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EAD

Durkheim: O Fato Social


Religioso

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1. OBJETIVOS
• Conhecer as principais ideias de Durkheim e sua biografia.
• Descrever as principais influências do seu pensamento.
• Compreender as interpretações sobre a religião em Dur-
kheim.
• Conhecer o papel da Sociologia na religião.
• Interpretar a religião como fato social.
• Identificar e interpretar a ciências dos fatos sociais.

2. CONTEÚDOS
• A ciência dos fatos sociais.
• A religião como fato social.
40 © Sociologia da Religião

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) rograme-se, organize seus estudos e participe, ativa-
mente, na Sala de Aula Virtual, ou envie suas contribui-
ções por fax ou pelo correio. Ter disciplina para estudar
pode ajudar você a tirar o máximo de proveito em seu
curso de Educação a Distância.
2) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am-
plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre
com o material didático em mãos e discuta a unidade
com seus colegas e com o tutor.
3) Tenha sempre à mão o significado dos termos explicita-
dos no Glossário de Conceitos e suas ligações pelo Es-
quema dos Conceitos-chave para o estudo de todas as
unidades deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendiza-
gem e seu desempenho.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
A importância de Durkheim para o nosso curso não reside
somente nos seus estudos sobre a religião, mas também no fato
de que ele foi o consolidador da Sociologia como uma ciência e
disciplina acadêmica autônoma. Dentro de Sociologia da Religião,
certamente isso não é um fator menor.
Vamos começar então, assim como em Marx, pelo traçado
geral da teoria durkheimiana. Desse modo, teremos elementos
não somente para compreender melhor as suas interpretações so-
bre a religião, mas também a própria definição do que significa a
Sociologia.
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É esse caminho que começaremos a percorrer agora, conhe-


cendo um pouco do pensamento desse sociólogo.

5. A CIÊNCIA DOS FATOS SOCIAIS


Durkheim é, fundamentalmente, um homem do século 19;
nasceu em 1858 e faleceu em 1917. Não podemos entender sua
obra sem entender o contexto em que ela foi produzida.
O mundo de Durkheim já conhecia o Manifesto do
Partido Comunista, de Marx e de Engels, bem como seus impac-
tos na organização da luta dos operários e camponeses em todo
o mundo.
Presenciou o surgimento do império alemão, não do modo
revolucionário como esperado por Marx, mas, sim, com pulso de
ferro do ministro Otto Von Bismark, o qual fortaleceu ainda mais
o poder do imperador (Guilherme I), traçando o caminho que le-
varia o mundo para a Primeira Guerra Mundial, episódio do qual
Durkheim presenciou somente o início.
Vale destacar que diversos outros episódios marcaram o pe-
ríodo, inclusive a unificação italiana (completada em 1870, sob o
reinado de Vitor Emanuel II), a Guerra de Secessão nos EUA (1861-
1865) e a eclosão das revoluções socialistas na Rússia (1905 e
1917). Tempos muito agitados, certamente!
Em termos de avanço da ciência e da tecnologia, as coisas
também caminhavam em ritmo acelerado.
O maquinário industrial transformava-se a cada ano, e a rede
de transporte crescia com o auxílio das ferrovias, fazendo que o
cidadão comum tivesse a sensação de que poderia dormir em uma
realidade e acordar em outra completamente diferente.
Em 1859, foi publicada uma obra que revolucionou todo o
pensamento científico da época: A Origem das Espécies, de Charles
Darwin.

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A obra de Darwin pode ser relacionada a diversos fatos que


ocorreram ao longo do século 19 e início do século 20, como vere-
mos logo adiante.
Darwin elaborou uma teoria que tinha como princípio bá-
sico a ideia da seleção natural: indivíduos melhor adaptados ao
meio natural sobrevivem aos demais, impondo a transmissão da
sua carga genética. Desse modo, ele procurou traçar as linhas evo-
lutivas das diferentes espécies.
Sua teoria baseou-se em um extenso trabalho de arqueolo-
gia, que Darwin realizou ao longo de sua juventude.
Suas ideias impactaram toda a ciência e, até mesmo, a polí-
tica da época. É da ideia de seleção natural dos mais fortes que se
desenvolve, por exemplo, o arianismo de Hitler (na Segunda Guer-
ra Mundial), defendendo a superioridade natural dos alemães so-
bre os demais povos.
O impacto na Biologia certamente não precisa ser mencionado.

É bom lembrar que Hitler estava completamente equivocado


quanto ao emprego do evolucionismo, bem como no restante do
seu pensamento intolerante.

Houve, também, um grande impacto nas Ciências Sociais.


Existem cartas de Engels para Marx, nas quais o primeiro comenta
a publicação da obra de Darwin, ressaltando o quão útil a teoria da
evolução poderia ser para as suas próprias reflexões.
Qualquer teoria que pretendesse ser aceita como séria pas-
sou a precisar buscar o aval do evolucionismo de Darwin naquele
período.

Engels escreveu, em 1884, um texto profundamente marcado pelo


darwinismo: A Origem da Família, da Propriedade Privada e do
Estado.
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Como fica o nosso jovem Durkheim? Sua formação acadêmi-


ca realizou-se em um mundo marcado por tais conflitos e debates.
Ao colocar-se a tarefa de estruturar uma nova ciência, dedicada,
exclusivamente, ao estudo das sociedades humanas, Durkheim
não podia fugir ao debate com o evolucionismo.
O padrão científico daquela época era definido pelas chama-
das “ciências naturais”, todas elas profundamente afetadas pelo
evolucionismo. Para estabelecer um novo campo de conhecimen-
to, Durkheim precisava comprovar diferentes pontos:
• deixar claro que a contribuição da nova ciência era origi-
nal e diferente de qualquer outra fornecida pelas ciências
já estabelecidas, que ela seria capaz de se adaptar ao pa-
drão amplamente aceito, até então, como o único para
todas as ciências – o padrão das ciências naturais, então
marcadas pelo evolucionismo darwinista;
• possuir um método claro e preciso, gerando experiências
que poderiam ser reproduzidas por outros pesquisado-
res;
• ser capaz de elaborar leis gerais, tal como era considera-
do o evolucionismo então.
Nesse momento, a disputa era grande e, certamente, nada
fácil de ser vencida. Mas Durkheim buscou enfrentá-la e, paciente-
mente, abriu espaço para o desenvolvimento da Sociologia como
disciplina acadêmica e científica.
Mas como fundar, então, uma nova ciência, ainda mais uma
ciência que terá como base as sociedades humanas?
O que Durkheim fez foi seguir o roteiro de trabalho das ciên-
cias naturais:
• definiu claramente seu objeto de pesquisa;
• elaborou um método rigoroso;
• interpretou seus dados, buscando por regularidades que
pudessem levar a elaboração de leis gerais.

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Em uma síntese bastante geral, o método de Durkheim pode


ser apresentado como a busca pelos chamados “fatos sociais”,
apresentados da seguinte forma:
Na verdade, porém, há em toda sociedade um grupo determina-
do de fenômenos com caracteres nítidos, que se distinguem da-
queles estudados pelas outras ciências da natureza (DURKHEIM,
1978, p. 1).

Veja que ele já começa seu debate com as demais ciências,


mostrando a originalidade de seu objeto de estudo. Mais adiante,
no mesmo texto, ele continua:
Estamos, pois, diante de uma ordem de fatos que apresenta carac-
teres muito especiais: consistem em maneiras de agir, de pensar
e sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de coerção
em virtude do qual se lhe impõem. Por conseguinte, não pode-
riam se confundir com os fenômenos orgânicos, pois consistem
em representações e em ações; nem com os fenômenos psíquicos,
que não existem senão na consciência individual e por meio dela.
Constituem, pois, uma espécie nova e é a eles que deve ser dada
e reservada a qualificação de sociais. Esta é a qualificação que lhes
convém; pois é claro que, não tendo por substrato o indivíduo, não
podem possuir outro que não seja a sociedade: ou a sociedade
política em sua integridade, ou qualquer um dos grupos parciais
que ela encerra, tais como confissões religiosas, escolas políticas e
literárias, corporações profissionais, etc.[...] Estes fatos são, pois o
domínio próprio da sociologia (Ibid., p. 3).

Temos, a seguir, a descrição das duas características essen-


ciais de todo fato social:
• ele é exterior ao indivíduo; são padrões de pensamento
e comportamento que lhe são passados pela sociedade;
• ele possui um poder de coerção imperativo, não sendo
possível ao indivíduo isolado dele escapar sem ser classi-
ficado como louco ou delinquente.
Não depende, portanto, de nenhum tipo de fenômeno orgâ-
nico ou psíquico para existir, pois sua origem encontra-se na pró-
pria sociedade.
Veja, então, que eles podem ser chamados de “fatos”, pois
sua existência é verificável, inclusive, historicamente. Mas são fa-
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tos diferentes dos estudados pelas demais ciências, pois eles são
sociais e devem sua existência a uma construção da coletividade,
perpetuada com base nas diversas formas de educação.
Entretanto, vale a pena destacar que, sendo sociais, tais fatos
são construídos pelos homens no seu cotidiano, mas não podem
ser transformados somente pela vontade de um único homem.
Nascemos em uma sociedade já estruturada e que molda
nosso pensamento e comportamento desde nossos primeiros mo-
mentos.
Desse modo, ao mesmo tempo em que são os homens que
constroem a sociedade coletivamente, é a sociedade quem molda
cada indivíduo para garantir a sua perpetuação e reprodução.
Qual seria, então, o método de análise desses fatos sociais?
Consiste em sempre desconfiar das primeiras impressões, o que
significa se distanciar de todo senso comum, ou seja, de toda opi-
nião já pré-formada pela coletividade.
Note que o princípio geral de toda ciência é construir um
conhecimento com base em fatos, e não em preconceitos.
Como você pode perceber, isso implica a necessidade de
se considerar os fatos sociais como coisas, como objetos. Cuida-
do! Isso não quer dizer que os fatos sociais possam ser estudados
como quem observa uma cadeira! É o próprio Durkheim quem nos
alerta:
Com efeito, não afirmamos que os fatos sociais sejam coisas ma-
teriais, e sim que constituem coisas tais como as coisas materiais,
embora de maneira diferente.
Com efeito, que é coisa? A coisa se opõe à idéia com se opõe entre
si tudo o que conhecemos a partir do exterior e tudo o que conhe-
cemos a partir do interior. É coisa todo objeto do conhecimento
que a inteligência não penetra de maneira natural, tudo aquilo de
que não podemos formular uma noção adequada por simples pro-
cesso de análise mental, tudo o que o espírito não pode chegar a
compreender senão sob condição de sair de si mesmo, por meio da
observação e da experimentação, passando progressivamente dos
caracteres mais exteriores e mais imediatamente acessíveis para os

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menos visíveis e mais profundos. Tratar fatos de uma certa ordem


como coisas não é, pois, classificá-los nesta ou naquela categoria
do real; é observar, com relação a eles, certa atitude mental. Seu
estudo dever ser abordado a partir do princípio de que se ignora
completamente o que são, e de que suas propriedades característi-
cas, assim como as causas desconhecidas de que estas dependem,
não podem ser descobertas nem mesmo pela mais atenta das in-
trospecções (Ibid., p. 21).

Em outras palavras, o emprego do termo “coisa” indica,


então, tudo aquilo que é exterior ao indivíduo e que precisamos
conhecer com base em observação e experimentação. Os objetos
são exteriores ao homem, assim como a sociedade.
A particularidade dos fatos sociais é que eles são coisas
exteriores aos indivíduos, mas que exercem grande influência na
formação do seu interior.
Você pode estar pensando: como tal método funciona,
então? Durkheim vai se preocupar em buscar nas regularidades
do processo histórico, nas sociedades humanas aquilo que pode
ser definido como fato social.
Um dos modos pelos quais ele realizou tal busca foi centralizar
a sua reflexão em sociedades classificadas como "primitivas",
ou mais simples, nas quais poderia ser mais fácil identificar tais
regularidades. Por esse motivo, algumas pessoas apresentam o
método de Durkheim como a busca de explicar o mais complexo
partindo do mais simples, o que, na verdade, é uma interpretação
simplista e equivocada da sua teoria.
O motivo que levou Durkheim a voltar seu olhar para as
sociedades, que classificou como primitivas, foi por acreditar
que nelas seria mais fácil identificar os verdadeiros fatos sociais.
Nas sociedades mais avançadas e desenvolvidas, os fatos sociais
apresentam-se misturados com diversos outros elementos da
realidade, dificultando sua identificação. Por isso, somente após
eles serem identificados e explicados é que começava a outra
fase da pesquisa sociológica, em que se estudavam as sociedades
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avançadas, determinando como tais fatos sociais nelas se


processam.
A estrutura das sociedades primitivas não pode explicar a
das sociedades mais complexas, assim como o estudo da estrutura
biológica de uma ameba não explica o funcionamento do corpo
humano, mas pode ajudar a definir quais são os verdadeiros fatos
sociais, aqueles elementos da estrutura social que aparecem em
todas as sociedades humanas. Veja, a seguir, o que ele nos diz:
Estender à conduta humana o racionalismo científico é, realmen-
te, nosso principal objetivo, fazendo ver que, se a analisarmos no
passado, chegaremos a reduzi-la a relações de causa e efeito; em
seguida, uma operação não menos racional a poderá transformar
em regras de ação para o futuro (Ibid., p. 17).

Como tal metodologia vai ser aplicada, então, ao estudo da


religião?

6. RELIGIÃO COMO FATO SOCIAL


A obra clássica de Durkheim chama-se As Formas Elementa-
res da Vida Religiosa. Perceba que o título já nos aponta diferentes
partes da teoria de Durkheim.
Ele revela que o estudo se concentra em um tipo específico
de modo de vida, ou seja, de maneira de se conduzir a vida, que é
a forma religiosa. Mas não é qualquer forma religiosa, e sim uma
forma elementar, ou seja, um tipo básico, primitivo, nas palavras
do autor.
Neste livro, propomo-nos estudar a religião mais primitiva e mais
simples que se conheça atualmente, analisá-la e tentar explicá-la.
Dizemos de um sistema religioso que é o mais primitivo que nos é
dado observar, quando preenche as duas condições seguintes: em
primeiro lugar, é preciso que se encontre em sociedade cuja orga-
nização não seja ultrapassada por nenhuma outra em simplicidade;
além disso, é preciso que seja possível explicá-la sem fazer intervir
nenhum elemento tomado de religião anterior (DURKHEIM, 1989,
p. 29).

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Veja o que significa empregar uma postura analítica dentro


de uma obra! Já no primeiro parágrafo, encontramos elementos
diversos da sua metodologia.
O autor inicia a obra mostrando um resumo simples dos ob-
jetivos do trabalho: estudar e descrever a religião mais primitiva
e simples. Na sequência, ele define o que entende como sendo
tal sistema religioso mais primitivo, destacando, primeiramente,
que ele deve ser parte da sociedade humana mais simples que se
possa encontrar.
O segundo ponto apresentado é muito importante para
aprofundarmos a compreensão sobre a teoria de Durkheim: na
explicação do sistema religioso mais primitivo, não deve ser ne-
cessário empregar imagens religiosas de outras sociedades. O que
isso revela? Que a análise de tal religião vai revelar elementos que
somente podem ser explicados dentro da lógica própria daquela
sociedade.
É a mesma lógica que vimos anteriormente. Ao estudar a re-
ligião mais primitiva, ele não pretende que seu estudo sirva para
explicar as religiões mais sofisticadas, mas, sim, determinar que a
tendência ao religioso, que o fenômeno religioso em si, indepen-
dentemente de denominação religiosa, é o fato social a ser estu-
dado.
A religião mais primitiva responde ao mesmo impulso que
a religião moderna mais sofisticada: o impulso religioso. Para ele:
Todas são igualmente religiões, como todos os seres vivos são
igualmente vivos, desde os mais simples plastídios até o homem.
Portanto, se nos voltamos para as religiões primitivas não é com
a intenção de depreciar a religião em geral; porque essas religiões
primitivas não são menos respeitáveis que as outras. Elas respon-
dem às mesmas necessidades, desempenham o mesmo papel, de-
pendem das mesmas causas; portanto, podem perfeitamente ser-
vir para manifestar a natureza da vida religiosa e, por conseguinte,
para resolver o problema que desejamos tratar (Ibid., p. 31).

Veja outra passagem dessa obra:


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Não se trata de fazer a religião mais simples explicar a mais com-


plexa, mas de utilizar a religião mais simples como um meio de
identificar o que existe de comum na manifestação das diferentes
formas de religião na história humana, ou seja, revelar o fato social
religioso, pois nas sociedades primitivas: "Tudo está reduzido ao
indispensável, àquilo sem o que não poderia haver religião. Mas
o indispensável é também o essencial, ou seja, aquilo que importa
conhecermos antes de tudo" (Ibid., p. 34).

Você já pôde perceber que o mais primitivo não vai explicar o


mais avançado, mas vai servir como meio mais prático de identifi-
carmos os elementos constituintes de um determinado fato social.
Lembre-se de que, para um fato ser chamado de “social”,
é preciso que ele possa ser apresentado como lei geral, possível
de ser aplicada para todas as sociedades, em todos os períodos
históricos.
O fato social está além de todas as sociedades, é fenômeno
de ordem muito mais ampla e geral, para o qual as diferentes so-
ciedades respondem de maneiras diferentes ao longo da história.
Veja, então, que o problema proposto por Durkheim é “[...] en-
contrar um meio de discernir as causas, sempre presentes, de que
dependem as formas mais essenciais do pensamento e da prática
religiosa” (Ibid., p. 36).
Na obra que estamos estudando, Durkheim vai analisar o sis-
tema totêmico na Austrália. Uma particularidade desse trabalho,
que é um dos pontos fortes das críticas que lhe foram dirigidas, é
que ele foi realizado com base em informações terceirizadas, ou
seja, em relatos obtidos não com base em entrevistas e em uma
vivência de campo, mas partindo de informações disponibilizadas
por outras pessoas, desde relatórios de outros pesquisadores até
diários de viagens de curiosos sobre os costumes de outras socie-
dades.
O problema de empregar somente esse método de coleta de
dados, que, na área de Ciências Sociais, é chamado de "pesquisa
de gabinete", é que ficamos totalmente dependentes do olhar de

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outras pessoas, que, muitas vezes, não tem nenhum tipo de com-
prometimento com a metodologia do trabalho científico. Uma das
grandes dificuldades do trabalho de pesquisa nas Ciências Sociais
é justamente o despir-se dos próprios valores ao analisar outra
cultura, evitando julgamentos baseados em preconceitos. Isso fica
ainda mais difícil quando há uma visão formada partindo da visão
de outra pessoa.
As sociedades analisadas por Durkheim organizavam-se em
clãs, grandes grupos unidos por um laço de parentesco definido
não por possuírem antepassados comuns, mas por partilharem o
mesmo nome, que era definido partindo de alguma coisa tomada
como seu emblema. Tal coisa que dá nome ao grupo é o totem:
"A espécie de coisas que serve para designar coletivamente o clã
chama-se totem. O totem do clã é também o de cada um dos seus
membros." (Ibid., p. 140).
O totem pode apresentar-se sob forma animal e vegetal,
sendo mais comum os do primeiro tipo. Mas ele é mais do que
um emblema; sua natureza é sagrada para o clã. Uma série de
proibições e cuidados marca o contato com o totem. Portanto, não
se pode matar o animal ou colher o vegetal que dá nome ao totem
do clã; na verdade, até mesmo o contato com a coisa que dá nome
ao totem deve ser evitado.
Tal fato ocorre por acreditar-se que os homens são impuros
e não podem entrar em contato com o sagrado sem que este os
coloque em perigo, pois o sagrado anula tudo que é profano.
[...] o bem e o mal são duas espécies contrárias do mesmo gênero,
[...] enquanto o sagrado e o profano foram sempre e por toda parte
concebidos pelo espírito humano como gêneros separados, como
dois mundos entre os quais não há nada me comum. As energias
[...] são de outra natureza (Ibid., p. 70).

Quando estudarmos a obra de Eliade, deteremo-nos, com mais


demora, nos conceitos de “sagrado” e “profano”.
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Os membros de cada clã procuram enfeitar-se de maneira


que lembrem o seu totem, inclusive com marcas físicas em seus
corpos, como, por exemplo, com tatuagens feitas partindo de pe-
quenos cortes.
Com base em tais sociedades é que Durkheim chega a definir
a religião como um fato social, identificando nelas os elementos
comuns das diferentes formas de manifestação religiosa. Veja, a
seguir, o que ele nos diz, então:
Quando certo número de coisas sagradas mantém entre si relações
de coordenação e de subordinação de maneira a formar sistema
com certa unidade, que, entretanto, não entra em nenhum outro
sistema do mesmo gênero, o conjunto das crenças e dos ritos cor-
respondentes constitui religião (Ibid., p. 72).
[...] uma religião é um sistema solidário de crenças seguintes e de
práticas relativas a coisas sagradas, ou seja, separadas, proibidas;
crenças e práticas que unem na mesma comunidade moral, chama-
da igreja, todos os que a ela aderem. (Ibid., p. 79).

Isso nos leva para a afirmação de que "[...] a religião deve ser
coisa eminentemente coletiva" (Ibid., p. 79).
A conclusão geral deste livro é que a religião é coisa eminentemen-
te social. As representações religiosas são representações coleti-
vas que exprimem realidades coletivas; os ritos são maneiras de
agir que surgem unicamente no seio dos grupos reunidos e que se
destinam a suscitar, a manter, ou a refazer certos estados mentais
desses grupos. Mas então, se as categorias são de origem religiosa,
devem participar da natureza comum a todos os fatos religiosos:
também elas seriam coisas sociais, produtos do pensamento cole-
tivo. No mínimo – pois no estado atual dos nossos conhecimentos
nessas matérias, devemos guardar-nos de qualquer tese radical e
exclusiva – é legítimo supor que elas sejam ricas em elementos so-
ciais (Ibid., p. 38).

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar
seu desempenho no estudo desta unidade:

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52 © Sociologia da Religião

1) Durkheim esforçou-se para estabelecer a Sociologia como disciplina científi-


ca, diferenciando-a das demais ciências já estabelecidas. Explique o que são
os chamados “fatos sociais” e como o método empregado para estudá-los
ajudou na consolidação da Sociologia.

2) Por qual motivo Durkheim inicia sua reflexão sobre as religiões por meio do
estudo das sociedades que classificava como primitivas? Explique.

3) Explique por que, afinal, podemos considerar a religião como um fato social
(de acordo com a perspectiva de Durkheim).

4) Ao final da unidade, temos a apresentação da definição de Durkheim para o


fenômeno social religioso. Explique-a.

8. CONSIDERAÇÕES
Você pôde perceber e compreender como Durkheim inter-
pretou a importância da religião nas sociedades e qual a impor-
tância das ciências naturais. Ele parte de uma sociedade primitiva
comparando-a com a religião nas sociedades mais modernas.
Entretanto, você pode perceber, também, a influência de
Darwin com sua teoria da evolução no pensamento dos intelec-
tuais daquele período.
Procure refletir sobre o que foi estudado, rever e comparar
com o pensamento de Marx, pois, assim, ficará mais fácil fazer
uma ponte entre os conteúdos estudados.

9. E- REFERÊNCIA
DARWIN, C. Home page. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/biografias/
darwin.htm>. Acesso em: 5 out. 2011.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BERGER, P. O dossel sagrado – elementos para uma teoria sociológica da religião. 2. ed.
São Paulo: Paulus, 1985.
______. A dessecularização do mundo: uma visão global. Religião e Sociedade, Rio de
Janeiro, n. 1, v. 21, p. 9-23, 2001.
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DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. São Paulo: Nacional, 1978.


______. As formas elementares de vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São
Paulo: Paulinas, 1989.
TROELTSCH, E. Igreja e seitas. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, ano 3, n. 14, 1987.
VELHO, O. O que a religião pode fazer pelas ciências sociais? In: VIII JORNADAS SOBRE
ALTERNATIVAS RELIGIOSAS NA AMÉRICA LATINA. Religião, sociedade e ciências sociais.
Trabalho apresentado na mesa redonda MR03. São Paulo, 1998.

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