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Teoria do sacerdócio é minha contribuição aos diversos pais e mães de santo

que assumiram sua missão de comando, mas não tiveram a oportunidade de


receberem instrução ou experiência. Vivemos em um país muito grande. Muitos
irmãos não possuem, na sua região, terreiros de Umbanda. Onde existir lacuna de
conhecimento que este curso a preencha e façamos da Umbanda uma grande religião
fundamentada e forte.

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SEMANA 01 ............................................................................................................................................................... 4
INTRODUÇÃO AO CURSO...................................................................................................................................... 4
QUEM PODE FAZER ESTE CURSO? ........................................................................................................................ 4
HÁ CERTIFICADO? ................................................................................................................................................. 4
CONTATO .............................................................................................................................................................. 4
TERMINOLOGIA..................................................................................................................................................... 4
SACERDOTE/SACERDOTISA .............................................................................................................................. 4
PAI DE SANTO/MÃE DE SANTO ........................................................................................................................ 6
DIRIGENTE ......................................................................................................................................................... 7
MADRINHA E PADRINHO.................................................................................................................................. 7
PRESIDENTE....................................................................................................................................................... 7
ZELADOR DE SANTO.......................................................................................................................................... 8
TERMINOLOGIA MISTA OU CARÁTER MISTO DE GESTÃO............................................................................... 8
TIPOS DE TERREIRO............................................................................................................................................... 8
TERREIRO DE VÓ ............................................................................................................................................... 8
LOCAÇÃO COMERCIAL .................................................................................................................................... 10
TERREIRO COMPARTILHADO.......................................................................................................................... 10
TERREIRO EM CENTROS HOLÍSTICOS ............................................................................................................. 11
FORMAS DE INGRESSO NA CORRENTE MEDIÚNICA ...................................................................................... 11
ORGANIZAÇÃO DO TERREIRO ........................................................................................................................ 13
PODEMOS DIZER NÃO? .................................................................................................................................. 13
MÉDIUM EXPERIENTE É DIFERENTE DE MÉDIUM QUE NUNCA FOI UMBANDISTA? ........................................ 14
PESSOA QUE JÁ CONHECE A UMBANDA ........................................................................................................ 14
PESSOA QUE NÃO CONHECE A UMBANDA .................................................................................................... 15
ESTUDO DE CASO: médium que já foi pai de santo e deseja entrar na corrente ............................................. 15
SEMANA 02 ............................................................................................................................................................. 16
QUAL É A FUNÇÃO DO SACERDOTE?.................................................................................................................. 16
QUALIDADES DE UM BOM SACERDOTE ......................................................................................................... 17
TIPOS DE LIDERANÇA COM BASE NA PERSONALIDADE DE CADA INDIVÍDUO ............................................. 17
ESTUDO DE CASO: Filho que deseja conhecer outras casas e fazer cursos em outros terreiros ..................... 18
SEMANA 03 ............................................................................................................................................................. 19
A ENERGIA DO TERREIRO PASSA PELA COROA DO PAI DE SANTO ................................................................... 19
AS DIFERENÇAS DE ENERGIA DE ACORDO COM A COROA DO PAI DE SANTO E DO GUIA CHEFE DO TERREIRO
............................................................................................................................................................................. 20
AS MUDANÇAS DE ENERGIA QUE SEUS FILHOS SENTIRÃO, CASO TENHAM VINDO DE OUTRO TERREIRO..... 21
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SAIBA QUEM VOCÊ É E SEJA FIRME EM SUAS DECISÕES ................................................................................... 22
O QUE É UMA GIRA E QUAIS OS TIPOS .............................................................................................................. 23
GIRA DE DESENVOLVIMENTO......................................................................................................................... 23
GIRA DE ATENDIMENTO ................................................................................................................................. 25
GIRA FECHADA ................................................................................................................................................ 27
GIRA EXTERNA ................................................................................................................................................ 27
ESTUDO DE CASO ................................................................................................................................................ 28
CONSULENTE QUE INCORPORA TODAS AS GIRAS DENTRO OU FORA DA ÁREA DE TRABALHO.................. 28
LIÇÃO DE CASA .................................................................................................................................................... 29
LIÇÃO DE CASA 2 ................................................................................................................................................. 29
SEMANA 04 ............................................................................................................................................................. 29
GRUPOS DE TRABALHO DENTRO E FORA DAS GIRAS ........................................................................................ 29
GIRA ABERTA....................................................................................................................................................... 30
PORTEIRA ........................................................................................................................................................ 30
ONDE DEVE FICAR O PAI DE SANTO ............................................................................................................... 31
CAMBONE, O QUE FAZ, QUANTOS SÃO NECESSÁRIO E O QUE DEVE SABER ............................................... 31
MÉDIUM DE TRANSPORTE ............................................................................................................................. 32
MÉDIUM DE ATENDIMENTO .......................................................................................................................... 33
MÉDIUM DE PASSE ......................................................................................................................................... 33
FORMAÇÃO DA FILA E LOCALIZAÇÃO DE HOMENS E MULHERES ..................................................................... 34
ORGANIZAÇÃO DE CONSULENTES...................................................................................................................... 34
SENHAS, NOMES, LIMITAÇÃO, PASSE, CONSULTA E ASPECTOS GERAIS ...................................................... 34
CONFLITOS DE CONSULENTES ............................................................................................................................ 36
PASSAR NA FRENTE DOS DEMAIS, ESCOLHER GUIA QUANDO NÃO FOR POSSÍVEL..................................... 36
GIRA FECHADA .................................................................................................................................................... 36
MÉDIUM AUXILIARES DE DESENVOLVIMENTO ............................................................................................. 36
QUEM PODE AJUDAR NAS GIRAS FECHADAS ESPECÍFICAS ........................................................................... 37
GIRA EXTERNA .................................................................................................................................................... 37
GRUPOS DE ORGANIZAÇÃO ........................................................................................................................... 37
COMIDA, ÁGUA, ESTRUTURA, TRANSPORTE ................................................................................................. 37
ESTUDO DE CASO ................................................................................................................................................ 37
MÉDIUM QUE PASSA MAL TODAS AS GIRAS ................................................................................................. 37
ENCERRAMENTO DO PRIMEIRO MÓDULO BÁSICO ............................................................................................... 38

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SEMANA 01
INTRODUÇÃO AO CURSO

O módulo básico oferece o estudo essencial da matéria para avançar ao próximo módulo.
Como o próprio nome diz, teremos apenas e unicamente a teoria do sacerdócio. Não há obrigações
a serem realizadas.

Este módulo não trará aspectos práticos. É o módulo básico e introdutório. O curso completo
dura um ano e é dividido em 12 módulos de um mês cada. Para se ter uma ideia, o curso presencial
dura 2 anos, tendo em vista as obrigações entregues a cada aluno. Serão, portanto, 4 módulos
básicos, 4 módulos intermediários e 4 módulos avançados de estudo compondo os 12 meses de
aulas.

QUEM PODE FAZER ESTE CURSO?

Não há prerequisitos para este curso. Qualquer interessado pode fazê-lo.

HÁ CERTIFICADO?

Sim. Cada módulo possui seu certificado de participação. Não há prova de conhecimentos
gerais. Eu acredito nos meus alunos e sei da qualidade de minhas aulas. Se o aluno diz que completou
o curso, será emitido o certificado de conclusão para o email de cadastro no instituto.

CONTATO

Whatsapp (13) 99210-0248 ou e-mail contato@aderitosimoes.com.br

TERMINOLOGIA

SACERDOTE, PAI DE SANTO, DIRIGENTE, PRESIDENTE, PADRINHO, ZELADOR

SACERDOTE/SACERDOTISA

No dicionário1, sacerdote possui dois significados no que se refere à religião sendo o primeiro,
“Pessoa que fazia sacrifícios às divindades” e o segundo, “Pessoa que ministra os sacramentos de

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https://dicionario.priberam.org/sacerdote
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uma igreja. = PADRE”. Acrescenta à definição de sacerdote o termo sumo sacerdote “Pessoa que está
no topo da hierarquia de uma igreja”. Não entraremos na etimologia da palavra.

Apenas pelas definições, que apenas resumem a grandiosidade do tema, podemos concluir
algo relevante para nosso estudo. Primeiramente, que se trata de um cargo e não de uma condição
adquirida pelo nascimento. Um sacerdote não nasce com tal cargo e sim, o desenvolve como ofício
diante do momento propício que somente Olorum pode definir o quando e onde. Não somos nós
que desempenhamos este papel de escolha e sim, Olorum pelos mais diversos e sinuosos caminhos
que nos levam à frente de uma comunidade de santo com porta voz de uma miríade de espíritos de
luz que faz uso do corpo, da mente e da fé de soldados que damos o nome de médiuns. Sacerdote
ou sacerdotisa é um termo que designa não um diploma ou qualquer outro papel escrito pelo homem
que nada vale para Olorum e sim, à missão que o indivíduo assumiu antes de encarnar e que este ou
esta executa após passar pela devida preparação. Analisaremos esta preparação ao longo do curso e
explicaremos que não se trata de uma lavagem de cabeça ou de uma dietada para Orixás e sim, de
uma vida de sacrifícios e abnegações.

O sacerdote é a pessoa que sacrifica sua própria vida em favor do próximo. Pelo menos, assim
é o sacerdote de Umbanda. Aquele que se reconhece como sacerdote reconhece em si seus defeitos
e virtudes para assim, sustentar um terreiro com seu trabalho espiritual, guiar filhos de fé no caminho
de Olorum e curar os enfermos, aconselhar os desorientados, pegar na mão dos necessitados e levá-
los aos pés de Oxalá para se alimentar da fé e da luz branca que desce do alto diretamente em suas
coroas. O ato de entrega do sacerdote lhe favorece com axé e prosperidade de espírito.

No que se refere ao termo sacerdote dentro da Umbanda, seu uso visa a tentativa de
extirpação dos preconceitos oriundos de séculos de ignorância e julgamentos a que os filhos de fé
foram submetidos. Pai de santo ou mãe de santo, na cultura popular, remete animais mortos e
jogados nas encruzilhadas, a uma pessoa doente, sem cultura, analfabeta. Faz a população lembrar
do personagem Painho de Chico Anysio, que é um personagem de humor e não um retrato real de
um representante dos Orixás e entidades na terra. Se alguém está de branco na rua já escuta-se um
cochicho: “…ou é pai de santo ou é médico”. Desta forma, o termo sacerdote retira o pai de santo
deste contexto preconceituoso recolocando-o no mesmo patamar que os demais sacerdotes de
outras religiões como o padre e o rabino mesmo que nem os próprios pais de santo pensem desta
forma. Acreditem, existem pais de santo que se sentem diminuídos perto de um padre ou de um
rabino como se fossem menos importantes.

Por fim, devemos revelar que a Umbanda perde seu brilho e sua tradição ao retirar o termo
pai de santo trocando-o por sacerdote. Apesar de livrar do estigma ruim acima descrito também
retira toda a carga cultural benéfica e autoexplicativa. As pessoas que escutam ficam sem saber se
somos padres modernos como Fábio de Melo que não usa batina e frequenta academia de
musculação ou apenas ficam sem entender o que estamos dizendo e perguntam o que significa ou o
que fazemos na prática. Então, temos que acrescentar, sou pai de santo de Umbanda.

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PAI DE SANTO/MÃE DE SANTO

Pai de santo, além do que já foi dito nas linhas acima, possui, por si só, toda uma carga de
significado sem necessidade de explicação alguma. Uma palavra que designa um cargo que,
infelizmente, é temido pela população e, em muitos casos, sinônimo de trabalhos com magia para o
mal. Deixemos esta carga negativa para pai Obaluayê transmutar em sua força e vamos ao que
realmente interessa ao estudo do termo.

Pai é aquele que cuida, que ampara, que escuta, que dá sustento e provê. Idem para mãe. Pai
de santo porque o Orixá, através do sincretismo com os santos católicos é chamado de santo. Como
dizia o meu pai carnal, “para o menino descer o santo”. Neste caso, meu pai estava se referindo tanto
ao caboclo quanto aos Orixás. Pai também é aquele que colocou no mundo, que fez nascer o filho.
Sem o pai/mãe não haveria o filho ou filha. O pai de santo faz nascer o Orixá no filho.

Nascer o Orixá é termo metafórico. O Orixá sempre esteve ali e sempre estará. Faz parte do
próprio filho de fé porque, como o nome diz, é filho dele ou deles (depende da tradição que este
umbandista pratica ou carrega consigo). O pai faz nascer o Orixá no sentido de despertá-lo nesta
encarnação para distribuição do axé e devoção do filho. Faz nascer, desperta. Desperta o filho
também fazendo-o nascer para o santo pois, no rito de coroa, caso exista em seu terreiro, temos o
rito do renascimento. O filho se recolhe no terreiro para dormir um sono profundo e, ao acordar,
desperta como uma nova pessoa. Quando este filho renascido está novamente com seus pares da
corrente mediúnica ali não está mais quem dormiu e sim, um novo irmão que despertou. Por esta
razão, não se coroa ou desperta à toa dentro da Umbanda. Não se desperta quem ainda não tem
maturidade mediúnica para tanto. Há um tempo certo para a coroação de cada médium e somente
a espiritualidade superior pode definir quando, bem como onde (qual terreiro e por meio de qual
mão).

Alguns irmãos desejam ser chamados de pai no santo e não pai de santo porque afirmam não
serem pai de nenhum santo/Orixá. Ensinam que são pais no santo, ou seja, pais dentro do axé. Por
mais que pareça sensato e é, não utilizamos este termo. Usamos pai de santo pelas razões acima.

Por fim, pai de santo e mãe de santo são termos que devem ser ditos com orgulho por todos
nós. Eu sou pai de santo. Eu sou mãe de santo. Realizo casamentos, batismos, conversões, ouço
confissões, realizo ritos fúnebres, vou aos hospitais realizar extrema unção, aplicar passe curativo,
praticar todo e qualquer ato inerente ao sagrado ofício de pai de santo junto a umbandistas e não
umbandistas. No que se refere ao ato de ouvir confissões, temos que nem todo padre é apto a fazê-
lo. Apesar do padre e do bispo serem ordenados há um teste de idoneidade aplicado pela igreja
católica. Somente estes aprovados podem ouvir confissões. Não há centralização de poder e
ordenações dentro da Umbanda. A espiritualidade superior e nossos próprios atos como seres
humanos são o nosso verdadeiro teste de idoneidade.

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DIRIGENTE

Dirigente é aquele que dirige. É o gestor, o administrador. Vejam, cada termo empregado
remete a um tipo de pensamento e este tipo de pensamento irá guiar os atos e a postura do
sacerdote de Umbanda.

Aquele que se considera apenas e unicamente dirigente, ou seja, não aquele que se intitula
dirigente, mas assume tal postura de gestor de médiuns, agirá diferente de um pai de santo. Se pai é
quem faz nascer e quem cuida tornando-se presença contínua na vida do médium chamando-o de
filho e o filho chamando-o de pai, o dirigente não age desta forma. Não há julgamento aqui e sim,
exposição de fatos. O dirigente organiza o terreiro, faz as firmezas, recebe e instrui os médiuns
chamando-os pelo nome ou até pelo termo irmão e irmã. Não se responsabiliza pelos atos, atitutides
e problemas que ocorram fora do terreiro. Seu trabalho restringe-se às sessões de Umbanda, as giras.
Terminando os trabalhos termina sua responsabilidade. Ouvi, uma certa vez, de um dirigente
espiritual de Umbanda que ele era “um administrador de médiuns”. Organizava e fazia-os crescer
pelo seu método. Não havia obrigação para com as suas coroas e vice-versa. Apenas o respeito
comum a todo e qualquer ser humano não havendo hierarquia na vida cotidiana se desonerando de
dar a benção ou de recebê-la mantendo postura de amigo. Ao começar a gira, há quem comanda por
questão de conveniência e obrigação, tendo em vista que alguém deve responder, organizar e até
punir, como em toda e qualquer empresa o gestor deve fazer e, seus colaboradores, se submetem à
sua liderança sem vínculo de obrigação maior do que esta. Repito, não há julgamento. Há exposição
para fins de estudo.

MADRINHA E PADRINHO

O termo madrinha e padrinho informa que o pai e a mãe são os Orixás. A função do padrinho
é apresentar o filho deste Orixá ao mesmo. É o mesmo fundamento do padrinho e madrinha do
batismo, apresentar o batizando aos Orixás e à Olorum. Ao invés de se intitular o pai, aquele que fez
nascer para o Orixá, o padrinho se intitula desta forma porque apresenta-o aos seus verdadeiros pais,
os Orixás. Contudo, sua postura e atitude são as de um pai e de uma mãe, ou melhor, a postura de
um padrinho quando na ausência dos pais. Assume a função de pai porque os mesmos estão no orun
e entregaram seus filhos aos cuidados do padrinho e da madrinha de santo. Mantém-se o termo “de
santo” pelos mesmos motivos elencados no tópico pai de santo.

PRESIDENTE

O termo presidente é mais encontrado nos terreiros com forte presença da doutrina espírita.
Trata-se de pessoa fixa na posição de presidente de mesa ou pode ser um cargo rotativo por sessão,
por tempo ou por tipo de trabalho. É aquele que apenas lidera naquele momento. Sua postura e
atitude é a de organizador do ato em si se desobrigando de qualquer responsabilidade posterior por
pura impossibilidade por conta das próprias característica do cargo. Como o mesmo é rotativo e pode

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ser exercido por qualquer um, a hierarquia é alterada continuamente não exercendo ninguém a
liderança permanente. Há exceções, mas mesmo nestas exceções, sendo apenas um presidente de
sessão, apenas aconselha conduta condizente com a doutrina da casa fora do terreiro. Contudo, não
há obrigação maior do que esta. De caráter menos abrangente do que o dirigente, que se mantém
líder em todos os momentos e responde pelo grupo, o presidente exerce cargo desonerado de
responsabilidade a não ser de caráter moral por algum problema ocasionado. Não é pai, não é
padrinho, não é sacerdote, não é dirigente. É presidente de sessão.

ZELADOR DE SANTO

O termo zelador de santo atrai para si uma função e responsabilidade específica que modifica
o tipo de trabalho e o cuidado com o filho de santo. Aquele que não se intitula pai de santo, sacerdote,
dirigente, padrinho ou presidente assumindo o termo zelador de santo está deixando claro que ele
cuida não só do Orixá e das entidades do filho de santo de Umbanda em caráter espiritual, mas
também zela pelas quartinhas e fundamentos de seus Orixás e entidades dentro do seu terreiro. O
nome diz muito, zelador de santo. Zela pelos fundamentos dos Orixás dos filhos podendo ou não
cobrar por esta tarefa sagrada. O zelador de santo cuida dos fundamentos (assentamentos,
quartinhas, firmezas).

O termo e função zelador de santo não é muito utilizado dentro da Umbanda. É muito mais
comum, dentro da Umbanda, que os filhos de santo tenham seus fundamentos de Orixás e entidades
em suas próprias casas e assim, o zelador de santo é regime de exceção. Os terreiros de Umbanda e
a própria Umbanda é simples e transmite a simplicidade de seus ritos e fundamentos a seus
praticantes.

TERMINOLOGIA MISTA OU CARÁTER MISTO DE GESTÃO

Há, com toda certeza e por conhecimento prévio, outras formas e termos empregados àquele
que lidera uma corrente de médiuns. Há gestão coletiva em que muitos são tidos como pais de santo
ou sacerdotes ou apenas presidentes. Há presidentes que são mais do que organizadores ou gestores
de sessões e há métodos ainda a serem criados e catalogados. Colocamos aqui os mais conhecidos
até o presente momento.

TIPOS DE TERREIRO

TERREIRO DE VÓ

Lembro-me de uma vez em que o Pai Medeiros, desceu a serra para visitar o terreiro da Mãe
Dagmar no meu início de vida umbandista. O Pai Medeiros dançava feliz e sorria o tempo todo. No
final da gira, ele disse encantado, “Nossa! Lembrou muito o terreiro da minha vó”. Eu não entendi
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nada na hora. Pensei: “Ué? Terreiro não é tudo igual? Não são assim todos”? Eu ia na festa de Iemanjá
quando era médium iniciante e pensava: “Caramba! Cada terreiro mais lindo que o outro. Grandes e
bonitos! Nossa! Tem cada terreiro pequeno e feinho, né”? Como eu era um grande babaca! Como
era forte minha catarata espiritual. O terreiro da Mãe Dagmar era a essência do terreiro de vó.
Metade casa, metade terreiro. A família toda ali trabalhando. Um na porteira, outro na consulta,
outro como cambone. A assistência era quase da casa e quando alguém tinha uma “dor de barriga”,
era só bater palma ali na porta que a mãe Dagmar estaria lá. Terreiro de vó. Pai Medeiros foi genial.
Pessoas que inspiram mesmo uma década depois.

Irmãos, ao longo dos anos fui entendendo o que o Pai Medeiros disse naquela noite. Fui
conhecendo terreiros grandes, bonitões e espetaculares. Muitos, lotados de axé. Outros, lotados de
orgulho e vazio de tudo. Roupa bonita, bebida importada para as entidades, circo montado e armado.
Curimba enorme. Quase um show. Nos atabaques sabe o que saía? Nada. Só barulho sem energia.
Ponto cantado é oração. Umbanda reza pelo ponto cantado, ensinou meu Pai Paulo Ludogero. Sabe
como é lá no terreiro de vó? Filho de santo cantou o ponto errado ou tentou dar uma enfeitada a vó
só olha de canto de olho e o ogã conserta na hora. Terreiro de vó tem comando, mas tem briga
também. Que terreiro que não tem briga? E toda briga de terreiro é igual. São as mesmas coisas
sempre. É fulano que não ajuda na limpeza, é beltrano que não veio na gira passada e não falou nada,
é outro que foi na balada e postou foto no face quando deveria estar na gira, é não sei quem que
falou de não sei quem, aquela é puxa-saco etc. É verdade ou não é? Isso se chama vida. Isso se chama
verdade. Não tem grupo de pessoas, seja terreiro, trabalho ou família que não tenha “arranca-rabo”.
É aquele terreiro em que a mãezinha levanta para dar uma bronca porque tem filho que não está
cantando direito e que fulano não acendeu a vela de anjo de guarda. Aí, o fulano abaixa a cabeça
concordando e pede desculpas. Quando a mãe fala, irmão, a mãe está certa. Pode falar que é mentira.
A gente sabe que a mãe está certa porque a mãe tem coroa de verdade. Coroa feita na fé e não no
dinheiro. Bateu coroa na esteira e não na nota de cinquenta. Coroa de galho de arruda, folha de guiné
e reza pronta na ponta da língua.

Irmãos, tem gente que tira sarro do terreiro de vó. Diz que a mãezinha “fala tudo errado” e
que não sabe de nada. Não sabe nem as sete linhas direito e não sabe o que é arquétipo. Diz que é
terreiro de gente burra. Quando escuto isso, só dou risada. Você vai no terreiro do sabe-tudo-tirador-
de-sarro-da-mãezinha e só tem nariz empinado. O terreiro de vó é lotado de gente verdadeira que
acorda cedo para trabalhar e chega no terreiro para encontrar conforto e não tem medo de dizer
que tem vícios e defeitos. Terreiro de gente que respeita a mãezinha de santo e coitado do filho que
não respeitar! Não tem incorporação mais linda do que Ogum baixado na vó. A vó quando está com
Ogum em terra, gira como guerreiro e aquela dor na perna e nas costas dela some. A vó dança e gira
como se fosse outra pessoa. É a coisa mais lindo do mundo.

Terreiro de vó aceita todo mundo e todo mundo a vó aceita do jeito que é. Não precisa ter
cartão de crédito ou carro importado para entrar. Não precisa de mais nada além da própria fé. Não
precisa ter instrução e não precisa ter palavreado bonito. É o terreiro do Seu José e da dona Maria
que conduziu a Umbanda até as nossas mãos. Então, eu te pergunto: Tem lugar para a médium Dona
Maria no seu terreiro? Se a resposta for não porque a Dona Maria não vai entender nada do que
digo, já que ela não sabe ler e nem escrever, tem alguma coisa errada aí na sua casa de axé. Uma
coisa é a Dona Maria não se enturmar com o pessoal. Outra coisa totalmente diferente é não acolher
a Dona Maria porque ela não sabe ler. Entende a diferença? Entende como os terreiros de hoje em
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dia estão se formando? Não há lugar para analfabetos e humildes. Onde está a caridade e a
humildade? Se a Dona Maria não pode entrar porque não tem dinheiro, aí a coisa já está bem pior.
Uma coisa é não poder contribuir monetariamente para o sustento da casa e outra coisa é não querer
contribuir. Se a regra for: “Sem dinheiro não tem terreiro”, está errado ou estou errado?

Vamos respeitar o terreiro de vó. Vamos respeitar as Donas Marias e os Seus Josés. Vamos
respeitar os terreiros familiares tocados com amor, com fé e tradição. Saravá a todos de Umbanda e
a todos terreiros de vó.

LOCAÇÃO COMERCIAL

A locação comercial, como o próprio nome diz, trata-se da organização de um terreiro, em


sua parte física, dentro de um salão, galpão, barracão, sala ou imóvel de caráter comercial para
ritualizar e exercer suas atividades.

A Umbanda requer espaço para sua prática pois, são muitos os filhos de fé e as consultas
requerem o mínimo de espaço para duas pessoas ou, caso seja o sistema de um cambone para cada
médium de consulta, três pessoas. Levando em consideração que basta abrir as portas de um terreiro
de Umbanda que logo passa a surgir uma fila de pessoas necessitadas, um espaço maior sempre será
muito bem vindo. Contudo, o aumento de espaço e uma locação depende de fiador ou seguro fiança,
bem como o compromisso mensal em pagar o aluguel. Levando em consideração que a Umbanda
atende os necessitados de forma gratuita e as doações e mensalidades não suprem o valor final de
sustento das atividades, pouquíssimos terreiros optam por esta modalidade. A locação de um galpão
gira em torno de R$ 2.500,00 até R$ 10.000,00 dependendo da localização e do tamanho. Caso cada
médium contribua com R$ 50,00 deve-se ter na corrente mediúnica o total de cinquenta médiuns
pagantes (nem todo filho de fé possui condições financeiras para contribuir com seu terreiro) 2
somente para pagar os custos com locação de baixo custo (R$2.500,00). Sobram as despesas de água
e luz, velas e material para manutenção do congá, pintura e reparos, bem como toda e qualquer
responsabilidade inerente a um imóvel e a um terreiro. Não é fácil e, quase que na totalidade das
vezes, o pai de santo supre de seu próprio bolso esta falta de recursos. Alguns terreiros utilizam as
aulas, os cursos e os eventos de arrecadação para fechar esta conta e continuar a prestar a caridade.

TERREIRO COMPARTILHADO

O terreiro compartilhado vem surgindo como uma opção viável para a falta de dinheiro e o
aumento de praticantes de Umbanda.

Encontramos isto acontecendo por meio de locação por dia de certos locais para a prática de
Umbanda como, por exemplo, o Santuário Nacional da Umbanda em São Bernardo do Campo ou até
mesmo a divisão de gastos entre dois ou mais terreiros junto a um mesmo imóvel podendo ser um
galpão, por exemplo. Ainda neste mesmo sentido, há terreiros que disponibilizam seu espaço de

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A média entre inadimplência/impossibilidade é de 20 a 30% do total de médiuns de um terreiro.
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práticas ou seu anexo para seus filhos de santo que já estão preparados para abrir seu próprio
terreiro. Ao invés de abrir outro terreiro em outro imóvel abre-se seu próprio terreiro no mesmo
local ritualizando em outro dia da semana. A lógica consiste no seguinte pensamento; as giras
ocorrem uma vez por semana e as aulas ou grupo de estudos com desenvolvimento mediúnico
também. Sobram cinco dias de total inatividade do terreiro podendo abrigar outros terreiros e
atividades de uma mesma tradição. O congá do terreiro é um só e cada pai de santo tem em sua casa
seus próprios fundamentos. São novos pensamentos que surgem diante de novos tempos. Tudo está
caro e uma crise financeira assola o mundo. Unir esforços e espaços para o bem comum torna-se um
pensamento inteligente. Tudo tem seu preço, é claro. É preciso muito diálogo e ter regras bem
estabelecidas sobre quem é filho de santo de quem, quais são os fundamentos, o que pode ou não
ser feito, quem decidirá ou será o responsável por qualquer problema seja jurídico, fiscal ou religioso.
Compartilhar algo requer compreensão, paciência, ordem e disciplina. Aliás, como tudo na vida.

TERREIRO EM CENTROS HOLÍSTICOS

A falta de espaço e dinheiro bem como a simplificação da vida nos traz mais uma forma de
praticar a caridade. Surge, portanto, atividade de atendimento na Lei de Umbanda em salas
disponibilizadas dentro de centros holísticos em dias e horários predeterminados em salas
disponíveis no local. Por exemplo, toda sexta-feira, das 19h30 às 22h30 a sala 2 abrirá uma gira de
Umbanda em que dois ou três médiuns atenderão o número de 20 ou 30 pessoas necessitadas. Nada
se paga pelo espaço, as firmezas, assentamentos e congá são firmados na residência dos médiuns e
a caridade é prestada em local emprestado, cedido. Toda solução é fruto de oportunidade, diálogo e
fé no que as entidades dizem, tendo em vista que são elas que irão autorizar ou não o trabalho no
local e como serão edificadas as defesas para o bom andamento das atividades espirituais.

FORMAS DE INGRESSO NA CORRENTE MEDIÚNICA

Cada terreiro possui uma forma específica de ingresso na corrente mediúnica. As formas de
ingresso características de cada terreiro varia de acordo com a tradição desta casa, com os problemas
enfrentados em situações anteriores e que visam a correção do problema. Um terreiro é como uma
pessoa. Possui história e com esta experiência tenta evoluir em seu ciclo de renovação de médiuns.
Lembrem-se, filhos de santo possuem ciclos dentro de nossos terreiros. Nem todos permanecerão
por muito tempo. Existe um terreiro certo para cada pessoa. O que não existe é um terreiro correto
para todos.

O método mais encontrado de ingresso na corrente mediúnica é o chamado pelas entidades


que prestam consulta nas giras abertas e públicas. Por experiência, sabemos que este método possui
algumas falhas que se sobressaem posteriormente e que atrapalham a organização e hierarquia do
terreiro. O terreiro que permite a qualquer entidade chamar um consulente para a corrente verá
uma fileira de pretendentes que não possui a menor vocação para o trabalho de Umbanda e, isto, é
ruim para seu terreiro e para a religião. Não podemos crescer novamente de qualquer modo.

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Devemos pensar no futuro das atividades. Quanto mais melhor? Não. A qualidade do médium é
pesada desde o início, a educação mediúnica e pessoal ocorre desde o início. Sugerimos que apenas
o guia chefe ou o pai de santo possa fazer este pedido e podemos ter duas frentes de trabalho para
chegar ao pai ou mãe ou guia chefe. Primeiro, pode a entidade incorporada no médium de consulta
informar ao consulente que este é médium e, caso tenha interesse em seguir a Lei de Umbanda3,
deve falar com o guia chefe chamando o cambone para explicar a situação. Sugerimos que somente
o guia chefe ou os pais possam analisar tal situação. A segunda forma é pedir ao consulente que
aguarde até o final da gira para falar com o pai ou a mãe de santo e assim, passar por série de
perguntas para verificar a idoneidade do pedido e conferir se é caso de tratamento espiritual antes
de entrar ou se é caso de ingresso imediato.

Outro modo e que entendemos como mais correto é o inverso do acima descrito. Não há, em
nenhuma hipótese, o chamamento do consulente para ingressar na corrente mediúnica. O
consulente que, desejando, deve pedir aos guias ou pai e mãe de santo para entrar no terreiro
estabelecendo as regras de forma clara e objetiva. Um exemplo, alguém informa que quer
desenvolver suas entidades e assim, abrem-se duas frentes de resposta de quem ouve esta
afirmação: Onde você gostaria de fazer isto? Se for aqui, você se submete à hierarquia da casa tendo
Fulano de Tal como pai de santo e entrega sua coroa a seus cuidados com total confiança e respeito
aos demais que já fizeram isso e que se tornarão seus irmãos de santo? Se não, nossa conversa não
pode mais prosseguir. Qualquer dúvida no que se refere aos ritos, hierarquia ou afirmações aqui ditas
devem ser esclarecidas diretamente com o pai de santo do terreiro no horário X, Y, Z. Aqui, no Templo
Sete Montanhas do Brasil (T7) pedimos para os interessados ficarem até o final da gira para falar com
o pai ou a mãe de santo. Quem não pode ficar até o final não tem condições de ingressar na corrente
porque é necessário chegar antes do início e sair após a gira caso queira seguir as Leis de Umbanda
dentro de uma corrente mediúnica. Aquele que não se submete à hierarquia do terreiro não tem
como receber os cuidados devidos em sua coroa do pai de santo. Quem não confia não pode ter
confiança. É uma questão de ordem e a ordem é o princípio formador de um terreiro de Umbanda.
O diálogo é importantíssimo e necessário mas, antes do diálogo ter sua possibilidade de existência, é
preciso que as regras da conversa sejam previamente estabelecidas. Há até mesmo Orixás
fiscalizadores de regras e princípios. Temos Xangô com a justiça divina entregando a cada um aquilo
que lhe é devido. Temos Exu fiscalizando o ingresso e a saída das pessoas e também fiscalizando seus
pensamentos. Aqui, Exu como Orixá independente do seu culto existir ou não dentro da Umbanda.
Existe uma força no universo que cuida disto e damos, aqui no T7, o nome de Exu (não confundir com
as entidades Exu). Temos Ogum, o senhor da ordem e da Lei de Umbanda, trabalhador severo da
manutenção da disciplina.

Indicamos a todos os pais e mães de santo que não insistam no ingresso de nenhuma pessoa
para dentro da corrente mediúnica. Sugerimos que esta insistência sem motivo cesse para que os
indivíduos tenham sua discricionariedade estabelecida e possam cumprir com seu livre arbítrio
arcando com suas próprias consequencias. Filhos de santo que foram obrigados pelo medo a entrar
no terreiro nunca prestarão juramento solene de estar na Umbanda com o coração livre e
desimpedido de qualquer ameaça. Libertemos os filhos de santo da obrigação de ali estar na corrente
mediúnica e verão que a rotatividade dos mesmos diminuirá e o número de adeptos da religião

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Seguir a Lei de Umbanda e não “desenvolver sua mediunidade”. Não se desenvolve a mediunidade apenas. O chamado
é para cumprir e seguir a Lei. Quem ingressa no terreiro para desenvolver já entrou pela porta errada do terreiro.
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crescerá com qualidade. Os maiores motivo para a alta rotatividade de filhos de santo dentro de um
terreiro são, primeiramente, a obrigação de ali estar, segundo, a falta de regras claras do terreiro e,
por fim, a desorganização da casa.

ORGANIZAÇÃO DO TERREIRO

Para organizar um terreiro não precisamos de livros de regras e sim, de regras claras e
precisas. Quando darei passe? Como faço para entrar na corrente? Como dou consulta ou como
chego até a possibilidade de dar consulta? Existe um caminho, existem graus a serem percorridos,
como eu aprendo sobre os Orixás, sobre os guias? Todas estas perguntas básicas e simples de um
filho novato no terreiro devem ter pronta resposta e o pai de santo não pode ter medo de respondê-
las da forma que são oferecidas em seu próprio terreiro. Exemplo, há cursos? Não ou sim e pronto.
Não enganemos os ingressantes dizendo que existe curso somente para mantê-lo nas fileiras dos
médiuns pagando mensalidade sob a promessa que não será cumprida. Quando darei consulta?
Quando você for abaré mirim4. Cada terreiro tem sua regra. Se estas regras são expostas e claras ou
não é outro assunto. Não devemos enganar ninguém e precisamos ter confiança daquilo que falamos.
Se sim é sim, se não é não e ponto final. Caso o ingressante não goste deverá procurar outro terreiro
ou talvez, caso seja do desejo da espiritualidade superior ou do próprio pai mudar algo, que seja
mudado. Saibamos também que a espiritualidade nos testa para saber se já estamos diante da
evolução necessária e do devido aprendizado, ou seja, se já aprendemos e suficiente e reproduzimos
estas soluções aprendidas para que possam nos entregar o próximo degrau da evolução. Sem que
tenhamos conhecimento, sem que tenhamos merecimento, sem que tenhamos provado nosso valor
não obteremos evolução no degrau espiritual à luz de nosso Pai Oxalá. A Lei de Umbanda é justa e
não alça ao alto aqueles que não aguentam tamanho fardo.

Desnecessário, portanto, a escrita de um livro de regras. Caso seja do agrado do pai ou mãe
a escrita de um livro neste sentido, não há problema algum. É preciso, anteriormente à isto, verificar,
através de análise pessoal e íntima, se este ato não irá trazer mais trabalho do que evidentemente
solução ao problema. Consideramos mais eficaz reproduzir as regras e afirmações de forma oral e
através de exemplos de conduta do que através da escrita. Acreditamos, no T7, mais em postura e
em sermos nós mesmos nosso livro de regras próprio.

PODEMOS DIZER NÃO?

Não só podemos como devemos agir de tal maneira. Um filho de santo que claramente não
se ajustará às regras da casa deve ser esclarecido sobre tal situação deixando bem claro seus motivos
quando for possível. Exemplo, não podemos dizer a alguém que está com depressão profunda que
este estado de sua mente atrapalha o trabalho mediúnico e NÃO PODE. Não. Devemos informar
carinhosamente que o momento é de tratamento espiritual e, logo após a melhora vibratória e

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Na tradição do T7 temos sete graus advindos do Primado do Brasil a saber, boja mirim, bojá (suprimido aqui neste
terreiro), boja guaçú, abaré mirim, abaré, abaré guaçú, cabeça de morubixaba.
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equilíbrio mental, seu corpo emocional mostrará resultados tornando-se novamente compatíviel
com ajuda ao próximo. O momento é de ajudar a si mesmo.

No mesmo sentido, devemos esclarecer àqueles que não aceitam as regras da casa que ali
não encontrarão uma boa casa. Veja, alguém que já comparece ao terreiro afirmando que é
trabalhador de Umbanda a mais tempo que você e que ele deve ingressar na próxima gira dando
consulta é alguém que merece ser negado seu ingresso. Caso este trabalhador deseje ter suas
próprias regras e trabalhar da forma que bem entender deve abrir seu próprio terreiro. No terreiro
que você, irmão ou irmã, lidera é a espiritualidade maior que determina quem deve fazer o que e,
neste caso peculiar e comumente encontrado na lida diária dos terreiros, sabemos de antemão os
problemas que surgirão advindos da prepotência de caráter e da ausência de humildade
apresentada. Todo terreiro deve apresentar aos seus praticantes os limites do que lhe é permitido e
devido. Todo médium de Umbanda, seja pai ou filho, deve saber de suas obrigações e deveres dentro
de um terreiro e também sua posição na hierarquia da casa mesmo que esta hierarquia seja diluída
em diversas frentes de trabalho ou exercida de forma rotativa. Por mais que tenhamos terreiros ou
grupos de trabalho com liderança compartilhada alguém, quando o problema surgir, está obrigado a
responder e resolver este problema de forma imediata. Exemplo, um Oficial de Justiça está na porta
do terreiro com uma intimação para fechar as portas por conta da falta dos documentos necessários
para a atividade ali exercida. Alguém tem que assinar, receber, encaminhar e resolver a questão. Uma
pessoa passa mal dentro da área de trabalho enquanto ali está ocorrendo um atendimento. Alguém
deverá assumir aquela responsabilidade. Caso o terreiro não saiba quem é ou finge não ter alguém
ocupando este cargo de liderança, basta verificar para quem os olhares serão dirigidos caso isto
ocorra. Esta pessoa é o responsável e é considerado o líder do terreiro. Não há como negar. Todo
grupo possui alguém que assume a posição de líder, seja formalmente ou de de caráter informal, por
reconhecimento do trabalho e da postura mantida ao longo dos trabalhos.

MÉDIUM EXPERIENTE É DIFERENTE DE MÉDIUM QUE NUNCA FOI UMBANDISTA?

A resposta rápida e clara é não. Ninguém possui diferença no ingresso dentro de um terreiro
de Umbanda. O que temos são diálogos diferentes. Vamos à eles:

PESSOA QUE JÁ CONHECE A UMBANDA

Se esta pessoa que deseja entrar no terreiro já conhece a Umbanda é porque já participou de
algum terreiro e assim, sabe que terreiros tem problemas, grupos que são mais amigos entre si do
que outros, existem grupos de limpeza, obrigação de contribuição mensal para sustento das
atividades, dia de gira, dia para o desenvolvimento e assim por diante. Apenas e unicamente não
sabe como o seu terreiro funciona. Este é o momento para expor. Uma dica importante para quem
está nesta situação e não é o pai ou a mãe, nunca inicie sua apresentação falando mal do terreiro
anterior. O pai ou a mãe que está ali na sua frente não pensará que lá era uma bagunça e sim, que
ele será o próximo a ser chamado assim ou que seu terreiro será o próximo a ser abandonado. Não
importa o que tenha acontecido. O primeiro pensamento será este. Comece falando que você tem o
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desejo de entrar no terreiro e gostaria de saber o que deve ser feito. Após, comece por perguntar o
que tem dúvida e que se relaciona com os problemas anteriores. Exemplo: você teve problema com
os pagamentos das mensalidades no outro terreiro e foi expulso porque deixou de pagar. Isto é
horrível e não deve acontecer. Não é algo que a Umbanda prega. Assim, pergunte: Se um dia eu não
tiver condições financeiras de pagar a mensalidade do terreiro eu serei expulso? Apesar de ser uma
pergunta dura e muito direta não fala mal de ninguém e de nenhum terreiro.

PESSOA QUE NÃO CONHECE A UMBANDA

Se esta pessoa que deseja entrar nunca fez parte da Umbanda é o momento certo para
informar que a religião é séria e que não serve para incorporar somente. A gira de atendimento ao
público é apenas 10% das atividades do terreiro e dos filhos de santo. A Umbanda começa no
momento que acordamos e oramos à Olorum e, às vezes, se estende durante o sono nas bilocações
a serem convocadas ou praticadas para permanecer no plano espiritual junto às entidades e ajudar
no combate aos espíritos negativados e participar dos resgates de espíritos perdidos solicitando
ajuda.

Sendo uma conhecedora da Umbanda ou não, o momento do pedido de ingresso é a


oportunidade inicial para conhecer o ingressante e o ingressante conhecer a casa. Caso esteja em
dúvida se aquele pedido de ingresso é legítimo ou leviano, peça para conhecer outras casas ou
retornar na assistência para mais vezes a fim de lhe testar a vontade de ser umbandista. Lembre-se,
não precisamos de pessoas levianas e sim, de trabalhadores da luz. Um soldado bem treinado vale
por um batalhão perdido em batalha. Volume só faz peso.

ESTUDO DE CASO: médium que já foi pai de santo e deseja entrar na corrente

O estudo de caso da semana é mais do que interessante. É transformador.

Um pai de santo nos procurou para ingressar na corrente mediúnica sob o pretexto de que
deveria entrar já como médium de trabalho portando suas guias e que já conhecia seus Orixás e
entidades. Mostrou antipatia por ordem e por regras, bem como deu de ombros à hierarquia do
terreiro. Deseja simplesmente ter um lugar semanal para incorporar e dar consulta sem o
compromisso de cuidar, limpar, conviver, ser um exemplo. Obviamente, não há lugar para a soberba
dentro de um terreiro. Alguém que já foi pai de santo deve ter em mente o que um pai de santo
pensa e as responsabilidade do cargo. Porém, como eu, Adérito tenho apenas 38 anos de idade e
quem me procura normalmente é mais velho do que eu pensam que podem qualquer coisa em nome
de suas experiências espirituais e se esquecem do óbvio. Se a espiritualidade determinou que eu
fosse o pai de santo de uma casa e que meus Orixás de coroa e meu mentor moldassem minhas
experiências no sentido de ser firme e determinado na busca da verdade e da clareza de
fundamentos, não é por acaso que envia as pessoas certas para receberem as respostas que precisam
ouvir. Não é uma questão de inflexão de ideias e sim, de missão sacerdotal. Devemos confiar no que
fazemos e ter a firmeza do que falamos sempre reconhecimento caso estejamos em erro ouvindo a

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espiritualidade superior. Se o Caboclo Sete Montanhas disser algo contrário será corrigido ou dito.
Portanto, neste caso, forço-me a cumprir os exemplos que adquiri com meu pai de santo Paulo
Ludogero, minha mãe Katia Ludogero e minha avó Maria Imaculada para informar que uma tradição
de Umbanda possui regras e graus. Não portando o grau de abaré mirim não há que se falar sequer
em utilização de guias, que virão ao longo do tempo. Não há ponto riscado confirmado no chão do
T7, não há confirmação de Linha e Falange tampouco conhecimento sobre como se comporta
perante Orixás e consulência. Assim, negado tais pedidos informados como sendo obrigações que eu
teria que acatar e nunca mais retornou às giras como assistência. Perde-se um problema que poderia
ter quebrado a corrente por sua soberba e falta de humildade. Mantém-se a coesão do grupo não
por medo mas, por cumprimento de regras. Regras claras deixam a mente do pai de santo tranquila
e o sono leve.

SEMANA 02
QUAL É A FUNÇÃO DO SACERDOTE?

Abordamos na semana passada alguns aspectos inerentes à função do pai ou da mãe de


santo. Sabemos que o sacerdote deve ter, antes de tudo, função de liderança. É ele que responde
pelo grupo e mantém a ordem e a disciplina.

O pai de santo também deve ser o responsável por realizar todos os atos de firmeza do
terreiro antes das giras e também durante os dias da semana, a saber alguns: descarrego da energia
negativa no dia de segunda-feira junto à tronqueira por ser dia das almas, de Obaluayê e de toda a
esquerda, acendimento de vela para Ogum abrir os caminhos dos necessitados no dia de terça-feira,
manutenção do equilíbrio energético do terreiro junto ao dia de quarta-feira com o amparo de Xangô,
solicitar o pão em cada mesa de seus filhos acendendo e firmando para Oxossi no dia de quinta-feira,
irradiar as sete linhas de Umbanda junto à coroa dos filhos pela fé de Oxalá na sexta, aos sábados
zelar pela família junto à Iemanjá e aos domingos pedir sabedoria e analisar a si mesmo sob a
irradiação de Nanã, cuidar semanalmente, de preferência no dia de gira de atendimento ou nas
segundas-feiras, de toda a esquerda da casa seja na porteira ou tronqueira com seus assentamentos
e firmezas, manter as águas do mar e de cachoeira sempre à disposição para limpeza do terreiro e
imantação das guias (fios de contas), ouvir os filhos de santo que precisam de auxílio, atender a
pedidos de descarregos de seus lares quando estes filhos estiverem em dificuldade e sempre que for
possível (cada pai sabe onde o calo mais aperta), cobrar os filhos de santo no que se refere às suas
mensalidades mantendo sempre o coração aberto àqueles que nada podem pagar, manter os grupos
de trabalho em ordem e assim por diante, talvez, de forma infinita e se adequando a cada tradição
de Umbanda praticada em cada terreiro em todo mundo.

Mais do que atividades corriqueiras e habituais descritas acima, a função do pai de santo é
representar as entidades de luz (caboclos, pretos velhos, crianças, boiadeiros, baianos/malandros,
marinheiros, ciganos etc) neste plano da existência. Ser o porta voz da espiritualidade superior
entregando um pedaço da mensagem de Olorum a cada um. Por outro lado, também deve ser fonte
de correção diante de infrações à Lei de Umbanda. Lembrando a cada dos que aqui estão lendo estas

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linhas que toda regra possui sua exceção e que temos, diante de nós, exemplos de conduta e nunca
regras que toda a Umbanda deve seguir. São conselhos que podem ou não ser seguidos.

QUALIDADES DE UM BOM SACERDOTE

Um bom pai ou mãe de santo sabe ouvir a espiritualidade superior e também os seus filhos
de santo para analisar os seus atos e corrigir os seus erros. Erramos muito e corrigimos na mesma
proporção ou deveríamos assim proceder. Mais do que acertar em algo, um bom pai de santo é bom
em reconhecer erros e afastá-los de seu cotidiano. Ser cabeça dura nunca tornou a vida das pessoas
melhor ou trouxe a paz.

Saber lidar com as adversidades é sinal de um bom pai de santo. Problemas acontecerão,
ventanias chegarão e derrubarão o telhado do terreiro, um cano irá estourar dentro da parede e
precisará de conserto quando não se tem dinheiro para tal obra, uma conta chegará por qualquer
motivo (esquecimento ou obrigação que não tinha conhecimento), tragédias familiares, doenças. A
vida é dura e complicada. Será mais dura e mais complicada se não soubermos ou aceitarmos que
uma grande parcela do que ocorre conosco não é fruto de demanda ou energia negativa e sim,
ensinamentos que somos obrigados a aprender por meio da experiência própria. Deus é o maior dos
mistérios e nunca conseguiremos compreendê-lo. Se um dia isto acontecer, seremos nós o próprio
Deus e assim, estaremos em erro porque Deus é um só e não sou eu nem você.

TIPOS DE LIDERANÇA COM BASE NA PERSONALIDADE DE CADA INDIVÍDUO

Outra qualidade de um bom pai de santo e que acabou por se tornar um tópico de nosso
curso TEORIA DO SACERDÓCIO é o tipo de liderança e personalidade de cada um para se chegar à
paz de espírito e à coesão de ideias dentro de um terreiro.

Muitos que encontro no decorrer de palestras, aulas e convivência tentam se parecer com
alguém que entendem ser mais iluminado imitando suas posturas de vida, suas palavras e seus
hábitos. Obtem a partir desta atitutde frustração e, algumas vezes, a desistência da superação de
seus próprios vícios. Tentam extirpar os maus hábitos suprimindo-os ou os escondendo do público
praticando estes em particular ou se culpando por ter vontade de ser quem realmente é e julga não
poder ser. Claro, o bom senso aqui é a chave. A vontade de praticar crimes ou de machucar pessoas,
que dá no mesmo ao final das contas, merece ajuda profissional psicológica. No mais, gostar de
dançar, estar com seus amigos e familiares, beber cerveja de forma moderada, tomar sol em uma
bela praia, calçar seu chinelo de dedo ao final do dia e assistir uma boa série ou filme, ficar no sofá
aos domingos, sair com a família e ir ao parque, passear com o cachorro, praticar esportes, ficar
nervoso com o juiz da partida, querer ter uma boa casa, um bom carro, ter plano de saúde e, para
isto, ter que fazer hora extra na empresa para pagar os boletos e tudo aquilo que é considerado
errado para o grande guru iluminado dos rincões do Himalaia somente demonstra que somos seres
humanos e a Umbanda é uma religião que integra e não segrega da vida cotidiana.

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Reconhecer quem somos e quais são as nossas paixões é o primeiro passo para aceitação da
vida e para a paz de espírito. Saber que podemos mudar ao longo das experiências e que estamos
nos esforçando para alcançar nossos objetivos é o necessário para o pontapé inicial de uma jornada
de iluminação dentro de nossos limites. Não é o caminho dos frouxos. É o caminho da sanidade
mental e da liderança espiritual. Sabendo disto, sabemos que tipo de liderança seremos. Um pai de
santo que se irrita contra investidas contrárias às suas ideias sem explicação alguma precisa analisar
as manifestações de seu ego e os motivos que o levam a se desesperar quando as coisas não são do
seu próprio jeito. A liderança do grupo requer concessões. O pai de santo que é sempre abusado
financeira e emocionalmente por seus liderados não é humilde. É literalmente alguém que está sendo
usado para benefício próprio de outrem. Lembro-me de um caso. Um filho de santo dizia-se
necessitado ao extremo de uma certa quantia de dinheiro para tirar sua família e seu nome da lama
e o pai de santo realiza tal empréstimo. Resultado. O filho de santo sumiu do terreiro, usou o dinheiro
para outro fim e as promessas de devolução ou de agradecimento posterior se perderam. Perdeu-se
muito para aprender a medir melhor a extensão que sua ajuda deve conter. É apenas um exemplo.
Não um julgamento.

O pai de santo aguerrido comanda com sua força de espírito. A mãe de santo amorosa
comanda com sua postura amorosa. O pai de santo calmo comanda com sua calma e assim por
diante. Parece simples mas, não o é. Insistentemente os pais e mães tentam percorrer outros tipos
de lideranças que não são fruto de sua própria personalidade gerando confusão e angústia à frente
do terreiro.

ESTUDO DE CASO: Filho que deseja conhecer outras casas e fazer cursos em outros terreiros

Uma casa deve ter regras simples e claras sobre este fato nem que a regra seja “iremos
analisar caso a caso, conforme os pedidos forem aparecendo”.

Exemplo, um filho de santo solicitou ir a uma festa em outro terreiro da região. Foi dito ao
mesmo que não há problema algum porque ele já era bojá guaçú, como a regra do T7 permite.
Pedimos desculpas se este não é o mesmo caso contido em aula. Pelas regras de nosso terreiro, um
filho de santo poderá visitar outros terreiros quando atingir o grau iniciático chamado de bojá guaçú,
ou seja, quando estiver dando passe. Quais são os requisitos para dar passes? Para que um médium
passe ao grau de bojá guaçú ele necessita ter a capacidade de incorporação estável, segurando-a por
toda a gira e sem passar mal ao final dela, passar pelo rito iniciático de lavagem de coroa e seu
cruzamento, portar a guia de Ogum (defesa), de pedra (equilíbrio) e da casa (identificação e respeito).
Este é o mínimo. Até chegar a este ponto, o filho de santo naturalmente sabe como se comportar em
uma gira de Umbanda, quando deve bater cabeça, como segurar uma incorporação involuntária,
como cumprimentar pais e mães de santo de outros terreiros, o que fazer na frente de uma
tronqueira, de um congá, quais são as vestimentas adequadas para uma visita, se pode dar consulta
ou não, se pode aplicar passes ou não e a se proteger caso algum kiumba deva ser transportado ou
algum trabalho de descarrego precise ser realizado. O prazo para se tornar um bojá guaçu varia de
um ano e meio a dois anos e meio. Depende de cada um.

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SEMANA 03

A ENERGIA DO TERREIRO PASSA PELA COROA DO PAI DE SANTO

A coroa do pai de santo é o aparelho modulador da energia que chega do congá. Esta
modulação altera a força da vibração emitida e transmite algo personalíssimo à toda corrente. Por
esta razão, cada casa possui seu axé próprio além de outros fatores ainda não estudados até o
momento.

Uma coroa com Xangô de frente e Iansã como Orixá adjunto é diferente de uma coroa com
Iemanjá de frente e Oxossi como adjunto. Parece óbvio o que acabamos de dizer, mas não
encontramos esta análise na fala dos filhos de santo que mudam de terreiro e não entendem porque
a energia que sentem é diferente. Esperam encontrar o mesmo com a modificação do todo. Isto, não
é possível. Maior fenômeno do que este é a mudança das entidades do filho de santo ao trocar de
terreiro. Isto se dá por alguns motivos. O primeiro, a entidade não podia se manifestar naquele
terreiro porque não havia por lá a linha de trabalho condizente com sua vibração. Exemplo, não há
gira de ciganos e assim, o cigano não vinha. Outro fator é a repressão. Alguns pais de santo não
permitem que seus filhos incorporem entidades mais conhecidas do que as suas e julgam que o filho
está mistificando caso tenham em sua coroa um Zé Pilintra ou um Tranca Ruas. Obrigam as entidades
a dizerem outros nomes que não os seus para trabalharem em paz. Entidades de luz não se importam
como são chamadas. Desejam prestar socorro aos necessitados. Por fim, a mudança de energia que
vibra no terreiro faz com que outra entidade passe a assumir aquela linha de trabalho. É motivo raro
contudo, presente nos terreiros e nas manifestações mediúnicas.

A coroa de um pai de santo define qual a sua missão, pelo menos, nesta encarnação. Exemplo,
um pai de santo com a coroa de Oxalá veio para aprender a unir as pessoas e não afastá-las pela
impaciência, pela incompreensão e outros vícios de hábito ou de personalidade que possa ter. Uma
mãe de santo de Ogum precisa aprender a se organizar e a afastar a procrastinação, caso contrário,
estará indo contra sua essência e não encontrará na vida sua parcela de satisfação. Achará sempre
que não presta para nada e que tem algo de errado no mundo. É incrível quando o mundo passa a
fazer sentido e se organizar sem ter mudado quando nós encontramos nossa parcela dele. Todos
possuem uma parcela desse mundo sendo o mais difícil econtrar ou aceitar que a parcela que nos
cabe é a suficiente para nossa felicidade. Não estou dizendo que sua situação atual é o que você deve
aceitar da vida e sim, que todas as pessoas possuem a sua e vão se alterando ao longo da vida. Fugir
disto, é atrair frustação e angústia pessoal. Ao reconhecer e entender que esta coroa do pai e da mãe
assume papel fundamental, unida à personalidade de cada ser humano envolvido temos a vibração
do terreiro. Todo terreiro possui uma força dominante que se transforma na personalidade da casa.
O termo egrégora se encaixa muito bem aqui.

Egrégora é a força espiritual criada pela união de vibrações/energias/axé de duas ou de um


grupo de pessoas. Duas pessoas vibrando em conjunto forma uma egrégora e esta egrégora responde
de forma inteligente como se fosse um só ser. Podemos imaginar ou classificar uma egrégora como
um campo de força vibracional gerado pelo conjunto das pessoas em um local ou em um propósito
específico. Acrescento à isso as linhas anteriores, ou seja, esta egrégora não é somente um campo
vibracional mas, também uma forma pensamento que responde de forma inteligente, possui
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regência e dominância. A egregóra que se forma é como nós seres humanos. Não em forma do corpo
porque é uma massa sem forma, mas na apresentação de sua personalidade. É uma construção
mental coletiva que une todos os presentes e os liga em um único propósito. A quebra da corrente
de médiuns em sua falta de firmeza pode desestabilizar a egrégora ou pode fazer com que esta
egrégora aja contra os anseios de dominância ou de fraqueza daquele que está na corrente. Não é à
toa que firmamos a área de trabalho de forma a isolá-la da área dos consulentes. Não é somente uma
questão de dominância da linha da esquerda na porta juntamente com Ogum de Ronda. É uma
divisão clara dos limites da egrégora da corrente para que não haja interferência negativa. Não
queremos que espíritos e energias geradas saiam dos domínios do terreiro atrapalhando a vida dos
vizinhos, bem como não queremos que a vida dos vizinhos naquele momento atrapalhem o bom
andamento dos trabalhos. É um trabalho de magia de Umbanda, de manipulação energértica, de
estabelecer locais de trabalho, isolá-lo, protegê-lo. Uma delegacia não vive sem atenção reforçada,
um batalhão do exército não funciona sem vigilância, as fronteiras dos países não sobrevivem sem os
devidos cuidados, uma casa é invadida caso não existam muros ou formas de contenção de invasores
e devemos ter limites estabelecidos para não tomar o espaço e a liberdade das demais pessoas.
Respeito e segurança aos trabalhos de Umbanda. A dominância da egrégora é do pai ou mãe de santo
ou de seu conjunto. Podemos notar facilmente que, quando temos um pai e uma mãe de santo que
atuam em conjunto e um deles não pode estar presente ou, de forma deliberada, cede o comando
da gira para o outro que normalmente comanda os trabalhos, a energia muda, a egrégora assume
outra dominância. Tudo, conforme aqui esclarecido, passa pela coroa do pai ou da mãe, bem como
pela regência da casa incluindo guias chefes do terreiro e Orixás.

AS DIFERENÇAS DE ENERGIA DE ACORDO COM A COROA DO PAI DE SANTO E DO GUIA CHEFE DO


TERREIRO

Falamos anterioremnte sobre a egrégora que se forma nos terreiros de Umbanda por conta
de sua corrente e da coroa do pai de santo ou mãe de santo que assume a personalidade da casa e a
dominância energética do grupo. Agora, vamos falar das diferenças de energia unida ao guia chefe
do terreiro.

O guia chefe do terreiro é o responsável pela condução espiritual dos filhos de santo e
também do pai ou da mãe de santo. Este guia, no plano espiritual, representa sua casa de Umbanda
e é requisitado para trabalhos em outros planos da existência utilizando a força espiritual de seu
grupo de comando. Por estas missões que ele assume e diante de sua representação junto às esferas
de combate às hordas de espíritos maldosos que tentam desestabilizar a obra de Deus com maldades,
aprisionamento, obsessões severas, vampirização energética e outros o guia chefe do terreiro precisa
assumir os riscos de tais operações, prestar contas de sua liderança e cumprir seu juramento. Um
guia espiritual, apesar de sua luz superior e ascensão espiritual evidente, não é Deus. Todo ser que
não é Deus está em constante evolução e aprimoramento. Se não estivesse, como dito
anteriormente, seria Deus. Como Deus é um só e é o único ser perfeito e imutável, todos os demais
são imperfeitos e mutáveis. Logo, o guia chefe é imperfeito e está em constante mudança assim
como todos nós mantendo as diferenças óbvias de evolução entre os ambos. Quando um guia chefe
de terreiro assume seu encargo e jura ser fiel às Leis de Umbanda transfere parcela de seu poder

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para seus filhos de fé. Precisa de trabalhadores encarnados e desencarnados para cumprir tal função,
mas ainda assim, empresta sua vibração. O simples fato de estar no comando dos trabalhos do
terreiro já é o suficiente para que sua vibração, advindas de sua coroa, ecoe nos filhos de fé. O guia
chefe do terreiro é um espírito. É um ser que passou pela encarnação humana e evoluiu
espiritualmente. Passou por obrigações e iniciações junto ao plano espiritual e faz parte de uma
ordem de espíritos trabalhadores de Umbanda. Logo, sendo um espírito, possui também sua própria
coroa ou, caso queiramos chamar assim, sua própria regência. Alguns terreiros, como o nosso, chama
esta regência de Linha e Falange. Exemplo, um caboclo incorpora em um filho de santo, risca seu
ponto, dá o seu nome e diz sua Linha de atuação (regência) e sua Falange de trabalho (regência).
Meu nome é caboclo Pena Verde, sou da Linha de Oxossi e atuo nas falanges de Oxalá. Não estamos
dizendo que todo caboclo Pena Verde é regido por Oxossi ou é de Oxossi. Estamos nos referindo ao
caboclo que se manifestou ali, naquele momento, naquele filho em específico, que não é o mesmo
espírito que se manifesta em outro médium mesmo que seja caboclo Pena Verde. Caso algum leitor
não entenda este fundamento simples e básico de Umbanda, aconselhamos completar o curso
Teologia de Umbanda para entender os aspectos iniciais do estudo de nossa religião. O guia espiritual
possui sua ordem de espíritos que presta contas à uma hierarquia. Neste caso, a regência deste Pena
Verde é de Oxossi, uma força divina que possui como representante maior uma divindade que
chamamos de Oxossi. Uma divindade pode ter um outro nome, Orixá. Pode ter um outro nome,
daimon (que é divindade em grego). Pode ter outro nome, deuses e assim por diante. Além de Oxossi,
sua regência maior, possui uma Falange de trabalho, Oxalá. Isto faz com que sua coroa una a altivez,
a liberdade, a destreza, a concentração e dedicação de Oxossi com a brancura, a calma, a paz, a sutil
energia de Oxalá. Esta energia é transmitida ao pai de santo durante a incorporação, que se mistura
à coroa do mesmo, regula a vibração de forma adequada a ser transmitida dos médiuns e consulentes
presentes na gira e temos uma força mista em atuação.

AS MUDANÇAS DE ENERGIA QUE SEUS FILHOS SENTIRÃO, CASO TENHAM VINDO DE OUTRO
TERREIRO

Diante das linhas anteriores é fácil notar os motivos que levam às modificações sentidas pelos
filhos de santo ao visitar ou mudar de terreiro durante suas jornadas mediúnicas. Contudo, vamos
um pouco mais além.

Um terreiro de caboclo é diferente de um terreiro de preto velho mesmo que, em seu nome
e pela fala das entidades exista a presença dos dois nesta liderança. Exemplo, o terreiro de meu pai
e mãe de santo, Pai Paulo Ludogero e Mãe Kátia Ludogero, chama-se Núcleo de Umbanda e Magia
Caboclo Fecha Certeira e Pai Manoel de Arruda, mas é uma casa de caboclo. Por mais que Pai Manoel
de Arruda seja um dos guias chefes do terreiro, o caboclo Flecha Certeira está mais presente e
imprime na regência da casa uma força muito forte, dominante e elevada. Pai Manoel de Arruda é
também guia chefe do terreiro, mas o caboclo é o guia responsável pelo todo e o chefe máximo das
atividades do Núcleo.

Do lado do filho de santo, a iconpreensão sobre o fato gera o chamado “correr gira” nos
terreiros. Não que podemos nos esquivar de correr gira para encontrar um bom terreiro. Estamos
nos referindo ao entrar e sair, à rotatividade sem freio. Outro fator importante para o assunto é a

21
troca de entidades, com exceção dos motivos mencionados em outro tópico. Ao visitar um terreiro,
caso o filho de fé não se aperceba das energias que envolvem o terreiro e das reações que seus
corpos extrafísicos produzirá em seu corpo denso, tomara este conjunto como pesado, nocivo,
alegre, produtivo, envolvente e assim por diante. Em verdade, quando sente como pesado podemos
estar diante de um pai de santo com coroa de Obaluayê, uma casa de caboclo e um caboclo da
Falange Xangô ou Ogum ou até mesmo Obaluayê. Claro, não podemos negar-se ao fato de que, em
raras exceções, o terreiro está sob mal comando ou com falta de cuidados básicos de defesa,
oferendas e fundamentos. Deixemos este motivo de lado para analisar coroa do pai e do guia chefe.
No terreiro dado como exemplo e sentido pelo filho de santo como sendo de energia pesada, deve
este médium ter ciência ou ser informado, caso tenha perguntado ou surgido oportunidade para
tanto, de que a sua própria energia, aos poucos, adequa-se à do terreiro excluindo este desconforto
inicial. O mesmo princípio é válido para o filho de santo que sente alegria, leveza e assim por diante.
São reações à egrégora do terreiro.

SAIBA QUEM VOCÊ É E SEJA FIRME EM SUAS DECISÕES

O pai ou a mãe de santo que não compreende quem é nunca terá firmeza em suas decisões.
Os filhos de santo sentem a indecisão de seus pais de santo. Alguns, usam de forma benéfica
compreendendo que estão todos do grupo em eterna evolução compreendendo o que é possível
fazer em cada caso, qual a melhor solução para cada problema. Outros, perceberão como fraqueza
e abusarão desta brecha para abusar dos irmãos, crescer em prestígio para fins obscuros ou para
inflar seu próprio ego agindo contra sua própria casa culminando na abertura de um terreiro sem
fundamento comandado por alguém sem missão sacerdotal ou quebrando todo o terreiro por
descrença coletiva. A espiritualidade nada pode fazer quando bem instrui o pai de santo e indica o
caminho a ser seguido, mas este, o pai de santo, opta por não seguir as instruções das entidades ou
finge não ouvir as mensagens das entidades espirituais que lhe acompanham. É uma pena que
terreiros fechem suas portas por falta de firmeza de seus pais e mães. Um pouco de pulso firme
resolve muitas questões. O equilíbrio resolve todas.

O comando nunca deixa sua cadeira vazia. Não há vácuo na liderança. Se quem lidera não
sentar corretamente no trono, no assento, na cadeira de comando alguém ocupará o lugar vago
mesmo que este lugar vago seja uma pontinha minúscula. Toda e qualquer ponta solta será
preenchida por alguém. Filho de santo ou kiumba saibam que não há lugar que não esteja vago na
linha de comando. Como dito acima, com bom senso e equilíbrio os diálogos são colocados em pauta,
os problemas dirimidos, as funções de cada um bem expostas e compreendidas reservando lugar
para as discussões que importam, as de caráter espiritual que levam ao aprimoramento do terreiro
para dar suporte aos espíritos superiores operar. Exemplo, um filho de santo que está continuamente
afirmando que o pai de santo não sabe o que está fazendo, em todas as giras quer realizar a
puxada/incorporação dos filhos da corrente sem ter nem autorização nem cargo hierárquico para
isto tampouco ser juramentado e convida ogãs para giras particulares em sua residência para mostrar
como se toca a verdadeira Umbanda. Se já chegou a este nível, basta chamar para diálogo, expor a
situação e, dependendo da resposta do filho de santo, expulsão ou ajustamento de sua conduta. Não
há porque ficar nervoso ou perder a cabeça com este fato. Uma regra ou várias foram infringidas.

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Regras claras e simples e a confiança quebrada de forma a exigir uma resposta na mesma gravidade.
Problema resolvido e lição aprendida para o pai de santo, um problema só é um problema quando
não sabemos a solução ou o tipo de conduta a ser tomada. Assim age nossa sociedade e assim
chamamos este comportamento de justiça.

O QUE É UMA GIRA E QUAIS OS TIPOS

Gira é encontro de umbandistas para a incorporação e, a partir desta, atingir um objetivo


específico seja ele o atendimento ao público ou ao próprio desenvolvimento mediúnico e espiritual.

Os espíritas chamam suas giras de sessões espíritas, os católicos chamam suas giras de missas,
os evangélicos chamam suas giras de culto e assim por diante. Veja que coloquei a abordagem
invertida. Normalmente, lemos e falamos que a gira é a missa do umbandista, por exemplo. Dissemos
desta forma em aula. Por que não abordar sob a nossa visão? Por que temos que tomar a visão de
outras religiões para fundamentar a nossa? Não há motivo para agir desta forma. A Umbanda, por si
só, possui todos os fundamentos para cultuar Orixás, trabalhar com entidades e atender a quem for
preciso e também possui seus próprios ritos para todo e qualquer momento. Não há falhas nos ritos
de Umbanda muito menos em seus fundamentos. Uma gira, portanto, é o momento em que o
umbandista se reúne consigo mesmo e suas entidades ou com outros umbandistas para manifestar
a mediunidade de incorporação ou irradiação para atender pessoas ou para desenvolver sua
mediunidade ou espiritualidade. Uma incorporação doméstica para aplicação de passe em um
familiar não é uma gira. Seria uma gira se assim procedesse o médium de forma regular em suas
atividades mediúnicas estabelecendo regras de dias e horários, mesmo que aproximados firmando
compromisso para tanto. Afirmamos acima que a regularidade é um requisito para o comprotamento
acima ser considerado uma gira, mas não confundamos regularidade como requisito para toda e
qualquer gira. Podemos ter uma gira sem regularidade. Exemplo, gira aberta e pública em louvor a
Ogum. Um dia em que terreiros se reunirão em determinado local para incorporar caboclos,
manifestar falangeiros de Ogum ou Orixás dependendo da tradição abordada. Não há regularidade.
Será um dia e somente isto. Sem repetição anual, por exemplo. Ainda assim, é uma gira. Possui o fim
de unir umbandistas para um determinado fim contendo a manifestação espiritual.

Dentro deste conceito temos algumas divisões.

GIRA DE DESENVOLVIMENTO

Há duas giras essenciais a todo e qualquer terreiro, a de desenvolvimento e a de atendimento


ao público. Uma não vive sem a outra podendo estar mescladas entre si, mas nunca deixarão de
existir. Sem desenvolvimento mediúnico não há crescimento da religião, não há atendimento ao
público porque faltarão médiuns com esta capacidade.

A gira de desenvolvimento é o ato pelo qual a caridade é prestada não ao necessitado de luz
e amparo espiritual e sim, ao médium de Umbanda. O filho de fé que mais sabe contribuirá para
desenvolver mediunicamente o filho de fé que sabe menos. Serão empregados esforços no sentido
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de esclarecer e oferecer aporte de energia em direção ao médium em desenvolvimento por meio de
algumas técnicas.

Temos a técnica da puxada simples e da puxada composta. Não estamos nos referindo ao
transporte mediúnico em que um médium puxa para si, através da incorporação, um espírito
sofredor, egun5 ou kiumba do médium para lhe empregar o choque anímico a fim cortar sua ação
direta sobre um consulente ou filho de santo. Trata-se da puxada da entidade para o campo vibratório
de incorporação do filho de santo em desenvolvimento. O filho de santo em desenvolvimento, no
que se refere à incorporação, possui dificuldade de compreender como o processo ocorre de forma
a sentir no seu corpo as reações e dar vazão à energia espiritual que a entidade que lhe acompanha
emite. A entidade emite irradiações em direção ao filho de santo e, por pura inexperiência, nada
sente ou sente tudo e não sabe o que fazer e trava ou extrapola em animismo ou mistificação. Cabe
ao guia chefe do terreiro ou ao guia chefe daquela gira, há diferença entre um e outro6, realizar a
puxada para para dentro e encaixado na faixa vibratória do médium sem que o mesmo se desvie. Por
isso, puxada. A entidade já está ali. Não há o que puxar da entidade e não há motivos para chamá-la.
O propósito e atrair as vibrações sem o desvio e adequando, de forma imediata e interativa, a energia
que o médium em desenvolvimento está sentindo. Como isto é feito na prática? É simples para quem
observa e, com certeza, o leitor já presenciou uma puxada alguma vez. O filho de santo em
desenvolvimento se posiciona na frente do guia chefe do terreiro, posiciona suas mãos viradas para
baixo fazendo um ângulo de noventa graus no seu cotovelo (basta oferecer as mãos em direção ao
guia chefe), o guia chefe pega as mãos do filho de fé, o filho de fé fecha seus olhos e começa a
modulação vibratória da puxada por meio desta modalidade. Do lado espiritual, o guia chefe está
observando as tentativas de emissão de energia, envolvimento e acoplamento energético
readequando falhas mentais, de postura corporal e vibratória do médium. Faz esta modulação por
meio de brados, movimento dos braços do médium em conjunto com os seus, baforadas, incentivos
e correções verbais. A lista de possibilidades não é exaustiva. É exemplificativa. O tempo necessário
para que cada filho de santo desenvolva sua mediunidade de incorporação varia de indivíduo para
indivíduo. Já encontramos filho de santo que incorporou suas entidades na primeira gira e também
já encontramos filhos que precisaram de um a dois anos para incorporar. A puxada composta consiste
nos mesmos ritos acrescido de médiuns experientes que auxiliam a modulação energética por meio
da imposição das mãos, baforadas, brados. A lista também é exemplificativa porque cabe a cada
caboclo incorporado em seu médium estabelecer o melhor incentivo energético para cada filho que
se encontra sob o sistema de puxada.

Outro método bastante utilizado é o giro sobre o próprio também subdividido entre método
simples e composto. O médium em desenvolvimento se posiciona na frente do guia chefe que
começa a girar o médium sobre seu próprio eixo colocando suas mãos em seus ombros literamente
forçando-o a girar sobre seu próprio eixo. Como médiuns em desenvolvimento podem cair pela

5
Nesta abordagem, egun não é todo e qualquer espírito. Egun, aqui neste contexto, é espírito obsessor que tem
consciência do que faz e age por vingança ou motivado de forma direta contra alguém específico a fim de lhe causar
dor e sofrimento.
6
O guia chefe do terreiro é o comandante do terreiro e, normalmente, tem seu nome inscrito no nome do terreiro. O
guia chefe da gira é aquela entidade que está comandando o ato. Exemplo, Templo Sete Montanhas do Brasil tem como
guias chefes de terreiro o Caboclo Sete Montanhas e o Caboclo Cobra Coral. Na gira de caboclo, estes caboclos serão
também os guias chefes da gira de caboclos. Na gira de pretos velhos, por exemplo, os guias chefes serão as entidades
incorporadas no pai de santo e na mãe de santo.
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energia gerada ou pelo medo ou pelo desconforto da situação é aconselhável o método composto,
ou seja, auxiliado por mais três médiuns formando um quadrante (guia chefe mais três) em torno do
médium. Caso o médium em desenvolvimento se desloque para longe do guia chefe, o guia que
auxilia barra sua saída com seus braços, bem como evitando que caia segurando-o pelos braços se e
quando necessário. O importante é nunca machucar ou deixar que o médium se machuque.
Umbanda é evolução espiritual. É desnecessária e criminosa a lesão corporal de um filho de santo
quando feito de forma proposital. Acidente ocorrem em qualquer lugar. A lesão por omissão ou ação
proposital é crime contra a lei de Deus e também contra a lei positivada (dos homens).

Outros métodos podem ser utilizados como a puxada coletiva, momento em que o guia chefe
da casa estende seus braços e irradia para todos os filhos da corrente sua vibração e estes, por sua
vez, sentem este poder direcionado e incorporam suas entidades.

Por fim, mas sem esgotar o assunto, o guia chefe do terreiro pode eleger substitutos para
este encargo quando há um número elevado de médiuns a desenvolver e quando desejar que estes
médiuns incorporados em suas entidades adquiram experiência neste método. Médiuns preparados
passam por muitas experiências diferentes. Não sejamos ingênuos achando que um médium, após
incorporado, pode com tudo. Pensando desta forma, teremos médiuns incorporados que não podem
com nada e podados de suas funções e responsabilidades.

GIRA DE ATENDIMENTO

Não há terreiro de Umbanda sem gira de atendimento ao público. Se alguém abre um terreiro
de Umbanda que não presta a caridade através do atendimento ao público com entidades
incorporadas em seus médiuns ou no pai de santo está fazendo algo errado ou não pode chamar o
local de terreiro ou não pode chamar de terreiro. Umbanda é a manifestação do espírito para a
prática da caridade.

A gira de atendimento ao público é o momento em que os médiuns, incorporados em suas


entidades, prestam atendimento espiritual a quem se dirigir ao terreiro. Toda e qualquer pessoa pode
ser atendida. Sim. Porém, devemos ter bom senso. Fomos procurados por um irmão de Umbanda
que perguntou se deveriam ter aceitado a presença de um senhor embriagado com uma faca de mão
entrando pelas portas do terreiro. Aqui, deve-se fazer uma leitura rápida da situação no momento
em que ocorre. Aborda-se a pessoa em sua entrada perguntado se podemos ajudar em algo,
obviamente, antes que esteja na distância de estocada da faca para saber se é hostil (dificilmente
alguém bêbado com uma faca na mão é dócil). Verificando a hostilidade, de prontidão liga-se para a
polícia local a fim de cumprir diligência imediata. Certamente, não haverá tempo hábil entre a
possível entrada da pessoa e a chegada do viatura. Alguém deverá conter a situação, de preferência
alguém com força e destreza suficiente para tanto (por esta razão também, a porteira é importante)
bem como outro deverá abrir caminho para que o guia chefe tome ciência. Nesta hora, o guia chefe
tomará conta da situação. Claro, se houver hostilidade em qualquer momento, deve-se imobilizar a
pessoa imediatamente. Caso extremo, mas que ocorreu e continuará a ocorrer pelos terreiros do
mundo como acontece em qualquer local de atendimento ao público, graças a Olorum, de forma não
habitual.

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Na gira de atendimento ao público poderemos ter regras de número de consulta ou não. Cabe
à espiritualidade do terreiro em conjunto ao comando da casa e filhos de fé estabelecer as normas
para este assunto. Exemplo, o T7 atende 5 pessoas por cada médium incorporado. Suas giras ocorrem
às quintas-feiras e devem terminar até as 22h30 para que todos possam trabalhar no dia seguinte,
quando os pais de santo do terreiro sobem a Serra do Mar para participarem como filhos de santo
da casa de Pai Paulo Ludogero e Mãe Kátia Ludogero. Não há motivos para não prestar a caridade
quando os limites de cada um é respeitado. As demais pessoas que se dirigiram ao terreiro e não
puderam passar por consulta recebem passe das entidades incorporadas. Pode ser que, um dia, o T7
tenha a capacidade de atender a todos que o procuram. No momento, não possui e reconhece isto.

Pode-se também conter outras regras como regras de vestimentas fazendo com que as
pessoas vestidas inadequadamente sejam alertadas sobre tal fato e tomadas as devidas providências
que vão desde o empréstimo/colocação de um jaleco nesta pessoa a fim de lhe cobrir o corpo exposto
até a negativa de atendimento. Cada terreiro possui suas próprias regras. Ainda no quesito
vestimenta, poderemos encontrar a obrigação de retirar os sapatos ou não. Em terreiros muito
movimento e com pouco espaço, visando maior agilidade e prevendo confusões por sumiço de
calçados durante as consultas espirituais existe a permissão para se consultar calçado. O ideal seria
ter os pés no chão para descarrego energético e contato direto com o chão sagrado do terreiro para
restituição da energia da pessoa. Cada um sabe onde seu próprio calo aperta. Afastar problemas
pode ser uma solução viável para estas falhas de caráter ou de falta de cuidado de alguns
aproveitadores que se dirigem aos terreiros para praticar crimes ou, em poucos casos, não podem
conter tal ato por motivo de doença como a cleptomania. No mesmo sentido, bolsas e celulares. Há
terreiros em que o médium que comanda a entrada e saída de pessoas junto aos passes e consultas
segura em seus próprios ombros ou mancebo as bolsas e em seus próprios bolsos os celulares das
pessoas. Em outros, pede-se para literalmente desligar o aparelho e continuar portanto o mesmo
para se evitar qualquer tipo de confusão para o terreiro alegando que estava com algo que nunca
levou à gira ou sendo literalmente furtado.

Dentro das giras de atendimento, evitamos o uso da pólvora por motivo de segurança. Já
tivemos ciência de pessoas que tiveram suas roupas completamente queimadas ocasionando
queimaduras na pele e também incendiando parte do terreiro. Deixamos o uso da pólvora para
momentos de giras fechadas ou individualizadas quando necessário e também para limpeza de
residências e preparação de terreiros. Nas giras de atendimento realizam-se curas espirituais,
descarregos, puxadas, transporte mediúnico, aconselhamentos individuais e coletivos e tudo aquilo
que for necessário, sem perder de vista a segurança de todos os presentes e mantendo sempre o
bom senso, a alcançar a evolução espiritual daqueles que procuram o terreiro. Gira de atendimento
não é balcão de serviços em que um cliente pede à uma empresa seus serviços, paga pelo mesmo e
é atendida em seus anseios. Gira de atendimento é local de aconselhamento espiritual onde impera-
se o merecimento pessoal de cada indivíduo e a vontade de Deus, Olorum. Quem ali procura
satisfação de suas vontades e desejos pessoais está no local errado, bem como o terreiro que oferece
shows e espetáculos está no ramo incorreto. Se é Umbanda exige-se respeito ao próximo, humildade
de conduta onde menos é mais, postura e conduta religiosa. Ouvimos um irmão que, certa vez,
voltando de um terreiro disse: “Lembra daquele terreiro que eu fui? Então, se murar vira hospício e
se puxar uma lona por cima vira circo”.

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Diferente do acima descrito, não tenha medo se seu terreiro é mal falado por conta das
virtudes que apresenta. Sim, há maldizer no que se refere a virtudes. Há quem maldiga do terreiro
porque é tudo muito certinho e não gosta disto. Há quem maldiga o terreiro porque atende a todos
sem distinção e gostaria de atendimento preferencial. Há quem maldiga o terreiro porque tem muitas
giras, porque tem poucas, porque usa só branco, porque usa cores, porque tem Orixás, porque não
tem, porque tem gira de esquerda, porque não tem, porque toca atabaques e também porque ali
não se toca atabaque. Há um terreiro certo para cada consulente e para cada umbandista. Não quer
dizer que é fácil ou que cada um de nós encontrará, em algum momento, o terreiro correto, mas que
existe, existe. Se está perto ou longe, fácil ou difícil é uma outra história completamente diferente.

GIRA FECHADA

As giras fechadas constituem um outro grupo de atividades que consideramos inerentes ao


bom andamento do terreiro. A gira fechada é a gira em que não há atendimento ao público, por esta
razão o termo fechada e que a corrente mediúnica, completa ou selecionada, realiza algum
fundamento de sua tradição. Exemplo, o T7 possui ritualística do Primado do Brasil7, uma tradição de
Umbanda de caráter iniciático que possui ritos fechados. Alguns destes ritos são fechados para todos
os médiuns e outros, somente para os não coroados. Coroação é um dos ritos iniciáticos de nossa
tradição em que existem giras fechadas à todos durante o processo, bem como giras fechadas de
caráter selecionado, ou seja, somente convidados podem participar ou quem já passou pelo rito de
coroação (coroados).

Não se apegue ao nosso exemplo. Vamos analisar outros. Uma camarinha, a deitada para o
anjo de guarda em que os filhos de santo passam certa quantidade de tempo no terreiro podendo
ser parte do dia ou uma noite por completo, deve ser uma gira fechada. Não há como manter a
vibração de isolamento e análise pessoal enquanto faz-se atendimento espiritual, descarrego e
toques de atabaque para variadas finalidades. É preciso manter a corrente em uma só vibração, a do
anjo de guarda, de Pai Oxalá e sua sutil força. Misturar energias aqui desestabilizará o rito e não
atingiremos o fim pretendido, que é a conexão sublime com os planos celestiais da criação e a
presença marcante do anjo de guarda. Só um exemplo.

Temos também as giras fechadas de esquerda em que os fundamentos de Exu e Pombagira


são colocados em prática e com a vestimenta característica. Muitos terreiros, incluindo o T7, realizam
suas giras de esquerda com os médins vestidos de branco como em uma gira de direita podendo
fazer uso da capa e cartola ou não. Fica a critério de cada terreiro.

GIRA EXTERNA

As giras externas são as mais complicadas de se organizar e exige muito esforço e paciência
por parte dos pais e mães de santo. Por esta razão, são raras ou, em alguns terreiros, inexistentes.

7
Primado do Brasil é diferente de Primado de Umbanda.
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Ir a uma cachoeira, matas ou praia requer logística e dinheiro. O filho de santo deve se dirigir
até o terreiro para o procedimento de saída rumo ao ponto de força. Saudação à Exu, batimento de
cabeça no congá, acendimento de vela e iluminação da coroa de cada filho de santo mesmo que já
tenham acendido as suas próprias de anjo de guarda, certificar que a tronqueira está com suas velas
acesas (rajadas de vento ou velas autoconsumidas tem sua solução nesta hora), a benção do pai e da
mãe, a locamoção até o meio de transporte antecedido, certamente, de aviso a todos para não
desvirtuar a vibração com conversas de caráter negativo, falando mal de alguém ou de algo, durante
o caminho acender vela para Pai Ogum abrir os caminhos até o ponto de força, chegada no local,
preparação dos elementos, formação de médiuns para a gira, abertura dos trabalhos, trabalho,
retorno ao terreiro, fechamento dos trabalhos.

Sempre que possível, optamos por um ônibus para que os ogãs/atabaqueiros possam tocar
sesu atabaques durante a viagem e manter o caráter religioso mesmo que os pontos e toques sejam
executados de forma um pouco mais descontraída do que em uma gira, mas sempre mantendo o
respeito e a vibração.

Temos giras externas para visitação de terreiros, para participação em eventos, procissões,
encontros, trabalho junto aos pontos de força e assim por diante. Para participação em eventos não
há necessidade de sair do terreiro ou de qualquer outra formalidade a não ser que haja gira no local
com a manifestação mediúnica.

ESTUDO DE CASO
CONSULENTE QUE INCORPORA TODAS AS GIRAS DENTRO OU FORA DA
ÁREA DE TRABALHO

É comum um consulente incorporar dentro da área de trabalho ou fora desta área. Certa vez,
um consulente que incorporava regularmente nas giras foi indagada sobre o motivo de sempre haver
a incorporação de suas entidades em detrimento da consulta que o guia poderia proporcionar, bem
como a consulente deseja incorporar, obter consulta e aplicação de passe. Como iremos verificar,
prática que se torna desnecessária e que necessita de esclarecimento por parte do pai ou da mãe de
santo.

Como se diz no jargão de terreiro: “Terreiro não é privada nem aterro sanitário para jogarem
todo o lixo ou detrito que não serve mais”. Apesar de chula a colocação, traduz uma verdade
inquietante. O terreiro é local de busca da luz de Olorum e de elevação espiritual. A conduta humana
ao longo dos dias da semana leva cada um de nós a acumular um tipo de energia. Entraremos em
equilíbrio energético, acumularemos energias positivas ou negativas. Grande parte daqueles que
procuram um terreiro o fazem por alguns motivos chave: desenvolver a incorporação, pedir algo ou
descarregar energias acumuladas. O correto, pela lei de Umbanda, é procurar um terreiro para
encontrar Deus. É função do pai de santo esclarecer este assunto e reafirmá-lo caso os consulentes
tenham se perdido deste caminho à Deus. Foi informado a consulente que, a partir de então, não
será mais permitida a incorporação das entidades que a acompanham e que a consulta e o
descarrego se dará por meio da entidade que prestará a consulta naquele momento. O
desenvolvimento mediúnico é restrito aos médiuns, que recorrem aos preceitos, acendem suas velas,

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praticam a caridade e estão amparados pela corrente da casa prestando juramento. A presença das
entidades se faz desnecessária e que tal atitude deve cessar levando a uma reanálise de sua própria
conduta durante a semana para verificar onde está o erro, evidentemente, está na vibração negativa
e atração de espíritos negativos por conta disto. Não foi bem recebida estas informações por parte
da consulente que perfuntou se terreiro não é local de caridade e, se as entidades querem vir era
obrigação do terreiro deixá-las. Onde mais ela faria isto senão ali e que ela precisava vir para
descarregar suas forças negativas. Novamente esclarecido que não poderia operar de tal forma e que
ela deveria escolher entre estabelecer um compromisso com as próprias entidade tomando
novamente o rumo de sua vida espiritual ou que procurasse algum lugar que aceitasse tal situação.

É uma posição controversa porque poderíamos retirar um umbandista da seara espiritual


transformando, no futuro, esta médium em uma trabalhadora do bem. Contudo, a análise da situação
de forma presencial e o bom senso diante das atitudes tomadas pela consulente estabelecem os
parâmetros da conversa e nos mostram os reais motivos e a verdadeira medida de justiça aplicada
ao caso.

LIÇÃO DE CASA

Você acha correto um consulente incorporar em todas as giras? Se sim, por que? Se não, por
que?

LIÇÃO DE CASA 2

Qual o seu método de desenvolvimento mediúnico dos filhos e filhas de santo e porque você
utiliza este método?

- Por que aprendeu desta forma?


- É assim que o guia chefe diz que deve ser? Se for este fundamento, qual o motivo dele ter
escolhido este método?
- Pergunte à ele e confie na resposta.
- Outros? Fundamente.

SEMANA 04

GRUPOS DE TRABALHO DENTRO E FORA DAS GIRAS

Grupos de trabalho é um método extremamente eficaz de organização de terreiros. Divide-


se os filhos em núcleos o que, intrinsecamente e de forma tácita, já estão divididos por afinidade
bastando apenas identificar os núcleos já preformados e organizá-los em funções e dias.

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Outras funções não são organizadas em grupo como, por exemplo, distribuição de senhas e
cambonagem o que não quer dizer que não devem ser estabelecidas regras e aprendizado específico.
Aqui, não há a necessidade de um curso de cambone ou de distribuição de senhas para que a
atividade seja realizada. Para cambone, por exemplo, basta ter atenção e, após uma breve conversa
sobre o que deve e como deve ser realizado o trabalho cambonagem é possível iniciar. Lembrando
que cambone não é o médium que não sabe nada nem aquele que não incorpora. Cambone também
é médium, médium de sustentação e também trabalha com as suas entidades, porém, no momento
da cambonagem, trabalha irradiado e não, incorporado.

GIRA ABERTA

A gira aberta é a que guarda mais cuidados para um terreiro. Quando recebemos pessoas de
fora estamos diante de todo tipo de imprevisto possível. Tudo pode acontecer em uma gira de aberta
de atendimento ao público e também devemos ter em mente que reuniões regulares para repassar
os pontos importantes das giras e reafirmar ou modificar premissas é obrigatório para todo e
qualquer terreiro. Não há um só terreiro, por mais antigo que seja, que não exige, pelo menos, uma
pequena reunião de caráter periódico para recolocar todos novamente na engrenagem do terreiro.
Alguns filhos que extrapolam suas funções, outros que esquecem ou se omitem. Não importa onde
o terreiro esteja ou o tamanho dele. Sempre teremos problemas e, alguns destes problemas, são
universais.

PORTEIRA

O médium de porteira segura a energia em excesso que entra juntamente com os consulentes
pela porta de acesso à área de trabalho e impede que os sofredores, eguns e kiumbas que foram
permitidos entrar em conjunto com o mesmo saiam dali. Estes espíritos ficarão ali presos até serem
encaminhados para seu local de merecimento8. Este médium pode permanecer incorporado ou não.
De qualquer forma, seu local de trabalho é no local de saída dos consulentes ou, em alguns terreiros,
como é o caso do terreiro de minha avó de santo Mãe Maria Imaculada, da Tenda Espírita de
Umbanda Santa Rita de Cássia, existem dois médiuns que executam esta função, um ao lado da porta
de quem entra na área de trabalho e outro na porta de saída da área de trabalho.

Como fica fácil perceber, é importantíssimo estabelecer uma divisão clara e objetiva de onde
termina a área de trabalho e onde começa a área da assitência, bem como qual é o fluxo de acesso
às entidades. Existindo espaço suficiente para tanto, faz-se dois acessos para a área de trabalho, a
entrada e a saída. Não estamos falando da entrada no terreiro, que é o portão de acesso ao imóvel.
Não. Estamos falando do local em que o consulente tem acesso à área de trabalho. Ali onde ele tira
o sapato para tomar passe ou passar em consulta. Caso não exista espaço suficientes para
estabelecer um local de entrada e outro de saída, utiliza-se o mesmo acesso para ambos os casos.
Contudo, sempre mantendo a divisão de área nem que seja com uma simples corda amarrada em

8
Para saber como lidar com este fato ou qual é o local de merecimento de cada um sugerimos o curso Sofredor, egun
e kiumba em nosso Instituto Adérito Simões.
30
ganchos aparafusados com bucha na parede. Ali, neste ponto, conforme o avançar do curso, teremos
dois tipos de diferentes de firmeza ou de fechamento de área no lado espiritual. Enquanto do lado
da assistência trabalha-se e são firmadas estruturas para o descarrego de excessos e cura espiritual,
na área de trabalho isolamos paredes, solo e teto, cruzamos com pemba e trabalhamos com as
entidades incorporadas e desincorporadas com segurança e fundamento.

ONDE DEVE FICAR O PAI DE SANTO

O pai de santo deve ficar sempre à frente do congá por conta da vibração e modulação do
axé circulante. Lembrando das aulas anteriores e da importância da coroa do pai de santo e de suas
entidades, é o local que nunca deve ser abandonado.

Contudo, há situações que exigem a saída do pai de santo do local. Quando isto ocorrer,
existem alguns procedimentos a serem tomados para manunteção da energia sem prejuízo dos
trabalhos e sem sobrecarregar os filhos nem tampouco o próprio pai de santo. No caso de terreiro
que divide as funções de comando, por exemplo, aqui no T7 em que existe o cargo de pai e de mãe
de santo, enquanto um sai o outro fica. Quando, por ventura, for obrigatória a saída dos dois,
exemplo, incorporação de um Orixá/falangeiro pelo pai e a mãe acompanha até a porta da assistência
para cruzamento e benção dos presentes, um médium antigo e de grau maior do terreiro assume a
posição diante do congá retornando ao seu local da fila quando não for mais preciso. Com uma boa
conversa sobre este fato importante, este procedimento acaba tornando-se automático sem
sobressair o ego do filho de santo que pode se achar mais importante que os demais por conta deste
fato. Não o é. Aliás, ninguém é mais importante do que ninguém dentro do terreiro. Cada um exerce
sua função específica. De certo que sem filhos ainda teremos um terreiro. Pequeno, mas existente.
Porém, sem pai ou mãe não há terreiro algum. Relembrando, neste ponto, de nossas aulas sobre a
terminologia empregada para este cargo e as diferenças de conduta e liderança de cada um deles.

CAMBONE, O QUE FAZ, QUANTOS SÃO NECESSÁRIO E O QUE DEVE SABER

Cambone é o médium de sustentação que dá movimento ao terreiro. Sem o cambone, as


entidades teriam que exercer inúmeras atividades que atrapalhariam o bom andamento das
consultas, bem como não seria possível agir em emergência em uma situação inusitada. É difícil
pensar em uma gira sem o auxílio do cambone. Imagine você um caboclo que interrompe
continuamente o trabalho de atendimento para buscar uma vela, seja ela no chão ou no
almoxarifado, tendo que interromper a conversa para ir buscar água de cachoeira para desimantar
uma guia, tendo que distribuir água aos demais caboclos ou se servindo no bebedouro, tendo que
explicar coisas simples que são de difícil entendimento para o consulente como os termos lua, sebo,
toco e outros minúcias de nossa religião e que dão uma cor e cultura que nos torna únicos. Imagine
o cabloco tendo que anotar o nome de alguém em um papel, buscar o copo de água para o
consulente que passou por descarrego enquanto não pode sair de frente para o congá e, ao mesmo
tempo, acende seu charuto e abre uma garrafa de cerveja preta.

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O cambone oferece movimento e sustenta a gira com seu auxílio na comunicação, nos
elementos de trabalho, no fluxo de pessoas dentro da área de trabalho e nas explicações de última
hora de todos aqueles que sentem medo de perguntar o que aconteceu. O cambone também
sustenta a consulta quando empresta sua força em auxílio à entidade. Quem trabalha incorporado
sabe a fluidez que um cambone concentrado e ligado à gira consegue empregar. Um mal cambone,
um cambone sem vontade ou mal preparado faz o contrário, bloqueia toda a fluidez da gira.

Não são necessários muitos cambones para gerar fluidez em uma gira. Porém, isto depende
de cada terreiro. Há métodos que utilizam um cambone por cada médium de trabalho e há terreiros
que empregam um ou dois cambones para todos. Os dois métodos são eficazes. Nós, do T7,
utilizamos o método de dois cambones para todos assim como nossa tradição faz. As entidades
acendem seus próprios charutos, aliás, se quebram demanda e sabem passado, presente e futuro de
quem quer que seja, sabem acender um charuto, não é mesmo? Usam fósforo, claro. Quando
necessitam de algo ou quando o cambone verifica que a situação exige atenção, para ele o cambone
se direciona e age. Acaba por se tornar automática esta atuação do cambone por simples observação
da gira e experiência de terreiro.

O cambone deve saber como se comportar perante um transporte mediúnico9, o que fazer
quando um consulente incorpora uma entidade de forma desordenada caindo para os lados ou para
trás quando desincopora, deve saber os termos mais comuns à atuação das entidades, deve saber as
regras da casa, o que cada linha de trabalho utiliza para trabalho e onde estão os materiais para uso
da gira. Mais do que tudo isto, o médium cambone deve ter postura religiosa, concentração e estar
sempre atento à tudo. Após a incorporação, quem faz a gira girar são os cambones e os ogãs.

MÉDIUM DE TRANSPORTE

Qualquer médium de incorporação pode exercer a função de médium de transporte, já que


o transporte é um tipo de incorporação. Utiliza-se o mesmo canal para incorporar kiumbas quanto
para incorporar caboclos. Contudo, há aqueles que possuem maior habilidade para tanto. São os
médiuns de transporte.

O médium de transporte já sabe que é de transporte antes de entrar no terreiro. Capta todo
tipo de energia em todo tipo de lugar. Chega em casa sempre carregando algo consigo e está sempre
em contínuo processo de descarrego nas giras de Umbanda. Aquele médium que denominamos
informalmente de esponja, absorve tudo, é o típico exemplo de um médium de transporte. Suscetível
à atrair todo tipo de energia, através desta habilidade direcionada, atrai para si os espíritos que
atormentam as pessoas e lhes aplica o choque anímico para acordá-los, desprendê-los do consulente
e até mesmo aprisioná-lo em si até o devido encaminhamento pelo guia responsável. Após o devido
transporte, o médium retorna a trabalhar com sua entidade incorporado. Um médium de transporte
pode ser também um médium de trabalho. Quando for necessária a realização de um transporte, o
guia chefe pede para a entidade deste guia se afastar para o filho realizar o transporte. Após, o guia
reaproxima e novamente incorpora. O ato do guia se afastar momentaneamente de seu médium,
pelo menos em nossa tradição, é ato corriqueiro e sem maiores problemas. Em verdade, é um dos

9
Sugerimos o curso Transporte Mediúnico disponível no Instituto Adérito Simões.
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requisitos para se tornar um médium de consulta, chamado aqui de abaré mirim (SCT – SubChefe de
Terreiro – 4º grau iniciático). Com experiência de terreiro e atenção mediúnica adequada o filho de
fé executa esta operação com destreza seja para se consultar ao final da gira com seus pais, caso
necessário, ou para realizar transporte mediúnico.

MÉDIUM DE ATENDIMENTO

O médium de atendimento é o mais conhecido dos médiuns. Por esta razão, é a mais cobiçada
função para quem ainda não a exerce e mais solicitada para deixar de exercer depois que conquista
este patamar. Para quem não presta consulta, apresenta-se como uma qualidade divina ter sempre
um guia presente para prestar consulta onde for e atingir prestígio social com sua condição. É aquele
que tem os dedos apontados pela assistência como sendo aquele ali e também alvo da atenção dos
mais novos para saber como é que faz, como se incorpora, o que deve ser feito. Por parte do médium
que presta consulta, é uma outra realidade. Poucos sabem, mas, quando se está incorporado, não há
meios para a autoconsulta. O corpo e a mente do médium está tomada (incorporada) à da entidade
e raros são os momentos de reflexão conjunta. O médium de consulta desincorpora para passar em
consulta. A exceção é quando o médium de incorporação também possui outro tipo de mediunidade
como, por exemplo, a clarividência ou clariaudiência. Para muitos, a fé de que algo deve ser feito ou
está correto não basta e, em muitos casos, é preciso auxílio do pai ou da mãe para resolver uma
questão mais complexa.

O médium de consulta deve conter o seu ego. Se assim não o fizer, será um médium
orgulhoso. Este, é o início da ruína de um médium de Umbanda.

Para dar consulta, o caboclo do médium já deverá ter dado seu nome, sua Linha e sua Falange.

MÉDIUM DE PASSE

Todo médium de consulta também é um médium de passe. Porém, temos os bojá guaçu,
dentro de minha tradição, que são os médiuns de passe.

O médium de passe deve ter a capacidade de permanecer incorporado durante toda a gira e,
ao desincorporar, não passar mal. Caso não consiga permanecer incorporado durante este período
mantendo incorporação irregular ou passando mal ao final das giras não há firmeza suficiente para
atender os necessitados por meio do passe. Estamos falando do passe incorporado, a primeira linha
de frente do combate aos planos trevosos. Passar mal algumas vezes ao final não gera problema
algum para nenhum médium, mas a constância demonstra problema energético que merece atenção
especial ou até tratamento intensivo.

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FORMAÇÃO DA FILA E LOCALIZAÇÃO DE HOMENS E MULHERES

A formação da fila de médium atende aos princípios da antiguidade na casa, ou seja, o


médium mais antigo fica na frente do médium mais novo na corrente. Não importa se é um médium
de consulta ou um cambone, se é abaré guaçu ou boja mirim, o mais antigo na casa fica sempre à
frente do mais novo na casa. Repetimos, na casa e não de idade. Os motivos são práticos. O mais
novo não sabe o que deve fazer e tem como referência os médiuns mais antigos para seguir. Quando
deve bater cabeça, quando deve bater palmas, quando deve responder a um ponto ou saudação e
como fazer isto. Também temos o fato de que o médium mais antigo na casa já está devidamente
adequado vibracionalmente à egrégora do terreiro.

A divisão das fileiras dos terreiros de Umbanda são duas, a saber: as mulheres permanecem
à esquerda de nosso Pai Oxalá e os homens à direita. A mão da direita ou o caminho da direita é o
caminho do próximo, do olhar para fora, do serviço que utiliza a força e da busca para o exterior da
aldeia. O caminho da mão esquerda é o caminho das emoções, do cuidado de dentro, de dentro de
nós mesmos, de dentro de nossas casas, do autoconhecimento. A energia feminina é da esquerda e
a energia masculina é a da mão direita.

ORGANIZAÇÃO DE CONSULENTES
SENHAS, NOMES, LIMITAÇÃO, PASSE, CONSULTA E ASPECTOS GERAIS

A organização dos consulentes por ser de inúmeras formas. As mais encontradas são a
anotação do nome e a disponibilização da senha de passe ou de consulta. Outro método é o
enfileiramento de consulentes chamando-os pela ordem em que estão sentados ou organizados
independente do nome ou da ordem de chegada. Cada método possui o seu problema e temos que
saber contorná-los.

A organização por ordem de chegada gera o problema do furador de fila contumaz. O


consulente que chega no horário de abrir os portões e se aglomera junto dos que estão na frente e
fura a fila sem nenhum tipo de vergonha afirmando que não sabia que tinha ordem de chegada.
Assim procede em todas as giras e oferece a mesma desculpa sempre. A ordem de chegada é possível
quando a consulência é regular, pois depende de organização própria fora dos portões do terreiro.
Há consulentes que chegam muitas horas antes do início do trabalho formando amizades e até
grupos. Estes são os guardiões da ordem e da disciplina antes mesmo de começar a gira. Informam
aos demais como funciona a casa e oferecem boas informações a todos. Todo terreiro possui seus
consulentes cativos que há anos comparecem ao terreiro e são mais assíduos e antigos que muitos
dos filhos de santo.

A organização do atendimento por fileiras gera o mesmo problema do fura fila. Apesar de
todos serem atendidos, existe sempre alguém que quer ser atendido primeiro por qualquer razão
que seja. Este trabalho de educação prévia e informação das regras pode e deve ser feito por duas
frentes de trabalho, o médium que organiza a consulência fora da área de trabalho e pelo pai de
santo antes da abertura dos trabalhos. Sempre haverá pessoas que estão ali pela primeira vez.
Portanto, repetir todas as giras certas regras nunca é em vão.
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Temos também os filhos de santo de outros terreiros. O que fazer? Depende. Depende do
tamanho do terreiro, depende se é conhecido ou não, depende de muitos fatores. Não é porque
alguém se identificou como sendo de Umbanda ou porta guias no pescoço que deve ser colocado
para dentro da área de trabalho. Não sabemos de onde vem, o que faz e o que deixou de fazer. Área
de trabalho é sala de cirurgia, é área blindada e trabalhada horas antes da porta abrir. Não podemos
colocar para dentro todos também por conta do espaço disponível. Há pouco espaço em qualquer
terreiro de Umbanda. Por maior que seja, mais e mais filhos entrarão ocupando cada centímetro da
área de trabalho. Cada um que se acrescenta ao número diminui o espaço. Claro, não é preciso dizer
que, mesmo o visitante que já foi previamente anunciado e que permanecerá na área de trabalho
não irá trabalhar, a não ser que seja uma regra do terreiro estabelecida pela espiritualidade superior
que assim aconteça. A regra, é não trabalhar ou sequer permanecer nas fileiras de médiuns. Há um
local específico para tais visitas normalmente, ao lado congá ou em cadeiras separadas. A regra é que
somente os médiuns da egrégora da casa, os médiuns da corrente do terreiro trabalhem no
atendimento mediúnico dos consulentes. Evitam-se problemas e mantem-se a ordem e equilíbrio
energético. Visitantes não conhecem as regras da casa e terão que ser chamados à atenção no que
se refere ao comportamento desincorporado e suas entidades possuem seus próprios métodos de
trabalho que, na maior parte das vezes, é incompatível com a tradição do terreiro que está sendo
visitado. No mesmo sentido, a corrente deve ser mantida por aqueles que são da casa.

Certa vez um umbandista vindo do interior do estado anunciou que era inscrito no youtube,
que também era umbandista e que tinha que permanecer dentro da área de trabalho. Bateu nos
portões do terreiro e chamou pelo facebook antes abrirmos as portas. Ao ser negado local especial
para permanecer na gira informou que, em seu terreiro, todo umbandista que lá se apresenta tem
acesso e permanência na área de trabalho para assistir a gira. Precisei, com toda a educação, explicar
que o Templo Sete Montanhas do Brasil não realiza shows para ter platéia tampouco apresenta algum
tipo de atração que mereça camarote. A gira de atendimento ao público é hospital de emergência
para atender os necessitados e todos os esforços giram em torno deste objetivo. Respeitamos as
regras dos demais terreiros. Podemos estar errados para muitas pessoas, mas estamos de acordo
com nosso tradição e respeitando as ordens da espiritualidade. Não há lugar para a vaidade dentro
das giras de Umbanda.

Do mesmo modo, não permitimos que nossos filhos de santo prestem consulta tampouco eu
tenho autorização de minha raiz e tradição para prestar consulta em outros terreiros. Devo eu servir
de exemplo para esta conduta e devo cumprir meu juramento. Sua egrégora é sua egrégora. É
extramente difícil e complexo manter todo o axé quando só frequentamos nosso próprio terreiro e
cuidamos das mesmas forças e atuações espirituais imagine lidar com as diferenças de tradições e
costumes. É na própria egrégora que o médium deve trabalhar. Nem mesmo na casa de nossa avó
de santo temos autorização para dar consultas. Lá, podemos apenas aplicar passes. Consultas
somente os médiuns selecionados pela cabocla Iracema e Caboclo do Vento. Na casa de Pai Paulo,
eu, Adérito Simões, posso dar consultas porque sou filho da casa juramentado às forças regentes
daquele terreiro.

Por fim, temos a organizção das consultas. Temos o método da escolha livre e do sistema
rotativo. Na escolha livre, como o próprio nome já diz, o consulente escolhe com quem deseja passar
em consulta. Tem livre escolha. No sistema rotativo, o consulente não escolhe a entidade. Passará
em consulta com a próxima entidade que estiver vaga. Neste método, quem escolhe é a
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espiritualidade e não o consulente. Usamos este último. Na casa de nosso pai e de nossa avó de
santo, o sistema é o de escolha livre. Ambos geram problemas e cada terreiro deve optar por aquele
que melhor se adequa às suas características.

CONFLITOS DE CONSULENTES
PASSAR NA FRENTE DOS DEMAIS, ESCOLHER GUIA QUANDO NÃO FOR
POSSÍVEL

Quando um consulente passa à frente do outro ou cria confusão, temos a intromissão do


médium que comanda a organização do lado de fora da área de trabalho. Não há um nome comum
para esta função ou cargo. Alguns chamam de cambone, outros chamam de porteira, outros de
recepção. Este médium ou ajudante deve ser firme e calmo ao mesmo tempo. Existem regras que só
podem ser quebradas pelas exceção oferecidas pelo guia chefe da casa e não adianta insistir.
Lembramos a todos os ajudantes ou médiuns que estão nesta posição que a espiritualidade irá lhe
testar enviando os maiores e piores problemas para saber como o irmão ou irmã se sai diante das
situações mais adversas possíveis. É um dos locais mais insalubres do terreiro. Contudo, após certa
prática e entendimento da sistemática da consulência e seus humores, tudo passa a ter mais fluidez.
É como um novo trabalho de atendimento ao público. Assusta no começo e se acostuma com o
tempo.

GIRA FECHADA
MÉDIUM AUXILIARES DE DESENVOLVIMENTO

Os médiuns estão organizados em hierarquias sejam elas visívieis ou não. Exemplo, mesmo
que digamos que todos são iguais, temos os médiuns de consulta mais antigos e que são os pontas
de lança na ajuda e sustento do terreiro desde sua abertura e temos os médiuns de consulta mais
novos que estão no aprendizado do novo trabalho. Tendo ou não uma insígnia no braço como nossa
tradição possui com as letras, a hierarquia do terreiro existe e sempre existirá. É o correto para a
formação e estabilidade do grupo.

Na gira de desenvolvimento não é diferente. Temos os médiuns de consulta mais experientes


que auxiliam no desenvolvimento dos médiuns ainda em evolução. Ainda neste mesmo assunto,
temos que os médiuns desenvolvidos não gostam de participar das giras de desenvolvimento ou de
reuniões. É preciso, portanto e infelizmente, oferecer incentivo para sua vinda, caso contrário não
sobrará mais ninguém no terreiro. É preciso ser firme, flexível e inteligente ao mesmo tempo para
que as dinâmicas do grupo se mantenham estáveis. O mais desenvolvido auxilia o mais novo nas giras
de desenvolvimento dando a importância devida aos dois médiuns. Um oferece exemplo e cuidado
e o outro oferece sua vontade em se desenvolver gerando o equilíbrio das relações e aumentando a
frequência no terreiro. Um círculo que só faz com que todos ganhem e o pai e a mãe,
inteligentemente, exerçam seu papel de liderança.

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QUEM PODE AJUDAR NAS GIRAS FECHADAS ESPECÍFICAS

Há giras que são fechadas até mesmo para alguns médiuns da corrente. Descarregos com
pólvora somente médiuns bem firmados podem estar ajudando no trabalho. Sacudimento de pipocas
de Obaluayê também é outro caso. Fundamentos da tronqueira e de seus assentamentos somente o
pai de santo. Firmeza do terreiro (ativação da porteira, acendimento de velas e ativação de congá,
acendimento e ativação da tronqueira, troca dos elementos do congá como águas das quartinhas
dentre outros) somente o pai de santo pode e deve fazer. Respeito pensamentos diferentes, mas
ensino e pratico desta forma. Existem coisas que somente o pai deve fazer.

GIRA EXTERNA
GRUPOS DE ORGANIZAÇÃO
COMIDA, ÁGUA, ESTRUTURA, TRANSPORTE

A gira externa permite maior distribuição de tarefas. Grupos de trabalho são formados para:

1. Alimentação. O que servirá de alimento para o grupo e se haverá alimento para o grupo.
Podemos estabelecer que cada leva o seu lanche e sua bebida ou estipular que um tipo de
comida para todo o grupo e assim proceder para organização do transporte, armazenagem e
distribuição. Tudo depende do grupo que possuímos como médiuns. Cada terreiro possui a
sua fase de início e amadurecimento. Quando nós estávamos no início das atividades tudo
era mais fácil porque éramos poucos e os poucos eram amigos. Após, passamos ser muitos e
crescemos desorganizadamente criando problemas de hierarquia e estrutura. Encontramos
o meio termo e estabilizamos os processos e rotatividade. Conseguimos estabelecer um
“cardápio” padrão para as saídas do terreiro.

2. Água. A distribuição e os cuidados com a quantidade de água são extremamente importantes


por uma questão simples, atividades ao ar livre deixam os médiuns sob e sol e em atividade
física intensa (incorporação). Muitas horas em pé e muito calor podem causar mal-estar. Estar
no meio do mato sem água potável é um grande problema.

ESTUDO DE CASO
MÉDIUM QUE PASSA MAL TODAS AS GIRAS

O médium que em todas as giras passa mal deve ser retirado da corrente para o devido
tratamento espiritual de desenvolvimento mediúnico e descarrego energético. Precisa aprender a
lidar com as forças que trabalha e resolver por si só a que foi acumulada durante a gira. Uma vez ou
outra, é aceitável. Todas as vezes, merece tratamento. Caso nada seja feito para educar a
mediunidade deste filho de santo, este comportamento passará para os demais. Alguns, por imitação.
Outros, por sugestão e uma parcela mínima por absorção da energia que está ali acumulada. Pense

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neste médium, que até o momento era o único, como sendo um ralo entupido. As energias de suas
entidades e dos espíritos negativados que circulam por uma gira de Umbanda, cada um com seu
propósito, a primeira para amparar e a segunda para ser encaminhada, acabam represadas naquele
médium. Este médium tranca todas as passagens energéticas por algum motivo. Acaba, portanto,
sujando os demais.

Em um determinado momento, um grupo de médiuns que também era amigo fora do terreiro
passaram a apresentar estes sintomas ao final e durante as giras. Ninguém mais de nenhum outro
grupo apresentava nada parecido. Ao longo do tempo, foram os demais perguntando para estes
médiuns o que estava acontecendo com eles. As respostas dadas era de que o terreiro estava ficando
diferente e eles estavam sentido que estava pesado. Logo, esta informação virou realidade para os
impressionáveis e o comportamento se multiplicou. Um exemplo gerou muitos. Uma gira especial
fechada foi executada para descarrego dos médiuns e educação mediúnica para instrução sobre o
que fazer em casos similares. Porém, nem sempre é tão simples a resolução do problema.

ENCERRAMENTO DO PRIMEIRO MÓDULO BÁSICO

O primeiro módulo básico do curso Teoria do Sacerdócio chegou ao fim. Todo o material pode
ser revisto a qualquer momento e é o que recomendo. Detalhes podem ter se perdido ao longo das
explicações, bem como os assuntos aqui contidos são de extrema importância para toda a religião.
Muito axé para todos vocês e que Oxalá os abençoe hoje e sempre.

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