Sei sulla pagina 1di 52

9

Resumo

O trabalho surge fundamentalmente com o objectivo de analisar a Educação moçambicana a


partir do pensamento filosófico e pedagógico de John Dewey (1859-1952), no que diz respeito a
sua teoria da “Educação Democrática” e, também avaliar o impacto da sua Filosofia de Educação
na educação moçambicana. Como forma de atingir este objectivo, numa primeira fase do
trabalho procuramos fazer uma contextualização histórica do pensamento educacional de Dewey
e a respectiva caracterização a partir do ambiente social e político americano. É impossível falar
da Filosofia de Educação de Dewey sem fazer menção ao Pragmatismo, doutrina que defende a
ideia de que todo o aprendizado ou conhecimento deve ter um fim prático. Ele foi o continuador
do Pragmatismo filosófico de William James (1842 – 1910) e Charles Sanders Peirce (1839 –
1914), ambos americanos tal como Dewey. Não obstante, Dewey para se diferenciar do
Pragmatismo de James e Peirce, achou por bem chamar sua “doutrina pragmática” de
“Instrumentalismo”, doutrina que defende a ideia de que o valor da verdade, do pensamento,
reside no seu carácter instrumental, ou seja, pensamento válido e verdadeiro é aquele que leva a
uma acção prática. Todavia, procuramos de uma forma resumida, caracterizar esta corrente
filosófica contemporânea surgida no século XIX. John Dewey com as suas teorias procurou
centrar-se nas grandes necessidades da sociedade americana da sua época com a massiva
industrialização encabeçada por escopos políticos, não só, mas também com a existência de dois
tipos de ensino em seu país a saber: o Tradicional centrado no professor e o da Escola Nova,
centrado no aluno. John Dewey propôs um novo tipo de ensino, o da Escola Progressista ou
Democrática, onde toda teoria devia levar a um fim prático e onde cada aluno aprende fazendo,
“learn by doing”, e se enriquece com as experiências dos seus companheiros. A teoria da
“educação democrática” de John Dewey encontra-se patente na sua magna obra, “Democracia e
Educação”, publicada em 1916, onde procuramos referenciar os temas que mais aborda, que é o
caso da “Educação Democrática”, concebido como sendo um tipo de educação onde cada aluno
se enriquece com as experiências dos outros alunos, onde todos os alunos têm mesmas
oportunidades. Procuramos também abordar a importância do pensamento de Dewey da Escola
Progressista para a educação moçambicana e a sua respectiva influência na reforma do currículo
- que antes concebia o professor como centro do processo de ensino-aprendizagem, e a influência
na qualidade da educação moçambicana. Com as teorias educacionais desenvolvidas por Dewey,
levou-se em consideração a capacidade reflexiva do aluno no sistema de educação em
Moçambique, onde este passou a ser agente principal da Educação, segundo o ideal da “Escola
Progressista e Democrática” defendida por John Dewey.

Palavras-chave: Dewey, Pragmatismo, Instrumentalismo, Escola Progressista, Educação


Democrática.
10

Introdução

A presente monografia intitulada “Da educação Democrática de John Dewey à uma Reflexão da
Educação em Moçambique” faz uma reflexão da educação em Moçambique à luz da Filosofia de
Educação de John Dewey (1859-1952), sobretudo no que diz respeito a “Educação
Democrática”, sendo esta dividido em três (3) capítulos. No primeiro capítulo abordou-se a
“contextualização histórica do pensamento pedagógico de John Dewey”, no segundo capítulo
abordou-se a concepção da “educação democrática em John Dewey” e por fim, no último
capítulo, abordou-se a questão da “Análise da Educação em Moçambique à luz da Educação
Democrática de John Dewey”.

O trabalho tem como objectivo geral, compreender a Educação Democrática de John Dewey e
sua influência na Educação em Moçambique. Tem como objectivos específicos:
contextualização histórica do pensamento Pedagógico de John Dewey; explicar a concepção da
Educação Democrática em John Dewey, e por fim analisar a Educação em Moçambique com
base na Filosofia de Educação de Dewey.

A escolha do tema surge numa época que em Moçambique muito se fala da democratização da
educação e da qualidade da mesma. A qualidade da educação constitui principal preocupação
uma vez que várias reformas se têm feito no sistema educativo moçambicano, mas parece não
haver efeitos positivos ou significativos. Verifica-se na esfera da educação, a falta de infra-
estruturas escolares, não só, mas também maior número de crianças que não têm acesso às
escolas, e isso tem constituído um entrave para o alcance de um desenvolvimento almejado. A
educação é um alicerce fundamental e indispensável para o desenvolvimento de um país. Para
que se possa alcançar um desenvolvimento sustentável das sociedades sem conflitos que
embaracem a estabilidade a nível social, económico e político, é preciso que se conceda especial
atenção na formação dos constituintes dessa mesma sociedade, com uma educação capaz de
habilitar os indivíduos a saberem lidar com os problemas reais enfrentados pelo país, como é o
caso do “analfabetismo”- que é um dos principais factores da desgraça dos moçambicanos. A
educação tem a solução para todos os problemas. Na educação proposta por Dewey o currículo
deve ter como objectivo, formar os alunos para as habilidades e competências que se adeqúem
aos desafios actuais do mercado a nível nacional assim como internacional. Deve se adoptar um
tipo de educação que propicie aos indivíduos, um interesse pessoal nas suas relações e direcção
11

social, nos hábitos de um espírito que permita mudanças dentro da sociedade sem causar
distúrbios nem desordem, sendo isso possível através da educação democrática centrada no
aluno. A grande preocupação deste trabalho é de fazer uma análise da educação em Moçambique
à luz das teorias de John Dewey de modo a trazer propostas que possam auxiliar na resolução
dos problemas que assolam o sistema nacional de educação no que diz respeito a qualidade do
ensino e a questão da expansão das redes escolares. Assim sendo, a questão que se pode colocar
é a seguinte: Como é que a Filosofia de Educação de John Dewey, sobretudo a “Educação
Democrática”, pode ajudar a resolver a questão da baixa qualidade de educação em
Moçambique, não só, como é que pode contribuir na formação de cidadãos aptos a lidarem com
os desafios sociopolíticos enfrentados pelo país?

Quanto à “contextualização histórica do pensamento pedagógico de Dewey”, importa referir que,


no final do séc. XIX e início do séc. XX a revolução industrial havia mudado a velocidade da
vida; o alcance da produção e o modo de pensar nos EUA, mas as transformações se demoraram
a chegar na escola. É nesta época que surge John Dewey, filósofo, psicólogo e educador
americano; nasceu em 1859 na cidade de Vermont, estudou na universidade de Vermont e
tornou-se Doutor em 1884 pela Universidade de Johns Hopkins em Washington. Foi professor na
Universidade de Michigan, depois na de Chicago e finalmente na Universidade de Colúmbia. Ao
longo da sua carreira, Dewey defendeu a necessidade de uma aprendizagem mais activa, mais
participativa. Isto era importante para Dewey pelo seu compromisso com a construção da
Democracia norte-americano. O seu pensamento foi uma reacção ao sistema educativo da sua
época (Ensino Tradicional), época em que o sistema educacional do seu país, os métodos
educativos limitavam-se somente nas técnicas de memorização e o ensino era concebido como
transmissão passiva de conhecimentos. Para Dewey, o progresso social só é possível quando a
escola for capaz de levar as crianças a exercitarem a participação como em uma comunidade tão
reduzida quanto a própria escola, de impregnar nelas o altruísmo e de dar a elas instrumentos de
uma autonomia efectiva, quando assim for, pode se ter a certeza de que a sociedade será digna,
admirável e harmoniosa. O pensamento de Dewey reflectiu o pensamento liberal e a luta pela
formação de democracia americana. Na sua concepção, ao se opor das ideias da escola
tradicional, ele entendia que o aprendizado só se dá quando as ideias são partilhadas, sendo isso
possível num ambiente onde não há barreiras e há livre expressão do pensamento, e era por isso
que Dewey não acreditava na escola tradicional, em que cabia ao aluno receber passivamente os
12

conhecimentos. Essas novas técnicas de ensino concebidas por Dewey concretizaram se com a
criação da Escola Progressista oposta à Tradicional.

No que concerne à “Concepção da Educação Democrática em John Dewey”, referindo-se a


educação, ele afirma primeiramente que a trata-se de um fenómeno criado pela sociedade e para
a própria sociedade, e a função da escola é de coordenar a vida mental de cada cidadão nas
diversas esferas da vida social. Assim sendo, a “Educação” é para John Dewey, “um processo
pelo qual uma cultura é transmitida de geração para geração, acontecendo por meio da
comunicação de hábitos, actividades, pensamentos e sentimentos dos membros mais velhos da
cultura aos mais novos” (OZMON; CRAVER, 2004: 151).

Ou seja, a educação não se limita no nível formal (escola) pois é a própria vida e instrumento
através do qual as gerações mais velhas passam as suas experiências de vida às gerações mais
novas. Assim sendo, a “educação democrática” é aquela em que cada criança no processo de
ensino-aprendizagem se enriquece com a experiência da outra, numa vida partilhada pois, o
aprendizado segundo Dewey só é possível num ambiente em que as ideias são partilhadas, onde
reina um espírito democrático e a igualdade de oportunidades, onde há livre intercâmbio de
pensamento. Isto é, a Educação Democrática é aquela onde a igualdade de oportunidades é
indispensável, onde todos os indivíduos (crianças, alunos ou mesmo estudantes) presentes no
processo de ensino-aprendizagem, convém terem a mesma oportunidade de ensino, e que não
deve haver diferenças de classes sociais, cada criança envolvida, deve-se enriquecer com as
experiências dos seus colegas, entrando numa relação de interajuda, pois ela promove um
espírito democrático.
Uma Educação sem essa igualdade de oportunidades, mas que se baseia nos privilégios, não é
democrática. A Educação na concepção de Dewey, é um processo de vida social, onde se faz
experiência, onde se representa não a vida futura da criança, mas a presente e real. Portanto, para
Dewey, a Educação, “é um processo de reconstrução e reorganização de experiências, pelo qual
lhe percebemos mais agudamente o sentido e com isso nos habilitamos a melhor dirigir o curso
de nossas experiências futuras” (DEWEY, 1959: 8).
A Educação Democrática deve formar o homem para valores republicanos e democráticos, não
só, mas também a formação para a tomada de decisões em todas as esferas da vida. Para se
compreender a Educação Democrática de John Dewey, são indispensáveis os seguintes
13

elementos: a formação intelectual e a informação, ou seja, deve-se desenvolver a capacidade de


conhecer em vista e poder escolher. Para se formar o cidadão é preciso informá-lo das vastas
áreas de conhecimento, por meio da literatura e das artes, em geral; a educação moral é
indispensável, ligada a uma didáctica de valores que não somente se aprendem intelectualmente,
como também através da consciência ética, formada tanto de sentimentos assim como da razão;
por fim, é imprescindível a educação do comportamento: enraizar hábitos de tolerância, bem
como cooperação activa, a subordinação do interesse pessoal em detrimento do interesse geral,
para o alcance do “bem comum”.

No que tange à análise da Educação em Moçambique, antes de Moçambique alcançar a sua


independência, o sistema de educação limitava-se em atender as necessidades da metrópole, onde
só existia o ensino elementar (para filhos dos portugueses e assimilados) e rudimentar (destinado
aos indígenas). Mas com a independência, adoptou-se um novo currículo que se adaptasse às
novas condições sociopolíticas encaradas pelo país. É neste âmbito que introduz-se o Sistema
Nacional de Educação (SNE) em 1983 com o propósito da formação do “Homem Novo ”-que
seria aquele embora consciente das suas limitações em lidar com os reais desafios enfrentadas
pelo país. Dewey diz que o uso da problematização no processo de ensino-aprendizagem, é de
vital importância para que ocorra o conhecimento significativo, a aprendizagem ocorreria
mediante as experiências anteriores vivenciadas pelo aluno, onde ele não só desenvolveria a
técnica, mas também o seu intelecto e a moralidade estariam treinados para o seu
desenvolvimento integral. É justamente esta meta que a política educativa moçambicana
pretendeu alcançar com a concepção do currículo de 2002, onde o aluno não é mais um receptor
passivo do conhecimento já elaborado pelo professor, mas sim, que este participe activamente no
processo de ensino-aprendizagem, e que seja colocado num ambiente em que seja capaz de
conciliar o conhecimento teórico com o prática.
Quanto à metodologia, o trabalho obedeceu o método hermenêutico, que consistiu na revisão,
análise e interpretação da bibliografia referente ao tema em análise.
14

CAPÍTULO I: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO DE


JOHN DEWEY (1859-1952)

1. Vida e obra de John Dewey

John Dewey foi um filósofo norte-americano mais importante de primeira metade do século XX.
Sua carreira abrangeu a vida de três gerações e sua voz ouviu-se em meio às controvérsias
culturais dos Estados Unidos, não só, mas também no mundo fora, e ouve-se também hoje. Na
sua extensa carreira, Dewey desenvolveu uma filosofia que apelava a unidade entre “teoria” e a
“prática”, essa unidade exemplificava o seu próprio trabalho de intelectual e cientista político.
Seu brilhante pensamento baseava-se na convicção moral de que a “democracia significa
liberdade” (DEWEY, 1892: 8), por isso, dedicou sua vida na elaboração de argumentação
filosófica de modo a fundamenta-la e leva-la à prática.

O compromisso de Dewey com a democracia e da unidade que incansavelmente procurava


estabelecer entre a teoria e a prática, foi evidente em toda sua carreira como reformador da
educação. Quando assumiu o cargo na Universidade de Chicago em outono de 1894, escrevendo
à sua esposa Alice fez a seguinte declaração: “às vezes penso que deixarei de ensinar
directamente a filosofia, para ensina-la por meio da pedagogia” (DEWEY, 1894: 43).

Dewey, na sua forma de analisar, a Filosofia encontrava o seu campo prático na educação. Na
verdade nunca deixou de ensinar directamente a filosofia, mas as suas opiniões filosóficas,
provavelmente levaram o maior número de leitores por meio das suas obras educadores, tais
como: “The school and society” publicada em (1899), “How we think” de (1910), “Democracy
and education” de (1916) e “Experience and education” de (1938), destinadas principalmente
para seus companheiros filósofos e, no caso da obra “Democracy and education”, isto é,
“Democracia e Educação”, foi a que mais se parecia com o resumo de “todo seu legado
filosófico” (DEWEY, 1916: 33).

Dewey, assim como muitos grandes filósofos e educadores da sua época, se interessaram pelos
problemas da educação, já que existe “uma estreita e essencial relação entre a necessidade de
filosofar e a necessidade de educar”. Uma vez que a Filosofia é a constante busca da sabedoria, a
visão de uma “melhor maneira de viver”, a educação orientada conscientemente com princípios
filosóficos, constitui praxis do filósofo.
15

“Se a filosofia há-de ser algo mais que uma especulação ociosa e inverificável, tem que
estar animada pela convicção de que a sua teoria da experiencia é uma hipótese que só
se realiza quando a experiência se configura realmente de comum acordo com ela, o que
exige que a disposição humana seja tal que se desse e, haja o possível por realizar esse
tipo de experiência” (DEWEY, 1912-1913: 298)

Esta disposição humana pode se conseguir mediante diversos agentes, mas nas sociedades
modernas, a escola é mais importante e como tal constitui um lugar indispensável para que uma
filosofia se torne em uma realidade viva. A união entre teoria e prática é indispensável para o
conhecimento, isto porque este só atinge a maturidade quando se aplica. Verdadeiramente o
conhecimento científico fora da realidade é estéril, isto é, para nada serve, assim considerava
Dewey.

Os esforços de John Dewey, por dar vida a sua própria filosofia em escolas, estiveram
acompanhadas de controvérsias, que até hoje em dia, têm sido ponto de referência nos debates
acerca do sistema escolar norte-americano. Contrário aos conservadores fundamentalistas,
Dewey é considerado como o precursor inspirador dos reformadores partidários, por sua doutrina
educativa “centrada no aluno”. Nestes debates, ficou evidente que, muitos interpretaram
erroneamente as ideias de Dewey, sobrestimando sua influência e subestimando seus ideais
democráticos que davam vida à sua pedagogia, visto que sofrera severas críticas por parte dos
seus oponentes.

1.2.O Advento de um pedagogo

A família de John Dewey terá chegado nos EUA no séc. XVII, por volta de 1630, oriunda da
Inglaterra, professos da fé congregacionalista. John Dewey nasceu em Burlington (Vermont), a
20 de Outubro de 1859, e morre em 01 de Junho de 1952 aos 93 anos de idade, em Nova Iorque
(ARCHAMBAULT apud SOUZA, 2004: 80).

Filho de um comerciante, teve sua infância marcada por uma escolarização desestimulante.
Grande parte de sua educação foi percebida por ele como tendo sido realizada fora dos limites
estreitos da escola. Contribuiu para isso o fato de que “sua família tinha o hábito de atribuir
16

pequenas tarefas às crianças, com o intuito de despertar-lhes responsabilidade” (CUNHA,1998:


76).
Para a compreensão do pensamento de John Dewey, é importante avaliarmos na sua infância,
influência que teve da fé congregacionalista professada pela sua família. Os congregacionistas,
dos quais Dewey fazia parte, defendiam a “autonomia para os membros da igreja”. Não havia
ordem hierárquica para nortear as relações dos fiéis. Neles residia um “espírito de igualdade”, os
ministros para assumirem os cargos na igreja, eram eleitos, o que se pode interpretar como uma
forma de democracia religiosa. Incitavam a presença de Cristo nos indivíduos de modo a criar
neles um espírito de “solidariedade e amor fraterno”. Pode se afirmar que da religião, o que
influenciou o posterior pensamento de Dewey não foi tanto a teologia como tal, mas sim a
experiência democrática e igualitária que reinava em sua comunidade.
Aos quinze (15) anos de idade terminou os estudos secundários e, teve a oportunidade de
ingressar na Universidade de Vermont, para estudar artes. Lá realizou estudos na área de
fisiologia, onde teve contacto com as teses darwinistas. Graduou-se na Universidade de Vermont
em 1879 e depois de um breve período como professor em Pensilvânia e em Vermont, continuo
seus estudos no departamento de filosofia da universidade John Hopkins, primeira instituição
que organizou os estudos universitários baseados no modelo alemã. Ali recebeu a influência de
George S. Morris, um idealista neohegeliana. Obteve seu doutoramento em 1884 com uma
dissertação sobre a Psicologia de Kant, tendo se tornado assistente de Morris na Universidade de
Michigan, onde trabalhou como director do departamento de filosofia.
Aquando da sua estadia em Michigan, Dewey conhecera aquela que viria a ser sua futura esposa,
Alice Chipman, que era uma das suas estudantes. Alice veio a faculdade depois de vários anos de
ensino nas escolas em Michigan e influenciou mais do que ninguém à Dewey, na direcção que
levaria os seus interesses no final de 1880. Dewey reconheceu que “ela tinha dado significado e
conteúdo ao seu trabalho e, teve uma influência importante na formulação de suas ideias
educacionais” (DEWEY,1951: 21).

Dewey casou se com Alice Chipman em 1884, e uma das características da personalidade de
Alice era seu espírito de liberdade e pessoa aberta para dialogar com as pessoas. Nos primórdios
do seu casamento, a preocupação de Dewey esteve centrada nas injustiças sociais da sua época,
constituiu vínculo mais prático para o seu pensamento. Tornou-se activamente interessado na
educação pública e, foi membro fundador e dirigente da Associação dos Médicos de Michigan,
17

que incentivou a cooperação entre professores do ensino secundário e superior. Quando o


presidente da Universidade de Chicago, recém-fundada, William Rainey Harper convidou
Dewey de modo a fazer parte nesta nova instituição, insistia que sua nomeação incluísse a
direcção de um novo departamento de educação, recebendo assim, uma “escola experimental”
onde suas ideias foram colocadas à prova. Durante os dez (10) anos que passou em Chicago
(1894-1904), Dewey desenvolveu os princípios fundamentais de sua filosofia da educação e,
começou a imaginar o tipo de escola em que seus princípios encontrariam lugar.
Em Michigan entrou em contacto com A. H. Loyd e G. H. Mead (1863-1931); onde de Mead
levou em conta as suas teses de Psicologia.
“Mead foi o principal pensador que influenciou Dewey nesse período, a ter a ideia de
que o cérebro e o sistema nervoso possuem a função de regular o organismo com
factores práticos da vida. Opunha-se às concepções que isolavam o organismo das
determinações do ambiente em que se situa, preferindo enxergar a dependência entre
ambos” (CUNHA, 1998: 67)

1.3.Obras publicadas por John Dewey:


Ao longo da sua carreira, produziu inúmeras obras, dentre muitas onde destaca-se “Democracia
e Educação”, publicada no decurso da Primeira Guerra Mundial em 1916, “Como Pensamos”,
publicado por Dewey em 1933. Outras obras publicadas por John Dewey são: “Psicologia”
publicada em 1887; “Meu Credo Pedagógico” em 1897; “Escola e Sociedade” em 1899,
“A Criança e o Currículo” em 1902; “Ética, com James H. Tufts em 1908; “ Reconstrução em
Filosofia” em 1920, “Homem natural e a Liberdade da Conduta Moderna” em
1922, “Experiência e Natureza” em 1925; “O Público e os seus Problemas” em 1927;
“ Educação Progressiva” em 1928, “A Busca da Certeza” de 1929, “O Caminho para sair da
Confusão Educacional” em 1931, “A Filosofia e Civilização” também em 1931, “Vida e
Educação” também em 1933; “A Arte como Experiência” em 1934; “Fé na Prosperidade
Pública” igualmente em 1934; “Liberalismo e Acção Social” em 1935; “Experiência e
Educação” em 1938; “Teoria da Avaliação” em 1939, “Liberdade e Cultura” também de
1939; “Problemas do Homem” em 1946; “Aprendizagem e Conhecimento” também de 1946.
Leccionou em várias universidades americanas, sobretudo em Chicago e na Universidade de
Colúmbia, em Nova Iorque, onde permaneceu por mais de 30 anos até a sua morte em 01 de
Junho de 1952. Em inúmeras viagens, Dewey deu inúmeras palestras em conferências e tomou
18

contacto com diferentes ideias e culturas, na Ásia, concretamente na antiga União Soviética, teve
o contacto com o modelo comunista de educação. Do ponto de vista epistemológico, Dewey
tomou como referência o pragmatismo como filosofia de base para o seu pensamento. Ele foi
crítico tanto do liberalismo quanto do capitalismo. O pensamento de John Dewey ao longo da
sua carreira foi, caracterizado pelo significativo avanço das ciências no século XIX. Com
destaque a biologia, onde teve contacto com as teses evolucionistas de Charles Darwin (1809-
1882), com a Sociologia de Augusto Comte (1798-1857), Sociologia de Max Weber (1864-
1920), Émile Durkheim (1858-1917) e Karl Marx (1818-1883), enfatizando o aspecto social
como problema científico e o surgimento da Psicologia com Wilhelm Wundt (1832-1920), em
particular da abordagem funcionalista de William James (1842-1910), surgida nas Universidades
de Chicago e Colúmbia. A sociologia de Karl Marx não constituiu uma influência directa sobre
Dewey, contudo, é possível uma aproximação entre os dois pensadores pela crítica que fazem ao
capitalismo e a total rejeição da sociedade dividida em classes. Dewey construiu ideias que, de
certa forma reformaram o liberalismo assim como capitalismo. Importa referenciar que Marx
pretendia uma transformação radical da sociedade pela superação do modo de produção
capitalista.
Assim sendo, encontramos três fundamentos significativos para o pensamento de John Dewey a
saber: a biologia, a sociologia e a psicologia, com base nas abordagens já mencionadas. A
filosofia de Dewey alcançou a originalidade própria, tendo como base a conjugação dos
elementos já mencionados.

1.4.Pragmatismo e pedagogia

Com base em uma psicologia funcional que deve muito à biologia evolutiva de Darwin e
pensamento pragmático de William James, começou a desenvolver uma teoria do conhecimento
que questionou o dualismo que opunha mente e mundo, pensamento e acção, que tinha
caracterizado a filosofia ocidental desde o século XVII. Para Dewey, o pensamento não é um
conglomerado de impressões sensoriais ou fazendo algo chamado “consciência”, muito menos
uma manifestação de um “espírito absoluto”, mas um mediador e, instrumento para servir os
interesses da sobrevivência humana e bem-estar.
19

Esta teoria do conhecimento, enfatizou a “necessidade de verificar o pensamento por meio da


acção, se quiser que se torne conhecimento útil” (MAYHEW apud EDWARDS, 1966: 464).
Seus trabalhos sobre educação foram destinados principalmente para estudar as consequências
que o instrumentalismo teria para a pedagogia e, estudar a sua validade mediante a
experimentação.

Dewey estava convencido de que muitos problemas da prática educacional de seu tempo se
deviam à epistemologia dualista errónea na qual estava alicerçada, e que esta Epistemologia
atacou seus escritos da década de 1890 sobre Psicologia e Lógica, por isso, ele propôs-se a
desenvolver uma pedagogia baseado em seu próprio funcionalismo e instrumentalismo. Depois
de passar muito tempo, observando o crescimento de seus próprios filhos, Dewey estava
convencido de que não houve diferença na dinâmica da experiência entre crianças e adultos.
Ambos são seres activos que aprendem através de seu confronto com situações problemáticas do
quotidiano. O pensamento é para todos, um instrumento destinado a resolver os seus problemas
de experiência, e a sabedoria é gerado pela acumulação das experiencias na resolução destes
problemas. Infelizmente, as conclusões teóricas desse funcionalismo teve pouco impacto na sua
pedagogia pois muitos ignoravam essa similaridade entre a experiência de crianças e adultos.

Dewey diz que as crianças não são passivas, nem possuem uma mente vazia, onde o professor
preenche com as histórias das civilizações. Quando a criança entra na sala de aula, “já é
intensamente activo, e o papel do professor é de se encarregar em dirigi-la” (DEWEY, 1899:
25).

A criança de idade escolar, carrega consigo os impulsos inatos que lhe permitem inquirir e
expressar-se de forma precisa, o que “constituem recursos naturais, cujo exercício depende do
crescimento activo da criança.” (Ibid, p. 30). A criança também traz actividades e interesses da
sua casa, do ambiente em que se encontra inserido e, “a tarefa do professor é direcciona-lo à
actividades que dêem resultados positivos” (EDWARDS, 1966: 41).

Este argumento de Dewey foi confrontado por apoiantes da “educação tradicional”, também por
reformadores românticos, que defendiam uma pedagogia “centrado não na criança mas sim no
professor. Os tradicionalistas, encabeçados por William Torrey Harris, “Comissário de Educação
dos Estados Unidos”, eram a favor de uma instrução disciplinada e gradual da sabedoria
20

acumulada pela civilização. O problema era com os métodos e metas determinadas pelo ensino.
O papel da criança era simplesmente “receber, aceitar. Ele cumpre seu papel quando dócil e
disciplinado” (DEWEY, 1902: 276).

Em vez disso, os defensores da educação centrada na criança, como G. Stanley Hall, e membros
proeminentes da Sociedade Nacional Herbart, afirmou que o ensino de disciplinas deve ser
subordinado ao crescimento natural da criança. Para eles, a expressão dos impulsos naturais da
criança era o “ponto de partida, o meio, e o fim” (Idem.).

Estas escolas diferentes de pensamento, foram travando uma batalha feroz na década de 1890.
Tradicionalistas defendendo o conhecimento duramente conquistada ao longo de séculos de luta
intelectual, acreditando que a “educação centrada na criança era caótica, anárquica”, trata-se
de uma rendição da autoridade dos adultos às crianças. Enquanto isso, os românticos defendendo
a espontaneidade e mudança na criança, acusavam seus adversários de suprimir as
individualidades de crianças através de uma pedagogia tediosa, de rotina e despótico.

Na óptica de John Dewey, este debate foi o reflexo de um outro dualismo pernicioso, face a qual
se opôs. De acordo com Dewey, a disputa terá sido resolvida, se ambas as partes reconhecessem
não haver entre elas ideia diferentes, a não ser uma diferença de grau de experiência da criança e
as várias questões a serem abordadas durante os seus estudos.

É bem conhecida a crítica de Dewey aos tradicionalistas por não relacionarem as disciplinas do
currículo com os interesses e actividades da criança. Em vez disso, eles muitas vezes ignoram os
seus ataques contra defensores da educação centrada nas actividades e interesses da criança.
Alguns críticos da teoria pedagógica de Dewey têm confundido sua posição com a dos
românticos, mas há uma ligeira diferença entre pedagogia de Dewey com a dos românticos. “O
perigo do romantismo é de considerar as tendências e interesses das crianças como importantes
em si mesmos” (Ibid, p. 280).

É errado considerar as tendências e interesses das crianças “tal como elas são” como sendo já
acabados. A educação eficaz requer que o professor explore essas tendências e interesses de
modo a orientar a criança em todas as disciplinas, de carácter científico, histórico ou artístico.
21

“Na realidade, os interesses não são apenas habilidades de possíveis experiências; não são
realizações; o seu valor reside na força que eles fornecem, e não em realização que eles
representam” (DEWEY, 1902: 280). As matérias do programa ilustram a experiência acumulada
pela humanidade, e de igual modo apontam para a experiencia imatura da criança.

A pedagogia de Dewey requer que os professores realizem uma tarefa extremamente difícil, que
é “restabelecer os tópicos de estudo na experiência” (Ibid., p. 285). Para os tradicionalistas, este
conhecimento deve simplesmente ser imposta sobre a criança. Ao invés de impor o assunto para
as crianças (ou simplesmente deixá-los para si mesmos, como aconselham os românticos),
Dewey pediu aos professores que integrassem a Psicologia no currículo, criando um ambiente
em que as actividades imediatas da criança confrontem-se com problemas em que conhecimentos
teóricos e práticos da esfera científica, artístico, etc. sejam necessários para serem aplicados. Na
verdade, o currículo está lá para lembrar o professor quais são os caminhos abertos para a
criança. “Cabe ao professor conseguir que todos os dias haja condições para estimular e
desenvolver as faculdades activas de seus alunos. Cada criança tem que ser dono do seu próprio
destino como revelado nos tesouros da ciência, da arte e da indústria” (Ibid., p. 291).

Se os professores ensinassem desta forma, orientar o desenvolvimento das crianças de forma


não-directiva, que teriam de ser, como reconheceu Dewey, altamente treinados, perfeitamente
consciente da matéria ensinada, treinados em psicologia infantil e treinados em técnicas
concebidas para proporcionar estímulos necessários para que a criança a partir da experiência,
conhecesse o seu crescimento. Como considera Dewey, o professor deve ser capaz de ver o
mundo através dos olhos de uma criança.

“Como Alice, o professor tem que, como crianças, se colocar por trás do espelho e ver
através das lentes de imaginação todas as coisas, sem sair dos limites da sua
experiência; mas, se necessário, deve ser capaz de recuperar a sua visão corrigida e
fornecer, com o ponto de vista realista e adulta, a orientação de conhecimentos e
instrumentos do método” (MAYHEW apud EDWARDS, 1966: 312).

Com esta afirmação, pode-se entender que Dewey é da ideia de que o professor tem que ter a
capacidade de descer ao nível de conhecimento dos alunos, perceber-lhes aquilo que são suas
objecções a respeito do que se está estudando, e na sua “maturidade” como professor, com
objecções de experiencia científica, deve orientar os alunos a progredirem na sua incansável
busca de conhecimentos e instrumentos progressivamente. Dewey admite que a maior parte dos
22

professores não possuem os conhecimentos e habilidades que são necessárias para ensinar dessa
forma, mas sentiram que poderiam aprender a fazer.
23

CAPÍTULO II: CONCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA EM JOHN DEWEY.

2.0. A Concepção da Educação em John Dewey

John Dewey diz que a Educação é um fenómeno criado pela e para a sociedade. Seu pensamento teve
muita influência na “Escola Nova”. Para Dewey, a escola possui uma função de coordenar a vida mental
de cada cidadão nas diversas influências dentro do meio social onde este se encontra inserido. Por mais
que a Educação seja uma função social, é mais ainda uma necessidade de vida, e a vida é renovada
através de conhecimentos que um indivíduo adquire na sociedade, diferenciando-se deste modo o homem
dos demais seres inanimados.

O principal foco da Educação é fazer com que a aprendizagem de todo o conhecimento leve à prática,
assim sendo, Dewey propôs uma Educação, um método que levasse em consideração a experiência de
cada indivíduo, não como uma atitude separada do sujeito com o mundo, mas que este se integre com os
outros. Assim, a “Educação” é para John Dewey, “um processo pelo qual uma cultura é transmitida de
geração para geração, acontecendo por meio da comunicação de hábitos, actividades, pensamentos e
sentimentos dos membros mais velhos da cultura aos mais novos” (OZMON apud CRAVER, 2004: 151).

Assim sendo, a educação não deve se limitar a nível escolar ou formal, pois faz também parte da própria
vida. O que se deve estudar na escola, as matérias seleccionadas, devem tomar em conta a vida social de
cada indivíduo, isto é, as vivências do dia-a-dia de cada indivíduo, e os planos devem ser traçados
segundo as necessidades do aluno, de modo a capacita-lo a enfrentar os problemas reais da sociedade
onde está inserido. A ideia de deixar que a criança se eduque por si, foi posteriormente criticada, e
Pitombo afirma o seguinte: “afirmar que a criança se eduque sozinha sem o professor, é o mesmo que
dizer que ela educa-se naturalmente, crescendo espontaneamente, como se fosse uma planta” (OZMON
apud CRAVER: 2004). Mas esta crítica constitui uma má interpretação do pensamento educacional de
Dewey, pois Ele opunha-se aos métodos do ensino que eram autoritários, onde tudo dependia do
professor. Aqui o aluno só precisa receber e aceitar somente o que é apresentado pelo professor, tomando
uma atitude de docilidade e submissão, porém, a Educação da “Escola Nova” de Dewey, a criança deve
estar no centro do processo de ensino e aprendizagem e, para o seu melhor crescimento é indispensável
que este seja educada com base na sua situação concreta de vida, em função do que a criança pretende
aprender e também de acordo com os seus pré-requisitos que traz consigo junto da comunidade. O aluno
deve tomar uma atitude de inquiridor, boa disposição de sempre querer aprender mais, possuir um espírito
aberto a novas possibilidades, novas objecções e novos entendimentos.
24

Porém, isso só é possível quando o professor adequa o curriculum em função dos seus alunos, e dar a
entender ao aluno que todo o processo de ensino e aprendizagem visa o seu próprio amadurecimento e,
para que isso aconteça, este deve enriquecer-se da experiência do outro.

2.1. O contributo de Dewey na Pedagogia Moderna.

A grande contribuição de John Dewey na pedagogia moderna foi de banir a ideia de que existe uma
separação entre a “escola” e a “vida”, o que na realidade do aluno não existe. O pensamento pedagógico
de Dewey emerge para combater os problemas que a Escola Tradicional levantou tais como: “cariz
autoritário, selectivo, elitista e reprodutora das desigualdades sociais”.

Face a esta situação, Dewey ao elaborar a sua Filosofia de Educação, “a finalidade da educação, não era
integrar o jovem na sociedade, mas sim, dotá-lo de conhecimentos e competências que permitissem a sua
participação na transformação da sociedade. Daí que a Educação Democrática ter sido a pedra de toque
do seu modelo” (MARQUES, 1998: 50).

E os cinco (5) princípios que nortearam o seu pensamento pedagógico são: o princípio da “actividade”- Commented [Salvado M1]: Os cinco princípios que
nortearam o pensamento de John Dewey em toda sua
uma vez que o verdadeiro conhecimento é aquele que advém da experiência, esta requer uma actividade carreira
ou acção. O segundo princípio é o da “utilidade”- a aprendizagem só tem significado quando esta é útil
para a criança, quando tem uma aplicação concreta da vida real. O terceiro princípio é o da “união dos
meios e dos fins”- tudo quanto é objectivo e útil para o indivíduo, deveria estar sempre patente no
currículo escolar, isto é, o currículo deve ser concebido para responder os problemas quotidianos dos
indivíduos. O outro princípio fundamental da sua pedagogia, é o princípio da “Democracia”- a escola
deve promover uma educação para a cidadania e a democracia, e isso só se ensina com a prática ou se
fazendo, ou seja, “learn by doing”. Isto exige que o aluno participe na tomada de decisões, assim sendo,
“as escolas se deviam organizar como pequenas comunidades democráticas, empenhadas no
desenvolvimento de actividades socialmente úteis, capazes de terem um impacto positivo no
desenvolvimento dos valores democráticos” (Ibid., p.51).

O último princípio referenciado por Dewey, é o “científico”- este tem a ver com todas as inovações da
ciência no tempo actual, que se desenvolva a reflexão analítica e o pensamento crítico no processo do
progresso humano. O currículo deve ser concebido em função da vida real dos alunos, uma vez que “a
vida é um processo que se renova a si mesmo por intermédio da acção sobre o meio ambiente” (DEWEY,
1959: 8), e, neste caso, a educação tem como objectivo, integrar de uma forma activa os alunos na
sociedade, uma integração transformadora, inconformista e crítica. Uma Educação em que o aluno é o
25

mentor principal no processo de ensino e aprendizagem, onde este transforma sua vida com a experiência
dos outros. Uma Educação onde o aluno coloca em crítica tudo quanto aprende, para poder produzir mais
e melhor o conhecimento.

2.2. A Teoria da Democracia.

Entende-se por “Democracia”, ao regime político no qual a soberania reside no povo, por meio de
sufrágio universal. Segundo Rousseau, “a democracia realiza a união da moral com a política – é um
estado de direito que exprime a vontade geral dos cidadãos que são simultaneamente legisladores e
súbditos das leis” (DURAZOI apud ROUSSEL, 2000: 103)

Na concepção de John Dewey, a democracia é um sistema político em que todos os cidadãos participam
na formação dos valores que regem a vida dos homens associados. E a liberdade na concepção de Dewey,
é algo que deve ser alcançado no presente com vista a ser preservada no futuro, e deve beneficiar e entrar
em harmonia com a liberdade dos outros, é nesta perspectiva que ele escreve: “a liberdade conquistada
hoje cria situações graças às quais haverá mais liberdade amanhã e no sentido de que a minha liberdade
faz crescer a dos outros” (REALE apud ANTISERI, 1990: 513)

A sociedade totalitária, para Dewey, é colocada de lado, pois sacrifica os anseios das massas,
concentrando todo poder num único homem (o monarca). Dewey é daqueles que defendem a ideia de uma
sociedade democrática. No que diz respeito à liberdade, J. P. Sartre (1905-1980), chamou de
transcendência ou mesmo de liberdade, onde a liberdade não é um ser, mas sim, um nada, um projecto
concebido com propósito. Para Sartre, a liberdade não é um ser fora do homem, ela é um ser do homem, Commented [Salvado M2]: Jean Paul Sartre
ou seja, o seu nada de ser. A liberdade é a essência que constitui o uno pois quem nega a liberdade, nega
também o homem pois o homem é por natureza um ser livre. A liberdade, na concepção de Sartre, anda
de mãos dadas com a escolha e a responsabilidade. No concernente à liberdade, Sartre diz que o homem
está condenado a ser livre, isto é, não há limite da liberdade para o homem uma vez chamado à existência,
mas deverá se responsabilizar por todas as suas acções relativas à sua escolha. Sartre rejeita a sociedade
totalitária uma vez que esta abraça tudo como poder absoluto, que não dá espaço ao diálogo, mas, nas
sociedades democráticas, há liberdade, e o diálogo é aberto, assim sendo há trabalho em conjunto, ou seja,
há uma relação de interajuda com o objectivo de alcançar um bem comum. Na concepção de John Dewey,
a Sociedade Democrática “rejeita o princípio da autoridade externa e deve dar-lhe, como substituto, a
aceitação e o interesse voluntários, e unicamente a educação pode criá-los (...) uma democracia é mais
26

do que uma forma do governo; é, primacialmente, uma forma de vida associada, de experiência conjunta
e mutuamente comunicada” (DEWEY, 1959: 93).

A democracia é o modo de vida em que todas as pessoas com requisitos propostos pelo sistema
democrático, participam da formação dos valores que governam a vida dos homens em sociedade. Na
democracia, não há discrepância dos anseios individuais, mas sim, são estimulados, de forma que tudo o
que o indivíduo almeja, seja alcançado. Se há espaço para que isso aconteça, então o indivíduo sente-se
responsável, e reconhece a necessidade de fazer algo que possa contribuir para o bem comum da
sociedade na qual faz parte. Ao opor-se à sociedade totalitária e absolutista, Dewey vê a necessidade de se
pautar pela sociedade democrática, onde propõe dois conceitos fundamentais a saber: “sociedade
planeada”- que se planeia constantemente; e uma sociedade livre, e que os define deste modo: a primeira
requer desígnios finais impostos de cima e que, portanto se baseiam na força física e psicológica, para
fazer com que nos conformemos a eles. A segunda significa libertar a inteligência, mediante a forma
mais vasta de intercâmbio cooperativo” (REALE apud ANTISERI, 1990: 513).

No seu pensamento como filósofo e pedagogo, a teoria da investigação, dos valores assim como a teoria
da democracia, relacionam-se com a “teoria da educação” manifesto nas obras “Democracia e Educação”
e “Experiência e Educação” onde são entendidas como reconstrução e reorganização contínua de tudo
aquilo que o homem vivenciou e experimentou no passado, com o intuito de perspectivar com base na
experiência passada e presente, a experiência futura.

2.3. A Escola como Formadora do Sentimento Democrático

É papel da Educação oferecer mecanismos básicos para que a vida humana seja justa, através de uma
organização social democrática. A Educação deve incutir no aluno um sentimento democrático, devendo
este ser desenvolvido num ambiente democrático onde há troca das diferentes experiências individuais,
onde a criança, com aquilo que aprendeu em casa, encontrando-se com os outros colegas, se enriqueça
com as suas experiências, havendo deste modo as relações de interajuda, onde cada um, aprende com o
outro, e que haja respeito pelas experiências individuais. Para Dewey, o ponto de partida é que a escola
deve ser uma sociedade em miniatura, onde a Educação é tida como reconstrução da experiência para as
novas experiências. É nesta vertente que para Dewey “as escolas, todavia, continuam sendo o exemplo
típico do meio especialmente preparado para influir na direcção mental e moral dos que a frequentam”
(DEWEY, 1959: 20).
27

Vê-se nesta afirmação que a escola é um ambiente propício para formar a criança para a maturidade, onde
adquire valores para a sua futura intervenção social.

2.4.Pragmatismo como pressuposto básico da “Educação Democrática” em Dewey.


Pragmatismo, palavra utilizada primeiramente pelo americano Pierce, refere-se a uma doutrina
filosófica que se desenvolveu nos finais do séc. XIX, e que conheceu grande sucesso nos EUA.
Para os pragmatistas, o critério da verdade reside no valor prático do conhecimento, são as
aplicações práticas que fazem do conhecimento uma verdade. Trata-se de uma filosofia de acção.
O termo “pragmatismo” tem a sua origem na língua grega “prágma”, que significa “fazer”,
denota acção, acto ou caso. Na concepção de Kant, “pragmatismo é a ética pratica”. O
horizonte pragmático na perspectiva kantiana, representa a adaptação do conhecimento à
finalidade moral, aos fins da vida prática do agir humano.
Aliando-se a este pensamento, pode se conceber o pragmatismo como sendo a maneira como o
conhecimento, ou seja, o saber racional está relacionado com a acção humana, com a conduta
humana com uma finalidade racionalmente prática.
Dewey, muito antes de aderir ao pragmatismo filosófico já era considerado como um filósofo
pragmatista por causa da “aplicação da acção em sua Filosofia de Educação, tendo chegado ao
pragmatismo pela via social e política decorrente do seu engajamento em questões comunitárias.
John Dewey estabelece uma ligação entre as acções educacionais com os princípios filosóficos
do pragmatismo, afirmando que a educação é o espaço de aplicação da doutrina pragmática, não
só, trata-se de um laboratório de aprendizagem da democracia e da aprendizagem do pensar.
Dewey preocupava-se com a formação moral e educacional do seu povo, não chamando sua
filosofia de pragmatismo, mas sim de “instrumentalismo”, doutrina segundo a qual a questão do
valor da verdade, do pensamento, reside no seu carácter instrumental, ou seja, acção.

Vê-se uma relação intrínseca entre o Pragmatismo e a Educação Democrática, porque o


Pragmatismo defende que todo o conhecimento que um indivíduo possui, deve ter um fim
prático, neste caso, a Educação Democrática tem este objectivo, porque nela, toda a acção do
indivíduo tem como foco, relacionar a teoria com a prática, onde os alunos numa relação de
interajuda e de enriquecimento mútuo, a experiência de um ajuda a melhorar a experiência do
outro nos trabalhos em grupos, onde todos têm a mesma igualdade de oportunidades em poder se
educar.
28

Segundo John Dewey, será democrática aquela sociedade que promove aos seus constituintes ou
membros, a igualdade de oportunidades, onde se assegura um reajuste flexível das instituições
sociais através da interacção das diferentes formas da vida associada, onde há recíproco
enriquecimento e igualdade de oportunidades.

2.5.1. Educação Democrática de Dewey


Para John Dewey, a educação e a Filosofia constituem um todo indivisível, pois a Filosofia
encontra o seu campo pratico na educação. A filosofia de Dewey destina-se a reflectir sobre a
actividade docente, contribuindo deste modo para a renovação da forma rotineira e arcaica que se
tem verificado nas escolas. Dewey concebia a educação como sendo a reconstrução e
reorganização da experiência, tendo como objectivo, aumentar a consciência dos vínculos entre
as actividades presentes, passadas e futuras, ampliando assim a capacidade dos indivíduos para
dirigir o curso da experiência futura. Para ele, a educação das crianças devia basear-se na
abordagem da solução de problemas, isto é, “learn by doing” (aprende-se fazendo), encorajando
as crianças a serem imaginativas em todos os níveis e tornando-as competentes em todas as áreas
da actividade humana.
Dewey demostrou pouco interesse pela educação liberal, os seus esforços estiveram voltadas
para a vida industrial e democrática, assim sendo, a escola devia ser uma oficina, na qual a
educação não se exerce como simples preparo para uma futura maturidade, mas sim como
catalisador positivo para o desenvolvimento do espírito e da contínua reconstrução da
experiência dos indivíduos.

2.5.2. Educação como uma Necessidade e Instrumento Social


Na sua obra “Democracia e educação”, publicada em 1916 no decurso da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), John Dewey, duma forma simultânea, trata a educação como uma
necessidade e como uma função social, processo pelo qual os grupos sociais procuram perpetuar
a sua existência. Começa sua obra caracterizando a educação como sendo essencialmente
humano e que a sua função social varia conforme o grupo social em que está inserida, de modo a
centrá-la dentro de certa realidade concreta que pode ser a “sociedade democrática” que esteja
em mudança permanente ou progressiva, onde encontramos a sua declaração da seguinte forma:
29

“A educação é o processo da renovação das significações da experiência, por meio da


transmissão, acidental em parte, no contacto ou no trato ordinário entre os adultos e os mais
jovens, e em parte intencionalmente instituída para operar a continuidade social” (DEWEY,
1959: 354).

Dewey destaca a função social da educação como sendo um processo pelo qual se dirige o
desenvolvimento das gerações mais jovens pelas mais velhas em qualquer agrupamento humano,
desde os primórdios, no sentido de simultaneamente se conservar e se renovar a ordem social.
De igual modo critica determinadas concepções pedagógicas tradicionais, afirmando que suas
ideias sobre a educação limitam-se formalmente na concepção da contínua reconstrução da
experiência, diferenciando-se da educação como preparação para um “futuro do passado”, como
formação externa e como repetição do passado. Concebe a educação como sendo um processo
geral, uma necessidade de vida, isto é, recurso de transmissão do património cultural acumulado
pela geração mais velha à geração mais nova. A educação apropriada para uma sociedade
democrática é por Dewey entendida como “uma reconstrução ou reorganização da experiência,
que esclarece e aumenta o sentido desta e também a nossa aptidão para dirigirmos o curso das
experiências subsequentes” (Ibid, p. 83).

A democracia é para Dewey um estilo de vida, onde se tem uma vida associada e de experiência
conjunta, onde há partilha de ideias, e esta posição pode entender-se melhor nesta afirmação:
“uma sociedade é democrática na proporção em que prepara todos os seus membros para com
igualdade aquinhoarem de seus benefícios e em que assegura o maleável reajustamento de suas
instituições por meio da interacção das diversas formas da vida associada” (Ibid, p. 106).

Compreende-se aqui, que a sociedade deve adoptar um tipo de educação que propicie aos
indivíduos, um interesse pessoal nas suas relações e direcção social, nos hábitos de um espírito
que permita mudanças dentro da sociedade sem causar distúrbios nem desordem, isto é, construir
a sociedade democrática por intermédio da educação.

“Dewey não está propondo um método de ensinar qualquer, não está falando do pensamento do aluno
como ser humano genérico ou das matérias de estudo situadas num e noutro espaço político, mas sim do
30

método adequado a uma sociedade que deseje educar seres humanos para a vida associada, do
pensamento como instrumento da experiência livremente compartilhada e das matérias de ensino como
depositárias desta mesma experiência” (CUNHA, 2002: 22).

Para este autor, objectivo da educação é de promover a democracia dentro da sociedade, quanto
mais educação, mais democracia. Em outras palavras, o fim último da educação numa sociedade
democrática é aquele já definido por essa sociedade, que deseja não somente manter, mas
também ampliar mais ainda a experiência compartilhada, com liberdade e igualdade para todos,
facto este que, para o autor, implica limitações de individualismo por parte dos indivíduos.
Dewey considera que o dualismo que resulta nas divisões da sociedade em classes, constitui um
entrave para o projecto educacional democrático, pois “as divisões da sociedade em classes e
grupos mais ou menos rigidamente demarcados” (DEWEY, 1959: 355).
Para Dewey, a única saída para as questões que assolam a educação, é o desenvolvimento de
uma sociedade verdadeiramente democrática, ou seja, uma “sociedade em que todos tomem parte
em serviços de utilidade prática e todos desfrutem nobres ócios” (Ibid, p. 282). Dewey declara
que é imoral quando um sistema de educação que visa unicamente habilitar o indivíduo para o
trabalho, exclui o trabalhador das finalidades do mesmo, fazendo com que sirva apenas os
objectivos de outrem.

2.6. Filosofia de Educação de Dewey


Dewey propõe uma Filosofia educacional que coloca o processo educativo a serviço da
transformação progressiva do mundo, unicamente possível por intermédio de uma Filosofia
intimamente ligada à experiência dos indivíduos neste mesmo mundo, capaz de levar em conta
os valores aqui produzidos e aptos a produzir os valores que a humanidade almeja ver
alcançados. Assim sendo, para Dewey, os problemas da educação encontram sua solução apenas
em uma sociedade democrática, não marcada por profundas diferenças entre as classes sociais.
Dewey não se apresenta como quem está em favor da transformação revolucionária da ordem
social através da tomada do poder pelas classes oprimidas. A revolução proposta por Dewey, é
aquela revolução educacional possível de realizar-se por meio de uma Filosofia que leve em
consideração a experiência de todos os indivíduos, possível somente em uma sociedade
democrática já existente ou que esteja no processo da busca dessa democracia. Dewey concebe a
31

educação como sendo permanente organização ou reconstrução da experiência. A expressão


“escola-activa” empregada por Dewey, parece reflectir de forma sintética essa concepção,
opondo-se aos estudos meramente intelectuais, experiência que produz o conhecimento que, por
conseguinte, não passa de um produto da acção. Contrário à concepção tradicional da educação
que separa o conhecimento da actividade, Anísio Teixeira, interpretando a Filosofia da Educação
de Dewey, declara o seguinte:
“O mundo em que vivemos é essencialmente precário e indeterminado, mas o esforço
humano conta, como factor predominante, no destino que esse mesmo mundo pode
tomar. O homem refaz o mundo pelo seu esforço. Presentemente, esse esforço ganhou tal
intensidade que tudo está a se refazer com velocidade que nos custa, às vezes, aprender.
Nesta civilização em perpétua mudança, só uma teoria dinâmica da vida e da educação
pode oferecer solução adequada aos problemas novos que surgem e que surgirão. É tal
teoria, adaptada às duas grandes forças que estão moldando o mundo moderno –
democracia e ciência – que a filosofia de John Dewey buscou traçar” (TEIXEIRA,
1978: 41).

A experiência humana do passado é um modo de existência que fornece material e direcção para
as experiências actuais, resultando ser a vida nada mais que um tecido de experiências de uma
longa aprendizagem, uma vez que é impossível viver sem estar constantemente sofrendo e
fazendo experiências. Assim sendo, Teixeira ao seguir a mesma linhagem no pensamento
educacional de Dewey, declara o seguinte:
“A experiência educativa é, pois, essa experiência inteligente, em que participa o
pensamento, através do qual se vêm a perceber relações de continuidade antes não
percebidas. Todas as vezes que a experiência for assim reflexiva, isto é, que atentarmos
no antes e no depois do seu processo, a aquisição de novos conhecimentos, ou
conhecimentos mais extensos do que antes, será um dos resultados naturais. A
experiência alarga, deste modo, o conhecimento, enriquece o nosso espírito e dá, dia-a-
dia, significação mais profunda à vida. E é nisso que consiste a educação. Educar-se é
crescer, não já no sentido puramente fisiológico, mas no sentido espiritual, no sentido
humano, no sentido de uma vida cada vez mais larga, mais rica e mais bela, em um
mundo cada vez mais adaptado, mais propício, mais benfazejo para o homem” (Ibid.,
p.17).

É nesta perspectiva que Dewey define a educação como sendo o processo de reconstrução e
reorganização da experiência, pela qual lhe percebemos mais agudamente o sentido, e com isso
nos habilitamos a melhor dirigir o curso de nossas experiências futuras. À luz desta definição, a
educação é um fenómeno directo da vida, criado pela sociedade para a própria sociedade, tão
inelutável como a própria vida.
32

“A contínua reorganização e reconstrução da experiência pela reflexão, constitui o


característico mais particular da vida humana, desde que emergiu do nível puramente animal
para o nível mental ou espiritual” (TEIXEIRA, 1978: 17).

Para Dewey, a experiência, não é algo que se oponha à natureza ou através do qual se
experimenta ou se prova a natureza, mas sim, é uma fase dela, na qual situação e agente são
modificados pela interacção. A vida não é mais que um tecido de experiências pois não podemos
viver sem estar permanentemente sofrendo e fazendo experiências, tornando a vida numa
incessante aprendizagem. A vida, a experiencia e a aprendizagem são inseparáveis, pois
vivemos, experimentamos e aprendemos ao mesmo tempo. E a experiência educativa, para
Dewey, é uma experiência inteligente que alarga nossos conhecimentos, enriquecendo o nosso
espírito, trazendo desta feita um sentido mais profundo a nossa vida. A educação consiste num
constante crescimento.

2.6.1. Educação como Fenómeno Social


Como fenómeno social, concebe-se educação como sendo necessidade da vida social, pela qual
as gerações adultas transmitem às gerações mais novas as conquistas de sua civilização. É
característico da vida, a luta para continuar a viver, uma vez que ela se constitui num processo de
auto-renovação. Semelhantemente, a continuação da vida social só é possível mediante a uma
constante renovação: a educação, isto é, “a educação é para a vida social aquilo que a nutrição e
a reprodução são para a vida fisiológica” (DEWEY, 1959: 10).
Uma vez que a nutrição é indispensável para a vida fisiológica, de semelhante modo, a educação
é indispensável e inseparável da vida social, pois através dela, as gerações adultas transmitem
seus valores éticos, morais e culturais às gerações mais novas, não só, as gerações mais novas,
podem acumular experiências do passado, presente, perspectivando assim a sua vida futura.
E se é pela educação que a sociedade se perpetua, então a educação é também o processo pelo
qual a criança cresce, se desenvolve e amadurece, e como tal necessita de direcção e redirecção
permanente pelas gerações mais velhas.
33

“Com efeito, sendo a educação o resultado de uma interacção através da experiência, do


organismo com o meio ambiente, a direcção da actividade educativa é intrínseca ao
próprio processo da actividade. Não pode haver actividade educativa, isto é, um
reorganizar consciente da experiência, sem direcção, sem governo, sem controlo”
(TEIXEIRA, 1978: 22).

Fora desta afirmação, não se trataria de uma actividade educativa, pois no processo educativo os
mais velhos devem dirigir os mais novos, não duma forma autoritária, mas sim democrática,
permitindo que cada criança aprenda não só dos mais velhos, mas sim, que se enriqueça com as
experiências doutras crianças, criando-se espaço por parte dos mais velhos, pra que haja um
ambiente propício para que a educação se efective. É nesta perspectiva que Dewey entende que
“todo o problema de direcção em educação é na verdade um problema de redirecção”, pois a
criança ao aprender a falar, para ter o domínio da língua materna não precisa de direcção, mas
sim de redirecção com vista a corrigir, ajustar, economizar e ordenar suas experiências
educativas. Na perspectiva deweyana, a verdadeira educação tem sempre um sentido social de
participação e de agir comum. Unicamente se ensina e se aprende mediante uma compreensão
comum.

“Educação não é preparação, nem conformidade. Educação é vida, e viver é desenvolver-se, é


crescer. Vida e crescimento não estão subordinados a nenhuma outra finalidade, salvo mais
vida e mais crescimento” (Ibid., p. 31).
A teoria geral de educação de Dewey concebe a educação e a escola como processos de contínua
reconstrução e reorganização, primeiramente da experiencia individual, por conseguinte da
experiencia social. Tal como declara Teixeira, este tipo de educação “somente pode ser aceite e
conscientemente buscada, por sociedades progressivas ou democráticas, que visem não à
simples preservação dos costumes estabelecidos, mas à sua constante renovação e revisão”
(Idem), pois “vive-se aprendendo, e o que se aprende leva-nos a viver melhor. Todo o interesse
humano pela educação e pela escola é, fundamentalmente, uma questão de tornar a vida melhor,
mais rica e mais bela” (Ibid., p. 32).
Está claro que a educação tem em vista a conceder aos indivíduos uma vida melhor, e uma vez
que todo o individuo é um ser social, este deve aprender a viver uma vida associada,
enriquecendo se com as experiencias dos outros, e deve tornar-se cônscio da responsabilidade
que repousa sobre ele, como membro desta sociedade, não se tornando indiferente face às
34

transformações que ocorrem na mesma sociedade, devendo este tomar parte na transformação da
mesma. Se estiver no lugar daqueles que tomam parte na direcção dos outros, deve ser capaz de
dirigi-los, não conforme suas próprias aspirações, mas sim seguindo princípios que irão criar nos
alunos um espírito democrático.
Para conduzir com eficácia processo educativo é importante saber: como aprendemos, como a
aprendizagem refaz e reorganiza a nossa vida e em que consiste uma vida melhor, mais rica e
mais bela.
Nesta perspectiva, a teoria de educação de Dewey, a aprendizagem, poderia ser resumida na
frase: “Só se aprende o que se pratica”. “Learn by doing” isto é, (aprende-se fazendo).
A escola tem que transformar-se num meio de experiências reais vivenciados por alunos no seu
dia-a-dia, ou seja, num lugar de vida real, e não um espaço artificial isolado da sua própria vida e
da sociedade em que vive. Toda a aprendizagem deve ser integrada à vida do aluno, adquirida
em uma experiência real de vida. Quando o aluno não vê nenhuma relação entre o que aprende
na escola com sua vida presente, não terá motivos para se esforçar, não tendo motivos, não pode
ter desejo ou vontade de aprender, pois lhe será difícil assimilar activamente a matéria,
integrando-a em sua vida. O que se aprende isoladamente não se aprende, tudo deve se ensinar
tendo em vista o seu uso e função na vida. A aprendizagem deve ser integrada à vida, deve se
buscar em uma experiência real de vida. A escola deve em seu programa priorizar as
experiências reais da vida do aluno, ao invés de lições isoladas, se bem desejar atingir as suas
finalidades.

Dewey pretende com a sua teoria educativa recolocar a aprendizagem em seu lugar natural que
ocupa na vida. Ele entende a educação como sendo vida, e não preparação para a vida. O acto de
aprender, deve estar ligado à vida e estar em função do processo de viver. A aprendizagem
escolar, infelizmente, é geralmente extrínseca à vida, isto é, o que a criança aprende, não tem
relação com a vida dela, nem visa a resolver seus problemas ou dificuldades que esteja
enfrentando. Se a aprendizagem escolar estiver ligada à vida do aluno, então a aprendizagem será
boa e sã. Quando isso acontece, a criança aprende, reorganiza e reconstrói sua vida e alarga sua
experiência anterior, superando assim a dependência dos outros, tornando-se mais responsável,
mais livre do que antes. É nesta vertente que Dewey escreve o seguinte: “A escola é a instituição
pela qual a sociedade transmite a ‘experiência adulta’ à criança…O saber acumulado da
35

espécie estimula pois a aprendizagem e fornece os meios e modelos pelos quais pode vir a ser
adquirida” (DEWEY, 1978: 39).

2.7. Finalidade da Educação em Dewey


No que diz respeito a finalidade de educação, Dewey expõe o seu pensamento da seguinte
maneira:
“O fim da educação não é vida completa, mas vida progressiva e em permanente
mudança, vida em constante ampliação, em constante ascensão, entendendo mais
educação. Esse ideal é não somente individual, mas também, como social. Isto é, o
máximo desenvolvimento de cada um dirigido de modo que se assegure o máximo
desenvolvimento de todos. Tal desenvolvimento progressivo e permanente constitui, para
Dewey, a essência da vida perfeita” (Ibid., p.41).

É óbvio que para John Dewey, no que diz respeito a finalidade de educação não se trata de
atingir um patamar mais alto e estático, mas sim, trata-se de um desenvolvimento contínuo ou
progressivo, trata-se de uma mudança constante na ampliação da vida. Desta feita, para Dewey, o
objectivo da educação é mais educação, que capacite os indivíduos a continuar sempre mais sua
educação, permitindo o seu desenvolvimento permanente. Afirmar “mais educação”, significa
“maior capacidade para pensar”, equiparar e decidir com mais acerto e convicção. Aqui reside a
liberdade, pois para Dewey somos livres a partir do momento em que agimos sabendo o que
queremos alcançar. O fim da educação não se trata em formar a criança com base nos modelos
preconcebidos, muito menos orientá-la para uma acção futura, mas conceder-lhe condições, para
que por si mesmo resolva seus próprios problemas quotidianos. Assim sendo, a escola não pode
ser concebida como uma preparação para a vida pois ela é a própria vida.
Numa sociedade em que se pretende formar cidadãos que pretendem viver uma verdadeira
democracia, a vida, experiência partilhada em conjunto e aprendizagem não podem estar
separadas, pois a função da escola está em permitir a reconstrução constante e continuada da
experiência da criança. Daí que a educação progressiva constitui o crescimento progressivo e
permanente de nossa vida na medida em que acumulamos o conteúdo da nossa experiência e o
controle sobre ela.

Não só, Dewey entende que o trabalho que se deve dar aos alunos, desenvolve o espírito de
comunidade quando feito em conjunto ou em pequenos grupos, da mesma forma que a divisão
das tarefas estimula a cooperação e o espírito social. Ao contrário da educação tradicional, que
36

valoriza a obediência, a teoria educacional de Dewey desperta o espírito de iniciativa, a


autonomia e o autogoverno como virtudes de uma sociedade democrática.
“Marcado pelos efeitos da Revolução Industrial e pelo ideal da democracia, Dewey quer
preparar o aluno para a sociedade do desenvolvimento tecnológico e para a vida
democrática. A escola se torna o instrumento ideal para estender esses benefícios a
todos, indistintamente, isto é, a educação teria a função democratizadora de equalizar as
oportunidades” (ARANHA,1998: 171).

Dewey foi influenciado pelo desenvolvimento industrial e tecnológico da sua época, e pretendia
que as suas ideias educacionais não somente triunfassem sobre os ideais dos tradicionalistas que
oprimiam as faculdades dos alunos e consequentemente governos despóticos, de semelhante
modo se preocupava com a formação dos cidadãos para a democracia em uma sociedade de
constante processo de mudança, e que as oportunidades estejam igualmente para todos.

2.7.1. A Educação como campo prático da filosofia de Dewey


Como forma de concretizar o ideal democrático da sociedade, Dewey recorreu à Educação como
um fenómeno de extrema importância, capaz de tornar possível um espaço democrático para as
diferentes classes sociais. Servir-se ia da metodologia fundamentada no interesses e na
experiência de cada indivíduo, garantindo assim a perpetuação dos valores liberais básicos, como
por exemplo: a liberdade, a solidariedade e a igualdade de oportunidades.
Dewey foi um dos maiores e implacáveis defensores da democracia na sua época, por ter
afirmado que é possível formar uma sociedade melhor, quando esta pautar pela democracia, que
diz ele ser a única forma digna da vida humana, e é quase impossível pensar na democracia sem
se pensar na Educação.
No que diz respeito a democracia relativa à Educação, Dewey afirma o seguinte:
“Uma sociedade deve procurar fazer que as oportunidades intelectuais sejam acessíveis
a todos os indivíduos, com iguais facilidades para os mesmos (...) assim, a democracia é
mais do que uma forma do governo, é uma forma de vida associada, de experiência
conjunta e mutuamente comunicada” (DEWEY, 1959: 93).

Isto é, a Educação Democrática é aquela onde a igualdade de oportunidades é indispensável,


onde todos os indivíduos presentes no processo de ensino-aprendizagem, convém terem a mesma
oportunidade de ensino, e que não deve haver diferenças de classes sociais, cada criança
envolvida, deve-se enriquecer com as experiências dos seus colegas, entrando numa relação de
interajuda, pois ela promove um espírito democrático.
37

Uma Educação sem essa igualdade de oportunidades, mas que se baseia nos privilégios, não é
democrática. A Educação na concepção de Dewey, é um processo de vida social, onde se faz
experiência, onde se representa não a vida futura da criança, mas a presente e real. Portanto, para
Dewey, a Educação, “é um processo de reconstrução e reorganização de experiências, pelo qual
lhe percebemos mais agudamente o sentido e com isso nos habilitamos a melhor dirigir o curso
de nossas experiências futuras” (DEWEY, 1959: 8).
A Educação Democrática deve formar o homem para valores republicanos e democráticos, não
só, mas também a formação para a tomada de decisões em todas as esferas da vida. Para se
compreender a Educação Democrática de John Dewey, são indispensáveis os seguintes
elementos: a formação intelectual e a informação, quer dizer, equivale a desenvolver a
capacidade de conhecer em vista e poder escolher. Para se formar o cidadão é preciso informá-lo
das vastas áreas de conhecimento, por meio da literatura e das artes, em geral; a educação moral
é indispensável, ligada a uma didáctica de valores que não somente se aprendem
intelectualmente, como também através da consciência ética, formada tanto de sentimentos assim
como da razão; por fim, é imprescindível a Educação do comportamento: enraizar hábitos de
tolerância, bem como cooperação activa, a subordinação do interesse pessoal em detrimento do
interesse geral, ao bem comum.
Para Dewey, Educação Democrática deve consistir em formar cidadãos para disfrutarem os
grandes valores democráticos, que que consiste em liberdades civis, os direitos sociais a
solidariedade, etc. Também consiste na formação de cidadãos para participarem na vida pública,
tanto como cidadão comum ou como governante.
A escola é para Dewey o principal local onde a Educação Democrática deve ser desenvolvida,
embora actualmente haja concorrência de outras instituições, como é o caso dos meios de
comunicação social.
Para John Dewey, a Educação tem como finalidade, propiciar à criança condições para que por si
só, resolva seus próprios problemas, não tal como os tradicionalistas, em seus ideais tinham em
vista formar a criança de acordo com modelos prévios, ou mesmo orientá-la para um porvir.
Assim, tomando em consideração o conceito de experiência como factor central do seu legado,
chega-se à conclusão de que não se pode conceber a escola como sendo preparação para a vida,
mas sim, a própria vida.
38

O ensino e a aprendizagem para Dewey, devem basear-se numa compreensão de que o saber é
constituído por conhecimentos e vivências que se ligam de uma forma dinâmica, distante da
previsibilidade das ideias anteriores. Deste modo, os alunos e professores uma vez detentores de
experiências próprias, são aproveitadas no processo. Do costume o professor tem uma visão
sintética, e que é mais abrangente e clara acerca dos conteúdos, por sua vez os alunos uma visão
sincrética, isto é, que é confusa e não muito clara daquilo que aprendem, tornando assim a
experiência um ponto central na formação de conhecimentos nos alunos, mais do que os
conteúdos formais. Assim sendo, isto levará a uma aprendizagem essencialmente colectiva,
assim como é colectiva a produção de conhecimentos, levando-os a desenvolver um espírito de
trabalho em conjunto, o que pode também influenciar para que eles desenvolvam um espírito
democrático.
Pondo isso em prática, o processo de ensino e aprendizagem irá avante e, os alunos e o professor
se enriquecerão das experiencias partilhadas, e haverá a interacção escolar de poder aprender e
também de poder ensinar, centrado no professor como aquele que dirige o processo de ensino-
aprendizagem.
Numa sociedade assente em princípios democráticos, deve criar-se condições de modo com que
a escola privilegie uma relação de liberdade individual compatível com as liberdades colectivas.
Quando há existência de debates de ideias e de interesses comuns, quando há uma convivência
assente em princípios democráticos, isto poderá estimular a reestruturação das leis e das regras
que construirão uma escola verdadeiramente democrática.

2.8. O pensamento Reflexivo em Dewey


O pensamento reflexivo envolve formar juízos, deliberar, segundo Dewey pensar reflexivamente
significa examinar mentalmente o assunto e dar-lhe uma consideração séria e consecutiva.
Em “Democracia e Educação”, analisando a visão educacional de Dewey, em particular a ideia
de “democracia como modo de vida”, é com objectivo de elucidar que a pedagogia de John
Dewey só se realiza plenamente dentro de uma sociedade democrática. Mesmo diante da visão
política de Dewey, considera ele que é possível a utilização da educação como elemento
preponderante na busca por uma “sociedade democrática”.
39

A educação pensada por John Dewey consiste na capacidade do indivíduo de reconstruir suas
próprias experiências e usá-las como instrumento de aprendizado em acções futuras, tornando a
escola em um laboratório de experiências. Essa objecção está fundamentada no facto de que,
Dewey ao escrever suas obras, sempre mostrou-se optimista em relação a educação que propôs,
pois ele conseguia projectar o homem para o futuro.

2.8.1. Dimensão Sociopolítico do Homem.


O aspecto social e político do homem, fazendo uma análise correcta, exige que este homem viva
em democracia. Tal democracia pode ser concebida como a partilha social de todos os valores,
da generosidade, das aspirações e finalidades, bem como o desenvolvimento comum. Onde há
oportunidades para todos, dando assim a cada indivíduo a para sua realização pessoal e social.
Está claro que a democracia bem entendida não se resume apenas em alguns aspectos da vida
pública civil e política, ela deve ser a inspiração de todas as iniciativas e actividades das pessoas
que se acham inseridas em uma sociedade. Na medida em que um indivíduo mais assume junto
com os outros, toda a extensão dos direitos e deveres pessoais e sociais, se estará praticando a
democracia, originando assim um mundo novo de ideias, de valores, de aspirações e de
finalidades comuns.
Dewey ao falar do ideal democrático, faz a seguinte declaração:
“Existem dois elementos que orientam para a democracia. O primeiro diz respeito não
só aos numerosos e variados pontos de participação do interesse comum, como também,
maior reconhecimento de serem, os interesses recíprocos, factores de regulação e
direcção social. O segundo elemento não só significa uma cooperação mais livre entre os
grupos sociais, como também a mudança de hábitos sociais, sua contínua readaptação
para ajustar-se às novas situações criadas pelos vários intercâmbios. Estes dois traços
são precisamente os que caracterizam a sociedade democraticamente constituída ”
(DEWEY, 1979: 93).

Não é somente através da participação em interesses comuns que a pessoa pratica a democracia,
mas este deve também reconhecer incorporar os interesses mútuos, que são os factores que
regulam a direcção social, não é somente na participação mais livre nos grupos sociais em que a
pessoa se deva sentir como praticante da democracia, mas este deve mudar de certos hábitos
sociais que podem de alguma forma ofuscar o bem comum, e estar apto a ajustar-se às novas
situações.
40

No que diz respeito ao aspecto educativo, Dewey procura mostrar que, na realização de uma
forma de vida social em que os interesses se interpenetram mutuamente, torna a comunhão
democrática mais interessada. Para ele, “…o amor da democracia pela educação é um facto
cediço”. (DEWEY, 1979: 93).
A explicação superficial que se pode fazer, é que um Estado fundado no sufrágio universal, não é
eficiente se aqueles que o elegem e lhe obedecem, não são educados a almejar a democracia na
qual este, o Estado, esta alicerçado. Se a sociedade democrática renuncia o princípio da
autoridade externa, a aceitação e o interesse voluntários é somente pela educação que podem ser
criados. É por isso que Dewey escreveu o seguinte: “…uma democracia é mais do que uma
forma de governo; é, primacialmente, uma forma de vida associada, de experiência conjunta e
mutuamente comunicada”. (Idem).
Na visão de Dewey: “…o ideal democrático da educação será uma ilusão tão ridícula quanto
trágica, enquanto tais ideias não preponderarem mais e mais, em nosso sistema de educação
pública”. (Ibid., p.105). A concretização dos objectivos da educação exige que não só a
administração pública proporcione facilidades para o estudo e complete os recursos da família,
para que os jovens estejam aptos a tirar proveito dessas facilidades criadas pela administração
publica, como também uma modificação das ideias tradicionais da cultua, matérias tradicionais
de estudo, para que se possam manter todos os jovens sob a influência educativa democrática que
leva em consideração a capacidade reflexiva da criança, diferentemente das escolas com ideais
tradicionalistas, até estarem preparados para iniciarem as suas próprias carreiras económicas ou
até mesmo sociais.
Dewey na sua visão filosófica, vê que a finalidade da educação pode se confundir com a
finalidade da vida. A educação é o processo pelo qual se garante a continuidade da vida e de
ampliá-lo progressivamente. A educação democrática é algo que almejamos que aconteça,
porque não só propicia o melhor para a experiência actual e futura da humanidade, mas também
constitui o único meio pelo qual pode se verificar o crescimento individual e colectivo.
41

2.9. Pragmatismo como Instrumentalismo.


Enquanto o pragmatismo é uma corrente que prega que a validade de uma doutrina é
determinada pelo bom êxito prático, Instrumentalismo, trata-se de uma doutrina defendida por
Dewey segundo a qual, as ideias são instrumentos que funcionam como guias de acção e têm sua
validade determinada pelo sucesso da acção. Neste caso, as ideias são tidas como instrumento de
acção e que é a sua utilidade que determina a veracidade das mesmas.
A educação proposta por John Dewey era essencialmente pragmática e instrumentalista uma vez
que buscava a convivência democrática sem renunciar a sociedade de classes. Para Dewey, a
experiência concreta da vida, sempre se apresenta diante dos problemas que a educação pode
solucionar. Em Dewey, a educação era essencialmente um “processo” e não “produto”. Um
processo de reconstrução e reconstituição da experiência. Portanto, um processo de melhoria
permanente da vida individual assim como da vida social.
Nesse sentido, é fundamental que o educador mantenha uma constante reflexão sobre o seu agir
pedagógico, tendo como principal foco, uma acção educativa voltada ao desenvolvimento
integral da criança.
42

CAPÍTULO III: ANÁLISE DA EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE SOB PONTO DE


VISTA DA EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA DE JOHN DEWEY.

3. Educação em Moçambique na era colonial


Antes Moçambique alcançar a sua independência, o Sistema da Educação, estava ligado aos
programas, conteúdos e objectivos traçados pelo Sistema Colonial Português, destinados a
resolver e concretizar os anseios de Portugal. Existia nesta época ensino elementar e rudimentar.
O primeiro estava destinado aos filhos dos portugueses, e o último estava destinado aos
indígenas. Referindo-se ao Sistema de Educação da época colonial, Guilherme Basílio escreveu
o seguinte:
“Para que os objectivos da Educação Portuguesa fossem mantidos, no território
Moçambicano, desenvolviam-se em paralelo, dois tipos de ensino: o ensino oficial
controlado e destinado à formação dos filhos dos colonizadores e o ensino indígena
destinado à formação dos moçambicanos. Estes dois ensinos pressupunham a existência
de dois currículos aparentemente opostos. A vinculação ao sistema Português criava
uma lacuna nos alunos moçambicanos, no que dizia respeito aos desafios da sua vida, do
seu mundo e dos seus direitos” (BASÍLIO, 2006: 67).

O sistema educativo da era colonial consistia em dois tipos de ensino, correspondentes a duas
concepções da educação, a educação para os indígenas, ou seja, nativos, e a educação da elite
que também pode designar-se de “elementar”, para os filhos dos colonizadores e para aqueles
que eram tidos como assimilados e filhos de assimilados. Portanto, o ensino oficial, era para
atender os valores e padrões aristocráticos. O ensino “rudimentar”, ou seja, dos indígenas, por
sua vez destinado ao povo colonizado, limitava-se exclusivamente, a uma instrumentalização
técnica, isto é, aprender a fazer para melhor servir aos interesses portugueses, e aprender a ler e a
escrever, sem uma preocupação basicamente formativa. Assim sendo, pode-se concluir que, a
educação colonial tinha um carácter segregacionista ou discriminatório, uma vez que se
estabelecia dois diferentes tipos de educação, uma para os negros e dirigida pelas missões, que
na altura estava a cargo da igreja católica, e outra destinada aos filhos dos colonos portugueses e
aos assimilados, confiada ao Estado e às instituições privadas competentes.
Após independência, Moçambique procurou adoptar um novo currículo da Educação que se
adaptasse às condições novas enfrentadas pelo país. É neste âmbito que em Moçambique
introduziu-se, em 1983, o Sistema Nacional da Educação (SNE). Face às novas condições
políticas e económicas enfrentadas pelo país, houve necessidade de o mesmo currículo
43

introduzido em 1983 ser reajustado em 1992. Com as dificuldades enfrentadas no Ensino Básico,
que não permitiam uma necessária abordagem dos conteúdos em função das necessidades
vigentes, houve inovações por parte do Ministério da Educação, assim, no ano de 2002,
concebeu-se um outro novo currículo que recomendava a integração dos conteúdos a nível
teórico-prático, que deveria unir a teoria e a prática, ideia essa defendida por John Dewey na sua
escola progressista.

3.2. Reforma no Currículo


No que tange a reforma de um determinado currículo, e para que este tenha resultados positivos
ou sucesso, Mucavele expõe o seu pensamento da seguinte forma:
“Mediante uma reforma curricular, para que esta tenha sucesso, é necessário realizar
seminários, onde estão envolvidos todos os sectores públicos e privados, a participar, a
fazer comissões de trabalho e consultas aos professores e aos alunos, de modo a se
desenvolver uma relação de colaboração entre as comunidades e as escolas. É preciso
também recrutar professores na própria comunidade onde a escola se localiza, de modo
que se sinta que a escola é pertença da comunidade” (MUCAVELE, 1998: 28).

O currículo deve ir ao encontro das necessidades da comunidade, caso contrário, não nos irá
servir para nada, daí que há necessidade de se convocar todos aqueles que ao opinarem suas
ideias daquilo que pode ou não fazer parte do novo currículo, possam o fazer segundo as
necessidades da comunidade onde se encontram inseridos.
No que tange à transformação do currículo, Castiano afirma que: “a transformação curricular do
Ensino Básico visava responder a três questões básicas: a expansão das oportunidades
educativas, a melhoria da qualidade de ensino e uma administração escolar descentralizada”.
(CASTIANO apud BASÍLIO, 2006: 67).
Face a questões levantadas por Basílio e Castiano, se acrescenta uma outra, que está ligada à
adaptação do sistema educativo face aos problemas enfrentados pelo país. O novo currículo do
Ensino Básico preconizava o ensino que se centrasse no aluno, ou seja, o aluno torna-se neste
caso, o centro de todo o processo de ensino e aprendizagem, e isto vai ao encontro com os
intentos de John Dewey, quando fundou a Escola Nova ou Progressista que preconizava que o
aluno constituísse o centro de aprendizagem, e que o currículo devesse ser concebido em função
deste.
O novo currículo do ensino, tem como objectivo, formar os alunos para as habilidades e
competências que se adeqúem aos desafios actuais do mercado e à valorização diversidade
44

cultural. Tal como Dewey concebeu, este currículo está centrado no aluno como agente principal
da Educação, no construtivismo onde se reconstrói os conhecimentos prévios adquiridos na
comunidade, em função da diversidade cultural encontrada pela criança na escola na sua
socialização com os outros.
Uma das estratégias usadas pelo governo para alcançar esse objectivo, foi a expansão das
oportunidades educativas, onde houve extensão das escolas do Ensino Básico, visto que a
sociedade quisesse ver os seus filhos escolarizados. Portanto, houve a ampliação de
oportunidades de modo a escolarizar o maior número possível dos moçambicanos, no que diz
respeito ao Ensino Básico.
O aumento das Escolas Primárias Completas, foi outra estratégia tomada pelo governo com vista
a combater o analfabetismo e a pobreza na consolidação da paz nacional. Como forma de
persuadir as massas, houve um decreto por parte do Ministério da Educação, em 2004, para que
o ensino básico fosse gratuito, assim sendo, houve maiores oportunidades de cada indivíduo se
formar.
A outra estratégia tomada pelo Governo foi melhorar a qualidade de ensino centrado não só no
aluno, mas também na formação contínua de professores qualificados, e deveras, na reforma
curricular e distribuição gratuita do material escolar. Face ao défice epistemológico e moral por
parte dos alunos, houve então a necessidade de se distribuir o material escolar, de haver centros
de formação de professores de modo a habilitá-los a trabalharem segundo o modelo actual da
educação. Isto só era possível se se coadunassem os conteúdos aprendidos na escola em função
das condições económicas, políticas, sociais e culturais do país.
A descentralização da administração escolar, foi a outra estratégia tomada pelo governo, para
que as escolas pudessem responder às necessidades sociais vigentes da parte dos alunos, dando
autonomia às escolas. Houve também a descentralização da gestão do ensino, dando assim as
oportunidades aos governos locais, aos municípios que respondem às necessidades locais sem,
no entanto desligar-se do governo central. Com base nesta filosofia de descentralização,
concedeu-se às direcções provinciais e distritais o poder de formar e capacitar professores,
definir políticas regionais e locais no âmbito da educação, recrutar o corpo docente e fazer
parcerias, funcionando assim como uma política educativa do Governo.
O Governo foi obrigado a adaptar o sistema educacional às novas condições socioeconómicas.
Diante da globalização, o sistema educacional, viu-se obrigado a aderir a nova política
45

internacional, havendo assim a necessidade de se construir um currículo que se adequasse com as


condições socioeconómicas locais e globais.
Uma vez concebido o currículo, este visava fundamentalmente em formar os alunos de modo a
aplicarem os conhecimentos no desenvolvimento da sua comunidade e do país. Isso se adequaria
com a nova pedagogia centrada no aluno, não deixando de fora os problemas do quotidiano por
ele enfrentado. Esta pedagogia tem suas raízes na Filosofia de Educação de John Dewey. Deve-
se levar o aluno a conhecer os aspectos da personalidade, da cidadania, da diversidade cultural,
da manutenção da democracia, do intercâmbio cultural, etc. Este aluno, deve também,
desenvolver conhecimentos, valores, e comportamentos que lhe permitirão valorizar as relações
humanas, a interpretar os fenómenos culturais (a nível local e global), políticos, económicos e
naturais.
“O novo currículo visa fundamentalmente introduzir uma educação que se preconiza em
resguardar a diversidade cultural dos indivíduos em vista a encontrar o aluno nas suas
condições locais. Visa também desenvolver as habilidades para estimular a competência
nos alunos em função do mercado local e internacional que oferece instrumentos de
análise da vida humana” (BASÍLIO, 2006: 68).

Quer dizer, este modelo de educação visa a preparar o cidadão a saber dar importância aos seus
valores culturais, capacita-o também a responder aos desafios lançados pelos mercados a nível
nacional e internacional, habilitando-se este de modo a pensar globalmente e agir localmente
(glocalidade)
“Esta transformação curricular inicia em 2002, pelo Ministério da Educação, com a
concepção e a consequente introdução de um currículo para o ensino básico, sob os
auspícios da UNESCO. Neste novo currículo para o ensino básico, são introduzidas
inovações, é o caso dos ciclos de aprendizagem, o ensino básico integrado, a
distribuição dos professores, a promoção de passagens semi-automáticas, a introdução
das línguas moçambicanas no ensino, a introdução da língua inglesa, a introdução de
ofícios, a introdução da educação musical e moral e cívica e a introdução do currículo
local” (CASTIANO, 2005: 65).

Vê se aqui, os indícios das ideias educacionais de John Dewey a quando da transformação da


escola tradicional em progressista, que visava formar o aluno a saber dar soluções aos problemas
reais vivenciados pela comunidade na qual se encontrava inserido.
Com a independência, a educação deveria proporcionar o desenvolvimento da nação
moçambicana, e no sentido mais amplo deveria ter como finalidade o nacionalismo africano, no
âmbito da cooperação dos moçambicanos com outros estados africanos.
46

A educação deveria no máximo preparar os cidadãos moçambicanos de modo a responder aos


problemas reais e concretos enfrentados pelos mesmos.
É neste contexto que encontramos a educação nacionalista, que pretendia criar nos cidadãos uma
identidade propriamente moçambicana e, ao mesmo tempo, consolidar os pressupostos
axiológicos da pertença à nação moçambicana, combate dos conflitos tribais e consciencializar a
cada homem e mulher da necessidade da unidade nacional para melhor combater-se a pobreza
intelectual e material dos moçambicanos. Contudo, surge aqui um problema: “como é que a
Educação teria uma base forte não havendo dentro do país estruturas próprias, muito menos
meios económicos próprios para realizar esta revolução? Como é que a educação teria base forte
sem pessoas qualificadas para levar avante esta missão e também assegurar uma educação
nacionalista adequada?
É neste âmbito que houve a necessidade de se estruturar o currículo, a concepção do Sistema
Nacional da Educação em 1983, reajustamento do currículo em função das necessidades
enfrentadas pelo país, isso em 1992 e, por fim, a concepção do novo currículo em 2002. Estas
medidas foram tomadas em função do desenvolvimento das tecnologias de informação,
comunicação e globalização, para o combate tanto da pobreza como do analfabetismo, com o
objectivo de responder às necessidades hodiernas e acompanhar o desenvolvimento do mundo
(globalização).
“O processo da educação que surgiu após a independência foi de massificar a educação
e garantir uma educação básica para todos. Assim, a massificação da educação, naquele
tempo, incluía mais do que proporcionar às crianças em idade escolar, o acesso à
educação. Na visão educacional da altura incluía também adultos (operários e
camponeses), campanhas específicas para mulheres, para jovens e para velhos. A
educação assume-se, com este termo, uma tarefa de todos nós, como dizia Samora
Machel” (CASTIANO, 2005: 16).

É com base nestes factores que o projecto da formação do Homem Novo de Machel não teve
sucesso, uma vez que não havia estruturas na altura que pudessem levar avante este projecto. Na
concepção de Brazão Mazula:
“O Homem Novo seria aquele que, embora consciente das suas limitações, travava
consigo mesmo, o combate interno e permanente para superar as insuficiências e as
influências reaccionárias que herdou, aquele que constrói o socialismo e mobiliza as
massas pela sua dedicação, disciplina e entusiasmo” (MAZULA, 1995: 179).

O Homem Novo não devia se deixar levar pelas suas limitações, sejam elas intelectuais ou
materiais. Devia em cooperação com os outros reunir seus esforços de modo a colmatar tudo
47

quanto constituísse entrave para a sua progressão. A educação, que é o fenómeno criado pela
sociedade e para a própria sociedade, é tida como instrumento fundamental e indispensável para
a criação do Homem Novo.

3.3. Influência da Filosofia de Educação de John Dewey na Educação Moçambicana.


3.3.1. Críticas ao Ensino Tradicional
A principal crítica que se pode fazer ao “Ensino Tradicional” é que neste, o aluno toma uma
posição passiva na assimilação dos conhecimentos apresentados pelo professor, e que os concebe
através dos órgãos dos sentidos sem o uso activo da razão. O aluno não age activamente neste
Processo de Ensino e Aprendizagem, ou seja, o aluno limita-se somente em memorizar a matéria
dada pelo professor em sala de aula, sem poder questionar ou tomar uma atitude activa (crítica)
em função daquilo que se está a aprender.
Dewey criticou a pedagogia de Herbart, visto que segundo Herbart, o professor é o sujeito
responsável em despejar ideias e conhecimentos na mente do aluno, permanecendo este sem
ocasião para elaborar seus próprios conhecimentos e ideias, uma vez que existe a acção externa
do professor que lhe fornece regras morais, conceitos, ideias e valores morais.
A “Escola Nova” ou Pedagogia Activa ou Escola Activa surge como reacção à pedagogia
Tradicional que era eminente no século XIX. A Escola Nova refutou o ensino enciclopédico
centrado na instrução e no professor e em contrapartida, optou por uma Educação que tomasse
como base o aluno, sua vida, sua actividade no processo de ensino-aprendizagem, e tomando-o
assim como mentor desse processo e como elemento activo na aprendizagem.
Ao opor-se aos intuitos da Escola Tradicional, Dewey concebe a Educação como um processo de
reconstrução contínua da experiência humana na sociedade, e para isso, concebeu ele um ensino
que tivesse como pressuposto básico, a prática, isto é, a experiência. Em vista disso, para Dewey,
a experiência e a aprendizagem andam de mãos dadas, e não devem separar-se.
Os pragmatistas não concordam que a educação deva ser tratada como algo que prepara a criança
para a vida, porém como parte da vida que é, de facto, vivida pelas crianças. No concernente ao
currículo, os pragmatistas fazem uma discrepância absoluta da abordagem tradicional do
currículo, onde o conhecimento está isolado da experiência.
48

Para John Dewey, a função principal do professor é de estabelecer um ambiente adequado e


favorável para que haja a aprendizagem, de modo a estimular o crescimento intelectual e
emocional almejado entre os estudantes.
Uma crítica que se pode fazer à Educação na “Escola Nova” é que esta orienta-se numa
Educação que está mais voltada aos interesses da criança, sem levar em conta que os estudantes
não têm a disciplina que provêm dos estudos em conteúdos básicos, outro aspecto é que a
aplicação deste novo método acontece sem uma preparação prévia dos alunos para se lidarem
com esta nova realidade educativa.
É de acordo comum que todas as críticas de Dewey para dirigidas à Escola Tradicional, também
são válidas no contexto da educação moçambicana, isto porque a ideia geral é que de forma
como Dewey concebeu a sua escola pragmatista que surge em contraposição à escola tradicional,
também a concepção do novo currículo moçambicano, contrapõe-se ao ensino estabelecido antes
da independência de carácter segregacionista, infligindo deste modo qualquer aspiração
democrática, o que pode se aliar com aquilo que foi a Escola Nova de Dewey ao combater a
escola tradicional, pois almejava ele uma escola que proporcionasse uma educação fundada nos
princípios democráticos com fins eminentemente práticos. As críticas aqui encabeçadas sob
ponto de vista da educação em Moçambique são válidas, pois o ensino não se deve centrar no
professor como o era na época colonial, mas sim deve estar centrada no aluno, como agente
principal da Educação.

3.4. Da Escola Tradicional à Escola Nova


John Dewey aparece numa época em que o sistema educacional centrava-se nas técnicas de
memorização e na transferência de conhecimentos a modo de Ensino Tradicional, propondo
assim a Educação da Escola Nova ou Progressista que partia do princípio de que a escola deveria
actuar como um instrumento indispensável para a construção da sociedade através da valorização
das qualidades pessoais de cada indivíduo, ou seja, é dever da escola descobrir as inclinações de
cada criança, e orientá-la segundo ela.
Para que a teoria da “Escola Nova” tenha lugar numa determinada sociedade, o primeiro passo
que se deve tomar, é de romper com a postura de transmissão de informações, na qual o aluno
não passa duma tábua rasa onde o professor vai preencher com a história das grandes
49

civilizações, sendo assim um indivíduo passivo, preocupando-se somente em recuperar tais


informações quando solicitadas pelo professor.
Dewey diz que o uso da problematização no processo de ensino-aprendizagem, é de vital
importância para que ocorra o conhecimento significativo, a aprendizagem ocorreria mediante as
experiências anteriores vivenciadas pelo aluno, onde ele não só desenvolveria a técnica, mas
também o seu intelecto e a moralidade estariam treinados para o seu desenvolvimento integral. É
justamente esta meta que a política educativa moçambicana pretendeu alcançar com a concepção
do currículo de 2002, onde o aluno não é mais um receptor passivo do conhecimento já
elaborado pelo professor, mas sim, que este participe activamente no processo de ensino-
aprendizagem, e que seja colocado num ambiente em que seja capaz de conciliar o conhecimento
teórico com o prática.
É neste âmbito que Dewey revoluciona a Educação do seu tempo, criando assim um novo
modelo de ensino centrado no aluno. O movimento da “Escola Nova” em Moçambique pode ser
considerado como tendo sido concebido na época pós-colonial, com o objectivo de eliminar o
“Ensino Tradicional” que propunha como alvo a alcançar, a formação do homem ao nível
teórico, e que se limitava em repetir as experiências passadas, mas com o nascimento do
movimento da “Escola Nova” em Moçambique preconcebido por Samora Machel, com a política
da formação do “Homem Novo” após a independência, era preciso encontrar princípios práticos
da solidariedade bem como uma cooperação e integração social dos indivíduos para a melhor
progressão. Para a concretização deste ideal, era necessário a introdução das novas formas de
educação, onde o aluno é o principal actor no processo de Ensino-Aprendizagem, pois na
educação, ensinar não significa transmitir conhecimentos, mas sim, criar condições para que haja
aprendizagem.
É do nosso conhecimento que nem tudo o que a “pedagogia tradicional” ensinou é passível de se
deitar fora, ou seja, há alguns aspectos positivos que poderemos dela aprender. Quando se fala da
Escola Nova, não se pretende dizer que nesta escola dispensa-se por completo a memorização,
não, em todo processo de Ensino-aprendizagem ocorre a memorização, a crítica que se faz à
educação tradicional é de tornar o aluno num objecto passivo no processo de ensino, conquanto
deve este ser activo pois a educação tem em vista prepará-lo a saber lidar com os desafios reais
da vida. A Educação Tradicional era também polivalente, uma vez que o que se ensinava não era
tão fragmentado como o é hoje, todavia era coerente. Por meio da história como disciplina,
50

ensinava-se as características dos animais, equivalente à zoologia, ensinava-se também os


comportamentos dos homens, que pode equivaler à psicologia, a moral, etc. Pretende-se com
isto, provar que a criança era ensinada ao mesmo tempo a levar à prática o que aprendia na
escola, por exemplo, é o caso da caça, colheita, etc.
A concepção da Escola Nova, ou seja, da educação centrada no aluno, relaciona-se com um
conjunto de ideias e realizações que Moçambique conseguiu atingir, tudo isto está ligado à
formação que se dá aos educadores pois são imbuídos de técnicas que proporcionam aos alunos
um bom ambiente para que haja uma aprendizagem activa.
Aquando da introdução da Pedagogia da Escola Nova em Moçambique, o movimento da “Escola
Nova” não pautava num cariz político e educacional, em conexão com agremiação partidária,
muito menos às ideologias totalitárias na ideia dos governantes, mas, era concebido como um
meio-termo, onde o Governo pudesse executar um decisivo papel e a educação pública pudesse
ser um meio através do qual iria se oferecer a igualdade de oportunidades a todos os cidadãos
moçambicanos, e que todos pudessem ser livres, embora isto fosse controverso pois fala-se da
Educação para todos, mas são muito poucos os que têm acesso a mesma.
Segundo os intérpretes de Dewey, como é o caso de Cunha, referindo-se ao processo educativo
afirma o seguinte:
“...voltado para o desenvolvimento e crescimento dos educandos, o único guia do
processo educacional é o espírito que evolui e assim, é ele quem determina tanto a
qualidade como a quantidade das matérias que o educador deve apresentar-lhe. Essa
corrente de trabalho coloca a vida e a experiência da criança em oposição ao jugo do
programa, delimita, de um lado, o desenvolvimento e de outro, o acúmulo de
conhecimentos” (CUNHA, 1996: 7)

À criança, deve desenvolver-se nela um espírito que tende para o progresso, mas a qualidade
deste, depende tanto da matéria apresentada pelo professor quanto do seu empenho na direcção
deste aluno.

3.5. Modelo inspirado nas teorias de John Dewey


Foi no período pós-colonial que a influência da teoria educativa de Dewey se fez sentir em
Moçambique, onde antes haviam dois (2) tipos de educação a saber: a dos filhos dos colonos que
deveriam ir aos liceus; e a dos filhos dos indígenas. Com a ideia de Samora Machel da formação
do “Homem Novo”, marcou um fim a este sistema colonial, buscando-se uma unanimidade da
formação dos jovens ao serviço da pátria, embora pareça controverso, isto porque, enquanto se
51

fala da educação para todos, unicamente os que possuíam bens tinham acesso à educação, facto
este ainda notório na sociedade actual, onde somente a minoria é que tem acesso às “melhores
escolas” e com condições aceitáveis, enquanto a maior parte dos alunos está em baixo das
árvores e sob condições deploráveis.
Apesar destas condições, pode se ver que as teorias educativas de Dewey estão presentes nas
reformas educacionais em Moçambique. Ao exemplo disso, temos a ideia de organizar a escola
de acordo com o tipo de sociedade em que nos encontramos inseridos. Quando Dewey procurava
estabelecer uma relação entre os programas escolares e aquilo que as crianças deveriam fazer na
prática, tratava-se de um ensaio que pretendia ligar o currículo com o desenvolvimento
psicológico e cognitivo da criança.
Dewey afirma que a escola é um ambiente especial para proporcionar não a transmissão de
conhecimentos, mas sim um ambiente adequado, onde deve se criar condições para que haja a
aprendizagem; e o objectivo primordial da educação é proporcionar ao aluno um ambiente
favorável para que o processo de Ensino-Aprendizagem possa ocorrer devidamente; deve se
colmatar por completo todos os elementos que não são favoráveis à formação da criança, ou seja,
o importante não se trata de transmitir à criança todo o conhecimento, porém, aquele
indispensável em vista a construir uma sociedade que tem tendências à progressão, oferecer
oportunidades às crianças para irem mais além daquilo que a geração mais velha tenha
alcançado.
Manacorda ao falar da teoria educativa de Dewey, afirma:
“Dewey como Marx, baseou-se no desenvolvimento económico e produtivo, mas faltou-
lhe aquela análise dialéctica do real e de suas contradições, cuja explosão, segundo
Marx provocaria as mudanças e aquela perspectiva, talvez utópica, mas fortemente
estimulante, de uma totalidade de indivíduos totalmente desenvolvidos. No lugar dessa
análise, há nele a conclamada finalidade de educar o indivíduo para participar da
mudança, concebida como progressiva evolução de um estado de coisas em si positivo”
(MANACORDA, 2006: 7).

A finalidade de educação na concepção de Dewey, é aquela que consiste na formação dos


indivíduos não só para participarem das mudanças que ocorrem na sociedade, mas também
prepará-los a serem capazes de dar soluções aos problemas reais enfrentados pela sociedade na
qual se encontram inseridos.
52

3.6. Uma Educação em crise?


Um estudo levado a cabo pelo Instituto de Investigação Social e Educacional (ISOED)
apresentou dados que mostram a crise da Educação em Moçambique. Segundo a ISOED, os
principais responsáveis pela crise da educação em Moçambique são os fazedores das políticas
educativas. A ISOED estende as responsabilidades às principais agências de Educação que
operam em Moçambique desde a década de 80, que contribuem sobremaneira na formatação das
políticas educativas nacionais.
Estes estudo-piloto sobre a qualidade da educação no país também denominado “Barómetro da
Educação Básica em Moçambique”, dos seus autores destacam-se José Castiano, Severino
Ngoenha e Manuel Guro, todos eles são professores universitários. Castiano diz que, no que
concerne ao “debate sobre a qualidade do ensino está poluído”, isto porque só se limita em
equacionar as estatísticas. Ele propõe quatro (4) pilares que podem melhorar as competências
educativas em Moçambique, a saber:
 O saber saber;
 Saber fazer;
 Saber viver juntos, e;
 Saber ser.
No que diz respeito ao primeiro pilar, que é “o saber saber”, Castiano diz que se refere à
aquisição de competências pessoais tais como sabe ler, escrever, analisar, interpretar, criticar,
desenvolver a abstracção, reconhecer e estar aberto a novas formas de conhecimentos.
No que tange ao segundo pilar, “saber fazer”, refere-se a aprendizagem de habilidades e
capacidades profissionais, tais como: aprender a gerir coisas e relações em variados aspectos,
aprender a elaborar e implementar projectos e reconhecer oportunidades de desenvolver a
profissão, inclusive o seu sector de trabalho.
O terceiro pilar diz respeito a “saber viver juntos” que está relacionado com as competências
interpessoais. Diz respeito a aprendizagem de competências para viver na diferença, isto implica
a “responsabilidade”, saber viver em grupo (solidariedade) e saber comunicar-se com os outros e
defender os seus pontos de vista, isto refere-se à “argumentação”. Trata-se de desenvolver na
criança ou no adolescente, os pressupostos básicos para o exercício de uma cidadania activa.
O último pilar diz respeito a “saber ser”. Tem a ver com a dimensão individual e compreende a
formação da personalidade e a interiorização das identidades cruzadas de “ser moçambicano”,
53

“ser africano” e “ser um cidadão global”, tem que pensar globalmente, e agir localmente. A
criança deve neste pilar desenvolver a auto-estima, a autoconfiança, a autodeterminação e a
compreensão de si mesmo.

No que concerne a “saber saber” que constitui o primeiro pilar proposto por Castiano, nos
estudos do trabalho de campo realizados pela ISOED evidencia-se um deficit grave na
capacidade de as escolas transmitirem este substrato necessário para se “aprender a saber”.
“De forma unânime, os alunos, encarregados de educação e professores, concordam e afirmam
que há fraqueza nas escolas no âmbito do domínio de saber na dimensão cognitiva por parte dos
alunos”, diz o estudo. Em termos comparativos, segundo ilustra o estudo levado a cabo pela
ISOED, o “ensino básico” actual mostra-se menos boa em relação a escola do passado (tempo
colonial e logo depois da independência).
Segundo o estudo, as políticas movediças do sistema nacional de educação não tem contribuído
em termos de melhoria do sistema de educação em Moçambique. Um dos responsáveis da crise
da educação em Moçambique segundo o estudo, são os fazedores das políticas de educação.
Segundo o estudo, no que diz respeito à qualidade do ensino em Moçambique, o primeiro
elemento de crítica é a fraca capacidade de o sistema nacional de educação em formar
professores com necessária competência.
“Parece existir uma discrepância entre as políticas traçadas e a sua implementação a
nível das escolas. Mas, por outro lado, parece que o professor, por razões de tempo e
baixos salários, de interesse e vocação, não está à altura de realizar cabalmente a sua
missão. Isto resulta num grava problema para todo o sistema nacional de educação, pois
a fraca preparação a nível de base acarreta consequências para todo o sistema de
educação (secundário e universitário) e mesmo a nível do sistema de profissionalização,
(saber fazer) ”.
(www.opais.sapo.mz/sociedade/osfazedoresdaspoliticaseducativas)

Com base neste trecho, segundo os pilares propostos por Castiano, quando a educação no ensino
básico não consegue fazer com que o aluno adquira conhecimentos tais como saber ler, escrever,
interpretar, etc. que são qualidades que fazem parte do primeiro pilar, compromete todos os
restantes pilares, afectando assim o sistema no seu todo, desde ensino básico passando do
secundário até ao universitário. Todo sistema fica enfermo e prejudicado, produzindo assim
profissionais que não estão à altura de responder aos desafios e problemas reais que apoquentam
e sacodem o nosso país.
54

Conclusão
John Dewey influenciou a Educação do seu país bem como nos outros países. A parir deste
estudo que tem como tema “Da Educação Democrática de John Dewey à uma análise da
Educação em Moçambique”, descobrimos o motivo que levou John Dewey a optar por uma
Educação Democrática centrada no aluno, oposta à Educação ou Ensino Tradicional, onde o
professor era considerado como o centro de toda a aprendizagem, e o seu único papel em sala de
aula limitava-se somente em “transmitir” os conhecimentos aos alunos, e estes por sua vez
deveriam, através da memorização, reproduzi-los.

Antes da independência tínhamos em Moçambique um ensino não concebido em função do


aluno, muito menos em função da realidade na qual se encontrava inserido, mas sim em função
dos objectivos que os colonos portugueses almejavam. Com a Independência, o país pautou por
uma Educação que visava formar um “Homem Novo”. Em 1983, concebe-se o Sistema Nacional
da Educação (SNE), e vê se neste Currículo uma influência indirecta do pensamento pedagógico
deweyano, que teve como resultado a concepção do currículo de 1992 e a sua mudança para o
novo currículo de 2002 que pretendia unir a teoria e a prática.

É evidente que nos documentos da renovação e concepção do novo currículo, está implícito que
tenha sido influenciada pela Filosofia Educacional de Dewey, mas a maneira como o currículo é
abordado, os objectivos educacionais têm a tendência em pautar por uma Educação voltada ao
aluno como centro da educação. Pode-se concluir que há traços das teorias educacionais que
Dewey propôs em sua época na Educação americana. É evidente que os que conceberam este
currículo centrado no aluno terão sido influenciados pela pedagogia de Dewey.

O que pretendeu-se nesta pesquisa foi, a partir da Filosofia de Educação de Dewey, sobretudo na
sua teoria da “Educação Democrática”- que concebe o aluno como agente principal do processo
de ensino e aprendizagem, fazer-se uma analise da Educação em Moçambique no que diz
respeito ao impacto que essas ideias de Dewey tiveram para a educação em Moçambique, não só,
mas também analisar a qualidade da mesma. É para Dewey “Educação Democrática” aquela em
que a igualdade de oportunidades é um elemento fundamental, ou seja, os indivíduos presentes
no processo de ensino e aprendizagem gozam das mesmas oportunidades de ensino, não
55

existindo diferenças de classes, onde cada aluno enriquece-se com as experiências dos outros
numa relação de interajuda “trabalhos em grupos”.

Uma Educação sem essa igualdade de oportunidades, para Dewey basear-se-ia nos privilégios
deixando assim de ser democrática. A Educação segundo Dewey é um processo de vida em que
se faz uma experiência; trata-se de um processo social em que se ensina não a vida futura, mas
sim a presente e real para o aluno. É onde se reconstrói e se reorganizam as experiências que o
indivíduo teve durante a sua vida.

A educação democrática é aquela que ensina aos alunos assuntos práticos do dia-a-dia, deve
haver unidade entre a teoria e a prática, mas para tal é imperioso que se tenha como pressuposto
básico o “Pragmatismo”, no qual está alicerçado o pensamento educacional de Dewey. Concluiu-
se que o Pragmatismo, mais do que uma repetição do Empirismo Inglês encabeçado por Francis
Bacon (1561-1626) e John Locke (1632-1704), defende que todo o aprendizado deve ter como
pressuposto básico a experiência, e que esta por sua vez deve ter um fim prático.

O Pragmatismo fundado por W. James e C. Peirce tinha um carácter inovador no âmbito


epistemológico, lógico, político, social, educativo, mítico bem como religioso. Para se entender a
filosofia pragmatista de Dewey, é necessário antes de tudo perceber a sua epistemologia, que diz
que o pensamento pragmático serve como “instrumento” que adapta o homem ao meio ambiente
natural, com o propósito de transformá-lo com base nos interesses individuais e colectivos.
Na concepção de John Dewey o Pragmatismo procura fundamentar-se no liberalismo político
bem como na democracia. A democracia na concepção deweyana não é tida como uma forma de
governo, é mais do que isso; é uma forma de vida associada onde há partilha de experiências em
conjunto, e que se deve comunicar numa mútua relação entre os alunos.

Dewey quando fala da Educação Democrática, referia se àquela Educação onde reina a igualdade
de oportunidades, onde cada aluno tem a oportunidade de poder educar-se, onde não há
privilegiado, mas que todos tenham as mesmas oportunidades. A Educação Democrática é aquela
em que os conteúdos são traçados segundo as necessidades do aluno no seu dia-a-dia, dentro
56

dum meio social. Este tipo de Educação não constitui uma preparação para a vida, mas sim é a
própria vida.

A educação como um fenómeno criado pela sociedade e para a própria sociedade, ela assegura a
direcção e o desenvolvimento da criança através da sua participação na comunidade onde esta
inserida. O pensamento pedagógico de Dewey também está ligado a uma educação renovada,
onde a Escola deve organizar-se segundo os moldes do desenvolvimento psicológico dos alunos,
tal como defendeu Rousseau, a quando da educação do Emílio, para que se atinjam os resultados
almejados. Esta organização deve partir do ambiente escolar, do currículo e dos próprios
conteúdos pois devem se adequar em função da realidade dos alunos e dos seus interesses. A
teoria educacional de John Dewey está alicerçada no pragmatismo norte-americano, e que mais
tarde Dewey veio a chama-lo de Escola Nova ou Progressista.

A Pedagogia da Escola Nova consiste num aprendizado pela experiencia, visa também
estabelecer relação entre a experiência real do aluno e a Educação. Não se trata da rejeição
completa da autoridade da parte do professor, mas democratizar a relação pedagógica, daí ele
(Dewey) chama a sua escola de democrática Na concepção de John Dewey, no processo de
ensino-aprendizagem, deve se levar em conta a experiência que cada aluno possui, pois pode
enriquecer a experiência dos outros, e também este se enriquecer com as experiências dos outros
alunos. Há um recíproco dar e receber. Dewey nas suas análises concluiu que o ensino da Escola
Tradicional fazia uma discrepância completa da experiência vivenciada pelos alunos. Para
Dewey, a qualidade da Educação vai depender da qualidade da experiência educativa que cada
aluno teve individualmente.

Ao longo da pesquisa, concluiu-se que as ideias chave da sua filosofia educacional estão patentes
na sua obra “Democracia e Educação” publicada em 1916. Para Dewey o conceito de
Experiência é fundamental na educação pois ela é uma necessidade de vida, e é pela experiência
que cada aluno tem a oportunidade de enriquecer aos outros e se enriquecer com a dos outros. É
papel da Educação oferecer esta oportunidade de o homem agir consoante o seu próprio
ambiente. Entretanto, é somente pela educação que os homens podem exercer, de boa forma, a
democracia. A aplicação prática de tudo quanto se aprende está no Pragmatismo. Assim sendo, a
57

teoria e a prática são dois conceitos que no processo educacional de Dewey não se devem
separar. Na Filosofia de Educação de John Dewey, o papel do professor é de ser um orientador e
colaborador directo do aluno, onde este aprende com os alunos e também os alunos com a sua
experiência. A tarefa do professor é de descobrir os verdadeiros desejos, gostos e interesses dos
alunos, e com base nesses interesses e desejos levar os alunos à aprendizagem, à disciplina, de
modo que estes, por si, e através da orientação dada pelo professor, adquiram os verdadeiros
valores educativos. É neste diálogo que ocorre o processo de ensino e aprendizagem.

A Filosofia da Educação de Dewey visa uma acção prática da Educação, onde a Educação
encontra o seu sentido na prática. Actualmente, é inconcebível que se fale de uma Educação
autoritária onde o professor é o único detentor de conhecimentos. Deve haver a democratização
da Educação, onde o saber tanto do aluno como o do professor, são tomados em consideração
como sujeitos do saber. Na concepção de Dewey, a escola deve ser um local onde o homem se
inova através da sua criatividade. Deve se ensinar o homem a ser filósofo, que está sempre
insatisfeito com os problemas já solucionados e sempre procura indagar a verdade na busca de
mais respostas aos problemas do quotidiano.

A elaboração do curriculum, a formação dos professores qualificados, uso de critérios


profissionais e técnicos na administração escolar, a educação integral do homem, a expansão das
escolas com o intuito de combater o analfabetismo e a pobreza, a questão da descentralização da
administração escolar, a adequação do currículo às novas condições socioeconómicas do país
face à globalização, etc. é a expressão dos ideais que John Dewey concebeu ao formar a “Escola
Nova” ou “Progressista”.

A principal crítica que se pode fazer ao “Ensino Tradicional” é que neste, o aluno toma uma
posição passiva na assimilação dos conhecimentos apresentados pelo professor, e que os concebe
através dos órgãos dos sentidos sem o uso activo da razão. O aluno não age activamente neste
Processo de Ensino e Aprendizagem, ou seja, o aluno limita-se somente em memorizar a matéria
dada pelo professor em sala de aula, sem poder questionar ou tomar uma atitude activa (crítica)
em função daquilo que se está a aprender.
58

A “Escola Nova” ou Pedagogia Activa ou Escola Activa surge como reacção à pedagogia
Tradicional que era eminente no século XIX. É de acordo comum que todas as críticas de Dewey
para dirigidas à Escola Tradicional, também são válidas no contexto da educação moçambicana,
isto porque a ideia geral é que de forma como Dewey concebeu a sua escola pragmatista que
surge em contraposição à escola tradicional, também a concepção do novo currículo
moçambicano, contrapõe-se ao ensino estabelecido antes da independência de carácter
segregacionista, infligindo deste modo qualquer aspiração democrática, o que pode se aliar com
aquilo que foi a Escola Nova de Dewey ao combater a escola tradicional, pois almejava ele uma
escola que proporcionasse uma educação fundada nos princípios democráticos com fins
eminentemente práticos.

O movimento da “Escola Nova” em Moçambique pode ser considerado como tendo sido
concebido na época pós-colonial, com o objectivo de eliminar o “Ensino Tradicional” que
propunha como alvo a alcançar, a formação do homem ao nível teórico, e que se limitava em
repetir as experiências passadas, mas com o nascimento do movimento da “Escola Nova” em
Moçambique preconcebido por Samora Machel, com a política da formação do “Homem Novo”
após a independência, era preciso encontrar princípios práticos da solidariedade bem como uma
cooperação e integração social dos indivíduos para a melhor progressão. Para a concretização
deste ideal, era necessário a introdução das novas formas de educação, onde o aluno é o principal
actor no processo de Ensino-Aprendizagem, pois na educação, ensinar não significa transmitir
conhecimentos, mas sim, criar condições para que haja aprendizagem.

A concepção da Escola Nova, ou seja, da educação centrada no aluno, relaciona-se com um


conjunto de ideias e realizações que Moçambique conseguiu atingir, tudo isto está ligado à
formação que se dá aos educadores pois são imbuídos de técnicas que proporcionam aos alunos
um bom ambiente para que haja uma aprendizagem activa. A finalidade de educação na
concepção de Dewey, é aquela que consiste na formação dos indivíduos não só para participarem
das mudanças que ocorrem na sociedade, mas também prepará-los a serem capazes de dar
soluções aos problemas reais enfrentados pela sociedade na qual se encontram inseridos. Os
pilares que podem melhorar as competências educativas em Moçambique na concepção de José
Castiano são: O saber saber, Saber fazer, Saber viver juntos e Saber ser.
59

Bibliografia
ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. 3 ed. Presença,. v. 13 Lisboa: 1984.
ABREU, J. Filosofia da Educação e Pesquisa Educacinal: Revista educação e Ciências
Sociais. Rio de Janeiro, v. 3, n. 7, abr. 1958.
BASÍLIO, G. Os saberes locais e o novo currículo do ensino básico/currículo.
2006. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação –
PPGE,
2006.
CASTIANO, José P. Educar para quê: as transformações no Sistema da Educação em
Moçmabique. Maputo: Imprensa Universitária, 2005.
CLÉMENT, É, et al. Dicionário Prático de Filosofia. 2 ed. Porto: Terramar, 1999.
CUNHA, M. V. Da. Antinomia do pensamento pedagógico: o delicado equilíbrio entre
Indivíduo e sociedade. Revista da Faculdade de Educação, S. Paulo, v. 19, n. 2, jul./dez. 1993.
___________________. Dewey e Piaget no Brasil dos anos Trinta: Caderno de Pesquisa
da Fundação Carlos Chaga. S. Paulo, n. 97, maio, 1996.
DEWEY, John. Democracia e Educação. 3 ed. S. Paulo: Nacional, 1959.
____________. Experiência e Educação. 3 ed. S. Paulo: Nacional,
1979.
____________. Experiência e Natureza. S. Paulo: Cultural, 1974.
____________. On Education. The University of Chicago press,
Chicago, 1974.
____________. Vida e Educação. 5 ed. São Paulo: Nacional, 1959.
GOLIAS, Manuel. Sistemas de Ensino em Moçambique: Passado e
Presente. Moçambique: Escolar, 1993.
JAMES, W. Ensaios em Empirismo Radical. S. Paulo, Abril cultural,
1979.
LEITE, Carlinda; TERRASÊCA, Manuela. Ser Professor/a num
contexto de reforma. 3 ed. Porto: Asa, 2001.
LOUREIRO, João Evangelista. À Procura de uma Pedagogia
Humanista. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1990.
MANACORDA, Mário Alighiero. História da Educação: da Antiguidade aos Nossos
60

Dias. 12 ed. Brasil: Cortez, 2006.


MARNOTO, Isabel. Didática da Filosofia. Lisboa: Universidade Aberta, 1989, v. 1.
MARQUES, Ramiro. A Arte de Ensinar: dos Clássicos aos Modelos
Pedagógicos Contemporâneos. Porto: Plátano, 1998.
MAZULA, Brazão. Educação, Cultura e Ideologia em Moçambique. Maputo:
Afrontamento, 1995.
MONDIN, B. Curso de Filosofia. 7ed. S. Paulo: Paulinas, 1983, v. III.
MOREIRA, J. A. O Valor da Ciência e os Estudos Educacionais: Revista Brasleira de
Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v. 21, n. 53, jan./ mar. 1954.
MUCAVELE, Simão. Melhoriada Eficácia da reforma e desenvolvimento Curricular:
um guia para os planificadores do currículo. Maputo: INDE, 1998.
NGOENHA, Severino Elias. Estatuto e Axiologia da Educação. Maputo: Livraria
Universitária, 2000.
OZMON, Howard A.; CRAVER, Samuel M. Fundamentos Filosóficos da Educação. 6
ed. S. Paulo: Artmed, 2004.
PLATÃO. A República. 9 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1949.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. 4 ed. S. Paulo: Paulinas, 1990, v. III.
ROSENTAL, M. M.; IUDIN, P.F. Dicionário Filosófico. Lisboa: Estampa, 1972.
ROUSSEAU, J. J. Emílio. S. Paulo: Martins Fontes, 2004.
RUNES, Dagobert D. Dicionário de Filosofia. Lisboa: Presença, 1990.
SHOOK, John R. Os Pioneiros do Pragmatismo Americano. Rio de Janeiro, DP&A, 2002.
SOUZA, Rodrigo Augusto de. O Pragmatismo de John Dewey e sua expressão no
pensamento e nas propostas pedagógicas de Anísio Teixeira. Curituba, 2004. Dissertação
(Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE, Pontifícia
Universidade Católica do Paraná). 2004.
TEIXEIRA, Evilázio F. Borges. Educação do Homem Segundo Platão. S. Paulo: Paulus,
1999.

Potrebbero piacerti anche