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NÚMERO 109 MAIO 2019

A LÓGICA
DE SOMAR
Investimentos e negócios
de impacto vêm aliar
lucro e propósito
Sir Ronald Cohen
Como trazer o grande
capital para este jogo
Política pública
A articulação que deu origem
a uma estratégia nacional

Da base para a base


O empreendedorismo negro
e de periferia se multiplica
Alex Seibel
Alexandre Lafer Frankel
Alexandre Borges
Álvaro Coelho da Fonseca
Ana Helena Vicintin
Andrea Oliveira
Andrea Masagão Moufarrege
Antonio Ermírio de Moraes Neto
Bernardo dos Guimarães Bonjean
Carlos Alberto Mansur
Catarina Teixeira Pires Oliveira Dias
Cristiano Ribeiro do Valle
Dario Guarita Neto
Eduardo Faria de Carvalho

ICE.
Elisa Camargo de Arruda Botelho Condé
Gilberto Andrade Faria Junior

20 ANOS
Guilherme Affonso Ferreira Filho
Guilherme Affonso Ferreira
Isabela Pascoal Becker

DE INOVAÇÃO
José Pires Oliveira Dias Neto
José Ermírio de Moraes Neto

SOCIAL COM
José Roberto Ermirio de Moraes Filho
Karin Baumgart Srougi
Lara Lemann

CIDADANIA
Lucio de Castro Andrade Filho
Luiz Lara

EMPRESARIAL.
Luiz Masagão Ribeiro
Luiza Scripilliti
Luiza Maria de Camargo Nascimento
Marcella Monteiro de Barros T. Coelho
Marcelo de Moraes Vicintin Desde 1999, o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE)
Marcos Puglisi de Assumpção
reúne empresários e investidores em torno de inovações
Marcos Bessa Nisti
Ney Castro Alves
sociais que possam contribuir para a redução da pobreza
Paula Senna Lalli e a inclusão social no país. Hoje trabalhamos com a agenda
Paulo Antonio Skaf Filho
dos Investimentos e Negócios de Impacto, impulsionando
Pedro Wickbold
Renata de Camargo Nascimento um ecossistema de empreendedores, investidores, governos,
Renato Ribeiro do Valle
professores e aceleradores comprometidos com a busca por
Ricardo Politi
Ricardo Glass soluções para problemas sociais e ambientais.
Roberto Castro de Andrade
Roberto Pereira de Almeida Filho Pela inestimável contribuição de nossos associados, muito obrigado!
Rolf Roberto Baumgart
Rosana Camargo de Arruda Botelho
Rubens Ometto Silveira Mello
Tatiana Loureiro
Thiago Brunetti Figueiredo
Thiciana Zaher
Tito Enrique da Silva Neto
Victor Castello Branco
Vitor Galvani
Walter Gebara
EDITORIAL
A (r)evolução do impacto
O sistema econômico em que vivemos produziu extraordinários
benefícios para a humanidade, como riqueza e bens de consumo,
cultura, conhecimento, avanço tecnológico e um aumento formidável
JORNALISTAS FUNDADORAS
no bem-estar e na expectativa de vida. Mas ainda não foi capaz de lidar Amália Safatle e Flavia Pardini

com externalidades negativas, como desigualdade de oportunidades, EDITORA Amália Safatle

REPORTAGENS
injustiça social e prejuízos sem precedentes ao meio ambiente. Amália Safatle, Magali Cabral e Sérgio Adeodato

Para que o desenvolvimento se torne sustentável, um novo EDIÇÃO DE ARTE José Roosevelt Junior
www.mediacts.com

paradigma se faz necessário. Não será mais possível empreender e ILUSTRAÇÃO E INFOGRÁFIA José Roosevelt Junior

investir olhando apenas para risco e retorno. Será preciso adicionar EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA Flavia Sakai

nova camada – a do impacto –, ou seja, levar em conta também os REVISÃO Kátia Shimabukuro

GESTÃO DE PRODUÇÃO Jorge Novais


impactos sociais e ambientais de determinada atividade. E, com isso,
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
expandir os efeitos positivos enquanto se reduz os negativos. Adriana Barbosa e Marcos Vinicius de Souza

O mundo já dispõe de recursos para implementar essa agenda. AGRADECIMENTOS


À equipe do ICE

Basta comparar alguns números. Para atingir os Objetivos de CONSELHO EDITORIAL


Ana Carla Fonseca Reis, Aron Belinky,
Desenvolvimento Sustentável até 2030, são estimados US$ 67 trilhões. José Eli da Veiga, Leeward Wang,
Pedro Telles, Roberto S. Waack, Rodolfo Guttilla

Parece muito, mas bem menos que os US$ 300 trilhões que giram por JORNALISTA RESPONSÁVEL
Amália Safatle (MTb 22.790)
ano em ativos de especulação. A chave, portanto, está em direcionar
fluxos para investimentos e negócios de impacto social e ambiental. APOIOS E PARCERIAS

Mas como girar essa chave? Aumentar a percepção da sociedade Para informações sobre apoios
e parcerias em
Projetos Especiais,
sobre a relevância do tema é um primeiro passo. A comunicação e o contate Jorge Novais:
qslbrasil.jorge@gmail.com

engajamento de novos atores são fundamentais. Este Projeto Especial


da PÁGINA22, realizado em inestimável parceria com o Instituto de IMPRESSÃO: Eskenazi Indústria Gráfica

TIRAGEM DESTA EDIÇÃO: 1.000 exemplares


Cidadania Empresarial (ICE), é uma contribuição nesse sentido.
Os artigos e textos de caráter opinativo assinados
A edição traz debates de como avançar na agenda de impacto, por colaboradores expressam a visão de seus autores,
não representando, necessariamente,
o ponto de vista de Página22.
por exemplo, por meio de um macroambiente favorável para esses
www.pagina22.com.br
investimentos e negócios, além de ferramentas e oferta de produtos
que atraiam capitais de todo tamanho para os diversos públicos. Esse
movimento ganhará mais força – e impacto – à medida que todos
os atores se articulem, pois, diante de desafios sistêmicos dessa FSC

magnitude, precisaremos de todos juntos. A REVISTA Página22 FOI IMPRESSA EM PAPEL CERTIFICADO, PROVENIENTE DE
REFLORESTAMENTOS CERTIFICADOS PELO FSC, DE ACORDO COM RIGOROSOS

Boa leitura! PADRÕES SOCIAIS, AMBIENTAIS, ECONÔMICOS, E DE OUTRAS FONTES CONTROLADAS.

A REVISTA Página22 ADERIU À LICENÇA


CREATIVE COMMONS. ASSIM, É LIVRE
A REPRODUÇÃO DO CONTEÚDO – EXCETO
IMAGENS – DESDE QUE SEJAM CITADOS COMO FONTES A PUBLICAÇÃO E O AUTOR.

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PROJETO ESPECIAL

Novas narrativas para


novos modelos mentais

Há 20 anos, o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) trabalha para engajar o


empresariado em uma agenda de inovação social que contribua para a redução da
pobreza e a inclusão social no País. O aprendizado acumulado durante pouco mais de
uma década, com iniciativas de fortalecimento da gestão de Organizações da Sociedade
Civil (OSCs) e com projetos de desenvolvimento comunitário e local, levou-nos em
2012 à constatação de que os recursos para apoiar inovação no campo social – em geral
oriundos de filantropia, Investimento Social Privado e governo – eram insuficientes
para gerar o impacto pretendido.

Como resposta, comprometemo-nos com o vibrante ecossistema dos Investimentos


e Negócios de Impacto. Hoje, por meio de nossos programas e iniciativas, almejamos
contribuir para um ecossistema favorável à criação de modelos de negócios que incidam
sobre problemas sociais e ambientais. Também buscamos atrair novos fluxos e fontes
de capital (humano, técnico e financeiro) para fomentá-los, de forma complementar
aos que já estão disponíveis. Até aqui temos dialogado e colaborado diretamente com
empreendedores sociais, OSCs, empresas, incubadoras e aceleradoras, investidores e
pensadores dentro e fora da Academia.

Mudar a forma como resolvemos problemas sociais, transformando a forma de fazer


negócios, e atrair todos os tipos de investidores exige novos modelos mentais e requer a
participação de toda a sociedade. A parceria do ICE com a PÁGINA22 neste Projeto Especial
busca informar e ampliar o conhecimento sobre o campo dos Investimentos e Negócios
de Impacto. Precisamos multiplicar narrativas e atrair diferentes atores para escrever a
história de um tempo em que será obrigatório impacto socioambiental positivo e lucro
estarem juntos e integrados.

Associados e equipe, ICE

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Use o QR Code para acessar Página22
gratuitamente e ler esta e outras edições ÍNDICE

12
CAPA

Mais atores em campo


Os investimentos e negócios de impacto germinam no Brasil, representando um elo adicional na corrente pela
redução das desigualdades. Apesar de obstáculos e zonas cinzentas, o movimento cresce com a expectativa de
atrair novos fluxos de capital para financiar inovações que respondam a problemas socioambientais sistêmicos

6 Entrevista Mudar a lógica do sistema - pela qual empresas ignoram as consequências de orientar sua atuação em
torno do retorno e do risco - para outra, na qual investidores, negócios e governos considerem retorno, risco e impacto
para melhorar a vida das pessoas e o ambiente: esta é a Revolução de Impacto proposta por Sir Ronald Cohen

18 Mapeamento Atores diagnosticam gargalos e identificam alavancas para expandir esse ecossistema. Trabalhar
de uma forma mais estruturada é o grande desafio que se apresenta

24 Negócios de impacto O mundo corporativo e do capital, que antes evitava relacionar a busca pelo lucro a
causas sociais e ambientais, começa a transformar sua visão

30 Investimentos de impacto Como diversificar as fontes de financiamento? Novas modalidades se


expandem no ritmo das demandas por mudanças socioambientais

SEÇÕES CAPA: JOSÉ ROOSEVELT JR.

4 Projeto Especial 23 Artigo I 33 Artigo II 34 Mão na Massa

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ENTREVISTA SIR RONALD COHEN

ACERVO PESSOAL

6 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
Uma revolução
nada silenciosa
Mudar a lógica do sistema - pela qual empresas ignoram as consequências de orientar sua
atuação em torno do retorno e do risco - para outra, na qual investidores, negócios e gover-
nos considerem retorno, risco e impacto para melhorar a vida das pessoas e o ambiente:
esta é a Revolução de Impacto proposta pelo investidor e inovador social Sir Ronald Cohen.
A seu ver, trata-se de um novo modelo mental capaz de provocar uma transformação dis-
ruptiva no capitalismo, cada vez mais necessária, uma vez que os governos e a filantropia
não conseguem lidar sozinhos com a escala das desigualdades sociais e dos problemas
ambientais. “Os governos precisam trazer o capital privado para dentro do jogo, pois não
conseguem gerar mais impostos para lidar com os problemas, e nem possuem o tipo de
inovação e o empreendedorismo necessários para encontrar as soluções”, diz.
Nesta entrevista à Página22, Cohen traça uma linha histórica, mostrando como os
investidores passaram a considerar risco, retorno e, mais recentemente, impacto.
Hoje ele vê o movimento como irreversível. Já existem globalmente, de acordo com
pesquisa realizada pela Global Sustainable Investment Review em 2016, US$ 22 tri-
lhões direcionados para investimentos pautados por critérios ambientais, sociais e
de governança das empresas. Esse valor representa 25% de todos os recursos sob
gestão profissional. Um dos desafios do momento, em sua avaliação, é trazer grandes
investidores para esse campo. Nesse sentido, Cohen sugere que seguradoras e gesto-
res de fundos de pensão e de grandes fortunas criem pools, por meio dos quais possam
investir em fundos menores, focados em impacto socioambiental.
Para ele, o ponto de virada neste campo ocorrerá quando houver um modelo de men-
suração de impacto robusto e reconhecido pelo mercado, como os modelos de men-
suração de risco. Para fazer frente a esse desafio, Cohen e sua equipe, em colaboração
com a Universidade de Harvard e especialistas de todo mundo, estão trabalhando para
chegar a 2020 com uma proposta de modelo de mensuração que defina princípios
gerais para a contabilidade de impacto.

Sir Ronald Cohen preside o Global Steering Group for Impact Investment (GSG) e The Portland Trust. É cofundador do Bridges Fund Management e do Big
Society Capital. Em sua obra On Impact – A guide for Impact Revolution, apresenta-se como filantropo, venture capitalist, investidor em private equity e
inovador social. Há duas décadas, reúne esforços para que o capital privado promova benefícios sociais e ambientais. Nascido no Egito, deixou a terra
natal como refugiado aos 11 anos, passando a residir no Reino Unido.

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SIR RONALD COHEN

Otimizar a equação risco-retorno-impacto permite


ganhos maiores do que maximizar só o lucro

O subtítulo do livro de sua autoria é Um Guia O campo de investimento de impacto tem


para a Revolução do Impacto. O que torna crescido mais rapidamente ou mais devagar
o investimento de impacto revolucionário? do que o esperado?
Qual é o propósito dessa revolução? Acredito que o campo tenha crescido mais
O propósito dessa revolução é migrar de um rapidamente em termos do número de países,
sistema no qual as empresas ignoram as conse- se olharmos, por exemplo, para os Social Impact
quências de orientar sua atuação em torno do re- Bonds [contratos de pagamento por resultados,
torno e do risco para outro, no qual os negócios geralmente firmados entre governo e investidores
conseguem ajudar os governos a melhorar a vida privados]. Não houve, talvez, um crescimento tão
das pessoas e o planeta. relevante no volume de recursos de fundos de in-
Do ponto de vista histórico, tivemos, primeira- vestimentos focados em impacto social.
mente, um capitalismo no qual os governos tenta- No entanto, agora vejo vários produtos novos,
vam controlar o comércio externo. Depois, vivemos como o fundo Rise da gestora americana TPG, com
um período laissez-faire, em que os governos saíram ativos de US$ 5 bilhões; o fundo Bain, já com US$
de cena. Em seguida, veio a época do keynesianismo, 400 milhões e levantando outro fundo maior; o
com o gerenciamento das economias, em que se bus- europeu Partners Group levantando US$ 1,2 bilhão
cou manejar as políticas monetárias para regular o para um fundo de private equity. Há, portanto, uma
nível de desemprego. Depois passamos para o neoli- expansão na oferta de produtos.
beralismo, quando as pessoas disseram novamente
que “o propósito dos negócios é fazer dinheiro”. Quais são os gatilhos para que haja um ponto
Com o modelo risco-retorno-impacto, temos de virada?
uma mudança histórica, na direção do que chama- O ponto de virada acontecerá quando o impacto
mos de mercados gerenciados. Muitos países não for integrado à contabilidade financeira, quando os
querem desistir do mercado, e sim tentar utilizá-lo investidores tiverem a possibilidade de avaliar não
a seu favor, o que representa uma grande mudança apenas a lucratividade das empresas, mas também
no modelo mental. seu impacto, de forma simples. Isso começará a se
acelerar nos próximos 10 anos e, até 2025, vere-
Que dados o senhor tem para mostrar mos um número considerável de empresas pres-
o desenvolvimento desse mercado e tando contas dessa maneira. Essa é uma das áreas
para acreditar que essa é uma tendência que o GSG [Global Steering Group for Impact Invest-
irreversível? ment] está catalisando hoje, por meio de um proje-
As tendências são claras. Vemos as pessoas to especial incubado na Harvard Business School. O
mais novas consumindo produtos de empresas objetivo é elaborar um modelo de mensuração de
com as quais compartilham valores, e deixando impacto – ao qual foi dado o nome de impact weight-
para trás as que possuem valores com os quais não ed accounts – que possa ser amplamente adotado
concordam. Temos empresas surgindo com base pelas empresas e divulgado para a sociedade, tal
nos novos desejos dos consumidores. Vemos a Tes- qual, hoje, as empresas divulgam seus resultados
la vendendo carros para consumidores que, além econômico-financeiros.
de possuir um veículo, querem evitar a poluição do
meio ambiente. Um outro exemplo: hoje, no mundo, Qual é o resultado esperado desse projeto?
1 a cada 4 dólares investidos em ativos financeiros Esperamos reunir mais de 150 iniciativas para
considera critérios ambientais, sociais e de gover- mensurar impacto e calcular seu valor, e quere-
nança [ESG, na sigla em inglês] como fatores de de- mos entregar, dentro dos próximos 12 meses,
cisão. Isso representa US$ 22 trilhões. um framework para definir os princípios gerais
de impacto.

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O campo enfrenta um desafio de gestão, querem apenas fazer investimentos altos.
comunicação? Portanto, precisamos de um novo modelo mental
Vivenciei desafios de comunicação na indústria em que gestores de fundos de pensão, gestores de
de private equity e venture capital. As pessoas ainda fundos de patrimônio e de seguradoras criem pools
têm dificuldade para entender que o investimento de de inovação. Dentro dessas alocações, poderiam in-
impacto envolve a intenção de criar impacto e de me- vestir em fundos menores – que estão fazendo coi-
di-lo. Ainda associam impacto com filantropia, acre- sas novas e relevantes e prometem bons retornos.
ditam que significa perder dinheiro. Entendo que, ao Essa é uma questão importante para o movi-
otimizar a equação risco-retorno-impacto, é pos- mento de impacto hoje. Passei essa mensagem
sível obter lucros maiores do que quando se busca recentemente em uma conferência sobre investi-
apenas maximizar o lucro. Há uma melhoria no perfil mentos de fundos de pensão, que reuniu alguns dos
de risco da empresa em relação à regulamentação, maiores fundos dos Estados Unidos, da Austrália
e abre-se o caminho para oportunidades de inves- e do leste da Ásia, onde houve uma sessão sobre
timento para atender à enorme demanda latente a investimento de impacto. Enquanto enxergarem o
preços menores. A compreensão de que o investi- impacto dentro do seu portfólio total, com investi-
mento de impacto não é sinônimo de retornos mais mento mínimo de US$ 100 milhões por transação,
baixos se dissipará à medida que pudermos compro- nunca conseguirão apoiar esses novos fundos.
vá-la por meio de casos reais, como o da Tesla.
Como o senhor vê o movimento da venture
Se de um lado existe o desafio de mobilizar philanthropy e qual é a conexão com o
capital comprometido com impacto, de outro investimento de impacto?
é preciso garantir bons negócios – e com Vejo os dois como aliados próximos, ambos
capacidade de escala – para absorverem guiados pelo desejo de criar impacto significativo e
esses recursos. O senhor poderia falar sobre mensurável. A venture philanthropy, ao oferecer re-
os desafios do fluxo de oportunidades de cursos retornáveis e não retornáveis [doações], con-
investimento? tribui para criar fluxos de capital de dívida, permitindo
Acredito que a oferta de capital cria sua própria a participação de diferentes classes de investidores,
demanda, pois o número de oportunidades de inves- o que não seria possível sem esses recursos.
timento depende do grau de facilidade para levantar Portanto, a filantropia é muito importante no
recursos. Quando começamos a ver um aumento desenvolvimento de fluxos de capital para impac-
nos volumes disponíveis para investimento em fun- to. Isso vale no lado do investimento, em termos do
dos de private equity e venture capital, tivemos um chamado blended finance, mas também na criação
crescimento do número de negócios em busca de fi- de fundos de pagamento por resultados, juntando-
nanciamento. Pode-se dizer, portanto, que estamos -se com organizações de assistência ou outros fi-
no caminho e, se conseguirmos obter alocações de lantropos. Isso atrai fluxos de capital e traz, para
grandes investidores institucionais – como fundos as organizações prestadoras de serviços, transpa-
de pensão – nos fundos de impacto, isso vai impul- rência, accountability, recursos não carimbados e
sionar as oportunidades de negócios a serem inves- de longo prazo, além de foco nas metas. Dessa ma-
tidos. Para melhorar o fluxo, precisamos aumentar neira, quando os filantropos se comprometem com
o volume de dinheiro levantado. os resultados, criamos uma dinâmica poderosa que
atrai o dinheiro dos investidores e traz os fatores
Um desafio que temos visto no Brasil é que há dispo- citados para os prestadores de serviço, permitindo
nibilidade de capital para empresas mais maduras, que inovem e escalem suas atividades.
enquanto muitos empreendedores enfrentam difi-
culdade para acessar capital em fases anteriores. Para alguns países, como o Brasil, tem sido
Como essa demanda poderia ser mais bem atendida? difícil criar instrumentos de pagamento por
Veremos um número crescente de fundos, como resultados [Social Impact Bonds]. O que o
o Bridges, do Reino Unido, e o Aavishkaar, da Índia, senhor aconselharia?
que oferecem venture capital para os empreende- No caso do Brasil, as fundações dos grandes
dores de impacto. Atualmente, a dificuldade está bancos têm um papel importante nesse assunto.
relacionada a instituições como os fundos de pen- Na minha última visita ao Brasil, em 2015, eu me re-
são que, por terem grande volume de recursos sob uni com representantes do Banco Itaú, e conversei

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SIR RONALD COHEN

Diante de seus desafios socioambientais, o Brasil é


muito importante para mostrar que investimento
de impacto pode operar em grande escala

com eles sobre o potencial de se envolverem, por çar muito mais rápido. Espero que o governo bra-
meio de sua fundação, com o pagamento por resul- sileiro consiga enxergar o investimento de impacto
tados na área de educação. Estamos estruturando como recursos que vêm do mercado de capitais pri-
fundos grandes em lugares como a África, a Índia vados, e não do orçamento público, mas que podem
e o Oriente Médio, onde as fundações, e não os go- ajudar a atingir seus objetivos sociais e ambientais.
vernos, pagarão os investidores pelos resultados.
As fundações dos bancos são um ativo estratégico Quais são suas impressões sobre o avanço
muito grande para o Brasil, que poucos países pos- desse campo no Brasil? O país poderia dar
suem [a vinda ao Brasil deveu-se à conexão entre o dicas ou exemplos para outras nações?
GSG e a Aliança pelos Investimentos de Impacto, que O Brasil, diante de seu tamanho e diversidade
é o National Advisory Board do grupo no País]. dos desafios socioambientais que precisa atacar,
é um lugar muito importante para demonstrar que
Quais países têm os resultados melhores e investimento de impacto pode operar em grande
mais inspiradores em criar um ecossistema escala. Países como Brasil e Índia têm um papel es-
para investimento de impacto? pecial no mundo de impacto. O fato de se ter funda-
Hoje, diria que Reino Unido, Estados Unidos e, ções ligadas a grandes bancos é uma grande vanta-
de certa maneira, Austrália, Japão, Coreia do Sul gem, pois os bancos estão acostumados a utilizar
e França estão trabalhando em políticas públicas as forças do mercado para realizar coisas e a de-
para fortalecer o ecossistema. Para mim, o Reino senvolver produtos financeiros inovadores para
Unido está mais desenvolvido, pois foi o país pionei- financiar novas atividades. Contar com a participa-
ro, onde os primeiros SIBs foram desenvolvidos, ção dos bancos seria um sinal importante para o
onde se criou a Big Society Capital como grande in- resto do mundo. Espero que os esforços que temos
vestidor, e onde o governo publicou na internet os feito no Brasil permitam que o País desempenhe um
custos de intervenções sociais. papel de liderança em implementar essas aborda-
Criar grandes fundos de investimento que po- gens em grande escala com apoio dos filantropos.
dem ser protagonistas no desenvolvimento dos
investimentos de impacto, e lançar uma entidade O que podemos fazer para engajar melhor as
responsável por desenvolver o campo dentro do go- grandes empresas, e quais as alternativas
verno nacional, provavelmente são as políticas mais para esses atores se engajarem?
simples que os governos estão considerando fazer. O primeiro passo é encorajar as grandes em-
presas a prestar contas sobre seu impacto e ten-
O Brasil lançou no final de 2017 uma estratégia tar mensurá-lo. Nem todas vão querer, obviamen-
nacional para investimento de impacto, a te. Algumas estão gerando impactos negativos e
Enimpacto [mais em artigo à pág. 23]. O não desejam mostrar isso. Hoje elas conseguem,
governo é necessariamente um ator-chave em geral, comunicar seus impactos positivos,
para esse processo? Que papel deve exercer? mas sem medir os impactos negativos que tam-
O governo é um ator-chave. Não queremos de- bém geram. Não espero que sejam atores muito
pender do governo para fazer tudo, mas o queremos ativos no campo enquanto não tivermos a mensu-
como um parceiro. Com o aval do governo e com po- ração transparente e confiável de impacto refle-
líticas para apoiar nossos esforços, podemos avan- tida na contabilidade financeira.

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As empresas em geral conseguem comunicar
seus impactos positivos, mas sem medir
os impactos negativos que também geram

Hoje, mais de 70% das empresas fazem al- Como podemos garantir uma relação positiva
guma referência em seus relatórios anuais aos entre os impactos sociais e ambientais e impedir
impactos que criam, e encorajá-las a detalhar que um aconteça a detrimento do outro?
essas informações provavelmente seja a melhor Temos de mensurar sempre o saldo líquido,
coisa a ser feita no momento. Não acredito que as e não apenas o impacto positivo criado. O social
empresas mudarão seus produtos ou processos e o ambiental geralmente caminham juntos. Por
ambientais até que sintam a pressão dos clientes exemplo, no tema da migração, as questões am-
ou dos acionistas, Sendo bem-sucedidas hoje, bientais podem levar ao deslocamento da popula-
não terão motivo para mudar o status quo do qual ção, o que pode causar problemas com a absorção
se beneficiam. dos imigrantes. Se trabalharmos no ambiental e
Há algumas empresas no Brasil, como a Natu- também na absorção efetiva da imigração, ambos
ra, que aceitaram a filosofia e têm trabalhado para vão na mesma direção. Quando os dois se encon-
implementá-la em seu modelo de negócios. Mas, tram em conflito, como acontece às vezes, preci-
de modo geral, sensibilizar as empresas sobre o samos de uma contabilidade apropriada, para que
impacto, e ajudá-las a mensurá-lo e a prestar con- possamos avaliar se o saldo líquido do impacto é
tas sobre seu impacto seria o caminho mais efetivo. grande suficiente para aceitarmos o impacto nega-
Na França, empresas estão criando iniciativas pró- tivo. Portanto, a contabilidade do impacto que te-
prias no campo de impacto, como a Danone, com nho mencionado será uma ferramenta importante
a criação de um fundo de 500 milhões de euros para a tomada de decisões consistentes nos negó-
para combater a degradação do solo. A Unilever, cios e nos investimentos.
no Reino Unido, tem se esforçado para estimular a
análise de impacto. Se conseguirmos com que mais Podemos dizer que a Revolução do Impacto
empresas desempenhem esses papéis ou invistam causará uma ruptura no capitalismo?
em fundos de pagamento por resultados, por meio Acredito que a Revolução do Impacto já este-
das suas áreas de responsabilidade socioambien- ja causando uma ruptura no capitalismo, e que vá
tal, isso seria ótimo. Mas os atores do ecossistema acontecer mais por necessidade do que por esco-
de impacto no Brasil sabem melhor do que eu se lha. Vai acontecer porque os governos não conse-
esse tipo de atuação seria viável no País. guem mais lidar com a escala e complexidade das
desigualdades sociais e dos problemas ambientais.
Qual o potencial da tecnologia para trazer Eles precisam trazer o capital privado para dentro
transformações no campo? do jogo, pois não conseguem gerar mais impostos
Já vemos muitos exemplos disso: empreende- para lidar com os problemas, e nem possuem o tipo
dores – alguns deles na América Latina – com so- de inovação e o empreendedorismo necessários
luções de base tecnológica para problemas da pro- para encontrar as soluções. Portanto, acredito que
dução agrícola de pequenos produtores; áreas da o mundo chegará à conclusão de que isso é um novo
saúde com serviços de diagnóstico remoto; tecno- modelo mental, uma nova fase do capitalismo. Não
logias financeiras reduzindo o custo de fazer trans- queremos abrir mão do poder dos mercados e do ca-
ferências para os países mais pobres. A tecnologia pital mas, ao mesmo tempo, não podemos continuar
tornou-se central no desenvolvimento de qualquer permitindo que as empresas gerem lucros sem se
modelo de negócio. preocupar com as consequências.

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REPORTAGEM CAPA

SHANE ROUNCE/UNSPLASH
Lucro e propósito,
juntos em campo
Os negócios e investimentos de impacto
germinam no Brasil, representando mais um elo
na corrente pela redução das desigualdades
POR MAGALI CABRAL I N F O G R Á F I C O S J O S É R O O S E V E LT J U N I O R

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A
desigualdade social e de renda no tir. Mesmo fora de São Paulo, muitos já devem
Brasil tem alcançado patamares ter ouvido falar no Jardim Ângela, um bairro de
capazes de enrubescer até o me- periferia na Zona Sul da cidade que, nos anos
nos empático dos cidadãos. A nona 1990, foi apontado pelas Nações Unidas como
maior economia do mundo (em 2016 o local mais violento do mundo para se viver.
era a sétima) é também uma das mais desi- De lá para cá, muitas intervenções ocorreram
guais. Em seu último relatório, a organização para mudar esse status quo, tanto de fora para
não governamental Oxfam informa que a roda dentro (políticas públicas e ações sociais),
da redução da desigualdade no Brasil parou como de dentro para fora. Na última década,
de girar: “A distribuição de renda estagnou ações criativas locais de âmbito cultural, so-
e a pobreza voltou com força” . A trajetória cial e econômico passaram a aflorar, não só no
que nos trouxe ao atual estágio de injusti- Jardim Ângela, mas nas periferias das capitais
ça social está devidamente registrada, mas o brasileiras em geral. Nesse contexto, em 1999,
caminho que vai tirar o País dessa enrascada nasceu A Banca (abanca.org.br), hoje um ne-
ainda é difuso e mal pavimentado. A boa notí- gócio social de impacto, cofundado pelo em-
cia é que se ramifica pelo mundo uma inicia- preendedor Marcelo Costa, conhecido na que-
tiva nascida no Reino Unido, capaz de ajudar brada como DJ Bola.
a construir uma realidade mais dignifican- A Banca começou suas atividades na ga-
te por aqui: são os chamados Investimentos ragem da casa dos pais do DJ como um mo-
e Negócios de Impacto Social e Ambiental. vimento juvenil de promoção da cultura hip
Trata-se de um campo formado por mo- hop. Depois de algumas reinvenções, passou
delos de negócios de qualquer formato jurí- por várias aceleradoras de negócios de im-
dico, com missão e soluções voltadas para a pacto até se tornar uma produtora cultural
resolução de problemas sociais e ambientais de impacto social financeiramente susten-
(mais em gráfico à pág. 17). Diferente das ONGs, tável. Além de atividades relacionadas à
os negócios de impacto não dependem de música, à cultura e a eventos de hip hop, e de
doações, embora possam recebê-las para dar uma recém-inaugurada aceleradora, A Ban-
início à prototipagem de produtos. ca desenvolve o projeto Vivência de Cultura
Segundo o coordenador do Centro de Urbana, voltado aos alunos das escolas par-
Empreendedorismo e Novos Negócios da ticulares dos ensinos Fundamental e Médio,
Fundação Getulio Vargas (FGVcenn), Edgar localizadas em bairros centrais da cidade.
Barki, muitos as denominam “empresas do A missão, segundo DJ Bola, “é romper, por
Setor 2,5”, pois reúnem o propósito do Ter- meio da música, as barreiras sociais invisí-
ceiro Setor, de promover mudanças so- veis que separam a sociedade”.
cioambientais, com a ideia de eficiência de
mercado e geração de receita das empresas O ECOSSISTEMA
tradicionais que compõem o Segundo Setor. A jornada de DJ Bola e tantos outros em-
Essas são definições de um movimento preendedores, da periferia ou não, para
ainda em fase de crescimento no País, com transformar sonhos em negócios de impac-
vários gargalos e zonas cinzentas, mas com to social rentáveis, em geral, não resulta de
grande potencial de promover uma trans- “voos solo”. Em algum momento de suas
formação gradual da realidade brasileira, trajetórias, eles se deparam com um ecos-
haja vista a entrada de novos fluxos de ca- sistema composto por uma miríade de atores
pital para financiar inovações sociais que intermediários das mais variadas compe-
respondam a problemas sistêmicos. Vários tências: pesquisadores, gestores públicos e
atores usam a Carta de Princípios para Negó- do Terceiro Setor, incubadores, aceleradores,
cios de Impacto no Brasil como referência para empresários, investidores. Cada um doa cer-
conceituar esse campo . ta dose de energia, competência e recursos
As experiências também não deixam men- financeiros a fim de alavancar empreende-
dores cujos negócios trazem um componente
Acesse o relatório País Estagnado em bit.ly/2FOFgGl. de inovação capaz de provocar um impacto
Acesse a Carta de Princípios em bit.ly/2D8MZxI.
social e ambiental positivo em suas comuni-

PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9 13
CAPA

dades – ou em qualquer outro lugar do mundo, solução de problemas sociais – que se soma-
dependendo da sua capacidade de escala. ria aos recursos governamentais, às doações
“Estes agentes estão inter-relacionados e de organismos internacionais, ao investi-
são interdependentes, desejavelmente orga- mento social privado e à filantropia.
nizados na forma de um grafo [rede], no qual Por aqui, o governo brasileiro assumiu o
todos os atores se conectam em um mesmo seu papel nesse ecossistema em 2016, após
nível”, analisa Jorge Audy, superintendente ser provocado pelas organizações da socie-
de Inovação e Desenvolvimento da PUC-RS dade civil e entender a relevância do tema.
(leia mais sobre o “ecossistema” à pág. 18). Segundo Lucas Ramalho Maciel, especialista
Considerando o volume de projetos de em Políticas Públicas e Gestão Governamen-
impacto em eclosão pelo País, não chega tal da Subsecretaria de Inovação do Minis-
a ser um exagero dizer que tudo aconteceu tério da Economia, o governo “desenvolveu
bem de repente. No começo dos anos 2000, uma série de ações para catalisar e potencia-
o governo do Reino Unido convocou gestores lizar o que já estava sendo implementado”.
do mercado financeiro, para compartilhar o Seu principal movimento foi montar um
desafio de atrair mais capital privado para grupo de trabalho para elaborar a Estratégia
financiar soluções inovadoras voltadas à re- Nacional de Investimentos e Negócios de Im-

CARACTERÍSTICAS QUE DIFERENCIAM O INVESTIMENTO DE IMPACTO

SÓ FINANCEIRO RESPONSÁVEL SUSTENTÁVEL IMPACTO SÓ IMPACTO

Retorno financeiro competitivo

Mitigação de riscos ambientais, sociais e de governança

Modelos comprometidos com aspectos ambientais, sociais e de governança

Foco em soluções mensuráveis de alto impacto

Retorno financeiro competitivo

Retorno financeiro abaixo


da média de mercado

Pouco ou Mitigação Adoção de Solução de Solução de Solução de Solução de


nenhum foco de riscos práticas problemas problemas problemas problemas
em aspectos ambientais, ambientais, sociais sociais sociais sociais sem
Perfil de investimento

ambientais, sociais ou de sociais e de gerando gerando gerando gerar retorno


sociais e de governança para governança retorno retorno retorno financeiro ao
governança proteger valor com intuito de financeiro financeiro financeiro investidor
aumentar valor competitivo que pode ao
para o ser abaixo investidor
investidor da média abaixo da
de média de
mercado mercado

INVESTIMENTOS DE IMPACTO

Fonte: Adaptação da Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto – 2019

14 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
Se as empresas quiserem atrair os
melhores talentos, a proposta de valor
deve conter propósito social e ambiental

pacto (Enimpacto) , política nacional de 10 maiores em relação ao papel das empresas e,


anos que traz dezenas de propostas de ações se quisermos atrair os melhores talentos, a
estratégicas de fomento ao empreendedoris- proposta de valor deve incorporar propósito
mo de impacto no País. A Enimpacto hoje está social e ambiental. Os jovens hoje buscam se
ligada à secretaria no Ministério da Economia. aproximar de organizações mais cidadãs e
O papel do governo é crucial para o desen- sustentáveis”, afirma a empresária.
volvimento do setor. É a opinião da superin-
tendente executiva da Associação Nacional de MODELOS E MEDIDAS
Entidades Promotoras de Empreendimentos Uma característica inicial dos investimen-
Inovadores (Anprotec), Sheila Oliveira Pires. “É tos e negócios de impacto no Brasil foi a relação
crucial porque, primeiro, tem um poder muito com os ideais do prêmio Nobel da Paz de 2006,
maior para estimular o surgimento de uma le- Muhammad Yunus, fundador do banco Gra-
gislação favorável à criação de novos empreen- meen, de microcrédito, e de dezenas de negó-
dimentos; segundo, porque pode inserir crité- cios sociais em Bangladesh. Na concepção de
rios em suas compras públicas que estimulem Yunus, um negócio social não contempla a dis-
empresas com propósito social” , afirma. Outro tribuição de dividendos. Ou seja, os acionistas
mecanismo de fomento ao alcance do governo de um negócio de impacto social deveriam abrir
é a redução de barreiras para os investimentos, mão do retorno financeiro sobre o lucro para
entre outras ações possíveis que estão listadas reaplicá-lo no próprio crescimento do negócio.
no documento da Enimpacto (mais à pág. 23). Hoje, no entanto, várias empresas de im-
Bem antes de o governo brasileiro começar pacto adotam a distribuição de dividendos.
a interagir nesse campo, o “radar” de Graziella Inclusive, de acordo com Edgard Barki, fun-
Comini, coordenadora do curso de graduação dos de investimentos, como o Vox Capital ou
em Administração da Faculdade de Economia, a MOV, investem apenas em negócios de im-
Administração e Contabilidade (FEA-USP) já pacto que adotam essa prática (mais à pág. 30).
havia captado as primeiras articulações no Outro pilar bastante debatido nesse cam-
exterior. “Esse tema surgiu para mim na vi- po diz respeito aos empreendedores se dedi-
rada do século como uma curiosidade acadê- carem também à avaliação e à mensuração
ONG pioneira
mica. Mas, por volta de 2010, comecei a per- de seus impactos. Dar transparência a essas em aceleração
ceber um movimento de alunos que vinham informações resulta em credibilidade para de negócios de
com interesses inspirados na Artemisia e o negócio e, consequentemente, atrai novos impacto
no Choice, por exemplo.” Eram jovens que investimentos que, por sua vez, dão escala
tinham vontade de fazer a diferença em rela- aos impactos. Para Diogo Quitério, gestor de
ção às desigualdades sociais, mas não viam no programas do ICE e membro da diretoria exe- Choice é um
voluntariado um espaço tão efetivo. cutiva da Aliança pelos Investimentos e Ne- movimento de
capacitação de
Renata Nascimento, empresária e funda- gócios de Impacto, não basta o empreendedor
universitários
dora do Instituto de Cidadania Empresarial dizer que gera um impacto. Ele precisa ter
(ICE), um dos articuladores do campo, tem clareza da transformação que deseja promo-
esperança que esses jovens serão os agentes ver e mostrar indicadores de como faz isso.
de uma mudança de mindset nas empre- Esse é o pensamento também do inves- Predisposição
para um
sas em geral. “A sociedade tem expectativas tidor social britânico Sir Ronald Cohen, tido determinado tipo
como “o pai” do investimento de impacto. de modelo mental
Acesse o documento em bit.ly/2tTpiVX.
Ele escreve no livro On Impact – A guide to the

PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9 15
CAPA

BENJAMIN ATCHLEY/UNSPLASH
Impact Revolution, publicado em 2018, que tecnologia a competências humanas e con-
Aceleradora
dedicada a
a mensuração de impactos sociais não só é tribuir para a sociedade atingir os Objetivos
estruturar a possível como essencial. “Grandes empresas de Desenvolvimento Sustentável [ODS], que
gestão, impulsionar só integrarão o modelo de risco-retorno-im- definem soluções e aspirações globais para
o crescimento
e captar
pacto quando os investidores puderem medir 2030”, diz (mais sobre mensuração à pág. 32).
investimento e comparar o seu impacto de forma confiável” ,
para empresas afirma (mais em entrevista à pág. 6). EMPREENDER É O NOVO EMPREGO
que resolvem
desafios sociais e
Enquanto alguns acreditam que a mensu- Os 17 ODS e suas 169 metas, com as quais o
ambientais ração seja um divisor de águas nos negócios de Brasil contribuiu e se comprometeu, são uma
impacto, outros a relativizam, principalmen- grande oportunidade de reduzir a pobreza e
te no início do empreendimento. Embora ali- outras externalidades negativas. O setor priva-
nhado à ideia da importância da mensuração, do é um dos principais parceiros da ONU nes-
para Edgard Barki, isso não deve ser uma exi- ta agenda de desenvolvimento e os negócios e
gência. “O empreendedor de impacto social já investimentos de impacto social e ambiental,
tem toda uma dificuldade de colocar o negócio por sua vez, podem contribuir para que toda
de pé, de trabalhar com a burocracia do País, essa engrenagem opere de forma mais azei-
de contratar gente, de sofrer inadimplência, tada. Mas, para isso, ganhar escala é funda-
de precisar de fluxo de caixa e, além de tudo mental. “E isso já vem acontecendo” , diz Anna
isso, dizemos a ele: ‘Isso não é suficiente, você de Souza Aranha, diretora da Quintessa.
tem de mensurar seu impacto’” , argumenta. Para dar base à sua afirmação, ela aponta
Ainda não existe um consenso sobre o me- três movimentos. Um diz respeito ao grande
lhor método e o quão profunda deve ser a men- número de negócios existentes há muito tem-
suração de impacto social, mas uma solução po que não se identificavam como de impacto
poderá vir da tecnologia. A Social Good Brasil, e passam agora a se reconhecer como tal. Ou-
organização precursora do Tech for Good (Tec- tro se refere aos jovens, em número cada vez
nologia para o Bem), uma tendência mundial maior, que querem sair da faculdade e em-
do uso de dados para promoção de impacto so- preender nessa linha, e aos profissionais em
cial positivo, está gestando um modelo tecno- transição de carreiras que estão optando por
lógico de mensuração de impacto. trabalhar em algo com mais propósito de im-
Segundo a diretora executiva, Carolina pacto. O terceiro é o crescimento do empreen-
Andrade, a ideia é desenvolver uma tecnolo- dedorismo como um todo no País.
gia que ajude o empreendedor social não só Uma consulta ao Mapa de Negócios de Im-
a coletar dados e a monitorar o impacto, mas pacto Social + Ambiental, elaborado pela Pipe
mostrar que, com isso, ele pode aprender ain- Social, permite conhecer as movimentações
da mais sobre o próprio negócio. Por meio do setor – como tem se expandido, perfis de
desses dados, os empreendedores passariam negócios, lacunas do mercado e estratégias de
a tomar decisões baseadas em evidências, em investimento (acesse pipe.social/mapa2019).
lugar de “achismos” e percepções. “Nosso Marco Gorini, sócio-fundador da Din4mo,
propósito na Social Good é unir tendências de empresa que nasceu com o propósito de for-

16 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
OS DIFERENTES
NEGÓCIOS: FORMATOS
OS DIFERENTES JURÍDICOS
FORMATOS DOS NEGÓCIOS
JURÍDICOS DE IMPACTO
DOS NEGÓCIOS DE IMPACTO

OSC sem Empresas


geração puramente
de renda comerciais

Fonte: Carta de Princípios para Negócios de Impacto no Brasil (Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, 2015)

talecer negócios de impacto socioambiental, de parte dos empreendedores sociais ainda


considera estratégico para o desenvolvimen- são pessoas de alta renda tentando resolver
to nacional provocar o empreendedorismo de problemas da baixa renda. “Aceleramos por
impacto. Ele cita como exemplo a questão do ano 10 negócios de impacto em periferias para
desemprego crescente – em janeiro último, mudar um pouco essa lógica” (leia sobre em-
a taxa chegou à marca de 12% da população preendedorismo “da base para a base” à pág. 33).
economicamente ativa, o que representa 12,7 Sobre esse aspecto, A Banca fundou sua
milhões de pessoas, segundo o IBGE. O pior própria aceleradora há pouco mais de um ano
é que parte desse problema é estrutural. De – a Aceleradora Negócio de Impacto da Perife-
acordo com Gorini, são postos de trabalho que ria –, para fomentar projetos, coletivos e ne-
foram extintos, e não vão mais voltar. gócios de periferia que gerem impacto finan-
“A tendência é de que os jovens não con- ceiro, social e ambiental na base da pirâmide.
sigam mais os empregos clássicos” , afirma. Essa é também a linha de trabalho do es-
Ele chama atenção, no entanto, para o modelo critor norte-americano Stuart Hart, funda-
de empreendedorismo que poderá substituir dor da Enterprise for a Sustainable World,
empregos. Há dois tipos deles, o de oportuni- organização sem fins lucrativos dedicada a
dade e o de necessidade. Naturalmente, em um ajudar as empresas a fazer a transição para
país com tantos milhões de desempregados o a sustentabilidade. A solução, segundo ele,
empreendedorismo de necessidade é muito pode estar na própria base da pirâmide que
maior. Assim, quando fala em estratégia de se deseja impactar. No artigo “A Riqueza na
desenvolvimento nacional, Gorini está refe- Base da Pirâmide” , Hart explica que o capi-
rindo-se não aos que foram empreender para talismo assumiu implicitamente que os mais
sobreviver ao desemprego, mas àqueles que ricos são atendidos pelo setor empresarial,
querem empreender por talento e vocação. “É enquanto os governos e as ONG protegem os
muito legítima essa iniciativa. Quem tem ne- mais pobres e o meio ambiente.
cessidade deve empreender mesmo, mas não Conforme Hart, essa divisão implícita é
necessariamente é este empreendedor que vai mais forte do que muitos imaginam. De ges-
provocar o impacto de que estamos falando”. tores em organizações multinacionais a for-
Mesmo com toda a perspectiva de cres- muladores de políticas públicas e ativistas em
cimento existente – só na FGV são quatro ONG, todos incorporam essa histórica divisão
disciplinas sobre o assunto –, Edgard Barki de papéis. Sua conclusão é a de que os negócios
fala também sobre os limites dos empreen- de impacto social representam uma grande
dimentos de impacto. Eles não têm a preten- oportunidade de quebrar essa “regra”. É pos-
são de resolver todos os problemas sociais do sível “unir os mais pobres aos mais ricos, em
Brasil, mas podem complementar soluções, todo o mundo, em um único mercado, orga-
“especialmente mitigando ou resolvendo nizado ao redor do conceito de crescimento e
algumas vulnerabilidades da sociedade nas desenvolvimento sustentável” , acredita.
áreas de saúde, moradia e educação” , diz.
Acesse o artigo em bit.ly/2u5BfYU.
Outra questão apontada por ele é que gran-

PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9 17
REPORTAGEM MAPEAMENTO

Vamos precisar
de todo mundo
Atores diagnosticam gargalos e identificam alavancas
para expandir o diversificado campo dos investimentos e
negócios de impacto. Trabalhar de forma mais estruturada
é o desafio que se apresenta
POR AM ÁL I A SAFAT LE IN F O GR Á F IC O JO S É R O O SEVELT JUNIOR

P
or trás da frase “Entre ganhar di- passem a participar dessa lógica. “Para
A Agenda 2030 nheiro e ajudar o mundo, fique com cumprir a Agenda 2030, são estimados US$
é um plano de
ação composto os dois” , está o mote dos investi- 67 trilhões. É muito dinheiro. Mas os ativos
por 17 Objetivos de mentos e negócios de impacto: não de especulação que giram no mundo superam
Desenvolvimento se trata de isto ou aquilo, mas isto e US$ 300 trilhões por ano . Ou seja, o proble-
Sustentável, os
ODS, e 169 metas, aquilo. “Quem historicamente gerava im- ma não está no crescimento, mas na decisão
para erradicar a pacto social e ambiental positivo eram as de alocação do investimento” , afirma Marco
pobreza e promover ONGs e fundações, e quem gerava ou busca- Gorini, cofundador da Din4mo.
vida digna para
todos, dentro dos va performance financeira eram as empresas Como pano de fundo para essa transfor-
limites do planeta. e investidores tradicionais. Quando usamos mação, Jorge Luis Audy, superintendente de
Criada em 2015, a ‘e’
, chegamos a um grupo de organizações Inovação e Desenvolvimento da PUC-RS, en-
Agenda foi adotada
por 193 estados- olhando para as duas coisas” , diz Célia Cruz, tende que é necessária uma mudança de or-
-membros da ONU diretora executiva do Instituto de Cidadania dem cultural, para que novos valores sejam
Empresarial (ICE), um dos articuladores deste cultivados. Para ele, é preciso haver um enten-
campo (o infográfico mostra os principais atores dimento e uma percepção da importância do
do “ecossistema” e seus papéis). impacto social e ambiental para o desenvolvi-
A lógica de somar não só permeia o concei- mento local e global. Mas, para isso acontecer,
to, como torna a prática muito mais poderosa, à a comunicação, a clareza do conceito e o en-
medida que a busca pelo lucro estimula a gera- gajamento de novos atores são fundamentais.
ção de impacto social e ambiental positivo, fa- Daniel Izzo, cofundador da Vox Capital,
zendo com que os negócios se autossustentem. pioneira em gestão de investimentos de im-
“Recursos provenientes de governo, filantro- pacto no Brasil, já observa uma evolução nesse
pia e Investimento Social Privado continuam sentido, pelo menos no círculo em que o fun-
muito importantes, mas não são suficientes do opera. “Em 2009 a gente tinha de explicar
para bancar a inovação necessária. A gente o assunto. Hoje há um interesse crescente de
precisa acessar novos bolsos” , explica Cruz. investidores, e o desafio não é mais decidir se
Recursos que poderiam solucionar vão fazer, mas como fazer” , afirma. Ou seja, o
questões socioambientais complexas exis- gargalo está menos no conhecimento e na de-
tem. O desafio está em criar um ambiente manda, e mais na oferta de produtos financei-
favorável para que os fluxos financeiros

Para saber mais, acesse relatório do Credit Suisse Group em


Frase criada pela aceleradora Artemisia. bit.ly/2zSln0Y.

18 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
Fonte: Adaptação da Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto – 2019

PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9 19
MAPEAMENTO

ros atraentes e criativos para o mercado. “Claro Mas, para além dessas novidades, Gori-
que grandes investidores e entes reguladores ni acredita que há visões a serem corrigidas
podem fazer um esforço a mais, flexibilizan- entre os investidores, como a que subestima
do alguns critérios. Mas o dia em que a gente o tempo necessário para o desenvolvimen-
conseguir apresentar produtos que entrem to e a maturidade de um negócio de impac-
O Vale da Morte em uma lógica de risco e retorno mais afinada to. É preciso levar em conta que um negócio
é o período inicial com o mercado, vai chover dinheiro” , acredita. de impacto social atuará em mercados ainda
de atividades de Para ajudar a expandir o fluxo de não estruturados e, portanto, precisam de um
startups, em que
há grande risco de investimentos especialmente nos estágios tempo de maturação geralmente maior.
descontinuidade mais iniciais, o ICE, em parceria com a “Não é verdade que quando uma startup
das operações consultoria Impactix, criou em 2018 a sai de uma aceleradora já está pronta para
iniciativa FORImpact, que estimula famílias acessar um venture capital. No chamado
de alta renda a fazer coinvestimento direto em Vale da Morte, não basta dinheiro, é preci-
Investimentos negócios de impacto socioambiental, por meio so acesso a uma expertise, a uma senioridade.
que injetam capital
em empresas de seus family offices (estruturas de gestão de Há uma lacuna nesse campo, uma falha de
em troca de patrimônio familiar). mercado” , diz Gorini. Foi aí que a Din4mo en-
participação Normalmente, por possuírem altos trou, com um olhar mais paciente, prevendo
societária.
O venture volumes, essas famílias investem em negócios retorno em prazos mais alongados.
capital,em fase de private equity, que estão em fase mais Isso acentua a importância de fortalecer
de estruturação, evoluída e nos quais correm menos risco, em vez o campo intermediário entre a demanda dos
atrai investidores
em busca de de entrar em venture capital, em que teriam de investidores e a oferta de negócios – formado
altas taxas de gerenciar diversos projetos de valor mais baixo. por incubadoras, aceleradoras, investidores-
crescimento e Em fevereiro, um encontro reuniu famílias e -anjos e parques tecnológicos, entre outros.
retorno. Já os de
private equity gestores de fundos, que apresentaram diversos Criadas no Brasil como parte de políticas
encontram-se em produtos de investimento nos quais puderam públicas na década de 1980, as incubadoras
etapa mais madura avaliar risco, retorno e impacto (mais sobre e aceleradoras sofrem fragilidades até hoje.
investimento de impacto à pág. 30). Em universidades públicas não é incomum
Um mecanismo inovador para captar recur- ver equipes formadas por um único professor,
Debênture sos de investimento de impacto é a debên- que dedica 20 horas por semana, e apenas dois
é um título de ture social, que funciona no modelo de blended ou três bolsistas. “As incubadoras enfrentam
dívida emitido
por empresas finance – neste caso, o recurso de filantropia desafios institucionais para que consigam in-
para captação serve para dar garantia ao investimento tra- corporar de fato a agenda de impacto” , diz Fer-
de recursos. dicional, eliminando riscos. O papel foi criado nanda Bombardi, gerente executiva do ICE.
Funciona como um
empréstimo, em em janeiro de 2018 pela Din4mo para financiar O ICE, a Associação Nacional de Entida-
que o investidor o Programa Vivenda, negócio de impacto social des Promotoras de Empreendimentos Ino-
se torna credor e que trabalha com moradia digna para a popu- vadores (Anprotec) e o Serviço Brasileiro de
recebe juros fixos
ou variáveis ao lação de baixa renda (mais à pág. 24) e em junho Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)
final do período recebeu prêmio da ONU Habitat. criaram um programa de sensibilização e
pactuado Por meio da emissão dessa debêntu- engajamento para o tema do impacto, apro-
re, investidores clássicos, provenientes do veitando que a maioria fomenta negócios de
Itaú Private Banking, aceitaram investir em base tecnológica, e a tecnologia é vista como
uma startup. O Fundo Zona Leste, ligado à ferramenta importante para potencializar os
Fundação Tide Setubal, entrou com 40% e os negócios de impacto. Até o momento, cerca de
demais 60% vieram dos investidores tradi- 70 incubadoras e aceleradoras passaram pelo
cionais. A inovação significou um salto no processo de formação no assunto de impac-
acesso a recursos. Quando a Vivenda tinha to. “O próximo desafio é instrumentalizá-las
ido ao mercado bancário tradicional pedir para prestarem suporte adequado a esse em-
crédito, o máximo que conseguiu foi R$ 50 preendedor com propósito” , diz Bombardi.
mil. Mas, por meio da debênture social, ob- Um dos gaps do ecossistema é identifica-
teve R$ 5 milhões. “Isso muda a história” , diz do na oferta de negócios, tanto em qualidade
Gorini. Mais dois papéis com a estrutura de como em quantidade. “Na hora que a gente
blended finance devem ser lançados este ano. busca startups para mostrar a esses investi-

20 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
dores, ainda existe certo esforço para con- 2 mil, informa Carla Duprat, diretora do Insti-
seguir projetos de qualidade. Esse é um dos tuto InterCement. Duprat frisa que mudanças Recente
pesquisa com
principais gargalos específicos” , diz Maria relativamente simples na rotina são capazes esses investidores
Rita Spina Bueno, diretora executiva da Anjos de provocar grande impacto na cadeia de va- perguntou qual
do Brasil, rede de 380 investidores que mostra lor. Uma delas foi alterar o sistema de paga- o maior tema de
interesse entre 10
crescente interesse por negócios de impacto. mento do fornecedor, reduzindo de 30 para 7 opções, e impacto
“O gargalo [dos negócios de qualidade] vem dias. Para o pequeno fornecedor, o prazo faz ficou em terceiro
desde a formação no Ensino Médio, pois não toda diferença, mas é o tipo de mudança de lugar, depois
de business to
existe uma cultura de empreendedorismo processo que só ocorre se houver engajamen- business (B2B) e
enraizada no Brasil” , avalia Luiz Romão, pro- to das pessoas. “Para isso, é preciso colocar o fintechs
fessor da Universidade da Região de Joinville impacto na estratégia de negócio da empresa e
(Univille), ligada ao Inovaparq. Esse parque estabelecer metas.” Ela vê a importância de se
Pública de
tecnológico abriga, desde 2017, uma incu- levantar essas bandeiras para provocar mu- direito privado, a
badora voltada a negócios de impacto, com danças de mindset no setor produtivo. universidade não
14 projetos em diversos estágios de maturi- O caso é um piloto que poderá ser usa- visa lucro, mas
cobra mensalidade,
dade. A universidade, comunitária, busca do até em escala mundial, envolvendo na que é reinvestida
envolver os professores na busca de soluções cadeia de valor fornecedores de biomassa na comunidade do
de problemas reais, conectados aos ODS. que estejam próximos aos fornos da em- entorno por meio
de projetos. Mais
Para promover essa conexão, Romão vê presa em países como Moçambique e Para- de 50% dos alunos
como fundamental o fortalecimento do elo guai. Com isso, a InterCement busca aten- recebem algum tipo
entre a academia e as grandes empresas, for- der a quinta das 15 recomendações do de bolsa

mando gestores já preparados para atuar com campo, que preconiza o uso de 5% de for-
a visão do impacto. Outra vertente é incubar necedores advindos de impacto até 2020.
Em 2015, a
projetos voltados para a cadeia de valor de (acesse as recomendações em bit.ly/2TuOUI1). Aliança pelos
grandes empresas locais. Um exemplo disso é Desenvolver o ecossistema de forma des- Investimentos
a parceria de startups incubadas no Inovaparq centralizada geograficamente é mais uma e Negócios de
Impacto elaborou
com a empresa de tubos e conexões Tigre, se- alavanca para tornar o ecossistema mais rico 15 recomendações
diada em Joinville. Iniciada em abril, a parce- e ampliar o volume de bons projetos. “Há a atores específicos
ria prevê um programa de mentoria prestado muitos talentos que são desperdiçados só do ecossistema
para, até 2020,
por gestores da empresa durante seis meses. porque não se encontram no eixo São Paulo- levar mais
Eventualmente, alguma das startups pode- -Rio” , diz Gorini, da Din4mo. Não por acaso, capital para o
rá participar da cadeia de valor da Tigre. Ao Graziella Comini, professora associada do campo, fortalecer
organizações
mesmo tempo em que faz toda a diferença departamento de Administração da FEA- intermediárias,
para a startup começar já com um cliente de -USP, empenha-se em formar doutores em gerar mais negócios
maior porte na carteira, a grande empresa so- Manaus, para atuar na região amazônica. Por de impacto e
promover um
lidifica sua atuação no campo dos negócios de meio de um programa de doutorado em inova- macroambiente
impacto por meio de seus fornecedores – em ção e empreendedorismo, o intuito é explorar favorável
uma estratégia de ganha-ganha. o impacto social considerando especificidades
Outro caso, em se tratando da cadeia de va- locais, como a biodiversidade amazônica, o
lor, é experimentado pela cimenteira Inter- empreendedorismo comunitário e realidades Iniciativa que
aglutina e promove
Cement. A empresa identificou, perto dos al- rurais e urbanas que diferem muito da encon-
atividades
to-fornos, uma cooperativa agrícola que vive trada em outras capitais brasileiras. sobre negócios
do extrativismo do licuri, coquinho do qual Comini, que integra a Rede de Profes- e investimento
de impacto junto
se extrai óleo, gerando resíduos de biomassa sores do Programa Academia ICE, entende
a 80 docentes
com poder calorífico. A grande surpresa foi que a temática do impacto social passou do espalhados em
descobrir que o poder energético era igual ou momento de ser tratada dentro uma “caixi- todas as regiões
brasileiras
melhor que o do pneu inservível, comumente nha” e deve ser transversalizada em diversas
usado para alimentar os alto-fornos. O de- áreas de pesquisa acadêmica, como marke-
safio foi, então, organizar a cadeia de valor ting, finanças e gestão de pessoas.
para que começasse a gerar renda e impacto “Teve muita importância o momento de
socioeconômico para a cooperativa. Hoje, o afirmação do conceito, em que o impacto foi
projeto inclui 220 famílias e pode chegar até a objeto de estudo. Mas hoje estou menos preo-

PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9 21
MAPEAMENTO

Criado nos cupada em ver quais são os contornos que de- para conhecer melhor a empresa e critérios de
Estados Unidos, finem um negócio de impacto e mais em ver a avaliação. Se atingida uma pontuação míni-
o Sistema B tem
como objetivo
coerência das organizações em relação ao que ma, a empresa pode requisitar a certificação,
construir estão contribuindo para essa agenda” , diz. processo que terá custo e vale por dois anos.
ecossistemas Isso não significa que um alinhamento Enquanto alguns atores defendem legis-
para fortalecer
empresas que
mínimo sobre o tema não seja importante. lações específicas para os investimentos e
usam a força do “Se a gente quiser direcionar mais recursos negócios de impacto –, o que exige definições
mercado para para esse campo, é preciso ter mais clareza muito claras sobre seus contornos – outros
resolver problemas
socioambientais
sobre o conceito e conferir maior segurança temem que regras e tratamentos diferencia-
jurídica, pois estamos falando de negócios de dos possam inibir a fluidez de recursos e iso-
maior risco por sua natureza” , afirma Rachel lar o campo, em vez de transversalizá-lo.
O Modelo C Karam, integrante de um time de 11 advoga- Bombardi, do ICE, acredita que os esfor-
resulta de parceria dos do grupo jurídico do Sistema B. ços devam ser empregados especialmente na
do ICE com Sense-
Lab, Move Social “Para atrair bancos de investimentos criação de um macroambiente favorável para
e Fundação Grupo como o BNDES, integrante do comitê da Es- a inovação e o empreendedorismo, por meio
Boticário. O projeto tratégia Nacional de Investimentos e Ne- de políticas públicas desenvolvidas pelo go-
que serviu de piloto
foi o Araucária+, gócios de Impacto (Enimpacto), a primeira verno. Em paralelo a isso, defende que haja
que remunera pergunta que vão fazer é: como saber se a mais gente no campo atuando na formação
a produção empresa que está me pedindo esse financia- de investidores e empreendedores, e criando
sustentável de
pinhão e erva- mento é de impacto?” , pontua Karam. plataformas e ferramentas úteis, a exemplo
-mate em Santa Por isso, a advogada entende a mensura- do Modelo C, que combina o Canvas, um
Catarina, com o ção dos impactos proporcionados pelo negó- instrumento de modelagem de negócios mui-
intuito de conservar
a Floresta de cio como elemento fundamental. Para ela, a to utilizado, com a Teoria de Mudança, abor-
Araucária, hoje com tarefa é acessível mesmo aos pequenos em- dagem que mostra como o negócio pretende
menos de 1% da preendedores, a começar de processos mais gerar impacto a partir de uma determinada
vegetação original
simples como B Impact Assessment, uma intervenção (mais à pág. 34).
ferramenta pública, on-line e gratuita. “É Após uma década em que esse campo flo-
um formulário usado hoje por mais de 60 mil resceu no Brasil, trabalhar de forma coesa é,
empresas, inclusive foi escolhido pela ONU na visão de Gorini, o salto de maturidade ne-
como ferramenta de mensuração dos ODS” , cessário para que seus atores criem soluções
diz (mais sobre mensuração à pág. 32). Segundo cada vez mais estruturadas e se atinja um
ela, o formulário pode servir simplesmente novo patamar de desenvolvimento.

CHAMADO ÀS BASES Valor para conservação devia ser seis vezes maior
Expandir o campo dos investimentos e negócios de impacto significa também endereçar os desafios de
ordem ambiental. Um dos maiores gargalos está na conservação da biodiversidade, que fornece nada menos
que a base de sustentação para todo o desenvolvimento social e econômico acontecer. Levantamento feito
por WWF, Credit Suisse e McKinsey mostra que o valor destinado à conservação precisaria ser no mínimo seis
vezes maior que o atual. Atualmente são investidos US$ 50 bilhões em projetos no mundo todo, quando seriam
necessários US$ 300 bilhões a U$ 400 bilhões por ano.
A comparação é citada por Guilherme Karam, coordenador de negócios e biodiversidade da Fundação Grupo
Boticário, organização pioneira em puxar a agenda das finanças sociais para as questões ambientais. “Nós não
conseguiremos promover a conservação necessária apenas com recursos públicos e de filantropia. Será preciso
acessar capital privado, por meio de negócios e investimentos socioambientais”, afirma. Há muito trabalho pela
frente. Levantamento da Aspen Network Development Entrepreneurs (Ande) no biênio 2016-2017, feito com
base em entrevistas autodeclaratórias, indica que menos de 1% do valor investido em negócios de impacto foi
para a conservação da natureza.

22 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
MARCOS VINICIUS DE SOUZA
Subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico
do Estado de São Paulo e ex-Secretário Nacional de Inovação do MDIC
artigo

O papel do governo
Como o Brasil se tornou uma referência internacional ao articular e implementar
a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto

V
ivemos o início de uma revo- uma pequena equipe de servidores pú-
lução no capitalismo global, blicos do Ministério conseguiu articular
na qual investimentos devem e envolver dezenas de áreas do governo
aliar retorno financeiro com em torno da temática de impacto. Após
impacto social. O motivo dessa trans- estabelecer parceria com a Aliança pelos
formação é a percepção de que os desa- Investimentos e Negócios de Impacto, a
fios enfrentados pela humanidade hoje equipe mapeou no governo federal as
são tão complexos e desafiadores que o unidades de cada agência e ministério
governo e o setor privado não consegui- que teriam algo a contribuir para a Es-
rão resolver sozinhos. tratégia. Em seguida, "evangelizou" cada
No Brasil, o setor público em geral área-alvo sobre a importância do tema
é pouco eficiente, oferece serviços de por meio de apresentações customiza-
baixa qualidade e enfrenta dificuldades das para aquela unidade específica.
imensas para inovar. Já as ações de res- Após o engajamento, todos esses
ponsabilidade social das empresas ou do órgãos governamentais foram convi-
Terceiro Setor mostram-se claramente dados a cocriar a política pública com
insuficientes perante o tamanho do de- os atores do ecossistema de impacto:
safio. Por outro lado, vemos a tecnologia investidores, aceleradoras, empreen-
avançando em ritmo alucinante: nunca dedores, dentre outros. O último passo
foi tão fácil empreender negócios ino- foi lançar uma consulta pública para que
vadores por meio de tecnologias digitais qualquer cidadão pudesse dar sua con-
amplamente disponíveis, a baixo custo e tribuição para a Enimpacto.
com número crescente de investidores. impacto e influenciando investidores ins- Após 18 meses, mais de 150 reuniões
A união de desafios complexos e alto titucionais para considerarem o impacto e muita resiliência, essa equipe conse-
potencial de inovação é o caldo perfeito em suas decisões de alocação. guiu transformar um tema desconhe-
para impulsionar investimentos e negó- O Brasil tem se posicionado como um cido dentro do governo em um decreto
cios de impacto social no Brasil – e o setor protagonista mundial em políticas pú- assinado pela presidência da República,
público deve fazer sua parte. O governo blicas nessa área. A Estratégia Nacional criando uma política pública com hori-
pode atuar no desenvolvimento deste de Investimentos e Negócios de Impacto zonte de 10 anos e reconhecida inter-
segmento por meio de três papéis: faci- (Enimpacto), liderada pela Subsecretaria nacionalmente. A gestão da Enimpacto
litador, participante e regulador. de Inovação do Ministério da Economia, também é colaborativa e está nas mãos
No de facilitador, cria organizações foi reconhecida como benchmarking pela de 16 organizações de governo e 10 do se-
e sistemas que fomentam e disseminam OCDE, pelo Fórum Econômico Mundial e tor privado e da sociedade civil.
o tema, por exemplo, apoiando a criação pelo Global Steering Group on Impact In- Governos deveriam apoiar com ênfa-
de negócios de impacto, incubadoras, vestment (GSG). se o desenvolvimento de investimentos
aceleradoras, programas de capacita- A Enimpacto alinhou as prioridades e negócios de impacto simplesmente
ção e políticas públicas. nacionais com as internacionais do GSG e porque é um bom negócio. Esse segmen-
Como participante do mercado, o escolheu quatro grandes áreas de atua- to gera desenvolvimento econômico
governo atua no acesso a capital, como ção: aumentar capital disponível para in- com empresas inovadoras e empregos
fundos de investimentos e instrumentos vestimento e financiamento, elevar o nú- qualificados que pagam mais impostos,
financeiros, compras públicas e sistema mero de negócios de impacto, fortalecer aumenta a eficiência da administração
de contratação baseado em pagamentos os intermediários (incubadoras, acelera- economizando recursos do contribuinte
por performance. doras, universidades etc.) e aperfeiçoar o e, finalmente, usa modelos de negócio
Finalmente, o governo pode exercer marco regulatório para este segmento. inovadores para resolver problemas so-
o papel de regulador, oferecendo incenti- ciais do cidadão. Em resumo: pode gerar
vos fiscais tanto aos investidores quanto ENGAJAMENTO receita, diminuir custos, atender melhor a
aos negócios, criando personalidades Um aspecto interessante dessa ini- sociedade e ainda colher dividendos políti-
jurídicas de empresas específicas para ciativa foi a maneira inovadora como cos com a melhora de vida da população.

PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9 23
REPORTAGEM EMPREENDIMENTO

OLAV AHRENS ROTNE/UNSPLASH

Soluções em escala
Negócios de impacto ganham identidade
e lutam para superar barreiras
no capitalismo em transformação
P O R S É R G I O A D E O D AT O

24 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
O negócio

A
deve voltar-se à
baixa renda e ter
palavra “impacto” possui múlti- Para Pessanha, no entanto, deve-se fugir de
missão explícita
plos significados nos dicionários. rótulos sobre o que é ou não é, sobre o que de causar impacto,
Refere-se à colisão entre corpos, integra ou não o conceito, pois há lugar para potencial de escala,
rentabilidade e
batida, pancada, encontrão. Pode diferentes visões. “Apenas de uma coisa não
distribuição ou
aludir a choque emocional: aba- podemos abrir mão: o impacto.” não de dividendo,
lo, comoção. Ou tem o sentido de repercus- São negócios capazes de resolver proble- segundo
entendimento
são, resultado, influência, efeito. São sig- mas da educação escolar, explorar florestas
da Artemisia,
nificados comuns do cotidiano; da vida em sem destruí-las, melhorar moradias e, entre que apoiou 430
movimento. Hoje, adquirem novas cores ao outras mazelas, combater a poluição. Do sa- empreendimentos
desde 2004
inspirar modelos de negócios que prospe- neamento básico à agricultura e finanças pes-
ram por fazer o bem, com a lógica de unir soais, as demandas se diversificam. Em alguns
ganho financeiro e impulso a soluções em casos, com expansão em alternativas de baixo
produtos e serviços de demanda crescen- custo; em outros, em tecnologias para melhor Em Salvador,
turismo étnico
te face o quadro socioambiental do mundo. uso de recursos naturais, e ainda no aumento é o negócio da
Como algo novo, os chamados negócios de da renda de populações, combate à pobreza e Diáspora.Black,
impacto estão no centro de um intenso debate, redução de vulnerabilidade e desigualdade de rede de anfitriões
e viajantes que
em diferentes frentes: capacidade empreen- gênero e raça. valorizam a cultura
dedora, acesso a investimentos e mercados, Os desafios variam conforme o grau afro. Presente em
poder de fazer diferente. “O mundo corpora- de maturidade. Ao longo dos estágios de 15 países, a startup
oferece roteiros e
tivo e do capital, antes arredio a misturar lucro vida, adquirir conhecimento em atividades certifica hotéis
a causas sociais e ambientais, começa a mudar de mentoria e aceleração é um processo que
de visão” , ressalta Maure Pessanha, diretora contribui para um desenvolvimento mais
executiva da aceleradora Artemisia, uma das rápido do negócio. A intenção de impacto, Negócios de
instituições pioneiras no tema. Mas a trilha no entender de Pessanha, é requisito indis- impacto abrangem
rumo ao paradigma de ganhar dinheiro e, ao pensável. “Deve vir do íntimo do empreen- diferentes
etapas de
mesmo tempo, mudar o mundo é tortuosa. dedor, estar em conexão com a realidade a desenvolvimento,
Não à toa, o exercício conceitual tem ab- ser atacada e necessariamente vislumbrar da ideia nascente
sorvido considerável energia na construção mudança de status quo” , aconselha. Com um à tração e escala,
quando a empresa
de consenso. Há diferentes linhas de pensa- alerta: “Soluções mágicas podem criar um já está estruturada
mento em torno da relação entre lucro e re- problema ao tentar resolver outro, e nem to- para o mercado
sultados sociais que o capital proporciona. das as demandas sociais são passíveis de se-

PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9 25
EMPREENDIMENTO

Tecnologia verde e educação lideram ranking, mas


há potencial para temas como clima e florestas

Apenas 20% rem endereçadas por modelos de negócio”. timo. “Como começar, se ninguém acredita
dos negócios são “Hoje temos uma melhor compreensão ou dá oportunidade” , perguntava-se a filha
liderados por do mercado sobre negócios de impacto, an- de mãe professora e pai lavrador que, com R$
mulheres, quadro
que exige mais tes associados a atividades assistencialistas”
, 10 mil doados por ONGs, criou um modelo de
esforços para analisa Mariana Fonseca, cofundadora do banco nada convencional – o Acreditar.
diversificação de Pipe Social, plataforma que lançou em março Hoje com um fundo de R$ 650 mil, a ini-
gênero
um mapa atualizado com o raio X do setor, ciativa concede crédito a 400 jovens de cinco
como subsídio a novas estratégias (acesse em cidades por mês – principalmente mulheres,
O setor de pipe.social/mapa2019). O resultado mostrou cujo incremento de renda pela via do próprio
educação tem
potencial de
barreiras a vencer quanto à diversidade de ca- negócio tem favorecido maior autonomia e
mercado de R$ pital, de perfil do empreendedor e de territó- respeito. A inadimplência é inferior a 1%. “É
60 bilhões ao rio (mais no quadro à página ao lado). preciso qualificação técnica e vontade de mu-
ano no Brasil,
em especial para
Do total mapeado, 46% dos negócios se en- dar”, atesta Prado. A consciência aumentou,
cobrir a população contram no setor de tecnologias verdes, 43% completa, mas “ainda nos sentimos sozinhas
de baixa renda, no de cidadania e 36% no de educação, os lí- no desafio que é da sociedade como um todo”.
segundo estudo da
Inspirare e Potencia
deres do ranking. Há potencial de crescimento O resultado social, nesse e em outros ca-
Ventures, de 2013 em temas como mudança climática e flores- sos, é bem maior do que propriamente o eco-
tas, à medida que pesquisadores universitários nômico. “Estamos falando de transforma-
trazem soluções inovadoras para o mercado e ções nas vidas, como a capacidade de lidar
Um exemplo de
a sociedade. Além da academia, ONGs olham com conflitos em casa, impactos difíceis de
spin off é a startup
Pecsa, do Mato mais atentamente as questões de mercado, medir em números” , afirma Edson Leite, só-
Grosso, que surgiu ligando comercialmente produtores a com- cio da Gastronomia Periférica, em São Paulo.
para transformar
pradores ou criando spin offs na forma de Após oficinas de hip hop e uma tempora-
em negócio o
projeto do Instituto negócios como estratégia de sustentação eco- da de trabalho em restaurantes europeus, o
Centro de Vida nômica e ampliação dos benefícios gerados. chefe de cozinha decidiu voltar ao bairro em
com pecuária
que nasceu, o Jardim São Luís, Zona Sul da
sustentável.
Une maior EMPREENDER NA QUEBRADA capital paulista, para retribuir o que apren-
produtividade O mapeamento promove reflexões, como deu. Começou com vídeos na internet ensi-
e menor
a aposta no protagonismo empreendedor da nando a fazer refeições com o que se tem na
desmatamento na
produção de carne própria população mais vulnerável, o que geladeira, e depois, junto com a professora
favorece sinergia com as realidades locais e de gestão da diversidade Adélia Rodrigues,
maior amplitude de ganhos socioambientais deu dois passos decisivos: criou um aplica-
(mais em Artigo à pág. 33). Foi o caso da per- tivo de celular com o mapa dos estabeleci-
nambucana Lilian Prado, que cresceu na zona mentos gastronômicos da periferia e trans-
rural de Glória do Goitá (PE), em meio à mo- formou um bar local em restaurante-escola,
nocultura da cana-de-açúcar, assistindo ao frequentado gratuitamente por jovens de
êxodo de familiares para as capitais, enquan- baixa renda em busca de oportunidades no
to ouvia na escola que o certo na vida é ter em- mercado de trabalho. A receita financeira
prego em uma empresa. Até que enxergou um provém de consultorias e serviços de cate-
futuro diferente nas atividades de formação ring para eventos de empresas com a marca
como agente de desenvolvimento local, jun- do apelo social. “A periferia em geral ainda
to a outros jovens. Alguns planejaram fazer não entendeu o grande potencial de consu-
horta orgânica; outros, bijuterias e artesana- mo e venda que tem. Por falta de conheci-
to. Apesar da disposição, não tinham expe- mento, fica refém de fazer coxinha hoje para
riência nem garantia para acessar emprés- vender amanhã” , lamenta Leite.

26 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
INOVAÇÃO VERSUS “CUSTO BRASIL” como no de alimentos, o risco regulatório para
Os negócios de impacto, parte de um sis- levar produtos ao mercado é maior. “Depen-
tema maior, sofrem com barreiras que atra- demos da aprovação da vigilância sanitária
palham o empreendedorismo como um todo, para avançar nos planos, obstáculo que além
por conta da burocracia e outros aspectos do de paciência exige investimento” , afirma
chamado “custo Brasil”. Em alguns setores, Luiz Filipe Carvalho, fundador da Hakkuna,

DIVERSIDADE DE TERRITÓRIO A trajetória de desenvolvimento dos


negócios de impacto muda conforme a região
De Norte a Sul, as peculiaridades locais – ambientais, sociais, econômicas e culturais – inspiram projetos
capazes de interferir tanto no uso das florestas quanto no planejamento e modo de ser urbano, a exemplo
de Recife, onde o ambiente de modernidade da tecnologia dá novas feições ao centro histórico na estratégia
de revitalizá-lo. Entre prédios antigos, polo da economia e cultura no período colonial, o Porto Digital, atual
fronteira da inovação no Nordeste, reúne estrutura com 318 empresas, além de quatro aceleradoras e duas
incubadoras, com faturamento de R$ 2 bilhões ao ano. São 100 mil metros quadrados de instalações, inclusive
restaurantes e serviços às empresas de tecnologia, com meta de dobrar nos próximos cinco anos.
“É possível gerar negócios com esse perfil em qualquer canto do País, embora as principais instâncias
decisórias de capital estejam longe”, atesta André Araújo, gerente de inovação do Porto Digital. O carro-chefe
é a Tecnologia da Informação (TI), aplicada a games, por exemplo. Mas, segundo ele, de uns tempos para cá,
o cenário na terra do frevo e do maracatu tem registrado maior presença dos empreendimentos de impacto,
“reflexo do anseio por transformações sociais positivas entre jovens da geração dos millennials”.
A conexão urbana marca também a história da inovação em Florianópolis. Com mais de 1 mil empresas de
tecnologia, a cidade se posiciona como lugar de boa qualidade de vida, não apenas pela beleza das praias da ilha,
mas pelas oportunidades para quem pensa fora da caixinha. Dessa forma, atrai jovens e torna-se campo fértil
ao empreendedorismo inovador em segmentos como agronegócio, energia, aviação, governo eletrônico e saúde
– um movimento da economia urbana que se espalha por outros seis polos no interior. A ePHealth, da capital,
desenvolveu aplicativo vendido a prefeituras para monitorar o trabalho dos agentes comunitários de saúde e
melhorar o sistema de atenção às famílias em mais de 3 mil cidades.
“É latente o potencial para os negócios de impacto depois que o modelo passou a ser mais bem entendido”,
afirma Marcos da Ré, diretor-executivo do Centro de Economia Verde da Fundação Certi. Em 2017, na sexta
edição do programa Sinapse da Inovação, voltado a captar boas ideias para negócios, o interesse por iniciativas
tecnológicas de impacto social positivo dobrou entre os 1,8 mil concorrentes.
Na Amazônia, a onda se propaga ao ritmo das demandas associadas à maior floresta tropical do planeta,
chave no combate à mudança climática. “Concentrados no meio rural e não em áreas urbanas, como nas demais
regiões brasileiras, os negócios de impacto afetam diretamente o uso da terra”, ressalta Mariano Cenamo,
pesquisador sênior do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam). Em
Apuí (AM), a organização dá suporte ao cultivo orgânico de café, já vendido em São Paulo e Rio de Janeiro com
o diferencial da origem na floresta. Consorciado com outros alimentos em sistema agroflorestal, o café reduz
desmatamento, promove plantio de árvores e aumenta a renda da comunidade.
Empreender na floresta exige superar dificuldades de logística e acesso a mercado, além da carência
de conhecimento e recursos. “Como a capacidade de retorno financeiro é menor, o grande atrativo está nos
resultados sociais e ambientais”, enfatiza o pesquisador. O desafio mobiliza iniciativas como a Plataforma
Parceiros pela Amazônia (PPA), criada com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional (Usaid), para fomento a soluções, na percepção de que não se conseguirá conservar a floresta
sem um novo modelo de economia. Dos 15 negócios selecionados no fim de 2018 pelo programa de aceleração
da plataforma, quatro receberam investimentos de R$ 1,1 milhão em competição inédita na região (saiba mais
em bit.ly/2HeH1zZ e bit.ly/2NX352B).

PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9 27
EMPREENDIMENTO

Para especialista, é baixo o risco de o movimento


por impacto se enfraquecer. "Não há mais volta"

acelerada pela GrowBio, da Biominas Brasil. chusetts (MIT), rendeu prêmio de US$ 50 mil,
A novidade está na produção de alimentos investido na inovação.
O mercado
nacional de exames à base de grilos, a “proteína do futuro”
, confor- As portas se abriram para a incubação no
in vitro gira em me anuncia a startup. São barras de proteína MobiLab, da prefeitura de São Paulo. “A meta
torno de R$ 29 para prática de esportes, snacks e farinha com é atingir efetividade de 95% na previsão de
bilhões ao ano, com
previsão de dobrar poderes de ampliar o acesso a melhor padrão lotação e então oferecer às empresas para a
até 2030 nutricional. E, ao diversificar as fontes de ali- gestão de frota” , revela Oliveira. Até agora,
mentação, tem ainda o potencial de reduzir chegou-se a 90%. Com um detalhe importan-
impactos negativos da demanda global por te: o preço, 10% do praticado pela única con-
comida na perspectiva de uma população que corrente, a alemã Wolpac.
deverá atingir 10 bilhões de pessoas em 2050. Na área da saúde, além de impactar posi-
O empresário encontrou o filão nos Estados tivamente a qualidade de vida, a redução de
Unidos, onde barras de proteína com farelo custos pode, não raro, salvá-la. “Podemos
de grilo estão liberadas para comercialização tornar os exames de análise clínica e patoló-
desde 2014. “Comecei a criação no fundo da gica 50% mais baratos” , revela Paulo Melo, um
república de estudantes na qual morava, pro- dos criadores da Pickcells. Com investimen-
duzindo granola caseira” , conta o empresário, tos de R$ 1,5 milhão, a startup de Recife desen-
na expectativa de agora captar investimentos volveu equipamento que fotografa a amostra
para, enfim, chegar aos consumidores. e manda para bancos de dados em nuvem para
Inovar nos modelos de negócio e desenvol- que algoritmos possam identificar em tem-
ver tecnologias, tanto incrementais como dis- po real o parasita de verminoses comuns em
ruptivas, permite ampliar a escala do impacto. áreas de baixo saneamento.
Na área de mobilidade urbana, por exemplo, a Segundo a Organização Mundial de Saúde,
startup Milênio Bus dedica-se à inteligência um diagnóstico preciso e rápido é o primeiro
no transporte coletivo. Mais especificamente, passo para o tratamento de doenças que cau-
tem avançado no sistema computacional que sam muitas mortes no mundo.
faz a contagem de passageiros por sensores. Enquanto aguarda permissão para uso nos
Via celular, o usuário consegue monitorar os laboratórios médicos, a tecnologia brasi-
ônibus que estão mais cheios ou vazios, e as leira se expande no mapeamento da dengue
empresas ganham na melhor gestão da frota. pela identificação de ovos dos mosquitos, em
“Além do conforto, buscamos qualida- Pernambuco. Em aldeias no Malaui, na Áfri-
de e segurança, com impactos indiretos na ca, a empresa integra um programa interna-
área ambiental e na redução de custos, pois cional de saúde infantil, liderado pela ONU,
o veículo lotado tem menor vida útil e emite em que realiza testes com tecnologia de reco-
mais poluentes” , explica Fábien Oliveira, um nhecimento facial para identificar sinais de
dos três engenheiros que juntaram expertises dor e doenças.
para lançar o negócio. “Nos dias atuais não faz sentido falar em
A corrida tecnológica começou em março inovação que mira somente acúmulo de ca-
de 2017, quando o grupo desenvolveu o pro- pital sem entregar ganho ambiental e social” ,
tótipo durante um hackathon (maratona de reforça Paulo Branco, vice-coordenador do
programação) da Empresa Metropolitana de Centro de Estudos em Sustentabilidade, da
Transportes Urbanos de São Paulo. Posterior- Fundação Getulio Vargas. Com uma ressal-
mente, o destaque no HackBrazil, competição va: “É uma armadilha colocar toda a ênfase
realizada nos EUA pela Universidade de Har- no impacto positivo, quando ainda há gran-
vard e pelo Instituto de Tecnologia de Massa- de necessidade de mitigação dos negativos,

28 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
e não podemos desviar nossas atenções dis- Na visão de Valéria Barros, especialista em
so. Precisamos de negócios adaptados a uma inovação do Sebrae, é baixo o risco de o atual
nova economia que caminha dentro dos li- movimento enfraquecer como algo efêmero.
mites planetários e entrega redução de de- “Não há mais volta” , diz, porque o mundo bus-
sigualdades, mas isso depende de modelos ca ir além do lucro e atingir escala de soluções.
mentais e visões de mundo” , explica Branco. Para ela, é estratégico diferenciar e fomentar
Ele enfatiza que a transição é lenta. Ain- empreendedores de impacto, “com olhar nas
da não estamos em um mundo novo. “Mal camadas de menor renda da população”. No
demos conta tempos atrás dos desafios da mantra do setor, a paixão deve estar no pro-
‘responsabilidade social corporativa’, depois blema, e não na solução – ou seja, o olhar des-
ampliados para o conceito de sustentabili- ses novos negócios se dirige a algo muito bem
dade, que agora cede espaço na cena ao gla- conhecido pela maioria dos seres humanos: a
mour dos negócios de impacto” , aponta. dor e a vontade de superação.

A EXPECTATIVA DE VIVER MELHOR Negócio social facilita reforma


de moradias na periferia
Na principal rua que cruza o Jardim Ibirapuera, bairro da periferia na Zona Sul de São Paulo, uma pequena loja
– estilosa, mas simples como as vizinhas – é parte de um empreendimento citado em palestras e entrevistas
como emblemático no campo dos negócios de impacto. O showroom vende sonhos que cabem no bolso de
clientes de baixa renda: pias e bancadas para banheiro, tintas, revestimento para piso, armários de cozinha
e outros produtos indicativos do problema que se pretende resolver, o da qualidade da habitação popular. “O
diferencial está no pacote de soluções que, além de materiais, inclui arquitetura, mão de obra e financiamento”,
explica Fernando Assad, sócio do Programa Vivenda.
Após experiência de trabalho em projetos de urbanização da prefeitura, em que as melhorias nas
favelas ocorrem das portas das casas para fora, Assad cultivou a ideia de olhar para dentro e transformar a
demanda por reforma em negócio. Em 2011, na fase de conceito e validação do modelo, logo se constatou a
necessidade de estruturar o mercado para oferecer algo mais e assim evitar a frustração de obras inacabadas.
“Precisávamos ser construtora, varejo e banco para financiamento ao consumidor”, diz o empresário, que
aproveitou o mestrado da Fundação Getulio Vargas como oportunidade para inovar.
Depois do primeiro impulso, via apoio da Artemisia, o segundo momento de aceleração, em parceria com a
Din4mo e o grupo Gaia, inspirou uma nova alternativa de crédito: a primeira debênture de impacto social do País,
que captou recursos com investidores de diferentes perfis – filantrópico e focado em retorno – no total de R$ 5
milhões, para realizar 8 mil reformas em cinco anos. No mecanismo, os investidores têm remuneração de 7%
ao ano. Se, depois de cinco anos, o retorno for maior que o esperado devido à baixa inadimplência, o excedente
será dividido entre prêmio aos investidores (30%) e doação de reformas a famílias que não podem pagar (70%).
“O plano é replicar o conceito no mercado financeiro”, revela Assad.
O negócio já realizou mais de 1,2 mil reformas na região e captou R$ 1,2 milhão em investimentos por meio
de uma plataforma de crowdequity. A meta é expandir o impacto positivo por meio de cinco novas lojas em
diferentes bairros da periferia, até 2020, prosperando ao ritmo do anseio por viver melhor, tendo como pano
de fundo a busca por melhorias nos índices habitacionais. O Brasil tem déficit habitacional de 6 milhões de
moradias, mas existem pelo menos 25 milhões de casas em condições inadequadas, atingindo mais da metade
da população brasileira.
Da impermeabilização à abertura de janelas e construção de cozinhas dignas, o serviço induz melhorias de
vida, como melhor rendimento escolar e convívio familiar. “Já reformei para abrir espaço na casa aos meus dois
filhos que dormiam no chão e agora quero colocar piso no banheiro para levantar o astral e receber visitas sem
passar vergonha”, conta a babá Vanda Rodrigues, moradora do Jardim da Felicidade, ao buscar auxílio na loja.

PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9 29
REPORTAGEM INVESTIMENTO

Como diversificar
os recursos
Novas modalidades de investimento de impacto se expandem
no ritmo das demandas por mudanças socioambientais
P O R S É R G I O A D E O D AT O

A
democratização das fontes de recur- de empresas inovadoras, em especial as que
sos, com viés coletivo e opções mais geram escala de ganhos sociais e ambientais, a
acessíveis que combinam diferentes partir de R$ 500 de aporte. No total, a iniciativa
perfis de capital, é vista como um dos acumula R$ 28,7 milhões investidos on-line.
principais desafios do atual momen- Investir em melhores condições de vida é
to de expansão dos negócios de impacto. Em um propósito que pega carona no movimento
2014, os financiadores do setor resumiam-se, de caçar unicórnios, ou seja, aplicar recursos
basicamente, a três fundos de investimento, de alto risco em startups nascentes na perspec-
que em geral aplicam valores acima de R$ 1 mi- tiva de que atinjam valor de mercado de mais
lhão, em poucas operações. Nos últimos anos, de US$ 1 bilhão. Com uma diferença: o que an-
têm surgido novos perfis de atores que apor- tes estava restrito a uma pequena fatia de in-
tam capital em soluções de impacto: institutos vestidores mais ricos hoje se dissemina como
e fundações, investidores anjos, family offices, alternativa para quem almeja apostar – inclu-
corporações, aceleradoras, organismos multi- sive com valores menores – em negócios bons
laterais. “Essa proliferação é importante para para o planeta. “Pode-se conectar mais pes-
garantir maior diversidade entre investimen- soas a diferentes causas, sendo assim também
tos, empréstimos ou doações” , explica Diogo ferramenta de engajamento” , ressalta Rizzo.
Quitério, coordenador de programas do Insti- Segundo mapeamento divulgado em 2019
tuto de Cidadania Empresarial (ICE). pela Pipe Social, 64% dos negócios de impacto
Em sua análise, “isso é essencial para co- estão captando até R$ 500 mil. A diversifica-
brir empreendimentos que estão em estágios ção de modalidades financeiras pode dimi-
diferentes do ciclo de vida, além da possibi- nuir o gargalo financeiro da fase inicial das
lidade de agregar apoios adicionais, como soluções – de maior risco, porque as ideias
gestão, contatos e mentoria (smart money)”. ainda engatinham. Por isso também são ca-
Uma discussão global tem sido a expansão rentes de capital, principalmente de menor
da possibilidade de indivíduos de renda mé- porte, na medida certa para decolar. O abis-
dia ou menos conectados à agenda de impac- mo reflete-se no mercado como um todo: se a
to também aportarem capital no segmento. atividade no estágio de “semente” diminuir,
Nesse sentido, plataformas digitais de inves- dizem os analistas, o pipeline (portfólio) dos
timento coletivo ganham crescente espaço, investimentos nas fases mais adiantadas de
somadas aos demais instrumentos financei- crescimento também declina com o tempo.
ros mais utilizados neste mercado. “São necessários mecanismos capazes de
“O crowdfunding rompeu estigmas e já não é alinhar expectativas e promover o encontro
mais uma mera vaquinha virtual” , analisa Fre- entre investidores e empreendedores” , afir-
derico Rizzo, fundador da Kria, plataforma na ma Leonardo Letelier, CEO da Sitawi, que em
qual pequenos investidores tornam-se sócios 2017 começou a operar empréstimos coleti-

30 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
RAWPIXEL
vos, com ênfase na área socioambiental. va. Posteriormente, desenvolveu portfólio hoje
Um dos
No mundo do investimento de impac- direcionado à educação e moradia, gerido pelo investimentos,
to, nem sempre retorno financeiro e efeitos escritório da família, a Acadia Investimentos. de R$ 200 mil,
sociais positivos ocorrem na mesma pro- “Criar responsabilidade sobre nosso pa- contemplou
a Manioca,
porção. O tema da distribuição dos ganhos e trimônio, sabendo a quais atividades está startup que leva
dos riscos é recorrente. “Ao se privilegiar o associado, é importante: daqui a um tempo, ingredientes
lucro, as oportunidades de impacto podem quem não contribuir socialmente não terá da Amazônia
ao mercado de
não aparecer” , adverte Letelier, para quem as êxito no mercado” , justifica o empresário alimentos, gerando
alternativas devem abranger doações, inves- Rodrigo Pipponzi. Novos conceitos vieram à desenvolvimento
timentos de capital e empréstimos para ONGs tona ao mostrar à família a possibilidade de sustentável na
região
e empresas. De acordo com o Global Impact investir melhor – tarefa de certa maneira fa-
Investing Network (GIIN), o conceito desses cilitada porque ele próprio opera um negócio
negócios abrange tanto retorno financeiro com pegada social, a Editora Mol, que produz
Amit Bouri,
como intenção de impacto social e ambiental, publicações para redes varejistas e repassa
presidente do GIIN,
positivo e mensurável, podendo ocorrer em parte do valor como doação a organizações. tem pedido senso
mercados emergentes ou desenvolvidos. Posteriormente, Pipponzi começou a finan- de urgência aos
investidores no
ciar startups voltadas a soluções de impacto so-
sentido de alinhar
ENGAJAMENTO DO TOPO DA PIRÂMIDE cial e ambiental. “Não estou dando apenas di- capital novo à
Agricultura sustentável, energia renová- nheiro, mas mentoria e acesso a redes” , explica. agenda dos ODS,
em função dos
vel, conservação, microfinanças e serviços Além de apoiar o negócio social da VerBem, de
riscos da inação à
básicos como habitação, saúde e educação São Paulo, que visa mudar a realidade de milhões economia e à vida
estão no alvo de famílias de alta renda que de pessoas sem dinheiro para comprar óculos, o das pessoas
procuram conexão com investimentos que investidor aposta nos objetivos da Sumá, cujo
façam diferença na sociedade. “É um traba- trabalho conecta pequenos agricultores direta-
lho passo a passo para o entendimento de que mente ao mercado em Santa Catarina. A Sumá
estamos falando de negócios e não de Tercei- Dessa forma, o papel dos family offices permite que os
compradores de
ro Setor” , revela Luiza Camargo Nascimento, desponta no campo dos negócios de impacto,
alimento elaborem
dedicada a disseminar a ideia de que o sentido com engajamento, novas reflexões e apren- seus cardápios
dos negócios não se limita ao lucro. dizados, a exemplo do que vem sendo perce- de acordo com os
planos de produção
O objetivo foi ir além da filantropia. Após bido no âmbito da iniciativa FORImpact, con-
locais e em sintonia
leituras e contato com o novo pensamento que duzida pelo ICE (leia mais à pág.18). com a sazonalidade
emergia, a investidora integrou uma inicia- No entanto, a expansão depende de ques- dos produtos
tiva que beneficiou o Banco Pérola, voltado a tões conjunturais: “a falta de clareza tributá-
microcrédito para atividades produtivas, em ria, que aumenta riscos, tem sido um impedi-
Sorocaba (SP). “Precisamos cultivar lideranças tivo”, aponta Flavia Regina de Souza Oliveira,
dispostas a assumir o processo de mudança de sócia do escritório de advocacia Mattos Filho.
visão em cada família” , recomenda Nascimen- “É preciso olhar para as oportunidades de
to, cuja experiência tomou impulso ao se tornar um jeito que atenda a legislação e, ao mesmo
associada do ICE, em 2011, no projeto de fortale- tempo, a expectativa de resultados socioam-
cer os atores do ecossistema no qual já trafega- bientais” , recomenda.

PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9 31
INVESTIMENTO

A meta da ASID
é impactar 10 LIMITES DO LUCRO PARA QUEM ESTÁ MADURO
milhões de pessoas
“Novas alternativas são testadas conside- No caso de investimentos entre R$ 1 milhão
até 2025, com
empoderamento rando o social não apenas por meio da doação e R$ 3 milhões em negócios já na rua, com caixa
das famílias e do alto retorno financeiro” , afirma Fernando em crescimento, “a atenção está no alcance de
e inclusão no
Simões Filho, sócio da Bemtevi, cujas opera- escala do impacto, na rapidez das decisões e ca-
mercado de
trabalho ções se baseiam na troca de juros por impacto. pacidade executiva do empreendedor, na me-
Na modalidade, o valor pago de volta pelo em- nor vulnerabilidade em relação à concorrência
preendedor diminui conforme a entrega dos e no retorno financeiro maior do que os investi-
A Eureciclo
certifica a efeitos sociais contratados, diferente do modelo mentos” , explica Andrea Oliveira, cofundadora
logística reversa tradicional de venture capital. Entre as iniciativas da Positive Ventures, gestora de fundos de capi-
de embalagens beneficiadas, está a ASID, de Curitiba, que em tal que investiu R$ 1,2 milhão na Eureciclo,
junto a empresas
que investem em um ano dobrou o faturamento prestando servi- que leva inovação à gestão de resíduos. Após
cooperativas de ços a empresas e instituições no campo da inclu- um ano e meio, o negócio, hoje com 835 clientes,
reciclagem para a são social de pessoas com deficiência. já proporcionou retorno cinco vezes superior ao
coleta dos materiais
como comprovação “No meio rural, o abismo entre oferta e de- valor inicialmente investido.
do cumprimento da manda por investimento é gigantesco” , avalia Diante do êxito, formou-se um comitê de
Política Nacional de Valmir Ortega, diretor-executivo da Conex- investidores reunindo know-how para abrir
Resíduos Sólidos
sus, rede criada para interligar negócios de novas portas. O resultado será o lançamento
base comunitária a investidores que buscam de um novo fundo de impacto, com registro na
A Peabiru oportunidades de impacto. Dos 3 mil mapea- Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que
beneficia 120 dos no Brasil, 300 receberão capacitação e os alocará maior volume de recursos à Eureciclo.
famílias rurais em
20 comunidades, 70 mais maduros serão preparados para o A convicção é de que negócios com am-
além do serviço mercado. Parte expressiva deles na Amazô- bição de resolver desafios globais, como a
de polinização nia, onde a Peabiru Produtos da Floresta questão do lixo urbano, “ganharão escala ao
da agrofloresta
e redução do recebeu investimento para expandir a pro- demonstrar capacidade de atrair capital pri-
desmatamento dução de mel de abelhas nativas sem ferrão. vado” , conclui Oliveira.

O DESAFIO DA MENSURAÇÃO
Uma premissa dos investimentos é medir os seus efeitos para a sociedade. De um lado, o investidor quer
saber se o dinheiro está entregando o que se propõe. De outro, o empreendedor esbarra em dificuldade técnica
e financeira para dar respostas. Nem sempre existem variáveis de qualidade de vida de fácil medição, situação
que muitas vezes impede comparar o antes com o depois como manda a regra, por meio de grupo de controle.
“No fim do dia, trata-se de algo complexo, caro e demorado, fora da realidade das startups”, analisa Haroldo
Torres, um dos fundadores da Din4mo.
A solução, segundo ele, passa pelo uso de plataformas digitais de menor custo e auxílio para se criar
indicadores e construir uma cultura de avaliação. “Além de procedimentos para captar dados regularmente,
é legítimo trazer vivências, histórias de vida e outras informações qualitativas que retratam o impacto”, diz o
empresário, ao lembrar que “não bastam apresentações cheias de criancinhas sorridentes”.
A discussão em torno da mensuração pode, enfim, fortalecer empreendedores e investidores, mas há o
dilema de como financiá-la em maior escala. A Fundação Bill e Melinda Gates, por exemplo, decidiu separar
10% do investimento para a avaliação com metodologia científica. “Há relatos de que organizações evoluídas no
tema são mais capacitadas a captar recursos e, se isso for comprovado, teremos mais empresas interessadas
na prática”, conclui Torres. Daniel Brandão, da Move Social, concorda: “A pressão por resultados aumenta, mas
a forma de medi-los não é um consenso”. Ele explica que o conceito da avaliação é antigo; provém da escola
americana no campo da filantropia, mas hoje precisa de um novo olhar. “O intercâmbio de expertises é chave
para chegarmos a fórmulas mais flexíveis, conforme os diferentes estágios de desenvolvimento do negócio."

32 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
ADRIANA BARBOSA
Empreendedora e fundadora da Feira Preta. Foi considerada pelo Most Influential People of African
Descent uma das 100 pessoas afrodescendentes (e com menos de 40 anos) mais influentes do planeta
artigo

Da base para a base


Empreendedorismo negro e de periferia promove cidadania ao unir os resultados financeiros
à geração de benefícios para as suas comunidades

P
or um longo período de tem- e inovadores liderados pelo B2B: da base
po, empreendedores negros da pirâmide para a base.
e de periferia iniciavam seus
negócios majoritariamente por REINVENÇÃO PESSOAL
necessidade. Onde isso começa? Na liber- O empreendedorismo alavancou mi-
tação dos escravos há 130 anos, quando nha própria história de reinvenção. Cresci
uma abolição inacabada não incluiu qual- em um ambiente escasso de recursos fi-
quer tipo de reparação social e apoio na nanceiros, mas extremamente abundan-
transição para a sonhada liberdade. te na criatividade e no afeto. Venho de uma
Esse ponto de partida traz muitos família liderada por mulheres negras, fui
desafios sociais e econômicos que con- educada por um trio ancestral: bisavó,
tinuam a impactar a comunidade negra e avó e mãe. O matriarcado define o que
periférica no Brasil. A pesquisa A Voz e a sou. Lembro ainda hoje das soluções in-
Vez – Diversidade no Mercado de Consu- ventivas de minha bisavó, que abria nossa
mo e Empreendedorismo, estudo inédito dispensa, pegava o que tinha disponível,
encomendado ao Instituto Locomotiva cozinhava e colocava para vender. O lega-
pelo Instituto Feira Preta, com apoio do do dessa herança feminina foi um estilo de
Itaú, revelou o perfil dos empreendedo- vida bastante empreendedor.
res negros no País: 29% dos que traba- Aprendi a me virar vendendo peças
lham têm o seu próprio negócio, totali- de roupas usadas nas ruas de São Paulo
zando 14 milhões de empreendedores e, com pouco mais de 20 anos de idade,
que movimentam, aproximadamente, criei a Plataforma Feira Preta. Trata-se
R$ 359 bilhões em renda por ano. No Mas, segundo pesquisa A Voz e a Vez, os de um negócio de impacto social que
entanto, 82% dos empreendedores ne- negros do País já movimentam anualmen- fortalece artistas e empreendedores
gros não têm CNPJ (frente a 60% dos em- te R$ 1,7 trilhão em renda própria. Quase negros por meio de um processo sistê-
preendedores não negros) e 57% deles 18 milhões de empreendedores das clas- mico que possibilita o match entre quem
acreditam que pessoas negras sofrem ses C, D e E movimentam mais de R$ 228 produz e quem consome, com serviços e
preconceito quando tentam abrir seu bilhões de consumo por ano. Cerca de 168 produtos voltados para atender as espe-
próprio negócio no Brasil. milhões de pessoas integram as camadas cificidades da população negra.
Esses indicadores trazem um retrato com faixas de renda mais baixas, segundo A Feira Preta já mobilizou mais de 200
de escassez do ponto de vista de oportu- o último Censo do Instituto Brasileiro de mil visitantes ao longo de suas 17 edições
nidades para todos, mas também é pre- Geografia e Estatística (IBGE). e mais de 300 empreendimentos passa-
ciso celebrar a abundância das transfor- O maior fenômeno nesse contexto ram durante as imersões do Afrolab, um
mações nos últimos 20 anos. é que o público negro pesquisado em A laboratório itinerante pra lá de criativo
Em meados dos anos 1990, a pauta Voz e a Vez, em sua maioria formado por de pré-aceleração para afroempreen-
do empreendedorismo negro tornou-se jovens, não sonha mais com emprego pú- dedores, que dá suporte em criação,
relevante e começou a tomar forma, à blico ou carteira assinada, mas em ter o produção, distribuição e consumo. Além
medida que as lideranças negras apon- próprio negócio e fazê-lo prosperar. de São Paulo, o programa já passou por
taram o poder de consumo dessa imen- Os empreendedores negros e da pe- Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador,
sa parte da população no Brasil, pouco riferia desafiam cotidianamente as bar- Maceió, Recife e São Luís. E mais de R$
atendida pelas empresas. Com isso, nas- reiras da exclusão para inovar e crescer. 5 milhões já foram movimentados entre
ceu a discussão em torno de empreende- Têm promovido a cidadania ao resolve- os empreendedores e consumidores.
dores da base da pirâmide que ofereces- rem problemas de exclusão social e ra- Assim como na minha trajetória e
sem produtos e serviços à população cial, ao unir os resultados financeiros à na de minha bisavó semianalfabeta, a
negra e de periferia. geração de benefícios para as suas co- história se repete, em renovados ce-
Muita gente ainda acredita que as pes- munidades e territórios carentes de ser- nários, para driblar a escassez e criar
soas da periferia não têm poder aquisitivo viços básicos, mas abundantes de opor- estratégias de abundância – este, sim,
para comprar determinados produtos. tunidades para novos negócios criativos o nosso real talento.

PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9 33
MÃO NA MASSA
PARA EMPREENDEDORES

Impacto garantido

SHANE ALBUQUERQUE/UNSPLASH
Modelo C, uma nova abordagem uti-
lizada para comprovar a consistência
dos negócios de impacto social, sur-
giu da integração de duas ferramentas que
vêm sendo usadas até o momento, o Busi-
ness Model Canvas e a Teoria de Mudança.
Segundo guia de apresentação, disponível
para download em www.cmodel.co, a nova
metodologia valoriza e se nutre das duas
anteriores, com o propósito de contribuir
para amadurecer os negócios de impacto
em sua capacidade de transformação da
sociedade. O Modelo C pode ser usado em
qualquer fase do negócio, da ideia até a es-
cala. Seu objetivo é auxiliar os empreen-
dedores a desenhar sua lógica de impacto
associada ao modelo de negócio.

PARA ACADÊMICOS
Docência, pesquisa e extensão

O
site da Rede de Professores do Pro-
grama Academia ICE é um espaço
aberto a professores de instituições
PARA INVESTIDORES
de ensino superior onde é possível encon-
trar ementas de cursos, artigos, vídeos, Alternativas com impacto
apresentações e acervo bibliográfico liga- A Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto lançou, no início de
dos ao tema dos investimentos e negócios 2019, uma publicação que mapeia alternativas para investidores interessa-
de impacto. A iniciativa partiu de um grupo dos em produtos financeiros de impacto social (acesse em bit.ly/2uVyXf5). O
de professores que começou a se reunir trabalho, realizado com apoio do ICE e da consultoria Impactix, apresenta um
em 2013, a convite do Instituto de Cidada- panorama das oportunidades para alocação de capital para impacto, consi-
nia Empresarial, com o objetivo produzir e derando: produtos financeiros, como fundos de venture capital e títulos de
disseminar conhecimento sobre negócios renda fixa; veículos para investimento direto, como as plataformas de finan-
de impacto e finanças sociais. A Rede reúne ciamento coletivo; redes que identificam negócios para eventual investimen-
atualmente mais de 80 docentes de todo o to direto; e distribuidores de produtos financeiros de impacto de terceiros.
País. Saiba mais em ice.org.br/blog-2019.

PARA GESTORES PÚBLICOS E EMPRESÁRIOS


Conexões poderosas
Faz parte da missão da Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto atrair também governos. O guia Gestores Munici-
pais Compram Soluções de Negócios de Impacto (acesse em bit.ly/2Uhb6Wz) apresenta o conceito para gestores inovadores e sua
conexão com eficiência e aperfeiçoamento de políticas públicas. A Aliança sugere haver espaço também para fortalecer a cadeia
de impacto das grandes empresas como forma de gerar e proteger valor. Segundo o manual Oportunidades para Grandes Em-
presas (bit.ly/2K8JYEo), existem três motivações para conectar empresas ao campo dos investimentos e negócios de impacto:
revisar ou fortalecer propósito; endereçar desafios internos e externos da operação; e estar atento às inovações.

34 PÁ G I N A 2 2 M A I O 2 0 1 9
Conquistas RELATÓRIO

e Avanços 2018
do Ecossistema
de Investimentos
e Negócios de
Impacto no Brasil

INICIATIVA PATROCINADORES ALIANÇA


MENSAGEM DA ALIANÇA PELOS
INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS DE IMPACTO
A Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto Nos últimos três anos, além de produzir conteúdos sobre
tem como objetivo ativar o ecossistema de impacto no Brasil Investimentos e Negócios de Impacto e fomentar algumas
através do mapeamento, conexão e apoio a agendas e iniciativas piloto, a Aliança tem monitorado anualmente os
atores estratégicos. No ano de 2015, ainda sob o nome avanços das recomendações. Ainda que não seja possível
de Força Tarefa de Finanças Sociais, a Aliança lançou 15 reportar a totalidade de iniciativas inovadoras que emergem
recomendações para fazer avançar esse campo até 2020, a cada ano, buscamos fornecer uma fotografia que ilustre
como fruto de um amplo trabalho de escuta e colaboração a percepção de que há um ecossistema em expansão -
com diversos atores nacionais e internacionais. seja pelo número e perfis de seus atores, pela distribuição
nas diferentes regiões do país ou pela diversidade dos
A expectativa dessas recomendações é desenvolver quatro formatos experimentados. O objetivo desses relatórios tem
dimensões ao mesmo tempo: aumento e qualificação do sido celebrar, repercutir e conectar as diversas iniciativas,
número de Negócios de Impacto no Brasil; ampliação da destacando que, sendo complementares, são todas
oferta de capital e diversificação de instrumentos financeiros necessárias para que o ecossistema possa amadurecer.
para fomento dos negócios de impacto; fortalecimento
de organizações intermediárias que conectam e apoiam Em 2018, estruturamos uma plataforma que convocou
empreendedores e investidores; promoção de um macro as organizações a registrarem iniciativas inovadoras
ambiente favorável, com lideranças nos setores público que começaram ou tiveram resultados efetivos no ano.
e privado comprometidas com a criação de marcos Agradecemos às 67 organizações que participaram
regulatórios direcionados à expansão do tema. reportando 146 iniciativas. Considerando que 78% das
ações registradas tinham co-realizadores (chegando
Como norteadores, as recomendações contemplam ainda em alguns casos a mais de vinte), é notável a entrada e
metas e atores a serem engajados, como por exemplo, aproximação de diversos atores em torno dos Investimentos
famílias de alta renda, líderes de fundações, docentes e e Negócios de Impacto. Muito obrigado a todos(as)
profissionais em formação na Academia, gestores públicos que se dedicaram ao tema no ano passado e aceitaram
e equipes de aceleradoras e fundos de investimento. compartilhar suas iniciativas e nos ajudar a contar essa
história.

Desejamos a todos que a leitura traga novidades e boas


ideias para parcerias e ações futuras!

Um abraço.

ALIANÇA PELOS INVESTIMENTOS


E NEGÓCIOS DE IMPACTO
Diretoria Executiva | Equipe ICE
Beto Scretas, Celia Cruz, Debora Souza, Diogo Quiterio

Conselho da Aliança (dez/2018)


Alice Freitas, Daniel Izzo, Fábio Barbosa, Guilherme Ferreira,
Heloisa Menezes, Luiz Lara, Marcos Vinícius de Souza,
Maria Alice Setubal, Rodrigo Menezes
ALINHAMENTOS IMPORTANTES
Considerando que este Relatório se propõe a registrar inciativas inovadoras que tenham sido criadas, significativamente
renovadas ou tido resultados entregues no ano de 2018, é importante reconhecer a existência de centenas de outras iniciativas
que movimentaram o ecossistema de Investimentos e Negócios de Impacto ao longo do último ano, mas que não são
apresentadas neste Relatório.

Este Relatório priorizou o reporte das iniciativas a partir de três critérios:

INOVAÇÃO
Projetos ou programas que representem uma forma
nova de fazer ou envolvam um público novo

APORTE AO CAMPO
Ações que tragam reflexão ou impacto para todo o campo
(e não apenas para um indivíduo ou grupo)

CONHECIMENTO PÚBLICO
Ações que sejam públicas e, preferencialmente,
estejam acessíveis para quem quer buscar mais informações1.

Este Relatório não reporta: As iniciativas reportadas foram organizadas em seis blocos:
• Novos produtos e serviços de negócios de impacto além das quatro dimensões que norteiam nosso trabalho
(apesar de interessantes e inovadoras, não dizem desde 2015 (Aumento de volume de capital + Ampliação
sobre a estruturação do campo. A plataforma Pipe do número de negócios de impacto + Fortalecimento de
Social alimenta o campo com dados a respeito); organizações intermediárias + Construção de um macro
• Iniciativas que ainda não foram lançadas ou com os ambiente favorável), consolidamos uma seção especial com
resultados mais significativos a partir de 2019; os eventos realizados e outra com as publicações lançadas
• Iniciativas sem fontes de consulta (quando a leitura sobre o tema ao longo de 2018.
se mostrar essencial para o seu entendimento);
• Iniciativas focadas exclusivamente em ONGs sem
geração de receita, projetos sociais ou processos
de doação.

1
Na versão eletrônica do Relatório, no site www.aliancapeloimpacto.org.br
o texto tem links para acesso a cada iniciativa.
AMPLIAÇÃO DA OFERTA DE CAPITAL
Esta dimensão reconhece iniciativas que ampliam o volume de recursos financeiros direcionados para Negócios de Impacto,
trazendo novos investidores e explorando diferentes instrumentos financeiros.

INSTRUMENTOS FINANCEIROS DE IMPACTO


Primeira saída bem sucedida de um investimento Maior captação via equity crowdfunding para
de impacto em participação acionária. um Negócio de Impacto
A Vox Capital vendeu para a seguradora Generali sua Finalizada em 45 dias, a captação via plataforma de
participação na empresa TEM, que comercializa cartões investimento coletivo mobilizou 105 investidores e R$ 1,02
pré-pagos de acesso à rede de médicos e serviços milhão para o negócio Mais 60 Saúde, que oferece
laboratoriais, obtendo taxa interna de retorno de 26% ao atenção primária para a saúde e bem-estar de idosos e
ano. Responsável: Vox Capital suas famílias em Belo Horizonte. Responsáveis: Din4mo e
Plataforma Krya
Estruturação do FITI - Fundo Inseed de Inovação
Tecnológica de Impacto Primeira debênture de impacto social do Brasil
Um Fundo de investimento (VC seed / early stage) com Primeira captação para impacto social via mercado de
foco em tecnologias como potencializadoras de impacto capitais, levantou R$ 5 milhões para financiamento de
e associadas a metas dos Objetivos de Desenvolvimento oito mil famílias de baixa renda que terão suas casas
Sustentável (ODSs). Responsáveis: Inseed Investimentos e reformadas pelo Programa Vivenda. Foi a primeira
SITAWI Finanças do Bem operação de impacto social distribuída por um banco de
varejo (Itaú Private). Responsáveis: Din4mo, Grupo Gaia,
Criação da Rede Dinheiro e Consciência TozziniFreire Advogados e Programa Vivenda
Iniciativa pioneira no Brasil para que investidores de médio
porte pudessem realizar empréstimos a partir de R$ 1 mil para Lançamento do Fundo Yunus Negócios Sociais
empresas considerando o seu impacto social. O resultado foi Criação de um veículo de investimento aberto para
a participação de 80 pessoas, que emprestaram um total R$ investidores que priorizem impacto social. Responsável:
1,25 milhão para financiar três negócios. Yunus Negócios Sociais
Responsáveis: Rede Dinheiro & Consciência, Fundação
Avina, Ecosocial e Instituto Liga Social

APROXIMAÇÃO COM NOVOS INVESTIDORES

1ª Rodada de Negócios B FORImpact - Family Offices de Impacto


Evento para conexão direta entre Negócios de Impacto Iniciativa que reuniu 12 famílias de alta renda e gestores
com soluções B2B e gestores de grandes empresas. A de patrimônio para investir R$ 1,2 milhão em 6 Negócios
primeira edição, realizada durante o 3º Fórum de Finanças de Impacto, via dívida simples e dívida conversível. O
Sociais e Negócios de Impacto, atraiu 100 empresas que processo, com capacitações sobre portfolios de impacto,
participaram de 180 reuniões. Responsável: Sistema B foi sistematizado para motivar outras famílias e family
offices a alocar capital nesse setor. Responsáveis: ICE e
Portas Abertas - Edição Saúde Impactix
Rodada de conexão de empreendedores com potenciais
clientes e com especialistas do setor, tanto da esfera pública Sponsorship Quintessa
como da privada. Responsáveis: Quintessa e Vox Capital Investidores financiam programas de aceleração para os
Negócios de Impacto e participam ativamente do processo,
Programa Partnerships for Forests oferecendo mentoria. Além de qualificar aspectos de gestão
Mobilização de capital privado para co-investimento em e modelos de rentabilidade dos negócios, o objetivo da
negócios que contribuam para uma melhor utilização do iniciativa é qualificar a tomada de decisão dos investidores
solo e redução de desmatamento no Brasil. R$ 16 milhões já na aplicação de mais recursos. Responsável: Quintessa
foram disponibilizados (entre doação direta e apoio técnico)
para 6 negócios. Responsável: The Palladium Group
MACROAMBIENTE FAVORÁVEL
Esta dimensão reconhece iniciativas jurídicas que normatizam questões chave para destravar recursos financeiros comprometidos
com impacto social, dão embasamento legal a novos instrumentos financeiros e apoiam a jornada dos empreendedores sociais.

IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA
NACIONAL DE INVESTIMENTOS E
NEGÓCIOS DE IMPACTO (ENIMPACTO) PROJETOS DE LEI
RELEVANTES PARA A AGENDA

1
Elaboração de anteprojeto de lei para
qualificação jurídica das “Sociedades
de Benefício”, institucionalizando
os elementos mínimos de propósito,
responsabilidade e transparência. Essa
chancela poderá beneficiar o processo de
O decreto presidencial de criação da ENIMPACTO, identificação e valorização dos Negócios
assinado em dezembro de 2017, instituiu a criação de um de Impacto, principalmente no processo
comitê responsável pela implementação e monitoramento da de compras e contratação por governos e
Estratégia, que tem duração de dez anos. O órgão colegiado grandes empresas.
foi formado por 26 membros, sendo 7 ministérios, 3 bancos
públicos, outras 6 organizações públicas e 10 organizações Status: Em tramitação no Ministério da
da sociedade civil. Economia. Sendo validado, seguirá para
a Casa Civil para nova validação e
Ao longo de 2018 o Comitê se estruturou em quatro grupos assinatura da Presidência da República e,
de trabalho, que mobilizaram outras trinta organizações seguida, para envio ao Congresso e início
para liderar ou apoiar a implementação de 25 ações da tramitação na Câmara.
conectadas às agendas estratégicas da Enimpacto. E tão
importante quanto essas ações, foi a rede criada em torno Responsável: Sistema B
do Comitê: “...as reuniões e os grupos de trabalho tornaram
o Comitê uma instância formadora e inspiradora para as
organizações participantes, que têm levado para discussões
e planejamentos internos a agenda de impacto. A expectativa 2
é que no médio prazo essa influência possa ser percebida
Projeto de Lei do Senado para criar
na institucionalização de mais políticas e programas
e disciplinar os Contratos de Impacto
norteados ou comprometidos com vertentes de investimentos
Social (PSL 338/18).
e negócios”. Texto do relatório anual de atividades do Comitê
de Investimentos Negócios de Impacto.
Status: Em tramitação no Senado Federal.
No momento, encontra-se na Comissão de
Membros do Comitê ENIMPACTO: Casa Civil; Ministérios
Constituição e Justiça (CCJ) aguardando
do Planejamento, Fazenda, Desenvolvimento Social, Relações
designação de relator.
Exteriores, Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações,
Industria, Comércio Exterior e Serviços; Banco do Brasil;
Responsável: Senador Tasso Jereissati
BNDES; Caixa Economia Federal; Sebrae; Finep; CVM
(PSDB/CE), com contribuições da
– Comissão de Valores Imobiliários; Apex Brasil; ENAP –
ENIMPACTO liderada pela SITAWI
Escola Nacional de Educação Pública; CNPQ; ABVCAP –
Finanças do Bem.
Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital; Anjos
do Brasil; Anprotec; BID; CNI; GIFE – Grupo de Institutos,
Fundações e Empresas; ICE; Pipe Social; Pnud e Sistema B.
AUMENTO DO NÚMERO
DE NEGÓCIOS DE IMPACTO
Esta dimensão reconhece iniciativas que ampliam quantitativamente os Negócios de Impacto, formando novos empreendedores
para construírem soluções em setores diversos e em todas as regiões do país, assim como iniciativas que qualifiquem as soluções
criadas, para que estejam mais maduras para receber investimentos e escalar seus resultados.

PROGRAMAS DE ACELERAÇÃO DE ATORES ESTRATÉGICOS


PARA O FORTALECIMENTO DO ECOSSISTEMA

1º Ciclo da ANIP – Aceleradora de Negócios 1º Ciclo de aceleração da Vale do Dendê


de Impacto da Periferia Processo de aceleração de seis meses para 10 startups
Programa voltado exclusivamente para empreendedores da periferia de Salvador focadas em economia criativa.
de periferias. A primeira turma, lançada em 2018, O ciclo disponibilizou acesso a ferramentas de
selecionou 10 negócios de impacto da zona sul de São gestão, captação e comunicação, além de uma
Paulo, que participaram de 8 meses de aceleração missão empresarial, que levou os empreendedores
e receberam até R$ 20 mil de capital semente. a São Paulo para conhecer potenciais investidores e
Responsáveis: Produtora A Banca – em parceria com parceiros. Responsável: Vale do Dendê.
Artemisia e FGVcenn (Centro de Empreendedorismo e
Novos Negócios) e Mov Investimentos. Programa de Aceleração de ONGs
Oportunidade para ONGs interessadas em repensar
Lab Habitação – Inovação e Moradia
sua atuação conhecerem possíveis modelos de
O Lab acelerou 15 startups com soluções de impacto
negócios, à luz dos conceitos do campo de Negócios
para tornar as moradias de milhares de brasileiros mais
de Impacto. Responsáveis: Phomenta, Instituto Sabin,
salubres, dignas e confortáveis – com o diferencial de
Instituto Cooperforte, Instituto Bancorbrás, Instituto BRB.
engajar atores da indústria de construção civil com
potencial de contribuir para a estruturação e crescimento
dessas soluções. Responsáveis: Artemisia, Cau-BR, Escola da Juventude
Instituto Gerdau, Instituto Vedacit, Tigre, Eternit, Votorantim Formação de grupo de jovens empreendedores sociais
Cimentos, Caixa Econômica Federal. na região da Mata Norte de Pernambuco. Responsável:
Instituto Fonte para o Desenvolvimento Social.

MAPEAMENTO E 1ª Chamada de Negócios e Programa de


RECONHECIMENTO DE MODELOS Aceleração da PPA 2018
A chamada recebeu 81 inscrições de startups
DE NEGÓCIO DE IMPACTO com atuação na Amazônia, das quais 15 foram
selecionadas para o Programa de Aceleração da PPA
(a ser realizado em 2019) e 4 receberam investimentos
no total de R$ 1,1 milhão. A seleção das finalistas
Caminho +B investidas foi realizada durante o FIINSA – 1º Fórum de
Implementação em empresas de capital aberto Investimentos de Impacto & Negócios Sustentáveis na
(ex: Movida) de metodologia de mensuração e Amazônia. Responsáveis: Idesam e PPA – Plataforma
melhoria das práticas de gestão e governança Parceiros pela Amazônia. USAID, CIAT, Denis Minev,
dos negócios. Responsável: Sistema B. SITAWI Finanças do Bem, Conexsus, Nesst, Pipe Social.
Desafio Conexsus – Fortalecimento da cadeia Programa VaiTec – Aceleração de negócios
alimentar sustentável tecnológicos nas periferias de São Paulo
O objetivo é fortalecer o ecossistema de negócios A primeira edição do programa VaiTec para negócios
florestais e rurais sustentáveis, com olhar especial (edições anteriores foram para projetos sociais)
para o desenvolvimento do potencial econômico das apoiou 24 iniciativas periféricas com R$ 32 mil cada,
organizações comunitárias. Foram realizadas 13 oficinas além de consultorias e workshops para tração dos
regionais com 260 representantes de cooperativas, empreendimentos. Responsáveis: Adesampa, Semente
associações e outras organizações ligadas à agricultura Negócios e Instituto Fundação Telefônica Vivo.
familiar, agroecologia, agrofloresta e aos povos e
comunidades tradicionais – a maioria situados em
áreas protegidas da Amazônia, terras de quilombolas
e indígenas. Entre os resultados, um mapeamento com Iniciativa Araucária+
mais 1.000 negócios comunitários sustentáveis. Conservação da Floresta com Araucárias através de
Responsáveis: Conexsus e Semente Negócios. uma rede de negócios e inovação, gerando valor para
a floresta e para as comunidades rurais que vivem em
seus territórios. Os produtores locais seguem padrões
Programa de Embaixadores Choice 2.0
sustentáveis de produção e são conectados a um mercado
Aplicação em diversas cidades fora de São Paulo
diferenciado, formado por empresas que adotam
(incluindo norte, nordeste, sul) da metodologia de
estratégias de inovação e sustentabilidade em seus
sensibilização e formação de jovens universitários e
produtos, demandando insumos de origem sustentável, com
egressos interessados em empreender com impacto.
informação e rastreabilidade agregada. Responsáveis:
O desafio foi criar e prototipar soluções inovadoras
Araucária+, Fundação CERTI e Fundação Grupo Boticário.
para o atingimento dos Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável. Responsável: Choice.
Labora – Laboratório de Inovação Social
Da Periferia para Periferia – Portfólio de Realização de três programas de aceleração voltados
Negócios de Impacto social da cidade para negócios da economia criativa visando o
de São Paulo desenvolvimento de empreendedores sociais e apoio na
Informações sobre 23 Negócios de Impacto criados na e construção de uma rede de impacto no Rio de Janeiro.
para a periferia, além de 12 casos de empreendimentos Responsáveis: Oi Futuro, Startup Farm, Instituto Ekloos e
que participaram da formação do Projeto Semente, que Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro.
já realizou 3 ciclos de capacitação nas periferias de
São Paulo. Responsáveis: Centro Integrado de Estudos
e Programas de Desenvolvimento Sustentável (CIEDS),
Fundação Arymax e Empreende Aí.

1ª Chamada de Bons Negócios pelo Clima


Chamada da Climate Ventures mapeou,
com apoio de atores do campo no Brasil, 330 iniciativas
que servem como referência para compreender os
desafios específicos de quem empreende pensando em
mudanças climáticas. Dez iniciativas foram selecionadas
para receber apoio.
Responsáveis: Climate Ventures, ClimateLaunchpad, aoka,
Instituto Clima e Sociedade, Pipe.Social, Fundação CERTI e
Instituto Arapyaú.
FORTALECIMENTO
DAS ORGANIZAÇÕES INTERMEDIÁRIAS
Esta dimensão contempla iniciativas que aumentam o número de organizações intermediárias, a diversidade de serviços
prestados, expandem sua abrangência geográfica e constituem redes para fortalecer sua atuação.

INCUBADORAS E ACELERADORAS
INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
3ª Rodada do Desafio de Incubação
e Aceleração de Impacto
Com o objetivo de impulsionar incubadoras e
aceleradoras de todo o Brasil para começar ou
aumentar a atuação com os Negócios de Impacto
social, a 3ª rodada capacitou 26 organizações por 5
meses, sendo 10 finalistas e 4 premiadas de diferentes
regiões do país. Responsáveis: Sebrae, Anprotec e ICE.

Revisão do Programa Nacional de Apoio


às Incubadoras de empresas e Parques
Tecnológico (PNI)
Negócios de Impacto foram incorporados no programa
que promove a integração entre os principais atores
C.ACTO (Coletivo de Impacto)
do sistema, elaborando e apresentando propostas
Rede formada por co-realizadores do Fórum
de financiamento, incentivos fiscais, qualificação de
de Finanças Sociais e Negócios de Impacto do
incubadas e promoção internacional de parques.
Nordeste para promover e fortalecer a agenda
Responsáveis: MCTIC – Ministério da Ciência,
de impacto no nível regional. Responsáveis: Porto
Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Digital, Associação Nacional por uma Economia
de Comunhão (Anpecom), CESAR School, Cesmac,
Incubadora Tecnológica de Empreendedores
Inclusão de critérios e indicadores de impacto Criativos e Inovadores (ITCG), Universidade Católica
na metodologia do CERNE de Pernambuco (Unicap).
O Centro de Referência para Apoio a Novos
Empreendimentos (CERNE) é uma plataforma que visa Expansão da agenda de
promover a melhoria expressiva nos resultados das impacto na Tecnopuc/PUCRS
incubadoras de diferentes setores. Sua metodologia foi Universidade no Rio Grande do Sul criou uma
atualizada com critérios de impacto, e 119 gestores de Certificação de Estudos em Empreendedorismo Social
incubadoras foram capacitados no novo CERNE, em e Negócios de Impacto e organizou estudantes em
eventos realizados em Natal, Belém, Florianópolis e Liga de Impacto na Escola de Negócios. Parque
Manaus. Responsável: Anprotec e Sebrae. tecnológico também tem agenda de impacto.
Responsável: Tecnopuc/PUCRS

Inclusão de serviços para a mensuração de Oficinas para professores


impacto no SEBRAETEC Parceria levou para o calendário institucional de
O Sebraetec apoia empreendedores a acessarem universidade em São Paulo ações coordenadas de
serviços especializados e customizados em áreas de formação do corpo docente de diversas áreas no
inovação. Mensuração de impacto passa a ser uma tema de empreendedorismo social.
área passível de apoio. Responsável: Sebrae. Responsáveis: Incubadora de Empresas Mackenzie –
SP, Choice e ICE
QUALIFICAÇÃO DE INTERMEDIÁRIOS
E REDES DE APOIO A EMPREENDEDORES DE IMPACTO

Nascimento da Aupa – Jornalismo em


Negócios de Impacto Social
Portal 100% dedicado a discutir e explicar o setor
de Negócios de Impacto no Brasil. Apresenta,
semanalmente, reportagens exclusivas e em
profundidade sobre o campo, oferecendo insights
valiosos tanto para os iniciados quanto para os
interessados e entusiastas. Responsável:
Aupa – Jornalismo em Negócios de Impacto Social

Plataforma Anual Feira Preta Climate Ventures


Suporte sistêmico para desenvolvimento do afro Plataforma de inovação para acelerar uma economia
empreendedor, considerando criação e produção regenerativa e de baixo carbono no Brasil. Incluiu, além
(Afrolab e Afrohub), visibilidade (Festival Feira Preta) e da 1ª Chamada de Bons Negócios pelo Clima, um
consumo (parceria com Mercado Livre para distribuição). laboratório de inovação aberta baseado na Teoria U que
Responsável: Instituto Feira Preta. reuniu 65 atores ligados a essa agenda para encontros
presenciais e jornadas de aprendizagem que resultaram
em 10 protótipos de ação coletiva. Responsáveis: aoka,
Nascimento da agência Atuação no Mundo Instituto Clima e Sociedade, Instituto Arapyaú e Proscience
Estruturação de empresa de mobilização e produção de
conteúdo focada em informar, sensibilizar e mobilizar as Enzima Lab
pessoas em torno da agenda de impacto. Responsável: Formação para institutos e fundações melhor
Atuação no Mundo. compreenderem os Investimentos e Negócios de Impacto,
e pensarem suas estratégias de engajamento nesta
Chamada Impulse agenda. Iniciativa respondeu à pouca oferta de ações
Chamada convocou o ecossistema a apresentar específicas para institutos e fundações. Responsáveis:
respostas para 5 desafios mapeados durante consulta Instituto Sabin, Din4mo e GIFE.
aberta previamente. Foram recebidas 107 propostas
e as 6 selecionadas receberam R$ 40 mil cada para
implementação. Responsáveis: Aliança pelos Investimentos
e Negócios de Impacto, ICE, Instituto Vedacit, British
Council e BID Lab.
EVENTOS
Em junho 2018 foi realizado o 3º Fórum de Finanças I Encontro Cearense de Empreendedorismo e
Sociais e Negócios de Impacto, em São Paulo que contou Finanças Sociais: um olhar diferenciado para o
com 1.100 participantes, 170 palestrantes nacionais e 4 avanço de negócios de impacto social – Fortaleza
internacionais. Organizado pelo ICE, Vox Capital e Impact (CE). Realização: Enactus/UFC.
Hub, o Fórum realizou uma chamada para conhecer e
apoiar eventos sobre o tema de Investimentos e Negócios Fórum Mineiro de Finanças Sociais e Negócios de
de Impacto que aconteceriam ao longo do segundo Impacto – Belo Horizonte (MG). Realização: Baanko.
semestre. O resultado desse levantamento foi um mapa
com 43 eventos de todas as regiões do Brasil. Ainda que Seminário Negócios de Impacto Social. Da teoria
cada evento seja único em seu formato e abordagem, à prática: conceito, inovação social, modelagem e
todos acabam por conectar e ativar ecossistemas locais, empreendedores sociais disruptivos – Campinas (SP)
promovendo um ciclo virtuoso de troca de conhecimento e Realização: Phomenta.
desenhos de parcerias futuras. Celebramos esse calendário
de eventos de 2018 e esperamos por novas edições!

Os dez eventos apoiados pela essa chamada foram:

Outros eventos de 2018:


Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto
– Brasília (DF). Realização: Impact Hub Brasilia, CDT-UnB,
Anprotec, Instituto Sabin, CEF. • 1º Fórum de Investimentos de Impacto
e Negócios Sustentáveis na Amazônia
O Impacto das Organizações de Impacto – Manaus (FIINSA) – Manaus/AM. Realização:
(AM). Realização: Impact Hub Manaus. IDESAM e PPA. Co-organizadores: Impact-
Hub Manaus e Nesst.
II Workshop Conexões Novas Narrativas para
Negócios de Impacto na Amazônia – Belém (PA). • Evento Impacto 2018 – São Paulo/SP.
Realização: Negócios – PCT Guamá. Realização: ABVCAP, ANDE, BID e Vox
Capital.
ELIS 2018 – Innovación Social: una mezcla entre • Seminário Finanças do Bem – o Estado da
gobierno, empresas y sociedad civil – Florianópolis Arte – São Paulo/SP. Realização: SITAWI
(SC). Realização: Wegov. Finanças do Bem.
1º Encontro de Negócios de Impacto Socio- • Simpósio de Investimento de Impacto em
Ambiental da Unisinos & Prêmio Roser – Porto Alegre Conservação, durante o 9º Congresso
(RS). Realização: Unisinos, Unitec e Sebrae/RS. Brasileiro de Unidades de Conservação
– Florianópolis/SC. Realização: Fundação
Festival de Impacto Social: Transformando a Grupo Boticário.
realidade com arte, negócios de investimentos
• Ocupação Afro.Futurista e Maratona
sociais – Curitiba (PR). Realização: Projeto Libria, Instituto
Tecnológica Afro.Futurista – Salvador/
Legado, Inside Lab e Rhodium.
BA. Realização: Aceleradora Vale do Dendê
e Mídia Étnica_Lab.
Fórum de Negócios de Impacto do NE – Recife (PE)
Realização: Porto Digital, Associação Nacional por uma • Conecta Lab e 1º Encontro de Negócios
Economia de Comunhão (Anpecom), CESAR School, de Impacto Social ES – Vitória/ES.
Cesmac, Incubadora Tecnológica de Empreendedores Realização: FOCO - Fundação Otacilio
Criativos e Inovadores (ITCG), Universidade Católica de Coser, Universidade Federal do Espírito Santo-
Pernambuco (Unicap). UFES, Instituto Federal do Espírito Santo.
PUBLICAÇÕES
A sistematização e disseminação de informações são essenciais para que o ecossistema de Investimentos e Negócios de
Impacto fortaleça sua identidade, organize seu repertório e faça repercutir a diversidade de abordagens, oportunidades e
desafios do investir com propósito e empreender com impacto. Consolidamos uma lista de 19 publicações de 2018, divididas
em 7 macro temas. (Na versão digital, você pode acessar as publicações clicando em cada título).

ECOSSISTEMA GRANDES EMPRESAS

Inovação e Impacto Socioambiental. Sinergias Oportunidades para Grandes Empresas:


e potencialidades da interseção dos ecossistema de Repensando a forma de fazer negócio e
impacto com o ecossistema de ciência, tecnologia e resolver problemas sociais. Manual para líderes
inovação. Realização: Wylinka e Flourish - Negócios de grandes empresas conectarem seus desafios de
com Propósito. operação com Negócios de Impacto. Realização:
Sense-Lab e Aliança pelos Investimentos e
Negócios de Impacto. Como as aceleradoras a
Negócios de Impacto. Apoio: Derraik Menezes,
incubadoras podem contribuir para a criação e o
Kimberly-Clark, PwC, Mattos Filhos, Nestlé.
fortalecimento de negócios que oferecem soluções
para problemas sociais e ambientais. Realização: ICE,
Anprotec e Sebrae.
Pesquisa Nacional sobre Aceleração de INSTITUTOS E FUNDAÇÕES
Negócios de Impacto: Um olhar sobre as
práticas atuais. Realização: Sebrae.
Fundações e Institutos de Impacto. FIIMP -
Gestão do Conhecimento no Ecossistema de Nossa Jornada de Aprendizado em Finanças
Negócios de Impacto no Brasil. Sociais e Negócios de Impacto. Grupo de
Realização: Sebrae. 22 fundações e institutos reunidos para aprender
Retrato dos Pequenos Negócios Inclusivos e de como atuar no campo e qual o papel do recurso
Impacto no Brasil. Realização: Sebrae. filantrópico nesse ecossistema. Realização:
Childhood, Fundação BMW, Fundação Grupo
Estudo Tsunami60+. Com o foco na população Boticário, Fundação Lemann, Fundação Otacílio
acima de 60 anos no país, incentiva novos negócios Coser (FOCO), Fundação Raízen, Fundação
e soluções voltadas para esse público. Telefônica Vivo, Fundação Tide Setúbal, Fundo Vale,
Realização: Pipe Social. Instituto Ayrton Senna, Instituto Coca-Cola, Instituto
Cyrela, Instituto de Cidadania Empresarial (ICE),
Instituto EDP, Instituto Holcim, Instituto InterCement,
Instituto Phi, Instituto Sabin, Instituto Samuel Klein,
FERRAMENTA DE APOIO Instituto Vedacit, Instituto Votorantim e Oi Futuro.
A EMPREENDEDORES Olhares sobre a atuação do investimento
social privado no campo de negócios de
Modelo C. Ferramenta que integra as impacto. Informações sistematizadas para que
metodologias Canvas e Teoria de Mudança para institutos e fundações possam compreender e
uma abordagem mais completa para o desenho traçar estratégias de engajamento com o campo.
de modelos de negócios de impacto. Realização: Realização: GIFE, Oi Futuro, Instituto Vedacit, Instituto
Move Social, Sense-Lab, Fundação Grupo Sabin, Instituto Intercement, ICE e Instituto C&A.
Boticário e ICE.
Casos clínicos de mensuração e avaliação de
impacto (Rede Asta e ASID Brasil). Realização:
Aliança pelos Investimentos e Negócios de
Impacto e Insper Metricis.
INSTRUMENTOS FINANCEIROS INVESTIMENTO DE IMPACTO

Cartilha sobre Contratos de Impacto Social. Panorama do setor de Investimentos de


Realização: SITAWI Finanças do Bem, Mattos Filho, Impacto no Brasil. Realização: ANDE, LAVCA,
da TORUS Consulting e do Governo do Estado de Semente Negócios, Fundação Grupo Boticário,
São Paulo. ABVCAP, ICE e UBS.
Como as Instituições Financeiras Locais e Panorama do Setor de Investimentos de
Internacionais estão se posicionando no tema Impacto no Brasil Brasil - Spotlight Setorial:
de investimento de impacto. Realização: Aliança Inclusão Financeira. Realização: ANDE, LAVCA,
pelos Investimentos e Negócios de Impacto e Itaú. Semente Negócios.
Garantias para financiamento e investimento Panorama do setor de Investimentos de
em Negócios de Impacto. Realização: Alexandre Impacto no Brasil Brasil - Spotlight Setorial:
Guerra e Aliança pelos Investimentos e Negócios Investimentos de Impacto em Conservação
de Impacto. da Biodiversidade. Realização: ANDE e Fundação
Grupo Boticário.
Investimento de Impacto na Amazônia:
PERIFERIA, RAÇA E GÊNERO Caminhos para o Desenvolvimento
Sustentável. Mecanismos de investimento, tipos
A VOZ E A VEZ: Pesquisa Nacional sobre de empreendimento, cadeias de valor, obstáculos e
Diversidade no Mercado de Consumo e oportunidades ao investimento na área. Realização:
Empreendedorismo. Realização: Instituto Feira SITAWI Finanças do Bem. Apoio: USAID CIAT
Preta, Instituto Locomotiva e Itaú. IDESAM e PPA.

Nos últimos quatro anos a Aliança lançou 18 publicações sobre Investimentos e Negócios de Impacto.
Acesse o site aliancapeloimpacto.org.br/publicacoes, conheça e dissemine esses conteúdos.

RELATÓRIO 2018 – CONQUISTAS E AVANÇOS DO ECOSSISTEMA


DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS DE IMPACTO NO BRASIL EM 2018

Realização: Diogo Quitério, Debora Souza, Celia Cruz, Beto Scretas


Diagramação: Zapall
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