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O anatomista popular: um estudo de caso *

, M a r t in A lb e r t o I b á n e z -N o v ió n -
O lga C. L o p e z de I bá n e z -N ovión
O r d e p J osé T r in d a d e S erra

I ntrodução

O corpo h u m a n o como objeto de estudo n ã o constitui um a preo­


cupação recen te p a r a as disciplinas sociais. Coube a M areei M auss
re aliza r um tra b a lh o pioneiro e fazer o prim eiro exam e no conspecto
de um a sociologia do c o rp o 1. Sem em bargo, é n e sta ú ltim a década
que o m encionado estudo vem ch am an d o a a ten ção de m aio r n ú ­
m ero de pesquisadores. Sem desprezarm os a abordagem in co rporada
em m onog rafias como as de F ir th (1936), E v a n s-P ritc h a rd (1940),
D ouglas (1970), D a M a tta (1976) e de L év i-S trauss em suas “M ito­
lógicas” (1964, 1966, 196-8, 1971) — e n tre m u ito s outros au to res —,
referim o -n o s aqui a u m a preocupação de c a rá te r m ais circunscrito.
A ludim os àqueles casos em que a percepção e rep resen tação social
do corpo h u m an o constituem , a bem dizer, o motivo c e n tra l das
investigações.

* O trabalho aqui apresentado faz parte do Projeto de Pesquisa Sistemas


Tradicionais de Ação para a Saúde no Noroeste do Estado de Minas Ge­
rais. Este Projeto, que se estendeu de setembro de 1976 a março de 1978,
foi contratado e financiado pela Fundação João Pinheiro, Diretoria de
Programas Públicos, Secretaria de Estado do Planejamento e Coordena­
ção Geral. Governo do Estado de Minas Gerais, e recebeu apoio infra-es-
trutural do Núcleo de Nutrição Humana e do Departamento de Ciências
Sociais, ambos da Universidade de Brasília. Este trabalho é uma versão
ampliada e corrigida de um capítulo constante do Relatório Final I apre­
sentado em julho de 1977 à Fundação João Pinheiro (Ibáflez-Novion et
alii, 1977).
i Seu trabalho sobre técnicas e movimentos corporais constituiu inicial­
mente uma conferência feita na Sociedade Francesa de Psicologia em
1934, e publicada pela l.B vez em 1936 (1971).

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J á em 1962 e 1963, P o lg ar ch a m a v a a ate n çã o sobre a necessi­
dade e a im p o rtâ n c ia de se realizarem estudos sobre o que denom i­
n a v a de body im age, assim como d eclarav a que “A central no tio n
in popular Health cultu re is th e w a y in w h ic h th e h u m a n body is
regarded" (1963, p. 404). J á n a F ra n ç a , a lg u n s in te g ra n te s do grupo
de P ierre B ourdieu realizam im p o rta n te s estudos d e n tro d a tem ática
d a Sociologie du Corps (B oltanski, 1975).
P o r o u tro lado, desde os começos da d écad a de 70, efetu am -se
em alg u n s países pesquisas re la tiv a s ao que se convencionou ch a m a r
de body notions, p o r u m grupo de c ie n tista s sociais congregados em
to rn o do A ccep ta b ility T a sk Force d a U nid ad e de R eprodução H u­
m a n a d a O rganização M undial d a S a ú d e 2.
O h ia to e n tre os passos fu n d a m e n ta is que m a rc am o avanço
n o desenvolvim ento de um cam po científico tã o im p o rta n te , e em
p a rtic u la r a la c u n a v erificad a desde o fo rm u lar-se d a p ro p o sta de
P o lg ar a té a re to m a d a dos estudos assin alad o s pela m esm a preo­
cupação pode explicar-se, em g ran d e m edida, como efeito de p ro ­
blem as a tin e n te s à técnica de coleta de dados e ao procedim ento
analítico s.
A pesquisa sobre Sistem as T radicio n ais de Ação p a ra a Saúde no
N oroeste do E stado de M inas G erais incorporou, como u m a de suas
preocupações m ais im p o rta n te s, a do estudo d a A nátom o-Fisiologia
P o p u la r do corpo hu m an o . N este sentido, o tra b a lh o de cam po não

3 Ligado a este grupo, um de nós vem realizando uma pesquisa sobre o


tema, deste dezembro de 1976 (W .H .O ., T .F : 0900, AFRM, Project
number 75.138).
3 No trabalho de coleta empregamos de forma sistemática os seguintes
tipos de instrumentos:
I — Pranchas DESAP contendo silhuetas do corpo humano (masculino
e feminino), traçadas após consultas iniciais aos informantes que
em entrevistas padronizadas são convidados a preencherem estes
contornos com o desenho dos órgãos internos; (por decisão do en­
trevistado, utilizamos com o Anatomista Popular de que sé trata
no presente estudo, apenas pranchas DESAP);
II — Pranchas MODAP contendo silhuetas do corpo humano (masculino
e feminino), traçadas após consultas prévias aos informantes, que
em entrevistas padronizadas são convidados a preencherem estes
contornos com símiles dos órgãos internos por eles modelados em
massa e colados nos pontos pertinentes.
Ambos os tipos de pranchas são acompanhados de fichas especiais
que nas entrevistas se utilizam para a coleta de informes vários sobre
Anátomo-Fisiologia, informes estes relacionados com as figuras produzidas.
Com base nas experiências anteriores com as pranchas, estudamos
a constituição dos módulos BARAP e TRIAP; o primeiro deles foi pla-

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ap en as se efetu o u com u m a a m o stra d a população t o t a l 4 m a s foi
tam bém , p a rtic u la rm e n te , realizado de fo rm a in ten siv a com os p ro ­
fissionais p opulares d a saúde.
O estudo de um S istem a T rad icio n al de Ação p a ra a Saúde su­
põe a abordagem ta n to de p rá tic a s e em penhos, de saberes e e s tra ­
tégias dos “leigos” n e ste dom ínio, o enfoque dos m odelos de se lf-
care u tilizados p o r u m a população, q u an to o estudo de técnicas e
p rax es iá tric a s “p o p u lares”. A d v irta-se que n e ste contexto em prega­
m os o term o “iátriCo” p a ra q u alificar o con h ecim ento m édico espe­
cializado e as ativ id ad es que n e ste se fu n d am .
C ham am os de “conhecim ento especializado” o irred u tív el ao a c e r­
vo de noções, princípios, esquem as etc. em la rg a m ed id a c o m p arti­
dos p o r to d a a sociedade, ou seja, aquele c u ja obtenção se faz
atra v é s de u m a aprendizagem “se c u n d á ria ” (acessível ap enas a in ­
divíduos que o p tam pelo exercício de certos papéis, correlacionados
a id en tid ad es a d q u irid a s 5 d e sta m a n e ir a ) .
D esignam os, em con so n ân cia com isto, como P rofissional da S aú ­
de, o su jeito d e te n to r de um conhecim ento m édico especializado.
A d istin ção que fazem os e n tre a s d u as “á re a s ” (to davia conexas)
de um S istem a T rad icio n al de Ação p a ra a Saúde corresponde à
realizad a p o r F ab reg a (1977), que no m esm o contexto opõe as “ta -
xonom ias fo rm ais” dos especialistas p o p u lares n o cam po d a m edicina
ao qus designa como “conhecim ento p o p u lar (inform al) da doença”.
F ab reg a designa com o term o “tax o n o m ia m éd ica” não ap en as um
co n ju n to de “classificações de e nom es p a ra as doenças” m as to d a
u m a “te o ria d a doença e a série de o rien taçõ es p a ra o tra ta m e n to
n ela im p líc ita . . . ”, te o ria que “fornece aos m em bros do grupo expli­
cações de porque e como a doença ocorre, e d a m a n e ira pela qual
pode ser e lim in a d a ”.
Em nosso estudo do universo iá tric o do S istem a T radicional de
Ação p a ra a S aúde em vigor n o N oroeste m ineiro, encontram os que
os vários esp ecialistas a tu a n te s n e ste co n tex to com partem , em d i­
v ersas m edidas, m uitos traço s característico s, h abilitações e conhe-

nejado para, com o emprego de modelagem em massa aplicada a baixo


relevo numa figura visível tanto de frente como de trás, permitir uma
melhor definição da topologia anatômica; o segundo, concebido com o
mesmo fim, pretende explorar o recurso à modelagem para a produção
de figuras tridimensionais mais nítidas (Ibánez-Novión & Trindade Serra,
1977).
4 Estamos elaborando, a pedido da Fundação João Pinheiro, uma Cartilha
de Anátomo-Fisiologia Popular para ser usada como material de apoio
pelos técnicos e agentes de saúde do Sistema Médico Ocidental.
5 Ver Goodenough, 1969.

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cim entos; a distribuição e n tre eles de com petências e saberes figura
assim um v erdadeiro grad ien te. (Ver Ibáiiez-N ovión e T rin d ad e S erra,
1978a). P o r o u tro lado, verificam os (cf. ibidem ) que as dezesseis c a ­
tegorias de profissionais d a “m edicina p o p u lar” por nós a í id e n ti­
ficadas podem o rd en ar-se em trê s “grupos” segundo o seu “p adrão
de ativ id ad e iá tric a ”, isto é, segundo os modelos de ação te ra p êu tic a
que seguem. D istinguim os assim um Subsistem a d a M sdicina Im i-
ta tiv a , um S ubsistem a In te rm e d iá rio e u m S ubsistem a d a M edicina
de Base. O A n ato m ista P o p u lar faz p a rte do Subsistem a In te rm e ­
diário p o rq u an to se vale ta n to de técn icas e praxes consagradas
ap en a s p ela tra d iç ã o como de procederes e m étodos de cu ra assim i­
lados (ao S istem a Médico O cid en tal). U tiliza tam bém m eios “m e­
cânicos” e “sim bólicos” de tra ta m e n to (falam os de te ra p ia “m ecâ­
n ic a ” quando o corpo do p a c ie n te é visado de form a d ire ta ). Só
chega a in v estir-se no pap el depois de te r passado por u m a “odis­
séia d a doença” que o m a rc a de m odo m uito notável. D om ina seu
ofício a tra v é s de um a aprendizagem in fo rm al em bases trad icio n ais;
com c e rta freqüência reco rre a o bras d id ático -cien tíficas e de di­
vulgação sobre m edicina e saúde e disseca a n im ais que im ola p a ra
este fim.
O utros inform es a respeito d e sta categ o ria de profissional da
m edicina p o p u lar podem ser en co n trad o s em nosso estudo m encio­
n a d o m ais acim a. C itarem os deste algum as lin h a s:

Desempenha o A natom ista Popular a maior parte de suas


atividades iátricas no quadro de consultas formais que podem
ser, todavia, de dois tipos distintos, conforme decidam ele e/ou
o interessado por apelar ou não para recursos da “terapia
simbólica”. Quando julga necessário valer-se de tais procedi­
mentos, o Anatom ista inicia a pesquisa semiológica pelo re­
gistro da queixa ( . . . ) . Nem sempre realiza uma anamnese
profunda e um exame apurado sem recurso à mântica; mas
enuncia o diagnóstico em termos explícitos, e, em certas ins­
tâncias, o acompanha de exortações ao consulente e da de­
núncia da etiologia do mal. (§) Se resolve interferir, ele então
o faz prescrevendo e proscrevendo, na maioria das vezes; pra­
tica ainda pequenas intervenções cirúrgicas, de modo freqüente
( . . . ) . Segue com regularidade a evolução dos casos a ele apre­
sentados. (§) Noutras oportunidades, após ouvir com deferência
a solicitação queixosa de uma pessoa, procede a uma anamnese
bastante apurada, e sem falta recorre ao exame através de jogos
divinatórios para formular seus diagnósticos e suas predições,
advertindo o consulente e denunciando-lhe a etiologia do mal.
Peito isto, e depois de justificar para o interessado suas deli­
berações, via de regra o submete a uma operação simbólica
segundo os esquemas de “logoterapia” e da “iconoterapia”. N5o

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descura as demonstrações e explanações que podem servir de
reforço à eficácia desse tratamento. (§) Sucede ainda que o
Anatomista Popular forneça e manipule remédios. Às vezes, sua
praxe terapêutica limita-se a fornecer subsídios teóricos e ori­
entação prática a outros profissionais da saúde. (§) Guarda
sigilo, em certos casos, acerca da natureza dos recursos tera­
pêuticos de que se vale. Não se “especializa” no tratam ento de
nenhum tipo de mal, crise ou distúrbio em particular, nem
quanto aos destinatários de sua ação para a saúde. (§) A “ cena
terapêutica” que protagoniza como agente de saúde, em deter­
minadas oportunidades é fortemente “ritualizada” no sentido
estrito do termo. ( .. . ) Possui um local fixo de atendimento e
dedica-se inteiramente ao ofício médico; acolhe retribuição sob
a forma de “agrados”, na maioria das vezes. O de Anatomista
Popular parece ser um papel masculino, apenas.

A presentação

Nos subúrbios d a cidade de . . . 8, em u m a m odesta casa com


pared es p a rte de tijolos, p a rte de adobe, c o n stru íd a ao pé de um
m orro, residem Seo Pedro e D ona M a r ia T, co nceituado casal de p ro ­
fissionais populares d a saúde. A casa co n sta de cinco cômodos, a
saber: u m a sala de visitas, u m a sala de reuniões, o q u arto do casal
e a cozinha. Os escassos m óveis d istrib u em -ss de acordo com as
funções m ais im e d ia ta s a trib u íd a s pelos m oradores aos diversos cô­
modos.
A cha-se a casa o rn a m e n ta d a com quadros de Nossa S enhora
A parecida, M enino Jesu s de P rag a, S an to A ntônio e S anto Onofre,
e com e s ta n d a rte s usados n a fe sta de São Jo ã o — quando deste
dom icílio p a rte u m a procissão.
Nos arred o res d a casa, h á u m a pequena p la n ta ç ã o de hortaliças,
um d im in u to chiqueiro, um cercado com algum as galinhas, um poço
de água e um a la trin a . A zona, quase ru ra l p o r sua e stru tu ra , p e r­
tence, sem em bargo, à á re a d a p e rife ria u rb a n a . Não o b stan te as
d istân cias em jogo, ta n to M aria como P edro são procurados d ia ria ­
m en te p o r pessoas dos arredores, e inclusive d a cidade, em dem anda
de seus serviços profissionais. É alto o conceito que deles se tem ,

6 Como o presente estudo faz referência a profissionais populares da saúde,


sempre sujeitos a acusações e perseguições (em virtude do fato de não
se compreender a importância e o significado do papel que cumprem, e
por força de normas obsoletas), o dever do sigilo profissional nos impõe
certas cautelas para não identificá-los; é este o motivo de omitirmos o
nome da localidade onde vivem e trabalham nosso Anatomista e sua
companheira, e de os designarmos por pseudônimos.
i Cf. Nota inicial; Pedro e Maria são pseudônimos.

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dado ao conhecim ento de p h á rm a k a s vegetais que com partem , o
ace rto d as rezas e “benzeções” que operam , e pela reconhecida p e­
rícia de M aria como P a rte ira B e n z e d e ira 9.
Soubemos da existência deste casal e de suas qualidades p ro ­
fissionais a tra v é s de conversas e co n tato s efetuados n a cidade de . . .
Todcs os que aí, de início, conhecem os, sem exceção, nos indicavam
Seo P edro e D ona M aria como g ran d es en tendidos no tópico de
nosso interesse.
Q uando, pela p rim eira vez, fizem os co n tato com eles, deixaram
am bos tra n s p a re c e r as suas g ran d es qualidades h u m a n as, que a in d a
m ais evid en ciariam com o p a ssa r dos d ias e com a repetição de
nossas visitas. R eceberam -nos com am abilidade e descontração. Ao
ser-lh es explicado o m otivo de nossa visita, ex p rim iram com a u tê n ­
tic a sinceridade o reconhecim ento pelo fa to de que alguém se in ­
teressasse pelo sab er e pela experiência p o r eles adquiridos atrav és
dos anos. No entusiasm o, ofereceram -se p a ra conversar conosco, p a ra
levar-n o s ao m ato a “c a ç a r raízes”, e p a ra rev elar-n o s p ac ie n te ­
m en te o m undo dos p h á rm a k a vegetais, p a te n te a r-n o s seu saber da
enferm id ad e, su a lu ta em prol d a saúde, e a anátom o-fisiologia do
corpo hum ano.

s Vale a pena aduzir o esclarecimento que a propósito do uso deste termo


prestamos em nosso estudo “ O Mundo Composto” (Ibánez-Novión e Trin­
dade Serra, 1978): “Empregamos esta palavra (“phárm aka”) à falta de
melhor; o que assim procuramos designar não equivale a simples “remé­
dios”: na categoria incluem-se venenos e itens ãe valor curativo com
tipos ãe emprego m uito diversos, i.é, tanto coisas que podem ser apli­
cadas à pele, ingeridas ou incorporadas de qualquer outra maneira por
quem deseja livrar-se de um mal, crise ou distúrbios, como objetos que
o paciente utiliza para este fim sem mesmo manter com eles um contato
físico direto: um ramo que prega às portas de sua casa, uma semente
que leva no bolso, um arbusto que transplanta para seu quintal, e que
assim o protegem de doenças, acidentes etc. O significado do termo grego
phárm aka cobre todas estas acepções”.
o Num estudo já citado (cf. nota anterior), assim nos referimos à Parteira
Benzedeira:

“ A Parteira Benzedeira distingue-se do pt (protagonista da saúde


profissional tradicional) que designamos como Parteira Empírica por, de
forma regular, assumir certos desempenhos cifrados no emprego da
“icono" e da “logoterapia” como parte de seu labor médico. É de notar-
se que apenas se vale destes processos simbólicos de tratam ento para
atender às mesmas categorias de pessoas de quem cuida com outros re­
cursos de sua arte. Alguns profissionais populares da saúde compartem
o seu conhecimento de orações e sim patias destinadas ao esconjuro dos
males que ameaçam os indivíduos na “situação da passagem” assinalada
pelo início de uma vida humana; mas nenhum outro pf,t utiliza este
saber a mesmo título, nem no contexto de tão precisas atribuições.’'

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D ona M aria é u m a m u lh er de 40 anos, sim ples e sim pática, que
se auto d efin e como “a n a lfa b é tic a ”. D u ra n te todo o d ia e n tra m e
saem crian ças em su a casa; ela conversa com os petizes, b rinca
com eles, oferece-lhes alim entos; m u ito s dos m eninos p assam to d a
a jo rn a d a a fa z e r-lh e com p an h ia. D ona M aria gosta de anim ais,
en co n tran d o -se em su a casa vários periquitos, um mico, um cachorro
e um gato, de que ela cuida e com quem conversa.
Segundo dissem os, ela é m uito p ro c u ra d a pelas pessoas do lu gar
p a ra que a s “reze”, bem como p a r a “b enzer” a n im a is e fazendas.
Não o b stan te, id e n tific a -se m ais com seu p ap el de P a rte ira B enze­
deira. A m aio ria dos m en in o s da redo n d sza se dizem seus “n eto s”
por h a v e r nascido à s suas m ãos. D ona M aria com enta com orgulho
que aos m eninos que nascem sob seus cuidados em trê s dias lhes
caem os umbigos.

Explica que seu conhecim ento foi adquirido depois de “te r a


ap arição de um m enin o todo vestido de b ra n c o ”, o qual lhe p ro ­
m eteu “tir á - la d a e n x a d a ” (no m om ento d a revelação ela estava
cap in an d o ), e e n sin a r-lh e a d istin g u ir e a p ro v e itar as p la n ta s do
m ato .

A ap a riç ã o significou, a nosso ver, a p assagem sim bólica d a ação


de m a ta r os vegetais sem os conhecer n a idiossincrasia de suas
propriedades ao uso racio n al e consciente d a flora. C um pre escla­
recer que ta n to D ona M aria como Seo P edro não estocam vegetais,
por m ais longe que estes se ach em (e às vezes sucede e n c o n tra ­
rem -se cs m esm os a um d ia de d istâ n c ia ); em vez disso, só os re ­
colhem quando é preciso, n a q u a n tid a d e n ecessária, destacando a
p a rte d a p la n ta a ser u sada, e, n a m edida do possível, evitando a
m o rte do exem plar.
Seo Pedro te m 45 anos, em bora, a nossos olhos, a p a re n te m ais
idade. G o sta de to c a r violão e c a n ta r. As c a ra c terístic as m ais n o ­
táveis de sua p erso n alid ad e são a am abilidade e o calor hum ano.
Isto faz com que o p ro cu rem n ã o ap en as como a um profissional,
m as tam b ém como a um com panheiro em diversos afazeres. À d i­
fe re n ç a de sua esposa, ele sabe, ru d im e n ta rm e n te , ler e escrever.
In te re ssa -se p o r todos os assuntos; no m om ento em oue travam os
relações, ele m o strav a-se a lta m e n te in teressad o no Código Civil e
no Código P enal. D izia-nos que com estes livros ta n to ap re n d e ria
a “escrever b onito”, como a lc a n ç a ria o conhecim ento d a s leis, e, com
isso, a condição de n ão poder ser “passado p ra tr á s ” por ninguém .

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T a n to q u an to D ona M aria, Seo Pedro conhece os p h á rm a k a ve­
getais e os processos associados à en ferm id ad e 10. D istingue-o, to ­
davia, o sa b e r que possui acerca d a an átom o-fisiologia do corpo
hum an o . A lcançou este sab er p o r diversos cam inhos, inclusive a lei­
tu ra su p erficial de obras especializadas que, d u ra n te certo espaço
de tem po, pôde co n su ltar, a tra v é s da m ediação de um sobrinho —
o qual, n a época, cursav a um a F acu ld ad e de M edicina. De qualquer
modo, a co ntribuição d estas le itu ra s p a ra su a form ação é pouco sig­
n ifica tiv a co m p arad a à do conhecim ento adquirido por ele a trav és
do estudo d a a n a to m ia de a n im a is — p a rtic u la rm e n te dom ésticos
— con sid erad a em analo g ia com a h u m an a.
E m bora se ja certo que a via de in stru ção por últim o c itad a é
acessível, p ra tic a m e n te, a todos os m em bros d a sociedade —• isto é,
de m odo com um se percebe o in te rio r orgânico do corpo h u m an o a
p a r tir d a m an ip u lação ocasional de an im ais dom ésticos incluídos n a
categ o ria com estível — a in d a assim o caso de Seo P edro verifica-se
b a sta n te singular. Ele chegou a estabelecer as correlações alu d id as
n ão a p a r tir d a m an ip u lação an im al em situ ação de prev alên cia
alim en tícia, m as n a in ten cio n alid ad e ú n ic a de “dissecar” um a n im a l
com o fim p rio ritá rio de e stu d a r-lh e a an ato m ia. Este fa to o con­
verte, fu n d a m e n ta lm e n te, n u m profissional d a a n ato m ia com parada.
P or fim, o c a rá te r especializado do seu conhecim ento, no que ta n g e
à a n a to m ia e fisiologia do corpo hu m an o , to rn a -se m ais notável
quando verificam os que ele teve acesso, em o p o rtunidades e situações
difíceis de c o n sta ta r, ao in te rio r orgânico do corpo hum ano.

E x po siç ã o

A natom ia Topográfica

Seria im possível discorrer sobre a anátom o-fisiologia, ta l como


é percebida p o r nosso especialista, sem a n te s fazer referên cia à m a ­
n e ira como p a ra ele se definem as regiões do corpo. Segundo este
profissional p o p u lar d a saúde, os órgãos constitutivos do corpo h u -

10 Mais uma vez recorremos a nosso trabalho antes citado: “O termo do­
ença designa uma coisa (a percepção subjetiva de disfunções ou de seus
reflexos); a palavra enferm idade aponta a outra (a categorização de
um m a l); e nenhum proveito se tira de confundir estas noções. Um
distúrbio deve ser percebido para que se chame doença, mas a doença
reconhecida e advertida, ou confirmada pela sanção de outras pessoas
além do sujeito, só por isso não se qualifica como uma enfermidade.
É necessário, para tanto, que ela seja identificada. Com este fim, sempre
se elaboram e discutem hipóteses; e muitos fatores de diversas ordens
intervêm numa tal discussão.” (Ibánez-Novión e Trindade Serra, 1978).

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h u m a n o n ão se situ a m ao acaso no in te rio r da e s tru tu ra som ática:
localizam -se em regiões que lhes são adequadas, passíveis de a n a li­
sa r-se como u n id ad es com preendidas em si m esm as, e, a té certo
ponto, au to fu n cio n ais, em bora in terrelacio n ad as.
R econhece ele a existência de q u a tro regiões fro n tais, de duas
dorsais, e das c o n stitu íd as p ela cabeça, pelos m em bros superiores e
pelos inferiores. As regiões fro n ta is e dorsais, assim como a região
d a cabeça, são ím pares, e n q u an to as dos m em bros, como é lógico,
são pares. D escreverem os su m a ria m e n te e sta s regiões, e n ten d id as
como á re a s top o g ráficas (cf. gráfico 3).
A região do crâneo da cabeça está c o n stitu íd a de crâneoljuízo,
nariz, ouvidos e goto (a respeito deste últim o falarem os m ais a d i­
a n te ).
A região do pescoço a c h a -se co n stitu íd a pelas am igas e pela
güela. Abaixo d esta, e n c o n tra -se a id e n tific a d a pelo in fo rm a n te como
a região do estôm ago (estom águ n a p ro n ú n c ia do in fo rm a n te ), e
que com preende bofe, bucho, roda do bucho, coração, taletas do co­
ração, figo, fel, p a ssa rin h a e rins. L iga-se a m esm a, n a p a rte in fe ­
rior, à região da barriga, in te g ra d a p o r im bigo, ta leta do im bigo,
tripa, p endis e hem orróia. D elim ita-as a arca da espinhela. No caso
d a m u lh er, a região da barriga com preende tam b ém os órgãos da
reprodução. T a n to no hom em como n a m u lh e r ap arece a região
genital, que, em am bos os casos, ab ra n g e as p a rte s term in a is dos
órgãos reprodutores.
D orsalm ente, o corpo h u m an o possui, conform e ss esclareceu,
duas regiões: a região do espinhaço co n tém o raio do espinhaço —
e, no caso do sexo m asculino, alguns órgãos de reprodução. Liga-se
p o r baixo à região da escadeira, e p o r cim a à do crâneo da cabeça,
atrav é s do goto. A região da escadeira, n o que se refere à sua ex ­
pressão dorsal, contém os órgãos rep ro d u to res m asculinos. (Deve-se
esclarecer que a escadeira órgão e stá localizada n a região da bar­
riga, prevalecendo exclusivam ente n a a n a to m ia fe m in in a d a re p ro ­
du ção ). A ssinalam -se, p o r fim , as regiões dos braços e das pernas
que, além de carne, e n c e rram as p a rte s te rm in a is do in trin c a d o sis­
tem a circulatório.

A nato m ia D escritiva

O Corpo H um ano Tipo

P a ra o A n ato m ista P o p u lar em foco, o corpo hum an o , de acordo


com o sexo, a p re se n ta diferenças, a m ais evidente das quais estaria

95
d a d a no nú m ero de órgãos — sup erio r p a ra o corpo hu m an o fem i­
nino quando com parado ao m asculino. E sta d iferença te m b ase n a
m aio r com plexidade p erceb id a do a p a ra to rep ro d u to r d a m ulher.
F e ita e sta ressalva, podem os dizer que ta n to o corpo h u m an o fem i­
nino como o m asculino se a p re se n ta m como en tid ad es sim ilares, no
que ta n g e a órgãos constitutivos. P o r esta razão, e pelo fa to de que
foi o corpo h u m an o m asculino o prim eiro a ser considerado pelo
A natom ista, n a m aio ria d as vezes farem os referên cias ao m asculino
como corpo h u m an o tipo.
A p arte os órgãos que con fo rm am o a p a ra to re p ro d u to r — seja
fem inino ou m asculino —, o corpo h u m an o , p a ra este profissional,
co n stitu i-se de 22 órgãos p rin cip ais de que ap en as qu atro são pares.
A cabeça contém dois órgãos ím pares, o crâu eo /ju íz o e o goto,
e dois órgãos pares, ouvido e nariz.

C râneo /ju íso (m assa cefálica) 11: o in fo rm a n te a trib u i a este órgão


a fo rm a circu lar e a posição cen tro -su p erio r d en tro da
cabeça, caracterizan d o -o p ela au sên cia de sangue e pela
su a coloração branca. Diz tr a ta r - s e do órgão que co n sti­
tu i o tem pero do corpo e o p en sa m en to da pessoa. O crâ-
neo a c h a -se ligado ao coração e dele sa i o circular do
coração (cf. p a rá g ra fo re fe re n te a sistem a circu lató rio ).
P o r fim , o crâneo é o responsável pelas batidas do co ­
ração.

Goto (orifício o c c ip ita l): este órgão é de fo rm a circu la r e te m um a


posição c e n tro -in fe rio r d e n tro do crâneo. Q uando tra ta d o
no espaço, ele se situ a, p o r su a vez, n a p a rte de trá s. É
este u m órgão sem sangue e de coloração m arela d in h a -
m eio-branca. S u a fu n ção é a de serv ir p a ra tospiração
do crâneo da cabeça e p a ra respiração artrística de to ­
dos os órgãos do corpo h u m an o , incluídos seuS flúidos.
O in fo rm a n te e n te n d e p o r tospiração e respiração artrís­
tica os processos de expiração e in spiração, resp ectiv a­
m ente.

Ouvidos (conduto a u d itiv o ): os ouvidos — ta n to como o órgão se­


g u in te — são in te rio re s e in d ep en d en tes do pavilhão da
orelha. São, tam bém , órgãos sem sangue, e possuidores

i i Os termos entre parênteses correspondem à denominação da Anatom ia


Científica.

96
de u m a coloração branca. S ua fu n ção é pro p iciar a ve n ­
tilação d a cabeça como região to p o g ráfica, e, em p a r t i ­
cular, de alg u n s dos seus órgãos, ta is como crâneo, olhos,
coração.

Nariz (fossas n a s a is ) : este órgão, de c a rá te r p a r, tem form a lin ea r


e n ão possui sangue. S ua fun ção é v en tila r o crâneo da
cabeça e as am igas, assim como todos os órgãos — cujo
co n ju n to se d en o m in a in te stin o n a term inologia de nosso
especialista do corpo h u m an o , e, p a rtic u la rm e n te , o co­
ração.

Güela ( tr a q u é ia ) : a giiela é um órgão sem sangue, de form a linear,


de posição c e n tra l, e situ ad o n a região do pescoço. S ua
coloração é verm élho-branca. S ua fu n ção é servir de con­
ta to a todos os folgos do crâneo da cabeça, e de p assa­
gem p a ra os ajofres p ro v en ien tes d a m aio ria dos órgãos
co n stitu tiv o s d a região do estôm ago. Em o u tra s p alav ras,
ta n to a região da cabeça como a região do estôm ago e n ­
c o n tra m ventilação a tra v é s d a güela; p o r in term éd io des­
ta , se ab re passagem p ela boca p a ra o exterior. A güela
se liga ao cano da cabeça a tra v é s dos nervos.

Am igas (a m íg d a la s ): a s am igas, tam b ém re p re se n ta d a s lin earm en te,


n ão possuem san g u e e são de coloração verm elha. Cons­
titu em , a rigor, u m co n ta to d a güela.

B ofe (p u lm ã o ): o bofe é um órgão ím p ar, situ ad o n a porção la te ra l


d ire ta d a região do estôm ago, o ra de form a sagital, ora
rin ifo rm e. S ua coloração é azul claro, e em bora n ão pos­
su a sangue, contém espum a. A través dele se filtra m to ­
d as as babas e flúidos p ro v en ien tes d a região do crâneo
da cabeça, d a região do estôm ago e d a região da barriga.
Inclusive a espum a dos ossos é filtra d a a trav és do bofe.

B ucho (e stô m a g o ): o bucho, órgão de posição c e n tra l e de form a


oval-v ertical, n ão possui san g u e; a p re se n ta u m a colora­
ção azul, p o r fora, e m arelada, p o r dentro. S ua função c
a de “com por o su sta n tism o do com er”, isto é, c o n stitu ir
a essência d a m a té ria a lim en tícia in gerida. Ele é da ir­
m a n d a d e da coluna (corresponde ao tubo digestivo d a
A n ato m ia C ien tífica) c o n stitu íd a tam b ém p o r trip a e h e-

97
tnorrôia: a coluna, n a s p a la v ra s do A natom ista, “dá vida
e vive ch eia p ra d a r com posição e ta le n to no corpo”.

B ucho, roda ão ( ? ) : tam b ém c h a m a d a de capela da boca do bucho,


é um órgão a u x ilia r deste e que adquire, ao rodeá-lo,
c a ra c terístic a s riniform es. Não possui s a lg u e e sua colo­
ração é azulaãinha.

Coração (c o ra ç ã o ): localiza-se n a porção la te ra l esquerda d a região


do estôm ago; te m fo rm a sa g ita d a e coloração azulaãinha,
p o r fora, e roxo-verm elhado, p o r d en tro . O coração não
possui sangue em si m esm o; se, por algum a eventualidade
patológica, o possuísse, isto re d u n d a ria n a m orte im e­
d ia ta da pessoa. O sangue n ão p e n e tra nele; o que e n tra
é a veia, que circunscreve e contém o sangue. O coração
é o responsável pelo fu n cio n am en to do corpo em sua to ­
talid ad e, assim como por seus m ovim entos. É o “g e ra d o r”
do corpo. P or últim o, os m ovim entos originados n a s ba­
tidas ão coração n ão são de su a responsabilidade, e sim
do san g u e que, a tra v é s de u m a veia, por ele passa.

Coração, taleta ão (? ); tam b ém cham ad o de traveta, este órgão é


rep resen tad o p o r duas lin h a s p aralelas, superpostas ao
coração, e em seus extrem os lim ita d a por pequenas li­
n h a s ta n g e n c ia is que o A n ato m ista d enom ina de m a m -
pilãozinhos. E sta ta leta n ão possui sangue e a p re se n ta
u m a coloração a zulaãinha, com exceção de seus a rrem a­
tes ou m am pilãozinhos que são v erm elhinhos. A ta leta do
coração é “equilibração e fo rta le z a ” do im bigo. S u a fu n ­
ção é de estab elecer u m co n ta to com o coração, o que
significa favorecer a passagem do sangue pelo in te rio r da
capa deste. Se o crâ n eo /ju ízo e ra a origem d as batidas,
e o sangue o seu p ro d u to r, a ta leta ão coração possui a
im p o rta n te fu n ção de m a rc a r o ritm o cardíaco.

Figo (fig a d o ); o figo é u m órgão situ ad o n a porção la te ra l d ireita


da região ão estôm ago, rin ifo rm e, sem sangue e de colo­
ração roxo-verm elhado. S u a fun ção é a de estabelecer a
contagem do a lim en to , ou seja, decidir que p a rte d a co­
m ida se tra n s fo rm a em alim en to e que p a rte será elim i­
n a d a do corpo sob a fo rm a de fezes.

98
Fel (vesícula b il i a r ) : F a la r do fig o im plica em fa la r deste pequeno
órgão circu lar, ubicado um pouco acim a do figo. O fe l
tam b ém n ã o possui sangue e é com posição áo figo. P a ra
o A nato m ista, fig o e fe l são tã o in separáveis como m a ­
rido e m u lh e r o devem ser n o m atrim ônio.

Passarinha (b a ç o ): a passarinha é u m órgão de form a circular, si­


tu ad o abaixo do figo, a in d a d e n tro da região do estô­
m ago; tam b ém n ão possui san g u e e sua coloração é ver-
m elho-branco. S ua função é a de servir de composição
do cr& neo/juízo, do goto e do figo, isto é, tra b a lh a r em
benefício destes órgãos. Serve tam b ém como elem ento de
filtra çã o da veia vertical regional (cf. sistem a circu lató ­
rio). Sem em bargo, su a fun ção p rim ordial se exerce n a
m edida de su a in teg ração no m icro -sistem a constituído
po r figo, fe l e passarinha. Os flu id o s corporais são p u ri­
ficados a tra v é s do circuito que se estabelece n a passagem
sucessiva de passarinha p a ra figo, de figo p a ra fel, e de
fe l p a ra a região do estôm ago.

R ins ( r i n s ) : este órgão, p a r, rom biform e, localiza-se late ra lm e n te


n a p a rte in fe rio r da região do estôm ago. Não possui sa n ­
gue e su a coloração é roxa. Serve p a ra filtra r todos os
fluidos proven ien tes d a região do estôm ago. Os fluidos
que p assam p a ra o sangue e lh e o utorgam a cor peculiar
são d epurados a tra v é s do rim .

Iiribigo (u m b ig o ): este é um órgão c irc u la r de posição ce n tra l, s i­


tu ad o n a região d a b a rrig a ; n ã o possui sangue, e sua
coloração é azul de jatobá. O im bigo constitui, sem d ú ­
vida, n ã o ap en as um órgão de a lta com plexidade, m as
tam b ém de tra n sc e n d e n ta l im p o rtân cia, porquanto é o
cen tro d a h a rm o n ia corporal. A cum ula m últiplas funções.
P ro p icia a ventilação do coração, do raio áo espinhaço e
dos ven to s áa barriga, sendo tam b ém equilíbrio do rim ,
equilíbrio da hem orróia e equilíbrio do coração. Como ve­
rem os m ais a d ia n te , ao fa la r do g en ital fem inino e do
sistem a circulatório, este órgão se com porta como núcleo
de co n cen tração de im p o rta n te s veias.

Im bigo, ta leta s do ( ? ) : estas a p re se n ta m a m esm a form a e dispo­


sição que as ta leta s do coração. C onstituem órgãos sem

99
sangue e de coloração azul, ao passo que as travetas on
m a m pilãozinhos no seu in te rio r são verm elhas. A s taletas
do im bigo co n fig u ram u m co n ta to d a corda do coração
ta n to como um cen tro de com ando da região postesta.

Tripa (in te s tin o ) : é um órgão espiralado, situ ad o n a região da b a r­


riga, de coloração a zu la ã in h a e sem sangue. S ua função
é concluir o processo alim entício com eçado pelo bucho.

Pendis (a p ê n d ic e ): é u m a excrescência d a tripa, de fo rm a esperm a-


toidal, sem sangue e de m ú ltip la coloração: azul, m areio,
e verm elho. S ua fu n ção é filtra r as tripas.

H em orróia ( â n u s ) : este órgão te m fo rm a oval-vertical, é desprovido


de san g u e e c o n stitu i a expressão te rm in a l d a coluna
alim entícia.

Arca da espinhela ( d ia fra g m a ): como dissem os, a arca da espinhelu


se p a ra a região do estôm ago da região da barriga; é um
órgão sem sangue, de coloração verm elho caboclo. Sua
função é p ra tic a m e n te a fun ção d a vida. E la propicia o
estam pism o do pró p rio corpo, ou seja, a explosão de m o­
vim entos que, dirigindo-se p a ra cim a, colocarão em fu n ­
cionam ento a com plexa e s tru tu ra corporal percebida e
re p re se n ta d a com lógica p ró p ria p o r nosso A natom ista
P opular.

S istem a Circulatório

O A nato m ista de que falam os a trib u i um papel fu n d a m e n ta l às


veias e sua in terrelação , considerando os ditos órgãos responsáveis
pelos m ais im p o rta n te s processos co n cern en tes à anátom o-fisiologia
do corpo hum ano.
A cabeça é possuidora tão só de duas veinhas, a d a nuce e a do
crâneo. O corpo p ro p ria m e n te dito, p o r o u tra p a rte , possui a b s tr a ­
ção fe ita do sexo, sete veias p rin cip ais além das vein h a s que com ­
p le ta m o seu sistem a. As sete veias m en cio n ad as são: corda do co­
ração, veia incolobrinal, veia do pescoço, veia da postesta, veia v e r ­
tical-regional, veia dos braços, veias das pernas. No caso do sexo
m asculino, deve a c re sc en ta r-se a veia g en ita l da grana, e no do
fem inino, a veia da bacia e as vein h a s da m ãe do corpo (cf. g en ita l
fem inino e g en ital m asculino).

100
Devemos explicar, a n te s de m ais n a d a , cue a s veias são perce­
b idas como condutos que tra n s p o rta m sangue. Q uanto à su a cor,
ap re se n ta m c e rta s variações que podem os sin te tiz a r d a seguinte m a ­
n e ira : as veias da cabeça são as ú n icas a a p re s e n ta r a cor branca,
en q u a n to que as veias ão corpo quase sem pre exibem variações de
azul, no exterior, e variações de roxos e verm elhos n a p a rte interio r.
H á alg u m as exceções, a que j á nos referirem os. As veias dos braços
e das pernas são azul corado p o r d e n tro e rosa por fora, enq u an to
as vein h a s são as ú n icas a a p re s e n ta r a cor laranja am arelo no seu
interio r.
Explicarem os o com p o rtam en to deste sistem a a p a r tir d a form a
em que é percebida a circulação pelo nosso A natom ista. Diremos,
prim eiro, que, p a ra ele, existem b asicam en te dois circulares: o cir­
cular ão corpo e o circular do coração. D esta fo rm a se refere à c ir­
culação do lado d ireito e esquerdo, respectivam ente.
Tendo o coração a im p o rtâ n c ia já a ssin a la d a p a ra o sistem a
circulatório, com eçarem os a explicação deste a p a rtir d a ú n ic a veia
que procede do dito órgão. A veia do pescoço, (cf. gráfico 4 ), loca­
lizada sobre o lado esquerdo deste, é de c a rá te r ascendente. Q uando
e n tra n a cabeça, tra n sfo rm a -se n a ve in h a da nuce, ascen d en te,
atin g in d o a a ltu ra do crâ n eo /ju ízo , sofre u m a to rção que a converte
n ão a p en as em u m a ve in h a da nuce d escen d ente — s itu a d a à di­
re ita —, m as tam b ém em p onto de p a rtid a d as veinhas do crâneo.
A vein h a da nuce d escendente, ao e n tr a r n a região ão pescoço, tr a n s ­
fo rm a-se n a veia incolobrinal. Essa veia, situ a d a à d ire ita do corpo,
d a rá origem , p o r su a vez, às veias d escendentes dos braços.
O re to rn o d estas, ou seja, as que se co m p o rtariam como “veias
a scen d en tes” dos braços, en c a m in h a -se em d ire itu ra p a ra a veia do
coração — e n te n d id a como a ú n ic a que se e n c o n tra n o in te rio r deste
órgão.
A veia incolobrinal, sem pre em seu c a rá te r descendente, origina
a “veia d escen d en te” d a p e rn a d ireita. A “veia a scen d en te” da p e rn a
d ire ita se dirige d ire ta m e n te ao coração.
Coisa um ta n to diversa ocorre com as veias “ascen d en tes” e “des­
cen d en tes” d a p e rn a esquerda, já que e sta s se dirigem em d ireitu ra
ao coração, com to ta l in d ep en d ên cia d a veia incolobrinal.
C um pre-nos esclarecer a in d a que a porção proxim al das veias
tíos braços e d as p ern as, assim como a que a fe ta exclusivam ente o
tronco, d en o m in a-se veia vertical-regional. Na p a rte descendente
desta, e a nível d a c in tu ra , te m origem , no caso do hom em , a veia

101
vertical da grana, que desem boca a ig u al a ltu ra , só que a fetan d o a
veia vertical-regional “a sc e n d e n te ” e esquerda.
F a lta -n o s considerar, p a ra am bos os sexos, a pelo A natom ista
c h a m a d a veia da postesta (cf. g e n ita l m asculino e g e n ita l fem in i­
n o ). E sta veia te m seu m odo próprio de circulação, j á que no seu
caso d á-se um a inversão e n tre “a scen d en te” e “d escen d en te” : ela
descende pela esquerda e ascende pela d ireita.
Ig u a l com p o rtam en to tem a corda do coração que n ão ap enas
relacio n a a veia da postesta com o coração, a tra v és do im bigo, como
tam b ém é d ep o sitária dos delicados processos sangüíneos correspon­
d en tes ao a p a re lh o rep ro d u to r, em p a rtic u la r o fem inino.
P o r últim o, as vein h a s devem ser co n sideradas como a in tr in ­
cad a rede de pequenos condutos que “a lim e n ta m ” ta n to carne como
ossos e órgãos.

G enita l F em inino

Ao fazer referên cia ao ap arelh o g e n ita l fem inino, deve-se co­


m e ça r pela ap resen tação de dois elem entos que, em bora o A nato­
m ista os m encione rep etid am en te, n ão chegam a ser definidos com
clareza — a n ão ser, conform e m ais a d ia n te se verá, no que tan g e
às veias p o r eles contidas.
E stes dois elem entos constituem , sem dúvida, a in fra -e s tru tu ra
in te rn a sobre a qual se apóia e onde se a c h a contido o aparelho
g en ita l fem inino. T ra ta -s e d a bacia e d a escaãeira, situados n a re ­
gião d ita d a barriga (gráfico 5).
P a ra além do que ficou dito, a bacia m erece m ais aten ção por
p a rte do nosso A natom ista; segundo ele, tra ta -s e de um com po­
n e n te orgânico que n ão possui sangue, a n ão ser em su as veias,
e se c a ra c teriz a p o r duas cores: am arelo-roxo, por d en tro , e am a-
relo-azuladinho, p o r fora. Q u an to à su a fun ção expressa, tra ta -s e
de um elem ento que serve p a ra a composição, ou seja, a á re a onde
se processará a gestação de um m enino.
P e r o u tro lado, é v ista como de con stitu ição m ais resisten te que
a d a escaãeira. E m bora n ã o se ja nossa in te n ç ã o a n a lític a estabele­
cer paralelo s com o conhecim ento da ch a m a d a A natom ia C ientífi­
ca, acham os ú til a c la ra r ao leito r que os órgãos supracitados cons­
titu e m em seu co n ju n to o que se convencionou c h a m a r c in tu ra -
-pélvica.

102
F e ita e sta in tro d u ção , estam os em condições de ap ro fu n d ar-n o s
no estudo dos re a is com ponentes anátom o-fisiológicos da g en itália
fem inin a. P a ra isso, devemos d eter-n o s n a an álise de um órgão que
o in fo rm a n te d en o m in a m ãe do corpo (o v ário ), órgão caracterizado,
n a su a p a rte in te rio r, p o r u m a cor roxa, e, n o seu exterior, pela
coloração azul. A m ãe do corpo n ã o possui san gue em su a e s tru tu ­
r a p ro p riam en te d ita . O san g u e que lhe corresponde provém , b asi­
cam en te, de u m a veia co n ectad a com o espinhaço (não observável
no desenho por te r sido este efetu ad o no plano) e, secu n d ariam en ­
te, por u m as vein h a s de ação co m plem entar. D eve-se esclarecer, em ­
bora a isto se re to rn e m ais a d ia n te , que as veias e veinhas não
co n stitu em e s tru tu ra s in d ep en d en tes d a m ãe do corpo, em si, m as,
pelo co n trário , são p a rte s específicas do órgão, qualificadas p o r isso
com o nom e que lh e corresponde.
Em o u tra s p alav ras, tra ta - s e de can ais próprios do órgão, a tr a ­
vés dos quais se v erte o sangue p roveniente de pontos m ais d ista n ­
tes. A m ãe do corpo c o n c e n tra a a lta resp o n sabilidade de d irig ir o
corpo fem inino em su a to talid ad e. T am bém é nela que en co n tra
su sten tácu lo aquilo que nosso A n ato m ista d efine como o sustantivo,
ou seja, a essência a p a r tir d a qual p o d erá ocorrer, desde quando
se desloque a p o stesta (órgão de que tra ta m o s logo a seguir) p a ra
p e rm itir a origem de u m a nova vida — além de outros processos
definitivos da in tim id a d e fisiológica fem inina. Isto p erm ite dizer que
a m ãe do corpo e su a tão p a rtic u la r essência co n stitu em um po­
te n cial que o in fo rm a n te d en o m in a de gerador.
Um pouco abaixo d a m ãe do corpo, e lig ad a a esta p o r u m a
so rte de cordão, e n c o n tra -se a postesta (útero ) órgão desprovido de
sangue, e de cor verm elho-m arelada. O A n ato m ista define as fu n ­
ções que ao dito órgão lh e são p eculiares como as de um veiculo
p a ra o corrim ento, en te n d e n d o p o r ta l o processo de evacuação da
essência que, descendendo d a m ãe do corpo, se dirige p a ra a bacia.
Intro d u z-se, n este m om ento, um com plexo circuito de veias, sem
as quais seria im possível p a ra nosso A n ato m ista explicar e com ­
p reen d e r as p eculiaridades do a p arelh o g e n ita l fem inino.
A p rim e ira a co n sid erar é a veia da bacia; esta, roxa p o r den tro
e azula d in h a p o r fora, a p re se n ta algum as d iferen ças à m edida que
av a n ça em seu circuito. T ra ta -s e de u m a veia grossa, com canais
finos em seu p ercurso norm al, que se am p liam quase a té ao t a ­
m a n h o d a p ró p ria veia n a s suas conexões ou desem bocaduras. A
fu n ção deles é a de am p a ra r a bacia n a m ed id a em que co nstituem
u m a circulação san g ü ín ea re s trita exclusivam ente a esta, n u m p ro ­

103
cesso c irc u la r de id a e volta. À fu n ção de am parar a bacia, e t a l ­
vez em conseqüência de seu exercício, som a-se o u tra função: q u a n ­
do, d e n tro da bacia, existe algo p a ra “c ria r”, o sangue circulante
n a d ita veia se v erte n a bacia; e, p o r últim o, quando n ã o existe
um processo de gestação, se v erte n a su perfície d a p o stesta e p ro ­
voca a m isturação (san g ram en to m e n stru a l; cf. gráfico 6).
U m a o u tra veia a í p resen te é a d a p o stesta — que, à d ife re n ­
ça d a a n te rio r, tem u m colorido m ais verm elh inho. A veia da pos­
te sta circunscreve a escadeira; é su a fun ção d a r origem a todo e
qualqu er processo rep o rtáv el a todos os órgãos já m encionados; a
ta l processo, nosso in te rlo c u to r d en o m in a n a scim en to da ação. P o r
sua vez, e como p a rte , tam bém , de um processo re strito de c ir­
culação, a re fe rid a veia d etém a fun ção de a lim e n ta r os ditos órgãos,
o que faz quando, depois de c irc u la r no sentido esqu erd a-d ireita,
re to rn a ao cano da cabeça via coração.
Pelo m enos no que concerne a e sta veia, percebe-se com cla­
reza a p resen ça de dois sistem as circulatórios, dos quais um con­
té m o outro. P o r o u tra s p a la v ra s, e n q u an to se processa u m a c ir­
culação específica d a escadeira, ocorre sim u lta n e am en te u m a o u tra
que a fe ta a todo o corpo.
A veia da postesta a c h a -se u n id a , p a ra desem penho de suas
funções, à p ró p ria postesta, a tra v é s de u m a espécie de trip in h a , e n ­
q u an to se vin cu la à veia da bacia p o r u m a conexão sem elh a n te a
um galho.
P a r a fin alizar com o re fe re n te a e sta veia, devem os dizer que o
cen tro a p a r tir do qual ocorre a conexão das d u as circulações a n te s
explicadas é o im bigo — e s tru tu ra de que m ais a d ia n te falarem os.
Ê tam b ém a p a r tir d aí que descende a veia que, p assan d o por b a i­
xo d a bacia, d irige-se à p o stesta com a ú n ic a função de alim entá-la.
Um terceiro e últim o órgão, constitutivo, no sentido estrito, do
a p a re lh o g en ital fem inino, é o denom inado de m adre (v a g in a ). Tem
colorido azuladinho, a c h a -se desprovido de sangue, e c o n cen tra a
fu nção de a tu a r como despacho de to d as as coisas que se o rig in a ­
ra m n a postesta, ou se g e ra ra m n a barriga. Ele a tu a como o g ra n ­
de p o rtã o de sa íd a p a ra o e x terio r que possui o a p arelh o g en ital
fem inino; em o u tra s p alav ras, d á passagem à m isturação, ao que
ev en tu alm en te se p oderia te r criado, e aos p ro dutos de despejo re ­
su lta n te s da com plexa ação in te g ra d a das veias a n te s descritas. Se,
p o r extensão, usássem os a term inologia d a a n a to m ia e fisiologia ci­
en tífic a , d iríam os que a tra v é s d a m adre se e fetu a o p arto , ta n to

104
como se produz a evacuação do sa n g ra m e n to m e n stru a l e outros t i ­
pos de sa n g ra m e n to s vaginais.
E m bora já n o s te n h a m o s referid o ao irribígo, acred itam o s n e ­
cessário, m esm o pecando p o r rep etir, fazer alg u m as considerações
a seu respeito. É a p a r tir deste órgão, e a tra v é s dele, que se p ro ­
duz a ligação do a p arelh o g e n ita l fem in in o com todos os outros
órgãos d a a n a to m ia fem in in a. C o n cen tra tam b ém ele a s “veias ge­
n ita is ”, que, p a ssan d o a u m a veia única, a corda do coração, se d i­
rigem prim eiro a este órgão e p o sterio rm en te ao crâneo.
Em bora seja certo que consideram os o nosso in terlo cu to r um
verdadeiro A n ato m ista P opular, devem os esclarecer que a lógica ex­
p licativ a do fu n cio n am en to do a p a re lh o g e n ita l fem inino se m a n ­
té m acorde com os m esm os princípios d a an áto m o-fisiologia popu­
la r laica, co n sid erad a ta n to como corpus de “c ren ç as” q u an to como
“re p resen tação social”.
M erece ex p la n a r-se aqui o que é possível o co rrer quando o a p a ­
relho g e n ita l fem inino n ão se com porta d e n tro da norm alidade. Se
os processos n o rm ais n ã o se efetu am , e, em p a rtic u la r, se n ã o ocor­
re a sa íd a do sa n g ra m e n to m e n stru a l a tra v é s d a m adre, sucederá
o ascenso do dito flu id o p a ra a á re a d a cabeça, a tra v é s do im bigo
— pon to de co n cen tração d as veias g en itais —, passando pela corda
do coração e pelo coração.
E sta invasão sa n g ü ín e a de u m a á re a b asicam ente sem sangue,
a cabeça, evento cap az de p ro d u zir-se devido à ru p tu ra de p reca u ­
ções e proscrições m en stru ais, tr a r á como seqüela, p a ra a m ulher,
desde nervosism o e enxaquecas a té o q uadro extrem o e m ais g ra ­
ve d a loucura.

G enita l M asculino

O ap arelh o re p ro d u to r m asculino se a p re se n ta, em term os ge­


rais, como m ais sim ples que o d a m ulh er. Isto é verdadeiro p a ra
nosso A n ato m ista n ã o só porque ele o te n h a com provado atra v é s
de seus estudos, como tam b ém p o r este c o n stitu ir um fa to ideo­
logicam ente estabelecido n a su a sociedade. Não se deve esquecer
que o perigo la te n te n a m esm a p erspectiva ideológica associado ao
fu n cio n am en to do organism o fem inino te m como c en tro o aparelho
reprodu to r.
O hom em , pelo co n trário , é percebido como possuidor de um
organism o estável, onde os órgãos responsáveis pela reprodução têm

105
funções cla ra m e n te definidas, e como infenso às alterações m in ú s­
culas m as de c a ta stró fic as conseqüências às quais é suscetível a
m ulher. (Ibánez-N ovión, 1976).
Na percepção de nosso especialista, o g en ital m asculino te m (cf.
gráfico 7) dois planos de sig n ificativ a im p o rtân cia, conform e se o
observe de fre n te ou de trá s. N a p a rte fro n ta l, ele está constituído
pela p resen ça de d u as veias, a veia da postesta e a veia gen ita l da
grana (tam bém d en o m in ad a de veia o g ita l). A p rim e ira possui as
m esm as ca ra c terístic a s que lh e fo ram atrib u íd a s n a descrição do ge­
n ita l fem in in o e circu n d a, ig u alm en te a á re a d a escadeira. A veia
genital, p o r su a vez, é roxa p o r d e n tro e azul por fora, chegando
a te r u m a a p a rê n c ia cristalina.
A e s tru tu ra to ta l d esta veia é pelo A natom ista c o m p arad a com
a e s tru tu ra de u m a fo lh a: as veias que a in te g ra m corresponde­
ria m às nerv u ras, e à cap a in te rm e d iá ria equivaleria o re sto do
co n ju n to em cau sa; a cor d e sta película define-se, por sua vez,
como azul-caboclo. Segundo é lógico, e sta veia tra n s p o rta sangue
— m as, esclareçam os, um sangue m uito p a rticu la r. O in fo rm a n te
o d en o m in a rio de corrim ento e lhe a trib u i as funções de a lim en ta r
as o u tra s veias d a região, e su ste n ta r o que às vezes ch a m a horm ô­
nios e o u tra s aborto.
D ito sangue é m eto d icam en te depositado n u m órgão gerador do
genital, quando o a p arelh o g e n ita l se en fo ca desde sua face p o s­
terior. D eclarou-nos o A nato m ista que o processo de passagem é
caracterizad o por um depósito m etódico, g o ta a gota, ta l como su­
cede com o carb u rad o r de um veículo de com bustão; disse-nos ain d a
que isto se d á g raças à e s tru tu ra p a rtic u la r d a veia genital, p o r­
q u an to esta, em bora p o r fo ra p a re ç a grossa, no seu in te rio r se ca ­
rac te riza por com preender finíssim os condutos.
F in alm en te, isto induz a que um sangue que já com eça a tr a n s ­
fo rm a r-se em sêm en o faça de m a n e ira m etódica e h arm oniosa, de
m odo a e v ita r graves problem as no a p arelh o genital, possíveis de
ocorrer em vista d a a lta sensibilidade deste.
Q uando considerado em su a versão corpórea posterior, o enfo­
que do a p arelh o g en ital se com pleta. O prim eiro órgão a ap arecer
é aquele a que c h a m a o nosso in fo rm a n te de gerador de força ge­
n ita l (?). S itu a-se o m esm o a trá s do espinhaço, n a a ltu ra do bofe.
Ligado àquele, n a a ltu ra do balancete da cadeira, e n c o n tra -se o ge­
rador do g en ita l (?). Suas funções são m ais u m a vez eq u iparadas
com as das peças percebidas como básicas p a ra o fu n cionam ento de
um m otor. O m odelo m ecânico que p erm ite explicá-los é de c a ra c ­

106
te rístic a s m ulto p a rtic u la res, dado que ex iste u m g erador — gerador
da força g en ita l — n o sen tid o m ais pleno d a p a lav ra, ao lado de
ou tro — gerador ão g en ita l — que em si c o n c e n tra a ação com bi­
n a d a de gerador e c a rb u ra d o r em u m a ú n ic a peça.
C om pletam o sistem a o enco n tre (p ró s ta ta ), órgão que tem a
função de d irig ir o grão, m as o grão (testículo) que a tu a como d e­
p o sitário do su sta n tism o — e o -pênis, en carreg ad o de levar ao lu ­
g a r certo o su sta n tism o originado n este delicado processo de tr a n s ­
form ação sangüínea.

O O rganism o H um ano como Sistem a

D eixando um pouco de lado a a n a to m ia e a fisiologia dos ge­


n ita is fem inino e m asculino, podem os explicar, atrav é s de funções,
como é percebido o sistem a anátom o-fisiológico por este A natom is­
ta Popular.
As q u atro funções que aqui consideram os m ais em porm enor
são as que p erm item v er de m a n e ira m ais c la ra a fo rm a pela qual
se in te rre la cio n a m os d iferen tes órgãos do corpo. As cinco funções
re sta n te s serão con sid erad as in d ep en d en tem en te destas, e um pou­
co m ais à fren te, em benefício da clareza d a exposição. As quatro
funções prim eiro m en cio n ad as vêm a ser:

Ventilação: exprim e-se e sta no ato de ven tila r, ou seja, p e rm itir,


atra v é s de certas “ja n e la s ” corporais, a e n tra d a do a r
— ou a reposição deste elem ento — ta n to nos órgãos
em p a rtic u la r como n a s regiões.

Filtração: ta l função se exprim e no a to de filtra r, ou seja, p ro m o ­


ver a periódica, p e rm a n e n te e fre q ü e n te depuração dos
fluidos corporais.

Composição: consiste no a to de com por, ou seja, im plica no desem ­


penho de um tra b a lh o em benefício de certos órgãos, n a
m edida em que lhes d á origem , co n tin u id ad e e co n teú ­
do. Em o u tra s palav ras, a ex istên cia em si de d eterm i­
nados órgãos — e, em certos casos, de u m a região —,
provém do acio n ar-se p a rtic u la r de órgãos outros, sem
cu ja p a rtic ip a ç ão a in teg rid ad e do sistem a anatôm ico es­
ta ria rom pida.

107
Equilibração e Fortaleza: d ita função se exprim e no a to de equili­
b ra r e c o n fe rir resistên cia a com ponentes
básicos do corpo h u m an o .
O gráfico n.° 8 descreve o sistem a an atô m ico e fisiológico ta l
como é percebido pelo pro fissio n al p o p u lar d a saúde de que aqui
se tra ta . Os órgãos aí assinalados distrib u em -se esquem aticam en­
te de acordo com a disposição a trib u íd a pelo A natom ista, e se a g ru ­
p am nos c o n ju n to s 1, 2, 3 e 4 que correspondem às regiões do crâneo
da cabeça, do pescoço, do estôm ago e da barriga, respectivam ente. A
seguir, verem os como se estabelecem os circuitos de interrelações,
em princípio, a tra v é s d as q u a tro funções m encionadas acim a.
Os ouvidos servem p a ra a ventilação de crâ neo/juízo, olhos e
coração.
O nariz, ta l como o órgão a n te rio r, situ ad o n a região do crâneo
da cabeça, p ropicia a ventilação do crâ n eo /ju ízo , das am igas, d a r e ­
gião do estôm ago com o u m todo, e do coração em p a rtic u la r.
O goto tam b ém exerce a função de ven tila r, servindo assim ao
c râ n eo /ju ízo e ao corpo como um todo.
A güela, localizada n a região do pescoço, te m por função prio ­
ritá ria , igu alm en te, a de ven tila r a á re a do crâneo da cabeça e to -
todos os órgãos ínsitos n a região do estôm ago, excetuados o coração
e sua taleta.
T am bém o im bigo, situ ad o n a região da barriga, ven tila , b e n e ­
ficiando em p a rtic u la r o coração e a to ta lid a d e das regiões do estô­
m ago e da barriga.
F in alm en te, a hem orróia, como p a rte te rm in a l do cano a lim e n tí­
cio, p re s ta idêntico serviço à tripa.
A ssinalarem os m ais algum as p a rtic u la rid ad e s rela tiv as à fu n ­
ção em causa. P rim eiram en te, deve-se n o ta r que todos os orifícios
do corpo dela se a c h a m incum bidos, isto é, todos eles fac u ltam o
ingresso e a reposição n o organism o de um elem ento im p o rta n tís­
simo, o a r; seja de fo rm a d ire ta , como sucede no caso de ouvidos,
nariz, hem orróia, im bigo, seja in d ire ta m e n te , conform e ocorre com
o goto e a güela — que dependem , p a ra ta n to , d a boca —, todos
cum prem com este papel.
Os referidos orifícios constituem , outrossim , os “pórticos” que
com unicam um in te rio r orgânico ao ex terio r que o tra n sce n d e; sem
su a existência, o corpo h u m an o como u n id ad e an atô m ica e fisioló­
gica n ão p o d eria su b sistir — n ão só p o r fa lta de ventilação, m as
ain d a, e sobretudo, pelo isolam ento a que e s ta ria condenado. Os
ditos “pórticos” m erecem tam b ém considerações especiais no que

108
ta n g e ao tra ta m e n to a ser-lh es dispensado, pois precisam en te seu
c a rá te r de vias de com unicação e n tre dois “m u ndos” os assin ala
como p ontos de g ra n d e periculosidade. L em brem os que eles podem
vo ltar-se c o n tra as e s tru tu ra s que a ju d a m a s u ste n ta r, quando se
convertem no espaço que p erm ite invasões do exterior.
T ra ta n d o -se a in d a d a fun ção de v en tila r, m as alguns dados d e ­
vem ser m encionados. O crâneo/juízo, p o r exem plo, ven tila -se a t r a ­
vés de m ais de um “p órtico ”, como sucede, a té certo ponto, com
outro órgão cap ital, o coração. É aquele ven tila do atrav é s de ouvi ­
dos, nariz e im bigo. A ven tila çã o d estes órgãos m a n ife sta com c la ­
reza a tra n s c e n d e n ta l im p o rtâ n c ia a eles a trib u íd a , quando com pa­
rados com os o u tro s in te g ra n te s do sistem a.
Além disso, e com a p e n a s um a exceção, é de se n o ta r que as
regiões em si se ve n tila m através de órgãos situ ados em o u tras r e ­
giões. Assim, a do crâneo da cabeça é ven tila d a p ela güela, órgão
localizado n a região do pescoço. A do estôm ago se ve n tila a trav és
de nariz e goto, situ ad o s n a região do crâneo da cabeça, e atrav és
do im bigo, que, como sabem os, se a c h a posto na da barriga. O goto,
situ ad o n a região do crâneo da cabeça, v e n tila a região do pescoço.
O im bigo co n stitu i a ú n ica exceção, pois, a p e sa r de situado n a região
da barriga tam b ém a ela ventila. Isto pode ju stific ar-se a p a r tir d a
consideração das com plexas e m ú ltip las funções oue cabem a este
órgão.
Dos q u atro que exercem a fun ção de filtr a r — bofe, rim , passari­
n ha, p êndis — a p e n a s o últim o n ã o se a c h a colocado n a região do
estôm ago. O bofe te m o p ap el de filtra r os fluidos provenientes d a
região do crâneo da cabeça, d a região do estôm ago e d a região da
barriga. Os rins filtr a m a p en as os flu id o s da região do estôm ago. O
pêndis n ã o a tu a como u m filtro de u m a região, m as sim de u m órgão,
a tripa. F in a lm e n te a p assarinha filtra rá , a tra v é s de conexões com
a veia vertical-regional, o san g u e — que é visto como o m ais im ­
p o rta n te dos fluidos corporais. É evidente que os fluidos corporais de
todo tip o carecem d e sta função, pois, caso a m esm a não se exerces­
se, eles iriam , p a u la tin a m e n te , converten d o -se em receptáculos de
m últip las im purezas, com as conseqüências nrevisíveis p a ra um n o r­
m al fu n cio n am en to do corpo.
A função de com por ap ó ia-se n a p a rtic ip a ç ão de trê s órgãos,
todos eles sitos n a região do estôm ago. A p assarinha a tu a como com ­
positora de dois órgãos d a região do crâneo da cabeça — crâneo!
ju ízo e goto — e a in d a do figo. O bucho, p o r su a vez, é o com po­
sitor de to d a a região do estôm ago. P o r últim o, o fe l compõe o figo.

109
O im bigo é, sem dúvida, o m ais im p o rta n te órgão de equilibração è
fortaleza. Tem a responsabilidade de d esem p en h ar e s ta função em
benefício d a ta leta do coração e dos rins. A hem orróia, como s e ­
gundo e últim o órgão incum bido deste papel, equilibra e fortalece
o im bigo.
Existem o u tra s funções que n ã o m encionam os a n terio rm e n te, as
quais, n em p o r isso — a n te s m uito pslo co n trário —, carecem de
im p o rtân cia. A arca da espinhela que, segundo dissem os, estabelece
a divisão e n tre a região do estôm ago e a da barriga, te m por função
o estam pism o. M erece g ran d e destaque, pois é a responsável pelo
processo vital. Sem ela, n ão existe o dom d a vida; e, por isso, ela
é m otivo de p ro fu n d as preocupações p a ra a m aioria dos profissionais
da M edicina T radicional.
O coração a tu a como gerador dos processos fisiológicos, n a m e ­
dida em que opera como c en tro de com ando da circulação san g ü í­
nea. L ogicam ente, necessita, p a ra isso, d a a ju d a de outros órgãos, se-
segundo já tivem os o p o rtu n id ad e de observar; e n tre estes, m erece
ser re c o rd a d a a ta leta do coração-
Ao fa la r do crâ n eo /ju ízo , dam os p o r te rm in a d a a enum eração
de funções atrib u íd as, n este caso, a com ponentes do organism o h u ­
m ano. O d ito órgão tem a fun ção de tem p era r o corpo p a ra c o n ­
vertê-lo em h u m a n o ; em o u tra s p alav ras, é o responsável pelo to ­
que de precisão com que se pode estabelecer a d istâ n cia e n tre os
hom ens e os anim ais.
Não desejaríam o s a b a n d o n a r e sta p a rte do tra b a lh o sem m os­
tra r, a tra v é s de um exemplo, como se in te rre la cio n a m as sobreditas
funções p a ra co n ferir existência ao corpo hum ano.
C onsiderem os, p o r exem plo, o crâneo, órgão que, p a ra desincum -
b ir-se de seu p ap el de tem p era r o corpo, deve a p o iar-se no d e se m ­
penh o de u m a seqüência de o u tra s funções por órgãos diversos.
A ntes de tudo, é preciso que a tu e a p assarinha como sua com ­
positora (do c râ n e o /ju ízo ) ; p a ra consegui-lo, deverá ela, p o r sua
vez, receber, pelo m enos, ventilação da güela. A ventilação do crâneo
se e fe tu a a tra v é s de ouvidos, nariz e goto. P o r ou tro lado, a região
em que o c râ n eo /ju ízo se e n c o n tra é filtra d a atra v é s do bofe —
órgão ven tila d o tam b ém a p a r tir de güela. F in alm en te, n a d a disso
poderia o co rrer ao órgão tem perador se n ã o viesse o sangue alim en ­
tá -lo a p a r tir das vein h a s do crâneo; ou se o sangue n ã o fosse fil­
trado p ela passarinha, ao nível d a veia vertical-regional.
E sta explicação su c in ta p oderia c o n tin u a r in d efin id am e n te; e ao
cabo chegaríam os à conclusão de que, n a m edida em que cada órgão

110
se com preende, n este contexto, em relação com os outros e com suas
m ú ltip las funções, n a verdade aqui se descreve um sistem a a lta ­
m ente especializado de an átom o-fisiologia popular.
C onquanto a nível da percepção, a fisiologia e, em p artic u la r, a
a n a to m ia expostas p o r este1 profissional p o p u lar da saúde se a p re ­
sentem de fo rm a bem c la ra como resu ltad o de um em penho p ro ­
fissional, pensam os que a rep resen tação do corpo enfocada se m a ­
n ife sta no m ais p ro fu n d o acordo com um modelo com partilhado
popularm ente.
O corpo h u m a n o como um todo c o n tin u a aqui sendo percebido
como form ado p o r d uas á re a s to p o g ráficas indivisíveis, id ealm ente
equilibradas, fisiologicam ente in te r-a tu a n te s e fu n cio n alm en te in d e ­
p en d en tes: a cabeça e o corpo p ro p ria m e n te dito l-,
A cabeça é p ercebida como c o n tin e n te d a idéia, u m a á re a b a ­
sicam en te sem sangue, e de n a tu re z a fria ; o corpo, p o r oposição, p e r ­
cebe-se como co n tin e n te dos sen tim en to s e emoções, á rea b asica­
m en te d o ta d a de sangue, de cor p re d o m in a n te verm elha, e quente.
O prim eiro é com andado pelo cérebro, o segundo pelo coração.
Todos os processos p e rtin e n te s deverão co n fo rm ar-se a um a a ju s­
ta d a in terrelação , p o r ser e sta a ú n ica m a n e ira possível de p ro p i­
ciar-se a co n tin u id ad e h arm ô n ica e n o rm a l da to talid ad e corpórea.
O corpo h u m an o c o n tin u a sendo, e no caso deste profissional
ain d a m elhor isto se evidencia, o modelo básico que exprim e e p e r­
m ite com preender o m odelo do social. P or o u tra s palavras, é assim
que o Seo Pedro, seus colegas de especialidade, e aqueles que o
sucederão no tem po, se in d ag am e c o n tin u a rã o a in te rro g a r-se so­
bre o universo d a anátom o-fisiologia, n ão a p en as p a ra com preendê-
-la, explicá-la e a b o rd a r-lh e os m últiplos problem as relativos à sa ú -
de-doença, m as tam b ém p a ra se explicarem a si m esm os e ao u n i­
verso que os en cerra.
P a ra nós, Seo P edro co n stitu i um exem plo de profissional popu­
la r que denom inam os de A natom ista. Não o cham am os d esta form a
p a ra fo rç a r um p aralelo com o p erito no cam po da ch a m a d a A na­
tom ia C ientífica, m as n a convicção de que ele e seus colegas de es­
pecialidade vêm a ser, no lídim o sen tid o d a p alav ra, anatom istas de
fa to — n o universo sócio -cu ltu ral onde se incluem , e n ã o m eras c a ­
ric a tu ra s daqueles que, em nosso cognocentrism o, consideram os os
únicos depositários de to d a a verdade sobre o corpo hum ano.

12 Ibánez-Novión, 1976.

111
Gráfico 1

órgãos internos do corpo humano masculino: reprodução do


original feito pelo Anatomista Popular (Prancha DESAP).
Gráfico, 2

órgãos internos do corpo humano feminino: reprodução do


originai feito pelo Anatomista Popular (Prancha DESAP).
Gráfico 3

Regiões do corpo humano segundo o Anatomista Popular:

1— Região do Crâneo da Cabeça 6 — Região Genital


2— Região do Pescoço 7 — Região das Pernas
3— Região do Estômago I — Região do Espinhaço
4— Região dos Braços II — Região da Escadeira
5— Região da Barriga a — Goto

114
Gráfico 4

Esquema da circulação sangüínea segundo o Anatomista Popular.

115
Gráfico 5

Esquema do genital feminino segundo o Anatomista, Popular


Gráfico 7

Fig. 1 Fig-

Fig. 2

Esquema do genital masculino segundo o Anatomista Popular.

117
Gráfico 8

Descrição sistêmica da anátomo-fisiologia do corpo


humano segundo o Anatomista Popular.

118
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