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BIG BROTHER – O GRANDE IRMÃO DO BRASIL. EU VEJO. EU GOSTO.

EU
PENSO?

Ver e ler a realidade não é uma tarefa simples e fácil. Como dizem, o essencial é
invisível aos olhos, ou, as aparências enganam. Sendo assim, questionamos: o que existe
por trás do programa Big Brother Brasil, veiculado pela Rede Globo de Televisão? Qual o
verdadeiro conteúdo deste programa? A que interesses atende? Como entender seus altos
índices de audiência?
Sim, fazer perguntas e refletir com base num método crítico de análise, talvez nos
possibilite trazer luzes para entender por que um programa, aparentemente tão inocente,
esconde um processo vertiginoso de dominação ideológica e econômica.
Como muitos, vi uma mensagem que circula pela internet e que faz uma crítica ao
Big Brother Brasil, mostrando que a rede Globo e as operadoras de telefone embolsam,
juntas, em cada paredão, cerca de R$ 8.700.000,00, sem contar o que a Globo ganha com os
comerciais. Para o autor da referida mensagem, intrigava o fato da ignorância de parte
considerável de nosso povo, que paga para um entretimento inútil e vazio de conteúdo,
votando em pessoas vazias de idéias e valores, quando este mesmo telespectador nem sabe
em quem votou nas últimas eleições de nosso país. Então, indago: será que o lucro da rede
Globo é o principal objetivo do Big Brother Brasil? Na minha avaliação, não é. Ela faz isto
com outros programas. É evidente que o programa tem a finalidade de produzir lucros e
fazer girar a mercadoria do sistema capitalista. Entendo, porém, que a principal função do
programa é uma espécie de pedagogia para educar ao ethos do sistema, garantindo, assim, o
adestramento social pela persuasão, deslocando o debate do público, do coletivo, do
político, para o plano do individual, do subjetivo, ou seja, da vida privada.
Vamos aos fatos e à análise crítica dos mesmos. Como funciona o Big Brother
Brasil? Pessoas comuns, simples, geralmente de corpo jovem e estético, convivem em uma
casa por um determinado período. Na casa, existem câmeras em todos os lugares, que
possibilitam ver tudo o que estas pessoas fazem, em tempo integral. Ao mesmo tempo, há
um “jogo”, um conjunto de regras que gera uma relação de mistura entre amizade (brother)
e competição, entre o interesse de certos grupos e o interesse individual, tudo com vistas a
um único objetivo: somente uma pessoa será ganhadora de um prêmio milionário, ao final
do programa. Para o “jogo” funcionar, em vista do objetivo do programa, pessoas devem
ser eliminadas – paredão – tanto pelos membros da casa, como pela participação dos
telespectadores mediante votações. Também há os patrocinadores do programa: os
comerciais e os telespectadores com suas votações.
Aparentemente, tudo parece ser interessante e inocente. Para o telespectador
menos avisado, o programa parece proporcionar um entretimento agradável, uma boa opção
de lazer. Afinal, é interessante ver o que os outros fazem, e depois poder participar pelas
votações, para interferir no jogo. O programa parece até ser uma espécie de laboratório que
permite observar o comportamento das pessoas e ver suas diferenças, suas subjetividades. É
(quase) a possibilidade de poder entrar no mais íntimo da pessoa, para ver o que pensa e
como age, e, assim entender o que nós somos.
Contudo, é aí que se encontra a astúcia metodológica do programa, com sua moral
coercitiva: é aí que mora o perigo. O Big Brother Brasil é um programa educativo que
atende a um interesse, a uma ideologia. Sua pedagogia consiste em (re)afirmar e legitimar o
ethos do mercado, exacerbando os valores individualistas, do culto ao corpo, ao prazer e ao
imediatismo, em detrimento dos valores do bem público, do coletivo, do político, da
solidariedade, da justiça, da cooperação... É a pedagogia do consumo, inclusive do
consumo de pessoas. Tudo é mercadoria. O programa (re)educa para a ideologia do (neo)
liberalismo, em cuja lógica apenas alguns podem prosperar. A igualdade leva à servidão. O
pressuposto é que a natureza nos fez diferentes, e que são estas diferenças individuais que
explicam as diferenças sociais. Ou seja, uns nasceram com mais talentos para pensar,
administrar, liderar e são estes os melhores. O mérito é tudo. Aos outros, à maioria, cabe
sujeitar-se. Na sociedade moderna, não há lugar para todos. Para haver justiça é necessário
centralizar e concentrar a riqueza, pois é o capital que gera o trabalho e não o contrário.
Portanto, vivemos um tempo em que não conseguimos visualizar quem é o opressor. O que
é o capital? Onde está? Não existem mais classes sociais. Existem interesses individuais,
apenas.
Não há mais ideologia ou utopia? Existe o momento presente e a satisfação
individual. Mas, não tendo lugar para todos – negação do direito ao trabalho, desemprego
estrutural – o meu opressor não é o capital, o sistema, que não vejo ou que é invisível. O
meu opressor é o outro. É o outro que disputa comigo o emprego, a vaga no vestibular, a
profissão, o meu empreendimento. Então, o que fazer? Eliminar o outro. Eis aqui o
pressuposto liberal de liberdade formulado pelo pensador Spencer, que expressa a ideologia
do Big Brother Brasil: “a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro”.
Trata-se da liberdade que fecha o homem em si mesmo, em seus interesses pessoais. Há
uma espécie de cerca que separa os homens, para que cada qual prospere por seus próprios
méritos, de forma ilimitada na posse da propriedade privada. Afirma Marx: “A aplicação
prática do direito humano da liberdade é o direito humano à propriedade privada. (...) O
direito humano à propriedade privada, portanto, é o direito de desfrutar de seu patrimônio e
dele dispor arbitrariamente, sem atender aos demais homens, independentemente da
sociedade, é o direito do interesse pessoal. A liberdade individual e esta aplicação sua
constituem o fundamento da sociedade burguesa. Sociedade que faz que todo o homem
encontre noutros homens não a realização de sua liberdade, mas, pelo contrário, a
limitação desta (...)”.
Eliminar o outro, eis a filosofia do Big Brother Brasil. À espera do dia do paredão!
Temos que acreditar que o inferno são os outros! Somos levados a pensar que é natural e
legítimo uns poucos concentrarem toda a riqueza. E que, para a maioria, resta o prazer, o
consumo. Como diz Erich Fromm, na sociedade capitalista eu sou gente na medida que
tenho (Ter) e que consumo. Se eu não tenho capital, pelo menos posso consumir, posso
sonhar com um prêmio. Fora disso não sou ninguém. Para que haja somente um ganhador é
preciso eliminar o outro. É o jogo da “vida”! É o jogo do mercado, digo eu, e de sua
ideologia liberal. Para tal finalidade, é necessário bisbilhotar e espiar a vida privada,
colhendo informações. Cria-se, assim, um ambiente que confunde a verdadeira amizade
com interesses pessoais de concorrência. Prolifera o jogo de fofocas, da conspiração, da
delação, da competição, do individualismo, do tirar vantagem em tudo.
Enquanto isso... os grandes temas nacionais, como a autonomia de nosso país, a
questão da nacionalização das empresas, a política do desenvolvimento econômico e social,
a busca do bem-estar social, o desafio da organização da classe trabalhadora na defesa de
seus direitos, a luta pela educação pública de qualidade – que é, no meu entender, a
socialização do conhecimento científico e filosófico, a politização da população, para que
seja cidadã, no sentido de controlar e dirigir seus governantes, enfim, tudo isso fica de lado.
O centro da vida é o eu, o narcisismo, em detrimento da res-pública, do coletivo, do
político. “O narcisismo significa a proeminência do tempo presente, da relação consigo
mesmo e com seu corpo, sem compromisso com valores sociais e morais. Significa a
despolitização em proporções nunca antes vistas, o fim da esperança revolucionária e da
contra-cultura, o fim do homo politicus e o advento do homo psicologicus e do homo
economicus” (Goergen).
Vivemos um tempo em que a vida privada de cada um está acima da vida pública.
É ilustrativo o caso do jornalista americano que escreveu um artigo sobre a vida privada do
atual presidente, afirmando que o mesmo era um beberrão de cachaça. Esta é a ideologia do
sistema neoliberal. Trata-se de despolitizar o debate do público e jogar todas as
responsabilidades para o indivíduo. Por exemplo, se você é desempregado ou ganha pouco,
é porque não se qualificou, portanto, a responsabilidade é somente sua. O sistema está
correto. Não há outro caminho (?).
É por isso, ou é por causa deste ethos do sistema, que vemos a maioria de nossas
crianças e jovens com valores assentados numa ética permissiva, hedonista, de consumo, de
culto ao prazer, ao corpo-objeto, ao imediato, da indiferença e do relativismo de tudo, em
detrimento dos valores do coletivo, do esforço, da disciplina, da austeridade. Tem
aprovação ética o que for rápido, eficiente e lucrativo. “A celebração do eu explica o
fascínio pelas celebridades, por atores e atrizes, por modelos e pop-stars. O banal, o frívolo,
o inútil são a água de banho das novas gerações, desde a mais tenra idade” (Goergen).
Configura-se, assim, a pedagogia do Big Brother Brasil: o adestramento social. O
indivíduo é levado a pensar e acreditar que é livre e autônomo, quando, na verdade, está
sendo dominado por um jogo de sedução do sistema, sem que disso tenha consciência. Ele
não pensa por si mesmo, mas é pensado pelos outros. Desta forma, o sistema domina pela
força do consenso, ou seja, da hegemonia. Não é necessário usar a força, a coerção, para
dominar. Domina-se através das idéias. “O sistema fortalece ao máximo o indivíduo,
insuflando-lhe autoconfiança e ilusão de autonomia para que ele não se aperceba da
fraqueza que o assalta quando se separa da coletividade”(Goergen).
Ao contrário da filosofia e da pedagogia do Big Brother Brasil, sabemos que o eu
se constitui a partir do outro. É na relação sadia com o outro que eu vou formar a minha
identidade. É na comunidade, na vida coletiva que o homem atinge a verdadeira felicidade.
É por esta razão que o filósofo grego Aristóteles dizia que a política era a principal ciência.
Somos animais políticos, síntese das relações sociais do passado e do presente. Negar o
ethos – tradições, valores, costumes, ou seja, nossas raízes históricas e culturais – é o
caminho para nossa autodestruição. Mas nem tudo está perdido. Há grupos, movimentos
sociais, organizações de pessoas que reagem e lutam. Sabe-se que um outro mundo é
possível, e assim temos em nosso meio outras práticas sociais alternativas, assentadas no
ethos do coletivo, da esfera pública, da solidariedade, da justiça social, da cooperação e do
respeito ao outro.

José Luiz Zanella. Doutor em Educação, professor de Filosofia da Educação no


Curso de Pedagogia da UNIOESTE – Campus de Franscico Beltrão.

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