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1. A PERSONALIDADE PROVISÓRIA
Talvez o primeiro passo necessário para que a passagem do meio seja significativa seja
reconhecer a parcialidade da lente que recebemos da nossa família e da nossa cultura, e através
da qual fizemos nossas escolhas e sofremos suas consequências. Todas essas informações
geraram uma vida condicional, que não representa quem somos, mas o modo como fomos
condicionados a ver a vida e fazer nossas escolhas. Assim sendo, acreditamos que a nossa
maneira de encarar o mundo é a única forma como ele pode ser visto e nem sequer suspeitamos
da natureza condicionada da nossa percepção.
O caráter individual dessa defeituosa noção do eu, bem como as estratégias que são
desde cedo elaboradas e moldadas numa personalidade variam segundo a natureza da
experiência infantil. A partir de cada categoria de sofrimento – de abandono ou de opressão –
um complexo de comportamento se expande como reação inconsciente e reflexa.
Essas feridas, bem como as várias reações inconscientes adotadas pela criança interior,
tornam-se fortes determinantes da personalidade adulta. A criança não consegue incorporar
uma personalidade que se expressa livremente; em vez disso, é a experiência da infância que
molda seu papel no mundo. A partir do sofrimento da infância, portanto, a personalidade adulta
é mais uma reação reflexa às primeiras experiências e traumas da vida do que uma série de
escolhas.
Quase toda sensação de crise na meia-idade é provocada pela dor dessa separação. A
disparidade entre a concepção interior do eu e a personalidade adquirida torna-se tão grande
que o sofrimento não mais pode ser reprimido ou compensado. Ocorre então o que os
psicólogos chamam de descompensação. A pessoa continua a atuar a partir de antigas atitudes
e estratégias, mas estas já não são eficazes. Os sintomas de aflição da meia-idade devem na
verdade ser bem recebidos, pois representam não apenas um eu instintivamente firmado
debaixo da personalidade adquirida, mas também uma poderosa imposição de renovação.
A passagem do meio começa como uma espécie de pressão tectônica que vem de baixo
para cima. A noção adquirida do eu, com suas percepções e complexos agregados, sua defesa
da criança interior, começa a ranger e ringir contra o Si-mesmo, que busca a própria realização.
Do ponto de vista terapêutico, os sintomas devem ser bem recebidos, pois eles não
apenas servem de flechas que apontam para a ferida, como também exibem uma psique
saudável e auto-reguladora em funcionamento.
Segundo Jung, a NEUROSE “precisa em última análise ser compreendida como o sofrimento
de uma alma que não descobriu seu significado”.
Todas essas grandes perguntas foram feitas pela criança que fomos um dia, enquanto
observávamos em silêncio os adultos, mas, o peso da educação da educação escolar, a pressão
da vida familiar e o processo de aculturação gradualmente substituem a sensação de admiração
reverente da criança por expectativas normativas e certezas culturais.
Os tremores sísmicos frequentemente ocorrem no final da casa dos vinte anos, mas é
muito fácil deixarmos de dar atenção a eles nessa época em que nossa vida encontra-se no auge.
A infância se caracteriza pelo pensamento mágico. O ego da criança ainda não foi
testado na prática, ainda não está claro a respeito dos limites existentes. O mundo externo e
objetivo, bem como o mundo interno e o faz-de-conta são frequentemente confundidos. Os
desejos parecem possibilidades e até mesmo probabilidades. Eles representam o narcisismo da
criança que quer acreditar que é o centro do cosmo. Esse tipo de pensamento é inflacionado e
ilusório, mas numa criança é inteiramente saudável e maravilhoso. “Quando eu crescer vou usar
um vestido branco e me casar com um príncipe.”, “Vou ser um astronauta.”
Tente se lembrar de seus desejos mágicos na infância e reflita a respeito do que a vida fez a
eles.
Desse modo, a vida nos leva em direção a uma perspectiva diferente, a uma
acomodação da inflação e da arrogância, e ensina a diferença entre esperança, conhecimento e
sabedoria:
Mudanças de identidade
Além das muitas subfases, sendo cada qual uma transição que exige algum tipo de
morte, existem na vida quatro fases principais, cada qual com o poder de definir a identidade
da pessoa.
Os complexos paterno e materno bem como a autoridade dos papeis oferecidos pela
sociedade possuem poder suficiente para atrair as projeções de qualquer um que ainda esteja
explorando a vida no mundo. O Si-mesmo frequentemente se expressa através de sintomas,
mas o poder das projeções é tão grande que podemos manter afastadas as principais questões
da jornada. Quando as projeções se desgastam a pessoa não mais consegue evitar a revolta do
Si-mesmo. Ela precisa então admitir sua impotência e perda de controle. O ego nunca esteve no
controle, mas, ao contrário, é dirigido pela energia dos complexos maternos, paterno e coletivo,
sustentado pelo poder das projeções sobre os papeis oferecidos pela cultura àqueles que
tencionam se tornar adultos.
Terceira Identidade – SEGUNDA IDADE ADULTA – tem início quando as projeções da pessoa se
dissolvem. A sensação de traição, do fracasso das expectativas, o vazio e a perda de significado
que ocorrem com essa dissolução, criam a crise da meia-idade. É nessa crise, contudo que a
pessoa tem a oportunidade de tornar-se um indivíduo. O trabalho com os idosos, em que cada
um tem de enfrentar a perda e antever a morte, expõe claramente duas categorias:
1. aqueles para quem a parte que resta da vida ainda está repleta de desafios, ainda merece
bom esforço;
2. aqueles para quem a vida está cheia de amargura, arrependimento e medo.
Os primeiros são invariavelmente aqueles que passaram por uma luta anterior, experimentaram
a morte da primeira idade adulta e aceitaram maior responsabilidade pela sua vida. Eles passam
seus últimos anos vivendo de modo mais consciente. Os que evitaram a primeira morte são
perseguidos pela segunda, com medo de que sua vida não tenha sido significativa.
Quanto mais tradicional o casamento, quanto mais rígido o papel de cada sexo, mais
provável é que os parceiros se vejam arrastados para direções opostas. O homem, após chegar
ao topo, diminuiria o seu ritmo ou se aposentaria. A mulher, tendo dedicado-se à vida familiar,
sente-se desvalorizada e estagnada, e passa a querer voltar a estudar ou encontrar um trabalho
renovador. Acontece aqui, que cada um dos parceiros esgotou uma importante área de
projeção de identidade e deseja recomeçar. A boa notícia diz respeito ao fato de que uma
genuína renovação pode surgir dessa insatisfação e outra faceta do potencial do indivíduo pode
ser explorada para benefício de todos. A má notícia é que uma projeção só pode ser trocada por
outra, mas mesmo assim, a pessoa se aproxima mais daquele encontro com o Si-mesmo. Se um
dos cônjuges se sente ameaçado pela mudança, e resiste, ele pode estar certo de que passará a
conviver com um parceiro zangado e deprimido. Na aprovação do casamento, a mudança não
ocorrerá necessariamente para melhor, mas será inevitável. De outro modo, o casamento
poderá não sobreviver, especialmente se impede o crescimentos de qualquer um dos parceiros.
Ainda outra projeção, que precisa ser dissolvida na meia-idade, está relacionada com o
papel do pai ou da mãe como protetor simbólico. Mesmo quando o relacionamento com os pais
foi problemático ou distante, um dos pais, ou ambos, ainda estão simbolicamente presentes
para proporcionar uma barreira psíquica invisível. Enquanto a figura da pai ou da mãe estiver
viva, sobreviverá um amortecedor psíquico contra o desconhecido e perigoso universo. Quando
ela é removida, a pessoa frequentemente sente o sopro da ansiedade existencial.
Embora existam muitos outros tipos de projeção que não conseguem sobreviver à
primeira idade adulta, a perda de expectativas com relação ao casamento, aos filhos, à carreira
e aos pais como protetores são as que mais se destacam.
Quarto – ela levada a concluir que estava de algum modo errada originalmente.
Quinto – a pessoa precisa procurar dentro de si mesma a origem da energia projetada. Este
último estágio, a busca do significado da projeção, sempre envolve a busca de maior
conhecimento de si mesmo.
A diminuição da esperança
O ego precisa estabelecer uma base segura num universo grande e desconhecido. É
natural que a consciência do ego chegue a conclusão de que precisa se defender das
experiências avassaladoras da vida e compensar suas inseguranças através da grandiosidade.
Nossa insegurança, a ilusão de grandeza serve para manter as trevas afastadas quando vamos
dormir à noite.
Outra esperança da juventude relacionada com o ego é o desejo do relacionamento
perfeito. Embora tenhamos visto proliferar à nossa volta relacionamentos imperfeitos, temos a
tendência de supor que somos de algum modo mais sábios, mais capazes de escolher e, mais
bem equipados para evitar os revezes da vida. Porém, o Outro íntimo que satisfará nossas
necessidades , que tomará conta de nós, que sempre estará presente para nos apoiar, é
finalmente visto como pessoa comum, como nós mesmos, também necessitada, e que projeta
sobre nós expectativas bastante semelhantes às nossas. Os casamentos frequentemente
terminam na meia-idade, e uma das principais causas é a enormidade das esperanças infantis
que se impõem sobre a frágil estrutura existente entre duas pessoas. Os outros não satisfarão e
nem podem satisfazer as necessidades grandiosas da criança interior.
Reconhecer que não podemos reviver a infância e nem podemos reverter a sua história,
que ninguém preencherá magicamente nosso vazio interior, é certamente doloroso, mais é aí
que tem início o possível caminho da cura. O mais difícil é ter confiança de que a nossa psique
se revelará suficiente para curar a si mesma. Mais cedo ou mais tarde, é preciso que ocorra esse
salto para a confiança em nossos recursos pessoais, caso contrário continuaremos a busca
infrutífera das fantasias da infância.
A experiência da neurose
Assim como o amor romântico pode ser encarado como loucura temporária, na qual as
tomam decisões para a eternidade baseada nas emoções do momento, também a turbulência
da passagem do meio pode assemelhar-se a uma crise psicótica na qual a pessoa age como se
fosse louca ou se afasta dos outros. Se entendermos que as suposições nas quais a pessoa se
apoiou a vida toda estão desmoronando, que as estratégias reunidas pela personalidade
provisória estão se desequilibrando, que uma perspectiva de mundo está se desintegrando,
então a agitação é perfeitamente compreensível. Nós não escolhemos as emoções; são elas
que nos escolhem, e possuem uma lógica toda particular.
A mulher que sofre uma depressão está voltando para dentro de si sua raiva
indesejada, sobre a única pessoa que ela tem permissão de atacar.
Todos somos neuróticos porque experimentamos uma separação entre o que somos e
o que fomos destinados a ser. O protesto sintomático da neurose, que se manifesta na
depressão, no abuso de substâncias ou no comportamento destrutivo, é negado a maior parte
do tempo possível. Mas os sintomas reúnem nova energia e começam a atuar autonomamente,
fora da vontade do ego.
O terapeuta sabe que os sintomas são indícios úteis que conduzem ao local da injúria
ou da negligência, apontando o caminho para a cura subseqüente. O terapeuta também sabe
que a experiência da neurose da meia-idade, quando pode ser enfrentada, representa uma
enorme abertura à transformação. Jung afirmou: “O irromper da neurose não é apenas uma
questão de probabilidade. Por via de regra ela é exatamente crítica. É geralmente o momento
em que o novo ajustamento psicológico, uma nova adaptação é exigida”. Isso implica que a
nossa própria psique organizou essa crise, produziu esse sofrimento, precisamente porque
houve uma injúria e a mudança precisa ocorrer.
Não existe cura porque a vida não é uma doença, nem a morte uma punição. Mas existe
um caminho que conduz a uma vida mais abundante e significativa.
Lembremo-nos de que Jung define a neurose como “o sofrimento que não descobriu o
seu significado”. Com efeito, o sofrimento parece ser um pré-requisito para a transformação da
consciência. Em outra obra Jung sugere que a neurose é “um sofrimento autêntico”. O
sofrimento autêntico requer encontros com dragões. O sofrimento não autêntico implica fugir
deles.