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Gênero e Diversidade em Impressões de Cinema, de Alberto Coimbra

Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (doutorando em Estudos


Literários/UNICAMP)

1.Introdução

Resumo

Esse texto busca fazer algumas observações críticas a respeito da obra


literária Impressões de Cinema, de autoria de Alberto Coimbra. O texto
investiga os diferentes gêneros literários presentes na obra, assim como a
problematização que o texto faz das questões de gênero e diversidade. O
artigo fez a contextualização histórica do livro, assim como a seguir trata dos
gêneros dentro do livro, para logo em seguida associar o texto à intervenção
cultural realizada por Alberto Coimbra em Bom Despacho, Minas Gerais.

Palavras chave: intervenção cultural, cinema, literatura, prosa, vida, arte

A VOZ DE UM ENGENHEIRO - Evidentemente, coagido pela força bruta, vencido pelo número,
vejo-me forçado a continuar o meu caminho sem chapéu. Mas esse puto (Cristo) me paga!
(som de castanholas. Tumulto).
VOZES - Viva la gracia! Outro toro! Mi cago en dios! Viva o senhor do Sábado! Tira o chapéu,
Flávio! Péo, péo! Fora! Não tira! Deus da burguesia! Fora! Põe o chapéu! Desacata esse
veado! Fora! Fora!”

Trecho da peça O Homem e o Cavalo, de Oswald de Andrade.

O livro Impressões de Cinema é um retrato de Alberto Coimbra e sua


cabeça. Ele pensa cinema. E protagonizou intervenções culturais que já
transformaram o cotidiano das pessoas de Bom Despacho. E que entraram
para o folclore: colocou máscara de Piu Piu e ergueu-se durante a eucaristia.
Para Alberto Coimbra, a intervenção com a máscara de Piu Piu aconteceu
porque Jesus, para ele, é um homem.

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Outra intervenção cultural aconteceu quando ele vestia saia, blusa do
Cruzeiro, chapéu e levando uma mala, dizendo que ia pegar a (inexistente)
ferrovia para Martinho Campos.
Alberto e seu livro fazem pensar em José Agrippino de Paula: temos que
viver as coisas que Oswald de Andrade escreveu. Alberto vive a contracultura
dos anos 60 e o modernismo de 22.
O livro mistura crônicas autobiográficas em que ele insere Bom
Despacho no mundo do cinema com poemas sempre inspirados por um
determinado filme. Em sua imagética somos levados a uma Bom Despacho
que não existe mais, a Bom Despacho em que a biblioteca pública era ao lado
do cinema e o cinema apresentava produções que tinham interesse tanto para
os intelectuais quanto apelo para a imprensa e as massas. Alberto é
profundamente marcado pela história e memória de Bom Despacho, numa
verdadeira geografia sentimental: cinema, biblioteca e a Mata do Batalhão.
Escrevendo de forma bela sobre sua infância em Bom Despacho nos anos
1980, ele coloca a cidade dentro do cinema. Escrever sobre cinema de certo
forma é estar no cinema, é de certa forma fazer cinema. Alberto também é um
pensador sofisticado.

1. Contexto Histórico de Impressões de Cinema

Alberto nasceu nos anos 60, sua juventude foi nos anos 80. Foi da geração
X, a que fez a difícil transição entre a geração 68 e a geração do novo milênio,
assim como viveu a mudança da ditadura militar para a democracia em
meados dos anos 1980.

Alberto, filho de militar e músico, neto do maestro José Milagre Coimbra,


seu avô. Ele identifica-se com o feminino e com a esquerda. Primeiro, ele teve
uma infância feliz, brincando na Mata do Batalhão atrás de sua casa e depois
brincou no pasto de uma fazenda de gado no bairro Esplanada onde foi morar.

Paralelamente à chamada globalização e ao neoliberalismo, Alberto


desfrutou do avanço dos costumes. Caminhando contra o vento, prosseguiu

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imbuído de luminosas utopias, num tempo em que elas estavam se desfazendo
com a utopia hippie e a utopia comunista tornando-se ultrapassadas.

Alberto sempre observa a realidade e pensa em melhorá-la. Na UFMG leu o


livro, 1968, Ano que Não Terminou, do jornalista Zuenir Ventura. Leu sobre
religião na visão de Rubem Alves. Assistiu várias palestras de Rose Marie
Muraro e Rubem Alves. Após estudar na UFMG, estudou a pós-modernidade
quando o pensador Francis Fukuyama falou do fim da História. E aprendeu em
Semiótica que todos os filmes foram feitos e hoje eles passam na Sessão da
Tarde. O jornalista Emerson Penha que foi seu colega no curso de Jornalismo
na UFMG fala de questões ambientais e políticas.

Assim sendo, tendo atribuído esse olhar ao seu curso de Jornalismo na


UFMG nos anos 90. Alberto passou os anos 90 esboçando Impressões de
Cinema e um embrião do livro nasceu durante seu curso de jornalismo, quando
ele freqüentava o Savassi Cineclube no início dos anos 90 em Belo Horizonte.

Alberto Coimbra defende Lula, comparando-o a Juscelino Kubitschek,


assim como faz o elogio de Brasília e de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.
Coimbra relembra a interessante reportagem que deslinda a música Ponta de
Areia, pois existe uma realidade por trás dessa música: o jornalista Emerson
Penha investigou a ferrovia que existia entre Araçuaí e Ponta de Areia na
Bahia. Atualmente, Emerson Penha está fazendo um filme sobre isso.
Impressões de Cinema fala sobre questões ambientes, questões humanas e
mesmo sobre o empreendedorismo: o sucesso profissional de uma pessoa
depende muito mais da organização do que de inteligência.

Felipe Cunha, funcionário da secretaria de cultura local, disse que


Alberto foi importante para Bom Despacho como Copérnico foi para a
humanidade. Depois de sua intervenção cultural construíram parklets nos bares
de Bom Despacho.

Alberto disse a Padre Antônio que entrar na igreja de vestido e salto alto
para dizer às pessoas que características masculinas e femininas são próximas
de ser um artista Pop e assim dedicou sua vida aos outros.

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E também quis mostrar que características masculinas e femininas estão
mais próximas do que a gente pensa. E que seu gesto foi um gesto de amor ao
povo de Bom Despacho. O Padre Antônio concordou. Alberto também disse ao
Padre Pedro que foi funcionário público e dedicou sua vida aos outros. Não
realizou, então, seu sonho de ser um artista pop e assim dedicou sua vida aos
outros. O Padre Pedro respondeu: “você é Jesus, Alberto. Agora é a vez de
Maria.”

Alberto Coimbra comenta que em Bom Despacho a maioria dos padres


o respeitaram e o acolheram. A vida do pobre é difícil, é preciso rezar menos e
viver independente de Deus, como na religiosidade grega, que era não-
coercitiva, não existindo a figura do sacerdote como surgiu posteriomente.

Alberto Coimbra possui um senso agudo de história. Para ele, o


ottocento trouxe os elevadores, bicicletas, luz e telefone. O século XIX lia pelo
prazer da leitura e os jornais traziam textos literários. Seu texto teoriza sobre a
ascensão da burguesia capitalista e as conseqüências de uma nova civilização
construída sobre a ciência e a tecnologia, assim como hoje houve o
desenvolvimento digital.

O governo Lula trouxe a ascensão das classes D e E, uma nova


civilização parece, então, começar no século XXI, produzindo um novo
comportamento e novas tecnologias, com a diferença que no início do século
XXI há um fortalecimento das idéias de igualdade, liberdade e fraternidade. A
dependência da Igreja começa a cair. A declaração dos direitos do homem
completou 70 anos.

Nesse contexto, Brigitte Bardot agora protege animais, assim como o


meio ambiente. A ONG criada por Michael Jackson cuida das crianças e jovens
no mundo inteiro. Mick Jagger teve filho com uma brasileira. Madonna tentou
adotar uma criança africana afirmando que quando ela crescesse ajudaria seu
país na África. O dinheiro nos últimos 30 anos mudou de mãos. Grandes
artistas têm renda financeira.

Impressões de Cinema é influenciado ao mesmo tempo pela mitologia


grega de Eros e Psiquê e pelo decadentismo do século XIX e século XXI é.

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Hoje vivemos a prosperidade de uma era tecnológica nunca vista antes. Outras
de suas influências: Émile Zoula, Gustave Flaubert, Germinal, Naná, Madame
Bovary, Bouvard e Pecouchet. O documentário Imagine sobre a vida de John
Lennon também foi muito influente, bem como o modernismo de 22 e a
contracultura de 1968. Ele diz do documentário Imagine sobre John Lennon no
texto O Artista.

Impressões de Cinema é um livro que deseja ser a obra de arte total,


integrando cinema, poesia, Filosofia, música e dança. Em Você é Lindo existe
a música, em Seu Nome é Rita Hayworth, cinema, música e dança.

2.Gênero e Diversidade em Impressões de Cinema

Impressões de Cinema é um livro que mistura gêneros em muitos


sentidos: tanto os gêneros ligados à sexualidade quanto os gêneros literários: é
autobiografia, prosa poética, ensaio sobre cinema, e, como diz o autor, “um
diálogo do autor com sua homossexualidade que foi reprimida na juventude.
Existe uma homossexualidade que aflorou depois de anos de repressão.

O livro Impressões de Cinema também contêm códigos sexuais. O autor


descobriu-se travesti após uma longa trajetória de vida enquanto bibliotecário e
jornalista. Seu campo de interesse volta-se para o jogo com os signos sexuais,
indo além do que a sociedade define que é homem e mulher, como ele mesmo
escreve em uma passagem de Impressões de Cinema: “Pichita pega o jovem
guapo e o veste de donzela e ela de belo tenente” (COIMBRA, 2017, p. 60).

Alberto pensa cinema, tem muito boa memória cinematográfica. Associa


e aprecia o modernismo de 22 e a contracultura dos anos 60. Ele diz sobre o
filme O Artista: “Eu vou me alimentando de você. De nossos olhares. De nosso
carinho. De mãos dadas no parque. Lucy no céu com diamantes. E beijos e
beijos e beijos...” (COIMBRA, 2017, P. 48).

A memória cinematográfica faz com que ele veja a própria vida enquanto
um filme e vice-versa, que aplique na vida o que vê nos filmes: “quando

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escolhemos um amor, não temos certeza do final” (COIMBRA, 2017, P. 50).
Alberto utilizou-se bastante do processo do flashback, voltando às suas
memórias de infância e adolescência: “roubávamos mexericas e íamos para a
casa chupá-las, falar das meninas e soltar o periscópio” (COIMBRA, 2017, p.
51).

A chave para a compreensão de Impressões de Cinema está na


redescoberta da identidade de Alberto Coimbra. Num dos textos, fala do Aterro
do Flamengo, mas quer tratar de como sua identidade homossexual ficou
soterrada. A questão da sublimação da homossexualidade do autor está no
poema Seu Nome, Rita Hayworth.

A partir daí, eu só tinha olhos para o bailado de Rita Hayworth a me seduzir!/Rita,


Gilda, Carmen, Salomé ou a musa grega Terpsícore, da dança e da música. Como
Rita fico conhecida, a atriz dançava ou melhor, saracoteava sorrindo! (...) E o meu
desejo adolescente frente a um espelho real não se conteve e o estilhaçou. Realidade
ou não, Rita Hayworth não morreu, adormeceu no meu coração e aqui mora
(COIMBRA, 2017, P. 66).

Tanto esse texto acima quanto a crônica Uma Sessão de Cinema no


Cine Roxy é uma homenagem à atriz e bailarina Rita Hayworth. Jair Coimbra
colocou a coluna de Nina Chaves em 1981, sobre a cama, a crônica contando
que Rita estava com 64 anos e com mal de Alzheimer em Beverly Hills. Se
você quer ser uma mulher, que seja uma interessante e elegante como Rita
Hayworth. Isso está no texto acima, Seu Nome é Rita Hayworth. Está também
o Cine Regina e a cidade de Bom Despacho. Igualmente, pode-se dizer que o
poema Seu Nome é Rita Hayworth também aborda também o momento em
que fez terapia com Marco Aurelio Baggio. Essa terapia o fez implodir sua
homossexualidade. Ele queria ser uma mulher como Rita Hayworth. Alberto
explicou em uma entrevista:

No primeiro ano de Grupo meu pai, no final do ano, me falou para enviar um cartão de
Natal para minha professora Vera Couto. Enviei. Em 1988 quando eu fazia terapia
com o psicanalista Marco Aurélio Baggio descobri que a Pantera Gil do seriado As
Panteras, que a Fanch Fawcett-Majors era a Dona Vera. É porque quando eu tinha

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onze anos eu via a Fanch Fawcett-Majors no seriado eu fiquei fã dela. Fui a banca de
revista e pedi uma revista Cinerium como pôster de atriz. Na sessão de psicanálise
com Marco Aurelio ele me dises que meu pai me fez o pedido me mostrando que a
Vera Couto era uma mulher que vale a pena. Eu queria era ser uma mulher como a
Farrah. E gritei. Em 1980 era o footing. As pessoas ficavam andando na Praça ao
redor da Igreja Matriz Nossa Senhora do Bom Despacho (COIMBRA, 2018).

Alberto faz, em Impressões de Cinema, uma micro-história, uma história


das mentalidades. A Mata do Batalhão é patrimônio. Toda uma época
desapareceu, era um footing, as pessoas ficavam andando. Nos anos 90,
existia a noite dos bilhetinhos, agora tudo é pelo zap e pelo facebook, não há
mais paquera como antes.

Um grande triunfo de Alberto foi ter feito análise durante dez anos.
Resolveu seu trauma com seu pai e tornou-se seu amigo. Viveu sua lenda
pessoal, para ele, todo mundo tem que desenvolver o seu dom e fazer o que
gosta. A psicanálise torna-nos melhores amigos.

O livro traz textos que ele escreveu ao longo da vida, tendo o cinema
como mediador. No poema Leolo, inspirado no filme de mesmo nome, Alberto
descreve a confusão de lidar com a homossexualidade na adolescência, o que
o deixou inseguro. Bianca representou seu tesão hetero que virou uma ruína
romana. Semelhante a cena final do filme Satiricon de Federico Fellini, só que
no caso de Alberto a ruína romana é seu desejo por mulher: “O meu desejo em
silêncio! A Itália! (...). Grito seu nome entre ruínas romanas! Minha solidão...”
(COIMBRA, 2017, p. 44).

Alberto entrou no corredor central da Igreja Matriz de Bom Despacho


durante a missa, usando roupa feminina. No entanto, ele fez isso com a
intenção de mostrar às pessoas que a vida não é só rezar e a diferença entre
masculino e feminino é menor do que a gente pensa. Alberto estudou a vida de
Jesus na UFMG e ele viu que aconteceram fatos e pessoas da época pegaram
esses fatos e atitudes e criaram o personagem de Jesus na Bíblia. Jesus
voltou, é um travesti e trabalha para o mundo da moda.

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Durante o filme Cléopatra, de Elizabeth Taylor, viu a imagem de
Cleópatra deitada na cama e a cobrinha andando no chão. Alberto ficou parado
na porta e ficou pensando em sua homossexualidade. Era um indício.

Alberto vivenciou sua homossexualidade nos anos 90, pois queria ter um
relacionamento sério com um homem, mas depois recalcou-a, vivendo com
uma companheira, mas voltou a ser gay depois da morte de sua ex-mulher,
desistindo então das mulheres. Alberto conta que, nos anos 90, os homens não
o desejavam para namorar e relacionar a sério. Ficou triste e decepcionado e,
para se reorganizar, leu os livros Filosofando e Iniciação à Filosofia de Marilena
Chauí.

3. Alberto e suas Intervenções Culturais no Cotidiano da Cidade

Os filmes que passavam na Sessão da Tarde nos anos 1980, anos da


juventude de Alberto eram filmes dos anos 1930, 1940, 1950 e 1960.

O cinema serve de lente através da qual ele vê a própria vida. Ele


relembra a atitude do modernista que, nos anos 50, saiu vestindo saias,
causando choque na cidade de São Paulo. A atitude de Alberto Coimbra
relembra essa atitude, buscando fazer uma intervenção no cotidiano da cidade
e buscando mostrar que a vida é mais do que o labor diário pela sobrevivência.
Ele tem uma filosofia de vida própria, uma filosofia aplicada.

Para Alberto Coimbra, quando Gustave Flaubert construiu Madame


Bovary, ele recorreu ao seu lado mulher, à sua bissexualidade interna. Outros
autores que inspiram Impressões de Cinema são: Nietzsche, Sartre, Foucault,
Simone, Albert Camus, Umberto Eco, os filósofos gregos, Tchecov,
Dostoiévsky, Tolstói, Kafka. O professor Tadeu Teixeira Araújo leu o livro de
Alberto e disse para o autor: Anna Karenina.

Outros que o influenciaram foram: Homero, Gilberto Freyre, Sérgio


Buarque de Holanda, Chico, Caetano, Fernando Brant e Milton; além de
Engenheiros do Havaí, Titãs, Barão, Renato Russo, Cazuza. A linguagem de

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Alberto é jornalística como a de Ernest Hemingway. As influências de literatura
brasileira são: Machado de Assis, Clarice Lispector, Rubem Braga, João do
Rio, Jorge Amado, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Outras obras que
influenciam são: o Romanceiro da Inconfidência. Outras obras revolucionárias
são tais como Grande Sertão Veredas.

Os artistas homens recorrem a esse lado feminino para construir


personagens femininos, mais do que somente a uma observação externa.
Alberto deseja que suas “performances” sejam intervenções no cotidiano da
cidade. Ele já realizou experiências tais como as de Flávio de Carvalho, andou
pelas ruas de Bom Despacho de roupa feminina e se comportando muito
educadamente. Não é atualmente assim. Entrou de salto alto e leque na torcida
do Atlético. Foi aceito e tentou entrar de salto na torcida do Cruzeiro, tendo sido
reprimido lá. Flávio de Carvalho, ao sair de minissaia, experimentou algo
semelhante:

Situação parecida se deu em outubro de 1956, porém desta vez a experiência fora
premeditada e resultara de suas reflexões em torno do que definiu com Dialética da
Moda. Flávio de Carvalho caminhou de saia pelo centro de São Paulo: era a
Experiência n º 3. Para ele, a roupa era o fator que mais influenciava o homem
"porque é aquilo que está mais perto do seu corpo e o seu corpo continua sempre
sendo a parte do mundo que mais interessa ao homem". Denominou o curioso
modelito que trajava de "new look" para "o novo homem dos trópicos". O "new look"
era composto por saia cor-de-rosa prissada -acima dos joelhos antes de Mary Quant,
camisa verde e... meia arrastão e sandália de couro cru. Portanto, a despeito de seu
pensamento sobre a condição da moda, está explícita a intenção performática de
chamar atenção ao corpo na ação (MACHADO, 2018).

Alberto entrou na Igreja com uma cabeça de veado. O dia em que o


padre Douglas tornou-se padre, Alberto entrou com a cabeça de um veado
(estátua) e um chapéu de bruxa, no dia em que estava presente o bispo de
Bom Despacho. O dia 25 de dezembro na Idade Média era o dia do grande
veado e a Igreja Católica escolheu o dia para ser o nascimento de Jesus.

Ele identifica-se com a frase de Pessoa: se você não pode escrever


poemas como Baudelaire, pode ao menos pintar os cabelos de verde. As
performances de Alberto são como pintar os cabelos de verde, mas com uma

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aspiração de ir um passo além de um Flávio Carvalho. As experiências não
seriam extraordinárias, o extraordinário tornou-se cotidiano. A frase, para
Pessoa, está num contexto em que o poeta faz uma dura crítica aos diluidores:

A grande multidão de fascinados inferiores, incapazes de criar (...), falhos de inibição e


de senso crítico, na impossibilidade de, (com razoável êxito (salvo um declarado [?]
delírio de grandezas) imitar os poemas de Musset ou os de Verlaine, podem contudo,
com maior aproximação, plagiar ao primeiro o copo [?] gigantesco com que se
embriagava quotidianamente, e ao segundo a sua incurável vagabundagem e
amoralidade de degenerado típico. Quem não pode fazer versos como Baudelaire
pode, porém, tingir os cabelos de verde. A prática da pederastia, embora nem sempre
fácil [...], é contudo mais fácil que a produção de uma segunda “Salomé” (PESSOA,
2018).

Alberto assume a intervenção cultural não como algo inferior, mas como
fusão da arte e da vida, além de uma atitude apologética, de pioneiro, de
alguém que, ao intervir no espaço público, atrai para si ouvidos que querem
ouvir as verdades que têm a dizer. No final do livro, no texto Neblina Sobre
Teresópolis, ele utiliza a metáfora do desastre ocorrido na cidade como
metáfora para a morte de sua heterossexualidade e o renascimento de sua
homossexualidade. Alberto viu isso como perda de vidas e perda de vida para
ele mesmo, por ter vivido anos reprimido. O poema Neblina Sobre Teresopolis,
além de referir-se à frase “Diadorim é minha neblina”, uma bela passagem em
Grande Sertão, Veredas:

Abracei Diadorim, como as asas de todos os pássaros. Diadorim é minha neblina. Só


se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente
tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. O
amor é a gente querendo achar o que é da gente (ROSA, 2018).

Atualmente, ele diz que é importante ser mutante na sociedade, fugir da


“normose”. Desde que era aluno de Jornalismo, é um mutante que foge da
normose. Normose é um termo criado pelo Dr. Hermógenes no seu livro que
Alberto leu nos anos 1980. Mutante é o termo criado por Roberto Crema,
diretor da Universidade Holística de Brasília. Ser mutante para Alberto é ter um

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pensamento e comportamento libertário inserido no meio da sociedade. O
poema Neblina Sobre Teresópolis é o encontro de um rapaz com um homem
mais velho que é referência para ele:

Era o ano de 1984. Deixa-me contar direito, tenho 17 anos, um senhor se aproxima de
mim sorrindo e se apresenta: --Meu nome é Edgar. Um homem de seus 36 anos. Alto,
olhos bonitos. –Ei, meu jovem! Posso ajudá-lo, Sr? –Respondo. –É a primeira vez que
vejo o mar, sou de Minas. –Eu também sou, Responde Edgar (COIMBRA, 2017, p.
138).

Ele quer mudar comportamentos e mentalidades e uma das vias que


escolheu é a literatura. Uma outra são as intervenções culturais no cotidiano de
uma cidade do interior que Alberto protagoniza. São intervenções que remetem
Baudelaire e que estão intimamente ligadas à sua produção literária:

A primeira vez que visitou o escritor Maxime Du Camp, Baudelaire foi apresentado a
ele com os cabelos pintados de verde. Como o malicioso Du Camp não queria nada
observar, Baudelaire gritou: “você não vê nada de anormal em mim?” E seu
interlocutor impassível respondeu: “Todo o mundo tem os cabelos mais ou menos
verdes; se os seus fossem azuis da cor do céu, isso poderia me surpreender: mas
cabelos verdes, há muitos chapéus em Paris. A anedota, contada por Du Camp ele
mesmo, é divertida. O leitor divertido pelas provocações baudelairianas descobriu
outros dentro da soma biográfica consagrada ao poeta por Marie-Christine Natta. A
especialista em dandismo traça o retrato de um escritor insaciável, adepto da arte
aristocrática de desagradar (HAYAT, 2018).

Alberto Coimbra faz, em Bom Despacho, o papel de uma ativista da


contracultura. Para Alberto, é importante mudar sua mente, mudando seu
corpo. Ele acredita que é preciso rezar menos. Para ele, inspirado na Grécia
Antiga, os mistérios da vida são mistérios gozosos.

Inspirado em As Bruxas de Salem, filme de Wynona Ryder, Alberto


entrou na Igreja matriz de Bom Despacho com uma cabeça de veado. O dia em
que o padre Douglas tornou-se padre, Alberto entrou com a cabeça de um
veado como se fosse uma estátua e um chapéu de bruxa. Nesse dia estava
presente o bispo local. Alberto remete a Flávio de Carvalho, mas dá um passo

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adiante: insere suas experiências no cotidiano, não as considera excepcionais
e sim banais, rotineiras. Para Alberto Coimbra, devemos ser mais eróticos e
não ficar rezando, pois a vida do pobre é difícil. Deveríamos ser mais eróticos,
começar uma fala mais erótica junto às pessoas.

Alberto Coimbra relembra as bruxas para poder lembrar que a


sexualidade é natural e os eleitores de Bolsonaro julgam o corpo algo sujo.
Alberto, em suas performances, mistura-se na multidão, ao mesmo tempo está
nela como uma personalidade, como, ao mesmo tempo, ator e espectador.
Alberto está à vontade no espaço público. Ele se inspira em Bruxas de Salém,
A Garota da Capa Vermelha e Caça às Bruxas. Alberto Coimbra, com seu livro
é tão revolucionário quanto Grande Sertão Veredas por ocasião de seu
lançamento em 1956.

Ele também já se travestiu de mulher e foi ao estádio Mineirão em jogos


do Clube Atlético Mineiro (em que foi bem recebido) e do Cruzeiro (onde houve
agressão). No jogo do Atlético, usou a camisa com o rosto de Brigitte Bardot.

Para Alberto, bem como para Baudelaire, só com o mergulho na


multidão é que o poeta pode tornar-se moderno. Assim o poeta mergulha,
embriagado, no outro e experimenta a comunhão universal.

Alberto Coimbra pretende, com seu livro Impressões de Cinema, ser tão
revolucionário quanto Grande Sertão Veredas foi em seu tempo, ao levantar,
pioneiramente, a questão do gênero e diversidade ao tratar do amor de
Riobaldo por Diadorim. A linguagem jornalística de Alberto Coimbra pode ser
associada a Ernest Hemingway.

Antes de viver em Paris, Pamplona, Cayo Hueso e Havana, Hemingway


nasceu e viveu até os seis anos em uma casa de três andares e estilo vitoriano
no bairro de Oak Park, na periferia de Chicago, que o escritor costumava definir
como “um lugar de jardins largos e mentes estreitas”. No bairro se encontra um
pequeno museu dedicado à sua memória, na mesma rua arborizada onde está
sua casa natal.

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No interior do museu está exposta uma caricatura desenhada para a
Vanity Fair, em 1933, em que Hemingway aparece vestido com uma tanga e
jogando tônico capilar nos peitorais. Em outro mostruário está uma foto do
escritor quando bebê. Aparece vestido de menina, algo comum no começo do
século XX, quando os bebês eram vestidos dessa forma durante seu primeiro
ano de vida. Mas sua mãe, uma pintora e cantora de ópera chamada Grace,
decidiu prolongá-lo por muitos anos mais. De fato, criou Hemingway e sua irmã
Marcelline, 18 meses mais velha, como se fossem gêmeos, e os vestiu
indistintamente como se ambos fossem meninos ou meninas, segundo seu
humor.

Para Hemingway, esse capítulo seria um grande trauma que terminaria


provocando uma ansiedade que desembocou em sua exagerada virilidade, de
acordo com a biografia que Kenneth S. Lynn publicou em 1987, que permitiu
alterar sua imagem pública e também abrir sua obra a novas interpretações.
Quando são relidos romances e contos de Hemingway, ganhador do Nobel de
Literatura em 1954, sobressaem menos os super-heróis e mais os homens
inseguros. Como o protagonista de A Curta Vida Feliz de Francis Macomber,
envergonhado por sair correndo quando tentava atirar em um leão em um
safári, muitos deles tentam alcançar um ideal de masculinidade impossível.

Outro de seus biógrafos, Paul Hendrickson, autor de Hemingway´s Boat,


sobre o apego do escritor por um barco batizado como Pilar, não acredita que
essa hombridade superlativa e quase paródica possa ser vista como uma
atuação ao público. “A hipermasculinidade foi uma parte do que ele era. Foi
real e autêntica. Talvez fosse uma máscara conveniente ao seu ego, mas não
era fraudulenta”, afirma o professor da Universidade da Pensilvânia e antigo
jornalista do The Washington Post. “Acho que foi homossexual, mas com
muitos sentimentos contraditórios em relação ao seu gênero. Nunca encontrei
a menor prova que sugerisse que se sentia atraído por outros homens”.

Hendrickson também descreve sua difícil relação com seu filho mais
novo, Gregory, que praticou o transformismo por toda sua vida e acabou
mudando de sexo aos 63 anos. Morreu com o nome de Gloria em uma prisão

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para mulheres na Flórida, na qual acabou por praticar exibicionismo em via
pública. Uma vez, quando era pequeno, Hemingway o surpreendeu provando
as meias-calças de sua mãe. Mais tarde lhe diria: “Você e eu viemos de uma
tribo estranha”. Para Hendrickson, Gregory/Gloria realizou o que seu pai só
admitia em seu foro interior e em algum texto clandestino. “Por isso existia uma
relação de amor e ódio entre eles”, afirma. Dearborn diz que essa foi a cela de
onde nunca conseguiria escapar: “Em um mundo melhor, Hemingway teria
furado as orelhas”.

Impressões de Cinema é um livro que mistura gêneros em muitos


sentidos: tanto os gêneros ligados à sexualidade quanto os gêneros literários: é
autobiografia, prosa poética, ensaio sobre cinema, e, como diz o autor, “um
diálogo do autor com sua homossexualidade que foi reprimida na juventude.
Existe uma homossexualidade que aflorou depois de anos de repressão.” O
livro Impressões de Cinema também contêm códigos sexuais.

4. Conclusão

Alberto confessa que fez a intervenção cultural na cidade de Bom


Despacho por ser jornalista e porque ouviu bom-despachenses reclamando do
papo ruim da cidade pequena que provocou fobias e depressão em pessoas. E
também porque as cidades grandes brasileiras estão esgotadas. É preciso uma
intervenção cultural e econômica para que cidades pequenas sejam atrativas
para viver. Alberto homenageia a cidade do Rio de Janeiro como um flaneur
passeando pelo seu centro histórico descrevendo lindamente locais, ruas e sua
arquitetura.

Impressões de Cinema foi um livro pensado como obra de arte total,


fundindo música, cinema, poesia, prosa poética e dança. Trata-se de um livro
que funde vários gêneros textuais e pensa gênero e diversidade, pois o livro
trata da retomada da homossexualidade de Alberto Coimbra após um período
em que ele viveu com uma mulher.

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O livro não pode ser entendido sem um mergulho na vida e nas
intervenções culturais de Alberto Coimbra, grande artista, escritor e ativista da
contracultura em Bom Despacho. Na prosa albertiniana, obra e arte estão
fundidas. Coimbra dá um passo adiante de Flávio de Carvalho, o famoso
performer que saiu de minissaia em São Paulo em 1956. Alberto assume a
posição do flaneur no Rio de Janeiro, assim como vai mais além dos cabelos
verdes de Baudelaire, atitude que também o inspira em sua fusão arte/vida. Ele
incorpora em sua prosa a contracultura e o Modernismo de 22, assim como o
cinema mundial e outras artes.

5.Referências Bibliográficas:

HAYAT, Jeanine. Le Cheveux de


Baudelaire<<https://www.huffingtonpost.fr/jeannine-hayat/les-cheveux-verts-de-
baudelaire_a_23220350/>>

COIMBRA, Alberto. Impressões de Cinema. Divinópolis: Adelante, 2017.

Experiência Número 2 de Flávio de Carvalho.


<https://www.youtube.com/watch?v=_g4S0Lc30VE

MACHADO, Vanessa. As Experiências.


<<http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernida
de/eixo/cam/artistas/carvalho3.html>>. <<Acesso em 5 de dezembro de 2018>>.

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PESSOA, Fernando. A Imoralidade das Biografias.


<<http://arquivopessoa.net/textos/3748>>. <<Acesso em 5 de dezembro de
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6. Videografia:

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<<https://www.youtube.com/watch?v=BkfpBMGr7KY&t=360s>>. <<Acesso em
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FRECHETTE, Alex. Experiência Número 2 de Flávio de Carvalho.


<<https://www.youtube.com/watch?v=_g4S0Lc30VE>>. <<Acesso em 5 de
dezembro de 2018>>.

PROGRESSO, Pedro. Maria Betânia: Grande Sertão Veredas.


Diadorim.<<https://www.youtube.com/watch?v=oOdGvuzQjbA>>. <<Acesso
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MENEZES, Gustavo. Top Show do Gu (Entrevista com Alberto Coimbra).


<http://revistacidadesol.blogspot.com/2018/09/entrevista-com-alberto-coimbra-
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