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INTERNACIONAIS E SOCIOLOGIA
GEOGRAFIA POLÍTICA
1º SEMESTRE
UNIDADE-I
danieltendo@hotmail.com
Conceito de Geografia
O estudo da Geografia Política como ciência impõe considerar, porque com ela
relacionadas de uma ou de outra forma, outras ciências. No quadro do objectivo do presente
texto, considera-se importante referir, como ciência afim, a Geografia e a Política.
A Geografia é uma ciência que tem como objecto o estudo da superfície terrestre e a
distribuição espacial de fenômenos significativos na paisagem.
Para Pierre Gourou (1948), a Geografia é, essencialmente, descrição e explicação
das paisagens, designadamente a paisagem natural e a paisagem cultural1.
Deste modo, de acordo com a natureza dos fenômenos, a Geografia, segundo refere
Tosta (1984) pode ser dividida nos seguintes ramos: a geografia Matemática, a Geografia
Fisíca e a Geografia Humana que segundo o autor, estuda a influência do meio sobre o
homem e as modificações introduzidas pelo homem nas paisagens geográficas2
A Geografia Humana conta ainda com a Geografia Económica e a Geografia
Política, como subdivisões, entretanto, ela recebe ainda outras subdivisões, tais como, a
Geografia Histórica, cujo objecto é a influência da Geografia na História; a Geografia
Militar, que olha o espaço geográfico como teatro das operações de guerra; e a Geografia
Administrativa.
Para o historiador Vinces Vives (1910-1960) a Geografia Histórica é o ramo da
Geografia Humana que se ocupa do exame estático das relações do homem com o solo
que habitou em um passado mais ou menos remoto3
Derivado do adjectivo originado de pólis (politikós), que significa tudo o que se refere
à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil, público, e até mesmo sociável e social,
o termo Política se expandiu graças à influência da grande obra de Aristóteles, intitulada
“Política”, que deve ser considerada como o “primeiro tratado” sobre a natureza, funções e
divisão do Estado, e sobre as várias formas de Governo, com a significação mais comum
de arte ou ciência do Governo, isto é, de reflexão, não importa se com intenções meramente
descritivas ou também normativas, dois aspectos dificilmente discrimináveis, sobre as coisas
da cidade.
4 Para mais informação, ler Ibid. E Dervent WHITTESEY, Geografia Política (Buenos Aires: Fondo de
Cultura Econoica de Mexico, 1948).
5 Citado por TOSTA, Toerias Geopoliticas, 1984,23
6
Ibid.
menos organizado sobre esse mesmo conjunto de coisas: uma transposição não diversa
daquela que deu origem a termos como física, estética, ética e, por último, a cibernética.
O termo Política foi usado durante séculos para designar principalmente obras
dedicadas ao estudo daquela esfera de atividades humanas que se refere de algum modo às
coisas do Estado.
Na mesma senda, outros estudiosos mais modernos portanto, com outras experiencias
mais recentes de vida, procuraram uma definição para o termo. Assim, Hobbes (1588-1679)
disse que ela “consiste nos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem7”
Os estudos desta área avaliam diversos factores que determinaram uma situação já
estabelecida como, por exemplo, as características demográficas frente ao desenvolvimento
de um ramo da economia.
7
Thomas HOBBES, os elementos da lei natural e politica (WMF Martins Fontes, 1640).
8
Citado em NICOLAU MAQUIAVEL, O Príncipe, Roberto Grassi (Rio de Janeiro, Brasil: civilização Brasileira,
1976).
9
William BLUTON, Theories of the political System (New York, 1965)
Este ramo da geografia surgiu na obra "Politische Geographie" (Geografia Política),
do geógrafo alemão Friedrich Ratzel, publicada em 1897. Nessa obra, Ratzel concebe o
Estado como um organismo territorial, mas seu objetivo não é explicar essa instituição por
meio de uma metáfora com o desenvolvimento dos seres vivos, e sim como referência ao seu
papel de articular o povo ao solo por meio de políticas territoriais.
Portanto, esse autor entendia o Estado como organismo no sentido que o pensamento
romântico dava a essa noção, ou seja, como um "todo" constituído por elementos naturais e
humanos indissociáveis. A função primordial do Estado, razão de sua própria existência, era
mobilizar os indivíduos para a realização de um objectivo comum, qual seja, a defesa e
organização do território.
O estudo da geografia política existe desde a Grécia antiga. A contração das palavras
"geografia política" deu origem ao termo geopolítica. O termo foi criado pelo cientista
político sueco Rudolf Kjellén, no trabalho "Staten som Lifsform" ("O Estado como um
organismo"), de 1916.
Uma outra definição da geografia política é a de Demko e Wood (1999) em que eles
afirmam que “Geografia política é a análise de como os sistemas políticos e as estruturas dos
níveis locais aos internacionais influenciam e são influenciados pela distribuição dos
recursos, eventos, e grupos e pelas interacções entre as unidades políticas sub-nacionais,
nacionais e internacionais no mundo”. (DEMKO; WOOD, 1999, p. 4,)
Biografia do Autor
Friedrich Ratzel nasceu em Karlsruhe (na atual Alemanha), aos 30 de agosto de 1844
e faleceu em Ammerland aos 09 de agosto de 1904, vivendo, deste modo aproximadamente
60 anos.
Como destacou Palma ([200-]), ele tinha grande qualidade para várias actividades
tanto que como jornalista político, colaborou para um jornal. Em suas viagens pela Europa,
Estados Unidos, México e Cuba, interessou-se pela Geografia.
- o espaço vital como necessidade territorial de uma sociedade, tendo em vista o seu
equipamento tecnológico, a sua demografia e a disponibilidade de recursos naturais. Isto é, a
necessidade de uma relação de equilíbrio entre a população (comunidade) e os recursos
disponiveis , assim como a porção de território necessário à sua reprodução, ou seja, “à sua
realização como ser político”.
Em resumo, em 1895, foi publicado o que o mundo hoje conhece como os postulados
de Ratzel ou leis do Crescimento espacial do Estado, saber:
Ratzel dizia que “Neste pequeno planeta, só há espaço suficiente para um único
Estado”
Entre os anos de 1875 e 1886, Ratzel, com a grande interdisciplinaridade que possuía,
lecionou na Universidade de Munique com grande propriedade, basicamente porque em suas
viagens pôde coletar dados e informações que, ligadas às teorias acadêmicas, foram de grande
valia para a interligação de diversas situações propostas por ele. Posteriormente, transferiu-
se para a Universidade de Leipzig onde lecionou até falecer.
Ratzel foi um dos primeiros geógrafos a trabalhar com a questão do poder das
sociedades nas relações com seus espaços, portanto ele é reconhecido como o fundador da
Geografia Política. Foi um dos primeiros formuladores de um estudo geográfico dedicado às
discussões de problemas humanos, sendo fundamental no processo de sistematização da
Geografia moderna. Neste sentido, como disse Martins ([200-]), sempre foi preocupado em
entender a difusão dos povos na superfície terrestre e a influência que as condições naturais
exercem sobre a humanidade.
A preocupação nacionalista
Entre os conceitos utilizados na obra, vários deles apresentam um viés que se inspira
na biologia e no evolucionismo, enquadrados em quatro ideias principais: “organismo, meio,
ação humana e gênero de vida” (GOMES, 1996, p. 198).
Por isso, insere-se a noção de contingência: “Os gêneros de vida atuais são, portanto,
resultados contingentes dos gêneros de vida anteriores, ao longo de uma cadeia contínua,
regida não por uma ideia de necessidade, mas somente de possibilidade” (GOMES, 1996, p.
205). Cada grupo desenvolveu uma forma específica de relação com o meio, mediante várias
influências físicas, históricas e sociais. Isso insere ao conceito de gênero de vida um caráter
de singularidade.
A herança de cada grupo enquadra-se na luta para superar os obstáculos da natureza
e na criatividade para controlá-la e transformá-la. É assim que cada gênero de vida adquire
uma feição específica, que relaciona as características do meio às técnicas utilizadas nos
transportes, na construção de casas, na alimentação, no vestuário etc. Nesse sentido, La
Blache busca compreender como os gêneros de vida se articulam num todo, que constitui a
civilização em suas várias etapas.
A segunda parte da obra trata das diferenças e semelhanças das formas de civilização
pelo globo. Há uma análise histórica dos gêneros de vida chamados por La Blache de
“grandes aglomerações humanas”, como o Egito, a China e a Índia (p. 87). Já a terceira parte
insere a análise sobre o Mediterrâneo e a Europa, voltando-se à circulação, à construção de
estradas e às transformações modernas na paisagem pelo desenvolvimento e inovação dos
meios de transporte, sempre com uma visão evolucionista.
Desse modo, para La Blache, a distribuição dos homens no globo ocorreria por uma
progressão descontínua, produzindo isolamentos. A partir da aglomeração de núcleos
humanos ao longo do curso de rios ocorreu uma separação por obstáculos, como montanhas.
Nessa análise, muito próxima ao darwinismo, quando um grupo desloca-se para outra
região, “pela necessidade ou pela força”, traz consigo seu gênero de vida. “Poderá conservá-
lo, se o novo habitat for semelhante ao antigo. Mas pode verificar-se incompatibilidade entre
os seus hábitos e o meio onde ele se estabelece. Novos usos impõem-se” (SORRE, 1984, p.
107).
Segundo essa ideia, a construção de casas, por exemplo, ocorreria com materiais que
as aglomerações humanas tinham ao seu alcance. Clima e solo determinariam o uso
preponderante da madeira, terra ou pedra. Esses materiais, concomitantemente, também
guiariam a mão do homem. Como exemplo, o autor diz que no Japão utilizou-se a madeira,
pois havia muitas coníferas. Já nas zonas áridas havia terra argilosa, possibilitando a
fabricação de tijolos (p. 215-216).
A série de esforços pelos quais o homem [...] assegurou sua existência parece ter
estimulado a inteligência em determinado sentido, de que não mais se desviou. Chega um
momento em que esses esforços param; e se nada de novo vem solicitar a actividade, esta
adormece sobre os resultados adquiridos. Um período de estagnação sucede a períodos de
progresso, tal como aconteceu na China e noutras partes (p. 277).
Em acréscimo, segundo o autor o meio europeu teria sido muito mais exigente, por
isso a população que lá vive fez um povoamento original, concentrando a principal massa da
humanidade, capaz de uma “evolução” mais complexa, constituindo-se, desde tempos
antigos, num centro difusor de inovações (p. 374).
Algo a ressaltar é que Paul Vidal de La Blache, embora concentre sua análise muitas
vezes nos gêneros de vida cristalizados numa paisagem rural, fisionomia em que se notam as
permanências, é sensível também às mudanças de sua época, notando o aperfeiçoamento dos
meios de transporte e das vias de circulação.
Por fim, La Blache coloca as cidades como o testemunho de civilizações num estágio
mais avançado, “que certas regiões não atingiram que, possivelmente, não atingirão nunca
por si mesmas” (p. 280). No contexto da época há um otimismo quanto às maiores
possibilidades desse intercâmbio. “O movimento e a vida aceleram-se constantemente. Uma
atração mais forte [...] provocou entre as diferentes regiões da terra uma fermentação que
anteriormente não teria sido possível” (p. 361).
Rudolf Kjellén é aceite como sendo o criador do termo “Geopolítica”, embora não
haja acordo em relação à data em que o mesmo foi pela primeira vez utilizado, variando,
segundo os autores, entre o ano de 1899 e o ano 1900.
O Estado, notou Kjellen, apresentam-se uns para os outros tal como os seres vivos
que coabitam em sociedade, mantendo boas relações ou hostilizando-se, auxiliando-se ou
destruindo-se. De igual modo, tal como os seres vivos, os Estados têm carácter, sentimentos,
interesses, objectivos e comportamentos próprios.
Kjellen (1905) concluiu que os Estados são formas de vida, sendo por isso apontado
como organicista, ao reconhecer nas potências da sua época “fenomenos biológicos latu
sensu”, pois, valendo-se das próprias forças e beneficiadas por determinadas circunstâncias,
“vivem em permanente competição, lutando pela existência e estabelecendo, de modo claro,
uma selecção natural, os Estados vivem de facto sobre a terra, pois, vêmo-los nascerem,
crescerem, entrarem em decadência e morrerem” .
Em o “Estado como forma de vida” Kjellen defendeu que o Estado age por impulso
orgânico e manifesta o seu poder mais nas relações externas que interna, suportando melhor
a perda de vidas humanas do que a perda de território, porque possui um núcleo territorial
fixo- o país-do qual não se pode separar ou desligar, sob pena de sucumbir. O Estado “é
Direito por dentro” isto é, necessita de uma organização e disciplina interna, onde predomina
o aspecto jurídico; e “força por fora”, ou seja, recorre à força para defender interesses vitais,
embora reconheça o Direito Internacional como lei geral. De igual modo defendeu que o
Estado, enquanto “indivíduo geográfico”, prevalece sobre a “naçã”- “indíviduo étnico”-
sendo este a sua morada; o Estado “joga um super jogo num super tabuleiro com os outros
Estados (super–seres), sofre, tem tendências para a procriação, sendo colonias os seus filhos.”
Uma vez que Kjellen aprecia o Estado como um organismo vivo, considera-se aqui
que «na decisão de cada homem, a acção também aparece subordinada a uma antinomia
fundamental, que é a que se verifica entre a “moral responsabliadade” e a “moral de
convicção”». No primeiro caso, «conforme a regra de que os fins justificam os meios, Weber
deu como exemplo o homem que, segundo Maquiavel, perdeu a alma para salvar a cidade».
No que se refere a “moral de convicção”, o homem recusa sacrificar os valores essenciais,
sejam quais forem as consequências, e perde a cidade para salvar a alma. Weber, como
exemplo, citou o dito de Lutero: “Eis a minha posição, e não posso proceder de outra maneira.
”
Muitos confundem a Geopolitica com a Goegrafia Politica: assim uma das definições
de Geopolitica é a de se constituir na Geografia Política com vistas no futuro. No entanto,
para diferenciar uma da outra podemos dizer que a Geografia Politica é como a fotografia,
portanto, estática, enquanto a Geopolítica é como o Filme, tem movimento e é dinamica
(Therezzinha de Castro, 1986: 28).
Ladis Kristoff afirma que a única diferença real entre as disciplinas está na enfâse, no
foco da atenção. A Geografia Politica tende a focar a sua atenção nos fenomenos
geográficos. A Geopolitica, pelo contrario, tende a focar-se nos fenomenos politicos e
tenta dar uma interpretação geográfica e estudar os aspectos geográficos destes
fenômenos10. Os factores fundamentais da Geopolítica são o espaço, o tempo, e o poder.
10
LADIS KRISTOFF, citado por RAÚL FRAÇOIS MARTINS, Geopolitica e Geostratégia: O que são e para que
servem, in Nação e Defesa, p. 34
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