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STPRDNE – TP07 - TEOLOGIA DE MISSÕES I

Prof. Rev. Cássio C. Neves

UNIDADE I – CONCEITOS

O início da discussão de qualquer assunto se dá pelas definições básicas. Este


é o momento de enfrentar questões elementares. No nosso caso, estas questões
passam por: O que é teologia? O que é missão? Que relação possuem? Qual o papel
das Escrituras Sagradas na formulação de uma teologia da missão? Na busca de
respostas para estas perguntas vamos perceber que estamos envolvidos num grande
desafio.

CONCEITUAÇÃO DE TEOLOGIA E TEOLOGIA BÍBLICA DE MISSÕES

Teologia:
Uma palavra de origem simples: theos (Deus) e logos (palavra). “Portanto, a
‘teologia’ é o discursar sobre Deus”1. O termo foi usado inicialmente pelo cristianismo
para retratar a doutrina de Deus. Com o declínio do politeísmo, o termo era usado
quase exclusivamente para designar o Deus dos cristãos. Somente nos séculos XII e
XIII, com o desenvolvimento da Universidade de Paris, é que o termo passou a ser
usado para retratar “a disciplina da ciência sagrada” que abrangia a totalidade da
doutrina cristã, e não somente a doutrina de Deus2.

Teologia bíblica:
Alguns empregam o termo “teologia bíblica” para referir-se à teologia de livros ou
de porções específicas da Bíblia (e.g., a teologia de Mateus, a teologia de Paulo).
Outros a usam para referir-se à teologia da Bíblia quando a Bíblia é estudada
diacronicamente3, em contraste com a teologia sistemática, que tende a ser organizada
tópica e sincronicamente. Como subconjuntos desta última categoria, existem ainda
duas distinções. Quando alguns ouvem a expressão “teologia bíblica”, pensam em
como é possível acompanhar vários temas ao longo da Bíblia ou ao longo de várias

1
McGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica - Uma introdução à teologia cristã. São Paulo:
Shedd Publicações, 2005, p. 175.
2
Idem.
3
Significado de “diacrônico”: relativo ao estudo ou à compreensão de um fato ou de um conjunto de fatos em sua
evolução no tempo.
1
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partes dela. Esses temas constituem os ligamentos que dão unidade ao cânon:
descanso, templo, sacrifício, sacerdócio, reino, aliança, e assim por diante. Outros
refletem sobre aquilo que D. A. Carson denomina “os grandes pontos decisivos da
história da redenção”. Evidentemente, aqueles que estão comprometidos com o estudo
fenomenológico da Bíblia e negam que exista um Deus por traz de tudo duvidam que é
possível uma teologia bíblica nestes últimos sentidos. Dizem que sempre resultam
numa asfixia da exuberante diversidade que constitui a Bíblia.4

Missão:
Até o século XVI, o termo “Missão” foi usado exclusivamente com referência à
doutrina trinitária, isto é, o envio do Espírito Santo pelo Pai e pelo Filho, cuja
interpretação missiológica deu origem à doutrina chamada na história de “Filioque”.
Essa interpretação, contanto que aceita como doutrina básica da Igreja Cristã, foi um
dos motivos da cisão do cristianismo medieval no ano de 1054.
No século XVI, os jesuítas foram os primeiros a utilizarem a terminologia
“Missão” como a propagação da fé cristã entre os povos não-cristãos, ou seja, a
disseminação da fé entre os povos não-católicos (os protestantes foram vistos como
indivíduos a serem alcançados). Este sentido estava intimamente associado com a
expansão colonial do mundo ocidental aos demais povos (atualmente chamado de
terceiro mundo). Com o tratado de Tordesilhas feito pelo Papa Alexandre VI com as
nações católicas (Portugal e Espanha – 1494), a missão passava a estar atrelada ao
patronato das nações colonialistas e a autoridade real permaneceu, por longo tempo, o
elemento constitutivo para a legitimação do empreendimento missionário.
Desde os meados do século XX, no entanto, tem havido uma escala sempre
crescente do uso do termo “missão”, outorgando-lhe os mais variados e múltiplos
sentidos, os quais variam do mais estreito ao mais amplo significado possível. O
missiólogo Karl Muller em sua obra Mission Theology: An Introduction, apresenta-nos a
seguinte lista de conceitos:
1) Missão é o envio de missionários para um designado território;
2) Missão tem a ver com as atividades realizadas por tais missionários;
3) Missão é a área geográfica onde missionários realizam seus ministérios;
4) Missão é a agência missionária responsável pela logística e pelo envio dos
missionários aos seus respectivos campos;

4
CARSON, D. A. Cristo e Cultura: uma releitura. São Paulo: Vida Nova, 2012, p.48.
2
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5) Missão é a propagação do evangelho aos povos não alcançados;


6) Missão é o centro do qual os missionários irradiam o evangelho;
7) Missão é uma série de serviços religiosos com o propósito de despertar
vocações missionárias;
8) Missão é a propagação da fé cristã;
9) Missão é a expansão do reino de Deus;
10) Missão é a conversão dos povos pagãos;
11) Missão é a plantação de novas igrejas.

Para Justo González e Carlos Orlandi, missão

é a atividade de Deus no mundo. Deus é protagonista da missão. Deus age no


mundo pela sua graça, para reconciliar o mundo consigo mesmo (2Co 5.19). A
igreja, como povo de Deus, surge dessa missão e participa dela. A igreja é o
resultado e a co-protagonista da missão de Deus. A igreja nasce, mantém-se e
transforma-se pela missão de Deus. Ao mesmo tempo, ela também é sujeito
ativo nessa missão. Isso é, a igreja discerne e descobre a atividade de Deus no
5
mundo e dela participa” .

A definição de justo Gonzáles evidentemente passa pela definição de missio Dei,


aliás, todas as definições contemporâneas o fazem. A definição de missio Dei
deslocava as definições da missão do contexto da soteriologia ou mesmo da
eclesiologia para dentro da Trindade. A missio Dei destaca o movimento de Deus, o
Pai, enviando o Filho, e Deus, o Pai e o Filho, enviando o Espírito. Isto foi expandido
para um outro movimento, Pai, Filho e Espírito Santo enviando a igreja para dentro do
mundo6. Karl Bath foi um dos primeiros teólogos a articular a missão como atividade
própria de Deus em 1932 em um trabalho lido na Conferência Missionária de
Bransdemburgo. Desde então, o conceito sofreu várias influências e modificações.

A compreensão da missão como missio Dei foi adotada praticamente por todas
as ramificações cristãs – primeiro pelo protestantismo ligado ao CMI, mas,
subsequentemente, também por outros agrupamentos eclesiásticos, como os
ortodoxos orientais e muitos evangelicais. Ela também foi endossada na
teologia missionária católica, particularmente em alguns dos documentos do
7
Concílio Vaticano Segundo (1962-1965) .

5
GONZÁLEZ, Justo L. e ORLANDI, Carlos Cardoza. História do Movimento Missionário. São Paulo: Hagnos,
2008, p. 23.
6
BOSCH, David J. Missão Transformadora. Mudanças de paradigma na teologia da missão. 2ª ed. São
Leopoldo/RS: EST, Sinodal, 2002, p. 467.
7
Ibid., p. 468.
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Apesar da diversidade do uso do conceito da missio Dei, ele foi útil, como o
próprio Bosch conclui, para ajudar “a articular a convicção de que nem a igreja nem
qualquer outro agente humano pode, alguma vez, ser considerado o autor ou o
portador da missão”8. Pois,

a missão possui sua origem no coração de Deus. Deus é uma fonte de amor
que envia. Esse é o manancial mais profundo da missão... Reconhecer que a
missão é de Deus representa um avanço crucial em relação aos séculos
precedentes. É inconcebível que pudéssemos voltar a uma concepção estreita
9
e eclesiocêntrica de missão .

A Missio Dei envolve o supremo propósito do Senhor com a vinda do seu reino e
a glória do seu nome. Como ele é o único responsável e capaz de fazê-lo, “a missão da
igreja é servi-lo, ou seja, participar da sua missão, cumprir seus propósitos”10. Desta
forma, assumindo a Missio Dei como base de sua missão, a igreja não vive para
satisfazer seus próprios interesses nem procura na comunidade a motivação para seu
serviço. Mas, foca seu olhar nos propósitos eternos de Deus e se move pelas
Escrituras Sagradas11.

Missões:
O termo “missões” em muitos momentos se confunde com o termo “missão” em
seu uso. O termo
refere-se à atividade do povo de Deus na comunicação do evangelho.
Tradicionalmente, esse termo cria uma imagem de movimento unidirecional: do
mundo cristão ao mundo não-cristão. Por essa razão, por muito tempo, as
missões associavam-se a uma prática missionária eclesiocêntrica, na qual a
12
igreja era protagonista da missão .

É importante observar que enquanto o termo “missão” é derivado da “Missio


Dei”, o termo “missões” é a expressão da “Missio Ecclesiae”.

Teologia de Missões (Missiologia):


“É a disciplina que estuda, de forma sistemática e coerente, tudo que for relacionado à
missão de Deus e à da comunidade da fé. É uma disciplina ampla que se desenvolve
em diálogo com a Antropologia, a Economia, a História, a História das Religiões, a

8
BOSCH, Ibid, p. 470.
9
BOSCH, p. 140.
10
LIDÓRIO, Ronado. Plantando Igrejas: teologia bíblica, princípios e estratégias de plantio de igrejas. São Paulo:
Casa Editora Presbiteriana, 2007, p. 54.
11
Idem.
12
GONZÁLEZ, Justo L. e ORLANDI, Carlos Cardoza. História do Movimento Missionário. São Paulo: Hagnos,
2008, p. 23.
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Teologia Sistemática, e muitas outras disciplinas”13. Também conhecida como


missiologia.

Pano de fundo para uma teologia de missões:


Segundo Charles Van Engen, a teologia de missões tem pelo menos 5
características essenciais: ela procura ser multidisciplinar, integrativa, conceitual,
analítica e verdadeira14.
 Antes de buscarmos uma definição prévia da missão é importante que se faça
uma nota acerca do processo de independência da teologia de missões (como a
missão apareceu na teologia).
o Alguns pressupostos para análise da missão na teologia ou a
teologia de missões:
o O início da caminhada missiológica se deu de um lado, tomando
emprestado termos e discussões das ciências sociais: sociologia,
antropologia, linguística, economia, política, estatística, sociologia da
religião.
o Por outro, a análise das agendas dos diversos ramos do cristianismo tanto
na estratégia como na prática missionária e aquilo que estava sendo feito
(1960) no clero, na estrutura e membros, nos empreendimentos
missionários, na relevância política, social e econômica.
o Também nas ações envolvendo evangelismo, crescimento da igreja,
tradução da Bíblia, educação teológica, parcerias missionárias, diálogos
ecumênicos e a relação com a cultura.
Só depois da década de 1960 é que a teologia de missão passou a ser uma disciplina
separada com seus próprios elementos e metodologia.

Bases fundamentais para uma Teologia de Missões:15

 A salvação é, antes de tudo, uma missão de Deus: Deus é sempre o que


busca o perdido. O próprio Deus entregou seu Filho para salvar pecadores. Esta

13
Idem.
14
As definições de “teologia de missões” apresentadas nesta apostila têm por base uma análise das definições de
Charles Van Engen em: Mission on the Way. Baker Books, GR. 1996.
15
Recomendo a leitura das partes introdutórias de: BOSCH, David J. Missão Transformadora – mudanças de
paradigma na teologia da missão. São Leopoldo/RS: Sinodal, 2002, p.26-29. Grande parte desta porção é um resumo
do material de David Bosch.
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é a verdadeira missio Dei. “A fonte de missões é o Deus triuno , o qual é


verdadeiramente um missionário”16.
 Um fundamento essencial da missão: a autocomunicação de Deus em
Jesus Cristo.
 A fé cristã é intrinsecamente missionária: ela não é a única persuasão
que é missionária. Antes, compartilha essa característica com diversas
outras religiões, particularmente o islamismo e o budismo, e também com
uma série de ideologias, como o marxismo, p. ex. (cf. Jongeneel
1986:6s.). Um elemento distintivo das religiões missionárias, em
contraposição às ideologias missionárias, é que todas elas “aderem a
algum grande ‘desvelamento’ da verdade última que creem ser de
significação universal” (Stackhouse 1988:189). A fé cristã, p. ex., vê “todas
as gerações da terra” como objetos da vontade salvífica e do plano de
salvação de Deus, ou, em termos neotestamentários, considera o “reinado
de Deus” que veio em Jesus Cristo como destinado a “toda a
humanidade” (cf. Oecumenische Inleiding 1988:19). Esta dimensão da fé
cristã não é um extra opcional: o cristianismo é missionário por sua própria
natureza, ou nega sua própria razão de ser.
 A missiologia, como ramo da disciplina da teologia cristã, não é um
empreendimento desinteressado ou neutro: ela procura, antes, olhar o
mundo a partir da perspectiva do compromisso com a fé cristã.
 A missão cristã dá expressão ao relacionamento dinâmico entre
Deus e o mundo: particularmente à maneira como ele foi retratado,
primeiro, na história do povo do pacto, Israel, e então, de modo supremo,
no nascimento, vida, morte, ressurreição e exaltação de Jesus de Nazaré.
 Toda a existência cristã deve ser caracterizada como existência
missionária: é tautológico falar de um “evangelho universal” (Hoekendijk
1967a:309). A igreja começa a ser missionária não através de sua
proclamação universal do evangelho, mas através da universalidade do
evangelho que ela proclama (Frazier 1987:13).

16
Neil, Stephen, Gerald H. Anderson, and John Goodwin (eds.). Concise dictionary of the Christian world mission.
Nashville: Abingdon, 1971, p. 594.
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 As missões estrangeiras não devem definir a missão: teologicamente


falando, “missões no exterior” não é uma entidade separada. A natureza
missionária da igreja não depende simplesmente da situação na qual ela
se encontra em dado momento, mas está baseada no próprio evangelho.
A justificação e fundamentação das missões no exterior, bem como das
missões no próprio país, “residem na universalidade da salvação e na
indivisibilidade do reinado de Cristo” (Linz 1964:209). A diferença entre
missões no exterior e no próprio país não é uma diferença de princípio,
mas de alcance. Temos, pois, de repudiar a doutrina mística da água
salgada (Bridston 1965:32); isto é, a ideia de que viajar para países
estrangeiros constitui a condição sine qua non de qualquer empenho
missionário e o teste e critério final do que seja verdadeiramente
missionário (p. 33). A publicação de Godin e Daniel (1943) foi o primeiro
estudo sério que destruiu o “mito geográfico” (Bridston) da missão: ela
provou que também a Europa era um “campo de missão”. Este livro,
porém, não foi longe o suficiente. Ao conceito de missão como primeira
pregação do evangelho a pessoas pagãs ele simplesmente acrescentou a
ideia de missão como reapresentação do evangelho a pessoas neopagãs.
Ainda definia a missão em termos de seus destinatários, não em termos
de sua natureza, e propunha que a missão está cumprida assim que o
evangelho tenha sido (re) apresentado a um grupo de pessoas.
 Diferença entre missão e missões: temos de distinguir entre missão (no
singular) e missões (no plural). O primeiro conceito designa
primordialmente a missio Dei (missão de Deus), isto é, a auto-revelação
de Deus como Aquele que ama o mundo, o envolvimento de Deus no e
com o mundo, a natureza e atividade de Deus, que compreende tanto a
igreja quanto o mundo, e das quais a igreja tem o privilégio de participar.
Missio Dei enuncia a boa nova de que Deus é um Deus-para as/pelas-
pessoas. Missões (as missiones ecclesiae *“missões da igreja”+: os
empreendimentos missionários da igreja) designa formas particulares,
relacionadas com tempos, lugares ou necessidades específicos, de
participação na missio Dei.
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 A missão é o “sim” de Deus ao mundo: quando falamos de Deus, isto


já implica o mundo como teatro da atividade divina. O amor e a atenção
de Deus dirigem-se primordialmente ao mundo, e a missão é a
participação da existência de Deus no mundo. Em nossa época, o sim de
Deus ao mundo revela-se, em grande medida, no engajamento
missionário da igreja no tocante às realidades de injustiça, opressão,
pobreza, discriminação e violência. A mensagem proclamada e
evangelizada é o único meio de redenção ansiado pelo homem sem Deus.
O “sim” de Deus afirma que o homem pode encontrar a tão esperada
salvação.
 O “sim” de Deus nos faz entender que a missão inclui a
evangelização como uma de suas dimensões essenciais:
evangelização é a proclamação da salvação em Cristo às pessoas que
não creem nele, chamando-as ao arrependimento e à conversão,
anunciando o perdão do pecado e convidando-as a tornar-se membros
vivos da comunidade terrena de Cristo e a começar uma vida de serviço
aos outros no poder do Espírito Santo.
 A Missão também é o “não” de Deus ao mundo: de fato, a missão é a
condutora da salvação que tem a ver com o que acontece com as
pessoas neste mundo, como afirmado no tópico anterior. Ainda assim, a
missão estende seu alcance e conduz também o “não” de Deus ao

8
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mundo. Ao apresentar o caráter santo de Deus ao mundo, a missão


reafirma o descontentamento de Deus com a condição pecaminosa do
homem e ratifica o seu juízo. Assim, se, por um lado, a missão sustenta o
“sim” de Deus ao mundo como expressão da redenção do coração
humano, também temos de confirmar a missão e evangelização como o
“não” de Deus, como expressão de nossa oposição e conflito com o
mundo. Por conseguinte, nem uma igreja secularizada (isto é, uma igreja
que se preocupa apenas com atividades e interesses deste mundo) nem
uma igreja separatista (isto é, uma igreja que só se envolve em salvar
almas e preparar os convertidos para o além) podem articular fielmente a
missio Dei.

Missiologia como uma disciplina:


 Missiologia é um estudo científico da dimensão missionária da fé cristã,
conforme revelada nas Escrituras, à luz da Grande Comissão (de Mateus 28.18-
20). Ela é uma disciplina teológica que aborda, de uma forma sistemática e
acadêmica, a verdade de que a igreja cristã é missionária por sua natureza.
Além do mais, ela examina criticamente os meios pelos quais a igreja realiza sua
missão ou obra de evangelização e plantação de igrejas entre várias culturas e
povos (missiones ecclesiae). Em um termo mais técnico, missologia é um ramo
da teologia que estuda as atividades salvadoras do Pai, Filho e Espírito Santo
(missio Dei)17.
 A teologia de missões como uma disciplina separada da Teologia, com seus
próprios elementos, metodologia, estudiosos (pesquisadores) e com foco próprio
pode ser observada a partir dos anos 1960 (The Theology of the Christian
Mission, Gerald Anderson).
 A missiologia trata das “pressuposições básicas e os princípios fundamentais
que determinam os pontos de vista da fé cristã, os motivos e os alvos da missão
cristã no mundo” (Van Engen, 18).

A missiologia é multidisciplinar:

17
Definição retirada de material ministrado em sala de aula por Valdeci dos Santos no curso: Teologia
Contemporânea de Missões Aplicada ao Contexto Urbano - PMU – 407 – Centro de Pós-Graduação Andrew
Jumper, 2013.
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A teologia de missões é um empreendimento difícil porque seu objeto de reflexão


constitui todos os ramos da teologia na busca de ser uma disciplina integrativa, de
forma interdisciplinar.

Reconciliando Missiologia e Teologia


Missiologia e teologia são disciplinas complementares.
A teologia:
 Conduz a igreja a compreender o sentido da missão.
 Provê o entendimento bíblico para o evangelismo.
A missiologia:
 Dirige teólogos para o plano redentivo de Deus.
 Ajuda-os a ler a Bíblia sob o pressuposto de que há um propósito para a
existência da igreja.

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A importância da reflexão teológica na tarefa missionária

Dois problemas:
1) Ausência de fundamento teológico em estudos sobre plantio de igrejas (na
missiologia): Um trabalho missionário sem um sólido fundamento teológico se
distancia da mente de Deus. A teologia de missões necessita de um campo
multidisciplinar que leia as Escrituras com seriedade e que seja comprometido em
redirecionar a igreja em seu envolvimento com a Missio Dei.

2) Banimento da missiologia dos círculos acadêmicos e de preparo teológico.


Consequência arrasadoras deste processo:
1º) Tem produzido:
a) pastores sem sonhos;
b) missionários despreparados;
c) teólogos infrutíferos
2º) É responsável por gerar sincretismo e liberalismo no processo de plantio
de igrejas.
MISSÕES: SEUS DESAFIOS E SUA MOTIVAÇÃO18

Os tempos atuais são marcados pelos grandes desafios para a tarefa missionária.
 Crescimento populacional
o 5.000 a.C. a população não passava de poucos milhões.
o 1 d.C. – 250 milhões de habitantes.
o 1.600 – a população não passava de 500 milhões.
o 1.850 – a população atingiu 1 bilhão de pessoas.
o 1.950 – atingiu 2,5 bilhões de pessoas.
o 1.990 – chega ao impressionante número de 5,2 bilhões.
o A partir de 2.000 – já somava mais de 6 bilhões.
o 2.008 – 6,7 bilhões.
o 2.010 – 6,9 bilhões.
o 2.050 – espera-se que atinja 9,2 bilhões.
 Movimento populacional – o movimento populacional decorrente da explosão
demográfica.
18
GREENWAY, Roger - Ide e fazei discípulos: uma introdução às missões cristãs. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 2001, cap. 2 e 3.
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o Urbanização
o Migração entre países
o Refugiados
o Movimento estudantil internacional

Motivação para a tarefa missionária:


1) O desejo de que Deus seja adorado e sua glória conhecida entre todos os
povos da terra.
a. A 1ª Pergunta do Breve Catecismo é um desafio para a igreja ainda hoje.
b. A adoração é a força motora por traz das missões – afirma John Piper –
“Quando a chama da adoração arder com o calor da verdadeira
excelência de Deus, a luz das missões brilhará para os povos mais
remotos da terra” (PIPER, John. Alegrem-se os povos: a supremacia de
Deus em missões. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 14).
2) O desejo de obedecer a Deus por amor e gratidão, por meio do
cumprimento da grande comissão de Cristo: “Ide e fazei discípulos de
todas as nações” – Mt 28.19.
a. A missão é uma questão primaria de obediência.
b. A obediência é:
c. Pessoal – em tempos de crise, o missionário precisa ter profundas
convicções de que Deus o colocou naquele exato lugar.
d. Eclesiástica – o chamado missionário, no entanto, não pertence a
indivíduos, mas à igreja como um corpo de crentes.
e. Cristo designa À sua igreja a tarefa de levar o evangelho ao mundo – Ef
3.10.
f. Isto implica que um chamado pessoal a missões necessita ser
reconhecido e sustentado pela congregação dos crentes.
g. Por meio do envio e apoio missionário, a igreja toda participa do mandato
missionário de Cristo – At 13.2-3; 14.26.
3) O desejo ardente de usar todos os meios legítimos para salvar os perdidos
e ganhar não-crentes para a fé em Cristo.
a. Paulo descreve sua motivação missionária em I Co 9.19-22: Porque,
sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior
número possível. Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de

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ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu


mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora
não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse,
não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para
ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os
fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com
o fim de, por todos os modos, salvar alguns. (I Co 9.19-22)
b. E ainda escreve mais em II Co 5.18-20: Ora, tudo provém de Deus, que
nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério
da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando
consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e
nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos
embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso
intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com
Deus.
4) A preocupação de que igrejas cresçam e se multipliquem e de que o reino
de Cristo seja estendido por meio de palavras e ações que proclamem a
compaixão e a justiça de Cristo a um mundo de sofrimento e injustiça. Plantar
a. Crescimento denominacional x pregação do evangelho. igreja
b. A necessidade da estruturação de uma igreja autóctone.

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UNIDADE II – VISÃO PANORÂMICA DE MISSÕES NO ANTIGO


TESTAMENTO

 A discussão sobre a missão da igreja é ampla e quase inesgotável.


 A missão está presente no Antigo Testamento ou é apenas um assunto
restrito ao Novo Testamento?
 O centro das atenções atuais passa pela discussão da relação entre a
definição da “missão da igreja” e o significado do termo “missão
integral”. Para muitos, só faz sentido falar de missões usando o termo
“missão integral”, no entanto, em muitos círculos o termo não passa de
uma referência à responsabilidade social da igreja. Ou o mesmo que
afirmar que a própria definição que têm de “missão intergral” é a partir
da “responsabilidade social da igreja”.
 Um tema, por si só, não pode isolar o significado da missão.
 “Missão integral” não é um tema ou mesmo uma porção da missão da
igreja, mas um conceito da própria natureza da missão. Para Timóteo
Carriker “parece até supérfluo o uso do qualitativo ‘integral’. Afinal”, diz
ele, “o conceito bíblico de ‘missão’ só poderá ser integral, no sentido de
procurar elaborar todas as dimensões de missão na Bíblia. De outra
sorte, o conceito não seria bíblico” (CARRIKER, 1991, 11).
 A partir desta perspectiva vamos trabalhar buscando entender a
presença da MISSÃO em toda a Bíblia. Esta unidade se ocupará de
visualizar a presença da missão nas páginas do Velho Testamento.
 É IMPORTANTE salientar que este curso/aula não estará preocupado
em definir e nem discutir acerca das bases de uma “MISSÃO
INTEGRAL”, mas busca um conceito bíblico-reformado da missão da
igreja.

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PRINCÍPIOS NORTEADORES DO ESTUDO MISSIOLÓGICO

1) O conceito de missão precisa ser integral em sua compreensão dos


propósitos divinos para a humanidade
 A preocupação principal da obra missionária é realizar o propósito de
Deus no mundo e a seu favor. Desta forma, missão da igreja é o
próprio mover de Deus em direção ao coração do homem.
 Mover este que foi comunicado à igreja por meio da vida de nosso
Senhor Jesus Cristo que retrata toda a natureza da missão em sua
oração sacerdotal e intercessora: “Assim como tu me enviaste ao
mundo, também eu os enviei ao mundo” (João 17:18).
 E mais tarde, após sua morte e ressurreição, a oração se transforma em
mandamento missionário: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos
envio” (João 20:21).
 Expressando seu amor na forma de serviço, Jesus nos oferece o modelo
perfeito e envia sua igreja ao mundo para que seja uma igreja serva.

2) A compreensão da missão da igreja deve ser adquirida a partir da


compreensão da missão do próprio Cristo
 A missão se inicia no coração de Deus e se propaga pelo mundo dos
homens. Para Pedro Arana “o Cristo-homem veio ao mundo dos
homens. Não a um mundo ideal, mas ao mundo tal e qual ele é”
(STEUERNAGEL, 1992, 84). Esta compreensão de uma missão no
mundo “tal e qual ele é” define o espaço missionário e sua natureza.
 Ao enviar a sua igreja, Jesus aponta para o mundo da história. Não para
um mundo espiritual, ideal, mitológico ou mesmo para o mundo das
ideias. Jesus aponta para um mundo geográfico. Para o mundo do
pecado. O mundo de João, de Maria, de Bonifácio, de Emil, de Paul, de
Saul e de José.
 O mundo das pessoas como elas são. Mundo do sofrimento, da dor, da
incerteza, da alegria e do casamento. O mundo dos homens, mas
também mundo de Deus, das Escrituras Sagradas. O mundo do pecado
e mundo da salvação.

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 A igreja não pode ser orientada a se envolver com neste mundo. Ela já
faz parte dele. É o seu mundo. É a sua casa. É a sua vida. A igreja tão
somente precisa optar como quer se mover neste mundo que é seu. Ela
pode estar sendo conduzida por ele. Ou ser agente condutor dele. Ela
pode se deixar moldar pelo mundo. Ou pode optar por moldar o mundo.

3) A igreja não poderá optar por moldar o mundo se não compreende


como Deus se relaciona com este mundo que é d’Ele, mas distante d’Ele
está – Deus se move em direção ao coração do homem.
 É em busca de compreender a relação de Deus com o mundo que Ele
criou que está alicerçada a busca missiológica.
 A cosmovisão reformada apresenta uma postura missionária na
compreensão de toda a realidade.
 O trinômio CRIAÇÃO-QUEDA-REDENÇÃO é uma plataforma para se
compreender a missão.
 Os mandatos pactuais apresentam uma perspectiva missiológica quando
compreendidos até suas últimas consequências.

A PERSPECTIVA MISSIONÁRIA EM GÊNESIS

A CRIAÇÃO:
As primeiras indicações da graça redentora de Deus para a humanidade
aparecem no contexto de seus atos criativos. Ao criar a vida humana tal como
a percebemos e experimentamos, Deus se move em direção ao coração do
homem. Movido por bondade e puro amor, Deus cria o homem à sua imagem e
semelhança. Deus não tinha nenhum motivo para criar, ou seja, Deus não
precisava criar. Simplesmente o fez. Ele desejou se revelar e relacionar com
outros além da deidade. Gerard van Groningen afirma que: “Deus queria
comunhão – um relacionamento íntimo, bom e amoroso. Isso tornou-se
possível especialmente pela criação de macho e fêmea à sua imagem e
semelhança” (van Groningen, 28).

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STPRDNE – TP07 - TEOLOGIA DE MISSÕES I

 Ao criar Deus se revela ao homem – este é o fundamento da missão


da igreja: Deus se dá a conhecer ao homem. Não seria possível ao
homem conhecer a Deus se Deus não se desse a conhecer através da
revelação.
o Revelação Natural – Deus se dá a conhecer através da natureza.
o Revelação Especial – Deus se revela de forma especial ao
homem e registra isto nas Sagradas Escrituras. O ápice desta
revelação de Cristo.
 Princípios da revelação pré-redentora na criação –
antes da queda.

 Princípio da Vida: Simbolizado pela “árvore da vida”


– Gn.2:7ss. – Ez.47.

 Princípio da Provação: Simbolizado pela “árvore do


conhecimento do bem e do mal” – Conhecimento do
Bem X Mal. SÍNTESE: “Se não comecem da árvore
jamais conheceriam o mal; e se comecem, jamais
conheceriam o bem”.

 Princípio da tentação e queda: Simbolizado pela


serpente. O diabo “conduz a tentação” em duas
etapas: (1) Questionou a verdade divina; e (2)
desacreditou a verdade.

 Princípio da Morte: Simbolizado pela dissolução do


corpo (morte física).

 Deus estabelece um pacto com o homem (Gn 6:18 – Gn.9:12-13 –


Ex.34:10 – Jz.2:20 – Sl.111:9 – Jr.32:40 – Gl.4:22-31). Ronald
Yongbland em “The Heart of the Old Testament” faz uma análise da
palavra pacto (Não existe paralelo para a palavra hebraica – a fonte vem
da palavra arcadiana (sírio) para elo/vínculo) Assim, ele define PACTO
como: o elo/vínculo de amor e vida estabelecido entre Deus e o homem,
estendendo-se à criação; sempre por iniciativa divina – É Deus se
movendo em direção ao coração do homem (YOUNGBLOOD, 1998).

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o A ideia de pacto vem de 2 tipos básicos encontrados entre os


arcadianos (principalmente entre os heteus).

 Pactos de Paridade: Quando um rei não podia vencer um


outro, faziam um pacto de paridade. Eram pactos
bilaterais, ou seja, acordo mútuo, acordo entre iguais e de
igualdade.

 Pactos Suseranos: Quando um rei mais forte dominava


outro mais fraco. É um pacto unilateral, quando o soberano
dominava e dava as ordens sobre os vassalos que só
tinham a obedecer. O pacto suserano tinha três etapas
básicas:

 1º- Expunha seus feitos.

 2º- Em seguida apresentava suas propostas de


benefícios à nação vassala (dominada).

 3º- E finalmente ele exigia obediência.

 4°- Este é o modelo usado por Deus para


estabelecer um pacto com seu povo: Ex.19:1-4 –
Deus faz uma proposta suserana ao povo de Israel,
expondo seus feitos maravilhosos (Is.46:3-4 – o
tempo todo Deus expõe seus feitos ao povo.)
Ex.19:5 – Deus faz proposta que o povo fosse uma
nação sacerdotal e faz exigência (Js 24.14-15 –
Deus faz exigências de serviço). No v.8 os vassalos
respondem ao pacto e em Ex.24:7 o povo reafirma.

o O Pacto de Deus é único: não existem vários pactos, mas


apenas um. O pacto de Deus com o homem manifesta sua graça,
podendo ser sempre chamado de pacto da graça. No entanto, ele
é administrado de várias formas diferentes. O importante para nós
aqui é pontuar o início do estabelecimento deste relacionamento.
Já no Éden Deus busca o homem para relacionar-se
graciosamente com ele. Através do pacto da criação, Deus cria o
homem à sua imagem e semelhança. A “imagem e semelhança”

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de Deus no homem se relaciona com a perfeita exatidão com que


o ser criado havia de representar o seu Criador. Quando a criação
tivesse necessidade de ver o criador, não teria dificuldades em ter
no homem o seu exato representante. O homem refletia a glória
de Deus e para isto fora criado.

 Como “imagem e semelhança” de Deus, o homem recebeu


responsabilidades na criação – Deus estabelece os mandatos
pactuais os quais o homem deveria obedecer.

o Mandato Espiritual: Simbolizado pelo SÁBADO. Relacionamento


do homem com Deus.

o Mandato Social: Simbolizado pelo CASAMENTO.


Relacionamento do homem com a sociedade (Gn.2:24).

o Mandato Cultural: Simbolizado pelo LABOR/Trabalho.


Relacionamento do homem com o meio ambiente (Gn.2:15).

A QUEDA:
 Criado como fruto da bondade de Deus, o homem era o centro e a
finalidade da criação. Não compreendendo sua centralidade e finalidade,
o homem se aliena de Deus e abdica-se da comunhão com o criador
arrastando consigo toda a criação.
 Seu mundo desmorona-se, seu coração se corrompe. Ele perde o
controle de seu mundo. Deus se move em direção ao seu coração com
juízo e muito rigor. O homem é expulso da santa e doce presença do
Criador.
 Rompe-se a comunhão. Quebra-se o encanto e a doçura. Do suor de
seu rosto o homem passa a sobreviver. Com dor a mulher passa a dar a
luz. Com “guerras”, a vida se estrutura nas tensões entre “semente de
satanás” e a “semente da mulher”.
 O Criador manifesta a sua graça e promete a vitória final do
“descendente da mulher” (relação estreita de Gn 3 com Ap 12).
 O proto-evangelho.

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Ação do juízo divino pós-queda:


 O dilúvio: A vida do homem passou a ser delineada pela escuridão da
ausência de Deus. O pecado assume a direção. O homem corrompido
deixa a vida fica insustentável. Deus se move outra vez em direção ao
coração do homem: julga-o com o dilúvio. Mas o Criador, em pura
manifestação de sua graça, poupa alguns, simbolizando uma nova
criação (Gênesis. 8 e 9).

 Babel (a tábua das nações): Gerações posteriores mais uma vez


demonstram o que significa estar distante de Deus. O homem continua
sua jornada de trevas e desejos carnais. Numa tentativa desenfreada de
atingir os céus, edificam uma torre que simboliza toda a sua corrupção,
arrogância e alienação. Queriam chegar à morada celestial e ser
célebres na criação. Outra vez, o julgamento de Deus entra em ação e
Deus se move em direção ao coração do homem. A humanidade é
dispersa sobre a face da terra em alienação mútua.

REDENÇÃO:
 O CHAMADO DE ABRÃO: Até esta altura, Deus relacionava-se com a
humanidade de forma generalizada. Quando dispersa a humanidade
(Gênesis 11), cria as nações. Cria os povos com suas línguas e culturas
distintas.
 Neste contexto, a graça mais uma vez se manifesta, Deus chama Abrão
dentre as nações e o coloca diante delas e promete: “Abençoarei os que
te abençoarem, e amaldiçoarei os que ti amaldiçoarem. Por ti serão
benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:3).
 Deus convoca Israel como nação e a envia para as nações. Johannes
Blauw observa: “a história de Israel nada mais é do que a continuação
do trato de Deus com as nações..., portanto, a história de Israel só pode
ser entendida na perspectiva do problema não resolvido da relação de
Deus com as nações” (Blauw, 19).
 A história do povo de Deus é o mover de Deus em direção ao coração
do homem. É o caminho do redentor sendo preparado.

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ISRAEL: UMA NAÇÃO ENTRE MUITAS NAÇÕES (o plano divino para formar
um povo missionário)
 Quem era a nação de Israel no contexto das nações que acabavam de
ser criadas?
 Israel foi um dos primeiros povos a reconhecerem que era apenas uma
nação na história.
 Enquanto impérios como Egito, Babilônia, Pérsia e outros, pensavam
sobre si como o universo, Israel se encontrou como apenas mais uma
nação.
 Deus se move em direção ao coração do homem do ponto de vista do
oprimido. Deus não faz aliança com o opressor. Deus socorre ao que
clama. Aquele que faz parte do todo sofredor.
 O desenvolvimento do relacionamento de Deus com seu povo se deu na
caminhada e todos os picos da revelação divina foram adendos na
jornada.
 Ninguém foi chamado para fundar uma religião. Criar um compêndio
teológico ou coisa parecida. Deus desafiou seu povo a caminhar. E
enquanto caminhava, Deus se revelou a ele. Deus deu terra para o povo
trabalhar, e enquanto trabalhava, Deus se relacionou com ele e
continuou a se revelar. Deus deu guerra para o seu povo guerrear, e
enquanto lutava, Deus o livrou e se revelou a ele. Deus se revelou no
caminho.

ÊXODO-JOSUÉ:
 A revelação do Deus pessoal a Moisés – o chamamento de Moisés e de
Israel demonstra a necessidade da vocação divina para a obra
missionária.
o A missão se inicia com a grande libertação.
o A missão é uma obra maior que o povo.

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Prof. Rev. Cássio C. Neves

UNIDADE III – VISÃO PANORÂMICA DE MISSÕES NO NOVO


TESTAMENTO

 JESUS: O MOVER NO CAMINHO


o No centro da história humana, na plenitude dos tempos, Deus se
revela através de seu Filho. Era Deus se movendo em direção ao
coração do homem. A graça que assume sua forma máxima na
história de cada indivíduo.
o Em Cristo Jesus, Deus estabelece o conceito de missão:
 Redime a criação – Ef 2.10. Deus recria em Cristo:
 Cristo é chamado de novo Adão e justiça de Deus.
Rm.5:12-21.
 Cristo é o nosso modelo a quem devemos ser
semelhantes. IICo.3:18 – Fp.3:21 – II Pe.1:4 – I
Jo.3:2 – Cristo restaura a imagem e semelhança de
Deus em nós.
 Cristo reparte o seu poder e envia a igreja – Jo
17.18.
 Destrói o poder de Satanás – Ap 12.7-12.
 Restaura os mandatos pactuais – II Co 5.18-20. Esta
restauração se dá através da vocação com que ele nos
chamou.
 Somos moradores de uma nova pátria – (somos
peregrinos aqui – II Pd 2.11).
 Somos embaixadores neste tempo presente – II Co
5.20.
 Anunciamos o evangelho da graça de Deus – Mt
28.18-20.

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CONCLUSÃO – Levando Cristo aos corações

Redefinindo a missão: Dar continuidade ao processo pactual de Deus com o


homem, ou seja, levar o mover de Deus ao coração do ser humano por meio
de uma ação redentiva.

Por muito tempo houve certa similaridade entre as definições de


“missão” e “evangelização”. No entanto, o uso do termo “missão” tem se
desenvolvido e passou a ter um sentido mais amplo e geral. A missão passou a
incluir a evangelização sem, contudo, se identificar com ela. Para John Stott
missão “quer dizer atividade divina que emerge da própria natureza de Deus”
(STUERNAGEL, 1992, 58).
Esta definição é muito ampla, mas atende exatamente aos nossos
propósitos de estabelecer uma definição a partir de uma visão genuinamente
bíblica da missão da igreja. A missão da igreja emerge do ato divino de
“enviar”. O Deus de toda a glória está o tempo todo enviando mensageiros para
comunicar a sua Palavra. Ele enviou os seus profetas a Israel e enviou o seu
Filho ao mundo. Por sua vez, o Filho continua a ação do Pai e envia os
apóstolos, os setenta e a igreja. Jesus também enviou o próprio Espírito Santo
à igreja e ainda hoje o envia ao coração de cada crente.
Desta forma, a missão da igreja tem sua base na missão do próprio
Deus: “assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo.20:21). Para
encontrarmos o significado da missão da igreja é necessário que
compreendamos a missão de Jesus.
Ao falar da missão de Jesus, no entanto, não se pode pensar em imitar a
Cristo em todas as suas realizações. O Filho de Deus foi enviado ao mundo
para morrer por nossos pecados, verdadeiramente não foi esta a tarefa da
igreja.
Dois aspectos de suma importância precisam ser destacados.
Primeiro, vamos reiterar a afirmação, o Filho de Deus foi enviado ao
mundo. Este é o ponto de partida. O Pai enviou o seu Filho amado ao mundo
pecador. E com o mundo Jesus se identificou. Da mesma forma, o Cristo
enviado nos enviou a nós. Não podemos perder de vistas que Jesus nos
enviou para o mesmo lugar que Ele tinha sido antes enviado. Isto significa dizer

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STPRDNE – TP07 - TEOLOGIA DE MISSÕES I

que a nossa tarefa, a despeito de ser diferente, é extensão da d’Ele. No


entanto, Ele não nos enviou para fazer o mesmo que Ele estava fazendo, mas
para continuar a sua obra e garantir que ela fosse aplicada nos corações. Para
que a mesma fosse possível, Ele envia o Seu Espírito que nos auxilia na tarefa
(Jo.16:7; 8). Portanto, o aspecto de nosso envio é essencialmente de extensão
de tarefa. Ou seja, não fomos enviados para morrer na cruz, mas para conduzir
o resultado desta morte de tal forma que ela se aplique aos corações dos
eleitos.
Segundo, Cristo nos envia ao mundo para sermos servos. Aqui
também observamos que Cristo é o modelo. Antes de cumprir qualquer tarefa,
Jesus viveu entre os homens por quem ele deveria morrer. Cristo não veio
apenas salvar o pecador. Sua tarefa não estava centrada nas coisas. Ele não
para refletir e então estabelecer um planejamento estratégico. Ele já tinha bem
definido o que queria: simplesmente servir. Fundindo a ideia do “Filho do
Homem” de Daniel com o “servo sofredor” de Isaias, Jesus abre os horizontes
para um conceito até então impensado: “pois o Filho do Homem não veio para
ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc.10:45).
Assim, nossa missão passa pelo mesmo crivo. Ele mesmo afirmou: “assim
como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo.20:21). Nossa missão, como
a d’Ele, deve ser uma missão apontada para o serviço. Somos chamados e
enviados para servir aqueles que perecem sem a salvação.
Definindo bem estes aspectos podemos estruturar o verdadeiro
significado de “missões”. Quando falamos da missão da igreja, não estamos
falando da própria igreja, mas da razão dela ainda estar no mundo. Se o seu
fim é adorar a Deus, a sua missão é levar o mover de Deus ao coração dos
perdidos. Ao se portar como serva a igreja deverá ter as seguintes posturas.

1º) Evangelizadora
Voltando à discussão inicial, a evangelização, por sua fez, não pode ser
negligenciada na definição de “missão”. Pois ela é parte essencial da missão
da igreja. Evangelização (euangelizomai) comunica literalmente “trazer ou
anunciar o euangelion, as boa novas” (STEUERNAGEL, 1992, 62). Apesar da
palavra aparecer no Novo Testamento para retratar notícias comuns, o seu
maior emprego sempre apresentar o sentido de trazer as boas novas cristãs.

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STPRDNE – TP07 - TEOLOGIA DE MISSÕES I

Duas verdades importantes precisam ser ditas acerca da evangelização, ela


não pode ser definida por resultados e ela não pode ser definida por métodos.
Não evangeliza apenas quem conduz muitas pessoas aos pés de Jesus
através do batismo e arrolamento no roll de membros de alguma igreja.
Evangelizar é anunciar as boas novas de Jesus. Ainda que o “evangelizador”
esteja esperando uma resposta daquele a quem ele anunciou as boas novas, a
resposta não tem o fim de caracterizar o seu ato. Uma resposta negativa do
ouvinte, ou mesmo o silêncio deste, não implica em negação da evangelização.
Da mesma forma, evangelizar não é aplicar um método específico para
comunicar as boas novas. Evangelizar é anunciar as boas novas, não importa
de que maneira. Os meios podem definir se a ação evangelizadora terá amplo
alcance ou não, mas não a definem. A igreja pode evangelizar por meios
eletrônicos, com estratégias de pequenos grupos, com os antigos cultos de
ruas, com os cultos nos lares, ou mesmo com os sermões dominicais
evangelísticos que já estão quase em desuso. Será sempre evangelização.

2º) Kerigmática
Ao exercer sua missão a igreja também precisa ter uma postura
kerigmática. Qual a diferença entre “evangelizadora” e “kerigmática”? Quando
uma igreja está evangelizando ela tem um objetivo específico de anunciar as
boas novas ao pecador que sofre sem visualizar a solução que Deus proveu na
cruz. No entanto, esta não é uma postura única para a igreja. Os pecadores
são “sofredores” que carecem da graça de Deus, mas também são ímpios que
estão debaixo do juízo de Deus. Uma igreja é “kerigmática” quando ela se torna
um arauto da justiça e da integridade. A igreja não pode se abdicar de ser luz e
sal do mundo. Quando uma igreja apenas evangeliza, ela centra sua atenção
nos resultados e espiritualiza sua esfera de atuação. Mas a igreja não foi
chamada para as suas fronteiras. Ela é guardiã da moral e da justiça. Se a
igreja se calar, o mundo não verá a luz. As instituições humanas são
humanamente contaminadas com o pecado. A igreja precisa alçar sua voz e
condenar, como profeta que é, as ações de exploração e degradação da
sociedade em que está inserida. Isto também faz parte da missão da igreja.

3º) Martírica

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STPRDNE – TP07 - TEOLOGIA DE MISSÕES I

A expressão “testemunha” está profundamente carregada com o


significado original do termo martírica. Enquanto as ações evangelizadora e
kerigmática estão na esfera do discurso eclesiástico, a ação martírica está
relacionada com a vida de cada crente que deve trazer as marcas de Cristo de
tal forma que qualquer pessoa possa ver a glória de Deus em seu estilo de
vida. Nenhuma igreja pode evangelizar e anunciar as justas verdades de Deus
sem que experimente verdadeiramente a Jesus em seus corações. A relação
com o martírio é clara, a igreja precisa fazer isto ainda que a custo de sua vida.

4º) Koinônica
Por fim, não pode haver missões sem que a igreja experimente o puro amor do
Senhor em seu coração. Uma igreja que ama ao Senhor acima de todas as
coisas aprende a amar o reino de Deus e entende que a primeira motivação
para a tarefa missionária é a obediência amorosa ao Senhor que envia. Sem
amar a Jesus, uma igreja não pode demonstrar amor internamente, nem
mesmo pelos perdidos que vagam pelo mundo. Toda postura de comunhão na
igreja, só é comunhão espiritual se brotar da comunhão que a igreja tem com
Cristo. Ou seja, se somos irmãos, o somos por estarmos ligados por laços
eternos de amor divino. Sem o amor de Deus não há comunhão. E uma igreja
que não tem comunhão não pode realizar sua tarefa missionária.
Simplesmente pelo fato desta igreja não estar inserida no corpo de Cristo, ou
seja, é apenas um grupo reunido. O que faz uma igreja ser igreja não é a tarefa
missionária, mas o Espírito Santo que a liga a Cristo por meio da Palavra da
Cruz. Somente nesta condição a tarefa missionária não será fazia e desprovida
de significado.

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