzinho o curumim
Alupá atraiu a inveja de Jurupari. o “espirito do mal”:
Por esse motivo Jurupari, o espirito do mal, começou a ficar com raiva e
ciúmes dele. Até que um dia quando o menino estava longe dos pais e dos
mais idosos da tribo, colhendo frutos em uma arvore, Jurupari transformado
em cobra aproximou-se dele e o mordeu. Quando notaram a falta dele saíram
todos a procurá-lo e o encontraram já sem vida ao pé da arvore. (RESQUE,
2012, p.100).
Conforme ilustra o desenho feito pelo artista Sérgio Bastos (Figura 1)
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Os maués são uma tribo indígena dogrupo tupi que habita o baixo rio Negro, o leste do Amazonas e o
oeste do Pará.
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perda de Alupá. Pedia que ela plantasse os olhos do filho, como se fossem
sementes; deles nasceria um arbusto milagroso, cujos frutos trariam
felicidade. (SALERNO, 2006, p. 29).
Assim, nasce o fruto da lenda: “Os olhos de Alupá foram plantados num canteiro.
Todas as tardes, Naiara regava a terra com carinho. Certo dia nasceu uma planta bonita,
que cresceu muito depressa. Era um pé de guaraná”. (SALERNO, 2006, p. 29). O olho é
considerado o órgão de percepção sensitiva, o símbolo da visão espiritual e está
relacionado à luz e ao espelho, como janela da alma. “O olho, órgão da percepção visual,
é, de modo natural e quase universal, o símbolo da percepção intelectual”.
(GHEERBRANT; CHEVALIER, 1998, pág. 653). Quando maduro, o fruto do guaraná
é avermelhado com polpa branca e sementes negras (Figura 2) e que se assemelham aos
olhos humanos.
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Como afirma Otacílio Amaral Filho (2011), “há o predomínio do verde como
expressão dessa integração com o signo que representa a região”, e mais ainda:
Um olhar sobre os objetos e produtos que se inspiram na Amazônia como
forma simbólica nos leva à cor verde como uma espécie de síntese
integradora estética que se constitui como elemento visual que denominamos
marca Amazônia. (AMARAL FILHO, 2011, p. 83).
Conclusões mitomidiáticas
Pretendemos, ao estudar os mitos amazônicos, compreender e aprender como a
comunicação publicitária se utiliza de suas narrativas, seus discursos, seus códigos, seus
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símbolos, suas regras, como fio condutor das suas mitomidiatizações decorrentes do uso
da publicidade e da propaganda como espaço de comunicação com os públicos-alvo a
serem atingidos pelas peças publicitárias.
A publicidade coloca em cena e reconstitui universos de referência. Estes
podem ficar circunscritos no espaço (a cidade, a natureza, lugares
conhecidos etc.), corresponder a práticas sociais (trabalho, lazer...),
familiares, individuais, comportamentais (sedução...). Eles podem
igualmente estar implícitos em espaços míticos pré-existentes (religião,
romances, filmes etc.), ou simbológicos (o exotismo, a pureza, a aventura
etc.), ou, mais raramente, estar incorporados ao próprio produto, como é o
caso do automóvel, saturado, em nossas sociedades, de investimentos
simbólicos maciços (SOULAGES, 1996, p. 151).
Desse modo, o universo da produção no modo capitalista se confunde com a
própria realidade, ao construir, muitas vezes, uma realidade imaginada, edificada em
centímetros (referência à centimetragem: o espaço ocupado por um anúncio publicitário
em jornal, revista etc., e que é medido em centímetros (altura) por colunas (largura).
Esse é um dos grandes fascínios que o universo publicitário exerce sobre as pessoas, as
massas, a sociedade, pois, no mundo dos anúncios, geralmente a cidade é perfeita, a
família é feliz, as crianças são alegres, as mulheres são bonitas, os homens são viris, a
vida é bela e a morte não existe. Ou seja, a publicidade vai construindo outra realidade
como produto de um mundo idealizado, um espelho mágico que desse mundo só reflete
as coisas boas.
Portanto, como mitos e lendas cotidianas, as narrativas e as mensagens
publicitárias se constituem num riquíssimo objeto de estudo, repleto de possibilidades
na construção de imaginários sociais da própria sociedade que as produz. No caso deste
artigo como parte integrante da reflexão de nossa pesquisa, “As narrativas
mitomidiatizadas propagandeadas sobre a Amazônia pela publiCIDADE”,
principalmente lendas e mitos apresentados e descortinados pelo discurso construtor da
publicidade, como argumento criativo para a elaboração das mensagens publicitárias,
como no caso do guaraná Tuchaua. Assim,
[...] podemos ver os reclames e os anúncios comerciais como fragmentos da
mitologia consumista da sociedade moderna de um dado período histórico,
de qualquer lugar do mundo. E essa relação entre o produto e o consumidor
não é mais apenas vivida, mas se torna abstrata ao se midiatizar em uma
relação objeto-signo de consumo. (SANTOS, 2010, p.23).
Por fim, não devemos perder de vista que tanto as narrativas mitomidiatizadas
através das lendas e mitos pela publicidade trazem e fazem referência às realidades de
épocas, de lugares, de regiões, de povos e de sociedades que devem ter seus contextos
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históricos, econômicos, culturais e sociais analisados sem perder a aura dos seus
imaginários.
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RESUMO
As imensas transformações por que o Brasil vem passando na última década – ligadas,
como se sabe, ao consumo – têm trazido grandes desafios ao marketing e,
consequentemente, à publicidade. Este trabalho pretende discutir, a partir de um olhar
interpretativo, como esse novo panorama sociocultural tem se manifestado em termos
sígnicos na propaganda brasileira, subvertendo questões básicas, como segmentação
demográfica e posicionamento.
1. Introdução
Não se pode ser brasileiro e estar de costas para os acontecimentos
sociopolíticos que, nos últimos anos, vêm tomando conta das ruas, das redes sociais, das
pautas dos veículos de informação e de qualquer ocasião em que se pratique a
comunicação. Um crescente sentimento de indignação e revolta tem feito com que
milhões de brasileiros sintam vontade de expressar as suas críticas e os seus
questionamentos, seja marchando nas ruas, seja compartilhando em seus perfis digitais
textos jornalísticos, seja produzindo conteúdos imagéticos.
Também não se pode ignorar, sendo brasileiro, as mudanças socioeconômicas
por que a população deste país vem passando nos últimos anos. Gráficos que expressam
estatísticas, mostrando a transformação da pirâmide social do Brasil, abundam por toda
parte. Sim, dezenas de milhares de pessoas migraram de classe social (NERI, 2011, p.
24) e, mais do que isso, passaram a ter acesso a um universo de consumo até então
bastante restrito.
Este texto procura relacionar esse novo e desafiador contexto brasileiro à
comunicação publicitária, aos esforços contemporâneos do marketing e ao fenômeno
social do consumo. O conteúdo a ser aqui apresentado é desdobramento de uma
pesquisa maior, desenvolvida em 2014 em parceria com o instituto de pesquisa Ibope
Inteligência, que procurou interpretar essa nova condição conjuntural do país a partir do
discurso publicitário das marcas.
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Trabalho apresentado no Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em
Publicidade e Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
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Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (PPGCOM-USP). Professor do
Istituto Europeo di Design (IED-SP). Membro do Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação,
Cultura e Consumo (GESC3). E-mail: brupompeu@gmail.com.
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publicidade e do consumo, está no que ele representa, no fenômeno que ele concretiza
em cores tão chamativas. Ao comprarem produtos caros, desenhados para um perfil de
público radicalmente distante daquele a que eles pertencem, e ao darem a esses produtos
um uso estético que vai além do planejado e do previsto, esses jovens também
subvertem e põem em xeque uma lógica de mercado praticada quase sempre
unidirecionalmente há décadas, denominada segmentação. E não se trata de condenar
esse tipo de consumo – como, inclusive, deve se chegar a pensar nos escritórios
executivos –, considerando como errada ou condenável tal prática mercadológica.
Compra quem pode pagar, suprem-se determinadas necessidades e o que cabe a nós,
pesquisadores, é tomar essas trocas comerciais também como vínculos de sentido e
procurar entender o que jaz por trás dessas movimentações inusitadas.
Quando uma equipe de marketing determina que o target de um produto é
formado por pessoas de uma determinada classe social, está se definindo que apenas as
pessoas incluídas nessa faixa podem ou vão comprar o produto? Claro que não. Não se
tem notícia de alguém que, ao procurar um tablete de chocolate, uma cápsula de café
expresso ou uma garrafa de água mineral com gás pense antes de escolher por esta ou
aquela marca se a sua classe social permite ou limita a sua escolha. Novamente: compra
quem pode pagar.
E o que há de novidade no cenário socioeconômico brasileiro é que, de uns anos
para cá, muita gente pode pagar por muita coisa.
Em 2013, o consumo das famílias cresceu pelo décimo ano seguido. Nesse
cenário ainda favorável, a pesquisa do Data Favela atestou que a favela tem
mais disposição para efetuar compras do que o resto do Brasil. Nos últimos
dez anos, muitas dessas famílias adquiriram o primeiro computador, o
primeiro automóvel e o primeiro freezer. Não raro, pela primeira vez,
conseguiram matricular um filho em um curso universitário. (MEIRELLES
& ATHAYDE, 2014, p. 87)
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de cada um (sexo, idade, classe social, profissão etc.) determina cada vez menos o seu
padrão regular de consumo. De alguns anos para cá, o target
não está mais lá, dócil e imóvel como um animal enjaulado, à espera de que
o caçador o alimente ou o acaricie. O corpo do target não pode mais ser
caracterizado em termos estatísticos, diversificados nos vários segmentos da
estratificação social, visão essa baseada ainda numa produção de valor e de
valores do tipo industrialista. Esse target móvel, flutuante, híbrido, solicita
novas capacidade de leitura, um olha oblíquo, fluido e sincrético ao mesmo
tempo (CANEVACCI, 2007, p. XII).
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emoção sustenta aquele consumo mais sensorial, mais subjetivo, mais vinculado ao
sentir, muitas vezes com apelos que se distanciam da oferta concreta do produto;
enquanto a razão dá base para o consumo mais funcional, mais objetivo, mais centrado
na solução de uma necessidade, ligado à praticidade e à conveniência.
Sabe-se também que, especialmente no contexto brasileiro, de acordo com o
pensamento antropológico de Roberto DaMatta, nossos rituais podem ser divididos
simbolicamente entre os que ocupam o espaço simbólico da casa (o doméstico, o
íntimo, o familiar, o próximo) e o da rua (o urbano, o coletivo, o social, o distante).
Quando digo que “casa” e “rua” são categorias sociológicas para os
brasileiros, estou afirmando que, entre nós, estas palavras não designam
simplesmente espaços geográficos ou coisas físicas comensuráveis, mas
acima de tudo entidades morais, esferas de ação social, províncias éticas
dotadas de positividade, domínios culturais institucionalizados.
(DAMATTA, 1997, p. 15)
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vista da varanda ou do balcão. Daqui, vê-se tudo, curte-se tudo, acessa-se qualquer
coisa, mas nada me atinge, nenhuma mazela me afeta. No camarote há menos pessoas, a
ele ascendem somente alguns – que não os ricos, fique claro, mas sim os que têm o
nome na lista ou o acesso à pulseirinha.
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também é possível identificar dois caminhos bastante diferentes entre si – ainda que
diretamente relacionados.
Pode-se estar falando de um trabalho mais ligado ao pensamento, ao
planejamento, à tomada de decisões e à autoridade. É o trabalho dos que mandam, dos
chefes e dos executivos, dos que ocupam cargos mais elevados, da camisa azul do
gerente, da cadeira preta do diretor. Mas pode-se também falar de um outro tipo de
trabalho, mais próximo da execução, da operação, da realização concreta. É o trabalho
dos que obedecem, dos empregados, dos funcionários e dos colaboradores, do uniforme,
do crachá e das mesas padronizadas.
Simbolicamente, o que esses dois tipos de trabalho vão sinalizar são dois grupos
de valores também bastantes distintos. O trabalho estratégico (o dos que decidem,
exemplificado com o anúncio de cima, de uma empresa de tecnologia de gestão
empresarial) sugere sentidos de excelência, alta performance, autonomia, controle e
reconhecimento pela autoridade; ao passo que o trabalho operacional (o dos que
executam, como se verifica na peça de baixo, de uma famosa marca de biscoitos)
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6. Considerações finais
Elitizado e popular. As palavras usadas no parágrafo acima talvez sejam as mais
adequadas para classificar os dois distintos e tensionados universos simbólicos em que
se divide atualmente o consumo brasileiro, expresso por meio da sua publicidade. Não
se trata de um consumo de rico, de classe A, ou de pobre, de classe C, D ou E. Trata-se
de um consumo motivado por valores e construído culturalmente com sentidos. Ou seja:
trata-se de uma abordagem do consumo a partir da perspectiva do significado, daí a
junção teórica da comunicação (publicitária), da antropologia (do consumo) e da
semiótica (peirceana).
Em um tempo em que, como já se sabe, as estratificações demográficas – dentre
as quais a socioeconômica – determinam menos os padrões de consumo do que outras
variáveis menos mensuráveis, os desafios a quem deseja classificar a sociedade em
grupos são imensos. Ainda que novos modelos de estratificação socioeconômica
venham sendo elaborados e demonstrem certa eficiência em sua capacidade de agrupar
a população a partir de critérios bem definidos e bem quantificáveis (KAMAMURA &
MAZZON, 2013), cumpre que se considerem outras esferas de classificação. Esferas
que eventualmente atravessam as classes sociais, revelando vínculos de sentido – de
consumo – entre marcas e pessoas, independente dos critérios de segmentação de
sempre. Não é abandonar uma das possibilidades ou optar por outra isoladamente: é
entender que, dentro de um determinado estrato socioeconômico, por menos que se
queira ou se acredite, existe um comportamento indomável e irrequieto do consumidor,
que responde, claro, não apenas à sua faixa de renda, à quantidade de banheiros na sua
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casa ou ao seu nível de escolaridade, mas também aos seus anseios simbólicos mais
relevantes e imprevisíveis.
O que este texto propõe é uma outra forma de se classificar a sociedade
brasileira quando se pensa em consumo. Se o fim do target se anuncia (PEREZ, 2009),
para que mirar na mosca, se a mosca não cessa de voar e voa mais rápido do que as
raquetes eletrificadas do marketing conseguem supor? Em vez de mirarmos na pessoa,
parada e dócil, como diz Canevacci, miramos em um determinado território simbólico.
Quanto mais acurada for a nossa capacidade – dos publicitários, dos marqueteiros, dos
designers – de compreender essa dimensão simbólica e transferir seus significados para
produtos, marcas e campanhas publicitárias, maior será a chance de atingirmos as
pessoas. Porque elas, pessoas consumidoras, estão constantemente em movimento,
transitando entre este e aquele território, ora consumindo o camarote, ora preferindo a
comunidade – mas quase sempre com um pé cá e outro lá.
O que as análises dos materiais publicitários selecionados revelou foi também
um princípio de generalizações entre o universo do consumo elitizado e o universo do
consumo popular. É evidente que nuanças relevantes existem entre essas duas
dimensões, mas de uma forma geral é possível apontar diferenças. O universo simbólico
do consumo de elite, por exemplo, lida com o tempo alongado, com o passado e com o
futuro, tem um vetor apontado para o qualitativo (melhorar, especificar, detalhar),
apresenta uma relação de proximidade entre os que podem estar longe (física e
simbolicamente), sugere estilo e sofisticação. É o camarote, o co-branding, a excelência,
o mundo globalizado, o gourmet, o premium, o deleite, a exclusividade e a sofisticação.
Já o universo simbólico do consumo popular, por outro lado, está ligado
diretamente com o tempo do agora, com o presente e com a rotina, tem seu vetor
apontado para o quantitativo (aumentar, majorar, ampliar), evidencia uma relação
estreita com os que estão necessariamente próximos (física e contingencialmente),
sugere mistura e experimentação. É a comunidade, o esforço, o acesso, a brasilidade, a
mistura, o inaugural, o massivo, o rotineiro e o festivo.
E o mais importante: nenhum desses universos está obrigatoriamente amarrado a
nenhuma classe social.
Quando a opinião pública se materializa na nossa frente, na nossa rua, ao nosso
redor, impondo a toda e qualquer pessoa o contato com uma realidade social
conturbada, tensionada, conflituosa, desafiadora e incompreensível, o melhor a se fazer
é pensar. “Está claro que não vivemos no melhor mundo possível. Os protestos globais
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RESUMO
Consideramos que a Teoria Social de Niklas Luhmann, por ser interdisciplinar, por
possibilitar o redimensionamento da relação entre comunicação e sociedade, bem como
da noção de representação, portanto, vem na contramão de teorias da comunicação bem
assentadas no meio comunicacional. Assim, neste artigo, propõe-se refletir sobre os
alcances e limites da publicidade no contexto contemporâneo na perspectiva desta
teoria. Para tanto, apresentam-se reflexões sobre a publicidade na confluência do
pensamento comunicacional e aspectos da teoria mencionada, com ênfase no conceito
de heterorreferência, seguido de exemplos envolvendo o sistema das marcas e a
publicidade. A importância deste artigo está na possibilidade de repensar a publicidade
em seus atributos devidos a diversas correntes do pensamento comunicacional
estabelecidas.
Introdução
Este artigo tem como contexto a publicidade colocada na corrente, ou mesmo na
contracorrente, das tendências do pensamento comunicacional, delineados a partir de
Wolf (2005). Nesta obra, o autor apresenta as teorias de comunicações de massa
contemplando três facetas: os contextos social, econômico e histórico em que
determinado modelo teórico surgiu; o tipo de teoria social que constituía o tecido em
que essas teorias se sustentavam e, por fim, os modelos do processo de comunicação
que permeavam as tendências. Com o objetivo de avaliar os alcances e limitações da
publicidade, à luz da Teoria Social de Niklas Luhmann, com ênfase no conceito de
heterorreferência, iniciamos as reflexões sobre aspectos das tendências do pensamento
comunicacional e delas extraímos aspectos do caminhar da publicidade. Em seguida,
apresentamos conceitos da Teoria Social de Niklas Luhmann e, por meio de exemplos,
refletimos sobre a operacionalização da heterorreferência no sistema das marcas, via
publicidade. Daí vem a possibilidade de avaliarmos o alcance da publicidade, bem
como possíveis limitações.
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Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
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Docente do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba
(Uniso); doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e pós-doutora pela ECA/USP; e-mail:
maria.drigo@prof.uniso.br.
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sentido como algo que divide o mundo em algo com sentido e algo sem sentido, não é
suficiente para dar conta dos limites do sistema ou de como se dão as relações desse
com o meio. O sentido não pode ser tomado como razão de seleção. As operações que
usam e produzem sentidos são as que permitem distinguir entre autorreferência e
heterorreferência. Um observador ou organizações dentro do sistema dos meios de
comunicação podem distinguir entre temas e funções da comunicação. “Para isso, a
comunicação precisa ser pensada como comunicação, quer dizer, a autorreferência
precisa ser atualizada. A distinção temas/funções corresponde à distinção
heterorreferência/autorreferência.” (LUHMANN, 2005, p. 32).
Sobre a heterorreferência para os meios de comunicação, Luhmann (2005)
explica que apesar do fechamento operacional dos sistemas, eles não se desacoplam, por
causa dos temas. Eles são necessários para a comunicação e, segundo Luhmann (2005,
p. 31), “servem (...) ao acoplamento estrutural dos meios de comunicação com outras
áreas da sociedade, e, agindo assim, eles são tão elásticos e tão diversificáveis que os
meios de comunicação, fazendo uso de seus temas, podem atingir cada parte da
sociedade”.
A função social dos meios de comunicação, para Luhmann (2005), não se
encontra na totalidade das informações sempre atualizadas, mas na memória produzida
por meio disso. A memória, para o sistema social, “consiste no fato de, em cada
comunicação, se poder tomar como conhecidas algumas suposições determinadas sobre
a realidade, sem precisar introduzi-las ou justificá-las expressamente. A memória
colabora em todas as operações do sistema social.” (LUHMANN, 2005, p. 114).
Os temas organizam a memória na comunicação, segundo Luhmann (2005, p.
30), pois “atam as colaborações a contextos complexos de tal forma que na
comunicação habitual pode-se reconhecer se um tema será mantido e continuado ou está
sendo trocado.” Assim, o sucesso dos meios de comunicação na sociedade “deve-se à
imposição dos temas, independentemente se as posições tomadas são positivas ou
negativas em relação às informações, às proposições de sentido, às nítidas
valorizações”. (LUHMANN, 2005, p. 31). Vejamos, por meio de exemplos, como se dá
a operacionalização da heterorreferência na publicidade.
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Por outro lado, a marca propõem valores atrelados à beleza, feminilidade e, mais
recentemente, a beleza na seara da saúde e do bem-estar, com a apropriação deste tema
da saúde, que passa a permear o meio social. Neste caso, a marca consolida sua
identidade, amplia sua memória enquanto sistema, submetendo o tema à sua lógica
interna e acoplando o sistema das marcas a outros sistemas da sociedade, como o
sistema das mídias (entretenimento) e o da saúde.
Esta mídia, enquanto suporte genérico que torna possível a comunicação, não se
caracteriza como tal por transportar informação dos que sabem àqueles que não sabem.
Ela é um meio à medida que disponibiliza um saber de fundo e continua sempre a
desenvolvê-lo.
A Instituição Financeira “Itaú”, por sua vez, vale-se do tema sustentabilidade.
São Leandro (2015), em análises realizadas em peças publicitárias da marca em questão,
constatou que a sustentabilidade esta nelas engendrada, seguindo as dimensões
econômica, social e ambiental. Para Elkington (2001), a dimensão econômica envolve o
lucro da empresa, no entanto, agrega tanto capital humano quanto intelectual. A
dimensão social não pressupõe o simples envolvimento da organização com a
desigualdade social ou com a educação, mas a equalização do sistema social, no sentido
de que este deve melhorar como um todo e não simplesmente em um dos aspectos, o
econômico, ou o social ou o ambiental. A dimensão ambiental também envolve o social
e o econômico.
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Considerações finais
A publicidade amplia seu alcance, vista à luz das ideias de Luhmann, enquanto
meio de comunicação que promove o acoplamento do sistema das marcas a outros
sistemas da sociedade ou ao sistema social como um todo. Neste aspecto, há
transformações na linguagem, uma vez que a publicidade se vale de temas que
permeiam diversos sistemas. Os aspectos qualitativos vinculados às cores, formas,
texturas ou arranjos destes aspectos podem ganhar espaços em detrimento de
estereótipos, no que se refere às imagens, enquanto a relação entre palavra e imagem
pode prevalecer a complementariedade, para que assim ambos sejam aprendidos como
uma só imagem relevante a múltiplos contextos socioculturais.
Esta teoria mostra a importância da publicidade enquanto meio de comunicação
para acoplamento de diversos sistemas, logo, as funções antes atribuídas à publicidade
esvaem-se. Tudo o que ela exibe em palavras é “Blá-blá-blá”, pois o que importa é o
saber de fundo com que ela transita.
Resultados similares, alicerçados em pressupostos distintos, encontramos em
Lipovestky (2007), onde enfatiza que, de um lado, o poder de influência da publicidade
é cada vez maior; de outro, cada vez mais fraco. Está cada vez mais fraco, porque o
modelo clássico da publicidade – conhecido como copy strategy – que se baseava em
fixar uma mensagem na mente do consumidor e que ressaltava os benefícios funcionais
ou psicológicos de determinado produto tende a não encontrar ressonância. Com este
modelo, o consumidor era um sujeito passivo que daria a resposta esperada e conhecida
pelo produtor da mensagem, ou seja, o consumidor era condicionado pela repetição de
349
slogans simples e breves que a publicidade colocava em prática. Está em alta por
difundir valores e mensagens de sentido. E isto não se dá como um sistema totalitário,
pois ela exalta o que é consenso, refletindo o consumidor, de modo geral, sem exercer o
controle da cultura pelo poder da marca.
Assim, a Teoria Social de Luhmann permite redimensionar nossas concepções
no que se refere à publicidade, tomando-a como uma mídia que propicia o acoplamento
do sistema das marcas aos sistemas sociais.
REFERÊNCIAS
350
RESUMO
Constituída por sua natureza protéica e proteiforme, a publicidade se caracteriza como
uma pletora de signos. Dessa forma, de forma sibilina, e ao mesmo tempo intensificada,
inapelavelmente, ela vem se presentificando na vida contemporânea. Suas narrativas
que, apelam à ordem do sensível, fazem-na sedutora, capaz de encantar com suas
promessas de realizações de desejos e sonhos. Com seu poder mimético e suas
promessas de felicidade e realizações cada vez mais ela se potencializa ao ensejar que
os prisioneiros se livrem da escuridão e das carências que obnubilam a razão e a
essência da vida. Tal é seu poder de instilar na vida cotidiana promessas de libertação e
de suprimentos das necessidades que somos levados a esta renitente pergunta: ao
insuflar tão fortemente os desejos e os sonhos de realizações a publicidade não se
apresentaria no papel de nociva por levar ao erro, ao excesso, à superabundância, ao
desregramento? Ou seja, A publicidade não levaria os incautos consumidores às falsas
verdades a que chegaram os prisioneiros da Caverna de Platão?
177
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 27 a 29/05/2014. CRP/ECA/USP.
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Prof. Do curso de Publicidade e Propaganda, integra a LP Mídia e cultura, do PPGCOM-UFG.
*
Conforme são narrados os mitos gregos, a catábase (tem origem do grego κατὰ, “baixo”, βαίνω, “ir”)
corresponde a qualquer forma de descida. Porém, na mitologia o termo é usado para se referir à descida
ao inferno (mundo dos mortos). Vários personagens na literatura baixaram aos infernos, como Orfeu,
Odisseu, Aquiles, Eneias. Dante, em Divina Comédia. Na construção do mito, o herói, para completar a
sua trajetória, teria que descer ao mundo dos mortos com o propósito de com eles fazer a consulta para
cumprir o seu destino: chegar ao verdadeiro e último conhecimento. Sabe-se que a catábase, somente se
completa quando a ela se faz suceder uma anábase, (o movimento de saída do mundo dos mortos), pois
do contrário passa a se tratar de morte, e não genuína catábase.
351
tempo. Assim, que cria uma instigante metáfora para exemplificar a o caos da vida
grega ao compará-la aos homens que se encontravam aguilhoados no fundo da caverna.
Esta seria, portanto, uma das mais instigantes e provocativas questões filosóficas que
nos legou o pensamento sistematizado dos gregos. Assim, Platão inaugura um
pensamento questionador acerca da condição em que se encontram os homens em suas
fainas pela terra: tudo aquilo que conseguimos captar com nossas sensoaridades, tudo
aquilo que sentimos, de fato, corresponderia à realidade do mundo? Não estaríamos nós
na condição de prisioneiros de nossa cegueira vislumbrando apenas as sombras, as
aparências das coisas, idealizando-as como reais e verdadeiras?
O que levou Platão a imaginar essa metáfora da existência humana permeada
pelo engano, pelo autoengano, pela falsidade e mentira? Foi justamente a condenação e
o sacrifício a que foi submetido seu Mestre Sócrates, que colocou sua vida na ordem do
trágico, por nunca se desviar de sua meta: se colocar sempre em busca da essência das
coisas do mundo, sem nunca se afastar da busca pela verdade.
A condenação e a morte de Sócrates se constituíram, portanto em inspiração
para que o inquieto Platão se visse compelido a incitar, a nossa imaginação. O
provocativo diálogo a partir da cena imaginada dos prisioneiros da caverna aos pouco
nos direciona à busca por uma reflexão em torno ao fato de que as nossas vidas não
passam de simulacros. Longe estaríamos da verdade e da vida plena. Estas somente
poderiam ser alcanças e vivenciadas, caso os guardiões da cidade passem pela educação
dos seus sentidos, como Sugere o trecho a seguir nessa sugestão de imagens que
Sócrates vai permeando em seu discurso:
Imagina uma caverna subterrânea provida ou à falta uma vasta entrada
aberta para a luz e que se estende ao largo de toda caverna, e uns homens
que lá dentro se acham desde meninos, amarrados pelas pernas e pelo
pescoço de tal maneira que tenham de permanecer imóveis e olhar tão-só
para frente, pois as ligaduras não lhes permitem voltar a cabeça; atrás deles,
num plano superior, arde um fogo a certa distância, e entre o fogo e os
encadeados há um caminho elevado, ao longo do qual faz de conta que tenha
sido construído um pequeno muro semelhante a esses tabiques que os
tiriteiros colocam entre si e o público para exibir por cima deles as suas
maravilhas (PLATÃO, 1964: 203).
352
353
em sociedade. Os dilemas que viveram os gregos ainda são os nossos dilemas. Ou seja,
o argumento de Platão nos induz a compreender que:
o poder e a capacidade de apreender já existem na alma; e que, assim como o
olho é incapaz de voltar-se das trevas para a luz sem ser acompanhado de
corpo inteiro, também a faculdade de conhecer só pode apartar-se do mundo
das coisas contingentes por meio de um movimento da alma inteira, até que
esteja em condições de enfrentar a contemplação do ser, inclusive da parte
mais brilhante do ser, que é a ideia do bem (PLATÃO, 1996: 514a, b, c).
Portanto, a verdade, se encontrada com o excesso de luz, pode levar ao engano e
à mentira. Essa somente poderá revelar por inteira caso se expurgue, seja filtrado o
excesso de luz que pode levar ao falso deslumbramento, à cegueira. Ou seja, a verdade
somente seria acessível a quem possua o dom de fazer a modulação das coisas que
venha a apreender no mundo sob os prismas do inteligível e do sensível. A verdade
seria acessível unicamente a quem pode percebê-la integralmente, de corpo e alma.
Estaríamos aqui em face de uma ideia do bem. Para ter acesso ao que é verdadeiro faz-
se necessário levar em conta o fato de conhecer unicamente à custa da lucidez pode se
constituir em algo positivado ou negativado, pois o conhecimento, “conforme a direção
para que se volte, pode revelar-se útil e vantajoso, ou pelo contrário, inútil e nocivo”
(PLATÃO, 1964: 207).
O idealismo platônico nos convoca a considerar que o conhecimento, tanto pode
provocar o bem quanto o mal . Para que nos afastemos do mundo da aparência e nos
**
354
algum modo, a liberdade? Conhecer não implica ter consciência dos limites do nosso
saber ficando assim prisioneiros de uma felicidade possibilitada pela ignorância? O
dilema maior se instaura no momento crucial em que se impõe a necessidade de se
trocar a falsa felicidade por uma vida mais plena, por uma felicidade verdadeira. Sair
um busca da verdade e da felicidade mais pura e elevada não significa abrir mão daquilo
que se tem (mesmo estando na ordem da mediocridade) correndo o risco da perda total?
Estaríamos dispostos a correr este risco?
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Eis mais um dos disfarces através do qual Proteu, o terrível deus marinho se
coloca em nossas vidas, falsamente acenando com a revelação da verdade. A mensagem
estética, a linguagem exornada tal como admoestara Aristóteles em sua Retórica, não é
atributo tão-somente da poesia. O discurso retórico, que para o filósofo estagirita não
consistia na arte de persuadir, mas de fazer ver. Foi na esteira de Aristóteles que
possivelmente foi concebida a pertinente formulação teórica de Roman Jakobson acerca
do sistema de comunicação, na qual são reveladas as estreitas ligações da publicidade e
da poesia. A estratégia linguística a ser assumida pela publicidade não mais se realizaria
isoladamente, mas em perfeita consonância com a função poética:
Para os que indagam qual é a relação entre a poesia e a publicidade, lembro
o pensamento de Roman Jakobson, que, em seu famosíssimo ensaio de 1960,
Linguística e Poética, já nos chamava a atenção para o fato de que a poesia e
a publicidade recorrem a uma mesma função da linguagem, aquela que tem
o pendor para a mensagem como tal, o enfoque da mensagem por ela
própria. Esta função, a que o linguista russo chamou de poética, não existiria
apenas na poesia, onde ela seria dominante, mas também ocorreria em todas
as atividades verbais, funcionando como um constituinte acessório,
subsidiário. Por isto, Jakobson usou como exemplo, em sua argumentação, a
publicidade política, demonstrando como o slogan da campanha presidencial
norte-americana de Eisenhower (“I like Ike”) empregava recursos comuns na
poesia, como a rima e a paronomásia (JAKOBSON, 1969: 118-162).
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Como não poderia ser diferente, visando colocar em prática as táticas para se
efetivar a sedução e o desejo de consumo, os publicitários redimensionam o papel
primeiro a atribuído à atividade publicitária. Assim, a publicidade passa a cumprir mais
que o papel de agente em ação para manter acesa a chama econômica do capitalismo.
Visando fugir dos ataques por parte dos artistas, religiosos, sociólogos juristas, dentre
outros agentes sociais, a publicidade, qual o Proteu da contemporaneidade, busca assim
o seus disfarces sob os prismas das narrativas poéticas e filosóficas.
363
***
Conforme a mitologia grega, Proteu tinha para si a tarefa de guardar os rebanhos de Netuno que se
constituíam de grandes peixes e focas. Para recompensá-lo dos trabalhos que com isso tinha, o deus doas
mares deu-lhe o conhecimento do passado, do presente e do futuro. Mas não era fácil abordá-lo, e ele se
recusava a todos que vinham consultá-lo. Menelau recebeu de Eidotéia a chave que faria com que o Deus
se decidisse a falar. Necessário se fazia surpreendê-lo durante o sono, e amarrá-lo de maneira que não
pudesse escapar, pois ele dotado de ser protéico e proteiforme, ou seja, não possuir nem forma, nem
substância fixas. Assim, ele tomava todas as formas para espantar os que se aproximavam: a de leão,
dragão, leopardo, javali; algumas vezes se metamorfoseava em árvore, em água e mesmo em fogo.
364
365
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Fundação Kalouste Gulbenkian, 1996.
366
RESUMO
O processo eleitoral de 2014 reforçou a consolidação do posicionamento de alguns
partidos políticos enquanto representante de valores sociais, num contraste significativo
com a maioria destas associações, normalmente unidas casuisticamente. O artigo
pretende identificar o posicionamento do PSOL e do PSC no cenário político partidário
nacional com o cotejamento entre suas propostas eleitorais e respectivas atuações
políticas.
Introdução
Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado, e têm sua criação e
funcionamento regulados pela Lei n.9.096, de 19 de setembro de 1995. O artigo 2º
dessa lei estabelece que “é livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos
políticos cujos programas respeitem a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana”. O artigo 3º assegura
aos partidos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento.
Além disso, garante autonomia também para a definição dos critérios de escolha e o
regime das coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal. Cabe a cada partido,
estabelecer as normas de disciplina e fidelidade partidária. O artigo 7º define o acesso
ao Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos, destinado a todas as
organizações que tenham seu estatuto registrado no Tribunal Superior Eleitoral e com
prestação de contas regular perante a Justiça Eleitoral. O acesso ao Fundo representa
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Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
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Professor adjunto do Departamento de Comunicação Social e PPGCOM da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Doutor em Multimeios IAR/UNICAMP. Pesquisador nos grupos ECCOS (Estudos em
Comunicação, Consumo e Sociedade) e CEL (Comunicação Eleitoral) da UFPR.
prof.ary.azevedo@uol.com.br,
181
Publicitário e jornalista, doutor em Estudos da Linguagem (UEL); mestre em Educação,
Conhecimento, Linguagem e Arte (Unicamp). Professor adjunto do Depto. de Comunicação Social da
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pesquisador no grupo ECCOS (Estudos em Comunicação,
Consumo e Sociedade) hertzwendel@yahoo.com.br .
367
368
pode mudar o cenário político nacional. Cabe aos partidos, dentre outras variáveis,
utilizarem ferramentas de marketing para que este processo seja exitoso.
O artigo pretende identificar o posicionamento do Partido Social Cristão
(PSC,20) e do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL,50), cotejando suas
representatividades e a defesa de propostas críticas e com grande reverberação social,
como redução da maioridade penal, descriminalização do aborto, união homoafetiva,
descriminalização das drogas e regulamentação da terceirização, de modo a identificar a
representatividade destas agremiações no cenário político nacional e de como a
manutenção de posturas enfáticas em relação a temas contundentes pode servir como
base para a criação de identidades marcárias de partidos políticos brasileiros de modo a
consolidar estas agremiações em torno de propostas concretas que não mudem ao sabor
de pesquisas de opinião e que consolidem a democracia nacional com a defesa de
posições ideológicas consistentes, dentro do amplo espectro que cabe aos partidos
políticos representar.
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Marketing político
O termo marketing se refere ao conjunto dos métodos e dos meios que uma
organização dispõe para promover, nos públicos pelos quais se interessa os
comportamentos favoráveis à realização dos seus próprios objetivos. Inicialmente
centrado na ação de mercado, o marketing ganhou amplitude e é utilizado em diversos
segmentos, com conceitos específicos direcionados para cada atividade relacionada.
O marketing político engloba o marketing eleitoral, marketing pós-eleitoral (ou
governamental) e o marketing institucional (ou partidário). Cada um com
características, objetivos e estratégias distintos, embora num contexto amplo, integrados
e inter-relacionados. Do ponto de vista prático, o marketing político representa um
trabalho permanente de construção de imagem e produção de respostas/ações que
atendam aos interesses dos públicos em potencial. Ou seja, desenvolve um conjunto de
ações a médio e longo prazo que estabelece diferenças entre um projeto político e seus
concorrentes. Além disso, tem que estar em sintonia com as aspirações e necessidades
dos segmentos sociais a serem alcançados (MANHANELLI, 2004, p.14).
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Maioridade penal
Uma comissão especial foi nomeada para analisar a PEC 171/1993 – que
apresenta a possibilidade de redução de 18 para 16 anos a penalização legal - e mais de
38 propostas apensadas sobre o tema. O deputado Andre Moura (PSC) preside a
comissão especial e é favorável à redução, de acordo com a sua posição durante a
discussão da PEC na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A bancada do PSC foi
liberada. O PSOL determinou que a bancada se posicionasse contra a proposta
(http://www.cartacapital.com.br/politica/reducao-da-maioridade-penal-e-aprovada-na-
ccj-7975.html).
Descriminalização do aborto
Jean Wyllys (PSOL) propôs o Projeto de Lei (PL) 882/15, que descriminaliza o
aborto e assegura sua realização até a 12ª semana de gravidez, além de definir que
escolas públicas e privadas tenham programas de educação sexual, e que a população
possa ter acesso gratuito a métodos contraceptivos e a programas de planejamento
377
familiar. PSC é contra, com discursos religiosos, centrados na Bíblia, para defender o
posicionamento pela vida.
União homoafetiva
Decisão do Supremo Tribunal Federal reconheceu legalmente tal união. Mas a
deputada Júlia Marinho (PSC-PA) apresentou um projeto de lei com o intuito de alterar
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de maneira que seja proibida a adoção
de crianças por casais homoafetivos ao incluir uma condicionante para as adoções: “É
vedada a adoção conjunta por casal homoafetivo”. Estatutariamente o PSOL é
favorável ao reconhecimento dos direitos GLBT.
PL da terceirização
De todas as bancadas, apenas as do PT, PCdoB e PSOL não tiveram deputados
que votaram a favor da proposta que permite a terceirização em todos os setores de uma
empresa. O PSC teve parecer favorável à PL, na proporção de 08 deputados a favor e 02
contra.
Considerações finais
As propostas modernizadoras tiveram forte aceitação entre os representantes do
PSOL. Propostas conservadoras tiveram forte aderência dos representantes do PSC.
Este reflexo do que foi defendido pelos candidatos Luciana Genro (PSOL) e Pastor
Everaldo (PSC) indica que as posições ideológicas destes partidos têm se consolidado
em ações de suas bancadas, o que pode gerar a construção de identidades de marcas
que sejam representativas de parcelas significativas do eleitorado brasileiro e que
consolidem posições ideológicas a serem evidenciadas com o trabalho de marketing
partidário que ajudará a posicionar estas legendas no numeroso contexto político do
Brasil, gerando identificação de cidadãos com os partidos políticos. É um movimento
que merece ser acompanhado para verificar se esta consolidação é uma exceção ou uma
tendência no comportamento destes partidos. Bem como se estes partidos são
tendências ou exceções à regra do comportamento partidário nacional.
378
REFERÊNCIAS
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379
RESUMO
O presente artigo discute, a partir dos acontecimentos que culminaram com a morte de
cartunistas do jornal “Charlie Hebdo”, ocorrida em Paris em janeiro de 2015, a
importância do humor gráfico como instrumento de conscientização social. Compara a
trajetória do semanário à do desenvolvimento do Salão Internacional de Humor de
Piracicaba, criado em 1974 e realizado ininterruptamente há 42 anos, sendo uma das
maiores mostras de humor gráfico no mundo. E discute, a partir dos trabalhos
premiados no Salão, de que forma o humor gráfico mantém-se fiel aos seus princípios
de independência e de luta contra a intolerância. Do ponto de vista metodológico, o
artigo discute questões ligadas ao campo da propaganda ideológica, motivadora do
ataque a Paris e da resistência que se exibe em Piracicaba; ainda neste campo, procura
mostrar de que forma a intolerância contra os costumes tem feito com que o humor,
cada vez mais permaneça como um símbolo de resistência e busca , a partir das
reproduções de em alguns dos trabalhos premiados pelo Salão de Piracicaba, discutir os
pontos de vista dos autores brasileiros e internacionais que alcançaram maior relevância
com suas contribuições nos campus do cartum e da charge políticas.
PALAVRAS CHAVE: humor gráfico; intolerância; propaganda política.
Introdução
9.374,15 quilômetros separam Paris, na França de Piracicaba, cidade do interior
de São Paulo, no Brasil. Fundada em 250 A.C. a capital da França é um dos centros
culturais mais avançados do mundo. Fundada em 1º de agosto de 1767, encravada no
centro do maior Estado do Brasil, Piracicaba está prestes a completar 250 anos de
fundação e tem igualmente, guardadas as devidas proporções, uma vida cultural intensa.
O que as une, entretanto, é o respeito pela crítica e a vocação para fazer do
humor gráfico um instrumento de transformação social. O humor gráfico sempre foi
uma das grandes tradições da França. O humor gráfico encontrou em Piracicaba, a partir
de 1974, as portas abertas para a realização de um dos maiores salões de humor do
mundo. Em 2013, por ocasião das comemorações dos seus 40 anos de atividades,
lançamos o livro “Balas não matam ideias”, que dá título também a este artigo e, de
certa forma, é um grito de resistência contra a intolerância.
Escrito em parceria com a acadêmica do curso de Publicidade e Propaganda da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, Leticia Hernandez Ciasi, o livro reuniu opiniões
183 Adolpho Queiroz é pós doutor em comunicação pela Universidade Federal Fluminense, um dos fundadores do
Salão Internaiconal de Humor de Piracicaba e atual presidente do Conselho Consultivo.É professor da Universidade
Presbiteriana Mackenzie,São Paulo,Brasil (adolpho.queiroz@mackenzie.br)
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Maria do Prado, então do jornal “Última Hora” de São Paulo foi extremamente frutífero
e foi naquela tarde que ouvimos a intenção do Alceu naquela conversa. Ele pediu ao
jornalista da UH se poderia nos colocar em contato com o pessoal do Pasquim no Rio
de Janeiro, pois tínhamos a intenção de organizar um Salão de Humor naquele ano na
cidade de Piracicaba.
Enquanto isso, Alceu, Carlos e eu viajamos a São Paulo e num almoço
organizado pelo jornalista José Maria do Prado, conhecemos o Zélio Alves Pinto, cujo
irmão, Ziraldo pilotava o projeto político e administrativo d´O Pasquim. Depois do
almoço, o Zélio nos convidou para irmos à casa dele e enquanto conversávamos sobre a
ideia do Salão, ele fixou a ponta de um compasso sobre o nome da cidade “Piracicaba”
num mapa e foi formando círculos concêntricos, mostrando de que forma o nosso salão
cresceria. Naquele dia, chegou com o compasso até o Rio Amazonas, não conseguiu
pular o mar. Dois ou três anos depois, pelas próprias mãos do Zélio, o salão viria a se
tornar internacional, com a vinda de editores franceses ao nosso evento. Claude
Moliterni foi o primeiro visitante ilustre da Europa a prestigiar o salão e sua editora, a
Dargot era na época uma das editoras de ponta no mundo do humor gráfico e dos
quadrinhos.
Mas, depois desse dia, Zélio nos apresentou ao irmão ilustre, o Ziraldo que
prontamente concordou com duas ideias: a de nos receber lá n ´O Pasquim no Rio de
Janeiro e de nos enviar, para o I Salão, uma mostra de cartuns proibidos pela “censura”
da época.
O I Salão de Humor de Piracicaba, em agosto de 1974 abriu suas portas de
forma festiva e respeitosa. Ele representou um gesto de respeito de uma cidade
culturalmente e politicamente ativa na época, às artes e ao humor gráfico, às figuras que
lhe davam sentido na época – os pasquineiros Ziraldo, Jaguar, Fortuna e Millor
Fernandes – e, mais especialmente, às novas gerações de artistas que com suas “penas e
brilhos”, ajudaram a inquietar a ditadura militar na época, contando novas histórias,
lançando dúvidas, contestando a forma de governo e, especialmente, transformando a
ironia fina em arma retórica de convencimento.
Foi assim então, que tivemos o nosso primeiro premiado: o jovem e irreverente
Laerte Coutinho, oriundo da revista “Balão” editada pela Escola de Comunicação e
Artes da Universidade de São Paulo.
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A saga continuou pelo pincel de J.Carlos, que através das revistas “O Malho” e
“Careta”, foi o grande difusor das utopias republicanas no Século XX. E retratou
também outro período intenso de intolerância com as duas grandes guerras mundiais
que ocorreram no período, uma das maiores ousadias da humanidade contra a
intolerância religiosa, que deu base àqueles movimentos. Além dos títulos mencionados
acima, J. Carlos ocupou as páginas de praticamente todas as revistas publicadas no Rio
de Janeiro em sua época: Século XX Leitura Para Todos, Eu Sei Tudo, Revista da
Semana, Ilustração Brasileira, O Tico-Tico, Fon-Fon, A Avenida, O Filhote da Careta,
Juquinha, D. Quixote, A Cigarra, A Vida Moderna, Revista Nacional, O Cruzeiro,
Cinearte, A Noite, Lanterna, A Nação, A Hora, Beira-Mar, entre outras, fazendo do seu
traço uma denúncia constante contra a corrupção, o nepotismo e outros filhotes da
intolerância na época, e favorável à plena participação da sociedade nos pleitos
eleitorais, uma das premissas do republicanismo.
A intolerância do século XXI é mais grave. Incluem maus tratos, trabalho
escravo infantil, homofobia, retratos esmaecidos de um país que quer ser grande perante
o mundo. A contribuição que o Salão de Humor deu a este debate, esperamos, consiga
contribuir para exclui-la dos nossos dicionários e repertório.
393
Entre os anos 60 e 70, outra prova da presença do humor gráfico contra o regime
ditatorial que se impôs ao país em 31 de março de 1964. O surgimento do jornal “O
Pasquim” e com ele uma plêiade de humoristas gráficos, jornalistas, poetas e articulistas,
transformaram a “pena” em arma contra o “canhão”. Responsável direto pelo
surgimento do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 1974, o semanário
carioca deu às intolerâncias provocadas pela ditadura a senha necessária para o
fortalecimento das ações da sociedade civil contra os militares. Das suas páginas saíram
as convocações para a liberdade de imprensa, a anistia aos presos políticos, as
liberdades religiosas, ao novo papel a ser desempenhado pela mulher – através de sua
musa Leila Diniz – e, enfim, pelo reordenamento democrático do país, que perdeu uma
geração de grandes jornalistas e políticos simplesmente “assassinados nos porões da
ditadura”.
394
O preço pago pelo “Pasquim” também foi caro. Sua redação foi fechada, seus
diretores e autores presos, o jornal censurado, num grau de intolerância jamais visto no
país contra a liberdade de expressão.
Impaciente, a sociedade brasileira foi tecendo aqui e ali a sua resistência sobre o
movimento ditatorial dos militares, culminando em 1984 com grandes comícios em
praças públicos, que reuniram milhões de brasileiros dizendo a viva voz: “Eu quero
votar para presidente! ”. As eleições lembradas como as da volta da democracia no país,
intituladas “Diretas-já”, que elegeram Tancredo Neves e José Sarney para governar o
país em 1984, abriram as portas contra a intolerância política e as janelas para a
liberdade plena de expressão.
Ao humor gráfico impõe-se a partir de agora, superadas as fases do jornalismo
impresso, com a chegada da comunicação virtual e interativa, uma presença ainda mais
forte e educativa no sentido de fazer valer a construção de um planeta com mais
igualdade entre as pessoas e a superação dos grandes desníveis de cultura,
conhecimento e riqueza.
395
396
397
Considerações finais
Paris e Piracicaba, portanto, tem cumprido a tarefa histórica perante a sociedade
mundial de respeitar o humor gráfico como forma de manifestação legítima.
Historicamente, cada uma a seu tempo, tem feito do humor, uma arte insubstituível.
Revelado novos talentos, abrindo-se a críticas contundentes sobre ditaduras e ditadores
que procuram se impor pela força, contrariando a liberdade de expressão de milhões de
pessoas e milhares de artistas.
A divulgação dos cartuns, charges, caricaturas e histórias em quadrinhos que
passaram a ser difundidos pela imprensa na época, depois transformadas em catálogos,
398
REFERÊNCIAS E WEBGRAFIA
399
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar os contratos de leitura (VERÒN, 2004)
ofertados pelas campanhas publicitárias de prevenção da Aids veiculadas no período do
carnaval, tendo em vista identificar os tipos pertinência (VERÓN, 2004) propostos aos
receptores adolescentes e jovens e caracterizar possíveis lugares de interlocução
construídos (ARAÚJO; CARDOSO, 2007). Foram selecionadas para análise, de forma
intencional, campanhas publicizadas entre 1990 e 2014. Este trabalho integra o projeto
de pesquisa “Usos e apropriações das campanhas midiáticas de prevenção das
DST/Aids entre adolescentes e jovens do bairro de Mãe Luiza, Natal-RN” (Propesq-
UFRN/Pibic-CNPq, 2013-2015).
Introdução
O primeiro movimento para se problematizar as campanhas de prevenção da Aids,
veiculadas no período de carnaval, sobre que contratos de leitura e lugares de interlocução são
ofertados para os jovens, é definir qual a compreensão que temos sobre juventude. O critério
cronológico é assumido pela OMS com as seguintes características: entre 10 a 24 anos são
pessoas jovens; adolescentes estão na faixa de 10 a 19 anos; e juventude seria a faixa entre 15
a 19 anos.188 Por sua vez, a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e o Conselho Nacional de
Juventude (Conjuve), organismos criados em 2005, declaram como jovens quem está na faixa
etária entre 15 e 29 anos (CAMPOS; BARBALHO, 2011). O Estatuto da Juventude propõe
três faixas etárias: de 15 a 17 (jovem-adolescente), de 18 a 24 anos (jovem-jovem) e de 25 a
29 anos (jovem-adulto). São critérios que tomam como base a idade cronológica e são usados
na construção de políticas públicas de saúde direcionadas aos jovens e adolescentes.
184
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
185
Docente do PPgEM/UFRN, pesquisador do NESC-UFRN e Coord. do Laboratório de Pesquisa e
Estudos em Comunicação Comunitária e Saúde Coletiva (Lapeccos) no Grupo de Pesquisa
Pragma/CNPq, email: juciano.lacerda@gmail.com.
186
Pesquisadora em IC, Estudante de Graduação 7º. semestre do Curso de Publicidade e Propaganda da
UFRN, integrante do Lapeccos (GP Pragma/CNPq/UFRN), email: cinthia.pxt@gmail.com.
187
Docente de Saúde Coletiva e Bioética no Curso de Enfermagem da Faculdade Maurício de Nassau,
Natal-RN, integrante do Lapeccos (GP Pragma/CNPq/UFRN), email: sualves13@gmail.com.
188
Ministério da Saúde (Brasil). Marco Legal: saúde, um direito de adolescentes. Brasília: Ministério da
Saúde, 2005.
400
189
PORTAL BRASIL. Cidadania e Justiça: Juventude é tema do Dia Mundial da População 2014. [on
line] . 22/07/2014, Disponível em: http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2014/07/juventude-e-
tema-do-dia-mundial-da-populacao-2014 Acesso em 15 dez 2014.
401
p. 68) destaca a iniciação sexual como um ritual forte na vida de indivíduos e grupos sociais,
“pois é normatizada de acordo com parâmetros sobre a juventude, ciclo privilegiado na
simbologia de consumo, mitificada por meio da valorização do corpo e da saúde perfeita”.
Em qualquer etapa da vida, a sexualidade é uma dimensão importante na vida de
mulheres e homens. Além de uma prática sexual, expressa pelo coito, a sexualidade possui
aspectos amplos, que envolvem desejos, satisfação, afetividade, sentimentos de prazer,
influenciando as manifestações humanas em seu ciclo de vida (VITIELLO, 1997). A
sexualidade, como formação cultural, também é uma prática de sociabilidade e construção de
identidades. “E o jovem, gregário por definição, encontra e constrói novos papéis por meio da
socialização com seus pares, exercendo, pela sexualidade, uma forma preponderante de
sociabilidade e de construção da identidade” (ABRAMOVAY, 2004, p. 69).
O confronto com valores, crenças e emoções, no contexto da “moratória social”,
se dá num processo de ambiguidade e polissemia do que significaria a iniciação sexual
como “rito de passagem”. Em muitos casos, a iniciação sexual precoce no interstício
adolescente-jovem – entre 15 e 17 anos – é vista como uma estratégia de construção de
uma autonomia ou de reconhecimento pelos pares do grupo ao qual o
adolescente/jovem pertence. Paradoxalmente, essa atitude “adulta” entra em choque
com as ritualidade situadas no ambiente de dependência econômica familiar. Temos
assim um contexto de “moratória social” (MARGULIS; URRESTI apud CAMPOS;
BARBALHO, 2011) em que a iniciação sexual precoce se caracteriza como
afirmação/descoberta de si para jovens das gerações contemporâneas. Cuja “moratória
vital” de se crer “invulnerável” é reforçada pelo distanciamento dos modelos de
juventude das gerações que viram seus ídolos morrerem por causa da Aids. 190
Paradoxalmente esse contexto e suas relações complexas podem ter sido um dos fatores
do aumento da incidência da Aids entre jovens. Segundo o Departamento de DST, Aids
e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 757.042 casos de aids de
1980 até junho de 2014.
Nos últimos cinco anos o Brasil, tem registrado uma média de 39,7 mil casos por
ano. Vale destacar que a taxa de incidência de aids no país vem obtendo uma média de
20,5 casos por 100 mil habitantes, nos últimos dez anos. Os dados do Ministério da
Saúde apontam que entre 2004 e 2013 houve queda da taxa de incidência no Sudeste
(de 26,0 para 18,7 casos por 100 mil habitantes), a região sul apresentou estabilidade
190
Cf. CORREIA JR., M. AIDS: o mal da diluição. Revista Planeta, ed. 475, Abril de 2012, disponível
em: <www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/475/artigo255665-1.htm>, acesso em 28 out 2012.
402
(média de 31,1 casos para cada 100 mil habitantes) e as demais regiões do país houve
crescimento. No Nordeste, por exemplo, a taxa passou de 7,5 em 2010, para 13,9 em
2011, 14,8 em 2013 e 16,0 em 2014.
Como sintetiza o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, há mais casos
entre homens do que entre mulheres, mas numa razão muito menor do que em 1989,
que chegava a cerca de 6 casos no sexto masculino para cada 1 caso no sexo feminino.
Os dados de 2014, apontavam que essa relação era de somente 1,8 caso em homens para
cada 1 em mulheres. Entre 25 e 39 anos de idade, é a faixa em que a aids é mais
incidente em homens e mulheres, 54,0% e 50,3% do total de casos desde 1980 a junho
de 2014. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).
Entre os homens, observa-se um aumento estatisticamente significativo da taxa
de detecção entre aqueles com 15 a 19 anos, 20 a 24 anos e 60 anos ou mais nos últimos
dez anos; destaca-se o aumento da taxa em jovens de 15 a 24 anos, observando-se, entre
aqueles com 15 a 19 anos, um aumento de 120,0% e entre os de 20 a 24, de 75,9%, no
período de 2004 a 2013. A taxa de detecção dos últimos dez anos segundo faixa etária,
entre as mulheres, apresenta tendência significativa de aumento entre aquelas com 15 a
19 anos, 55 a 59 anos e 60 anos ou mais, sendo o aumento de 10,5%, 24,8% e 40,4% de
2004 para 2013, respectivamente.
Quanto à forma de transmissão entre os maiores de 13 anos de idade, prevalece a
sexual. Portanto, um aspecto do relatório do Ministério da Saúde destacado do Boletim
Epidemiológico de 2012 e retomado na publicação de 2013 chama a atenção – e é uma
das justificativas da investigação que estamos realizando sobre os usos e apropriações
da publicidade sobre prevenção das DST/Aids: “Em relação aos jovens, os dados
apontam que, embora eles tenham elevado conhecimento sobre prevenção da aids e
outras doenças sexualmente transmissíveis, há tendência de crescimento do HIV”.191
191
Vale destacar que esta observação é de 2012, publicada no site do Departamento de DST, Aids e
Hepatites Virais, com base no Boletim Epidemiológico de 2012 (Cf. http://www.aids.gov.br/pagina/aids-
no-brasil). Portanto, o Boletim de 2013 só vem a reforçar esta percepção.
403
diversas, produzindo o mesmo sentido para práticas distintas. Trindade (2013) faz essa
distinção ao situar a publicidade como a informação que agentes tornam pública sobre
produtos e serviços de consumo, portanto, a propaganda teria como escopo o campo da
difusão de ideias, ideologias, doutrinas, políticas e valores no âmbito do corpo social.
Contudo, segundo Trindade, no contexto cultural brasileiro é possível perceber uma
sinonímia entre os termos publicidade e propaganda. “A propaganda se contaminou das
estratégias de comunicação promocional para difusão de seus propósitos, portanto a
propaganda se contaminou de publicidade” (TRINDADE, 2013, p. 51).
Com base na confusão semântica entre publicidade e propaganda exposta acima
é possível inferir que tal fenômeno se reproduz em estratégias de concepção de
campanhas de prevenção da Aids. Sendo, pois, financiadas com dinheiro público,
portanto institucionais e voltadas para disseminação de ideias de prevenção, muitas
campanhas têm o mesmo tratamento que qualquer produto ou serviço do mercado, que
corresponderia à lógica da publicidade. A publicidade e a propaganda estabelecem
relação com o público através de “contratos de leitura” (VERÓN, 2004). O contrato de
leitura corresponderia às “condições de construção do vínculo que une no tempo uma
mídia [produto, marca, imagem, ideia] a seus ‘consumidores’” (VERÓN, 2004, p. 275,
grifo do autor). No âmbito da concorrência acirrada e da saturação dos discursos, a
conquista de corações e mentes, ou de consumidores, requer o fortalecimento de
contratos no tempo. “O objetivo desse contrato (de leitura, de audiência ou de visão,
conforme o suporte midiático) é construir e preservar o habitus de consumo” (VERÓN,
2004, p. 276).
Trata-se de uma lógica discursiva em que o receio ou a dúvida, de não se
produzir/realizar um contrato de leitura com o público/consumidor através das
mensagens ofertadas, leva as agências de publicidade profissional a recursivamente
depositar sua confiança em códigos já compartilhados e reconhecidos pelos diferentes
públicos. Para isso, recorrem a estratégias discursivas carregadas de redundância e à
remissão a formatos culturais já padronizados ou solidificados no cotidiano do senso
comum. O contrato de leitura é “um contrato enunciativo, isto é, ele se cumpre
essencialmente não no plano do conteúdo, mas no plano das modalidades do dizer”
(VERÓN, 2004, p. 276). Desta forma, não importa só o que é dito, mas como é dito, em
busca de estabelecer uma relação de confiança, de crédito, de ação por parte do público
(na propaganda) e do consumidor (na publicidade). E na maneira de dizer em que se
confundem, como prática discursiva, publicidade e propaganda.
404
405
406
407
408
também circularam pelas redes sociais. Feita a análise desses materiais produzidos em
2013 (LACERDA et al, 2014) e em 2014 (LACERDA, 2014), de maneira geral,
decidimos por ampliar a pesquisa ao fazer o levantamento de todas as campanhas
anteriores do Ministério da Saúde somente sobre prevenção da Aids e que abordavam,
especificamente, a temática do carnaval. O período do carnaval foi escolhido por
concentrar, do ponto de vista midiático, um período intensamente explorado pelo
Ministério da Saúde em termos de planejamento de mídia. É em 1988, com o filme
“Arlequim”, da campanha “Quem vê cara não vê Aids”, que há a primeira associação da
prevenção da Aids com o período do Carnaval, que depois foi escolhido como data fixa
para se lançar campanhas de prevenção (LEMOS [2006] apud WOLFGANG;
PORTINARI, 2013, p. 6).
Nessa retomada de perspectiva, o primeiro movimento foi de pesquisa
documental, em busca dos vídeos das campanhas de carnaval anteriores a 2013,
concluída em abril de 2015. Decidimos incluir deixar no quadro os anos posteriores, até
o atual, 2015. Confira, a seguir, o quadro indicando o ano, o tema e o link do(s) vídeo(s)
de cada campanha.
409
193
Os anos de 1989 a 2001 não estão disponíveis no site do Ministério da Saúde. Os anos de 2005 e 2009
foram identificados como de “pertinência nula objetiva” (VERON, 2004) e não foram selecionados.
194
O lugar de interlocução diz respeito ao “lugar que cada interlocutor ocupa no momento mesmo da
comunicação” (ARAÚJO; CARDOSO, 2007, p. 68).
410
spots publicitários. Optamos por não usar os códigos de câmera (planos), da maneira
como propõe Rose, mas fazer na narrativa a descrição de cada corte de câmera, de
maneira que possa ser explicitado o tipo de plano. Buscamos desenvolver uma
interpretação que articulasse as três dimensões, mas sem, necessariamente, fazer uma
análise plano a plano. Nessa perspectiva, temos uma redução à forma textual de todo
um conjunto de signos sonoros e imagéticos, o que acarreta certos limites de
interpretação. E como todo exercício de interpretação, trata-se de é um exercício de
translação, pois “não há uma leitura perfeita do texto” (ROSE, 2003, p. 362).
Para efeito deste artigo, apresentamos a análise de um dos VTs, do ano de 2010.
A campanha de 2010 se destaca no aspecto de pertinência forte direta (VERON, 2004)
em relação ao público jovem, pois como informa o Ministério da Saúde, foi “uma
resposta à tendência de crescimento da epidemia entre as meninas na faixa etária de 13 a
19 anos.”. Continua o informe: “O número de casos de Aids é maior entre as mulheres
jovens, são 8 casos em meninos para cada 10 casos em meninas. Essa inversão
apresenta-se desde 2008.”195 O slogan da campanha foi “Camisinha. Com amor, paixão
ou só sexo mesmo. Use sempre.” Foram três VTs produzidos. Vejamos o VT1.
411
412
jovem, de tomada de decisão segura, envolvida pela paixão, mas sem esquecer a
proteção da camisinha.
A sexualidade na mensagem publicitária é construída como afirmação de
identidade de uma geração, num conjunto de práticas rituais de festa e iniciação, focada
no gênero feminino como protagonista da situação, pois leva a camisinha, numa atitude
de prevenção que não espera a iniciativa do gênero masculino (BARBALHO, 2006).
Desta forma, o lugar de interlocução também situa um posicionamento do jovem em
relação ao gênero, que não cai na assimetria estabelecida culturalmente na sociedade
ocidental, que subsome o protagonismo da mulher (ABRAMOVAY, 2004).
Considerações finais
A pesquisa como investigação ampliada está em fase inicial. Apresentam-se
como movimentos novos da da investigação a articulação entre os conceitos de
“contrato de leitura” e “pertinência” (VERÓN, 2004) com o de “lugares de
interlocução” (ARAÚJO; CARDOSO, 2007). A retomada de campanhas anteriores a
2013 nos fez perceber que no conjunto dos anos houve uma preocupação em abordar
nas campanhas a problemática da Aids com foco nos adolescentes e jovens. Isso não
ficou evidente na campanha de 2013 e 2014, mas voltou a ser o enfoque central em
2015, com a introdução da linguagem e de situações do contexto das redes sociais nos
audiovisuais das campanhas de prevenção da Aids. Também é preciso problematizar o
que se refere a caracterizar também que tipo de jovem é construído nas mensagens de
prevenção, que identidades, grupos culturais ou minorias estão representados? Há muito
trabalho pela frente.
REFERÊNCIAS
413
414
RESUMO
O trabalho apresenta uma revisão dos recentes resultados de pesquisa que buscam
entender a quantidade e a intensidade de atenção que os adolescentes empregam aos
alertas contidos em propagandas de bebidas alcoólicas. Os trabalhos selecionados
focam no uso do rastreador de olhos, equipamento capaz de informar o local, a duração
e o caminho percorrido pelos olhos quando um indivíduo está exposto a um estímulo
visual, no caso uma peça publicitária. Em um trabalho realizado em 2013 com
adolescentes brasileiros e utilizando uma técnica de auto relato, os resultados indicaram
que estes indivíduos declararam ser os alertas uma parte muito importante do conteúdo
de peças publicitárias anunciando cervejas e com grande capacidade de captar a atenção
do receptor. O objetivo do trabalho atual é identificar como o rastreador de olhos vem
sendo usado e se os resultados encontrados em outros centros de pesquisa corroboram
ou não os dados obtidos com o auto relato, indicando assim uma possível comparação
entre os métodos de auto relato e as novas tecnologias da neurociência.
415
RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar por meio da fenomenologia como os sites
disponíveis na internet se apropriam do cuidar/cuidado/cuidador. Desenvolver um
estudo levando em consideração o método fenomenológico é manter um olhar leve
capaz de abrir uma clareira e captar o campo de estudo sem que o mesmo seja
objetivado. No estudo das páginas selecionadas para análise, além do layout e do visual,
também foram analisados os conteúdos para entender se o cuidar é visto como uma
questão técnica ou fenomenológica. A investigação em questão mostra que existem
problemas recorrentes em todos os sites pesquisados e analisados. Os sites investigados
não cumprem exigências mínimas nas questões visuais e trazem falhas primárias
relativas a disposição das informações, escolha dos tipos e cuidado com os esquemas de
cores e em alguns casos fez empresas grandes, parecem totalmente sem credibilidade.
Introdução
Este artigo tem como objetivo analisar como os sites disponíveis na internet se
apropriam do cuidar. A reflexão leva em consideração o fato de que a pesquisa em
questão é parte do projeto “Um olhar onto-hermenêutico-fenomenológico sobre o
cuidado em saúde” que busca mapear o cuidar/cuidado/cuidador nas pesquisas
científicas produzidas no Brasil. No estudo dos sites veiculados na Internet, além do
layout e do visual das páginas, também foram analisados os conteúdos para entender se
o cuidar é visto como uma questão técnica ou como uma questão fenomenológica pelos
produtores das páginas disponíveis.
A pesquisa em questão investigou as formas de apropriação do
196
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
197
Orientador do trabalho. Jacir Alfonso Zanatta é doutorando em Psicologia pela Universidade Católica
Dom Bosco (UCDB), mestre em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e
mestre em Psicologia da Saúde pela UCDB. Formado em Psicologia pela UCDB, Jornalismo pela UFMS
e Filosofia pelas Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (FUCMT). É professor da Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB), situada em Campo Grande, Mato Grosso do Sul – Brasil, além de ser vice-
presidente do Comitê de Ética na Pesquisa (CEP). e-mail: jacirzanatta@gmail.com
198
Professor Especialista da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e Mestrando do Curso de
Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Membro do Núcleo de
Jornalismo Científico e do Núcleo de Comunicação em Saúde e Meio Ambiente da UFMS. email:
adobiagi@gmail.com.
199
Doutora em Comunicação Social pela UMESP. Professora do Mestrado em Comunicação da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e coordenadora geral do Núcleo de Jornalismo
Científico e do Núcleo de Comunicação em Saúde e Meio Ambiente da UFMS. email:
greicymara@hotmail.com.br.
416
417
418
então desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção e bom trato. A atitude de cuidado
pode provocar preocupação, inquietação e sentido de responsabilidade. Por sua própria
natureza, cuidado inclui, pois duas significações básicas, intimamente ligadas entre si.
A primeira, a atitude de desvelo, de solicitude para com o outro. A segunda, de
preocupação e de inquietação, porque a pessoa que tem cuidado se sente envolvida e
efetivamente ligada ao outro.
Cuidado é um modo de ser, isto é, a forma como a pessoa humana se estrutura e
se realiza no mundo com os outros. É um modo de ser-no-mundo que funda as relações
que se estabelecem com todas as coisas. Significa uma forma de ex-istir e de co-existir,
de estar presente, de navegar pela realidade e de relacionar-se com todas as coisas do
mundo. Nessa co-existência e con-vivência, nessa navegação e nesse jogo de relações, o
ser humano vai construindo seu próprio ser, sua autoconsciência e sua própria
identidade.
Pelo cuidado não vemos a natureza e tudo o que nela existe como objetos. A
relação não é sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito. Experimentamos os seres como
sujeitos, como valores, como símbolos que remetem a uma realidade essencial. A
relação não é de domínio sobre, mas de com-vivência. Não é pura intervenção, mas de
inter-ação e comunhão. Cuidar das coisas, significa ter intimidade, senti-las dentro,
acolhê-las, respeitá-las, dar-lhes sossego e repouso. Cuidar é entrar em sintonia com,
auscultar-lhes o ritmo e afinar-se com ele. A centralidade não é mais ocupada pelo
logos razão, mas pelo pathos, sentimento.
O cuidado entra na natureza e na constituição do ser humano. O modo de ser
cuidado revela de maneira concreta como é o ser humano. Sem o cuidado, ele deixa de
ser humano. Se não receber cuidado, desde o nascimento até a morte, o ser humano
desestrutura-se, definha, perde sentido e morre. De acordo com Unger (1991) o cuidado
deve ser entendido na linha da essência humana. Heidegger (1988) defende que o
cuidado é um fenômeno ontológico existencial básico. Ou seja, um fenômeno que é a
base possibilitadora da existência humana enquanto humana.
No entanto, também é importante observar que a internet renovou as
perspectivas para a comunicação em saúde. Soares (2004) alerta para o fato de que
enquanto a comunicação de massa deve fazer campanhas falando em geral dos temas de
saúde, porque alcança uma audiência heterogênea, a rede de computadores, por ser
acessada individualmente, pode responder a dúvidas específicas, oferecendo a
informação sob medida, com o grau de profundidade que o usuário procura. Assim,
419
percebe-se que no decorrer dos anos a internet, com suas plataformas digitais, tem
marcado a vida profissional, acadêmica e particular das pessoas em todo o mundo. São
novas invenções, novas maneiras de produzir, entender e fazer, por isso, todos os dias
precisamos aprender novidades e acima de tudo, nos submetermos ao ritmo imposto por
este meio de comunicação.
É importante lembrar que para Spyer (2007), a internet é uma mídia diferente
das outras porque possibilita a comunicação simultânea por meio de plataforma digital
entre varias pessoas conectado por uma rede de computadores. A internet, como rede
mundial de computadores possibilita a grupos de pessoas, que como interagentes
desfrutem das possibilidades para conversarem, trocarem informações, compartilhar
sentimentos e conhecimentos usando plataformas com murais de mensagens, listas de
discussões e sala de chat. Na internet é possível encontrar de tudo, desde informações
irrelevantes até teses e dissertações complexas. Essa transformação tecnológica vem
provocando modificações nas maneiras como as informações estão sendo
disponibilizadas e nas relações entre os homens, uma vez que aproxima pessoas que em
outras épocas nunca teriam a chance de compartilhar informações e trocar experiências.
Castells (2004) define internet como um meio de comunicação que permite, pela
primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em
escala global. Já Torres (2012) define sua composição com uma série de servidores
conectados, sendo que dentro de cada servidor estão hospedadas as páginas. Percebe-se
portanto, nestas definições apresentadas que a internet nada mais é do que uma série de
computadores interligados que são acessados por outros computadores por meio de
navegadores . 200
Entretanto, o mesmo Castells (2004) faz um alerta que apesar da sua difusão, a
lógica, a linguagem e os limites da internet não são bem compreendidos além da esfera
de disciplinas estritamente tecnológicas, fator que causa dificuldades para que a
pesquisa acadêmica possa acompanhar o seu ritmo. Ainda no campo das observações
sobre estes excessos, Cortella (2006) coloca que os muitos dados causam uma imensa
confusão entre o disponível e o supérfluo, tornando-se cada vez mais necessário o uso
de critérios objetivos que possam delimitar o campo de busca do usuário . Por isto, 201
200
Um navegador, também conhecido pelos termos em inglês web browser ou simplesmente browser, é
um programa de computador que habilita seus usuários a interagirem com documentos virtuais da internet,
também conhecidos como páginas.
201
Nome comum utilizado para designar aqueles que navegam pela internet.
420
seria presunção do plano de trabalho prometer que encontraria todos os sites com os
descritores já mencionados, uma vez que os mesmos podem ser utilizados com
significados completamente fora do campo da pesquisa. Segundo Jonassen (2000,
p.200) “O mais importante numa pesquisa Web é encontrar informação relevante face 202
1. Pesquisa na internet
Para Torres (2009) devido ao caráter heterogêneo de distribuição da informação,
tornou-se necessário na Internet a utilização de um sistema (ou vários) que aglutinasse
as pesquisas em uma mesma tela de resposta. Isto porque sites se multiplicaram junto
com seus nomes de nascimento, as URLs , que depois passaram a ser estampadas nos
205
421
dados e ferramentas de análise a clientes ao redor do mundo. O grupo emprega cerca de 16 mil pessoas
em 39 países e possui sede corporativa em Dublin, na Irlanda, e sedes operacionais em Nottingham,
Reino Unido; na Califórnia, Estados Unidos; e em São Paulo, Brasil. Disponível em
<http://www.serasaexperian.com.br/quem-somos/institucional/>. Acesso em: Jul. 2014.
208
Ferramenta líder de inteligência em marketing digital. A Hitwise tem a maior amostra de usuários de
internet do mundo – 25 milhões de pessoas, sendo 500 mil no Brasil -, que permite que clientes entendam
o comportamento de seus consumidores e concorrentes na internet. A Hitwise tem presença nos Estados
Unidos, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Hong Kong, Cingapura, Canadá, Brasil e China. Mais
informações sobre a Hitwise estão disponíveis em www.hitwise.com e www.hitwise.com.br.
422
2. Buscadores e metabuscadores
209
Disponível em <http://chitika.com/google-positioning-value> Acesso em: Jul. 2014.
423
A tecnologia não é nova, mas não é de domínio público e muito menos não é conhecida
por quem não está acostumado com pesquisas na internet, então a descoberta desta
ferramenta gerou grande eficiência e uma dinâmica mais avançada proporcionando
resultados sem redundância de dados e que eram gerados por mais do que os dois
motores de busca previamente selecionados, melhorando a eficiência dos resultados.
Foi decidido realizar novamente a pesquisa com as três palavras-chave,
210
Metabuscador é um tipo de motor de busca que pesquisa em mais de um motor de busca ao mesmo
tempo, eliminando os resultados redudantes.
424
relação a outros uma vez que sua busca de dados é realizada no Google e Yahoo
respectivamente, motores de busca já verificados como os melhores a serem
pesquisados. Todos os resultados encontrados por ambos buscadores foram colocados
em uma página única pelo metabuscador, resolvendo o problema de sobreposição de
conteúdo.
Geralmente, conforme já estabelecido, resultados de uma pesquisa na internet
não são investigados além da primeira página de resultados, então foi estabelecido um
critério diferente na delimitação desta nova pesquisa em relação a quantidade de
informação. Assim, foi especificado a realização da busca em até dez páginas de
respostas dentro das palavras- chave envolvidas (Cuidar, Cuidado e Cuidador) sendo
possível gerar uma tabela como resultados mais relevantes, uma vez que mesmo que
existisse uma página de internet para ser analisada além deste escopo delimitado de dez
páginas, a importância para o assunto seria diminuta devido as características do
método de busca.
3. Layout
Para Dondis (1997) a tendência de associar a estrutura verbal e visual é
perfeitamente compreensível. Existe um vasto universo de símbolos representacionais
que podem ser universais e aprendemos através do visual sobre coisas que não podemos
ter experiências diretas e que tentamos traduzir todos os dias.
Vivemos cercados por imagens visuais. Nossas retinas e nossos cérebros são
invadidos por elas desde o instante em que saímos das cenas oníricas dos sonhos e
desembarcamos na vigília de um novo dia. Vivemos sob o estímulo de imagens
reproduzidas continuamente, seja nas páginas dos jornais e revistas ou na avassaladora
miríade visual da internet, além das que produzimos em aparelhos que tornaram o
instante fotográfico acessível a milhões de usuários, enquanto transitamos pela cidade
moderna. (SANTAELLA, p. 4)
Mas é o excesso e a falta de alfabetismo visual de grande parcela da população
que acaba contribuindo para a disseminação da informação mal estruturada e para a
desorganização visual, principalmente nos temas que não estão totalmente ligados a esta
prática, como o cuidar, tema central da pesquisa abordada por este artigo. Contribui
211
http://www.dogpile.com
425
para isso, a banalização do design gráfico como produto, em que generalização, baixo
custo e padronização passam a ocupar o lugar do customizado e do específico. Mesmo
nos meios acadêmicos, e nas publicações mais importantes, parece não haver este
cuidado com a disposição gráfica da informação, existe maior preocupação em apenas
publicar, do que publicar corretamente e de maneira mais eficiente para que o leitor ou
no caso da internet o usuário sinta-se confortável na leitura da informação.
Este argumento pode abrir uma certa inquietação sobre a importância das
escolhas visuais para um layout, mas se compararmos mensagens além da legibilidade,
captaremos nos mínimos detalhes as nuances que formam a tipologia de uma letra e que
lhe dão um caráter. Sudjic (2008) alerta para o fato de que a letra é perfeitamente capaz
de mostrar a personalidade de uma publicação e inclusive lhe atribuir crédito ou
descrédito. É parte do trabalho de uma publicação, seja ela qual for, estimular a sua
leitura, e no computador onde tudo pisca e tira a atenção do leitor a todo momento, esta
expressividade é ainda mais importante.
No computador, a leitura não está mais restrita a uma única direção, mas, sim, a
múltiplas e concomitantes direções. A multimídia, utilização de vários recursos (visual,
sonoro, simultâneo) dentro do novo espaço, evolui, o assunto é hipermídia, em que a
preocupação é a informação percebida, não apenas recebida. Em um mesmo ambiente é
possível expor o "receptor" às mais diversas formas de informação, pela união de
diversas linguagens (escrita, visual, sonora, etc) (BERTOMEU, p.38).
De acordo com Cesar (2006) na internet, esta questão visual é ainda mais
fascinante devido a sua possibilidade de participação e interatividade. É uma revolução
que não acontece apenas pelo o que ela é, mas pelo conteúdo que pode oferecer, embora
conteúdo, na internet, não signifique que o site em questão é bom.
Um site, antes de tudo, precisa oferecer serviços, acontecimentos, situações onde
o usuário possa participar. Se você quer que o usuário visite a página do seu cliente
mais do que uma única vez, não basta apenas contar a história da empresa e mostrar o
que ela oferece. Assim que ele entrar na página e descobrir não tem mais o porquê de
voltar. Faça-o participar (CESAR, p.93).
As páginas de internet precisam oferecer este algo a mais, e embora a
interatividade e prestação de serviços sejam prioridades, as questões visuais também
não podem ficar alheias a decisões erradas. Dondis (1997) argumenta que o visual é tão
importante, quanto o conteúdo oferecido e para garantir que esteja coerente com a
aceitação e percepção humana nos voltamos para um conceito explorado pelo autor:
426
Estas características gerais para criação são inerentes a mídia escolhida e seguem
princípios amplamente difundidos e aceitos na academia e no mercado de trabalho.
Entre as teorias mais aceitas está a psicologia da Gestalt . Entretanto, seguir esta
212
abordagem poderia tornar o trabalho estritamente teórico, por isso, nos voltamos para
outra teoria mais simplificada, que poderia ser aplicada de forma prática, a partir de um
ponto de vista mais simples e usual. Abaixo está um resumo da teoria que César (2006)
organizou sobre os princípios do bom layout:
• Diagramação: significa distribuir e colocar as coisas no devido lugar,
obedecendo ordens simétricas ou assimétricas. Organizar textos em colunas,
pesos diferenciados entre títulos, subtítulos e textos. Prestar atenção ao
alinhamento das formas.
• Organização: dê importância as coisas pensando no objeto principal da mídia.
Uma coisa sempre terá que sobressair mais do que outra.
• Equilíbrio e contraste: Alinhe o texto com as imagens. Se for centralizar um
bloco de texto, não centralize apenas ele. Algum outro objeto precisa justificar o
porquê do texto estar centralizado. Não deixe o logo perdido. Não coloque tudo
do mesmo tamanho, nem com a mesma cor, mas observe para que ela não se
sobreponha a informação.
• Inovação: sempre que possível faça algo diferente do que seus concorrentes
estão fazendo.
Ainda assim, com todas essas características, faltava tratar especificamente de duas
outras características essenciais do layout que não estão ligadas especificamente a
distribuição da informação na tela, mas a composição visual em si, para que o visual
fique em total harmonia: a tipografia escolhida e o esquema de cores.
A escolha do
tipo pode determinar a primeira impressão que o usuário tem sobre o conteúdo da
212
Doutrina que sustenta que a mente configura, através de diversas leis, os elementos que chegam a ela
mediante a percepção ou a memória (a inteligência). A Gestalt tem como alicerce os princípios de
ordenação, equilíbrio, clareza e harmonia visual. Na Gestalt, forma não é vista de maneira isolada. Ao
contrário, faz parte de um todo.
427
página. Esta é uma escolha tão fundamental quanto qualquer outra e embora nos dias de
hoje o número de fontes disponível seja incontável, é possível classificar os tipos por
categoria, de acordo com César (2006) temos: antigo, moderno, com serifa, sem serifa,
manuscritos e decorativos. O autor ainda cita uma série de dicas de como a escolha do
tipo pode enriquecer ou destruir o layout:
• Experimente algumas opções antes de se definir por alguma;
• Um tipo de fácil legibilidade deixará a leitura mais confortável. Por isso evite
fontes decorativas;
• Fontes serifadas transmitem elegância e segurança. Mas na internet elas
perdem um pouco de legibilidade em tamanhos pequenos;
• Tipos clássicos são perfeitos para empresas que são ponderadas em sua
comunicação, tipos modernos, contrário, e são para empresas que precisam
representar o perfil do público especificamente;
• Fontes sem serifa combinam com fontes com serifa se colocadas em tamanhos
diferentes, mas isto não é regra. De modo geral, fontes sem serifa são mais
frias, mais pesadas e portanto mais masculinas. O inverso é válido para o
público feminino;
• Faça opção por uma família extensa da mesma fonte para garantir harmonia. Não
misture vários tipos de fontes;
• Fontes serifadas em itálico e caixa alta são muito difíceis de ler;
• Fontes clássicas resistem ao tempo, fontes novas, modernas, se usadas em
demasia,
cansam e são ligadas a tendências que podem sair de moda.
Conforme já
mencionado, o último elemento de análise é o esquema de cores que as páginas
possuem para identificar, melhorar e mostrar seu conteúdo na internet. Para
Pedrosa (2008) a cor pode ser definida como uma sensação provocada pela ação
da luz sobre o órgão da visão. Embora este processo seja inerente a nossa
vontade, ele não está aquém de mecanismos de controle, e um profissional pode
manipular o esquema de cores para produzir percepções cromáticas específicas.
É importante aqui diferenciar sensação de percepção cromática, já que no
primeiro, na sensação, estamos tratando estritamente do processo da chegada da
luz aos olhos e da sua codificação fisiológica. Silveira (2011) define a a
percepção é a interpretação cultural deste fluxo luminoso. Não é importante
conceituar a formação da cor, muito menos os sistemas de cores que existem,
428
isto seria um aspecto de produção e não de análise, por isto utilizaremos as dicas
dadas por César (2006) em busca de uma abordagem mais prática:
• Não carregue com cores demais. Uma informação importante pode ficar em segundo
plano devido ao excesso;
• Dê importância especial aos contrastes;
• Seja harmonioso com as cores das fotos e as cores da marca do cliente;
• No sistema de cores para internet as cores são mais vivas, mais luminosas,
combine-
as de maneira que não vibrem demais, a não ser que sua intenção
seja chocar o
usuário;
• Se possível, divida seu conteúdo utilizando cores diferentes, desde que sejam
harmônicas;
• Público-jovem responde melhor as cores vivas, fortes. Sofisticado prefere
discretas;
• Lembre-se do seus anunciantes, eles podem interferir no esquema de cores de
sua
página.
429
430
5. Conclusão
A análise das páginas disponibilizadas na internet sobre cuidar/cuidado/cuidador
mostram que as pequenas diferenças existentes entre os buscadores (Google e Yahoo)
podem nos levar a resultados bem diferentes entre si. Esta característica nos mostra
também que a estratégia utilizada na otimização dos sites deve ser analisada de forma
cuidadosa para não se cometer equívocos. Também chama a nossa atenção a forma
como o conteúdo vem sendo apresentado na internet, uma vez que são valorizados mais
as questões técnicas e em nenhum encontramos um valor ontológico ou mesmo
fenomenológico. Também foi possível observar que existe um descaso com a forma de
apresentação dos materiais disponibilizados na internet. O visual dos sites pesquisados
não favorece a leitura dos usuários. Desta forma, percebe-se que a pobreza visual
dificulta o entendimento do conteúdo que se perde sem ao menos ser consultado se o
olhar não for minucioso e atento. É preciso observar que todo conteúdo deve ter clareza,
não apenas textual, mas visual, e na avaliação dos sites encontrados esta forma como o
conteúdo é apresentado também estará relacionada com a qualidade final do trabalho
publicado.
A investigação em questão mostra que existem problemas recorrentes em todos
os sites pesquisados e analisados. Existe uma tentativa de valorização do conteúdo em
detrimento da disposição da informação quando ambos deveriam ser equilibrados na
431
REFERÊNCIAS
432
GRUPOS DE TRABALHO
RESUMO
As estratégias publicitárias objetivam persuadir o consumidor e o cinema tem por
premissa o entretenimento, mas também informa e pode defender uma ideia ou conceito.
A constante mudança do perfil dos consumidores, mais críticos e munidos de diferentes
tecnologias que alteram suas práticas sociais – para a publicidade e o cinema – faz com
que as mensagens persuasivas sejam reformuladas diante do público e suas exigências,
incluindo o universo fílmico como um campo a ser, cada vez mais, valorizado. Dito isso,
o trabalho pretende investigar a construção diegética de marcas inseridas em filmes,
observando de que forma os elementos referentes ao produto ou serviço são utilizados
nas tramas. Para atingir tal objetivo, analisa-se um roteiro fílmico visando dissecar
trechos e estabelecer conexões com as teorias referenciadas.
Introdução
A evolução tecnológica, com a televisão digital, a solidificação das redes sociais
e a disseminação dos dispositivos portáteis de comunicação se agrupam como fatores
que contribuem para a transformação do mercado consumidor atual e a consequente
complexificação dos sistemas de comunicação. A ampla oferta de produtos e a
concorrência forte entre as marcas impulsiona o comportamento mais exigente do
consumidor contemporâneo, afirma Rogério Covaleski (2010). Um consumidor ativo;
um espectador que questiona; um público que tem preferências e molda, sim, o mercado
em função de seus desejos.
A criação persuasiva se torna, então, ávida por novos formatos e novos diálogos,
buscando empregar a sedução no envolvimento do espectador, visto que o
entretenimento o domina e quebrar esse momento de fruição, como faz a publicidade
213
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
214
Beatriz Braga Bezerra é Doutoranda em Comunicação e Práticas de Consumo na Escola
Superior de Propaganda e Marketing – ESPM e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em
Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGCOM-UFPE). E-mail:
beatriz.braga@hotmail.com.
433
tradicional, não é mais visto com bons olhos, pontua Scott Donaton (2007). O ponto de
partida ainda é o briefing215 e o brainstorming216 continua sendo usado como ferramenta
de impulso às ideias. O processo persiste, mas as inspirações criativas se ampliam e as
estratégias utilizadas não medem esforços para surpreender o consumidor. Dentre elas,
Branded Content, Jogos de Realidade Alternativa, Product Placement, Marketing Viral
e outras.
O trabalho tem por objetivo a análise e decupagem de uma obra audiovisual
visando encontrar características relevantes para a construção diegética das marcas no
universo fílmico. A proposta será desenvolvida em três etapas: a) o levantamento
teórico sobre os aspectos que culminam na transformação do consumidor atual e na
demanda por novos conteúdos publicitários, e a descrição de estratégias viáveis
realizadas contemporaneamente diante da situação de complexidade comunicacional; b)
a indicação dos conceitos referentes à diegese fílmica e elementos agregadores de
expressividade às marcas que terão impacto no público em sua assimilação e construção
de memórias; e c) a análise detalhada de uma obra fílmica que contém a presença
maciça do discurso marcário buscando destacar e classificar os elementos que
contribuem para a construção diegética da marca dentro da obra fílmica.
434
das marcas. A lógica bidirecional de comunicação defendida por André Lemos (2003) é
um decreto para esse consumidor.
O discurso publicitário precisa, então, buscar estratégias narrativas que
entendam esse cenário comunicacional mais complexo e que assumam o desafio de
produzir conteúdos que abarquem diversos suportes com equivalente potencial atrativo
visando o público reativo aos anúncios tradicionais. Ações que tenham como meta
alcançar os “prossumidores” (TOFFLER, 1980), pessoas que dialogam, produzem e
compartilham conteúdos. A comunicação atual não se satisfaz em alcançar o público,
mas em conquistar sua atenção (DAVENPORT, 2001).
Pierre Lévy (2004) aponta que para realizar uma boa estratégia de comunicação
no ciberespaço é preciso “atrair, canalizar, estabilizar a atenção e escutar o que querem
as pessoas e dar isso a elas. Senão, elas irão para outro lugar, muito rápido, num só
clique” (p. 179). Significa dizer que o desafio é produzir um conteúdo que se diferencie
dos demais e consiga reter o internauta. E essa lógica se estende aos demais veículos
(televisão, rádio, jornal) e também independentemente dos formatos (texto, vídeo,
áudio) ou do propósito da comunicação (informação, entretenimento, comercial). Os
veículos de massa tradicionais findam somando-se ao complexo sistema informacional
dos ambientes digitais disputando a atenção do público.
O formato convencional de inserção comercial na televisão, “entretenimento –
break – entretenimento”, prevê a interrupção do processo imersivo e, por vezes, lúdico,
que ocorre entre espectador e conteúdo. A partir do momento em que o consumidor se
incomoda com esse modelo e tem a possibilidade de evitá-lo, assim o faz. Dessa forma,
o “efeito zapping217” faz com que o público se divida e acabe por inviabilizar uma das
estratégias usuais da mensagem publicitária, questionando a eficácia dessa prática, seja
na TV ou em outros meios.
No caso da televisão, os anúncios publicitários podem ser taxados de “atrevidos,
insinuantes e provocantes” (SANT’ANNA, 2002, p.165). São somente 30 segundos, em
média, para que uma mãe reencontre um filho, um casal se apaixone, um estudante
passe no vestibular. “Um anúncio tem que ser agressivo, rápido, persuasivo e objetivo”
(idem, p.165). O tempo na publicidade é curtíssimo e mesmo assim é preciso contar
uma história, entreter o público e, claro, vender uma marca. E por ocorrer,
217
Alternância de canais com o controle remoto.
435
Publicidade e Entretenimento
Diante do cenário descrito anteriormente, Longo (2012) aponta uma busca de
alternativas nas próprias mídias em detrimento de variações de veículos. Para o autor
não se trata de fugir dos impasses das baixas audiências nos intervalos comerciais, mas
de desenvolver soluções criativas que invertam essas situações. Donaton (2002) acredita
que as ações de comunicação tendem a fundir-se, cada vez mais, ao próprio
entretenimento com o objetivo de alcançar o público “de qualquer jeito”, no caso dos
produtos e marcas que transitam os conteúdos audiovisuais; ou de forma mais
interativa, através de jogos e ações virais no ciberespaço.
O autor cunhou a expressão “Madison & Vine” referindo-se às constantes trocas
entre as agências de publicidade e o mundo do entretenimento, concentradas nas
avenidas Madison (Nova York) e Vine (Hollywood), respectivamente. Donaton (2002)
questiona a atuação dos profissionais de marketing que temem a já mencionada
obsolescência dos comerciais de 30 segundos diante das tecnologias da televisão digital
e descreve estratégias realizadas por grandes marcas mundiais na fusão com conteúdos
de entretenimento em busca de um consumidor escorregadio. O conceito foi
disseminado e ampliado para Madison, Vine & Valley, esse último tratando justamente
das contribuições advindas da evolução tecnológica, situadas no Silicon Valley (Vale do
Silício). Rogério Covaleski (2011) contextualiza:
Acredita-se que o conceito MVV é uma tendência irreversível a todos os atores
da comunicação publicitária – academia, anunciantes, fornecedores, veículos –
e, em especial, para as agências. Não será mais possível atingir a eficácia se não
puder, em seu processo comunicativo, integrar elementos persuasivos, lúdicos e
relacionais. Será necessário conseguir gerar a capacidade de desejo sobre a
publicidade, juntando a isso a condição de ludicidade, de entreter o público e –
436
218
Mais informações disponíveis em: http://www.blessa.com.br/novo-curso-de-gestao-de-varejo-
rs/. Acesso em: 20/07/14.
437
219
Texto no idioma original: Diégèse, Diégétique: tout ce qui appartient dans l’intelligibilité à l’histoire
racontée, au monde suppose ou propose par la fiction du film. Ex: a) Deux séquences projetées
consécutivement peuvent représenter deux scénes séparées, dans la diegese par un long intervale. b) Deux
décors juxtaposés au studio peuvent représenter des édifices supposés distants de plusieurs centaines de
mètres, dans l’espace diégétique. c) Il arrive parfois que deux acteurs incarnent successivement le même
personnage diégétique.
438
Para David Aaker (1996), as marcas podem ser interpretadas como se fossem
pessoas: competentes, marcantes, divertidas. Para o autor, as marcas possuem
personalidade, assim como os seres humanos, e tais características agregam valor aos
produtos através da identificação dos consumidores. “A personalidade da marca pode
auxiliar na criação de um benefício de autoexpressão” (p.88).
A publicidade dispõe de inúmeros vetores: a imagem fixa, a imagem em
movimento, o som, a escritura, tudo isso aliado à hipermídia, além de outras
expressividades. É certo que percebemos que a visualidade se sobrepõe às
demais manifestações. Mas a primazia da imagem tem sido vencida pela busca
de manifestações sinestésicas, que envolvam várias experiências sensoriais,
como textura, cheiro, áudio etc., ampliando com isso a exposição e a percepção
sensorial (PEREZ, 2004, p.106).
439
220
Título original: The Social Network.
221
Não foi localizada uma edição do livro em português.
440
Fig.1 Cartaz do filme. Fig.2 Trecho do trailer. Fig.3 Capa do DVD . 222
222
Imagens disponíveis em: http://goo.gl/6A5clL. Acesso em: 18/04/2015.
223
Sinopse disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-147912/. Acesso em:
18/04/2015.
441
224
Serviço de música por assinatura.
225
Crítica disponível em: http://cinema.uol.com.br/noticias/reuters/2010/12/02/a-rede-social-e-
muito-mais-que-um-filme-sobre-facebook.htm. Acesso em: 18/04/2015.
442
A partir desse trecho fica evidente a postura um tanto inadequada e, por assim
dizer, atrevida do co-fundador do Facebook diante de um advogado. Refletindo a
personalidade de Mark, a empresa se apresenta na trama como uma marca jovem,
constantemente conectada aos estudantes, fonte de sua origem, e em sintonia com as
mudanças da sociedade contemporânea (daí tantas atualizações e aperfeiçoamentos).
443
É válido ressaltar, entretanto, que não cabe aqui questionar a veracidade dos
fatos narrados na obra audiovisual, mesmo que tenha tido por base um livro e que este
tenha sido construído com a colaboração de Eduardo Saverin226, o co-fundador do
Facebook (os nomes dos personagens foram mantidos os mesmos). O filme, embora
biográfico, se trata de uma ficção e não um documentário com imagens e diálogos reais.
É uma versão da história. Nos atemos na análise aqui feita ao conteúdo transposto para
a narrativa cinematográfica, objetivando investigar de que forma tal processo pode ser
compreendido e assimilado pelo público sobre a marca.
Considerações Finais
Podemos afirmar, após a análise do filme, que diversos elementos perpassam a
narrativa e contribuem na construção identitária da marca Facebook. Aspectos
diegéticos relacionados à composição do cenário pontuam características do surgimento
da empresa em um quarto de uma casa estudantil e sua evolução até a sede da empresa.
Aspectos mais subjetivos como o questionamento sobre a propriedade intelectual do
Facebook e a própria postura de Mark junto aos parceiros evidenciam conflitos
relacionados à empresa.
Elaboramos então, com base na análise fílmica e na reflexão proporcionada
diante das teorias anteriormente citadas, um quadro síntese do pensamento aqui iniciado
sobre a construção identitária das marcas em obras fílmicas. No caso em questão, do
Facebook em A Rede Social (David Fincher, 2010). O primeiro campo do quadro
relaciona os aspectos diegéticos e o segundo os aspectos subjetivos aos elementos de
construção identitária.
226
Informações disponíveis em:
http://www.digestivocultural.com/arquivo/nota.asp?codigo=1675&titulo=The_Accidental_Billionaires,_d
e_Ben_Mezrich. Acesso em: 18/04/2015.
444
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445
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WILLIAMS, Raymond. Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
446
RESUMO
A Copa do Mundo de 2014 e o contexto político recente do Brasil potencializaram a sua
visibilidade midiática internacional e o processo de significação da imagem do Brasil no
exterior. Compreendendo que o campo dos media jornalístico contribui na legitimação da
imagem identitária da nação, nossa pesquisa monitorou, catalogou e categorizou mais de
400 menções sobre o país na imprensa internacional, buscando compreender os efeitos de
sentido que circulam na materialidade discursiva desse corpus. Este artigo se detém na
análise do discurso da matéria “Morte e jogos: o Brasil antes da copa do mundo” 229,
publicada pela revista alemã Der Spiegel, edição 20, 12 de maio de 2014. Nossa análise
demostrou a representação de um Brasil distante de qualquer esforço estratégico do Estado
para a construção de uma imagem de marca-país.
ABSTRACT
The 2014 FIFA World Cup and the recent political situation of Brazil have advanced its
international media visibility and the recognition process of Brazil Brand overseas.
Understanding that the news contribute to the legitimacy of the nation's identity and self-
image, this research tracked, cataloged and categorized more than 400 references to the
country in the international press, attempting to understand the effects of meaning that
circulate in the discursive materiality of this corpus. This article230 dwells on the discourse
analysis of the article "Death and games: Brazil before the World Cup," published by the
German magazine Der Spiegel, issue 20, May 12, 2014. Our analysis demonstrated the
representation of a Brazil distant from any state strategic effort to build a brand-nation
image.
Introdução
Entendendo que o campo dos media contribui na legitimação da identidade
identitária de uma nação, buscamos compreender os efeitos de sentido que circularam
na materialidade discursiva das matérias jornalísticas sobre o Brasil veiculadas no
exterior. O corpus da pesquisa de doutorado “Marca-País como entidade semiótica: a
227
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. GT1. De 27a 29 de Maio de 2015. CRP/ECA/USP.
228
Doutora em Ciências da Comunicação na Universidade de São Paulo (USP), mestre em Comunicação
e Práticas de Consumo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP) e
Administradora de Empresas, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). E-mail:
mcac@usp.br.
229
Tradução do título da matéria Capa da revista alemã Der Spiegel, edição 20, 12 de maio de 2014.
Tradução do alemão para o português por Luana Gregory.
230
Este artigo contou com a valorosa contribuição da assistente de pesquisa Priscila Soares Garcia, que é
bacharel em Linguística pela Unicamp (2008) e licenciada em Artes Cênicas pela USP (2014).
447
por diferentes formações discursivas e, desse modo, são afetadas por diferentes posições
de sujeitos, os quais possuem relações diferentes e contraditórias com os sentidos, com
a ideologia, com a história, etc.
Dessa forma, a AD nos possibilitou examinar a produção de sentidos e efeitos
que o discurso jornalístico provoca de maneira a considerar o contexto social e histórico
da enunciação. Para Orlandi (2003), a Análise do Discurso busca na exterioridade os
sentidos constituídos no texto, colocando-nos entre o discurso, a ideologia e a história.
O que interessa saber é: Como este texto significa? Visto que, o discurso é efeito de
sentidos entre locutores.
Portanto, o discurso, objeto de gestos de interpretação empreendidos pela AD é a
união dos elementos linguísticos, que formam sua existência material, com os seus
aspectos sociais e ideológicos. Não deve ser visto como mera transmissão de
informações, mas sim como efeito de sentidos entre locutores, que está investido de
significância para e por sujeitos, pois:
Falar em discurso é falar em condições de produção e, em relação a
essas condições gostaríamos de destacar que, como exposto por
Pêcheux (1979), são formações imaginárias, e nessas formações
contam a relação de forças (os lugares sociais dos interlocutores e sua
posição relativa no discurso), a relação de sentido (o coro de vozes, a
intertextualidade, a relação que existe entre um discurso e outros) e a
antecipação (a maneira como o locutor representa as representações de
seus interlocutores e vice-versa) (ORLANDI, 1996, P. 158).
Na relação de sentidos não existe discurso que não possua relação com outros.
Os efeitos de sentidos são resultados de relações e “um discurso aponta para outros, o
sustentam, assim como para dizeres futuros. Todo discurso é visto como um estado de
um processo discursivo mais amplo, contínuo. Não há, desse modo, começo absoluto
nem ponto final para o discurso” (ORLANDI, 2003, P. 39). A seguir, buscaremos
compreender o discurso de uma matéria selecionada.
449
possui uma circulação de mais de 1 milhão de exemplares por semana, visto que é
distribuída em mais de 160 países.
De acordo com o site da revista , na Alemanha, a Der Spiegel é considerada
231
Testament: Der Philosoph, der Spiegel und die SS (2014), sobre a entrevista de Rudolf
231
Disponível em http://www.spiegel.de/international/
232
Disponível em: <http://www.economist.com/node/1446317>. Acesso em: 21 dez. 2014.
233
A Gestapo do nosso tempo.
234
Tentamos localizar a citação do próprio autor, que deu origem a milhares de reproduções, mas que não
conseguimos confirmar em fonte original. Todavia, a própria reprodução, tendo não origem no
historiador, já demonstra a crença de alguns enunciadores.
450
Augstein, editor-chefe da revista, com Martin Heidegger, onde falou pela primeira vez
sobre sua relação controversa com o nacional-socialismo.
A revista alemã abre bastante espaço para os demais países, interessando-se pelo
que acontece em diversas partes do mundo. No entanto, as questões políticas e
econômicas da própria Alemanha são destaque na revista. Das 39 matérias sobre o
Brasil na revista, nosso país é apenas em citado em 79% das reportagens. Há, dessa
forma, poucas matérias significativas, pois, devido ao alto número de menções. Há 67%
de neutralidade em relação ao Brasil contra 26% de notícias positivas e 8% de matérias
negativas. A temática político-econômica domina o maior número das matérias: 69%
das matérias possuem temática política e/ou econômica.
São 37% de matérias com temática econômica e 34% com temática política.
Uma matéria exclusiva sobre o Brasil, que não foi traduzida para a edição em inglês
(fonte de nossa coleta de material), nos pareceu relevante e foi analisada e aqui
incorporada à análise. A capa da edição 20 do dia 12 de maio de 2014 é dedicada ao
Brasil. Nela, há a imagem da bola oficial da Copa do Mundo, Brazuca, se dirigindo ao
Rio de Janeiro em chamas. A ilustração é acompanhada do seguinte título: Morte e
Jogos: O Brasil antes da Copa do Mundo.
Figura 1 - Capa da revista alemã Der Spiegel, edição 20, 12 de maio de 2014
O discurso jornalístico se desenvolve por meio de um contrato de comunicação,
este é caracterizado pela prática discursiva. De acordo com Charaudeau e Maingueneau
(2014, p. 396), na prática discursiva, uma formação discursiva é “inseparável das
comunidades discursivas que a produzem e a difundem: a formação discursiva é então
pensada ao mesmo tempo como conteúdo, como modo de organização dos homens e
como rede específica de circulação dos enunciados”.
451
452
O novo estádio não era necessário. São Paulo tem o moderno Estádio do
Morumbi, que poderia ser reformado sem muito esforço.
A Der Spiegel afirma que o clima no país é de desilusão, visto que o crescimento
econômico obtido nas últimas décadas não foi capaz de elevar a qualidade dos serviços,
453
da saúde e da educação ao nível que a população espera — e isso, agora, se reflete nas
manifestações contrárias ao Mundial.
A revista não deixa de fazer uma comparação entre o clima festivo da Alemanha
e do Brasil e ao fazê-lo mostra que no país do Carnaval, a festa nem ao menos começou:
454
Ela recebeu Alves e quatro de seus companheiros para uma conversa. “Nós
entregamos-lhe uma lista de nossas demandas e em poucos dias, vamos
obter uma resposta”, disse Alves. E se a resposta demorar?
(...)
Ruffato: Nós não temos senso coletivo nenhum, somos muito individualistas
e egoístas. A principal razão para sermos assim vem, em minha opinião, da
nossa exploradora elite. Ela tem o estado para uso próprio — propriedade
privada. Por exemplo, as nossas universidades públicas: elas são boas, mas
para quem? Só os ricos que têm uma boa educação usufruem delas. E se um
brasileiro ascende socialmente, então, ele reproduz os valores conservadores
da classe média. Conosco, qualquer pessoa que tenha helicóptero superou o
carro caro, o carro caro substituiu o carro ruim, carro ruim a moto e a
bicicleta e os ciclistas o pedestre. Ele não olha para baixo, mas sempre para
cima.
(...)
Ruffato: Nós somos muito violentos. Tudo começou com o genocídio dos
povos indígenas, seguido da escravidão, mais tarde, a exploração de
imigrantes pobres. E praticamente, em todo o século 20 vivemos sob uma
ditadura. A história do Brasil é uma história de violência. Portanto, eu não
estou surpreso com a violência de hoje. Estamos tão bem que somos capazes
de linchar uma mulher na rua porque suspeitamos que ela tenha sequestrado
uma criança. Somos tão sinceros que 368 homossexuais foram assassinados
no ano passado. Somos tão pacíficos que estima-se que ocorram cerca de
500 mil casos de violência doméstica por ano, mas não se sabe porque as
mulheres não se atrevem a ir à polícia. Então, eu não sei porque devemos ser
um povo afetuoso. O que temos é uma tendência para a felicidade. Apesar de
nossa miséria, procuramos ser alegres.
A revista Der Spiegel pergunta “por que as críticas das reais condições no Brasil
é um tabu?”. E Ruffato responde:
Eu acho que isso é devido à nossa baixa auto-estima. Não é bonito admitir
que somos violentos, que somos racistas, homofóbicos e machistas. É
muito mais fácil negar. Porque então você não precisa mudar nada.
Portanto, nós nos convencemos que: temos as melhores praias, as mulheres
mais bonitas e o melhor futebol do mundo. Por que temos de lutar por
melhores condições, se temos tudo isso? Por que precisamos fazer alguma
coisa em relação à homofobia quando temos a maior Parada Gay do
mundo? Estamos piorando a situação, com a nossa hipocrisia.
O escritor desmistifica até a ideia que os jornalistas alemães fazem dos protestos
que ocorreram no país em junho de 2013, durante a Copa das Confederações:
457
Ruffato: Porque aqui no Brasil o que é de todos não é de ninguém. Nós nos
preocupamos apenas quando os problemas nos afetam. Se o vizinho foi
atacado, não tem nada a ver comigo. Se eu tiver um carro blindado, tomo
conta de mim, pois não serei assaltado. Se as crianças estão morrendo de
fome na rua, o problema não é meu, desde que meus filhos tenham o que
comer. Nós não temos bom senso.
O futebol e a Copa do Mundo são vistos como instrumento político que não
beneficiam a população e causam muitas despesas ao país:
Ruffato: Primeiramente, foi dito que a Copa do Mundo iria trazer benefícios
para a população porque se investiria em novas infraestruturas. Agora vemos
que a Copa foi, sobretudo, uma oportunidade para a corrupção. Há estádios
construídos sem necessidades e o dinheiro dos impostos foi desperdiçado.
Esta é a nossa triste realidade.
O escritor finaliza seu discurso, fazendo uso de uma metáfora que para ele revela
o que o Brasil simboliza quando se pensa em Copa do Mundo e futebol: “o negro soa a
camisa, enquanto a elite se diverte”.
458
A Der Spiegel não economiza nas críticas ao Brasil para isso, convoca o
discurso dos brasileiros (ou quase brasileiros): Hamilton Moraes Theodoro, professor de
história de uma escola pública brasileira, militante que participa de manifestações;
Christopher Gaffney, americano que mora no Brasil há cinco anos, professor da
Universidade Fluminense, “oferece seminários de desenvolvimento urbano e de
investigação sobre o impacto social e econômico da Copa do Mundo. O que ele tem a
dizer não tem nada a ver com futebol, samba e praia. Gaffney pinta um quadro
desolador”; Major André Batista do BOPE que trabalhará na Copa do Mundo
garantindo a segurança do evento; o teólogo protestante, Antônio Carlos Costa, que
trabalha na favela do Jacarezinho na organização Rio de Paz; e brasileiros anônimos.
Portanto, o discurso polifônico se faz presente em “Caçando elefantes brancos”:
“‘Não vai ter Copa do Mundo no Brasil’, exclamou estudantes, garçons, balconistas:
Não haverá Copa do Mundo no Brasil!”. Em um cartaz na favela Santa Marta pode-se
ler: “Você vai ver que um torcedor não foge à luta”.
Percebe-se que há muitos discursos e privilegia-se a voz da população brasileira
em detrimentos de autoridades governamentais brasileiras e da FIFA. Aqui, quem tem a
autoridade do discurso é o povo.
Charaudeau e Maingueneau (2014, p. 261) afirmam que
Um discurso quase nunca é homogêneo: ele mistura diversos tipos de
sequências textuais, faz variar a modalização, os registros de língua, os
gêneros de discursos etc. Entre os fatores de heterogeneidade, atribui-se um
papel privilegiado à presença de discursos “outros” — isto é, atribuíveis a
outra fonte enunciativa.
459
ruas? O que estará acontecendo no Rio, onde a final será disputada? Essas perguntas
pairam sobre o campeonato como nuvem de gás lacrimogêneo”.
Batista diz ainda que, “violência gera violência” e que é sua responsabilidade
defender a ordem pública. A recorrência das citações revela a tentativa da revista de
pintar o quadro mais real que pode do que vem acontecendo no país. Para isso, recorre a
heterogeneidade mostrada: o uso de aspas recorta o texto como um todo.
460
Antônio Carlos Costa que trabalha na Ong Rio de Paz na favela do Jacarezinho
afirma que
“As pessoas aqui, os jovens com idades compreendidas entre 16 e 28 anos
tem o desejo de serem ouvidos. Eles anseiam por atenção”, diz ele. “A Copa
do Mundo é uma oportunidade ideal”. Ele não sabe o que vai acontecer.
“Uma pessoa morre e a situação pode ficar fora de controle. As pessoas das
favelas podem paralisar o Rio”.
(...)
(...)
As dez páginas da matéria de capa sobre o Brasil Morte e Jogos: o Brasil antes
da Copa do Mundo da revista Der Spiegel trazem um discurso extremamente crítico
sobre o país. Ao convocar diversas vozes da sociedade brasileira, a revista, mostra que o
discurso publicitário, o qual tenta vender o país como o paraíso do samba, futebol e
carnaval, não atende mais.
461
ter do orador ou, pelo menos, com a ideia que este faz do modo como seus alocutários o
percebem” (idem, p.220-221). Assim, é esperado dos discursos publicitários do Brasil
estereótipos positivos, sedução, um simulacro de Brasil idealizado. O publicitário assim
incorpora. Por outro lado, do discurso jornalístico, é esperado a “imparcialidade” e a
“objetividade”. O enunciador, de partida, tem um “compromisso com a verdade”. O
rompimento desse contrato levaria a perda de credibilidade e de todo capital social do
enunciador, que não mais poderia desempenhar esse papel (talvez migraria para a
publicidade). Porém, sabemos que a objetividade e imparcialidade são virtualmente
impossíveis e que a realidade é fenomenológica. Assim, não podemos presumir que a
isenção é inerente à profissão. Todo discurso é político e, logo, ideológico.
Referências
BACCEGA, M. A. Palavra e discurso – história e literatura. São Paulo: Editora Ática, 2003.
BOURDIEU, P. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
462
463
RESUMO
O presente artigo visa identificar e classificar as integrações entre publicidade e
entretenimento enquanto um gênero. Para isso, recorre à abordagem de Charaudeau
sobre os gêneros de discurso (2006), discurso midiático como gênero (2007) e o
discurso publicitário (2010). Visando compreender as transformações da publicidade
tradicional rumo à sofisticação que levam à sua integração na mensagem de
entretenimento, utiliza-se discussões acerca da Publicidade em Trindade (2012),
publicização em Casaqui (2009, 2011) e expressividade marcária em Perez (2004, 2007).
Discute-se, ainda, a publicidade-entretenimento, a partir de Donaton (2007), Figueiredo
Neto (2008), Lindstron (2009), Covaleski (2010). Com esse percurso teórico, é possível
chegar a um protocolo de classificação da publicidade-entretenimento como gênero, que
é aplicado, com fins de verificação de sua eficácia, nas postagens mais populares do
Facebook da marca mais valiosa do Brasil.
Introdução
Este trabalho propõe uma discussão sobre um formato contemporâneo que se
caracteriza pela integração da comunicação publicitária em conteúdos de entretenimento.
A justificativa para essa discussão ancora-se no crescimento da publicidade-
entretenimento como fenômeno de comunicação. A relevância dessas integrações nos
Estados Unidos já é reconhecida e não faltam exemplos. Desde os que originaram a
discussão, como a série The Hire, da BMW, a vários outros no cinema, na música e na
televisão. Estudo publicado pela consultoria Brand Keys em 2015, afirmava que no
237
caso dos anúncios veiculados no intervalo do Super Bowl – maior audiência da televisão
norte-americana – das 26 marcas anunciantes, somente dez alcançariam alto nível de
engajamento junto ao público. Chama a atenção o fato que oito dessas dez marcas,
trabalham com alto nível de entretenimento. O objetivo do trabalho é construir uma
argumentação que sustente a publicidade-entretenimento enquanto gênero, apresentando
235
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 27 a 29/05/2014. CRP/ECA/USP
236
Doutorando do PPGCOM da ECA-USP, professor do curso de Publicidade e Propaganda da PUC
Minas. email: pablomoreno@gmail.com.
237
When It Comes to Super Bowl Advertising, Emotional Engagement Beats Entertainment. Always.
Disponível em: http://brandkeys.com/when-it-comes-to-super-bowl-advertising-emotional-engagement-
beats-entertainment-always/
464
465
promocional 240
e o político 241
(CHARAUDEAU, 2010). O discurso propagandista é
definido como “um discurso de incitação a fazer”. Esse discurso caracteriza-se por:
1) o “eu” quer fazer alguma coisa a “tu”, como na visada de prescrição242,
mas aqui, não estando em posição de autoridade, “eu” não pode senão incitar
a fazer a “tu”; 2) ele deve, então, passar por um fazer crer a fim de persuadir
o “tu” de que será́ o beneficiário do seu próprio ato, de modo que este aja
(ou pense) na direção desejada por “eu”; 3) o “tu” se encontra, então, em
posição de dever crer no que lhe é dito. Esta visada é típica dos discursos
publicitário e politico. (CHARAUDEAU, 2010, p. 62).
238
No texto referenciado, a tradutora utiliza no título o termo propagandista, embora o título
original refira-se ao discurso publicitário. Outras considerações acerca de termos utilizados pela tradutora
serão colocadas ao longo do texto.
239
No texto, discurso publicitário surge como estímulo ao consumo de produtos
240
Na tradução, promocional aparece no sentido de social/ideológico
241
Na tradução, o político aparece no sentido de eleitoral/governamental
242
Discursos típicos das leis e regulamentos, por exemplo, que envolvem as relações
hierárquicas.
466
243
O modo narrativo permite organizar a sucessão das ações dos eventos nos quais esses seres
serão implicados.
244
O modo argumentativo permite organizar as relações de causalidade que se instauram entre
essas ações, com auxílio de vários procedimentos que incidem sobre o encadeamento e o valor dos
argumentos.
467
245
Na tradução em questão é utilizado, equivocadamente, o termo promocional, quando o autor
aborda, na verdade, campanhas sociais/ideológicas
468
469
A interação das marcas com os consumidores dá-se por meio das ações de
comunicação. Elas existem na mente dos consumidores em um espaço perceptual,
alimentado pelo imaginário dos esforços de construção de valor para a marca. Assim,
compreende-se que a percepção da marca é um processo de produção de sentido,
apresentado por Perez (2004) como a semiótica da expressividade marcária,
fundamentado a partir da semiótica peirceana. A expressividade marcária envolve o
Signo (a marca e toda sua expressividade e sensorialidade – Nome, logotipo, cor,
embalagem, Slogan, Personagem, Fragrância, Sabor, Textura, Jingle, Publicidade etc)
como construtor de uma imagem publicitária, o Objeto (o produto, suas necessidades,
protótipo, design/forma, preço, matérias-primas, posicionamento, distribuição e outros
aspectos de marketing, além da própria organização) como o referente e o Interpretante
(os efeitos potencialmente gerados nas mentes interpretadoras e nos consumidores), que
corresponde ao estoque de imagens mentais.
Atualmente há outras formas de estimular o consumo além da publicidade
tradicional. Uma dessas formas corresponde à expressividade marcária que insere
produtos e serviços em conteúdos de entretenimento de formatos diversos, sendo
chamada de publicidade-entretenimento. Ela surge como resposta a novas formas de
consumir o conteúdo e representa uma sofisticação da mensagem publicitária, que até
então apresentava-se nos meios sob a lógica da interrupção.
470
471
473
246
www.rankingmarcas.com.br
474
2014 é um vídeo do jogador David Luiz relatando sobre como o papel da torcida motiva
a seleção brasileira em seus jogos e foi veiculado após a derrota da seleção brasileira
para o time da Alemanha (em julho de 2014), embora tenha sido gravado em maio. A
postagem de 2013 é um vídeo com uma filmagem de um músico de rua tocando guitarra
em vários lugares do Rio de Janeiro. As pessoas que passavam pelo músico e
colocavam dinheiro no case de sua guitarra eram premiadas com um ingresso para o
Rock in Rio por incentivarem a cultura. O vídeo sugere que as pessoas não sabem que
estão sendo filmadas. A postagem de 2012 é uma foto com a frase “Nada é permanente,
exceto a mudança”, de Heraclito de Éfeso, acompanhada da hashtag #mude. Já a
postagem de 2011 é o texto “Desejamos que todos tenham um fim de semana feito pra
você”.
Todas as quatro postagens atendem aos princípios do Entretenimento
publicitário interativo de Covaleski. Nas categorias de Donaton, duas enquadram-se
como Publicidade de Longo formato (de 2014 e 2013), no que diz respeito ao Lugar de
Construção. Tratam-se de vídeos cuja duração vai além de trinta segundos e que não
têm os serviços do Itaú como elemento central da história. As outras duas postagens (de
2012 e 2011) não podem ser consideradas entretenimento a partir do Lugar de
Construção.
Avançando para a análise do grau de generalidade, as duas Publicidades de
Longo formato destacam-se no aspecto do tempo. No espaço, no entanto, a avaliação é
média, visto que em virtude do alcance das postagens, não é possível saber se o Itaú
recorreu ao recurso Impulsionar publicação para aumentar o público atingido, não
249
475
Situação de recepção, as quatro postagens têm classificação alta, pois o sujeito pode
entrar em contato com aquele conteúdo de formas diversas na rede social (ela pode
aparecer em sua linha do tempo, ela pode aparecer a partir da interação de algum amigo
em comum com a postagem, pode ainda ser marcado por alguém na postagem ou
mencionado nos comentários). O potencial de entretenimento nas duas peças de Longo
Formato pode ser considerado médio, pelo fato de as duas possuírem a assinatura –
recurso da publicidade tradicional – presente no final do vídeo. Apesar disso, as duas
peças descolam da função utilitária da publicidade, buscando estabelecer vínculo
emocional com o público que assiste. A narratividade é alta em ambas, pois contam
histórias e utilizam diversos recursos da linguagem audiovisual para envolver o
espectador, assim como o nível de curiosidade, pois as histórias contadas constroem
valor para a marca sem mencionar produtos e serviços. Em termos de conteúdo o grau é
baixo nas duas, pois embora haja aspectos que diferenciem as peças da publicidade
tradicional, não há nenhum que contrarie os aspectos legais da publicidade veiculada
nas mídias tradicionais.
Nas duas postagens que não se enquadram no aspecto do Lugar de Construção,
observa-se também um baixo grau de generalidade em todos os aspectos, exceto na
situação de recepção, pelo mesmo motivo explicitado no parágrafo anterior. Na
publicação de 2012, cabe destacar que embora não haja assinatura, o grau de
Entretenimento é baixo, pelo fato de trazer as cores institucionais e o slogan do Banco
numa peça estática (uma imagem All type). A publicação de 2011, no Entretenimento,
também possui grau baixo, apesar de propor uma interação com o público. Isso se dá
porque o público interage com a publicação, mas a marca não interage de volta.
476
como pessoas comuns podem ser beneficiadas se fizerem sua parte por um mundo
melhor; no terceiro associa o Itaú ao filósofo Heraclito; e no quarto personifica a marca
como um sujeito preocupado em desejar um bom fim de semana aos seus fãs). O nível
de tecnicidade cresce a cada ano analisado. Em 2011 a marca não interagia com os fãs
por meio dos comentários; em 2012, já responde algumas dúvidas sobre serviços
colocadas nos comentários; em 2013, alguns comentários são respondidos, quando
relacionados ao conteúdo do vídeo (quando não relacionados, redirecionam o
consumidor ao SAC); já em 2014, todos os comentários são respondidos e curtidos e
percebe-se empenho da marca em conversar com os fãs.
Considerações finais
Concluída a etapa de construção de uma tipologia para a publicidade-
entretenimento enquanto gênero e com a aplicação do modelo em uma primeira análise,
algumas questões se colocam como desafios para o prosseguimento da pesquisa. A
primeira delas envolve ampliar o corpus de análise, verificando, nas demais marcas
mais valiosas do Brasil se a relevância da publicidade-entretenimento chega a nível tão
significativo como o obtido na análise do Itaú, caso em que metade das ações
selecionadas correspondiam a Publicidade-Entretenimento. Cabe ainda verificar em
outros lugares de inserção da marca (em outras redes sociais e em outros produtos
midiáticos), se o entretenimento ocupa percentual tão alto como no Facebook. Os
resultados preliminares obtidos com esta análise pavimentam o caminho que se
apresenta e convocam o pesquisador a buscar essas respostas até o fim do processo.
Assim, pretende-se verificar, ainda, a presença da Publicidade-Entretenimento como um
gênero para mais quatro marcas (no Facebook e em outra rede social) ao longo da
pesquisa.
A análise feita demonstrou que embora duas ações não pudessem ser
classificadas como Publicidade-Entretenimento no que diz respeito ao Lugar de
Construção, elas apresentaram índices médios e altos nos aspectos seguintes. Assim, é
preciso também refletir sobre a função de cada um dos itens na determinação do gênero.
A Publicidade-Entretenimento, enquanto texto comunicacional, pode ser
reconhecida como gênero em função de sua instância enunciativa (o sujeito falante
coloca-se em espaços específicos que podem ser buscados pelo público – como o
Facebook, no caso da análise realizada). O modo discursivo transforma-se em relação à
publicidade tradicional, pois antes ela era inserida nos intervalos comerciais e o público
tinha sua experiência interrompida para assisti-la. No caso do Facebook, o fã precisa
curtir a página para passar a receber suas atualizações, visitar a página ou ela pode
477
aparecer em sua linha do tempo a partir da interação de seus amigos com a mensagem,
estabelecendo-se, portanto, uma lógica na qual a ação do consumidor é crucial,
construindo assim uma dialogia. A característica da mensagem é diversificada, pois a
marca precisa buscar formas alternativas de gerar envolvimento com e isso cria novas
obrigações, como a necessidade de responder ao público que comenta as postagens, por
exemplo.
O caráter profetizante da mensagem permanece, em relação à publicidade
tradicional, assim como o discurso do fazer crer. No entanto, observa-se que em termos
de expressividade marcária, ela recorre a recursos táticos, apropriando-se de assuntos do
momento para gerar relevância para suas postagens em meio aos conteúdos discutidos.
O entretenimento contribui para a consolidação de um espaço perceptual para a marca
com uma força especial em relação à publicidade tradicional. Por personificar,
emocionar, interagir, entre outras coisas, ele estreita laços entre o público e a marca, de
uma forma que a publicidade inserida nos meios tradicionais tem mais dificuldade para
persuadir.
REFERÊNCIAS
478
RESUMO
Este texto é parte de pesquisa que investiga as narrativas de stakeholders que interferem
no posicionamento de marcas comerciais bem sucedidas no mercado, construindo
acidentes nesse percurso sintagmático. Na presente abordagem, discute-se, a partir dos
conceitos de intertextualidade e de enunciação, como essas narrativas discursivizadas
colidem com aquelas das marcas. A análise finaliza com um quadro que gradua a
intensidade e a valoração dos conteúdos intertextuais, de modo a compreender essa
dinâmica em um contexto social que traz novos desafios às marcas anunciantes: a
dicotomia entre visibilidade e vulnerabilidade, o empoderamento de consumidores e
demais stakeholders na atividade de comunicação e as relações midiáticas em rede.
479
A tática não tem por lugar senão o do outro. E por isso deve jogar com o
terreno que lhe é imposto tal como o organiza a lei de uma força estranha.
Não tem meios para se manter em si mesma, à distância, numa posição
recuada, de previsão e de convocação própria: a tática é um movimento
‘dentro do campo de visão do inimigo’... e no espaço por ele controlado.
480
481
482
modo que ele não perceba que se trata de imitação e atribua a enunciação ao imitado e
não ao imitador. Nos últimos três casos, o oposto ocorre: a intenção é de que exista a
identificação de ambos: imitado e imitador, sendo que quanto mais nos aproximamos do
último tipo, mais difere a axiologia entre ambos.
Nossa proposta de pesquisa trata exatamente dos casos em que o segundo texto
interfere no efeito de sentido do primeiro conjunto de textos, deixando marcas de
enunciação que identificam os respectivos destinadores. Ou seja, uma marca proponente
de comunicações dentro de seu projeto de branding enuncia um todo publicitário
coerente com os seus valores. Essa totalidade é corrompida em algum ponto pela
enunciação de um terceiro que alcança o mesmo público-alvo, modificando ou
reforçando o sentido original, para construir seus próprios efeitos de sentido. Todos
esses stakeholders não pretendem se fazer passar pela marca enunciadora. Bem ao
contrário, a citação lhes serve como modo de fazer ver seus próprios valores identitários.
Assim, se são críticos à marca, ferem o respectivo posicionamento com a comunicação
proferida. Se lhe são favoráveis, reforçam seus valores e ajudam a construí-los. Ou
ainda, podem ser indiferentes a elas, e apenas fazer uso de sua visibilidade, como se
apropriariam de qualquer outro elemento contextual vigente na cena social para compor
seu discurso. Adicione-se a essa condição o fato de que a narrativa que constitui
acidente para um projeto de identidade de marca pode não acontecer depois da
comunicação da marca - fazendo-lhe alusão direta. É possível que tenha decorrido um
intervalo de tempo e que a interferência no sentido da marca não seja tão forte, gerando,
pela divergência na temporalidade, efeito de neutralidade.
Os casos que compõem o corpus de pesquisa são manifestações, ocorridas desde
janeiro de 2012 até o momento e que citam marcas de sucesso (portanto, competentes
na atividade de branding). Essas narrativas do acidente, quando discursivizadas, atuam
segundo estratégias de enunciação que modificam o sentido da marca citada,
confirmando a competência desse segundo enunciador, pois, conforme Fiorin (2002,
p.33), uma das competências que o sujeito precisa para enunciar é a “intertextual, que se
refere às relações contratuais ou polêmicas que um texto mantém com outros ou mesmo
com uma maneira de textualizar”. Apresentaremos os casos em ordem cronológica de
ocorrência para depois organizá-los em uma classificação que, pelas considerações
sobre os tipos de citação nas composições intertextuais, pode ser resumida no seguinte
cruzamento:
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contra Lego e a tal visibilidade crescente foi quem dá a medida do impacto sobre a
marca, a ponto de motivar a empresa a ceder à pressão negativa sobre sua marca.
As ONGs, assim como outros órgãos reguladores, com poder de legisladores ou
não, podem ser destinadores importantes nas comunicações com o público e mesmo
viabilizar as manifestações desse sujeito por meio dos espaços de denúncia a eles
destinados. Foi o que aconteceu com a marca Claro, que no ano de 2014 foi a líder em
penalidades aplicadas sobre a atividade publicitária pelo Conar – Conselho de
Autorregulamentação Publicitária. Por consequência de reclamações e denúncias de
consumidores e da concorrência, a empresa recebeu seis processos, dos quais cinco
tiveram recomendação de sustação ou alteração. Casos como esse são narrativas
realizadas por terceiros que citam negativamente as publicações publicitárias dos
anunciantes, e retiram delas seu valor, apontando falhas na comunicação, quer elas
existam ou não, o que ficará a cargo dos conselheiros do Conar decidir. Podemos situá-
las quanto à intensidade como citação de figura ou elemento de expressão, já que em
geral são itens pontuais de uma ou outra peça que ferem as regras da boa comunicação
comercial. Sua natureza, por sua vez, é sempre negativa nesse contexto.
Mais recentemente, durante o Carnaval de 2015, a marca Skol publicou
campanha publicitária cujas peças eram alusivas à data e ao seu contexto de festa,
relacionamentos sexuais, diversão e excessos “permitidos” nessa ocasião, como mostra
historicamente a cultura popular. Porém a marca parece ter exagerado nessa abordagem
e foi considerada como ofensora por parte de internautas, especialmente do público
feminino. A campanha intitulada “Viva Redondo” foi criticada por algumas das frases
de seus cartazes, como “Esqueci o não em casa” e “Topo antes de saber a pergunta”, o
que foi interpretado como apologia ao estupro nas festas de Carnaval. As manifestações
do público foram multiplicadas nas redes sociais, e suas hashtags alcançaram perto de
cinco mil compartilhamentos, momento em que a marca Skol acatou o protesto e
modificou as frases usadas na campanha. Este caso também pode ser enquadrado como
citação de elemento de figura ou expressão com impacto negativo.
Situação muito parecida, porém com impacto um pouco menor, foi vivenciada
pela marca Risqué em uma breve polêmica que se sucedeu durante o mês de março de
2015: a marca de esmaltes lançou coleção denominada “Homens que amamos”, que
trazia diferentes cores do cosmético em nomes inusitados, reproduzindo o que, segundo
a estratégia de comunicação, seriam atitudes dos homens admiradas pelas mulheres,
como: “André fez o jantar” – cor laranja, “Zeca chamou para sair” – cor cinza ou o rosa
488
- “Leo mandou flores”. Assim que a linha foi lançada, os blogs direcionados ao público
feminino, bem como manifestações no microblog Twitter fervilharam porque a
iniciativa da marca foi considerada machista. Houve comentários jocosos, críticas
feministas e adaptações irônicas das frases-titulo, por exemplo “Marcelo acha que
minha roupa ficaria melhor em uma magra” e outras de tom ainda mais enfático,
convocando discussões recentes da cena citadina, como “Tadeu passou a mão na bunda
da menina no ônibus porque com aquela roupa, ela tava pedindo”. As internautas
declaravam não se sentir identificadas com a proposta da marca nem representadas por
ela, assim como julgaram que os homens não mereceriam o “tributo” por ações que,
embora positivas, não eram tão merecedoras e sim banais e corriqueiras, enquanto as
mulheres têm demandas sociais muito mais complexas, que estariam relacionadas com
sua felicidade, como menos violência, condições similares de trabalho e remuneração,
etc. As manifestações parodiam as frases, ressignificando o sentido exatamente na
direção oposta da proposição da marca que, por sua vez, se manifestou em resposta
dizendo que respeitava a liberdade de opinião, mas permaneceu com a linha de produtos
em circulação (mesmo porque trata-se de uma coleção sazonal de outono-inverno e
assim parece demonstrar que espera que a polêmica seja passageira, assim como o são
as nomenclaturas de esmaltes). Devido a uma visibilidade limitada a um determinado
público e ao intervalo de tempo de sua vigência, consideramos que essa paródia teria
um impacto de valoração negativo, porém sem grandes consequências no longo prazo, a
não ser que a marca persista na inadequação em próximas coleções de produtos.
Em maio de 2012, o atleta Anderson Silva estrelou campanha publicitária da
linha de barbeadores Philips, pois a sua imagem pessoal continha elementos desejados
para a associação à categoria no universo masculino: estilo e preocupação com cuidados
estéticos, sem apresentar riscos para a virilidade, campanha que teve efeito positivo
junto ao público-alvo. Quase dois anos se passaram e o atleta esteve em noticiário em
dezembro de 2014, porque teria sido flagrado em traição amorosa, e no início do ano de
2014, quando um exame antidoping acusou a presença de substâncias proibidas no seu
organismo. O lutador foi preventivamente suspenso, mas liberado a participar das
Olimpíadas de 2016. A situação não afetou a marca Philips, pois o tempo decorrido
desde o final da campanha até as recentes situações neutralizou o seu efeito. O mesmo
não se pode dizer dos atuais patrocinadores, como Budweiser, por exemplo, que
sentiram a repercussão do caso por conta da eliminação da visibilidade contratada nos
489
VALORAÇÃO
490
Internauta x Itaú
Consumidores x Skol
INTERTEXTUALIDADE
REFERÊNCIAS
Endereços eletrônicos:
491
492
RESUMO
Este artigo problematiza a questão dos critérios de gosto utilizados para justificar e
legitimar a criatividade de uma peça publicitária. Para esta elaboração usamos o quadro
teórico proporcionado por dois pesquisadores, José Luiz Fiorin e Pierre Bourdieu. Do
primeiro utilizamos particularmente o conceito de gosto. Do segundo, do qual nos
servimos em maior monta, utilizamos conceitos-chave como campo, hegemonia,
distinção, troféu, dominância, agentes, interesse, legitimação. Este artigo se propõe a
estudar particularmente como os agentes sociais legitimados no campo da criação
publicitária, através das disposições adquiridas dentro do próprio campo, internalizam a
questão do gosto como definidor da criatividade de uma peça publicitária fazendo dele
uma estratégia para manutenção da posição de dominância.
PALAVRAS-CHAVE: avaliação, campo, criação publicitária, critérios, gosto.
253
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/215. CRP/ECA/USP.
254
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo, da
ESPM, integrante do grupo de pesquisa "Comunicação, discursos e poéticas do consumo". E-mail:
mmatuck@espm.br
255
Doutora e docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo,
da ESPM, e coordenadora do grupo de pesquisa "Comunicação, discursos e poéticas do consumo". E-
mail: thoff@espm.br
493
ciências sociais, que lidam por excelência com os construtos humanos, deveriam se
conformar com uma colocação assim tão determinista?
Reza o senso comum que “gosto não se discute”. Ainda que inserida na esfera
do registro popular da cultura, a simplicidade do diagnóstico acima não deve passar
despercebida ao pesquisador da comunicação social. Por que gosto não se discute?
Mesmo que não quiséssemos discutir exatamente esta questão, não haveria como não
destacar o caráter pretensamente autossuficiente que o diagnóstico quer passar. Ao dizer
que “gosto não se discute” estaríamos expressando que o gosto prescinde de qualquer
necessidade de análise, justificando-se por si só. Ainda segundo o registro popular, se o
gosto precisasse de justificativa não seria assim de tão “bom gosto”. Mas, segundo
Pierre Bourdieu (2006, p. 17), “(a sociologia) terá ainda de questionar esta relação que,
apenas na aparência, é autoexplicativa”. A posição do pesquisador da comunicação
social é o oposto de quem acredita em posições autoexplicativas. Para o pesquisador, o
gosto é passível de discussão e, sobretudo, de análise.
Uma das maneiras mais profícuas de entender o processo de tentativa de
naturalização do gosto é vê-lo como uma manobra altamente interessada por parte dos
detentores de tal posição. Naturalizar determinada posição é tirar toda a historicidade
envolvida; é ver como dado o que é construído. É considerar natural o que é social.
Até aqui analisamos a questão do gosto com os critérios analíticos
desenvolvidos por Pierre Bourdieu. Neste artigo vamos trabalhar também com os
conceitos da semiótica desenvolvidos por José Luiz Fiorin. Nossa proposta, mais
exatamente, é trabalhar com os estudos de ambos os pesquisadores para analisar um
objeto específico: as peças publicitárias com potencial de distinção criativa, peças
legitimadas pelo campo como efetivamente criativas pelo fato de serem de bom gosto.
(Falaremos mais sobre isso na parte deste artigo reservada à empiria.) Em outros
termos, como o gosto, o bom gosto, alcançou o status definidor do que é e do que não é
criativo. Iremos, então, problematizar a seguinte questão: por que é bom o que é
legitimado como bom pelos participantes do campo da criação publicitária?
Ressalte-se inicialmente o fato de que o gosto é sempre um construto social.
Sendo assim, gosto se discute, assim como são passíveis de discussão os critérios que
determinam se algo é de “bom” ou de “mau” gosto. Em outras palavras: se gosto se
discute, por que não seriam discutíveis os critérios que o classificariam? O que se
poderá dizer sobre o elenco de critérios que foram legitimados para qualificar e, assim,
legitimar o gosto? Temos por verdadeiro que as normas do gosto variam historicamente.
494
Se variam, elas podem sempre ser alteradas e, segundo Fiorin, os “traços semânticos”
do objeto são tematizados ou figurativizados ou ainda descritos de maneira diferente
conforme o lugar, o grupo social, ou seja, os “traços semânticos” podem variar de
acordo com o contexto histórico. Nas palavras de Fiorin (1997, p.15), “A Semiótica
deixa de lado uma definição substancialista do sujeito, para dar dele uma definição
relacional. Assim, o sujeito define-se pela relação com o objeto. Sua existência
semiótica é dada pela relação com o objeto.” Trata-se de uma relação biunívoca: o
agente, dotado de capacidade de simbolização, simboliza o objeto, que o define
histórica e sociologicamente, e o situa dentro do campo em uma posição mais ou menos
favorável. Dependendo do sucesso de sua estratégia de simbolização, o agente terá
aumentada, ou diminuída, sua competência para continuar simbolizando, sendo assim
legitimado pelo campo como agente com potencial para continuar simbolizando e,
assim, tendendo a permanecer em uma posição de hegemonia e dominância.
Neste artigo, discutimos não apenas o gosto como variável definidora da
excelência de uma peça publicitária criativa, mas os critérios que irão definir o que é e o
que não é de bom gosto (lembrando que no caso da criação publicitária, “de bom gosto”
vai significar “de qualidade criativa superior”). Falar de critério é falar de quem produz
o critério; é falar da situação histórica na qual está inserido o agente produtor do
critério; é falar da capacidade deste agente de influenciar a dinâmica do campo no qual
está inserido. É, portanto, uma arbitrariedade, no sentido sociológico do termo, por se
tratar de uma construção, não uma arbitrariedade em um vago sentido moral, portanto,
criticável. Não é criticável - é questionável. Observa Fiorin (1997):
No âmbito do gosto, toma-se o que se considera bom gosto numa certa
época, num dado lugar, numa determinada classe social (em geral, as
camadas privilegiadas mais antigas) e, ignorando todas essas restrições e
esses condicionamentos, eleva-se norma à categoria de universal, promove-
se a variante à invariante. Por isso, o gosto significa “bom gosto”. (FIORIN,
1997, p. 17).
495
atributos de distinção adjetivados como “chique, alto, sublime, elevado, puro, fino,
espiritual, brilhante, inteligente”. No polo oposto, o feio “é classificado como vulgar,
brega, baixo, material, obscuro, medíocre, cinzento”. Em função do que foi até aqui
analisado, seria quase desnecessário observar que esse processo de estetização do
mundo é também ele uma tentativa de autonomizar a chamada “estetização do mundo”
do processo do qual ele é o “resultado”, como se estetizar o mundo fosse obtido por
uma espécie de geração espontânea, prescindindo, portanto, de análise. Em questão de
gosto, o que se persegue é o que o sociólogo Pierre Bourdieu (2006, p. 239) define
como naturalização do gosto: “a coincidência do ser com o dever ser”.
Esta reflexão de Bourdieu nos permite investigar como a naturalização em
termos de gosto é socialmente construída. Como observamos, o gosto que aqui
problematizamos diz respeito àquele utilizado como critério de distinção de peças
publicitárias como criativas ou não criativas. Assim, questionamos: que critério, ou
critérios, constituem o gosto definidor da criatividade de uma peça publicitária? Eles
existem per se ou, historicamente condicionados, demandariam, para um entendimento
mais consequente, de análises históricas específicas, que apontariam as determinações
particulares da constituição dos critérios de gosto em cada período particularmente
considerado? Quais seriam esses elementos constitutivos, historicamente? Como
exemplo, poderíamos fazer a seguinte indagação: uma peça publicitária portadora do
que o campo vê como de alta qualidade criativa e que recebeu dos jurados do Cannes
Lions Festival (o concurso mais renomado de publicidade no mundo), na década de 90,
o prêmio máximo na categoria Print (anúncio impresso em jornal ou revista), receberia
essa mesma distinção do mesmo corpo de jurados nos dias de hoje?
Referimo-nos anteriormente à tentativa sempre perseguida de autonomizar
determinadas instâncias simbólicas, desconsiderando o processo que lhes constitui.
Sabemos também que a propaganda, mais especificamente a criação publicitária, se
serviu, no início de seu processo de constituição enquanto campo, de instâncias críticas
vindas de outro campo, no caso, do campo das artes plásticas. E, como observamos
acima, também no campo das artes plásticas (como em qualquer campo) ocorre a
tentativa de naturalizar a escolha dos critérios definidores, desconsiderando o fato de
que esses critérios prevalecem como resultado de intensas lutas pela hegemonia dentro
do campo. Esse mesmo processo pode ser observado no caso do gosto quando aplicado
à análise da criatividade das peças publicitárias. No dia a dia do campo publicitário é
comum a referência ao gosto pessoal como instância definidora da excelência de uma
496
peça publicitária. Perguntamos: existiria alguma coisa assim como “gosto pessoal”? As
particularidades do “gosto pessoal” de determinado agente, ao contrário, não teriam
sido necessariamente constituídas historicamente? A formação desse “gosto pessoal”
não ocorreria como resultado de embates sobre critérios de gosto com / contra seus
pares? Ao dizer “gosto disso” ou “não gosto disso” o agente não estaria levando em
consideração diversas instâncias do campo ao qual pertence? Não estaria ponderando
estrategicamente as “chances” de sucesso dessa peça, seja em relação ao atendimento de
uma demanda mercadológica, seja em relação à participação em alguma premiação?
Não estaria dizendo que baseia sua opinião no seu gosto, pretendendo com isso dizer-se
autônomo em relação às injunções do seu campo? Ao dizer “gosto ou não gosto disso”
não estaria querendo sinalizar seu pertencimento estratégico a este ou àquele grupo? Se
um agente do campo sabe que determinada peça publicitária foi anteriormente premiada
em um concurso renomado não estaria ele “pré-disposto” a gostar da peça?
Em função desses questionamentos, ponderamos: não seria o caso de
considerar o gosto pessoal “apenas” como um gosto “particular”, resultado de uma série
de condicionamentos anteriores, condicionamento de diversas ordens, tais como
profissionais, educacionais, vivenciais etc., que constituiriam uma instância definidora
pessoal, enquanto o gosto legitimado por um grupo, esse sim seria mais corretamente
denominado de critério? Objetivamente poderíamos dizer que o gosto legitimado por
um grupo, também legitimado, seria um critério. O contrário seria igualmente
verdadeiro: o “critério” de uma pessoa, ou de um grupo não legitimado pelo campo,
poderia ser considerado apenas como “gosto pessoal”, uma espécie de idiossincrasia.
Seguindo esse raciocínio podemos dizer que o valor do objeto em análise não é
intrínseco, ao contrário, esse valor será sempre extrínseco, de propriedade dos sujeitos
que atribuem o valor ao objeto. Um bom exemplo disso é a mudança da “percepção”
sobre o corpo físico: se a figura do corpo mais gordinho significava, em épocas
passadas, saúde e beleza; se, igualmente, a pele mais clara também denotava beleza
(além de ser um critério altamente definidor da posição social ocupada, pois significava
que a pessoa não precisava trabalhar, pois não precisava ficar exposta ao sol), nos dias
de hoje a “percepção” é oposta: bonito é o corpo magro e bronzeado.
No universo da criação publicitária, podemos dizer que o critério efetivamente
definidor da excelência de uma peça publicitária criativa, e, portanto, do circuito social
que essa peça pode ter dentro do campo, será necessariamente o gosto que foi instituído
como critério legitimado pelos agentes bem sucedidos nessa definição particular e
497
498
simbólica imposta, que inibe possíveis discussões sobre os critérios que distinguiram a
criatividade das peças publicitárias.
499
500
501
esses critérios ocorreriam por geração espontânea e não como resultado de intensas
lutas em busca da hegemonia pela definição desses mesmos critérios. Assim, e
lembrando a observação de Pierre Bourdieu de que “é a própria questão que deve ser
questionada” (BOURDIEU, 2006, p. 17), perguntamos: como é construído o gosto, ou
mais exatamente, como são constituídos os critérios que constituem o gosto,
responsável pela distinção de determinadas peças publicitárias como sendo peças
criativas? Assim é que, para além da legitimação das peças publicitárias vistas pelo
campo como portadoras de distinção criativa, julgamos necessário, do ponto de vista da
pesquisa acadêmica, questionar como se dá a naturalização de um processo que é na
verdade interessadamente construído pelos agentes em busca da hegemonia do campo.
502
257
https://www.youtube.com/watch?v=psNn1l4NuF8, acesso feito em 12-04-2015
258
canneslionsarchive.com, acesso feito em 12-04-2015 (base de dados acessível apenas para
assinantes)
503
festival, ou seja, é possível ter acesso também às peças que foram inscritas e não foram
premiadas, nem mesmo entraram no shortlist. O Cannes Lions Archive está em uma
área fechada do site, com acesso restrito aos assinantes do sistema, em geral, agências
de publicidade e escolas. Antes dessa imensa base de dados disponibilizada pelo
Festival ficava muito difícil pesquisar peças inscritas e não premiadas uma vez que elas
não eram divulgadas pelo Festival. Até então só os próprios profissionais das agências
que fizeram as inscrições ou os integrantes do júri tinham acesso a essas peças.
O acesso ao Archive permite pesquisar as diferenças entre as peças premiadas
e as que não mereceram distinção alguma pelos critérios do júri, mas que foram
previamente julgadas pelas agências como dignas de serem inscritas. A primeira seleção
que fizemos foi sobre a categoria de peças, assim selecionamos a categoria Print por nos
parecer que o anúncio impresso tem a vantagem de ser mais sintético que as demais. Ao
nosso ver, esse poder de síntese do anúncio impresso impõe exigências criativas e ao
mesmo tempo solicita uma maior clareza didática no momento da avaliação: assim,
vamos avaliar o conteúdo, ou seja, a ideia e a forma, incluindo o layout e a execução.
Em Cannes a categoria Print passou por grandes mudanças desde sua estreia no
Festival há décadas atrás. Uma delas foi o próprio nome: o Print é chamado hoje de
Press Lions e engloba peças feitas para veículos impressos; em 2014 a categoria
recebeu aproximadamente 5.000 inscrições (3.500 na subcategoria Produtos e Serviços,
com 321 premiações e 1.500 na subcategoria Craft, com 148 peças premiadas).
Semelhantes:
1) Em termos de conteúdo ou de ideia, as peças de ambas as campanhas trazem uma imagem síntese
para passar a mensagem, poderíamos, portanto, classificá-las como peças de “ideia visual”;
3) Tanto as peças feitas para Aspirina/Cafiaspirina quanto as peças feitas para Flanax fazem parte de
campanhas, ou seja, ambas contam com a facilidade de entendimento que as campanhas oferecem, na
comparação com peças isoladas. O anúncio isolado pode ter sua “força criativa” diminuída, sem falar
504
na diminuição de alcance de mídia. Além disso, as campanhas geralmente entregam um conceito que
aparece “amarrado” nas peças, ou seja, dá mais força a cada uma das peças, isoladamente.
Diferentes
1) As peças feitas para Aspirina/Cafiaspirina são mais bem-humoradas, remetem ao humor de uma
charge, ou tirinha de jornal. Já as peças para Flanax não têm esse aspecto divertido, apesar de
mostrarem de forma exagerada e até dramática o que o excesso de peso pode fazer à coluna e às
articulações. Poderíamos dizer que o argumento contido nas peças para Flanax é mais racional. Assim,
podemos presumir que peças com humor e detentoras de algumas características relacionadas ao
entretenimento (como as charges) têm aumentadas suas chances de receber um prêmio.
2) Uma diferença bastante relevante entre as peças diz respeito ao próprio uso da linguagem
publicitária. As peças feitas para Aspirina/Cafiaspirina têm uma linguagem mais elaborada, o
entendimento não é imediato. Esse pequeno espaço de tempo que demora para o receptor entender a
mensagem (que o senso comum chama de “cair a ficha”) é altamente desejável. Há uma brincadeira
para se avaliar uma ideia, conhecida como os 3 tipos de As. Quando uma peça é enigmática demais,
além do desejado, o receptor faz um “Ô que denota uma crítica. Quando a peça é enigmática no ponto
certo, digamos assim, o receptor faz um “Ah”. E quando, depois de decodificada a mensagem, o
usuário gostar da peça ele pode fazer um “Ahhahahaha”. O entendimento da peça da
Aspirina/Cafiaspirina leva o tempo necessário para se obter o melhor dos “As”. Já em relação às peças
feitas para Flanax, o entendimento é imediato. Podemos fizer que a linguagem publicitária é menos
sofisticada, deixa-se pouco para o receptor fazer.
3) A terceira e última diferença relevante é o fato da campanha que compara a potência da Aspirina
com a Cafiaspirina remeter a outras, com caminho criativo semelhante, que receberam prêmios
importantes, inclusive Ouro em Press Lions de Cannes 2013. Assim nos parece que o trabalho do júri
foi de alguma forma facilitado, pois foi premiado um trabalho com caminho criativo já aplaudido pela
própria instituição e pelos agentes do campo.
505
outras? Por que uma peça publicitária criativa merece o reconhecimento que um troféu
representa e outra, mesmo criativa, não tem esse mesmo reconhecimento?
Arbitrariedade de quem julga? No jogo do campo social não existe um procedimento
arbitrário. Ao contrário, as escolhas significam o último passo de um longo processo
que tem na distinção sua face mais aparente. Existem grupos lutando pela hegemonia,
lutando para impor seus critérios, que serão responsáveis por fazer do campo uma
estrutura estruturante, e estruturante de acordo com os seus critérios. O “subcampo” da
criação publicitária tem suas peculiaridades formativas e estruturais. Vimos que no
início a criação publicitária tomou de empréstimo do campo das artes plásticas critérios
analíticos e valorativos, que se sofreram as mais diversas modificações ao longo do
tempo histórico, preservaram um núcleo “duro”, que poderíamos resumir em uma ou
duas palavras: gosto, bom gosto. Ao analisarmos neste artigo a premiação do mais
legitimado festival de publicidade do mundo, o Cannes Lions, o que de fato
pretendemos não foi julgar o julgamento; não foi concordar com as escolhas feitas ou
delas discordar; nem foi sequer fornecer “a” definição do que seria uma peça
publicitária criativa. Ao contrário, nosso objetivo foi problematizar justamente a
questão dos critérios que embasam o gosto (ou o bom gosto) responsável por determinar
o “grau” de criatividade de uma peça publicitária. Como construção interessada, a
ideologia não mascara interesses “verdadeiros”, mas, antes, configura os interesses de
quem está em jogo. Falar em ideologia é falar em critério. Falar em critério é falar de
um processo altamente seletivo e definidor: há o que está “de acordo” com os critérios
historicamente dominantes, e há o que não está “de acordo” com esses mesmos
critérios. A primeira situação distingue, premia; a segunda, não. Criatividade assim
entendida é isso: um processo de elaboração altamente complexa, “subjetivo”, e ao
mesmo tempo um processo que exige respeito a regras bastante estritas, objetivas.
Entender, portanto, por que uma peça publicitária é criativa (mesmo não sendo
eventualmente premiada) e por que outra peça não é premiada (mesmo sendo portadora
de inegáveis índices de criatividade) exige a nosso juízo que se entenda o que de fato
está em jogo: menos os critérios definidores da criatividade e suas características
“técnicas” (foto ou ilustração; texto maior ou menor; preto e branco ou colorido, humor
ou seriedade, etc.), e mais, isso sim, a competência para dizer (e impor) o que é criativo
(sem precisar explicar esses porquês).
506
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2006.
CARRASCOZA, João A. Razão e Sensibilidade na Redação Publicitária. SP: Futura, 2004
LANDOWSKY, Eric. Gosto se discute. In: LANDOWSKY, Eric e FIORIN, José Luiz (Org.).
O gosto da gente, o gosto das coisas. São Paulo: EDUC, 1997
Aspirina/Cafiaspirina
__
Peças premiadas com o Leão de Ouro em Cannes 2014 “Queue”e “Firetruck”:
mostram situações de estresse, como fila e congestionamento, com um elemento a mais:
no caso da fila há apenas um atendente e no caso do congestionamento há um carro de
bombeiro.
No packshot vê-se a embalagem de Aspirina junto à versão mais forte, Cafiaspirina.
__ __
Peças premiadas com o Leão de Ouro em Cannes 2013 “Agent”, “Crazy” e
“Nurse”:
mostram que a mesma frase dita por pessoas diferentes muda de sentido, ampliando o
efeito.
__ __
Premiadas com o Bronze e Shortlist na categoria Outdoor em Cannes 2013,
507
“Chart”, “Test” e “Views”: mostram imagens que geram ansiedade. Exemplo: numa
apresentação vê-se o 1º. de 276 slides
Flanax
___
Peças inscritas e não premiadas “Box” e “Bar-Bell”:
imagens mostram objetos pesados sendo sustentado por uma coluna vertebral envergada.
508
RESUMO
Nos últimos anos, o cenário da comunicação tem sido permeado por reflexões que
impactam diretamente na forma como os pesquisadores do campo, incluindo os de
publicidade, lidam com seus objetos de pesquisa, sendo que o conceito de midiatização
tem exercido um dos papeis centrais nesta discussão. Este trabalho tem como objetivo
realizar uma revisão bibliométrica sobre a temática da midiatização, de forma a mapear
as principais instituições, periódicos, autores e espaço temporal em que se tem discutido
o assunto com maior impacto no cenário global. Para tanto, foi realizada uma análise a
partir da bases de dados ISI Web of Science e Scopus, e sua posterior discussão. Como
principais resultados e conclusão, nota-se uma clara hegemonia da “escola nórdica” a
respeito do tema, bem como uma visibilidade ainda incipiente da produção brasileira
neste contexto.
1. Introdução
O conceito de midiatização e suas consequências para a comunicação enquanto
campo científico têm assumido lugar de destaque na produção científica não somente
local (BRAGA, 2007; BASTOS, 2012; FASUTO NETO, 2006) como também em
termos regionais e globais (COULDRY, 2008; HEPP, 2014, HJARVARD, 2014).
Entretanto, o tema já tem sido constantemente debatido por mais de dez anos, e
as discussões ainda apresentam distintos pontos de vista, tanto em termos conceituais
como metodológicos.
Tais aspectos impactam diretamente a esfera da publicidade e suas novas formas
de relação e interface com a sociedade, fazendo com que os pesquisadores que
articulem esses dois âmbitos tenham que ter uma clareza bastante definida acerca das
principais vertentes, pressuposições e posicionamentos acerca da temática da
midiatização para, então, poderem delinear seus projetos de pesquisa junto às
universidades.
259
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
260
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação – PPGCOM-USP e
membro do Centro de Comunicação e Ciências Cognitivas da ECA-USP. E-mail: drkawano@gmail.com.
261
Professor Doutor em Comunicação Social - University of North Carolina, docente da Escola
de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) e membro do Centro de Comunicação e Ciências
Cognitivas da ECA-USP. E-mail: leleba@usp.br.
509
510
O conceito de midiatização, por outro lado, tem ganhado mais força nos últimos
anos (BRAGA, 2006; COULDRY, 2008), com especial destaque para a segunda metade
desse período (como se verá mais à frente, na revisão bibliométrica).
Apesar de se notar com uma considerável clareza a existência de dois pilares que
sustentam as discussões sobre midiatização em nível global, a vertente institucionalista
e a socioconstrutivista, Hepp (2014) sustenta que elas têm e comum o fato de
compreenderem a comunicação em um processo fulcral de relação com a cultura e a
sociedade.
Disso resulta que, independente da abordagem teórica a ser considerada, os
estudos em comunicação devem considerar a relação dos media em função de aspectos
de interação e apropriação de sentido, feitos a partir de um dado contexto cultural, como
como afirma Bastos (2012, p. 69).
[...] Esse metaprocesso assume que os meios de comunicação não apenas
modificam as estruturas sociais, culturais e políticas. De maneira mais
radical, o programa de pesquisa baseado na midiatização argumenta que os
processos sociais não podem ser entendidos sem a função ativa dos media,
uma vez que as ações sociais, os produtos culturais e os programas políticos
tornaram-se todos eles mediais.
Como se pode notar, a midiatização tal como a mediação, tende a dar lugar de
destaque à comunicação e um papel central na articulação social. Assim, se a ideia de
mediação explorada por Martín-Barbero (2009) vislumbra um processo contínuo entre
produção, recepção, de natureza culturalista e imbuída de conflitos na negociação de
sentido, há autores que veem a mediação como uma etapa antecedente ao processo de
midiatização (STROMBACK, 2008), de forma que ambos deslocam um foco de
observação na recepção, com desdobramentos relacionados à apropriações de sentido
imprevisíveis na circulação e discussão dos tópicos fora do contato imediato com os
media, sendo a midiatização invariavelmente processual e mais dinâmica
(STROMBACK, 2008) e incluindo os efeitos dos meios de comunicação (SCHULZ,
2004).
Entretanto, embora essas considerações pareçam ter sido apropriadas pelos
diferentes âmbitos da comunicação, a midiatização do consumo e sua relação de
expressividade de marcas no sistema publicitário ainda precisam ser discutidas com
maior profundidade e extensão, tanto do ponto de vista de teórico quanto metodológico,
como assinala Trindade e Perez (2014, p.03).
Diante disso, a revisão bibliométrica sobre midiatização vem a auxiliar e
fomentar as reflexões no campo, uma vez que ela permite um mapeamento dos autores,
511
3. Metodologia
Para o levantamento dos metadados a partir da revisão bibliométrica, foram
utilizadas duas das principais bases de dados científicos: Scopus e ISI Web of Science
(WoS) (COBO et al., 2012, p. 1383). A busca preliminar foi dividida em três etapas, e
contemplou com termos (i) “reception” e “communication”; (ii) “mediation” and
“commnication”, e (iii) “mediaization”.
Contudo, no processo de verificação e validação dos resultados obtidos, notou-
se que as duas primeiras buscas (evolvendo os conceitos de recepção e mediação)
retornaram muitos trabalhos que não tinham relação direta com as discussões do campo
da comunicação, ainda que a busca tenha agregado o termo “comunicação” e que os
parâmetros fossem restringidos apenas à área de Ciências Sociais e Humanidades (para
a base Scopus) e Ciências Sociais (Web of Science). Diante disso, para fins de
apresentação, análise e discussão dos resultados, foi considerada somente a terceira
pesquisa, referente à midiatização. A quarta pesquisa, e não menos importante, foi
brevemente discutida por apresentar apenas seis resultados, sendo que o único artigo
indexado nas duas maiores bases de dados internacionais se refere à produção de
Trindade, Hellín e Hegi (2013), a respeito da regulação e regulamentação publicitária de
campanhas de cerveja no Brasil.
Cabe ressaltar também que não houve delimitação de período para os resultados,
ou seja, estes contemplam desde o primeiro registro verificado até o mês de abril de
2015. Em uma segunda etapa, os metadados advindos da base de dados Web of Science
foram exportados para uma análise posterior no software VOSViwer, uma ferramenta
de text mining que permite a construção e visualização de redes bibliométricas extraídas
da literatura científica.
Por fim, os principais achados da análise conjunta obtida com a revisão
bibliométrica foram analisados e discutidos de forma qualitativa, de acordo com a
pertinência das discussões atuais em midiatização.
512
Termo de
Termo de Termo de
Condição Condição pesquisa
pesquisa 1 pesquisa 2
Análise 3
4. Resultados e Discussão
4.1. Evolução temporal da produção científica
Um olhar diacrônico global sobre a produção científica na temática da
midiatização permite observar que o número de publicações se manteve relativamente
baixo e estável até o ano de 2006. Os dois anos posteriores, 2007 e 2008, indicaram um
aumento do interesse pelo assunto, mas é somente em 2009 que se notou um salto na
produção em midiatização, como se pode ver nas figuras abaixo:
1a 1b
513
514
Fonte: Elaborado pelo ator a partir da base de dados Scopus (-- até 2015)
515
Figura 4: Periódicos que mais publicam sobre tópico "mediatization", segundo base de
dados Scopus
Fonte: Elaborado pelo ator a partir da base de dados Scopus (-- até 2015)
516
com os quais a comunidade científica brasileira está mais familiarizada, seja na vertente
institucionalista, sejas na socioconstrutivista.
Embora não seja o objetivo deste trabalho fazer uma revisão da literatura, mas
sim o de fazer uma revisão bibliométrica, julga-se oportuno que sejam apresentados os
estudos mais recentes publicados pelos principais pensadores da área.
Stromback e Van Aelst (2013) discutem em Why political parties adapt to the
media: Exploring the fourth dimension of mediatization como a midiatização, em um
processo de longo prazo, está fazendo com que a mídia se torne cada vez mais
independente da política, e como esta última tem adotado estratégias de adaptação à
mídia.
Em artigo publicado na Communication Theory, o sueco André Jansson (2013)
se utiliza do modelo de Henri Lefebvre sobre espaço social para mostrar como uma
nova abordagem de midiatização pode ser encarada a partir das tecnologias transmídia
utilizadas no cotidiano.
Em artigo recente publicado na revista Media, Culture and Society, Hepp,
Hjarvard e Lundby (2015) retomam a discussão sobre a centralidade da mídia e como o
conceito de midiatização se relaciona de modo complexo com o campo da comunicação
frente às mudanças na cultura e na sociedade.
Rawolle e Lingard (2010), por outro lado, relacionam o conceito de midiatização
com os apontamentos de Bourdieu para discutir o tema através de uma lógica que
atravessa vários campos sociais, com especial atenção para a esfera jornalística. Para
tanto, os autores abordam um caso empírico australiano relacionando políticas
educacionais com a ideia de economia baseada no conhecimento.
O finlandês Risto Kunelius, também presente na lista de autores com maior
produção no tema, aborda em seu estudo a midiatização da política no contexto local
para mostrar como as redes políticas em nível de decisão são um lugar privilegiado para
se avaliar os processos de midiatização, evidenciando ao fim de estudo, três temas
importantes: o papel da confiança nas redes políticas, a profissionalização dos meios de
comunicação e da política e a diferenciação entre racionalidade da rede e racionalidade
da mídia (REUNANEN, KUNELIUS, NOPPARI, 2010).
Já a norueguesa Mia Lövheim tem abordado a midiatização não na esfera
política, mas sim no âmbito religioso. Em parceria com o sueco Lundby (LÖVHEIM &
LUNDBY, 2013), os autores partem da noção de midiatização proposta por Hjarvard
(2008) para mostrar e discutir a cobertura da religião no jornal por meio de índices de
517
Fonte: elaborado pelo autor a partir do software VOSViewer – base de dados Web of Science
518
Fonte: Elaborado pelo ator a partir da base de dados Scopus (-- até 2015)
Por fim e não por acaso, esta revisão se encerra com a apresentação das dez
instituições que mais estão atreladas à produção científica na temática da midiatização.
Como se pode notar na tabela 2, a influência da “escola nórdica” se mostra
evidente quando são analisadas as universidades mais relevantes no contexto da
midiatização. Das dez instituições mais importantes dentro dessa temática, nada menos
do que metade delas estão sediadas na região da Europa setentrional: a Universidade de
Kopenhague (Dinamarca), a Mid Sweden University (Suécia), a Universidade de
Karlstad (Suécia), a Universidade de Helsinque (Finlandia) e a Universidade de Oslo
(Noruega), resultados estes que estão, em parte, associados à filiação ds teóricos,
Hjarvard, Stromback, Jansson, Sumiala e Lundby, respectivamente.
Outras, ainda, podem constituir uma nova fonte a ser mais estudada e
acompanhada pelos pesquisadores brasileiros, como o caso do Centro Nacional de
Pesquisa Científica (CNRS Centre National de la Recherche Scientifique), na França,
que, por exemplo, realizou o estudo: Religion in consumer society: Brands, consumers
and markets (GAUTHIER & MARTIKAINEN, 2013). Outro destaque ainda é a
519
Produção
Instituição
indexada
Fonte: Elaborado pelo ator a partir da base de dados Scopus (-- até 2015)
Considerações finais
Exposto o conteúdo e diante dos objetivos propostos no início deste artigo, três
considerações merecem destaque.
A primeira delas e talvez a mais importante, se refere ao fato de que a análise
bibliométrica se mostrou uma metodologia de levantamento de dados bastante útil para
o delineamento de um determinado cenário teórico, neste caso, o da midiatização.
Através desta análise, foi possível traçar um panorama sincrônico e diacrônico da
produção científica do tema, de modo a evidenciar quando a produção ficou estagnada
520
ou quando ela passou a ser apropriada pela comunidade científica, quais autores são
mais relevantes na discussão do assunto, bem como quais países e instituições exercem
um papel mais central dentro desta dinâmica.
Nesse sentindo, constatou-se a clara hegemonia da “escola nórdica” na produção
científica relativa ao tema, ao mesmo tempo em que se nota uma incipiente visibilidade
da pesquisa brasileira no cenário internacional, sendo que o único artigo indexado nas
duas maiores bases de dados internacionais se refere à produção de Trindade, Hellín e
Hegi (2013), a respeito da regulação e regulamentação publicitária de campanhas de
cerveja no Brasil.
Por fim, o artigo permite assinalar que, além da metodologia da revisão
bibliométrica servir como um guia central para o início de uma pesquisa mais
aprofundada e que norteie o pesquisador em sua revisão bibliográfica, ela também
permite que novas relações teóricas sejam feitas, tanto do ponto de articulação na
produção de textos quanto na real parceria institucional das instituições brasileiras com
alguma das instituições de referência identificadas com o auxílio da revisão
bibliométrica.
Entretanto, poucos pesquisadores ainda fazem uso deste tipo de análise, ficando
aqui, um pequeno contributo e incentivo para a adoção desta forma de revisão para os
pesquisadores em comunicação no Brasil.
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Technology Studies. Leiden University. Disponível em: < http://www.vosviewer.com>.
522
RESUMO
Este texto visa apresentar a segunda etapa de tabulação das respostas obtidas pelas
experiências realizadas no Mestrado defendido na ECA-USP. Primeiramente é
colocada uma rápida explicação das variáveis controladas que balizaram a composição
dos materiais sonoros apresentados, bem como a maneira como foram montados os
grupos de voluntário que passaram pela audição dos conteúdos. Num segundo
momento, é apresentada a, já referida, segunda etapa de tabulação, quando foram
levantados os principais códigos recordados pelos ouvintes: os chamados chunks
(KINTSCH, 1982). Assim, procurou-se responder questões sobre a influência da
música, quando aliada a transmissão de pequenas mensagens de caráter publicitário.
Introdução
Com o intuito de esclarecer impressões a respeito da influência da música na
memória de propagandas, foram realizados testes simples utilizando materiais contendo
um texto falado e o mesmo texto cantado. Toda a pesquisa aqui descrita passou por um
pré-teste, já descrito em artigos contidos nos e-books dos PROPESQ´s anteriores, por
este motivo e, para deixar o todo mais objetivo, optou-se por não descrevê-lo aqui.
Aqui, estão descritos os passos dados na composição e aplicação dos materiais
sonoros e visuais apresentados aos voluntários, ou seja, detalha-se: a maneira como
foram levantados dados sobre pesquisas similares para a construção da base teórica que
norteou os testes (1), como foram aplicados estes testes (2), uma listagem de
características dos voluntários envolvidos (3), uma rápida explicação do que vem a ser
um Chunk (KINTSCH, 1982) (4), os resultados obtidos pela detecção e tabulação destes
Chunks (5), além de algumas considerações mais gerais sobre este processo (6).
1) As diretrizes
Abaixo se encontram certas diretrizes científicas e musicais que balizaram o
formato e o conteúdo dos materiais apresentados aos voluntários.
Procurou-se evitar mensagens de apenas um verso, pois não davam tempo
suficiente para que o efeito musical fosse percebido. (WALLACE, 1991) Também
263
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2014. CRP/ECA/USP.
264
Mestre do PPGCOM da ECA-USP, email: wagnerdesousa@yahoo.com.bt
523
foram compostos arranjos condizentes com o que estava sendo dito, pois foi observado
que o contexto musical ajuda na memorização da mensagem, atuando junto à melodia.
(WALLACE, 1991) A música desconectada, ou colocada pontualmente em uma
pequena parte do comercial, não possui um efeito perceptível no recall da mensagem
(YALCH, 1991) portanto optou-se por utilizar a melodia em toda extensão do texto.
Optou-se por não colocar pausas, pois dependendo do tamanho do silêncio, a
lembrança da informação dita, logo depois, pode sofrer diferentes influências. (OLSEN,
2002) Não se utilizou paródias de músicas conhecidas, já que isto atrapalha a atenção
nas informações verbais inseridas. (ROEHM, 2001) Procurou-se compor melodias que
possuíssem complexidades semelhantes, pois o desenho melódico também influencia na
memória. (WILLIAMSON, BADDELEY, HITCH, 2006)
Evitou-se também a variável do timbre de voz (WALLACE, 1991), assim sendo,
uma mesma pessoa gravou a mensagem cantada e a versão falada. Além disso, o
material falado teve a mesma duração do material cantado (30 segundos), já que o ritmo
de apresentação das palavras pode influenciar na memória. (KILGOUR, JAKOBSON,
CUDDY, 2000) Seguem as mensagens apresentadas nos diferentes formatos:
Água Nova
Verão no litoral, o sol rachando a moleira / Ficar o dia inteiro descansando na esteira / Porção de lula,
espeto de camarão / Com tanto sal e sol se lembre da hidratação / É Água Nova pra hidratar / É Água
Nova melhor não há / É água pura, é mineral / A Água Nova é a melhor do litoral / A Água Nova é a
melhor do litoral / (assinatura falada) Água Nova, aprecie sem moderação.
Loja Ousadia
O Natal vem chegando / Vem chegando o Natal / Toda cidade está comprando / Com o mesmo ideal /
Presenteando quem se ama / Cumprimentando quem quer bem / Quem quer bem, quem quer bem / Nesse
dia de alegria venha para a Ousadia / (falado) Ousadia, a mais nova opção de compra de roupa em Passa
Quatro / Nesse dia de alegria venha para a Ousadia / (assinatura falada) Ousadia, ouse ter estilo.
2) Os testes
Optou-se pelo livre registro de palavras, chamado de free-recall ou lembrança
livre, pois esta alternativa permite notar aspectos relevantes da influência da música
sobre a lembrança de informações, mesmo quando utilizada em formatos curtos, como é
o caso da publicidade. (WALLACE, 1991), (WALLACE, 1994), (PURNELL-WEBB;
SPEELMAN, 2008) Além disso, não investigando uma informação específica,
524
3) Os voluntários
Para esta segunda fase de tabulação chegou-se a um universo de 60 jovens que
preencheram, portanto, 360 questionários de lembrança livre. A pesquisa foi feita
estritamente com os alunos da ECA-USP a fim de homogeneizar e facilitar a reunião de
voluntários:
- Grupo 1 – Primeiro material: Loja Ousadia Falada. Segundo material: Água Nova
Cantada - 15 alunos da ECA-USP – Média de idade: 19,5 anos.
- Grupo 2 – Primeiro material: Água Nova Cantada. Segundo material: Loja Ousadia
Falada – 15 alunos da ECA-USP – Média de idade: 20,5 anos.
- Grupo 3 – Primeiro material: Loja Ousadia Cantada. Segundo material: Água Nova
Falada – 15 alunos da ECA-USP – Média de idade: 19,8 anos.
525
- Grupo 4 – Primeiro material: Água Nova Falada. Segundo material: Loja Ousadia
Cantada – 15 alunos – Média de idade: 20,3 anos.
4) Os chunks
Nos estudos sobre cognição, considera-se que o cérebro tem uma capacidade
limitada de trabalhar com informações na memória de curto prazo (MCP). O termo
chunk foi estabelecido por Miller no ano de 1956 para referir-se a uma cadeia de entrada
de informações nesse tipo de memória, por meio de grupos coerentes ou pedaços
avulsos de informações (KINTSCH, 1982).
As primeiras tentativas de contabilizar a entrada destes recortes chegaram a um
total de sete. Isto ficou conhecido como: Lei de Miller (MILLER, 1956). No entanto,
pesquisas realizadas posteriormente revelaram que a capacidade dependeria de uma
série de variáveis relacionadas aos chunks utilizados (HULME, ROODENRYS,
BROWN & MERCER, 1995). Dígitos, letras ou palavras, qual o tamanho dessas
palavras, qual o tempo que se leva para falar os conteúdos em voz alta, tudo isso pode
influencia na formação (HULME, ROODENRYS, BROWN & MERCER, 1995).
Nota-se que são muitos os fatores que influenciam os chunks, por isso é difícil
estabelecer com precisão um número exato deles que possam ser formados (KINTSCH,
1982). Mesmo o ritmo de leitura das informações pode influenciar fortemente na sua
formação (KINTSCH, 1982). Sendo assim, a música e a narração, pela utilização de
diferentes ritmos, alongamento de sílabas, colocação de pausas e a própria respiração,
podem atribuir variáveis que influenciem numa lembrança mais forte ou fraca de algum
elemento, ou até mesmo o esquecimento de outros. De maneira geral, os chunks não
podem ser bem quantificados dentro de um limite de formação. No entanto, eles são
considerados um conceito científico bastante forte e consolidado (KINTSCH, 1982) que
ajuda a explicar o sistema de funcionamento da memória de curto prazo, observada nos
testes realizados nesta pesquisa.
5) O livro de códigos
Foram tabulados os, já referidos, seis questionários preenchidos por cada um dos
60 alunos participantes (15 por grupo), o que gerou um universo de 360 tabulações.
Para estabelecer quais seriam os chunk que formariam o Livro de Códigos, utilizou-se
de um procedimento comum nas tabulações de pesquisas de mercado com questionários
contendo perguntas abertas, assim, foram identificados os padrões de registro utilizados
526
pelos próprios sujeitos nos questionários de lembrança livre, bem como uma
estruturação mais ampla que permitisse gerar sentido frasal e que possibilitasse um
ligeiro paralelo entre os gráficos gerados pelos dois diferentes conteúdos: Água Nova e
Loja Ousadia, os dois produtos fictícios desta pesquisa.
Ou seja, buscou-se alinhar ao máximo o número de códigos gerados pelos dois
textos. Dessa maneira, pretendeu-se criar uma estrutura de tabulação que possibilitasse
alinhar, com maior segurança possível, os resultados variados que surgiriam desta etapa.
527
Legenda: Primeiro registro, após um contato com o conteúdo Loja Ousadia Falada. O
eixo vertical indica as porcentagens.
Legenda: Primeiro registro, após um contato com o conteúdo Loja Ousadia Cantada. O
eixo vertical indica as porcentagens.
Observações:
528
Legenda: Segundo registro, após dois contatos com o conteúdo Loja Ousadia Falada. O
eixo vertical indica as porcentagens.
529
Legenda: Segundo registro, após dois contatos com o conteúdo Loja Ousadia Cantada.
O eixo vertical indica as porcentagens.
Observações:
Nota-se claramente um incremento das ideias recordadas com a segunda
apresentação, conforme esperado. A curva de Primazia e Recência continua podendo ser
observada com mais clareza no gráfico do conteúdo falado. Já no gráfico do conteúdo
cantado também é possível notar a curva, com mais destaque para a Primazia. É
possível observar que certos códigos, que demonstraram mais destaque num primeiro
registro, continuam demonstrando destaque no segundo registro, o que pode indicar que
a memória formada não está sendo substituída, mais sim sendo acrescida de novas
informações. O efeito da música nas porcentagens do conteúdo cantado já pode ser
notado com o aumento expressivo das frequências das respostas dadas.
530
Legenda: Terceiro registro, após cinco contatos com o conteúdo Loja Ousadia Falada. O
eixo vertical indica as porcentagens.
Legenda: Terceiro registro, após cinco contatos com o conteúdo Loja Ousadia Cantada.
O eixo vertical indica as porcentagens.
Observações:
Com cinco apresentações, o efeito na memória das idéias é aumentado
“esponencialmente”, sendo que algumas idéias foram mencionadas por mais de 80%
dos entrevistados na forma cantada. Neste ponto é importante notar os registros 9 e 10
de ambos os gráficos. Esta repetição específica da frase (quem quer bem) foi a que
demonstrou a maior diferença de porcentagem de todos os gráficos. Quando havia o
531
registro da frase “quem quer bem”, não era possível afirmar a qual das vezes o
voluntário fazia referência. No entanto, esses seis gráficos mostram um esboço geral de
evolução desse registro e não era possível excluir esta repetição dos chunks, já que os
resultados finais foram tão expressivamente diferentes, justamente no aspecto do
registro da repetição.
Nota-se que nos registros cantados os voluntários relataram a repetição de
palavras enquanto que no registro falado não. Este fato parece novamente ilustrar uma
característica da música que é o de conectar com mais força as frases por meio da
melodia e do ritmo, efeito já tratado anteriormente. Acredita-se que tenha sido esta
ritmização do conteúdo que influenciou os voluntários a levarem em conta e serem mais
exatos no triplo registro do conteúdo cantado repetido.
Gráfico 5.4.1: Porcentagem de lembrança após uma audição (Água Nova Falada)
Legenda: Primeiro registro, após um contato com o conteúdo Água Nova Falada. O
eixo vertical indica as porcentagens.
Gráfico 5.4.2: Porcentagem de lembrança após uma audição (Água Nova Cantada)
532
Legenda: Primeiro registro, após um contato com o conteúdo Água Nova Cantada. O
eixo vertical indica as porcentagens.
Observações:
No conteúdo da Água Nova, o efeito mais chamativo numa primeira audição foi
o de Recência. Isso provavelmente aconteceu pela referência que a frase (Aprecie sem
moderação – código 15) faz às campanhas de bebida. Também chama a atenção, na
forma falada, a porcentagem de referências ao código 7 (espeto de camarão), que não se
repete na forma cantada.
Gráfico 5.5.1: Porcentagem de lembrança após duas audições (Água Nova Falada)
533
Legenda: Segundo registro, após dois contatos com o conteúdo Água Nova Falada. O
eixo vertical indica as porcentagens.
Gráfico 5.5.2: Porcentagem de lembrança após dois duas audições (Água Nova
Cantada)
Legenda: Segundo registro, após dois contatos com o conteúdo Água Nova Cantada. O
eixo vertical indica as porcentagens.
Observações:
534
Legenda: o quadrado marca o ponto mais agudo da melodia, onde se localiza o código
“Espeto de Camarão”.
535
Gráfico 5.6.1: Porcentagem de lembrança após cinco audições (Água Nova Falada)
Legenda: Terceiro registro, após cinco contatos com o conteúdo Água Nova Falada. O
eixo vertical indica as porcentagens.
Gráfico 5.6.2: Porcentagem de lembrança após cinco audições (Água Nova
Cantada)
536
Legenda: Terceiro registro, após cinco contatos com o conteúdo Água Nova Cantada. O
eixo vertical indica as porcentagens.
Observações:
Observa-se que novamente os códigos 6 e 7 tiveram uma forte lembrança entre
os ouvintes do conteúdo falado. Já no conteúdo cantado, nota-se uma estabilização da
curva após mais três audições, com forte aumento dos códigos 9 (Se lembre da
hidratação), 10 (Água Nova pra hidratar) e 11(Água Nova, Melhor não há).
O aumento do código 9 (Se lembre da hidratação), que subiu de
aproximadamente 25% para quase 70% de resgistro, provavelmente está ligado a
palavras “Hidratação” que já estava tendo uma alta lembrança sem, no entanto, formar o
chunk no qual se insere. Essa palavra veio demonstrando uma relativa alta lembrança
desde o primeiro momento de apresentação dos jingles, mas optou-se por não
considerá-la um chunk para estes gráficos gerais. Acredita-se que a lembrança dessa
palavra se deva ao tempo de exposição que é maior. Trata-se de uma Mínima (MED,
1996), uma nota de dois tempo, mais longa que as Semínimas (1 tempo) e colcheias (0,5
tempo) (MED, 1996) que estão presentes na maioria do jingles.
O grande aumento dos códigos 10 e 11, acredita-se que se deva também ao
tempo de exposição destes códigos (mesmo motivo já explicado a respeito da palavra
“hidratação”), assim como pelo descanso textual que é apresentado nesta parte do texto
e que pode influenciar na lembrança. (OLSEN, 2002)
6) Considerações Finais
Por se tratar de um experimento envolvendo tantas variáveis, provavelmente
nem que todas as observações e possibilidades de interpretação estejam aqui pontuadas.
Apenas foram colocadas desta maneira conforme eram mais relevantes para cada
reunião de dados realizada.
Tratou-se de um trabalho de sensibilidade analítica que não teve a pretensão de
chegar a um resultado inquestionável, pois com o número de variáveis que surgiram,
mesmo com todas as tentativas de controle embasadas em experiências feitas
anteriormente, não seria possível chegar a resultados fechados.
Em geral, para se tecer as observações, tentou se balizar por dois pontos,
procurando se situar criticamente entre eles, que são: a mera observação descritiva e a
537
REFERÊNCIAS
538
RESUMO
Essa pesquisa, resultado de um recorte de um trabalho final de graduação, visa
identificar e analisar os elementos visuais que constituem a estética dos videoclipes de
música eletrônica do produtor e Dj Zedd. Para isso, contextualizou-se e definiu-se o
videoclipe e a música eletrônica, além de seus subgêneros. A partir do conhecimento do
trabalho do artista, foi possível verificar os elementos visuais presentes em seus
videoclipes e, assim, enquadrá-los nas categorias estéticas da literatura especializada.
Contudo, concluiu-se que apesar de existirem peculiaridades em cada um dos vídeos,
não foi possível identificar uma nova categoria de videoclipes de música eletrônica
mainstream, consolidando assim, as teorias já propostas.
Introdução
Os anos 80 foram marcados por inovações na indústria musical tanto no âmbito
cultural quanto tecnológico, que foram aos poucos possibilitando experimentações para
os artistas da época. O videoclipe é caracterizado pela sua forma híbrida e é definido de
diferentes maneiras de acordo com autores que estudam o mesmo. Entre essas
definições, destaca-se a possibilidade de usá-lo como uma ferramenta publicitária, para
a divulgação de trabalhos sonoros, além de ser considerada uma forma de
entretenimento por estar inserido a uma grade de programação e, mais recentemente, em
sites de conteúdos audiovisuais. Por fim, ele também pode ser considerado uma obra
artística se levarmos em consideração a mistura de linguagens presentes como a música,
cinema e televisão, o que o aproxima da videoarte (TREVISAN, 2011).
Muito mais do que promover álbuns ou singles, os videoclipes acabam
influenciando o público a partir de seus elementos visuais que envolvem os fãs,
aproximando o espectador da personalidade do artista, criando novas tendências em
termos de cultura e comportamento. Nesse sentido, Pedroso (et. al., 2006) afirma que
265
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
266
Doutora pelo PPGCOM da PUCRS e professora do Centro Universitário Franciscano, Santa
Maria, RS. E-mail: myxakapp@gmail.com.
267
Graduado pelo curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Franciscano, Santa
Maria, RS.
268
Acadêmica do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Franciscano, Santa
Maria, RS. E-mail: andreia.both@hotmail.com.
539
na indústria musical, o videoclipe é uma exposição da música que, por sua vez, é um
produto a ser consumido. Para a autora, há uma relação entre a apreciação estética da
música e a forma de oferecê-la ao consumidor, pois os videoclipes são um apelo ao
consumo que produz efeito sobre o público, e, assim, as mensagens publicitárias
codificadas nos signos expressos alcançam um nível de penetração maior.
A música eletrônica se caracteriza por sons digitais, com ou sem voz, que
estimulam os ouvintes de acordo com as “batidas da música”. Assim como o videoclipe,
conforme Maurício (2010), o gênero musical passou a ter mais visibilidade nos anos 80,
dando sequência a cultura dançante da discomusic . São as batidas, chamadas de bpm
269
(beats per minute ) que diferenciam as vertentes desse gênero. Nesse contexto,
270
comercial, ou seja, vendável e é produzida para fazer parte de álbuns de Djs. Para esta
pesquisa, nos referimos a música eletrônica pop como aquela que se classifica como
mainstream e, geralmente, caracteriza-se por ser uma produção de um Dj em parceria
com outro cantor da música pop.
A relevância desta pesquisa se dá, primeiramente, pela noção de que o
videoclipe é um campo fértil para a pesquisa e divulgação dos artistas da indústria
musical, e que vem sendo cada vez mais explorado pela música eletrônica pop. Neste
sentido, do ponto de vista teórico, esse trabalho é importante para atualizar os estudos
de videoclipe do estilo musical escolhido, a música eletrônica pop e, dessa forma,
contribuir para o ponto de vista prático em possíveis produções dos artistas desse nicho.
É importante ressaltar a relação do videoclipe com a comunicação social e a publicidade
e propaganda, por ser uma ferramenta publicitária de divulgação de artistas da indústria
musical.
269
Discomusic: movimento de música dançante nos anos 70 (ANDRADE, 2011).
270
Tradução: batidas por minuto. “Unidades relacionadas à marcação dos tempos do compasso”
(DOURADO apud MOREIRA, 2009, p.32)
271
Underground: vertente da música eletrônica oposta ao mainstream, não possui um caráter
comercial e utiliza formas alternativas de divulgação, “tem uma abordagem mais alternativa e conceitual,
cujas produções não são difundidas pelos meios de comunicação como televisão e radio” (ANDRADE,
2011, p.44).
272
Mainstream: vertente da música eletrônica oposta ao underground, utiliza mídias tradicionais
e, conforme Andrade (2011, p.44), possui um “cunho mais comercial”, divulgando as produções dos
artistas (Djs e produtores) como produto de consumo.
540
541
videoclipe ser uma outra forma de assimilação do ponto de vista estético, fazendo um
“mix” com a música, televisão, cinema, publicidade, etc.
Segundo Soares (2007) as imagens em constante movimento formam um ritmo
próprio, assim,
O videoclipe pode ser caracterizado por uma noção de ritmo. O ritmo das
imagens. Em alguns momentos, o que vai destacar no videoclipe não é
especificamente sua natureza fotográfica (imagética), mas sim, uma relação
de grafismo visual e rítmico (SOARES, 2007, p.2).
Nesse sentido, o autor afirma ainda que esse ritmo das imagens é caracterizado
por uma desarmonia de elementos visuais e cortes rápidos. Para ele, é como se as
diferentes imagens, de pouca duração, dançassem com o ritmo da música e estivessem
em sintonia com as batidas ouvidas pelo espectador/ouvinte.
Ao falar de ritmo no videoclipe, Carvalho (2005) afirma que este é um dos
componentes estruturadores, lugar preferencial de manifestação dos afetos. Segundo a
autora, essa dimensão afetiva da estruturação videográfica manifesta-se na narratividade,
ou seja, no ritmo que é dado também pela configuração visual que segue o corte na
batida e lança mão de outros efeitos ou recursos. Dessa maneira, ela afirma que o
videoclipe apresenta uma narratividade específica da relação tensiva entre vídeo e
música, gestada por uma solicitação da indústria fonográfica e aceita pelo repertório do
espectador que tem as convenções da música pop e seu universo, entre outras
codificações.
Segundo Trevisan (2011), a montagem acelerada, a câmera lenta, a exibição do
negativo, a sobreposição, a sobreimpressão, as trucagens visuais, o corte descontínuo, o
ritmo frenético, a abstração visual, entre outros, fazem parte da linguagem vista nos
videoclipes atuais. Conforme a autora, estes são elementos já presentes no cinema e na
televisão, que são explorados e rearranjados a partir das possibilidades tecnológicas,
gerando novas formas de se trabalhar o conteúdo das imagens.
No formato videoclipe, a narração não é obrigatória e o clipe pode contar a
história da música, introduzir novos conceitos relacionados à letra, ou ainda ser
contrário à ela. Também há a opção da performance de músicos, como nos primórdios
do videoclipe. A pós-produção dispõe de vários recursos de computação gráfica a
disposição do audiovisual. Durante ela, a transição entre uma tomada e outra varia de
corte seco, que dá agilidade, à fusão que sobrepõe as imagens. A edição depende do
resultado esperado pelo diretor (CORRÊA, 2008).
542
543
Música eletrônica
544
Durante os anos 70, nos Estados Unidos, esse estilo caracterizava as músicas ouvidas
nos clubes, onde o público que se reunia para dançar, aumentaria assim, o processo de
incorporação das sonoridades eletrônicas (ANDRADE, 2011). Nesse sentido, conforme
Arango (2005, p.109) “na era do disco consolidaram-se novas técnicas de manipulação
sonora, novas sonoridades e novas escutas. O disco foi a primeira expressão da música
eletrônica”.
Contudo, foi na década de 1980, após o fim da era disco, que surgiu o
movimento que originou o gênero musical estudado. Nele, juntou-se a música com
computadores e sintetizadores, formando novos ritmos e vertentes que se diferenciam
conforme suas batidas (bpm): house, techno, drum n’bass, psy e trance.
Nesse contexto, Arango (2005) define a música eletrônica como um fenômeno
que apresenta-se, atualmente, como uma das maiores expressões musicais
contemporâneas, reunindo públicos diferentes. O autor ainda afirma que, assim como
outros gêneros, a música eletrônica surgiu da interação do homem com os recursos
sonoros disponíveis.
Nesse sentido, Vazquez (2011, p.24) afirma que
Dentro do contexto tecnológico, percebe-se a modificação das ferramentas
para manipulação e difusão sonora. Essas contínuas mudanças tecnológicas
possibilitam diferentes formas de criação e escuta, modificando assim o
fazer e a apreciação dos envolvidos na música eletrônica e possibilitando
mudanças na música eletrônica e dando autonomia ao produtor (VAZQUEZ,
2011, p.24).
545
público específico com o objetivo de produzir algo novo, compor sem qualquer
influência externa.
Dessa forma, conforme Silva (2010), na cultura eletrônica é através dos Djs que
as músicas se tornam conhecidas em rádios, festas e eventos, pois ele divulga o trabalho
dos produtores. Nesse contexto, podemos observar a existência de duas principais
correntes do estilo musical: o underground e o mainstream, que se diferem pelo caráter
mais comercial e vendável do segundo.
O underground se caracteriza por ser a música eletrônica de pista, que toca em
famosos clubes do gênero, e em raves. Em contrapartida, o mainstream é a música
eletrônica comercial, que toca nas rádios e é vendida pelos singles e álbuns dos Djs e
produtores. Geralmente, a música eletrônica comercial é uma produção do Dj com a
participação de um cantor da música pop. Nesse sentido, Baldelli (2004, p.6) afirma que
“muitas vezes o que é chamado ‘eletrônica’ se refere mais ao uso da tecnologia para
produção musical e às influências musicais do que de fato estar se falando de música
eletrônica para pista”. Para esta pesquisa, nos referimos então, à música eletrônica pop
como aquela que se enquadra na corrente mainstream e possui um caráter comercial,
como produções de Djs com cantores da música pop, que tocam em rádios e são
vendidas em seus singles e álbuns.
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274
Grande plano geral, plano geral, plano conjunto, plano Americano, plano médio, primeiro
plano, close e plano detalhe.
275
Zoom in, zoom out, travelling, tilt, entre outros.
547
que comtemple uma nova categoria de videoclipe de música eletrônica pop. O objetivo
foi identificar uma possível categoria de videoclipes de música eletrônica pop.
276
Disponível em: http://www.vevo.com/watch/zedd/spectrum-oficial-video/USUV71200879.
Acesso em: 13 de junho de 2014.
548
O videoclipe lançado em 2013 relaciona as imagens com a letra da música que, por
sua vez, traz o amor como “tragédia” e “insanidade” e o amado como “remédio” e
“lucidez”. Ao falar sobre a forma no videoclipe é possível perceber a presença ângulos
de câmera normais e diferenciados em relação ao enquadramento. Os planos utilizados
no enquadramento são variados e é possível identificar tanto os mais abertos, como o
Grande Plano Geral, como os mais fechados, como o Plano Detalhe.
Esses planos são compostos por imagens externas - dos personagens e locais
durante a narrativa -, internas – da cantora dublando a música e do Dj sendo inserido
independentemente – e animações – de objetos que colidem ao retratar a letra da música.
Em certos momentos, o plano possui uma relação direta com a letra na música.
Quanto aos movimentos de câmera utilizados no enquadramento, percebe-se
uma ênfase no uso de dolly in e dolly out, que seguem o ritmo da música, nas inserções
onde a cantora dubla a canção e quando aparece o Dj Zedd. Além disso, percebe-se o
uso de travelling, tilt e pan durante as demais cenas.
Quanto à imagem, o videoclipe possui tanto cenas com duração e velocidade
lentas quanto rápidas, sendo essas com a presença de muitos cortes que seguem o ritmo
da música entre elas. Os tipos das imagens são de cenas gravadas, além das animações
inseridas ao longo da narrativa visual e, possuem efeitos de transição nos cortes entre
elas que seguem o ritmo da música, em sua maioria. Durante o vídeo, nota-se com
frequência cenas com fortes efeitos especiais, que aparecem alegoricamente e
interferindo no conteúdo, como efeitos de cor, animação de objetos e transição entre as
cenas.
Sendo assim, é possível então enquadrar o videoclipe de “Clarity” na literatura
especializada. De acordo com as ideologias transmitidas aos adolescentes pela MTV e
identificadas por Kaplan (1987), é um videoclipe socialmente consciente ao trazer o
amor problemático, como vemos durante a narrativa em que os personagens sofrem até
ficarem juntos. Para Goodwin (1992) e suas lógicas da estrutura visual, novamente o
videoclipe de Zedd se enquadra em amplificação, pois mostra uma narrativa que
claramente foi desenvolvida a partir da letra da música, adicionando novos significados,
porém não entrando em conflito com a mesma.
277
Disponível em: http:www.vevo.com/watch/zedd/clarity-oficial-video/USUV71201761.
Acesso em: 13 de junho de 2014.
549
Quanto aos tipos dominantes propostos por Trevisan (2011) a partir da presença
da imagem do artista, “Clarity” se enquadra facilmente em história em evidência,
devido a presença de narrativa com a história e situações que sinalizam a trama, além do
artista como personagem – no caso de Foxes como protagonista -, e do artista de forma
desconexa em inserções fora do contexto da trama – no caso de Zedd.
550
551
variados e vão dos mais abertos aos mais fechados e sustentam a trama em imagens de
cenas internas e externas. Em alguns momentos do vídeo, eles possuem uma certa
relação com a letra da música como se vê nas imagens dos artistas em performance.
Dentre os movimentos de câmera utilizados no enquadramento, nota-se
novamente o uso bastante de dolly in e dolly out acompanhando o ritmo da música–
principalmente nas cenas internas inseridas fora do contexto da trama, em que os
artistas dublam a canção e manuseiam instrumentos –, além de pan, travelling e tilt. As
imagens, que são de cenas gravadas e animações, são consideradas rápidas em relação a
sua duração e velocidade e possuem muitos cortes que seguem o ritmo da música entre
elas.
Quanto aos efeitos especiais, são bastante utilizados e aparecem alegoricamente
e de forma intensa, interferindo no conteúdo em alguns momentos. Destacam-se
também os efeitos especiais nas cenas em que mostra apenas a águia em frente à uma
animação ou dentro da mansão, pois o animal faz relação com a letra da música e
interfere no conteúdo do vídeo. Além disso, nota-se efeitos de diferentes cores e formas
animadas ao longo da trama, principalmente durante as inserções independentes dos
artistas e, também em transições e imagens de cenas externas. A montagem acelerada dá
ritmo à narrativa, novamente. O diferencial do videoclipe está justamente nas animações
que aparecem em determinados momentos, que chamam atenção por seguirem o ritmo
da música.
Sendo assim, é possível enquadrar o videoclipe de “Find You” dentro de
algumas das categorias da literatura especializada. Conforme Kaplan (1987) e seus tipos
apresentados na grade da programação da MTV, é mais um videoclipe socialmente
consciente onde mostra o amor problemático ao retratar uma relação em que a
protagonista está fugindo, em uma espécie de luta por autonomia, e a outra personagem
vai atrás. Nesse sentido, nas lógicas da estrutura visual de Goodwin (1992), classifica-se
o vídeo em amplificação, pois as imagens adicionam novos significados durante a
narrativa visual a partir da letra da canção, porém, não conflitam com ela como é visto
principalmente nas cenas de perseguições ao longo da trama.
Por fim, a partir da presença da imagem dos artistas, é possível enquadrar o
vídeo em um dos tipos dominantes propostos por Trevisan (2011). Devido a presença
narrativa, com histórias e situações que sinalizam a trama, além dos artistas como
personagens e ainda, de forma desconexa em inserções fora do contexto da trama, ele é
considerado como história em evidência. Nesse sentido, o videoclipe também se
552
Considerações finais
Logo no início da pesquisa, foi visto que tanto o videoclipe quanto a música
eletrônica tiveram suas origens na mesma época, em meados dos anos 80, e desde então
se fixaram na indústria musical. Entretanto, percebeu-se que, apesar dos primeiros
videoclipes a fazerem parte da programação de estréia da MTV serem principalmente
de artistas do rock, logo após o formato passou a ser utilizado também por grupos
precursores da música eletrônica mainstream, como o Depeche Mode, o New Order e o
Pet Shop Boys.
Sendo assim, foi feito um estudo por meio da literatura especializada à respeito
da linguagem e da estética apresentadas pelo video musical ao longo dos anos. Nota-se
aqui, que os diferentes autores foram se complementando em relação à diferentes
particularidades que despertaram suas inquietações sobre o formato em diferentes
épocas.
Após serem aplicados os processos metodológicos, afirmou-se então que os
videoclipes da amostra foram enquadrados nas demais categorias da literatura
especializada. Percebeu-se que a maioria deles foi enquadrada naquela que dá ênfase à
trama, como história em evidência de Trevisan (2011). Contudo, em “Stay The Night”
percebeu-se que apesar de possuir uma mini-narrativa e inserções dos artistas
performando, ele não pôde ser enquadrado em nenhuma delas, o que o caracterizou
como um videoclipe atípico de Trevisan (2011).
Nesse sentido, não foi possível identificar uma nova categoria estética própria
dos videoclipes de música eletrônica mainstream. Entretanto, é importante falar que
notou-se peculiaridades nesses vídeos, como a participação do artista Zedd em cada um
deles. Em seu primeiro videoclipe, “Spectrum”, o Dj aparece rapidamente em apenas
uma cena, onde ele está interpretando um personagem da trama. Já em “Clarity”, ele
aparece inserido fora do contexto da trama, onde ele está apenas enquadrado no plano,
nem mesmo performando. Em “Stay The Night”, por sua vez, Zedd possui uma
553
presença bem maior, se comparado aos outros. Por fim, em “Find You”, o artista
aparece tanto inserido como personagem como de forma independente.
Contudo, é importante manter sempre atualizado os estudos sobre o videoclipe e,
pesquisar o que há de novo nas produções dos artistas, pois novas tecnologias surgem a
todo o momento, tornando possível fazer novas experimentações e proporcionar novas
abordagens ao público.
REFERÊNCIAS
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música eletrônica de Cuiabá. Cuiabá: UFMT, 2011.
ARANGO, Júlian. Homens, máquinas e homens-máquina: o surgimento da música eletrônica.
Campinas: IAUNICAMP, 2005.
BALDELLI, Débora. A música eletrônica dos djs e a produção de uma ‘nova escuta’. In:
Anais do V Congresso Latinoamericano da Associação Internacional para o Estudo da Música
Popular. Rio de Janeiro: UFRJ, 2004.
CORRÊA, Laura Josani Andrade. Breve história do videoclipe. In: VIII Congresso Brasileiro
de Ciências da Comunicação da Região Centro-Oeste – Cuiabá – MT, 2011.
GOODWIN, Andrew. Dancing in the distraction factory: music television and popular
culture. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1992.
KAPLAN, E. Ann. Rocking around the clock: music television, postmodernism & consumer
culture. New York: Methuen, 1987.
MAURÍCIO, Ariana. A co-evolução das formas e preferências estéticas: o fenômeno das
festas eletrônicas em Maceió. In: XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região
Nordeste – Campina Grande – PB – 10 a 12 de Junho – 2010.
MICHEL, Maria Helena. Metodologia e pesquisa científica em ciências sociais. São Paulo:
Atlas, 2009.
PEDROSO, M. G. MARTINS, R. (Orgs.) Admirável mundo MTV Brasil. São Paulo: Saraiva,
2006.
SILVA, Eduardo. A dança de ritmos eletrônicos o novo ritual tribal. Porto Alegre: UFRGS,
2010.
SOARES, Thiago. Videoclipe, o elogio da desarmonia: hibridismo, transtemporalidade e
neobarroco em espações de negociação. In: IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom,
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SOARES, Thiago. Videoclipe: o elogio da desarmonia. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2012.
TREVISAN, M. K. A era MTV, análise da estética de videoclipes (1984-2009). Porto Alegre:
PUCRS, 2011.
VAZQUEZ, Eliza Rebeca Simões Neto. A aprendizagem de três produtores de música
eletrônica de pista: a interação na pista, no ciberespaço e o envolvimento com as tecnologias
musicais de produção. IdA UnB: Brasília, 2011
554
RESUMO
O trabalho expõe estudo sobre a linguagem, estética e alguns aspectos históricos do
cinema-catástrofe estadunidense e sua relação com características predominantes das
teorias: Sociedade de Risco, Risco e Cultura, e Estética da Catástrofe. Para tanto, foram
investigados qualitativamente 32 filmes de ficção cuja abordagem temática evocasse
desastre, catástrofe ou epidemias com magnitude. O consumo e consequente produção
de sentido das mensagens fílmicas estão vinculados a manobras de propaganda
ideológica operadas e consagradas por meio de elementos próprios da linguagem do
cinema cuja orquestração constitui representações estéticas do risco em contexto de
globalização, vigilância, controle e medo.
PALAVRAS-CHAVE: consumo; cinema-catástrofe; sociedade de risco; estética da
catástrofe.
Introdução
A pesquisa moderna sobre Risco, que remonta ao início dos anos 1920, iniciou
como um ramo da sociologia, mas ampliou seus círculos para outras disciplinas
acadêmicas. Nos últimos anos, os riscos e as catástrofes se tornaram um campo de
rápido crescimento da pesquisa em ciências humanas. A razão para este crescimento é
óbvia: os riscos e os desastres são incessantemente preditos, publicizados e recontados –
na transmissão de notícias, filmes, novelas, seriados, games, literatura, histórias em
quadrinhos, fotografias, artes visuais em geral. Por meio de redes globais de mídia e
novas tecnologias de comunicação somos capazes de seguir as histórias de inundações,
terremotos e erupções vulcânicas em tempo real e em longas distâncias.
No entanto, a miríade de histórias sobre riscos e desastres é estruturada em torno
de um número limitado de formas e motivos narrativos – o medo, a vigilância, a
teodiceia, o apocalipse, o estado de exceção, o trauma, entre outros. Este repertório de
padrões culturais, na Cultura do Risco, não só estrutura como imaginamos riscos,
catástrofes e desastres, ele também estrutura como lidamos com eles.
Na representação dos riscos e também das catástrofes a fotografia, o cinema, a
pintura, a literatura, as artes do corpo e a música utilizam o sublime, categoria estética
280
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
281
Pós-doutoranda UPM. Doutora e Mestre em Ciências da Comunicação pelo PPGCOM/ECA/USP.
Professora universitária. E-mail: carladani@usp.br
555
282
Ulrich Beck faleceu em Janeiro de 2015.
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557
ideia de que "o impensável se concretizou e a América viveu o que sempre fantasiou".
Para ele, essa fantasia produzida pelo cinema americano não está apenas em exemplos
óbvios como Independence Day ou Nova York Sitiada – tomado como o filme-
premonitório por excelência ao descrever uma série de atentados a bomba em NY
provocados por radicais islâmicos, mas também pode ser vista em uma obra como Os
Pássaros (Hitchcock, 1963). Nesse filme os ataques-surpresas das aves podem ser vistos
como o melhor exemplo de que os ataques de setembro de 2001 estavam, de fato, no
imaginário americano.
No texto Estética da Catástrofe, Claudia Aradau e Rens Vans Munster (2011)
explicam que a estética da catástrofe implica em tornar os sentidos táteis para fazer com
que o futuro seja palpável e, também, criar sujeitos que possam habitá-lo não apenas
através do medo e da ansiedade, mas através do desejo. Segurança, preparação e
vigilância são três estratégias nas quais os sentidos são tornados acionáveis. Assim
como a imaginação, as percepções sensoriais são criadas para preencher o espaço
imaginado do futuro. Os autores consideram este regime estético emergente como
integrado em formas particulares de cognição através de uma epistemologia de
suposição e formas de mapeamento conjectural, os quais necessitam ser compreendidos
em relação e em oposição ao “mapeamento cognitivo” de Frederic Jameson (1988).
Para eles, a questão da catástrofe, do inesperado e do desconhecido parece inclinar a
estética da catástrofe em direção ao sublime, que Jean-François Lyotard (1994) chamou
de irrepresentável. A arte deveria relacionar-se à catástrofe através de uma forma
particular de negatividade, que fornece a única escapatória da arte frente ao sequestro
por propósitos ideológicos e totalitários. Ao invés de definir a utopia, a arte deveria
testemunhar a catástrofe das metanarrativas ideológicas, trazendo à luz o abismo
irreconciliável que separa a arte da realidade. A arte pode ajudar a prevenir o
acontecimento da catástrofe somente ao preservar a memória da intransponível
separação entre ela e a vida.
558
Portanto, o consumo desses filmes demonstra uma busca hedônica, mas também
uma afirmação do medo diante de algum risco, ou de evento catastrófico. Ademais,
nesta linha de compartilhar angústias e ansiedades, observa-se a predominância de
argumentos ideológicos sobre heroísmo, soberania, proteção do Estado, efeitos
negativos do avanço da tecnologia, lições morais edificantes por meio do sacrifício e
demonstrações de maneiras e habilidades de sobrevivência a uma situação assustadora.
Esses filmes concentram-se em eventos caóticos prestigiando os esforços dos indivíduos
e famílias pela sobrevivência. A história conta com um herói ou heroína perseverante
283
Bordwell (2005, p. 279) destaca que entre vários modos narrativos existentes, o clássico
conforma-se mais claramente à "história canônica", postulada como normal, em nossa cultura, pelos
estudiosos da compreensão da história. Em termos da fábula, a aposta no personagem como agente de
causa e efeito e a definição da ação como a perseguição de um objetivo são aspectos salientes do formato
canônico. No plano do syuzhet (termo do formalismo russo que designa a apresentação sistêmica dos
eventos da fábula no texto - por vezes traduzido como "trama"), o filme clássico respeita o padrão
canônico de estabelecimento de um estado inicial de coisas que é violado e deve ser restabelecido. Na
verdade, os manuais de roteiro hollywoodianos há muitos insistem em uma fórmula que é resgatada pela
análise estrutural mais recente: a trama é composta por um estágio de equilíbrio, sua perturbação, a luta e
a eliminação do elemento perturbador.
559
que liderará a luta contra a ameaça, moralmente dicomotizada na relação do bem contra
o mal.
As catástrofes mais comumente retratadas nos filmes estadunidenses estão
relacionadas a eventos naturais como terremotos, enchentes, furacões, tempestades
tropicais; acidentes como incêndios, acidentes de avião, naufrágio de transatlânticos;
sobre saúde coletiva como vírus desencadeados, epidemias; cunho planetário como
asteroides ou meteoros; criminais como bombas em aviões, conspirações terroristas;
invasões alienígenas e de criaturas monstruosas ou mutantes; crises nucleares em muitas
alusões ao fim do mundo e sobre falhas na tecnologia que causam um caos global.
Demonstrar-se-á neste trabalho, de forma breve, o percurso histórico do cinema
catástrofe no mundo, mais especificamente na história do cinema estadunidense,
principal disseminador do gênero, além de difusor de riscos e da cultura capitalista
global.
O cinema catástrofe existe desde a época do cinema mudo, como o épico The
Last Days of Pompeii (Ernest B. Schoedsack, 1935) que traz cenas de erupção do Monte
Vesúvio e, com isso, toda a cidade entra em colapso invadida e destruída por lava, fogo
e lama. Outro filme é The Hurricane (John Ford, 1937) que conta com uma das mais
espetaculares cenas de tempestade tropical já filmada na história do cinema. Ambos
retomam momentos da história do Risco, na qual o desastre natural é tido como castigo,
algo incontrolável, imprevisível e sem culpa do homem em suas decisões.
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vez e numa releitura de obra clássica, aborda os efeitos dos testes nucleares na Polinésia
como mutações e transformações de animais. O foco é o surgimento de um réptil
colossal. O filme é importante por fazer uma citação à Chernobyl, apesar de não trazer
uma reflexão ou desafio ao espectador; O Patriota (2000) sobre guerra, inimigo e
patriotismo. Estes tipos de filmes caracterizam-se pelo posicionamento ideológico
(propaganda ideológica) com reforço ao Estado de controle, proteção e combate diante
do alvo, do inimigo de guerra como nos tempos atuais a obsessão estigmatizada pelo
combate ao terrorismo. Em O Dia depois de Amanhã (2004) faz uma menção às atuais
discussões sobre aquecimento global. Nesse filme, a terra sofre alterações climáticas
que modificam a vida da humanidade. O norte se esfria passando por uma nova era
glacial e milhões de sobreviventes rumam para o sul. Em “2012” (2009) as potências
mundiais se reúnem para tratar do fim do mundo que acontece com início de destruição
de grandes emblemas mundiais incluindo o Cristo Redentor do Rio de Janeiro. Seu
último filme chama-se O Ataque (White House Down, 2013).
Outra imbricação entre Risco e Cinema de ficção é por meio da temática
“epidemia” ou danos à saúde social. Há diversas histórias que tratam de ameaças à
saúde por meio de vírus desconhecidos (Extermínio, 2003; A Epidemia, 2010), vírus
que causam doenças de pele (Cabana do Inferno, 2004), epidemia de infertilidade
(Filhos da Esperança, 2006), epidemia social de cegueira (Ensaio sobre a Cegueira,
2008), vírus que transforma as pessoas em zumbis (Resident Evil, 2002). Nesse sentido,
o controle social é acionado por meio do Estado protetor que aciona decisões verticais
para solucionar problemas e manter sua biopolítica. O sentimento de proteção é
disseminado, mas quando algo sai do controle, como uma contaminação num bairro de
determinada cidade, a culpa é dos indivíduos. Na relação risco e cultura, há veemente
possibilidade de culpabilização dos sujeitos por seus atos, o fim da cadeia torna-se
agente e não os responsáveis pela devida prevenção.
Análise e Discussão
Nota-se que a história do cinema catástrofe revela inúmeras relações com a
história e midiatização do risco. O futuro é explorado por meio da sorte, destino e
também por decisões humanas. Opera a ideia de uma energia sagrada vingativa. Sem
embargo, predomina a proposta passiva sem controle sobre o dano a ocorrer e poucos
elementos sobre a origem ou causa do risco. Mesmo tratando-se de ficção, o cinema
catástrofe está relacionado aos referenciais realistas, como no caso do filme sobre
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filme possui um roteiro calculado a não falhar, por meio de sua fórmula de sucesso
estandardizada.
565
é igualmente eficaz em dramatizar a percepção de risco. Para ele, Noel Carroll afirma
que as narrativas de terror surgem a partir do "desejo de saber"; o público de terror é
movido pela curiosidade, pelo prazer da "divulgação" do oculto e misterioso e o "drama
da prova", que se desenrolam quando o monstro é finalmente visto e confirmado para
ser real.
Assim, como histórias evidenciadas pela incapacidade de ter conhecimento, as
narrativas ficcionais da catástrofe permitem também que o público interrogue a
incerteza e o medo da Sociedade de Risco.
REFERÊNCIAS
ARADAU, Claudia; MUNSTER, Rens Vans. Estética da catástrofe. Revista ECO-Pós, v. 14,
n. 2, p. 4-32, 2011.
BECK, Ulrich. Risk society: Towards a new modernity. Sage, 1992.
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ŽIŽEK, Slavoj. Bemvindo ao deserto do Real!. Boitempo Editorial, 2006.
566
Resumo
O presente artigo problematiza a construção de sentido das práticas interacionais e do
consumo televisivo a partir do filme publicitário “Samsung Aniversário
#conectadoavocê”, identificando as possíveis mudanças nas relações de comunicação e
formas de fruição e consumo do dispositivo televisivo, pautados pela conectividade,
interatividade, portabilidade, e pela integração de sistemas, possibilitados pelas
tecnologias digitais das mídias contemporâneas. Após a realização de um
recenseamento dos estudos e pesquisas de Ana Silvia Médola (2006, 2009) sobre a
comunicação televisual a partir da linguagem e dos estudos da comunicação, aborda-se
a problemática dos regimes de interação de smarts TVs a partir da sociossemiótica de
Eric Landowski (2009).
567
287
Filme publicitário Samsung aniversário #conectadoavocê. Disponível em
https://youtu.be/P2x7kPLWrUA Acesso em: 1 maio. 2015.
568
Samsung: #conectadoavocê
A Samsung é uma empresa atuante em diversos ramos na área tecnológica. De
acordo com o site da empresa288, a marca teve seu início em 1938, com seus negócios
voltados principalmente para exportações. Em pouco tempo, a Samsung, cujo
significado em coreano é "três estrelas", alcançou seus próprios maquinários, operações
de fabricação e de vendas e, a partir disso, passou a transformar-se em uma moderna
corporação global. Atualmente, a empresa está entre as maiores empresas globais e é
reconhecida mundialmente como uma das líderes do setor de tecnologia. Por meio de
produtos e serviços inovadores, entre outras questões, ela se coloca como uma criadora
de novas e criativas direções. Ainda de acordo com informações disponíveis nos meios
digitais da empresa, sua visão é “inspirar o mundo, criar o futuro”.
A fim de fazer com que os telespectadores melhor usufruam dos conteúdos
como filmes, shows, aplicativos e redes sociais, a empresa desenvolveu a Samsung
Smart TV, conhecida por ser intuitiva e inteligente. Assim, segundo a Sansumg, o
consumidor poderá descobrir um novo mundo de entretenimento rápido e simples, de
acordo com a marca. Para a divulgação do seu novo produto, a ela promoveu uma
campanha a ser veiculada no site da empresa e também em seus perfis em sites de
compartilhamento de vídeos, como o Youtube. A campanha conta com um comercial
que recebe o nome de “Samsung Aniversário #conectadoavoce” 289 . O filme, de
aproximadamente 2 minutos, tem como objetivo persuadir os consumidores por meio
das características do produto e de sua fruição, sendo que para isso, agrega os recursos
da Smart TV na narrativa e sua interação com o sujeito, que tem como conceito “Você
cada vez mais conectado”.
No comercial em questão, são inseridas, na narrativa, as diversas características
e tecnologias do produto a ser anunciado. O filme se passa com uma criança, por volta
288
Disponível em http://www.samsung.com/br/aboutsamsung/samsung/history_08.html
289
Disponível em http://www.samsung.com/br/smarttvsamsung/
570
dos seis anos de idade, que, ao acordar, lembra-se de algo importante e, saindo da cama
rapidamente, corre para despertar a mãe que dorme no quarto ao lado. O menino liga a
TV da sala, que é iniciada com a logo Samsung Smart TV. A mãe chega à sala e senta-
se no sofá ao lado da criança e do cachorro, que o acompanha desde o seu despertar,
pega o celular e transfere o conteúdo da TV para o aparelho. Neste momento, é inserida
uma das funcionalidades que o novo produto possui, o Smart View (Figura 1). Com tal
tecnologia, a mãe e a criança podem consumir o conteúdo da TV em qualquer ambiente
da casa, compartilhando o conteúdo do aparelho televisivo com seu dispositivo móvel.
Assim sendo, mãe e filho vão para a cozinha e começam a fazer, juntos, um bolo
de aniversário, bem como está sendo ensinado no programa exibido no celular. A cena é
cortada para o garoto que arrasta uma caixa por um corredor até a sala, na companhia do
cachorro. Ele vai novamente até a TV e no menu “Favorites” escolhe a opção “DIY
Birthday decoration”, através do seu controle remoto. Nesta cena é inserida outra
tecnologia do produto da Samsung, o Quad Core, com o conceito de velocidade,
inteligência e potência do aparelho. De acordo com a marca, esse recurso oferece o
dobro de velocidade para a TV, incluindo rápida navegação, alternância entre
aplicativos, entre outras soluções. Na cena seguinte, na tela da TV aparece a confecção
de algo que o menino cópia sentado ao chão, em frente ao aparelho, em meio a
elementos como tinta, papel, canetas, fitas e novamente na companhia do cachorro. Em
planos fechados, vão surgindo imagens próximas e detalhadas do menino, colocando no
papel o que está assistindo na tela do aparelho. Em seguida, aparece a mãe da criança
analisando como organizar a decoração feita com letras que formam “Feliz Aniversário”,
571
confeccionadas pelo menino, que permanece atento aos movimentos da mãe e também
ao visor do celular que revela o horário.
O menino volta para frente da TV, dessa vez para dar um nó em uma gravata
que está em seu pescoço. Neste momento, aparece a tela da TV dividida em duas
imagens, uma transmitindo desenho e a outra com o passo a passo da feitura do nó na
gravata. Neste momento, o Multi-link Screen (Figura 2), outro recurso do novo produto
da Samsung, é inserido na narrativa. A tela se divide em duas programações e permite
que a criança acesse a internet, vídeos no Youtube para ajudá-lo a dar o nó na gravata,
enquanto assiste ao programa na TV, tudo em uma só tela. O menino então se arruma e
aparece posicionado na mesa enfeitada com bolo e decorações de aniversário,
juntamente com o painel feito por ele. A câmera exibe em detalhe os pés do menino que
se movimentam sem parar e logo o mostra na companhia do cachorro sentado ao sofá,
na sala da casa, como se esperassem por algo.
572
possível que a família se conecte com o pai que não está no local fisicamente. O garoto
faz um sinal para a mãe e esta preenche a sala de bonecos que se juntam ao menino no
cenário da festa de aniversário. Por fim, o pai, pela TV, assopra as velas que são
apagadas no bolo que está na mão do menino. Nesta cena, é mostrada a principal
característica deste novo produto, a tela curva. De acordo com a marca, este recurso
facilita a visão de todos que estiverem no ambiente, com novos ângulos que não
distorcem nem modificam a imagem.
573
574
complemento da festa. No momento em que a mãe e a criança transitam pela casa com o
conteúdo que antes estava na TV, agora no celular, o aparelho se torna também uma
espécie de companhia para a família. Isso pode ser visto também como um suprimento
da falta do pai distante.
Neste contexto, o aparelho de TV em questão também é responsável pela
ampliação dessa experiência que o menino tem de ficar perto do pai com apenas um
clique em uma data especial. No momento em que o pai, do outro lado da tela,
conectado com a criança, assopra as velas do seu bolo de aniversário e é como se as
velas se apagassem na mão do menino, encontra-se o aumento, ao máximo, da sua
experiência frente à tela. Na peça, a normalidade com que os personagens manuseiam e
adentram às tecnologias também chama atenção. A TV, na narrativa, é apresentada de
forma que ela se faz envolvida afetivamente com a família. Ela trabalha para encurtar
distâncias e trazer tanto a presença do pai para a casa, quanto levar a imagem do filho e
da mãe para perto pai.
O slogan “Você cada vez mais conectado”, aparece para reafirmar o objetivo da
campanha. Isso pode envolver afetivamente o consumidor, podendo assim aproximá-lo
e fazer com que este se engaje e realize a compra do produto.
A trilha sonora é também um eixo importante para a construção narrativa na
peça em questão. Segundo Bullerjhan (2006), a música, quando utilizada no discurso
publicitário para influenciar o estado de espírito do consumidor e gerar impressões
afetivas sobre o produto, ganha novos significados, uma vez que juntamente com os
outros componentes do anúncio, ela desperta uma suposta necessidade de se adquirir o
produto. No anúncio em questão, a trilha dita o ritmo, a tensão, a expectativa com que o
menino espera e prepara tudo para a chegada do horário em que o pai entrará em
contato. O slogan “Você cada vez mais conectado”, aparece para reafirmar o objetivo da
campanha. Isso pode envolver afetivamente o consumidor, podendo assim aproximá-lo
e fazer com que este se engaje e realize a compra do produto.
Em Samsung #conectadoavocê a trilha sonora conduz a narrativa criando os
pontos de imersão fílmica, o menino engajado a fazer a surpresa do pai, do momento de
tensão, o menino à espera do pai, e a realização do menino comemorando o aniversário
do pai por um dispositivo de videoconferência na televisão. Apenas no final do filme,
tem-se a voz do locutor de uma forma instrucional definindo cada tecnologia que a
Smart TV da Samsung fornece.
575
576
Considerações Finais
Este trabalho procurou demonstrar outras possibilidades de analisar um filme
publicitário, observando as estratégias enunciativas das mudanças nas relações de
comunicação e formas de consumo televisivo em uma narrativa publicitária. Aplicando
a sociossemiótica para problematizar a construção de sentido das práticas interacionais e
do consumo televisivo inteligente, identificou-se as possíveis mudanças nas relações de
comunicação e formas de fruição e consumo do dispositivo televisivo, que aqui são
pautados pela conectividade, interatividade, portabilidade, e pela integração de sistemas,
possibilitados pelas tecnologias digitais das mídias contemporâneas.
Conforme observou-se na análise, podemos afirmar que a Smart TV é utilizada
não apenas como uma televisão que possui um tecnologia inovadora, mas como ela
pode ser utilizada no cotidiano de uma família com necessidades específicas para uma
interação social. As estratégias discursivas do filme recriam o mundo dos sonhos do
menino, mas com a projeção de um dia normal, firmando assim um contrato de fidúcia
com o enunciatário. Com isso, projeta-se o consumidor ideal da Smart TV da Samsung,
um Smart TV consumer, ou seja, um consumidor de televisão inteligente, modalizado
para interagir com novas tecnologias onde a Samsung está conectada a esse consumidor
e não o consumidor conectado a Samsung.
Para que essa tal interação aconteça, o sujeito menino precisa de uma doação de
competência modal, pois há uma qualificação necessária à ação a partir de pré-
condições, dependendo este do objeto, isto é, de possuir a Smart TV, um smartphone da
Samsung, ter uma conta de usuário na loja da Samsung, ter velocidade de conexão de
internet, entre outras variáveis necessárias. Sendo assim, para ter acesso a todos estes
dispositivos infoeletrônicos, é necessário, sobretudo, ter as condições financeiras para
tal. A interação em suas estruturas funcionais, rotinas pré-estabelecidas e sem a
possibilidade da quebra dessa programação pelo destinatário, demonstra em seu
conteúdo elementos discursivos que produzem efeitos de sentido de interatividade
plena.
Considera-se a Samsung como um enunciador que inova, promovendo um filme
publicitário exclusivo para as plataformas de vídeos e para as redes social, mostrando
que seu público está em outras plataformas, consumindo outros produtos audiovisuais e
577
REFERÊNCIAS
578
RESUMO
A pesquisa objetiva discursar sobre a prática publicitária que opta por utilizar pessoas
reais em suas campanhas. Como recorte de análise, foram selecionadas três campanhas
de diferentes segmentos: Electrolux, do setor varejista doméstico; Natura, do setor da
beleza; e Contrex, do setor alimentício. Ambas as campanhas utilizam a estratégia de
surpreender os personagens envolvidos e emocionar a audiência. Mediante a análise
sociológica compreensiva de Michel Maffesoli, a pesquisa visa refletir sobre esta
estratégia criativa utilizada pela publicidade, tanto quanto a preocupação das marcas em
gerenciar a emoção no discurso publicitário.
PALAVRAS-CHAVE: publicidade; emoção; consumo; campanha; discurso.
291
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
292
Doutoranda do PPGCOM da UNISINOS-RS, email: lucianap.galhardi@gmail.com
293
Consumidor, receptor, telespectador, audiência e destinatário serão usados como sinônimos e referem-
se ao “público ao qual se destina a comunicação”. Será abordado sob um ponto de vista, no qual pretende-
se apresentar suas características de consumo pelas vias subjetiva e emocional.
579
através do consumo. Desta forma, essa mudança refletiu na política de marca das
empresas, criando “valor” para o consumidor, e sistemas de “fidelização”, orientando as
agências produtoras de comunicação em direção ao mercado e ao consumidor
(LIPOVETSKY, 2007).
A prática publicitária se organiza em estruturas racionais direcionadas ao
objetivo de venda presente nas campanhas, e, atua conjuntamente, com estruturas
emocionais que transparecem a busca das aspirações dos desejos humanos, transportado
no trabalho publicitário criativo como uma das maneiras de satisfazer de forma real ou
simbólica esses desejos.
Numa visão sociológica, Maffesoli (1984; 1988) aponta indícios de que o laço
social se encontra no cotidiano, através de gestos e atitudes tomadas por pulsões
emocionais, e que estão enraizadas no nosso modo de ser e agir. O autor vê surgir a
síntese de um novo romantismo na sociedade, quando as novas tecnologias trazem a
poesia para a vida. O laço social, a paixão e o drama possuem uma importância
fundamental nos jogos de todas as organizações sociais. O ser humano, para o autor,
está sempre tentando mudar o mundo, melhorá-lo. Essa atitude pertence a uma lógica
do dever-ser, do querer superar-se. O imaginário que os indivíduos e grupos sociais têm
da vida cotidiana é essencialmente imperfeita, e é sobre essa imperfeição,
inconscientemente assumida, que se encontra sua harmonia e equilíbrio, e também sua
fascinante beleza.
O laço social também perpassa pela comunicação publicitária, de forma a
emocionar os receptores e construir idealizações belas da vida cotidiana. A
“emocionalização” serve, até certo ponto, de cimento à vida em sociedade, através dos
valores partilhados, das imagens reverenciadas em conjunto, e de sentimento e afetos
intensificados, conciliados nas vivências de cada dia.
A prática publicitária gera debates e críticas que parecem não ter fim. Muitos são
os sentimentos que percorrem a área, sendo o consumismo o mais incômodo. Contudo,
com a visão de profissional que atuou no mercado publicitário por muitos anos, o tema
será tratado na presente pesquisa de modo que a função criativa da publicidade se sobre
saia, assim como se espera de um mágico que outro truque apareça e exija da
imaginação. Afinal, é graças a esta criatividade publicitária que se pode esboçar um
sorriso ao ver tantas imagens que permitem o tele transporte para mundos ideais.
O objetivo desta pesquisa é, portanto, descrever como se caracterizam essas
campanhas publicitárias que não passam despercebidas pelos olhos do consumidor que
580
294
A expressão emoção será utilizada referindo-se à emoção interior como o riso, a comoção, a
alegria, a tristeza, o remorso, a admiração, etc. e não a manifestação fisiológica como gargalhadas, choro
ou raiva. Portanto, a pesquisa se deterá no conteúdo da mensagem publicitária que tem como finalidade
emocionar.
581
maneira, propõem-se uma reflexão deste novo romantismo para dentro das empresas,
divulgada pela comunicação publicitária.
O laço social, portanto, se manifesta devido à necessidade da união por
identificação com os seus semelhantes, e sua importância está na qualidade das relações
que podem ser estabelecidas entre os indivíduos. Tudo isso, pela busca de um mundo
melhor através dos vínculos emocionais, pois “a vida plenamente realizada é aquela
onde a relação com o outro e a comunhão já não têm fronteiras” (MAFFESOLI, 1984, p.
48).
Em sua tese doutoral, Vázquez (2007) comprovou que, nos últimos anos, as
emoções têm adquirido grande visibilidade em todas as ordens da vida, sugerindo que a
sociedade “está na era das emoções”. Os discursos das marcas giram em torno da
importância da comunicação interpessoal, de mostrar as emoções mais profundas
através de diversas técnicas e de fomentar o carinho e o contato entre as pessoas, como
formar de combater as carências próprias do atual mundo tecnológico, onde a
comunicação virtual ganha destaque sobre as relações diretas (VÁZQUEZ, 2007, p. 32-
33).
Na busca pela compreensão de como o cérebro humano opera a decisão,
recorreu-se a Roberts (2005) e seu relato sobre a neurologia. O autor explica que
quando o centro da emoção no cérebro sofre um dano, perde-se a capacidade de tomar
decisões. Isso mostra que a emoção é, neurologicamente, responsável pelos atos
humanos: “a diferença essencial entre emoção e razão é que a primeira leva à ação,
enquanto a segunda leva a conclusões” (ROBERTS, 2005, p.42).
No âmbito empresarial, efetivamente, as grandes empresas estão preocupadas
com as novas demandas geradas por seu público e não apenas em gerar benefícios
econômicos. Vázquez (2007) aponta que esta preocupação tem hoje uma dimensão
global e as empresas devem responder com seus produtos, serviços e ações,
demonstrando seu compromisso com o entorno: “a combinação adequada de imagens
publicitárias e emoções se converte num elemento relevante que caracteriza a
comunicação das empresas” (VÁZQUEZ, 2007, p. 32).
Assim, a estratégia criativa da publicidade em foco é direcionada às emoções. A
comunicação empresarial opta por abordar as emoções que objetivam fidelizar o público.
Trata-se de um esforço investido em comunicação publicitária de longo prazo, na
intenção de criar vínculos duradouros. A publicidade passa, então, a ser um instrumento
central para as marcas que desejam ocupar um lugar na lembrança do seu público.
582
583
584
A campanha foi criada para o dia das mães de 2014. Trata-se de um vídeo de 2
minutos e 40 segundos que se propagou pela internet, e atualmente tem mais de
1.500.000 visualizações pelo Youtube. A protagonista, Letícia, ganhou uma bolsa de
estudos e está indo morar longe de casa. Ela pensa que está sendo filmada para um
documentário. Em sua fala, conta que vai sentir saudades da mãe que não quis
acompanhá-la ao aeroporto por ser muito difícil voltar para casa sem a filha. No
decorrer do vídeo, a mãe é filmada na cozinha, preparando uma lasanha no fogão
Electrolux. A próxima cena é no interior da aeronave, todos os passageiros estão
acomodados nas poltronas e, entre eles, Letícia que espera o vôo decolar. No entanto, a
voz da aeromoça avisa a todos que a mãe de Letícia tem um recado para ela: os
televisores acendem e a mãe deixa o recado: “Oi Lê, tudo bem? Como está indo o vôo?
Neste período que você vai estar fora, eu vou estar aqui torcendo por você. É o primeiro
dia das mães que não estaremos juntas, mas não se preocupe, filha, porque o meu maior
presente é ter você como filha. Aproveita o seu jantar que fiz com muito amor. Me
manda notícias, um beijo.” Neste momento, Letícia que não sabia do comercial, chorava
com a expressão de surpresa em seu rosto, enquanto a aeromoça lhe entregava a lasanha
preparada pela mãe. Para encerrar o comercial, uma frase aparece na tela: “Sua mãe
pensa em você até no dia dela. Porque o maior presente do dia das mães é ser mãe.
Electrolux. Pensando em você”.
O vídeo apresenta cenas do cotidiano, da vida real. Do ponto de vista técnico da
produção, possui características de documentário, com cortes e legendas. Além do
discurso de conteúdo emocional apresentado pela temática “amor entre mãe e filha”,
dois outros fatores chamam a atenção: a surpresa da protagonista que chora ao ver o
recado da mãe, e as pessoas presentes no avião que procuram Letícia pela aeronave e
que também se emocionam, demonstrando o sorriso. A trilha sonora escolhida fica
encarregada de emocionar o telespectador. O slogan da marca é “pensando em você”,
que repercute no conceito da campanha “sua mãe pensa em você até no dia dela”,
demonstrando que existe uma preocupação por parte da empresa em gerenciar a emoção
de acordo com seu posicionamento no mercado. E, não menos importante, é necessário
observar que “a lasanha preparada com muito amor” foi feita no fogão Electrolux,
presente no cotidiano do lar.
2. Campanha “Natura Plant: homenagem surpresa no cinema”
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Uma marca francesa de água criou uma ação na rua: posicionou 10 bicicletas
imóveis na frente de um prédio, com duas garrafas de água ao lado. As pessoas se
aproximaram curiosas até que uma mulher toma a iniciativa de pedalar. Conforme
pedalava, uma luz rosa surgia na frente da bicicleta indo em direção ao prédio,
instigando mais pessoas a pedalarem. Conforme a intensidade das pedaladas, as luzes
acendiam e formavam a figura de um homem na parede que começou a fazer strip-tease.
Algumas mulheres que estavam pedalando expressaram surpresa e até gritaram “uhu-u”
conforme o stripper tirava as peças de roupa. Muitas pessoas pararam para assistir,
aplaudindo o show. O suposto “homem” termina o strip-tease com uma placa tapando
as partes íntimas com a frase “Parabéns, você gastou 2.000 calorias”, deixando as
mulheres que pedalavam surpresas com a notícia. O vídeo encerra com a frase na tela
“Emagrecer pode ser divertido”. Ao fim da pedalada, as pessoas que fizeram o exercício
se refrescaram com a água Contrex. Na tela: “Contrex. Seu parceiro de emagrecimento.
Viva a experiência ao vivo no facebook: www.facebook.com/contrex”.
A empresa acertou em cheio como conversar com o seu público: o rótulo da
embalagem é na cor rosa, tentativa de chamar a atenção do público feminino. As
bicicletas expostas também são na cor rosa. O vídeo foi publicado em 2011 e já teve
3.600.000 visualizações pelo Youtube. A ação instiga a curiosidade das pessoas que
passavam pelo local. Quando o homem começa a dançar, as participantes notam que se
trata de um strip-tease e começam a gritar frenéticas. Alguns homens também quiseram
participar da pedalada. Quando souberam que gastaram 2.000 calorias, gritaram mais
ainda. No final da ação, elas se refrescaram com a água, brindando.
A ideia de tornar o exercício físico divertido foi brilhantemente ilustrado por
essas pessoas que se atreveram a participar. Dois sentimentos ganharam destaque:
surpresa e entusiasmo. A empresa demonstrou de forma criativa que seu produto pode
ser um parceiro na hora de emagrecer, mostrando na prática que a ousadia e a
determinação são fatores necessários.
Reflexões finais
O culto da emoção perpassa vários campos da vida social e é um importante
elemento na permanência do vínculo social, pois funciona como uma ponte para atingir
a transparência nas relações. Estende-se, entretanto, na comunicação das empresas, com
o objetivo de diferenciá-las no mercado, engajar o público, desenvolver conceitos de
confiança e compromisso, de forma que seja percebida como agente social na
transformação de um mundo melhor.
588
589
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BIBLIOWEB
www.youtube.com
Vídeos acessados em 2 de abril de 2015:
Electrolux – O melhor presente
Natura - Homenagem surpresa no cinema
Contrex – Contrexperience
590
RESUMO
Nossa proposta para este trabalho é demonstrar a construção da narrativa audiovisual
publicitária, em diversos formatos, suportes ou meios, por meio da linguagem
cinematográfica, do entretenimento e da arte popular, que evidenciam sua natureza
híbrida entre a comunicação promocional e o entretenimento, próprio da natureza da
publicidade.
295
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
296
Professor/Pesquisador da UNIBRASIL, doutor em Comunicação e Linguagens pela Universidade
Tuiuti do Paraná. mribaric@gmail.com; marceloribaric@unibrasil.com.br; marcelo.ribaric@utp.br .
591
Por este lado, parece incoerente entender o cinema e o audiovisual como uma
construção linguística, ou analisá-lo mediante essa estrutura, como afirma Santaella:
(...) uma vez que texto, imagem e som já não são o que costumavam ser.
Deslizam uns para os outros, sobrepõem-se, complementam-se,
confraternizam-se, unem-se, separam-se e entrecruzam-se. (...). Perderam a
estabilidade que os suportes fixos lhes emprestavam (SANTAELLA, 2007, p.
24).
Assim é que desde a sua criação até os dias de hoje, o cinema, como também o
filme publicitário, têm buscado despertar os sentidos e a sensibilidade perceptiva de
forma particular em cada período da história, recriando sua própria linguagem e signos.
A linguagem e o cinema
Nos estudos contemporâneos, a linguagem é vista como um sistema flexível da
cultura de determinadas sociedades humanas. Manuel Castells (1999) e Jesus Martín-
Barbero (2006) reconhecem como elementos centrais que influenciam na formação de
práticas culturais, a compreensão da cultura como resultado da comunicação mediada
pelas interações com as diferentes linguagens – expressão de sistemas de códigos
produzidos pela humanidade – e o desenvolvimento das tecnologias de informação e
comunicação.
Como afirmam Humberto Maturana e Francisco Varela (1995), a linguagem se
fundamenta nas emoções e é a base para a convivência humana. Para eles, todos os
seres vivos têm uma organização fechada operacionalmente, que eles denominam
organização autopoiética, pois, (…) os seres humanos se caracterizam por, literalmente,
produzirem-se continuamente a si mesmos – o que indicamos ao chamarmos a
organização que os define de organização autopoiética (MATURANA e VARELA,
1995, p. 84). Para os autores, “autopoiese” não é simplesmente falar de autorreferência,
mas sim, falar dos processos, os quais, quando se dão, vão formar o ser vivo como uma
unidade autônoma. Em suas palavras: “Tomar consciência dos seres vivos como
unidades autônomas (…) se torna explícita quando indicamos que aquilo que os define
como unidade é sua organização autopoiética” (MATURANA e VARELA, p. 88).
Isso quer dizer que, apesar de dependermos de um meio para nossa existência e
intercâmbios de material, estamos fechados para este meio, e tudo o que vivenciamos
determina a nossa estrutura e a nossa linguagem, que muda incessantemente, acoplada à
estrutura do meio em que se estabelece nossa ontogenia.
592
Segundo Aumont (1995), a imagem é feita para ser olhada e são seus elementos
plásticos – sua superfície, gama de valores e cores – que a caracterizam como conjunto
das formas visuais que permitem sua construção. O espectador torna-se leitor dos usos
que o cineasta faz de “todas” as figuras de presentificação297 do texto nas e pelas
imagens (DUBOIS, 2004, p. 260).
(...) o texto não está no filme, nem mesmo na imagem, é o próprio filme. É
um cinema liberto de toda sua (falsa) profundidade de representação do
mundo, um cinema que olhamos do mesmo modo como percorremos um
297
Presentificação: Na filosofia é o ato pelo qual um objeto se torna presente sob a forma de
imagem.
Na psicologia é característica do tempo vivido, sentida como presente e integrada como tal na memória.
593
Para Leo Spitzer, em seu artigo escrito em 1934 e publicado anos mais tarde,
Learning Turkish ([1948]2011), qualquer idioma é humano antes de ser nacional:
primeiramente os idiomas alemão, francês e turco pertencem à humanidade e, em
seguida, para os povos alemão, francês e turco.
Nós podemos levar essa inferência para o cinema, afirmando que a linguagem
cinematográfica é humana, antes de ser do cinema. O cinema mudo comprova essa
universalidade humana, visto que a linguagem visual e artística era entendida da mesma
forma por todas as nações, independente de suas línguas. Nada mais claro ainda para
exemplificar nossa assertiva do que, também, os filmes expressionistas, com sua
encenação excessiva, tanto nas expressões dos personagens como nos cenários
monumentais.
De acordo com Silvestra Mariniello (1992) e Paolo Cherchi-Usai (1989), Leon
Kuleshov, professor e teórico da primeira escola de cinema no final da década de 1910,
na União Soviética, foi provavelmente o primeiro teórico a estudar a construção da
linguagem cinematográfica na formulação de sua estrutura, a fim de identificar os
efeitos que as obras poderiam causar sobre o público e, principalmente, que elementos
contidos na obra resultariam em reações mais favoráveis por parte dos espectadores e
qual seria sua estrutura narrativa (MARINIELLO, 1992; CHERCHI-USAI, 1989)
Para os principais teóricos da escola soviética como Kuleshov, Dziga Vertov,
Sergei Eisenstein e Vsevolod Pudovkin, a linguagem cinematográfica estava
circunscrita a uma linguagem artística.
O cinema trabalha com uma multiplicidade de linguagens que contribuem para
desenvolver inúmeras teorias sobre a constituição da sua própria. Esse aspecto traz à luz
algumas questões, sobretudo, no campo da enunciação, uma vez que o texto fílmico
594
O cinema trabalha sua linguagem de tal modo que leva a sua audiência a
consumir um produto carregado de significações e valores simbólicos, que foram
transformados em bens de consumo pelo capitalismo e pela indústria cultural.
Na visão de McLuhan, “não é por acaso que o cinema se caracterizou como o
meio que oferece, aos pobres, papéis de riqueza e poder que superam os sonhos da
avareza” (MCLUHAN, [1964]1995, p. 327). Assim, padrões de comportamento,
valores morais, hábitos culturais e de consumo, juntamente com produtos, são
oferecidos ao espectador através da obra cinematográfica.
Segundo Walter Benjamin ([1955]1994), em seu artigo “A obra de arte na era de
sua reprodutibilidade técnica”:
(...) o filme serve para exercitar o homem nas novas percepções e reações
exigidas por um aparelho técnico cujo papel cresce cada vez mais em sua
vida cotidiana. Fazer do gigantesco aparelho técnico do nosso tempo o
objeto das inervações humanas, é essa a tarefa histórica cuja realização dá ao
cinema o seu verdadeiro sentido (BENJAMIN, [1955]1994, p. 174).
595
Materializando a linguagem
A linguagem cinematográfica é o espaço de materialização dos discursos e
representações. É onde a plástica das imagens e da montagem se cruzam para construir
um sentido.
O crítico e historiador do cinema Marcel Martin (2003) destaca que Griffith e
Eisenstein consideravam a montagem a mais importante forma da expressão fílmica
(MARTIN, 2003, p. 16).
No entanto, vemos a linguagem cinematográfica como um sistema flexível
atrelado às diversidades culturais dos produtores de filmes e de suas audiências;
podemos perceber as diferenças que existem entre os diversos teóricos estudados e a
importância que eles dão a distintos processos da construção narrativa.
No ensaio “Pequena história da fotografia”, de 1931, Walter Benjamin recorre a
Bertolt Brecht para atribuir ao cinema a tarefa do desmascaramento ou da construção:
(...) menos que nunca a simples reprodução da realidade consegue dizer
algo sobre a realidade. (...) A verdadeira realidade transformou-se na
realidade funcional. As relações humanas, reificadas — numa fábrica, por
exemplo —, não mais se manifestam. É preciso, pois, construir alguma coisa,
algo de artificial, de fabricado (BENJAMIN, [1931]1986, p. 106).
596
início do cinema, como por exemplo, Charles Chaplin; O Gordo e o Magro e Os Três
Patetas, quer fosse como um registro da realidade vivida ou imaginada, já se
prenunciava a perturbação do realismo e a condenação dos antigos conceitos de arte
figurativa. Desta forma é possível compreender o filme publicitário a partir de seu
evidente questionamento dos valores e conceitos da estética tradicional do cenário de
fim de século.
Marcado pela sangria das “três feridas narcísicas do homem ocidental”298, assim
definidas por Freud, o homem moderno através do cinema se vê frente a esta nova
ruptura com o real, ainda que consideremos a dívida para com os primeiros realizadores
cinematográficos em relação ao modelo realista-naturalista tradicional que, como
afirmava Benjamin ([1931]1986, p. 95): “a diferença entre a técnica e a magia é uma
variável totalmente histórica”, o que explica porque mesmo a extrema habilidade dos
fotógrafos e cineastas não conseguia eliminar a necessidade do espectador de buscar na
imagem o aqui e o agora, que lhe atribui unicidade e autenticidade. Os espectadores
passam a ver essas imagens como descendentes de uma arte que retrata o mundo e que
carece de uma sensação de realidade.
É indispensável levar em conta essas relações em um estudo que se propõe
estudar a arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Porque elas preparam
o caminho para a descoberta decisiva: com a reprodutibilidade técnica, a
obra de arte se emancipa, pela primeira vez na história, de sua existência
parasitária, destacando-se do ritual. A obra de arte reproduzida é cada vez
mais a reprodução de uma obra de arte criada para ser reproduzida. A chapa
fotográfica, por exemplo, permite uma grande variedade de cópias; a questão
da autenticidade das cópias não tem nenhum sentido. Mas, no momento em
que o critério da autenticidade deixa de aplicar-se à produção artística, toda a
função social da arte se transforma. Em vez de fundar-se no ritual, ela passa
a fundar-se em outra práxis: a política (BENJAMIN, [1955]1994, p. 171-
172).
Não se trata mais da aura, mas quem sabe de uma auréola que instiga uma
relação das pessoas com os objetos e explica a publicidade. As narrativas publicitárias
têm a característica singular de passarem mensagens e imagens de felicidade, de prazer,
de bem-estar e/ou sucesso, baseadas em momentos da vida. É a partir destes
298
As três descobertas científicas que romperam com o que o ser humano supunha ser o conhecimento
absoluto do seu lugar no mundo e na vida – o seu orgulho desmesurado, a sua gigantesca autoestima e o
seu insuperável amor-próprio. A primeira ferida é feita por Copérnico ao afirmar que o ser humano não
é o centro do mundo e a terra não é o centro do universo. A segunda grande ferida foi impingida por
Charles Darwin quando proclamou que o ser humano é o resultado da evolução natural e não uma
criação e, finalmente, a terceira grande ferida narcísica foi provocada pelo próprio Freud, ao dizer que o
nosso consciente é apenas uma pequena parte do nosso ser que tem muito menos importância na nossa
atuação cotidiana e que muitos dos nossos comportamentos são determinados por impulsos irracionais
os quais não temos a capacidade de compreender ou de controlar.
597
598
599
299
O Colonial Film é um projeto que reúne universidades (Birkbeck e University College
London) e arquivos (British Film Institute, Imperial War Museum and the British Empire and
Commonwealth Museum) com a finalidade de criar um catálogo de filmes relacionados com o Império
Britânico, permitindo que colonizadores e colonizados tenham acesso a informações e olhares do e sobre
o colonialismo britânico.
300
Fonte: http://historiaunilever.com.br/unilever/files/paginas/1.pdf
600
601
602
603
estrategia del objeto… reside en confundirse con la cosa deseada” (2000, p. 132),
dando ao objeto uma potencialidade muito além do seu simples valor de uso.
Deste modo, podemos afirmar que a publicidade fílmica é construída a partir de
representações que humanizam e individualizam as mercadorias, tornando-as elementos
que coexistem e intervém no universo humano, o que permite a cada espectador
considerar os filmes como duplos aumentados, alterados ou distorcidos da sua realidade,
onde eles projetam a representação das suas necessidades, inserindo a publicidade e a
mercadoria na vida cotidiana.
Para Jacques Aumont (1995), a divulgação das imagens com domínio simbólico,
torna a publicidade uma mediadora entre o espectador e a realidade. O espectador,
possuidor de diferentes convicções tais como as suas crenças, os seus afetos, a
experiência estética, a sua cultura, desenvolve uma capacidade perceptiva que lhe
permite decidir o que olhar, interagindo e interferindo na sua relação com a imagem.
Cada espectador está inserido num contexto social que influencia as suas formas de ver
e de representar a realidade.
O filme publicitário, constituído por imagens e sons, para ser compreendido, se
utiliza de uma narrativa própria que atrai, e é percebida pelo olho e pelo ouvido,
simultaneamente, causando no público uma experiência sensorial de alta complexidade.
O movimento, que imagem e som proporcionam, é o elemento fundamental na
publicidade fílmica, situando o espectador no tempo e no espaço a partir do ritmo da
montagem. A reunião da imagem com o som reconstitui, para o público, o continuum
espaço-temporal.
Isto nos leva a considerar que a eficiência dos filmes publicitários não está
unicamente vinculada ao conteúdo da mensagem proposta na peça, mas pode estar
também ligada a uma relação afetiva que o filme constrói com o espectador através de
signos ali presentes.
REFERÊNCIAS
AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 1995.
BALASUBRAMANIAN, Siva K. Beyond Advertising and Publicity: Hybrid Messages and
Public Policy Issues. Journal of Advertising, N. 23 (December), 1994, p. 29-46.
BAUDRILLARD, Jean. Las estrategias fatales. Barcelona: Editorial Anagrama, 2000.
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Obras
escolhidas: magia e técnica, arte e política: ensaios sobre a literatura e a história da cultura. 2
ed. São Paulo: Brasiliense, [1955] 1994.
BURKE, Timothy. Lifebuoy Men, Lux Women: Commodification, Consumption and
Cleanliness in Modern Zimbabwe. Durham, NC: Duke University Press, 1996.
CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar y salir de la modernidad.
Buenos Aires: Paidós, 2010.
604
605
RESUMO
Esse estudo apresenta a primeira etapa de um projeto de iniciação científica (PROBIC),
referente a revisão bibliográfica acerca do tema meme, e teve como objetivo introduzir
os principais conceitos que o circundam, desde sua analogia à genética até a sua recente
apropriação e ressignificação nas redes sociais.
Introdução
O presente estudo faz parte de um projeto de iniciação científica (PROBIC) do
curso de publicidade e propaganda do Centro Universitario Franciscano (Santa
Maria/RS), e apresenta a primeira fase da pesquisa, referente a revisão bibliográfica que
irá servir como base teórica para o desenvolvimento do trabalho. O objetivo da pesquisa
é entender como ocorre a ressignificação das imagens e textos através dos memes nas
mídias digitais. O projeto será elaborado nos seguintes passos: investigação das
definições de meme e sua utilização nos alicerces da educação, bem como forma de
reapropriação cultural, até o seu uso nas redes sociais; levantamento das principais
páginas da web de memes; criação de uma página que servirá como depositório de
memes, para posterior categorização e análise.
Nesse sentido, é importante contextualizar alguns conceitos. O termo meme foi
criado em 1976 pelo biólogo e escritor britânico Richard Dawkins para explicar o
fenômeno de replicação de certas informações e ideias em nossa sociedade. Como o
próprio autor exemplifica:
Quando você planta um meme fértil em minha mente, você literalmente
parasita meu cérebro, transformando-o num veículo para a propagação do
meme, exatamente como um vírus pode parasitar o mecanismo genético de
uma célula hospedeira. E isto não é apenas uma maneira de falar - o meme,
por exemplo, para "crença numa vida após a morte" é, de fato, realizado
fisicamente, milhões de vezes, como uma estrutura nos sistemas nervosos
dos homens, individualmente, por todo o mundo (DAWKINS, 1979, p. 123).
301
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
302
Doutora pelo PPGCOM da PUCRS e professora do Centro Universitário Franciscano, Santa
Maria, RS. Orientadora do projeto de iniciação científica PROBIC/Centro Universitário Franciscano. E-
mail: myxakapp@gmail.com.
303
Acadêmica do 7º. semestre do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário
Franciscano. Bolsista PROBIC/Centro Universitário Franciscano. E-mail: mfgoethel@gmail.com
606
607
Na era digital o termo meme passou a designar uma recente apropriação nas
redes sociais, como a junção de imagens da cultura popular com frases que refletem
pensamentos individuais ou coletivos, sejam eles com fins cômicos, políticos, etc. A
possibilidade dos usuários produzirem seus próprios memes, juntamente com a
interatividade característica da mídia digital, fez com que houvesse uma crescente
utilização destes como forma de linguagem nas redes sociais. Lister (1995) citado por
Santaella (2004, p.146) compara as possibilidades dispostas na era digital às práticas de
um editor de filmes, as tecnologias permitiram que o usuário saísse da passividade das
mídias tradicionais e virasse produtor, selecionando e editando conteúdos, que segundo
Jenkins (2009) são frutos da convergência dos meios de comunicação e da cultura
participativa.
Sendo assim, ao observar essa recente mudança de comportamento dos usuários
das mídias digitais surgiu o questionamento: como acontece a apropriação das imagens
e textos pelos usuários das mídias digitais e de que forma se constituem possivelmente
como uma nova linguagem?
A pesquisa é de caráter descritiva, com coleta de dados documental e análise
qualitativa. Partindo de uma revisão bibliográfica para construir embasamento teórico e
dessa forma conceituar o meme nas mídias digitais, e analisar posteriormente o
conteúdo disposto na página que será criada (MICHEL, 2005). O objeto de análise será
escolhido por conveniência a partir de critérios como visibilidade e repercurssão nas
mídias digitais (RECUERO, 2009). Desse modo, pretende-se com esse projeto observar
o cenário atual dos memes nas mídias digitais, para que esse estudo sirva como base
para uma análise posterior a partir da criação da página de depositório de memes.
Como acadêmicos e futuros comunicólogos é de suma importância entender
como tais acontecimentos comunicacionais surgem e de que forma reconfiguram a
cultura em nossa sociedade. A pesquisa nas mídias digitais tem crescido bastante,
embora ainda seja relativamente recente. Naturalmente, as mídias digitais possuem um
fluxo de informações muito rápido, o que requer uma constante atualização dos estudos
608
voltados para a internet. Desse modo, este projeto poderá acrescentar informações sobre
este novo fenômeno que percorre as redes sociais, e assim estimular novos estudos
sobre o assunto.
304
Hipermídia é a reunião de várias mídias num ambiente computacional, suportada por sistemas
eletrônicos de comunicação (BUGAY; ULBRICHT, 200).
305
Embora o conteúdo informativo tenha mudado ao longo do tempo, recebendo novas
informações, a página pode ser acessada até hoje através do endereço eletrônico www.info.cern.ch.
Acesso em 09 abril 2015.
306
Hipertexto é o termo que remete a um texto, ao qual se agregam outros conjuntos de
informação na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá através de
referências específicas, no meio digital são denominadas hiperlinks, ou apenas links. O sistema de
hipertexto mais conhecido atualmente é a World Wide Web.
307
O 4chan pode ser acessado através do endereço eletrônico www.4chan.org. Acesso em 09
abril 2015.
609
(Figura 2), também conhecido como "/b/", se configura como uma das principais fontes
de memes da rede, devido a sua característica mais popular: possui pouquíssimas regras
sobre o conteúdo postado (CHEN, 2012).
Figura 4 - Interface do subfórum "Random", mais conhecido como /b/. Fonte: 4chan.com.
Nesse contexto, é possivel pensar que o formato e a dinâmica dos chans 309
favoreceu o surgimento de vários memes da Internet, uma vez que os usuários do 4chan
foram responsáveis pela produção e popularização da maioria dos memes mais famosos,
como os LOLcats , o Pedobear , e muitos outros.
310 311
308
O Random (traduzido para o português como “aleatório”) ou /b/ é um sub-fórum do 4chan que
recebe todas as postagens que não se encaixam nos demais sub-fóruns, e sua maior característica é não
possuir nenhum sistema de censura ou regulamentação nas postagens (LUIZ, 2012).
309
Imageboard ou chans (abreviatura do inglês channel) é um tipo de fórum de discussão que se
baseia na postagem de imagens e texto, geralmente de forma anônima (FONTANELLA, 2010).
310
LOLcats são imagens engraçadas de gatos com textos escritos em inglês de uma forma
incorreta, comumente chamado de lolspeak.
311
Pedobear é um desenho que ficou conhecido como um ícone para alertar os usuários dos
chans sobre conteúdo pornográfico na postagem. Posteriormente, com o sucesso do meme, o desenho se
tornou também um símbolo de pedofilia.
610
filmes, etc) e um texto (reflexivo, humorístico, entre outros). Uma das principais
características desse tipo de meme é que a imagem de fundo quase nunca muda, como é
o caso do meme Ridiculously Photogenic Guy (Figura 4), onde é utilizado a foto
313
Figura 5 - Fotografia utilizada como base para o meme Ridiculously Photogenic Guy. Fonte:
knowyourmeme.com.
312
Os geradores/criadores de memes são sites destinados a criar memes sem a utilização de
softwares de edição de imagem. Nesses sites os usuários podem escolher uma imagem do próprio banco
de imagens do site, ou utilizar uma imagem contida no seu computador, e adicionar um texto. Um
exemplo de gerador/criador de meme é o site Gerador de Memes, que pode ser acessado através do
endereço eletrônico www.geradormemes.com. Acesso em 13 abril 2015.
313
Ridiculously Photogenic Guy é traduzido para o português como Homem Ridicularmente
Fotogênico.
314
Know Your Meme é um site criado em 2008 que pesquisa e documenta memes na Internet. A
página dedicada ao meme Ridiculously Photogenic Guy pode ser acessada através do endereço eletrônico
www.knowyourmeme.com/memes/ridiculously-photogenic-guy-zeddie-little. Acesso em 14 abril 2015.
611
Além dos memes como imagens e textos, há outro tipo de meme: as Rage Faces,
ilustrações grotescas de expressões humanas como raiva, decepção, desejo, etc. São
inseridas em formato de quadrinhos denominados Rage Comics representando situações
cotidianas. O Rage Guy, postado no 4chan em 2008, foi o primeiro personagem a ser
criado (Figura 5), dando origem às Rage Comics e geralmente é utilizado para
demonstrar frustração extrema e muita raiva (LUIZ, 2012).
Outros exemplos que fizeram sucesso na rede foram: o Trollface, meme utilizado
quando alguém prega uma peça em outro; o Me Gusta, normalmente utilizado para
demonstrar situações onde alguém gosta de algo, ou algum gosto que muitos têm, mas
não admitem; o Forever Alone é um personagem que representa solidão e abandono;
entre outros.
As Rage Faces também foram criadas com base em fotografias de pessoas famosos,
como é o caso do meme Not Bad (Figura 6) baseado em uma fotografia do presidente
315
norte-americano Barack Obama durante uma visita ao Reino Unido em 2011 (Figura 7).
O meme é usado como uma resposta positiva a alguma surpresa recebida, algo que
surpreendeu as expectativas.
Figura 8 - O meme Not Bad baseado na foto de Barack Obama. Fonte: google.com.
315
Traduzido para o português como “Nada Mal”, o meme Not Bad também é conhecido como
Obama Rage Face.
612
Figura 9 - Foto original que serviu como inspiração para a criação do meme Not Bad. Fonte:
google.com.
316
A matéria pode ser acessada através do link
www.youpix.virgula.uol.com.br/memepedia/novo-meme-novo-mene/. Acesso em 16 abril de 2015.
317
O “Site dos menes” hospedado no tumblr pode ser acessado através do endereço eletrônico
www.sitedosmenes.tumblr.com. Acesso em 16 abril 2015.
318
A página no Facebook do “Site dos menes” foi criada em Agosto de 2012, e atualmente possui
182 mil curtidas. A página pode ser acessada através do endereço eletrônico
www.facebook.com/SiteDosMenes. Acesso em 16 abril 2015.
613
meme se propaga e também pode ser editado, gerando novas versões do conteudo
original. Um exemplo de conteúdo viral é o vídeo da música “Sou Foda” (Figura 10), 320
319
O post pode ser acessado através do endereço eletrônico www.martha.com.br/uma-
brevissima-historia-do-meme. Acesso em 16 abril 2015.
320
“Sou foda” foi uma música lançada pelos Avassaladores, um grupo musical de funk carioca. O
sucesso surgiu através da postagem do video no Youtube, que também foi impulsionado pelo site de
humor "Não Salvo" e pelo humorista Rafinha Bastos. O videoclipe foi dirigido por Warcelo Lima e se
tornou sucesso na internet, postado em 2010, conta com mais de 13 milhões de acessos no Youtube até o
presente ano.
614
Porém, tudo o que derivou dele é meme, pelo caráter editável que o vídeo adquiriu,
ganhando várias versões para a música original. Um exemplo de meme a partir da
música “Sou foda” é o vídeo do YouTube criado pelo canal youtrendsbr onde foi feita321
615
Sendo assim, em 1997 foi criado o primeiro site de rede social: o SixDegrees.
Sete Anos após a criação do primeiro site de rede social, muitos outros nasceram e
morreram (como foi o caso do Orkut), porém nenhum destes obteve tamanho sucesso
como o Facebook. Assim como muitas iniciativas que contribuíram para o crescimento
e desenvolvimento da Internet, o site de rede social Facebook foi criado em uma
comunidade universitária, em 2004, pelos estudantes de Harvard Mark Zuckerberg,
Eduardo Saverin, Chris Hughes e Dustin Moskovitz. Hoje possui mais de 1,4 bilhões de
usuários no mundo todo . 324
que se analisa.” (RECUERO, 2009, p. 25).
324
Dado retirado de uma matéria do site do Jornal Folha de São Paulo que pode ser acessada
através do endereço eletrônico http://www1.folha.uol.com.br/tec/2015/01/1581963-facebook-supera-
estimativa-de-receita-de-analistas-usuarios-ja-sao-14-bi.shtml. Acesso em 26 abril 2015.
325
O meme Chapolin Sincero utiliza frames do personagem Chapolin da série mexicana
“Chapolin Colorado” (originalmente El Chapulín Colorado), que era passada no canal SBT e fez grande
sucesso no Brasil na década de 90. Os frames utilizados pela página variam muito pouco, são utilizados 3
imagens que trazem o personagem Chapolin pensativo, e parecem sempre encaixar em todos os textos das
montagens.
616
326
O meme Félix Bicha Má utiliza frames do personagem Félix (interpretado pelo ator Mateus
Solano) da novela da Globo “Amor à Vida” de 2013. O personagem ficou marcado por retratar a vida de
um homossexual de classe alta, que precisou esconder sua orientação sexual de todos, porém ainda assim
apresenta “trejeitos” femininos, como a paixão pelas roupas, o modo de falar, andar, etc. Os frames
utilizados pela página variam bem mais que a do meme Chapolin Sincero, são utilizados imagens que
trazem o personagem Félix nas mais variadas expressões, desde riso ou sarcasmo.
617
maneira. O Chapolin com seu humor sobre coisas corriqueiras, ou o Félix com sua
acidez sarcástica, ambos corroboram com a ideia de que a propagação dos memes se dá
através da cultura, e sobretudo a modificam, produzindo também cultura.
Considerações finais
Do conceito inicial, Dawkins (1979) previu que a Internet potencializaria a
propagação dos memes, mas o simbolo que este se tornou nas redes sociais seria
inimaginável. Trazendo a analogia da genética, e adequando-a juntamente com a ideia
de seleção natural proposta por Darwin (2004), Dawkins (1979) e Blackmore (2002)
construíram uma base teórica sólida para que o estudo dos memes na Internet – em seu
âmbito cultural e comunicacional – fosse possível.
Castells (2001), ressalta ainda:
E a comunicação, decididamente, molda a cultura porque, como afirma
Postman “nós não vemos ... a realidade ... como ‘ela é, mas como são nossas
linguagens. E nossas linguagens são nossas mídias. Nossas mídias são
nossas metáforas. Nossas metáforas criam o conteúdo de nossa cultura”.
Como a cultura é mediada e determinada pela comunicação, as próprias
culturas, isto é, nossos sistemas de crenças e códigos historicamente
produzidos são transformados de maneira fundamental pelo novo sistema
tecnológico e o serão ainda mais com o passar do tempo (CASTELLS, 2001,
p. 354).
618
Apesar de os memes serem em sua grande maioria com tons humorísticos, não deixam
de carregar uma crítica social. Desse modo, pode-se observar que os memes carregam
um poder ainda desconhecido, e apresentam um campo científico pouco explorado na
área da comunicação.
REFERÊNCIAS
619
RESUMO
O artigo detém-se no estudo de aspectos da produção de sentido do gosto de classe por
meio de discursos da telenovela Império com base no conceito de midiatização
(COULDRY; HEPP, 2013). Identificamos, ao longo da análise de uma cena, elementos
da enunciação que compõem a trama discursiva por meio da qual se torna possível
observar a construção social do signo ideológico e sua refração em relação às classes
sociais (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2002) no que diz respeito ao gosto. O estudo da
enunciação das personagens sobre o objeto "anel de formatura" leva-nos a observar a
oposição entre gosto de luxo (o bom gosto) e gosto popular (o mau gosto) como
elementos diferenciadores de classe. A análise toma como referências teóricas
principais os estudos de Bourdieu (1983, 2007), Fiorin (1997, 2005), Maingueneau
(2008), Landowski (1997) e Lipovetsky (2009).
Introdução
O presente trabalho considera a telenovela e sua produção de sentido pela
perspectiva da midiatização, conceito utilizado para abranger o papel cada vez maior da
mídia em nossa sociedade e as transformações decorrentes de tal centralidade.
De um modo amplo, “(…) midiatização é um conceito usado para analisar
criticamente a inter-relação entre mudanças na mídia e comunicações por um lado, e
mudanças na cultura e sociedade, por outro” (COULDRY; HEPP, 2013, p. 197).
O conceito é importante para a nossa discussão, uma vez que a telenovela assume
um papel privilegiado na construção de um imaginário social brasileiro, inclusive em
relação ao sentido de classes sociais e consumo no Brasil.
No que tange ao consumo especificamente, Almeida (2003) aclara que a
telenovela pode ser uma vitrina não só de produtos, mas também de estilos de vida
associados aos bens. Para Almeida (2003, p. 42), as telenovelas funcionam de modo
semelhante aos anúncios publicitários, com a vantagem de ter mais tempo e espaço para
trabalhar o universo do consumo, já que não apenas expõe o telespectador/consumidor a
328
Trabalho apresentado no Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de
Pesquisadores em Publicidade e Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
329
Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo. Professora da Escola
de Comunicações e Artes da USP. Email: crismungioli@usp.br
330
Doutoranda em Ciências da Comunicação na Universidade de São Paulo. Mestre em Ciências
da Comunicação pela USP. Email: mauro.rosana@gmail.com.
620
uma história de longa duração, mas por que familiariza "o espectador com mundos
diversos, vários estilos de vida e concepções que são usadas pela publicidade para
promover bens e serviços." Além de demonstrar didaticamente o uso de certos bens, a
telenovela permite uma identificação entre o produto e seu usuário ideal. Cabe,
entretanto, destacar, com base em De Certeau (2007, p. 93), que a relação que se
estabelece entre os produtos presentes nas telenovelas e os telespectadores não se
resume apenas a um aspecto econômico, mas “como o repertório com o qual os usuários
procedem a operações próprias”.
Trindade e Perez (2014) trazem contribuições importantes para o estudo da
midiatização do consumo. Os autores discutem as dimensões teóricas da presença da
mídia na formação de hábitos e atitudes de consumo e na construção de vínculos de
sentidos entre as expressões da marca/produtos/serviços e seus consumidores. Os
estudos do consumo midiatizado “(...) buscam compreender as formas de presença e
consequências das atuações do sistema publicitário (via marcas de empresas, produtos e
serviços)” (TRINDADE; PEREZ, 2014, p. 03).
Os autores explicam que a comunicação de marcas por meio do sistema
publicitário gera práticas e referências culturais de consumo. Desse modo, o ritual de
consumo do ponto de vista comunicacional é percebido “(...) como dispositivo
articulador dos sentidos dos produtos/marcas na vida das pessoas, portanto, a presença
do sistema publicitário é constitutiva nesta relação de consumo.” (TRINDADE; PEREZ,
2014, p. 05).
Considerando a telenovela como parte do sistema publicitário, portanto, integrante
de um contexto da midiatização do consumo, é possível argumentar que entre os
sentidos por ela produzidos observam-se aqueles relacionados constitutivamente a
práticas de consumo, ao conhecimento e aos usos de determinados bens de consumo e
bens culturais. Na telenovela Império (2014, 2015), de Aguinaldo Silva, transmitida às
21 horas na Globo, ganharam destaque as joias e semijoias. Os produtos eram
desenhados e produzidos pela joalheria ficcional Império que pertencia à família do
principal núcleo dramático da trama. A construção temática da telenovela em torno da
joalheria da família possibilitou ações de merchandising para a marca de semijoias
Rommanel331, como trataremos posteriormente.
331
De acordo com o site oficial da empresa, a Rommanel fabrica joias folheadas a Ouro 18k e
Rhodium e joias em Aço. A marca possui lojas em todo o Brasil e conta com o trabalho de revendedores.
Na Grande São Paulo, há lojas no bairro Bom Retiro, centro da capital, Jundiaí Shopping, Shopping
621
Isto posto, cabe a este artigo investigar, brevemente, quais foram os sentidos
produzidos de gosto e valor pela construção narrativa em torno das semijoias
apresentadas e consequentemente à marca citada, e assim refletir como a midiatização
de classe e consumo pode ocorrer neste contexto específico. Para isso, abordaremos os
gostos de classe, baseando-nos em alguns trechos específicos da trama, com foco nas
personagens Maria Clara (Andrea Horta), filha legítima do comendador José Alfredo de
Medeiros (Alexandre Nero) e designer da Império, e Cristina (Leandra Leal), filha
bastarda, que assume a direção da empresa por um período de tempo.
Anália Franco, Shopping Mega Polo e Cotia. Cf. http://www.rommanel.com.br/, acesso em 02/05/2015.
622
623
Nesse sentido, podemos tomar as palavras de Appadurai (2008, p. 56) que propõe,
ao tratar dos bens de luxo, que se considerem "os bens de luxo não exatamente em
contraste com as necessidades (um contraste cheio de problemas) mas como bens cujo
uso principal é retórico e social, bens que são simplesmente símbolos materializados."
No caso específico do estudo a que se propõe neste artigo, cabe ainda lembrar a
afirmação de Bourdieu, (2007, p. 54) quanto à disposição estética,
que tende a deixar de lado a natureza e a função do objeto representado,
além de excluir qualquer reação "ingênua", ou seja, horror diante do horrível,
desejo diante do desejável, reverência piedosa diante do sagrado, assim
como todas as respostas puramente éticas para levar em consideração apenas
o modo de representação, o estilo percebido e apreciado pela comparação
com outros estilos - é uma dimensão da relação global com o mundo e com
os outros, de um estilo de vida, em que se exprimem sob uma forma
incognoscível, os efeitos de condições particulares de existência (...).
(BOURDIEU, 2007, p. 54)
Levando em conta a proposta deste trabalho, cabe ainda elucidar que a cena da
enunciação (MAINGUENEAU, 2008), considerada no corpus, configura-se como o
espaço no qual se instauram os sujeitos da enunciação por meio da discursivização, ou
seja, “o mecanismo criador da pessoa, do espaço e do tempo da enunciação.” (FIORIN,
2005, p. 43). Ao tomar a palavra o indivíduo instaura não apenas a si mesmo como
enunciador, mas também o espaço (por meio de advérbios) e o tempo (por meio dos
tempos verbais) do ato enunciativo. Recorrendo a Greimas (apud Fiorin, 2005, p. 42),
podemos dizer que o sujeito no ato da enunciação "constrói o mundo enquanto objeto ao
mesmo tempo que se constrói a si mesmo."
Ainda em relação à enunciação, destacamos que, para Bakhtin/Volochinov
(2002), a apropriação da língua por parte do sujeito ocorre por meio da compreensão
semiótica que é socialmente constituída, já que todo enunciado se constrói direcionado
e condicionado por duas forças que agem sobre o indivíduo, a individual e a social.
Assim, como tratamos em outro texto, para Bakhtin/Volochinov. "a enunciação
individual não pode ser dissociada do todo social e histórico no qual ela se insere e com
o qual dialoga de forma constitutiva e interpretativa." (MUNGIOLI, 2009, p. 592) É por
meio da enunciação, ou seja, da concretude do discurso, que se pode observar que “(...)
classes sociais diferentes servem-se de uma só e mesma língua. Consequentemente, em
todo signo ideológico confrontam-se índices de valor contraditórios. O signo se torna a
arena onde se desenvolve a luta de classes.” (BAKHTIN/VOLOCHINOV 2002, p. 46).
Landowski (1997) discute a ideia de gosto não apenas entre sujeito e objeto, mas
também entre sujeito e sujeito. Para ele, há um gosto objetal e um subjetal. Neste último,
624
encontra-se o gosto por agradar alguém. O agrado pode ser concretizado em virtude dos
gostos objetais de quem deseja agradar, pois estes objetos fazem parte da composição
da identidade do sujeito, que acaba se tornando também o objeto do gosto do outro.
Assim, tem-se o pertencimento a grupos de classe social como demonstra
Bourdieu (2007), por acesso a capitais culturais distintos que configuram
comportamentos, estilos de vida e gostos diversos. Nesse sentido, os objetos “falam”
desse pertencimento a um grupo.
Ainda, o gosto referente a esses objetos pode passar por mudanças para que o
pertencimento ao grupo de referência seja mantido. Landowski (1997) explica que certa
inconstância de gosto, sobretudo para seguir determinada moda, é comum e se
configura no que ele chama de parecer e ser, ou programa principal e subjacente. O
programa subjacente comporta as mudanças de preferências e escolhas para que o
indivíduo continue coerente àquilo que ele deseja ser, ao programa principal, no qual se
encontra seu grupo de pertencimento.
625
Figura 1 - Maria Clara usa anel da Rommanel; Figura 2: Maria Clara trabalhando no
design da coleção
Rommanel
Na cena transcrita, Cristina, moça de origem pobre e que no passado trabalhara
em um camelódromo, está no comando da empresa nomeada por seu pai que finge estar
morto. Cristina não é bem aceita pela esposa do comendador Maria Marta (Lilia Cabral),
e seus filhos (meio-irmãos de Cristina), que não desejam dividir a herança com a filha
bastarda, que aparece em suas vidas depois de adulta.
Para entrar nesse novo universo familiar, Cristina passou por um processo de
mudança de estilo para agradar a outros sujeitos. Fato que não deixa de ser notado por
Maria Marta conforme veremos mais adiante no trecho selecionado para análise. Nesse
trecho, também Maria Clara e José Pedro se referem aos clientes fidelizados, à classe A,
ao nicho de mercado. Ou seja, círculos aos quais eles pertencem.
Pois, afinal de contas, quer o grupo de referência se identifique com certo
meio profissional, ou alhures, com alguma camada social particular, quer se
defina, como também regra comum, em termos de afinidade de geração, que
recurso os seus respectivos membros têm para manifestar de modo simples,
claro e contínuo, sua preferência aos ditos grupos, a não ser a adoção de
condutas que mostrem, enfaticamente se for preciso, que os princípios de
avaliação que utilizam para definir sua posição pessoal sobre os assuntos
mais variados, a cada momento coincidem com os que ‘todo mundo’ julga
os mais adequados na coletividade considerada?. (LANDOWSKI, 1997, p.
106).
Na ocasião, a empresa Império passa por uma grande crise financeira e a solução
encontrada por Cristina é a joalheria desenhar e comercializar anéis de formatura e joias
para homens. Maria Clara e seu irmão José Pedro (Caio Blat) indignam-se com a
proposta, pois consideram esses produtos muito populares, e, por isso, não estão à altura
da empresa. Maria Clara e José Pedro, na constituição da trama, são os dois filhos mais
atuantes na empresa e veem a presença de Cristina no comando da Império como uma
usurpação de seus direitos como filhos legítimos do Comendador. Vejamos a
transcrição do diálogo, do qual extraímos alguns excertos, e que se estendeu em duas
cenas diferentes de um mesmo episódio.
626
José Pedro: Anéis de formatura? Você acha que vai salvar a Império com essa ideia
estapafúrdia?
Maria Clara: Eu disse para ela que Anel de Formatura é uma joia que tá inteiramente fora de
moda.
Maria Marta: Gente, mas como se ela entendesse disso, meu Deus do céu.
Cristina: Vocês têm toda a razão, eu não sou nenhuma expert em moda. Mas eu sei que o que
esteve em moda em um determinado momento retorna. Foi assim com a calça boca de sino, com
a blusa xadrez, com o mocassim.
Risos.
Maria Marta: Ah, desculpa, aquele topzinho que lembrava a viúva Porcina...
José Pedro: Não é deboche, Cristina. É que simplesmente você não tem noção. Você é capaz de
confundir uma peça de roupa vagabunda com uma joia de alto luxo...
Cristina: Só que o alto luxo não está pagando a conta, José Pedro. Você sabe disso melhor do
que elas. Com tanta gente se formando cada semestre nesse país, cada vez mais...eu mesma
me formo agora em seguida.
Maria Clara: Então, você está legislando em causa própria. Não, por isso não. Eu posso indicar
uma lojinha muito boa onde você pode comprar um anel.
Cristina: Não é isso, Maria Clara. Eu tô pensando no público, e um público crescente. O anel de
formatura pode voltar a ser um objeto de desejo. Imagina a Império fabricando uma coleção
para esses jovens, uma coleção bonita, elaborada, com uma bela campanha publicitária.
Maria Clara: Eu disse que eu discordo da sua proposta, porque pra te dizer a verdade eu
achei ela ridícula. Então, Cristina, não conte comigo pra desenhar porcaria de anel de formatura
nenhum e nem joia pra marmanjo. Eu tô fora.
Cristina: Você vai se negar a fazer isso? É isso mesmo? Você tem certeza?
Maria Clara: Com toda a certeza do mundo. Eu estudei por anos pra fazer joias femininas,
encantadoras, eternas. Foi nisso que eu me especializei. Eu não posso de repente agora começar
a desenhar miçanga...
José Pedro: Eu não tô acreditando que você poderia concordar com a mudança de perfil da
Império. Mãe, a Império tem uma marca. A Império tem um nicho de mercado estabelecido,
uma clientela fidelizada.
Cristina: E tudo isso não impediu que a gente caísse na bancarrota. Clientela fiel, nicho
estagnado, mas que não compra constantemente porque o custo é alto.
627
Maria Clara: Só não pode esquecer de uma coisa, a crise não se estabeleceu porque as joias não
fazem sucesso.
Cristina: O que vai ajudar a gente agora é lançar produtos mais acessíveis, atrativos e de
rápido consumo.
Maria Clara: Gente, desenhar Anel de Formatura e pingente pra homem não faz meu estilo.
Maria Clara: Não é minha intenção ser. Cristina, não é porque meu pai te deu poderes que eu
vou dizer amém para as suas ideias típicas de quem não valoriza o nosso lugar no mercado. O
nosso público é e sempre foi o A e não a classe C. Se eu disser sim pra você agora, amanhã você
vai ter a grande ideia de colocar a minha coleção inteira pra vender no camelódromo.
628
sociedade na qual se difunde a ideia de que mesmo os mais pobres podem ter acesso 333
332
A trama reforça que a personagem conseguiu concluir o ensino superior com muito esforço,
fazendo trabalhos extras, como vender bolo de chocolate, para pagar os estudos. É importante destacar o
merchandising da instituição UNIESP na telenovela. O site da faculdade destaca a ação. Cf.
http://www.uniesp.edu.br/fan/noticiasFanVisualizar.asp?noticia=9098, acesso em 02/05/2015.
333
Citamos como exemplo de política pública voltada para a democratização do acesso ao Ensino
Superior o Programa Universidade para Todos (PROUNI). De acordo com o site do Ministério da
Educação, o PROUNI é um programa desse ministério, criado pelo Governo Federal em 2004, que
concede bolsas de estudo integrais e parciais (50%) em instituições privadas de ensino superior, em
cursos de graduação e sequenciais de formação específica, a estudantes brasileiros, sem diploma de nível
superior. Cf. http://siteprouni.mec.gov.br/o_prouni.php, acesso em 01/05/2015.
629
630
ouro e joias em aço, que não são destinados ao público A necessariamente, nem são tão
inacessíveis em termos de valor.
Nesse caso, argumenta-se que a marca Rommanel vincula-se a esses valores do
gosto de luxo em um sentido aspiracional. Ou seja, as clientes da marca aspiram
determinados desejos e status de luxo e classe, que não necessariamente fazem parte dos
produtos em termos mais concretos, mas da imagem pretendida pela marca. Como
destacado anteriormente, não são apenas as personagens do núcleo rico de Império que
usaram as peças da Rommanel, mas também as do núcleo popular.
Além disso, cumpre destacar que apesar de Cristina não ter tido destaque para o
merchandising da marca, ela desempenhou papel importante na produção de sentidos de
valorização do gosto popular e da possibilidade de ascensão, materializados pela
formatura e pelo anel, que aparecem como símbolos de transformação da moça formada
em Administração depois de muito batalhar. O anel de formatura pode ser interpretado
como a porta de entrada da classe C ao mundo de luxo da Império. A marca Rommanel
ao vincular-se à trama, passa a compor o interdiscurso do mercado no qual se desvela a
aspiração do popular ao luxuoso, buscando materializar-se como o diferenciado, ou seja,
aquilo que é para poucos e está na moda.
O discurso sobre o gosto de classe na cena escolhida, como vimos, desqualifica o
gosto popular, coloca-o como fora de moda e reafirma o gosto da classe alta como
legítimo e universal. Pois, Cristina afirma não entender nada de moda e sim da empresa
comercial que está falindo e precisa de lucro rápido. Assim, seu discurso não se afirma
sobre os mesmos pilares de seus interlocutores, revelando, de certa forma, o seu não
pertencimento ao universo deles em termos de valores e consumo, portanto, à classe
social destes últimos. Seu discurso pretende se articular sobre a objetividade do balanço
da empresa que se encontra arruinada. Nesse sentido, seus argumentos soam, do ponto
de vista do gosto, como reafirmadores da fala de seus irmãos e de Maria Marta. Ao
contrário dela, no trecho analisado, Maria Clara, José Pedro e Maria Marta, embora
sejam apresentados como arrogantes no decorrer da narrativa da telenovela, não têm
seus gostos negados e sim reafirmados como valores que identificam a imagem da
empresa Império. Apenas Maria Marta mostra-se mais atenta aos argumentos de
Cristina, fazendo isso apenas por levá-los em consideração do ponto de vista financeiro.
O bom gosto legítimo continua sendo o considerado de luxo, o da classe A. Mas
este é penetrado por novas lógicas do popular, da acessibilidade, da semijoia e do anel
de formatura. Trata-se do discurso do mercado, da publicidade, do consumo e do
631
Considerações finais
O artigo deteve-se no estudo de aspectos da produção de sentido do gosto de
classe por meio de discursos da telenovela Império. Identificamos, ao longo da análise
de uma cena, elementos da enunciação que compõem a trama discursiva por meio da
qual se torna possível observar a construção social do signo ideológico
(BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2002) e sua refração em relação às classes sociais no que
diz respeito ao gosto (tanto o "bom" quanto o "mau gosto"). O estudo da enunciação das
personagens sobre o objeto "anel de formatura" levou-nos a observar a oposição entre
gosto de luxo (o bom gosto) e gosto popular (o mau gosto). A telenovela reafirmou em
seu discurso o gosto de luxo da classe dominante, como o legítimo e universal, embora
este estivesse mesclado com valores populares. Trata-se do discurso do mercado, de
ascensão e consumo individual presente em nossa sociedade. Esse é o contexto no qual
o discurso midiático e os gostos estão ancorados na medida em que ocorre a
midiatização do consumo estabelecida pela construção de vínculos de sentido que
tornam possíveis os hábitos e atitudes de consumo entre as expressões da
marca/produtos/serviços e seus consumidores.
REFERÊNCIAS
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APPADURAI, Arjun. A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural.
Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2008.
BAKHTIN, Mikhail (V. N. Volochinov). Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo:
Hucitec Annablume, 2002.
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria Semiótica do Texto. São Paulo: Ática, 2011.
BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. Tradução: Zulmira Ribeiro Tavares. São Paulo:
Perspectiva, 2006.
632
LISTA DE FIGURAS:
Figura 1 – Retirada do site oficial da telenovela Império. Fonte:
http://gshow.globo.com/novelas/imperio/rommanel/noticia/2014/12/conheca-o-anel-escolhido-
por-internautas-para-maria-clara-usar-ao-selar-a-paz-com-cristina.html
633
RESUMO
O “fazer televisual” vive-se um novo momento. A maior emissora do Brasil divide sua
atenção com outras emissoras de sinal aberto, com as de assinatura e também com o uso
da internet. Este trabalho busca analisar como a Rede Globo de Televisão, em especial o
os programas diários de entretenimento que são exibidos ao vivo - Mais Você, Bem
Estar, Encontro com Fátima e Vídeo Show – mostram a participação do telespectador
ao interagir com o produto televisual. Para isso, contextualiza a cultura da convergência
e algumas formas atuais de participação do público com a emissora de televisão, fato
que vem transformando os modos de produção, circulação e consumo midiático.
Considerações iniciais
Nos últimos anos, a mídia sofreu diversas interferências, seja pelo surgimento da
internet, a criação das redes sociais digitais, a utilização de aparelhos celulares e
smartphones. Tudo isso culminou numa nova configuração do telespectador. Por muito
tempo, acreditou-se que o surgimento de uma nova mídia, implicaria diretamente no
desaparecimento da mídia anterior. Hoje, contudo, em plena era da convergência,
pensa-se cada vez mais na interação entre novas e antigas mídias. Para Jenkins (2008),
as novas mídias colidem com as velhas, ocasionando uma interação de poder entre
consumidores e produtores, o que explica o surgimento de uma nova cultura (‘Cultura
da Convergência’), que se destaca não por meio dos aparatos tecnológicos e, sim, pelas
interações sociais entre os consumidores.
Com o acesso às novas tecnologias, os telespectadores que, antes, conversavam
pessoalmente com os amigos, agora, participam de fóruns e comunidades digitais,
ocasionando a migração, ou seja, o compartilhamento entre os consumidores sobre o
que estão assistindo. Nessa atual conjuntura da televisão, acontece um movimento
simultâneo: dos telespectadores, por ficarem mais motivados a interagir com o produto
televisual, e das emissoras, por direcionarem seus programas a esse novo perfil de
telespectador.
334
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
335
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFSM. Docente da
Universidade Federal do Pampa. Integrante do Grupo de Pesquisa Comunicação Televisual/UFSM. E-
mail: fersagrilo@gmail.com.
336
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFSM. Bolsista Fapergs.
Integrante do Grupo de Pesquisa Comunicação Televisual/UFSM. E-mail: gabrields92@hotmail.com.
634
337
Disponível em: http://otvfoco.com.br/audiencia/mais-uma-vez-babilonia-e-menos-assistida-
do-que-novela-das-sete/. Acesso em abril de 2015.
338
Disponível em: http://f5.folha.uol.com.br/televisao/2014/04/1439663-jornal-nacional-marca-
pior-media-de-audiencia-de-sua-historia-na-previa.shtml. Acesso em abril de 2015.
339
Disponívle em: http://www.abta.org.br/dados_do_setor.asp. Acesso em abril de 2015.
635
636
637
Parte do público tem migrado para a internet, isso pode ser pelo fato da
possibilidade de interagir com outras pessoas ou por poder escolher e selecionar o que
será consumido. O que é indiscutível, é que as empresas de televisão mudaram tanto sua
programação, quanto a forma de participação do telespectador, buscando sempre o
aumento da audiência.
Ou a televisão muda de fato a sua relação com a audiência e se insere em
uma relação transmidiática, - na qual a soma da televisão com a internet não
é apenas uma mudança de ambiente, mas na criação de uma nova ambiência
que exige modelos de narratividade diferentes dos modelos até então
utilizados na televisão ou mesmo na internet, - ou a audiência irá migrar para
espaços onde possa se expressar de forma mais completa (TEMER, 2012, p.
117).
Não restam dúvidas de que a convergência está impactando as mídias e as
transformações das práticas de consumo. Faz-se, portanto, necessário que as empresas
se adaptem, o quanto antes, à nova realidade. Atualmente, uma forma de participação
sugerida pelos programas e emissoras são os aplicativos (apps) os quais pautam a
maioria das discussões nas redes sociais digitais como Twitter e Facebook, o que
evidencia o crescente compartilhamento de assuntos exibidos na televisão naquele
momento. Todos esses aplicativos são desenvolvidos pela indústria do entretenimento
audiovisual e por profissionais da computação para proporcionar uma experiência de
envolvimento entre os telespectadores/usuários e os programas de televisão.
638
639
Análise
A análise deste estudo centra-se nos textos Mais Você, Bem Estar, Encontro
com Fátima e Vídeo Show, ou mais especificamente nos programas de entretenimento
exibidos, ao vivo, no dia 20 de abril de 2015, pela Rede Globo.
1. Mais Você
1.a) Nível paratextual
O Mais Você é um programa produzido exibido pela Rede Globo, desde 18 de
outubro de 1999. É apresentado por Ana Maria Braga, com a companhia inseparável do
Louro José, controlado pelo ator Tom Veiga. O programa aborda temas como moda,
culinária, comportamento, saúde, música e variedades. É exibido, ao vivo, de segunda a
sexta feira, às 08h50 e reprisado diariamente às 18h45, no Canal Viva.
1.b) Nível intratextual
O texto analisado foi ao ar no dia 20 de abril de 2015, tendo início às 08h50 e
término às 10h10, divido em quatro blocos. Nesse dia, a emissão foi apresentada por
André Marques e Cissa Guimarães, que são responsáveis por comandar a atração nos
dias em que Ana Maria Braga está em férias.
- descrição do texto
No primeiro bloco, os apresentadores falam sobre os sonhos dos brasileiros, e
mostram uma matéria sobre o sonho do negócio próprio: primeiro apresenta
empreendedores da Favela da Rocinha (RJ), e depois uma empresa de digitalização de
documentos (SP). Ao falar de oportunidades de empreendedorismo é exibida uma
matéria com o professor de economia Marcos Quintela falando de oportunidades de
640
641
2. Bem Estar
2.a) Nível paratextual
O Bem Estar é um programa jornalístico que estreou em 21 de fevereiro de 2011
tratando em especial de assuntos relacionados à saúde. Vai ao ar de segunda a sexta
feira, às 10h10, na Rede Globo e reprisado no Canal Viva. É apresentado pelos
jornalistas Fernando Rocha e Mariana Ferrão.
2.b) Nível intratextual
O texto analisado foi ao ar no dia 20 de abril de 2015, tendo início às 10h10 e
término às 10h50, divido em três blocos.
- descrição do texto
No primeiro bloco os apresentadores mostram o novo cenário do programa e
chamam uma reportagem para mostrar a transformação do cenário. Para falar de
emagrecimento são convidados a nutricionista Cecília Rios e o endocrinologista João
Eduardo Sales para falar de tratamentos de emagrecimento. Existe no programa o
Auditório Virtual, em que são enviadas perguntas ou mensagens para o programa, nesse
momento é lida uma mensagem de um telespectador elogiando a dieta do apresentador
Fernando Rocha. Para mostrar a transformação do apresentador é exibida uma
reportagem sobre a escolha do novo figurino, para falar de gordura é exibida uma
imagem holográfica para mostrar o movimento de engordar ou emagrecer.
No segundo bloco a discussão é entre o refrigerante zero e a castanha do pará
com a nutricionista, depois o assunto é carboidrato e proteína com o endocrinologista.
No último bloco é exibido o quadro G1 em um minuto, todos os dias, a partir
desse programa, os apresentadores vão ao vivo ao site do g1 portal de notícias da Rede
Globo e a jornalista do G1 Mari Palma apresenta as principais notícias do Brasil e do
Mundo (uma das notícias são os 50 anos da Rede Globo e as transformações do site g1).
Para encerrar o programa, os apresentadores mostram um vídeo musical enviado por
uma telespectadora.
- dispositivos discursivos e expressivos
642
643
644
4. Vídeo Show
4.a) Nível paratextual
O Vídeo Show é exibido de segunda a sexta-feira, às 14h, desde 20 de março de
1983. É apresentado atualmente por Otaviano Costa e Mônica Iozzi. O programa exibe
notícias, atualidades, curiosidades do meio artístico e tudo o que acontece nos
bastidores, e é transmitido ao vivo. O programa também é reprisado no Canal Viva, de
segunda a sexta-feira, das 17h15 às 18h.
4.b) Nível intratextual
O texto analisado foi ao ar no dia 20 de abril de 2015, tendo início às 14h e
término às 14h45.
- descrição do texto
No início do primeiro bloco é inserida uma chamada para todas as matérias
apresentadas no programa. A primeira matéria é a exibição de um programa do Estados
Anysios de Chico City (2001) com Chico Anysio e Miguel Falabella. A segunda
matéria são os bastidores da novela das 19h, Alto Astral. Para comemorar o aniversário
do cantor Roberto Carlos, Marcela Monteiro faz reportagem sobre o show que o cantor
apresentou em São Paulo. Outro bastidor mostrado é o da final do quadro Iluminados,
do Domingão do Faustão. Para encerrar o bloco tem o quadro Telinha Direta, em que é
feito uma pergunta ao telespectador que será respondida no próximo bloco, a pergunta
foi: Quem cantou a música com a Cantora Claudia Leite na participação dela na
Malhação?
No início do segundo bloco é retomada a pergunta e exibido a imagem na
integra, quem cantou a música foi a atriz Mariana Rios. Trazendo como notícia, o
645
646
Apontamentos finais
O objetivo principal do trabalho foi analisar como a Rede Globo de Televisão,
em especial o os programas diários de entretenimento que são exibidos ao vivo - Mais
Você, Bem Estar, Encontro com Fátima e Vídeo Show – mostram a participação do
telespectador ao interagir com o produto televisual. Após a análise dos quatro
programas do entretenimento da RGT, pode-se constatar que a convergência digital
ainda não está incorporada a essas narrativas. Sabe-se que os programas em questão
utilizam algumas vezes o uso de hashtags e questões interativas para convocar o
telespectador a participar das emissões, entretanto, no dia analisado, pouco foi
percebido.
O programa Mais Você por não ter sido conduzido por Ana Maria Braga,
acabou revelando um novo estilo, fato que se acredita ter influenciado na construção do
texto; o Bem Estar apresentou o novo espaço cenográfico da narrativa e exibiu
conteúdos enviados pelos telespectadores (uma mensagem e um vídeo); o Encontro com
Fátima revelou a participação da plateia com os atores convidados; e, o Vídeo Show
questionou o público sobre a música de Claudia Leite na Malhação, e apresentou um
quadro das cinco notícias mais acessadas no portal de notícias do gshow.
Se, de acordo com Temer (2012), a televisão não mudar sua relação com o
telespectador, a audiência irá migrar para espaços em que possa participar ativamente da
construção de textos. O que foi constatado é que, realmente, pouco a televisão tem
ofertado para apresentar as participações do telespectador, o que muitas vezes pode
resultar numa queda de audiência. Por isso fica o questionamento, será que nos
próximos anos, a Rede Globo de Televisão terá narrativas mais participativas?
647
REFERÊNCIAS
CASTRO, Maria Lília Dias de. A chamada promocional: lógicas e estratégias. Anais do XXX
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Santos, SP, 29 ago. a 2 set. 2007.
CENSO 2010. Disponível em http://www.ibge.gov.br/censo/revista.shtm. Acesso em 08 maio
2013.
DUARTE, Elizabeth Bastos; CASTRO, Maria Lília Dias de (orgs). Comunicação audiovisual:
gêneros e formatos. Porto Alegre: Sulina, 2007.
________. Convergências midiáticas: produção ficcional – RBS TV. Porto Alegre: Sulina,
2010.
________. Produção midiática: o ir e vir entre teoria, metodologia e análise. In: BARICHELLO,
E.M.M.R; RUBLESCKI, A. S. Pesquisa em comunicação: olhares e abordagens. Santa Maria:
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DUARTE, Elizabeth Bastos. Televisão: novas modalidades de contar as narrativas.
Contemporânea: comunicação e cultura. Bahia, Vol. 10, No 2, 324-339, maio e agosto 2012.
FREITAS, Alberto. Produtos de caráter promocional: publicidade, propaganda, marketing
social e merchandising. In: DUARTE; CASTRO (orgs). Televisão: entre mercado e academia II.
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GREIMAS, A. J. A propósito do jogo. Revista Verso & reverso, São Leopoldo: Unisinos, 1998.
GREIMAS, A. J; COURTES, J. Dicionário de semiótica. São Paulo: Contexto, 2008.
JENKINS, Henry. A Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2008.
MATTOS, Sérgio Augusto. História da televisão brasileira: uma visão econômica, social e
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MONTEZ, Carlos; BECKER, Valdecir. TV Digital Interativa: Conceitos e Tecnologias. In:
WebMidia e LA-Web 2004 – Joint Conference. Ribeirão Preto, SP, Outubro de 2004.
TEMER, A.C.R.P. Muito além da interatividade o olhar de McLuhan sobre as novas formas de
ver o telejornalismo. In: SOUZA, Janara; CURVELLO, João; RUSSI, Pedro (orgs.). 100 anos
de McLuhan. Brasília, DF: Casa das Musas, 2012.
648
RESUMO
No momento em que questões como o consumo alimentar das crianças, a publicidade de
alimentos infantis e a regulação das comunicações para o público infantil se colocam
em pauta na sociedade, faz-se essencial a presença de estudos e pesquisas acadêmicas
no contexto plural de discussão sobre comunicação, consumo e infância. O estudo
desenvolvido tem por objeto contextos e processos da midiatização publicitária
contemporânea de alimentos infantis, em suas manifestações midiáticas e
expressividades de marcas materializadas a partir da tendência do eatertainment, por
meio da exploração e análise de seus elementos sígnicos e possibilidades de sentidos
para as práticas de consumo alimentar infantil.
Apresentação do Estudo
No momento em que as questões que tratam do consumo alimentar das crianças,
da publicidade de alimentos infantis e da regulação das comunicações para o público
infantil se colocam em pauta na sociedade, faz-se essencial a presença de estudos e
pesquisas acadêmicas no contexto plural de discussão sobre comunicação, consumo e
infância.
Este estudo, que apresenta os principais resultados da pesquisa desenvolvida
(BAADER, 2013), tem por objeto os contextos e processos da midiatização publicitária
contemporânea de alimentos infantis, em suas manifestações midiáticas e
expressividades de marcas materializadas a partir da tendência do eatertainment na
combinação alimentação-diversão, por meio da exploração e análise de seus elementos
sígnicos e possibilidades de sentidos para as práticas de consumo e hábitos alimentares
das crianças em seus cotidianos. O objeto do estudo compõe-se, assim, a partir da
combinação de três contextos: a midiatização publicitária de alimentos infantis; a
tendência do eatertainment; e a cultura contemporânea de consumo alimentar infantil.
No que se refere à midiatização publicitária de alimentos infantis, é importante
destacar que o conceito de midiatização é tomado neste estudo enquanto processo
interacional de referência (no conjunto de outros processos interacionais) que se coloca
340
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
341
Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo – ECA/USP. Email: c.baader@usp.br.
649
650
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653
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655
656
Reflexões finais
657
658
659
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
660
RESUMO
No intuito de compreender a representação/construção de símbolos nacionais através do
diálogo fornecido pela publicidade, temos como elemento desencadeador de nosso
estudo a utilização destes signos, os quais dizem respeito à população brasileira, no
prisma de uma questão complexa que apresenta diferentes formas estruturais em sua
linguagem e proporciona representações variadas do país. Analisamos neste trabalho,
através dos pressupostos de Norman Fairclough, Renato Ortiz e Eneus Trindade, um
anúncio da Brahma Chopp de 1985, publicado na Revista Veja e um da cerveja
Antarctica, publicado na Revista Manchete, em 1989. Esses períodos escolhidos se
justificam em decorrência da mudança político-econômica-cultural brasileira naquele
tempo e suas influências no mercado publicitário brasileiro, em analogia à identidade
nacional.
Introdução
A concepção de discurso e o quadro teórico, apresentados por Fairclough (2001)
para a análise de discurso possui suma importância em nossa pesquisa, pois visa o
aprofundamento na análise de discurso orientada linguisticamente e o pensamento
social e político relevante para o discurso e a linguagem publicitários dos anos 1980.
Buscamos, desse modo, analisar o discurso no quadro tridimensional, como texto,
prática discursiva e prática social. Sendo assim, utilizamos dos conceitos de Fairclough,
com o intuito de investigar a mudança discursiva em sua relação com a mudança social
e cultural, associados à identidade nacional brasileira, por intermédio da publicidade
impressa.
342
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
343
Mestrando do PPGCOM da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, email:
juliorocharc@yahoo.com.br.
661
662
artes”. Porém é no XIX que a frase “beaux arts” ou “belli arti” é abreviada para o
singular “arte”, os artefatos dos “trabalhos de arte” transmutam-se assim em “objeto de
arte”, resultado da criação “genial” de alguns indivíduos. Por meio da autonomização
do mundo artístico ocorreu uma separação em relação às concepções “materialistas” e
“utilitaristas” da esfera produtiva. Os artistas contrários à ideologia burguesa de
produtividade e de utilidade das coisas queriam se distanciar do mundo fabril,
inaugurando um espaço inteiramente à parte. Os boêmios inventaram uma arte de viver
em ruptura com os valores burgueses, sua intenção era cultivar as disponibilidades
estéticas, e retirá-las da órbita “capitalista”, encerrando-as no universo do sublime, do
inefável. O “bom gosto” refletido na escolha dos objetos (ópera, literatura, música
clássica, pintura, escultura) é justamente o que distingue os indivíduos uns dos outros,
somente alguns conseguem desfrutá-lo. Havendo, portanto uma distância entre aqueles
que partilham o universo da arte e os incultos que fazem parte da multidão (Ortiz, 2013,
p. 609).
Para Ortiz (2013) a cultura se reveste de outro significado quando associada à
problemática do nacional e adquire agora uma dimensão agregadora. Se os membros de
uma população territorial encontram-se separados pela distância geográfica, pela origem
de classe, pelo fato de serem citadinos ou camponeses, um mesmo conjunto deve
envolvê-los para que façam parte de uma unidade comum. A cultura é a consciência
coletiva que vincula os indivíduos uns aos outros. Há, portanto, uma afinidade entre os
conceitos de cultura e nação, eles recobrem uma realidade que pode ser apreendida
através de uma perspectiva holística. O todo nos remete a uma cultura que pode ser
representada através de um emblema, a identidade, o caráter nacional.
663
664
4 - ANÁLISES
4.1 – Análise da Brahma Chopp dos anos 1980
665
Fazer cerveja é uma arte, cujo domínio exige conhecimento e tempo. No caso de
Brahma Chopp, o emprego das mais modernas técnicas cervejeiras leva ao apuro no
processo de seleção e dosagem de todos os seus ingredientes.
Por tudo isso, Brahma Chopp é a cerveja muito mais’.
'Selecionadíssima'
Remete ao estilo musical MPB e ao cantor, que já possuía naquele período
reconhecimento nacional e internacional. Comparando a cerveja com a identidade do
artista em relação ao gosto musical de seus ouvintes, música de qualidade é igual a uma
cerveja de qualidade.
A figura de Fafá de Belém : 345
'Naturalissima'
Simboliza a espontaneidade da cantora como sua inigualável risada, e ainda sua
participação intensa no movimento das ‘Diretas Já’ a partir do comício de 16 de
Abril de 1984. A cantora se apresentou gratuitamente em diversos comícios e passeatas,
cantando o "Hino Nacional Brasileiro". A célebre interpretação diante das câmeras para
uma multidão que clamava pela redemocratização do país foi muito contestada pela
Justiça, mas ao mesmo tempo foi ovacionada e aclamada pelo público. A partir daí,
Fafá de Belém passou a ser conhecida como a "Musa das Diretas".
A figura de Mário Gomes : 346
'Gostossíssima'
344
Ivan Guimarães Lins (Rio de Janeiro, 16 de junho de 1945) é um dos artistas brasileiros de
maior sucesso no mundo. No decorrer dos anos 70, a obra ganha grande temática política.
http://pt.m.wikipedia.org - acesso em: 27/03/2015 às 22h54m.
345
Fafá de Belém, nome artístico de Maria de Fátima Palha de Figueiredo (Belém, 09 de agosto
de 1956). Fonte: http://pt.wikipedia.org - acesso em: 29/03/15 às 10h15m.
346
Destacou-se principalmente nas telenovelas Gabriela, Duas Vidas, Jogo da Vida, Sol de
Verão, Guerra dos Sexos, Vereda Tropical e Perigosas Peruas. http://pt.m.wikipedia.org - acesso:
27/03/15 às 22h56m.
666
Apresenta o artista como galã das novelas da Rede Globo, na época, com
admirável identificação do público brasileiro. Existe uma simbologia do ator em relação
ao “futebol”, quando interpretara um jogador de futebol em novela da Rede Globo.
A figura de Zezé Mota : 347
'Puríssima'
A mulata como representação do povo brasileiro. Atriz de grande prestígio e
cantora de exímia voz mostrava-se a cara do Brasil, no que tange à caricatura do público
brasileiro, por meio de suas interpretações, na TV, no teatro e no cinema.
A figura de Ricardo Amaral : 348
'Cervejissíma'
Simboliza o experiente bebedor, aquele que entende de cerveja. Frequentador de
bares, boates e clubes noturnos, pois Ricardo Amaral criou os mais agitados ambientes,
no Rio de Janeiro, São Paulo, Nova York e Paris. Identifica-se como brasileiro
consumidor e empreendedor, sobrepondo prestígio à Brahma Chopp, devido ao ato do
empreendedorismo e ainda a consolidação no mercado internacional, desse modo, a
fabricante de cervejas, consegue representação nacional por meio do empresário, assim
atinge o leitor-receptor como uma marca valorosa e internacional.
A figura da cerveja:
Representa a mulher loira, cobiçada pelos homens. Copo e garrafa de cerveja:
vem por último, ou seja, a última da fileira de imagens a qual é detentora de todas as
qualidades anteriores expostas nas figuras dos artistas, e aqui, a Brahma Chopp é
agregada por todos esses valores. A tarja amarela (na parte inferior de todas as
ilustrações do anúncio), representada por qualidades dos artistas e perpassada à Brahma
Chopp, soma-se a cor da cerveja o 'amarelo': simbolizando o ‘ouro’, como parte
constituinte da bandeira nacional. Assim, concebe as riquezas de nosso país, no caso,
atributos tomados pelo anunciante e postos em seu produto a ‘Brahma Chopp’.
Por meio dos artistas consagrados como garotos-propaganda da Brahma Chopp,
podemos apontar a utilização de símbolos nacionais em vários campos, como na cultura
representada pela música, teatro, televisão e rádio e ainda, no meio empresarial, bares e
347
Maria José Motta de Oliveira, conhecida como Zezé Motta (Campos dos Goytacazes, 27 de
junho de 1944). Participou de filmes como: Vai trabalhar, vagabundo (1973), Ouro Sangrento, Anjos da
Noite, Tieta do Agreste, Xica da Silva (1976) e que a consagrou internacionalmente, e Orfeu. Fonte:
http://pt.m.wikipedia.org - acesso em: 27/03/15 às 23h00m.
348
Ricardo Amaral é um empresário brasileiro. É chamado de o "Rei da Noite Carioca". Chegou
a criar uma das mais badaladas boates na Barra da Tijuca, um bairro do Rio de Janeiro, o famoso clube
"Studio 54", que fazia alusão ao antigo clube de mesmo nome em Nova York. Fonte:
http://pt.m.wikipedia.org - acesso em: 27/03/15 às 22h50m.
667
boates (casas noturnas), também uma forte presença na figura de ‘Mário Gomes’, cujo,
interpretara naquele ano, o papel de um jogador de futebol, na novela Vereda Tropical . 349
668
Portanto, o enunciador utiliza em seu texto fatores que adornam além da questão
político-econômica, o fator trabalho, remetendo indiretamente ao Governo a falta de
oportunidade para a população nesse mercado. Desse modo, a Antarctica surge como a
heroína da pátria brasileira, no que tange ao poderio do trabalho. Por outro lado,
emprega de fato inúmeros trabalhadores em suas várias fábricas, além de contribuir para
os cofres públicos, alta quantia, através de impostos.
‘Neste verão você não vai ficar na mão’
A oração nos remete que em outros 'verões' o mercado brasileiro chegou a ficar
desabastecido de cerveja. Podemos notar que o anunciante induz o brasileiro a uma
necessidade de consumir o produto em questão, ou seja, o consumidor não pode ficar
sem o referido liquido, presumindo que na estação ‘verão’ a demanda é aumentada,
portanto surge a necessidade de aumento da produção.
No centro do anúncio temos a representação de uma garrafa da referida marca de
cerveja enchendo uma tulipa, que ao mesmo tempo, em que persuade o leitor-receptor à
ingestão do líquido, também proporciona a si mesma as glórias da vitória, ou seja, o
copo cheio representa o sucesso da marca, e ainda celebra mais uma conquista, uma
nova fábrica.
Reforçando momentos em que não foi possível abastecer todo o mercado
consumidor, é dada uma importância ao consumo de cerveja, no que se refere aos
hábitos alimentícios e/ou nutricionais, ou seja, sabemos de antemão que a cerveja não
faz parte dos alimentos essenciais para a sobrevivência do brasileiro, mas no anúncio é
dado como essencial, como: 'não vai ficar na mão' e 'possa saborear à vontade sua
cerveja Antarctica o ano inteiro', o pronome possessivo 'sua' representa que a cerveja é
do leitor-receptor, a expressão 'à vontade' induz ao consumo sem limites, o que pode
levar o consumidor a sérios riscos como: dependência e doenças, e ainda, o 'ano inteiro',
não deixa margem para que surja reflexão sobre o uso do produto por parte do leitor-
receptor.
‘Para que o apreciador da melhor Cerveja do Brasil possa saborear sua
Cerveja ANTARCTICA à vontade o ano inteiro, está sendo inaugurada em
Jacarepaguá, Rio de Janeiro, uma das maiores Fábricas de Cervejas do
Hemisfério Sul’.
Podemos apontar o uso do verbo substantivado ‘apreciador’ remetendo ao
brasileiro não como bebedor do liquido, mas também como apreciador do sabor de
cerveja, no caso, da Antarctica. O enunciador eleva-se a um patamar, no qual auto
engradece sua cerveja e ainda ressalta a necessidade da construção e inauguração de
669
mais uma fábrica para atender a demanda nacional. Desse modo, induz o consumidor a
bebê-la durante todo o ano e não somente no período de calor e/ou de festejos populares.
‘Esse novo complexo industrial, erigido em terreno de 525.000 m², conta
com uma área construída de 64.400 m². Vai gerar quase 2.000 empregos
diretos e milhares de indiretos’.
670
Na oração seguinte o enunciador dado como herói, já que contribui aos cofres
públicos com grandes somas, transfere ao cidadão (leitor-receptor) também a
responsabilidade de contribuir ao Governo.
‘A nova indústria contribuirá aos cofres públicos com somas vultosas: dois
bilhões de cruzados de IPI e outros dois bilhões de cruzados de ICM, por
mês’.
671
Considerações finais
Após nossas análises, podemos constatar que o leitor-receptor dos anúncios
como representante da população brasileira, fica refém no que diz respeito às condições
sociais, capazes de refletir a situação político-econômica brasileira e, consegue inserir-
se no meio social por intermédio da cultura midiática, no caso, tendo a publicidade de
cerveja como protagonista desses campos, posicionando o receptor como coadjuvante
em áreas que o Estado não apresenta as condições necessárias.
Desse modo, o papel do enunciador e de seu produto, parece ter uma importante
função nesse meio, sem esquecermos, é claro, dos malefícios que podem proporcionar à
saúde do consumidor quando consumido em excesso. O lazer, a descontração, o
entretenimento, são meios que necessitam de incentivos e de medidas do Estado, e esses
atributos são apresentados pelo mercado e aceitos pelo consumidor. Carnaval, futebol,
bar, boteco, boate, música entre outros, são ambientes comuns em relação aos costumes,
à cultura do brasileiro.
Portanto a cultura brasileira e a identidade nacional são absorvidas numa troca
recíproca entre população e Estado por intermédio da publicidade, a qual agrega valores
nacionais no conjunto de seus anúncios. Ainda podemos verificar através da análise do
anúncio da cerveja Antarctica, a crise econômica brasileira que parecia naquele final de
década dar um salto econômico e, que visava envolver o leitor-receptor ao consumo de
cerveja, não exclusivamente como apreciador, como é enfatizado pelo anunciante, mas
também como ato vicioso, induzindo o consumidor a ingestão da bebida, durante todo o
672
ano. Colocando-se acima das ações não tomadas pelo Governo, apresentando-se como
herói da economia nacional, ressaltando o pagamento de alta quantia em impostos ao
Governo e ainda oferecendo empregos diretos e indiretos, assentando-se que é a única
que acredita no Brasil e que outras empresas e a população perderam a fé no
crescimento nacional.
Assim as representações de signos inerentes aos símbolos nacionais são
publicizadas em meio aos discursos publicitários aqui analisados e lançados ao campo
social, onde os sujeitos tomam posições variáveis, ou seja, de acordo com o contexto
em que vivem. A produção de sentidos é justamente formada pela condição e efeito da
estrutura social. Quando a indústria midiática se utiliza de símbolos da cultura e
identidade brasileira correspondente à nação, trabalha com critérios segmentados e de
níveis distintos, podendo ser apreciados regional ou localmente e que, agrupados
possuem força capaz de criar uma consciência nacional, desse modo, orientando o
cidadão a agir dentro daqueles princípios propostos pelo anúncio, o qual constrói e
representa as atividades cotidianas sociais.
REFERÊNCIAS
CONCEIÇÃO, Júlio César Rocha. A formação de identidades culturais nos comerciais de
cerveja. In: 9º Encontro Nacional de História da Mídia. Ouro Preto – UFOP – Anais ALCAR.
UFRS, 30 de maio à 1º de junho. 2013.
___________. A propaganda testemunhal no discurso da Brahma Chopp como prática
social. In: XII POLITICOM – Juiz de Fora (MG) UFJF - 17 e 18 de Outubro de 2013 XI
Encontro Regional de Comunicação – Juiz de Fora (MG) UFJF - 15 e 16 de Outubro de 2013.
___________. A construção/representação de símbolos nacionais por meio da publicidade
de cerveja. In: XII Encontro Regional de Comunicação – Juiz de Fora (MG) UFJF – 10 a 12 de
novembro de 2014.
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira: Cultura brasileira e indústria cultural. São
Paulo: Editora Brasiliense, 2001.
______. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.
______. O espaço indeterminado. Maio de 1968: 40 anos depois. Edição 250 da Revista IHU
On-Line. Entrevista com Renato Ortiz in UNISINOS. 31 de julho de 2008. Disponível em:
http://www.ihu.unisinos.br – acesso em: 19/11/2014 às 19h38m.
______. Imagens do Brasil. Revista Sociedade e Estado - Volume 28, Número 3, p. 609 à 633.
Setembro/Dezembro 2013.
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e Mudança Social. Brasília: Editora UnB, 2001.
TRINDADE, Eneus. Propaganda, Identidade e Discurso: brasilidades midiáticas. Porto
Alegre: Editora Sulina, 2012.
673
RESUMO
O presente trabalho se deu a partir da observação do termo “Selfie” que passou a figurar
as páginas das redes sociais com maior intensidade em 2013. Em princípio faz-se
necessário um apanho geral da influência da imagem como representação e ferramenta
propulsora para tal acontecimento, bem como os significados que passou a adquirir.
Para tanto, contaremos logo no início com a questão problema que motivou a pesquisa,
e mais adiante com a proposta metodológica de análise netnográfica que propõe
contribuir para verificação dos questionamentos alçados.
1. Introdução
O presente trabalho trata sobre o Selfie, termo usado para figurar a pessoa que
tira fotos de si mesmo. Essa prática existe desde há muito tempo, quando Robert
Cornelius fez o seu primeiro autorretrato em 1839, logo depois da invenção da
fotografia. Com o avanço das novas tecnologias, a imagem passou a exercer um papel
ainda mais fundamental na sociedade, podendo em alguns casos funcionar
comunicacionalmente o que Semprini (2010) chama de forma-marca.
Diante disso, propomos investigar se a imagem pode ter assumido, em
determinados momentos simples do cotidiano, uma nova ferramentas de comunicação
pessoal de apelo promocional. O trabalho inicia com o problema ou causa que originou
o interesse por esta pesquisa exploratória e, mais adiante o aparato teórico trará luz ao
tema. Para o entendimento de como os sujeitos se apropriam das novas mídias de
comunicação, buscamos como apoio metodológico, a Netnografia, também entendida
como etnografia virtual que se pauta na observação das interações no ciberespaço.
adicionou um novo verbete que passou a figurar as suas páginas: selfie, que reúne o
350
Trabalho apresentado no Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de
Pesquisadores em Publicidade e Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
351
Luciana F. S. Prado. Publicitária, mestre em Comunicação na linha Cultura e Mídia pela
Universidade Federal do Estado de Goiás. Docente na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. E-mail:
lserenini@gmail.com
352
Viviane de Abreu – Publicitária pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. E-mail:
vivianeabreu@gmail.com.
674
substantivo self (eu, a própria pessoa) e o sufixo ie. A sua definição é: “Fotografia que
alguém tira de si mesmo, em geral com smartphone ou webcam, e carrega em uma rede
social.” Conforme publicado na revista Veja no ano de 2013, o ingresso do termo no
Oxford é o reconhecimento de um fenômeno global. Tornou-se um gesto comum esticar
o braço segurando o celular apontando para o rosto, e depois compartilhar a foto em
uma das redes sociais como: Instagram e Facebook. Na mesma matéria, a revista faz
um apontamento interessante a respeito dessa nova prática, dizendo que o selfie pode
revelar um estado de espirito ou ser um meio de autopromoção, entre outras facetas da
relação do homem com a sua identidade.
De acordo com França (2013), o Instagram é uma mídia social desenvolvida em
2010 pelo brasileiro Mike Hrieger e pelo americano Kevin Systom, que auxiliou o
aperfeiçoamento dessa prática. Depois dos celulares com câmeras embutidas, seus
idealizadores pensaram em um aplicativo “fácil” que ajudasse as pessoas a compartilhar
suas experiências cotidianas sem a necessidade de uma máquina fotográfica para
registrar imagens e um computador para publicá-las na Internet.
França (apud SHIRKY, 2011) chama a atenção de pesquisadores e entusiastas
das novas tecnologias que o enfoque excessivo nas ferramentas pode limitar nossa visão
sobre o potencial das pessoas ao se apropriarem as novas formas de mídia, ou seja,
estamos nos esquecendo dos “usos sociais” e dos “desejos humanos” que motivam a
participação efetiva nas mídias digitais.
Obvious , relata que podemos estar buscando o reconhecimento através da
354
imagem e o incentivo de postar fotos nas redes sociais pode ser algo menos tangível e
mais sentimental. Para a Veja, o selfie não é uma invenção do mundo digital, mas
igualmente importante reconhecer que a tecnologia transformou a prática, que segundo
o youpix , não é nada passageira e recente. De acordo com o site, os autorretratos são
355
uma prática bem antiga e a primeira “selfie” que se tem registro foi em 1839, tirada por
Robert Cornelius. Com base no The Public Domain Review , a foto de Robert 356
Cornelius foi o primeiro autorretrato que se deu logo depois da invenção da fotografia.
A imagem tirada pelo químico amador em 1839, segundo o site aconteceu da seguinte
353
Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/selfie-e-nova-maneira-de-expressao-e-
autopromocao. Acesso em: fevereiro de 2014.
354
Disponível em: http://lounge.obviousmag.org/do_zepelim/2014/01/como-adam-smith-veria-os-selfies-
das-mocas-no-instagram.html. Acesso em: fevereiro de 2014.
355
Disponível em: http://www.youpix.com.br/comportamento/primeiras-selfies/. Acesso em: fevereiro de
2014.
356
Disponível em: http://publicdomainreview.org/collections/rrobert-cornelius-self-portrait-the-first-ever-
selfie-1839/>. Acesso em: fevereiro de 2014.
675
maneira: ele removeu a tampa da lente e, em seguida, correu para um lugar onde se
sentou por um minuto antes de cobrir a lente novamente. De acordo com o The Public
Domain Review, o quadro considerado por muitos como primeiro retrato fotográfico
nunca foi um selfie propriamente dito, porém foi o que mais chegou perto disso. E como
ele mesmo escreveu sendo, na parte de trás da fotografia: “A primeira imagem luz já
tomadas. 1839”.
Segundo McLuhan (1964), se não tivesse havido a impressão, e as gravuras em
metal e madeira, a fotografia não teria aparecido. Durante séculos as gravuras em
madeira e metal haviam dado configuração ao mundo por uma disposição especial de
linhas e pontos que possuía uma sintaxe extraordinariamente elaborada. Para o autor, a
fotografia não é uma máquina, mas um processo químico e luminoso onde se observa
uma relação inteiramente nova entre os meios e seus usuários. Trata-se de uma relação
de alta participação e envolvimento. Para McLuhan (1964), a fotografia altera tanto as
nossas atitudes externas quanto as nossas atitudes e o nosso diálogo interno.
De acordo com o La Mula , a prática de tirar fotos de si mesmo para
357
compartilhar nas redes sociais pode ser o fruto de um produto bruto do capitalismo
tardio. Trata-se de uma época de narcisismo, em que somente o melhor de nós e mais
atraente é cuidadosamente pincelado e compartilhado com o mundo. As novas
tecnologias podem estar trazendo mudanças significativas na forma de nos
socializarmos e de percebermos a nós mesmos. Segundo o site, o selfie realmente não
apareceu do nada, a prova disso talvez, seja esse desejo humano constante de subir ao
palco para o outro através do filtro de fantasia, apresentando apenas o que se é capaz de
controlar em detalhe.
O fato de fazer selfies pode estar diretamente ligado na venda de uma
imagem/marca. Para Semprini (2010) a velocidade da conectividade em rede põe em
circulação as marcas de algo real e de um modo de presença do sujeito no mundo.
Segundo o autor, uma marca carrega atributos. Nesse mesmo ponto de vista, o indivíduo
ao postar sua foto na rede social pode estar agregando atributos a si mesmo como sendo
autêntico, singular e raro.
De acordo com Semprini (2010), o expansionismo das marcas está muito além
da esfera comercial, elas se instalam perfeitamente no espaço social da atualidade. Para
357
Disponível em: https://redaccion.lamula.pe/2014/03/09/se-publica-el-primer-estudio-mundial-
sobre-el-fenomeno-selfie/alonsoalmenara/. Acesso em: março de 2014.
676
o autor, o fato de as pessoas estarem midiatizadas e conectadas em rede é o que faz isso
acontecer.
Segundo Primo (apud SFEZ, 1994) a interatividade na rede apresenta-se como
um argumento de venda na economia. Para o autor, essa interatividade cria apenas uma
ilusão de expressão. O espetáculo que hoje se exibe, segundo ele, parece nos incluir na
cena e faz-nos crer nessa inclusão. Mesmo que o emissor esteja longe, mediado pela
eletrônica, podendo ser então nesse caso o Instagram, Facebook e outros, já não se
percebe mais uma sensação de artificialidade, senão a impressão de uma espontaneidade
natural.
Consoante Semprini (2010), todos os universos, aparentemente tão diferentes,
souberam identificar o princípio abstrato de funcionamento de marca. O selfie poderia
ser, então, dentro da perspectiva investigativa deste trabalho o que chamamos de forma-
marca. De acordo com o autor, a forma-marca pode ser destacada dos produtos de
consumo e ser aplicada a todos os tipos de produtos ou discursos sociais: uma mídia,
um museu, um partido ou um homem político, uma imagem, uma organização
humanitária, um esportista, um cantor ou um filme. Lipovetsky e Serroy (2011)
traz uma reflexão bastante profunda sobre essa modernidade. Para o autor, esse novo
ciclo que recompõe o mundo, constituiu-se um regime inédito de cultura, a Cultura-
mundo. No ponto de vista de Lipovetsky e Serroy (2011), a mercantilização integral da
cultura, tornou-se ao mesmo tempo, uma culturalização das mercadorias. O selfie
poderia, então, ser um tipo de mercadoria, que está inserida neste mercado cultural da
modernidade.
Essa produção de imagem, no qual se chama “mercadoria” sem dúvida, segundo
o autor, integra cada vez mais em sua oferta as dimensões estéticas e criativas. Podendo
ser então, o mundo da utilidade material e ao mesmo tempo produtor de símbolos e de
valores culturais. Nada ilustra mais a cultura-mundo que o universo tecnológico.
As novas tecnologias atingiram a vida de tal forma que os indivíduos não apenas
produzem máquinas – que, no caso, podem ser o Instagram e o Facebook – mas
também se apoderam de tal forma desses meios, modificando até mesmo a
instantaneidade e a utilidade dessas redes, Lipovetsky e Serroy (2011).
Semprini (2010) destaca que os indivíduos reagem intensamente à marca pós-
moderna e que eles se vinculam a essas marcas por sua capacidade de gerar mundos
possíveis. Esse raciocínio do autor pode ser comparado ao novo universo de
possibilidades dos selfies. Como por exemplo, o glamour e os minutinhos de fama,
677
proporcionados através das redes sociais. De acordo com o mesmo autor, isso acontece
porque as marcas tornaram-se, em um quarto de século, um fenômeno social para todos
os efeitos. Segundo Higa358 (2013), muitas pessoas têm apostado em sua marca pessoal
para garantir sucesso e potencial. A autora cita o exemplo das blogueiras que se tornam
referência de moda, beleza e modernidade para milhares de fãs. Ícones de inspiração nas
redes sociais, diariamente publicam seus interesses, looks, os locais que frequentam,
expõem suas preferências e até seu dia-a-dia ao público. De acordo com a autora, seja
marca pessoal moderna, básica, gótica, prática, esportiva, largada, engraçada ou
esquisita, o importante é propagar esse novo consumo: de imagens.
Com base no argumento dos autores até então relatados, é possível levantar a
seguinte pergunta: O selfie poderia ser considerado em alguns casos, uma micro
indústria de autopromoção que busca reconhecimento através da imagem?
Se para Semprini (2010), existem cinco dimensões do consumo pós-moderno: o
individualismo, o corpo, a imaterialidade, a mobilidade e o imaginário vale a pena
avaliarmos como estas cinco dimensões estão ligadas entre si e podem, então, contribuir
para justificar o consumo que o indivíduo faz da imagem para se autopromover nas
redes sociais. Seguindo o raciocínio do autor, a primeira dimensão do consumo é o
individualismo. Refere-se à cultura psicológica das massas que popularizou as noções
de prazer e de desejo, fazendo assim com que o indivíduo busque ainda mais a
felicidade privada. Diante disso, o consumo logo percebeu que os indivíduos
precisavam expressar essa cultura individualista, e foi nesse exato momento que
surgiram as novas tecnologias da imagem, do som e das telecomunicações, que
colocaram à disposição de qualquer pessoa uma variedade de instrumentos, que são
capazes de tentar satisfazer esses desejos de expressão pessoal. Essas novas tecnologias
em questão podem ser as redes sociais.
Ligado à segunda dimensão, Semprini (2010) relata que o individualismo
determinou consequentemente maior atenção ao corpo. De 1980 em diante, o corpo se
tornou protagonista da cena social e do consumo. Segundo o autor, estamos vivendo a
valorização do corpo como fonte de prazer para si mesmo e para o outro. Isto pode
explicar a inúmeras selfies de academia que são postadas no Instagram. O imaterial,
trata-se da terceira dimensão do consumo pós-moderno de Semprini (2010). Nesse
momento, o autor destaca como a evolução pós-moderna leva os indivíduos a
358
Disponível em: http://www.infobranding.com.br/a-marca-pessoal-como-look-do-dia/. Acesso
em: março de 2014.
678
valorizarem os aspectos cada vez mais abstratos, conceituais, virtuais de suas vidas e de
sua interação com o ambiente. O tempo, a procura por prazer, por emoção, o valor
atribuído à autenticidade, à troca, aos contatos, à socialização e ao lazer constitui esse
tema. O tempo que se tira para tirar fotos de si mesmo pode ser um desses momentos de
prazer. De acordo com Semprini (2010), na mobilidade, quarta dimensão do consumo
pós-moderno, os indivíduos redescobriram a necessidade e os prazeres da mobilidade.
Essa dimensão é, antes de tudo, física e geográfica, observável na frequência das
viagens, dos deslocamentos e dos trajetos profissionais. Para o autor, esse movimento
incessante tornou-se quase uma condição de existência. Podendo explicar a proposta da
rede social, Instagram, que induz o usuário a registar o que o cerca. A proposta da rede
social é simples: tirar fotos, aplicar filtros “retrô” e compartilhar com os amigos.
A última dimensão de Semprini, não menos importante, é o imaginário. O
desenvolvimento do universo das mídias desempenhou um papel extremamente
importante na redescoberta das dimensões imaginárias da vida coletiva e individual. O
autor cita como exemplo os reality shows que confundem a ficção com a vida real. O
selfie no Instagram, também pode fazer parte desse espetáculo. Nas redes sociais, o
indivíduo é projetado para um universo completamente novo que lhe traz possibilidades
e sucesso, sem ter passado por etapas e provas, tradicionalmente associadas à ascensão
de poder de uma carreira artística, e essa possível sensação de pertencimento de
pequenos instantes a um mundo de visibilidade que talvez não seja o usual em sua
rotina passaria a estimular a frequência de postagens de imagens que façam referência
ao universo de desejo e culto dos usuários frequentes no Instagram. A partir dessa
discussão, Semprini (2010) mostra de maneira clara como o universo de consumo da
imagem, evoluindo em direção ao pós-moderno está ligado no contexto social e cultural
que estamos vivenciando.
Diante das reflexões expostas nos parágrafos anteriores, seria possível então,
destacarmos o pensamento de Semprini (2010) quando reflete sobre as cinco
importantes dimensões do consumo pós-moderno: o individualismo, o corpo, a
imaterialidade, a mobilidade e o imaginário, sendo viável propor um problema de
pesquisa buscando investigar as seguintes questões: Estamos consumindo mais
imagens, e de uma forma cada vez mais promocional, mesmo quando diz respeito à
individualidade e ao mundo privado? Esse individualismo tem dado consequentemente
maior atenção ao corpo, explicando os selfies de academia, refletindo um desejo cada
679
Figura 1: Jogador de futebol: Neymar e o também jogador, Daniel. Fonte: Perfil do instagram do jogador
Neymar359
359
Disponível em: http://instagram.com/neymarjr. Acesso em: março de 2014.
680
Figura 2: Estrelas de Hollywood na premiação do Oscar 2014. Fonte: Época Negócios 360
360
Disponível em: http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2014/03/selfie-do-oscar-era-
681
acao-de-marketing-e-teria-custado-r-45-milhoes-samsung.html. Acesso em: abril de 2014.
682
683
684
No decorrer deste trabalho vimos, com base nas referências teóricas, que
estamos presenciando uma sociedade ultramoderna na qual a comunicação ultra veloz
marcada pelas redes sociais fazem com que as pessoas estejam adaptadas a mudanças
diárias. Essas mudanças tendem a fazer com que surjam tribos contemporâneas que se
identificam com determinado tema e, diante de tal identificação passam a transportar
grande parte de seus discursos imagéticos nas redes sociais criando uma série de
marcações que delimitam este cenário de pertencimento a um novo tipo de identidade, a
uma tribo que reconheça seu discurso como válido e importante. Um desses grupos, ou
“tribos”, como podemos perceber é o fitness.
É interessante ressaltar o quanto a comunicação digital passou a desempenhar
esse papel propulsor para o surgimento de hábitos que propulsionam a experimentação
de atitudes destes indivíduos. O que antes era ditado apenas pela publicidade, em geral,
passou a estar vinculado diretamente entre os próprios representantes do movimento,
neste caso, da tribo fitness.
Também, de acordo com Semprini, as marcas passaram a desenvolver seus
territórios na mobilidade, e mais uma das hipóteses pode ser analisada, de que os
indivíduos podem estar usando o ambiente das academias como forma de representação
de um universo para se encontrar como iguais idealizando beleza e saúde. Dentro desse
viés, o ator 1 e ator 2, além de postar fotos de si mesmo dentro desse universo,
juntamente compartilhava fotos ditas, nutricionais, representando um grupo que além e
cuidar da estética do corpo também se preocupa com a tabela nutricional.(Figura 6).
Figura 6 - Ator 1 (esquerda), Ator 2 (direita) - Figura – Ator 2, imagem da rede social Instagram.
Acompanhando esses atores no mês de Setembro, notamos que para todos não
basta apenas praticar os exercícios e aderirem a si os benefícios se isso não for
permutável, ou seja, trata-se de uma troca. O que esses indivíduos buscam ao
685
compartilhar selfies não é apenas mostrar o seu corpo saudável e esteticamente bonito,
necessitam também de aprovação; - eu mostro o meu esforço e você retribui. Os likes
dos outros usuários é a prova desse reconhecimento, uma franca exposição de seus
atributos mais interessantes a serem ressaltados dentro de uma aproximação muito forte
da mesma lógica de consumo e mercado que pode ser detectada nos traços de uma
concreta condução e construção das nossas marcas pós-modernas, agora cada vez mais
cuidadas em cada tribo e nas mídias sociais como o instagram. Tal análise não busca
fechar questão sobre o tema, mas sim contribuir com novos olhares e avaliações na
busca por compreender os fenômenos comunicacionais do nosso tempo.
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2014.
686
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de apresentar comprovadamente o desenvolvimento dos
meios de comunicação dentro do universo cibernético. Constata-se que atualmente,
graças ao uso das ferramentas sociais na Internet, há a maior concentração de usuários
que dominam seus conteúdos a partir do seu ponto de vista. O mundo empresarial, a
datar dessas inovações, se tornou mais receptivo para o público-alvo, com a divulgação
nas redes sociais sobre a organização e atualizações desta ou até mesmo de uma página
de Facebook, disposta a receber a opinião de seu público. Então, é importante que o
profissional abra seus horizontes e esteja disposto sempre a novas mudanças para que
dessa forma, possa estar à frente dos demais e revelar seu diferencial.
Introdução
Esta pesquisa bibliográfica, se baseia na análise das ferramentas digitais de
comunicação, em que irá ser demonstrado também a sua repercussão nas redes sociais
Facebook e Youtube. A partir desta análise, iremos perceber a diferença da utilização do
Marketing Digital nas redes sociais e como este é eficaz para as empresas.
Vale ressaltar os caminhos que o Marketing teve que percorrer para atingir esse
desenvolvimento, assim como seu relacionamento na inclusão da Publicidade e
Propaganda.
O primeiro caminho a percorrer foi o da comunicação. Sabe-se que esta
progrediu e trouxe benefícios para seu processo interativo, tanto no âmbito social
quanto Profissional. Teorias baseadas na comunicação foram incluídas e analisadas e, a
partir disso, sua relação com a Publicidade e Propaganda favoreceu a teoria do
Marketing e da persuasão dentro dos veículos de comunicação.
Percebe-se, a partir do contexto, que o ser humano expande seus limites e, a
partir do início da Era da Internet, adapta novos conceitos para o desenvolvimento da
comunicação e sua interatividade com os meios. O início dessa expansão (da Internet)
trouxe diversas mudanças na sociedade cultural, influenciando, de forma geral, o meio
362
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
363
Professor Especialista da Universidade CEUMA, e-mail: salomao@ceuma.br
364
Graduada em Publicidade e Propaganda, Universidade, Pós Graduanda em Comunicação e
Marketing Universidade CEUMA, e-mail: lizandramousinho@gmail.com
687
688
689
690
ter o poder de escolha, selecionando qual produto lhe fosse mais prestativo, as
organizações, ao perceberem que a decisão final da compra de seus produtos estaria
dessa vez a partir da decisão do cliente, começaram a agir com o planejamento de
técnicas tais quais a pesquisa de mercado, comunicação das qualidades e benefícios dos
produtos em veículos de massa, adequação de produtos e serviços a partir das
necessidades e desejos dos clientes, expansão e a alternância dos canais de distribuição
(CÉSAR, 2009).
Reduzir o termo marketing apenas como o processo de vendas ou propaganda, é
um fato comum e que muitas pessoas concebem. Vale ressaltar que o marketing é bem
além disso, é mais do que vender e fazer propaganda, é fazer parte da organização da
administração mercadológica da empresa, em que sua função está na tomada de decisão
no processo da pesquisa e avaliação de resultados. Assim, com o objetivo de suprir as
necessidades dos clientes e das empresas, surgiu o marketing, ou seja, é o
relacionamento comercial entre a empresa e o cliente.
César (2009) conclui que, para que uma empresa tenha um bom relacionamento
com o cliente, cinco fatores são necessários: dois elementos envolvidos, cada um dos
membros possuírem algo que desperte interesse ao outro, possibilidade de comunicação
e entrega, liberdade das duas partes para aceitar ou não uma proposta e que cada um se
julgue apto para atender as necessidades e desejos do outro. Assim, o marketing, a partir
das suas estratégias de mercado, proporciona à empresa as ferramentas disponíveis para
debater e decidir o que irá favorecer aos clientes.
Marketing digital.
Com o advento da Internet, a comunicação se tornou um processo amplo e
constante na sociedade em que, o ser humano, além de precisar entendê-la, é obrigado a
saber como a Internet funciona na sua vida como um todo. Principalmente para os
empresários, que necessitam desta para suas funcionalidades no dia a dia, através da
utilização de ferramentas incluídas em seus afazeres que favorecem o desenvolvimento
da comunicação em seu negócio.
O Marketing Digital é uma ferramenta dentre tantas outras que ajudam na
funcionalidade web. Mas para entender melhor é preciso "decifrar a charada", ou seja,
desvendar a Internet como uma ferramenta de marketing, envolvendo comunicação,
publicidade, propaganda e todo o conjunto de estratégias e conceitos que já possuem
conhecimento na teoria do marketing.
691
692
Marketing de conteúdo.
O conteúdo sempre foi essencial em qualquer conceito, pois ele é o que traduz
em palavras aquilo o que se quer dizer. É importante ressaltar o valor do texto na
Internet, pois a web sempre foi, em sua origem, baseada em web sites com hiperlinks –
693
palavras grifadas ou não que você clica e provoca uma ação como ir para outra página –
e texto. Como se sabe, há o endereço de um site que pode ser classificado por várias
categorias ou um assunto. Plataformas de busca ajudam a achar o conteúdo desejado a
partir de “palavras-chave” facilitando assim a lista de informações.
Com o surgimento dos blogs, os conteúdos se tornaram mais relevantes. A
competição por qual conteúdo é mais expressivo se tornou acirrada e chamar a atenção
do consumidor a partir de seus conhecimentos tornou-se uma questão de princípios. As
ferramentas de busca se tornaram mais úteis a partir disso, resolvendo as dúvidas do
consumidor em qualquer tipo de informação.
Como enfatiza Torres (2009, p.83):
“As ferramentas de busca, em conjunto com os blogs, transformaram as pesquisas por
produtos em pesquisas por informações. Elas se especializaram cada vez mais em
encontrar sites, capturar seu conteúdo e relacionar o conteúdo a palavras-chave, a fim de
apresentar um resultado muito mais rico e útil para quem pesquisa. Os blogs se
especializaram em publicar conteúdo relevante sobre assuntos específicos, e como são
milhões de blogs, eles formam uma enorme biblioteca de conteúdo.”
Logo, o conteúdo pode vir em vários formatos: texto, comentários sobre o
produto, comparação de produtos, vídeo, áudio, etc. Basta a empresa saber como
chamar a atenção do consumidor e se tornar útil e relevante para sua busca de
informações.
A partir de André Siqueira, blogueiro do site www.resultadosdigitais.com.br, a
produção de conteúdo serve como prioridade na rede virtual, pois é o que especifica a
qualidade daquilo que você produz. Em geral, serve como munição para usuários das
mídias sociais (Twitter, Facebook, Google+, etc), já que no final das contas, o que as
pessoas mais fazem nas redes é compartilhar links dos outros, resultando assim em uma
linha de vínculos em divulgação de conteúdo. Um exemplo dado é o de Seth Godin,
blogueiro e dono do site www.sethgodin.typepad.com, considerado um dos maiores
pensadores de marketing atualmente. Ele não possui Twitter pois diz não conseguir usar
de forma eficiente o canal, mas seus conteúdos são de qualidade e dão um feedback
bastante considerado.
As mídias na Internet.
E-mail marketing
694
Publicidade on-line
Atualmente as alternativas de publicidade on-line são tantas que o mais
importante é entendermos os principais meios que favorecem o resultado mais eficiente
para o mercado publicitário.
Mas antes de tudo, vale ressaltar que a publicidade on-line surgiu através dos
banners publicitários em sites que eram copiados a partir dos modelos de anúncios da
mídia exterior – Panfletos, outdoors, cartazes – . Com novos ideais, os banners foram se
695
696
Instagram
Lançado em Outubro de 2010 como um aplicativo de iPhone que permite aplicar efeitos
especiais em fotos e compartilhá-las com amigos, o aplicativo possui mais de 30
697
Flickr
A partir de Paulo Duarte, autor do blog www.pauloduarteb.wordpress.com, o
Flickr foi uma plataforma que sofreu diversas atualizações.
Sua origem se deu em Fevereiro de 2004, pelas mãos de Ludicap, em uma
empresa sedeada em Vancouver, no Canadá, que tinha como propósito criar um jogo de
computador on-line em que jogadores do mundo todo pudessem interagir, com um
conceito de web 2.0 – Danilo Amoroso, blogueiro do site www.tecmundo.com.br,
retrata como uma revolução na internet que veio com conceitos de serviços de
relacionamentos sociais, tais quais vídeos, blogs, e no geral, conteúdos dinâmicos
através das redes virtuais – bem mais avançado do que os conceitos utilizados na época,
logo foi uma idéia abandonada e trouxeram o Flickr em como ele é hoje. Suas
alterações ocorreram em 2006, com mudanças nas suas estruturas e design do site, com
aplicações de ferramentas tais quais o feedRSS – ferramenta para assinaturas de e-mail
– que permite mais acessibilidade ao aplicativo (DUARTE, 2010).
698
Facebook
A rede social Facebook, atualmente é uma das maiores em comparação às outras
devido à sua popularização e também por sua relação direta de possuir ferramentas que
favorecem o engajamento da empresa com o cliente.
Sua origem se deu em Harvard, por Marck Zuckerberg, quando este ainda era
aluno. Seu foco inicial era criar uma rede social entre os Universitários com novas
relações sociais, mas isso só valia para membros de Instituições reconhecidas sendo que
tal função só possuía utilidade de início em Harvard (2004) Recuero (2011,p.172). Após
isso, o Facebook trouxe um impacto positivo a ponto de crescer grandiosamente e
depender da expansão para outros usuários que queriam se cadastrar.
Atualmente sua funcionalidade pode se dar através de perfis e comunidades e também
permite a aplicação de jogos, ferramentas, entre outros que favorecem a sua utilidade.
Diferente do Orkut – rede social – , Recuero (2011, p.172) define que o sistema
do Facebook é percebido como mais privado tornando assim o usuário livre da invasão
de privacidade. O fato de proporcionar que outros usuários possam criar aplicativos
para o sistema também se torna um diferencial competitivo de outras redes sociais.
Entre as funcionalidades do Facebook, há a caixa de mensagens chamada “No que você
está pensando agora?” em que você pode escrever textos curtos ou pensamentos e
compartilhar com seus amigos, isso tudo no “mural” do aplicativo, em que mostra a
página principal de comunicação. Há também o uso do link curtir, que serve como uma
opinião positiva sobre a atualização, todos conhecem e já estão familiarizados.
Além destas, o detalhamento nas informações do perfil do Facebook garante uma
funcionalidade adequada tanto para estudantes quanto profissionais que estão no início
da carreira.
699
Youtube
Considerado a plataforma responsável pela maior parte do conteúdo em vídeo
que absorvemos na internet, pois quase todos os vídeos on-line que vemos na rede estão
hospedados em seus servidores, foi originado em 2005 e seus criadores são Chad
Hurley, Steve Chen e Jawed Karim. O site foi concluído em 2006 e vendido para o
Google por 1,65 bilhão de dólares. Após isso, a Empresa cresceu grandiosamente com o
Google fazendo investimentos na plataforma a transformando em algo rentável tanto
para os usuários quanto para quem hospeda, ou seja, eles mesmos (Duarte, 2014).
É considerada uma ferramenta genial pelo fato de qualquer usuário poder
registrar seu vídeo e divulgar para qualquer pessoa ao redor do mundo. De certo modo,
é uma mídia semelhante à televisão pelo fato de, além de vídeos curtos de comédia,
ação ou qualquer conteúdo específico, também fornece episódios de novelas, filmes ou
seriados para o usuário assistir on-line sem ter o trabalho de fazer o download.
Como diz Torres (2009, p.134):
Um dos motivos do sucesso do conceito do Youtube é o fato de
sermos seres visuais, que reagem mais rápido e melhor a estímulos de
imagens em movimento do que a imagens estáticas ou textos. Quando
o vídeo é levado às mídias sociais, ele produz um interesse maior do
que os textos.
700
Mobile Marketing
A partir de Cunha (2010), blogueira do site www.cs2marketingdigital.com.br, o
Mobile Marketing é uma mídia móvel que se utiliza do aparelho celular para entrar em
contato com o consumidor o entregando algum tipo de informação ou mensagem. Pode-
se utilizar essa ferramenta para se comunicar com o usuário fazendo parte de um plano
de Marketing ou uma ação isolada da marca ou produto. Dentro destes conteúdos, está a
publicidade, o alerta SMS, as votações, os games, as ações de Bluetooth além de
eventos ou concursos e ações promocionais que podem se utilizar dessa mídia.
No geral, o celular é um produto mais pessoal para o usuário. Garante a esta
maior disponibilidade podendo assim corresponder a um bom potencial na publicidade.
Nisso a plataforma móvel tende consequentemente a crescer dentro das empresas
resultando na grande tendência da praticidade promovendo assim a atenção dos
consumidores. Observa –se contudo que desde o sucesso das plataformas móveis e de
sua evolução nas funcionalidades, o marketing móvel começou a ganhar espaço no
mercado.
Conclui-se então que ainda há muito a descobrir sobre essa plataforma móvel e
que sua extensão no mercado do marketing digital é um ótimo mecanismo que serve
para favorecer o engajamento do público-alvo.
Conclusão
Diante de todas as análises expostas neste trabalho, as considerações finais deste
estudo consistem nas características dadas pela interatividade da comunicação dentro da
Internet, inclusive nas mídias sociais.
Inicialmente, notou-se a introdução do conceito da comunicação e de seu
processo dentro do âmbito social. Logo após, seu desenvolvimento se introduziu na
Publicidade e Propaganda, resultando em novas formas de comunicação e sua relação
com o público-alvo. O marketing entra neste contexto pois é o ápice para que a
comunicação tenha progresso dentro da Publicidade e Propaganda, já que, como mostra
no trabalho, o marketing ajuda na criação de conceitos de uma propaganda e, a partir
dos seus métodos de persuasão, é o que proporciona a idéia a ser atingida, realizado a
partir de um planejamento dentro do mercado alvo em questão.
701
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TURCHI, Sandra. Estratégias de Marketing Digital e E-commerce. São Paulo, SP: Editora
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703
RESUMO
Esta é uma pesquisa a respeito da identidade coletiva dos torcedores do Esporte Clube
Internacional de Santa Maria/RS. O objetivo foi investigar as características da
identidade cultural da torcida, interpelada pela representação cultural e midiática do
time, e a forma pela qual a mesma encontra-se relacionada aos elementos culturais
emblemáticos do município. A base teórica encontra-se estruturada em reflexões a
respeito da formação de identidade na Pós-modernidade, segundo Hall (2005), do
conceito de identidade de resistência de Castells (2011) e de habitus de Bourdieu (2008;
2009). Como resultado, contatou-se que os torcedores e o próprio clube como
pertencentes a processos distintos de formação de identidade coletiva, quando
relacionados aos principais aspectos culturais de Santa Maria/RS e de sua população.
1 Introdução
O futebol é considerado uma das principais paixões do brasileiro. Prova disto
são os altos valores financeiros investidos no esporte no país. Segundo o portal R7
Esportes , em 2013 os times brasileiros lucraram cerca de 185 milhões de euros apenas
368
704
369
Santa Maria. Cidade coração do Rio Grande do Sul. Disponível em
<http://jararaca.ufsm.br/websites/dhumanos/fcabb785ce286bb029c7fe77952c8457.htm>. Acesso em 26
de maio de 2014.
705
706
707
708
709
Navegar na Internet
4% 3%
7% Pra3car Esporte
Viagem
7% 24%
Música
10% Cinema
21%
10% Leitura
14%
Assis3r Televisão
Cozinhar
370
Fundação Getúlio Vargas. Qual a faixa de renda familiar das classes? Disponível em:
<http://cps.fgv.br/node/3999>. Acesso em 8 outubro de 2014.
710
6% 6% Futebol
5%
5% Futebol
Americano
5%
56% Canoagem
17%
Judô
711
10% Somente
10% Internacional de
Santa Maria
Internacional de
50% Porto Alegre
30%
Grêmio
O entrevistado E7, por exemplo, afirmou: “acompanho pelo Esporte Sul que é o melhor
371
O Esporte Sul surgiu em 2012 a partir da união de estudantes de jornalismo de Santa Maria. O
portal de notícias do esporte santa-mariense tem como objetivo informar, opinar e entreter os amantes de
esportes. Por isso, utiliza vídeos, reportagens, transmissões e estratégias para cobrir de diferentes pontos
de vista o cenário esportivo local. Disponível em: <http://www.esportesul.com/institucional>. Acesso em
15 de outubro de 2014.
712
site que tem por aí, rádio e jornal”. Mesmo quando não lembrado o nome exato do
veículo, de certa forma era mencionado, como no discurso do E1, que afirmou: “hoje
acompanho por meio de um site [buscando referir-se ao Esporte Sul] que aborda
esportes”. Questionado sobre entidades referências de busca por informação ao esporte
local, o E6 replicou de forma semelhante aos demais: “é o Esporte Sul, acho que é o
melhor site de esporte que tem”.
Ao mesmo tempo em que houve diversas citações em relação à plataforma
digital para a busca de informação, foi destacada a presença dos meios de comunicação
rádio e jornal que também foram citados em grande parte das respostas, mas sem
menção aos nomes específicos dos veículos. Além disso, a procura por informações
através da televisão não foi mencionada, sendo lembrada somente pelo E7 da seguinte
maneira: “mas TV não porque dá pouca divulgação”, referindo-se ao limitado espaço
que as emissoras oferecem para conteúdos do futebol local.
Com as informações obtidas nas entrevistas, o conteúdo das respostas foi
submetido à categoria nível de contato com o Riograndense, elaborada para identificar o
nível de contato que os torcedores do Inter-SM possuem com o Riograndense, principal
time rival. Tendo em vista a localização deste time no bairro Perpétuo Socorro (zona
norte de Santa Maria), percebe-se a maior proximidade geográfica dos entrevistados ao
Estádio Presidente Vargas (construído no bairro Patronato), pois os bairros citados são
da zona sul e oeste do município. Tal fato é percebido a partir da declaração do E1–
“aqui sempre morei no bairro Medianeira” [zona sul de Santa Maria] – e na declaração
do E4: “Só morei na T. Neves” [zona oeste de Santa Maria]. Portanto, a facilidade para
acessar o Estádio Presidente Vargas pode ser uma das razões para indicar a
popularidade do Inter-SM nos bairros localizados ao sul e a oeste do município, o que
pode ser constatado com as respostas dos demais entrevistados.
Quando questionados sobre as primeiras experiências relacionadas ao
Internacional de Santa Maria no estádio do clube, foram obtidas diferentes informações.
No entanto, percebe-se que a maioria dos torcedores iniciou a relação a partir do bom
cenário de campanhas marcadas por vitórias. Desta forma, os anos de 2006 e 2007
foram decisivos para que os torcedores se tornassem realmente assíduos às partidas
devido à ascensão do clube para primeira divisão do futebol gaúcho, momento
mencionado pelo E9 em seu discurso quando questionado sobre a presença nas partidas:
“foi desde a campanha de quando subiu contra o Pelotas 2006/2007” [mencionando a
partida final que marcou o acesso do Internacional para a primeira divisão do futebol
713
gaúcho]. Resposta semelhante também foi dada pelo E4 sobre quando iniciou seu
interesse em acompanhar o clube no Presidente Vargas: “desde pequeno, mas não falto
mais desde 2006”, mencionando a campanha que marcou a ascensão do Internacional
para elite do futebol gaúcho.
A seguinte categoria de análise, nomeada o time como processo civilizador do
município, se propôs a estudar o Internacional de Santa Maria como um processo
civilizador do município, conceito de Nunes (2013), integrando um conjunto de
determinados elementos presentes na região responsáveis ao longo da história pelo
desenvolvimento econômico e cultural de Santa Maria. Portanto, ao serem
questionados sobre o papel do Internacional e as contribuições para o município,
percebeu-se a capacidade que o clube tem de carregar características associadas aos
santa-marienses para diferentes locais, como afirma o E2: “acho que é muito importante
porque de um modo ou outro representa Santa Maria, então a gestão, profissionalismo
do clube reflete no que as pessoas pensam da cidade”. Tal função se torna ainda mais
importante quando o clube disputa partidas no cenário nacional, conforme o E10: “o
time é muito importante para a cidade, divulgação, já divulgou para o resto do estado e
em nível nacional, todos conhecem”.
Percebe-se que além do Inter-SM ter a função de levar as características da
região para além dos limites de Santa Maria, devido ao clube, os torcedores percebem,
neste caso no Presidente Vargas, muitas relações se formarem, tornando as
arquibancadas um espaço de convívio democrático. O surgimento de novas relações é
observado e sentido pelos próprios torcedores, como relata E7: “na Geral, ali o pessoal
tem mais contato, é mais povão, mais popular”. Com a proximidade, o contato e a
comunicação se tornam mais fáceis, possibilitando o surgimento de vínculos, fato
apontado pelo E8: “sim, conheço bastante gente, tenho certo vínculo de amizade, não
muito grande, mas no dia a dia a gente conversa”. Desta forma, o clube também exerce
a função de agregar diferentes pessoas em torno do mesmo objetivo, apoiar o
Internacional de Santa Maria, como lembra o E4: “considero porque não é só um clube
de futebol, envolvem outras coisas que agregam pessoas de outras etnias aqui”.
Na categoria de análise elaborada para observar como se dá a relação dos
torcedores do clube frente às entidades esportivas de maior expressão, nomeada a
relação dos torcedores do clube e as entidades esportivas de maior expressão, os
indivíduos foram interrogados sobre os pontos de destaque que o Internacional de Santa
Maria apresenta e que poderiam servir de exemplo a outros clubes. No entanto, percebe-
714
4 Considerações finais
715
716
REFERÊNCIAS
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717
CONSUMO DE (I)MOBILIDADES:
MOBILIDADE EM POTÊNCIA E DISCURSO PUBLICITÁRIO NO BRASIL
CONTEMPORÂNEO. 1982, 1998 e 2014372
Maria Alice de Faria Nogueira373
Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, RJ
RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa de Doutorado da
autora que investigou a cultura da mobilidade (URRY, 2003) a partir de seus discursos
e suas representações, com especial interesse na comunicação publicitária global. A
hipótese de que há um consumo de (i)mobilidade sendo feito quando o indivíduo sai em
busca de objetos que suportem sua (i)mobilidade cotidiana com certa estabilidade e
menor risco foi validada, a partir da interpretação do discurso publicitário de marcas
globais veiculado no Brasil em três momentos distintos: junho de 1982, junho de 1998 e
junho de 2014, durante o período da Copa do Mundo FIFA. A metodologia da pesquisa
foi baseada na Hermenêutica de Profundidade (THOMPSON, 2000) e utilizou a
semiótica pierciana (SANTAELLA, 2005) na análise formal dos 40 anúncios impressos
selecionados para a investigação.
372
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
373
Doutora em História, Política e Bens Culturais pelo PPGHPBC, Cpdoc/ FGV-RJ; Mestre em
Comunicação Social pela PUC-RJ; Professora de Comunicação e de Marketing e Bolsista do Programa
de Pesquisa Aplicada na UNESA-RJ. email: ma.nogueira@terra.com.br
718
719
de circulação nacional com a maior tiragem do mercado. Hoje, vende uma média de 1,1
milhão exemplares, entre as assinaturas e vendas em bancas de jornal. Pela sua história
editorial, circulação nacional e expressão como mídia durante as três décadas de
investigação, Veja nos permitiu fazer uma análise comparada entre a publicidade das
marcas em 1982, 1998 e 2014.
374
Todos os anúncios citados neste artigo foram selecionados nas edições da revista Veja de
Junho de 1982; junho de 1998; e junho de 2014. Disponível em:
http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx.
720
721
registrada no país) 376 , em 1993, para 6,75% 377 , em 2014. De 2003 a 2009,
aproximadamente 20 milhões de brasileiros saíram da pobreza e ascenderam à (nova)
classe C, com incrementos na renda e no potencial e consumo (NERI, 2010; 2012).
A abertura do mercado brasileiro a empresas globais, em detrimento ao mercado
fechado com foco no nacional desenvolvimentismo, em conjunto com as melhorias na
economia e estabilização da moeda, posicionou o Brasil como um importante local de
investimento. Durante este período, o Brasil entrou no mapa global de comércio e de
consumo e tornou-se um dos protagonistas das novas economias emergentes, os BRICS
(VISENTINI, 2013).
Foram duas Copas do Mundo de Futebol ganhas, em 1994 e 2002, fazendo do
Brasil o único pentacampeão da história do torneio. Neste período, também, o Brasil
sediou uma Copa do Mundo, na qual foi derrotado nas semifinais pelo inédito placar de
7 x 1.
E em 1984, milhares de pessoas saíram às ruas pelas eleições diretas para
Presidente a República; em 1992, milhões de brasileiros, principalmente jovens, foram
para as ruas pelo impeachment do Presidente Fernando Collor de Mello. Em 2013, em
um movimento que ficou conhecido como “Jornadas de Junho”, uma sociedade civil
jovem, mas desencantada com seus representantes e sem perspectiva quanto ao seu
projeto de vida (WERNECK VIANNA, 2014)378, participou de manifestações em todo
o país em protesto pela falta de investimentos em saúde, educação e mobilidade urbana,
entre outros temas sociais, diante de altos gastos com infraestrutura da Copa do Mundo
FIFA 2014379. Alguns autores (MAIA e ROCHA, 2014; entre outros) posicionaram as
Jornadas de Junho como um dos movimentos sociais que fizeram parte de um
movimento maior, globalizado que, em última instância, considerando caso a caso,
questionava, ou mesmo apontava, para uma crise e para a falência do modelo do
capitalismo global.
376
Disponível em: http://veja.abril.com.br/especiais/veja_40anos/p_170.html. Acessado em:
19/01/2015.
377
Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2014-10/inflacao-
acumulada-em-12-meses-e-maior-em-tres-ano. Acessado em: 19/01/2015.
378
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/521147-a-busca-por-reconhecimento-e-
participacao-politica-o-combustivel-das-manifestacoes-entrevista-especial-com-werneck-vianna-.
Acessado em: 19/01/2015.
379
Disponível em: http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,protestos-arruinam-imagem-do-
brasil-e-preocupam-a-fifa,1045721 . Acessado em: 19/01/2015.
722
723
724
725
do Walkman , mas, também, da Pierre Cardin que, mesmo não sendo uma marca de
383 384
produtos de tecnologia, como as outras marcas acima citadas, resumiu muito bem a
ideia de movimento ao convocar o público leitor a entrar no seu ‘universo exclusivo’, a
partir do apelo visual sinestésico de seu anúncio. Ao enfatizar a técnica e os sistemas, o
discurso publicitário, em 1982, já anunciava uma abordagem da parceria entre o homem
e a máquina, que chamei de ‘protohíbrido’, que já apontava para o empoderamento que
os objetos proporcionam aos indivíduos.
Em um segundo momento, diferentemente de 1982, cujas peças sugeriam a
mobilidade em seu discurso, mas, ainda, não a usavam como argumento de vendas, em
1998 a cultura da mobilidade aparecia mais claramente no discurso das marcas: palavras
como ‘movimento’ e ‘globalização’ são citadas nos textos e se somam às palavras que
evocam mobilidade em potência, como ‘viagem’, ‘liberdade’, ou expressões como
‘volta ao mundo’; ou ainda, verbos como ‘rodar’ no sentido de circular e ‘rolar’, no
sentido de
380
Anúncio de página dupla veiculado na revista Veja, edição 719, de 16/06/1982, p.68-69.
381
Anúncio de página simples veiculado na revista Veja, edição 718, de 09/06/1982, p.80.
382
Anúncio de página dupla veiculado na revista Veja, edição 723, de 14/07/1982, p.46-47
383
Anúncio de página simples veiculado na revista Veja, edição 718, de 09/06/1982 p.163
384
Anúncios de página dupla veiculados na revista Veja, edições 718 e 723, de 09/06/1982 e
14/07/1982, p.66-67 e p.72-73.
726
727
385
Anúncio de página simples veiculado na revista Veja, edição 1550, de 10/06/1998, p.10.
386
Anúncio de página simples veiculado na revista Veja, edição 1550, de 10/06/1998, p.38.
387
Anúncio página dupla veiculado na revista Veja, edição 2378, de 18/06/2014, p.46-47.
388
Anúncio de página dupla veiculado na revista Veja, edição 2382, de 16/07/2014, p.20-21.
728
sistemas, como no anúncio do Itaú Estratégia Global, de 1982, para o projeto e estilo de
vida do indivíduo e sua vida handy, como no caso do anúncio da Brasil Pos t , de 2014. 390
729
Considerações finais
E para finalizar, ao confirmar a hipótese de que a cultura da mobilidade está
presente no discurso da comunicação publicitária de marcas globais veiculada no Brasil
desde, pelo menos, 1982, a tese fortaleceu a premissa de que a publicidade pode ser
encarada, ela mesma, como um produto cultural, que vale ser estudado como tantas
outras formas simbólicas e manifestações culturais da sociedade moderno-
contemporânea.
A riqueza de conteúdo que há por trás do caráter persuasivo e de convencimento
da publicidade permite ao pesquisador um interessante mergulho sócio-histórico e a
posiciona como um válido meio de compreensão dos tempos modernos. Mas para
pensar a publicidade como memória e patrimônio é preciso suspender os preconceitos,
como afirmam Simmel (1999) e Gadamer (1999), e não limitar a publicidade somente
730
REFERÊNCIAS
731
RESUMO
A construção da identidade do sujeito, conforme comprovam os estudos lingüísticos,
passa pela referenciação e significação. Este artigo visa debater qual a influência e a
participação da publicidade nesses processos, principalmente no que se refere à questão
dos gêneros no contexto atual com o surgimento das novas mídias e sites de redes
sociais e com o engajamento nos movimentos feministas.
732
733
estudo dos processos de produção, recepção e interpretação dos textos, essa teoria
reintrgra o sujeito e a situação de comunicação em seu escopo teórico (MUSSALIM &
BENTES, 2001, p.16).
A Linguística textual em seu percurso teórico se divide em três momentos,
interessando-nos aqui a terceira fase, que visa:
pensar o texto como lugar de constituição e de interação de sujeitos sociais,
como um evento, portanto, em que convergem ações lingüísticas, cognitivas
e sociais (...), ações por meio das quais se constroem interativamente os
objetos-de-discurso e as múltiplas propostas de sentidos, como funções de
escolhas operadas pelos co-enunciadores entre as inumeráveis possibilidades
de organização textual que cada língua oferece (KOCH, 2002, p.9).
Percebe-se, então, o aspecto social da significação sendo apresentado nos
estudos da linguagem. Aqui, o sujeito tem uma intenção ao comunicar e através da
interação, deste conjunto de relações, que deriva o que estes linguístas chamam de
significação do texto. Por conseguinte, é das relações internas que se estabelecem no
interior do texto que deriva sua compreensão (INDURSKY, 2006, p. 46).
Seguindo nos estudos linguísticos, os teóricos da enunciação avançam ainda
mais e colocam que um texto não tem sentido fora da atividade significante dos
enunciares (CULIOLI, 1973, p. 87). Ou seja, a referenciação só acontece quando existe
a movimentação entre enunciadores, cujo relacionamento através da referencia conduz
ao sentido. Logo, o sentido não está somente no texto, que, conforme Ducrot (1987),
traz em seu interior instruções cujo locutor se responsabiliza, mas também se encontra
na interpretação, no exterior, no seu interlocutor.
Uma questão importante que logo em seguida passa a ser abordada pelos
Semioticistas franceses foi justamente a responsabilidade do sujeito no seu dizer. Fiorin
elabora:
A semiótica francesa considera o sujeito um efeito do enunciado e, ao
mesmo tempo, afirma que ele não domina o dizer. Expliquemos essas duas
questões, começando pela segunda. Imaginar que o sujeito controla o sentido
implica ver a comunicação como um ato voluntário e consciente. A
semiótica diz que o ato comunicativo pode ser voluntário. No entanto, nem
sempre o é, o que implica que a noção de voluntariedade não pode fazer
parte de seu arcabouço teórico. Além disso, repousa numa concepção
simplista do homem, a idéia da consciência da comunicação. (FIORIN,
2007, p. 25)
A partir de então, considerar que a construção do sujeito é complexa, trazendo a
tona o inconsciente, a alteridade (a presença do outro na sua construção) e a
historicidade, é entender que somos interpelados pela cultura, pelo outro, e esses são
influenciadores na constituição do nosso ser, incluindo a nossa maneira de utilizar a
língua. Esse debate passa a ser aprofundado com os estudos da corrente teórica da
734
Análise do discurso como foi proposta por Pêcheux, que ao abordarem essas questões
nos servem na medida que nos ajudam a refletir sobre a influência das relações de poder
e dos discursos hegemônicos no nosso próprio fazer lingüístico.
Então, se o sujeito se constrói na linguagem e a sociedade é constituída de
indivíduos, é lógico pensar que a linguagem também é uma das base das relações
sociais. Entende-se que é através da construção histórica dos signos, através da
referenciação e da construção de imagens, que o sujeito se constitui como indivíduo e
como ser social. Harris, citado por ORLANDI (2003) explica:
A língua não constitui de palavras ou de frases independentes, mas em
discurso contínuo, seja ele um enunciado constituído de apenas uma palavra,
ou uma obra de dez volumes, um monólogo ou uma discussão política.
(HARRIS, 2003, p. 10-11)
Podemos considerar que todo o fazer cultural passa a ser constituinte da língua e
do discurso, mas é importante entender o que se pode considerar como cultura, afinal.
Conforme Trotski (1981, p. 51), cultura é tudo que foi criado e construído, apreendido,
conquistado pelo homem ao curso da sua história em contraposição ao que a natureza
lhe deu. Aranha e Martins (1993, p. 23) acrescentam que o mundo cultural é um sistema
de significados já estabelecido por outros.
A publicidade, logo, é um produto cultural. É produzida pelo ser humano,
influenciada por um determinado momento histórico e ideologia, com certa intenção,
mergulhada em um mundo de significados e relações sociais já construído, reafirmando-
os ou buscando resignificá-los, atingindo um grande número de pessoas.
Portanto, a percepção dos gêneros feminino e masculino também pode se incluir
nesse processo e ser tema de campanhas, caso da linha de esmalte lançada em março
desse ano (2015) pela marca Risqué, chamada Homens que amamos. São 6 cores de
esmaltes, sendo elas: Fe mandou mensagem, Leo mandou Flores, André fez o jantar,
Guto fez o pedido!!, Zeca chamou para sair e João disse eu te amo; cujos nomes
remetem a homens e atitudes que supostamente as mulheres gostariam que eles
tomassem.
Sobre as representações de gênero na publicidade, Da Cruz comenta:
As representações nos comerciais refletem padrões estabelecidos
socialmente, sendo convencional a construção de estereótipos dos modelos
masculinos e femininos. Estes estereótipos (representações de cunho
preconceituoso) passam dissimuladamente pelos receptores, os quais não
vêem necessidade de questioná-los, uma vez que elas se apóiam no senso
comum (DA CRUZ, 2008, p.2).
Uma aceitação passiva não foi o caso da campanha Homens que amamos. Um
movimento de desaprovação e questionamento desse estereótipo pelo público pôde ser
735
736
737
738
(...) Nós não queremos falar sobre homens sendo aprisionados pelos
esteriótipos de gênero mas eles estão. Quando eles estiverem livres, as coisas
vão mudar para as mulheres como consequência natural. (...) É hora de
conceber aos sexos um espectro, e não dois conjuntos de valores opostos. Se
pararmos de nos definir um ao outro com base no que somos ou no que não
somos, e começamos a nos definir pelo que somos, todos nós podemos ser
mais livres. (Tradução minha)
Entendendo que é através da linguagem que nos construímos como sujeitos, e
como homens e mulheres, compreendemos que é também através da linguagem que
podemos nos transformar e buscar a igualdade. A publicidade agindo nesse espaço de
construção tem função importante ao escolher um caminho discursivo, usar ou não
estereótipos e reproduzir o que é “socialmente aceito” sem responsabilidade com uma
realidade mais igualitária, ou optar por colaborar e apresentar outras possibilidades de
relações.
O debate sobre a campanha Homens que amamos se apresenta positivo e é bem
aceito na medida em que, em um momento histórico em cujo ideias de igualdade e
empoderamento das mulheres ganham força, é igualmente questionada a manutenção
dos estereótipos direcionados aos homens. Ele também comprova que os processos de
comunicação, incluindo a publicidade e o contexto das novas mídias na qual ela está
inserida, resultam dos processos sociais, políticos e econômicos existentes (BELO,
BUENAVENTURA e PEREZ, 1988, p. 20) e que não são isentos de uma relação com o
contexto social o qual visam representar e do qual são fruto.
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20.
ONLINE
740
RESUMO
Este artigo é parte de um estudo de recepção com mulheres da “nova classe
trabalhadora”, que se centra na análise de diferentes leituras sobre representações do
trabalho feminino presentes na publicidade. Considerando a articulação entre a
produção de sentido na recepção publicitária e as práticas culturais, realizamos nesse
texto um exercício de relacionar os sentidos interpretados pelas informantes e suas
preferências e práticas de consumo. Entre as inferências aqui alcançadas percebemos
como os diversos usos e apropriações de bens materiais e simbólicos remetem aos
significados relativos à identidade de classe e de gênero das mulheres observadas.
PALAVRAS-CHAVE
Recepção publicitária; consumo; “nova classe média”; gênero
1. Introdução
A pesquisa que orienta este texto centra-se na ideia de compreender como
diferentes interpretações feitas por um grupo de mulheres da “nova classe
trabalhadora” 397 (ou da “nova classe média”, como denomina o governo e alguns
setores do mercado) sobre as formas como a publicidade representa o trabalho feminino
se articulam com suas experiências de vida e, com isso, colaboram para a constituição
de suas identidades de classe e de gênero.
Para observar a diversidade dos estilos de vida das receptoras, utilizamos o
conceito de habitus de classe (BOURDIEU, 2008) princípio gerador de práticas
fundamental para a constituição do mundo social representado. Além disso,
compreendemos a recepção publicitária, em sua produção de sentido, como prática
discursiva fundamental para que sejam criadas condições simbólicas de existência do
consumo, o que implica procurar identificar os pontos de contato entre as
representações da recepção publicitária e as práticas de consumo (TRINDADE, 2008).
395
Trabalho apresentado no Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de
Pesquisadores em Publicidade e Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
396
Professora do Departamento de Comunicação Social da UFSM, Doutoranda do Programa de
Pós-Graduação em Comunicação da UFSM, email: milena.freire@terra.com.br
397
Esta nomenclatura é proposta por Jessé Souza (2010) para identificar o grupo da “nova classe
média” brasileira, tal como presente no discurso governamental e mercadológico. Souza argumenta que a
noção de “nova classe média” é equivocada por considerar apenas a renda e o relativo poder de consumo
destes cidadãos sem refletir as distorções e desigualdades que permanecem nos extratos sociais do Brasil.
Concordamos com a posição de Souza e, neste texto, mantivemos a denominação “nova classe média”
nos momentos em que o termo favoreceu a problematização da análise proposta pelo discurso dominante.
741
A pesquisa é realizada na cidade de Santa Maria, cidade com média de 260 mil
habitantes398, localizada na região sul do Brasil. O levantamento de dados total inclui
inquérito quantitativo, realizado com 400 mulheres de faixa etária entre 25 e 45 anos, e
entrevistas em profundidade realizadas com 8 mulheres da “nova classe trabalhadora”.
Neste texto, observamos dados coletados através de entrevistas em profundidade, bem
como apresentamos alguns anúncios escolhidos pelas informantes.
Para compreender a inter-relação do consumo de bens materiais e simbólicos
com os usos e competências de leitura da publicidade, procurou-se dimensionar as
preferências e práticas de consumo das entrevistadas, além de observar sua relação e a
percepção que tem da publicidade na sua rotina. O que permite analisar tanto
movimentos de apropriação, negociação ou resistência (HALL, 2009) ao conteúdo das
campanhas publicitárias quanto a construção da auto-representação das entrevistadas.
2. Composição da amostra
A princípio, entendemos ser necessário observar o perfil da amostra qualitativa
para uma melhor percepção dos depoimentos coletados. Neste sentido, é preciso
considerar que a “nova classe trabalhadora” e a classe média se encontram muito
próximas no aspecto econômico, o que reforça a noção de que caracteriza-las enquanto
classe tomando como base apenas o capital econômico é um equívoco - tal como tem
feito as estatísticas governamentais e de mercado que analisam a “nova classe média”.
Em função disso, utilizamos os marcadores propostos por Uchôa e Kerstenetzky (2012),
que observam dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 (POF-IBGE)
para caracterizar a classe social conforme o estilo de vida.
Assim, para localiza-las na fração de “nova classe média”, observamo-las a
partir de parâmetros que baseiam o estilo de vida da classe média urbana do Brasil,
como: escolaridade do chefe da família, casa própria com padrão elevado de habitação , 399
742
uma variação tanto das faixas de renda familiar quanto dos demais parâmetros que
marcam o seu estilo de vida e, por consequência, diferenciam seu acesso aos meios de
comunicação e padrões de consumo. Dito isso, apresentamos na tabela abaixo uma
síntese dos dados que caracterizam as oito entrevistadas da etapa qualitativa.
743
3. Comportamento de consumo
Entre as famílias da “nova classe trabalhadora”, as mulheres têm um lugar
preponderante no consumo familiar. Para Yaccoub (2011) essa tarefa é reforçada nesse
grupo pois é parte do papel feminino prezar pelo bem estar da família e procurar
proporcionar aos filhos um conforto que não puderam ter quando mais novas. Entre as
entrevistadas da pesquisa, esse sentimento prevalece. Assim, além de responsáveis pelas
escolhas de consumo referentes ao dia-a-dia coletivo, todo o controle do orçamento
doméstico passa por suas mãos. Isso as mantém atentas aos comerciais e encartes de
ofertas dos supermercados, bem como a novos produtos que prometam economia de
tempo nas atividades da casa. Seus maridos, segundo dizem, apesar de valorizarem a
economia dos rendimentos, com raras exceções se envolvem com datas de pagamentos
ou com o estoque da dispensa. A atribuição da gestão cotidiana da economia doméstica
às mulheres é vista por Bourdieu (1999, p. 42-44) como um exercício da dominação
744
masculina, que delega a elas tarefas inferiores, como as mesquinharias dos cálculos de
ganhos, gastos e pedidos de desconto. Funções que não são dignas da honra masculina.
O principal investimento material das famílias é voltado para o espaço
doméstico. Todas as entrevistadas mencionam entre suas prioridades de consumo desde
a construção e ampliação de cômodos até a compra de utensílios que visam o conforto
dos familiares. Este dado coincide com a constatação de Castilhos e Rossi (2009), que
identificaram a casa como primeiro dos bens valorizados por um grupo de classe
popular no Rio de Janeiro. A residência é lugar por excelência do convívio social desta
camada, espaço cuja propriedade e investimento afastam da ideia de precariedade
advinda da parcela mais pobre. Aliás, ter onde morar e o que comer é o que, na leitura
Maria, situa sua posição de classe: “A gente não é pobre nem é rico. Graças a Deus tu
tem o que comer e onde morar, um meio termo”, diz.
O comportamento de consumo destas mulheres, de modo geral, é conservador.
Na maior parte das vezes as compras de maior valor são feitas de forma planejada, para
que não haja surpresas no fim do mês, tendo em vista o orçamento restrito. “Compras
de comida eu não parcelo. Só se vou comprar algo maior, em bastante de vezes e sem
juros, eu não gosto de pagar juros. Vou comprar uma TV eu pago em 10 ou 12 vezes,
termino de pagar e aí eu faço a próxima compra, um fogão por exemplo” [Dulce].
Segundo Yaccoub (2011, p. 225), para a “nova classe trabalhadora” a escolha de
determinados produtos pela marca indica a preocupação com qualidade e a respectiva
segurança pelo consumo. Como nos diz Dulce “Eu não abro mão da qualidade. Que
nem o Omo, quem nem o amaciante Comfort, eu não me importo de pagar mais caro
que eu sei que retorno tem ali”. Os produtos de limpeza, aliás, são um exemplo
interessante de consumo nessa faixa. Para as mulheres de classe popular estes itens têm
um valor simbólico especial, tendo em vista a importância da relação entre limpeza e
cuidados domésticos na construção de suas identidades como boas donas-de-casa, mães
e pessoas organizadas/limpas (BARBOSA, 2006). O uso de marcas mais baratas ou
desconhecidas, incorre no risco de gastar mais tempo, esforço e dinheiro.
A maior parte das entrevistadas não faz uso de cartão de crédito ou cheque
especial. A cautela normalmente está associada a alguma situação de dívida por mal uso
do crédito o que provoca o receio de voltar a dever. Assim, preferem comprar com
dinheiro: “A gente compra com o que tá no bolso, eu me sinto mais tranquila. Se dá
qualquer imprevisto... Então tem hora que dá pra se permitir, tem horas que tem que
controlar do gasto” [Carolina]. O histórico de dívidas entre as entrevistadas também
745
está ligado a situações que envolvem relações sociais. Durante as entrevistas, foram
relatados casos em que as mulheres “emprestaram o nome” para parentes ou amigos,
que não saldaram a dívida adquirida e deixaram-nas com o “nome sujo”:
Foi pra uma pessoa conhecida, uma amiga de família, que ficou anos
devendo com o meu nome, e eu não tinha como pagar porque era uma
quantia alta. Eu entrei na justiça contra essa pessoa, tive que me incomodar,
pra conseguir desenrolar e consegui, graças a Deus. E nesse meio tempo,
como eu tava com o nome sujo eu acabei pegando um empréstimo, pra
tentar pagar uma parte do que ela devia. Aí eu parcelei esse empréstimo, aí
tu parcela e os juros vai amentando, coisa mais horrível. [Lia]
Para Mattoso e Rocha (2009), esta é uma prática social comum entre a classe
popular, sendo uma obrigação moral daquele que eventualmente tem crédito para com o
que não tem. Ao relacionarem o crédito na classe popular com o conceito de dádiva de
Marcel Mauss, as autoras concluem:
“Emprestar o nome” não pode ser visto como favor opcional, mas como
obrigação para com aqueles que pertencem ao universo de relacionamentos.
Negar-se a “emprestar o nome” é negar os vínculos que existem entre o
indivíduo em particular e sua rede de parentes e amigos, admitindo, em suas
últimas consequências, a ruptura desses vínculos. É uma dádiva em toda sua
extensão, pois implica doar não só o crédito, mas a identidade e a própria
inserção social (MATTOSO; ROCHA, 2009, p. 94-95).
Na maior parte dos depoimentos, as mulheres afirmaram que não consomem por
impulso e que só compram o que estão necessitando. A exceção fica para bens mais
baratos como produtos alimentícios (guloseimas e bebidas) e itens de beleza (bijuterias
e maquiagens). É possível afirmar que não há entre elas um comportamento de
gratificação imediata (MATTOSO; ROCHA, 2009), sendo recorrente a ideia de
privação de alguns desejos do presente ou a possibilidade de aumentar a carga de
trabalho para concretizar planos maiores no futuro. Essa consciência dos limites
financeiros, contudo, nem sempre é vista com conformação. Não poder comprar o que
se deseja também gera conflitos nem sempre bem resolvidos. Desse modo, Débora diz
porque não gosta de passear apenas para olhar vitrines “Adianta o que a gente olhar?
(risos) Não olho, pra que? Só pra ficar com vontade e não poder? É difícil. Melhor não
olhar, pra não ficar com raiva da vida.” [Débora].
Assim, de um modo geral, as entrevistadas têm uma visão negativa do consumo
conspícuo e valorizam muito não contrair dívidas. Por isso, não vale a pena comprar
coisas desnecessárias apenas para “impressionar os outros”, como nos diz Dulce: “Eu
sei o quanto eu ganho, eu sou muito pé no chão, eu não vou me endividar pra te
impressionar. Eu fui criada assim, devagarinho e sempre, melhorando aos pouquinhos,
não devendo pra ninguém”.
746
401
Segundo Martin-Barbero, “as ritualidades constituem gramáticas da ação – do olhar, do
escutar, do ler – que regulam a interação entre os espaços e tempos da vida cotidiana e os espaços e
tempos que conformam os meios” (2006, p.19).
747
suscita. De modo que, mesmo não sendo atendido plenamente em seus anseios a partir
do consumo do produto, mantém-se o interesse na preservação da relação instituída
entre consumidor e publicidade, pela instância simbólica que se mantém para além do
objeto anunciado. “Sem ‘acreditar’ nesse produto, acredito, porém, na publicidade que
me deseja fazer crer” (idem, grifo do autor).
A avaliação que as mulheres fazem da publicidade mostrou, em certa medida,
uma postura crítica. Para elas, o lado bom da propaganda é a informação de novidades
para o consumo (produtos e marcas que antes não conheciam) e o lado ruim é o
estímulo ao consumo. Ao citarem comerciais que lhes chamaram atenção, fazem uma
análise da distância entre a forma como mulher e o trabalho feminino são representados
na propaganda brasileira. O produto de limpeza não é tão eficiente, a dona-de-casa não
é tão sorridente, o atendimento do banco não é carregado de afeto mas sim de interesses.
Neste grupo, também foi possível relacionar que quanto maior o poder aquisitivo e mais
ampla a diversificação na experiência do consumo, mais as mulheres foram capazes de
citar as marcas e seus produtos e justificar suas preferências.
Outra construção importante para nossa reflexão é proposta por Eneus Trindade
(2008), que aproxima a recepção publicitária das práticas de consumo, sendo estas
fundamentais para a constituição da vida cultural. Para o autor a produção de sentido da
recepção publicitária se apresenta como prática discursiva fundamental para que sejam
criadas condições simbólicas de existência do consumo. Assim, para localizar os pontos
de contato entre as práticas de consumo e as representações da recepção publicitária, ele
apresenta o conceito de crontopo publicitário:
Trata-se de uma espécie de elo espaço-temporal, um ponto de contato entre
dois mundos, o da publicidade e o da vida cotidiana, condensando, nos
significados trabalhados nas mensagens, o valor da marca que passa, a partir
do fluxo recepcional da publicidade a orientar as práticas de culturais de
consumo e que, no continuum da dinâmica cultural, vai formalizar o
universo de crenças e idiossincrasias dos sujeitos nos seios de suas culturas,
constituindo as suas sensibilidades (idem, p. 79).
Assim, é importante também ter em mente que o discurso publicitário transcende
os meios massivos e se insere no cotidiano dos sujeitos de forma muito particular. Além
dos diferentes suportes pelos quais a publicidade se faz circular, o próprio produto
incorpora as significações do anúncio e as transfere ao seu consumidor.
748
Sequência 1: mulher derruba torrada com molho no Sequência 2: Locução “O que parecia impossível
chão, diz que está atrasada e sai de casa para aconteceu. Criamos um Veja ainda melhor”.
trabalhar Imagem do marido em casa, limpando.
Débora afirmou que escolheu este comercial porque revela uma situação
impossível: um homem preocupado com a limpeza, fazendo o serviço doméstico
749
enquanto a esposa sai para trabalhar. Chama a sua atenção a postura da mulher
representada no VT: “É uma mulher executiva, trabalha fora, bonita, determinada, olha
pro marido e diz "vai lá"”. Débora classificou o comercial como engraçado e disse que
a ironia presente no discurso faz lembrar a realidade em que ela vive: o seu marido não
participa das atividades domésticas, sendo ela a única responsável pela limpeza a todas
as outras tarefas mesmo quando o marido está de folga.
A ironia percebida pela doméstica na verdade diz respeito a maior parte dos
lares brasileiros uma vez que ainda prevalece um padrão em que “o trabalho definido
como ‘reprodutivo’ ou doméstico é visto como feminino e o trabalho definido como
‘produtivo’ ou remunerado é visto como masculino” (ARAÚJO; SCALON, 2005, p. 44)
Débora afirma que conhece e usa o produto Veja e, em função disso, compara
com o enredo do comercial, que promete limpar sem esforço. “Eu uso, mas não é essa
maravilha toda não, não é só passar um paninho e deu. Mas é um produto bom.” Essa
resistência à representação comercial do desempenho dos produtos de limpeza aparece
na fala de Débora por diversas vezes, que diz que as situações são sempre fora da
realidade. “Ninguém limpa a casa sem esforço e toda arrumada daquele jeito”, diz.
4.2. Spectraban
O segundo comercial foi citado pela contadora Ana, que entre as entrevistadas é
a que tem maior renda, escolaridade e experiência de consumo mais variada. O VT do
Spectraban está ilustrado a seguir:
750
751
Sequência 1: Funcionária chega ao banco. Áudio: Sequência 2: Cleyde assiste a vídeo com
“Todos os dias, funcionários do Banco do Brasil depoimento de cliente atendida por ela, beneficiária
tranformam vidas, para mostrar isso, preparamos do progarama “Minha Casa, minha vida”, a
uma surpresa para uma de nossas funcionárias, a Adenise.
Cleyde”.
Sequência 3: Adenise conta sua história, morava Sequência 4: Adenise chega ao banco de surpresa
de aluguel e não achava que seria possível comprar para agradecer à Cleyde, ambas se abraçam
uma casa por não ter condições financeiras, até que emocionadas. Áudio: “O Banco do Brasil realiza
foi ao Banco do Brasil. Trecho do áudio: “A milhares de sonhos, porque pra ser bom pra gente,
Cleyde me olhou com olhar de gente, de que você tem que ser bom para cada brasileiro”.
pode. Você não imagina o bem que você fez à
minha família, ter a minha casa é demais”.
Fonte: vídeo citado pela informante. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0xKPmcGXYTI
752
Sequência 1: VT começa com cartela com texto e Sequência 2: Corte com cartela com texto e áudio
respectivo áudio feminino “Del Valle acredita em feminino “Mas também está...” E segue com
toda forma de carinho” e segue com cenas de sequência de cenas de situações de dificuldade na
afeto do marido com mulher grávida e de mãe infância e amparadas pela mãe (vacinação..) Áudio
com bebê. Áudio “Ele está aqui”. “Aqui”.
753
O que mais chamou a atenção de Dulce nesse comercial foi a atenção constante
das mães com os filhos, mesmo nos momentos difíceis, e a polivalência da mulher
fazendo várias atividades. O que, em sua opinião, condiz com a realidade. “Até poderia
ser um pai, mas é que geralmente é da mulher todos os cuidados que envolvem um
filho”. O produto, nesse caso, está associado ao cuidado. A mãe que cuida compra um
“produto bom”, nas suas palavras.
Para ela o público-alvo do comercial são as mães diretamente, pois são elas que
na verdade escolhem os produtos para comprar. “Eles podiam até focar nas crianças
"mãe, compra pra mim", mas quem vai fazer a compra é a mãe. Os pais vem em
segundo ou terceiro plano, porque os pais compram o que as mães direcionam. Na
prática é isso”. Percebe-se no depoimento a centralidade do papel da mulher/mãe no
consumo familiar, mas também no cuidado com o bem-estar de toda a família. Para
Araújo e Scalon (2005, p. 48), apesar de existirem mudanças no que diz respeito a
participação dos homens (especialmente no envolvimento com filhos), a noção de
“cuidado” ainda é socialmente associada ao gênero feminino e a importância desse
papel torna-se determinante para as escolhas da mulher em relação à vida geral.
Dulce afirma que gosta do VT porque ele é leve, “conta uma historinha”, que
lembra a realidade, diferente dos comerciais de promoção que são “apelativos e que
soam falso”. Apesar disso, ela acredita que o comercial não chamaria atenção no
cotidiano, que na verdade só o percebeu por ser um produto que ela já consome e confia.
E aproveita para fazer uma crítica a repetitividade nos enredos dos comercias: “Poderia
754
ser qualquer outro produto no final, carinha de mãe, tu faz tudo aquilo lá e no final
podia dar um bolinho, qualquer coisa. O que vale ali é mostrar a mãe cuidando de um
lado pro outro. Tu não sabe o que vem no final, podia ser outro produto. Então não é
um enredo novo”.
Considerações finais
De um modo geral, é possível afirmar que as percepções que as mulheres têm da
propaganda (as representações das mulheres, do trabalho, as marcas) de algum modo
fazem referência com as suas próprias vidas, o que mostra a importância de se observar
as experiências e relações construídas em outras instâncias (família, trabalho,
vizinhança) bem como as práticas de consumo para perceber os sentidos apropriados
pelas mulheres do discurso publicitário.
Os dados aqui apresentados, embora não conclusivos, permitem traçar algumas
inferências para a pesquisa em andamento, especialmente no que diz respeito à
triangulação entre habitus de classe, práticas de consumo e recepção publicitária. Em
um primeiro momento, reiteramos a importância das experiências de consumo das
mulheres presentes desde a seleção dos comerciais de marcas com as quais já tinham
uma relação prévia (em sua maioria positiva) até as demais vivências inscritas nas
reflexões sobre as representações atribuídas à mulher nos comerciais e sua relação a
auto-representação que constroem nos diferentes papéis que assumem no cotidiano.
Nesse sentido, é interessante perceber que os dados empíricos apresentados
mostram diferentes leituras de classe e de gênero em sua construção relacional. Ou seja,
ao refletirem a ironia do marido que na realidade não faz limpeza ou perceberem a
ausência do pai no comercial porque que “na prática” não é mesmo ele que faz as
compras ou acompanha os filhos no dia-a-dia, as mulheres de algum modo reafirmam
seus papéis como principais responsáveis por desenvolver o trabalho doméstico. E nesse
aspecto a leitura das entrevistadas não apresentou uma resistência, mas sim uma
apropriação (HALL, 2009) ao discurso publicitário.
Do mesmo modo, a medida em que elas conseguem discernir os públicos-alvo
dos anúncios conforme o canal em que veiculam, conforme o valor da marca ou a
aparência da atriz em consonância com os estereótipos de “pobre” ou de “executiva”, as
entrevistadas demonstram reconhecer na publicidade marcadores de distinção
fundamentais para a compreensão valores de classe que circulam no gênero persuasivo.
755
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UCHOA, Christiane; KERSTENETZKY, Celia Lessa. É a “nova classe média” classe média?
Texto para Discussão n. 066, CEDE/UFF. Niterói. 10 pg, 2012.
YACCOUB, Hilaine. A chamada “nova classe média”. Cultura material, inclusão e distinção
social. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 17, n. 36, p. 197-231, jul./dez. 2011
756
RESUMO
O artigo em questão investigou as informações divulgadas, por meio de redes sociais,
sobre os cuidados com a saúde do homem. A intenção desta breve pesquisa foi refletir
sobre o universo da campanha de prevenção promovida pela Organização Não
Governamental “Instituto Lado a Lado pela Vida” à luz dos conceitos da análise de
conteúdo, a fim de verificar a atuação da ONG e, assim, abordar uma reflexão: em que
medida as representações de masculinidade ligadas aos padrões estéticos de força e
beleza, e a ideia de responsabilidade e culpa do indivíduo, construídas no discurso, são
realmente representações eficazes, capazes de interagir com os homens e produzir
comportamentos seguros? Teve como corpus de pesquisa as publicações na fanpage
“Novembro Azul”. Compreende, em particular, uma análise do conteúdo de algumas
postagens divulgadas em 2014 e em 2105.
Introdução
Sabe-se que os meios de comunicação têm influência na determinação de
comportamentos dos indivíduos. Os estudos de Octávio Ianni sobre a mídia globalizada
possibilitam considerar que os meios de comunicação têm importante papel no mundo
da cultura e das representações. (IANNI, 2000).
Considerando a comunicação como sendo instrumento de transmissão de
mensagens, percebe-se que a comunicação de massa tem função educativa, uma vez que,
grande parte dos conhecimentos indispensáveis à vida, como as informações sobre
saúde, chega às pessoas de forma mediada, e é neste sentido que se propõe uma
pesquisa em que haja a interface entre comunicação e saúde.
A comunicação em saúde diz respeito ao uso de estratégias de sedução,
principalmente àquelas utilizadas pela publicidade, vista como sinônimo de propaganda,
para estímulo e adesão de novos comportamentos, para informar e para influenciar as
decisões de uma comunidade, no sentido de educar para a saúde.
Atribuindo também à comunicação uma concepção interdisciplinar pela
relevância que tem no cotidiano da sociedade há uma interação entre essas duas áreas
do conhecimento - comunicação e saúde - e não menos importante, o campo das
representações sociais. O estudo percorreu por pontos de relevância á temática de
estudo, sempre buscando parâmetros no objeto principal: o conteúdo das mensagens
757
Observação da realidade
Tendo em vista que, ao analisar as informações publicadas nos meios de
comunicação sobre cuidados com a saúde, o que mais se observa é um discurso pautado
no argumento de que homens não gostam de procurar atendimento de saúde, fogem de
uma consulta médica e que, para vencer essa resistência masculina, muitas campanhas
de prevenção de doenças vêm sendo veiculadas pelas diversas plataformas de mídia
para conscientização dos problemas relacionados à saúde do homem.
Sabe-se que as organizações utilizam- se de diferentes estratégias
comunicacionais para se comunicarem com seus públicos de interesse. O processo
comunicacional pode se dar por meio de uma multiplicidade de meios: jornais,
publicidade em TV, boca a boca e internet, esta última bastante utilizada pelas
empresas, em especial o uso de redes sociais, porque possui, entre outras características,
as informações em tempo real, e a interatividade entre emissor e destinatário.
Novembro Azul é uma campanha de conscientização sobre a importância da
prevenção de doenças do gênero masculino, promovida pela Organização
Governamental (ONG) “Lado a lado pela Vida”. Tem como público alvo, segundo
consta no endereço eletrônico da ONG, homens acima de 40 anos, seus familiares e
parceiros, está é a única descrição da característica demográfica do público ao qual se
destina a campanha.
Além do site da ONG, criou- se uma página no facebook com o nome de
Novembro Azul, para divulgação de informações e ações da campanha. Até o momento
da realização deste estudo, a página contava com 98 mil curtidas.
O corpus deste estudo foi constituído pelas postagens divulgadas na fanpage da
campanha, o que permitiu a contribuição para uma investigação acerca das estratégias
de comunicação da organização, utilizadas para criar uma relação de parceria e
cumplicidade com o seu público de interesse utilizando o facebook, e assim, avaliar a
efetiva participação do discurso persuasivo da propaganda para adesão ou mudança de
comportamento em medicina preventiva voltada ao público masculino.
Embora para que existe uma rede social são necessários atores e conexões, nesta
pesquisa na página Novembro Azul, ainda não foi possível obter informações mais
específicas sobre o comunicador que administra a página nem alguma companhia
758
759
Masculinidade e representações
A palavra masculinidade vem do latim masculinus, passando a ser utilizada nos
estudos que estabeleciam critérios de diferenciação de gêneros. Em sua obra A
construção Social de Masculinidade, Pedro Paulo de Oliveira (OLIVEIRA, 2004)
arrisca dizer que masculinidade é um lugar simbólico, apresentando-se como uma
significação, um ideal culturalmente planejado socialmente.
Para falar de masculinidade, alguém poderia argumentar, talvez fosse
preciso primeiro defini-la. Poderia, então, aventurar-me a esboçar uma
definição provisória Arriscaria, portanto, logo de saída: um lugar simbólico
/imaginário de sentido estruturante nos processos de subjetivação... [...]
apresenta-se como uma significação social, um ideal culturalmente
elaborado ou sistema relacional que aponta para uma ordem de
comportamentos socialmente sancionados. (OLIVEIRA, 2004, 234p.).
Para o autor, o ideal de masculinidade se associa a complexas elaborações
culturais e que se dá início com a passagem da sociedade medieval para a sociedade
moderna; sociedade esta onde se formou o estado nacional, composto por instituições.
O exército, por exemplo, e seus agentes, representaram as ideias de brutalidade e
disciplina, bem como o surgimento de ideais burgueses e de valores da classe média: o
homem moderno versus o homem medieval. Neste ponto Oliveira reafirma que a partir
daí foi que surgiu a modelação do moderno ideal masculino.
A masculinidade se expressa como um mito efetivo da sociedade (mais um
enunciado que os caçadores de definição podem acrescentar às suas listas), e
peso aqui na ideia de mito como tal como Durkhein a formulava, ou seja,
uma projeção social que reflete as características cultivada fundamentais da
vida coletiva. (OLIVEIRA, 2004, p.20).
760
A análise de conteúdo
A análise de conteúdo se refere a um método das ciências humanas e sociais
destinado à investigação de fenômenos por meio de um conjunto de técnicas que a
constituem e, neste artigo, utilizou-se a técnica da categorização, proposta por Bardin
761
(1977). Este método se consolidou nos Estados Unidos na primeira metade do século
XX, se opondo a antiga técnica de análise de texto considerada subjetiva e sem
sistematização. A maioria dos estudos investigavam o conteúdo e a frequência dos
temas abordados nos meios de comunicação de massa.
É possível, por meio de inferências, extrair diversos aspectos das mensagens nos
processos comunicacionais, o mesmo que acontece com a análise semiológica ou
análise do discurso.
Os dados analisados foram definidos com base em um estudo exploratório sobre
a temática, observando as postagens na fanpage Novembro Azul. Levando em
consideração que toda pesquisa é motivada pelo desejo de compreensão do mundo real,
o problema de pesquisa foi entender em que medida as representações de masculinidade,
e responsabilidade do indivíduo, presentes no material estudado, são realmente
representações capazes de interagir com os homens, produzir hábitos e comportamentos
seguros e trazer resultados positivos para a medicina preventiva.
Metodologia
O delineamento metodológico deste estudo se deu primeiramente por meio da
seleção do material empírico e, em seguida, realizou-se uma análise qualitativa sob o
paradigma da interpretação. A Categoria 1 está relacionada à temática sobre os padrões
estéticos de força e beleza, atribuídos aos homens e a Categoria 2 relacionada ao
conceito de responsabilidade pelo cuidado com a saúde e fatores de risco. Foram
analisadas seis imagens selecionadas da fanpage porque a escolha da quantidade de
elementos da amostra não probabilística levou em conta o fato de que se tratou apenas
de uma prova de conceitos e que, posteriormente, poderá se tornar um projeto de
pesquisa mais conclusivo na análise.
Análise da campanha
Segundo relatado no endereço eletrônico da Organização Não Governamental
“Instituto Lado a lado pela Vida”, a campanha Novembro Azul, desde 2010 é referência
no Brasil na missão de orientar os homens no cuidado com a saúde, e conscientizá-los
em relação aos cuidados preventivos e fatores de risco. Faz parceria com empresas
públicas e privadas, com destaque em ambientes locais frequentados por homens:
estádios de futebol, corridas de automobilismo, entre outros, onde são realizados fóruns
de discussão, participação em eventos e ações em hospitais e empresas.
762
763
764
765
766
Considerações
Diante da análise de conteúdo de imagens e textos disponíveis na fanpage
Novembro Azul, foi possível observar que os ideais de força, poder e valentia,
responsabilidade do indivíduo e culpa, ainda são muito presentes no conteúdo das
informações sobre saúde, prevenção e fatores de risco.
Considerando a hipótese de que essas mensagens são importantes fontes de informação para
atrair o interesse dos homens, do ponto de vista da educação para a saúde, há a perspectiva de que a
campanha é pautada por conceitos estéticos, pelo menos no que diz respeito às imagens e fotografias
masculinas. Observou-se no conteúdo das mensagens uma banalização dos ideais de masculinidade, força
e virilidade, ideais que, para grande parte dos homens, é difícil de ser alcançado.
Interessante não deixar de pontuar que, ao observar um universo maior de postagens para esta
pesquisa: que são os textos, matérias, chamadas, e conteúdo editorial das imagens, é bastante significativo
o número de frases imperativas utilizando constantemente as palavras: Atenção pare e pense/ Reflita/
Deixe de lado/ Vá/ Cuide-se, Preocupe-se, entre outras, que parecem dar uma “bronca” nos homens. Fato
este que merece uma consideração no sentido de que é mais fácil culpá-los do que reconhecer uma
possível ineficiência na estrutura de atendimento ao público. Chama a atenção também o fato de que, no
processo comunicacional entre o emissor - a ONG - e o destinatário - o público masculino - não há
767
informações sobre casos de sucesso efetivamente na prática, de homens que superaram o medo e a culpa e
mudaram seus hábitos.
Espera-se que o trabalho apresente propostas para outras análises objetivando o incentivo à
produção de mais pesquisas sobre um universo que se apresenta como multidimensional entre os campos
das ciências humanas, sociais e saúde.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70. 1997.
GARBOGGINI, F. B. O homem na publicidade da última década. Uma cultura em mutação.
Educar, Curitiba, n. 26, p. 99-114 Editora UFPR, 2005.
GOMES R, NASCIMENTO E.F. A produção do conhecimento da saúde pública sobre a
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IANNI, O. Teorias da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
LASSWELL, H. D. Estrutura e função da comunicação na sociedade. São Paulo: Cia
Editora Nacional, 1971.
LITTLEJOHN, Stephen W. Fundamentos teóricos da comunicação humana. Rio de janeiro:
Guanabara, 1988.
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MÍDIA E SAÚDE/Isaac Epstein...[et al.], organizador. - - Adamantina: UNESCO/UMESP/FAI,
2001.
MOREIRA, Sonia Virgínia. Análise documental como método e como técnica. In: DUARTE,
Jorge; BARROS, Antonio (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São
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Vozes, 2003.
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UFMG: Rio de Janeiro, 2004.
TRINDADE, Eneus. Propaganda, identidade e discurso: brasilidades midiáticas. Porto
Alegre: Sulinas, 2012.
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768
RESUMO
O tema deste artigo são as novas práticas de consumo alimentares das mulheres na
maturidade. Considerando que a cultura da gastronomia é de suma importância no
campo da comunicação, temos como objetivo principal compreender a produção de
sentido a partir dos saberes estéticos e dos sabores alimentares midiáticos dirigidos à
mulher. Para compreender as mudanças nas praticas culturais gastronômica de consumo
no cotidiano, das mulheres na maturidade. A partir da análise do discurso crítica (ADC),
buscamos confrontar os discursos às práticas sociais editadas em formas dos consumos
alimentares femininos investigados, como modo de compreender as questões do
processo de recepção cultural e do fenômeno do consumo em estudo. Para registrar e
classificar imagens de corpos encontrados, que legitimam novas identidades e traçam
novos costumes na sociedade brasileira fez-se necessário o levantamento de um corpus
composto por capas de revistas que tratam de saúde e nutrição no século XXI.
769
770
771
por abrigar várias culturas e costumes sociais oferece uma variada opção de normas,
produtos e serviços a serem adquiridos pelas mulheres. As mulheres são fotografadas
durante as entrevistas, e/ ou enviam as fotos que mais gostam em seus com seus
familiares, comendo, de sua infância e também dos seus produtos de culinária em geral.
Optou-se por um número restrito de entrevistada para maior detalhamento, por
meio de entrevistas em profundidade e acompanhamento das mesmas com visitas as
suas residências ou em locais previamente marcados facilitando a agenda das mulheres
investigadas.
.
Registro feito em março 2015/ designer 52 anos.
772
objetos e práticas em detrimento, por exemplo, da dimensão simbólica das marcas e das
representações. (CASOTTI; SUAREZ; CAMPOS, 2008, p. 112 e 113)
O Método dos Itinerários parte da importância material dos objetivos nas
relações socioculturais vigentes dá menos atenção ao discurso – explicações,
justificativas e razões empregadas pelos entrevistados – e prefere extrair os dados das
práticas banais e cotidianas. Utiliza em seu processo de investigação o mapeamento dos
objetos e espaços que compõem o meio do grupo pesquisado. Com um foco nos gestos
e práticas dos consumidores, mais do que nos seus discursos, o método dos itinerários
tem a possibilidade de revelar lógicas de funcionamento sobre as quais os entrevistados
sequer se davam conta, mas que, mesmo assim, determinam o seu comportamento
cotidiano. O conhecimento gerado por esse tipo de pesquisa pode trazer contribuições,
por exemplo, para áreas como desenvolvimento de novos produtos e design de
embalagem (CAMPOS, 2006)
Segundo Campos (2006) o método dos itinerários caracteriza-se pela descrição
de sete etapas que compõem o processo de consumo. Etapa 1 - A decisão de compra no
contexto das relações sociais: como, por exemplo, a decisão em um domicílio
(elaboração de listas de compra, pressões e chantagens, rotina da decisão, atores
envolvidos, influenciadores); Etapa 2 - O transporte até o local de compra: o meio de
transporte das pessoas e dos bens comprados do local de compra ao local de consumo,
determinando a quantidade e a frequência das compras em questão; Etapa 3 - A compra:
esta é uma das etapas mais bem conhecidas pelas pesquisas de marketing e vendas. É o
momento em que o consumidor se depara com o produto exposto em sua área de venda,
uma gôndola, uma vitrine, um balcão; Etapa 4 - A estocagem do bem comprado: trata-
se de observar todos os espaços e formas de estocar o bem investigado como, por
exemplo, na geladeira, nas gavetas ou nos armários. Observam-se também as regras
envolvidas, as pessoas responsáveis, a proximidade com outros objetos e a
acessibilidade por outros membros do domicílio; Etapa 5 - O preparo para consumo:
Etapa imediatamente anterior ao consumo do bem. Trata-se de tornar o bem apto a ser
consumido. Pode ser o simples desembalar do produto, a refrigeração ou outros
procedimentos que façam a intermediação do bem em seu estado de estoque ou compra
para o bem em seu estado de consumo. Etapa 6 - O consumo: Momento, de fato, do uso
ou do consumo do produto ou objeto; Etapa 7 - O descarte: Etapa em que se descartam
os restos provenientes do consumo do objeto, sejam embalagens ou restos do objeto em
773
O Cozimento Metodológico
Arroz branco, farofa e a malagueta;
A laranja-bahia ou da seleta.
Joga o paio, carne seca,
Toucinho no caldeirão
E vamos botar água no feijão.
Chico Buarque
774
775
de luta contra o peso, com dietas, anúncios e outras formas de normatizar os indivíduos
enquadrando-os em medidas ditadas pela sociedade. Outros estudiosos sobre corpo,
consumo e identidade também serem consultados.
776
certeza eu tenho mais noção. Ultrapasso uma vez ou outra, mas a rotina é
muito focada em se planejar, então tem uma preocupação. (DENISE, 50
anos, publicitária)
Os saberes femininos na maturidade se renovam. São mais seletivos e os modos
de tratar o corpo e a beleza exigem mais tempo das mulheres contemporâneas. Casotti,
Suarez e Campos (2008) denominaram esta etapa de Cada coisa em sem tempo.
Em Cada coisa em seu tempo, verifica-se também a especialização no uso e
nas funções dos cremes para o rosto. Existe o creme da manhã, com filtro
solar (ou creme+filtro), e o da noite, com antirrugas, nutritivos ou com
ácidos. O creme para os olhos passa a ser usado com frequência, pelo menos
uma vez por dia. De maneira complementar, observa-se ainda um cuidado
maior com a limpeza do rosto... Por fim a rotina é mais complexa, incluindo
a escova no cabelo e uma série de itens da maquiagem (blush, sombra,
batom etc.). As consumidoras deste grupo parecem desenvolver uma
agilidade que lhes permite navegar com relativa tranquilidade em uma
sequência bem mais extensa de atividades. (CASOTTI, SUAREZ E
CAMPOS, 2008, p. 102)
As entrevistadas acreditam ter mais convicções nos seus saberes estéticos
corporais e o consumo torna-se cada vez mais uma opção pessoal, um momento
consciente de prazer e merecimento. “Tudo que conseguir melhorar vou sempre
melhorar. Uso cremes antirrugas, hidratantes, maquiagem. Vou fazer uma plástica no
abdome no ano que vem.” (ISIS, 50 anos, gerente comercial).
Eu acho que eu continuo com o mesmo comportamento. Eu só me adaptei
com a idade. Evidentemente que hoje eu uso cores mais sóbrias, mas isso eu
sempre usei. Então assim, não acho que eu mudei muito o perfil do meu
consumo. Mudei em termos de medicamentos. Hoje eu tenho que tomar
remédio para o colesterol, para a artrose e tenho que tomar vitamina
também. (MARINA, publicitária, 52 anos).
A norma corporal rígida e magra passou a fazer parte da vida das pessoas de
forma agressiva. Os gordos são rejeitados e considerados por muitos pouco evoluídos,
em relação aos saberes – estéticos, alimentares e o cotidiano em geral – devendo ser
afastados, se não da sociedade em geral, ao menos na mídia. Poucos são os ícones de
sucesso ou celebridades obesas. Talvez, os famosos, se reduzam a herdeiros de grandes
fortunas ou alguns intelectuais, músicos e humoristas. Ao lado de livros, instrumentos,
fórmulas e calculadoras são permitidas figuras avantajadas.
As mulheres entrevistadas questionam e constatam a existência de um padrão de
beleza sociomidiático: “Acredito ser um padrão que interessa ao imediatismo do
consumo, não é focado na realidade regional, nacional; com interesses de poder.”
(REGINA, 50 anos, atriz de teatro). Um padrão que normatiza cada vez mais o universo
feminino e legitima os corpos sem traços étnicos ou características hereditárias. “Da
777
forma geômetra nasceu a Regra; as linhas dos corpos, dos templos e cidades revelam o
princípio de uma sociedade bem organizada.” (SENNET, 2008, p. 95-96).
A distinção entre o imaginário e o simbólico transformou-se em uma regra
esteriotipada: as imagens corporais correspondem ao imaginário; as representações do
corpo, mais elaboradas quanto ao seu senso ou à sua finalidade, concernem ao
simbolismo. (JEUDY, 2002, p.16). O tempo do cuidar-se estende-se também para o
tempo de preparar suas refeições e sua alimentação em geral. O tempo cronológico e o
cotidiano saudável são fatores essenciais nos saberes e prazeres femininos e
consequentemente nos seus modos de tratar o corpo: “A minha cobrança é pela vida
saudável, sem neuroses de corpo, beleza e consumo. Deixei de ser consumista”.
(DOLORES, 52 anos, advogada) Em vez de se conceber o acesso ao “estágio do
espelho” como a passagem do imaginário ao simbólico, como a própria constituição de
uma ordem das representações baseada na unidade da imagem do ideal do corpo, pode-
se considerar a habilidade das imagens corporais como o efeito da reversibilidade de
nossas construções simbólicas. (JEUDY, 2002, p.16).
O corpo é questionado e padece na maturidade feminina. “Quando uma pessoa
quer manifestar com certa violência que ela não é mais desejável, que não pode sê-lo,
torna-se feia, abandona todos os cuidados que empregava para tornar-se sedutora.”
(JEUDY, 2002, p. 73-75). Nem sempre durante a maturidade, as mulheres encaram sua
idade como um fardo a ser carregado. Em momentos distintos, identidades e atitudes
diversificadas são reconhecidas quanto à aquisição de bens ou hábitos sociais.
As mulheres que aprendem a conhecer seu corpo e seus limites convivem com
ele de forma segura e, estão presentes nas respostas de mulheres que assumem o físico e
a saúde é a preocupação que rege os saberes e os cuidados estéticos corporais.
778
décadas anteriores. De acordo Foxcroft (2013) se olharmos para trás torna-se evidente
que uma boa parte da indústria das dietas é fraudulentas, e no entanto ainda seguimos a
moda mais recente sobre o assunto, na esperança de um milagre rápido e fácil de perder
peso, porque emagrecer é um trabalho difícil e tedioso.
No entanto todo mundo faz dieta de vez em quando, e a maioria de nós é
especialista na autoilusão que, sejamos honestos, é necessária... O processo é
como estar apaixonado e provoca os mesmos sentimentos: uma mistura
complexa de sensações físicas e torturas mentais do querer (FOXCROFT,
2013, p.18)
Para a autora – doutora em história da medicina – as dietas da moda são pouco
mais que inúteis. São as que rendem melhores negócios e, pode-se dizer, as que mais
causam mal já existiam bem antes de sua bisavó namorar aquele modelito tricotado
lindo, na altura do joelho, para a viagem ao litoral, com um novo admirador. “Quem faz
dietas da moda consegue perder inicialmente 5% ou 10% de seu peso com qualquer
uma delas, mas os quilos perdidos quase sempre retornam.” (FOXCROFT, 2013, p.12)
Segundo Foxcroft (2013) o livro de Susie Orbach (1978) – Gordura é uma questão
feminista – gordura e sexo são igualmente centrais na vida de uma mulher:
Nos Estados Unidos estima-se que 50% das mulheres estejam acima do
peso. Toda revista feminina tem uma coluna sobre dietas. Médicos e
clínicas voltados para regimes que prosperam. Os nomes de produtos
dietéticos são agora parte do nosso vocabulário geral. Boa forma e beleza
física são objetivos de todas as mulheres. Embora essa preocupação com
gordura e a comida tenham se tornado tão comum que tendemos a aceitá-las
sem discutir, ser gorda, sentir-se gorda e sentir a compulsão para comer em
excesso, são na verdade, experiências sérias e dolorosas para todas as
mulheres envolvidas. (ORBACH In FOXCROFT, 2013, p. 17)
A história avassaladora das dietas começou nos tempos praticamente sem
registro da pré-história, mas decolou de fato uns dois mil anos atrás, quando os gregos,
que sabiam que carregar muita gordura fazia mal, desenvolveram uma maneira
fundamentalmente sensata de enfrentá-la – que ainda é relevante para as mulheres.
Durante centenas de anos, muitos de nós, ao que tudo indica sentiram a
necessidade de alguém para venerar e imitar, alguém que gostaria de ser, ou, pelo
menos, parecer. E nunca houve falta de ícones, de Byron a Greta Garbo e Angelina
Jolie, muitos dos quais abraçaram a última moda, ou produziram e venderam seus
próprios regimes. A recente e nada saudável investida da cultura das celebridades foi
precedida por vários exemplos desse tipo de endosso no passado. O lado desfavorável
da veneração de alguém supostamente superior, claro, é ver a si mesmo como ser
inferior. E o pensamento distorcido, muitas vezes obcecado, que caracteriza nosso
relacionamento com a fama remonta, pode-se dizer, ao sistema límbico de nosso
779
cérebro. Comida, sexo e memória estão todos juntos nesse sistema. (FROXCOFT, 2013,
111)
Clarisse Lispector também contribuiu com o discurso dietético feminino, com
várias crônicas veiculados em jornais. Eis um exemplo publicado no Correio da Manhã,
em 4 de novembro de 1959, com o pseudônimo de Helen Palmer – A gordura em
excesso... E as glândulas:
...É fácil perdermos alguns quilos com exercícios que durem horas, mas
recuperaremos esses quilos logo, ou comendo ou bebendo água, ou apenas
relaxando os tais exercícios. O melhor exercício mesmo, o método mais
seguro para fugir à obesidade, é a seleção dos alimentos. Parar no momento
em que deve parar, por mais saboroso e atraente que seja o prato à sua
frente. Escolher para o seu menu especialmente saladas, temperadas com
limão, caldos ou sopas ralas, com pouco sal, carnes magras, de preferência
cozidas ou grelhadas, peixes assados na grelha, lagostas, mexilhões, ostras,
sem molho, claro! Os miúdos constituem os melhores alimentos, como fonte
natural de proteínas, e não engordam: também os ovos cozidos, o leite magro
ou desnatado, vegetais, como o espinafre, vagens, nabos, aipo, abóboras,
repolho e as frutas. Alimentando-se assim, você está não apenas
armazenando saúde no seu organismo, mas também ajudando a sua
elegância. Ser esbelta, bonita e saudável. Este deve ser o objetivo da mulher
moderna e inteligente. (apud NUNES, 2008, p. 63).
Coupry (1990) problematiza a fragilidade do mundo e sua superficialidade na
produção de informação e geração de conhecimento, desde os anos 80, e que tem na
magreza um signo de reconhecimento e ascensão profissional.
Nos anos 80, com o consumo e o hedonismo em alta, percebeu-se que toda a
comida ingerida permanecia no “estômago da sociedade abastada”, sendo
necessário eliminá-la. Essa década sacramentou a aprovação do corpo, uma
vez que os revolucionários e intelectuais lentamente passaram a aceitá-lo, tal
qual ele deveria ser: belo e saudável. Um corpo competitivo. Manter a forma
física passou a ser a solução. “Rapidamente o homem passou a ver nessa
imagem uma resposta cínica às suas desilusões” (COUPRY, 1990, p. 98).
Enfim todos os regimes denotam porções mágicas, com sortilégios para
conquistar um corpo perfeito, utilizando os mandamentos de cozinha dietética e não-
calórica que, segundo Coupry (1990, p. 81-82), possui embutida a ideia de que a comida
não deve nutrir e sim dar prazer. A gordura é um signo que deixou de representar a
realeza ao aproximar-se da pobreza. Devemos lembrar que a vida moderna, mesmo
trazendo praticidade para todas as classes sociais, permite que algumas categorias ainda
utilizem mais seus corpos diariamente. E, para elas, a comida mantém seu sentido
tradicional, em princípio, alimentar e sustentar o corpo.
781
782
para suco verde vegano, entre outros; novos temperos e uma infinidade de livros,
revistas e documentários sobre o tema são lançados e comercializados diariamente.
Enfim, esse texto não se propõe a esgotar o assunto sobre o consumo feminino e
seus os atuais hábitos alimentares, pelo contrário, sua intenção é abrir caminhos para
aprofundamento e novas abordagens sobre o tema. No entanto destaca-se que:
...Todo mundo faz dieta de vez em quando, e a maioria de nós é especialista na
autoilusão que, sejamos honestos, é necessária... O processo é como estar
apaixonado e provoca os mesmos sentimentos: uma mistura complexa de
sensações físicas e torturas mentais do querer (FOXCROFT, 2013.p.18)
REFERÊNCIA
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BEE, Wilson. Pense no Garfo. São Paulo: Zahar, 2014.
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COUPRY, François. O elogio do gordo em mundo sem consistência. Rio de Janeiro: Nova
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GOLDENBERG, Mirian Coroas. Corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade. São
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NUNES Aparecida M. (org.) Clarice Lispector. Só para mulheres. Rio de Janeiro: Rocco,
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TRINDADE, Eneus. matrizes Ano 6 – nº 1 jul./dez. 2012 - São Paulo - Brasil –p. 77-96
WOLF, N. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres.
Tradução de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
783
RESUMO
Neste artigo, discutiremos comerciais publicitários de cosméticos anti-idade, são eles:
L’Oreál Glow Renewal (2014), L’Oreál Age Perfect (2015) e Dove Pro-Age (2007). De
início, destacaremos a crescente relevância do segmento acima de 50 anos na economia
global. Em seguida, abordaremos significados atribuídos ao envelhecimento facial e
corporal na cultura contemporânea; uma vez que estes são construídos, conforme os
contextos históricos, socioculturais e econômicos nos quais se inserem. Nesta etapa,
dialogaremos com diferentes autores dos campos da comunicação, consumo e
envelhecimento. Por fim, destacaremos contradições e recorrências presentes nos
comerciais selecionados, tendo como base escritos de Roland Barthes.
784
407
Consultar: MAIA, L. A. Riqueza Grisalha. Revista Exame. 5 Fev. 2015. Disponível em:
http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1082/noticias/riqueza-grisalha. Acesso em: 30 abr. 2015.
The capacity to re-code the body itself is part of a historical process in which the religious capacity to
408
give significance to aging, old age and death, is itself subject to change, not merely through shifts in
modes of cultural classification, but also through the way a particular form of knowledge through
biomedical and information technology has increasingly developed the capacity to alter not just the
meaning, but the very material infrastructure of the body. Bodies can be reshaped, remade, fused with
machines, empowered through technological devices and extensions. The current significance of the
aging body has to be understood at a point in history at which there are strong claims that the capacity to
785
crack the code of the human aging process is about to be achieved. (FEATHERSTONE e WERNICK,
1995, p.3)
409
(…) the making of an image is an interpretative act in which the subject’s body is clothed and adorned
in particular ways and framed in a setting of other material objects, all of which carry a particular
symbolic weight, emotional tone and resonance. The image is, then, the result of an act of perception and
construction which frames a world. Yet the artful construction of an image should not be taken to imply
that its meaning is a self-evident product of its construction. The meaning of the image gains its
resonance in the practices and ways in which its viewed, in the discourses and ceremonial rituals which
surround its use. (FEATHERSTONE e WERNICK, 1995, p.4)
786
410
The women frequently expressed a profound sense of shock and dismay at the increased wrinkling in
their faces that had occurred over time and asserted that wrinkles made older adults look “grouchy”,
withered”, “miserable”, “ugly” and “unattractive.”(HURD CLARKE, p. 84).
787
788
789
790
Figura 1: Diane Keaton. À esquerda, no Golden Globes. À direita, no commercial de L’Oreál. Fonte:
Jornal Daily Mail
‘Uau, L’Oreál! Grande momento! Acho que a Diane Keaton parou de usar o
produto de vocês! #GoldenGlobes (tradução nossa, Daily Mail, 13 jan.
2014)412 ’
411
Consultar: Daily Mail. 13 jan. 2014. “Oops! L'Oreal's Diane Keaton Golden Globes ad is busted by
unphotoshopped reality we saw just seconds earlier.” Disponível em:
http://www.dailymail.co.uk/femail/article-2538813/LOreal-accused-heavily-Photoshopping-Diane-
Keaton-ad-aired-IMMEDIATELY-retouched-Golden-Globes-speech.html. Acesso em 01 maio 2015.
412
Consultar: Daily Mail. 13 jan. 2014. “Oops! L'Oreal's Diane Keaton Golden Globes ad is busted by
unphotoshopped reality we saw just seconds earlier.” Disponível em:
http://www.dailymail.co.uk/femail/article-2538813/LOreal-accused-heavily-Photoshopping-Diane-
Keaton-ad-aired-IMMEDIATELY-retouched-Golden-Globes-speech.html. Acesso em 01 maio 2015.
Tradução nossa dos trechos originalmente publicados em inglês: ‘After seeing the Diane Keaton L'Oréal
commercial, it's very apparent there's no filter on the #GoldenGlobes cameras.’; ‘Wow L'Oréal. Great
timing. I guess Diane Keaton stopped using your product! #GoldenGlobes.’
791
414
“too old to be in an anti-aging ad?”
792
Considerações finais
Na década de 1950, Barthes analisou campanhas publicitárias de cosméticos
buscando denunciar falsas evidências e desmascarar as realidades que se escondiam por
trás dos mitos disseminados nas vidas cotidianas da burguesia francesa. Sua intenção
era realizar uma crítica ideológica da cultura de massas, desmontando discursos e
examinando atentamente como se articulavam os seus elementos e linguagens. Assim, o
autor nos brindou com textos inspiradores, na coletânea “Mitologias” (BARTHES,
1957). Após meio século, muitas observações barthesianas permanecem extremamente
pertinentes, quando analisamos as recentes publicidades de L’Oreál Age Perfect (2014 e
2015).
Ainda que a publicidade atualmente conte com alta tecnologia de produção e
alteração de imagens digitais; ao analisarmos as imagens e significados associados ao
Consultar reportagem: SCHULTZ, G.; “Boycott of Dove Products Urged As Nude Ads Air Prime
415
793
REFERÊNCIAS
794
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Pro.Age. Disponível em: http://www.dove.pt/pt/Dicas-Topicos-e-Ferramentas/Artigos-e-
Conselhos/Demasiado-jovem-para-envelhecer-Dove-Pro-Age.aspx. Acesso em: 03 maio 2015.
MAIA, L. A. Riqueza Grisalha. Revista Exame. 5 Fev. 2015. Disponível em:
http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1082/noticias/riqueza-grisalha. Acesso em: 30
abr. 2015.
Diane: “- The useful Locução: “From Locução: “- New Age Locução: - “Incredible
glow! Oh, yeah! L’Oreál: the first Perfect Glow renewal: restoring power of 8
Now you can get it ever facial oil”. renews skin’s essential oils.”
back!” dewiness and youthful
glow”
Diane: - “My skin Locução: - “... Locução: - “Just a few Diane: - “I have my
drinks it up! absorves quickly”. drops, morning and glow back”. Locução: -
Locução: - “L’Oreál night. Deeply “New from L’Oreál
Glow Renewal’s nourish.” Paris Age Perfect
Ultra Light: non Glow Renewal. Diane:
greasy...” “Because we’re worth
it”.
Disponível em: http://www.ispot.tv/ad/712D/loreal-paris-age-perfect-glow-renewal-featuring-
diane-keaton#moreData. Acesso em: 24 abr. 2015.
Comercial L’Oreál Age Perfect (2015) com atriz Helen Mirren
Helen: “- Feel like Helen: “-and when you Helen: “Well! Locutor: “- L’Oreál
you go unnoticed... aren’t?” Enough!” Paris Age Perfect.”
and when you
aren’t.”
Locutor: “- With Helen: “- Its science I Helen: “- Nourish and Helen: “- And show
soya peptides.” trust to help me look indulge your skin.” those age spots who is
like me.” boss.”
795
Lettering: Too old to Lettering: Too old to Lettering: Too old to Lettering: Too old to
be in an a anti-aging be in an a anti-aging be in an a anti-aging be in an a anti-aging
ad ad ad ad
Lettering: but this Locutor: New Dove Locutor: beauty has Doveproage.com
isn’t anti-age, this is Pro-age no age limit
pro-age
796
RESUMO
O trabalho traça uma iconografia de idosos, tal como são retratados em comunicações
marcárias, concebidas por jovens contemporâneos e divulgadas em mídias sociais, com
o objetivo de mostrar como o sonho social de envelhecer mantendo a juventude é
explorado publicitariamente, apoiado por vários segmentos profissionais e institucionais
que oferecem produtos e recursos para a conversão desse sonho em realidade.
Utilizamos Panofsky (descrição pré-iconográfica, iconográfica e interpretação
iconológica) e uma classificação criada com base em Goldenberg (investigação
antropológica de como as pessoas se relacionam com o envelhecer), analisamos as
imagens coletadas em meios digitais, e organizamos em perfis iconográficos para a
compreensão do modo como os jovens contemporâneos enxergam e retratam a velhice.
Introdução
Existe, atualmente, uma nova sensibilidade social para a questão do
envelhecimento populacional no mundo e para o papel dos idosos no cenário
mercadológico. No Brasil, as mudanças de percepção em relação à qualidade de vida na
velhice acompanham as tendências mundiais e abordam o idoso tanto como um desafio
para o desenvolvimento de políticas públicas abrangentes, como uma oportunidade para
a mídia resgatar sua autoestima com imagens que dignifiquem essa fase da vida e
retratem o idoso em sua condição de cidadão participante.
Pelo lado positivo, o envelhecimento da população celebra o prolongamento do
período ativo de alguns cidadãos pelo uso de tecnologias variadas e pelas contribuições
da disciplina gerontologia, sobretudo a partir dos anos 80; por outro lado, o fenômeno
do crescimento da população idosa no mundo demanda mudanças urgentes de gestão
pública e de organização comunitária para que novos e contínuos recursos sejam
investidos na solução de problemas específicos para essa faixa demográfica, que vão da
seguridade social à comunicação pública, passando pela saúde, sustento e moradia,
416
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
417
Mestranda no Programa de Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo, PPGCOM, email: tiemymoura@usp.br.
418
Livre-docente na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, no
Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo – CRP desde 1978, email: smrdsouz@usp.br.
797
798
419
O termo mídias sociais, em contraste com mídias tradicionais, refere-se aos conteúdos que
circulam pela internet com a participação ativa dos usuários da rede, seja para conceber conteúdos, seja
para fazê-los circular entre grupos de amigos, conhecidos, fãs e gestores de marca. Neste artigo, o termo
inclui redes sociais de relacionamento, sites institucionais, social bookmarking, blogs e microblogs
especializados e, também, portfólios de designers e banco de imagens.
799
420
A classificação proposta no artigo 1º da Lei 10.741/2003 segue a orientação da Organização
das Nações Unidas que orienta o pertencimento à Terceira Idade com 65 anos para países desenvolvidos e
com 60 anos para países em desenvolvimento (ONU, 2007).
800
801
421
As mídias sociais serviram como critério de seleção, pois é sabido que são os jovens
contemporâneos, na faixa dos 20 aos 40 anos, que trabalham nessas mídias e, por conseguinte, imprimem
sua visão de mundo nas mensagens que produzem para circular nos ambientes digitais das redes de
relacionamento.
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Considerações finais
O sonho do envelhecimento com juventude é um desejo presente na sociedade.
O público consumidor da Terceira Idade clama por produtos e serviços que atendam
seus anseios, mas que respeitem sua realidade. Empresas e instituições recebem a
demanda, produzem e comunicam. Estas comunicações carregam valores jovens porque
a iconologia publicitária é baseada na cultura e valores do adulto contemporâneo.
Localizar uma campanha publicitária de uma marca qualquer com foco
prioritário no idoso é raro. Há duas razões para isto: a) existe uma consolidação do culto
à juventude, b) a as empresas, em geral, temem ser identificadas como marca de velho;
os estereótipos apontam para a necessidade de não se mostrar velho, ou se tiver de
810
mostrá-lo, que se mostre um idoso que quer ser jovem, que precisa ser jovem, que não
pode jamais aceitar a própria velhice.
Com o envelhecimento da população e um mercado de consumo e serviços
adaptados aos mais jovens, empresas e organizações de diversos setores terão que se
readequarem na forma de produzir, criar e comunicar seus produtos e serviços. É fato
que a publicidade está despertando para a Terceira Idade, porém ainda são escassas as
campanhas com começo, meio e fim, dizendo não aos estereótipos e com foco total e
exclusivo em personagens idosos. Porém, foi interessante analisar o corpus e admitir
que o mercado, bem como a publicidade e a comunicação se curvaram a esta fatia
importante da sociedade.
Em síntese, o trajeto da iconografia publicitária de idosos retratados por jovens
contemporâneos em comunicações marcárias, e divulgadas em mídias sociais e
tradicionais mostra quase que uma obrigação em envelhecer com vigor dos 20 anos.
Apesar disso, o fato social relevante é a presença constante da imagem do idoso
na publicidade, a versatilidade que o adulto contemporâneo tem para a representação da
Terceira Idade por meio de diferentes recursos, dando origem às representações que
povoam o imaginário social, já que “os anúncios publicitários colaboram para uma
afirmação de uma nova velhice, concorrem para a construção de uma outra mentalidade
social para a compreensão do fenômeno do envelhecimento” (PALACIOS, 2007, p. 2.).
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812
RESUMO
Este trabalho visa estudar através da análise de discurso a vestimenta da mulher do
século XIX, na época da Segunda Guerra Mundial, tomando como base a primeira
temporada do Seriado Bomb Girls. A série é ambientada na década de 40 e foca na
rotina de 4 mulheres. Para a análise serão utilizados os conceitos relacionados à série de
Navarro-Barbosa (2004), ao feminino e gênero de Touraine (2009) , Ximenes (2009) e
Butler (2012) e à moda de acordo com Crane (2009), Lipovetsky (2006) e Villaça
(2007). Percebe-se que ao longo da série que as personagens vão se adaptando às novas
situações e isso é refletido diretamente em suas maneiras de se vestir.
Introdução
Dois dos principais referenciais do sujeito contemporâneo são o corpo e a roupa.
Estes atuam como edificações sociais e de identidade de cada sujeito, demonstram a
multiplicidade que estremam o ser e o estar deste no mundo através de suas
significações, fazendo também múltiplos os seus modos de presença.
Diretamente atrelado ao corpo encontra-se a vestimenta, procura-se pensá-la em
um conjunto de normas e transgressões, tradições e inovações que completam a
dinâmica simbólica dos fatos na vida social. O ponto de vista da moda não está apenas
no sentido do fenômeno indumentário relacionado à elite, anexo à elevação do
mercantilismo na parte ocidental do planeta durante o final da Idade Média. Este
aspecto que possui um caráter transdisciplinar, agrega valores relacionados aos estudos
culturais, antropológicos, sociológicos, semiológicos e comunicacionais, e considera a
cultura do corpo como uma vertente da cultura percebida como totalidade dos sistemas
que atribuem significações através dos quais o indivíduo institui valores, coesão e
interage com a esfera social e com os outros. De acordo com Villaça (2007), a moda
está, assim, no cruzamento de gestos e crenças.
Ao longo do tempo, a forma corporal feminina passou por várias transformações
que redesenharam e reformularam a sua anatomia inicial. Suas verdadeiras proporções
427
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
428
Mestrando do PPGCISH, UERN, email: sabrina.bzr@gmail.com.
429
Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação da UERN, email:
marciliamendes.@uol.com.br
813
foram substituídas por uma edificação de vestimentas de cunho ficcional: vestidos, saias,
blusas, espartilhos, etc. que ocultaram ou construíram a mulher.
O gênero feminino, bastante conhecido por sua vinculação aos aspectos
corporais, e aos conceitos que concernem à sua estética, é um dos elementos mais
sujeitos às regras que foram estabelecidas pela sociedade patriarcal do passado, mas que
ainda encontra resquícios na modernidade. Os estudos de gêneros aqui ficaram restritos
ao feminino e o aspecto histórico que retrata a mulher americana na época da Segunda
Grande Guerra Mundial (1939 a 1945), do seu papel e relevância social ao colaborar
com a produção armamentista e modificar o cenário social e cultural da época; sendo
todos esses aspectos abordados conjuntamente com estudos sustentados nas impressões
e consequências em seu corpo e a vestimenta que a envolve.
Definido assim o acontecimento (no caso a Segunda Guerra), para abordar esse
assunto mais especificamente será utilizado como corpus o seriado que retrata as
mulheres americanas que arriscaram suas vidas no começo da década de 40 construindo
bombas enquanto seus maridos e filhos lutavam na guerra: Bomb Girls.
Entende-se por acontecimento como um dos conceitos relativos à análise de
discurso no qual ele seria a irrupção do discurso, desprovido de qualquer alusão a uma
origem ou sistema de causalidade entre as coisas. O acontecimento é o componente
instituidor das interpretações, é o edificador e a base para o conceito de verdade em um
determinado a priori histórico.
[...] o acontecimento não é uma coisa, um objeto consistente, não é
substância, acidente, qualidade ou processo. [...] Ele é feito de cesuras que
dispersam o sujeito em uma pluralidade de posições e de funções; é um corte
ou recorte que se realiza livremente na realidade, um acúmulo ou uma
seleção de elementos (NAVARRO-BARBOSA, 2004, p. 109).
O seriado é uma produção canadense e a primeira temporada (a qual foi utilizada
para elaboração desse artigo) veiculada em 2012 consiste em 6 episódios com cerca de
45 minutos cada. Situado na década de 1940, Bomb Girls conta as histórias das vidas
de quatro mulheres que trabalham em uma fábrica de munições e bombas para as forças
aliadas que lutam no front europeu. A série relata a vida dessas mulheres em diversos
âmbitos (amoroso, familiar, religioso, sexual, etc.) e que se encontram envolvidas em
uma nova situação que mudou profundamente seus relacionamentos com suas casas e
relações sociais.
Relativo ao conceito de seriado, Arlindo Machado (2000) afirma que
“chamamos de serialidade essa apresentação descontínua e fragmentada do sintagma
televisual.” (p. 83). E para ele, existem três tipos de narrativas seriadas na televisão, e
814
uma delas, na qual se encaixa o seriado que será abordado nesse trabalho, é a que
consiste em uma narrativa única (ou diferentes narrativas entrelaçadas e paralelas) que
mantém uma certa linearidade ao longo dos capítulos. É geralmente o caso das
telenovelas, de algumas séries ou minisséries.
815
816
levantadas questões sobre gêneros, (masculino x feminino) sobre o seu próprio e várias
outras problemáticas referentes ao seu oposto, o homem.
A ação das mulheres não se explica pelo sentido da história, mas, ao
contrário, é o reconhecimento da mulher como sujeito que nos obriga a falar
de uma situação histórica e de sua evolução em termos de ambivalência e,
por consequência, nos leva a reconsiderar a oposição homem/mulher.
(TOURAINE, 2007, p. 76)
É válido salientar que essa mudança de paradigma que permitiu a inserção da
mulher no ambiente público e trabalhista não se estabeleceu de maneira uniforme,
pacífica, e unânime. A maioria dos homens (e também algumas mulheres) ameaçados
com essa possível redefinição de espaço social entre os gêneros e temeu que as atitudes
tomadas por aquelas mulheres pudessem as masculinizar.
É basicamente sobre isso que o seriado Bomb Girls trata, sobre mulheres que
devido a uma situação extraordinária – a explosão da Segunda Guerra Mundial – se
encontraram tendo que adentrar um ambiente considerado eminentemente masculino
para ocupar o lugar de seus filhos e maridos que foram lutar na guerra. Mesmo havendo
essa necessidade de mão de obra, a entrada delas nesse ambiente não foi nada pacífica.
O direito de trabalhar e contribuir para o favorecimento do time aliado foi
concebido através do pioneirismo de algumas que saíram da sua zona de conforto e
outras que até mesmo se sacrificaram para quebrar o silêncio que as tolheu por um bom
tempo. Algumas reações extremas por parte dos que discordavam, dos que repudiavam
o fato de verem mulheres dividindo ambientes e afazeres que eram considerados
predominantemente masculinos, afirmavam que tais atos eram ofensas diretas à moral e
os bons costumes.
Bomb girls
A expressão “Bomb Girls” referia-se às mulheres que trabalhavam nas fábricas
de munição e armas durante a Segunda Guerra e que eram a oposição em relação às
“Land Girls”, as quais trabalhavam em fazendas, na produção de alimentos.
Como antes mencionado, a série é ambientada no início da década de 40, na
sociedade americana no período de guerra. Nesse contexto, pela falta de mão de obra
masculina, algumas mulheres se viram forçadas a trabalhar para auxiliar o
favorecimento do andamento das batalhas para o lado aliado, outras viram uma
oportunidade de ganhar uma renda extra para ajudar em suas casas ou até mesmo a si
próprias. Fato que também poderia ser considerado um modo de tentar dar um primeiro
817
passo para sua possível emancipação onde pudesse colaborar com as finanças, e dar
início a independência da figura do marido ou do pai.
A série aborda exemplos de várias mulheres que aparecem ao longo da trama,
porém o foco do roteiro se concentra na vida de quatro personagens principais, que se
entrelaçam e têm suas histórias contadas em diversos aspectos, sendo cada uma delas
representando um determinado “tipo de mulher” que caracterizavam a figura feminina
daquela época. Dentre as personagens principais temos:
- Gladys Witham: Gladys é uma das personagens centrais que desenrolam e
conectam as outras personagens entre si. Ela e Lorna são o elo que faz com que as
outras tenham algo em comum, a sua amizade e/ou relacionamento com ambas.
Filha de pais ricos (os Rosedale), herdeira de um império da indústria
alimentícia, Gladys tem a vida que toda moça gostaria de ter incluindo seu noivo,
James: bonito, bem relacionado e querido pelos pais. Foi bem educada desde cedo para
ser a mulher perfeita para o marido perfeito, mas se encontra em um dilema por querer
fazer sua parte para ajudar de alguma forma os soldados que estão na guerra (na sua
família, por serem abastados, nenhum membro do sexo masculino havia sido recrutado).
Fato que irá ser motivo de conflitos familiares, pois seus pais acham uma afronta o seu
desejo de trabalhar. Ela acaba por conseguir convencê-los, mas apenas prometendo que
os seus serviços se restringiriam apenas a empilhar arquivos e atender clientes como
uma secretária, nada que envolvesse trabalhos braçais. Caso que será desfeito ao longo
da série quando Gladys decide, sem que seus pais saibam, trabalhar “no chão ” com as 430
outras meninas. Ela sempre se destaca pelo trabalho bem feito e é identificada nos
ambientes que aparece por suas roupas caras e bem cuidadas, coisa que fará com que
sofra preconceito entre as demais trabalhadoras.
- Lorna Corbett: Assim como Gladys, Lorna é um dos pivôs que ligam as
outras personagens da série. Casada com Bob, um ex soldado que lutou na Primeira
Guerra, agora inválido por consequência das sequelas deixadas na batalha, é mãe de três
filhos sendo uma menina e dois homens. Ambos se encontram servindo o exército e a
filha estudando e trabalhando como enfermeira. Ela trabalha como coordenadora do
grupo azul e viu nesse emprego (da mesma forma que as demais com exceção de
431
Gladys) uma oportunidade para ganhar uma renda extra e auxiliar no sustento familiar e,
430
Elas usam a expressão “no chão” para designar as trabalhadoras que trabalhavam no setor de
montagem, que ficava no andar inferior às que trabalhavam no escritório, no andar de cima.
431
As trabalhadoras se dividem em dois grupos de trabalho, azul e vermelho.
818
de certa forma, ajudar seus filhos que se encontravam no campo de batalha. Seu
relacionamento com o marido é simplesmente institucional, após a invalidez, ele não se
mostrou mais interessado em manter relações sexuais com Lorna, motivo pelo qual ela
sempre se encontrava meio depressiva. Ao longo do seriado conhece Moretti,
coordenador de produção da fábrica, um italiano que desperta nela um misto de repulsa
e extrema atração.
- Kate Andrews: Filha de um pastor altamente intolerante, seu nome de batismo
é Marion, porém ela foge de casa com a ajuda da mãe por conta dos sucessivos abusos
de seu pai. Para que não seja encontrada por ele, assume uma nova identidade, Kate
Andrews. Encontra na fábrica uma forma de escapar da antiga realidade e de tentar se
sustentar nessa nova fase. Acaba encontrando por lá, além disso, amizades e novas
formas de relacionar-se socialmente que nunca havia experenciado. Tímida e ingênua,
aos poucos ela vai mostrando sua personalidade e “saindo da concha”, se abrindo as
novas oportunidades e ao mundo. As marcas das agressões sofridas no âmbito familiar
ainda estão impressas no corpo de Kate, e ela alia o fato de ser religiosa ao de esconder
as marcas através das roupas que veste. Sempre muito recatada, sem decotes ou cores
muito chamativas.
- Betty McRae: Trabalhadora esforçada e extremamente eficiente, com relativa
experiência nas lavouras e que consegue prosperar na fábrica. Por ser uma das mais
eficientes entre as funcionárias mais novas, trabalha, mas também treina as novatas. O
tempo inteiro Betty está por fora dos contextos que envolvem o que a sociedade entende
por feminilidade: roupas, maquiagem, trejeitos caracteristicamente femininos. Seu jeito
duro e por vezes insensível escondem sua insegurança por se sentir desconfortável por
muitas vezes em algumas situações, talvez por sua homossexualidade oculta/inibida.
Betty aproxima lentamente de Kate e ao se tornarem grandes amigas, acaba se
apaixonando por ela. Suas roupas, assim como suas características, são sempre retas e
sóbrias. Ela é uma das únicas personagens que veste calças e blazers às vezes. Apesar
de seu figurino não se restringir a apenas saias e vestidos, Betty não assume um ar
masculinizado através das roupas. Sempre está com o cabelo feito, maquiada (de forma
mais leve) e perfumada.
819
820
Pois, como mencionado anteriormente, e afirmado por Touraine (2007), é nesse âmbito
onde se desenvolve uma das relações de poder e dominação mais estreitas sobre a
mulher.
Desta forma, frente a um regramento de conduta sempre disposto a censurar
qualquer manifestação corporal relacionada ao sexo, a mulher viu no recato e retidão
lugares onde pudesse desfrutar de seus momentos no dia-a-dia no qual seria a dona de
casa perfeita e sensível. O que neste caso nos leva a pensar em um aspecto paradoxal.
Ao mesmo tempo em que coube à mulher o papel de detentora da sensibilidade (e era
por vezes até persuadida a se dedicar às emoções sendo-lhe negada a racionalidade), ela
era proibida de expor seus sentimentos e necessidades sob a prerrogativa de não poder
ter exposta a sua natureza.
A trajetória histórica do corpo feminino segue da a invisibilidade, quando era
obrigado a cobrir-se, à superexposição em forma de espetáculo, como percebemos
atualmente. O corpo, nessas instâncias, é convidado a se expor se convertendo no
elemento central que move o consumo que se utiliza da sexualidade. Kate, como antes
mencionado, é filha de um pastor da igreja. Seu pai, além da rigidez já imposta pela
religião, mantém uma relação abusiva com a filha e com a mãe. Isso reflete diretamente
tanto na forma como se porta, quanto na que se veste. Kate, após fugir de casa com a
ajuda da mãe, entra no mercado de trabalho completamente inocente e alheia a qualquer
interação social. Suas roupas são reflexo disso, colo e braços cobertos, cores sóbrias.
Apesar de ser jovem, suas roupas poderiam facilmente vestir uma senhora de mais idade.
A única coisa que ainda mantém o aspecto da jovialidade é que de vez em quando a
personagem veste uma peça com cor suave no meio das cores sóbrias e suas saias são
no joelho, enquanto as demais senhoras mantém as saias abaixo deles.
A vestimenta, até mesmo nas sociedades mais antigas, não cumprem apenas
papéis funcionais. Elas constituem habitus individuais que relacionam o corpo
particular, o corpo social, o espaço que o corpo toma e as maneiras de transação que
dependem de técnicas corporais e processos de auto-apresentação. “O sistema do
vestuário faz parte da formação desse habitus, pois participa, ao lado dos treinamentos
propriamente corporais pesquisados por Mauss, da organização de um espaço social.”
(VILLAÇA, 2007, p.10). Voltando à personagem Lorna, percebe-se que apesar de ser
uma trabalhadora braçal como as demais que trabalham “no chão”, ela, por exercer um
cargo de coordenação dentro da fábrica tem sua vestimenta de trabalho de cor
diferenciada (enquanto as demais se vestem de macacão branco e lenço azul, ela
821
completamente de azul). Vê-se ainda que a personagem Gladys, pertence a uma classe
social mais abastada principalmente por suas vestes apesar de tentar sempre se manter
discreta. Além de estar sempre com a maquiagem impecável, ela usa sempre perfumes
que se destacam entre as demais, vestidos com tecidos caros, jóias e meias de seda
enquanto a maioria das meninas, por não ter condições, usavam meias de nylon.
Bourdieu (2007) e Crane (2009) corroboram com esse aspecto quando afirma que a
roupa é a principal forma de distinção social.
Sendo uma das mais evidentes marcas de status social e de gênero – útil,
portanto, para manter ou subverter fronteiras simbólicas -, o vestuário constitui uma
indicação de como as pessoas, em diferentes épocas, veem sua posição nas estruturas
sociais e negociam as fronteiras de status. (CRANE, 2009, p. 21)
Sob a linha de raciocínio de Monteiro (1997), a roupa desde sempre instaurou
uma linha da individualidade. Ela é uma forma de o sujeito evidenciar a sua
exclusividade, o fato de ser único, podendo se diferenciar das outras pessoas através do
traje que incorpora. Pelos tempos, a vestimenta arregimentou a representação das
classes. É semelhante ao fato de determinada pessoa ostentar um traje por pertencer a
certa classe social ou gênero. Mesmo entre as castas, entre as classes, a vestimenta
sempre apresentou um modo de determinar uma distinção, ou seja, sempre arranjou um
meio de distinguir os indivíduos uns dos outros, definir subgrupos dentro de um grupo.
A moda, durante a época do século XIX, a qual dava a crer que apresentava
possibilidades do sujeito destacar a sua posição social, não passava de um aspecto do
vestuário. Ela pode ser entendida como as várias formas pelas quais a vestimenta foi
utilizada como forma de domínio social, através da imposição de uniformes e códigos
de vestuário.
Percebemos o corpo humano como uma composição de linguagem que o
indivíduo arranja, decora e ornamenta através das relações combinatórias entre vários
significantes. A série de combinações dá forma a um texto e, por conseguinte, um
discurso que se revela nas interações. Neste discurso o corpo assume o papel tanto de
sujeito quanto de objeto da ação.
A tática das aparências da vestimenta era arquitetonicamente pensada para
acentuar os atributos físicos femininos. A mulher confirma e aumenta em seu corpo as
alusões de seu papel de progenitora, decorrente das formas arredondadas conferidas ao
seu quadril e traseiro, remontando às gerações passadas, representações da mulher de
ancas grandes que, realmente, simbolizavam a fertilidade.
822
823
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Barueri, SP: Estação das Letras e Cores Editora LTDA, 2009.
824
RESUMO
Este artigo tem como tema a periodização da vida e a publicidade, com ênfase
na maturidade adulta. Com o propósito de explicitar como a publicidade engendra
sentidos e valores que podem contribuir para a recomposição ou ressignificação da
maturidade adulta, apresentamos, inicialmente, reflexões sobre a publicidade e a
periodização da vida, em seguida, análise semiótica, na perspectiva peirceana, de quatro
peças publicitárias impressas que contemplam esta idade da vida. A importância destas
reflexões está em tratar da maturidade adulta e suas possibilidades de recomposição, em
meio aos valores relacionados à juventude eterna, atestando assim a abrangência da
publicidade no que refere à sua ressonância em relação ao meio social.
INTRODUÇÃO
Em linhas gerais, o curso da vida nas sociedades contemporâneas é marcado por
três etapas: a pré-modernidade, quando a idade não er relevante na determinação do
grau de maturidade e controle do poder; a modernidade que, de certo modo, instituiu a
cronologização da vida e a pós-modernidade que opera uma desconstrução do curso da
vida.
A tendência à descronologização acentuou-se, pois os papéis sequenciados e
divididos por idade entram em embates na contemporaneidade. Não podemos dizer que
as divisões foram abolidas, mas adquiriram maior flexibilidade e levaram as pessoas a
incorporar aos seus modos de vida aspectos de diversas idades, antes limitadas ao
desenvolvimento físico, aos aspectos sociais e econômicos de determinadas faixas
etárias. O domínio das tecnologias, o bem estar físico ou o corpo saudável, atividades
sociais e grupais, antes limitadas a determinadas faixas etárias, agora são bem-vindas as
mais diversas idades.
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
432
De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
433
Docente do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba
(Uniso), Sorocaba, SP; doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e pós-doutora pela ECA/USP;
e-mail: maria.drigo@yahoo.com.br.
434
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba
(Uniso), Sorocaba, SP e docente no Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Sorocaba
(Uniso); e-mail: bruno.martins@prof.uniso.br.
825
826
827
Assim, uma visão esquemática, manipuladora, não dá conta do real, embora tenha uma
parte de verdade.
Consideramos que a ideia de publicidade criativa, na perspectiva de Lipovetsky
(2007), enquanto “caixa de ressonância”, contribui para compreendermos em que
medida a publicidade pode refletir um processo de ressignificação da velhice na
contemporaneidade. A ressonância, metaforicamente, traduz o potencial da publicidade
de aumentar a duração ou a intensidade de sentidos e valores compartilhados, uma vez
que ela “exalta o que é consenso, sem exercer o controle da cultura”.
Assim, neste artigo, para alcançar o objetivo proposto, selecionamos quatro
peças publicitárias que se reportam a este período da vida, que serão analisadas na
perspectiva da semiótica peirceana. Apresentamos, a seguir, algumas reflexões sobre as
idades da vida.
SOBRE A PERIODIZAÇÃO DA VIDA
Tratamos, a seguir, de aspectos da periodização da vida, segundo Ariès (2011),
com o propósito de mostrar que há um movimento de predomínio de um ou outro
período da vida. Constata-se que a evidência de um ou outro período depende de
movimentos de construção e reconstrução social destas idades.
Nos tratados pseudocientíficos da Idade Média, segundo Ariès (2011), as idades
da vida, ou idades do homem, ocupavam um lugar importante, que passaram do
domínio da ciência para o da experiência comum. No entanto, tratava-se de uma
terminologia puramente verbal: infância e puerilidade, juventude e adolescência, velhice
e senilidade, sendo que cada uma dessas palavras designava um período diferente da
vida. A primeira idade, a infância, correspondia ao período entre o nascimento e os sete
anos; a segunda idade, pueritia (idade pueril), dos sete aos catorze anos; a terceira
idade, a adolescência, ou seja, a idade da procriação, do crescimento, idade que recebe
força e vigor do calor natural, se inicia nos catorze anos e termina com vinte e um anos,
mas pode durar até vinte e oito; segue a juventude, “que está no meio das idades,
embora a pessoa aí esteja na plenitude de suas forças, e essa idade dura até 45 anos,
segundo Isidoro (...). Essa idade é chamada de juventude devido à força que está na
pessoa, para ajudar a si mesma e aos outros, disse Aristóteles” (ARIÈS, 2011, p. 6-7).
Depois, segue-se a senectude, no meio do caminho entre a juventude e a velhice, idade
da gravidade, em que a pessoa não é velha, mas passou a juventude. Após essa idade
segue-se a velhice, que dura até a morte.
828
829
(2009), com a vitória dos americanos na segunda Guerra Mundial, embora essa cultura
jovem tenha começado com tentativas conflitantes no final do século XIX. O jovem foi
definido como consumidor, definição que, embora viesse movida por motivos
econômicos, trouxe benefícios para a Europa devastada, bem como para os americanos.
“Nos últimos sessenta anos, esta imagem do adolescente pós-guerra dominou o modo
como o Ocidente vê os jovens e tem sido exportada com sucesso para o mundo todo”.
(SAVAGE, 2009, p. 11)
Ao tratarmos de aspectos históricos da periodização da vida, de um lado,
constatamos que esta divisão sempre foi problemática e que, de outro, ela sempre esteve
presente em representações. Podemos encontrá-las, atualmente, na publicidade, o nosso
objeto de estudo. Vejamos as pistas sobre a periodização da vida que vêm à tona com a
interpretação das peças selecionadas para este artigo.
DAS ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE
Na semiótica peirceana, o signo representa, substitui, ou está no lugar do objeto
(representado no signo), o que dá ao signo o potencial de gerar interpretantes, ou
produzir efeitos. O signo “‘representa’ algo para a ideia que provoca ou modifica. Ou
seja, é um veículo que comunica à mente algo do exterior. O ‘representado’ é o seu
objeto; o comunicado, a significação, a ideia que provoca, o seu interpretante”
(PEIRCE, CP 1.339). A definição de signo, que é triádica, por envolver o objeto, o
signo e o interpretante, pode ser observada no diagrama (Fig. 1).
830
831
832
Vamos iniciar por uma breve descrição dos aspectos qualitativos e referenciais
presentes na imagem, o que permitirá expor parte da análise das peças em conjunto.
Todas as peças têm com plano de fundo um tom de cinza, suave e embranquecido.
Quanto mais intensa ou saturada for a coloração de um objeto ou acontecimento visual,
conforme Dondis (2007, p. 66), “mais carregado estará de expressão e emoção. Os
resultados informacionais, na opção por uma cor saturada ou neutralizada,
fundamentam a escolha em termos de intenção”. No caso, considerando-se que os tons
833
acinzentados são pouco saturados, então, segundo Farina (2000), eles permitem
associações suaves com seriedade, sabedoria, passado e finura. A luz incide no braço e
na mão, de uma pessoa idosa, agregando luminosidade a estas partes, o que captura o
olhar do usuário/intérprete.
A pele coberta de manchas e rugas, ou sulcos naturais da pele de pessoas idosas,
indício de magreza ou da ação destruidora dos anos, marcas do tempo, portanto, são
indícios infalíveis que remetem o usuário/intérprete a esta idade da vida. Nesse aspecto,
aliando-se este índice de velhice ao “Lar São Vicente de Paula”, a representação visual
tende a prevalecer como sinsigno indicial dicente, ou seja, o usuário intérprete identifica
a peça publicitária.
No entanto, o tom cinza do plano de fundo, que confere leveza e sobriedade,
pode levar o usuário intérprete à contemplação, sendo que assim a peça publicitária
produz sensações atreladas à seriedade, sabedoria, sobriedade. Há outros detalhes nas
peças, como as fitas coloridas e o movimento dessas cores pela imagem, nas palavras e
na figura junto ao nome da instituição, que contribuem para agregar novas sensações ao
usuário/intérprete. As fitas atadas aos pulsos, indício de adesão, aliança, nas cores azul
(claro e escuro), verde e vermelha, insinuam serenidade, tranquilidade, força e paixão.
Neste aspecto, a peça se faz sinsigno indicial remático.
A cor verde pode ser associada afetivamente, conforme Farina (2000), à
tranquilidade, segurança, equilíbrio e firmeza; enquanto o azul, à serenidade, afeto,
amor, amizade, fidelidade, confiança e a cor vermelha, à força, ao movimento, coragem,
paixão, vigor.
Os gestos, que se presenciados, chamariam a atenção, como uma força bruta, na
imagem, entretanto, emergem como símbolos, pois são compartilhados culturalmente.
“Paz e Amor” traduz em palavras o gesto (Fig.2). A expressão é símbolo do movimento
hippie, dos anos de 1960, cujos seguidores adotavam um modo de viver comunitário e
em comunhão também com a natureza. A expressão sintetiza a postura política dos
hippies, que apregoavam os direitos civis, igualdade e anti-militarismo. Um idoso –
como o que põe o braço e a mão para ser fotografada - pode ter sido um integrante desta
tribo e ainda manter vivas as crenças de então. A cor azul, na fita e nas palavras, reforça
as sensações vinculadas à fidelidade, ao amor, à serenidade.
O gesto (Fig. 3), a “mão chifrada”, é um símbolo do Rock’n Roll, adotado
pelos headbangers, fãs de Heavy Metal, que foi introduzido por Ronnie James
Dio, quando este estava no Black Sabbath. Na década de 1950, o rock vinha com ênfase
834
435
“Compre nossos braceletes. Deixe-se tocar: amo você, ok?” (tradução nossa).
835
836
REFERÊNCIAS
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_________. No fundo das aparências. Petrópolis (RJ): Vozes, 2005.
_________. O imaginário é real. Revista Famecos, Porto Alegre, 2001. Entrevista
concedida a Juremir Machado da Silva, em Paris, em 20/03/2001.
PEIRCE, Ch. S. Collected Papers. HARTSHORNE, C. & WEISS, P Editores, 1931-58
(citado como CP).
SANTAELLA, L. Semiótica Aplicada. São Paulo: Thompson, 2002.
SAVAGE, J. A criação da juventude: como o conceito de teenage revolucionou o
século XX. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
SFEZ, L. A comunicação. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
436
“A mais nova tendência é a tendência do idoso" (tradução nossa).
837
GT 2 – PROPAGANDA E TENDÊNCIAS
RESUMO
Este trabalho é um recorte de nosso projeto de doutorado, em andamento, que investiga
os processos de trabalho dos profissionais de criação das agências de publicidade
contemporâneas, idealizadores das regras e das práticas interacionais da publicidade
midiatizada. Trazemos aqui algumas discussões que emergiram durante o percurso da
nossa primeira observação participante em uma agência de publicidade digital, mais
precisamente sobre as escolhas metodológicas decorrentes do contato com o nosso
objeto, e que gerou certa inquietação sobre manter alheia a experiência da pesquisadora
no momento da pesquisa e no depois, no momento da interpretação e análise dos dados.
Introdução.
838
partir da hipótese de que os modos de criar, bem como os modelos das agências, estão
em mudança, devido à presença maciça das mídias digitais e da rede on-line no
cotidiano dos produtores e no dos consumidores.
Realizamos uma revisão bibliográfica para verificar o estado da arte dos estudos
sobre a produção da publicidade nos últimos 10 anos (2004/2014) sob o olhar dos
processos criativos e encontramos poucos estudos que se debruçam sobre o tema.
Bertomeu (2002, 2008) e Hansen (2011), acompanharam os processos criativos em
agências de modelo tradicional, contudo, ambos não levam em conta os dispositivos
midiatizantes conformando os modos de criar.
Neste trabalho, trazemos algumas discussões empreendidas durante o percurso
da nossa primeira observação participante em uma agência digital, mais precisamente
sobre as escolhas metodológicas decorrentes do contato com o nosso objeto e que gerou
certa inquietação sobre manter alheia a experiência da pesquisadora no momento da
pesquisa e no depois, no momento da interpretação e análise dos dados.
À luz da midiatização.
A principal motivação da nossa pesquisa resultou da percepção de que a maioria
dos estudos sobre a publicidade contemporânea se voltam para os novos modos de
participação dos consumidores, proporcionados pelas marcas, como escreve Casaqui
(2011), ao se referir à publicização. Ou mesmo àqueles que analisam a produção
publicitária a partir do produto acabado, desde os estudos seminais de Barthes (1990),
Eco (1997) aos mais recentes, Trindade e Barbosa (2001), Carrascoza (2004, 2008) e
Jenkins (2009, 2014), para citar alguns, se valendo de metodologias diversas.
Além das análises de anúncios, comerciais e outras peças, Carrascoza inventaria
as estratégias criativas da publicidade brasileira desde o século passado e pontua
alterações no cotidiano das agências, bem como as mudanças no mundo do trabalho do
publicitário (CARRASCOZA, 2011). Jenkins (2014) se volta mais detidamente à
participação do público nas estratégias de engajamento e disseminação de conteúdos.
Ao se referir aos vídeos virais, considera essa denominação inadequada, uma vez que os
vírus passam de um para outro sem o “querer” de alguém, ao passo que os conteúdos
compartilhados são realizados propositadamente, por isso, prefere o termo propagação
ou modelos propagáveis para se referir às novas estratégias de participação (JENKINS,
2014, p. 45-48).
839
Fausto Neto observa que, no caso do jornal, essa complexificação faz do leitor
ator do processo produtivo. Assim, o papel mediador do jornal no acesso ao leitor por
meio da seção de cartas na “sociedade midiática” foi enfraquecido com os novos meios
digitais e a rede on-line. Se antes havia uma “zona de contato” na qual o jornal regulava
a circulação, na interação leitor-jornal da “sociedade em vias de midiatização” a
complexidade dos contatos proporcionada pelo acesso afeta a própria “zona de contato”.
A apropriação tecnológica, discursiva e a habilidade em trabalhar com os
mecanismos de mídia, tanto por parte dos produtores e quanto receptores
tem gerado mais autonomia, mas, ao mesmo tempo, novas relações entre
eles. A autonomia de que goza, por exemplo, o sistema midiático requer
lidar com novas formas de contato com os atores em recepção, mediante
lógicas e operações que se contatam, mas não se anulam (FAUSTO NETO,
SGORLA, 2013, p. 14).
Braga situa a midiatização como algo ainda em curso, instituindo um “novo
processo interacional de referência” no lugar da escrita (BRAGA, 2009, p. 1).
Compartilhamos da proposta heurística do autor, que coloca a interação como o
contexto da comunicação. Vista desse modo, a comunicação é sempre tentativa,
ajustada em função de uma “escuta” e produz reverberações (BRAGA, 2012, p. 31). A
440
Una sociedad en vías de mediatización (distinguible de la sociedad mediática del período
anterior, es decir, una sociedad en que poco a poco se implantan tecnologías de comunicación en la trama
social) no por eso es una sociedad dominada por una sola forma estructurante, lo cual explicaría la
totalidad de su funcionamiento. La mediatización opera a través de diversos mecanismos según los
sectores de la práctica social que interese, y produce en cada sector distintas consecuencias. Dicho de otro
modo: una sociedad mediatizada es más compleja que las que le han precedido.
840
841
842
843
844
Considerações em processo.
A primeira observação participante foi realizada por 8 dias consecutivos em
2014, em uma agência digital, localizada na cidade de São Paulo, considerada a maior
agência independente. Atende instituições financeiras e empresas do segmento da
telefonia, universidades, entre outros clientes, além de jobs ocasionais, demandas
443
avulsas com o objetivo de ações de “engajamento”. É uma agência 100% digital desde a
origem, há dez anos.
Essa experiência da primeira ida ao campo motivou algumas das reflexões deste
texto, a partir dos primeiros contatos com a agência, nos quais a história da
442
One the main characterists of an auto ethnography perspective is that the auto ethnographer is
a boundary-crosser and the role can be characterized as that of a dual identity (...) Double identify and
insider/outsider are constructs too simplistic for an adequate understanding of the process of
representation and power.
443
Denominação para os pedidos internos de trabalho em agências de publicidade.
845
846
REFERÊNCIAS
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ECO, U. A estrutura ausente. São Paulo: Editora Perspectiva, 1997.
847
848
RESUMO
Este texto busca discutir uma prática mercadológica denominada Marketing de
Afiliados, onde as narrativas do consumo são geradas e partilhadas não mais através de
formatos publicitários convencionais, e sim a partir das interações entre públicos
dispostos em rede, facilitando a proximidade e a legitimidade do discurso colocado em
curso. Neste cenário, emerge o fenômeno dos blogs como instância exemplar nesta
perspectiva em rede, abrindo oportunidades para a inserção e promoção de marcas, bem
como seus produtos e serviços. Investigar o estabelecimento desses novos contratos nos
parece importante na medida em que podemos traçar um panorama atual das iniciativas
e estratégias de produção desses discursos que, ainda que pretendam se distanciar da
propaganda considerada intrusiva, não deixam de conter características publicitárias.
Introdução
No final do mês de abril de 2015448, um tribunal regional de Hamburgo, na
Alemanha, se manifestou sobre um litígio no qual duas editoras, o Zeit Online e o
Handelsblatt, tinham denunciado a Adblock Plus, produto da Eyeo449, companhia alemã
de software que desenvolveu um aplicativo para navegadores de Internet que permitia
bloquear anúncios intrusivos de publicidade. A resposta do tribunal, frente as
reclamações de que as editoras perdiam dinheiro por cada usuário que deixasse de clicar
ou de ver os anúncios, foi que os usuários têm o direito inalienável de auto-
determinação, permitindo-lhes bloquear anúncios, proteger a sua privacidade e
determinar a sua própria experiência na web.
Porém, o problema não acaba aí, pois além da Adblock Plus, existem outros
aplicativos, entre eles o Adblock e o uBlock, que desempenham o mesmo papel de
bloquear
445
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. GT-02. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
446
Mestranda do PPGCOM da ESPM-SP, e-mail: publicidade.dri@gmail.com.
447
Mestrando do PPGCOM da ESPM-SP, autor do blog www.mirincon.co, e-mail:
danielthemisfits@gmail.com.
448
Disponível em: < http://www.enriquedans.com/2015/04/bloquear-la-publicidad-es-una-
opcion-licita.html >. Acesso em 26 de janeiro de 2015.
449
Disponível em: < https://adblockplus.org/en/impressum > Acesso em 26 de janeiro de 2015.
849
850
Justamente neste cenário vemos surgir esse novo modelo de negócio, que seria
impossível de ser viabilizado pelos recursos tradicionais das agências de publicidade em
seu formato padrão de veiculação intrusiva. Neste sentido os blogs são os principais
parceiros nesta estratégia de conectar o anunciante com o seu consumidor a partir de
uma abordagem mais sutil e orgânica. Jenkins (2009, p. 55) chama a atenção para o
fenômeno da “cultura da convergência” que permite “modos de audiência comunitários
em vez de individuais”. De olho nessas mudanças, os anunciantes começam a
diversificar seus orçamentos de publicidade com vistas a estender suas marcas a
múltiplos pontos de distribuição [contato] na intenção de atingir um público espalhado
em uma variada seleção de nichos menores. Portanto, nosso trabalho está alicerçado na
tríade, anunciante [quem paga], blogs [mídia] e agência de publicidade [criação] que se
articulam na exploração de novas formas de comunicação com o sujeito caracterizado
consumidor e para isso, exploraremos a comunicação mediada pelos blogs no geral e,
especificamente, alguns dos blogs de viagens da comunidade VAM por determinarem
uma nova modalidade de consumo e, na sequência, a questão das narrativas enquanto
reforço da linguagem publicitária, para daí traçarmos um panorama atual das iniciativas
e estratégias de produção desses discurso que, ainda que pretendam se distanciar da
propaganda considerada intrusiva, não deixam de conter características publicitárias.
Antes de continuar, vale a pena fazer uma revisão na lógica dos blogs e os blogs
de viagens, o que eles são e como funcionam. No caso dos blogs, Amaral, Recuero e
Montardo (2009, p. 31) os definem como “uma ferramenta de comunicação que é
utilizada como forma de publicar informações para uma audiência”. E acrescentam,
trazendo uma definição de Shah (2005), de que é um artefato que gera muitas auto
referências e narrativas mutuamente definidoras mais do que cria uma narrativa mestra
linear.
Se já nessa primeira definição fala-se pela primeira vez sobre narrativas,
Puhringer e Taylor (2008), na sua tentativa de definir o que é um blog de viagens,
referem-se implicitamente às narrativas quando utilizam expressões ligadas como
“contar acerca de” viagens atuais ou passadas, bem como o fato de “reportar atividades
e experiências” também para uma audiência. Nesse jogo, definem um blog de viagens
como
851
450
. Disponível em: <http://viviralmaximo.net/manifiesto/>. Acesso em: 26 maio de 2014.
852
Antes de chegar neles, exploraremos como é que alguns blogs se financiam hoje em dia,
pois
embora a ideia de largar tudo e viajar pelo mundo pareça perfeita, é
financeiramente insustentável. Por isso, vamos dar uma olhada numa das múltiplas
formas de monetização das mídias digitais em geral, isto com o objetivo de entender
melhor a escolha do nosso corpus.
853
451
. Livro em formato Kindle, sem paginação.
452
. Tradução nossa do original de Weinberg e Mares (2014): “An affiliate program is an arrangement
where you pay people or companies for performing certain actions (like making a sale or making a
qualified lead). For example, a blogger may recommend a product and take a cut when there are sales
through the blog. In this case, the blogger is the affiliate. Companies like Amazon, Zappos, eBay, Orbitz
and Netflix use affiliate programs to drive significant portions of their revenue. In fact, affiliate programs
are the main traction channel for many ecommerce stores, info products and membership programs”.
453
. Tradução nossa do original Duffy (2005, p. 161): “will motivate customers to call your customer
service number and order these products directly from you. The role the affiliate offers to play involves
marketing – nothing else. The affiliate wants one thing in return: a commission on each sale. The affiliate
bears the total risk associated with the cost of marketing your products. If the marketing efforts do not
work, the affiliate loses money. If the marketing efforts do well, the affiliate makes money. There are no
parameters or constraints that define how much or how little money the affiliate can spend or earn”.
454
. Disponível em: < https://affiliate-program.amazon.com/.> Acesso em 01/05/2015.
854
se queira oferecer será gerar um hiperlink especial com a plataforma do programa que
estará inserido em algum lugar do blog. Como é mostrado pelo gráfico abaixo [figura 1],
a composição de cada Link permitirá à Amazon saber a origem dessa venda segundo o
nome de usuário (em negrito no Link de afiliado), e no final de cada trimestre a Amazon
paga em dinheiro ou em cartões de presente o total das comissões acumuladas.
455
. Disponível em <http://goo.gl/rCb0h0>. Acesso em 01/05/2015.
855
456
. Prussakov, G. Size of Affiliate Marketing Industry Worldwide, 2012. Disponível em
<http://goo.gl/hGddS0>. Acesso em 01/05/2015.
856
Metodologia e corpus
Neste ponto, aproveitamos para introduzir os três blogs escolhidos para o nosso
corpus, e como eles foram escolhidos. Para isso, aproveitamos o acesso que temos ao
grupo secreto do Facebook da comunidade de VAM, chamado ‘Círculo Interno de Vivir
Al Máximo’. A partir daí, fizemos uma pergunta pública para identificar quem tinha um
blog do mesmo estilo de VAM, isto é, um blog pessoal ou um blog de viagens que
utilizasse em suas narrativas Links de algum programa de afiliados. Recebemos resposta
de 2 membros que disponibilizaram 2 Links de publicações nas quais indicavam livros
para os seus leitores. Sob os títulos de “17 livros recomendados sobre
empreendedorismo e desenvolvimento pessoal”457 do blog A Empezar que se autodefine
como “um site muito popular com recursos e motivação para você avançar nos seus
projetos” e “15 Grandes livros de desenvolvimento pessoal que li (e que
recomendo)”458 do blog Aprendizaje y Vida.
Além disso, fomos atrás de um banco de dados (não atualizado) dentro da
comunidade e procuramos publicações recentes que tivessem Links de afiliados entre os
blogs que ali apareciam por. Assim chegamos em mais duas publicações com as
características acima mencionadas: “As 10 coisas que aprendi depois de 5 anos como
autônomo e design gráfico na Espanha”459 do site No Solo Ideas e “Monogramia? Sim,
para mim 2, grato.”460 do blog Carpe Diem, disfrutando el ahora.
O primeiro blog, A Empezar não tem um ‘Acerca De’ ou ‘Sobre o site’, mas nas
suas publicações mais recentes o próprio autor, Miguel Gómez, num post intitulado
‘Seguir adelante’ conta uma parte da sua história, segundo a qual o seu último projeto
não deu certo e hoje só dispõe de 1.079 Euros para começar o próximo, mas destaca a
sua experiência, que vem trabalhando na web desde os 13 anos (não menciona quantos
tem agora) e tem lançando projetos desde o ano 2006. Explica também: “não tem volta,
desta vez vou me dedicar a conseguir que o maior número de pessoas possam viver de
seus talentos por meio das minhas duas paixões: internet e desenvolvimento pessoal,
457
. Gómez, M. 17 Libros recomendados sobre emprendimiento y desarrollo personal, 2015. [Tradução
nossa]. Disponível em <http://goo.gl/n6uy1s>. Acesso em 01/05/2015.
458
. Núñez, J. 15 Grandes Libros De Desarrollo Personal Que He Leído (Y Te Recomiendo), 2015.
[Tradução nossa]. Disponível em <http://goo.gl/CEL9Ol>. Acesso em 01/05/2015.
459
. Herrero, A. Las 10 cosas que he aprendido después de 5 años como autónomo y diseñador gráfico en
España, 2015. [Tradução nossa]. Disponível em <http://goo.gl/uqGTJs>. Acesso em 01/05/2015.
16.
Chan, C. ¿Monogamía? Sí, a mi dos, gracias, 2015. [Tradução nossa]. Disponível em
<http://goo.gl/FU4z5Q>. Acesso em 01/05/2015.
857
algo que sempre quis mas nunca me atrevi a fazer.” O segundo blog, Aprendizaje y
Vida, poderíamos dizer que é anônimo. A sua autora diz no ‘Acerca de’ que o seu nome,
sua idade, seus estudos, sua nacionalidade e outras informações pessoais são
irrelevantes, enquanto o que segundo ela realmente interessa é o que se está
compartilhando no blog, o que se possa aprender e o que o leitor possa ensinar para ela.
Das poucas coisas que diz sobre si mesma é que faz parte da geração X, com a qual se
sente muito identificada nas suas crenças e atitudes, e fecha explicando a temática do
blog:
“neste espaço encontrará uma multiplicidade de experiência que formam
parte do que tem sido minha vida, e que tem se convertido em todo tipo de
vivência, aprendizagem, reflexões e opiniões que configuram minha
individualidade e contribuem para me definir. Espero que compartilhar
contigo me enriqueça e me ajude a crescer como pessoa, assim como espero
também poder servir a você”461.
Em seguida, temos o blog No Solo Ideas de Antonio Herrero (Espanha), que até
pouco tempo atrás era um blog corporativo do estúdio de Design do autor, onde fazia
upload dos trabalhos que a empresa fazia para os seus clientes. No entanto, as duas
publicações mais recentes propõem uma nova reflexão. Na penúltima publicação, o
autor conta 11 lições aprendidas como empreendedor, autônomo e empresário na
Espanha. No final, fecha a publicação dizendo “posso e devo desfrutar, compartilhar,
ensinar, aprender, sonhar e ajudar [...] a todas as pessoas que tenham a sorte de
cruzarem meu caminho”.
Por último, sob o nome de Carpe Diem, disfrutando el ahora está o blog de Caro
Chan, espanhola morando em Londres. Diz se dedicar à arte, à maquiagem e que é
aeromoça. Já os conteúdos do próprio blog são uma extensão da sua vida diária,
pensamentos, opiniões e fotografias. Se pode dizer que a filosofia sobre a qual está
construído o blog é que “O ontem já passou, o futuro é incerto mas o hoje é um
presente, por isso se chama ‘presente’. Vamos desfrutar o dia que se apresenta ao
máximo? Quer tentar?”. Isto aparece destacado na primeira tela que o leitor acessa no
blog.
Das publicações já mencionadas desses quatro blogs todas utilizam o programa
de afiliados da Amazon Espanha para oferecer livros. A única mercadoria de outro tipo
da qual se fala em algum momento é de um leitor de livros eletrônicos, o Amazon
461
. Núñez, J. Acerca de Aprendizaje y Vida, 2015. [Tradução nossa]. Disponível
em <http://goo.gl/ySZbaB>. Acesso em 01/05/2015.
858
Kindle. Cada um utiliza maneiras diferentes de indicar os livros. Por exemplo, o blog de
A Empezar faz uma lista de ‘17 livros sobre empreendedorismo e desenvolvimento
pessoal’ e os divide em diferentes categorias (1. Para começar a mudar a sua
mentalidade. 2. Empreendedorismo e motivação. 3. Coaching e melhora da qualidade
de vida. 4. Inteligência financeira. 5. Espiritualidade), e faz um resumo de duas linhas
em cada, mas não explica se foram livros que o autor já leu. A única coisa é que o autor
faz uma introdução com o seguinte enunciado: “Não há nada como um bom livro para
mudar nossa forma de pensar, abrir a mente e adquirir novas habilidades.” O texto não
tem uma introdução; o blog de Caro Chan simplesmente faz uma menção de um livro
que ela leu dizendo: “Um dos últimos livros que li”, e diz o nome. Esse estilo é parecido
ao utilizado em No Solo Ideas, pois enquanto o autor do blog conta a sua história como
empreendedor, ele vai mencionando e indicando livros. É aí que utiliza expressões
como “recomendo a todos que leiam imediatamente o livro Padre Rico Padre Pobre”
ou para apresentar alguém que ele conheceu diz “Sergio é o autor de Vivir sin jefe, um
dos melhores livros para ajudar você a questionar a si mesmo”. E em outro momento
diz: “Também li a Tim Ferris e seu famoso livro La semana laboral de 4 horas”. No
final, são um total de três livros indicados e uma menção de um outro artigo de outro
site, mas escrito por ele mesmo intitulado “Os livros que mudaram nossa vida”, onde
utiliza o mesmo modelo de Marketing de Afiliados. Por último, o blog de Aprendizaje y
Vida desde o primeiro momento explica que os livros mencionados nesse artigo já
foram lidos pela autora e os recomenda, bem como menciona que tem um Amazon
Kindle, para o qual utiliza um Link de Afiliados também. Logo na introdução, explica e
faz implicitamente um convite: “tenho mais de 300 livros direcionados ao crescimento
pessoal (embora permaneçam em minha estante), cujas leituras tem contribuído em
grande medida para o meu enriquecimento e evolução como ser humano”.
Análise
859
optado por “mudar de vida e ir em busca de seus sonhos.” Essa mudança só é possível
graças ao acesso a uma rede de produtos e serviços oferecidos por estes analistas no
mercado. Portanto, na atualidade, a convocação (PRADO, 2013) do sujeito não é mais
para a compra [discurso direto] de um produto ou serviço, e sim a captura da fidelidade,
atenção e adesão [discurso indireto]; é necessária a produção de novas estratégias de
comunicação que deem conta de burlar a promoção publicitária invasiva, através de
narrativas naturalizadas em histórias e práticas cotidianas.
Entendendo a criação publicitária como lugar privilegiado para a construção de
uma narrativa ficcional direcionada ao consumo, temos que considerar as instâncias
essenciais para a proliferação dessas narrativas. Estamos falando do sistema midiático.
Um universo que incorpora o território material e simbólico de todos os meios de
comunicação de massa e suas ramificações (CARRASCOZA, 2015), não havendo como
escapar dele. E é na mistura de discurso que vemos borradas as fronteiras entre ficção e
realidade. A estratégia discursiva da publicidade, entendida como um conjunto de
narrativas de mundo possíveis e favoráveis [direcionado a marcas e produtos], se valem
de dois padrões consagrados por Carrascoza (2005) que foi buscar na mitologia seu
argumentos: de um lado o padrão ‘apolíneo’ de persuasão, dominado pelo vetor lógico-
formal, em que o enunciador tenta influenciar o enunciatário por meio de argumentos
racionais e sustenta-se numa estrutura dissertativa. E do outro lado o padrão
‘dionisíaco’ que se apóia nos pressupostos da emocionalidade e, em geral, é constituído
no formato de narrativa. Essas duas linhas de força são calibradas na enunciação de
acordo com os objetivos do enunciador em face das características do público-alvo.
A partir dessa diferença, elegemos o discurso narrativo como exemplar para
fazer um percurso que sai das mãos do publicitário, seu produtor legitimado, e vai para
as mãos dos blogueiros. São eles que deverão se valer dos recursos persuasivos,
próprios da publicidade, para conseguir a atenção dos seus leitores e catapultá-los à
categoria de consumidores. Para uma primeira análise tomamos como foco alguns
elementos da narrativa como enredo, personagem, ambiente e tempo. Lembrando que
uma das características dos blogs é a proximidade entre o blogueiro e seu público e por
isso o relato na primeira pessoa é fundamental. Na sequência buscamos referências nas
fases sequenciais dos textos narrativos como a manipulação, a competência, a
performance e a sanção (FIORIN, 2001 apud CARRASCOZA, 2014, p.17). “Na
publicidade, a manipulação e a sanção (a recompensa para o personagem que agiu
conforme as ‘leis’ do consumo) são as fases das narrativas mais focadas”. Se
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Considerações finais
Diferente de uma campanha publicitária ou um programa de televisão que visam
estabelecer empatia com o público; o blog leva vantagem quando o contato se
estabelece entre pessoas, pois a linguagem se apresenta muito mais acessível para um
indivíduo expressar aquilo que pensa e sente do que para uma marca, um produto ou
serviço promover seus atributos e benefícios. Carrascoza (2014, p.157) chama a atenção
das empresa que não “empregam plenamente narrativas em sua comunicação
publicitária” para fortalecer seu poderio na arena das tramas discursivas, pois torna
reduzido [material e simbolicamente] o “mundo imaginário” que partilham com o seu
público.
Neste cenário, onde as empresas estão buscando alternativas para a sua
comunicação e consequente venda de seus produtos e serviços, Duffy (2005) nos alerta
para o risco que o blogueiro corre neste tipo de contrato: é somente dele a
responsabilidade pelo sucesso do negócio, ou seja, se ele conseguiu que um dos seus
seguidores compre o produto, ele também ganha; caso contrário, ele investiu todo o seu
tempo de graça e não deverá ganhar nada por isso. Desse modo, depreendemos que não
se trata apenas da transmissão e distribuição de informações e sim da relação entre
locutores e todas as suas implicações. Essa relação estabelecida entre as marcas, os
blogueiro e seus seguidores, necessita de narrativas poderosas para tornar visível modos
de ser e conviver socialmente que incluam produtos e serviços disponíveis e acessíveis
em um mercado em constante transformação, principalmente quando se tem na
tecnologia uma variável importante. Na contemporaneidade, esta variável ocupa largo
espaço no estudo da intersecção comunicação e consumo e junto com a ela a
publicidade, como local de encontro desses discursos.
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REFERÊNCIAS
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RESUMO
Existe uma crescente produção teórica sobre a midiatização no âmbito dos estudos de
comunicação e os meios contemporâneos. De forma geral, pode-se observar focos de
produção geograficamente localizados: países escandinavos (Dinamarca, Noruega,
Suécia), Alemanha, Brasil e Argentina e países anglo-saxões. Embora exista um debate
constante que tem ganhado terreno no campo da comunicação, grande parte das
contribuições teóricas produzidas por pesquisadores Latino-Americanos (LA) não tem
feito parte de maneira significativa. O objetivo deste capítulo é duplo: fornecer uma
discussão base sobre a teoria da midiatização; continuar com os esforços anteriores de
ampliar as proposições conceptuais do debate a partir dos encontros entre diferentes
correntes teóricas.
Introdução
Atualmente, dados inegáveis existem para suportar o pressuposto no qual baseia-
se a teoria da midiatização, o qual prescreve a existência de um processo de
transformação da sociedade e da cultura a partir da importância da mídia na organização
social: aumento qualitativo e quantitativo das interações articuladas usando a mídia
disponível, a qual preenche espaços, práticas e segmentos cada vez maiores da vida das
pessoas; o incremento de atividades que dependem cada vez mais em textos e
tecnologias de comunicação mediática; a massificação (em termos tanto quantitativos
quanto de uso) das tecnologias de comunicação pessoal.
Usamos a midiatização como concepto exploratório para entender as mudanças
da/na mídia e as consequências desses processos na vida social e cultural tanto dos
indivíduos quanto das instituições. Nas últimas duas década, a midiatização tem-se
posicionado como um conceito teórico chave nas pesquisa das ciências da comunicação,
e em um menor grau, nos estudos culturais. Em termos gerais, a midiatização é um
conceito utilizado para analisar criticamente a relação entre as mudanças no ambiente
midiático e as práticas comunicacionais por um lado, e as mudanças sociais e culturais
de uma determinada sociedade no outro (COULDRY, HEPP, 2013). Concretamente o
processo de midiatização estabelece uma reorganização das relações e dinâmicas entre a
462
Trabalho apresentado no Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de
Pesquisadores em Publicidade e Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
463
Doutorando do Programa em Ciências da Comunicação – ECA –USP. Email: nllano@usp.br
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868
ampliação dos objetos estudados464, mas de uma necessidade de formular uma teoria da
midiatização como uma contribuição à teoria social, a qual, como tem defendido Nick
Couldry, tenha umas bases de análises sobre ação da mídia no espaço social.
De acordo com Nick Couldry (2014), o estudo sobre a midiatização precisa uma
conexão real como a teoria social. Usando a teoria dos campos de Pierre Bourdieu
(2012) o autor vincula os preceitos básicos da teoria dos campos sociais com o objetivo
de descobrir resultados que estejam ligados a fenómenos sociais empiricamente
demostráveis; procurando deixar de pensar na midiatização como um fenômeno abstrato
e entende-a como processo que gera mudanças tangíveis na vida dos sujeitos, na
produção de sentido na vida cotidiana e na organização social. Segundo o autor, grande
parte do debate sobre midiatização ‘tem afirmado que a mídia tem a capacidade para
mudar a natureza do mundo social, mas sem ter produzido uma explicação explicita do
entendimento desse mundo social ampliado no qual essa afirmação, mesmo sua mesma
possibilidade de ser verdadeira, está baseada” (COULDRY, 2014, p.57). O interesse de
Nick Couldry de construir uma base de ontologia social em relação aos efeitos
(empíricos) da transformação produzida pela midiatização (não como elemento único
mas como um dos elementos transformadores) nasce da necessidade indagar sobre que
bases acreditamos que o mundo social pode ser mudado diretamente pelos processos
mediáticos e seus materiais? (2014).
A midiatização não descreve um processo linear, ao contrário, inclui ondas,
fases, rupturas e momentos contraditórios nos diferentes contextos geográficos (HEPP,
2013; THOMPSON, 1996); pressupõe um processo histórico –a longo prazo- (HEPP,
2013; KROTZ, 2014; COULDRY, 2014); que não foi estabelecido com a advento da
digitalização das formas simbólicas ou com a aparição da internet (HEPP, 2013); que
não só abarca as transformações da mídia, mas também as formas simbólicas e os
processos comunicativos mediados (KROTZ, 2014; HEPP, 2013); que transita na busca
de respostas entre as mudanças na mídia e os processos comunicativos por um lado, e
do outro, as mudanças sócio-culturais; é um constructo conceitual como a
individualização, globalização, comercialização; (ibidem, 2013). Para Krotz, a
comunicação é o elemento central entre as mudanças na mídia e as mudanças na cultura
e a sociedade. “O que realmente está mudando é a forma em que nos comunicamos; isso
464
Existe uma crescente expansão dos objetos analisados sob o lente da midiátização (Ver
LUNDBY, 2014). No entanto, objeto ligados às dimensões da vida cotidiana permanecem relativamente
opacados em relação ao análise de outros campos e esferas societárias, especialmente a religião e a
política.
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871
Para outros autores, existe um recorte específico que marca o contexto temporal
no qual deve-se instaurar a reflexão teórica do fenômeno: o nascimento da media age.
Período no qual a mídia transforma-se em uma instituição com imensa importância em
todos os sectores e dimensões sociais, ao contrario de simplesmente fazer parte de uma
dimensão da sociedade (HJARVARD, 2008). Embora alguns autores LA suportem a
teses da midiatização como processo histórico (Fausto Neto, Eliseo Verón, José Luiz
Braga), existe uma caracterização de intensidade do processo de midiatização localizado
temporalmente a partir dos avances audiovisuais e digitais das tecnologias
comunicativas, especialmente por Antônio Fausto Neto, Jairo Ferreira e Gilberto
Gomes: “A convergência de fatores sócio-tecnológicos, disseminados na sociedade
segundo lógicas de ofertas e de usos sociais produziu, sobretudo nas três últimas
décadas, profundas e complexas alterações na constituição societária, nas suas formas
de vida, e suas interações.” (FAUSTO NETO, 2008, p.92)
No contexto Latino-Americano, existe um compartilhamento posicional que
demarca, de maneira qualitativa sem datar especificamente mas sim contextualizando,
uma sociedade pré-midiatizada. Embora não exista um ponto marcante definitivo, há no
trabalho destes autores uma caracterização das transformações que caracterizam esses
dois momentos. Para Jose Luiz Braga, o processo está caracterizado pela transição
(submissão) dos modelos interacionais de referência e as fases desse processo de
mudança. Segundo o autor, no estágio atual do processo existem lógicas ligadas ao
processo anterior (uma hegemonia da cultura escrita como sistema simbólico de
organização societária) e outras caracteristicamente novas da midiatização os quais são
mais do que modos de produzir-transmitir-circular significados, sendo caracterizados
pela função de construção da sociedade. Nesta perspectiva, José Luiz Braga compartilha
a proposição feita por Jon. B Thompson e seu conceito de ‘mediazation of culture’ o
qual caracteriza a transformação sistemática da cultura em relação à produção e
circulação simbólica gerada pelo advento da imprensa: “Um primeiro passo do
desenvolvimento da mediatização é a criação de tecnologias para atingir objetivos
sociais e interacionais do mundo da escrita e da instauração burguesa “inicial”. Alguns
fazeres específicos dos processos mediáticos derivam de objetivos dessa sociedade
por definição pré-mediática.” (BRAGA, 2006, p.5).
Em trabalhos posteriores, Verón, quem tinha caracterizado o processo de forma
inicial a partir de uma perspectiva histórica ligadas às possibilidades materializantes e
exteriorizastes do processo cognitivo, diferencia uma sociedade previa à em vias de
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REFERÊNCIAS
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880
Tatiana SICILIANO466
Miguel MENDES467
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
RESUMO
O presente trabalho estuda peças de campanhas publicitárias categorizadas como
cartilhas. Essas publicações têm papel em situações em que o consumidor é persuadido
a transformar seu comportamento da mesma forma como o são os leitores de manuais
de boas maneiras. Sob a ótica de Norbert Elias, que descreve o processo civilizador em
curso, analisamos duas cartilhas lançadas em momentos em que o mercado brasileiro se
deparava com a popularização de produtos derivados de novas tecnologias e como eles
eram ensinados a se portar com as inovações.
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As cafeteiras Nespresso custam, em 2015, de 400 a 1800 reais. Quem as compra fica fortemente ligado
à marca, uma vez que o aparelho só funciona corretamente com as cápsulas de pó de café patenteadas
pela companhia e vendidas apenas em lojas da marca, físicas ou virtuais. O consumidor é ensinado a
operar e a fazer a manutenção da máquina, a distinguir as inúmeras variedades de pó de café e a preparar
drinks. Ele também deve ficar preparado para as mudanças fisiológicas, já que a presença de cafeína em
sua dieta é fortemente incrementada. www.nespresso.com/br. O automóvel 100% elétrico e sua variedade,
o automóvel híbrido, ainda não são realidade no mercado brasileiro, mas o modelo Nissan Leaf já circula
nas grandes cidades pilotado por taxistas contratados pela companhia. Nos Estados Unidos já são
vendidos o modelo da japonesa Nissan, o modelo Volt da americana GM e o esportivo Tesla, da
alternativa Tesla Motors. O consumidor precisa aprender como funciona o motor elétrico, como abastecê-
lo e como fazer a manutenção das baterias. http://www.chevrolet.com/volt-electric-car.html
www.nissan.pt/PT/pt/vehicle/electric-vehicles/leaf.html http://www.teslamotors.com/.A pulseira Fitbit é
um fitness tracker ou monitor de atividade física. Usada no pulso, mede número de passos dado pela
pessoa, qualidade do sono e outras variáveis fisiológicas. Custa de 130 a 250 dólares. O consumidor
884
Em todos os casos, não basta desejar o produto pelo que ele simboliza; o consumidor
precisa compreender a funcionalidade do produto e como utilizá-lo.
Em relação à primeira cartilha analisada, é preciso contextualizar que a Panair
do Brasil foi uma companhia aérea que operou de 1930 a 1965, quando sofreu uma
súbita falência por decreto do Governo. Originalmente subsidiária da Pan American
Airlines, foi nacionalizada e, durante os anos 1940 e 1950, era a principal empresa aérea
brasileira, tanto levando a elite política e empresarial em viagens intercontinentais
quanto transportando remédios, médicos e feridos em hidroaviões por toda a Bacia
Amazônica.
Segundo seus passageiros habituais, era uma companhia que possuía glamour,
rivalizava com as embaixadas no apoio aos brasileiros que viajavam para a Europa, e
portava um padrão de qualidade diferenciado, tanto no serviço de bordo quanto na
manutenção técnica. Conforme colocou o ex-piloto Comandante Orlando Marques da
Silva, "além de ser do Brasil no nome, era dos brasileiros no coração".
Nesse contexto voar era, ao mesmo tempo, um grande privilégio e uma grande
aventura. O irmão do presidente da companhia lembra que "a saída de um
Constellation, que era uma vez por semana, era um acontecimento social. Saía a lista de
passageiros nos jornais: as pessoas que iam embarcar no Constellation da Panair para a
Europa". Mas as aeromoças contam que as viagens eram longuíssimas: o voo do Rio a
Lisboa durava 22 horas. O ex-piloto Cmte. Fernando Rocha recorda que "a travessia do
Atlântico de Constellation era uma epopeia. (...) O avião sem radar, era uma coisa,
assim, que, contando hoje, aos pilotos modernos, eles acham que era uma temeridade".
Constellation era o modelo de avião comprado após a guerra para a rota do Brasil à
Europa, e era o melhor avião de passageiros de sua época.469
O contexto da cartilha para usuários de celular é outro. Era o Brasil do final dos
anos 1990, cerca de cinquenta anos após os tempos de ouro da Panair. Sob o ponto de
vista dos estudos sobre consumo, havia, no entanto, semelhanças. O telefone celular era
um produto que já tinha sido um marcador de alta posição social mas, naquela
aprende a interpretar as medidas, a operar o software necessário e a disciplinar seu próprio corpo segundo
os dados do aparelho. http://www.fitbit.com/.
469
Estes e outros depoimentos podem ser vistos no documentário Panair do Brasil, disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=e1A9W_9xSts
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470 Modernetes e aparelhos tijolo marcaram a pré-história da telefonia celular brasileira, FOLHA On
line / dinheiro/ nova telefonia celular
886
ou que o consideram uma aventura perigosa, uma temeridade da qual ouviram falar.
Não há problema. "Já se foi o tempo em que o avião era um veículo heroico", apregoa a
cartilha.
A mensagem principal é que a companhia cuidará de tudo para o passageiro e
que ele pode ficar tranquilo. Possíveis incômodos são alertados de antemão e o
passageiro é instruído a seguir certas normas, em determinados momentos, para seu
próprio bem.
No primeiro parágrafo, já se percebe que viajar de avião é como um ritual em
que nos condicionamos a dar significado à marcação do tempo:
Chegando ao aeroporto, na hora estipulada para o embarque, o passageiro
notará uns toques de sineta antes e por ocasião da chegada de cada avião.
Um toque é sinal que um avião foi avistado do aeroporto, ou que a tripulação
de um avião que está de partida deve embarcar; dois toques significam ter
chegado o momento do embarque dos passageiros. Estes devem procurar
seus lugares, assentando-se logo nas suas poltronas, para evitar atropelos a
bordo.
A descrição do ritual continua mais adiante:
Sentado na poltrona que lhe será indicada pelo comissário, de acordo com a
distribuição calculada do peso, assista às manobras para a decolagem. Antes
da partida, o comandante é obrigado a examinar o funcionamento dos
motores e instrumentos de voo. Quando tudo está em ordem, dirige o
aparelho para a extremidade da pista, orientando-se contra o vento. Nessa
ocasião é necessário que todos os passageiros estejam sentados e cintados.
Há ênfase na mensagem de que os funcionários da companhia estão a serviço do
passageiro:
Quando completada a decolagem, os comissários se encarregarão,
solicitamente, da acomodação dos objetos que porventura estiverem em seu
poder: capas, manteaux, pastas, etc. (...) A Panair, que sempre se preocupou
em proporcionar o máximo de conforto e bem estar aos seus passageiros, a
fim de que se sintam a bordo rodeados de atenções e passatempos
agradáveis, mantém nas aeronaves um comissário à disposição dos mesmos,
a quem poderão pedir cock-tails, água gelada, etc, bem como as informações
que desejarem. Assim que sentir apetite, o passageiro avisará ao aeromoço,
para que lhe sirva a sua refeição.
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era recebida com flores no aeroporto"473. A mensagem da cartilha é de que nada de mal
pode acontecer. Aliás, o que puder incomodar o passageiro está previsto e tem solução.
É tudo muito normal. Por essa operação, o transporte aéreo é vendido não pelo que é na
prática, mas pelo que simboliza (valores positivos como a familiaridade, o respeito, a
distinção social); o consumidor, educado para a nova modalidade de consumo, não é
mais um ser humano frágil carregado por máquinas incompreensíveis. É um novo
papel: o viajante aéreo.
Analogamente, o manual de etiqueta do celular também insiste que o aparelho,
apesar de novo, está perfeitamente encaixado no cotidiano. Ele acompanha o usuário em
casa, no trabalho, durante os deslocamentos, nos compromissos sociais e no tempo de
lazer. No discurso da cartilha, o telefone é "uma poderosa arma para patrões e
empregados e, como qualquer arma, deve ser usada corretamente". Ele foi "criado para
que você possa usá-lo em quase todos os lugares". Ele concede "essa dádiva que é a
tecnologia digital". O usuário, educado para a nova modalidade de consumo, não é mais
um ser humano que se obriga a carregar um aparelho que interrompe ruidosamente suas
atividades. É um novo ator social: o usuário de celular.
Voltando ao conteúdo textual das cartilhas, notamos também que, muitas vezes,
a dica se refere a movimentos do corpo e a incômodos físicos relacionados ao uso da
nova tecnologia:
Para viajar na Panair não é necessária roupa especial. Nem
mesmo a tripulação usa macacão ou óculos.
890
consequências desastrosas.
891
faziam viagens aéreas habitualmente e das pessoas que utilizavam telefones móveis).
Hoje as peças de propaganda, cartilhas inclusive, continuam educando os consumidores
para o uso de novas tecnologias.
Para finalizar: a publicidade funciona como “operador totêmico” ao relacionar a
esfera da produção – impessoal, mecânica, desumana – com a esfera do consumo –
humana, cultural, simbólica (ROCHA, 1995). Os produtos e serviços consumidos
transferem significados deles para os indivíduos consumidores, que vivem uma
constante busca de marcar sua posição social por meio desses significados. É a luta por
permanência num mundo extremamente dinâmico. A tecnologia provocar alterações
nesse código de consumo ao introduzir novos produtos e serviços. A publicidade, assim,
tem a tarefa de naturalizar a novidade, inserindo novos conceitos e encaixando-os em
alguma das categorias já existentes no sistema. Isso é feito com a construção de novos
“mitos” e novos “ritos” materializados na forma de campanhas e anúncios, mas também
pela educação para o consumo. A educação para o consumo é uma vertente do processo
mais geral do processo civilizador, em que novos comportamentos considerados
“civilizados” e valorizados como marca de distinção social são, progressivamente,
difundidos por toda a sociedade, a ponto de serem, posteriormente, não mais
considerados marca de distinção, mas condições mínimas e “naturais” de pertencimento
a essa “civilização”.
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McCRACKEN, G. Cultura e consumo: uma explicação teórica da estrutura e do movimento do
474
Distinção aqui definida a partir de Bourdieu (2007) no qual os gostos e as preferências seriam
responsáveis, mais do que as condições econômicas, pela posição do sujeito no espaço social, traduzindo-
se por estilos de vida e de julgamentos estéticos
892
893
RESUMO
Neste artigo, visamos refletir sobre uma ação publicitária que se utilizou da tecnologia
de realidade aumentada, desenvolvida para a marca Linx, em março de 2011.
Mobilizamos fundamentos da Semiótica Discursiva, especificamente sobre a questão da
enunciação e a instalação da categoria de pessoa, articulando-os com conceitos afeitos à
Comunicação Social, em especial a perspectivas utilizadas para compreensão dos
fenômenos da cibercultura. Pretendemos, assim, identificar peculiaridades nas
interações mediadas por dispositivos de realidade aumentada, considerando esse tipo de
atividade comunicativa como aspecto absolutamente novo para os estudos do discurso
publicitário.
Introdução
É consenso nas ciências sociais contemporâneas, tanto quanto nos estudos de
linguagem, que a chamada cibercultura é algo que ainda requer muitas investigações.
Realmente, apesar de, na maior parte das vezes, as situações tratarem tão somente de
adaptarmos os conceitos teóricos já consolidados à novos objetos de análise,
acreditamos que é preciso também reconhecer que a Cultura Digital apresenta aspectos
inéditos nos seus contratos comunicativos – que não poderiam ter sido considerados até
agora porque decorrem de atividades que a cultura humana jamais havia experimentado,
fruto de situações que implicam o trato intenso com novas tecnologias de informação.
Para além de uma apreensão tecnicista do momento atual, a lógica cibercultural
inclui uma visada sobre a atitude dos sujeitos pós-modernos, considerando todos os
aspectos que são relativos à percepção de si e do mundo na sociedade contemporânea; e,
portanto, diretamente ligada às condições de fazer e produzir sentido – especialmente
em discursos construídos em ato e mediados por tecnologias digitais, o que nos instiga a
475
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
476
Publicitário; doutorando em Estudos de Linguagem – UFF; mestre em Comunicação e Cultura
– UFRJ; graduado em Publicidade e Propaganda – UFF; membro do ReC – Grupo de Pesquisa em
Retórica do Consumo – UFF/CNPq; professor da FACHA-RJ e da UVA-RJ; e-mail:
sandrotorres.com@gmail.com.
894
vivenciadas na atualidade.
Assim, propomos um caminho que se inicia com a análise semiótica de um
evento publicitário desenvolvido para a marca de desodorantes “Linx” (no Brasil, o
mesmo produto da empresa Unilever é conhecido como “Axe”), ocorrida em março de
2011, na estação de trens Victoria, em Londres/RU . Dada a descrição e análise do
478
895
479
A ação publicitária em questão foi conceitualmente desenvolvida em sintonia criativa com
uma campanha veiculada pela marca Linx. Isto é, uma série de peças publicitárias foi exibida na época
em que a ação da Estação Vitória ocorreu; nela, comerciais, anúncios, outdoors e toda sorte de mídias
apresentavam a mesma temática: o uso do novo desodorante Linx Excite disparava no usuário o que o
slogan da campanha chamava de “Linx effect”, algo que, segundo a concepção lúdica da publicidade,
produziria um efeito tão libidinoso naqueles ao redor do usuário que seria capaz de corromper até a
pureza divinal de um anjo. Dessa forma, a ação de RA que ora analisamos não deixa de ser apenas uma
parte do todo de uma campanha publicitária, que, portanto, precisa reforçar as isotopias comuns às peças
que lhe são concomitantes. Um comercial para TV da mesma campanha pode ser conferido em:
http://youtu.be/D59BxfzCFJ8.
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480
O termo ciborgue deriva da junção das palavras inglesas cybernetic e organism, ou seja,
"organismo cibernético". Refere-se à introdução de dispositivos tecnológicos das mais variadas matrizes
no corpo orgânico, para efeito de substituição ou ampliação de capacidades naturais.
900
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482
Sobre a enunciação e a instalação de suas categorias, ver: Fiorin, 2001.
903
intensos na constituição do sujeito, seja no que se refere a si mesmo, seja na sua relação
com o mundo a sua volta.
483
Ainda segundo a autora, a então “crise da identidade” de forma alguma se refere a um tipo de
“morte” da concepção de sujeito, mas, inversamente, reforça a ideia de que uma matriz multifacetada é
em si uma modalidade identitária – exatamente a que caracteriza os sujeitos na pós-modernidade. Apesar
disso, a própria noção de “eu essencial” não é subvertida, até porque, de acordo com Turkle, na rede "as
pessoas são capazes de construir um eu ao flertar com muitos eus" (TURKLE, 1997, p.235).
904
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Considerações finais
Se, pelo ponto de vista da marca, as possibilidades de interação e simulação
dadas pelos personagens interlocutores que figuram na tela estão pré-estabelecidas,
revelando uma estratégia de manipulação/programação que apenas cria um efeito de
sentido de diálogo com os indivíduos que passam pela rua e participam do “evento”; do
ponto de vista dos participantes, uma série de competências e modalizações são
906
907
lembrar Greimas (2002), em “Da imperfeição” – que são fundamentais para atribuição
do “valor” a se buscar conjunção no programa narrativo da ação de realidade
aumentada: a experiência.
REFERÊNCIAS
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TURKLE, Sherry. A vida no ecrã: a identidade na era da Internet. Lisboa: Relógio D’água,
1997.
908
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo dar início a uma discussão a respeito das
audiovisualidades publicitárias na web. Partindo de um panorama a respeito das
conceituações de publicidade, traz a definição de dois modelos publicitários que se
tornam complementares na atualidade: o massivo, com base nos meios de comunicação
de massa, e o pós-massivo, alicerçado nas mídias pós-massivas, em especial na internet.
Valendo-se da compreensão de audiovisualidades, que é o modo de ser audiovisual, o
qual se atualiza nas mais diversas mídias, busca trazer uma reflexão inicial do
comparecimento da publicidade e do audiovisual na publicidade na web.
Publicidade
484
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
485
Publicitário (UFSM), Mestre em Comunicação e Linguagens (UTP), Doutorando em Ciências da
Comunicação (Unisinos) e integrante do Grupo de Pesquisa Audiovisualidades e Tecnocultura:
comunicação, memória e design (Unisinos). Atualmente é professor dos Cursos de Comunicação Social
da Univates e da Universidade de Santa Cruz do Sul. E-mail: lucio@lucioamaral.com.br.
909
910
praticarem uma ação específica ou imediata. Ela visa a uma mudança das
atitudes do público em relação a uma ideia. (SANTOS, 2005, p. 17)
Assim, a publicidade é um grupo de técnicas utilizadas para a promoção de uma
atividade comercial, que aumentam, conquistam ou mantem clientes. Ela é utilizada
sempre com objetivos mercadológicos e comerciais, tendo o enunciador da mensagem
publicitária claramente identificado, pois o receptor deve saber qual é o produto a ser
comprado ou o serviço a ser utilizado. No início, a publicidade era utilizada para
finalidades jurídicas, dando conta da abertura dos debates ao público (uma vez que eles
eram realizados com portas fechadas e sem a participação pública), mas, com o tempo,
ela foi sendo popularizada, tornando-se uma “forma de comunicação que utiliza um
conjunto de meios pagos, e que influi no público e o persuade para a compra de
mercadorias e serviços” (GOMES, 2003, p. 102).
A publicidade que conhecemos atualmente tem seu desenvolvimento com a
Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX. Se a Revolução Industrial foi um marco
divisório na história da humanidade, com a publicidade não foi diferente.
Em seus primórdios, a partir das transformações dos modos de produção
resultantes da Revolução Industrial, unidas à formação das multidões nas
metrópoles que se organizam no século XIX, a comunciação publicitária se
faz necessária como forma de tornar pública a mercadoria produzida em
larga escala, anunciá-la aos possíveis compradores, sendo reconhecível,
neste período, em seus apelos ao consumo e no protagonismo da mercadoria
e seus efeitos (inclusive de âmbito social, como a aceitação do outro, o
alinhamento à moda vigente, etc.). (CASAQUI, 2014, p. 38)
Nesse contexto, Gomes (2003) trata a publicidade a partir de duas dimensões: a
informativa e a persuasiva. Isso significa dizer que ela deve informar e persuadir o
consumidor, demonstrando de maneira evidente o seu objetivo de induzi-lo a uma ação
de compra. Por isso, a informação publicitária possui características próprias que a
distinguem de uma simples informação, ou mesmo da informação jornalística:
parcialidade, elegendo os melhores atributos do produto ou do serviço na relação com o
consumidor e com os concorrentes; intencionalidade, utilizando a informação para
colaborar no fomento das vendas do anunciante; independência do meio que utiliza,
tendo o seu próprio controle das informações que divulga, uma vez que os meios de
comunicação vendem apenas o espaço (físico ou temporal) para a inserção publicitária.
A dimensão persuasiva, por sua vez, parte da utilização da melhor informação
para buscar persuadir o consumidor a adotar uma ação de compra, mas não fica somente
no âmbito descritivo. A publicidade, então, é uma comunicação persuasiva onde se
“difundem mensagens motivadoras que proclamam a existência do produto e exaltam
suas características; [...] dá a notícia interpretada do fato; [...] aspira a influenciar”
911
(GOMES, 2003, p. 107). Esse tipo de comunicação, para a autora (2003, p. 108), é
aquela “que tem como objetivo a mudança de comportamento do receptor”, seja na
indução ao consumo de um produto, marca ou serviço, na ampliação dos seus usos, na
exposição de uma determinada promoção, ou mesmo na criação de confiança para usar
um produto, marca ou serviço, uma vez que,
no caso da comunicação persuasiva, a fonte e o emissor têm intenções bem
claras de influir e obter um efeito objetivo e, além de tudo, o receptor
percebe essa intenção e de alguma maneira reage, seja de forma positiva
(aderindo) ou negativa (rechaçando). Ambos os sujeitos da comunicação
estão, assim, de acordo em reconhecer o tipo de intenção que o conteúdo e a
forma da mensagem está transmitindo. Que seria, no caso, um conteúdo e
uma forma persuasiva. (GOMES, 2003, p. 108)
A partir da Revolução Industrial, a publicidade vem utilizando um modelo em
que adota os meios de comunicação de massa como a televisão, o jornal, a revista, o
cinema e o rádio para a difusão das suas mensagens. Nesse modelo, a comunicação
persuasiva é, de certa forma, unilateral, onde marcas, produtos e serviços (os
anunciantes) transmitem as suas mensagens para os consumidores, sem que estes
possam dar muitos feedbacks 486
além dos resultados em vendas, um dos poucos
elementos que podem ser mensurados em termos quantitativos. A comunicação
persuasiva, nesse modelo massivo, transmite suas mensagens explorando características
próprias de cada um desses meios de comunicação de massa. É nesse sentido que a
televisão é a mídia com mais investimentos publicitários no Brasil, respondendo por
60,59% (juntamente com a televisão por assinatura) deles durante o ano de 2013
(MÍDIA DADOS, 2014), seguida pelo jornal (16,42%) e pela revista (6,16%), pois tem
a maior penetração, com 93% dos brasileiros assistindo (BRASIL, 2015), à frente do
rádio (46%) e da internet (42%).
No modelo massivo, a pubicidade é baseada na concepção de intervalo
comercial, onde a sua veiculação é claramente separada da programação exibida pelas
emissoras de televisão e de rádio, assim como também nas mídias impressas. Nas
mídias eletrônicas há blocos de programação seguidos de blocos de publicidade. Apesar
do corte que um sofre do outro, ambos convivem em harmonia, visto que, de certa
forma, eles possuem conteúdos de acordo com determinados interesses dos
telespectadores: as emissoras de rádio e televisão fornecem o perfil do público que
assiste os seus programas e, com base nele, os comerciais são direcionados, respeitando
o perfil do público-alvo do anunciante, que presume-se estar assistindo o programa
486
Respostas dadas ao emissor a partir de uma comunicação publicitária.
912
913
Audiovisualidades
Audiovisualidades não é um conceito restrito somente às tecnologias que aliam
som e imagem, mas é uma forma de existir que age de diferentes maneiras nas mais
variadas mídias, atualizando-se também em mídias não reconhecidamente audiovisuais.
O seu estudo procura caracterizar o audiovisual e suas potencialidades em qualquer
campo midiático, e não somente nos campos estritamente audiovisuais.
O termo tem inspiração nos conceitos de imagicidade (EISENSTEIN, 1990) e de
cinematismo (EISENSTEIN, 2002), os quais propunham que o cinema já existia antes
mesmo da invenção da indústria cinematográfica e da exibição de filmes. Para
487
Interação mútua, para Primo (2007), é aquela em que existem relações interdependentes e negociação
entre os participantes do processo, construindo a interação entre eles.
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quando ele clica no banner alguma ação é realizada, ou quando passa o mouse acima do
banner o ponteiro pode se transformar em um ícone. O som somente pode ser utilizado
no momento do clique do usuário.
Figura 2 - Banner 300x250
Figura 3 - Anúncio pre-roll, antes de cinco segundo, e após, com o botão “Pular anúncio”
919
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REFERÊNCIAS
921
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(org.). Ciberpublicidade: discurso, experiência e consumo na cultura transmidiática. Rio de
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SANTOS, Gilmar. Princípios da publicidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.
922
RESUMO
Este artigo discute a midiatização do zeitgeist494 pela publicidade, que tem o poder de
materializar o espírito do tempo nos seus mais variados formatos e linguagens. Para
exemplificar a ideia central da pesquisa em pauta, foram selecionados ações do
ecossistema publicitário da moda, área fundamental para a identificação de tendências
socioculturais, ou seja, comportamentos emergentes e novos valores sociais nas
dinâmicas da vida cotidiana.
491
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
492
Doutoranda e Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA-USP). Pesquisadora junto ao GESC3 – Grupo de Estudos Semióticos
em Comunicação, Cultura e Consumo. Email: janienesantos@usp.br
493
Livre-docente em Ciências da Comunicação pela ECA USP. Doutora em Comunicação e
Semiótica pela PUC SP. Professora da ECA USP. Líder do GESC3 – Grupo de Estudos Semióticos em
Comunicação, Cultura e Consumo. Fundadora da Casa Semio. cloperez@terra.com.br
494
Termo alemão que também significa espírito do tempo ou sinais do tempo, e que ficou
conhecido pela obra “Filosofia da História” de Hegel.
923
RESUMO
O presente texto tem o objetivo de apresentar uma proposta analítica sobre as
possibilidades de investigar a imagem reputacional das organizações contemporâneas.
O embasamento teórico abrange as reflexões sobre identidade, percepção e imagem
marcária e corporativa e reputação organizacional, mas se fundamenta conceitualmente
na perspectiva do public feeling.
924
RESUMO
Não é de hoje que as grandes produções cinematográficas utilizam recursos inovadores
e revolucionários para garantir uma perspectiva imersiva do entretenimento como um
todo, não somente nas respectivas salas de cinema, mas trazendo a ambientação e a
socialização fílmica para o cotidiano do público expectador. O cinema tem criado
franquias que provocam e exigem de seus espectadores um certo “repertorio” técnico,
fílmico e até mesmo filosófico, para compreender e realizar a imersão adequada para o
resultado positivo com relação ao objetivo que a trama busca atingir, como foi o caso
das franquias de Tron, Lord of the Rings, Star Wars, entre outras. No presente artigo
vamos percorrer um breve histórico de produções bem-sucedidas transmidiaticamente e
traçar um panorama cinematográfico que essa relação de convergência de mídias tem
alicerçado como tendência não só de publicidade, mas também de construção cultural e
interativa para os espectadores/usuários.
495
Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital – TIDD pela PUC SP. Graduado em
Multimeios pela PUC SP. Pesquisador da Casa Semio e do GESC3 – Grupo de Estudos Semióticos em
Comunicação, Cultura e Consumo. filipesperez@hotmail.com
925
RESUMO
Ainda que a teoria do agenda-setting seja amplamente aceita no meio acadêmico, há
poucos estudos a respeito de sua ocorrência no ambiente digital. Este trabalho tem o
intuito de dar um passo em direção ao esclarecimento da possível ocorrência do efeito
de agenda-setting nas mídias sociais. Para tanto, em um estudo de intermedia agenda-
setting, optamos por investigar a relação entre o Twitter e os veículos tradicionais de
comunicação. Por meio da ferramenta TweetReach, analisamos o conteúdo discutido
nessa mídia social a respeito da CPI da Petrobrás. A conclusão obtida foi de que as
mensagens veiculadas no Twitter, em sua maioria, tiveram como origem grandes
veículos da mídia. Assim, traçamos um paralelo entre o resultado e as considerações de
Anita Elberse que sugerem um contraponto ao conceito da “cauda longa”, de Chris
Anderson.
1 Introdução
Concebida em 1972, pelos professores Don Shaw e Maxwell McCombs, na
Universidade da Carolina do Norte, a teoria do agenda-setting atesta que os assuntos
discutidos no cotidiano são pautados, em grande parte, pela lista de assuntos
considerados relevantes pela mídia. Em outras palavras, a teoria afirma que ocorre uma
transferência de temas da agenda da mídia para a agenda pública.
Amplamente aceita no meio acadêmico, a teoria foi criada com o intuito de
explicar os efeitos sociais causados pela mídia. Desde o advento dos meios de
comunicação de massa estuda-se cientificamente a possível influência que eles têm
sobre seus espectadores. Entretanto, pouco foi estudado, no âmbito do agenda-setting,
sobre os efeitos que a mídia digital causa sobre seus espectadores. Ou, melhor dizendo,
sobre seus usuários.
Mais do que espectadores, os usuários da internet tem facilmente a seu alcance
a possibilidade de produzir conteúdo, comentar conteúdo produzido e compartilhá-lo.
496
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
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Especialista em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e graduado em Publicidade e Propaganda
pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, email: jvseno@yahoo.com.br
498
Orientador do trabalho. Professor do Curso de Pós-Graduação lato sensu da Faculdade Cásper
Líbero, email: marcelo.coutinho@post.harvard.edu
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Por outro lado, continuam sendo espectadores, mas de um número infinito de fontes de
informação. Essa ruptura com o modelo tradicional dos meios de comunicação de
massa é festejada por muitos. No próprio meio acadêmico, há quem proclame a
liberdade sobre o agendamento de temas pela mídia, pois, agora, o indivíduo é seu
próprio gatekeeper. Ou seja, ele é quem escolhe onde vai procurar informações sobre os
acontecimentos do mundo. Há também posturas menos eufóricas, que questionam quais
são as verdadeiras mudanças na relação entre o indivíduo e a mídia.
Nossa intenção foi clarificar as linhas tênues que dividem essas duas posturas,
por meio do estudo da ocorrência do efeito de agenda-setting no ambiente digital. Para
tal, foi feita uma proposta metodológica inspirada em estudos empíricos já realizados ao
longo dos mais de 40 anos da teoria. Fizemos um levantamento das pesquisas
tradicionais e suas novas aplicações, e nos chamou a atenção o número pequeno de
trabalhos dedicados à investigar a ocorrência da teoria nas mídias sociais – um destino
popular dos usuários da rede e, seguramente, uma nova fonte de informações.
Seriam as mídias sociais uma nova forma, distante da mídia tradicional, de
buscar informações sobre produtos, eventos cotidianos, notícias? Ou, talvez, seriam os
próprios usuários os novos produtores midiáticos, dispostos a oferecer ângulos autorais
sobre fatos e acontecimentos? Ou, quem sabe, o conteúdo exibido pelos grandes
veículos de comunicação meramente encontrou um novo canal de distribuição? Essas
foram as questões norteadoras deste trabalho.
Optamos por realizar uma pesquisa sobre intermedia agenda-setting e estudar
a relação entre a mídia social Twitter e os veículos tradicionais de comunicação. Nossa
proposta foi analisar as postagens feitas a respeito de um acontecimento político
importante ocorrido ao longo da elaboração da pesquisa – a CPI da Petrobrás.
Buscamos entender se os posts feitos nessa mídia social foram pautados pelos próprios
usuários, por fontes alternativas de informação ou pelos veículos tradicionais de
comunicação.
Se, em um primeiro momento, foi feita a opção por analisar um tema do
noticiário jornalístico, vale dizer que pesquisas futuras podem se utilizar de produtos
publicitários ou qualquer outro tema presente na agenda pública para averiguar a
relação entre a mídia tradicional e a mídia digital. Por exemplo, seria interessante
entender se a discussão sobre temas da saúde pública se origina prioritariamente a partir
da comunicação publicitária dos órgãos oficiais de saúde, da mídia tradicional ou das
novas mídias.
927
928
114, tradução nossa). Agências de notícia, por exemplo, são grandes contribuidores
desse efeito. Ele é um panorama sociológico da teoria do gatekeeping – segundo a qual
os jornalistas atuam como “porteiros” (em inglês, gatekeeper) ao decidir quais matérias
devem ser publicadas e quais não devem passar pelo portão. As primeiras investigações
a respeito desta teoria enfatizavam apenas os aspectos psicológicos que levavam às
decisões dos “porteiros”. Já o intermedia agenda-setting observa que existe uma relação
simbiótica entre os diferentes veículos da mídia.
McCombs (2004, p. 116) afirma que jornalistas validam as notícias escolhidas
observando o trabalho de seus concorrentes, e veículos pequenos prestam atenção na
agenda dos meios de comunicação de maior status. As próprias normas e tradições do
jornalismo, ao serem aplicadas ao grande número de eventos que acontecem dia após
dia, constroem agendas midiáticas com alto grau de similaridade.
O presente estudo investiga, justamente, se a redundância de temas que ocorre
entre os veículos tradicionais da mídia se reproduz na internet, ou se a vasta gama de
informações independentes e divergentes que ela oferece alcança, de fato, os usuários.
929
como acontece na televisão a cabo, na qual há uma vasta diversidade de canais, mas
concentração de audiência em alguns poucos. Além disso, muitos desses sites populares
são subsidiárias de meios de comunicação tradicionais, o que pode apenas aumentar os
canais de expressão das mesmas fontes. Por fim, as normas e tradições do jornalismo
podem causar a mesma similaridade que ocorre em outras mídias.
Scott Maier (2010, p. 548) afirma que as notícias online não aumentam o
acesso ao público para perspectivas diversas se a mídia digital simplesmente reproduz
as matérias da mídia tradicional. O pesquisador analisou 3900 matérias veiculadas entre
janeiro de 2008 e junho de 2009, nos principais meios de comunicação norte-
americanos, dentre jornais, canais de televisão aberta e fechada, rádio e sites de notícia.
Sua conclusão foi de que a 59% das notícias online cobriam os mesmos tópicos da
mídia tradicional. Dentre as dez matérias que mais receberam atenção nos sites de
notícia, a similaridade era ainda maior: oito delas também estavam entre as dez histórias
mais trabalhadas pelos jornais e pela televisão. Além da correlação entre os assuntos
cobertos, a freqüência e a profundidade da cobertura também coincidiram. Ainda que
existam mais fontes de informação do que nunca na internet, o escopo de notícias
aparentemente se mantém estreito.
930
4 O Twitter
Segundo o site oficial do Twitter, sua missão é “dar a todos o poder de criar e
compartilhar ideias e informações de forma instantânea, sem barreiras” (2014, tradução
nossa). 255 milhões de usuários ativos mensalmente enviam 500 milhões de tweets por
dia, sendo 78% via dispositivos móveis. Tweets são mensagens instantâneas de até 140
caracteres, trocadas entre os usuários. O Twitter funciona como uma mistura de mídia
social e microblogging, pois usuários conectados interagem por meio da publicação
desses textos curtos. Cada indivíduo que usa o Twitter detém uma linha do tempo onde
visualiza as mensagens feitas pelos usuários que segue – logo, é chamado “seguidor”
destes usuários. Na ferramenta, há um recurso popular denominado retweet (ou RT),
que consiste em reenviar para seus próprios seguidores mensagens feita por outros
usuários.
Grandes grupos da mídia brasileira mantêm perfis no Twitter, à semelhança do
que acontece no resto do mundo. Canais de televisão como Globo e SBT, jornais como
Folha de S. Paulo e Estadão, rádios como CBN e BandNews, todos replicam suas
notícias via Twitter. Igualmente, veículos menores, ditos independentes, também
publicam notícias e outros conteúdos pela ferramenta. No presente trabalho,
chamaremos estes veículos pela alcunha genérica de fontes alternativas de informação.
Além de veículos de comunicação, celebridades, políticos e personalidades em geral
respondem por grande parte do tráfego dessa mídia social e contam com milhões de
seguidores. Pessoas comuns, por sua vez, também postam mensagens, ainda que estas
impactem, potencialmente, um número muito menor de seguidores.
931
apenas 18% vieram de grandes veículos da mídia. A pesquisadora leu o resultado como
um indicativo de que fontes alternativas de informação estão ocasionando um efeito de
agenda-setting no Twitter, diminuindo o alcance dos grandes grupos midiáticos.
Entretanto, pessoas comuns, celebridades e veículos tradicionais da mídia
carregam capacidades de alcance muito diferentes. O número de seguidores de cada
perfil no Twitter e a legitimidade destes perfis perante os que recebem suas mensagens
definem o potencial de um tweet em ser espalhado ou não. Desta maneira, uma maioria
de tweets originados em fontes alternativas de informação não significa,
necessariamente, um maior número de impressões e mais pessoas impactadas.
No jargão técnico da publicidade, impressão é exibição de um item para o
usuário, seja um anúncio ou um tweet. No presente estudo, utilizamos como variável
indicativa da influência dos tweets o número de impressões obtidas, com o intuito de
preencher essa lacuna metodológica, como veremos a seguir.
5 Metodologia
Nossa intenção foi investigar a origem do conteúdo das mensagens veiculadas
no Twitter e entender se os posts que alcançaram o maior número de pessoas foram
pautados por usuários comuns, por fontes alternativas de informação ou por veículos
tradicionais de comunicação. Assim, constituímos um estudo de intermedia agenda-
setting, que busca averiguar a relação entre o Twitter e outras mídias – ou seja, se a
agenda midiática tradicional se reproduz por meio de tweets ou se vozes minoritárias
são escutadas.
Desta maneira, nossa pesquisa não preenche o modelo tradicional de estudos
de agenda-setting. Usualmente, a presença de determinados tópicos na agenda de
veículos da mídia, durante um determinado espaço de tempo, é comparada com a
presença dos mesmos tópicos na agenda pública. Assim, é concluído se há um efeito
causal entre a agenda da mídia e a agenda pública. No caso do presente estudo, focamos
unicamente na relação entre diferentes veículos da mídia e o Twitter.
Procuramos analisar a origem e o “caminho” traçado por determinadas
notícias dentro do Twitter. Para tal, utilizamos a ferramenta TweetReach. Por meio de
um mecanismo de busca, ela registra todos os últimos 1500 tweets feitos com
determinadas palavras-chave até o momento em que a pesquisa foi feita. Ou seja, ela
exibe um quadro de todas as manifestações feitas no Twitter, sobre um dado assunto,
durante o período de tempo correspondente à emissão de 1500 tweets.
Além de gerar um relatório com todos os posts feitos, a ferramenta exibe, entre
outros dados, quais foram os perfis responsáveis pelos tweets, o número de impressões
932
geradas por cada perfil, o número total de impressões com determinadas palavras-chave
e a quantidade de contas atingidas.
Tal como a pesquisa sobre o escândalo Morgan Harrington se valeu de um
caso específico para analisar a repercussão de determinadas palavras-chave no Twitter,
também elegemos um caso para estudo: a CPI da Petrobrás. Ele foi escolhido em
virtude da proeminência de notícias ocorrida durante a realização do presente trabalho.
Em outras palavras, observamos assuntos que receberam atenção dos grandes meios de
comunicação e pesquisamos como se deu o desenvolvimento dessas notícias no Twitter.
Mais uma vez, ao contrário do estudo sobre o caso Morgan Harrington, não
procuramos analisar a natureza do conteúdo de cada um dos 1500 tweets coletados. Não
acreditamos que esta seria uma amostra fidedigna do conteúdo que está, de fato,
pautando os usuários, uma vez que o número de indivíduos alcançados por este
conteúdo é desigual.
6 A CPI da Petrobras
Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) é uma investigação conduzida
pelo Poder Legislativo. A CPI da Petrobras foi instaurada com o intuito de apurar
denúncias envolvendo a estatal petrolífera a respeito de prática de corrupção, desvio de
recursos públicos, fraude em licitação, lavagem de dinheiro e remessa ilegal de valores
ao exterior (UOL, 2014).
O tema recebeu vasta atenção da mídia. Entre janeiro de junho de 2014, o
jornal impresso O Estado de S. Paulo registrou 322 matérias sobre o tema, sendo 68
editoriais e 47 chamadas na primeira página. No mesmo período, o jornal impresso
Folha de S.Paulo contou com 227 ocorrências do tema em diferentes matérias.
Escândalo nacional ocorrido às vésperas das eleições presidenciais, a CPI da
Petrobras é um tema sensível aos dois maiores partidos políticos do país, PT e PSDB,
pois envolve denúncias durante governos de ambos os partidos. Desta maneira, é
razoável admitir que seja um assunto de grande relevância para os eleitores interessados
nos rumos políticos do Brasil. Também existe lógica em assumir que a grande maioria
dos eleitores não tem contato direto com os acontecimentos da CPI e, desta maneira,
recorre aos meios de comunicação em busca de informação. Assim, elegemos o tema da
CPI da Petrobras como objeto de estudo porque ele atende ao conceito de necessidade
de orientação da teoria do agenda-setting.
Em outras palavras, a CPI da Petrobras é um assunto com amplas
possibilidades de ser agendado no Twitter, pois partimos do pressuposto de que quem
posta mensagens sobre o tema tem ou teve necessidade de orientação sobre ele:
933
considera-o relevante e parte de um estado de alta incerteza, pois o caminho óbvio para
encontrar informações sobre o assunto são os veículos midiáticos.
934
935
7 Considerações finais
Os resultados obtidos denotam um contraponto aos estudos que evidenciam o
poder de gatekeeping do usuário na internet. Muito embora fontes alternativas de
informação e até os próprios usuários produtores de conteúdo sejam acessíveis em
qualquer parte do mundo, as vozes que vão de alcance ao público, majoritariamente, são
ainda ligadas aos grandes veículos de comunicação. Em uma relação de intermedia
agenda-setting, o Twitter foi apontado, neste estudo, como um canal que tende a expor,
na vasta maioria de seu conteúdo, o discurso emitido pelos meios tradicionais de
comunicação.
Fique claro que esta não é uma escolha deliberada pelo funcionamento da
própria ferramenta. Simplesmente há mais seguidores em busca de informação nos
perfis ligados a veículos já consagrados. Logo, estes conseguem um maior número de
impressões. Diante dessas conclusões, pode ser traçado um paralelo com as pesquisas
de mercado desenvolvidas por Anita Elberse, professora da Harvard Business School,
que sugerem um contraponto ao conceito da “cauda longa”.
No artigo “Should You Invest in the Long Tail?” (2008), a pesquisadora
afirma que comentada hipótese de Chris Anderson, popularizada na obra A Cauda
Longa (2006), defende que a multiplicidade de produtos disponíveis em canais de venda
online permite com que os consumidores encontrem aqueles produtos que estão de
acordo com seu gosto pessoal e, assim, deixem de comprar os produtos desenvolvidos
para as massas. Em outras palavras, as vendas de produtos obscuros aumentarão
progressivamente, na medida em que os consumidores encontrem artefatos que
satisfaçam suas preferências pessoais, e a participação de mercado dos produtos de
grande público irá erodir.
Segundo a autora, a previsão de Anderson é que os consumidores cheios de
capricho irão se espalhar pelo vento como fragmentos de mercado em um número
incontável de nichos. Ao longo do tempo, todas essas pequenas vendas juntas, que não
são tão representativas individualmente, excederiam a fatia de mercado dos produtos
consagrados. Entretanto, Anita Alberse comprova, por meio de dados comerciais, que o
fenômeno não corresponde à realidade.
Ela investigou os padrões de venda no setor da música e dos vídeos online –
ambas categorias citadas por Chris Anderson como grandes potências para a ocorrência
do fenômeno da cauda longa. Na análise, a pesquisadora concluiu que, embora o
número de produtos de nicho aumente progressivamente, muitos deles não são vendidos.
Embora o número de produtos venha crescendo, a concentração de vendas nos poucos
produtos consagrados também está aumentando. E essa tendência parece continuar.
936
REFERÊNCIAS
937
938
RESUMO
Os meios digitais e os dispositivos móveis adquirem um papel de destaque no atual
cenário midiático. Atenta a estas transformações, a publicidade se apropria dos
aplicativos para smartphones: os branded apps como estratégia para promover marcas
ou produtos. A proposta deste artigo é investigar esta iniciativa relativamente recente,
especialmente os branded apps voltados para o entretenimento, como forma de estreitar
o relacionamento entre o consumidor e a marca e também refletir sobre as imbricações
engendradas por esta prática na contemporaneidade. A abordagem engloba articulações
de conceitos relacionados às mídias digitais e o delineamento das propriedades destes
aplicativos. Como forma de exemplificar os branded apps, um estudo de caso
complementa o levantamento sobre o tema.
Introdução
Investigar os fenômenos relacionados às mídias digitais pressupõe pesquisar as
transformações ocasionadas pelo advento das novas tecnologias da informação e da
denominada cibercultura (LEMOS, 2002 e LÈVY, 1999) com o novo paradigma
instaurado pela Web 2.0, termo proposto por Tim O' Reilly501, que reconfigura a criação
de conteúdo e a utilização da internet, possibilitando maior interatividade e a
participação mais atuante do usuário.
Neste novo cenário midiático, Henry Jenkins (2008) reforça que vivemos uma
transição na época da cultura da convergência, com conteúdos de várias mídias
originando a narrativa transmidiática. Mais do que um processo tecnológico,
“a convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas
interações sociais com outros” (JENKINS, 2008, p. 30).
Em meio a estas mudanças, o rápido avanço tecnológico colabora para a
profusão dos gadgets e do acesso à internet, capitaneada pela ampla adesão dos usuários
aos smartphones, que possibilitam fazer ligações, enviar SMS, tirar fotos, ouvir música,
499
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
500
Publicitária, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UERJ, e-mail:
danieledecastroalves@gmail.com
501
Disponível em: http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-
20.html
939
assistir a vídeos, mandar e-mails e acessar a internet via wi-fi ou 3G/4G, trocar
mensagens instantâneas, usar GPS, entre outras funções. André Lemos sintetiza a
multifuncionalidade do aparelho: “O celular expressa a radicalização da convergência
digital, transformando-se em um ‘teletudo’" (LEMOS, 2005, p.7).
Atenta ao potencial das mídias digitais, a publicidade passa a se apropriar dos
aplicativos para smartphones como meio para divulgar marcas e ampliar o
relacionamento com os consumidores. Conhecidos como branded apps ou aplicativos
patrocinados, eles são softwares gratuitos que podem oferecer ferramentas de buscas e
vendas, jogos e outros complementos interativos, relacionados a um produto ou a uma
marca.
Como esta iniciativa é considerada um fenômeno relativamente recente na
publicidade, o presente artigo tem como proposta colaborar para os estudos sobre o
tema e investigar as imbricações engendradas a partir desta prática na
contemporaneidade. A pesquisa enfoca os branded apps com conteúdo voltado
exclusivamente para o lazer ou entretenimento como forma de estreitar o
relacionamento com consumidor e construir uma experiência positiva com a marca.
A abordagem do tema está dividida em duas partes. A primeira retrata de forma
teórica questões relevantes às mídias digitais, como a ciberpublicidade e a interação
com o consumidor, o mercado mobile, além de discutir sobre as propriedades ou
atrativos dos branded apps voltados para o entretenimento. E, como forma de
exemplificar a prática destes aplicativos, a segunda traz um estudo de caso do branded
app Coca Zero Música.
940
divulgada pelo Google, foi apurado que 46% dos usuários acessam a internet todos os
dias no smartphone e 73% não saem de casa sem o aparelho. Outros índices ressaltam a
forte presença do celular no cotidiano: 90% usam o telefone simultaneamente à
502
http://services.google.com/fh/files/blogs/our_mobile_planet_brazil_pt_BR.pdf
941
503
http://brappsbrasil.com/numeros-ineditos-sobre-o-mercado-mobile-brasileiro/
504 http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,celularganhaespaconapublicidadedigitalimp,
1628161
942
943
no Brasil. Nos Estados Unidos, em 2013, de acordo com o site The Statiscals Portal , 505
505
http://www.statista.com/statistics/245985/mobile-advertising-use-of-different-types-of-
mobile-inventory-in-the-us/
944
nas versões para os sistemas iOs e Android . A campanha trazia sete estilos musicais
507 508
diferentes (Metal, MPB, Rock, Pop, Clássicos, Eletrônico e Hip Hop) que apresentava
uma soundwave impressa nas latas e nas garrafas de 600ml. Com o aplicativo, o
consumidor podia escanear a soundwave – um QR Code estilizado – e escutar no
smartphone playlists de cada ritmo com músicas de bandas que já haviam participado
do Rock In Rio. Para realizar a operação, era necessário que o celular estivesse
conectado à internet. O usuário tinha a opção de fazer o login no branded app pelo seu
perfil no Facebook ou através de cadastro por e-mail. Com o aplicativo, era possível
ouvir as músicas, criar playlists personalizadas com cada estilo musical e compartilhá-
las nas redes sociais.
506
https://www.youtube.com/watch?v=opZdTfE1N1E
507
https://itunes.apple.com/br/app/coca-cola-zero-musica/id680476843
508 https://play.google.com/store/apps/details?id=com.cocacola.cczrirmusic
946
positivos: a Coca-Cola foi a marca mais associada ao Rock in Rio; o aplicativo foi o
mais baixado na App Store; foram 600k downloads e 3 MM interações; mais de 1 MM
mídia espontânea/PR; aumento de 5% no volume de lata.
Associar a marca Coca Zero à música, um elemento presente no repertório
cultural do jovem, heavy user dos meios digitais, que vivencia a experiência de escanear
a embalagem e escutar as músicas pelo smartphone, pode ser considerado um bom
exemplo de aplicação de um branded app voltado para o entretenimento e, que, com
uma prática contínua, ao longo do tempo, pode contribuir para estreitar o
relacionamento com a marca.
Considerações finais
A apropriação dos branded apps ou aplicativos patrocinados pela publicidade
ainda é uma prática considerada recente. No novo cenário midiático, em que a
ciberpublicidade convoca a interação com o consumidor e a propagação dos
smartphones continua em expansão, os branded apps podem ser utilizados de forma
estratégica para estreitar o relacionamento com o público, fidelizar clientes e construir
uma experiência positiva com as marcas.
Estes aplicativos oferecem características atraentes, como a ambiência e a livre
escolha do usuário por fazer o download do software, o que pode colaborar para uma
maior receptividade ao conteúdo associado às marcas. Neste contexto, os branded apps
voltados para o entretenimento, uma linguagem e uma tendência imperativa no mundo
atual, apresentam um potencial que pode ser intensificado pela sociabilidade,
impulsionada por meio das redes sociais, e pela multissensorialidade, estimulada não só
pela dimensão audiovisual, mas também pelo envolvimento tátil com a tela touchscreen
dos smartphones.
509 http://www.abre.org.br/premio_2014/vencedores_ouro.htm
947
REFERÊNCIAS
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de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXVI Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2013.
948
RESUMO
Este trabalho busca identificar os estilos de abordagem publicitária das marcas no
Instagram, aplicativo que estimula a participação e colaboração dos usuários com as
novas formas de consumo inseridas na ambiência midiática. Para tanto, adota-se como
aporte teórico os conceitos de mobilidade, espaços intersticiais, visibilidade e marketing
3.0, apoiados em SANTAELLA (2007; 2008); THOMPSON (1998; 2008) e KOTLER
(2010). A empiria acompanha o método netnográfico, apresentando como corpus da
pesquisa as marcas brasileiras Farm, Arezzo, Dress to, Cia. Marítima e Iorane, cujos
estilos são categorizados como conceitual, varejista, semi varejista, semi varejista-
colaborativo e semi varejista de patrocínio. No entanto, os dados observados também
levam a crer que os estilos podem ser híbridos e que as marcas ainda tateiam para
apreender o fenômeno da convergência digital.
Introdução
A sociedade está vivenciando uma longa transformação na indústria da
comunicação pautada pelos novos paradigmas da mídia: da era dos meios de massa,
passa-se para a era dos meios para todos, na qual qualquer pessoa pode se transformar
em mídia e criar audiência como qualquer produto de veículos tradicionais e empresas
consolidadas no mercado.
Com tantas fontes de informação – de acordo com Jenkins (2009), o consumidor
médio estabeleceu o padrão de consumir entre dez a quinze canais de mídia -, a
sociedade vive num estado de convergência, fenômeno compreendido por ele como
uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar
510
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
511
Mestranda do programa de pós-graduação em Estudos da Mídia do Departamento de
Comunicação/UFRN. Pesquisadora junto ao grupo GEMINI – Análise e Pesquisa em Cultura, Processos
e Produtos Midiáticos. Bacharel em Comunicação Social com habilitações em Jornalismo pela UFRN e
em Publicidade e Propaganda pela Universidade Potiguar (UnP). Email: renata.othon@hotmail.com.
512
Professora/pesquisadora dos programas de pós-graduação em Estudos da Mídia-
PPgEM/Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da pós-graduação em Educação –
PPGEd/UFRN. Bacharel em comunicação social, com habilitação em jornalismo pela UFRN. Mestre e
doutora em educação pela UFRN. E-mail: gpcoelho8@gmail.com.
949
513
Santaella (2007) considera cinco gerações de tecnologias comunicacionais coexistentes: foto, telégrafo,
jornal e cinema (meios de comunicação de massa eletro-mecânicos) compõem a primeira geração; rádio e
televisão, a segunda (meios eletroeletrônicos); TV a cabo, xérox, fax, vídeo cassete, walkman etc., a
terceira (que caracterizam a cultura das mídias), computadores pessoais ligados a redes teleinformáticas, a
quarta geração (cibercultura), e os aparelhos de comunicação móveis, a quinta.
950
com o estudo divulgado em abril deste ano pela consultoria especializada IDC, a venda
de smartphones atingiu 54,5 milhões de unidades em 2014, alta de 55% em relação a
2013, quando comercializou 35,2 milhões de aparelhos.
O acesso à Internet via telefones celulares corrobora com a ideia de que os
brasileiros fazem uso do aparelho não só para fazer e receber chamadas, enviar
514
Vendas de smartphones crescem 23% no mundo em 2014. Disponível em:
http://www.adnews.com.br/tecnologia/vendas-de-smartphones-crescem-23-no-mundo-em-2014.
Acesso em: 04 de abril. 2015.
951
515
Informações retiradas do Relatório TIC Domicílios e Empresas 2013. Disponível em:
http://www.cgi.br/media/docs/publicacoes/2/TIC_DOM_EMP_2013_livro_eletronico.pdf. Acesso em: 16
de abril. 2015.
952
principalmente dos envolvidos com mídias que priorizam a imagem (facebook, pinterest,
instagram, snapchat, flickr, youtube...). Bauman (2008) utiliza os termos “sociedade
confessional” e “vida eletrônica ou cibervida” para designar o indivíduo cuja grande
porção da vida social é mediada eletronicamente. Esse exibicionismo torna o usuário
promotor das mercadorias e as próprias mercadorias que promovem e coloca em
discussão a dicotomia de público e privado no sentido de publicidade versus
privacidade, ou visibilidade versus invisibilidade.
953
usuária utilizou, além do texto, fotos que reforçaram seu depoimento. A publicação
rendeu 77.320 curtidas e 106.931 compartilhamentos, além da repercussão em diversos
portais de notícias, como o G1, Época Negócios e Exame.com.
As “mídias sociais colaborativas e expressivas” (KOTLER, 2010) possibilitaram
a horizontalização do marketing e impulsionaram o tribalismo e a comunização, através
dos quais consumidores que partilham valores e interesses com outras pessoas
organizam-se e participam conjuntamente, em comunidade. Nesse cenário, “as
empresas que desejam abraçar essa nova tendência devem abrir espaço para essa
necessidade e ajudar os consumidores a se conectarem uns aos outros [...]” (KOTLER,
2010, p. 38).
Levando em consideração principalmente as mídias sociais, as estratégias de
comunicação mercadológica devem ponderar valores indispensáveis para a construção e
consolidação das marcas no novo paradigma de convergência midiática: visibilidade,
decorrente da própria presença do ator na rede social; reputação, uma percepção
qualitativa, a forma como os outros atores veem alguém; popularidade, relacionada ao
número de conexões ou relações do ator na rede; e autoridade, referente à influência do
ator sobre os demais (RECUERO, 2009).
Os baixos custos dos anúncios online e a oportunidade que qualquer marca tem
em se tornar um usuário e ator em rede e, consequentemente, relacionar-se com quem
quiser, facilitou a sua inserção na vida cotidiana do público, dando um toque mais
intimista à relação. Nos formatos de aplicativos, essas mídias conseguem imergir na
rotina do usuário e inseri-lo em um ambiente constante de trocas simbólicas.
954
fato que repercutiu em jornais, revistas e na internet por provocar uma mobilização em
torno da popularização e vulgarização dos conteúdos retratados que o aplicativo poderia
sofrer. No mesmo mês, foi comprado pelo Facebook pelo valor avaliado em US$1
bilhão.
Após diversas atualizações, atualmente o usuário do Instagram encontra no
aplicativo inúmeras atividades. O “instagrammer” (como é chamado o adepto mais
ativo da rede) pode publicar fotografias e vídeos (de até 15 segundos), feitos no
momento ou resgatados da biblioteca do dispositivo, submetê-los a filtros e ajustes –
para as fotos, 27 filtros e 12 ferramentas de ajuste (como brilho, contraste, nitidez e
saturação), e para os vídeos, 13 filtros e opção de edição de corte –, marcar outros
usuários nessas publicações e compartilhá-las instantaneamente no Facebook, Tumblr,
Foursquare, Twitter e Flickr. Ao ativar os serviços de geolocalização do aparelho, o
usuário pode também publicar o local em que se encontra e adicionar a publicação em
um mapa de fotos. As interações ocorrem em escalas e proporções diversas: o usuário
tem a opção de deixar seu perfil (que abriga suas postagens) público ou privado,
autorizando ou negando que outros o sigam; é a partir desse momento que se iniciam as
ações de curtir, comentar e compartilhar publicações, que reforçam o caráter social da
mídia.
A criação de uma conta na plataforma é gratuita, então qualquer um conectado à
Internet tem acesso ao uso e pode publicar em nome de uma marca, empresa ou
516
personalidade/pessoa , assim, o aplicativo abriga contas de grandes marcas
internacionais a pequenas marcas e comércios locais.
O Instagram [...] é a rede social online mais utilizada no mundo para
compartilhar imagens e vídeos [...]. Em função da portabilidade e ubiquidade,
a plataforma ressignificou o uso das câmeras no celular e a tendência mobile
no consumo. É estratégica para trabalhar com os desejos e aspirações das
pessoas e tem se mostrado eficiente na criação da(s) identidade(s) visual(is)
dos profissionais e empresas. [...] Segundo dados da Intelligence Report, [...]
o Instagram é a plataforma social mais poderosa do mundo, com 15 vezes a
taxa de engajamento do Facebook.” (HINERASKY, 2014, p. 03).
Hinerasky (2014) elenca formatos e abordagens de campanhas publicitárias e de
marketing no ambiente online que incluem anúncios patrocinados; publicação de
conteúdo de imagens ou vídeos através da conta oficial ou dos designers/diretores
516
Recentemente, em uma de suas atualizações, o Instagram passou a utilizar ícones para
demonstrar a veracidade de contas de marcas e celebridades e evitar a propagação de perfis falsos. O
ícone pode ser visto, por exemplo, nos perfis de Barack Obama e Luciano Huck, e nas marcas Nike,
Forever 21 e Michael Kors.
955
Abordagem conceitual
A Farm é uma marca carioca de roupas e acessórios femininos que já tem uma
personalidade bem consolidada no mercado, vista como a marca da garota jovem,
descolada e feminina e presente em 16 estados brasileiros. A empresa também é
conhecida pela forte presença online através do site farmrio.com.br, que abriga um dos
mais conhecidos e-commerces de moda do país, o blog “Adoro!” com conteúdos de arte,
estilo, viagem, eventos culturais, moda e entrevistas e a “Rádio Farm”, além de possuir
contas no facebook, pinterest, twitter e canal no youtube.
Os três recortes realizados no Instagram (imagem 01) revelam publicações
conceituais que trabalham em sintonia com os valores e sentimentos que a marca
procura passar para o público: contato e amor à natureza (ao verde, à praia),
tranquilidade, alegria, paz, vida cheia de cor. As legendas incluem frases curtas e
elementos textuais que fazem referência à fotografia e reforçam os valores da marca, a
exemplo de “vejo flores em você” (foto do canto inferior esquerdo da primeira captura),
956
Imagem 01: capturas de tela do perfil Farm referentes a algumas publicações feitas nos meses de abril,
março e fevereiro, respectivamente.
Abordagem varejista
A Arezzo, marca brasileira de sapatos, bolsas e acessórios femininos, está
presente no mercado há mais de 40 anos, vista hoje como uma marca bem conceituada
principalmente no setor de acessórios de couro entre as mulheres. Com mais de 350
lojas espalhadas por todos os estados brasileiros, está presente também online pelo site e
perfis no facebook e twitter.
No Instagram, a Arezzo trabalha com uma abordagem comercial e varejista,
caracterizada por fotografias de produtos isolados de outros cenários e linguagem
textual persuasiva (imagem 02). Nas capturas de tela do perfil da marca, vê-se que a
maior parte das publicações tem foco no produto, que normalmente vem acompanhado
com legendas que informam sua referência e preço: “Para as mães casuais, ankle boot e
shopping bag pretas. Combinam com tudo e deixam a sua mãe cheia de estilo! Na
Arezzo você encontra o presente para todos os tipos de mãe! Referência kit especial:
A045650016 + A058000008 = R$369,90” (foto no canto superior direito da primeira
957
captura), “a mistura de texturas da bolsa e da bota mostra que você tem atitude e bom
gosto. Apaixonadas pelo detalhe metálico nas botas e pelo trançado delicadíssimo da
bolsa saco! Referência bota: A 04704 0015 0004/R$419,90” (foto do canto inferior
esquerdo da segunda captura) e “elas fizeram sucesso no verão e agora chegam com
novos materiais com a cara do inverno. Quem já quer uma? Referência sandália:
2007.0001.0064/R$239,90” (foto do canto superior direito da terceira captura).
Imagem 02: capturas de tela do perfil Arezzo referentes a algumas publicações feitas nos meses de abril,
março e fevereiro, respectivamente.
958
Imagem 03: capturas de tela do perfil Dress to referentes a algumas publicações feitas nos meses de abril,
março e fevereiro, respectivamente.
959
Imagem 04: capturas de tela do perfil Cia Marítima referentes a algumas publicações feitas nos meses de
abril, março e fevereiro, respectivamente.
960
Imagem 05: capturas de tela do perfil Iorane referentes a algumas publicações feitas nos meses de abril,
março e fevereiro, respectivamente.
Considerações
Tomando por base uma visão macro, foram categorizados e analisados
separadamente cinco tipos de abordagem publicitária das marcas no Instagram,
observados a partir da maioria das publicações do corpus desta pesquisa. No entanto, é
importante destacar que os dados constatados também levaram a crer no apoderamento
de estilos híbridos - por mais que uma marca tenha um estilo mais evidente que os
outros, as empresas podem incluir em suas estratégias o uso de mais de uma dessas
abordagens. A Farm, por exemplo, tem, na maior parte do tempo, um caráter conceitual,
mas ainda utiliza a plataforma para divulgar fotos e informações sobre lojas, promoções
e lançamento de coleções e produtos (se apropriando da abordagem varejista ou semi
varejista); a Arezzo publica, mesmo que esporadicamente, fotos de outras usuárias
utilizando seus produtos (caracterizando a abordagem semi varejista-colaborativa); a
Cia. Marítima e a Dress To contam com postagens que exibem suas garotas propaganda
do mundo das celebridades (abordagem semi varejista de patrocínio); e a abordagem
conceitual também é utilizada pela Iorane, mesmo que com menor frequência.
O fato de criar e gerenciar contas em redes sociais e encará-las somente como
mais uma plataforma de venda ainda faz parte da rotina de algumas marcas, mas se
mostra como uma estratégia ultrapassada, uma vez que, pela nova conjuntura de
convergência midiática, novos níveis de participação dos “fãs” estão sendo atingidos em
prol do fortalecimento de laços entre marcas e consumidores e “a nova ‘economia
afetiva’ incentiva as empresas a transformar as marcas naquilo que uma pessoa do meio
da indústria chama de ‘lovemarks’ e a tornar imprecisa a fronteira entre conteúdos de
entretenimento e mensagens publicitárias” (JENKINS, 2009, p. 48). Apesar da
convergência não ser uma transformação cultural finalizada – estamos em uma era de
transição midiática, com diagnósticos e resultados ainda imprecisos e imprevisíveis -, a
961
REFERÊNCIAS
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de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
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962
RESUMO
Esta pesquisa discute a partir do conceito de publicização (CASAQUI, 2011) a
comunicação e o consumo de projetos de startups em plataformas de investimento
coletivo crowdfunding, em específico, o site catarse.me. Formatados para serem
persuasivos e competitivos, estes projetos incorporam uma estética de mercadoria
(HAUG, 1997) a fim de atrair investidores, colaboradores e consumidores. Por serem
atuais e eficientes como modelo de negócio, o estudo das startups e das plataformas de
crowdfunding colaboram com a compreensão do empreendedorismo na interface da
comunicação e do consumo.
Contextualização
Diante das crises do capitalismo e da precarização dos vínculos empregatícios, a
iniciativa empreendedora posiciona-se como uma tendência perante as novas gerações
de trabalhadores. Em uma atualização da teoria de Max Weber, os autores Boltanski e
Chiapello (2009) atribuem o destaque dos empreendedores na contemporaneidade por
se tratar de um novo espírito do capitalismo – um conjunto de crenças que justificam e
legitimam o engajamento ao atual sistema. Os autores afirmam que o capitalismo, de
tempos em tempos, atualiza suas justificativas a fim de engajar as novas gerações, de
acordo com as aspirações de seu tempo. Identificado pelos autores como sendo o
terceiro espírito do capitalismo, o empreendedor torna-se o modelo contemporâneo de
atuação no sistema produtivo.
É nesse cenário que projetos em forma de startups – empresas que estão
começando e que buscam auxílio dentro do campo social do empreendedorismo –
ganham cada vez mais legitimidade como modelos de negócio. De forma
complementar, tem-se também o aumento do número de plataformas de investimento
517
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
963
Figura 1: Gráfico sobre fatores que influenciam para colaborar com um projeto em crowdfunding
As respostas coletadas sobre os motivos pelos quais colaborar com um projeto,
sugerem a importância de uma formatação mercadológica para que estes projetos se
viabilizem, uma vez que se encontram em sua fase inicial. Este artigo, portanto, tem
como intuito discutir a forma-mercadoria que estes projetos incorporam a partir da sua
publicização no site Catarse.me.
964
capaz de produzir mercadorias (uma startup), encara diversas situações em que o ato de
ser consumido pelo outro se torna presente. Esse é o caso do momento em que o
empreendedor oferta o seu produto para o mercado, com a esperança de que esse entre
no “gosto” da população e seja consumido, mas também é o caso de outros momentos
anteriores a esse, tais como o da busca pelo investimento necessário para a viabilização
do seu projeto.
Se na busca por recursos essenciais para o empreendimento – tais como
dinheiro, conhecimento, contatos, etc –, o empreendedor não obtiver sucesso, são
grandes as chances de que a sua proposta de empreendimento e de mercadoria não seja
viabilizada. Por causa disso, observa-se na trajetória de diversos empreendedores, a
necessidade de adoção de estratégias comunicacionais que visem auxiliá-los na
obtenção desses recursos. Tais estratégias são adaptadas de acordo com o contexto no
qual elas se inserem e envolvem a habilidade do empreendedor em articular a
linguagem de modo construir uma comunicação que seja suficientemente persuasiva e
com valor para o seu consumidor. O site anjosdobrasil.net, que promove notícias e
conhecimentos em torno do investimento em startups, traz um exemplo ilustrativo sobre
a variedade de situações comunicacionais que o empreendedor encontra durante a busca
de investimentos, realizando para isso uma comparação com as etapas de um
relacionamento amoroso.
A primeira etapa de procura é como na “paquera”, quando o empreendedor
começa a “flertar” (buscar) o investidor-anjo certo para seu negócio, isto é,
aquele que tanto poderá se interessar pelo mesmo quanto agregar valor, com
sua experiência, conhecimento e rede de relacionamentos. Para isto, o
empreendedor deve submeter seu pitch e apresentação [...] para os
investidores mais próximos, bem como participar de eventos e concursos
para apresentação do seu negócio. Uma vez encontrado um potencial
investidor-anjo interessado, passa-se para a fase de “namoro”, isto é, serão
marcados “encontros” (reuniões) em que o empreendedor irá apresentar mais
detalhes de sua startup bem como conhecer melhor o perfil do investidor-
anjo. Em o “namoro” sendo bem sucedido, passa-se para o “noivado”, isto é,
quando se fecha os principais termos da negociação (o chamado term-sheet),
como valor que será investido, participação que o investidor-anjo terá no
negócio e como os dois irão se relacionar, isto é, quais os direitos e deveres
de cada um. Tendo todas as condições acertadas, chega-se ao dia do
“casamento”, quando os contratos são assinados e o investimento é
efetivado.
No caso de empresas que ainda estão começando (startups), e que ainda estão
desenvolvendo sua marca e seus produtos, observa-se que tais estratégias de
comunicação, não se enquadram aos modos convencionais de publicidade, mas
possuem como pano de fundo um caráter comercial, que visa a vinculação de
consumidores e investidores à instituição que está sendo criada. Por causa disso,
propomos observar essas práticas comunicacionais a partir do conceito de publicização,
965
visto que, para Casaqui (2009, p. 3), a publicização pode ser compreendida em seu
contexto mais amplo, como:
[...] etapa do sistema produtivo, elemento decisivo da cadeia que parte da
concepção do produto/serviço, do trabalho humano investido em sua
elaboração, e depende da comunicação para tornar pública a mercadoria, que
somente se complementa com o consumo das pessoas, podemos dizer, com
sua consumação. (...) Expandimos essa compreensão da função da
comunicação no sistema produtivo, uma vez que o discurso publicitário é
municiador de atributos intangíveis, que dialogam com os interesses,
necessidades, desejos, quereres dos indivíduos, abordados como
consumidores potenciais pelas mensagens que lhes são direcionadas,
objetivando estimular sua ação.
As estratégias comunicacionais que os empreendedores adotam no decorrer da
trajetória de viabilização de uma startup, podem ser compreendidas como estratégias de
publicização, por terem como objetivo tonarem públicas o empreendimento e a
mercadoria que realizam, visando dessa forma o engajamento de consumidores,
investidores e outros agentes do campo social do empreendedorismo, para auxiliá-los. É
nesse ato de publicizar, de disponibilizar imagens, informações e narrativas para um
público, que o empreendedor possibilita que o consumo simbólico da sua startup se
efetue, antes do consumo material da mesma. A obtenção de recursos é conquistada
após o empreendedor possibilitar que o público do empreendimento se constitua, no ato
da comunicação, como “paciente – que [...] experimenta, é afetado – e agente – que
reage, seleciona, adota um comportamento” (FRANÇA, 2006, p. 82).
966
967
968
Figura 2 - Detalhe para o projeto com informações sobre o status do financiamento e do prazo.
969
Figura 3 - Pré-visualização do video na página do projeto “Garagem Fab Lab” acompanhado por um
título publicitário.
Um outro elemento que compõe a estética do crowdfunding é o sistema de
recompensas. As plataformas baseadas neste sistema são as mais praticadas pelo
mundo. São elementos que incentivam a colaboração, pois o contribuinte de alguma
forma compartilha dos benefícios no caso de viabilização do projeto. Dentro da lógica
da eficiência, a elaboração das recompensas não devem ser aleatórias, mas devem
compor a narrativa da campanha: unidades do produto em questão, edições limitadas,
agradecimentos personalizados, brindes, etc. Como forma de incentivar valores mais
altos de doação, diferentes recompensas são oferecidas, cada uma correspondendo à um
valor doado, conforme o exemplo abaixo, também retirado da campanha “Garagem Fab
Lab”:
970
Conclusão
Observou-se que o site crowdfunding Catarse.me, oferece diversas ferramentas
para os empreendedores para que esses divulguem seus projetos visando obter
971
REFERÊNCIAS
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MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo:
Nova Cultural, 1974.
972
RESUMO
Ao longo do trabalho defendemos que o fandom é um fenômeno que envolve e engaja
os consumidores através da participação e sensação de pertencimento, visto que se
refere à ambientes identitários onde são difundidos conteúdos acerca dos universos
narrativos fictícios que se tornaram grandes marcas/franquias. Com isso, será possível
um primeiro olhar sobre este engajamento para que seja possível entender porque o fã
deve ser considerado um prossumidor ao passo que consome e produz conteúdo acerca
dos universos narrativos fictícios aos quais se envolve.
PALAVRAS-CHAVE
Fandom; Prossumerização; Engajamento; Propagabilidade
520
Trabalho apresentado no Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de
Pesquisadores em Publicidade e Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
521
Doutoranda do PPGCOM na ECA-USP, email: bmotta@usp.br
522
Mestrando do PPGCOM na ECA-USP, email: ramonmarlet@gmail.com
973
O fandom
A ideia de que as pessoas recebiam passivamente as mensagens distribuídas pela
mídia, como sugeriam as pesquisas da Teoria Crítica, já não é mais aceita por grande
parte dos pesquisadores em comunicação. Cada vez mais consideramos que o receptor
está apto a interpretar e interagir de múltiplas formas com a mensagem. Os indivíduos
incorporam às mensagens com suas respostas emocionais, geralmente de forma
inconsciente, que podem variar em níveis dependendo das experiências e predisposições
974
particulares. Elas não apenas absorvem a história, mas fazem isso incorporando
significados. O ato de contar e recontar suas histórias favoritas inúmeras vezes é uma
atividade natural do ser humano. Se a narrativa em questão é muito significante,
encontros superficiais com ela não serão suficientes e, para combater essa insatisfação,
os indivíduos desejam ir sempre mais afundo no universo narrativo criado. O autor
inicia a história e a audiência a completa; o autor cria as personagens e situações em que
eles se inserem e a audiência responde a isso as tomando para si. Quanto mais forte essa
conexão, menor a probabilidade de que essas pessoas se submeterão a uma demanda na
qual irão interromper e desistir. De um modo geral, os indivíduos sempre desejaram
habitar de alguma forma os mundos ficcionais das histórias que os movem; a única
variável real é quando a tecnologia os oferece essa oportunidade (ROSE, 2012).
Entretanto, a tecnologia digital não criou a cultura dos fãs, mas apenas “ampliou o
escopo de atividades desse público participativo e já socialmente conectado em rede”
(JENKINS, GREEN e FORD, 2014, p. 211).
Essa relação intimista com as narrativas e com a tecnologia se evidencia
claramente na figura dos fãs. Desse modo, denomina-se fã todo sujeito que está
emocionalmente comprometido e que demonstre um certo engajamento regular com um
determinado objeto (pessoas, narrativas, textos) (SANDVOSS, 2013), que investe
tempo e energia interagindo com um objeto de mídia existente e que lhe encante
(BOOTH, 2010), ou seja:
Não se torna um fã apenas por assistir regularmente um determinado
programa, mas por traduzir essa experiência em algum tipo de atividade
cultural, por compartilhar ideias e impressões sobre o programa com os
amigos, por ingressar em uma comunidade de fãs que compartilham
interesses em comum. Para os fãs, é natural que o consumo deflagre a
produção, a leitura gere a escrita, a cultura do espectador se torne cultura
participativa (JENKINS, 2006, p. 41).
De acordo com Jenkins, (2009, p. 188), “os fãs são o segmento mais ativo do
público das mídias, aquele que se recusa a simplesmente aceitar o que recebe, insistindo
no direito de se tornar um participante pleno”. Esses indivíduos se adaptam mais
facilmente às novas tecnologias, cuja fascinação pelos universos ficcionais criados
inspira novas formas de produção cultural independente, as quais passam a circular
pelos canais alternativos de valor e significado da cultura underground. Isoladamente,
os fãs são entendidos como indivíduos que possuem uma relação fervorosa e profunda
com uma determinada narrativa. Entretanto, principalmente com a consolidação da
cultura participativa, os fãs passam a fazer parte de comunidades online denominadas de
975
976
977
978
energia por parte da audiência, “as estratégias de transmídia para mundos de histórias
complexas muitas vezes geram popularidade entre públicos engajados” (JENKINS,
GREEN e FORD, 2014, p. 174-175). Assim, analisando esse cenário sob a perspectiva
da propagabilidade, “o modelo de engajamento sugere que ter alguma coisa para fazer
também dá aos fãs algo sobre o que falar e os incentiva a propagar conteúdo para outros
membros potenciais do público” (JENKINS, GREEN e FORD, 2014, p. 175), o que
culmina na formação de espaços sociais e culturais nas comunidades cujo objetivo
principal é manter constantemente essas interações. Considerando que as comunidades
de fãs sempre fazem cálculos em relação às trocas entre o valor que as empresas de
mídia extraem delas e os reais benefícios que elas obtêm ao usar as ferramentas e
plataformas propostas pelos produtores, os modelos baseados no engajamento devem
enxergar a audiência como uma cooperativa de agentes ativos e criativos que valorizam
a propagação dos textos de mídia, uma vez que “audiências engajadas são mais
propensas a recomendar, discutir, pesquisar, repassar e até gerar material novo em
resposta” (JENKINS, GREEN e FORD, 2014, p. 153).
Esse engajamento com o conteúdo midiático, por sua vez, depende do nível de
envolvimento que os fãs possuem com esse material. Quando falarmos em
envolvimento, recorremos às teorias do marketing que assim o definem: “o
envolvimento é definido como a relevância do objeto percebida por uma pessoa com
base em suas necessidades, valores e interesses inerentes” (Zaichkowsky, 1985, apud
Solomon, 2002), ou ainda “ envolvimento pode ser visto como a motivação para
processar informação” (Celsi e Olson, 1988, apud Solomon, 2002). Em nosso caso, os
fãs são aquelas pessoas que possuem um nível de envolvimento com as narrativas muito
maior e mais profundo do que as pessoas que não são consideradas como fãs.
Adaptando a conceituação de Solomon (2002) ao nosso objeto de estudo, podemos
subdividir o envolvimento em três áreas principais: antecedentes do envolvimento, que
contemplam os fatores pessoais (importância, interesse e valores), fatores do objeto ou
do estímulo (conteúdo das narrativas, fonte da comunicação) e fatores situacionais
(consumo, ocasião); o envolvimento em si com as narrativas e com as plataformas de
mídia na qual elas estão presentes; e, por fim, os possíveis resultados do envolvimento,
como decisão em relação à produção de novas narrativas e produtos culturais,
preferência por uma determinada narrativa em detrimento às demais, entre outros
fatores. Assim, os níveis de envolvimento podem variar em uma escala que vai da
inércia à paixão:
979
O fã enquanto prossumidor
Apesar do termo prosumer datar os anos 80 (TOFFLER, 1980), com alguns
ajustes a presente época, este conceito mantém-se atual. Na junção das palavras
produtor e consumidor, prossumidor é aquele que produz e consome produtos, serviços
e também informações, mas, mais que isso, forma opiniões (ANDERSON, 2006, p.69).
Através de discursos que podem ser de cunho descritivo, opinativo ou persuasivo,
podem moldar a opinião de quem o lê ou assiste e, com isso, influenciar na forma como
este receptor irá consumir o conteúdo ao qual o prossumidor relata.
Neste contexto, o fã hoje possui um papel central tanto na difusão do conteúdo
que consome pois, mais do que qualquer forma de publicidade que as marcas possam
comprar, o relato para os pares e o endosso gerado por ele de forma apaixonada cativa e
motiva novos consumidores.
O fã gera buzz através das suas redes sociais (presenciais e virtuais) e este buzz
pode ser comprovado e inclusive motivado pelas marcas como no caso da trilogia
Divergente de Veronica Roth. No terceiro livro da série, nos agradecimentos do livro, a
autora agradece alguns fãs por terem divulgado e ajudado a série a tornar-se popular
através de uma campanha para o lançamento do segundo livro – Insurgente -
possibilitando assim publicação deste segundo livro e levando o terceiro – Convergente
- a um ambiente de grande expectativa de vendas (ver figura 1).
980
981
523
Apenas em inglês.
524
Traduzido como “Profeta Diário”, é o jornal do mundo bruxo de Harry Potter.
982
Considerações finais
Entender o fã como um prossumidor é, portanto, mais um passo adiante nos
estudos de fandom e do comportamento do consumidor.
Passamos por um momento de vastas mudanças no cenário da comunicação, em
especial do comportamento do consumidor. Este novo cenário diz respeito a novos
hábitos que caminham rumo a ritualização, onde entender os fenômenos emergentes que
modificam a forma de produzir e consumir conteúdo dos mais diversos teores torna-se
fundamental para as marcas e para a academia, que através de seus estudos registra os
caminhos trilhados nas diferentes épocas.
Há muito o que apreender acerca do tema proposto. Entretanto, estes primeiros
passos trarão escopo para estudos futuros onde buscaremos aprofundar os conceitos
983
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984
RESUMO
Apresentamos problematizações exploratórias sobre o tema do uso de conteúdo gerado
por usuários (CGU) em campanhas publicitárias digitais, buscando pontos de acesso
para o estudo destes objetos. São construídas reflexões baseadas em 3 eixos. O primeiro
é mercadológico, incluindo a definição do conceito e sua relação com a publicidade. O
segundo, é sociotécnico, abordando o ecossistema midiático marcado pela convergência,
cultura participativa (JENKINS, 2009) e pela audiência baseada na circulação
(JENKINS; FORD; GREEN, 2013). E o terceiro, aborda aspectos psicossociais que,
ancorados na abordagem dramatúrgica (GOFFMAN, 2002), iluminam as motivações
por trás do engajamento dos participantes. O cruzamento destes vetores revelam um
objeto de estudo complexo, que pode traduzir importantes aspectos da relação
contemporânea entre marcas e consumidores.
Introdução
Ao mesmo tempo em que se revela como um novo e promissor vetor de
expansão, o ambiente digital apresenta desafios inéditos à publicidade, dentre os quais
se destacam o alcance de um público pulverizado entre diversas plataformas e a
audiência baseada numa lógica de circulação, movida essencialmente pela atividade dos
seus usuários. A troca de bens simbólicos através do compartilhamento de conteúdos
tem sido a principal força motriz da circulação de conteúdos na web. E não por acaso, é
frequentemente utilizada por campanhas publicitárias, em estratégias voltadas para o
ganho de audiência on-line. Uma das práticas pela qual a cooptação e canalização dessa
energia é feita atende pela designação mercadológica de campanhas com integração de
conteúdo gerado por usuários (CGU), termo traduzido do inglês user-generated content
(UGC). Trata-se de campanhas que trazem em sua tessitura proposições criativas,
geralmente de ordem lúdica e divertida, lançadas aos usuários das principais
plataformas de mídia social.
Trabalho apresentado no GT2 - Publicidade e tendências, do VI Pró-Pesq PP – Encontro de
525
985
527
Proposições criativas das campanhas Tam Mission (TAM Linhas Aéreas); Isso muda o mundo
(Banco Itaú); New York writes itself (The Village Voice); e The people's car (Volkswagen China),
respectivamente.
528
"Use/placement of content generaterd by engajement with an audience who have contributed
to, or collaborated with a brand initiative."
529
Campanhas como "Despedida da Kombi" (ALMAP/BBDO, 2014) e "The beauty inside"
(PEREIRA O'DELL, 2013) figuram entre produtos brasileiros e emblemáticos da categoria.
986
Dentro da lógica desse “consumo afetivo”, o desejo de toda marca é ter mais que
consumidores, fãs. Por isso mesmo, o engajamento, torna-se um imperativo. As
propostas de integração de CGU são vistas aqui como estratégias que representam um
novo patamar ao supracitado processo de engajamento, uma vez que além da
interatividade, propiciam também a participação do consumidor no processo criativo
530
dos conteúdos de entretenimento gerados pelas marcas. A partir das plataformas sociais
digitais, são criados processos colaborativos em torno de um mesmo objetivo, seja a
produção de um filme, a realização de um evento cultural ou mesmo uma intervenção
social. Além desse intento de vínculos mais estreitos com os consumidores está a
premente necessidade de reinvenção do processo comunicacional dos conteúdos
audiovisuais publicitários, afetado pela reconfiguração do ecossistema midiático gerada
pela emergência das mídias digitais e pelo declínio das mídias e modelos massivos de
distribuição e consumo. Enquanto nas mídias tradicionais, a publicidade pouco pode
fazer para a reversão da notória perda de sua eficácia , é na internet que o setor vem
531
530
Conceitos tensionados a partir da distinção proposta por Jenkins (2009), que interpreta a
interatividade como uma atividade ainda restrita às normas impostas pelas instâncias produtoras. E a
participação, como uma atividade mais autônoma, baseada nos propósitos dos próprios consumidores.
531
Analistas da área relatam fatores como saturação, possibilidades técnicas de driblar
comerciais, ceticismo (SCHWARTZ, 2002) e filtros mentais em relação aos intervalos comerciais
(CAPPO, 2004).
987
1 Publicidade e CGU
988
como escrever textos em sites de redes sociais, compartilhar fotos, contribuir com
rankings e avaliações de produtos, criar categorias (tags) de conteúdos, postar
comentários em websites ou blogs de terceiros, utilizar materiais on-line como base
para uma nova criação, criar ou colaborar com um blog (RAINIE; WELLMAN, 2012).
O Brasil tem uma atuação marcante nas principais plataformas sociais. Pesquisas
apontam que o país é, por exemplo, o segundo maior consumidor de conteúdos
audiovisuais no YouTube, ficando atrás somente dos Estados Unidos (GOOGLE IPSOS,
2013). E que "brasileiros têm uma média de 481 amigos em redes sociais, uma das taxas
mais altas do mundo, representando grandes oportunidades para marcas difundir suas
mensagens entre grandes grupos de consumidores" (BRANDZ, 2013, p. 23). A
ferramenta IndexSocial criou um índice de engajamento das marcas brasileiras a partir
533
532
"User-generated content refers to media content created or produced by the general public
rather than by paid professionals and primarily distributed on the internet."
533
<www.indexsocial.com.br>
989
entre consumidores e marcas em ambientes digitais. Burns (2011, p. 631, trad. nossa ) 534
ressalta que
Usuários da web já demonstraram ser ávidos para compartilhar
documentários, esquisitices, videos musicais e até mesmo comerciais com
outros usuários através de sites como o YouTube. Em resposta a estes
desafios e oportunidades, anunciantes estão aprendendo como canalizar a
energia dos consumidores para criar conteúdo de marca, gerando um nível
potencialmente mais alto de engajamento entre consumidores e marcas.
Em sua pesquisa de mestrado, o autor deste artigo mapeou a subcategoria A04
(User-generated content) da categoria branded content do festival Cannes Lions. Tais
campanhas propõem aos seus espectadores a oportunidade de participar, de maneiras
diversas e com graus distintos de liberdade, da criação dos produtos audiovisuais delas
derivados. Fato que, sem dúvidas, representa uma expansão nos limites da integração
entre produtores e consumidores de conteúdos. Além disso, estas dinâmicas de
integração representam mudanças significativas também na poética desses produtos,
que contemplam em seus textos midiáticos pré-orientações ou lacunas programadas
para ação do espectador. Os casos analisados revelam a estratégia de estimular o
engajamento, porém a partir de normas pré-determinadas ou lacunas programadas. Ao
fã domesticado da publicidade são endereçadas normas de ação simplificadas com
instruções bem definidas: “Compartilhe as pérolas que você testemunha nas ruas de
Nova York”, “capture a beleza em um vídeo de um segundo”, “Envie-nos sua história
de amor não-correspondido”. Em parte, a publicidade se aproveita do fato de quem nem
toda a audiência, na verdade a grande maioria, não deseja exercer a produtividade
intensa e, por vezes subversiva, dos fãs mais genuínos. Mas ainda assim, uma grande
parcela dos espectadores ordinários demonstra-se propensa ao engajamento pelo
simples prazer do divertimento e pela possibilidade de participar, de alguma forma, da
criação de um produto audiovisual midiático. O encontro dos estudos da recepção com
o campo da publicidade revela, portanto, uma tensão inerente entre uma atividade que
passa a depender da atividade espectatorial para a sobrevivência, mas que tem seu
objetivo final – a persuasão – atado a normas mais rígidas de interpretação.
Provavelmente, por essa razão, a grande maioria das proposições das campanhas
com integração de CGU sejam baseadas em esquemas lúdicos e prazenteiros, passando
ao largo de abordagens polêmicas ou controversas. Porém, o ambiente aberto e
534
"Web users have already demonstrated they are eager to share their documentaries, antis,
music videos, and even commercials with other users through sites such as YouTube. In response to these
challenges and opportunities, advertisers are learning how to harness the energy of consumers willing to
create brand content, potentially creating a higher level of engagement between consumers and brands."
990
participativo das mídias sociais termina abrindo espaço para reclamações ferozes de
consumidores insatisfeitos com marcas e produtos. Essa via de mão-dupla entre
engajamento e risco pode ser observada nos perfis de marcas brasileiras atuantes no
ambiente digital. A companhia aérea TAM, por exemplo, inaugurou em junho de 2013,
a campanha TAM Mission. Apresentado como um projeto colaborativo, a campanha
convoca os seguidores da marca no Instagram a postarem fotos de viagens a partir de
temas pré-definidos mensalmente. A redação da revista de bordo elege as mais bonitas
para serem publicadas no impresso. Uma busca pela hashtag #TAMission23 retorna
852 imagens de usuários indexadas. Mas na convocação da marca feita em seu próprio
perfil não faltam registros de reclamações sobre os serviços, como o de uma
consumidora que revida a proposta da marca de forma irônica: "Eu também tenho uma
missão para vcs! Vcs quebraram a minha mala e preciso viajar na p´roxima sexta-
feira!" . A grande maioria dos comentários porém, revelam seguidores bem dispostos a
535
cumprir a "missão" da TAM, gerando uma fluxo imagético intenso e diverso em torno
das suas proposições. Administrar os riscos e os benefícios tornam-se faces de uma
mesma moeda, num momento em que o participante, antes um receptor passivo da
mensagem, é convidado para comunicar sobre a marca (BURNS, 2011).
2 Contexto sociotécnico
O jogo lúdico que integra marcas e consumidores em torno das proposições
colaborativas não seria possível em um cenário que prescindisse das tecnologias de
participação social (CHAKA, 2010). Em 1991, a web tornou a internet acessível às
pessoas comuns (ROSE, 2011), mas só a partir do advento da web 2.0 ou a internet das
plataformas, ela se tornaria um ambiente realmente participativo. Um dos criadores do
conceito de web 2.0, O’Reilly (2005) afirma que uma das principais características
dessa nova geração da web é a capacidade que suas plataformas trouxeram de fomentar
a inteligência e a criação coletiva de conteúdos, a exemplo da Wikipedia, Google e
Flickr. Chaka (2010) compreende as transformações ocorridas na comunicação mediada
por computador (CMC) através do conceito de tecnologias de participação social
(TPSs). Para o autor, as tecnologias de participação social representam a nova geração
das CMCs e se distinguem por permitir aos usuários “participação coletiva, colaboração
535
Mensagem grafada em sua forma original.
991
em massa e interatividade social” (CHAKA, p. 628, tradução nossa) . Outro importante 536
536
“They allow users to communicate by leveraging their collective participation, their mass
collaboration and their social interactivity.”
537
“[...] technologies that allows users to inscribe or represent their feelings, thoughts, views and
opinions in a written, oral, graphic, pictotial, visual, iconic, digital or numeric form, or in a combination
of two or more of these forms. They also enable users to inscribe or represent aspects of their features
and atributes – real or unreal – in any of these forms. In this sense, they are representacional
technologies.”
992
3 Motivações psicossociais
A audiência das mídias de massa é cada vez mais vilipendiada por plataformas
ubíquas, multimodais e policontextuais, como o Facebook. Na tentativa de se adequar a
esse novo contexto, em que a interação social é a palavra de ordem, a publicidade
desenvolve novas estratégias de sedução, pautada no engajamento dos usuários e em
interações entre marcas e indivíduos. O conjunto de atributos que define as TPSs faz
538
“Many marketers and media producers have embraced simplified notions for understanding
these phenomena, notions that distort how they perceive their audiences’ needs , wants and activities.
Ideas such as ‘user-generated content’ and ‘branded platforms’ ignore the larger history and power of
particpatory culture in attempting to define collaboration wholly on corporate terms.”
993
com que as mesmas se tornem o berço de novas formas de expressão, interações sociais
e construção do self.
Para Burkitt (2008, p. 163), chegamos a uma situação de saturação social, que
tem como uma de suas principais características “o espectro de mídias a que estamos
expostos, transmitindo-nos uma babel de diferentes conhecimentos, culturas, religiões,
visões de mundo, ideias, valores, estilos de vida e pessoas.” Partindo do pressuposto de
que a construção do self é um processo relacional e interacional, a exposição do homem
a esse intenso fluxo de conteúdos, composto também de fartas doses de símbolos e
modelos identitários, contribuiria para a constituição de um self múltiplo, fragmentado e,
até mesmo, inconsistente. Paradoxalente, a despeito de toda a liberdade conquistada em
relação a tradições, posições sociais e trajetória biográfica, a atuação nas TPSs demanda
aos indivíduos a manutenção de uma “narrativa contínua de auto-identidade”
(BURKITT, 2008, p. 171).
A noção de um self moldável, fluido e/ou negociável nos conduz ao conceito da
abordagem dramatúrgica de Erving Goffman. Segundo Goffman (2002, p. 231), nos
estabelecimentos sociais , que aqui associamos aos sites de redes sociais, o self é
539
539
“Um estabelecimento social é qualquer lugar limitado por barreiras estabelecidas à percepção,
no qual se realiza regularmente uma forma particular de atividade.” (GOFFMAN, 2002, p. 218).
994
Em outras palavras, podemos detectar uma união confortável entre consumo, conteúdos
publicitários e o self contemporâneo.
Ainda segundo Burkitt (2008, p. 163), “hoje somos surpreendidos por um
clamor de diferentes vozes, falando de diferentes ideias e valores, e representando
diferentes estilos de vida muitas vezes distantes da nossa realidade imediata.” Essa
multitude de vozes, discursos e símbolos habita o pensamento e imaginário
contemporâneo de forma indelével. “Eu quero ser um Cristão ou um Budista, um
socialista ou um conservador, um compositor ou um cantor, loira ou morena, vestir-me
como George Clooney ou Brad Pitt?”, provoca Burkitt (2008, p. 164).
A publicidade permeia esse fluxo de forma pervasiva e ainda sustenta
economicamente a produção da maior parte desse conteúdo. McCracken (2012, p. 116)
explica que a publicidade opera exatamente na transferência de significados do “mundo
culturalmente constituído para os bens de consumo”. Para o mesmo autor, o processo se
completa na recepção. Nesse caso, “o movimento dos significados dos bens de consumo
para o consumidor individual é alcançado por meio de esforços do consumidor. Assim o
significado circula pela sociedade de consumo.” O processo exemplificado por
McCracken vai de encontro à ideia de consumidores passivos ou vitimados pelo assédio
da publicidade. Pelo contrário, eles estão empenhados no processo de forma ativa,
utilizando estes significados para a construção de suas próprias identidades. Ainda
segundo McCracken (2012, p. 122), “o mundo material dos bens de consumo oferece
um inventário vasto de personalidades possíveis e mundos imagináveis. Os
consumidores estão sempre nessa procura.”
Hoje, as mídias sociais são laboratórios prolíficos onde a publicidade
experimenta uma série de novas estratégias, que povoam de novos termos o glossário do
marketing on-line: advertainment, advergame, viral, branded content, appvertising,
search mkt, entre uma infinidade de outros. O TNS Digital Life , estudo mundial sobre
540
comportamento on-line, revela que blocos emergentes como América do Sul, África e
Ásia são os mais abertos ao contato com marcas nos ambientes digitais. No Brasil, 40%
da população on-line pesquisa por marcas e produtos na internet. Além disso, o
brasileiro possui uma das mais altas taxas de relacionamento em redes sociais digitais
(BRANDS..., 2013). Tudo isso aponta para uma utilização cada vez maior pelas marcas
540
Pesquisa global sobre comportamento e atitude on-line. Disponível em:
<http://tnsdigitallife.com/view/social-brands/talk/both/all/interested> . Acesso em 14 abr. 2013.
995
4 Considerações finais
À guisa de ressaltar a linha condutora entre todos os conceitos aqui coordenados,
fazemos mais um esforço reflexivo em torno do objeto principal do nosso estudo: a
integração de CGU em campanhas publicitárias. As proposições colaborativas que se
estabelecem entre marcas e indivíduos não seriam possíveis sem o aparato sociotécnico
da convergência dos meios. As práticas culturais geradas em torno desse ambiente
plural, fragmentado e dialógico se apresentam como um importante vetor para a
compreensão do objeto.
A socialização on-line apresenta-se como um segundo vetor de análise, uma vez
que os atos de publicação e compartilhamento de conteúdos representam a força motriz
para a circulação dos mesmos. Porém, subjacentes aos anseios sociais, estão motivações
intrínsecas de ordem psicossocial. "Estas motivações internas representam fontes
funcionais que vão de encontro às necessidades específicas dos consumidores, servindo
de base para a geração de atitude, influenciando em última instância o seu
comportamento" (DAWGHERTY; EASTIN; BRIGHT, 2008, p. 17, trad. nossa) . 541
541
"These internal motivations represent functional sources designed to meet specific consumer
needs and serve as the foundation for attitude formation, ultimately influencing behavior."
996
experiências". (p. 17, trad. nossa) . A terceira função, diz respeito à redução de
542
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http://www.canneslions.com/resources/downloads/rules/2014/Brent.pdf>. Acesso em: 15 jan.
2015.
542
"[...] the knowledge function recognizes that people are driven by the need to gain information
to organize and understand their environment.That is, we are motivated by the need to understand and
make sense of ours experiences."
543
"Thus, creators of UGC feel inherently gratified with a sense of self-esteem because they have
created content and become members of an online community that shares the principles they consider
important."
997
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TAPSCOTT, Don. Wikinomics: how mass collaboration changes everything. New York:
Penguin, 2007).
998
Lucimara RETT545
Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ
RESUMO
Com a convergência das mídias (JENKIS, 2009; SHIRKY, 2011) e o transporte das
imagens em diversas superfícies (FLUSSER, 2007), há que se questionar a fragilidade
das marcas nas suas manifestações perante a sociedade contemporânea. Com base na
proposta de Andrea Semprini (2006), que elenca as mediações da marca nos planos
espacial, humano e virtual, são apresentadas, em caráter exploratório, algumas
ressignificações das manifestações de marcas nos três tipos de mediações. No contexto
da cibercultura, as mensagens publicitárias ressignificadas podem ser consideradas
verdadeiras armadilhas para a comunicação das marcas junto aos prosumers, chegando
a um ethos bastante diferente do enunciado originalmente pelas corporações.
999
546
Prosumer: conceito criado a partir da fusão dos termos, em inglês, producer (produtor)
consumer (consumidor), proposto por Alvim Toffler (1980), que designa o novo papel do consumidor na
pós-modernidade, bem como uma nova relação entre produção e consumo de informação.
1000
possível devido às condições que a internet exige para que um indivíduo não-
profissional possa começar a produzir.
Marcela Costa (2010) acrescenta que nesse contexto, o novo consumidor quer
descobrir ao invés de ser descoberto, que quer “fazer parte”.
O YouTube, os blogs e o Orkut são exemplos dessa nova cultura. Entre
pérolas e bizarrices, podemos encontrar consumidores manifestando suas
vozes sobre os mais diversos assuntos, inclusive sobre marcas e
disponibilizando suas opiniões para o mundo inteiro. Por isso, se antes o
marketing, as indústrias midiáticas e publicitárias utilizavam uma
abordagem intrusiva, agora precisam dialogar utilizando uma abordagem
participativa. Precisam também compreender que a cultura do espectador,
cada vez mais, reconfigura-se na cultura do participador, ou cultura
participativa, na qual o poder de transmitir é distribuído e compartilhado por
todos (COSTA, 2010, p. 110).
Como Shirky (2011, p. 54) afirma: “a infraestrutura não pertence aos produtores
do conteúdo: ela é acessível a qualquer um que pague para usar a rede,
independentemente como a utilize”. Outro ponto levantado por Shirky em relação aos
amadores é a sua diferenciação dos profissionais no que diz respeito à motivação.
Shirky (2011) avalia que, ao participar, o indivíduo se sente satisfeito e com mais
vontade de fazer parte de se conectar. Isso provoca uma retroalimentação do sistema.
Por fim, o autor nos lembra que o botão “publicar” nos traz uma autonomia nunca antes
alcançada.
Imagens nos meios digitais , prosumers e uma nova imaginação
A contemporaneidade, de acordo com Giorgio Agamben (2009, p. 59), “é uma
singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma
distâncias; mais precisamente, essa é a relação com o tempo que a este adere através de
uma dissociação e um anacronismo”.
Da maneira como funcionam na contemporaneidade, os meios digitais, segundo
Vilém Flusser (2007, p. 59), “transformam as imagens em verdadeiros modelos de
comportamento e fazem dos homens meros objetos. Mas os meios podem funcionar de
maneira diferente, a fim de transformar as imagens em portadoras e os homens em
designers de significados”.
Para Flusser (2007, p. 152), “uma imagem é, entre outras coisas, uma
mensagem: ela tem um emissor e procura por um receptor. Essa procura é uma questão
de transporte”. As imagens são superfícies e podem ser transportadas em diferentes
corpos.
De fato algumas dessas imagens reluzentes podem nos surpreender: são
inesperadas. Podem ser fixadas na tela (e na memória do computador).
1001
Desse modo, as imagens fixadas podem ser alteradas, pode-se iniciar uma
espécie de diálogo entre a própria imaginação e aquela que foi introduzida
no computador. Uma vez alteradas, as imagens podem ser ecaminhadas para
outros produtores de imagens (não importa o lugar onde estes se encontrem),
e podem ser novamente modificadas por esses produtores para serem
reencaminhadas ao remetente (FLUSSER, 2007, p. 173-174).
Fazendo um diálogo do autor com Agamben (2009, p. 44) “a estratégia que
devemos adotar no nosso corpo a corpo com os dispositivos não pode ser simples, já
que se trata de liberar o que foi capturado e separado por meio dos dispositivos e
restituí-los a um possível uso comum”.
Compreendendo-se, então, a imagem/superfície e seu transporte por
corpos/dispositivos, acrescentamos a questão da imaginação do receptor perante esse
contexto da contemporaneidade. Flusser (2007, p. 161) elucida que:
A singular capacidade do homem de criar imagens para si mesmo e para os
outros tem sido, pelo menos desde Platão, um dos temas das reflexões
filosóficas e teológicas. [...] A reflexão sobre essa competência é retratada,
na maioria das vezes, de forma especulativa, sob o nome de ‘imaginação’
(Imagination) ou ‘faculdade imaginativa’ (Einbildungskraft): ela é
compreendida quase sempre como algo dado, como um fato. [...] A
imaginação (Einbildungskraft) manifesta-se como um gesto complexo,
deliberado (“intencional”), com o qual o homem se posiciona em seu
ambiente.
O autor (2007, p. 162) explica que a imaginação é a “singular capacidade de ex-
sistir (ek-sistieren) em vez de in-sistir (in-sistieren). Esse gesto começa, digamos, com
um movimento de abstração, de afastamento de si, de recuo”. Acresenta, ainda, que “a
nova imaginação se encontra num ponto de vista de abstração insuperável, a partir do
qual as imagens podem ser criticadas e analisadas (FLUSSER, 2007, p. 175).
O sujeito está se tornando fragmentado, composto não de uma única, mas de
várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas. O processo de
identificção tornou-se mais provisório, variável e problemático. De acordo com Stuart
Hall (2006), a identidade tornou-se uma “celebração móvel”: formada e transformada
continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados
nos sistemas culturais que nos rodeiam.
Esse sujeito, com identidade fragmentada (HALL, 2006), em hiperconexão
(RECUERO, 2011), com identidades móveis, envolto na cultura participativa e
inteligência coletiva (JENKINS, 2009) caracteriza-se como prosumer.
Tomando-se por base o discurso de Lúcia Santaella e Maria Collier de
Mendonça (2014, p. 28), “se por um lado, o consumidor-internauta contemporâneo
angustia-se com o excesso, buscando prazer imediato e mergulhando no ciclo trabalho-
1002
1003
Andrea Semprini (2006) define a marca como uma instância enunciativa, sendo
que esse processo de enunciação é o que lhe permite a passagem de um estado virtual,
de seu projeto, sua concepção, para um estado concreto de manifestação.
Definimos o nível de encunciação como projeto de marca e aquele dos
enunciados produzidos como manifestações da marca. Lembremos também
que as manifestações de segundo nível não devem ser reduzidas à
“comunicação” de projeto de marca. O termo comunicação é muito
caracterizado no universo das marcas. Evoca imediatamente a esfera da
comunicação comercial (publicidade, below the line, nome, logo, etc.). Em
nosso modelo, a vasta panóplia de instrumentos de comunicação de marca é
considerada como uma série de suas manifestações, situando-se no mesmo
plano teórico e metodológico das outras manifestações, como os produtos, o
preço, as práticas de interação ou os modos de distribuição (SEMPRINI,
2006, p. 143).
1004
Fonte: Projetação
547
Vale lembrar o caso da empresa GAP, marca californiana de roupas, que alterou seu logotipo
em 2010 e, após uma série de críticas por parte dos fãs/seguidores nas redes sociais Facebook e Twitter,
resolveu reconsiderar a mudança de identidade visual. A GAP ainda tentou uma ação de crowdsourcing
para que fosse criado um novo logotipo de maneira colaborativa, ação que também não teve sucesso. Sem
alternativas, a empresa voltou a utilizar o logotipo antigo (ROCHA, 2010, online).
1005
1006
1007
Considerações finais
1008
comunicacional. É importante destacar que isso não significa que o receptor não tinha
voz ativa na comunicação massiva. Essa participação foi, em verdade, potencializada
pelo ambiente online e pela hiperconexão, dando origem, então, ao termo prosumer, que
designa o produtor e receptor de conteúdo.
O referencial teórico deste estudo, antes de apresentar o objeto, especificamente,
faz uma breve compilação de pensamentos de Vilém Flusser (2007) e Giorgio Agamben
(2009) para se elucidar questões sobre a imagem e seu transporte nos novos meios e
dispositivos, bem como uma nova imaginação que esse cenário tecnológico traz para os
prosumers.
Por fim, à luz das categorias criadas por Andrea Semprimi (2006) para a
manifestação das marcas nos planos das mediações espaciais, humanas e virtuais, foram
elencados exemplos dessa “nova imaginação” e atuação dos prosumers nas diferentes
mediações, ressignificando as mensagens publicitárias originais. Assim, tem-se que a
manifestação das marcas foge do controle das empresas que enunciam as mensagens e a
ressignificação pode se ternar uma verdadeira armadilha para a comunicação das
organizações.
Há que se considerar que os efeitos são inesperados, podendo ser
surpreendentemente bons ou ruins para o branding, mas no atual cenário é importante
que as empresas estejam atentas à sua fragilidade de sua comunicação frente à
sociedade contemporânea.
Destaca-se que este é apenas um estudo exploratório que, apesar das limitações
de pesquisa, abrem espaço para reflexões futuras mais amplas e novas pesquisas acerca
do tema apresentado.
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(orgs.). Ciberpublicidade: discurso, experiência e consumo na cultura transmidiática. Rio de
Janeiro: E-papers, 2014. p. 85-104.
1010
RESUMO
O presente artigo analisará uma peça da campanha publicitária Journey, da marca de
luxo Louis Vuitton, estrelada pela atriz francesa Catherine Deneuve, sob o prisma da
semiótica de extração peirceana. A análise da publicidade, sob o espectro da teoria
semiótica, permite explicitar o potencial comunicativo do anúncio a que se refere, uma
vez que as estratégias semióticas utilizadas por uma marca são fatores essenciais à sua
constituição como marca, sendo, portanto, de fundamental importância para a
compreensão de sua natureza, perfil e efeitos emocionais e funcionais. Sendo assim,
pode-se afirmar que a mensagem publicitária provoca efeitos de sentido no receptor e,
com o auxílio da semiótica, é possível compreender como esse campo de sentidos
ocorre.
548
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
549
Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP),
com a tese “Evolução, significados e marketing publicitário do luxo. Estudo de caso da marca Louis
Vuitton sob o prisma da semiótica”. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura, pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie, com a dissertação "A arte na publicidade de uma marca de luxo". Pós
Graduação em Comunicação com o Mercado pela ESPM. Graduação em Propaganda e Marketing
(ESPM) e Direito (FMU). Atua como docente em cursos de Comunicação e Marketing. Pesquisadora do
mercado de luxo, email: carolboari@yahoo.com.br
1011
1012
1013
1014
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1016
alguns dos elementos constitutivos devem ganhar destaque, enquanto outros devem
aparecer em segundo plano, complementando a imagem. Sendo assim, as superfícies
são lisas e opacas, justamente para evidenciar os elementos luz e linha, enquanto o
elemento cor complementa a leitura visual, apontando para o produto em questão.
Assim, as cores apresentam um contraste de temperaturas. Há o predomínio de
cores frias, em especial o cinza e o negro e, em alguns pontos, tons esverdeados e
azulados, em oposição aos tons mais quentes, marrom e vermelho. Os objetos de
viagem, baús e bolsa, apresentam ferragens douradas que se tornam pontos de
luminosidade na imagem.
O grande foco de luz, que irradia por trás da figura feminina, concede-lhe
intenso destaque no todo da imagem, criando uma certa aura.
A predominância dos volumes cúbicos harmoniza a composição visual,
destacando, novamente, os elementos luz e linha. Tal fato ocorre em função da escolha
dos produtos, nesse caso, os baús em formas cúbicas. Além do que, a forma cúbica da
locomotiva também entra em consonância com o formato dos baús.
No que tange ainda à composição visual, os elementos presentes na imagem, na
parte inferior direita, recebem uma maior sensação de peso visual, fazendo com que o
receptor direcione seu olhar de cima para baixo. Considerando o estudo sobre peso e
espaço realizado por autores como Ostrower (2013) e Arnheim (2014), tais elementos
encontram-se dispostos na parte inferior do anúncio, com destaque para o lado direito,
que apresenta um maior peso visual, como visto acima, chamando a atenção do receptor
e favorecendo a memorização dos produtos.
Na imagem em análise, há um equilíbrio dinâmico, ou seja, o ponto focal está
deslocado do centro geométrico do espaço visual. A composição fotográfica, ou seja, a
organização dos elementos na fotografia, tais como posição, texturas, cores, formas,
equilíbrio, é guiada pelo princípio dos três terços, cujo objetivo é capturar uma
550
550
Disponível em: <http://omeuolhar.com/artigos/que-regra-tercos>. Acesso em: 29 dez 2014.
1017
ele será posicionado nestes pontos, o que dará à foto uma composição mais elaborada.
O objetivo é conseguir uma maior harmonia entre os elementos da foto.” 551
1018
contraste muito nítido entre dois lados da imagem, o esquerdo mais sombrio e o direito,
banhado em luz. Esse contraste é acentuado porque, embora o trem se aproxime, a
posição e o olhar da mulher solitária, mas bem acompanhada pelos utensílios que a
rodeiam, lhe dirige as costas, com um ar de indiferença. A situação como um todo é
bastante enigmática. Passemos, portanto, para o que o ponto de vista indicial tem a nos
dizer.
1019
qualidades internas que indicam se tratar de uma fotografia. Toda fotografia funciona
como um feixe de índices. O tipo de foto e a distribuição de seus elementos indica que
se trata de um anúncio publicitário, o que é confirmado pela relação indicial da foto
com a legenda, que desempenha um papel declarativo. Trata-se, aqui, da Louis Vuitton,
para ninguém duvidar.
Embora a inscrição LV sobre o inconfundível couro marrom sejam ambos
imediatamente reconhecidos em função dos quali-signos próprios do lettering da
inscrição, das cores e do tipo de couro, o aspecto indicial de uma marca lhe é
fundamental. O que essa marca acumulou, ao longo do tempo, para se constituir como
uma marca imediatamente reconhecível? Isso compõe o seu contexto de referência. Os
contextos ou universos referenciais tanto da atriz quanto da marca são densos e extensos.
Eles se referem aos objetos dinâmicos da imagem da atriz, que está longe de ser uma
figura anônima, e da marca. Sob esse aspecto, a imagem é bastante astuciosa, nos
índices internos que exibe para produzir um efeito final de destaque imperioso aos três
índices que são soberanos na imagem: a atriz, a marca e a viagem. A imagem do trem,
evidentemente, um trem antigo, contrasta com a modernidade da figura feminina e dos
produtos Louis Vuitton que ela exibe. Esse contraste, longe de acentuar essa
modernidade, funciona como índice da atemporalidade tanto da fama e da beleza da
atriz quanto da marca. Em que momento, em que hora, em que situação, de ida ou de
volta, se deu esse flagrante? Indefinido. Uma indefinição que funciona, no contexto da
foto, para arrancar as figuras que importam do tempo e do espaço, estes que deveriam
funcionar como elementos indexicais chave e que aí estão dessemantizados para
acentuar os aspectos simbólicos da marca, sua aura e seu valor, como será visto a seguir.
1020
1021
A atriz destacou-se em sua área de atuação, recebeu uma série de prêmios, sendo
reconhecida dentro da França, bem como em âmbito internacional, mantendo o status
de diva do cinema francês até os dias atuais. Na década de 1960, protagonizou o filme
Belle de Jour (1967), tornando-se um símbolo sexual.
As características de Catherine, tais como beleza, sofisticação, elegância
justificam sua presença no anúncio da Louis Vuitton, uma vez que ambas, a atriz e a
marca representam a França como símbolos de luxo, tradição e atemporalidade. Embora
a celebridade seja uma senhora de meia idade, continua sendo considerada exuberante e
um modelo de beleza que envelhece de forma saudável e natural. Nesse ponto, pode-se
ressaltar que a tradição da marca e a reputação da atriz permanecem inabaladas, mesmo
diante de um mundo efêmero e em constante transformação, delineado pela fugacidade
da moda.
A forma como Catherine está sentada, levemente inclinada para frente, além dos
pés que seguem a mesma posição, pode ser interpretada como a vontade de seguir
adiante, de avançar. As pernas cruzadas e desnudas simbolizam desembaraço, com um
toque de sensualidade que, em momento algum, poderia ser confundido com
vulgaridade (WEIL e TOMPAKOW, 2013, p. 66).
A escolha dos baús para o anúncio encontra pertinência no fato de retratar a
origem da marca, o início de uma trajetória de sucesso da Louis Vuitton. A presença do
trem e dos baús encontra ancoragem no título da campanha, Journey, uma referência aos
caminhos trilhados pela atriz e pela marca, sendo direcionada a um público-alvo mais
velho, sofisticado, conservador e requintado.
O trem e os artigos Vuitton estão dispostos de forma que o olhar do
l
receptor seja direcionado ao nome da marca, quee funciona como efeito espelho de tais
v
elementos. e
z
A presença da névoa cria uma luminosidade na imagem, realçada pela luz do
a
refletor, criando um cenário diferenciado, mágico e misterioso, o que serve para dar
ênfase à reputação da atriz de mito inacessível, além de simbolizar o encantamento
presente nos produtos da marca, sendo possível perceber que a névoa percorre o
caminho do trem, destacando o baú e ampliando sua presença no fundo da imagem,
estabelecendo uma ligação entre o passado e o presente, uma estratégia que alicerça,
ainda mais, a questão de atemporalidade da marca.
A imagem do trem e o destaque da cor vermelha representam dinamismo,
resgatando a conotação de riqueza que tal tonalidade já possuiu, em função do alto
1022
custo de sua fabricação que demandava corantes caros. No império de Carlos Magno
(742-814) “[...] o que era vermelho pertencia ao Imperador” (HELLER, 2013, p. 62).
Os baús são os objetos mais representativos da marca, remetem à sua origem, a
um passado endossado pela nobreza e as ferragens douradas de sua composição surgem
como pontos de luz na imagem. “[...] em termos simbólicos, o ouro não se compara a
nenhuma outra cor. Quem pensa em ouro pensa, primeiramente, no metal nobre. Ouro é
dinheiro, é sorte, é luxo – isso determina a simbologia do ouro.” (ibid., p. 227)
Os cabelos de Catherine se destacam na imagem em função de sua tonalidade
loiro reluzente. “Também os cabelos loiros, no lirismo, se tornam dourados.” (ibid., p.
87)
Em relação ao estilo de vestuário proposto para a campanha, percebe-se total
harmonia entre o estilo clássico representado por Catherine e a escolha dos artigos
Vuitton, simbolizando um estilo elegante e atemporal, acentuado pela cor preta.
Catherine Deneuve aparece com uma maquiagem que destaca seu rosto e a deixa
ainda mais bela “[...] o rosto humano é um imenso campo de metamorfoses e a
decoração corporal (maquilagem, tatuagem, penteados) uma arte visual que sempre
traduz um estatuto, colocando em evidência a beleza, a carga erótica e o prestígio
social.” (MALYSSE, 2008, p. 109)
Embora os sinais para o reconhecimento da estação de trem que serve como
cenário estejam quase apagados, pode-se reconhecer, por algumas metonímias que se
trata da estação de trem Austerlitz, em Paris.
O nome da referida estação ferroviária é uma homenagem à vitória francesa, em
face do exército austro-russo, na batalha de Austerlitz, em 1805, comandada por
Napoleão Bonaparte. Na batalha em questão, o imperador utilizou estratégias
diferenciadas e consagrou-se como comandante do exército francês. Ao vencer tal
conflito, a França anexou ao seu território terras Austríacas na Itália e na Bavária. A
batalha realizou-se próxima à cidade de Austerlitz, o que justifica seu nome. A vitória
das tropas francesas, nesse conflito, foi facilitada por um denso nevoeiro, que encobriu
a chegada do exército napoleônico, rendendo os soldados adversários. Napoleão obteve
grande êxito na Batalha de Austerlitz, iniciando um período de quase uma década de
dominação francesa no continente europeu, sendo motivo de grande orgulho para o
povo da França.
1023
que, independente das viagens que realize para gravar seus filmes, a França é sempre o
lar de Catherine. Enquanto a casa apresenta um sentido nômade, em função das
constantes locomoções da atriz, os baús que carrega guardam seus pertences, seus
objetos mais íntimos, bem como sua história. Ainda nesse sentido, o anúncio apresenta
os baús da marca tradicional de luxo, Louis Vuitton, ou seja, uma referência francesa
que faz parte da vida da atriz. E o consumidor que os adquirir passa a tê-los. Outro
valor implícito nessa legenda é o de que, não importa para onde se vá, Louis Vuitton
nos dará sempre a sensação íntima, confortável, confiante, de estar em casa.
Considerações finais
A aplicação da teoria semiótica ao anúncio publicitário da marca Louis Vuitton
permite a constatação de que os artigos da referida marca são apresentados como
símbolos de diferenciação, poder, elegância e sofisticação, com destaque especial às
cores marrom e bege, representando as cores institucionais da marca, evidenciando sua
superioridade.
O anúncio com a atriz francesa Catherine Deneuve corresponde ao início da
campanha Journey, no ano de 2008. A escolha da celebridade, bem como dos baús,
artigos tradicionais e prestigiosos da marca, exploram a tradição francesa no segmento
de luxo, incluindo elementos de honra ao povo da França, destacando a atemporalidade
da marca e de seus produtos.
Na publicidade em questão, a marca Louis Vuitton é apresentada como
sinônimo de luxo, elegância e sofisticação, independente do momento ou do contexto
em que esteja inserida, tão universal quanto são os mais relevantes valores humanos.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Vera Teixeira de. O verbal e o não verbal. São Paulo: Unesp, 2004.
552
Être chez soicen'est pas un endroit, c'est un sentiment.
1024
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Trad. Ivonne Terezinha de Faria. São Paulo: Cengage Learning, 2014.
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Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.
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NÖTH, Winfried. Panorama da semiótica: de Platão a Peirce. São Paulo: Annablume, 2003.
SANTAELLA, Lucia. Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2012.
1025
Danuta LEÃO554
Universidade da Amazônia e Faculdade de Estudos Avançados do Pará,
Belém, PA.
RESUMO
Este artigo busca contribuir com a reflexão e análise sobre a temática infância no campo
da Publicidade. Uma geração conectada que é chamada por muitos como uma geração
no digital, representada aqui pela criança que tem acesso à tecnologias de informação.
Este trabalho apresenta uma reflexão sobre o como as pesquisas em publicidade
abordam a temática consumo infantil apresentando uma percepção e perspectiva sobre
as atuais pesquisas. Contudo, pretende investigar quais as mudanças que essas
tecnologias trouxeram para a infância do século XXI que hoje cresce e aprende com ela,
principalmente no que tange pesquisa publicitária na Amazônia.
A Seleção do tema
Este estudo visa contribuir para uma reflexão sobre a temática Publicidade e
Infância, ou seja sua demarcação, como uma construção social histórica e dinâmica, que
se altera ao longo da história da sociedade. Esta pesquisa parte de um trabalho mais
amplo e pela busca por uma compreensão sobre a representação da infância e sua
relação com a publicidade na contemporaneidade.
Este trabalho é resultado de um processo longo, da intimidade da autora com o
assunto abordado. Principalmente por já ter participado, na condição de voluntária, do
Projeto Integrado de Estudos e Pesquisa, intitulado Agência Unama de Comunicação
pelos Direitos da criança e do Adolescente555, do programa de Extensão Universitária,
desenvolvido pelo curso de Comunicação Social da UNAMA - Universidade da
Amazônia. Ainda na Graduação, percebendo a necessidade de um estudo que analisa-se
553
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
554
Mestre em Comunicação e Linguagem pela Universidade Tuiuti do Paraná- UTP. Professora da
Universidade da Amazônia e Professora da Faculdade de Estudos Avançados do Pará. E-Mail:
danutaleaopp@gmail.com
555
Disponível em http://www.agencia.unama.br/
1026
556
Trabalho disponível em:
http://www.intercom.org.br/papers/regionais/norte2007/resumos/R0159-1.pdf
557
Dissertação disponível em: http://www.utp.edu.br/
558
Dispnívem em http://www2.eca.usp.br/propesq/index.html
1027
Infância em debate
1028
1029
561 Brasil, lei federal nº 8.069,13 de julho de 1990. o estatuto da criança e do adolescente. brasília, df.
1990.disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>
1030
1031
Capparelli (2002) diz que outra questão é saber se nessa cibercultura infantil, a
relação com diversidade/uniformidade, com a autonomia e controle em rede, emergem
nesses espaços públicos virtuais. E ainda mais, se é alterada a tendência da
transformação das relações humanas e sociais em mercadorias.
Neste sentido, entende-se que a família, como primeiro fator socializador, deve
cuidar para promover um desenvolvimento saudável da criança, em relação ao seu
convívio social. Acredita-se que não só a família, mas também a escola e outras
instituições governamentais têm a função de cuidar e proteger a criança para que ela
consiga ampliar suas oportunidades de conquistas, uma vez que recebe muita influência
do ambiente, e as modifica através de suas necessidades, de modo que se sinta acolhida,
amada, estimulada e emocionalmente segura.
Henrry Jenkins (2009) em sua obra Cultura da Convergência fala que o
extraordinário no processo da cultura da convergência , é que ele ocorre fora da sala de
aula e sem qualquer controle adulto direto. Concorda-se com o autor quando ele diz que
“crianças estão ensinando crianças o que elas precisam saber para se tornarem
participantes plenas da cultura da convergência.” (JENKINS, 2009. p. 249). Neste
contexto Girardello diz que:
Podemos esperar que, com o tempo e a presença cada vez maior de espaços
multimídias na escola [e em casa], os meios digitais tendam a perder a aura
que de certo modo ainda os distancia da argila, dos pincéis e dos lápis de
cor- distância que tende a ser sentida (...) pelos adultos (...). Para as crianças
hoje recém-chegadas ao mundo, que não possuem perspectiva histórica, e
que têm acesso fácil ao computador, ele é desde já primordialmente um
brinquedo, ou um espaço onde se brinca. (GIRARDELLO, 2008. p. 135.)
Esta geração net563 é muito mais inteligente, pelo fato de que tem o processo
cognitivo mais estimulado e, consequentemente, desenvolvido. Sem as crianças de hoje
são multifuncionais e independentes que a geração de seus pais. Isso deixa um tremor
em seus pais, pois para eles essa capacidade de assimilação das crianças por fazer parte
do seu dia-a-dia deixa essa insegurança neles, principalmente por não dominarem e não
conhecerem essas tecnologias.
Pensar em novas tecnologias é pensar também em experiências estéticas
comunicacionais, tanto que agora nos tempos de Convergência Midiática as
empresas para atingir o público infantil não estão apenas com a estratégia de
propaganda televisiva, as crianças apenas como receptoras da mensagem.
As empresas estão ao mesmo tempo colocando na TV, sua mensagem
persuasiva, como também conteúdos no Youtube, comunidades virtuais,
mundos interativos. É o consumo que faz com que se sintam participantes
563
N-Gen (Net Generation ou Geração Net, como associa o autor Don Topscott àqueles
indivíduos pertencente à Geração Digital).
1032
1033
As marcas de hoje se fazem tão presentes na vida das crianças, como mostra
Sampaio(2010), que não muda muito dos ídolos dos anos 80, o auge da comunicação
para esse mercado. Em seu pensamento, Sampaio(2010) mostra o envolvimento da
criança com a marca através de personagens. Resultados de estratégia de licenciamento,
no qual os personagens infantis são usados para vender produtos, passam da televisão
para outras mídias como livros, vídeos, cd´s, dvd´s e cinema. Passam a ser palpáveis aos
olhos das crianças podendo ser encontrados em diversos pontos de vendas de forma
integrada com inúmeras plataformas midiáticas. E não é um fenômeno novo para
construir uma lealdade à marca.
Concorda-se com Gabriel (2010) ao dizer que as tecnologias digitais estão se
tornando mais presentes em todos os aspectos da vida humana e que vários fenômenos
que se apresentam hoje são categorizados como novidade. Na verdade estão sendo
impulsionados pelo digital e não causados por ele.
Perspectivas
A publicidade por ter sua importância social e forte presença na vida das
pessoas, vendendo felicidade e estilos de vida com seu discurso persuaviso não pode,
caminhar sem limites, sem regras, sem leis, sem responsabilidade. Por isto, debater
sobre uma publicidade voltada para o público infantil é debater também sobre questões
éticas. Há anos muito se tem comentado nos meios jurídicos e acadêmicos brasileiros
sobre uma proposta de restrição legal à publicidade infantil, a exemplo do que ocorre
em alguns países europeus e no Canadá. Tal proposição tem gerado opiniões
contraditórias, é fato que a televisão ocupa um lugar de destaque entre as formas
disponíveis de entretenimento
1034
565
Pesquisa realizada pelo PPGCOM ESPM . Criança Mídia & Consumo, O objetivo da
pesquisa foi verificar a presença da publicidade no imaginário de crianças de uma favela em SP.
Disponivel em http://www2.espm.br/crianca-midia-e
consumo?utm_source=Emkt&utm_medium=Emkt&utm_term=pesq2&utm_campaign=News-Pesquisa
1035
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Considerações finais
1037
publicidade é esta que possuímos em Belém-PA, acredita-se que será uma grande
contribuição não só para Belém, mas que pesquisas na Amazônia e da Amazônia
precisam se fazer presentes nos espaços de debate como neste Encontro.
REFERÊNCIAS
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RESUMO
Este texto apresenta questionamentos sobre o movimento de moralização dos anúncios
publicitários que têm a figura feminina em foco, não por parte dos polos de produção,
mas a partir dos polos de recepção, considerando teorias da cultura e da representação
em relação à sociedade brasileira atual.
1 Introdução
A identificação da alteração social verificada por consumidores brasileiros com
mais de 30 anos pode trazer como ponto focal a identificação da alteração do social e
culturalmente aceitável presente nos contextos apresentados pelas publicidades de
produtos veiculadas no Brasil, independentemente da mídia ou da plataforma utilizada.
Criações premiadas nas décadas de 1980 e 1990 já não seriam aceitáveis atualmente,
como, por exemplo, o spot audiovisual do anunciante Valisére (1987), que apresenta o
contexto de uso do primeiro sutiã, voltado a meninas entre 11 e 13 anos.
Um exemplo recente que pode ser apresentado é o de outro spot audiovisual
também apresentado em rede nacional de televisão, pela emissora Rede Globo, para o
anunciante Havaianas Fit, no ano de 2009. A repercussão foi negativa, e o anunciante se
viu obrigado a substituir o spot por outro depois de apenas quatro dias de exibição.
Entre as matérias existentes sobre o caso, encontram-se posições contrárias, como a de
Conde, para o site Os Consumidores 568 : “Ferindo costumes VT publicitário das
Havaianas é retirado do ar após reclamações. Nele o ator Cauã Reymond chega ao
restaurante entusiasmando a conversa entre a avó e a neta durante o jantar”. A citação
refere-se ao mote principal da peça publicitária, que retrata a relação aberta entre avó e
neta em referência às relações efêmeras da atualidade, quando a avó apresenta opinião
de que não precisa casar com o galã da novela: “pode ser só sexo”, afirma a simpática
senhora de cabelos brancos e colar de pérolas.
566
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de pesquisadores em Publicidade e
Propaganda, de 27 a 29 de março de 2015. CRP/ECA/USP.
567
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Cultura – Ccult, DLAC, UTAD.
Vila Real, Portugal. Professora do Curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário
Franciscano. Santa Maria/RS. E-mail: carolineculturabrasil@gmail.com.
568
Disponível em: <http://www.osconsumidores.com.br/vovo-moderna-agride-costumes-2>.
Acesso em: 21 mar. 2015.
1039
1040
1041
1042
régia, em 1808, para a verificação das ligações entre as normas sociais, a cultura
instalada e a nova cultura trazida pela corte, que pode ser percebida também a partir dos
textos noticiosos e descritivos de então.
A corrente marxista surge logo após a funcionalista e utiliza a teoria de Marx
como inspiradora do raciocínio apresentado, a considerar cultura “determinada por
forças e relações de produção, constituindo parte integrante da superestrutura social”
(FERIN, 2002, p. 39). Marx designa por cultura “os condicionamentos sociais e
económicos, na forma de interpretações ou racionalizações”, ainda que venham a ser
construídas – as interpretações – “pelo capital, com vista a criar representações ilusórias,
as ideologias”. As últimas, por sua vez, “ocultam as efectivas contradições e legitimam
o poder constituído” (FERIN, 2002, p. 39-40). A falha da corrente marxista reside na
ideia de que não existe cultura “independente das condições históricas, dos modos de
produção e das relações entre classes que lhes estão subjacentes”, colocando que os
meios de produção intelectual seriam controlados pela classe dominante a partir de
dispositivos de caráter econômico e político (FERIN, 2002, p. 40). Tem-se, então uma
teoria da cultura que desconsidera as condições históricas enquanto influenciadoras da
cultura vigente, o que não se faz possível.
No início do século XX, foi criada a Escola de Frankfurt, a qual traz ideias que
vêm na sequência das crenças da corrente marxista, apresentando, pela primeira vez, o
conceito de indústria cultural. Os teóricos dessa escola, a qual ainda possui seguidores
nos dias de hoje, pregavam a destruição do conceito clássico de cultura e afirmavam que
os meios de produção cultural foram contaminados pelo modo de produção capitalista
(bipolaridade constituída entre opressores e oprimidos). O termo forjado pela Escola de
Frankfurt e sua visão da imbricação entre a produção cultural e o sistema capitalista
serão as bases para a vertente estruturalista e para os estudos culturais. A cultura passou,
então, a ser vista, por parte dos pensadores, como uma ideologia da classe dominante.
Contudo, o grupo liderado por Gramsci defendia “o princípio da coexistência de uma
pluralidade de culturas num contexto de cultura dominante ou hegemónica, onde as
elites trabalham na construção de um consenso cultural promotor de uma dada ordem
social” (FERIN, 2002, p. 40).
Paralelamente, desde o início do século XIX, desenvolvia-se na França outro
conceito de cultura, com uma diferente concepção simbólica, embasada “em signos
linguísticos” e que se baseava nos estudos de Saussure e Jakobson. Ambos os autores
1043
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1045
orientam a acção social” (FERIN, 2002, p. 43). Durante sua caminhada, o pesquisador
desenvolveu três linhas de pensamento: na primeira, a ênfase fica na “cultura como
simbolismo” encontrada na Teoria da Ação Social; na segunda, propõe “a cultura como
um sistema com a sua própria lógica”, na Teoria Geral da Ação; e, na terceira, “examina
a cultura como um código de permuta entre os diversos sistemas e subsistemas sociais”
(FERIN, 2002, p. 43). A evolução da percepção de Parsons em relação aos sistemas
social e cultural e a interferência de um no outro evidenciam o avanço no entendimento
de que existem trocas baseadas no fazer cultural e complementam a análise etnológica
de Lévi-Strauss e seus elementos sincrônicos e diacrônicos. A complexidade do
conceito de cultura e da sua relação com o homem e a sociedade fica, entre s décadas de
1920 e 1940, cada vez mais evidente, despertando os pesquisadores para os estudos de
campo e seu sem número de variáveis e matizes.
No século XX, firmou-se, com base acadêmica em Birmingham, a escola inglesa
dos estudos culturais, cujo principal expoente é Hall, o qual traz a abordagem que
marcará a base de estudos sobre a cultura que serão realizados desde então. O principal
legado de Hall encontra-se na “distinção entre concepção estruturalista da cultura e a
concepção estrutural da cultura” (FERIN, 2002, p. 44). A referida concepção estrutural
da cultura “procura evitar as limitações da abordagem estruturalista, ao considerar a
cultura como estudo das acções, objetos e expressões significativas em contextos e
processos historicamente específicos e socialmente estruturados” (FERIN, 2002, p. 44).
É, então, a partir de Hall, que as análises que envolvem cultura são realizadas
considerando o contexto da produção cultural e as conexões possíveis dentro do
contexto, sem anular ou abstrair a localização histórica do tempo analisado.
A partir do final dos anos 1980, fica consolidada a corrente que define cultura
como “sendo um conjunto variado de modos de fazer e proceder (rituais) que se deve
compreender em função das diversas situações e consoante as exigências colocadas
pelas diversas estratégias nas situações sociais concretas” (CRESPI apud FERIN, 2002,
p. 45). Aqui aparece novamente a preocupação de não descolar o fazer cultural do
contexto no qual acontece, como fica evidenciado pela presença da palavra “concreta”.
Para Hoggart e Thompson (apud FERIN, 2002, p. 45), no final da década de 1950
(quando já eram pesquisadores em Birmingham, “a análise cultural deverá integrar tanto
a cultura idealista, centrada nas faculdades de espírito e no ideal de perfeição, como a
cultura patrimonial, centrada nos registros, memórias e documentos produzidos pela
humanidade e a cultura das práticas quotidianas”. Edgard Morin (ANO apud FERIN,
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REFERÊNCIAS
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RESUMO
O estudo analisa como os personagens midiáticos infantis atrelados a bens de consumo,
configuram-se nas sociedades contemporâneas afetando o cotidiano das crianças, por
meio de estruturas materiais e simbólicas presentes na esfera do consumo. A pesquisa
destaca o foco na influência exercida por personagens infantis, compreendendo a
articulação do consumo às formas de organização da criança, implicando em sua
formação, valores, identidades e sentidos. Investigamos como os heróis, através das
ações publicitárias atribuem significados e valores aos bens e à experiência do consumo
por meio da utilização de estratégias discursivas e elementos simbólicos. Desta forma
verificamos o trabalho e atuação desses personagens no contexto publicitário midiático,
cruzando informações capazes de estabelecer a existência ou não de vínculos entre o
consumo e os personagens midiáticos-simbólicos.
Introdução
Atualmente pode-se perceber o consumo como uma das esferas da vida em que
se observa produção de cultura, ou seja, os espaços sociais podem ser moldados, entre
outros fatores, pelas práticas de consumo. Nesse contexto, a criança contemporânea
também aprende a desenvolver relações e construir representações a partir do ato de
consumir. Assim, este trabalho procura investigar a relação do público infantil com o
consumo, apresentado pela mídia, e a influência exercida de forma direta ou não que
personagens infantis refletem nas ações e características da sociedade contemporânea,
em especial no universo infantil.
A partir da perspectiva de que a infância é um conceito socialmente construído e
que pode transformar-se de acordo com o contexto cultural e o período histórico em
questão, passa-se acreditar que, na sociedade de consumo contemporânea, as crianças se
desenvolvem em um ambiente em que consumir ocupa um papel altamente relevante
569 Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
1053
em suas relações sociais. Assim, como seres sociais que interagem com as
possibilidades que lhes são apresentados, essas crianças reagem aos estímulos do
consumo e da publicidade de maneira específica, como, por exemplo, por interferência
de personagens infantis em produtos alimentícios, em acessórios como roupas, sapatos e
até mesmo em brinquedos que exploram os aspectos lúdicos de personagens infantis
midiatizados.
Por isso ao tratar da relação da criança com o consumo e os personagens infantis,
pode-se notar que a mídia é mais tratada por esse público como uma ferramenta de
entretenimento, consumo, criação de novas ideologias e retenção de atenção, do que
pela sua função de comunicação. Fez-se claro ainda a influência social presente no
desejo de aquisição de algum item com imagem estampadas de seus personagens
favoritos, reforçando a perspectiva de que a mercadoria funciona como produtora de
sentido em um contexto social, incluindo ou excluindo atores sociais572 em grupos de
consumo, como sugerem Douglas e Isherwood (2004).
Desse modo, a criança, delimitada no segundo estágio do desenvolvimento, ou
seja, no estágio pré-operatório, segundo os estudos de Piaget, passa a ser o objeto de
estudo do presente trabalho, em que suas inter-relações com personagens infantis e o
consumo se conectam, no intuito de obter dados que permitam ao pesquisador analisar
essa fase específica da infância em sua complexidade, compreendendo, assim, de
maneira mais eficiente, o impacto provocado pelo consumo de produtos estampados por
personagens infantis, podendo influenciar ou não o público infantil a exercer alguma
forma de violência em repetição às ações e gestos dos personagens. O consumo na
infância pode estar sendo influenciado, de alguma maneira, ou até mesmo reformulado,
pelas tendências atuais atreladas à diversidade de produtos estampados por personagens
infantis que encantam e que normalmente se transformam em ícones de uma dada
geração, sendo este o objetivo principal da referida pesquisa.
A metodologia para a presente pesquisa fez uso da amostra de crianças na faixa
etária de 4 a 7 anos, moradoras da cidade de Brasília e pertencentes a diversas classes
sociais segundo a classificação do IBGE, averiguando a presença e influência desses
personagens e sua relação de influência no comportamento e consumo de produtos
figurados pertencentes ao público em análise.
572
Optamos pelo termo atores sociais, com base nos estudos interacionais de Goffman (1989),
fundamentado na valorização dos processos interacionais e discursivos, ocorrentes por meio da
linguagem, em oposição ao termo indivíduo, que por sua conotação pode revelar assimetrias sociais.
1054
1055
Fo
nte: Piaget e o Desenvolvimento Cognitivo. XYZ da Psicologia. Disponível em:
<http://xyzpsicologia.blogspot.com>. Acesso em: 12 jul. 2014. Adaptado pela autora.
Consumo
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Metodologia e análises
Para o desenvolvimento deste trabalho adotou-se a pesquisa qualitativa, de
cunho exploratório, visando proporcionar maior familiaridade com o problema, a fim de
torná-lo explícito e permitir a construção de hipóteses sobre este.
Para o desenvolvimento da investigação levada a cabo por essa pesquisa,
escolheu-se, como técnica de coleta da pesquisa qualitativa, a de grupo focal (Focus
Group), em que o método de coleta de dados consiste na realização de entrevistas em
grupo, conduzidas por um moderador.
O grupo focal da presente pesquisa foi composto por 8 meninas e 8 meninos, os
quais não terão seus nomes verdadeiros retratados para manutenção da integridade física
e quaisquer outras formas de seguranças adicionais resguardadas às mesmas. Do total
de meninas, duas tinham a idade de 4 anos, duas estavam com idade estabelecida em 5
anos, duas possuíam a idade de 6 anos e outras duas tinham 7 anos. Em igual proporção
foi estabelecido a divisão etária para os meninos.
Os encontros ocorreram em um condomínio horizontal localizado na cidade de
Brasília, Distrito Federal, em um bairro denominado de Jardim Botânico, por se tratar
de um local de fácil acesso para a pesquisadora. Foram realizadas três reuniões com
cada criança, sendo que a cada reunião o entrevistado levou um total de 5 brinquedos
diferentes. Ao término da pesquisa, foram analisados dentre os 240 brinquedos se havia
ou não a presença de personagens infantis.
Também foram analisados itens como: calças, sapatos, blusas, acessórios em
geral etc. de cada criança, visto que a imagem também poderia estar configurada nestas
formas de pertences. Em cada reunião foram observados dados como: 1) pertences
levados pelas crianças; 2) se havia ou não a presença de personagens; 3) onde esses
personagens estão inseridos na mídia; 4) onde a criança conheceu ou viu o personagem;
5) quem deu o brinquedo a ela; 6) por que a criança quis aquele brinquedo; 7) se foi ela
quem pediu o brinquedo em questão.
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1063
Já os brinquedos dos meninos foram dados, em sua maioria, pelos pais (paterno)
que representou 29% do total, ou seja, 12 brinquedos. As avós ficaram em segundo
lugar presenteando as crianças com 9 brinquedos e perfazendo um percentual de 22%
do montante. As Mães e primos (as) ficaram em terceiro lugar com 6 brinquedos, ou
seja, 14% de participação na aquisição de brinquedos com estampas de personagens. Os
amigos (as) obtiveram a participação em 4 brinquedos o que equivale dizer a um
percentual de 10%. O Avô participou com presença em 2 brinquedos (5%), enquanto a
namorada da escola, e aquele que não soube dizer corresponderam a 1 único brinquedo,
ou seja 2% cada.
1064
Considerações finais
No contexto do que foi analisado encontramos dados importantes que validam
nossas hipóteses apresentadas na introdução deste projeto. Dentre as informações
obtidas, podemos destacar as crianças do sexo feminino são mais influenciáveis às
práticas de consumo que os meninos. Desde muito pequenas suas roupas já delimitam
um consumo superior, pois enquanto os meninos utilizam em média três itens para
compor sua vestimenta, as meninas utilizam cinco itens em média, conforme apontado
pelo Gráfico 3.
Outro item que merece destaque quanto à vestimenta das meninas é a estreita
relação das peças atreladas a figura de algum personagem infantil midiático. Embora
isso também ocorra no vestuário masculino, sua presença é mais evidenciada nas roupas
do sexo oposto.
Dentre os dezoito personagens que compuseram as estampas das roupas do
grupo focal feminino, apenas dois deles não estão presentes na mídia televisiva. Para os
meninos a mesma numérica se repete o que nos leva a concluir que o aspecto midiático
exerce igual influência dentro desta faixa etária, independente do gênero.
Já em relação aos brinquedos as meninas apresentaram maior número de itens
com estampas de personagens e dentre os itens das meninas não havia nenhum com a
estampa de personagens sem associação atual televisiva, ou seja, todos os brinquedos
estampavam a figura de algum personagem que possuía desenhos sendo televisionado, o
1065
que não ocorreu para os meninos. A isso podemos associar que o consumo feminino
poder ser mais influenciável pelos compostos de marketing adotados pelas indústrias de
brinquedos e pelas estratégias das agências de publicidade, e para que se possa atingir
aos meninos, a TV não se torna único meio de alcance, sendo necessário apelar para os
jogos eletrônicos, cinema, internet etc.
Ambos os sexos costumam ganhar presentes de fontes bem diversificadas,
porém todas as opções apontam para grupos de referência ligados a fontes primárias
como pai, mãe, tios, avós, avôs etc. Apenas uma pequena parcela está refletida na figura
de amigos e namoradas da escola, o que eleva a responsabilidade dos grupos de
afinidade quanto à formação consumista de suas crianças.
Cabe ressaltar também que grande parte dos brinquedos com estampas de
personagens foram solicitados pela criança, ou seja, o público infantil exerce
efetivamente grande influencia na hora da compra, conforme aponta Nestor Canclini.
Assim vimos que a midiatização dos personagens infantis seduz, explora os mais
primários desejos de nosso inconsciente. Mas, se for assim, por que nas crianças haveria
maior vulnerabilidade? As crianças não dispõem do leque de possibilidades existenciais
que os adultos dispõem. Para elas, é muito mais difícil visualizar o rol de possibilidades
que estão à sua escolha, e acaba refém daquela que se apresenta no seu dia a dia e no
cotidiano de seus colegas, justamente por meio do discurso publicitário. As
necessidades grandemente exploradas no mundo infantil são a do pertencimento e da
identidade. Ambas fundantes da vida em sociedade. Pois não há sociedade sem união de
pessoas em grupos e não há sociedade em que não seja possível reconhecer-se como
ator social perante o outro.
A midiatização de personagens infantis busca, a todo o momento, estimular
essas duas necessidades. Consumindo, a criança será aceita como consumidora,
consumindo, será aceita no grupo de consumidores daquele produto, será afastada dos
não consumidores daquele mesmo produto, e, portanto, terá uma existência social
alegradora.
Assim, o consumo estimulado pelos personagens infantis está no cerne do
comportamento infantil, conduzindo as crianças a partir de suas necessidades de
pertencimento e identidade, explorando sua fragilidade psíquica e os fracos laços que as
ligam aos pais, e grupos de convivência. Essa é uma questão que, certamente, merece
muita atenção e discussão por todos que prezem minimamente pela vida das próximas
gerações.
1066
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÀRIES, P. História Social da Infância e da família. Trad. D. Flaksman. Rio de Janeiro: Zahar,
1978.
BAUMAN, Zygmunt. A cultura do lixo. In: Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2004, p. 117-164.
DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia do
consumo1ª ed. Rio de Janeiro: Ed.UFRJ, 2006.
PIAGET, J. O julgamento moral na criança. 2. ed. Trad. E. Lenardon. São Paulo: Summus,
1994.
1067
RESUMO
Este artigo apresenta e discute os aspectos da presença econômica e do consumo
midiatizado dos principais conglomerados corporativos do setor de alimentos e bebidas,
que atuam em escala global e no Brasil, a partir de suas marcas produtos. O objetivo do
estudo é mostrar a hegemonia de grupos corporativos do setor, bem como sinalizar para
as operações específicas do consumo midiatizado das marcas, que instituem, via sistema
publicitário, uma vinculação entre marcas e consumidores em acordo com os propósitos
e valores que conformam a lógica capitalista contemporânea.
INTRODUÇÃO
A produção de alimentos e bebidas pode ser considerada umas das mais antigas
atividades produtivas associadas à espécie humana. Esta atividade, ao longo dos séculos,
seguiu a lógica de expansão do capitalismo globalizado, processo notadamente marcado
pela expansão mercantilista com as conquistas coloniais e descobertas de novos
produtos que, paulatinamente, mudaram os hábitos do mundo (CARNEIRO, 2003). Esta
dinâmica profundamente sofisticada fez nascer grandes conglomerados de produção
alimentar em nível internacional. Em que pese às vocações locais e regionais
alimentares e um padrão de consumo fortemente relacionado ao habitat e ao processo de
socialização familiar, percebe-se que – no Século XX – surgiram grandes complexos
industriais. Pode-se dizer que estas indústrias são extremamente verticalizadas e
concentradas e tem, gradativamente, modificado os padrões culturais nacionais,
impondo valores e padrões alimentares dos países de origem destas grandes empresas.
A dinâmica da indústria de alimentos internacional tem sido reforçada pelas
seguintes tendências: I) crescimento demográfico global; II) melhoria de renda nos
países emergentes; III) fortalecimento dos núcleos urbanos.
Neste contexto, insere-se o debate sobre o crescimento da demanda por
alimentos e o papel que o Brasil pode ter neste cenário como um fornecedor global
nesta indústria. Neste debate torna-se necessário entender a formação desta cadeia
produtiva alimentar o que favorecerá a compreensão do modo pelo qual o Brasil
573
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP - Encontro Nacional de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda, realizado no Período de 27 a 29 de maio de 2015 na Escola de Comunicações e Artes da
USP.
574
Professora do Curso de Administração da PUC-SP
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Coca cola 1892 EUA Água, refrigerantes, chás e cafés, US$ 46,854
bebidas energéticas e esportivas, sucos bilhões (2013)
prontos, sopas, etc.
1073
A empresa Nestlé S.A., de origem suíça, foi fundada em 1866. Esta companhia
pode ser considerada a mais antiga empresa estrangeira a atuar no Brasil, remontando o
século retrasado (1876). Atualmente, a empresa fornece produtos em mais de 83 países.
Sua atuação no Brasil, ocorreu inicialmente com a comercialização de farinha láctea
(1876) e, anos depois, a companhia instalou sua primeira fábrica no país, objetivando a
produção do leite condensado (1921). Em 1967, a Nestlé adquire a fábrica de Biscoitos
São Luiz, cujos biscoitos passaram a se chamar São Luiz Nestlé.
A Nestlé atua em vários setores da indústria de alimentos, destacando-se no
ramo de água engarrafada, cereais, chocolates e doces, temperos prontos (culinária) e
575
Ver site http://www.mondelezinternational.com, acessado em 10/03/2015.
1074
576
Ver site http://www.nestle.com , acessado em 10/03/2015
577
Ver site http://www.pepsico.com, acessado em 14/03/2015.
1075
578
Ver site http://www.kelloggs.com/en_US/home.htm, acessado em 14/03/2015.
1076
579
Ver site http://www.coca-colacompany.com, acessado em 15/03/2015.
580
Ver site http://www.mars.com/global/index.aspx, acessado em 16/03/2015.
1077
Mars
Fonte: Elaboração própria, 2015.
A empresa General Mills, fundada em 1866, é grupo americano que atua em
vários segmentos da indústria alimentar como misturas de cozimento, cereais matinais,
iogurtes, refrigerantes, massas, sopa, pizza, salgadinhos, sorvete, soja, legumes, farinha
e outros. Entre as marcas comercializadas por esta indústria, destacam-se Crocker,
Yoplait, Colombo, Totino, pillsbury, Green giant, Old, El paso, Häagen-daz, Trix e
Lucky charms, Cheerios, Fiber one, Nature valley, Yoplait, Betty crocker, Wanchai
ferry, entre outras. A General Mills, atualmente, opera em mais de 100 países. Em 2013,
esta empresa atingiu US$ 17,9 bilhões em vendas mundiais. 581
581
Ver site https://generalmills.com, acessado em 17/03/2015.
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1080
1081
REFERÊNCIAS
HJARVARD, Stig. The mediatization of culture and society. Londo, New York:
Routledge, 2013.
MADI, L.; PRADO, A.: C. REGO, R, A. Brasil food trends 2020. São Paulo: Ed. Fiesp-
Ital, 2010. Disponível em: http://www.brasilfoodtrends.com.br Acessado em
29/03/2015.
MARTÌN- BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações. Comunicação, Cultura e
Hegemonia. 2ed. Rio de Janeiro: UFRJ. 2001. Primeira edição publicada em 1997.
MONTEIRO, C. A, et al. A new classification of foods based on the extent and purpose
of their processing. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(11):2039-2049, nov, 2010.
SANTOS, C. R. A. a alimentação e seu lugar na história: os tempos da memória
gustativa. In: História: Questões & Debates, Curitiba: Editora UFPR, n. 42, 2005. p. 11-
31.
SIDONIO, L.; CAPANEMA, L.; GUIMARES, D.D.; CARNEIRO, J. V. A. Inovação
na indústria de alimentos: importância e dinâmica no complexo agroindustrial brasileiro.
TRINDADE, E.; PEREZ, Clotilde . Dimensões do consumo midiatizado. In: II
Congresso Mundial de Comunicação Ibero-Americana Confibercom, 2014, Braga.
Comunicação ibero-americana: os desafios da Internacionalização. BRAGA: Centro de
Estudos de Comunicação e Sociedade, Universidade do Minho, 2014. v. 1. p. 3109-
3117. http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cecs_ebooks/article/view/1980/1902
Acessado em 29/03/2015.
1083
RESUMO
Com um lugar historicamente garantido na mesa brasileira, a carne bovina é hoje consumida em
um contexto de midiatização. Tal consumo midiático carrega aspectos simbólicos da nossa
cultura e, no presente trabalho, suas representações são observadas nas redes sociais Instagram,
Twitter e Facebook. A partir da análise de dados coletados a respeito de postagens com a
hashtag “churrasco” ao longo de uma semana, é possível observar aspectos como os sentidos
postos em circulação na rede, bem como tendências do consumo da carne.
584
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
585
Doutoranda do PPGCOM da ECA-USP. Membro do GESC3 – Grupo de Estudos Semióticos em
Comunicação, Cultura e Consumo. email: livia.eca@usp.br.
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É nesse contexto que voltaremos nosso olhar para o consumo de carne no Brasil:
nosso objetivo será o de observar aspectos de um consumo midiatizado, a partir das
representações feitas pelos sujeitos a partir de dispositivos comunicacionais e postos em
circulação na rede.
#CHURRASCO NA REDE
586
Hashtag: Tags são palavras-chave (relevantes) ou termos associados a uma informação, tópico ou
discussão que se deseja indexar de forma explícita no aplicativo Twitter, e também adicionado
ao Facebook, Google+ e/ou Instagram.
Hashtags são compostos pela palavra-chave do assunto antecedida pelo símbolo cerquilha (#).
As hashtags viram hiperlinksdentro da rede, indexáveis pelos mecanismos de busca.
Fonte: Wikipédia. Acessada em 28/04/2015.
587
Keyhole. Aplicação disponível online em: http://keyhole.co
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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1093
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAGA, José Luiz. Sobre “mediatização” como processo interacional de referência. In Anais
15o Encontro Anual da Compós – Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação
em Comunicação. Bauru: Compós. 2006. p. 1-15. GT- Comunicação e Sociabilidade.
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RESUMO
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não se insere no campo pragmático das decisões políticas e sim, em uma mudança
comportamental propiciada por ações e ferramentas que permitam que esta
transformação ocorra. Tal modalidade se insere em uma primeira transformação que
poderá incidir ou não sobre o campo pragmático das ações políticas. E esta
transformação vem surtido efeito na sociedade atual, através do crescimento em torno
do debate de ativismo feminino em diversas esferas, sobretudo nas redes sociais.
Ainda que este conceito de empoderamento seja passível de inúmeras críticas,
não podemos negar que este tem sido usado de diferentes formas cada vez mais
frequentemente, em diversas esferas da sociedade. Uma delas é através da publicidade
principalmente quando se trata de um diálogo com o público feminino. Chamada de
femvertising (também encontrada na grafia fem-vertising) consiste em uma modalidade
de publicidade que se encontra com o movimento de empoderamento subjetivo
feminino, buscando propiciar ações que não apenas respeitem a imagem feminina e a
igualdade entre os gêneros, mas também que propiciem ferramentas de empoderamento
da mulher.
Segundo a pesquisa realizada pelo portal SheKnows591, e apresentada em painel
da Advertising Week, realizada em outubro de 2014 em Nova York, 51% das 628
mulheres entrevistadas gostam de anúncios publicitários com uma visão pró-feminista.
É importante ressaltar que apenas metade das mulheres entrevistadas se consideram
feministas, porém, 89% percebem a igualdade de gênero como uma questão de direitos
humanos. Quatro entre cinco mulheres entrevistadas acham que é importante para as
gerações mais jovens para ver um retrato positivo de mulheres em campanhas
publicitárias. Ainda, maioria das entrevistadas sentia que a forma como as mulheres são
vistas em campanhas tem um efeito direto sobre a auto-estima das meninas
(CASTILHO, 2014). Se 94% das entrevistadas afirmaram que o uso de mulheres como
símbolos sexuais foi prejudicial para o gênero, é possível compreender como esta
representação da mulher pode afetar a auto-estima das mulheres ao longo destas últimas
décadas através de um ideal de beleza inatingível. E é exatamente por ser contra isso
que o fem-vertising vem crescendo na contemporaneidade enquanto uma modalidade
necessária para se combater a pressão estética imposta sobre o corpo da mulher.
Assim, o fem-vertising está conectado com esse movimento de ciberpublicidade,
no qual as ações estão muito mais voltadas para o ciberconsumidor do que para o
591
www.sheknows.com
1099
consumo em si. Mais ainda, esta ciberpublicidade volta-se não apenas para um aumento
de vendas no produto, mas sim, para uma construção de imagem em torno de um
conceito que alcance e fidelize o ciberconsumidor, que tem o poder e a capacidade de se
engajar, criticar e fiscalizar as marcas, através do compartilhamento dos valores da
própria empresa.
1100
mulher na sociedade moderna. Não é preciso ir para a Índia ou África e vermos como
esta afirmação diz respeito a apenas um tipo de mulher ocidentalizada. Basta olhar ao
nosso entorno, em outras classes sociais, em lutas diárias contra a violência doméstica,
contra abusos sexuais ou pelo direito ao aborto, para percebermos que esta mulher em
pé de igualdade é uma utopia longe ainda de ser conquistada. Todavia, é esta mulher
ocidentalizada a que Lipovetsky se refere que vamos nos pautar, pois é este o público
das campanhas aqui analisadas.
A terceira mulher é também chamada pelo autor como indeterminada, e
semelhante ao homem, hoje, esta mulher vive as angústias da Hipermodernidade, uma
busca hedonista, individualista. Porém, para mulher, apesar desse grande passo, ainda
está ligada aos papéis tradicionais: ser a principal responsável pela educação dos filhos,
cuidar do marido e todos os afazeres domésticos continuam sob sua responsabilidade,
ou mais, como percepção de que é o seu papel desempenhar estas funções.
O que se observa é um acumulo de papéis da mulher na sociedade moderna e,
lentamente, uma modificação no papel do homem (STAUDT, WAGNER, 2008). Essa
mudança impacta vários aspectos sociais, como por exemplo, o papel da mulher na
família, no trabalho e o que nesse estudo nos interessa: a sua representação na
publicidade e na forma como essa Terceira Mulher aceita ou se percebe representada na
publicidade atual.
Numa breve retrospectiva da representação da mulher na publicidade
percebemos a mudança de seu papel e do empoderamento através da conquista do
direito de decidir que alterou toda a lógica de consumo e, portanto, de direcionamento
de comunicação. As mulheres passam a ser decisoras de compras em vários setores e se
tornam o principal target de comunicação. É por volta das décadas de 1980 e 1990 que
vários produtos são desenvolvidos com foco nesse público. Esta transformação não se
deu, logicamente, apenas no setor publicitário, mas em várias esferas sociais,
principalmente, de produção cultural. Segundo Featherstone (1993), a combinação de
quatro setores foi fundamental para a construção de um ideal de beleza e um culto ao
corpo. São eles: a publicidade, a moda, a indústria de cosmético e o cinema. Assim,
podemos convocar esta quarta indústria apontada por Featherstone para nos ajudar a
ilustrar essa fase da Terceira Mulher através do filme “Do que as mulheres gostam” no
qual, a vida de um publicitário muda completamente ao perder o cargo que desejava
para uma mulher e a ser obrigado a se colocar no lugar das mulheres para criar
1101
campanhas pensando como elas, as mulheres, já que a principal fatia de mercado era as
novas consumidoras.
592
Centro de História Unilever
1102
Chez Dove, notre mission est de faire de la beauté une source de confiance et
non d'anxieté. Afin d'atteindre cet objectif, nous aidons les prochaines
générations de femmes à developper une relation positive avec leur apparence,
nous les aidons à gagner en estime de soi afin qu'elles puissent réaliser leur
plein potentiel. (SITE DOVE FRANCE)
1103
com maior destaque e um dado interessante foi “80% das mulheres concordam que toda
mulher tem algo que é lindo, mas não consegue ver sua própria beleza.” (DOVE)593.
Essa pesquisa traz para a marca uma discussão sobre a Terceira Mulher
(LIPOVETSKY, 2000) que empoderada por todas as conquistas que teve ao longo dos
anos, e com o acúmulo de tarefas, ainda sofre a pressão de uma padronização da beleza
e o incomodo de não poder ser ela mesma, com as suas curvas, com o seu tipo de
cabelo, e entre todas as preocupações da vida moderna ainda precisa se espelhar em
modelos para se identificar como bonita, ideal. A publicidade como forma de
representação do cotidiano ao trabalhar com modelos reforça o padrão de beleza e
estético da passarela e não representa as mulheres como elas são.
Ao construir a missão e o desdobramento no conceito “Real Beleza” a marca se
apropria e é inovadora na discussão da representação da mulher real na publicidade e
pioneira na discussão da padronização da beleza que é imposta para as mulheres. Dove
através das manifestações, táticas, vai discutir a identidade feminina na
Hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2010) Duas manifestações de destaque que foram
importante para construção da identidade de marca foram as ações “Evolution” em
2006, que mostrava o processo de evolução de uma modelo para fazer uma campanha
publicitária da marca, nesse caso, a produção de uma fotografia para outdoor, passando
pelos processos de maquiagem e tratamento de imagem, trabalhava o conceito “No
wonder our perception of beauty is distorded” - “Não surpreende que nossa percepção
de beleza seja distorcida”. Esse era o primeiro passo para desmistificar a modelo
idealizada, mostrar que essa modelo é uma mulher “comum”.
O filme “Dove Real Beauty Sketches”, mais recente, trabalhado em 2013 aborda
a questão apontada na pesquisa em 2010, ou seja, a percepção das mulheres sobre si
mesma e o olhar do outro. Essa ação foi um dos vídeos mais assistidos da internet, as
buscas nos brandchannels da marca no mundo apontam os seguintes dados de
visualizações: Dove United States 65.540.305, Dove France 3.396.191 e Dove Brasil
5.612.482594. A ação contava com um artista forense que trabalhou para o FBI com
“Retratos falados”, cada mulher se descrevia e descrevia a mulher que havia saído (a
anterior), ao comparar as descrições o resultado era incrível, a autodescrição era inferior
593
The Real Truth About Beauty: Revisited. Global review commissioned by Dove,
2010
594
Mensuradas em 25 de abril de 2015.
1104
1105
1106
homem também ficaria cansado. Se você parece cansado, você parece mais
velho. Se você não sorrir, você parece mais velho. O fato de que você está
empurrando o seu "milagre" como uma solução é uma bobagem. Uma boa noite
de sono é tudo que você precisa. Eu espero que você perca alguns clientes com
essa atitude insultuosa que você adotou. Você devia se envergonhar. (Debbie K,
08 de abril de 2015).
595
Disponível em: http://creativity-online.com/work/garnier-miracle/40405
1107
596
Dados da mensuração, dia 26 de abril de 2015.
1108
revistas femininas e pelo cinema que permitia a criação de um ideario retratado por
estes meios, no qual as atrizes se tornavam modelos a serem seguidos explorados por
estas indústrias.
Talvez mais emblemática para analisarmos essa campanha seja a década
seguinte, a de 1960, no qual havia um imperativo contra o envelhecimento imposto por
uma constante cultura jovem de trangressão do próprio corpo. O ideal de beleza imposto
estava se consolidando também como um ideal de juventude, uma busca constante
contra a própria natureza de se envelhecer e continuar eternamente jovem. Tal
pressuposto é observado no próprio vídeo da Garnier onde a preocupação contra o
envelhecimento é uma realidade para a mulher ali representada, mas que não é
necessariamente a mulher empoderada que vem sendo constituída na
contemporaneidade. Aparentar cinco anos mais velha, como mostra no vídeo, é digno
de culpa, de vergonha e de recriminação quando se há um “milagre” em suas mãos: o
creme Garnier de combate à fadiga. Um milagre que combate a própria natureza de
envelhecer, mas sem deixar de exercer as intensas jornadas de trabalho atribuídas para a
mulher contemporânea.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pudemos perceber, a mídia e a indústria da moda e da beleza foram e
continuam sendo fundamentais para a construção do ideal de corpo, sobretudo, o
feminino doutrinado e submetido desde a Antiguidade. Não sem propósito foram
escolhidas duas campanhas da indústria da beleza, lançadas no mesmo período e no
mesmo país, a França, onde localiza-se uma das maiores e mais influentes capitais da
moda do mundo. Porém, esta imagem de capital da moda não foi dado aleatoriamente.
Segundo Agnes Rocamora (2009), paris se tornou a capital fashion devido uma
confluência de fatores sociais, político e culturais que fez com que a representação
maior da moda saísse do império italiano durante a Renascença para as passarelas
francesas, sobretudo, durante a logo após o reinado do Louis CIV, Le Roi Soleil, ou o
Rei Sol que tinha um interesse exclusivo em vestimentas e rodução textil. Se neste
momento a moda era vista como um poderoso agente de poder e de distinção social, na
passagem doSéculo XVII para o Século XVII uma mudança significativa passou a ser
efetivada. Segundo Rocamora,
A moda também tornou-se cada vez mais conhecida como gênero feminino.
Passou a ser percebida como a ocupação frívola do sexo frívolo, das francesas
em particular. Assim, passou a ser comumente associada que havia uma ligação
1109
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, Chris. A cauda longa. Elsevier Brasil, 2006.
1110
1111
Não se trata mais de uma surpresa ou uma raridade a opção por marcas com design
cambiante quando a principal rede de TVs do Brasil – a Globo – passa a adotar
599
597
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
598
Professor e pesquisador da UNISC-RS; E-mail: rudinei@unisc.br
599
Também é possível empregar os adjetivos mutante, flexível ou dinâmico para fazer referência
a esse tipo de design. Os estudos e categorizações sobre o assunto emergiram, notadamente, na entrada do
século XXI e as terminologias fazem menção ao mesmo fenômeno. Este texto destaca a palavra
cambiante por se tratar de pesquisa produzida pelo autor, em 2002, através do livro intitulado Design
gráfico cambiante (Edunisc).
1112
foi posta em prática em julho do mesmo ano. A partir desse mês, a Diet Coke chegou
aos consumidores através de dois milhões de rótulos diferentes, criados a partir de 23
padrões de fundo. Essas variações foram aplicadas em rótulos de garrafas de 300, 500 e
1500 mL, além de terem sido aplicadas também em peças de pontos de vendas,
outdoors, camisetas, copos, sacolas e capas de celular.
As padronagens foram criadas de tal forma que pudessem receber inúmeras
combinações de cores e variações nas proporções de aplicação dos elementos gráficos.
Esse sistema foi gerenciado por meio de um programa projetado para combinar as
inúmeras variáveis que o alimentam. Assim, foi possível alcançar essa edição de
embalagens únicas . 601
lançar no Brasil, em 2012, as latas com, inicialmente, 150 nomes comuns entre adultos do país. A ação
israelense, no entanto, levou a ideia de uma embalagem com design cambiante a um patamar ainda não
experimentado pelas marcas.
602
Enquanto este artigo é finalizado (março de 2015), tanto a Globo quanto a Casas Bahia
seguem em suas mutações constantes de combinações cromáticas.
1113
(diretor de arte da GGK, na Alemanha) para o jornal Literatur in Köln (conhecido como
“Lik”), ele levava em consideração a curiosidade que essa marca representava em 1974.
Tratava-se de uma marca projetada para que a cada edição do periódico as letras de
“Lik” se apresentassem de forma diferente . 603
Esse exemplo merece, no entanto, uma ressalva. Para Phillip Meggs e Alston
Purvis (2009, p. 10), por exemplo, o registro e a análise metódica do que foi feito ou se
faz em design, em termos de relevância histórica, depende de como essa produção se
conecta às tendências e preferências culturais de determinada época através de
combinações com a vida social, política e econômica. O design, para eles, é capaz de
expressar o zeitgeist de uma época por ter um caráter imediato de representação. Por
esse viés é possível considerar que a marca da Lik era, naquele momento, muito mais
uma curiosidade, uma fagulha, do que uma expressão consistente e abrangente da época.
Havia, de qualquer sorte, uma intenção de significado no conjunto de logotipos que
não se repetiam. Soluções em identidades visuais que deixam transparecer a fluidez e a
efemeridade nos seus traços e cores e que consideram isso como parte clara da sua
personalidade se tornam visíveis a públicos mais amplos nos anos 1980, a partir da
notoriedade alcançada pela MTV (marca criada em 1981 pelo estúdio Manhattan
Design).
No final dos anos 1990 e início do novo milênio já são percebidos mais trabalhos
que deixam de considerar as identidades fixas como principal solução para suas marcas
e produtos. Uma das pesquisas produzidas nesse período passa a adotar a terminologia
“design gráfico cambiante” (KOPP, 2002) para representar o fenômeno. A amostragem
do trabalho, naquele instante, analisou um conjunto de projetos gráficos e marcas de
revistas (Raygun, Matiz, Sexta-feira e Big) produzidas a partir de meados dos anos 1990
que não possuíam padronização visual. A Raygun foi a primeira (1993) a usar uma
identidade radicalmente flexível. O periódico também se destacou por ter o conceito e a
execução assinados por David Carson (figura emblemática do pós-modernismo).
Sinteticamente, é possível afirmar que esses veículos eram dirigidos a consumidores
muito específicos; além de serem completamente associadas às expressões do pós-
modernismo no design, nas expressões culturais e nas formas de consumo.
603
Extraordinariamente do que se via nas décadas de 1960 e início de 70, era um projeto nada
funcionalista, pouco preocupado com alguma intenção de pregnância ou de constância visual, e
desconsiderava a repetição e a ordem como alicerce da identidade visual. Entrava, portanto, em conflito
com os pressupostos daquilo que é conhecido até hoje como Estilo Internacional (sempre associado ao
funcionalismo e ao alto modernismo) e, desde a década de 1950, era considerado como a forma mais
moderna e adequada para pensar e fazer design para, especialmente, identidades visuais.
1114
Seria possível falar ainda de marcas como Google, Aol, Prefeitura de Melbourne ou
EDP , mas o objetivo, nesse instante, é observar com mais atenção um novo momento
do design e a maneira como ele se articula como metodologia técnica e criativa.
Documentos desse gênero podem mostrar conjuntos que, sem eles, acabariam
sendo percebidos apenas de forma fragmentada. Outra indicação que merece atenção
também são as categorias propostas por Nes. A autora divide os exemplos em seis
grupos: recipiente, papel de parede, DNA, fórmula, customizado e gerador.
A última categoria, e a que merecerá uma reflexão mais profunda aqui, é a que se
pode traduzir como gerador (ou gerativa) ou programável. Nessa fatia 605
estão os
projetos que usam recursos tecnológicos para fazer com que as identidades sejam
capazes de reagir a dados externos a partir de algum sistema informatizado que
responda a isso. Esses dados podem ser informações sobre o tempo, notícias, tuítes,
número de visitantes, status de algum projeto, dia do ano, preferências pessoais entre
outras.
604 A Dopress Books (Londres) também publicou, em 2013, uma coletânea intitulada Dynamic logo com
mais de 100 exemplos de identidades visuais dinâmicas. A divisão é feita apenas pelos segmentos de
origem das marcas (comércio, serviços, arquitetura, cultura, turismo etc.). A exposição do material é
consistente, mas o trabalho de Nes é mais detalhado e sistematizado. Em cada caso são apresentados,
juntamente com algumas aplicações da marca, um resumo sobre o conceito e a empresa/instituição que
adotou a solução.
605
Nes relaciona os seguintes casos nesse bloco: USA Today, Oppenheim, RAU, Casa da Música, House
of Visual Culture, Lovebytes 2007, Pigmentpol, Lesley Moore, Baltan Laboratories, My Tech Campus,
MIT Media Lab, Cinemetrics, Z33, Dezeen Watch Store, The Brno House of Arts, Norwegian University
of Life Sciences, Ziens-Wijze, Odooproject, De Treeswijkhoeve, Onedotzero, Orchestre Symphonique
Genevois, TV Asahi, Esquire, Dokfest Lounge, Seconde Nature, Café King, Evolving Logo, Frac Centre,
Wikipedia e Visit Nordkyn.
1115
1116
isso a partir de um sistema gerativo que aleatoriamente cria combinações para cada dia.
Essa simulação de organismo vivo, no entanto, tem um rigoroso sistema matemático em
sua base. Essencialmente, trata-se de combinações de figuras geométricas dispostas de
acordo com 21 centros geométricos rigidamente mantidos de uma mutação para a outra.
O símbolo foi organizado para ser um dispositivo capaz de reagir a cálculos
aleatórios demandados por um algoritmo randômico. Como a quantidade de
combinações excede a nove dígitos, as possibilidades visuais podem ser consideradas
humanamente infinitas e o arranjo é um problema objetivamente matemático. A marca
tem uma vida autônoma naquilo que se refere a como ela será daqui cinco, 15 ou 50
anos. Suas transformações, por outro lado, são ditadas unicamente pelo passar dos dias.
Não há interações ambientais ou reações de acordo com quem demandará ou visualizará
a marca.
Em 2010, o estúdio de design Neue – também norueguês - foi contratado por dois
municípios (Gamvik e Lebesby) para desenvolver a marca para um projeto turístico –
intitulado “Visit Nordkyn” - na Península de Nordkyn, uma região ao norte da Noruega.
Esta área apresenta um cenário natural muito próximo do selvagem, com paisagens
intocadas, animais nativos e o instável e rigoroso clima ártico. As condições
meteorológicas são radicais, há grandes oscilações de temperatura e tempestades
surgem de um momento para o outro. Essas características produziram um
posicionamento para o trabalho criativo: “onde a natureza reina”. 606
606
http://www.visitnordkyn.com/About-Nordkyn/About-Visit-Nordkyn, acessado em 11 de agosto de
2014.
1117
e podem ser aplicadas de acordo com a combinação climática de uma paisagem, por
exemplo, para algum anúncio publicitário.
A marca oferece uma narrativa incessante sobre si e sobre o lugar que ela
representa. É capaz também de criar uma experiência pessoal com os visitantes, já que
existe a possibilidade de fazer o download do logotipo, a partir do site, de acordo com o
dia e o horário no qual o turista viveu as formas como a natureza se manifestou em
Nordkyn.
A marca possui um sistema que lhe dá independência na maneira como irá se
comportar visualmente, mas mantém um conjunto fixo de elementos que é sempre
repetido: tipografia, paleta de cores, posição do símbolo, grade de movimentação. Esta
grade é hexagonal e serve como um sistema que define os limites da forma que
mostrará a direção do vento (Fig. 4). A marca é aleatória e imprevisível desde que
respeite o ordenamento preexistente.
A terceira marca que merece destaque e análise foi elaborada em 2011, pela
TheGreenEyl e por E Roon Kang, para o MIT Media Lab. O logo é formado
basicamente por três quadrados pretos que se movem num diagrama não aparente de
nove por nove quadrados (Fig. 5). Esses quadrados projetam cores (vermelho, azul,
verde, laranja, amarelo etc.) e formam um novo quadrado três vezes maior que o
primeiro. As cores se sobrepõem e criam arranjos e nuances completamente novas a
cada combinação desse conjunto (Fig. 6).
1118
607
O conceito, de acordo com os criadores , é de que as três formas representam as
qualidades da comunidade Media Lab: criatividade, diversidade e inspiração mútua.
Esse conceito se torna ainda mais visível e consistente pelo fato de essa marca ser
gerada para cada um dos alunos, professores e funcionários, que podem usar essa
variação de marca única em cartões de visita, páginas pessoais de web ou versões
animadas para apresentações de trabalhos e projetos.
Os logos são gerados a partir de um programa que pode ser manipulado e adequado
a certas inclinações pessoais. Ao final, um algoritmo define a exclusividade da
combinação e mantém o conjunto suficientemente reconhecível como parte de um todo.
Para E Roon Kang , essa solução permite traduzir a ideia de um grande grupo
608
formado por pessoas das mais diversas origens, que são capazes de se inspirarem a se
reunir e a criar, coletivamente, novas visões para o futuro. Esse princípio, traduzido pela
marca, é capaz, então, de revelar a essência do trabalho do MIT: “uma redefinição
constante do que mídia e tecnologia significam hoje”.
Esses três projetos compartilham características, fora o fato de serem geradas e
administradas por um software e de serem cambiantes, que merecem ser destacadas.
Elas têm uma origem rigorosamente matemática e são baseadas em diagramas com
múltiplas possibilidades dinâmicas. A aleatoriedade das formas que elas permitem em
seus arranjos são pré-definidas por um sistema modular e por proporções de formas
estáveis, mas que permitem, mesmo assim, muitas disposições (re)combinadas. Ao
mesmo tempo que as aplicações podem ser variadas para cada instante, elas mantêm um
reconhecimento alicerçado em formas geométricas simplificadas e em cores facilmente
memorizáveis.
Nos três casos, o estilo tipográfico e a diagramação dos elementos verbais são
trabalhados sem alterações de uma aplicação para outra. São tipos simplificados,
neutros e de fácil legibilidade. Eles servem como legendas limpas e objetivas para os
símbolos e não disputam a atenção visual dos públicos.
Essas descrições aproximam aparentemente essas marcas a um ideário modernista
no design. Por outro lado, elas estão muito distantes de serem marcas que pretendam
provocar a memorização através de algum vínculo visual rígido e imutável. Elas vivem
um outro momento além dos debates sobre Modernidade/modernismo(s) e Pós-
607
http://thegreeneyl.com/mit-media-lab-identity-1, acessado em 2 de agosto de 2014.
608
http://www.eroonkang.com/projects/mit-media-lab-identity/, acessado em 4 de agosto de 2014.
1119
Essa é base é fundamental para entender o caminho até aqui. Trata-se, porém de
outro momento. Definir o tempo contemporâneo é sempre um risco, mas ainda assim é
uma tarefa fundamental para registrar e categorizar fenômenos em curso. As percepções
ficam, assim, depositadas e registradas não apenas como sinais de produção, mas
também como vestígios de avaliação e pesquisa. Esse modo de pensamento faz com que
se dê a devida atenção à designação proposta por Gilles Lipovestky: os tempos
hipermodernos.
1120
Os termos que procuram caracterizar as últimas quatro décadas são abundantes e 610
610
Através de uma pequena retrospectiva é possível lembrar de: pós-modernidade (Lyotard),
segunda modernidade (Beck), modernidade líquida (Bauman), metamodernidade ou modernidade tardia
(Giddens) e ultramodernidade (Gauchet e Zarka).
1121
1122
sente, dos seus gostos variados, dos seus fantasmas, do seu imaginário. Ao desenho
dirigista, anônimo e funcionalista das origens, sucedeu um design emocional e
consumista (...)” (2014, p. 288)
As bases econômicas que sustentam o design não voltam suas costas à
racionalidade contabilística ou à rentabilidade máxima. Pelo contrário, radicalizam-na e
entendem a estética contemporânea de tal forma que possam operar esses pressupostos
num modelo híbrido e racional: “O importante já não é lutar triunfalmente por um
mundo antigo desprezado através de uma racionalidade ortogonal, unidirecional e
dominadora, mas de dar a sentir, estimular os imaginários, as sensações visuais e
tácteis.” (LIPOVETSKY; SERROY , 2014, p. 289) A estimulação de todos os sentidos
deve integrar o projeto e essa estimulação, em nível ideal, deve ser constante,
onipresente e emocional.
A hipermodernidade é a modernização constante da própria modernidade. Como
Sebástien Charles (2009, p. 26) sintetiza: “a hipermodernidade apresenta-se como uma
modernidade desprovida de qualquer sentido transcendente, funcionando plenamente
(...), sem, no entanto, poder justificar o seu próprio funcionamento e parecer conseguir
se autolimitar.” Charles destaca que os princípios estruturantes da modernidade – o
individualismo, a ciência tecnológica, o mercado e a democracia - se radicalizaram e se
tornaram em direito imperativo do indivíduo.
É nesse contexto que as marcas que constroem significados a partir de narrações, de
histórias, de interações, de identificações, de trocas, de repertórios simbólicos e até de
uma intimidade com o consumidor, se consolidam nesse início de século. O design se
transforma e revela consciente e inconscientemente essas mudanças e adaptações.
1123
1124
Para Meggs e Purvis (2009, p. 303): “Uma filosofia do design é uma visão
meramente ociosa até que alguém crie artefatos que a convertam em uma força concreta
no mundo”. Os casos analisados são revelações de uma manifestação material que está
baseada: na unificação; num sistema programático; em um método claro; no uso de
grids modulares; na divisão linear do espaço; na aplicação de tipografias neutras e
objetivas; e que, ao mesmo tempo, é capaz de revelar mutações visuais que
potencializam ainda mais a estrutura e o sistema que ordenam a identidade visual.
Diferente das marcas cambiantes que expressavam, muitas vezes, um fazer poético
identificado com algum traço autoral, esses sistemas usam a variação e a interação
como uma espécie de motor para incrementar as intenções individualizantes (em relação
ao público) da marca.
Outro ponto que se revela nessas marcas é a capacidade que elas têm de uma gestão
praticamente autônoma. Os grids e sistemas modernistas que dividiam o espaço foram
levados a um estágio superlativo da autonomia de sistemas autogeridos. É o programa
que administra e dá vida à marca, faz dela um signo capaz de “saber” como agir nos
próximos tempos, de reagir ao mundo e de interagir com as pessoas.
Retomando os termos de Lipovetsky, é possível considerar que o design também se
tornou um hiperdesign ao revelar a capacidade de, assim como os outros dispositivos
que permeiam a vida contemporânea, produzir uma oferta constante de entretenimento,
de soluções e de interações tecnológicas sem fim. A publicidade e o design são
611
Esse caminho de análise merece uma reflexão específica e objetivamente incapaz de ser
desenvolvida neste artigo.
1125
atividades gêmeas na construção de marcas e, por isso, quando Lipovetsky sintetiza que
a publicidade, no passado recente, “educava o consumidor” e “agora o reflete” (2007, p.
182) pode-se compreender o design igualmente como reflexo desse hiperconsumidor.
O design cambiante aplicado ao modo gerativo potencializa o hiper-individualismo
e compreende esse traço contemporâneo como uma solução de mercado. Mesmo que os
exemplos expostos pareçam localizados e até distantes, é perceptível a potência que essa
forma de fazer e pensar o design guarda como dispositivo apto a turbinar ainda mais a
relação ‘consumidor x marca’ ao nível hiper-individual. É algo em pleno curso.
Esse design de transmutações dionisíacas se transforma, agora, num sistema
personalizado, autônomo e (im)previsível. Mostra várias faces, revela (simula)
emotividade e cria vínculos pessoais.
REFERÊNCIAS:
BOMENY, M. H. W. O panorama do design gráfico contemporâneo: a construção, a
desconstrução e a nova ordem. São Paulo: SENAC-SP, 2012.
CAUDURO, F. V. Design gráfico & pós-modernidade. Revista Famecos: mídia, cultura e
tecnologia, n. 13, p.127-139, dez. 2000.
CHARLES, S. Cartas sobre a hipermodernidade ou o hipermoderno explicado às crianças.
São Paulo: Barcarolla, 2009.
GRUSZYNSKI, A. C. Design gráfico: do invisível ao ilegível. Rio de Janeiro: 2AB, 2000.
HOLLIS, R. Design gráfico: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
KOPP, R. Design gráfico cambiante. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2002.
LIPOVETSKY, G.; SERROY, J. O capitalismo estético na era da globalização. Lisboa:
Edições 70, 2014.
______ A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.
LIPOVETSKY, G. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2007.
LIPOVETSKY, G.; CHARLES, S. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004.
LUPTON, E.; MILLER, A. Design, writing, research: writing on graphic design. New York:
Phaidon, 1996.
MEGGS, P.; PURVIS, A. História do design gráfico. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
NES, I. Dynamic identities: how to create a living brand. 2. ed. Amsterdam: BIS, 2013.
POYNOR, R. No more rules: graphic design and postmodernism. New Haven: Yale University
Press, 2003.
1126
RESUMO
O presente trabalho procura explorar a desconstrução das categorias propostas por Madi
et al (2010), apontando para a fragilidade da técnica de análise de cluster no caso
proposto pelos autores. Em vista da complexidade do consumo alimentar frente as
tendências comunicacionais e transformações sociais, acredita-se que a proposta de
modelo de equações estruturais seja uma escolha mais adequada para o problema de
pesquisa.
INTRODUÇÃO
612
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP-Encontro Nacional de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. Realizado na ECA/USP no período de 27 a 29 de maio de 2015.
613
Mestrando do PPGCOM/USP, membro do GESC3 – Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação,
Cultura e Consumo.
614
Professor Associado da EACH/USP e professor da pós-graduação em administração da UNINOVE.
615
Professor Associado da ECA/USP, atuando na graduação no Curso de Publicidade e Propaganda e no
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da USP, Líder do GESC3 – Grupo de Estudos Semióticos
em Comunicação, Cultura e Consumo, Bolsista Produtividade PQ2 do CNPq.
1127
robustez suficiente para justificar as relações estabelecidas pelos autores, de forma que o
incremento da renda não produz, necessariamente, maior nível de envolvimento com
determinadas categorias de produtos mais luxuosos, por exemplo.
A cidade de São Paulo foi escolhida como a principal região a ser analisada,
procurando ênfase nos processos de mediação e midiatização local ou localizada das
marcas. Todavia, para entender esse processo é necessário pesquisar, além do trabalho
empírico com os consumidores, medidas e escalas que possam mensurar qual é a
percepção dos indivíduos sobre essas macrotendências, bem como os níveis de
envolvimento que se estabelecem nessas relações de interação via marcas, isto é, a que
ponto as pessoas se envolvem ao se apropriarem dos valores percebidos no contato com
as marcas de alimentos que representam essas tendências? O que uma pessoa percebe ao
consumir uma marca dita sustentável, por exemplo? Quais são as medidas que
contribuiriam para medir essa percepção e para o esclarecimento de qual é o sentimento
do consumidor em relação a categoria analisada?
1128
1129
significa apenas levantar uma questão sobre o modus operandi da pesquisa sobre a
temática do consumo (no caso do JCR) que é publicada internacionalmente. Nesse
sentido, o que será que podemos aprender com a leitura desse e de outros periódicos?
Quais são os ensinamentos não apenas sobre tais pesquisas em si, mas também sobre as
habilidades e conhecimentos que precisamos ter para acompanhar, articular e quiçá
criticar tais publicações?
Optamos pelo JCR e algumas publicações ao longo de sua existência a partir
de edições especiais comentadas por um curador, que procura tematizar os artigos
escolhidos oferecendo um norte para o leitor interessado em alguma questão específica.
Sendo os artigos de utilidade pública sem cobrança para que se tenha acesso,
consideramos a abordagem adequada para o contexto atual. Até o presente momento, as
curadorias abordam as seguintes questões: 1) Food Decision-Making (primavera de
2012); 2) Financial Insecurity and Deprivation (verão de 2012); 3) Numerosity and
Consumer Behavior (outono de 2012); 4) Self-identity and Consumer Behavior (inverno
de 2012); 5) Social Influence and Consumer Behavior (primavera 2013); 6) Consumer
Goal Pursuit (verão de 2013); 7) The Politics of Consumer Identity Work (outono de
2013); 8) Emotions and Consumer Behavior (inverno de 2013); 9) Decisions at a
Distance: Effects of Psychological Distance on Consumer Decision Making (primavera
de 2014); 10) Morality and the Marketplace (verão de 2014), 11) Meaningful Choice
(outono de 2014).
Dentre tantas possibilidades de abordagem disponíveis, lançamos mão de um
levantamento sobre as pesquisas sobre consumo segundo a curadoria de Jennifer
Escalas para o Journal of Consumer Research 616 : pesquisadores reconhecem que
consumidores são consistentes com sua personalidade (Levy, 1959; Sirgy, 1982), além
de existirem estudos que demonstram os usos e apropriações de produtos e marcas para
construção da personalidade e comunicação a partir desses atributos, isto é, o
consumidor assume os valores da marca para si (Belk, 1988; Fournier, 1998;
McCracken, 1989) e os materializa nos processos discursivo e de compra. Uma
pergunta inicial para esse questionamento seria o que nos leva a utilizar uma marca em
detrimento de outra, ou ainda, por que determinadas marcas parecem mais adequadas
para determinadas situações e não para outras? Se um consumidor é consistente com
616
Texto publicado na sessão de curadoria do JCR em 2012. Disponíel em: <http://www.ejcr.org/curations-4.html>.
Acesso em 01/05/2015.
1130
1131
Segundo Ryan e Deci (2001), existem duas tradições de estudos sobre o bem-estar: uma
que aborda questões hedônicas (motivado por um desejo de prazer) e outra que aborda
as questões eudaimônicas (motivado por um desejo de significação). Segundo curadoria
de Jennifer Aaker para o JCR, a literatura tem demonstrado que a forma como os
consumidores gastam dinheiro e tempo dizem muito a respeito do comportamento do
consumo. Nesse sentido, como seriam suas decisões quanto em vista de
questionamentos como "o que me faria feliz?" versus "O que seria significativo?", de
forma que uma seleção de artigos que procuram por essa e outras respostas estão
disponíveis na página do periódico.
O que nos interessa pontuar aqui, contudo, é a importância da revisão da
literatura acerca de cada um desses constructos, de forma a complexificar ao máximo
identificando quais foram as revisões já realizadas e quais ainda estarão por serem
feitas. Aquelas em que não identificamos alguma trajetória ou elaboração teórica, serão
alvo das metodologias mistas para que tal processo seja iniciado, isto é, serão realizadas
pesquisas qualitativas e quantitativas em simultaneidade para que sejam elaboradas
escalas e métricas robustas o suficiente para a construção dos modelos que terão por
objetivo analisar a relação entre as variáveis destacadas.
1132
problemas do relatório de Madi et al (2010). As escalas, por sua vez, serão adaptadas e
criadas a partir do livro de Bearden e Netemeyer: Handbook of marketing scales (2011),
tendo em vista sua pertinência ao campo da comunicação, pois contempla escalas sobre
conhecimentos de diversas áreas. Para análise dos constructos e escalas, serão utilizadas
as técnicas multivariadas (HAIR, 2009), principalmente os modelos de equações
estruturais (LEI e WU, 2007), levando em consideração sua relevância e difusão em
uma das últimas edições da Revista Brasileira de Marketing (ReMARK, vol.13, n5,
2014). Sendo o modelo de análise das equações estruturais baseado sempre em teoria
dada a priori, isto é, uma revisão bibliográfica sobre o assunto (MAROCO, 2010, p. 4),
essa abordagem nos parece adequada, pois dá conta de uma construção madura sobre
algumas questões abordadas durante o presente trabalho:
REFERÊNCIAS
ALRECK, P. L.; SETTLE, R. B. The Survey Research Handbook. 2nd ed. New York: Irwin Mc
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1134
RESUMO
A publicidade utiliza-se dos mais diversos recursos persuasivos para seduzir o
consumidor. Como recursos, estão os elementos infantis, lúdicos, sejam eles verbais,
visuais, sonoros que atraem também às crianças. De um lado está a mensagem sedutora
da publicidade de medicamentos. Do outro, a criança que tem cada vez mais acesso aos
produtos, portanto aos medicamentos. Como medicamento é considerado bem de saúde
e não produto qualquer, e deveria estar longe do alcance das crianças, o presente
trabalho busca verificar como a publicidade tem utilizado elementos infantis na
publicidade de medicamentos, atraindo adultos e crianças. Aspectos persuasivos,
contraditórios e éticos são discutidos no decorrer do texto.
PALAVRAS-CHAVE: publicidade; ética; medicamento; criança; comunicação.
Introdução
1135
1136
Não se trata de atribuir culpa à publicidade, até porque a publicidade não pode
ser responsabilizada pelos danos gerados até aqui à população que consome
medicamentos de modo desenfreado e irracional, mas sim de cobrar o cuidado e a ética
nas intenções exageradas que ainda existem na publicidade de medicamentos, sobretudo
quando utilizam crianças e são voltadas elas.
Criança e publicidade
Segundo Strasburger (2011, p.66), “muitas empresas, como o McDonalds e a
Coca-Cola, se engajam no que é chamado de marketing “do berço ao túmulo”, num
esforço para cultivar a fidelidade do consumidor desde uma idade muito precoce.”
Segundo Montigneaux (2003, p. 35), até mais ou menos oito anos de idade, a criança
adquiri a capacidade de representar qualquer coisa que lhe seja conhecido e que passa a
ter um significado, ou seja um nome ou imagem. Graças a isso é que a linguagem pode
se desenvolver na criança.
Na ‘lógica’ da criança funciona mais ou menos assim: a criança repetidamente
vê no filme publicitário um personagem animado, alegre, brincalhão! Em seguida vê
nas revistas que a mãe compra ou assina. Vê e interage com o personagem na internet.
O personagem em todos os momentos aparece ao lado do produto. Para ela, o
personagem é um amigo que lhe oferece algo bom. Ela quer o produto, pois entende que
jamais o produto de um amigo lhe fará mal. A criança consome em algum momento da
sua vida e continua a associar o produto e o personagem a coisas boas para sua vida. Em
se tratando de uma publicidade de medicamentos, existe o agravante do produto nem
1137
sempre fazer bem (o medicamento têm contra-indicação), além de levar ao uso contínuo
ou dependência química.
Atualmente a presença da criança no mundo adulto é total. A criança não apenas
se veste como adulto, manipula aparelhos tecnológicos como adulto, como também
conversa e age como adulto. Tais mudanças sociais e culturais passaram a fazer parte da
mídia de massa imediatamente.
Assim como já acontece com a questão da alimentação, pode acontecer com os
medicamentos. Um estudo realizado na Universidade de Yale Rudd Center para Política
Alimentar e Obesidade, em Connecticut, nos Estados Unidos aponta alguns vilões da
alimentação das crianças: os personagens de desenhos animados. De acordo com o
resultado da pesquisa, mais de 50% das crianças acham que um produto que tem a
embalagem decorada com personagens animados é mais gostoso que o mesmo produto
embalado em um pacote sem ilustrações. Entre 73 e 85% das crianças que participaram
do estudo disseram preferir comer um produto com embalagem de seu desenho favorito
a um lanche saudável. Os pesquisadores trabalharam com 40 crianças com idades entre
quatro e seis anos de idade. De acordo com dados do estudo, nos Estados Unidos, as
empresas de alimentos e bebidas investem cerca de US$ 1, 6 bilhão para atrair a atenção
das crianças para seus produtos (Portal Época).
Os personagens aparecem em embalagens de produtos há décadas. Eles estão
nos brinquedos, pacotes de balas, doces e bolachas e as crianças vivem desde muito
cedo no mundo das imagens. Imagens são preciosos recursos visuais voltados à
publicidade infantil, nas diversas mídias: TV, revistas, internet, games, celular,
embalagens, entre outros. Segundo Batista; Rodrigues “As imagens são memorizadas e
associadas às outras impressões do momento e provocam reações para entrar na vida
racional.” (www.intercom.org.br).
As estratégias publicitárias têm sido cada vez mais sofisticadas e rápidas para
influenciar as crianças. Portanto, o que antes era concentrado em mensagens televisivas,
atualmente ocupa também jogos e aplicativos em celular.
Segundo Strasburger (2011, p. 65), cada vez mais as crianças influenciam nas
compras dos seus pais. Essa atitude tem levado a publicidade reconhecer que as crianças
de hoje representam os consumidores adultos de amanhã. Sendo assim, investir em
crianças seria o mesmo que garantir um consumidor fiel no futuro.
1138
1139
O xarope Melagrião existe há mais de setenta anos e é um dos três xaropes mais
vendidos no Brasil. O xarope pertence ao Laboratório Catarinense, que atua na área
farmacêutica comercializando medicamentos vendidos sem prescrição médica.
1140
1141
1142
1143
1144
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1146
619
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2014. CRP/ECA/USP.
620
Professora Adjunta do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Federal de Santa
Maria. Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS,
e-mail: jupetermann@yahoo.com.br
621
Pesquisa esta que parte do seguinte problema: “Como é o consumo midiático do jovem
universitário da UFSM e como este consumo demarca posições em relação à classe, gênero e raça? Além
disso, como podemos repensar as representações hegemônicas no discurso midiático, com a proposição
de alternativas?”.
622
Programa de Educação Tutorial.
623
Trataremos desta questão, a seguir, a partir do pensamento de Hansen (2013).
1147
624
Para a organização do Festival, a solução para a desigualdade de gênero está em uma mudança cultural,
não apenas refletida no marketing a posteriori, mas que pode ser proposta por ele. Além disto, no mesmo
texto, encontramos a defesa de que, se o desejo é por uma representação mais abrangente e mais realista
de gênero, é preciso também que aja mais diversidade nas próprias agências. Disponível em
<https://www.canneslions.com/cannes_lions/seeit/> Acesso em 12 abril 2015.
1148
mente da massa; 2. Criar o desejo pela coisa anunciada; 3. Levar a massa ao ato de
compra”. (Sant’Anna, 2002, p.88). Parece-nos que esta massa, hoje, mais do que algo
que pode ser “levado” como se fossem bois ao confinamento, não se reconhece na
propaganda, e, além disso, encontrou nas redes sociais digitais uma excelente
oportunidade de reclamar – e com razão.
625
Negri (2004, p.17) designa o General Intellect como “modos de expressão produtiva cada vez
mais imateriais e intelectuais”.
1149
social irracional e passiva, violenta e perigosa que, justamente por isto, é facilmente
manipulável” para tornar-se “ator social ativo, uma multiplicidade que age”. (NEGRI,
2004, p.18). Assumir-se-ia, assim, na propaganda, um papel de mais respeito ao público,
especialmente ao que se levanta para reclamar do modo como fora representado em um
determinado anúncio – a exemplo das mulheres, que no último dia 8 de março
mostraram-se ofendidas com os anúncios dedicados a elas – situação que acaba sendo
descrita pelos publicitários como “censura”, “exército do politicamente correto”,
“patrulha”, “intolerância”. Vejamos agora alguns pontos relacionados a estas questões.
626
Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/03/1602401-pais-passa-por-
desotimismo-e-criatividade-vive-crise-diz-olivetto.shtm> Acesso em 15 abril 2015.
627
Disponível em <http://invertia.terra.com.br/congressodepublicidade/interna/0,,OI3010431-
EI12075,00-Publicidade+congresso+descarta+crise+de+criatividade.html> Acesso em 15 de abril 2015.
628
Disponível em <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/proa/noticia/2015/03/debate-sobre-a-
imagem-da-mulher-nas-propagandas-mobiliza-cada-vez-mais-gente-4713742.html> Acesso em 15 de
abril 2015.
1150
1151
obrigada”, “Seu corpo não é uma mercadoria”, “Como ter um corpo de biquíni: coloque
um biquíni no seu corpo!”. Apesar de toda a polêmica, o comunicado oficial da marca
diz que “É uma pena que em 2015 ainda exista uma minoria que não está focada em
celebrar aqueles que desejam ser mais saudáveis, em forma e mais fortes”630.
Os exemplos nos fazem pensar que a criação publicitária não está acertando o
tom na conversa com as mulheres, e aqui estamos falando especificamente das questões
de gênero. Isto se dá, para além da cultura machista no discurso publicitário e na
sociedade, muito possivelmente porque estamos tratando de um subcampo que se
configura como um lugar de predominância masculina na própria prática. A diretora de
criação Thaís Fabris, em entrevista para a revista Carta Capital631, diz que antes de
falarmos sobre a publicidade machista, precisamos discutir o machismo na publicidade.
Para tanto, ela idealizou o projeto 65|10 que discute o papel da mulher na publicidade.
O ‘65’ vem do dado de uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão que aponta
que 65% das mulheres brasileiras não se identificam com a publicidade e
com a forma com que são retratadas pela publicidade. O número ‘10’ é de
uma pesquisa que nós fizemos que mostrou que apenas 10% dos criativos
dentro das agências brasileiras são mulheres. E é na criação que as
campanhas são feitas. (FABRIS, 2015)
Dados de outra pesquisa refletem o mesmo quadro. Machado, Peripolli e
Marques (2009) investigaram, na cidade de Curitiba, 37 agências. Nesta coleta de dados,
perceberam que a participação das mulheres no mercado da publicidade é bastante
inferior, e que a maioria delas ainda está concentrada nos setores de atendimento,
planejamento e mídia. No departamento de criação, as mulheres são menos de 20% do
total de trabalhadores. Nos resultados da pesquisa são apresentados como motivos
principais para esta disparidade, a falta de horários, a rotina estressante, o ambiente
masculinizado e a dificuldade de conciliar maternidade com o trabalho. Assim, até
poderia se dizer que as mulheres acabaram por se retirar deste ambiente que lhes parecia
inóspito. Além disso, os dados desta pesquisa também comprovam que a maioria das
mulheres não se sente discriminada, apesar de relatos de bastante intimidação no
ambiente de trabalho.
A divisão sexual do trabalho é fortemente marcada no ambiente publicitário,
mas a falta de conscientização por parte das mulheres e o conformismo em
decorrência de todos os fatores históricos de preconceito que o gênero
feminino vem sofrendo ao longo dos séculos, fazem com que as mulheres
630
Disponível em <http://www.hypeness.com.br/2015/04/conheca-a-campanha-publicitaria-que-
conseguiu-enfurecer-internautas-de-todo-o-mundo/> Acesso em: 29 abril 2015.
631
Disponível em <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/machismo-e-a-regra-da-casa-
4866.html> Acesso 20 abril 2015.
1152
1153
processo de produção do discurso publicitário, produção esta que envolve inclusive uma
autoria compartilhada com todos estes sujeitos – anunciante, atendimento, diretor de
criação, outros criativos e autores de textos que inspiraram aquele que está sendo
produzido – e, ainda, com o receptor.
Aí chegamos a um ponto bastante interessante à construção que estamos aqui
organizando, pois, para Hansen (2013, p.172), “o publicitário cria a partir da imagem
que constrói do leitor, embora por vezes essa imagem seja fruto de uma abstração e o
público-leitor ‘desapareça’ do processo criativo, graças a mais uma ilusão, a da
homogeneização”. Tal homogeneização acaba resultando, para o receptor, em um
consequente não reconhecimento de si nos anúncios. Isso porque a construção que se
faz dele no discurso publicitário é, além de homogeneizada, também hegemônica.
Assim, tanto para as minorias quanto para os sujeitos da criação é interessante estar
ciente do seu lugar de subordinação para organizar movimentos de insurgência.
1154
era melhor, pois não existia o fantasma do politicamente correto”. Como diz Pastore
(2014) em entrevista para a Revista da ESPM632:
É que a sociedade ficou mais chata. As pessoas ficaram mais chatas. Mais
carrancudas. Surgiu o politicamente correto, e a gente já não podia fazer
piada de careca, de gago, de cego, de minoria nenhuma. Para qualquer
comercial que você faça já aparecem críticas. A sociedade ficou menos
tolerante.
Bom, para começo, se a sociedade passou a ser mais exigente, passou a
demandar mais reflexão sobre o fazer publicitário. E, de uma determinada perspectiva,
podemos dizer, inclusive, que criar ficou mais interessante. Mais atrativo justamente por
necessitar de maior reflexão. Ademais, da sua redoma, a publicidade diz ainda que
mudanças no discurso publicitário não são possíveis em função das restrições impostas
pelo cliente e que não se pode correr riscos, visto que está se lidando com dinheiro
alheio. No entanto, parece-nos que o sentido de “correr riscos” vem se alterando, ainda
que seja contra a vontade do campo publicitário. Pois no caso de Skol e do Ministério
da Justiça, as campanhas foram retiradas do ar, resultando, além de perdas financeiras,
em máculas nas imagens de marca, o que também ocorreu com Always e Risqué. Como
ignorar que não há o reconhecimento pretendido no discurso publicitário? Quem se
reconhece na propaganda de hoje?
Podemos pensar que esta inércia no discurso publicitário está baseada nas
próprias estruturas da cultura midiática, de modo geral. A ideia de falar para todos,
amalgamando a ideia de receptor como um só, gera um discurso que não dialoga com
ninguém.
Mas essa tendência sistemática a um sincretismo (característica, aliás, da
cultura de massa em geral) leva a televisão a não poder exprimir claramente
os valores de nenhuma classe particular. Assim, ela é impelida a uma
homogeneização dos diversos conteúdos culturais, isto é, a redução dos
mesmos a modelos facilmente aceitáveis pelo público. (...) Para disfarçar a
imposição, o sistema cria ficções do tipo ‘homem médio’, ‘opinião pública’,
‘gosto popular’, ‘características universais da Humanidade’ e assim por
diante. (SODRÉ, 1977, p.77-78)
A fala de Sodré, referente à televisão de modo geral, nos permite refletir
especificamente sobre a propaganda. No entanto, por uma questão de (re)conquista de
fatias de mercado, hoje vemos até mesmo a linguagem das novelas, tão edificadas a
partir de um senso-comum, se modificando, e temáticas que abordam, por exemplo, as
diferentes orientações sexuais, sendo paulatinamente inseridas. No entanto, a
publicidade parece insistir em não ouvir as demandas que se originam no seu público.
632
Disponível em <http://revistadaespm.espm.br/?p=3155> Acesso em 20 abril 2015.
1155
Negri (2008, p.296) nos diz que a linguagem publicitária acabou evoluindo muito
pouco: “(...) aponta para o fato de todas as linguagens terem evoluído e procurado se
superar ao longo dos tempos: a do cinema, do teatro, da música, do jornalismo, da
editoração, do rádio, da televisão... exceto a da publicidade.”
Tal resistência a mudanças parece já não ter sentido – especialmente quando
pensadas a partir da perspectiva de mercado. Em um campo em que as inovações são
praticamente uma obrigação, é pouco compreensível que não sejam consideradas
evoluções, especialmente no que diz respeito ao público, que está na outra ponta,
dizendo do que não está gostando. Estranhamente, é justamente a figura em torno da
qual todo o processo gira, que está sendo, por vezes, deixada de lado, vista como
“menos tolerante”.
1156
O fotógrafo Oliviero
Toscani marcou a história
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2006 agens/dove.jpg> Acesso em 22
femininos, apresentando o
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conceito da “real beleza”.
Além dos destaques do passado, temos também, felizmente e a cada dia mais,
uma série de exemplos, de movimentos de avanço no discurso publicitário, que nos dão
a ideia de uma constante renovação. Interessante destacar também que algumas das
peças/campanhas apresentadas no quadro abaixo vieram acompanhadas de grande
repercussão nas redes sociais digitais. Repercussão bastante positiva, diga-se de
1157
A representação de Disponível em
meninas negras. <http://img.r7.com/images/
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Valsa – Pense um casal de idosos, um
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1159
Por último, consideramos que, apesar de todo nosso desejo por uma renovação,
tanto no discurso quanto no modo de criar, refazendo o conceito do público-alvo, a
partir do conceito de multidão e da ampliação da diversidade e de sua representação,
sempre será necessário considerar o produto que será anunciado e o contexto de
veiculação. Ressaltamos também que consideramos as dificuldades de rupturas muito
bruscas, mas que pequenos avanços, além de possíveis, podem ser benéficos às marcas
e aos produtos, podem ser naturalizados pelo público mais conservador e, ainda,
promover avanços consideráveis para uma sociedade mais igual.
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<http://f5.folha.uol.com.br/voceviu/2015/03/1606897-risque-e-criticada-por-machismo-apos-
campanha-homens-que-amamos.shtml> Acesso em 15 abril 2015.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. 26. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.
1161
RESUMO
O artigo analisa uma prática comum e recorrente de empresas do ramo imobiliário, a
distribuição de panfletos nas ruas, sob o enfoque da técnica de mídia, particularmente
da Teoria da Recenticidade, buscando nos pressupostos teóricos a fundamentação para o
seu objetivo, que é o de questionar e discutir um suposto excesso em tal prática.
Partindo do referencial teórico sobre comunicação integrada de marketing, publicidade
e mídia, adota o método estudo de caso por meio da análise dos panfletos de imóveis
distribuídos nas cidades de Natal e Parnamirim – RN. Como resultado principal, tem-se
que o excesso de material publicitário impresso despejado diariamente no mercado não
se justifica tanto do ponto de vista teórico quanto ambiental, comprometendo o
imperativo da sustentabilidade.
1. Introdução
1162
1163
2. Marketing e Comunicação
De acordo com Kotler (2000, p. 9), o marketing pode ser definido como “o
processo social e gerencial através do qual os indivíduos e grupos obtêm aquilo que
desejam e de que necessitam, criando e trocando produtos e valores uns com os outros”.
Pode-se dizer, assim, que os clientes são atraídos por ‘promessas’ e mantidos pela
satisfação, e o marketing define não apenas define a promessa ou, ainda, o valor, como
também deve garantir o seu cumprimento. Compradores e vendedores, portanto,
precisam manter um relacionamento harmonioso, onde quem compra deve exigir valor
em produtos e serviços, e quem vende deve apresentar diferenciais para garantir o lucro.
A administração de marketing é dividida por atividades ligadas a cada um
dos componentes básicos do marketing mix: produto, preço, promoção e praça. A
gerência de comunicação de marketing, inserida no item ‘promoção’ do composto (4
Ps), tem dentre suas inúmeras responsabilidades definir os objetivos e pressupostos
conceituais para a marca, além de gerenciar o orçamento quanto aos investimentos no
mix de comunicação, especialmente nas
empresas que comercializam produtos e serviços dirigidos aos consumidores finais.
1164
Kotler entende que, por meio da adoção dessas propostas, as empresas podem
tornar-se mais competitivas. A comunicação integrada de marketing, segundo ele, tem
como benefício o fato de transmitir uma forte coerência da mensagem, que produz
enorme impacto nas vendas. “Ela cria responsabilidades – onde antes não existiam –
para unificar as mensagens e imagens de marca da empresa, à medida que liga milhares
de atividades da empresa”, conclui Kotler (2000, p.589).
O conceito de comunicação integrada resulta do reconhecimento de que os
objetivos da comunicação de marketing só poderão ser eficazmente alcançados se todos
os elementos do programa de comunicação forem coordenados e integrados, de modo a
criarem uma posição, mensagem ou imagem únicas, diferenciadas e consistentes na
mente dos mercados-alvo do produto ou serviço.
Na obra intitulada ‘Comunicação Mercadológica: uma visão
multidisciplinar’ (GALINDO, 2008), Victor Alves afirma o conceito de comunicação
integrada de marketing tem sua gênese no mesmo prressuposto da comunicação
mercadológica, quer seja, entender a comunicação pelos fatores do esforço promocional.
Alves (GALINDO, 2008) revela, no entanto, uma característica essencial que as
diferencia: a unicidade da mensagem, salientando que o uso das várias competências ou
recursos comunicacionais, por si só, não caracteriza a integração, mesmo considerando
o objetivo comum de um plano mercadológico.
A construção da identidade de marca é a principal função da comunicação
integrada de marketing, e envolve o conjunto de elementos tangíveis e intangíveis que
se pretende associar à marca, incluindo a imagem – conjunto de percepções, crenças,
valores e vínculos cognitivos ou afetivos que as pessoas têm sobre o produto ou serviço
– que influencia, em certa medida, as atitudes e o comportamento de consumo.
Esse seria, enfim, o objetivo último a ser almejado pela comunicação integrada
de marketing: o ‘alinhamento conceitual’ em torno de um conceito de marca,
independentemente das atividades, recursos e instrumentos disponíveis utilizados.
A atividade publicitária, agora inserida no contexto da comunicação integrada de
marketing, com funções, características e responsabilidades ampliadas, precisa ser
1165
3. Planejamento de Mídia
O planejamento de mídia determina a estratégia e a tática do trabalho de
veiculação de determinado plano de comunicação. É o estabelecimento de um caminho
criativo apoiado em informações objetivas e dados concretos com os objetivos de
marketing, de comunicação e de mídia, considerando também informações da
concorrência, o conceito da marca, a situação ambiental do mercado, o perfil do
público-alvo, o ciclo de vida e de compra do produto, a verba disponível, dentre outras
questões.
O principal objetivo do plano de mídia, segundo Tamanaha (2006) é que ele seja
capaz de levar a mensagem com eficiência e rentabilidade até o publico visado. Na
opinião de Barban, Cristol e Kopec, (2002, p.57) a chave para desenvolver um
planejamento de mídia é entender três palavras: objetivo, estratégia e tática. O objetivo
de mídia é, em essência, um descritivo da tarefa que a mídia deve executar na estratégia
geral de comunicação. Trata-se, em síntese, de um propósito de visibilidade. A
estratégia compreende os recursos determinados para se alcançar o objetivo e,
finalmente, a tática pode ser entendida como as atividades mais específicas e
detalhadas necessárias para que se implante a estratégia. Segundo eles, existem
cinco componentes básicos do planejamento de mídia: a) revisão em profundidade do
negócio e do mercado; b) exposição clara dos objetivos; c) definição dos
mercados-alvo prioritários; d) definição do mix de mídia e; e) considerações gerais
sobre a programação.
3.1 Aspectos Estratégicos
Definidos os objetivos, a verba e o período de veiculação, o público-alvo
e demais informações básicas, inicia-se o processo de decisão das estratégias de
mídia que, segundo Tamanaha (2006, p. 84) “é o processo de seleção dos meios de
comunicação que terão a responsabilidade de atender aos quesitos traçados no objetivo
de mídia”.
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1167
De modo geral, autores como Tamanaha (2001), Veronezzi (2002), Sissors e Bumba
(2001), Barban, Cristol e Kopec (2002) dentre outros, aceitam que o estabelecimento
das táticas envolve as seguintes questões:
- Determinação do nível de GRP (Gross Rating Points ou Pontos Brutos
de Audiência) por período e por meio, que consiste na somatória das audiências
brutas de uma programação, demonstrando a intensidade de comunicação;
- Definição das tarefas de cada veículo dentro dos meios selecionados, a
partir da análise técnica dos meios e de seus critérios de adequação;
- Definição dos formatos, horários e períodos de veiculação a partir da
análise técnica dos veículos e seus critérios de qualificação e afinidade;
- Análise de rentabilidade dos programas e publicações (Custo por Mil; Custo
GRP);
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1171
ao baixo custo (tanto de produção quanto de veiculação), além de dois fatores muito
úteis ao setor de imóveis: a) localização geográfica do público objetivado e; b) grande
quantidade de informações que possibilita transmitir.
4.1 Metodologia:
O artigo adota, num primeiro momento, a pesquisa documental – de natureza
bibliográfica – e, posteriormente, a pesquisa descritiva, de natureza qualitativa, sob a
modalidade de estudo de caso. Segundo Godoy (1995), o intuito da pesquisa qualitativa
não é o de enumerar ou medir os eventos estudados, mas obter dados descritivos sobre
pessoas, lugares, instituições e processos interativos. Busca-se compreender, por meio
de contato direto do pesquisador com a situação estudada, os fenômenos segundo a
perspectiva dos participantes da situação analisada que, no caso, são as ações de
comunicação das empresas do setor imobiliário na região metropolitana de Natal – RN.
Trata-se, portanto, de um estudo de caso que, segundo Campomar (1991), é uma
modalidade de pesquisa que envolve a análise intensiva de um pequeno conjunto de
situações, enfatizando a completa descrição e entendimento dos fatores relacionados,
pois discute comparativamente a utilização da mídia panfleto das empresas estudadas.
De acordo com Yin (1989), a preferência pelo uso do estudo de caso deve ser
dada quando do estudo de eventos contemporâneos, em situações onde os
comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas onde é possível se fazer
observações diretas e entrevistas sistemáticas. Esse método é útil, segundo Bonoma
(1985, p.207) “quando um fenômeno é amplo e complexo, onde o corpo de
conhecimentos existente é insuficiente para permitir a proposição de questões causais e
quando um fenômeno não pode ser estudado fora do contexto no qual ele naturalmente
ocorre”.
A partir da definição da amostra, isto é, os panfletos do setor de imóveis
distribuídos dentro dos limites dos municipios de Natal e Parnamirim – RN, adotou-se o
seguinte método para a coleta de dados: a) aceitação natural – e exclusivamente no
interior do automóvel – dos panfletos ofertados pelos entregadores (‘panfleteiros’) nos
semáforos; b) período da coleta: somente entre os dias 09 de Março e 19 de Abril de
2015; c) agrupamento e quantificação dos panfletos recebidos por semana, a fim de
facilitar a posterior análise; d) efetuar trajetos corriqueiros adotando os caminhos
percorridos diariamente, sem alterações de percurso ou retornos desnecessários ao
mesmo local; e) registro da quilometragem percorrida em cada uma das quatro semanas
1172
4.2 Resultados:
Os resultados obtidos foram quantificados e são demonstrados na Tabela 1:
Tabela 1 – Frequência de exposição aos panfletos imobiliários (Março/Abril - Ano
2015).
1173
extremamente mais curtos (compras repetidas várias vezes ao mês), muito diferente do
que ocorre com imóveis.
5. Considerações finais:
É imprescindível esclarecer, antes de tudo, que o estudo realizado deve ser
compreendido dentro de suas limitações e encarado como uma espécie de ‘especulação’
teórico-prática, ou seja, que não se vale do rigor estatístico que as análises quantitativas
exigem no campo científico. Aliás, a esse respeito, Yin (1989, p.23) comenta que “o
estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo
dentro de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o
contexto não é claramente evidente e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas”.
A pesquisa, assim, não se atém à representatividade ou nível de significância da
amostra, mas sim ao fato de que, se ocorreu com uma pessoa, muito provavelmente
pode estar acontecendo com muitas outras, sinalizando uma tendência ou prática
recorrente das empresas analisadas. O mais importante, contudo, é a reflexão que o
artigo suscita. É evidente, portanto, que os valores expostos nos resultados obtidos
(Tabela 1) não representam a totalidade da população, mas isso não invalida as
considerações aqui expostas. Denota-se, portanto, o exagero nas ações de panfletagem e
a superexposição das respectivas marcas envolvidas. Além disso, resultam em baixa
eficiência de comunicação sendo, também, uma prática dispendiosa.
Há evidências suficientes na teoria relativa às áreas de propaganda e de mídia de
que o nível de frequência para o produto em questão – no caso, imóveis – não exige
abordagem tão intensiva: apesar de, na maioria das vezes, caracterizar um ‘lançamento’,
o fato é que a decisão de compra de um imóvel não é dada por impulso ou conveniência,
mas, ao contrário, faz parte de um processo decisório mais amplo e que depende de
inúmeros fatores, sobretudo financeiros.
Ademais, imóvel não é um ‘produto’ de compra corriqueira, que se faz
mensalmente ou, até mesmo, anualmente. Ao contrário, para muitas pessoas, é talvez
uma compra única durante toda a sua vida. Assim, a predisposição à compra é algo bem
demarcado, fruto de uma decisão previamente planejada e exaustivamente analisada.
Por isso, a tarefa da mídia nesse contexto é a de, essencialmente, conferir visibilidade
ao empreendimento sem, necessariamente, obter a convicção ou, ainda, determinar a
ação de compra. O peso da propaganda no total dos esforços de marketing, nesse caso, é
1174
1175
REFERÊNCIAS
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mídia: um ponto de vista mercadológico. São Paulo: Nobel, 2001.
BONOMA, Thomas V. Case research in marketing: opportunities, problems, and process.
Journal of Marketing Research, Vol XXII, May. 1985.
CAMPOMAR, M.C. Do uso de estudo de caso em pesquisa para dissertações e teses
em
Administração. Revista de Administração, v.26, n.3, p.95-97, Julho/Setembro, 1991.
DIAS, Sérgio Roberto (coordenação) et al. Gestão de marketing: professores do Departamento
de
Mercadologia da FGV EAESP e convidados. São Paulo: Saraiva, 2003.
GALINDO, Daniel dos Santos (org.) Comunicação mercado lógica: uma visão multidisciplinar.
São Paulo: Futura, 2008.
GODOY, A.S. Pesquisa Qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de Empresas,
São Paulo, v.35, n.3, p.20–29, mai/jun. 1995.
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Nobel, 2004.
KOTLER, Philip. Administração de Marketing; análise, planejamento, implementação e
controle.
São Paulo: Prentice Hall, 2000 (Edição do Milênio)
SHIMP, Terence. Propaganda e Promoção: aspectos complementares da comunicação integrada
de marketing. Porto Alegre (RS): Bookman, 2002.
SISSORS, Jack Zanville; BUMBA, Lincoln. Planejamento de mídia. São Paulo : Nobel, 2001.
TAMANAHA, Paulo. Planejamento de mídia: teoria e experiência. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2006.
VERONEZZI, José Carlos. Mídia de A a Z: os termos de mídia, seus conceitos, critérios e
fórmulas, explicados e mostrados graficamente como são utilizados na mídia. São Paulo:
EDICON, 2002.
YIN, Robert K. Case study research: design and methods. USA: Sage Publications Inc.,1989.
1176
Midierson Maia634
Margarita Bautista Martínez635
Universidade de São Paulo, SP
RESUMO
Entender a relação entre, cultura, novas tecnologias de comunicação e possíveis
mudanças culturais advindas da interação entre os sujeitos em um cenário de cultura
midiatizada é o objetivo central desse artigo. Ademais, o trabalho visa propor o
entendimento das possibilidades de produção de sentidos, oriundas nas ações
promovidas pelo Movimento Passe Livre, mediadas pelos dispositivos móveis e
plataformas de comunicações em redes sociais digitais como o Facebook e o Twitter,
que suportam a circulação de informações dadas por “atores” em processo
comunicacional. A fim de cumprir o objetivo proposto, a análise contempla trabalhos
de pesquisadores recentes como Bruno Latour, Castells e Jenkins. Os resultados obtidos
apresentam o Movimento Passe Livre (MPL) como um fenômeno cultural, oriundo de
um contexto midiatizado, que ganha amplitude ao ser mediado pelas redes sociais
digitas e novos dispositivos de comunicação como celulares, tablets e suas correlatas
plataformas caracterizadas como redes sociais digitais.
Introdução
O atual contexto da comunicação, no qual circulam mensagens mediadas por
aparatos técnicos como computadores, tablets e celulares, nos apresenta um novo
cenário a ser pensado pelos pesquisadores do campo das ciências sociais aplicadas, o
que inclui os estudos de comunicação e cultura. Embora já existam referenciais teóricos
que abordem as “velhas” mídias e a comunicação como objetos pertencentes a um
campo de estudo, as novas mídias, as redes sociais e os dispositivos móveis demandam
novos paradigmas para explicar seus efeitos e consequências em nível social.
As “velhas” teorias da comunicação, como a Teoria Crítica (que pensava a
comunicação como um fluxo unidirecional: emissor-mensagem-receptor), carecem de
novas abordagens que auxiliem na compreensão das novas configurações, nas quais são
produzidos os sentidos e seus desdobramentos em um contexto de mobilidade,
633
Trabalho apresentado no Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de
Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
634
Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Doutorando em Ciências da
Comunicação pela ECA/USP.
635
Mestre Relações Internacionais, com ênfase em Integração da América Latina, pelo PROLAM/USP.
1177
1178
1179
1180
demandas que ganham certos “nomes”, tais como a demanda pela revogação do
aumento na passagem de ônibus na cidade de São Paulo.
A observação de fenômenos, a exemplo do Movimento Passe Livre, leva-nos a
crer na existência de um novo sistema, que vem sendo apropriado pelas organizações
sociais em favor da mobilização. Este sistema leva em conta a utilização de novas
tecnologias que permitem o aumento sem precedentes da participação social, quebrando
os antigos paradigmas de organizações hierarquizadas e convertendo-as em
organizações horizontais caracterizadas pela intensidade e pela circulação dos fluxos de
informação.
De acordo com o artigo Conheça as Origens do Movimento Passe Livre,
publicado em 18 de Junho de 2013, pelo jornalista Leandro Melito, no portal EBC637, o
Movimento Passe Livre teve suas origens em uma plenária catarinense, ocorrida na
cidade de Porto Alegre, durante o Fórum Social Mundial de 2005. O movimento
ganhou mais força durante os meses de Maio e Junho de 2013, quando teve início uma
movimentação contra o reajuste, em 20 centavos, das tarifas do transporte público na
cidade de São Paulo.
O movimento passou a ser um marco importante para o entendimento da relação
entre cultura, comunicação, novas mídias como o mobile, as redes sociais e a produção
de sentidos oriunda da circulação de informação entre sujeitos, circulação esta mediada
pelos dispositivos móveis como celulares, tablets e notebooks, bem como dispositivos
não móveis como desktops. Vale ressaltar que, embora as “velhas” mídias não sejam os
meios principais na estratégia comunicativa do MPL, elas também participam da
circulação midiática, porque contribuem para a ampliação do fenômeno de
comunicação.
637
http://www.ebc.com.br/cidadania/2013/06/conheca-as-origens-do-movimento-passe-livre
1181
A cultura pode ser entendida em termos gerais como “o mecanismo pelo qual os
indivíduos, as comunidades e as nações são definidos propriamente”. Por meio da
cultura cada indivíduo um procura a satisfação num sentido individual e, ao mesmo
tempo, desenvolve o sentido da identidade grupal. (MCNARR, 2000).
A cultura também pode ser entendida como a “capacidade coletiva para
satisfazer uma das nossas necessidades mais básicas, e o direito a definir quais são
justamente essas necessidades”. (Comisión Mundial sobre Cultura y Desarrollo).
Em Gramsci o conceito de cultura é encontrado no artigo intitulado “Socialismo
e Cultura”. Neste texto, o autor afirma que é necessário deixar de conceber a cultura
como saber enciclopédico ou de noções fixas, no qual o homem não é mais
contemplado sobre a forma de recipiente que tem que se encher de dados empíricos sem
conexão nenhuma. (GRAMSCI, A. 1916).
A cultura, escreve Gramsci, “é a organização, disciplina do eu interior, conquista
do superior consciência pelo qual se chega compreender o valor histórico do próprio,
sua função de vida, deveres e direitos”. Portanto, é vista assim como um conceito
socrático da cultura o qual supõe crítica e atividade do indivíduo.
É sabido que a definição de cultura é ampla e complexa. Diferentemente do que
se observa no senso comum, ela ultrapassa as manifestações artísticas da sociedade. A
cultura abrange toda e qualquer mediação do homem em relação à natureza. Para
Marilena Chaui, em termos antropológicos, cultura é:
“a maneira pela qual os humanos se humanizam e, pelo trabalho,
desnaturalizam a natureza por meio de práticas que criam a existência social,
econômica, política, religiosa, intelectual e artística. O trabalho, a religião, a
culinária, o vestuário, o mobiliário, as formas de habitação, os hábitos à
mesa, as cerimônias, o modo de relacionar-se com os mais velhos e os mais
jovens, com os animais e com a terra, os utensílios, as técnicas, as
instituições sociais (como a família) e políticas (como o Estado), os
costumes diante da morte, a guerra, as ciências, a filosofia, as artes, os jogos,
as festas, os tribunais, as relações amorosas, as diferenças sexuais e étnicas,
tudo isso constitui a cultura como invenção da relação com o Outro – a
natureza, os deuses, os estrangeiros, as etnias, as classes sociais, os
antepassados, os inimigos e os amigos.” (CHAUI, 2006, 113)
Resumidamente, pode-se entender a cultura como uma estrutura conformada a
partir de: produção social e transmissão de identidades, significados, conhecimentos,
crenças, valores, aspirações, memórias, propósitos e atitudes. Assim como, a forma de
um grupo particular de seres humanos: costumes, crenças, códigos de conduta, de vestir,
linguagem, arte, cozinha, tecnologia, ciência, tradições, religião e instituições.
1182
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como advinda das relações estabelecidas por instâncias (atores) que agem em um
processo de ação coletiva de elementos interligados.
Um bom exemplo pode ser observado quando se observa a produção de sentido
dada nas redes sociais. Nesse caso, há atores, humanos e não humanos interagindo
como os diferentes participantes, o emissor, o receptor e até mesmo os processos
envolvendo algoritmos do Facebook, algoritmos que selecionam o que é de fato
relevante para cada ator da discussão.
As Tecnologias da Informação e Comunicações (TICs) são ferramentas que
ajudam o trabalho de circulação em rede. Deste modo, servem para aprofundar a
democratização social, propiciando dialogo, diagnósticos participativos, transparência e
articulação dos movimentos e organizações sociais por meio de plataformas na web.
Nos protestos ocorridos em Junho de 2013 no Brasil, os movimentos sociais se
apropriaram das TICs para gerar processos participativos aonde, de forma articulada, os
indivíduos foram vinculados às ações e diferentes atividades. Ao mesmo tempo,
começam a gerar uma articulação de maneira espontânea e organizada em grupos,
coletividades e outras redes para desenvolver processos de curto, médio e longo prazo.
Deste modo, a Internet não é simplesmente uma tecnologia, mas uma forma de
organização da sociedade da rede (Castells, 2000) (Fig.01). A figura 01 é um grafo638
publicado por Lorena Lucas em seu artigo no blog do LABIC, Laboratório de Estudos
sobre Imagem e Cibercultura da UFES. No grafo é possível termos uma noção gráfica
dos fluxos de sentidos, baseados em hashtags (#) do momento/contexto social e cultural,
nas redes sociais no ano de 2013, época em que as manifestações ganharam as ruas.
Lorena Lucas (2014) explica:
A hashtag de maior destaque, #vemprarua, traz todo tipo de palavra de
chamamento das manifestações. Com isso quero dizer que temos desde
#rionarua, #tarifazero, #grandemanifestacaonacopa, #aldeiaresiste,
#foracabral. São termos que aparecem em co-ocorrência com o #vemprarua
durante protestos. No caso, os termos ligado ao #rionarua são: #foracabral,
#passelivre, #contraaumento, e nos mostram como o Rio de Janeiro aparece
como o lugar de tensões639 .
A organização das ações, a coordenação entre grupos e organizações permitem a
participação ativa, que é promovida pelas redes de comunicação eletrônica como
ferramentas para associação da era digital.
638
Grafos são representações dos fluxos de sentidos em rede obtidos a partir de softwares como
Gephi que fazem parte de uma metodologia intitulada SNA (Social Network Analysis).
639
Fonte: Blog do Labic. http://www.labic.net/perspectivas-na-rede-naovaitercopa/. Acesso em
03/05/2015, às 16:00 horas.
1184
Existem diferentes tipos de atores (LATOUR, 2005) que fazem parte deste
trabalho conjunto, assim os colaboradores
da mobilização por meio do uso de TICs
podem ser quaisquer usuários que se
relacionem com outro para atingir algum
propósito: encontrar recursos,
compartilhar informações, estabelecer
comunicação, etc.
Desta forma, os movimentos
sociais, em especial o Movimento Passe
Livre, usam as TICs para destacar, mostrar,
divulgar várias problemáticas frente às
quais é necessária uma ação coletiva.
Deste modo, é feito um intercambio de conceitos, argumentações, resoluções ou
alternativas de construção de solução de várias problemáticas sociais e culturais. Tudo é
realizado por meio de propostas e alianças com outros movimentos ou organizações
sociais para fazer controle social e promover a construção de mudanças.
As TICs funcionam como ferramentas, nas quais os movimentos sociais
consolidam os sistemas públicos participativos, “Sistemas podem ser conceituados
como um conjunto de partes inter-relacionadas, interagindo para atingir determinados
objetivos”. (ARAÚJO, 2005).
A internet possibilita a visibilidade dos assuntos relacionados ao movimento, no
entanto, sua função é ressaltar que a luta pelas diferentes reivindicações não acontece
apenas no espaço eletrônico, mas principalmente em um espaço geográfico permeado
pela totalidade das mídias, pelo conjunto de diversas mídias agindo de forma
simultânea. Neste caso, a primeira (mídia digital) se constitui como uma continuidade
do segundo (espaço geográfico), já que ambos não são estagnes, mas contínuos,
exatamente como foi afirmado por Lévy:
“A cibercultura surge como a solução parcial para os problemas da época
anterior, mas constitui em si mesma um imenso campo de problemas e
conflitos para os quais nenhuma perspectiva de solução global já pode ser
traçada claramente. As relações com o saber, o trabalho, o emprego, a
moeda, a democracia e o Estado devem ser reinventadas, para citar apenas
algumas das formas sociais mais brutalmente atingidas. Em certo sentido, a
cibercultura continua a grande tradição da cultura europeia. Em outro,
transmuta o conceito de cultura.” (LÉVY, 1999, p. 246)
1185
Considerações finais
A investigação empreendida nesse artigo, com base nos autores mencionados,
mostrou que as tecnologias da informação e comunicação (TICs), dentro do contexto
contemporâneo, constituem-se como pontes para a participação dos cidadãos nas
decisões políticas, em um contexto midiatizado de democracia participativa e
transparência. Embora a midiatização não deva ser pensada somente pela ótica da
comunicação digital, mas pelo conjunto de todas as mídias agindo na cultura e no
1186
social, pode se dizer que, no caso do Movimento Passe Livre em 2013 no Brasil, as
mídias digitais contribuíram em maior grau para o sucesso de tal evento.
O Movimento Passe Livre, bem como outras organizações, fizeram, e continuam
a fazer, uso de novas ferramentas tecnológicas, por meio da convergência entre internet,
plataforma web, correio eletrônico, boletins eletrônicos, redes sociais (Twitter,
Facebook), etc em favor da organização e comunicação de suas atividades. Do mesmo
modo, o Movimento Passe Livre divulga suas demandas sociais e causas usando TICs,
estabelecendo uma maior conexão com a sociedade e o próprio governo. Desta forma, é
iniciado um grande ativismo político na web, pois são concentradas demandas sociais
dentro do marco de uma organização específica que concentra cada uma das células
dispersas dentro do território nacional.
Graças ao uso das TICs, é muito mais fácil para este tipo de comunidade enviar
uma grande quantidade de comunicados, publicações, informes regionais ou nacionais
para os membros da sociedade civil. O acesso aos vídeos e áudios dos diferentes
encontros das diversas comunidades é facilitado, gerando um movimento social
colaborativo e acessível.
A utilização da internet pelos movimentos sociais do século passado e do início
do século XXI demonstra a preocupação destes em minimizar as barreiras entre a
sociedade civil e as prerrogativas das ações desses grupos frente ao governo, assim
como as tentativas dos movimentos em transformar a realidade social na qual estão
inseridos.
Com base em trabalhos de pesquisadores como Castells (2000) e colaboradores,
não é possível pensar a importância das TICs sem elencar as relações destas com os
fenômenos de ordem cultural. A cultura deve ser entendida como a matriz primeira, na
qual são estabelecidas as conexões simbólicas e os vínculos de sentido que justificam a
existência da circulação em rede. E o Movimento Passe Livre é um exemplo
emblemático da relação entre cultura e novas mídias, porquê demonstra as aspirações
político-sociais de um tempo em crise, um tempo que reflete a voz de determinados
descontentamentos sociais expressos na necessidade de mudanças. Necessidades
transformadas em demandas que ganham também diferentes nomes em meio às cenas
da cultura midiatizada.
REFERÊNCIAS
1187
CHAUI, Marilena S. Simulacro e poder. Uma análise da mídia. 1. ed. São Paulo: Editora
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2006 (p.113 e 114). COMISION MUNDIAL DE CULTURA Y DESARROLLO. Nuestra
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Nordicom Review, vol. 33, n. 1, p. 27-34, 2012.
1188
p. 1-28, 2012.
_____. Dos Meios às Mediações: Comunicação, Cultura e Hegemonia. 4 ed. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2006.
1189
RESUMO
Nos últimos anos, tem-se visto na mídia uma série de operações da Polícia Federal, para
combater os mais diferentes tipos de crime. Além das operações em si, o que também
chama a atenção são os nomes dados a estas investigações. Mais lembram nomes de
marcas, reproduzem nomes de personagens ou fazem alusão a ditos populares. São
nomes como Pisca Alerta, Trem Fantasma, Gasparzinho, Gato de Botas, Olho de Boi,
Cara de Pau. Nenhum deles tem um sentido literal. São ressignificações. O objetivo
desta pesquisa é o de compreender os ressignificados das operações da Polícia Federal.
Como suporte metodológico, serão utilizadas a proposta de Análise de Discurso
desenvolvida por Patrick Charaudeau, as técnicas de persuasão de Miguel Roiz e a
definição de interdiscurso de Michel Pêcheux. O corpus de pesquisa é composto por
vinte nomes de operações desenvolvidas pela Polícia Federal em 2013 e 2014.
Introdução
Nos últimos anos, tem-se visto na mídia uma série de operações da Polícia
Federal brasileira, tentando combater os mais diferentes tipos de crime. Em especial – e
que tem se destacado nos meios de comunicação – os crimes relacionados ao combate à
corrupção. Além das operações em si, o que também chama a atenção são os nomes
dados a estas operações, investigações e forças-tarefa desenvolvidas pela Polícia
Federal. Os nomes destas ações mais lembram nomes de marcas, reproduzem nomes de
personagens ou fazem alusões cômicas e irônicas a ditos e ditados populares. Ou seja,
as próprias operações desencadeadas pela corporação se transformaram em uma
operação de criatividade, ao adotar este tipo de estratégia em relação aos nomes de cada
uma destas ações.
640
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
641
Doutor em Comunicação Política. Coordenador do curso de Publicidade e Propaganda na Universidade
do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). E-mail: sergiotrein@uol.com.br.
1190
São nomes como Pisca Alerta, Trem Fantasma, Gasparzinho, Gato de Botas,
Olho de Boi, Cara de Pau e outros, que serão vistos e analisados mais adiante. Nenhum
deles tem um sentido literal. São nomes ressignificados. Entretanto, mais do que uma
reconfiguração discursiva, inserida em um novo contexto, a adoção destes nomes nas
operações da Polícia Federal trata-se de um acontecimento discursivo. Há uma
ressignificação das próprias operações.
Entre as competências atribuídas à Polícia Federal, de acordo com a Portaria no.
2.877, de 30 de dezembro de 2011, do regimento interno da corporação, e previstas no §
1º. do artigo 144 da Constituição Federal, no § 7º. do artigo 27 da Lei no. 10.683, de 28
de maio de 2003, está apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e
empresas públicas, bem assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei642.
Além disso, a sociedade tem uma imagem do que seja uma polícia e do que ela
representa, tanto civil, militar ou federal. Os indivíduos podem não ter uma noção exata
das atribuições de cada uma delas, mas sabem para que serve a polícia. Esse
acontecimento discursivo nem seria necessário nos nomes das operações.
Porém, segundo Charaudeau (2009), do ponto de vista da comunicação e da
ressignificação, parece que a Polícia Federal busca muito mais um efeito de verdade do
que um valor de verdade em suas operações. Para o autor, o valor de verdade se realiza
através de uma construção explicativa elaborada com a ajuda de uma instrumentação
científica. E isso, de fato, é feito pela Polícia Federal em suas investigações, através de
dados e nas provas que constarão nos autos dos processos.
Ao valorizar, também, o efeito de verdade em suas operações, através da
ressignificação, a Polícia Federal acena para a perspectiva de midiatização de suas ações.
A atual sociedade da midiatização não se limita ao papel de circulação do discurso. A
condição de centralidade e de protagonismo da sociedade midiatizada faz com que ela
mesma ‘entre nesse jogo’. Para Charaudeau (2009), as mídias apresentam-se como uma
espécie de organismo especializado, que teria a vocação de responder a uma demanda
social em nome da democracia. Uma destas demandas, quase constante nos meios de
comunicação, é a segurança.
http://www.dpf.gov.br/acessoainformacao/http___intranet.dpf.gov.br_legislacao_regimento_inter-
642
no_portaria_n_2-877-2011-MJ.pdf
1191
643
http://www.dpf.gov.br/institucional/historia/
1192
1193
1194
1195
1196
As operações ressignificadas
Para Pêcheux (1997, p. 160), “as palavras, as expressões, as proposições etc,
mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam”. Ou
seja, para o autor, o sentido também está relacionado com a posição que o sujeito ocupa
no discurso e na relação com as formações discursivas que os constituem. Ainda
segundo o autor, essa posição-sujeito é o que permite ao sujeito enunciar nos espaços
das relações sociais o que pode e o que deve ser dito (PÊCHEUX, 1997). Para enunciar
determinados discursos, o sujeito não pode ser qualquer um. Precisa ocupar um lugar de
fala e, nesta condição, investir-se de poder e ser reconhecido pelo interlocutor. No caso
da Polícia Federal, além de sua condição natural de polícia e de um lugar de fala de
poder, a corporação representa o próprio estado brasileiro. Há, portanto, nas operações
da Polícia Federal o reconhecimento de que o estado representa aquilo que o próprio
estado pode impor – sua prática, sua presença, seu discurso. E que, através das
ressignificações, há um sentido positivo para o cidadão brasileiro (ORLANDI, 1997).
Podemos verificar que este sentido positivo, através das ressignificações das
operações da Polícia Federal, se sustenta em três dimensões: a) os modos de
organização dos discursos; b) a intenção persuasiva das mensagens; c) os interdiscursos
presentes nos nomes das operações. Cada um deles será analisado a seguir, com suas
respectivas bases teóricas.
Segundo Charaudeau (2008), os modos de organização do discurso são
constituídos pelos princípios de organização linguística, os quais dependem da
finalidade comunicativa do sujeito falante, se enunciar, descrever, contar ou
argumentar. Juntamente com a situação de comunicação, a língua e o texto, os modos
644
http://noticias.terra.com.br/brasil/batismo-de-fogo/
1197
645
O Modo de Organização Narrativo não será aprofundado como os demais modos, pois os
nomes das operações da Polícia Federal não utilizam este tipo de discurso.
1198
1199
Considerações finais
1200
1201
REFERÊNCIAS
1202
GT 4 – FORMAÇÃO EM PUBLICIDADE E
PROPAGANDA
ABSTRACT: This paper focuses on the career of Heliodoro Teixeira Bastos Filho
architect, known as Dorinho, or Dorinho Bastos, author of cartoons that bring characters
as "Dona Zeze, the coffee girl." It mainly focuses on the role of these creations as a self-
criticism, or a critique of advertising, originating within their own advertising. Dorinho
Bastos, who teaches creative advertising at the University of Sao Paulo, for over 40
years, as the author of these cartoons, in my opinion, is the most widely read Brazilian
author in the universe of advertising agencies.
Convivo com Heliodoro Teixeira Bastos Filho, como se diz, desde sempre.
Quando o conheci – e isto aconteceu lá pelo fim dos anos de 1970 – ele tinha acabado
de ser contratado como docente da Escola de Comunicações e Artes, na Universidade
de São Paulo. Jovem arquiteto de muito talento, interessadíssimo nas coisas atuais
daqueles tempos, vinha para o curso de publicidade e propaganda com a missão de
ensinar criação publicitária.
Os tempos, claro, eram bem outros. Época das imensas mapotecas cheias de
folhas, das folhas enormes de papel chanson, dos tira linhas, das cartelas de letra set, da
abundante tinta nanquim, dos normógrafos, dos retroprojetores, dos projetores com
aqueles carrosséis intermináveis cheios de slides. Coisas assim. Era o momento de ouro
646
Trabalho apresentado ao VI PROPESQ, ECA-USP, 27 a 29 de maio de 2015.
647
Doutor em ciências. Professor titular de publicidade, na ECA-USP. Instituição da qual foi
diretor (1997-2001).
1203
1204
1205
1206
públicos. Direito é direito. O meu e os dos demais. Mas a atitude de Dorinho refletia
uma enorme generosidade, com a qual se brinda o semelhante.
Além disso, é talvez a demonstração de um estilo pessoal, marcado pela
característica de jamais confrontar, afrontar ou defrontar quem quer que seja em
benefício próprio. Até se pode dizer que, face aos anos dedicados à formação das seletas
gerações de alunos (e futuros bons profissionais), jamais se preocupou em construir a
própria carreira.
Não terá se preocupado com isto. Certamente. Mas preocupou-se, e muito, em
estar sempre atualizado para dar o melhor de si aos alunos que estudam com ele. Aliás,
não se conclui o curso de publicidade e propaganda na Universidade de São Paulo sem
passar sem passar por ele. Talvez tenha sido este contato permanente e direto, em
longos anos aproximando o estudo aos reclamos da realidade profissional, que fizeram
dele um dos mais experientes pedagogos de uma formação que nem deveria estar na
universidade.
Esta minha observação, sobre a natureza da formação profissional em
publicidade, que, na minha ótica pessoal, dispensaria completamente a proximidade
acadêmica, acabou se convertendo em um dos pontos mais criticados por Dorinho
Bastos. Por pouco não me converti em mais um dos personagens dos divertidos cartuns
que criou para ilustrar o mundo dos negócios e da publicidade. Cartuns que têm
circulado há muitos anos, não apenas na revista Propaganda, como nos periódicos da
editora Referência.
Ainda pelo fim dos anos de 1970, Dorinho me mostrou um esboço para um
personagem que estava criando. Era uma mulher negra, provavelmente uma
serventuária de escritório, com uma bandeja na qual apareciam duas pequenas xícaras
de café e um bule do qual exalava fumaça. Ele justificava a criação dizendo que
pretendia retratar a moça que em quase todas as agências trabalha na copa. Faz
pequenos serviços de limpeza e também serve o indefectível cafezinho. Ele queria, com
a representação, consagrar algo mais que isso. Desejava marcar a opinião pessoal dessas
profissionais que, embora não trabalhando com publicidade, emitem toda a sorte de
comentários a respeito.
Achei a ideia muito original. Pois, afinal de contas, são profissionais que, dado o
tempo a que se dedicam ao negócio e ao patrão, propriamente dito, acabam por tomar
certas liberdades com ele. Essas liberdades, mediante as quais expressam com uma
sinceridade absoluta tudo o que querem dizer sobre tudo que está sendo produzido ali,
1207
1208
1209
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar se a metodologia adotada para trabalhar,
algumas das disciplinas do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da
Universidade Federal do Pampa, Campus de São Borja apresentam uma proposta
inovadora para processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, o método é qualitativo,
Do currículo do Curso de Publicidade e Propaganda, foram selecionadas por
conveniência, 12 disciplinas, para constituírem a unidade de análise, sendo 11
obrigatórias e 1 disciplina complementar de graduação (DCG). Foi realizado um
levantamento das metodologias utilizadas nestas disciplinas e comparado com o que a
literatura sugere como metodologias inovadoras. Os resultados permitem concluir que
em algumas das disciplinas do curso há adoção de práticas inovadoras no processo de
ensino aprendizagem. A conclusão é que o processo de ensino aprendizagem deve estar
em sintonia com o contexto dos discentes e os conhecimentos sejam fixados a partir da
realidade dos mesmos.
648
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
649
Professor no Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Pampa –
UNIPAMPA, email: joaoantonio@unipampa.edu.br.
1210
1211
1212
1213
1214
1215
Tabela 1 – Disciplinas por tipo, semestre (SEM), carga horária (CH) e distribuição de carga
horária entre teoria e prática (T-P) do Curso de Publicidade e Propaganda da Unipampa
2. Marketing, 1º (4-0) 60
1216
Fonte: Elaborado pelo autor com base no Conteúdo das Diretrizes Curriculares e Disciplinas do PPP da
Unipampa
sendo constatado nestes casos, após entrevista com os alunos e colegas deles, que
aquele aluno que participava menos ou raramente, tinha interesse por outros cursos
entre alguns casos conhecidos, Engenharia Civil, Medicina, Medicina Veterinária ou
ainda a interesses pessoais não revelados.
MOMENTOS ATIVIDADE
Primeiro Abertura da aula com saudação aos alunos, apresentação da agenda da aula
Intervalo
1218
3. A sala de aula é um espaço de encontro entre pessoas as quais irão aprender a aprender;
4. O aprendizado do conteúdo de uma disciplina não acontece somente dentro das paredes de uma sala
de aula;
5. Uma disciplina é uma oportunidade para realizar um trabalho e não somente um conjunto de
conteúdo que deve ser transmitido ao aluno e depois cobrado;
8. Integração entre teoria e prática de forma de promover também o intercâmbio entre o conteúdo
abordado em sala de aula e o cotidiano no qual o futuro profissional atuará;
10. A frequência e participação discente nas ações propostas é consequência natural do interesse e
comprometimento do mesmo com a proposta de trabalho na disciplina.
11. Qualquer organização participante de alguma atividade proposta ao longo da disciplina será
considerada como laboratório de aprendizagem;
1219
1220
1221
1222
Considerações finais
Buscou-se, neste artigo, realizar algumas reflexões, fundamentadas em algumas
abordagens, para responder se a metodologia adotada para trabalhar, algumas das
disciplinas do curso Publicidade e Propaganda, da Universidade Federal do Pampa,
Campus de São Borja constituem inovação no processo de ensino e aprendizagem com
adoção de métodos e técnicas que envolvam os alunos, considerando o meio
sociocultural e econômico no qual estão inseridos. A aula somente expositiva se torna
pouco atrativa diante de um novo perfil de estudante que ingressa na universidade. A
aula tradicional que apenas troca o quadro e o giz pela tela e multimídia também.
O aluno atualmente quer mais, quer uma universidade que contribua no seu
desenvolvimento integral. Por consequência, os professores, precisam rever suas ideias
e acompanhar esta evolução dinamizando seus métodos e técnicas de ensino para
encaminhar uma aprendizagem mais eficaz. Para tanto, o espaço da sala de aula precisa
ser melhor aproveitado juntamente com todos seus recursos. Ele passa a ser um local de
encontro, uma sala de reuniões de esclarecimentos, para assessoramento discente, para
orientações, para a reflexão e análise e a produção do conhecimento. O espaço da sala
de aula deve ser suficientemente estimulador para aprendizagem discente.
Na análise realizada, com base na literatura sobre inovação, foi possível
identificar, que as metodologias de ensino, adotadas em algumas das disciplinas do
curso de Publicidade e Propaganda da Unipampa elencadas pelo autor, constituem
práticas inovadoras. Este estudo possui limitações provenientes de sua análise
restringir-se a um curso e uma universidade, a bibliografia levantada até o momento de
sua redação, entre outros. Torna-se necessário ampliá-lo a outras universidades federais
e privadas num estudo comparativo.
REFERÊNCIAS
1223
BARBIERI, José Carlos. ÁLVARES, Antonio Carlos Teixeira. Inovações nas organizações
empresariais. In: BARBIERI, José Carlos. Organizações inovadoras: estudos e casos
brasileiros. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2003. p. 41 – 63.
MAGNANI, Ivetti. Ensino, pesquisa, extensão e a nova tipologia do ensino superior brasileiro.
In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 25., Caxambu, 2002. Anais... Caxambu: ANPEd, 2002.
Disponível em: < http://www.anped.org.br/reunioes/25/tp25.htm#gt11>. Acesso em: 06 JUN
2012;
MOITA, Filomena Maria Gonçalves da Silva Cordeiro e ANDRADE, Fernando Cézar Bezerra
de. Ensino-pesquisa-extensão: um exercício de indissociabilidade na pós-graduação. Rev. Bras.
Educ. [online]. 2009, vol.14, n.41, pp. 269-280. ISSN 1413-2478.
SILVA, Maria das Graças. Universidade e sociedade: cenário da extensão universitária? In:
REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 23., Caxambu, 2000. Anais... Caxambu: ANPEd, 2000.
Disponível em: < http://www.anped.org.br/reunioes/23/textos/1101T.PDF>. Acesso em: 06
JUN. 2012
1224
RESUMO
A presente pesquisa mapeia a produção científica dos Encontros anuais da PROPES-PP
em suas cinco primeiras edições, respectivamente realizadas nos anos de 2010, 2011,
2012, 2013 e 2014 na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. A
sistemática de coleta de dados seguiu os preceitos da bibliometria e da webometria,
analisando os conteúdos publicados nos E-books do Encontro disponibilizados na
internet pela ABP2 ao término de cada evento. A análise observou o perfil dos
pesquisadores quanto a gênero, formação acadêmica, origem e vínculo institucional.
Apontou a quantidade de artigos produzidos individualmente ou em co-autoria.
Analisou também a participação das IES e seus pesquisadores no Encontro anual. E por
fim, registrou a incidência de palavras-chave bem como as referências bibliográficas
que mais são utilizadas como corpus nos artigos aceitos e apresentados.
Introdução
Seguindo a linha dos artigos apresentados na DT 2 – Publicidade e Propaganda
da INTERCOM, Congresso Anual de 2013 e 2014 da Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação, o presente artigo, de caráter exploratório-descritivo,
foi estruturado utilizando-se as ferramentas da Bibliometria e da Webometria com a
finalidade de mapear a produção acadêmica dos pesquisadores vinculados à ABP2 que
participaram dos Encontros da Pró-Pesq-PP nas cinco primeiras edições do evento,
realizadas na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo nos anos
de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014.
Segundo Guedes e Borschiver (2005, p.15) a Bibliometria “é uma ferramenta
estatística que permite mapear e gerar diferentes indicadores de tratamento e gestão da
informação e do conhecimento”. Seu uso se faz fundamental especialmente quando da
análise de dados em sistemas de informação e de comunicação científicos e
tecnológicos.
650
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
651
Mestrando do Programa de Mestrado em Ciências da Comunicação da Escola de
Comunicações e Artes da USP. Mestre em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi.
Publicitário pela mesma Instituição. Bolsista CAPES.
1225
1226
1227
1228
3
1
6
4
4
0
2
0
1229
1230
(no mínimo dois artigos aceitos e apresentados). A Universidade de São Paulo lidera o
ranking com 166 trabalhos publicados. Ao todo, considerando as IES apresentadas no
Quadro e também aquelas que tiveram apenas uma participação ao longo dos cinco anos
de realização do Encontro da Pro-Pesq PP contemplados nesse artigo, somaram-se 85
Instituições de Ensino Superior que representam as cinco regiões do País, sendo duas
delas Universidades estrangeiras (Universidad de Murcia – Espanha e Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro - Portugal). Segundo o site da ABP2, até a quinta edição
o Encontro o evento contava com a participação de 19 Programas de Pós Graduação em
Comunicação regulares no Brasil.
1231
Marcelo BARREIROS
Maria Cristina Dias
ALVES
Maria Ogécia Drigo
Midierson MAIA
Milena Carvalho Bezerra
Freire de OLIVEIRA-
CRUZ
Renato L. de
FIGUEIREDO
Rodrigo Stéfani CORREA
Rosana MAURO
Roseméri LAURINDO
Sandro Tôrres de
AZEVEDO
Sergio Luiz A. MORETTI
Sílvia DANTAS
Vanessa C. BRANDÃO
Victor AQUINO
Wagner PINTO
2 trabalhos apresentados
Ana Paula BRAGAGLIA André Luiz Barbosa da SILVA
André Zambam de MATTOS Anelize Ghizoni BEAL
Angela Lovato DELLAZZANA Antônia Sabrina Bezerra da SILVA
Ariane da Silva XARÃO Beatriz BERALDO
Brenda Lyra GUEDES Bruna Seibert MOTTA
Danuta LEÃO Dhione Oliveira SANTANA
Diego Vieira Braga Dorothy Lee Tze LING
Edmeia Costa e SILVA Edmundo Brandão DANTAS
Eliseu Vieira MACHADO Jr. Emerson Cesar NASCIMENTO
Eric de CARVALHO Fátima MILNITZKY
Fernanda do Amaral FERRARI Flavia Igliori GONSALES
Flávia Mayer dos Santos SOUZA Francisco LEITE
Helen Piegas BARCELOS Helio Pedro da SILVA
Igor Aparecido Dallaqua PEDRINI Irene CARBALLIDO
Janaina Frechiani Lara LEITE Jéssica CARNEIRO
Jociene Carla Bianchini FERREIRA José Maurício Conrado Moreira da
SILVA
Katia SAISI Luciana Ferreira S. PRADO
Luís Roberto Rossi Del CARRATORE Luiz L. Z. Cezar Silva dos
SANTOS
Marcela Costa da Cunha CHACEL Marcelo JUCHEM
Marcelo Rodrigo de Avelar Bastos ALVES Márcia GARÇON
Maria Lourdes Balbinot de Lamônica FREIRE Marina Roriz Rizzo Lousa da
CUNHA
Marina Rosa Martins de ARAÚJO Michele Helena Lopes DEL MONTE
Michele Kapp TREVISAN Mitsuru Higuchi YANAZE
Norton FALCÃO Pablo Moreno Fernandes VIANA
1232
Os achados: palavras-chave
As palavras-chave foram identificadas segundo análise dos 429 trabalhos
disponíveis nos E-books anuais do Encontro, incluindo-se os pôsteres.
São apresentadas no Quadro 6 as palavras-chave ranqueadas por freqüência de
aparição (entre parênteses está a quantidade de vezes que ela foi referenciada). Foram
descartadas as palavras que apareceram apenas uma vez.
1233
2013 2014
Publicidade (34) Publicidade (34)
Consumo (25) Consumo (18)
Comunicação (19) Comunicação (16)
Propaganda (9) Propaganda (14)
Semiótica (8) Semiótica (7)
Marca (7) Marca (7)
Criança (6) Redes Sociais (6)
Televisão (4) Marketing (5)
Telenovela (4) Publicidade e Propaganda (4)
Marketing (4) Estratégia (4)
Imagem (4) Web (3)
Identidades culturais (4) Televisão (3)
Ensino (4) Representação (3)
Discurso (4) Processo Criativo (3)
Sustentabilidade (3) Pesquisa (3)
Pós-modernidade (3) Mídias (3)
Moda (3) Infância (3)
Mídia (3) Imagem (3)
Luxo (3) Ética (3)
Linguagem (3) Ensino (3)
História (3) Cultura (3)
Hipermodernidade (3) Corpo (3)
Ética (3) Cognição (3)
Beleza (3) Classe social (3)
Alimentação (3) Audiovisual (3)
Tendências (2) Persuasão (2)
Representações midiáticas (2) Mulher (2)
1234
1235
Os achados: citações
Guedes e Borschiver (2005, p.5) dizem que a Lei de Lotka está relacionada à
produtividade de autores. Essa lei é fundamentada na premissa básica de que “alguns
pesquisadores publicam muito e muitos publicam pouco”. As autoras explicam que a
Lei de Lotka enuncia que
As autoras concluem dizendo que quanto mais solidificada estiver uma ciência,
maior probabilidade de seus autores produzirem múltiplos artigos, em dado período de
tempo.
1236
1237
publicações exerce maior influência, em uma dada área de assunto. Eles são líderes no
pensamento científico dessa área, e seus trabalhos são mais citados. Da mesma forma,
outras citações são regular e uniformemente distribuídas como literatura de apoio, e
com freqüência seu uso é decrescente.
O Quadro 8 apresentou um ranking dos autores mais citados nos artigos
apresentados nos Encontros da Pro-pesq-PP ao longo de seus cinco primeiros anos. Para
a organização do Ranking foram utilizados os autores que tiveram pelo menos cinco
citações no período, independente da obra citada. Foram excluídos os links da internet,
blogs, sites de legislação e as auto-citações.
É interessante notar que quando este quadro é comparado aos Rankings dos
autores citados no Mapeamento dos artigos da Intercom Divisão Temática de PP (ver
Clemente Júnior, 2014 e Covalesk, 2014), a prevalência naqueles Ranking é de autores
internacionais, o que se inverteu no Ranking ora apresentado. Isso se dá pelos períodos
estudados. A maioria dos autores nacionais tem suas obram publicadas recentemente, o
que coincide com o período estudado nesse artigo.
Considerando mais de 20 citações, temos entre os mais citados autores nacionais
como Lúcia Santaella, Eneus Trindade, Clotilde Peres, João Carrascoza, Everardo
Rocha, Maria Lilia Castro, Vander Casaqui, Margarida Kunsch, Elizabeth Bastos
Duarte, José Benedito Pinho, André Lemos, Neusa De Martini Gomes, Armando
Sant´Anna e Livia Barbosa.
Ao todo foram 247 autores mencionados no Ranking e dentre eles 105 são
brasileiros.
Considerações finais
652
Segundo a ABNT (2002) Citação é a “menção no texto de uma informação extraída de outra fonte”.
653
Os Colégios Invisíveis relacionam-se à identificação da elite de pesquisadores em dada área do
conhecimento.
1238
Esse artigo buscou identificar as características do perfil dos autores dos artigos
apresentados nos Encontros da Pro-pesq PP ao longo de seus cinco primeiros anos.
Nessa análise, levantou-se a representatividade dos autores e de suas instituições
espalhadas pelo Brasil, o que se conclui que, apesar de todo o País se fazer presente,
ainda existe a mesma desproporcionalidade regional que ocorre nos Congressos da
INTERCOM.
Outro achado importante foi a crescente presença de autores brasileiros sendo
citados / referenciados na produção dos artigos. Diferentemente do que ocorre nos
mapeamentos da INTERCOM, na Pro-pesq PP 42,5% dos autores citados são
brasileiros, o que reforça a cada dia a verdadeira construção de um arcabouço teórico de
base para a produção nacional sobre Publicidade e Propaganda.
Identifica-se a importância da continuidade de mapeamentos como este
refinando variáveis de análise e apresentando dados atualizados sobre a produção
acadêmica na área.
REFERÊNCIAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas - NBR 10520: Informação e documentação.
Citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002. 7 p.
1239
1240
RESUMO
O artigo discute aspectos relacionados ao ensino superior em publicidade e propaganda,
envolvendo preocupações que se coligam à formação de novos profissionais atentos às
legis-lações e com foco na nova economia sustentável, que trazem desafios de pensar a
educação pelos eixos sugeridos por Morin, para uma era planetária e, em Barbero, da
comunicação “na” educação (de uma nova geração), ilustrados por trabalhos
desenvolvidos na Fapcom/SP.
Até pouco tempo atrás, poderia se dizer que a aplicação das legislações do
consu-midor, ambientais e sociais não afetavam de modo significativo o ensino superior
de publicidade e propaganda. Se forem observadas as grades dos cursos regulares,
provavel-mente, em boa parte, não se encontrarão disciplinas e especialistas para
orientar os alunos especificamente sobre os riscos que envolvem pensar em conceitos
criativos que não levem em conta certas regras.
Por outro lado, cada vez mais as exigências neste sentido se fazem presentes,
tirando do ar propagandas que não incentivam aspectos saudáveis, que reforçam
estereótipos e demonstram falta de conhecimento do profissional sobre regras de
mercado.
O objetivo deste artigo, portanto, será o de explicitar um novo cenário de
mercado e, a partir deste, trazer a reflexão que vem sendo feita, no ensino superior,
sobre atividades pedagógicas necessárias que trazem à tona discussões para um
profissional mais estratégico,
que compreende riscos e oportunidades em uma sociedade conectada e mais informada
de seus direitos, enquanto consumidor e receptor de mensagens diversas recebidas
diariamente.
654
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda.
De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
655
Doutor em Comunicação e Semiótica, Mestre em Administração e Planejamento pela PUC/SP.
Professor nos
cursos de Publicidade e Propaganda da FAPCOM/SP e Pós-graduação Lato-Sensu (convidado) do
Mackenzie,
email: decio_f@terra.com.br.
1241
1242
cada vez mais (em razão da escassez e más condições do planeta) trazem para a pauta
boas ou más práticas em diversas áreas. Seja no agribusiness, indústria ou serviços,
também estes pontos tornaram-se ativos estratégicos.
Quanto à responsabilidade social, percebe-se fortemente na área de serviços,
intensiva na gestão de pessoas, quantidades significativas de casos relatados de não
observância às leis trabalhistas, inclusive com a situação dramática da migração ou
imigração da mão-de-obra, muitas vezes precarizando as relações.
Todas estas questões acontecem em um novo cenário de transparência digital,
em que reclamações são rapidamente espalhadas nas redes, por um novo consumidor
atuante, construindo uma massa de informações disponíveis para que novos
consumidores decidam-se por não mais utilizarem uma marca, devido também à sua
falta de responsabilidade.
Há, entretanto, aqueles que olham estas forças externas como algo ainda
incipiente e que não força as entidades a se adequarem a regras. Comumente lê-se
críticas ao quão pouco estes assuntos de fato estão sendo tratados ou somente são peças
de marketing. Uma parte destas críticas poderá ser de fato necessária, quando não se vê
a integração organizacional de valores responsáveis, no dia-a-dia real de atendimento,
produção, entre outros.
Logicamente é um assunto que envolve grande complexidade, afinal não se pode
culpar e jogar toda responsabilidade de problemas diversos somente sobre um agente.
Porém, a falta de sensibilidade acaba sendo uma espécie de anti-publicidade em vários
casos. É o caso de vários produtos ou serviços de luxo, que convivem ao lado de
situações de carência e poderiam ter parcerias para temos um planeta melhor. Mas, há
que se dizer, cumprem seus papéis junto ao governo, na criação de empregos e
movimentam o foco de inovação.
Sob esta ótica “não intervencionista”, cada um cumpre seu papel no jogo da
economia de mercado, em que a geração de lucros é o objetivo claro. Uma das reflexões
conhecidas acerca do tema do capitalismo foi feita por Weber, da ótica protestante na
formação do capitalismo, que tomava por conta um ambiente ideal, em que todos tendo
recursos, vencem a competição os melhores e tudo se auto-regula. Na prática, porém, há
desigualdades e já se percebeu, há muito, que as fraquezas humanas (se não
controladas) levam à tiranias.
Casos conhecidos foram os de grandes empresas no início da década de 2000,
que vendiam boa saúde financeira e quebraram por manipulações de seus altos
1243
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atendimento atual estivesse tendo ampla aprovação, como por exemplo nos slogans que
vêm utilizando:
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Proposta de uma revista que atenderá comunidades de bairro em São Paulo, com
uma visão comunitária, com conteúdos locais, atendendo anseios e necessidades de
regiões que não tem pouco tipo de comunicação estruturada. Destaca-se a criação de
uma logomarca diferenciada, de proposta do grupo de como funcionaria editoria e
divulgação, bem como um modelo de negócios interessante, que não tem como foco
somente a sobrevivência da empresa, mas um retorno social aos envolvidos.
PROJETO: Aplicativo de geolocalização para deficientes físicos – Dá pé
Idéia criativa que pensou no uso dos celulares para que usuários com alguma
deficiência pudessem rapidamente localizar locais públicos em São Paulo, que
estivessem aptos a receber pessoas com dificuldades motoras de modo geral. O modelo
de negócios pensou sobre a sustentabilidade financeira baseada em anunciantes,
assinatura dos usuários, porém, pensou inclusive em situações em que as pessoas podem
1249
Além de refletir sobre o uso dos celulares entre os jovens, tema que interessa aos
mesmos e os trazem para a discussão, o projeto propõe enaltecer as práticas da empresa
no contexto da sustentabilidade ambiental e também práticas com relação aos
consumidores. Interessantes aspectos foram levantados e discutidos em sala, quando
consideramos a enorme quantidade de lixo gerada pelo consumo atual destes produtos.
1250
A campanha da empresa Claro analisada pelos alunos traz questionamentos sobre uma
linguagem que questionava o papel dos pais, da necessidade de se ter um serviço para
conter os filhos menores, porém com imagens em que claramente a não compra leva as
crianças a se revoltarem e não obedecerem ninguém. O processo no Conar foi analisado
pelos alunos, trazendo como interessante a discussão acerca dos códigos ligados à
criança e juventude, bem como do papel do publicitário durante o processo de criação.
Apesar de ter sido sustada, a campanha continua no Youtube, confrontando a
importância do trabalho do órgão, além da falta de critérios com as novas mídias.
Apesar de citar uma campanha local no Brasil, o material avaliado foi rico por também
trazer a discussão das exposição da criança, aqui em tese explorada pela empresa e pela
criação feita que para comemorar o dia das mães trazia uma menina muito nova em
poses que imitavam a mãe, porém, com um apelo muito além do que se esperava. O
caso gerou cassação e o mais interessante foi que a empresa emitiu comunicando
desculpando-se ao público, porém com tom de quem quase acusava o mesmo pela má
compreensão. O comunicado de desculpas gerou mais reclamações na Web do que o
próprio comercial, fato discutido amplamente, em conjunto com o papel do Conar e
regulamentações que por vezes os profissionais na área parecem desconhecer.
4) Considerações finais
O artigo propôs discutir novos olhares para a pedagogia em publicidade e
propaganda, em um momento que o cenário dos negócios se alteram, em conjunto com
novos valores da sociedade, que discute preocupações sociais, culturais, ambientais, que
as marcas também buscam compreender e se adequar, frente a um consumidor mais
informado e que agora é mais atuante através dos novos canais digitais.
As propostas de alguns autores tratados refletem estas questões, deixando claro
um cenário de maior complexidade e de ambigüidades, que sugerem uma educação
pautada na compreensão mais planetária de certos eventos e também sem querer
1251
1252
REFERÊNCIAS
MORIN, E; CIURANA, E.R.; MOTTA, R.M. Educar na era planetária. São Paulo: Cortez;
Brasília (DF): Unesco, 2003.
SHAH D.; HALLIGAN B. Inbound Marketing. Rio de Janeiro: Alta Books, 2010.
1253
RESUMO
Este trabalho, tem como objetivo mostrar os desafios que os professores dos cursos de
Publicidade e Propaganda enfrentam, considerando os vários aspectos da docência no
ensino superior e as exigências decorrentes da complexidade do mundo contemporâneo.
Foram utilizadas como base, as Diretrizes Curriculares Nacionais da área de
Comunicação Social e suas habilitações, aqui somente analisado o trecho referente ao
curso de Publicidade e Propaganda. Além disso, foram realizadas entrevistas com três
professores que atuam em cursos de Publicidade e Propaganda e que trabalham em
diferentes instituições privadas de ensino superior, situadas na Baixada Santista. Para o
desenvolvimento da pesquisa recorreu-se aos estudos de Cunha (2001, 2007 e 2010),
Pimenta (2002 e 2011), Roldão (2005 e 2007), Charlot (2008 e 2010), Figueira Neto e
Souza (2010) entre outros.
Introdução
O foco de investigação da presente pesquisa inscreve-se nas discussões acerca
da docência no ensino superior, com um recorte para o curso de Publicidade e
Propaganda. O texto está organizado no sentido de facilitar o entendimento do leitor,
traçando primeiramente um breve perfil do docente do ensino superior, depois
apresentando algumas características e peculiaridades do curso do Publicidade e
Propaganda, na sequência descrevendo os desafios identificados nas pesquisas
realizadas com professores do curso de Publicidade e Propaganda, terminando com as
considerações finais.
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1256
Tendo em vista que os professores que trabalham no ensino superior não têm
uma formação especifica na área, é natural que enfrentem desafios em relação aos
vários aspectos da docência, como a relação com os alunos, a gestão da sala de aula, a
relação com os pares, com a instituição, entre outras questões que passam a conhecer a
partir do momento em que entram na sala de aula universitária.
Mas nota-se que o curso de Publicidade e Propaganda, apresenta algumas
características próprias dos professores que nele atuam e algumas questões
diferenciadas enfrentadas por eles.
Trata-se de um curso com algumas peculiaridades, a saber: o conteúdo das aulas
é muito dinâmico e deve ser sempre muito atual; as informações estão ao alcance dos
alunos, exigindo atualização constante dos professores para acompanhá-los; novas
tecnologias e plataformas ao alcance de todos, mudando as formas de trabalhar com
essas novas mídias; mudanças de hábitos das pessoas, que levam a constantes
questionamentos em relação à forma de se aproximar do consumidor. A área da
propaganda se encontra em um cenário de incertezas e isso afeta diretamente o ensino,
conforme explicam Figueira Neto e Souza (2010, p. 75):
A propaganda está em transição; novos formatos de comunicação
estão se alternando com o discurso publicitário na preferência dos
patrocinadores; os consumidores têm mais controle sobre o quê,
quando e como querem se relacionar com marcas e instituições. Estas
transformações apontam para mudanças que ainda não estão
claramente definidas no cenário das comunicações e do seu ensino,
inclusive, na questão mais profunda que é sua organização tradicional
em disciplinas isoladas e sequenciadas no tempo (organização linear),
pressionada de um lado, pela revolução tecnológica dos meios e
processos produtivos e, de outro, pelas expectativas e necessidades de
empregabilidade dos alunos, normalmente pouco e mal informados
sobre a carreira na hora do vestibular.
Apesar de ter mais acesso à informação, o jovem que ingressa no curso de
Publicidade e Propaganda não possui ainda conhecimento da área e nem do mercado de
trabalho. Nota-se que hoje as motivações dos alunos que se interessam pelo curso são
diferentes de décadas atrás, quando a propaganda se apresentava para as pessoas de
forma mais envolvente e glamorosa. No entanto, existe muita procura nos vestibulares
pelo curso, talvez pelo fato de a publicidade estar historicamente ligada à cultura de
consumo, que, por meio dos seus discursos sedutores, praticamente traduzem os desejos
da juventude. Um dos indícios que demonstram essa relação do jovem com a
publicidade é o número de inscritos cada vez maior nos vestibulares nos cursos de
graduação em Publicidade e Propaganda.
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1259
[...] Eu acho que de todos os cursos, um dos mais difíceis de ser professor é
o de PP [Publicidade e Propaganda], porque a comunicação sofre
transformação diária, em segundos, minutos, as coisas vêm mudando,
mudando, internet, blog, muita coisa. Essas mudanças todas exigem muito
mais que um curso de matemática, de direito. A literatura não está no livro, a
gente tem que ir atrás de um case. (Ana)
[...] Os nossos olhos têm que estar muito mais focados no dia a dia, no
minuto a minuto, no que tá acontecendo em rede social, nessa nova forma de
comunicação que não acontece com cursos de matemática, português,
história. As coisas não mudam tanto! (Ana)
659
Para saber quais são os maiores desafios enfrentados pelos docentes do curso de Publicidade e
Propaganda, foram realizadas entrevistas com roteiro semiestruturado com três professores que atuam
nesse curso, em instituições particulares situadas na Baixada Santista. Os critérios de escolha desses
sujeitos, foram: a experiência profissional como publicitários e como docentes no ensino superior; a
atuação em diferentes instituições de ensino superior da Baixada Santista, tendo em vista a diversidade de
realidades vivenciadas no que diz respeito à instituição, aos colegas docentes, às práticas de ensino e
também ao perfil dos estudantes; a boa reputação que possuem como professores perante colegas
docentes e seus alunos. As coletas de dados aconteceram nos meses de maio e junho de 2014. Os nomes
aqui apresentados são fictícios, preservando a identidade dos participantes.
1260
[...] Então, eu acho que tenho que melhorar muito, mas a primeira aula foi
pior do que é hoje, mas ainda tenho muito para melhorar. Isso [a vontade de
melhorar] tem que estar presente no professor de PP [Publicidade e
Propaganda], pelo amor de Deus! (Ana)
[...] Então a gente tem que estar muito atualizado, porque gera respeito para
esse público, esse grupo, que são as pessoas que efetivamente vem fazer
publicidade mas já acha que sabe tudo. (Antonio)
1261
[...] Antes você tinha que obrigar os caras a irem na biblioteca, ler, para
poder acrescentar alguma coisa na formação deles, motivar em relação a
isso, tal. E hoje está tudo na mão, tudo fácil, o acesso é muito grande, eles
acessam isso com uma facilidade também e talvez esse seja o problema, essa
facilidade, porque aí tudo acaba sendo imediato, você não tem uma pesquisa
mais profunda, você pega um trabalho eles não se aprofundam, fica tudo
superficial e muito rápido, porque as primeiras informações que eles
1262
conseguiram, ‘está pronto, resolvi meu problema, está pronto, está aqui, tá
feito’. Porque eles entendem que se eles recebem a informação muito rápido,
eles têm que devolver essa informação muito rápido também e aí a qualidade
dessa informação vai se perdendo. (Pedro)
[...] O cara antes de fazer Publicidade foi numa feira de profissões, assistiu
uma palestra minha ou sua, assinou o Meio & Mensagem, ele acha que já é
publicitário. [...] Então ele acha que é bobagem, que a aula é muito infantil,
isso e aquilo. Esse é um conflito que eu vejo por parte dos alunos que é
muito grande, que o cara acha que já sabe tudo e que não precisa do
professor e efetivamente é uma situação mais vulnerável, em todas as áreas.
(Antonio)
1263
[...] o aluno infelizmente não vê isso, um ou outro que fala: pô que legal, esse cara dá
aula para gente. Mas no geral, é: cadê o slide? [...] cadê o material didático? Você não
colocou o material didático no moodle? [...] os caras estão mais preocupados com a
apostila da disciplina, do que efetivamente com a pesquisa. E esse é o maior conflito
que eu vivo como profissional dando aula. (Antonio)
Apesar de acreditar que o aluno tem essa percepção de já saber tudo, o professor
Antonio passa, em sua fala, a impressão de estar adaptado a um novo formato de aula
para um novo perfil de docente universitário:
[...] quando estou dando aula eu não considero a ideia que eu sei um monte
de coisas e os caras não sabem e isso me dá uma flexibilidade para enfrentar
um desafio que eu acho que todos os professores enfrentam e que eu
1264
enfrento de forma mais leve, que é assim, hoje por conta da internet, você
tem o aluno que já vem sabendo tudo. (Antonio)
[...] Talvez ainda nosso papel seja importante nesse sentido, porque nós
temos essa paciência de ir buscar, de se aprofundar, garimpar coisas, mas
elas estão ali para todo mundo, só que a gente consegue fazer isso. E quando
você pede para eles fazerem, você fica meio decepcionado. (Pedro)
Considerações finais
Cunha (2001, p. 87) explica como deve ser o novo papel do docente, que deve
deixar de se entender como depositário das verdades e das certezas e que se esmera em
transmitir tudo o que sabe para os alunos. “Manter esse paradigma é decretar a extinção
dessa profissão, que, facilmente e com vantagem, vê-se substituída pelos meios de
comunicação e pelas mídias”. Mas ela apresenta a direção em que deve ser reconstruída
a função docente:
Há, entretanto, uma função que a máquina não faz, pois só a sensibilidade
humana pode intervir interpretativa e interativamente no conhecimento. Essa
função é ser ponte entre o conhecimento disponível de todas as maneiras e as
estruturas cognitivas, culturais e afetivas dos educandos.
REFERÊNCIAS
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1266
Iris Tomita661
UNICENTRO – Universidade Estadual do Centro-Oeste
RESUMO
As questões ecológicas ganharam espaço nos debates políticos, sociais e na mídia,
associando a relação publicidade e consumo à destruição e ao prejuízo do equilíbrio
natural. A publicidade, o consumo e as questões ambientais formam, então, o foco de
interesse do presente texto para apresentar reflexões sobre a formação do profissional de
Propaganda. Busca-se na metodologia bibliográfica embasamento em Canclini e Rocha
para articular o consumo dentro das perspectivas da inserção de conteúdos de Educação
Ambiental nos cursos de Graduação, conforme Resolução CNE/CP n. 2/2012. A
formação no curso de Publicidade e Propaganda é um momento oportuno para refletir
questões que extrapolam o interesse mercadológico, pois este profissional pode,
também, atuar na sensibilização sobre as questões ambientais. A inserção sobre a
temática na formação do publicitário firma-se como uma rica possibilidade para
estabelecer estratégias que permitam acompanhar os entornos que envolvem o consumo
e o meio ambiente e, assim, compreender os contextos sociais e as questões
contemporâneas.
1267
natureza com a sensação de que “isso não é problema meu”. Essa sensação pode
sinalizar falta de preocupação com as questões futuras e coletivas.
Ao defender a ideia de que não podemos nos ater exclusivamente aos aspectos
negativos que envolvem o consumo, Canclini (1996) afirma que nele há também um
espaço para o compartilhamento do repertório cultural. Mais do que criticar o consumo,
o problema reside na exclusão social, econômica e também cultural a ele atrelada.
Kellner (2000) destaca a importância de desenvolver-se um processo de alfabetização
crítico da mídia pelos educadores, sobretudo da publicidade, por exigir sofisticados
processos interpretaivos diante da riqueza de sentidos dela extraíveis.
No mesmo sentido, Rocha (1995) lembra que para entender a cultura
contemporânea é preciso passar, de algum modo, pelos conteúdos transmitidos pelos
meios de comunicação, pois é indiscutível a presença da indústria cultural na sociedade
contemporânea, alcançando espaços e tempos antes não imaginados. O autor endossa
que os meios de comunicação estão por toda a parte formando a teia do mosaico de uma
amarração planetária da cultura.
Assim, fazendo uso dos meios de comunicação, o incentivo à cultura de
consumo divulgado pela publicidade ganha notoriedade como um grande vilão para o
consumismo. Nas palavras de Giacomini (2010, p. 53), “o atual nível de consumo e a
consequente exploração ambiental estão em um ritmo tão intenso que se constata
desequilíbrio em muitos sistemas ecológicos, fazendo-se necessário coibir o
consumismo”.
Mas Martín-Barbero (2003) lembra que, no processo comunicativo, não há uma
linearidade que determine resultados precisos, pois, entre as intencionalidades de
incentivo ao consumo, as ideologias carregadas nos conteúdos de convencimento ao ato
de consumir, existem mediações como a escola, os amigos, os grupos sociais, a família,
que desempenham lugar importante para que os signos ganhem sentidos diferentes
pelos diversos receptores, assim como é importante reconhecer que o próprio sujeito
tem papel ativo nesse processo.
A consciência ecológica é muito mais que as ações isoladas de separar o lixo, de
campanhas de combate à poluição, pois é preciso uma conscientização da totalidade que
envolve a preservação dos ambientes naturais.
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Considerações
No atual contexto de produção cada vez mais acelerada de conhecimentos
científicos, não se pode esquecer a importância da atualização permanente, de forma a
democratizar o acesso de todos os profissionais aos progressos do seu campo de
1274
1275
REFERÊNCIAS
BRASIL, MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais. Meio Ambiente e Saúde. Brasília:
MEC/SEF, 1997.
CANCLINI, N.G. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais globalização. Rio de
Janeiro: UFRJ, 1996.
GALINDO, D.; MARIN, S. A info-formação do publicitário. In: TARSITANO, Paulo Rogério
(org.). Publicidade: análise da produção publicitária e da formação profissional. Mauá, SP:
IMES/ALAIC, 1998, p. 130-155.
GIACOMINI, G. Consumismo e meio ambiente: discursos de conexões no campo religioso. In:
Estudos de Religião. v. 24, n. 38, 52-74, jan./jun. 2010.
KELLNER, D. A cultura da mídia. Edusc. 2000.
MARTÍN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de
Janeiro: UFRJ, 2003.
MELLO, G. N. Educação escolar brasileira: o que trouxemos do século XX? Porto Alegre:
Artmed, 2004.
NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992.
OLIVEIRA, I.B.; SGARBI, P. (orgs.). Redes culturais. Diversidade e educação. Rio de
Janeiro: DP&A, 2002.
Resolução CNE/CP n. 2/2012. Diretrizes Nacionais para a Educação Ambiental.
ROCHA, E. A sociedade do sonho: Comunicação, Cultura e Consumo. Rio de Janeiro:
Mauad, 1995.
1276
GT 5 – PROPAGANDA E MERCADO
RESUMO
Sabemos que cuidar da marca, criar uma ambiente favorável e reconfortante no
imaginário dos consumidores é uma tarefa que requer esforço de tentar conjugar signos
que fazem parte do repertório social e conectá-los aos anseios dos consumidores. É por
meio dessa tentativa de ligação entre uma marca e a possível resposta de seu público
que esse artigo vem discutir, à luz de autores que contribuem para a importância da
marca no contexto contemporâneo, o valor de se criar mundos possíveis em que a marca
sugere simbologias concernentes com os valores sociais que a sociedade anseia e não só
uma distinção entre marcas e produtos.
Introdução
Tudo no mundo tem nome, se não tem nome não existe. O nome é “um
designativo, um sinal, que prenuncia um caminho, dá uma ideia, nos leva, muita vezes,
a um entendimento prévio a respeito daquilo a que estamos nos referindo (PEREZ, 2001,
p. 48). Quando estamos perto de nascer, o grande emblema é a colocação de um nome
para nós. Nossos pais consultam manuais de significados dos nomes, apelam para
homenagens na família ou então fazem junções que muitas vezes não soam bem, mas
tudo isso é para sermos diferentes dos demais, não ser só mais um na multidão. Com as
marcas é a mesma coisa, queremos que nossa empresa tenha um nome que seja
reconhecido pelos consumidores, um nome que gere força, sentimentos positivos, que
agregue valores sociais de prestígio. O nome de uma marca carrega em si todo um
histórico imagético da marca. Quando evocamos o nome da marca nos vem à mente
toda uma construção simbólica e emocional que temos com a marca. E é por isso que
um nome carrega em si toda uma reputação que é construída pouco a pouco.
Este artigo tem como ponto central estudar a marca em suas várias concepções.
Sabemos que a marca é o maior atributo que uma empresa pode ter, ela carrega em si
toda uma mentalidade do que representa a empresa, seus atributos tangíveis e
662
Trabalho apresentado no Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de
Pesquisadores em Publicidade e Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
663
Doutorando em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo sob a orientação da Profª Drª Clotilde Perez, bolsita CAPES, membro do
Grupo de pesquisa GESC3: Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação, Cultura e Consumo.
alhenrubens@gmail.com
1277
Concepções de marca
Para falarmos de marca, vamos, primeiramente, apresentar o conceito de marca
em uma perspectiva mais administrativa. Em Kotler (1998) a “marca é um nome, termo,
sinal, símbolo ou combinação dos mesmos, que tem o propósito de identificar bens ou
serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e de diferenciá-los de concorrentes
(KOTLER, 1998, p. 393). Notamos que essa definição de marca não leva em conta o
caráter simbólico que a marca possui para seus consumidores, o lado afetivo. A
definição é meio seca, sem vida, como se a marca só existisse em uma perspectiva
distintiva em relação aos seus concorrentes e nada mais.
Diferentemente de uma concepção mais tradicional que temos da marca, como
vimos na definição de Kotler, a marca, nos dias de hoje, vai muito além de um simples
sinal distintivo que tem como característica a diferenciação dos demais produtos de uma
mesma categoria. Semprini nos fala que muito além de uma marca moderna que era
mais ligada a produção, ao consumo de produtos, a marca pós-moderna, como o autor
chama, tem uma ligação forte com “um projeto de sentido, estabelecer uma relação e
um contrato fundados sobre uma cumplicidade compartilhada” (2010, p.20). É nessa
perspectiva que trabalhamos hoje com a marca, um aspecto mais relacional entre a
marca e os seus possíveis consumidores. Uma marca que ainda não consegue atribuir
simbologias, valores intangíveis ao seu espoco marcário ainda está em um universo
moderno e não se atentou ao fato de que a marca possui “uma capacidade de gerar
mundos possíveis. Um mundo possível é uma construção de sentido altamente
organizado, no qual confluem elementos narrativos, fragmentos de imaginários” (idem,
p.21).
Essa construção de mundos possíveis se acresce a uma narrativa mais ligada ao
emocional, em diferenciação com o racional. Esses dois termos “racional” e
“emocional” são importantes para se definir o tipo de abordagem que se quer apresentar
diante do consumidor. Diante desses dois pólos, a marca pretende, em seu discurso,
adequar à melhor utilização, quer seja um olhar mais centralizado nos tributos do
produto, na sua funcionalidade, quer seja em despertar sentimentos que, junto com o
produto, o consumidor tenha uma experiência hedonística.
1278
Zozzoli (2002) vem acrescentar mais conceitos sobre a marca. Para o estudioso a
marca além de distintiva ela já vem carregada de símbolos que se revelam dentro de
uma cultura, para o autor:
A marca é um símbolo fonetizável, classificatório e distintivo que tem o
poder de codificar, para uma determinada cultura, um tipo de atividade
econômica e seu produto. Ela funciona como um monopólio que passa para
o imaginário coletivo. Porém a marca não é uma imagem em si. Ela não
funciona aplicada ao objeto. Ela apropria-se de atributos, representantes que
não precisam ser imutáveis. Com efeito, por ter o monopólio de sua imagem,
ela é soberana. Não precisa ser democrática. Sua força de significação não
depende a priori do número de clientes, todavia seu poder econômico,
consequentemente poder de acesso aos MCM e à grande distribuição, será
reduzido, caso seu alcance em termos de consumo e notoriedade for fraco
(ZOZZOLI, 2002, p. 293).
Em outra perspectiva de conceituação, Perez (2004) em sua definição de marca
nos fala que, além do traço distintivo que lhe é característico, a marca revela o lado
simbólico, emocional. A marca não é só um produto, ela é uma aspiração prazerosa,
hedonística. O seu conceito de marca de Perez está pautado na semiótica peirceana que
diz o seguinte “a marca é uma conexão simbólica e afetiva estabelecida entre uma
organização, sua oferta material, intangível e aspiracional e as pessoas para as quais se
destina” (2004, p.10). É nessa conexão simbólica que a marca atribui seu valor, sua
cultura, sua identidade e que é percebida pelo seu público como uma maneira de se
apropriar também dos mesmos atributos oferecidos pela marca através do uso, seja ele
material ou não.
Ainda sobre o poder que a marca exerce sobre a sociedade, Fontenelle (2002)
nos fala que a marca “cria uma totalidade ilusória que é um refúgio numa cultura que se
tornou descartável. Ela dá significados ao que se vive. É um guia para a performance
porque é legitimada socialmente, ou seja, nas condições sociais contemporâneas, ela é
um padrão de sucesso” (2002, p. 302). O autor esclarece que a marca se tornou uma
espécie de guia para a nossa sociedade, que se tornou tão efêmera, tão volátil e que os
valores são tão frágeis, e que só a marca dita uma direção a ser tomada, a marca
simboliza um modo de se viver, ela é que dá o mote para a transformação de estado,
pois “a marca representa a possibilidade de os produtos, mesmo que fugazmente, serem
apreciados, reconhecidos e ocuparem na memória do consumidor um lugar um pouco
mais seguro” (PEREZ, 2004, p.3).
Diante de inúmeras marcas no mercado, os produtos precisam se destacar
perante os demais, chamar atenção para seus atributos tangíveis e principalmente para
os de cunho psicológico, o que leva ao consumidor usufruir de conteúdos hedonísticos
1279
mostrados pela publicidade. Perez (2004) nos explicita que quando há a denominação
de um signo como marca, esse signo vincula toda uma ideia de distintividade,
identidade, autoria e propriedade que só a marca como possuidora desses atributos pode
gerir mudanças para se adaptar tanto nos aspectos concretos quanto nos conceituais.
Ainda de posse da argumentação de Perez, uma marca é
Ao mesmo tempo uma identidade física e perceptual. O aspecto físico de
uma marca, que pode ser encontrado na prateleira do supermercado ou de
qualquer outro ponto-de-venda, diz respeito ao produto propriamente dito,
sua embalagem e rotulagem. É geralmente estático e finito. Entretanto, o
aspecto perceptual de uma marca existe no espaço psicológico – na mente do
consumidor. É, portanto, dinâmico e maleável” ( PEREZ, 2004, p.11).
É nesse aspecto perceptual que repousa toda uma significação para o
consumidor e, como própria a autora diz, esses atributos são modificados à medida que
o produto é pensado para certo público. Essa dinamicidade é muito comum em marcas
que querem aumentar seu poder de penetração na sociedade, mudando o foco de suas
campanhas, agregando valores condizentes com o público almejado. Toda essa
mudança sígnica sempre vem acompanhada de esforços comunicacionais para tentar
evoluir os conceitos marcários nos produtos/serviços.
Aaker (1996) nos explica que “um elemento fundamental para o
desenvolvimento bem-sucedido de marcas é compreender como se desenvolve uma
identidade da marca – saber o que a marca quer representa e expressar eficientemente
essa identidade” (1996, p. 46). Essa representação marcária fica bastante evidente
quando se quer ressignificar os atributos de uma marca, ou seja, quando se quer
transformar os aspectos perceptuais de uma marca, o que a tornou conhecida, evoluir
com os conceitos simbólicos, desenvolver novas associações prazerosas com a marca
através do produto adquirido, modernizando-a mas sem esquecer as primeiras
associações positivas entre a marca e o consumidor. “O passado não deve ditar o futuro
de uma maneira limitada. Mas se evoluir em todos os sentidos, a marca perde o sentido
e esvazia-se de conteúdo” (KAPFERER, 1994, p.16).
Aqui, faremos uma distinção entre marca e produto, pois como nos afirma
Kapferer (1994) produto é aquilo que a empresa fabrica, a marca é aquilo que o cliente
compra e ele completa seu pensamento nos confirmando que
A marca identifica o produto, revela a sua identidade, ou seja, as facetas da
sua diferença: valor de utilização, valor de prazer, valor de reflexo do
próprio comprador. Numa palavra, num símbolo, concentram-se uma ideia,
uma frase, longa enumeração de atributos, valores e princípios injetados no
produto ou no serviço. A marca encapsula a identidade, a origem, a
1280
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1283
Considerações finais
Vimos nesse artigo a importância de estabelecer vínculos de sentido entre a
marca e seu público para que esses criem uma lógica de conexão entre o que é
apresentado em forma de mundos possíveis e não só uma aquisição de produtos sem
uma importância relacional e simbólica.
1284
REFERÊNCIAS
AAKER, David A. Criando e administrando marcas de sucesso. São Paulo: Futura, 1996.
HOLT, Douglas B. Como as marcas se tornam ícones. São Paulo: Cultrix, 2005
SEMPRINI. Andrea. A marca pós-moderna. São Paulo: Estação das letras e cores, 2010
1285
RESUMO
Um dos fenômenos publicitários deste começo de século é a popularização de um tipo
de mensagem até então considerada alternativa. O objetivo deste trabalho é explicar
como tal fenômeno está profundamente relacionado a um contexto que também passa
por profundas alterações sociais e comunicacionais. Para isso empreendeu-se uma
revisão das principais questões que determinaram o modelo de publicidade tradicional,
para logo em seguida relacionar as questões contemporâneas, que dão sentido, hoje, à
quebra das ‘regras’. Ao final, percebe-se que os formatos alternativos representam,
como afirma metaforicamente Himpe (2007), não a morte da publicidade, mas uma
outra vida, mais preparada para os desafios contemporâneos.
Trabalho apresentado no Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em
664
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como se o homem, ao entrar em contato com ela, não tivesse chance de resistir,
conforme pode observar-se na afirmação a seguir:
“(...) as organizações industriais não mais obrigam crianças de oito anos a
tomarem conta de máquinas durante quatorze horas por dia; emprenharam-se
em programas refinados: fazem publicar grandes e impressionantes anúncios
nos jornais do país(…). O poder econômico parece ter reduzido a exploração
direta, voltando- se para um padrão mais refinado de exploração psicológica,
pela propaganda, nos meios de comunicação de massa.” (LAZRSFELD,
1948, apud COHN, 1975, p. 211- 212)
Não nos interessa aqui emitir juízo de valor sobre essas colocações, porém, elas
servem como referência para o ganho de importância conquistado pela propaganda no
período. Se por um lado os inquisidores da publicidade condenavam-na por todos os
males sociais, por outro, um grupo de pessoas aproveitava-se de sua recente valorização,
para torná-la ainda mais eficiente, organizando o negócio em fórmulas e regras.
O negócio de propaganda, então, se estabelece sobre a tríade: anunciante,
agência e meio. Entre as regras institucionalizadas pelo mercado publicitário, uma das
mais significativas e respeitadas foi o sistema de remuneração proporcional aos gastos
de veiculação dos clientes. Esse sistema de remuneração criou a ‘linha’ no negócio
publicitário. (CAPPO, 2003)
A ‘linha’ foi uma metáfora utilizada para separar os formatos de mensagens
publicitárias desempenhados pelas agências, daquelas formas de comunicação que as
agências não tinham interesse em atuar: ‘Above the line’ (acima da linha), anúncios de
jornal, comerciais de televisão, spots de rádio e alguns cartazes para mídia outdoor,
regulamentados em espaços predefinidos. ‘Below the line’ (abaixo da linha), as práticas
de comunicação que, pelas razões já explicitadas (não se encaixarem no sistema de
remuneração vigente), não interessavam aos publicitários como promoções de venda,
marketing direto, relações públicas, design, embalagens, organização de feiras,
exposições e patrocínios, entre outras. Assim, qualquer ação que não se enquadrasse nas
definidas como ‘acima da linha’ não eram consideradas publicidade, mas recursos
extremos decorrentes da falta de verba para anunciar e/ou amadorismo publicitário.
De acordo com Cappo (2003), as pessoas, até os anos 80, assistiam aos
comerciais com o mesmo interesse que concediam à programação normal. Ao mesmo
tempo, Coelho Netto (1995), explica que os indivíduos modernos confiavam muito no
conteúdo da TV, o mostrado e dito nos meios de comunicação de massa era ‘o’ real, e
não uma representação. A publicidade atingiu seus tempos áureos, em grande parte,
aproveitando-se desta fascinação provocada pelos meios de massa.
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contemporâneos, estão cada vez mais difíceis de serem resumidas em apenas um slogan.
São como enigmas ou narrativas, parecem propor um decodificação difícil, e não
possuem todos os sentidos intencionalmente arranjados para uma significação rápida e
objetiva. Pelo contrário, “elas são entidades vivas que fazem sentido somente para
aqueles que totalmente se engajam nelas, e cuja essência é difícil transmitir aos que não
estão envolvidos”. Não se segue mais um padrão, em que existia recomendações de
frequências de veiculação, já que será o próprio público que as reproduzirão. Elas
podem ser muito distintas, seja uma campanha inteira em um único anúncio, seja uma
relação de longo período. De acordo com o autor, as campanhas que obtêm sucesso hoje
são aquelas que conseguem: propor alguma espécie de jogo; ligam-se ao contexto do
público; oferecerem alguma espécie de espetáculo; prestam-se à apropriação e
disseminação pelo próprio público; e são intrigantes.
A evolução fundamental das campanhas contemporâneas, que colocam em
prática essas características, é a troca de campanhas curtas, com data para começar e
terminar, por campanhas estruturais de longo período, que desejam mais uma relação de
diálogo com o público e não apenas que público adote uma ação específica. Isso é uma
novidade para o negócio de publicidade. No modelos tradicional, a publicidade atendia
ao pedido dos anunciantes, prometendo respostas rápidas em suas campanhas,
privilegiando-se de um contexto midiático e de um perfil de público que não mais existe.
O diálogo entre marcas e consumidores sempre existiu, porém a publicidade nunca foi
capaz de manter esse diálogo: ele entrava em cena, falava a mensagem da marca e as
respostas eram ouvidas pelos anunciantes, na maioria dos casos apenas no número de
vendas. O negócio publicitário, em seu formato tradicional, parece não dar conta da
construção de uma conversa, acostumado que estava a uma resposta rápida ao seu
monólogo. A publicidade tradicional possuía um ritmo que constava de um movimento
intenso, logo seguido por um silêncio. As marcas precisam hoje é de um relacionamento
que seja mantido, pois o público se interessa em fazê-lo, tornado-se o eco da mensagem
publicitária. Para isso estão sendo empregadas os formatos alternativos.
REFERÊNCIAS
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RESUMO
A globalização implica em consequências sociais, econômicas e políticas e seu
desenvolvimento expõe diferenças entre pessoas, governos e organizações. Essas
pessoas tornaram-se consumidoras dos mesmos produtos, estandartizados pela abertura
dos mercados às organizações. Nesse movimento empresas brasileiras que se
internacionalizaram enfrentam desafios nos processos administrativos e de comunicação
publicitária e as operações em outros países não dependem exclusivamente da
competência administrativa, mas também da habilidade de lidar com a gestão da
comunicação transcultural. O artigo apresenta a proposta de um Projeto de Pesquisa
desenvolvido na Universidade Estadual de Londrina que propõe estudar e oferecer
informações nesse sentido. O Banco de Dados tem como objetivo proporcionar uma
realidade online com informações precisas sobre a conjuntura da comunicação
internacional das empresas brasileiras atuantes no exterior. Como enfrentam o desafio
da diversidade cultural em suas operações, dados precisos da atuação dos seus pares
podem auxiliar na gestão estratégica. Parte-se do paradigma de que a comunicação
cultural deve ser ajustada e que respeite os valores culturais do país que se está
prospectando. Como produto final é esperado o aumento da competitividade das
organizações por intermédio da melhoria dos seus discursos mercadológicos que
envolvam a questão cultural para com os mercados consumidores.
Introdução
A principal tarefa do marketing internacional no terceiro milênio situa-se no
campo da promoção e para este quesito compreender os valores culturais é de máxima
importância na análise do novo cenário que se universaliza. Por sua vez, as
organizações brasileiras estão se internacionalizando – mesmo que tardiamente – e
saber efetuar a interpretação dos mercados é relevante para a compreensão das
peculiaridades culturais do comércio exterior a enfrentar.
A empresa com atuação internacional deve se basear na lógica da cultura – os
códigos locais – dos diferentes países em que atua. A cultura de um país ou de uma
região é mais influente do que a cultura da empresa, e negar esse fator é ignorar que, por
suas tradições e práticas consolidadas, uma cultura não se modifica com a rapidez e a
intensidade desejável para uma empresa. Ocorrerá, portanto, uma ascendência cultural –
1300
que deve ser reconhecida e aceita – do país sobre os valores da organização. Ou seja,
uma mesma cultura organizacional tende a produzir diversas “leituras” das estratégias
em um país, adaptadas com a cultura local.
As grandes mudanças do final do século XX marcaram a história recente das
práticas comerciais. O mundo unificado se transformou em um único e acessível
mercado para as corporações. A dita “globalização”, nada mais é do que um “mercado
global”. Essa globalização provocou “encantamento” na população, que passou a
vislumbrar a possibilidade de ter acesso a tudo, em todos os lugares e com todos ao
mesmo tempo.
O consumidor – que deseja ser integrado ao novo ambiente – não é o mesmo ao
redor do mundo, pois existem profundas diferenças em seu comportamento, que
aumentam na mesma forma que as riquezas dos países. Com a ampliação das posses, os
valores culturais também são alterados e refletidos nos hábitos de consumo.
Por essa razão, a globalização gera uma integração midiática, na proporção que
acontecem as aquisições e fusões pelos conglomerados organizacionais, que se
expandem em escala global. Assim, tanto as informações como os bens de consumo e
serviços entre os diferentes países e culturas, tornam-se mercadorias de troca servindo
aos interesses comerciais, mas também ideológicos.
A comunicação transcultural aborda as principais teorias das áreas da
Antropologia, da Sociologia, da Comunicação e da Psicologia e se baseia nas premissas
das diferenças de valores entre culturas. Os principais estudiosos no assunto são Edward
T. Hall, Geert Hofstede, Fons Trompenaars, Shalom Schwartz e Clifford Geertz, entre
outros.
Geert Hofstede (2010) contribui com fundamentação para o entendimento das
culturas com o estudo denominado “As dimensões de Hofstede”, que aborda, do ponto
de vista organizacional, cinco categorias de análise intercultural. Para o autor, cultura é
"a programação coletiva da mente capaz de diferenciar os membros de um grupo ou
categoria de pessoas". Nesse caso, "categoria" pode se referir a nações, regiões, etnias,
religiões, profissões, organizações ou mesmo os sexos.
Grosso modo, partindo de conceitos sociológicos, cultura pode ser entendida
como as regras tácitas de um jogo social. Cultura então pode ser transmitida e explicada
partindo de três fundamentos: a) os valores – aquilo que na vida é considerado
importante; b) as normas – que consistem em expectativas de como as pessoas devem se
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RESUMO:
O presente artigo investiga o uso da cor em elementos visuais de identidade das marcas
mais valiosas do Brasil no ano de 2015, segundo o ranking BrandZ670 (MB Global), com
o objetivo de verificar se uma cor ou combinação de cores, além de identificar a marca e
distingui-la de suas concorrentes (função principal de marketing) pode também ser um
elemento designativo de valores afetivos associáveis a ela (função simbólica de branding)
e se o universo cromático da marca pode ir além das cores-padrão previstas em seus
manuais de identidade, sobretudo como efeito do uso criativo da marca em diversos
manifestos midiáticos e de intervenção urbana. Como estudo exploratório, o artigo
evidencia o uso estratégico das cores no design de marcas brasileiras.
Introdução
O domínio do design de marca se estende do branding ao marketing, da gestão
estratégica ao consumo, da inovação tecnológica à manutenção de valores comunicados e
aceitos.
Do ponto de vista do branding, o design de marca é mais que um nome e uma
expressão visual: como uma forma e, ao mesmo tempo, um processo de criação
concretizado em uma forma, ele inclui a concepção e a materialidade da oferta como um
pacote integrado de signos identificadores da marca que atuam junto a públicos
667
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
668
Doutoranda bolsista CAPES em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, mestre e bacharel em
Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP, especialista em Gestão de Projetos Culturais pelo Celacc
(ECAUSP).
E-mail: flavia_gonsales@usp.br
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Livre-docente em Ciências da Comunicação pela ECA USP onde atua como docente e
pesquisadora desde 1981, no curso de Comunicação Social, habilitação Propaganda e Publicidade. Lidera
o GEIC, Grupo de Estudos da Imagem em Comunicação, e integra a Comissão de Estudo Especial da
ABNT-CEE168 para Símbolos Gráficos. E-mail: smrdsouz@usp.br
670
Ranking executado com marcas brasileiras de empresas de capital aberto com lucro positivo,
há nove anos, considerando a percepção do consumidor (em mais de 14 mil entrevistas para avaliar 260) e
informações financeiras e avaliações de mercado. Disponível em < http://www.millwardbrown.com/mb-
global/brand-strategy/brand-equity/brandz>. Acesso em: 20 abr. 2015.
1315
domínio do consumo, sempre adere a uma superfície visível da oferta mercadológica para
se manifestar e, dessa forma - cor associada a um formato - expressar qualidades intangíveis
do bem marcado; projetar personalidade à marca e configurar um papel social aos
engajamentos estabelecidos com consumidores e prospects.
A cor como elemento de identidade de marca ultrapassa os limites da simples (e
necessária) identificação para assumir funções estratégicas mais complexas como, por
exemplo, construir isomorfia em discursos intermidiáticos e evocar, por meio da
presença em variadas mídias, associações afetivas constantes e representativas, tal como
se o bem marcado estivesse presente nesses mesmos espaços de convivência (real ou
virtual). A cor, ampliando as fronteiras do marketing e assumindo o branding como a
gestão de todo o universo cromático que conecta e impacta simpatizantes da marca,
inclui tanto as cores-padrão de seus signos ou elementos identificadores primários como
toda a gama de matizes e combinações cromáticas que, ao longo de sua existência
tangível e concreta em diversos pontos de contato com pessoas conectadas (em
celulares, tablets, computadores, mídias sociais, eventos e mídias tradicionais), faz
pessoas comuns reconhecerem discursos da marca, diversos e diacrônicos, como sendo
emitidos por uma mesma fonte: a sua marca de coração.
O presente artigo destaca a cor como elemento de design de marca e tem como
objetivos responder a duas questões principais: a cor, mesmo não sendo um signo
primário de identificação, pode ser intencionalmente administrada como elemento
designativo do universo semântico de uma marca em seus diversos e quase infinitos
pontos de contato com consumidores e prospects? Se sim, a marca pode utilizar outras
cores que não as de seus signos identificadores primários para se manifestar
publicamente?
Para responder a essas questões, procedemos a uma revisão da literatura
acadêmica e de especialistas do mercado sobre identidade marcária - como os trabalhos
de Gobé, Kapferer, Lencastre, Lindstrom, Perez entre outros - e observamos as
manifestações marcárias das 50 marcas brasileiras mais valiosas de 2015, segundo o
ranking BrandZ realizado pela consultoria internacional Millward Brown Vermeer.
O objeto de estudo deste artigo são as manifestações marcárias denominadas de
elementos de marca (KELLER & MACHADO, 2006, p.91), elementos de identidade e
expressividade marcária (PEREZ, 2004, p.47), fontes de identidade ou DNA da marca
(KAPFERER, 2012, p.164) ou signos identificadores (CHAVES; BELLUCCIA, 2003,
p.15), cujas funções são identificar, diferenciar, personificar, comunicar e simbolizar a
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Figura 1: Logotipos das marcas mais valiosas do Brasil em 2015, pelo ranking BrandZ
Para Olins (1990, p.75), um estilo visual forte e distintivo é a mais clara e poderosa
maneira para uma empresa demostrar o quanto ela é única, e para Joan Costa, uma marca
necessita ser vista, ter uma manifestação visível e permanente no espaço e no tempo para
ser percebida, uma vez que “o homem é um animal ótico”, cuja percepção de mundo e
conhecimento se dá predominantemente no visual (COSTA, 2011, p. 25).
1319
1320
para identificar Coca-Cola, Avis, Marlboro, o Partido Comunista, Peru, Canadá, ou pelos
diabos vermelhos do clube Independiente de Avellaneda . 672
Em concordância, Heller (2008, p. 18) afirma que o efeito de cada cor depende do
contexto em que é aplicada, e por isso os sentimentos que desperta – positivos ou negativos
– variam conforme esse contexto. Também defendendo capacidade flexível das cores em
carregar significados, Ries e Ries (2000, p. 97) definiram “A Lei das Cores”, pela qual
aconselham à marca que não seja pioneira em seu segmento escolher, como cor
identificadora, uma cor antagônica à de seus principais concorrentes. Para os autores, é mais
importante criar uma identidade cromática distinta do que escolher uma cor simbolicamente
“mais adequada” (ou seja, próxima aos tais significados preestabelecidos, da qual a marca
pioneira do mercado se apropriou anteriormente).
A seguir, os elementos do mix de identidade de marca - nome, logotipo,
embalagem e mascote - serão descritos quanto às suas características gerais e,
especificamente, sobre suas cores segundo literatura conceituada, que posteriormente será
confrontada com as práticas executadas pelas marcas do corpus em questão.
672
O Club Atlético Independiente é um clube de futebol da Argentina, cuja sede se localiza na
cidade de Avellaneda, na Grande Buenos Aires.
1321
A cor e o logotipo
Originalmente (e para os puristas), o termo logotipo refere-se aos signos visuais
tipográficos de marca, enquanto o termo símbolo designa o elemento icônico, nem sempre
obrigatório em identificação marcária. Porém, na prática do mercado, o termo logotipo é
utilizado tanto em referência às assinaturas visuais exclusivamente tipográficas, como
para assinaturas que possuem o elemento simbólico, conforme explicam Lencastre e
Côrte-Real (2010, p.7) - e é desse modo amplo que o termo é utilizado neste artigo:
referente à identificação visual básica da marca, seja ela tipográfica ou simbólica/icônica.
Os principais componentes no design de um logotipo são a tipografia, o desenho
de formas e o sistema cromático, que podem variar em tom (matiz, claridade, saturação),
formas, texturas, proporções e disposições (CÔRTE-REAL; LENCASTRE, 2012,;
O’CONNOR, 2011, p.55).
A importância do logotipo como manifestação da identidade de marca, graças à
sua capacidade de síntese visual e simbólica, é unanime na literatura. Ele é considerado
o “elemento básico para uma identidade visual consistente” (ALLEN; SIMMONS,
2004, p. 118) e “o mais importante ativo visual de uma companhia, assim como o
catalizador para os bons e maus sentimentos” (GOBÉ, 2009, p. 126),“a revelação
profunda de todos os significados associados à marca [...] ao mesmo tempo um farol, uma
promessa e um cometa” (GOBÉ, 2010, p. 128).
A cor é um elemento chave na criação de um logotipo único, capaz de diferenciar
a marca no ambiente competitivo. Geralmente, as cores do logotipo são as que permeiam
todos pontos de contato visuais, como papelaria básica, embalagem, lojas físicas,
propaganda, webpages e redes sociais, etc., relacionando-os com a marca a qual
pertencem - e para isso, a consistência na reprodução das cores é fundamental. Porém, ao
se observar os logotipos das marcas do corpus (ver Figura 1), é possível verificar que o
elemento cromático pode ir além, pode “extrapolar” as cores identificadoras ali presentes.
O principal exemplo deste argumento é a marca Itaú (ver Figura 2), que utiliza o laranja
1322
desde a década de 1980, inicialmente como cor de apoio - quando o logotipo era preto e
branco - e atualmente como cor identificadora de destaque nas manifestações visuais
urbanas e midiáticas da marca, uma vez que é aplicada com profusão na vasta miríade de
materiais de comunicação do banco.
Figura 2: o laranja permeia a miríade de pontos de contato do Itaú – agência, bicicletas para aluguel,
website, cartão, propaganda impressa, backdrop para fotos (em ativação de patrocínio)
Fonte: busca no Google imagem pelo termo Itaú e site da marca <www.itau.com.br>. Acesso em: 20 maio 2015.
Outras duas marcas do corpus também possuem uma cor forte e proeminente em
seus pontos de contato, que não está presente no logotipo institucional: no caso da marca
Buscapé (site de comparação de preços, produtos e serviços), o amarelo alaranjado é
aplicado em barras de navegação, detalhes gráficos informativos, em efeitos decorativos
e, principalmente, ao fundo do logotipo (ver Figura 3); no caso da Sadia, o amarelo forte é
o grande diferenciador das embalagens nos pontos de venda e sempre presente como cor
de fundo nos muitos materiais promocionais da marca, embora a cor de identificação do
seu logotipo seja o vermelho (ver Figura 4).
Figura 3: interfaces das plataformas digitais da marca Buscapé - Twitter, Facebook e site
proprietário, além das versões mobile (para celulares e tablets)
1323
Fonte: busca no Google Imagem, com os termos Sadia/ embalagens /supermercado, realizada em: 20 abr. 2015.
Figura 5: cores do logotipo Vivo (o vermelho não é usado por ser a cor da concorrente Claro)
A cor e a embalagem
A embalagem é amplamente estudada e discutida graças ao alto nível de
envolvimento dos consumidores quando buscam, escolhem e decidem o que comprar em
pontos de venda . 673
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Em textos acadêmicos em língua inglesa, autores preferem ponto de compra (point of
purchase) em lugar de ponto de venda ou PDV.
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Fonte: latinhas da Ambev do site do Pão de Açúcar (www.paodeacucar.com.br). Latinha Itaipava, reportagem do UOL (2015).
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Termo jurídico, traduzido comumente como “imagem-conjunto”, que se refere às
características visuais de um produto ou da embalagem, que identificam ou são fontes de significado da
marca para os consumidores. É considerada propriedade intelectual e frequentemente é alvo de processos
legais contra a sua imitação (indevida).
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A cor e a mascote
Segundo Perez (2011, p. 41), o termo mascote tem origem na língua provençal
(mascoto, pequeno masco), com o significado de sortilégio, sedução, atração e magia.
Assim, uma mascote pode ser definida como a figura de uma pessoa, animal ou objeto
considerada capaz de proporcionar sorte e felicidade (amuleto da sorte). Como elemento
de manifestação da identidade marcária, a mascote é um elemento expressivo capaz de
identificar e diferenciar a marca, sem a necessidade de qualquer outra referência.
Kapferer (2012, p.168) afirma que os emblemas de marca com animais ou
personagens têm as funções de ajudar a identificar e tornar reconhecível a marca,
principalmente por crianças; garantir e fornecer durabilidade à marca (emblemas tendem
a ser signos permanentes) e ajudar a diferenciar e personalizar, transferindo personalidade
para a marca e, assim, aumentando seu valor percebido. Em consonância, Keller e
Machado (2006, p.108) destacam a capacidade das mascotes em comunicarem atributos e
criarem notoriedade de marca, já que, graças à sua riqueza imagética, chamam a atenção e
podem provocar sentimentos positivos nos consumidores – que provavelmente irão ser
transferidos em relação à marca em questão.
Côrte-Real e Lencastre (2012, p.62) explicam que a criação de uma mascote confere
às marcas a capacidade de sentirem, agirem, pensarem, ou seja, de serem percebidas como
entidades vivas, da mesma forma que Perez (2011, p.61-62) defende a utilização de
mascotes para humanizar a marca por meio de personagens com vida própria, com
expressão de sentimentos e que participam do cotidiano dos humanos. Assim, as mascotes
favorecem o estabelecimento de uma conexão afetiva entre a marca e seus públicos, agindo
como mediadores entre a realidade física marcária e a realidade emocional dos indivíduos.
1326
Das 50 marcas do corpus, apenas cinco delas possuem uma mascote entre seus
elementos de identidade (ver Figura 7): Sadia, Casas Bahia, Vivo, Magazine Luiza e
TodoDia.
Não há um padrão reconhecível no uso de um sistema cromático em mascotes: ou
elas adotam as cores predominantes dos logotipos (Vivo e Magazine Luiza), ou utilizam
as cores nacionais (verde-amarelo) para conotar brasilidade (Casas Bahia, TodoDia e
Sadia), um recurso persuasivo de aproximação com consumidores dispersos entre várias
regiões do país e entre várias classes sociais.
Figura 6: as mascotes das marcas Sadia (franguinho), Casas Bahia (Bahianinho), Vivo, Magazine
Luiza (Lu) e TodoDia (Dora)
Considerações finais
Diferentemente da época de Henry Ford, em que o automóvel modelo T poderia
ser comercializado “em qualquer cor, contanto que fosse preta”, a cor permeia os
principais elementos visuais de identidade de marca. No entanto, as cores sozinhas,
independentemente de outros substratos da marca, não têm a capacidade de rubricar uma
instituição, serviço ou produto, pois muitas marcas diferentes adotam cores semelhantes
em seus elementos identitários (ver Figura 1). As cores só conseguem significar
determinados valores marcários quando associadas a ela por um uso contínuo e
sistemático (dimensão pragmática, que justifica a existência de manuais de marca, brand
books e outros recursos similares de programação visual ou branding). Por outro lado, o
dinamismo com que o marketing de empresas e de produtos inventa novos pontos de
contato com consumidores reais e potenciais, as marcas já não se limitam a uma ou mais
cores-padrão. A gestão atual de marcas, em tempos de pós-modernidade, prefere
administrar um universo cromático, flexível e adaptável a diversos substratos, em vez da
programação de umas poucas cores fixas.
Além de mera identificação e associação, a cor pode ser usada para criar
experiências. O olho humano consegue distinguir 10 mil matizes. Três
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1328
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RESUMO
Diante das dimensões alcançadas pela internet e comércio virtual e pelas transformações
no comportamento do consumidor, a gestão de marketing e comunicação têm
pesquisado formas de obter, nos canais virtuais, a mesma eficiência e eficácia das ações
off-line. Um planejamento adequado às particularidades do ambiente online se torna
obrigatório. Este artigo apresenta um modelo de planejamento de comunicação
integrada de marketing desenvolvido a partir das necessidades deste ambiente.
675
Trabalho apresentado no IV Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
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Doutor. Professor da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de
Goiás. Email: eliseumachadojr@hotmail.com
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Graduado. Pesquisador da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal
de Goiás. Email: gabrielbontempo@gmail.com
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Doutoranda. Professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal
de Goiás. Email: roriz.marina@gmail.com
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Números a parte, o comércio eletrônico tem uma dinâmica própria, que atende a
um perfil de consumidor nem sempre próximo daquele presente no comércio off-line.
“A evolução até o Neoconsumidor é a evolução e o
amadurecimento dos consumidores de um só canal, por ausência
de alternativas e atendidos de forma limitada e sem muitas
opções de escolha, até o consumidor multicanal, loja, não loja e
em ambiente digital, com opções quase ilimitadas de escolha e
comparação no cenário global” (SOUZA, 2009, p.31).
Nesse modo mais prático e ativo do consumidor, o e-commerce se destaca e se
desenvolve, de modo a tornar a vida da pessoa mais fácil e conveniente. E é essa
liberdade que se faz tão necessária, que permite que haja a possibilidade de escolha
entre comprar pela TV ou na loja física, fazer compras no supermercado ou no site,
entre outras infinitas maneiras. “O comércio tradicional não acabou, e provavelmente
nunca acabará enquanto o modelo capitalista for vigente, mas é inegável que o e-
commerce conquistou um espaço significativo” (OLIVEIRA; TOALDO, 2012, p. 2).
Mas quem é o e-consumidor? Desde que o comércio eletrônico começou a ter
expressão no Brasil, centenas de gerentes, diretores, administradores, comunicadores e
estudiosos da área começaram a fazer essa pergunta, de modo a tentar traçar o perfil
do consumidor contemporâneo. A pessoa que compra pela Internet é a mesma que
compra na loja? Quais características que ela espera na loja virtual? Suas preferências,
faixa etária e quanto gastam em média?
Visando esses e outros questionamentos, em 2010 o Ibope Media realizou o
TG.net, uma pesquisa com 2.500 brasileiros que compram online. Dados do estudo
revelaram, que 61% pertencem às classes A e B, que possuem alto nível de
escolaridade, têm preferência por produtos de uso pessoal e gastam cerca de R$118,00
por mês. A classe C aparece, na pesquisa, em segundo lugar (35%) e as classes D e E
em último, com 4% de representação (TURCHI, 2012).
Além esses dados de 2010, o E-Bit (2013) desenvolveu o Webshoppers, um
estudo semestral, mercadológico, do consumo digital dos brasileiros. Analisando o
perfil do consumidor virtual com base nesse relatório, chega-se à conclusão de que
homens e mulheres estão praticamente empatados, com pequena maioria para o sexo
feminino: 50,1% X 49,9% masculino. No entanto, no que se trata dos novos entrantes
no setor, a diferença é maior: 55% de mulheres X 45% de homens. Uma diferença
curiosa está relacionada à escolaridade. Dos novos entrantes, a maioria está cursando o
Ensino Fundamental ou Médio, com 46%, enquanto 42% estão cursando ou já
1332
concluíram o Ensino Superior e apenas 12% são pós-graduados. No que diz respeito à
renda, o setor continua fortemente abastecido pela constante entrada de novos usuários
da Classe C. Do total de e-consumidores, 37% pertencem à classe C. No entanto, o
número que mais se destaca é o dos novos entrantes. No primeiro semestre de 2013,
58,62% das pessoas que fizeram sua primeira compra online até hoje, possuíam renda
familiar entre R$ 1.000,00 e R$ 3.000,00, faixa pertencente à Classe C (E-BIT, 2013),
revelando um expressivo crescimento desta faixa nos negócios virtuais.
1333
Basicamente, o mix de marketing pode ser definido como uma combinação dos
elementos que compõem o planejamento e a atividade de marketing. Esse conceito
está alicerçado nos estudos de Neil Borden (MCCARTHY; PERREAULT, 1997), que
usou esse termo pela primeira vez em 1949. A partir desta data então, o conceito do
Mix de Marketing679 (ou Composto de Marketing) virou referência em diversos países
e estudos, se tornando então a base para a teoria do marketing estratégico.
E como o marketing virtual absorve os quatro pês? O e-marketing, segundo
Pucinelli e Giuliani (2003), é o marketing planejado e executado especialmente para o
e-commerce, funcionando a partir da aplicação dos 8P’s do marketing digital. A
Figura 2, a seguir, mostra os oito P’s do marketing digital.
679 Segundo Faria (2007) o mix de marketing é composto por: Produto – que em Marketing significa mais do que um
produto que traz a ideia de um item tangível. O conceito é ampliado para bens, serviços ou ideias. O produto é algo
que pode ser oferecido a um mercado para sua apreciação, aquisição, uso ou consumo para satisfazer um desejo ou
necessidade. Souza (2002, p. 3) destaca que o valor de um produto “está na capacidade que ele tem de ajudar a
satisfazer as necessidades do usuário. As pessoas não pensam somente em um produto, e sim na satisfação que ele
oferece”. Refere-se ao "o que" está sendo oferecido ao cliente, podendo ser desde um bem físico, como, por exemplo,
um televisor, como algo intangível, como, por exemplo, uma consulta médica. Na visão de McCarthy e Perreault
(1997), o P de Produto está relacionado ao desenvolvimento do produto certo para o mercado consumidor escolhido
pela empresa. Para isto, são necessárias decisões relativas à seleção de produtos ou linha de produtos, construção da
marca, embalagem, design do produto, tamanho, serviços e garantias. Preço - Refere-se ao desembolso financeiro,
mais os custos não financeiros, envolvidos na aquisição ou obtenção do produto, decisivas para o alcance dos
resultados econômicos e financeiros, para o posicionamento estratégico competitivo da empresa, para a obtenção de
objetivos relacionados ao volume de vendas e ao prestígio (BOONE; KURTZ, 2001). Representam mais do que o
retorno dos investimentos feitos no negócio, constituem-se em indispensável ferramenta mercadológica. Las Casas
(2009, p. 218), destaca que na área de marketing os preços são administrados e não estão sujeitos somente à lei da
oferta e da procura, “isto significa dizer que os mercadólogos também podem exercer um certo controle na sua
determinação”. Praça - também conhecido como canais de distribuição ou pontos de distribuição, refere-se aos meios
que se utilizam para fazer chegar o produto até ao cliente, envolvendo decisões sobre canais de distribuição,
sortimento, localização de lojas, estoque e transporte de produto. Las Casas (2009, p. 245) comenta que um bom
produto e um preço adequado não são suficientes para assegurar vendas, “é necessária também a existência de uma
forma eficiente de conduzir os produtos em locais que lhe sejam acessíveis e convenientes, além de disponíveis
quando eles necessitam”. Os profissionais de marketing desenvolvem estratégias de distribuição para assegurar que
seus produtos estejam disponíveis nas quantidades apropriadas nos lugares e momentos certos. A distribuição
envolve toda a atividade que visa a conduzir fisicamente o produto do fabricante até o consumidor final. Souza (2002,
p. 4) explica que “é necessário criar e utilizar os canais de distribuição que definem o caminho que o produto irá
percorrer até o seu destino final”. Promoção - é o elo de comunicação entre vendedores e compradores. As empresas
usam meios diferentes para enviar suas mensagens sobre bens, serviços e ideias (SOUZA, 2002, p. 4). A Na visão de
McCarthy (1960, p. 259), a Promoção engloba qualquer método que comunique para o mercado consumidor o
produto, o preço e o local em que está sendo vendido. Também tem a função de informar e persuadir o consumidor
ao mesmo tempo, ajudando a “posicionar o composto de marketing de uma empresa para atender às necessidades dos
consumidores”. Para Kotler, um plano de promoção, também chamado plano de comunicação de marketing
geralmente está pautado nas seguintes etapas: identificação do público alvo, determinação dos objetivos, elaboração
da comunicação, seleção dos canais de comunicação, estabelecimento do orçamento, decisão sobre o mix de
comunicação, mensuração dos resultados de comunicação, gerenciamento da comunicação integrada de marketing.
1334
Estratégias customizadas
Compra facilitada; Publicidade diferenciada
Customização
Planejamento segmentado
Fidelização do cliente; Crescimento dos internautas
Segmentação
1335
Customização da oferta
1336
1337
1338
1339
1340
lojas que não possuem lojas físicas na cidade, entre outros. Mas o ponto que agrega
todos esses fatores é a comodidade da compra em casa. Compra-se em um site e
recebe-se o produto em casa, sem violações ou extravios, sem filas e sem
deslocamentos desnecessários. Estes são alguns fatores básicos para uma compra pela
internet. O cliente que compra no e-commerce tem consciência que o produto não
chegará ao mesmo dia, mas, no mínimo, espera-se que o produto chegue no prazo
estipulado, e sem avarias. E é nesse ponto que se destaca a ideia de ponto-de-venda
eficiente no e-commerce.
O ‘P’ de preço, no varejo, já trabalha de forma acelerada. No caso do comércio
eletrônico, essa aceleração é potencializada de forma exponencial. A internet
proporciona, em todos os aspectos, uma maior dinamicidade nos processos e com o
varejo eletrônico não poderia ser diferente.
No lugar de ter que consultar margem, alterar preço em todas as lojas do grupo e
comunicar a todos os funcionários e gerentes de lojas, como é no comércio tradicional,
no e-commerce o processo é mais simples e fácil. A ‘fiscalização’ da concorrência está
ao alcance de um clique, o monitoramento dos preços, como tratam os clientes (atitude
potencializada pelas redes sociais), como trabalham as promoções.
Além desse monitoramento, o serviço de promoções no site é mais dinâmico e
rápido do que na loja física. Existem promoções no e-commerce que duram uma
semana, um dia ou até mesmo uma hora, e tudo pode ser modificado, ativado ou
desativado com o toque de um botão.
Em termos de promoção, a comunicação alcançou áreas nunca antes exploradas,
com o advento e popularização da internet, entrando em um novo patamar estratégico.
Maior dinamismo e autonomia são exigidos da relação agência/cliente, sem contar a
necessidade de uma comunicação segmentada e customizada, em várias mídias
diferentes. O FacebookAds, InstagramAds, PromotedTweets, Google Adwords,
programas de afiliados (como Boo-box e Lomadee, por exemplo), além de compra de
espaços em blogs e sites, utilizam tecnologia que dirigem a comunicação a grupos de
usuários que realmente estão interessados no seu produto.
Essa tecnologia, chamada de retargeting ou, na tradução livre, ‘atingir o alvo
novamente’, visa aperfeiçoar os custos dos anúncios digitais, de modo a beneficiar o
anunciante e o veículo. Por exemplo: um banner em um portal de notícias pode ser
ocupado pela empresa x, anunciando um computador, e uma empresa y, anunciando
um estojo de maquiagem. Duas empresas ocupam o mesmo espaço, mas não conflitam
1341
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Definir um modelo de marketing digital que seja aplicado ao e-commerce é algo
que se torna cada dia mais essencial. Esse é um mercado com amplo crescimento no
Brasil e porque não dizer, no mundo, exigindo dos profissionais de comunicação
qualificação e especialização para dominar este nicho.
A proposta de construção desse modelo teve como ponto de partida a
contextualização do mercado virtual no Brasil e, em seguida, a caracterização de um
tipo de consumidor, denominado ‘novo’ consumidor ou neoconsumidor.
O neo consumidor é exigente, utiliza preferencialmente as mídias digitais, é
pragmático e extremamente objetivo no processo de tomada de decisão, fazendo suas
compras, na maioria das vezes, por impulso. Escolhe produtos pessoais e busca
relacionamentos rasos, apenas aprofundando quando diz respeito aos seus interesses
de compra.
A partir deste perfil de consumidor, dos P’s do marketing tradicional e dos oito
P’s do marketing digital, desenhou-se as dimensões desse chamado e-marketing:
customização, segmentação, logística, fidelização e cauda longa.
Quando a integração destes elementos é realizada tem-se um modelo de
planejamento de comunicação de marketing no ambiente digital, que traz consigo
alguns desafios.
1342
REFERÊNCIAS
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2015.
1343
1344
RESUMO
Este artigo propõe uma visão comparativa e evolutiva sobre a comunicação publicitária
das operadoras de telefonia móvel em três países (Angola, Brasil e Portugal), que
representam diferentes estágios de popularização das tecnologias móveis. Com o uso de
um roteiro metodológico que tem como base a semiótica peirceana, analisamos filmes
publicitários dos três países e observamos como a comunicação adapta-se a fim de
construir vínculos de sentido com os consumidores de acordo com o contexto de
mercado e da experiência do usuário. Identificamos também uma evolução destes
significados que pode ser associada à tríade peirceana, com sentidos que partem da
inclusão e encantamento num primeiro momento, passam pelo aprendizado e pela visão
crítica e racional; e chegam numa relação de naturalização e convencionalidade.
Introdução
Este artigo traz reflexões que surgiram durante o desenvolvimento da pesquisa
que realizamos junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da
ECA-USP e que deu origem à tese “Mobilidade, comunicação e consumo: expressões
da telefonia celular em Angola, Brasil e Portugal”, concluída em 2015.
Nela, estudamos a comunicação móvel e seus desdobramentos no sistema
publicitário, marcário e de consumo numa perspectiva comparativa entre três países de
língua portuguesa (Angola, Brasil e Portugal). A escolha destes países se deu, por um
lado, pelos laços históricos compartilhados e simbolizados pela língua portuguesa e por
outro lado, porque entendemos que cada um deles representa estágios distintos na
adoção das tecnologias de comunicação móvel, o que traz diferenças situacionais no
consumo e na comunicação publicitária.
Partimos do princípio de que embora seja a tecnologia que mais rapidamente se
disseminou no planeta (CASTELLS et alli, 2007), o acesso à comunicação móvel
680
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
681
Doutor e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA-
USP. Pesquisador do GESC3 – Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação, Cultura e Consumo.
Professor da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). E-mail: silviosato@yahoo.com.
1345
1346
O primeiro filme que será analisado foi veiculado em Angola, onde o serviço de
telefonia celular foi implantado em 2001. Naquele país, o mercado ainda mostra grande
potencial de penetração, com taxa de crescimento de 6,5% em 2011 (Fonte: Consultoria
Teleco). Com serviços básicos de infraestrutura (saneamento, pavimentação,
eletricidade, dentre outros) deficientes, a telefonia móvel adquire maior relevância, já
que o deslocamento físico é restrito, e a telefonia e a Internet fixas são incipientes.
O filme que selecionamos é da Unitel, marca líder no país, intitulado “Rede livre
- Separados pela rede”, e foi veiculado em julho de 2013 (Figura 1). Trata-se de um
comercial que faz parte de uma campanha maior desenvolvida pela marca, cuja
abordagem é comparativa, ressaltando os diferenciais da Unitel em relação à sua
concorrente, a marca Movicel.
1347
682
Filme disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2eEgF08REf8>. Acesso em
26/01/2015.
1348
caminho ainda na infância e que isto teve consequências ao longo da vida. Um deles foi
mais bem sucedido, mais popular na escola, tem roupas mais adequadas à moda atual, e
casou com a garota mais bonita. Este estilo de vida combina com a operadora
anunciante, que possui o melhor sinal e aparelhos mais sofisticados.
1349
1350
Quatro grandes operadoras (Claro, Oi, TIM e Vivo) dominam o mercado, com
equilíbrio na participação de mercado. O foco atual das marcas é incorporar novos
pacotes convergentes de serviços de telecomunicações (telefonia fixa e móvel, Internet
banda larga fixa e móvel, televisão a cabo e longa distância), a fim de ampliar sua
atuação.
Pra chegar mais longe, pra estar do lado, pra viver melhor, Vivo conectado.
(Vivo, Vivo)
683Filme disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=UwqMTIIwfAs>. Acesso em
26/01/2015.
1351
Agora a Vivo é celular, fixo, Internet e TV. Você tem mais conexões e suas
conexões mais qualidade, pra você viver cada vez melhor.
O que quiser sonhar, o que quiser fazer, Conexão é Vivo, o mundo pra você.
1352
O uso dos serviços da marca é quase sempre apresentado de forma coletiva, em meio a
outras pessoas. A incorporação dos recursos de conexão no cotidiano é mesclada com
interações no ambiente físico, apresentadas de forma harmônica e complementar.
Temos também uma simbologia que une o local e o global de forma equilibrada,
expressa de várias maneiras: o recurso do desenho animado diminui a associação com o
ponto de vista local e específico brasileiro, universalizando a mensagem para um
imaginário mais amplo, aderente ao deslocamento espaço-temporal proporcionado pela
comunicação móvel. A linguagem do desenho animado, entretanto, é amenizada pela
caracterização dos personagens, locações retratadas (pontos turísticos brasileiros como
o Cristo Redentor) e pelo ritmo da música, o samba.
O terceiro filme que vamos analisar foi veiculado no mercado português, país
onde a telefonia celular foi implantada em 1991 e no qual o número de linhas não
apresenta crescimento nos últimos anos. (Fonte: Consultoria Teleco) O mesmo ocorre
com as linhas fixas e com a Internet, difundidas amplamente no país. De uma maneira
geral, ocorre uma “comoditização” dos serviços de telefonia celular, que fazem parte do
cotidiano e não representam novidade para o consumidor. Ou seja, embora utilizada de
forma intensa no cotidiano, a comunicação móvel é um elemento corriqueiro, na lógica
do chamado “consumo ordinário” (GRONOW; WARDE, 2001). A disponibilidade da
rede celular se torna invisível e esperada, como se fosse algo natural, parte integrante da
vida na cidade.
1353
Ouvimos um telefone tocar, o homem abre sua pasta, retira um celular e atende a
ligação: “Sim, está descansada, vou eu ao supermercado. Aliás, vou eu desde 1992. Até
logo, um beijo, tchau”.
Corta para o packshot, com uma animação na qual o logotipo TMN se fragmenta
num fundo infinito escuro, num efeito de explosão, e transforma-se no logotipo MEO,
acompanhado da assinatura da campanha, repetida também pela locução em off: “Meo.
A outra vida da TMN.”
Voltamos para o ambiente do barco, onde a mulher entrega o celular para outras
pessoas que estão no barco e também querem experimentar o aparelho: “Sim, sim.
Experimenta aí à vontade. Não é meu”.
684
Cacilheiro é o nome dado às embarcações que ligam as duas margens do rio Tejo, em trajetos
que ligam Cacilhas, em Almada, à capital portuguesa, Lisboa.
1354
1355
Considerações finais
1356
1357
1358
REFERÊNCIAS
1359
RESUMO
Algumas marcas possuem como característica a capacidade de construção de vínculos
fortes de identificação de seus consumidores com os produtos que a eles oferece. Este
processo gera sentimentos de afetividade e pertencimento que levam os consumidores a
cultuar essas marcas de maneira semelhante a uma religião. Tomando essas ideias como
ponto de partida, este trabalho tem como objetivo discorrer acerca da relação entre
religiosidade e geração de sentido. Para tanto serão analisadas, através da semiologia
francesa e da retórica da imagem, quatro fotografias utilizadas na campanha Stop
Dreaming, lançada pela Harley Davidson em 2007.
1. Introdução
Para que uma marca consiga transmitir de modo eficiente sua mensagem, ela
deve se dirigir diretamente aos sentidos do público desejado. É necessário que ela
estabeleça esses sentidos de forma coerente, possibilitando ao consumidor a geração de
empatia e identificação com a marca. Esta identificação pode ser tão forte ao ponto de
algumas grandes marcas serem cultuadas tal como uma religião.
O objetivo deste trabalho é estabelecer uma discussão entre religiosidade e
geração de sentido marcário, tomando como exemplo a Harley Davidson e sua
campanha Stop Dreaming, lançada em 2007. Para tanto serão aqui analisadas, como
objeto de estudo, as quatro fotografias produzidas pelo fotógrafo Andreas Bommert que
ilustraram esta campanha de circulação mundial. A análise baseia-se na semiologia
francesa e na retórica da imagem.
686
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
687
Graduada em Comunicação Social – Habilitação Jornalismo e mestranda em Comunicação
pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Comunicação e
História. Coautora do livro Memórias fotográficas: a fotografia e fragmentos da história de Londrina. E-
mail: rosanareineri@gmail.com.
688
Doutor em Estudos Literários pela Universidade Federal de Santa Maria. Professor do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. E-mail:
rodolfolondero@hotmail.com
1360
1361
1362
consumidores por meio da publicidade, se apresenta como uma espécie de religião a ser
seguida, na qual os consumidores se unem como se estivessem em um culto.
De acordo com Sheffield (2006, p.16), apesar de a publicidade e a marca
veiculada não serem uma religião de fato, elas tomam emprestado da religião algumas
imagens e ícones arquetípicos a fim de oferecer ao consumidor elementos e formas
culturais que já lhe são familiares. A publicidade depende desses aspectos de
reconhecimento e de justaposição para transmitir sua mensagem de maneira eficaz e,
deste modo, vender seu produto.
Por meio da manipulação de símbolos e formas culturais, a publicidade cria o
que Jhally denomina de totemismo, que se configura como um estágio da publicidade
no qual esta se torna uma espécie de substituta da cultura, ao passo que constrói um
novo contexto para a mediação entre pessoas e objetos. Neste estágio, a publicidade
confere um novo sentido aos objetos, que tem seu sentido original previamente
esvaziado, e os oferece aos consumidores como um objeto “sagrado”, um totem de
adoração para membros participantes daquele novo clã. Neste sentido, a publicidade
direciona seus produtos a certos grupos de pessoas por meio da ideia de diferenciação
de classe, poder de compra e também por nomes de marcas famosas, que se tornam
elementos de distinção reconhecidos por esta comunidade através de imagens,
linguagem, ritual e um aparente poder sobrenatural muito parecido com o da religião
(JHALLY apud SHEFFIELD, 2006, p.22).
Isto explica porque, segundo Atkin, os sujeitos de uma pesquisa, ao
apresentarem suas razões para escolher uma marca e lhe serem fiéis, “descreveram a
necessidade profunda de pertencer a algo, de descobrir o sentido das coisas, de
segurança, de prevalência da ordem sobre o caos e de identificação”, que são os anseios
humanos essenciais (ATKIN, 2007, p.13).
As grandes marcas, assim como os cultos, dedicam-se a dar a seus seguidores o
senso de comunidade e identidade de que eles necessitam. Apresentam uma forma de
satisfação dos anseios que possuem. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, os
consumidores não se tornam adeptos de determinadas marcas (ou cultos) buscando
adequação à sociedade. Na verdade, eles buscam por algo que os façam se tornar mais
individuais (ATKIN, 2007, p.24). O fato é que uma comunidade de pessoas semelhantes
é capaz de reforçar a individualidade dos seus membros.
É por essa razão que muitas marcas deixaram de tentar agradar a todos e
direcionaram seus esforços para abarcar públicos específicos. Este foi o caso da Harley
1363
Davidson que apresentava em seu documento de diretriz a seguinte frase: “Verdade No.
1 da Harley: a Harley não é para qualquer um”. Segundo Atkin (2007, p.38), a
estratégia empregada pela Harley Davidson em transmitir com clareza a ideia de
separação em relação ao resto e construir um apelo para os discriminados, propagando o
sentimento de diferença, alavancou a empresa a se tornar um sucesso empresarial.
O intuito da Harley é atrair os descontentes, para isso a marca age em
conformidade com as características que seus compradores consideram ser o “meu
verdadeiro eu”:
“o meu verdadeiro eu” nesse caso é o indivíduo que não se sente nem um
pouco à vontade com a chamada rotina da sociedade tradicional. Lá no
fundo do coração ele acredita ser um rebelde. Ama a liberdade das estradas e
a companhia de outros que também se sintam aprisionados em suas casas de
subúrbio, no emprego e na família. É um tabu não gostar dessas coisas
porque constituem verdadeiras vacas sagradas da sociedade. Mas é esse o
ponto. Os usuários da Harley são livres e individualistas. São os Gullivers
que se desvencilham dos grilhões do cotidiano (ATKIN, 2007, p.41).
No entanto, Atkin (2007, p.24) afirma que se engana quem pensa que o
consumidor adere a uma marca por estar sendo vítima de lavagem cerebral; pelo
contrário, com acesso a informações disponíveis em diversos meios, décadas de
experiência coletiva e uma crescente oferta de produtos, está cada vez mais difícil
enganar o consumidor moderno. Hoje em dia, qualquer um é capaz de reconhecer a
maioria das técnicas utilizadas pelas companhias para “seduzir” o consumidor, e é isto
que iremos buscar a partir de agora. Tentaremos desvelar as técnicas empregadas pela
publicidade para captar a atenção dos observadores das fotografias produzidas para a
campanha Stop Dreaming, da Harley Davidson.
1364
1 2
3 4
Fonte: http://andreasbommert.com/
1365
1366
que ele jamais consegue identificar, pois “a publicidade não tem ‘sujeito’”
(WILLIAMSON, 2002, p.14). Sendo assim, nela “há um espaço, uma lacuna onde o
falante deveria estar; e uma das características peculiares da publicidade é que nós
somos atraídos para preencher esta lacuna, tornando-se assim tanto ouvinte quanto
falante, sujeito e objeto” (WILLIAMSON, 2002, p.14). Este é o caso dos anúncios
analisados, pois quem pede para o consumidor “parar de sonhar”? Quem pede para
imaginar o produto ausente? O produto ausente é o espaço onde ocorre a interpelação da
ideologia. Para Althusser, a ideologia interpela os indivíduos enquanto sujeitos, ou seja,
os indivíduos são livremente sujeitados à ideologia: “Os sujeitos se constituem pela sua
sujeição” (ALTHUSSER, 1983, p.104; grifo do autor). Neste sentido, “a existência da
ideologia e a interpelação dos indivíduos enquanto sujeitos são uma única e mesma
coisa” (ALTHUSSER, 1983, p.97). Ou seja, ao falar como sujeito sobre a ideologia, o
indivíduo é falado por ela, torna-se seu objeto, sua existência. Para significar um
anúncio, o consumidor precisa aceitar livremente sua mensagem. Contudo, quando
aceita a mensagem, o consumidor não mais significa o anúncio, e sim o anúncio se
significa por ele e para ele, dizendo-o para “parar de sonhar”, para se imaginar em uma
motocicleta Harley Davidson. A “voz” impessoal do anúncio torna-se a voz do sujeito
interpelado pela ideologia, falando para si mesmo o que deve fazer.
1367
Fonte: kakimotodotcom.blogspot.com
1368
4. Considerações finais
Por meio da exploração de imagens e sensações presentes no imaginário coletivo,
a Harley Davidson é capaz de captar a atenção de seu público, bem como se dirigir
diretamente às suas emoções. A marca é capaz de transmitir sensações como liberdade,
rebeldia, jovialidade e sofisticação a seus consumidores ao passo em que lhes oferece a
satisfação de anseios essenciais. Uma vez que esses anseios são satisfeitos, tais como
pertencimento, sentido e identificação, a marca passa de apenas mais uma para a única
que será sempre lembrada e cultuada pelo consumidor como se fosse uma religião. Este
é o caso da Harley Davidson, que possui milhares de seguidores no mundo todo em
busca de identificação e, sobretudo, de diferenciação. Para tanto, a empresa se utiliza de
recursos de geração de sentido que possuem a capacidade de se comunicar mais
rapidamente com o imaginário do consumidor ao mesmo tempo em que torna a
mensagem publicitária de fácil compreensão.
A campanha publicitária Stop Dreaming, lançada pela Harley Davidson em 2007,
utilizou quatro fotografias tomadas pelo fotógrafo Andreas Bommert. Nelas, pudemos
constatar a utilização de elipse, pois em nenhum momento foram apresentados os
produtos – somente foram expostas as sensações de liberdade e rebeldia próprias da
marca, o que não comprometeu a compreensão da mensagem. Os modelos retratados
remetem à pose daqueles que pilotam as motocicletas da marca. Desta forma, embora a
motocicleta não estivesse ali, ela pode ser sentida pelos que observam as imagens.
REFERÊNCIAS
1369
1370
ABSTRACT
This paper analyses the process of transformation and change of products and brands
through marketing. We found that socio historical changes brought about by the
development of new digital technologies (Gurau, 2008) has attracted consumers’
attention in the XXI century and forced companies reorganize their actions and their
marketing. This theoretical study examines various marketing tools to promote Heritage
Trail Fire Department, a commemorative design by the Scottish Fire and Rescue
Service in Glasgow (United Kingdom). The results show that the integrated marketing
communications campaign is becoming increasingly a widely used trend that is
employed in in many companies, large or small, in Glasgow.
RESUMO
Este artigo busca compreender o processo de transformação e mudança dos produtos e
das marcas através das ações do marketing. Verificamos que com as mudanças sócio
históricas a partir do desenvolvimento das novas tecnologias digitais (GURAU, 2008)
tem despertado a atenção do consumidor do século XXI e obrigado as empresas
reorganizarem suas ações e seu marketing. Este estudo, de caráter teórico-aplicativo,
tem o objetivo de examinar a partir de três ferramentas, como essas se combinam de
modo a promover Heritage Trail do Corpo de Bombeiros, um projeto comemorativo
pelo Fire and Rescue do Serviço escocês em Glasgow (Reino Unido ). Os resultados
apontam que a campanha de Comunicação Integrada de Marketing tem se tornando
cada vez mais uma tendência não só em caso isolado como o Corpo de Bombeiros mas
em muitas empresas, sejam essas grandes ou pequenas, em Glasgow.
Introduction
690
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
691
Patrícia M. F. Coelho: Patrícia M. F. Coelho: PhD in Communication and Semiotics from the Catholic
Pontifical University of São Paulo (PUC-SP) and Master of Language Studies from the Mackenzie
Presbyterian University. Professor at the Interdisciplinary Master in Humanities Sciences in the
University of Santo Amaro - UNISA.. Email.patriciafariascoelho@gmail.com
692 Lynsey E.Macdonald. Msc Marketing, Business Management Department, Glasgow Caledonian
693 Irene Garcia Medina. Lecturer in Marketing, Business Management Department, Glasgow
Caledonian University. E-mail: Irene.Garcia2@gcu.ac.uk
1371
The process of marketing products and brands to consumers has witnessed many
significant changes over the years. Through changes in the external environment, from
the fragmentation of markets to the development of new digital technologies (GURĂU,
2008, p. 169) “capturing consumer attention has become increasingly challenging”. A
need then emerged for companies to rethink their marketing strategies. This change
involved a shift from a series of separate activities to a cohesive, integrated campaign,
created to reach a wider audience and foster deeper engagement. This chapter explores
the nature of an Integrated Marketing Communications campaign, with reference to
three tools, and examines how these tools could be combined in order to promote the
Firefighters’ Heritage Trail, a commemorative project by the Scottish Fire and Rescue
Service in Glasgow (UK).
1372
by theorists may vary, Keller stated that the fundamental requirements of such a
campaign remain the same:
…an integrated marketing communication program requires that: 1) multiple
types of communication options are employed and 2) communication
options are designed in a way to reflect the existence and content of other
communication options in the program. (KELLER, 2001, p. 822)
Over the past decade, the online and offline world have been merging in a way
that presents marketers with one major challenge – communicating a consistent
message across all areas of the brand. General assumptions on what different
demographics want from marketing cannot be made – Millenials do not only look to
digital communication or online stores, while Generation X-ers may be just as invested
in the digital as they are in traditional advertising and bricks and mortar stores
(OLENSKI, 2013). Integration, then, is a way of ensuring that a consistent message
reaches all potential customers, however they choose to interact with the brand.
1373
expected to reach 1.75 billion in 2014 (EMARKETER, 2014), while one in seventeen
people worldwide owned a tablet as of December 2013 (HEGGESTUEN, 2013).
This surge in mobile uptake has made utilising mobile technologies of prime
importance for marketers. When used as part of an integrated campaign, it has been
proven to increase sales and brand awareness (MICHAE; SALTER, 2006, p. 25), and
has the advantage of being able to connect with users at any time. Apps, in particular,
are a curious development in terms of the marketing mix, combining several elements
of the traditional 4Ps – according to Chaffey and Smith (2013, p. 59) “Apps […]
improve the customer experience (product), delivering the experience wherever you are
(place), and all of this simultaneously promotes the product (promotion).” They also
have the advantage of being permission based – users choose to download an app,
making it a less intrusive form of marketing.
An app is an extremely useful tool for connecting with consumers. In 2009,
Glastonbury collaborated with Orange and the Guardian to create GlastoNav, an app
designed to help festival goers navigate Glastonbury, from viewing stage times to
sharing their location on an interactive map (HARTLEY, 2009; LEACH, 2010). This
app created an interactive experience, and included all of the information that would
have been contained in multiple leaflets. This form of app is the inspiration behind the
Firefighters Heritage Trail app.
The app would include a geo-locator, enabling it to track which site along the
trail the user is approaching and allowing it to guide the user from site to site, while
making use of videos, maps and sound bites relating to each fire. This app could be
built as part of a project at a University which has a module in app-development,
keeping the costs low.
In addition to acting as a guide for the trail, and incorporating additional content,
the app would engage with the fire prevention message the SFRS are keen to promote.
This would be done via a Home Fire Safety Booking Clinic feature on the app – this
service, which is already provided by the SFRS, could be built into the app and would
allow the user to book an appointment at the click of a button. Fire safety information
would also be included, to create a well-rounded experience for the user, from an
interactive experience of the trail to the provision of useful information for their day-to-
day lives.
1374
1375
Appointments for the Home Fire Safety Booking Clinic could also be made that day,
while the firefighters on site would provide educational demonstrations of items such as
hair-straighteners going on fire. Combined, this would provide an opportunity to build
relationships with the media, inviting local and national newspapers and bloggers to
cover the event.
1376
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1377
1378
Everton DAROLT695
Bianca RUEDIGER696
Fabrícia Durieux ZUCCO697
Fundação Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, SC
RESUMO
No segmento esportivo, o endosso de celebridades é utilizado como estratégia popular
para conquistar os consumidores por vários países, inclusive no Brasil. O valor
associado à celebridade é transferido para a marca e com isso o consumidor e o atleta se
conectam. O presente artigo apresenta uma aproximação regional com o tema e tem o
objetivo de analisar a ação que o endosso de celebridades esportivas possui sobre os
consumidores da região do Vale do Itajaí (SC). Para tal, compõe a base teórica estudos
dos fundamentos do marketing esportivo e endosso celebridade esportiva. Os dados
apontam um forte vínculo com o bom comportamento e imagem que o atleta deve
possuir. Porém, a boa imagem do atleta na ação exercida pelo endosso com as
celebridades, não agregam valor de imagem junto ao consumidor do Vale do Itajaí.
Introdução
O esporte, visto como negócio vem crescendo e já se mostrou diferente de
qualquer outra estratégia de entretenimento. A Pluri Consultoria, apresenta os
dados PIB do esporte no Brasil, o qual cresceu a taxas anuais de 7,1% entre 2007 e
2011. Este crescimento se mostrou muito acima dos 4,2% da economia como um todo e
os consultores afirmam que a tendência é de que o esporte corresponda a 1,9% do PIB
do Brasil depois das Olimpíadas de 2016. Com esta referencia diversas medidas estão
indicadas entre elas, os investimentos em ações de marketing.
Diante deste cenário, o marketing esportivo tem atraído cada vez mais o
interesse das organizações como ferramenta de comunicação para chamar a atenção dos
consumidores à produtos, serviços e marcas. Trata-se da união entre o marketing e o
esporte, onde a mensagem positiva do esporte e a imagem saudável e ativa do esportista
são utilizadas por organizações para conquistar os consumidores, visando fortalecer a
694
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
695
Docente do Curso de Publicidade e Propaganda da FURB, Mestre em comunicação e Linguagens pela
UTP-PR, email: everton@furb.br
696
Graduada Publicidade e Propaganda pela FURB, email: biancaruediger@hotmail.com
697
Docente do Curso de Publicidade e Propaganda da FURB, Doutora em Administração pela
UNINOVE-SP email: fabricia@furb.br
1379
O endosso de celebridades esportivas e o marketing esportivo tem desenvolvido o interesse de
698
diferentes pesquisadores. Destaca-se no Brasil Melo Neto (2000), Afif (2000), Belch & Belch (2008),
Freire e Senise (2011), entre outros, que contextualizam o endosso de celebridade esportiva como
ferramenta do marketing esportivo utilizado para melhorar a relação das marcas e organizações
com o público-alvo. Na literatura internacional, Erdogan (2005), Kathri (2006), Rein, Kotler e
Shields (2006), Jackson (2013), entre outros, que tratam o endosso de celebridade esportiva como
uma estratégia de comunicação para a construção de imagem de marca e sua perspectiva do
marketing esportivo para organizações.
1380
Historicamente, o avanço do marketing esportivo no Brasil ocorre nos anos 50. A ênfase das empresas
699
estava nas vendas, com pesquisas, propagandas e promoções de venda. Grandes empresas estrangeiras
chegaram no país e as suas marcas já se comercializavam em outros países, porém no Brasil, limitavam-se a
produzir apenas artigos padronizados (AFIF, 2000).
1381
vendas, imagem favorável ao público, desde que passaram a investir recurso no esporte.
Da mesma forma, Gaspar, Moraes, Júnior e Debia (2014, p.14 e 27), destacam que nos
últimos anos os clubes começaram a utilizar o marketing esportivo e suas ferramentas
como novas fontes de receita e ressaltam:
O mercado brasileiro está intensamente abastecido com opções de lazer e
serviços relacionados ao esporte. [...] a economia do esporte movimenta
bilhões de dólares em todo o mundo, e pode ser compreendida pela indústria
na qual os produtos ou serviços oferecidos estão relacionados às diversas
modalidades esportivas, de entretenimento ou de fitness.
Um exemplo de crescimento ocasionado por investimento em marketing
esportivo é o caso da NBA, que como forma de reconhecimento às 200 milhões de
pessoas em todo o mundo que participam do basquete, promoveu uma campanha de
marketing esportivo global em 1989, onde alguns jogos renderam à associação um
aumento de 30% nos direitos televisivos, além de aumento nas vendas de produtos da
marca (PITTS E STOTLAR, 2002).
O esporte exerce influência no comportamento de diversas classes e segmentos
dos mais variados consumidores, em consequência a isso, temos estabelecidas as
ligações entre organizações e atividades empresariais focadas no âmbito esportivo por
ser um ponto importante para quem se interessa por marketing. Os dados importantes do
mundo do esporte apresentam ainda “o Banco BMG, que investe 60 milhões de reais
por ano em patrocínio a clubes como estratégia para alterar sua imagem, sendo que tal
valor representa 90% de todo o orçamento de marketing e propaganda do banco.”
(FILHO, 2012, p. 5).
As empresas e marcas líderes no mercado podem optar por investir em
estratégias tanto de gestão, comercialização e divulgação de academias, clubes, ligas
esportiva, como atividades de merchandising, patrocínio licenciado, entre outros, ou
também, explorar a boa imagem de atletas ou equipes esportivas junto à opinião pública,
gerando resultados positivos para a imagem da organização. O marketing esportivo
pode ser visto como um processo de elaboração das atividades de produção, formação
de preço, promoção e distribuição de um produto do esporte para satisfazer as
necessidades e desejos dos consumidores, atingindo assim os objetivos da organização
(FLEURY, ALEJANDRO E FELDMANN, 2014).
Uma empresa que vincula sua marca com a imagem de um atleta ganha um
espaço na mídia e na mente do público, com maior lembrança de marca, pois, o atleta
tende a formar vínculos entre a marca e o consumidor. Sousa, Mattos e Sousa, (2005, p.
8 e 9), já afirmavam que empresas que investem em esportes são identificadas pelo
1382
público com simpatia e acrescentam, explicando que isso ocorre basicamente por duas
razões:
A primeira é que a empresa está fazendo um bem social, investindo em
cultura, lazer, oferecendo ao seu público algo além dos seus produtos; e a
segunda razão é que a empresa passa para o público a impressão de uma
maior proximidade e cumplicidade, pois, por meio do esporte, a empresa
consegue comunicar-se com seu público, mostrando a que veio.
Neste mesmo sentido, Fleury, Alejandro e Feldmann (2014) acreditam que o
esporte cria uma relação de cumplicidade da empresa com o consumidor jovem, "além
das vendas, a estratégia de associar a empresa ao esporte pode gerar o rejuvenescimento
da marca, devido à forte influência que o esporte exerce nos jovens".
Assim as Ações do Marketing Esportivo são essenciais para a construção de
marcas fortes e bem aceitas. Além de possibilitar a segmentação de mercado, as ações
de Marketing Esportivo envolvem também menores riscos e custos, pois, através do
esporte a organização pode trabalhar facilmente com o público proporcionando uma
associação da marca, produto, serviço, atleta ou time com as emoções do esporte.
1383
1384
1385
Procedimentos metodológicos
700 As dimensões identificadas pelos autores em sua pesquisa foram: Lealdade à marca, boca-boca
positivo e mudar de produto ou reclamar do comportamento/imagem do atleta. Para a aplicação da
1386
1387
1388
1389
menores médias das dimensões entre todas as rendas, com isso, podemos concluir que
indivíduos com renda de até R$ 1.356,00, considerados da classe E, segundo dados do
IBGE (2014), sofrem menos influência de propagandas com celebridades endossantes
do que pessoas com rendas maiores. Os indivíduos das classes D, C e B, com renda
familiar mensal bruta aproximada entre os valores de R$ 1.356,00 a R$ 2.034,00,
R$ 2.034,00 a R$ 6.708,00 e R$ 6.708,00 a R$ 16.950,00, respectivamente, analisaram
as dimensões de forma mais positiva do que as demais rendas. Por fim, indivíduos da
classe A, com renda acima de R$ R$ 16.950,00, analisaram as dimensões de forma
positiva, porém, menos positivas do que os entrevistados da classe média. Conclui-se
então, que indivíduos da classe média são mais influenciados pelo endosso de
celebridades esportivas do que os demais.
Foram verificados também os resultados na variável que questionava qual o
atleta favorito do entrevistado, questionamento este apresentado como pergunta aberta e
de resposta espontânea. A maior frequência dos entrevistados residentes no Vale do
Itajaí citou o atleta Gustavo Kuerten, com lembrança de 12%, ou seja, 45 vezes citado,
o tenista foi o atleta mais lembrado pelos entrevistados. Porém, o que chamou atenção
foi a frequência de citações do atleta William Gabriel Pinto (Abobadinho), morador da
cidade de Blumenau. Citado 12 vezes, igualou sua marca com Giba, por exemplo,
reconhecido mundialmente. Isso se deve pelo fato de o atleta BMX, William, ser da
cidade e praticar seu esporte também em pistas de Blumenau e região, tornando-se
assim conhecido e reconhecido pelos moradores. Quanto à frequência de lembrança por
gênero, outro fator relevante, também quanto ao esportista William Gabriel, foi que
todos os outros obtiveram mais frequência de lembrança do sexo feminino e o atleta
William obteve maior frequência de lembrança do sexo masculino. Com 63,63% de
lembrança do gênero masculino, foi o único atleta, entre os seis primeiros mais citados
que se diferenciou. Acredita-se que isso deva acontecer por que o esporte praticado pelo
atleta, BMX, tem predominância masculina.
Embora na parte teórica vários autores afirmam que o endosso de celebridades
esportivas é uma importante estratégias de comunicação do marketing esportivo,
ajudando não só no recall das marcas, mas também na lembrança e simpatia geral do
público, na pesquisa, viu-se que isto não acontece no Vale do Itajaí.
Por fim, podemos então verificar que, conforme afirmam Nascimento, Freire,
Mazzei e Senise (2013), o segmento do esporte, assim como o endosso de celebridade
esportiva vem crescendo gradativamente no cenário nacional e global, em afirmação a
1390
isso, Nascimento, Perez, Oliveira e Bronsztein (2013), constatam que sete em cada dez
consumidores esperam que a celebridade, além de bem conhecida, dê um bom exemplo
para a sociedade. Porém, os autores Rein, Kotler e Stoller (1999) e Erdogan (2005),
afirmam que um ponto crucial no endosso de celebridade é o gerenciamento da
exposição e os riscos potenciais que podem ofuscar a organização ou resultarem num
mau funcionamento do endosso e na não influência da celebridade sobre o consumidor.
Considerações
1391
REFERÊNCIAS
1392
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1393
1394
Everton DAROLT702
Nilva KOCK703
Fabrícia Durieux ZUCCO704
Fundação Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, SC
RESUMO
O contexto do marketing esportivo, dentre várias características, é capaz de
compreender os níveis de envolvimentos dos torcedores que interfere nos estímulos do
processos de decisão de compra. O presente artigo apresenta uma analise do
envolvimento do torcedor de futsal do Vale do Itajaí (SC) a partir da perspectiva do
marketing esportivo. Utilizou-se o método a pesquisa quantitativa, a qual abordou a
identificação com o time, o prestígio percebido, o envolvimento e o patrocínio. A
análise dos dados apontou que os torcedores de futsal na região são considerados de
baixo envolvimento. Foram ainda aplicadas análises estatística com valores descritivos,
médias e cruzamento de dados. Percebeu-se que os principais torcedores que avaliam a
dimensão patrocínio como alta, são identificados com uma renda familiar considerada
média e de faixas etárias extremamente diversificadas.
Introdução
A procura que as organizações vêm fazendo por novas estratégias para atrair e
satisfazer os consumidores diante tanta concorrência, tem alavancado o mercado do
esporte. Desta forma, o marketing esportivo é dado como ferramenta para ajudar as
marcas a criarem novos mercados e consolidar consumidores. Sendo considerado um
canal que leva as mensagens num clima mais relaxado, onde os clientes estão mais
cativos, receptivos e envolvidos pela paixão e emoção do esporte.
A modalidade de patrocínio é considerada como o principal investimento de
marketing esportivo. As mensagens de patrocínio nos meios de comunicação são
capazes de impactar significativamente a comunidade pelo fato das mensagens
chegarem sutilmente aos consumidores. Além de ser uma mídia alternativa capaz de
701
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
702
Docente do Curso de Publicidade e Propaganda da FURB, Mestre em comunicação e Linguagens pela
UTP-PR, email: everton@furb.br
703
Graduada Publicidade e Propaganda pela FURB, email: nilva_k@hotmail.com
704
Docente do Curso de Publicidade e Propaganda da FURB, Doutora em Administração pela
UNINOVE-SP email: fabricia@furb.br
1395
gerar retorno em publicidade, imagens e vendas, com investimentos mais baixos quando
comparado a uma campanha com mídias tradicionais.
No atual modelo de mercado, o esporte vem ganhando a atenção de muitos
níveis da sociedade, desde participantes e fãs até a mídia, o governo e as corporações
mundiais. Neste sentido, o marketing esportivo possui também o papel de compreender
o comportamento dos consumidores, o que faz Mullin, Hardy e Sutton (2007)
salientarem que o consumo do esporte implica em diversos tipos de envolvimento. Na
mesma linha de entendimento, Meenaghan (2001) contextualiza que o envolvimento de
torcedores se refere à extensão da identificação, motivação, engajamento e afeição dos
consumidores juntos as suas atividades pessoais e de lazer.
No entanto, o envolvimento dos torcedores pode ser compreendido em vários
níveis, Marques (2004) afirma que dependendo dessas variações de níveis, um
indivíduo se difere do outro no processo de decisão de compra. A realidade no Brasil se
destaca ao apresentar cerca da metade da população propensa a gostar de uma marca,
apenas por ela estar envolvida em patrocínios esportivos (IBOPE MEDIA, 2014).
Diante deste contexto, este artigo analisa o envolvimento dos torcedores de
futsal do Vale do Itajaí (SC) na perspectiva do marketing esportivo. O futsal tem
representado apenas 2% da distribuição de investimentos no Brasil
(SPORTBRANDING, 2011). No entanto 14% da população brasileira é classificada
como muito interessada na modalidade (IBOPE MEDIA, 2014). No recorte deste
universo esportivo, selecionou-se como objeto de estudo o time de Blumenau/SCF, que
alcançou as quartas de final da Liga Nacional de Futsal 2014. O público que prestigiou,
reconheceu o time através do nome do principal patrocinador, a AdHering e poucos
torcedores identificavam o time sendo o representante da cidade de Blumenau (SC). O
estudo do Ibope Media (2014), afirma que a parceria das marcas com times e atletas só
tem benefícios para ambas as partes, patrocinador e patrocinado.
A presente pesquisa teve o base teórica firmado um estudo desenvolvido por
Gwinner; Swanson (2003) o qual identifica quatro dimensões para analisar o impacto da
identificação de fãs com o patrocínio esportivo, são elas: identificação com o time,
prestígio percebido, envolvimento e o patrocínio. A partir destes atributos, o construto
foi adaptado à realidade da região do Vale do Itajaí (SC) e à modalidade de futsal.
Assim, o ponto de partida foi analisar o envolvimento do torcedor de futsal do
Vale do Itajaí na perspectiva do marketing esportivo, avaliando suas implicações para a
comunicação das organizações. Especificamente este estudo busca: a) Identificar o
1396
Marketing esportivo
1397
esportivo foi reconhecido como ferramenta comercial, sendo utilizado em larga escala, com foco
pragmático de negócios e praticado globalmente. A proibição só foi eliminada por grande pressão
do mercado na década de 80, pois as empresas visualizavam o grande potencial que o esporte
representava para a divulgação de suas marcas. Empresas como Parmalat, Philips e Bayer, cientes
das oportunidades que o futebol representava, mas impedidos pela FIFA de patrocinarem os clubes
contornaram a proibição vinculando mercadologicamente seus nomes aos clubes Parma, na Itália,
PSV na Holanda, e Bayer Leverkussen na Alemanha. Atualmente a prática se globalizou, sendo raro
um clube de prestigio, local ou internacional, deixar de ostentar logotipos de patrocinadores em
suas camisas (GRYNBERG, 2007).
1398
1399
de livros e artigos científicos [...] propõem à análise das diversas posições acerca de um
problema, também costumam ser desenvolvidas mediante fontes bibliográficas” (GIL,
2002, p. 44). Foi realizada ainda uma pesquisa descritiva, onde é indicada para
determinar o grau de associação entre as variáveis do marketing (MALHOTRA, 2006).
Utilizou-se o método quantitativo com a técnica investigativa do tipo survey
com torcedores de futsal residentes no Vale do Itajaí. Gil (2002) define como uma
forma de pesquisa desenvolvida para medir atitudes, opiniões, comportamento,
circunstâncias da vida do cidadão, e outras questões quantitativamente. Segundo
Malhotra (2012, p. 110), a pesquisa quantitativa é aquela que “procura quantificar dados
e, normalmente, aplica uma forma de análise estatística”.
A população da pesquisa é constituída por torcedores presentes nos jogos da
Liga Nacional de Futsal que ocorreram em Blumenau no dia 28 de agosto de 2014 entre
as equipes de Blumenau/SCF x Carlos Barbosa/RS e no dia 20 de outubro de 2014 com
Blumenau/SCF x Atlântico/Erechim totalizando 2054 torcedores nos ambientes dos
jogos. A técnica de amostragem foi a não probabilística por conveniência. Justifica-se
essa escolha por procurar obter uma amostra de elementos cabíveis ao propósito do
estudo, ou seja, aqueles que estavam presentes nos jogos citados acima. Desta maneira,
a amostra foi composta por 172 casos.
O instrumento de coleta de dados é caracterizado como estruturado e auto
preenchível, que Hair et al (2005), definem quando o questionário segue as mesmas
sequências de perguntas para todas as entrevistas. Assim, estruturado com uma escala
de sete pontos do tipo Likert com âncora de “discordo totalmente’’ (1) e ‘‘concordo
totalmente’’ (7), onde evitam-se que as respostas sejam diferentes, para que as
entrevistas possam ser comparadas. Neste sentido, utilizou-se como base teórica o
contruto “A model of fan identification: antecedents and sponsorship outcomes”
(GWINNER; SWANSON, 2003), que estuda o impacto da identificação de fãs com
patrocínio esportivo, trazendo dentro dele também um estudo aprofundado sobre as
dimensões que foram exploradas neste trabalho. Foram realizadas adaptações para uma
melhor compreensão e aplicação, devido a limitações da região e modalidade esportiva
aplicada.
A primeira dimensão do construto trata-se da “Identificação com o time”, que
avalia o quanto o expectador realmente é interessado pela modalidade de futsal e o
quanto ele realmente torce pelo seu time. Na segunda dimensão trata-se do “Prestígio
Percebido”, onde avalia como os torcedores consideram que o futsal é identificado na
1400
sua cidade no Vale do Itajaí e qual a relevância do futsal para as pessoas de seu
convívio. O “Envolvimento do torcedor” é apresentado na terceira dimensão da
pesquisa, onde é avaliado o quanto o futsal é importante para o torcedor. Por fim, a
quarta e última dimensão é sobre o “Patrocínio”, avalia como os torcedores valorizam e
reconhece um patrocinador de Futsal em momentos de compra.
A análise dos dados coletados foi realizada através de tabelas e textos
descritivos, agrupando-se as variáveis correspondentes a cada dimensão do estudo.
Agrupou-se para melhor compreensão e análise os indicadores da escala de 1 e 2 para
umas frequência baixa, 3,4 e 5 para uma frequência média e 6 e 7 para uma frequência
alta.
A partir da pesquisa quantitativa feita, foi possível levantar alguns dados dos
sobre os torcedores de futsal do Vale do Itajaí em relação ao seu envolvimento com o
patrocínio, partindo da avaliação de quatro dimensões sendo elas a identificação com o
time, o prestígio percebido, envolvimento e o próprio patrocínio.
O primeiro fato que se pode analisar, que o perfil do público que mais
frequenta os jogos de futsal no Vale do Itajaí são homens, com uma estimativa de 83%
do púbico entrevistado. Também através do perfil sócio demográfico é possível afirmar
com relação a teoria de Alba (2012) que os torcedores são primeiramente identificados
com fãs locais, que apresentam o seu comportamento por causa de identificação
geográfica, como local onde residem, sendo que 83% dos entrevistados não se deslocam
a longa distância para assistir uma partida de futsal, observado através da representação
que são residentes na cidade sede dos jogos, Blumenau. No entanto, na visão de
Morgan; Summers (2008) ser fã de um esporte ou time caracteriza que a pessoa é mais
envolvida e emotiva do que alguém que poderia ser considerado apenas um espectador.
Como o esporte na visão de Morgan; Summers (2008) é considerado um dos
meios que atinge pessoas de todas as idades, atravessando fronteiras culturais e
emocionais, verificamos que a classificação por médias é dada em valor crescente
conforme no quesito faixa etária, o que torna o público acima de 55 anos o mais
envolvido com o time, quando foi o que melhor avaliou todas as dimensões, com uma
média considerada alta de 5,02.
1401
1403
pessoas que tratam o futsal como um esporte de alta relevância. O que então podemos
concluir que o futsal é bem visto diante uma parte da população do Vale do Itajaí.
Tabela: Envolvimento do torcedor
Dimensão Envolvimento do torcedor Média
V9 O futsal é muito importante para mim. 5,09
V10 Eu penso sobre futsal grande parte do meu tempo. 3,30
V11 Eu assisto futsal sempre que posso. 5,92
MÉDIA GERAL 4,77
Elaboração dos autores
O Envolvimento do torcedor apresenta uma extremidade, os entrevistados
consideram com média alta quando relatam que o futsal é grande importância para si,
tendo uma média de 5,09 e também muitos identificam que assistem o futsal sempre
que podem, tendo uma média entre os entrevistados de 5,92. Portanto a extremidade que
se tem, é que esses torcedores não incluem o futsal em grande parte do seu tempo, o que
observa-se uma média relativamente baixa, de 3,30 para esse fator. Sendo que essa é a
variável que identifica que os torcedores não possuem um grau de envolvimento
totalmente alto com o seu time de futsal.
Tabela: Patrocínio
Dimensão Patrocínio Média
Quando eu compro produtos e serviços, eu sempre procuro por aqueles
V12 3,20
vendidos por patrocinadores de futsal.
Se todos os produtos são similares, eu prefiro comprar de marcas
V13 3,71
patrocinadoras de futsal.
Quando eu compro algo, saber que a empresa é patrocinadora de um time
V14 4,22
de futsal influencia positivamente a minha escolha.
V15 Eu conheço a maioria dos patrocinadores do meu time de futsal 4,18
MÉDIA GERAL 3,83
Elaboração dos autores
A ultima variável apresenta a dimensão Patrocínio, e nela observa-se que as
duas categorias que tem uma média maior são quando os torcedores compram algo de
uma empresa patrocinadora, o fato de saber que a empresa é patrocinadora de um time
de futsal torna a sua escolha positiva (V14), nessa relação teve se uma média de 4,22.
Também com uma média de 4,18, o que também é considerada dentro com uma
classificação mediana, é quando os torcedores entrevistados conhecem a maioria dos
patrocinadores do seu time de futsal. O ainda identifica que a maneira que o
patrocinador se envolve com o time não é suficiente para a identificação de todos os
torcedores. O que representa de fato que as médias para quando os torcedores efetuam
compras ou serviços nem sempre procurarem por aqueles vendidos por marcas
patrocinadoras representam 3,20, relativamente baixa para o reconhecimento. Assim
1404
1405
1406
Considerações
1407
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1408
1409
RESUMO
O presente artigo vai analisar a campanha da operadora de telefonia Claro intitulada A
emoção do futebol sempre com você, veiculada durante a Copa do Mundo de 2014, que
utiliza frases e textos do escritor Nelson Rodrigues para resgatar a paixão pelo futebol
por parte do brasileiro. Para tanto, foi realizado um recorte dos quatro filmes que
compõem toda a estratégia da empresa. O objetivo foi pontuar as estratégias discursivas
que alicerçam cada uma das peças e ainda realizar a análise do discurso presente nesses
textos, a fim de delinear as formas de consumo simbólico e de representação do que é
ser brasileiro. Os autores João Anzanello Carrascoza, Eni Orlandi, Mario do Rosário
Gregolin, Stuart Hall, John Thompson, Everardo Rocha, dentre outros, nos ajudarão a
delinear cada uma dessas narrativas para identificar como as histórias contadas pelos
anúncios recriam aspectos de identidade nacional.
Introdução
Em Seis passeios pelos bosques da ficção, Umberto Eco faz uma análise sobre a
narrativa de ficção e nos explica a necessidade que ela tem em ser rápida, uma vez que,
"ao construir um mundo que inclui uma multiplicidade de acontecimentos e de
personagens, não pode dizer tudo sobre esse mundo. Alude a ele e pede ao leitor que
preencha toda uma série de lacunas.". E continua dizendo que "todo texto é uma
máquina preguiçosa pedindo ao leitor que faça uma parte do seu trabalho" (ECO, 1932,
p. 9). Assim era a máquina discursiva de Nelson Rodrigues quando datilografava seus
textos sobre futebol nas décadas de 50, 60 e 70. Seus leitores faziam parte do trabalho
de sua "máquina preguiçosa", sim, ao interpretar seus textos e preencher lacunas. Mas,
mais do que isso, eles também serviam de inspiração para o autor. Nelson Rodrigues era
um assíduo frequentador de estádios de futebol e quando se sentava para escrever suas
706
Artigo apresentado para o VI Pro-Pesq PP – Encontro Nacional de Pesquisadores em
Publicidade e Propaganda - De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
707
Publicitário e Mestrando em Comunicação e Práticas do Consumo pela Escola Superior de
Propaganda e Marketing – ESPM. Bolsista Capes e integrante do Grupo de Pesquisa Comunicação,
Consumo e Arte do PPGCOM-ESPM. scatigno2@gmail.com
708
Jornalista e doutoranda em Comunicação e Práticas do Consumo pela Escola Superior de
Propaganda e Marketing – ESPM. Bolsista Capes e integrante do Grupo de Pesquisa Comunicação,
Consumo e Arte do PPGCOM-ESPM. dora.carvalho@gmail.com
1410
1411
A campanha
Em 2014 a Copa do Mundo Fédération Internationale de Football Association
(Fifa) foi realizada no Brasil . Sendo esse o maior evento esportivo do planeta , a
709 710
Claro, uma das quatro maiores operadoras de telefonia móvel pessoal do Brasil , 711
patrocinava a Copa do Mundo FIFA 2014. A Claro queria entrar nessa conversa,
mesmo contando apenas com contratos de uso de imagem do atleta Neymar da Silva
Santos Júnior , àquela época e ainda hoje jogador do Futbol Club Barcelona, e do ex-
715
atleta Ronaldo Luís Nazário de Lima , bi-campeão mundial pela Seleção Brasileira de
716
709
http://www.fifa.com/portuguese-language-message.html
710
http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20140523/guerra-das-marcas-
copa/157381.shtml e http://www.copa2014.gov.br/pt-br/brasilecopa/sobreacopa/a-copa-de-2014
711
http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicacao=3126
03&pub=original&filtro=1&documentoPath=312603.pdf
712
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/folhanacopa/2014/02/1419101-cbf-tera-dobro-de-
patrocinios-e-recorde-de-arrecadacao.shtml
713
http://maquinadoesporte.uol.com.br/artigo/tim-ativa-patrocinio-de-futebol-com-campanha-
para-torcedores_27296.html
714
http://oglobo.globo.com/economia/com-investimento-milionario-oi-vai-patrocinar-copa-do-
mundo-de-2014-3035366
715
http://www.fcbarcelona.com/football/first-team/staff/players/neymar-jr
716
http://www.fifa.com/classicfootball/players/player=92699/
1412
Foi com esse briefing que a Claro, no começo de 2014, entrou pela porta de sua
agência de publicidade Ogilvy & Mather Brasil. Em mais detalhes, além de explicar
todo esse cenário de patrocínios e contratos com os referidos atletas, a Claro pediu à
Ogilvy & Mather que criasse uma campanha falando de futebol e, ao mesmo tempo,
717
do seu principal produto à época: a tecnologia 4G, que teria como principal benefício
ser o "mais rápido do mundo" na velocidade de transmissão de dados - apresentando
como prova disso uma notícia que acabara de sair na revista Exame . 718
um caráter institucional com o filme Claro apresenta: O craque, por Nelson Rodrigues.
O objetivo dessa fase da campanha era estimular ainda mais o engajamento do público
através da hashtag #NelsonExplica , já lançada no início da campanha. Outras ações de
725
717
Informação recolhida por Danilo Scatigno em entrevista com Rainor Marinho, criativo da
Ogilvy & Mather Brasil à epoca, que assina a campanha.
718
http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/brasil-tem-3a-conexao-4g-mais-veloz-do-mundo
719
http://www.blogdoadonis.com.br/2014/04/10/claro-resgata-nelson-rodigues/
720
https://youtu.be/KbstrL_Fj2U
721
http://www.clubedecriacao.com.br/ultimas/em-cartaz-2114/
722
http://www.clubedecriacao.com.br/ultimas/craque-da-claro-e-outra-coisa-3/
723
http://www.claro.com.br/content/print/page/1162218/regiao/ddd11/SP-11/sao-paulo/
724
http://www.clubedecriacao.com.br/ultimas/pre-estreia-2-614/
725
https://youtu.be/UsnbBjFz7fU
1413
seria o último filme da campanha. Mas uma oportunidade surgiu com a lesão que
Neymar sofreu no jogo entre Brasil e Colômbia no dia 4 de julho de 2014 . 727
Filmes da campanha
Neste filme, nenhuma das cinco frases de autoria de Nelson Rodrigues foram
726
http://www.fifa.com/worldcup/archive/brazil2014/index.html
727
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/folhanacopa/2014/07/1481442-neymar-fratura-e-
medico-diz-que-nao-joga-mais-na-copa.shtml
728
http://www.clubedecriacao.com.br/ultimas/pre-estreia-2278/
1414
Frase original: O sujeito que diz que o futebol brasileiro passou é o Narciso às
avessas, já que a seleção é a pátria em calções e chuteiras. Adaptação da marca: O
729
729
Publicada em: Rodrigues, Nelson. "A pátria de chuteiras" - Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2013. Página 34. Publicada originalmente em O Globo, 26/5/1976.
730
Publicada em: Rodrigues, Nelson. "A pátria de chuteiras" - Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2013. Página 40. Publicada originalmente em Fatos & Fotos, 23/6/1962 e Publicada em: Rodrigues,
Nelson. "A pátria de chuteiras" - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013. Página 29. Publicada
originalmente em Jornal dos Sports, 20/6/1962
731
Publicada em: Rodrigues, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol /
Nelson Rodrigues; seleção e notas Ruy Castro, - São Paulo: Companhia das Letras, 1993. Página 92.
Publicada originalmente em Manchete Esportiva, 16/5/1959.
732
Publicada em: Rodrigues, Nelson. "A pátria de chuteiras" - Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2013. Página 25. Publicada originalmente em Jornal dos Sports, 16/6/1962.
733
Publicada em: Rodrigues, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol /
Nelson Rodrigues; seleção e notas Ruy Castro, - São Paulo: Companhia das Letras, 1993. Página 29.
Publicada originalmente em Manchete Esportiva, 7/4/1956.
1415
Filme O craque
O filme começa ao som de uma máquina de escrever sendo datilografada e um
letreiro que diz O craque por Nelson Rodrigues. Vemos diversas cenas do atleta
jogando em um estádio lotado, em um treino, em uma quadra com crianças e em um
galpão com amigos. São apresentados vários torcedores observando essas imagens
através de seus smartphones, tablets, televisores e laptops. Também há cenas que
indicam a repercussão que a fama do atleta causa, estimulando a produção de vários
produtos personalizados com o nome dele e crianças que copiam seu penteado. A certa
altura do filme, Neymar recebe uma falta de um adversário e fica caído no campo. Cria-
se um suspense, as cenas ficam em câmera lenta, mas em seguida ele se levanta e, a
partir daí, tudo corre normalmente. Em seguida, alguém coloca a foto de Neymar ao
lado de uma do jogador Ronaldo, em um pequeno altar caseiro. O texto da locução do
filme é formado por frases de Nelson Rodrigues – algumas originais e as demais
modificadas pela marca Claro, com narração de Marcos Palmeira:
O craque é decisivo. Nada descreve e nada se compara à flama do nosso
craque. A própria bola parece reconhecer e só falta lamber-lhe os pés. O
jogador que nunca levou um pé na cara não amadureceu ainda para os
grandes triunfos. Só que o craque surpreende. Dêem-lhe uma boa vaia e ele
faz milagres aos borbotões. Feliz o povo que, na vaga de um gênio, põe
outro gênio. E que sorte a nossa termos um craque assim, genial e garoto.
Neymar narra a assinatura do filme em nome da marca:
Vamo lá, vem jogar comigo.
Neste filme, das sete frases de autoria de Nelson Rodrigues, apenas três foram
empregadas literalmente na locução. A marca adaptou as outras quatro. Vejamos:
1416
nosso craque.
Frase original: No futebol, a própria bola parece reconhecer Pelé ou Garrincha,
e só falta lamber-lhes os pés. Adaptação da marca: A própria bola parece reconhecer
736
Aplicação da marca: Feliz o povo que, na vaga de um gênio, põe outro gênio.
Frase original: E que coisa confortável para nós, brasileiros, saber que temos
um patrício assim genial e assim garoto! Adaptação da marca: E que sorte a nossa
740
734
Publicada em: Rodrigues, Nelson. "A pátria de chuteiras" - Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2013. Página 55. Publicada originalmente em O Globo, 17/8/1966.
735
Publicada em: Rodrigues, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol /
Nelson Rodrigues; seleção e notas Ruy Castro, - São Paulo: Companhia das Letras, 1993. Página 146.
Publicada originalmente em O Globo, 20/7/1966.
736
Publicada em: Rodrigues, Nelson. "A pátria de chuteiras" - Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2013. Página 55. Publicada originalmente em O Globo, 17/8/1966.
737
Publicada em: Rodrigues, Nelson. "A pátria de chuteiras" - Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2013. Página 68. Publicada originalmente em Manchete Esportiva, 7/3/1959.
738
Publicada em: Rodrigues, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol /
Nelson Rodrigues; seleção e notas Ruy Castro, - São Paulo: Companhia das Letras, 1993. Página 94.
Publicada originalmente em Manchete Esportiva, 16/5/1959
739
Publicada em: Rodrigues, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol /
Nelson Rodrigues; seleção e notas Ruy Castro, - São Paulo: Companhia das Letras, 1993. Página 99.
Publicdada originalmente em O Globo, 7/6/1962.
740
Publicada em: Rodrigues, Nelson. "A pátria de chuteiras" - Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2013. Página 36. Publicada originalmente em Manchete Esportiva, Anuário de ouro, Edição especial,
janeiro de 1959.
1417
A grande substituição
O filme começa mostrando uma cartela com um letreiro que diz A grande
substituição por Nelson Rodrigues. Vemos Neymar sofrendo uma falta em um jogo de
futebol e cenas de vários torcedores acompanhando o lance, através de seus
smartphones, tablets, televisores e laptops, tensos com a situação de Neymar, que fica
caído em campo. Em seguida, vemos o jogo continuando e Neymar jogando. Vários
torcedores começam a fazer festa e a torcer. O texto da locução do filme é formado por
frases de Nelson Rodrigues alteradas, com narração de um locutor desconhecido:
Amigos, andei nas ruas e vi por toda parte caras tristes. Deduzi. Era o luto
pela lesão do craque. Mas o mesmo infortúnio que o tirou de campo, poderá
salvar o time. Pois as adversidades fortalecem e iluminam o Brasil.
Perdemos o craque. Mas temos algo que ninguém tem. O formidável povo
brasileiro.
741
Publicada em: Rodrigues, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol /
Nelson Rodrigues; seleção e notas Ruy Castro, - São Paulo: Companhia das Letras, 1993. Página 95.
Publicada originalmente em O Globo, 5/6/1962.
1418
Frase original: A mesma fatalidade que roubou Pelé salvou Amarildo. 742
Adaptação da marca: Mas o mesmo infortúnio que o tirou de campo, poderá salvar o
time.
Frase original: De mais a mais, o perigo viriliza, enternece e ilumina o Brasil. 743
Perdemos o craque, mas temos algo que ninguém tem. O formidável povo brasileiro.
Observa-se como gênero discursivo neste filme a poética, já que a “mensagem
está centrada no trabalho com a própria linguagem, privilegiando a sonoridade, o ritmo,
as figuras das palavras” (CARRASCOZA, 2004, p. 54). A escolha lexical se dá no
campo das metáforas, sendo utilizadas hipérboles (“luto pela lesão do craque”). Embora
possamos observar características do discurso apolíneo (cuja função é deliberativa, de
aconselhar ou desaconselhar), é no campo do dionisíaco que a trama narrativa se assenta,
já que evoca emoção, com uma certa dose de fábula, já que é baseada na adaptação de
uma crônica de Nelson Rodrigues, escrita em 1962.
742
Publicada em: Rodrigues, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol /
Nelson Rodrigues; seleção e notas Ruy Castro, - São Paulo: Companhia das Letras, 1993.Página 95.
Publicada originalmente em O Globo, 5/6/1962.
743
Publicada em: Rodrigues, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol /
Nelson Rodrigues; seleção e notas Ruy Castro, - São Paulo: Companhia das Letras, 1993.Página 97.
Publicada originalmente em O Globo, 5/6/1962.
744
Publicada em: Rodrigues, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol /
Nelson Rodrigues; seleção e notas Ruy Castro, - São Paulo: Companhia das Letras, 1993.Página 105.
Publicada originalmente em O Globo, 18/6/1962.
1419
1420
745
Oxford Dictionary - http://www.oxforddictionaries.com/definition/english/hashtag
1421
1422
Considerações finais
A campanha publicitária da Claro buscou mobilizar o consumidor para conhecer
a tecnologia 4G, por meio de elementos claros e muito próprios da cultura nacional. A
partir de aspectos identitários, as peças publicitárias mesclaram narrativas de Nelson
Rodrigues que faziam sentido em 2014, evocando a emoção da torcida, a paixão do
brasileiro pelo futebol, o desejo de ser um craque e o sonho do hexacampeonato.
Diversos elementos de consumo simbólico foram elencados ao longo deste artigo, de
forma a demonstrar que a operadora de telefonia se utilizou de práticas discursivas
como as paráfrases para trazer à tona elementos do cotidiano do brasileiro, assinalados
pela literatura de Nelson Rodrigues. Vale destacar que há elementos de ready-made – o
já pronto – assim como bricolagem e pastiche, com referenciais que se mesclam ao
passado.
Os textos dos filmes analisados incorporaram repertório cultural e artísticos da
população brasileira, convidando o consumidor a participar de uma nova tecnologia de
ponta, de forma lúdica, com referências diretas e indiretas a um passado de um futebol
romântico, saudoso e até mesmo ingênuo.
Elementos de intertextualidade são determinantes na campanha. Na análise do
discurso, foi possível delinear características de interdiscursos, já que, segundo Bakhtin,
as palavras dialogam umas com as outras. A palavra apresentada como um signo
1423
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OXFORD Dictionary
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1424
Figuras 1, 2 e 3 – Imagens do filme A emoção do futebol da campanha criada pela Ogilvy &
Mather Brasil. Produtora de video: Zola. Produtora de áudio: Lua Nova.
Figuras 4, 5 e 6 do filme Craque da Claro é outra coisa criado pela Ogilvy & Mather Brasil.
Produtora de video: Zola. Produtora de áudio: Lua Nova.
Figuras 7, 8, 9 do filme O craque por Nelson Rodrigues criado pela Ogilvy & Mather Brasil.
Produtora de video: Zola. Produtora de áudio: Lua Nova.
Figuras 10, 11 e 12 do filme A grande substituição por Nelson Rodrigues criado pela Ogilvy &
Mather Brasil. Produtora de video: Zola. Produtora de áudio: Lua Nova.
1425
Juliana SOUTO747
Rogério COVALESKI748
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE.
RESUMO
Esta pesquisa objetiva analisar narrativas publicitárias contemporâneas que visam a
fortalecer a ligação entre os consumidores e a cultura das experiências. Propõe-se, para
tal reflexão, a leitura analítica da campanha publicitária intitulada “Aperte On”, da
marca de cerveja Skol. A partir de revisão bibliográfica, verificam-se as dinâmicas da
comunicação atual e como grandes anunciantes estão se relacionando com o seu
público-alvo, intentando conquistar o engajamento afetivo do consumidor por meio de
experiências de consumo ligadas ao entretenimento. O presente estudo busca oferecer
com isso elementos para que se averigue como os discursos publicitários estão sendo
produzidos, e para se pensar como o sujeito contemporâneo constrói sua sensibilidade
midiática a partir de experiências de consumo.
Introdução
A sociedade contemporânea nos traz novas relações afetivas, outras formas de
pensar a comunicação e, para nós, pesquisadores da área da Comunicação, o desafio de
entendermos o fenômeno do consumo como instrumento essencial nos processos de
representação dos indivíduos na sociedade. A relação das pessoas com os objetos vai
muito além da materialidade. Consumimos produtos, utilizamos serviços, desejamos
simbolicamente determinadas marcas, e com isso, vamos desenvolvendo nossa vida
com experiências de consumo diariamente. Mas quais as razões para consumirmos?
Necessidade? Desejo? Status? São muitas as indagações que nos instigam a investigar
as práticas e experiências de consumo a partir das narrativas publicitárias, cada vez mais
elaboradas e complexas. Esses questionamentos nos movem para uma compreensão
mais abrangente da construção de sentido nos discursos midiáticos que fomentam
746
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
747
Mestranda do PPGCOM/UFPE e integrante do Grupo de Pesquisa “Publicidade nas Novas
Mídias e Narrativas do Consumo”. E-mail: julianasoutope@gmail.com
748
Doutor em Comunicação e Semiótica, Professor do PPGCOM/UFPE, Colíder do Grupo de
Pesquisa “Publicidade nas Novas Mídias e Narrativas do Consumo”. E-mail: rogerio.covaleski@ufpe.br
1426
1427
1428
Sendo assim, a mídia se apresenta como uma instância da cultura que conduz
experiência de socialização para o consumo.
Sigamos nossa reflexão às narrativas publicitárias que, na contemporaneidade,
vêm fomentando as experiências sensoriais às marcas, de modo a fortalecer a relação
entre anunciantes e o público-alvo de suas campanhas.
1429
1430
empresas que fazem histórias (e não só as contam), a partir de ações convincentes e experiências
de consumo com narrativas contadas por pessoas que se tornaram “fãs” da marca em questão.
1431
caso da campanha de Skol, “a cena de consumo é só uma cena da trama, mas a trama é
construída para que ela brilhe, sem parecer ser tão importante.”
A narrativa mostra o que aconteceu a partir do momento que o jovem que
apertou o botão mais rapidamente do que os seus amigos. Ele foi o escolhido para
“viver a experiência”. O consumidor premiado desfrutou de uma noite surpreendente,
após aceitar o convite para vivenciar o conceito da campanha da Skol, e sem saber o que
estaria por vir. O jovem teve, possivelmente, uma das experiências mais inusitadas de
sua vida, com direito às participações especiais do ex-pugilista Mike Tyson e da atriz
Deborah Secco – com os quais contracenou nos filmes da campanha. De acordo com a
equipe de marketing da Skol, “Estamos fazendo storydoing ao invés [sic] de storytelling
– o que eu acredito que não seja algo que o espectador compreenda completamente [...]
Queremos colocar o consumidor no centro da ação, esse é o nosso storydoing”
(ADNEWS, 2015). Na avaliação de Fabio Fernandes, presidente da agência F/Nazca, “o
grande desafio foi dispensar o tradicional storytelling e buscar storydoing, uma forma
mais real de conectar a marca com o público, especialmente o público de cabeça jovem
e absurdamente antenado, como o consumidor de Skol” (ADNEWS, 2015).
Para escolher o consumidor que iria vivenciar a experência completa de
consumo, a Skol, em sua página no Facebook, divulgou a busca de um perfil jovem,
com idade entre 26 e 35 anos, que fosse bem humorado e gostasse de aventuras. As
pessoas se inscreveram, e a empresa fez vários testes com alguns dos inscritos. Um dos
testes práticos foi saltar de um andaime de seis metros de altura, com olhos vendados,
em um colchão inflável, a fim de averiguar a “coragem” dos canditados e a disposição
deles em participar da campanha. Isso nos confirma que as pessoas que participaram do
filme – as que estavam no bar, cena citada anteriormente –, já sabiam que iriam
participar de uma ação, só não sabiam qual era, e apenas um deles, o paulista Caio, 27
anos – que apertou primeiro o botão “On” –, participou da experiência completa (vide
Fig. 1).
1432
1433
Considerações finais
Este trabalho apresentou uma breve reflexão de como algumas grandes marcas
como Skol estão se relacionando com os consumidores atuais e fomentando o
engajamento a partir de experiências, de modo a consolidar a fidelização à marca.
Pudemos obervar como as narrativas publicitárias podem aproximar as pessoas
em torno de histórias, estilos de vida, desejos, gostos, e envolver a todos em uma esfera
de comunicação que abrange experiências marcantes. Baudrillard (2011, p.95) ajuda-
nos a compreender esse fenômeno percebido no caso analisado: “Importa experimentar
tudo, porque o homem do consumo encontra-se assediado pelo medo de falhar
(qualquer coisa), de não obter seja que prazer for [...] reina o imperativo de se divertir e
de explorar a fundo todas as possibilidades de se fazer vibrar, gozar ou gratificar.”
Muito em consonância com os interesses da marca em propiciar experiências a seus
consumidores – experiências hedônicas, nesse caso.
Como também apresentamos, as narrativas publicitárias contemporâneas passam
por transformações e adaptações, por vezes convergindo ou se transmutando em novos
produtos midiáticos, sobretudo os de entretenimento. E a nós, seja na condição de
profissionais do mercado publicitário ou de pesquisadores da Comunicação, precisamos
estar atentos a todas essas mudanças, pois o consumidor hoje é pensado como foco na
construção da mensagem, seja ela para ser exibida em meios mais tradicionais, como a
tevê, ou em complexas estratégias comunicacionais multiplataforma.
O fenômeno do consumo vem redesenhando nossas práticas coletivas, e o estudo
desse fenômeno de maneira mais profunda nos trará uma compreensão dos mapas
1434
culturais que estamos inseridos e dos códigos culturais do nosso tempo, fomentando o
surgimento de narrativas publicitárias que envolvam afetivamente as pessoas, trazendo
à tona elementos simbólicos associados à marca, que humanizam produtos e serviços, e
propiciam diálogos cada vez mais eficazes com os consumidores.
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Acesso em: 15.mar.2015.
1435
RESUMO
O objetivo deste estudo é entender o efeito que o product placement atrelado ao vilão de
uma narrativa pode ter na recepção do conteúdo para o público e para as marcas. Para
isso, foi realizada um sondagem nas redes sociais e uma pesquisa quantitativa com 309
brasileiros. Este tema está diretamente relacionado às discussões pós-modernas sobre a
midiatização e sobre a marca como dispositivo que gera vínculos de sentido entre as
pessoas e os produtos.
1. Introdução
Os profissionais de marketing e comunicação são desafiados a encontrar novas
maneiras de se comunicar com os consumidores pois estes são cada vez mais expostos a
estímulos tradicionais de propaganda. (BOEING et. al. 2013). Neste contexto de
saturação na publicidade, o product placement, ganha maior importância como uma
alternativa para anunciantes. No Brasil, o termo é comumente citado como
merchandising. Este estudo utilizará o termo product placement para seu propósito, que
é o termo utilizado pela literatura internacional.
O product placement pode ser definido como uma “incorporação intencional de
uma marca em um veículo de entretenimento” (RUSSEL & BELCH, 2005). De acordo
com D’Astous e Chartier (2000), product placement é uma colocação deliberada e
estratégica de produtos, serviços e/ou marcas em sequências cinematográficas com
intenção promocional. Já a norte-americana FTC (Federal Trade Commission) define o
product placement como uma forma de promoção cujos anunciantes inserem produtos
da marca em programações em troca de remuneração ou outras retribuições.
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
750
De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
1436
Marketing . 755
Imagem 1:
754
Disponível em <http://www.adnews.com.br/publicidade/o-buzz-da-coca-cola-na-mao-do-
vilao-de-imperio> Acesso em 20 de março de 2015
755
Disponível em <http://www.ideiademarketing.com.br/2015/03/16/entendendo-a-teoria-do-
falem-bem-ou-falem-mal/> Acesso em 20 de março de 2015
1437
Nas redes sociais, os comentários eram variavam entre pessoas que ironizavam a
cena, debochando da marca por fazer uma aparição “forçada”, na opinião delas. Outros
apresentavam um tom de insatisfação mais acentuado, chegando à transmitir a sensação
de raiva e indignação. Por fim, alguns associavam negativamente o fato de a marca estar
associando sua imagem tão claramente ao vilão e a uma cena de tensão e violência,
como se vê nos comentários a seguir, que foram retirados da rede social Twitter (por
meio da ferramenta gratuita https://twitter.com/search) um dia após a exibição do último
capítulo.
1438
1439
Reese e seu incremento de vendas de 65% um mês após a inserção do produto no longa
cinematográfico “E.T.: The Extra-Terrestrial”. (CHAN, 2012).
O fenômeno do product placement começa a ser formalmente retratado e
estudado somente nos anos 1980. Um dos primeiros pesquisadores a definir o termo foi
Balasubramanian. A partir da década de 1990, os estudos de product placement
aumentaram tanto em relação aos filmes quanto nos programas de televisão
(D’ASTOUS e CHARTIER, 2000). Balasubramanian (2006) descreve como uma das
primeiras definições do product placement o esforço pago de incluir marcas em filmes e
programas de televisão para influenciar espectadores que não identificavam
explicitamente o patrocinador, incluindo a inserção do nome da marca, da logomarca,
do produto ou embalagem identificada pela marca (Chan, 2012).
Em 1998, Karrh (2001) descreveu a prática como a inserção de produtos com
marcas ou identificadores de marca em programas em troca de pagamentos financeiros.
Esta definição é depois seguida por outros estudos.
Russel, em 1998, desenvolveu um constructo tridimensional de product
placement. As três classificações são: visual, escrito e inserção no enredo. A primeira
classificação trata da inserção visual do produto sem menção junto ao enredo. O
segundo trata somente do estímulo verbal sem aparição do produto ou marca de maneira
visual. A última classificação trata o produto não somente de maneira visual como
também atuante dentro do enredo.
Outra forma de classificação de product placement é o D’Astous e Seguin
(1999) em que as estratégias do product placement podem ser (1) implícito - Quando
uma marca e/ou produto está inserido no programa sem ser formalmente expressado ou
citado, (2) explícito integrado - quando uma marca e/ou produto está inserido no
programa e sendo formalmente expressado (atributos e benefícios do produto são
claramente demonstrados) ou (3) explícito não-integrado - quando uma marca e/ou
produto não está inserido no programa mas está sendo formalmente expressado. A
marca pode ainda ser citada em diversos momentos do programa ou ainda fazer parte do
nome do programa.
Apesar de ter um efeito claro no lembrança e nível de conhecimento da marca
((D’ASTOUS e CHARTIER, 2000)), ainda não resultados divergentes em relação à
capacidade do product placement em gerar resultados atitude em relação à marca e
intenção de compra (MATTHES, 2007).
1440
3. Vilania
O vilão é o antagonista do herói, que por sua vez possui caráter mítico e
representa o homem que passa por adversidades, enfrenta obstáculos e renasce em uma
nova condição (FARIA, 2012 apud CAMPEBELL, 2007). Para que o herói possa surgir,
precisa passar por suas provações e o vilão é aquele que tentará impedir que isto
aconteça ou apresentará as dificuldades. (FARIA, 2012). O vilão e sua imagem são
ficcionais. O vilão é aquele que representa o que é errado, injusto, não segue preceitos
morais ou éticos e dentro de uma história de ficção, ele representa o mal.
Do ponto de vista de Ullmann (2005), o conceito de mal pode ser descrito como
sendo uma qualidade negativa, uma falha de caráter ou de alma. Ele ainda classifica esta
propriedade como física, moral e metafísico. O primeiro tem relação com a agressão
física com o intuito de gerar sofrimento. O segundo tem relação com as questões morais
e éticas em vigor, e o terceiro lida o mal como alma natural e de maneira original e
intrínseca. Como citado anteriormente, o vilão é o antagonista do herói. O herói é
aquele que enfrenta adversidades, obstáculos e renasce em uma nova condição. A
condição do herói existir é a passagem pelas provações e o vilão é quem tentará impedir
que isto aconteça. (FARIA, 2012 apud CAMPBELL, 2007).
O vilão contemporâneo, no entanto, subverte antigos e modernos valores morais
reestruturando de uma nova maneira. Ele é mais complexo, não sendo sempre
representado como retrato do Mal e tendo narrativas próprias que contextualizam seus
comportamentos socialmente indesejados. Esta construção menos maniqueísta teve
início no mundo da literatura e logo foi absorvido pelas narrativas midiáticas como
filmes, novelas e vídeo-games. Ela faz com que os consumidores destas narrativas,
muitas vezes, torçam para o vilão durante a história, pois gera identificação com o
público.
Esta identificação significa que as pessoas percebem que a personagem é como
elas próprias, eticamente instáveis, imperfeitas e incapazes de fazerem o bem a todo
momento. Já que as pessoas comuns oscilam entre o Bem e o Mal em cada momento de
tomada de decisão moral, de acordo com o momento de vida e os afetos instantâneos,
por que os vilões seriam diferentes? Por isso, boa parte dos personagens admirados
atualmente são vilões, por exemplo, Breaking Bad, cujo protagonista é um professor de
química que decide ser traficante de drogas).
É interessante observar como algumas marcas já passaram a aderir a esta
perspectiva menos maniqueísta. Anteriormente, o discurso publicitário era muito
1441
polarizado e ressaltava somente o lado positivo de seus produtos (“meu produto é bom,
outros são ruins” ou “usar meu produto faz bem, não usar faz mal”). Assim, marcas
também encarnam papéis complexos, cujos aspectos podem ser interpretados como
traços de vilões. Por exemplo, Abercrombie (marca de roupas) tem um discurso
polarizadora, valorizando somente pessoas muito musculosas e excluindo quem não tem
tal “perfeição” estética. E TNT (marca de energético) utiliza a violência e a força bruta
como motes de suas campanhas e patrocínios. Violência e exclusão podem ser
elementos característicos de vilões, mas têm potencial de gerar identificação na medida
em que fazem parte de uma narrativa mais complexa.
4. Hipóteses
Mesmo com o aumento da complexidade do sentido de vilania e das facetas dos
vilões nas narrativas midiáticas pós-modernas, mantém-se a dialética entre o vilão e o
herói. Assim, é natural que os vilões sejam avaliados pelo público por meio de atributos
negativos e socialmente indesejados. Tendo como ponto de partida a teoria da
transferência de significados do mundo culturalmente constituído para os objetos de
McCracken (2003), que já foi amplamente estudada na relação entre associações
secundárias (personagens, celebridades, entre outros) e marcas, deduz-se a seguinte
hipótese.
H1: O nível de vilania do personagem participante que interage com o produto
na cena terá um efeito moderador negativo na atitude sobre a percepção de adequação
do próprio product placement e na satisfação em relação ao capítulo. Ou seja, quanto
mais o personagem é percebido como vilão, menor será a percepção de adequação do
product placement e a satisfação em relação ao capítulo.
As práticas recorrentes do mercado publicitário levam à colocação de marcas
dentro de cenas que transmitam o “clima” quer associar à sua imagem ou cuja resolução
da cena faça emergir atributos centrais no posicionamento destas marcas. Coca-Cola é
uma das marcas mais valiosas e mais bem avaliadas pelos consumidores em todo o
mundo , sendo reconhecida por ser uma marca alegria, feliz, jovem, relacionada aos
756
756
Disponível em :
http://www.rankingthebrands.com/PDF/Interbrand%20Best%20Global%20Brands%202014.pdf, acesso
em 05 de abril de 2015.
1442
suspense, tensa e com indícios de violência (por exemplo, arma de foto), deduz-se a
seguinte hipótese.
H2: O público perceberá incongruência entre os atributos da marca Coca-Cola e
os atributos percebidos na cena.
Diversos autores se debruçaram sobre a questão da congruência entre o contexto
de apresentação de um estímulo publicitário e os efeitos cognitivos, afetivos e
comportamentais gerados no receptor, e consequentemente nos resultados alcançados
pelas campanhas. Ahmad (2001) demonstrou empiricamente que a congruência impacta
tanto na preferência quanto na satisfação em relação aos produtos. Assim, caso H2 não
seja rejeitada, há bases teóricas para se deduzir a hipótese a seguir.
H3: A incongruência entre os atributos da marca e os atributos da cena moderará
negativamente a atitude em relação à Coca-Cola. Ou seja, as pessoas que perceberem a
incongruência avaliarão menos positivamente a marca Coca-Cola.
5. Pesquisa empírica
Foi realizada uma pesquisa quantitativa por meio de técnica online cinco dias
após o último capítulo da novela. A coleta foi viabilizada com a colaboração de uma
empresa especializada em pesquisa de mercado, que utilizou a técnica de coleta por
meio de “bola de neve”. A amostra foi composta por 309 respondentes de todos os
estados brasileiros, de 14 a 50 anos (73% mulheres e 27% homens).
Todos os participantes da pesquisa declararam terem assistido à novela e aos
últimos capítulos. Aqueles que declararam não ter assistido aos últimos dois capítulos
foram excluídos do questionário, não sendo considerados na amostra total supracitada.
Do total da amostra, 17% se lembravam de ter visto de forma espontânea algum
product placement ao longo de toda a novela. Para perguntar sobre product placement,
que se trata de um termo técnico do meio publicitário, foi realizada a seguinte pergunta:
"Você lembra de ter visto algum produto ou marca na novela? Lembre se viu o produto
dentro da cena, não nos intervalos comerciais." 44% lembram-se de ter visto a marca
Coca-Cola dentro do episódio da Coca-Cola. Porém, não estenderemos a discussão
sobre os aspectos de recall pois, como foi indicado na introdução, há extensa
bibliografia sobre o assunto e os próximos passos do desenvolvimento do conhecimento
científico sobre product placement estão no entendimento do processamento cognitivo
deste tipo de ação de comunicação e variáveis moderadoras que ainda não foram
estudadas.
1443
1444
Do ponto de vista dos efeitos de percepção gerados, não é possível afirmar que
este consumo do tema por meio das redes sociais seja significante a ponto de influenciar
negativamente a imagem da Coca-Cola. Ao analisar o efeito de causalidade entre a
lembrança dos comentários nas medidas de atitude em relação à marca (é uma marca
confiável, tenho uma boa impressão sobre a marca, gosto dessa marca), o resultado não
é significante (β = -0,119, p = 0,042), como mostra a tabela abaixo.
1445
1446
Este resultados colocam pode se dever ao fato de o estudo ser realizado com
uma marca muito forte na mente dos consumidores. Por ser uma marca muito presente
no dia a dia dos brasileiros, pode não ter gerado estranhamento, mesmo se tratando de
uma cena que não se costuma associar à marca.
1447
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1449
RESUMO
O presente artigo apresenta uma análise com enfoque na ressignificação dos cafés de
alta qualidade, como uma experiência de consumo. Processo alimentado pela indústria
cafeeira do Brasil e, no recorte selecionado, através da empresa Café Três Corações S/A,
maior indústria do setor filiada à ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café) no
biênio 2013-2014. O objetivo é identificar no discurso da campanha publicitária da
máquina de multibebidas Tres e do blog Mexido de Ideias – patrocinado pelo grupo
Três Corações – elementos que corroborem com a produção de significados direcionada
ao incentivo do consumo alicerçado na experiência em torno deste grão.
PALAVRAS-CHAVE: comunicação; consumo; experiência; publicidade; café
gourmet.
Introdução
O café é uma cultura agrícola de importância global. É a segunda commodity mais
comercializada no planeta, ficando atrás somente do petróleo759. Além disso, o café
também ocupa posição de destaque quando o assunto é consumo – é a segunda bebida
mais consumida no mundo760. Somente a água está à frente.
Para o Brasil, o café também desempenhou e continua a ter um papel relevante.
Durante parte dos séculos XIX e XX foi o principal item de exportação da balança
comercial nacional e ainda hoje o país é um dos principais players do comércio mundial
deste grão. De acordo com Pino e Vegro (2012), somos o segundo maior consumidor,
além de também figurarmos como o maior produtor mundial da rubiácea.
O mercado de café no Brasil está se transformando desde meados da década de
1990, principalmente no quesito consumo. A mão de obra está mais especializada,
757
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
758
Mestrando do PPGCOM da ESPM, e-mail: lvteixeira@gmail.com
759
Agroclima. Informações disponíveis em: http://www.agroclima.com.br/noticias/140083/imprensa-
internacional-destaca-importancia-do-cafe-para-a-economia-brasileira-daily-mail. Acesso em 24 abr,
2015.
760
Café Point. Informações disponíveis em: http://www.cafepoint.com.br/blogs/espaco-aberto/a-
historia-da-segunda-bebida-mais-consumida-em-todo-o-mundo-o-cafe-51631n.aspx. Acesso em 25 abr,
2015.
1450
761
Definição de café especial para a SCAE (Associação de cafés especiais europeia), tradução nossa:
“Café especial é definido como uma bebida artesanal à base da rubiácea, sendo reconhecida pelo
consumidor (em um mercado específico em um determinado período) como tendo qualidade única, sabor
singular e características superiores aos cafés geralmente servidos. Esta bebida deve utilizar grãos de
origem controlada e altos padrões de qualidade no processamento do café cru, na torra, no envase e no
preparo.” Versão original em inglês disponível em: http://www.scae.com/about-us/what-is-specialty-
coffee.html. Acesso em 24 abr, 2015.
762
Alguns especialistas do mercado do café diferenciam o café gourmet do especial, pois defendem que
este engloba parâmetros que vão além da questão sensorial para ser considerado de alta qualidade, como:
responsabilidade social na produção e rastreabilidade do produto. Contudo, consideraremos os termos
como sinônimos nesse artigo, pois o objetivo aqui se restringe à qualidade da bebida.
1451
763
BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais). Informações disponíveis em:
http://bsca.com.br/cafes-especiais.php. Acesso em 23 abr, 2015.
1452
1453
764
Seção Novidades do site do grupo Três Corações. Disponível em:
http://www.3coracoes.com.br/companhia/novidades/alex_atala_e_tres.php. Acesso em: 24 abr, 2015.
765
Comercial Tres para o dia das mães 2014. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=cifAbDsEt5Q. Acesso em: 23 abr, 2015.
1454
opinião de seus familiares, pois todos estão mais preocupados em elogiar os cafés, chás
e cappuccinos da Tres.
O que não é evidente nesse ponto sobre família é o fato dela ser muito
valorizada no campo das empresas do agronegócio, ao qual o grupo Três Corações
pertence. E quando tratamos do conceito de campo, precisamos recorrer à Bourdieu
(2007). Basicamente, trata-se de um espaço em que indivíduos e organizações
interagem através de dinâmicas e leis próprias, gerando práticas discursivas e capitais
simbólicos específicos, mantendo-se pelos habitus, que organiza a percepção das
práticas no mundo social. Assim, por meio desta prática discursiva da família os
indivíduos e grupos do agro, como os produtores e trabalhadores rurais, reconhecem e
se identificam com a comunicação da Tres, enxergando que a família retratada poderia
ser a sua própria.
Ainda tratando da Tres, a concorrência em seu segmento é acirrada. Isto porque
compete com marcas já consolidadas e até sinônimo de categoria, como é a Nespresso
para as máquinas de café em cápsulas. Esta também possui seu embaixador, o ator e
galã de Hollywood George Clooney. É por isso que a Três Corações se valeu de um
garoto-propaganda identificado com o resgate das raízes gastronômicas brasileiras e que
faz uma ressignificação desta para o mundo. O café seria uma nova expressão culinária
de Alex Atala que a Tres proporciona. Tanto que em seu aclamado restaurante D.O.M. é
servido café desta máquina. E, curiosa/estrategicamente, o restaurante é quase vizinho
do Nespresso Expertise Center (http://www.nespresso.com/nec/#/home), local criado
pela concorrente para sediar e difundir seu consumo de experiências.
No garoto-propaganda em questão vemos ainda a dimensão da performance, de
acordo com o entendido por Alain Ehrenberg (2010), pela existência de um culto da
performance e de valorização do empreendedor. O delicado desta relação é o
descentramento do eu – sintoma do capitalismo tardio em que o indivíduo comum pode
acabar perdendo “sua capacidade de individuação [...] sua vida se torna um contínuo
“rito de iniciação”, qual ele procura mostrar que está sintonizado com as mais novas
receitas de sucesso.” (EHRENBERG, 2010, p. 204). Afinal, o consumo simbólico do
chef empreendedor e material do café que ele vende não irá garantir um caminho para o
sucesso dos sujeitos.
Além disso, segundo Baudrillard (2007), vislumbramos que a empresa quer nos
ensinar como se deve consumir e até a vivenciar a experiência com o café, num regime
de iniciação social do consumo. Enfim, por meio dessa pedagogia do consumo as
1455
Com efeito, a divisão do menu principal é direcionada para o dito acima, receitas
e bebidas à base de café, mas que pretende atender a públicos extremamente variados de
forma segmentada através de abas com conteúdos direcionados, conforme será
examinado nos parágrafos seguintes.
Uma preocupação implícita nesse texto de apresentação é com o tempo. De
acordo com Silverstone (2011), há uma íntima relação entre as práticas de consumo e o
tempo, e é por isso que: “As sociedades criaram mecanismos, locais e ritmos próprios
para a regulação do consumo. Os dias são marcados pelos lugares e momentos
apropriados para comer.” (SILVERSTONE, 2011, p. 153). O que o blog deseja é que
todos arrumem tempo para a experiência do consumo do café.
A primeira aba aborda as Receitas, apresentando tanto pratos doces quanto
salgados para agradar a diversos gostos e paladares. Alguns desses posts podem ser
conferidos na figura 2 abaixo:
Seção Sobre o Mexido. Disponível em: http://www.mexidodeideias.com.br/index.php/sobre-o-blog/.
767
1456
Seção TV Mexido. Disponível em: http://www.mexidodeideias.com.br/index.php/tv-mexido/cafe-
768
1457
O item seguinte do menu é o Dicas, em que é dada voz aos membros da cadeia
produtiva do café, como baristas, produtores e membros de associações. Ao mesmo
tempo, estas referências do campo dão credibilidade ao conteúdo do blog. Além disso,
neste item são mostradas outras formas de usos e apropriações do café, como em livros,
roupas e tratamentos estéticos.
Já em Curiosidades encontraremos notícias, peculiaridades e gadgets
pertencentes a este universo. Alguns exemplos de posts: Estudo comprova: tomar café
faz você mais feliz, Spink: o acessório para você nunca mais derramar seu café, entre
outros.
O próximo item – Mundo do Café – aborda o mercado antes da xícara (analogia
com a expressão do campo do agronegócio antes da porteira que se refere à produção
das fazendas e das agroindústrias) com informações do mercado agro sobre: novas
tecnologias, regiões produtoras, maquinário, variedades de café, os sentidos envolvidos
na degustação do café, etc. Esse tipo de conhecimento é mais especializado e visa quem
já é do meio para que também utilize o blog como fonte de consulta.
Há ainda uma última aba no menu principal intitulada Especiais, que realça
algumas matérias das seções anteriores.
É preciso salientar também o número de fans do Mexido de Ideias no Facebook,
mais de 275 mil . É um público bastante numeroso que, por curtir a página, mostra pelo
770
menos alguma curiosidade em relação ao café e pelo que o rodeia. É de se supor que
nem todos são clientes da Três Corações, mas de qualquer forma são pessoas que
abriram a possibilidade de diálogo com a empresa e com outros elos deste mercado.
Segundo Harvey (2011), o contato realizado desta forma visa influenciar as
necessidades para assegurar um mercado potencial. “Há algo mais do que apenas
publicidade está em jogo aqui. O que é necessário é a formação de condições diárias de
vida que exigem a absorção de um conjunto de certas mercadorias e serviços, a fim de
se sustentar.” (HARVEY, 2011, p. 91). É por isso que os baristas mais renomados e as
cafeterias que servem somente cafés especiais aceitam os cafés em cápsulas e as
agroindústrias, pois, apesar de não reconhecerem os cafés produzidos por estes como
sendo gourmet, conseguem enxergar seu papel fomentador do consumo dos cafés de
melhor qualidade.
770
Facebook do Mexido de Ideias. Disponível em: https://pt-br.facebook.com/mexidodeideias. Acesso
em: 26 abr, 2015.
1458
Tratamos até aqui, de forma geral, sobre como uma grande corporação trabalha para
incitar o consumo de determinada mercadoria, no caso o café. Contudo, isso não dá
conta de toda a história.
A preocupação com o estilo de vida, com a estetização da vida, sugere que
as práticas de consumo, o planejamento, a compra e a exibição dos bens e
experiências de consumo na vida cotidiana não podem ser compreendidos
simplesmente mediante concepções de valor de troca e cálculo racional
instrumental. (FEATHERSTONE, 1995, p. 123)
Assim, os sujeitos podem alterar as formas de consumo propostas pelas
empresas por causa dos seus contextos sociais, por seus rituais e práticas de consumo.
Desta forma, podemos entender o consumo como “o conjunto de processos
socioculturais em que se realizam a apropriação e os usos dos produtos.” (CANCLINI,
2001, p. 77). Por exemplo, mesmo experimentando e entendendo os complexos
atributos sensoriais de doçura, acidez e corpo de um café gourmet ou a praticidade e
inovação do café em cápsulas, os indivíduos podem continuar a preferir o aroma e o
sabor do café tradicional preparado no coador de pano devido aos laços afetivos e
subjetividades previamente constituídas.
Considerações finais
Percebe-se que este artigo apresentou diferentes pontos de vista que até mesmo apontam
para possibilidades interpretativas opostas, como as de Canclini e Baudrillard. Porém,
estas visões também são complementares, pois ao mesmo tempo em que há uma
construção simbólica da mercadoria por parte das indústrias cafeeiras, no caso analisado
da Três Corações, existe também o fato de que “o desejo de possuir o “novo” não atua
como algo irracional ou independente da cultura coletiva a que se pertence.”
(CANCLINI, 2001, p. 84). Afinal de contas, “o homem é um ser social [...] precisa de
bens para comunicar-se com os outros e para entender o que se passa à sua volta.”
(DOUGLAS; ISHERWOOD, 2006, p. 149). Desta forma, consumir também é um ato
de comunicação, de inclusão e de exclusão e de gerador de afetos e subjetividades.
Paralelamente, vemos que o movimento de experimentação, de um crescente
envolvimento no consumo de experiências do café, está inserido no contexto da
indústria cultural de acordo com o olhar de Morin (2005), pois aponta uma contradição
da cultura de massa, que é limitante, mas ao mesmo tempo precisa de alguma inovação
1459
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2007.
DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia do
consumo. 1ª edição. 1ª reimpressão. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006.
PINO, Francisco A.; VEGRO, Celso L. R. Café: um guia do apreciador. 4ª edição. 2ª tiragem.
São Paulo: Saraiva, 2012.
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2011.
1460
RESUMO
Em 2013, o maior prêmio do Festival de Publicidade Cannes Lions foi para o filme “Retratos da
Real Beleza”, um projeto global da agência Ogilvy & Mather Brasil. O vídeo, popularizado em
mídias digitais e redes de relacionamento é representativo da transformação que a publicidade
vive desde a popularização da internet, nos anos 90. Na atual sociedade de consumo, padrões de
cultura participativa encontram reforço em novos recursos tecnológicos de interação, afetando
as relações de consumo entre marcas e consumidores, cada vez mais proativos e artífices de
seus próprios conteúdos midiáticos. “Retratos da Real Beleza” também é um convite para
realizarmos uma análise desse momento de transição da publicidade, por meio da semiótica
Greimasiana, que apresentou recentemente novos olhares para os objetos da mídia e seus
contextos.
1461
rapidez, veracidade, diversão e, acima de tudo, com conteúdo situado fora dos limites
estreitos dos discursos institucionais de venda da marca.
Este desafio implica na revisão dos velhos esquemas persuasivos desenvolvidos
e aperfeiçoados em 200 anos de propaganda (se considerarmos 1808 o ano inaugural da
atividade publicitária no país com a publicação do primeiro classificado imobiliário no
jornal “A Gazeta do Rio de Janeiro”). É representativa desses velhos esquemas, a
comunicação centrada no modelo intrusivo das mensagens publicitárias; na USP,
unique selling proposition ou argumentação única de venda, geralmente centrada em
características e benefícios do produto e no predomínio da publicidade sobre outras
disciplinas de comunicação de marketing e branding. Porém, há duas décadas pelo
menos, novas gerações de consumidores, acostumados a computadores, celulares e
demais dispositivos eletrônicos de acesso à informação e conexão em tempo real têm
provocado tensões nesses antigos esquemas persuasivos das marcas, obrigando
empresas e agências de comunicação a repensarem os modelos operativos que praticam
em nome do marketing de marcas.
A internet e a world wide web (www) representam, para a publicidade, a
democratização da comunicação de marca, pois ampliam a possibilidade e a capacidade
de qualquer pessoa, consumidora ou não, de criar e distribuir conteúdos para muitos
membros da sociedade (uma a um, um para muitos, muitos para muitos), desafiando a
economia da atenção774 pela qual interatividade significa, do ponto de vista do outro,
passar pelos crivos da procura e seleção das informações e conteúdos que interessam
(entenda-se, que divirtam, emocionem) e o descarte dos demais que não preenchem os
requisitos da atenção, motivação e interesse, geralmente imediatos ao acesso.
Para complicar ainda mais o cenário, é preciso considerar que, além dos
consumidores da marca agrupados em público-alvo (método de trabalho praticado desde
os anos 50 do século passado), as campanhas de comunicação devem, também
considerar os fãs da marca; os influenciadores de opinião; os que têm voz e seguidores
em redes sociais; os prescritores e profissionais que têm autoridade reconhecida em
determinada área do saber ou fazer, enfim, vários outros subgrupos de consumidores e
não-consumidores, que mesmo menores ou localizados, são igualmente importantes
774
“O mercado está saturado de mensagens, todas competindo por nossa atenção. Nesse
ambiente, a atenção torna-se uma mercadoria rara”. Esta citação resume bem o clima dos americanos
durante o Programa Comunicações e Sociedade do The Aspen Institute, 1996, cujas conclusões
fundamentaram a publicação do Grupo de Mídia de São Paulo intitulada “A conquista da atenção”
(2002), na qual Richard Adler, o relator, aborda a nova economia da atenção como desafio maior do
futuro da publicidade.
1462
1463
775
O filme encontra-se disponível em: <http://retratosdarealbeleza.dove.com.br/>. Acesso em: 17
abr. 2015.
776
Informação disponível no próprio website da campanha
<http://www.dove.com.br/pt/Universo-Dove/Videos/Dove-Retratos-da-Real-Beleza.aspx>. Acesso em:
17 abr. 2015.
1464
Figuras 21 e 2 - Seis pares de desenhos realizados por Gil Zamora para Dove, Unilever
(2013) e desenhos comparados à retratada. Disponível em: <
http://retratosdarealbeleza.dove.com.br/>. Acesso em: 17 abr. 2015.
A escolha deste objeto para análise se deve por ele ser a peça principal de uma
campanha publicitária que se encontra na fronteira entre os novos paradigmas de
1465
777
Um dos vídeos publicitários mais assistidos da história do YouTube: até 17 de abril de 2015, a
versão compacta do filme Retratos da Real Beleza teve, aproximadamente, 5,6 milhões de visualizações e
sua versão de 6 minutos, 1,8 milhão de acessos. Disponível em:
<https://www.youtube.com/channel/UCNWifvx-E-Y7Nykr5feg-Vw> Acesso em: 17 abr. 2015.
778
Disponível em: < http://www.unilever.com.br/Images/Dove_tcm95-106355.pdf >. Acesso em:
17 abr. 2015.
779 Sobre este panorama histórico ver: SOUZA, S. M. R. de; SANTARELLI, C. P. G. Contribuições para
1466
novas mídias a fim de fornecer um novo patamar de entendimento para uma publicidade
em crise com seus antigos paradigmas de persuasão.
Na conversão de uma experiência em conteúdos expressivos, semioticamente analisáveis, a
significação expressa em um nível de expressão formal não se restringe ao próprio nível, mas transcende
para níveis superiores, de modo que, a partir de figuras reconhecíveis no mundo material, podemos
reconhecer e interpretar o ethos da marca que fala não apenas com seus consumidores, mas com o mundo
conectado.
Tipo de
Instâncias formais Instâncias materiais
experiência
Signos
Figuratividade Propriedades sensíveis e materiais das figuras
ê
Textos enunciados í
Interpretação Propriedades sensíveis e materiais dos textos
ê
Objeto í
Corporeidade Propriedades sensíveis e materiais dos objetos
ê
Cenas predicativas í
Prática Propriedades sensíveis e materiais das práticas
ê
Estratégia í
Conjuntura Propriedades sensíveis e materiais das estratégias
ê
Ethos e
Propriedades sensíveis e materiais das formas de
Formas de vida í
vida
Comportamento
Nesta proposição, Fontanille sugere que a semiótica passe a observar outro nível
de pertinência para além do texto, isto é, compreender os objetos em seu entorno e em
situações práticas de interação como, por exemplo, cenas e estratégias realizadas para
salientar atributos relevantes da marca junto à opinião pública. Aplicada ao
documentário “Retratos da Real Beleza”, a proposição de Fontanille considera para
análise, não apenas seu discurso, mas o fato do filme ter se transformado em vídeo
viral780, sujeito a comentários de consumidores e não-consumidores.
Em sua versão mais divulgada (3 min, figura 2), o filme se inicia com o perfil de
um homem na contraluz de uma janela iluminada; uma música de fundo suave
780
Vídeos populares de alta circulação na internet que são compartilhados por usuários para sua
rede de contatos.
1467
acompanha a cena e será executada durante todo o filme. A câmera se aproxima e corta
para revelar que o mesmo se encontra sentado em um sofá. Ele conta que é Gil Zamora,
um retratista do FBI. A experiência proposta pela Dove começa a ser revelada com a
chegada de uma retratada. Após alguns cortes e trechos de conversas entre o artista e
algumas mulheres sobre a descrição de suas características físicas, é revelado ao
espectador o cenário do desenvolvimento da ação: um galpão quase vazio,
generosamente iluminado por uma luz natural esbranquiçada que entra por grandes
janelas envidraçadas. Na dinâmica do filme, são realizados numerosos cortes para
detalhes dos rostos das entrevistadas e trechos de diálogos se misturam com cenas do
artista forense trabalhando em sua prancheta e em panorâmicas do espaço preenchido
por poltronas, uma cortina e o espaço de trabalho do desenhista. A seguir, são
apresentados trechos da descrição de outras pessoas para o artista, das mulheres
escolhidas para participarem da experiência. Uma mudança de sombras no chão do
galpão dá indício a uma passagem de tempo e outra fase do filme que se inicia com o
artista apresentando os retratos feitos para as mulheres (seu autorretrato ao lado do
retrato feito conforme a descrição de um terceiro). Uma série de reflexões das mulheres
sobre a comparação dos dois retratos evoca diferentes emoções nas retratadas e as leva a
conclusão que sua autoimagem é muito rigorosa. O filme se encerra com a partida de
uma das retratadas na rua e seu encontro afetuoso com um companheiro. A seguir a
marca apenas indica um website sobre o projeto e corta para seu logotipo como
assinatura Você é mais bonita do que pensa!
1468
Este é o contato perceptivo com o filme que fornecerá para a análise, a partir de
seus elementos expressivos (eidéticos, topológicos ou cromáticos), o reconhecimento
icônico de sua figuratividade. A experiência da figuratividade é uma construção inicial
no momento da captação da imagem para a criação do sentido da interpretação. Existe
aí o aguçamento dos sentidos, mas ainda em seu estágio germinal. A ilusão das formas
no filme − jogo de luzes e sombras, vazio de espaços (externos/físicos e
internos/subjetivos), cortina, mobília minimalista, retratos pendurados em exposição,
rostos femininos e lágrimas − construirá o sentido de figuratividade cuja interpretação
só se formará no nível seguinte, o da experiência da interpretação.
781
Apoiamo-nos em análises de Jean Marie Floch e nas referências que faz ao trabalho de
Hendrich Wolfflin. (Floch, 1985).
1469
Retratos Vídeo
Estático Dinâmico
Plano do Cultura Natureza
conteúdo Distanciamento Aproximação
Alteridade Identidade
Tabela 2 - Relações semissimbólicas identificadas no vídeo.
3.3 – A experiência da corporeidade: os objetos.
Para Fontanille, o nível da corporeidade é o nível dos objetos. Em sua proposta
de percurso do plano gerativo da expressão, ele é o primeiro nível de imanência e
pertinência além dos “textos tradicionais”. Em suas palavras:
O nível do objeto-suporte, em seu movimento de integrações
práticas, é um caso exemplar do tratamento das propriedades
materiais. Enquanto corpo material, na verdade, o objeto entra
nas práticas e os usos dessas práticas são em si mesmas
‘enunciações’ do objeto. (...) Todavia, o caráter ‘material’ do
suporte não significa que ele deva ser obrigatoriamente tangível.
‘Material’ deve ser entendido aqui no sentido de Hjelmslev; ou
seja, como substrato sensível das semióticas-objeto
(FONTANILLE, 2008, p. 25).
1470
1471
1472
1473
4 – Considerações finais
A proposta de Fontanille, como ele mesmo admite, ainda está em construção,
assim como toda a teoria semiótica. Deve-se ressaltar, conforme o próprio autor coloca,
que este percurso não é uma proposta fechada e finalizada. Trata-se de uma nova
perspectiva na continuidade das propostas de Greimas. Da mesma forma, consideramos
que nossa análise sobre o objeto escolhido ainda está em construção permitindo outras
abordagens e detalhamentos.
No entanto, consideramos que o modelo oferece uma nova oportunidade para se
fazer uma análise semiótica na linha greimasiana, olhando o objeto em si, seu entorno e
contexto no qual está inserido. Essa é uma proposta que atende a muitos
questionamentos no tratamento dos objetos midiáticos, mais dependentes de contextos,
principalmente em um ambiente sociocultural em contínua mutação. Conforme
colocamos anteriormente, a semiótica se utiliza da publicidade como objeto de análise
há aproximadamente 50 anos. O modelo proposto por Fontanille para a análise do vídeo
de “Retratos da Real Beleza”, um manifesto publicitário aderente aos novos paradigmas
da publicidade, soma uma nova possibilidade ao percurso de teorias de análise da
publicidade pela semiótica anteriormente identificado (SOUZA; SANTARELLI, 2008).
O consumo de símbolos e as suas relações cada vez mais complexas com a
produção, o mercado e a divulgação de mercadorias, serviços e idéias cria uma demanda
pelo entendimento dos mecanismos de persuasão que sustentam esse sistema, onde a
publicidade alimenta a produção e a dispersão de discursos simbólicos, além de ser
também criadora de tensões, frustrações, expectativas e processos de inserção e
exclusão social. Cabe ainda ressaltar que estudos de análise dos discursos não-verbais e
verbais produzidos pela publicidade (e, em geral, pela comunicação marcária) se
enquadram na categoria de estudos dos processos de significação, produção de
1474
REFERÊNCIAS
Real Beleza. O que você mais gosta em seu corpo. Dove – Vídeo e tutoriais. Disponível em:
<http://www.dove.com.br/pt/Universo-Dove/Videos/Dove-Retratos-da-Real-Beleza.aspx>.
Acesso em: 17 abr. de 2015.
1475
PÔSTERES
RESUMO
O porte legal de armas ou sua ilegalidade, o armamento legal da população de grandes nações
como Brasil e EUA têm em estudos demonstrado impacto profundo para a segurança pública.
Fundamentalmente, a publicização destes artefatos, para a aquisição ou não aquisição de armas
por civis para autodefesa têm de sobremaneira influenciado o armamento ou desarmamento das
populações. A regulamentação publicitária de armas de fogo possui preceitos legais distintos em
ambos os pais escolhidos para estudo, e sob este prisma, buscamos compreender sua relação
com o nível de armamento e números de mortes ocasionados pelo uso deste artefato pelas duas
populações.
Introdução
O tema da violência ocupa espaço crescente na mídia, nas casas legislativas, no poder
executivo, na academia, na sociedade organizada e na mente do cidadão comum (BUENO,
2004). Embora por razões e com expressões distintas – as mortes em séries, os latrocínios e
morticínios, as chacinas, as mortes por acidentes domésticos em inúmeros lugares como no
Brasil, dentre inúmeros outros exemplos, dão conta de forma generalizada do tema da violência
e do porte de armas de fogo.
A violência com arma de fogo ganha destaque diante do número avantajado de
letalidades ocasionadas pelo seu uso. De acordo com o Estudo Global sobre o Homicídio787
realizado em 2013, duas em cada três pessoas mortas nos países das Américas são assassinadas
com armas de fogo. No Brasil, 70% das mortes são ocasionadas por armas de fogo e isso se
daria, segundo o estudo, pela facilidade de acesso e a grande circulação das armas no país.
Além disso, destaca-se também o número de mortes ocasionadas por disparos acidentais e
suicídios, onde de acordo com uma pesquisa realizada pelo Centro Johns Hopkins de Política
Gun e Research, (2011), cerca de 20.000 pessoas morreram nos EUA como resultado de
suicídio por arma de fogo, quase o dobro dos mortos por homicídios788.
Diante desses dados, destaca-se o papel da publicidade como agente influenciador do
comportamento do porte de arma como também do desarmamento dos cidadãos. BUENO
783
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
784
Estudante de graduação 5.º semestre do curso de Comunicação Social com Habilitação em
Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Sergipe, email: naye.amaral@hotmail.com
785
Estudante de graduação 4.º semestre do curso de Comunicação Social com Habilitação em
Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Sergipe, email: davilmota94@hotmail.com
786
Orientadora da pesquisa. Doutora em Televisão e Cinema pela Universidade Nova de Lisboa,
professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Sergipe, email:
raquelcarrico@gmail.com
787
GLOBAL STUDY ON HOMICIDE divulgado pelo UNODC em 2013. Disponível em:
< http://www.unodc.org/documents/data-and-
analysis/statistics/GSH2013/2014_GLOBAL_HOMICIDE_BOOK_web.pdf>
788
Pesquisa disponível em: < http://www.jhsph.edu/research/centers-and-institutes/johns-
hopkins-center-for-gun-policy-and-research/publications/GPHMI-Federal.pdf>
1476
(2004) relata como a publicidade foi essencial na criação da cultura armamentista dos Estados
Unidos ao acusar que:
(...) foi preciso adicionar o suporte do governo central americano e a eficaz
publicidade dos fabricantes para juntos enfatizarem três pontos básicos da
cultura americana: armas mantêm a nação livre e preservam a segurança da
família e da propriedade.
Para melhor compreensão do papel da legislação publicitária no armamento e
desarmamento da população, selecionamos dois países que possuem legislações dissemelhantes,
o Brasil com leis mais rigorosas para a comercialização de armas, mas que se destaca pelo seu
comércio ilegal, e os Estados Unidos, que possui leis mais brandas que favorecem a
comercialização de armas de fogo. Além de possuírem legislações publicitárias distintas em
relação à posse de armas de fogo, possuem também características distintas ao que se refere ao
número de mortes devido a sua posse.
1477
1478
1479
793
Ver ARMAS DE FOGO: PROTEÇÃO OU RISCO ? de Antônio Rangel Bandeira e
Josephine Bourgois.
794
Disponível em:http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/06/suprema-corte-dos-eua-rejeita-
que-estados-limitem-posse-de-armas.html
1480
De uma forma ampla e concreta, a venda de armas de fogo não é apenas legal nos
Estados Unidos, é constitucionalmente protegida. A Primeira Emenda à Constituição
Americana795 protege o discurso comercial da promoção de produtos ou serviços legais, mas
especialmente quando os produtos ou serviços são protegidos por outros direitos constitucionais,
como o direito a possuir armas de fogo por indivíduo civilmente ordinário, regulamentado pela
Segunda Emenda. Sendo assim, é verdade o direito constitucional da aquisição e porte de armas.
O texto da primeira emenda constitucional também afirma que:
O congresso não deverá fazer qualquer lei a respeito de um estabelecimento
de religião, ou proibir o seu livre exercício; ou restringir a liberdade de
expressão, ou da imprensa; (FIRST AMENDMENT, 1791)
Com essa referência, as armas de fogo são constitucionalmente protegidas do direito de
transmitir informações através da imprensa. Porém, existem outras normas que fomentam e
moldam as ramificações desse direito, proibindo, por exemplo, o marketing de divulgação de
armas de fogo para crianças ou para outros fins de acordo com texto HR 5093796 pela Câmara
dos Deputados Americana:
Esta Lei pode ser citada como a "Lei de Segurança de arma de fogo de
Marketing Infantil". PROIBIÇÃO DE COMERCIALIZAÇÃO DE ARMAS
DE FOGO PARA CRIANÇAS. (A) CONDUTA PROIBIDA- O mais tardar um
ano após a data da promulgação desta Lei, a Comissão Federal de Comércio
deve promulgar regras, de acordo com a seção 553 do título 5, United States
Code, proibir qualquer pessoa de comercializar armas de fogo para
crianças. Estas regras devem incluir o seguinte: (1) A proibição do uso de
personagens de desenhos animados para a promoção de armas de fogo e
produtos de arma de fogo. (2) A proibição de arma de fogo marca
mercadoria comercializada para as crianças (tais como chapéus, t-shirt, e
bichos de pelúcia). (3) A proibição de utilização de campanhas de marketing
de arma de fogo com a intenção específica de apelar para as crianças. (4) A
proibição de fabricação de uma arma com cores ou desenhos que são
especificamente concebidos com o objetivo de apelar para as crianças. (5) A
proibição de fabricação de uma arma destinado ao uso por crianças que de
forma não clara e visível, note o risco representado por arma de fogo por
meio de rotulagem em algum lugar visível na arma de fogo qualquer um dos
seguintes: (A) "arma de verdade, não um brinquedo.". (B) "arma de fogo real
que o uso pode resultar em morte ou lesões corporais graves." (C) "arma
perigosa". (D) Outra linguagem semelhante determinada pela Comissão
Federal do Comércio. (H.R.5093 — 113TH CONGRESS 2013-2014)
Enquanto não há regras que regem a publicidade de armas de fogo, o papel de limitar ou
recusar a publicização desse artefato fica a escolha das emissoras de televisão, rádios e pontos
de vendas de jornais. O The New York Times, não aceita propagandas de armas de fogo e
munições vendidas por correspondência, em feiras de armas, nem as propagandas de armas de
mão797. Em 2012 o Google proibiu a publicidade de armas de fogo, munições e acessórios
relacionados no seu serviço de compras popular798. Outro exemplo é a National Football League
que proíbe a propaganda de Armas de fogo, munições ou outras armas durante a transmissão
dos seus jogos799.
795
First Amendment, 1791. Disponível em: <
https://www.law.cornell.edu/anncon/html/amdt1toc_user.html>
796
Lei disponível em: < https://www.congress.gov/bill/113th-congress/house-
bill/5093/text?q=%7b"search":%5b"%5c"firearm+marketing+safety%5c""%5d%7d>
797
Texto disponível em: < http://www.huffingtonpost.com/2012/12/19/gun-sales-bushmaster-
newtown_n_2332394.html>
798
Ver em:< http://www.gunsandammo.com/blogs/news-brief/google-sparks-outrage-censors-
guns-ammo-and-accessories/>
799
Regulamento da NFL disponível em:
< http://compassmedianetworks.com/images/sports/forms/nfladvertisingpolicy.pdf>
1481
800
Mapa da Violência 2013. Ver em:
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2013/MapaViolencia2013_armas.pdf
801
Dados retirados do Mapa da Violência 2013.Disponível em:
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2013/MapaViolencia2013_armas.pdf
802
Dados retirados do Mapa da Violência 2013. Disponível em:
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2013/MapaViolencia2013_armas.pdf
803
Segundo dados do IBGE o Brasil possui cerca de 204.175.000 habitantes, enquanto os Estados Unidos,
de acordo com o Country Meters, possui cerca de 324.300.400. Dados disponíveis em: <
http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/> e
<http://countrymeters.info/pt/United_States_of_America_(USA)>
804
Dados retirados do Gun Policy. Disponível em: < http://www.gunpolicy.org/firearms/region/united-
states>
805
Dados retirados do Gun Policy. Disponível em: < http://www.gunpolicy.org/firearms/region/united-
states>
806
Dados retirados do relatório Mortes Matadas por Armas de Fogo no Brasil, da UNESCO. Disponível
em: < http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001399/139949por.pdf>
807
Dados retirados do Mapa da Violência 2013. Disponível em:
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2013/MapaViolencia2013_armas.pdf
808
Dados retirados do Preventing Suicide, World Health Organization. Disponível em:
<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/131056/1/9789241564779_eng.pdf?ua=1&ua=1>
1482
estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde em 2014809 aponta que muitos suicídios
ocorrem impulsivamente em momentos de crise e, que nestas circunstâncias, o pronto acesso
para os meios de tal prática como os pesticidas ou armas de fogo - pode determinar se uma
pessoa vive ou morre, o que pode representar a causa da maioria dos suicídios nos Estados
Unidos, os estudos realizados pela Organização Mundial da Saúde mostram uma estreita
correlação entre as proporções de famílias que possuem armas de fogo e a proporção de arma de
fogo utilizadas em suicídios810.
DISCUSSÕES FINAIS
Diante dos dados demonstrados neste estudo podemos concluir que o consumo de
armas de fogo possui uma relação direta com o número de mortes decorrentes deste artefato. Os
casos de suicídio e mortes acidentais ocorridos pelo porte de armas são alarmantes, casos mais
frequentes nos Estados Unidos, país que possui uma lei a favor do consumo e porte de armas de
fogo, além de possuir uma lei que protege a publicização deste artefato dentro do país.
No Brasil, é possível constatar que os suicídios e as mortes acidentais possuem um
número inferior comparado aos dos Estados Unidos, mesmo que considerados a devidas
proporções populacionais. Talvez porque possui uma legislação que restringe o consumo e porte
de armas de fogo aliada as restrições da sua publicidade através do CONAR, que regulamenta a
questão. É possível apontar que através da união do Estatuto do Desarmamento e do CONAR
percebemos uma redução no número de suicídios e acidentes domésticos ocorridos pelo uso de
armas de fogo. Porém o Estatuto do Desarmamento ainda não possui uma forte atuação diante
do número de homicídios no Brasil.
Indicamos ainda que a publicidade possui uma importante contribuição diante do
consumo de armas de fogo, podendo ser utilizada como forma de incentivo do uso do
armamento e como forma de incentivar o desarmamento. Os Estados Unidos possuem uma
cultura do armamento, por isso é bastante comum encontrar propagandas em que jovens
demonstram extrema satisfação ao carregar uma arma. Porém, essa inciativa está diretamente
relacionada às leis regentes daquele país, e não será possível uma redução do consumo destes
artefatos onde a legislação é permissiva à compra de armas de fogo.
De outro lado, há iniciativas de ONGs Norte Americanas como a States United to
Prevent Gun Violence, que incentivam o desarmamento do país. Recentemente a organização
veiculou uma campanha onde uma loja de armas “falsa” foi montada em uma grande avenida de
Nova Iorque e à medida que os consumidores entravam no estabelecimento, o vendedor
perguntava qual motivo que os possíveis compradores tinham para comprar uma arma. A
maioria dos consumidores em potencial argumentava que suas motivações era segurança
pessoal. Então o ator atrás da bancada começa a apresentar os armamentos e a história por trás
deles. "Esta é uma das mais populares. Calibre 22, seis polegadas... E é também a arma que uma
criança de cinco anos encontrou no quarto dos pais e utilizou para matar o irmão de nove
meses", diz o vendedor para espanto de um casal que procurava por "segurança". As histórias
sobre cada arma são relatadas com o objetivo de mostrar que a percepção de que uma arma em
casa aumenta a segurança, tida por 60% dos americanos, estava errada.811
No Brasil, a publicidade foi utilizada diversas vezes como forma de incentivar a não
comercialização de armas, tendo destaque na campanha do desarmamento que teve início em
2004, onde a campanha incentivava aos cidadãos a doarem suas armas de fogo em troca de
indenizações, que variam de R$ 150 a R$ 450 dependendo do armamento. Desde o início da
809
Preventing Suicide, World Health Organization. Disponível em:
<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/131056/1/9789241564779_eng.pdf?ua=1&ua=1>
810
Estudo disponível
em:<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/131056/1/9789241564779_eng.pdf?ua=1&ua=1>
811
Campanha disponível em:
< http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/voce-compraria-uma-arma-se-soubesse-sua-historia>.
1483
campanha até 2014, mais de 648 mil armas já foram doadas às autoridades com a finalidade de
reduzir a violência no País.812
No início de 2015 a campanha de desarmamento foi relançada pela Polícia Militar de
Pernambuco813, com o intuito de arrecadar ainda mais armas de fogo no estado. Deste modo se
vê, com o respaldo da legislação e uma comunicação adequada, a publicidade como
fomentadora de comportamentos socialmente responsáveis que refletem em uma melhora na
segurança pública de países tão complexos em termos de violência como o Brasil e o EUA.
REFERÊNCIAS
BANDEIRA, A.; BOURGOIS, J. ARMAS DE FOGO: PROTEÇÃO OU RISCO? Rio de Janeiro, RJ:
Viva Rio, 2005.
BUENO, L. Controle de armas: um estudo comparativo de políticas públicas entre Grã-Bretanha, EUA,
Canadá, Austrália e Brasil. São Paulo, SP: IBCCRIM, 2004.
CARTA MAIOR. Controle de armas e a 2ª Emenda à Constituição dos EUA: o que a direita
armamentista não conta e não sabe. Disponível em:<
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Controle-de-armas-e-a-2%AA-Emenda-a-
Constituicao-dos-EUA-o-que-a-direita-armamentista-nao-conta-e-nao-sabe%0D%0A/6/26437>. Acesso
em 04 de mar. de 2015.
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G1 MUNDO. Suprema Corte impede que estados limitem posse de armas nos EUA. Disponível em:
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em:<http://www.unodc.org/documents/data-and-
analysis/statistics/GSH2013/2014_GLOBAL_HOMICIDE_BOOK_web.pdf>. Acesso em: 22 de
fevereiro de 2015.
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<http://www.gunsandammo.com/blogs/news-brief/google-sparks-outrage-censors-guns-ammo-and-
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<https://www.congress.gov/bill/113th-congress/house-
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HUFF POST BUSINESS. Gun Sales Boosted By Military Machismo Ad Strategies Such As
Bushmaster's 'Man Card'. Disponível em: <http://www.huffingtonpost.com/2012/12/19/gun-sales-
bushmaster-newtown_n_2332394.html>. Acesso em: 10 de abril de 2015.
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http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/> Acesso em: 25 de abril de 2015.
LEI N° 4.680 DE 1965. Disponível em:<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4680-18-
junho-1965-377833-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 10 de março de 2015.
812
Disponível em:
< http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2014/03/campanha-do-desarmamento-recebe-2-5-mil-
armas-em-2014>. Acesso em: 02 de março de 2015
813
Disponível em:
http://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/noticia/2015/01/campanha-do-desarmamento-tem-pontos-de-
arrecadacao-em-petrolina.html. Acesso em: 02 de março de 2015
1484
RESUMO
A publicidade e propaganda, ramo pertencente ao vasto leque da comunicação, já tornou-se
parte da cultura da sociedade atual. Além disso, ela contribui na formação do imaginário infantil,
conforme Baccega (2005). Foi dentro deste contexto, que surgiu este estudo que teve como
objetivo analisar a percepção das crianças blumenauenses sobre a publicidade e propaganda
televisiva, a partir de um comercial institucional de uma Universidade de Blumenau. Foram
entrevistadas crianças do 2º ao 5º ano do ensino fundamental de duas escolas localizadas no
município. As escolas foram divididas pelo tipo de ensino, e as crianças foram divididas de
acordo com o seu desempenho escolar. Os resultados alcançados demonstram que a percepção
814
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
815
Graduada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda (FURB). E-mail:
eduardabschmitt@gmail.com
816
Doutorando em Comunicação e Linguagens (UTP). Docente da Universidade Regional de Blumenau
(FURB), e da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Orientador da pesquisa. Coordenador do
projeto Interfaces da Comunicação e a Educação (FURB), apoiado por editais internos de pesquisa da
instituição. E-mail: bona.professor@gmail.com
817
Doutoranda em Comunicação e Linguagens (UTP). Docente da Universidade Regional de Blumenau
(FURB), e do Centro Universitário de Brusque (UNIFEBE). Professora colaboradora da pesquisa. E-mail:
rovechio@gmail.com
1485
Introdução
Nas últimas décadas, os meios de comunicação como o rádio, a televisão, a internet, o
cinema, os games, entre muito outros, funcionaram de forma bastante eficazes na socialização
das novas gerações. Não pelo fato de ocupar o tempo livre das crianças e adolescentes, mas pelo
fornecimento de conteúdos que contribuem no imaginário e nas suas próprias representações.
Dentro deste contexto vemos os heróis, os personagens, valores, mitos, etc. Muitas pesquisas no
mundo todo tem se debruçado sobre o papel das mídias e a relação com as crianças e
adolescentes, e constatou-se grande integração desses meios em suas rotinas. (BELLONI, 2010).
Na atual era das convergências midiáticas há um bombardeio de informações que
trafegam nos mais diversos dispositivos participantes do cotidiano. Estudar a mídia e seu
processo comunicacional torna-se tão importante quanto observar a forma como os conteúdos
veiculados nesses dispositivos são percebidos pelas pessoas, principalmente por crianças. Ao se
observar o conteúdo veiculado nas mídias pensou-se na publicidade e propaganda (termos que
serão utilizados como sinônimos neste estudo) que, nos últimos anos, tem sido adaptada para
esses novos meios de comunicação.
A publicidade e propaganda, uma das diversas formas da comunicação, contribui na
formação do imaginário. Isso já foi constatado e observado nas Escolas de Ensino Médio, na
cidade de São Paulo/SP, por pesquisa coordenada pela professora Maria Baccega (2005). Foi
dentro deste contexto, que surgiu este estudo que analisou a percepção das crianças
blumenauenses sobre a comunicação publicitária televisiva, a partir de um comercial
institucional sobre os 50 anos da Universidade Regional de Blumenau (FURB), e veiculado em
2014. Foram entrevistadas crianças do 2º ao 5º ano do ensino fundamental de duas escolas
localizadas no município.
A comunicação publicitária não deve ser estudada como um fenômeno meramente
isolado pois, faz parte do extenso leque da comunicação e está num constante envolvimento
com os diversos fenômenos da sociedade, conforme abordam Sant’anna, Rocha Junior e Garcia
(2009). O publicitário colabora na “edição do mundo, dando destaque a determinados produtos
ou bens simbólicos, desempenhando papel importante no imaginário que se constrói/reconstrói
na práxis” (BACCEGA, 2005, p. 7). A comunicação publicitária é um espaço de
experimentação pois, é aí que se dá lugar à construção de identidades e novas sensações para
atrair o seu público, seja ele pela mídia tradicional, impressa, online ou televisiva. Ao ser
“lançada” na mídia, mesmo tendo seu público específico, ela atinge as mais variadas pessoas e
que fazem parte de faixas etárias e classes sociais diferentes.
Parte-se do pressuposto que, atualmente, as crianças e adolescentes estão cada vez mais
em contato com os meios de comunicação por meio dos dispositivos móveis, como os tablets,
smartphones, notebooks, etc. Sabe-se que a publicidade e propaganda televisiva, por exemplo,
tem sido modificada/adaptada nos últimos anos, conforme já abordado por Cappo (2006), Jaffe
(2008) e Jenkins (2009). Isso aconteceu, principalmente, pela rápida convergência das mídias
tradicionais. A maior parte das pessoas não costuma ou não gosta de assistir a comerciais, e os
novos dispositivos tecnológicos permitem que eles possam ser ignorados. Porém, o comercial
televisivo ainda existe e se mantém, e cada vez mais as agências de comunicação têm tomado o
devido cuidado para produzir material que chame a atenção das pessoas. Muito do material
publicitário produzido atualmente não é mais impresso, e sim, online. Basta verificar os banners,
os anúncios virtuais que tomam conta das páginas da internet e das mensagens comerciais
recebidas diariamente por correio eletrônico. A forma de consumo da mídia publicitária tem
sido modificada por causa dessa convergência midiática, algo que Jenkins (2009, p. 377)
relaciona às “mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias
circulam em nossa cultura.”
1486
1487
As mídias são importantes no setor industrial, pois, na maior parte das vezes, funcionam
como veículos publicitários, e é aí que grandes empresas encontram o nicho para a criação e a
expansão de mercados. (BELLONI, 2010). É dentro da lógica da indústria cultural, que a
publicidade e propaganda se alicerça, e conforme citam Sant’Anna, Rocha Junior e Garcia
(2009), tem o objetivo de vender, anunciar, promover vendas e ideias sobre um determinado
produto ou serviço.
“A publicidade, provocando as emoções nos indivíduos, cuida de impulsionar seus
desejos latentes com tanta força que eles se sentem impelidos a trabalhar para pode satisfazê-
los.” (SANT’ANNA; ROCHA JUNIOR; GARCIA, 2009, p. 77). Em estudo realizado por
Iglesias, Caldas e Lemos (2013), ao observarem o uso das estratégias de persuasão de
comerciais de televisão direcionados ao público infantil, vésperas ao Dia da Criança (em 2010),
revelou que na comunicação publicitária televisiva é simulado o consenso social, conta-se uma
história e se faz uma modelagem social. Ou seja, são construídos padrões para esse determinado
público que acaba sendo atingido pela comunicação e incentivando o processo de compra.
Em outro estudo realizado, com o objetivo de entender a interpretação e decodificação
de mensagens publicitárias por crianças não alfabetizadas, percebeu-se que a propaganda
encantou, prendeu a atenção e influenciou na compra. Consequentemente, influenciando os pais.
Neste caso as crianças repetiram e reconheceram determinadas marcas e slogans durante a
pesquisa (CORREA; CRESCITELLI, 2009).
Em estudo semelhante em relação à percepção das crianças e mães sobre a publicidade
de alimentos, foi constatado que esse público acredita que os alimentos da linha de fast-food,
refrigerantes e produtos lácteos são saudáveis e bons para o consumo. E, foi constatado também,
que as mães são estimuladas pela propaganda para a compra desses produtos. (PITAS, 2010). A
comunicação publicitária já faz parte do cotidiano da sociedade e, neste contexto, há uma
manipulação de fatos e ideias com o objetivo de estimular as vendas. “Quando direcionada ao
público infantil, a publicidade pode se tornar prejudicial, pois a criança se encontra em um
estágio de desenvolvimento do juízo crítico.” (LAURINDO; OLIVEIRA; 2013, p. 70).
Se faz necessária uma reflexão sobre o que as pessoas interpretam dos meios de
comunicação. “Talvez possamos desenvolver uma pedagogia crítica na busca de um olhar ativo
para a mídia que nos invade. […]. É preciso estar atento para a complexa rede de relações ou
representações que a mídia carrega.” (SANFELICE; SCHMIDT; 2013, p. 139). Os autores
argumentam que a partir disso é possível iniciar discussões cada vez mais importantes sobre as
mídias e como elas constituem as nossas identidades.
1488
1489
Cartoon Network – 18 crianças informaram este canal; seguido do Disney Channel (17
crianças), Nickelodeon (16 crianças), SBT e Globo empatados (10 crianças ambos), Disney XD
e Record, também empatados (6 crianças), seguidos do canal Fox e TV Globo, empatados com
5 crianças cada. Além desses, também foram citados os canais Sport TV, History Channel,
Telecine, Discovery Kids, TNT, Band, TV Cultura, Megapix, Syfy. Somente 1 criança não
soube informar o nome do canal que assiste. Dos programas assistidos, percebeu-se que
algumas crianças responderam o nome do programa e outras informaram o que era, à exemplo:
“Eu assisto Kick Bucovisky” e outras crianças que assistem ao mesmo programa informaram
“Eu assisto desenho”, desta forma, optou-se por tabular as respostas de acordo com o tipo do
programa, ao invés do nome do programa. A maior parte das crianças assistem Desenhos – 32
crianças; 19 crianças assistem séries, 6 costumam assistir filmes, 4 assistem telenovelas, 3
gostam de assistir esportes e reality show. Por fim, somente 2 crianças assistem aos telejornais.
Os canais mais assistidos pelas crianças da escola A são Nickelodeon e Cartoon
Network (13 crianças ambos). Na escola B, 07 crianças apontaram o canal SBT, enquanto que
na escola A, somente 03 crianças informaram assistir ao canal. Já os canais Nickelodeon e
Cartoon Network tiveram 03 e 05 crianças, respectivamente, de audiência na escola B.
Embora nas duas escolas o ato de assistir desenhos é o programa mais visto pelas
crianças, na escola A o número de crianças que assistem desenhos é maior que na escola B, 20 e
12 crianças, respectivamente. Nenhuma criança da escola A assiste telejornal, já na escola B, 02
crianças informaram assistir este tipo de programa.
Perguntou-se às crianças o que elas fazem quando seu programa vai para o intervalo e
está na hora dos comerciais. 37,5% das crianças informaram que não trocam de canal, porém
fazem outra atividade até o programa iniciar novamente, 29,2% disseram que assistem aos
comerciais, 27,1% disseram que trocam de canal e 03 crianças (6,3%) tiveram respostas
diferentes destas: “Eu falo puncaratias, que significa porcaria”, “Eu fico bravo”, e “Eu desligo a
televisão”.
Observou-se que 41,7% das crianças da escola A não trocam de canal, porém costumam
fazer outra atividade. Já na escola B, as crianças dividem-se entre “trocar de canal” e “não
trocar de canal, porém executar outra atividade durante os comerciais (33,3% para ambos).
Quando analisados pelo desempenho escolar, 29,2% das crianças da escola A assistem aos
comerciais, sendo que 16,7% possuem sucesso escolar. Já na escola B, o número de crianças
que assistem aos comerciais é de 29,2%, sendo que 20,8% possuem sucesso escolar.
Foi pedido para que as crianças apontassem um comercial que passa no canal em que
elas assistem: 20,8% das crianças apontaram a própria programação como exemplo, 18,8%%
apontaram a propaganda eleitoral (crer-se devido a pesquisa ter sido realizada em outubro de
2014 – mês e ano de eleições presidenciais), 14,6% apontaram propaganda de brinquedos, as
demais respostas variaram entre o nome do produto e o que o produto é.
Na escola A o exemplo de comercial mais citado foi o da própria programação do canal
(33,3%). Já na escola B, a maior parte das crianças (33,3%) apontou a propaganda eleitoral
como exemplo, sendo 29,2% as crianças que possuíam insucesso escolar. Questionou-se sobre o
que chama a atenção das crianças quando está passando um comercial. A maior parte das
crianças informou que não há nada em uma propaganda que chame a atenção delas (22,9%),
14,6% falaram que são atraídas quando há brinquedos no comercial, 8,3% falaram que o
comercial se destaca quando é engraçado.
Na escola A, 16,7% das crianças disseram que são atraídas quando um comercial é
engraçado, já na escola B, este não é um elementos que chama a atenção das crianças.
Pra encerrar o bloco relacionado ao perfil da criança, perguntou-se: “Em sua opinião,
para que serve uma propaganda na televisão?”. 18,8% das crianças pensam que o objetivo da
publicidade na televisão é informar, 16,7% disseram que é para as pessoas comprarem os
produto, e 6,3% disseram não saber o motivo de existir publicidade e propaganda na televisão.
Das respostas é possível listar algumas delas: “Para podermos ir ao banheiro”, “Faz parte da
programação da televisão”, “Para trocar de canal”.
As crianças da escola A pensam que um comercial na televisão serve para que as
pessoas comprem os produtos anunciados (25%), sendo que 16,7% possuíam insucesso escolar.
1490
Já as crianças da escola B, dizem que o comercial serve para informar (29,2%), sendo que
20,8% delas possuem insucesso escolar.
Em seguida, foi aplicado o Bloco II, da pesquisa, e exibiu-se o comercial uma vez
somente e realizou-se uma série de perguntas para as crianças sobre a propaganda assistida. A
primeira pergunta pedia para que as crianças escrevessem todos os elementos que elas
lembravam ter visto no comercial. O elemento/ objeto mais visto pelas crianças foi “Homem”
(32 crianças), seguido do elemento “Mulher” (29 crianças), e “smartphones” (19 crianças). 10
crianças apontaram elementos que não apareceram no comercial.
Nenhuma criança da escola B visualizou o “Bigode” que apareceu no comercial e
nenhuma das crianças da escola A visualizou a “Moto” que também aparece no comercial.
Em seguida, foi entregue uma folha com seis elementos listados e foi solicitado para
que a criança fizesse um X ao lado do elemento que passou no comercial. Os elementos listados
foram: rádio, cachorro, sol, foguete, violão e gato, sendo que somente o rádio, o foguete e o
violão apareceram no comercial. Somente 08 crianças identificaram os três objetos corretamente.
32 das crianças disseram ter visto o rádio, 27 o foguete, 22 o violão, 12 o sol, 03 o cachorro, 02
o gato e 05 crianças disseram não ter visto nenhum dos elementos descritos na questão.
Observa-se que na escola B, 05 crianças não conseguiram visualizar nenhum dos
elementos que estavam para ser assinalados, sendo que 03 dessas crianças possuíam insucesso
escolar. O número de crianças que apontaram o rádio, o foguete e o violão é superior na escola
A (46 crianças) do que na escola B (35 crianças). Na escola A, observou-se que 09 crianças
assinalaram elementos que não estavam presentes no comercial, sendo que 05 dessas crianças
possuíam insucesso escolar.
Pediu-se para que as crianças listassem 03 cores que se lembravam ter visto no
comercial. A cor mais percebida foi o azul (27 crianças), seguindo do amarelo (25 crianças) e o
preto (18 crianças). 10 crianças apontaram cores que não apareceram no comercial.
A cor mais visualizada pelas crianças da escola A foi o amarelo (16 crianças). Já na
escola B, as crianças apontaram a cor azul como a mais percebida (13 crianças). 14 crianças
com sucesso escolar de ambas as escolas, apontaram a cor azul como mais percebida. As
crianças com insucesso escolar empataram nas cores: 13 crianças apontaram a cor amarela, e 13
crianças apontaram a cor azul como a mais vista. 08 das crianças da escola B apontaram cores
não existentes no comercial, sendo que 05 delas tinham insucesso escolar.
Após informarem as três cores que viram no comercial, as crianças tiveram que apontar
o que essas cores representavam para cada uma delas. Algumas crianças apontaram objetos para
representar cada cor, outras crianças apontaram sentimentos. E, 04 das crianças disseram que
aquelas cores não representam nada.
A próxima questão referia-se a cores de três objetos que apareceram no comercial: O
violão vermelho, o foguete cinza e o computador roxo. Quanto ao violão, 45,8% erraram, 45,8%
não lembraram e 8,3% acertaram. No foguete, somente 12,5% das crianças acertaram, 50%
erraram e 33,3% não lembraram. Para o computador nenhuma criança acertou, 54,2% não
lembraram e 45,8% erraram.
Para a cor do violão, observou-se que somente as crianças da escola A, acertaram a cor,
sendo que metade delas tinham sucesso escolar e a outra metade possuíam insucesso escolar. A
cor do objeto mais lembrada foi a do foguete, em que 12,5% das crianças acertaram, sendo
8,3% da escola A e 4,17% da escola B. Também observou-se que das que acertaram (12%),
8,3% delas possuíam insucesso escolar e 4,17% possuíam sucesso escolar.
O comercial possui uma trilha sonora. Perguntou-se às crianças se no comercial havia
uma música, 85% disseram “Sim”, e 15% disseram “Não”. Uma das crianças justificou sua
resposta não, dizendo que música é somente quando há a presença de um cantor.
O número de crianças da escola A que apontaram que havia música no comercial é
superior ao da escola B. Das crianças que informaram que não havia música no comercial,
16,7% possuíam insucesso escolar e 4,2% possuíam sucesso escolar.
O comercial falava da FURB, e em seu discurso ela se denominava como personagem
principal. Somente 31,3% das crianças perceberam que a FURB era o personagem principal.
50% disseram que não havia um personagem principal, 10,4% apontaram o narrador do
comercial, e 8,3% apontaram Homem.
1491
Na escola A, 37,5% das crianças apontaram a FURB como personagem principal, sendo
que 20,8% possuíam sucesso escolar. Já na escola B, o número de crianças que apontou a
FURB como personagem principal, foi de 25%, e a maioria deles, 16,7%, possuíam insucesso
escolar.
No comercial há 06 personagens: 01 representava os anos 1960, 01 os anos 1970, outro
os anos 1980, 01 para os anos 1990, um para os anos 2000 e, por fim, a FURB. Ao final do
comercial os 05 personagens representantes de cada década da FURB foram replicados em
vários, o que gerou respostas bem diferentes para esta pergunta, mas a maior parte das crianças,
34% optaram pela descrição “Vários”.
O tema central da propaganda era sobre os 50 anos da FURB. Somente 11 crianças
(22,9%) apontaram este tema quando questionadas sobre qual assunto era o comercial.
O número de crianças que apontou o tema do comercial como os 50 anos da FURB foi
maior na escola B. Na escola A, 16,7% apontou que o tema do comercial era os 50 anos da
FURB, sendo que 12,5% possuíam insucesso escolar.
Solicitou-se para que as crianças escrevessem qual era a história do comercial. Esta
questão era aberta. O entrevistador dividiu as respostas das crianças entre "Acertou
completamente", "Acertou parcialmente", "Lembrou de elementos" e "Não soube informar". A
maior parte das crianças (37,5%) lembrou-se de alguns elementos, mas não soube informar a
ordem cronológica ou colocá-los em uma sequência que pudesse fazer sentido. Somente 07
crianças (14,6%) conseguiram contar o comercial com mais detalhes e organização das ideias.
Na escola A, observa-se um número maior de crianças que conseguiram contar a
história (25%) do que na escola B (4,2%). O número de crianças que não souberam contar sobre
o comercial é maior na escola B (29,2%) do que na escola A (16,7%). Das crianças que não
souberam contar a história do comercial na escola A, 12,5% possuem sucesso escolar e 4,2%
insucesso escolar. Já na escola B, 16,7% possuem insucesso escolar e 12,5% sucesso escolar.
Perguntou-se quem era a marca que estava anunciando aquele comercial: 85,4% das
crianças puderam identificar a FURB, somente 4,2% não souberam e 10,4% fizeram outras
indicações.
O número de crianças da escola A que não souberam responder esta questão é de 8,3%,
sendo todas de insucesso escolar. Na escola B, 16,7% das crianças deram outras respostas ao
invés de FURB, sendo todas as crianças pertencentes ao 2º ano do ensino fundamental. O
número de crianças que deram respostas diferentes de "FURB" número é menor na escola A
(4,2%).
Por fim, perguntou-se às crianças qual a mensagem que o comercial passou para elas.
Das respostas lista-se as mais interessantes: “Os anos de história onde a FURB esteve presente
por 50 anos”, “FURB está com 50 anos e nos acompanha em todos os momentos”, “A
importância de uma escola que existe há 50 anos e cresce cada vez mais”.
Na pesquisa havia algumas perguntas chaves para verificar o nível de percepção das
crianças: “Quais dos elementos listados abaixo, estavam no comercial?”, “Qual era a cor do
violão?”, “Qual era a cor do foguete?”, “Qual era a cor do computador?”, “Havia música no
comercial exibido?”, “Havia um personagem principal?”, “Sobre o que falava esta
propaganda?”, “Me conte a história deste comercial”, “De quem era esta propaganda?”, “Qual a
mensagem que este comercial passou para você?”. A criança com melhor resultado estuda no 4º
ano do ensino fundamental da escola “A” e possui sucesso escolar: acertou 4 das 10 perguntas
chaves (40% de acerto). Somente 16 crianças não responderam corretamente às perguntas
chaves.
Percebeu-se que na escola “A” 19 alunos (39,5% do total de crianças) responderam
corretamente às perguntas chaves, enquanto na escola “B” temos 13 alunos (27% do total de
crianças) que acertaram as respostas.
Fez-se análise da quantidade de acertos totais: há maior concentração nas séries mais
altas, sendo que o 4º ano teve um desempenho melhor (19 acertos) que o 5º ano do ensino
fundamental (17 acertos). Comparando-se as escolas: os alunos da escola “A” tiveram número
de acertos maior (32 acertos) que o da escola “B” (21 acertos).
Nota-se que as crianças com sucesso escolar possuem 28 acertos, enquanto as de
insucesso escolar possuem 25 acertos. As crianças da escola “A” com sucesso escolar tiveram
1492
17 acertos, e as crianças da escola “B” com sucesso escolar tiveram 11 acertos. Quando
comparadas as crianças com insucesso escolar, há 15 acertos na escola “A” e 10 acertos na
escola “B”.
Considerações finais
Este trabalho teve o intuito de verificar a percepção das crianças blumenauenses do 2º
ao 5º ano do ensino fundamental sobre a publicidade e propaganda audiovisual. Os objetivos
propostos foram alcançados com êxito. Abordou-se os temas comunicação e educação, com
foco nos impactos da comunicação sobre a criança. Para a formação de um indivíduo há várias
vertentes envolvidas: escola, família, sociedade e a comunicação por meio da mídia. A maior
preocupação é referente o impacto que os meios de comunicação podem causar no universo
infantil. Porém, a percepção trata-se de um processo interpretativo que depende de vários
fatores, principalmente com o fato de o espectador estar envolvido na programação apresentada
na televisão. Na pesquisa aplicada, separou-se as crianças de acordo com escola, turma e
desempenho escolar. Verificou-se que embora a diferença entre os números não sejam
expressivos, crianças que estudam em escola particular, em turma mais avançada, com sucesso
escolar tendem possuir melhor percepção da publicidade e propaganda audiovisual.
Sugere-se para os próximos estudos a aplicação com mais escolas do município de
Blumenau, considerando também a região de cada escola, por exemplo: 2 escolas no bairro da
Velha, 2 escolas no Centro, 2 escolas no Garcia e 2 escolas nas Itoupavas, sendo que em cada
bairro selecionado, uma escola seria de ensino privado e outra de ensino público. O ideal seria
aplicar a pesquisa com crianças a partir dos 3 anos até os 12 anos, dessa forma haveria maior
distinção entre as idades. Sugere-se também a exibição de mais comerciais: um institucional,
um promocional, e um testemunhal.
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1493
RESUMO
Esse estudo investigou os conceitos de Comunicação Integrada de Marketing (CIM) e a
utilização de suas ferramentas, buscando compreender configura a utilização dessas no contexto
digital, utilizando como objeto o website institucional da marca Natura. Os resultados
apontaram que as ferramentas de CIM tradicionais ainda são o recurso mais usado pelo website
da marca.
Introdução
A facilidade aos acessos à internet tem levado a mudanças na área de marketing e nas
noções de comunicação em marketing, pois na era digital se alteraram o comportamento do
consumidor, já que estes procuram informações imediatas, em mais plataformas, criando canais
de feedback, principalmente, em suas redes sociais (KOTLER E ARMSTRONG 2010).
A digitalização vem colocando profissionais de publicidade diante do
desafio de aliar o tradicional ao contexto das multiplataformas. Ações
interativas entre meios de comunicação tradicionais, em especial a televisão,
e redes sociais para gerar diálogo e engajamento sobre temas,
acontecimentos e personalidades constituem o chamado “fenômeno
multitela”. O fenômeno deriva das práticas das pessoas em usarem
simultaneamente internet e redes sociais através de múltiplas telas –
smartphone, tablet, smarttv – enquanto assistem/ouvem outro meio de
comunicação (RODRIGUES; TOALDO, 2014, p.341).
Dada essa facilidade de contato, a comunicação integrada de marketing ganha com
networking, interação, interação e pluralidade. Características capazes de se acoplar às
estratégias de marketing da empresa. Estas que são cada vez mais trabalhadas numa perspectiva
de Marketing segmentado, mostrando adaptações dos antigos Planos de Marketing. Com o
advento do mundo digital a comunicação está pró-ativa, diferenciada, atenta ao design,
interativa, personalizada ao máximo (LEEFLANG et. al. 2014). Nesse contexto os canais
digitais são utilizados como uma ferramenta que transmita uma mensagem eficaz, coerente e
que reforce o sentimento de pertencente à marca (DAVIS, PIVEN e BREAZEALE, 2014).
Diante desses conceitos chega-se ao seguinte problema de pesquisa: Como são
utilizadas as ferramentas de comunicação integrada de marketing pela Natura via website
institucional? Neste trabalho o enfoque será o website da empresa Natura como objeto de estudo,
pois se faz uma retomada aos estudos anteriores, no qual se investigou a evolução da marca
acompanhando as fases da Publicidade brasileira823 e sua inserção no contexto digital824. Nestes
819
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP
820
Acadêmica 7º. semestre do Curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário
Franciscano, email: gab_valle@hotmail.com
821
Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Publicidade e Propaganda do Centro
Universitário Franciscano, email: fabrise.sma@terra.com.br
822
Orientadora do trabalho. Professor do Curso de Publicidade e Propaganda do Centro
Universitário Franciscano, email: taisghisleni@yahoo.com.br
823
Trabalho apresentado no DT 2 – Publicidade e Propaganda do XV Congresso de Ciências da
1494
Comunicação na Região Sul, realizado de 8 de maio a 10 de maio de 2014, em Palhoça – SC
824
Trabalho apresentado no XVIII Simpósio de Ensino Pesquisa e Extensão – UNIFRA,
realizado de 1 a 3 de outubro de 2014, em Santa Maria - RS
1495
sobre seus produtos e sobre a própria organização, através da integração dos diversos canais de
comunicação da empresa.
Em 2008, Belch e Belch definiram a comunicação integrada de marketing de forma
mais abrangente, pois unem o planejamento de comunicação de marketing, a coordenação das
diversas ferramentas, além de considerar a CIM como um processo estratégico. Para os autores
a CIM trata-se de um processo de negócio que auxilia as empresas a identificar os métodos mais
apropriados e eficazes de comunicação e construção de relacionamento com os clientes e outros
interessados. Em uma perspectiva contemporânea a comunicação integrada de marketing se
volta para facilitar os processos de compartilhamento do conhecimento, não apenas em um
espaço físico comum da empresa, mas também dentro de uma realidade virtual, já que a
tecnologia passou a ser um fator de facilitação dessa comunicação.
A Comunicação integrada de marketing se operacionaliza através das ferramentas de
comunicação, bem como se apoia em diversas possibilidades de mídia. Este composto de
ferramentas e mídias é denominado como promoção do mix de marketing, que para Shimp
(2009, p.26) significa a “reunião dos quatro grupos de áreas de decisão inter-relacionadas:
produto, praça, preço e promoção”.
1496
O marketing direto pode ser definido como um sistema de marketing para efetuar
transações e respostas mensuráveis (LA CASAS, 2009), é utilizado como forma de
comunicação direta com o público, gerando resposta e/ou transação. Ele abrange as atividades
como gerenciamento de banco de dados, venda direta, telemarketing, por meio de mala direta,
internet, mídias eletrônicas e impressas (BELCH e BELCH, 2008).
Venda pessoal em uma das ferramentas mais eficazes da comunicação integrada de
marketing, já que consiste na comunicação entre os vendedores e o público de forma direta (LA
CASAS, 2009). Para Kotler (2006), possui as características de interação pessoal, o
aprofundamento dessa interação, permitindo o relacionamento tanto pessoal, quanto profissional
do vendedor com o cliente e resposta, já que através da argumentação o cliente pode ser levado
a efetivar a compra.
O patrocínio refere-se a uma prática que visa promover os interesses de uma empresa e
suas marcas a um evento específico ou uma causa (OGDEN e CRESCITELLI, 2007), se
caracteriza por buscar alcançar tanto retorno financeiro quanto institucional, cuja dimensão mais
importante é a promoção de uma marca (MELO NETO, 2000).
As ferramentas complentares podem ser descritas como marketing digital, product
placement, ações cooperadas, merchandising, eventos, folhetos/catálogos, marketing de
relacionamento e mídia exterior (CRESCITELLI e SHIMP, 2012).
Para Kendzerski (2009), considerando esse novo meio de comunicação, o essencial para
o sucesso é se comunicar com o público de forma que ele deseja, levando conteúdo segmentado,
tendo em mente três ações fundamentais, a segmentação, a mobilidade e a interatividade. Essas
ações formam o marketing digital, o investimento nesses itens ampliam os negócios de forma
sustentada. Porém para entrar efetivamente no universo da internet as empresas tem que decifrar
esse meio, ou seja, criar uma estratégia de marketing ativo e garantir que as ações efetivas
(TORRES, 2009).
O product placement trata-se técnica promocional utilizada para atrair a atenção dos
telespectadores de maneira integrada ao conteúdo. Ela tem participação crescente na
programação de emissoras brasileiras e se destaca por não permitir ao espectador “pular” a
mensagem anunciada, já que a mesma integra-se ao conteúdo artístico/editorial assistido
(CARVALHO et al., 2008).
As ações cooperadas são desenvolvidas em conjunto entre fabricantes e varejistas,
ambos assinam a comunicação. Já o merchandising é a exposição de produtos no ponto de
venda, incluindo a utilização de materiais como stoppers, banners,displays, wobblers e cartazes
(OGDEN; CRESCITELLI, 2007).
A organização de eventos pode gerar interesse e desenvolvimento por parte dos
consumidores e da mídia. Os principais motivos para patrocinar eventos são: criar identificação
com o público-alvo; aumentar a exposição do nome da empresa ou produto; criar ou reforçar as
percepções do consumidor quanto à associações-chave com a imagem da marca; intensificar a
imagem corporativa; criar experiências e provar sensações; expressar o compromisso com a
sociedade; entreter os principais clientes ou recompensar funcionários e permitir oportunidade
de merchandising ou promoções (KOTLER e KELLER, 2012).
Para Cesca (2006), os folhetos fornecem dados sobre um aspecto ou atividade da
empresa, são publicações em papel de fácil manuseio e em tamanho reduzido, é muito usado
para atingir grandes públicos com pouco investimento e de maneira rápida. Já os catálogos
refere-se a listagem de produtos/serviços oferecidos pela empresa, nele podem conter descrições,
ilustrações, características, fotografias, entre outros. . Há uma tendência de que essas formas de
comunicação sejam substituídas por versões digitais (NUNES, 2008).
Para Gummeson (2010) o marketing de relacionamento é geralmente descrito como
uma abordagem para desenvolver clientes leais de longo prazo e, dessa forma, aumentar a
lucratividade, Kotler (2000) baseado na premissa o cliente não deve ser procurado somente no
momento da conta, o vendedor deve monitorar clientes-chave, conhecer suas dificuldades e
estar sempre pronto para servir.
Mídia exterior trata-se de veiculações em ambientes externos, incluem outdoor e painéis
(mais tradicionalmente) além de mídias em ônibus, taxis e mobiliário urbano, como relógios,
lixeiras, totens em calçadas e pontos de ônibus (ZAMPAR, 2013).
1497
1498
Na imagem "Chame Natura que Natura vem", redireciona para um vídeo institucional
da empresa, configurando-se como uso da ferramenta propaganda, pois transmite o conceito da
marca. Já a ultima imagem "Concorra um iphone 6", usa de forma clara a promoção de vendas,
a tática se dá através de videoclipe do jingle da campanha para concorrer.
Outras fotografias com links estão postados na página inicial do website da Natura,
como propaganda institucional sobre o Instituto Natura e o cocriando, contendo os premios
recebidos no ano de 2015. A hashtag #beijorosa (figura 1), aqui podemos identificar o uso do
marketing viral, o processo de divulgação está baseado no seu poder de contágio pelos atores
participantes. E o ultimo link dessa sessão é sobre a Natura Musical, a página que se abre
mostra que este projeto tem como intuito patrocinar diversas iniciativas que valorizam o diálogo
entre ritmos, revendo a identidade brasileira com excelencia artistisca, além disso o projeto
promove eventos, como o Festival Natura Musical, juntando novos talentos, artistas
consagrados e músicos regionais.
825 Disponível em: <http://www.natura.com.br/www/> acesso em 15 de abril de 2015
1499
Logo mais abaixo, o site apresenta mais seis banners sobre o concurso descrito acima,
prêmios internacionais, maquiagem, instituto Natura, Natura Cultural e atitudes inovadoras. Por
ultimo há apresentação das redes sociais da marca, como facebook, twitter, youtube e pinterest.
No rodapé há mais links institucionais como outros sites da marca, redirecionamento para outros
públicos, revista digital e atendimento. O site está no ar desde 1997.
4. Considerações pontuais
O presente trabalho buscou identificar as ferramentas de comunicação integrada de
marketing presentes no website da marca Natura, levando em consideração a percepção do
contexto digital para a marca. Para isso descrevemos as mudanças conceituais da comunicação
integrada de marketing, até chegarmos à sua concepção mais contemporânea, e
consequentemente, mais abrangente.
A escolha do website como objeto de análise se tornou relevante pois, cada vez mais o
contexto digital se apresenta importante, e até determinante na comunicação da empresa, bem
como a escolha do uso de suas ferramentas (SARAIVA, 2010). Já que o desenvolvimento
digital fez com que a comunicação brasileira passassem por intensas transformações, obrigando
os profissionais e as agências trabalhem no sentido de se reinventar, buscando pelas melhores
alternativas e oportunidades do cenário de mídia atual.
Porém na observação do site da Natura foi possível verificar que as ferramentas de
ferramentas tradicionais, como publicidade, propaganda, relações públicas, promoção de vendas
e patrocínio, ainda tem maior relevância na CIM da empresa, mesmo no meio digital. As
ferramentas complementares são contempladas, de forma mais discreta, através catálogo digital,
marketing de relacionamento e as inovadoras, somente através do marketing viral.
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RESUMO
826
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
827
Estudante de Graduação do 7º período do curso de Comunicação Social-Publicidade e Propaganda da
UFS-SE,e-mail: alliston_fellipe@hotmail.com
828
Orientadora do trabalho. Doutora em Televisão e Cinema pela Universidade Nova de Lisboa,
professora do Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Sergipe, UFS. E-mail:
raquelcarrico@gmail.com
1501
O presente artigo tem como objetivo comparar a regulamentação publicitária dos EUA e Brasil
voltada para as crianças, mais especificamente ao que se refere ao consumo de alimentos ricos
em açúcar e gordura em Fast Foods e bebidas carbonatadas, como refrigerantes. Também
observamos o impacto da regulamentação nestes países na saúde pública desse público em
especial, uma vez que a obesidade infantil é uma das principais consequências do consumo
exagerado dos fast foods.
1-introdução
A obesidade infantil vem crescendo de forma alarmante, constituindo-se numa ameaça à
saúde e ao desenvolvimento deste grupo, sendo ainda mais preocupante, uma vez que o estilo de
vida sedentário, nas faixas etárias mais novas, associada a dietas com alto teor de calorias,
gorduras, açúcar e sódio, coloca em risco o futuro das crianças (IOM, 2006). Segundo pesquisas
do IBGE829 de 2010, os brasileiros ganharam peso nos últimos anos. O percentual de homens
com excesso de peso subiu, durante este período, de 18,5% para a 50,1%; entre as mulheres, o
percentual saltou de 28,7% para 48%.Já uma em cada três crianças estariam acima do peso,
sendo que cerca de 15% do total são consideradas obesas.
1502
como também colocamos as relações entre publicidade e o consumo exagerado desses alimentos
pelas crianças, o que agrava um problema sério de saúde pública: a obesidade infantil.
artigo 2º ‘“considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até 12 (doze) anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade”.
831
Título original da pesquisa: Do fast foods cause asthma, rhinoconjunctivitis and eczema? Global
findings fromthe International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC) (Os fast foods
causam asma, rinoconjunivite e eczema? Resultados Globais do Estudo Internacional de Asma e Alergias
na inância.) Phase Three. Realizada pelos pesquisadores Philippa Ellwood, Innes Asher, Luis García-
Marcos, Hywel Williams e divulgada na revista Thorax.
832
320.000 jovens de 13 a 14 anos e 181.000 crianças de seis a sete anos participaram da
pesquisa.
833
Nos Estados Unidos da América o termo drive-in é empregado para serviços no qual o cliente é
encorajado a (no caso de fast-food) consumir o produto enquanto fica estacionado no local. Já o
termo drive-through é empregado para serviços no qual o cliente é encorajado a deixar o local com o
carro e a comida.
1503
1504
1505
834
O projeto encontra-se na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), onde o parecer do
relator, Ciro Nogueira (PP-PI).
835
O PLS 196/07 altera a Lei 8.918/94. Encontra-se na Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania
(CCJ), aguardando designação do relator.
836
O projeto encontra-se na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e o relator é Cyro Miranda
(PSDBGO).
837
Divisão Nacional da Publicidade. Criada em 1971. Tem como intuito, promover a verdade e
exatidão na publicidade norte-americana.O órgão recebe reclamações de consumidores, anunciantes e
agências, e também pode iniciar investigações de ofício, através da monitoração contínua que exerce
sobre a indústria.
838
Conselho de Autorregulação da Publicidade.
839
Conselho de melhores negócios de Bureaus.
840
Unidade Infantil de Revisão Publicitária.
841
Disponível em: <http://www.caru.org/guidelines/guidelines.pdf>. Acesso em 20 de abril de
2015.
1506
1507
842
‘McLanche Feliz’ é uma refeição infantil especialmente vendida a crianças, desde Junho de
1979, através da rede de fast-food McDonald's.
843
Organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que reúne os projetos que visam à busca
pela garantia de condições para a vivência plena da infância. Criado em 1994, o Instituto conta hoje com
projetos próprios e com parceiros e é mantido pelos rendimentos de um fundo patrimonial desde 2013.
Tem como missão “honrar a criança”.Fonte: http://alana.org.br/.
844
Lançado em 22 de maio de 2011 com direção de Carlos Saldanha.
1508
Conclusão
A forma de alimentação fast food traz consigo, em todo lugar em que se instala a
ideologia do estilo de vida Norte Americano. Muitas crianças americanas passaram a sofrer de
doenças diversas, como a obesidade infantil, nos últimos anos, assim como as brasileiras, que
aderiram a este estilo alimentar. Tal fato tornou-se um caso de saúde pública em ambos os
países.
O Brasil não possui um contexto tão alarmante de obesidade infantil derivado do
consumo excessivo de alimentos fast foods e bebidas carbonatadas, como nos EUA, que precisa,
necessariamente, desconstruir um hábito de consumo de muitas gerações. Caso o Brasil não
promova ações, tanto do ponto de vista da regulamentação publicitária, quanto do ponto de vista
de programas sociais voltados para hábitos de consumo de alimentos saudáveis, essa
problemática pode continuar a se proliferar.
Lembramos que os EUA, em 2010, apresentavam quase 32% desuas crianças obesas.
No Brasil, neste mesmo período (IBGE, 2010), 15% das crianças de 5 a 9 anos estavam com o
mesmo problema identificado. Não possuímos de fato, um sistema normativo no país sobre a
alimentação tipo fast food voltado para proteção das nossas crianças, tanto é fato, que o caso da
rede McDonald’s, mencionado neste artigo, foi arquivado e não sustado, como era de ser
esperado pelo Conar.
Para além da sua real atualização sobre o assunto, outros dispositivos da lei podem e
devem normatizar o assunto no Brasil. Também, o poder público e as entidades de classe podem
se inspirar em projetos mais efetivos como o Let’s move e o Ato de Proteção da Obesidade na
Infância para dar cabo de um problema que pode vir a ser crônico em nosso país.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Candido E.M.de. A Autorregulamentação publicitária no Brasil. Rio de Janeiro: 2013:72
p. Monografia de final de curso. Departamento de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro-PUC-Rio.
ABAP-Associação brasileira de agências de publicidade. No mundo da publicidade infantil: Pais e
mães de 50 países falam sobre a propaganda na vida de seus filhos.2003.
AÇÃO DE PROTEÇÃO DA OBESIDADE NA INFÂNCIA. Commercialalert, 2010. Disponível em:
<http://www.commercialalert.org/pcoasum.pdf.>. Acesso em 29 de abr. 2015.
ALIMENTOS RICOS EM SAL E GORDURA PODEM PREJUDICAR CRIANÇAS. Portal Brasil,
2014. Disponível
em<http://www.brasil.gov.br/saude/2014/07/alimentosricosemsalegordurapodemprejudicarcriancas>.
Acesso em: 13 de abr. 2015.
CONAR-Conselho de Autorregulamentação Publicitária, 2015. Disponível em
<http://www.conar.org.br/>. Acesso em: 20 de mar. 2015.
1509
O pôster apresenta dados da pesquisa sobre a relação entre a televisão e o Twitter através do
acompanhamento do programa Encontro com Fátima Bernardes, que se tornou uma marca
inovadora em relação aos padrões de comunicação na Rede Globo, considerando seu interesse
pelas informações postadas pelos usuários da mídia social. A pesquisa foi realizada de acordo
com as definições do fenômeno segunda tela, sobre o hábito de as pessoas assistirem televisão e
compartilharem informações em seus perfis de mídias sociais através de smartphones, tablets ou
1510
3. Televisão e audiência
• Desde a década de 70 televisão lidera como mídia predominante em investimentos
publicitários e a Rede Globo está no topo com as maiores verbas publicitárias e
audiência
• Crescimento do número de televisões, uso individualizado e presença de tecnologias
dispersando o sentido das programações
• Da audiência passiva e persuadida para audiência ativa influenciada pelo meio
• Aumento da audiência da TV no Brasil, com tendência de uso de mais meios
4. REFERÊNCIAS
A2 COMUNICAÇÃO. Monitoramento analisa o fenômeno da segunda tela durante a final do BBB.
Disponível em: http://www.a2comunicacao.com.br/blog/portfolioa2- monitoramento-analisa-o-
fenomeno-da-segunda-tela-durante-a-final-do-bbb/. Acesso em 02 de novembro de 2013.
ARRUDA, M. A. do N.. A embalagem do sistema: a publicidade no capitalismo brasileiro. São
Paulo: Duas Cidades. 1985.
CHAGAS, Polyana Amorim Cambiassu. Um olho na tv e outro no computador: repercussão de produtos
televisivos no twitter (edição eletrônica). Revista Científica do Departamento de Comunicação Social
da Universidade Federal do Maranhão. São Luís (MA) Janeiro/Dezembro de 2010.
CRUZ, Breno. Classe C e o Fenômeno ‘Social TV’ no Brasil. Disponível em:
http://www.academia.edu/2568424/Classe_C_e_o_fenomeno_Social_TV_no_Brasil. Acesso em
01/11/2013.
1511
FARRIS, P. W.; BENDLE, N. T.; PFEIFER, P. E.; REIBSTEIN, D. J. Marketing Metrics: 50+ Metrics
Every Executive Should Master. Pearson Education, Inc. 2006.
ENKIS, H.Cultura da Convergência. 2ed. São Paulo: Editora Aleph Ltda., 2009.
JUE, A.; MARR, J.; KASSOTAKIS, M.Mídias Sociais nas Empresas: Colaboração, Inovação,
Competitividade e Resultados. São Paulo: Évora, 2010.
LOPES, F. A reconfiguração dos veículos tradicionais de informação frente à popularização das mídias
sociais. In: Congresso Intercom Sudeste.Vitória (ES). 2010
PEREIRA, H.; MUNHOZ, F. Mas afinal, internet é Mídia?In: Congresso Intercom de Belo Horizonte
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RECUERO, Raquel."Deu no Twitter, alguém confirma?" Funções do Jornalismo na Era das Redes
Sociais. 9º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. Rio de Janeiro – UFRJ. Novembro de
2011.
SEEKR. Quem somos. Disponível em: http://seekr.com.br/quem-somos. Acesso em 22/11/2013.
TERNE, J.Marketing na Web: integrando a web à sua estratégia de marketing. São Paulo: Editora
Campus Ltda., 1955.
TELES, A.A revolução das Mídias Sociais: Cases, Conceitos, Dicas e Ferramentas- São Paulo: Crontec,
2010.
TORRES, C.A Bíblia do Marketing Digital: tudo o que você queria saber sobre marketing e publicidade
na internet e não tinha a quem perguntar. 3ed. São Paulo: NovatecEditora Ltda., 2009.
RESUMO
Este artigo analisa a responsabilidade social da comunicação em comerciais de alimentos
voltados ao público infantil, tendo como objetivo principal averiguar se as normas e os
indicadores da responsabilidade social da comunicação estão presentes nessas peças. Foram
analisados três comerciais de diferentes produtos alimentícios veiculados em TV aberta e
fechada no Brasil, na perspectiva da análise documental de base qualitativa e da pesquisa
descritiva.
Introdução
A adoção das práticas de responsabilidade social, como bem afirmam Albuquerque
(2008), Arrebola (2004) e Govatto (2007), é uma forma de a empresa contribuir para o bem
estar das pessoas e para o fortalecimento da cidadania. A forma como uma empresa se
comunica com seus públicos também deve refletir sua consciência de zelo e preocupação para
com os mesmos. Nesse contexto, a prática da responsabilidade social da comunicação adquire
maior relevância, sobretudo, quando se trata de peças publicitárias voltadas ao público infantil,
845
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
846
Graduada em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, email:
empirica.hadassa@gmail.com
847
Graduada em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, email:
milymorete@gmail.com
848
Professora do curso de Publicidade e Propaganda da Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
email:adrianarf.cos@gmail.com
1512
pois é sobretudo às crianças que os serviços e produtos precisam ser oferecidos com qualidade e
com a cautela que a infância requer.
Sendo a publicidade uma das formas de comunicação que leva até a criança
informações sobre alimentos, torna-se de extrema importância observar o teor dessa
comunicação a fim de verificar se a mesma tem assumido comportamento socialmente
responsável.
O público infantil é formado por crianças de até 12 anos incompletos, conforme a Lei
8.069/90849. São indivíduos em fase de desenvolvimento físico, mental, moral, social e também
dos hábitos alimentares sendo, conforme estabelece a lei citada, dever da família, da
comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar seu direito à saúde.
Os comerciais de alimentos que não tem por base a responsabilidade social podem levar
as crianças a desenvolverem comportamentos alimentares não saudáveis e contribuir para
problemas de saúde, tais como: diabetes, desnutrição, diarreia, cárie dentária e problemas
cardíacos, reconhece a Associação Brasileira de Agências de Publicidade850.
Em razão de sua ingenuidade e inexperiência, as crianças podem ser consideradas as
mais sensíveis e desprotegidas em relação às mensagens publicitárias, no entanto têm sido cada
vez mais tratadas como público-alvo da publicidade, como bem evidencia o documentário
“Criança: a alma do negócio”851 . Pelos motivos expostos que envolvem publicidade, hábitos
alimentares e público infantil, esta pesquisa estuda o conteúdo de comerciais direcionados a
esse público a fim de verificar se atendem ao que estabelecem:
• o Artigo 2º do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária852, que determina
que “todo anúncio deve ser preparado com o devido senso de responsabilidade social”.
• o Artigo 37 do mesmo documento, que define que “Os esforços de pais, educadores,
autoridades e da comunidade devem encontrar na publicidade fator coadjuvante na
formação de cidadãos responsáveis e consumidores conscientes [...]”.853
• o Anexo “H” do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, que disciplina
a propaganda comercial de alimentos.854
• os Indicadores de Sustentabilidade para a Indústria da Comunicação, que indicam em
sua dimensão “Comunicação responsável: cuidados com a criança e a infância”855, os
princípios aos quais a publicidade deve atender para contribuir com o desenvolvimento
infantil e suas relações familiares.
1513
contribui para transformar a sociedade e tem a função de “[...] integrar pensamentos, trocar
experiências, mudar atitudes, definir comportamentos”. Desta forma, a comunicação é um
agente de mudança da sociedade e precisa ser utilizada com responsabilidade pelas
organizações a fim de colaborar para a construção e manutenção de valores positivos para os
cidadãos.
Sendo a publicidade uma forma de comunicação, também atua como agente de
influência no corpo social e por isso deve agir com senso de responsabilidade social, conforme
estabelece o artigo 2º do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária.
Ciente do poder que a mensagem publicitária pode exercer sobre os receptores, o
Código de Ética dos Profissionais da Propaganda em seu inciso II ressalta que o profissional de
propaganda “cônscio do poder que a aplicação de sua técnica lhe põe nas mãos, compromete-se
a não utilizá-la senão em campanhas que visem ao maior consumo dos bons serviços, ao
progresso das boas instituições e à difusão de ideias sadias”.
Esse compromisso ganha ainda maior relevância quando o público-alvo é composto por
crianças que hoje, segundo depoimento da presidente do Instituto Alana856 no documentário
“Criança: a alma do negócio”, chegam a influenciar 80% das compras da família.
O impacto da publicidade sobre as crianças tem sido motivo de amplas discussões,
inclusive está tramitando no Congresso Nacional o projeto de lei 5.921/2001, que propõe a
proibição da publicidade dirigida ao público infantil em qualquer horário e por meio de
qualquer tipo de mídia.
Há também vários estudos dedicados à temática específica da publicidade de alimentos
e sua relação com o público infantil, como a obra organizada por Vivarta (2013), “Publicidade
de alimentos e crianças” e o estudo de Santos (2009), “Sociedade do Consumo: criança e
propaganda – uma relação que dá peso.”
Segundo Santos e Batalha, as propagandas de alimentos na televisão são as que têm
recebido maior atenção dos pesquisadores na atualidade e estudos tanto brasileiros quanto de
outros países comprovam “a relação entre os comerciais de produtos alimentícios, cuja
exposição é feita nos horários de maior audiência da televisão, e o comportamento alimentar
dos consumidores, principalmente das crianças.” (2007, p. 3):
Neste cenário, é preciso verificar se esses comerciais estão fortalecendo ou não
comportamentos saudáveis e hábitos alimentares que favoreçam a saúde e o bem estar das
crianças.
856
O Instituto Alana é uma organização sem fins lucrativos criada em 1994 que tem como missão
desenvolver atividades em prol da defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes relacionadas a
relações de consumo em geral, bem como ao excessivo consumismo ao qual são expostos. Disponível
em: <http://www.institutoalana.com.br/Institucional/Instituto.aspx>
857
Diz o artigo: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
858
Instituto Alana. Disponível em: <www.alana.org.br>
1514
Cabe ressaltar que o público infantil é considerado como muito suscetível à influência
da publicidade, visto que por estar em fase de desenvolvimento psicobiológico tem menor
habilidade para compreender o objetivo persuasivo da propaganda e também para separar a
realidade da fantasia.
As crianças, explica Momberger (2002) “tendem a aceitar prontamente as alegações e
apelos de produtos caros, especialmente aqueles anunciados por personagens e atores de quem
gostam e nos quais confiam.”
Essa falta de consciência sobre a persuasão praticada pela publicidade deixa a criança
mais vulnerável à adoção de comportamentos e atitudes que podem trazer consequências
negativas para sua segurança, saúde e relacionamentos sociais, além de incentivar o consumo
prematuro e em excesso.
Em 2013 pesquisadores da área de psicologia social da Universidade Federal de Brasília
(UnB)859 desenvolveram um estudo sobre a publicidade infantil na TV aberta por meio da
análise de mais de cento e oitenta comerciais. O estudo informa que em função de uma maior
exposição à publicidade televisiva de alimentos não saudáveis, as crianças estão mais expostas
ao risco de sobrepeso.
Além do problema de sobrepeso, os comerciais também podem contribuir para a
erotização precoce, incentivo à violência, menosprezo à autoridade de pais e educadores e
incentivo precoce à competitividade pela posse de bens. Atentos a esses possíveis danos, países
como Suécia, Noruega e Áustria proíbem a publicidade direcionada às crianças em canal aberto.
A proteção específica da criança em relação aos apelos da publicidade não encontra no
Brasil uma lei específica, estando apenas capitulada no artigo 37 do Código de Defesa do
Consumidor (Lei 8.078/1990). Este documento estabelece ser abusiva, e portanto proibida, toda
publicidade que “se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança.”860. Porém
o documento não especifica as características técnicas que permitam a identificação desse tipo
de conteúdo.
Como guias para o agir ético e responsável em relação à criança, os profissionais da
publicidade contam com as normativas do Código Brasileiro de Autorregulamentação
Publicitária e também com as orientações dos Indicadores de Sustentabilidade para a Indústria
da Comunicação.
No caso do Código de Autorregulamentação, as medidas de proteção à infância constam
no artigo 37861 , cujo caput determina que “Os esforços de pais, educadores e da comunidade
devem encontrar na publicidade fator coadjuvante na formação de cidadãos responsáveis e
consumidores conscientes.”
Os Indicadores de Sustentabilidade para a Indústria da Comunicação foram definidos
em 2012 pela Associação Brasileira das Agências de Propaganda (Abap) em parceria com a
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Os indicadores permitem saber em que
pontos a organização precisa aprimorar suas práticas a fim de melhor contribuir para o bem
estar social. Estes indicadores são postos em prática por meio de questionários direcionados às
organizações para sua auto-avaliação. Assim, por meio de respostas dadas às perguntas que
constituem esses questionários as agências podem analisar se suas práticas atendem ou não aos
princípios da responsabilidade socioambiental. Estes Indicadores apresentam quatro dimensões
avaliativas da prática do setor: Valores da Agência, Comunicação Responsável e Gestão com
Colaboradores.
As orientações deste documento sobre a comunicação com o público infantil constam
da dimensão Comunicação Responsável, Cuidados com a Criança e a Infância862 .
Essas normas e orientações, somadas as indicações constantes do Anexo H do Código
de Autorregulamentação, que apresenta as regras para a divulgação de alimentos para crianças,
859
IGLESIAS, Fabio; CALDAS, Lucas Soares; LEMOS, Stela Maria Santos de. Publicidade infantil:
uma análise de táticas persuasivas na TV aberta. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822013000100015&lang=pt>
860
Artigo 37, § 2°.
861
Disponível no Anexo A deste trabalho.
862
Disponível no Anexo C deste trabalho.
1515
orientam a análise dos comerciais publicitários estudados nesta pesquisa, cujo objetivo é
verificar se essas peças atendem ou não aos princípios da responsabilidade social.
4. Procedimentos metodológicos
A pesquisa foi realizada através do método de pesquisa documental qualitativa e do
método descritivo. Os documentos analisados são comerciais televisivos de alimentos
direcionados à criança. Foram selecionados 3 comerciais de diferentes empresas alimentícias
veiculados em 2014 em TV aberta e fechada, com duração de 30 a 60 segundos.
Para proceder à análise das peças foi utilizado formulário desenvolvido pelas
pesquisadoras863 , por meio do qual se pode verificar se o que cada comercial mostra e diz atende
às normas do Artigo 2º, 37 e do Anexo “H” do Código Brasileiro de Autorregulamentação
Publicitária, bem como aos Indicadores de Responsabilidade Social para a Indústria da
Comunicação, dimensão Comunicação Responsável, Cuidados com a Criança e a Infância.
Os conteúdos foram agrupados em dois núcleos de referência: 1) indicações daquilo que
uma peça publicitária de alimentos voltada ao público infantil não deve conter para ser
considerada ética e responsável. 2) indicações daquilo que uma peça publicitária de alimentos
voltada ao público infantil deve conter para ser considerada ética e responsável.
5. Análise do corpus
a) Comercial 1: Salgadinho Cheetos - “Agora é com você.”864. O filme de 30” divulga o
"Salgadinho Cheetos", da Elma Chips, e narra a brincadeira de um garoto com o tigre Cheetos.
Juntos, eles correm pela casa atirando dardos.
Os pontos negativos deste comercial, de modo geral, abordam o desrespeito com as
pessoas, o incentivo a comportamentos condenáveis e perigosos e a apresentação de situações
de constrangimento aos pais ou responsáveis.
Além disso, a peça de divulgação do Salgadinhos Cheetos não apresenta ao público
informações sobre o produto como tamanho, sabor, características nutricionais etc. Deixa,
portanto, de atender às recomendações de responsabilidade social e ética conforme os itens 2.5 e
2.6 do formulário de análise.
Outro ponto a destacar é que, embora a mensagem não encoraje o consumo excessivo
nem menospreze a alimentação saudável (itens 1.12 e 1.13), falha ao apresentar o produto como
brinquedo, já que o mesmo aparece no comercial como dardo que o menino e o personagem
Cheetos atiram nas pessoas (irmã e mãe), revelando-se atitude deseducadora. Essas observações
indicam inadequação da peça quanto à ética e responsabilidade social.
Já o ponto positivo da peça está relacionado à forma de apresentação do comercial.
Embora apresente um personagem do universo infantil, tigre Cheetos, e uma narrativa lúdica
que representa uma brincadeira de criança, a peça foi veiculada em intervalos da programação,
reduzindo a possibilidade de a criança confundi-lo com um desenho animado.
Uma análise do comercial como um todo permite somar a este ponto positivo o fato de a
peça não provocar nenhum tipo de discriminação (1.2), não apresentar o consumo do produto
como proporcionador de superioridade (1.4), não colocar crianças para vocalizar apelo de
consumo (1.6) e também não usar a figura de pais ou educadores para fazê-lo (1.11).
Ainda que o estudo pleno do comercial do salgadinho Cheetos tenha indicado 6 pontos
negativos e 5 positivos, qualitativamente os pontos negativos mostraram-se mais preocupantes
diante dos princípios estabelecidos pelo Código de Autorregulamentação Publicitária e pelos
Indicadores de Sustentabilidade para a Indústria da Comunicação, presentes no formulário.
O comercial 1, “Agora é com você.”, apresenta e estimula a adoção de comportamentos
perigosos para uma criança, como o garoto “arremessar” dardos em parentes ou amigos. Não
respeita a capacidade de discernimento da criança ao propor uma brincadeira que pode ser
perigosa, desprezando o fato da criança não ser capaz de julgar o risco a que expõe as pessoas
nas quais atira o dardo. Menospreza a autoridade e o respeito aos pais, quando mostra o garoto
“arremessando” um dardo no bumbum da mãe, dando a entender que o maior alvo da vida do
863
O formulário consta no Anexo D deste trabalho.
864
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=oIXZtxmM8Yw>
1516
garoto seria atingir a mãe (como foi mencionado na fala do personagem Cheetos: “Você treinou
toda a sua vida para este momento!”). Infantiliza o avô, colocando-o como cúmplice das
travessuras do neto e do personagem Cheetos. Desta forma, o comercial 1 não pode ser
classificado como socialmente responsável, pois não se mostrou preocupado em divulgar
valores positivos ao público infantil, como respeito à autoridade dos pais e ao próximo.
b) Comercial 2: Sucos TANG - "Preparou, bebeu, faz!"865 . A peça tem 60” e divulga os sucos
Tang, da Kraft Foods. A peça mostra diversas crianças preparando e bebendo o suco, enquanto
cantam uma música cuja letra aborda o tema da sustentabilidade.
Da mesma forma que o comercial 1, a mensagem dos sucos Tang não apresenta
informações objetivas sobre o produto como tamanho, sabor, benefícios nutricionais, imperando
na peça a linha institucional. Essa característica evidencia que a peça não cumpre com o
indicado nos itens 2.5 e 26 do formulário de análise, o que pode ser entendido como um ponto
negativo da mensagem.
Os pontos positivos observados dizem respeito à contribuição do comercial ao
desenvolvimento de bons relacionamentos que envolvem a criança (2.1), quando mostra
crianças unidas cantando e praticando ações com um mesmo propósito que é o da reciclagem e
da sustentabilidade; respeita à ingenuidade e inexperiência do público infantil (2.2), bem como
sua menor capacidade de discernimento (2.3), já que apresenta um enredo infantil, ou seja,
elaborado a partir da capacidade e do universo das crianças. Outro ponto positivo é o fato da
peça não apresentar o consumo do produto, suco Tang, como propiciador de benefícios como
status, popularidade etc.
Assim como o comercial 1, salgadinhos Cheetos, a mensagem de divulgação dos sucos
Tang também não proporciona nenhum tipo de discriminação (1.2), não apresenta o consumo
do produto como proporcionador de superioridade (1.4), não coloca crianças para vocalizar
apelo de consumo (1.6) e também não usa a figura de pais ou educadores para fazê-lo (1.11).
Outros fatores positivos importantes são que as crianças utilizadas na peça não são nem muito
acima nem muito abaixo do peso (1.16) e a mensagem do comercial não menospreza a
alimentação saudável (1.13). De forma plena, a peça soma, então, oito pontos adequados aos
princípios da ética e da responsabilidade social da publicidade.
Diante do exposto é possível considerar que o comercial 2 atende aos princípios da
responsabilidade social da publicidade, pois mostrou-se preocupado em divulgar valores
positivos ao público infantil como o respeito a natureza, ao próximo, a importância dos
cuidados com a saúde e também apresenta ações de incentivo à preservação do planeta como
reciclagem e o não desperdício de água.
1517
Considerações finais
Após os estudos e análises foi possível constatar que os indicadores da responsabilidade
social da comunicação estão parcialmente presentes nos comerciais de alimentos voltados ao
público infantil.
A pesquisa revelou que o comercial 2, atendeu positivamente aos indicadores da
responsabilidade social. Já os comerciais 1 e 3, não podem ser considerados socialmente
responsáveis, pois não atenderam a maioria dos indicadores presentes no formulário e
mostraram valores negativos que se destacaram de maneira preocupante quanto ao quesito da
responsabilidade social ante ao público infantil.
A pesquisa mostrou serem os indicadores atendidos positivamente pelos 3 comerciais
analisados: contribuição para o desenvolvimento positivo das relações entre pais e filhos e
demais relacionamentos referentes à criança. Respeito à dignidade, ingenuidade, credulidade e
inexperiência do público-alvo. Atenção à menor capacidade de discernimento da criança e a
utilização de personagens do universo infantil de forma a deixar evidente a distinção entre a
mensagem publicitária e o conteúdo editorial ou da programação.
Quanto aos pontos negativos que revelam o não atendimento aos princípios da
responsabilidade social das peças que constituem o corpus, a análise identificou:
desmerecimento de valores sociais positivos e associação da criança à situações perigosas ou
socialmente condenáveis.
Nenhuma das peças, embora todas divulguem produtos alimentícios, encoraja ou releva
o consumo excessivo ou apresenta situações que incentivem o consumo exagerado (item 1.12
do formulário). Também não apresenta o produto como substituto das refeições básicas
(desjejum, almoço e jantar), conforme itens 1.14 do formulário de análise.
Com a compreensão das análises realizadas neste universo de três comerciais
selecionados, entende-se que as agências de publicidade e seus profissionais têm seguido
importantes princípios de responsabilidade social, mas precisam ainda ser mais cautelosos com
os conteúdos publicitários que direcionam ao público infantil, a fim de que teores como os
identificados, que colocam a criança em situação de risco a sua segurança e saúde e a deseduca,
não apareçam nas mensagens publicitárias.
É preciso mais conhecimento e atenção às normas éticas dispostas no Código de
Autorregulamentação. Inclui-se, ainda, maior zelo às indicações da dimensão Comunicação
responsável, dos Indicadores de Sustentabilidade para a Indústria da Comunicação, que trata dos
cuidados com a criança.
Para concluir, considera-se que esses documentos, que funcionam como cartilhas de
instrução ética e responsável às práticas da atividade publicitária, devem se fazer mais presentes
no cotidiano dos profissionais, atuando como norteadores de qualquer tipo de peça publicitária,
especialmente às que visam dialogar com o público infantil no que se refere a alimentos, uma
vez que esse tipo de comunicação, feita de forma irresponsável, pode contribuir para o
desenvolvimento de hábitos não saudáveis de alimentação, o que pode acarretar problemas de
saúde como obesidade e diabetes.
REFERÊNCIAS
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RESUMO
Este artigo consiste em um recorte da análise realizada como trabalho de conclusão de curso,
sobre uma das maiores manifestações religiosas do mundo, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré,
realizado todo mês de outubro em Belém do Pará. A análise observa a relação entre campo
religioso e campo midiático, partindo para o estudo da relação do evento com a mídia e a
divulgação realizada através desses meios por seus organizadores que são: Basílica Santuário de
Nossa Senhora de Nazaré e Diretoria da Festa de Nazaré. Neste estudo, para efeito
metodológico, o Círio será visto como uma marca, em função de seus atributos, benefícios,
valores, cultura e personalidade que a identificam e fidelizam seus consumidores. Analisa
também, tendo como objeto de estudo o conteúdo produzido pelos organizadores para o
facebook, analisado a partir dos conceitos do marketing 3.0.
Introdução
Em Belém do Pará, região norte do Brasil, há 222 anos, ocorre o Círio de Nazaré, uma
das maiores festas religiosas do mundo que agrega pessoas de diversos locais em romarias que
ocorrem no mês de outubro, durante a chamada “quadra nazarena”.
867
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
868
Graduada em Comunicação Social, Habilitação em Publicidade e Propaganda, pela Faculdade de
Comunicação da Universidade Federal do Pará – FACOM-UFPA. email: layzesilva@ymail.com.
1519
1520
o evento ocorre há mais de 200 anos e cada vez ganha mais visibilidade no país, indo além das
fronteiras amazônicas e chegando até mesmo a outros continentes.
Nesta análise, o Círio de Nazaré será visto como uma marca/serviço e seus fiéis como
consumidores devido aos valores que o evento traz consigo, assemelhando-se a grandes marcas
presentes no mercado.
A AMA – American Marketing Association, conceitua marca como “um nome, termo,
sinal, símbolo ou desenho, ou uma combinação dos mesmos, que pretende identificar os bens e
serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e diferenciá-los daqueles dos concorrentes”
(apud BRITO, 2008). Para Kotler (1998), além de um símbolo, uma marca agrega consigo
outros significados: atributos, benefícios, valores, cultura, personalidade e usuário.
O Círio traz à mente atributos únicos, como o fato de ser uma das maiores festas
religiosas do mundo e símbolos que remetem à festa, como exemplo a corda e a berlinda; traz
outros benefícios, principalmente emocionais, proporcionando aos fiéis a possibilidade de estar
mais próximos à imagem de Nossa Senhora de Nazaré, agradecendo por graças alcançadas;
possui valores, ou seja, uma representação diante de seus consumidores; também representa a
cultura de todo um Estado, não apenas religiosa, mas também gastronômica e musical, pois
mesmo levando-se em conta a diversidade entre os milhões de pessoas que participam do Círio,
pode-se considerar que tem em comum a fé e, pelo menos durante as romarias, dão grandes
mostras de solidariedade; finalmente, o Círio possui usuários, no caso, todos os participantes da
festa.
Quanto aos usuários, Kotler (1998) afirma que são aqueles que se relacionam com os
valores, cultura e personalidade do produto, sendo estes os significados mais consistentes de
uma marca.
A partir dessa observação, o objetivo geral do estudo se fundamenta em pesquisa teórica
que embasa o entendimento sobre como se deram as estratégias de divulgação do Círio 2014
por meio das páginas do facebook criadas pela Basílica e pela Eko Estratégias em Comunicação.
Estas foram escolhidas por serem as de maior número de acessos e participação, entre as que
têm o Círio como tema, buscando-se entender a relação entre marca e consumidor.
O estudo se fundamenta em autores que falam sobre estratégias de marketing voltado
para as redes sociais como Martha Gabriel (2010) e Philip Kotler (2010), embasando a análise
sobre as estratégias utilizadas pelos canais de comunicação via internet do Círio. Para o tema
ciber-religião, foi realizado estudo com base na obra de Jorge Miklos, que aborda a relação da
religião com o ciberespaço, assim como suas causas e consequências.
A construção do Círio midiático ao longo do tempo, fez com a que a festa tomasse outras
dimensões e avançasse rumo ao conhecimento de um número cada vez mais pessoas. O
acompanhamento e transmissão da procissão pelas principais redes de comunicação do estado
transformaram o Círio em um grande espetáculo, “uma inevitável lógica produtiva da mídia,
sempre impregnada e comandada pelo entretenimento” (Rubim, 2002).
1521
873
Dados coletados em acesso às páginas de facebook e do twitter em 28 de novembro de 2014
874
Disponível em: http://g1.globo.com/pa. Acesso em: nov/2014.
875
Os círios que ocorrem pelo Brasil tem como exemplo a tradicional festa de Belém, com
romaria pelas ruas das cidades e vendas de comidas típicas da cultura paraense. O mais conhecido e
divulgado pela mídia local no estado do Pará é o Círio do Rio de Janeiro.
1522
Dentro das mudanças no contexto social, a partir do advento do ciberespaço, está o que
Lévy chama de “novo nomadismo”, onde as mudanças de local não ocorrem em um território
geográfico, mas sim em um espaço simbólico em que as fronteiras são invisíveis, um “espaço
qualitativo, dinâmico, vivo da humanidade em vias de se auto-inventar, produzindo seu mundo”
(LÉVY, 2003, p. 15).
1523
O cibercírio
A inserção do Santuário na mídia se deu antes mesmo dele ter esse título, quando ainda
era Paróquia de Nazaré, as informações da mesma eram repassadas para a comunidade por meio
do jornal a Voz de Nazaré e da Rádio Nazaré. A igreja se modernizou e se adequou aos novos
recursos disponíveis, como as redes sociais na internet, conseguindo expandir o seu poder de
evangelização.
Esse esforço foi ampliado em 2009, quando a Basílica Santuário estruturou
um setor de comunicação, supervisionado pelo padre Jeorge Miranda
(atualmente supervisionado pelo Padre Maciel), então universitário de
jornalismo, e contratou uma jornalista cuja atividade ampliou a presença nas
redes sociais com blog, twittwer, orkut, YouTube e flickr. A Basílica
também passou a aproveitar melhor o espaço da Voz de Nazaré para
divulgar suas atividades. Segundo texto disponível no portal, o projeto de
comunicação permite que a Basílica Santuário amplie seu raio de
evangelização, além de ficar mais conhecida como Templo do Senhor, onde
se celebra a Eucaristia, e não apenas pelo Círio de Nazaré, grande festa
católica conhecida internacionalmente (ALVES, 2012, p. 73, grifo do autor).
876
Dados disponibilizados pela ASCOM Basílica em entrevista realizada no dia 25 de novembro
de 2014.
1524
Com relação ao Círio, nos meses próximos ao evento a Basílica Santuário volta suas
publicações para assuntos relacionados à Festa. Em paralelo à Basílica, a Diretoria da Festa
percebeu a necessidade de tornar a festa pauta da mídia durante o ano todo, direcionando a
relação com a imprensa para a Agência Eko Estratégias em Comunicação, responsável pelo
conteúdo do site e das redes sociais (twitter e facebook) além da produção de releases para a
imprensa sobre eventos e atividades relacionados ao Círio e à Diretoria.
A entrada da agência foi importante também para dar sustentação na mídia
ao Círio do ano todo preconizado por dom Orani. Os movimentos de
antecipação do Círio, de que se tratará a seguir, têm maior eficácia à medida
que se tornam visíveis no espaço público e este é o trabalho de uma agência
de comunicação, publicizar fatos, conferindo-lhes existência social a partir
de sua veiculação na mídia (ALVES, 2012, p. 85).
A Basílica e a Diretoria da Festa, por meio da Agência Eko, no mês de outubro, tornam-
se referência sobre a divulgação de conteúdos relacionados ao Círio, sendo as páginas do
facebook as que têm mais acessos e interação do público, identificados pelo número de curtidas
que as páginas possuem.
Nesse contexto, as redes sociais na internet da Basílica, em especial o facebook,
instituíram-se como canais de informação com a comunidade sobre os temas relacionados à
Igreja e à Diocese, onde durante o ano todo, os usuários podem buscar informações com relação
às missas e programações da Igreja, sendo o público a comunidade que acompanha missas na
Basílica.
No mês de outubro os assuntos se voltam para as ações da Igreja relacionadas ao Círio,
com base em informações da própria ASCOM da Basílica e também nas compartilhadas pela
Eko com a imprensa. Nessa época, o público não é mais somente à comunidade local, mas sim o
fiel de Nossa Senhora de Nazaré, esteja ele onde estiver.
A página oficial do Círio, movimentada pela agência Eko, diferentemente da Basílica,
possui conteúdo voltado exclusivamente para temas relacionados ao Círio. Sendo assim, a maior
movimentação da página ocorre nos meses próximos à realização da festa, período em que foi
observado maior número de “curtidas” e compartilhamentos na rede social, em comparação às
demais publicações feitas no decorrer do ano.
1525
Quero pedir oração por todos os enfermos, em especial pela minha mãe
D.Laurita que está doente, que o senhor seja seu médico e o seu remédio que
vai lhe curar. Senhor, faça um milagre na vida da minha mãe, liberte ela de
todo mal do corpo, da alma e do espirito (M, D. 2014)
Entrego tudo nas mãos de nossa Senhora e Ela cuidará de nós!!! (O, A.
2014)
Os fieis utilizam os comentários de postagens no Facebook como um espaço de fato
substituísse o físico e suas graças pudessem ser alcançadas através desse tipo de manifestação.
De acordo com as assessorias de comunicação responsáveis pelas postagens de conteúdo
tanto na página do facebook da Basílica quanto do Círio, não há uma estratégia ou estudo
específico direcionado à divulgação do Círio além das fronteiras do estado, porém isso acontece
espontaneamente.
A assessoria da Basílica afirmou que mesmo não tendo foco direcionado para a atração de
turistas para a capital do estado do Pará na época de festividades do Círio, o movimento desse
público na página é relevante. Segundo a assessora é comum enviarem mensagem com
solicitação de dicas para passeios turísticos, agências de viagem e informações sobre Belém. Há
até mesmo estrangeiros que solicitam informações em suas línguas locais.
Já para a página oficial do evento, também não há estratégias diretas voltadas para os
turistas, porém a agência Eko possui peças que visam o público de fora do estado, enxergando
assim a importância desse consumidor para o evento e dando a ele informações sobre os
principais componentes da festa, como os símbolos, a tradicional comida e os lugares turísticos
da cidade.
Diante disso e das observações feitas nas duas páginas, percebeu-se que a divulgação da
festa se dá principalmente por meio dos próprios fiéis, que em comentários e através de
compartilhamentos dos conteúdos publicados nessas redes sociais, trocam informações com
amigos que não moram na cidade e os convidam a conhecer a festa. É comum observar, em
ambas as páginas, pessoas que marcam seus amigos de outras localidades nas publicações,
principalmente em vídeos com cenas da festa, convidando-os a conhecer o evento e mostrando a
magnitude das procissões.
Nesse tipo de situação, acontece o que Guimarães (2010) chama de “presença
incorporada” nos ambientes de sociabilidade online. Já que essas plataformas “criam a
simulação de espaço ‘físico’ no ciberespaço, onde usuários podem circular e interagir com
outros usuários”. (p. 50)
Com o poder da coletividade, suas opiniões ganham uma força sem
precedente. As pessoas agora dispõem de meios eletrônicos que
tornam o velho boca a boca uma forma, muitas vezes, mais eficiente
de divulgar um assunto ou produto do que uma campanha de
marketing convencional. As mídias sociais dizem respeito as pessoas
comuns que passam a ter poder de divulgar suas ideia coletivamente e
influenciar o mundo ao sei redor (RAMALHO, 2010, p. 11).
Como forma de incentivar a interação entre público e marca, as instituições Basílica e
Círio buscaram ações de engajamento com o público como o uso de hashtags877, como a
#cirio2014, e compartilhamento de fotos enviadas pelos próprios fiéis que acompanhavam a
passagem da santa durante as romarias oficiais, criando uma forma de interação com o fiel,
dando a ele a possibilidade de gerar o conteúdo da página e fazer parte do evento de forma
significativa.
Assim como as marcas que praticam o chamado marketing 3.0, a religião e em específico
o Círio, busca atender às necessidades espirituais de consumidores, frutos da era da participação,
sendo assim, consumidores participativos, visto a facilidade de acesso às novas tecnologias e às
redes sociais expressivas e colaborativas, onde eles conseguem participar ativamente do
877 Criada primeiramente no Twitter, como ferramenta organizacional que permite o agrupamento de
postagens por tópico, foi tão utilizada que passou a ser introduzida em outras redes sociais, com o mesmo
propósito.
1526
conteúdo gerado por essa marca, e nesse caso, tornando-se o principal agente divulgador da
festa.
As páginas nas redes sociais na internet podem ser definidas como co-criações, uma das
características do marketing 3.0, que segundo Kotler (2010) são criações de produtos e
experiências através da colaboração entre pessoas, criando um canal interconectado e fazendo
com quem o acúmulo de experiências individuais dos consumidores possam ser personalizadas
nos seus próprios desejos e necessidades individuais.
Podem-se observar três processos-chave de co-criação. 1) as empresas
devem criar aquilo a que chamamos de uma “plataforma”, um produto
genérico que pode ser personalizado mais tarde. 2) devem permitir que os
consumidores individuais no interior de uma rede personalizem a plataforma
para estar aí ao encontro de suas próprias identidades únicas. 3) devem dar
voz aos consumidores e enriquecer a plataforma ao incorporar todos os
esforços de personalização efetuados pela rede de consumidores (KOTLER,
2010, p. 45).
O facebook pode ser analisado como esse tipo de plataforma criada para a participação
dos fiéis do Círio, pois permite a personalização da ferramenta, como exemplo a publicação de
fotografias com a hashtag do evento, dando voz ao consumidor e enriquecendo a plataforma
com conteúdos dele próprio. As outras duas características do marketing 3.0 são: comunização,
quando os consumidores querem estar conectados a outros consumidores, caso que acontece na
página do Círio, pela constante troca de comentários na página; e a construção de caractere, que
constrói a diferenciação da marca.
Considerações finais
O advento das redes sociais como forma de interação durante a manifestação religiosa do
Círio de Nazaré foi destaque na mídia, mostrando a relevância desse novo meio na propagação
da festa. A modernidade e sua revolução tecnológica vieram para trazer comodidade e
facilidade para a vida das pessoas, dando acessibilidade à informação a qualquer momento e em
qualquer lugar, consequentemente mudando também as ações e estratégias relacionadas à
divulgação de produtos para o mercado, com uma enorme variedade de produtos e com um
consumidor mais informado e, principalmente, conectado.
As religiões, nesse contexto, apropriaram-se da mídia como forma de manter suas
relações com seus fieis e também, conquistar novos. Assim como algumas marcas, visam
conquistar novos consumidores, “vendendo” evangelização, fé e salvação. Produtos cheios de
simbolismos e significados para aqueles que os consomem. Características de um consumo
simbólico, onde as necessidades e desejos não são mais apenas materiais, mais sim por valores.
O Círio, ao longo do tempo, tornou-se uma marca de fortes significados e valores.
Representa um momento de intimidade entre Nossa senhora de Nazaré e seus devotos, que
buscam por graças e salvação, mas que também vai além dessa relação pessoal. Representa a
cultura de um estado que é capaz de mostrar sua história, sua gastronomia e sua arte aos que
vêm de fora conhecer essa manifestação religiosa.
Assim, o Círio se torna um evento de grande importância para a economia do estado,
devido às somas que os turistas injetam na economia durante essa época do ano. Para que esses
resultados econômicos sejam cada vez mais significativos, os organizadores da festa trabalham
na missão de levar a cultura do Círio para fora do estado, principalmente através dos meios de
comunicação tradicionais e da visita da mesma imagem que é venerada pelos fieis de Belém, à
outras localidades do Brasil.
O ano de 2014 foi marcado por uma forte presença das mídias digitais na composição
midiática do Círio, facilitando o compartilhamento e a participação dos fieis durante os dias de
realização do evento, permitindo um intercambio de informações entre as mais diversas
localidades do estado, do país e do mundo,
Tanto moradores de barrancos à beira-rio quanto turistas estrangeiros
chegados de avião a Belém reconhecem mediações informacionais e
tecnológicas que situam a festa na cidade. Basta atentar para o grande
número de aparelhos celulares que fotografam a berlinda ou o
1527
878
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
1528
RESUMO
Este trabalho busca trazer reflexos sobre os processos de adaptações sofridos por marcas
mundiais, a partir de sua inserção em um contexto cultural distinto do seu, que é a cultura
islâmica. Além de refletir quanto à importância que tais transformações na construção e
desenvolvimento da marca, têm quanto a sua relação com o consumidor.
1 Introdução
1529
influência cultural é relevante a partir do momento em que se percebe que a comunicação mais
generalizada, não consegue estabelecer os mesmos laços com o consumidor, como que a
comunicação pensada de forma sociocultural. É necessário que a comunicação da marca se
comprometa quanto a estas mudanças, já que as “estratégias de marketing que mantiveram as
características de seus lugares de origem não tiveram sucesso em outros culturalmente
diferentes”881.
Empresas do setor alimentício, por exemplo, precisam adaptar mais que a linguagem de
seus materiais publicitários, mas também, partes do planejamento de comunicação, que são
quase que padronizados entre os franqueados, como é o caso dos produtos oferecidos nos
cardápios do McDonald’s. Como ocorreu na Índia, em que os hambúrgueres da marca não são
feitos com carne bovina, consequentemente, o trabalho comunicacional também deve estar de
acordo com a cultura, já que, “seria inútil qualquer tentativa de inserir no costume dos indianos
o hábito de se alimentarem com um produto que para eles tem valor muito superior”882.
Atuar em países que possuem a religião como principal regente da cultura e do
desenvolvimento da sociedade, como é o caso da Índia e de países de cultura islâmica, exige das
marcas e empresas, um planejamento estratégico voltado para os fatores culturais, que neste
caso, inclui a religião, já que “tal mundo é naturalmente muito diverso quanto às suas histórias,
nações e etnias, línguas, maneiras de viver consigo mesmo, com seu meio ambiente e com seus
vizinhos” (DEMANT, 2004, p. 13).
881
UCELLA, Lidiane Carminatti. Influências culturais nas decisões de marketing. Disponível
em: < www.artigonal.com/marketing-e-publicidade-artigos/influencias-culturais-nas-decisoes-de-
marketing-1599236.html>. Data de acesso: 27 de Fevereiro de 2015
882
UCELLA, Lidiane Carminatti. Influências culturais nas decisões de marketing. Disponível
em: < www.artigonal.com/marketing-e-publicidade-artigos/influencias-culturais-nas-decisoes-de-
marketing-1599236.html>. Data de acesso: 27 de Fevereiro de 2015.
1530
mostrando-se distante das relações atuais e das citadas anteriormente, praticando contato
somente consigo e não com a cultura ou sociedade.
Quanto ao sujeito sociológico, suas características são voltadas para uma relação com os
espaços em que habita, ou seja, com a sociedade e tudo o que ela carrega. A pessoa já não
consegue ser individualista e se auto sustentar, a identidade deste sujeito passa a ser “formada
na relação com outras pessoas importantes para ele, que mediavam para o sujeito os valores, os
sentidos e os símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava” (HALL, 1992, p. 11).
Neste caso, a essência e o núcleo da identidade ainda permanecem, mas elas são moldadas a
partir das correlações existentes entre a cultura exterior e a sociedade, e as próprias identidades
que as mesmas carregam (HALL, 1992).
Os constantes processos evolutivos na sociedade, também não deixariam de interferir nas
formações das identidades, permitindo ao indivíduo compô-la a partir de outras identidades,
definindo assim o sujeito pós-moderno, que tem sua identidade “formada e transformada
continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos
sistemas culturais que nos rodeiam” (Hall, 1987 apud Hall, 1992, p. 11). O seu núcleo já não
permanece essencialmente intocável, mas o indivíduo agora o compõem a partir desta
combinação de identidades, e estas são continuamente mudadas de lugar, à medida que uma
nova transformação na cultura acontece, tornando-se necessário também realizar os
deslocamentos das identidades no núcleo individual. Como pode ser percebido nos jovens que
pertencem a uma cultura com preceitos bastante respeitados pela sociedade, como é o caso da
cultura islâmica, que tem como norteadores da vida, os cinco pilares do Islam, seguidos e
realizados desde os tempos do Profeta Maomé até os dias de hoje. Além da cultura tradicional,
passada através de gerações, os jovens muçulmanos também convivem com os processos de
globalização e liquidez das relações humanas, que é a “fragilidade dos vínculos humanos”
(BAUMAN, 2004, p. 8). Dessa forma, a identidade do jovem muçulmano, não se restringe a
cultura tradicional, mas é moldada a partir das transformações que aconteceram e acontecem
nas sociedades mundiais. É como pensar na evolução das vestimentas femininas na cultura
islâmica, que apesar das transformações ocorridas, é perceptível o constante respeito aos
princípios pregados no Alcorão, em que afirma que as mulheres “não serão censuradas por
serem vistas (sem véu) por seus pais, filhos, irmãos, sobrinhos, nem pelas outras mulheres e
suas escravas” (ALCORÃO, 2012, p. 331). O traje utilizado pelas muçulmanas mais
conservadoras é a burca, que consiste em um longo véu, geralmente nas cores azul ou marrom.
A burca (Figura 1) cobre completamente a cabeça e o corpo da mulher, podendo enxergar o
mundo através de uma rede na parte dos olhos.
1531
1532
São essas adaptações que aproximam marcas e empresas de seus consumidores, tornando-as
fundamentais, já que a comunicação se desenvolve a partir de um reflexo da cultura em que atua,
e “a análise do papel e da presença da comunicação no espaço social nos permitirá compreender
melhor a evolução das marcas e seu verdadeiro lugar na sociocultura contemporânea”
(SEMPRINI, 2006, p. 74).
Semprini reflete quanto às relações cultura x sociedade e a relevância com que marcas e
empresas, juntamente com seus respectivos produtos e serviços, devem dar à sua inserção em
uma cultura diferente e as possibilidades de adaptações que seus materiais devem sofrer. É
necessário assim, que elas estejam alinhadas a cultura em que estão inseridas, de acordo com os
costumes, crenças, celebrações típicas, idioma, e qualquer manifestação comportamental de um
povo, para que o público-alvo consiga estabelecer contatos de identificação com o que está
sendo anunciado. Independente da cultura, a marca deve usar de sua habilidade de elasticidade,
e da sua “multiplicidade de manifestações, a marca pode variar seus discursos, diferenciar seus
objetivos, dirigir-se de forma quase personalizada a cada consumidor” (SEMPRINI, 2006, p.
71), ou seja, ela deve usar da capacidade de flexibilidade e adaptabilidade ao estar inserida em
culturas distintas.
Dialogar com o consumidor requer da marca criar situações para que o público possa ter
contato com a marca, que servem como pontos de identificação, e estes podem ser manifestados
através de três maneiras: a primeira quando ocorre do público ter uma preferência pessoal com
determinada publicidade ou a própria marca; segundo quando o consumidor se identifica com a
publicidade ou marca através de uma semelhança com o seu estilo de vida; e por fim, a
identificação do consumidor quanto aos aspectos culturais e sociais refletidos no universo em
que habita. Tais contatos de relação e proximidade podem ocorrer separados ou de forma
combinadas.
São a partir das relações da cultura, com a sociedade e as próprias contribuições das
identidades dos indivíduos, que se torna possível obter informações necessárias para se refletir
quanto a forma de comunicar de uma empresa ou marca. São estas relações que diferenciam
uma publicidade planejada de forma sociocultural, de qualquer material divulgado sem relação
com a cultura vigente. Buscar se adequar as características de uma cultura e refletir sobre a
recepção deste consumidor, não deve ser tratada como uma obrigatoriedade, mas, como parte do
crescimento e desenvolvimento da empresa ou marca a nível global.
1533
especial e surpreendente e na direção que essa revelação dá a vida” (Santayana apud Geertz,
2008, p. 65).
É baseado na religião islâmica e no Alcorão que se estruturam os cinco pilares fundamentais
para o povo muçulmano, que se constituem como pontos norteadores em suas vidas883. Cabe
declarar que além de todos os pilares estarem vinculados à religião islâmica e aos preceitos
propostos no livro sagrado, estes são obrigações a todo muçulmano, que devem realizar tais
pilares pelo menos uma vez em sua vida.
O primeiro pilar, diz respeito a Shahada, que em português significa testemunho, e esta
manifestação se estabelece através de dois princípios, o muçulmano testemunhar a sua fé
incondicional a Allah, e o testemunho quanto ao mensageiro de Allah, o Profeta Muhammad.
Este pilar é pregado diariamente por todos os muçulmanos, pronunciando a Shahada quando
acordam pela manhã e antes de irem dormir à noite. Ela também é repetida cinco vezes na
chamada para a oração diária em todas as mesquitas, que são os locais onde acontecem os cultos
sagrados do islamismo. Também se acredita na cultura islâmica, que pronunciar Shahada como
as últimas palavras em vida, guardam ao muçulmano a ida ao Paraíso.
O segundo pilar trata da ligação direta entre Allah e os muçulmanos, que acontece
através das cinco orações diárias e obrigatórias, que é denominada Salat em árabe. O período
das orações é muito importante, já que como descrito no Alcorão “a oração preserva (o homem)
da obscenidade e do ilícito; na verdade, a recordação de Deus é mais importante” (ALCORÃO,
2012, 29ª Sura, versículo 45, p. 313). Não há um horário fixo para que as orações aconteçam,
mas elas são dispostas durante o dia de acordo com o posicionamento solar, sendo realizadas ao
amanhecer, ao meio-dia, no meio da tarde, ao anoitecer e a noite. Não é obrigatório aos
muçulmanos procurar uma mesquita para realizar suas orações, podendo este ritual ser
cumprido em qualquer outro espaço. Todos os muçulmanos saudáveis devem obedecer ao ritual
das orações, a partir do momento em que se entra no período da adolescência.
O terceiro pilar é a Zakat, caridade em português, que corresponde a caridade que todos
os muçulmanos que são financeiramente estáveis, devem dar aos membros necessitados da
comunidade. Este pilar encoraja os muçulmanos mais abastados financeiramente a compartilhar
suas riquezas com os outros, ajudando pessoas que podem se tornar mais produtivas dentro da
sociedade islâmica. Nos ensinamentos pregados no Alcorão, o dono de qualquer riqueza não é o
homem, mas sim Allah, que por meio de cada indivíduo busca o bem estar de toda a sociedade.
A caridade é uma obrigação a todos os muçulmanos que possuem condição de ajudar o
próximo, e este auxílio deve ser realizado preferencialmente em segredo e de forma voluntária,
sem pensar em obter qualquer recompensa.
O quarto pilar corresponde ao Sawn, jejuar em português, que está relacionado com o
mês do Ramadã, que nesta pesquisa servirá como delimitação do período selecionado. O jejum
entre os muçulmanos ocorre uma vez a cada ano, e tem duração de 29 a 30 dias, de acordo com
o nono mês lunar do calendário islâmico, que corresponde ao mês do Ramadã “que foi o mês
em que foi revelado o Alcorão, orientação para a humanidade e vidência de orientação e
Discernimento” (ALCORÃO, 2012, 2ª Sura, versículo 185, p. 46). Jejuar para a cultura islâmica
significa mais que a abstenção do alimento, mas é o período em que o muçulmano terá a
oportunidade de praticar o autocontrole e a limpeza do corpo e do espírito, permitindo estar
puro e em harmonia, para estabelecer contato com Allah.
Mas o mês do Ramadã não se restringe somente a abstenção do alimento, mas também a
qualquer bebida, inclusive água, a prática de atividades sexuais, do fumo, assim como levantar o
tom de voz, falar palavrão, insultar outra pessoa ou qualquer outra atividade que já seja
considerada proibida como roubar e mentir. A abstenção de comida e bebida se dá somente
enquanto houver sol, de forma que muitos restaurantes fecham suas portas durante o dia neste
mês e abrem para a quebra do jejum que acontece ao anoitecer.
No Alcorão está descrito que as primeiras refeições ao amanhecer e a noite, seja
realizada junto com amigos, familiares e pessoas de quem gostamos, tornando este momento
883
SAIFI, ZIAD AHMAD. Os cinco pilares do Islam. Disponível em:
<http://islambr.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=65&Itemid=61>. Data de
acesso: 10 de Novembro de 2014.
1534
mais que uma refeição qualquer, mas uma celebração de mais um dia completado no mês do
Ramadã. Ao final do mês do Ramadã é celebrado com a quebra do jejum, a Eid al-Fitr, que é
considerada a festa mais importante na cultura islâmica.
O quinto e último pilar das práticas e instituições islâmicas fundamentais, refere-se a
peregrinação à Meca, o Hajj. A peregrinação acontece em direção a Caaba, que como antes
falado está situada na cidade de Meca na Arábia Saudita. Meca é o local mais sagrado do
mundo segundo a cultura islâmica, e todos os rituais da peregrinação são realizados exatamente
como Abraão, ao ser chamado por Allah para reerguer a Caaba realizou, e posteriormente
também reproduzido pelo Profeta Muhammad. Os muçulmanos caminham pelos mesmos locais
da história, atirando pedras nas paredes e sacrificando animais, a serem distribuídos aos pobres,
simulando de forma fiel os passos do profeta. Por estar entre os cinco pilares do islamismo, os
muçulmanos devem realizar a peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida, e ela
simboliza um ritual de desapego, podendo o peregrino utilizar somente uma túnica branca, o
arrependimento dos pecados cometidos e reflexão sobre a vida futura. No final da peregrinação
há o festival de Eid-Al-Adha, que é a segunda celebração mais importante na cultura islâmica,
atrás somente da Eid al-Fitr, celebrada no mês do Ramadã. Nesta festa os peregrinos trocam
presentes e fazem suas últimas orações em Meca.
Os cinco pilares do Islam, são a base para se compreender a cultura islâmica, o modo de
vida do povo muçulmano, as suas crenças, as celebrações típicas e a importância que cada parte,
que forma esta cultura, tem na vida do indivíduo.
1535
Dentro do processo do discurso da marca, existe o grupo que “detêm ‘um direito de
enunciação fundamental’” (SEMPRINI, 2006, p. 109), que são representados pela própria
empresa, denominada polo da produção. Suas funções tornam-se fundamentais quando, por
exemplo, uma empresa que atue com franquias mundiais, como o Sub Way, que mantêm uma
linha de produtos oferecidos de forma padronizada em todas as lojas, recebe um relatório que,
por fatores culturais e religiosos, uma determinada loja, situada na Índia, está enfrentando
quedas bruscas nas vendas. Ninguém e nenhum outro grupo da empresa poderiam tomar alguma
decisão sobre esta situação, como a alteração de certos produtos no cardápio oferecido nesta
franquia em especial, somente o polo da produção. Problemas quanto a contextualização de uma
empresa que atua em diferentes países cultural e socialmente, fazem com que “algumas das
decisões que dizem respeito ao projeto da marca [sejam] tomadas por uma equipe em um país e
por outra diferente em outro país” (SEMPRINI, 2006, p. 109).
Na construção e nos processos de comunicação de uma empresa, é preciso levar em
consideração, que qualquer diálogo, da mesma com o consumidor, não está restrita somente a
recepção do público-alvo da empresa ou da campanha. A partir do momento que uma empresa
está inserida no fluxo comunicacional (emissão, mensagem transmitida, recepção da mensagem
e decodificação da mesma), ela está dialogando com um público muito mais amplo, sejam eles
virtuais ou não, que possuem a formação das identidades individuais diferentes, com percepções
distintas sobre o mundo, influenciando também nas interpretações sobre a comunicação da
empresa.
Retomando o exemplo das empresas que atuam com franquias em diferentes países,
percebe-se que a marca precisa estar em conexão, não somente com a empresa em si (produção)
ou com o consumidor em geral (recepção), mas também com todo o contexto do ambiente que
está inserido, e este “deve ser considerado como um verdadeiro e próprio protagonista, como
um conjunto de instâncias que desempenham um papel decisivo na construção do projeto de
marca e que interagem de maneira sistemática com os dois outros pólos” (SEMPRINI, 2006, p.
111). Grandes empresas que trabalham com franquias, como Mc Donald’s, não poderiam
inserir-se em um mercado distinto do seu país de origem, sem antes compreender o contexto
geral daquele espaço, como as atividades de seus concorrentes, as “tendências socioculturais,
preocupações políticas e sociais” (SEMPRINI, 2006, p. 112). As análises feitas a partir desse
contexto, sejam quais forem as observações apontadas, são fundamentais para a implementação
e consolidação do projeto de marca, de forma que ela estará buscando estar em sinergia, tanto
com a empresa, como seus consumidores, e os aspectos do contexto, que além de fazer parte da
formação das identidades dos indivíduos, também é fator influenciador na tomada de decisão.
Considerações finais
Acreditas-se que são através dos contextos culturais e transformações nos processos de
construção de marca, que é possível perceber o quanto é necessário, tanto para a perpetuação da
marca em seu mercado, quanto para estabelecer um contato efetivo entre os consumidores, a
realização de adaptações nos processos de formação da marca. Estar inserida em uma cultura
diferente requer da mesma, uma postura condizente com os aspectos formadores daquela
cultura, estando essas mudanças vinculadas ao próprio desenvolvimento da marca daquele
espaço determinado.
A partir das referidas mudanças, a marca conseguirá estabelecer pontos de conexão com o
consumidor, integrando aspectos culturais, sociais e da própria identidade destes indivíduos. As
adaptações decorrentes da análise da realidade (contexto) em que a marca está inserida, são
fundamentais para externar a própria filosofia e origem da empresa, sem deixar de estar em
constante sinergia com as transformações da sociedade.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2004.
DEMANT, PETER. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC Editora, Livros Técnicos e Científicos
Editora S.A, 2008.
1536
RESUMO
Esta pesquisa é um recorte de um Trabalho Final de Graduação (TFG) do curso de Publicidade
e Propaganda do Centro Universitário Franciscano que visa identificar quais fatores culturais e
emocionais levam o gênero feminino a consumir os berloques Cinderela Life by Vivara. Será
utilizada uma abordagem qualitativa exploratória, a partir de um estudo de caso nos quiosques e
lojas Vivara da cidade de Porto Alegre-RS. Para o mapeamento e identificação das
consumidoras serão aplicados questionários aos funcionários da empresa. Já para as
consumidoras serão aplicados outros questionários, afim de identificar a relação emocional das
mesmas com a marca Disney Princesas. O perfil das consumidoras será organizado em amostras
a partir de suas relações de consumo. Perceber como as consumidoras do gênero feminino lidam
com o imaginário de princesas que lhe são mostrado nos contos de fadas, histórias, filmes e
publicidades pode mostrar que o uso desses produtos as aproximam da ideia de que é possível
se tornar uma princesa usando uma joia.
Introdução
Os contos de fadas estão presentes na nossa cultura e são transmitidos geração após
geração, modernizando-se e acompanhando a evolução da sociedade em que estão inseridos,
porém sem perder o encantamento e a magia que um conto de fada deve apresentar. No que se
refere ao surgimento dos contos de fada, pode-se dizer que eles nasceram ao longo dos séculos,
da necessidade do homem de narrar os eventos que aconteciam com ele, na beira das fogueiras,
nas cortes, nos salões, de pais para filhos. Tais contos “[...] criados pela imaginação coletiva e
depurados na oralidade durante séculos, chegaram-nos por meio dos escritos de Perrault, na
França, dos Irmãos Grimm, na Alemanha, e de outros autores” (SILVA, 2008, p. 71).
884
Estudante de Graduação 7º. Semestre do Curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário
Franciscano, Santa Maria, RS. Email: jeh_saraiva@hotmail.com
885
Professora do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Franciscano, Santa
Maria, RS. Email: carolinedefraceschibrum@gmail.com
1537
Baseados nos contos criados por esses autores surgiram filmes, desenhos, séries e novos
livros que se apropriam das histórias de contos de fadas, um exemplo é Walt Disney, que
transformou os tradicionais contos de fadas em filmes e desenhos, que misturam o lúdico e o
mágico com a realidade. Decorrente do sucesso realizado pelos filmes e desenhos de contos de
fada criados por Disney foram reunidas, no ano 2000, as principais princesas das histórias em
uma única e forte marca perante as meninas, a Disney Princesas. Atualmente, a marca funciona
como franquia e possui diversas linhas de produtos licenciados como: roupas, calçados,
maquiagens, brinquedos, material escolar.
O uso de marcas licenciadas é um grande atrativo para marcas e licenças, pois os
personagens conseguem transmitir os atributos de um marca e fazer com que as consumidoras
tenham mais familiaridade com os produtos. Para os autores Bonfa e Rabelo (2009), os
licenciamentos de personagens são os mais lucrativos e estão constante crescimento no Brasil e,
de acordo com a revista online Global Licence!, a Disney atualmente é a maior licenciadora
global. Em 2013, as licenças da Disney movimentaram cerca de 40,9 bilhões de dólares, a frente
de todas as outras licenciadoras.
Cinderela Life by Vivara é uma linha de berloques em edição limitada inspirada no filme
lançado em 2015. O filme Cinderela, que foi lançado em 13 de março nos EUA, ganhou uma
nova versão inspirada no conto de fadas de Charles Perrault e na animação de 1950 da Walt
Disney de mesmo nome. No Brasil o filme foi lançado no dia 26 de março, e mesmo antes da
sua estreia grandes marcas já haviam lançado produtos inspirados na nova produção da Disney,
uma dessas marcas é Vivara que criou 16 berloques exclusivamente para a linha de pulseiras
Life by Vivara, feitos em prata e pedras naturais que representam os personagens (Cinderela e o
príncipe, os ratinhos e o pássaro) e os principais ícones do filme (O castelo da Cinderela, a
carruagem, o famoso sapatinho de cristal e o vestido da princesa) que será encontrada por tempo
limitado nas lojas da Vivara, quiosques e no e-commerce da marca. A linha Life By Vivara foi
criada em 2011 e é composta por joias colecionáveis, com uma extensa variedade de berloques,
que possibilitam infinitas combinações em uma pulseira, para simbolizar e eternizar as
principais lembranças e os melhores momentos da vida em uma joia única e personalizada.
Assim, Através desse objeto de estudo pretende-se mapear e identificar a relação das
consumidoras do gênero feminino adulto e a motivação de consumo pela marca Disney
Princesas. Para que isso seja possível pretende-se analisar os fatos históricos e culturais dos
contos de fadas, a personificação desses contos realizados pela Disney e o licenciamento de
produtos da marca Disney Princesas.
1538
de fadas para animações. O modelo de princesa, mostrado pelos contos de fadas e também pelos
padrões existentes nas princesas da Disney, muitas vezes não pode ser alcançados por todas as
mulheres. Com isso, a intenção desse trabalho é perceber como os consumidores do gênero
feminino lidam com imaginário de princesa e procuram por produtos desse setor para se
aproximarem do padrão que lhe é mostrado nos contos de fadas, histórias, filmes e publicidades.
Para isso, será utilizada a coleção Cinderela Life by Vivara e será analisado o imaginário desse
publico, mostrando, de certa maneira, que o uso desses produtos aproxima a consumidora da
marca, pois ela imagina que é possível se tornar uma princesa mesmo usando uma joia.
Contos de fadas
Os contos de fadas são narrativas literárias que desde o seu surgimento fascinam
crianças, jovens e adultos, atraindo principalmente o público feminino. A transmissão desses
contos é feita através de gerações, sendo que uma criança ouvinte acaba se tornando um adulto
difusor das histórias (De Souza, 2005). A origem exata de muitos contos ainda é desconhecida,
mas existem suposições e teorias sobre o assunto. Alguns existem há milhares de anos e
sofreram grandes alterações com o decorrer do tempo e também não eram com conhecemos
hoje, histórias bonitas e infantis com finais felizes, pois em seus primórdios os contos eram
destinados á adultos, geralmente com histórias macabras e assustadoras.
O costume de contar histórias, como explica Goés (1991), iniciou antes mesmo da
escrita, a partir da necessidade do homem em procurar explicações para o que acontecia ao seu
redor. A partir da fala, as memórias eram preservadas para as gerações futuras. Segundo Goés
(1991), quando a memória do contador falhava era a imaginação que completava as histórias,
disseminando um universo de seres mágicos e fantásticos. De acordo com Coelho (1987), os
primeiros registros dos contos de fadas datam de 4.000 a.C, feitos pelos egípcios, com o "Livro
do Mágico". Na sequência, apareceram na Índia, Palestina (Velho Testamento), Grécia Clássica,
sendo o Império Romano o principal divulgador das histórias mágicas do Oriente para o
Ocidente, a materialidade sensorial do Oriente, com a luxúria da Arábia, Persa, Irã e Turquia, se
contrapunha à cultura dos celtas e bretões no ocidente, cheia de magia e espiritualidade. Durante
o período da Idade Média, espaço de tempo situado entre a Queda do Império Romano (século
V) até o Renascimento (século XV), em que se inicia a Idade Moderna, as fontes latinas (greco-
romanas) vão sendo descobertas e fundidas com outras. É nesse período que ocorre a
assimilação da civilização cristã e sua absorção pelo cristianismo como explica COELHO,
1987:
Na Idade Média, esse lastro pagão choca-se, funde-se ou deixa-se absorver
pela nova visão de mundo gerada pelo espiritualismo cristão e, transformado,
chega ao Renascimento. Na Era Clássica, os contos, que tinham um
profundo sentido de verdade humana, foram perdendo seu verdadeiro
significado e, como simples “envoltório” colorido e estranho, transformou-se
nos contos maravilhosos infantis (COELHO, 1987, p. 15).
Segundo Coelho (1987), no início, os contos de fadas não eram uma literatura para
crianças. O início dessa transformação teria acontecido com Perrault , no século XVII, na
França; com os irmãos Grimm no século XVIII, na Alemanha; com Andersen no século XIX,
na Dinamarca; e com Walt Disney no século XX, na América. Mas, para Cashdan (2000), a
transformação dos contos de fadas em literatura infantil teria ocorrido no século XIX, nos países
de língua inglesa, pelo trabalho de vendedores ambulantes, que viajavam por diversos povoados
vendendo pequenos volumes baratos. Continham as histórias simplificadas do folclore e dos
contos de fadas, sem as passagens mais fortes, sendo de fácil leitura.
Para Coelho (2010), alguns autores que foram fundamentais para o desenvolvimento
dos contos de fadas e alguns dos mais conhecidos e importantes são: Perrault, que foi o primeiro
a reescrever tradicionais contos, lendas e mitos destinados aos adultos para livros infantis; os
irmãos Grimm, que realizaram uma grande pesquisa e levantamento de inúmeros contos
conhecidos; e Andersen, que buscou explanar os problemas sociais da sua época em seus contos.
Apesar de não serem os verdadeiros criadores das histórias dos contos de fadas, eles tiveram um
importante papel na sua popularização e disseminação pelo mundo. Além disso, também
1539
Cinderela
A primeira versão da história foi registrada na China no século IX D.C. e existem
muitas outras diferentes versões da história de Cinderela, porém todas têm alguma semelhança.
1540
Apesar de existir uma versão feita pelos irmãos Grimm (Aschenputtel), a versão mais divulgada
nos dias de hoje é atribuída a Perrault (Bettelheim, 2005).
A primeira Cinderela que conhecemos chamava-se Yeh-hsien, e sua história
foi registrada PR Tuan Ch‟engshih por volta de 850 d. C. Yeh-hsien usa um
vestido feito de plumas de martim-pescador e minúsculos sapatos de ouro.
Como as Cinderelas ocidentais, Yeh-hsien é uma criatura humilde, que faz
os serviços domésticos e sofre tratamento humilhante nas mãos da madrasta
e da filha desta. Sua salvação aparece na forma de um peixe de três metros
de comprimento que a cumula de ouro, pérolas, vestidos e comida. As
Cinderelas que seguem nas pegadas de Yeh-hsien encontram sua salvação na
forma de doadores mágicos. Na “Aschenputtel” dos Grimm, uma árvore
derrama sobre Cinderela uma profusão de presentes; na “Cendrillon” de
Perrault, uma fada madrinha lhe proporciona uma carruagem, lacaios e
lindas roupas (...).(TATAR, 2004, p. 38).
A versão mais famosa de Cinderela, versão do francês Charles Perrault, foi publicada
pela primeira vez em 1697 e a dos alemães Irmãos Grimm foi publicada em 1812. As duas
versões apresentam a mesma estrutura de história, com os mesmos personagens, porém
apresentam algumas diferenças importantes. Enquanto que na adaptação de Perrault Cinderela é
uma jovem linda, humilde e bondosa, mas que não questiona sua posição inferior e aceita de
forma passiva que lhe é imposta, na dos Irmãos Grimm Cinderela possui as mesmas
características, mas em certos momentos questiona as injustiças cometidas contra ela e tenta
impor a sua vontade e opinião. Outra diferença é o final dado para as meio irmãs malvadas de
Cinderela. Em Perrault, elas são perdoadas por Cinderela, convidadas a morar com a princesa
em seu novo castelo e ainda conseguem casar-se com fidalgos da corte, com a ajuda de
Cinderela. Já na versão dos Grimm, as duas irmãs são cruelmente castigadas, não por Cinderela,
mas pelos pássaros amigos da Borralheira que dão bicadas nos olhos das mesmas e as deixam
cegas. Segundo Bettelheim (2005), Cinderela é o conto que melhor concretiza os arquétipos
femininos, pois contrapõe a figura da mãe boa e da mãe. Isso fica mais claro ainda, quando se
descreve a personagem de Cinderela com qualidades tão admiráveis quanto às de sua mãe, e
suas irmãs, no entanto, aparecem como pessoas tão desprezíveis quanto à própria mãe (a
madrasta).
A trajetória de Cinderela é narrada como a da menina que perde a mãe e que passa
sofrer com a madrasta malvada e suas duas filhas invejosas. O pai de Cinderela somente é
mencionado no início da versão de Perrault, ficando omitido do restante da narrativa e do
desenvolvimento de todos os fatos que sucedem à sua filha, não se sabe se ele continua presente
ou não na rotina da família, porém não há qualquer menção a alguma atitude ou objeção por
parte do pai em favor de Cinderela. O pai que aparece na versão de Grimm continua presente na
história até o momento em que Borralheira calça o sapatinho e se casa com o príncipe, no
entanto, ele explicitamente nada faz para interceder em relação à própria filha quanto aos maus
tratos infligidos a ela pela madrasta e as outras duas filhas. Cinderela trabalhava o dia inteiro
para fazer os serviços domésticos sem o direito de descansar ou de ter um tempo para si,
recolhendo-se ao espaço das cinzas para dormir, todas as noites. Apesar de todo o seu
sofrimento e dos trapos que vestia, Cinderela continua a ser uma criatura extremamente
generosa, bondosa e bela. A situação muda a partir do anúncio do baile e do auxílio mágico para
que ela possa nele comparecer, em Perrault com a ajuda da fada madrinha, em Grimm com a
ajuda da árvore. Após o baile é por meio do sapatinho que Cinderela é encontra a “felicidade”.
Em Perrault com o sapatinho de cristal acidentalmente perdido, e em Grimm com o sapato feito
de ouro arrancado do pé por conta de uma armadilha preparada pelo príncipe para que ela
ficasse presa nos degraus da escada. Após o acontecimento da perda do sapato, no final da
história, Cinderela é recompensada com o casamento e o final feliz ao lado do príncipe.
Segundo Propp (2010), essa felicidade matrimonial é o símbolo da maturidade e da realização
individual, através dos ritos de iniciação sexual. Esse ritual permanece até hoje através das
cerimônias religiosas de casamento, que permanecem até hoje presente no papel “destinado” às
mulheres: o casamento e os filhos.
1541
REFERÊNCIAS
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 11.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra Ltda,
2005.BONFÁ, Sebastião; RABELO, Arnaldo et al. Licencing: como utilizar marcas e personagens
para agregar valor aos produtos. São Paulo: M. Books, 2009.BORTOLOTTO, Mayara M. A mulher
como personagem nos contos de fadas e na publicidade. 2010. 98 p. Dissertação (Graduação em
Comunicação SocialPublicidade e Propagada). Universidade Federal do Rio Grande do
Sul.CASHADAN, Sheldon. Os 7 pecados capitais nos contos de fadas: como os contos de fadas
influenciam nossas vidas. Rio de Janeiro: Campus, 2000.CINDERELA (Cinderela). RKO Radio
1542
Pictures/Walt Disney. Direção: Clyde Geronimi, Hamilton Luske e Wilfred Jackson. EUA: 1950. 74
minutos.
886
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
887
Estudante de Graduação 7º. semestre do curso Comunicação Social-Publicidade e Propaganda da
Universidade Federal de Sergipe, e-mail: alliston_fellipe@hotmail.com
888
Estudante de Graduação 7º. semestre do curso Comunicação Social-Publicidade e Propaganda da
Universidade Federal de Sergipe, e-mail: flaviadarfenny@gmail.com
889
Estudante de Graduação 7º. semestre do curso Comunicação Social-Publicidade e Propaganda da
Universidade Federal de Sergipe, e-mail: ligianay_leao@hotmail.com
890
Estudante de Graduação 7º. semestre do curso Comunicação Social-Publicidade e Propaganda da
Universidade Federal de Sergipe, e-mail: mara.queen@hotmail.com
891
Estudante de Graduação 7º. semestre do curso Comunicação Social-Publicidade e Propaganda da
Universidade Federal de Sergipe. E-mail: sissymatos@gmail.com
892
Orientador do trabalho. Professor do Curso de Comunicação Social – habilitação Publicidade e
Propaganda, e-mail: contato@matheusfelizola.com.br
1543
RESUMO
Este presente trabalho tem como objetivo analisar o modelo de negócios da agência sergipana
de Comunicação Integrada, Agência P, e entender o funcionamento da administração no
respectivo ambiente. Houve uma visita e execução, por parte dos autores do trabalho, de um
roteiro de entrevista em profundidade com o dono do empreendimento, assim como uma
observação do local para a obtenção dos resultados feita em simultâneo pelos outros autores.
Para esta análise foi considerado os fatores importantes para a construção de um
empreendimento a partir do referencial teórico utilizado. Muito embora o dono da agência não
tenha elaborado um Plano de Negócios para sua empresa inicialmente, a Agência P é uma
referência em seu ramo de atuação.
1 introdução
Abrir um empreendimento que possa chamar de “seu” é o sonho de muitos, mas esse
sonho muitas vezes não se concretiza, ou até mesmo se torna um pesadelo. Isso pode acontecer
por diversas variáveis: falta de empenho, falta de liderança, capital de giro insuficiente, entre
outras falhas que estão sujeitas a acontecerem. De acordo com o SEBRAE, de cada dez
empresas que abrem, seis fecham em cinco anos de vida893 . Esses dados só comprovam que a
falta de planejamento pode contribuir para o fracasso de uma empresa. Aqui será tratado o
segmento de comunicação, mais especificamente publicidade na localidade de Sergipe.
Como geralmente acontece em outras empresas, a Agência P – gerenciada por um
publicitário experiente, com 28 anos no mercado publicitário – não nasceu derivado de um
plano de negócio, pesquisa de mercado, ou afim, mas sim por intuição, vontade de empreender
e capital que ele obtinha. Modelos de negócios que surgem dessa maneira são comuns no Brasil,
enfrentando muitos riscos pela frente, pois, geralmente não há uma previsibilidade do mercado
nesse sentido. Como dito antes, a falta de planejamento pode contribuir para o insucesso de uma
empresa, mas também há uma probabilidade de funcionar. É pela intuição, dedução de
oportunidades e sem medo de enfrentar riscos que existe o modelo de negócio chamado
Effectuation, baseado no “futuro imprevisível”, que será abordado mais a frente no tópico
“Modelo de Negócio”.
Para Lupetti (2009, p. 153), “o perfil de um empreendedor tem que ser: ousado,
decidido, observador, curioso, organizado, líder, talentoso, independente e otimista”. E ainda
um pouco mais que isso, saber administrar gastos e investimentos, riscos e oportunidades, tão
fundamental quanto somente ter o perfil para empreender.
O método de análise feito para a construção deste estudo foi através de roteiro de uma
entrevista aplicada em novembro de 2014 na sede da empresa em Sergipe por uma parte dos
autores deste trabalho, com o dono/ proprietário. Para complementar a análise, a outra parcela
dos autores, se responsabilizou por observar o trabalho que é feito dentro da agência pelos seus
colaboradores em suas determinadas áreas, com a finalidade de entender como funciona o
modelo de negócio, seus clientes, quais serviços fazem e quais não fazem, histórico da agência,
branding/ marca/ patente, criação de plano de negócios, como a empresa se sustenta,
fluxograma, organograma, pró-labore, ativos e passivos da empresa, entre outros assuntos.
2 Empreendedorismo
De acordo com Joseph A. Schumpeter (1949, apud DORNELAS, 2001, p. 37), “o
empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos
produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos
recursos e materiais”. O empreendedor nato tem que ter foco e ideias inovadoras para conseguir
893
Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI220663-17161,00-
COMO+FACO+PARA+SABER+O+CAPITAL+DE+GIRO+NECESSARIO+PARA+UMA+EMPRESA
+FUNCIONA.html>. Acesso em: 16 nov. 2014.
1544
alcançar seus objetivos, bem como iniciativa, autonomia, autoconfiança, otimismo, necessidade
de realização etc.
“Um empreendedor precisa de ter uma forte capacidade para conviver com o risco.
Criar uma empresa nova acarreta um risco de insucesso muito elevado” (FARIA et al., 2013, p.
48), ou seja, acima de todas as habilidades citadas está a coragem para decidir. Sempre é
possível escolher o caminho que será seguido, e para o empreendedor isto não é diferente. Ele
deve ter a coragem e a disciplina de seguir o caminho almejado firme e forte, encarar os
imprevistos como algo que simplesmente deve ser exterminado.
Observando que “a oportunidade é a fonte da inovação” (DRUCKER, 2011, p. 93), é
preciso ter conhecimento de mercado para atender as necessidades e, enfim, criar uma
oportunidade de negócio. Através deste conhecimento é possível acompanhar as tendências e
introduzir algo que realmente possa ser válido. Exemplo disso são os empreendedores que
importam produtos e serviços que ainda não estão sendo aproveitados no país ou na região que
vivem. Ao abrir a sua agência, em 1997, o empreendedor da Agência P sabia bem o que queria:
“uma empresa que pudesse ter a gestão de comunicação do cliente e não simplesmente
desenvolver a comunicação embutida” (Dono da Agência P, 2014), trazendo inovação para o
mercado se comparado com a proposta que as agências em Sergipe, que se intitulam apenas
como “de Propaganda” faziam e ainda fazem.
A organização física também é primordial, saber utilizar todos os seus recursos, sejam
eles físicos, humanos ou financeiros, para elaborar estratégias que melhor favoreçam
determinada ocasião. O atual layout da Agência P foi pensado de forma que todos os
profissionais que estão envolvidos em um setor fiquem juntos, sendo assim, os profissionais de
criação se agregam de um lado, os de produção em outro e assim sucessivamente, mas não estão
longinquamente separados, todos estão unidos num mesmo espaço. O dono quis que fosse dessa
forma para que ele tivesse o controle do que está ocorrendo na agência, e também que seus
funcionários se sentissem livres para executar as tarefas que lhe foram incumbidas.
Analisadas as habilidades e os recursos e oportunidades disponíveis, é preciso fazer
um plano de negócios. Ele tem importância fundamental para quem deseja montar sua própria
empresa, uma vez que, com ele, será possível planejar de acordo com seus objetivos e metas,
estabelecendo assim previsões para o seu negócio. Alguns empreendedores que estão no
mercado não fizeram seu plano de negócios, e o empreendedor da Agência P é um deles;
segundo ele, o plano de negócios de sua agência foi desenvolvido a curto, médio e longo prazo,
contou que “imaginou” todos os caminhos, mas tudo estava em sua mente, não existiu no papel.
É um risco desnecessário não fazer o seu próprio plano de negócios, portanto, é melhor que ele
seja feito.
3 MODELO DE NEGÓCIOS
É importante salientar a diferença entre plano de negócios e modelo de negócios. Os
nomes são parecidos, mas possuem conceitos diferentes, que são percebidos quando se começa
(ou pretende) gerenciar uma empresa. Plano de negócios é uma ferramenta administrativa que
há muito tempo vem sendo utilizada no mercado; é nela em que se descreve intensamente e
minuciosamente sobre o empreendimento pretendido. É um documento extenso onde são
abordados e analisados894 : descrição dos produtos e serviços, análise da concorrência, estratégia
de marketing, segmento de clientes, distribuição societária, classificação tributária, estrutura
organizacional, projeção financeira e de retorno.
Como é um documento vasto, demanda verba e tempo, porém, todo o tempo usado em
análise e pesquisa é para o aval final se uma empresa está apta ou não para enfrentar o mercado.
É importante notar que o plano de negócio gira em torno de uma ideia, o que é diferente no
modelo de negócios. Para sintetizar plano de negócios, ele pode ser tratado como um quebra-
cabeça, onde se observam todos os meios para que uma empresa seja a peça que faltava e se
encaixe no mercado.
894
Disponível em: <http://www.administradores.com.br/noticias/negocios/a-diferenca-entre-o-
plano-e-o-modelo-de-negocio/81376/>. Acesso em: 17 nov. 2014.
1545
895
Disponível em: <http://blog.luz.vc/inovacao/a-diferenca-entre-o-plano-de-negocios-e-o-
modelo-de-negocios/>. Acesso em: 17 nov. 2014.
896
Disponível em: <http://www.oneadvisory.com/wp-content/uploads/2012/02/Vieira-Brito-
2014_EnANPAD_Empreendedorismo-e-effectuation.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2014.
1546
1547
902
900
Disponível em: <http://agenciap.com/>. Acesso em: 16 nov. 2014.
901
Rua Senador Rollemberg, 41. São José, Aracaju – SE, 49015-010.
902
Organograma da estrutura organizacional da Agência P.
1548
propaganda, cujo interesse é tratar somente com campanha e redes sociais ou sites, com preços
específicos.
A Agência P recebe Fee mensal, um tipo de valor que recebe para fazer sugestões. A
empresa acaba terceirizando alguns serviços (fazendo uso de Markup com grandes gráficas
sergipanas, como a J Andrade), mas a gestão é dela, a exemplo, contratação de profissionais nos
momentos de cada ação para comprar materiais para eventos, por exemplo. Além de fazer uso
do sistema de remuneração por honorários acrescidos de cláusula de resultados que “consiste na
cobrança de uma comissão sobre os serviços prestados, acrescida de um valor absoluto, caso os
objetivos sejam alcançados” (LUPETTI, 2009. p. 123).
O único profissional da Agência P que recebe comissão é o de Atendimento. O
empreendedor deixou claro que recebe pró-labore e que existe uma variável mensal que lhe
permite retirar “a mais” mensalmente, chamada Distribuição de Lucro; levando em conta,
obviamente, o fluxo de caixa da empresa. Porém, ele jamais averiguou de quanto exatamente é
reinvestido em sua empresa; disse apenas que geralmente fica ¼ de lucro reinvestido, o que
materializa 25% do total para a empresa em si.
O dono da agência foi questionado se existe algum departamento dentro de sua
empresa que se destaque mais que outros, mas ele disse que isso é bastante equilibrado. No
entanto, fomenta que o setor que tem investido é o de Atendimento. Relatou, ainda, que quando
existe a necessidade de seus funcionários se tornarem melhor capacitados para um determinado
evento novo que a Agência P organizará para seus clientes, a empresa se responsabiliza para
que esse aprimoramento profissional aconteça por meio de cursos.
Para se abrir uma agência de comunicação, é necessário ter em mente que o
investimento inicial só conseguirá retorno financeiro em longo prazo. No entanto, a Agência P
já conseguia se sustentar no seu primeiro mês de funcionamento, segundo o dono. Mas é
importante salientar que ele já possuía capital de giro. Apesar de a entrevista com o dono da
Agência P não ter sido satisfatória a respeito dos “passivos” e “ativos” dela, foi possível elencar
alguns que foram observados, com base na definição presente no livro de Lupetti (2009, p. 138),
de que “bens são ‘coisas’ que a empresa possui, seja para seu uso, para troca ou para seu
consumo (dinheiro, equipamentos, veículos etc.), direitos são valores que a empresa tem a
receber, obrigações são os valores que ela deve paga”. Dentre seus ativos com Bens, destaca-se
“móveis: 35”, “veículos: 01”; quanto aos passivos com Obrigações, pontua-se “salários a pagar:
16”. A visita possibilitou, ainda, uma análise SWOT preliminar da Agência P, a partir das
respostas dadas pelo empreendedor.
ANÁLISE SWOT
gem
nfato
Ori
Na conquista do objetivo
Ido
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O
n
o
e
z
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Ajuda Atrapalha
1549
Observados tais pontos de análise é interessante apresentar sugestões para fazer uso de
forças e fraquezas frente às oportunidades e ameaças, assim sendo, propõe-se quanto a:
-Forças x Oportunidades
a) Fazer análise de cliente oculto; b) Prospectar clientes que possam se identificar com o
posicionamento da Agência P; c) Estabelecer postagens nas redes sociais da empresa com
depoimentos dos funcionários acerca do que vivenciam na Agência P.
-Forças x Ameaças
a) Transferir o valor de marca que se instituiu no empreendedor publicitário para o seu filho.
-Fraquezas x Oportunidades
a) Descentralização do poder com treinamento a funcionários mais aptos a resolver problemas,
caso o dono da agência tenha que fazer viagens urgentes para fora do estado; b) Fazer uso de
ferramentas digitais com mais força para se estabelecer fortemente na mente dos seus clientes
em todos os pontos de contato possíveis e interessantes para a Agência P.
-Fraquezas x Ameaças
a) Em longo prazo, estar preparada para que a confiança e credibilidade da Agência P
transcenda da figura do empreendedor para seu filho; b) Estabelecer cálculos mais precisos
acerca do quanto é reinvestido mês a mês na empresa, para que possa crescer e não sentir tanto
o abalo em seu próprio planejamento empresarial frente a investimentos retraídos de seus
clientes em determinadas épocas.
Mesmo que durante a entrevista o dono da agência tenha se esquivado ao responder
quais são os principais concorrentes da Agência P, é possível denotar alguns baseado no seu
ramo de atuação com Comunicação Integrada em Sergipe, são eles: Conceito Comunicação
1550
903
Disponível em: <http://www.conceito.net/>. Acesso em: 17 nov. 2014.
904
Disponível em: <http://www.incentivopropaganda.com.br/>. Acesso em: 17 nov. 2014.
905
Disponível em: <http://www.idideia.com.br/>. Acesso em: 17 nov. 2014.
906
Disponível em: <http://www.agenciaacerte.com/>. Acesso em: 17 nov. 2014.
907
Disponível em: <http://teaserpropaganda.com/>. Acesso em: 17 nov. 2014.
1551
6 Considerações finais
A falta de um planejamento, muitas vezes, é fator principal para o fechamento de
muitas empresas, mesmo sabendo disso grande parte delas surgem apenas da ideia e vontade de
seus fundadores. Como foi discutido neste trabalho, é perceptível que nos dias atuais não só as
agências de publicidade/comunicação como qualquer outro empreendimento necessitam de um
plano de negócios bem definido e adequado.
Mesmo sabendo da grande importância de um plano de negócios e uma pesquisa de
mercado para que uma empresa seja aberta de forma segura, muitas delas surgem por intuição
ou vontade de empreender como no caso do fundador da agência a qual se deu ênfase neste
trabalho, a Agência P.
Dentre os modelos de negócios conhecidos, o effectuation (no qual a empresa vai
ganhando reconhecimento e força no mercado), é o mais utilizado no mercado brasileiro, pois,
as empresas surgem sem planejamento, com futuro incerto, mesmo assim algumas conseguem
manter-se no mercado. Esse modelo descrito acima é o qual a Agência P segue, e chegou-se a
essa conclusão através da entrevista, onde foram observadas algumas características desse
modelo a partir do referencial teórico utilizado, da grande rede de relacionamento e vasta
experiência do dono na área de comunicação, além do talento, competência e muita sorte,
foram capazes de fazer a Agência P – que é focada em de Gestão de Comunicação e
Planejamento, e que para isso requer prévia organização – ser uma referência em seu ramo de
atuação.
REFERÊNCIAS
1552
RESUMO
O aparelho celular passou a ocupar um lugar significativo na rotina dos indivíduos,
posicionando-se como uma ferramenta essencial para a construção das relações sociais,
principalmente a partir da incorporação do serviço da internet móvel. O objetivo do artigo é
analisar os significados simbólicos intrínsecos ao consumo do telefone celular, a partir da
compreensão da construção do sujeito enquanto usuário da tecnologia móvel.O objetivo do
artigo é apresentar os diferentes espaços em que este bem de consumo movimenta
transformações, na tentativa de buscar um denominador comum que perpetue essas
alterações.Dessa forma, propõe-se uma discussão inicial que apresenta os diferentes espaços em
que esse dispositivo se articula, de forma a alterar a subjetivação dos sujeitos e a sua relação
com o mundo exterior.
Introdução
Com a entrada de novos atributos, o celular deixou de ser um instrumento de
comunicação apenas de voz e se tornou uma plataforma de comunicação que incorporou
funções de outros dispositivos como: agenda, despertador, calendário, relógio, MP3, máquina
fotográfica, internet, redes sociais, jornal, revista, videogame e etc. Uma gama imensa de
funcionalidades foi adicionada ao serviço de comunicação móvel, tornando o celular um bem de
consumo indispensável.
Ao estabelecer-se como fio condutor de diversas formas de interação, o celular torna-se
importante objeto de estudo da comunicação por intermediar o contato dos indivíduos entre si e
com o mundo. A análise a seguir buscou apresentar os diferentes aspectos simbólicos
intrínsecos ao consumo do aparelho celular que permeiam essas interações, de forma a
organizar os espaços em que o dispositivo movimenta transformações. Ressaltamos então cinco
aspectos: a relação entre os dispositivos tecnológicos e sociedade, o celular como artefato
1553
1554
1555
No artigo Eu não vivo sem celular (SILVA, S., 2007), a autora apresenta um estudo
realizado pela socióloga Francisca da Silva do Nascimento que mostra o celular pode
categorizar grupos. A socióloga estudou o comportamento de dois grupos de jovens: um de
estudantes da classe AB de escolas particulares, e outro de estudantes com menor poder
aquisitivo. O que a cientista social inferiu foi que o aparelho celular era um fator determinante
para identificar socialmente esses dois diferentes grupos, através de uma lista diversificada de
1556
O celular é um produto multitarefa, ou seja, possui uma série de funções e recursos, dos
quais o consumidor se estabelece como principal administrador. Dessa forma, pode personalizar
o seu aparelho, adequando-o de acordo com a sua necessidade: a quantidade de contatos, a
música escolhida como toque, a proteção de tela do aparelho, a freqüência de uso de mensagens
e de acesso à internet. O caráter personalizável do dispositivo transparece seu caráter de bem de
consumo individual para o qual o consumidor transfere uma parte de si e de seu dia-dia,
pautando o desempenho dodispositivo nas características individuais. Por ser um produto que
tem seu desempenho moldado pelo usuário faz parte da construção da identidade do
consumidor. Os recursos tecnológicos do celular apresentam propriedades de construção de
subjetividade particulares, pois estão envolvidos intimamente no contato do indivíduo com o
mundo e com o outro. Por intermediar essa relação de forma plena, a forma de consumo do
celular articula diferentes partes da identidade de seu usuário.
Desta forma, o consumo do aparelho celular reforça a existência dos indivíduos por meio
das experiências vividas e por concretizar a interação social. Ao mesmo tempo os posiciona no
contemporâneo, compartilhando entre os consumidores valores intrínsecos a nossa época,
traduzidos pelo seu caráter multitarefa e pela mobilidade. Dentro desse universo globalizado em
que inclui o sujeito, traça também categorias e diferenciação entre os indivíduos, fragmentando
o consumo em diferentes tipos de consumidores. Nessa relação pontuamos formas de
subjetivação e de construção de consciência, através do consumo, que constrói identidade dos
sujeitos.
1557
como dito anteriormente, se inscreve numa dinâmica de constante troca e movimento, por
representar dois aspectos muito claros: o de sustentador de valores do mundo globalizado e
como reflexo das identidades dos sujeitos.
Os dispositivos de comunicação virtual criaram um espaço para sociabilidade que antes
não existia, onde os usuários podem praticar suas relações interpessoais agora de forma virtual
(BIANCHI E MOURA, 2012). Nesses novos espaços, os indivíduos reúnem em um único
dispositivo, neste caso o celular, as instituições tradicionais como família, amigos, colegas de
trabalho, e concretiza, de forma virtual, seu potencial de comunicação, reforçando que o celular
reflete de forma digital a vivência de sociabilidade do usuário no mundo real.
A subjetividade do indivíduo na sociedade atual é alterdirigida, pautada na visibilidade.
A construção que o individuo faz de si mesmo só se concretiza se houver a visibilidade do outro,
intermediada pelo dispositivo do celular. O celular e a internet móvel são grandes sustentadores
desse tipo de processo de construção de identidade na sociedade perpetuado pela visibilidade do
outro, pois auxiliam os indivíduos a se mostrarem, compartilharem conteúdos, e a estarem em
contato permanente com o outro.
As comunidades virtuais, redes sociais online e móveis, têm legitimidade,
particularmente entre os jovens, como novas formas de inclusão social. No
fundo, se trata de uma batalha para forjar identidade cujo signo mais
marcante é assegurar a visibilidade e o reconhecimento no universo das
relações sociais. (WINOCUR, 2009, p.69).
Se a construção de consciência dos indivíduos é dada na interação com ooutro, o celular é
o dispositivo tecnológico que captura de forma mais representativa esse diálogo, de forma que
assegura a visibilidade entre os indivíduos e a subjetivação dos sujeitos nesse contexto
contemporâneo.
1558
podemos estudar em casa, em um curso a distância. Esses e outros exemplos mostram que a
internet móvel estabelece a dissolução de limites do espaço fixo. Se antes havia barreiras fixas
que determinavam os ambientes sociais, hoje essas fronteiras são “borradas” pela conexão
permanente do indivíduo com todos os outros espaços sociais possíveis, atravésda internet
móvel do celular.
Ainda analisando transformações de aspectos importantes da sociedade, podemos apontar,
além das mudanças de tempo e espaço, a modificação na preservação da memória. O aparelho
celular incorporou o recurso da câmera fotográfica e dessa forma facilitou o registro da
realidade. Essa facilidade faz com que os indivíduos tenham cada vez mais recursos para a
manutenção da memória, através de fotos, vídeos, textos, mensagens. Alguns teóricos se
aprofundam nesta nova forma de registrar a realidade, associando a mudança na forma de
registro com a alteração da experiência vivida. Ou seja, ao simplificar o registro da realidade
também se altera a experiência do sujeito com o mundo exterior. Além do potencial de registro
ser ampliado, a visibilidade dada ao conteúdo pessoal, através das redes sociais faz com que as
possibilidades de compartilhamento aumentem. Ou seja, além da maior facilidade para a
documentação da realidade, mais pessoas são impactadas por esses registros, o que de formas
diversas, modificam a dinâmica entre imagem e sujeito no mundo contemporâneo.
Considerações finais
A análise buscou organizar os aspectos subjetivos na relação do sujeito com o celular,
entendendo que esta relação é multifacetada por permitir diferentes abordagens. Entendendo
que o aparelho celular pode ser analisado por diferentes tipos de olhares, organizamos espaços
de transformação do mesmo para que um panorama mais amplo seja construído. Dessa forma,
apresentamos um arranjo que tem como objetivo mostrar esses diferentes aspectos simbólicos
no consumo de celular: o celular e sua relação com o mundo globalizado, a construção de
identidade a partir do consumo do dispositivo, o aparelho como sustentador das relações entre
sujeitos e a sua relação modificadora com instituições essenciais como tempo, memória e
espaço público.
Ao analisar os diferentes elementosque constroem o consumo do dispositivo,
identificamos um denominador comum que é a interação. Durante as análises retomamos, sob
diferentes perspectivas, a abordagem do conceito de interação, entendendo que o celular
posiciona os sujeitos em posição de contato e esta posição possibilita processos de
transformação. O telefone celular modifica esses diferentes espaços por ser um dispositivo que
tem como função principal possibilitar a interação, seja ela de qualquer natureza: interação com
informação, interação com tecnologia, interação com outros indivíduos, interação com o que
nos é semelhante ou diferente. O aparelho celular viabiliza a interação, tornando-se personagem
atuante de todas as articulações que as relações sociaismovimentam.
Na interação com o mundo socialconstruímos campo simbólico e consciência e dessa
forma, podemos estruturar noções de identidade e subjetivação. A partir das relações sociais
reafirmamos nossa existência no mundo exterior, posicionando e articulando grupos de
pertencimento. No caso deste dispositivo, ao mesmo tempo em que inscreve os sujeitos no
mundo globalizado, também os diferencia e constrói identidade. Por permitir, através de
imagem, voz e texto, o contato com os indivíduos e com o mundo, o celular torna-se elemento
importante dessa equação volúvel, estabelecendo-se como dispositivo de subjetivação dos
sujeitos em diferentes esferas. É um dispositivo que captura relações dialógicas de diversas
naturezas.
Dessa forma, entendemos que a premissa que possibilita o celular atuar nesses diferentes
espaços é a sua proposta de interação. É essa proposta que permite que o celular seja um
dispositivo responsável por um movimento contínuo de subjetivação do mundo e dos sujeitos
em suas diferentes relações.
REFERÊNCIAS
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adolescência. In: SBPJOR, 10., 2012, Curitiba. Anais eletrônicos... Curitiba: Pontifícia Universidade
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WINOCUR, R.Robinson Crusoeyatiene celular: laconexión como espacio de control de
laincertidumbre. México: Siglo XX/Universidad Autónoma Metropolitada, UnidadIztapalapa, 2009.
Thaíse SCHMITZ909
Moisés CARDOSO910
Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, SC e
Instituto Blumenauense de Ensino Superior, Blumenau, SC.
RESUMO
A comunicação digital e as redes sociais virtuais fazem surgir novos segmentos, que modificam
os hábitos dos consumidores. Elas influenciam globalmente todos os setores mercadológicos,
tais como, atacado, varejo e industrial. O presente trabalho propõe analisar o relacionamento
com os fãs no Facebook de uma loja de departamentos de moda. Para isto, utilizou-se como
908
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
909
Bacharel em Publicidade e Propaganda do IBES/Sociesc, email: schthaise@gmail.com.
910
Orientador do trabalho. Mestre em Desenvolvimento Regional, docente na FURB e IBES/Sociesc,
email: beiocardoso@gmail.com.
1560
unidade de estudo a empresa C&A, onde se realizou uma adaptação do construto, “Empresas no
Facebook”, de Caseiro e Barbosa (2011), sob a percepção de como marca e usuários interagem.
Entre as principais descobertas foi possível apontar boas práticas de relacionamento na internet
e questões básicas a se considerar no planejamento de marketing digital.
Introdução
O universo esta cada vez mais conectado pela rede mundial de computadores e as
marcas começam a se preocupar com seu posicionamento na web, ao estabelecer relações que
integraram o cotidiano de boa parte da população diariamente. Além disso, fizeram com que o
mercado enfrentasse dificuldades na conquista da atenção dos consumidores, pois a diversidade
tecnológica faz com que todos se conectem com diversas marcas ao mesmo tempo.
A ascensão e transformações das mídias sociais nestes últimos anos, como por
exemplo, Facebook, Twitter, Instagram, Pinterest, Youtube e Google+, trouxeram consigo
ambientes virtuais onde comunicar-se é necessário, mas estar atento ao que é comunicado é
fundamental. O usuário possui o poder e a liberdade de consumir os conteúdos disponibilizados,
além de modificar, divulgar e comentar de acordo com o seu interesse.
Neste contexto o presente estudo tem como objetivo analisar como a loja de
departamentos de moda C&A se relaciona com seus consumidores nas redes sociais, gerando
uma reflexão para estimular uma visão mais consciente deste segmento no mercado. A
observação partirá não só da descrição, mas do conteúdo da mensagem postada e do significado
no contexto, do nível e frequência de postagens, interações e nível de aceitação e
posicionamento. As redes sociais trazem oportunidades de divulgação e contato em tempo real,
abrindo discussões e interações com o público. O foco é analisar o que a loja de departamento
de moda C&A faz para conquistar a atenção e fidelidade dos clientes nas redes sociais. A
empresa escolhida para análise partiu do critério de consumo da classe B/C e está entre as três
principais empresas do segmento de “Moda e Esporte”, segundo uma pesquisa realizada pela
IBEVAR 2014.
A importância de estudar tal assunto reside no fato do destaque constante que vem
sendo deliberado às redes sociais digitais. Não se trata apenas de novas formas de se comunicar,
mas também, de uma ferramenta para o relacionamento entre a empresa e o consumidor. A
realidade mostra que muitas marcas têm perfis online, porém, poucas criam estratégias que
satisfaçam o interesse e a participação no mercado. No meio acadêmico, este trabalho colabora
1561
para a implantação de novas etapas nos planejamentos. Levando em conta que a internet está
em crescente desenvolvimento, devemos entender e delinear ações digitais como forma de
comunicação, favorecendo o relacionamento e construindo boas imagens empresariais e até
mesmo, pessoais.
Fundamentação teórica
O ser humano passa grande parte do seu dia ligado à internet, seja por motivos
profissionais ou pessoais, e uma das grandes responsáveis por essa evolução é a indústria de
entretenimento digital e a web. A era digital evolui constantemente e essas alterações geram
constantes impactos na sociedade e na vida das pessoas, acelerando as transformações no
mercado, que se torna mais dinâmico e competitivo (CHIAVENATO, 2011).
O potencial trazido pela comunicação digital vem sendo verificada nas estatísticas de
crescimento de utilização de outros meios, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNDA) sobre as
Tecnologias de Informação e Comunicação, divulgado referente. Ele apontou que 49,4%, dos
usuários brasileiros estão conectados na internet. Destes 49,9% utilizam tablets ou
computadores, 75,2% das pessoas com 10 anos ou mais têm celular para uso pessoal. Em 2005,
esse percentual era de 36,6% (WENZEL, 2015).
1562
O maior impacto da web não foi por ter surgido como uma nova mídia e sim por ter
mudado o comportamento dos consumidores. Através da internet a empresa expõe seus
produtos ou serviços e se comunica com seus clientes 24 horas por dia, os quais podem buscar
informações ou produtos, comparar preços e fazer compras, sem a necessidade de uma estrutura
física aponta Las Casas (2010). As informações diretas ou indiretas expostas pelos clientes nas
mídias sociais possibilitam às empresas perceberem novas oportunidades de negócio e também
de aprimoramento na sua imagem ou estratégia.
A web 2.0 surgiu como um aperfeiçoamento da anterior (web 1.0) e tem seu aspecto
voltado à coletividade. Para Santarem (2011), o foco da web 2.0 com as mídias sociais está na
intensa participação do usuário e na sua interatividade com os serviços online. A utilização de
uma rede social como estratégia de marketing pode permitir a criação de um canal de
comunicação com os seus clientes. Os utilizadores destas redes, e simultaneamente uma grande
parte dos clientes, vão aproveitar a oportunidade para se comunicar entre eles.
Metodologia
Este trabalho se caracteriza como pesquisa exploratória que tem fundamento no seu
objetivo de explorar preliminarmente uma situação para prover critérios que posteriormente
permitam uma maior compreensão do fenômeno (MALHOTRA, 2012). Uma característica
importante dessa modalidade consiste no aprofundamento de conceitos preliminares sobre
determinada temática ainda não abordada de maneira satisfatória, e contribui para esclarecer os
questionamentos superficiais abordados sobre certo assunto.
Para objeto aqui estudado foi selecionado um período temporal para que a coleta de
dados pudesse ser realizada. Logo após, iniciou-se a análise, levando em consideração todas as
atualizações e publicações contidas no período de temporal determinado. Desta forma foram
separados e compilados diferentes tipos de conteúdos que estavam de forma abrangente nas
páginas. Posteriormente, os autores esquematizaram a divisão dos conteúdos por diferentes
classificações. Essas categorias/classificações foram definidas e divididas em
“Publicidade/Serviço/Campanha”, “Informação” e “Oferta/Concurso/Passatempo”.
1563
Para realização das análises deste presente trabalho, foi definida a utilização das 7
categorias descritas acima como sugestão dos autores. Porém, buscando o agrupamento e
entendimento dos conteúdos publicados na página em questão, e realizando uma análise prévia
em todas as postagens de acordo com o período da campanha “Virada Abusada”, percebeu-se
que as categorias não eram pertinentes às 20 publicações estabelecidas para análise.
Posteriormente, as 7 categorias de Caseiro e Barbosa (2011) foram adaptadas para 3 categorias,
causando assim uma melhor adequação ao período proposto. Para definição das classificações
foram levados em conta características gerais das publicações como temas, textos e layouts.
Resultados e discussões
A primeira loja C&A foi inaugurada na Holanda, em 1861. A rede tornou-se uma das
primeiras no mundo a oferecer roupas prontas aos consumidores. Em 1911, com o crescimento
do negócio, a empresa instalou-se na Alemanha, e, posteriormente, em outros países da Europa
(C&A, 2014). No Brasil, a empresa iniciou sua atuação em 31 de agosto em 1976, com a
inauguração da loja no Shopping Ibirapuera, ma cidade de São Paulo, onde implementou um
modelo de varejo de moda que tornou acessível as principais tendências das vitrines de todo o
mundo. Fundada pelos irmãos Clemens e August, cujas iniciais dão o nome à marca, é uma
empresa familiar de capital fechado.
Atualmente a rede possui operações em diversas cidades e regiões do país, com mais
de 18 mil associados e cerca de 1 milhão de consumidores diários, mais de 1,8 mil lojas na
Europa, América Latina e Ásia (C&A, 2014). O centro administrativo da companhia localiza-se
em Barueri (SP), e as lojas são abastecidas a partir de três centros de distribuição: um no estado
do Rio de Janeiro e dois no estado de São Paulo. Sua filosofia é focada em vender o melhor da
moda por preços justos. Além disso, faz parte da Cofra Holding AG, com sede na Suíça, cujas
atividades incluem também serviços financeiros, negócios imobiliários e empreendimentos no
segmento de energias renováveis.
Por meio de uma pesquisa no site oficial da marca C&A, juntamente com a
observação dos conteúdos publicados na página sugerida para análise, foi possível identificar a
existência de uma campanha em questão, podendo conter grande valor para este estudo.
1564
A “Virada Abusada”, como a própria marca denomina, diz respeito a uma campanha
comemorativa para o dia internacional da mulher, além de trazer ações inéditas para apresentar
a coleção antecipada das principais tendências do outono-inverno 2014 (C&A, 2014).
Apelidado carinhosamente de “Dia V”, a data comemora a troca da coleção na empresa e conta
com destaque para a “Compra Premiada”.
Assim sendo, por meio de uma análise detalhada das publicações expostas na página
dentro da rede social, identificou-se 20 publicações nas quais foram realizadas no período de
divulgação do evento. Levando-se em consideração o período de 30 dias intitulados no site
como calendário virtual de ações da campanha, datada de 1º de março de 2014, até 31 de março
de 2014, este foi determinado como o período de análise deste estudo. É importante destacar
que a empresa trabalha de forma diferenciada dentro do Facebook. Ao invés de fazer postagens
individuais como alguns de seus concorrentes, 90% das publicações da marca são em forma de
álbuns de fotos. Neste sentido, foram analisadas todas as publicações individuais, bem como as
dentro dessa formatação.
É importante mencionar que todas as postagens que não diziam respeito a “Virada
Abusada”, e que se encontraram dentro do período análisado, foram igualmente avaliadas para
alcançar o objetivo proposto, a respeito do modo como a página se relaciona com seu público
alvo na rede. Levando em consideração os argumentos apresentados foram analisados e
categorizados 20 publicações realizadas durante o período estabelecido de 1º de março à 31 de
março de 2014 no período de 30 dias.
1565
Para realização das análises deste presente trabalho, foram definida a utilização das 7
categorias descritas acima. Porém, a busca pelo agrupamento e entendimento dos conteúdos
publicados na página investigada, e realizando uma apreciação prévia em todas as postagens de
acordo com o período da campanha “Virada Abusada”, percebeu-se que as categorias não eram
pertinentes às 20 publicações estabelecidas para análise. Posteriormente, as 7 categorias de
Caseiro e Barbosa (2011) foram adaptadas para 3 categorias, resultando uma melhor adequação
ao período proposto. Para definição das classificações foram levados em conta características
gerais das publicações como temas, textos e layouts.
Após esta primeira análise e classificação dos dados, uma segunda divisão se faz
necessária. Trata-se da categorização dos comentários realizados em todas as publicações
consideradas. Um estudo minucioso desta dinâmica é imprescindível por se tratar da forma de
interação e exposição mais natural disponibilizada pela fan page. Neste sentido, dados
relevantes podem ser obtidos para que seja possível compreender o grau de envolvimento dos
internautas com a página da marca em questão.
A partir do estudo preliminar dos dados coletados foram definidas 7 novas categorias
apresentadas. Vale ressaltar que as análises foram feitas de forma unitária e individual, e que
somente os comentários visíveis e dispostos nas publicações puderam ser categorizados com as
metodologias apresentadas. Mostra-se importante destacar o termo “comentários visíveis”,
tendo em vista que devido às opções de privacidade de determinados usuários, as interações não
aparecem de forma pública e completa para usuários que não tem laços virtuais de amizade com
o internauta. Determinada situação impossibilita a análise de todos os comentários realizados no
período, então, serão avaliados os impactos pertinentes aos comentários visíveis que geraram
resultados para esta pesquisa.
A partir dos dados gerados pelas publicações categorizadas como “Dica de Moda”, é
possível afirmar que é um tipo de postagem que tem eficacia, pois, levando em consideração os
números, as análises destas publicações foram positivas. O número total de interações
apresentadas nesta categoria finalizou-se em 3.909. Em si, estes dados demonstram o principal
interesse do público, na sua maioria mulheres, ao acessar a página em análise. Neste ponto, é
válido relacionar que dentre as interações apresentadas, o número mais elevado foi de 3.697,
que tiveram origem nas opções “Curtir” de cada publicação. Neste formato de interatividade, o
usuário não precisa utilizar a escrita para comprovar sua apreciação pelo conteúdo, apenas um
clique já contabiliza sua participação.
Figura 01: Exemplo de postagem com interatividade nas curtidas, enquadrada na categoria
“Divulgação de Coleção”.
1566
Por meio dos números apresentados acima, compreende-se a opção “Curtir” como a
principal forma adotada pelos usuários para afirmar e expressar sua preferência pela categoria
em questão.
Considerações finais
É notório que o universo da comunicação exige cada vez mais atenção do público e
das empresas. A ascensão e transformações das redes sociais digitais trouxeram consigo
ambientes virtuais onde comunicar-se é necessário, mas estar atendo ao que é comunicado é
essencial. O usuário possui o poder e a liberdade de consumir os conteúdos disponibilizados,
além de modificá-los, divulgá-los e comentá-los de acordo com o seu interesse.
1567
Por meio da coleta dos dados foi possível verificar as ações realizadas pela loja de
departamento C&A, e o relacionamento com seus seguidores na rede social digital Facebook.
Inicialmente foram analisadas e categorizadas 20 publicações relativas ao período da campanha
“Virada Abusada” que a marca promoveu durante o mês de março de 2014. Também foram
levados em consideração para análise, todas as interações e comentários recebidos através dos
internautas. Ao longo do estudo foi possível suprir o objetivo geral proposto por este trabalho,
que era o de analisar a metodologia de comunicação da loja de departamentos de moda C&A e
como se relaciona com seus seguidores nas redes sociais.
Com base nos conceitos apresentados, é possível afirmar que o ambiente digital é uma
oportunidade das organizações se relacionarem com seus fãs e consumidores. Ele permite a
criação de plataformas contínuas de interação, que engajam o público, afinal, uma grande parte
dos clientes aproveitam a oportunidade para se comunicar com as marcas e também entre eles.
Através na análise dos dados foi possível identificar que a empresa C&A utiliza sua
fan page para divulgação de suas campanhas. Considerando as premissas levantadas pelos
autores que regeram a fundamentação teórica, supre-se então os conceitos ditos anteriormente.
Identificou-se também que a página não utiliza todos os recursos disponíveis através da
ferramenta de comunicação online. Poucas publicações possuem layouts diferenciados e que
chamam a atenção do seguidor. Em contrapartida, as publicações relacionadas aos catálogos de
moda conseguem atingir o objetivo de divulgação dos looks, de modo a proporcionar um campo
de comunicação direta entre os internautas e as novas coleções.
Foi possível identificar também que apesar de ser nítido o interesse da marca em
utilizar sua página na rede social digital para divulgação de coleções e informações gerais, não
foi identificado um número interessante de respostas a comentários por parte da empresa, ainda
que, muitas dúvidas e questionamentos vindos dos seguidores tenham sido encontrados.
Diante dos elementos aqui apresentados, convém abordar algumas restrições que esse
estudo apresenta. Sugere-se que, sejam retomadas algumas questões, no sentido de se investigar
outros períodos e campanhas e até mesmo a evolução do posicionamento da empresa em outras
redes sociais digitais. Desse modo, tais limitações figuram como oportunidade para estudos
futuros, desenvolvidos a partir deste trabalho.
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em: < http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,3778,4750586,26558>. Acesso em: 01 mai. 2015
Dhione O. Santana912
Raquel Marques Carriço Ferreira913
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE
911
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
912
Graduando em Ciências Econômicas da Universidade Federal de Sergipe, membro do Grupo de
Pesquisa Recepcom. E-mail: odhione@gmail.com
913
Orientadora do trabalho. Doutora em Televisão e Cinema pela Universidade Nova de Lisboa,
Professora do Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Sergipe, UFS. E-mail:
raquelcarrico@gmail.com
1569
RESUMO
A publicidade é tida pelos seus críticos como uma das principais vilãs da sociedade
contemporânea. A maior parte dos males decorrentes do consumo desenfreado é atribuída a ela,
pois seria grande “promotora” e impulsionadora do consumo capitalista. As crianças são
apontadas como um público frágil aos apelos publicitários por não possuírem um senso crítico
formado e serem facilmente persuadidas. Os defensores da propaganda infantil argumentam que
a publicidade é uma realidade de uma sociedade da qual ela faz parte e proibir a publicidade
infantil seria tirar a autoridade dos pais sobre a decisão do o que é melhor para seus filhos. A
presente pesquisa, neste sentido, teve como objetivo avaliar, através de análise de conteúdo a
autorregulamentação publicitária voltada ao publico infantil nos países da América do Sul que
possuem um código de autorregulamentação publicitária (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia,
Peru e Uruguai).
Introdução
A publicidade e a propaganda 914 definem padrões de consumo e influenciam o
comportamento das pessoas. As mensagens publicitárias com fins comerciais ou não, são
pensadas e direcionadas a um público específico que no jargão do marketing é denominado
target ou público-alvo. O objetivo das mensagens publicitárias é o de persuadir os indivíduos e
levá-los a compra ou aceitação de uma ideia, produto ou serviço, afetando seu comportamento.
Mais enfaticamente neste texto destacamos o comportamento de compra.
A compra faz parte na área dos estudos do comportamento do consumidor de um
processo denominado de “Reconhecimento de Necessidades”, que consiste no Reconhecimento
de Um Problema, Busca de Informações, Avaliação das Alternativas Pré-compra, Compra,
Consumo, Avaliação Pós-consumo, Descarte. De acordo com Shiffman e Kanuk (1993, p. 6), o
comportamento do consumidor é o processo pelo qual os indivíduos tomam decisões para gastar
os seus recursos disponíveis (dinheiro, tempo e esforço) em artigos de consumo.
As mensagens publicitárias podem ser direcionadas ao “Decisor” (aquele que decide a
compra) ou qualquer um dos outros sujeitos presentes na tomada de decisão no processo de
compra: Iniciador (aquele que dá a ideia da compra), Influenciador (aquele que influencia direta
ou indiretamente a compra), Comprador (aquele que realmente compra ou adquire um produto
ou serviço) e o Usuário (aquele que utiliza ou usufrui o produto ou serviço) - (BLACKWELL,
MINIARD e ENGEL, 2005).
No “Processo de Decisão do Consumidor” as crianças tem um importante papel de
influenciador nas decisões de consumo de todos os membros da unidade familiar. Os
“pequenos” são apontados como os principais influenciadores nas decisões familiares,
tornando-os assim, alvos favoritos - dentro dos limites da legais - da indústria publicitária
(KARSAKLIAN, 2000).
Dados revelam que as crianças possuem dentro de seu núcleo familiar 70%
das decisões de compra, e representam para as empresas fidelização de
consumo para o futuro, tornando-as dependentes do produto. Houve a
constatação de grande influência das crianças na compra de diversos
produtos, especialmente alimentos 92%, brinquedos 86% e roupas 57%. No
ano de 2000, 71% dos pais afirmavam sofrer a influência dos filhos na hora
das compras. No ano de 2003, o índice subiu para 80% nesta pesquisa, com
38% influenciando fortemente na decisão. Na escolha da marca, 63% deles
914
Palavras aqui utilizadas como sinônimas, seguimos assim as diretrizes da legislação nacional que as
definemna Lei 4.860, de 18 de julho de 1965 como sinônimas.
1570
influenciam nas compras, sendo que metade das crianças com idade entre 07
e 13 anos influencia de maneira exagerada (CAZZAROLI, 2011).
O papel das crianças no processo de compra não se restringe apenas ao de
influenciador, podendo representar qualquer um dos sujeitos no processo de decisão de compra,
inclusive o de comprador, movimentando bilhões, sendo um importante mercado consumidor
(MOTTA, 2005).
No caso do público infantil, a mídia lança mão de estratégias voltadas não
somente para as próprias crianças, como também para seus pais,
responsáveis e cuidadores, isto é, em última instância, os que definem a
escolha e aquisição dos produtos e serviços anunciados(IGLESIAS,
CALDAS e LEMOS, 2013, p. 134 ).
Todo esse esforço que a publicidade tem pelo público infantil é cessado, por vezes, por
legislações e/ou códigos deontológicos autorregulamentadores privados que visam “proteger”
esse público de “abusos” proveniente do mercado. A publicidade, sendo o principal
impulsionador do mercado de consumo, é tida como a principal “vilã” e causadora dos “males”
que o consumo exagerado pode causar as crianças.
A necessidade de restringir a propaganda a este público é posta por algumas sociedades
segundo os malefícios que a publicidade pode ocasionar. As crianças são tidas como não tendo
a capacidade de diferenciar ficção e realidade, uma vez que não têm senso crítico formado,
ficando assim, suscetíveis aos apelos do consumo e a inúmeros problemas que afetam a saúde
física e mental, tais como: obesidade, anorexia, alcoolismo, bulimia, delinquência, problemas
esses que acabam se tornando um problema de saúde pública (CRIANÇA & CONSUMO,
2009).
As necessidades apontadas pelos opositores da propaganda infantil de criar normas
menos brandas ou até banir este tipo de propaganda são muitas vezes cessadas pelo forte poder
político que as indústrias têm em algumas sociedades e governos. O argumento mais forte vindo
dos defensores da publicidade é de que os pais cumprem o papel educativo e seriam eles os
reguladores do comportamento das crianças. Outro argumento é que banir a publicidade infantil
seria privar este público de uma realidade que faz parte da nossa sociedade.
Por fim, é importante destacar que as restrições à publicidade infantil podem vir de
legislações estatais ou de códigos de éticas compartilhados pelos profissionais de propaganda
que visam autorregulamentar a atividade publicitária. Portanto, a regulamentação infantil não é
compartilhada de forma homogênea por todos os países, cada nação é livre para criar leis e
normas sobre a problemática exposta. Alguns países apresentam normas mais rígidas do que
outras, sendo que em alguns deles as restrições podem ser até inexistentes. A presente pesquisa,
neste sentido, tem objetivo de descrever a autorregulamentação publicitária infantil na América
do Sul.
1571
915
As informações presentes nesse tópico estão presentes nos Códigos de Autorregulamentação
de seus respectivos países e foram sintetizadas nesse tópico.
1572
ser compatíveis com a idade do público que se destina e se for necessário a aquisição de outro
produto para alcançar determinado objetivo anunciado deve ser informada.
Ademais, no artigo 39º dos novos meios, parágrafo 3º da segmentação das audiências,
determina que os anúncios dirigidos para menores devem ser identificados como tal no assunto
das mensagens e o parágrafo 4º do mesmo artigo, que aborda o marketing viral, determina que
esse tipo de ação deve ser enquadrado em parâmetros da publicidade responsável, no caso de
não for capaz de segmentar a mensagem deve-se tomar cuidado com os menores para evitar
efeitos e consequência desagradáveis.
No Brasil, o Código de Autorregulamentação Publicitária – CONAR – trata da
regulamentação publicitária infantil, em um primeiro momento, na Seção 8 “Segurança e
Acidentes”, Artigo 33, parágrafo “A” e “E” em que condena o descaso de anúncios publicitários
pela segurança quando as mensagens forem direcionadas ou conterem crianças e/ou
adolescentes. O artigo condena também a falta de informações, quando necessário, de cuidados
especiais com produtos direcionados a esse público e outros vulneráveis, tais como idosos e
doentes.
O Código vai tratar especificamente da questão infantil, na Seção 11, artigo 37 em que
deixa claro que nenhum anúncio dirigido às crianças deve ter um apelo imperativo ao consumo
e deve contribuir na educação e formação de consumidores conscientes e responsáveis
(CONAR, 2015). Sendo assim, os anúncios devem zelar pela segurança dos “pequenos” e bons
costumes, exaltando valores positivos, banindo qualquer tipo de discriminação e mensagens que
provoquem medo, não apresentando qualquer tipo de superioridade e inferioridade por causa de
um produto ou serviço anunciado, situações incompatíveis com a idade e que provoquem
constrangimento aos pais ou que molestem terceiros por causa do consumo também devem ser
banidas. Ainda de acordo com o Código, também é proibido o uso de crianças em apelos
diretos, recomendações ou sugestões de uso e consumo, além de que os anúncios não devem
assemelhar-se a matérias jornalísticas. O uso de crianças é permitido apenas em demonstrações
de produtos e serviços, desde que os produtos anunciados não sejam incompatíveis com a idade
dos pequenos.
O código condena as ações de merchandising indireta que contenham crianças, elementos
do universo infantil ou outro elemento que chame a atenção dos pequenos, sendo que nos
programas e conteúdos destinados a esse público a publicidade deve estar restrita aos intervalos
comerciais. Ainda no caso do merchandising indireto, em programas infantis deve ser
direcionado a adultos, o consumo do produto não deve objetivar o consumo por crianças, a
mensagem não deve ter elementos quedesperte o interesse do público infantil. Por fim, os
anúncios não deveminformar que os produtos destinados a crianças possuem características
peculiares quando eles, na verdade, têm características aos similares.
O código também determinano anexo“A” das “Bebidas Alcoólicas”, “P” das Cervejas e
Vinhos e “T” de “Ice e Bebidas Assemelhadas” parágrafo 2, que nenhum anúncio terá crianças
como público-alvo, sendo destinado exclusivamente ao público adulto, deixando claro que é um
produto proibido para menores, sendo proibido o uso de qualquer tipo de linguagem e recurso
que lembre o universo infantil. Além disso, todos personagens que aparecem neste tipo de
propagandadevem apresentar ter mais de vinte e cinco anos. Sobre a veiculação, o planejamento
de mídia deve levar em conta que a publicidade de bebidas alcoólicas não deve ser direcionada
às crianças, sendo inserido esse tipo de anúncio apenas em programas, publicações ou web-site
direcionados exclusivamente a adultos, sendo que os portais das marcas de bebidas alcoólicas
devem ter um sistema de controle que possuam a advertência de acesso apenas por adultos.
O anexo “A”, “P” e “T” ainda impõem cláusulas de advertências inseridas nas campanhas
e nas embalagensdesse tipo de produto informando que é um produto destinado a adultos e
incentiva a realização de campanhas publicitárias informando que a venda de bebidas
alcoólicas, cervejas e vinho é proibida para menores de idade. Os anexos ”J” de “Produtos de
fumo e “S” de “Armas de Fogos” que também tratam da questão infantil e encontram-se
superados pela legislação federal existente.Deve-se apontar o que CONAR-BRASIL considera
que seja publico infantil, informação essa que é apresentada em uma nota do código:
Nota: Nesta Seção adotar-se-ão os parâmetros definidos nos arts. 2º e 6º
(final) do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90):
1573
“Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de
idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”
e na sua interpretação, levar-se-á em conta a condição peculiar da criança e
do adolescente como pessoas em desenvolvimento (CONAR-BRASIL,
2015).
No Chile, a primeira citação que o Código de Ética faz sobre as crianças é uma
definição do que sejam menores, crianças e adolescentes. Sendo assim, de acordo com o
CONAR-CHILE (2013, p.6) “são considerados menores de idade todos os menores de dezoito
anos. São considerados crianças todos menores de doze anos; jovens e adolescentes, os menores
de idade entre doze e dezoito anos”.
A questão infantil é tratada de maneira específica nos artigos 21º - Publicidade Dirigida
aos Menores de Idade, 22º- Participação de Menores de idade na Publicidade, 23º Publicidade
Exclusiva Para Adultos e o artigo 29º da Publicidade de Alimentos e Bebidas Direcionada ao
Público Infantil. Além disso, os artigos 24º - Segurança e Saúde, o artigo 25º Publicidade de
Medicamento e o artigo 30º Publicidade de Bebidas Alcoólicas possuem algumas normas
específicas para os menores de idade e consequentemente ao público infantil.
O primeiro cuidado que o 21º artigo do Código Chileno expõe é que se deve ter cautela
em anunciar para o público infanto-juvenil devido suas características psicológicas, tendo um
especial cuidado com as mensagens direcionadas às crianças devido a falta de conhecimento e
de experiência delas, não devendo ser anunciado em espaços indevidos a menores.
Deve-se evitar qualquer tipo de apelo à sexualidade, violência agressiva injustificada e
elementos que causem medo aos menores ou prejudiciais a saúde das crianças, tais como:
anorexia, bulimia e obesidade. Não se deve aproveitar da ingenuidade desse público, evitando
gerar expectativas irreais, menosprezar valores positivos,expressar qualquer tipo de
discriminação de superioridade e inferioridade. Em anúncios de caridade não se deve explorar a
ingenuidade e o sentimento de culpa dos menores.
Quando o anúncio contiver preço deve vir com informação clara e objetiva e não deve
conter apelações a compras excessivas e quando o produto anunciado fizer parte de uma coleção
e requerer compras complementares, deve ser comunicado de forma objetiva. A promoção de
ofertas é permitida desde que não se exagere no valor dos prêmios ou nas possibilidades de
ganhá-los, deve requerer uma prova de compra e evitar que a demanda seja excessiva. A
veiculação de anúncios deve ser em espaços adequados ao público menor. Por fim, os pais ou
responsáveis devem encontrar na publicidade um fator auxiliador na formação de cidadãos e
consumidores responsáveis, não devendo tirar sua responsabilidade.
O artigo 22º, sobre a participação de menores na publicidade, determina que os
anúncios devem evitar a presença de menores em situações inapropriadas a idade. Os menores
não devem aparecer em situações perigosas, a única exceção é quando a situação tiver fins
educativos. Também, não se deve apresentar imagens de menores em situações que as
características físicas ou psicológicas de uma criança em um anúncio possa afetar a dignidade
ou possa ser prejudicial.
O artigo 23º sobre a publicidade exclusiva para adultos define que esse tipo de
publicidade deve ser vista apenas por adultos e não pode ser exibida em nenhum lugar, meio,
suporte e horário que de forma voluntária ou involuntária os menores tenham acesso livre a ela.
O artigo 29º sobre a publicidade de Alimentos e Bebidas Direcionada ao Público
Infantil segue as mesmas diretrizes apresentadas no artigo 21º sobre a publicidade dirigida às
crianças, em especial o fato de que a publicidade não deve explorar a ingenuidade de maneira a
confundir, devendo evitar promessas ou gerar expectativas sobre os benefícios nutricionais. Não
se deve também, gerar o sentimento de premiação com a obtenção do produto, apesar de
promoções serem permitidas. Por fim a publicidade não deve tirar a autoridade dos pais e
responsáveis na escolha do queé melhor para seus filhos.
Além disso, o artigo 24º alerta para se ter um cuidado especial em se dirigir aos jovens
e crianças; no artigo 25º a propaganda de medicamentos não deve se dirigir a crianças ou
induzir o uso sem prescrição dos pais e por fim, o artigo 30º trata que as bebidas alcoólicas não
deve utilizar menores de idade ou nenhum outro artifício que lembre a eles como imagens ou
voz, devendo, apenas, maiores de idade podem estar nesse tipo de propaganda.
1574
1575
menores, sendo que todas as mensagens direcionadas a esse publico nesse meio deve ser
apropriada a ele.
No Peru, a primeira referência à publicidade infantil ocorre no Título I – Disposições
Gerais - em que alerta que a publicidade deve tomar cuidado quando dirigidos a públicos
específicos, dentre eles os menores de idade. Especificamente sobre a questão infantil, o Título
IV – “Publicidade e Os Menores de Idades” define, em primeiro momento o que sãomenores,
adolescente e crianças, sendo que para o CONAR-PERU (2015) são considerados menores
todos abaixo dos dezoito anos, adolescentes maiores de treze anos e menores de dezoito e
crianças menores de quatorze anos.
Além de apresentar uma definição do que seja criança e adolescente, o Título Quarto
apresenta dois artigos – 19º “Publicidade Que Envolve os Menores de Idade” em que alerta
para particularidades do público infantil, sua falta de experiência e ingenuidade, sendo que a
publicidade não deve apresentar objetos e situações perigosas e ilegais ao universo infantil, tais
como armas de fogo, medicamentos, substâncias tóxicas, conversas com estranho ou
conduzindo veículos; e o 20º “Repeito a Integridade do Menor” em quedetermina que a
publicidade deve respeitar a autoridade dos pais e responsáveis, os valores sociais e não deve ir
contra esses princípios, além de que não deve usar frases imperativas ao consumo, criar
ansiedade ou desenvolver sentimentos de inferioridades e superioridades.
Ademais a publicidade voltada ao publico infantil é tratada em pequenos trechos do
artigo 3.2º Diretiva do CONAR/2006 – “Bebidas Alcoólicas” em que esse tipo de produto não
deve ser direcionado a menores, devendo essa informação ser exposta para o consumo.
Também não deve aparecer pessoas menores que vinte dois anos nos anúncios, nem usar
elementos do universo infantil ou que apresente o uso excessivo do produto, os anúncios devem
ser veiculados apenas em locais direcionados a adultos; e o artigo 3.9º diz que a publicidade
nesses locais não deve ser feita para persuadir os menores. Além disso, deve conter a
advertência de ser um produto para adultos e de consumo moderado. Por fim, o artigo 3.10º
“Campanhas de Responsabilidade Social” incentiva campanhas de conscientização sobre a
proibição de bebidas alcoólicas por menores e que tragam condutas responsáveis.
No Uruguai, a questão da publicidade infantil é tratada especificamente no artigo 14º
“Crianças e Jovens” em que se recomenda que a publicidade direcionada a esse público deve
levar em conta a ingenuidade e inexperiência, não deve apresentar situações violentas ou
sexuais, assim como frases imperativas ao consumo ou que tirem a autoridade dos pais e
educadores.
Além do artigo supracitado, a questão infantil é tratada no artigo 15º“Categorias
Especiais de Produtos”, parágrafo 1º “Bebidas Alcoólicas”, letra “B”, em que determina que a
publicidade deste tipo de produto seja direcionada a adultos e não deve apresentar situações
com menores. A veiculação da publicidade de bebidas alcoólicas fica restrita a espaços em que
a audiência seja pelo menos 70% de adultos, isso inclui programas, jornais, revistas, eventos
esportivos, culturais e sociais. Além disso, os modelos usados nas campanhas devem ser
maiores de vinte e cinco anos e aparentem serem maiores de idade. Ademais, no parágrafo 3º
“Alimentos, Produtos Alimentícios e Bebidas Alcoólicas” é abordado que a publicidade dirigida
às crianças ou menores de doze anos deve promover hábitos saudáveis, não devendo apresentar
situações estimulantes, relacionar o consumo a superioridade social, desmerecer pais e
responsáveis, associar o consumo à promoção do crescimento físico ou mental, estimular o
consumo impulsivo e compulsivo ou apresentar crianças em situações perigosas, ilegais e
imorais.
Considerações finais
A primeira questão que se deve observar é que em geral, todos os países apresentam
normas voltadas para o público infantil e para o público adolescente. Apenas o Chile no 29º
Artigo “Publicidade de Alimentos Direcionados aos Menores de 14 anos” e a Colômbia no
Artigo 42º “Proibições Especiais para Meninos e Meninas” tratam especificamente desse
público. Ademais, observa-se que em outros artigos direcionados ao publico infanto-juvenil nos
códigos analisados alguns parágrafos chamam atenção maior para o público infantil, mas de
forma isolada no artigo do código analisado.
1576
916
Resolução 163 de 13 de março de 2014 do CONANDA (CONSELHO NACIONAL DE
DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE) determina que toada a publicidade veiculada no
Brasil não deve ser direcionada a menores de doze anos. Disponível em:
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SCHIFFMAN, L G.; KANUK, Le L. Comportamento do Consumidor. Rio de Janeiro: LTC, 1993.
UCEP. Código de Ética Publicitário da Colômbia. Disponível em: <
http://media.wix.com/ugd/3455e7_799d2f146d164ab79a620ee0e95e3b5b.pdf> . Acesso em 30 de abril
de 2015.
YANAZE, M. H. Gestão de marketing: avanços e aplicações. São Paulo, SP: Saraiva 2006.
Eduarda Borin918
Caroline De Franceschi Brum919
917
Trabalho apresentado no Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em
Publicidade e Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
918
Estudante de graduação do 7º semestre do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário
Franciscano, Santa Maria, RS, e-mail: eduardaborin@gmail.com
919
Orientadora do trabalho. Docente do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário
Franciscano, Santa Maria, RS, e-mail: carolinedefranceschibrum@gmail.com
1578
RESUMO
A revista Roadie Crew tem o conteúdo totalmente voltado para a música, sendo especializada
no gênero musical heavy metal, tornando-se fonte de informação para diversos fãs do estilo.
Sendo assim, a presente pesquisa busca verificar de que maneira a Revista Roadie Crew
consolida a imagem do heavy metal no Brasil. Este trabalho trata-se de um recorte da pesquisa
inicial, considerado de perfil basicamente conceitual e não sendo ainda o resultado da pesquisa
empírica.
Introdução
O heavy metal é um estilo musical que evoluiu a partir do blues e do rock, sendo os
primeiros registros do gênero datados a partir do início da década de 1970, tornando-se muito
popular nos anos 80. Segundo o antropólogo Dunn (2006), no ano de 1986 o heavy metal
tornou-se o estilo musical mais ouvido no mundo, porém seus fãs eram considerados a escória
da sociedade e a causa de muitos problemas. Críticos classificavam o estilo como música sem
sofisticação para pessoas sem sofisticação (DUNN, 2006). As censuras e processos judiciais de
grupos religiosos acompanham o gênero desde sua criação, alegando que as letras induziam os
jovens a cometerem suicídio, bem como fazer apologia às drogas e a defesa a seres não
celestiais. Segundo Dunn (2006) as origens do heavy metal podem ser rastreadas ao blues e a
música dos escravos norte americanos (a música dos oprimidos), pois continha o apelo para as
pessoas que necessitavam de algo diferente para sentirem-se vivos.
Alex Webster, baixista da banda Cannibal Corpse afirma no documentário Metal: a
headbanger journey (2006) que: “a escala do blues tem o trítono920. Esse é o som do diabo,
antigamente não se podia tocar essa nota, mas ‘Black Sabbath’, a música-título da banda, é toda
composta em cima da quinta diminuta, o trítono.” Segundo Sadie (1994) a instabilidade do
trítono levou-o a ser apelidado de Diabolus in Musica no Renascimento 921 porque,
aparentemente, era o som usado para se chamar a besta. O heavy metal tem grande influência na
música clássica, o compositor do período romântico Richard Wagner é conhecido por tornar a
orquestra mais sombria, adicionando tubas, contrabaixos e instrumentos extremamente graves,
característica essa que serviria de referência para a criação desse então novo estilo musical.
Segundo Dunn (2006) a música erudita é associada ao meio universitário, tendo em
vista a constante busca pela execução perfeita das peças, que se modificou de acordo com as
tecnologias disponíveis em cada época. A característica musical grave do período romântico,
juntando-se aos elementos obscuros resultou na banda que modificou completamente o conceito
de rock.
O grupo Black Sabbath, segundo Popoff (2013) é considerado a primeira banda do
gênero musical heavy metal. Originou-se no ano de 1968, na cidade de Birmingham, Inglaterra,
formada por Anthony Frank Iommi (guitarrista), William Thomas Ward (baterista), John
Michael Osbourne (vocalista) e Terence Michael Butler (baixista), mais conhecidos como Tony
Iommi, Bill Ward, Ozzy Osbourne e Geeze Butler e transformaram o rock a partir daquele
momento (POPOFF, 2013). De acordo com o próprio guitarrista Tony Iommi, em seu livro
biográfico, o mesmo já havia feito parte de algumas bandas de blues, e com certa experiência
buscava um espaço para experimentar novas sonoridades, não fazia ideia de que criaria um
novo gênero musical (IOMMI, 2013). Conforme Chris Welch (2003), nas palavras de Iommi, o
Black Sabbath surgiu no auge da Guerra do Vietnã. O movimento hippie era muito forte e a
Trítono: intervalo musical que possui umas das mais complexas dissonâncias (cacofonia) da
920
1579
banda estava entre o sentimento de guerra e de paz, esses fatos foram refletidos nas
composições.
Segundo Tony Iommi, em documentário de Dunn (2006), quando os membros da banda
começaram a escrever muitos riffs922 perceberam que a sonoridade das músicas se diferenciava
das demais. As poucas notas traziam uma nova característica e o fato do som ser demoníaco
apenas os atraiu, pois gostavam da ideia dos riffs soarem maléficos. (IOMMI, 2013). Segundo a
biografia do site oficial da banda “eles ainda hoje são uma das bandas mais incompreendidas da
história do rock”. De acordo com Dunn (2006), com o Black Sabbath o som do diabo se tornou
elemento de definição do heavy metal. A temática sombria das canções surgiu quando Geeze
Butler chegou à banda com uma ideia para uma música, Ozzy criou a letra e assim surgia a
“Black Sabbath”, que contém referências dos filmes de terror e magia negra que Butler e Ozzy
assistiam. A banda gravou oficialmente 19 álbuns, sendo os de maior sucesso “Paranoid”
(1970), “Master of Reality” (1971) e “Sabbath Bloody Sabbath” (1973).
Conforme Dunn (2008), o heavy metal ingressou no Brasil a partir do primeiro Rock In
Rio, no ano de 1985. Com 1 milhão e 380 mil pessoas presentes durante dez dias de festival o
evento modificou a realidade musical brasileira, apresentando novos conceitos (DUNN, 2008).
O heavy metal veio juntamente com a necessidade de liberdade de expressão dos jovens
brasileiros. A ditadura brasileira teve seu fim em 1985 e foi a partir desse momento que as
bandas nacionais começaram a lançar seus primeiros discos desse gênero musical. Assim, o
estilo musical surgiu no Brasil juntamente com a democratização do país, após o período
ditatorial (DUNN, 2008), juntando a rebeldia do movimento com a necessidade dos jovens de
serem escutados pela sociedade. Com isso, os jovens aos poucos buscaram novas maneiras de
compartilhar seus interesses, o público jovem e sua cultura foram contidos durante os 20 anos
de ditadura, isso se refletiu na maneira de se comunicarem.
Durante esse período, diversos fanzines começaram a ser editados por grupos de jovens,
que buscavam compartilhar seus interesses com os demais. Vários sucumbiram, mas os que
resistiram são hoje fonte de referência. Dentre esses fanzines destacamos o que viria a se tornar
a revista Roadie Crew.
Neste contexto o problema dessa pesquisa recai sobre a seguinte questão: Qual o nível
de influência da Revista Roadie Crew na propalação do heavy metal no Brasil? Deste modo
como objetivo geral da pesquisa pretendeu-se verificar de que maneira a revista Roadie Crew
consolida a imagem do heavy metal no Brasil. Assim, para dar conta do objetivo geral foi
necessário situar o heavy metal como forma de expressão; identificar as fontes de informação e
referência de uma parcela dos headbangers brasileiros; descrever as dinâmicas do grupo de
leitores da revista Roadie Crew, diferenciando os músicos e não músicos, investigando de que
maneira o público leitor se apropria do conteúdo publicado na revista.
Riff: “uma sequência de notas que se caracteriza pela emissão de sons repetidos em momentos
922
1580
não ser essencial para a sobrevivência humana, não se tem notícia de nenhuma raça ou povo que
não cultive a música.” (MEDAGLIA, 2008, p. 9).
Segundo Medaglia (2008), a música é apreciada desde as mais antigas civilizações, na
Antiguidade a música era passada boca-a-boca, por não haver notação923 . A notação musical
teve o início do seu desenvolvimento na Idade do Bronze e os primeiros registros encontrados,
conforme evidências arqueológicas foram praticados por egípcios e mesopotâmios.
Afirma Med (1996, p. 9) que “a música, arte de combinar sons, vem sendo cultivada
desde as mais remotas eras. Os chineses, três mil anos antes de Cristo, já desenvolviam teorias
musicais complexas”. Percebe-se que, assim como o som, a música evolui conforme as
necessidades do homem.
Apesar da dificuldade em obter documentação, a música adquire um importante papel
na história da humanidade, como o desenvolvimento intelectual, a propagação de fatos
históricos e por expressar de maneira peculiar o sentimento humano, exercendo nas civilizações
a difusão de valores culturais e espirituais (MEDAGLIA, 2008).
O termo cultura é considerado um conjunto de valores, crenças, a moral e os costumes
que um determinado grupo sustenta. Segundo Santos (1987), cultura diz respeito aos rituais,
lendas, comidas, a forma de se vestir e idioma de um povo, sendo que cada realidade cultural
tem sua característica, conforme a evolução humana a cultura também foi se modificando, entre
outros variados aspectos. Para Silva (2010, p.20) “a ideia de ‘tradição’ tem caráter mítico, que
envolve o sentimento de pertencimento e identidade coletiva”. O mesmo autor ainda afirma que
os “estudos culturais dizem respeito ao lado subjetivo das relações sociais” (SILVA, 2010,
p.25), essa subjetividade apontada se dá pela falta de consciência nas realizações das ações que
dizem respeito à tradição em grupo, discernindo identidade individual da coletiva.
A partir da necessidade de se compreender como a cultura e a política refletem a
sociedade iniciou-se na Inglaterra o campo de pesquisa sobre os Estudos Culturais. Sendo que
“estudos culturais não configuram uma ‘disciplina’, mas uma área onde diferentes disciplinas
interagem, visando o estudo de aspectos culturais da sociedade” (HALL et al., 1980 apud
SILVA, 2010, p.137) e não há uma definição exata para o mesmo. Para Silva (2010), através
das experiências vividas pelos pesquisadores do Centro de Birmingham, Inglaterra, onde muitos
tem suas raízes em famílias de operários, as privações e o desconforto dessa realidade
motivaram a análise dessa cultura, em um país onde desde o princípio teve a população dividida
de acordo com sua classe social. Segundo o mesmo autor os Estudos Culturais britânicos, no
seu início, também “romperam com as concepções passivas e indiferenciadas de público”, pois
cada interpretação depende do contexto social e intelectual que o indivíduo convive, “suas
orientações sociais e políticas”, gerando diferentes interpretações em um mesmo meio (SILVA,
2010, p. 183).
Entende-se então que cultura se trata de um agrupamento de características de um povo,
associados à vida social e emocional, e esse conjunto constrói uma identidade cultural. Para
Bauman (2012 p. 46) ter uma identidade parece ser uma das necessidades humanas universais.
Pode-se verificar no trecho:
Por si mesma, em certo sentido, essa expressão diz tudo: corresponde a um
desejo básico – o de pertencer, fazer parte de um grupo, ser recebido por
outro, por outros, ser aceito, ser preservado, saber que tem apoio, aliados...
Ainda mais importante que todas essas satisfações específicas, obtidas uma a
uma, em separado, é aquele sentimento subjacente e profundo, sobretudo o
de ter a identidade pessoal endossada, confirmada, aceita por muitos – o
sentimento de que se obteve uma segunda identidade, agora uma identidade
social. (MORINEAU, 1966, apud BAUMAN, 2012, p.46).
O ser humano tem a necessidade de se sentir pertencente a um grupo social para ser
aceito pela sociedade em que vive e pode agir de diferentes formas conforme o contexto.
923
Notação: escrita musical que indica altura, duração e intensidade do som em um pentagrama
(pentagrama é o conjunto de cinco linhas horizontais, paralelas e equidistantes que formam, entre si,
quatro espaços, onde são escritas as notas em uma folha). Sua existência permitiu a preservação e a
passagem de obras musicais para as gerações seguintes (SADIE, 1994).
1581
Segundo Hall (2014, p. 11) “o sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada
e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias
identidades”. Esse apontamento faz refletir sobre a maneira que a cultura influencia a sociedade,
o mesmo autor ainda afirma (HALL, 2014, p.11) que essas identidades “podem ser
contraditórias ou não resolvidas”. Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como
o sujeito é interpelado ou representado, a identificação não é automática, mas pode ser ganha ou
perdida (HALL, 2014, p. 16). Observando o consumo na forma de identificação podemos
conferir o seguinte trecho:
No final dos anos 60, a contestação ao consumo se fazia em um ambiente
social fortemente politizado, e em uma situação econômica relativamente
inserida dentro das fronteiras nacionais. A geração de então via o consumo
como uma esfera relativamente independente e circunscrita, que era possível
questionar sem maior impacto sobre o contexto socioeconômico geral
(SEMPRINI, 2006, p.52).
Ainda sobre o consumo, Baudrillard (1979) citado por Semprini (2006, p. 60) afirma
que [...] nos anos 70 – 80, o consumo ajudava a afirmar o status e a posição social dos
indivíduos (o célebre standing), e assim, a sua identidade, à medida que esta última era definida
total ou parcialmente pelo status. Segundo Hall (2014), o fato é que uma sociedade está em
constante transformação.
Heavy metal
Inicialmente como um movimento de contracultura, criado por jovens que buscavam
não apenas reproduzir pensamentos, mas conceber os seus próprios, o heavy metal tomou
forma, cativando milhares de jovens que encontraram no estilo musical as respostas para seus
questionamentos. É um estilo musical que tem raízes no blues e no rock e não há data precisa de
seu surgimento, pois evoluiu de uma série de contribuições musicais e práticas sonoras da
década de 1960 (JANOTTI, 2004). Uma banda do gênero tem como formação usual quatro
componentes: um vocalista, um baterista, um baixista e ao menos um guitarrista. Quanto à
construção musical é observada a predominância do som da guitarra. Para Janotti (2004), a
principal característica sonora é o emprego da distorção no som da guitarra amplificada,
tornando-se o elemento característico desse estilo musical.
No heavy metal, de acordo com o mesmo autor, “é muito comum a utilização do riff,
uma sequência de notas que se caracteriza pela emissão de sons repetidos em momentos chave
da execução musical” (JANOTTI, 2004, p.19). Diversas músicas são conhecidas por seus riffs
marcantes, como por exemplo, a música Back in Black do grupo AC/DC. A técnica necessária
para o guitarrista de uma banda de heavy metal é observada no seguinte trecho:
A construção de formas extensivas sobre os zumbidos ou a simples
progressão harmônica (em geral dois acordes alternados) ou riffs tornaram-
se, claro, a base do hard rock ou ‘música heavy metal’ e encorajaram o
desenvolvimento de solistas virtuosos, especialmente guitarristas. Assim,
enquanto muitas das técnicas derivadas do blues [...] parecem colocar a
música em oposição à linguagem musical dominante (incluindo então sons
da música pop contemporânea), essas mesmas técnicas serão desenvolvidas
de modo a ressaltar as virtudes individuais ou expressões pessoais,
alcançadas através do domínio profissional das técnicas instrumentais; e por
isso pode ser visto como estando de acordo com as tradições da arte
burguesa. (MIDDLETON, 1990, apud JANOTTI, 2004 p. 29).
Outras características desse estilo sonoro são a utilização de power chords (acordes de
guitarra que utilizam normalmente intervalos de quinta924, amplificados, de forma distorcida),
para a construção de um som forte, pesado e agressivo, incorporando a isso grandes solos
instrumentais e o alto volume de todos os instrumentos (JANOTTI, 2004). A respeito da
temática das letras, os assuntos mais abordados têm referências religiosas ou antirreligiosas,
924
Intervalo de quinta: intervalo é a distância entre uma nota musical e outra, sendo duas alturas,
ex.: dó-sol (SADIE, 1994).
1582
sendo uma constância elementos do ocultismo defendidos pelo mago Aleister Crowley925, citado
em canções de bandas como Led Zeppelin e Black Sabbath e influência visual para grande parte
de outras bandas. Outros temas abordados versam sobre conflitos pessoais, drogas e críticas
sociais. Ao decorrer do desenvolvimento do estilo musical a temática das letras modificou-se, a
New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), gênero que evoluiu do heavy metal tradicional
tem como ênfase mitologia e história geral, além das temáticas já utilizadas pelo heavy metal.
Originalmente adotada a partir da subcultura hippie, o heavy metal segundo o jornalista
Nader Rahman simbolizou o ódio, angústia e desencanto juvenil na década de 1970. “Não por
acaso, a trajetória do heavy metal é carregada de traços ‘sombrios’: a obscuridade, o desencanto
e a opressão” (JANOTTI, 2004, p.21). A crise do petróleo iminente de 1973 afetou grande parte
das bandas inglesas, tendo em vista que muitos dos músicos vinham de classe operária,
ameaçados pelo desemprego, essa situação social e econômica refletiu na caracterítica sonora
das bandas dessa região.
O próprio termo heavy metal era utilizado de forma pejorativa e acredita-se que sua
primeira utilização foi realizada pelo crítico musical Lester Bangs na revista Rolling Stone, para
descrever o som denso, de alto volume e intensidade, praticado pela banda Led Zeppelin
(JANOTTI, 2004).
925
Aleister Crowley: mago ocultista, criador da doutrina/filosofia Thelema. Thelema
representaria um novo sistema ético e filosófico para a humanidade, caracterizando um Novo Aeon (Nova
Era). Escreveu o Livro da Lei, texto central de Thelema onde constam os dois preceitos fundamentais da
doutrina, “Faze o que tu queres, será o todo da Lei” e “Amor é a Lei, amor sob vontade”. O primeiro
preceito pode ser encontrado em canções de Raul Seixas, compostas na parceria do escritor Paulo Coelho,
que também era seguidor de Thelema. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Aleister_Crowley, acesso em
30/10/2014.
926
As informações obtidas para a construção desse capítulo foram retidas de arquivos enviados
por e-mail pela empresa.
DINIZ, Airton. Trabalho de graduação [mensagem pessoal] Mensagem recebida por
<eduardaborin@gmail.com> em 18 de março de 2015.
927
www.roadiecrew.com.br
1583
Figura 1: Capa da primeira edição do fanzine Figura 2: Capa da edição 15 da revista Roadie
Roadie Crew, julho de 1994. Crew, maio de 1999.
Aos poucos, com o reconhecimento da marca no meio musical e o bom recebimento das
resenhas de shows internacionais, os editores da revista buscaram melhorar esse conteúdo em
específico. Muitas resenhas de shows internacionais eram traduzidas para o português e
publicadas, não havendo uma conexão emocional mais forte com o público brasileiro, leitor da
revista. Nessa época, a vinda de shows internacionais para o Brasil era bem escassa,
transformando cada um deles em um grande acontecimento para o público. Para transmitir
exatamente essa emoção vivida pelos fãs, em 1997 a revista inicia o investimento em grandes
coberturas de shows internacionais, com equipe própria, objetivando a aproximação emocional
com o headbanger brasileiro. O primeiro festival a ter cobertura internacional foi o Dynamo
Open Air 1999, que aconteceu na Holanda. A partir disso diversos outros festivais tornaram-se
conhecidos do público brasileiro através da Roadie Crew.
No ano 2000 a frequência da revista passa a ser mensal. Em parceria com a empresa
ICS Festival Services, que organiza o maior festival de metal no mundo, o Wacken Open Air e a
aproximação dessas marcas com a Roadie Crew LTDA, em 2005 tornou-se possível o direito da
revista Roadie Crew indicar anualmente uma banda brasileira para participar do “W:O:A-Metal
Battle”.
Desde sua criação, a revista Roadie Crew acompanhou o surgimento e o crescimento de
várias bandas brasileiras, possibilitando um maior conhecimento da cena musical underground
e colaborando para o crescimento das bandas e músicos. Hoje com 195 edições publicadas e 21
anos de atividade é referência em sua especialidade.
REFERÊNCIAS
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DUNN, Sam; WISE, Jessica; MCFADYEN, Scot. Metal: A Headbanger's Journey. [Filme-vídeo].
Produção e direção de Sam Dunn, DVD, 2006, 94 min. Color.
DUNN, Sam; MCFADYEN, Scot. Global metal. [Filme-vídeo] Produção e direção de Sam Dunn, DVD,
2008, 95 min. Color.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Lamparina, 2014.
JANOTTI JR, Jeder. Heavy Metal com Dendê: rock pesado e mídia em tempos de globalização. Rio de
Janeiro: E-papers, 2004.
IOMMI, Tony. Iron Man: minha jornada com o Black Sabbath; tradução Tatiana Leão. São Paulo:
Planeta, 2013.
MED, Bohumil. Teoria da música. Brasília: Musimed, 1996.
MEDAGLIA, Julio. Música, maestro! Do canto gregoriano ao sintetizador. São Paulo: Globo, 2008.
POPOFF, Martin. Black Sabbath: a biografia. Destruição desencadeada; tradução Antônio Tibau. Rio de
Janeiro: DarkSide Books, 2013.
SADIE, Stanley. Dicionário Grove de música: edição concisa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.
SILVA, Tomaz Tadeu da (Org). O que é, afinal, Estudos Culturais? Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
1584
Jackson de SOUZA929
Raquel Marques Carriço FERREIRA930
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE
RESUMO
O presente artigo analisou o processo de autorregulamentação da publicidade infantil
relacionada a comercialização de alimentos e bebidas ricos em gorduras e açucares, no Brasil e
Estados Unidos. Ao longo do estudo constatamos que a autorregulamentação não mostrou ser
uma normativa efetivamente eficaz senão em atuação conjunta com programas de controle de
obesidade. Através de estudo de caso, observamos, sobretudo, que, a forte pressão das indústrias
em não restringir a publicidade de alimentos e bebidas ricos em gorduras e açucares às crianças
impactam na saúde pública desse grupo, expresso em termos de crescimento de obesos ao longo
dos anos em ambos os países.
Introdução
Estudos indicam que o tempo gasto pelas crianças assistindo televisão é alto quando
comparado a outras atividades, como brincar e estudar dedicando cerca de três horas diárias
para a prática desta atividade (PIMENTA; MASSON; BUENO, 2011).
Tal fato corrobora com o contínuo aumento da programação infantil que vem ocorrendo
desde a década de 1920. Silva (2010) aponta que mesmo com o decréscimo da audiência em
programas infantis na televisão aberta nos últimos anos, as séries em canais pagos vêm
conquistando, cada vez mais, o interesse das crianças.
Este costume, por sua vez, alia-se à preferência do público infantil por consumir
alimentos com quantidade elevada de carboidrato, açúcar, gordura e sal de modo que ao
assistirem televisão, são sugestionados por propagandas de diversos produtos alimentícios, a
consumi-los. (PIMENTA; MASSON; BUENO, 2011).
Neste contexto, observa-se a influência da publicidade infantil para a indução de
problemas como: conflitos entre pais e filhos, cinismo, atitudes materialistas e obesidade
(CALVERT, 2008). Problemas como estes ocorrem porque as crianças possuem um alto poder
na decisão de compra de seus pais, sendo, desse modo, também consideradas influenciadoras da
compra (ver SILVA, 2010).
Com efeito, atualmente, tanto países desenvolvidos, quanto países com economias
consideradas emergentes lidam com o alto índice de obesidade infantil (PIMENTA; MASSON;
BUENO, 2011). No continente americano, Brasil e Estados Unidos são países com economias
928
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
929
Estudante de Graduação do 7º semestre do curso de Comunicação Social Hab. Publicidade e
Propaganda da Universidade Federal de Sergipe (UFS). E-mail: jackson_de_souza@yahoo.com.br
930
Doutora em Televisão e Cinema pela Universidade Nova de Lisboa, Professora do curso de
Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Sergipe (UFS). E-mail: raquelcarrico@gmail.com
1585
A cerveja Malzbier por ser doce, e possuir baixo teor alcóolico (entre 0 e 4%),
recomendava o consumo da bebida às crianças e para tanto, utilizava representações de mães e
crianças para compor seus anúncios publicitários.
1586
Fonte: propagandashistoricas.com.br
Neste anúncio, a 7 UP apresentava o público infantil como os mais novos clientes da
marca com os seguintes dizeres: "Por isso que temos os mais novos clientes no negócio (...)
Ninguém faz isso como Seven-Up!". A marca já esteve presente no Brasil na década de 1990
também se utilizando de campanhas publicitárias.
Com base nos anúncios expostos veiculados em diferentes décadas, é perceptível que
tanto Brasil quanto Estados Unidos permitiram que diversas gerações de crianças fossem
influenciadas por peças publicitárias que incentivavam o consumo de alimentos ricos em
gorduras e açucares de forma irrestrita. Também parte das mensagens veiculadas direcionavam-
se aos pais de crianças pequenas com apelos que naturalizavam o consumo dos “produtos
energéticos que seus filhos deveriam consumir”.
Com o passar dos anos, supomos que nem todos os pais possuíam conhecimento dos
reais problemas que tais tipos de alimentos poderiam causar nas crianças, principalmente nos
países em desenvolvimento, cujas taxas de educação são baixíssimas. No Brasil, por exemplo,
segundo o Relatório de Desenvolvimento 2012, divulgado pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento, está presente a terceira maior taxa de evasão escolar entre os cem
931
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ui1fJ9WcKTs
932
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gaGOMO5HK0A
1587
países com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Além disso, o país tem a menor
média de anos de estudo entre os países da América do Sul (UOL EDUCAÇÃO, 2013).
A publicidade direcionada às crianças tem cada vez mais imputado a decisão de compra
dos pais (CALVERT, 2008), mas de outro lado, havendo pais esclarecidos sobre os efeitos de
alimentos gordurosos ou açucarados, poderíamos pensar em uma oportunidade de educação
alimentar das crianças.
1588
1589
1590
1591
Nos Estados Unidos, Ogden et. al (2014) realizaram um estudo com crianças e
adolescentes e notificaram que no período que compreende os anos de 2011 e 2012, cerca de
8% dos bebês e crianças pequenas estavam com sobrepeso e este percentual aumentava de
acordo com o aumento da faixa etária, onde 34,9% das crianças e adolescentes de 2 a 19 anos
possuíam sobrepeso ou obesidade, contestando assim, descobertas recentes de que a obesidade
infantil viria caindo desde 2004. Ogden et. al (2014) afirmam, ainda, que fazendo um
comparativo entre os períodos 2003 – 2004 e 2009 – 2010, o índice de sobrepeso e obesidade
infantil continua semelhante. Além disso, de acordo com Cunningham, Kramer e Narayan
(2014) a maior incidência de sobrepeso está entre crianças de 4 a 14 anos.
Em relação à publicidade infantil nos Estados Unidos, Gomes, Castro e Monteiro
(2010) afirmam que após o aumento explosivo da obesidade infantil órgãos internacionais de
grande credibilidade, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Assembleia Mundial
da Saúde (AMS), viram a necessidade de recomendar a limitação do estímulo ao consumo de
alimentos ricos em gorduras e açucares. Nesse contexto, empresas transnacionais produtoras de
bebidas e alimentos processados assinaram acordos a adotar medidas de restrição da publicidade
dirigida ao público infantil. Tal evento, por sua vez, não ocorreu em países como o Brasil,
mesmo após o início da elaboração de uma proposta de regulamentação da publicidade de
alimentos não saudáveis e de bebidas de baixo valor nutricional, em 2005 (ver GOMES,
CASTRO e MONTEIRO, 2010).
Nesse contexto, diante dos resultados acerca da situação atual de sobrepeso e obesidade
infantil, considera-se que o processo de autorregulamentação executado tanto no Brasil quanto
nos Estados Unidos ainda se mostra insuficiente. No caso dos Estados Unidos, pelo fato de
existir o acordo descrito por Gomes, Castro e Monteiro (2010), os resultados em relação à
quantidade de exposição das crianças à publicidade infantil podem ser mais satisfatórios que os
do Brasil, ainda que haja uma forte pressão das indústrias alimentícias em não restringir este
tipo de publicidade devido a fatores econômicos.
1592
Considerações finais
Devido ao histórico da publicidade na divulgação de alimentos ricos em gorduras e
açucares, sabe-se que diversas gerações foram impactadas com sugestões de consumo de
alimentos não saudáveis, sem talvez possuir noções dos malefícios de que estes poderiam causar.
Tais práticas resultaram em altos índices de obesidade e, como estes alimentos são
consumidos – em sua maioria – pelo público infantil, os índices de sobrepeso e obesidade
infantil tornaram-se preocupantes. No continente americano Estados Unidos e Brasil sofrem
com tais índices e figuram entre os cinco países com o maior índice de obesidade no mundo
(ver EXAME, 2014).
Dessa forma, ambos os países optaram em utilizar-se da autorregulamentação, criando
normas de veiculação da publicidade infantil, como: não apresentar qualquer produto como
substituto de refeições básicas, não desmerecer a alimentação saudável, não menosprezar o
papel educativo dos pais e não utilizar-se de seres do imaginário do mundo infantil nas
campanhas para diminuir o índice crescente de obesidade.
Os Estados Unidos com a CARU e o Brasil com o Conar assemelham-se no que tange a
disposição de suas normas. O que nota-se, entretanto, é que tais processos de
autorregulamentação ainda se mostram ineficazes em relação aos novos resultados acerca da
obesidade infantil, comprovado através de estudos empíricos na área da saúde pública, como os
de Krisnki et. al (2011), Netto-Oliveira et. al (2010), Ribeiro et. al (2013) e Ogden et. al (2014).
Além disso, nota-se também que as indústrias não seguem as normas impostas por
ambos os órgãos e, mesmo que anúncios publicitários venham a ser alterados ou sustados, após
denúncias de consumidores ou dos próprios órgãos, a criança já sofreu a exposição de tais
anúncios que foram divulgados. Percebemos que a autorregulamentação ainda está longe de se
tornar eficaz em ambos os países. Mesmo sendo rígidos em suas normas, a indústria alimentícia
ainda consegue se utilizar de brechas para expor ao público infantil, suas peças publicitárias que
incitam o consumo de tais alimentos. Desse modo, mais do que o processo de
autorregulamentação, os países devem mostrar executar programas educativos, não somente
através de políticas públicas, como também, por meio da própria publicidade, já que esta tem o
poder de persuadir o expectador ao consumo, teria também o de informar e conscientizar o
expectador sobre inúmeros problemas causados por alimentos gordurosos e ricos em açucares.
Brasil e Estados Unidos se afastam de restrições semelhantes a alguns países situados
no continente europeu, como Noruega e Suécia que, devido à programação televisiva ser quase
100% estatal, foi possível banir totalmente a publicidade infantil (ABAP, 2014). No nosso caso
em estudo, tratamos de dois países que movimentam bilhões de dólares em publicidade infantil
e a adoção de restrições causaria um impacto negativo sobre a economia destes (BARBOSA,
2014). Assim, ambos os países procuram alternativas para combater tal problema e uma delas é
933
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MYq0zAQ3lHY
1593
REFERÊNCIAS
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em: 19/01/2015.
Amanda RIBEIRO935
Caroline BRUM936
Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS
RESUMO
Esse trabalho propõe-se a estudar especificamente dois tipos de estratégias de comunicação que
atualmente causam certa confusão a partir de suas indefinições, o Live Marketing e o Marketing
de Guerrilha. Essas estratégias são trabalhadas na área de Publicidade e Propaganda e do
Marketing, como formas de atrair o público-alvo, em alternativa aos veículos convencionais.
934
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
935
Estudante de Graduação 7ºsemestre do Curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário
Franciscano, Santa Maria, RS, email: amanda.c.ribeiro@live.com
936
Orientadora Professora Me. Caroline De Franceschi Brum, Cento Universitario Franciscano, Santa
Maria, RS, email: carolinedefranceschibrum@gmail.com
1595
Pinho (2004) expõe que, o termo Marketing surgiu no início do século XX nos Estados
Unidos, a partir da Revolução Industrial. Na década de 1930, a produção das indústrias estava
aumentando, fazendo com que também crescesse a concorrência entre os fabricantes, forçando-
os a buscar novas alternativas mais eficazes de venda. Em 1937 foi fundada a American
Marketing Association (AMA), uma entidade voltada aos profissionais da área. No Brasil, o
marketing chegou em meados dos anos 50, através das multinacionais que vinham dos Estados
Unidos e da Europa para instalarem-se no Brasil. Na língua portuguesa, o termo marketing, teria
como tradução mais aproximada mercadologia ou a expressão comercialização, porém, o autor
comenta que caíram em desuso por não definirem o processo total do marketing. Este estudo
terá duas visões do conceito de marketing, a brasileira e a americana, dando destaque aos
autores Sant’Anna e Kotler.
Os autores Ogden & Crescitelli (2007, p.1) afirmam que “o marketing é uma das
atividades mais conhecidas e ao mesmo tempo uma das menos compreendidas.” Eles ainda
destacam três objetivos importantes: primeiramente a entrega do valor em detrimento da oferta
de produtos e serviços; o relacionamento com os clientes; e por fim a geração de benefícios não
somente a empresa e seus clientes, mas também para todos os públicos de interesse da empresa.
Margolis e Garrigan (2013) acreditam que “às vezes, o público vê iniciativas de marketing
como algo insincero, fabricado e até mesmo manipulativo, o que, às vezes, é verdade. Logo faça
tudo em seu poder para provar que eles estão errados.” Possivelmente esta análise poderá vir a
ser usada no esclarecimento de dúvidas de estudantes da área de comunicação, pois há muita
confusão em compreender que tipos de ações abrange o Live Marketing e qual a diferença entre
esse e o Marketing de Guerrilha. Desta forma, espera-se que essa análise venha a ser útil tanto
no ensino quanto em pesquisas de referencial teórico.
1596
Ogden & Crescitelli (2007) lembram que as formas de comunicação são as modalidades
de comunicação existentes que constituem uma espécie de mix de instrumentos de
comunicação, dando a possibilidade de aplicá-los diferentemente em situações variadas. A
mensagem que se quer transmitir pode ser única, mas sua formatação é diferenciada conforme o
conteúdo, as necessidades e as circunstâncias. Ainda com base nos autores, toda mensagem
divulgada necessita de um conteúdo estruturado, para que a informação chegue adequadamente
aos consumidores. As etapas que geram esse conteúdo são: objeto, que é o produto ou serviço
que se quer oferecer; natureza, que se identifica como o propósito da campanha; foco, onde
começa a afilar, podendo direcionar, por exemplo, para o cognitivo, emocional ou
comportamental; abordagem, podendo ter caráter social, humorístico, testemunhal, dependendo
do público-alvo; objetivo, que é saber o que se pretende comunicar; conceito, sendo a ideia
criativa que se irá explorar; e por fim, tema central, que é a representação que conecta todas as
ações envolvidas com o conceito.
1597
Ainda com base em Levinson (2010, p.105), “o contato pessoal toma mais tempo do
que qualquer outro meio de marketing, mas é extremamente eficiente, entretanto esse contato
pessoal deve ser apoiado em métodos de mídia de massa.” Além disso, afirma que o marketing
online para os guerrilheiros é muito importante, pois gera a oportunidade de usar da
interatividade misturada com a ação, conectividade, comunidade, capacidade de atingir o alvo e
pela economia, isso se for feito de maneira apropriada. O autor acredita que existam dezesseis
segredos do Marketing de Guerrilha, e que sem conhecê-los e coloca-los em prática é
impossível divulgar um produto ou serviço com sucesso. Portanto, podem-se resumir os
segredos em dezesseis palavras: compromisso, investimento, consistência, confiança, paciência,
diversidade, consequência, conveniência, surpresa, medida, envolvimento, dependência,
arsenal, consentimento, conteúdo e crescimento.
Pode-se observar que os autores Margolis e Garrigan (2013) apresentam uma opinião
semelhante à Levinson, ao explicar que um dos principais diferenciais do Marketing de
Guerrilha para os autores é que ele não trabalha dentro de um conjunto estabelecido de
parâmetros, como o Marketing tradicional. Também comentam que, os princípios do Marketing
de Guerrilha iniciam por identificar o público-alvo, para que em seguida se crie estratégias para
saber onde eles estão e como se pode causar a impressão mais efetiva e para finalizar saber
como sensibilizá-los de uma maneira completamente inesperada e impactante. Os autores
acreditam que a guerrilha se concentra em sensibilizar os consumidores por meio da criação de
uma experiência exclusiva para o público alvo, de forma criativa, podendo chegar à imprensa,
para que esta o ajude a espalhar a mensagem, pois “a mídia precisa compartilhar algo excitante
com os espectadores ou leitores; algo que eles nunca tenham ouvido falar antes. A essência da
nova mídia é produzir maneiras eficazes e interessantes de aumentar a exposição de sua marca
aos consumidores” (Margolis e Garrigan, 2013, p.144). Pode-se entender então que a partir de
uma ação voltada para um pequeno público, a guerrilha sendo criativa ainda pode alcançar uma
grande massa, de forma gratuita, através do que se refere no meio da comunicação como mídia
espontânea.
O estudo de Live Marketing é construído, aqui, a partir de três bases: Kito Mansano,
introdutor do termo no mercado brasileiro; representantes do mercado publicitário e de
marketing, que palestraram no 1º Congresso Brasileiro de Live Marketing no ano de 2013; e
artigos da revista Live Marketing especializada no assunto. Portanto inicia-se com o seguinte
raciocínio ao se afirmar que a
Com base no Manual de Live Marketing do 1º Congresso Brasileiro (2013, p.2) o Live
Marketing é “uma fusão entre ferramentas do marketing mix e a revolução digital”. Nada mais
é do que a união do marketing Promocional com a Interatividade. A razão da mudança da
terminologia é devido ao fato de que as empresas relacionavam marketing promocional
diretamente com promoção. O Promocional “consiste em colocar ações de impacto no mercado
1598
Mansano938, na Revista Live Marketing (2012 p.14) afirma que para transformar o
discurso em realidade, às agências de promoção começam a apostar no conceito de Live
Marketing. Este tem como objetivo “envolver o consumidor independente da mídia utilizada,
com ferramentas de vivência ao vivo e resultados imediatos”. O desafio do Live Marketing é
“através das várias ferramentas do marketing promocional como incentivo, ativação no ponto de
venda, eventos, entre outros, alinhar com as várias possibilidades do digital.” Numa visão mais
ampla, o conceito “proporciona experiência de marca, gera maior eficiência da ação e possibilita
maior assertividade e mensuração de resultados”.
Com o Live Marketing como guarda chuva, teremos que passar a fazer parte
do planejamento inicial, indicar as ferramentas ideais para se atingir os
resultados e efetivamente, trabalhar com orçamento definido. Dessa maneira,
essa pode ser considerada uma grande revolução. Não será ousadia dizer que
é o futuro chegando e que a partir da utilização do Live Marketing as
agências entram em um maravilhoso mundo novo (MANSANO, 2013,
p.10).
Diego Senise939, comenta que dentre as abordagens de como o Live Marketing gera
sensações nos consumidores e a necessidade de maior criatividade, inovação e coragem por
parte das empresas, para que as estratégias de promoções ganhem as ruas, fortalecendo marcas,
produtos e serviços, inclusive, com uma visão profissional externa.
Tabela 1
937
Lead Trend Strategist para a América Latina na empresa Trendwatching.com, responsável
pela supervisão e desenvolvimento de estudos sobre as tendências de consumo da America Latina, foi
uma das palestrantes no Congresso de Live Marketing.
938
Presidente da Associação de Marketing Promocional (AMPRO) e do Sindicato das Empresas
de Live Marketing (Sindilive).
939
CEO da Ilumeo (empresa de métodos de análise para aumentar a eficácia das decisões de
comunicação e marketing), participante do 1º Congresso Brasileiro de Live Marketing.
940
CEO da Holding Up (agência de brand experience), que também participou do congresso.
1599
Como foi dito no inicio deste artigo, trata-se de um recorte de TFG sendo basicamente
de perfil conceitual, não havendo ainda o resultado da pesquisa empírica. Entretanto, podemos
observar que há poucas diferenças entre o Marketing de Guerrilha e o Live Marketing,
basicamente os dois focam em fugir da mídia tradicional, buscam inovar e fazer com que a
empresa tenha uma aproximidade maior com seu público. Ainda é necessário aprofundar mais o
estudo, para compreender melhor suas diferenças conceituais e também como estes dois
conceitos são entendidos no mercado publicitário atualmente.
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15/03/2015.
RESUMO
O presente artigo analisará a história da marca Phebo, sua origem e seu posicionamento no
mercado brasileiro, bem como a influência do movimento artístico art nouveau na constituição
de sua identidade visual. As expressividades da marca contemplada, tais como nome, logotipo,
embalagem, objetivam a diferenciação e o posicionamento da Phebo, além de criarem um elo
emocional com o consumidor, o que justifica sua presença no mercado desde a década de 1930,
tornando-se uma referência na categoria de higiene e beleza.
941
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
942
Graduanda em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Faculdade
Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM/SP), email: biancatnr@gmail.com.
943
Graduanda em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Faculdade
Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM/SP), email: cintiaaragao_s@hotmail.com.
944
Graduanda em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Faculdade
Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM/SP), email: gabrielamfz@gmail.com.
945
Graduanda em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Faculdade
Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM/SP), email: nicolegomesa@gmail.com.
946
Orientadora do trabalho. Professora Doutora do curso de Comunicação Social da Faculdade Paulus de
Tecnologia e Comunicação (FAPCOM/SP), email: carolboari@yahoo.com.br.
1601
1. A história da marca
A história da marca Phebo teve início no ano de 1930, em Belém, no Pará quando foi
fundada por dois portugueses Antônio Lourenço e Mario Santiago, vendedores de cigarros, que
decidiram diversificar suas atividades e criaram um sabonete à base de glicerina que,
posteriormente, ficou famoso por sua fragrância única, seu formato oval e sua cor negra,
batizado com o nome Odor de Rosas.
O referido produto pertence à marca Phebo, cujo nome fora inspirado na mitologia
grega, uma referência a Apolo ou Febo, filho de Júpiter, o rei dos deuses e dos homens,
reconhecido por sua “[...] beleza radiante, uma cabeleira loura que caía em cachos graciosos
sobre os ombros, alto e desembaraçado, com uma atitude e um porte sedutores [...]”.
(COMMELIN, 2011, p. 34). Assim como o sol, Febo não envelhece, sendo sempre representado
por uma figura jovem e bela.
No céu, chamavam-no Febo, da palavra grega phoibos, ‘luz e vida’, porque
ele conduzia o carro sol; na terra e no inferno, era chamado Apolo. [...]
Apolo é o deus da música, da poesia, da eloquência, da medicina, dos
augúrios e das artes. [...] Apolo desfruta de uma juventude eterna. [...] Seu
templo de Delfos era incontestavelmente o mais belo, rico e célebre. [...] É
sempre representado como jovem e imberbe, porque o sol não envelhece.
(COMMELIN, 2011, p. 35-36)
A Phebo apresenta originalidade e qualidade em seus produtos, fazendo com que os
mesmos ocupem um lugar especial nos lares brasileiros e adquiram fidelidade por parte dos seus
consumidores (ACCIOLY, 2003, p. 104). O sabonete teve seu aroma desenvolvido pelos
fundadores, combinando óleo de pau de rosa da Amazônia, com 145 essências diferentes, que
na época, devido ao seu padrão internacional de perfumaria, foi comparado ao Pear’s Soap, um
produto inglês de grande aceitação. O sabonete Odor de Rosas, da Phebo, assemelhava-se ao
inglês tanto pela composição, glicerina e óleos naturais, quanto pela forma oval e pela cor
âmbar.947 Os sabonetes da Phebo eram luxuosamente embalados e com características da arte
clássica na sua identidade visual (Figura I).
A década de 1930 foi marcada pela grande depressão econômica de 1929, opondo-se ao
consumo desenfreado da década anterior. Embora o mundo enfrentasse a pior crise econômica
da história, o cinema exibia “divas” requintadas, luxuosas, como a que ilustra a embalagem de
Pear’s Soap e com roupas que contradiziam a realidade das mulheres da época, que recorriam à
uma confecção doméstica de roupas. “A dicotomia da época era que, ao mesmo tempo em que a
Depressão exigia interrupção do consumismo, os desenvolvimentos tecnológicos aceleravam as
coisas.” (STEVENSON, 2012, p. 108)
947
KETCHUM, Daniel. As desvantagens do sabonete importado Pears. Disponível em:
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2015.
948
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1602
A Phebo associou-se a nomes tais como Isabela Capeto e Amir Slama em busca de
modernização e maior valor agregado a seus produtos. Outra estratégia da Granado, para a
Phebo, foi a penetração no mercado de maquiagens, colocada em prática em 2012, sendo que
todos os produtos foram desenvolvidos livres de parabenos, levando em consideração o clima e
a pele da mulher brasileira em seus variados tons, um dos principais diferenciais da marca.
Com sede no estado do Rio de Janeiro, a marca passou a carregar características da vida
carioca em seu posicionamento. Atributos como sol, verão, praia e bossa nova são fáceis de
serem associados quando se visita uma loja da marca. O visual merchandising, utilizado nos
pontos de venda, faz com que o consumidor se sinta em um bairro tradicional da cidade de uma
novela de Manoel Carlos quando está lá dentro.
A atividade de visual merchandising deve ser vista como um processo que se
estende desde o conceito até a finalização e que tem como propósito criar
uma identificação clara da marca, mantendo seus valores, atrair o cliente
para dentro de um espaço comercial e mantê-lo aí pelo maior período de
tempo possível. O visual merchandising é o elo principal que conecta a
marca, o consumidor, o produto e o ambiente e deve atrair o cliente para
dentro do espaço comercial, envolvê-lo e motivá-lo a gastar dinheiro.
(BAILEY; BAKER, 2014, p. 10)
Além das características visuais que a marca adotou para sua identidade, a natureza e
suas influências estão fortemente associadas à fabricação dos produtos. Além de terem base
100% vegetal, sabonetes e produtos da linha de maquiagem levam nomes de frutas, plantas
1603
No Brasil, o art nouveau surgiu como uma grande influência da produção europeia. A
edição de vários cartazes e revistas do início da República apresentavam uma ornamentação
ocupada por formas florais e curvilíneas. Na cidade de Manaus, por exemplo, a prosperidade
econômica, trazida pelo comércio da borracha, abriu espaço para esse novo tipo de concepção.
Em geral, a influência do estilo foi comumente chamada pelo nome de "arte floreal".949
De um modo geral, todos estes aspectos podem ser encontrados, não só na identidade
visual da Phebo, como também, na essência da marca como seu público alvo e os valores
defendidos pela empresa. “O começo da criação de uma marca é um processo criativo baseado
no consumidor. Exige a elaboração da identidade da marca, a rede de associações de ideias,
construção e manutenção de um significado.” (STREHLAU, 2008, p. 51)
Em relação ao logotipo (Figura II), fora utilizada uma tipografia serifada,950 o que
expressa sua tradição, enquanto a utilização de letras em caixa alta transmite a ideia de
imponência e vigor, pois em 174 DC, em Roma, surgiu o alfabeto serifado (Figura III) e em
caixa alta, criado pelo Imperador Trajano. Nas curvas das letras, e com destaque para o
ornamento na letra “P” que passa a sensação de movimento, ficam claras as características
vindas do art nouveau e suas influências vindas da natureza.
O desenho das letras, no logotipo, desperta uma série de atributos emocionais que serão
incorporados aos valores intangíveis da marca.
À capacidade identificadora do nome como signo puramente verbal, o logo,
na sua versão visual – basicamente gráfica – agrega novas camadas de
significação. Essas camadas reforçam a individualidade do nome ao
incorporar atributos da identidade institucional. Mediante esse mecanismo, a
denominação começa a associar-se à identificação no sentido mais estrito.
(PEREZ, 2004, p. 53)
949
BRASIL ESCOLA. As origens do art nouveau. Disponível em: http://www.brasilescola.com/
historiag/art-nouveau.htm. Acesso em 29 abr. 2015.
950
Serifas são “aparas que algumas letras apresentam em suas formas.” (COLLARO, 1996)
1604
O nome da marca, escrito por extenso, lettering, é utilizado em letras maiúsculas, caixa
alta, o que confere estabilidade, em função da manutenção de sua forma (COLLARO, 1996).
Embora o uso das letras PH tenha sido substituído pela letra F, na língua portuguesa, a marca
não alterou sua grafia, mantendo, no próprio nome, a tradição da marca, corroborada pela
expressão “desde 1930”, o que confere credibilidade ao produto, em função de seu longo ciclo
de vida. A história da marca, dessa forma, se faz presente na referida inscrição, fazendo com
que “[...] Os clientes a aceitem como parte do jogo: pago mais pela tua marca e deixas-me fazer
parte da tua história.” (HEALEY, 2009, p. 30)
951
Disponível em: <http://jacotte.com/uploads/brands/phebo-logo.png>. Acesso: 22.fev.2015.
952
Disponível em: <https://cromorama.files.wordpress.com/2008/09/artnouveau.gif>. Acesso:
22.fev.2015.
953
Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/--wRbwqmV1eg/UL9Nq3yajuI/AAAAAAAAAKE/r-
e_APeasuQ/s1600/cartezes.jpg>. Acesso: 22.fev.2015.
1605
leitura, ou seja, da esquerda para a direita, na diagonal de cima para baixo. O corpo da mulher
não é ilustrado de forma completa, apenas o tronco aparece. No entanto, isso não se faz
necessário para que a imagem seja compreendida, como sugere a lei do fechamento da Gestalt.
A mesma coisa acontece com a palavra “Água” que aparece coberta pela cabeça da personagem.
Figura V – Cartaz do produto Água de Colônia - Phebo954
Considerações finais
A referência do movimento artístico art nouveau na constituição da identidade visual da
marca Phebo tem como objetivo conferir maior valor agregado aos produtos ofertados, bem
como posicionar a marca como sinônimo de tradição, qualidade, sofisticação e requinte, além de
estar presente no mercado brasileiro por várias décadas, o que confere uma credibilidade
transmitida de pais para filhos.
O nome da marca, inspirado na mitologia grega, explora conceitos relativos à beleza,
vigor e eterna juventude, uma promessa coerente em relação à função dos produtos Phebo. A
composição dos elementos verbais da marca, logotipo e inscrição “desde de 1930”, é utilizada
com a intenção de causar o mesmo efeito de sentido.
Após ter sido adquirida pela Granado Laboratórios e passar por um processo de
modernização, a Phebo não perdeu suas características essenciais, mantendo-se como uma
marca reconhecida e querida pelo público brasileiro.
REFERÊNCIAS
ACCIOLY, Anna (Sec.) et al. Marcas de valor no mercado brasileiro = Valuable trademarks in
Brazil. Rio de Janeiro: SENAC Rio, 2003.
BAILEY, Sarah; BAKER, Jonathan. Moda e visual merchandising. Trad. Márcia Longarço. São Paulo:
954
Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-
fNDFYLVnDe8/Uuay1N0Le8I/AAAAAAAAVck/uc62ujf wfcw/s1600/anuncios_antigos_2.png>.
Acesso: 22.fev.2015.
1606
.SANTAELLA, Lucia. Porque a comunicação e as artes estão convergindo? São Paulo: Paulus, 2005.
STEVENSON, NJ. Cronologia da moda: de Maria Antonieta a Alexander McQueen. Trad. Maria Luiza
X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
RESUMO
Com o objetivo de fomentar a leitura na cidade de Santa Maria, localizada no Estado Rio
Grande do Sul, estudantes do 8º semestre do curso de Publicidade e Propaganda do Centro
Universitário Franciscano tiveram a ideia de utilizar geladeiras antigas nos pontos de ônibus
como estrutura para abrigar e incentivar a troca de livros na cidade. Assim, no ano de 2014, a
cidade recebeu as Geladeirotecas do Trajeto Cultural Sebo Café que recebeu inicialmente mais
de 500 livros e atingiu o valor de R$ 51 mil reais em mídia espontânea. O presente artigo
aborda o planejamento e execução da ação. Os resultados da pesquisa aplicada via rede social
Facebook mostrou a aceitação da comunidade em relação ao incentivo à leitura e a
comprovação de que a maioria das pessoas se sentiram motivadas a ler depois que o projeto
ganhou visibilidade na cidade e região.
955
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2014. CRP/ECA/USP
956
Publicitário pelo Centro Universitário Franciscano. E-mail: heitorfleal@gmail.com
957
Publicitária pelo Centro Universitário Franciscano. E-mail: lizianyferreira@gmail.com
958
Professora orientadora do trabalho e docente do Curso de Publicidade e Propaganda do Centro
Universitário Franciscano. E-mail: angelica.pereira@unifra.br
1607
INTRODUÇÃO
1608
O Sebo Café possui cerca de 50 mil livros cadastrados, sendo assim, o maior sebo, em termos
de volume de livros, do interior do estado, o 4º maior do Rio Grande do Sul e 39º maior do
Brasil959 .
Segundo Carlos Burigo (2014), proprietário do Sebo Café, a época em que há maior
volume de vendas é no período letivo e em datas comemorativas. Em média são vendidos cerca
de 70 livros por dia na internet, e de 15 a 20 unidades na loja física. Os produtos mais vendidos
são livros de literatura estrangeira e as obras que são indicadas para o vestibular.
Na estrutura física existe um café, uma confraria de xadrez e serve de espaço para
lançamentos de livros, palestras, reunião de colecionadores de discos de vinil (em média 80
pessoas em Santa Maria), encontro de poesias e músicas (3 a 4 vezes por ano). O espaço do
Sebo Café é grande, porém a quantidade de produtos faz com que o local pareça pequeno.
A empresa tem o hábito de se fazer presente em eventos culturais da cidade, tais como a
Feira do Livro, que já é consagrada na cidade e realizada anualmente em Santa Maria – RS,
com duração de 16 dias, também em encontros de vendas de discos de vinil e promove torneios
de xadrez. O Sebo Café não investe em veículos de comunicação de massa, a divulgação é feita
quase que exclusivamente através do boca a boca. O Sebo também possui um perfil no
facebook960 onde divulga algumas fotos do acervo que possui.
Ainda segundo Burigo (2014), a maioria dos consumidores que utilizam a loja física são
estudantes da Universidade Federal de Santa Maria com idades entre 18 e 25 anos, pertencentes
à classe média. Outro público bastante presente é o de colecionadores de discos de vinil e
antiquários; jogadores de xadrez também costumar frequentar o local, pois ali ocorrem
campeonatos dessa modalidade.
Os consumidores têm o hábito de indicar a empresa para outras pessoas, movimentando
assim a propaganda boca a boca. Geralmente compram de dois a três produtos de uma vez e
compreendem que o preço é abaixo do que é encontrado em livrarias convencionais, ou seja,
não costumam pechinchar muito. O Sebo também possui público consumidor de outros locais
do Brasil que compram através da internet, em sua maioria do estado de São Paulo.
A partir do estudo inicial do ambiente interno do Sebo e do ambiente externo da cidade
de Santa Maria chegou-se ao diagnóstico de pontos que poderiam ser resolvidos através da ação
proposta. Conclui-se que na cidade havia pouco incentivo à leitura; não eram amplamente
difundidos, apesar de existirem programas de troca de livros e; o acesso de livros era difícil e
restrito a uma única biblioteca pública.
Assim chegou-se ao problema de comunicação: como incentivar a troca de livros
usados entre os estudantes da Universidade Federal de Santa Maria que utilizam as linhas de
transporte público para a Universidade?
O Público alvo eram estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, de 18 a 23
anos, de ambos os sexos, classe C, que utilizam a linha de transporte público para se locomover
até a UFSM.
O foco foi nesse nicho, que já possui o hábito de leitura, porém, não costumavam
utilizar a troca de livros para obter novos volumes. São estudantes das mais diversas áreas e
consomem não apenas livros específicos ao seu campo de estudo, como também literatura
diversa.
Para dar conta da execução da proposta e justificar o planejamento inicial fez-se
necessário o estudo teórico de alguns assuntos que serão dispostos a seguir.
Foi traçado um objetivo onde o incentivo à leitura seria o mote para trabalhar uma ação
de comunicação, que pretendia trazer maior visibilidade para a empresa e fomentar a cultura na
cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Cabe aqui abordar brevemente os sebos e a sua
importância cultural.
959
Entre os sebos que possuem cadastro no site www.estantevirtual.com
960
www.facebook.com/sebocafesantamaria
1609
SEBOS
Cavaglieri e Steindel (2009) apontam a importância cultural e social que os sebos
possuem no Brasil, onde o acesso a livros pode ser difícil e caro:
Os livros, devido ao alto preço cobrado pelas livrarias, ainda são
considerados objetos de luxo; apenas uma parte da população os pode
adquirir. As bibliotecas, ainda que responsáveis pelo fomento da leitura, não
alcançam totalmente seu papel. Neste caso, os sebos também se tornam uma
alternativa para a formação social e cultural das pessoas (CAVAGLIERI;
STEINDEL, 2009, p.58).
Além de ser de suma importância para a cultura brasileira, os sebos também se
configuram como um espaço de socialização, muitos consumidores acabam frequentando os
espaços para troca de conhecimento e busca de informações, criando, assim, vínculos com os
proprietários dos estabelecimentos e outros frequentadores dos locais.
Dando continuidade ao planejamento da ação, a ideia do projeto, inicialmente, era de
incentivar a troca de livros entre estudantes da Universidade Federal de Santa Maria através da
colocação de estantes em três paradas de ônibus – em frente ao Banco Sicredi, na Avenida Rio
Branco - final da linha no terminal da UFSM e ainda em frente ao ginásio Oreco no Bairro
Tancredo Neves.
Os pontos foram escolhidos pelo critério de maior circulação desse público-alvo que o
projeto almejava atingir: estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, mulheres com
idade entre 18 a 23 anos.
Com a primeira apresentação de Projeto Experimental I para a banca no final do 1º
semestre de 2014, no mês de junho, alguns pontos tiveram que ser mudados, tais como a
colocação, inicialmente, de apenas duas geladeiras e a ampliação do público para ambos os
sexos, já que o grupo percebeu que não teria como segmentar o target em função do projeto ser
aplicado em espaços públicos.
Após os ajustes os acadêmicos começaram a busca por patrocínio com empresas de mídia
externa para que pudessem fornecer o material da estante a ser colocada nas paradas. Nenhuma
empresa retornou de forma positiva aos alunos, que então perceberam que a ideia estava
inviável para a execução do prazo marcado.
O conceito da estante foi descartado e assim começaram-se as pesquisas por novas
estruturas que pudessem abrigar os livros, mas que também os protegessem das intempéries.
Como já havia exemplos em outras cidades – Blumenau/SC e Araraquara/SP – surgiu a
Geladeiroteca em Santa Maria.
Durante os meses de junho e julho os idealizados foram atrás da liberação do espaço com
a Prefeitura Municipal e a Pró-Reitoria de Infraestrutura da Universidade Federal de Santa
Maria. Dentro da Prefeitura, os alunos tiveram que passar pela Secretaria de Mobilidade Urbana,
Secretaria de Desenvolvimento Urbano e, por último, Secretaria de Cultura a qual ficou
responsável por acompanhar os passos para a realização do projeto.
Poucos dias antes da colocação das Geladeirotecas, os alunos ficaram sabendo que ainda
deveriam conseguir autorização junto ao Banco Sicredi, já que a calçada é responsabilidade da
empresa.
A partir deste cenário e das ações aqui planejadas, faz-se necessário discorrer sobre mídia
externa.
MÍDIA EXTERNA
Para Burtenshaw, Mahon e Barfoot (2010, p.28) a mídia alternativa se apresenta como
uma opção à publicidade tradicional, ela utiliza-se do ambiente e interage com ele, pode ser
enquadrada entre a publicidade e as jogadas promocionais. Essa nova forma criativa de
comunicar está sendo bastante utilizada ultimamente, visto que muitos consumidores já estão
saturados de anúncios mais clássicos.
Ainda para os autores, “a grande vantagem da mídia alternativa é sua capacidade de
surpreender o cliente. Ela apresenta a mensagem publicitária aos consumidores quando eles
menos esperam, tornando-a difícil de evitar e memorável” (BURTENSHAW; MAHON;
BARFOOT, 2010, p.33).
1610
Veronezzi, em seu capítulo sobre mídia exterior, define um tipo de mídia alternativa útil
para o desenvolvimento do trabalho: o mobiliário urbano.
Uma peça pode ser considerada mobiliário urbano se, não for nenhum tipo
de outdoor, painel ou busdoor e, se for peça instalada em local público como
ruas, calçadas, calçadões ou praças, e sua exploração publicitária depender
de concorrência pública do município (VERONEZZI, 2005, p.226).
Assim, a mídia “mobiliário urbano” foi o meio para desenvolver a ação de guerrilha, que
como definem Burtenshaw, Mahon e Barfoot “é um termo utilizado para descrever campanhas
que geram buzz961 ou provocam discussões e debate com o uso de métodos pouco tradicionais,
inesperados e chamativos” (2010, p.38).
Finalizando os passos de planejamento para que o projeto pudesse ser executado, chega-
se a preparação das estruturas e estratégias de comunicação utilizadas para gerar visibilidade.
Com o ofício de liberação do espaço em mãos, foram chamadas duas acadêmicas de
Publicidade e Propaganda, para grafitarem as Geladeirotecas. Com o projeto todo encaminhado,
os idealizadores enviaram releases para as mídias.
Além dos releases que foram enviados alguns dias antes do início do projeto, como forma
de comunicação com o público, os alunos criaram uma fanpage no Facebook962 um perfil no
Instagram963 , além da confecção de marca-páginas para auxiliar na leitura.
Por motivos de atraso na entrega dos marcadores de página, cartazes explicativos foram
fixados nas Geladeirotecas para que a ação pudesse ser melhor compreendida.
Como meio de interação com o público os idealizadores utilizaram-se, principalmente,
das mídias sociais digitais. Sobre esse campo cabe algumas reflexões teóricas abordadas a
seguir.
961
Termo em inglês utilizado para denominar o que popularmente é chamado de boca-a-boca,
quando os consumidores começam a falar da marca ou produto para outras pessoas, descrevendo
experiências de uso qualificando a marca, sem que essa, necessariamente, faça um esforço para que isso
ocorra.
962
https://www.facebook.com/TrajetoCultural
963
http://instagram.com/trajetocultural
1611
EXECUÇÃO DO PROJETO
As redes sociais também começaram a ser alimentadas neste mesmo dia. A fanpage do
Facebook foi criada com o propósito de manter relacionamento com o público que estivesse
apoiando a ideia e ao final do primeiro dia tinha mais de 200 curtidas. O perfil no Instagram foi
criado para que as pessoas pudessem marcar o Trajeto Cultural com fotos dos títulos dos livros
que adquiriram e para que os próprios idealizadores postassem fotos das novidades. Na mesma
semana os marca-páginas ficaram prontos, 2000 unidades confeccionadas e aos poucos
colocadas nas geladeiras.
Infelizmente menos de uma semana após a colocação das Geladeirotecas, no dia 16 de
agosto, uma delas (em frente à Catedral na Avenida Rio Branco) foi alvo de vandalismo, os
livros foram levados e a porta da geladeira foi arrancada e deixada na calçada. Como forma de
segurança os acadêmicos decidiram registrar junto a Delegacia Civil um Boletim de Ocorrência
relatando o fato.
Com o ocorrido, diversas pessoas procuraram os idealizadores oferecendo apoio com
livros e doação de outras geladeiras para que o projeto tivesse continuidade, assim foram
conseguidas mais quatro geladeiras.
Para engajar ainda mais o público, no dia 30 de agosto de 2014, foi feita a primeira
Oficina de Grafite e Stencil com dez pessoas, no Sebo Café, com as mesmas acadêmicas que
grafitaram as duas primeiras. Para a inscrição das pessoas que iriam participar, foi feito um
formulário contendo algumas informações básicas, como o nome, idade e a cor do spray que
iria levar. Esta foi a forma que os idealizadores encontraram para fazer com que o Senhor
Carlos Burigo não custeasse novamente todas as latas de spray que iriam ser utilizadas. E para
que as pessoas se sentissem, em parte, responsáveis pelas estruturas que posteriormente foram
para as ruas.
No dia 10 de julho de 2014 as novas Geladeirotecas foram instaladas em outros pontos,
convidando novas pessoas a conhecerem o Projeto. Estas, colocadas no Calçadão (próximo à
Confeitaria Copacabana), no Bairro Tancredo Neves (em frente ao ginásio Oreco), na parada da
Praça dos Bombeiros, na Rua Barão do Triunfo e a última na Silva Jardim, em frente ao
Conjunto III do Centro Universitário Franciscano.
Em três meses de projeto na rua, a participação na mídia, até então, foi de quatro
entrevistas para rádios, oito matérias na televisão, seis matérias em sites e oito matérias
impressas em jornais. Dentre os veículos que publicizaram o projeto estão Diário de Santa
Maria, Correio do Povo, Jornal da Unifra, A Razão, Site da Prefeitura de Santa Maria, G1,
1612
Portal Extra SM, RBS TV, SBT, TV Pampa, TV Unifra, TV Santa Maria, Rádio Guarathan,
Supernova Rádio Web, Web Rádio Unifra e Rádio Imembuí.
Dessa forma foi alcançado um valor de mais de 51 mil em mídia espontânea com o
Trajeto Cultural Sebo Café.
Para que o projeto pudesse ser executado, o proprietário do Sebo Café fez um
investimento de R$668,00 custeando fretes, sprays, marca-páginas e uma geladeira e segundo o
mesmo, teve um retorno de 60% de procuras a mais no local por pessoas que ainda não
conheciam o estabelecimento.
Até então o perfil do Instagram está com 186 seguidores, sendo que alguns deles
marcaram o Trajeto Cultural Sebo Café em algumas postagens, declarando que iam deixar os
livros nas ruas. A fanpage do Facebook está com 664 seguidores, recebeu 10 publicações na
linha do tempo e manteve contato com 12 seguidores por meio de mensagens, nas quais
elogiaram a iniciativa, deram sugestões, mostraram a tristeza com o vandalismo e quiseram doar
geladeira ou livros ao projeto.
Ainda foi realizada uma pesquisa com a intenção de qualificar o projeto por meio das
pessoas que participaram de qualquer forma, fosse com a colocação de livros ou apenas abrindo
a Geladeiroteca para conferir o que tinha dentro, e obtivemos 56 respostas positivas. Mais de 45
respostas foram de mulheres, a maioria das pessoas na faixa etária entre 20 e 24 anos. Algumas
dessas pessoas enfatizaram que não tinham o hábito da leitura e se sentiram motivados a ler.
Com relação a fanpage no Facebook ainda é possível analisar de maneira mais
minuciosa a interação através do site de rede social. O número de curtidas foi maior durante os
primeiros dias em que a página iniciou no Facebook e se manteve constante nos outros meses,
como é possível visualizar na Figura 2.
1613
Figura 4: Número de pessoas chegaram até a página através de matérias de sites ou postagem
de outras páginas.
Figura 7: Número de pessoas curte a fanpage divididos por sexo e faixa etária.
1614
Considerações finais
A partir do presente trabalho é possível chegar à conclusão de que projetos que visam o
fomento a cultura recebem incentivo da população, que percebe a carência de investimentos
nessa área e a importância dessas iniciativas, principalmente para quem tem pouco acesso aos
espaços disponíveis para, neste caso, buscar materiais de leitura.
Outro aprendizado que pode ser adquirido é de que uma ação feita em espaço público está
sujeita tanto a participação positiva de um grande número de pessoas quanto sujeita a atos de
vandalismo, como se mostraram verdades no Experimento.
Para a área da Publicidade e Propaganda, bem como da Comunicação em geral, é possível
tirar algumas lições que podem servir de exemplo e justificativa para ideias ousadas.
O Sebo Café enquanto cliente e empresa visa o que qualquer empresa quer: lucro.
Entretanto, os alunos e o empresário conseguiram enxergar uma oportunidade de utilizar meios
não-tradicionais de publicização, ao mesmo tempo que contribuíam para uma área que merecia
atenção. Qualquer outro cliente, provavelmente, não apostaria na ideia, afinal o Sebo estava
doando aquilo que naturalmente deveria estar vendendo.
O empresário teve coragem de apoiar a iniciativa e uma ideia que também era sua. A
recompensa veio através de números. Após tantas vezes que o Trajeto Cultural Sebo Café foi
assunto na mídia foi possível fazer um cálculo e chegar ao montante que a empresa deveria
desembolsar em Publicidade, caso pretendesse tantas visualizações.
Pode-se dizer que o Sebo ganhou toda essa visibilidade que custaria mais de 51 mil reais,
desembolsando apenas R$668,00 (valor total para desenvolvimento do Projeto). Isso sem contar
que as pessoas que antes nunca tinham ouvido valar no Sebo Café hoje conhecem o
estabelecimento através de uma ação de incentivo à leitura.
A ideia em si teve bastante responsabilidade pelos resultados e números obtidos, no
entanto, o local contribuiu muito para todo o sucesso do Projeto. A escolha de locais públicos e
de grande circulação de pessoas, para dar início ao projeto também foi algo determinante para
tanta repercussão. Algo que é colocado na rua para interação com o público sempre atinge um
número grande de pessoas, ainda que estas não sejam o target da campanha/ação.
Por último e talvez o mais importante elemento que teve grande influência na
midiatização do Trajeto Cultural Sebo Café foi exatamente a estrutura que abrigou os livros. As
Gealdeirotecas exerceram um papel de extrema importância em toda a ação, foram elas que
despertaram a curiosidade inicial das pessoas e que foram motivos de pauta onde um objeto
apareceu totalmente resignificado e retransformado para servir de suporte de incentivo à leitura.
Conclui-se então que, através de estudo é possível chegar a uma ideia ousada e que se a
execução for bem planejada e existir o suporte por parte da empresa, é possível chegar a ótimos
resultados e ao final o investimento se mostrará bem aplicado.
REFERÊNCIAS
BURIGO, Carlos. Carlos Burigo: entrevista [mar. 2014]. Entrevistadores: Heitor Leal e
Liziane Ferreira. Santa Maria, 2014. 1 arquivo .3ga (16min06seg).
BURTENSHAW, Ken; MAHON, Nik; BARFOOT, Caroline. Fundamentos de publicidade
criativa. Tradução: Francisco Araújo da Costa. Porto Alegre: Bookman, 2010.
CAVAGLIERI, Marcelo; STEINDEL, Gisela Eggert. Um Lugar para Observar, Conversar,
Ler, Comprar - Livros e Outros Suportes de Informação e Lazer: uma análise dos sebos da
cidade de Florianópolis. Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.19, n.3, p. 55-64, set./dez. 2009.
INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Retratos da Leitura no Brasil. 3ª ed. 2012. Disponível em:
<http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/2834_10.pdf>. Acesso em: 22/04/2013.
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. 2ª ed– Porto Alegre: Sulina, 2011.
1615
Elson SANTOS965
Danuta LEÃO966
Universidade da Amazônia, Ananindeua, PA.
RESUMO
Este trabalho apresenta a análise do cartaz do filme Capitão América (2014) por meio do
método de Martine Joly. A mesma apresenta uma proposta de investigação da imagem
publicitária, que traduz a percepção visual em linguagem verbal. Os tipos de mensagens usados
para esta pesquisa serão destacados nos elementos visuais que compõem o cartaz, referente ao
interesse nas áreas de Planejamento Gráfico e Direção de Arte. Abordado como em primeiro
momento, o histórico do cartaz e seu uso durante anos, explorar-se o universo desse meio de
divulgação, principalmente como pôster publicitário cinematográfico, que causa um impacto
para os espectadores.
Introdução
A partir da sua origem, o indivíduo procurou sempre comunicar-se com o seu próximo.
O seu desafio seria implementar um sistema coeso para ser identificado por todos. Segundo
Breton e Proulx (2002), a primeira linguagem conhecida foi à pictográfica:
Desenhos de figuras rudimentares – do latim pictus (pintado) e do grego
grafe (descrição). Escrita figurada usada pelo homem primitivo para fixar
nas paredes das cavernas seus principais feitos, cenas de caçadas, objetos
de uso pessoa, etc. Restringia a linguagem gráfica limitando-a ao registro
de fatos e coisas materiais com o máximo de realidade possível. (RIBEIRO,
2005, p. 37).
Ou seja, eram desenhos de rabiscos com traços rudes que expressavam uma
representação, ela teve um valor primordial na comunicação humana. Por necessidade de
nomear aquilo que representava através de desenho e símbolos, a fala foi uma invenção natural
do homem. Com a propagação da fala já conhecida e como modelo, o próximo passo dessa
evolução foi à escrita, enfim o alfabeto.
A linguagem exerce um papel fundamental na comunicação social. Por isso
ela é o ponto de partida, a mais antiga camada arqueológica, de todas as
técnicas de expressão geradas por ela, em particular a escrita e, algum tempo
depois, a sistematização das regras da expressão oral sob forma de retórica.
(BRETON; PROULX, 2002, p.17)
O homem quis contar sua história e espalhar informações e conhecimentos. Assim, a
interação entre a escrita – o texto – e o visual – a imagem – se tornaram informações inéditas
sobre o mundo que viviam.
Nessa evolução humana, surgiram invenções que mudaram e revolucionaram os meios
de comunicação já existentes. A prensa móvel foi um grande invento para a época no século XV,
desenvolveu um sistema de impressão completo e além do aperfeiçoamento da mesma,
desenvolvida por Johannes Gutenberg. Segundo Milton (2005), em 1936, Gutenberg fez os
964
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
965
Estudante de Graduação do 5º semestre do Curso de Publicidade e Propaganda da Unama – PA, e-
mail: elsonsnts1@gmail.com.
966
Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Publicidade e Propaganda da Unama – PA, e-mail:
danutaleaopp@gmail.com.
1616
primeiros ensaios, substituindo as pranchas por móveis de madeira. Essa tecnologia aperfeiçoou
os métodos manuscritos existente na Europa, que mais tarde se popularizou pelo mundo. A
partir desse aumento da comunicação impressa, observamos o crescimento e a modernização de
outros meios como: jornal, livros, revistas e cartazes. Estes trouxeram uma história, desde a
Revolução da Imprensa (ou antes) até hoje, cada um com a sua característica e serviram como
registros de muitas épocas. Será abordado um breve histórico do cartaz e sua função, nosso
objeto de estudo.
O cartaz é uma interação entre o visual e a escrita. Para Moles (1974), o cartaz nasce da
vontade de propagar o anúncio impresso: a imagem e o texto. Participou da evolução da
comunicação impressa desde a invenção das tecnologias para métodos gráficos. É uma peça
facilmente assimilável, que mostra um pouco da característica do tema que se quer “falar”. Foi
considerado uma peça importante e de valor histórico, pois foi usado como divulgação em
movimentos políticos e artísticos. Isso foi graças a técnica de impressão que teve progressos e
de transmitir para o receptor mais elementos visuais e estéticos em menos tempo. O cartaz
tornou-se mais penetrante e compreendido, além da sua facilidade de leitura, ele revela uma
influência cultural, dependendo de quem o cria. Através desses cartazes, é possível enxergar
características de uma época. Desde o início, o cartaz é apontado como coadjuvante pela sua
atração, seus primeiros exemplares tinham uma única função, chamar atenção para determinado
bens, serviços, informação, entre outros aspectos.
1. Cinema e publicidade
O cartaz está presente como peça de expressão para o surgimento de uma cultura de massa,
que ganha forma desde o final do século XIX. Segundo Moles (1974) o cartaz é um dos
“motores da sociedade de consumo” e “uma das formas modernas de arte nas cidades”.
Vivemos em uma sociedade repleta de imagens da mídia, marcada pelo fortalecimento do
cinema e da publicidade. A proliferação da imagem foi dada através das fotografias, dos
cartazes, dos filmes, do cinema e subsequente pelo televisor, que desenvolvem a nossa cultura
por essas tecnologias que nos cercam.
O cartaz ou pôster publicitário cinematográfico é uma peça fundamental para a publicidade
e o cinema, que no seu surgimento era usada para a divulgação de uma sessão e um filme
particular. Os pôsteres e os trailers cinematográficos foram as duas peças mais elaboradas da
estratégia publicitaria. No inicio do século XIX, os cartazes prevaleciam poses tradicionais dos
protagonistas e elementos tipográficos banais. Segundo Sant’anna (2008) o cartaz precisa seguir
algumas virtudes, pois assim torna-se mais eficiente. A sua capacidade de chamar atenção, no
caso do cinema, do espectador. O cartaz para o cinema serve como uma embalagem básica para
o filme desde o começo da sua evolução.
A publicidade é uma motivação para divulgar um produto ou serviço. E o cinema como
uma manifestação artística que hoje, organiza-se como um sistema industrial. O cinema e a
publicidade estão ligados desde que os meios de comunicação de massa obtiveram forças no
início do século XX, definido como cultura moderna.
O cartaz posteriormente analisado será do filme Capitão América – O soldado invernal
(2014), adaptado ao cinema para os fãs e espectadores de filmes baseados em HQs. Assim, será
feita uma breve apresentação como HQ foi criado pela Marvel Comics, os resumos das
adaptações do mesmo até o objeto final.
2. A Marvel e Capitão América
Fundada na década de 30 por Martin Goodman, com sede em Nova Iorque, a Marvel
Comics teve suas atividades especializadas em histórias em quadrinhos, conhecida como House
of Ideas (Casa das Ideias). Tem em seu acervo os populares super-heróis e vilões da história em
quadrinhos. Entre estes personagens, os mais conhecidos do mundo são Capitão América, X-
man, Quarteto Fantástico, O Incrível Hulk, Os Vingadores, O Motoqueiro Fantasma, Homem
Aranha, entre outros. Em meados a década de 90, a Marvel passou por uma crise financeira967
que teve o envolvimento dos direitos autorais de seus heróis de sua criação durante décadas,
967
Disponível em: http://www.baconfrito.com/o-universo-cinematografico-marvel.html
1617
espalhando elas por diversas produtoras, tudo isso para que não entrasse em falência. Por isso,
muitos personagens foram adaptados para o cinema, principalmente no final dos anos 90.
Foi a partir dessa época que perceberam a importância de produzir filmes de super-heróis,
em 2000 foi lançado X-Man, no qual a Marvel levantou as vendas de HQs pelo mundo, criando
uma cultura de filmes dos quadrinhos. Com o sucesso das produções cinematográficas a Marvel
transformou seu estúdio Marvel Films em uma produtora com distribuição da Paramount
Pictures. Em 2009, a empresa Walt Disney Company comprou a empresa, na qual possui mais
de 5.000 personagens no seu universo.
Para esta análise, foi escolhido um dos mais influentes heróis dos quadrinhos: Capitão
América968. Nos anos 40, pela primeira vez aos quadrinhos, surge o herói patriota assinado pela
Timely Comics 969 , concebido para enfrentar os nazistas nos HQs foi sucesso de vendas,
vendendo milhares de exemplares consideráveis para a época, visto na Figura 1.
Criado por Joe Simon e Jack Kirby, o personagem, é um jovem franzino que está disposto a
participar dos esforços estadunidenses para vencer a Segunda Guerra Mundial. Por ter seu
alistamento recusado, por causa sua saúde frágil, ele deixa claro que está disposto a ajudar o
país de qualquer forma. Assim, torna-se um experimento à criação de supersoldados, que
consiste em um soro especial e radiação de raios para o crescimento físico em geral. Capitão
América ou Steven Rogers, como é conhecido antes do experimento, é o único resultado do que
deveria ser o exercito de supersoldados, pois o responsável pelo projeto, Dr. Abraham Erskine,
é morto pelo agente duplo que participava do projeto e a serviço de Hitler.
Nos anos 50, desapareceu das bancas. E nos anos 60 voltou com participação na revista dos
Vingadores e mais tarde de HQs solo que dava continuidade da sua história. Passando os anos
suas adaptações foram feitas para a TV e ao cinema. Em 1944, virou um seriado, com Dick
Purcell e nos anos 60 transformado em desenho animado. Em 1979 houve dois telefilmes com
RedBrown: Capitão América e Capitão América II, que teve um história completamente
diferentes visto dos quadrinhos, podemos notar essa diferença na Figura 2. Em 1990, estrelou
um filme para o cinema, este mais próximo da HQ original do personagem.
Enfim, em Julho de 2011, é lançado pela Marvel, Capitão América – O primeiro vingador970 ,
baseado na mesma história da HQ original, com adaptação ao cinema estrelado por Chris Evans.
A história é ambientada durante a Segunda Guerra Mundial, o filme conta a história de Steve
Rogers, que quer se alistar-se ao exercito americano e transformar-se por experiências em
968
Disponível em: http://omelete.uol.com.br/quadrinhos/artigo/capitao-america-origem-nos-quadrinhos/
969
Editora que depois se tornou Marvel Comics.
970
Disponível em: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/07/o-g1-ja-viu-capitao-america-presta-
tributo-super-herois-moda-antiga.html
1618
laboratório no Capitão América. O herói une forças para declarar guerra à organização
HYDRA971, liberada por seu adversário Caveira Vermelha – um auxiliar de armas de Adolf
Hitler, que pretende usar um cubo cósmico como fonte de energia para dominar o mundo.
Em 2014, Capitão América: O Soldado Invernal972 foi lançado nos Estados Unidos e logo
após sua estreia mundial. Com seu gênero ação para as telas, os diretores Anthony e Joe Russo
mostram ação e aventura em mais de 130 minutos de filme. É a continuação do filme O
Primeiro Vingador, baseado no herói homônimo da Marvel Comics973 . Após dois anos de
acontecimentos em Nova York974. Steve Rogers continua, como soldado, se dedicando na
agência S.H.I.E.L.D, uma organização científica do Universo Marvel, com objetivo de realizar a
contraespionagem e manutenção da lei. Ele tenta se ajustar ao mundo moderno, depois de ser
descongelado após setenta décadas do seu tempo. O filme conta com vários personagens no
longa e mesmo assim, não perde o seu desenvolvimento, tornando-se seu mérito de conquista do
publico975. O herói conta com ajuda da Viúva Negra e do Falcão, além de enfrentar seu
poderoso e misterioso inimigo chamado Soldado Invernal.
3. Capitão América: analise semiótica através dos elementos visuais, proposto por
Martine Joly.
Com apoio nas mensagens plásticas, icônicas e linguísticas. O método utilizado para a
realização da analise semiótica, que Segundo Santaella (2002), esta é uma disciplina que faz
parte da filosofia de Pierce, uma quase ciência, na qual investiga os modos de como
aprendemos as coisas que estão em nossa mente. Esta pesquisa será proposta por Martine Joly
(1994) que apresenta a decodificação da mensagem publicitária. Para ela, os signos não
representam apenas informações diretas ou denotativas, mas um suporte de sentidos que
possibilitam outras interpretações dos elementos apresentados, ou seja, a imagem é constituída
por uma significação. Ela considera que seu objetivo é a descoberta da mensagem implícita, que
está nos anúncios publicitários e delimitando com maior precisão ao público-alvo do mesmo.
Trata-se especificamente da analise do objeto apresentado durante todo o artigo e como
base a teoria da imagem desenvolvida por Pierce e com método usado por Martine Joly. A
imagem se encaixa como uma representação do objeto, as fotografias ou as ilustrações de
pessoas são alguns exemplos.
O cartaz é uma forma de representação visual que permite a interpretar algo retomando as
qualidades de formas, cores e proporções que tornam possíveis o seu reconhecimento. O signo
plástico é um signo completo de expressão e conteúdos próprios, esse conteúdo é resultado da
significação do observador através das qualidades de forma, cor, textura e entre outros aspectos.
O cartaz do filme foi publicado para a estreia de seu filme no ano de 2014, como observamos na
Figura 3.
971
Organização Fictícia Internacional dedicada à conquista do mundo.
972
Disponível em: http://omelete.uol.com.br/filmes/criticas/capitao-america-2-o-soldado-
invernal/#!key=86301.
973
Informações no site Oficial: www.marvel.com/captainamerica.
974
Fato ocorrindo em: The Avengers – Os vingadores é um filme americano de 2012, produzido
pela Marvel Studios e distribuído pela Walt Disney Pictures.
975
Disponível em: http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2014/04/capitao-america-2-lidera-
bilheteria-pela-terceira-semana-nos-eua.html
1619
1620
diagramação clean e uma composição visual mais atraente, tornando a peça mais chamativa e
perto da proposta que os cartazes trazem hoje em dia como elementos de apoio à publicidade.
Houve uma preocupação em organizar informações e distribui-las de maneira
harmônica, uma hierarquização dos elementos é vista pelo destaque dos personagens. Essa
hierarquização pode ser percebida através das cores quentes e frias, na tipografia (suas famílias)
e seus tamanhos, na disposição dos elementos e nos principalmente em seus tamanhos. A
centralização do personagem principal é um apelo emocional na construção da mensagem.
3.2 A mensagem icônica
A composição deste cartaz é representada por ter analogia à representação física do
homem e dos objetos. Os personagens distribuídos e mais os objetos são representações
semelhantes às características físicas propostas na peça. O personagem principal apresenta uma
personalidade que tem forte representação para os norte-americanos pelo seu patriotismo,
encontrado vestígios no seu uniforme como as cores azul, vermelho e branco. As estrelas
presentes em seu uniforme e seu escudo, são outros elementos que levantam a possibilidade
dessa personalidade. Considerado mais ainda para aqueles que são fãs que conhecem a
verdadeira história desde as HQs e suas adaptações, como o primeiro filme do Capitão América,
pois sua criação foi para representação do povo americano durante a Segunda Guerra Civil, por
isso é correto sua classificação como signo icônico.
3.3 Mensagem Linguística
O objeto deste trabalho traz uma relação de interação com a imagem e texto, ou entre a
linguagem verbal, que ocorre para ter o complemento. O primeiro texto já citado em cima com
o nome do filme, complementa o raciocínio do cartaz, que apresenta uma continuação do filme
que no caso, é o segundo do personagem em filme solo pela representação do número
compondo o texto. O segundo texto é o complemento através do nome do principal inimigo do
Capitão América, que também complementa o que se quer dizer e do que vai ser e quem vai
enfrentar o mocinho.
Ocorre, uma perfeita sincronia entre a linguagem verbal e a imagem, o que facilita o
entendimento do público que vê o que se quer ser apresentado, tornando-se mais eficiente como
objetivo do pôster publicitário cinematográfico.
4. Considerações gerais
Os cartazes de filme baseados em quadrinhos estão em alta, eles estão cada vez mais
comuns nos cinemas. Já foram confirmadas várias produções cinematográficas até 2020976 , o
que resultou no estudo de um cartaz especificamente foi como são construídas pela interação de
diferentes ferramentas, usando os diferentes tipos de signos propostos nesta análise: plásticos,
icônicos e linguísticos. E que essas interpretações a partir desses signos estão associadas com o
saber cultural do espectador. Neste caso, não realizado por um espectador “comum”, levando
em conta que é importante detectar o contexto e o objetivo da mensagem visual. Permitindo,
desse modo, possibilidades de interpretações mais fundamentais e coletivas, para que isso se
torne variedades de interpretações feitas através dessas peças que nos cercam, já que a
publicidade está no nosso dia-a-dia.
Tornando assim, a mensagem plástica, evidentemente, importante no que se quer referir à
imagem, compreendendo que em uma imagem há várias possibilidades de interpretações e
significados. Compreendendo que as mensagens plásticas nas publicidades mostram vários
significados, diferentes das icônicas e linguísticas. Estas sustentam uma interpretação e servem
como retórica em sentido de argumentação.
Finalmente, lembrar que os conceitos teóricos estão ligados aos mercadológicos e que
teorias sustentam tão ideia. Que a imagem e as palavras andam juntas e que ambas precisam
uma da outra, e quando juntas há uma variedade de significados e interpretações.
REFERENCIAS
976
Disponível em: http://www.conversacult.com.br/2014/11/marvel-vs-dc-dos-quadrinhos-para-
o.html
1621
BRETON, Philippe. PROULX, Serge. Sociologia da Comunicação. São Paulo: Loyola, 2002.
CESAR, Newton. Direção de arte em propaganda. Brasilia: Senac, 2006.
JOLY, Martine. Introdução à Analise da Imagem. 4.ed. Campinas: Papirus, 1996.
MOLES, Abraham. O Cartaz. São Paulo. Perpectiva, 1974.
RIBEIRO, Milton. Planejamento Visual Gráfico. LGE, 2005.
SANT’ANNA, Armando; ROCHA, Ismael; GARCIA, Luiz Fernando Dabul. Propaganda: teoria,
técnica e prática. 8.ed. São Paulo: Thomson Learning, 2008.
SANTAELLA, Lucia. Semiótica Aplicada. São Paulo: Thomson, 2002
RESUMO
Este artigo é resultado parcial de uma pesquisa que tem a intenção de compreender as
semelhanças e as diferenças entre a identidade oriental e ocidental nas propagandas no Século
XXI. Para realização desse projeto, o problema proposto consiste em compreender quais são as
fortes semelhanças e as diferenças locais na comunicação com os jovens orientais e ocidentais,
visto que são culturas diferentes. E a hipótese central é de que a globalização padronizou as
mensagens e os estereótipos, mas as individualidades de cada cultura permanecem presentes na
publicidade.
Introdução
Devido a grandes transformações decorrentes de mudanças em todos os âmbitos do
conhecimento humano, que começa desde as inovações tecnológicas até as mudanças de
comportamento e pensamento, a humanidade começou a enfrentar uma indagação onde até
então nunca tinha se deparado, uma indagação sobre sua verdadeira identidade.
Como a identidade é consequência de uma interação entre o indivíduo e a sociedade, isso
é desmantelado na pós-modernidade, pois essa interação é influenciada por culturas externas e
por identidades que nos são oferecidas.
Como propõe o crítico cultural Koberna Mercer, “a identidade somente se torna uma
questão quando está em crise, quando algo que se supõe como fixo, coerente e estável é
deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza” (MERCER, 1990, p. 43) Antes de todas as
transformações que nos levaram é a essa crise de identidade atual, as pessoas eram relacionadas
à sua nacionalidade, pertenciam aquele lugar, onde suas origens e relações estavam baseadas na
proximidade.
Com o nascimento do Estado moderno, o indivíduo começa a deslocar-se e ter contato
com outras culturas, outros idiomas, outros tipos de pensamento, o que ocasiona em certo tipo
de difusão, uma comunicação global interligada, onde somos expostos a várias outras
identidades e podemos escolhê-los mesmo não pertencendo àquela nacionalidade. Desse modo
as identidades já não são “presas” à nacionalidade e se tornam desvinculadas de histórias,
lugares e tradições.
[...] o nascente Estado moderno fez o necessário para tornar esse dever
obrigatório a todas as pessoas que se encontravam no interior de sua
977
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
978
Aluna do Curso de Publicidade e Propaganda com ênfase em Marketing do 4º. Semestre:
natali.mendonca_moreira@hotmail.com
979
Trabalho orientado pela Profa Dra. Selma Peleias Felerico Garrini: 1142297@mackenzie.br;
sfelerico@gmail.com
1622
1623
Nesse movimento oriental, os artistas que são mais visados pela mídia no momento se
transformam em “ditadores” de moda, beleza e até comportamental, o público das novelas e
filmes, e os fãs de bandas, todos eles querem ser exatamente iguais aos seus ídolos (que se
portam como verdadeiros líderes de opinião), considerando até cirurgias plásticas, não tendo
limites.
Na indústria cultural asiática, muitos artistas são também cantores, dominando dois
mercados (Figura 2 e 3) e possuem muitas interligações com outros países vizinhos, portanto é
normal ver cantores coreanos fazendo versões da música em chinês e japonês e vice-versa.
Já no Brasil, isso não é comum, não há um “ditador” fixo a seguir, temos tendências de
moda apresentada em novelas, e até com famosos, mas não são impostas ao público, não tem
uma unidade. Nosso país é mais diversificado, temos nossa cor totalmente miscigenada, (de
brancos, mulatos, negros, até indígenas e mestiços), há também vários outros fatores que nos
diferenciam entre si e mesmo com a aparição de um novo cantor ou ator famoso, não há uma
necessidade de ser exatamente como ele, de imitá-lo, de parecer com ele.
Existem exceções como a moda do jogador Neymar, da cantora Anitta ou até do lutador
Anderson Silva onde muitos fãs os imitam com o mesmo corte de cabelo, com o mesmo estilo,
porém eles não são tão radicais quanto os orientais (Imagens 4 e 5).
Figura 24 Jogador brasileiro Neymar, garoto propaganda da LUPO. Figura 25 Ator e cantor Lee Joon,
garoto propaganda da EVISU
Recentemente, o Conar restringiu a exibição do comercial do preservativo Olla (Figura 7)
depois de muitas queixas do “apelo excessivo à sensualidade” que tem Anitta como estrela. Em
muitos países asiáticos, o sexo ainda é um tabu, principalmente na Coreia, há muitos comerciais
que vendem anticoncepcionais, mas nenhuma fala de camisinha como no Ocidente, porém já
existem propagandas impressas sobre preservativos (Figura 6). Na página oficial do
preservativo Durex foi relatado o primeiro comercial veiculado na televisão sobre prevenção no
dia 1 de julho de 2013, o filme não passa de uma adaptação do comercial “Always Be Prepared”
e “Sticky Tape” que já existem nas versões americana e malaia.
1624
Culturalmente, os asiáticos depois dos 20 anos (idade mínima legal para consumir
bebidas alcoólicas) tem um costume de consumir bebidas alcoólicas. Para eles, quanto mais
você beber sem ficar realmente bêbado, mais socialmente você é aceito e mais popular será. Do
mesmo jeito que no Japão as bebidas populares são o chá preto, o saquê (vinho de arroz), o
shochu (aguardente de arroz) e umeshu (licor de ameixa), na Coreia existem o soju (destilado de
arroz) e o mak-guli (vinho de arroz) que é muito popular entre os mais velhos.
Mesmo que no Brasil não seja muito diferente, sobre a popularidade através da bebida, no
oriente esse traço é mais forte e pode até determinar o grupo com que você anda.
No Brasil, as cervejas, em sua maioria, tem um apelo sexual muito forte e usa ícones
importantes como modelos, dançarinas, cantores (geralmente de música popular como samba,
axé e outros) e modelos que revelam uma parte apelativa mostrando algumas partes do corpo
insinuando até relações sexuais. Em comparação, mesmo que as propagandas asiáticas de
bebidas alcoólicas sejam mais sugestivas, geralmente são imagens de festas e baladas (Figuras 8
e 9).
1625
]
Figura 10 Atriz Han Ye Seul como garota propaganda da marca Venus Lingerie
De acordo com Zygmunt Bauman, a “identidade” e o “pertencimento” não são garantidos
para toda a vida, são negociáveis e revogáveis, e que as decisões que o indivíduo toma os
caminhos que percorre, a maneira como age são fatores cruciais tanto para o “pertencimento”
quanto para a “identidade”.
A identidade que nos foi criada veio de uma ilusão humana e não de uma experiência, por
isso a identidade em si virou um problema e alvo de estudo, pois é fruto da crise do
pertencimento e do esforço que se desencadeou para a recriação da realidade à semelhança da
ideia.
Esse esforço é visível na cultura oriental, homens e mulheres querem se parecer
ocidentais com olhos grandes, cabelos ondulados e loiros. Várias artistas e cantores passaram
por cirurgia plástica para se ajustarem ao modelo imposto sobre o povo oriental.
Francesco Morace (2009) afirmava que a vida em rede contribui para a explosão
espontânea da singularidade das personalidades criativas, por isso as identidades estão em
constante mudança, provenientes de diversas fontes. Muitos artistas e pessoas comuns se
recusam ter feito tais cirurgias, pois ao mesmo tempo em que é imposto o padrão ocidental, há
uma ânsia em ter uma beleza natural, uma beleza nacional asiática.
Esse padrão de beleza é refletido nas propagandas, nos programas cotidianos e na
reelaboração de produtos que entraram no mercado asiático, todos para suprir essa procura por
modelos ocidentais. As empresas, segundo Francesco Morace, elaboraram propostas de novos
movimentos culturais para cidadãos-artistas capazes de reelaborá-las, as empresas identificaram
as diferenças e observaram o dia-a-dia das pessoas comuns e que as experimentações de
estéticas e linguagens são totalmente diferentes da ocidental, uma das maiores razões é a
influencia do avanço da tecnologia presente no mercado asiático.
Figura 11 Atrizes, apresentadoras e cantoras o grupo feminino “After School”
“Beauty Bible” é um programa coreano que passa no canal KBS às terças-feiras onde
cantoras famosas da banda Afterschool (Figura 11) mostram dicas de maquiagem, de cuidado
com os poros e o clareamento da pele.
Além da tecnologia extremamente avançada aplicada a vários produtos cosméticos, há
também a fitoterapia (ou medicina herbal) chinesa, tratamento que se utiliza de ingredientes de
origem animal ou mineral na elaboração de suas fórmulas.
Do outro lado do mundo, no ocidente, há várias novas questões de identidades a serem
abordadas como o escândalo recente da cantora nigeriana/americana Dencia por aparecer com a
pele branca, resultado do creme “Whitenicious” capaz de clarear a pele negra (Figura 12). A
atitude da cantora foi alvo de milhares de ataques de movimentos de defesa dos negros e
levantou polêmica sobre a vontade de mudar a cor da própria pele.
Essas polêmicas não acontecem na Ásia, pois são países de população com a pele já clara,
havendo um consenso entre a população feminina no desejo de clarear a pele também.
1626
Figura 13 Antes e depois do jovem gaúcho Xiahn, que se tornou mais oriental depois de diversas
cirurgias plásticas
O interesse do jovem em fazer cirurgias plásticas surgiu quando Xiahn (Figura 13) fez um
intercâmbio na Universidade Dongseo, na Coreia do Sul. Na Coreia é bastante comum, mas no
movimento inverso (do oriental para o ocidental).
A Coréia do Sul é considerada "campeã" em quantidade de plásticas no mundo, uma das mais
famosas é o “double eyelid surgery” (Figura 13) para aumentar o tamanha da pálpebra resultando em
olhos maiores. A procura é tão intensa que hospitais dão documentos comprovando que os turistas se
submeteram a operações, para caso não sejam reconhecidos nas fotos de passaportes, na volta para
casa.
Figura 14 Modelo japonesa Yuko Okura que fez a cirurgia para o aumento dos olhos (Doubleyelid
surgery)
Há casos que ficaram famosos por suas polêmicas e difícil reconhecimento das pessoas
antes das cirurgias, como a coreana que foi abandonada pelo marido por ter acumulado manchas
1627
de sol no rosto e por ter traços simples demais. Ela participou de um Reality Show
especializado em cirurgias plásticas.
Os cirurgiões remodelaram seu rosto e as estruturas ósseas ficaram mais finas e
femininas (Figura 14).
Figura 15 Coreana faz cirurgias por ser abandonada pelo marido
Considerações finais
O acesso às informações foi expandido por todo o mundo. Antigamente a identidade era
algo estático por não ter contato com tais informações, quando começaram movimentos como
colonizações, povoamento, descobertas de novos países, novas culturas, muitos padrões foram
renovados e modificados com o contato das culturas entre si.
As semelhanças entre as propagandas são grandes, na história oriental há um forte
conflito entre as duas culturas, pois houve um choque da cultura tradicional com outra cultura
que dominava e domina muitas indústrias culturais até hoje. Os orientais ainda querem se
americanizar, apresentando modelos com características totalmente americanas, como olhos
grandes, rosto fino, cabelos loiros e ruivos entre outros. Para fazer parte da cultura que mais
influência atualmente. Porém muitos traços eles não conseguiram se adaptar como o apelo
sexual que no Ocidente, é comum e rotineiro, no Oriente já é um pouco mais restrito.
Enquanto a maioria dos orientais querem ser modelos ocidentais, não aceitando a sua
própria forma, sua cultura, alguns ocidentais querem se parecer orientais e participar, pertencer
a uma cultura totalmente diferente, são pensamentos divergentes que nos traduz algo: a
identidade é um movimento de mudança constante, não algo fixo. Essa situação pode mudar a
qualquer momento, nossos padrões podem mudar a qualquer instante, com uma nova moda,
uma nova celebridade, até um novo estilo de música pode mudar nossos pensamentos e padrões
estéticos. O desafio das indústrias é identificar e acompanhar toda demanda de diferenças que
os consumidores os impõem.
REFERÊNCIAS
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 2005.
______. O sistema dos objetos. 4ª edição. São Paulo: Perspectiva, 2006.
BAUMAN, Zygmunt. A Ética é possível num mundo de Consumidores?. São Paulo: Jorge Zahar
Editor, 2011.
CANEVACCI, Massimo. Antropologia da comunicação visual. Tradução de Alba Olmi. Rio de
Janeiro: DP&A, 2001.
CARVALHO, Nelly de. Publicidade: A linguagem da sedução. São Paulo: Ática, 2007.
HALL Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.
MORACE, Francesco. Consumo autoral. As gerações como empresas criativas. São Paulo: Estação das
Letras e Cores, 2009.
QUESSADA, Dominique. O poder da publicidade na sociedade consumida pelas marcas: Como a
Globalização impõe seus produtos, sonhos e ilusões. São Paulo: Futura, 2003.
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi/Zygmunt Bauman. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 2005.
1628
RESUMO
O objetivo deste trabalho é visualizar os signos apresentados por uma marca que,
hipoteticamente, consegue alçar seus produtos a um patamar onde ocupe o imaginário coletivo
de seu público-alvo. Como parte de um projeto maior, busca-se apresentar neste trabalho
considerações a respeito da identidade da marca e a relação com o consumidor por meio de
signos presentes na campanha publicitária “#UMBRINDEAVIDAREAL” da Smirnoff, para
posteriormente, por meio do estudo do processo criativo entender como se deu a inserção desses
signos na elaboração da campanha.
Este estudo tem como tema fundamental a publicidade voltada para a identidade
emocional da marca na sociedade do consumo. Os estudos sobre a sociedade do consumo
partem do princípio de que vivemos numa sociedade caracterizada como simbólica, de sinais e
significados que possibilitam a construção e fortalecimento das identidades individuais e sociais
por meio da aquisição de bens.
Baudrillard (2008, p.264) postula que no atual estágio da civilização, “pensa–se e fala–se
como sociedade de consumo”. Na medida em que consome, consome enquanto sociedade de
consumo. E a publicidade é o hino triunfal desta ideia. Para aquele autor;
A Lógica do consumo define-se como manipulação de signos. Encontram-se
ausentes os valores simbólicos de criação e a relação simbólica de
interioridade; funda-se toda a exterioridade. O objeto perde a finalidade
objetiva e a respectiva função, tornando-se o termo de uma combinatória
muito mais vasta de conjuntos de objetos, em que o seu valor é de relação.
(BAUDRILLARD, 2008, p.146).
Entende-se que, nessa sociedade do consumo, a publicidade tem o papel de dar
personalidade e humanizar os objetos utilizando-se de signos e códigos que geram uma
identificação com os espectadores-consumidores para que, assim, possam adentrar o círculo de
relações do objeto anunciado. As marcas estão sujeitas a essa sociedade em que a busca pela
atenção dos indivíduos é constante. É necessário que a publicidade relacionada a essas marcas
mantenha e renove os signos dessa sociedade baseada no consumo.
Neste sentido, um dos diferenciais relevantes da marca frente ao consumidor é sua
característica emocional. De acordo com as postulações de José Martins, em seu livo A
Natureza Emocional da Marca982, a marca é uma entidade com personalidade independente. E a
parte mais sensível em sua construção é a formação das características emocionais que vai
carregar. A emoção, segundo aquele autor, é vital para a saúde da marca, “e a parte mais
delicada em sua comunicação é descobrir qual entre as 360 emoções humanas potencializa o
valor da marca.” (MARTINS, 1999, p.18).
Para Martins, o trunfo das marcas bem sucedidas consiste em associar à essência do
produto a emoção que existe no imaginário coletivo. O resultado é que, quando vemos esse
espírito na comunicação da marca, somos imediatamente atingidos. Quase como a sensação de
980
Trabalho apresentado no VI Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e
Propaganda. De 27 a 29/05/2015. CRP/ECA/USP.
981
Graduada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, na Faculdade Pitágoras,
unidade Londrina. Estudante especial no mestrado em comunicação na Universidade Estadual de
Londrina (UEL). Email: ramos.patricia@hotmail.com.
982
MARTINS, José. A Natureza Emocional da Marca: Como escolher a imagem que fortalece a sua
marca. São Paulo, 1999.
1629
983
Publicitário fundador da Ogilvy & Mather (agência de publicidade). Ele é amplamente aclamado como
"o pai da propaganda". (http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Ogilvy).
984
Elementos simbólicos que resgatam estados de espírito comuns a todos nós, possibilitando um trabalho
de criação com objetivos definidos. (MARTINS, 1999, p.36)
1630
985
SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z: Como usar a propaganda para construir marcas e
empresas de sucesso. Rio de Janeiro: Campus, ABP, 1995.
1631
Figura 2 – Anúncios veiculados no segundo momento para revelar a marca por trás da
campanha. Fonte: http://wksaopaulo.com.br/pt/works/umbrindeavidareal Figura 3 –
Imagem do vídeo lançado em segundo momento da campanha Título: Esta geração não
se preocupa com nada. Fonte: http://plugcitarios.com/2014/08/misterio-de-
umbrindeavidareal-revelado/.
Infere-se que ela (a campanha) foi projetada para o público jovem, e fez uso de símbolos
e maneirismos característicos desse público para causar uma forte identificação com a marca.
Símbolos como “#” (hashtag), o uso da linguagem vernacular (principalmente gírias) em redes
sociais e grupos de amigos (tal como balada, entre outros), assim como o aproveitamento de
costumes desta população específica (a título de exemplo, o hábito de se usar o celular como
acessório indispensável, mesmo quando se está entre os amigos). A publicidade utilizada para
promover a marca Smirnoff, através de um dos seus produtos – a Vodka Smirnoff N21 –, busca
oferecer, através dos signos característicos do público jovem, muito além de um objeto que
esteja ligado a uma função ou necessidade definida, uma lógica social, ou do desejo que, para
Baudrillard (2008, p.89) “servem de campo móvel e inconsciente de significação”.
O diretor de criação da Diageo Brasil986 explica que, atualmente, estamos chegando em
um ponto em que as marcas são cada vez menos donas de seus discursos e precisam estar
inseridas nas discussões propostas pelo próprio público alvo: “A ideia da campanha de Smirnoff
foi exatamente esta: promover um debate sobre os jovens que gostam de mostrar a realidade e
assumir sua identidade em qualquer situação”. (ADNEWS, 2014).
Prosseguindo com a campanha, a marca Smirnoff instiga um novo posicionamento
celebrando quem assume o próprio estilo (Fig. 4), aborda a maneira como as pessoas seguram
uma garrafa na vida real, ou seja, sem tanto destaque ao rótulo (Fig. 5), como as pessoas
misturam suas bebidas fora dos bastidores dos comerciais (Fig. 6) e como colocam o gelo no
copo, ou seja, com as mãos (Fig. 7).
Maior empresa de bebidas do tipo Premium do mundo com uma linha excepcional de marcas de
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Figura 4 – Imagem do segundo vídeo da campanha. Figura 5 – Imagem do terceiro vídeo da campanha.
Título: Garrafas Fonte: http://wksaopaulo.com.br/pt/works/garrafa Título: Roupas. Fonte:
http://wksaopaulo.com.br/pt/works/roupas. Figura 6 – Imagem do quarto vídeo da campanha.. Título: Mexedor
Universal. Fonte: http://wksaopaulo.com.br/pt/works/mexedor-universal. Figura 7 – Imagem do quinto vídeo da
campanha.. Título: Gelo. Fonte: http://wksaopaulo.com.br/pt/works/gelo
ADNEWS, Redação. Marca por trás de #UMBRINDEAVIDAREAl é revelada. 2014. Disponível em:
<http://www.adnews.com.br/publicidade/marca-por-tras-de-umbrindeavidareal-e-revelada>. Acesso em:
22 set. 2014.
BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade do Consumo. Portugal: Edições 70, 2008.
MARTINS, José. A Natureza Emocional da Marca: Como escolher a imagem que fortalece a sua
marca. São Paulo, 1999.
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Learning, 2010.
SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z: como usar a propaganda para construir marcas e empresas de
sucesso. Rio de Janeiro: Campus, ABP, 1995.
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____. SMIRNOFF / Gelo. Disponível em: < http://wksaopaulo.com.br/pt/works/gelo >. Acesso em: 5
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